Claro que é censura Por Pedro Doria em 22/10/2013 na edição 769 Reproduzido do Globo, 15/10/2013; intertítulo do OI O nome é censura. Mais especificamente, censura prévia. É quando uma obra é avaliada antes de se tornar pública e um grupo tem o poder de decidir se ela pode ou não ser lida. Esta é a discussão que um grupo de artistas liderados por Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil nos propõe. É uma discussão legítima. No meio do caminho, aos artistas se juntou gente séria e para lá de respeitável, como o filósofo e colunista do Globo Francisco Bosco. Em uma democracia, podemos levantar qualquer discussão. Eles sugerem que seria legítimo censurar para que a intimidade de alguns seja preservada. Então vamos conversar, mergulhar na questão. Só o que eles não podem é reinventar a língua. Fingir que não é de censura que falamos. Nós, brasileiros, já pagamos um preço mais alto do que imaginamos por conta desta censura. Porque a censura a biografias no Brasil já é fato. Estão proibidas há alguns anos. Não por lei. Mas como juízes o suficiente já proibiram a circulação de livros assim, editores os evitam a não ser que as famílias se comprometam a não processar. Biografias são, quase sempre, caras de fazer e exigem um esforço grande demais. Não são apenas as editoras que as evitam. Jornalistas também. Escrevi dois livros de história. Não encararia uma biografia, ainda mais de personagem do século XX para cá. Uma biografia honesta, afinal, sempre mencionará passos que o biografado, ou seus herdeiros, prefeririam não tornar públicos. Alguns, mesmo assim, consentem. São a exceção. É evidente: esconder aquilo que nos envergonha é humano. Esconder o que pode afetar outros, também. (...)