Subsecretaria de Estudos e Pesquisa em Administração Pública Tema: Inovações na Gestão Pública Municipal da Cidade do Rio de Janeiro O Trabalho do Coordenador Pedagógico como fator contribuinte do processo de Resiliência dos Professores no Ambiente Escolar Por Different View Rio de Janeiro Outubro, 2007 EPÍGRAFE “... a Supervisão é uma atividade essencialmente cooperativa. Não basta que se preveja a articulação de ações. Isso de nada valerá se as pessoas a quem essas ações estão confiadas não se articularem também, porque é dividindo tarefas por todos e somando os esforços de cada um que se diminui o dispêndio de energias e se multiplica o resultado final. Esta é, acreditamos, a fórmula que viabiliza a prática efetiva da Supervisão em Educação.” (Boas apud Alves, 2006, p.70) 2 SÚMARIO Introdução ______________________________________________ 4 Capítulo I – Breve histórico da Supervisão Escolar _______________________ 6 1.1 A história da Supervisão __________________________________________ 6 1.3 A Legislação ____________________________________________________ 12 Capítulo II – O trabalho da Supervisão Escolar __________________________ 15 2.1 O trabalho de Gestão Escolar _______________________________________ 15 2.2 O trabalho do Supervisor Escolar____________________________________ 19 2.3 O trabalho do Professor ___________________________________________ 21 Capítulo III – Análise crítica do trabalho do Supervisor Escolar ____________ 23 3.1 O Supervisor Escolar enquanto mediador das relações interpessoais ________ 23 3.2 A Resiliência ___________________________________________________ 29 Conclusão _______________________________________________ 35 Referência Bibliográfica ____________________________________ 37 3 INTRODUÇÃO Ao observar as grandes mudanças ocorridas no cenário educacional ao longo do tempo, manifestou-se a necessidade de se aprofundar mais sobre a importância do processo educativo dentro da escola, não só em relação à educação continuada dos educandos, como também dos educadores. Muitas vezes a escola é subdividida em guetos, é o grupo da diretoria, o grupo de professores, o grupo de merendeiras etc. Geralmente, desencadeando uma dificuldade de se trabalhar em equipe. Dentro desse contexto a função do Supervisor é fazer o “religare”, que significa religar, dar suporte, orientar no sentido de dar uma nova visão de trabalhar o velho e o novo. O Supervisor não pode apenas ser aquele responsável por vigiar e criticar o trabalho do professor. E se tornar auxiliador é, muitas vezes, pensar no lado do professor, já que, ter idéias fora do ar condicionado não é tão fácil, principalmente num ambiente onde não se tem muita paz e que também não possui tantas referências bibliográficas. Mediante as mudanças educacionais o Supervisor precisa romper com paradigmas históricos e enfrentar o desafio da mudança. Afinal, a escola sofre acusações de ser um espaço hipotético, desconectado da realidade, pressupondo uma urgência em se trabalhar as necessidades que se apresentam no contexto escolar. Sendo assim, o principal papel do Supervisor Escolar é contribuir para a melhoria do processo educacional, levando em consideração a relação professorsupervisor, professor-gestor, professor-professor e professor-aluno. De acordo com a professora Nilda Alves: “... pressupondo que a relação de professores e alunos é a determinante do bom êxito do processo 4 pedagógico que o professor tem, nesse contesto, o papel de articulador fundamental, pretendíamos discutir o que cabia aos outros elementos dentro da escola – supervisores, orientadores e diretores – para que com sua ação pudessem contribuir para esse êxito.” (Alves, 2006, p.9) Não adianta um pensar e o outro executar é necessário que os dois pensem juntos. Em dupla, um fala o sonho, e um apresenta o desejo. E através do sonho do outro ocorre a oportunidade de se fazer uma projeção dos próprios. Além disso, o sonho faz a pessoa lutar e mantém vivos os projetos. Não adianta ter um discurso onde se fala em respeito ao outro, mas quando este não está na mesma fôrma, nos mesmos padrões suas concepções são consideradas de menos valor. E, na prática, muitas vezes, o professor precisa ser resiliente. No primeiro capítulo, foi feita uma análise histórica do trabalho do Supervisor Escolar*, desde o surgimento da profissão até os dias atuais. No segundo capítulo, buscou-se desenvolver uma análise da rotina escolar, levando em consideração os papéis dos atores escolares. E por fim, no terceiro capítulo, procurou-se refletir sobre a influência do papel do Supervisor Escolar em relação ao processo de resiliência do professor. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– * Neste trabalho será adotada a nomenclatura de Supervisor Escolar objetivando fazer referência a citação legal, não devendo ser esquecido que há ligação direta com o trabalho do Coordenador Pedagógico. 5 CAPÍTULO I – BREVE HISTÓRICO DA SUPERVISÃO ESCOLAR “Com a globalização dos negócios, o desenvolvimento tecnológico, o forte impacto da mudança e o intenso movimento pela qualidade e produtividade, surge uma eloqüente constatação na maioria das organizações: o grande diferencial, a principal vantagem competitiva das empresas decorre das pessoas que nelas trabalham.” (Chiavenato, 1999, 30) 1.1 A história da Supervisão A idéia de supervisão nasceu com o processo de industrialização, com o objetivo de servir como adestramento de técnicas para indústria e comércio, visando uma melhoria quantitativa e qualitativa da produção. Posteriormente se migrou para o campo dos esportes, da logística militar e da política educacional. Só depois se estendeu para outras instâncias sociais, porém o objetivo sempre foi lançar mão do supervisor enquanto responsável pelo cumprimento dos objetivos visando à obtenção de resultados satisfatórios. Quando migrou para o sistema educacional, foi em busca de um melhor desempenho das unidades escolares em suas tarefas educativas, ou seja, sempre tendo como objetivo básico a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Durante o século XVIII e o início do século XIX, a supervisão ocupou o espaço da inspeção, cujo trabalho focava-se na repressão, checagem o monitoramento de ações 6 (Lima apud Rangel, 2001). Somente em 1841, em Cincinnatti, surgiu a idéia de supervisão relacionada ao processo educacional, porém, ainda, até 1875 a visão principal estava voltada para a verificação das atividades docentes (Lima apud Rangel, 2001). No início do século XX, a supervisão buscou padrões de comportamento definidos e critérios de rendimento escolar, com vistas à eficiência do ensino, utilizando-se para isso, de modelos de aferição de rendimento escolar. Em 1925, já se percebia a influência das ciências do comportamento na supervisão, ressaltando-se a adoção de princípios democráticos nas instituições de ensino, tomando-se a figura do supervisor enquanto um líder democrático. Em 1930, a supervisão adquire o caráter de liderança e valorização de grupos na tomada de decisões, e, em 1960, volta-se para o currículo, com destaque para a pesquisa na busca de soluções de melhoria de ensino (Lima apud Alves, 2006). A partir de 1925, começou-se a perceber uma maior influência, na supervisão, das ciências comportamentais. Além disso, verificava-se uma grande tendência de se introduzir paradigmas democráticos nas organizações educacionais, entendendo-se o papel do supervisor como um líder democrático. Já em 1930, a supervisão passa a assumir um papel de liderança, onde se valorizava o alcance dos objetivos através de um esforço cooperativo. Começou-se também, a valorizar os processos grupais na tomada de decisões. Por fim, a partir de 1960, a ação supervisora voltou-se para o currículo, levandose em consideração a pesquisa como um lugar proeminente na busca de novas soluções para a melhoria da qualidade de ensino. (Id, 2006) 7 A supervisão, no Brasil, surgiu com a Reforma Francisco Campos, não mais sendo considerada por seu caráter de fiscalização, mas adotando a nova face de supervisão, sob o Decreto-Lei 18.890 de 18/04/1931. O trabalho de supervisão continuou, a partir da criação da Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (Cades), por meio do Decreto-Lei 34.638 de 14/11/1953, transformando-se numa moderna aliança entre Brasil e EUA, cuja finalidade era a melhoria da qualidade do ensino, utilizando-se para tanto o treinamento de recursos humanos, bem como fazendo a oferta aos inspetores de subsídios para “... a formação e a fundamentação de seu trabalho nas escolas, enfatizando-se sempre o caráter pedagógico de sua área.” (Lima apud Alves, 2006, p.71) A parceria do Brasil com os Estados Unidos, sob a proposta de desenvolvimento da educação como alavanca para a transformação social, se deu por meio de cursos oferecidos pelo Programa Americano-Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar (Pabaee), onde foi formada a primeira turma de supervisores escolares, aos moldes da educação americana que priorizava a atuação no Ensino Fundamental, com vistas à modernização do ensino e ao preparo do professor leigo. (Id, 2006) A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei 4.024 de 20/12/196, houve a renovação no campo da inspeção voltada para o Ensino Primário, onde se lê, no artigo 52, referências à formação de inspetores para este nível. O texto enfatiza o papel do curso normal na formação de professores, orientadores, supervisores e administradores escolares, bem como o desenvolvimento de técnicas relacionadas à educação de crianças. (Lei 4.024/61) A partir de então, neste período de nossa história, houve um processo de descentralização administrativa corroborado pela LDB de então, onde os Estados 8 passaram a ter a incumbência de organizar os serviços referentes ao Ensino Fundamental e Médio daquela época. Em seu estudo Romanelli observa que: “... o Brasil, nos documentos oficiais, era tratado como País em Desenvolvimento e a Educação nesse período se caracterizou pela integração do planejamento educacional no Plano Nacional de Desenvolvimento, tratada a educação como área prioritária e parte de estratégia de desenvolvimento global.” (Romanelli, 1984, p.197) Com isso, o Brasil do fim da década de 60 era visto como um País em desenvolvimento, portanto, neste momento, foi estabelecida a integração do planejamento educacional ao Plano Nacional de Desenvolvimento, por ser a educação tomada como prioridade para se atingir o desenvolvimento como um todo. Logo, visando à melhoria da qualidade do ensino se exigia do Supervisor uma formação em nível superior. Sendo assim, a presença dos especialistas no interior do sistema educacional, contribuiria cada vez mais para a divisão do trabalho no interior da escola. Para Saviani: “... como as demais habilitações educacionais criadas e oficialmente institucionalizadas na educação brasileira, a partir da regulamentação da lei 5540/68, a supervisão escolar passa a ter sua formação em cursos de graduação, sendo promovidos pelo Pabaee e Pamp. Isto é, fundamentada nos pressupostos da pedagogia tecnicista – que se apóia na neutralidade científica e se inspira nos 9 princípios da racionalidade, eficácia e produtividade do sistema. (Saviani, 1988, p.15) Sendo assim, em virtude das inúmeras mudanças ocorridas no país, depois de 1964, a supervisão escolar, agora função que exigia formação de nível superior, passou a ter o papel de controlar a qualidade do ensino ministrado. Seu perfil, sob este ângulo, promoveu, acentuou e reforçou, no interior da instituição de ensino, a divisão do trabalho. (Lima apud Alves, 2006) A partir daí, a supervisão foi tomada como a busca da eficiência em educar, a certeza da produtividade do trabalho docente e a garantia de uma assistência técnica que assegurasse a sua função de reprodutora de sociedade capitalista. Desenvolvendo-se, então, a visão funcionalista da supervisão, com ênfase em três etapas: o de como fazer sem se observar o fim, o de como se imaginou o controle da ação pedagógica docente como garantia da qualidade do ensino e a imposição da ideologia dominante, por meio de livros didáticos, métodos e técnicas de ensino. (Lima apud Alves, 2006) Apesar disso, a supervisão desenvolveu a função de encaminhar o trabalho pedagógico sob uma nova concepção, a de que a mesma pode usar a técnica, sem incorrer no tecnicismo. Por isso, a supervisão entra na década de 90, auxiliando na promoção e coordenação de trabalhos, nos quais, toda a comunidade esteja envolvida. (Id, 2006) A partir da implantação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e do desenvolvimento do Projeto Político Pedagógico construído por todas as escolas, que conta, também, com a participação da comunidade, o supervisor poderá tecer um olhar avaliativo sobre os PCNs, auxiliando melhor seus professores, e, por fim, participando, cooperando, integrando e flexibilizando seu trabalho, a fim de tornar-se um interlocutor de todas as faces da escola. (Ibid, 2006) 10 Na nova visão, onde a educação assume um caráter permanente, o objetivo de se atingir todos os homens, apenas poderia ser atingido por uma escola viva, na qual todos os setores da comunidade deveriam interagir, ressaltando o papel do supervisor enquanto mediador. Dessa forma, a supervisão escolar desenvolveu uma prática voltada para os aspectos técnicos e burocráticos do ensino, onde a coordenação e o controle seria uma estratégia essencial para assegurar o papel reprodutor da sociedade capitalista brasileira. “Confirmando essa tese, a formação do supervisor se dá voltada para o desenvolvimento de uma concepção de supervisão escolar funcionalista, concepção que percebe a escola de modo passivo, na qual qualquer mudança é vista como um desequilíbrio no estado homeostático, negando-se, portanto, o caráter dinâmico e evolutivo da instiuição-escola e da sociedade.” (Medeiros, 1985, p.24) Atualmente o supervisor escolar precisa compreender e interagir com os princípios que a escola elege para nortear a prática educativa, ou seja, sua cultura, no sentido de organizar toda a sua prática levando estas questões em consideração e procurando trabalhar no âmbito da legislação a fim de organizar sua prática pedagógica. Mediante isso, muitas modificações têm acontecido no nível da legislação, levadas por uma perspectiva política que modificou os parâmetros da intelectualização para a socialização da educação, resultando em falácias sobre a qualidade ruim do ensino. Além disso, essas concepções políticas começaram, também, a mudar paradigmas, pois acreditavam que os especialistas, ou seja, técnicos atrapalhavam o 11 desenvolvimentos da educação. Porém, o agir não muda simplesmente, é a visão sobre o trabalho que modifica algumas práticas. 1.3 A Legislação A leitura Legislação (LDB) é algo de extrema importância para a compreensão dos movimentos educacionais no Brasil. Porém, precisamos atentar para uma leitura que valorize a hermenêutica da lei, ou seja, a interpretação das entrelinhas. A leitura da lei deve ser feita à luz dos aspectos econômicos, históricos e culturais, levando-se em consideração a contextualização da situação do país, através de uma visão da LDB que transcende as questões educacionais. Dessa forma, as mudanças esperadas e significativas são decorrentes da forma como se vê e como se faz a educação em cada sala de aula. À luz da Lei a escola é concebida como espaço de síntese, com o papel de construção da democracia social e política, tendo como objetivos: promover o desenvolvimento das capacidades cognitivas, operativas e sociais dos alunos (processos mentais, estratégias de aprendizagem, competências do pensar, pensamento crítico), por meio dos conteúdos escolares; proporcionar as condições para o fortalecimento da subjetividade e da identidade cultural dos alunos, incluindo o desenvolvimento da criatividade, da sensibilidade e da imaginação; preparar para o trabalho e para a sociedade tecnológica e comunicacional, implicando preparação tecnológica (saber tomar decisões, fazer análises globalizantes, interpretar informações de toda natureza, ter atitude de pesquisa, saber trabalhar junto, etc.); formar para a cidadania crítica, isto é, formar um cidadão trabalhador capaz de interferir criticamente na realidade para transformá-la e não apenas formar para integrar o mercado de trabalho; e desenvolver a 12 formação para valores éticos, isto é, formação de qualidades morais, traços de caráter, atitudes, convicções humanistas e humanitárias. (Lei 9394/96) Visando estes objetivos, atualmente, pensa-se na educação do século XXI fundamentada em quatro pilares: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a conviver. Porém, o caminhar sobre essa visão da Lei e da educação, exigem um comprometimento de todos os atores do ambiente educacional, principalmente do Supervisor Escolar. De acordo com o Projeto de Lei nº 4.412 de 2001 (Do Sr. Cezar Schirmer), artigo 2º, que regulamenta a profissão de Supervisor Educacional e dá outras providências, ressalta que o Supervisor Educacional tem como objetivo de trabalho articular crítica e construtivamente o processo educacional, motivando a discussão coletiva a fim de garantir o ingresso, a permanência e o sucesso dos alunos, através de currículos que atendam às reais necessidades da clientela escolar, atuando no âmbito dos sistemas educacionais federal, estadual e municipal, em seus diferentes níveis e modalidades de ensino e em instituições públicas ou privadas. Segundo o artigo 4º são responsabilidades do Supervisor Educacional: coordenar o processo de construção coletiva e execução da Proposta Pedagógica, dos Planos de Estudo e dos Regimentos Escolares; investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o currículo em integração com outros profissionais da educação e integrantes da comunidade; supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula estabelecidos legalmente; velar o cumprimento do plano de trabalho dos docentes nos estabelecimentos de ensino; assegurar processo de avaliação da aprendizagem escolar e a recuperação dos alunos com menor rendimento, em colaboração com todos os segmentos da comunidade escolar, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino; promover atividades de estudo e pesquisa na área educacional, 13 estimulando o espírito de investigação e a criatividade dos profissionais da educação; emitir parecer concernente à Supervisão Educacional; acompanhar estágios no campo de Supervisão Educacional; planejar e coordenar atividades de atualização no campo educacional; propiciar condições para a formação permanente dos educadores em serviço; promover ações que objetivem a articulação dos educadores com as famílias e a comunidade, criando processos de integração com a escola; assessorar os sistemas educacionais e instituições públicas e privadas nos aspectos concernentes à ação pedagógica. A escola é uma das instituições sociais que necessita de constante ajuste à realidade, a fim de cumprir o seu papel na sociedade. E a realidade brasileira tem demonstrado que, apesar de profundas alterações na estrutura e no funcionamento das escolas, estas, na maioria das vezes, permanecem relegadas ao plano de concepções teóricas, com base em um ideal educacional, sem, contudo, atingir a renovação da ação educativa. Para que a escola, como instituição social, possa participar desse processo de desenvolvimento e transformação, necessita revisar e redefinir papéis até agora existentes, a fim de adaptar-se às novas exigências sociais, transformando a educação escolar em um dos instrumentos do desenvolvimento individual, social e econômico, colaborando, decididamente, para a construção da própria cidadania. 14 CAPÍTULO II – O TRABALHO DA SUPERVISÃO ESCOLAR “Os trabalhos escolares com atenção e olhar para o resgate de auto-estima visam proporcionar a compreensão e a valorização de alguns sentimentos como: amizade, amor, respeito, solidariedade, etc, que lhes facilite e auxilie o educando em sua caminhada.” (Lima apud Freitas, 2003, 118) 2.1 O trabalho de Gestão Escolar O mundo contemporâneo exige que pensemos, mas priva-nos freqüentemente das condições para pensar. E, muitas vezes, nas escolas a direção tem responsabilidade sobre esta situação, pois, devido a grande gama de trabalhos burocráticos exerce uma grande pressão sobre os funcionários em prol de determinadas atividades não levando, muitas vezes, em consideração a possibilidades de reflexões dos mesmos. A escola é, por excelência, o espaço do pensar, porém, estranhamente, num espaço em que tanto se fala da sociedade da informação e do conhecimento, a qual conota o triunfo do esforço mental sobre o físico, num tempo que se considera autoreflexivo, em que os educandos assumem cada vez mais uma postura autônoma, senhores de suas escolhas, capazes de usar as reflexões para alterarem questões da vida e processos de trabalho, não se estimula o pensamento ativo, tanto dos educadores como dos educandos. 15 Os atores escolares precisam entender que nem tudo está pensado. O possível, por representar um universo maior de opções, é mais rico que o real. Dessa forma, é o pensar que permite avaliar. É a lucidez das ações que pressupõe que elas sejam pensadas, mas se forem só pensadas nunca serão ações. É preciso agir e sentir porque o pensamento só é útil para quem não permanece exclusivamente no pensar e para aqueles que também conseguem pensar em equipe. “De fato, como toda instituição, as escolas buscam resultados, o que implica uma ação racional, estruturada e coordenada. Ao mesmo tempo, sendo uma atividade coletiva, não depende apenas das capacidades a responsabilidades individuais, mas de objetivos comuns e compartilhados, de meios e ações coordenadas dos agentes do processo.” (Libâneo, 2003, p.132) Refletir em como seria o perfil do diretor de uma escola que objetiva desenvolver-se não só no processo educacional, como na gestão de pessoas seria, por exemplo, necessário atentar para o seu trabalho em relação à área administrativa, de relacionamento interpessoal e pedagógica. Em relação ao processo administrativo pode-se verificar a necessidade em se desenvolver uma visão holística de mundo voltada para o futuro, que busque executar o trabalho educacional e o papel da escola na comunidade. Visando o desenvolvimento do relacionamento interpessoal este gestor precisa compreender a dinâmica de interação e comunicação entre as pessoas, buscando alcançar uma habilidade de se comunicar eficazmente, a fim de mobilizar a equipe escolar e a comunidade local para realizar processos de atuação colaborativa. 16 O diretor, igualmente precisa aprender a desenvolver o trabalho em equipe, valorizando a negociação e a resolução de conflitos, buscando sempre, dar um feedback construtivo ao trabalho dos outros, durante os processos de avaliação. Já, em relação à área pedagógica, este profissional precisa compreender os fundamentos e as bases da ação educacional, da relação entre as atividades instrucionais e seus resultados na aprendizagem e formação dos alunos. Necessita também, ter conhecimento sobre a organização do currículo e articulação entre seus componentes, mobilizando a equipe para a realização e promoção dos objetivos educacionais da escola. Visando alcançar seus objetivos com mais eficiência e eficácia o diretor precisa deixar de ser chefe e se tornar um líder capaz de inspirar os professores e mudar a escola. Um diretor capaz de exercer liderança educacional pode determinar a diferença entre uma escola estagnada e uma escola em movimento. Porém, esses gestores que atuam como professores de professores e agentes dinâmicos de mudança são difíceis de encontrar. Contudo, vale reforçar a idéia de que a liderança não é um dom, é uma habilidade que pode ser desenvolvida e exercitada diariamente. O diretor que almeja desenvolver a liderança precisa ir além do gerenciamento e colocar as pessoas em primeiro lugar, deve estar em contato constante com os docentes, construir um sonho juntamente com sua equipe, de modo que todos se sintam comprometidos com a visão. O diretor enquanto gestor, também precisa fazer com que sua equipe sinta que possui poder para realizar e transformar objetivos e vivências institucionais, saindo da falácia, inconformismo e comodismo. Um diretor que exerce a função de líder transforma a escola em oficina de trabalho, onde profissionais aprendem uns com os outros, cooperando para solucionar problemas pedagógicos. 17 Se o diretor é um líder, ele estimula os professores a debater, em grupo, problemas pedagógicos como dificuldade em motivar a classe ou em estabelecer relações entre os conteúdos e a vida dos alunos. Dessa forma, podem descobrir, por exemplo, por que os alunos de alguma turma estão encontrando dificuldade na divisão com dois algarismos e que procedimento usar para facilitar esta aprendizagem. Em um clima descontraído, não ameaçador, de cooperação, os educadores vão sentir-se à vontade até para falar sobre seus próprios erros, discuti-los e aprender com eles. O diretor-líder, enfim, é capaz de trazer à tona o potencial de cada pessoa ou instituição e criar um clima de cooperação que faz brotar uma realidade mais incentivadora, onde ninguém pára de aprender. E, sempre que o seu trabalho é coroado de êxito, todos dizem: “Nós fizemos isso!”. Consegue fazer com que a equipe sinta que está embarcando em um projeto vital, até mesmo sagrado, que exigirá sacrifícios, mas também realizará algo muito importante, digno do melhor que existe em cada um. Construir um ambiente democrático não é uma tarefa fácil, se fazendo necessário o uso da gestão participativa. Nesse sentido, a preocupação com a melhoria da qualidade da educação levantou a necessidade de descentralização e democratização da gestão escolar e, conseqüentemente, a participação tornou-se um conceito nuclear. Como aponta Lück et al. (1998), "o entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a idéia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agindo sobre elas em conjunto" (Lück, 1998, p.15). De acordo com a etimologia da palavra, participação origina-se do latim "participatio" (pars + in + actio) que significa ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessário ter acesso ao agir e às decisões que orientam o agir. "Executar uma ação não significa ter parte, ou seja, responsabilidade sobre a ação. E só será sujeito da ação 18 quem puder decidir sobre ela" (Benincá, 1995, p. 14). Para Lück et al. (1998) a participação tem como característica fundamental a força de atuação consciente, pela qual os membros de um grupo reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica, da cultura e da unidade social, a partir da competência e vontade de compreender, decidir e agir em conjunto. 2.2_ O Trabalho do Supervisor Escolar Atualmente, independente da formação o supervisor precisa desenvolver uma visão crítica e construtiva do trabalho pedagógico, de modo a vitalizar as ações educativas, transformando reflexivamente a ação individual e coletiva dos atores escolares. Dentro desse contexto cabe ao supervisor planejar, avaliar e aperfeiçoar o curso das ações pedagógicas, visando garantir a eficiência do processo educacional e a eficácia de seus resultados. Igualmente, este profissional deve sempre ter o objetivo de levar os participantes do ato educativo a estarem integralmente envolvidos. A fim de alcançar esses objetivos o supervisor deve voltar o foco do seu trabalho para o aprimoramento do desempenho dos professores, valorizando o nível de produção acadêmica dos docentes, assim como a riqueza de suas contribuições para os fazeres pedagógicos. O supervisor, também precisa respeitar a personalidade dos profissionais da educação, valorizando-os individualmente e profissionalmente. A prática da supervisão igualmente exige uma constante avaliação crítica de seu próprio desempenho, levando-o a um esforço continuado de aperfeiçoamento como técnico, mas, especialmente, como pessoa. Este precisa analisar desde o planejamento 19 do currículo, precedido de diagnose ao acompanhamento de sua execução, orientando, controlando e avaliando criticamente junto com os atores escolares. Em outras palavras “o papel do supervisor escolar se constitui, em última análise, na somatória de esforços e ações desencadeados com o sentido de promover a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Esse esforço voltou-se constantemente ao professor, num processo de assistência aos mesmos e coordenação de sua ação.” (Lück, 1981, p. 20) Dessa forma, diariamente o supervisor precisa desenvolver flexibilidade, atualização e renovação, buscando integrar o coletivo, analisar casos e estudos de temas através da observação, entrevistas e reuniões. Baseado numa nova visão do trabalho do supervisor escolar, cabe a este profissional conhecer a natureza, a organização e o funcionamento da educação escolar, suas relações com o contexto histórico-social e com o desenvolvimento humano, além de perceber as conseqüências intrínsecas ao agir da gestão/administração do sistema escolar, seus níveis e modalidades de ensino. O mesmo precisa, também, conhecer os fundamentos e as teorias do processo de ensinar e aprender, relacionar princípios, teorias e normas legais a situações reais, identificar os impactos de diretrizes e medidas educacionais, objetivando a melhoria do padrão de qualidade do ensino e aprendizagem, comunicar-se com clareza com diferentes interlocutores e em diferentes situações, socializar informações e conhecimentos, conduzir democraticamente suas práticas, identificar criticamente a interferência das estruturas institucionais no cotidiano escolar, promover o desenvolvimento da autonomia da escola e o envolvimento da comunidade 20 escolar, buscar e produzir conhecimentos relativas à formação permanente de pessoal, compreender e valorizar o trabalho coletivo no exercício profissional, além de ter disponibilidade de trabalhar em grupo, reconhecendo e respeitando as diferenças pessoais e as contribuições dos participantes. 2.3 O trabalho do Professor A atividade docente vem se modificando em decorrência de transformações nas concepções de escola e nas formas de construção do saber, resultando na necessidade de se repensar a intervenção pedagógico-didática na prática escolar. Um dos aspectos cruciais dessas transformações é o investimento na qualidade da formação dos docentes e no aperfeiçoamento das condições de trabalho nas escolas, para que estas favoreçam a construção coletiva de projetos pedagógicos capazes de alterar os quadros de reprovação, retenção e da qualidade social e humana dos resultados da escolarização. Não se ignora que esse desafio precisa ser prioritariamente enfrentado no campo das políticas públicas. Todavia, não é menos certo que os professores são profissionais essenciais na construção dessa nova escola. Entendendo que a democratização do ensino passa pela sua formação, sua valorização profissional, suas condições de trabalho, pesquisas e experiências inovadoras, apontando assim, para a importância do investimento no desenvolvimento profissional dos professores. Dessa forma, o desenvolvimento profissional envolve formação inicial e contínua articulada a um processo de valorização individual e profissional dos professores. E o trabalho do supervisor pode muito contribuir como mediador desse processo, além de trabalhar juntamente com o educador o desenvolvimento de uma 21 visão progressista de crescimento profissional baseada na racionalidade técnica, e, levando-os a assumir a perspectiva de decidir e de rever suas práticas e as teorias que as informam, pelo confronto de suas ações cotidianas com as produções teóricas, pela pesquisa da prática e a produção de novos conhecimentos para a teoria e a prática de ensinar. Uma escola que inclua, ou seja, que eduque todas as crianças e jovens, com qualidade, superando os efeitos perversos das retenções e evasões, propiciando-lhes um desenvolvimento cultural que lhes assegure condições para fazerem frente às exigências do mundo contemporâneo, precisa de condições para que, com base na análise e na valorização das práticas existentes que já apontam para formas de inclusão, se criem novas práticas: de aula, de gestão, de trabalho dos professores e dos alunos, formas coletivas, currículos interdisciplinares, uma escola rica de material e de experiências, como espaço de formação contínua. Na área de gestão e relacionamento interpessoal que valoriza a compreensão da dinâmica, do comportamento, da individualidade e da habilidade dos alunos, de modo a criar um ambiente construtivo de aprendizagem significativa que motive os alunos a mobilizar sua atenção, diagnosticar necessidades de aprendizagem e propor alternativas interessantes para promovê-las, além de identificar conflitos e vencer obstáculos. Por fim, na área escolar, onde será desenvolvida a habilidade de se trabalhar em equipe, a percepção da relação com a turma e contexto da escola e a compreensão do ponto de vista de colegas, pais e alunos. 22 CAPÍTULO III – ANÁLISE CRÍTICA DO TRABALHO DO SUPERVISOR ESCOLAR “Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro do alma. Quem não tem jardins por dentro não planta jardins por fora. E nem passeia por eles...” (Alves, 2003, p.75) 3.1 O Supervisor Escolar enquanto mediador das relações interpessoais. Atualmente, cada vez mais se observa a necessidade em se discutir a contribuição do trabalho de supervisores de ensino, diretores escolares e professores na importante tarefa de se construir um novo fazer da ação educativa. Nesse sentido, o supervisor escolar precisa repensar sua prática de modo a qualificar cada vez mais a construção coletiva do projeto político-pedagógico, cujo objetivo é formar no aluno um novo cidadão. Têm-se observado muitos entraves no caminhar do processo educacional, porém o desenvolvimento significativo do conhecimento do aluno, visando auxiliá-lo a construir uma forma de exercer com consciência sua inserção social crítica e transformadora na sociedade em que vive, pode ser auxiliado por um trabalho de equipe dos atores escolares. E esta visão de grupo precisa começar a ser desenvolvida no dia a dia do supervisor escolar enquanto mediador dessa relação. 23 Assim como nas empresas, nas escolas o relacionamento interpessoal entre os atores escolares se tornou de extrema importância para o desenvolvimento do trabalho em equipe. Dessa forma, pode-se promover um ambiente de trabalho cooperativo e harmonioso, que valorize a manutenção da empregabilidade, aumentando a capacidade funcional e a qualificação do trabalho. A fim de dar crescimento aos relacionamentos inter e intrapessoais o supervisor escolar precisa trabalhar competências, tais como, maturidade pessoal e profissional, capacidade de adaptação, assertividade, empatia, sensibilidade, amor pelos outros, espírito crítico, flexibilidade, polivalência e criatividade. A sociedade está vivendo, desde a Era Industrial, um período de grandes mudanças institucionais a nível governamental, educacional e empresarial, porém, apesar do aumento de capital para alguns, a desigualdade, a deterioração do meio ambiente e a fragmentação social também tiveram um aumento considerável. Não é complicado entender a dificuldade das pessoas em enfrentarem essa nova visão, tendo em mente um sistema de ensino que “castra” a natureza reflexiva e pesquisadora das crianças, levando-as por um mundo de respostas limitadas e de problemas fragmentados. O homem é treinado desde a mais tenra idade a fragmentar seu entendimento, perdendo assim a capacidade de olhar o mundo holisticamente. Isso pode ser observado na seguinte afirmativa de Senge (2002): “Aprendemos desde muito cedo, a desmembrar os problemas, a fragmentar o mundo. Aparentemente isso torna tarefas e assuntos complexos mais administráveis, mas, em troca, pagamos um preço oculto muito alto. Não conseguimos mais perceber as conseqüências das nossas ações; perdemos a 24 noção intrínseca de conexão com o todo” (Senge, 2002, 37) Um aspecto relevante para um bom desenvolvimento do trabalho são as relações interpessoais que permeiam o ambiente organizacional. Diante disso, pesquisas ressaltam a forte correlação que existe entre habilidades de interação social e melhor qualidade de vida (Falcone in Sobrinho, 2004). Segundo Falcone: “A capacidade de interagir socialmente é determinada biologicamente e se desenvolve a partir de experiências de interação na vida de cada indivíduo” (Falcone in Sobrinho, 2004). Sendo assim, podemos concluir que grande parte dos seres humanos nascem com uma pré-disposição para se relacionarem, porém essa competência precisa ser trabalhada ao longo da história da pessoa. E, o que se observa, muitas vezes, nas organizações, são pessoas sendo admitidas pela competência técnica e demitidas pela falta de relacionamento social. Pesquisas ressaltam que transtornos emocionais geram deficiências em habilidades sociais (Falcone in Sobrinho, 2004). Dessa forma, os gestores das organizações precisam estar atentos a problemas que possam estar acontecendo com o seu grupo de trabalho, além de usar programas de treinamento e desenvolvimento que beneficiem o desempenho das habilidades sociais. Duas habilidades precisam ser lavadas em consideração quando se pensa em relacionamento interpessoal, a saber: empatia e assertividade. Para Falcone, uma pessoa socialmente habilidosa é capaz de utilizar a assertividade dosada pela empatia, ou seja, o indivíduo precisa ser capaz de defender os seus direitos sem afetar os dois outros. Sendo assim, uma pessoa socialmente habilidosa é capaz de obter ganhos com maior freqüência, desempenhar o mínimo possível de tarefas indesejáveis, além de desenvolver e manter relacionamentos benéficos e fortes (Falcone in Sobrinho, 2004). 25 Dessa forma, a pessoa precisa ser eficaz em sua função nas diferentes situações. Segundo Falcone: “Quando uma pessoa costuma se comportar assertivamente, ela facilita a solução de problemas interpessoais; aumenta o senso de auto-eficácia e a autoestima; melhora a qualidade de dos relacionamentos e sente-se mais tranqüila”. (Falcone in Sobrinho, 2004, 71) Vale ressaltar que as características assertivas são mais importantes na aquisição de novos relacionamentos, porém, a manutenção da qualidade dos relacionamentos se dá pela empatia e pela estabilidade emocional (Falcone in Sobrinho, 2004). O comportamento empático inclui aspectos cognitivos, tais como: percepção, compreensão, memória, manutenção da atenção e processamento da informação; componentes afetivos, caracterizados pelo sentimento de compaixão e aspectos comportamentais que são caracterizados pelos componentes verbais e não-verbais da comunicação (Falcone in Sobrinho, 2004). Dentro dos contextos de relacionamentos interpessoais a assertividade e empatia se tornam cruciais para o bom andamento dos mesmos. A assertividade possibilita a interação sincera e verdadeira e a empatia valoriza o respeito aos sentimentos de outrem. Sendo assim, essas habilidades precisam ser incluídas nos relacionamentos de maneira integrada. Nesse contexto, quando se leva em consideração a valorização e o reconhecimento das pessoas se incentiva potencialmente a motivação e se trabalha as necessidades. Maslow procurou compreender e explicar o que energiza, dirige e sustenta o comportamento humano. Para ele, o comportamento é motivado por necessidades a que ele deu o nome de necessidades fundamentais. Tais necessidades são 26 baseadas em dois agrupamentos: deficiência e crescimento. As necessidades de deficiência são as fisiológicas, as de segurança, de afeto e as de estima, enquanto que as necessidades de crescimento são aquelas relacionadas ao auto-desenvolvimento e à auto-realização dos seres humanos. Para ele tais necessidades apresentam-se numa hierarquia de importância: Nec. de auto realização Nec. de estima Nec. de de amor/sociais Nec. de segurança Nec. fisiológicas Hierarquia das Necessidades – Pirâmide Motivacional Fonte: Adaptado de Chiavenato, 1994. p.170 As necessidades fisiológicas se referem às necessidades biológicas dos indivíduos, como a fome, a sede, o sono. São as mais prementes e dominam fortemente a direção do comportamento caso não estejam satisfeitas. As necessidades de segurança surgem na medida em que as necessidades fisiológicas estejam razoavelmente satisfeitas. Levam a pessoa a proteger-se de qualquer perigo, seja ele real ou imaginário, físico ou abstrato. Vale ressaltar que todo ser humano necessita de abrigo e proteção para o corpo e de manutenção de uma vida confortável. Assim, como na necessidade fisiológica, o organismo pode ser fortemente dominado por tal necessidade, que passa a dirigir e a determinar a direção do comportamento. Sendo satisfeitas as necessidades acima, surgem as necessidades de amor, afeição e participação. Segundo Maslow (1975) esta se refere à necessidade de afeto das pessoas que consideramos (namorado, filhos, amigos). São necessidades sociais 27 presentes em todo ser humano. Para ele a frustração dessas necessidades levam à falta de adaptação e a psicopatologias graves. As necessidades de estima se referem às necessidades ou desejos das pessoas de uma auto-avaliação estável, bem como, uma auto-estima firme. A satisfação desta necessidade gera sentimentos de auto-confiança, de valor, de capacidade e sentimento de utilidade. Sua frustração leva a sentimentos de inferioridade, fraqueza e desamparo (Maslow, 1975). As necessidades de auto-realização são necessidades de crescimento e revelam uma tendência de todo ser humano em realizar plenamente o seu potencial. “Essa tendência pode ser expressa como o desejo de a pessoa tornar-se sempre mais do que é e de vir a ser tudo o que pode ser” (Maslow, 1975, 352). Diferentemente das necessidades anteriores, a necessidade de auto-realização não se extingue pela plena satisfação. Além da auto-realização, posteriormente, Maslow acrescentou à sua teoria, o desejo de todo ser humano de saber e conhecer e de ajudar os outros a realizar seu potencial, algo relevante para o relacionamento interpessoal. Maslow, entretanto, conclui que sua teoria motivacional não é a única a explicar o comportamento humano, pois nem todo comportamento é determinado pelas necessidades. Afirma ainda que as necessidades fundamentais são em grande parte inconscientes. Para ele fatores sócio-culturais influenciam na forma ou objetos com que os homens buscam satisfazer suas necessidades, mas não modificam substancialmente a hierarquia motivacional proposta. A fim de criar um ambiente escolar próprio para o desenvolvimento da aprendizagem e que condiga com o atual cenário mundial, além de atentar para as 28 necessidades e objetivos se faz necessário buscar parceiros com capacidade de resolver problemas, onde a questão ética tem lugar de destaque. Sendo assim, cada vez mais o sucesso depende de outros fatores além da inteligência e do espírito de trabalho. As relações interpessoais, a capacidade de trabalho em grupo, a capacidade de ouvir, de se colocar na posição de outros e a capacidade de ouvir a própria consciência se tornaram fundamentais para o agir profissional dentro da atual realidade onde redes significativas se interagem cotidianamente. Para esse trabalho a motivação dos profissionais é muito importante, pois quanto mais motivadas e persistentes forem as pessoas maior capacidade e potencialidade terão para atingir os seus objetivos. E, quando o supervisor atua como mediador das relações e dos conflitos no ambiente escolar pode contribuir para o desenvolvimento dessa estimulação pessoal e para o processo de resiliência. Como resultado de seu trabalho a escola pretende contribuir para o processo de humanização do aluno-cidadão consciente de si no mundo, capaz de ler e interpretar o mundo no qual está e nele inserir-se criticamente para transformá-lo. Este objetivo não se consegue pelo trabalho parcelado e fragmentado da equipe escolar, à semelhança da produção de um carro, onde um grupo de operários aperta, cada um, um parafuso, sempre da mesma maneira através de um trabalho coletivo. Neste há a contribuição de todos no todo e de todos no de cada um. A especialização de um não é somada à especialização de outro, mas ela colabora com e se nutre da especialização do outro. 3.2 A Resiliência 29 O termo Resiliência é freqüentemente referido por processos que explicam a “superação” de crises e adversidades em indivíduos, grupos e organizações (Yunes & Szymanski, 2001, Yunes, 2001, Tavares, 2001). Por tratar-se de um conceito relativamente novo no campo da Psicologia, a resiliência vem sendo bastante discutida do ponto de vista teórico e metodológico pela comunidade científica. Alguns estudiosos reconhecem a resiliência como um fenômeno comum e presente no desenvolvimento de qualquer ser humano (Masten, 2001), e outros enfatizam a necessidade de cautela no uso “naturalizado” do termo (Martineau, 1999; Yunes, 2001). Na língua portuguesa, a palavra resiliência, aplicada às ciências sociais e humanas, vem sendo utilizada há poucos anos. Neste sentido, seu uso no Brasil ainda se restringe a um grupo bastante limitado de pessoas de alguns círculos acadêmicos. Muitos profissionais da área da Psicologia, da Sociologia ou da Educação nunca tiveram contato com a palavra e desconhecem seu uso formal ou informal, bem como sua aplicação em qualquer das áreas da ciência. Por outro lado, profissionais das áreas da Engenharia e Física, revelam certa familiaridade com a palavra, quando ela se refere à resistência de materiais. O dicionário Aurélio, da língua portuguesa, diz que na Física, resiliência “é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica”. No sentido figurado, o mesmo dicionário aponta o termo como “resistência ao choque”. O dicionário de língua inglesa Longman Dictionary of Contemporary English (1995) oferece duas definições de resiliência, sendo a primeira: “habilidade de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por doenças, dificuldades etc.” A segunda explicação para o termo encontrada no mesmo dicionário afirma que resiliência 30 “é a habilidade de uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida: flexibilidade”. Como se pode ver, os dois dicionários apontam para conceituações semelhantes e ao mesmo tempo divergentes, pois no dicionário de português a referência é feita apenas à resiliência de materiais. Já o dicionário de inglês confirma a prioridade ou maior familiaridade para o uso do termo em fenômenos humanos, apontando em primeiro plano a definição neste sentido. A noção de resiliência vem sendo utilizada há muito tempo pela Física e Engenharia, sendo um de seus precursores o cientista inglês Thomas Young, que, em 1807, considerando tensão e compressão, introduz pela primeira vez a noção de módulo de elasticidade. Young descrevia experimentos sobre tensão e compressão de barras, buscando a relação entre a força que era aplicada num corpo e a deformação que esta força produzia. Esse cientista foi também o pioneiro na análise dos estresses trazidos pelo impacto, tendo elaborado um método para o cálculo dessas forças (Timosheibo, 1983). Silva Jr. (1972) denomina como resiliência de um material, correspondente a determinada solicitação, a energia de deformação máxima que ele é capaz de armazenar sem sofrer deformações permanentes. Em Psicologia, o estudo do fenômeno da resiliência é relativamente recente. Vem sendo pesquisado há cerca de trinta anos, mas apenas nos últimos cinco anos os encontros internacionais têm trazido este conceito para discussão. Sua definição não é tão clara quanto na Física ou na Engenharia, e nem poderia sê-lo, haja vista a complexidade e a multiplicidade de fatores e variáveis que devem ser levados em conta no estudo dos fenômenos humanos. Vários autores (Masten & Garmezy, 1985; Rutter, 1985; Werner & Smith, 1992) relatam que “em 1974, o psiquiatra infantil E. J. Anthony introduziu o termo invulnerabilidade na literatura da psicopatologia do desenvolvimento 31 para descrever crianças que, apesar de prolongados períodos de adversidades e estresse psicológico, apresentavam saúde emocional e alta competência”(Werner & Smith, 1992, p. 4). Resiliência e invulnerabilidade não são termos equivalentes, afirmam Zimmerman e Arunkumar (1994). Segundo estes autores, resiliência refere-se a uma habilidade de superar adversidades, o que não significa que o indivíduo saia da crise ileso, como implica o termo invulnerabilidade. Mediante o novo cenário mundial se faz necessária uma mudança postural em relação a prática pedagógica do supervisor escolar. Pois, a ação supervisora enquanto auxiliadora do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem deve buscar planejar suas ações, com vistas a auxiliar os educadores a mediar o crescimento social, afetivo e cognitivo dos educandos, por meio de estudos coletivos, desenvolvidos em reuniões de centros de estudos. Precisa oferecer trocas constantes de informações com os professores, especialmente por meio de material de apoio e uso pedagógico, a fim de que estes primeiros possam utilizá-los em suas aulas. Favorecendo assim, o processo de resiliência do trabalho do professor, diminuindo assim, o seu estresse. O professor é um produtor do saber, logo precisa ser tratado como tal. Sendo assim o supervisor precisa assumir uma postura construtiva, criadora e democrática, através da sua participação enquanto incentivador, integrador e executor das políticas educacionais, ao mesmo tempo, que atua como elemento de articulação e de mediação entre essas políticas e as propostas pedagógicas desenvolvidas em cada uma das escolas das redes pública e privada. Todo esse fazer do trabalho do supervisor precisa estar pautado num trabalho de pesquisa, onde Kurt Lewin (1944) “... descrevia o processo de pesquisa-ação, indicando como traços essenciais: análise, coleta de dados e conceituação dos 32 problemas; planejamento da ação, execução e nova coleta de dados para avaliá-la...,” promovendo a repetição deste ciclo. (Lewin Apud André, 1995, p.28) Possibilitando assim, uma mudança significativa da realidade. Esse trabalho, porém, traz alguns desafios para o supervisor, como, a busca constante por uma formação continuada dos professores, a fim de que este esteja apto para responder às necessidades e mudanças produzidas pelas interações que ocorrem no universo escolar, criando soluções adequadas a cada realidade, ou seja, desenvolva a sua resiliência mediante os problemas apresentados. Precisa também, reconhecer limites e deficiências do próprio trabalho pedagógico a fim de mudar práticas originadas de visões de mundo, valores e interesses que interferem na prática diária, o que implica o enfrentamento inevitável e delicado de conflitos entre professores, alunos, pais e a hierarquia do sistema escolar. E, mudar práticas pedagógicas significa empreender mudanças em toda a cultura organizacional. A necessidade e vontade de mudança estão relacionadas à constatação das lacunas ocasionadas entre o que a sociedade está pedindo da formação dos indivíduos e o que o espaço escolar está oferecendo para dar conta disso, ou seja, ao perceber-se ineficaz, despreparada e desatualizada a instituição entende esse vão e busca recuperarse e criar novos meios de interagir e aprender para então desempenhar sua função social de fato. Segundo Moraes (2004), é preciso educar para uma cidadania global que ensine a viver na mudança e que não queira controlá-la. Compreendendo assim que é impossível desacelerar o mundo, portanto, precisamos procurar adaptar a nossa forma de educar às mudanças rápidas e aceleradas presentes no mundo. (Moraes, 2004) Saber se adaptar e se reajustar confortavelmente, reagir de forma inteligente às pressões e pressentir e antecipar acontecimentos, é objetivo primordial dos programas 33 de desenvolvimento da resiliência, como uma das competências mais valorizadas nos modelos de Gestão Estratégica de Pessoas. Resiliência é um termo primeiramente utilizado pela física que significa a capacidade de um material voltar ao seu estado normal depois de ter sofrido uma pressão. Já as ciências humanas utilizam este termo para qualificar a capacidade de um indivíduo em possuir uma conduta sã num ambiente insano, ou seja, a capacidade do indivíduo de sobrepor-se e construir-se positivamente frente às adversidades. Dessa forma, o trabalho do Supervisor Escolar pode contribuir para a motivação do professor em buscar desse processo. Uma definição mais orientada para as organizações se manifesta como a capacidade de responder de forma mais consistente aos desafios e dificuldades, de forma a reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação diante de desafios e circunstâncias desfavoráveis, obtendo uma atitude otimista, positiva e perseverante e mantendo um equilíbrio dinâmico durante e após os embates. Através de um trabalho de mediação, apoio e reconhecimento o Supervisor pode contribuir para o desenvolvimento da resiliência, contribuindo assim para a melhor preparação do indivíduo para lidar com pressões, além de fornecer meios de reduzir pressões desnecessárias (estresse) reconhecendo como elas são criadas e mantidas; com isso, os professores poderão desenvolver a capacidade de se adequar às situações sem perder os objetivos. Sendo assim, o profissional que puder fazer uso de ferramentas e técnicas para o gerenciamento de suas competências em contextos de imprevisibilidade, ameaça ou emergência, estará de certa forma administrando o nível de desenvolvimento e adaptação de seu organismo em relação às informações e mudanças que ocorrem no ambiente organizacional. E isto pode fortalecer seu desempenho, adquirindo e mantendo 34 as habilidades e competências necessárias para seu auto-desenvolvimento e ascensão de sua carreira. CONCLUSÃO O supervisor tem um papel político, pedagógico e de liderança no espaço escolar, por isso, precisa ser inovador, ousado, criativo, proativo e, sobretudo, um profissional de educação comprometido com o seu grupo de trabalho. Esse profissional precisa ser humilde, empático e presente, por isso, “se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário,não é falando aos outros,de cima pra baixo,sobretudo,como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais,que aprendemos a escutar,mas é escutando que aprendemos a falar com eles.”(Freire,1998:127) Nesse contexto, cabe ao gestor pedagógico desenvolver competências (conhecimentos, habilidades e atitudes) a fim de mudar paradigmas. E, competências segundo o Aurélio “são qualidades de quem é capaz de apreciar e resolver certos assuntos”, no caso, questões educacionais responsáveis pelo desenvolvimento satisfatório do processo ensino-aprendizagem. Dessa forma, o professor, e principalmente, o supervisor, precisam ser eficientes e eficazes, pois não basta executar bem, o trabalho precisa trazer resultados. Para haver uma mudança significativa os professores e supervisores precisam aprender a lidar com as inseguranças e avançar, investir na resiliência do processo de trabalho. Desse modo, é preciso que o grupo de educadores da escola sinta e assuma a 35 necessidade de transformar a realidade da escola-sociedade e conceba o planejamento como um dos meios a serem utilizados para efetivar esta transformação. Dessa forma, os professores, auxiliados pelos supervisores necessitam desenvolver atitude, habilidade e conhecimento, de perceber as bases dos problemas e, a partir delas, buscar as suas causas, tendo em vista as suas superações. Para isso, o conhecimento e a análise crítica do contexto no qual os problemas se manifestam são muito importantes para identificar suas causas, que poderão ser encontradas no interior da própria escola, na estrutura da sociedade e na interação entre a escola e o contexto social global. Caso contrário, pode acontecer de os educadores apresentarem propostas para superar uma situação-problema, pautados apenas em sua manifestação, sem a devida clareza de quais são as suas origens. Este engano termina por frustrá-los, pois eles selecionaram e aplicaram o "remédio" sem o diagnóstico correto da “doença”. Gerando assim um estresse e uma diminuição da resiliência dos educadores. A reflexão sobre o trabalho do supervisor escolar deve ser constante, pois ele precisa erguer pontes para superar obstáculos e não muros. Por isso, seus objetivos educacionais sempre devem estar pautados na melhoria do processo educativo, através de um trabalho cooperativo, onde as tarefas são dividas a fim de somar esforços que diminuem o dispêndio de energias e multiplica o resultado final. 36 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALARCÃO, Isabel. Escola Reflexiva e Nova Racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001. ALMEIDA, Laurinda Ramalho de e outros (Org). O Coordenador Pedagógico e o Espaço da Mudança. 4ª ed. 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