UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA Programa de Pós - Graduação em Agricultura Tropical A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES AGRÍCOLAS TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES, MT. SANDRO NUNES VIEIRA C U I A B Á – MT 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA Programa de Pós - Graduação em Agricultura Tropical A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES AGRÍCOLAS TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES, MT. SANDRO NUNES VIEIRA Biólogo Orientador: Prof. Dr. RODRIGO ALEIXO BRITO DE AZEVEDO Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Agricultura Tropical. C U I A B Á - MT 2006 FICHA CATALOGRÁFICA Catalogação na Publicação (CIP). Bibliotecária Valéria Oliveira dos Anjos - CRB1 1713 V658u Vieira, Sandro Nunes. A Unidade de manejo chacra em comunidades agrícolas tradicionais da morraria em Cáceres, MT / Sandro Nunes Vieira. – Cuiabá, 2006. 99 f. DISSERTAÇÃO (MESTRE EM AGRICULTURA TROPICAL) – UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO, FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA, PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL, 2006. “ORIENTADOR: PROF. DR. RODRIGO ALEIXO BRITO DE AZEVEDO”. 1. Agricultura. 2. Chacra. 3. Manejo de Chacra. 4. Cultura Agrícola. 5. Unidades de Manejo. I. Título. CDU 631.1.017.3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical CERTIFICADO DE APROVAÇÃO Título: A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES AGRÍCOLAS TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES, MT. Autor: SANDRO NUNES VIEIRA Orientador: Dr. RODRIGO ALEIXO BRITO DE AZEVEDO Aprovada em 10 de Novembro de 2006. Comissão Examinadora: ________________________________ Prof. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo (FAMEV/UFMT) (Orientador) _______________________________ Profª. Michèle Tomoko Sato (IE/UFMT e PPG-ERN/UFScar) ______________________________ Prof. Márcio do Nascimento Ferreira (FAMEV/UFMT) DEDICATORIA Aos meus pais Heronildes e Erotildes por sempre serem as pessoas mais confiáveis em minha vida; À Carlos, Glaucia, Karine, Kennedy e Wendell por serem parte de sonhos e realidades; Rejane e Raphael por fazerem de cada dia uma feliz e gostosa aventura. AGRADECIMENTOS Aos professores Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo e Maria de Fátima Barbosa Coelho pela paciência, exemplos, apoio, respeito e amizade e ainda, compartilharem seus conhecimentos na pesquisa, arte e cultura; Aos Agricultores e Agricultoras da Morraria pela paciência, acolhida, respeito e favorecimento de uma nova visão sobre agricultura e convívio social; À Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ao Programa de PósGraduação em Agricultura Tropical e seus docentes, pela acolhida e oportunidade de realização do curso; A Denise e Maria pela paciência, amizade e ajuda em diversos momentos desse caminhar; A CAPES pela concessão da bolsa; FAPEMAT pelo apoio ao projeto; À Professora Michèle Sato que me auxilia desde a graduação; Aos professores José Carlos Leite (ICHS/UFMT), Sebastião Carneiro Guimarães e Márcio do Nascimento Ferreira (PPGAT), pelas sugestões e apoio. À Regiane, Arlete, Raimundo, Rodrigo, Renata, Elaine, Hérica, Fábio, Carla, Daniela, Helionora, Renato, Mauro, Toninho (Didi), Rui e Maria Virginia do Grupo ProSa–UFMT; Aos amigos do mestrado pela paciência, amizade, alegrias e angustias; Ao pessoal da FASE MT, em especial a James Frank e família; Aos amigos (irmãos) de sempre Nerivaldo, Jane e Luís Fernando; Márcio Freire, Ângela Sr. Luís e Sra. Terezinha; Sidney; Ronan e Prof.ª Marie; Fernando e Roberta; Marcos e Sheila; Francisco e Márcia; Janaina e Marcelo; Carolina e Edílson (In Memorian); Luid e Fran; Prof. Edward Bertholine; José Amílcar; Samuel e Dani; Paulo Soares, David e Janaina; Serginho, Ana Paula e Zé; Ordilei e Tatiana; Tércio e Tati; Gustavo, João Pinto (In Memorian); Jaciélio; Carlos Giuliano; DianKarlo, Jorge Cintra; Eduardo; Jiuliano; Carolina e suas respectivas famílias e, os amigos que se for citar todos não caberão aqui. Aos amigos sócios da COOTRADE. A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES AGRÍCOLAS TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES MT. RESUMO – Em Cáceres-MT, a antiga área de sesmaria conhecida como Morraria mudara de 1964 em diante, devido às ações fundiárias estabelecidas pelo Estatuto da Terra, causando a desestruturação do espaço agrícola e de traços da cultura desse povo. Nessa região que comporta a história, diversidade e modo de vida tradicional o grupo ProSA-UFMT almeja conhecer as práticas agrícolas dessas comunidades, através de estudos de algumas Unidades de Manejos (UM’s). Para isso, se utilizaram diversas técnicas comuns as etnociências, destacando a observação direta, participativa; entrevistas parcialmente e não estruturadas, junto a 24 informantes. A parte qualitativa se deu através dos métodos estatístico de decomposição dos componentes principais e estabelecimentos de peso relativo. Na bibliografia são comuns as citações das unidades e manejo roça e quintal, mas, sobre a unidade de manejo chacra quase não há informações. Assim, o objetivo deste trabalho foi descrever a estrutura e identificar as funções desta UM. As Chacras possuem algumas características semelhantes ao quintal e a roça, mas, desempenha outras funções, tais como: alternativa de cultivo para as pessoas idosas e enfermas; otimização da mão de obra e recursos financeiros; alternativa alimentar e de renda para várias famílias. Os informantes apontaram 109 espécies vegetais com diversas variedades e usos. Os tamanhos das unidades de manejo não excederam a 1,5 hectares. Através dos métodos estatísticos se teve pesos relativos que variaram de 0,87% a 0, 07%, a maior representatividade (0,87%) aponta que, a UM Chacra, pode ser explicada pela idéia de autoconsumo e autonomia da UP. Dessa forma, as Chacras são a alternativa de muitos agricultores para suprir a desestruturação de seu território agrícola, por ser um espaço complementar de sua propriedade e também, o local que é por muito cedido para a produção de alimentos para as pessoas que não dispõem de terra, material de propagação ou mesmo mão de obra, o que confere as Chacras a ligação com as atividades dos tempos das sesmarias onde, o uso comum da terra, o Muxirum (mutirão) e a troca de material de propagação era uma constante. Palavras-chave: Agricultura tradicional, Diversidade agrícola, Subsistência. 12 THE MANAGEMENT UNIT OF CHACRA IN TRADITIONAL AGRICULTURAL COMMUNITIES OF MORRARIA IN CÁCERES - MTABSTRACT – In Cáceres-MT, an old sesmaria area known as Morraria has changed from 1964 onwards, due to land actions established by the Land Statute, causing a dismemberment of the agricultural space and of the cultural traces of this people. In that region which includes the traditional history, diversity and way of life, the ProSAUFMT group wants to know the agricultural practices of these communities by studying some Management Units (UM’s). For this purpose, several common techniques such as ethnosciences were used, emphazising direct, participating observation; interviews with 24 informants, partially structured or not. The qualitative part was done through statistical methods of decomposition of the principal components and establishing relative weight. In the bibliography, the citations of management units of fields and vegetable gardens are common but as far as the chacra management unit is concerned, there is very little information. Thus, the aim of this study has been to describe the structure and to identify these UM functions. The Chacras possess some characteristics similar to vegetable gardens or fields, but fulfil other functions, such as: planting alternatives for old and sick people; better yieldings for workers and financial ressources; food and money alternative for several families. The informants have indicated 109 vegetal species with several varieties and uses. The sizes of the management units do not exceed 1,5 hectares. Through statistical methods relative weights have been obtained which varied from 0,87% to 0,07%. The highest representativity (0,87%) indicates that a UM Chacra may be explained by the idea of self-consumption and autonomy of the UP. In this way, the Chacras are many farmers' alternative to make for the dismemberment of their agricultural area, because they are a complementary space of their property and also, the place which is given by many for food production for people who do not have land, propagation material or even farmhands, this grants to the Chacras the link with the activities from the Sesmarias'times where the common use of the land, the Muxirum (groups of villagers getting together for all sorts of community jobs) and the exchange of propagation material was constant. Key-words: Traditional Agriculture, Agricultural diversity, Sustenance. 13 SUMÁRIO Página 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 14 2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 16 2.1. Unidades de Produção (UP) e suas Unidades de Manejo (UM) - aspectos gerais e 16 locais................................................................................................................................. 2.2. Capoeira ou área de pousio...................................................................................... 17 2.3. Sítio, terreiro ou quintal............................................................................................. 18 2.4. Roça ou roçado......................................................................................................... 19 2.4.1. As roças Indígenas................................................................................................. 19 2.4.2. As roças não Indígenas.......................................................................................... 21 2.4.3. As roças na Morraria............................................................................................. 23 3. AS CHACRAS.............................................................................................................. 24 3.1. As Chacras da Morraria ............................................................................................ 26 4. METODOLOGIA ......................................................................................................... 28 4.1. Metodologia para análise dos dados......................................................................... 32 5. RESULTADOS............................................................................................................. 33 5.1. Informações gerais sobre as Chacras....................................................................... 33 6. DISCUSSÃO................................................................................................................ 62 6.1. Idéias (s) relativas à decomposição dos componentes principais, com ênfase no 67 ordenamento decrescente dos pesos relativos................................................................ 6.1.1. A diversidade vegetal existente............................................................................. 75 6.1.2. Espécies arbóreas nativas presentes nas Chacras .............................................. 76 6.1.3. Espécies vegetais presentes nas Chacras (cultivadas e nativas)......................... 77 7. CONSIDERAÇOES GERAIS....................................................................................... 83 8. CONCLUSÃO............................................................................................................... 85 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 86 10. ANEXOS.................................................................................................................... 90 14 1. INTRODUÇÃO Na região da Morraria no município de Cáceres-MT, até a década de 1960, os agricultores da região abasteciam com alguns gêneros alimentícios a sede do município. O arroz, feijão e outros produtos, como a rapadura que, até hoje é fabricada artesanalmente em engenhos esculpidos em madeiras e movimentados por animais, eram transportados em carros de boi, para assim, serem comercializados no perímetro urbano. Apesar da proximidade de algumas localidades da Morraria do centro urbano, os remanescentes das áreas de Sesmaria, ainda guardam e conservam características de comunidades tradicionais, através das pessoas que lá residem (e resistem) e, ainda hoje estão organizadas em comunidades, que em geral, possuem seu nome em homenagem a uma Santa. Assim, os endereços existentes na Morraria são caracterizados pela localidade (nome dado a um local a partir de suas características) e comunidade. Portanto nessa região se tem: Taquaral (Comunidade Nossa Senhora do Carmo); localidades da Chapadinha e Barreiro Vermelho/Minador (Comunidade Nossa Senhora da Guia), Água Branca, Santana e Anhumas (Comunidade Sagrado Coração de Jesus). Onde hoje são as localidades do Taquaral, Água Branca, Santana e Anhumas, até 1964, eram áreas de sesmaria, que, com a elaboração e promulgação do Estatuto da Terra, o Governo Federal, através do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), obrigou os a fazer o uso parcelado da 15 terra, ao dividi-la em lotes (Mendes, 2005a). Assim, causando uma ruptura espacial no território, que comporta e propicia toda uma multifacetada cultura e vivência. Apesar do parcelamento, as comunidades buscam a união através de atividades comunais como o plantio (em menor escala), atividades religiosas (terço, liturgias e festas) e o bom e velho prosear. Assim, instigados pela forma de organização nas comunidades e encorajados pela receptividade dos agricultores, diversos estudos foram desenvolvidas nessa região. E, como a metodologia aplicada requer muito diálogo e também (porque não) proximidade, entre as diversas conversas com os agricultores, surge a palavra Chacra. Em pesquisa sobre os quintais da região Godoy (2004) teve acesso a essa nominação, que a levou a fazer uma pequena nota em seu trabalho sobre, até aquele momento, a incógnita chamada Chacra. Nas buscas bibliográficas, se constatou poucas informações sobre essa unidade de manejo (UM) e, as que tinham se referiam a países inclusos na Amazônia Equatorial. Pelas indicações de Godoy (2004) sabia-se que, essa nominação era local e que, tal UM estava nas proximidades da residência do agricultor, sendo muitas vezes associada com os quintais e as roças, tal informação, também prestada pela doutora em agroecologia Maria Virginia A. Aguiar que também, pesquisa na região. Assim, concomitante a premissa do programa de estudos dos sistemas agrícolas de Mato Grosso (ProSA-UFMT), este trabalho busca conhecer as Chacras da Morraria, através da descrição dessa UM, com base no conhecimento desses agricultores para, através de parte do sistema agrícola daquela região, se compreender a estrutura conceitual que opera naquela região e assim, galgar o conhecimento da multifacetada agricultura tradicional. 16 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Unidades de manejo (UM)- aspectos gerais e locais Os trabalhos até agora efetivados na região da Morraria identificaram e descreveram: a roça (Godoy, 2004, Costa, 2004, Mendes, 2005b, Bastos, 2006), o quintal (Godoy, 2004; Oliveira, 2006), o pasto (Bastos, 2006), os recursos madeireiros (Mendes, 2005b), as áreas de uso comum (Bastos, 2006), os recursos naturais (Assunção, 2006), os condicionantes de procedimentos técnicos (Costa, 2004), a percepção e usos dos solos segundo os agricultores (Alves, 2004) e as Chacras que é o tema desse trabalho. As Chacras chamam a atenção, por ser um desses elementos da multifacetada agricultura tradicional, aqui entendida como aquela que não está completamente inserida nos modelos da agricultura industrial (Azevedo, 2003) e, por ser a agricultura tradicional uma construção complexa de elementos diversos, é necessário um olhar mais aprofundado e cuidadoso nos elementos que a compõem. Portanto, a abordagem em forma de sistemas é importante para a compreensão mais ampla de suas características e particularidades, descrevendo seus elementos e as relações que estes estabelecem entre si, tanto no tempo como no espaço (Costa, 2004). No entanto, para se entender um sistema é necessário antes de qualquer ação saber identificá-lo, conhecendo seu conteúdo e 17 estabelecendo seus limites pois, o relacionamento entre as partes e a resposta destas aos estímulos externos determina seus contornos (Porto, 2003). Por sua vez, Azevedo (2004b) argumenta que o estudo do sistema se presta a uma descrição estrutural da realidade, devendo ser percebida a diferença entre a realidade e sua representação, pois, é uma formulação teórica que objetiva a compreensão da realidade. Assim, para sistemas agrícolas há três conceitos que permitem distinguir os problemas e as relações nas diferentes escalas que são: sistema agrário, sistemas de produção e sistemas de cultivo e criação 1 (Azevedo, 2004b). Por ser a Chacra uma UM com características de sistema aberto, a abordagem de outras UM’s (capoeira, quintal e roça) com as quais estabelece ligação se faz necessária. 2.2. Capoeira ou área de pousio Nesse espaço, freqüentemente permanecem espécies anuais, enriquecidas com espécies frutíferas e essas áreas são deixadas em repouso para a “recuperação” de seu vigor nutritivo (Noda, 2002). Tal prática também é comum nas roças e Chacras da Morraria. Como citado por Mendes (2005b), na região se guarda a influência marcante da tradição indígena. Seus roçados e suas roças se enquadram no sistema de pousio, com atividades de derrubada, queima e alternações, em uma mesma área, períodos de cultivo e períodos de pousio florestal. Godoy (2004) considerou as capoeiras da região como uma UM. Essa unidade é uma área onde foram feitos cultivos de dois a quatro anos seqüenciais, e que foi deixada em Sistema agrário é o modo de exploração do meio historicamente constituído do ambiente a partir das condições bioclimáticas, a fim de satisfazer suas necessidades e as do grupo social daquele momento. Inclui aqui a força de trabalho envolvida, cultivos, criações, entradas e saídas dos sistemas, relações entre os atores sociais envolvidos etc. Azevedo (2004b) Sistema de produção é o conjunto de produções vegetais e animais e fatores de produção geridos pelo agricultor nas escala da unidade produtiva (Azevedo, 2004b); Sistema de cultivos ou/e criação: Um subsistema de um agroecosistema formado por componentes que são populações de uma ou mais espécies de cultivos e/ou animais que interagem no tempo e no espaço entre si e com outros subsistemas do agroecosistema (Hart, 1985). 1 18 pousio, ou como a população local diz: “deixada para descansar a terra”, por mais ou menos oito anos (onde neste período há regeneração da vegetação) (Godoy op cit, 2004). 2.3. Sitio, terreiro ou quintal. Unidade de manejo próxima a casa, normalmente manejada pelas mulheres e crianças. A principal característica é a racionalidade de implantação embasada na biodiversidade e manejo de árvores, arbustos e ervas para fins alimentícios, medicinais ou madeireiras. Sendo também, local para as experiências com plantas advindas de outras partes da propriedade ou não, servindo como mais um espaço funcional da unidade produtiva 2 (Godoy, 2004), que contribui na diversidade e variedade de vegetais e, servindo como banco de germoplasma para cultivos próximos (Amorozo, 2002). Os quintais colaboram efetivamente para o autoconsumo das famílias, e por vezes, incrementa a renda familiar, devido complementar a alimentação e a comercialização do excedente em pequenas feiras, além do cultivo de plantas medicinais (Cunha, 1999). Na região da Moraria o tamanho dessa UM varia de 0,17 ha a 0,45 ha, e os usos dos recursos, citados por Godoy (2004) foram: alimentação humana e animal, barrotear casa, cobrir casa, cola de papel, inseticida, cosmético, criar mata (para preservar a natureza), enfeite, fazer cerca, fazer sabão, fazer vassoura, lenha, segurar o vento, sombra e uso medicinal. 2 Conjunto formado pelo território que é o espaço de fato fundiariamente ocupado, denominada posse fundiária, acrescido de outros, localizados em quaisquer lugares e que, de alguma forma, contribuem com a reprodução das UP’s, que além do conjunto de recursos utilizados pelo agricultor, assim como do espaço onde se localizam todos os outros fatores de produção, materiais ou não (Azevedo, 1999). 19 2.4. Roça ou roçado Com nítida influência dos povos indígenas, esse tipo de UM é praticada em boa parte da agricultura brasileira, exemplo a roça de toco ou coivara que é conhecido de longa data no interior do país (Oliveira, 2002), o que remete que, essas técnicas de cultivo são mantidas por gerações, e secularmente preservadas via transmissão oral Peroni et all (1999). Diegues e Arruda (2000) apontam que além dos indígenas, comunidades tradicionais não-indígenas como os caiçaras, caipiras, jangadeiros, caboclos/ribeirinhos amazônicos, ribeirinhos não-amazônicos e sitiantes também se utilizam dessa UM. As roças possuem como em boa parte da agricultura, uma grande diversidade, resultante das interações ser humano e ambiente, e suas interações sociais, culturais e religiosas. Com isso, faz com que nesse espaço, a priori de produção de alimentos, tenha variedade de funções do mítico ao comercial, e assim, diversas formas de manejo, objetivos, cultivos etc. 2.4.1. As roças indígenas As roças indígenas são complexas e diversas, nas funções e construção, que em geral, são para se adaptar as condições tropicais (Posey, 1987a). Em geral, são baseadas na derrubada e queima da mata, seguindo-se um período de abandono ou pousio para restauração da fertilidade do solo (Oliveira, 2002, Reis, 1999). Isso, também é válido para as roças dos não índios. Entre os diversos povos indígenas brasileiros, os tipos de roças referidas são: em clareiras nas matas (Kerr e Posey, 1984, Posey, 1987b; Kerr, 1987), em morros (Posey, 1987 b), itinerantes (Posey, 1987; Kerr, 1987), roças velhas (Kerr e Posey, 1984) rotativas (Chenela, 1987; Reis, 1999), em capoeiras (Posey, 1987b; Reis, 1999), de toco, de vazante e a roça mecanizada implantada pela FUNAI. (Reis, 1999) etc. 20 Outra característica importante da estrutura das roças é o ponto estratégico, onde estas estão situadas em trilhas que podem avançar até outra aldeia, rio, no ribeirão onde todos se abastecem d’água e tomam banho ou podem ser sempre vizinhas do coqueiral e do babaçuzal que muitos recorrem para extrair palha e coco (Reis, 1999). A mão-de-obra pode ser: compartilhada - onde homens, mulheres e idosos tem papeis diferentes e, os mutirões (Chenela, 1987). O homem Kayapó corta, queima, encoivara, abrem buracos, às vezes ajudam na colheita da mandioca e fabrico da farinha da mesma planta (Posey, 1984). Para o sexo feminino, as roças em morros do povo Kayapo, são cultivadas pelas mulheres idosas (Posey, 1987b), o que aponta que as mulheres são as principais agricultoras que plantam, cuidam, coletam, transportam e cozinham (Posey, 1984). Para os Tukâno, a inserção de novos cultivares, principalmente de mandioca, são feitos pelas mulheres, através da observação nas roças ou, devido aos laços matrimoniais onde, nas visitas aos parentes as variedades são trocadas (Chenela, 1987). A distância entre a aldeia e as roças variam entre 5 a 10 Km (Kerr, 1987; Kerr e Posey, 1984), ou mesmo nos arredores da aldeia (Chenela, 1987). Os cultivos encontrados são muito variados, entre eles se tem: arroz, milho, cará, batata-doce, abóbora, taioba ou taiá, amendoim, mamão, inhame mandioca, banana, araruta, abacaxi, pimenta, cupá, coca, e inúmeras frutíferas, pupunhas, umari, ingá, abóbora, arroz, banana, batatadoce, cana de açúcar, cará, feijão, inhame, mandioca, melancia, melão, moranga, milho, pepino e taiá (taioba) e variedades medicinais. (Posey, 1984 e 1987b; Chenela, 1987; Kerr, 1987; Reis, 1999; Peroni et all, 1999; Bezerra e Veiga, 2000). Sendo sempre citadas em roças indígenas ou não, a mandioca é sempre uma constante. No estudo de Silva et all (2001) sobre a biologia reprodutiva de etnovariedades de mandioca, foram utilizados 56 etnovariedades que foram provenientes de 400 etnovariedades que compõem a coleção de germoplasma de mandioca do Departamento de 21 Genética da ESALQ/USP, isso, em 1995 a 1999. Esse material foi coletado em roças de caboclos e índios da Região Amazônica e do Estado de São Paulo. Em tribos indígenas, por exemplo, a diversidade de cultivares de mandioca encontrada foi de: 40 entre os Desana; 21 entre os Kayapó; 17 entre os Palikúr; 14 entre os Galibí e também, nos Tukúna; 12 entre os Paumarí (Kerr, 1987) e, 137 variedades, entre os Tukano (Chernela, 1987). 2.4.2. As roças não Indígenas Como exemplo dessas roças se tem as do Município de Bejamin, AM (Noda, 2002), roças de mandioca no município de Ubatuba-SP (Sambatti et all., 2000), das comunidades caiçaras característica do litoral do estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná (Oliveira, 2002) e as roças de toco na região Centro-Oeste (Shiki, 1998) Em geral, obedecendo as questões culturais e ambientais, o sistema de cultivo está baseado na roçada, queima e plantio, evoluindo para o cultivo contínuo manual, seguido de mecanização animal e tratorizado no manejo do solo no caso da região Centro Oeste (Shiki, 1998). Essas roças são implantadas em locais de capoeira e várzea (Noda, 2002), matas ou cerradões, onde, exploram a fertilidade natural acumulada em locais de chamadas pelos agricultores locais de “terras de cultura” (Shiki, 1998). Os tamanhos variam, entre 0,38ha (Oliveira, 2002), 0,6ha (Peroni et all, 1999) e entre 0,85 a 3,65 ha (Noda, 2002). Segundo Noda (2002), nessas unidades, são respeitados os tempos de recuperação (pousio) e, no caso dos caiçaras, as roças são mantidas por 2,8 anos e deixadas em pousio por 9,7 anos (Adams, 2000). Já em outro caso, citado por Toffoli & Oliveira (1996) na Vila do Aventureiro é de 3,7 anos de cultivo e o pousio 4,8 anos. Os plantios podem ser cultivados solteiros ou em miscelânea (Noda, 2002). Nessas roças manejadas por comunidades tradicionais não- 22 indígenas, se percebe que, essas comunidades, possuem em alguns casos, os traços culturais do povo indígena, expresso aqui, no manejo das roças. A conservação de recursos genéticos se dá, pela troca com os vizinhos ou, quando o agricultor possui uma outra roça, assim, restabelece a diversidade que porventura seja perdida (Sambatti et all., 2000). E assim, se pode perceber que a existência de diversidade de espécies em especial de mandioca é constante. Tal diversidade, segundo Peroni et all (1999) é elevada tanto inter como intraespecífica, mostrando que nas roças existem espécies de propagação vegetativa e também, espécies de propagação por semente. 2.4.3. As roças na Morraria Na região da Morraria as roças são geralmente de toco (Mendes, 2005a), algumas em terras cedidas ou, em sua própria unidade produtiva (UP). As roças da região são baseadas no policultivo para atender o consumo da família e de suas criações (Mendes, 2005a; Mendes, 2005b). O sistema de derrubada e queima, alterna, em uma mesma área, períodos de cultivo e períodos de pousio florestal (Mendes, 2005b). O tempo de utilização é de 3 anos, deixando descansar durante aproximadamente 7 anos para recuperar a fertilidade natural (Mendes, 2005a). Godoy (2004) aponta que os tamanhos das roças variam de 1,21 ha a 3,63 ha. Uma característica interessante é que em duas roças citadas no trabalho com tamanhos acima de 3,5 ha, a área é descontínua: em uma com 3,63 ha, 2,42 ha é cultivada com arroz, milho, feijão, banana, mandioca, abóbora, e 1,21ha com o plantio de milho solteiro. Na outra, com 3,5 ha, havia uma 1 ha, com 250 pés de bananeiras e arroz, e 2,5 ha com arroz, e com os capins humidícula e braquiária. Nesta última observa-se a intenção da formação do pasto, prática usual na região da Morraria, mesmo para as Chacras. 23 A mão de obra utilizada nas lavouras é principalmente familiar, havendo ainda práticas de ajuda mútua, tais como o mutirão e troca de dias trabalhados, o que reforça a unidade do grupo social (Mendes, 2005a). Assim, se pode ter a noção de importância de tal UM, que tem grandes semelhanças com a Chacra. Como citado por Peroni et all (1999): “Categorizar tal sistema agrícola como atrasado ou primitivo relegando-o a uma condição inferior é um ponto de vista que contribui para a grande perda de diversidade e de variabilidade genética associada à diversidade cultural destas populações humanas”. 24 3. AS CHACRAS No Brasil sobre as Chacras há pouca bibliografia. Esta é mais citada em relatórios, capítulos de livros ou resumos de congresso, que apontam a Chacra como de origem pré-hispânica, principalmente na região da Amazônia Equatorial, em países como Equador e Peru. Rivera (2004) expõem que desde o período pré-hispânico já se era presente nas Chacras, o cultivo de mandioca para a alimentação humana e ritual de permissão a mãe terra Pachamama. Nesse tempo, as Chacras eram responsáveis por 25-30% dos alimentos produzidos para a subsistência (Voto-Bernales, 2004). Por essas questões míticas, a Chacra, não é entendida só como o espaço agrícola, mas como cenário da criação e do florescimento de todas as formas de vida (Vasquez, 2004a), de saúde do agricultor ou pessoa envolvida (Vásquez, 2005b), por ter uma relação entre a comunidade humana, os componentes da natureza e das Divindades (Vásquez, 2005a; Oba, 2005). Segundo a FAO (2004) as Chacras são sistemas produtivos em comunidades camponesas, ribeirinhas e indígenas dos bosques amazônicos, onde são comuns policultivos, cultivos de ciclo curto, perenes, pastagens e pequenas manchas de bosque. Onde, predominam os cultivos de café, cacau, mandioca, banana, palmito, cana, palma africana e hortaliças (principalmente pimentão e tomate), limão, arroz e milho (FAO, 2004). 25 O tipo de agricultura realizada na Chacras é com saberes e insumos próprios. A terra é preparada pelo sistema de queimadas (Lathrap, 1970 apud Gow, 2003), e com os mutirões, onde, várias famílias se ajudam nas atividades de derrubada, aragem, descoivara, colheita e armazenamento, o que facilita a implementação e manutenção das Chacras (Rivera, 2004). Essas atividades comunitárias desenvolvidas são coordenadas pelas “autoridades tradicionales de la comunidad”, que tem a função de cuidar das Chacras e da paisagem (Rivera, 2004). Outros papéis importantes das Chacras Andinas são: local de domesticação de espécies nativas, banco de germoplasma com espécies tradicionais e área de conservação, devido o manejo associado com árvores, arbustos e policultivos com cobertura vegetal, que permite a restituição dos nutrientes do solo (Voto-Bernales, 2004). Assim, as Chacras colaboram para a conservação in situ de algumas espécies nativas e assim, contribuindo para a diversidade do local, que é resultante da interação dos fenômenos ecológicos e a ação domesticadora do homem (Vásquez, 2004b; 2004c). Tal processo ocorre pela manutenção de espécies espontâneas, fitogeneticamente semelhantes as cultivadas, as quais os agricultores mantém, pelo parentesco de seus parentes cultivados(Oba, 2004; 2005). Por ser um espaço de conservação, e ainda, estar no centro de diversidade. Nas Chacras estão sendo coletadas sementes que possui recursos genéticos importantes expressos no germoplasma, sendo distribuídas em diversos bancos de germoplasma estatais e privados, laboratórios de grandes companhias de sementes e plantadas em grandes extensões de propriedades comerciais disseminadas em diversas partes do planeta (Vasquez, 2004a) para continuar a manter essa diversidade vegetal que há nos Andes e em especial na Chacra. A persistência dessa diversidade se deve ao cuidado, carinho e proteção da “cultura criadora campesina”. Neste sentido, a diversidade biológica e cultural campesina é um binômio fortemente unido nos Andes (Oba, 2005). 26 3.1. As Chacras da Morraria As informações de Godoy (2004) apontavam para uma UM diferente das identificadas na região: Possui característica semelhante de cultivos da unidade de manejo – roça, a primeiro momento pode-se observar que o que se diferencia da roça é que em geral se localiza mais próximo ao local de moradia da família e com uma população menor de plantas, podendo esta estar localizada e considerada pelos agricultores dentro do espaço geográfico do quintal. Como não foi estudada a questão em uma maior profundidade, como a gestão, trabalho, etc, apenas foi observado essas características. Talvez essa unidade de manejo venha sendo expressa através do conhecimento indígena, pois em um trabalho de Hodl & Gasché (1982) citados por Kerr & Posey (1984), em um trabalho com os índios Kayapó ao descrever sua agricultura, relatam uma área denominada “Chacra”, onde diz que é uma “roça” feita numa clareira da floresta. Godoy (2004). Assim, com base nessa descrição é que, se teve início a pesquisa sobre a UM Chacra na região da Morraria. Godoy (2004) cita o artigo de Kerr e Posey (1984), onde consta a descrição de uma Chacra de índios Secoya feita (Hödl e Gasché,1982 citado por Kerr e Posey, 1984): “uma roça feita numa clareira aberta na floresta onde se cultiva banana, cana, mandioca, macaxeira, milho, gengibre, urucum, fruteiras (citrus, biribá, abacaxi, mamão, goiaba, jaca), batata doce, plantas medicinais, odoríferas, temperos e o tabaco”. Os plantios são todos feitos em consorciamento e as práticas têm forte divisão de trabalho entre os sexos. Talvez, por semelhanças na forma de construção em clareiras e de alguns cultivos, é que o trabalho de Kerr e Posey (1984), com o povo Kayapó, seja citado por a Voto-Bernales (2004), como uma descrição de Chacra. A unidade de manejo Chacra identificada por Godoy (2004) na região da Morraria, esteve presente em apenas duas citações: uma com 1,125 ha, cultivada com cana-de-açúcar e mandioca, e outra, a ser implementada junto ao quintal, com o plantio de milho, mandioca, batata doce, amendoim e abacaxi. 27 A pesquisadora Maria Virginia A. Aguiar 3, que efetiva suas pesquisas nas Comunidades do Taquaral e Santana, na Morraria, forneceu novos materiais, que é parte de sua tese de doutoramento em Agroecologia, na qual, há citações sobre as Chacras da Morraria. Quando a terra era comunal, havia mais Chacras, mas, depois da divisão das terras na década de 1960 no Taquaral e 1980 em Santana, o sistema de produção sofreu mudanças e as UM’s se reorganizaram na ocupação do espaço, na sua forma, estrutura e função, de acordo com o sistema produtivo como um todo. Consideramos que com a reorganização do espaço, as Chacras podem ser confundidas com as roças (a priore na discussão). Agradeço a Maria Virginia Aguiar, pelo compartilhamento das informações e sua colaboração neste trabalho. 3 28 4. METODOLOGIA A descrição da UM Chacra segue a lógica de sistemas, por entender que essa UM é, e faz parte de um arranjo de componentes físicos unidos ou relacionados de tal maneira, que formam e atuam como uma unidade, entidade ou um todo (Hart, 1985). As técnicas de pesquisa utilizadas foram: revisões bibliográficas; entrevistas a partir de um guia de campo (anexo 1); questionários; diário ou caderno de campo; observação direta e observação participativa ou apontamento e consulta a técnicos e especialistas (Lakatos, 1985; Cotton, 1986; Azevedo, 2001; Monteiro e Monteiro, 2001;Azevedo e Coelho 2002; Vieira, 2003; Vietler, 2002; Vieira, 2003; Mendes, 2005b), figura 1. As informações foram obtidas junto a 24 informantes (tabela 1), com níveis de informações diferentes, decorrente, por vezes da disponibilidade do informante, pouco conhecimento sobre o assunto ou ainda, informações somente sobre tratos culturais, o que na fase estatística, culminou na ausência destes (por não terem informações que fossem contempladas na análise). Esses informantes estão distribuídos nas comunidades de Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora da Guia e Sagrado Coração de Jesus, todas na região da Morraria, (Figura 2). 29 Figura 1. Fluxograma das atividades realizadas. 30 Tabela 1. informações sobre os participantes da pesquisa e localização das Comunidades Informantes Masculino Feminino Comunidade Localidade Coordenadas 15°58’56’’ Nossa Três Quatro Senhora do latitude sul e Taquaral Carmo 57°31’14’’ longitude oeste de Gr Nossa Quatro - Senhora da Chapadinha - Senhora da Guia Barreiro Vermelho/Minador. latitude sul e 57°31’03’’ longitude Sagrado Uma Coração de Sagrado Coração de Jesus latitude sul e Anhumas/ Retiro Taquaral, entre a serra Taquaral e a serra do Poção, do km 24 ao km 30 da rodovia MT343 20 km da 15°53’40’’ Uma dos Bugres Aproximadamente Santana Jesus Dois Cáceres a Barra bocaina do oeste de Gr Sete MT-343, de está localizada na 15°54’40’’ Dois km 22 na rodovia A comunidade Guia Nossa Localização 57°26’59’’ longitude oeste de Gr comunidade de Nossa Senhora do Carmo, distante da rodovia MT-343 31 Figura 2. Localização da Região da Morraria em Cáceres, Mato Grosso – Brasil. Aguiar (2006). 32 4.1. Metodologia para análise dos dados. Uma grande quantidade de informações foi obtida, o que contribuiu para duas etapas de descrição, uma na íntegra, e a outra, por métodos estatísticos multivariados utilizando o softweare SPSS. Para a descrição (mais clássica), foram transcritas as informações obtidas nas entrevistas de acordo com a idéia principal implícita no guia de campo (anexo 1). Para a descrição utilizando métodos estatísticos multivariados, elaborou-se planilha baseada na idéia ou conjunto destas, contidas nas respostas dos informantes, e que, faz referência ao significado das Chacras. Após isso, foram estabelecidos códigos alfabéticos para cada conjunto ou idéia contida nas respostas. Com essa etapa feita, se elaborou a planilha com os códigos correspondentes as informações nas linhas da planilha e, nas colunas da planilha, os informantes. Assim, foram atribuídos valores de 0 (zero) para a resposta não proferida por aquele informante, e 1 (um) quando a resposta era pertencente àquele informante. Com essa planilha finalizada, os dados foram importados para o softweare SPSS, onde foram feitos os procedimentos devidos para a análise dos componentes principais e assim, com os escores (19 no total), foram feitas a análise dos pesos absolutos e relativos. O peso relativo foi estimado conforme metodologia proposta por Ying e Liu (1995), a partir dos valores dos pesos individuais absolutos (valores β), que são os resultados da multiplicação do módulo do valor dos coeficientes dos escores das variáveis, pelos porcentuais de explicação individual da variância. O peso relativo (valores w) de cada idéia é o resultado da divisão do valor do peso absoluto de cada condicionante pelo somatório dos pesos absolutos dos condicionantes. Esses valores foram utilizados para a discussão deste trabalho, e assim, se pode inferir a importância daquela variável para a resposta inicial o que é Chacra? 33 5. RESULTADOS 5.1. Informações gerais sobre as Chacras Um grande número de informações qualitativas foi obtido com agricultores/as que ainda efetivam a Chacra e, pessoas nativas da região que já possuíram ou conheceram de alguma forma essa UM. Portanto, se buscou um re-dimensionamento das respostas para serem utilizadas na análise estatística conforme expresso na metodologia. Agricultor – Cipriano Corrêa Oliveira Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Chapadinha. Sítio São Francisco, município de Cáceres-MT. O Sr. Cipriano foi um dos moradores nativos da região que fôra morar em Cáceres em decorrência dos tramites fundiários estabelecidos pelo IBRA na década de 60. Após retornar a Morraria, sua família adquiriu sua própria propriedade, onde, faz uma roça (distante da casa) e uma Chacra, que acredita ter esse nome por origem indígena. O seu primeiro contato com a Chacra foi ainda em sua infância, com a convivência com seu tio João Posidônio, que residia na localidade de Maria Rita próximo ao município de Barra dos Bugres. O mesmo tinha uma Chacra próxima a sua residência, aonde o Sr. Cipriano aprendera que era bom tê-la, pois, “um dia que a gente precisa, tem serviço perto de casa pra fazer” e 34 assim, o “cara” tem que manter o local limpo, para ajudar a visualização de animais silvestre que vem devorar os animais de “terreiro”. Algumas diferenças são observadas pelo agricultor entre a Chacra, a roça, o quintal e a chácara. Alguns desses exemplos ainda são relacionados aos aprendizados na infância, como o exemplo de que quando o tio falava de ir em uma Chacra, ele já sabia que era uma UM pequena, menor que uma roça, que era de um alqueire e meio. Outra diferença entre a roça e a Chacra é que, como informado pelo agricultor “a Chacra não muda de lugar, a roça muda, quando acaba com a mata, tem que mudar, para crescer de novo”. Entre chacra e quintal, as diferenças se dão em relação ao espaço que o quintal ocupa, que em geral é o mesmo da residência; os cultivos por vezes são os mesmo (frutíferas, condimentares, etc), mas, nas Chacras diferente do quintal, quase não há plantas ornamentais e, ainda, em boa parte dos quintais, no fundo há cerca, para restringir a entrada de animais de grande porte. O informante quando indagado sobre a diferença entre Chacra e chácara, diz: “não compreendo a diferença (...) nem ouvi falar” sobre chácara. Em relação a Chacra, o agricultor Cipriano afirma que, a Chacra é uma rocinha pequena com tamanhos entre 0,43 a 1,21ha, com produção voltada ao consumo próprio e das criações e, com eventual comercialização da farinha, que é produzida com mandioca da Chacra. Segundo o informante, os produtos da roça é que são comercializados. Na Chacra “(...) planta o que quer, mandioca, cará, cana, (...) é sortido de tudo (...)” e, dentro desse sortimento, há espécies comuns à roça e ao quintal como quiabo, melancia, laranja, jabuticaba, goiaba, gergelim, coco da Bahia, cará, batata doce e abóbora. Além de algumas nativas como barbatimão, paratudo, Angelim, etc. Assim, a Chacra possui além da produção de alimentos para a subsistência, a função de produção de mudas e sementes que serão destinadas à roça. 35 O principal cultivo designa o nome da UM do Sr. Cipriano: “Chacra de Mandioca”, estrategicamente construída em uma antiga área de capoeirão deixada pelo proprietário anterior e, com a possibilidade de se manter por até quatro anos, sem uso de adubo, como informado pelo Sr. Cipriano. Essa UM com 0,3 ha. está a 15 metros de distância da residência, o que facilita o acesso aos mantimentos e a lida e, pelo tamanho reduzido, colabora para a não contratação da mão-de-obra externa. O Sr. Cipriano informa que, depois da separação do taquaral, as pessoas quase não se ajudam na demão (mutirão), “só se preocupam durante os muxiruns (quando há) em beber e comer, antes, não era assim”. O período em que em geral se começa a feitura da Chacra é no inicio da época de chuva, onde, entre setembro e outubro se limpa a capoeira, e até junho o plantio é efetuado. Mas, devido as mudanças climáticas, muitos cultivos tiveram alterações em seu ciclo de plantio, exemplo dado da bananeira e arroz, que atualmente é em outubro, mas, antigamente era setembro. Figura 3. Croqui da UP confeccionado pelo Agricultor. 36 Agricultores - Catulino Lopes Viana e Cecília Mendes Viana Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana Sítio Três Corações município de Cáceres-MT. Casado desde 1976, com a Senhora Cecília Mendes Viana, que nasceu na localidade de Anhumas, o senhor Catulino é descendente de uma das famílias que desde o tempo do arraial reside na região de Santana. Onde, apesar de não saber o significado e nem a origem, aprendeu durante sua infância o nome chacra com seu pai. Dona Cecília disse que aprendeu esse nome há uns 30 anos atrás, após ter ouvido com os moradores mais velhos da localidade, os senhores Cassiano Martins, pai do Catulino e Armindo. Segundo o senhor Catulino, alguns agricultores não o usam essa nominação, pois, “não quer usar o jeito de nós falar, nossa descendência (...) jeito de pai, de avós, daí ele vai modificando o jeito de falar (...) deveria falar, a gente já pegou esse idioma assim (...) é um conhecimento de família”. A Chacra que possui cerca de 0,5 ha. é menor que a roça, que segundo o informante possui 2,5 a 7,5 ha, assim, devido a esse tamanho, as atividades que se tem na roça demandam contratação de mão-de-obra externa. Outra diferença entre as UM’s roça e chacra, se dá na necessidade de avanços ou mudanças em seu território (da roça) para buscar solo com qualidade melhor para a produção. Diferente da chacra, pois devido ao número menor de indivíduos cultivados, a área ocupada e o impacto são menores, assim, o local pode ser utilizado por muito tempo e, quando observada a invasão de ervas daninhas ou enfraquecimento do solo, o local pode ser deixado em pousio para um posterior retorno. Espécies como milho, feijão, arroz, mamão, mandioca e banana, coexistem nas duas UM’s e, apesar das particularidades de cultivos e tamanhos, se pode fazer juntas em uma mesma UP, a chacra e a roça. Das diferenças e similaridades entre chacras e quintais se tem: o quintal possui tamanho menor que a chacra; em ambas há as cercas de três 37 fios de arame farpado; os cultivos no quintal são em menor quantidade de indivíduos, mas, com maior diversidade de espécies tais como: as plantas ornamentais, medicinais, frutíferas, hortícolas e condimentares, sendo muitas dessas comuns as duas UM’s em um lugar separado do quintal, mas, não muito distante do mesmo. Entre a chacra e a chácara, se tem as seguintes diferenças, conforme relatos dos agricultores: A localização da chácara é nos arredores ou mesmo no perímetro urbano. Seu tamanho é de 0,5 a 2 hectares e, possui a produção voltada para comercialização, o que é raro na Chacra. Outra particularidade apontada pelo senhor Catulino é que a produção mesmo que com intuito comercial, a chácara, em muitos casos, tem a sua produção menor que na Chacra. Nesse caso, o fato da “imobilidade” da chácara acarreta o alagamento do solo, que afeta a produção durante o período de chuva, e ainda, por ser sempre em um mesmo local, o desgaste ou mesmo a terra com qualidade baixa é outro agravante. Diferentemente da chacra, a chácara, possui características de UP por ter dentro de seu território outras UM’s e, devido a menor proporção, não há muito espaço para mudanças, diferente da Chacra, que pode avançar sobre outras áreas da UP. A chacra é caracterizada pelo senhor Catulino, que possui mais de 20 anos de experiência nesse assunto, como sendo uma roça pequena (consorciada) de 1 a 2 ha. de grande importância devido a produção para autoconsumo (e ainda para os animais e cessão dos excedentes aos vizinhos); facilidade ao acesso, devido à proximidade da residência e ainda, produzir semente para a outra roça, no período em que não pôde efetivar. Nessa UM há diversidade de cultivos de ciclo curto e longo, onde existem variedades locais ou não, que também são comuns aos quintais, roças e ares de capoeira, como: o milho de três meses (para fazer curau) e o asteca; arroz de três e quatro meses; mandioca “liberata”; batata doce, cana, mamão, cara, abacaxi, abóbora, feijão, banana “salta veaco”, rúcula, couve, 38 alface, pimentão, maxixe, quiabo, pepino, abóbora, melancia, pimenta doce e pimenta malagueta. No caso da atual Chacra, a distância entre ela e a casa está em aproximadamente 200 metros e seu tamanho é de 0,5 alqueire (1,25 ha), que é outra característica ressaltada (tamanho menor que a roça e maior que o quintal). O processo de derrubada e queima tem início no mês de maio e o plantio, em outubro ou novembro, no começo de chuva. O casal que exerce as atividades na chacra, onde trabalham entre 7 a 12 dias por mês, e 5 h por dia, das 8h às 11h e das 14h às 16h (depende do sol ou da chuva). Por vezes há a troca de dia (ajuda mútua ou de mão): “às vezes os cunhados Juscelino ou Paulo dá uma de mão do dia e não cobra nada” disse o Senhor Catulino. A escolha do local se dá pela observação de características que o agricultor percebe como de “terra de produção”, ou seja, terra preta e que consiga manter a umidade; terras altas e que não alague facilmente e local de fácil lida geralmente em capoeiras que é uma vegetação boa de ; com 3F4 pouca “galhada”, pouca “ ”, diâmetro pequeno que facilita a derrubada e por 4F5 conseqüência menor esforço do agricultor, que no caso do Senhor Catulino, possui problemas de saúde. Vários motivos após 2 ou 3 anos de utilização do local acarretam para que esta área seja abandonada ou deixada em repouso (pousio). Entre eles se tem: a possibilidade de implementar outra área de cultivo (dentro da UP), pois há mais espaço na UP; o aumento de ervas daninhas (sementeira); permitir a recuperação das qualidades do solo através dos processos naturais, e ainda, o local pode ser reutilizado para pastagem (capim Brachiara). Após um certo tempo de uso da terra há ocorrência de plantas invasoras, como o carrapicho de árvore, picão, capim amargoso, capim mais 4 Segundo Mendes (2005b) (...) lá está enfaxado, (...) está sujo. Quando roça, fica alto de folharada ali. Corta, pica tudo. Então, dá aquele faxo e o fogo queima mesmo, sabe. O faxo é bom para fogo. 5 Compreendido como o banco de semente existente no local da Chacra, constituído por ervas daninhas e ainda, outros vegetais trazidos pelos animais ou vento. 39 fino e o capim bravo. Também aparece a lagarta “medi-palmo”, que ataca as folhas do milho e feijão e o “coró”, que ataca os cultivos de mandioca e banana provocando o apodrecimento. Para tanto, o uso do inseticida fosforado de nome comercial Folidol, se dá, como dito pelo informante: “depende do agitamento (quantidade) do inseto”. Apesar das pragas e plantas invasoras, o agricultor diz que a produção não é tão acentuada, em razão do ataque de animais silvestres, como o tatu, macaco, cutia, quati, mutum, veado, etc, que se alimentam das plantas da chacra. Figura 3. Croqui da Chacra confeccionado pelo agricultor antes da visita guiada. 40 Tratos culturais: geralmente há um período de descanso da terra. A antiga Chacra tem três anos, e ainda, possui uns indivíduos de mandioca. Há pouco tempo o agricultor roçou a capoeira e plantou feijão (2005). De cultivo se tem uma área com 120 bananeiras num espaço de 15 x 20 braças (0,14 ha). Também lá se encontra um plantio de feijão, onde foram usados 8 litros de sementes, que resultou em 12 x 24 braças que é 0,14 ha. Em alguns casos as mudas são plantadas em separado, exemplo da mandioca e banana, em que se utiliza espaçamento de 3 m de largura. Quando há rotação de culturas o arroz sempre é o primeiro a ser plantado. Pode-se plantar também, banana, mandioca, abacaxi, batata doce e mamão. Banana utilizou-se mudas obtidas na UP de um parente, e as covas, com dimensões de 20x20x40-50 cm (largura, comprimento e profundidade), foram abertas com enxadão. Em áreas com menos volume de raízes podese também utilizar a cavadeira para a feitura das covas. Mandioca as variedades utilizadas produzem entre um e dois anos. O plantio foi em uma área de 0,28 ha., utilizando propágulos com três ou quatro olhos (gemas) e 15 cm de comprimento. Os propágulos foram adquiridos com o Sr. Chico Ferreira, seu cunhado, residente na localidade do retiro das Anhumas. A variedade de um ano (variedade liberata) é utilizada para produção de farinha. Já a variedade de seis meses (mandioca branca) é utilizada para a alimentação própria e dos animais. As diferenças entre as variedades são o tempo de “amadurecimento é a altura e a ramagem”. Batata doce em geral não utiliza um espaçamento padrão. Pode ser cultivada em sistema de consórcio com bananeiras ou abacaxi, e também, solteiras, com quatro ou cinco mudas, nas extremidades da Chacra, com dois a três metros entre indivíduos. Por vezes, plantam cultivos próximos aos outros, exemplo: Milho e banana: onde as bananeiras são plantadas nas linhas do milho. E no caso de coincidir o local, a preferência se dá a bananeira. 41 Plantio em consórcio: Arroz e mandioca - Quando do plantio de arroz e mandioca juntos, usa-se o espaçamento de 0,3 ou 0,4 m nas linhas por 1.5 m entre linhas. O Agricultor diz que: “O distânciamento das mandiocas depende da mandioqueira; se tiver rama e crescer bem coloca 1,5 m se for pequena pode deixar 1 m.”. Banana e arroz: O espaçamento utilizado é de 3 m entre linhas, e para o arroz 1 m entre linhas, podem ser plantadas duas linhas de arroz nas entre linhas da bananeira. Arroz e milho: o agricultor disse que plantou esses dois cultivos juntos para melhor aproveitamento do espaço e tempo. Em 1,25 ha. foram plantadas 20 ruas de arroz e 10 de milho. O ciclo do milho completa-se em 90 dias, e o arroz, em quatro meses. Segundo Sr. Catulino “maduram juntos”. Entre duas linhas de milho, se planta duas linhas de arroz. Quando o milho é plantado solteiro, o espaçamento é 0.5 m entre linhas por 1.5 m na linha. Abóbora com arroz ou milho: usa-se espaçamento mais longo entre linhas para o arroz ou milho e semeia-se a abóbora nas entre linhas. Agricultor - Juscelino Ferreira Mendes Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Retiro - Anhumas Sítio Sonho Meu, município de Cáceres-MT. Filho de Aprígio Ferreira Mendes e Luiza Martins Mendes, é Irmão de Dona Cecília esposa do Sr. Catulino. O Senhor Juscelino nasceu no ano de 1958 em Anhumas, localidade ao lado de Santana na região da Morraria. Desde criança conhece o nome chacra, mas, não sabe a origem do nome nem da forma de construir, mas, o agricultor informa que essas UM’s não excedem a 2,5 ha, assim, maiores que o quintal e menor que a roça. Ainda, possuem em comum ao quintal e roça, alguns tratos culturais, o 42 destino da produção e os cultivos, sendo que em menor quantidade que na roça, devido esta, possuir em média 7,5 a 10 ha. O tamanho relativamente pequeno da chacra proporciona a implementação em uma mesma área, da roça e chacra, ou seja: “pode dividir um pedaço de meio alqueire na roça e fazer uma chacrinha” como dito pelo informante. Através do processo de derrubada e queima da vegetação, o início das atividades na chacra se dá conforme o período de chuva, mas, varia conforme o cultivo e a fase lunar. O agricultor ressalta a mudança do período de queimada, que antes era em agosto e agora (conforme as instruções do IBAMA) é em outubro, e para tal atividade o informante faz aceiro e retira licença junto ao órgão competente. Atualmente a Chacra do senhor Juscelino possui 1,21 ha, cercada de arame farpado e também liso, no centro até pouco tempo, havia um ranchinho usado para armazenar feijão e abrigo de mudas e do agricultor nos períodos de chuva e sol forte. A chacra fica à 500 metros da estrada que dá acesso as outras UP’s e, por volta de 200 metros do curral. A residência do agricultor está distante 350 metros da chacra. Essas distâncias que existem entre a chacra e outras construções foram uma das razões que acarretaram a escolha do local de construção da chacra. Também influenciou nessa escolha a proximidade do curso d’água, a qualidade da terra e, a proximidade a uma pequena área de preservação (mata sem ser manejada), que propicia benefícios como a umidade e outros. Outro fato para a escolha do local é o melhor aproveitamento do espaço, evidente na divisão que fizera na UP. A localização em local mais alto, também é um dos motivos de escolha do local, pois, entre o curral e após a chacra (locais mais baixos), nos meses de outubro a janeiro, ocorre alteração no leito do córrego temporário e do rio Anhumas, devido ao aumento do indicie pluviométrico, o que ocasiona o alagamento parcial e pequeno em parte da chacra. 43 As modalidades de mão-de-obra que há nessa UP são: própria, onde o agricultor executa as tarefas na UP; troca de dias com vizinhos e parentes com reciprocidade na “troca de dia”, caso feito com o Sr Catulino e, pagamento pelo trabalho, sendo este em dinheiro ou produtos da colheita. A produção é destinada ao consumo próprio e dos animais domésticos ou, como no caso da produção da cana-de-açúcar, há a produção de rapadura juntamente com seu irmão Antônio, onde, após a divisão da produção, uma pequena parte é vendida. Ainda, parte do que se produz na chacra é doada aos que não tem alimentos. O cultivo de cana-de-açúcar, banana de fritar, abacaxi pérola, teca e mamão papaia, possuem um número maior de indivíduos. Isso pode ser atribuído, pelo tipo de reprodução (assexuada) e, o interesse do agricultor por “beleza” ou consumo desses cultivos. Além dos cultivos acima citados, ainda se tem: abóbora, abóbora moranga, acerola, acuri, banana nanica, batata doce, caiá, caju, capim cidreira, cará, cedro, feijão carioca, feijão guandu, gengibre, goiaba, guiné, jaca, jatobá, laranja, limão galego, limão taiti, loureiro preto, mamão castelo, manga bourbon, maxixe, milho, peroba e teca, urucum. Tratos culturais: o arroz agulhinha foi plantado em dezembro de 2004, 18 litros de sementes foram fornecidos pelo Sr. Tut, e plantado com matraca regulada para 18 grãos, em profundidade de 5 cm, em espaçamento de 15 cm x 15 cm. Junto, plantou cana-de-açúcar, que foi mantida, pós colheita do arroz. O plantio de cana-de-açúcar foi em uma parcela de 0,14 ha, em local não mecanizado. O espaçamento utilizado foi de 1 m por 1m, em covas (1.500) com profundidade de 10 cm, onde é colocado propágulo de 10 cm, que foram obtidas com o Mario Japonês. Até hoje é só canavial, que sempre é visitado pelos macacos. A produção é para alimentar o gado e consumo próprio, mas, o informante quer adquirir um engenho para fazer doce / rapadura. O agricultor fez duas parcelas distintas, onde plantou milho e banana. Em uma dessas parcelas citadas, no mês de junho, foram plantados 44 em 0,2 ha, oito litros de sementes de milho híbrido (não especificada a variedade), compradas da Valdirene na comunidade Guanandi. O espaçamento utilizado foi 1x1 m, utilizando matraca regulada para 4 sementes por cova, estas, com 6 cm de profundidade. A colheita foi na lua nova de outubro. A outra parcela com tamanho igual (0,2 ha), recebeu o plantio de 180 mudas de bananas das variedades “salta veaco” e bananinha, que, são provenientes, do sítio bezerro branco dos irmãos Antônio e Estevão. Em covas de 15x 15x 15 cm, feitas com enxadão, o agricultor, plantou as bananeiras, com espaçamentos de 4 x4 m. Em meio ao plantio de cana-de-açúcar, haviam seis indivíduos de mamão castelo, que após frutificação, “os passarinhos comeram e espalharam as sementes”, e hoje, há por volta de 50 indivíduos de mamão, que após capina as sementes que foram zoocolicamente depositadas no solo emergiram. Também hoje, se tem mamão papaia, mas, não sabe quantos indivíduos. Apesar de colher poucos frutos, devido ataque das cigarrinhas, em novembro de 2004 plantou abóbora moranga, plantadas duas sementes por cova em profundidade de 0,5 centímetros, feitas com pequenas raspagens, com a extremidade lateral da enxada. As sementes foram doadas pela cunhada e, plantadas em espaçamentos de 10x10 m. “Se plantar de bom coração duas dá, mas, de mau, põe cinco para dar, pois pensa que as que não nascer vem outra e nasce”. Sr. Juscelino. A batata doce foi plantada 5 cm de profundidade enfileiradas, em espaçamentos de 2X2 m. O cultivo dos oito indivíduos, foram impedidos pelos animais silvestres (tatus). Após ciclo de produção do milho, no mês de fevereiro, o solo foi capinado com ajuda do Sr. Catulino, e plantaram o feijão carioca, com a aplicação do folidol (defensivo do grupo dos fosforados). O espaçamento utilizado fora de 30x30 cm, em covas de aproximados 3 cm, onde, foram introduzidas com auxilio da matraca, de 2 a 4 sementes. 45 Em 14 de março de 2005, foram plantadas 80 mudas de teça, no espaço antes ocupado pelo milho. O agricultor diz que “acha bonita, e com o tempo deve ter serventia”. As mudas obtivera com um parente que trabalha em uma empresa que trabalha com plantio desta espécies. Para o plantio do cará, a cova (com profundidade de 10 cm) foi feita com o enxadão e, em sistema de monte (catatumba) perto de uma árvore. O material de propagação obteve com seu compadre Simão da região de Anhumas, o mesmo já faleceu. O plantio de cinco indivíduos de manga da variedade borboum foi há quatro anos, para tanto, fez covas de 10 cm de profundidade, em locais distantes uns dos outros. As mudas, veio do sitio do finado pai. As três mudas de limão galego, e as seis de limão Taiti, trouxeram da UP de seu irmão, e só foram transplantadas do canteiro na ocasião do transporte até a UP de Juscelino. As mudas de caju foram feitas em sacolas de polietileno de 15 cm, com terra preta e esterco animal, cerca de 40 g. Após o desenvolvimento das mudas em local protegido da irradiação solar, foram transplantadas para o local definitivo. As sementes foram trazidas de Cuiabá, por uma sobrinha do agricultor. O mesmo procedimento também foi utilizado para o cultivo das laranjeiras. Com as mudas foram cedidas pelo o Sr. Paulo Martins, o plantio de abacaxi pérola foi em covas retilíneas de 30 x 30 cm feito com em o auxilio do enxadão. Com mais de três anos de cultivo, boa parte da produção é “saboreada” pelos animais silvestres, como o macaco. O Sr. Francisco Ferreira cedeu algumas sementes de goiaba, que foram semeadas de forma aleatória na Chacra e hoje se tem dois pés. Para o plantio da jaca, as mudas foram produzidas da mesma forma que as da laranja e caju. No período do transplantio, com auxilio da enxada, se fez uma cova de 5 cm de profundidade e as plantou. Apenas duas mudas tiveram êxito. Seu compadre e irmão Simão foi quem deu as sementes. O 46 fruto é utilizado para alimentar o gado, pessoas e animais silvestres, como os macacos. O Sr. Juscelino plantou três pés de feijão guandu, um próximo ao córrego e outros dois na entrada. Fez covas pequenas com o enxadão, e as plantou. As sementes, o irmão Antônio Ferreira que lhe cedeu, e estas sementes, se não houvesse a predação por animais silvestre, como a arara (siriva) seriam usadas depois de torradas, para fazer café. Seu irmão Simão lhe presenteou com duas mudas de pimenta malagueta, plantadas em covas de 0,5 cm, sendo que, uma desidratou. Em outubro de 2005, 80 indivíduos de mandioca foram plantados em covas com profundidade de 10 cm feitas com enxada. Segundo o informante, a mandioca boa para farinha é de um em diante. O plantio das ramas (mandiocas) em capoeira é em setembro ou outubro, depois de um ano de descanso da Chacra, e sempre em terra alta. Nessa UM, há cultivado indivíduos de capim cidreira, um individuo de guiné, quatro de acerola, quatro de maxixe e oito de quiabo que surgiu após a limpeza (roçada). Além disso, na ultima visita, o agricultor informa sobre oito jaqueiras, que não sabe se obtiveram êxito no desenvolvimento. 47 Figura 4. Croqui da Chacra confeccionado pelo agricultor. Agricultores - Margarida D. de Carvalho; Emiliano da S. Pereira e Alacir Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Taquaral Sítio Taquaral, município de Cáceres-MT. Apesar de desde criança ouvir sobre o nome chacra, somente há pouco tempo que realmente a agricultora o utiliza. Dona Margarida começou a fazer chacra há 19 anos, plantando arroz, milho e feijão, mas, tal atividade de plantio foi dificultada quando foi “criada” a fazenda e por tal motivo, no espaço que lhe coube fizeram uma chacra. 48 A agricultora diz morar na chacra, que tal fato esclarece-se devido às questões fundiárias do local, ou mesmo a maneira que essa UM é construída nessa localidade, que é antigo arraial e sesmaria. A chacra dessa família situa-se após o quintal, e é dividido por uma cerca com quatro fios de arame farpado e um córrego temporário. Dona Margarida e seu filho Alacir, que também trabalha fora da UP, plantam obedecendo ao período de estiagem os seguintes cultivos: cana de açúcar, banana, mandioca, mandioca branca, aipim, abacaxi, teca, algodão, mamão, batata doce, manga, goiaba, pinha, coco de guariroba, limão, abacate e laranja. A produção da chacra basicamente supre as necessidades de subsistência familiar e ainda, as canas-de-açúcar em regime de “ameia” com os senhores Américo ou Beto, são para fazer rapadura que eventualmente são vendidas. Tratos culturais: A cana de açúcar é plantada no começo da chuva, e colhida, quando começa a floração (“solta fecha”), que coincide com o período para produção de rapadura, entre julho-agosto. Com a enxada, a cova retilínea de 20 cm é feita e, se colocam os “toretes” (propágulos) de três nós, ou, a cana inteira, com espaçamento de um metro entre linhas ou não. O plantio das bananeiras é em lugar alto, no começo das chuvas, entre outubro a dezembro. As mudas utilizadas são grandes e com folhas e estas são colocadas em covas de 40 cm de profundidade e a largura, feitas com enxadão. Em torno de seis meses começam a produzir. Os propágulos para o plantio da mandioca branca (aipim) conseguiram com o Sr. Américo. O espaçamento utilizado é de 1,5 m de na linha, por 1 m entre linhas e a enxada é usada na feitura das covas. Os propágulos são utilizados quando “muchos”, com aproximadamente 8 cm de comprimento e com quatro a seis gemas em sua extensão. O agricultor diz que desfere golpes de faca nesses propágulos, para facilitar o surgimento das raízes. 49 O plantio do abacaxi é por mudas, que são colocadas em covas feitas com enxadão em espaços de 1,5 m entre linhas e na linha. O agricultor diz que: “o numero de enxadada pra fazer buraco, é o numero de anos que dura a planta”. O algodão é plantado em covas de aproximados 10 cm, feitas por enxada, onde são colocadas duas sementes. O plantio da batata doce é em cova de 10 cm de profundidade e devem ser plantadas, distante umas das outras. As sementes são semeadas aleatoriamente, para se obter as mudas já “nascidas” que é preferido pela agricultora no cultivo do mamão. Em caso de preparo de mudas, estas, são plantadas em covas de15 cm e, segundo a informante, se o homem arrancar o mamão que produzirá as sementes para a muda, o mamoeiro será macho. Mas, se for a mulher, o mamoeiro dará muitos frutos, por esta razão, D. margarida diz que “tem que ser mulher para plantar”. As mangueiras são plantadas em covas com 15 cm de profundidade, feitas com enxada em espaçamentos de 2 m entre linhas. As sementes são da própria UP, por vezes, as trazem de outros lugares, a produção de frutos, inicia em aproximadamente quatro anos. As goiabeiras, segundo a agricultora, “é difícil de se plantar, ela nasce sozinha, ou os passarinhos trazem”, então, quando as encontram, fazem a covas rasas (5 cm) e plantam. As mudas de acerola são preparadas pelo Alacir em saquinhos, e são plantadas em covas de 15 cm de profundidade. O plantio da pinha, abacate e laranja seguem os procedimentos utilizados para a acerola. A muda da guariroba foi daqui para Cáceres e seu irmão fez a muda e depois deu a agricultora, que se utiliza o coco para colocar na rapadura. Segundo a agricultora, as mudas nascem em qualquer lugar, então ela arranca e planta, isso, também serve para as mudas de manga. 50 Agricultor - Paulo dos Anjos Martins Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana Sítio São José, município de Cáceres-MT. Desde o ano de 2004, O senhor Paulo possui duas chacras, ambas em terras cedidas pelo senhor Ademar (vizinho). Uma está a 300 m de sua residência e possui 1.25 ha. (mecanizada e cercada), a outra, possui 1,09 ha. (cercada)e fica a aproximados 700 m da casa do agricultor. Em fevereiro de 2006, o agricultor disse que a área adjacente a sua residência, é uma roça. Dois motivos podem ter ocorrido para a mudança da nominação (classificação) daquele espaço: 1- aumento da área e de indivíduos vegetais; 2- “não” querer assumir que aquela área é uma Chacra. A última suposição pode ser endossada pelas falas do Sr. Catulino (acima). O local para a feitura da chacra, no caso desse agricultor, se dá pela cessão da terra e facilidade pra mecanização da terra, que propicia o uso por até quatro anos, após este tempo surge ervas daninhas e a terra “enfraquece”. A venda de excedentes acontece, mas, a produção é voltada para a subsistência da família, pois, a chacra é a alternativa para o pouco recurso financeiro, pouca terra e mão-de-obra, O tamanho reduzido favorece o uso da mão-de-obra familiar, mas, por vezes há o contrato de outros. As espécies cultivadas são batata doce, cará, mamão castelo e papaia, croá, mandioca, arroz agulhinha, feijão rosinha (espécie local), feijão carioquinha e milho híbrido, ambos o excedente é comercializado. As diferenças que há entre Chacra e chácara são o tamanho, a localização no perímetro urbano e o cultivo que quase sempre é verdura. Já em relação a roça é pelo tamanho e a maior quantidade de indivíduos vegetais (apesar da menor variedade). Tratos culturais: No primeiro ano, em dois espaços distintos dentro da Chacra, se plantou entre os meses de outubro e novembro (começo da chuva, na lua minguante este mais fraco), o arroz e milho, o ultimo, foi colhido em fevereiro. 51 O plantio de milho e arroz, não é feito no mesmo local, pois, segundo o informante “o milho sobe no arroz”, mas, o mesmo diz que, se pode plantar a mandioca e o arroz em um mesmo local (juntos). Em uma área de 30 braças² (0, 43 ha) utilizou 50 litros de sementes de arroz, que produzira 20 sacos de 60 Kg. Segundo o informante, boa parte dos grãos antes de amadurecer caíram. Em uma área de 50 braças² ou 1,21 ha., se plantou 35 litros de sementes de milho e, colheu aproximados 12 sacos de 60 Kg. O agricultor explica que essa “pouca” quantidade produzida, foi em virtude da “terra estar meio nova (recém mecanizada), por isso, o pé ficou fininho, para ambos os cultivos”. A limpeza é feita esporadicamente em conseqüência da invasão de ervas daninhas e outras invasoras. Em casos de infestação de pragas, aplica-se o defensivo de nome comercial Tamaron (organofosforados), ou folidol (fosforado), antes da floração do feijoeiro. No segundo ano, a área para o plantio estava muito úmida, e não possibilitou o uso do trator para “gradear”. Tal ação, fora em março e abril. O primeiro cultivo foi o milho e, após a colheita, a terra foi novamente mecanizada, para o plantio do feijão, entre março e/ou abril. Plantou 75 litros de sementes de feijão, sendo 69 litros da variedade carioquinha, que adquiriu no comércio da Vila Aparecida, e 6 litros de sementes, da variedade local denominada rosinha. Para o plantio de milho foram 35 litros de sementes, sendo: 23 litros de sementes híbridas que ganhou do Sr. Abraão e 12 litros de sementes do milho asteca (variedade local) que conseguiu no Guanandi (comunidade próxima). Os dois cultivos foram plantados em 40 braças² (aproximadamente 0, 77 ha.) cada. As perspectivas de colheitas foram para o feijão 6 sacos de 60 Kg e, para o milho seria 4 carros ( aproximadamente 12 sacos de 60 Kg.). A 2º Chacra, com mais de um ano de plantio e cerca de 1, 9 ha., possui uma divisão de aproximadamente 0, 36 ha., onde fora cultivados: 52 mandioca, arroz, mandioca e depois o feijão, cada cultivo após o ciclo do outro. No espaço restante, há mandioca, batata doce, mamão, cará e croá. O preparo da terra iniciou em setembro de 2004, com a roçada, derrubada, encoivarada, queima (no mês de outubro) e descoivara. Após quatro chuvas capinou (novembro) e, com mais um mês fez a requeima. Em dezembro o arroz foi plantado e, após três meses foi colhido. A batata doce foi plantada em espaços distintos de aproximados 0,05 ha. Mas, as mesmas foram “comidas pelo tatu”. O cará, que naquele momento existia um indivíduo cultivado, fora plantado em sistema de “catatumba”, onde se faz uma cova e coloca-se a terra menos compactada sobre o material de propagação pretendido. No caso do cará, se faz a “catatumba”, próxima a um toco ou árvore, para como complementa o agricultor “subir e não atrapalhar os outros”. Com esse sistema, se pode plantar o cará junto com a mandioca ou arroz. As variedades de mamão família (castelo) e papaia foram plantados nas linhas dos outros cultivos. As sementes utilizadas são da região. O Croá da família curcubitaceae, possui duas variedades (a amarela e a roxa) comuns na região. Suas sementes são utilizadas cruas para prevenir a verminose animal, e também, utilizada na alimentação humana ao natural ou assada. Seu plantio é sempre próximo a uma árvore, pois como diz na região “ela é de cipó”. As sementes para o plantio foram doadas pelo Sr. Armindo. Em um espaço de 30x45 braças (aproximados 0,65 ha.), se plantou em média, duas mil “cepinha” (propágulos) de mandioca. Isso, sempre após o ciclo do arroz, pois, “a mandioca, cresce mais violenta que o arroz”. 53 Agricultor - Armindo Lopes Viana Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana Sítio Santo Antônio, município de Cáceres-MT. Com 86 anos em 2006, o senhor Armindo, cita que, no antigo arraial, devido a maior quantidade de terras que havia para cultivar (as terras eram de uso comum), não se fazia chacra, só roça. Desde criança o agricultor ouvia seus pais falarem sobre chacra. Já em relação a chácara, o informante disse não ter ouvido nada. A escolha do local se dá pela proximidade da residência e pela qualidade da terra, o que confere o tempo de pousio (geralmente entre 2 a 4 anos). As proporções são pequenas entre 1,74 ha a 0, 05 ha., por isso, a mão-de-obra utilizada é menor e estritamente familiar (os dois filhos). Após a preparação da terra, se tem o plantio primeiro do milho, entre outubro e novembro, e depois, o feijão carioca no mês de março. Além desses dois cultivos também se tem arroz, banana, algodão, limão, manga, laranja, cumbaru, pimenta e mamona que nasceu espontaneamente. A produção é para a despesa da casa, e dos filhos, com venda do excedente da banana. Apesar de ter o espaço bem aproveitado, o que favorece a diversidade de cultivo, uma ressalva feita pelo o informante é que a localização da UM, deve proporcionar, quando preciso, o aumento dessa UM, isso para o caso de aumentar o numero de indivíduos ou mesmo iniciar um novo cultivo. Nas chacras há cerca e algumas espécies típicas de quintal, mas para por aí as semelhanças, segundo o informante, pois, diferente da chacra, no quintal se tem galinhas e porcos, e ainda, não há plantas. Nesse caso o quintal dessa família, ainda segue, o “modelo” do tempo do antigo arraial, ou seja: um espaço entre a casa e a cozinha (que são separadas), que é sempre limpo (varrido), onde, há uma cerca de pau-apique (“anti-porco”) e ao fundo, o espaço é compartilhado pelos cachorros, o galinheiro e a pocilga. 54 Sobre roça e chacra, diz que quase não há diferença, esta, reside apenas no tamanho, que no caso a roça é maior. O informante com mais de 30 anos de lida com chacra, hoje em dia devido a visão comprometida, idade avançada e outros problemas de saúde, não mais trabalha em sua chacra, esta agora é cuidada por seus filhos. Tratos culturais: A fase de preparação da terra procede da seguinte forma segundo o informante: descoivara com machado, queima e depois o plantio. O milho é plantado nos meses de outubro/novembro, as sementes utilizadas, são da variedade local denominada “caiana”. O espaçamento adotado é de 6 ou 7 palmos (entre 1.2 a 1.5 m) entre linhas e na linha, e com quatro dedos (8 cm) de profundidade. O plantio do feijão carioca é no mês de março. O agricultor disse que os outros (variedades) já sumiram. O espaçamento utilizado tanto para entre linhas como na linha, são de dois palmos (entre 0.4 m) e 3 dedos (6 cm) de profundidade. O arroz plantado é uma variedade local, conhecida como “de 4 meses” que, como afirma o agricultor: produz bem. O arroz é plantado com 3 dedos (6 cm) de profundidade e dois palmos (em torno de 0.4 m) de distância de entre linhas e de na linha. A mandioca também adquirida na região, segundo o Sr. Armindo “só faz o buraco e joga”. A Banana chamada de Salta veaco ou de fritar são em espaçamentos de duas braças (4.4 m) entre e na linha. As mudas são da região, só faz o buraco com três palmos (0.6 m) e joga. Para a romã, a única indicação foi para a profundidade a ser plantada que é de uma geme (comprimento do dedo polegar ao indicador, em forma da consoante “L”), 15 cm aproximadamente. As formas de medidas apresentadas pelo informante diferem do usual. Portanto, se buscou estabelecer um “padrão” através da observação e aferição junto a objetos com medidas sabidas (caderno e caneta) e assim, 55 se tem: um palmo é aproximadamente 20 cm; uma geme 15 cm; um dedo aproximados 2 cm. Em geral as sementes são plantadas segundo o informante “na mão, põe um bocadinho na mão e joga”. Agricultores - João B. Alves da Silva e Hermelinda França da Silva. Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Retiro - Anhumas Sítio Sete Estrela município de Cáceres-MT. Após a morte dos indivíduos de café que havia no quintal, o agricultor aproveitou o espaço e, em 2002, iniciou o cultivo de outros vegetais e assim, surge a chacra, que, o agricultor não sabe de onde veio esse nome, apenas o conhece desde pequeno. Na prática, para o senhor João, a chacra é “um pedaço pequeno perto da casa (...) onde, o que se planta na roça grande, pode plantar uns pés na Chacra, como por exemplo, a mandioca, banana e milho”. A localização dessa UM é bem próxima à residência do agricultor, na verdade, parte dela está no espaço da chacra, e ainda, o quintal, é apenas separado da chacra por uma tela, que cerca a chacra nas laterais e frente, assim dividindo, ainda, no fundo, há uma cerca de pau-a-pique que separa a pocilga da chacra. Mas, diferente da chacra, no quintal há as plantas ornamentais e alguns poucos indivíduos de plantas frutíferas. Já a chacra possui espécies medicinais, alimentícias e condimentares que são utilizados no consumo próprio e, por vezes, compartilhado o excedente com os vizinhos. Nesse espaço de 0,22 ha. os indivíduos de mandioca liberata e abacaxi pérola são os que sobressaem, talvez pela forma de reprodução assexuada, mas, ainda se tem nessa UM: Abacate, Acerola, Algodão, Babosa, Banana cabutá, Banana de fritar, Batata Doce, Boldo, Boldo do Chile, Bucha, Café, Caju, Capim cidreira, Cará, Fruta banana, Goiaba, Jenipapo, Laranja, Mamão Papaia, Mandioca amarela, Maxixe, Mexerica, Pimenta Lambari, Pimenta malagueta, Pitanga, Quiabo de Angola, Siriguela, Tamarindo e Terramicina 56 As atividades na Chacra são de acordo com a fase lunar e período de seca e chuva. Quando necessário, se aplica folidol (defensivo do grupo dos fosforados) no feijão, devido às vaquinhas (insetos). Tratos culturais: três anos atrás havia laranjeiras e aproximados 40 indivíduos de cafeeiro, que (causa não mencionada) secaram. O agricultor os cortou e amontoou, usou alguns galhos que para lenha e queimou o resto, após a chuva capinou e iniciou o plantio. O plantio de milho e rama (mandioca) foi em parcelas separadas, sendo que, no início de novembro, na fase lunar minguante, plantou-se aproximados 12 indivíduos de mandioca liberata e, sete indivíduos de mandioca amarela que conseguira com o Sr. Antônio Viriato. O espaçamento utilizado foi 1,20 m x 1,20 m e, com covas de 12 a 15 cm de profundidade, feitas com enxada. O milho foi plantado em 1 m entre linhas e 60 cm na linha, com utilização de matraca regulada para 3 a 4 sementes por cova, com 5 cm de profundidade. Para essa parcela, se usou, um litro de sementes de milho híbrido, comprado em Cáceres. O plantio fora em novembro e, a colheita do milho verde fora em janeiro. Parte da colheita do milho verde fez pamonha e curau, que, além de consumo próprio, cedera ao vizinho. “O ideal para o milho é da lua nova para a cheia, pois, cria mais a espiga nas outras, dá espiga sadia, mas, pequeninha” Sr. João. Nesse mesmo ano o agricultor plantou batata doce junto com milho, três indivíduos em profundidade de 10 cm. O cultivo do milho foi sucedido pelo cultivo de amendoim, no mês de março e no início das chuvas, em novembro, também se plantou abóbora, maxixe e quiabo. Para a abóbora usou três sementes por cova de 3 cm de profundidade, às vezes, planta três indivíduos, próximos a dois metros do outro. O maxixe é plantado em uma cova de 3 a 4 cm de profundidade, onde se coloca três sementes. 57 O amendoim foi plantado no lugar do milho, utilizou-se de aproximadamente três litros, mas, a produção fora prejudicada pelo ataque de formigas vermelhas. As sementes foram compradas de um rapaz da Bocaina. Também em 2003 plantou duas mudas grandes de bananinha cabutá (cabrita) que já produziu cinco cachos. O agricultor explica que a mudas foram plantadas em dezembro e eram grandes, por isso, que produziu rápido. Em 2004, três indivíduos de banana de fritar foram plantados também. Em geral faz a cova com cavadeira, sendo, 30 cm de largura e 40 cm de profundidade. Em janeiro 2004 plantaram abacaxi comum (pérola) na beira da cerca, aproximadamente 70 indivíduos. O informante diz que dá “grandão”, pois, planta com 1 metro de distância enfileirado. Plantou um individuo de cará ano passado (2004) usando o “sistema de catatumba” com 30 cm de profundidade. No local da Chacra, há algumas fruteiras como laranjeiras e tamarineiro e, também, um indivíduo de cafeeiro, que eram em 30 ou 40 no começo e, dois indivíduos de algodão. Também havia fumo que o informante diz que nasceu por si só, talvez porque iam fumar naquele local e caía a semente. Após o plantio, o agricultor corta os vegetais e os deixam no lugar, para decompor. Agricultor - Basílio Lopes Viana Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana Sítio Serra Linda, município de Cáceres-MT. O jovem Basílio diz que chacra é uma roça pequena que não excede 1,25 ha, assim, sendo uma alternativa frente a construção da roça, visto que o mesmo, não possui condições para fazê-la, pois devido ao tamanho (2, 37 a 12,5 ha) há a necessidade de contratação de mão-de-obra externa e, o agricultor não possui condições para isso. 58 O início das atividades na chacra é em setembro, obedecendo ao período de seca e chuva. A área escolhida é em capoeirão próximo a residência da família, o que facilita o acesso rápido, principalmente em períodos de chuvas, aos mantimentos. Nessa chacra há uma cerca de arame liso e farpado, com quatro fios em lugares distintos e, a área é utilizada por 2 ou 3 anos. A mão-de-obra empregada é do pai, mãe e do outro irmão. Agora com área destinada a sua família, desde julho de 2005, o agricultor cultiva em sua terra o feijão, milho, banana e arroz. O feijão eventualmente é vendido, como também a banana que a entrega verde, mas, a função principal da produção obtida na chacra é para as despesas da família. O território da chacra é quase sempre o mesmo, mas, é respeitado o pousio, o que se assemelha a roça, como também os cultivos que quase sempre são os mesmos, mas, o tamanho da roça é bem maior que a chacra, como citado acima. A diferença entre chacra e quintal reside no tamanho, o quintal possui no máximo 0,08 ha, já acima de 0,14 ha. é chacra. Alem de ter espécies em comum, no quintal se sobressai as espécies frutíferas e ornamentais. De acordo com o agricultor, a chácara é na cidade e, possui de 5 a 7,5 ha, onde, além dos cultivos, criam animais, o que difere da chacra, tanto em tamanho, como localização e sistema de criação. Tratos culturais: após o preparo do local, o primeiro cultivo foi o da banana, em espaçamento de 3 metros na linha e entre linhas. O tamanho da cova é de acordo com a muda, em geral é de 60x10x30cm (largura, comprimento e profundidade) utilizando o enxadão. O arroz de três meses plantara em novembro e colhera em fevereiro, com matraca regulada para 50 sementes de arroz, em profundidade aproximada de 2 cm. Os espaçamentos foram de 60 cm entre linhas e 20 cm na linha. Ainda no mesmo espaço, roçou um pedaço e plantou milho de palha roxa (caiana) em uma parcela de 0,25 ha. O espaçamento utilizado foi de 1m 59 entre linhas por 70 cm na linha, com o uso da matraca regulada para dois ou três sementes que fica a 3 cm de profundidade. Mas, não produziu bem, devido não efetivar a colheita em tempo hábil e predação de animais silvestres (macaco, tatu, quati e cutia). O feijão carioca foi plantado em março e em julho colhe, para este plantio o local foi cedido por um parente. “O primo Totó roçou e não plantou, ai ele me cedeu”. Para o plantio do feijão na lua nova ou crescente, utilizou 40 litros de sementes de feijão carioca, distribuídos da seguinte maneira: 20 litros próximo a residência do Sr. Paulo; 15 litros, próximo da casa de Sr. Benedito e, outros 5 litros de sementes perto da estrada. O espaçamento é de 20 cm entre linhas por 15 na linha, com o auxilio da matraca regulada para três sementes. Agricultor - Benedito Lopes Viana Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana Sítio Serra Linda, município de Cáceres-MT. O aprendizado deu-se com seu avô, que fazia a Chacra e o “roção”, que se diferencia da chacra devido seu tamanho que é de 2,5 ha, enquanto as chacras estão entre 0,08 ha a 1,25 ha para facilitar a manutenção, pois maior que isso, “o cara não agüenta tocar” Senhor Benedito. Na atualidade, o agricultor possui duas Chacras, uma a 500m de sua residência, em uma antiga capoeira na UP do Sr. Luciano, e outra ao lado do seu quintal, que é ao lado da residência e com cerca de pau a pique, que evita o acesso de pessoas e animais. A escolha do local para a chacra se dá pelo aspecto do solo em relação ao cultivo, da cessão da terra e proximidade ao curso d’água. Em geral, após dois anos de uso, dependendo do “estado” do local muda a chacra, mas retorna seis ou sete anos após estádio regenerativo da vegetação e solo. 60 A chacra quase sempre é implementada devido a falta de recursos financeiros e de mão-de-obra. O espaço menor não necessita contratação de mão-de-obra e ainda possibilita a produção para a subsistência e a venda de excedente. A esposa quando não debilitada também ajuda na força de trabalho, que é basicamente familiar e, auxiliam no cultivo de bananeiras, arroz, feijão, milho e mandioca. O preparo do local é a partir da derrubada e queima onde, segundo o agricultor se “Roça com foice, derruba com machado, espera secar um mês e põe fogo. Quando suja, carpe com enxada, espera chover a primeira chuva, antigamente tinha mês certo, agora não, a chuva atrasou tudo”. O milho é o primeiro cultivo na Chacra e, é plantado com a matraca regulada para 3 a 4 sementes, o espaçamento é de 80 cm na linha e 1m entre linhas. Já o arroz (agulhinha 3 meses) se regula a matraca para 30 a 40 grãos, obedecendo o espaçamento de 40 cm na linha e 50 cm entre linhas em seis centímetros de profundidade. A freqüência do plantio de bananeiras é menor, devido a broca, mas, quando as plantam, o espaçamentos são de 3 m entre linhas por 2 m na linha e estas, duram dois anos. O cupim e a broca por vezes causam danos aos cultivos. Para o plantio da mandioca, o espaçamento utilizado é de 1 metro na linha por 2,2 m entre linhas. O agricultor expõe a sua preferência pelas fases da lua: crescente, nova e minguante, pois, na lua cheia, al[em de rachar a banana, a quantidade por cacho é pouca, enquanto o milho, não produz espiga de qualidade. 61 Agricultores - Andresa Cuiabano de Souza e Romualdo Pinto da Silva. Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Taquaral Sítio Taquaral, município de Cáceres-MT. Segundo dona Andresa, a Chacra é assim chamada, pois “é um plantio em volta da casa”. Já o Sr. Romualdo diz que “na beira da cidade já tinha chacrinha, mas, não aqui no Taquaral”. A prática da Chacra antigamente era pouco usual, por ter os moradores do antigo arraial do Taquaral, acesso às terras e quantidade maior a mão-de-obra proveniente dos muxiruns, com as quais, podiam fazer além de suas roças “particulares”, também, roças coletivas. Hoje, as Chacras existem nessa comunidade devido à desestruturação do arraial e as questões fundiárias. O agricultor informa que “não tinham chacra (...) quando começou a apertar, e que acabou que viraram chacreiro”. Devido à “criação da fazenda”, o espaço diminuiu e conseqüentemente a quantidade e a produção. O agricultor Romualdo diz “se tivesse pelo menos um alqueire dava pra fazer Chacra boa, seria bom, não tinha que trabalhar para os outros”. A Chacra é cercada e telada, onde, o casal inicia as atividades de acordo com o princípio das chuvas, que ocorre geralmente em outubro. Os cultivos são banana, mandioca, batata doce, quiabo, nove horas, arruda, colônia, siriguela, cabaceira de árvore, beladona, macelinha e limão. D. Andresa explica que “O que dá na Chacra é pra comer, pra não comprar de tudo. E também para servi os outros”. 62 Agricultores – Porfírio Nunes Pires Comunidade Nossa Senhora da Guia / Barreiro Vermelho -Minador Sítio São José, município de Cáceres-MT. Desde criança a Chacra é conhecida do agricultor, isso, desde o tempo que morava no Lava Pé comunidade próxima a sua. Hoje em dia, é uma alternativa de cultivo, para aqueles que são idosos, doentes, sem terras e com pouca “posse” monetária, devido ao tamanho (cerca de 1 a 3 ha) se pode “lutar”. Para o Sr. Porfírio “quem tem posse vai ainda fazer roça de 2 a 3 alqueire (5 a 7,5 ha), porque, tem jeito de fazer com maquinário”. O local escolhido para a implementação é em terras alta e com retenção de umidade mediana, que, segundo o agricultor, é observado pelas árvores lixeira, embaúba, cambará, cumbarú e jatobeiro que “são madeiras frescas passam o tempo verde, elas chamam água, chuva”. Não derruba essas quando está no espaço das UM’s roça, Chacra, pasto, pois, se derrubar seca a terra”. O preparo é feito com a roçada, derrubada e queima, depois, se cultiva a mandioca, cana, feijão e pomar com tangerina e outros. Agricultora - D. Antônia Cuiabana de Souza Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Taquaral Sítio Taquaral, município de Cáceres-MT. Segundo D. Antônia, entre 1970 a 1973, já se faziam as chacras nessa comunidade e sua família também tinha uma. Segundo a agricultora, antigamente e ainda hoje, se planta mamão, mandioca, milho e arroz, que são para o autoconsumo e, para a alimentação das criações. A facilidade para a colheita, devido à proximidade da residência, a falta de condições financeiras e a mão-de-obra (que no caso de hoje é familiar), impulsionavam para a construção das Chacras. Nesse tempo, eram fechadas com “varame” (pau-a-pique) e havia uma tuia ao centro, tinha proporções maiores que o quintal e, menores que a roça. 63 A chacra se parece com um quintal com vegetais característicos da roça e do quintal. A informante complementa: “O quintal não sendo grande é chacrinha, até um alqueire (...) falo assim, porque meu pai fazia essa explicação (...) ali na Margarida, Celestino e Andresa, é quintal (...) mesmo que se plantar arroz, feijão e outros, ainda, não é Chacra, porque dá pouco, um pé aqui, outro ali (...), pois, a distância é pouca, três braças (...) a Chacra é mais espaciosa que o quintal (...) não é muito pregadinho da casa, tem que ser, um pouco longinho e espaciosa”. Tratos culturais: Sobre as questões de preparação e plantio ela diz que “Quando não roçava, queimava a paiada, roçava e queimava no mesmo lugar (...) dava a mesma coisa a terra boa o que planta vinha mesmo”. Agricultor - Luis Golberto de Oliveira Comunidade Nossa Senhora da Guia / Barreiro Vermelho Sítio Barreiro Vermelho, município de Cáceres-MT. As existências das chacras nas localidades de Nossa Senhora da Guia e Taquaral, segundo o informante, são maiores nos anos de 1951 até 1960, onde, os moradores mais antigos como os da família Ferreira, já as efetivavam. Naquele tempo, as chacras tinham caráter comunitário, onde, o plantio era em uma mesma área e, as atividades de preparo da terra, plantio, colheita e produção eram compartilhadas pelos membros da comunidade. Nesse tempo, ainda o arraial do era bem “forte” e, muitas famílias residiam T 5F5 no local e assim, as atividades tomavam esse caráter coletivo, de ajuda mútua. 5 O taquaral possuía área de 29 ha, que foi doado para a comunidade Nossa Senhora do Carmo, desde os tempos do pai do Senhor Beto. O seu padrinho, Luiz Apolinário assistiu quando fizeram a Igreja que nesse tempo, o informante ainda era criança. (...) Segundo o agricultor: “A história dessa comunidade faz parte da historia do Brasil, porque, são poucas terras de santo, doadas para a Santa”. 64 O senhor Beto salienta que em sua infância iam brincar, caçar, pescar e coletar frutas (como a goiaba) nesta chacra que já estava abandonada e que hoje é ocupada pela fazenda. Na atualidade, as chacras são menores que um alqueire, feitas em uma “sobra” pequena de terra com aproximadamente 0,12 ha. denominada “nesga”. Esta tem proximidade ou ocupa o mesmo território que o quintal. Isso decorrente da escassez da terra (no caso do Taquaral) e, para evitar a contratação de mão-de-obra externa. Além do pequeno tamanho, algumas chacras são teladas ou cercadas, possuem hortas de três ou quatro canteiros e ainda, em algumas há pocilga. A produção é voltada à subsistência, onde, as atividades iniciam no mês de abril ou maio e seguem até setembro e outubro. Os cultivos são: quiabo, banana, cana, mandioca, cará, quiabo, croá, abóbora e batata doce, que não ocorrem no quintal e assim, sendo uma das diferenças entre chacra e quintal, exceção do feijão pastel que é comum ao quintal e a chacra. As diferenças entre chacras e roças são o tamanho (chacras menor que um alqueire e as roças acima de 1,21 ha., mas, antigamente eram maiores) e os cultivos de arroz e feijão que ocorrem nas roças. Essa diminuição dos tamanhos das UM’s é explicada pela dificuldade de se pagar à mão-de-obra contratada, e ainda, nas comunidades de Nossa Senhora da Guia e Nossa Senhora do Carmo, a mão-de-obra familiar é cada vez mais escassa, pelo fato dos casais com poucos, ou nenhum filho e o êxodo rural ocasionado pela busca de trabalho e estudo, ou ainda, como o espaço foi “reduzido” por causa da “criação” da fazenda, muitos ficaram sem espaço para trabalhar suas roças, chacras e lutar com gado. Com isso, muitos saíram da região ou estão atualmente trabalhando como empregados ou fazendo diárias. 65 Agricultor - José Marino Ferreira Mendes Comunidade Nossa Senhora da Guia / Chapadinha Fazenda Chapadinha, município de Cáceres-MT. O agricultor informa que a chacra é “onde trabalha nele, mora nele, convive nele”. Desde criança, o senhor José Marino ouvia falar que Chacra é na beirada da cidade e vila. Mas o mesmo disse que no tempo do arraial, as pessoas as faziam e que, seu tamanho não excedia três alqueires (7,5 ha). As diferenças entre chácara e chacra, são baseadas em cultivos e criações. O agricultor diz que nas chácaras, há o pomar, o mandiocal, porcos, galinhas e bovinos. Já nas Chacras como as do taquaral, somente dois agricultores possuem porcos, que estão na periferia dos limites da Chacra. Próxima ao quintal, a chacra é cercada e ainda, a casa é construída em seu território. Assim, a área que ocupa é permanente, tanto, que o agricultor disse: “o que tira de planta, planta de novo” e, os cultivos que lá se encontram são mandioca, cará, batata, banana etc., que são resultado das atividades feitas pela família. Na localidade do Taquaral a chacra assume grande importância para as pessoas. Elas dependem daquele pequeno espaço que sobrou (após a invasão pelo fazendeiro) e, é dali, que conseguem complementar os alimentos para sua subsistência. Agricultores – Américo Ferreira Mendes e Elier Ferreira Mendes Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Chapadinha. Sítio Nossa Senhora Aparecida, município de Cáceres-MT. Apesar de não fazer Chacra, o Sr. Américo (irmão do Senhor José Marino) diz que essa UM é ao lado da casa e onde se cultiva romã, milho etc. O agricultor ainda cita que na comunidade do Taquaral essa UM está 66 mais evidente “porque apertaram”, em outras palavras, pela perda de espaço para a prática agrícola pelos motivos fundiários da região. Segundo o Senhor Américo, quando existia ainda o taquaral e as terras eram de uso coletivo, alguns faziam roça fora do local do arraial e, essa desestruturação no espaço agrário teve reflexo nas práticas comunitárias, pois, naquele tempo, o muxirum era comum, hoje não, afirma o agricultor. A palavra Chacra segundo Elier tem significados diferentes, pois, “para língua dos imigrantes Chacra (Chácara) é na cidade na beira da rua (...) aqui na língua deles é outro sistema”. 67 6. DISCUSSÃO Essa parte é baseada em dois itens: O primeiro focado na hierarquização das idéias que respondem o que é a Chacra extraído do contexto das entrevistas. Para tanto, utilizou-se a análise fatorial pelo método de componentes principais e ordenamento decrescente dos pesos relativos, para identificar as informações com maior importância para definir o que é estrutural e, o que é conjuntural. O segundo item, consta de uma discussão em relação à diversidade vegetal que há na Chacra defrontando com dados das UM’s Chácara, Roça e Quintal a partir de algumas literaturas. 6.1. Idéias (s) relativas à decomposição dos componentes principais, com ênfase no ordenamento decrescente dos pesos relativos. Com base na metodologia proposta por Ying e Liu (1995), utilizada na definição de pesos para variáveis em análise de impacto ambiental. Foi utilizado o peso relativo de cada idéia obtido pelo resultado da divisão do valor dos pesos absoluto de cada condicionante, pelo somatório dos pesos absolutos dos condicionantes. Nessa fase foram extraídas do contexto da entrevista 310 idéias (ou conjunto destas) que resultaram em 19 grupos de idéias, onde, a representatividade oscila entre 0,87 a 0,07% (Anexo 2). 68 Tabela 2. Idéias (s) relativas à decomposição dos componentes principais; com ênfase no ordenamento decrescente dos pesos relativos: Peso relativo (%) Nº de idéias 0;872732 4 Autoconsumo e autonomia 0;671088 1 Conhecimento e nominação 0;458666 6 Destino da produção; escolha do local; cultivos e característica 0;436275 14 Característica; localização; tamanho; alternativa para a produção e periodicidade 0;410106 14 Característica; tamanho; cultivos; periodicidade; alternativa (mão-de-obra); uso comum da terra; alternativa (à roça) e escolha do local. 0;408138 18 Tamanho, cultivos; características (manejo); nominação e conhecimento; subsistemas e escolha do local. 0;405446 14 Localização; característica; cultivos; nominação/aprendizado; autoconsumo/autonomia e periodicidade. 0;394463 16 Cultivos; tamanhos; característica; autonomia/autoconsumo; escolha do local e uso comum. 0;384086 3 Alternativa por falta de terra. 0;381603 13 Nominação/aprendizado; autonomia/autoconsumo;tamanho; alternativa (à mão-de-obra); tamanho; periodicidade; cultivos; nominação; escolha do local e manejo; localização/característica; periodicidade. 0;34388 12 Autoconsumo/autonomia; nominação; cultivos; característica; tamanho/alternativa; benfeitorias; localização e periodicidade. 0;34294 10 Localização/característica; uso comum; localização; tamanho; periodicidade; periodicidade/rotação; benfeitoria e alternativa (mão-de-obra). 0;300052 7 Alternativa - mão-de-obra/ idade/saúde; tamanho e nominação. Descrição principal da idéia (ver anexo 2) 69 Característica; nominação; tamanho; autonomia/característica; característica/localização; escolha do local/manejo; autoconsumo/autonomia; cultivos; característica/escolha do local; periodicidade; característica/comparação UM's/manejo; localização; alternativa/produção de propágulos; alternativa à roça; diferenças UM's; alternativa/mão-de-obra; Subsistema/cultivos; criações; alternativa por acesso à terra; sub-sistema/benfeitoria/criação; alternativa aproveitamento de espaço; conhecimento/uso comum e alternativa/autonomia. Cultivos; característica/localização; característica/benfeitoria; autonomia/autoconsumo; gestão e questão de gênero; uso comum; benfeitoria; escolha do local/ uso comum e alternativa à roça. Característica/UM's/tamanho; cultivos; escolha do local; característica; nominação; tamanho; nominação/característica/mítico; autonomia/autoconsumo; escolha do local/localização/aproveitamento do espaço junto á UM's; destino da produção/produção compartilhada/ venda subproduto; destino da produção/doação e cultivos. Característica/localização; aprendizado/nominação; alternativa/mão-de-obra/saúde; periodicidade/rotação; característica/tamanho/cultivo; nominação/característica; autonomia/alternativa/mão-de-obra; nominação/comparação outras UM's; alternativa pelo acesso à terra; tamanho; nominação referente à cultivo; cultivo; ausência devido acesso à terra; diversidade de cultivo; autoconsumo/alternativa; tamanho; característica/localização; benfeitoria em relação à UP; localização/alternativa de acesso; nominação; mão-deobra manual (sem uso de trator); alternativa/ produção de germoplasma para outras UM's; aprendizado/construção; alternativa de trabalho/ocupação; rotação; alternativa/mão-deobra/saúde e localização/característica/manejo. 0;290942 79 0;270307 18 0;247489 25 0;218849 52 0;096782 3 Escolha do local/aproveitamento de espaço aberto; escolha do local e cultivos. 0;069426 1 Nominação/comparação UM's/nominação local versus linguagem dos “imigrantes”. Segundo Godoy (2004), para analisar um sistema, se faz necessário saber quais indicadores realmente descrevem ou explicam o problema, visando uma melhor interpretação de acordo com o tipo de análise. Sendo assim, os indicadores estruturais podem identificar e caracterizar uma unidade de manejo através de aspectos comuns e, os indicadores conjunturais podem proporcionar a caracterização e o agrupamento através de aspectos não comuns. 70 Portanto, os itens com peso relativo próximo ao 0,87% representam a parte estrutural do que é a Chacra. Já os itens mais próximos a 0,069% retratam a parte conjuntural. Assim, os aspectos estruturais da UM Chacra e que são mais representativos para “responder” o que é a Chacra, podem ser considerados estratégia de produção que contribui para a alimentação e manutenção do núcleo familiar, assim, evitando gastos com produtos externos à UP. Tal estratégia, que é a construção da Chacra, fora aprendida com os parentes mais idosos que levavam os mais novos em suas atividades agrícolas para que aprendessem as facetas da produção nessa região. O peso relativo de 0,87% descreve como principais características/funções da Chacra: a produção de alimentos para suprimento das necessidades da família e a autonomia, que visa minimizar a compra de insumos externos à UP (autoconsumo e autonomia). Tal fato pode ser atribuído a forma de construção dessa UM que tem características da agricultura tradicional, onde, a manutenção do núcleo familiar é prioridade. Dessa forma, se observa a sua construção diferenciada em termos do modelo conceitual utilizado na agricultura industrial, que segue parâmetros cada vez mais próximos à ção6F6 , ao contrário da agricultura tradicional. Apesar dessas funções características, as Chacras são um trunfo estratégico dos agricultores, pois, ainda há a venda do excedente (para não perder o que se produziu), mas também, como fora observado, a produção voltada à comercialização, apesar de não ser a principal característica, tal fato ocorre, mas em pequena escala. O excedente vendido ou a produção para venda pode suprir as demandas monetárias para a aquisição de bens não disponíveis na unidade de produção (açúcar, pilhas, café, medicamentos alopáticos e, recentemente Substituição-autonomia: são as atividades realizadas para a gestão e manejo dos sistemas agrícolas. Substituição: sob o ponto de vista das técnicas estão entre a completa substituição do protagonismo do gestor da unidade produtiva por setores externos a esses sistemas. Autonomia: completa autonomia do sistema agrícola em relação a esses setores externos. Esses limites são teóricos porque nenhum agricultor real está inteira e exclusivamente em uma posição ou na outra. Dentro desse critério, portanto, estão incluídos os procedimentos agronômicos empregados (Azevedo, 2004b). 6 71 aparelhos eletrônicos, devido a chegada da energia elétrica). Como apresentado por Noda (2002), isso ocorre em várias localidades rurais brasileiras. Para o segundo item com maior representatividade (0,67%), a familiaridade da nominação corresponde aos tempos de infância e assim, sendo uma característica local adquirida e aprendida (tanto a nominação como a forma de construção e manejo) durante a observação e assimilação das atividades dos membros mais velhos da unidade familiar. Tal fato já observado por Azevedo (2003) quando aponta que a construção do conhecimento se dá pelas experiências acumuladas das sucessivas gerações e, realizada na participação das crianças e dos jovens na prática concreta do manejo de produção. Esse conhecimento é socializado com o acréscimo da experiência individual de cada um dos agricultores, construída a partir de suas objetividade e subjetividade (Azevedo, 2003). Na safra 2003/2004 apenas duas Chacras foram observadas por Aguiar (2006) e Godoy (2004), sendo estas, no Retiro/Santana e na comunidade de Nossa Senhora da Guia. Neste último caso, ora eles falavam que tinham uma roça, ora falavam que tinham uma Chacra (para justificar o tamanho da "roça" e a pouca variedade de alimentos ali plantados). A autora crer que o indicador "tamanho", puro e simples, não é suficiente para a definição da Chacra, mas sim se estiver acoplado a outros elementos mais relacionados às condições sócio-econômicas e às subjetividades dos agricultores (Chacra é coisa de mulher e de velho, por exemplo). Todavia, a tabela 2 indica que existem outras idéias que caracterizam as Chacras. Essas características vão do destino da produção à (como no último item) nominação local em comparação ao linguajar dos não nativos da região, o que demonstra que realmente a forma nominal Chacra é local. Segue algumas considerações sobre essas idéias: Características Gerais: como descrito na revisão de literatura, as informações apontam que as Chacras guardam semelhanças com às roças, 72 quintais e capoeiras, sendo que as diferenças são em números de indivíduos cultivados, diversidade, destino da produção, tamanho da área, mão-de-obra empregada etc. Aguiar (2006) diz que as Chacras eram (antes do parcelamento das terras) pequenas roças cultivadas por algumas famílias de agregados, por mulheres e velhos, que não tinham acesso à terra e à mão-de-obra, para a produção principalmente de alimentos. Quando as terras eram comuns, as roças podiam ter mais do que 1,5 ha porque eles realizavam o mutirão e outras formas de ajuda mútua e tinham muita mão-de-obra. Se for analisar a área média das roças existentes hoje nas duas comunidades, estas não passam de 1,4 ha, com algumas exceções. Pois, essas famílias têm maior disponibilidade de mão-de-obra ou mais recursos para contratar mão-deobra de fora. Tamanhos: existem uma diversidade de tamanhos que variam de acordo com a cessão e o acesso à terra, tamanho da propriedade e a escolha do local. Em geral variam de 0,5 à 1,21 ha. O tamanho também sugere outras UM’s associadas ou subsistemas, em alguns casos, a residência é inserida na Chacra. Citado por Godoy (2004) e Aguiar (2006) a Chacra do falecido senhor Leonardo, na comunidade Nossa Senhora da Guia, tinha 1,125ha, com o cultivo de cana-de-açúcar e mandioca. Escolha do local: quase sempre na periferia da residência, podendo, ser também, fora da UP. A preferência por áreas de capoeira se dá pela boa quantidade de nutrientes devido o tempo de pousio e facilidade para se limpar (derrubada e queimas), também se é observado áreas em locais alto com difícil possibilidade de alagamento. Devido aos recursos e a falta de acesso a terra, algumas Chacras são em outras UP’s e isso é evidente no caso do Sr. Felipe que faz sua Chacra nas terras de Seu Beto, ou, Sr. Paulo que faz duas Chacras na terra do Sr. Ademar sendo uma a 300 metros de sua residência e outra a 700 metros de distância casa perto do Sr. Catulino. Há a possibilidade de que o uso em UP alheia seja por ter a facilidade de limpeza (a terra estar com vegetação de mais fácil lida), recurso natural 73 (terra) com maior qualidade, ou mesmo, por o agricultor não possuir espaço suficiente para seu plantio, sendo assim, a cessão da terra “convida” a atividade meeira. Aguiar (2006) compartilha outro exemplo que são as Chacras de dois casais de agricultores do Taquaral, que são "sem terra" e proibidos de fazer roças maiores no Taquaral, devido ao conflito existente ali pelas terras e, por tal motivo a autora associou estas Chacras ao quintal, explicitando os conflitos por terra existentes Calendário: Devido às muitas alterações ambientais, a chuva e a estiagem são o que demarca o começo para as atividades na Chacra. Os procedimentos geralmente seguem a lógica de derrubada e queima, prevista na literatura consultada Kerr e Posey (1984); Posey (1986); Azevedo (2004b) e Costa Jr et al (2003) Godoy (2004) e Mendes (2005b). Alternativas: as Chacras foram e ainda são, alternativa para algumas famílias de agregados, mulheres e velhos, com dificuldade ao acesso à terra e à mão-de-obra e, que buscam através da Chacra a produção principalmente de alimentos para a subsistência. Antigamente no tempo do arraial, a terra era de uso coletivo e o mutirão e outras formas de ajuda mútua eram mais freqüentes, o que facilitava até a feitura das roças. Hoje, quem não dispõe de força física para trabalhar, depende de dinheiro para contratar mão de obra externa. Alguns agricultores mais idosos ou com problemas de saúde, dizem que com mais de meio alqueire, a manutenção é difícil, pois, necessita ter força para capinar, roçar, preparar a terra em geral e, quem não pode pagar o maquinário (trator) terá que parar de fazer a roça pra fazer a Chacra, porque, todos estão ficando velhos, e não conseguem mais trabalhar. A Chacra também possui a característica de ser uma UM “tampão”, pois, quando há um insucesso de outra UM (exemplo roça), a produção da Chacra supre boa parte das necessidades da família e da UP, seja elas de subsistência, venda ou mesmo ração para os animais. 74 Outra serventia da Chacra é como área experimental para novos cultivos e mesmo, com o fornecimento de sementes e mudas para por em outras UM’s, como a roça, sendo assim, um local que garante os propágulos e germoplasma da UP e, muitos desses, recursos genéticos importantes da região e que por ventura estão sendo erodidos. Força de Trabalho: A força de trabalho outrora era baseada na ajuda mútua hoje, não mais, salvo os casos onde pessoas com parentescos permutam dias para auxiliar o outro a fazer suas atividades, no geral o serviço de derrubar, roçar e queimar cabem aos homens (filhos e pais). No tocante ao plantio (às vezes), colheita, capina (às vezes), irrigação da horta, são atividades femininas, se bem que, como citado no Taquaral tem muitas Chacras que quem manda é a mulher e como lá a maioria dos homens saem para trabalhar fora (por terem poucas terras e não conseguir o suficiente para o sustento) quem acaba fazendo as atividades da Chacra são as mulheres e os filhos mais novos. No geral o trabalho é familiar envolvendo, pais, filhos, parentes (pagos ou não) e, para quem possui um pouco mais de “força” contratam um diarista e/ou maquinário. Destino Produção: grande parte é para autoconsumo, existindo, por vezes, a venda do excedente. Entretanto, algumas UP’s que a produção é voltada quase que totalmente à venda. Alguns agricultores doam ou trocam parte de sua produção com os parentes ou vizinhos, ou ainda, há o plantio e a produção de derivados (exemplo rapadura de cana-de-açúcar) que são de “ameia”. No caso de um agricultor ter mais de uma Chacra, ou ainda uma Chacra e uma roça, a produção serve tanto para as despesas como para a venda. Benfeitorias: Em sua grande parte as Chacras são cercadas com arame farpado para evitar a entrada de gado e outros animais, fato também citado por Aguiar (2006), ou ainda “demarcar” o território. Mas, em alguns lugares que as Chacras são próximas ou quase no mesmo espaço que a 75 casa e o quintal, estas podem estar teladas, para evitar o acesso de animais de pequeno porte (galinha, pato, guiné, cachorro, porco, etc). Para o agricultor que possui um poder aquisitivo melhor (em geral proveniente da aposentadoria, venda de leite ou produtos da roça ou Chacra) há o uso de tratores para a derrubada e gradeamento da área. São também comuns construções como ranchos para descanço, bater arroz ou feijão, proteger mudas ou ainda, tuias para armazenar milho ou outro cereal. Subsistemas: existem em algumas Chacras hortas, pocilgas e galinheiros. Isso, devido ao tamanho reduzido da terra ou mesmo para aproveitar melhor o local aberto. Cultivos: Como antes citado, a Chacra exerce função banco de germoplasma da UP, um local de experiência com espécies novas que podem ou não fornecer propágulos para outras UM’s, como a roça e quintal. Assim, configurando como um importante espaço de produção, diversificação e enriquecimento das outras UM’s, e ainda, mantendo boa parte de material de origem local, o que caracteriza autonomia em relação aos materiais genéticos e de propagação. Essa característica fez com que, durante o período dessa pesquisa fora citados e observados mais de cem diferentes etnoespécies nas Chacras, como se tem a seguir no item 6.2. 6.1.1. A diversidade vegetal existente Nas Chacras há espécies vegetais nativas, exóticas, madeireiras, medicinais, condimentares, aromáticas, alimentícias e ornamentais, com uso em construção, utensílios, lenha, estaca para cerca e sombra, entre outros usos. As etnoespécies citadas foram 109, que são apresentadas nas tabelas 3 para as nativas e 4 para as cultivadas e nativas. 76 6.1.2. Espécies arbóreas nativas presentes nas Chacras Na tabela 3 se tem espécies nativas que foram observadas durante as visitas guiadas ou citadas pelos agricultores. Dessas, algumas corroboram com o trabalho de Mendes (2005b) com base nos relatos dos agricultores da região. Tabela 3. Espécies nativas encontradas nas Chacras Vegetais Acuri Nome Científico Attalea phalerata (Mart.) Burret Amoreira Maclura tinctoria Angelim Barbatimão Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke Stryphonodendron polyphyllu (Mart.) Caiá Família Arecaceae Usos AL; CT; EC Moraceae SB. Papilonoideae LE; MD Mimosoideae CT; ET; LE; MD Spondia lutea L Anacardiaceae EC; LE; AL Cedro Cedrela fissilis Vell. Meliaceae CT Cumbaru Dipteryx alata Vog. Papilionaceae Fruta banana Ecclinusa sp. Hymenea stigonocarpa Mart. Ex Hayne Sapotaceae Jenipapo Genipa sp Rubiaceae Louro-preto Mamica-deporca Cordia glabrata (Mart).DC Boraginiaceae CT; ET; SB; AL AL CT; ET; LE; MD CT; ET; LE; CF; AL CT; ET; LE Zantoxylum rhoifolium Lam. Rutaceae ET; LE Mangava brava Lafoensia pacari A St. – Hil. Lythraceae Marmelada Alibertia sessilis) (Vell.) K. Schum Rubiaceae Paratudo Tabebuia aurea Manso Bignoniaceae Peroba-rosa Aspidosperma sp Apocynaceae Jatobá Caesalpinoidae AL; MD; ET; CT; LE AL; LE; MD CT; MD; LE CT; CF; ET; LE Adaptado de Mendes (2005b) Legenda: AL: Alimento; CT: Construção; CF: Cabo de ferramenta; LE: Lenha; ET: Estaca para cerca; EC: Espera de caça; SB: Sombra; MD: Medicinal e UT: Utensílio. 77 A manutenção desses indivíduos, mesmo com a derrubada por maquinário, remete que o agricultor tem em sua mente algo “planejado” para aqueles indivíduos, seja para os usos citados por Mendes (2005b) ou, simplesmente para a produção de sombra. Vale frisar que em geral a construção da Chacra segue a lógica da derrubada e queima prevista na literatura consultada (Kerr e Posey (1984); Posey (1986); Azevedo (2004b) e Costa Jr et al (2003) Godoy (2004) e Mendes (2005b)), que favorece a “escolha” das espécies nativas que serão mantidas. 6.1.3. Espécies vegetais presentes nas Chacras (cultivadas e nativas) A tabela 4 possui 109 etnoespécies que foram citadas ou observadas em campo. Com diversos usos, esses vegetais colaboram com a diversificação das Chacras e a conservação de germoplasmas. Tabela 4. Vegetais existentes nas Chacras, conforme os informantes. Vegetais Abacate Abacaxi Perola Abóbora Acerola Acuri Aipim Alface Algodão Amendoim Amoreira Angelim Arroz agulhinha 3 meses Arroz agulhinha 4 meses Arruda Babosa Banana cabutá Banana de fritar Banana nanica Barbatimão Batata Doce Beladona Nome Científico Persea americana Mill Ananas comosus (L.) Merril Cucurbita pepo L. Malpighia glabra L. Attalea phalerata (Mart.) Burret Manihot esculenta Crantz Latuca sativa L. Gossipium sp. Arachis hipogaea L. Maclura sp. Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke Oryza sativa L. Oryza sativa L. Ruta graveolens L. Aloe vera L. Musa sp. Musa sp. Musa sp. Stryphonodendron polyphyllum Mart. Ipomoea batatas (L.) Lam. Atropa belladona L. Família Lauraceae Bromeliaceae Cucurbitaceae Malpighiaceae Arecaceae Euphorbiaceae Asteraceae Malvaceae Fabaceae Moraceae Papilionaceae Poaceae Poaceae Rutaceae Liliaceae Musaceae Musaceae Musaceae Mimosaceae Convolvulaceae Solanaceae 78 Boldo Boldo do Chile Bucha Cabaça de árvore Café Caiá Caju Cana de açúcar “Maria Pelada” Capim cidreira Cará Cebola Cebolinha Cedro Cenoura Coco da Bahia Colônia Couve Croá Cumbaru Fava branquinha Fava rosinha Feijão carioca Feijão de corda Feijão guandu Feijão pastel Feijão rosinha Fruta banana Gengibre Gergelim Goiaba Graviola Guariroba Guiné Inhame Jabuticaba Jaca Jatobá Jenipapo Laranja comum Laranja misteriosa Limão Galego Limão rosa Limão Taiti Loureiro preto Mamão Castelo Mamão Papaia Plectranthus barbatus Andrews Peumus boldus Molina Luffa cylindrica (L.) Roem Crescentia cuite L. Coffea arábica L. Spondia lutea L. Anacardium occidentale L. Saccharum officinarum L Lamiaceae Lamiaceae Cucurbitaceae Bignoniaceae Rubiaceae Anacardiaceae Anacardiaceae Poaceae Cybopogon citratus (DC.) Stapf. Dioscorea sp. Allium cepa L. Allium fistulosum L. Cedrela fissilis Vell. Daucus carota L. Cocos nucifera L. Alpinia speciosa Schum Brassica oleraceae L. Sicana odorífera Naudin Dipterix alata Vog. Vicia faba L. Vicia faba L. Phaseolus vulgaris L. Vigna unguiculata (L.)Walp Cajanus cajan L. Vigna sp. Phaseolus vulgaris L. Ecclinusa sp. Zingiber officinale Roscoe Sesamum indicum L. Psidium guajava L. Anona muricata L. Syagrus oleracea (Mart.) j Becc Petiveria alliaceae L. Dioscorea sp. Myrtus jaboticaba L. Artocarpus heterophyllus Lam. Hymenea stigonocarpa ( Mart.) ex Hayne Genipa americana L. Citrus aurantium L. Citrus aurantium L. Citrus limon (L.) Burn. f. Osbeeck Citrus limonia Osbeck Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle var. taiti Poaceae Dioscoreaceae Liliaceae Liliaceae Meliaceae Apiaceae Arecaceae zingiberaceae Brasicaceae Cucurbitaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae Sapotaceae Zingiberaceae Pedaliaceae Myrtaceae Annonaceae Palmae Phytolaccaceae Dioscoreaceae Rutaceae Moraceae Caesalpinaceae Cordia glabrata (Mart).DC Carica papaya L. Carica papaya L. Rubiaceae Rutaceae Rutaceae Rutaceae Rutaceae Rutaceae Boraginiaceae Caricaceae Caricaceae 79 Mamica-de-porca Mamona Mandioca Liberata Mandioca amargozinha Mandioca branca Mandioca vermelha Manga Bourbon Manga comum Mangava-brava Macelinha Marmelada bola Maxixe Melancia Mexerica Milho Asteca Milho caiana Milho de 3 meses Milho de palha roxa Milho híbrido Moranga Nove horas Palma Paratudo Pepino Peroba Pimenta do reino Pimenta doce Pimenta Lambari Pimenta malagueta Pimentão Pinha Pitanga Quiabo Quiabo de Angola Romã Rúcula, Siriguela Tamarindo Tangerina Teca Terramicina Urucum nativo Zantoxylum rhoifolium Lam. Ricinus communis L. Manihot esculenta Crantz Manihot esculenta Crantz Manihot esculenta Crantz Manihot esculenta Crantz Mangifera indica L. Mangifera indica L. Lafoensia pacari St. Hil. Anthemis cotula L. Alibertia edulis L.C. Cucumis anguria L. Citrullus lanatus (Thumb.) Matsum & Nakai Citrus reticulata Blanco Zea maiz L. Zea maiz L. Zea maiz L. Zea maiz L. Zea maiz L. Cucurbita sp Portula sp. Opuntia ficus indica Mill Tabebuia aurea Manso Cucumis sativus L. Aspidoperma sp. Piper nigrum L. Piper sp. Piper sp. Capsicum frutescens L. Capsicum annuum L. Annona coriacea Mart Eugenia uniflora L. Abelmoschus esculentus (L.) Moench Hibiscus sabdarifa L. 0H Punica granatun L. Eruca vesicaria sativa (Mill) Thell Spondias purpurea L. Tamarindus indica L. Citrus reticulata L. Tectona grandis L.f. Alternanthera brasiliana (L.) O Kuntze Bixa sp. Rutaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Euphorbiaceae Anarcadiaceae Anacardiaceae Lythraceae Asteraceae Rubiaceae Cucurbitaceae Cucurbitaceae Rutaceae Poaceae Poaceae Poaceae Poaceae Poaceae Cucurbitaceae Portulaceae Cactaceae Bignoniaceae Cucurbitaceae Apocynaceae Piperaceaea Solanaceae Solanaceae Solanaceae Solanaceae Annonaceae Malpighiaceae Malvaceae Malvaceae Punicaceae Brasicaceae Anarcadiaceae Caesalpinaceae Rutaceae Verbenaceae Amaranthaceae Bixaceae Nesse universo de etnoespécies se tem 44 famílias botânicas (Gráfico 1) e conforme as citações/observações, as mais representativas são as Rutaceaes (com 10 vegetais) e a Poaceaes (com 9). 80 12 Citações 10 8 6 4 2 ac ea gn e on ia ce ae C ar ic ac D io ea sc e or ea ce ae Fa ba ce ae Li lia ce ae M al va ce ae M us ac ea R e ub ia ce ae So la na ce ae ec Ar Bi An ar ca di ac ea e 0 Famílias Gráfico 1- Famílias com mais indivíduos/ variedades observados Segundo Queirol (1987), as 50 plantas que são mais cultivadas são das famílias: Graminae, Leguminosa, Solanácea e Curcubitácea. Santandreu et al., (2004), diz que nas paisagens agrícolas mundiais estão dominando umas 12 espécies de cultivos de grãos, 23 espécies de cultivos hortículas e cerca de 35 espécies de árvores produtoras de frutas e nozes. Portanto, se vê além dessas famílias botânicas, nas Chacras há outras famílias, algumas que abrangem espécies nativas (ver item 6.2.1) e com grande valia para os agricultores locais. Essa diversidade de vegetais existentes nas Chacras, também configuram nas UM’s roça e quintal. A tabela 5 faz relação dos cultivos comuns as Chacras e roças comparando-se com os trabalhos de Hodl e Gasché (1982), Kerr e Posey (1984), Peroni et al (1999), Noda (2003), Costa (2003), Godoy (2004) e Mendes (2005b). Das 43 espécies citadas, por Noda (2003), 26 espécies corroboram com as que ocorrem nas Chacras estudas. Peroni et all (1999) identifica 15 espécies cultivadas e todas coincide com a presente pesquisa. Costa (2004), Mendes (2005b) e Godoy (2004) fazem citações de espécies que ocorrem em algumas roças na região da Morraria, destas 27 espécies coincidem com as existentes nas Chacras. 81 Tabela 5. Quantidade de cultivos comuns as UM’s roça e Chacra. Na Tabela 5 há a espécies vegetais em consonância entre essas duas UM’s (quintal e Chacra) segundo Gajaseni e Gajaseni (1999), Noda (2003), Vieira (2003) e Godoy (2004). Godoy (2004) ressalta que a horta (com espécies de uso alimentar humano e medicinal) pode ou não estar relacionada com o espaço geográfico do quintal. E esse pormenor também fora observado nas Chacras e, em comum cultivo se tem, a alface, arruda, cebola, cebolinha, cenoura, couve, mamão, melancia, pimentão e rúcula. Tabela 6. Vegetais em comum nos quintais e Chacras. Com os dados das tabelas (5 e 6) se pode dizer que as semelhanças entre o quintal, a roça e a Chacra vão além dos tratos culturais citado pelos agricultores. Como visto, vários vegetais citados na literatura fazem parte do cabedal de cultivos dessas UM’s indicando assim, uma proximidade a mais entre elas. Outro ponto que vale destacar é as espécies que tem maior preferência pelos agricultores, seja por ser gerador de renda ou mesmo para a subsistência e melhor adaptação e produtividade no local. Dessa forma, espécies como o feijão e a banana são os mais representativos nas comunidades de Santana e Nossa Senhora da Guia (tabela 7). 82 Tabela 7. Porcentagem de espécies cultivadas em Santana e N.Srª.Guia: Comunidade Cultivo N.Srª.Guia % Santana % Abóbora 33,33% 58,33% Arroz 58,33 58,33 Banana 75% 75% Feijão 25% 83,33% Mandioca 66,66% 75% Milho 58,33% 75% Adaptado de Godoy (2004) O plantio de feijão se destaca na comunidade de Santana por essa comunidade ter a agricultura voltada mais à produção para a subsistência e pelas condições do local, diferentemente da comunidade Nossa Senhora da Guia que, pela proximidade do centro urbano e a facilidade de acesso, a criação de gado (de corte e leite) para a comercialização de seus produtos, faz com que o interesse em cultivos diminua. Esse destaque para o cultivo da banana nessas comunidades pode ser explicado pela grande importância nas UP’s, principalmente por representar renda para muitos agricultores e, pela facilidade de propagação, como observa Martins (1994): “A América do Sul tem esse “privilegio” para a domesticação de plantas frutíferas e alimentícias, devido a características genéticas e ecológicas que permitem vantagens adaptativas em condições tropicais”. 83 7. CONSIDERAÇÕES GERAIS As informações contraditórias principalmente no tocante ao surgimento e construção das Chacras fizeram com que, até o meio da pesquisa fosse questionado até a abordagem feita (aos agricultores) pelos primeiros pesquisadores. Mas, com o passar do tempo, percebeu-se que várias outras questões estavam inseridas no contexto. A prática dos agricultores tradicionais é orientada pela experiência acumulada ao longo da história de cada grupo social; a experiência socialmente compartilhada dentro de cada geração de agricultores e a experiência de cada agricultor (Toledo, 1992). E de acordo com Azevedo (2003), essa construção é acrescida da objetividade e subjetividade de cada agricultor. Portanto, há a possibilidade da perda ou não repasse de muitas das informações sobre as Chacras por aqueles agricultores de outras gerações, idosos ou que não mais vivem na região. Parte dessa contrariedade pode ter base no que diz Aguiar (2006): “Cuando las tierras aún eran comunales, los campos de cultivo eran implantados en locales lejanos a las casas, en las mejores tierras bajo bosque alto, aislados y protegidos de los cerdos que eran criados sueltos. Los campos de cultivo podrían tener más de 1,5 ha porque eran realizados procesos de ayuda mutua (muchirum) y se podría contar con la mano de obra de los vecinos para la producción de alimentos y excedentes. En ese periodo, las Chacras se distinguían del campo de cultivo principalmente por tener menores superficies, por estar más cercanas a las casas, por no necesitar la mano de obra de toda la familia campesina y por tener como propósito la producción casi exclusiva de alimentos para la subsistencia de la familia”. 84 Com a desestruturação no território agrícola da região, grandes e significativas mudanças aconteceram, refletindo na localização, estrutura e função das UM’s. Esse fato gera as “confusões” que existe nas definições e comparações feitas pelos entrevistados sobre as Chacras, roças ou mesmo quintais. Assim, as roças que outrora eram distantes das residências tiveram que ser construídas mais próximas. A mão-de-obra proveniente dos Muxiruns, agora atende a sua própria UP ou aos trabalhos nas grandes UP’s dos “não nativos”. Assim, cada agricultor teve que re-locar a mão-de-obra familiar (mulheres e homens) na roça, assim, ficando em segundo plano a Chacra. Outro exemplo que se pode citar versa sobre tamanhos, linguajar e números maiores de indivíduos vegetais. Esse caso ocorreu na UP do agricultor Paulo que, nas primeiras visitas dizia ter duas Chacras e com o passar do tempo assumia apenas uma, dizendo que a outra era uma roça. Naquele momento observou-se que houve acréscimo de indivíduos vegetais (milho) e também na área ocupada. Mas, é válido mencionar que a afirmação que não era mais Chacra e sim roça, se deu momento em que havia diversas pessoas ao redor e em uma festa de santo na comunidade da Água Limpa. Essa “re-nominação” também pode ter influências externas. Palavras do Senhor Catulino: “(...) não quer usar o jeito de nós falar, nossa descendência (...) jeito de pai, de avós, daí ele vai modificando o jeito de falar (...) deveria falar, a gente já pegou esse idioma assim (...) é um conhecimento de família”. Mesmo com essas contradições, alguns agricultores afirmaram que realmente suas UM’s eram Chacras e não roças, como no caso dos senhores Juscelino e João Batista (que possuía uma roça em local mais distante). A descrição dessa UM pode ser aprofundada, pois, há informações de que em outras duas comunidades agrícolas tradicionais (fora do município de Cáceres) ouviram citações sobre as Chacras, mas, não foram aprofundadas. 85 8- CONCLUSÃO Chacra é uma nominação local para a unidade de manejo (UM) menor que a roça e maior que o quintal (em média 1,5 ha) e que tem como principal característica a produção para a subsistência e conseqüentemente a proximidade da autonomia da unidade de produção (UP) em propágulos, materiais genéticos e outros insumos externos. Com localização próxima à residência e tamanho reduzido, as Chacras são alternativas de produção para a subsistência e venda do excedente para agricultores que não têm mais: o mesmo vigor físico para a labuta; acesso a terra e componentes interligados; mão-de-obra familiar suficiente; recursos monetários para contratar mão-de-obra externa; idade avançada ou saúde abalada.E por vezes, supre o insucesso de outras UM’s e assim, garantindo o sustento da UP. Nessa UM há uma mescla de vegetais e tratos culturais característicos da roça, quintal e capoeiras onde, as presenças de vegetais dessa UM’s são uma constante, sendo que, em maior número que na roça e com variedade de espécies dos quintais e capoeira. Os tratos culturais variam conforme os vegetais cultivados, mas, em geral segue caracteres da roça. 86 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, C. Caiçaras na Mata Atlântica: pesquisa científica versus planejamentoe gestão ambiental. São Paulo, Ed. Amablume/ FAPESP. 2000. ALVES, H. da S. 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Tamanho; força de trabalho utilizada; 11. Cultivos, variedades e espaçamentos utilizados na UM; 12. Destino da produção; benfeitorias; 13. Calendário agrícola para a UM; 14. Calendário lunar; 15. Tratos culturais; 16. Plantios “germinados” ou e consórcios; 17. Escolha do local para Chacra; 18. Pragas, doenças e plantas invasoras na UM; 19. Periodicidade “repouso”; 20. Forma das Chacras (triangular, redonda, quadrada, etc); 21. Tipo de ocupação e a forma que se procede dentro da UM; 22. As formas de manejo utilizadas dentro das “Chacras”; 23. A divisão de trabalho entre gêneros dentro da UM; 24. Graus de autonomia e substituição (trocas e comércio); 25. Desde quando faz Chacra; 26. As diferenças entre Chacra, quintal e roça; 27. Diferenças entre Chacra e roça, Chacra e quintal e chácara e Chacra; 28. Força de trabalho por divisão de gêneros em tempo (horas diárias); 29. Existência mútua de Chacra e roça numa mesma UP ou em outra UP que seria um espaço funcional. 92 ANEXO 2: Idéia (s) relativas à decomposição dos componentes principais, com ênfase no ordenamento decrescente dos pesos relativos: Do contexto da entrevista 310 idéias (ou conjunto destas) foram extraídas resultando em 19 grupos de idéias, onde, a representatividade oscila entre 0,87 a 0,07%. Tabela 8. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,87%, Código DB JG DA JH Descrição das idéias Produção para não comprar de tudo. O que dá na Chacra é pra comer Produção para alimentação. O que dá na Chacra é não comprar de tudo. Tabela 9. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,67%, Código FB Descrição das idéias Chacra desde quando se entendeu por gente já ouvia falar Tabela 10. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,46% Código Descrição das idéias KN Serve os outros (produção da Chacra) FP Chacras feitas em capoeira KP Quiabo GR É porque é do lado da casa CN Plantio em volta da casa é Chacra. KO Mandioca Tabela 11. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,43% Código Descrição das idéias EC Na Chacra o que tira, depois planta GL I É junto ao quintal Menos de uma quarta, nem adianta falar, que não é uma roça (...) é Chacra. A Chacra é maior que o quintal IY Nas Chacras da região não planta arroz nem feijão BX Fazem Chacra, pois, não tem aonde trabalhar EB A Chacra é permanente K A Chacra é menor que a roça EG A Chacra não é muito pregadinho da casa CB 93 A A Chacra que eu conheço é onde trabalha nele B A Chacra que eu conheço é onde mora nele C A Chacra que eu conheço é onde convive nele GM A casa é dentro da Chacra No Taquaral cada um, tem sua divisa de cerca (devido aos gados que o fazendeiro solta lá). Todos são nativos. JA Tabela 12. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,41% Código Descrição das idéias BZ Importância da Chacra, pois a distancia menor em relação à roça AS Chacra é de 0,5 alqueire para menos. BU Duas tarefas de 12 em diante é Chacra ET As plantas que são cultivadas são as mesmas (Roça e Chacra) GF Depende da “subição” (crescimento) do mato em geral de 2 a 3 anos HB Faz Chacra pois, não pode pagar diarista. BT Chacrinha é pequena, cabe quase nada BY Em períodos de chuvas fica mais fácil de pegar os mantimentos EM Ambas não mudam de local (Chacra e roça) F A Chacra é a partir de 25 braças FR Chacrinha em terras de seu pai e do Sr. Luciano. HA Faz Chacra pois, não tem posse para fazer roça GZ Faz Chacra no capoeirão KV 45, 65 por 2 de 80 braças Tabela 13. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,41% Código Descrição das idéias HU Mais ou menos 35 metros de fundo e de comprimento mais menos 35. FJ Chacra o que planta na roça grande, pode plantar uns pés na Chacra. FL Banana FM Milho FK Mandioca FO Chacra um pedaço pequeno JF O nome Chacra não sabe da onde é HV No fim dela tem o chiqueiro do porco. FN Chacra é perto da casa JY Banana JL Para a Chacra escolhe a terra melhor para plantar JM Para a Chacra escolhe a terra que é mais perto da casa EK A Chacra, ouviu falar desde criança BV É o quintal, mais as plantas de roça JZ Feijão JW Feijão para despesa GY Faz há 30 anos (...) sempre trabalha. EL Os pais chamavam de Chacra 94 Tabela 14. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,40% Código Descrição das idéias EH A Chacra não muda de local CR Pode fazer junto, a Chacra e a roça. EQ Arroz e feijão (...) é mais na roça T A Chacra onde é (...) fez lá pra ficar mais perto da casa. EW Banana EV Cana O nome Chacra, quem falou foi os velhos: o Cassiano Martins, pai do KJ Catulino e Armindo. CZ Produção para casa CV Arroz EY Mamão Planta o milho e o arroz e as outras plantas da Chacra, daí colhe o CS arroz e o milho, limpa e deixa os outros da Chacra CT Colhe o arroz e o milho, limpa e deixa os outros da Chacra CU Milho EZ Abacaxi Código HM AU KT CD HL HJ HK GC GD GE DC JS KU FC DD LI Tabela 15. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,39% Descrição das idéias Arroz Chacra até 5 alqueire 2 tarefa de 25 braças Mora na Chacra Milho Não plantam muito (mandioca) aqui por causa do porco Feijão Defende a despesa da casa Não precisa comprar o que vem de fora Vende o que sobra “é economia”, Quintal e Chacra são quase o mesmo Plantam aqui (...) a terra é melhor, terra preta. Mandioca Chacra é de 2 a 3 alqueire Sempre a Chacra é de terra boa terra massapê, terra boa 3 filhos plantaram nessa Chacra Tabela 16. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,38% Código Descrição das idéias KE Quando começou a apertar (espaço) acabou que viraram chacreiro (...) KL Se tivesse pelo menos um alqueire dava pra fazer Chacra boa KM Com uma Chacra boa, não tinha que trabalhar para os outros 95 Tabela 17. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,38% Código Descrição das idéias KS Seu avô fazia chacrinha ele aprendeu com ele GK Produção é só para gasto HE Chacra é 0,5 alqueire, mais, o cara não agüenta tocar HF Chacra é 0,5 alqueire BM Chacra pequena não dá nem umas 20 braças. CQ Chacrinha fez e depois de colher vai plantar pasto CO Milho CP Plantou do lado do quintal e chamou de chacrinha KR Seu avô fazia roção / também fazia chacrinha GW Era capoeira baixa mesmo jeito roçou queimou etc. HD Faz uma Chacra na beira de casa BN Chacra não dá nem umas 20 braças LG Todo ano faz Tabela 18. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,34% Código Descrição das idéias JI Os mantimentos (produtos) são para a despesa. Sobre as Chacras diz que ouvia falar de longe, desde criança, agora é que DG apegou e aprendeu. IE Abacaxi ID Cana JQ Planta o que a gente precisa IF Não dá mais (alguns cultivos) pois, ficou muito pequeno o local (no Taquaral) IG Milho EM Algumas Chacras são cercadas ou mesmo teladas D A casa está na Chacra IB Mandioca IC Banana LC Tem uns 19 anos que faz Chacra Tabela 19. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,34% Código Descrição das idéias IM Da casa à Chacra uns 300 metros IL Faz as Chacras na terra do Sr.Ademar (Japonês) KY Tem duas Chacras essa e outra perto do Catulino KZ 700 metros de distância da casa. DW 0,5 alqueire KW A Chacra tem mais de 1 ano LH Usam até 4 anos pois, não produz bem e nasce sementeira sujeira. LL Tem uma Tuia no centro da Chacra DX 50 braças X 45 braças GG Depende da posse de trabalho para fazer a Chacra 96 Tabela 20. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,30% Código P Descrição das idéias Quem tem posse vai ainda fazer roça de 2 a 3 alqueire, porque, tem jeito de fazer com maquinário. Quem não tem faz Chacra. Vão parar de fazer a roça pra fazer a Chacra, porque, todos estão ficando velhos, não conseguem mais trabalhar. A Chacra é pequena Q A Chacra é de 1 a 2 hectares KK LK ER As Chacras têm de três alqueires pra baixo. FU Conhece Chacra desde que entende por gente no Lava pé LJ Vai fazer Chacra ano que vem, o que manda é a saúde. Tabela 21. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo aproximado de 0,30% Código Descrição das idéias CE Na Chacra é terra boa DH Também se chama Chacra de roçinha DY 0,5 alqueires, ou seja, 100x50 braças FA 50 a 40 m² JC Nome (Chacra) ouviu aqui em Santana uns 30 anos FW JD AT BW DK EU FY IH IO J CF CW FH GI FD IP IQ IR GH IN DJ FG II AW BE EF FF Conhece o nome desde os pais (Chacra) Nome Chacra a gente já pegou esse idioma assim, conhecimento de família Chacra a mesma pessoa faz Ele não quer usar o jeito de nós falar, nossa descendência (... ) jeito de pai, de avós, daí ele vai modificando o jeito de falar” sobre quem fala que não é Chacra A Chacra que é mais perto Às vezes fazem Chacra na capoeira, pois, está fácil pra roçar (rapidinho) Os pais já chamavam de Chacra Na Chacra nossa (...) não temos tanto interesse em vender. Mamão A Chacra é mais perto de casa Na Chacra pode colocar o pomar se o quintal não for bom (terra boa) Pode plantar as plantas de quintal na Chacra (...) lá produz. Chacra é uns 200 metros de distância. Usa a Chacra 2 anos, pois, tem lugar bastante para trabalhar. Chacra é perto de casa Não acaba de tudo por causa do mamão que fica até 2 anos e a mandioca. Não faz todo ano a Chacra Sempre permanece a que era no passado Depois quem não usa põe capim brachiara Mandioca Tem na roça (produto), mas na Chacra também tem. Chacra derruba um pedaço perto do quintal Na Chacra planta alimento (...) cereais Chacra é mais pequena que a roça Chacra é pro lado da roça (manejo) A Chacra faz e depois larga, pode voltar ou não pra lá Chacra é separado do quintal 97 AG AK AL AM R S W X JV GO DF DV FQ HI HO ES GA GP DE HN HR GN HP AA AB AC AD AE AF E HC L M N O Y Z JU HG IK IJ KG DS DZ JT A mesma hora que fala Chacra também fala roça Às vezes planta uma chacrinha para fazer a despesa Às vezes planta uma chacrinha para fazer semente para a outra roça Às vezes planta uma chacrinha quando não pode fazer roça. A Chacra é uma roça pequena A Chacra daqui é diferente da cidade A Chacra se caprichar com ela “transtorna” A Chacra se caprichar produz de tudo Não faz um alqueire por causa que não consegue trabalhar Produz só pro gasto. A Chacra sempre fica dentro do quintal Os mantimentos (produtos) são para a despesa Chacrinha até um alqueire Chacra tem horta com três ou mais canteirinhos. Angola (junto ou próximo a Chacra) As chacrinhas não tinha (...) começou a fazer quando não tinham mais terra Da chacrinha antiga quando eles eram pequenos, sobrou as frutíferas É muito pouquinho o espaço para eles plantarem Sempre a chacrinha é bem perto Junto ou dentro, tem o mangueirinho do porco (na comunidade do Taquaral) Pato no taquaral junto ou próximo a Chacra Produz só pro gasto. Peru junto a Chacra lá no Taquaral Na Chacra tem mandioca Na Chacra tem cará Na Chacra tem quiabo Na Chacra tem croá Na Chacra tem abóbora Na Chacra tem batata doce A Chacra 30x40 metros, antigamente e ainda hoje. Faz um alqueire por causa que não consegue trabalhar A Chacra é onde tem abóbora A Chacra é onde tem quiabo A Chacra é onde tem banana A Chacra é onde tem cana Na Chacra tem banana Na Chacra tem cana Pode plantar feijão pastel Fazem às vezes na nesga (quando faz um quadro e sobra uma tira). A chacrinha no Taquaral é muito pequenininha Na chacrinha não se planta feijão e nem arroz pois, ela é muito pequenininha Goiaba Tinha uma chacrinha do povo antigo do Ferreira (avô do Sr Zé Marino) 1951 até 1960, chacrinhas era comunitário. Pode plantar feijão pastel, porque também da no quintal 98 DU KF Vivem da Chacra e de trabalhar para os outros (que não tem aposentadoria) As Chacras conhece desde quando entendi me por gente (...), mas, nesse tempo já era abandonada; Tabela 22. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,27% Código Descrição das idéias DQ Batata doce LF Facilidade de pegar as coisas porque era perto. EE A Chacra era fechada com varame DL Têm tudo as plantas HY Mamão IA Colhia da Chacra (Milho, mamão) dava para os porcos (ração). LB Em outras são os dois que mandam DO Arroz LE Tinha antigamente a chacrinha com os pais. DP Milho LD Tinha a tuia na Chacra KH Quando era terra comum a Chacra era afastada, não muito da casa DM Mandioca DN Banana HZ Milho IV Não tinha força pra fazer roça grande, por isso, fez Chacra ED A Chacra era afastada, não muito da casa LA Têm muitas que as mulheres “manda” Tabela 23. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,25% Código Descrição das idéias FE Chacra e roça, a diferença é o tamanho BS Abacaxi JP A Chacra, próximo a um curso d’água. BF Chacra é próximo da casa. CM Ouvi falar de Chacra desde quando entende falar por gente CY Fazer uma chacrinha de meio alqueire BI Chacra é de 1 alqueire CJ O nome Chacra é tudo carregado de coisas boas FZ Da casa a Chacra 350 metros BP Chacra é fatura JK Os produtos daqui são só para o gasto BO Chacra tem de tudo Num lugar dentro de uma roça, pode dividir um meio alqueire e fazer uma CX chacrinha As canas colhidas nas Chacras, moem de ameia para fazer rapadura com o JJ Américo ou Beto, que vendem BH Chacra é uma coisa pequena (1 alqueire) JO Perto da casa (a Chacra) KA Deu para quem não tinha (produção da Chacra) BR Banana 99 AH AI AJ BQ CK CL KB As mesmas plantas de roça na Chacra, só que a quantia é pouca. As mesmas plantas de roça na Chacra Na Chacra a quantia de planta é menor que na roça Cana Mamão Mandioca Comeu o resto dos mantimentos da Chacra Tabela 24. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,22% Código Descrição das idéias HW Mais perto da casa, distância de 10 metros da casa. EP Aprendeu a fazer a Chacra com o tio (João Possidônio). FT Começou fazer Chacra, pois, não agüenta trabalhar muito HS Local de mata trabalha 3 a 4 anos, sem colocar adubo. AY Chacra (...) planta o que quer AX Chacra é pequeno planta o que quer CA Mas o pai, tio, falava de ir em Chacra, e ele já sabia que era pequeno EJ Não tem água perto da Chacra. GU É mais fácil para limpar A Chacra não muda de lugar, a roça muda – quando acaba com a mata, tem que mudar, para crescer de novo. EI KC Quando a terra é boa faz de 5 até 10 anos quando não bate praga. BJ Chacra não dá pra pagar para gente trabalhar porque é pequeno CG Não compreende a diferença de Chacra para chácara – nem ouviu falar FS Começou fazer Chacra pois, conseguiu terra CH 3 ou 4 tarefa é Chacra DR Tenho uma Chacra de cana, daí só tem cana JB No taquaral não dava pra fazer roça, nem Chacra porque era pequeno BA Cana BB Chacra é sortido de tudo BC É para consumo da casa. BD É para consumo dos bichos dos terreiros. CI Negócio pequeno é Chacra EA 30 de comprimento por 12 braças de largura GB 50, 40, 30 braças tamanho das Chacras GQ É perto da casa. Com a Chacra fica limpo o terreiro, modo o bicho que vem comer as galinhas, fica mais fácil de ver. GR GS A Chacra é fácil para trabalhar, pois, está perto. GT É mais (...) ele vai à Chacra pois, está perto. 100 IU “Acho que desde o começo do mundo já tinha esse nome”. IW Não usou máquina na Chacra JE Nome Chacra, acha que é dos índios KI Quando faz de rua pode plantar pasto ou outra coisa (na Chacra) AV Chacra é de 30 a 40 braças BK Chacra é pequeno DT Usam mudas e sementes da Chacra para por na roça. EO O tio (João Posidônio) que tinha Chacra no lado da casa. AO Planta romã AP Planta milho AQ Chacra é em roda de casa AR Chacra é em roda de casa (...) no Taquaral BL Chacra é rocinha pequena A Chacra é importante, pois um dia que a gente precisa tem serviço perto pra fazer G GV H HT IT Em tempo de chuva ou sol forte, é mais fácil para se ocupar A Chacra é importante, pois, é perto de casa Quando começa a sujar, muda de local. Não sabe de onde vem o nome Chacra “acho que desde o começo do mundo já tinha esse nome”. KD Quando agüentava trabalhar fazia só roça NA Chacra – é em roda de casa U A Chacra está do lado da casa. V A Chacra por ficar perto, fica mais fácil de cuidar. AZ Cará GJ Desde criança ouve falar esse nome Chacra Tabela 25. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,30% Código Descrição das idéias IZ No espaço que hoje é a Chacra era antes um quintal (...), mas, depois plantaram as coisas. BG Chacra é sempre em terra alta IS Não planta arroz na Chacra Tabela 26. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0, 07% Código Descrição das idéias JN Para língua dos imigrantes Chacra (Chácara) é na cidade na beira da rua. Aqui na língua deles é outro sistema