II SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Local: Centro Universitário São Camilo Data: 24 de maio de 2014 XAMPU 1 1 1 2 AQUINO, Mônica , LEME FERREIRA, Lígia C. , SANTOS, Nádia L. dos ; FARIA, Luciane Gomes . 1 Discente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP. 2 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário São Camilo, São Paulo, SP. e-mail: [email protected] Palavras-chave: XAMPU. ESPESSANTE. TENSOATIVOS. INTRODUÇÃO O cabelo é um dos elementos mais visíveis e destacados do corpo. Em todo e qualquer grupo étnico ele apresenta características como visibilidade, crescimento, diferentes cores e texturas, o que possibilita técnicas diversas de manipulação sem necessariamente estar subordinado ao uso de tecnologias sofisticadas. Ao mesmo tempo, a forma como o cabelo é tratado e manipulado, assim como a sua simbologia, diferem de cultura para cultura. Esse caráter universal e particular do cabelo atesta a sua importância como ícone identitário (CALEFFI, 2008) Com intuito de tratar o cabelo são utilizados os cosméticos capilares, compreendendo nessa categoria: xampus, condicionadores, produtos para tratamento capilar, tinturas, descolorantes, produtos para permanentes e alisantes. O cosmético capilar mais utilizado é o xampu, este tem por objetivo a limpeza dos fios e do couro cabeludo. O xampu ideal deve apresentar perfume agradável, permeabilidade, maleabilidade, espuma, consistência, limpeza e detergência, sendo capaz de oferecer as condições higiênicas, estéticas e dermatológicas adequadas. Dados da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) citam que o setor faturou em 2011 trinta bilhões de reais, visto que o Brasil encontra-se em terceiro lugar no ranking mundial, uma vez que a categoria de cabelos foi a que obteve maior crescimento. O estágio de desenvolvimento da cosmética capilar está bastante adiantado. Muitos produtos surgem e a variedade de matérias primas utilizadas na sua preparação contribui para obtenção de produtos que oferecem ações diversas. Atualmente, há no mercado um apelo comercial em torno das formulações de xampus sem a presença de sal (cloreto de sódio). O cloreto de sódio é um exemplo clássico para este tipo de formulação e muito é discutido sobre seu caráter prejudicial ou não para estrutura capilar. É capaz de aumentar a viscosidade através da interação com agentes tensoativos, que tem por objetivo principal a remoção de sujidades (AMSTALDEN, 2014). OBJETIVO Avaliar os principais componentes das formulações, acentuando-se a função dos tensoativos e espessantes na mesma, sobretudo o cloreto de sódio. MÉTODOS De forma a complementar o estudo técnico-cientifico obtido nas aulas de cosmetologia, realizou-se um levantamento bibliográfico em livros disponíveis no acervo do Centro Universitário São Camilo e em artigos científicos, obtidos a partir de bancos de dados com acesso eletrônico. Realização II SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Local: Centro Universitário São Camilo Data: 24 de maio de 2014 DISCUSSÃO O cabelo é uma estrutura epidermal queratinizada originada no folículo piloso e, segundo Façanha (2003), é constituído de três partes: haste ou caule, raiz ou parte interna e bulbo (Figura 1). Para manter a saúde dos fios é necessário usar um xampu que tem função de limpeza não só dos cabelos, mas também do couro cabeludo, e a capacidade de deixar os cabelos flexíveis, suáveis, brilhantes e sem eletricidade estática e, ainda, sem alterar o pH do couro cabeludo (BARBOSA E SILVA, 1995). Figura 1: Estrutura do cabelo Os xampus possuem componentes básicos (tabela 1) e são classificados de acordo com seu aspecto, podendo ser: líquidos, cremosos, géis e aerossóis; quanto ao tipo de cabelo a ser aplicado: secos, oleosos, normais, infantis, e casos especiais; quanto à aparência: opacos, perolados transparentes (MOTTA, 2007). Realização II SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Local: Centro Universitário São Camilo Data: 24 de maio de 2014 Tabela 1: Componentes básicos das principais formulações. Fonte: Misirli (2002) O poder de limpeza do xampu geralmente refere-se a sua capacidade de remoção da gordura, sujeira e matéria não natural do cabelo e couro cabeludo. A gordura aparece no cabelo na forma de sebo, um material que contém em sua composição, basicamente, 50% de glicerídeos, 20% de cera, 10% de esqualeno, um hidrocarboneto de fórmula C30H50 e 5% de ácidos graxos. O sebo exerce algumas funções importantes, como revestir a cutícula, prevenindo a perda de água, responsável por manter o cabelo macio e brilhante, do interior do fio capilar. O sebo é secretado pelas glândulas sebáceas localizadas no couro cabeludo e age nas cutículas por capilaridade no fio capilar. O excesso e o acúmulo de sebo podem dar ao cabelo uma aparência gordurosa e, por ser um material pegajoso, acumula poeira e materiais estranhos no cabelo (BARBOSA E SILVA, 1995). A remoção de sujidades ocorre a partir da molécula anfipática do tensoativo. Um tensoativo típico possui a estrutura R-X, onde R é uma cadeia de hidrocarbonetos (normalmente linear) e X é o grupo cabeça, polar ou iônico. Dependendo de X, os tensoativos podem ser classificados como não iônicos, catiônicos, aniônicos ou anfoteros. De acordo com Sanctis (2001), a adição de um tensoativo em água provoca modificações profundas na superfície. Suas moléculas migram rapidamente para a superfície e nela se acumulam e orientam reduzindo a tensão superficial da solução. Quando é atingida a saturação da superfície com as moléculas de tensoativos ocorre à formação da micela. As micelas atuam como uma reserva de moléculas de tensoativos para adsorver, emulsionar, e solubilizar a sujeira oleosa durante a lavagem dos cabelos. Para a indústria farmacêutica, a viscosidade é um dos principais parâmetros analisados no controle da qualidade, visto que para muitos consumidores ela é vista como sinônimo de boa qualidade e de maior durabilidade do produto. Por este motivo a formulação deverá ter uma viscosidade que facilite o produto a espalhar-se facilmente no couro cabeludo. Embora essa relação, viscosidade “versus” boa qualidade não exista. Estão disponíveis, atualmente, no mercado diferentes tipos de espessantes, que são classificados em dois grupos: orgânicos e inorgânicos. Os eletrólitos são espessantes inorgânicos e que apresentam um preço atrativo e boa eficácia, atuando no ajuste da viscosidade através da sua interação com agentes tensoativos, pelo efeito de compressão da dupla camada elétrica existente entre duas superfícies micelares carregadas, o que leva à redução de sua carga efetiva e menores forças intermicelares repulsivas, pois a micela não mais fica restrita a sua forma esférica, podendo agora passar para a forma cilíndrica. As esféricas movem-se livremente devido a densidade de empacotamento reduzida, porém as formas cilíndricas têm seus movimentos Realização II SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Local: Centro Universitário São Camilo Data: 24 de maio de 2014 lateral e transversal mais restrito, resultando no aumento da viscosidade (FARIA, 2005; PEDRO, 2000). A problemática em torno do cloreto de sódio em alcalinizar as formulações de xampu, é explorada pelo marketing. A camada hidrolipídica que protege o cabelo tem um pH levemente ácido, um valor compreendido entre 4 e 6 na escala de pH. Para as cutículas ficarem alinhadas e planas é necessário um pH em torno de 4. Com a utilização de produtos mais ácidos (pH entre 1 e 2) ou alcalinos (pH > 10), ocorre abertura da cutícula e exposição do córtex, aumentando assim a porosidade e danificação do fio (BARATA, 2003). Salienta-se, porém, que o cloreto de sódio usado em baixas concentrações (concentração máxima 1%) é um espessante e se dissolve completamente nas fórmulas de xampus permitindo aumento da viscosidade até um ponto máximo e depois começa a decrescer, perdendo a reserva de viscosidade. Portanto, somente quantidades exageradas poderiam alcalinizar o produto. Os motivos para a utilização do NaCl são seu baixo custo, sua total solubilização em água em sua concentração usual (portanto não se liga à estrutura do fio) e pela sua boa eficácia em aumentar a viscosidade do xampu. Os produtos denominados “sem sal” podem não apresentar cloreto de sódio e sim o uso de outros espessantes. O tensoativo lauril éter sulfato de sódio, um eletrólito, pode ser classificado como sal, bem como outros espessantes. Ou seja, a ausência de sal pode não ser alçada por completo, pois é necessária a utilização de um agente espessante (HAAG, 2005). Estudos demostram que, cabelos lavados com xampus que continham cloreto de sódio e os cabelos lavados com xampus sem a presença de NaCl, não apresentaram diferenças nos tais quesitos: facilidade de pentear, deslizamento, estática, brilho e volume. Portanto, algum impacto sobressalente e positivo do xampu sem cloreto de sódio é decorrente dos ativos presentes em suas formulações e não simplesmente do fato da utilização desta substância (HAAG, 2005). CONCLUSÃO Entende-se então, que há vários tipos de xampus para diferentes tipos de cabelo que apresentam uma formulação básica, onde muitas vezes só se diferenciam os tensoativos e seus aditivos, que são responsáveis pela singularidade do produto. O cloreto de sódio é capaz de aumentar a viscosidade através da interação com agentes tensoativos empregados, desde que os níveis salinos não ultrapassem certos limites. O uso deste nas formulações não afetará a qualidade do fio, devido ao seu baixo teor. Portanto é necessário o estudo e a escolha dos componentes de uma formulação afim de que a mesma promova a boa funcionalidade e características dermatológicas, estéticas e higiênicas adequadas, sem que deixe de apresentar boa aceitação do público. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amstalden, Erika: Formulações de shampoo. Disponível <http://www.iqm.unicamp.br/~wloh/offline/qg661/trabalho19.html> Acesso em: 26 mar. 2014. em: BARBOSA, A. B E SILVA, R, R. Xampus.Química nova escola. n2°, 2001. BARATA, E. A. F. A Cosmetologia – Princípios Básicos. São Paulo, 1995. CALEFFI, R. HEIDEMANN, TR. Cloreto de sódio: análise de sua função na formulação de xampus para manutenção de cabelos quimicamente tratados. São Paulo, 2007. FAÇANHA, R. Estética Contemporânea. Rio de Janeiro, 2003. HAAG, MCR. PASTORE, FJ. FARIA, AB. Manual de cosméticos. Brasília, 2005. Realização II SIMPÓSIO DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA Local: Centro Universitário São Camilo Data: 24 de maio de 2014 MORAES, R. de: Biotecnologia e ativos naturais fundamentam recorde de vendas. Revista Química e derivados, ed. 477, São Paulo, 2008. Disponível em: < http://www.quimicaederivados.com.br/revista/qd477/cosmeticos/cosmeticos01,html>. Acesso em: mar.2014. SANCTIS, DD. PALMA, EJ. Tensoativos em xampus: Um compromisso entre propriedades físicoquímicas e atributos do consumidor. São Paulo, 2001. MOTTA, E. Dossiê técnico: Fabricação de produtos de higiene pessoal. Rio de Janeiro, 2007. PEDRO, R. Química Orgânica aplicada a produtos cosméticos. São Paulo, 2000 Realização