ID: 55975253
02-10-2014
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País: Portugal
Cores: Preto e Branco
Period.: Semanal
Área: 25,60 x 32,70 cm²
Âmbito: Regional
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Universidade do Algarve
cada vez mais cosmopolita
TEXTO Sara Alves FOTOS Fernando Guerra
UAlg é opção «número um»
para um maior número
de candidatos ao ensino superior
«barlavento» entrevistou em
exclusivo o Reitor da Universidade do Algarve (UAlg)
António Branco, em funções
desde novembro do ano passado. Após encerrar o périplo pelo Algarve, irá agora iniciar uma série de iniciativas que visam a internacionalização da instituição através do recrutamento
de alunos de todo o mundo,
bem como a captação de um
número maior de estudantes
nacionais e estrangeiros residentes no Algarve. No entanto, mostra-se muito preocupado com a aparente falta de interesse nas engenharias, e apela para que haja
uma estratégia governamental para colmatar o problema, que considera «grave».
Este ano, a única universidade pública da região viu
exponencialmente aumentado o número de candidatos
que escolheram a instituição como o seu local de formação, e conseguiu valores
muito acima da média nacional tanto na primeira como
na segunda fase de candidaturas. Atualmente, com
uma comunidade académica de 700 docentes e investigadores, 9.000 alunos, de entre os quais 600 são internacionais, e uma oferta de cerca de 150 cursos, a UAlg afirma-se como multicultural e
cada vez mais procurada.
No início deste ano académico, a UAlg surpreendeu
ao ter o maior aumento de
candidatos colocados logo
na primeira fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior em todo o País.
Só nesta fase, houve um aumento de 14% no núme-
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ro de alunos colocados, enquanto que a média nacional
foi de 1%. Já na 2ª fase, que
terminou a semana passada, a universidade registou
novamente um aumento de
5% acima da média nacional
(+18% face ao ano transacto). Enquanto que na 1ª fase
a UAlg foi a primeira escolha
para 14% dos alunos, na segunda fase registou um valor de 32% de alunos que escolheram a instituição como
primeira opção.
A UAlg regista agora
25,8% de vagas por preencher, face a 43,4% de vagas
no ano anterior. Porém, haverá lugar para uma 3ª fase
de candidaturas pelo que
esta percentagem poderá
ainda diminuir. De acordo
com o Reitor, «seguramente que diminuirá. Há ainda
os concursos especiais, que
estão a concorrer paralelamente, portanto os números
só vão estabilizar em meados de novembro».
«Um dos fatores a admitir é que a percepção que as
pessoas têm da economia esteja a mudar. Outro fator tem
a ver com o maior número de
estudantes no Algarve que
escolhem esta universidade
como primeira opção. Esta
escolha é simbolicamente
importante, pois significa
que existe uma confiança regional». Apesar de ainda haver muito trabalho por fazer,
António Branco afirma que
está «absolutamente convencido» que este aumento resulta do trabalho que a
Universidade do Algarve tem
vindo a fazer para recuperar
uma parte da sua quota regional. «A aposta que fize-
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mos numa maior visibilidade
da universidade, quer na comunicação social da região,
nas associações, empresas e
municípios, é uma possível
explicação para aquilo que
está a acontecer», explica.
Cursos mais
procurados
No ano passado por esta altura, a universidade apresentava sete dos seus cursos totalmente preenchidos; este ano o número subiu para 20. Entre os mais
procurados, além das biologias marinhas, estão os cursos das ciências sociais e humanas. «Isto é muito interessante, especialmente num
momento em que se diz que
ninguém quer saber das humanidades e das ciências sociais», explica o Reitor. «A
Faculdade de Economia, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Escola Superior de Educação e Comunicação e alguns cursos da Escola Superior de Hotelaria e
Turismo cresceram muito.
Há muitos cursos com muito
poucas vagas para a terceira
fase».
Já do lado oposto, as engenharias continuam «a
preocupar muito». António
Branco aponta a situação
como «um problema geral e
grave. Estamos a fazer um
trabalho interno muito intenso para atrair alunos para
as engenharias. Deve haver
um debate e uma estratégia
nacional» para colmatar esta
situação.
Périplo algarvio
encerrado
António Branco, explica que
este périplo teve «uma dimensão pessoal e institucional». A nível pessoal diz-se curioso e aberto a conhecer novas pessoas. Apesar
de já ser professor na UAlg
há muitos anos, sabe que
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de vida. «Não seria má ideia
pensar num programa que
pudesse atrair as pessoas
que qualificámos em Portugal, para que possam desenvolver a sua atividade cá».
«não era uma figura pública da região», por isso a primeira intenção foi «dar-me
a conhecer» nos vários concelhos. Apesar de conhecer
bem o Algarve - e de se sentir um algarvio de alma, embora «adoptivo» – sabe que
quando um presidente de
Câmara decide mostrar o
seu concelho, «aquilo que se
vê é diferente!». O outro aspecto foi institucional e esteve relacionado com o estreitamento das relações.
«De vez em quando é necessário renovar estas relações.
Fomos muito bem recebidos, não só pelos responsáveis e autarquias, mas pelas empresas e associações».
Em quase todos os
concelhos foram lançados
novos desafios à UAlg. António Branco diz que as empresas e associações querem
estagiários e «isso é muito
bem-vindo, porque proporciona a mais alunos a possibilidade de passarem do plano académico para o plano
profissional. Estamos a assinar protocolos que têm em
vista isso e o balanço é muito
positivo».
Internacionalização
Uma vez que a universidade já tem oferta formativa
em língua inglesa, António
Branco explica que uma dos
objetivos que tem em mente
e que ainda não teve tempo
de concretizar é de reunir-se
com associações e organizações direcionadas aos estrangeiros residentes no Algarve. Quer agora iniciar um
segundo ciclo para estabelecer relações mais próximas
com os seus representantes.
«Quero começar a olhar para
outros aspectos da região, e
atrair residentes estrangeiros está nos meus planos. Tenho de ir ao encontro destas
pessoas, falar com elas, ouvir as suas ideias e, em função delas, estabelecer estratégias diferenciadas. É necessário construir, com estas pessoas, um programa
de captação de estudantes
estrangeiros residentes que
atenda às suas necessidades;
e isto eu quero fazer com os
organismos,
associações,
embaixadas e representantes consulares».
«Mas temos também de
ter uma estratégia para todo
o universo (de povos) que
fala a língua portuguesa»,
diz António Branco, «pois dificilmente uma universidade
consegue que todos os seus
cursos sejam ministrados,
com qualidade pedagógica,
numa língua que não seja o
português». É desta forma
que o Reitor explica o grande
investimento e aposta que
tem vindo a fazer, por exemplo, no mercado brasileiro.
«O Brasil é um mercado
interessante, porque anualmente ficam de fora milhões
de candidatos ao ensino superior, e há uma classe média com algum poder económico que tem uma certa
apetência pela Europa. Está
para ser assinado muito em
breve um protocolo com o
Instituto que no Brasil corresponde à nossa Comissão
Nacional de Acesso ao Ensino Superior, e que vai permitir duas coisas muito importantes: a primeira, que os
alunos que se candidatam ao
ensino superior no Brasil tenham a Universidade do Al-
garve como opção; e a segunda, que eles saibam que aceitamos as provas que são feitas lá como provas específicas para poderem entrar nos
nossos cursos».
Além disto, está a ser
feita uma identificação dos
‘road shows’ brasileiros para
divulgação da nossa oferta:
«estamos a tentar sinalizar
um ou dois que sejam significativos para podermos mostrar a nossa oferta formativa». Já em janeiro deverá ser
enviada uma comitiva do gabinete de comunicação para
desempenhar este trabalho,
uma vez que os alunos brasileiros sabem até março o resultado dos seus exames.
Paralelamente a estas acções de internacionalização,
o reitor explica que já existem cursos «de grande qualidade que estão a ser ministrados em inglês, como por
exemplo, na área da economia, do mar e das biologias
de ponta. Já possuímos também cursos de mestrado e
doutoramento ministrados
na língua inglesa. Estão em
funcionamento e agora temos de ir a públicos e universidades que nos interessam, como na Índia, China e
no Médio Oriente. Estamos
a deslocar comitivas a esses
países para fazerem apresentações mais restritas do
trabalho que estamos a fazer».
Há pouco mais de uma
semana, os ministros Nuno
Crato e Poiares Maduro
anunciaram o «Visto Talento», que visa atrair estudantes estrangeiros para Portugal.
O estudo «Uma estratégia para a Internacionaliza-
ção do Ensino Superior Português», encomendado anteriormente ao antigo reitor da UAlg João Guerreiro,
serviu de base para a criação desta medida de internacionalização do ensino superior. As universidades vão
passar a poder concorrer diretamente com empresas a
fundos comunitários para
se internacionalizarem. Para
conseguirem aceder aos fundos, as universidades e politécnicos têm de apresentar
projetos relacionados com a
internacionalização do ensino superior até ao dia 31 de
outubro.
António Branco explica que «a única informação
que temos para já é que há
intenção do governo de criar
o «Visto Talento», que tem de
ser financiado, e ainda não
sabemos como é que vai ser
regulamentado. O que vamos fazer agora é reunir internamente sobre o assunto. No fundo, é uma medida
que vai ao encontro do que
a Universidade do Algarve
pretende: tornar-se cosmopolita».
A UAlg já conta com muitos docentes e investigadores estrangeiros que vivem e
trabalham na região há muitos anos. «Temos o aeroporto internacional aqui ao lado
e um clima maravilhoso. As
pessoas devem gostar de viver no sítio onde trabalham,
tal como afirma o slogan que
pusemos a circular ‘Estude
onde é bom viver’!». Entretanto, o Reitor espera também que o governo não se
esqueça dos talentos portugueses que se foram embora para outros países à procura de melhores condições
Financiamento
e propinas
«Considero que a Universidade do Algarve está a viver a sua melhor fase. Temos
um corpo de funcionários,
docentes e estudantes extraordinário, mesmo com as
imensas restrições financeiras que tivemos nos últimos
anos», confessa o Reitor. Sobre a falta de financiamento,
António Branco afirma que a
«ideia de que as universidades pedem dinheiro distorce completamente a realidade. As universidades cumprem uma missão do Estado. E para se cumprir esta
missão, com qualidade, tem
de haver dinheiro. As universidades têm vindo a acomodar cortes violentos, e no
caso específico da Universidade do Algarve, esta viu
o seu orçamento ser reduzido em 32%, isto é, menos
14 milhões de euros investidos. Como é que sobrevivemos? Encontrámos alguns
fundos europeus alternativos, mas houve um esforço
de contenção de despesa absolutamente brutal. Esta situação não pode arrastar-se
por muito mais tempo. É preciso que sejam tomadas decisões que invertam este quadro. Não podemos continuar
a sofrer cortes sucessivos no
ensino superior».
Relativamente ao valor
anual das propinas, este não
tem aumentado e ronda atualmente os 965 euros. Uma
das grandes novidades deste
ano, que visa ajudar os alunos e as suas famílias, é que
este valor já pode ser pago
em oito prestações (ao invés
das quatro prestações permitidas anteriormente).
ID: 55975253
02-10-2014
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