24º Congresso Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore Rio de Janeiro, 15 a 19 de Outubro de 2012 Um estudo numérico do escoamento ao redor de um cilindro circular próximo a uma parede plana Mário Caruso Neto, PENO/COPPE/UFRJ, Brasil Juan B. V. Wanderley, PENO/COPPE/UFRJ, Brasil Resumo: O escoamento ao redor de um duto próximo do leito marinho permanece relativamente desconhecido, apesar dos esforços de muitos pesquisadores para entender o complicado escoamento ao redor de corpos rombudos. O presente estudo contribui para esta discussão investigando numericamente, em duas dimensões, um escoamento ao redor de um cilindro circular próximo a uma placa plana. A investigação contempla números de Reynolds de 100, 180 e 7000 e razões de afastamento (G/D) de 3, 0,6, 0,3 e 0,125. O escoamento é simulado considerando um esquema conservativo de diferenças finitas e diminuição da variação total (TVD) e com o método de divisão de domínio Chimera para resolver as equações RANS. O modelo de turbulência k-ε é utilizado para simular o escoamento turbulento nos casos de alto número de Reynolds. São obtidos resultados dos coeficientes de força e visualização do escoamento. Os resultados mostram uma variação significativa das características do escoamento com uma variação da razão de afastamento ou do número de Reynolds. para afastamentos menores. Buresti e Lanciotti (1992) investigaram um caso similar e 1 – Introdução encontraram que a razão de afastamento crítica era indiferente com a espessura da Escoamento ao redor de um cilindro camada limite. circular é um problema complexo, o qual tem atraído atenção da academia por mais de Lei et al (1999) afirmaram que o sessenta anos. Este caso é um passo no escoamento cisalhante, devido à camada entendimento de muitos fenômenos de limite sobre a placa plana, e a presença da importância prática, como vibração induzida placa plana deslocam o ponto de estagnação por vórtices (VIV) em dutos. Apesar do frontal em direções opostas. Dependendo da escoamento ao redor de cilindros circulares camada limite e da razão de afastamento isolados ser bem entendido, com muitos consideradas, o coeficiente de sustentação trabalhos disponíveis (por exemplo, os médio poderia ser positivo ou negativo, trabalhos de revisão de Williamson (1997) e entretanto esta quantidade tende a zero com o Norberg (2003)), o mesmo não é verdade aumento da razão de afastamento. A média do para cilindros próximos a uma placa plana, coeficiente de arrasto e a amplitude do como uma aproximação de um duto próximo coeficiente de sustentação decrescem com o do leito marinho. decréscimo da razão de aspecto. Lei et al também relata que a razão de afastamento Em um trabalho anterior Bearman e crítica diminui com a diminuição da espessura Zdravkovich (1978) realizaram uma da camada limite sobre a placa plana. investigação experimental do escoamento ao redor de um cilindro circular próximo a uma Price et al (2001) definiram quatro placa plana no regime subcrítico e escoamentos característicos relacionados com identificaram uma razão de afastamento a razão de afastamento para o regime crítica da ordem de G/D = 0,3, onde o subcrítico. No caso de afastamento muito desprendimento de vórtices era suprimido 1 pequeno, G/D< 0,25, praticamente não há escoamento entre o cilindro e a placa plana. A camada cisalhante originada na parte superior do cilindro não se enrola atrás deste e uma grande bolha de separação é formada atrás do cilindro. Neste caso, o cilindro é similar a um obstáculo posicionado sobre a placa plana. No caso de pequenos afastamentos, 0,25< G/D < 0,5, a camada cisalhante no cilindro próximo a placa plana e a camada limite sobre esta possuem uma correlação forte. Isto leva a bolhas de separação sobre a placa, apesar da camada limite não se enrolar formando um vórtice. A camada cisalhante mais afastada da placa plana se enrola e uma emissão periódica de vórtices é notada. No caso de afastamentos intermediários, 0,5 < G/D < 1,0, ambas as camadas cisalhantes se enrolam em vórtices, que são emitidos de uma maneira periódica. O vórtice emitido próximo à placa plana interage com a camada limite sobre esta. No caso de razão de afastamento grande, G/D > 1,0, o escoamento é similar ao observado para cilindro isolado. Zovatto e Pedrizzetti (2001) simularam o escoamento ao redor de um cilindro circular entre duas placas planas em baixos números de Reynolds, onde o cilindro foi deslocado para uma posição próxima a uma das placas. Eles observaram que a proximidade com a placa estabiliza a esteira formada atrás do cilindro, atrasando a emissão de vórtices. Numa razão de afastamento intermediária, eles reportaram a emissão de apenas uma fileira vórtices. O presente trabalho é um passo no entendimento do escoamento ao redor de cilindro circular próximo a uma placa plana. No presente trabalho, as equações RANS na formulação levemente compressiva, Wanderley e Levi (2005), são resolvidas numericamente em duas dimensões para o escoamento ao redor de um cilindro. O esquema upwind TVD de Roe (1984) e Sweby (1984) é usado para resolver as equações governantes escritas em coordenadas generalizadas. Um esquema Chimera de divisão de domínio é aplicado para permitir a fácil obtenção de malhas ajustadas ao cilindro e a placa plana. Os termos de tensões de Reynolds nas equações RANS são obtidos a partir da hipótese de Boussinesq (1877) e do modelo de turbulência k-ε de Chien (1982). números de Reynolds de 40, 100 e 200, e para escoamentos turbulentos de número de Reynolds de 1000. Para os escoamentos laminares, o modelo de turbulência k-e é desligado. Fara número de Reynolds de 1000, a camada limite sobre a superfície do corpo é laminar, mas a esteira é turbulenta e requer o uso do modelo de turbulência. A comparação entre os resultados numéricos obtidos no presente trabalho e resultados experimentais, da literatura, mostraram que o código numérico foi capaz de reproduzir corretamente não só importantes características do escoamento, mas também capaz de identificar a transição do regime de escoamento com o número de Reynolds .2 – NOMENCLATURA D Diâmetro do Cilindro I Intensidade de Turbulência M Número de Mach Re Número de Reynolds St Número de Strouhal k Energia Cinética Turbulenta l Escala de Comprimento de Turbulência p Pressão t Tempo u Componente de velocidade em x v Componente de velocidade em y w Componente de velocidade em z y Deslocamento do Cilindro Velocidade vertical do cilindro O código foi testado inicialmente para um cilindro isolado e escoamentos laminares com 2 ε Taxa de dissipação da Energia Cinética Turbulenta. η Distancia de um ponto no campo de escoamento à superfície do corpo μ Viscosidade dinâmica ρ Massa específica τ Compressibilidade Isotérmica τw Tensão cisalhante na parede ν Viscosidade cinemática h Condições de Escoamento Livre Dn Nó doados n R Nó Receptor Cd Coeficiente de arrasto médio Clm Coeficiente de sustentação médio Cl’ Amplitude sustentação do coeficiente limitação. Qt + (Ee − Ev )ξ + (Fe − Fv )η = H Sendo: ⎧ 0 ⎫ ⎧ p⎫ ⎪ 0 ⎪ ⎪u ⎪ 1⎪ ⎪ 1⎪ 0 ⎪ Q = ⎨ v ⎬, H = ⎨ ⎬ J H J ⎪ ⎪ ⎪ k⎪ k ⎪ε ⎪ ⎪H ⎪ ⎩ ⎭ ⎩ ε⎭ pU ⎫ ⎧ ⎪uU + ( p + 2 / 3k )ξ ⎪ x⎪ 1⎪ E e = ⎨vU + ( p + 2 / 3k )ξ ⎬ y J⎪ ⎪ kU ⎪ ⎪ εU ⎭ ⎩ pV ⎧ ⎫ ⎪uV + ( p + 2 / 3k )η ⎪ x⎪ 1⎪ Fe = ⎨vV + ( p + 2 / 3k )η ⎬ y J ⎪ ⎪ kV ⎪ ⎪ εV ⎩ ⎭ de 3 – FORMULAÇÃO MATEMÁTICA As equações de RANS são obtidas pela média temporal das equações de NavierStokes (continuidade e momentum). A descrição completa dessas equações é mostrada em Wanderley e Levi (2005). Abaixo são é mostrada a versão final das equações de RANS, após a aplicação do modelo de turbulência k - e, em coordenadas gerais 2-D na forma conservativa. Detalhes sobre o modelo de turbulência k-e podem ser obtidos em Chien (1982). Apesar de alguns casos com turbulência serem analisados, análises 2-D foram feitas por serem menos custosas computacionalmente e não desqualificar qualitativamente as soluções obtidas. Todos os coeficientes de forças avaliados para esses casos consideram esta (1) 0 ⎧ ⎫ ⎪⎛ 1 ⎪ ⎞ ⎪⎜ +ν t ⎟⎛⎜ A1uξ + A2 uη ⎞⎟ ⎪ ⎟⎝ ⎠ ⎪ ⎪ ⎜⎝ Re ⎠ ⎪ ⎪ ⎞ ⎪ ⎛⎜ 1 ⎪ ⎛ ⎞ ⎟ +ν t ⎜ A1vξ + A2 vη ⎟ ⎪ ⎪ 1⎪ ⎜ ⎟⎝ ⎠ ⎪ E v = ⎨ ⎝ Re ⎠ ⎬ J ⎪⎛ ⎪ νt ⎞ 1 ⎟⎛⎜ A k + A k ⎞⎟ ⎪ ⎪⎜ + 2 η ⎠⎪ ⎪⎜⎝ Re Prk ⎟⎠⎝ 1 ξ ⎪ ⎪ νt ⎞ ⎪⎛⎜ 1 ⎪ ⎛ ⎞ ⎟ + ⎜ A1ε ξ + A2εη ⎟⎪ ⎪⎜ ⎟ ⎠⎪ R Prε ⎝ ⎠ ⎩⎪⎝ e ⎭ 0 ⎧ ⎫ ⎪ ⎛ 1 ⎪ ⎞ ⎪ ⎜ + ν t ⎟⎛⎜ A2 uξ + A3 uη ⎞⎟ ⎪ ⎟⎝ ⎠ ⎪ ⎪ ⎜⎝ R e ⎠ ⎪ ⎪ ⎞ ⎪ ⎛⎜ 1 ⎪ + ν t ⎟⎛⎜ A2 vξ + A3 vη ⎞⎟ ⎪ 1 ⎪⎪ ⎜ R ⎟⎝ ⎠ ⎪ Fv = ⎨ ⎝ e ⎠ ⎬ J ⎪⎛ ⎪ ⎞ ν 1 ⎪⎜ + t ⎟⎛⎜ A2 k ξ + A3 kη ⎞⎟ ⎪ ⎠⎪ ⎪⎜⎝ Re Prk ⎟⎠⎝ ⎪ ⎪ νt ⎞ ⎪⎛⎜ 1 ⎪ ⎞ ⎛ ⎟ + ⎜ A2 ε ξ + A3ε η ⎟ ⎪ ⎪⎜ ⎠⎪ ⎪⎩⎝ R e Prε ⎟⎠⎝ ⎭ (2) (3a) (3b) (4a) (4b) 3 Sendo: 4 – FORMULAÇÃO NUMÉRICA U = ξ t + u ξ x + vξ y V = η t + u η x + vη y (5) A Equação (11) mostra a equação governante aproximada por diferenças finitas. O método explícito de Euler é usado na integração temporal e as derivadas espaciais são aproximadas por diferenças finitas de segunda ordem. As derivadas dos vetores de fluxo invíscito são aproximadas por diferenças finitas centradas de segunda ordem. As derivadas de fluxo viscoso são aproximadas por diferenças finitas backwards de primeira ordem. J = ξ xη y − η x ξ y 2 2 A1 = ξ x + ξ y A = η xξ x + η yξ y 2 2 2 A3 = η x + η y k2 ν t = Cμ fμ ε (6) [ Sendo ξx, ξy, ηx e ηy as métricas de transformação. A equação (1) é resolvida numericamente junto com as condições iniciais (8), condições de contorno sobre a superfície do corpo (9) e condições de contorno de escoamento não perturbado (10), onde I é a intensidade de turbulência, y é a velocidade do cilindro na direção y, considerada zero em todos os casos, e M∞=0.2 considerado para escoamento incompressível. & Condições iniciais: ⎧ u =1 ⎪ v=0 ⎪⎪ 2 ⎨ p = 1/ M∞ ⎪ k = 1.5 I 2 ⎪ 3 ⎪⎩ε = 0.3I / l ⎧u=0 Condições de Contorno ⎪ & ⎪v= y ⎪ ∂p na superfície do corpo ⎨ = 0 ⎪ ∂n ⎪ k =0 ⎪ e na placa plana: ⎩ε =0 ] n Qin,+j1 =Qin, j −Δt δξ Ee +δηFe −∇ξ Ev −∇ηFv −∇ξ ERS −∇ηFRS −H (11) (7) (8) As derivadas dentro do vetor de fluxo viscoso são aproximadas por diferenças finitas forward de primeira ordem. A combinação de diferenças finitas de primeira ordem forward e backward resulta numa aproximação centrada de segunda ordem em diferenças finitas dos termos difusivos da equação governante. Fluxos de Roe-Sweby são responsáveis pelo TVD e upwinding do esquema, Eq. (12). ( 1 ~ n RS n E i +1/ 2, j = A Qi +1, j − Qi , j 2 ~ ~ A = Ta Λ aTa−1 (13) ~ Λ Na Eq. (14), a matiz a é diagonal, cujos termos são mostrados na Eq. (14) e a matriz Ta é definida na Eq. (15). [ ~ [ 2 r r r r Ta = x1a , x2a , x3a , K , xna ⎧ u =1 ⎪ v=0 Condição de escoamento⎪ ⎪ p = 1/ M 2 ∞ ⎨ ⎪ k = 1.5 I 2 não perturbado: (10) ⎪ 3 ⎪⎩ε = 0.3I / l . (12) Sendo: λ ka = λak + ψ ka Δt (λak ) − λak (9) ) ] ] (14) (15) ra a x λ Sendo ( k , k ) os auto-vetores e os autovalores da matriz jacobiana A, definida na Eq. (16). A= ∂E e ∂Q (16) 4 O limitador de fluxo de van Leer (1979), definido na Eq. (17), é função do coeficiente r definido na Eq. (18). ⎧ 0 ⎪ a ψ k = ⎨ 2rka ⎪1 + r a k ⎩ rka ≤ 0 (17) r >0 a k ⎧ wik+ 2, j − wik+1, j ⎪ k k ⎪ w −w a rk = ⎨ ik+1, j k i , j ⎪ wi , j − wi −1, j ⎪ wik+1, j − wik, j ⎩ λak ≤ 0 axR + by R + c = qR (18) λak > 0 Sendo: r r w = T −1Q informação entre as malhas é feita com um esquema de interpolação linear, Eq. (20). A Figura 2 mostra o estêncil de interpolação considerado. Os nós doadores são usados para obter as constantes de interpolação, Eq. (21). Apesar de este ser um esquema não conservativo, os resultados são considerados razoáveis com um controle da malha na fronteira de interpolação. ⎧axD1 + by D1 + c = qD1 ⎪ ⎨axD 2 + by D 2 + c = qD 2 ⎪ax + by + c = q D3 D3 ⎩ D3 (20) (21) (19) O domínio numérico foi dividido em duas regiões, um domínio circular próximo ao cilindro e um domínio cartesiano englobando a placa plana. Ambos os domínios são resolvidos simultaneamente com um código mestre-escravo baseado em Houzeaux e Codina (2003). O código escravo calcula a solução no novo espaço de tempo, resolvendo a Eq. (11) na malha determinada pelo código mestre. O código mestre é responsável pelo gerenciamento da solução. O código mestre realiza as seguintes tarefas: • Identifica os nós interiores e os remove da solução (operação de hole cutting), • Identifica os nós de fronteira como as fronteiras virtuais na malha de fundo, • Realiza a transferência de informação entre as malhas • Chama o código escravo para atualizar a solução. A terminologia do hole cutting é apresentada na Figura 1. Uma fronteira de interpolação dupla entre os domínios é estabelecida. Isto significa que os nós de fronteira compreendem pelo menos dois nós afastando-se do cilindro. A fronteira de interpolação das duas malhas não se sobrepõe, de modo a evitar um possível “congelamento” da solução. A troca de Figura 1. Terminologia hole cutting do método Chimera. Figura 2. Estêncil de interpolação. 5 5 – GERAÇÃO DA MALHA Um gerador algébrico de malha, usando método multi-superfícies, é usado para gerar 212x60 (com limite exterior de 1D no raio) e 212 x40 (com limite exterior de 0.6 D no raio) pontos de malha ao redor de um cilindro circular. A malha é construída de maneira que o corpo é parte da palha (malha ajustada ao corpo). Adicionalmente, a malha gerada é ortogonal à superfície do corpo para facilitar a implementação da condição de contorno no corpo. Uma concentração exponencial de nós próximo ao corpo é usada na direção transversal (η). Uma malha cartesiana com concentração de nós na esteira do cilindro é adotada como malha de fundo. A Figura 3 mostra as malhas adotadas para o cilindro isolado e a Figura 4 mostra uma malha de fundo com malha concentrada sobre a placa plana. (a) (b) Figura 3. Malhas Chimera com sobreposição, toda a malha (a) e detalhe da malha próximo ao cilindro (b). Figura 4. Malha de fundo para placa plana na fronteira. 5 – CILINDRO ISOLADO Resultados foram obtidos para um cilindro circular fixo e isolado para quatro diferentes números de Reynolds para verificar a correta implementação do código numérico. Três escoamentos laminares foram simulados com números de Reynolds iguais a 40, 100 e 200. Nesses três casos, as equações de transporte do modelo de turbulência k-ε foram desligadas e somente as equações de continuidade e momentum foram resolvidas. Um escoamento turbulento par número de Reynolds de 1000 foi simulado. Neste caso as equações de transporte do modelo de turbulência também foram resolvidas. A Tabela 1 apresenta comparações do coeficiente de arrasto e algumas dimensões características do par de vórtices que se forma no bordo de fuga do cilindro para número de Reynolds igual a 40. A Figura 5 apresenta a definição dessas dimensões características. A concordância entre o coeficiente de arrasto obtido no presente trabalho e o obtido experimentalmente por Tritton (1959) é muito boa. As dimensões características obtidas para o par de vórtices obtidos no presente trabalho também concordam bem com os resultados experimentais de Constanceau e Bouard (1977) e com os obtidos numericamente por Rengel e Sphaier (1999) e Wanderley et al (2008). Figure 5. Dimensões características dos vórtices atrás de um cilindro circular para Re=40 6 Tabela 1. Resultados obtidos para Re=40 Referência Tritton (1959) Constanceau e Bouard (1977) Rengel e Sphaier (1999) Wanderley et al (2008) Presente trabalho Cd 1,57 - L/D 2,13 a/D 0,76 b/D 0,59 θs 53,5 Coment. Exp Exp 1,61 2,23 0,72 0,58 54,06 1,56 2,29 0,73 0,60 53,8 1,50 2,54 0,75 0,64 53,0 MVF 180x160 MDF 200x200 MDF Quimera A Tabela 2 apresenta comparação entre os resultados obtidos no presente trabalho, para números de Reynolds iguais a 100, 200 e 1000, e outros dados experimentais e numéricos da literatura para coeficientes de arrasto e sustentação e número de Strouhal. A Tabela 2 inclui resultados experimentais obtidos por Norberg (2003), para coeficiente de sustentação e número de Strouhal, resultados experimentais obtidos por Weiselsberger (1921), para coeficiente de arrasto, e resultados numéricos obtidos por Herfjord (1995) e Rengel e Sphaier (1999). Existe uma boa concordância com os resultados da literatura. Apesar de haver uma previsão para mais na força de sustentação no caso turbulento, isto está de acordo com as limitações da solução bidimensional apresentada por Mittal e Balachandar (1995a). Os resultados obtidos indicam que o código é adequado para a investigação do caso de cilindro próximo a uma placa plana. Tabela 2. Comparação de resultados obtidos neste trabalho com os encontrados na literatura Referência Herfjord (1995) Rengel e Sphaier (1999) Norberg (2003) Weiselsberger (1921) Wanderley et al (2008) Presente trabalho Re 100 200 1000 100 200 1000 100 200 1000 100 200 1000 100 200 1000 100 200 1000 Cdm 1,36 1,35 1,47 1,36 1,35 1,60 1,41 1,29 0,99 1,30 1,27 0,96 1,29 1,26 1,08 Cl’ 0,34 0,70 1,45 0,32 0,67 1,70 0,32 0,53 0,08 0,25 0,51 0,22 0,36 0,70 0,57 St 0,168 0,196 0,234 0,173 0,203 0,225 0,164 0,182 0,210 0,158 0,187 0,193 0,149 0,178 0,190 Comentários MEF, 10080 nós, dt=0,002. MVF, (180x160) nós Experimental Experimental MDF, (200x100) nós MDF Quimera 6 – CILINDRO PRÓXIMO A UMA PLCA PLANA O código numérico foi, então, empregado para avaliar o escoamento ao redor de um cilindro circular próximo a uma placa plana finita. O cilindro é colocado no centro de uma placa plana de 20D de comprimento com afastamento, G, variável e um escoamento uniforme incide sobre a montagem para desenvolver uma camada limite natural sobre a placa plana. A Figura 6 apresenta um esquema desta montagem, a qual é similar à adotada por Price et al (2001). Figura 6. Esquema da montagem cilindro/placa plana adotada na investigação numérica. Quatro razões de afastamento diferentes foram analisadas, cada uma representante de um dos quatro diferentes regimes de escoamento identificados por Price et al (2001), G/D = 3,0, 0,6, 0,3 e 0,125. Dois casos laminares, Re = 100 e 180, e um caso turbulento, Re = 7000, foram investigados. A Figura 7 apresenta o escoamento ao redor do cilindro para G/D = 3,0. A esteira de vórtices de von Kármán tradicional é observada. É também notado que a camada limite na fronteira plana atrás do cilindro é modificada pela esteira. A Tabela 3 apresenta comparação entre os coeficientes de sustentação e arrasto e número de Strouhal obtidos no presente trabalho com e sem a placa plana. Pode-se observar que os resultados obtidos concordam com escoamentos de grande afastamento descritos por Price et al (2001), uma vez que nenhum desvio significativo é observado. A Figura 8 apresenta o escoamento ao redor do cilindro para G/D = 0,125 e a Figura 9 para G/D = 0,3. Pode-se observar que a camada cisalhante não se enrola atrás do cilindro para G/D = 0,125. Uma grande bolha de separação é formada atrás do cilindro. Estas características estão de acordo para escoamentos de razão de afastamento muito 7 pequena descrita por Price et al. O caso de G/D = 0,3 é bastante similar, entretanto o escoamento entre o cilindro e a placa plana é muito maior e é acelerado devido à contração na passagem. Por causa disto, a grande bolha de separação é deslocada a jusante do cilindro. Conforme o escoamento entre o cilindro e a placa aumenta, a camada cisalhante atrás do cilindro começa a se enrolar, Figura 9 (b), entretanto o efeito de estabilização da parede previne a emissão de vórtices. (a) (b) (c) Figura 7. Campo de Vorticidade para o caso de G/D = 3,0, para (a) Re = 100, (b) Re = 180 e (c) Re = 7000. (a) (b) Figure 8. Campo de velocidades horizontais e linhas de correntes para o caso de G/D = 0,125, para (a) Re = 100 e (b) Re = 180. A Tabela 3 apresenta a comparação entre os resultados obtidos no presente trabalho para os coeficientes de sustentação e arrasto e o número de Strouhal. (a) (b) Figure 9. Campo de velocidades horizontais e linhas de correntes para o caso de G/D = 0,3, para (a) Re = 100 e (b) Re = 180. As Figuras 10 e 11 apresentam o escoamento ao redor do cilindro para G/D = 0,6. Neste caso, é observada uma grande dependência do número de Reynolds. Fig. 10 (a), Re=100, apresenta um escoamento similar ao observado para G/D = 0,3, entretanto com ainda mais intensidade no escoamento entre o cilindro e a placa plana. Por causa disto, a bolha de recirculação é deslocada para depois do bordo de fuga da placa finita. O escoamento é similar ao visto para razão de afastamento muito pequena. Aumentando o número de Reynolds, Fig. 10 (b), Re=180, o efeito da parede não é mais suficiente para estabilizar a esteira e desprendimento de vórtices é observado. Existe uma forte interação entre a camada cisalhante inferior e a camada limite sobre a placa. A camada cisalhante induz a formação de um vórtice de sinal oposto na placa plana. Este vórtice secundário também é convectado a jusante. Entretanto, neste processo, o vórtice inferior é deformado campo induzido entre o vórtice superior e o vórtice secundário. É proposto que isto leva a dissipação do vórtice inferior, num mecanismo similar ao descrito por Mittal e Balachandar (1995b). Isto leva a esteira de uma única fileira de vórtices, como observada na Figure 11 (a). Este regime de escoamento é relacionado a pequenas razões de afastamento. 8 Novamente aumentando o número de Reynolds, Fig. 10 (c), Re=7000, a camada limite sobre a placa plana é menor e a interação entre esta e a camada cisalhante inferior é mais fraca. Portanto, o campo de deformação não é suficiente para dissipar o vórtice inferior, apenas enfraquecê-lo, como observado na Fig. 11 (b). Este regime de escoamento se assemelha ao visto para razões de afastamento intermediárias. A Tabela 3 apresenta comparação entre os resultados obtidos no presente trabalho para coeficientes de arrasto e sustentação e número de Strouhal. (a) (b) Figura 11. Campo de vorticidade para o caso de G/D = 0,6, para (a) Re = 180 e (b) Re = 7000. 7 – CONCLUSÃO O escoamento ao redor de um cilindro circular próximo a uma placa plana foi investigado pela solução numérica das equações RANS utilizando a hipótese de Boussinesq (1877), o modelo de turbulência kε de Chien (1982) e o método Chimera de decomposição de domínio. Resultados numéricos para o caso de um cilindro isolado, sem a placa plana, foram obtidos e comparados com resultados numéricos e experimentais da literatura, mostrando bons resultados. A comparação dos coeficientes de força e número de Strouhal validaram a implementação do código para a investigação subsequente. Então, resultados para o cilindro próximo a placa plana foram obtidos. (a) (b) (c) Figura 10. Campo de velocidades horizontais e linhas de correntes para o caso de G/D = 0,6, para (a) Re = 100, (b) Re = 180 e Re=7000. Tabela 3. Resultados obtidos para cilindro circular próximo a uma placa plana Número de Reynolds 100 180 7000 G/D Cd Cl’ Clm St ∞ 3 0,6 0,3 0,125 3 0,6 1,29 1,32 0,84 0,74 0,63 1,32 0,88 0,36 0,34 0,67 0,14 0,15 0,17 0,19 0,16 0,3 0,125 3 0,6 0,70 0,61 0,94 1,07 0,60 0,64 0,00 0,06 0,03 0,30 0,41 0,04 0,01 0,11 0,36 0,02 0,12 0,21 0,22 Os resultados numéricos confirmaram os quatro regimes de escoamento baseado na razão de afastamento descritos por Price et al (2001). Entretanto, as definições de razão de afastamento mostraram uma forte dependência do número de Reynolds. Em concordância com Zovatto e Pedrizzetti (2001), o regime de escoamento se mostrou dominado pelo número de Reynolds. O efeito de estabilização da parede é menos proeminente para números de Reynolds crescentes. O efeito do número de Reynolds no presente trabalho pode ser mais pronunciado, uma vez que a camada limite sobre a placa plana é desenvolvida naturalmente. As quatro diferentes categorias de escoamento ao redor de um cilindro próximo a uma placa plana se mostraram como uma função da razão de 9 afastamento, bem como do número de Reynolds. Norberg, C., 2003. “Fluctuating lift on a circular cylinder: review and new measurements”. J. Fluids Struct., 17:57-96. Foi também observado que o coeficiente médio de arrasto e a amplitude do coeficiente de sustentação diminuem com o decréscimo da razão de afastamento. Ambas as quantidades decrescem com um aumento no número de Reynolds. Estes resultados também estão de acordo com o apresentado na literatura. Price, S. J., et al., 2001, “Flow Visualization Around a Circular Cylinder Near to a Plane Wall”, Journal of Fluids and Structures, 16(2), pp. 175-191. 8 – REFERÊNCIAS Bearman, P. W. and Zdravkovich, M. M., 1978, “Flow Around a Circular Cylinder Near a Plane Boundary”, Journal of Fluid Mechanics, V. 89 part 1, pp. 33-47. Boussinesq, J., 1877, “Essai Sur La Théorie Des Eaux Courantes”, Mem. 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