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Introdução
O referente trabalho monográfico dá ênfase à importância do estudo sobre o
movimento literário romântico, mostrando o histórico social da literatura, sua
importância, conceitos e perspectiva. No Brasil, o Romantismo teve o seu início logo
após a independência, trouxe grandes transformações sociais, políticas, econômicas
culturais e influenciou aos escritores a livre expressão do pensamento, das emoções
e dos sentimentos, comprometidos em renovar o padrão cultural do país. Formou -se
assim uma identidade literária que caracterizou perfeitamente o retrato da literatura
brasileira.
Dentre as várias características românticas abordadas, uma merece especial
atenção que é a
figura feminina presente nas obras dos poetas românticos. Este
elemento feminino é destacado através de maneiras diversas nas três gerações,
entretanto, predomina no estilo romântico a idealização da mulher e do amor em que
o autor realça o seu lirismo amoroso.
Vale salientar, José Martiniano de Alencar, poeta consagrado que revel ou a alma
brasileira por meio de seus escritos. Pertencente a terceira geração romântica, se
destacou na prosa e traçou um extraordinário painel do Brasil com seus romances
indianistas, históricos, regionais e urbanos. Foi um intelectual que se preocupou c om
o nacionalismo, exaltou a natureza focalizando o índio nas várias etapas de
interação com o branco. Alencar mostrou o histórico nacional, reverenciando o
homem indígena, suas crenças, costumes e bu scou criar uma língua
com
vocabulário português.
É diante desse pressuposto que este estudo monográfico pretende analisar a obra
Iracema, além de mergulhar nos efeitos imaginários, paisagem, emoções e
deslumbramento que a obra traz. Como também no estilo literário do autor, o qual
evidencia a figura feminina c omo uma mulher pura, romântica, dotada de forte
sentimentalismo, que por causa do amor trai o compromisso com o seu povo para se
entregar ao homem branco, Martim.
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De acordo com o perfil feminino idealizado por Alencar, pode-se estabelecer uma
comparação entre a índia Iracema e o papel da mulher na sociedade da época em
que a obra foi escrita.
Esta monografia está organizada da seguinte forma: no primeiro capítulo, trata-se do
perfil da idealização da mulher no Romantismo, em que é analisada nos poemas dos
escritores românticos: Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo e
Castro Alves, observando a marcante presença do elemento feminino nas três fases
do movimento romântico.
No segundo capítulo, é revelado o perfil literário de José de Alencar, abrangendo
biografia e a linha estética particular que o intelectual desenvolveu, assim como este
mostrava a mulher nos romances urbanos como Senhora e Lucíola.
O terceiro capítulo refere -se ao perfil da mulher na obra Iracema, destacando a
figura da índia e estabelecendo um paralelo de ligação entre a figura feminina da
obra com o papel da mulher na sociedade da época sob a perspectiva Alencariana.
A realização dessa monografia está fundamentada em pesquisas bibliográficas
mediante estudos em obras de vários autores que proporcionaram base importante
para o desenvolvimento e aprofundamento do tema, também for am feitas pesquisas
em livros, revistas, ensaios e sites publicados na internet.
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1. O perfil da idealização da m ulher no Rom antism o.
O Romantismo teve a sua origem na segunda metade do século XVIII , com uma
marcante transformação cultural ocorrida no Ocidente. A partir daí surgiu a
burguesia moderna, que rompendo com as determinações culturais e os privil égios
da aristocracia, (classe dos nobres ou fidalgos), deu início ao individualismo e a
valorização da originalidade, numa tentativa de alcan çar uma autêntica expressão
do sentido da vida burguesa. Com o apogeu da bu rguesia, esta tornou-se rica e
influente, criou um padrão artístico próprio, confirmando sua própria linguagem e
contrapondo-se aos padrões aristocráticos. Estes que mantinham uma linguagem
baseada na frieza da inteligência , opondo-se a emoção e ao sentimento e atribuíam
regras artísticas que inferiorizavam os poetas. Fazendo uma análise da origem do
termo Romantismo, pode-se constatar que segundo Coutinho ( 2001 p.140)
Da palavra francesa roman (romanz ou romant), as línguas
modernas derivaram o sentido corrente no século XVIII, e que
penetrou no Romantismo, designando a literatura produzida à
imagem dos romances medievais,fantasiosos pelos tipos e
atmosfera.
De acordo com o autor não se pode definir a época da introdução do termo
romântico
e
seus
derivados,
este
conhecido
termo
fundamentou -se
numa
transformação estética e po ética, desenvolvida em oposição à tradição neoclássica
setecentista. Nessa revelação do Romantismo, é indispensável estabelecer a
diferença entre o
estado de alma romântico e o movimento ou escola de
abrangência universal que surgiu entre os sécu los XVIII e XIX.
No entanto o estado de alma ou estilo romântico é uma constante universal,
enquanto que, o movimento histórico é relativista, em contraposição aos padrões
clássicos, que traz como incentivo básico a fé, contempla a natureza, inspira-se na
emoção, na paixão, no imaginário. O ro mântico busca idealizar a realidade e não
reproduzi-la. A nova era literária é um movimento reu nido e unificado, com
particularidades comuns e gerais às várias nações ocidentais, e de acordo com ,
Coutinho, (2001p141) “A mesma concepção da natureza e suas relações com o
homem o mesmo estilo poético, formado da imaginação, símbolos e mitos
peculiares”.
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Vários autores e fatos importantes contribuíra m como marcos na longa infiltração
pré- rom ântica, produzindo assim a desvinculaçã o do Neoclassicismo. A revelação
de Shakespeare, grande poeta e dramaturgo, que representa a outra face
importante da contribuição inglesa à renovação literária. Na Alemanha, Herder e
Goethe, os irmãos Schlegell Klopstoch, que através do irracionalismo, transformou
o período o mais inesquecível e essencial da história literária alemã. Não devemos
esquecer de Rousseau, outro grande poeta europeu, cuja contribuição serviu como
ponto de descoberta das principais tendências que resultariam nos aspectos
românticos, por isso, ele foi considerado o pai do Romantismo.
Como mostra Tieghem no livro de Coutinho (2001 p.142) “o início do Romantismo
propriamente dito, ocorreu durante treze anos, entre 1795 a 1810. Os fatos
principais em diferentes países formam a linha expressiva que constituiu o período.”
Então, 1795 para a Alemanha, 1798 na Inglaterra, o início do século XIX na França e
os países escandinavos, 1816 para a Itália, 1822 para a Polônia. Por volta de 1825,
todos os países do Ocidente já estav am influenciados pelo movimento, este que, no
meio do século apresentará totalmente o seu fim.
Uma qualidade primordial do espírito romântico é a imaginação. Os poetas diante
do seu eu individual, acreditavam que a imaginação é uma admirável capacidade de
criar mundos imaginários, certamente, crendo na realidade deles. Foi com essa
prática do imaginário que os poetas foram consagrados como visionários e também
agentes de capacidades extraordinárias que transcediam o invisível, como nos
mostra Coutinho (2001, pg. 143).
Graças à imaginação criadora, o poeta era dotado de uma
capacidade peculiar de penetrar num mundo invisível situado além
do visível a qual, o tornava um visionário, aspirando saudoso por um
mundo diferente no passado ou no futuro, outro mundo mais
satisfatório do que o familiar.
O poeta romântico está constantemente buscando modificar a realidade, e a
imaginação, portanto, destaca-se como um modo especial de se exprimir, chegando
de certa forma, a ter uma significação religiosa e metafísica, e percebendo que as
coisas sensíveis são eternas graça, a interpretação do familiar e do transcendente.
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O individualismo destaca -se como uma característica expressiva do Romantismo,
visto como uma defesa contra uma norma social em que o homem estava sujeito a
viver cumprindo atividades onde não era reconhecido. É importante esclarecer que
no Renascimento, o homem ocidental, já era consciente de sua individualidade,
porém uma consciência como protesto, em busca de mudanças no processo
cultural,
só
passou
a
existir
no
movimento
romântico.
Assim,
graças
ao
individualismo, iniciou-se a valorização das emoções e dos sentimentos do homem
burguês, que pertencia a uma classe social desprezada, isso fez com que a
burguesia alcançasse a sua independência cultural.
É importante ressaltar que, quando surgiu o Romantismo, criou-se também um
público-leitor, pois antes, com a an tiga aristocracia não existia um público -leitor
propriamente dito. Os poetas, nas cortes, na realidade eram servos que mantinham
o prestígio dos nobres senhores, e não tinham suas obras artísticas valorizadas. E
com relação a mulher,esta não era reconhecida como leitora a ssim como afirma
Cademartori (2002 p.38). “A educação da mulher como leitora só teve início no
século XVIII, ou seja, foi a partir desse século, que a mulher deixou de ser vista
como uma pessoa culturalmente leiga.”
O princípio fundamental da arte moderna está originado na luta pela liberdade,
obedecendo a critérios próprios e em busca da arte particularmente expressiva, por
esse motivo, o rom ântico apresenta-se como um homem só e d esconsidera as
imposições e restrições das regras. Esse movimento literário representou um dos
estilos mais importantes na história da cultura ocidental, demonstrou o privilégio do
autor em manifestar seus sentimentos, o autodomínio, a razão e a serenidade nunca
vistas anteriormente. Tudo isso tinham sido valorizados na história da arte, além da
sensibilidade, da ousadia, e da anarquia que se originaram nesse período romântico.
Os romancistas nas suas obras fazem uma busca ao passado com o intuito de fugir
do presente, e é por estar longe que o passado é considerado exótico, nesse
contexto, prevalecem o sonho, a loucura, e as lembranças da infância . A mulher
apresenta-se diante de qualidades distintas, assim como coloca Cademartori (2002
p.40).
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Com relação à mulher, esta apresenta-se diante de uma dualidade,
ou seja, ora sendo a mulher santa e digna de amor, que seria a
mãe, a irmã e ora sendo a mulher satânica, que seria a que
desperta desejos e por isso torna-se ameaçadora e prejudicial.
Diante dessas vertentes a temática dessa mulher é apresentada de maneiras
diversas de acordo com o estilo de cada autor.
De maneira geral, nos países onde o Romantismo se desenvolveu,percebe -se o
culto á natureza, a permanência das características locais, a individualização e
tendo a arte sendo realizada com significativo estilo poético nacional.
No Brasil, esse movimento surgiu logo após a independência, e estabeleceu uma
identidade nacional, a exaltação à pátria, e a liberdade política para a arte. O autor
brasileiro reconheceu o índio como símbolo nacional, porém este é visto como uma
idealização, uma personagem simbólica que não tem nenhuma adequação com o
real,retrata
a
aparência
da
alma
nacional
influenciada
pelo
auge
da
independência,de acordo com Coutinho(2001 p. 170).
O nacionalismo romântico assumiu um caráter muito próprio do
Brasil, sob a forma do indianismo. Casando a dountrina do “bom
selvagem” de Rousseau com as tendências lusóficas, o nativismo
brasileiro encontrou no índio e sua civiliza ção um símbolo de
independência espiritual, política, social e literária.
De acordo com essa afirmação de Coutinho o Romantismo iniciou -se no Brasil
quando já havia terminado no Ocidente , é fundamental destacar a significação desse
termo, que é prop ício e insubstituível ao Brasil, não tendo uma identificação
completa com os movimentos europeus. M as que se originou de uma diversidade de
fatores locais e sugestões externas, trazendo como propósito maior a harmonia com
que as sugestões externas submeteram -se ao estilo das tendências locais,
resultando num movimento perfeito e que ainda hoje é o mais autêntico de todos os
estilos literários.
Podemos distinguir dois aspectos básicos dessa tendência literária: Nacio nalismo e
Romantismo propriamente dito, es te último, refere-se ao conjunto de traços
específicos e da estética posteriores ao Neoclassicismo. Já o prim eiro denomina -se
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da junção do Nativismo, ou seja, predominância do sentimento à natu reza, com o
patriotismo, que quer dizer, o sentimento e a exaltação da nação. Esses aspectos
estão estritamente relacionados ao objetivo de dotar ao país uma literatura de
formação independente.
O intuito patriótico foi um dos motivos marcantes para a formação da literatura
brasileira, surgido graças à independência, e desenvolvido com um imenso desejo
de dotar o Brasil de uma literatura que manifestasse de forma rica e correta a
realidade própria, ou seja, uma literatura nacional. Para se construir essa literatura
nacional, predominou-se durante todo o Romantismo,como Candido ainda coloca
(1997 p. 11)
(...) o senso de dever patriótico que estimulava os escritores a não
apenas cantar a sua terra, porém a reconhecer as suas obras como
contribuição ao progresso, por isso, o patriotismo foi considerado
como um incentivo e a literatura como contribuição para a grandeza
da nação.
Em Paris, entre os anos de 1833 a 1836, deu-se início a consciência das mudanças
na literatura e o evidente desejo de propagá -la intencionalmente, assim , foi a partir
desse momento que se ouviu falar em uma literatura nova. Então, um grupo de
jovens: Domingos José Gonçalves de Magalhães, Manuel de Araújo Porto Alegre,
Francisco de Sales Torres Homem, João Manuel Pereira da Silva e Cândid o de
Azeredo
Coutinho, encontraram -se
para
estudar e
conheceram
as
novas
orientações literárias. Gonçalves de Magalhães, o líder do grupo, percebeu que
essas orientações corresponderiam às expectativas na definição d e uma literatura
nova no Brasil,pois a nação recentemente independente alcançaria liberdade em
todos os setores,conforme afirma Coutinho (2001 p.169).
O Romantismo fez soarem os clarins da liberdade em todos os
setores. À liberdade política, à autonomia de consciência, ocorreu
paralela a rebelião literária. Formara-se com o tempo uma nova
sensibilidade, que procurava expressar-se por outra forma artística.
O ponto de partida para a divulgação exata do movimento romântico foi a publicação
de Niterói (revista brasiliense de Ciências, Letras e Artes), em 1836, cuja epígrafe
era ¨ Tudo pelo Brasil, e para o Brasil ¨.Essa revista foi escrita pelo já citado, grupo
de jovens intelectuais que in vestigavam as tendências das Artes, Literatura e
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Ciências Brasileiras, e anunciada ao mundo culto da França, por intermédio do
prestativo Eugene de Monglave, um dos fundadores e secretário da agremiação,
que se interessou e ajudou na publicação da nossa literatura. Em relação a Niterói
revista brasiliense é preciso entender que esta foi a primogênita na introdução do
estilo cultural brasileiro,conforme Amora (1881 , p. 93).
É necessário ir além, isto é, entrar no estudo da significação dessa
revista no periodismo nacional e mesmo estrangeiro da época, e na
análise de seus propósitos e de seu conteúdo , pois, que ela, sem
embargo de ter sido um fator, de nosso Romantismo então em
gênese foi também um índice, e muito expressivo, de um estilo de
cultura, ou como então se dizia, de civilização, que seus jovens
redatores procuraram, não importa que com distante, reduzida e
diluível ação, introduzir no Brasil.
Gonçalves de Magalhães e Pereira da Silva deram o pontapé inic ial para a teoria do
Nacionalismo literário, através de seus escritos críticos. É importante ressaltar
também que, ainda em 1836, Gonçalves de Magalhães, o inspirado jove m brasileiro,
publicou: Suspiros Poéticos e Sau dades, obra que marca o início do Romantismo
Brasileiro. Nela Magalhães propunha idéias de ligação significativas entre o meio e a
literatura, destacando as forças sugestivas da natureza e do índio, conforme,
Magalhães no livro de Cândido (1997 , p. 264) “Pode o Brasil inspirar a imaginação
dos poetas e ter uma poesia própria? Os seus indígenas cultivaram porventura a
poesia? ¨.Aqui está claro através dessas indagações que Magalhães tinha uma
visão consciente da grande influência que o físico e os habitantes exercem na
formação de um país,nas artes e na literatura.
Um importante e essencial elemento que faz parte da nova estética literária é a
religião. Esta surgiu em oposição ao passado colonial e a temática pa gã dos
neoclássicos. Vários poetas trataram dess e tema, assim como afirma
Cândido
(1997, p. 17).
Todos os românticos, com poucas exceções manifesta ram um ou
outro avatar do sentimento religioso, desde a devoção caracterizada
até um vago espiritualismo, quase panteísta. É preciso , com efeito,
distinguir mais de um aspecto nessa tendência.
Através da observação das variadas definições de religião, verifica-se que,enquanto
Monte Alverne, traz a oratória sagrada como exemplo de novos sentimentos,
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Gonçalves Dias definiu a religião como fé específica, crença, e de voção. Já a obra
“O Anchieta”, de Fagundes Varela é conhecida como o ponto chave neste tema,
abordando um catecismo com grandeza de espírito.
O movimento romântico penetrou-se no país com um sentido de relativismo, ou seja,
que está fundamentado num princípio de busca da verdade e da realidade,
adaptando-se à situação local, valorizando-a, e de acordo com a norma romântica
de exaltar o passado e as particularidades nacionais. Dessa form a, o romantismo
assumiu o seu modo particular com características especiais e marcas próprias,
entretanto, ao lado de elementos gerais que se relacionam com o movimento
europeu. Foi devido a este movimento que o Brasil conquistou uma liberdade de
pensamento e expressão, resultando de maneira espetacular e im previsível na
evolução do processo literário. Durante o período de meio -século, de 1800 a 1850
que se evidenciou um grande salto na literatura brasileira, tran sportando-se das
sombras de uma situação indefinida, com a junção de um neoclassicismo decaído,
exaltação nativista, e iluminismo revolucionário, para um movimento artístico,
formado da reunião de poetas célebres e prosadores reconhecidos. Esses
solidificaram a literatura brasileira com a autonomia de um tom nac ional trazendo
suas formas e temas, e a autoconsciência crítica dessa autonomia, destaca-se
nessa renovação literária José de Alencar, como símbolo do novo modelo literário,
conforme, Coutinho (2001, p. 153).
Sobressai nesse instante a figura de José de Alencar, o patriarca da
literatura brasileira, símbolo da renovação literária então realizada, a
cuja obra está ligada a fixação desse processo revolucionário que
enquadrou a literatura bra sileira nos moldes definitivos.
Esse mesmo desencadeamento revolucionário ocorreu na poesia, transferida para o
plano interior, ao lado do lirismo, com formas épica e narrativa, cultivadas por meio
de excelentes expressões nas obras de Gonçalves Dias e Castro Alves. Configurase então, o Romantismo Brasileiro com as seguintes datas: De 1808 a 1836 a fase
do pré-romantismo; de 1836 a 1860 o Romantismo propriamente dito; e o auge do
movimento está situado entre 1846 e 1856. Após 1860 é um período de transição
para o Realismo e o Parnasianismo.O movimento romântico foi o modo adequado
de realizar a união entre o pensamento individual ao pensamento coletivo,surgindo
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dessa forma a exaltação individual que se juntava à exaltação coletiva,por isso esse
movimento adquiriu vários aspectos,de acordo com (Coutinho.2001p.167).
No caso do brasileiro apesar da individualidade, demonstra
uniformidade em suas características fundamentais, pois no
momento de elevação individual se aliava à elevação coletiva
encontrando no estilo romântico a maneira adequada de realização.
Por essa razão, o Romantismo é formado de vários aspectos: o
literário e artístico, o político e social, abrangendo vários gêneros
como a poesia lírica, o romance, o drama, o jornalismo,a
eloqüência,o ensaio.
É essencial revelar que este movimento literário foi acima de tudo, um estilo de vida,
nacional, envolvendo todo o povo com suas formas, foi sentido, cantado, e pensado
de forma perfeitamente singular, constatando por meio dele a individualidade e a
alma coletiva.
Observa-se também no romantismo, um marcante enfeite político e social, que
demonstrou o seu lado democrático -popular visível e atuante, assim como afirma:
Samuel Putnam no livro de Coutinho (2001 , p.168):
Nunca foi tão íntima a relação entre arte e sociedade,
acompanhando lado a lado a revolução burguesa e o movimento
pela independência e democracia, o que o transformou em poderosa
arma na luta e o veículo literário do nascente nacionalismo do Brasil
e outros países latino-americanos.
Igualmente aqui a revolução burguesa triunfava com a independência e a
democracia, como conseqüência da Revolução Francesa,
visto
pelos
brasileiros
como
opressão
política,
Portugal passou a ser
exploração
econômica
e
conservadorismo literário, surgindo mediante o romantismo o brilho da liberdade em
todos os setores. Essa liberdade está estreitamente compro vada nas características
desse novo estilo , onde encontramos a livre expressão do eu, detalhado dentro de
um subjetivismo constante, em que o autor exp õe seus sentimentos e suas
emoções, tendo como ponto central da arte poética, o mundo interior refletido como
resultado das influências provocadas pela realidade exterior .
Além
dessas outras característic as
Coutinho, (2001, p. 145- 147).
principais merecem
destaque, conforme,
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Senso de m istério - o autor romântico valoriza o mistério da existência, por isso,
aprecia em se envolver com o sobrenatural e o terror.
Reform ism o - o sentimento de democracia invade a alma do romântico, por essa
razão, participa dos movimentos libertários e nas obras de alguns autores está
registrada essa grande influência revolucionária.
Ilogism o - não há lógica na atitude romântica, a regra é a contradição entre pólos
opostos de alegria e melancolia, entusiasmo e tristeza.
Sonho - uma tendência peculiar do escritor romântico é idealizar um mundo novo,
melhor, e isso ele faz através do sonho.
Fé - é a fé quem governa o espírito romântico: a crença se revela em diferentes
manifestações de religiosidade cristã.
Culto a natureza - a natureza é supervalorizada no romantismo, sendo um lugar de
refúgio, puro, não contaminado pela influência da sociedade, lugar de cura física e
espiritual.
Escapism o - o romântico deseja fugir da realidade para um mundo idealizado,
criado, à sua imagem, à imagem de suas em oções e anseios, e por intermédio da
imaginação. O poeta romântico não está satisfeito com a realidade da vida, por isso
busca um mundo idealizado, construído através do sonho, onde pudesse escapar-se
dos problemas cotidianos da vida.
Retorno ao passado - há uma fuga para a natureza e em volta ao passado,
idealizando uma civilização diferente do presente. Desse retorno originaram -se
várias manifestações: saudades da infância, medievalismo, indianismo,retorno ao
passado nacional que mostra as raízes da pátria.
Exagero - o romântico está constantemente na busca pela perfeição, por esse
motivo, foge para um mundo em que coloca tudo o que imagina de bom, belo, bravo,
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puro, amoroso, situado no passado, no futuro, ou em um lugar distante, um mundo
irreal, cheio de perfeição e sonho.
Idealização da m ulher - a figura da mulher é sempre idealizada, anjo ou prostituta;
as vezes santa e merecedora do amor, outras vezes ameaçadora e causadora de
males.
Para retratarmos os principais poetas do romantismo, é fundamental conhecermos
alguns autores que influenciaram nossos poetas na criação e desenvolvimento
dessa rica escola literária. Dentre eles estão: Ferdinand Denis, que já valorizava a
tradição indianista de Basílio e Durão; Victor Hugo, que é o responsável por lev ar os
ideais românticos ao teatro; Almeida Garret, português, que inovou nas peças
teatrais. Na literatura merecem destaque; Fausto Goethe, as diversas poesias de
Lord Byron e as obras de Victor Hugo (Os Miseráveis), e de Alexandre Dumas (Os
três Mosqueteiros).
A primeira geração romântica é conhecida como nacionalista o u indianista, porque
os escritores deram ênfase aos temas nacionais, aos fatos históricos, religiosidade,
e a valorização da natureza e do índio, este que era visto como o símbolo cultural da
nação. Os poetas que se destacaram foram: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves
Dias, Araújo Porto Alegre e Teixeira e Souza.
A segunda geração foi denominada ultra -romântica ou mal do século, pois os
escritores dessa geração descreviam os temas amorosos com exagero ficando as
poesias
marcadas
por
pessimismo,
melancolia, trazendo também
tristeza,
valorização
da
morte,
solidão,
egocentrismo, subjetivismo, sentimentalismo ao
extremo. Principais autores: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira
Freire e Fagundes Varela.
Conhecida como Candoreira, a terceira geração é caracterizada pela poesia que
retrata temas sociais e políticos, desejo de liberdade, defesa dos escravos,
apresenta-se com um tom retórico e exaltado. Seus principais representantes fora m:
Castro Alves, Tobias Barreto, e Sousândrad, e na prosa romântica José de Alencar.
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Dentre as várias temáticas destacadas e mencionadas, uma merece especial
atenção que é a idealização da mulher. Esta idealização pode ser facilmente notada
nas três fases do romantismo, conforme Callou, (2006, p. 01) “Assim como os
poetas românticos são diferenteme nte característicos nessas três fases, eles
também se diversificaram na forma da descrição do amor e da mulher”.
Interessante, é observar que, a cada comportam ento, existe uma
forma de amar diferente e por tanto, um ideal de perfeição e beleza
diferente, o que gera a necessidade de uma nova musa. Assim da
mesma forma que existem três geraçõe s românticas, há três
mulheres românticas.
(Callou, 2006, p.01)
Na primeira geração, o amor é angelical, idealizado, m uito semelhante com o
trovadorismo medieval, em que a mulher é um ser intocável, um anjo, símbolo da
perfeição, a mais bela e virgem. Para os poetas dessa ge ração o homem é visto
como um cavaleiro, submisso, que está satisfeito em apenas glorificar a sua amada.
O amor entre eles é puro, porém nada na realidade acontece, pois não há
sensualidade, nem sexo, ficando só no pensamento , por causa da distância entre
ambos. Percebe-se nesse perfil feminino que há con templação, exaltação da
mulher, mas o amor é impalpável, frequentemente alimentado pela imaginação,
como veremos a seguir nas estrofes da poesia ¨Olhos Verdes ¨ de Gonçalves Dias:
Simpsom (2007, p. 43, 44)
O lhos Verdes
¨ São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tem po vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mi!
Nem já sei q ual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como du as esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte,
Diz uma – vida, outra – morte;
Uma – loucura, outra – amor.
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
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Depois que os vi!
Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mi,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos da cor da esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de m i!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Nesse poema de Gonçalves Dias podemos perceber a admiração do autor, a uma
mulher, que através dos seus olhos verdes, (esperança e esmeralda)
transmitia
todo o mistério, ternura e serenidade de uma bela representação de uma figura
feminina.
Já a segunda geração apresenta confusão de sentimentos com misticismo de
melancolia, tristeza e tédio, fascínio pela morte, por isso, as mulheres pálidas e
magras, e até mesmo mortas são atraídas pelos autores. Conceituada de ultra romântica essa geração mo stra um amor triste e conflituo so, em que o homem
sente-se inferior e indigno de tocar a mulher. Essa inferioridade traz um conflito entre
o medo de amar e o grande desejo de realizar esse amor. Entretanto, diante desse
conflito ele não culpa a sua amada. Podemos verificar esse amor que perturba o
homem e inicia-se com sensualidade forte mente reprimida na poesia de Ca simiro de
Abreu . No livro de Simpson (2007, p. 185-187).
Am or e Medo
¨ Quando te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca,oh! Bela,
Contigo dizes,suspirando amores:
---¨ Meu Deus! Que gelo,q ue frieza aquela!¨
Como te enganas! Me u amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela – eu moço; tens am or – eu medo!...
Ai! Se te visse no calor da sexta,
A mão tre mente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...
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Ai! Se eu te visse,Mad alena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos – palpitante o seio!
...
Vampiro infame,eu sorveria em beijos
Toda a inocência que te lábio encerra,
E tu serias no lascivo a braço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Casimiro já coloca todo um amor impossível em relação à mulher e também a
descreve de forma erótica, através dos detalhes do seu corpo. Destaca-se então um
amor desejável, porém inatingível, que para esquecer-se o poeta entra em completa
melancolia.
Vejamos agora a poesia de Álvares de Azevedo que está marcada de um amor
melancólico e dramático, nele a mulher surge como figura capaz de modificar a vida
do poeta, o qual sem ela, só encontrará paz na morte. Simpson (2007, p. 129).
Perdoa-m e, visão dos m eus am ores
Perdoa-me,visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando!...
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo uma estação d e flores!
De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais,meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores...
Morro,morro por ti! na minha aurora
A dor do coração,a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora...
Sem que última esperança me conforte,
Eu-que outrora vivia!-eu sinto agora
Morte no coração, no s olhos morte!
Álvares de Azevedo, é o maior representante do ¨mal do século¨, no soneto,pálida à
luz, mostra a sua admiração pela beleza feminina, enfatizando as suas fantasias
amorosas, e um amor obsessivo, reverenciado até mesmo enquanto dormia.
Azevedo (1994 p116).
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Soneto
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d´alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no p eito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrei sorrindo!
Na terceira geração a mulher romântica ainda é idealizada, porém deixa de ser vista
como perfeição, aqui se apresenta carnal, desejada e possuída, com sentimentos e
preferências. Podemos constatar essa mudança da mulher na obra do consagrado
poeta Castro Alves, que soube transferir para a lírica amorosa, o gosto pelas
imagens monumentais, tornando assim à sua poesia erótica. Observemos o poema
a seguir: Alves (1997, p. 69 e 70).
Boa Noite
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio
Boa noite,Maria! É tarde... é tarde...
Não m e apertes assim contra teu seio.
Boa noite!...E tu dizes-Boa noite,
Mas não mo digas assim por entre beijos...
M as não mo digas descobrindo o peito,
- Mar de amo r onde vagam meus desejos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Como um negro e sombrio firmamen to,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando
- Boa -noite! – formosa Consuelo!...
25
Esse poema mostra que o lirismo amoroso de Castro Alves é diferente dos seus
companheiros, apresenta um amor mais realista, sensual, não se trata mais de um
amor apenas sonhado, mas vivido, a figura feminina não é apenas uma imagem bela
e distante, é acessível, feita de beleza, carícia e sensualidade.
Assim percebe-se que, apesar dos poetas românticos, idealizarem a mulher de
maneiras diversificadas nas três gerações, há uma analogia entre o sentimento de
amor, a dor, e a decepção amorosa, seja por não ter o amor correspondido, ou por
esse amor estar distante, num sonho inacessível. A imagem subjetiva do amor e da
mulher é um recurso predominante, pois nota-se nas poesias acima citadas a
empolgação pela imaginação e o exagero nas características da mulher, vista quase
sempre, como: bela, virgem, angelical, intocável, perfeita.
Os escritores românticos revelam seus sentimentos, desejos, e a
imensa vontade
de realizar esse amor. Para conquistar um público leitor e atender aos anseios
deste, que busca na leitura das narrativas uma identificação com heróis e heroínas,
representantes
da
vida
cotidiana;
os
rom ânticos
envolviam
seus
heróis
e
principalmente as heroínas, num prestígio de beleza, integridade e de todas as
qualidades possíveis que podem enfeitar o caráter,o corpo e a alma de uma pessoa.
Estes são uns dos motivos marcantes da presença da figura f eminina no romantismo
envolvendo a idealização, o amor platônico, a emoção que predominava sobre a
razão, e fantasia sobre a realidade . Há constante destaque da beleza feminina.
Diante desse contexto vale ressaltar, um importante poeta que pertence à terceira
geração romântica, José de Alencar, que idealizou a mulher através de formas
bastante simbólicas atribuindo -lhe diferentes características tanto para os perfis
femininos nos romances urbanos , que através dos quais deixa claro os costumes da
sociedade carioca da época, quanto para a mulher nos romances indianistas ,esta
que,representa todo um idealismo sentimental e amoroso,revela -se também como
símbolo de nacionalismo. As obras de Alencar tiveram grande repercussão na
literatura e na sociedade carioca da época, além de serem reconhecidas como
referência nacional até hoje . Portanto, é essencial retratarmos o perfil desse
grandioso escritor brasileiro, como veremos no segundo capítulo desse trabalho
monográfico.
26
2 . O Perfil literário de Jo sé de Alencar
Considerado como o patriarca da literatura brasile ira, José Martiniano de Alencar,
nasceu, em Mecejana, Ceará, no dia 01 de Maio de 1829. Filho de ex-padre, o
senhor José Martiniano de Alencar, o qual foi deputado pela província do Ceará , e
de dona Ana Josefina de Alencar. Durante a fase de criança e na adolescência era
conhecido pelo apelido de Cazuza. Formou-se em Direito em 1850, no ano seguinte
começa a advogar na capital do país Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano a lei que
proíbe o tráfico de escravos para o Brasil é assinada por Euzébio de Queiróz e
nessa época o Brasil vivia a prosperidade da cultura cafeeira. Em 1854, Alencar
começa a escrever uma seção diária no Correio Mercantil intitulada. ¨Ao Correr da
Pena ¨,nesta comentava os divers os assuntos da vida do Rio de Janeiro e do país. É
inaugurada a primeira estrada de ferro brasileira e a técnica de mudanças de
modernização da sociedade urbana dá seus primeiros passos.
1
.
Foi também professor, crítico, teatrólogo, romancista, poeta, orador e político. Aos
18 anos escreveu seu primeiro romance, “Os Contrabandistas”, nessa época
surgiram os primeiros sintomas da tuberculose, doença que atormentou a vida do
escritor durante trinta anos. Em 1855, Alencar passa a ser um dos fundadores do
jornal Diário do Rio de Janeiro, do qual se torna editor-chefe. Neste jornal publica os
textos que em breve o tornariam conhecido em todo o país.
A obra “Cinco Minutos”, teve uma grande aceitação por parte dos leitores, logo em
seguida “A Viuvinha” e outras obras que revelam a vida social na corte. Em 1857
publica ¨O Guarani¨, obra-prima histórica e po ética que mo stra o início da
colonização do país. Dessa forma surge uma nova brilhante estrela na literatura
nacional. Nesse mesmo ano escreve u ¨A peça São João¨, e no próximo ano a peça “As asas de um anjo ”, esta foi censurada pela imprensa por ser considerada como
imoral. Em 1859 o escritor inicia a sua carreira política sendo nomeado chefe da
secretaria do ministério da justiça, foi também deputado no Ceará, em 1868 torna-se
ministro
da
justiça
e
depois
candidata -se
a
senador,
mas
devido
a
um
desentendimento com o imperador abandona o ministério. No ano de 1873,quando
foi criado
o Partido Republicano
Paulista ,que
significava os interesses dos
moralistas, Alencar entra em conflito com Joaquim Nabuco, e por causa de sua
1
FARACO ,
Carlos:
José
de
Alencar
HTTP://www.culturabrasil.pro.br/josedealencar.htm. Acesso no dia 18/10/08 .
disponível
em :
27
atitude bastante conservadora o escritor apóia os escravocratas e provoca o
desapontamento de todos aqueles que lutavam em defesa da libertação dos
escravos.
Quando tinha vinte anos apaixona -se por Chiquinha Nogueira da Gama, moça rica,
herdeira de imensa riqueza da época, o amor porém , não foi correspondido , pois a
moça tinha interesse por um rapaz carioca burguês. Decepcionado no amor Alencar
demorou muito a se apaixonar novamente somente aos trinta anos renasce a paixão
calorosa e o amor correspondido por Georgina C ochrane, filha de um rico inglês. O
namoro e matrimônio foram rápidos, casam -se em 20 de junho de 1864. Em 1976,
Alencar já com a sua saúde debilitada vende todos os seus bens e juntamente com
Georgina e os seis filhos viaja para a Europa em busca de tratamento, visita
Inglaterra, França e Portugal. Durou pouco tempo a sua viagem cerca de oito
meses, pois sua saúde se agrava e ele retorna para o Brasil, vindo a falecer no Rio
de Janeiro no dia 12 de dezembro de 1877.
2
Alencar foi um intelectual que se preocupou com nacionalismo , poeta reconhecido
como o maior escritor do romantismo brasileiro. Destaca-se pela capacidade de
expressar o retrato perfeito da cultura brasileira, através de novas tendências da
produção literária, em que busca o surgimento de uma literatura original, expansiva,
de ótima qualidade, além de buscar maneiras de resgatar a personalidade das
personagens, seja herói ou vilão. A ssim os nobres sentimentos são evidenciados
nas suas obras.
O referente poeta foi um excelente modelo de brasilidade , nas suas obras exaltou
as belezas naturais do Brasil, homenageou o índio brasileiro, atribuindo-lhe
qualidades como: coragem honra inteligência, poder de sedução, e idealizando-o
como o símbolo do herói nacional. Ele foi um defensor dos motivos e das temáticas
nacionais, por essa razão deu um forte impulso na formação da lite ratura brasileira,
de acordo com Coutinho, (2001, p. 153).
Defendendo os motivos e temas brasileiros, sobretudo os indígenas,
para a literatura, que deveria ser a expressão da nacionalidade;
reivindicando os direitos de uma linguagem brasileira; colocando a
natureza e a paisagem física e social brasileiras em posição
2
(SILVA,
Edmar,
Bernardo
da.
José
da
Alencar
(2006)
http://www.vidaslusofonas.pt/jose_alencar.htm. Acesso no dia: 08/11/08 p. 01.
).
Disponível
em
28
obrigatória no descritivismo romântico; exigindo o enquadramento
da região e do regionalismo na literatura; apontando a necessidade
de ruptura como os gêneros neoclássicos, em nome de uma
renovação que teve como conseqüência imediata, praticamente, a
criação da ficção brasileira.
Predomina o amor na estética literária de Alencar, é visto como redenção, o bem
vence o mal, a natureza reflete o estado da alma do s personagens e observa -se
que, o próprio autor, sempre está presente nas narrativas e xpondo seus sentimentos
e permitindo maior veracid ade nas suas obras. Enfim, um excelente poeta que
reuniu na sua produção literária um compromisso cívico de revelar a face da nova
nação.
Os romances de Alencar seguem as principais tendências da literatura nacional,
classificando-se em: indianistas, regionalistas, históricos e urbanos. Observemos as
características dessas tendências:
Em relação aos
Romances Indianistas que
são marcados pela idealização do
índio, como também foi registrada na poesia de Gonçalves de Magalhães e
Gonçalves Dias. Alencar destaca o heroísmo e a beleza do índio, reverencia a
natureza exótica brasileira e retrata o homem indígena como símbolo nacional, um
ser que vive em perfeita harmonia com a natureza. Foi através do indianismo que
Alencar buscou revelar o históric o fiel da nossa cultura e o intuito de criar uma língua
brasileira, conforme Coutinho (2001 , p. 174).
Também no concernente à linguagem, o movimento romântico
desempenhou papel revolucionário, no que ressalta, ainda aqui, a
figura de Alencar. Reivindicando os direitos de um dialeto brasileiro
em cuja caracterização antilusitana tinha lugar as peculiaridades da
fala popular brasileira.
As suas principais obras indígenas são distinguidas em três momentos: antes,
durante e depois da colonização. Em “Ubirajara¨, focaliza o índio na fase anterior ao
contato com os colonizadores, ou seja, o índio prevalece no seu modo natural sem a
interferência dos estrangeiros. Já na obra-prima “Iracema”, vemos os primeiros
contatos do branco com os índios nas terras cearenses, cria um mito das origens de
um povo.
29
E em “O Guarani”, mostra o início da colonização e da aculturação dos índios,
porém estes mantêm seus costumes e o caráter in ócuo sem se corromper com as
más influências do invasor.
Os Romances Regionalistas procuram apresentar as características mais típicas das
regiões culturais do país. Portanto, em “O Guaúcho” (1870), desta ca o homem dos
pampas sul rio-grandense, idealizado no personagem Manuel Canho como um
centauro. Na obra “O Sertanejo” (1875), o personagem Arnaldo dá vida a um
sertanejo cearense com seus costumes, suas tradições e, principalmente, com seu
caráter. Nesses romances, Alencar revela o perfil psicológico do s personagens.
Já nos
Romances Históricos as narrativas
tem como base fatos e lendas que
m arcaram a nossa história,e que auxiliaram o autor a descrever o Brasil assim como
desejara,formando assim a verdadeira literatura. O romance “As minas de Prata”
(1862 - 1865), te m como tema a vivência dos bandeirantes desbravando os sertões
brasileiros em busca de tesouros. É considerado o melhor romance histórico.
Em “A Guerra dos Mascates” (1873), o autor tira proveito de um tema histórico:- o
conflito entre Olinda e Recife ocorrido no início do século XVIII para fazer críticas
alusivas à política de D. Pedro II. Personagens imaginários escondem políticos da
época e até o imperador.
No entanto Romances Urbanos retratam os costumes da sociedade carioca da
época, evidenciando o grande luxo da vida burguesa, o autor faz críticas à vida
supérflua e hipócrita, e o valor ao capitalismo que os burgueses mantinham. Há
complicadas histórias de amor e perfis femininos idealizados com mistura de estudo
psicológico. Portanto, de acordo com Bosi (1994 p.139).
O mesmo
floresta é
mancebos
diferencial
operam as
escritor que idealizava heróis míticos no coração da
o que sabe recortar as figuras gentis de donzelas e
nos salões da corte e nos passeios da Tijuca. O
está no grau de complexidade psicológica em que
tendências para a fuga e o narcisismo.
Além das obras menores “Cinco minutos” (1856); “A viuvinha” (1860); “Diva” (1864);
“A pata da gazela” (1870); “Sonho d`ouro” (1872) “Encarnação” (póstuma,1877) –
30
duas merecem destaque ,reconhecidas por alguns críticos como pré -realistas:
“Lucíola” (1862)- que trás como tema a pro stituição definida po r questões familiares
e sociais e “Senhora” (1875) - o tema desse romance é o casamento por
interesse,criticado pelo autor e dividido em quatro partes que fazem parte às etapas
de uma transição comercial: o preço,a quitação,a posse e o resgate. É disputado
com Iracema como o melhor romance de Alencar, que segundo Bosi (1994, p. 129),
“ As duas obras-primas de Alencar, Iracema e Senhora, tão diversas
entre si do ponto de vista ambiental, mas próximas pela consecução
do tom justo e pela economia de meios de que se valeu o
romancista”.
José de Alencar foi um poeta que sempre expressou livremente suas idéias políticas
e literárias, por essa razão, fez muitas críticas e também foi muito criticado. Quando
escrevia no Diário do Rio de Janeiro indiretamente fez duras críticas ao imperador D
Pedro II. Em 1856 com uma série de cartas assinadas com o pseudônimo de Ig
critica a forma artificial com que Gonçalves de Magalhães, no livro ¨A confederação
dos Tamoios , aborda o tema do índio . Essa polêmica estende-se durante quatro
meses no ano de 1856 e teve uma razão importante , pois na ocasião debatiam -se
sobre o que seria o autêntico nacionalismo da literatura brasileira que até aquele
momento sofrera influências da literatura portuguesa.
Alencar já demonstrava interesse de adotar a temática em suas futuras obras,
porque reconhecia a cultura indígena como primordial e somente um grande e sábio
escritor poderia transformar a marca diferencial da real literatura nacional. Com a
peça ¨Verso e Reverso¨,em 1857, o autor estréia como teatrólogo,na qual aborda o
Rio de Janeiro da época retratando a prostituição, a censura corta trechos da peça
deixando Alencar com muita raiva, entretanto, tempos depois o autor através do
romance Lucíola abordaria novamente o tema. Fica claro que Alencar é um escritor
que usufrui da liberdade e do individualismo como primazia para descrever o
passado, revelar o presente, a vida na sociedade da época e as relações humanas
submetidas ao dinheiro, como afirma Bosi (1994, pg. 137.)
Alencar, cioso da própria liberdade, navega feliz nas águas do
remoto e do longínquo. É sempre com menoscabo ou surda irritação
que olha o presente, o progresso, a vida em sociedade; e quando se
31
detém no juízo da civilização, é para deplorar a pouq uidade das
relações cortesãs, sujeitas ao Moloc do dinheiro .
Vale ressaltar a importância das obras de José de Alencar que inspiraram nos
burgueses o prazer pela leitura nacional, mediante a composição do estilo em que
amalgamou a idealização e o sonho, com um realismo delicado, que valorizou a
natureza brasileira, o índio reconhecido como figura oriunda da cultura brasileira e o
que mais importava para o auto r de acordo Bosi (1994 p.137) “cobrir com a sua obra
narrativa passado e presente, cidade e campo, litoral e sertão, e compor uma
espécie de suma romanesca do Brasil.” Percebe-se claramente que Alencar
escreveu sobre o Brasil como um todo alcançando sua particular consciência
literária,foi graças a sua descrição peculiar romântica que este escritor in centivou
outros autores a percorrer caminhos por ele traçados.
É importante mencionar que no estilo literário de Alencar sobressaem -se o poder da
imaginação e a capacidade de criar narrativas bem estruturadas, ele não se
restringiu aos aspectos documentais. Tanto os personagens regionais quanto os
indígenas apresentam -se como heróis puros, autênticos, sensíveis, honrados,
corteses. Percebe-se que Alencar na criação dos seus personagens modificava as
roupagens, as feições e os cenários, porém tinha o mesmo objetivo: alcançar a um
perfil puramente brasileiro. Esse consagrado escritor buscou mostrar não apenas
suas críticas políticas, mas, sobretudo suas intenções de trazer a civilização e a
modernidade para a sociedade independente brasileira .
Com relação à mulher idealizada por Alencar, observamos perfis femininos distintos,
nos
romances
regionais
às
mulheres
são
caracterizadas
como
sedutoras,
demonstram autonomia, dotadas de beleza inigualável, o escritor faz uma análise
psicológica dessas personagens que vivem numa sociedade onde o dinheiro é o
condutor das relações e provoca desequilíbrios que m odificam a vida do s
personagens. A vida social burguesa predominada de costumes, moda, dinheiro,
status social é criticada pelo autor que leva o leitor a refletir no final do enredo.
Alencar, porém
mantêm
seu
sentimentalismo
no
desfecho de
suas prosas
rom ânticas, pois acontece à rendição ao amor ou transforma o caráter do s
personagens, assim percebe-se o alto nível de sensibilidade e o desejo de resgatar
a dignidade das mazelas da sociedade . Como nos mostra Bosi (1994 p. 137).
32
Alencar crê nas “razões do coração” e, se as sombras do seu
moralismo romântico se alongam sobre as mazelas de um mundo
antinatural (o casamento por dinheiro, em Senhora. A sina da
prostituição, em Lucíola), sempre se salva, no foro íntimo, a
dignidade última dos protagonistas, e se redimem as transações vis
repondo de pé heróico e heroína.
Como exemplos dos romances regionais ou citadinos temos, “Diva, A Pata da
Gazela, Lucíola e Senhora”. No livro “Senhora”, o enredo destaca o casamento por
interesse financeiro , onde a heroína Aurélia Camargo, moça pobre que vive com a
mãe viúva num bairro do Rio de Janeiro, apaixona-se por Fernando Seixas, que
também se apaixona por ela, porém ele ambicioso por querer subir na vida de
qualquer jeito acaba trocando Aurélia por Adelaide Amaral, moça rica que oferece
um
suposto
dote.
Aurélia
depois
de
receber
uma
enorme
e
inesperada
herança,sentindo-se humilhada e desprezada pelo ambicioso Fernando,resolve se
vingar e com a ajuda do tio gasta parte de sua herança na compra do apaixonado
Fernando, o qual fica furioso quando descobre toda a armação da vingança,
incluindo
a
privação
de
intimidades,humilhações
da
esposa,sarcasmos
e
hipocrisia.Fernando então luta até conseguir reunir a quantia suficiente para
recuperar a sua liberdade e dignidade, mas por fim ambos arrependem -se e se
entregam ao amor. Observemos trechos da obra: Alencar (1999, p. 142 - 143 ).
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos
noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. (...).
Na sala, cercada de adoradores, no meio das esplêndidas
reverberações de sua beleza, Aurélia bem longe de inebriar-se da
adoração produzida por sua formosura, e do culto que lhe rendiam,
ao contrário parecia unicamente possuída de indignação por essa
turba vil e abjeta... Não era um triunfo que ela julgasse digno de si,a
torpe humilhação dessa gente ante sua riqueza.Era um desafio,que
lançava ao mundo; orgulhosa de esmagá-lo sob a planta,como a um
réptil venenoso.E o mundo é assim feito;que foi o fulgor satânico da
beleza dessa mulher,a sua maior sedução.Na acerba veemência da
alma revolta,pressentiam-se abismos de paixão;e entrevia -se que
procelas de volúpia havia de ter o amor da virgem bacante (...). (
primeira parte cap. 04).
Aqui vemos características que revelam a beleza física de Aurélia e as diversas
faces da personalidade extravagante e inconstante que ela esconde no seu interior e
que se revelam de acordo com as circunstâncias,situações e con forme os seus
caprichos.
33
Em Lucíola, a protagonista Lúcia torna -se a prostituta mais cara e mais disputada do
Rio de Janeiro, entretanto conserva um interior essencialmente puro que será
resgatado pelo amor de Paulo. A narração é feita em primeira pessoa, Paulo
narrador-personagem conta uma história já acontecida e insiste em torná -la
presente, como se tudo estivesse acontecendo no momento da narração. Essa
história mostra o passado da protagonista, Maria da Glória, uma menina de catorze
anos, que viu toda a família cair doente por causa da epidemia da febre amarela de
1850, então para não deixar sua família morrer de fome e de febre, permite ser
possuída por Couto, um vizinho que usufrui dela em troca de dinheiro. Quando o pai
descobre como ocorrera a salvação de sua vida, expulsa a filha de casa,esta é
adotada
por
Jesuína
e
continua
vivendo
por
meio
da
venda
do
próprio
corpo,sustentado de longe a família.Quando morre sua amiga Lúcia,Maria da
Glória,coloca
o
próprio
nome
no
atestado
de
óbito
e
adota
o
nome
da
companheira.Assim é considerada morta pelos pais que a perdoaram, e torna -se a
mais famosa,linda e rica prostituta do Rio de Janeiro.Apaixona-se por Paulo e
abandona a vida que levava,entretanto por causa da mentalidade moralista da
sociedade Lúcia não tem um final feliz ao lado de Paulo,passa a cuidar da irmãzinha
e do próprio filho e ao negar-se a tirar do ventre o bebê morto,Lúcia morre de
complicações no parto. Vejamos trechos da obra: (Alencar: 2005, p. 14). Nota-se
aqui a admiração de Paulo por Lú cia logo no primeiro momento que a viu.
A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras;
descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim, uma linda moça,
que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens
brancas esgarçadas sobre o céu azul e estrelado. Admirei-lhe do
primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema ele gância.
Já nesse outro trecho pode -se perceber o sarcasmo do amigo de Paulo ao falar de
Lúcia, e Paulo depois de saber a verdade sobre a moça sente -me envergonhado
dos comentários de Sá,e incapaz de revelar a impressão de pureza da alma que
teve daquela mulher. ( Alencar: 1997, p.14-15).
Quem é esta senhora? Perguntei a Sá.- A resposta foi o sorriso
inexprimível,mistura de sarcasmo,de bonomia e fatuidade,que
desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo,profano
na difícil ciência das banalidades sociais. – Não é uma senhora,
Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la?...Compreendi e
corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara
34
hipócrita do vício com o modesto recato da inocência... – Que linda
menina! Exclamei para o meu companheiro, que também admirava.
Como deve ser pura a alma que mora naquele rosto mimoso!
Nos romances indianistas vemos a figura feminina destacada como ser sublime
dotada de um sentimentalismo exagerado, submissa, dominada pela emoção,
heroína que põe em risco a própria vida em prol do amor, essa figura feminina é
exaltada na obra Iracema, a qual será tratada no próximo capitulo.
35
3- O Perfil da m ulher na obra Iracem a de José de Alencar: a fig ura da índia .
A obra em destaque Iracema foi escrita em 1865, é um poema e m prosa, narrada
em terceira pessoa onde o narrador é consciente, ou seja, sabe tudo sobre o interior
e o exterior dos personagens. O escritor utilizou -se de uma linguagem descritiva,
com excesso de adjetivos, comparação, buscou igualar as características do s
personagens com os elementos da natureza para elogiar as qualidades físicas dos
heróis, principalmente a protago nista Iracema.
Iracema é um dos mais belos romances da nossa literatura brasileira, nele está
descrita a história da bela índia que pertence a tribo tabajara, que se apaixona pelo
guerreiro branco Martim, obra registrada com forte valor sentimental apresenta-se
num confronto entre o índio e o branco onde padrões culturais são postos à prova e
rompidos. O autor argumentando a colonização do Ceará, e por conseqüência a do
Brasil construiu uma ficção perfeita do processo de colonização do Brasil e de toda a
América pelos invasores portugueses e europeus. O nome Iracema é uma
anagrama da palavra América, e o nome de seu amado Martim refere -se ao deus
greco-romano Marte, o deus da guerra e da destruição.
Alencar através de uma linguagem com ritmo e forte cunho poético,cria um estilo
próprio e valoriza a sublime língua dos primitivos com frases e palavras que mostram
ser naturais na boca dos índios.
O livro publicado no século XVI,em curto tempo, agradou os leitores como também
os críticos literários,destacando o jovem Machado de Assis,que aos 27 anos
escreveu sobre Iracema no Diário do Rio de Janeiro,em 1866: Assis (1959 p. 860 –
861).
Tal é o livro do Sr. José de Alencar, fruto do estudo e da meditação,
escrito com sentimento e consciência... Há de viver este livro, tem
em si as forças que resistem ao tempo,e dão plena confiança do
futuro...Espera -se dele outros poemas em prosa. Poema lhe
chamamos este, sem curar de saber se é antes uma lenda se um
romance: o futuro chamar-lhe-á obra-prima.
36
Vejamos também a opinião de Massaud Moisés sobre a obra no livro de Alencar
(1968, p. 45).
O nervo central do estilo alencarino é constituído por um modo de
ser basicamente poético. Alencar era poeta na essência mesma de
sua visão das coisas. O ¨maravilhoso¨ com que vestia o homem e a
paisagem,o sentimento infan til e mágico com que concebe uma
harmonia de paraíso para o mundo,constituem atributos líricos por
excelência.Q uando dizemos que Ira cema é um verdadeiro poema
em prosa,apenas apontamos a expressão fundamental da
cosmovisão de Alencar: a poesia.
A história se passa no século XVI, nas terras selvagens nordestinas, onde hoje é o
litoral do Ceará. Ali nasceu Iracema, uma jovem índia guerreira da tribo tabajara, que
segundo o autor (Alencar: 2000, p.16). ¨virgem dos lábios de mel, que tinha os
cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de palmeira.¨
Era como Alencar abordava Iracema.
Um dia enquanto repousa na mata e enfeita de plumas e penas as flechas de seu
arco, aparece diante dela, um jovem guerreiro português chamado Martim, que se
perdera dos seus amigos Pitiguaras. Assustada e surpresa pela presença do
estanho, Iracema com uma flechada fere o moço na face. A índia percebendo que
havia ferido um inocente quebra junto com Martim a flecha d a paz, e o leva até a
cabana do pai, o velho pajé Araquém. Este o recebe com cortesia disponibilizando
guerreiros para defendê -lo e mulheres para servi-lo.
A hospedagem de Martim junto aos tabajaras não agrada a todos, principalmente ao
guerreiro chefe Irapuã, apaixonado por Iracema. Martim passa a conviver na tribo,e
a cada dia cresce a sua admiração pela virgem tabajara, porém sente uma imensa
saudade de Portugal e da amada que lá deixou.
Em meio a festas e guerras travadas com outras tribos, a índia e o guerreiro branco
se envolvem amorosamente. O que não seria possível, pois Iracema é a virgem (que
guarda o segredo da jurema e o mistério do sonho), ou seja, fez voto de castidade a
Tupã. Contrariando a crença de sua tribo e por amo r a Ma rtim, Iracema foge da
aldeia antes que Araquém e os outros índios percebam. A fuga acontece ao lado de
Martim e de um guerreiro da tribo pitiguara, chamado Poti,o qual era tratado como
irmão pelo branco português.
37
Ao perceber o acontecido, os tabajaras, comandados por Irapuã, e Caubi irmão de
Iracema, começam a perseguição aos apaixonados, no entanto, encontram a tribo
inimiga pitiguara e assim ocorre uma grande e sangrenta batalha. Iracema ao ver a
fúria com que Irapuã e Caubi atingem Martim, luta como uma cobra cascavel e os
fere gravemente. Por fim a tribo tabajara, percebendo a derrota e a morte de muitos
irmãos selvagens foge. Iracema chorou vendo seus irmãos de raça mortos.
Depois do ocorrido Martim e Iracema vão para as margens do rio, Poti está feliz por
ter retornado à sua taba e por ter salvado seu irmão branco. Irace ma está triste por
ficar hospedada na tribo inimiga de seu povo. Caminham bastante até chegarem
numa praia deserta, onde Martim acha que é o local apropriado para construírem a
sua cabana.
Passado algum tempo Martim sente -se na obrigação de ir guerrear junto ao seu
irmão Poti e a tribo pitiguara, Iracema fica sozinha, na rotina diária colhia frutas,
passeava pelos campos, arrumava a cabana e sempre ansiosa aguardava a volta de
Martim. Grávida, ela esperava a chegada do filho e já não se sentia triste por te r
deixado seus entes queridos e sua nação. Martim demora e Iracema dá a luz ao
filho, a quem o chamou Moacir, o filho da dor, ficando gravemente debilitada pelo
parto. O branco português che ga logo em seguida, e ao ouvir o canto triste da
jandaia, ave que acompanhava Iracema, pressente a tragédia. Chega ainda a tempo
de vê-la morrer nos seus braços. Ela só teve forças para erguer o filho e apresentá lo ao pai, em seguida desfaleceu na rede. Suas últimas palavras foram o pedido ao
marido de que a enterrasse ao pé do coqueiro que ela tanto gostava.Martim sofrera
bastante,principalmente porque seu grande amor pela esposa havia revigorado com
a paternidade.O local onde Iracema se enterrou veio a s e chamar Ceará.O filho de
Iracema e Martim é o primeiro cearense,fruto da relação,muitas vezes,trágica entre o
português e o indígena.
Quatro anos depois, Martim e o filho retornaram para sua terra, ali o branco
implantou a fé cristã. Poti se tornou cristão e continuou sendo o fiel amigo de Martim.
Os dois amigos, juntamente com o comandante Jerônimo de
Albuquerque,
venceram os tupinambás e expulsaram o branco tapuia. Quase sempre Martim ia ver
o local onde fora tão feliz e a saudade lhe doía ao peito. A jandaia mantinha -se
38
cantando no coqueiro, ao pé do qual Iracema fora enterrada, entretanto, a ave não
repetia mais o nome de Iracema. ¨ Tudo passa sobre a terra .¨
Nessa importante e bela obra, Alencar destacou uma idealização de mulher, através
de Iracema. A protagonista é apresentada como símbolo de perfeição, o escritor faz
um elo de ligação entre a terra e a figura feminina atribuindo -lhe qualidades que
retrata a simbologia das maravilhas da natureza cearense e brasileira,como veremos
no trecho a seguir:
A alegria morava em sua alma. A filha dos sertões era feliz como a
andorinha, que abandona o ninho de seus pais e peregrina para
fabricar novo ninho no país onde com eça a estação das flores.
Também Iracema achava ali nas praias do mar um ninho de amor,
nova pátria para seu coração. Como o colibri borboleteando entre as
flores da acácia, ela discorria as amenas campinas. A luz da manhã
já a encontrava suspensa ao ombro do esposo e sorrindo, como a
enrediça entrelaça o tronco robusto e todas as manhãs o coroa de
nova grinalda. ( Alencar: 2000, p.88)
Esse trecho mostra que o narrador está se referindo a alegria de Iracema,
comparando-a com a andorinha, ave que demonstra alegria, felicidade, tem po de
bonança, e em comparação com o colibri, dá idéia de liberdade quando a índia
chega nas terras pitiguaras.
O referente autor mediante a descrição e a imaginação aguçada considera Iracema
mais do que uma mulher, pois ela não anda, flutua e toda a natu reza rende-lhe
homenagem. Alencar (2000, p. 16) “ mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem
corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação
tabajara. O pé grácil e nu,mal roçando,alisava apenas a verde pelúcia qu e vestia a terra com
as primeiras águas”.
Percebe-se também que a índia, é uma personagem estereotipada, ou seja, durante
todo o enredo mantém o seu caráter, simboliza o bem, a beleza e a fidelidade, e por
causa do seu amor por Martim permanece fiel, mesm o quebrando os valores e as
tradições de sua tribo: (Alencar: 2000, p. 77).¨- Iracema tudo sofre por seu guerreiro e
senhor.A ata é doce e saborosa;mas quando a machucam, azeda.Tua esposa quer que seu
amor encha teu coração das do çuras do mel.
39
Martim muitas vezes, mostra-se indeciso, revelando dúvidas nos seus sentimentos,
quando se recorda das terras portuguesas e de uma namorada européia que l á
deixou, Iracema ao contrário, sabe o que quer e luta pelo que quer, por amor ao
guerreiro branco não teme um in stante em abandonar a posição privilegiada que
ocupa na tribo. Todas as suas ações revelam sua coragem em proteger o amado da
fúria do selvagem Irapuã, como veremos numa parte do capítulo XVIII:
O grande chefe pitiguara levou além o formidável tacape. Renhiu-se
o combate entre Irapuã e Martim. A espada do Cristão, batendo na
clava do selvagem, fez-se em pedaços. O chefe tabajara avançou
contra o peito inerte do adversário. Iracema silvou como a
boicininga; e arrojou-se contra a fúria do guerreiro tabajara . A arma
rígida tremeu na destra possante do chefe e o braço caiu-lhe
desfalecido.( Alencar: 2000, p. 73).
O autor de Iracema, atribuiu a figura feminina responsabilidade de promover êxtases
de prazer aos indígenas, ou seja, Iracema é a única virgem que guarda o segredo da
jurema,um
licor que
traz
sonhos
alucinados
e
prazerosos
para
os
índios
tabajaras.Diante disso,fica claro que a índia vivia numa soc iedade em que a mulher
era submissa aos costumes e tradições indígenas, além de ter que manter o voto de
castidade a Tupã,e caso traísse as suas importantes funções receberia o castigo
dos deuses segundo o pajé tabajara:-¨ Teu deus falou pela boca do pajé: Se a virgem de
Tupã abandonar ao estrangeiro a flor de seu corpo ela morrerá.¨ (Alencar: 2000, p. 50).
Apesar de ser uma índia guerreira, Iracema revela submissão na convivência com
os indígenas, pois suas tarefas diárias se restringem aos afazeres domés ticos e a
servir aos homens, quando Martim chega à sua cabana é Iracema qu em vai buscar
água para lavar seus pés e servir a refeição. Da mesma forma as mulheres de sua
tribo desempenham tais funções como está claro na fala do pajé Araquém: “- Bem vindo sejas. O estrangeiro é senhor na cabana de Araquém. O s tabajaras têm mil guerreiros
para defendê-lo e mulheres sem conta para servi-lo.Dize e todos te obedecerão. (Alencar:
2000, p. 21).
Em virtude disso, percebe-se que o enredo escrito no século XIX, época em que a
mulher não era reconhecida na sociedade, nem tinha seu espaço social valorizado,
apenas tinha uma vida centralizada nas tarefas diárias e conservação do lar. Diante
desse pressuposto, percebemos que o escritor é fruto de seu tempo, pois este,
40
baseado nessa ideologia tinha como influência o Iluminismo e as idéias positivistas,
assim de acordo com Tâmara, (2007, p. 01):
A ideologia dominante do século XIX traz como base, formas
bastante preconceituosas com relação à presença de diversas
etnias e também sobre a condição de submissão da mulher e da
consideração desta como instru mento de prazer.
Entretanto é necessário esclarecer que a mulher desde o tempo colonial foi retratada
diante de submissão ao homem, e o seu papel social não foi reconhecido, nem
valorizado na formação da nação brasileira. Conforme Amado (1998 , p. 51).
A mulher da fase colonial, tanto a brasileira quanto à européia,
evidentemente, foi submetida do poder androcêntrico. Ambas
sofreram exclusões semelhantes, mesmo em contexto históricosculturais dissociados. A sociedade sempre foi estruturada a partir da
ótica masculina. O homem posicionou -se, sempre ao longo da
história, como agente construtor e o papel de figurante, nesse
processo, era dimensionado à mulher. Calada e submissa,
trabalhadeira e asseada.
Assim fica claro que a mulher desde o tempo da formação da sociedade brasileira,
permaneceu ao lado do homem vivendo diante de uma constante submissão,o seu
papel social era reconhecido somente para a procriação,ou seja,a mulher foi sempre
vista como a procriadora,a que dá vida e continuidade à família ,a rainha do lar.
Porém, no fim do século XIX, com as grandes mudanças políticas e sociais do país,
é que a mulher, através de lutas e depois de muitos protestos, conseguiu a sua
participação no mercado de trabalho, publicação em jornais, revistas, teve direito ao
voto, participação na imprensa,na literatura e no teatro .
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CONSIDERA ÇÕES FINA IS
A investigação realizada deste trabalho consiste em relatar o contexto histórico do
Rom antismo, em que participou José de Alencar e outros poetas românticos, como
Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo e Castro Alves. Estes
mediante a perspectiva
romântica destacavam a mulher sob uma perfeita
idealização.
A obra Iracema, con stituída com forte cunho poético, e escrita c om uma linguagem
bastante rebuscada, nela o intuito do autor foi de colocar de forma verossímil, a
linguagem do indígena com traços específicos e oriundos do português.
Diante de tantas pesquisas realizadas, me diante varios autores, conclui-se que a
idealização da mulher, na figura da índia, destaca aspectos, beleza e sentimentos,
referentes ao estilo romântico , entretanto, mesmo sendo idealizada, a mulher
representada na figura da índia surgiu mediante um proje to de Nacionalismo, ou
seja, destaca a relação, muitas vezes trágica, do índio com o branco, e o surgimento
de um outro tipo de raça.Também mostra o extermínio do povo indígena pela
invasão portuguesa e a grande influência da cultura branca sobre a cultura indígena.
Constatamos também que esta obra é fruto das influências do Iluminismo e das
idéias positivas do século XIX, as quais influenciaram o autor José de Alencar e
tinham como base formas bastantes preconceituosas nas relações das diversas
etnias, onde a condição da mulher era de submissão, não tendo representatividade
social, a vida era restrita apenas ao lar sem maiores pretensões.
Em virtude desses acontecimentos históricos, culturais e sociais, fica claro que
somente no fim do século XIX, com as grandes mudanças políticas e sociais do
país, a
mulher através
de
lutas
e
protestos
conseguiu
o
seu
espaço
e
reconhecimento dentro da sociedade, como participação no mercado de trabalho,
direito de voto, participaçã o na imprensa e nos teatros, passando de objeto de
representação para sujeito nas várias enunciações.
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45
ANEXOS
46
JOSÉ DE ALENCAR
IRACEMA - A ÍND IA DOS LÁBIOS DE MEL
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