V Encontro Nacional da Anppas
4 a 7 de outubro de 2010
Florianópolis - SC – Brasil
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A Bacia Hidrográfica do Córrego Bálsamo (Campo Grande, MS) como
espaço de vivência: uma análise da percepção ambiental de alunos do
Ensino Fundamental
Prof. Eduardo de Souza Britto da Silva
Mestrando em Ensino de Ciências da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS
Bolsista FUNDECT
[email protected]
Profa. Dra. Icléia Albuquerque de Vargas
Professora do Programa de Pós Graduação em Ensino de Ciências
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS
[email protected]
Resumo
Durante o desenvolvimento da pesquisa intitulada ATLAS AMBIENTAL DIGITAL DAS BACIAS
HIDROGRÁFICA DE CAMPO GRANDE/MS: UMA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO
AMBIENTAL AO ENSINO DE CIÊNCIAS foi realizado um levantamento para identificar a
percepção ambiental dos alunos das séries finais do Ensino Fundamental da Escola Estadual
João Rodrigues Barbosa. A unidade escolar escolhida está localizada na área de estudo – Bacia
Hidrográfica do Córrego Bálsamo. Tradicionalmente, a comunidade escolar tem se engajado nas
campanhas em defesa do meio ambiente do espaço em discussão. Assim, baseando-se nas
classificações sugeridas por Sauvé (1997) e Kozel (2007), foram analisados 97 mapas ambientais
que expressaram a visão dos alunos sobre a área pesquisada. Para isso, a análise realizada
compreende a esfera qualitativa e quantitativa na busca de obtenção de resultados. No entanto,
um breve embasamento teórico tendo como referenciais autores vinculados aos estudos da
percepção ambiental de indivíduos em seus espaços de vivência foi realizada para corroborar com
a necessidade de aplicação desta investigação.
Palavras-chaves: Percepção ambiental, mapas mentais, Educação Ambiental, Ambiente,
Sociedade, Bacia Hidrográfica.
1. Introdução
A postura do ser humano na sociedade diante dos problemas ambientais contemporâneos
requer uma atenção cuidadosa. É este personagem que em seus espaços de vivência tem a
responsabilidade de desvelar um modo de produção vinculado à atitude exploratória do meio
ambiente e da sociedade.
É na escala local que as atitudes de cada cidadão podem colaborar com uma mudança de
ações numa escala global. O respeito às leis naturais deve ser preconizado na busca da
sustentabilidade levando-se em conta a complexidade que o meio ambiente abarca.
Nesse sentido, a educação assume um papel eficaz para que os indivíduos tornem-se
cidadãos, sujeitos de suas histórias, capazes de perceber e enfrentar os impactos
socioambientais. Do outro lado, mas não distante, os educadores possuem a responsabilidades
de promover a construção do conhecimento dos cidadãos cujo intuito é instigar a compreensão do
meio em que ele vive e o modo pela qual irá se portar diante das situações em que o meio
ambiente se encontra.
O trabalho realizado pela educação integra o homem e a mulher em seu lugar de moradia.
Havendo essa integração, passam a sentir-se também como sujeitos da paisagem geográfica
tornando possível uma atenção responsável sobre os desequilíbrios planetários a partir de sua
escala cotidiana.
Assim, emerge a importância da Educação Ambiental que, dentro dos muros escolares,
pode expandir suas fronteiras tornando as ações dos cidadãos amenas diante das situações
econômicas e sociais de sua sobrevivência.
Adiante, Reigota (1997) considera que a Educação Ambiental e sua definição como
conceito está vinculado não apenas ao meio ambiente, mas, também, como este é percebido. É a
capacidade de perceber o seu ambiente que o ser humano assume uma visão critica do que está
sendo transformado em seu entorno.
Assim, Santos (2001) considera que a Educação Ambiental assume uma visão critica ao
retrato que se encontra atualmente, pois o pensamento tradicional privilegia a fragmentação e a
superficialidade, carente de profundidade em conteúdo humano, transcendente e vital.
O modo complexo pela qual é proposta tal concepção de Educação Ambiental, voltada
para a complexidade dos sistemas deverá contribuir para uma visão crítica do ser humano frente
aos problemas evidenciado no atual cenário mundial.
Mudar paradigmas implica na mudança de modos de pensar para que o ser humano seja
capaz de conviver em harmonia com as leis naturais. Não cabe mais, diante da situação que os
impactos ambientais vêm assolando o espaço geográfico, um pensamento superficial.
2
Na Conferência de Estocolmo de 1972, diante da intensificação da problemática ambiental,
foi manifestada a necessidade de implantação de uma Educação Ambiental capaz de promover a
participação dos cidadãos para a resolução de problemas. Portanto, não há outra proposta viável
para uma nova postura a frente do meio ambiente degradável senão considerarmos o ser humano
integrado ao meio ambiente, uma vez que ele é agente integrador do complexo sistema
planetário. Impõe-se a necessidade de um trabalho que promova nos indivíduos a reflexão sobre
seu espaço de vivência, assim como a transformação de atitudes e ações. Assim, ao definir o
termo Meio Ambiente, Reigota (1997) aponta ser coerente considerar que ele também é
percebido, uma vez que cada indivíduo o delimita em função de suas representações. Por isso, o
autor destaca que a Educação Ambiental para ser realizada, inicialmente deve ser dar atenção
para a identificação das representações das pessoas envolvidas no processo educativo.
Neste sentido, será aqui apresentada a coleta de mapas mentais que os alunos das séries
finais do Ensino Fundamental da Escola Estadual João Alves da Silva elaboraram sobre o
Córrego Bálsamo. Após sustentar as teorias adotadas para a elaboração da pesquisa no que
tange a percepção ambiental, será destacada a área de estudo escolhida e seu público-alvo, para
que, em seguida, possa ser analisada a coleta das informações.
A referida coleta de mapas mentais ocorreu durante o mês de dezembro de 2009 com o
objetivo de caracterizar a percepção ambiental dos alunos sobre o seu espaço de vivência. Com
estas informações, é possível estabelecer o perfil da visão dos alunos do Ensino Fundamental do
recorte escolhido que servirá de subsídios para a execução de projetos ambientais no certame
Educacional.
Por isso, tais informações serão utilizadas no projeto de pesquisa desenvolvido pelos
autores deste artigo que disponibilizará um Atlas Ambiental Digital para as escolas localizadas na
Bacia Hidrográfica do Córrego Bálsamo.
2. A percepção ambiental diante dos impactos no espaço de vivência
Para a busca das soluções na tentativa de atingir a sustentabilidade nas relações entre o
ser humano e a natureza, a percepção proporciona subsídios para que possa ser identificada a
compreensão da realidade dos indivíduos. Os indivíduos que compõe uma determinada sociedade
devem possuir uma capacidade fenomenológica através da percepção a cerca da realidade em
que vivem.
Por meio de sua percepção, o individuo é capaz de notar as situações precárias de
qualidade de vida que se encontram. Quando se fornece informações que encaminhe os
indivíduos a conhecerem o seu espaço de vivência, os mesmos passam a assumir uma postura
3
critica de sua situação por se incluírem nas transformações do espaço geográfico que estão
inseridos.
A interpretação do espaço realizada pelo ser humano está intimamente relacionada com a
sua realidade de vivência, uma vez que tal situação é refletida em suas percepções. Se
considerarmos que cada indivíduo tem sua peculiaridade intima de percepção, justifica-se então, a
necessidade de compreendermos as ações singulares de cadê cidadão (OLIVEIRA, 2006).
De acordo com Tuan (1980), a definição de percepção está relacionada com a resposta
dos sentidos que são dados aos estímulos externos. No entanto, há que se considerar que alguns
fenômenos são possíveis de serem registrados, mas, por outro lado, outros são bloqueados.
Para que se consiga identificar as percepções dos indivíduos a cerca da sua realidade, um
instrumento que contribui significativamente são os mapas mentais. Kozel (2007, p. 115) define os
mapas mentais como “uma forma de linguagem que retrata o espaço vivido em todas as nuances,
cujos signos são construções sociais”. Por estes mapas considerarem o espaço vivido, retrata o
modo pelo qual o indivíduo enxerga seu mundo.
Assim, podemos considerar que o mapa de que se trata este trabalho:
[...] exerce a função de tornar visíveis pensamentos, atitudes, sentimentos tanto
sobre a realidade (percebida) quanto sobre o mundo da imaginação. Esses mapas
não são representações cartográficas sujeitas às regras cartográficas de projeção,
escala ou precisão, mas representações espaciais oriundas da mente humana,
que precisam ser lidas como mapeamentos (= processos) e não como produtos
estáticos. (SEEMANN, 2003, p. 3)
Portanto, há que se considerar que os contextos sociais, históricos e espaciais particulares
e singulares dos indivíduos quando decodificamos ou interpretamos os mapas mentais. Kozel
(2003) aponta o método Bahktiniano como uma proposta de dialogicidade com as expressões
externas e internas do ser humano reiterando a importância do elemento social de sua visão de
mundo.
Ainda no que se refere à percepção, Oliveira (2002) aponta para a importância da
percepção e das relações cognitivas estão ligadas a representação de um determinado espaço ou
informação. Por isso, em uma determinada sociedade a ser estudada com intuito de desvendar
sua percepção estes dois fatores devem ser sublinhados durante a análise.
A mesma autora considera ainda que:
[...] uma metodologia do mapa não pode prender-se ao processo perceptivo;
também é preciso compreender e explicar o processo representativo. Ou seja, é
necessário que o mapa, que é uma representação espacial, seja abordado de um
ângulo que nos permita explicar a percepção e a representação da realidade
geográfica como uma parte de um conjunto maior, que é o próprio pensamento do
sujeito. (OLIVEIRA, 1978, p.13)
4
Kozel (2003) intensifica esta vertente afirmando que as representações mentais estão
intimamente associadas ao processo de leitura que se faz do mundo. Isso ocorre porque os
mapas mentais percorrem um caminho que passa pela particularidade do olhar do ser humano,
adentram nas relações cognitivas e perpassam pela visão de mundo e intenções.
Adiante, esta Geógrafa reporta que as representações dos indivíduos e seus mapas
mentais são oriundos de seu vivido simbólico, que está arraigado a cultura que o mesmo
pertence. Ao citar as implicações culturais, ela insiste na particularidade interpretativa do ser
humano diante do espaço geográfico no seu mundo vivido.
Lynch (1997) cita que o observador é capaz de organizar e conferir significados para aquilo
que vêem, uma vez que, ao retratar as imagens ambientais, ocorre um processo bilateral que
envolve especificidades e relações entre o indivíduo e o seu ambiente. Daí, a importância de
investigar a representação do ser humano sobre a sua realidade por que somente ele é que
fornecerá com fidelidade as verdadeiras informações sobre a realidade do seu espaço geográfico.
Destaca ainda aquele autor que a familiaridade de um determinado indivíduo com seu
lugar de vivência são notórios quando se compara a percepção de um objeto em detrimento a um
outro indivíduo que não tem o mesmo vínculo com aquele local.
Ferrara (1993) nos traz uma contribuição que também remete a prática das representações
e suas possibilidade de comunicação como prática cultural. A autora destaca a capacidade do ser
humano em comunicar-se de outros modos e meios. Isso ocorre devido a prática humana de
interferir no social, econômico e humano por meio dos signos.
Por isso, ressalta que um traje usado, uma cor adotada, um meio de transporte usado, ou
seja, uma imagem pode revelar o que se pensa de um determinado indivíduo de acordo com suas
opções. Afirma-se então que existem signos da auto-imagem que queremos comunicar.
(FERRARA, 1993)
Adotando o conceito do texto não-verbal, Ferrara (1993) orienta que é um complexo ato de
recepção cuja leitura não ocorre de modo homogêneo. Assim, sublinha:
[...] o texto não verbal apresenta-se diluído no quotidiano do espaço urbano, e
nada o impõe a nossa observação; o texto não-verbal é mudo porque não nos
agride atenção. O hábito de atuar nos mesmos espaços e ambientes faz com que
eles sejam cada vez mais iguais e imperceptíveis. Ora, não se lê o homogêneo.
(FERRARA, 1993, p. 23)
Assim, concorda-se com a autora ao passo que uma imagem também representa a
possibilidade de uma leitura não verbal. E a heterogeneidade de informações que um mapa
5
mental oferece enriquece o conhecimento a cerce um determinado espaço ou das relações de
vivência dos indivíduos com seu meio.
Notoriamente, encontram-se na capacidade perceptiva do ser humano informações
valiosas sobre as relações de um determinado espaço com sua cultura. São por meio desta
análise que os projetos educacionais que pretendem ser desenvolvidos devem curva-se. Assim
como a medicina realiza a sua investigação das patologias com exames para elaborar seus
diagnósticos, a Educação Ambiental deve adotar os mapas mentais no intuito de diagnosticar
como o indivíduo encara sua realidade.
Esta percepção deve instigar o cidadão a portar-se de modo crítico as suas atitudes e
ações. Ao observamos a situação ambiental em diversas localidades no globo, fica evidente que
um enfrentamento deve ser promovido, visto que “a educação e a qualidade de vida são sempre
uma questão política, fora de cuja reflexão, de cuja compreensão não nos é possível entender
nem uma nem outra.” (FREIRE, 1992, p. 41).
É neste sentido que a coleta de dados adotada por esta pesquisa privilegiou os mapas
mentais a respeito da percepção ambiental dos alunos que convivem com a realidade da Bacia
Hidrográfica do Córrego Bálsamo em Campo Grande/MS. É a partir da análise destas percepções
que será analisado a postura critica ou um posicionamento estático do grupo social estudado
3. A Dialogicidade e a Problematização Freiriana na utilização dos mapas mentais
Para possibilitar a construção de uma postura emancipadora diante da situação opressora
de determinadas sociedades enfrentam, é necessário que, por meio o dialogo seja estabelecido
os temas que deveram ser considerados como problemas para os agentes envolvidos. Apenas
sabe o que é o verdadeiro problema no seu espaço de vivência aquele que os encara
cotidianamente.
Assim, não há como o pesquisador definir previamente os temas a serem abordados, uma
vez que esse pronunciamento deve partir do individuo que reside no lugar a ser pesquisado. Daí,
a importância do dialogo para que a problematização apareça como temas a serem trabalhados
para a busca da transformação.
Por isso, Freire destaca que a prática do diálogo deve ser considerada como a essência da
Educação que encaminha para a prática da liberdade. Este fenômeno é abordado para Paulo
Freire como uma capacidade humana que “se nos revela como algo que já poderemos dizer ser
ele mesmo: a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na análise do diálogo, como algo mais
que um meio para que ele se faça, se nos impõe buscar, também seus elementos constitutivos”
(FREIRE, 2005, p.89).
6
Freire (2005) encaminha para o entendimento de que quando há o pronunciamento da
palavra é possível observar a existência da práxis. Portanto, é nesse momento que podemos
afirmar que ao pronunciarmos estamos transformando o mundo. No diálogo, ao haver
pronunciamento, estão sendo desenvolvidas as capacidade de ação e reflexão. Assim, é possível
comprovar a própria existência com a ação e a modificação do mundo dado.
De outra forma, a inexistência da dialogicidade não faz com que se promova a crença de
que o mundo pronunciado possa ser transformado.
O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para
pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. Esta é a razão por
que não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os
que não querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os
que se acham negados deste direito (FREIRE, 2005, p. 91).
Freire destaca o diálogo e sua determinada importância diante da democracia ao
descrevê-lo como um instrumento de promoção da consciência crítica para o ser humano. Ao
definir a dialogicidade, Freire procura afastar ao máximo o conceito de “assistencialização”,
apresentando que:
[...] o máximo de passividade do [humano] diante dos acontecimentos que o
envolvem. Opõe-se ao conceito nosso de ‘dialogação’, que coincide com o de
‘parlamentarização’
do
professor
Guerreiro
Ramos.
Enquanto
na
‘assistencialização’ o [humano] queda mudo e quieto, na ‘dialogação’ ou na
‘parlamentarização’ o [humano] rejeita posições quietistas e se faz participante.
Interferente (FREIRE, 2001b; p. 28).
A partir da capacidade de dialogo do ser humano, Freire (2000) mostra que este
instrumento peculiar que nos compete permite visualizar a realidade objetiva do mundo que,
independente dele, é capaz de ser conhecida. Mas, isso só é possível porque o ser humano é um
ser de relações entre si e com o mundo. Assim, aponta que estar com o mundo resulta de sua
abertura com a realidade.
No mesmo sentido de procurar estimular no educando a capacidade de diálogo para que
seja possível transformar a sua realidade, Freire (1987) apresenta como uma das bases de sua
teoria a categoria da problematização. Neste sentido, o autor destaca que o ponto de partida para
o processo educacional está arraigado à sua vivência e seu contexto a qual estabelece suas
relações sociais.
Assim, deve ser proposto ao educando uma situação de vida como problema a partir da
concepção dialógico/problematizadora. Com efeito, a incidência dessa situação irá gerar um ato
de reflexão frente aos problemas apresentados incitando uma capacidade transformadora no
educando. São os primeiros passos do rompimento da dialética histórica que pode ser observada
na condição do oprimido.
7
Noutro rumo, Freire (2005) apresenta o conceito distanciado da educação que promove a
concepção proposta a partir da problematização e da dialogicidade, intitulada por ele como
educação bancária. O educador, nesta concepção bancária, não se comunica, ou seja, inexiste o
dialogo, havendo, portanto, um depósito de informação que os educandos memorizam e repetem.
Nesta forma destoante de educar certo ocorre uma visão distorcida de educação, pois, se não há
criatividade, não há transformação e, por conseguinte, não há saber.
[...] que nesta visão “bancária” da educação, os homens sejam vistos como seres
da adaptação, do ajustamento. Quanto mais se exercitem os educandos no
arquivamento dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em
si a consciência crítica de que resultaria a sua inserção no mundo. como
transformadores dele, Como sujeitos. (FREIRE, 2005; p. 34)
Portanto, entendemos que não há possibilidade de tratar dos temas ambientais no
processo de ensino e aprendizagem, principalmente aqueles que se referem aos impactos
causados no ambiente de vivência do educando, sem que sua relação com aquele espaço seja
palco de uma transformação a partir do novo conhecimento adquirido. Mas, tal situação apenas
será concebida caso haja uma relação horizontal educando – educador numa concepção
dialógica/problematizadora.
Neste rumo, os mapas ambientais aparecem como uma importante ferramenta de
promoção do dialogo que faz emergir os problemas do local de moradia e convívio social do ser
humano.
Os mapas mentais podem ser considerados uma categoria de dialogo quando o homem e
a mulher o elaboram pronunciando o seu mundo. Desta forma, os mapas mentais apontam o
modo pela qual o individuo descreve o seu espaço de vivência e apontam como a sua visão de
meio ambiente está arraigada as categorias de análise.
Portanto, ao adotar os conceitos que Paulo Freire oferece para a construção de um
conhecimento distante do depósito de informações estabelecendo um espaço de dialogo para
destacar as situações problematizadoras, podem-se considerar os mapas mentais para atingir o
espero no desenvolvimento da pesquisa.
4. Caracterização da área de estudo e do público-alvo.
A pesquisa adotou como recorte geográfico de estudo a Bacia Hidrográfica do Córrego
Bálsamo, localizada na região norte da malha urbana da capital Sul-matogrossense – Campo
Grande/MS. Em 1995, aproximadamente 60 famílias residiam às margens desse córrego; a renda
mensal de 83% dos habitantes não ultrapassava 2 salários mínimos; 52% das crianças se
8
encontravam abaixo da idade escolar; e aproximadamente 1/5 da população despejavam seus
resíduos sólidos diretamente no leito deste rio. Observa-se ainda que em 2007 a população total
residente neste recorte geográfico era de cerca de 26.600 habitantes (IBGE, 2007).
O mapa 01 abaixo caracteriza o recorte geográfico do espaço em estudo.
Mapa 01 – Caracterização da Microbacia Hidrográfica do Córrego Bálsamo.
As informações coletadas para o presente trabalho foram realizadas na Escola Estadual
José Barbosa Rodrigues. Tal unidade educacional está localizada na porção central da área da
Bacia Hidrografia do Córrego Bálsamo. O fato desta escolha se dá por conta de que há um
processo histórico de mobilização da sociedade em beneficio do Córrego em questão devido os
problemas ambientais que foram ocasionados nos últimos anos.
O mapa 02 abaixo localiza a Escola Estadual José Barbosa Rodrigues na Bacia
Hidrográfica do Córrego Bálsamo.
9
Mapa 02 – Localização da Escola Estadual José Antonio Rodrigues.
5. Procedimentos de investigação.
Após a escolha da unidade escolar para aplicação do trabalho, foi selecionado o grupo de
séries escolares que seriam trabalhados. Devido à necessidade de aplicar esta investigação estar
arraigada ao fato de utilizar as conclusões deste trabalho para o projeto de aplicação do Atlas
Digital Ambiental para o mesmo recorte geográfico, as séries finais do Ensino Fundamental foi o
público-alvo escolhido para análise.
Assim, durante o período vespertino foram escolhidas, aleatoriamente, 01 sala de aula
para cada série do Ensino Fundamental, totalizando 04 salas com 97 alunos. Anteriormente a
aplicação, fora explicitado a importância do projeto futuro que seria aplicado com os mesmos
alunos cujo tema central é a Educação Ambiental na Bacia do Córrego Bálsamo.
Num espaço destinado ao desenho, foi pedido, então, que os alunos elaborassem um
desenho que estivesse representado a Bacia do Córrego Bálsamo. Após a aplicação, em
aproximadamente 20 minutos os alunos devolveram suas respectivas folhas com as
representações.
As fotos 01 e 02 mostram os alunos durante a realização da atividade.
10
Foto 01 – Aluno do Ensino Fundamental da E.E. José Barbosa Rodrigues durante a realização das
atividades
Foto 02 – Alunos do Ensino Fundamental da E.E. José Barbosa Rodrigues durante a realização das
atividades
6. Resultados obtidos: Análise das informações coletadas.
Após coletar os mapas mentais elaborados pelos alunos foi realizada uma leitura prévia a
fim de sistematizar as classes pelas quais poderíamos classificar o trabalho realizado pelos
alunos. Com esta análise prévia realizada, optou-se por dividir os resultados coletados em
quantitativos e qualitativos.
11
6.1 Análise Quantitativa
Para que a análise realizada obtivesse uma profundidade nos dados que desejasse ser
coletados, adotaram-se dois métodos de análise dos mapas mentais. O primeiro método utilizado
apropria-se das classificações de Sauvé (1997) que utiliza 06 (seis) classes para descrever a
percepção ambiental dos indivíduos.
A tabela 01 apresenta os resultados sistematizados dos 97 mapas mentais coletados na
unidade escolar pesquisada.
Tabela 01 - Classificação dos mapas mentais a partir da Classificação de SAUVÉ (1997)
Como
Como
Como
Como
Como
Como
problema
Total
Recurso a ser
Lugar para
projeto
Natureza
se
biosfera
Gerenciado
se viver
comunitário
resolvido
Quant. % Quant.
%
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant.
9º Ano
8º Ano
7º Ano
8
12
9
30,8
44,4
40,9
10
3
7
38,5
11,1
31,8
6
11
5
23,1
40,7
22,7
1
1
1
3,8
3,7
4,5
1
0
0
3,8
0,0
0,0
0
0
0
0,0
0,0
0,0
26
27
22
6º Ano
4
18,2
7
31,8
7
31,8
4
18,2
0
0,0
0
0,0
22
Total
33
30,8
27
38,5
29
23,1
7
3,8
1
3,8
0
0,0
97
A tabela 01 apresenta informações relevantes sobre o universo estudado. A primeira
constatação que pode ser extraída refere-se ao significativo percentual de alunos com a
percepção ambiental direcionada a necessidade do meio ambiente se encarado como um recurso
a ser gerenciado. No total dos alunos, 38,5% exprimem que o Córrego Bálsamo é um recurso a
ser gerenciado.
A seguir, percebe-se que o 8º. Ano do Ensino Fundamental é a única classe de alunos que
não acompanha a tendência observada nas demais séries escolares. Enquanto que nas demais
séries, no mínimo, 31,8% dos alunos entendem que o Córrego Bálsamo é um recurso a ser
gerenciado, nesta série (8º. Ano) esta classe está representada em 11,1%.
Quanto à visão naturalista, ou seja, aquela que entende a natureza como um ambiente
distante dos seres humanos pois é considerado original e puro na qual se deve apenas admirar e
respeitar, 30,8% dos alunos possui esta percepção do Córrego Bálsamo. Destaque deve ser dado
ao 7º. e 8º. Anos que aglutinam 85,3% dos alunos com este entendimento de meio ambiente.
No que tange à percepção de ambiente poluído que necessita fugir das ameaças da
degradação e está associado a um problema que requer solução, constatou-se que 23,1% dos
alunos estão enquadrados nesta classificação. É válido notar que o 8º. Ano concentra 40,7%
destes alunos com esta percepção do Córrego em estudo.
12
As demais visões apontadas por Sauvé (1997) apresentam dados incipientes, uma vez que
os alunos que entendem o ambiente como um lugar para se viver e como biosfera possuem, cada
um, apenas 3,8% de alunos. A classificação do meio ambiente como projeto comunitário não foi
observada em qualquer mapa mental dos alunos.
Observa-se por meio dos dados coletados que as percepções ambientais dos alunos que
margeiam suas residências no envolto do Córrego Bálsamo possuem uma visão crítica sobre a
situação deste curso d’água e seus arredores. A grande maioria, 61,6% dos estudantes, se
enquadra numa classificação integradora do ser humano com o meio ambiente. Isso é notório
porque seus mapas evidenciam uma necessidade de gerenciamento dos recursos ou a requisição
de um problema a se resolvido.
Adiante, devido as informações observadas nos mapas coletados e utilizando o segundo
método de análise, conseguiu-se observar a ocorrência de traços significativos que forneciam
características a respeito do pensamento que os alunos possuem sobre a área de estudo.
Por tanto, foram selecionados 07 itens para que fosse possível observar a tendência dos
alunos em suas visões sobre o Córrego Bálsamo. Cabe ressaltar que a classe “ELEMENTOS
NATURAIS” foi excluída porque, de alguma forma, ela está representada em 100% dos mapas
mentais.
A Tabela 02 apresenta os dados das observações coletadas.
9º Ano
8º Ano
7º Ano
6º Ano
Total
Tabela 02 - Ocorrências de características marcantes nos mapas mentais
Fatores
Poluição
Urbano
Rural
Indivíduo
Sociedade
Agradável
Culturais
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
3
7,9
7
18,4
11
28,9
2
5,3
2
5,3
7
18,4
6
15,8
4
12,5
10
31,3
6
18,8
5
15,6
1
3,1
2
6,3
4
12,5
3
7,0
6
14,0
7
16,3
4
9,3
6
14,0
8
18,6
9
20,9
1
3,7
10
37,0
7
25,9
2
7,4
2
7,4
3
11,1
2
7,4
11
7,9
33
18,4
31
28,9
13
5,3
11
1,4
20
33,3
21
4,3
É possível notar que a principal associação que os alunos pesquisados fazem com o
Córrego Bálsamo está vinculada à presença da Sociedade. Tal representação é notada em 33,3%
dos alunos investigados, com destaque ao 7º. Ano que possui 18,6% estudantes com esta
percepção.
Em seguida, outra grande parcela de estudantes representou o Córrego Bálsamo com
traços do ambiente urbano em seus entorno. Esta ocorrência foi notada em 28,9% dos mapas
ambientais dos alunos pesquisados, sendo que o 9º. Ano possui 28,9% de pesquisados com
mapas apresentando estas características.
13
6.2
Análise Qualitativa
Finalizada a fase inicial da análise quantitativa da pesquisa referente aos mapas dos
alunos do Ensino Fundamental da E. E. João Barbosa Rodrigues, necessitou realizar a seleção de
alguns trabalhos relevantes que representam de maneira genérica as especificidades encontradas
durante a coleta das informações. Por isso, para cada série escolar pesquisada foram
selecionados 03 (três) mapas mentais de cada série escolar.
Abaixo, serão apresentados os mapas selecionados bem como sua descrição e
características encontradas no mapa, de acordo com a metodologia Kozel (2007). Cabe ressaltar
que tal metodologia adota os seguintes critérios de análise: traços, beleza, impacto e
diferenciação dos demais.
6.2.1 Mapas do 6º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 01 – Representação de um aluno do 6º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 02 – Representação de um aluno do 6º. Ano do Ensino Fundamental
14
Mapa Mental 03 – Representação de um aluno do 6º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 04 – Representação de um aluno do 7º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 05 – Representação de um aluno do 7º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 06 – Representação de um aluno do 7º. Ano do Ensino Fundamental
15
Mapa Mental 07 – Representação de um aluno do 8º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 08 – Representação de um aluno do 8º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 09 – Representação de um aluno do 8º. Ano do Ensino Fundamental
16
Mapa Mental 10 – Representação de um aluno do 9º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 11 – Representação de um aluno do 9º. Ano do Ensino Fundamental
Mapa Mental 12 – Representação de um aluno do 9º. Ano do Ensino Fundamental
7. Recomendações
Como foi possível observar em diversos momentos, apesar das diferentes representações
que os alunos investigados elaboraram, é dificultoso identificar a presença do ser humano nos
impactos ambientais causado na Bacia Hidrográfica do Córrego Bálsamo.
Tal fato pode ser explicado pelo fato de que a comunidade residente nas imediações da
área de estudo estar intimamente engajada na resolução dos problemas ambientais identificados
nos mapas ambientais.
Por isso, é recomendável que numa próxima investigação que aborde o tema tratado por
esta pesquisa seja identificada a razão pela qual não é observada a presença do ser humano nos
impactos ambientais existentes na Bacia Hidrográfica do Córrego Bálsamo.
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