8 Brasília, terça-feira, 3 de março de 2015 NA HORA H! PELAS CIDADES KLÉBER LIMA HABITAÇÃO DÉFICIT DE 32 MIL CASAS/ANO Na último governo, apenas dez mil casas foram entregues pelo Morar Bem. Há 350 mil pessoas na fila ejam o desabafo de Fabrícia Carnauba, 39 anos. Desempregada, mãe de quatro filhos, sendo um deles deficiente, ela vive em Ceilândia Norte, onde mora de aluguel. “Muitas vezes, a gente deixa de se alimentar para pagar o aluguel. Aí, você tira da boca do seu filho pelo fato de não ter onde morar”, desabafa A família engrossa o déficit habitacional do DF, que chega a 32,5 mil moradias por ano, segundo a Secretaria de Gestão do Território e Habitação (Segeth). No último go- V verno, apenas dez mil unidades foram entregues pelo Programa Morar Bem. Enquanto isso, mais de 350 mil inscritos aguardam moradia. Fabrícia se inscreveu na Codhab há 14 anos. Hoje, paga por mês R$ 560 pelo pequeno espaço onde mora, dinheiro que só consegue graças à ajuda do primo. “Fui à Codhab para reclamar porque tem gente solteira ganhando o lote. Jovens sem filhos com imóvel na mão”, diz a dona de casa, que abriu mão do emprego para cuidar da filha de 16 anos, portadora de deficiência mental. 10 MIL UNIDADES É A META DO GDF PRA 2015 Governo quer entregar em um ano a mesma quantidade de unidades da gestão anterior Invasões pioram a situação O problema de Fabrícia e dos outros 350 mil inscritos pode estar longe de ser resolvido. A intenção da atual gestão do GDF é de entregar cerca de dez mil unidades habitacionais ainda neste ano. Entre os desafios está a obtenção de recursos financeiros para obras de infraestrutura. “O processo de habilitação está passando por uma revisão geral, visto que foram detectados habilitados com renda superior à prevista nos programas”, esclarece RAPHAEL RIBEIRO Fabrícia se inscreveu na Codhab há 14 anos Frustração por não ter casa própria Cansadas de esperar na fila do programa, mais de 3,4 mil pessoas fazem parte hoje de um grupo no Facebook chamado Morar Bem DF 2015. O criador da página, Esmael Braz, 52, conta que fez seu primeiro registro em programas habitacionais em 1988. “Aí, tive meus documentos roubados e fiz novamente minha inscrição no governo Cristovam. De lá para cá, se não me engano, são mais de 20 anos”, diz o morador do P Sul de Ceilândia. A ideia é unir forças para buscar soluções do GDF que, segundo o autônomo, insiste em não dar posições concretas. “É uma enrolação. Você vai lá, liga e nin- guém sabe nada”, relata. Braz lamenta ainda morar de favor com os pais e não ter acesso à casa própria. “Nã o acho legal. Quer dizer, sou muito grato aos meus pais. Mas é uma situação constrangedora. Vim para Brasília ainda bebê, em 1963. Estou aguardando por uma coisa que eu lutei muito para ter”, relata o autônomo. Para ele, a falta de definições para os cadastrados causa frustração. “Eu acho estranho ficar iludindo as pessoas. Quando você está apto, conclui que vai receber o lote rápido. Aí, você gasta em cartório, vai à Codhab várias vezes, volta, e nada. É tudo uma ilusão”, afirma Braz. RAPHAEL RIBEIRO Esmael lamenta ainda morar de favor com os pais o d i re t o r i m o b i l i á r i o d a Codhab, Jorge Gutierrez. A previsão, conta, é entregar, nos próximos meses, 112 unidades em Samambaia, 928 no Paranoá Parque e 2.304 no Parque do Riacho. “A Codhab está somando todos os esforços e estudos técnicos para entregar em 2015 praticamente a mesma quantidade de unidades habitacionais entregues nos últimos quatro anos”, diz o diretor, que condena as invasões no território do DF. Brasília, por ser a capital do país, naturalmente atrai migrantes. Por isso, é muito difícil zerar o déficit habitacional aqui no Distrito Federal. Mas as tentativas continuam. Vamos ver.