CONFERÊNCIA A geoconservação e a educação para a sustentabilidade J. Brilha Departamento e Centro de Ciências da Terra da Universidade do Minho. Centro de Geologia da Universidade do Porto ([email protected]) “There are no passengers on spaceship Earth. We are all crew.” Marshall McLuhan (1911-1980) Há poucos milhões de anos, desenvolveu-se em África um conjunto de hominídeos que, em resultado de uma rápida e surpreendente evolução, deu origem à espécie que, desde sempre, mais mudanças tem provocado na superfície da Terra. Com quase 7 mil milhões de indivíduos, os Homo sapiens sapiens causam, actualmente, uma enorme pressão nos sistemas de suporte de vida do planeta. Surpreendentemente, apesar de ter absoluta consciência dos efeitos nefastos que provoca na geo e biodiversidade, esta notável subespécie continua a desenvolver-se de modo insustentável. Provavelmente sem paralelo em nenhuma outra espécie, são os próprios seres humanos que, aparentemente de modo deliberado, estão a colocar em risco as condições de vida dos futuros elementos da sua espécie, numa atitude assustadoramente suicidária. Ao longo dos últimos três séculos fomos capazes de produzir um conjunto admirável de conhecimento científico que nos permitiria desenvolver, caso a sociedade assim o deseje, melhores condições de vida para todos os habitantes deste planeta. O despertar de uma consciencialização e responsabilização ambiental e social é, deste modo, essencial para assegurar o futuro do planeta, tal como o conhecemos actualmente. E, para esta consciencialização, a educação de todos os cidadãos desempenha um papel imprescindível. É por reconhecer que só uma comunidade educada pode contribuir para a implementação de uma verdadeira sustentabilidade, que as Nações Unidas, através da UNESCO, decidiram promover, entre 2005 e 2014, a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Estando a nossa sociedade completamente dependente dos recursos abióticos e bióticos do planeta, é importante que a referida educação ambiental contemple, em simultâneo, preocupações com a conservação, quer da geodiversidade, como da biodiversidade. A geoconservação, conceito ainda pouco difundido quando comparado com o esforço que tem vindo a ser desenvolvido para a preservação da biodoversidade, tem assim de ser integrada e promovida nas políticas e acções educativas. A geoconservação consiste na protecção do património geológico promovendo, simultaneamente, o uso racional desta componente abiótica do património natural. Só muito recentemente o património geológico tem ganho algum reconhecimento do seu valor, interesse e vulnerabilidade. Com efeito, os exemplos excepcionais de minerais, fósseis, rochas e paisagens – todos eles elementos da geodiversidade – podem enfrentar diversos tipos de ameaças resultantes, quer de processos naturais, quer de intervenções humanas (como por exemplo o roubo e comércio ilegal de minerais e fósseis; vandalismo; mineração; ausência de legislação adequada; etc.). O nosso país tem assistido, na última década, a um notável desenvolvimento da geoconservação. Está em conclusão um inventário sistemático do património geológico português; a legislação sobre Conservação da Natureza contempla, desde 2008, as noções de geossítio e de património geológico; os programas dos Ensinos Básico e Secundário começam a abordar conceitos de geoconservação; os cursos de licenciatura de Geologia, Biologia e Geografia têm já disciplinas sobre esta temática; e na Universidade do Minho existe, desde 2005, um curso de mestrado dedicado à formação de especialistas em geoconservação. Ainda a realçar o interesse demonstrado por diversas autarquias na conservação e promoção do património geológico do seu concelho, sendo os melhores exemplos anualmente reconhecidos pela ProGEO-Portugal na atribuição do Prémio Geoconservação (Idanha-aNova-2004, Valongo-2005, Cantanhede-2006, Associação de Municípios Natureza e Tejo-2007, Arouca-2008, Porto-2009, Alcanena-2010). Finalmente, de destacar a criação de geoparques, um conceito inovador que combina geoconservação, educação e geoturismo na promoção de um desenvolvimento equilibrado do território. Portugal conta já com dois geoparques integrados na Rede Global de Geoparques, reconhecida pela UNESCO, que integra quase 80 geoparques em 24 países de todo o mundo (Geoparque Naturtejo e Geoparque Arouca). Leituras recomendadas BRILHA J. (2005) – Património Geológico e Geoconservação: a Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores, Viseu, ISBN: 972-8575-90-4, 190p. [Disponível em: http://www.dct.uminho.pt/docentes/pdfs/jb_livro.pdf] BRILHA J. & GALOPIM DE CARVALHO A.M. (2010) – Geoconservação em Portugal: uma introdução. In J.M. Cotelo Neiva, A. Ribeiro, L. Mendes Victor, F. Noronha, M. Magalhães Ramalho (Edts.). Ciências Geológicas: Ensino, Investigação e sua História. Associação Portuguesa de Geólogos, Volume II, 435-441. [Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/10572] BRILHA J., DIAS G. & PEREIRA D. (2006) – A geoconservação e o ensino/aprendizagem da Geologia. Resumos do Simpósio Ibérico do Ensino da Geologia, XIV Simpósio sobre Enseñanza de la Geologia, XXVI Curso de Actualização de Professores de Geociências, Univ. de Aveiro, 445-448. [Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/5368] BRILHA J. (2009) – A importância dos geoparques no ensino e divulgação das Geociências. Geologia USP, Publicação Especi v. 5, 27-33. [Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/10571] o u o, CATANA M.M. (2008) – Valorizar e divulgar o património geológico do Geopark Naturtejo: estratégias para o Parque Icnológico de Penha Garcia. Tese de Mestrado em Património Geológico e Geoconservação, Universidade do Minho, Braga. [Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/8993] CATANA M.M. (2009) – Os Programas Educativos do Geopark Naturtejo e o seu contributo para a sensibilização do público escolar em temáticas geológicas e ambientais. In: Actas das XVI Jornadas da ASPEA – BIOSFERA: Espaço de aprendizagem. Porto. p. 24. CATANA M.M. (2009) – Os Programas Educativos do Geopark Naturtejo: caracterização do Projecto de Educação em Geociências destinado ao 1º Ciclo do Ensino Básico “Descobre os Geomomumentos do teu conce ho”. In: ix o F. & Jorge F. (Coord.). XIII Encontro N cion de Educação em Ciências – “Educ ç o e Form ç o: Ciênci Cu tur e Cid d ni ” – Programa e Resumos. Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Castelo Branco. Castelo Branco. p.12. CATANA M. M. & CAETANO ALVES M.I. (2009) - Los Programas Educativos para escuelas del Geopark Naturtejo (Portugal) para Escuelas: Un aprendizage en el campo. In: Enseñanza de las Ciências de la Tierra – Revista de la Asociación Española Para la Enseñanza de las Ciencias de la Tierra, Madrid, Vol.17, N.º 1, 93-101. CATANA M.M. & ROCHA D. (2009) – The role of the Educational Programs on tourism development of Naturtejo and Arouca Geoparks. In: Neto de Carvalho C. & Rodrigues J. (eds.), Abstracts of the 8th European Geopark Network Open, Idanha-a-Nova, Portugal, 156-159. CATANA M.M. (2010) - Geociênci s e Educ ç o p r o Desenvo vimento ustentáve no projecto “Descober os Geomonumentos do Geopark Naturtejo localizados no teu conce ho” destin do o 1º Cic o do Ensino Básico. In: Act s d s XVII Jorn d s ed gógic s de Educação Ambiental (28 a 31 de Janeiro) da ASPEA – Alterações Climáticas: Aprender para Agir, Ponta-Delgada, pp. 20-21. HENRIQUES M.H. (2010) – O Ano Internacional do Planeta Terra e a Educação para a Geoconservação. In J.M. Cotelo Neiva, A. Ribeiro, L. Mendes Victor, F. Noronha, M. Magalhães Ramalho (Edts.). 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(2008) – A inventariação e a avaliação do património geológico na fundamentação científica do Geoparque Arouca (Norte de Portugal). Memórias e Notícias, Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, nº 3 (nova série), 507514. ROCHA D., SILVA L., ALFAMA V., BRILHA J., VALÉRIO M. & SÁ, A.A. (2006) – Aspectos ped gógicos d “Rot do eozóico” (C ne s Arouca, Portugal). Resumos do Simpósio Ibérico do Ensino da Geologia, XIV Simpósio sobre Enseñanza de la Geologia, XXVI Curso de Actualização de Professores de Geociências, Univ. de Aveiro, 461-465. [Disponível em: http://hdl.handle.net/1822/5369] SÁ A.A., BRILHA J. ROCHA D., COUTO H., RÁBANO I., MEDINA J., GUTIÉRREZ-MARCO, J.C., CACHÃO M., VALÉRIO M. (2009) – Geopark Arouca. Geologia e Património Geológico. Associação Geoparque Arouca (Ed.), Arouca, ISBN: 978-989-96055-3-4, 136p. SILVA E, ROCHA D. & CATANA M. (2010). “C im te Ch nge & Biodiversity” choo Contest: too on Educ tion for ust in b e Development in Portuguese Geoparks. In: Zouros N. (eds.), Proceedings of the 9th European Geopark Network Conference, Mytilene, Lesvos, Greece, pp. 80-80. VA E . BRI HA J. A. ( 1 ) – ropost de v oriz ç o de geoss tios no Geop rque Arouc . e-Terra, vol. 18, nº 15, 4p. [Disponível em: http://metododirecto.pt/CNG2010/index.php/vol/issue/view/19]. Curriculum Vitae José Bernardo Rodrigues Brilha é licenciado em Geologia (Universidade de Coimbra, 1987) e doutorado pelas Universidades do Minho e Poitiers (1997). É Professor Associado da Escola de Ciências da Universidade do Minho, Director do Centro de Ciências da Terra e Director do Curso de Mestrado em Património Geológico e Geoconservação da mesma instituição. É membro do Executive Committee da ProGEO (European Association for the Conservation of the Geological Heritage) e editor da revista internacional Geoheritage (Springer). Dedicase, actualmente, a desenvolver trabalhos, de investigação fundamental e aplicada, na área da geoconservação, em Portugal e no estrangeiro. 3