1 ANO DE HBA O que já fizemos UNIDADE DA COLUNA Uma equipa exclusiva Nº5 * janeiro 2013 * Bimestral * Distribuição gratuita beatriz ângelo VIAGENS QUE CUIDAM ESCOLA Fomos falar de HPV * LOURES Cuidados de saúde em casa editorial FOTO: JOÃO ANDRÉS UM ANO NOVO Artur Vaz Administrador Executivo Hospital Beatriz Ângelo cumpriu, no dia 19 de janeiro, o seu primeiro ano de vida. 365 dias passaram desde que, em 2012 e apenas alguns dias após a entrega do edifício pelo consórcio construtor, o Hospital iniciou o seu funcionamento, primeiro discretamente mas, após a abertura da Urgência Geral a 27 de fevereiro, de forma crescentemente afirmativa. Estes 365 dias parecem-nos, a nós que montamos o Hospital e acompanhamos cada um dos sobressaltos, dúvidas e hesitações do seu processo de abertura faseada, bem mais longos que apenas um ano! Todavia, e independentemente de considerarmos que há sempre espaço para melhorarmos o nosso desempenho, temos todos a consciência do trabalho que realizámos. Foi, até agora, o processo de abertura de um hospital completamente novo que decor- O “ ” reu mais rapidamente. Desde que arrancou a sua construção até que abriu a primeira consulta ao público, decorreram, exatamente, dois anos e 19 dias - 749 dias em contrarrelógio. Nenhuma das datas constantes do contrato, seja de construção seja de abertura dos diversos serviços, foi ultrapassada. Antes pelo contrário, algumas foram mesmo antecipadas. Num momento de crise como o atual, é bom que haja consciência da qualidade dos profissionais de engenharia, de saúde e de gestão portugueses, capazes de cumprir escrupulosamente o planeamento de um projeto tão complexo quanto a criação de um hospital a partir do nada, num período tão curto e de forma tão efetiva. Nestes nossos primeiros 365 dias, prestámos assistência às mais de cem mil pessoas que nos procuraram, em cerca de quatrocentos mil contactos entre essas pessoas e o HBA. Na nossa Maternidade, que abriu a 22 de fevereiro de 2012, já nasceram 1.580 bebés. Mais de 120 mil consultas, 136 mil urgências, cerca de 14 mil doentes saídos do internamento, mais de 5,6 mil intervenções cirúrgicas e quase 5 mil sessões de hospital de dia realizados em 2012 atestam a capacidade do HBA para responder às necessidades das populações que serve. 2013 será o primeiro ano completo de funcionamento do HBA. Entre os desafios da certificação e acreditação, a prestação de mais e melhores cuidados de saúde e a melhoria dos nossos níveis de serviço, teremos ainda de encontrar o tempo e a energia para conseguirmos que 2013 seja, para os profissionais e para os utilizadores do Hospital um bom ano, porque isso depende também e essencialmente de nós. Um ano novo. Um bom ano novo. Este foi, até agora, o processo de abertura de um hospital completamente novo que decorreu mais rapidamente Janeiro 2013 3 sumário Revista de Informação da Espírito Santo Saúde - Hospital Beatriz Ângelo DIREÇÃO Graça Rosendo CONSELHO EDITORIAL Isabel Vaz Artur Vaz Marisa Morais REDAÇÃO Rua Carlos Alberto da Mota Pinto, nº 17, 9º andar 1070-313 Lisboa • Portugal Tel: 213 138 260 Fax: 213 530 292 NIF: 504 885 367 [email protected] PROPRIEDADE CAPA Por que razão é preciso transferir doentes do Hospital Beatriz Ângelo para o Hospital de Santa Maria? Os médicos Miguel Almeida Ribeiro e José Vale explicam. Págs. 16 a 24 Edição: Media Capital Edições Promotora General de Revistas, S. A. – Sucursal em Portugal Rua Mário Castelhano, 40, Queluz de Baixo, 2734-502 Barcarena Telefone: 214 369 552 Diretor: Pedro Javaloyes Diretora Editorial: Rita Machado Editora: Ana Cáceres Monteiro Fotografia: Clara Azevedo e Paulo Henriques Assistente Editorial: Ana Paula Pires Revisão: Adriana Silva Diretor de Produção e Paginação: Ramiro Agapito Projeto Gráfico: Pedro Martins Paginação: Paulo Franco, Pedro Martins e Sofia Duarte Tratamento de Imagem: Ricardo Pereira (coordenador) Impressão: Lisgráfica Casal de Santa Leopoldina, 2730-053 Queluz de Baixo Tiragem: 100.000 exemplares Registo na ERC com o nº 126152 03 EDITORIAL DE ARTUR VAZ Novo ano. 40 BASTIDORES Quem trabalha na Receção Principal do HBA? 88 07 OPINIÃO Luís Cunha Ribeiro, Presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. 38 46 CUIDADOS C O CONTINUADOS AU Unidade de Cuidados na Comunidade de Loures presta cuidados continuados pre em casa dos doentes. 08 1º ANIVERSÁRIO O HBA fez um ano. 26 UNIDADE DA COLUNA Uma equipa multidisciplinar dedicada em exclusivo à patologia da coluna. 26 46 50 AGENDA Os eventos de Loures e de Odivelas no primeiro trimestre de 2013 e as reuniões clínicas na Espírito Santo Saúde. 32 INFEÇÕES RESPIRATÓRIAS O pediatra João Crispim explica como esta doença afeta as crianças. 38 GABINETE DO UTENTE Para ajudar quem utiliza o hosospital e para facilitar o contacto cto dos centros de saúde. 42 HBA NA ESCOLA A médica Isabel Riscado foi explicar o que é o vírus do Papiloma Humano aos alunos Pa da Escola Pedro Alexandrino. 42 32 opinião Luís Cunha Ribeiro Presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo entrada em funcionamento de um novo hospital e o seu primeiro ano de vida são, porventura, dos marcos mais agradáveis na carreira de um profissional de saúde. O envelhecimento da população, a sofisticação dos cuidados médicos, o desenvolvimento tecnológico e o alargamento dos mesmos a camadas cada vez mais vastas da população deu origem a uma acrescida – e legítima, claro está – procura de cuidados de saúde. Este aumento da procura tem reflexo natural na rede hospitalar, procurando que as unidades hospitalares acompanhem as novas realidades geodemográficas do país. Foi neste contexto que surgiu o Hospital Beatriz Ângelo, no início de 2012, abrangendo uma população estimada de 272 mil pessoas, residentes em 4 concelhos a oeste do Concelho de Lisboa. Este Hospital, construído de raiz A e com recurso às mais modernas tecnologias, resultante de um contrato de parceria entre o Estado Português, a SGHL - Sociedade Gestora do Hospital de Loures, SA e a HL - Sociedade Gestora do Edifício, SA, é assim um Hospital público, integrado no Serviço Nacional de Saúde, que veio dar resposta às necessidades de uma zona do país onde o reforço de cuidados de saúde era há muitos “ ” Proust escreveu que: acreditar na medicina seria a suprema loucura se não acreditar nela não fosse uma maior ainda. A medicina apenas trata o que é tratável, o que quer dizer que nem sempre trata. É procurando contrariar esta realidade que centenas de profissionais de saúde estão a dar o seu melhor para servir os utentes. Dentro das quatro paredes do Hospital Beatriz Ângelo tem-se assistido a muitas histórias gelo uma realidade, aproveito esta oportunidade para dar os parabéns por este primeiro aniversário e deixar votos de mais sucessos pessoais e profissionais. Da parte da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo terão sempre um parceiro ativo e interessado em manter o Hospital Beatriz Ângelo uma referência na boa prestação de cuidados de saúde aos cidadãos. Da parte da ARS de Lisboa e Vale do Tejo terão sempre um parceiro ativo e interessado em manter o HBA como uma referência anos evidente. Tornou-se, assim, um bom exemplo de adequação dos recursos disponíveis às necessidades existentes. Os profissionais da Saúde trabalham diariamente no limbo da vida. Naquela área nebulosa em que amiúde se prefere estar vagamente certo do que precisamente errado. Em “Le Côté des Guermantes”, bonitas: desde o nascimento de novas vidas ao aliviar do sofrimento. Naturalmente, existem igualmente alguns revezes, mas saibamos encará-los de frente na perspetiva de uma verdadeira parceria, alicerçada no profissionalismo e cimentada pelo humanismo e solidariedade. A todos os que continuam a fazer do Hospital Beatriz Ân- A gestão dos meios existentes, compatibilizando múltiplas necessidades com interesses nem sempre compagináveis, constitui um desafio que diariamente se enfrenta e que só pode ser dirimido tendo em conta o superior interesse dos cidadãos. O respeito por nós próprios assim o obriga, o interesse de todos para quem trabalhamos assim o impõe. Janeiro 2013 7 1º aniversário 19 JANEIRO 2013 Estamos de 8 Janeiro 2013 1º aniversário e parabéns Janeiro 2013 9 1º aniversário 1 ANO DE “Só tenho a dizer bem. Pode escrever à vontade. Fui excelentemente tratado. Calhei com uma médica que adoro. E o hospital empenhou-se imenso em tudo, até em evitar que eu tivesse problemas na minha empresa! Só posso dizer bem! Desejo muitas felicidades a todos para continuar o bom trabalho” Joaquim, 50 anos, Sobral de Monte Agraço “Tive o meu filho aqui, há dois meses. E correu tudo muito bem. Deram-me epidural no parto, que eu não sabia que podia fazer, e foi o melhor que me aconteceu. A minha experiência aqui tem sido ótima”. Cátia, 29 anos, Loures “Vim cá só uma vez, à Urgência. É claro que se espera sempre um bocado. Mas fui bem atendida. É isso que interessa”. Verónica, 19 anos, Loures 129.021 135.501 consultas externas 10 Janeiro 2013 atendimentos nas Urgências 1º aniversário HBA Pôr um hospital a funcionar e vê-lo receber os primeiros doentes e fazer as primeiras cirurgias é uma experiência única. No final do primeiro ano de atividade do Hospital Beatriz Ângelo, o balanço desta experiência não podia ser melhor. Para todos. “Nunca precisei de ir ao médico, nunca me doeu nada… Agora fui fazer exames de rotina e descobriram-me isto. Acho que vou ter de ser operada, mas não sou de entrar em pânico. E estou a ser seguida por um médico muito simpático, que me parece excelente. Só cá vim duas vezes e tenho sido tão bem tratada!” “No global, tenho de dar nota positiva ao hospital. É ótimo, sobretudo em comparação com outros hospitais públicos. Mas há aspetos em que ainda têm de ser melhorados. Outro dia, vim cá com uma criança fazer um exame e fui a três sítios diferentes aqui do hospital, até perceber exatamente onde devia ir. É claro que acabei por chegar atrasado ao exame… Por isso, o que eu desejo é que continuem a trabalhar bem mas também que vão melhorando estas coisas” Teresa, 61 anos, Loures José, 55 anos, Santo António dos Cavaleiros 5.618 1.580 101.157 cirurgias partos doentes registados Janeiro 2013 11 notícias Apoiamos a campanha contra a violência doméstica Oito horas de filmagens, quilos e quilos de material, dezenas de pessoas e um cenário: uma sala de consulta na pediatria do Hospital Beatriz Ângelo (HBA). O anúncio da nova campanha contra a violência doméstica, lançada pelo Governo no final do ano passado, foi gravado nas instalações do nosso hospital, e mostra a conversa de um médico com a mãe de uma criança, revelando como a violência doméstica de que ela é vítima afeta também o filho. O anúncio está disponível no site da campanha “Em vossa defesa, dê um murro na mesa” e foi lançado publicamente logo após a rea- Governantes estrangeiros visitam HBA O Hospital Beatriz Ângelo (HBA) recebeu, durante o ano passado, várias visitas ilustres. Entre elas, destacaram-se as da Ministra da Saúde sérvia (na foto em cima, ao centro) e da vice-ministra da Saúde do Cazaquistão (na foto em baixo, também ao centro) e respetivas comitivas. O modelo de Parceria Público-Privada na Saúde adotado pelo Governo português, de que o HBA é um dos exemplos, foi o principal motivo da visita das duas governantes. Num caso como no outro, as comitivas estrangeiras foram recebidas pela Administração do hospital, tendo a ambas sido proporcionada uma visita às instalações, o que lhes permitiu um contacto direto com os profissionais do HBA. 12 Janeiro 2013 lização de uma conferência promovida pela Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade, também no HBA a propósito da mesma campanha. Esta conferência trouxe ao Hospital de Loures o minis- tro da Saúde, Paulo Macedo, a secretária de Estado, Teresa Morais, e o diretor-geral de Saúde, Francisco George, tendo sido apresentadas as mais recentes estatísticas sobre este fenómeno e quais os resultados da intervenção das autoridades, quer a nível legislativo quer a nível judicial. O tema da conferência estava, no entanto, centrado nas questões de saúde, em especial no papel deste setor na deteção e prevenção da violência doméstica. Falar de sida A sessão clínica comemorativa do Dia Mundial da Sida reuniu, no Hospital Beatriz Ângelo, no passado dia 7 de dezembro, alguns dos mais importantes especialistas portugueses nesta área. Além de António Diniz, diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/ sida, esta sessão contou com a presença do médico infecciologista Jaime Nina. Nina integrava, nos anos 80, a equipa liderada pela professora Odete Ferreira, que revelou ao mundo a existência de um novo vírus da sida. Nesta sessão comemorativa, contou a história dessa investigação e de como os médicos e cientistas portugueses, na altura, conseguiram dar cartas numa área em que os Estados Unidos dominavam. notícias Uma árvore de Natal muito especial Durante todo o mês de dezembro, a atividade foi intensa. Materiais variados, muitas ideias e a criatividade à solta. Foi o que bastou para que o primeiro Natal do Hospital Beatriz Ângelo (HBA) fosse comemorado como se impunha. A obra foi da autoria dos doentes da Psiquiatria e da Pedopsiquiatra do HBA, que criaram os mais originais enfeites de Natal para a árvore que foi montada na entrada principal do hospital. Bolas feitas de lã ou decoradas com guardanapos de papel, anjos de madeira e pais natais de cartão, sinos e estrelas de tecido bordado e até um presépio feito de papel e tecido – a variedade era imensa e o resultado foi uma verdadeira obra de arte. A decoração da árvore foi o momento alto deste processo criativo – que foi, sobretudo, mais um pretexto terapêutico para permitir criar laços ainda mais fortes entre os doentes e os profissionais do Departamento de Psiquiatria. Mas foi também um momento de festa no hospital, a que ninguém quis deixar de assistir. Médicos de família no encontro clínico do HBA O primeiro encontro clínico do Hospital Beatriz Ângelo (HBA), realizado no passado dia 10 de janeiro, contou com uma forte presença dos médicos de família pertencentes aos centros de saúde da área de influência deste hospital público. O tema escolhido para este primeiro encontro – o carcinoma de cólon e reto – serviu de pretexto para a apresentação de alguns dados estatísticos já reunidos pelos médicos do HBA sobre a população servida pelo hospital e para troca de ideias sobre como identificar o problema, como referenciar para a consulta de especialidade e como intervir para prevenir tratamentos mais radicais. Rui Maio, diretor clínico do HBA, fez uma apresentação sobre a casuística da consulta do grupo multidisciplinar do cancro do cólon e reto, revelando que entre março e dezembro foram diagnosticadas no hospital 131 destas neoplasias, 19% das quais em doentes com mais de 80 anos. Significativo foi, no entanto, como destacou, o facto de 42% destes doentes terem sido admitidos no HBA através do Serviço de Urgência. A gastrenterologista do HBA Luísa Glória, apresentou, por sua vez, os resultados de um rastreio do cancro do cólon e reto feito em colaboração com os centros de saúde. Janeiro 2013 13 notícias “Nascer cidadão” permite registar bebés no HBA As crianças nascidas no Hospital Beatriz Ângelo (HBA) podem ser, a partir de agora, registadas no próprio hospital, deixando assim de ser necessária a deslocação à conservatória do Registo Civil para fazer o assento do nascimento com as necessárias declarações dos pais. O HBA tem já disponível o programa “Nascer Cidadão”, que permite fazer esse registo diretamente no hospital, logo após o nascimento da criança. Um funcionário do Registo Civil com acesso direto à aplicação informática própria está presente na área da Re- ceção Principal do HBA para efetuar todos os procedimentos necessários. Para este registo, é apenas preciso apresentar o nome escolhido para a criança (no máximo dois nomes próprios e quatro apelidos) e escolher a naturalidade da criança, que tanto pode ser a freguesia do concelho do hospital ou a freguesia da residência habitual da mãe. A declaração para o assento de nascimento pode ser feita pelo pai, mesmo que este não seja casado com a mãe da criança. Priscilla é o nosso bebé 1500 O Hospital Beatriz Ângelo (HBA) atingiu, no passado dia 18 de dezembro, os 1500 partos, com o nascimento de Priscilla, um parto que foi celebrado por toda a equipa da Maternidade deste hospital público. O HBA abriu a sua maternidade a 22 de fevereiro de 2012 e, em menos de um ano, quase atingiu os 1600 partos. 2012 terminou com 1580 nascimentos no novo hospital de Loures - um número que confirma o cumprimento de todos os requisitos de segurança técnica definidos pela Organização Mundial de Saúde, pelas autoridades de saúde nacionais e pela Ordem dos Médicos. Priscilla, o nosso bebé 1500, nasceu às nove da manhã, com 3,200 quilos e o parto correu sem problemas. À mãe e à filha, toda a equipa do HBA deseja as maiores felicidades. 14 Janeiro 2013 O registo civil da criança filha de pais estrangeiros não legalizados pode fazer-se também através do programa “Nascer Cidadão”, sem implicações para a situação dos pais. Seja como for, qualquer criança que nasça em território nacional adquire imediatamente a nacionalidade portuguesa se um dos pais for nacional ou tiver residência fixa no nosso país. Basta, para isso, que seja apresentado o documento comprovativo dessa residência, a certidão de nascimento do pai de nacionalidade portuguesa ou a indicação da conservatória e ano do seu registo de nascimento. O registo da criança é imediato e gratuito, sendo desde logo entregue aos pais o documento comprovativo da realização desse registo. Se os pais não usarem o “Nascer Cidadão”, devem dirigir-se a uma qualquer conservatória do Registo Civil até 20 dias após o nascimento para fazerem o registo do bebé. Com a realização do registo da criança através deste programa no próprio hospital, é também possível tratar, de imediato, da sua inscrição no centro de saúde, da emissão do cartão de contribuinte, entre outros documentos. No Hospital Beatriz Ângelo, este serviço está disponível de segunda a sábado, das 14h00 às 17h00, e fica situado na zona da Receção Principal, por detrás do respetivo balcão. transferências O Hospital Beatriz Ângelo (HBA), por determinação do Ministério da Saúde, tem a maioria das especialidades médicas de que a população que serve necessita. Mas há situações específicas que exigem a intervenção de um hospital central. Nesses casos, o HBA tem de proceder à transferência dos doentes para o Hospital de Santa Maria. VIAGENS QUE Diariamente, pelo menos dois a três doentes do Hospital Beatriz Ângelo (HBA) com doença cardíaca aguda são enviados para o Hospital de Santa Maria (HSM), em Lisboa. São transportados em ambulâncias requisitadas especialmente para o efeito, acompanhados sempre por um enfermeiro – e por um médico, quando a situação o exige – e levados para os serviços deste hospital, onde as respetivas equipas já os aguardam para fazer os procedimentos médicos necessários. Quando a intervenção no HSM está terminada, os doentes vol16 Janeiro 2013 tam para o HBA, mantendo-se no internamento até terem alta clínica. Muitas vezes acontece, também, que doentes chegados à Urgência do HBA em situação cardíaca considerada grave são quase imediatamente transferidos para o Santa Maria. Nestes casos, são as ambulâncias do INEM que levam os doentes, por serem aquelas que estão especialmente preparadas para acompanhar os casos emergentes. No HSM, estes doentes dão entrada pelo serviço de Urgência, que já foi alertado pelas equipas do HBA para a situação, estando tudo, por isso, devidamente preparado para os receber. Quando a situação está estabilizada mas os doentes precisam de estar internados, e quando já não há qualquer risco no seu transporte, o Hospital de Santa Maria volta a transferi-los para o HBA. Aqui, continuarão a ser assistidos no internamento, até o seu problema estar resolvido e poderem ter alta do hospital. Quem já esteve num hospital, provavelmente já assistiu ou passou por situações destas. Inevitavelmente, somos levados a pensar no incómodo para os doentes tema de capa CUIDAM que têm de andar de um lado para o outro, temos dúvidas sobre as capacidades dos profissionais e das unidades de saúde que têm de o fazer e, sobretudo, temos receios de que, por terem de ser transportados para outro lado, possa ficar comprometida a correta assistência aos doentes. Na verdade, não há transferências de doentes entre hospitais sem ser cumprida uma de duas condições: há toda a segurança em fazê-lo; ou, sem a transferência, o doente fica em risco de vida. Não há meio-termo. Estas transferências ocorrem regulamente entre hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) - com muitos doentes a serem encaminhados para as Urgências ou para exames e consultas dos hospitais centrais de Lisboa, Porto ou Coimbra. Aqui, estão concentrados serviços a quem o Ministério da Saúde atribuiu competências específicas, que não existem em nenhuns outros hospitais – como acontece com o HBA, quando tem de encaminhar os seus doentes para o Hospital de Santa Maria. “Os nossos doentes não são pior tratados pelo facto de irem para o HSM e voltarem, continuando a ser aqui assistidos. Isso posso claramente garantir-lhe”, afirma, sem hesitações, o diretor da cardiologia do HBA, Miguel Almeida Ribeiro. “O facto de os transferirmos não significa nenhum atraso no tratamento. Nem significa que, por isso, o acompanhamento feito aqui seja pior”, reforça. O serviço de cardiologia é responsável por uma parte substancial das transferências de doentes para o Hospital de Santa Maria. Como se disse, diariamente dois a três doentes são encaminhados do HBA para o centro de hemodinâmica Janeiro 2013 17 transferências O Ministério da Saúde decidiu concentrar os centros de hemodinâmica nos hospitais centrais. Por isso, o HBA não tem este serviço daquele hospital para fazer cateterismos e angioplastias, colocar pacemakers, fazer estudos de arritmologia, entre muitas outras intervenções que são necessárias nas doenças agudas do coração, tanto na doença cardíaca aguda como na doença coronária aguda. Estas intervenções podem ser programadas e, nesse caso, acontecem no espaço de 24 a 48 horas após a entrada do doente na Urgência do HBA e o seu internamento. “São exames rápidos, em que a situação clínica do doente está estabilizada e este é transportado com toda a segurança”, diz o médico. Mas, quando têm de ser urgentes, como no caso dos enfartes agudos do miocárdio ou das arritmias muito graves, por exemplo, o doente é enviado com a maior rapidez possível para o Santa Maria. “São os casos em que acionamos o sistema de emergência inter-hospitalar e em que o doente vai acompanhado na ambulância por um médico, para o hospital central”, acrescenta, salientando: “Se a situação for de grande instabilidade, é provável que o doente não volte logo para o HBA. Porque precisa de uma cirurgia urgente, por exemplo, ou porque o transporte de regresso é efetivamente um risco. Fica então internado em Santa Maria até a situação estabilizar, o que pode demorar dias, e volta quando estiver melhor, para continuar a ser assistido aqui”. Estas transferências inter-hospitalares de doentes têm uma justificação. “O Hospital Beatriz Ângelo não tem um serviço de hemodinâmica”, começa por dizer Miguel Almeida Ribeiro. “Nesta área, a estratégia de organização do SNS definida pelo Governo foi concentrar os serviços de hemodinâmica em centros de excelência nos grandes hospitais centrais. E isto porque, para haver segurança e qualidade nestes procedimentos, tem de haver especialistas dedicados apenas a isso e a trabalhar permanentemente com estes casos. Não faz sentido, pois, existir um serviço destes em todos os hospitais. Nem se justifica, perante as necessidades da população”, explica Miguel Almeida Ribeiro. Por isso, continua, “o Hospital O dia-a-dia do trabalho de médicos e enfermeiros que lidam com os doentes da Cardiologia do HBA implica sempre uma articulação constante com o Hospital de Santa Maria 18 Janeiro 2013 Beatriz Ângelo tem sempre de enviar os seus doentes que precisam destas intervenções para Santa Maria”. O diretor do serviço de Cardiologia do HBA faz questão, aliás, de dizer que a articulação com o Hospital de Santa Maria é “excelente, no que diz respeito, sobretudo, aos doentes com doença coronária aguda. A forma de concretizarmos esta relação entre os dois hospitais foi previamente acertada em conjunto, e funciona diariamente sem qualquer problema”. Quando um doente internado no HBA tem indicação para fazer cateterismo, é elaborado um relatório médico, que é enviado por correio eletrónico para Santa Maria e quase imediatamente visto pelo responsável do serviço neste hospital. Na sequência disso, o exame é marcado. E “a resposta que temos tido sempre para os nossos doentes internados é igual ou inferior a 24 horas”, ou seja, por regra, menos de um dia depois de ter sido pedido o exame, o doente está a ser transferido para Santa Maria para o fazer. “Isto só não acontece se o exame é pedido numa sexta-feira. Aí, a marcação nunca é feita para o dia seguinte, mas para a segunda ou terça-feira seguintes”, esclarece, ainda, fazendo a ressalva: “Naturalmente, se surge alguma situação de instabilidade no doente, é ativada a via verde coronária inter-hospitalar, o que significa que o nosso doente é enviado de urgência para o Santa Maria, seja dia de semana ou fim de semana, e o procedimento será feito pelo cardiologista de intervenção que lá estiver de prevenção à Urgência”. Nas áreas da Cardiologia em que o HBA faz transferência de doentes para o HSM, a doença coronária para a hemodinâmica é a que tem mais peso. Mas outras áreas começam, à medida que o próprio hospital em Loures vai crescendo, a ganhar relevância. É o caso da arritmologia, ou seja, dos doentes que precisam de “colocar um pacemaker ou um desfibrilhador, que necessitam de fazer ablações ou estudos fisiológicos de arritmias”. Mas, neste caso, a articulação com o Santa Maria tem contornos diferentes. Conforme explicou Miguel Almeida Ribeiro, de duas em duas semanas, um especialista dessa área do Hospital de Santa Maria faz consulta no HBA aos doentes com essa patologia específica. “Não é uma consulta aberta. Só recebe doentes referenciados pelos cardiologistas daqui do nosso hospital”, ressalva, explicando: “O doente é visto pelo cardiolo- Miguel Almeida Ribeiro, diretor da Cardiologia gista e se este entende que ele do Hospital Beatriz Ângelo precisa de ser acompanhado pelo especialista de Santa Maria, encaminha- ria, durante o procedimento lá e, depois, na consulta que ele faz aqui”. o para esta consulta especial”. Depois, se o doente tiver de ser sujeito A outra área das doenças do coração em a procedimentos da cardiologia de in- que há também necessidade de transfetervenção, também é transferido para o rir doentes do HBA para o Hospital de Santa Maria. “E é este colega que faz essa Santa Maria é a cirurgia cardíaca. “Para referenciação para lá, depois de, na con- os doentes internados que necessitam sulta especial feita aqui no HBA, iden- de uma cirurgia cardíaca urgente, o protificar os casos”. Na verdade, acrescenta cedimento de articulação é igual ao dos Miguel Almeida Ribeiro, “ele próprio que precisam de intervenção da hemoacompanha os doentes em todo o per- dinâmica: é enviado um relatório para curso: na referenciação para Santa Ma- o responsável da cirurgia cardíaca do HSM e é este colega que determina a necessidade e a urgência da operação. Se for esse o caso, o doente é transferido para lá, aguardando no internamento do Santa Maria pela cirurgia”, explica o diretor da Cardiologia do HBA. Já para os doentes de ambulatório, ou seja, aqueles que são seguidos na consulta de cardiologia do HBA, o procedimento é diferente. “Temos reuniões regulares em que participa um cirurgião cardíaco do Santa Maria, em que é feita a avaliação de cada caso, em conjunto, e é tomada a decisão sobre a necessidade de cirurgia. A marcação será feita depois pelo serviço do HSM, logo que receberem o relatório do caso discutido nestas reuniões”, acrescenta ainda. “A incidência de patologia cardíaca é cada vez maior, quer no internamento, quer na urgência”, diz Miguel Almeida Ribeiro, pelo que é fundamental que os doentes conheçam os sinais de alerta e atuem de modo a que a resposta dos serviços seja o mais eficaz possível. Nesta área da Cardiologia, a via verde coronária – um sistema de alerta que liga o CODU (que atende as chamadas do 112), o INEM e os serviços de urgência dos hospitais do SNS, independentemente da sua diferenciação – permite Janeiro 2013 19 transferências que, em todos os níveis, a intervenção dos serviços seja o mais rápida possível. E, para ser a mais eficaz, é fundamental que o doente seja logo encaminhado para o serviço que estiver melhor preparado para agir na sua situação. É por isso que é fundamental, diz o médico, que, perante suspeita de doença cardíaca aguda, o doente ligue para o 112, em vez de ir pelo seu pé para o hospital. “Se ligar e descrever aquilo que sente, certamente será acionada a via verde coronária pré-hospitalar: o próprio INEM avalia a situação e se ela for de gravidade, o doente é logo levado para um hospital central onde pode ser feita a intervenção completa e necessária”, reforça, adiantando: “Mas se o doente se dirige, pelos seus meios, à urgência mais próxima, essa intervenção Na reunião diária do serviço de Cardiologia, os médicos decidem que doentes precisam de realizar exames e quando devem ser encaminhados para o hospital central pode não ser tão rápida como é desejável”, diz, lembrando que pode sempre haver algum atraso na admissão administrativa ou na triagem. “No HBA, de qualquer modo, assim que o doente indica os sinais de alerta, normalmente na triagem, é ativada uma ‘via verde dor torácia’ interna que implica que o doente vá imediatamente realizar um eletrocardiograma, passando à frente de todos os outros. Ao mesmo tempo, os médicos são alertados para a situação e têm de avaliar o resultado do exame logo a seguir, para definir a estratégia de intervenção. Se o caso for efetivamente grave, a decisão é só uma: transferir imediatamente o doente, para a hemodinâmica do Santa Maria”. O responsável da Cardiologia do HBA não deixa, no entanto, de aproveitar a oportunidade para fazer um alerta: “O que nós queremos obter com o tratamento da doença cardíaca é aumentar os anos de vida e com qualidade. E isso não se consegue tratando apenas os episódios agudos. O doente tem sempre a noção de que são estas crises agudas que condicionam o seu futuro, mas isso não é de todo verdade!” Neurocirurgias só no Santa Maria As transferências de doentes para o Hospital de Santa Maria, que são obrigatórias nas situações de doença cardíaca aguda, acontecem também sempre que é necessária a intervenção da Neurocirurgia. O Hospital Beatriz Ângelo tem um serviço de Neurologia, com especialistas nas mais importantes patologias do sistema nervoso. Mas não possui um serviço específico de Neurocirurgia, por determinação do Ministério da Saúde. “Perante a avaliação que é feita ao doente pelo médico neurologista, quer ele esteja internado quer esteja a ser acompanhado em ambulatório, se há necessidade da intervenção cirúrgica, o doente é imediatamente transferido para Santa Maria”. A explicação é dada pelo diretor da Neurologia do HBA, José Vale, que ainda salienta: 20 Janeiro 2013 “Contactamos o nosso colega do hospital central para programar a consulta na Neurocirurgia de lá e o nosso doente internado vai à consulta, é-lhe marcada a cirurgia, mas volta para aguardar por ela no nosso internamento. Se o doente entretanto tem alta daqui do HBA, mas tem também indicação para a Neurocirurgia, já sai do nosso hospital com a consulta marcada lá e devidamente informado sobre o que deve fazer”. Naturalmente, depois de terem alta cirurgica, os doentes voltam a ser seguidos no HBA, na consulta de Neurologia deste hospital A articulação com o serviço de Neurocirurgia do HSM “foi preparada e organizada ainda antes de o nosso hospital abrir”, explica José Vale. “Reunimos para definir os protocolos de transferência dos doentes – ou seja, quando devem ir e quando já podem voltar, por serem doentes da nossa área de influência – e estamos agora a ultimar uma plataforma online, que liga os dois hospitais nesta área, e que permite que os colegas de lá acedam, no seu terminal de computador, aos exames que os doentes fizeram”, revela o médico. Trata-se, diz ainda, “de um instrumento de trabalho muito importante, porque facilita os contactos, permite o acesso imediato aos exames e acelera a decisão sobre como intervir em cada caso. Sobretudo, permite dar uma resposta mais cómoda e rápida ao doente, que não tem de andar com os exames para trás e para a frente. Quando o doente vai à consulta ao HSM, os médicos já viram tudo, já analisaram o caso e já lhe podem dizer o que vão fazer”. Apesar de essa plataforma ainda não estar a funcionar, “as coisas têm corrido muito bem. E a resposta da Neurocirurgia do Santa Maria é praticamente imediata”, afirma. A intervenção da Neurocirurgia do HSM está também prevista para os casos detetados na Urgência do HBA. Os neurologistas do serviço de José Vale estão de prevenção à urgência todos os dias da semana, das oito da manhã às oito da noite, e quando “entra alguém com um quadro neurológico que os exames imagiológicos não esclarecem ou que nos leva a suspeitar de algo que necessita de outro tipo de intervenção”, pode ser preciso transferir o doente para que os neurocirurgiões do Santa Maria analisem também a situação. Será sempre necessária “a avaliação do neurologista que tema de capa “A doença cardíaca não existe só quando há uma crise. E garantir que, durante todas as fases da doença, os doentes são bem tratados e todos os objetivos terapêuticos são cumpridos é fundamental. Este tratamento é feito, sobretudo, em ambulatório, por equipas multidisciplinares, em articulação perfeita com os cuidados primários de saúde. Estamos todos, afinal, a tratar o mesmo doente”. Neste momento, uma parte substancial dos doentes seguidos na consulta de Cardiologia é referenciada pelos médicos de família. E, assegura Miguel Almeida Ribeiro, a resposta é imediata, dentro do grau de prioridade atribuído a cada caso. “Não há listas de espera no HBA, nesta especialidade”, conclui o médico, deixando um pedido: “É fundamental que entre o hospital e os centros de saúde haja uma comunicação regular e fácil. Para comodidade dos nossos doentes e para melhorar a sua assistência. Só assim evitamos que cheguem à consulta no hospital sem exames, sem a medicação, sem qualquer informação sobre o que têm, o que nos impede de fazer a avaliação completa do caso e obriga a marcar nova consulta”. estiver aqui na nossa Urgência. É ele que decide essa transferência, a qual é feita sempre após o contacto com os colegas da Neurocirurgia de lá, para que esteja tudo preparado quando o doente lá chegar”. Durante o fim de semana e nos períodos noturnos, a partir das oito da noite, os doentes com quadros neurológicos mais graves que entrem na Urgência do HBA são igualmente transferidos para Santa Maria – de acordo com a rede de referenciação das urgências nesta especialidade, estabelecida pelo Ministério da Saúde. De facto, o número de casos surgidos nos períodos noturnos e que exigem a intervenção da neurologia “não justifica a dispersão de especialistas por todos os serviços de urgência que existem. O nosso hospital, ainda por cima, está apenas a 15 minutos da Urgência de Santa Maria e os recursos deste hospital central são suficientes para atender com eficácia e rapidez todos os casos surgidos à noite e ao fim de semana”, explica o diretor da Neurologia do HBA, ressalvando: “Naturalmente, mesmos estas transferências só são feitas em condições de absoluta segurança. Portanto, o doente é sempre estabilizado aqui, e só é enviado para lá se não houver qualquer risco nesse transporte”. Nos casos menos graves, mesmo que os doentes cheguem ao hospital à noite, “poderão ficar no SO da nossa Urgência até à chegada do neurologista, sem qualquer risco e sempre sob vigilância permanente”, explica José Vale. A Via Verde do Acidente Vascular Cerebral (AVC) – um sistema de alerta entre o CODU (que atende as chamadas do 112), o INEM e as urgências dos hospitais, e que permite acelerar a assistência aos doentes com suspeita de AVC – é também um dos motivos por que o Hospital Beatriz Ângelo pode ser obrigado a transferir doentes para Santa Maria. Um doente com suspeita de AVC ou perante os sinais de alarme, deve sempre ligar para o 112, sendo imediatamente ativada a respectiva Via Verde. Isto significa que o serviço de Urgência mais próximo é alertado, para que esteja tudo preparado para fazer “a revascularização direta do vaso que está entupido e a provocar o enfarte cerebral”, explica o médico. Este procedimento é decidido pelo neurologista, perante a avaliação do caso, e tem de ser efetuado no mais curto espaço de tempo, para permitir a reabilitação do doente. “Quanto mais tarde se atuar, mais difícil pode ser essa reabilitação”, adianta ainda. Durante a noite e ao fim de semana, se a Via Verde é ativada pelo CODU para um doente da área do HBA, o INEM terá de levá-lo para o Hospital de Santa Maria, precisamente por ser essa a indicação da rede de referenciação das urgências de Neurologia. “O problema – alerta José Vale - é se o doente “vem para o HBA pelo seu próprio pé, nesses períodos. Só isso pode implicar um atraso na intervenção médica, porque terá sempre de ser imediatamente transferido para o HSM. Portanto, perante sinais de alerta de AVC, só há mesmo uma coisa a fazer: ligar para o 112”. Janeiro 2013 21 transferências Mais uma artéria ‘desentupida’ Já há uns dias que andava a sentir-se cans cansado. ado d .N No sáb sábado ábad do ant anteri anterior erior or tin tinha ha est estado ado a jog jogar ar à bola com os amigos e depois disso ficou pior. Não associou o tabaco ao seu mal- estar, apenas sentiu que não estava com as mesmas forças do costume. Na tarde do dia de Natal sentiu uma dor forte no peito. O filho trouxe-o logo para a urgência do Hospital Beatriz Ângelo. Nunca lhe tinha passado pela cabeça que, aos 51 anos, fosse acontecer isto. “Pensamos sempre que os problemas só acontecem aos outros”, admite, com um sorriso meio envergonhado. Luís teve um princípio de enfarte, ficou internado no HBA e agora está já com o cateterismo marcado para fazer no Santa Maria, o mais rápido possível. “Tenho uma veia entupida e vão desentupí-la. Logo a mim, que sou canalizador”, vai dizendo, soltando uma gargalhada. Está com uma calma notável, como se nada tivesse acontecido. Sente-se bem outra vez e só o incomodam os fios a que está ligado. Já está, por isso, desejoso que o exame seja rápido para voltar para casa o mais rapidamente possível. “O problema vai ser o tabaco. Não sei como vou fazer para parar com os cigarros...”. É o único momento em que carrega a expressão. Não o assusta mais nada, nem o procedimento que ainda vai fazer, nem o risco em que esteve. E quanto ao futuro, “logo se verá”, diz, novamente de sorriso na face. Purificação, de 74 anos, já voltou do Hospital de Santa Maria. “Sei que vou ter de ser operada, mas tive de ir lá fazer o exame às artérias coronárias. É muito chato ter de andar de um lado para o outro, o caminho parece que está cheio de buracos”, lamenta com a voz meio soprada, fazendo um esforço para falar. É doente cardíaca há vários anos e, nos últimos tempos, a sua situação tem-se agravado, ao ponto de já mal conseguir levantar-se da cama. Está sempre cansada. “E os comprimidos para isto são tão caros...”, queixa-se. Está agora internada no HBA, na sequência de uma ida à Urgência. “Chamei o 112, estava a sentir-me muito mal. E fiquei logo internada”. A próxima etapa será a operação. Luís está pronto para seguir para o Hospital de Santa Maria. Não vê a hora de se despachar. A ambulância está já à sua espera. São sete e meia da manhã, pelo que a viagem será bastante rápida. Vai deitado numa maca e será encaminhado, diretamente, para o Serviço de Hemodinâmica daquele hospital, onde já o aguardam. A enfermeira Maria faz a receção do doente. A avaliação de parâmetros como a tensão arterial ou a febre, e o questionário de entrada são obrigatórios. “Toma alguma medicação? Tem alergias? É diabético? Já alguma vez tinha tido um enfarte? Sabe o que vem fazer?...” Maria explica ainda a Luís a razão por que tem de fazer este procedimento: “Pensa-se que tenha uma artéria entupida total ou parcialmente. Por isso, vão injetar-lhe um contraste e depois, através de um exame imagiológico, conseguem ver-se as artérias e descobrir qual é a que está entupida para a desobstruir”. “Conhece alguém que tenha feito um cateterismo?”, pergunta ainda. 22 Janeiro 2013 transferências O serviço i d de h hemodinâmica di â i d do H Hospital it l d de S Santa t Maria recebe doentes como o Luís de vários hospitais da área da Grande Lisboa, como Santarém, Torres Vedras, Peniche, Caldas da Rainha e Litoral Alentejano, além de Loures. Mas pode também receber doentes trazidos pelo INEM, de urgência, no âmbito da rede de referenciação da Via Verde coronária. Os números deste serviço são impressionantes: quatro mil procedimentos coronários por ano, das quais 1200 são angioplastias coronárias e 300 são angiografias primárias provenientes do Serviço de Urgência. Diogo Torres, o especialista em cardiologia de intervenção que vai realizar o cateterismo a Luís, explica que “ter um hospital à porta de casa não significa sempre ter melhor saúde. Num serviço como este, é preciso ter muita experiência e esta só se ganha realizando muitas intervenções. Por isso, faz todo o sentido concentrar aqui no Santa Maria estas necessidades das populações de todas as áreas aqui à volta. Somos um grupo de especialistas séniores, trabalhamos 12 horas por dia e estamos também de apoio à Urgência durante 24 horas, todos os dias. E conseguimos responder sempre com a rapidez adequada às necessidades dos doentes”, afirma. O cardiopneumologista Diogo Torres adianta ainda que a articulação com todos os hospitais que referenciam para este serviço “é excelente”, o que resulta, explica, “da organização que temos aqui e dos excelentes enfermeiros que trabalham connosco”. Com o HBA, em particular, o médico confirma aquilo que já tínhamos ouvido: “Há uma relação de grande proximidade com os colegas de Loures. Temos um contacto muito fácil e rápido, por isso, perante qualquer dúvida, temos condições para resolver rapidamente os problemas e dar uma resposta completa aos doentes que dali chegam”. Cada procedimento demora, em média, meia hora. Luís já está na sala de hemodinâmica, com o médico e toda a equipa necessária a esta intervenção, e acompanhará tudo sempre acordado. É feita uma anestesia local para introduzir o cateter que permitirá chegar às artérias coronárias, especificamente ao local onde há o entupimento que provocou o princípio do enfarte. Este cateter tem cerca de 130 centímetros de comprimento e será através dele, depois, que seguirá o ‘balão’ que vai “resolver o assunto”. “Está a sentir-se bem, não está? Diga-me lá como foi a dor que sentiu?” O médico vai conversando com Luís, para o tranquilizar. “Não se mexa”, pede-lhe, de vez em quando. Começam a falar de futebol. A música de fundo toca suavemente. Se não fossem aqueles aparelhos todos, dir-se-ia que este era um vulgar encontro de amigos num café. Até que Diogo diz: “Bom, vamos isto! Dêm-me um ‘BMW’, por favor”. Passadas umas horas, Luís está de volta ao HBA. P Assim que, em Santa Maria, consideraram que a sua A situação clínica não apresentava riscos, s contactaram o HBA e foi enviada uma ambulância c para o doente regressar. p Liliana é a enfermeira requisitada para o L acompanhar. “Temos sempre connosco tudo aquilo a que q possa ser preciso para qualquer emergência. Antes de sairmos com o doente, medimos-lhe a A tensão e vamos sempre vigiando se há t hemorragias”, explica Liliana. “Correu tudo h bem com este transporte. O Luís veio de maca b e em menos de uma hora estava já no seu quarto, aqui a no HBA”. Luís L levanta a cabeça, enquanto ainda está na n maca. “Com o tabaco é que vai ser pior”, confessa, na despedida. c unidade da coluna Dedicados à coluna A nova Unidade da Coluna do Hospital Beatriz Ângelo reúne médicos de várias especialidades com o objetivo de dar a resposta mais rápida e adequada às pessoas com doenças graves da coluna. “Temos a visão de cada caso nas várias perspetivas, reunimos diferentes experiências e ouvimo-nos uns aos outros para perceber qual é a decisão mais acertada”, resume o neurocirurgião Álvaro Lima, que coordena esta Unidade. A expressão de dor estava descrita ao pormenor na cara de Ana Paula. Depois de três idas à Urgência em apenas três semanas, de ter tentado todas as terapêuticas de emergência possíveis, sobretudo depois de já não conseguir manter-se de pé ou sequer dormir umas horas seguidas, depois de tudo isto, sentiu o seu mundo desabar. Quando a conhecemos, estava sentada numa cadeira de rodas, com a perna direita esticada, os olhos fechados a esconder a dor, aguardando a sua vez para uma consulta no Hospital Beatriz Ângelo (HBA). Dois meses depois, Ana Paula voltou a ser a pessoa que era antes de tudo isto acontecer. Com uma diferença: não esquece o sofrimento por que passou, para nunca mais se esquecer também de que deve proteger sempre a sua coluna. “Sentia dores nas costas há uns dois anos. Mas iam e vinham, nunca foram nada de grave. Isto piorou no dia em que peguei nos meus dois netos ao mesmo tempo. Aí é que senti uma dor mais forte. Desde então, foi sempre piorando”, recorda Ana Paula. Quando já não aguentou mais, pro26 Janeiro 2013 curou o hospital. E a falta de resposta da terapêutica médica de emergência acabou por ser o sinal de alerta para que fosse referenciada, diretamente da Urgência, para a consulta de Álvaro Lima, que coordena a Unidade da Coluna do HBA. A partir daí, tudo aconteceu rapidamente: a consulta com o especialista, a primeira tentativa de tratamento na Unidade da Dor e, por fim, a opção pela cirurgia. 24 horas depois de ser operada, Ana Paula estava em condições de ter alta. “Só sentirá dores resultantes da própria cirurgia. E leva medicação para essas dores, mais nada. Daqui a um mês, voltará para uma consulta. Nessa altura, estará já a fazer a sua vida normal”, explica Álvaro Lima, ao lado da doente que operou na véspera. Ela está agora com a felicidade estampada no rosto. “Vou ter muito juízo!”, promete ao médico, depois de o ouvir dizer que pode voltar para casa. E isso significa o quê? “Que não vou estar sentada durante muito tempo seguido, que vou fazer caminhadas regularmente, que não vou fazer grandes esforços nem pegar unidade da coluna Janeiro 2013 27 cuidados continuados A enfermeira Elvira, da Unidade da Dor, antes de Ana Paula fazer o primeiro tratamento (à esquerda) e reunião multidisciplinar da Unidade da Coluna, que reúne os diferentes especialistas desta área em coisas pesadas…” Ana Paula apresentava todos os sintomas típicos de uma das patologias da coluna mais frequentes: a hérnia discal. “Muitas vezes, ouvimos as pessoas dizer que sofrem desta doença, mas na maior parte dos casos não será bem assim. A hérnia discal tem um quadro clínico muito típico, que se carateriza por dores incapacitantes, resistentes aos tratamentos comuns e envolvendo compromisso neurológico, ou seja, dores, formigueiro e falta de força nos braços ou nas pernas. Quando, de facto, as pessoas estão, devido a este quadro, completamente incapazes de fazer a sua vida normal e de forma permanente, aí sim podemos falar de hérnia discal”, explica Álvaro Lima. E este esclarecimento impõe-se, adianta o médico, precisamente porque é para estas patologias mais graves que é necessária a 28 Janeiro 2013 “Pode ser difícil saber para que especialista enviar o doente. A abordagem multidisciplinar da nossa Unidade responde a essa dúvida” intervenção de um serviço hospitalar. “A esmagadora maioria dos problemas de coluna sentidos pelas pessoas resultam de problemas simples que se resolvem com tratamentos simples, os quais podem e devem ser prescritos e acompanhados pelos médicos de família nos centros de saúde”, esclarece. O Hospital Beatriz Ângelo criou uma Unidade da Coluna destinada, precisamente, às patologias mais graves da coluna. “Os doentes são referenciados para esta Unidade, quer pelos médicos de família, quer pelo próprio Serviço de Urgência do HBA, como aconteceu com Ana Paula, ou ainda pelos colegas de outras especialidades aqui do hospital, quando entendem que os seus doentes devem ser vistos por nós”. E quando é o médico de família a fazê-lo, esclarece, “pode referenciar para qualquer das três especialidades que, habitualmente, recebem estes doentes (ortopedia, neurologia e reumatologia), que eles acabam por ser encaminhados para esta consulta”, explica. A ideia, acrescenta o neurocirurgião que coordena esta Unidade, é permitir ao hospital dar uma resposta especialmente ade- unidade da coluna quada a cada caso concreto destes doentes mais graves e, de preferência, o mais rápida possível. De que forma? “Através de uma intervenção multidisciplinar, quer no diagnóstico, quer no tratamento”, responde. A Unidade da Coluna do HBA é coordenada por um neurocirurgião e reúne ortopedistas, neurologistas, reumatologistas e neurorradiologistas, além de integrar também os médicos especialistas em tratamento da dor e os fisiatras. “A nossa Unidade tem ainda o apoio de uma médica que trabalha com acupunctura e do psicólogo e da dietista da Unidade da Dor”, esclarece Álvaro Lima, explicando: “O acompanhamento das patologias mais difíceis da coluna não deve ser feito por uma única especialidade. Aliás, muitas vezes até é difícil aos próprios clínicos gerais decidir se o seu doente deve ser encami- nhado para a ortopedia ou para a neurologia. Afinal, qual é o especialista certo para o caso? A abordagem multidisciplinar feita na Unidade da Coluna responde a essa dúvida”, diz ainda. De facto, adianta o neurocirurgião, “aqui, cada caso é discutido e analisado nas suas várias perspetivas, para que se possam tomar as opções adequadas em termos de tratamento”. Mas o trabalho feito neste contexto “permite-nos também saber o que é que cada um de nós pode fazer; como e quem deve reagir perante cada situação concreta; e analisar o caso à medida que vamos intervindo nele, optando, a cada momento, por este ou por aquele caminho”. Os médicos da Unidade da Coluna encontram-se todas as semanas para esta reunião multidisciplinar. Os casos, envolvendo sempre patologias degenerativas, tumorais ou traumáticas da coluna, são habitualmente selecionados pelo próprio coordenador. Mas pode acontecer que algum dos seus colegas se tenha deparado com um dos chamados ‘casos difíceis’ e entenda ser necessário discuti-lo também neste contexto multidisciplinar. Ana Paula foi uma das doentes que passaram nesta reunião. Depois de ser vista na consulta por Álvaro Lima, para a qual foi referenciada diretamente pela urgência, o médico entendeu que o seu caso, dado o sofrimento em que Ana Paula já estava, exigia uma intervenção rápida. Foi então diretamente encaminhada para a Unidade da Dor, dirigida pela médica Rosário Alonso, onde iniciou a primeira fase desta intervenção hospitalar. Nesta altura, os médicos entendiam ser ainda possível resolver o problema de Ana Paula através de uma abordagem a este Janeiro 2013 29 unidade da coluna Ana Paula está como nova, preparada para voltar à vida do dia-a-dia. Mas promete que agora vai proteger mais a sua coluna nível, como acontece com uma grande percentagem de doentes com patologias da coluna. “Devemos sempre tentar um tratamento conservador, se o diagnóstico que foi feito não o contra-indicar. Neste primeiro nível, podemos optar por várias modalidades de tratamento, que vão desde a fisioterapia à intervenção da Unidade da Dor, onde se pode recorrer a diversas técnicas. E há muitas situações que se resolvem através desta intervenção mais conservadora: as dores acabam por ser controladas nas primeiras semanas e desaparecer, mesmo com a redução da medicação. Temos, normalmente, entre quatro a oito semanas para verificar se isso acontece. E se se verificarem essas melhorias, já não será preciso fazer mais nada, a não ser reeducar o doente para que previna novos problemas no futuro”, diz Álvaro Lima. “Mas se a resposta a este tratamento conservador não for positiva, então podemos ter de avançar para a cirurgia”, acrescenta. E aqui o neurocirurgião faz novo aler- ta: “Primeiro, é fundamental que as pessoas percebam que nem todos os casos têm indicação para a cirurgia. Só a falência dos vários métodos de tratamento conservador e a persistência das queixas é que pode levar-nos a optar pela operação. Segundo, é também importante que se desmontem os mitos sobre os riscos da cirurgia à coluna. Hoje, esses riscos são muito baixos, porque se fazem abordagens cirúrgicas muito mais simples e menos invasivas”. Ou seja, “com pequenas incisões e recuperação pós-operatória muito mais rápida. O doente operado a uma hérnia discal, hoje, tem alta 24 horas depois da cirurgia e mais ou menos ao fim de um mês está a fazer a sua vida normal”. Há um outro fator que pode ajudar a compreender melhor este contexto e a afastar o habitual medo destas operações: os médicos são cada vez mais especializados porque se dedicam exclusivamente a estas técnicas cirúrgicas. É o caso de Álvaro Lima, que é neurocirurgião, coordena a Ana Paula teve alta 24 horas depois de ter sido operada pelo neurocirurgião Álvaro Lima 30 Janeiro 2013 Unidade da Coluna do HBA, trabalha lado a lado no diagnóstico e tratamento com colegas de outras especialidades mas está dedicado, em termos cirúrgicos, apenas a esta área. “Curiosamente, temos muitos doentes que vêm dos centros de saúde para a nossa consulta com a informação de que no nosso hospital não há neurocirurgiões”, comenta, com um sorriso. Está visto que não é assim... Manter uma relação estreita com os centros de saúde nesta área é o próximo objetivo dos profissionais desta Unidade. Isto para que se consiga atingir, plenamente, “a referenciação mais correta” para a consulta da coluna. Ou seja, diz Álvaro Lima, “dar prioridade aos doentes que são verdadeiramente urgentes e graves”. “Se a referenciação é indiscriminada, há sempre o risco de que esses doentes fiquem prejudicados, à espera da consulta, quando deviam ser os primeiros a ser chamados”, reforça. É por isso que o médico insiste: “Uma dor crónica que, apesar disso, é perfeitamente tolerável, não é incapacitante, não altera unidade da coluna O QUE DEVE SABER A maior parte das cirurgias à coluna têm, hoje, um risco mínimo e permitem ao doente recuperar totalmente em cerca de um mês a vida do doente e surge esporadicamente, não tem necessariamente de ter atendimento especializado. Pode ser tratada com medicação ou fisioterapia, prescritas pelo médico de família”. Em todo este processo de tratamento, há finalmente um fator a que o neurocirurgião não pode deixar de referir: a educação para a prevenção da doença. E esse trabalho deve ser feito por todos aqueles que intervêm no doente, quer ao nível dos cuidados primários, antes de a doença se agravar, quer ao nível dos cuida- dos hospitalares, depois de um tratamento para a dor que tenha resultado positivo ou de uma intervenção cirúrgica. “Transmitir aos doentes informações sobre os cuidados preventivos desta doença é uma tarefa permanente. Todos os dias, nas nossas consultas, fazemos isso. Porque continua a haver muita falta de informação e, por isso, pouco cuidado com a saúde da coluna”. Os trabalhos pesados, os esforços físicos, a vida sedentária, o aumento de peso, estar sentado todo o dia – que é tão prejudicial como ter um trabalho pesado! – e, sobretudo, estar mal sentado, ter uma postura incorreta, eis alguns dos principais fatores que provocam patologias degenerativas da coluna. O resultado de tudo isto é que sete em cada dez portugueses têm dores nas costas e admitem que essas dores provocam mal-estar geral, cansaço e fadiga. Mais: um terço já esteve de baixa médica e mais de 40% sentiram limitações na sua vida familiar ou social em consequência das dores nas costas. O diagnóstico das doenças da coluna é feito através de um exame físico completo à coluna vertebral e aos membros superiores e inferiores, devendo ser examinada a flexibilidade, o nível de movimento e sinais indicadores de lesão de nervos ou da coluna. Este pode depois ser complementado com exames de imagem. Os principais sintomas são: dor, rigidez e limitação da mobilidade, formigueiros, dormência, falta de força e, ainda que raramente, alterações urinárias. As doenças mais comuns da coluna são a doença discal degenerativa, a escoliose, a espondilartrose, a hérnia discal, a osteoporose e as fraturas na coluna. Há várias opções de tratamento, consoante a gravidade do caso, destacando-se: o tratamento conservador, quando as dores nas costas estão ainda numa fase primária (repouso, redução da atividade, medicação, fisioterapia, alterações de hábitos de vida e de postura); e o tratamento cirúrgico, no qual deve ser utilizada a técnica que lese o menos possível as estruturas musculares adjacentes à coluna vertebral. A abordagem cirúrgica da coluna pode ser convencional (intervenção que utiliza maiores cortes na pele e músculos, com desvantagens no efeito estético e nas dores pós-operatórias e implicando maiores períodos de internamento) ou minimamente invasiva (as novas tecnologias têm permitido um grande desenvolvimento nestas técnicas cirúrgicas que tratam igualmente as causas das dores e das malformações da coluna, conseguindo um regresso mais rápido à vida normal e uma evolução menos dolorosa no pós-operatório). *fonte: www.olhepelassuascostas.com infeções respiratórias NARIZ ENTUPIDO As infeções respiratórias são a doença mais comum desta época nas crianças. A maior parte é de origem viral e não tem qualquer gravidade. Por isso, ir a correr para a Urgência nestas alturas não é a melhor solução. O pediatra João Crispim explica quais são os sinais de alerta a que os pais devem estar atentos. A notícia passou recentemente em todos os jornais e televisões, anunciando um aumento da procura das urgências pediátricas e dos internamentos hospitalares. Nas primeiras semanas de janeiro, um surto de bronquiolite em crianças pequenas levou muitos pais a procurar ajuda nos serviços hospitalares, situação que se verificou, sobretudo, na zona da Grande Lisboa, incluindo no Hospital Beatriz Ângelo (HBA). As preocupações dos pais não surgem sem fundamento, é certo. Mas na maioria dos casos, como explica o pediatra João Crispim, não há razões para correr para o hospital. “Tivemos, de facto, uma grande percentagem de admissões na Urgência nestas semanas. Mas a grande maioria dos casos que aqui recebemos não apresentava quadros de gravidade”. Nestes casos, diz o médico do HBA, “basta ficar em casa a descansar, tomar uma colher de chá com mel ao deitar para controlar a tosse, e ir vigiando a evolução da doença durante os três primeiros dias”. E há um motivo especial para que esta recomendação seja feita, acrescenta João 32 Janeiro 2013 Crispim: “É que tivemos já vários internamentos de crianças que vieram à Urgência por problemas simples, ficaram algum tempo na sala de espera e foi o que bastou para acabarem por voltar, uns dias depois, com infeções respiratórias mais graves. Sendo estas situações de contágio fácil, o contacto com as outras crianças doentes pode ter este resultado”. A dificuldade, para muitos pais, é identificar o momento em que está na hora de ir com o filho para o hospital, ou seja, saber quando é que se está, de facto, perante uma infeção respiratória grave. “Há sinais de alerta, para os quais temos todos de estar atentos, e que impõem o recurso ao hospital para que a criança seja observada e tratada. O principal desses sinais é a dificuldade respiratória. Se a criança respira muito depressa, se são visíveis os intervalos entre as costelas, se, quando respira, ‘usa a barriga’, ou se, no caso dos mais pequeninos, abre muito as narinas ou balança para conseguir respirar, aí estamos perante um quadro de dificuldade respiratória”, explica João Crispim. infeções respiratórias infeções respiratórias Além disso, “é também um sinal de alerta a recusa da criança em se alimentar e um estado geral de prostração, que não se altera mesmo quando ela não tem febre. Perante esses três sinais, será urgente ir ao médico”, reforça, acrescentando: “Mas, como já disse, a grande maioria das situações não tem este quadro, nem precisa de recursos hospitalares. Basta procurar ajuda e informação junto da linha de Saúde 24, do médico de família ou do médico assistente”. É fundamental, diz ainda o pediatra, “que se evitem os lugares onde haja maior densidade de pessoas, sobretudo de pessoas doentes. E a Urgência é um dos locais onde o risco de contágio é maior”. Aliás, “este serviço hospitalar deve estar dedicado aos casos graves, áqueles que exigem, efetivamente, uma intervenção rá- “As pessoas continuam a achar que não sabemos qual é a doença que a criança tem, quando falamos em virose. Não é verdade!” pida e diferenciada”, reforça o médico. As infeções respiratórias em crianças são as doenças mais comuns nesta época do ano e dividem-se em dois grandes grupos: as que afetam as vias respiratórias superiores – como as otites, amigdalites, sinusites, a tosse e a obstrução ou o corrimento nasal, entre outras – e as que afetam as vias respiratórias inferiores – como as pneumonias, bronquiolites, infeções que provocam pieira, etc. As infeções respiratórias são quase sempre de origem viral, tanto para as chamadas infeções respira- SINTOMAS FREQUENTES E SINAIS DE ALERTA NAS INFEÇÕES RESPIRATÓRIAS PROVOCADAS POR VÍRUS, DE MENOR GRAVIDADE: • Obstrução nasal • Corrimento nasal, inicialmente transparente que progride para opaco e amarelado/esverdeado • Tosse com expetoração • Dor de garganta • Dor de ouvidos, geralmente bilateral • Diminuição ligeira do apetite • Febre baixa a moderada, que cede aos antipiréticos • Dores musculares NAS INFEÇÕES RESPIRATÓRIAS EM CRIANÇAS, QUE DEVEM MOTIVAR O RECURSO AO SERVIÇO DE URGÊNCIA: • Incapacidade ou recusa de ingestão de líquidos • Prostração marcada • Respiração muito rápida • Gemido constante com a respiração • Fazer “covinhas” entre as costelas, abaixo das costelas ou sobre as clavículas com a respiração • Utilizar muito o abdómen para ajudar na respiração • Abrir e fechar as narinas ou balançar a cabeça com a respiração 34 Janeiro 2013 tórias altas como para as baixas. Mas também podem ser provocadas por bactérias, sendo que a infeção respiratória bacteriana “aparece quase sempre na sequência de uma infecção viral anterior, porque o organismo fica fragilizado e não consegue combater o desenvolvimento da doença bacteriana”, explica João Crispim. “Na verdade, aquilo que é importante para nós, médicos, não é saber, logo à partida, se a infeção é viral ou bacteriana. A nossa atenção vai, antes de mais, para a gravidade do quadro clínico das crianças, em termos respiratórios. Se, além dos sintomas mais comuns da constipação, se verificarem os tais sinais de alerta, então aí estamos perante uma situação de dificuldade respiratória, que precisa de cuidados especiais”. Aliás, “as pessoas continuam a ter a ideia de que, quando dizemos que a criança tem uma ‘virose’, não sabemos o que ela tem. Não é verdade! A infeção respiratória viral pode ser provocada por vírus muito diferentes e, por muito que isso pareça estranho, não é importante para nós saber qual é exatamente o vírus que está a provocar aquela doença àquela criança. É um vírus, desses que circulam na comunidade nesta época do ano, e na maioria das vezes não provoca sintomas graves”. Quando se fala em época de maior circulação destes vírus, fazemos invariavelmente a ligação ao inverno, ao frio, às correntes de ar. “São culpados fáceis!”, diz o médico. “Não é a exposição a essas condições mais ou menos adversas que cria os problemas, mas sim o contacto entre as pessoas. E onde há maiores aglomerados de pessoas, maior é a possibilidade deste contágio acontecer”, acrescenta. As creches e as escolas são o exemplo mais comum e mais frequente deste con- cuidados continuados Dois Afonsos, o mesmo problema: um tem 19 meses e o outro 7 (página ao lado). Estão ambos internados por causa dos problemas respiratórios tágio: basta uma das crianças da sala estar constipada, ou seja, ter uma destas doenças virais, e colocar os brinquedos na boca ou espirrar e tossir perto das outras crianças, para ocorrer contágio. “E este contágio já é possivel, antes mesmo de a doença ter sintomas evidentes”. Uma destas doenças respiratórias virais é a bronquiolite, que atinge sobretudo crianças muito pequenas e que tem dado origem, nestas primeiras semanas do ano, a muitos internamentos hospitalares. É o caso do Diogo, um bebé de 35 dias que está internado há 24 horas no Hospital Beatriz Ângelo. “A bronquiolite é uma doença que afeta diretamente as vias respiratórias inferiores chamadas bronquíolos e que é provocada pelos mesmos vírus que provocam as constipações banais nas crianças mais velhas e nos adultos. Nos bebés, que têm as vias respiratórias ainda muito estreitas, o vírus provoca uma inflamação desses bronquíolos, causando dificuldade respiratória”, explica o médico. Regra geral, diz, “a bronquiolite começa com um quadro de corrimento e obstrução nasal e tosse. Mas se a doença se mantém por mais de três dias, pode verificar-se alguma dificuldade respiratória que, ainda assim, na maioria dos casos, não apresenta gravidade: a situação resolve-se com medicação e sem necessidade de internamento”. Mas este quadro pode também agravar-se e obrigar a internamento. Quando a febre é persistente, quando a criança está prostrada, quando não se alimenta e quando evidencia os tais sinais de alerta quanto ao quadro respiratório. “Atenção: mesmo com internamento, sendo a maioria destes casos de origem viral, não se tratam com antibiótico. As bronquiolites virais têm apenas um tratamento de suporte – com oxigênio para repor os respetivos níveis no sangue, com ajuda à alimentação (por soro ou sonda nasal) e criando as condições para que os bebés se mantenham o mais confortáveis possível enquanto a doença passa por si”. É o que está a ser feito a Diogo, que acabará por ter alta em breve, assim que a situação de crise seja ultrapassada. Já não é assim nas pieiras, nas chamadas “sibilâncias recorrentes” ou na asma. Estas infeções respiratórias das crianças manifestam-se, muitas vezes, por aquilo que vulgarmente designamos por ‘gatinhos da respiração’ – um ruído que é provocado pelo esforço da expiração (do ar a sair), quando as vias áreas estão obstruídas. “Na verdade, este ‘assobio’ que se ouve tem a ver com o facto de o ar estar a passar por um canal muito mais estreito”, explica o médico. Trata-se, então, de patologias que ocorrem em crianças que “já têm uma predisposição para que os bronquíolos se apertem perante determinados estímulos”, acrescenta, explicando: “Estes estímulos podem ser ou não alérgicos. Há crianças que desenvolvem pieiras, por exemplo, quando têm contacto com um cão ou um gato. Mas, noutros casos, sobretudo nos bebés com menos de três anos, são estímulos infecciosos que desencadeiam a asma ou a pieira. Os Janeiro 2013 35 infeções respiratórias próprios vírus podem provocar estas crises, em crianças com a referida predisposição”, diz João Crispim. Aqui, a abordagem terapêutica também é diferente, sendo necessário, acrescenta o médico, o recurso a medicamentos broncodilatadores, “que dilatam e relaxam os músculos para permitir que o ar passe adequadamente”. “Há, na verdade, um escalonamento da terapêutica: podemos começar com aerossóis e depois, se necessário, recorrer a corticóides, tendo ambos essa função broncodilatadora. Naturalmente, se a situação é acompanhada de infeção bacteriana, temos de recorrer aos antibióticos – mas isso só perante a confirmação, através da evolução da febre, da avaliação dos parâmetros analíticos e das imagens radiológicas, de que essa infeção existe efetivamente”, reforça o pediatra. A maioria dos internamentos hospitalares ocorre com as crianças que têm, com maior ou menor dimensão, episódios repetidos de pieira. Como é o caso do Afonso, de 19 meses, que está internado pela segunda vez. A primeira vez, quando tinha 11 meses, “aconteceu após uma série desses episódios, pelo que depois ficou em vigilância médica”, conta a mãe. Durante o Verão, Afonso esteve sempre bem, mas agora voltou a ter crises. “O João Crispim com um dos seus doentes. Às vezes, são internados com poucos dias de vida pai tem asma, portanto é possível que exista aqui alguma predisposição”, diz ainda a mãe. “Hoje, já estou mais ou menos preparada para os sinais de aler- Mariana, 5 anos, tem uma doença congénita, pelo que precisa de uma vigilância especial 36 Janeiro 2013 ta, já percebo quando ele está em crise. O que faço? Corro para o hospital”, exclama a mãe. Esta vigilância e o conhecimento dos sinais de alerta é também fundamental em crianças com patologias crónicas, como é o caso da Mariana, de 5 anos. “A doença faz com que ela apanhe estas coisas com facilidade, por isso já sabemos o que fazer”, diz a mãe, sentada ao lado da cama onde a filha dorme profundamente. “Há vários dias que a Mariana não conseguia descansar como deve ser. Já tínhamos vindo à Urgência uma vez com ela, mas agora ficou internada porque, de facto, a situação se agravou”. A mãe aparenta uma calma que o estado da Mariana não parece permitir. Mas é só aparência, mesmo. “A preocupação existe sempre. Sobretudo por causa da doença de que ela sofre. Nunca estamos descansados”, diz. gabinete do utente Ao serviço do utente Clarisse e Sílvia dão a cara todos os dias pelo Hospital Beatriz Ângelo, no Gabinete do Utente. O seu trabalho é fundamental para ajudar a resolver os problemas de quem utiliza o hospital e, a partir de agora, para facilitar a ligação dos centros de saúde ao HBA. Atendem, em média, 30 telefonemas por dia e fazem-no sempre como se cada um fosse único. A porta do gabinete onde trabalham, numa das zonas mais movimentadas do hospital, abre-se com uma frequência alucinante e elas mantêm sempre o mesmo sorriso simpático no rosto. Ouvem queixas, leem reclamações, anotam as sugestões. Mas não só: “Porque há muita gente a elogiar o hospital. E até já elogiaram o nosso trabalho”, dizem, com visível orgulho. “Estamos aqui para ajudar a resolver qualquer problema que surja ou alguma dúvida que as pessoas tenham”. Clarisse e Sílvia sabem o que lhes compete. E fazem-no com uma calma e uma eficiência invejáveis. A sua tarefa é fazer funcionar o Gabinete do Utente do Hospital Beatriz Ângelo (HBA) – um gabine38 Janeiro 2013 te que, determina a lei, existe para servir como meio de defesa dos utentes e, por isso, tem como objetivo ser um espaço de mediação e diálogo entre os cidadãos e o hospital, com vista à melhoria da qualidade dos serviços e da prestação dos cuidados de saúde. Desde este mês, passaram também a ser responsáveis sobre a comunicação com os centros de saúde, cabendo-lhes facilitar o contacto entre médicos de família e os seus colegas do hospital ou verificar a marcação de consultas feitas pelos centros de saúde sobre as quais haja dúvidas, entre muitas outras necessidades que venham a ter os centros de saúde da área do HBA - para quem haverá um número de telefone e um endereço de correio eletrónico próprios. Os números deste Gabinete são impres- sionantes: em menos de um ano, quase mil chamadas telefónicas atendidas, mais de dois mil pedidos de ajuda ou de informações, cerca de 600 reclamações e uma centena de elogios. Tudo o que fazem é registado e ninguém pode ficar sem resposta. “Às vezes podemos demorar um pouco mais a enviar a resposta às pessoas”, diz Clarisse, mal desliga outro telefonema recebido no Gabinete. Sílvia acrescenta: “Há um prazo previsto para estes procedimentos e às vezes é difícil obter todos os esclarecimentos num curto espaço de tempo. Mas, claro, nunca deixamos de responder e esclarecer as pessoas que nos procuram”. “Perguntam-nos sobre tudo”, confessa Clarisse. Quanto custa um parto, “porque as pessoas pensam que este é um hospital privado”; como podem marcar gabinete do utente AS PERGUNTAS MAIS FREQUENTES “Gostaria de saber se é possível marcar uma consulta de psicologia diretamente no hospital” Todas as consultas externas no Hospital Beatriz Ângelo têm que ser referenciadas pelo médico de família, através do centro de saúde onde o utente está inscrito ou do hospital onde está a ser seguido. “Estou a ser seguido no Hospital de Santa Maria e agora pertenço à área de influência do Hospital Beatriz Ângelo. Posso pedir a transferência para o Hospital Beatriz Ângelo? Se sim, como devo proceder?” As transferências de processo clínico de outra unidade hospitalar para o Hospital Beatriz Ângelo terão de ser pelo médico assistente do hospital onde era seguido para os colegas da mesma especialidade no HBA, se essa for a vontade do doente. Em alternativa, o doente pode manifestar essa vontade junto do seu médico de família. A transferência terá sempre de ser acompanhada do relatório clínico do doente. consultas de especialidade ou exames complementares de diagnóstico pela ADSE; se é possivel fazer doações de sangue ou trabalhar como voluntário; quais os horários das visitas no internamento e até o estado de saúde de algum familiar ou amigo que tenha ficado no hospital. “Muitas vezes também ajudamos a resolver o problema dos atrasos”. Referese às situações em que as pessoas, com hora marcada para consulta ou exame, chegam atrasadas e ficam em risco de perder a vez. “Tentamos arranjar vaga com outro médico, por exemplo, ou perceber se as pessoas podem ficar, mesmo que tenham de esperar um pouco mais. Pelo menos, para evitar que tenham vindo em vão”, diz Clarisse. O seu trabalho inclui também a recolha e a posterior entrega do chamado espólio dos doentes – daqueles que, por exemplo, chegam sozinhos ao hospital dando entrada pela urgência. “Tudo aquilo que as pessoas trazem consigo é guardado num cofre, depois de devidamente registado. No momento em que os doentes têm alta, o Gabinete é informado para que possamos devolver-lhes as suas coisas”. Sílvia solta uma gargalhada quando recorda o ‘espólio’ mais estranho que ficou à sua guarda: latas de Coca-Cola e pizzas. “Há doentes que já recorreram ao nosso Gabinete e que agora, quando vêm ao hospital, passam por cá só para nos cumprimentar”, lembram, por fim, as duas. Não há, afinal, melhor sinal do que este para terem a certeza de que o seu trabalho é reconhecido. “Gostaria de saber se realizam visitas à maternidade, em que dias e se é necessário marcar” As visitas à maternidade do Hospital Beatriz Ângelo realizam-se às terças e quintas-feiras, às 11h00. Recomenda-se que estas visitas sejam agendadas através do centro de saúde onde a grávida está inscrita, uma vez que, caso exista um grupo com elevado número de visitantes, a prioridade será dada às inscrições provenientes dos centros de saúde. “Gostaria de saber se nesse hospital se realizam polissonografias e outros exames. Já tenho requisição médica” No Hospital Beatriz Ângelo realizam-se todos os exames, mas apenas quando são prescritos por um médico do hospital, não por médicos externos. Ou seja, são feitos a utentes que já estejam a ser seguidos no hospital. “Estou grávida de 33 semanas e a médica aconselhou-me a fazer a mala e a do meu bebé, mas queria saber se me podem facultar a vossa lista do que devo levar para o bebé” Relativamente ao que poderá trazer para a maternidade, sugerimos que traga na mala do Bebé: camisola interior ou body, collants ou calças de pé, babygrow ou cueiro, casaco de lã ou linho, meias ou botas, gorro, fraldas e toalhetes, para dois dias. Mais informação no site www.hbeatrizangelo.pt Janeiro 2013 39 bastidores Sejam bem-vindos! A Receção Principal é a porta de entrada do Hospital Beatriz Ângelo por onde mais pessoas passam. Receber de forma acolhedora e simpática tanta gente está nas mãos de 12 homens e mulheres. E eles não param um segundo. Registam as visitas dos doentes, dão informações, recebem pagamentos. Eles são a primeira cara a ser vista por quem chega pela entrada principal do Hospital Beatriz Ângelo e, só por isso, podem fazer toda a diferença. “Seja bem-vinda”, diz Paulo. “As melhoras do seu pai”, diz, ao lado, Susana. De dez em dez segundos, há uma solicitação nova: a pessoa com a próxima senha, outra que volta atrás para fazer mais uma pergunta, outra ainda que se perdeu e precisa de mais informações. O movimento é contínuo, sempre sem interrupções, sempre de sorriso no rosto, sempre com um tom simpático e acolhedor na voz. “Temos de cumprimentar as pessoas, falar-lhes de forma educada. Porque elas não vêm cá por gosto, vêm porque algo de mau aconteceu a um familiar ou amigo. O nosso cuidado é a dobrar”, confessa Paulo. As pessoas vão passando na sua frente, e é como se ele as conhecesse a todas. “Então, como está? Aqui, de novo? As coisas não estão melhor?” Do lado de lá do balcão, as perguntas de Paulo, de Daniela ou de Susana funcionam como uma espécie de mecanismo para desarmar intuitos mais ou menos agressivos. “É claro que há sempre gente que chega a este balcão mal disposta. Mas a maior parte reage bem à forma como os acolhemos”, diz Susana. Não admira, por isso, que aqui se recebam muitos elogios “à simpatia de toda a gente”. À ‘hora de ponta’, como diz Paulo, “a Receção Principal é literalmente invadida”. Mas nem isso, nem as 600 senhas diárias de atendimento não desarmam este grupo. São 12 e revezam-se em turnos de quatro de cada vez para manter a Receção Principal a funcionar permanentemente das oito da manhã às nove da noite. E fazem-no tão bem! 40 Janeiro 2013 600 senhas diárias de atendimento e muitas perguntas, muitos pedidos de ajuda, muitas interrupções. Quase nada desarma este grupo. Na Receção Principal do HBA, toda a gente é bem recebida: “Sejam bem-vindos!” bastidores Janeiro 2013 41 HBA na escola Na escola para falar de HPV A médica Isabel Riscado, do Hospital Beatriz Ângelo, falou com os estudantes da Escola Secundária Pedro Alexandrino, do concelho de Odivelas, sobre os riscos associados às infeções pelo vírus do papiloma humano e sobre a prevenção do cancro do colo do útero. Um tema que interessou muito às raparigas, mas que tem cada vez mais a ver também com os rapazes. Maria tem 17 anos e admite que sabia pouco sobre o que esteve a ouvir. “Às vezes, falamos sobre este tema nas aulas”. Mas, tal como João, a seu lado, não hesita nas respostas: “Uso sempre preservativo, sim. Nunca apanhei nenhum susto, nem pensar!”, assegura ele, enquanto ela diz: “Iniciei a minha vida sexual há pouco tempo e ainda não tomo a pílula... Já agora: o teste de Papanicolau pode ser feito em qualquer idade, independentemente de ser virgem?” Foi grande o grupo de alunos que assistiu, quase sempre em silêncio, a quase duas horas de palestra da médica ginecologista Isabel Riscado, do Hospital Beatriz Ângelo. Maria não fez a pergunta antes, mas não por ter tido vergonha de se expor, diz. “Foi falta de oportunidade, mesmo!”, garante, sorrindo. A médica está rodeada de jovens, sobretudo raparigas, com dúvidas de última hora que ficaram sem resposta. E as perguntas multiplicam-se, a cada nova informação que Isabel Riscado devolve às suas interlocutoras. Definitivamente, o tempo deixado para o debate foi curto, reconhece no final a médica. “Mas é para esclarecer as dúvidas que fazemos isto. Só é pena não podermos ficar, todos, aqui mais tempo a conversar”. O tema parece difícil – sobretudo se for para discutir em público. Mas diz respeito a todos, claro. E é particulamente im42 Janeiro 2013 A médica Isabel Riscado falou sobre prevenção e riscos das infeções por HPV cuidados continuados Uma plateia cheia de adolescentes e professores ouviu atentamente a médica do HBA portante para a plateia que hoje assistiu à exposição feita por Isabel Riscado sobre “Doenças sexuais associadas ao vírus do papiloma humano. Como prevenir?” O auditório demorou apenas alguns minutos a ficar em silêncio. Seis turmas de jovens do ensino secundário, entre os 16 e os 19 anos, das áreas de ciências, humanidades e do ensino profissional, mais uma dezena de professores, enchem por completo a sala, na Escola Secundária Pedro Alexandrino, da Póvoa de Santo Adrião, Odivelas. Isabel Riscado está habituada a este público. “Faz parte do meu trabalho ajudar as populações, em particular os jovens, a perceber a importância destes assuntos. Para mim , isto é também fazer prevenção primária destas doenças”. A médica começa por explicar aquilo que, com certeza, muitos dos presentes já ouviram. Que o vírus do papiloma humano, vulgo HPV, se transmite por via sexual. “As infeções por HPV são as mais frequentes entre as doenças sexualmente transmissíveis. Mas, neste caso, para o contágio ocorrer basta um contacto genital íntimo”. E aqui faz uma pausa. “Repararam que eu não disse que se transmite por ‘relação sexual’? É que é completamente diferente!” A sala fica mais atenta quando Isabel Riscado insiste nesta ideia: “Contacto íntimo genital não quer dizer que seja preciso existir uma relação sexual completa. O HPV transmite-se apenas por contacto de pele”. Depois, diz que há vários tipos de vírus HPV, muito diferentes uns dos outros, que “afetam principalmente o colo do útero, mas também a vulva, a vagina, o pénis e as área perianais”, e que, no final, podem ser quase todos responsáveis pelo aparecimento de cancros nessas áreas do corpo. “70% a 80% das mulheres têm, pelo menos, uma infeção por HPV ao longo da sua vida. E 50% dessas mulheres têm en- tre os 15 e os 25 anos”, diz a médica, acrescentando: “É claro que, na maioria destes casos, a infeção é passageira e resolve-se espontaneamente. Mas, em 10% a 20%, esta infeção torna-se persistente. E é nestas situações que a probabilidade de a doença degenerar aumenta. Atualmente, morre uma mulher por dia com cancro do colo do útero. É a segunda causa de morte em mulheres jovens. Mas o HPV também afeta cada vez mais homens”, ressalva. Quando começa a falar de “práticas sexuais agora muito em moda”, a sala agita-se. Ouvem-se risos, o burburinho aumenta, os sorrisos meio trocistas, meio comprometidos, espalham-se entre quem assiste. Aqui e ali, um ‘chiu!’ sai da boca dos professores presentes. “Não temos de ter vergonha de falar destes assuntos. Eu sou médica e estou aqui para vos falar de tudo. É muito importante que percebam isso”, reforça Isabel Riscado. Logo a seJaneiro 2013 43 HBA na escola guir, insiste: “É fundamental usar preservativo para evitar as doenças sexualmente transmissíveis, mas, no caso deste vírus, o preservativo não é garantia de proteção. Precisamente porque o vírus se transmite por contacto de pele”, reforça. As imagens no grande ecrã do auditório da Escola Pedro Alexandrino dizem quase tudo. Enquanto a médica explica o que se deve fazer para prevenir a doença, os riscos de contágio, o modo como atuam as vacinas existentes contra o HPV e a necessidade de fazer as três doses da vacinação a partir dos 13 anos de idade, vão passando imagens do que as variantes do vírus do papiloma humano provocam na pele, dentro e fora do organismo. As expressões contraem-se, à medida que as imagens mostram a realidade desta doença. Volta o burburinho. “Mas aquilo é mesmo o que eu ‘tou a ver?”, pergunta alguém para os colegas do lado. Os outros riem-se. Outros viram a cara para o lado. “O grande problema, insiste a médica, é que no início esta doença não tem sintomas. A maior parte das situações não provoca queixas”. “Fator de risco é qualquer coisa que aumenta a probabilidade de contrair uma doença”, prossegue. No caso do cancro do colo do útero, diz ainda Isabel, o principal fator de risco é a infeção por HPV. “As mulheres infetadas têm um risco 300 a 400 vezes superior de contrair cancro, do que aquelas que não têm essa infeção”. No final da palestra, os jovens continuaram a fazer perguntas. Há sempre mais uma dúvida para esclarecer Mas há outros fatores de risco igualmente importantes: “O tabaco, por exemplo – que nós sabemos todos que é um fator de risco para o cancro do pulmão – faz também aumentar o risco de ter cancro do colo do útero”. E passa a explicar: “É que a nicotina destrói uma proteína que nos protege das células cancerosas. Por isso, as mulheres fumadoras têm uma probabilidade duas vezes superior de ter cancro do colo do útero do que as não fumadoras”. “Porque é que as mulheres têm mais que os homens?”. A pergunta, vinda da plateia, não surge do nada. Mal a médica deu a palavra aos jovens estudantes, as hesitações duraram meio segundo. “Pois! Porquê?”, repete alguém lá para trás. SABIA QUE... Q A vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV) faz parte do Plano Nacional de Vacinação e as raparigas devem iniciar a vacinação aos 13 anos de idade Q A maioria das pessoas contrai o HPV na adolescência Q A infeção por HPV é uma doença sexualmente transmissível, cujo contágio se faz por contacto íntimo genital Q Por dia, morre uma mulher com cancro do colo do útero, cujo principal fator de risco é a infeção por HPV Q O consumo de tabaco, a alimentação pobre em frutos e vegetais e o início precoce da vida sexual são outros importantes fatores de risco para esta doença Q A realização regular de exames ginecológicos, como a citologia, e a utilização de contracetivos ajudam a prevenir a infeção por HPV e, assim, a evitar o cancro do colo do útero 44 Janeiro 2013 “Pode tomar-se a vacina, mesmo depois de iniciar a vida sexual?”. “E qual é o preço?”. “Quando se interrompe, tem de se começar do princípio?” “E se tivermos relações antes dos 16 anos, a vacina é eficaz na mesma?” A médica responde calmamente a cada pergunta, procurando garantir que o esclarecimento fica de facto feito. “E os rapazes, não têm perguntas para fazer? É que isto tem também muito a ver convosco”, diz Isabel Riscado, justificando: “Os casos de cancro do ânus e da orofaringe estão a aumentar imenso, em muitos países, sobretudo entre a população masculina jovem”. A frase ainda não terminou e já se ouvem aplausos, vindos, claro, da assistência feminina. Um rapaz ganha coragem. Pergunta se o contágio da doença pode acontecer sem penetração sexual. “Sim, pode acontecer por contacto de pele, como disse há pouco. Por isso é que o preservativo não protege totalmente neste caso. Esta é mesmo a única doença sexualmente transmissível em que isso acontece”. O tempo passa depressa. Enquanto ainda responde às perguntas das jovens que, entretanto, se juntaram à sua volta, a médica já só consegue agradecer alto a “atenção que me deram. Parabéns a todos. Foram fantásticos!” Na agenda, tem já marcadas sessões semelhantes em mais duas escolas da área do Hospital Beatriz Ângelo. Afinal, o trabalho de um médico não se faz só dentro do hospital. cuidados continuados Um milagre por dia A Equipa de Cuidados Continuados Domiciliários de Loures acompanha, neste momento, cerca de 40 doentes dependentes, com necessidades especiais e complexas. Um trabalho que faz com que os doentes e as suas famílias sintam estar a viver, dentro as suas próprias casas, um milagre a cada dia que passa O prédio, em Santo António dos Cavaleiros, já teve melhores dias. O elevador avaria-se cada vez com mais frequência e, à falta de condições para arranjar um novo, os moradores conformam-se, esperando que nada de grave e urgente aconteça nessas alturas. No 12º andar, mora Alberto com a mulher e a filha. Ela faz limpezas nas casas e nos prédios das redondezas, a filha estuda na universidade e ele está na cama há mais de dez anos. Tem 55 anos e os tempos em que foi comerciante parecem ter ficado perdidos, num passado quase esquecido lá para trás da vida. A casa está fria. Do fundo da cozinha, que se mantém de porta fechada, vem o som de um latido fino e insistente. O resto é silêncio. Alberto fica sozinho todas as manhãs, num quarto que só ganha luz quando as cortinas são corridas. “Tenho de ir trabalhar. E consegui arranjar umas limpezas aqui perto, por isso se ele precisa de alguma coisa, consigo estar cá rapidamente”, diz a mulher, quando, finalmente, chega a casa no final da manhã. “Já sabemos que, se a mulher não está, é com a porteira que vamos ter. É ela que tem a chave de casa”. A enfermeira Paula acompanha Alberto desde que ele foi referenciado para a Equipa de Cuidados Continuados Domiciliários de Loures. “Vimos cá diariamente. Se for preciso, até mais do que uma vez por dia”, confessa a enfermeira. “É que há uma grande falta de apoio, em termos de instituições, para estes doentes aqui na zona”. Alberto já esteve numa lista de espera para ser integrado numa instituição adequada às suas necessidades. Tem uma doença neurológica que, nos últimos dez anos, o tem afastado progressivamente da vida. Não fala, não se mexe, não consegue alimentar-se sozinho. 46 Janeiro 2013 cuidados continuados Percebe-se que estava a dormitar, no silêncio do quarto ainda escuro. Mas reconhece a enfermeira assim que ouve a sua voz. Paula fala suavemente. Pede licença para abrir a cortina e o quarto enche-se imediatamente de luz. Alberto esboça um sorriso. “Ele sentiu-se muito melhor, depois de termos feito as massagens respiratórias, da última vez que cá estivemos”, explica a enfermeira. “Não é verdade, senhor Alberto?”, pergunta, virando-se diretamente para ele. “Sabemos que não está cá a sua mulher, mas vamos tratar de si na mesma. Não se preocupe”, diz-lhe, logo de seguida. “Dormiu bem? Fica-lhe bem o novo corte de cabelo”. Paula não deixa nunca de interagir com o doente, enquanto cumpre meticulosamente tudo aquilo que envolvem estes cuidados continuados domiciliários – mudar pensos e fraldas, ajudar na higiene, verificar o estado geral do doente, garantir o seu conforto para evitar quedas e feridas de pressão, e apoiar a família nas dúvidas do dia-a-dia, na marcação de exames e consultas, na reorganização da vida da casa. Ser cuidador de um familiar dependente significa mudar quase tudo na nossa vida, reconhece a enfermeira. “É com tudo isso que lidamos diariamente. Com a realidade destes doentes especiais e das suas famílias, quase como se fôssemos um dos seus membros”. A intervenção da Equipa de Cuidados Continuados Domiciliários de Loures, que está integrada na Unidade de Cuidados na Comunidade deste concelho, dentro da estrutura dos cuidados de saúde primários, é necessariamente uma intervenção multidisciplinar. A equipa inclui cinco enfermeiras, uma assistente social, uma psicóloga, três assistentes operacionais e, quando necessário, ainda dois médicos. E está preparada para, no contexto dos cuidados domiciliários, acompanhar pessoas em situação de dependência funcional, doença terminal ou processo de convalescença, quando a situação desses doentes não requer internamento hospitalar, além de trabalhar também na educação para a saúde dos doentes, familiares e cuidadores, conforme explicou a enfermeira coordenadora, Alice Alves. Criada há três anos, acompanha já 40 doentes em simultâneo, com a regularidade que a situação de cada um deles impõe, apesar de, Janeiro 2013 47 cuidados continuados acrescenta a coordenadora, “a equipa não estar ainda completa em termos de recursos humanos e, portanto, sentirmos, muitas vezes, que o nosso tempo não chega para tudo o que estes doentes precisam”. A verdade é que este é um trabalho que faz milagres, todos os dias. É assim que fala dele Joaquina, mulher de António, que a enfermeira Anabela visita diariamente. António tem 89 anos e tem Alzheimer. “É um lutador, este senhor”, diz Anabela, enquanto o cumprimenta. A casa, numa aldeia da zona rural do concelho de Loures, parece de bonecas. “Vivo aqui desde sempre. Sou nascida aqui e o meu marido também. Mas eu sou mais nova, ele tem 21 anos mais que eu”, conta Joaquina, entretida, enquanto a enfermeira se prepara para a tarefa que a levou ali. Joaquina não desvia o olhar um minuto. Sabe exatamente o que é que Anabela vai fazer, mas nem por isso quer deixar de estar ao lado do marido. É ele o centro da sua vida, dia e noite – e não por estar conformada com essa fatalidade, mas porque é esse o seu desejo e o seu destino. “Foi um bom marido. E eu não o quero no hospital. Aqui comigo está melhor. E desde que esta equipa nos ajuda, não temos problemas: acabaram-se os internamentos uns atrás dos outros”, assegura, acrescentando de seguida: “Mas tenho pena que ele esteja a sofrer tanto. Já não sei o que posso fazer mais...” RITA MIRANDA Equipa de gestão de altas do HBA “Estamos sempre em contacto com as equipas que estão no terreno” 48 Janeiro 2013 A enfermeira quer saber como é que António passou a noite. A pergunta é feita dirigindo-se ao doente mas, claro, é Joaquina quem responde sempre, dando as informações de que Anabela precisa para se manter a par da evolução do estado de saúde de António. “Dormiu muito mal. Gritou muito”, vai dizendo a mulher. “Acha que a noite o assusta?”, pergunta Anabela. “Ah, de certeza! Ele tem medo daquilo que a gente sabe...”, diz Joaquina, quase sussurrando. “É por isso que eu lhe deixo sempre a luz de presença ligada”. Anabela está há quase uma hora a tratar de António. De vez em quanto, ele abre os olhos e parece dirigir-lhe um sorriso. Joaquina festeja o momento, sempre que isso acontece. “Ele está de olho aberto para a ver. Acha que o trata melhor do que eu!”, vai dizendo, com um sorriso cúmplice. Depois, falam dos medicamen- A equipa de gestão de altas (EGA) do Hospital Beatriz Ângelo, de que fazem parte médicos, enfermeiros, assistentes sociais e elementos da direção de operações, é, neste momento, uma das principais origens da referenciação de doentes dependentes para a Equipa da Unidade de Cuidados na Comunidade de Loures, liderada pela enfermeira Alice Alves. A boa articulação entre estas equipas – como explica Rita Miranda, responsável pelo Serviço Social do HBA – é fundamental para dar aos doentes com necessidades especiais o acompanhamento que a sua situação exige. tos que ele tem de tomar, das receitas para aviar, das informações que Anabela quer levar para a médica de família de António. E, claro, da família que o vem visitar todos os dias: a neta de cinco anos, os filhos, a nora. “Vivem todos aqui perto. E toda a gente me ajuda”, diz, com satisfação, Joaquina. Joaquina já sabe, de qualquer modo, que se precisar de algo mais pode telefonar: durante todo o dia, a equipa de cuidados continuados domiciliários tem uma linha direta disponível para atender os familiares destes doentes, esclarecer dúvidas, orientar nos momentos mais difíceis e intervir imediatamente, se o caso for de urgência. E este é um dos principais fatores de confiança e tranquilidade para estes cuidadores. Quando o hospital, se o doente está internado, ou o médico de família, se o doente cuidados continuados está em casa, referencia um caso para esta equipa, dá-lhe acesso, automaticamente, ao essencial da informação sobre o estado clínico do doente e as suas necessidades concretas relativamente aos cuidados domiciliários a prestar. Isso permite planear de imediato a intervenção da equipa. Mas este é um trabalho que implica vigilância e avaliação constantes. Em particular, quando se fala da intervenção dos psicólogos. Lurdes tem acompanhado, desde sempre, a enfermeira Serafina na visita diária a casa de João, que sofre de esclerose múltipla em estado avançado e vive com a mãe. A psicóloga já lhe deu ‘alta’ várias vezes, mas faz questão de vir regularmente conversar com ele, ‘tomar o pulso’ à sua estabilidade emocional e psicológica. “O João é um homem muito inteligente, muito atento a tudo o que se passa, sempre informado e procurando manter-se o mais possível ativo”, conta, enquanto a enfermeira mede a tensão ao doente e lhe vai perguntando do seu dia-a-dia. “Vai levantar-se para almoçar à mesa, não vai?”, insiste Serafina. João está deitado. É assim que tem passado, nestes últimos anos, a maior parte dos seus dias, apesar da fisioterapia diária, do empenho que revela em cada gesto, do prazer que lhe dão as pequenas coisas. “A vida é feita de momentos, não é? E estes, posso garantir, são bons momentos”, diz, referindo-se à visita da equipa dos cuidados domiciliários de Loures. “Por causa destas visitas, não me descuido com nada. Estou sempre atento a tudo, para aprender... E tenho apreendido imenso convosco”, diz, dirigindo-se directamente a Lurdes e a Serafina. No primeiro ano, a Equipa de Cuidados Continuados Domiciliários de Loures fez mais de 3200 visitas a doentes dependentes com demências, diabetes e na sequência de acidentes vasculares cerebrais, tendo iniciado, logo nesse ano, a formação de cuidadores informais e formais, que abrangeu cerca de quatro dezenas de pessoas. Três anos depois, o número anual de visitas realizadas chegou às cinco mil – isto numa área de quase 140 quilómetros quadrados, onde há grandes falhas neste tipo de apoio social e de saúde e onde, por isso, é necessário acorrer a zonas muito dispersas e distantes umas das outras. Ainda assim, assegura a coordenadora da equipa, “a resposta da nossa equipa é imediata: assim que nos é referenciado um doente, avançamos”. Como é feita a referenciação de doentes que necessitam de cuidados continuados domiciliários? As equipas médicas e de enfermagem que acompanham os doentes internados no HBA identificam situações que, após a alta, possam beneficiar do apoio das equipas de cuidados domiciliários. Após esta identificação, os doentes são assinalados para a EGA, que prepara uma avaliação das necessidades e submete o pedido para a Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI). Este pedido é depois avaliado, e caso seja aceite, o doente passará a ter acompanhamento quando chegar a casa. Por vezes, os doentes precisam de cuidados domiciliários que não são en- quadráveis no âmbito da RNCCI. Nestes casos, a articulação é direta entre equipas de enfermagem – a do serviço de internamento e a do centro de saúde. Qual é a frequência desta referenciação? No âmbito da RNCCI, temos várias referenciações – no mínimo, uma por semana. As referenciações diretas para as equipas dos centros de saúde são quase diárias. Como são os contactos com a equipa que presta esses cuidados em Loures (que está integrada na Unidade de Cuidados na Comunidade do ACES de Loures)? Consideramos que estas equipas são essenciais para os cuidados de saúde às populações que o HBA serve, permitindo que os doentes regressem mais cedo às suas casas e às suas famílias, o que é essencial para a sua plena recuperação. A EGA do HBA está em permanente contacto e coordenação com as várias equipas, até porque partilhamos vários doentes. Além disso, procuramos reunir mensalmente com as várias equipas de coordenação local (ECL) da RNCCI (no caso de Loures está sediada em Sacavém), e discutimos casos, procedimentos e formas de melhorar a articulação. Normalmente, nestas reuniões estão presentes elementos das equipas que prestam os cuidados domiciliários, pelo que também há oportunidade de interagir diretamente com estes profissionais. Janeiro 2013 49 agenda 2.ª EDIÇÃO DO SEMINÁRIO DE ENERGIA SUSTENTÁVEL * 22 DE FEVEREIRO * DAS 09H00 ÀS 16H30 * PALÁCIO MARQUESES DE PRAIA E MONFORTE SÁBADOS EM CHEIO * TODOS OS SÁBADOS, ÀS 15 HORAS * BIBLIOTECA MUNICIPAL JOSÉ SARAMAGO Brincar com os livros ou sobre os livros em família para criar hábitos de leitura, partilhar experiências, divulgar espaços, serviços, equipamentos e documentos. EDUARDO GAGEIRO. O RAPAZ DE SACAVÉM, FOTÓGRAFO DO MUNDO * INAUGURAÇÃO 16 DE FEVEREIRO * MUSEU DE CERÂMICA DE SACAVÉM Exposição biográfica de uma das grandes figuras da fotografia portuguesa, que tem a sua origem no concelho de Loures. UMA NOITE NO MUSEU - MÚSICA NA CAPELA * 3 DE FEVEREIRO E 2 DE MARÇO * MUSEU MUNICIPAL DE LOURES / QUINTA DO CONVENTINHO Ciclo de concertos intimistas na Capela do Espírito Santo, que irão animar as noites da Quinta do Conventinho. EXPOSIÇÃO DO SEMINÁRIO DE ENERGIA SUSTENTÁVEL * 22, 23 E 24 DE FEVEREIRO * PAVILHÃO DE MACAU, PARQUE DA CIDADE. COMEMORAÇÕES DA SEMANA DA ÁRVORE * 05 A 09 DE MARÇO * PARQUE MUNICIPAL DE CABEÇO DE MONTACHIQUE PELAS RUAS DE SACAVÉM * 12 DE JANEIRO * MUSEU DE CERÂMICA DE SACAVÉM Caminhada lúdico-cultural ao encontro da história e das memórias da cidade de Sacavém, através da visita a locais relacionados com a antiga Fábrica de Loiça e com o património religioso edificado. PARA VOLAR NECESITAS CAER * ATÉ 4 DE MAIO * GALERIA MUNICIPAL VIEIRA DA SILVA Exposição de pintura de Vitor Pinhão MOSTRA DE MÚSICA MODERNA * FINAL EM LOURES Mostra de promoção do trabalho e da criatividade de projetos musicais individuais e coletivos, que visa incentivar a afirmação de novos valores no panorama local, assim como o alargamento da oferta cultural musical no concelho de Loures, especialmente junto da população mais jovem. A ARTE NOVA NOS AZULEJOS EM PORTUGAL * ATÉ 31 DE JANEIRO * MUSEU DE CERÂMICA DE SACAVÉM Peças da Coleção Feliciano David e Graciete Rodrigues de azulejaria nacional e internacional de pendor Arte Nova. OFICINAS DE DESENHO * 5 A 19 DE FEVEREIRO E 5 A 19 DE MARÇO * GALERIA MUNICIPAL VIEIRA DA SILVA Ateliês de desenho para crianças e jovens em idade escolar. 50 Janeiro 2013 “CAMINHANDO PELO PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO DE LOURES” * ATÉ 19 DE SETEMBRO * ARQUIVO MUNICIPAL DE LOURES MERCADO AGROBIO * TODOS OS SÁBADOS, * DAS 9H00 ÀS 14H00 * PRAÇA DA LIBERDADE, EM LOURES Iniciativa organizada no âmbito do protocolo de cooperação entre o Departamento de Atividades Económicas e Turismo da Câmara Municipal de Loures e a AGROBIO – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica. O mercado tem como objetivo contribuir para a divulgação e dinamização, no concelho, de atividades económicas geradas pelo modo de produção biológica, contribuindo para a adoção de estilos de vida responsáveis, para a promoção da saúde dos munícipes e para a sustentabilidade no território de Loures. MOVIMENTO NA CASA * 1.ª SEXTA FEIRA DE CADA MÊS * 22H00 ÀS 24H00 * CASA DE JUVENTUDE DE ODIVELAS Práticas de Dança na Casa da Juventude. Esta iniciativa tem a colaboração da Academia Arte & Dança. Entrada livre. GABINETE ‘ORIENTA-TE’ * SEGUNDA A SEXTA FEIRA * 10H00 ÀS 18H00 * CASA DE JUVENTUDE DE ODIVELAS É um espaço que tem como objetivo ajudar os jovens através de serviços de aconselhamento e orientação em áreas como a Sexualidade, Mediação Social e Emprego. O Atendimento será efetuado através de Marcação Prévia na Casa da Juventude BANCO DE BENS DOADOS * TERÇAS E QUINTAS-FEIRAS * 14H30 E 1OH30 * LOJA SOCIAL Espaço que reúne as valências de armazém solidário e loja social, no qual é feito o atendimento às famílias e se coordena a receção e distribuição de bens. O banco de bens doados aceita bens em diferentes categorias, desde que os mesmos se encontrem em estado novo ou passível de reutilização. HORA DO CONTO: “PARA LÁ DAS NUVENS” * 1.ª SEXTA FEIRA DE CADA MÊS * 22H00 ÀS 24H00 * BIBLIOTECA MUNICIPAL D. DINIS, ODIVELAS E se um dia acordássemos e estivéssemos para lá das nuvens? agenda AGENDA ESS Janeiro HOSPITAL DA LUZ DIA 30 “Cirurgia da tiroideia com a utilização de instrumento de selagem de vasos” O que poderíamos encontrar? Um espaço mágico onde a imaginação ganha forma de nuvem e os sonhos são embalados pela Lua. Pescadores de objetos darão vida a este lugar onde nada é o que realmente parece… EXPOSIÇÃO DE PINTURA “SENHORA DAS ÁGUAS”, LENA GAL * ATÉ 14 ABRIL. TERÇA A DOMINGO * 10HO0 ÀS 23H00 * CENTRO DE EXPOSIÇÃO DE ODIVELAS Pintura sobre o couro, com uma filosofia plástica e pictórica própria. EXPOSIÇÃO DE PINTURA “357” * ATÉ 14 ABRIL. TERÇA A DOMINGO * 10HO0 ÀS 23H00 * CENTRO DE EXPOSIÇÃO DE ODIVELAS A Exposição “357”, que foi anteriormente realizada na Galeria Art Lounge, mostra uma série de 40 trabalhos do artista Marco Ayres, com cerca de 10 sequências de várias cores e tons e outros trabalhos mais recentes. “PEDRAS PARA A HISTÓRIA DO TERRITÓRIO DE ODIVELAS” * TERÇA A DOMINGO * 10HO0 ÀS 23H00 * CENTRO DE EXPOSIÇÃO DE ODIVELAS Pequena mostra de peças arqueológicas que relembram um pouco da Pré-História do território de Odivelas. São utensílios que ilustram a presença humana do período Neolítico, e que por vezes eram utilizados como oferendas funerárias. Fevereiro HOSPITAL BEATRIZ ÂNGELO DIA 14 “Encontros no HBA - Infecciologia” DIAS 22 “Curso de cardiotocografia” DIAS 23 e 24 “Workshop interativo em doenças autoimunes” VISITAS ORIENTADAS AO PATRIMÓNIO HISTÓRICO-CULTURAL Visitas efetuadas a escolas e grupos – total de 25 participantes (mediante inscrição prévia) Informações/inscrições: Divisão de Cultura, Turismo, Património Cultural e Bibliotecas Tel: 219 320 800 WORKSHOP “SOMBRAS DANÇANTES” * 9 FEVEREIRO * 10HO0 ÀS 12H00 * CENTRO DE EXPOSIÇÃO DE ODIVELAS Nesta atividade, as crianças são convidadas a explorar a diferença entre o seu eu e/ou o outro através da sombra de artes visuais. Preço: 7 euros ODISSI YOGA - WORKSHOP DE DANÇA INDIANA E YOGA * 10 FEVEREIRO * 15HO0 ÀS 17H00 * CENTRO DE EXPOSIÇÃO DE ODIVELAS Preço: 20 euros. Março HOSPITAL BEATRIZ ÂNGELO DIAS 2 e 3 “Workshop interativo em doenças autoimunes - II” DIA 14 “Encontros no HBA - Nefrologia/Urologia” HOSPITAL DA LUZ DIA 1 “A coluna vertebral em cuidados de saúde primários” DIAS 8 e 9 “Congresso de Casos clínicos de cardiologia” DIA 22 “Reunião nacional de comissões de ética” Janeiro 2013 51