02/05/2015 www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir Está aqui: Página inicial > Dinheiro > Desemprego > Geração 500 euros: trabalho cada vez mais precário Notícias Geração 500 euros: trabalho cada vez mais precário 24 Abril 2015 Propostas salariais que mal dão para sobreviver e condições de trabalho mais penalizadoras são a realidade de um número crescente de portugueses, confirma o nosso inquérito. Início Entre setembro e outubro de 2014, realizámos um inquérito em Portugal, na Bélgica, em Espanha e em Itália para investigar as condições que as entidades patronais estão a propor a quem procura emprego e as de que usufruem os que mantêm uma ocupação profissional. Face à Bélgica, é evidente a degradação do mercado de trabalho no Sul da Europa. Por exemplo, naquele país, o salário bruto médio mais frequentemente oferecido aos candidatos é de 2100 euros, em Itália de 1100 euros, em Espanha de 800 euros e em Portugal de 500 euros. Os portugueses que procuram emprego queixamse de propostas inaceitáveis para sobreviver. Os que têm emprego dizemse desmotivados com as condições. Poucas oportunidades de promoção, salário baixo e, por vezes, cortado por iniciativa da empresa (além da carga fiscal), benefícios subtraídos e mais horas de trabalho explicam o descontentamento. Cortes impostos pela empresa 11% mais horas de trabalho e igual salário 11% perda de benefícios (alimentação, transporte, etc.) 10% menos salário 4% mais horas de trabalho e menos salário Mulheres penalizadas no salário bruto médio € 1260 mulher € 1420 homem € 1620 mulher com estudos http://www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir 1/4 02/05/2015 www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir € 1870 homem com estudos Salário bruto médio proposto a quem procura emprego € 640 setor público € 590 setor privado Salário bruto médio pago a trabalhadores do quadro € 1650 setor público € 1210 setor privado Mais mulheres no desemprego Mais de 70% dos inquiridos estão empregados e cerca de 16% perderam o posto de trabalho. É muito mais elevado o número de mulheres nesta situação: 21% contra 11% de homens. O desemprego é também mais expressivo entre as pessoas com um nível de estudos inferior. Para a maioria, o desemprego é um trabalho a tempo inteiro, com a procura constante de oportunidades. Cerca de três quartos dos desempregados candidataramse a, pelo menos, cinco propostas nos três meses anteriores à recolha dos dados. Um em cada três candidatos que tentaram a sua sorte não obteve resposta alguma. Números redondos, por cada 10 candidaturas, apenas uma resultou em entrevista ou teste. Se precisar de ajuda para preparar uma entrevista, o nosso guia dá uma ajuda. Neste processo, a ajuda do centro de emprego é diminuta. Cerca de 80% dos inquiridos revelaramse insatisfeitos com a quantidade e a qualidade das oportunidades de trabalho e 70% com a ajuda deste organismo estatal na procura de emprego. As empresas de recrutamento privadas afinam pelo mesmo diapasão, com três quartos dos inscritos a mostrarem clara insatisfação face aos seus serviços. Sobreviver com o salário mínimo Os inquiridos não são exigentes e mostramse disponíveis para sair da sua área de conforto. Analisámos as características da última entrevista e apenas em 39% dos casos estava relacionada com a área de formação. A grande maioria dos inquiridos que chegaram à fase de ouvir as propostas da empresa ficaram fortemente desiludidos. Em cerca de um quinto dos casos, incluindo no setor público, não estava previsto contrato escrito. Isso não significa, ao contrário do que algumas entidades patronais possam fazer crer, que não haja contrato. Em Portugal, nos contratos sem termo, a lei não exige a forma escrita, ou seja, para que se verifique uma relação laboral, não é imprescindível a existência de um documento. A acrescer ao vínculo pouco transparente, o salário é um fator de grande desmotivação e demonstra, de forma crua, a degradação do mercado de trabalho em Portugal: em média, a última proposta recebida foi de 640 euros brutos no público e de 590 no privado. Mas metade dos inquiridos nesta situação ouviu do candidato a patrão a “sentença” do salário mínimo: 485 euros na altura do inquérito, entretanto fixados em 505 euros. http://www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir 2/4 02/05/2015 www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir Não admira, pois, que 70% considerem mau o salário proposto e que 78% se queixem da ausência de extras, como subsídios de alimentação e de transporte, os quais, no entanto, não são obrigatórios por lei. Trabalho mal pago e sem contrato Dos inquiridos com emprego, apenas metade trabalha realmente na sua área de especialização. Este número sobe para 61% entre os que têm um nível de estudos mais elevado. O contrato com duração indeterminada é o mais frequente: 62% dos inquiridos empregados no privado e 73% no público estão ligados à entidade patronal por esta via. Mas há quem assuma trabalhar sem contrato escrito, incluindo no setor público (17% neste caso). Mais de 80% dos inquiridos têm de cumprir horário, ainda que possa haver flexibilidade na hora de entrar e sair. A esmagadora maioria não tem autorização para desempenhar a atividade a partir de casa, nem mesmo ocasionalmente. Apesar de, na maior parte das situações, o contrato prever 40 horas por semana, 60% dos profissionais acabam por cumprir, em média, mais oito do que o previsto. No setor privado, o excedente é superior. http://www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir 3/4 02/05/2015 www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir Em dois terços dos casos, não há compensações para as horas extraordinárias, nem mesmo com tempo livre. Segundo a lei, em regra, as horas a mais não solicitadas pela empresa, ainda que esta delas beneficie, não têm de ser remuneradas ou convertidas em dias de férias. O salário bruto médio reportado pelos inquiridos é de 1340 euros, mas metade ganha 1000 e um quarto não passa dos 690 euros. As mulheres, mesmo com estudos elevados, recebem menos do que os homens em iguais circunstâncias: 1620 contra 1870 euros brutos. Os inquiridos com um nível de educação mais baixo ganham uma média de 785 euros brutos, ao passo que, em Espanha, este valor é de 1530 euros líquidos. Já os universitários atingem 1730 euros brutos por cá e 2220, também livres de impostos, do lado de lá da fronteira. A crise tem tido repercussão direta no salário e nos benefícios. Entre os inquiridos, 11% sofreram uma perda de subsídios e igual percentagem passou a trabalhar mais horas sem aumento do salário. O ordenado foi reduzido em 10% dos casos e noutros 5% houve salários em atraso ou quantias nunca pagas. Estes cortes e perdas são contrários à lei. Mas, sobretudo em tempo de crise, muitos trabalhadores veemse forçados a aceitálos, partindo do princípio de que mais vale receber menos do que não receber. Tais medidas deveriam ter caráter temporário e durar apenas até as dificuldades da empresa terminarem. Explore o nosso guia para conhecer todos os seus direitos no mundo do trabalho. A maioria dos desempregados não tem recursos para uma vida digna. Mas um quinto dos que trabalham dizem que o que ganham não chega para pagar despesas essenciais e a maioria queixase de que o salário é apenas suficiente para viver (66 por cento). Retratos de um país diminuído pela crise. http://www.deco.proteste.pt/dinheiro/desemprego/noticia/geracao-500-euros-trabalho-cada-vez-mais-precario/imprimir 4/4