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OPINIÃO
Residência Médica (RM) – visão de um ex-residente
Fernando Romariz Ferreira1
Durante os meus dois anos de residência médica em
Pediatria no Hospital Universitário da UFSC, participei
ativamente dos movimentos de organização da residência médica em Florianópolis, em Santa Catarina e no
Brasil. Fui inicialmente 1º secretário da Associação dos
Médicos Residentes do Hospital Universitário, depois
presidente da mesma AMERHU, e ainda vice-presidente
da Associação Catarinense de Médicos Residentes, e
também 2º secretário de finanças da Associação Nacional dos Médicos Residentes. Uma das minhas maiores
atividades foi a participação ativa, em Brasília, nas negociações para pleitear o diminuto aumento nas bolsas
- salário dos médicos residentes em outubro e novembro de 2001. Ato este que me engrandeceu de forma
avassaladora para um melhor entendimento da política
nacional e da importância que a classe médica tem para
com a sociedade.
Concordo que seja um meio sofrido de especialização, com jornadas que na maioria das vezes ultrapassam as 60 horas semanais preconizadas. Mas hoje, vejo
a RM como um excelente meio de lapidação do conhecimento e das atividades médicas. Temos um salto no
nosso aperfeiçoamento técnico, da ordem de cerca de
cinco lances de escada. Enquanto que crus e recém formados da faculdade, caminhamos degrau a degrau lentamente e inseguros.
Digo isto porque tive a oportunidade de trabalhar
por quase três anos antes de ingressar na RM.
É público e notório que os centros e hospitais que
detêm PRM estão entre as melhores práticas de medicina do país. Fato este que se deve pelo interesse e dedicação dos residentes na busca do conhecimento e pelo
excelente apoio e orientação dos colegas preceptores
que, mesmo sem incentivo financeiro, participam junto
aos residentes em benefício da saúde coletiva, num esmero ímpar por pura motivação ideológica. Elogio a
maioria dos PRM por este destaque nacional, mesmo
que o modelo, Flexneriano por natureza, esteja ultra-
Criada na década de 60 e instituída em 1977, a residência médica é hoje o melhor programa de especialização médica no Brasil. Com credenciamento pelo
Ministério da Educação, via Comissão Nacional de Residência Médica, a cada ano ingressam mais de 8.500
novos médicos residentes em cerca de 2.550 Programas de Residência Médica (PRM), nas 415 instituições cadastradas.
Centrados principalmente em grandes pólos, os mais
de 20.000 residentes de todo o país estão distribuídos
de forma desigualitária, demonstrando um enorme desequilíbrio de concentração regional. Um disparate, pois
a inserção dos novos formandos no mercado de trabalho se dá, na maioria das vezes, nas regiões circunvizinhas do local de formação.
O processo seletivo para a incursão num programa previamente escolhido envolve um sacrifício estupendo, sendo considerado com um grau de dificuldade até maior do que o processo seletivo do vestibular. A concorrência cruel exige um preparo intenso dos pré-residentes, passando por avaliações
de conhecimento geral, algumas vezes até dispensável (como qual o valor da velocidade de secreção
e drenagem do humor aquoso), entrevista, (que em
certas ocasiões beneficia o formando da própria escola - ou não), e análise de currículo. E para atingirmos nossos objetivos, nos submetemos a estes e
mais outros entraves.
Presenciei diversas retaliações aos médicos residentes, desde humilhações por alguns colegas de profissão,
assim como a taxação de “médicos inexperientes”, e
perseguições quando em movimentos de classe. Fato
interessante foi o dia em que um paciente adentrou à
emergência dizendo “prefiro ser atendido por um doutorando (estudante de medicina), ao invés de médico
residente, que não sabe nada”.
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Arquivos Catarinenses de Medicina V. 32. no. 1 de 2003 67
(MEC e Min. Saúde), e não do hospital. Assim, pouco
resta para estes profissionais em início de carreira, que
estão montando uma vida social independente, com
estruturação familiar, aluguel, transporte, vestuário,
entre outros. Talvez por isso que a profissão seja tão
elitizada, sendo muito difícil manter-se sozinho.
Eu gostaria de ver, num futuro bem próximo, um
melhor reconhecimento por parte das direções hospitalares e das COREMEs (Comissões de Residência
Médica) para com o seu médico residente, fazendo
reuniões paritárias com níveis de discussão de igual
para igual. Apesar da grossa maioria dos médicos residentes não serem devidamente politizados, não deveriam ser tratados como meros pupilos que estão em
aprendizado. Mas sim como colegas de profissão, com
idéias em comum, buscando minimizar as mazelas
da população, tão sofrida e assoriada com a atual
política nacional.
Precisamos nos unir em busca da melhoria da nação
e de todo o mundo.
passado. Hoje em dia, a RM é uma renomada escola,
pois aprimora de forma fantástica a boa prática médica,
tão desejada atualmente.
O que mais me preocupa mesmo é o descaso dos
próprios centros e hospitais formadores para com os seus
residentes. Apesar de, na legislação, existirem orientações específicas para com esta relação, o residente muitas vezes não dispõe de alimentação digna, nem em
qualidade, quanto mais em quantidade. Na maioria das
vezes é oferecido um almoço ao dia, apesar do residente passar quase dez horas/dia dentro do hospital, quando não tem que virar a noite de plantão, dobrando seu
turno. Incentivo moradia, para médico recém formado
então, seria um luxo. Muitos hospitais não possuem nem
local de repouso ou entretenimento para o médico residente. Quanto mais material didático, literatura, uniforme (jalecos), orientação e apoio psicológico, que em
pouco oneram o centro formador.
Os médicos residentes recebem pouco mais de
R$ 5,00 / hora trabalhada, pagos com recursos da União
Endereço para correspondência:
Fernando Romariz Ferreira.
Associação Catarinense de Medicina.
Rodovia SC 401 Km 04, 3854.
Saco Grande - Florianópolis - SC.
CEP: 88032-005.
Fone: (048) 231-0300.
E-mail: [email protected]
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