ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO CLORETO DE SÓDIO NA FLUÊNCIA E RETRAÇÃO AUTÓGENA DE PASTAS DE CIMENTO Pedro Menezes Ribeiro Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Civil. Orientador: Romildo Dias Toledo Filho Rio de Janeiro MARÇO/2015 ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO CLORETO DE SÓDIO NA FLUÊNCIA E RETRAÇÃO AUTÓGENA DE PASTAS DE CIMENTO Pedro Menezes Ribeiro PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Examinado por: ______________________________________________ Prof. Romildo Dias Toledo Filho, D.Sc. ______________________________________________ Prof.ª Ana Catarina Jorge Evangelista, D.Sc. ______________________________________________ Prof.ª Camila Aparecida Abelha Rocha, M.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO de 2015 Ribeiro, Pedro Menezes Estudo da influência do cloreto de sódio na fluência e retração autógena de pastas de cimento/ Pedro Menezes Ribeiro. – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2015. XIII, 32 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Romildo Dias Toledo Filho Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2015. Referências Bibliográficas: p. 31 – 32. 1. Pastas de Cimentação 2. Fluência 3. Retração autógena 4. Poços de petróleo 5. Cloreto de Sódio I. Toledo Filho, Romildo Dias II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia Civil III. Estudo da influência do Cloreto de Sódio na fluência e retração autógena de pastas salinas. iii “Truth is where you seek it”. Victor Lomar. iv AGRADECIMENTOS Dedico este trabalho antes de todos e acima de todos aos meus pais, José e Josefa, e minhas irmãs, Suzi e Shele, que sempre me incentivaram a estudar e souberam me apoiar sem adicionar pressão à minha (longa) jornada pelo nível superior. Agradeço à Caroline Reis, minha namorada, por nunca ter hesitado em me dar um puxão de orelha quando necessário, por ser uma pessoa exemplar, uma constante fonte de inspiração (e de conhecimentos sobre ciências dos materiais e normalização), por me apresentar ao Velho Continente e pelo companheirismo incondicional ao longo dos últimos anos. Agradeço também ao Prof. Romildo Toledo por dividir seu tempo e seu conhecimento com os alunos, sem diferenciar mestrandos, doutorandos, ic’s e estagiários. Por fazer do laboratório um ambiente de amigos e por incentivar a cooperação e a interação entre todos os grupos de pesquisa. Pela infindável boa vontade em resolver nossos problemas técnicos e burocráticos. Aos doutorandos Camila Abelha e Thiago Grabois, sem os quais este trabalho jamais teria sido realizado, por dedicarem parte de seu já tão escasso tempo livre às minhas perguntas. Às minhas queridíssimas colegas de sala do NUMATS, Renata Daniel, Kathelyn Gandra, Marianna Grosso, Nathalia Rodrigues, Tamara Nunes, Karine Ramos pela amizade. E também pela ajuda nas moldagens, desmoldagens, pesagens, ensaios e marcações. Pelas conversas no café da tarde, da manhã, pré-almoço e pós-almoço. Aos professores do curso de Engenharia Civil. Aos meus amigos (e também colegas de trabalho no IF), Carlos José, Dilma Santos, Cristina Coelho e Ana Lúcia, por todo o apoio e troca de conhecimentos. Às parceiras da Engenharia Civil, Raisa Belchior, Livia Jambo, Raquel Carvalho e Bruna Moreira, pelas intermináveis horas de estudo madrugada à dentro, pelo suporte e por tornarem os últimos períodos menos difíceis. Aos companheiros de Escola Politécnica Leandro Morani, Vivian Dias, Mayara Queiroz e Rafael Cordeiro pela cerva de sexta. E a de sábado. E a de domingo. v Aos meus amigos-quase-irmãos Rafael (Qboo), Susan Katz e Eduardo Savino. À todos que dividiram um livro, um artigo, uma foto, um café ou cerveja comigo nos últimos anos. Ao Bule de Chá de Russel e ao Grande Monstro de Espaguete Voador. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado ao DCC/EP/UFRJ como parte integrante dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO CLORETO DE SÓDIO NA FLUÊNCIA E RETRAÇÃO AUTÓGENA DE PASTAS DE CIMENTO Pedro Menezes Ribeiro Março/2015 Orientador: Romildo Dias Toledo Filho Curso: Engenharia Civil As recentes descobertas de reservas de óleo e gás abaixo de zonas de sal na costa brasileira tornam ainda mais importante o conhecimento do comportamento das pastas de cimento frente à formações salinas, para que se possa prever as alterações ocasionadas pela interação da formação com a pasta. O objetivo do presente trabalho é estudar a influência do cloreto de sódio na fluência e retração autógena das pastas de cimento Portland classe g com resistência à compressão de 30 MPa. As pastas utilizadas foram confeccionadas com água deionizada, cimento Portland classe G, aditivo antiespumante e cloreto de sódio nas proporções de 0% (referência), 15% e 36% (saturada) em relação à massa d’água. As deformações autógenas foram medidas utilizando-se transdutores de deslocamento lineares (lvdt’s) posicionados nas extremidades dos corpos de prova, fixados em bases magnéticas em sala com temperatura controlada. As medidas começaram a ser tomadas a partir do início das reações de hidratação, constatado pelo aumento da temperatura dos corpos de prova. Os ensaios de fluência foram realizados na mesma sala e para medição das deformações foram utilizados conjuntos de extensômetros e termômetros blindados, colocados dentro dos corpos de prova durante a moldagem. A carga foi aplicada aos 8 dias de idade e mantida até os 104 dias. Após a descarga, as leituras foram mantidas por mais 56 dias, totalizando 160 dias de ensaio. Observou-se um significativo aumento fluência quanto da retração autógena nas pastas com cloreto de sódio. Além disso, foi constatada uma fase de expansão durante o ensaio de retração autógena para as pastas saturadas. Palavras-chave: Pastas de cimentação, Fluência, Retração autógena, Poços de petróleo, cloreto de sódio vii Abstract of Undergraduate Project presented to DCC/EP/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Civil Engineer. STUDY OF THE INFLUENCE OF SODIUM CHLORIDE ON FLUENCE AND AUTOGENOUS SHRINKAGE OF CEMENT SLURRIES Pedro Menezes Ribeiro March/2015 Advisor: Romildo Dias Toledo Filho Course: Civil Engineering The recent findings of large oil and gas reserves under salt formations on the Brazilian shore made even more important the knowledge of salt slurries behavior, so that we can predict any changes induced by salt formation-slurry interactions. The objective of this work is to study the influence of sodium chloride on fluence and autogenous shrinkage of class g oil well cement slurries with compressive strength of 30MPa. The slurries were made using deionized water, class g cement, antifoam additive and sodium chloride in proportion of 0% (reference), 15% and 36% (saturated) by weight of water. The autogenous shrinkage was measured using displacement transducers (lvdt’s) set on each end of the test specimens, fixed in a magnetic workbench on a room with controlled temperature. Then, the measurements were started at the time the hydration reactions began, what was verified by the rise in the slurry temperature. For the fluence test, extensometers coupled with thermometers were set inside the test specimens during the casting. The load was applied 8 days after the casting and was kept until 104 days. After unloading, we kept the measurements for additional 54 days, making a total of 160 days. We found an increase on both fluence and autogenous shrinkage for 15% and 36% salt slurries. We also found expansive behavior during the autogenous shrinkage test for saturated (36% NaCl) slurries. Keywords: Cement slurries, fluence, autogenous shrinkage, oilwells, sodium chloride viii LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Curva granulométrica do cimento utilizado ..................................... 9 Figura 2 – Forma geral da curva deformação versus tempo para um material sujeito a fluência (Toledo Filho, 1997) ........................................................... 12 Figura 3 – Perfil de deformação típico para o concreto sob tensão constante e após a remoção da carga (Toledo Filho, 1997) ............................................. 13 Figura 4 – Termômetro PT100 Blindado ....................................................... 15 Figura 5 – Extensômetro KM120 ................................................................... 16 Figura 6 – Conjunto termômetro-extensômetro ............................................. 17 Figura 7 – Moldes preparados e instrumentados........................................... 17 Figura 8 – Faceamento no torno mecânico ................................................... 18 Figura 9 – Corpo de prova para carregamento .............................................. 18 Figura 10 – Corpo de prova de referência encapado com fita de alumínio .... 19 Figura 11 – Corpos de prova posicionados no pórtico de carga .................... 20 Figura 12 – Data logger (esquerda) e medidor de deformações (direita) durante a leitura ......................................................................................................... 21 Figura 13 – Detalhe do posicionamento do lvdt ............................................. 22 Figura 14 – Configuração inicial do ensaio de fluência .................................. 23 Figura 15 – Configuração final do ensaio de fluência .................................... 23 Figura 16 – Deformações medidas nos cps carregados e nos cps de referência ...................................................................................................................... 24 Figura 17 – Resultados de Fluência para as 3 dosagens estudadas ............. 25 Figura 18 – Resultados de fluência específica .............................................. 26 ix Figura 19 – Retração média em função do tempo ......................................... 28 x LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Causas de falha na cimentação primária (Well Cementing, Schlumberger, 1990) ....................................................................................... 3 Tabela 2 – Dosagens estudadas ..................................................................... 7 Tabela 3 – Requisitos físicos do cimento portland classe G ............................ 7 Tabela 4 – Composição química do cimento utilizado ..................................... 8 Tabela 5 – Propriedades Físicas da Halita (Fonte: Mohriak, et al., 2008) ........ 9 Tabela 6 – Propriedades de estado fresco das pastas estudadas (Fonte: Rocha, 2012)............................................................................................................. 10 Tabela 7 – Resistência à compressão uniaxial para ensaio de fluência ........ 15 Tabela 8 – Resultados do ensaio de fluência ................................................ 26 xi LISTA DE SÍMBOLOS v – Volume da pasta t – tempo de mistura L – Comprimento do corpo de prova Ca – Deformação de fluência εa – Deformação total medida εsp – Deformação específica E – Módulo de Young σ – Carregamento atuante LISTA DE SIGLAS API – American Petroleum Institute ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas BWOW – By weight of water, indica materiais dosados em relação à agua utilizada na mistura CPG – Cimento Portland Classe G PREF – Pasta de referência P15 – Pasta com adição de 15% de NaCl P36 – Pasta com adição de 36% de NaCl xii SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 OBJETIVO ............................................................................................................... 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 5 MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................... 7 Confecção das pastas ....................................................................................... 7 Procedimento Experimental............................................................................. 11 Fluência ................................................................................................. 11 Preparação dos Moldes e Moldagem................................................. 16 Desmoldagem e Preparação dos Corpos de Prova ........................... 18 Carregamento e Descarregamento .................................................... 20 Retração Autógena ................................................................................ 21 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 24 Fluência........................................................................................................... 24 Retração Autógena.......................................................................................... 27 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ..................................................... 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 31 xiii INTRODUÇÃO A crescente demanda global por energia vem exigindo soluções cada vez mais inovadoras das indústrias que a produzem e a indústria de óleo e gás não é exceção: esta tem sido movida a explorar áreas cada vez mais complexas para atingir o patamar requerido de produção. Entre estas áreas, podemos citar as grandes reservas de petróleo que se encontram sob formações salinas, como as que vem sendo exploradas desde 1940 (Slagle and Smith, 1963) na região do Golfo do México. Reservas em situação similar foram descobertas pela Petrobrás na Bacia de Santos, no fim de 2007, com volume recuperável estimado de cerca de 8 bilhões de barris. Desde então novas descobertas foram feitas e estima-se atualmente que as reservas sob a camada do pré-sal na costa brasileira atinjam o volume de 50 bilhões de barris. De acordo com a Petrobrás, estas reservas encontram-se sob uma camada de cerca de 2000 m de sal e 3000 m de rocha, em regiões do atlântico com 2000 m à 3000 m de profundidade, tornando a sua extração extremamente custosa e complexa. A etapa de transposição das camadas de sal apresenta aos operadores uma série de desafios únicos: possibilidade de movimentação do corpo de sal, interação dos sais com os fluidos de perfuração ou sua incorporação na pasta de cimentação são apenas alguns dos complicadores que surgem nas operações de cimentação. A cimentação primária dos poços de petróleo, utilização mais comum do cimento Portland classe G (CPG), tem por objetivo preencher o espaço anular entre a formação rochosa e a coluna de revestimento. Idealmente, esse procedimento deve depositar uma pasta homogênea, de propriedades uniformes e livre de contaminações, garantindo a estabilidade, vedação e a fixação mecânica do poço. Quando a cimentação primária apresenta alguma falha, irregularidade ou qualquer outra peculiaridade que venha a causar desempenho aquém do esperado, é necessário executar um procedimento corretivo, a cimentação secundária. Este procedimento representa um custo adicional na construção do poço devendo, portanto, ser evitado através do planejamento e rigoroso controle tecnológico das operações de cimentação. 1 Quando se faz necessária a transposição de uma zona de sal, devemos fazer um estudo preliminar das características deste depósito (composição química, solubilidade etc.) para evitar alterações não previstas nas propriedades da pasta. Tais alterações podem gerar problemas durante a extração ou mesmo impedir que o poço entre em atividade, acarretando prejuízos que não se limitam somente ao investimento na operação, mas também ao que se deixa de lucrar com a extração. A Tabela 1 lista uma série de causas de falha na cimentação primária. Dentro deste contexto, é de suma importância para os operadores conhecer o comportamento dos materiais utilizados frente às formações salinas, de modo a prever quaisquer alterações em suas propriedades e garantindo o sucesso da operação de cimentação do espaço anular. A influência do cloreto de sódio nas características de fluência e retração autógena das pastas de cimentação será o objeto de estudo desta monografia. 2 Tabela 1 – Causas de falha na cimentação primária (Well Cementing, Schlumberger, 1990) CAUSA Contaminantes na água de mistura. Temperatura estimada incorretamente. Desidratação da pasta no anular. Uso de cimento impróprio. Retardador insuficiente. Sapata ou colar obstruídos. Tampão de borracha não liberado. Falha dos equipamentos flutuantes sem ter ocorrido queda de pressão. Cálculos de deslocamentos equivocados. Revestimento partido ou furado. Falhas mecânicas. Água de mistura insuficiente. Falha do sistema de fornecimento de cimento Pressão hidrostática insuficiente. Gelificação da interface lama/pasta. Altura de pasta insuficiente para cobrir a formação com gás. Desidratação da pasta. Tubo encostado na formação. Altas propriedades reológicas do fluido de perfuração. Falta de movimentação da coluna de revestimento. Poço arrombado. Água de mistura aquecida. Cimento ou aditivos inadequados para as condições do poço. Incompatibilidade química lama/espaçador/pasta. Subestimativa da temperatura. TIPODE FALHA Pega da pasta dentro do revestimento Tampão de borracha não encontrado, assentamento no elemento flutuante. Não obtenção do volume de pasta programado para a mistura. Gás presente no anular. Canalização Pega prematura da pasta. 3 OBJETIVO O presente trabalho teve por objetivo caracterizar os comportamentos de fluência e retração autógena de pastas de cimentação salinas, nas dosagens de 15% de NaCl e 36% de NaCl, em comparação com a pasta de referência, sem adição de sal. Visou-se com isso aprofundar o conhecimento do comportamento das pastas utilizadas em formações salinas, bem como se determinar as alterações de comportamento geradas pela incorporação de cloreto de sódio, tipo de sal predominante nestas formações, nas pastas de cimentação. Estrutura do trabalho O trabalho é composto por uma revisão bibliográfica apresentada no capítulo 3, uma descrição dos materiais e métodos utilizados, apresentada no capítulo 4, apresentação e discussão dos resultados, apresentada no capítulo 5, conclusões sobre os resultados obtidos, no capítulo 6, sugestões para trabalhos futuros, apresentada no capítulo 7 e referências bibliográficas, no capítulo 8. Na revisão bibliográfica, apresentada no capítulo 3, foram estudados artigos e livros relevantes ao trabalho, seja por partilharem o objeto de estudo ou por fornecerem parâmetros para a realização dos ensaios. Na seção de materiais e métodos, capítulo 4, são apresentadas as ferramentas e os equipamentos utilizados, as condições de mistura, moldagem e cura dos corpos de prova além de uma breve explicação sobre os fenômenos de fluência e retração autógena e os fatores que os influenciam. No capítulo 5 os resultados obtidos com as pastas salinas são comparados com os resultados da amostra de referência. No capítulo 6 são apresentadas algumas possíveis explicações para o comportamento encontrado nas pastas salinas estudadas. O capítulo 7 contém sugestões de possíveis continuações deste trabalho e o capítulo 8 contém as referências bibliográficas. 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Quando ocorre uma operação através de uma zona de sal é possível que o operador se depare com problemas oriundos das interações entre formação salina e os fluidos de perfuração ou a pasta de cimentação. Estas interações, quando não controladas, podem alterações da geometria do poço. Um aumento do diâmetro é um indício de remoção de sal pela solubilização das paredes da formação salina. Uma redução no diâmetro pode ser causada por movimentos na formação salina (fluência do sal). Além disso, a pasta pode sofrer diversas alterações em suas propriedades de acordo com a quantidade e o tipo de sal incorporado. Uma das técnicas utilizadas para reduzir essas interações é a adição de sal à pasta de cimentação antes de seu bombeamento no poço. Estas adições têm a função de reduzir a quantidade de sal retirado do depósito salino e tornam o comportamento da pasta mais previsível, uma vez que se sabe a quantidade e o tipo de sal presente na pasta. As pastas de cimentação com adição de sal em diversas dosagens foram objeto de diversos estudos. Um dos resultados observados com a adição dos cloretos, entre eles o cloreto de sódio, é a aceleração do tempo de início de pega (Cheung, et al., 2011). O tempo de espessamento da pasta também se altera de diversas formas, dependendo da concentração de sal. Em baixas concentrações, até 10% by weight of water (BWOW), há uma aceleração das reações de hidratação, levando a um menor tempo de espessamento. Em teores de 10% à 18% o NaCl não altera significativamente estas características. Em concentrações de 18% à saturação (36%), há um retardo na hidratação, aumentando o tempo de espessamento (Rocha, 2012; Zhou et al., 1996; Nelson et al., 1990; Suman Junior e Ellis, 1977). A influência do NaCl em outras propriedades das pastas de Cimento Portland Classe G foram estudadas por Zhou et Al., 1996. O estudo analisou pastas de cimento classe G, cimento e água (com relação água/cimento de 0,44) e sal (nas dosagens de 5%, 15%, 25% e 36%). Descobriu-se que o teor de 5% de NaCl (BWOW) ocasiona a minimização da água livre e o teor de 15% minimiza a perda de filtrado. Foi constatada também a redução do tempo de espessamento para adições de até 15% de NaCl. Já o limite de escoamento foi reduzido para teores maiores do que 15%. Verificou-se um 5 aumento da resistência à compressão para concentrações inferiores à 5%, em pastas curadas à 93ºC sob pressão de 20,7Mpa. Melo, 2009, fez o estudo das pastas salinas de cimento Portland especial – um cimento classe A industrialmente modificado - bastante similar ao cimento classe G, em teores de 0%, 5%, 10%, 15%, 20% e 25% (BWOW), dosadas com a densidade de 15,6lb/Gal em estado fresco, com relação água/cimento de 0,46, 0,47, 0,48, 0,49, 0,50 e 0,51, respectivamente. Foi constatada a redução de água livre em relação à pasta de referência nas dosagens inferiores à 20% e aumento da água livre para o teor de 25%. Melo, 2009, encontrou também aumento do tempo de espessamento nas dosagens de 20% e 25% e redução do limite de escoamento em concentrações superiores a 15%. Avaliando a resistência à compressão por pulso ultrassônico (UCA), com cura à temperatura de 74ºC e pressão de 20,7 Mpa, as pastas com 5% e 10% de NaCl apresentaram valores superiores às pastas de referência. As dosagens com 15% ou mais de adição apresentaram valores 10% inferiores à referência. Os autores atribuem a menor resistência à compressão (para uma mesma idade, quando comparada à uma amostra sem sal) ao menor grau de hidratação das pastas. Isso foi constatado por Zhou et al., 1996, que encontrou menores quantidades de hidróxido de cálcio nas pastas com maior adição de NaCl. A adição de NaCl induz também um comportamento expansivo nas pastas após o início de pega, causado pela pressão interna exercida pela cristalização dos sais dentro dos poros e pelas reações dos clorosilicatos (Nelson e Drecq, 1990). 6 MATERIAIS E MÉTODOS Confecção das pastas As pastas utilizadas nos ensaios foram preparadas utilizando os seguintes materiais: Cimento Portland Classe G, água deionizada, aditivo antiespumante D-Air 3000 L e cloreto de sódio. Para a produção das pastas foram utilizados alguns equipamentos auxiliares, como o bastão de vidro e a palheta, além do funil. Foram estudadas as seguintes dosagens: Tabela 2 – Dosagens estudadas Formulação 0% Sal 15% NaCl 36% NaCl Cimento Massa Volume (g) (ml) 788,34 244,70 788,34 244,70 788,34 244,70 Água Massa Volume (g) (ml) 347,58 349,00 347,58 349,00 347,58 349,00 Teor (%) 0 15 36 NaCl (BWOW) Massa Volume (g) (ml) 0 0 52,14 18,25 125,12 15,09 D-AIR 3000L Massa Volume (g) (ml) 1,95 2,10 1,95 2,10 1,95 2,10 O CPG é definido da seguinte maneira pela norma ABNT NBR 9831/2006: “Aglomerante hidráulico obtido pela moagem de clínquer Portland, constituído em sua maior parte por silicatos de cálcio hidráulicos e que apresenta características especiais para uso em poços de petróleo até a profundidade de 2440 m, assim como produzido.” (ABNT NBR 9831/2006)” A Tabela 3 apresenta os requisitos físicos desta classe de cimento, segundo esta mesma norma. Tabela 3 – Requisitos físicos do cimento portland classe G Requisito Físico CPP – Classe G Relação água/cimento (em massa) 0,44 7 Água livre máxima 5,90% Resistência à compressão mínima (cura 38ºC) Resistência à compressão mínima (cura 36ºC) Tempo de espessamento (lim inferior) Tempo de espessamento (lim superior) Consistência no período de 15 min a 30 min de ensaio max. 2,1 Mpa (300 psi) 10,3 Mpa (1500 psi) 90 min 120 min 30 Uc A Tabela 4 mostra os resultados da análise química do cimento utilizado no Espectrômetro de Fluorescência de Raios X por Energia Dispersiva EDX-720, enquanto a Figura 1 mostra a sua curva granulométrica: Tabela 4 – Composição química do cimento utilizado Composto Quantidade (%) CaO 66,87 SiO2 16,93 Fe2O3 5,40 Al2O3 5,30 SO3 4,13 K2O 0,60 SrO 0,27 TiO2 0,24 MnO 0,11 ZnO 0,08 Tm2O3 0,07 8 Figura 1 – Curva granulométrica do cimento utilizado A Tabela 5 mostra as propriedades físicas da Halita, conforme descrito por Mohriak, et al., 2008: Tabela 5 – Propriedades Físicas da Halita (Fonte: Mohriak, et al., 2008) Propriedade Valor típico Comentário Densidade 2,2 g/cm³ Varia com as impurezas Viscosidade 1014 Pa.s Duas a quatro vezes maior do que as outras rochas Pode ser fundida por intrusivas ígneas Condutividade Térmica 4,5 W/m/ºC Ponto de Fusão 804 ºC Velocidade Sísmica 4.500 m/s - Suscetibilidade Magnética ~0 cgs 25-100 cgs para outras rochas sedimentares 9 Finalmente, a Tabela 6 lista as propriedades de estado fresco das formulações estudadas, obtidas por Rocha, 2012. Tabela 6 – Propriedades de estado fresco das pastas estudadas (Fonte: Rocha, 2012) Formulação Limite de Escoamento Água livre Viscosidade Plástica 0% Sal 15% NaCl 36% NaCl 33 Pa 19 Pa 12 Pa 4,0% 3,0% 4,6% 105 mPa.s 70 mPa.s 56 mPa.s Todas as etapas (moldagem, desmoldagem e instrumentação, quando necessária) foram realizadas em sala climatizada à 21º ± 1º com umidade relativa do ar de 50% ± 1%. A energia de mistura foi mantida igual (5,9kJ/kg) para todas as pastas, determinada em função do volume a ser produzido, através da equação 1 obtida experimentalmente por Vorkinn e Sanders, 1993: E M k V 2 2 rpm 60 t (Equação 1) Onde: E =Energia de mistura (kJ) M = Massa de pasta (kg) k = constante determinada experimentalmente = 6,1 x 10-8 V = Volume da pasta (litros) t = tempo de mistura (s) 10 Foi adotada a seguinte sequência de procedimentos: 1. Verificação e eventual lavagem de todos os aparelhos utilizados a fim de evitar quaisquer contaminações; 2. Pesagem do NaCl em recipiente a parte; 3. Pesagem do cimento em recipiente a parte; 4. Pesagem da água destilada no copo do misturador Chandler 3070; 5. Pesagem do antiespumante e adição ao copo do misturador; 6. Programar o misturador para o tempo fornecido pela equação 1; 7. Com o auxílio de funil e espátula, verter o NaCl no copo do misturador e dissolvê-lo na água; 8. Verter o cimento nos primeiros 65 segundos do tempo de mistura, à velocidade de 4000 RPM; 9. Alterar a velocidade do misturador para 12000 RPM pelo tempo de mistura restante, As pastas foram então vertidas nos moldes em uma camada única e o adensamento foi feito com o auxílio de um bastão de vidro, durante 60 segundos. O procedimento de cura foi feito em duas etapas: 24 horas de cura úmida em temperatura ambiente, seguidas da desmoldagem e cura térmica em banho à 60º C, durante 6 dias. Todos os corpos de prova foram selados à vácuo antes de sua imersão no banho, para garantir que não houvesse alteração do teor de NaCl. Passados 6 dias, o banho foi desligado e os corpos de prova mantidos submersos durante 24 horas, para resfriamento. Procedimento Experimental Fluência A fluência é o fenômeno de deformação do concreto ao longo do tempo quando submetido uma carga constante por um longo período. Essas deformações se devem ao deslocamento das moléculas de água adsorvidas na pasta endurecida e são 11 influenciadas por fatores como a relação água cimento da mistura, umidade relativa do ar, geometria da peça e idade de carregamento, entre outros fatores de menor influência. Na determinação da fluência devem também ser consideradas as deformações de outras origens, como retração autógena e deformações térmicas. Além disso, quando uma peça de concreto é submetida à um carregamento, é importante saber diferenciar as deformações de fluência da deformação elástica inicial. O formato geral da curva tempo versus deformação típica de um ensaio de fluência é mostrada na Figura 2. Notamos que no início do carregamento e no descarregamento ocorrem grandes deformações nos corpos de prova. Devemos entender, no entanto, que o concreto se comporta, com boa aproximação para pequenos deslocamentos, como um material elástico obedecendo, portanto, a Lei de Hooke. Assim sendo, quando aplicamos uma carga no corpo de prova, este apresenta uma deformação elástica inicial, enquanto o objeto se adapta à sua nova condição. Da mesma maneira, temos uma recuperação de parte desta deformação elástica durante a fase de descarregamento. Finalmente, ao excluirmos estas duas deformações, teremos a curva de fluência específica. Figura 2 – Forma geral da curva deformação versus tempo para um material sujeito a fluência (Toledo Filho, 1997) Deformação Fluência primária Fluência secundaria Fluência terciária Ruptura Deformação na aplicação da carga load Tempo Considerando o exemplo abordado por Neville e Brooks, 2010, para concreto carregado ao longo de um tempo t com um tensão de compressão σ0 e módulo de elasticidade E, em uma idade t0, obtem-se que na idade t, a deformação medida (εa) é composta pela deformação elástica inicial (σ0/E) e pela fluência (ca) (ver equação 2): 12 𝑐𝑎 = 𝜀𝑎 − 𝜎0 𝐸 (Equação 2) A Figura 3 ilustra uma situação típica e auxilia a interpretação das fases do ensaio de fluência: (i) deformaçãoe elástica; (ii) deformação elástica atrasada (recuperável com a remoção da tensão); (iii) fluxo (deformação do tipo viscosa a qual é não recuperável) (Toledo Filho, 1997). Fluxo (Fluência irreversível) Figura 3 – Perfil de deformação típico para o concreto sob tensão constante e após a remoção da carga (Toledo Filho, 1997) Certas propriedades dos materiais como os valores de retração, deformação elástica e fluência são usualmente expressos como quantidades adimensionais. Para o presente estudo adotaremos que a magnitude da deformação elástica e fluência seja expressa por unidade de tensão e não pela tensão real aplicada. Tais valores são chamados de deformação elástica específica e fluência específica e estão descritos a partir das equações de 3 à 5 obtidas em Toledo Filho, 1997. Seja a tensão atuante, denota-se a deformação elástica específica por: sp = el(t0)/ = 1/Ec(t0) (Equação 3) 13 Para: Ec(t0) é o módulo de elasticidade na idade t0. A fluência específica é dada como: csp = C(t,t0) = c(t,t0)/ (Equação 4) Para : c(t,t0) é a fluência no tempo t em razão da tensão aplicada no tempo t0. A relação da fluência com a deformação elástica é chamada de coeficiente de fluência: (t,t0) = c(t,t0)/el(t0) (Equação 5) O ensaio de fluência foi realizado em corpos-de-prova cilíndricos com 100 mm de diâmetro e 200 mm de altura, estando de acordo com a norma ABNT NBR 8224/2012 para fluência em concreto. Foram moldados oito corpos-de-prova para cada dosagem estudada. Quatro destes foram ensaiados na prensa SHIMADZU UH-F1000kNl para determinação da resistência à compressão uniaxial da mistura (Tabela 7). Este resultado foi então utilizado para determinar a carga a ser aplicada nos pórticos de fluência, igual à 40% da carga média de ruptura encontrada, valor que foi então utilizado para carregar dois corpos-de-prova (denominados CP1 e CP2) em um pórtico de fluência. Os dois corpos-de-prova restantes (denominados CP3 e CP4) foram utilizados como amostras de referência, para a medição de deformações de retração e controle de perda de massa. A temperatura dos corpos-de-prova foi monitorada, com o objetivo de considerar as retrações e expansões de origem térmica no cálculo da deformação total. 14 Tabela 7 – Resistência à compressão uniaxial para ensaio de fluência Formulação 0% NaCl 15% NaCl 36% NaCl Tensão média de ruptura (Mpa) 30,3 29,8 27,8 Tensão para ensaio de fluência (MPa) 12,1 11,9 11,1 Carga no atuador hidráulico (Ton) 153 150 140 A variação de temperatura e as deformações nos corpos-de-prova ao longo do ensaio foram medidas, respectivamente, com auxílio de termômetros PT-100 (Figura 4) e extensômetros KM120 (Figura 5) posicionados no interior dos moldes dos corpos de prova 1, 2, 3 e 4, antecedendo o processo de moldagem. Podemos identificar três etapas principais no procedimento experimental: (I) preparação dos moldes e moldagem, (II) desmoldagem, cura e preparação dos cps para carga e (III) carregamento e descarregamento com medidas das deformações. Segue o detalhamento das etapas. Figura 4 – Termômetro PT100 Blindado 15 Preparação dos Moldes e Moldagem Foram utilizados oito moldes metálicos cilíndricos de 100 x 200 mm. Quatro destes moldes possuem 4 furos diametralmente opostos agrupados aos pares (figura 8), com o intuito de facilitar o posicionamento do conjunto termômetro/extensômetro. Além disso, um furo à cerca de 4cm do topo auxilia a passagem dos fios dos sensores (Figura 7). Todas as juntas dos moldes foram seladas com silicone, com objetivo de garantir sua estanqueidade. Além disso, o interior dos moldes foi lubrificado com graxa, para facilitar a desmoldagem. O termômetro e o extensômetro foram unidos utilizando fita adesiva (Figura 6) e o conjunto foi fixado no centro do molde com o auxílio de dois segmentos de fio de nylon (Figura 7), sempre verificando o seu alinhamento vertical. A moldagem foi feita em uma única camada e, uma vez vertida a pasta, foi utilizado um bastão de vidro para retirar o excesso de ar no interior do molde. A cura úmida foi feita em um recipiente de acrílico lacrado e coberto com panos umedecidos para garantir umidade de 100% durante as primeiras 24 horas. Figura 5 – Extensômetro KM120 16 Figura 6 – Conjunto termômetro-extensômetro Figura 7 – Moldes preparados e instrumentados 17 Desmoldagem e Preparação dos Corpos de Prova Após o período de cura úmida, os corpos de prova foram retirados dos moldes e selados à vácuo, garantindo a manutenção do teor de NaCl durante a etapa de cura térmica. Os corpos selados foram postos no banho desligado, com água à mesma temperatura do laboratório. Em seguida o banho foi gradualmente aquecido até a temperatura de 60ºC. Após 6 dias, o banho foi desligado e resfriado durante 24 horas. Em sequência, os corpos de prova foram retirados do vácuo e levados para o faceamento em torno mecânico (Figura 8), tendo depois sua lateral selada com cinco camadas de filme plástico e uma camada de fita de alumínio, com 20mm de superposição, conforme a Figura 9. Os corpos de prova de referência receberam este mesmo tratamento também no topo e na base (Figura 10). Figura 8 – Faceamento no torno mecânico 18 Figura 10 – Corpo de prova de referência encapado com fita de alumínio 19 Carregamento e Descarregamento Ao final das fases anteriormente descritas, os corpos de prova tinham 8 dias de idade e foram transferidos para o laboratório de fluência. Os corpos de prova destinados ao carregamento foram transferidos para o pórtico de fluência e os corpos de prova de referência foram armazenados em uma estante ao lado deste mesmo pórtico, garantido condições semelhantes de umidade e temperatura. O carregamento dos corpos-de-prova foi feito por um atuador hidráulico de acionamento manual (Figura 11) e o carregamento verificado através de um manômetro instalado no pórtico. Para fazer as leituras, os extensômetros foram ligados em um medidor de deformações e os termômetros em um data logger (Figura 12). Figura 11 – Corpos de prova posicionados no pórtico de carga 20 Figura 12 – Data logger (esquerda) e medidor de deformações (direita) durante a leitura Retração Autógena As deformações de retração autógena foram calculadas utilizando a equação 6: 𝜺 = 𝚫𝑳 𝑳 (Equação 6) Para: ε = deformação de retração autógena; ΔL = variações dimensionais; L = distância entre os pinos no interior do molde (leitura de referência). 21 Para cada ensaio de retração autógena, foram utilizados conjuntos de três corpos de prova prismáticos, medindo 75mm X 75mm X 285mm , totalizando 9 corpos de prova. Os moldes metálicos tiveram suas faces internas revestidas com placas de teflon de 2 mm. As faces laterais dos moldes possuíam furos, nos quais foram posicionados pinos metálicos. A distância interna entre estes pinos foi medida antes do lançamento da pasta nos moldes para utilização posterior. Após a moldagem, um termômetro tipo J foi posicionado no centro de cada corpo de prova e conectado a um sistema de aquisição de dados para que, acompanhando o aumento da temperatura interna da pasta, se pudesse determinar o início da pega. Os moldes foram, então, envolvidos com filme plástico a fim de evitar a perda de umidade, conforme mostrado na Figura 14. Uma vez identificado o início de pega, foram utilizados LVDT’s fixados em uma base magnética e posicionados nos pinos metálicos (Figura 13) para acompanhar os deslocamentos no interior do molde, chegando à configuração inicial do ensaio Figura 13 – Detalhe do posicionamento do lvdt (Figura 14). A Aquisição de dados foi feita pelo software Agilent DataPro. Essa configuração se manteve até os oito dias, quando já havia se estabelecido o equilíbrio térmico entre a sala e os corpos de prova. Nesse ponto houve a desmoldagem e o encapamento dos corpos de prova com 5 camadas de filme plástico e uma camada de fita de alumínio com superposição de 20mm (análogo ao que foi feito nos corpos de prova do ensaio de fluência). Uma vez reposicionados os LVDT’s, chegou-se à configuração definitiva do ensaio (Figura 15), mantida até o seu fim. 22 Figura 14 – Configuração inicial do ensaio de fluência Figura 15 – Configuração final do ensaio de fluência 23 RESULTADOS E DISCUSSÃO Fluência A Figura 16 mostra as deformações medidas para as 3 misturas devido ao carregamento e as deformações medidas nos corpos de prova de referência. As curvas com maior deformação correspondem aos corpos de prova carregados e as curvas de menor deformação correspondem aos corpos de prova de referência, que não receberam carregamento. Figura 16 – Deformações medidas nos cps carregados e nos cps de referência A Figura 17 mostra os resultados do ensaio de fluência, incluindo as deformações elásticas, para as pastas ensaiadas. Podemos identificar com clareza duas regiões no gráfico, que correspondem à fase de carga e à fase de descarga. Além disso notamos as deformações elásticas oriundas do carregamento e descarregamento, respectivamente. 24 As pastas com adição de NaCl apresentaram fluência mais elevada do que a Figura 17 – Resultados de Fluência para as 3 dosagens estudadas pasta de referência. A introdução de cloreto de sódio gerou um aumento de 10,5% na fluência da P15 e de 35,6% na fluência da P36, quando comparadas às amostras da pasta de referência aos 104 dias. Após o descarregamento esta ordem se manteve. Devemos notar, porém, que os resultados para 160 dias da P15 e P36 foram mais próximos entre si e ambos foram mais do que 50% superiores aos resultados da PREF. O módulo de elasticidade da PREF e da P36 foram praticamente iguais durante a fase de carregamento, com valores de 15,5GPa e 15,4 GPa, respectivamente, enquanto a P15 apresentou um valor 22% inferior, cerca de 12,7 GPa. 25 A Figura 18 mostra os resultados de fluência específica para as 3 misturas. Uma vez descontado o deslocamento elástico, notamos que a fluência recuperável da PREF é maior do que a das pastas salinas. O fluxo sofreu um aumento de 64% e 73% para P15 e P36, respectivamente, quando comparados com o resultado da amostra de referência. Figura 18 – Resultados de fluência específica A Tabela 8 apresenta um resumo dos resultados encontrados para a deformação elástica inicial, deformação elástica no descarregamento, módulo de elasticidade no momento do carregamento e do descarregamento, fluência aos 104 dias e fluxo. Tabela 8 – Resultados do ensaio de fluência Propriedade 0% NaCl 15% NaCl 36% NaCl Def. inst no carregamento (x10-6) 780 994 720 Def. inst no descarregamento x10-6 739 936 646 26 Ecarreg (GPa) 15,5 12,1 15,4 Edescarreg (GPa) 16,4 12,7 17,2 Fluência 104 dias (x10-6/MPa) 143 158 194 Fluxo (x10-6/MPa) 42 69 73 Retração Autógena Variações dimensionais (estruturais) em materiais à base de cimento quando promovidas independentes da atuação de carregamentos externos são originadas pela oscilação de umidade no interior do material. As deformações de retração autógena são provocadas devido ao sucessivo consumo de água pelas reações de hidratação do cimento Portland e motivadas pelo movimento de água na microestrutura do concreto. As curvas médias de retração autógena em função do tempo, para os primeiros 80 dias de ensaio, são apresentadas para as três pastas estudadas na Figura 19. Observou-se que as pastas apresentaram valores de deformação por retração autógena elevados e que a diferença entre os resultados de cada uma das pastas foi significante. A pasta sem adição de sal aos 7 dias de ensaio já apresentava deformações médias de retração autógena em torno -220µs e -310µs aos 14 dias. Neste caso, as leituras do ensaio permanecem em andamento, os últimos registros realizados aos 60 dias apontam deformações por volta de 610µs. A pasta saturada, com 36% de NaCl, apresentou valores de retração em torno de -635µs aos 7 dias, -870µs aos 14 dias (referente à máxima observada) e logo em seguida, no período entre o 15º e 20º dia iniciou-se uma pequena tendência à expansão, confirmada pelo resultado de -762µs aos 80 dias (final do ensaio). Já a pasta com 15% de NaCl apresentou retração autógena muito maior do que as duas outras misturas estudadas, chegando perto de -2000µs. 27 Figura 19 – Retração média em função do tempo 28 CONCLUSÕES Os resultados de fluência específica e fluência irreversível (fluxo) da pasta de referência sem sal foram menores do que os obtidos na pasta com adição de 15% de NaCl e estes resultados, por sua vez, foram menores do que os obtidos nas pastas com 36% de NaCl, mostrando uma tendência de aumento da fluência e do fluxo com o aumento das dosagens de NaCl. Tendo em vista a não-linearidade de outras propriedades das pastas salinas com relação à adição de sal, não podemos afirmar que esta tendência se mantenha para todas as dosagens entre 0% e 36%. De maneira geral os valores de retração autógena foram elevados para as três misturas abordadas. A P36 apresentou, entre os 15 e 20 dias de idade, uma fase de expansão. Já a P15 apresentou a maior retração autógena entre as dosagens estudadas, com tendência de aumento da retração mesmo após os 80 dias de ensaio. Apesar de os ensaios mecânicos não serem suficientes para explicar satisfatoriamente este comportamento, uma suposição seria que no caso da pasta saturada ocorra precipitação expansiva do NaCl nos poros do material, o que não ocorreria na P15 ou ao menos não ocorreria com a mesma intensidade, fazendo com que a retração medida fosse maior. Outra possibilidade seria que o surgimento de microfissuras nos corpos de prova e a subsequente cristalização de NaCl neste espaço tenha induzido o comportamento observado na P36. Em ambos os casos, seriam necessários ensaios adicionais, como análises em MEV e Tomografia Computadorizada, para confirmar ou refutar estas suposições. 29 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Trabalho futuros podem contemplar a análise química das pastas estudadas em diversas idades, permitindo uma melhor compreensão da influência do cloreto de sódio na dinâmica de hidratação do CPG. Estas informações podem colaborar para que se formule uma explicação mais conclusiva sobre os resultados obtidos. Fica também a sugestão do estudo de fluência e retração autógena nas dosagens compreendidas entre 0% e 36% que não foram avaliadas neste trabalho. 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, W. P. (1997). Concretos: massa, estrutural, projetado e compactado com rolo: Ensaios e propriedades. (Vol. 1). São Paulo: PINI. Ballou, G. (2002). Handbook for Sound Engineers (3 ed.). Focal Press. Bentur, A., & Mindess, S. (1990). Fibre Reinforced Cementitious Composites. 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