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Notícias
Geração 500 euros: trabalho cada vez mais
precário
24 Abril 2015
Propostas salariais que mal dão para sobreviver e condições de trabalho mais penalizadoras são a
realidade de um número crescente de portugueses, confirma o nosso inquérito.
Início
Entre setembro e outubro de 2014, realizámos um inquérito em Portugal, na Bélgica, em Espanha e
em Itália para investigar as condições que as entidades patronais estão a propor a quem procura
emprego e as de que usufruem os que mantêm uma ocupação profissional. Face à Bélgica, é evidente
a degradação do mercado de trabalho no Sul da Europa. Por exemplo, naquele país, o salário bruto
médio mais frequentemente oferecido aos candidatos é de 2100 euros, em Itália de 1100 euros, em
Espanha de 800 euros e em Portugal de 500 euros. Os portugueses que procuram emprego queixam­se de propostas inaceitáveis para sobreviver. Os que
têm emprego dizem­se desmotivados com as condições. Poucas oportunidades de promoção, salário
baixo e, por vezes, cortado por iniciativa da empresa (além da carga fiscal), benefícios subtraídos e
mais horas de trabalho explicam o descontentamento.
Cortes impostos pela empresa
11% mais horas de trabalho e igual salário
11% perda de benefícios (alimentação, transporte, etc.)
10% menos salário 4% mais horas de trabalho e menos salário
Mulheres penalizadas no salário bruto médio
€ 1260 mulher
€ 1420 homem
€ 1620 mulher com estudos
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€ 1870 homem com estudos
Salário bruto médio proposto a quem procura emprego
€ 640 setor público € 590 setor privado
Salário bruto médio pago a trabalhadores do quadro
€ 1650 setor público
€ 1210 setor privado
Mais mulheres no desemprego
Mais de 70% dos inquiridos estão empregados e cerca de 16% perderam o posto de trabalho. É muito
mais elevado o número de mulheres nesta situação: 21% contra 11% de homens. O desemprego é
também mais expressivo entre as pessoas com um nível de estudos inferior. Para a maioria, o desemprego é um trabalho a tempo inteiro, com a procura constante de
oportunidades. Cerca de três quartos dos desempregados candidataram­se a, pelo menos, cinco
propostas nos três meses anteriores à recolha dos dados. Um em cada três candidatos que tentaram a
sua sorte não obteve resposta alguma. Números redondos, por cada 10 candidaturas, apenas uma
resultou em entrevista ou teste. Se precisar de ajuda para preparar uma entrevista, o nosso guia dá uma
ajuda.
Neste processo, a ajuda do centro de emprego é diminuta. Cerca de 80% dos inquiridos revelaram­se
insatisfeitos com a quantidade e a qualidade das oportunidades de trabalho e 70% com a ajuda deste
organismo estatal na procura de emprego. As empresas de recrutamento privadas afinam pelo mesmo
diapasão, com três quartos dos inscritos a mostrarem clara insatisfação face aos seus serviços.
Sobreviver com o salário mínimo
Os inquiridos não são exigentes e mostram­se disponíveis para sair da sua área de conforto.
Analisámos as características da última entrevista e apenas em 39% dos casos estava relacionada com
a área de formação. A grande maioria dos inquiridos que chegaram à fase de ouvir as propostas da
empresa ficaram fortemente desiludidos. Em cerca de um quinto dos casos, incluindo no setor
público, não estava previsto contrato escrito. Isso não significa, ao contrário do que algumas entidades
patronais possam fazer crer, que não haja contrato. Em Portugal, nos contratos sem termo, a lei não
exige a forma escrita, ou seja, para que se verifique uma relação laboral, não é imprescindível a
existência de um documento.
A acrescer ao vínculo pouco transparente, o salário é um fator de grande desmotivação e demonstra,
de forma crua, a degradação do mercado de trabalho em Portugal: em média, a última proposta
recebida foi de 640 euros brutos no público e de 590 no privado. Mas metade dos inquiridos nesta
situação ouviu do candidato a patrão a “sentença” do salário mínimo: 485 euros na altura do inquérito,
entretanto fixados em 505 euros.
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Não admira, pois, que 70% considerem mau o salário proposto e que 78% se queixem da ausência de
extras, como subsídios de alimentação e de transporte, os quais, no entanto, não são obrigatórios por
lei.
Trabalho mal pago e sem contrato
Dos inquiridos com emprego, apenas metade trabalha realmente na sua área de especialização. Este
número sobe para 61% entre os que têm um nível de estudos mais elevado. O contrato com duração indeterminada é o mais frequente: 62% dos inquiridos empregados no
privado e 73% no público estão ligados à entidade patronal por esta via. Mas há quem assuma
trabalhar sem contrato escrito, incluindo no setor público (17% neste caso).
Mais de 80% dos inquiridos têm de cumprir horário, ainda que possa haver flexibilidade na hora de
entrar e sair. A esmagadora maioria não tem autorização para desempenhar a atividade a partir de
casa, nem mesmo ocasionalmente. Apesar de, na maior parte das situações, o contrato prever 40 horas
por semana, 60% dos profissionais acabam por cumprir, em média, mais oito do que o previsto. No
setor privado, o excedente é superior. http://www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir
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Em dois terços dos casos, não há compensações para as horas extraordinárias, nem mesmo com tempo
livre. Segundo a lei, em regra, as horas a mais não solicitadas pela empresa, ainda que esta delas
beneficie, não têm de ser remuneradas ou convertidas em dias de férias. O salário bruto médio reportado pelos inquiridos é de 1340 euros, mas metade ganha 1000 e um
quarto não passa dos 690 euros. As mulheres, mesmo com estudos elevados, recebem menos do que
os homens em iguais circunstâncias: 1620 contra 1870 euros brutos. Os inquiridos com um nível de
educação mais baixo ganham uma média de 785 euros brutos, ao passo que, em Espanha, este valor é
de 1530 euros líquidos. Já os universitários atingem 1730 euros brutos por cá e 2220, também livres
de impostos, do lado de lá da fronteira.
A crise tem tido repercussão direta no salário e nos benefícios. Entre os inquiridos, 11% sofreram uma
perda de subsídios e igual percentagem passou a trabalhar mais horas sem aumento do salário. O
ordenado foi reduzido em 10% dos casos e noutros 5% houve salários em atraso ou quantias nunca
pagas. Estes cortes e perdas são contrários à lei. Mas, sobretudo em tempo de crise, muitos
trabalhadores veem­se forçados a aceitá­los, partindo do princípio de que mais vale receber menos do
que não receber. Tais medidas deveriam ter caráter temporário e durar apenas até as dificuldades da
empresa terminarem. Explore o nosso guia para conhecer todos os seus direitos no mundo do trabalho.
A maioria dos desempregados não tem recursos para uma vida digna. Mas um quinto dos que
trabalham dizem que o que ganham não chega para pagar despesas essenciais e a maioria queixa­se de
que o salário é apenas suficiente para viver (66 por cento). Retratos de um país diminuído pela crise.
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