ISSN 1659-2697 ANO 3 | 2007 | N°4 ALTO PERFIL ENTREVISTA EXCLUSIVA Abel Mamani, primeiro Ministro da Água na América Latina CULTURA Educação holística e sustentável LEGISLAÇÃO Primeiro convênio regional pela água AMBIENTE Quem protege, ganha A ÁGUA NOS TRATADOS DE LIVRE COMÉRCIO Ano 3 | 2007 | Nº4 CONSELHO EDITORIAL Maureen Ballestero/Presidente Pro tempore da Comissão Interparlamentar de Ambiente e Desenvolvimento (CICAD), do Sistema de Integração da América Central (SICA) Claudio Osorio Urzúa, Assessor Regional em Redução de Desastres, Iniciativa Água e Saneamento UNICEF TACRO Roberto Salas/Diretor Geral da Amanco María Luisa Torregrosa/Professora pesquisadora da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), México DIRETORA GERAL / Yazmín Trejos EDITORA CHEFE / Nidia Burgos JORNALISTA / Myriam Blanco EDITOR TÉCNICO / Richard Kohler COLABORADORES Jorge Cabrera Hidalgo Gian Carlo Delgado Alejandro Vargas Johanson Kattia Rodríguez Guevara Ana Beatriz Fernández DESENHO Toni Pereira / Aretha Studio www.aretha.com.br FOTO DA CAPA / Imagem cortesia de © Google Earth ENCARREGADO DE ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO: Luis Alonso Ramírez EDIÇÃO GERAL: Comunicação Corporativa S.A. FALE CONOSCO: [email protected] Uma publicação promovida pela Amanco 2 AQUA VITAE CONTEÚDO PERSPECTIVA 04 CULTURA 06 CASOS 09 OPINIÃO 10 LEGISLAÇÃO 15 SITES INTERESSANTES 18 CURTAS DO MUNDO 23 SAÚDE 31 CALENDÁRIO 38 24 28 Legislação própria fortalece posição diante de tratados 11 AMBIENTE 19 ALTO PERFIL ENTREVISTA EXCLUSIVA 24 TLC e a água na região 34 AVANÇOS TECNOLÓGICOS Quem protege, ganha O pagamento por Serviços Ambientais (PSA), Programa que toma impulso na região, muda o conceito de proteção ambiental, da penalização ao prêmio. Diversos países já estão promovendo este tipo de práticas, que procuram oferecer um benefício econômico àqueles que se preocuparem com o cuidado do ambiente. Conheça os diferentes sistemas que já estão em prática. Abel Mamani, primeiro Ministro da Água na América Latina Este representante popular, que foi líder nas revoltas de Cochabamba e El Alto, contra a privatização dos serviços de água na Bolívia, é há mais de um ano, o Ministro da Água desse país, onde a partir de sua posição pretende consolidar em âmbito internacional a água como um direito humano. Os Tratados de Livre Comércio geram temores sobre a questão da água, entre os moradores dos países da região. A principal preocupação é que empresas estrangeiras e privadas possam apropriar-se do recurso e superexplorar as fontes internas. Entretanto, a experiência demonstra que os TLC não são necessariamente os que promovem esta prática, mas que na verdade isto depende mais das políticas internas e da legislação dos diferentes países. Água reciclada, economia para o futuro Uma vez que a água é um recurso finito e que se prevê que no futuro haverá escassez deste líquido, a reciclagem é uma das técnicas que se impõem para sua reutilização. Em alguns países, como o Brasil, foram obtidos importantes avanços nesta prática. AQUA VITAE 3 PERSPECTIVA Mais além dos tratados de livre comércio P aíses como o México, que há mais de 13 anos implementou um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos e o Canadá, e outros como Peru, Colômbia ou as nações da América Central, que se encontram na iminência de implementar outro acordo com os Estados Unidos, experimentaram o temor de alguns grupos de seus habitantes quanto à possibilidade da água vir a se transformar em um grande negócio, mais que em um bem social. Tal como mostramos na edição anterior, o importante parece ser manter sempre um enfoque multissetorial para cumprir as expectativas dos usuários e outros públicos interessados. Além disso, uma boa regulamentação interna é sempre garantia para a população, de que receberá o serviço nas condições de quantidade e qualidade prevista pela Organização das Nações Unidas, entre seus Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Com ou sem os TLC, os países da região devem dar um passo além e zelar para que seus cidadãos contem com o recurso necessário para suas necessidades. Estes acordos comerciais são apenas o ponto de partida para que a questão da água seja colocada na mesa de discussão, no entanto a gestão do recurso hídrico deveria ser analisada a partir de uma perspectiva integral e sustentável. Sejam os acordos comerciais um desafio ou uma oportunidade para a gestão do recurso hídrico, a questão da água deve ser fortalecida em cada país e como região, tal e qual ocorre na América Central, onde busca-se a assinatura - por parte 4 AQUA VITAE de todos os Presidentes dos países que fazem parte dela - do Convênio Centro-americano da Água, o primeiro a estabelecer no bloco as bases para o manejo da água, assunto ao qual nos referimos na seção Legislação. O recurso hídrico deve ser analisado, principalmente, pensando nas futuras gerações, e portanto iniciativas como os programas de pagamento por serviços ambientais (PSA), que já são feitos com sucesso em diversos países da região, demonstram que é melhor premiar a preservação do que proibir ações que muitos nem sequer contam com recursos para controlar. Este assunto, que tratamos na seção Ambiente, proporcionará algumas idéias que podem favorecer a proteção do ambiente e da água nos países da América Latina. Nesta mesma ordem, a irrigação constitui-se numa atividade fundamental para a agricultura, mas também em uma responsabilidade para o produtor agrícola que deve receber assessoria sobre os diferentes mecanismos de irrigação que economizem água, ao mesmo tempo que melhorem sua produtividade e cuidado do solo, em um setor no qual , conforme sabemos, o desperdício é quase o dobro do necessário. Outros assuntos de relevância que tratamos nesta nova edição de Aqua Vitae são a higiene necessária para evitar enfermidades, resultado da falta ou do mau uso da água, assim como mecanismos para desinfetar o líquido antes de ser consumido na própria casa. Com estes e outros assuntos novamente pretendemos colaborar com a elaboração de ações que dizem respeito a todos os setores, em benefício de uma maior cobertura e qualidade da água. ROBERTO SALAS Diretor Geral, AMANCO CULTURA A educação nas escolas, como esta no Peru, pode proporcionar uma mudança cultural em direção a práticas saudáveis com a água / AFP. ÁGUA E HIGIENE: Ensino a partir de uma perspectiva sustentável e holística DIVERSAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS, ESTADOS E SOCIEDADE CIVIL INCLUÍRAM EM SUAS PRIORIDADES A EDUCAÇÃO E A SENSIBILIZAÇÃO Por Ana Beatriz Fernández 6 AQUA VITAE Existe um ditado popular que diz popular que diz: "Bendita seja a água, por ser saudável e ser barata", entretanto a cada ano mais de cinco milhões de pessoas morrem como conseqüência de doenças relacionadas com a água, segundo dados de 2004 da Organização Mundial da Saúde. Deste número, 90% são crianças menores de cinco anos, principalmente nascidas em países em desenvolvimento. Claro está que a educação e a sensibilização da população sobre a importância de práticas e hábitos de asseio são críticas para que melhorem radicalmente os indicadores de saúde dos países em desenvolvimento. Devido ao flagelo que estes números trágicos representam para a humanidade, entre outros igualmente alarmantes, é que nos últimos anos diversas organizações internacionais, estados e diversas sociedades civis colocaram na mira o problema da gestão da água partindo de uma perspectiva sustentável e holística, que inclui também o ensino de hábitos de higiene. Na América Latina, a porcentagem da população urbana com acesso a um abastecimento de água e saneamento é comparativamente melhor do que na África e na Ásia, e levemente menor do que na Europa; entretanto, em outros indicadores sua eficiência diminui (Ver quadro: "Cobertura de água potável em países da América Latina"). Estes dados alentadores perdem força quando se considera, por exemplo, que embora a região conte com 30% dos recursos hídricos do mundo, a contaminação da água devido às águas residuais domésticas torna difícil o acesso à água potável em algumas cidades. Desde a Organização das Nações Unidas e diversos governos, passando por entidades financeiras supranacionais, até o setor privado e as comunidades organizadas, diferentes setores iniciaram uma série de estratégias e ações para concretizar um desenvolvimento integral de um dos recursos mais valorizados e fundamentais para a vida, a água. Mas em princípio, deve-se fornecer a água potável como um serviço acessível para todas as pessoas. O relatório "A água, uma responsabilidade compartilhada" vai mais além de sua exortação para a tomada de decisões políticas e o avanço efetivo na gestão integrada do recurso hídrico, trazendo à baila assuntos como a corrupção e a falta O acesso com qualidade a este elemento vital é um direito de investimentos no setor. "A insuficiência de água se deve, básico das pessoas. É o que emana do artigo 25 da principalmente, a um abastecimento ineficaz e não a um Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e déficit do recurso. proclamada pela Tal insuficiência se Resolução da ...42% das pessoas no mundo não têm acesso a um deve, muitas vezes, Assembléia Geral banheiro, situação por exemplo, que exibe as verdadeiras a uma má gestão, à 217 A (iii) de 10 de condições de higiene em quase metade das casas do planeta. corrupção, à falta dezembro de 1948 de instituições adeda ONU: "Todas as quadas, à inércia burocrática e à falta de investimentos, tanto pessoas têm direito a um nível de vida adequado que lhes em capacitação humana, como em infra-estruturas físicas”. assegure, assim com a sua família, a saúde e o bem estar, e em especial a alimentação, o vestuário, a moradia, a Da mesma forma, o documento enfatiza a importância da assistência médica e os serviços sociais necessários". educação sobre o tema: "A escassez de água e o aumento da contaminação são desafios de origem tanto social como Água e saúde é um binômio inquestionável. Desde o simples ato cotidiano de defecar em uma privada ou beber um refrescante copo d'água, até gozar de saúde, há um trajeto COBERTURA DE ÁGUA POTÁVEL EM PAÍSES DA AMÉRICA LATINA no qual uma grande quantidade de ações ocorrem e são País Urbana 2002 Rural 2002 definitivas para viver uma vida com dignidade. O Relatório sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos no Mundo "A Água, uma responsabilidade compartilhada" das Nações Unidas para o ano de 2006, o expressa em sua análise: "O estado da saúde humana está estreitamente vinculado a uma série de condições relacionadas com a água: potabilidade, saneamento adequado, redução da carga de doenças relacionadas com a água e existência de ecossistemas de água doce saudáveis". Cultura da higiene Nesta questão do acesso à água e de viver de forma saudável, a cultura da higiene intervém como elemento crucial. Mas não é uma responsabilidade apenas das pessoas que utilizam o líquido para preparar alimentos ou para tomar um banho, é uma responsabilidade compartilhada entre diversos atores, cujo compromisso com o desenvolvimento sustentável do recurso hídrico para benefício dos seres humanos deve ser inadiável. 72% México 97% Costa Rica 100% 92% El Salvador 91% 68% Guatemala 99% 92% Honduras Nicarágua 99% 93% 82% 65% Panamá 79% 89% Argentina 97% n.d. Bolívia 95% 68% Brasil 96% 58% Chile 100% 59% Colômbia Equador 99% 92% 71% 77% Guiana n.d. n.d. Paraguai Peru 100% 87% 62% 66% Suriname 98% n.d. Uruguai 98% n.d. Venezuela 85% 70% Fonte: UNDP 2005 em: Documento "Américas", IV Fórum Mundial da Água AQUA VITAE 7 política, que podem ser modificando a demanda e o mediante a educação, sensibilização e através da políticas hídricas.” enfrentados uso da água, uma maior reforma das Água, saneamento e higiene Sem um marco regulatório adequado seria impossível que os países comprometidos com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio 2005-2015 das Nações Unidas cumpram a meta 10 do objetivo 7 de "reduzir à metade, para o ano de 2015, a porcentagem de pessoas sem acesso sustentável à água potável e ao saneamento básico". Ao abrigo desta proposta internacional, a Força Tarefa sobre a Água e o Saneamento, equipe consultiva independente do Projeto do Milênio da ONU, definiu o trio de palavras abastecimento de água, saneamento e higiene como a pedra angular da saúde pública e do bem-estar social e econômico. Outro marco relacionado com os atuais esforços pela gestão integral da água é a realização do IV Fórum Mundial da Água, celebrado em março de 2006 no México. Em seu apartado "Água e saneamento para todos", também foi analisado e discutido o tema de saneamento e higiene. 8 AQUA VITAE Neste marco, um dos relatórios finais chamou a atenção sobre o fato de que estes dois eixos "desaparecem durante as fases de planejamento, formulação de políticas, orçamento e implementação, enquanto que a maior parte do esforço e dos recursos são alocados para o abastecimento". Além disso, o documento foi claro na afirmação de que os dois conceitos "precisam movimentar-se para a frente e para o centro", uma vez que são elementos para um desenvolvimento com dignidade. Conforme evidenciado, existe uma realidade que não é colocada sobre a mesa: 42% das pessoas no mundo não têm acesso a um banheiro, situação por exemplo, que exibe as verdadeiras condições de higiene em quase metade das casas do planeta. Trazer a público esta realidade e debatê-la é de grande importância, pois segundo alerta o documento "Água e Saneamento para todos" resultante do IV Fórum Mundial da Água, a principal causa da transmissão de doenças relacionadas com a água é o ciclo fecal-oral. Por isso, o relatório conclui que é de grande importância o adequado forneci- mento de água e saneamento, em conjunto com comportamentos higiênicos (especialmente lavagem das mãos, manejo e armazenamento seguro de água e a adequada eliminação de fezes). Para romper o ciclo fecal-oral, é urgente a adoção de práticas saudáveis (mudança cultural) e o uso de tecnologias que contenham e saneiem a matéria fecal (Ver exemplos nas seções Casos e Saúde) Os países devem enfrentar o desafio de melhorar o serviço de saneamento, com estratégias diferentes das que foram empregadas para expandir o acesso ao fornecimento de água. Estas ações devem ser dirigidas não apenas à construção de condições adequadas, mas também a entender o quê motiva as pessoas a atuar de determinadas maneiras. A sensibilização, a educação, a mobilização, a informação e o marketing social dirigidos às famílias, comunidades escolas e autoridades públicas, podem proporcionar uma mudança cultural com a qual as sociedades em desenvolvimento poderão verdadeiramente avançar. O Ecoclub da Bolívia desenvolveu projetos de tecnologias apropriadas em água potável e saneamento. Cortesia de Ecoclub da Bolívia. Projeto Adolescente Água e Juventude de Santa Cruz CASOS Aliança para a promoção de água segura e higiene na América Latina Em outubro de 2005, em um workshop realizado em Quito Equador, profissionais das áreas de pesquisa, educação, engenharia e ciências, promotores, representantes de instituições internacionais, entidades do governo e do setor privado da América Latina e de diferentes partes do mundo, formaram a Aliança Latina para a promoção da água segura e higiene e assumiram o compromisso de promover esta iniciativa nos países da região. Durante 2006, muitas instituições se uniram a este projeto. A Aliança apresenta uma alternativa estratégica para ajudar, de maneira rápida, a proporcionar o acesso à água segura para as famílias que nos próximos cinco a 10 anos, não terão um serviço de água potável. Muitas famílias da América Latina neste momento consomem água contaminada com microorganismos patogênicos, o que as torna mais vulneráveis a contrair doenças como as diarréias e outras, especialmente as crianças e os adultos mais velhos. Como resposta, a Aliança propõe criar nas famílias uma barreira de prevenção contra as diarréias, até que sejam construídos os sistemas de água potável, mediante o acesso à água segura, através do uso de tecnologias de tratamento da água em casa (TAC), de baixo custo e de fácil replicação como: ferveção, cloração caseira, SODIS, PUR, Filtron, filtros cerâmicos e outros, mas complementada com o ensino de hábitos de higiene saudáveis, com o foco na mudança de comportamentos. Na Aliança foram dados passos importantes durante o ano de 2006, como a formação dos Grupos de Trabalho da Aliança (GTA) na Guatemala, em Honduras, El Salvador, Nicarágua, Equador, Bolívia e Peru, dos quais participam ONGs, cooperação internacional, governos, centros de pesquisas e educação superior. "No que diz respeito à água para consumo humano, não é garantia suficiente que a família tenha acesso à água segura, se ela não tem hábitos adequados para sua correta manipulação no interior da casa, pois corre o risco de voltar a se contaminar antes de seu consumo. Daí a importância de ensinar às famílias práticas de higiene sobre o manuseio adequado da água desinfetada dentro da casa", comentou Marcelo Encalada, coordenador da Aliança LAtina de água segura e higiene. [email protected] www.fundacionsodis.org Ecoclubes na Bolívia Os Ecoclubes são grupos de crianças e jovens que desenvolvem ações ambientais, concentrando suas ações particularmente na questão de educação sanitária e ambiental. No marco da cooperação técnica da OPS/OMS na Bolívia, são promovidas ações de assistência técnica para que, em coordenação com as instituições do setor (Ministério da Saúde e Esportes, Ministério da Água, Ministério de Educação entre outros), agências de cooperação internacional, ONGs e as comunidades, sejam incorporados elementos relacionados com a higiene e a educação sanitária, em busca da sustentabilidade de ações e impacto em termos de mudanças de comportamento nos projetos de água e saneamento. Neste sentido, foram desenvolvidos na Bolívia projetos na área de implementação de tecnologias apropriadas em água potável e saneamento, para melhorar elementos essenciais em comunidades rurais e de periferia urbana, desde a infraestrutura sanitária até elementos de formação e capacitação para conseguir uma adequada apropriação das tecnologias e melhoria de sua moradia, ambiente e, portanto, de condições de saúde que repercutem positivamente na qualidade de vida das populações beneficiadas. Atualmente, está sendo promovido e consolidado o movimento de Ecoclubes. Além disso, está sendo coordenado com o Ministério da Saúde e Esportes, Ministério da Água e outras instituições relacionadas com o assunto, campanhas educativas para o correto manejo da água, seu uso racional e as condutas apropriadas que permitam à sociedade em geral valorizar o recurso. "A educação deve orientar ações não apenas comunitárias, como também institucionais, para alcançar mudanças de atitude, mudanças na maneira de pensar para abordar as problemáticas ambientais, e particularmente na questão da água de uma maneira diferente, na qual o recurso água seja considerado também de maneira integral, desde a proteção das fontes até a entrega em nível domiciliar ou através de um açude, e se possa atuar em ações de consciência em cada um de nós para que reajamos, vejamos e sintamos, que se não cuidarmos de outros fatores de risco que afetam este recurso, simplesmente em pouco tempo não disporemos dele de uma maneira segura", afirmou Henry Hernández Venencia, consultor em Saúde Ambiental OPS/OMS Bolívia. [email protected] AQUA VITAE 9 OPINIÃO GIAN CARLO DELGADO [email protected] Doutor em Ciências Ambientais pela Universidade Autônoma de Barcelona. Pesquisador do programa "O Mundo no Século XXI" do Centro de Pesquisas em Ciências e Humanidades da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Água, segurança nacional e TLC O acesso, a gestão e o usufruto da água são questões cada vez mais importantes, posto que a localização e a qualidade do líquido estão mudando, em parte devido ao aquecimento global e aos fenômenos meteorológicos vinculados, mas também devido ao exponencial desperdício e contaminação do recurso. Conseqüentemente, as zonas de reservas de água, sobretudo de boa qualidade, são identificadas como geoestratégicas, vinculadas à segurança nacional e portanto como objeto de potenciais conflitos e guerras. O dilema é tal que em fevereiro de 2004 vazou para o jornal The Guardian um relatório do conselheiro do Pentágono, Andrew Marshall, no qual ele advertia sobre a falta de água potável em curto prazo, e perante a qual os Estados Unidos deveriam se preparar para estar em condições de "apropriar-se" do líquido, "onde quer que estivesse" e quando "fosse necessário". Como se revisa em “Água e Segurança Nacional” (Arena. México, 2005), as implicações que poderia acarretar para o México um aprofundamento da crise hídrica nos Estados Unidos que os levasse a reformular a geopolítica hídrica regional, seja por meio da mencionada postura de apropriação ou outras, como o eventual papel do Tratado de Livre Comércio de América do Norte (TLCAN), são altamente complexas e delicadas. Como expõe a Agência Stratford (Estados Unidos): "...a débâcle fronteiriça pela água pode levar ao descarrilamento das relações comerciais diplomáticas, prejudicar o TLCAN e provocar confrontações entre os governos locais e os residentes da zona fronteiriça". Chama a atenção que em tal contexto no qual se propõe usar o TLCAN como instrumento de pressão-coação, os Estados Unidos exacerbem as históricas disputas binacionais em matéria de água, tanto no que diz respeito ao calendário de pagamentos de cotas de água no Bravo (Ata 307), como em torno da atual necessidade de negociar a água subterrânea binacional. O assunto é delicado pois se fala, nos Estados Unidos, de uma suposta dívida de água mexicana que, não sendo paga nos prazos exigidos, seria substituída por um valor monetário. Uma sugestão que chama a atenção, pois a dívida em água não gera mais água, mas uma dívida de água em dinheiro, sujeita a juros, e que depois possa ser reconvertida em água, é algo totalmente diferente. Some-se ao que acabamos de mencionar a crescente privatização dos serviços públicos urbanos, industriais e agrícolas da água, particularmente impulsionados desde o marco do TLCAN por potentes programas do Banco Mundial que resultaram no benefício das grandes empresas, principalmente estrangeiras (e.g. Bechtel, Suez, etc). Isto deve ser visto como um processo de apropriação e desnacionalização de fato de um recurso estratégico para o país e seu povo, que além disso, atenta contra o direito humano a um mínimo garantido do líquido. Tal tendência, que é mantida no atual governo do México, deve ser revertida. Um claro sinal de advertência é o caso da perda da soberania alimentar em produtos básicos como o milho. Possível a partir da liberalização desmedida do campo mexicano (mas não dos Estados Unidos), já fez sentir seus desestabilizantes efeitos sociais com o inusitado aumento no preço da tortilla. No caso da água, o que está em jogo, mais do que o aspecto socioeconômico, é inclusive a paz social. A alternativa encontra-se então em uma noção da água como assunto de segurança nacional mexicana, entendida como parte de uma dimensão básica da soberania nacional mexicana e, conseqüentemente, como uma noção subsumida no contexto constitucional que deve ser regulada pelo legislativo. Trata-se de uma aproximação que deve responder ao interesse público nacional do México, mantendo o estado de direito, a paz social e a integridade territorial; mas também garantindo a discussão pública aberta sobre a gestão e usufruto do líquido, impulsionando o desenvolvimento de mecanismos e tecnologias alternativas aptas para o país, e fomentando uma nova cultura eco-social da água. Aqua Vitae não emite opinião sobre os critérios expressados nesta secção, mas estamos abertos a diferentes perspectivas em torno do manejo do recurso hídrico. 10 AQUA VITAE AMBIENTE Propriedade participante do projeto de pagamento por serviços ambientais no norte da Costa Rica. Cortesia de Gilmar Navarrete Ch. / FONAFIFO QUEM PROTEGE, GANHA Em um mundo onde tradicionalmente os Estados castigavam com penalizações econômicas os detratores do ambiente por suas práticas irresponsáveis, atualmente a filosofia adotada cada vez com maior força é a de premiar, seja com dinheiro ou com regalias em espécie, aqueles que desejam voluntariamente proteger os recursos hídricos e florestais do planeta. Por Kattia Rodríguez Guevara Não é segredo para ninguém que a espécie mais evoluída do planeta, o ser humano, é a que paradoxalmente o encaminha para sua destruição: quatro bilhões de árvores desaparecem por dia no planeta e 60 hectares de floresta tropical são destruídas por minuto. Esta perda dizima a existência de milhares de espécies de animais, árvores e plantas, favorece a erosão, danifica as bacias hidrográficas, provoca danos a longo prazo nos ecossistemas e nos lençóis aqüíferos. Paralelamente a este esbanjamento global dos recursos florestais e hídricos, soma-se o uso irracional do recurso disponível. Assim, por exemplo, no caso da água, enquanto que para manter um nível de vida aceitável são necessários de 20 a 50 litros por dia por pessoa (para bebida, comida e higiene), nas grandes cidades são consumidos aproximadamente 250 litros de água por dia/pessoa, segundo dados extraídos de um relatório da Fundação Cidade, da Argentina, publicados em seu site da internet. Dada a persistência destas práticas e segundo o principio de "quem conta-mina, paga" (em particular sobre a questão da autuação por vazamento de agroquímicos e derrames sobre mantos aqüíferos e sistemas pluviais), no passado, os governos optaram por fazer uso de instrumentos econômicos, na forma de impostos, para destiná-los à prevenção da contaminação e recuperação dos ecossistemas. Entretanto, desde a década passada, surgiu um novo enfoque de atenção ao problema, talvez como parte do salto qualitativo na compreensão sobre a urgência de reverter o quanto antes os erros do passado. Prêmio à proteção O novo enfoque trata de fixar a atenção e as ações na geração de "externalidades ambientais positivas" ou seja, de uma série de benefícios indiretos para aqueles que optem por cuidar dos recursos naturais. O pagamento por serviços ambientais (PSA) é um mecanismo que se enquadra nesta nova filosofia. Consiste na transferência de recursos financeiros dos beneficiários de certos serviços ambientais, para aqueles que oferecem estes serviços, ou que são fiduciários dos recursos ambientais. Os PSA são incentivos econômicos que assumem diversas formas, seja como subsídios, programas agro-ambientais ou benefícios em espécie, e sustentam-se na idéia de que "quem protege o ambiente, ganha". Os premiados são os atores que se beneficiam dos serviços ambientais gerados e também os usuários e comunidades que oferecem um serviço que incide diretamente no melhoramento do ambiente. Estes últimos recebem a compensação econômica pelo esforço e o AQUA VITAE 11 Proximidades da Catarata del Ángel, no caminho para Vara Blanca, Heredia, Costa Rica, área protegida. Cortesia de Gilmar Navarrete Ch., FONAFIFO custo de manter e proteger os recursos florestais e hídricos. Um dos principais efeitos desta sinergia é que ambas as partes interiorizam os benefícios: são conscientes de sua contribuição com o projeto de recuperação ambiental, sustentam-se e fazem parte da razão de ser da outra. O conceito de pagamentos por serviços ambientais (PSA) recebeu muita atenção como ferramenta inovadora para financiar investimento em manejo sustentável de terras. Quase todos os esquemas de PSA que são executados na América Latina são relativamente novos, pois a maioria não tem mais de cinco anos de existência, enquanto que outros aparecem apenas como projetos pilotos. Entretanto, segundo Stefano Pagliola, do Departamento Ambiental do Banco Mundial, esta entidade já havia conseguido inventariar até 2002, mais de 300 iniciativas na região. Como foi exposto durante o IV Fórum Mundial da Água, a América Latina tem mais programas deste tipo que qualquer outra região, como no caso do México, com a iniciativa mais abrangente de PSA; Costa Rica e seu programa mais antigo e fornecedor de experiências e modelos para outros países, e El Salvador, 12 AQUA VITAE com a primeira proposta desenhada e focalizada nos mercados locais. No entanto, como observou Carlos Manuel Rodríguez, ex-ministro de Ambiente e Energia da Costa Rica e atual vice-presidente regional e diretor regional de Conservação Internacional para México e América Central, "é muito difícil estabelecer uma comparação da gestão dos países sobre a questão do PSA, uma vez que suas particularidades têm uma estrita relação com o avanço de cada caso com relação à institucionalidade em matéria ambiental. O que se pode assegurar é que já é presenciado um nível de consciência política e de ações concretas em favor do desenho e implementação de soluções, especialmente com relação a programas para a proteção do recurso hídrico, sem dúvida uma das necessidades mais prementes em escala regional". Em nível de América Latina, os 10 anos de experiência da Costa Rica em esquemas de PSA por biodiversidade e captura de carbono, proporcionaram a este país o título de pioneiro no assunto. "Desde décadas atrás, a Costa Rica investiu na construção da institucionalidade necessária em matéria ambiental, o que lhe permite hoje desenvolver múltiplos projetos. Da mesma forma, atuou com rapidez diante da urgência de investir no manejo de bacias, dados os problemas detectados na disponibilidade e contaminação da água. Este conhecimento lhe permitiu capitalizar sua experiência", destacou Rodríguez. Os PSA contam com diversos esquemas que oferecem uma contribuição econômica diferente, de acordo com a atividade de proteção que é realizada. (Ver quadro: Todos Ganham) Amplo mercado Assim, abre-se aos olhos de muitos uma oferta de mercados ambientais ainda inexplorada. No momento, talvez os mercados mais dinâmicos na questão do PSA sejam os relacionados com a proteção de bacias hidrográficas e a captura de carbono. Por exemplo, Jaime Quispe Poma, coordenador do Programa de Monitoração de Carbono da Fundação Amigos da Natureza (FAN) da Bolívia, destacou que seu país "tem um grande potencial para desenvolver estas iniciativas sobre bacias hidrográficas, principalmente pelos benefícios na questão da água e a erosão dos solos; atualmente propõe-se formular um PSA na bacia do rio Piraí, uma das fontes de realizadas estratégias locais para a pro- cos dentro do esquema de PSA, em nível água mais importantes que irriga o depar- jeção de espécies ameaçadas como o latino-americano, é o pagamento por jaguar, veado de cauda branca, tucano serviços de seqüestro ou captura de tamento de Santa Cruz de la Sierra". Por outro lado, Carlos Manuel esmeralda, o urso negro e o hocofaisán carbono (CO2) nas áreas florestais, dentro Rodríguez, observa que "na realidade não (Crax rubra). Esta iniciativa busca preser- da lógica de depuração do ambiente, existe um tipo de esquema de PSA que var também a vida de 131 espécies de produto do efeito estufa e do aquedeva ser mais estimulado do que outro, mamíferos, 363 de aves, 72 de répteis, 23 cimento global que afeta o planeta. Graças à fotossíntese, as áreas ou que tenha mais oportunidades de ser de anfíbios, 700 de borboletas e 2.308 de desenvolvido na região. Sendo todos eles plantas. Apoiados pela Comissão Nacio- florestais captam uma importante quantivitais, o critério fundamental para desen- nal Florestal do México (Conafor), o pro- dade de carbono dissolvido no ar sob a volver os esquemas na América Latina é a jeto estará em andamento pelos próximos forma de dióxido de carbono, e o depopreocupação e o compromisso de cinco anos, conforme explicou em uma sitam em seus tecidos; como um produto alcançar as condições políticas que permi- das sessões de trabalho durante o IV adicional liberam oxigênio nas atmosfera. Ao realizar este processo, os bosques se tam a construção de capacidades nas Fórum Mundial da Água, em 2006. Por outro lado, o PSA por pre- transformam em reguladores da qualidainstâncias institucionais para convertê-los servação da beleza cênica está associado de do ar, limpando o CO2 acumulado na em realidade". Paralelamente, Juan de Dios ao valor estético ou cultural de sítios atmosfera, produto dos agentes contaminantes Benavides Solorio, do Programa de específicos que reúnem ambos os industriais e da queima de florestas. O PSA por captura de carbono Serviços Ambientais do Instituto Nacional componentes: preservação do meio ambide Pesquisas Florestais, Agrícolas e Pecu- ente e do patrimônio cultural, como por tem duas modalidades: a absorção ativa árias (INIFAP) do México, destacou que é exemplo, lugares de patrimônio natural, por meio de reflorestamento ou a sunecessário "assegurar-se de que os arrecifes de coral, santuários culturais ou bstituição de emissões por meio da serviços ambientais não são um projeto formas de vida tradicional. Em que pese conservação da cobertura florestal. Jaime passageiro, de curto prazo. Para tanto, os a dificuldade de selecioná-los e avaliá-los Quispe Poma, da FAN na Bolívia, infororganismos internacionais devem ter por seu componente cultural, com o mou que seu país "executa o projeto de representações mais amplas nos países avanço na consciência sobre o patrimônio carbono chamado Projeto de Ação Climática Noel Kempff latino-americanos e Mercado, iniciado em ajudar na busca de "...na realidade não existe um tipo de esquema de PSA que 1997, que recebeu alianças não apenas deva ser mais estimulado do que outro, ou que tenha mais uma boa acolhida e já com os governos, oportunidades de ser desenvolvido na região. Sendo todos conseguiu a certifimas também com a cação de créditos em empresa privada, eles vitais, o critério fundamental para desenvolver os 2006, com uma porenvolvendo-a de uesquemas na América Latina é a preocupação e o centagem de sucesso ma maneira ativa, incompromisso de alcançar as condições políticas que permitam de 90%". Por sua vez, clusive do ponto de a construção de capacidades nas instâncias institucionais para a Costa Rica também vista mercadológico, convertê-los em realidade". lidera este esquema por meio da exposide PSA. No ano de ção publicitária sobre sua participação nos projetos municipais cultural e o incremento da industria tu- 2000, graças a um convênio de cooperística, atualmente estão surgindo novas ração financeira entre o governo costaou nacionais de serviços ambientais". iniciativas que permitem vislumbrar um rriquenho e o alemão, com o apoio do banco KfW Bankengruppe, foi iniciado o atraente mercado. Comércio verde Na região de Mazunte e Venta- Programa Florestal Huetar Norte, cujo obA proteção da biodiversidade nilla na costa de Oaxaca e Selva del Mari- jetivo é de contribuir para melhorar o também é uma fonte para os esquemas nero na Reserva da Biosfera de Los Tuxtlas equilíbrio líquido das emissões de gases de PSA, com o objetivo de proteger a vida em Veracruz, México, foram erguidos do efeito estufa, por meio da fixação de de certas espécies e ecossistemas com um modelos hoteleiros alternativos, uma CO2. Para 2004 o Fonafifo, entidade valor particular, assim como de certos empresa produtora de cosméticos natu- governamental encarregada da gestão do habitats e recursos genéticos, entre rais, duas empresas de processamento projeto, conseguiu formalizar 702 conoutros. Entende-se por biodiversidade "a (chocolate orgânico e creme de cacau) e tratos de PSA com uma área de cobertura variabilidade de organismos vivos de sobretudo uma Rede de Cooperativas de 75.604 hectares (102% da meta) na qualquer fonte, incluídos os ecossistemas para o Desenvolvimento Sustentável da zona de influência do programa. Atualmente, a Costa Rica tem na terrestres, marinhos e aquáticos, e os Costa de Oaxaca, que reúne 10 coopecomplexos ecológicos dos quais fazem rativas com a finalidade de formar uma mira sete projetos de absorção de CO2 parte; compreende a diversidade dentro frente comum pela conservação ambie- através de atividades de florestamento e de cada espécie, entre as espécies e dos ntal da região, segundo relatório da orga- reflorestamento relacionados com as ecossistemas" (Art. 2, Convênio sobre a nização ambientalista PRISMA (www. principais áreas de conservação do país. prisma.org.sv), no marco do Projeto "PSA Alguns já se encontram em etapa de Diversidade Biológica). negociação e outros, na qualidade de prénas Américas". projetos, no entanto, todos eles foram Um caso é o projeto de planejados para períodos renováveis de Conservação da Biodiversidade na Reser- À caça de dióxido de carbono 20 anos, o que revela a intenção de va de Sierra Gorda em Querétaro, no Um dos mercados mais dinâmi- permanência destas ações. Segundo o México, onde, entre outros serviços, são AQUA VITAE 13 Fonafifo, os PSA, em combinação com outras ações do governo costarriquenho, favoreceram a redução da taxa de desflorestamento, a recuperação da cobertura florestal e terras degradadas, a promoção de exportações não tradicionais e a contribuição para o cumprimento das metas ambientais globais. O futuro dos PSA Ao revisar a literatura técnica e governamental pode-se concluir que muitos são os autores que insistem que o pagamento por serviços ambientais (PSA) é um assunto que permanecerá na mesa de discussão internacional. Do ponto de vista do componente de apoio internacional, Jaime Quispe da FAN da Bolívia explicou que, para que uma maior quantidade de estados e organizações privadas se somem ao pagamento de serviços ambientais, "os organismos internacionais devem fortalecer sua coordenação com as instituições que trabalham os PSA, por exemplo, formando em conjunto redes institucionais que favoreçam o conhecimento e a difusão entre si dos diferentes projetos e TODOS GANHAM O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) favorece a proteção da natureza, mas também beneficia aqueles que protegem o ambiente. Na Costa Rica, país líder neste programa na região, o programa reúne quatro esquemas: - Pagamento por serviços ambientais em bacias hidrográficas ou recursos hídricos. - Pagamento por ações florestais para o seqüestro ou a captura de carbono (CO2). - Pagamento por esforços de conservação de ecossistemas e diversidade biológica. - Pagamento por ações para preservar ou recuperar a beleza da paisagem, quer seja para fins turísticos ou científicos. MONTANTE A PAGAR O montante máximo a ser pago definido para 2006, conforme Decreto do Governo da República da Costa Rica é de: -$ 64 por hectare por ano por proteção de floresta (desembolsados em um período de cinco anos e prorrogável por um período similar). -$ 816 por hectare de reflorestamento (desembolsados em um prazo de 10 anos). -$ 41 por hectare por ano por recuperação de áreas por regeneração natural em pastos e estábulos (em contratos de cinco anos prorrogáveis por cinco anos). -$ 1.30 por árvore em reflorestamento integrado a sistemas agro-florestais (desembolsados em um prazo de três anos). Fonte: Site da Internet do Fundo Nacional de Financiamento Florestal (Fonafifo). A Costa Rica tem programa mais antigo de pagamentos ambientais, como o desta propriedade em Talamanca. Cortesia de Gilmar Navarrete Ch., FONAFIFO 14 AQUA VITAE além disso, ajudando na difusão dessas iniciativas ambientais através dos meios de comunicação coletiva, para compartilhar com a população não apenas os projetos bem sucedidos, mas também aqueles que necessitam mais apoio de todos". Da mesma forma, "é urgente que os organismos internacionais assumam a tarefa de realizar estudos de base relativos às avaliações econômicas dos bens e serviços ambientais, de maneira a esclarecer os processos políticos necessários para a tomada de decisões que favoreçam as capacidades técnicas e institucionais para operar corretamente os programas", destacou Carlos Manuel Rodríguez, ex-ministro do Ambiente da Costa Rica. Em relação a este componente das capacidades institucionais necessárias nos países latino-americanos, Juan de Dios Benavides Solorio, do Programa de Serviços Ambientais do Instituto Nacional de Pesquisas Florestais, Agrícolas e Pecuárias (INIFAP) do México, enfatizou que "embora os serviços ambientais tenham sucesso como programas em nível nacional ou federal (como no caso mexicano), estes devem transcender a outros níveis: os governos estaduais e/ou municipais, através de um trabalho de difusão, através do qual eles também compreendam os benefícios decorrentes da proteção e da sustentabilidade dos recursos naturais através dos PSA." LEGISLAÇÃO Primeiro convênio pela Água A América Central tomou a iniciativa de estabelecer o primeiro convênio sobre água na região latino-americana, com a finalidade de preservar o recurso, mediante uma gestão eficiente do mesmo. POR JORGE CABRERA HIDALGO ADVOGADO ESPECIALISTA EM TEMAS AMBIENTAIS Prevê-se que o Convênio Centro-americano da Água seja analisado em uma Cúpula de Chefes de estado e do Governo do Sistema de Integração Centro-americano (SICA). A última foi realizada em Belize, em junho passado, e dela participou o Ministro deste país, Said Musa / AFP O s Presidentes das Comissões de Ambiente e Recursos Naturais das Assembléias Legislativas dos países Centro-americanos, no marco das prioridades da Comissão Interparlamentar Centro-americana de Ambiente e Desenvolvimento (CICAD), conscientes da transcendência que tem uma gestão eficiente e eqüitativa da água, assim como a Conservação e o manejo adequado deste recurso essencial para a vida, os ecossistemas e o desenvolvimento socioeconômico de nossas sociedades levando em consideração que é necessário responder ao direito humano da presente e das futuras gerações de ter acesso à água em qualidade e quantidade suficientes, para poder satisfazer as necessidades básicas dos habitantes da região e fomentar o desenvolvimento sustentável dos países do istmo, apresentaram, em agosto de 2006, uma proposta de Convênio, para tratar com as autoridades de seus respectivos países que este acordo seja assinado pelos Presidentes Centro-americanos. O objetivo principal deste Convênio é estabelecer diretrizes gerais, princípios orientadores e mecanismos regionais de cooperação para a proteção, utilização ótima e racional da água. Outro dos propósitos da proposta da CICAD é garantir uma melhor qualidade de vida dos centro-americanos, tanto para a presente como para as futuras gerações, levando em consideração que se faz necessário propiciar uma melhor gestão e uma cultura para a proteção e o bom uso da água. Para tanto é preciso fomentar a participação cidadã, a educação, a criação de mecanismos e instrumentos econômicos que assegurem o financiamento dos investimentos, das ações para sua proteção, a adoção de melhores prá- AQUA VITAE 15 ticas para o bom uso da água e a sensibilização dos diferentes setores da população com a finalidade de assumir maior responsabilidade, em todos os níveis organizativos da sociedade e dos Estados da região. gração Centro-americano (SICA), buscando também estabelecer mecanismos institucionalizados de coordenação entre as diferentes secretarias que têm relação com a conservação e manejo deste recurso vital. Também é buscado reconhecer que a cooperação regional deve constituir-se em um instrumento fundamental para avançar na solução dos problemas do recurso hídrico e que o papel, que com relação às políticas e coordenação interinstitucional para a proteção e o manejo da água, correspondem ao Conselho de Ministros de Ambiente e Recursos Naturais (CCAD) como entidades controladoras em questões de ambiente e recursos naturais e que as ações que sejam adotadas, considerado o caráter intersetorial da água, devem estar enquadradas dentro do Sistema de Inte- Outro dos aspectos que este Convênio reconhece, são os compromissos internacionais e regionais assumidos pelos países da região, para a proteção e gestão integrada dos recursos hídricos e a existência de uma série de compromissos dos países centro-americanos, plasmada na Aliança para o Desenvolvimento Sustentável (Alides). Esta última organização instrui a : "Priorizar a formulação de políticas e legislação sobre manejo e conservação dos recursos hídricos, que incluam entre outras coisas, o ordenamento jurídico e ins- titucional, mecanismos de coordenação entre as diferentes autoridades encarregadas do manejo e administração deste recurso, tanto para consumo humano, como para irrigação e geração de eletricidade; instruindo nossas autoridades correspondentes a implementação deste compromisso, assim como a atualização dos estudos sobre bacias da América Central, a fim de preparar projetos para seu aproveitamento e manejo sustentável". Fundamentada neste mandato, a proposta de Convênio Centro-americano da Água da CICAD prioriza e busca modernizar a formulação de políticas, estratégias, os marcos institucionais e a legislação, que procure uma melhora do manejo e a proteção da água em nível regional e nacional; fortalecendo os mecanismos de coordenação entre as diferentes autoridades encarregadas da PRINCÍPIOS PARA UMA NOVA CULTURA CENTRO-AMERICANA DA ÁGUA 1.A água em todas as suas formas é um bem de domínio público e seu acesso é um direito humano fundamental e inalienável. 2. A água é um patrimônio das comunidades, dos povos e da humanidade, principio constitutivo da vida em nosso planeta. 3. O Estado deverá zelar, por meio de suas instituições, pela proteção do recurso hídrico, seu bom uso e acesso adequado para o consumo humano, sua gestão, e deve permanecer no âmbito público, com participação da sociedade civil e as comunidades, seguindo o princípio de subsídios, com eqüidade e sem fins lucrativos. É obrigação de todas as instituições públicas locais, nacionais e internacionais garantir estas condições, desde o planejamento até o controle final do processo, tendo claro que os custos da gestão da água devem de ser cobertos pelos próprios usuários. 4. Os Estados centro-americanos garantirão a proteção e o uso sustentável dos recursos naturais e em particular da água, como um compromisso entre gerações, e de solidariedade entre a presente e as futuras gerações. 5. A gestão do recurso hídrico deverá ser realizada atendendo a realidade própria e cultural dos povos centro-americanos, especialmente a cultura tradicional da proteção e uso sustentável da água dos povos indígenas. 6. A bacia hidrográfica deve ser constituída como a unidade básica de gestão pública dos recursos hídricos, fator de identidade e união comunitária, onde se efetive a participação cidadã e dos povos. 7. A proteção da água implica recuperar a saúde dos ecossistemas desde as fontes de captação até o tratamento das águas residuais. 16 AQUA VITAE 8. O aproveitamento e a gestão da água devem ser inspirados em um planejamento baseado na participação dos usuários, dos planejadores e dos responsáveis pelas decisões em todos os níveis. 9. Reconhecer, facilitar e apoiar o papel que a mulher desempenha no abastecimento, na gestão e na proteção da água. 10. A água tem um valor econômico em seus diversos usos aos quais se destina (industrial, agrícola, turístico, recreativo, de geração de energia, etc.), razão pela qual em condições de escassez e depois de satisfazer o consumo humano e os requisitos ambientais, será destinada àqueles usos de maior valor, buscando a eficiência econômica. Os métodos de alocação serão aqueles que a sociedade de cada país aceitar. 11. O que contamina a água, seja entidade pública ou privada, deve assumir os custos do tratamento dos resíduos e/ou a descontaminação dos corpos de água. 12. O papel das áreas protegidas é fundamental em zonas de captação de aqüíferos e na estabilização do regime hidrológico, e por esta razão os Estados devem buscar seu fortalecimento e os recursos necessários para garantir sua sustentabilidade. 13 .A redução da vulnerabilidade (seca e inundações) por meio de um melhor manejo dos recursos naturais e o manejo integral das bacias hidrográficas, deve ser uma prioridade dos países, já que estes eventos incidem diretamente sobre o crescimento das economias, na segurança alimentar e no nível de pobreza dos centro-americanos. Rio Plátano, em Mosquitia, Honduras. Stefano Torrione / AFP gestão e administração da água em seus diferentes usos: consumo humano, irrigação, indústria, hidroeletricidade, transporte e navegação, pesca, recreação, turismo, uso pela biodiversidade, e outros. Da mesma forma, instrui as autoridades nacionais correspondentes, ao cumprimento deste compromisso, assim como à agilização de mecanismos de coordenação entre os governos, para a gestão integrada das bacias internacionais compartilhadas entre os países Centro-americanos e seus vizinhos, desenvolvendo ações conjuntas entre os países que compartilham estas bacias para seu aproveitamento e manejo sustentável, com a devida participação das populações e autoridades locais envolvidas, propiciando a formação de gru- pos de trabalho a nível de comunidades municipais para o desenvolvimento de agendas compartilhadas para a gestão integrada das bacias compartilhadas. O Convênio Centro-americano da Água adota os princípios universais enunciados pelas Nações Unidas, os fóruns mundiais e conferências internacionais sobre a água e o meio ambiente (ver quadro: "Princípios para uma nova cultura centroamericana da água"). Um antigo chefe indígena pele-vermelha, com sua sabedoria, recorda dimensões esquecidas por esta apressada civilização em relação à água: "A água cristalina que corre pelos rios e riachos não é apenas água, mas também representa o sangue de nossos antepassados. Se vendermos as terras, vocês devem recordar que a água é sagrada, e ao mesmo tempo devem ensinar a seus filhos que cada reflexo fantasmagórico nas claras águas dos lagos conta as histórias e memórias da vida de nossa gente. O murmúrio da água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos e saciam nossa sede; são portadores de nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se vendermos nossas terras, vocês devem recordar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e também os seus, e portanto devem tratá-los com a mesma doçura com que se trata um irmão". AQUA VITAE 17 SITES INTERESSANTES www. worldwatch.org http://hdr.undp.org/hdr2006 http://hispagua.cedex.es/ O Instituto Worldwatch, com sede nos Estados Unidos, acaba de publicar o relatório. "Mais além da escassez: Poder, pobreza e a crise mundial da água" é o título do Relatório sobre Desenvolvimento Humano de 2006, do Programa das Nações Trata-se do portal do Sistema Espanhol de Informação sobre a Água, dos Ministérios de Meio Ambiente e de Fomento. Inclui notícias, uma completa agenda com os congressos sobre recursos hídricos e um capítulo de novidades com suplementos de temática variada como, por exemplo, enfermidades relacionadas com a água e seu consumo, um observatório da seca e monografias sobre resíduos contaminantes. Também conta com uma seção sobre legislação. "Estado do Mundo 2007: Nosso futuro urbano", no qual é feita uma radiografia sobre e crescente urbanismo mundial e suas conseqüências para a humanidade. De acordo com o estudo, dos 6.500 milhões de habitantes que existem agora no planeta, um terço vive em subúrbios onde não estão asseguradas as necessidades básicas como água potável, saneamento e casas de materiais duráveis. www.worldbank.org/html/fpd/ water/rural.html O Banco Mundial inclui uma seção em seu portal, na qual informa sobre seu Programa de Água e Saneamento. Nela se podem consultar publicações, recursos, temas importantes relacionados com a água e o saneamento, além de contar com outros links. 18 AQUA VITAE Unidas para o Desenvolvimento (PNDU). Nele, entre outros aspectos, avalia-se que o cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio no acesso a água e saneamento, terá um custo adicional total de cerca de US$10 bilhões anuais, soma que representa menos do que os gastos militares realizados em cinco dias e menos da metade do que os países desenvolvidos gastam por ano em água mineral. http://levis.sggw.waw.pl/wethydro/ www.crid.or.cr/crid/CD_AGUA O Centro de Excelência para a Hidrologia dos Manguezais (Wethydro) busca alcançar os objetivos de proteção da natureza incluindo as influências antropogênicas (por exemplo, a agricultura extensiva) e seu impacto na gestão dos recursos hídricos (em mangues e bacias) e definir as condições de sustentabilidade para as zonas de mangues. Este site da internet inclui também informações sobre projetos, seminários, cursos e conferências. Site da internet do Centro Regional de Informação sobre Desastres América Latina e o Caribe (CRID), que contém uma seção sobre recursos de informação de água e desastres. Além de contar com outros links, inclui um índice temático com subitens sobre qualidade da água, prevenção de desastres em sistemas de água, consumo de água, inundações, secas, saúde, impacto dos desastres em sistemas de água, contactos e outros links. ALTO PERFIL Entrevista exclusiva com Abel Mamani MINISTRO DE ÁGUA DA BOLÍVIA NA BOLÍVIA EXISTE A "CONSCIÊNCIA SOCIAL" DE QUE A ÁGUA É UM DIREITO HUMANO, ASSEGURA SEU MINISTRO DA ÁGUA, ABEL MAMANI. O ANTES COMBATIVO LÍDER SINDICAL ASSUMIU A DIFÍCIL TAREFA DE UNIFICAR AS POLÍTICAS HÍDRICAS DE SEU PAÍS E LEVAR A FILOSOFIA DA ÁGUA PÚBLICA PELO MUNDO. Por Nidia Burgos Q. e Myriam Blanco "A luta dos povos pela recuperação de seus recursos é uma realidade". Cortesia Ministério da Água Como nasceu a idéia de criar um Ministério da Água em seu país? O Governo da Bolívia, no marco de sua política voltada à recuperação dos recursos naturais e à proteção dos setores sociais menos favorecidos da população, incluiu na lei Estrutura Organizacional do Poder Executivo (LOPE) o Ministério da Água. Um dos mandatos do Ministério é "formular e executar uma política integral e sustentável dos recursos hídricos para garantir o direito humano de acesso à água de toda a população e preservar o meio ambiente respeitando a diversidade cultural". Constitui-se no primeiro do gênero no continente, e pretende encarar importantes transformações no setor, na perspectiva de promover e coordenar a elaboração de um ordenamento jurídico que desenvolva mudanças legais tendentes a priorizar o investimento em serviços de água que beneficiem as populações mais vulneráveis. Neste sentido, promover o acesso à água como um direito humano e a transfor- mação das políticas que promovem a privatização da água são as principais tarefas do Ministério, no marco de um manejo integral e sustentável dos recursos hídricos e dos serviços associados, para garantir o acesso à água de toda a população. Como foi a transição de ser um dirigente popular a fazer parte do gabinete de um Governo? Lutar pelo que é justo e por meu país foram os maiores estímulos para o desenvolvimento de minha trajetória como dirigente ao longo da minha vida. Independentemente do lugar e/ou do trabalho que desempenhe, este ideal prevaleceu, junto com o apoio da minha família. Um dos principais desafios como dirigente da Federação de Juntas Vicinais de El Alto (FEJUVE) foi a luta contra a privatização dos serviços de água potável e esgoto, para benefício da população com menos recursos. Sendo um governo de mudança, nosso companheiro Evo Morais convocou pessoas comprometidas com o projeto e me honrou ao AQUA VITAE 19 me convidar para me encarregar do Ministério da Água, uma instituição nova para o contexto boliviano. Tenho um desafio muito grande porque implica levar adiante a política hídrica em todo o meu país. Quais você considera as principais funções que um Ministério da Água deve cumprir? Nossa missão é "satisfazer as necessidades que a população tem de água em quantidade e qualidade suficientes, tanto para seu consumo como para suas atividades produtivas, respeitando o meio ambiente, a biodiversidade, as formas naturais de organização dos povos e das comunidades indígenas e camponesas; implantando uma gestão integral que melhore a disponibilidade, o acesso eqüitativo, solidário, universal e de qualidade aos recursos hídricos e aos serviços associados a eles no país". Segundo a nova visão de uma Bolívia digna, soberana e democrática para o contexto "viver bem", o conceito e a visão sobre a água e sua gestão se fundamenta na possibilidade de recuperar a capacidade de uma relação respeitosa e amável com a natureza e na sociedade, donde a água deve ser um fator de racionamento em harmonia e integração. A gestão hídrica boliviana busca respeitar as formas naturais de organização dos povos e das comunidades indígenas e camponesas. Cortesia Ministério da Água 20 AQUA VITAE PERFIL Um líder comunitário. Inaugurou um Ministério que sem dúvida irá surpreender o continente. E antes de chegar ao Gabinete do presidente Evo Morales, o boliviano Abel Mamani, Ministro da Água, encabeçou a Federação de Juntas Vicinais da cidade de El Alto, uma das mais populosas da Bolívia. Foi seu líder em janeiro de 2005, quando um protesto popular contra a filial boliviana da empresa francesa Suez obrigou o Presidente de turno a cancelar a concessão outorgada à empresa por 40 anos. Ela havia sido acusada de descumprir seus compromissos de investimento em El Alto. Mamani ainda não completou 40 anos. Antes de ter carteira ministerial, dedicou-se à carpintaria. Não completou seus estudos universitários de Odontologia. Hoje tem o poder de decisão sobre a água. Quais você considera que tenham sido as principais conquistas de seu Ministério um ano depois de sua criação? A criação do Ministério da Água e a relevância da temática do recurso hídrico causaram expectativa e disposição para cooperar, tanto por parte de organismos internacionais como da sociedade civil e organizações sociais. Em seu primeiro ano enfrentou desafios importantes. Trabalhamos na construção de uma nova visão da água: como fator de unidade e integração, seu acesso como direito humano, no marco de uma gestão integral dos recursos hídricos considerando a bacia como um espaço de vida. Além disso, estão sendo estabelecidas as bases para a gestão integral de recursos hídricos priorizando o consumo humano, a alimentação (refiro-me à irrigação), as necessidades da flora e da fauna e outros usos. O início das atividades do Conselho Interinstitucional da Água (CONIAG) - cujo propósito é a elaboração da Política Nacional de Recursos Hídricos e o anteprojeto da Lei Marco da Água - está sendo encarado como missão prioritária. Que outros projetos vocês têm em andamento, relacionados a serviços básicos? Foi concluída a auditoria técnica do contrato de concessão de Águas de llimani S.A., que determinou que não cumpriu plenamente o contrato, e foi iniciada uma série de negociações entre a empresa e representantes do Governo, tendo como resultado a conclusão de suas operações em dezembro de 2006. Tudo isto de comum acordo, sem chegar a arbitragens internacionais e sem colocar em risco o serviço de água potável nas cidades da Paz e El Alto. Por outro lado, foi formada uma Comissão Interinstitucional, com a participação de prefeituras, Governo e sociedade civil, que está trabalhando, sem colocar em risco o abastecimento de água potável, na construção do modelo de empresa para as cidades de La Paz e El Alto. Os princípios da nova empresa pública são eficiência e sustentabilidade; eqüidade e solidariedade; participação e controle social e transparência da gestão. Outro avanço, através do Viceministério de Bacias e Recursos Hídricos foi obtido com o Plano Nacional de Bacias, no qual são priorizados 12 projetos: dois para Cochabamba, dois em Potosí, dois em Chuquisaca, um em Santa Cruz, três para La Paz e dois em Oruro. Quanto a irrigação, no ano passado foram aprovados regulamentos para sua promoção e apoio. Que projeções tem o Ministério para cumprir com os Objetivos de desenvolvimento do Milênio (ODM), na questão da água? Sabemos que o país comprometeu-se, junto a outras 189 nações do mundo, a reduzir a extrema pobreza pela metade, até o ano 2015; nós não esquecemos disso, e acreditamos firmemente que uma forma de combater a pobreza é dando acesso de água e saneamento básico à nossa gente. Pretendemos conseguir um aumento substancial no acesso aos serviços de água potável, esgoto sanitário e saneamento básico em geral, no marco de uma gestão integral dos recursos hídricos com enfoque nas bacias. Estão sendo providenciados recursos para poder cumprir com os investimentos que o setor necessita. Você foi um dos promotores, em âmbito internacional, para que a água seja considerada um direito, e de controle público. Que conquistas você destacaria, e que expectativas você tem com relação a esta luta? No IV Fórum Mundial da Água, como Ministro da Água da Bolívia, expus perante o Plenário o conteúdo do documento "Declaração Complementar no Marco do IV Fórum Mundial aa Água", que foi assinado por Bolívia, Cuba, Uruguai e Venezuela. Nele é estabelecido que o acesso à água, em qualidade, quantidade e eqüidade é um direito humano fundamental e que os Estados devem torná-lo efetivo em seus países. Também foi manifestada a preocupação pelos impactos negativos que os instrumentos internacionais possam ter sobre os recursos hídricos, como os tratados comerciais; além de reafirmar o direito soberano de cada país para regular os usos e serviços da água, faz um apelo para que sejam cumpridos os compromissos assumidos para assegurar o acesso à água e pedir a inclusão do Fórum Mundial da Água no marco do sistema multilateral. Estamos trabalhando para que todos os governos do mundo aceitem e Uma forma de combater a pobreza é dando acesso à água e saneamento básico à nossa gente", defende Mamani. Cortesia Ministério da Água reconheçam a água como um direito humano. Foi apresentada a proposta boliviana de "Direitos Humanos e Acesso à Água" ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Em quais outros campos vocês estão trabalhando para promover a água como direito humano fundamental? Foi proposta a criação da Agência das Nações Unidas para a Água, além de uma Comissão da Água que seja formada pelos países do norte e sul do hemisfério, com o propósito de dar continuidade e seguimento às determinações que forem assumidas nesta Primeira Assembléia Mundial de Cidadãos e Parlamentares pela Água. Estamos trabalhando no projeto de resolução "Água como direito humano fundamental", que foi discutido no XXXVII Período Ordinário da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos, em junho deste ano, sobre a base da proposta boliviana realizada em 2006. Em agosto de 2006 foi assinada a IX Ata da Comissão Mista Hispano Boliviana de Cooperação, na qual a delegação boliviana mostra a importância da gestão da água dentro das linhas estratégicas de seu governo. Além disso, uma das atividades mencionadas neste acordo é a participação da Bolívia na Expo Zaragoza 2008, na Espanha, que tem por objetivo trabalhar sobre a base de que a água é um elemento imprescindível para a vida; e como objetivo e finalidade, o desenvolvimento humano desde o compromisso ético da sustentabilidade. O Governo boliviano se propôs, desde o início de sua gestão, nacionalizar as empresas que controlam recursos naturais. Em que processo se encontram com relação à água? O impacto das medidas de privatização sobre o patrimônio social e público do país e sobre os direitos de gestão das comunidades camponesas, indígenas e originais, obrigou a população a defender seus direitos sobre as fontes de água que usava tradicionalmente, com mobilizações, greves cívicas e outros enfrentamentos contra o governo da época. O principal conflito ocorreu em Cochabamba com a chamada "guerra da água" em 2000, No final de 2004 uma nova crise ocorreu nas cidades de El Alto e La Paz para concluir o contrato com Águas do Ilimani S.A. O Ministério da Água enfrentou importantes transformações no setor, na perspectiva de promover e coordenar a AQUA VITAE 21 elaboração de uma base jurídica que ofereça maior segurança às comunidades indígenas e camponesas, sobre fontes de água, e desenvolva mudanças legais para priorizar o investimento em serviços de água. Terminar com a privatização dos serviços da água potável tornou-se realidade com a finalidade da operação de Águas do Illimani. Em que etapa se encontra a criação de uma empresa pública que controle os serviços de água? (depois da saída de Águas de Illimani) A Comissão Interinstitucional, com a participação de Prefeituras, Governo e sociedade civil, está trabalhando na constrição do novo modelo da Empresa Pública Social da Água e Saneamento (EPSAS). Existe quem considere necessária a participação privada no manejo dos serviços de água, devido aos altos investimentos necessários. Onde a empresa estatal prevê obter os recursos? Segundo a nova concepção, os serviços devem garantir o abastecimento à população com níveis tarifários razoáveis que permitam recuperar os custos, evitando sobrecarregar os usuários e ao mesmo tempo buscando qualidade, transparência, solidariedade e participação social no planejamento e na tomada de decisões estratégicas, entre outros objetivos. Com relação à nova Constituição de seu país, como vai a reforma para que a água seja considerada um direito humano e seja administrada por empresas públicas? As propostas de reforma da Constituição, discutidas na comissão 14 de Recursos Hídricos e Energia da Assembléia Constituinte, declaram a água como direito humano fundamental. E não é de espantar, porque na Bolívia existe a consciência social de que a água é um direito humano, e este compromisso evidencia-se em usos e costumes das comunidades camponesas, indígenas e comuns. Na Bolívia existe uma relação estreita da sociedade com a água que pode ser considerada como uma permanente busca de harmonia. Em um contexto cultural, a água é também um ser vivo e parte da natureza, provedor de vida, harmonia e base do ser humano e de sua vida, portanto, não pode ser apropriado, nem se pode impedir alguém 22 AQUA VITAE O Ministro Abel Mamani, o segudo a partir da esquerda, entre o Gerente da EPSAS (Empresa Pública Social de Água e Saneamento) e um Sub Prefeito de El Alto, inauguram obras de esgoto. Cortesia Ministério da Água. de ter acesso a ela. A água também é uma expressão de flexibilidade e reciprocidade, permite a articulação da natureza com as sociedades humanas. Em quê etapa se encontra a aprovação da nova Lei Geral da Água? Está na fase inicial; estamos concluindo a política hídrica nacional, que será a base da nova Lei da Água. Qual você acredita que será o futuro da iniciativa que pretende criar uma instância, similar à OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo), para a comercialização da água em nível mundial? A preocupação mundial sobre a disponibilidade da água marcou os fóruns e encontros internacionais. A água transformou-se em um elemento cada vez mais limitado, vulnerável e fonte de conflitos, ao quê se somam os efeitos da mudança climática, situação que piora devido ao manejo irracional que o ser humano faz dos recursos naturais. Por exemplo, este ano as inundações afetaram grande parte do leste boliviano. No modelo neoliberal e colonial sobre a gestão da água eram priorizadas as políticas e normas que estimulam sua visão como um recurso com valor econômico e sujeito à apropriação. Existem muitas normativas internacionais que reconhecem a importância da água. Da mesma forma, a consciência de que a água é um direito fundamental, a cada dia ganha mais importância em nível mundial, e a luta dos povos pela recuperação de seus recursos naturais, entre eles a água, é uma realidade. Neste contexto não haverá resultados positivos para uma instância de comercialização da água. CURTAS DO MUNDO Argentina, Amitech Argentina, Krah América Latina, Nicoll Eterplast S.A., Petroplast, Saint Gobain (Canalização Argentina), Steel Plastic, Tigre Argentina e Tuboloc. Todas elas se comprometem a adotar e fomentar práticas efetivas para combater o suborno, a corrupção e todo comportamento de concorrência desleal. Fonte: Amanco Argentina. Reunião do Protocolo sobre Água e Saúde Bert Metz (direita), co-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, em inglês), Orgunlade Davidson (centro) e Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, em Bangkok, Tailândia, em maio último. Saeed Khan / AFP. Aquecimento global conseqüência da atividade humana O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, publicado em fevereiro último, confirma que o aquecimento global é conseqüência da atividade humana. O Relatório, elaborado por 2.500 cientistas de mais de 130 países, indica que as concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera aumentaram de maneira notável desde 1750. Por esta razão, a temperatura atual - indica o painel é o dobro daquela registrada no século XVIII e, continuando dessa maneira, irá aumentando 0,2 graus em cada uma das duas próximas décadas. As altas temperaturas provocarão aumento do nível do mar que poderia oscilar entre 28 e 58 centímetros no final do século atual, dependendo "do crescimento econômico, das novas tecnologias e das políticas que sejam adotadas". Fonte: Portal da ONU A primeira reunião do Protocolo sobre Água e Saúde foi realizada em janeiro de 2007, em Genebra, Suíça. Nela foi definido seu programa de trabalho para o período de 2007 a 2009. A proposta para os próximos dois anos inclui temas como a criação de um mecanismo que permita facilitar a preparação de projetos de ajuda internacional e a coordenação entre doadores e países beneficiários. Outros assuntos que enfoca são a água como direito humano e o acesso seguro à água potável; o abastecimento de água e o saneamento ou as estratégias de adaptação às mudanças climáticas. O Protocolo é legalmente vinculante ao Convênio sobre a Projeção e Utilização dos Cursos de Água Transfronteriços e dos Lagos Internacionais (Convênio da Água) da Comissão Econômica das Nações Unidas para Europa (CEPE), que entrou em vigor em agosto de 2005. O Protocolo sobre Água e Saúde é um instrumento internacional para proteger a saúde e o bem estar humano por meio da melhora da gestão dos recursos hídricos, prevenindo, controlando e reduzindo as doenças relacionadas com a água. Fonte: Portal de Água da UNESCO. Turistas tiram fotos diante da Casa Rosada, sede do governo, em Buenos Aires, enquanto caem flocos de neve, em julho passado, quando as temperaturas chegaram a -2 grados centígrados, um recorde nos últimos 30 anos. Juan Mabromata /AFP. Pela transparência As autoridades da cidade de Rosario, na Argentina, uniram-se no início deste ano ao "Acordo Setorial de Transparência" assinado em dezembro de 2006 por empresas privadas dedicadas ao desenvolvimento de tubulações para infra-estrutura de água potável e deságües. Rosario e a ONG Poder Cidadão, junto com empresas fabricantes de tubulações, assinaram um acordo pelo qual se comprometeram a "gerar um cenário transparente", no processo de licitação pública municipal para a contratação do serviço de obras que utilizam estes materiais. O município de Rosario transforma-se no primeiro governo local que reconhece a existência do "Acordo Setorial de Transparência". Ele foi firmado pelas empresas Amanco AQUA VITAE 23 ÁGUA NOS TLC: Na América Latina não parecem existir antecedentes de que os acordos de livre comércio tenham fomentado a participação privada na prestação de serviços de água e saneamento, no entanto as dúvidas persistem na região. Por Alejandro Vargas Johansson O uso recreativo da água é excessivo nas épocas mais quentes. Pascal Pavani / AFP. 24 AQUA VITAE O s Tratados de Livre Comércio (TLC) que Peru e Colômbia negociaram com outras nações não parecem colocar particularmente em dúvida o acesso à água como um direito fundamental das pessoas. Confirmam isto aqueles que representaram estes governos sul-americanos nas negociações. No entanto, algumas organizações da sociedade civil interpretam que os capítulos de investimentos dos acordos comerciais aceleram ainda mais a entrada de capital estrangeiro no setor de administração e distribuição da água. Para elas, os TLC ampliam as atuais possibilidades de extrair o recurso hídrico com fins comerciais. Por outro lado, setores empresariais que já participam do negócio da administração do recurso hídrico mediante empresas de capital municipal ou privado, sustentam que os tratados comerciais são uma oportunidade adicional para atrair mais investimentos estrangeiros. No Peru existem algumas empresas pequenas de capital público que estão buscando a participação de sócios, devido a crises financeiras internas e não à vigência dos TLC, conforme indica o Centro Peruano de Estudos Sociais (Cepes). Embora Peru e Colômbia tenham trajetórias na negociação e colocação em andamento de acordos comerciais com diferentes países, o tratado com os Estados Unidos parece ser o que mais acirrou os ânimos de grupos ambientalistas e acadêmicos. A argumentação consiste em que se trata de uma negociação assimétrica entre um país em via de desenvolvimento e outro desenvolvido. O Congresso do Peru já ratificou o TLC com os Estados Unidos. A Colômbia o assinou e também está pendente de sua ratificação legislativa, trâmite que também não ocorreu no congresso norte-americano para ambos os tratados. No entanto, consideram que a chegada de capitais a este setor não seria mais significativo do que o já existente, pois a possibilidade legal está aberta desde antes do apogeu dos tratados comerciais. Hernando José Gómez, ex-chefe colombiano da negociação do Tratado de Livre Comércio com Estados Unidos, afirmou que "na verdade nós não negociamos nada sobre a água em particular, nem o TLC se refere a nenhum direito fundamental em particular pois estes não são negociáveis em um TLC". Na prática, os processos de participação de fora no setor de administração de recursos hídricos foram decisão interna dos países, paralela ou mesmo anterior à negociação de alguns desses acordos. Mas existe quem pense diferente. Segundo grupos da sociedade civil, a água participa de maneira indireta. Semelhante situação seria estimulada pelos interesses comerciais presentes ou futuros de algumas multinacionais. Na Colômbia, por exemplo, desde meados dos anos noventa existe legislação em nível de Constituição Política e leis específicas que estimula a vinculação de operadores especializados na prestação de serviços de aquedutos. "O TLC por si só cria as condições para que o direito fundamental de acesso à água e portanto à vida, não seja realmente exercido", avaliou Rafael Colmenares, dire-tor executivo da EcoFondo, uma instituição não go- Por sua vez, a constituição peruana já inclui muitos dos princípios dos TLC, e por isso os investidores estrangeiros contam com a possibilidade de entrar no setor, independente da vigência ou não de um acordo específico com determinado país. REDES DO RECURSO HÍDRICO Os múltiplos usos da água geram uma classificação que inclui diversos dos assuntos que aparecem nos tratados de livre comércio: Capital estrangeiro Tal e como ocorre em Honduras, no Brasil, no Equador e na Argentina, onde já existem experiências em participação de capital privado local ou estrangeiro na administração do recurso hídrico, o mesmo ocorre no Peru e na Colômbia. Bens Água engarrafada X Exportação de água X Serviços Investimentos X X X Serviço de água potável X X Por exemplo, desde meados da década passada, a empresa espanhola Águas de Barcelona investe no aqueduto da cidade turística colombiana de Cartagena, de maneira conjunta com o município. Serviços de meio ambiente X X Uso hidrelétrico Uso em mineração X X X X Uso na indústria petroleira X X Além disso, existem outras 150 pequenas empresas que prestam serviços em menor escala mediante contratos com governos municipais, conforme destacou o colombiano Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em seu artigo "Mitos e realidades da água", publicado no site deste organismo na Internet. Uso turístico X X Uso agrícola X X Transporte fluvial X X Direitos de água X Fonte: The International Development Research Center. Canadá. Em A água nos países andinos e os acordos de livre comércio. AQUA VITAE 25 vernamental que agrupa 130 associações ambientalistas. Atualmente na Colômbia lidera a campanha "Água: um bem público". Dúvidas e realidade A participação do capital privado ou estrangeiro em alguns serviços de administração da água começou antes dos TLC. Daí que partidários e detratores reconhecem que os acordos comerciais não são os impulsionadores diretos da participação estrangeira no setor. Na Colômbia, existem empresas estrangeiras nos aquedutos de Cartagena e Barranquilla. Existem outras municipais como é o caso de Empresas Públicas de Medellín (EEPPM). Sua posição durante as rodadas de negociação do TLC com os Estados Unidos foi manter fora do acordo comercial todas as empresas prestadoras destes serviços públicos. Francisco Piedrahita, gerente de Águas de EEPPM, explicou que depois de conseguir ajustes no compromisso ambiental Uma fonte pública para saciar a sede durante o passeio. Francois Guillot /AFP 26 AQUA VITAE dos eventuais investidores estrangeiros, a administração de águas foi incluída no TLC com os Estados Unidos. Piedrahita avaliou que a chegada dos investimentos estrangeiros a este setor não irá além da existente, pois esta possibilidade legal está vigente na Colômbia desde os anos noventa. Explicou que os investidores estrangeiros estariam interessados na administração de aquedutos de cidades grandes, conforme a tendência na América Latina. "A vinculação a este setor não é desencadeada a partir dos TLC mas sim pela abertura do setor à concorrência", destacou o gerente de águas de EEPPM. Na Colômbia também existem empresários nacionais que têm experiência na administração de sistemas de aquedutos de comunidades pequenas, como por exemplo: Conhydra que serve a uma dezena de municípios com uma população de 42.000 pessoas. "Se adicionalmente uma empresa estrangeira está disposta a competir na Colômbia, sozinha ou com um aliado estratégico, seria a combinação perfeita. Nós estamos dispostos a ouvir propostas", afirmou Amed Montoya, assessor de negócios do Grupo Empresarial Conhydra S.A. diante das possibilidades de investimentos dos TLC no setor hídrico. Embora não seja possível atribuir apenas aos tratados comerciais o processo privatizador de alguns serviços relacionados com o líquido, os críticos dos tratados sustentam que são mecanismos que iriam acelerar este rumo que eles consideram inconveniente. Segundo Guillermo Rebosio, do Centro Peruano de Estudos Sociais (CEPES), a participação estrangeira no setor hídrico no Peru está congelada, não porque a lei o impeça, mas porque a população ainda se ressente dos elevados custos que enfrentaram com as privatizações das telecomunicações e da energia. Para este estudioso da questão da água, o governo seria incapaz de controlar os protestos populares diante de uma ABERTURA PARA PRIVATIZAR Desde há mais de uma década, a máxima lei peruana abre a possibilidade de permitir a participação privada nos serviços hídricos mediante a norma que indica o seguinte: "Os recursos naturais, renováveis e não renováveis, são patrimônio da Nação. O Estado é soberano em seu aproveitamento. Por lei orgânica, são fixadas as condições de sua utilização e de sua outorga a particulares. A concessão outorga a seu titular um direito real, sujeito a tal norma legal". Artigo 66 da Constituição peruana. No Peru, desde 1993, a Constituição consagra o tratamento igualitário para os estrangeiros em relação aos nacionais, e a possibilidade de recorrer a arbitragens fora das fronteiras nacionais. Inclusive, outorga um "direito real" ao titular de uma concessão sobre um recurso natural, afirmou Guillermo Rebosio do CEPES. "A importância das empresas de mineração e do setor agro-exportador dentro da economia peruana poderia acelerar a gestão privada sobre alguns recursos hídricos por parte destas mesmas empresas. Para estes setores produtivos seria mais ágil contar com 'água própria' sem nenhuma regulação intermediária", avaliou o porta-voz do Centro Peruano de Estudos Sociais. O investigador disse que pelo menos três pequenas empresas de saneamento estão em processo de privatização em dife-rentes partes do Peru, situação que não responde aos TLC mas às crises financeiras próprias do sistema de administração. tentativa de passar à iniciativa privada, inclusive de origem nacional, a maioria daqueles serviços relacionados com o fornecimento de água. Balanço sobre investimentos Em cidades colombianas como Barranquilla e Cartagena, os números do Ban- co Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre cobertura de água potável parecem alentadores, a partir da presença estrangeira no setor. Indicam que 10 anos atrás até um milhão de pessoas não tinham água ou enfrentavam racionamentos. Atualmente a cobertura chega à quase totalidade da população (98%), o que é atribuído em parte à participação privada no setor. Em Lima, os obstáculos como o repúdio social, a existência de poucos operadores e a ausência de fundos de financiamento locais não permitiram a culminação do processo de participação privada no setor, indicam estas mesmas fontes. Paulina Beato, consultora do BID, destaca em seu relatório técnico "Participação do setor privado nos sistemas de água potável e saneamento: vantagens, riscos e obstáculos" que a presença de capital privado na administração de recursos hídricos tem potencial para gerar bem-estar. No entanto, não são acordos de livre comércio que, na prática, conseguiram que a participação privada aumente no setor de água, segundo asseguram as fontes consultadas. "Com o TLC não há um compromisso de privatizar a água nem os serviços conexos, mas caso ocorra uma privatização, o espírito do capítulo de investimentos do tratado não permitiria voltar atrás. Seria um assunto irreversível", afirmou Rebosio. Esta idéia ecoa na mente de alguns legisladores sul-americanos que retomaram a inquietude das organizações sociais com a finalidade de formar um bloco regional que busque a explícita exclusão do assunto da água dos acordos comerciais e das normativas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Origem do capital No processo de participação privada no aqueduto de Cartagena, inicialmente interessaram-se apenas três empresas de países europeus com os quais a Colômbia não tem TLC. Para Rafael Colmenares, da EcoFondo, esta realidade não é argumento para desacreditar a oposição que eles lideram em contra os tratados comerciais. "Independentemente da nacionalidade, poderiam ser colombianas, estaríamos contra a privatização", afirmou. OS INVESTIMENTOS NO TRATADO Dentro dos pontos críticos - segundo os grupos ambientalistas que incluem os capítulos de investimentos dos tratados comerciais, destacam: a) Cobre todas as formas possíveis de ativos que um investidor possui ou controla de maneira direta ou indireta no país. b) Inclui também a expectativa de lucro do investidor e a aceitação do risco. c) Busca regras de garantia diante de riscos não comerciais. d) Os Estados podem adotar, manter ou executar medidas para assegurar que os investimentos se mantenham em concordância com as sensibilidades ambientais. e) Amplia o tratamento nacional aos investimentos norte-americanos. f) Proíbe os requisitos de desempenho. g) Outorga tratamento justo e eqüitativo para a proteção de investimentos. h) São ampliados os investimentos existentes ou futuros. Fonte: Centro Peruano de Estudos Sociais (Cepes). Lima, Peru. AQUA VITAE 27 LEGISLAÇÃO PRÓPRIA FORTALECE POSIÇÃO DIANTE DE TRATADOS Treze anos de implementação do Tratado de Livre Comércio de México com Estados Unidos e Canadá demonstram a importância de que cada país conte com uma a legislação própria sobre relações comerciais Por Alejandro Vargas Johansson Estados Unidos e México compartilham praticamente a metade da bacia do Rio Grande, na imagem em sua passagem pelo cânion Santa Elena. Stefano Torrione / AFP. 28 AQUA VITAE O México já completou 13 anos de vigência de um acordo de livre comércio no qual a água participa como um dos temas comuns com os Estados Unidos e o Canadá. Durante este período, alguns investidores estrangeiros apoiaram-se no tratado para contestar regulações ambientais, incluída a proteção de águas. Por exemplo, no município mexicano de San Luis Potosí foi paga uma indenização milionária à empresa norte-americana Metalclad, por ter perdido uma ação movida contra esta empresa por contaminação de solos. No entanto, não são relatadas limitações diretas do acesso da população mexicana ao recurso hídrico em benefício de investidores estrangeiros como conseqüência da vigência deste TLC. Alguns estudos sugerem que com a eliminação de taxas sobre os agro-químicos norte-americanos, os agricultores mexicanos aumentaram seu uso e portanto, aumentaram o risco de contaminação de seus aqüíferos. Em Sonora, aumentou a dependência do aqüífero, pois com as transformações produtivas devido à abertura comercial, os pequenos produtores deram lugar aos grandes agricultores orientados dedicados à culturas para exportação. Aumentou o uso de herbicidas e fertilizantes, concluiu Cyrus Reed, diretor do Centro de Texas para o Estudo de Políticas. Do aqüífero de Sonora a água é extraída a uma profundidade de 135 metros enquanto que 40 anos atrás ela era encontrada aos 11 metros, conforme relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. A extração das águas subterrâneas representa um risco para aquelas sociedades, como o México, que se abriram ao investimento privado. Por quê? Segundo Reed, a correção das leis do mercado não se aplica para o negócio da água porque existe um desconhecimento sobre a quantidade de líquido existente e sobre o impacto de futuras mudanças climáticas. No caso da água, existe uma imperfeição do conhecimento sobre os sistemas hidrológicos, indicou este especialista em sua apresentação: "Livre Comércio, Águas e Manejo de Bacias". Embora existam serviços com participação privada, relacionados com a água mexicana, este TLC é apenas um ingrediente da engrenagem mundial que favorece esta tendência. O investimento que majoritariamente foi destinado ao setor hídrico é de origem européia e não norte-americana. Entretanto, o Estado mexicano continua liderando a maior parte da administração e distribuição dos serviços de água potável. Este acordo comercial também gerou um fortalecimento institucional em torno da cooperação, em que água participa em boa parte do interesse das três nações (México-Estados Unidos-Canadá), tal como ocorre na Comissão para a Cooperação Ambiental da América do Norte, cuja secretaria está temporalmente nas mãos de um mexicano. Acesso desigual Fontes governamentais mexicanas, como a Comissão Nacional de Água (Conágua) relatam avanços relacionados à cobertura e à eficiência no manejo da água, enquanto que vozes da sociedade civil e da academia, apontam falhas do país com relação à infra-estrutura, conservação do recurso, financiamento e democratização do acesso. Quase nove de cada dez mexicanos contam com água potável, um número que tem aumentado nos últimos anos. No entanto, estima-se que cerca de um terço das populações indígenas mexicanas carecem de água. (Ver quadro: "A água no México"). Durante os 13 anos de vigência do tratado, evidenciou-se o fortalecimento dos grupos civis em torno da defesa do recurso hídrico, sob o argumento de que o acesso à água não é um bem, mas sim um direito humano. Associações de camponeses, mulheres, indígenas, profissionais, estudantes universitários, entre outros grupos sociais, aliaram-se para influenciar as pessoas tomadoras de decisões públicas. Entre eles, o Exército de Mulheres Zapatistas em Defesa da Água. A sociedade civil defende que seja incorporado o direito ao acesso à água dentro da constituição política, tal como ocorreu no Uruguai. Por ora, o AQUA VITAE 29 A ÁGUA NO MEXICO 89% da população conta com água potável 79% com esgoto 70% dos habitantes da área rural têm água potável 40% da água bombeada ao sistema de distribuição da Cidade do México é perdida devido a canalizações quebradas ou a vendas ilegais do líquido 80% da água é consumida na produção agrícola mexicana 40% da água usada para a agricultura vem de aqüífero 100 de 653 aqüíferos estão sendo superexplorados Fontes: Conagua, 2005 e PNUD, 2006. Da mesma forma, o México abriu sua economia não apenas a seus vizinhos do norte, mas também atravessou o Atlântico para negociar outro acordo com a União Européia, cujas empresas dedicadas à distribuição e tratamento de água lideram este setor em nível mundial. O mercado mexicano não é a exceção (Ver quadro: "Fluxos europeus"). A proximidade geográfica e o interesse mútuo pelas águas superficiais entre norte-americanos e mexicanos transcendem a vigência do TLC, uma vez que ambas as nações mantêm vigente o pacto de limites e águas desde 1944, com a finalidade de regular o manejo fronteiriço das bacias hidrográficas compartilhadas. Na cidade mexicana de Sonora aumentou a dependência do aqüífero. Na imagem, a mina de cobre de Cananea, em Sonora, México. Notimex / José Luis Salmerón. A distribuição deste recurso hídrico foi motivo de polêmica entre os países, devido às persistentes secas. Nos últimos anos, o México manteve uma dívida sobre a quantidade de água que devia entregar a seu vizinho do norte. Ambas as nações compartilham praticamente a metade da bacia do Rio Grande. Em 2003, os dois países puseram em marcha um programa conjunto que é conhecido como Fronteira 2012, que aspira a melhorar os índices de desenvolvimento nesta região fronteiriça que vai desde o Golfo do México até o Oceano Pacífico, ao longo de 3.100 quilômetros. As redes de organização cidadã transcendem as fronteiras mexicanas, uma vez que formam blocos internacionais em torno da defesa do acesso ao líquido. A celebração em 2006 do IV Fórum Mundial da Água no México, estimulou ainda mais a participação da sociedade civil. Nele foi revisada a importância da água como um pré-requisito para o crescimento e o desenvolvimento dos povos, entre muitos outros temas relativos ao recurso hídrico. "Apenas os mexicanos de nascimento ou por naturalização e as sociedades mexicanas têm o direito de adquirir o domínio das terras, águas e seus acessos ou de obter concessões de exploração de minas ou águas." (Artigo 27 da Constituição que a seguir faculta o Congresso da União para promulgar leis sobre o uso e aproveitamento das águas de jurisdição federal, e sobre a regulação do investimento estrangeiro) O México assinou o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais onde garante como um direito o acesso ao líquido para uso pessoal e doméstico. Depois de 13 anos de vigência do tratado, tanto o marco institucional como legal que regulam a água, continuam a se modificar. Foi criado o Programa para a Modernização dos Organismos Fornecedores de Água, uma instância promovida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para favorecer a participação do setor privado. Há propostas para elevar o alcance da Comissão Nacional da Água (Conágua). Erguem-se vozes para criar a Secretaria da Água. Grupos industriais também destacaram a urgência de eliminar a falta de critério na outorga de concessões por meio de reformas regulamentares. Mais além do TLC Estas características que fluem em torno da água, em nível de mercado, governo e sociedade civil coincidem no México não apenas com a vigência do tratado comercial da América do Norte, a partir de 1994. No ano seguinte, fortaleceu-se a discussão de normas internacionais de comércio enquadradas pela Organização Mundial do Comércio (OMC). 30 AQUA VITAE FLUXOS EUROPEUS As empresas estrangeiras que têm investimento em algum setor da água no México são: Empresa Origen del capital Ondeo França Suez França Desarrollos Hidráulicos Argentina Azurix França Aquamex, S.A. de C.V Eisenmann S.A. de C.V Alemanha Alemanha Luwa México S.A. de C.V.A Alemanha Tecnología intercontinental S.A. de C.V. (Ticsa) Alemanha Uhde Jacobs México, S.A. de C.V. Alemanha Veolia environnement França Anglian water Reino Unido Kelda Group Severn trent water Reino Unido Reino Unido Aguas de Barcelona Espanha Fonte: Rede Mexicana de Ação Frente ao Livre Comércio e Iniciativa de Copenhague para América Central e México. Em: O impacto social e meio-ambiental dos investimentos europeus no México e na Europa no Setor Hidráulico e Energético. SAÚDE O sistema de desinfecção da Fundação SODIS América Latina, elimina 99,99% de coliformes fecais da água. Cortesia da Fundação SODIS. Desinfecção da água num instante POR NIDIA BURGOS Q. A CADA ANO 2.2 MILHÕES DE PESSOAS MORREM NO MUNDO POR CAUSA DA DIARRÉIA, UMA DAS 25 DOENÇAS ASSOCIADAS À ÁGUA, SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). ISTO REPRESENTA 4% DA MORTALIDADE TOTAL DO MUNDO E 5% DAS INCAPACIDADES. A ÁGUA CONTAMINADA É UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DESTA ENFERMIDADE. Diante desta situação, diferentes organizações e o setor privado criaram diferentes produtos e mecanismos para desinfetar, purificar ou tornar o líquido potável. É possível que o IV Fórum Mundial da Água, realizado em março do ano passado no México, tenha servido para que os representantes de muitos países tomassem consciência de que o caminho é longo e o tempo curto para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) relacionados com água e saneamento, conforme opinião de Rubén Avendaño, especialista sênior em Infraestrutura, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Se acrescentarmos a isso, o fato de que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê para 2025, que o uso da água irá aumentar em cerca de 30% nos países em desenvolvimento e em cerca de 10% nos países desenvolvidos, a situação poderia ficar ainda mais complicada. Esta organização calcula também que a população que vive em áreas onde há pouca água dobre de tamanho entre AQUA VITAE 31 1999 e 2025, e que para 2030 dois terços dos habitantes do mundo poderiam experimentar uma falta de água de moderada a alta. Diante destes dados potenciais, a OCDE considera que o principal desafio dos países será o financiamento para substituir a já desgastada e danificada infra-estrutura. Nesta tarefa, e para criar nova infraestrutura, encontra-se uma grande quantidade de organizações internacionais e locais, com maiores ou menores conquistas, mas no curto prazo a pergunta permanece: como evitar que milhões de pessoas continuem morrendo por falta de água ou por líquido contaminado? Mudança de hábitos De acordo com informação da Organização Panamericana da Saúde (OPS) publicada no site "Mitigação de desastres em sistemas de água potável e esgoto s a n i t á r i o " ( w w w. d i s a s t e r- i n f o . n e t /watermitigation), algumas das doenças propagadas pela água são a febre tifóide, amebíase, hepatite, diarréias virais e outras. Mas a falta de água também pode ser fonte de doenças, como a sarna, a parasitose intestinal e a pediculose, entre outras. Para evitar muitas destas doenças existem diversos produtos e mecanismos para desinfetar, purificar ou tornar potável a água (ver quadro: Novos costumes). Já foram oferecidos a comunidades de baixos recursos, diversos produtos que podem ser adquiridos a preços muito baixos e que se mostraram muito eficientes na prevenção de doenças. Um destes métodos é SODIS, da Fundação do mesmo nome, e que utiliza uma tecnologia simples, fácil de implementar e de baixo custo para desinfetar a água em nível doméstico. De acordo com Marcelo Encalada, diretor executivo da Fundação SODIS América Latina, este sistema elimina 99.99% dos coliformes fecais da água, principais causadores de diarréias e outras doenças relacionadas com a água. (Ver ilustração: Sistema SODIS) Este sistema já é utilizado com sucesso em países como Bolívia, Peru, Equador, Honduras, Nicarágua, Guatemala e El Salvador, assim como no Brasil desde o ano retrasado. Da mesma forma, foram recebidas solicitações de assessoria da Colômbia, República Dominicana e Venezuela. 32 AQUA VITAE O PuR, purificador de água da companhia Procter & Gamble (P&G) é um sistema de potabilização da água de baixo custo para uso doméstico. Cortesia de P&G PuR Purificador de água Eficácia na remoção de bactérias Bacteria Bacteria Postratam. E. Coli 2,0x10 (a 8) ND 10 bacterias fecais comuns 9,2x10 (a 9) ND Salmonella tiphy 1,6x10 (a 8) ND Vibrio Chlorae 1,2x10 (a 8) ND Shigella sonnei Klebsiella terrígena 2,2x10(a 8) 2,8x10 (a 8) ND ND Campylobacter jejuni 2,0x10 (a 8) ND Fonte: P&G. / ND: Não detectável O sistema SODIS para a desinfecção da água não requer um grande investimento, uma vez que é feito a partir de garrafas limpas. O processo de desinfecção é o seguinte: 1 limpar bem as garrafas 3 expor as garrafas ao sol 4 deixar em repouso por um período de um dia de sol pleno e céu limpo, ou pelo menos seis horas (em dias nublados as garrafas devem ficar expostas durante um dia mais) 2 encher as garrafas de plástico transparente 5 a água pode ser consumida AVANÇOS TECNOLÓGICOS Apesar de existir uma série de opções para tornar potável, desinfetar ou purificar a água, é difícil para a população mudar de hábitos com relação ao consumo e tratamento deste líquido vital. Entretanto, podem ser encontradas diversas possibilidades para este fim, que na maioria dos casos são de baixo custo, como as seguintes: • SODIS: consiste em encher garrafas de plástico transparente com água clara e expô-las ao sol. Por meio deste processo, a sinergia da temperatura e a radiação UV do sol, desinfetam a água em um período de um dia de pleno sol ou céu aberto (ou pelo menos 6 horas), depois do quê a água está apta para o consumo. Fundação SODIS. • PuR Purificador de água: é apresentado em um envelope que é misturado com 10 litros de água e agitado, e em poucos minutos a sujeira e outros contaminantes separam-se da água, que é passada através de um filtro de pano limpo, e deixada em repouso por 20 minutos, após os quais já pode ser consumida ou armazenada. Este produto purifica a água através de um processo combinado de desinfecção com hipoclorito de cálcio e floculação com sulfato de ferro. Procter & Gamble. • SAG (Solução de Água Segura): é apresentada em uma garrafa que contém uma solução diluída de hipoclorito de sódio (cloro), que desinfeta a água desativando os patógenos microbiais que produzem a diarréia. PSI. • Silverdyn (prata coloidal a 0.36%): é um produto para ser utilizado com água de abastecimento público e funciona para purificar água, verduras e legumes. Aplica-se uma gota do produto para cada dois litros de água, e deixa-se repousar por 30 minutos. Se a água é de qualidade duvidosa, são A grande limitação deste método e de muitos outros é que é difícil para as famílias mudar seus hábitos de consumo de água crua, sem nenhum tratamento para desinfetá-la. acrescentadas três gotas para cada litro de água e deixa-se repousar por 45 minutos. Laboratórios Silverdyn, México. • Sistema de tratamento da água in situ Sanilec: é um processo eletrolítico para a geração de soluções de hipoclorito de sódio no local, por meio da decomposição ou eletrólise de uma solução de salmoura. • Cloração doméstica: é o procedimento para desinfetar a água, utilizando o cloro ou alguns de seus derivados, como os hipocloritos de cálcio ou de sódio. • Filtro lento de areia: a filtração é um processo físico de purificação que consiste em passar a água a ser tratada através de camadas de material poroso, com a finalidade de reter bactérias e partículas suspensas no líquido. • Clarificação com compostos naturais: um deles é o de sementes de pêssegos e favas, que devem ser secas e depois moídas separadamente. A seguir são colocados 0.5 gramas de qualquer desses produtos para cada litro de água, mistura-se em movimentos circulares, deixa-se a água em repouso por duas horas e depois utiliza-se a parte superior da água. • Clarificação com compostos químicos: pode ser utilizado a pedra ume, ou sulfato de alumínio. A pedra ume apresentase na forma de cristais de cor branca que são acrescentados à água turva e depois retirados; aguarda-se que as partículas se sedimentem e a água da parte superior do recipiente possa ser utilizada. Fontes: Fundação SODIS, P&G, PSI e site da internet http://www.disasterinfo.net/watermitigation/e/publicaciones/Tecapropiadas/1Abastecimiento consiste em um sistema de potabilização da água de baixo custo para uso doméstico. Soluções instantâneas Este produto vem sendo elaborado há três anos, informou Ángela Vanegas, gerente de Desenvolvimento Sustentável, Relações Externas, América Latina desta empresa. A tecnologia foi desenvolvida pela empresa, em colaboração com o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. O produto é capaz de tratar água severamente contaminada, uma vez que seus ingredientes se baseiam nos mesmos sistemas de tratamento de água utilizados em plantas de tratamento municipais. Além dos diferentes métodos para desinfetar a água, promovidos por diversas organizações, existem também produtos como o PuR, purificador de água, da empresa Procter & Gamble (P&G), que Este é um dos produtos utilizados pela Aliança pela Água Potável Segura que integra P&G com a USAID, a Universidade John Hopkins, a organização Population Services International (PSI) e o CARE, entre outras. "Nos aspectos técnicos, a assessoria é mínima, devido à tecnologia SODIS ser fácil de utilizar. No entanto, conseguir que as famílias utilizem o SODIS ou outro método de desinfecção em casa (ferveção, cloração caseira e outros) implica que seja introduzido em seus hábitos (...)", afirma Encalada. De acordo com quatro estudos realizados pela CDC, o PuR reduz as doenças diarréicas em 50%, sendo particularmente eficaz para crianças. De acordo com informação fornecida por Vanegas, através de seus aliados, também forneceram este produto para mais de 30 milhões de litros de água durante o último ano para ajudar em situações de desastres em nível global. De acordo com dados publicados pela PSI em um comunicado, este tipo de produto, em 2005, evitou aproximadamente 12 milhões de episódios de diarréia e a morte de 36.000 crianças. AQUA VITAE 33 AVANÇOS TECNOLÓGICOS A água usada em casa é reutilizada para trabalhos de repopulação de rios e açudes. Frederick Florin / AFP ÁGUA RECICLADA, ECONOMIA PARA O FUTURO As estatísticas indicam que para 2025, 80% da população mundial terá graves problemas de escassez de água. Até 2 bilhões de indivíduos poderão chegar a carecer de água para beber, donde a necessidade de tomar medidas hoje. Uma delas é a economia através da reutilização da água de uso urbano. Por Myriam Blanco Sem dúvida, o país pioneiro na reutilização de águas foi Estados Unidos. No entanto, o resto do mundo continua no caminho de não desperdiçar a água que já teve uma primeira utilização, para voltar a usá-la em sanitários, limpeza de ruas ou em irrigação de jardins urbanos, assim como na agricultura ou na indústria. Dois países de grande peso econômico e com maior população na América Latina, como Brasil e México, continuam este exemplo e prosseguem colocando em andamento e pesquisando a reutilização da água em edificações. Segundo avaliação da Organização Pan-americana da Saúde (OPS) sobre serviços de água potável e saneamento, a América Latina e o Caribe têm aproximadamente 480 milhões de habitantes. Destes, 130 milhões (27%) carecem de conexões domiciliares de água potável, 255 milhões (53%) não 34 AQUA VITAE têm conexões de esgoto sanitário, e apenas 86 milhões (18%) contam com sistemas de saneamento em bom estado. Todo isto acarreta que, a cada ano, a América Latina despeje mais de 100 milhões de metros cúbicos de águas residuais aos corpos de água, uma boa oportunidade para apostar na reciclagem da água. Embora a reutilização de águas tratadas ainda não se tenha transformado em uma prática comum em nível mundial, é preciso recordar que a Califórnia, nos Estados Unidos, foi o primeiro estado deste país a colocar em funcionamento seu sistema de regeneração e reutilização planejada da água, em 1912. Atualmente, são 17 os estados que seguem seus passos. Esta referência internacional na reutilização dos recursos hídricos é acompanhada na classificação por Flórida e Arizona. Brasil em fase inicial Na América Latina, na Universidade de Brasília, há mais de uma década são realizadas pesquisas sobre a reutilização da água. As metas são ambiciosas: o objetivo é economizar até 60% do consumo urbano de recursos hídricos. A água que previamente tenha sido utilizada no banho ou na cozinha é reciclada para ser utilizada em lagoas de piscicultura (repopulação de rios e tanques com peixes e crustáceos), entre outros usos. Com a reutilização de água é possível diminuir a pressão sobre os mananciais e reduzir a contaminação do meio ambiente, destacam especialistas como Claudio Itaborahy. Uma pequena cidade de 140 000 habitantes situada na região metropolitana de São Paulo, São Caetano do Sul, já se destaca no aproveitamento de água reciclada que se destina à irrigação de jardins e lavagem de ruas e edifícios. Entre as competências da Agência Nacional de Águas (ANA) de Brasil, encontra-se a que diz respeito à reutilização dos recursos hídricos, destaca Itaborahy, representante da Instituição. Adverte que por ora as boas práticas estão "em fase inicial de implementação" e é necessário adaptar muitas delas às condições brasileiras. Técnicos da ANA participam dos grupos de reutilização do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) para definir as diretrizes, os critérios e os parâmetros neste capítulo. "Países como o Brasil - assegura Itaborahy, devem incentivar a prática da reutilização para garantir o acesso à água, principalmente em partes de seu território com menor oferta, e também para evitar que onde os recursos hídricos são abundantes a água apresente uma qualidade degradada". Acrescenta que nas cidades mais populosas donde existem áreas agrícolas, a água reutilizada de origem doméstica, pode ser uma fonte importante para a produção agrícola de alimentação ou de agro-energia. Engenheiros hidráulicos avaliaram que cada habitante da área metropolitana de São Paulo consome cerca de 180 litros de água por dia, quando seria suficiente uma centena. De acordo com a regulamentação brasileira, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos estabelece as modalidades de reutilização com base em seus fins urbanos, agrícolas, florestais, ambientais, industriais e na piscicultura. Reutilização diária Como explica Claudio Itaborahy, depois de seu uso doméstico, a água pode ser reutilizada com tratamento ou mesmo sem ele. Nas residências particulares é mais comum a reutilização da água em banheiros, pias, lavadoras de roupa ou sanitários. Enquanto que nos condomínios localizados em áreas mais distantes de redes de esgoto, a água pode ser tratada mediante a instalação de sistemas de filtros e desinfecção depois de seu tratamento biológico. O especialista brasileiro lembra que sempre que for possível, a água reciclada deve ser destinada a usos não potáveis, por exemplo sanitários, limpeza de parques ou irrigação de jardins. Itaborahy destaca o fato de que apesar de o Brasil ainda se encontrar em fase de regular a reutilização de água, já existem experiências em andamento em algumas cidades. A este respeito, acrescenta que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), de forma experimental, abastece com água reciclada algumas empresas da região metropolitana. Além disso, a Sabesp também está interessada na reutilização de água para fins agrícolas, embora continue pendente da respectiva regulamentação. Custo da reciclagem É muito caro o processo de reutilização da água? "Depende de vários fatores", responde Claudio Itaborahy; por exemplo, o uso ao qual vai ser destinada, ou a quantidade e qualidade da água reutilizada que será submetida a tratamento. Os custos deste processo não constituem um impedimento para levar a cabo a prática da reciclagem; inclusive em alguns casos, pode haver "um retorno econômico" para a empresa que se disponha a produzir água reutilizada para sua comercialização, explica. Segundo informação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), fornecida pela ANA, a água reutilizada tem um valor de $0,17 por metro cúbico (mil litros) para as comunidades da região de São Paulo, para os quais o preço é reduzido, devido à sua função pública, enquanto que para indústrias e particulares o preço é de $0,30 por metro cúbico. Os produtos que são utilizados para o tratamento da água reciclada normalmente não diferem daqueles utilizados nos sistemas convencionais e, certamente, afirma o especialista da ANA, "um dos benefícios da reutilização é evitar o lançamento de grandes efluentes tratados em rios, lagos, lagoas e no mar", auxiliando assim na proteção do meio ambiente. A Agência Nacional de Águas brasileira publicou o estudo Conservação e reuso da água em edificações, obra na qual, entre outros aspectos, destaca a necessidade de acompanhar os avanços na reutilização da água com a reeducação dos comportamentos dos usuários. Por exemplo, estabelecendo-se metas de economia por usuário ou por equipamentos, e impulsionando a instalação de novos equipamentos. Também é considerado positivo estabelecer programas de incentivos, ainda em estudo, como aqueles destinados aos consumidores que detectem vazamentos dentro de seu edifício. México urbano No continente americano, o México se destaca por seguir nesta aposta ambiental, sobretudo nas regiões áridas e semiáridas do centro e do norte do país. Para a Comissão Nacional da Água (Conágua) deste país, a reutilização do líquido é parte fundamental de sua política hídrica, por um lado, porque é um bem cuja disponibilidade é limitada, e por outro lado, porque o saneamento passa a ser indispensável quando muitas vezes é preciso enfrentar também a degradação das fontes de fornecimento. No México, país em que mais de 70% da população vive em zonas urbanas, no Distrito Federal calcula-se que 67% da água é destinada ao uso doméstico. Estudos indicaram que a demanda da agricultura e da indústria pode absorver a água regenerada dos resíduos municipais. Realmente, foi constatado que o emprego de águas reutilizadas de origem doméstica fornece aos cultivos matérias orgânicas ou nitrogênio, que lhes são favoráveis. Na região metropolitana do Vale do México, com uma população próxima dos 20 milhões de habitantes e onde existe água subterrânea em abundância, foi calculado que são necessários aproximadamente 35 metros cúbicos de água por segundo para cobrir a demanda de água potável. Uma vez AQUA VITAE 35 ORIGEM ANCESTRAL Os primeiros habitantes a reutilizar o recurso hídrico foram os da Ilha de Creta, na época Minoica. Nesta cultura pré-helenística da idade de bronze, já se interessaram em voltar a usar as águas residuais. A princípio, até meados do século XIX, não era aplicado nenhum tratamento às águas residuais, e elas eram vertidas diretamente nas propriedades agrícolas de granjas situadas, por exemplo, na Alemanha ou na Grã Bretanha. Esta prática chegou a provocar problemas de saúde pública. graves No século seguinte foi dado o grande salto com relação ao avanço sanitário, e antes de 1950, por exemplo, já se usava o cloro. Ao mesmo tempo, na Inglaterra já funcionavam os primeiros processos biológicos para depurar as águas residuais e, na Califórnia, já se começava a regular o uso de águas residuais na agricultura. Mas foi sem dúvida a partir dos anos 60 que a regeneração, a reciclagem e a reutilização das águas residuais adquire maior importância diante da crescente pressão demográfica e dos efeitos e prospecções com relação à mudança climática mundial. A regeneração permite também enfrentar problemas como o da contaminação e, ao mesmo tempo diminui a necessidade de explorar as fontes convencionais e esgotáveis para o fornecimento de água. DIAGRAMA SISTEMA DE REUTILIZAÇÃO DE ÁGUA NA CALIFÓRNIA Em quê é utilizada a água reciclada na Califórnia? Multiplicado por três As agências de água da Califórnia reciclam atualmente cerca de 617 milhões de metros cúbicos de águas residuais por ano, quase três vezes mais do que em 1970. Fonte: Departamento de Recursos Hídricos do Estado da Califórnia. Recarga de aqüíferos 14% Outros usos* 19% Diagrama processo de reutilização de água de uso doméstico Irrigação agrícola 46% Residência particular Água de uso doméstico Irrigação de jardins 21% banheiros/pias/ lavadoras/sanitários é reutilizada em Condomínios em áreas afastadas *Reutilização industrial, lagos recreativos, etc. Água de uso doméstico Fonte: Departamento de Recursos Hídricos do Estado da Califórnia. California Water Plan. é tratada por meio de filtros e desinfecção é destinada a usos não potáveis sanitários / limpeza de parques/irrigação de jardins Tipos de processos de tratamento da água reciclada Tratamento primário Tratamento secundário Tratamento terciário Recomenda-se não utilizá-la neste nível Irrigação superficial de hortas e vinhedos Irrigação de áreas verdes e campos de golfe Irrigação de cultivos não comestíveis Tanque para irrigação de áreas verdes 36 AQUA VITAE Lavagem de veículos Recarga de água subterrânea para aqüíferos não potáveis* Irrigação de cultivos comestíveis Pântanos, hábitat selvagem, aumento de corrente de rios Fontes de água decorativas Processos de refrigeração industrial* *Recomenda-se tratamento em áreas específicas. Caixas de descarga Reutilização potável indireta: recarga de aqüíferos e aumento de reservas de água superficiais* Fonte: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, em inglês) A reintrodução de salmões está sendo feita com águas reutilizadas. Mustafa Ozer / AFP utilizadas, são vertidas no sistema de esgoto e calcula-se que 90% dessas águas residuais não são tratadas. Elas são utilizadas para irrigar cultivos no Valle do Mezquital. Cerca de 10% das águas residuais são regeneradas e destinadas a projetos locais de recarga de água subterrânea e à irrigação da paisagem urbana. Na Cidade do México, para fornecer a água regenerada aos consumidores é utilizada uma rede de distribuição com 838 quilômetros de comprimento, que foi surgindo conforme a demanda. Também conta com registros onde são abastecidos os caminhões-pipa. A reutilização de águas regeneradas destina-se principalmente à irrigação de parques e jardins, em estradas e para encher lagos recreativos, como o de Chapultepec ou os canais de Xochimilco. Além disso, são utilizadas em processos industriais de resfriamento e de limpeza, na lavagem de automóveis, de ônibus, dos trens do metrô e na recarga artificial dos mantos aqüíferos. Sem dúvida alguma, o caminho está aberto. As pesquisas e os recursos destinados ao aperfeiçoamento dos mecanismos de reutilização de água não se detêm, são o futuro que já chegou para economizar o precioso bem que se esgota. AQUA VITAE 37 CALENDÁRIO 2007 OUTUBRO NOVEMBRO 9 a12 11 a 15 6ª CONFERÊNCIA ESPECIALIZADA DA AIA SOBRE RECUPERAÇÃO E REUTILIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS PARA A SUSTENTABILIDADE Local: Amberes, Bélgica Site: www.iarh.org.ar/actividad.php?id=309 Organização: Associação Internacional da Água (AIA) 2º CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS EM PEQUENAS COLETIVIDADES (SMALLWAT07) Lugar: Sevilha, Espanha Site: http://www.iucn.org/places/medoffice/ documentos/2007/events/smallwat07_es.pdf Organização: Centro de Novas Tecnologias da Água (CENTA), Espanha; Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos das Nações Unidas (WWAP); Ministério do Meio Ambiente da Espanha; Agência Andaluz da Água, Espanha; Agência Espanhola de Cooperação Internacional (AECI) 16 a19 2º SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE TECNOLOGIA DA INTRUSÃO DE ÁGUA DO MAR EM AQÜÍFEROS COSTEIROS Local: Almería, Espahha Site: http://www.ual.es/GruposInv/RecHid/otros/ primera_circular.pdf Organização: Subaqua Club, Instituto Espanhol Geológico e Mineiro, Grupo RHyGA, UNESCO. 16 a 19 3º FÓRUM INTERNACIONAL DO RIO AMARELO SOBRE A GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS E A PRESERVAÇÃO DE ECOSSISTEMAS DE DELTAS Lugar: Cidade de Dongying, Província de Shandong, China Site: http://www.unesco.org/water/water_events/ Detailed/1475.shtml Organização: Comissão de Conservação do Río Amarillo (YRCC), China 28 a 2 6º SIMPÓSIO BIENAL INTERNACIONAL EM RECUPERAÇÃO DE AQÜÍFEROS Lugar: Phoenix, Arizona, Estados Unidos Site: www.ismar2007.org Organização: Sociedade Hidrológica do Arizona 28 a 2 CONFERENCIA MUNDIAL DE LAGOS TAAL 2007 Lugar: Jaipur, Rajastão, Índia Sitie: http://www.taal2007.org/ Organização: Ministério de Meio Ambiente e Florestal, Comitê Internacional de Lagos. 12 a 15 43º CONFERÊNCIA ANUAL DA AWRA SOBRE RECURSOS HÍDRICOS Lugar: Alburquerque, Nuevo México, Estados Unidos Site: http://www.awra.org/meetings/ New_Mexico2007/index.html Organização: Associação Americana de Recursos Hídricos (AWRA), Estados Unidos 12 a 16 CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE SANEAMENTO Lugar: Cali, Colombia Site: http://www.latinosan2007.net Organização: Instituto CINARA-Universidad del Valle DEZEMBRO 4a7 5º SIMPÓSIO INTERNACIONAL EM SISTEMAS HIDRÁULICOS MEIO-AMBIENTAIS Lugar: Tempe, Arizona, Estados Unidos Site: http://www.iahr.net/iseh/home/index.asp Organização: Universidade Estatal do Arizona, Universidade do Arizona, Associação de Engenharia e Pesquisa Hidráulica. 12 a 13 A ÁGUA, UMA RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA Lugar: Zaragoza, Espanha Site: http://www.expozaragoza2008.es Organização: Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP) e Expo Zaragoza. 38 AQUA VITAE 2008: Ano do saneamento Água, um direito humano A ONU DECLAROU 2008 COMO O ANO INTERNACIONAL DO SANEAMENTO. ESTIMA-SE QUE 1.6 MILHÕES DE RESIDENTES URBANOS MORREM A CADA ANO DEVIDO À FALTA DE ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO. Fonte: ONU Mortalidade infantil por diarréia A cada ano morrem 1,8 milhões de crianças devido a diarréia, o poderia ser evitado com a acesso à água limpa e um sanitário. 443 milhões de dias escolares são perdidos devido a doenças relacionadas com a água. Cerca do 50% da população total dos países em desenvolvimento padece em um momento dado algum problema de saúde devido à falta de água e saneamento. 1% DO ORÇAMENTO MILITAR PARA A DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA E OS SERVIÇOS SANITÁRIOS, FOI RECLAMADO NO FÓRUM INTERNACIONAL SOBRE O DIREITO À ÁGUA EM NOVEMBRO DE 2006, EM MARSELHA, FRANÇA. Fonte: www.derechoalagua.org A civilização não dura porque aos homens só interessam os resultados da mesma: os anestésicos, os automóveis, o rádio. Mas nada do que a civilização dá é fruto natural de uma árvore endêmica. Tudo é resultado de um esforço. Uma civilização só se mantém se muitos oferecem sua colaboração ao esforço. Se todos preferirem gozar o fruto, a civilização naufraga. José Ortega y Gasset Pode haver algo mais ridículo que a pretensão de que um homem tenha direito a me matar porque habita do outro lado da água e seu príncipe tem uma discórdia com o meu, mesmo que eu não a tenha com ele? Blaise Pascal Fonte: Água e Saneamento Sonhos de Água Francisco Alarcón Venezuela Eu adormeci numa curva de um rio, procurava por todos lados pirilampos acesos. O ruído provocado pelo correr da água me fazia sonhar e despertava meus brios porque se a água corre, e corre sem se deter vivemos em um mundo sombrio, porque os sonhos com a água produzem frio, porque os sonhos da alma, da noite movem desvarios, acaso são sonhos diferentes de quem se deita em um rio e de quem se apóia em um canto do esquecimento. Sonhas que te impedem ou sonhas e te libertas, talvez na vida sonhes e apenas vivas. AQUA VITAE 39