FACULDADES INTEGRADAS ICESP PROMOVE DE BRASÍLIA CURSO DE BACHAREL EM JORNALISMO Ouvir: uma revista sobre a Língua Brasileira de Sinais Andrei Helber da Costa Moreira Wagner Ribeiro de Morais Dutra Orientadora: Ana Seidl BRASÍLIA 2014 1 Curso de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo Ouvir: uma revista sobre a Língua Brasileira de Sinais Andrei Helber da Costa Moreira Wagner Ribeiro de Morais Dutra Relatório de projeto experimental apresentado ao curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito para obtenção do título de bacharel, sob orientação da professora Ana Seidl BRASÍLIA 2014 2 Ouvir: uma revista sobre a Língua Brasileira de Sinais RESUMO A revista Ouvir - produto criado por este Trabalho de Conclusão de Curso - tem o objetivo de apresentar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) aos leitores de todo o país. O projeto quer destacar as conquistas alcançadas por quem é deficiente auditivo, bem como as dificuldades enfrentadas por esse tipo de público. Por isso a meta é quebrar preconceitos e paradigmas, além de despertar a curiosidade das pessoas a conhecerem a realidade dos surdos. A expansão da Libras representa a valorização daquela que é considerada a segunda língua oficial brasileira, que por quase 10 anos, foi apenas um projeto de lei que aguardava pela aprovação. Mas, em 2002, a espera acabou e a proposta foi, enfim, regulamentada. De lá pra cá, muitos avanços foram registrados, como, por exemplo, a transformação da Língua Brasileira de Sinais em disciplina curricular, devido ao decreto 5.626. A partir daí, várias escolas e faculdades começaram a ensinar a linguagem de sinais. Mas para se comunicar de tal modo não é tão simples quanto parece. Não basta fazer gestos com as mãos. É importante lembrar que existe uma gramática específica para tal comunicação, o que inclui a linguagem do nosso corpo (corporal) e de nossas expressões (facial). Esses detalhes e curiosidades são esclarecidos ao longo deste trabalho, dentre outros assuntos relacionados ao tema. O formato de revista foi escolhido por que é o veículo de comunicação que mais se aproxima do interesse do público. Ou seja, o conteúdo é produzido de acordo com as dúvidas e interesses de seus leitores, que criam um laço de fidelização com a publicação e desenvolvem certa identidade. Palavras-chave: comunicação, libras, revista, audição, deficiente auditivo. 3 ABSTRACT The Listen magazine – product created by this conclusion course paperaims to present the Brazilian Sign Language, also known as “Libras” for readers from the whole country. The project pretends to highlight the accomplishments made by those who are hearing impaired, as well the difficulties faced by this sort of public. That is why the goal is broking prejudices and paradigms, and also arouses the curiosity of people to know the hearing impaired reality. The Libras expansion represents the valorization of the second official Brazilian language, which for almost 10 years, was just a law project waiting for your approval. But, in 2002, the purpose was regulated. Thenceforth, a lot of advances were registered, for example, the Brazilian Sign Language transformation in a curriculum subject, by the 5.626 decree. Thereafter, lots of schools and colleges started teaching the sign language. But communicating by this way is not that simple. It is not just making signs with hands. It is important to remember that there is a specific grammar for this communication, which includes our body language and our facial expressions. This details and curiosities are clarified in this paper, as also another subjects related to the theme. The magazine format were choose because is the communication vehicle that most get close to the public interest. In other words, the content is produced according to the doubts and interests by the readers, that builds ties of loyalty whit the publication and develop an identity. Key words: communication, Libras, magazine, Listen, hearing impaired 4 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..............................................................................................8 2. OBJETIVOS DA PESQUISA ...............................................................................9 2.1 Objetivo Geral ....................................................................................9 2.2 Objetivos Específicos ..............................................................................9 3. REFERÊNCIAL TEÓRICO................................................................................... 10 3.1 A história da revista no mundo........................................................ 10 3.2 A história da revista no Brasil........................................................ 12 3.3 Jornalismo Especializado................................................................. 14 3.4 Análise da Agenda Setting, Contra-Agendamento e Gatekepper....16 4. UMA BREVE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS.............................. 19 4.1 Educação dos surdos no Brasil.................................................. 25 4.2 Comunidades surdas no Brasil......................................................26 5. CULTURA E IDENTIDADE SURDA...........................................................27 6. MEMORIAL DESCRITIVO DA REVISTA..................................................29 6.1 Metodologia..................................................................................29 6.2 Marca.......................................................................................... 30 6.3 Projeto gráfico........................................................................... 31 6.5 Editorias.........................................................................................33 6.6 Cronograma.................................................................................34 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................35 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................36 5 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer, primeiramente, a Deus por ter me guiado a escolher o curso de Jornalismo. A minha família por sempre ter me apoiado. Em especial, a minha mãe; uma mulher batalhadora que nunca mediu esforços para não deixar faltar nada aos filhos. Ao meu “velho”, como gosto de chamar o meu pai, por ser um exemplo de ser humano. Aos meus irmãos, Ursula e Renê, que foram fundamentais para o meu crescimento, tanto como cidadão quanto profissional. Todos vocês, sem dúvidas, serviram de inspiração. E os agradecimentos não param por aí. Quero dizer à minha namorada, Jéssica Nascimento, que sou eternamente grato por tudo que ela já fez por mim. Ela até pode pensar que não, mas o carinho e os conselhos dela foram fundamentais para o desenvolvimento deste projeto. Jéssica, você é maravilhosa! Além disso, queria elogiar e, claro, agradecer a minha professora e também orientadora de TCC, Ana Seidl. Obrigado, mestra, por ser essa profissional tão qualificada, que, com certeza, contribuiu bastante para a minha formação como jornalista. Obrigado também pelas dicas preciosas e por ser tão paciente. Dedico ainda este projeto aos outros professores que compartilharam o próprio conhecimento comigo. E por último e não menos importante, gostaria de agradecer e parabenizar os meus colegas de turma, principalmente o Wagner, que compartilhou a ideia deste projeto comigo. Só nós sabemos o quanto foi difícil chegar até aqui. O esforço de cada um para alcançar a etapa final do curso. Por isso, quero deixo claro que esta conquista não é apenas minha, é de todas as pessoas que citei. Vocês são incríveis! Andrei Helber 6 Deus é o primeiro a quem devo agradecer porque sem ele não teria conseguido chegar até o fim deste trabalho. Agradeço à minha mãe Abadia que me deu total apoio desde o começo para estudar e seguir meu caminho. Ela é excepcional, maravilhosa, a base de tudo, sem ela, também não teria conseguido. Aos meus amigos Isaías Silva, Natanael Barbosa e Delleon Fernando que me ajudaram muito no decorrer do curso. Aos professores, sem eles seria impossível chegar até aqui, foram ótimos educadores que estão capacitando futuros profissionais para o mercado de trabalho. Gostaria de agradecer em especial a Francisco de Paula Lima Júnior, professor e amigo dentro e fora de sala de aula, sempre socorrendo seus alunos no Facebook, disposto a ajudar. Ana Seidl e Luiz Reis também, muito bom aprender com vocês, muito obrigado Ana pela orientação da revista e do relatório técnico, já o professor Luis Reis apoiou o projeto desde começo nos incentivando ainda mais a realizar o trabalho. E por último, mas não menos importante, agradecer ao Andrei, que abraçou o projeto da revista Ouvir e juntos conseguimos realizá-lo, valeu! Wagner Dutra 7 INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é feito, por meio, da elaboração de uma revista voltada para os deficientes auditivos e comunidade ligada a este público: parentes, amigos e educadores. O tema da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é outro foco do produto. Com a produção da revista Ouvir, aprendemos não só a respeito desta língua, mas de como estas pessoas enfrentam o dia a dia. Também destaca-se o que está sendo feito para ajudar esse público que luta diariamente por mudanças. A fim de que sejam incluídos sem preconceitos na sociedade. Intitulada Ouvir, a revista pretende contribuir para a compreensão de uma língua rica, mas ainda pouco explorada pelos veículos de comunicação. Há poucas publicações voltadas para os surdos, como por exemplo, a Incluir, Plural e Singular. Existe também a revista da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), que é totalmente voltada para eles. O projeto tem a ideia de valorizar as notícias factuais e informar os leitores sobre o que acontece no mundo do “silêncio”, na cultura surda. Além disso, o quê e como essas pessoas fazem para se inserir na sociedade e como superam os obstáculos no dia a dia. Abordamos a lei que oficializou a Libras como língua oficial dos surdos, abriu portas para intérpretes trabalharem na área contratados como tal, e a inserção de Libras como disciplina curricular em alguns cursos superiores como, por exemplo, pedagogia. No jornalismo é matéria optativa. A pesquisa bibliográfica foi baseada em livros, periódicos e sites. Foram realizadas entrevistas com pessoas surdas e parentes, apesar de que muitos nem sabem se comunicar por meio da Libras. Foram entrevistados também usuários de implantes cocleares, forma do surdo ouvir ou voltar a ouvir no caso de surdo pós-lingual. No decorrer da produção da revista foram realizadas muitas entrevistas por meio do Facebook, algumas vezes pessoalmente, com pessoas que vivem essa realidade e que sentem dificuldade em se comunicar porque o outro não sabe língua de sinais. 8 OBJETIVOS DA PESQUISA OBJETIVO GERAL O objetivo geral da pesquisa é produzir a Revista Ouvir sobre temas de interesse dos deficientes auditivos, principalmente Libras (Língua Brasileira de Sinais), assunto ainda pouco abordado na sociedade, já que milhares de pessoas nem ao menos conhecem essa forma de comunicação. O foco do trabalho é demonstrar, por meios de reportagens de revista, como a falta de políticas públicas voltadas à acessibilidade prejudica quem sofre com a falta de audição e como esse público lida com as dificuldades do dia a dia. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Conhecer e divulgar projetos ou campanhas que promovam a cultura da LÍngua Brasileira de Sinais; Visitar empresas que trabalham com esse público e saber se há profissionais qualificados para atendê-los; Entrevistar intérpretes de Libras para saber como é esse mercado; Pesquisar sobre o aplicativo ProDeaf que traduz língua portuguesa para Libras 9 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1- A HISTÓRIA DA REVISTA NO MUNDO Afinal, o que é revista? Segundo Scalzo (2004), é uma junção de várias coisas: um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento. E não para por aí, é também um encontro entre editor e leitor, que juntos acabam criando uma espécie de história de amor. Além disso, a revista ajuda a unir grupos, a construir identidade. Scalzo (2004) aponta que a primeira revista a ser publicada foi em 1663, na Alemanha. Embora tivesse o formato de um livro, Erbauliche MonathsUnterredunge (Edificantes Discussões Mensais) foi considerada revista porque trazia vários artigos sobre um mesmo assunto – Teologia, sendo que o conteúdo escrito era destinado a um público específico. A inovação alemã chamou tanto a atenção que não demorou muito para que outras publicações semelhantes surgissem pelo mundo. Em 1965, foi lançado na França o Journal des Savants. Três anos depois, nasce na Itália, o Giornali dei Litteratia. Já em 1680, aparece o Mercurius Librarius ou Faithfull Account of all Book and Pamphlets. Todas essas publicações, mesmo não utilizando o termo “revista” no nome (isso só aconteceria em 1704, na Inglaterra) e parecendo-se demais com os livros, deixam clara a missão do novo tipo de publicação que surgia: destinar-se a públicos específicos e aprofundar os assuntos – mais que os jornais, menos que os livros (SCALZO, 2004, p.19). A revista começa a ganhar novas características em 1672, com o lançamento da francesa Le Mercure Galant. A publicação oferecia ao leitor, notícias curtas, anedotas e até mesmo poesias. O modelo foi muito bem recebido pelo público e, por isso, foi logo copiado. Mas foi em Londres, em 1731, que foi criada a The Gentleman’s Magazine, a primeira revista que mais lembra as que temos atualmente. Inspirada nos grandes magazines, aquelas lojas que vendem de tudo um pouco, abordava os mais variados assuntos e os noticiava de forma simples e agradável. 10 Os primeiros títulos nos Estados Unidos surgiram em 1741, com o American Magazine e General Magazine. Conforme o país crescia, a taxa de analfabetismo não parava de cair, o que aumentou o interesse por novas ideias e a necessidade de divulgá-las. O aumento da taxa de alfabetização foi determinante para que a população ficasse ainda mais atraída pelo conteúdo das revistas, que não poupava em mesclar temas. Ao longo do século XIX, as pessoas queriam colocar o hábito de leitura em prática e também se instruir. Mas a profundidade dos livros não despertava interesse, até porque este era visto também como um instrumento da elite. Começa a partir daí, a valorização das revistas, ou seja, a popularização do meio ao redor do mundo. Ao longo do século XIX, a revista ganhou espaço, virou e ditou moda. Principalmente na Europa e também nos Estados Unidos. Com o aumento dos índices de escolarização, havia uma população alfabetizada que queria ler e se instruir, mas não se interessava pela profundidade dos livros, ainda vistos como instrumentos da elite e pouco acessíveis (SCALZO, 2004, p.20). Outro fator determinante para a proliferação das revistas foi o avanço técnico das gráficas, que, além de tornar os conteúdos das publicações mais atraentes com a ajuda de belas ilustrações, também aumentou as tiragens. Uma única publicação tinha cada vez mais exemplares, o que se tornou um ‘prato cheio’ para os anunciantes interessados em divulgar os produtos que fabricavam. Segundo Scalzo (2004), os anúncios passaram a financiar os custos de produção das revistas, o que consequentemente reduziu o custo de produção delas. Começa a nascer, então, o negócio das revistas como conhecemos atualmente. Com os anúncios financiando os custos de produção, foi possível baixar os preços dos exemplares, que consequentemente passaram a ser lidos por ainda mais gente, o que fez as tiragens crescerem na mesma proporção... Começa, então, a nascer o negócio das revistas como conhecemos hoje – uma parte da indústria de comunicação de massa (SCALZO, 2004, p.20). 11 Não podemos deixar de lembrar que o avanço técnico das gráficas beneficiou a proposta inicial da revista, que era de reunir vários assuntos num só espaço. Isso facilitou a circulação e concentração de diferentes informações sobre o que estava por vir, a nova ciência e as oportunidades que se abriam para um público que começava a ter acesso ao conhecimento. A publicação ocupou assim, um espaço entre o livro, que na época, era um objeto sacralizado; e o jornal, que só oferecia o noticiário ligeiro. 1.2- A HISTÓRIA DA REVISTA NO BRASIL As revistas só chegaram ao Brasil no começo do século XIX, junto com a corte portuguesa. Segundo Scalzo (2004), a primeira revista brasileira foi lançada em 1812, em Salvador (BA). As “Variedades ou Ensaios de Literatura” publicava “discursos sobre costumes e virtudes morais e sociais; alguns artigos, resumos de viagens, entre outros conteúdos”. No ano seguinte, no Rio de Janeiro, é criada “O Patriota”, a segunda revista brasileira. Como havia acontecido mundo afora, o brasileiro também tomou gosto pelo novo meio de comunicação, que acabara de surgir em sua terra. Logo começou a aparecer novas revistas no mercado, como os “Anais Fluminense de Ciências Arte e Literatura”, lançada em 1822, também na capital carioca. A publicação abordava assuntos relacionados às áreas do conhecimento humano (ciência, medicina e direito). Na época, o Brasil tinha acabado de conquistar a independência e, por isso, buscava se desenvolver sem a interferência de estrangeiros. O país ainda sofria com a falta de engenheiros, cientistas, médicos, militares, entre outros profissionais. Foi justamente essa carência que pautava a mais nova revista brasileira. Já em 1827, surge a primeira publicação segmentada do Brasil. O “Propagador das Ciências Médicas, órgão da Academia de Medicina do Rio de Janeiro” era voltado exclusivamente aos novos médicos que começavam a trabalhar no país. Em 1827, acontece a primeira segmentação por tema. Dedicada aos novos médicos que começam a atuar no país, surge O Propagador das Ciências Médicas, órgão da Academia de Medicina do Rio de 12 Janeiro, considerada a primeira revista brasileira especializada. Neste mesmo ano aparece também a pioneira entre as revistas femininas nacionais: Espelho Diamantino – Periódico de Política, Literatura, Belas Artes, Teatro e Modas dedicado às Senhoras Brasileiras, que trazia textos leves e didáticos sobre política nacional e internacional, trechos de romances estrangeiros, críticas de literatura, música, belas-artes, teatro e notícias sobre moda, além de crônicas e anedotas (SCALZO, 2004, p.28). Quase 70 anos depois, mais precisamente em 1898, é lançada a primeira revista masculina brasileira, chamada de “O Rio Nu”. Em seguida, entre o fim do século XIX e o início do século XX, surge também a “Galantes”. Essas publicações se destacaram pela forma que misturavam piadas, notas políticas e sociais com caricaturas e contos eróticos. De acordo com Cohen (2008), dados oficiais de um levantamento realizado pelo Departamento Nacional de Estatística, “Estatística: da Imprensa Periódica no Brasil”, divulgado em 1931, comprovam a atividade da imprensa no Brasil. Naquela época, imprensa e sociedade estavam crescendo de forma parelha. “O crescimento e a diversificação do mercado editorial assentaram-se no tripé da florescente economia urbano-industrial em combinação a modernização técnica e a ampliação do mercado leitor”. Tomando como base o ano de 1912, a pesquisa incluiu em seus quadros comparativos ‘além de jornais e semanários de toda a natureza, almanaques, revistas, didáticas, publicações de propaganda comercial’ e etc. Totalizando 23 categorias, classificadas de acordo com o tema dos impressos (...) O relatório chama a atenção para o constante aumento do número de publicações entre 1912 e 1930, especialmente de revistas semanais e mensais; os estados de São Paulo e Rio de Janeiro destacam-se pelo lançamento do maior número de títulos, de modo que, do total de 2.959 títulos registrados em 1930, o Rio de Janeiro tem 524 e São Paulo, 702, dos quais 249 apenas na capital (COHEN,2008, p.103). Cohen (2008) faz uma análise do início da imprensa brasileira, quando as atividades jornalísticas estavam mais ligadas à política. Mas essa ligação não mudava o fato das publicações serem relativamente parecidas devido à fragilidade da indústria gráfica. O problema, no entanto, foi sendo amenizado a partir do século XX, entre as primeiras décadas, com o avanço da indústria gráfica no Brasil, que conseguiu aprimorar as técnicas de impressão e incorporou a ilustração. 13 É seguindo esses novos padrões, que a revista semanal O Cruzeiro se transformou num verdadeiro fenômeno de vendas. A publicação criada em 1928, pelo famoso empresário e também jornalista Assis Chateaubriand, conseguiu vender na década de 50, incríveis cerca de 700 mil exemplares por semana. Scalzo (2004) afirma que o ótimo desempenho da revista foi motivado principalmente pela nova linguagem que acabara de implantar na imprensa nacional, a das grandes reportagens aliada a valorização do fotojornalismo. Em 1928, nasce o que viria a ser um dos maiores fenômenos editoriais brasileiros: a revista O Cruzeiro. Criada pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand, a publicação estabelece uma nova linguagem na imprensa nacional, através da publicação de grandes reportagens e dando uma atenção especial ao fotojornalismo. Na década de 1950, chega a vender cerca de 700 mil exemplares por semana (SCALZO, 2004, p.30). A receita para o sucesso foi logo copiada pela Editora Bloch, que criou a revista Manchete, em 1952. Além de dar uma atenção especial tanto para os aspectos gráficos quanto aos fotográficos, a publicação inovou ao lançar e manter colunas de cronistas em suas edições. Apesar do enorme sucesso, e de maneira precoce, O Cruzeiro não conseguiu se manter no mercado por muito tempo. A publicação parou de ser publicada na década de 1970. O motivo? A incapacidade de renovação e a queda dos negócios de Assis Chateaubriand, que foi considerado um magnata da comunicação entre 1930 e 1960. Já a Manchete conseguiu sobreviver até os meados da década de 90. 1.3- Jornalismo Especializado Como este trabalho gira em torno de uma revista sobre Libras, é preciso abordar o que se trata o jornalismo especializado. Por isso é bom lembrar que existem várias formas de especialização voltadas para a área jornalística, que envolvem as diferentes editorias. Em seu livro sobre jornalismo especializado, Erbolato (1981) analisa os textos nas editorias: ciência, educação, esporte, saúde, tecnologia, além de política e policial. Para escrever sobre determinado assunto é necessário ter conhecimento a respeito do tema. Emitir a noticia é muito mais do que apenas escrever, ler, pesquisar, diagramar, ilustrar, dentre outras atividades complementares. Sendo assim, chamamos de especialização 14 no jornalismo tudo aquilo que é dividido por assuntos, que envolve matérias específicas e veículos que abordam temas direcionados a um certo tipo de público. Para Lage (2001), o jornalismo especializado tem duas missões. A primeira é orientar o indivíduo, que no meio de tantas informações e fontes, corre um enorme risco de se perder. A segunda é direcionar a pessoa conforme a sua afinidade, linguagem ou temática apropriada, sem impor à sociedade um padrão de interesse que certamente não levaria em conta o desejo de cada um. Em meio a tantos veículos de informação e de programação, o público ganha mais opções de escolha. E, é justamente essa espécie de poder que torna o público ainda mais exigente. Mas, em contrapartida contribui para o acesso a informações de qualidade e de boa aceitação. O avanço da tecnologia estimulou a interatividade do público com a informação. Antigamente alguns temas não tinham tanta credibilidade quanto se tem hoje, em decorrência da falta de relação entre emissor e receptor. Mas com a participação da sociedade, este quadro foi revertido. A integração do leitor com o editor proporciona um direcionamento melhor às informações, o que ajuda também a definir qual será o público-alvo. Essa aproximação entre emissor e receptor foi importante para o avanço da área jornalística, uma vez que criou novas especializações dentro do ramo. A partir daí, informações sobre temas até então desprezados, como beleza e moda, passaram a ser cada vez mais solicitados pelo público. Fato que ocasionou a migração desses assuntos para as editorias. Isso comprova a seletividade do público-alvo. Cada leitor, ouvinte ou telespectador possui uma necessidade diferente, e cabe ao jornalismo especializado se esforçar para atender tal demanda. “Tanto a abordagem de um assunto específico quanto para certo público, serão considerados uma forma de se encontrar a especialização da informação jornalística’’ (ABIAHY, 2000, p. 16). 2. Análise da Agenda Setting, Contra-Agendamento e Gatekepper 15 A hipótese da agenda setting surgiu a partir da pesquisa desenvolvida por Maxwell E. McCombs e Donald L. Shaw, que foi voltada para a campanha presidencial americana de 1968. De acordo com DeFleur (1993), o estudo se baseou principalmente nas notícias que eram veiculadas sobre os candidatos, além da forma como os eleitores se interessavam pelos problemas que eram relatados pela mídia. Em consequência da ação dos jornais da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelo mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas (SHAW 1979, p.96 apud Mauro Wolf) Mas isso não significa que a imprensa foi bem sucedida em levar o seu público a criar qualquer ponto de vista sobre os fatos noticiados. Pelo contrário, motivou os telespectadores a levarem mais a sério alguns problemas do que outros. Em outras palavras, a agenda dos veículos de comunicação passou a ser também a agenda do público. De acordo com Da Silva (2008), a agenda-setting se refere à capacidade dos meios de comunicação de massa em pautar para a sociedade os temas de debate e da maioria dos assuntos que vão ser conversados no dia a dia. Podese dizer também que a sociedade tende a incluir ou excluir da discussão os temas que a mídia decide abordar ou até mesmo ignorar do seu próprio processo de seleção de pautas. Logo a agenda setting significa pauta de fixação, ou seja, é a mídia que escolhe quais os fatos terão interesse coletivo. É importante destacar que a teoria da agenda setting contempla um agendamento no sentido mídia → sociedade, ou seja, sob essa perspectiva, a mídia detém o monopólio de pautar, de acordo com seus interesses e conveniências, as várias agendas: governamentais, políticas ou sociais (ROSSY, 2006, p. 1) 16 Para exemplificar a tese, basta analisar o modo como os casos policiais mais bárbaros são abordados na mídia. Dependendo do crime e do andamento das investigações, o assunto é exaustivamente pautado pela imprensa até que todas as possibilidades sejam esgotadas. Esse processo de selecionar as notícias que vão ser publicadas, ou não, faz com que a imprensa atue como gatekeepers, ou seja, uma espécie de porteiro da comunicação. Tal postura interfere diretamente no posicionamento do leitor, como observa Traquina (1995, p.204) quando afirma que “novas investigações, explorando as consequências do agenda-setting e do enquadramento sugerem comprovando que os media não só nos dizem em que pensar, mas também como pensar nisso”. O agendamento acontece em três níveis, o primeiro é a Agenda Midiática, no qual as decisões são tomadas à partir de questões discutidas na mídia; o segundo, Sociedade Civil ou Agenda Pública, são abordadas questões relevantes ao público e o terceiro, Agenda de Políticas Públicas, colocam em discussão as questões que gestores públicos consideram importantes, de maneira que o agendamento se dá necessariamente no tempo, que se estabelece uma verdadeira correlação entre a agenda da mídia e a do receptor, mas também a agenda do receptor pode e acaba influenciando a agenda da mídia (HOHLFELDT, 1997,p. 198). Hohlfeldt (1997, p.193) analisa que dependendo da natureza da mídia, a influência desta não se dará em curto prazo, mas a médio e longo prazo. “A influência não se dá pela imposição de determinados conceitos, mas pela inclusão de certos temas em nossa preocupação, que de outro modo, não chegariam a nosso conhecimento”. Essa influência se dá principalmente pela ampliação dos canais de informação. Expansão essa conquistada devido a globalização. Já Traquina (1995, p.193) analisa como as informações podem ser interpretadas de várias maneiras pelo público, ao dizer que “o mundo parece diferente para pessoas diferentes, dependendo do mapa que lhes é desenhado pelos redatores, editores e diretores de jornal que leem.” 17 Recentemente, novas pesquisas envolvendo a agenda-setting têm ganhado força entre os estudiosos, só que sob uma nova ótica: a do contraagendamento. Neste caso o agendamento parte da sociedade para a mídia. Rossy (2007, pág. 18) define o contra-agendamento como um “agendamento não no sentido tradicional, postulado pela teoria do agenda-setting, mas de um agendamento que privilegia a contra-argumentação.” A maioria dos trabalhos que abordam o contra-agendamento comprova a capacidade que os movimentos sociais ou organizações têm de inserir as próprias reivindicações, entre outros assuntos, nas mídias, por meio de articulações peculiares. Tal poder é pesquisado por Elizena Rossy (2007), que analisou as ações de organizações não-governamentais que aderem ao contraagendamento. Ao todo, três ONGs foram alvos de estudo: Viva Rio, Convive e Sou da Paz. Todas conseguiram pautar a mídia com o pedido de um Rio de Janeiro mais seguro. Uma forma de chamar a atenção da imprensa, por exemplo, foi a de colocar cruzes pretas em diversas praias cariocas para homenagear a todos os inocentes que foram vítimas da violência na capital carioca. Silva (2007) é outro autor que não deixa de opinar sobre o contraagendamento: O contra-agendamento: compreende um conjunto de atuações, que passam estrategicamente, pela publicação de conteúdos na mídia e depende, para seu êxito, da forma como o tema-objeto-de-advocacia foi tratado pela mídia, tanto em termos de espaço, quanto em termos de sentido produzido. (SILVA, 2007, p.84-85). O autor usa o termo advocacia para citar as iniciativas dos grupos e movimentos sociais que querem produzir pressão política, bem como defender os interesses da sociedade civil. Portanto, houve significativas mudanças no mundo da comunicação. A agenda do público não é mais “refém” da agenda dos veículos de comunicação de massa. As novas tecnologias, em especial a internet, permitem que as pautas mais importantes sejam escolhidas conforme a opinião e preferência da sociedade. O acesso à informação não está mais restrito. Pelo contrário, se torna cada vez mais acessível com o passar do tempo. A facilidade de receber 18 conteúdo beneficia a troca de conhecimento entre as pessoas, como também ajuda a despertar a opinião crítica em cada uma delas. 3. Uma breve história da educação dos surdos A educação dos surdos é um assunto que gera inquietação há décadas, isso pelas impossibilidades que impõe e por suas limitações. Até o século XV as concepções vigentes sobre o surdo e a surdez tinham conceitos negativos. Os surdos eram considerados seres castigados pelos deuses na antiguidade. Para Aristóteles (322-384 a.C), os indivíduos que nasciam surdos eram mudos também, sendo assim não podiam pronunciar palavra alguma, Aristóteles dizia que para atingir a consciência humana, tudo deveria entrar por um dos órgãos dos sentidos. Na opinião dele, a audição era um dos mais importantes canais de aprendizado. Em Roma as pessoas surdas não tinham direitos legais já que não falavam. Impossibilitados de fazerem testamentos, os romanos surdos precisavam de um curador para todos os seus negócios, ou seja, uma pessoa para cuidar de seus bens. Na época, a Igreja Católica afirmava que as almas dos surdos não eram imortais, isso porque eles eram incapazes de dizer os sagrados sacramentos. Ainda em Roma, no século VI durante o reinado do imperador Justiniano, foi formulado o Código Justiniano, que forneceu a base para a maioria dos sistemas legais na Europa moderna. Esse código fazia distinção entre a surdez e a mudez e ordenava que as pessoas que nascessem surdas e mudas não poderiam fazer testamento nem receber herança. Mas, Se a pessoa nascesse ouvinte e por doença ou acidente perdesse a voz ou a audição, e já tivesse recebido uma educação, tinha a permissão de realizar tudo que era proibido ao surdo-mudo de nascença (Vieira, 2000). A primeira menção a oportunidade de ensinar um surdo por meio da língua de sinais e da linguagem oral foi feita pelo escritor e advogado do século XIV Bartolo Della Marca d’Ancona. Esse foi o impulso inicial para que um indivíduo surdo fosse notado como uma pessoa capacitada a tomar suas próprias decisões. No século XVI, o italiano natural de Pavia Girolano Cardano, disse que os surdos poderiam ser ensinados. O médico interessou-se por eles e pelo estudo do ouvido, nariz e do cérebro, isso porque seu filho era surdo. Cardano também elaborou um código de ensino para surdos, mas nunca colocou a ideia em prática. 19 Ainda no século XVI, o monge beneditino espanhol, Pedro Ponce de León, seria reputado o primeiro professor de surdos da história. Pedro foi chamado para educar crianças surdas, entre elas filhas de fidalgo. Ele ensinava as crianças a falar, orar e confessar-se pelas palavras, escrever, ler, fazer contas, isso para serem reconhecidos como pessoas nos termos da lei e herdar títulos e heranças da família, já que na época surdos não tinham direito a heranças. Não há informações dos métodos de ensino de Ponce. O que se sabe se é que ele usava uma forma de alfabeto manual, que cada letra representava uma configuração de mão. Ponce tinha como objetivo ensinar seus alunos a falar, e para isso, utilizava os outros sentidos como tato e visão além da leitura e da escrita. A escrita é uma habilidade cognitiva que demanda esforço de todos (surdos, ouvintes, ricos, pobres, homens e mulheres) e geralmente é desenvolvida quando se recebe instrução formal. Entretanto, o fato de a escrita ter uma relação fônica com a língua oral pode e de fato estabelece outro desafio para o surdo: reconhecer uma realidade fônica que não lhe é familiar acusticamente. São símbolos “abstratos” para o surdo (AHLGREN,1994). Em meados do século XVII, o escocês Geoge Dalgarno (1626-1687) afirmou que os surdos tinham o mesmo potencial dos ouvintes para aprender, só precisariam de um sistema de ensino adequado. Foi Dalgarno em 1680 que apresentou um sistema primitivo do alfabeto manual que ele chamou de sistema de datilologia, no qual a representação das letras era dada no toque de uma mão na outra. Para o escocês Geoge as crianças deveriam ser expostas ao sistema datilológico (soletração de uma palavra usando o alfabeto manual) desde cedo. Alimentando assim, a esperança de que elas desenvolvessem a linguagem de maneira similar a das crianças ouvintes. Em 1644 é publicado o primeiro livro em inglês sobre a língua de sinais pelo britânico John Bulwer, intitulado Chirologia. Quatro anos mais tarde publicou Phílocopus. No livro, Bulwer afirma que a língua de sinais é capaz de apresentar os mesmos conceitos que a língua processada pelo canal oral\auditivo. Para John, os surdos tinham primeiro que aprender a ler e escrever e depois falar, porque com esses procedimentos a leitura labial se tornaria mais fácil. Houve no século XVII um enorme interesse pela educação de surdos, surgindo vários métodos de ensino. Em 1704, o professor alemão Wilhelm Keger defendeu a educação obrigatória para surdos, em suas aulas usava a escrita, a fala e os gestos para que todos os alunos aprendessem. 20 Já o espanhol Jacob Rodrigues, seguia as ideias de Bonnet e priorizava a fala proibindo os alunos de fazerem gestos para se comunicar. Para ensinar seus alunos eles usavam do o alfabeto digital e manipulava os órgãos fonoarticulatórios de seus alunos. Era fluente na língua de sinais, mas só a utilizava para explicações lexicais, instruções e conversações com seus alunos. Ele queria que os surdos se comunicassem por escrita ou oralmente. Na França em 1750, o abade Charles Michael de L’Épée (1712-1789) ensinava duas irmãs surdas a falar e escrever. Mas sua preocupação prioritária era dar entendimento aos surdos que viviam nas ruas francesas. Em Paris, Charles aprendeu com os surdos a língua de sinais, que combinava com a gramática da língua oral francesa e ainda com o alfabeto digital. Charles foi o primeiro a considerar que os surdos tinham uma língua. Seu método foi muito bem aceito e pela primeira vez na história os surdos foram capazes de ler e escrever tendo assim uma instrução. Outra questão séria que se desdobra da crença de que “o surdo tem dificuldade de escrever por que não sabe falar a língua oral”, tem a ver com ideais linguísticos --- ideais que rejeitam os vários falares das variedades desprestigiadas, dos imigrantes, dos indígenas e dos próprios surdos. Tanto o português escrito como o oral de que o surdo faz uso são estigmatizados, já que não atingem os ideais de língua impostos por uma maioria de ouvintes (GESSER, 2006, p. 57). No ano de 1760, surge em Paris o Instituto Nacional para SurdosMudos, a primeira escola pública para surdos no mundo fundada por Charles Michael, ele acreditava que as pessoas surdas independentes de nível social, tinham direito à educação. Na mesma época, Samuel Heinicke funda na Alemanha uma escola pública para surdos baseada no método oral. Segundo os defensores do método, este seria uma forma de inserir os surdos na sociedade ouvinte. Para usá-lo, Heinicke recorria aos sinais gestuais, mas o objetivo era fazer com que seus alunos se expressassem oralmente. Em 1817, foi implantada nos Estados Unidos por Laurent Clerc e Thomas Gallaudt Hopkins, primeiro americano a se interessar pela educação dos surdos, a primeira escola específica para eles,a Connectcult Asylum for the Education and Instruction of Dead and Dumb persons. Nesta escola os professores contratados aprendiam primeiro a língua de sinais francesa, que aos poucos ia sendo modificada pelos alunos e depois aprenderiam a Língua Americana de Sinais (ASL). Laurent Clerc é considerado a figura mais importante do desenvolvimento da língua de sinais e da comunidade surda nos Estados Unidos. Em sua época já afirmava que o povo surdo fazia parte de uma comunidade linguística minoritária e o bilinguismo deveria ser o objetivo de tal comunidade. 21 Em 1821, a American Sign Language (ASL- Língua Americana de Sinais) passa a ser usada por todas as escolas americanas, elevando assim o grau de escolaridade dos surdos. Os métodos de aprendizagem para os surdos no século XIX, não ficaram só restringidos aos educadores. Considerado um dos pais da otorrinolaringologia moderna, o francês Jean Marc Gaspard Itard publicou em 1821 o trabalho Traité dês moladies de I’oreille et de I’audition. No texto ele afirma que o deficiente auditivo só poderia ser educado através da fala ou se tivesse a audição restaurada, método esse que também Heinicke acreditava. Itard experimentou vários outros métodos nos surdos como, por exemplo, colocar sanguessugas no pescoço dos surdos esperando que o sangramento ajudasse de alguma forma, fazia também cortes na tuba auditiva das crianças e aplicava eletricidade nos ouvidos de alunos surdos do Instituto de Surdos de Paris. Lane (1994) ressalta que nenhum desses experimentos do médico teve êxito. Ainda de acordo Lane, depois de várias tentativas frustradas de Itard para curar a surdez, ele concluiu que o ouvido dos surdos estava morto e não havia nada que a medicina pudesse fazer. Auguste Bérbian ouvinte, decidiu conhecer os surdos e aprender a língua de sinais no Instituto de surdos de Paris. Em 1822, ele escreveu Mimographie, sendo esse o primeiro livro com a tentativa de transcrição da língua de sinais. O francês Auguste acreditava que a língua de sinais deveria ser ensinada em salas de aula e que os professores também teriam que ser surdos. Morre em 1869 o professor surdo Laurent Clerc, ele era o melhor aluno do ”Instituto Nacional para Surdos Mudos”, de Paris. Com sua morte o trabalho de um século foi perdido porque vários profissionais passaram a afirmar que a língua de sinais era desfavorável a aprendizagem da linguagem oral. Nos Estados Unidos o escocês e o mais influente defensor do oralismo Alexandre Grahan Bell, inventor do telefone, tinha a mãe e a esposa surdas, ele tinha medo de que a comunicação gestual que os surdos usavam os isolassem em pequenos grupos e com isso adquirissem muito poder. Com o intuito de integrar os surdos à maioria dos ouvintes Bell os obrigava a falar Bell queria também acabar com a linguagem de sinais, eliminar os casamentos entre os surdos e ensinar a língua majoritária na modalidade oral. Bell foi considerado pelo presidente da Associação Nacional dos Surdos da América o inimigo mais temido pelos surdos americanos. No Congresso Internacional de Milão, em 1880, Grahan aproveitou-se de seu prestígio em defesa do oralismo e participou da votação sobre de qual 22 método deveria permanecer na educação dos surdos. O oralismo ganhou, sendo assim oficialmente proibido o uso da língua de sinais. Nesse congresso os professores surdos ficaram excluídos da votação. O método oral foi utilizado em todas as escolas para surdos sendo destacada a terapia da fala. Na época eles queriam curar os surdos deixando em segundo plano a escolarização. Depois do congresso, o oralismo dominou a Europa até os fins de 1970. Vale resaltar que com o método adotado os surdos adultos que antes participavam da educação dos surdos foram excluídos das escolas para eles. De acordo com Lak Lobato, embora um surdo oralizado não negue as necessidades daqueles que não são e respeite a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), ele também precisa de algumas adaptações para si (LOBATO, 2014, P.181). No século XIII, considerado o período de mais conquistas para a educação dos surdos, o número de escolas aumentaram, a língua de sinais passou a ser empregada por professores surdos, no entanto, o oralismo começaria a história da submissão geral dos povos surdos à língua majoritária dos ouvintes, assim como a censura sistemática da língua de sinais nas escolas. O espanhol Juan Pablo Bonet em 1920 publicou o livro Reducción de las letras y artes para anseiar a ablar a lós mudos, na obra Juan tratava da invenção do alfabeto digital, já utilizado por ele. Dedicado à educação dos surdos, Juan os ensinava a falar por meio da leitura, da gramática e do alfabeto manual. Para ensinar a fala, também manipulava os órgãos fonoarticulatórios com o auxílio de uma língua de couro para demonstrar as diferentes posições da língua durante a articulação dos fonemas. Em 1960, a língua de sinais volta com a publicação do artigo ”Sign language structure: an outline of the visual commucation system of the American deaf” (“A estrutura da língua de sinais: o perfil de um sistema de comunicação visual dos surdos americanos”) do linguista americano William Stokoe da Universidade Gallaudet. No artigo, o autor demonstra que a Língua de Sinais Americana tem todas as características das línguas orais, surgindo com essa publicação vários estudos e pesquisas a respeito da língua de sinais e sua prática na educação de crianças surdas. Segundo Audrei Gesser linguisticamente pode se afirmar que a comunicação de sinais é também língua porque apresenta características presentes em outras línguas naturais e, essencialmente por que é humana (GESSER, 2006 p, 27). 23 No final da década de 1970, começa um movimento pela valorização da língua e cultura das minorias linguísticas, já que os surdos eram considerados membros de uma comunidade minoritária que usa o idioma próprio, no caso a língua de sinais. A partir daí os surdos passam a reivindicar o uso da língua de sinais como primeira língua e aprender a majoritária como segunda língua, surgindo assim o bilinguismo. Sendo usada a língua de sinais da comunidade surda e a língua majoritária em momentos distintos. Os surdos foram privados de se comunicarem em sua língua natural durante séculos. Vários estudos têm apontado a difícil relação dos surdos com a língua oral majoritária e com a sociedade ouvinte. Escolas, profissionais da saúde e familiares surdos têm seguido um tradição de negação do uso da língua de sinais( GESSER, 2006). De uma forma ou de outra toda criança necessita de ambiente linguístico adequado, no qual desenvolverá naturalmente sua língua. Isso ocorre normalmente em famílias ouvintes. No entanto, os surdos, filhos de pais ouvintes, precisam ter contato, interagir com pessoas que fazem uso da língua de sinais para desenvolvê-la. 3.1- Educação dos surdos no Brasil De acordo com Fernando, educação é uma atividade essencialmente elaborada e transformada no percurso histórico – cultural da humanidade. As transformações materiais e ideológicas ocorrem numa tal velocidade que determina um mundo cada vez mais dinâmico e complexo. No Brasil foi inaugurado em 1857 na cidade do Rio Janeiro o primeiro Instituto Nacional de Surdos-Mudos, o atual Instituto Nacional de Surdos (INES) durante o Império de D. Pedro II, pelo professor francês Ernest Huet, surdo que usava a língua de sinais e oferecia aos alunos um programa educacional. Em 1911, o INES estabeleceu que o método oral fosse adotado em todas as disciplinas, seguindo assim a tendência mundial. Mas com o baixo rendimento dos alunos nesse método, ele passou a ser indicado somente aos alunos que poderiam ter aproveitamento da fala. Ele organizava a escola para educar surdos em um momento social no qual não eram reconhecidos como cidadãos. Ana Maria Rimola de Faria Dona, diretora do instituto em 1957, proibiu oficialmente o uso da língua de sinais em sala de aula, mas mesmo assim era usada às escondidas pelos alunos. 24 Em São Paulo e em outros estados brasileiros, a educação do surdo seguia princípios oralistas com o objetivo de integrar o surdo à comunidade ouvinte. O instrumento básico para o trabalho proposto era a reabilitação oral e auditiva. No fim da década de 1970, a comunicação total passou a ser utilizada no Brasil devido à insatisfação com os resultados do oralismo e as pesquisas sobre pais surdos com filhos surdos. A comunicação total propõe o uso dos gestos naturais, da língua de sinais, do alfabeto digital, da expressão facial, da fala por meio dos aparelhos de amplificação sonora para transmitir linguagem, vocabulário ideias e conceitos. O objetivo da comunicação total era a fala e a integração do surdo na sociedade ouvinte. Na década de 1980 começaram os estudos sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), baseados nas pesquisas da linguísta Lucinda Ferreira Brito. É recomendado que a educação dos surdos fosse efetiva em língua de sinais, independete dos espaços propostos para o desenvolvimento. Nas demais disciplinas a língua oral deve ser ensinada como segunda língua, com usos de materiais e métodos específicos nas necessidades da educação dos surdos. Eles precisam da identidade cultural que identifica a diferença. “Povo surdo” representa as comunidades que superam as questões geográficas e linguísticas. Na verdade, a comunidade surda não é formada só com pessoas que não ouvem, uma vez que há também ouvintes como familiares, amigos, professores e outros que compartilham os mesmos interesses em lugares comuns, como igrejas, associações e federações. Surge em 2007 o projeto Índio Surdo no Brasil da Federação Nacional de Educação de Surdos (FENEIS). O objetivo é capacitar profissionais da área de educação indígena, produzir material didático de orientação para professores e ensinar Libras para os índios. Há muitos sinais diferentes na comunidade indígena. Segundo a pedagoga Marisa Giroletti que atua como pesquisadora no projeto os sinais são tantos que ela não consegue registrar todos. 3.2 Comunidades surdas do Brasil Algumas das principais comunidades surdas surgem com objetivo de agrupar indivíduos deficientes auditivos que compartilham e participam do mesmo interesse. Geralmente as sedes são em locais cedidos pelo governo, alugadas ou até mesmo próprias. Essas associações representam importante espaço de encontro dos surdos, ali eles fazem assembleias e decidem causas. Muitos movimentos em 25 benefício da comunidade surgiram a partir de assembleias realizadas nestas associações espalhadas pelo País. Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos /FENEIS A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) é filiada à Federação Mundial dos Surdos. A FENEIS É uma entidade filantrópica sem fins lucrativos, com intuitos educacional, sócio- cultural e assistencial. A entidade defende a luta dos direitos da Comunidade Surda Brasileira. Confederação Brasileira de Desporto dos Surdos / CBDS A Confederação Brasileira de Desporto dos Surdos foi fundada em 1984, sua história tem início na década de 1950, com o forte movimento de criação de associações de surdos, na época não havia organização centralizada e as competições eram mais voltadas para o futebol. O Brasil estava vivendo um momento político muito favorável para os esportes, o presidente da época Getúlio Vargas havia acabado de criar o Conselho Nacional de Desportos (CND), incentivando o esporte no País. Federação Estadual Esportivas de Surdos A Federação Estadual Esportiva de Surdos realiza intercâmbio de esportes dentre várias associações de surdos no Estado. Representantes religiosas As pastorais de surdos são grupos de jovens de igreja, Ministério de Keirahaguiai, entre outros. Outras instituições Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (Apada), Escola de Surdos, Associação dos intérpretes de Libras, entre outros. 4- Cultura e identidade Surda É por meio da cultura que uma comunidade se integra e identifica as pessoas ganhando um carimbo de pertinência de identidade. E na cultura surda isso não é diferente esta auxilia na concepção de uma identidade. Proferir cultura surda significa também chamar uma questão identidária. O individuo surdo está mais próximo de sua cultura quando ele sabe a identidade 26 que assume dentro da sociedade. Segundo Perlin (1998), essa identidade pode ser definida como: Identidade flutuante, na qual o indivíduo não se assume como surdo, eles desprezam esta cultura surda e não se comprometem com a comunidade surda; Identidade inconformada, a pessoa surda se sente rebaixada diante do ouvinte e fica se comparando com ele; Identidade híbrida são pessoas que nasceram ouvintes, mas por alguma razão ficaram surdas; Identidade de transição, nesse caso o surdo tem o contato tardio com a comunidade surda, fazendo com que ele passe da comunicação visual para a comunicação visual oralizada. O surdo passa por um conflito cultural, a pessoa fica sem saber se é surda ou ouvinte. Quando o deficiente auditivo se envolve com a comunidade surda, ele fica mais seguro e fortalecido e a partir desse envolvimento compartilham problemas e histórias semelhantes, dificuldade em casa, na escola, normalmente relacionada aos problemas da comunicação. São entre esses surdos que buscam uma identidade no encontro surdo-surdo que se confirma a aparição desta comunidade, surgindo com ela as associações, onde se interagem, fazem festinhas e encontros em diversos pontos como shoppings , parque de diversões ou até mesmo em bares da cidade. De acordo com a constituição da República Federativa do Brasil, parágrafo III, Art.205 “A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A Constituição de 1988 garante muito, mas pouco é feito. No ano de 2013, pais e filhos e amigos surdos fizeram uma passeata reivindicando escolas bilíngues. Muitos movimentos estão sendo feitos por todo o País por mais escolas que deem a devida educação e atenção que o público surdo precisa. Em 2002, as garantias individuais dos surdos e seus exercícios de cidadania ganharam respaldo institucional com a regulamentação da Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, com ela é reconhecido o estatuto da Língua Brasileira de Sinais como língua oficial da comunidade surda brasileira, podendo ser ensinada nas escolas e acesso bilíngue à informação em ambientes institucionais e para capacitação dos profissionais que trabalham com a comunidade surda. Segundo Lacerda os primeiros cursos de formação específica no Brasil começam a surgir em 2004/ 2005 por iniciativa de algumas universidades 27 (UNIMES/ SP, Estácio de Sá/RJ, PUC/MG), mas não há parâmetros claros a seguir, e, portanto, a construção e a avaliação dessa formação estão em consolidação. Datas comemorativas para os surdos 24 de abril- Dia da Língua Brasileira de Sinais. 26 de julho- Dia do intérprete de Libras. 10 de setembro- Dia internacional da Língua de Sinais. 26 de setembro- Dia nacional do surdo. 1º de dezembro- Dia internacional das pessoas com deficiência. 5- INTÉRPRETE Muitos intérpretes surgiram com trabalhos voluntários em comunidades surdas, em igrejas, onde pessoas que conviviam com surdos passaram a interpretar que uma pessoa surda queria dizer a um ouvinte ou o que este queria dizer àquele. Então o trabalho fica sério e os profissionais passam a serem exigidos no mercado, as pessoas passam a confiar em intérpretes para a tarefa. O intérprete dá um novo sentido ao que está sendo dito toda a mensagem original deve ser apreciada. Em cada enunciação circulam sentidos, que são construídos por quem enuncia e por quem ouve/ vê o que foi dito; trata-se de uma construção, já que a língua não é transparente, que coloca em diálogo a história dos interlocutores e os conhecimentos anteriores de cada um sobre o que está sendo dito (BAKHTIN, 1986). No Brasil o intérprete passa a participar de eventos religiosos na década de 80. Em 1988, a FENEIS realiza o primeiro encontro de intérpretes de Língua de Sinais, este propiciou pela primeira vez um intercâmbio entre intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do profissional intérprete. Com o passar dos anos, os intérpretes ganham espaço e mercado, e com a lei Federal que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como língua oficial da comunidade surda, os intérpretes também garantem porque eles ganham lugar no mercado respaldado pela lei. O trabalho do intérprete é “traduzir” o que uma pessoa ouvinte fala em determinado evento, em um discurso ou em palestras. Por exemplo, o intérprete não vai traduzir o que esta sendo falado e sim interpretar para o indivíduo surdo dentro de um contexto que ele entenda, ou seja, ele vai sinalizar palavras que o surdo possa reconhecer o que está sendo passado. É importante destacar que o bom domínio de um tema colabora para a boa atuação do tradutor/ intérprete, mas não se espera que para traduzir uma 28 conferência médica o intérprete precise ser um médico, ou num tribunal ele precise ser um advogado. Ele precisa conhecer e compreender o tema para fazer um bom trabalho, mas não necessariamente um profissional daquela área (LACERDA, 2010, p.17). No Art.18 do capítulo V da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, diz que nos dez anos seguintes a partir da data da publicação do decreto de nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 a formação de tradutor e intérprete de Libras- Língua portuguesa para nível médio deveria ser realizado por meio de cursos de educação profissional, cursos de extensão universitária e por cursos de formação continuada promovida por instituições de ensino superior e credenciadas por secretarias de educação. 6. Memorial Revista Ouvir 6.1- METODOLOGIA Para fechar a primeira edição da revista “Ouvir” foi preciso realizar uma série de entrevistas, com pessoas ligadas diretamente à Linguagem Brasileira de Sinais. Por isso, ao longo dos últimos seis meses, tivemos que conversar com especialistas, profissionais da saúde que cuidam de pacientes surdos, professores de Libras e, claro, com os próprios deficientes auditivos, que são os protagonistas deste trabalho. Além disso, entramos em contato com órgãos e associações que realizam trabalhos em prol deste tipo de público. Em alguns casos, a comunicação foi feita presencialmente, mas, em outros, a interação teve que ser conduzida por meio de emails ou telefone, até por conta da distância de certas fontes oficiais ou até mesmo por questões burocráticas. A metodologia adotada para elaborar o relatório técnico foi a de pesquisa bibliográfica, que foi de grande contribuição para o desenvolvimento deste trabalho de conclusão de curso. De acordo com Stumpf (2010), o método a base de livros é o conjunto de procedimentos que identifica e seleciona documentos relacionados ao tema estudado por nós, estudantes, que depois vão ser interpretados e redigidos no trabalho acadêmico. Pesquisa bibliográfica, num sentido amplo, é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o assunto, até a apresentação de um texto sistematizado, onde é apresentada toda a literatura que o aluno examinou, de forma a evidenciar o 29 entendimento do pensamento dos autores, acrescido de suas próprias ideias e opiniões. (STUMPF, 2010, pg. 51) 6.2- A marca: Ouvir A ideia da marca é ser simples e de fácil memorização, tanto na leitura como na pronúncia e trazer com ela uma forte imagem. Enquanto a imagem de uma marca é a forma como ela é percebida, a identidade de uma marca é uma aspiração – é a forma como ela gostaria de ser percebida. Uma cilada comum na criação de uma identidade de marca é a concentração nas características da marca relacionadas ao produto. Os estrategistas de marcas são estimulados a pensar “fora da caixa”, considerando igualmente os benefícios emocionais e de auto expressão, os atributos organizacionais, a personalidade de criação de um valor realmente diferenciador (AAKER, 1993, p.1). Essa marca foi escolhida por ser um nome pequeno e de muita importância para o Publico desta revista que almeja um dia poder ouvir ou voltar a escutar. Voltar a ouvir já é uma das possibilidades que alegram muito os surdos pós-lingual ou surdos de nascença mesmo, o implante coclear está possibilitando essa satisfação a essas pessoas. O tema A revista ouvir é um meio de comunicação que traz para seus leitores assuntos que são de interesse da comunidade surda e de ouvintes que se interessam pelo mundo “silencioso” ou trabalham com seus habitantes como intérpretes, professores e colaboradores de associações do meio. Público- Alvo O conteúdo da revista Ouvir pode ser útil a um grande público, já que a surdez agora é um assunto mais abordado. Pessoas surdas e ouvintes que convivem ou trabalham com surdos, estão em busca de mais informações sobre o tema. A Ouvir procurou focar a surdez e como conviver com ela depois de adquirida, quando o individuo fica surdo depois que já sabe falar, esses são chamados de surdos pós-lingual. O público-alvo foi definido por meio de depoimentos de pessoas que não conheciam nenhuma revista ou outro meio de comunicação com esse público. Das pessoas surdas ou ouvintes que foram entrevistadas poucas conheciam 30 alguma revista sobre o tema. Depois de sancionada a Lei de nº 10.436, de 24 de abril de 2002 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais reconhecendo Libras como língua oficial dos surdos, depois da lei também a língua foi inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério. Faixa etária principal – Adolescentes de 12 anos a homens e mulheres de até 60 anos. 6.3- Projeto gráfico O projeto gráfico é o que diferencia uma revista da outra, além de trazer uma individualidade para o veículo, tem a importância na linguagem visual contida nesse discurso gráfico, objetivando tornar a leitura rápida e agradável, fazendo com que o leitor fique na espera por outras edições. O primeiro exemplar da revista Ouvir será um projeto gráfico mais simples, básico. Nas próximas edições, as características do produto estarão mais definidas. FONTES, CORPO E TAMANHOS TÍTULO SUTIÃ TEXTO EDITORIA OLHO RODAPÉ CRÉDITOS AUTOR LEGENDA Extra bold, corpo acima de 35 pt Fonte Arial Black 12 Regular, sem serifa, corpo entre 14 e 30 pt Fonte Minion Pro 19 Regular, corpo 11, com captular com 3 linhas e recuo de 5mm Fonte Minion Pro 11 Bold, corpo 12, cor preta Fonte Arial Black 12 Italic, corpo 16 Fonte Minion Pro Nº da pág, corpo 8, nome da revista em bold Fontes: Minion Pro 7,9 e Arial Bold 8 Sem serifa, condensada, corpo 6 Fonte Arial Black 8 Regular, corpo 10 Fonte Minion Pro 11 Sem serifa, bold, corpo 9 Fonte Arial Black 10 31 Formato–200 x 260 mm Colunas: três Medianiz: 5 mm Margens Superior: 20 mm Inferior: 15 mm Interna: 10 mm Externo: 15 mm Número de páginas – 40 páginas, sendo 04 páginas de capa e 36 de miolo. Formato dos anúncios – 01 de páginas duplas e 02 de página simples, por ser mais limpo e atrativo visualmente. Encadernação – Canoa, que vem com papel dobrado e grampeado, já que tem apenas 40 páginas, sendo papel couchê (180g para a capa e 90g para o miolo da revista). Distribuição e venda – A Ouvir será um periódico mensal com distribuição nacional, será comercializado no valor de R$ 14,90 (valor praticado nas bancas), tendo um diferencial para assinantes que contarão paralelamente com acesso às publicações através de mobiles (tablets e celulares). Após sua comercialização a revista será disponibilizada livremente por meio do site, blog, twitter e comunidade do Facebook. 32 7. Editorias Carta do editor “Ouvir” este título entre aspas não é para chamar a atenção para o nome da revista, mas para o leitor perceber as diferentes maneiras de ouvir. A carta dessa primeira edição traz um apanhado do sentimento que esse produto projetou em nós produtores e alguns amigos que torceram para que tudo desse certo, buscando aproximar o leitor numa intimidade com a primeira edição. Cartas dos leitores- Acesso livre nesse espaço os leitores vão poder expressar suas opiniões sobre as matérias da revista. Também teremos um retorno por parte dos leitores para aprimorarmos ainda mais a revista. Saúde - esta editoria abordará assuntos sobre a saúde da pessoa surda e as possíveis maneiras de ouvir ou voltar a ouvir, no caso de surdos pós- lingual. Nesta primeira edição contamos com matérias sobre implante coclear, procedimento que esta sendo mais divulgado. Ação – apresenta matérias sobre os movimentos que os surdos promovem para reivindicar seus direitos e também o modo pelo qual se incluem. Nesta edição leia O dia nacional de luta contra a deficiência e o sinal do mascote da Copa Fuleco em Libras. Uma matéria com bonecos que ajuda crianças com deficiências, estes apresentam com aparelhos auditivos e implante Coclear. Entrevistas- nesta edição confira duas entrevistas uma com Pablo Eduardo que conta como conheceu a esposa Dayane Nunes (surda), fala também um pouco sobre sua página Libras Diária no Facebook. A outra entrevista é com a professora de Libras das Faculdades Icesp Promove/ Campus do Guará Patrícia Mattão. Negócios- uma matéria com Henrique Nunes que tem uma loja virtual com produtos voltados para Libras. 33 Reflexão- trouxemos um texto de Lak Lobato, uma surda pós-lingual que recentemente lançou um livro contando acerca de seus anos de surdez, Lak ficou surda aos dez anos ao acordar e percebeu que estava surda. Segundo os médicos foi devido a caxumba. Hoje a escritora é implantada, ou seja, fez Implante Coclear e voltou a ouvir. Artigo- espaço reservado para artigos e crônicas de colaboradores, no caso dessa primeira edição o artigo ficou por conta de Fernanda Zanette que escreve um pouco sobre a importância de Libras na comunicação com pessoas surdas. Cronograma 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho tem como objetivo apresentar, por meio de linguagem de jornalismo de revista, o universo da surdez que recebe pouca atenção da mídia. Em outras palavras, a publicação quer instigar o leitor a conhecer melhor os caminhos percorridos e a serem explorados pelos deficientes auditivos. O veículo utilizado foi a revista, por ser de natureza segmentada e permitir o aprofundamento do tema. A pesquisa bibliográfica foi a metodologia usada para ter mais conhecimento sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), e também para descobrir como as pessoas surdas eram tratadas pela sociedade antigamente. A história da população surda é triste em quase todo o mundo, privados de direitos de cidadãos e de usar o modo de comunicação que podiam. Apenas em 1817 que foi quando Thomas Hopkins Gallaudet e Laurent Clerc inauguraram a primeira escola pública para surdos nos Estados Unidos. A linguagem de sinais é um pouco complicada, não é universal, ou seja, em cada país há um tipo diferente. Muitos sinais são diferentes, mas o sinal do amor é universal, ou seja,é o mesmo em qualquer lugar do mundo. Exige coordenação motora para gesticular as mãos na hora da comunicação. Há uma carência de veículos para divulgar a linguagem de sinais, apesar de ser exigida como disciplina optativa em alguns cursos como direito e jornalismo, por exemplo. No entanto é obrigatória em cursos na área de educação como letras e pedagogia. Em 2002, a Libras foi reconhecida como língua oficial da comunidade surda. E o dia 26 de setembro ficou oficializado como o Dia Nacional do Povo Surdo, entre outras conquistas. Atualmente a comunidade surda junto com parentes e amigos lutam por mais escolas bilíngues no Distrito Federal e, em outras partes do País. Outra reivindicação é a janela de interpretes durante a transmissão de programas de televisão e nos pronunciamentos da Presidente Dilma Rousseff. Por isso, esperamos que este trabalho contribua para a conquista destes desejos. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. 2ª Edição. São Paulo: Contexto, 2004. COHEN, Ilka Stern. Diversificação e segmentação dos impressos. In: MARTINS, Ana Luiza (Org); LUCA, Tânia Rodrigues (Org). História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008 LAGE, Nilson. Reportagem: Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa Jornalistica. Rio de Janeiro: Record, 2001. ERBOLATO, Mário L. Jornalismo Especializado: emissão de textos no jornalismo impresso. São Paulo: Atlas, 1981. LAGE, Nilson. Reportagem: Teoria e Técnica de Entrevista e Pesquisa Jornalistica. Rio de Janeiro: Record, 2001. DeFLEUR, Melvin L.; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da Comunicação de Massa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor 1993. HOHLFELDT, Antonio. “Os estudos sobre a hipótese do agendamento”. In: Revista Famecos. Porto Alegre: Edipucrs, número 7, 1997. DA SILVA, Luiz Martins. 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