Avaliação da Expansibilidade de um Solo de Juazeiro-BA João Barbosa de Souza Neto Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-BA, Brasil, [email protected] Marcelo Ferraz Santos* Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-BA, Brasil, [email protected] Petrucio Antunes Martins Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-BA, Brasil, [email protected] Humberto Coelho Duarte Junior* Universidade Federal do Vale do São Francisco, Juazeiro-BA, Brasil, [email protected] * Aluno do Curso de Engenharia Civil RESUMO: A região nordeste vem sendo submetida a grandes investimentos em obras de infraestruturas. Seu clima semiárido favorece a ocorrência de solos não saturados com corportamento expansivos e colapsíveis. Este trabalho apresenta e discute resultados preliminares de um projeto de pesquisa realizado pelo Grupo de Pesquisa Geotecnia do Semiárido da UNIVASF (GEOVASF) que tem como um dos objetivos a identificação e mapeamento da ocorrência de solos expansivos na região do submédio São Francisco. O estudo está baseado em resultados de ensaios de laboratório, onde se avalia a expansibilidade do solo e suas implicações nas obras predominantes na região. Basicamente foram realizados ensaios de caracterização, expasão livre e determinação da pressão de expansão. A amostra utilizada corresponde a um Vertissolo localizado no município de Juazeiro-BA. Nas proximidades do local de amostragem investimentos imobiliários vêm sendo feitos, em grande parte correspondentes a projetos de residências unifamiliares financiaveis pelo programa Minha Casa Minha Vida. O resultado do estudo mostrou que o solo é de média a alta expansibilidade, porém não podendo ser negligenciado nos projetos em curso. PALAVRAS-CHAVE: solo expansivo, vertissolo, ensaios de laboratório. 1 INTRODUÇÃO A região nordeste vem sendo submetida a grandes investimentos em obras de infraestruturas. Seu clima semiárido favorece a ocorrência de solos não saturados com corportamento expansivos e colapsíveis. O Grupo de Pesquisa Geotecnia do Semiárido da UNIVASF (GEOVASF) tem como um dos objetivos a identificação e mapeamento da ocorrência de solos expansivos na região do submédio São Francisco. Neste sentido, amostras deformadas e indeformadas vem sendo coletadas em diferentes locais de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, com vistas a identificar e avaliar a expansibilidade dos solos, bem como definir futuros campos experimentais para fins de pesquisas de soluções econômicas de fundações. Este trabalho apresenta e discute resultados preliminares de ensaios de laboratório realizados em amostras de solos coletadas de uma formação de Vertissolo no município de Juazeiro-BA. Foram realizados ensaios de caracterização, expansão livre e determinação da pressão de expansão e cisalhamento direto. 2 CONSIDERAÇÃO TEÓRICA Alguns solos argilosos, normalmente no estado não saturado, são caracterizados por apresentar alterações volumétricas quando submetidos a variações na umidade. Esses solos são comumente referidos de solos expansivos. As variações volumétricas podem ocorrer por consequência de aumento na umidade (expansão) ou por perda de umidade (contração). Por esta razão, alguns autores, a exemplo de Justino da Silva (2001) definem solo potencialmente expansivo como aquele que apresenta aumento ou redução de volume quando sofre variação na umidade (ou sucção). 2.1 Mecanismo de expansão Justino da Silva (2001) relata que o mecanismo de expansão das argilas é complexo, sendo influenciado por vários fatores. A expansão é o resultado da mudança no sistema solo-água a qual perturba o equilíbrio das tensões internas. Se as propriedades da água do solo são alteradas, seja por variação da quantidade ou da composição química, a força entre partículas mudará. Caso a mudança resultante nas forças internas não seja balanceada pela correspondente alteração no estado de tensões, aplicado externamente, o espaçamento entre partículas será alterado até que as forças atinjam novamente o equilíbrio. Essa modificação no espaçamento se manifestará sob a forma de aumento ou redução de volume. A expansão de um solo estará associada à quantidade e natureza da fração argila. Quanto maior a quantidade de argila e maior a superfície específica, maior será a susceptibilidade de um solo à variação volumétrica de expansão e/ou contração. A montmorilonita é considerada o argílico mineral mais expansivo e, normalmente, solos com elevado potencial de expansão pussui em sua fração argila minerais dessa família. 2.2 Ocorrência de solos expansivo A ocorrência de solos expansivos normalmente está associada a regiões com deficiência hídrica, embora não seja rara sua ocorrência em regiões de elevada precipitação volumétrica. Nesse contexto, esse tipo solo tem sido encontrado em quase todos os continentes. No Brasil os solos expansivos têm sido encontrados em várias regiões, desde regiões com clima semiárido (Amorim, 2004) assim como em regiões com clima equatorial, como é o caso do Estado do Acre (Monteiro, 2006). No Submédio do São Francisco os solos expansivos têm sido encontrados nos municípios de Afrânio, Petrolândia, Serra Talhada, Petrolina (Ferreira, 1989) no Estado de Pernambuco. Em Juazeiro, Estado da Bahia, tem sido verificado a existência de Vertissolos com características expansivas, citadas por Simões e Costa Filho (1981) apud Amorim (2004), Sousa (2009) e Santos (2010). É neste contexto que se insere este trabalho, cujo estudo diz respeito à expansibilidade do vertissolo de Juazeiro-BA. 3 CARACTERÍSTICAS ÁREA DE ESTUDO GERAIS DA 3.1 Clima A área de estudo está localizada no município de Juazeiro – BA, nas proximidades do Campus da UNIVASF (FACJU), situado próxima ao bairro Dom José Rodrigues e Rodovia BA 210, saída para o município de Sobradinho-BA. O clima da região de Juazeiro-BA é do tipo BSwh’, segundo a classificação de Köppen, que corresponde a uma região quente e semi-árida. A temperatura do ar em Juazeiro varia entre 24ºC e 29ºC. Constata-se uma pequena variabilidade interanual, devido à proximidade da região em relação ao Equador, sendo julho o mês mais frio e novembro o mês mais quente do ano (Teixeira e Lima Filho, 2007). O índice pluviométrico da região, a partir de dados da Teixeira e Lima Filho (2007), é o elemento meteorológico de maior variabilidade espacial e temporal. Nos últimos 30 anos, em Juazeiro-BA, o total anual médio foi de 542 mm. O período chuvoso nessa região concentrase entre os meses de novembro e abril, enquanto o período mais seco ocorre de junho a agosto. No quadrimestre chuvoso, acontece a maior parte da precipitação, ficando o restante do ano praticamente sem chuva (CBHSF, 2004). Outro fator climático característico do Submédio São Francisco é a alta taxa de evaporação, média anual de 1.550 mm, ocasionada, entre outros fatores, pelos elevados valores de temperatura do ar. Com isso, a perda de água potencial para atmosfera é sempre maior que a precipitação, resultando na grande perda de água dos solos (CBHSF, 2004). Essas variações climáticas tendem a resultar em grandes variações na umidade do solo, sendo a principal causa das variações volumétricas em solos expansivos. 3.2 Características geológicas e pedológias Em termos geológicos o município de Juazeiro pode ser dividido em dois macros compartimentos, denominados leste e oeste, delimitado pelo riacho Poço Comprido. Na porção leste prevalecem diversas tipologias rochosas, de composições graníticas variadas, que para fins de planejamento podem ser enquadradas como rochas do embasamento cristalino. Na porção oeste ocorre em menor quantidade rochas do embasamento cristalino, quartzitos e calcários associados ao grupo chapada, principalmente na porção extrema sudoeste deste compartimento. De forma mais extensa, desenvolve-se na porção central do compartimento uma extensa cobertura de sedimentos calcários, associados à formação caatinga onde se desenvolvem vertissolos de grande potencialidade expansiva. Ocorrem ainda de forma subordinada, sedimentos aluvionares arenosos nas planícies fluviais do Rio São Francisco. Quanto à pedologia, o território do município de Juazeiro, assim como a Bahia, apresenta uma grande diversidade de solos, entretanto, alguns tipos se destacam dos demais, tais como: vertissolos, planossolos, cambissolo, latossolo e podzólico vermelho amarelo. 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Coleta de amostras No local de estudo foi realizada uma coleta de amostra indeformada e deformada. A deformada foi utilizada para realização de ensaios de caracterização e a indeformada para obtenção do potencial de expansão, da pressão de expansão e avaliação da resistência ao cisalhamento. A campanha de amostragem foi realizada em Abril de 2010, no fim do período chuvoso da região. O local da amostragem foi escolhido a partir da análise prévia de mapas pedológicos do estado da Bahia que indicam a existência de Vertissolos nesta localidade, bem como análise táctil-visual de amostras coletadas por meio de trado, onde se verificou algumas caractererísticas típicas de solos expansivos, a destacar: cor, pegajosidade etc. 4.2 Ensaios de caracterização A caracterização física do solo em estudo se deu através de ensaios de granulometria, limites de liquidez e de plasticidade. Os ensaios foram realizados segundo as normas ABNT NBR 7181/1984, NBR 6508/1984, NBR 6459/1984 e NBR 7180/1984. Para todos os ensaios de caracterização utilizou-se amostra previamente seca ao ar. 4.2 Ensaios edométricos Os ensaios edométricos foram realizados com o objetivo de determinar o potencial de expansão do solo e da tensão de expansão, que corresponde àquela necessária para evitar a expansão do solo. Os ensaios foram realizados por meio de uma prensa tipo Bishop com célula de anel fixo e munida de sistema automático de aquisição de dados. Uma vez que a amostragem foi realizada no final do período chuvoso, antes da moldagem dos corpos-de-prova a amostra indeformada foi submetida a uma secagem prévia até atingir uma umidade próxima a da estação seca da região. Este procedimento foi adotado para se obter a máxima expansão do solo e, também, a maior tensão de expansão. O potencial de expansão (deformação de expansão) foi obtido por meio do ensaio de expansão livre, que corresponde em aplicar uma tensão mínima (2,5 kPa) e inundar o solo para permitir a expansão. A expansão é acompanhada até a estabilização que, neste caso, ocorreu em tono de três dias. Após a estabilização da expansão do solo, eram aplicados novos estágios de carregamentos, obtêndo-se uma curva de compressão do solo saturado. A tensão 4.3 Ensaio de cisalhamento direto A resistência ao cisalhamento do solo foi avaliada por meio de ensaio de cisalhamento direto. Utilizou-se um equipamento eletromecânico microprocessado MATEST. Foram realizados dois conjuntos de ensaios: ensaios sem inundação e ensaios com o solo previamente inundado. Nos ensaios inundados a inundação foi feita por um período mínimo de 24 horas sob a tensão vertical. Foram adotadas as tensões verticais de 100 kPa, 200 kPa e 400 kPa. inorgânicos (2,6 a 2,9 g/cm3), conforme Das (2007). O solo apresenta um limite de liquidez de 31% e um índice de plasticidade de 16%, vindo a classificá-lo no grupo CL (argila de baixa compressibilidade) no Sistema de Classificação Unificado (USCS). O índice de atividade (Ia) foi de 0,26, enquadrando este solo na classe de baixa atividade, conforme Skempton (1956). Tabela 1. Resumo dos resultados de caracterização. % Passa #200 75 % Composição Granulométrica Gs Limites de Atterberg necessária para trazer o solo à condição inicial foi considerada como sendo a tensão de expansão. Este procedimento tem sido adotado pelo exército americando (ARMY, 1983) no estudo e projetos em solos expansivos nos Estados Unidos. Outro procedimento, não adotado neste trabalho, consiste em inundar o solo com uma carga mínima e aplicar sucessivos carregamentos para impedir a expansão. Este procedimento é referido como determinação da tensão de expansão a volume contante. A vantagem do primeiro é a possibilidade de, com apenas um corpo-de-prova, obter simultaneamente o potencial de expansão e a tensão de expansão, dois parâmetros de grande importância no projeto de fundações em solos expansivos. Foi realizado também um ensaio de compressão edométrica sem inundação do solo com o objetivo de obter uma curva de compressão nesta condição. 2,6 Argila 62,2% Silte 12,1% Areia fina 4,7% Areia média 13,9% Areia Grossa 5,0% Pedregulho 2,1% LL 31% LP 15% IP 16% Classificação USCS CL 5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Com base em resultados de ensaios de caracterização, o potencial de expansão foi avaliado segundo alguns critérios da literatura. De acordo com o critério de Seed et al (1962) e Chen (1983) o solo apresenta médio potencial de expansão (10 ≤ IP ≤ 20 e 30 ≤ LL ≤ 40, respectivamente). Pelo critério de Daksanamurthy e Raman (1973), apresenta-se como solo de baixa expansibilidade (20 ≤ LL ≤ 35). 5.1 Ensaios de caracterização 5.2 Ensaios edométricos A Tabela 1 apresenta um resumo dos resultados dos ensaios de caracterização. Consta também a classificação do solo segundo o sistema de classificação unificado. O solo apresenta uma granulometria fina, com 75% da fração passando na peneira 0,075mm. A fração predominante é a argila, com 62%. O peso específico real dos grãos (Gs) foi de 2,6 g/cm3, sendo compatível com solos argilosos A Figura 1 apresenta a curva de expansão do solo com o tempo. A deformação total de expansão (Fig. 1), contando do início da inundação, foi de 9,32%. Praticamente a totalidade ocorreu em pouco mais de 16 horas, embora o processo de inundação tenha sido mantido por 3 dias. levantamentos/recalques e não se adote medidas adequadas quanto à drenagem. A Figura 2 apresenta a curva de compressão do solo representada com a indicação da tensão de expansão. -10 wi= 3,28%; 2,5 kPa -6 0,50 w i = 3,28% e vi = 2,5 kPa 0,48 -4 0,46 -2 Expansão 0 2 0,01 Expansão 0,44 Índice de Vazios Deformação Volumétrica (%) -8 0,1 1 10 100 Tempo (min) 1000 10000 Figura 1. Curva de variação da deformação com o tempo referente à tensão de 2,5 kPa, decorrente inundação do solo. De acordo com o critério de Seed et al. (1962) o solo apresenta alta expansibilidade (5 25%), para as condições do ensaio. Já para o critério Holtz e Gibbs (1956) (0 - 10%), apresenta-se como solo de baixa expansibilidade. Estas conclusões discrepantes mostram o quanto se deve ter cautela ao avaliar a expansibilidade de um solo. O potencial de expansão depende do nível de tensão e das condições iniciais do solo. Além disso, cada estrutura responderá diferentemente aos movimentos verticais decorrente da expansão, o que reforça a necessidade de estimar também os levantamentos e recalques decorrentes das variações de umidade do solo. Dependendo do tipo de estrutura, potenciais de expansão dessa ordem podem comprometer a sua funcionalidade embora considerando as condições de umidade no campo, associada às tensões impostas pelas fundações (normalmente superiores a 2,5 kPa), dificilmente este valor será atingido no campo. Entretanto, não pode ser negligenciado no caso de pavimentos e calçamentos em geral e estruturas flexíveis como residências unifamiliares, que estarão mais sujeitas ao surgimento de trincas, caso não se faça uma estimativa adequada dos Compressão 0,42 0,40 ve =[e/(1+eo )]=9,32% 0,38 0,36 0,34 0,32 e = 160 kPa 0,30 1 10 100 1000 Tensão Vertical (KPa) Figura 2. Curva de variação do índice de vazios com a tensão vertical. Na Figura 2, o trecho vertical corresponde à expansão do solo. Após a expansão foram aplicados sucessivos estágios de tensões de forma a se obter a curva de compressão. Dessa curva foi obtida a tensão de expansão (e), que corresponde àquela necessária para trazer o solo ao índice de vazios inicial (eo = 0,36). Para este caso esta tensão foi de 160 kPa, um valor alto considerando que grande parte das estruturas existentes e em processo de construção são de pequeno e médio porte. A fundação de muitas estruturas na região vem sendo projetada para uma tensão adimissível de 100 kPa, valor mínimo exigido pela NBR 6122/2010, inferior a tensão de expansão do solo. 5.3 Ensaio de cisalhamento direto Na Figura 3 apresenta-se curvas típicas do deslocamento horizontal versus a tensão cisalhante e deslocamento vertical, referentes aos ensaios sem inundação e com inundação prévia na tensão normal de 200 kPa. A Figura 4 apresenta as envoltórias de resistência dos ensaios inundados e sem inundação. Constam também os parâmetros de resistência obtidos em cada tipo de ensaio. 800 Tensão Cisalhante (kPa) 700 Sem Inundação R² = 0,9979 Φ' = 59,6° c'= 29 kPa 600 500 Inundado R² = 0,9685 Φ' = 19,6° c'= 28,5 kPa 400 300 200 100 0 0 200 400 Tensão Normal (kPa) 600 Figura 4. Envoltória de resistência inundado e na umidade natural. Figura 3. Curva deslocamento horizontal versus tensão cisalhante (superior) versus deslocamento vertical (inferior). Na Figura 3 observa-se uma grande diferença entre as tensões cisalhantes na ruptura entre os ensaios inundados e não inundados, como era de se esperar. Dois comportamentos típicos podem ser observados nas curvas da Figura 3. O primeiro caracterizado por picos bem definidos da tensão cisalhante seguido de brusca redução para o ensaio sem inundação, com comportamento dilatante do deslocamento vertical, tipico de solos rígidos como argilas duras. O segundo comportamento é caracterizado por patamares bem definidos, porém sem apresenta redução significativa. Na curva deslocamento horizontal versus deslocamento vertical, verifica-se sempre compressão durante o cisalhamento, típico de argilas normalmente adensadas ou pouco préadensadas. Esses resultados mostram o quanto pode variar a capacidade de carga de uma fundação superficial assente sobre este solo, por conta das variações da umidade. É nítida a diferença das tensões de ruptura entre os dois ensaios. Com respeito aos parâmetros de resistência, verifica-se que o ângulo de atrito apresenta maior disparidade, quando comparado o resultado do ensaio inundado com o ensaio sem inundação. Neste último, o ângulo de atrito ( = 59,6°) foi da ordem de três vezes ao obtido no ensaio inundado. Já o intercepto de coesão não se verifica diferenças significativas, estando na ordem de 29 kPa, para ambos os ensaios. Partindo-se dos resultados apresentados avaliaram-se os possíveis efeitos das variações volumétricas e das variações da resistência numa hipotética fundação direta quadrada, com 0,60 m de lado, apoiada a 1,0 m de profundidade num solo com as características do estudado. Considerou-se ainda que a construção fosse realizada no período seco da região e tenha sido submetido a intenso umedecimento no período chuvoso. A tensão admissível para o dimensionamento foi aquela obtida do estudo da capacidade de carga com os parâmetros de resistência do ensaio inundado. Para esta condição, a tensão adimissível foi de 118 kPa. Procurou-se estimar, analiticamente, os recalques no período da construção (estação seca) e os levantamentos decorrentes do umedecimento do solo (período chuvoso). Para estimativa da distribuição das tensões, a tensão aplicada foi a admissível e o bulbo de tensões resultantes foi dividido em três camadas com espessuras constantes. Conhecida a tensão média no centro de cada camada e as deformações (compressão/expansão) obtidas dos ensaios edométricos (Fig. 5) foi feito o cálculo dos recalques e levantamentos nas camadas, conforme metodologia de Veloso e Lopes. 6. CONCLUSÕES -12 -10 Deformação Volumétrica (%) as tensões aplicadas, drenagem, bem como o tipo de vegetação a ser utilizada. Em Rio Branco-AC há histórico de trincas em residências num conjunto habitacional que podem estar associadas a recalques devidos à contração do solo. Neste caso, especula-se que a perda de água se deu pela sucção da própria vegetação. Entretanto, nenhum estudo aprofundado foi feito. Monteiro (2006) realizou ensaios de expansão numa amostra de coletada no local e verificou tratar-se de um solo de média expansivilidade. Compressão -8 -6 Expansão -4 -2 0 2 Compressã o 4 6 1 10 100 Tensão Vertical (KPa) 1000 Figura 5. Curvas de compressão do ensaio de expansão e ensaio sem inudação. O resultado mostrou que, para este caso particular, o recalque na etapa da construção foi da ordem de 20 mm, sendo assimiláveis para grande maioria das edificações. Entretanto, o levantamento devido a expansão do solo foi considerável (da ordem de 80 mm), apesar da tensão aplicada (118 kPa) ser próxima da tensão de expansão. Estes números, a despeito da simplificação da análise, mostram o quanto é importante considerar a tensão de expansão no projeto de fundações em solos expansivos, principalmente quando a construção é feita no período seco da região. Em várias construções de pequeno porte no município de Juazeiro-BA, assentes sobre o vertissolo, tem apresentado problemas no período chuvoso e tem sido associado à expansão do solo. Uma solução em solos expansivos deve-se levar em consideração vários fatores, tais como Os métodos de estimativa da tensão de expansão, a partir de resultados de ensaios de caracterização e expressões empíricas, foram expressivamente discrepantes ao obtido no ensaio edométrico. Este resultado mostra as limitações destas expressões, ressaltando a forte dependência dos solos dos quais foi estabelecida. Os resultados ressaltam ainda a importância da realização de ensaios do tipo edométrico, uma vez que os ensaios de caracterização não permitem a estimativa dessas deformações, as quais dependem das condições de carregamento e condições iniciais do solo, impossíveis de serem avaliados por meio desses ensaios de caracterização. Os resultados da capacidade de carga do solo demonstram que se deve ter bastante cuidado em relação à época de realização de sondagens e coleta de amostras do solo para avaliação dos parâmetros de resistência, tendo em vista a diferença encontrada nos valores de tensão admissível para diferentes condições de umidade do solo. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a UNIVASF pelo apoio ao Grupo de Pesquisa Geotecnia do Semiárido. REFERÊNCIAS Amorim, S. F (2004). Contribuição à cartografia geotécnica: sistema de informações dos solos expansivos e colapsíveis do Estado de Pernambuco. Dissertação de Mestrado. UPFE, Recife, 2004. 244 p. ARMY (1983). “Foundation in Expansive Soils”. Technical Manual – TM5-818-7. Washington, USA. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro, 1996. 33 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo - Determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984. 6 p. 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