VERUSCA NAJARA DE CARVALHO CUNHA MOBILIZAÇÃO PRECOCE NO PACIENTE CRÍTICO, QUANDO INICIAR E EM QUEM APLICAR? Monografia apresentada ao Programa de Pós Graduação Latu Sensu em Fisioterapia em Terapia Intensiva da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do certificado de Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva. Orientador: Esp. Saint-Clair Gomes Bernardes Neto Brasília 2013 RESUMO CUNHA, Verusca Najara de Carvalho. Mobilização precoce no paciente crítico, quando iniciar e em quem aplicar? 2013. 19 páginas. Trabalho de conclusão de curso. Programa de Pós Graduação Lato Sensu em Fisioterapia em Terapia Intensiva – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2013. A mortalidade de pacientes críticos internados em unidades de terapias intensivas (UTIs) diminuiu significativamente nos últimos anos em decorrência do desenvolvimento de novas abordagens metodológicas no tratamento dos mesmos, entretanto, resultados similares não são observados quando se trata das morbidades apresentadas após longos períodos de permanência hospitalar. A fraqueza muscular é uma das mais marcantes sequelas adquiridas em pacientes críticos, que em muitos casos, perdura por meses após alta hospitalar. A fraqueza muscular tem uma etiologia multifatorial sendo que o imobilismo é o fator determinante e intimamente relacionado à necessidade de suporte ventilatório invasivo, cateteres centrais, instabilidade hemodinâmica, sepse e outros fatores, que quando associados contribuem para um ciclo vicioso de dependência funcional e restrição ao leito, que resultam na permanência prolongada do individuo na UTI com consequente redução da qualidade de vida. Frente ao conhecimento dos efeitos deletérios do imobilismo, a mobilização precoce vem sendo usada como um recurso na prevenção da fraqueza muscular, contudo, existe grande divergência quando se trata do momento ideal para seu início, assim como, se existe uma população específica com potencial de maior beneficiamento. Sendo assim, uma revisão bibliográfica foi realizada nas principais bases de dados nacionais e internacionais, utilizando os termos “early mobilization”, “physiotherapy” combinados com “intensive Care Unit” e “critical illness”, assim como suas respectivas traduções. Quarenta e três potenciais artigos foram pré selecionados, sendo que após análise metodológica sete artigos foram utilizados no presente estudo. A literatura atual apresenta grande divergência quando se trata de protocolos e populações estudadas, contudo, observou-se que quanto mais precoce fosse iniciada a mobilização maiores seriam os benefícios, tais como melhora da capacidade funcional. Conclui-se que a mobilização precoce mostra-se como uma alternativa benéfica, segura e eficaz na prevenção e reversão da fraqueza muscular adquirida em UTIs, contudo novas pesquisas são incentivadas, visto ainda haver uma carência de estudos que demonstrem o momento ideal para o início da sua prática, como também diretrizes que direcionem cada atendimento visando potencializar o tratamento e a recuperação de cada paciente. Palavras-chaves: mobilização precoce, paciente crítico, unidade de terapia intensiva. ABSTRACT CUNHA, Verusca Najara de Carvalho. Early mobilization in critically ill patients, when to start and who to apply? 2013. 19 pages. Final Paper. Latu Sensu Post-Graduation Program in Physical Terapy in Intensive Care – Catholic University of Brasília, Brasília, 2013. The mortality of critically ill patients admitted to intensive care units (ICUs) decreased significantly in the last year due to the development of new methodological approaches in the treatment of these, however, are not observed similar results when it comes to the morbidities developed after long hospital stay. Muscle weakness is one of the most significant sequel acquired in critically ill patients, which in many cases lasts for months after hospital discharge. Muscle weakness has a multifactorial etiology is that inaction is the determining factor closely related and the need for invasive mechanical ventilation, central catheters, hemodynamic instability, sepsis and other factors, that when combined contribute to a vicious cycle of dependence and functional restriction bed, resulting in prolonged stay in the ICU of the individual with consequent reduced quality of life. Faced with the knowledge of the deleterious effects of immobility, early mobilization has been used as a resource in the prevention of muscle weakness however, there is wide divergence when it comes to your ideal time to start, and if there is a specific population with potential greater beneficiation. Therefore, a literature review was conducted in major databases nationally and internationally, using the terms "early mobilization", "physiotherapy" combined with "Intensive Care Unit" and "critical illness", as well as their translations. Forty-three articles were preselected potential, while methodological analysis after seven articles were used in this study. Current literature shows wide divergence when it comes to protocols and study populations, however, it was observed that the earlier was initiated mobilization would be the biggest benefit, such as improvement in functional capacity. It is concluded that early mobilization is shown as a beneficial alternative, safe and effective in preventing and reversing muscle weakness acquired in ICUs, however further research is encouraged, as there is still a lack of studies that demonstrate the ideal time to start of their practice, as well as guidelines that direct each service aiming at intensifying treatment and recovery of each patient. Keywords: early mobilization, critically ill, intensive care unit. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 5 2. MÉTODOS ........................................................................................................................ 8 2.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 8 2.2. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO ........................................................................................... 8 3. RESULTADOS .................................................................................................................. 9 4. DISCUSSÃO .................................................................................................................... 16 5. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 18 5 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos a medicina, assim como, as áreas complementares tais como a fisioterapia, enfermagem, fonoaudiologia e psicologia apresentaram um exponencial desenvolvimento em suas abordagens terapêuticas no ambiente de unidades de tratamento intensivo (UTI) proporcionando consequentemente, um maior número de sobreviventes após exposição a doenças graves, contudo, sem expressivas reduções nas morbidades apresentadas pelos mesmos (ADLER E MALLONE, 2012; PATTANSHETTY E GAUDE, 2011). No ambiente de uma UTI os principais agravantes apresentados pelos pacientes, além de sua doença de base, são a sedação, bloqueadores neuromusculares, corticosteroides, instabilidade hemodinâmica, cateteres centrais e vias aéreas artificiais (ADLER E MALLONE, 2012) que resultam em uma significativa inatividade por período de tempo prolongado com consequente descondicionamento físico e fraqueza muscular generalizada (ADLER E MALLONE, 2012; DANTAS ET AL, 2012; PINHEIRO E CHRISTOFOLETTI, 2012; SIBINELLI et al., 2012). Por muito tempo acreditou-se que o repouso absoluto era benéfico para a estabilização clínica do paciente, contudo, hoje já é conhecido que o imobilismo pode influenciar na recuperação dos pacientes em virtude das complicações associadas, tais como, atelectasias, edema pulmonar, doenças tromboembólicas, úlceras de pressão, resistência à insulina, atrofia óssea, contraturas articulares, alterações na arquitetura muscular e fraqueza muscular (NEEDHAM et al., 2010; MOTA E SILVA, 2012). A fraqueza muscular adquirida em UTI, tem se mostrado uma preditora independente para o insucesso no desmame da ventilação mecânica e mortalidade entre pacientes críticos (DE JONGHE et al. 2007; ALI et al. 2008). Os mecanismos que levam a fraqueza muscular ainda são pouco compreendidos, embora fatores inflamatórios sistêmicos, como a sepse, e distúrbios hidroeletrolíticos, sejam frequentemente associados, resultando em uma importante modificação nas isoformas de miosina que mudam de fibras de contração lenta para rápida, assim como, um desequilíbrio na relação síntese/degradação de proteínas musculares com predomínio da degradação e consequente hipotrofia do músculo esquelético (NEEDHAN, 2008; PUTHUCHEARY, et al., 2010; SCHWEICKERT E KRESS, 2011; LLANO-DIEZ et al., 2012; SIBINELLI et al., 2012). 6 Bolton e colaboradores, (1984 apud PUTHUCHEARY et al., 2010 ) em seus estudos pioneiros, demonstraram que após 2 a 5 dias de internação já era possível observar alterações eletrofisiológicas na musculatura de paciente críticos. Já Berg e colaboradores (1997), afirmam que cada semana de repouso representa uma perda de 4 a 5% da força muscular. Ao analisar a musculatura respiratória, significativa atrofia das fibras musculares do diafragma é observada após 18 a 69 horas do início da ventilação mecânica (VM) (LEVINE et al., 2008). Em estudos mais recentes publicados por Herridge e colaboradores (2003), pacientes críticos que sobreviveram após internações prolongadas (média de 25 dias) ainda queixavamse de perda de massa muscular, fraqueza muscular proximal e fadiga um ano após a alta hospitalar, demonstrando assim que o processo de perda acontece de forma precoce, sendo que o retorno a suas atividades cotidianas estende-se por um período mais prolongado, e nem sempre com retorno total a capacidade funcional prévia a internação (Figura 1). Vale ainda destacar que o envelhecimento e estado nutricional do indivíduo podem agravar e intensificar ainda mais esse processo (IANNUZZI-SUCICH et al, 2002). Figura 1. Representação dos fatores que podem influenciar a relação síntese/degradação de proteína muscular e consequentemente fadiga muscular. Relação sin/degr: relação síntese/degradação de proteínas musculares. Adaptado de PUTHUCHEARY et al, 2010. 7 Frente ao crescente número de estudos investigando os efeitos deletérios do imobilismo no leito, novas pesquisas foram desenvolvidas descrevendo os potenciais benefícios da mobilização cada vez mais precoce de pacientes críticos (NEEDHAM et al., 2010; SCHWEICKERT E KRESS, 2011). Entende-se como mobilização precoce o processo de melhora da mobilidade do paciente ainda no ambiente de UTI, seja através da mobilização na cama, beira leito, transferências leito-poltrona, marcha estática e deambulação (GARZON-SERRANO et al., 2011). Mobilizar paciente ainda em VM não é uma prática recente em UTIs, sendo já demonstrado ser possível, seguro e benéfico, contudo, alguns profissionais ainda se mostram receosos em mobilizar pacientes críticos e acabam por restringir esses pacientes à inatividade (BAILEY et al, 2007; NEEDHAM et al., 2010; PINHEIRO E CHRISTOFOLETTI, 2012; NORDON-CRAFT et al., 2011). Estudos demonstraram que o início precoce de mobilização em paciente em uso de VM está associado a uma melhora funcional precoce e ao retorno as atividades de vida diárias, tais como deambulação, em virtude de prevenir a atrofia muscular e as complicações do imobilismo, proporcionando a esses pacientes uma independência funcional de maneira mais rápida (NEEDHAM et al., 2010). Estudos já publicados consideram o início da mobilização cinco dias após a admissão na UTI, outros já iniciaram 1,5 dias após a intubação (SCHWEICKERT et al, 2009), contudo, não há na literatura um consenso de qual é o momento ideal para o seu início. Atualmente a prática de mobilização precoce mostra-se crescente, contudo, há na literatura uma divergência quando se trata do momento específico para o início da mobilização precoce, assim como, se há características de um grupo específico de indivíduos que potencialmente podem se beneficiar mais da terapia. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi revisar a literatura recente, visando esclarecer se há um momento ideal para o início da terapia, assim como uma população específica para a obtenção dos benefícios da mobilização precoce em pacientes críticos. 8 2. MÉTODOS 2.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA As bases de dados MedLine, High Wire Press, SCIELO, e LILACS foram utilizadas na pesquisa bibliográfica. Os termos “early mobilization” e “physiotherapy” foram combinados com “intensive Care Unit” e “critical illness”. Suas respectivas traduções foram utilizadas para a pesquisa nas bases de dados nacionais. 2.2. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO Foram inclusos no presente estudo artigos originais em língua inglesa e portuguesa, realizados em adultos e publicados nos últimos quatro anos. Não foram inclusos no presente estudo cartas, resumos, relatos de casos, dissertações ou teses acadêmicas, artigos de revisão, artigos publicados em periódicos não indexados na plataforma CAPES e artigos que utilizaram modelos animais. As referências bibliográficas de artigos de revisão e publicações originais foram revistas completando a pesquisa eletrônica visando garantir que as pesquisas de banco de dados fossem abrangentes. Posterior análise de títulos e resumos foi realizada para obtenção de artigos relevantes para o estudo. 9 3. RESULTADOS Na figura 2 encontra-se demonstrado o resultado obtido com a pesquisa bibliográfica. Quando selecionados somente os artigos produzidos nos últimos 4 anos, a busca nas bases de dados resultou em 40 artigos com títulos potencialmente relevantes. Destes, trinta e três foram excluídos por serem artigos de revisão, editoriais, casos clínicos entre outros e seis artigos originais que não se enquadravam no perfil da pesquisa ou apresentavam ausência de informações metodológicas. Sete artigos originais foram selecionados e suas principais características encontram-se apresentadas na tabela 1. Figura 2. Estruturação da seleção dos artigos. 40 artigos potencialmente relevantes selecionados Todos passaram por avaliação metodológica 33 foram excluídos 10 editoriais/resumos, casos clínicos , cartas e outros 7 artigos originais selecionados 17 artigos de revisão 6 artigos originais com dados metodológicos insuficientes ou não se enquadravam no estudo 10 Tabela 1. Detalhamento dos artigos originais selecionados no presente estudo. Estudo Needham et al., 2010 Karatzanos et al.,2012 Objetivo Avaliar o antes e o depois da implementação de um projeto de qualidade no atendimento e sedação sobre o número de atendimento fisioterápico e o tempo de internação. Indivíduos Pacientes em ventilação mecânica por 4 ou mais dias. Previamente a internação sem danos cognitivos e sem doenças neuromusculares. Média de idade: 53 (43–69) anos. Inicio da mobilização Sem especificação, o paciente deveria cumprir os seguintes requisitos: Não estar em coma (Escala de agitaçãosedação de Richmond, escore ≥-3; PEEP<10cmH2O; FiO2<0,6; Não ter aumentado a infusão de qualquer vasopressor nas últimas 2 horas. Investigar o efeito da Pacientes com idade 48 horas após estimulação elétrica acima de 18 anos; internação. muscular na força de Com IMC < 35kg/m2; pacientes críticos. sem doenças neuromusculares prévias; sem neoplasias em estágio terminal; sem marca-passo; E, internados a menos de 48 horas. Média de idade: Grupo estimulação: 59±21anos. Grupo controle: 55±20anos. Metodologia Uma equipe multidisciplinar focouse em reduzir sedação, estabelecer uma rotina de mobilização dos pacientes e aumentar o número de atendimento de pacientes com fraqueza muscular. Resultados Diminuição do tempo de permanência em UTI de 7 para 4,9 dias (p<0,02). Tendência a diminuição de mortalidade de 23,3 para 21 (p=0,55). Aumento no número de atendimentos. Diminuição dos dias de sedação. Grupo estimulação recebia sessões diárias em MMII (45 Hz, 400 μ sec, 12 sec on – 6 sec off, rampa de subida/ e descida com duração de 0,8 sec) por 55 minutos. Grupo controle atendimento usual em unidade de terapia intensiva. Grupo estimulação apresentou maiores coeficientes referentes a força muscular de flexores de punho, flexão e extensão de joelho e dorsiflexão de tornozelo (p<0,05). 11 Titsworth, et al.; 2012 Investigar a importância e eficácia do aumento da prática de mobilização precoce em pacientes neurológicos. Cumming, et al.;2011 Avaliar se a implementação mais precoce e intensa de atividade física em pacientes após uma isquemia cerebral reduziria o tempo para o retorno das atividades de vida diária e para a deambulação. Todos os pacientes Sem especificação do Programa de exercícios, neurológicos admitidos momento para início do divididos em steps na unidade no período protocolo. realizados 3x por de abril de 2010 a Julho semana com duração de de 2011 (n=3.291), com 30 a 60 minutos. idade acima de 18 anos, Os steps iniciam com hemodinamicamente elevação da cabeceira a estáveis e exceto os 45º, passando por pacientes terminais. sedestação, sedestação Média de com membros idade:58,4±1,7 anos. inferiores pendentes, transferências para poltrona e deambulação que evolui de acordo com o suporte de apoio necessário e com a quantidade de passos dados. Pacientes com idade Início nas primeiras 24 O estudo foi composto acima de 18 anos, horas após o acidente por 71 pacientes frequência cardíaca em vascular encefálico. divididos em dois 40 -100bpm, SpO2> grupos: 92% e temperatura < Grupo mobilização 38,5º, sem deterioração precoce: 38 indivíduos; do quadro nas primeiras Grupo controle: 33 horas de internação. indivíduos. Média de idade: O grupo de mobilização Grupo mobilização precoce realizou o precoce: 74.6 (±14.6) protocolo padrão de anos. exercícios da UTI mais Grupo controle: 74.9 ortostase e retirada do (±9.8) anos. leito pelo menos 2 Aumento em 300% da mobilização dos pacientes, sem aumento nos eventos adversos associados. (p<0001). Diminuição significativa dos dias de internação hospitalar (p<0,004). Diminuição dos casos de pneumonia associadas a VM (p<0,001). A proporção de óbitos entre os grupos não diferiu nos períodos 3 e 12 meses após o AVE. No início do estudo 86% dos pacientes não conseguiam deambular sem auxílio. Após 2 semanas do AVE cerca de 67% dos pacientes do grupo mobilização precoce retornaram a deambular sem auxílio. No grupo 12 Soares et al., 2010 Descrever a frequência de retirada do leito em pacientes que foram submetidos a ventilação mecânica invasiva na UTI e suas repercussões sobre a mortalidade e tempo de permanência na unidade. Todos pacientes internados na UTI no período de setembro/2008 a janeiro/2009 e que fizeram uso de suporte ventilatório invasivo durante a internação. Não houve delimitações de idade, sexo e motivo da internação. Média de idade: Grupo que saiu do leito: 57,9+18,1 anos. Grupo que não saiu do leito: 68,4+18,3 anos. Foi registrado quanto tempo após processo de descontinuação da VM foi realizada a primeira saída do leito. Para tal, foram consideradas as seguintes alternativas: em até 24 horas (no mesmo dia), de 24-48 horas e após 48 horas da descontinuação da VM. vezes ao dia. Já o grupo controle recebeu apenas o protocolo padrão. Protocolo fisioterápico adotado foi a retirada do leito, tais como, sedestação com membros inferiores (MMII) pendentes, sedestação na poltrona, marcha estacionária e deambulação. Um grupo controle no qual não foi realizada a retirada do leito foi utilizado no estudo. controle apenas 50% apresentou mesmo resultado, p<0,032. Os pacientes que foram retirados do leito permaneceram menos tempo na UTI quando comparados aos pacientes que não foram retirados do leito – 5 dias (IC 95%, 6-14 dias) e 10 dias (IC 95%, 8-13 dias), respectivamente, contudo sem diferença significativa (p=0,14). Considerando a saída ou não do leito após a descontinuação da ventilação mecânica, observou-se tanto uma maior mortalidade real quanto uma maior mortalidade prevista no grupo que não foi retirado do leito quando comparado ao que foi retirado do leito (p<0,001 e p=0,004, respectivamente). Contudo, o prognóstico calculado pelo APACHE II, observou-se que os pacientes que foram retirados do leito 13 possuíam menor gravidade quando comparados aos pacientes que não foram retirados do leito (p=0,01). Dos 56% dos pacientes que saíram do leito, 27,5% foram retirados do leito no mesmo dia (em até 24 horas após a descontinuação da VM); 54,9% após 24-48 horas; e 17,6% após 48 horas. Dantas et al., 2012 Avaliar os efeitos de um protocolo de mobilização precoce na musculatura periférica e respiratória de pacientes críticos. Sem especificação Sem especificação do Protocolos: Aumento significativo quanto a idade. Foram início do protocolo. GFC- atendimento da força muscular admitidos no estudo diário, 5 vezes por respiratória após o pacientes de ambos os semana, de mobilização período de estudo no gêneros, em VM, que passiva nos GMP atendessem aos critérios 4 membros, sendo (Pimáx=52,71±12,69 de inclusão: variação otimizado para versus 66,64±26,44; <50% da exercícios ativop=0,02), fenômeno frequência cardíaca de assistidos não observado para os repouso e pressão de acordo com a pacientes do GFC arterial sistólica melhora e a (Pimáx =67,86±33,72 <200mmHg ou colaboração do versus 73,86±34,26; >90mmHg; pO2>90% paciente. p=0,60). ,com FiO2 <60%, sem GMP- protocolo de a força muscular sinais de desconforto mobilização precoce periférica não respiratório e sistematizado, apresentou aumento frequência 2 vezes ao dia, todos os significativo respiratória <25ipm; e dias da semana, com após o período de que não tivessem retirada do leito, estudo no GFC realizado nenhum sedestação na poltrona, (39,21±14,63 versus 14 tipo de programa de exercícios físicos antes da inscrição na pesquisa. Média de idade: Grupo fisioterapia convencional (GFC): 50,43 ± 20,45 anos. Grupo mobilização precoce (GMP): 59,07 ± 15,22 anos. Nordon-Craft 2011 et al., Demonstrar que a mobilização precoce é segura para pacientes com fraqueza muscular desenvolvida em UTIs em decorrência da necessidade de ventilação mecânica por mais de 7 dias. E, caracterizar os procedimentos fisioterápicos com suficientes detalhes para implementação de estratégias similares. Todos os pacientes maiores de 18 anos internados em UTI que não tivessem qualquer doença neurológica prévia, infarto do miocárdio recente (<3 semanas), angina instável, histórico de arritmia e alguma barreia de linguagem que limite a compreensão. Média de idade: 48 (2977) anos. treinamento de equilíbrio e deambular de acordo com o ganho de força muscular. O início da mobilização dependente da estabilidade hemodinâmica, saturação de oxigênio, ventilação e perfusão nas últimas 24h, além da capacidade cognitiva do paciente de interagir com o examinador, em média 2 dias. Protocolo: Correção postural, Técnicas respiratória (reexpansão e higiene), Exercícios terapêuticos, mobilização funcional, sedestação e deambulação. 5 vezes por semana 30 minutos em média de duração 40,29±10,51; p=0,82), porém no GMP (49,29±11,02 versus 55,86±4,40; p=0,04) foi encontrado significativo ganho de força muscular periférica. Diferenças não foram observadas entre os grupos no que diz respeito ao tempo total de VM (p=0,60), tempo de internação na UTI (p=0,77) e tempo de internação hospitalar (p=0,25). Foram realizadas 170 sessões. Somente 20 sessões terminaram antes dos 30 minutos o fator determinante para o término foi a fadiga. Dezessete paciente receberam alta hospitalar e esses demonstraram ter maio força muscular e independência funcional quando comparados a aqueles que receberam alta para outros setores do 15 hospital. Nenhum evento adverso relacionado com a fisioterapia ocorreu. VM: ventilação mecânica; ipm: incursões por minuto; bpm: batimentos por minuto: FiO2: fração inspirada de oxigênio; UTI: unidade de terapia intensiva; GFC: Grupo fisioterapia convencional; GMP: Grupo mobilização precoce; Pimáx: pressão inspiratória máxima; SpO2: saturação periférica de oxigênio; AVE: acidente vascular encefálico; MMII: membros inferiores; IMC: índice de massa corpórea; PEEP: pressão positiva no final de expiração. 16 4. DISCUSSÃO O principal achado do presente estudo foi que há uma divergência na literatura de qual o momento certo de iniciar a mobilização precoce em pacientes críticos. Contudo, fica claro que o quanto antes seja iniciada a mobilização precoce, menor é a mortalidade (SOARES et al., 2010), assim como, menor é a morbidade apresentada por esses pacientes após o período de internação (CUMMING e colaboradores, 2011; TITSWORTH, et al.; 2012). Quando se trata da população que mais se beneficiaria da prática da mobilização precoce, a idade foi uma variável determinante nos resultados obtidos. A grande maioria dos estudos analisados realizaram seus protocolos em indivíduos com idade acima de 18 anos, o que pode ser explicado pelo perfil das UTIs selecionadas nos estudos (UTIs para pacientes adultos), o que também facilita o desenvolvimento da pesquisa quando se trata de aspectos legais. Entretanto, na maioria dos estudos (Tabela 1), observou-se que as médias de idade dos pacientes internados estavam acima dos cinquenta anos (NEEDHAM et al., 2010; SOARES et al., 2010; DANTAS et al.,2012; CUMMING, et al.;2011; KARATZANOS et al.,2012; TITSWORTH, et al.; 2012). O envelhecimento é um processo fisiológico associado a inúmeras modificações fisiológicas, tais como a diminuição da força muscular (LEXELL, 1993) e da aptidão aeróbica (FLEG et al., 2005). Tais modificações, quando associadas ao sedentarismo predispõem esses indivíduos ao desenvolvimento precoce da sarcopenia assim como, ao desenvolvimento de outras patologias, tais como as doenças crônicas não transmissíveis, o diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica, entre outras, que podem influenciar no desfecho da internação assim como, na independência funcional e qualidade de vida desses pacientes após o período hospitalar. Cumming, et al., (2011) verificaram que indivíduos mais jovem, assim como, aqueles com menor severidade de um acidente vascular encefálico atingiram a independência funcional de maneira mais precoce quando comparado a indivíduos mais idosos. Dantas e colaboradores observaram melhora significativa (p<0,05) na força muscular respiratória e periférica de pacientes com idade média de 59,07 (± 15,22) anos submetidos a mobilização precoce. Resultados esses consistentes com outros estudos encontrados na literatura (NORDON-CRAFT et al., 2011; KARATZANOS et al.,2012). Sendo assim, a aplicação de protocolos de mobilização precoce, em indivíduos idosos que já sofrerem “desvantagem fisiológica” inerente ao processo de envelhecimento antes mesmo de serem internados em UTIs deve ser estimulada, visto a mesma proporcionar redução dos efeitos deletérios da imobilidade, promovendo a manutenção de sua capacidade funcional e a menor perda das fibras musculares que se deterioram com o imobilismo (DANTAS et al., 2012). Todos os pacientes participantes dos estudos apresentados demonstram uma gama de variação de doenças de base que causaram sua internação em UTIs. Da mesma forma a prática de mobilização precoce mostrou-se benéfica, segura e eficaz para os pacientes críticos internados em UTIs (NORDON-CRAFT et al., 2011; TITSWORTH, et al.; 2012), contudo todos os estudos apresentaram divergência no momento ideal para o início, assim como, o perfil do paciente que provavelmente mais se beneficiaria. 17 Quando se trata do protocolo fisioterápico (tipo de exercício, intensidade, séries de repetições e métodos de avaliação para progressão da sobrecarga) somente um estudo (NORDON-CRAFT et al., 2011) foi criterioso quando se trata de detalhamento da metodologia. Assim sendo, a literatura atual demonstra insuficientes evidências disponíveis para o desenvolvimento de diretrizes de intervenção fisioterápica para pacientes críticos. Faz-se necessário o desenvolvimento de estudos mais detalhados quanto aos protocolos, assim como também, estudos nacionais voltados para a realidade brasileira, visto que atualmente nos deparamos com um déficit significativo de profissionais e equipamentos na rede de saúde pública que comporta o maior número de pacientes críticos do país. Conclui-se que a mobilização precoce é benéfica, eficiente e segura para os pacientes críticos, ainda há na literatura uma carência de estudos que demonstrem o momento ideal para o início da prática, como também diretrizes que direcionem cada atendimento visando potencializar o tratamento de cada paciente. Apesar das divergências apresentadas pela a literatura atual estimula-se a realização da mobilização precoce no ambiente de UTI. 18 5. BIBLIOGRAFIA ADLER, J.; MALONE, D. Early mobilization in the intensive care unit: a systematic review. Cardiopulmonary Physical Therapy Journal. 2012, 23(1): 5-13. ALI, O’BRIEN JM Jr, et al. 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