Metrologia Ensaios Os riscos da utilização das cadeiras de rodas fabricadas no Brasil Metrologia Ensaios O Inmetro ensaiou oito marcas de cadeiras de rodas manuais com capacidade entre 75 e 100 kg, das marcas Carone, CDS, Freedom, Jaguaribe, Ortobras, Ortometal, Ortomix e Vanzetti, em função das reclamações recebidas dos consumidores que estão relacionadas à questão da segurança do usuário ou do cadeirante. E os resultados não foram muitos promissores Hayrton Rodrigues do Prado Filho A " A cadeira de rodas é definida como um equipamento de auxílio ao deslocamento, e está entre uma das tecnologias assistivas utilizadas por pessoas que apresentam a impossibilidade, temporária ou definitiva, de se deslocar utilizando os membros inferiores. " cadeira de rodas é definida como um equipamento de auxílio ao deslocamento, e está entre uma das tecnologias assistivas utilizadas por pessoas que apresentam a impossibilidade, temporária ou definitiva, de se deslocar utilizando os membros inferiores. Para que uma pessoa adquira uma cadeira de rodas é necessário que um profissional habilitado prescreva o tipo de cadeira e as adaptações necessárias para a melhor acomodação do paciente. Para que o profissional prescreva uma cadeira de rodas o primeiro conhecimento que deve adquirir sobre o equipamento é quais são suas partes e as variedades de cada equipamento que a constitui, bem como as possibilidades de adaptações que podem ser utilizadas de acordo com o contexto em que a cadeira será utilizada, sendo estes últimos removíveis ou fixos. As medidas de prescrição da cadeira de rodas podem ser tomadas de uma mesma maneira, exceto quando há necessidade de suporte para a correção e/ou acomodação de deformidades e contraturas. Sendo a cadeira de rodas um substitutivo da função do caminhar, o uso deste equipamento está implícito em um contexto que também deve ser avaliado durante sua prescrição. Os aspectos sociais e ambientais em que esta cadeira será utilizada irá impactar no tipo de cadeira e quais as adaptações serão necessárias acrescentar à prescrição do equipamento. Um usuário que é independente para se deslocar com a cadeira de rodas e utilizar um sistema público de transporte, por exemplo, necessitará de uma cadeira leve, de medidas adequadas que facilitem a manipulação dos aros de propulsão, de uma maneira que economize o máximo de energia e que o agrade esteticamente. Dessa forma, é necessário levar em consideração que a cadeira de rodas passa a se tornar uma extensão do corpo da pessoa, por isso deve ser confortável e ter a contribuição do usuário ou da família na sua escolha, principalmente esteticamente no que diz respeito às adaptações que serão utilizadas. Deve-se pensar que a pessoa, com incapacidade de caminhar, quando está em sua cadeira de rodas está livre para andar e se deslocar pelo espaço, pois sem ela, isso não seria possível de forma independente por alguns tipos de usuários. Essa liberdade permitirá que uma pessoa realize suas atividades e esteja presente em espaços públicos, no trabalho, na escola e muitos outros locais. Para isso, há a necessidade de se ter conhecimento do equipamento ao indicá-lo a uma pessoa que iniciará seu uso, pois os profissionai que a prescrevem podem facilitar e auxiliar o indivíduo a ser incluído na sociedade com uma adequada prescrição e realizando as adaptações necessárias para que esta seja confortável e de fácil usabilidade. Entre 10% a 12 % da população mundial (algo em torno de 700 a 800 milhões de pessoas) têm alguma deficiência física. Dessas, perto de 90% vivem nos chamados países em desenvolvimento, e o mesmo percentual vale para os que estão em idade produtiva, mas vivem desempregados. Pessoas com deficiência são as que possuem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, as quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua Metrologia Ensaios participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. O Inmetro realizou testes nas cadeiras de rodas nacionais, pois importante e necessário garantir às pessoas com deficiência o direito de locomoção com autonomia e independência, permitindo assim o seu fortalecimento social, político e econômico como cidadãos. Um dos equipamentos de tecnologia assistiva mais utilizados para o deslocamento de pessoas que apresentam impossibilidade de deslocar-se (temporária ou definitivamente), utilizando os membros inferiores,é a cadeira de rodas. E, apesar dos direitos das pessoas com deficiência estarem garantidos em lei no Brasil, diferentes esferas de governo, empresas e a sociedade civil ainda encontram dificuldades em prover mecanismos que possibilitem aos cadeirantes o amplo acesso, o que tem comprometido não apenas a eficácia do direito de “ir e vir” dessas pessoas, mas também a sua autonomia. Desde a sua primeira utilização, em Nuremberg, Alemanha, até os dias de hoje, muito se avançou nesse setor. Atualmente, é possível encontrar no mercado de consumo uma infinidade de modelos de cadeiras de rodas, de cores e diferentes formas de funcionamento (mecânica ou elétrica). Por outro lado, ainda existe um longo caminho a ser percorrido, como por exemplo, a necessidade de planejamento das edificações, a correta sinalização e manutenção do trânsito e das calçadas, a adequação de veículos de transporte urbano, etc. A cadeira de rodas não deve ser um produto de compra deliberada. Sua compra prescinde de uma avaliação personalizada, devendo a mesma ser prescrita a cada usuário, mediante a avaliação do binômio necessidades x características. O’Sullivan6 (1993) informa que, para uma adaptação ideal da cadeira de rodas ao seu usuário, é necessário a utilização do protocolo de avaliação fisioterapêutica, no qual se observam as habilidades funcionais do paciente, a presença de contraturas ou deformidades fixas ou em potencial, as medidas do paciente e sua cadeira de rodas. Reforça ainda que, algumas vezes também se faz necessária uma avaliação da função cardiopulmonar, do estado da pele, do tipo de tônus e da fala do usuário a que ela se destinará. O Inmetro tem recebido, reiteradamente, por meio dos seus canais de comunicação, relatos e pedidos de análise para o produto em questão. A preocupação dos consumidores, expressa nos relatos abaixo transcritos, relaciona-se, na maioria das vezes, com a qualidade do produto, objetivando suprir a demanda de pessoas com necessidades especiais e favorecer a sua autonomia e locomoção. Para os testes o Inmetro usou a NBR ISO 7176:2009 – Cadeira de Rodas, Partes 1, 3 e 8; e a Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Proteção e Defesa do Consumidor. A NBR ISO 7176-1 de 04/2009 – Cadeira de Rodas – Parte 1: Determinação da estabilidade estática especifica os métodos de ensaio para determinação da estabilidade estática de reclinação das cadeiras de rodas, incluindo scooters. Esta parte da NBR ISO 7176 é aplicável a cadeiras de rodas e veículos que estão incluídos nas séries 12.21 descritas na ISO 9999 e pretende dar mobilidade em ambientes internos e externos para as pessoas com incapacidades cuja massa não exceda a massa máxima do boneco de ensaio dado na ABNT ISO NBR 7176-11. A NR ISO 7176-3 de 04/2009 – Cadeira de rodas – Parte 3: Determinação de eficiência dos freios especifica métodos de ensaio para medir a eficiência dos freios das cadeiras de rodas manuais e elétricas, incluindo scooters individuais com velocidade máxima de 15 km/h. Também especifica os requisitos para informação sobre o produto por parte do fabricante. A NBR ISO 7176-8 de 04/2009 – Cadeira de rodas – Parte 8: Requisitos e métodos de ensaio para força estática, de impacto e fadiga especifica as exigências dos requisitos de forças estática, de impacto " As cadeiras de rodas, diferentemente de outros produtos, deveriam ser comercializadas de forma personalizada, considerando o peso e altura do usuário; a biomecânica da postura; a ergonomia; a configuração de componentes; a utilização a que se destina; dentre outros aspectos..." Metrologia Ensaios e fadiga das cadeiras de rodas, incluindo scooters, indicadas aos usuários cuja massa não exceda 100 kg. Ela especifica os métodos de ensaio para determinar se os requisitos foram encontrados, bem como os requisitos para divulgação dos resultados dos ensaios. Uma configuração de referência está especificada para cadeiras de rodas e scooters ajustáveis que permitem que os resultados do ensaio sejam utilizados para comparação de desempenho. Aplica-se ao ocupante e ao auxiliar para cadeiras de rodas dirigidas manualmente e cadeiras de rodas elétricas que oferecem mobilidade interna e externa para pessoas incapacitadas. Para cadeiras de rodas elétricas, ela se aplica aquelas com a velocidade máxima de não mais que 15 km/h, onde não mais do que duas rodas são conduzidas e as quais têm três ou mais rodas localizadas em duas paralelas e eixos transversais. Não se aplica a cadeiras de rodas onde as rodas estão em mais de dois eixos (por exemplo, em configuração ‘diamante’). O Inmetro testou oito diferentes marcas de cadeiras de rodas manuais, de fabricação nacional, uso adulto, e com capacidade de 75 a 100kg. Os resultados encontrados na análise demonstraram que a tendência do setor de cadeiras de rodas é a de não conformidade com a norma técnica vigente, já que nenhuma das cadeiras de rodas atendeu, na íntegra, aos requisitos normativos, significando que o seu uso não é seguro. Segundo o Inmetro, o cenário de 100% de não conformidade pode ser considerado preocupante no sentido de que, nem o usuário (cadeirante, ou aquele que faz uso do produto de forma temporária), tampouco a Administração Pública, quando de procedimentos licitatórios destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS), de fato adquirem produtos seguros e que atendam à finalidade a que foram criados. Ou seja, as cadeiras, que deveriam ser a extensão do cadeirante ou de quem delas faz uso, mostraram-se ineficientes, não oferecendo a segurança que delas se espera, prejudicando assim a autonomia do indivíduo e a sua sociabilidade. Para além dos aspectos de segurança do usuário, a análise evidenciou também infrações sanitárias junto ao regulamentador, ou seja, algumas das cadeiras sequer possuíam registro na Anvisa e outras possuíam registro de modelos diferentes dos analisados. Tanto no primeiro caso quanto no segundo, esses produtos estão sendo comercializados no mercado nacional de forma irregular. Cabe destacar que, na etapa de compra de amostras pelo Inmetro, as lojas onde as cadeiras foram adquiridas, questionaram apenas a que peso a cadeira de rodas se destinava. As cadeiras de rodas, diferentemente de outros produtos, deveriam ser comercializadas de forma personalizada, considerando o peso e altura do usuário; a biomecânica da postura; a ergonomia; a configuração de componentes; a utilização a que se destina; dentre outros aspectos, mas eles só fazem sentido quando associados a requisitos mínimos de segurança, o que não foi observado na análise. Deve-se ressaltar que a maioria dos fabricantes analisados reconheceram a importânciados resultados encontrados pelo Inmetro e se comprometeram em implementar melhorias no produto. O Inmetro enviará os resultados encontrados nesta análise à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), bem como à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), regulamentadora do produto, sugerindo a regulamentação do produto analisado, ou delegar por competência ao Inmetro essa regulamentação. Paralelamente, o Inmetro se reunirá com as partes interessadas, a fim de discutir oportunidades de melhoria para o setor,uma vez que a deficiência do processo produtivo das cadeiras de rodas dificulta a interação das pessoas com deficiência no meio social, criando barreiras que impedem a sua plena e efetiva participação na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais. Metrologia Ensaios O uso de animais e os métodos alternativos em pesquisas científicas A confusão gerada pela invasão de um laboratório em São Paulo para o resgate de animais usados em pesquisas científicas está levando a sociedade brasileira a rediscutir esse assunto. O uso de animais em pesquisas científicas acontece desde a Grécia antiga e dos primeiros experimentos médicos. Durante séculos, médicos e pesquisadores utilizaram animais para conhecer melhor o funcionamento de órgãos e sistemas do corpo humano e aprimorar suas habilidades cirúrgicas. A ascensão da ciência biomédica moderna no século XIX causou o aumento do número de animais utilizados em experiências, bem como da resistência à vivissecção. Embora a opinião sobre o grau de sofrimento experimentado por animais variasse entre os cientistas e o público, a maioria dos cientistas ficou unida na crença de que experiências em animais eram fundamentais para expansão do conhecimento. Após o nascimento da indústria química sintética no final de 1800, o campo da toxicologia cresceu em resposta à necessidade de se compreender como dezenas de milhares de novas substâncias poderiam afetar a saúde dos trabalhadores e consumidores envolvidos na sua produção e utilização. O uso de animais vivos para estudar os efeitos adversos potenciais de novos medicamentos, aditivos alimentares, pesticidas e outras substâncias passou a ter maior consistência durante a década de 1920, quando o farmacologista J.W. Trevan propôs a dose letal para 50 por cento (DL50) para a determinação da dose única de uma substância química que mataria metade dos animais expostos a ele. A idéia de um índice de toxicidade comparativa oferecia apelo imediato às agências reguladoras dos governos – tanto que as variantes do ensaio DL50 continuam sendo os testes em animais mais prevalentes até hoje. A publicação do livro “Principles of Human Experimental Technique” pelos pesquisadores William Russel e Rex Burch em 1959 iniciou o movimento de proteção aos animais usados em experimentação, e representou um marco na discussão sobre a utilização de animais para a avaliação de toxicidade. A partir deste, fica estabelecido o princípio dos 3R´s que, nas décadas seguintes à sua publicação, possibilitou a união dos pesquisadores e defensores do bem-estar animal em torno de um objetivo comum: encontrar alternativas cientificamente válidas para os testes feitos em animais. No avanço da ciência, nos anos posteriores, ficaram mais claras as diferenças metabólicas e de respostas que controlam a homeostasia tecidual em animais e humanos e fica evidente a necessidade de modelos in vitro mais apropriados. Princípio dos 3R’s: Reduction ou Redução – reflete a obtenção de nível equiparável de informação com o uso de menos animais; Refinement ou Refinamento – promove o alívio ou a minimização da dor, sofrimento ou estresse do animal; Replacement ou Substituição – estabelece que um determinado objetivo seja alcançado sem o uso de animais vertebrados vivos. Assim, os métodos alternativos podem ser definidos como qualquer método que possa ser usado para substituir, reduzir ou refinar o uso de experimentos com animais na pesquisa biomédica, ensaios ou ensino. Uma experiência não poderá ser executada em animal se um outro método cientificamente satisfatório, que não implique a utilização de um animal, seja razoável e praticamente possível. Com a implantação do “Animal welfare guideline” em 1986 (diretriz 86/609/EC), a política declarada das instituições da Comunidade Européia é de estimular e desenvolver o uso de métodos alternativos ao uso de animais. Igualmente, pode-se destacar algumas regulamentações sobre os métodos alternativos: t A Diretiva de Cosméticos - ou a sétima emenda à Diretiva 76/768 de 27 Julho de 1976) – é, sem dúvida, o marco regulatório no tema. A Diretiva assegurava a livre circulação de produtos cosméticos no mercado interno europeu, garantindo a segurança do produto para os consumidores. E a sétima emenda (Directive 2003/15/ EEC of the European Parliament and of the council of 27 February 2003) estabeleceu a proibição de testes em animais para ingredientes e/ou produtos acabados (testing ban), bem como a proibição da comercialização na Comunidade Europeia de produtos (ou seus ingredientes) testados em animais (marketing ban). t O programa REACH (Registration, Evaluation, Authorisation and restriction of CHemicals.) – para registro e comercialização de químicos na Comunidade Europeia – requer a avaliação da toxicidade para classificação de substâncias através do uso de métodos alternativos, que também se aplicam ao controle e desenvolvimento de medicamentos, saneantes, dispositivos médicos e que são utilizados para classificação toxicológica de substâncias no sistema global de classificação e rotulagem de químicos (Global Harmonization System-GHS). t A Lei Arouca ou a Lei nº 11.794 de 08 de outubro de 2008 que versa sobre o uso de animais na experimentação e no ensino, regulamentada através do Decreto nº 6.899, de 15 de julho de 2009. Tem como principal objetivo zelar pela ética na utilização de animais em pesquisa e ensino observando sempre os anseios da comunidade científica de, sempre que possível, reduzir o número de animais, evitar seu sofrimento e estresse, bem como sua substituição. Esta lei reforça o compromisso do país com o bem estar e ética na utilização de animais em experimentação avançando no que já fora previsto no artigo 32 da Lei 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998, a qual prevê pena de detenção a quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. A implantação e desenvolvimento de métodos alternativos é um passo fundamental para o mais amplo cumprimento da legislação. A criação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) ocorreu como desdobramento da Lei Arouca. Esta entidade é responsável por credenciar as instituições que utilizem animais em seus trabalhos, além de criar as normas brasileiras de criação e uso de animais de laboratório. Ainda, dentre suas responsabilidades está monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam o uso de animais no ensino e na experimentação. Metrologia Ensaios Existem também exemplos de métodos alternativos. Por exemplo, os peixes, anfíbios, répteis e pássaros são bastante próximos aos mamíferos. A maioria das propriedades das transmissões químicas em células nervosas foi obtida por meio do estudo das junções neuromusculares (a sinapse entre o nervo e o músculo esquelético) de sapos. O desenvolvimento embrionário também mantém muitas similaridades entre a classe vertebrada. Assim sendo, esses animais podem servir de modelos para entender o que ocorre em mamíferos. Entre os invertebrados, os insetos são os representantes majoritários. O grande número de pesquisas realizadas a partir do uso dessas espécies culminou, e ainda contribui, no entendimento de mecanismos biológicos existentes em quase todos os seres vivos. Por exemplo, estudos sobre a pigmentação dos olhos da Drosophila (mosca da fruta) levaram à hipótese de que cada gene controla uma única enzima, um conceito fundamental da biologia molecular. Geralmente os microorganismos, tais como bactérias e leveduras, são aceitos como modelos para estudo de metabolismo, genética e bioquímica. Como exemplo mais comum da utilização desse recurso pode-se citar os fundamentos dos mecanismos de expressão gênica desses organismos que são aplicáveis para compreensão do desenvolvimento normal e patológico de embriões humanos. Alguns estudos mostram que algumas semelhanças são preservadas entre esses microorganismos e mamíferos. Leveduras, por exemplo, possuem receptores de estrogênio que apresentam afinidade idêntica aos encontrados em útero de ratas. Esses dados mostram que esses seres podem ser utilizados como modelos, mas não substituem totalmente os mamíferos. Por outro lado, o entendimento do mecanismo de funcionamento de outro microorganismo, o vírus, pode ser utilizado em benefício da saúde humana. A terapia genética utiliza o vírus como veículo para transportar genes normais para células de tecidos acometidos por doenças genéticas. Quando o vírus (modificado para que não cause doença) infecta a célula hospedeira transfere o gene que os pesquisadores inseriram no seu genoma, fazendo com que a célula do hospedeiro expresse o gene de interesse. Já a cultura de células e também de tecidos são utilizados, principalmente, em pesquisa básica aplicada. Como exemplo pode-se citar os estudos sobre a ação de quimioterápicos sobre a viabilidade de células cancerígenas. Esses experimentos são a base para saber se uma droga tem o potencial de eliminar células cancerígenas. Testes de toxicidade de algumas substâncias também podem ser realizados em cultivo de células. Esses ensaios dão suporte, por exemplo, para o conhecimento se uma droga ou substância recém descoberta é tóxica para células do organismo humano. As células em cultura são fáceis de serem manipuladas e observadas do ponto de vista microscópio, bioquímico e molecular, após a adição de substâncias no meio onde estão sendo cultivadas. Todavia, essa mesma substância testada nas células deve ter seu comportamento estudado quando aplicada em um organismo vivo (em animais de experimentação – principalmente mamíferos), pois, in vivo, vários fatores do próprio organismo podem interferir nos resultados. Um exemplo concreto da utilização de tecidos humanos na pesquisa é a glândula hipófise (pituitária). Essas glândulas, provenientes de doadores cadáveres, eram utilizadas para extração do hormônio do crescimento para ser oferecido no tratamento de crianças com deficiência na produção desse hormônio. Essa prática caiu em desuso após a constatação de contaminação de algumas crianças com doenças infecciosas provenientes do doador. A bioengenharia utilizando a bactéria Escherichia coli tornou a produção desse hormônio mais eficiente sem o risco de contaminações provindas dos doadores. Experimentos in vitro são apropriados para algumas áreas da ciência biológica. Por exemplo, vários estudos sobre o metabolismo intermediário utilizam a bioquímica para o estudar a dinâmica de reações enzimáticas que ocorrem em nosso sistema biológico. Já os modelos matemáticos podem contribuir para o trabalho experimental através da definição de variáveis e testando teorias, reduzindo o custo desses experimentos e os tornando mais eficazes. Um exemplo disso é a predição, através de modelos matemáticos, da estrutura de proteínas, que poderiam prever suas propriedades físicas e químicas. Testes de irritabilidade poderiam ser beneficiados por esses estudos, todavia, apesar de contribuir para a diminuição do número de animais utilizados, essa metodologia não dispensaria o teste final em animais ou substituto biológico (ovos fertilizados de galinha ou cultura de células). É sempre preciso lembrar que computadores processam e armazenam conhecimentos já existentes e muitos deles foram adquiridos com a utilização de animais na pesquisa. No passado, os testes de irritabilidade de substâncias eram comumente realizados diretamente aplicando a substância sobre a córnea de coelho (ensaio de Draize). Vários testes foram desenvolvidos para substituir essa prática. O teste da membrana corio alantóide utiliza ovos de galinha fertilizados para avaliar a irritabilidade da membrana corion alantóide, que possui uma grande quantidade de vasos sanguíneos. No teste de hemólise são avaliados os fenômenos de hemólise e desnaturação protéica, decorrentes da ação da substância teste. No teste de opacidade de córnea bovinasão testadas a opacidade e permeablidade de córnea provinda de olhos de bovinos (que seriam descartados), após a exposição à substância a ser testada. O teste em olhos isolados de coelhos ou galinha: em olhos isolados de animais mortos (que seriam descartados) são testadas, após a exposição à substância teste, o edema e opacidade da córnea bem como a retenção de fluorescência. No teste de viabilidade celular, substâncias são adicionadas aos meios de cultura de células específicas e são testados alguns parâmetros de sua viabilidade (danos em suas membranas ou em suas junções). Em culturas de células de diversos tecidos podem ser realizados testes de toxicidade de várias substâncias. A viabilidade celular bem como danos em sua estrutura são utilizados como parâmetros de análise dessa toxicidade. O teste de toxicidade durante o desenvolvimento e reprodução podem ser realizados em embriões de galinha, peixe e anfíbios e essa metodologia mostrou ser bastante importante. Todavia, como conclusão não muito boa, nenhum teste in vitro pode substituir ainda o teste em animais.