Talento SMRH Capacitação FOTO DA CAPA: MARCO YAMIN/DIVULGAÇÃO Muito além da sala de aula 哷 VOCÊ GANHA EXPERIÊNCIA PRÁTICA DOS ENSINAMENTOS TEÓRICOS POR ADRIANA CARVALHO E No veleiro as equipes exercitam noções de planejamento, logística e disciplina de trabalho MARCO YAMIN/DIVULGAÇÃO m 1984, o economista Vilfredo Schürmann e sua esposa Heloísa, proprietária de uma escola de inglês, venderam seus bens e partiram com os três filhos para dar a volta ao mundo em um veleiro. É claro que muita gente considerou a mudança uma loucura e talvez fosse mesmo, se os Schürmann não tivessem tomado uma série de cuidados antes de partir: levaram uma década para fazer o planejamento minucioso da empreitada; fizeram um orçamento de gastos; pensaram na logística de suprimentos necessários à vida no mar; acertaram um esquema para que as crianças (na época com 7, 10 e 15 anos) continuassem os estudos por correspondência. E aprenderam a ganhar dinheiro de muitas formas: escreveram artigos sobre os lugares visitados para revistas, fizeram documentários, deram aulas de windsurf, promoveram passeios com o veleiro. “Meus pais perceberam que viver em um barco é como conduzir uma empresa”, afirma David, um dos filhos do casal, responsável pela comunicação e marketing dos negócios da família. Em alguns países pelos quais passaram, conheceram empresas que realizavam treinamentos com seus funcionários fora da sala de aula, inclusive a bordo de barcos. Foi daí que surgiu a idéia de transformar a experiência da vida no mar em workshops ministrados nos veleiros da família. “É possível proporcionar uma vivência muito rica para executivos e equipes, como a importância do planejamento estratégico, da logística, de ser disciplinado, de saber conviver em pequenos espaços ou com diferentes culturas”, afirma David. De acordo com ele, o programa de cada treinamento é definido em uma reunião prévia com a empresa que contrata o serviço para definir quais as CADA VEZ MAIS AS EMPRESAS PROCURAM FORMAS NÃO CONVENCIONAIS PARA INTEGRAR, MOTIVAR, RESOLVER CONFLITOS OU DESENVOLVER LIDERANÇAS JUNHO 2006 R2_RH_0606.p65 269 7/6/2006, 12:10 RHSM 269 SMRH Coaching Capacitação UM DOS OBJETIVOS DO TREINAMENTO AO AR LIVRE É QUE AS PESSOAS SUPEREM SEUS LIMITES, MAS SEM ENTRAR NA ZONA DE PÂNICO suas necessidades e conhecer o perfil dos funcionários envolvidos. O workshop dura de dois a três dias e começa com palestras para integrar os participantes, falar sobre a relação entre velejar e trabalhar em uma empresa, além de proporcionar noções dos conceitos náuticos básicos. “Nesse momento procuramos Cada consultoria tem seus métodos e também tranqüilizar as pessoas que têm medo do mar, mostrando a elas o cuidado que temos para preparar o barco e os equipamentos de segurança disponíveis”, afirma David. “Um dos objetivos é que as pessoas superem seus limites, ou seja, saiam da sua zona de conforto, mas sem entrar também na zona de pânico, problemas físicos, destinamos a elas papéis mais táticos, que não exijam grande esforço”, diz David. programas próprios para os treinamentos vivenciais e ao ar livre. Veja aqui, como exemplo, o passo-a-passo dos treinamentos oferecidos nos veleiros da família Schürmann: 4 OS TREINAMENTOS são feitos no período de dois a três dias em áreas onde o mar tem poucas ondas e há vento suficiente. 5 ANTES DE SUBIR A BORDO, é feita uma integração entre os participantes para quebrar o gelo. LUCIANO CANDISANI/DIVULGAÇÃO 6 JÁ NO VELEIRO, os participantes recebem orientações de segurança e familiarização com a embarcação. A seguir, cada um assume seu posto e inicia-se a regata: os veleiros são idênticos, só o que muda são as equipes. É nesse momento que se exercitam conceitos que depois também serão úteis na empresa: trabalho em equipe, resolução de conflitos, técnicas de liderança, etc. Heloísa, Vilfredo e David Schürmann: para eles, conduzir um veleiro é como comandar uma empresa 1 É FEITO UM DIAGNÓSTICO das necessidades da empresa para definir qual será o foco do treinamento. 2 OS PARTICIPANTES preenchem questionários para que se conheçam suas condições físicas, se possuem algum problema de saúde, se têm medo do mar. 3 OS QUESTIONÁRIOS ajudam a planejar o papel dos participantes no treinamento. “Se há pessoas com 270 R2_RH_0606.p65 RHSM 7 DISCUSSÕES A BORDO eventualmente ocorrem, e os monitores tentam torná-las reflexões produtivas sobre o desempenho de cada um. “Houve um caso de um executivo que cometeu erros na condução do veleiro. Na empresa ninguém contestava suas decisões, mas ali ele foi criticado. No final ele pediu que a equipe fosse mais franca com ele na empresa porque viu que isso era útil para o seu desempenho”, conta David. 8 NO DIA SEGUINTE À REGATA, é feita uma reflexão sobre tudo o que aconteceu durante o treinamento. Dessa reunião, os participantes saem com uma lista de 6 a 10 pontos que podem ser exercitados ou melhorados no dia-a-dia da empresa. JUNHO 2006 270 7/6/2006, 12:10 SMRH Coaching Capacitação po precisa melhorar e que deverão ser exercitados dali para frente no ambiente de trabalho. Além da vivência em veleiros, há outras formas de sair da rotina nos treinamentos empresariais, que podem ser feitos com técnicas de teatro e circo, por exemplo. Ou estar associados aos chamados esportes radicais como rafting (ato de ultrapassar corredeiras de rio em um bote inflável), rapel (descida de grandes alturas com uma corda) e alpinismo. DIVULGAÇÃO porque assim não aproveitariam a experiência”, explica ele. Depois das palestras, é hora de embarcar. São formados grupos, um para cada veleiro, que vão disputar uma regata, ou seja, uma corrida no mar. “Cada grupo tem seu tático (que elabora a estratégia de condução do barco), o timoneiro e os tripulantes que vão manusear as velas. Ao desempenhar essas funções, eles exercitam conceitos como o trabalho em equipe, a organização, a resolução de conflitos, entre outros aspectos”, afirma David. Depois da corrida, tanto vencedores como perdedores se reúnem para tirar conclusões sobre o aprendizado. Dessa discussão, sai uma lista de pontos do que cada um ou cada gru- DIVULGAÇÃO OS TREINAMENTOS AO AR LIVRE NÃO PODEM SE DESVIAR DO FOCO: O OBJETIVO NÃO É A DIVERSÃO E SIM O DESENVOLVIMENTO Outras formas de sair da rotina nos treinamentos: atravessar pontes feitas de madeira e cordas e praticar o rafting nas corredeiras de rio Há ainda modalidades que incluem exploração de cavernas e caminhadas na mata. As opções são muitas, mas é importante tomar alguns cuidados antes de fazer a escolha. “É preciso ter em mente que a equipe não está saindo para passear: é lógico que o workshop fora da sala de aula pode ser divertido, mas o objetivo é desenvolver habilidades e competências para trabalhar melhor”, afirma Valdenice Sanchez, diretora- O enduro a pé têm objetivo principal de exercitar orientação, cumprimento de metas e prazos Segundo a consultoria SimbolicaH, cada tipo de treinamento é adequado para desenvolver mais determinados aspectos de trabalho. Veja exemplos a seguir: TIPO DE TREINAMENTO OBJETIVO ■ Rafting Exercitar o espírito de equipe ■ Técnicas verticais (rapel, alpinismo) Superação de limites pessoais ■ Exploração de cavernas Exercitar a auto-confiança, intuição e criatividade ■ Enduro a pé Exercitar orientação, cumprimento de metas e prazos ■ Jogos e workshops vivenciais Integração de diferentes culturas, fortalecimento de equipes, cooperação e liderança 272 R2_RH_0606.p65 RHSM JUNHO 2006 272 7/6/2006, 12:10 SMRH Capacitação incluíam literalmente deitar e rolar no chão, além de tomar parte em representações teatrais. “O treinamento foi muito produtivo. Muito melhor do que só ficar sentada ouvindo alguém falar. Foi muito dinâmico e interativo”, concluiu Tatiane no final. Mônica conta que a Value Team adquiriu recentemente outra empresa e optou pelo treinamento para integrar os funcionários que pertenciam a corporações diferentes: “A idéia é que eles se enxerguem a partir de agora como uma equipe única, da mesma empresa”, explica Mônica. No programa, eles exercitaram técnicas para melhorar a comunicação interna e também com os clientes por meio de jogos e representações. “O nosso modelo educacional pressupõe sempre um professor que fala e os alunos que ouvem. Não É NECESSÁRIO VERIFICAR AS CONDIÇÕES DE SEGURANÇA DO TREINAMENTO E TAMBÉM A METODOLOGIA QUE ELE UTILIZA sócia da consultoria SimbolicaH. É necessário ainda verificar as condições de segurança do treinamento e a metodologia da consultoria. É preciso lembrar que as pessoas geralmente chegam tímidas ao treinamento e muitas não estão familiarizadas com a prática de esportes. Antes de iniciar um treinamento, a SimbolicaH faz reuniões com a empresa e avalia inclusive as condições físicas dos participantes. “Em geral, todos podem participar dos treinamentos que envolvem esportes radicais, mesmo aqueles com problemas de peso, coluna, ou que não sabem nadar. Os únicos impedimentos são para mulheres grávidas e pessoas que acabaram de passar por cirurgias”, diz Valdenice. Segundo ela, as pessoas têm seus limites testados gradualmente. “Se a atividade é o rafting, temos como resgatar aqueles que não se adaptam à atividade ou colocá-los em uma posição mais cômoda dentro do bote”, diz ela. A analista de sistemas Tatiane dos Anjos Marchi, da Value Team (empresa especializada em tecnologia da informação), chegou a um treinamento vivencial organizado pela consultoria Franquality dizendo: “Vou começar só olhando, não sei se vou participar”. Aos poucos, porém, as técnicas de integração da antropóloga e consultora Mônica Simionato fizeram Tatiane sentirse mais à vontade para participar das atividades reservadas para o dia, que 274 R2_RH_0606.p65 RHSM DIVULGAÇÃO Pense 哷 nisso MÔNICA SIMIONATO CONSULTORA DA FRANQUALITY há muita interação e com isso as pessoas não aprendem a se comunicar, a se relacionar. Por isso esses treinamentos são mais estimulantes que os feitos em sala, de forma convencional”, diz Mônica. “Eles instigam os participantes a deixarem sua zona de conforto, ou seja, o ambiente, os hábitos, o comportamento a que estão acostumados e a se tornarem mais empreendedores, mais ousados, ter mais iniciativa, ser mais participativos e menos acomodados. E as empresas só têm a ganhar com isso”, explica a RHSM consultora Mônica. MAIS INFORMAÇÕES Franquality: . . . . . . . . . . . . . (11) 3758-0064 Schürmann: . . . . . . . . . . . . . (11) 5503-6559 Simbolica H: . . . . . . . . . . . . . (11) 5549-4517 “Os treinamentos vivenciais estimulam os participantes a deixar o que chamamos de zona de conforto, ou seja, o ambiente, os hábitos e o comportamento a que estão acostumados. Então eles se tornam mais empreendedores, ousados, mais participativos, pró-ativos e menos acomodados” JUNHO 2006 274 7/6/2006, 12:10