AGRADECIMENTOS
À professora orientadora Regina Helena Urias Cabreira pelo seu
empenho e dedicação nas diversas análises deste trabalho.
A todos os professores do curso de Especialização em Ensino de
Línguas Estrangeiras Modernas do Centro Federal de Educação Tecnológica
do Paraná pela maneira com que nos incetivaram a trilhar esse caminho
repleto de novos saberes.
Aos meus familiares que tanto me apoiam e me incentivam nesta
jornada em busca de novos horizontes.
II
Vampire Bite
By Elise R. McCurdy
The bite of the vampire,
vicious, insane.
The blood dripping down,
upon my frame.
The years I do see are gone.
So am I.
I try to scream but afraid.
All I do is cry.
I plead for my life,
as I feel I am becoming one of them.
A vicious vampire,
my life filled with sin.
Now I can feel hungry.
Now I can feel blood.
As it rushes, rushes through my veins.
I am the Vampires Bite, Insane.
III
SUMÁRIO
Resumo...............................................................................................................V
Abstract..............................................................................................................VI
Introdução..........................................................................................................01
Capítulo I – O pano de Fundo da Obra..............................................................05
Capítulo II – Vestígios Propositais.....................................................................09
Conclusão..........................................................................................................30
Bibliografia.........................................................................................................33
IV
RESUMO
Este projeto faz uma análise do tema do erotismo e dos comportamentos não
convencionais presentes no romance Entrevista com o Vampiro de Anne Rice
(1973). Entende-se por comportamentos não convencionais homossexualismo,
bissexualismo, pedofília, incesto e o complexo de Electra, e por erotismo o uso
de imagens ou símbolos que provoquem estímulos sexuais. Foi feita uma
análise de trechos do romance para que se pudesse achar respaldo para as
questões levantadas, uma vez que nenhum destes comportamentos é
explicitado no desenrolar da trama, e a sensualidade é apenas insinuada. Os
trechos utilizados foram aqueles em que Rice, de uma forma camuflada,
sugere, através de seus vampiros, os comportamentos não aceitos pela
sociedade. Além disso, foi feita uma análise das inquietações que levaram Rice
á escrever este romance gótico. Explicou-se também o que é Literatura Gótica
e foram ressaltadas, durante a análise, as partes que caracterizam o romance
como Gótico. Este romance foi escolhido por ser uma obra contemporânea de
uma escritora reconhecida mundialmente. A obra foi traduzida para o português
por Clarice Lispector, uma das maiores escritoras brasileiras, a qual traz na sua
obra indagações semelhantes as de Rice, isto é, o questionamento sobre a
vida e seus valores.
Palavras Chaves: Erotismo, Comportamentos não convencionais, Vampiros,
Seres Humanos, Literatura Gótica.
V
ABSTRACT
This project analyses the theme of the eroticism and the unconventional
behaviours depicted in the novel Interview with the Vampire by Anne Rice
(1973). It is understood by unconventional behaviours homosexuality,
bisexuality, paedophilia, incest and the Electra Complex, and by eroticism the
use of images or symbols that arise sexual stimulus. Specific parts of the novel
were analysed in order to find supporting evidence for the questionings
specified above, once none of these behaviours are openly shown during the
development of the plot, the sensuality is only insinuated. The parts used were
those in which Rice, in a disguised way, suggests, through her vampires, the
behaviours not accepted by the society. Besides, it was made an analysis of the
restlessness that triggered Rice to write this gothic novel. It was also explained
what gothic literature is and highlighted, during the analysis, the parts which
characterise the novel as gothic. This novel was chosen because it is a
contemporary piece of work by a writer who is recognised worldwide. The book
was translated into Portuguese by Clarice Lispector, one of the greatest
Brazilian writers, whose concerns are similar to those of Rice. Both of them
question the meaning of life and its values.
Key Words: Eroticism, Unconventional Behaviours, Vampires, Human Beings,
Gothic Literature.
VI
Introdução
Este projeto faz uma análise do tema do erotismo e de comportamentos
não convencionais no romance Entrevista com o Vampiro de Anne Rice
(1974), uma vez que a conotação sexual está presente em grande parte do
livro.
Alguns dos temas colocados nas entrelinhas pela escritora são
homossexualismo, bissexualismo, incesto, pedofilia e o complexo de Electra¹ .
Entrevista com o Vampiro é um romance contemporâneo de uma
escritora norte americana reconhecida mundialmente. A obra foi traduzida para
o português por uma das maiores escritoras brasileiras, Clarice Lispector.
Sabemos que a obra clarissiana é fundamentada em indagações sobre as
questões humanas; o romance de Anne Rice segue pelo mesmo caminho.
Portanto, esse romance encaixou-se perfeitamente no universo de Clarice
Lispector. Clarice consegue passar com veemência toda a paixão de Anne
Rice sobre o universo vampiresco onde a fantasia está solta, mas a realidade
espreita por trás do gótico, do terror e do romântico.
Anne Rice nasceu em Nova Orleans em 4 de outubro de 1942,
descendente de irlandeses e alemães. Foi criada no Texas e morou na
Califórnia antes de voltar à sua cidade natal, cenário de sua obra.
Rice formou-se em Ciências Políticas e fez Mestrado em Criação
Literária. Em 1969 escreveu um conto chamado “Entrevista com o Vampiro”.
Em 1972 sua primeira e única filha morreu de leucemia aos seis anos de idade.
Inconformada com a morte da filha Rice procura um meio para melhor entender
a vida. A eternidade, que já povoava sua mente, passa a ser uma constante.
Ela então decide continuar seu conto de 1969, pois esta seria a maneira que a
mesma encontraria para dar vida eterna a um ser humano, desta forma
conseguiria derrotar o fantasma da morte.
Em 1973 tornou seu conto de 1969 em um romance gótico. A literatura
gótica inclina-se para a loucura, a morbidez, o sombrio, o satânico. Alguns a
chamam de literatura do mal, mas tecnicamente pode ser chamada de
literatura fantástica. Ela ignora Deus como o ser supremo e dá vida a outros
seres com talentos tão poderosos quanto os Dele. Esta complacência do
¹O complexo de Electra foi batizado a partir de um mito grego segundo o qual Electra, para vingar o
pai, Agamemnon, incita seu irmão Orestes a matar a mãe, Clitemnestra, e seu amante Egisto, que
haviam assassinado Agamêmnon. Fonte: http:www2.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n1051.htm.
Acesso em 14.03.05
1
fantástico em relação aos valores negativos produz medo, reprovação,
angústia e desespero.
Segundo a Merriam-Webster’s encyclopedia of literature (1995: 480) um
romance gótico é:
European Romantic, pseudomedieval fiction having a prevailing
atmosphere of mystery and terror. Its heyday was the 1790s, but it
was frequently revived thereafter. Called gothic because its
imaginative impulse was drawn from the rough and primitive
grandeur of medieval buildings and ruins, such novels were
expected to be dark and tempestuous and full of ghosts, madness,
outrage, superstition, and revenge. The settings were often castles
or monasteries equipped with subterranean passages, dark
battlements, hidden panels, and trapdoors. The vogue was initiated
in England by Horace Walpole’s immensely successful Castle of
Otranto (1765). His most respectable follower was Ann Radcliffe,
whose The Mysteries of Udolpho (1794) are among the best
examples of the genre. A more sensational type of gothic romance
exploiting horror and violence flourished in Germany and was
introduced to England by Matthew Gregory Lewis with The Monk
(1796). The classic horror stories Frankenstein (1818), by Mary
Shelley, and Dracula (1897), by Bram Stoker, are written in the
gothic tradition but without the specifically gothic trappings. Easy
target for satire, the early gothic romances died of their own
extravagances of plot, but gothic elements continued to haunt the
fiction of such major writers as the Brönte Sisters, Edgar Allan Poe,
and Nathaniel Hawthorne, as well as many modern horror stories.
A good deal of early science fiction, like H.G. Well’s The Island of
Doctor Moreau (1896), also seems to spring out of gothic
movement. In the second half of the 20th century, the term was
applied to paperback romances having themes and trappings
similar to the original gothic novel.
Rice se encaixa perfeitamente neste cenário gótico, consegue trazer de
volta os vampiros, seres que fazem parte da superstição de muitos povos,
principalmente da Europa ocidental. Ela consegue recriar com maestria
criaturas folclóricas que fazem parte do lado sombrio de lendas antigas. Suas
criaturas são seres ultrajantes, que não respeitam normas e são filhos da
escuridão. São seres metade humanos e metade deuses. São onipotentes,
decadentes, enigmáticos e envoltos em mistério. Não são fantasmas mas
também não são humanos. São violentos e doces ao mesmo tempo. O lado da
insanidade do ser humano é explorado com precisão por Rice através destas
criaturas lendárias. Rice usa elementos da cultura gótica como a escuridão, as
roupas escuras, a pele alva, a beleza enigmática, os cemitérios e lugares
sombrios. Por exemplo, podemos citar que seus vampiros europeus dormiam
2
no subsolo de um teatro em Paris e dormiam dentro de caixões de defunto. Na
verdade, todos os vampiros precisavam dormir dentro de um caixão.
Depois de Entrevista com o Vampiro muitos outros livros vieram, todos
abordando assuntos sobrenaturais. Em 1988 Anne e o marido já tinham tido
outro filho e já estavam morando em uma mansão em Nova Orleans. Os
direitos para a versão fílmica do romance foram vendidos por 150.000.00
dólares em 1976, o filme porém só foi feito em 1994 e teve a direção de Neil
Jordan.
Os romances de Rice tornaram-se “best-sellers.” Anne Rice escreveu
vários livros sob os pseudônimos de Anne Rampling e A.N. Roquelaure.
Os Vampiros sempre tiveram um papel de destaque na literatura e no
cinema. A etimologia da palavra vampiro causa polêmica entre os lingüistas.
Há, por exemplo, quem reivindique sua ascendência no termo turco uber que
significa bruxo ou ainda no termo polonês upire que significa sanguessuga ou
também da palavra Sérvia, vampir que significa morto vivo, esta designação é
utilizada em vários países para denominar os seres que se alimentam de
sangue. Esta crença foi muito difundida na Europa oriental do século XV ao
século XIX e divulgada para o mundo principalmente pelo romance de Bram
Stoker.
Vampiros são criaturas sedutoras que têm o poder de transmitir ou tirar
uma vida apenas com uma mordida. O Vampiro é um sedutor. A vítima talvez
não tenha consciência que está sendo seduzida, ou talvez tenha, mas no
momento da mordida o prazer é tão intenso que elas se tornam presas quase
que voluntárias do seu predador. A pergunta que não tem resposta seria:
“Quem tem mais prazer neste jogo de sedução sanguinolento, a vítima ou o
vampiro?” Aidar e Maciel (1988: 26) enfocam:
Para entendermos o vampirismo e sua presença na literatura, precisamos
falar sobre os sonhos, que são enredos do nosso inconsciente. Enredos
estranhos, na maioria das vezes muito mais estranhos que qualquer
história de vampiro e que parece ocultar algum misterioso sentido. Os
psicanalistas tentam decifrar esse sentido, descobrindo algo assim como
uma lógica das emoções que produzem os sonhos. O que importa aqui é
que o sonho é tentativa de realização do desejo. As maquinações do
inconsciente são espécies de enigmas que apresentam uma história a ser
decifrada. História que funciona como uma espécie de válvula de escape
daquilo que é reprimido (alguns desejos e impulsos são proibidos por
causarem desequilíbrios, e portanto, não afloram à mente diretamente,
3
mas alegoricamente, em outra linguagem). A questão é que o escritor não
precisa ter abusado da salada para escrever histórias escabrosas que se
passam em lugares escuros em que habitam criaturas não-mortas, mortosvivos; sem dúvida tais escritores brincavam com seus sonhos, deixandose contagiar por seus signos, lidando com o proibido que é, ao mesmo
tempo, o horripilante e a sedução, pois o sonho fala do desejo.
Anne Rice consegue transmitir de uma forma camuflada os desejos e
ansiedades dos seres humanos através dos vampiros. No romance Entrevista
com o Vampiro, a escritora aborda temas ainda polêmicos nesse novo
milênio. A estória é macabra e envolvente, mas de uma forma sutil e eficaz
Rice provoca o leitor, levando-o a questionar-se sobre seus valores o tempo
todo.
4
Capítulo 1 - O pano de fundo da obra
O romance Entrevista com o Vampiro induz o leitor a questionar a
sexualidade dos personagens. A estória começa em San
Francisco,
uma
cidade notória por sua grande população de homossexuais, o que a torna uma
locação bastante questionável e sugestiva. Dois homens jovens e atraentes se
encontram em um bar e depois vão para um quarto de hotel. Um deles é
jornalista. O outro é um vampiro que vai dar a entrevista. A entrevista é feita,
mas no final a mordida fatal acontece, o jornalista quase implora para que isto
aconteça. A mordida é o prazer máximo que o vampiro e sua vítima podem
compartilhar. Isso quer dizer que houve a consumação do ato sexual entre os
dois personagens.
O protagonista da estória é um vampiro que tem problemas de aceitação
de sua sina. Para ele esta entrevista seria como uma terapia, pois ele precisa
compartilhar com alguém toda a dor que sente; a dor da vida, a dor de ser um
ser humano, mas ao mesmo tempo ser um pouco monstro. Ele quer e precisa
relatar toda estória para se ver livre de um fardo, que é sua consciência. Talvez
ele queira alertar os seres humanos que a eternidade e a preservação da
juventude sejam apenas ilusões. O vampiro não envelhece. De que valeria a
eternidade e a beleza se elas fossem destinadas a poucas pessoas? Nesta
entrevista o vampiro fala das suas frustrações, dos seus medos, das suas
angústias e de seu questionamento sobre Deus e a vida. É como se ele
estivesse sentado em um divã de um analista relatando seus infortúnios.
O vampiro é uma criatura andrógina. Rice compara os vampiros a
pessoas que têm uma conduta sexual não convencional, tornando-os também
andróginos. Em alguns trechos do romance ela insinua que seus vampiros são
homossexuais. São seres que não se encaixam dentro da sociedade
convencional, às vezes são rejeitados de uma forma aberta, outra vezes de
uma forma mais sutil. Rice não fala abertamente que seus vampiros são
homossexuais ou sexualmente confusos, ela dá pistas ao leitor. Esta metáfora
criada pela escritora talvez tenha sido um meio que ela encontrou para poder
driblar nossa sociedade homofóbica. Um herói gay faria sucesso apenas entre
os homossexuais, mas um herói sem uma conduta sexual definida poderia
5
agradar a todos. Isto tudo leva-nos a pensar no grau de dificuldade que a
sociedade tem em aceitar o diferente, apesar de estarmos em pleno século 21.
Após o lançamento da versão filmíca do seu livro, Anne Rice foi
questionada sobre o fato de seus vampiros serem homossexuais ou não.
Algumas pessoas acham que o filme e o livro são alegorias “gays”. A escritora
colocou uma página na internet onde defende seus personagens e explica que
não disfarçou os homossexuais de vampiros. Ela disse:
Se a estória é sobre gays, é sobre todos nós, os segredos que
carregamos, as qualidades boas e ruins que nos separam uns dos
outros, os fardos que temos que carregar, a raiva que sentimos, e
a situação comum que nos une. Os personagens do livro
Entrevista com o Vampiro não são gays disfarçados de
vampiros. Eles são nós. Eles estão na nossa solidão, em nossos
medos, em nossa solidão espiritual e moral. Eles estão na nossa
crueldade, no nosso desespero para encontrar uma companhia,
calor, amor e calma em um mundo cheio de tentações
maravilhosas e grandes horrores. Eles são seres que erram mas
que tem a força de deuses; e é exatamente isso que somos, todos
nós. Resumindo, Entrevista com o Vampiro é maior que uma
alegoria gay. Gênero influencia tudo mas não determina nada!
Vampiros transcendem gênero. Nós como pessoas modernas
transcendemos gênero, apesar de nunca podermos escapar dele.
Este comentário de Rice leva-nos a crer que a intenção dela ao escrever
o romance não foi o de criar estereótipos, mas sim de levar as pessoas ao
questionamento de seus valores e da vida. Este contraste que ela faz entre o
efêmero e o eterno é uma maneira de conscientizar as pessoas da fragilidade
da vida. O gênero é parte da vida mas não determina nada. A conduta sexual
não é importante. Se colocarmos todos os habitantes deste planeta em um
mesmo plano, todos são apenas humanos, e todos sofrem em busca de um
significado para a vida. O gênero não faz ninguém se sentir melhor ou pior que
outro. Portanto, a homossexualidade seria apenas uma conduta de vida e não
um determinante para ser feliz ou não.
A escritora colocou nas entrelinhas os diversos tipos de comportamentos
que não são aceitos pela nossa sociedade. O mais evidente deles é o
homossexualismo, que é mostrado de uma forma sutil. A autora de uma forma
indireta compara os homossexuais a vampiros, isto é, são criaturas não aceitas
pela sociedade convencional. Portanto, só são verdadeiros durante a noite
quando podem tornar-se eles mesmos protegidos pela escuridão. Assim como
6
os vampiros, os homossexuais estão sempre a procura de sangue novo. São
desprezados pela sociedade e alguns vivem escondidos. Os vampiros da
estória se preocupam com a aparência, são perdulários e cultos como a
maioria dos homossexuais.
Um dos protagonistas da estória de Rice é Lestat, um vampiro sem
escrúpulos que só pensa em si mesmo e no seu bem estar, faz tudo para que
seus caprichos sejam atendidos. Mata sem remorso, mas ao mesmo tempo é
atraente e sedutor. Quando ele encontra Louis, vê nele o companheiro perfeito:
rico, bonito, inteligente e fragilizado. Louis por estar frágil e sentir-se culpado
pela morte de seu irmão, aceita receber o presente negro, o presente negro é a
mordida para tornar-se um vampiro. O romance sugere que Louis e seu irmão
tinham uma relação de amor além das relações normais entre irmãos, Louis
descreve seu irmão de uma forma sensual. (Devemos ressaltar aqui, que o
livro está sendo ditado ao jornalista por Louis, portanto podemos dizer que
existem duas narrativas paralelas a de Louis e a de Rice). Ele não consegue
esconder a admiração que tinha pela beleza de seu irmão. Esse é o primeiro
comportamento não convencional insinuado no livro: o incesto.
Depois de ter se tornado um vampiro e sentido o êxtase de ver o mundo
com outro olhos, Louis arrepende-se mas é muito tarde. Louis passa a ser um
vampiro que não se aceita, portanto passando a mostrar a figura daquele
homossexual que não se aceita, mas precisa viver. O romance explora o
significado do mal no mundo através dos olhos de Louis, um vampiro que tenta
lutar contra sua própria natureza, assim como alguns homossexuais que não
aceitam sua condição, mas acabam deixando-se vencer pelo desejo. Lestat,
vendo o sofrimento de Louis, procura achar um meio de não perdê-lo e para
isso resolve criar uma filha para eles, Cláudia. Lestat induz Louis à ajudá-lo
nesta macabra criação. Cláudia é uma criança órfã e indefesa. Depois de
transformada em vampiro ela fica mimada e cruel como Lestat, apesar de ter
em Louis seu porto seguro. A menina acaba tornando-se parte de um triângulo
amoroso implícito. Como dito antes, Anne Rice não usa a palavra pedofília em
momento algum, tudo é deixado por conta do leitor.
7
Cláudia, por sua vez, sente um profundo amor por seus criadores, um
amor que vai além do amor de filha por seus pais, no caso de Claudia ela tinha
dois pais do sexo masculino. Desta forma, Rice consegue abordar mais um
vício do ser humano, o complexo de Electra, isto é, quando uma filha tem
atração pelo seu próprio pai.
A menina Claudia, por ter sido transformada em vampiro ainda criança,
está condenada a nunca ter um corpo de mulher. No começo da estória ela é
um vampirinha feliz, mas com o passar do tempo descobre que nunca será
uma mulher. Ela declara aos seus criadores que os odeia. Apesar de não ser
verdade, ela odeia Lestat pelo desdém com que ele a trata. Então ela
astutamente planeja a morte de Lestat.
Depois da suposta morte de Lestat, Claudia e Louis vão para Europa
para descobrir suas origens. Lá eles conhecem outros vampiros. Um deles é
Armand, este fica fascinado por Louis, trazendo novamente à tona a conotação
de vampiros sexualmente confusos. Cláudia por sua vez, com mais de
sessenta anos conhece Madeleine e as duas viram protetoras uma da outra.
Não poderiam ser mãe e filha devido à idade, portanto subtende-se que a
relação delas vai além disso. O lesbianismo é insinuado nesta parte do
romance. Cláudia, apesar de não ter o corpo de mulher, tem os anseios e os
desejos de um adulto.
Devemos frisar que os vampiros não tem relações sexuais como os
humanos, seu prazer vem das mordidas. A própria Anne Rice na sua página na
internet declarou: “Vampiros não tem sexo. Eles transcendem gênero.”
Neste capítulo foi dada uma explicação de como Rice usa a metáfora
dos vampiros para explicar a natureza humana. Foi feita uma análise do pano
de fundo da obra. Agora partiremos para análise da obra literária.
8
Capítulo 2: Vestígios propositais
No primeiro capítulo foi feito um esboço daquilo que Rice insinuou, ou
deixou entrelinhas sobre a sexualidade de seus vampiros. Foi descrito o pano
de fundo do romance. Neste capítulo será feita uma viagem dentro do romance
para que possamos encontrar evidências sobre as questões levantadas.
A estória começa com Louis conversando com o jornalista, ele explica
que se tornou vampiro quando tinha 25 anos de idade, no ano de 1791 (Rice:
13). Ele explica que vinha de uma família rica, que seu pai já havia morrido e
ele tinha que cuidar da sua mãe, irmã e um irmão. O irmão, Paul, era um
menino com problemas psicológicos, um fanático religioso. Louis chegou até
mesmo a mandar construir um oratório para ele, onde o mesmo passava a
maior parte dos dias, dizia ter visões e parecia estar querendo pagar por algum
erro que havia cometido. Louis não aceitava o fato de seu irmão tornar-se um
religioso, ele o amava demais para deixá-lo partir e ir para um seminário. Paul
queria que sua família vendesse tudo que possuíam para ir para França e usar
o dinheiro para servir a Deus.
Quando Louis descreve seu irmão aos quinze anos de idade ele abusa
dos adjetivos e elogios:
Na época, era um rapaz muito bonito. Tinha a pele mais macia e
os maiores olhos azuis que já vi. Era forte, não era frágil como sou
agora e já era, então...Mas seus olhos...Quando olhava dentro de
seus olhos, sentia-me como se estivesse sozinho no fim do
mundo...numa praia oceânica batida pelos ventos. Sem nada,
além do rugido macio das ondas. (Rice:15)
Da maneira como fala do irmão dá impressão de que Louis o amava
fisicamente, pois nenhum homem ao descrever seu irmão falaria da maciez de
sua pele e dos encantos dos seus olhos.
Na noite em que seu irmão morreu, ou suicidou-se, Louis explica que o
mesmo tinha deixado seu quarto desnorteado e entristecido e que logo depois
disso entrou numa espécie de transe e caiu da escada quebrando o pescoço.
Na época, sua mãe disse a todos que algo horrível, algo que Louis não queria
que fosse revelado, havia acontecido dentro daquele quarto. Louis foi acusado
9
pela morte do irmão por sua própria família e até mesmo a polícia o interrogou.
Ele afirma que apenas discutiu com o irmão e o mesmo caiu sozinho da
escada. Depois da morte do irmão Louis passou dois dias ao lado do cadáver,
ele relata o fato da seguinte forma:
Passei dois dias ao lado do seu caixão pensando: eu o matei. Fitei
seu rosto até que as manchas aparecessem aos meus olhos e
quase desmaiei. A parte posterior de seu crânio tinha se
estatelado no chão, e sua cabeça tomava uma forma estranha
sobre o travesseiro. Obriguei-me a fitá-lo, observá-lo,
simplesmente porque mal podia suportar a dor e o cheiro da
decomposição, e por várias vezes tive a tentação de abrir seus
olhos. Foram todos maus pensamentos, maus desejos. A idéia
principal era esta: eu ri de meu irmão, não acreditei nele, não fui
delicado. Ele caiu por minha causa. (Rice: 17-18)
Depois da morte do irmão Louis deixa a fazenda onde moravam e todos
vão para uma das casas da família em Nova Orleans. Louis começou a beber
para poder esquecer a morte do irmão, queria morrer mas não tinha coragem
de fazê-lo sozinho. Estaria ele sentindo remorsos por alguma coisa? Houve
incesto, ou não? O que teria acontecido no quarto de Louis no dia da morte de
seu irmão? Que coisas horríveis eram essas a que sua mãe se referia? Essas
são questões que Rice deixa a critério do leitor.
Louis conta que quando ele foi mordido por Lestat, foi encontrado quase
morto, foi levado para sua casa e sua mãe chamou um padre. Louis diz ter
confessado ao padre sobre as visões de seu irmão e o que ele tinha feito, diz
ter agarrado o braço do padre e o fez jurar várias vezes que não contaria nada
a ninguém. Que mal tão grande teria Louis feito a seu irmão? Depois da visita
do padre Louis tem um ataque histérico, naquela mesma noite Lestat volta para
visitá-lo e possuí-lo mais uma vez. Louis descreve esta visita de Lestat da
seguinte forma:
Lembro-me como se fosse ontem. Veio pelo pátio, abrindo as
janelas sem um ruído, um homem alto de pele delicada, cabelos
louros e movimentos graciosos, quase felinos. (Rice: 20)
10
O encanto que Lestat exerce sobre Louis é inevitável, por mais que ele
tente não consegue deixar de admirar e confessa:
Recusava-me a olhar para ele, a ser encantado pela doce beleza
de seu rosto. Ele repetia meu nome carinhosamente, rindo. Como
já disse, pretendia obter a fazenda. (Rice: 24)
Louis fica apaixonado por Lestat mas acha que Lestat o quer apenas
pelo seu dinheiro. Deve-se ressaltar neste ponto, novamente, que o romance é
escrito em primeira pessoa, por Louis, portanto não sabemos exatamente o
que Lestat pensava. Louis explica a sensação de estar ao lado de Lestat:
Agora me escute, Louis – disse ele, sentando-se a meu lado no
degrau, de modo tão gracioso e íntimo que me fez pensar nos
gestos de um amante. Recuei. Mas ele passou seu braço direito
por meus ombros e me aproximou de seu peito. Nunca havido
estado tão próximo dele, e sob a pálida luz, pude perceber o
magnífico brilho de seus olhos e a superfície sobrenatural de sua
pele. Quando tentei me mexer, colocou os dedos em meus lábios
e disse: Fique quieto. Agora vou sugá-lo até a verdadeira fronteira
da morte, e quero que fique quieto, tão quieto que quase possa
ouvir o fluxo do sangue em suas veias, tão quieto que possa ouvir
o fluxo deste mesmo sangue nas minhas. São sua consciência e
sua vontade que deverão mantê-lo vivo. (Rice: 25)
Louis explica a sensação de ter o lábios de Lestat afundados no seu pescoço:
Lembro-me que o movimento de seus lábios arrepiou todos os
cabelos de meu corpo, enviando uma corrente de sensações
através de meu corpo que não me pareceu muito diferente do
prazer da paixão... (Rice: 26)
Depois de ter sugado Louis, Lestat corta seu próprio pulso e dá para que
Louis beba seu sangue. Louis sente pela primeira vez, seu primeiro orgasmo
vampiresco bebendo sangue. Ele proclama:
Enquanto bebia o sangue, não via nada a não ser aquela luz. E,
em seguida...um som. A princípio era um rugido rouco que depois
se transformou num rufar, como o rufar de um tambor, cada vez
mais alto, como se alguma imensa criatura estivesse saindo
vagarosamente de uma floresta escura e estranha, rufando,
enquanto andava, um enorme tambor. E, então, surgiu o rufar de
outro tambor, como se outro gigante viesse atrás do primeiro e,
cada gigante, preocupado com seu próprio tambor, não desse
11
importância ao ritmo do outro. O som foi se tornando cada vez
mais forte até me dar a impressão de não estar apenas atingindo
minha audição, mas todos os meus sentidos, de estar penetrando
em meus lábios e em meus dedos, na carne de minha têmporas,
em minhas veias. Principalmente, em minhas veias, rufar após
rufar; e subitamente Lestat afastou o pulso. Abri meus olhos e me
contive ao notar que tentava segurar seu pulso, agarrá-lo,
querendo fazê-lo voltar à minha boca de qualquer modo. Contiveme porque entendi que o rufar vinha de meu próprio coração, e
que o segundo rufo vinha do dele. (Rice: 26)
Logo depois deste orgasmo Louis começa a ver o mundo com olhos de
vampiro, era como se ele tivesse tomado uma droga poderosa que o fizesse
esquecer de tudo e o fizesse apenas admirar tudo que acontecia ao seu redor.
Primeiro ficou enamorado pelos botões de sua roupa e depois, ordenado por
Lestat, saiu para apreciar a noite. Louis declara em êxtase:
Claro que esta foi uma ordem inteligente. Quando vi a lua sobre a
laje, fiquei tão encantado que poderia ter permanecido uma hora
ali. Passei pelo oratório de meu irmão sem nem ao menos pensar
nele, e fiquei entre os choupos e os carvalhos, escutando a noite
como se fosse um coro de mulheres sussurrando, todas me
convidando a me chegar a seus seios. (Rice: 28)
Quando Louis se refere às mulheres nota-se seu desejo de estar com
elas, mais uma vez Rice nos mostra o lado sexualmente confuso de Louis.
Seria Louis um bissexual disfarçado de vampiro?
Louis e Lestat passam a morar juntos, Lestat explica a Louis que
vampiros têm que dormir em caixões, como Louis havia sido transformado em
vampiro recentemente ainda não possuía um caixão só para ele. Lestat deitase e pede a Louis, em seu tom mais desdenhoso, que se deite sobre ele. Louis
meio confuso o faz e explica da seguinte forma:
Foi o que fiz. Deitei-me voltado para ele, extremamente confuso
com a ausência de medo e sentindo um mal-estar por estar tão
próximo dele, belo e intrigante como era. E ele fechou a tampa.
Então perguntei se eu estava completamente morto. (Rice: 31)
Anne Rice tenta demonstrar como seria a sensação que um homem que
se diz heterossexual teria ao ter que se deitar com outro homem, o qual ele
12
acha bonito e atraente. Louis deixou-se morder por Lestat e gostou da
sensação da mordida, admite que Lestat é atraente e se deitou com ele no
mesmo caixão. Seriam Louis e Lestat homossexuais disfarçados de vampiros?
Rice dá as evidências, mas as conclusões devem ser tiradas pelos leitores.
Depois de todos os fatos acima mencionados Louis descobre que para
sobreviver precisa tirar vidas humanas e fica chocado, pois não o quer fazer. O
sangue não lhe daria apenas aquele orgasmo indescritível, mas também o faria
sobreviver. Precisaria matar para sobreviver. Neste ponto, acredita-se que Rice
queira comparar Louis àqueles que têm prazer sexual de uma forma não
convencional, eles abominam esse tipo de comportamento mas acabam
vencendo-se pelo desejo e acabam cometendo o que não querem. Essa
sensação de prazer e nojo é descrita por Louis, quando Lestat o faz beber o
sangue de sua primeira vítima.
Cheio de repulsa e enfraquecido pela frustração, obedeci.
Ajoelhei-me junto ao homem agachado, que ainda lutava e,
colocando ambas as mãos em seus ombros, me aproximei de seu
pescoço. Meus dentes mal haviam começado a se transformar, e
tive de rasgar sua pele, em lugar de perfurá-la. Mas, uma vez
tendo feito a ferida, o sangue jorrou. E quando isto aconteceu, me
vi abraçado a ele, bebendo...enquanto todo o resto se desvanecia.
(Rice: 35)
Louis descreve esta cena como se fosse uma relação sexual proibida,
onde a princípio ele não quer porque é proibida, mas depois vencido pelo
desejo ela se torna um estupro. Ele fala que rasga a pele do pescoço do
homem antes do momento, tanta é a excitação, o sangue jorra como se fosse
uma ejaculação.
Louis, Lestat e seu pai, passam a morar em Pointe du Lac, a fazenda
que Louis e seus familiares moravam antes de seu irmão morrer. O pai de
Lestat, o qual ele trata com desdenho, é cego, portanto, não os incomoda.
A casa da fazenda é luxuosa, cheia de cortinas de veludo, cristais e
tapeçarias. Lestat adorava este estilo de vida, Louis, porém se irrita cada vez
mais com Lestat. Em uma das conversas com Lestat, o mesmo explica a Louis
que eles podem viver de sangue de animais. Lestat pega uma taça de cristal,
13
depois com sua agilidade vampiresca apanha um rato. Corta o pescoço do
animal e depois enche a taça. Tomou o sangue como se estivesse tomando o
melhor dos vinhos. Louis assiste a tudo enojado mas ao mesmo tempo
surpreso, pois não sabia que poderiam sobreviver desta forma. Depois de
tomado o sangue Lestat quebra a taça na lareira e diz:
Não se importa, não é? –apontou para a taça quebrada com um
riso sarcástico. – Certamente espero que não, pois não poderei
fazer nada, caso se importe. (Rice: 39)
Logo depois eles discutem e Lestat alega que Louis precisa dele para
sobreviver, pois não sabe quase nada sobre o mundo dos vampiros. Esta parte
do romance é mencionada porque mais tarde Louis, começa a se alimentar de
ratos para não precisar matar humanos.
Depois desta discussão Louis arrasta seu caixão até a capela que ele
havia mandado construir para seu finado irmão. Sua intenção é ficar longe de
Lestat e lembrar de seu amado irmão. No silêncio da capela e com seu caixão
em frente ao altar ele conversa com Paul:
Pela primeira vez em minha vida, não sinto nada por você, não
sinto nada em relação a sua morte. E, pela primeira vez, sinto tudo
que poderia, sinto a dor de sua perda como jamais havia sentido
antes. (Rice: 40)
Esta foi a despedida de Louis para seu irmão, uma despedida um tanto
confusa. O que Louis quer dizer quando fala: “não sinto nada por você”. Estaria
ele querendo insinuar que agora ele era um vampiro e não precisava mais de
sexo? E agora sim o amava como um verdadeiro irmão?
Louis sentia-se muito inseguro para deixar Lestat. Lestat não era apenas
um vampiro, mas como Louis mesmo afirma, Lestat era um bom professor em
assuntos mundanos. Lestat até mesmo conhecia os vendedores de lojas que
podiam atender depois da hora, pois fazia questão de que ele e Louis usassem
a última moda de Paris. Essa é uma outra característica que não se atribui a
um homem completamente heterossexual, estar tão preocupado com moda.
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Lestat esbanjava o dinheiro de Louis decorando a fazenda com tudo que
havia de melhor na época. Essa é mais uma pista deixada por Rice para que
se questione a sexualidade dos vampiros. Homossexuais geralmente são
perdulários e extravagantes. Lestat cobria seu velho e cego pai com tudo que
havia de melhor, mas ao mesmo tempo o tratava de uma forma rude e cruel.
Em um dos seus rompantes ele diz:
Não lhe dou uma vida esplendorosa? –gritava Lestat. –Não lhe
dou tudo o que deseja? Pare de resmungar por causa da igreja e
dos seus velhos amigos! Que absurdo. Seus velhos amigos estão
mortos. Por que você não morre e me deixa em paz? (Rice: 42)
Este comportamento de Lestat nos faz, mais uma vez, questionar sua
sexualidade. Muitos psicólogos afirmam que os homens homossexuais têm
muito ressentimento com relação aos seus pais, às vezes tornam-se
homossexuais por não terem tido um contato físico com uma pessoa do sexo
masculino quando crianças, como carinho e abraços. Segundo alguns
psicólogos, homens que não dão carinho a seus filhos têm mais chance de ter
filhos homossexuais. O psicólogo Steve Biddulph (2002: 18) afirma:
Alguns pais temem que, por darem carinho a seus filhos, eles se
tornem “maricas” ou talvez, gays. Não é assim. Na verdade, pode
ser o contrário. Muitos gays ou bissexuais com que conversei
disseram que a falta de afeto paterno contribuiu para tornar a
afeição masculina mais importante para eles.
Lestat tinha uma relação de amor e ódio com relação ao seu pai, pois
este tinha sido muito cruel com ele em sua infância.
Quando Lestat saia para caçar suas vítimas sempre procurava gente
jovem e bonita, os homens o agradavam mais que as mulheres. Louis relata o
fato da seguinte forma:
Lestat matava seres humanos o tempo todo, às vezes, dois ou três
numa noite, às vezes mais. Em cada um deles saciava sua sede
momentânea, depois partia à cata de outro. Costumava dizer, com
seu jeito vulgar, que quanto melhor o ser humano, mais o
apreciava. Uma jovem viçosa, era isto que preferia para começar a
noite; mas para Lestat a morte mais triunfante era a de um rapaz.
Os jovens de sua idade lhe agradavam particularmente. (Rice: 46)
15
Se considerarmos que os vampiros sentem seu prazer sexual ao
beberem o sangue de alguém. Por que então Lestat prefiria os rapazes às
moças? Apesar de não descartá-las, queria ele provar sua bissexualidade? Ou
estava apenas disfarçando o fato de ser homossexual? O fato é, ele gostava
mais dos homens, portanto, isso o torna mais voltado à homossexualidade.
Durante a entrevista Louis fala de Babette, uma mulher que morava em
uma fazenda vizinha, ele confessa ao jornalista o que sentia por ela:
Como já lhe disse, amava sua força e honestidade, a grandeza de
sua alma. Não sentia uma paixão como você sentiria. Mas achei-a
mais atraente do que qualquer mulher que tinha conhecido em
minha vida mortal. Mesmo sob a camisola severa, seus braços e
seios eram roliços e macios; e ela me parecia uma alma
arrebatadora vestida por uma carne rica e misteriosa. (Rice: 66)
Louis comenta os valores morais da moça, que, para ele, eram muito
importantes, até parece sentir-se atraído por ela, mas confessa que não
poderia apaixonar-se por ela. Por que Louis não poderia sentir paixão por uma
moça com tantos predicados?
Louis e Lestat tiveram que abandonar a fazenda e ir para Nova Orleans,
todos estavam com medo deles na fazenda e quase os mataram. Louis
desejava morrer mas sabia que não podia, não queria matar humanos, então
se alimentava de ratos. Ele comenta:
Minha sede aumentou febrilmente, e o segui. Meu desejo de morte
era constante, como uma idéia fixa, destituída de emoção. Mas
precisava me alimentar. Já disse que não matava pessoas. Saí
pelo telhado á cata de ratos. (Rice: 73)
Louis decide sugar ratos para poupar os humanos. Estaria Rice fazendo
uma metáfora? Louis era um vampiro que não se aceitava como tal, julgava-se
mal e se culpava o tempo todo. Ele se encaixa perfeitamente no papel de uma
pessoa sexualmente confusa, que não quer fazer aquilo que acha moralmente
errado, mas sua natureza é mais forte. Portanto, para que não cometa o crime
que julga hediondo, acaba achando outro meio para extravasar suas emoções.
Seriam os ratos uma espécie de masturbação?
No caso de Louis os ratos eram uma solução temporária. Sobre a
matança de ratos Louis comenta: “Acreditava que só matava animais por
16
razões estéticas, e me atinha à grande questão moral: se minha natureza era
maldita, ou não. (Rice: 73). Talvez Louis não tenha se “desumanizado”
completamente, daí o paradoxo de se tornar um vampiro. Havia a excitação,
mas isto não o deixou completamente “animal”, como Lestat. Talvez isto
explique sua necessidade de “ser entrevistado” para poder mostrar o “outro”
lado daqueles que são rejeitados pela sociedade.
Louis tentou viver só de ratos, mas o desejo o consumia por dentro, um
rato não lhe dava tudo que um ser humano podia lhe dar. Ele conta ao
jornalista sobre a noite em que encontrou Claudia, uma criança de cinco anos
de idade:
Como já lhe disse, naquela noite eu estava agitado. Levantara a
questão como vampiro, agora ela me confundia e, naquele estado,
não tinha vontade de viver. Bem, isto causou em mim, como nos
seres humanos, um ânsia de encontrar algo que satisfizesse, ao
menos, o desejo físico. Acho que me utilizei disto como desculpa.
Já lhe disse qual o significado da morte para um vampiro. Daí
pode imaginar a diferença entre um rato e um homem. (Rice: 74)
Nesta passagem Louis lembra o que é o prazer para um vampiro e o
porquê dele arder em desejo. Ele se revolta contra si mesmo, se questiona,
mas não consegue, como um animal no cio, ele é vencido pelo desejo e
confessa:
Em que me tornei ao virar vampiro? Onde devo ir? E ao mesmo
tempo, conforme o desejo da morte me fazia negligenciar minha
sede, esta queimava cada vez mais; minhas veias eram
verdadeiros atalhos de dor na carne; minhas têmporas palpitavam;
finalmente não pude suportar. Dilacerado pelo desejo de não
tomar nenhuma atitude – morrer de fome, definhar em
pensamentos de um lado; e o impulso de matar do outro – cheguei
a uma rua deserta e desolada e ouvi o som de uma criança
chorando. (Rice: 74)
Outro vício humano abordado por Rice é a pedofília, como dito
anteriormente. Louis decidiu sugar Claudia porque ela era uma criança
indefesa, estava ao lado de sua mãe que havia morrido há alguns dias de
cólera. Seriam os pedófilos pessoas que abusam das crianças por que não
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conseguirem expressar sua sexualidade de uma outra forma? Pessoas que se
julgam demônios como Louis se julgava? Louis explica ao jornalista:
Você precisa compreender que àquela altura eu ardia de
necessidade física de beber. Não suportaria outro dia sem
alimento. Mas havia alternativas: os ratos abundavam pelas ruas,
em algum lugar próximo um cão uivava desesperado. Poderia ter
voado do quarto que escolhera, me alimentado e voltado sem
dificuldade. Mas a pergunta pesava sobre mim: Sou um
condenado? Neste caso, por que sinto tanta pena dela, de seu
rosto desolado? Por que desejo tocar seus bracinhos macios,
colocá-la agora sobre os joelhos como estou fazendo, senti-la
encostar a cabeça em meu peito enquanto acaricio seu cabelo de
cetim? Por que faço isto? Se sou um condenado, devo desejar
matá-la, só devo desejar alimento para uma existência
amaldiçoada, pois, sendo um condenado, só posso odiá-la. (Rice:
75)
Louis consegue passar todo seu sofrimento, tenta explicar o porquê de
estar abusando de uma criança. Seriam os pedófilos predestinados a cumprir
essa sina de prazer e sofrimento ao mesmo tempo? Teria Louis tido uma
relação incestuosa também com seu irmão? Rice não é explicita. Estaria ela
falando de pedofília? Os vestígios dizem que sim.
Os romances góticos têm a característica de criar seres tão poderosos
quanto Deus, como dito anteriormente, por isso esta literatura é odiada por
alguns e chamada de “literatura do mal”. Rice nos dá alguns exemplos do
gótico na sua obra através de Lestat, o vampiro sarcástico que se julgava o
todo poderoso.
Os vampiros são assassinos – dizia agora. – Predadores. Cujos
olhos onipotentes podem lhe proporcionar objetividade. A
capacidade de perceber a vida humana em sua totalidade, sem
nenhuma piedade repugnante, mas com a vibrante excitação de
ser o fim desta vida, de fazer parte do plano divino. (Rice: 83)
Em outra passagem Lestat afirma:
O mal é um ponto de vista – sussurrava agora. – Somos imortais.
É o que temos à nossa frente são ricos festins que a consciência
não pode julgar e que nem os homens mortais não podem
conhecer sem culpa. Deus mata, assim como nós;
indiscriminadamente. Ele toma o mais rico e o mais pobre, assim
como nós; pois nenhuma criatura sob os céus é como nós,
nenhuma se parece tanto com Ele quanto nós mesmos, anjos
negros não confinados aos porcos limites do inferno, mas
18
perambulando por Sua terra e por todos os Seus reinos. Hoje
quero uma criança. Sinto-me uma mãe...Quero uma criança!
(Rice: 88)
Nas passagens acima mencionadas Lestat se compara a Deus, falando
da onipotência dos vampiros e do seu poder de dar e tirar e vidas. Estaria Rice
questionando Deus? Rice foi impulsionada a escrever sobre a eternidade pelo
fato de ter perdido uma filha, talvez isto explique seu grande interesse pelo
questionamento destas criaturas e pela relações familiares exploradas no
romance.
Depois de ter sugado Claudia Louis se arrepende, mas Lestat ri dele.
Lestat se aproveita da situação para convencer Louis de sua natureza de
vampiro e predador.
Lestat consegue achar Cláudia antes que ela morra, ele a traz para
Louis e o provoca, o desafia e o excita com palavras como:
Veja, Louis como é gorducha e doce, como se nem a morte
pudesse roubar seu frescor; a vontade de viver é forte demais! Ela
pode fazer uma escultura de seus lábios delicados e de sua mãos
roliças, mas não pode estragá-los. Lembre-se de como a desejou
quando a viu naquele quarto. Você a deseja Louis. Não vê? Uma
vez tendo-a possuído, poderá ter tudo que quizer. Desejou-a na
noite passada mas fraquejou, e é por isso que ela não está morta.
Pegue-a, Louis, sei que você a deseja. (Rice: 90)
Lestat fez com que Louis ficasse louco de desejo. Convenceu-o de sua
natureza. Lestat faz o papel do advogado do diabo, é como se ele fosse a
própria consciência de Louis. Ninguém pode ir contra seu próprio instinto.
Vampiros são predadores. Louis já não se agüentava mais e confessa:
E eu o fiz.. Aproximei-me da cama e fiquei simplesmente olhando.
Seu peito mal se movia com a respiração, e uma mãozinha se
misturava com o cabelo comprido e louro. Não podia suportar
aquilo: olhá-la, querendo que não morresse e desejando-a. E
quanto mais a olhava, mais podia sentir o gosto de sua pele, sentir
meu braço escorregando por suas costas e puxando-a para mim,
sentir seu pescoço macio. Macio, macio, era assim que ela era,
muito macia. Tentei dizer a mim mesmo que para ela seria melhor
morrer – o que seria dela? – mas tais pensamentos não serviam
de nada. Desejava-a! E, assim, tomei-a nos braços e segurei-a,
seu rosto ardendo junto ao meu, seu cabelo caindo sobre meus
pulsos e resvalando por minhas pálpebras, o doce perfume de
uma criança forte e palpitante apesar da doença e da morte. (Rice:
90-91)
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Depois de ter mordido o pescoço de Claudia Louis descreve a sensação
da seguinte forma:
Os móveis da sala emergiram da escuridão. Sentei-me atônito,
fitando-a, fraco demais para me mover, minha cabeça resvalando
pela cabeceira da cama, minhas mãos apertando a colcha de
veludo. Lestat a pegara e falava com ela, dizendo um nome:
Cláudia, Cláudia, escute, acorde, Cláudia. (Rice: 91)
Louis descreve Cláudia com palavras que uma pessoa comum não
usaria para descrever uma criança. Portanto, mais uma vez o dogma da
pedofília está implícito nas palavras de Louis:
Sua voz correspondia à sua beleza física, clara como um pequeno
sino de prata. Era sensual. Ela era sensual. Seus olhos eram tão
grandes e claros quantos os de Babette. (Rice: 93)
Estaria Louis abusando de Cláudia por não ter tido coragem de declarar
seu fascínio por Babette, sua vizinha que já era uma mulher feita? Louis se
mostra cada vez mais perturbado com sua sina.
Depois de transformada em vampira por Lestat e Louis, Cláudia passa a
ser cruel e sarcástica. Louis não consegue esconder toda a admiração que
sente pela filha e ela por ele. O complexo de Electra é abordado nesta parte do
romance. Claúdia parece querer se insinuar para seus dois pais. Louis
comenta:
Mas ela vivia, para passar os braços pelo meu pescoço, aproximar
com uma reverência o seu pequeníssimo rosto de meus lábios e
colar seus olhos brilhantes aos meus até que nossos cílios se
tocassem e rindo, girávamos pelo quarto como numa valsa
selvagem. Pai e filha. Amante e amante. (Rice: 100)
Nesta mesma página Louis descreve Cláudia de uma forma sensual e
perturbadora. Louis parece estar gostando de Cláudia de uma forma doentia. A
pedofília se torna aqui quase que evidente:
Havia algo terrivelmente sensual no modo como se estendia no
sofá numa camisolinha de renda e pérolas. Transformara-se numa
20
sinistra e poderosa sedutora, com sua voz tão clara e doce como
sempre, apesar de ter uma ressonância que às vezes era tão
adulta e seca e que surpreendia. (Rice: 100)
Os anos se passaram e Cláudia cansou de dormir no mesmo caixão que
Louis, quando Louis a leva até uma funerária para que ela possa escolher seu
próprio caixão, Louis confessa sentir-se como um amante em suas mãos. Não
consegue negar-lhe nada.
Em outra passagem Cláudia convida Louis para sair e diz: “
Mate
comigo esta noite – murmurou, tão sensual quanto uma amante” (Rice: 109).
Deve-se lembrar novamente que o livro está sendo ditado por Louis. Em
outra passagem Louis confessa estar apaixonado por Cláudia. Ele declara ao
jornalista:
Pois tinha sido exatamente assim, desde a noite em que tentei
deixar Lestat, fracassei e, apaixonando-me por ela, esqueci de
meu cérebro destemido, de minhas terríveis perguntas. ( Rice:
115)
Cláudia queria descobrir os segredos dos vampiros, para isso precisava
encontrar outros vampiros, pois Lestat que era o criador dela e Louis não lhes
contava tudo que sabia. Sendo ardilosa como Lestat, Claúdia precisava da
ajuda de Louis para matar Lestat e para isso ela confessa seu amor: “ Eu o
amo. Louis – ela disse.” (Rice: 120). Ela sabia que Louis a ajudaria depois de
tamanha declaração. Cláudia era como Lestat, dissimulada, não era possível
saber até que ponto o sentimento de ambos era verdadeiro.
Lestat por sua vez, estava ficando cada vez mais distanciado de Louis e
Cláudia, passava as noites fora esbanjando seu charme e também o dinheiro
de Louis. De acordo com Louis, Lestat gostava que suas vítimas se
apaixonassem por ele, e uma destas vítimas foi um músico que Lestat
conheceu em uma de suas saídas noturnas. Louis se mostra um pouco
enciumado sobre a relação de Lestat com esse rapaz, mas nesta época já não
estava tão apaixonado por Lestat como no passado. Seu coração pertencia
agora à Cláudia. Louis descreve a relação de Lestat com o músico da seguinte
forma:
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Disse-lhe que ele brincava com suas vítimas, tornando-se amigo
e as seduzia, fazendo confiarem e gostarem dele, até que o
amassem, antes de matá-las. Aparentemente, era assim que ele
brincava com este rapaz, apesar disto já durar bem mais que
qualquer outra amizade de meu conhecimento. (Rice: 123)
Louis sempre teve uma relação de amor e ódio com Lestat, o caso que
Lestat estava tendo com este rapaz com certeza o incomodava, apesar dele
não o admitir abertamente. Também o inquietava o fato de Lestat negar-se a
contar tudo o que sabia sobre o mundo vampiresco. Por isso acaba deixando
que Cláudia tente matar Lestat, só assim se veria livre desta paixão doentia e
talvez assim pudesse dar seu amor somente à Cláudia.
Cláudia procura um meio para matar Lestat, sabe que ele tem fraqueza
por jovens. Então ela elabora um plano. Convida dois meninos bonitos e bem
jovens para vir à casa da família vampiresca. As crianças, por serem pobres,
são facilmente atraídas. Ela lhes dá comida e também lhes dá ópio, uma droga
poderosa que pode envenenar um vampiro. Quando Lestat chega ela lhe
oferece o presente. Lestat é sádico e sarcástico. Então comenta:
Espero que seja uma bela mulher, com encantos que você nunca
terá – disse ele, olhando de cima a baixo. (Rice: 127)
Lestat usa essas palavras para magoar Cláudia, pois sabe que ela
nunca poderá se tornar uma mulher. Ele age como um amante ferido que quer
se vingar de sua amada. Louis descreve a passagem de uma forma sensual.
Mais uma vez o seu lado pedófilo é mostrado:
Quando cheguei à porta, algum tempo depois, ele se encontrava
reclinado sobre o divã. Dois garotinhos jaziam ali, aninhados entre
macios travesseiros de veludo, as bocas róseas abertas, as
pequenas faces roliças muito macias. Suas peles eram sedosas,
radiantes, os cachos dos dois pendiam sobre a testa. (Rice: 128)
Louis descreve os meninos como se fosse um voyer pedófilo:
Lestat tinha sugado o mais moreno um pouco abaixo, ele era de
longe o mais belo. Podia ter sido elevado à cúpula pintada de uma
catedral. Não tinha mais de sete anos, com a beleza perfeita do
sexo não definido, mas angelical. (Rice: 128)
22
Lestat fica inebriado pelos dois meninos, fica feliz com Cláudia e
comenta que desta vez ela havia se superado. Louis descreve o ato da
sedução como se ele estivesse no lugar de Lestat:
Quando passou, ele abraçou e se aninhou ao lado do outro
menino. Afagou seu cabelo sedoso passou os dedos pelas
pálpebras roliças e pela ponta dos cílios. E então, colocou toda
sua mão macia sobre seu rosto e apalpou-lhe a testa, a face, o
queixo, massageando a carne imaculada. Esquecera nossa
presença, mas recuou e sentou-se calado por um momento, como
se o desejo o deixasse tonto. Fitou o teto e depois voltou os olhos
para o banquete perfeito. Virou lentamente a cabeça do menino na
almofada, as sobrancelhas deste estremeceram rapidamente e um
gemido escapou de seus lábios. (Rice: 129)
Louis descreve o ato final da sedução como um cena de amor entre
Lestat e os meninos. Louis parece estar tão envolvido no seu voeyrismo que as
palavras para descrever a cena tornam-se pertubadoras:
E Lestat deslizou das almofadas do sofá, ficando ajoelhado no
chão, seu braço preso ao corpo do garoto, puxando-o para perto
de si de modo a afundar seu rosto no pescoço da criança. Seus
lábios correram pelo pescoço, pelo peito e pelo mamilo minúsculo
do peito e, então, enfiando o outro braço pela camisa aberta, de
modo a prender o menino com ambas as mãos, suspendo-o e
afundou os dentes em sua garganta. (Rice: 129)
Depois de ter supostamente matado e se livrado do corpo de Lestat
Cláudia declara-se para Louis com toda veemência sua paixão. Louis comenta:
Naquela manhã, ela me envolveu em seus braços, aproximou a
cabeça do meu peito dentro do caixão apertado, murmurando que
me amava, que agora estávamos livres de Lestat para sempre.
Eu o amo, Louis – repetiu interminavelmente até que por fim a
tampa abaixada nos trouxe a escuridão e, piedosamente, nos tirou
a consciência, (Rice: 133)
Louis como sempre fica confuso com a suposta morte de Lestat, no
momento em que estão se livrando do cadáver Louis sentiu uma vontade
incontrolável de sumir junto com Lestat. Depois disso fica frio com Cláudia que
com medo de perder Louis diz:
Não posso viver sem você – ela sussurrou. – Morreria do mesmo
modo que ele morreu. Não posso suportar o fato de não me amar!
(Rice: 134)
23
E Louis não resistindo aos encantos de Cláudia lhe diz: - Está bem,
minha querida...- disse eu. – Está bem, meu amor... (Rice:135)
Louis dá evidências de ter esse amor doentio por Cláudia, mas o
fantasma do passado ainda freqüenta seus pensamentos. Seu irmão volta
como uma visão:
Lá estava meu irmão, louro, jovem e suave como fora em vida, tão
real e carinhoso para mim como fora anos e anos atrás, quando
não o via assim, tão perfeita era sua recriação, tão perfeita em
cada detalhe. Seu cabelo louro escovado para trás, seus olhos
fechados como se dormisse, os dedos macios sobre o crucifixo em
seu peito, os lábios tão rosados e sedosos que mal suportava ter
de vê-los sem tocá-los. E quando estendi a mão para tocar a
maciez da pele, a visão terminou.
(Rice: 138)
Tudo isso acontece na primeira parte do livro. Rice leva-nos a questionar
a sexualidade dos seus personagens o tempo todo. Louis é o mais
sexualmente confuso de todos. Ora tem atração por mulheres, mas gosta de
meninos. Sua relação com Cláudia é doentia. Culpa-se por um suposto incesto
e acima de tudo parece amar Lestat mais do que tudo.
Cláudia é uma criança que não pode ser mulher. Seria ela realmente
apaixonada por seus pais? Ou seria ela apenas uma vítima de dois pedófilos?
Uma criança que não teve escolha.
Lestat é o mais relaxado de todos. Prazer para ele é ter bens materiais e
curtir a vida, tem mais tendências homossexuais, mas para ele prazer é o que
importa.
Nas parte II e III do romance Louis e Cláudia vão para a Europa para
tentar encontrar outros de sua espécie. Vivem várias aventuras no continente
europeu, mas acabam em Paris. Por quê Paris? Paris é uma cidade
extremamente atraente para pessoas cultas e que gostam de moda. Por isso
exerce um fascínio enorme sobre a população homossexual do planeta.
Louis procura de todas formas esquecer Lestat, mas sofre muito com a
perda de seu criador e amor de sua vida. Ele declara ao jornalista:
24
Queria esquecê-lo, mas estava sempre me lembrando dele. Como
se as noites vazias fossem feitas para que se pensasse nele. Às
vezes me tornava tão vivamente consciente dele que ele me
parecia ter acabado de sair do quarto, com o timbre de sua voz
ainda ressoando. De algum modo, me confortava e perturbava o
fato de, apesar de minha vontade, eu ainda vislumbrar seu rosto.
(Rice: 183)
Quando Louis e Claudia chegam à Paris, acabam encontrando o que
tanto procuravam, sua espécie. Encontram um covil de vampiros que viviam
em um teatro em Paris. O líder deles chamava-se Armand. Louis sente por
Armand uma atração irresistível logo no primeiro encontro:
Tinha ímpetos de agarrá-lo, de sacudi-lo com tanta violência que
seu rosto imóvel seria obrigado a se mexer, a revelar sua canção
suave. E subitamente ele estava colado a mim, seu braço
circundando meu peito, seus cílios tão próximos que os via brilhar
sobre a órbita incandescente de seu olho, sua respiração suave,
inodora, contra minha pele. Era o delírio. (Rice: 212)
Armand morava no teatro entre vampiros, mas tinha serviçais humanos.
Um deles era um menino, que parecia ser uma espécie de escravo sexual. Ele
faz com que esse garoto provoque Louis até o deixar louco de desejo. Esta é a
única parte do romance onde Rice fala de sexo de uma forma mais humana. A
escritora fala do prazer da mordida, mas faz também alusão aos órgãos
sexuais, algo não havia mencionado anteriormente. Louis explica como o
possuiu:
Nunca tinha sentido aquilo, nunca o tinha experimentado, esta
entrega de um mortal consciente. Mas antes que pudesse
empurrá-lo para seu próprio bem, vi a mancha azulada em seu
pescoço tenro. Ele a oferecia para mim. Agora encostava seu
corpo todo no meu, e senti a força rija de seu sexo sob a roupa
comprimir minha perna. Deixei escapar um suspiro, mas ele se
chegou mais, seus lábios sobre algo que devia parecer tão frio, tão
inanimado. E mergulhei o dente em sua pele, meu corpo rígido,
aquele sexo rijo se encostando em mim e, apaixonado, o ergui do
chão. Onda após onda, seu coração palpitante penetrava em mim
enquanto, flutuando, eu me balançava com ele, devorando seu
corpo, seu êxtase, seu prazer consciente. (Rice: 212)
25
Depois da descrição deste ato sexual, não há dúvidas que para os
vampiros o prazer é o essencial. A tendência deste prazer é certamente
homossexual no trecho acima mencionado.
Louis fica fascinado por Armand, em alguns trechos do livro ele
confessa:
Senti que mergulhava de novo na contemplação daquela voz e
daqueles olhos, dos quais tive de me afastar com grande esforço.
(Rice: 215)
Gostaria de saber descrever seu modo de falar, como, cada vez
que falava, parecia provocar um estado de contemplação muito
próximo daquele que começava a sentir, do qual só me libertava
com esforço. (Rice: 215)
...me senti poderosamente atraído por ele. (Rice: 216)
Louis descobre com felicidade que Armand também o deseja:
E meu coração rejubilou-se ao vê-lo assim, ao perceber que
ninguém naquela pequena turba captava seu olhar como eu, que
ninguém o atraia regularmente como eu. Apesar dele continuar
afastado de mim, seus olhos sempre me procuravam. Seu aviso
ecoava em meus ouvidos contra minha vontade. (Rice: 227)
Cláudia fica enciumada com tudo que está acontecendo, sabe que vai
perder Louis para Armand e também sabe que ela é um empecilho para a
relação. Implora a Louis para que ele não procure mais por Armand, ela tenta
convencer Louis de que ele deseja Armand mais do que Armand o deseja. Mas
Louis está completamente apaixonado. As palavras de Cláudia lhe causam
sofrimento e dor. Como sempre ele tem dúvidas sobre o que sente. Ama
Armand mas ao mesmo tempo ama Cláudia e às vezes ainda pensa em Lestat.
Em uma de suas visitas à Armand ele comenta:
...e Armand se sentou à minha frente, seus belos e grandes olhos
tranqüilos aparentando inocência. Quando senti que me
enfeitiçavam, baixei os olhos, procurando uma chama na lareira,
mas só havia cinzas. (Rice: 231)
Em outras passagens Louis se refere a Armand da seguinte forma:
26
E senti um desejo tão forte por ele que reuni toda minha força para
contê-lo e continuar simplesmente fitando-o, lutando. (Rice: 234)
Voltei-me para partir imediatamente, apesar de cada fibra de meu
corpo desejar permanecer ali. (Rice: 235)
Sim, ele é exatamente como você disse, e já o amo. (Rice: 239)
Cláudia, por estar com medo de ficar sozinha, ou talvez, por
ciúme, pede a Louis que lhe ajude a criar uma companheira para ela. Cláudia
já havia encontrado uma candidata, o nome dela era Madeleine, uma mulher
bonita e atraente. Por quê Cláudia escolheu uma mulher? Madeleine dizia amar
Cláudia, mas seria apenas amor de mãe e filha? Ou Rice estaria mais uma vez
fazendo seus leitores se questionarem sobre seus valores sexuais? O que é
certo e o que é errado dentro de uma paixão? Será que os seres humanos
assim como os vampiros da estória também transcendem a sexo? Rice lança
esses questionamentos de uma forma quase que evidente, os leitores é que
decidem. Louis descreve Cláudia e Madeleine assim:
E lá estavam juntas: uma doce mortalha, chorando
instintivamente, seus braços segurando algo que possivelmente
não compreendia, uma coisa infantil, branca, feroz e sobrenatural,
que ela acreditava amar. (Rice: 242)
Louis não quer transformar Madeleine em vampiro, insiste que Cláudia a
quer porque não quer dividi-lo com Armand. Em uma das discussões ele diz a
Cláudia:
Não, não, é loucura, bruxaria – disse, tentando provocá-la. É você
quem não quer me dividir com ele, é você quem deseja cada gota
do meu amor. Como não pode, quer o dela. (Rice: 244)
Depois de muita insistência por parte de Cláudia e Madeleine. Louis
resolve dar o presente negro para Madeleine, pois esta seria uma única forma
de ficar com Armand. Madeleine o provoca e Louis confuso como sempre a
deseja ardentemente.
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Foi estranho, aquele momento. Estranho porque nunca poderia
prever o sentimento que suas palavras provocaram em mim, o
modo como a via agora com aquela cinturinha atraente, a curva
roliça e farta de seus seios, e aqueles lábios delicados,
provocantes. Ela jamais imaginaria como estava o homem mortal
em mim, quão atormentado estava pelo sangue que eu
simplesmente beberia. Eu a desejava, mais do que ela sonhava,
pois não compreendia a essência do ato de matar. (Rice: 247)
E eu podia ver seus olhos, mesmo quando fechava os meus, ver
aquela boca zombeteira, provocante. Eu a sugava toda, com força,
erguendo-a, e podia senti-la enfraquecer, suas mãos tombando
flácidas ao lado do corpo. (Rice: 248)
Louis transformou Madeleine em vampiro e agora estava livre para amar
Armand. Mas suas dúvidas continuavam, sabia que sentia uma atração forte
por Armand e questiona-se:
Então, o que sentira por Armand, a criatura por quem transformara
Madeleine, a criatura por quem queria ficar livre? Uma curiosa e
perturbadora distância? Uma dor surda? Um tremor indescritível?
Mesmo naquela incrível confusão, eu vislumbrava Armand em sua
cela monarcal, via seus olhos castanhos e sentia seu irresistível
magnetismo. (Rice: 253)
Quanto à relação de Cláudia e Madeleine, Louis não sabia exatamente o
que sentia, às vezes gostava, outra vezes sentia ciúmes. Como declara ao seu
ouvinte:
Fiquei observando com algum alívio o amor de Madeleine por
Cláudia, sua paixão cega e desmesurada. (Rice: 254)
Cláudia sussurrando sobre mortes, velocidade e destreza
vampirescas, Madeleine inclinada sobre a costura – parecia então
que era esta minha única emoção: ódio. Amava-as. Odiava-as.
(Rice: 254)
Louis segue nesta confusão de sentimentos até o final do romance, mas
ele sucumbe quando Armand lhe diz: “Desejo-o. Eu o desejo mais do que
qualquer coisa no mundo. (Rice: 258) e Louis logo em seguida declara: “- Não
compreendo meus próprios sentimentos. Talvez sejam mais claros para você
do que para mim...(Rice: 259)
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Louis não consegue ser feliz porque a culpa o persegue. Ele comenta
com Armand: “Não vejo nossas vidas como poderes e dádivas. Encaro-as
como maldições.” (Rice: 263).
Acredita-se que Rice queira mostrar através dos olhos de Louis todo o
sofrimento e angústia que as pessoas que têm uma conduta sexual que não
condiz com os padrões estabelecidos pela sociedade têm que enfrentar.
No final da estória os vampiros matam Cláudia e Madeleine por
sentirem-se acuados. Louis toca fogo no teatro, matando todos os vampiros.
Depois foge com Armand. Lestat, que havia ido à Paris procurar Cláudia e
Louis, quase morre no incêndio, mas volta para Nova Orleans. Louis e Armand
viajam pelo mundo e depois de alguns anos vão para Nova Orleans. Armand
conta a Louis que Lestat está vivo. Louis o procura. Lestat agora está morando
numa casa velha e decadente e parece estar com medo da vida. Louis
conversa com Armand, discutem sobre as questões da vida. Louis parece não
sentir prazer em viver. Armand o deixa, talvez por ciúme, talvez por medo de
ser contagiado pela falta de amor que Louis tem por sua existência.
Rice é enigmática. Seriam os vampiros gays? Bissexuais? Loucos?
Estariam eles representando os verdadeiros seres humanos? O destino das
pessoas que não tem um padrão sexual normal de acordo com a sociedade
seria a solidão? No romance todos os personagens apesar de serem bonitos e
inteligentes, acabam sozinhos.
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CONCLUSÃO
O romance Entrevista com o Vampiro é fruto de um conto escrito por
Anne Rice em 1969, e teve continuidade devido à ânsia da busca da
eternidade sentida pela autora depois da morte de sua filha. Todo este
questionamento levou a autora a escrever não apenas sobre a eternidade, mas
também sobre outros valores morais da vida.
Clarice Lispector traduziu com brilhantismo para o português toda a saga
dos vampiros, passou com destreza toda agonia de viver expressa por Rice na
obra original.
O romance Entrevista com o Vampiro fala de imoralidade sem ser
imoral, descreve a saga de vampiros com uma linguagem altamente sensual,
fazendo uma associação entre sexualidade e os comportamentos não
convencionais da sociedade. Os vampiros do romance têm comportamentos
que ainda são dogmáticos dentro da sociedade, são invasores da privacidade
alheia, são seres altamente sexuais.
Durante a análise do romance nota-se que Rice tem algo de rodriguiano.
Ela mexe nas feridas da alma dos seres humanos, toca em assuntos que não
deveriam ser tocados. Poucas pessoas estão psicologicamente preparadas
para aceitar que o ser humano tem um lado negro. Estes assuntos que
incomodam fazem parte do ser humano e poucos escritores conseguem tratálos com tanta nobreza como Rice e Lispector. Conhecendo a obra de Clarice
Lispector, acredito que quando ela fez a tradução do romance para o
português, deve ter se apaixonado pelo modo com que Rice fala da existência.
Assim como alguns personagens de Nelson Rodrigues,os personagens
de Rice vivem dentro de uma sociedade, mas transgridem suas leis. Alguns
dos comportamentos mostrados por Rice são homossexualismo, pedofília,
incesto, bissexualismo e o complexo de Electra. Podemos até mesmo
comparar os vampiros a estupradores porque sexo violento e forçado também
é associado com prazer. Esta associação mostra que a sociedade ainda
mantém a crença cristã de que sexo é ainda algo pecaminoso e precisa ser
evitado, assim como os vampiros e os estupradores.
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Os mortos-vivos são uma aberração da natureza; eles vão contra as leis
naturais, por isso são temidos e odiados pelos seres humanos. Associando
sexualidade a estes seres tão poderosos quanto Deus, o romance de Rice
associou estes sentimentos negativos ao processo natural dos humanos,
fazendo com que os leitores se questionem sobre sua sexualidade diante da
grandeza da vida. Os vampiros são seres sensuais, mas não têm relações
sexuais para a propagação da espécie, portanto suas relações são por mero
prazer. Os vampiros do romance de Rice poderiam viver do sangue de animais,
mas não o fazem, pois o prazer que eles têm vindo do sangue humano é bem
mais intenso. Rice tenta mostrar a diferença entre uma masturbação e o ato
sexual. As presas do vampiro são seus orgãos sexuais, enterrá-las em um
animal daria prazer, mas penetrar um humano com elas, seria o orgasmo
completo. Só que Rice não pára no ser humano comum, ela vai além, ela
insinua o prazer de várias formas. O prazer do homossexualismo, da pedofília,
do incesto e da fantasia sexual, até mesmo o prazer do voyerismo é abordado
dentro do romance.
Este trabalho fez uma análise da sensualidade e do erotismo dentro do
romance de Anne Rice. Foram levantadas questões e procuradas respostas
para elas. O romance é riquíssimo em simbologias e interpretações, portanto
vários tipos de leituras podem ainda ser feitas. Este trabalho se fixou apenas
no aspecto da sensualidade e dos comportamentos não convencionais que
temos dentro da sociedade.
Para trabalhos futuros muitos outros aspectos do romance poderiam
seriam estudados: como a crueldade do ser humano, o sentido da vida diante
da eternidade, a luta entre Deus e o Diabo e o lado Freudiano do romance.
Poderia também ser feita uma comparação entre Anne Rice e o escritor
brasileiro Nelson Rodrigues, pois ambos tentam mostrar o lado obscuro da
sociedade. Poderia ser feita uma comparação dos valores morais dentro de
uma sociedade onde as pessoas têm mais cultura, como a sociedade norte
americana e uma sociedade onde há uma grande miscigenação de raças e
onde cultura não é algo primordial, como a sociedade brasileira. Tudo através
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dos personagens de Rice e Rodrigues. Será que todos seres humanos são
iguais independente de sua cultura?
Outro trabalho que poderia ser feito, seria estudar como a adaptação
filmíca do romance foi feita, pois este romance foi adaptado para o cinema,
como dito anteriormente. Sabemos que toda adaptação filmíca é uma
transição, e nessa conversão de um meio de comunicação para outro
adaptações são inevitáveis. Nesse processo de repensar e reconceber a obra
literária algumas linguagens ganham e perdem ao mesmo tempo. O filme é
muito mais rápido, constrói seus detalhes através de imagens. A camera
mostra uma imagem tridimensional em questão de segundos, detalhes que
podem levar páginas em um romance. O filme consegue dar informações sobre
estória, personagens, idéias, imagens e estilo, tudo ao mesmo tempo. Sendo
que em um romance este processo é muito mais moroso. Todos estes
aspectos poderiam ser estudados em um trabalho futuro.
Para a conclusão final podemos dizer que os vampiros de Rice são
seres que não são humanos, mas conseguem instigar os seres humanos para
que reflitam sobre sua própria existência. Portanto, muitos trabalhos ainda
podem ser feitos sobre estes personagens que questionam a vida. Os conflitos
humanos são uma fonte inesgotável de estudo.
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BIBLIOGRAFIA
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Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988.
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33
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http://geocities.com/area51/dungeon/4747/Anne.htm.
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http:www.cyberpat.com/shirlsite/essays/lestat.html
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Acesso em 12.01.05
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