MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA – CAMPUS JULIO DE CASTILHOS
CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM AGRICULTURA
CULTURA DO TRIGO
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO
Bruno Cancian
2
Júlio de Castilhos, RS, Brasil
2010
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA – CAMPUS JULIO DE CASTILHOS
CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM AGRICULTURA
CULTURA DO TRIGO
Por
Bruno Cancian
Relatório de Estágio de Profissional apresentado como requisito para
obtenção do
título de Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura do Instituto
Federal Farroupilha – Campus Julio de Castilhos – RS.
Orientador: Profª. Jorge Alex Willes
3
Júlio de Castilhos, RS, Brasil
2010
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
1. Estagiário
1.1Nome: Bruno Cancian
1.2 Curso: TÉCNICO Agrícola com Habilitação em Agricultura
1.3 Turma: AGRICULTURA 1
1.4 Endereço: Rincão do Appel
1.5 Município e estado: Pinhal Grande, RS
1.6 CEP: 98150-000
1.7 Telefone (s): (55) 96436055
1.8 E-mail: [email protected]
2. Empresa
2.1 Nome: COTRIEL-Cooperativa Tritícola de Espumoso Ltda
2.2 Endereço: av. Osvaldo Júlio Cuerlong
2.3 Município e estado: Espumoso, RS
2.4 CEP: 99400-000
2.5 Caixa Postal:
2.6 Fone: (54) 3383-3500
2.7 E-mail: [email protected]
3. Estágio
3.1 Área de realização: Assistência Técnica
3.2 Coordenador do Curso: Ricardo Luis Schons
3.3 Professor Orientador no Instituto Federal Farroupilha - Campus Julio de
Castilhos: Jorge Alex Willes
3.4 Supervisor de Estágio na empresa: Paulinho Donatti
3.5 Carga horária total: 414 horas
3.6 Data de início e término: 08/09/09 à 09/11/09
4
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA – CAMPUS JULIO DE CASTILHOS
CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM AGRICULTURA
O Supervisor da Empresa, Paulinho Donatti, o Orientador, Jorge Alex Willes, e
o Estagiário, Bruno Cancian, abaixo assinados, cientificam-se do teor do Relatório
de Estágio Curricular Supervisionado do Curso Técnico Agrícola com Habilitação em
Agricultura.
CULTURA DO TRIGO
Elaborado por:
Bruno Cancian
Como requisito parcial para obtenção do título de
Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura
Paulinho Donatti
(Supervisor de Estágio)
Jorge Alex Willes
(Orientador)
Bruno Cancian
(Estagiário)
5
Julio de Castilhos, Rs, Brasil.
2010
AGRADECIMENTOS
A Deus por sempre guiar meu caminho;
A minha Família pelo apoio, carinho e compreensão;
Ao Instituto Federal Farroupilha-Campus Julio de Castilhos, pela oportunidade
de realizar o curso;
Aos Amigos da Cotriel (Paulinho, Gariboti, Jussara, Neocir, Jean, Vera)
oportunidade de realizar estágio nesta Empresa, ensinamentos e amizade;
Ao professor Jorge Alex Willes, pela orientação, confiança e amizade;
Aos professores do Curso de Agricultura, pelos ensinamentos e amizade;
Aos amigos e colegas de curso;
A todas as pessoas que de uma forma ou de outra estiveram comigo nesta
jornada, o meu muito obrigado.
6
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 3.1 – Aspecto visual das lavouras com adubação deficiente (A) e com
adubação adequada (B).............................................................................................12
FIGURA 3.2 – Ataque de Ferrugem da folha nas folhas basais (A), detalhe das
pústulas em fase de esporulação (B).........................................................................15
FIGURA 3.3 - Despigmentação causada pela aplicação do produto Nativo (A), efeito
na coloração do trigo pela aplicação de fungicidas para controle de ferrugem da
folha, quando está estiver presente em grande intensidade(B).................................16
FIGURA 3.4 – Sintomas das doenças Mancha marrom (A), mancha amarela (B),
mancha da gluma (C).................................................................................................17
FIGURA 3.5 - Detalhe do sintoma de folhas estriadas causado pelo vírus do mosaico
de trigo (A) e ocorrência em manchas ao acaso na lavoura (B)................................18
FIGURA 3.6 - Plantas atacadas pelo mal-do-pé, distribuídas em manchas ao acaso
na lavoura...................................................................................................................19
FIGURA 3.7 – Fase de entrada da giberela na espiga (pleno florescimento) (A) e
dano causado pela giberela (B)..................................................................................20
FIGURA 3.8 – Danos causado pelo ataque de percevejo durante o estádio de
emborrachamento......................................................................................................22
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 - Produtos recomendados para controle de plantas daninhas em
trigo..................................................................................................................14
Tabela 3.2 – Produtos recomendados para controle de pragas do trigo.........22
8
SUMÁRIO
1INTRODUÇÃO .........................................................................................09
2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ......................................................09
3 DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO................................................10
3.1 Cultura do trigo........................................................................................10
3.1.1 Análise histórica e econômica da cultura do trigo...................................10
3.1.2 Fatores determinantes da safra de trigo 2009........................................11
3.1.3 Controle de planta daninhas na cultura do trigo.....................................13
3.1.4 Controle de doenças...............................................................................14
3.1.4.1 Ferrugem da Folha de Trigo (Puccinia triticina) ..................................14
3.1.4.2 Manchas Foliares................................................................................16
3.1.4.3 Vírus do Mosaico de Trigo (SBWV).....................................................17
3.1.4.4 Mal-do-pé de Trigo (Gaeumannomyces graminis var. tritici ) ............18
3.1.4.5 Gibelera de Trigo (Gibberella zeae )...................................................19
3.1.5 Controle de pragas ...............................................................................21
4. CONCLUSÃO........................................................................................23
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................24
9
1.INTRODUÇÃO
A agricultura hoje é um dos setores da economia com grande importância
para o desenvolvimento de nosso país. Responsável pela produção dos principais
alimentos consumidos, além de gerar inúmeros empregos diretos e indiretos
contribuindo para a diminuição da desigualdade social.
Em 11 de outubro de 1959 foi fundada a Cooperativa Tritícola de Espumoso
(Cotriel), com o objetivo econômico de unir os agricultores que se dedicam ao plantio
do trigo e outros produtos agrícolas, dentro da área de ação e comprar para eles, em
comum, artigos necessários as suas culturas, beneficiar, padronizar e vender sua
produção e promover a mais ampla defesa de seus interesses econômicos.
A Cotriel possui hoje, em sua estrutura, doze unidades de beneficiamento e
armazenagem de grãos espalhadas nos municípios de Espumoso, Alto Alegre,
Campos Borges, Salto do Jacuí, Estrela Velha, Arroio do Tigre, Sobradinho, Rio
Pardo e Pantano Grande, com capacidade para 276 mil toneladas de produtos,
equipadas com tecnologia e controle avançado de qualidade.
O estágio supervisionado foi realizado em uma filial da COTRIEL, localizada
no município de Estrela Velha, estado do Rio Grande do Sul, no período de 08 de
Setembro de 2009 a 09 de Novembro de 2009, totalizando 414 horas, tendo como
objetivo a conclusão do Curso Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura,
além de proporcionar um complemento prático aos conhecimentos adquiridos no
decorrer do curso. O estágio foi supervisionado pelo técnico em agropecuário
Paulinho Donatti, responsável técnico da cooperativa. Nesse período foi possível
acompanhar a cultura do trigo, sendo esta atividade descrita no presente relatório.
2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o período de estágio desenvolvi juntamente com o responsável
técnico da Cotriel, visitas periódicas aos produtores para avaliação das lavouras de
trigo. Nesta avaliava-se a incidência de plantas daninhas, doenças e pragas e com
10
base no que era observado efetuava-se a recomendação técnica para o controle das
mesmas. Tendo em vista que, quando começou o período de estágio, as culturas já
estavam implantadas no campo e encontravam em fase de afilhamento, estádio
fenológico 3 ( afilhos formados) as informações que antecedem este período foram
obtidas com os técnicos e também com os produtores, podendo assim relacioná-las
com a realidade encontrada a campo, a exemplo cito a adubação, que influência na
incidência de doenças.
3. DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO
3.1 Cultura do trigo
3.1.1 Análise histórica e econômica da cultura do trigo
O trigo (Triticum aestivum L. Thell) é uma planta monocotiledônea da família
Poaceae, originária da antiga Mesopotâmia, hoje Iraque, da região entre os rios
Tigre e Eufrates. Essa cultura foi uma das primeiras a ser domesticada pelo homem
e, por cerca de 8.000 anos é o principal cereal cultivado na Europa, Ásia Ocidental e
norte da África. Este cereal é uma cultura amplamente adaptada aos mais diversos
locais do mundo. Esta ampla adaptação da cultura do trigo se deve ao seu complexo
genoma, que proporciona a alta plasticidade desta cultura.
O trigo se apresenta hoje como um dos cereais mais produzidos do mundo,
com uma produção de 629.566 mil toneladas (FAO, 2005). No Brasil o trigo ocupa a
quinta posição em termos de área plantada, com 2.360 mil hectares, o que gerou
uma produção de 4.873 mil toneladas com uma produtividade media de
aproximadamente 2 toneladas por hectare (CONAB, 2006). O Rio Grande do Sul é o
segundo Estado brasileiro em área de cultivo, 844 mil hectares, sendo superado
pelo Paraná, 1.276 mil hectares. Mesmo com esta produção o Brasil importa cerca
de dois terços de seu consumo interno, que é de 10.989 toneladas (CONAB, 2006),
de outros paises como a Argentina, a qual coloca trigo no mercado brasileiro com
preço mais competitivo que o nosso, devido a terem clima mais propicio a cultura, o
que eleva a produtividade por área, e reduz o custo de produção.
A cultura embora bem adaptada às condições climáticas do Rio Grande do
11
Sul, causa certo receio por parte dos produtores em seu cultivo, por ser muito
suscetível as intempéries climáticas, grande parte dos produtores o tem como um
cultivo secundário, não efetuando assim um alto investimento em adubação e
tratamentos fitossanitários, o que reproduz a baixa produtividade do estado (1,6
toneladas/ hectare). Outro fator que determina o investimento que é feito na cultura é
o preço de mercado desta, causando insegurança para os produtores na hora de
investir nas lavouras do cereal.
O custo variável da produção de trigo nos anos 80 girava entre 11 e 20 sacos
por hectare, havendo 24% dos produtores registrando um custo entre 11 e 15 sacos
e 33% indicando um custo entre 16 e 20 sacos. Outros 14% registravam um custo
acima de 25 sacos por hectare. Nos anos 90, 38% dos produtores apontavam custo
entre 21 e 25 sacos e 33% acima de 25 sacos. Em 2009, 86% dos produtores
indicavam que seu custo era superior a 25 sacos por hectare. Ou seja, em 25 anos o
custo de produção aumentou consideravelmente para a grande maioria dos
produtores.
Dentre os principais problemas da cultura são as doenças fungicas, viróticas e
bacterianas, muitas vezes agravadas por condições climáticas desfavoráveis, que
limitam o crescimento da planta e a deixam mais suscetíveis ao ataque. Dentre as
doenças fungicas cabe destacar a Ferrugem do Trigo (Puccinia triticina), o Oídio
(Blumeria graminis), a Giberela (Gibberella zeae) e o Mal-do-pé (Gaeumannomyces
graminis var. tritici), já as viróticas podemos citar algumas viroses como Vírus do
Nanismo Amarelo da Cevada (BYWV), com grande destaque o Vírus do Mosaico
Comum de trigo (SBWV), que vem causando grandes prejuízos nas lavouras do RS,
principalmente em anos com grande precipitação climática. Plantas daninhas e
pragas são facilmente controladas, não constituindo assim um problema à cultura,
desde que controladas no momento certo, ou seja, antes que causem danos
econômicos a cultura.
3.1.2 Fatores determinantes da safra de trigo 2009
Dentre os fatores que determinam o sucesso de uma safra está o custo da
implantação da lavoura, pois este custo define se o produtor terá condições de
fornecer tudo que a lavoura precisa ou terá que efetuar cortes no orçamento. A safra
de trigo 2009 começou em um cenário conturbado, os insumos para a implantação
12
da lavoura estavam com uma cotação muito acima do normal, como é o caso dos
fertilizantes, que em um ano tiveram um aumento de cerca de 100% em seu custo.
Este fato levou muitos produtores a racionalizar o uso deste, tanto na adubação de
base como em cobertura, fato este que comprometeu o rendimento da safra 2009.
Mas esta não foi uma regra geral, alguns produtores que já haviam adquirido os
insumos quando estes estavam com preços mais baixos ou estavam capitalizados e
decidiram investir na cultura, efetuaram uma adubação adequada. Os efeitos de
ambas as prática, podem ser visualizadas a campo pelo aspecto debilitado ou
vigoroso das plantas (Figura 3.1).
a
b
Figura 3.1 – Aspecto visual das lavouras com adubação deficiente (a) e com adubação
adequada (b).
Outro fator marcante na safra de trigo deste ano foi à ocorrência de um
inverno muito chuvoso, o que é prejudicial à cultura de trigo, que melhor se adapta e
produz em invernos frios e secos. Durante os meses de junho, julho, e outubro, a
precipitação acima da média, e o elevado número de dias com chuva nos meses em
B
que a cultura estava se desenvolvendo, prejudicou as lavouras,
principalmente do
ponto de vista fitossanitário, já que alta umidade favorece a ocorrência de doenças.
Este fato fez com que os produtores tivessem que aumentar o número de
tratamentos fitossanitários aplicados à cultura, que é o que ocorre em anos com
baixa precipitação, para três e em muitos casos até quatro, dependendo do estádio
em que era feito o primeiro ou da severidade do ataque da doença, aumentando
ainda mais o custo de produção do trigo.
A alta precipitação agravou também o efeito da baixa adubação, já que muitos
13
nutrientes foram perdidos por lixiviação, principalmente o N (nitrogênio), que é um
dos mais importantes na definição do rendimento das gramíneas. A associação
destes fatores, baixa adubação e alta precipitação, provocaram a ocorrência de
plantas debilitadas e suscetíveis ao ataque de doenças.
3.1.3 Controle de planta daninhas na cultura do trigo
O controle de plantas daninhas na cultura do trigo é efetuado visando
praticamente apenas duas espécies, que são o azevém ( Lolium multiflorum ) e Buva
( Conyza bonariensis). Esporadicamente o Nabo ( Raphanus raphanistrum ) e aveia
( Avena sativa ) podem constituir um problema.
O azevém constitui-se um dos principais problemas da cultura do trigo em
termos de plantas daninhas, principalmente no Rio Grande do Sul, onde grande
maioria das áreas apresentam um elevado banco de sementes no solo, o que
dificulta o manejo e controle. Então para áreas onde é cultivado azevém e pretendese efetuar plantio de trigo na próxima safra de inverno é necessário um
planejamento prévio, com isso, recomenda-se que o azevém seja dessecado antes
que a semente esteja apta a germinar, ou seja, este deve ser efetuado na fase de
florescimento. Adotando esse manejo diminuímos o banco de sementes do solo.
Também recomenda-se a dessecação antes de se efetuar o plantio de trigo com
glifosato, já que grande quantidade de azevém já vai estar emergido nesta ocasião.
Mesmo adotando esse manejo, muitas vezes é necessário a aplicação de herbicida
pós emergente para o controle, para isso recomenda-se o uso de Iodosulfuron –
methyl (Hussar). A aplicação deste deve ser efetuado antes do estádio de
emborrachamento, caso contrário pode causar problemas de retenção de espiga no
trigo. As doses recomendadas estão descritas na Tabela 3.1.
O controle de buva na cultura do trigo não é recomendado pelo dano que esta
causa a cultura, mas sim tendo em vista que esta apresenta resistência ao glifosato,
então preconiza-se efetuar o controle durante o inverno usando Metsulfuron – methyl
(Ally), que apresenta custo não muito elevado e controla satisfatoriamente esta
invasora (ver dose na Tabela 3.1), sendo este mesmo herbicida recomendado para o
controle de nabo. Recomenda-se que a aplicação deste herbicida seja efetuado de
45 a 60 dias antes do plantio da soja para evitar que este cause fitotoxicidade. Se o
problema for somente nabo e azevém aplicar apenas Iodosulfuron – methyl
14
( Hussar), este produto controla satisfatoriamente as duas invasoras.
Tabela 3.1 - Produtos recomendados para controle de plantas daninhas em trigo.
Principio ativo
Iodosulfuron –
Nome comercial
Hussar
methyl
Metsulfuron –
Ally
Alvo
Azevém / nabo
Dose (p.c)
70 g/ha
Buva / nabo
6,0 g/ha
methyl
OBS: Deve se ter cuidado de não efetuar mistura de Iodosulfuron – methyl
com Metsulfuron – methyl e recomenda-se a lavagem do tanque do pulverizador
quando forem usados em seqüência, para evitar o efeito fitotoxico que causam ao
trigo quando misturados.
3.1.4 Controle de Doenças
3.1.4.1 Ferrugem da Folha de Trigo (Puccinia triticina)
Durante a safra 2009 observou-se uma grande incidência desta doença,
tendo em vista o clima e o histórico de adubação da cultura. O clima úmido e a
temperatura amena (15 a 22 ºC) que ocorreu neste inverno é considerado ótimo
para o desenvolvimento da doença. A condição de estresse nutricional, ocasionada
pelo uso reduzido de fertilizantes também contribuíram para um ataque severo desta
doença. Esta relação pode ser visualizada quando era analisado o histórico de
adubação da área com a severidade de ataque da doença.
Outro fator que influencia a incidência de ferrugem da folha (Figura 3.2) é o
plantio de trigo por vários anos consecutivos na mesma área, por isso recomenda-se
o uso de rotação de culturas e o tratamento de semente com um fungicida, o que
não elimina totalmente o problema, mas minimiza as conseqüências desta prática. O
tratamento de sementes recomendado foi com um fungicida a base de Triadimenol
(Baytan) 270 ml/ha do produto comercial (p.c.).
Para o controle da doença preconiza-se o uso de fungicidas de forma
preventiva, mas existem produtos recomendados para a aplicação de forma curativa,
o que ocorre na maioria das vezes. Em lavouras onde o produtor realizou a
aplicação de fungicida de forma preventiva pode se observar que a incidência de
15
doenças era muito baixa, pelo efeito protetor que estes produtos dão a folha. Este
residual pode permanecer atuando na folha durante 15 a 21 dias, dependendo das
condições climáticas. Se ocorrer elevada precipitação, diminui o residual, e
consequentemente o efeito protetor que este dá a folha.
a
b
Figura 3.2 – Ataque de Ferrugem da folha nas folhas basais (a), detalhe das pústulas em fase
de esporulação (b).(Fonte: Cooplantio)
Quando a aplicação for curativa e a incidência da doença for severa, ou seja,
a pressão de inóculo for alta (todas as folhas infectadas e com muitas pústulas
espurulando) recomendou-se a realização imediata da primeira aplicação e após 12
dias a segunda. Já quando a pressão do inóculo era menor (apenas as folhas basais
infectadas e com poucas pústulas), recomendava-se a aplicação imediata da
primeira e após 19 dias a segunda. Este calendário de aplicação é necessário
B
quando a aplicação for curativa, já que o controle da ferrugem nas folhas basais não
será satisfatório, dependendo da arquitetura da planta, onde as folhas apicais
impedem que o fungicida alcance o alvo, então assim que as novas folhas surgirem
elas serão infectadas pelos esporos disseminados pelas pústulas presentes nas
folhas basais. Este calendário não é válido para as aplicações preventivas, onde
pode variar o número de dias entre aplicações.
Para o tratamento preventivo e curativo da ferrugem do trigo recomendou-se
a utilização de produtos do grupo das Estrobilurinas + Triazóis, comercialmente os
seguintes produtos: Tebuconazole + Trifloxystrobin (Nativo) 500 ml/ha + 0,5 % do
volume de calda de óleo mineral (Áureo); Cyproconazole + Azoxystrobin (Priori xtra)
16
300 ml/ha + 0,5 % do volume de calda de óleo mineral (Nimbus); Picoxistrobina +
Ciproconazol (Aproach prima) 300ml/ha + 0,5 % do volume de calda de óleo mineral
(Nimbus); Epoxiconazole + Pyraclostrobin (Opera) 500 ml/ha.
O produto Nativo (Tebuconazole + Trifloxystrobin) quando aplicado, em alguns
casos,
causa uma despigmentação da folha (Figura 3.3 A) , que pode ser
confundido com fitotocixidade, mas segundo seu fabricante Bayer CropScience essa
despigmentação ocorre devido a translocação da clorofila no momento da
penetração da molécula do tebuconazole na folha, por esta ser muito grande, e este
efeito é maior quando a planta está passando por algum tipo de estresse no
momento da aplicação, que pode ser climático, isso diminui o metabolismo da
planta, o que diminui a translocação da seiva. Fatores genéticos da planta também
estão ligados a essa despigmentação, variando assim a incidência desta de cultivar
para cultivar. Esta despigmentação não causa perda de produtividade. Quando a
aplicação de qualquer um dos produtos for feita com alta incidência de doença esta
pode causar um amarelecimento generalizado na cultura, mas isso é o indicativo de
A
controle, não causando prejuízos no rendimento de grãos na cultura (Figura 3.3 B).
AA
Figura 3.3 -
A
A
Despigmentação
BA
AANativo (A), efeito na
causada pela aplicação do produto
A
coloração do trigo pela aplicação de fungicidas para controle de ferrugem da folha, quando está
estiver presente em grande intensidade(B).
3.1.4.2 Manchas Foliares
Quando falamos em manchas foliares em trigo incluímos três diferentes
B
B
17
doenças fúngicas, as quais são conhecidas por: Mancha marrom (Bipolaris
sorokiniana), mancha amarela (Drechslera tritici-repentis), mancha da gluma
(Stagonospora nodorum) ( Figura 3.4 ).
B
a
b
c
Figura 3.4 – Sintomas das doenças Mancha marrom (a), mancha amarela (b), mancha da
gluma (c).
Este grupo de doenças não causa grandes problemas as lavouras, quando
comparado a ferrugem do trigo, principalmente onde é efetuado manejo adequado,
com rotação de culturas ou revolvimento do solo, embora este ultimo não seja muito
recomendado devido ao problema de erosão do solo.
Em áreas onde o plantio de trigo se dá sem rotação de culturas recomenda-se
o tratamento de semente com fungicida Triadimenol (Baytan) 270 ml/ha, para que
diminua a incidência de manchas foliares. O tratamento foliar com fungicidas é
efetuado com os mesmos produtos recomendados para a ferrugem da folha do trigo,
por isso não é feito uma recomendação especifica para o controle de manchas
foliares, mas se caso for necessário a recomendação é a mesma indicada para a
ferrugem da folha.
3.1.4.3 Vírus do Mosaico de Trigo ( SBWV)
O vírus do mosaico de trigo pode ser visualizado na safra de trigo 2009,
embora não tenha causado prejuízos significantes as lavouras onde assistimos,
esteve presente em grande número de lavouras. Este vírus causa um sintoma típico
de folhas estriadas com coloração amarelada em manchas ao acaso na lavoura
18
(Figura 3.5). A incidência desse vírus se deu devido às condições climáticas
favoráveis, principalmente a elevada quantidade de chuva e as temperaturas baixas
(10 a 15 °C) no período de estabelecimento da cultura a campo, o que diminui o
crescimento da cultura, favorecendo o ataque.
BA
Figura 3.5
- Detalhe do sintoma de folhas estriadas causado pelo vírus do mosaico de trigo.
Para o Vírus do Mosaico de Trigo o único controle recomendado é a rotação
de culturas, ou seja, evitar o plantio da próxima safra nas áreas onde o vírus esteve
presente, se isso for possível, caso contrario recomenda-se o uso de cultivares
resistentes.
B
3.1.4.4 Mal-do-pé de Trigo ( Gaeumannomyces
graminis var. tritici )
A presença desta doença pode ser observada em algumas lavouras, que
embora isoladas causaram uma redução de rendimento estimada em 10%. A
ocorrência do mal-do-pé nas lavouras é de forma generalizada, mas também foi
percebido em manchas ao acaso (Figura 3.6). Esta doença assim como todas as
outras já relatadas tem sua incidência aumentada em condições de elevada
precipitação.
19
Figura 3.6 - Plantas atacadas pelo mal-do-pé, distribuídas em manchas ao acaso na lavoura.
Para o controle desta doença não há fungicidas recomendados, tendo em
vista que o patógeno está presente no solo, por isso a única recomendação que foi
realizada é a rotação de culturas com espécies não suscetíveis para a próxima
safra, já que o patógeno tem habilidade de sobreviver nos restos culturais. Por isso
é importante que se tenha o histórico das áreas e com isso se faça um planejamento
adequado, minimizando esses problemas.
3.1.4.5 Giberela de Trigo (Gibberella zeae)
O ataque de giberela (Figura 3.7 B) pode ser verificado em muitas lavouras,
estima-se que esta causou uma redução de 15 % no rendimento de grãos de muitas
lavouras, principalmente as de ciclo tardio. A forte incidência desta doença deu-se
pela condição de alta precipitação durante o mês de outubro, período que coincide
com a fase de florescimento do trigo, a qual foi o dobro da média histórica. Além da
alta precipitação as temperaturas elevadas ( 24 a 30° C ) e o molhamento foliar e da
espiga por períodos longos ( 48 a 60 horas), durante o pleno florescimento (Figura
3.7 A), favoreceu a ocorrência da doença.
Pode observar-se que as lavouras em que o florescimento coincidiu com a
segunda quinzena de setembro a incidência de giberela foi muito baixa, tendo em
vista que nesse período predominou tempo seco, o que é desfavorável ao ataque da
doença, mas como a maioria das lavouras estava com a floração atrasada,
conseqüência das chuvas no momento do plantio, o período de floração coincidiu
20
com o período chuvoso.
aA
bA
Figura 3.7 – Fase de entrada da giberela na espiga (pleno florescimento) (a) e dano causado
pela giberela (b) (Fonte. E. M. Del Ponte)
O controle desta doença é deficiente, tendo em vista o curto período de tempo
que se tem para efetuar a aplicação de fungicidas. Mas recomenda-se a aplicação
de fungicidas no inicio do florescimento, principalmente se as previsões climáticas
indicarem que teremos dias com umidade elevada. Para esse tratamento
recomenda-se o uso dos seguintes produtos: Tebuconazole + Trifloxystrobin (Nativo)
500 ml/ha + 0,5 % do volume de calda de óleo mineral (Áureo); Cyproconazole +
Azoxystrobin (Priori xtra) 300 ml/ha + 0,5 % do volume de calda de óleo mineral
(Nimbus); Picoxistrobina + Ciproconazol (Aproach prima) 300ml/ha + 0,5 % do
volume de calda de óleo mineral (Nimbus); Epoxiconazole + Pyraclostrobin (Opera)
500 ml/ha. Tendo em vista que os produtos recomendados para o controle de
giberela são os mesmos que controlam ferrugem e manchas foliares, podemos
elaborar um calendário de aplicações preventivas, de forma que uma das aplicações
coincida com o período de florescimento.
OBS: Para todas as recomendações de tratamento fitossanitario recomendouse o uso de 130 a 150 litros de calda por hectare, visando um controle mais
satisfatório das doenças, principalmente nas folhas basais.
3.1.5 Controle de pragas
21
As pragas que atacam a cultura do trigo são basicamente, os pulgões
(Schizaphis graminum, o pulgão-verde-dos-cereais, Metopolophium dirhodum, o
pulgão-da-folha, e Sitobion avenae, o pulgão-da-espiga), as lagartas (Pseudaletia
sequax e P. adultera) e os percevejos (Nezara viridula, o percevejo-verde e o
Thyanta perditor, o percevejo-do-trigo). Os pulgões atacam principalmente em duas
fases criticas da cultura, que é o estabelecimento da cultura e no estádio
reprodutivo, período este último que coincide com as temperaturas climáticas mais
elevadas. Os danos causados pelo pulgão podem ser diretos ou indiretos, diretos
porque sugam
a seiva deixando as plantas debilitadas e impedindo o
desenvolvimento desta, já os indiretos é a transmissão de viroses, como o VNAC
(Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada). Para o controle na primeira fase, ou seja,
logo após a emergência até o perfilhamento recomenda-se o tratamento de
sementes com o inseticida β – cyfluthrin + Imidacloprid (Connect), ou pode-se
efetuar a aplicação foliar de inseticida quando a incidência for de 10 pulgões por
perfilho, mas esse número é considerado um pouco elevado, tendo em vista que
estes insetos possam disseminar doenças, como por exemplo, viroses. O ataque na
fase reprodutiva ocorre na espiga, por isso recomenda-se que quando o número de
pulgões por espiga chegue a 10 se efetue o controle, este deve ser feito via
aplicação de inseticida (Tabela 3.2). Na maioria dos casos recomenda-se que
quando o produtor efetuar a ultima aplicação de fungicida já aplique um inseticida
junto para que seu residual fique atuando na planta, evitando assim ter que efetuar
uma nova aplicação para o controle de pulgões.
O ataque de percevejos ocorre desde o emborrachamento até o inicio do
estádio de maturação, quando este ocorre no colmo, causa o branqueamento da
espiga (Figura 3.8), por isso deve ser efetuado o controle quando este atingir 10
insetos por metro quadrado (Gassen 2002), tendo cuidado especial no estádio de
emborrachamento, quando os danos são maiores.
22
Figura 3.8 – Danos causado pelo ataque de percevejo durante o estádio de
emborrachamento. (Fonte: Cooplantio)
A incidência de lagartas ocorre no final do ciclo da cultura, período em que as
temperaturas começam a se elevar (18-22°C), por isso recomenda-se que quando
for efetuada a ultima aplicação de fungicida, aplique-se juntamente um inseticida
preventivo (ver tabela 3.2), para evitar uma reentrada na lavoura.
Tabela 3.2 – Produtos recomendados para controle de pragas do trigo.
Principio ativo
Nome
Alvo
β – cyfluthrin +
comercial
Connect
Pulgão
500 ml/ha
Engeo Pleno
Percevejo
Pulgão
750 ml/ha
150 ml/ha
Tamarom
Percevejo
Pulgão
150 ml/ha
200 ml/ha
Percevejo
200 ml/ha
Lagarta
Lagarta
300 ml/ha
30ml/ha
Imidacloprid
Thiamethoxan +
Lambidacyhalothrin
Methamidophos
Triflumuron
4. CONCLUSÃO
Certero
Dose(p.c.)
23
O estágio proporcionou para mim uma formação profissional e pessoal, pois
durante este período pude vivenciar muitas coisas que até então só havia visto no
campus e em viagens de estudo, além de muitas coisas que foram totalmente
novas. Este tempo que passei fora do Instituto Federal Farroupilha possibilitou
também para a minha formação pessoal, pois a cada dia convivíamos com pessoas
de diferentes níveis culturais, ponto de vistas e princípios.
A convivência com o Grupo da Cotriel também contribuiu muito para a minha
formação, pois pude ter uma experiência muito grande de trabalho em equipe, já que
esta é formada por um grupo de pessoas que além de um grupo de profissionais são
um grupo de amigos.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
24
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB, 2006. Disponível
em: www.conab.gov.br.
DALBOSCO, M. et al. Efeito do vírus do mosaico do trigo sobre o rendimento
de trigo e triricale. Fitopatologia Brasileira v.27, n.1, p. 053-057, 2002(a).
DALLAGNOL, L.J. et al. Influência das doenças foliares no rendimento de
grãos na cultura do trigo. Revista da FZVA, Uruguaiana, v.13, n.2, p.20-27, 2006.
DEL PONTE, E.M. et al. Giberela do trigo – aspectos epidemiológicos e
modelos de previsão. Fitopatologia Brasileira, v.29, p.587-605, 2004.
FLOSS, E.L. Fisiologia das plantas cultivadas. Passo Fundo: Editora UPF,
2006. 751p.
GASSEN, D. Danos de percevejos em trigo, Informativos Cooplantio , 2002.
Disponível em: www.cooplantio.com.br/informativos
GOULART, A.C.P. Controle do oídio e da ferrugem da folha pelo tratamento de
sementes de trigo com fungicidas. Fitopatologia Brasileira, v.23, p.248, 1998
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE, 2006.
Disponível em: www.ibge.gov.br.
REIS, E.M. Doenças do trigo III: Gigerela. 2a ed. São Paulo. Revista e
Ampliada. 1988a.
REIS, E.M. et al. Efeitos de práticas culturais na severidade de manchas
foliares do trigo e sua relação com a incidência de fungos patogênicos na semente
colhida. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.22, n.3, p.407-412, 1997.
ROMAN, E.S. et al. Resistência de azevém (Lolium multiflorum) ao herbicida
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glyphosate. Planta Daninha, Viçosa – MG, v.22,n.2,p.301-306, 2004.
ROSSI, R.M.; NEVES, M.F. Estratégias para o trigo no Brasil. PENSA/
UNIEMP, São Paulo. Editora Atlas, 2004. 224 p.
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CANCIAN, Bruno. Cultura do trigo. Júlio de Castilhos: [s.n.]