Capítulo 1
Alice entra na balada eletrônica. Um pouco zonza. Com um chiado
nos ouvidos. Tendo de ajustar o olhar, os movimentos e como
manifesta as emoções. Era de se esperar... Trata-se de uma bela
festa. Um galpão gigante, de pé-direito alto; híbrido de
destruição e pop. A luz ambiente é negra. Há uma frota de globos
espelhados pendurados no teto curvo, que lembra o salão de um
castelo mal-assombrado. Pelas paredes descascadas escorrem formas
fantasmagóricas moldadas em fios de cobre. Pelo galpão, alguns
focos estroboscópicos pendurados em torres de alumínio como as que
ficam nos palcos de show de rock. Neblina de gelo-seco. Placas de
sinalização eletrônica indicando os dois banheiros, como se sobe
para o lounge e, principalmente, advertindo onde é uma porta de
aço escovado que deve pesar uma tonelada e onde se lê “Acesso
Restrito”. Ninguém poderá dizer que não foi avisado!
Telas planas de cristal líquido de muitas polegadas fazem as
paredes vomitarem imagens saturadas e sem áudio. Imagens rápidas.
Trêmulas. Imagens sob o ponto de vista de skatista. De condutor
de metrô. De modelo em passarela. De piloto de corrida. De fuga
de explosão de granada. De fuga de polícia. De cateter. De câmera
de endoscopia. De segurança de fronteira. E closes de cabeças.
Cabeças pulantes exibem nas telas seus 15 gigabytes de fama. Tem
cabeça jovem. Cabeça enrugada. Careca. Cabeluda. De pele negra e
dentes brancos. Indiana com barba. Chinesa de brinco de pingente.
Americano com boina de Che Guevara. De cubano com boné de
Harvard. De árabe com turbante. De judeu com quipá. De mexicana
com trança. De mameluca sem dente. De bugra. De mulato piscando.
De australiana. De índio boliviano. De piloto automático. De
atleta inteligente. De modelo burra. De atleta burro. De modelo
inteligente. De cabeça tramando guerra. De cabeça exigindo paz.
De pescoço sem cabeça. Cabeça colorida. Cabeça em preto e branco.
Cabeça em raio X. Cabeça partida ao meio. Cabeça engessada.
Cabeça nascendo. Cabeça dentro de caixão. De caveira. De
dinossauro. De passarinho. De máquina... Caixas de som espalham
para tudo quanto é canto música pop com mixagem eletrônica para
dançar. A chegada de Alice é brindada com o grito de guerra do
rei do pop — um caprichado remix com voz destorcida e um coro de
gemidos metálicos — avisando que está mais do que na hora de
começar. Cabeças e corpos se sacodem na pista xadrez, iluminada
por baixo e sustentável, que transforma em energia elétrica os
pulos animados dos dancers.
Uma atenta dupla de Boots, verdadeiros homens-muro — um com
cara de árabe e outro negro, que leva o maior jeito de ex-jogador
de basquete norte-americano — circula pela festa deixando claro
que estão atentos a tudo e mais um pouco. Eles têm anéis em quase
todos os dedos, seguram rádios de comunicação e nas camisetas
pretas, gravado em prata, seus possíveis codinomes: SHIFT e DEL.
Até que Alice não demorou a se enquadrar. Agora, ela quer se
integrar. Para isso, nada melhor do que se jogar na pista e cair
na dança. Meio tribal, meio robótica. Ainda desconectada do som,
tentando perder o controle sobre o próprio corpo e fingindo
ignorar os que dançam à sua volta. Aos poucos, ela vai liberando
os comandos e deixa que os músculos de seu corpo magro encontrem
o ritmo da batida eletrônica e a conectem aos outros garotos e
garotas na pista.
Uma vez conectada, é impossível Alice ficar indiferente ao
garotão que se sacode perto dela com duas asas em tamanho natural
tatuadas nas costas nuas, cabelo encapetado e impecáveis gomos
abdominais. Garoto com braços circenses. Graça de bailarino.
Virilidade de peão de boiada. Destreza de bicho selvagem. Argolas
de ouro nas duas orelhas. E a estranha leveza de quem parece
flutuar. Alice quer dançar com o garoto. Só que o garoto parece
mais interessado em continuar dançando com seu próprio umbigo
tatuado com flor de lótus.
— Metido!
Claro que o garoto não responde. Nem deve ter escutado. Ainda
que tivesse escutado, não teria respondido. E se respondesse,
seria tarde. Alice já vai longe em direção a uma das ilhotas
espalhadas pelo galpão, onde ficam os bares. A pista ainda está
relativamente vazia. Fácil de transitar. Assim que aporta na
ilhota, Alice entrega seu card a um dos três garçons. Mais um
bando de garotões sarados! Isso aqui tá parecendo a Fashion Week!
O que vem atender Alice é loiro, alto e tem os cabelos bem curtos.
Na camiseta preta se lê a palavra “Servidor”.
O Servidor passa o card de Alice pelo sensor do computador
dentro do balcão e confirma que ele está intacto.
— Vai querer sua e-dose-free agora?
Antes de responder, Alice confere o anjo encapetado na pista
e, ao que parece, muda de ideia.
— Talvez daqui a pouco.
Depois de conferir o ambíguo objeto do interesse e do
desagrado de Alice, o Servidor picha um sorriso nos lábios.
— Tá precisando hidratar a autoestima, hein, gata?
— Não entendi.
Claro que Alice entendeu. O Servidor sabe disso...
— Qualquer coisa, chama!
... e vai atender ao chamado de um garoto oriental que
aterrissou do outro lado do balcão.
— Intrometido!
Mesmo tendo protestado com o Servidor, Alice resolve ficar por
ali, ancorada no balcão, enquanto se recupera de seu primeiro
fracasso na noite.
— ... em... vnda... à... rde... soc...l.
Alice faz cara de quem não entendeu. A garota que acaba de chegar
se aproxima ainda mais, para repetir o que acaba de dizer.
— Bem-vinda à rede social do anjo caído!
Tem ironia demais no jeito como a garota fala. Seja lá qual
for a rede social a qual ela se refere, Alice tem certeza de que
não tem nada a ver com isso.
— Tá falando comigo?
— O que você acha?
— O que você quer?
Trata-se de uma garota pequena, linda, com traços finos de
boneca de louça, pele quase transparente, com duas tranças negras
que viraram coques no alto da cabeça e um par de olhos
naturalmente arregalados e com cílios grandes e grossos. Nem com
os olhos pintados com lápis preto ou a tentativa do batom negro
de aumentar os lábios... Nada disso dá ao estranho rosto algum
indício de expressão. Em vez de responder à pergunta de Alice, a
garota se aproxima ainda mais e tenta continuar de onde tinha
parado.
— Pretensiosa você, hein?
— Dá pra não chegar tão perto?
O tom das perguntas e respostas... Ou melhor, o tom das
perguntas — afinal, até agora ninguém respondeu nada! —, não
parece um papo amistoso de duas garotas em uma festa. Lembra
mais duas gatas na porta dos fundos de um restaurante japonês,
prontas para disputar o esqueleto de salmão que o sushiman acaba
de jogar no lixo, ainda com considerável quantidade de carne
rosada.
— Mal chegou e já quer ficar com o melhor da festa...
Para que não fique nenhuma dúvida, a garota arremessa o queixo
em direção ao garotão que desdenhou Alice.
— ... eu também já tentei.
— Tentou o quê?
— Se liga! Eu vi você toda fashion querendo sambar no mesmo
tango que o João.
Ah! João é o nome do garoto! Talvez uma aliança improvisada
com a garota grudenta possa ajudar.
— Alice.
— Mina.
O fato de Mina estar usando uma jaqueta preta totalmente
fechada faz parecer que se trata apenas de uma estranha cabeça
flutuando no ar sobre um pescoço magro e comprido.
— Você tá a fim desse João, Mina?
— Tô a fim de me divertir.
— Até que se divertir com ele não seria nada mau.
— Não mesmo: moreno encaracolado de olhos azuis... Calça preta
justa... E ainda com esse corpão! Isso tá cada vez mais difícil
no mercado hétero.
Pronto! Mesmo sendo antagonistas em relação ao garotão
exibido, as gatas já acharam uma conexão entre as suas redes e
resolveram sociabilizar, o que não quer dizer socializar! Mina
resolve ser didática:
— Eu já rastreei outros caras que me agradam. Se eu fosse
você, faria o mesmo.
— Que bom que você escolheu ser outra.
O Servidor volta. A chegada de Mina o atraiu.
— Vai querer sua e-dose free agora?
Mina lamenta com o Servidor...
— Já usei, infelizmente!
... e quase implora para Alice.
— Não quer me liberar a sua e-dose free, não? Você não tem a
menor cara de quem gosta desse tipo de aditivo...
Sem saber se é um elogio ou uma crítica, Alice sorri.
— Por enquanto, não.
E Mina responde ao Servidor...
— Então, não.
— E você, tem certeza que não quer nada?
Para responder, Alice só sacode a cabeça. O Servidor balança
os ombros, se vira de costas e vai atender um barba ruiva
qualquer.
— Parece que o Servidor queria que você o quisesse.
— Eu não caio nesse papinho de casting de modelo, não. E tem a
advertência...
— Qual advertência?
— Você não viu, antes de entrar?
— Não vá me dizer que você levou aquilo a sério, Alice?
— E não é pra levar?
— Claro que não.
— Claro que sim.
— Aquela baboseira é só para criar clima. Eu não gastei essa
grana toda pra entrar aqui e ter a minha liberdade vigiada.
Alice não tem tempo de dizer nada. Um garoto oriental
eletrizado começa a dançar em frente a ela e Mina. Alto. Cabelos
espetados. E um gosto um tanto quanto chocante. Calça listrada
folgada. Duas camisetas de cores fortes (verde e cor de abóbora)
sobrepostas. Óculos brancos enormes e estilosos. Tênis verdes
cítricos e com as solas de borracha brancas.
— Que japonês pilhado.
— Tá ligado no 220. Mas é coreano.
— Japonês.
— Coreano. Japonês é mais tímido e menor.
— E os japoneses que jogam basquete?
— Tô dizendo de uma maneira geral. Esse cara é coreano... E do
norte.
— Tá louca? Esse cara não é coreano nem japonês. Tenho certeza
que é chinês.
— Chinês pode ser. Tem a pele mais clara... E é maior do que
um japonês.
— De onde é que você tirou que japonês é menor que chinês?
— Do Google.
— Por que você foi pesquisar isso no Google?
— Tá perguntando demais.
— Esse cara faz parte da sua listinha, Mina?
— Claro que não.
— Nem da minha. Se bem que ele é interessante...
— Acho melhor nós voltarmos pra pista.
— Vai indo que eu não vou.
Sem se importar se Alice está brincando ou cortando-a de fato,
Mina repete a sacudida de ombros do garçom e sai dançando em
direção à pista, já um pouco mais cheia. Por dentro do vidro da
lente, o garoto oriental pisca o olho esquerdo para Alice; com o
direito, rastreia o caminho por onde foi Mina e vai em direção a
ela.
Ainda no vácuo da saída do oriental eletrizado, o barba ruiva
que tinha chegado ao bar encosta perto de Alice. Ao se lembrar do
outro barba ruiva da noite — aquele do acidente! — ela congela. O
pânico dura pouco. Em nada o barba ruiva que está parado no
balcão lembra o barbicha ruiva que ela conheceu no posto...
Enquanto o barbicha ruiva saiu de uma pacata cidade de um
interior qualquer e se parece com um filhote de leão, o barba
ruiva leva mais jeito para raposa e parece ter saído de alguma
próspera capital do leste europeu. Além disso, o barba ruiva é um
pouco mais velho, mais alto, mais charmoso, está bem mais
elegante — com uma polo cinza-metálico e calças pretas de
alfaiataria de um tecido que deve ter custado uma fortuna — ... e
também parece ser bem mais arrogante. Ele tem um pássaro de fogo
de ouro pendurado no pescoço, quase cafona, mas, no contexto,
estranhamente elegante.
— Ivan quer dançar com...
Mesmo com o sotaque gringo, a maneira como Ivan constrói a
frase não tem nada dos típicos erros de quem conhece pouco um
idioma. É charme. Aparentemente, Alice gosta tanto do charme
quanto da arrogância.
— Alice.
— Ivan quer dançar com Alice.
A garota resolve entrar no que entende como brincadeira.
— Alice não quer dançar com Ivan.
Depois de arrumar os cabelos para trás com as mãos de dedos
compridos, Ivan corrige Alice; que está ficando intrigada com um
detalhe...
— Quer, sim. Só não sabe ainda.
... a tatuagem no antebraço bronzeado de Ivan: uma caveira
estilizada com a palavra NEZHIT escrita ao lado. O que intriga
Alice é que essa tatuagem destoa da aparente elegância do rapaz.
— Quem sabe, Ivan ajude Alice a saber.
Ivan não ignora que está sendo vasculhado; e parece não se
incomodar com isso.
— Vamos começar parando de nos tratar como esquimós.
— É um bom começo.
— Saiba que desde que você colocou os pés na pista, Alice, I’m
watching you.
Que vergonha! Alice não entende o que acaba de ouvir. Se tivesse
levado as aulas de inglês mais a sério... Essa frase lembra a Alice
alguma situação, algum fato... Mas o quê? E a tatuagem?
— ... e-está dormindo, garota?
Claro que Ivan deve ter dito alguma coisa que Alice não ouviu,
tão intrigada estava com seus pensamentos.
— Desculpa, Ivan. Eu me distraí.
Tomando como descaso a desatenção momentânea de Alice, Ivan se
aborrece; o que para o gênio dele significaria ficar furioso,
vomitar dois palavrões no próprio idioma e virar as costas. Mas
alguma coisa na garota à sua frente faz Ivan reconsiderar,
respirar fundo e engolir a impetuosidade.
— Eu tinha perguntado o que traz uma garota como você a um
lugar como este.
Mesmo vasculhando as pastas de seu cérebro para decifrar os
dois enigmas que se instalaram, Alice se mantém atenta à
conversa...
— O que vem a ser exatamente uma garota como eu?
... um videoclipe...
— Então, são elogios o que a Cleópatra quer?
... dos anos oitenta...
— Cleópatra? Ah... Por causa da franja...
— Não só.
— Por que mais?
... aquele gato do Sting cantando ainda com o The Police...
— A maneira petulante como você vira o pescoço para olhar para
os lados...
— Petulante? Pensei que fosse um elogio.
— ... parece uma pintura egípcia.
... o final do refrão da música Every breath you take...
— Ufa!
O Ufa! desconectado do alívio de Alice por ter se lembrado que
a frase em inglês de Ivan quer dizer que ele estava ligado nela
(seguindo/acompanhando/vigiando Alice) desde que a garota entrou
na festa, soa para ele totalmente contextualizado. E Ivan se
empolga.
— Para mim, petulante é um elogio. Bom saber que você prefere
ser bem tratada.
— ?
Quem faz a pergunta são só as sobrancelhas de Alice. E Ivan...
— A maioria dessas garotas que a gente encontra na noite é bem
estranha.
— !
Alice continua com mais um enigma a desvendar: a tatuagem.
— A menina Alice, ao que parece, pretende passar a noite
pendurada neste balcão?
O tom desconfiado de Ivan faz Alice ser rápida...
— Não tem nada a ver com bebida e nem com drogas!
A resposta deixa Ivan mais tranquilo e mais empolgado!
— Você está ficando perfeitinha demais. Isso é perigoso.
— Perigoso?
— Acho que eu estou indo muito rápido.
Perceber o esforço que o gringo faz para dizer “estou” e não
“tô” faz Alice também se sentir em perigo... Mas que símbolo é
esse na tatuagem?
— O que quer a Alice?
— Você não disse que não íamos falar mais como esquimós?
É uma brincadeira. Mas Ivan faz questão de se explicar.
— Só que a minha pergunta está mais para o português de
Portugal do que para o jeito como os esquimós falam.
— Você aprendeu a falar português em Portugal?
Ivan não gosta muito da pergunta de Alice, mas responde.
— Com portugueses.
— Você é croata?
Parece que a conversa caminha para uma direção que não
interessa para Ivan.
— Russo.
Enquanto Ivan responde, o garoto de asas se aproxima do
balcão. Ivan não gosta da aproximação. Se ele estava mesmo
vigiando Alice — e Ivan estava! — sabe que a garota tentou se
aproximar de João. O sorriso de João deixa claro que ele escolheu
ignorar que Alice está acompanhada.
— Desistiu de mim, gata?
Ivan chega mais perto de Alice. Sem saber muito bem o que
fazer, Alice...
— Esse é o João. João, esse é o Ivan.
João resolve se dar ao luxo de vasculhar Ivan. Ivan fulmina João.
— Você tá com esse cara, Alice?
Como ele descobriu meu nome? Mina! Quem responde é Ivan...
— Está.
— Tá, Alice?
A pergunta de João meio chorosa, meio pedinte... Mesmo ele
tendo comido as duas primeiras letras de “está”, faz Alice
entender que é com ele que ela quer ficar. Mas ela também já
entendeu que o humor de Ivan não é dos mais confiáveis. E agora?
Ivan reforça.
— Você entendeu, moleque? Ela está comigo!
Ivan é um pouco mais alto e mais forte. Isso parece não
incomodar João.
— Por enquanto, cara, o que eu entendi é que você tá com ela.
— Mas é muito metido o garoto!
Ao se lembrar que essa foi também a primeira impressão que
João lhe causou, Alice acha graça. Mas a tensão em frente a ela
não tem nada de engraçada. E João...
— Vem dançar comigo, vai? Nunca te pedi nada.
Ivan se coloca entre João e Alice.
— O garoto não entendeu que Alice já está acompanhada?
— Deixa a menina escolher!
Caprichando no desdém, Ivan confere João.
— Não sei como deixam entrar aqui tipos como você.
João gosta da provocação.
— “Tipos como eu”... Como?
— Parece mais um... entregador de pizza. Como foi que você
chegou até aqui: de skate?
A ironia deixa João mais animado. Ele não parece se sentir
ameaçado.
— Quem sabe? E você, que deve ter vindo de helicóptero, tá
vendo o skatista entregador de pizza tirar o brinquedinho da sua
mão cheia de anéis.
Alice se ofende antes que Ivan.
— Brinquedinho?! Vê lá como fala, cara!
João sorri para Alice.
—
Desculpa.
É brincadeira.
Só tô
te
livrando
desse
playboyzinho russo com panca de milionário engomado.
— Se me chamar de playboyzinho de novo, eu parto a sua cara!
— Uma vez só já foi o suficiente pra te desengomar.
O garoto russo está se controlando para não fazer o que
ameaçou.
Depois
de
respirar
fundo
e
resmungar
algo
incompreensível, ele diz...
— Vem para o lounge comigo, Alice. Vamos dar um tempo lá, antes
que eu parta a cara desse brasileiro metido a favelado.
Agora é a vez de João investir...
— Vem dançar comigo, Alice. Mostra pra esse cretino que você
não tá à venda.
Chegou a hora de Alice fazer alguma coisa. E ela faz: sai
dançando, se afastando do olho do furacão, deixando o playboy e o
plebeu se entenderem — ou se desentenderem! — sozinhos e se
perdendo na pista.
Eles que se virem!
A pista está um pouco mais cheia. A música agrada Alice.
Dançar sozinha faz que ela se desfoque do que acaba de
acontecer... Mas por pouco tempo. Logo o Servidor que a atendeu
chega perto de Alice, sorrindo.
— Você esqueceu o seu card no balcão, gata.
Ainda com o mesmo sorriso, o Servidor se afasta. Só quando vai guardar o card é que Alice se
dá conta que tem alguma coisa nova escrita à mão nele. Tentando ser o mais discreta possível,
Alice coloca o card na luz e lê o que foi escrito, aparentemente, com batom vermelho: garoto
perigoso.
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Capítulo 1 Alice entra na balada eletrônica. Um pouco zonza