Sessão de lançamento do livro “Ilídio Pinho, Uma Vida. O Homem e a Utilidade Pública”. 10 de Setembro de 2015 Intervenção de José Manuel Mendonça Exmo. Senhor Primeiro Ministro Magnífico Reitor da Universidade de Aveiro Exmo. Sr. Dr. Horta Osório Estimado amigo, Eng.º Ilídio Pinho Meus senhores e minhas senhoras Caros amigos Cabe-me a responsabilidade de vos apresentar o livro: “Ilídio Pinho, Uma Vida. O Homem e a Utilidade Pública”. E é com enorme prazer que o faço. Esta apresentação, que se exige seja breve pela natural limitação de tempo, é fundamental para dissipar qualquer ideia mais precipitada e simplista sobre o seu conteúdo. Assim, vou falar-vos sobre o livro e sobre uma história que merece ser contada, para que outras intervenções, bem mais qualificadas do que a minha, deixem testemunho da singular complexidade do seu personagem central, Ilídio Pinho, e do valor excepcional que, num percurso único, criou para Portugal. É claro que, como outros, tem fotografias, datas e protagonistas que marcaram uma época, uma região e o próprio país, mas este livro oferece mais, muito mais. É o que espero ser capaz de demonstrar, nestes dez minutos em que terei o privilégio da vossa atenção. O primeiro aspecto a relevar é que este livro é um livro diferente. E é diferente em muitos aspectos. Em primeiro lugar, porque não é uma autobiografia, não é uma coletânea de memórias, não é um retrato de uma época e também não é um trabalho académico para ensinar jovens universitários. Porém, não sendo nenhuma destas coisas é-o cada uma delas de per se. Assim, podemos lê-lo na perspectiva que mais nos interessar, 1 sendo que as restantes ajudarão a melhor compreender aquela que escolhermos. É um livro diferente, também, pela forma como foi sendo construído, numa viagem longa, de descoberta permanente, sem um plano prévio. A ideia inicial era, de facto, escrever um livro sobre um empresário e uma empresa, a Colep. Era escrever um livro com material e casos de estudo que pudessem ser úteis no ensino do empreendedorismo. Um livro em português, sobre uma empresa portuguesa, criada por um empresário português. Mas essa ideia inicial acabou por evoluir, por se alargar, e o livro passou a acolher toda uma vastíssima intervenção empresarial, todas as construções de um serial entrepreneur verdadeiramente excepcional. Alargado o âmbito, o objetivo permanecia claro: abordar aspetos importantes e de valia para o ensino do empreendedorismo de base tecnológica - estratégia, operações, tecnologia, inovação, liderança - a partir de um caso português. Porém, ao olhar para o empreendedor, as múltiplas facetas do seu carácter e os aspetos pessoais, a família e a escola, não podiam ser ignorados. À medida que se avançava na escrita, ia ficando claro que o homem explicava o empreendedor, mas não conseguia respirar sem ele. Os dois misturavam-se, fundiam-se num único Ilídio. Tornou-se evidente que a história do homem e a história do empresário nunca poderiam ser contadas de forma separada. Fazê-lo, seria perder a essência de ambas. Um terceiro aspeto distintivo, é que o livro retrata um empreendedor que não o foi só nas suas empresas. Foi também empreendedor ao serviço da causa pública, como dirigente associativo, como autarca e como benemérito. E ofereceu ainda a sua capacidade e dinamismo à academia, através de diversos cargos desempenhados na universidade, e ao Estado, entre outros no ICEP, como representante da indústria nacional, e no Conselho das Ordens Honoríficas. Na sua vertigem de atividade dispersiva, assumia, aquando do acidente que vitimou o filho, Ilídio Pedro, mais de 50 cargos de responsabilidade empresarial e de utilidade pública. Profundamente humanista, criou uma Fundação dedicada à Ciência, em memória do filho precocemente perdido. Essa Fundação, a Fundação Ilídio Pinho, cuja missão é “a ciência ao serviço do desenvolvimento e da humanização”, não só passou a acolher a 2 iniciativa do empreendedor como se tornou na sua inspiração e na sua voz. Tudo isto é contado no livro. Finalmente, este é um livro com muitos autores. Foram inúmeros os contributos, os testemunhos que permitiram tecer uma história rica de tantas histórias. As conversas sem fim com o Eng.º Ilídio Pinho, com a sua família, com colaboradores e ex-colaboradores e ainda com inúmeras personalidades que constroem uma impressionante rede de relações, trouxeram um sem número de fragmentos, pequenas observações, episódios que tinham passado quase despercebidos, mas que eram afinal factos marcantes que só mais tarde se entendeu quão determinantes terão sido. Ao decidir-se contar a história na terceira pessoa, ficou cometida a este vosso amigo uma enorme responsabilidade: a de urdir a complexa narrativa por forma a permitir ao leitor conquistar a complexidade do conteúdo, interiorizando essa coisa verdadeiramente única que era ter três ou quatro perspectivas, três ou quatro livros num só. Foi procurando o melhor de dois mundos - com uma linha temporal em fundo e organizando os temas em função das diferentes fases da vida do empreendedor e das suas empresas - que nos afoitámos na construção de uma história única. Talvez seja isto que releve o meu pouco merecimento para ser escolhido como único autor. Quanto ao estilo, quem conhece de perto o Eng.º Ilídio Pinho não estranhará o rigor e a objectividade com que esta história é contada. Nem ficará surpreendido com a crueza de alguns dos relatos, intransigentes com a verdade e de forte convicção. Para além do relato dos factos, o livro procura retratar o pensamento e a ação do homem e do empresário. Os que com ele privam de perto conhecem bem as suas frases lapidares, as suas afirmações de forte convicção. Com essas “máximas” pretende sublinhar o que verdadeiramente acha importante, quer passar o que a experiência lhe ensinou, recomendando com força, no imperativo. Ao longo do livro, o leitor é transportado num texto pontuado com essas frases de sabedoria, que o seu autor achou por bem chamar “convicções de uma vida”. 3 São centenas as afirmações que compõem este ideário. Para vos deixar uma pequena ideia da sua gênese e do seu propósito, escolhi apenas uma meia dúzia. Da educação espartana que Ilídio e os irmãos tiveram na oficina do pai emerge que: “O sentido de utilidade e o combate ao desperdício são pedras basilares da criação de riqueza”. Da lição de pragmatismo, que ainda muito jovem, recebeu de um diretor da Alu Suisse percebe, numa centelha de inspiração que: “Um problema existe, ataca-se e resolve-se”. A inquietude e ambição do empreendedor que construía o seu projeto de forma imparável expressam-se em: “A velocidade é uma estratégia”. Uma noção clara da criação de valor levou-o a defender que: “O empreendedor é o visionário criador. O capitalista é o seguidor.” E o seu humanismo levou-o praticar o que afirmava em: “As empresas são catedrais profissionais onde, socialmente, todos devem ser tratados por igual”. A última escolha recai sobre a frase que mostra que aprendeu rapidamente a importância da autonomia, elegendo-a como paradigma estratégico: “A autonomia é um imperativo no just-now, just-in-time para o win-win”. No vigésimo primeiro capítulo, fecha-se a história do empresário e das suas empresas com uma reflexão, uma elaboração aprofundada sobre os conceitos mais marcantes do seu trajeto empresarial, conceitos por ele experimentados muitos anos antes de se tornarem conhecidos internacionalmente pela pena dos gurus da gestão. A visão do empreendedor como estratégia empresarial, a construção de uma arquitetura de relações, a empresa como Catedral Profissional, a autonomia como paradigma estratégico, a invenção de um oceano azul, a inovação organizacional e o alargamento e integração das cadeias de valor são conceitos poderosíssimos, que Ilídio aplicou intuitivamente mas de forma sistemática, desde o início da Colep e com a eficácia que se conhece. A teoria de suporte tinha-a já conceptualizado, através das “máximas” que referi, verdadeiros pilares de um edifício teórico de que a construção do Grupo Colep foi uma impressionante aplicação prática. Estas reflexões deixaram claro um facto incontornável: o projeto Colep, primeira e construção maior de Ilídio, é uma evidência de que o seu criador foi um homem à frente do seu tempo. 4 A faceta humanista e o sentido de utilidade pública, continuamente presentes no percurso do empreendedor, vieram mesmo a transformar-se, com a venda da Colep, na quinta essência da sua missão. Assim, os capítulos da parte final do livro, em especial aquele que é dedicado à Fundação, abordam este seu novo fôlego de dinamismo criador. Dando corpo à sua afirmação de que “Um empresário nunca se reforma”, o livro termina com as reflexões, o pensamento de Ilídio e a sua visão e propostas de linhas de estratégia para o futuro do país. Esta preocupação é algo que o sentido patriótico de Ilídio não abandona nunca e daí o seu marcado sentido patriótico de utilidade pública. O livro acolhe também, qual anexo valioso, os testemunhos sobre o homem, o cidadão e o empresário, de muitos dos que aqui estão e que com ele conviveram, defendendo causas e o bem público. Nesta voz forte, é unânime o reconhecimento da excepcional história que aqui é contada. Foi essa excepcionalidade, no conhecimento e no valor para o ensino do empreendedorismo que, para além da forte relação de amizade com o Eng.º Ilídio Pinho, me seduziu para este projeto, levando-me primeiro a aceitar o desafio e depois a persistir numa empreitada longa, partilhada com todos quantos ofereceram o seu valioso contributo. Estou certo que todos concordarão que o enriquecimento de que beneficiámos e o orgulho por ter podido contribuir para este legado compensam largamente o esforço. No meu caso, pelo privilégio que tive de tanto aprender neste projeto, não me arrependo nem por um momento da decisão que tomei. José Manuel Mendonça, 10 de Setembro de 2015 5