ISSN 1678-0493
Diálogos & Ciência
w w w. f t c . b r / d i a l o g o s
Genética etológica, psicométrica, psicossocial e epistemológica:
foco nas interações infanto-juvenis
Glaciene Januário Hottis Lyraa, Danilo Hottis Lyra*b e Cláudio Lúcio Fernandes Amaralc
a
Faculdade Vale do Carangole (FAVALE, UEMG), Carangola, MG, Brazil
b
Universidade Federal de Lavras (UFL), Lavras, MG, Brazil
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Jequié, BA, Brazil
c
doi: 10.7447/dc.2012.023
INFORMAÇÕES
RESUMO
Histórico:
Recebido em
16/07/2012
Diversos estudos estão sendo realizados na genética, biologia molecular, psicologia e medicina para a
melhoria da qualidade de vida de jovens e crianças, principalmente aqueles com necessidades especiais. O
objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura dos principais estudos, pesquisas e conceitos da
genética etológica, psicométrica, psicossocial e epistemológica voltada para as interações sociais infantojuvenis. A pesquisa foi feita nas bases de dados Scielo, Psycoinfo e Google Scholar. Foram selecionados
para avaliação 48 artigos científicos. Esta revisão proporcionou o conhecimento de estudos nacionais e
internacionais sobre os temas, demonstrando que estas áreas são fundamentais para aprimoramento de
técnicas educacionais e terapêuticas. O estudo e pesquisa apresentado nesta revisão é importante, tendo em
vista a contribuir para precaução de diversas doenças hereditárias, genéticas, congênitas e psicológicas.
Revisado em:
28/08/2012
Aceito em:
09/09/2012
Palavras-chave:
Desenvolvimento, Cognição,
Genética, Psicologia
AUTORES
ABSTRACT
GJHL
Mestre em Teologia – Educação
e Religião
TITLE: Ethology, psychometrics, psychosocial and epistemology genetics: focus on infantile and
juvenile interactions
Abstract: Several studies are being performed in genetics, molecular biology, psychology and medicine to
improve the quality of life of children and young people, particularly those with special needs. The aim of
this study was to realize a literature review of the main studies, research and concepts of ethological,
psychometrics, psychosocial and epistemological genetics focused on infantile and juvenile interactions.
The research was done in Scielo, Psycoinfo and Google Scholar. 48 scientific papers were selected for
evaluation. This review provided the knowledge of national and international studies on the issues,
demonstrating that these areas are fundamental to improving educational and therapies techniques. The
study and research presented in this review is important in order to contribute to precaution of several
hereditary, genetic, congenital and psychological diseases.
Keywords: Development, Cognition, Genetics, Psychology
DHL
*Autor para correspondência:
[email protected]
Biólogo, Mestrando em Genética
e Melhoramento
CLFA
Doutor em Genética e
Melhoramento
1. Introdução
No Brasil, os estudos de casos clínicos, principalmente os
psiquiátricos, necessitam de alicerces para a sua resolução.
Com a genética, psicologia e medicina, diversos destes casos,
tais como dependência química, doenças genéticas e distúrbios
do comportamento infanto-juvenil, por exemplo, prometem
resultados mais eficientes nos próximos anos, principalmente,
com o auxílio de novas técnicas biotecnológicas
(BRAUNWALD et al. 2006; FANOS, 2012), contribuindo na
melhoria da qualidade de vida das crianças e jovens que
enfrentam essa realidade.
O conhecimento das sequências de DNA permitiu
identificar gene (s) responsável (eis) por grande parte das
doenças genéticas comuns e raras (MOTTA, 2000). Estudos de
associação de genes (linkage), análise de segregação,
epigenética, imprinting genômico, silenciamento de genes,
além do uso de marcadores moleculares, deverão contribuir
para prevenir muitas doenças (NICHOLL, 2002; KALAT,
2009), sendo de suma relevância nas pesquisas da genética
comportamental, psicossocial e psicométrica.
Diálogos & Ciência, no 31, setembro de 2012
O estudo da genética etológica em crianças e jovens
fornece base para compreender os principais traços
comportamentais dos mesmos. Esta área se refere a uma
disciplina científica que estuda os mecanismos genéticos e
neurobiológicos envolvidos em diversos comportamentos
animais e humanos (BRANDÃO, 2004; JONES e
MORMÈDE, 1999). Diversas técnicas de biologia molecular
moderna
permitirá,
progressivamente,
avanços
na
identificação de genes capazes de modular certos
comportamentos e de entender como estes interagem com o
ambiente na formação de traços normais e patológicos da
personalidade humana (PLOMIN et al. 2008).
Nos estudos sobre determinação do comportamento
podem ser destacados uma grande diversidade de
procedimentos experimentais. Alcock (1993) apresenta
pesquisas envolvendo diferentes procedimentos para tentar
identificar a existência de componentes genéticos na
determinação de padrões comportamentais específicos, como
por exemplo, experimento de privação, cruzamento seletivo e
hibridização, e incidência familiar (estudos de gêmeos e
estudos de adotados), sendo estes diretamente interligados
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com a genética psicométrica.
A psicometria genética é uma ciência que consiste na
realização de experiências a fim de supor problemas ou
situações a serem solucionadas (PAIN, 1992). De acordo com
a
APA,
American
Psychological
Association,
(www.apa.org/research/action/glossary.aspx), a psicometria é
um campo da psicologia que está relacionada aos estudos
mentais e, segundo Erthal (1987), constitui um conjunto de
técnicas utilizadas para mensurar, de forma adequada e
comprovada
experimentalmente,
uma
gama
de
comportamentos.
Grande parte dos primeiros trabalhos teóricos e práticos
em psicometria foi realizada na tentativa de medir a
inteligência. Galton (2001) é muitas vezes referido como o pai
da psicometria, na qual postulava que a inteligência era uma
capacidade fixa e hereditária subjacente a todas as atividades
cognitivas. Posteriormente, Luria (1990) estudou a interação
da multiplicidade de fatores genéticos e culturais que
interferem no desenvolvimento humano. Em contexto similar,
está a teoria de Piaget, que explica as possibilidades do
desenvolvimento cognitivo e ético do indivíduo.
A epistemologia genética proposta por Piaget (1971) é
essencialmente baseada na inteligência e na construção do
conhecimento e visa responder não só como os homens,
sozinhos ou em conjunto, constroem conhecimentos, mas
também por quais processos e etapas eles conseguem fazer
isso. Considerando que a formação de capacidade cognitiva
aconteça em períodos sucessivos e procurando explicar essa
sucessão, esta teoria remonta à gênese e mostra que não
existem começos absolutos (PÁDUA, 2009).
De certa forma nova no cenário tecnocientífico da saúde,
surge a genética psicossocial que procura estudar suas
implicações ultrapassando uma perspetiva estritamente
biomédica. Esta genética consiste na investigação dos aspectos
psicossociais inerentes às predisposições genéticas e
respectivos testes preditivos envolvendo, em especial, as
pessoas e famílias em risco genético. Nesta promissora área, é
evidente a necessidade de identificar as dimensões
psicológicas e sociais que se relacionam diretamente com os
problemas genéticos e com os programas especialmente
desenvolvidos para prestar assistência (médica, psicológica e
social) a todos aqueles que pretendam obter informação
quanto a sua predisposição genética a doenças (HARPER,
1993; MENDES, 2012).
Assim, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão
de literatura dos principais estudos, pesquisas, conceitos e
definições da genética etológica, psicométrica, psicossocial e
epistemológica voltada para as interações sociais infantojuvenis.
.
2. Material e Métodos
Esta pesquisa incluiu a produção científica dos últimos 40
anos, das seguintes bases de dados: Scielo, Psycoinfo e
Google Scholar. Os termos nas pesquisas foram: “genética
comportamental”,
“psicometria
genética”,
“genética
psicossocial” e “epistemologia genética”, com inclusão das
palavras “criança” e “jovem” ao final. Foram feitas buscas
com seus termos em inglês, quais sejam: “behavioral
genetics”, “psychometry genetics”, "psychosocial genetics" e
“genetic epistemology”, também, com inclusão dos termos
“children” e “youth”.
A seleção dos artigos foi realizada após a avaliação
cuidadosa dos títulos e dos resumos e abstracts disponíveis,
que contempava a relação da genética com as interações
infanto-juvenis. Para análise dos estudos foram considerados o
tipo de estudo (qualitativo ou quantitativo), objetivos,
resultados e conclusões.
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3. Resultados e Discussão
As buscas nos bancos de dados utilizando as palavraschave propostas resultaram em 158 artigos para todos os temas
propostos. Após avaliação dos títulos, dos resumos e abstracts,
apenas 48 artigos contemplaram os critérios de inclusão e
foram selecionados, quais sejam: genética etológica (11),
genética psicométrica (11), genética psicossocial (14) e
genética epistemológica (12). Os títulos dos artigos
selecionados encontram-se em “apêndice”, pois pode gerar
questões a respeito de tendências pessoais. Os demais foram
rejeitados por não tratarem especificamente do tema proposto.
Genética etológica
O estudo da genética etológica permite conhecer
tendências comportamentais e predisposições individuais
hereditárias. De acordo com Gatz (1990) e Young et al.
(2000), os comportamentos influenciados pela hereditariedade
podem ser modificados. Assim, psicólogos estão aptos a
fornecerem orientações para o indivíduo criar ou localizar
ambientes que possam-lhes confortar emocional e/ou
ambientalmente.
Geneticistas observam, em crianças e jovens, variações
nos seus comportamentos relacionadas geneticamente de
diferentes modos e determinam se estas variações podem ser
devidas à hereditariedade e/ou fatores ambientais (BAKER e
CLARK, 1990). Porém, o entendimento da relação
genética/comportamento já sofreu muitos avanços desde
então, sendo de suma importância aprofundar o entendimento
dos processos epigenéticos, pleiotrópicos e epistáticos
envolvidos.
Os estudos e pesquisas na área da genética etológica
mostram que as influências genéticas, geralmente, contribuem
para diferenças no comportamento dos indivíduos, refletindo
na interação genótipo x ambiente, além de efeitos
epigenéticos, que são mudanças reversíveis e herdáveis no
genoma funcional que não alteram a sequência de
nucleotídeos do DNA (PLOMIN e RENDE, 1991; VINK e
BOOMSMA, 2002; WENZEL e NOLL, 2006; FRANK,
2009). Estas mudanças podem iniciar-se com influências
ambientais, que permitem ou não o acesso aos fatores de
transcrição relevantes à ativação de genes, que por sua vez são
responsáveis por receptores hormonais. Por fim, os hormônios
influenciam diversos aspectos comportamentais das crianças e
jovens, como o stress, depressão e ansiedade, por exemplo
(HUSSAIN, 2012; ROTH, 2012).
Pesquisas demonstram a importância de heranças
hereditárias e não hereditárias sobre o desenvolvimento de
doenças do “transtorno do uso de substâncias - TUS”, que
inclui a dependência da nicotina (KENDLER et al., 1999),
álcool (MESSAS, 1999) e substâncias ilícitas (MCGUE et al.,
2000), demonstrando que estes transtornos surgem na
juventude, também, devido a tais fatores.
Em recentes pesquisas sobre a exposição precoce ao
álcool na adolescência, McGue et al. (2006), testaram modelos
para comprovar que o problema comportamental é
manifestação herdada. O estudo foi realizado com 1.080
gêmeos aos 17 anos, porém, a análise biométrica de dados
multivariados mostrou que estes problemas são fracamente
hereditários. Em contrapartida, Mcadams et al. (2012)
estudaram 1.688 gemêos e concluíram que o efeito genético é
forte.
Conforme Carvalho Neto et al. (2003) é importante
propor, no caso de gêmeos, uma análise do microambiente
formado pela história filogenética (conjunto de características
favoráveis à aquisição e aperfeiçoamento de comportamentos
sociais que se mostram adequados na sobrevivência da
espécie), ontogenética (desenvolvimento da adaptação durante
o ciclo de vida do indivíduo) e cultural, na qual o que mais
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interessa é o nível ontogenético, haja vista que suas variáveis
biológicas são úteis para previsão e controle de um
comportamento específico.
Nas pesquisas envolvendo genética e comportamento,
principalmente de crianças e adolescentes, é importante
mencionar os trabalhos de Eysenck (1967; 1976; 1987), que
procurou uma explicação multifatorial, estrutural e processual
para a personalidade, tais como comportamento anti-social,
temperamento e sociabilidade, por exemplo.
Ito e Guzzo (2002) investigaram características
temperamentais de crianças, verificando a influência exercida
pela genética na determinação do temperamento. Eles
concluíram que a genética exerce uma influência na
determinação dos fatores temperamentais. Saudino (2005)
também descreve em seu trabalho alguns resultados sobre a
genética do comportamento no temperamento. Estes achados
incluem a importância das influências ambientais, genética e
mudança ambiental durante o desenvolvimento do indivíduo,
sendo eficaz aproveitar o potencial da genética molecular para
identificar genes específicos responsáveis por tais influências.
Moffitt (2005) realizou uma revisão sobre os estudos do
comportamento anti-social, ilustrando como os métodos da
genética comportamental estão sendo recentemente aplicados
para detectar quais causas ambientais, entre os muitos fatores
de risco, influenciam o comportamento anti-social. Futuros
trabalhos sobre interação genótipo x ambiente precisam ser
realizados para dar maior suporte científico, visto que é uma
forma interessante e rentável avançar nos estudos
psicopatológicos.
Bordin et al. (2001) e Carvalho et al. (2001) estudaram o
desenvolvimento cognitivo e o comportamento de crianças
nascidas pré-termo e baixo peso. Concluíram que as crianças
apresentaram desempenho intelectual médio, tendendo ao
rebaixamento cognitivo.
O trabalho de revisão realizado por Grillo e Silva (2004)
relata o diagnóstico precoce dos principais transtornos do
comportamento na criança e no adolescente, fornecendo
informações práticas relativas às primeiras manifestações
clínicas e à importância do diagnóstico precoce.
Genética psicométrica
A abordagem psicométrica dedica-se à investigação
objetiva dos aspectos que envolvem a inteligência, tais como
QI e outras medidas psicológicas que apresentam os dados do
indivíduo avaliado, para tanto utiliza de um grande conjunto
de testes psicológicos, fundamentados na análise estatística
dos resultados, a partir do desenvolvimento de padrões
específicos para cada população, respeitando-se as variáveis
envolvidas na investigação da inteligência (SILVA, 2005).
A genética psicométrica pauta-se, também, no estudo e nas
concepções do desenvolvimento infantil, nessa proposta, a
investigação da inteligência relaciona-se às capacidades que os
indivíduos apresentam ao longo de seu desenvolvimento
(PAIN, 1992). Parte-se da premissa que cada momento do
desenvolvimento humano é caracterizado por uma aquisição
de habilidades intelectuais e, por conta disso, em cada período
de existência há um conjunto de elementos cognitivos
associados (MEIRA e SPINILLO, 2006).
As provas psicométricas propõem ao sujeito situações
específicas cuja resolução requer do mesmo, estratégias
eficazes que visam à obtenção do resultado. A construção
destas provas depende de uma série de técnicas elaboradas
pelo método de testes, cujo objetivo é observar as variáveis no
rendimento dos participantes (NORONHA et al., 2002;
NORONHA et al., 2003; BRYON, 2012).
Nas provas de nível mental que interessam,
especificamente, a análise genética, deve ser caracterizada por
suas respectivas amostras conforme a homogeneização, como
a idade dos sujeitos que as compõem. Estas provas
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proporcionam uma ocasião privilegiada para esta análise,
permitindo uma interpretação mais rica dos processos e das
estruturas mentais (SANTOS e ORTEGA, 2009).
Estes trabalhos são bastante interessantes, porém é
duvidoso o reflexo da genética sobre o potencial intelectual
dos indivíduos devido aos testes psicométricos medirem
formas específicas de competências linguísticas e lógicas,
produzindo uma avaliação restrita e ideologicamente limitada.
Alguns artigos recentes como os de Tartas e PerretClermont (2008), Santos e Ortega (2009) e Brites (2009) são
propostos testes psicométricos utilizando o Teste dos Cubos de
Kohs, Jogo de Regras e Teste de Raven, respectivamente.
Estas metodologias, por lidar com avaliações processuais,
têm-se mostrado um instrumento eficaz para o
acompanhamento do desenvolvimento cognitivo de crianças e
adolescentes.
Bandeira et al. (2004) buscaram os parâmetros
psicométricos normativos para as crianças de Porto Alegre,
para tanto investigaram os resultados de 779 crianças
matriculadas em escolas estaduais, de 4 anos e 9 meses a 11
anos e 9 meses e apresentaram as estatísticas descritivas dessa
população com vistas ao desenvolvimento de normas para as
crianças dessa região.
Rueda e Sisto (2006) desenvolveram estudo psicométrico
do Raven infantil, buscando estudar a validade simultânea do
teste com o Desenho da Figura Humana, por meio da
investigação de 279 crianças, com idade entre 7 e 10 anos.
Utilizaram o Raven como estratégia de comparação dos
resultados do outro teste. Os resultados foram positivos para a
maior parte das faixas etárias, excetuando-se aqui a de 7 anos.
Sisto et al. (2006) avaliaram o ajuste do modelo Rasch
quanto à unidimensionalidade das Matrizes Progressivas
Coloridas de Raven, a partir do estudo de 441 crianças de
ambos os sexos, de 1ª a 4ª série do ensino fundamental. Após
análises estatísticas, observaram que as três séries do teste
possuem propriedades psicométricas distintas quanto à
unidimensionalidade que, em termos gerais, mostrou-se
prejudicada. Indicaram a necessidade de investigações nesse
ponto quando de atualizações nas tabelas normativas do teste.
Flores-Mendoza et al. (2007) sistematizaram pesquisa
para verificar possíveis diferenças no desempenho de
inteligência entre os sexos em duas cidades brasileiras.
Investigaram 2095 crianças nas cidades de Belo Horizonte e
Porto Alegre, com diversos instrumentos de avaliação,
inclusive o Teste de Raven. Após análises estatísticas dos
resultados não foram observadas diferenças significativas no
desempenho entre os sexos das crianças.
Flores-Mendoza et al. (2010) realizaram investigação
sobre a ação de inteligência e personalidade em amostra de
crianças divididas em três graus de vulnerabilidade social,
provenientes de duas cidades de Minas Gerais, totalizando 815
sujeitos. Observaram que os recursos de inteligência podem
explicar melhor as diferenças observadas nos dados
levantados, quando se compara com os dados de
personalidade.
Ortega e Pylro (2007) realizaram uma análise
microgenética do nível de compreensão do jogo Quarto com
quatro estudantes de 16 anos e constaram que houve uma
evolução nas explicações das estratégias. Enquanto Ortega e
Rossetti (2000) em estudo sobre Jogos de Regra, no contexto
psicogenético e psicopedagógico, realizaram uma revisão de
trabalhos relacionando a investigação científica com os
mesmos.
Storch et al. (2004) estudaram as propriedades
psicométricas do “Children's Yale-Brown Obsessive
Compulsive Scale (CY-BOCS)”, teste para avaliar a gravidade
dos sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Enquanto Hankin e Abramson (2002) avaliaram as
propriedades psicométricas a partir de uma nova medida da
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vulnerabilidade para depressão, por ser utilizado em
adolescentes.
Genética psicossocial
A genética humana depara-se com desafios que têm
exigido muita atenção do ponto de vista bioético (PLOWS,
2011). Face à incorporação de mecanismos de genotipagem
em serviços de sistemas de saúde, bem como de testes
genéticos em programas de saúde pública, alguns
investigadores têm desenvolvido abordagens reflexivas quanto
à produção de conhecimento em torno dos genes de
suscetibilidade e criação de estimativas de risco para várias
doenças (LOCK et al., 2006). Assim, é na translação deste
conhecimento científico para a utilização no cotidiano da
sociedade que residem os desafios da genética psicossocial,
principalmente, relacionado a crianças e jovens.
McConnaughey e Quinn (2007) salientam que o
desenvolvimento humano constitui um processo complexo
pelo qual a criança, à medida que vai crescendo, adquire
habilidades. Cada indivíduo possui unicidade e se desenvolve
mediante uma interação complexa entre os fatores biológicos,
genéticos, psicológicos, culturais e ambientais, indiciando o
surgimento de áreas propícias para a ajuda de crianças e
jovens especiais.
As diversas implicações das afecções genéticas impõem a
realização de investigações multidisciplinares com auxílio,
principalmente, da genética e psicologia. Neste sentido, a
genética psicossocial tem emergido como nova disciplina
científica no acompanhamento de tais indivíduos, investigados
por meio dos testes genéticos moleculares (LLERENA JR,
2000).
Os testes genéticos preditivos são enquadrados em présintomáticos, aplicados a doenças em que a alteração genética
específica está associada a quase 100% de probabilidade de
adquirir a doença como, por exemplo, Huntington. Outro teste
seria de predisposição, indicando o risco do individuo ter a
doença com confiabilidade menor que 100%, por exemplo,
câncer hereditário (COSTA JR, 1996; MENDES, 2012), sendo
indicado o aconselhamento genético a todos estes casos.
O aconselhamento genético, diferente dos testes
genéticos, é um processo que lida com problemas humanos
associados à ocorrência e/ou risco de distúrbio genético na
família, refletindo em implicações éticas, sociais e financeiras
relevantes (COSTA JR, 1996; BRUNONI, 2002). Um tipo
comum hoje em dia é o oncogenético, que designa o processo
de identificação e aconselhamento a indivíduos com risco
acrescido de desenvolver cancro, distinguindo entre os que
possuem risco elevado, dos que possuem risco moderado e
risco semelhante ao da população geral (RILEY et al., 2012).
Assim como o câncer, diversas pesquisas têm-se focado
no tema síndrome de Down, como por exemplo, Bonomo et al.
(2009), Castro et al. (2011), Pacheco e Oliveira (2011) e
Bawle (2012). Estes estudos são importantes visto que estão
relacionados com o desenvolvimento sócio-cognitivo de
indivíduos com anomalias genéticas, sendo de grande
importância o aprimoramento dos procedimentos educacionais
e terapêuticos para fornecer melhor qualidade de vida para
essas pessoas.
Considerando a importância de se conhecer os processos
familiares para a compreensão do desenvolvimento de
crianças que apresentam deficiência, Silva e Dessen (2006),
realizaram estudo comparativo descrevendo aspectos do
funcionamento familiar e do desenvolvimento de crianças com
e sem síndrome de Down. Nesta mesma linha de pesquisa,
Rodrigues e Alchieri (2009) buscaram investigar a
manifestação da afetividade em crianças e jovens com
síndrome de Down e a percepção de pais e educadores quanto
à sua expressão no comportamento e nas atividades sociais
com 70 pessoas com a síndrome.
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Merece destaque o estudo bibliográfico de Bissoto (2005),
em que a mesma faz investigações na Inglaterra e nos Estados
Unidos a partir da década de 90, quanto ao desenvolvimento
cognitivo do portador de síndrome de Down e os impactos que
os resultados destas investigações podem ter sobre processo de
aprendizagem.
Petean e Pina-neto (1998) e Brunhara e Petean (1999)
estudaram as reações e sentimentos dos pais de crianças
portadoras de deficiência e/ou anomalias genéticas,
concluindo que os pais manifestaram sentimentos de negação,
tristeza, resignação, revolta e culpa. Assim, os profissionais
devem conhecer as condições emocionais, lidando
efetivamente com a realidade de cada família.
Para melhor compreender os testes genéticos, Pina-neto
(2008) revisa conceitos atuais, princípios filosóficos e éticos
aceitos na grande maioria dos países e recomendados pela
Organização Mundial da Saúde, as fases do processo, seus
resultados e o impacto psicológico de doença genética em uma
família. Para enfatizar a importância da genética psicossocial,
Zagalo-Cardoso e Rolim (2005) visam rever e refletir sobre as
questões psicológicas subjacentes aos testes genéticos, no
contexto do novo paradigma médico da medicina preditiva e
da emergente perspectiva da genética psicossocial.
Genética epistemológica
A epistemologia genética estuda o conhecimento sobre o
adulto e as condições necessárias para que a criança chegue à
vida adulta, tomando a capacidade de conhecer como
resultado de trocas entre organismo e ambiente. Ela explica o
sujeito epistêmico, ou seja, o sujeito do conhecimento que
constrói do ponto de vista da forma, sem levar em conta os
conteúdos que variam no espaço e no tempo, de povo para
povo, de época para época (RAMOZZI-CHIAROTTINO,
1988; 2012).
Doise et al. (1975) relata a influência da interação social
no desenvolvimento cognitivo de jovens e crianças. O estudo
compreende a solução individual de tarefas piagetianas
baseadas no conceito da genética epistemológica por pequenos
grupos de crianças.
Verba (1993) ao estudar as interações sociais infantojuvenis apresentou um modelo integrado de atividade
compartilhada, que liga a coordenação cognitiva com
regulação interpessoal, descrevendo formas cooperativas e
sofisticadas
de
regulamentação,
como
a
transmissão/apropriação de "ideias", co-elaboração consensual
e a conflituosa. Estes regulamentos interativos na brincadeira
confirmam as descrições de aquisição sócio-cognitiva. O
conhecimento dos processos envolvidos na interação infantil,
tais como as formas de iniciação de contato social aplicado
pelo autor têm implicações práticas, considerando que as
crianças estão cada vez mais cedo, sujeitas a ambientes
coletivos como creches e escolas maternais.
Placha e Moro (2009) descrevem as soluções a problemas
de produto cartesiano conforme níveis do raciocínio
combinatório ali implicado para identificar a aprendizagem
das crianças e as intervenções de ensino possíveis. Zacarias e
Moro (2005) utilizaram literaturas infantis para provocar a
aprendizagem inicial de conceitos matemáticos em crianças
pré-escolares. Estas técnicas, aparentemente simples,
influenciam significativamente na construção sócio-cognitiva
de crianças.
Muitos estudos estão sendo realizados na tentativa de
aplicar Piaget à educação, tais como Muller e Giesbrecht
(2008), Goodwin (2009), Tognetta et al. (2010), Kittleson
(2011), Lepre et al. (2012), entretanto, parece-nos inadequada
por vários motivos. Em primeiro lugar, como os próprios
estudos de Piaget mostram, a criança demonstra avanços na
compreensão das tarefas piagetianas sem que precisem, para
isso, aprender a responder a essas tarefas na escola. Em
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segundo lugar, apesar de encontrarmos correlações entre o
rendimento escolar e desempenho nas tarefas piagetianas, não
é por ter aprendido as mesmas que a criança vai entender
melhor matemática, por exemplo.
Os processos de combinação das dimensões sociais e
individuais no desenvolvimento cognitivo humano são muito
complexo e amplamente discutido atualmente. A literatura
destaca esta dificuldade, até porque a distinção entre o que é
social e individual é muito argumentada por vários autores.
Nesta área de investigação, é evidente a necessidade de
identificar as dimensões psicológicas e sociais que se
relacionam diretamente com os problemas genéticos e com os
programas especialmente desenvolvidos.
No Brasil, o papel da interação social no desenvolvimento
cognitivo, principalmente de crianças e jovens, voltados para a
genética epistemológica tem sido bastante investigado por
Moro (1987, 1990, 2000), que realizou um trabalho no qual
comparou os efeitos quantitativos e qualitativos de duas
modalidades de exercícios operatórios, uma em situação de
troca social entre crianças e outra em situação de troca
adulto/criança, demonstrando que houve efeitos de
aprendizagem das noções empregadas nas duas modalidades
de interação social pesquisadas. Anos após, Moro (1990)
realizou uma pesquisa literária sobre a epistemologia genética
e a educação, examinando o tema conceituado por Jean Piaget
à necessidade de aplicá-lo no Brasil. Dez anos depois, Moro
(2000) buscou responder sobre o tema da interação social
utilizando-se das proposições da epistemologia genética.
Apesar de ser interessante o conceito de epistemologia
genética de Piaget, essa é uma teoria já questionável em
termos de validade uma vez que a mesma se prestava a ser
uma espécie de união de teorias do conhecimento existentes na
época – empirismo e apriorismo. Todavia devido ao massivo
crescimento de pesquisas na área da genética do
comportamento e cognição não há mais razão de se recorrer a
elas para teorizar sobre as influências genéticas no
desenvolvimento cognitivo.
4. Conclusão
O estudo e pesquisa nas áreas da genética etológica,
psicométrica, psicossocial e epistemológica apresentada nesta
revisão são extremamente importantes, tendo em vista a
contribuir para precaução de diversas doenças hereditárias,
genéticas, congênitas e psicológicas. Estas áreas poderão atuar
em conjunto para, posteriormente precaver alguns casos,
convergindo os interesses da Genética com os da Psicologia e
Medicina, para serem investigados os aspectos ainda pouco
explorados.
Outra área de pesquisa relevante que poderá ser estudada é
o desenvolvimento de estratégias de intervenção psicológica,
garantindo a oferta de exames pré-sintomáticos contribuindo
para a redução do sofrimento causado pelas doenças genéticas
e pelo risco genético, bem como a melhoria da qualidade de
vida das famílias confrontadas com esta realidade.
5. Referências
ALCOCK, J. Animal behavior: An evolutionary approach.
Massachusetts: Sinauer Associates, Inc, 1993.
BANDEIRA, D. R.; ALVES, I. C. B.; GIACOMEL, A. E.;
LORENZATTO, L. Matrizes Progressivas Coloridas de
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