Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 AVALIAÇÃO DE ELEMENTOS DE ARGAMASSA ARMADA EXECUTADO COM RESÍDUOS DA CONTRUÇÃO CIVIL Bruna Giacomini Inforçato Lia Lorena Pimentel Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC [email protected] Tecnologia do Ambiente Construído CEATEC [email protected] Resumo: O aumento significativo na geração de resíduos sólidos urbanos tem acarretado danos sociais, econômicos e ambientais. A reciclagem de resíduos de construção vem sendo impulsionada pela determinação da resolução nº307 do CONAMA, com a implantação de unidades recicladoras nos municípios brasileiros. O meio produtivo também está se interessando pelo reaproveitamento dos resíduos de construção e demolição (RCD), procurando realizar sua reciclagem por conta própria ou em parcerias com as prefeituras. Este trabalho objetiva estudar a viabilidade técnica da utilização de resíduos sólidos gerados pela construção civil, na fabricação de elementos de argamassa armada. Dessa forma, foram estudadas as propriedades físicas e mecânicas de argamassas com substituição parcial e total da areia natural quartzosa pelo RCD na proporção em massa de 1:2 (cimento:areia). Posteriormente foi avaliado o desempenho mecânico de placas de argamassa armada executada com o traço de melhor desempenho. Avaliou-se a capacidade de absorção de água por imersão das argamassas endurecidas além da resistência à compressão em corpos de prova Φ 5 x 10 cm e a resistência à tração na flexão para as placas de argamassa armada. Os resultados obtidos foram comparados com os limites mínimos de resistência e de capacidade de absorção de água das argamassas utilizadas para a execução de elementos em argamassa armada, conforme NBR11173. Os resultados mostraram que o emprego de agregado reciclado na produção de argamassas armadas é viável. Palavras-chave: Resíduo de construção civil, argamassa armada, aclimatação. Área do Conhecimento: Engenharia – Materiais e Componentes de construção. 1. INTRODUÇÃO Os resíduos da construção civil vêm sendo depositados de maneira ilegal em áreas urbanas rente a córregos, áreas de preservação e margens de rio propi- ciando a criação de vetores transmissores de doenças. Também vem sendo depositados em aterros sanitários de forma irregular, uma vez que o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) através da resolução 307/2002, atribui aos Municípios e ao Distrito Federal a missão de solucionar este problema implantando diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos RCD provenientes de construção, reformas, reparos e demolições. Tal resolução entrou em vigor em janeiro de 2003, fixando um prazo de dezoito meses para implantação de medidas que viabilizassem a reciclagem destes resíduos, no entanto até a presente data, poucos são os municípios que iniciaram o processo de implantação de unidades recicladoras. Costa et all, 2004 [1] avaliaram municípios brasileiros com mais de 300 mil habitantes em 2003, de um total de 64 municípios, apenas 12 haviam implantado unidades recicladoras. O uso de resíduos de construção e Demolição (RCD) vem colaborar com a preservação do meio ambiente, visto que estes resíduos têm sido descartados sem nenhum controle. Segundo Levy e Helene, 1997 [2], o entulho de construção e demolição pode ser definido “como as sobras ou rejeitos constituídos por todo material mineral oriundo do desperdício inerente ao processo construtivo adotado na obra nova ou de reformas ou demolições”. Uma das alternativas encontradas para o aproveitamento dos resíduos sólidos é a sua reciclagem, Trabalhos vêm sendo desenvolvidos visando a substituição parcial da areia e da brita por agregado miúdo e graúdo proveniente da reciclagem do resíduo da construção na produção de concreto para produção de blocos, pisos intertravados e argamassa, bem como a utilização de outros resíduos industriais para confecção de elementos construtivos. (Albuquerque et all [3]; Assunção et all; Freitas et all [4]; Lintz et all [5]; Oshiro et all [6]; Sobrinho et all [7]). Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 A utilização destes resíduos na argamassa armada pode ser uma boa solução para o reaproveitamento destes resíduos, visto que os municípios necessitam produzir diversos equipamentos urbanos, como bancos de praça, lixeiras, pontos de ônibus, etc. O uso da argamassa armada passa a ser uma alternativa viável, pois trata de uma técnica econômica. Sua utilização em construções no Brasil vem desde a década de 60 inicialmente com engenheiros do Grupo de São Carlos e posteriormente com o arquiteto João Filgueiras Lima, em projetos de urbanização de favelas, habitações populares e edifícios públicos. 2. METODOLOGIA Esta pesquisa foi realizada utilizando o resíduo de demolição e construção, processado na Unidade Recicladora de Campinas-SP, e também areia natural. Estes materiais foram caracterizados através de ensaios de Determinação da composição granulométrica, conforme NBR 7217/1994 [8], Determinação da massa específica de agregados miúdos, conforme NBR 9776/1986 [9] e Determinação da massa unitária, conforme NBR 7251/1982 [10]. O estudo de dosagem da argamassa verificou a máxima substituição possível da areia natural pelo RCD, atendendo a resistência mecânica mínima e a capacidade de absorção de água máxima previstos na NBR 11173 [11] - Projeto e execução de argamassa armada. Esta substituição da areia natural por RCD variou, conforme especificado na Tabela 1. A proporção de mistura 1:2 (cimento:areia) em massa foi adotada por ser tradicionalmente utilizada na produção de argamassa armada. A pesquisa foi desenvolvida utilizando-se Cimento Portland Tipo V (ARI) e CP B 40 (cimento Branco estrutural). Definiu-se a relação água / cimento (a/c) para a mistura com 50% areia natural e 50% RCD de forma que esta proporção de mistura apresentasse consistência de 200 mm pelo método da Flow-Table. Tabela 1. Porcentagens de substituição de areia por RCC* e nomenclatura. Nomenclatura Areia (%) RCD* (%) 100 0 RCD 0 70 30 RCD 30 50 50 RCD 50 30 70 RCD 70 *RCD: Resíduo de Construção e Demolição Foram moldados os corpos-de-prova para ensaio à compressão simples nas idades de 28 e 90 dias e para determinação da capacidade de absorção de água, conforme NBR 9778 [12], sendo executadas 6 repetições por traço. Em seguida foram executadas formas para produção de placas de Brise-soleil com dimensões de 134 cm x 34 cm x 1,5 cm. A argamassagem das placas foi feita com argamassa de traço 1:2 (em massa) sendo a areia natural substituída em 50% pelo RCD, foi necessário o uso de aditivo plastificante para obter 300 mm de espalhamento (Flow-table) resultando em argamassa bastante plástica de forma a permitir a argamassagem desta peça de espessura de 1,5 cm. A tela soldada utilizada tinha espaçamento de 35 x 35 mm com fios de 2,77 mm de diâmetro, a NBR 11173 estabelece um diâmetro mínimo de tela de 0,56mm e maximo de 3,0 mm. Ocorreu também um reforço de 2 barras de 5 mm de diâmetro resultando na relação de área de aço sobre a área de argamassa (As/Ac) de 1,7%. O ensaio para determinação da resistência à tração na Flexão foi realizado por meio de carregamento central, foi utilizado um relógio comparador de curso de 20 mm para medir a deformação. 3. RESULTADOS Os resultados de granulometria do RCD e da areia natural são apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Ensaio de granulometria RCD areia natural 6,3 mm* Massa Retida Acumulada (%) 0 4,8 mm 0 1 2,4 mm 9 2 1,2 mm 32 5 0,6 mm 52 14 0,3 mm 71 72 0,15 mm 89 99 Fundo 100 100 Peneira ABNT Massa Retida Acumulada (%) 0 Total O diâmetro máximo da areia é 1,2 mm e seu módulo de finura MF = 1,9, caracterizando uma areia fina. O material RCD apresentou característica de areia média, com dimensão máxima de 4,8 mm e módulo de finura igual a 2,5. O RCD tem massas especifica e unitária menores porque os agregados reciclados são mais porosos, pois são constituídos por uma grande parcela de material cerâmico, além da presença de resíduos de concreto e argamassa. Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 A massa unitária menor para o material RCD é justificada também, pela granulometria mais graúda que da areia natural. A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de determinação da massa específica e da massa unitária para os dois agregados, RCD e areia natural. Tabela 3. Massa Específica Areia NatuRCD ral Material 3 Massa Unitária (kg/dm ) 3 Massa específica (kg/dm ) 1,523 2,638 A argamassagem das placas foi feita com argamassa de traço 1:2 (em massa) sendo a areia natural substituída em 50% pelo RCD. A trabalhabilidade da argamassa obtida foi de 29,6 cm em média para a argamassa utilizando relação a/c = 0,48 e adição de 1% de aditivo plastificante em relação à massa de cimento. A Figura 1 apresenta a medição do espalhamento no ensaio de consistência. 1 130 2 404 Através do ensaio de determinação do índice de consistência (NBR 7215 anexo B - 1995), foi obtido o índice de consistência de 250 ± 5 mm para a proporção de mistura 1:2 com 50% de substituição da areia natural por RCD. Definida a relação a/c definida, foram moldados seis corpos de prova por idade (28 e 90 dias) e por porcentagem de substituição de areia por RCD (4 dosagens, conforme Tabela 1) e por tipo de cimento. As Tabelas 4 e 5 apresentam os valores médios de resistência à compressão obtidos para as idades de 28 e 90 dias respectivamente. Figura 1. Flow table para determinar a trabalhabilidade da argamassa A Figura 2 apresenta a produção das placas. Tabela 4. Resistência aos 28 dias (MPa). Traço CP V RCD O RCD 30 RCD 50 RCD 70 CP B 40 73,0 32,3 50,8 47,6 65,9 34,9 45,9 46,8 Tabela 5. Resistência aos 90 dias (MPa). Traço CP V CP B 40 RCD O RCD 30 RCD 50 RCD 70 67,77 37,56 27,94 24,71 58,20 32,07 48,25 52,14 A Capacidade de Absorção de água por imersão é apresentada na Tabela 7. Tabela 7. Capacidade de Absorção RCD % Absorção % RCD 0 6,79 RCD 30 6,31 RCD 50 10,16 RCD 70 10,83 Figura 2. Produção de placas O ensaio de resistência à compressão simples apresentou resistência média aos 7 dias de 26,3 MPa e aos 28 dias de 33,7 MPa. A resistência obtida é superior à mínima exigida pela NBR 11173, que especifica a resistência mínima de compressão simples da argamassa em 25 MPa. O ensaio para determinação da resistência à tração na Flexão apresentou carga de ruptura média de 315,8 kgf. A Figura 3 mostra o desenvolvimento do ensaio de tração na flexão. Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 21 e 22 de outubro de 2008 ISSN 1982-0178 Figura 3. Ensaio de flexão da placa O ensaio de determinação da capacidade de absorção de água por imersão apresentou resultado médio de 10,1 %, ultrapassando o índice máximo recomendável pela norma NBR 11173 que especifica o limite máximo de 8%. A Massa específica da placa de argamassa armada foi de 2327 kg/ m3, esta que confere com a norma NBR 11173, que especifica um valor mínimo de 1800 Kg / m3. 4. CONCLUSÕES Todos os resultados obtidos atenderam as suas respectivas normas, com exceção do ensaio de determinação de absorção de água, que excedeu em 2% do recomendável. Isso devido à substituição em 50% da areia pelo RCC. O ensaio de resistência à tração na flexão apresentou resultados baixos indicando a necessidade de trabalhar a argamassa armada com outro formato que não a plana. Este formato só permitiu o uso da placa como brise vertical. 5. AGRADECIMENTOS A PROPEQ e ao CNPq pelo apoio. 6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS [1] Costa, A. A. N.; Costa Junior, N. C. A.; Detoni, L. M. M.; Selig, M. P.; Rocha, C. J.(2004)- A reciclagem de resíduo de construção e demolição : uma aplicação da analise multivariada. 1ª Conferencia Latino- Americana de construção sustentável – X encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, ISBN 85-89478-08-4. São Paulo. [2] LEVY, S. M., HELENE, P. R. L. Reciclagem do entulho da construção civil, para utilização com agregados para argamassas e concretos. São Paulo, 1997. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. [3] Albuquerque, M. S.(2007) – Utilização da curva granulométrica proposta por “ Wilk & Grant” na produção de blocos de concreto com agregados reciclados mistos de RCD. 49º Congresso Brasileiro de Concreto IBSN 97885 – 98576 – 17- 6; Bento Gonçalves - Rio Grande do Sul. [4] Assunção, T. L.; Carvalho F. G.; Barata S. M.(2007) – Avaliação das propriedades das argamassas de revestimentos produzidas com resíduos da construção e demolição como agregado. 49º Congresso Brasileiro de Concreto IBSN 97885 – 98576 – 17- 6; Bento Gonçalves - Rio Grande do Sul. [5] LINTZ C. C. R.; PIMENTEL L. L.; SACRAMENTO W.; ARAUJO R.- Utilização de resíduos da construção para a produção de argamassa de revestimentos. 49º Congresso Brasileiro de Concreto IBSN 97885 – 98576 – 17- 6; Bento Gonçalves – Rio Grande do Sul, 2007. [6] OSHIRO, A.; BARONETTO, C.; OSITIERI, M. – Concreto autocompactable utilizando resíduo Del proceso de La trituracion de rocas. 49º Congresso Brasileiro de Concreto IBSN 97885 – 98576 – 17- 6; Bento Gonçalves - Rio Grande do Sul, 2007. [7] SOBRINHO, A. J. A.; RIBEIRO, M. H. F. Avaliação do desempenho de blocos de concreto com adição de cinza da casca de arroz. 49º Congresso Brasileiro de Concreto IBSN 97885 – 98576 – 17- 6; Bento Gonçalves - Rio Grande do Sul, 2007. [8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1994). NBR 7217 - Agregados - Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro. [9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1986). NBR 9776 - Agregados Determinação da massa específica de agregados miúdos por meio do frasco de Chapman. Rio de Janeiro. [10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1982). NBR 7251 - Agregado em estado solto - Determinação da massa unitária. Rio de Janeiro. [11] ASSOCIAÇAO BRASILEIRA DE NORMAS E TECNICAS (1990) NBR 11173- Projeto e execução de argamassa armada, 1990, 10p [12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TECNICAS (1987). NBR 9778- Argamassa e concreto endurecido- Determinação da absorção de água ou imersão – índice de vazios e massa especifica, 1987, 3p.