UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA Caderno de Resumos 30 e 31 de maio e 01 de junho 2012 Uberlândia - MG UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos Programa de Pós-Graduação em Letras – Teoria Literária Grupo de Pesquisa sobre o Ensino de Língua Portuguesa – GPELP/CNPq CADERNO DE RESUMOS II SIELP II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA 30 e 31 de maio e 01 de junho de 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Alfredo Júlio Fernandes Neto - Reitor Darizon Alves de Andrade - Vice-Reitor Waldenor Barros Moraes Filho - Pró-reitor de graduação Alcimar Barbosa Soares - Pró-reitor de Pesquisas e Pós-Graduação Alberto Martins da Costa - Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis Valder Steffen Júnior - Pró-Reitor de Planejamento e Administração Sinésio Gomide Júnior - Pró-Reitor de Recursos Humanos INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA Maria Inês Vasconcelos Felice - Diretora PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS Alice Cunha de Freitas – Coordenadora PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS – TEORIA LITERÁRIA Betina Rodrigues da Cunha CURSO DE LETRAS Maria Cecília de Lima – Coordenadora CURSO DE TRADUÇÃO Paula G. Arbex COMISSÃO ORGANIZADORA Eliana Dias – Presidente Maria Cecília de Lima – Vice Presidente Elisete Maria de Carvalho Mesquita Luísa Helena Borges Finotti Maria Aparecida Resende Ottoni Fernanda Mussalim Maura Alves de Freitas Rocha APOIO TÉCNICO Fernando Paulino de Oliveira Rafael Regis Ramalho AGRADECIMENTOS Direção do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia OBS: Todos os resumos deste caderno foram elaborados por seus autores, não cabendo qualquer responsabilidade legal sobre seu conteúdo à comissão organizadora do evento. II SIELP II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA SUMÁRIO CONFERÊNCIA DE ABERTURA ................................................................................................ 9 MESA-REDONDA I ...................................................................................................................... 11 MESA REDONDA II ..................................................................................................................... 13 MESA REDONDA III .................................................................................................................... 16 CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO .................................................................................. 18 RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES EM GRUPOS TEMÁTICOS (GTS) ............................ 19 GRUPO TEMÁTICO 1: A LEITURA E A (RE)ESCRITURA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ................................................................................................................................ 19 GRUPO TEMÁTICO 2: A LÍNGUA PORTUGUESA E A EDUCAÇÃO DE NEGROS NO BRASIL E NOS PAÍSES AFRICANOS ......................................................................................... 28 GRUPO TEMÁTICO 3: A QUESTÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DA TRANSPOSIÇÃO AOS GESTOS DIDÁTICOS .......... 31 GRUPO TEMÁTICO 4: A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM HUMANA .41 GRUPO TEMÁTICO 5: AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: O DISCURSO VERBAL E VERBO-VISUAL NA ELABORAÇÃO DE CONTEÚDOS ..................................... 45 GRUPO TEMÁTICO 6: ANÁLISE DE PRÁTICAS DISCURSIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR ........................................................................................................................................ 48 GRUPO TEMÁTICO 7: AS MÍDIAS NO ENSINO DA LEITURA ........................................... 56 GRUPO TEMÁTICO 8: ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR DE LÍNGUA PORTUGUESA: EM PAUTA CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E TEXTO ...................... 62 GRUPO TEMÁTICO 9: CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA AO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL ................................................................... 65 GRUPO TEMÁTICO 10: DISCURSIVIDADES SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ................................................................................................................................ 71 GRUPO TEMÁTICO 11: DO TEXTO DE APOIO À PRODUÇÃO TEXTUAL: A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO NO TEXTO ESCOLAR .............................................................. 79 GRUPO TEMÁTICO 12: EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA .............................................................................. 85 5 GRUPO TEMÁTICO 13: ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS SURDOS ............................................................................................................................................................91 GRUPO TEMÁTICO 14: ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: EXCLUSÃO, PRECONCEITO E CIDADANIA ................................................................................................... 99 GRUPO TEMÁTICO 15: ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: MÚLTIPLOS OLHARES; MÚLTIPLAS FACETAS ............................................................................................................... 105 GRUPO TEMÁTICO 16: ENSINO DE LÍNGUAS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR EM PERSPECTIVAS DISCURSIVAS: EMBATES E DIÁLOGOS ................................................... 114 GRUPO TEMÁTICO 17: ENSINO DE PORTUGUÊS EM COMUNIDADES INDÍGENAS, PRIMEIRA E SEGUNDA LÍNGUA ............................................................................................. 121 GRUPO TEMÁTICO 18: ENSINO DE PRODUÇÃO DE TEXTO EM LÍNGUA PORTUGUESA: TECNOLOGIAS E PROCESSOS DE EDIÇÃO .............................................. 131 GRUPO TEMÁTICO 19: ESTUDOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA NO CONTEXTO ESCOLAR ...................................................................................................................................... 135 GRUPO TEMÁTICO 20: ESTUDOS DIACRÔNICOS DO PORTUGUÊS ............................. 138 GRUPO TEMÁTICO 21: ESTUDOS LINGUÍSTICOS E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: É POSSÍVEL ALIAR PRÁTICA A TEORIA NOS CURSOS DE LETRAS? ................................. 144 GRUPO TEMÁTICO 22: FONÉTICA E FONOLOGIA E O ENSINO DA LÍNGUA MATERNA ......................................................................................................................................................... 151 GRUPO TEMÁTICO 23: FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: REFLEXÕES E POSSIBILIDADES ............................................................................................. 153 GRUPO TEMÁTICO 24: GÊNEROS DISCURSIVOS, ENSINO E PRÁTICAS ..................... 160 GRUPO TEMÁTICO 25: GÊNEROS MULTIMODAIS COMO OBJETO DE ENSINO: TEORIA E PRÁTICA .................................................................................................................................... 167 GRUPO TEMÁTICO 26: INTERPRETAÇÃO, LEITURA E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA .............................................................................................................................. 173 GRUPO TEMÁTICO 27: INVESTIGAÇÃO SOBRE O TEXTO ACADÊMICO: DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO AO ARTIGO CIENTÍFICO ................................ 179 GRUPO TEMÁTICO 28: LEITURA E GRAMÁTICA ............................................................. 183 GRUPO TEMÁTICO 29: LETRAMENTO DIGITAL ............................................................... 189 GRUPO TEMÁTICO 30: LÍNGUA E DISCURSO: APROXIMAÇÕES INTERDISCIPLINARES ......................................................................................................................................................... 198 6 GRUPO TEMÁTICO 31: LÍNGUA E LITERATURA: ARTICULAÇÕES PELA PRÁTICA PEDAGÓGICA .............................................................................................................................. 204 GRUPO TEMÁTICO 32: LÍNGUA PORTUGUESA EM FOCO .............................................. 210 GRUPO TEMÁTICO 33: LÍNGUA PORTUGUESA NO ESPAÇO E NO TEMPO SOB AS MACROPERSPECTIVAS FORMALISTA E FUNCIONALISTA: UMA VISÃO PANCRÔNICA E PANTÓPICA .............................................................................................................................. 214 GRUPO TEMÁTICO 34: LÍNGUA PORTUGUESA PARA FINS ESPECÍFICOS: CONTRASTES E CONFRONTOS ............................................................................................... 217 GRUPO TEMÁTICO 35: LINGUAGEM, CURRÍCULO E IDENTIDADES: DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LP ...................................... 224 GRUPO TEMÁTICO 36: LINGUÍSTICA DE TEXTO E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA – DIÁLOGO ENTRE TEORIA E PRÁTICA ................................................................................... 231 GRUPO TEMÁTICO 37: NOVAS ABORDAGENS PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM NOVO OLHAR PARA UM VELHO QUADRO ...................................... 237 GRUPO TEMÁTICO 38: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA CONTEMPORANEIDADE: O DESAFIO DA INSERÇÃO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NO AMBIENTE DE SALA DE AULA ............................................................................................... 245 GRUPO TEMÁTICO 39: O ENSINO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS NO BRASIL ........... 252 GRUPO TEMÁTICO 40: O ESTUDO DO LÉXICO EM SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA .............................................................................................................................. 262 GRUPO TEMÁTICO 41: O LATIM E O ENSINO DE PORTUGUÊS ..................................... 273 GRUPO TEMÁTICO 42: O POSSÍVEL FIM DO CONFLITO ENTRE LINGUÍSTICA E GRAMÁTICA NORMATIVA ...................................................................................................... 276 GRUPO TEMÁTICO 43: O TEXTO NA AULA DE LÍNGUA: O QUE ENSINAMOS E COMO TEMOS AVALIADO .................................................................................................................... 280 GRUPO TEMÁTICO 44: PRÁTICAS DE ENSINO DE PORTUGUÊS: CRÍTICAS E PROPOSTAS ................................................................................................................................. 288 GRUPO TEMÁTICO 45: PRÁTICAS DE LEITURA: CONTRIBUIÇÕES, REFLEXÕES E DESAFIOS ..................................................................................................................................... 296 GRUPO TEMÁTICO 46: PRODUÇÃO DE FILMES DE CURTA-METRAGEM COMO FACILITADOR DA INCLUSÃO DE DIVERSIDADES CULTURAIS NA SOCIEDADE ....... 306 GRUPO TEMÁTICO 47: PRODUÇÃO DE TEXTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA: UM PROCESSO DE IDAS E VINDAS ................................................................................................ 309 7 GRUPO TEMÁTICO 48: PROFESSORES DE PORTUGUÊS EM FORMAÇÃO E AS COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS .......................................................................................................................... 314 GRUPO TEMÁTICO 49: VARIAÇÃO/DIVERSIDADE LINGUÍSTICA, ORALIDADE E LETRAMENTO: DISCUSSÕES E PROPOSTAS ALTERNATIVAS PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA .................................................................................................................... 321 PAINÉIS ........................................................................................................................................ 332 8 II SIELP II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA CONFERÊNCIA DE ABERTURA LES GENRES DE TEXTE – UN OBJET D’ENSEIGNEMENT Bernard SCHNEUWLY (Université de Genève) Dans l’enseignement de la langue, et plus particulièrement dans l’enseignement de la lecture, de l’écriture et de la littérature, l’école a toujours eu comme référence les genres de texte. Ces genres sont le résultat de transpositions didactiques : ce sont de réels créations du système scolaire à des fins d’enseignement et d’apprentissage. Pendant longtemps, il s’agissait de genres scolaires, définis dans une perspective littéraire et non communicative, coupant radicalement avec la tradition rhétorique : la description, le portrait, la narration et, dans les pays francophones comme couronnement, la dissertation. L’adoption d’une perspective communicative a changé la donne : des genres non scolaires – l’interview, la lettre de lecteur, la règle de jeu, etc. – sont entrés massivement dans l’école et sont devenus des objets d’enseignement. Ce changement a des conséquences didactiques que nous allons explorer de trois points de vue : 1. Transposition et fictionnalisation Les genres de texte subit une transposition didactique par le simple fait qu’ils ne sont plus (uniquement) des moyens de communication, mais des genres qu’il faut apprendre et maîtriser. Ils sont profondément transformés et deviennent des « genres scolarisés ». Leur enseignement implique une « fictionnalisation » de la situation de communication. Ceci a des répercussions sur le genre et ses caractéristiques et sur le processus d’écriture lui-même. 2. Sédimentation des pratiques En passant de l’enseignement des genres scolaires au genres scolarisés, des pratiques classiques, issues de l’approche non communicative, subsistent et se combinent de manière complexe avec des pratiques se référant à des approches communicatives : on peut parler de couches historiques de pratiques d’enseignement qui se superposent comme des strates géologiques qui se « sédimentent » (Vygotksi). 3. Ingénierie Dans ce contexte général, la mise en œuvre d’une approche didactique basée sur des genres scolarisés pose au moins deux problèmes majeurs : - Il faut « modéliser » didactiquement les genres scolarisés à enseigner pour les rendre enseignables : une tâche redoutable qui ne peut être qu’une œuvre collective sur la base de description des genres, d’analyse des difficultés des élèves dans l’appropriation des genres, d’objectifs scolaires à atteindre. - Il faut choisir les genres à enseigner en fonction de différents paramètres : les capacités à construire chez les élèves ; la progression à construire à travers la scolarité ; les finalités de l’école. Mots clé : enseignement de la langue première, genres scolaires, genres scolarisés, transposition didactique, fictionnalisation. 9 GÊNEROS TEXTUAIS – UM OBJETO DE ENSINO Bernard SCHNEUWLY (Universidade de Genebra) Trad. Roxane ROJO (IEL/UNICAMP) No ensino de língua, e mais particularmente no ensino da leitura, da escrita e da literatura, a escola sempre teve como referência os gêneros textuais. Esses gêneros são o resultado de transposições didáticas: são verdadeiras criações do sistema escolar para fins de ensino e aprendizagem. Durante muito tempo, tratava-se de gêneros escolares, definidos em uma perspectiva literária e não comunicativa, rompendo radicalmente com a tradição retórica: a descrição, a descrição à vista de gravura, a narração e, nos países francófonos, a dissertação como coroamento. A adoção de uma perspectiva comunicativa mudou a situação: gêneros não escolares – como a entrevista, a carta de leitor, as regras de jogo etc. – entraram maciçamente na escola e tornaram-se objetos de ensino. Esta mudança teve consequências didáticas que exploraremos a partir de três pontos de vista: 1. Transposição e ficcionalização Os gêneros textuais sofrem uma transposição didática pelo simples fato de que eles não são mais apenas meios de comunicação, mas gêneros que é preciso aprender e dominar. São profundamente transformados e tornam-se “gêneros escolarizados”. Seu ensino implica uma “ficcionalização” da situação de comunicação. Isso tem repercussões sobre o gênero e suas características e sobre o próprio processo de escrita. 2. Sedimentação de práticas Passando do ensino dos gêneros escolares ao dos gêneros escolarizados, práticas clássicas originadas na abordagem não comunicativa subsistem e se combinam de maneira complexa com práticas ligadas às abordagens comunicativas: podemos falar de camadas históricas de práticas de ensino que se sobrepõem como estratos geológicos que se “sedimentam” (Vygotsky). 3. Engenharia Nesse contexto geral, colocar em prática uma abordagem didática baseada nos gêneros escolarizados traz pelo menos dois grandes problemas: - É preciso “modelizar” didaticamente os gêneros escolarizados a serem ensinados, para torná-los ensináveis: uma tarefa formidável que só pode ser levada a cabo como obra coletiva sobre a base da descrição dos gêneros, da análise das dificuldades dos alunos na apropriação desses gêneros, dos objetivos escolares a atingir. - É preciso escolher os gêneros para ensinar em função de diferentes parâmetros: as capacidades a serem construídas com os alunos; a progressão através da escolaridade; as finalidades da escola. Palavras-chave: ensino de primeira língua, gêneros escolares, gêneros escolarizados, transposição didática, ficcionalização. 10 MESA-REDONDA I ENSINO E DICIONÁRIO EXEMPLOS EM DICIONÁRIOS ESCOLARES BRASILEIROS Orlene Lúcia de Saboia CARVALHO Universidade de Brasília (UnB) Responsáveis pela contextualização da palavra-entrada, em suas diferentes acepções, os exemplos – aqui incluídas também as abonações – são responsáveis por veicular, no eixo das combinações, informações de natureza diversa. Sua presença é, em princípio, imprescindível, uma vez que é por meio deles que se conhecem os reais usos da palavra, seus aspectos pragmáticos. Esse pressuposto, no entanto, não corresponde à realidade dos dicionários escolares brasileiros, nos quais a inclusão dessa categoria lexicográfica não costuma ser sistemática, salvo raríssimas exceções. Apesar da ausência de sistematicidade, os exemplos estão distribuídos pelos verbetes de todas as classes de palavras – os critérios para tal seleção, se é que existem, não são esclarecidos nas propostas lexicográficas. Assim, com o intuito de contribuir para uma melhor compreensão das características dos exemplos, propomo-nos a analisá-los em verbetes de dicionários pertencentes a diferentes Tipos (aqui nos referimos à tipologia utilizada como parâmetro nas avaliações do Ministério da Educação: o PNLD-Dicionário de 2006 e de 2012). Na lexicografia pedagógica brasileira, encontram-se tanto dicionários que seguem o padrão lexicográfico tradicional, aproximando-se dos dicionários padrão, quanto aqueles cujos verbetes se apoiam nas definições oracionais, de natureza mais pedagógica. Portanto, nossa análise contemplará exemplos que se encontram separados das definições (padrão tradicional), bem como exemplos sintática e semanticamente integrados à definição oracional. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM LEXICOGRAFIA Maria Cândida Trindade Costa de SEABRA Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Indicações sobre níveis linguísticos, mais especificamente, a caracterização sociolinguística, seja diatópica, diafásica, diastrática e diacrônica, são difíceis de serem classificadas em obras lexicográficas. Adotando uma pluralidade de abreviaturas e símbolos usuais, de maneira geral, não se seguem critérios rigorosos nessa classificação, gerando, por isso, críticas. De acordo com a extensão e finalidade de uma obra lexicográfica, devemos reduzir ou ampliar essa lista, que nunca será exaustiva. Naturalmente, a inclusão ou não inclusão de “marcas de uso” dependerá não só da finalidade do dicionário, mas também de sua extensão. De grande utilidade na prática, já que informam ao usuário condições contextuais e situacionais de uso e interpretação de elementos léxicos, as “marcas de uso” integram os verbetes, ampliando o conhecimento do vocabulário e acrescentando informações às definições, mesmo quando não se encontram presentes. Em um dicionário, se não se indica nenhuma marcação específica para uma unidade léxica, considera-se que a mesma pertence ao nível estandar da língua, sendo relativamente “neutra” no que se refere a conotações. Seguindo os princípios teórico-metodológicos de HAENSCH, WOLF, ETTINGER, WERNER (1982) e ESQUIVEL (2001), daremos enfoque, nesta comunicação, ao tratamento dado à variação linguística em obras lexicográficas destinadas a alunos dos ensinos fundamental e médio das escolas no Brasil. 11 DICIONÁRIOS ESCOLARES: RELEVÂNCIA PEDAGÓGICA DA MACROESTRUTURA Aparecida Negri ISQUERDO Universidade Federal de Mato Grosso do Sul/CNPq É fato inconteste a função normativa das obras lexicográficas na sociedade, à medida que o dicionário é tomado como referência para a elucidação de questões relacionadas à língua, não só no que diz respeito à significação das palavras, como também para o esclarecimento de dúvidas de natureza gramatical (ortografia, regência, classe gramatical) e, dependendo no tipo de dicionário, funciona como fonte de pesquisa sobre marcas de uso da palavra (regionalismos, neologismos, gírias, tecnicismos etc). Dentre os tipos de dicionários, o tipo escolar, em virtude do público-alvo a que se destina, tem um papel pedagógico de grande relevância no processo ensino-aprendizagem da língua materna. Todavia, também é sabido que o uso do dicionário como recurso pedagógico nem sempre tem recebido o destaque que merece, seja pela própria configuração das obras disponíveis no mercado, seja pela lacuna existente na formação dos professores em termos de teoria lexicográfica e, em especial, quanto ao papel do gênero dicionário como auxiliar no aprendizado da língua. Este trabalho centra-se no conteúdo da macroestrutura dos dicionários escolares dos tipos 1 a 4, segundo a classificação do Edital PNLD Dicionários 2012, do Programa Nacional do Livro Didático/MEC, mais especificamente nas orientações destinadas ao aluno e ao professor acerca do uso do dicionário. Assim, tomando como pressuposto a função pedagógica do dicionário escolar e o público-alvo a que se destina, o estudo analisa uma amostra de dicionários dos quatro tipos estabelecidos pelo Edital PNLD 2012, examinando a natureza das informações contidas no texto de orientações ao professor e ao aluno, no que diz respeito ao conteúdo das informações fornecidas, ao tipo de linguagem utilizada, à interação estabelecida com o usuário, à pertinência e à utilidade das informações apresentadas. Enfim, o trabalho analisa a presença e a relevância das orientações fornecidas ao usuário da obra (aluno e professor) do ponto de vista pedagógico. DICIONÁRIOS ESCOLARES: UMA REFLEXÃO SOBRE TIPOLOGIA Egon de Oliveira Rangel (PUC-SP) Os dicionários brasileiros de língua portuguesa destinados ao uso escolar vêm despertando um inédito interesse acadêmico (Amorim, 2003; Costa, 2007; Gomes, 2007; Moraes, 2007; Welker, 2008), desde que o Ministério da Educação (MEC) instituiu, no contexto do PNLD, um procedimento oficial de avaliação de títulos passíveis de serem recomendados e distribuídos às redes públicas de ensino de todo o País. Da discussão que então vem se produzindo, a respeito dos objetivos da educação nacional e de língua portuguesa em particular, derivaram-se princípios e parâmetros pedagógicos que, combinados a critérios “clássicos” da lexicografia (Landau, 1984; Dubois & Dubois, 1971; Béjoint, 2000), deram origem a uma matriz oficial de “critérios de avaliação” de dicionários escolares (Rosa, 2003). Revista a cada edição do PNLD, essa matriz vem alimentando um debate a respeito do que é e para que serve (ou deveria servir) um dicionário escolar adequado à Educação Básica. Da concepção de língua e de léxico aos critérios adotados para a seleção vocabular e a organização do verbete, a avaliação desses dicionários vem, então, propondo à (meta)lexicografia pedagógica novos temas para debates. O objetivo desta comunicação é o de discutir os parâmetros estabelecidos pelo Edital do PNLD 2012, no que diz respeito aos tipos de dicionários propostos. 12 Inserir resumo Professor Waldenor 13 MESA-REDONDA II A ABORDAGEM DO TEXTO EM SALA DE AULA TEXTOS EM SALA DE AULA: COMO FAZER? Sírio POSSENTI UNICAMP /CNPq / FEsTA Esta apresentação insistirá na tese de que a questão “texto na sala de aula” é uma questão de prática e que esta deve ser intensa e multiforme, o que significa basicamente que as questões teóricas devem ficar em segundo pleno e serem progressivamente explicitadas com base na observação de aspectos significativos dos textos (este texto é diferente daquele / ... quase todos os verbos estão no passado / ... observem a quantidade de termos técnicos (gírios, estrangeiros) / ... vejam o tamanho destes cinco textos / ... todos são de jornal / os autores são “conhecidos” etc.). A intervenção tratará de leitura e de escrita. No que se refere à leitura, defenderá dois tipos de práticas “típicas”: a) a “simples” leitura de textos longos (romances etc.); b) a leitura com descrição / interpretação de textos breves. No que se refere à escrita, a ênfase recairá na reescrita / edição, práticas que simulam a escrita “autoral”, adequando os textos às expectativas em relação aos gêneros e aos campos, e na circulação dos textos. Em suma: trata-se de ler e escrever na escola “simulando” situações que equivalem à leitura e à escrita como práticas sociais. Na vida real, por exemplo, não se faz redação nem se responde a questionários de interpretação de textos. A ABORDAGEM DO TEXTO EM SALA DE AULA PELA ANÁLISE CRÍTICA DE GÊNERO Désirée MOTTA‐ROTH LABLER/PPGL/Universidade Federal de Santa Maria/CNPq1 Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua em enunciados (orais e escritos) (Bakhtin, 1974/1992, p.279) e cada época e cada grupo social têm seu repertório de gêneros, com suas formas de discurso e temas correspondentes (Volochinov (1929/1995, p.43). Cada repertório de gêneros é inteiramente determinado pelas relações de produção e pela estrutura sócio-política e o estudo da natureza dos gêneros do discurso é componente de importância fundamental para superar as noções simplificadas acerca da vida verbal, noções estas que ainda persistem em nossa ciência da linguagem (Bakhtin 1974/1992, p. 285-87). Afirmações como essas parecem tão atuais hoje quanto na época em que foram produzidas e nos levam a refletir sobre a prática pedagógica e a pesquisa sobre educação linguística da contemporaneidade. O objetivo da apresentação é discutir a abordagem do texto escrito em sala de aula a partir de um quadro teórico-metodológico interdisciplinar. Parto do pressuposto de que a textualização da experiência humana e a produção de sentido envolvem a língua em uso e os múltiplos letramentos: envolve não apenas a mobilização, ao mesmo tempo, de léxico-gramática, texto, registro, gênero e discurso (Meurer, 2006), em função da organicidade entre esses vários planos (Volochinov, 1929/1995), mas também a consciência da multiplicidade de canais e mídias usados na comunicação e a crescente saliência heterogeneidade linguística e diversidade cultural (Cope; Kalantzis, 2000; Rojo, 2010). A produção de sentido, portanto, implica a percepção das relações entre texto e contexto, da conexão entre experiência individual, experiências sociais e condições sócio-históricas de produção, distribuição e consumo dos textos na 1 Bolsa PQ Nº 301793/2010-7. 14 sociedade (Volochinov, 1929/1995; Freire, 2000; Fairclough, 1989). Nesses termos, a abordagem do texto na sala de aula se beneficia, não necessariamente nesta ordem, 1) da interação do estudante com os outros como leitor e escritor em tarefas concretas (Russel, 1997), 2) da focalização nos usos do letramento como escolhas localizadas no tempo e espaço (Street, 1984, p. 96), e 3) da análise detalhada do discurso para a percepção de expoentes linguísticos do processo de produção textual (Geraldi, 1998). Algumas tecnologias de ensino para leitura e escritura do texto com base nesses pressupostos serão enfocadas nesta apresentação. O “TEXTO EM SALA DE AULA” NA CONTEMPORANEIDADE Roxane ROJO (IEL/UNICAMP) Esta participação na Mesa Redonda “A abordagem do texto em sala de aula” pretende problematizar a questão do “texto em sala de aula” quase trinta anos depois da publicação de mesmo título de Geraldi (1984) – “O texto em sala de aula”. Para fazê-lo, colocará em pauta as mudanças que sofreram os textos contemporâneos, em termos de semioses e tecnologias, e as salas de aula atuais, em termos de pluralidade cultural, em especial no que diz respeito às culturas da juventude. Tomaremos por base o conceito de Multiletramentos (NLG, 1996) e de Novos Letramentos (LANKSHEAR; KNOBEL, 2011) e a proposta de uma Pedagogia dos Multiletramentos do Grupo de Nova Londres (NLG, 1996). Através dessa elaboração teórica e didática, caracterizaremos os textos e as salas de aula contemporâneos; esboçaremos um contraste entre as propostas de didatização atuais e as da década de 80; enfatizaremos a contínua pertinência do conceito de gênero de discurso (BAKHTIN, 2003 [1952-53 / 1979]) neste quadro geral e concluiremos com os desafios didáticos que são colocados à educação linguística contemporânea pelas aceleradas mudanças culturais, de linguagens, de semioses, de mídias e de tecnologias nesses últimos trinta anos. AS PRESENÇAS DO TEXTO EM SALA DE AULA Luiz Carlos TRAVAGLIA (Universidade Federal de Uberlândia / Instituto de Letras e Linguística) O texto sempre esteve presente em sala de aula de Língua Portuguesa e mesmo de outras disciplinas. Todavia, em diferentes épocas, de acordo com propostas e conhecimentos prevalentes em cada momento, sua presença foi ou é trabalhada de formas distintas. Nesta fala buscamos chamar a atenção para algumas diferentes abordagens que o texto recebeu nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental por meio da análise de exemplos extraídos de livros didáticos de diferentes épocas. Minimamente se pode referir a uma abordagem estético-literária, uma abordagem gramatical e a uma abordagem que considera a função comunicativa-interacional dos textos. O objetivo é mostrar: a) elementos que mudaram com o correr dos anos sob o influxo de diferentes teorias linguísticas e de teorias sobre comunicação, conjugadas a propostas didáticopedagógicas distintas para o ensino de língua materna; b) o que teria permanecido nas diferentes épocas e propostas de ensino. Da abordagem do texto por meio de antologias às abordagens sóciointeracionais por meio de gêneros que se propõe hoje, o que realmente evoluiu? A consciência sobre o que é o texto e como ele se constitui e funciona, trazida pelos estudos textuais e discursivos, sem dúvida cresceu muito, mas de que forma isto permitiu ao homem em formação nas escolas (vulgarmente o aluno) se apropriar dele e usá-lo com mais competência? Temos feito efetivamente algo para este fim que sempre permaneceu em todas as abordagens? 15 MESA-REDONDA III ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL E EM PORTUGAL Profª. Drª. Elisete Maria de Carvalho MESQUITA (UFU) Profª. Drª. Madalena Dias TEIXEIRA (IPS- PT) Nas interações estabelecidas entre os diferentes estudiosos da língua portuguesa, desde 2009, identificamos que problemas vivenciados no ensino dessa língua em Portugal são muito semelhantes aos vivenciados no Brasil. A partir dessa constatação, surgiu uma proposta de se investigar o que de fato ocorre no ensino de língua portuguesa na Educação Básica desses dois países. Essa proposta de trabalho se justifica, portanto, i) por reunir pesquisadores de ambos os países envolvidos, promovendo um amplo debate sobre a atual situação do ensino de língua portuguesa nesses países; ii) por fazer um levantamento da atual situação desse ensino de modo coordenado e organizado e iii) por objetivar a elaboração de propostas para a melhoria da qualidade do ensino de língua portuguesa na Educação Básica no Brasil e em Portugal. Além disso, esperamos com essa pesquisa contribuir com a descrição e análise da situação atual do ensino de língua portuguesa no contexto em questão e com a produção de material didático-pedagógico que possa subsidiar o trabalho de professores de Língua Portuguesa. Considerando a realidade apresentada, nosso objetivo é apresentar perspectivas para o Projeto internacional intitulado “O Ensino de Língua Portuguesa no Brasil e em Portugal: bases epistemológicas, objetivos e conteúdos”, coordenado pelas Profas Dras. Elisete Maria de Carvalho Mesquita (UFU- Brasil) e Madalena Dias Teixeira (IPS- Portugal). ARTICULAÇÕES LINGUÍSTICAS, LITERÁRIAS E FILOSÓFICAS: MADAME BOVARY, O PRIMO BASÍLIO E DOM CASMURRO Prof. Dr. Raul de Souza PÜSCHEL Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) Serão apresentadas nesta comunicação de que maneira articular, em um modelo interpretativo, considerações de natureza filosófica, linguística e literária. Com o fito de exemplificar e adensar a discussão, serão estudadas três obras que refletem e refratam mesmos valores de época e de estilos, como Madame Bovary, O Primo Basílio e Dom Casmurro. Para tanto, serão utilizadas, principalmente, as concepções de Mario Vargas Llosa, Harold Bloom, Wolfgang Iser, Erich Auerbach, Mikhail Bakhtin, Domenique Maingueneau, Joaquim Mattoso Câmara, Roland Barthes, Charles Sanders Peirce, Maurice Merleau-Ponty, Gaston Bachelard e Walter Benjamin. Como uma obra torna-se um marco ante um paradigma anterior? Que procedimentos linguísticos e estilísticos são adotados? Como outras obras que se filiam à primeira fazem adesões ou “desleituras”? Como um texto se revela em tal formação como algo que supera os intumescimentos da linguagem e das práticas textuais? Ao final, pode-se indagar qual o legado que obras fundadoras deixam tanto naquilo que ecoa em outros grandes escritores, quanto no acervo de soluções linguístico-textuais de um idioma. Em relação ao legado didático, deve-se pensar, além dos elementos estéticos, na contribuição que certos procedimentos originários da alta literatura podem deixar para o amadurecimento e para a consolidação dos textos de alunos do curso médio e de graduação, e 16 também para a capacidade de melhor e mais amplamente referir-se ao mundo exterior e ao mundo interior. Inserir Resumo da Professora Maura 17 CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO ENSINAR E APRENDER A ESCREVER NO SÉCULO XXI – (RE) CONFIGURANDO UM VELHO OBJETO ESCOLAR José António Brandão CARVALHO Universidade do Minho – Portugal Na presente comunicação procura-se perspetivar a escrita enquanto objeto escolar numa lógica de planos sucessivos e articulados: num primeiro plano, situamos a relação tripartida entre o sujeito (que aprende a escrever), a escrita (o objeto da aprendizagem), entendida como variedade da linguagem verbal, e a aula de língua (contexto de ensino e de aprendizagem da escrita); a relação da escrita com os outros domínios de uso da linguagem, também eles objetos de ensino-aprendizagem, constitui o segundo plano da nossa análise; o terceiro plano considerado enquadra a escrita no contexto das diferentes disciplinas escolares, relevando o seu papel nos processos de aquisição, elaboração e expressão do conhecimento; finalmente, num quarto plano, perspetiva-se a participação, pela escrita, no quadro mais alargado da escola enquanto comunidade e na(s) comunidade(s) em que a escola e os sujeitos se inserem. A análise desenvolvida pressupõe a mobilização de referenciais teóricos de natureza diversa, procurando-se compatibilizar perspetivas que, com frequência, se têm revelado incompatíveis: de um lado uma visão cognitivista que tem procurado modelizar os processos desenvolvidos pelos sujeitos no decurso do ato de escrita; do outro, a posição que valoriza a dimensão social da comunicação escrita e coloca a tónica nos géneros textuais dela decorrentes. Atendendo à sua relevância no quadro de uma análise da problemática do ensino-aprendizagem da escrita que se pretende desenvolver de forma abrangente, não pode ainda deixar de ser contemplada uma atenção à evolução a que a escrita tem estado sujeita, com impacto nos meios, nos processos, nos modos de construir sentido e nos produtos textuais deles resultantes; igualmente pertinentes nos parecem ser as transformações profundas da própria escola enquanto contexto social e de aprendizagem, tendo em conta os sujeitos que a frequentam e os usos da linguagem com os quais estão familiarizados. 18 RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES EM GRUPOS TEMÁTICOS (GTs) GRUPO TEMÁTICO 1: A LEITURA E A (RE)ESCRITURA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COORDENADORA: Carla Luzia Carneiro BORGES (UEFS) – [email protected] O GT propõe discutir a leitura e a (re)escritura como práticas sociais de produção de conhecimento da língua, dos sujeitos e da sociedade. Busca reunir pesquisadores interessados nas atividades do ensino de língua portuguesa que enfatizem estas práticas na sala de aula em diálogo com o cotidiano, em suas múltiplas formas de comunicação. A intenção é discutir as noções de texto, leitura e (re)escritura em consonância com as diversas teorias da linguagem que contribuam para a compreensão destas práticas em seus modos de levar para a sala de aula o mundo ordinário, cotidiano, para ser objeto de poder, de escrituração. Propõe-se discutir os modos de fazer docentes no que tangem às práticas de leitura e de (re)escritura, o que possibilita uma discussão sobre o papel da produção de textos na formação de sujeitos reflexivos que propõem mudança em seu cotidiano. Vale destacar possíveis questões para nortear os estudos e o debate proposto: até que ponto as práticas com texto se constituem como peças de um jogo escriturístico? Que práticas são valorizadas e escrituradas e como retornam objeto de leitura para a sociedade? Em que dimensão as práticas de leitura e de (re)escritura trabalhadas na escola são uma extensão das práticas produzidas pela comunidade, constituindo ou não a voz do sujeito, considerando o espaço de uma escritura que hierarquiza a sociedade? Até que ponto o texto, visto em sua dimensão interdisciplinar e tomado numa abordagem (inter)cultural, possibilita a compreensão dessa rede de relações sociais e de poder? Como se dá, no ensino de língua portuguesa, o processo de leitura e de (re)escritura de práticas já escrituradas na sociedade? O GT propõe, portanto, uma abordagem crítica da leitura e da (re)escritura em aulas de língua portuguesa, numa dimensão além do código escrito, em diálogo com abordagens sociais e transdisciplinares do texto. DIALOGISMO, ESCRITA E REESCRITA Jossiane Cristina de JESUS – UFTM [email protected] Este trabalho tem como objetivo avaliar como os alunos das licenciaturas reescrevem seus textos a partir das indicações de correções anotadas pelo corretor. As correções são realizadas pelos alunos do curso de Letras da UFTM e que participam do grupo de estudo “A escrita na universidade”. Nas correções, foi possível perceber que as principais as dificuldades que os alunos possuem são para construir um enredo coeso e coerente e que atenda a proposta de produção textual. Os principais problemas apresentados são as generalizações, falta de argumentos para desenvolver as ideias ou argumentos soltos no texto, que, em muitos casos, não tem relação entre si, impedindo a progressão temática dos textos. A metodologia de trabalho consiste em, após a correção, os textos são entregue para que os alunos possam fazer a reescrita,considerando as marcações e sugestões feitas pelos corretores. A hipótese assumida é a de que a maioria não consegue identificar os problemas e reescrever conforme as indicações, mantendo assim a mesma estrutura e os mesmos problemas apresentados na primeira versão. Muitas vezes, a alternativa escolhida é a da troca de uma palavra ou expressão por outra sem levar em consideração o sentido dos argumentos apresentados. Assim, com este trabalho, pretendemos identificar as causas das dificuldades que os alunos encontram para reescrever seus textos para torná-los coerente e coeso e, principalmente, a partir deste estudo apontar possíveis caminhos para pensar o ensino da reescrita na universidade e com isso fazer com que os alunos possam se interessar pela disciplina e consigam construir seus textos sem 19 dificuldades. A PRODUÇÃO DE TEXTO COMO PRÁTICA SOCIAL Douglas Corrêa da ROSA – UNIOESTE [email protected] Terezinha da Conceição COSTA HÜBES – UNIOESTE [email protected] Todos os que trabalham com o ensino de Língua Portuguesa reconhecem que a partir dos anos de 1980 uma mudança significativa nas concepções de ensino e aprendizagem da língua escrita vem ocorrendo. As contribuições se devem principalmente ao avanço dos estudos linguísticos, destacando-se a própria Linguística, a Sociolinguística, a Psicolinguística, a Análise do Discurso e a Linguística textual. Assim, tais ciências passam a refletir também sobre o ensino, fazendo com que tanto o objeto como o processo de aprendizagem fossem reconfigurados (SOARES, 1999). Tendo como base esse novo olhar para o ensino de língua, objetiva-se refletir sobre o trabalho de produção de textos, entendendo-o não como mera atividade mecânica, mas como prática social (DOLZ, GAGNON, DECÂNDIO, 2010). Tratando-se de uma pesquisa de cunho etnográfico, se trará à tona a voz professor no que se refere à produção de textos, relacionando-a com as prescrições dos documentos oficiais que norteiam o trabalho com Linha Portuguesa, especificamente, bem como com autores que refletem sobre textos numa perspectiva interacionista. Este trabalho integra o Projeto Formação continuada para professores da Educação Básica nos anos iniciais: ações voltadas para a alfabetização em municípios com baixo IDEB da região Oeste do Paraná, ligado ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Letras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Cascavel, integrando o Programa Observatório da Educação – CAPES/INEP. (Termo de Concessão e Auxílio Financeiro, AUX-PE-OE 2114/2010) A REESCRITURA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO SUJEITO-AUTOR NA ESCOLA: IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E PEDAGÓGICAS Patrícia Mara dos Santos MACHADO - SEM-FSA [email protected] Na perspectiva atual do Ensino da Língua Portuguesa (LP) no Ensino Fundamental e Médio o foco é o trabalho com a linguagem e mais especificamente com gêneros textuais. Ao se articular leitura e produção de textos têm-se uma dinâmica que envolve a posição do sujeito leitor, autor e produtor texto. Nesse continum, tem-se a reescrita como ferramenta didático-pedagógica no processo de escrita. Assim, esse trabalho pretende discutir como a reescritura se constrói e se efetiva na atuação e formação do docente de LP de forma a garantir (ou não) a posição do sujeito-autor na escola. Porém, mais que uma discussão teórica pretende-se pensar nas implicações pedagógicas do processo. Para tanto, professores da rede municipal de ensino de Feira de Santana serão ouvidos através de encontros de estudos e formação, onde discutirão e apresentarão proposições sobre a questão em debate. Com o viés metodológico da pesquisa qualitativa busca-se-á através das vozes docentes perceber esse lugar ou essa posição da reescritura na sala de aula, no chão da escola. Considerando, de tal forma, a reescrita como elemento estruturante no trabalho com escrita e produção de textos. Tal intento de trabalho visa também a contribuir com a elaboração da Proposta Curricular da Rede Municipal de Ensino de Feira de Santana/BA, onde se compreende o ensino de LP como um espaço de debate, proposições e desafios, em função de um ensino da língua(gem) que empodere o sujeito em prol de um letramento que possibilite autonomia e construção do sujeitoautor de suas histórias, seus discursos e seus textos. 20 A REFLEXÃO SOBRE A LÍNGUA ATRAVÉS DA REESCRITURA DE TEXTOS Elisane Regina CAYSER – UPF [email protected] Patrícia da Silva VALÉRIO – UPF [email protected] A ação de reescrever um texto implica um processo analítico da própria linguagem, uma vez que para reescrever o sujeito que produz o texto alterna-se entre os papéis de produtor e leitor. No contexto escolar, a prática da reconstrução faz com que o sujeito-aluno-autor interaja com o produto do seu próprio trabalho, na medida em que reconstrói a sua enunciação, (re)constituindo-se enquanto sujeito. Partindo desse pressuposto, ancorado nos estudos de Benveniste (1995, p. 286), segundo o qual “é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito”, este trabalho – que se insere em um projeto de formação de professores do Ensino Fundamental e Médio - pretende discutir as formas possíveis de intervenção do professor no texto do aluno. Busca-se, com isso, analisar os reflexos que uma ou outra intervenção são capazes de gerar no aluno, no sentido de provocar o diálogo do sujeito-autor com o texto produzido, levando a um relacionamento mais interativo com seu próprio texto. Quanto a isso, cabe destacar que a reescrita não é tomada, aqui, como uma mera adequação do texto à norma padrão, numa espécie de “purificação” do texto. Tem-se, sim, a reescritura como uma oportunidade de refletir sobre a língua e sua sistematização com vistas a cumprir eficientemente uma função em dado processo sócio-interativo, ou seja, privilegiando as relações de sentido emergentes do processo interlocutório, em consonância com o que estabelecem os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. Paralelamente, o trabalho tem o intuito de apresentar um panorama acerca de como as escolas encaminham o trabalho de reescritura, o que deixa implícita a concepção de texto e de trabalho com a linguagem dos professores. AS CARTAS DOS LEITORES NA SALA DE AULA: INTERAÇÃO NA MÍDIA IMPRESSA Aytel Marcelo Teixeira da FONSECA - UERJ FCCA [email protected] O presente trabalho tem como propósito detalhar um exemplo de sequência didática a partir da qual é possível concretizar um ensino de língua portuguesa que desenvolve, além de saberes estritamente linguísticos e gramaticais, a competência comunicativa dos estudantes, ampliando também seus conhecimentos textuais, interacionais e de mundo, necessários à intervenção crítica na vida em sociedade. Trata-se de uma experiência vivida por alunos do nono ano de uma escola pública carioca que tiveram a oportunidade de construir e sustentar pontos de vista sobre temas sociais polêmicos, escrevendo cartas dos leitores, publicadas em jornais de grande circulação no Rio de Janeiro. Para se obter êxito na prática pedagógica, a análise linguística figurou sempre associada às atividades de leitura, de escrita e de oralidade, não tendo um fim em si mesma, como exercício gratuito e descontextualizado. Apesar de voltada a um tipo específico de sequência textual (a argumentativa) e a um gênero do discurso (a carta do leitor), a proposta de intervenção didática em questão permitirá certamente reconfigurações, de modo a se enfocarem outros tipos, gêneros e mesmo assumir objetivos diferentes. A fundamentação teórica da pesquisa engloba os estudos de Antunes (2003 e 2007), que discutem o ensino de língua portuguesa; de Travaglia (2005 e 2007), que explicam a competência comunicativa; de Koch (2006), Koch e Elias (2007 e 2010), que abordam a construção e o funcionamento dos textos; de Lerner (2002), interessada nas investigações sobre leitura; e de Schneuwly e Dolz (2004) e Marcuschi (2008), os quais detalham o conceito de gênero do discurso e de sequência didática. 21 ATIVIDADES DE REESCRITA: ANÁLISE DE UM LIVRO DIDÁTICO Ligia Rocha SILVEIRA – UFPE [email protected] No interior das atividades de produção de texto sugeridas pelos livros didáticos (LD), percebe-se ainda uma defasagem com relação às propostas de reescrita, que, como hoje se sabe, é uma prática importante, faz parte do processo de escrita e pode ser ensinada. Assim, o presente trabalho destinou-se a investigar as propostas de reescrita inseridas em atividades de produção de texto de um LD de nono ano do Ensino Fundamental. O livro escolhido, Língua Portuguesa, Linguagem e Interação, dos autores Faraco e Moura (2009), passou pelo crivo do Guia do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Para realizar a pesquisa, foi traçado como objetivo geral analisar os encaminhamentos oferecidos ao aluno para realizar atividades de reescrita. Para alcançar esse objetivo, utilizou-se como método analisar um LD de nono ano que tenha sido avaliado pelo Guia PNLD 2011. Inicialmente, optou-se por fazer uma leitura rápida da obra para ter uma visão geral do modo como ela é organizada e subdividida, porém dando atenção às seções destinadas à produção de texto. Como o livro divide-se em três projetos, cada um com quatro unidades, escolheu-se uma unidade de cada projeto para tomar como amostragem e dela fazer a análise das atividades de reescrita. De forma bastante resumida, a fundamentação teórica baseou-se na teoria dialógica de Bakhtin, na concepção de linguagem e de texto como atividade e lugar de interação, respectivamente, Marcuschi (2008) e de Koch (2006), e nas reflexões de reescrita de Beth Marcuschi e Leal (2008). Com relação às orientações de reescrita, muitas lacunas ainda foram encontradas no LD a partir das análises. O que se percebe é que, apesar de já haver uma forte iniciativa do livro em trabalhar a fase de revisão e reescrita, esta atividade ainda aparece de forma ineficiente. CONTRIBUIÇÃO DOS PORTADORES TEXTUAIS PARA A AQUISIÇÃO DA ESCRITA Antonia Tatiana Sales dos SANTOS – PMSF [email protected] Maria Lúcia Souza CASTRO – UNEB [email protected] Este trabalho trata da relação entre aquisição da escrita e o meio social. Seu principal objetivo é analisar até que ponto as experiências individuais com os portadores de texto, fora do espaço escolar, influenciam no processo de aquisição da convenção escrita da língua. O corpus de análise se constitui de textos escritos por alunos da terceira série, entrevistas com estes e com a mãe ou o pai e o reconhecimento de portadores textuais que lhes foram apresentados. Para embasar as discussões acerca dos dados, utilizaram-se abordagens de Lemle (1998), Cagliari (1993), Ferreiro e Teberosky (1987), entre outros pesquisadores que refletem sobre o tema. Embora todos os alunos tenham afirmado gostar de ler, de ter contato com os portadores textuais e conseguirem reconhecêlos, verificou-se em suas produções escritas uma grande quantidade de equívocos gráficos, reveladores da dificuldade que possuem com a convenção ortográfica. Sabe-se que o contato com os portadores de texto é indispensável e deveras importante para a aquisição da escrita. Contudo, a análise dos dados evidenciou que a sua contribuição para o desempenho escrito dos estudantes depende não apenas da intensidade do contato destes com uma ampla diversidade textual, mas, sobretudo, da funcionalidade dos gêneros acessados no dia-a-dia. Observou-se, ainda, que a participação dos pais no processo de aprendizagem dos estudantes, como também o grau de escolaridade destes, é fator de suma importância para que o contato com os portadores de texto tenha de fato, um reflexo positivo na aquisição da escrita. 22 PRÁTICAS COTIDIANAS, PROFESSORES E (RE)ESCRITURA: ESBOÇANDO UM CONTINUO Carla Luzia Carneiro BORGES – UEFS [email protected] Proponho analisar depoimentos de professores do campo de Riachão do Jacuipe, município baiano, acerca do processo de reescritura como atividade para transformação social no ensinoaprendizagem de língua materna, como uma forma de exercitar outra experiência de olhar para o texto, como um objeto interdisciplinar de análise. O espaço escolhido para análise investe na prática de (re)escritura de textos para o Jornal A Voz do CAT, como prática textual num ensino contextualizado, considerando as práticas de oralidade, escritura e leitura como modos de conhecer, analisar e transformar a realidade. As ações docentes são orientadas pelo Projeto CAT (Conhecer, Analisar e Transformar - parceria UEFS, MOC) e pelo Projeto Baú de Leitura (MOC), que consideram a interface língua e cultura como forma de produzir conhecimento sobre a/na comunidade, com ênfase nas ações culturais cotidianas. O enfoque no ensino-aprendizagem da língua que parte do conhecimento e análise dos saberes praticados na comunidade local em direção à transformação social mobilizou reflexões importantes. A pergunta que norteia a discussão é: como um trabalho com texto pode favorecer a reflexão sobre a cultura e a constituição do sujeito-autor que produz conhecimento, analisa a realidade e propõe mudança? O processo de (re)escritura da prática textualizada tem o objetivo de transformar a realidade praticada e escriturada na escola. O texto vai sendo refeito e “retorna” para a prática, agora escriturada, tornada objeto de produção de conhecimento, o que legitima as práticas escriturísticas na escola. Esboço, então, um contínuo de reescritura não restrito aos elementos da forma escrita, propriamente dita, mas ao processo de escrituração de uma prática, ou seja, de sua inserção num espaço não-ordinário, não-oralizado, num espaço de agenciamento de saberes praticados. A LEITURA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA ESCOLA PÚBLICA Simone Bueno Borges da SILVA (UFBA) [email protected] A leitura de textos de divulgação científica não tem sido uma constante no contexto da escola pública, apesar de ser, a escola, a agência de letramento, por excelência, em que se deveria desenvolver a divulgação dos conhecimentos produzidos no campo das ciências. Parece-nos preocupante, do ponto de vista político, que a escola não cumpra seu papel de formar leitores desse gênero, uma vez que entendemos o processo de divulgação do conhecimento científico como uma medida de democratização do saber. A linguagem das ciências (de gênero secundário, na perspectiva bakhtiniana, mais complexo e mais elaborado) obedece a uma estrutura e organização peculiar, muito diferente da linguagem do cotidiano (de gênero primário, mais simples, segundo o mesmo autor) com que os alunos estão familiarizados. Por isso, nem sempre a leitura do texto de divulgação científica apresenta-se como uma tarefa fácil, o que poderia justificar sua quase inexistência no contexto escolar. A inserção das crianças e adolescentes no campo das ciências demanda, necessariamente, a inserção desse público nas práticas de letramento específicas do campo científico. Do contrario, seria difícil - quase inviável - a compreensão, interiorização, construção e elaboração de conceitos do campo das ciências por parte de um público que, em seu cotidiano, não está exposto à práticas de letramento científico. Assim, com base nos Estudos do Letramento, pretendemos apresentar os resultados parciais do estudo que vimos desenvolvendo nas escolas públicas baianas, cujo objetivo principal é contribuir para a democratização dos saberes científicos ao enfocar a formação de leitores de textos de divulgação científica na escola pública. Apresentaremos dados coletados em rodas de leitura experimentais, em que crianças do Ensino Fundamental interagiam com a revista Ciência Hoje das Crianças, publicação do Instituto Ciência 23 Hoje. A LEITURA E ESCRITA NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Darlan Machado DORNELES – UFAC [email protected] A partir de observações assistemáticas feitas durante as práticas investigativas do curso de Letras da Universidade Federal do Acre em escolas locais, percebemos que o professor não está de fato trabalhando a leitura e escrita de forma a sanar as reais dificuldades dos alunos, ou seja, existe ainda na escola e especificamente no ensino de Língua Portuguesa (LP) grande ênfase no ensino da Gramática Normativa (GN), na qual o professor limita-se unicamente a ensinar regras, prejudicando desta maneira o aluno, que não saberá posteriormente escrever um texto ou mesmo interpretá-lo de forma adequada. Desta forma, o professor deve desenvolver nos alunos o prazer pela leitura, bem como despertar o interesse e a vontade de escrever, isto é, o professor deve inovar e ensinar de uma forma mais interativa e reflexiva, para que assim a sala de aula possa se transformar em um local em que professor e alunos constroem juntos os conhecimentos. Partindo do pressuposto de que se deve trabalhar a leitura e a escrita no processo de ensino-aprendizagem da disciplina de língua portuguesa, neste artigo temos como objetivo principal tecer algumas discussões e reflexões sobre o ensino de Língua Portuguesa (LP), no que tange à prática de leitura e escrita, enfatizando, sobretudo, a importância da leitura e escrita no ensino da Língua Materna. Por fim, vale destacar que para embasar a base teórica deste trabalho tomamos como base os autores: Antunes (2003), Geraldi (1984), Gurgel (1999), Kleiman (1997), Soares (2005), bem como os Parâmetros Nacionais do Ensino de Língua Portuguesa (LP). AS MEDIAÇÕES DAS PROFESSORAS NAS PRÁTICAS DE PRODUÇÃO DE TEXTOS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E O DESENVOLVIMENTO DA REFLEXIVIDADE NAS CRIANÇAS Cláudia Beatriz De Castro Nascimento OMETTO – UNIMEP [email protected] Rita de Cássia CRISTOFOLETI - UNICAMP [email protected] Este trabalho tematiza as mediações das professoras no processo de produção textual da criança, tendo como objetivo o desenvolvimento da dimensão reflexiva do ato de escrever. Assumindo como referencial teórico a perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano de Vygotsky e a perspectiva discursivo-enunciativa de Bakhtin, focaliza o trabalho de produção e revisão de textos de alunos de uma terceira série do ensino fundamental ao longo de um ano letivo. Tanto Vygotsky quanto Bakhtin, em suas proposições, destacam a centralidade da linguagem e do outro na constituição de nossa subjetividade, o que Bakhtin denomina de alteridade constitutiva, ou seja, é pela mediação do outro, através da linguagem que vamos nos constituído, vamos nos tornando quem somos e vamos nos apropriando das formas culturais já consolidadas na experiência humana. Esse referencial teórico nos indica um modo de olhar para o que acontecia na sala de aula, para a dinâmica interativa entre professora-alunos, alunos-alunos, professora-alunos-textos, alunos-alunostextos. Para tanto, foram tomados como documentos do processo vivido as propostas de produção e de revisão textual feitas pelas professoras, as produções das crianças em suas versões e as intervenções feitas pelas professoras e por colegas leitores nos textos produzidos. Os dados produzidos na pesquisa evidenciam a dimensão intersubjetiva da reflexividade, tanto dos alunos em relação aos processos de apropriação e elaboração da escrita, quanto das professoras como mediadoras e representantes leitoras da produção das crianças. Destaca-se a tese de que a 24 reflexividade não é um estado, mas um modo de funcionamento do psiquismo humano, aprendido, mediado, que vai se transformando ao longo da experiência dos sujeitos nas práticas culturais em que se inserem, sejam elas a escrita ou a docência. ESTRATÉGIAS DE LEITURA Eliane Machado PINTO – UNICSUL [email protected] A presente comunicação tem como objetivo ampliar o conhecimento de um dos fenômenos abordados pelos estudiosos da Linguística Textual, a leitura, mas precisamente, a prática do ensino/aprendizagem das estratégias de leitura desde as séries iniciais do ensino fundamental, visando uma prática efetiva na formação de um leitor eficiente; e, apresentar o resultado de uma pesquisa desenvolvida com Professores Coordenadores durante a reunião mensal, em uma cidade do estado de São Paulo, após um estudo dos gêneros textuais e capacidades de leitura. Para identificarmos os conhecimentos prévios dos mesmos, como fundamentação teórica, privilegiaremos os estudos, de Koch e Elias (2007), Dolz e Schneuwly (2004), Rojo (2002) e Kleiman (2002 e 1996), para tratarmos dos conceitos de texto, leitura e capacidade de leitura. O corpus analisados foram uma seqüencial de atividades, elaboradas pelos professores do Apoio Pedagógico, as quais foram desenvolvidas em grupo. Partindo do pressuposto que o Professor Coordenador, também, é responsável em promover na escola momentos de estudo, viabilize mudanças significativas na sala de aula, que pode contribuir para este tipo de atividade permanente nas práticas do professores na busca de atingir os objetivos propostos. Portanto, a efetiva mudança da prática de aula, na busca de um ensino que atinja os objetivos propostos, depende muito do conhecimento das atuais teorias que fundamentam as ações, tanto, do professor e do professor coordenadores. Isso justifica uma formação continua e recíproca de todos que estão inseridos na educação, principalmente, do coordenador para auxiliar e intervir na ação dos professores em busca da formação desejada para os alunos. MINOTAURO: LEITURA E ESCRITA DE LOBATO André Aparecido GARCIA – UNICAMP [email protected] A minha pesquisa busca investigar, na obra Revisão de tradução para o espanhol de "O Minotauro", realizada por Ramon Prieto, localizada no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE – Unicamp), os procedimentos postos em prática pelo polo da produção, tendo em vista a representação que autores e editores constroem a respeito do público ao qual destinam as obras produzidas. Essa adaptação, escrita por Monteiro Lobato, foi traduzida para o espanhol por Ramón Prieto, e publicada pela editora argentina Americalee. Os vestígios deixados pelo próprio punho de Lobato na obra O Minotauro são formas essenciais de acesso às estratégias editoriais e textuais que o escritor e editor Lobato lançou para produzir um produto não só com um bom tratamento literário, mas também com programação visual atraente, tipografia elegante, ilustrações internas, capa chamativa e colorida, sumário objetivo e conciso, a fim de atrair e reter a atenção do leitor. As intervenções textuais e editoriais, feitas por Lobato, na reorganização da segunda edição espanhola da obra o Minotauro, possibilitam a compreensão da concepção de leitor e de escrita que ele tinha em relação ao seu público leitor. Segundo Roger Chartier, em sua obra História Cultural: entre práticas e representações (1996, p.131), os textos escritos por autores, são também manufaturados por editores, por revisores, por impressores, pelo sistema – programação de edição dado pelo computador – criação de outras formas materiais para se chegar ao leitor. A partir das reflexões de Chartier é possível pensar em dois tipos de dispositivos realizados por Lobato na obra O Minotauro: a) Dispositivos textuais: aqueles que decorrem do estabelecimento do texto, ou seja, estratégias de 25 escrita, das intenções do autor; b) Dispositivos tipográficos: aqueles que decorrem do resultado da passagem do texto ao impresso, produzidos pela decisão editorial, pelo impressor e outros. PIBID/LETRAS/UFBA: FORMAÇÃO DOCENTE E LEITURA NA ESCOLA PÚBLICA DA BAHIA Simone Souza de ASSUMPÇÃO – UFBA [email protected] O presente artigo discute a constituição de uma nova identidade de leitor a partir da interação entre estudantes de escola da rede pública e hipertextos produzidos no ciberespaço. Tendo como contexto a formação docente, o trabalho envolve a orientação e o acompanhamento de oito alunos do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência)/Letras da UFBA (Universidade Federal da Bahia), sob a orientação das professoras Simone Borges Bueno da Silva (Letras), Simone Souza de Assumpção (Letras) e Raquel Nery (Educação). Assim, ao longo do ano de 2011, foram desenvolvidas oficinas de leitura, no contraturno, com alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Odorico Tavares, em Salvador. Tais oficinas tiveram, entre seus objetivos, o desenvolvimento de atividades de leitura de textos impressos, a título de preparação de trabalho de leitura com textos em suporte digital. A observação e a posterior reflexão acerca dos principais deslocamentos ocorridos em relação à leitura em ambiente virtual são parte de um projeto de pesquisa desenvolvido na UFBA e intitulado "Letramento digital: o hipertexto e as novas identidades do leitor juvenil". Assim, enumeram-se, neste artigo, os objetivos de tal trabalho bem como se descrevem duas das oficinas, a fim de evidenciar posterior reflexão sobre a interação entre alunos de Letras (na condição de coordenadores das oficinas) e participantes das oficinas (alunos do Colégio Odorico Tavares). Analisa-se também a leitura do “Poema-bomba” de Augusto de Campos na versão impressa e posteriormente na tela do computador. Por fim, cabe ressaltar que tal trabalho integra a pesquisa acadêmica com a formação docente de nossos estudantes de Letras que tem nessa proposta a possibilidade de entrar em sala de aula e refletir sobre sua prática. PRODUÇÃO DE TEXTOS NO ENSINO FUNDAMENTAL: A REESCRITA COMO FORMA DE DESENVOLVER ALUNOS RESPONSIVOS E ATIVOS Luciane WATTHIER – UNIOESTE [email protected] Andresa Guedes Kaminski ALVES – UNIOESTE [email protected] (Apoio: CAPES / INEP – edital 038/2010/CAPES/INEP) O presente texto tem como objetivo apresentar alguns dados e reflexões oriundas do projeto intitulado “Formação continuada para professores da educação básica nos anos iniciais: ações voltadas para a alfabetização em municípios com baixo IDEB da região Oeste do Paraná”, o qual está ligado ao projeto Observatório da Educação, em parceria com a CAPES / UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Cascavel), e visa a formação continuada de professores da Educação Básica – anos iniciais, da região Oeste do Paraná, focalizando, especificamente, municípios que apresentaram índices abaixo de 5,0 na avaliação do INEP/SAEB. Objetivamos, dessa forma, refletir, num primeiro momento, sobre a importância do papel do professor no trabalho com práticas de produção e de reescrita textual, tomando-se o texto produzido pelo aluno como um evento comunicativo, não negligenciando nenhuma de suas dimensões, ou seja, as psicológicas, as discursivas, as sociais e as linguísticas, uma vez que as mesmas se complementam no ato da produção. Para tal, nos embasamos em Dolz; Gagnon e Decândio (2010), Bakhtin (2004), Marcuschi (2008), Koch e Elias (2010), entre outros autores. Num segundo momento, analisaremos algumas produções escritas de alunos de um município contemplado pelo referido projeto, propondo, a seguir, atividades e encaminhamentos de reescrita dos mesmos. Os 26 dados obtidos até o momento revelam que a atividade de reescrita, quando utilizada recorrentemente como estratégia de ensino, pode desenvolver habilidades e competências que garantem, em grande parte, aformação de alunos capazes de exercer suas práticas interativas de forma responsiva e ativa, conforme sinalizado pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) e DCE (Diretrizes Curriculares Estaduais). Entretanto, para que isso aconteça, o fundamental é que o professor esteja bem subsidiado teoricamente. REESCREVER EM TELA: PASSAGENS ENTRE LIVRO E VÍDEO COM ÁLVARES DE AZEVEDO E MACHADO DE ASSIS George Luis FRANÇA – UFSC [email protected] Entendendo-se, com Roland Barthes, que todo procedimento de leitura é, por sua vez, um procedimento de reescritura dos sentidos de um texto, tendo em vista que um texto só pode fazer sentido ao ser lido, ou ainda, ao encontrar-se com um leitor, que com ele jogue, desdobre, pleiteio, com este trabalho, discutir procedimentos de ressignificação que entram em jogo em uma das propostas de contato entre estudantes do segundo ano do Ensino Médio do Colégio de Aplicação da UFSC (turmas de 2011) e textos de dois escritores do século XIX: Álvares de Azevedo e Machado de Assis. A partir de uma discussão sobre adaptação e transposição do texto narrativo ao texto dramático e, por sua vez, à performance de tela, ela própria uma reescritura, tendo em vista que se trata de suporte diferente com demandas diferentes das do livro, tomamos os textos que compõem "Noite na taverna" e contos de diversas compilações de Machado de Assis, escolhidos pelos estudantes, para realizar esse processo. Tratou-se, pois, de um trabalho que exigiu dos alunos formas de apropriação dos textos ditos canônicos muito mais significativas do que as antigas resenhas ou fichas de leitura, hoje altamente reproduzidas em sites na internet e ineficazes não apenas como instrumento avaliativo, mas também como ferramenta de incentivo à leitura. Nesse sentido, a leitura dessas obras foi sucedida, em sala, por uma série de aulas em que o professor auxiliou, em um primeiro momento, a interpretação dos textos, necessária para a transposição ao gênero dramático. Em seguida, houve aulas em que se trabalhou com as próprias particularidades desse gênero. Por fim, os alunos realizaram suas performances em vídeo dando vida e ressignificando as narrativas de escritores aparentemente tão distantes de sua realidade, mas com os quais passavam a conseguir encontrar vínculo, atribuir sentido. SUJEITOS LEITORES E AS MARCAS TEXTUAIS DE SUAS PRODUÇÕES ESCRITAS Janesca KUNTZER (UNISC) [email protected] A análise da inter-relação leitura-escrita foi a estratégia utilizada para mostrar que o aluno-leitor mobiliza todo seu repertório de leitura na produção de seus textos, uma vez que se acredita que a leitura ativa, crítica, influencia a escrita de forma decisiva, possibilitando a ampliação de temas e ideias geradoras de discussão e a compreensão. Aplicou-se um questionário sobre o perfil leitor de cada participante e, em seguida, averiguou-se em que aspectos linguísticos alunos que leem, frequentemente, demonstram maior habilidade em produzir textos opinativos. A análise dos textos coletados embasou-se em quatro linhas teóricas distintas. Segundo a retórica (BRETON, 2003), o texto argumentativo requer o uso de argumentos que sustentem a tese inicial. De acordo com a linguística textual, vários são os elementos linguísticos indicadores das relações de sentido e da orientação argumentativa, de forma que se torna importante a análise dos recursos mobilizados para o estabelecimento da coesão (ANTUNES, 2005). A terceira linha, a da heterogeneidade mostrada e constitutiva (REVUZ, 2004), evidencia a presença do outro- sua voz e influência- explícita ou implicitamente. Por fim, a análise textual do discurso (ADAM, 2011), propõe a análise das ligações de sentido construídas no discurso, reiterando a importância de conceitos da linguística textual e da 27 análise do discurso, conjuntamente. Escolhidas as bases teóricas e os critérios de análise, os textos produzidos foram subdivididos em três grupos: 1- construções mais complexas e elaboradas do ponto de vista linguístico; 2- construções textuais que utilizam alguns recursos coesivos, possibilitando esta coerência, mas não maestria; 3- construções que evidenciam pouco manejo linguístico e dificuldade de expressão. Os resultados desta pesquisa confirmam a hipótese de que as produções escritas evidenciam a influência das leituras, já que os autores destes textos configuram um perfil de leitores habituais. GRUPO TEMÁTICO 2: A LÍNGUA PORTUGUESA E A EDUCAÇÃO DE NEGROS NO BRASIL E NOS PAÍSES AFRICANOS COORDENADORES: Dagoberto José FONSECA (UNESP) – [email protected]; Mary Franciscca do CARENO (UNAERP – Campus Guarujá) – [email protected] O Grupo Temático objetiva fazer reflexões críticas, análises e interpretações sociolinguísticas e políticoculturais acerca da língua portuguesa, enquanto língua da conquista colonial lusa a partir do século XV e, neste sentido, considerada instrumento político e cultural da expansão territorial portuguesa. Assim sendo, este espaço visa a ser um ambiente acadêmico em que as pesquisas que estão sendo realizadas tenham resultados e fundamentação teórico-metodológica alicerçados pelo tema central do grupo temático, ou seja, o do entendimento dos múltiplos papeis que a língua portuguesa teve a partir dos contatos com as diversas populações na África e na América. Esses intercâmbios (através dela) produziram processos sociais e culturais importantes, particularmente quando analisamos e interpretamos o seu papel nas relações que construiu na educação de contingentes populacionais, os mais variados, tanto no Brasil como na África. O português será visto, neste grupo temático, como uma língua que atingiu populações negras nas duas margens do Atlântico e que propiciou uma educação que conduziu estes contingentes populacionais à assimilação dos valores, regras e cultura do conquistador de um lado; de outro, contribuiu para que estes contingentes conseguissem instaurar material e simbolicamente as suas lutas por independência, especialmente via literatura, e construir também a sua própria história social, mesmo fazendo uso da língua portuguesa. Em suma, este grupo focará os estudos que ao relacionarem a língua portuguesa e a educação, estabeleçam o lugar social, cultural e político do seu uso não só nos processos coloniais, mas também nas independências, isto é na capacidade das populações locais da África e do Brasil construírem também, via educação, a sua própria história. Daí, um aspecto significativo, no caso brasileiro, é a introdução da história e das culturas africana e afrobrasileira no ensino fundamental e médio promulgada pela lei 10.639/2003, favorecendo a reescrita da história negra e branca no Brasil. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E A PALAVRA EM USO EM COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS: UMA QUESTÃO DE RESISTÊNCIA Mary Francisca de CARENO – UNAERP [email protected] O presente artigo faz reflexões críticas e interpretações sociolingüísticas e histórico-culturais acerca da língua portuguesa usada por habitantes remanescentes de quilombos, à luz da Teoria da Representação Social (MOSCOVICI, 1978). Ressalta os múltiplas variações da linguagem local, influência estabelecida a partir dos contatos com as populações que utilizaram a região do Vale do Ribeira/SP como rota de passagem e local de moradia. Esse falar não é considerado válido para estudo pelas escolas locais, podendo-se perceber a existência de uma tensão entre identidade cultural e subjetividade dos informantes, pois o discurso escolar, ao não considerar o linguajar da população a que serve, revela preconceito e discriminação linguística. O objetivo principal é conhecer as representações (conjunto de saberes, valores da memória social, conhecimentos socialmente elaborados e partilhados) que habitantes desses bairros rurais do município de 28 Eldorado/SP, possuem a respeito de questão de sua identidade, de sua história e de seu estar no mundo com os outros. Com isso, pretende-se conhecer as atitudes e valores dos participantes da pesquisa, frente ao discurso que a escola insiste em ensinar e as contradições do cotidiano escolar. Se elas vão ou não ao encontro do favorecimento do processo de socialização dos alunos e se os auxiliam a se considerarem pertencentes à sociedade local. Em suma, o trabalho relacionará a língua portuguesa em uso e o discurso da escola. Procura mostrar, por um lado, o descompasso entre um processo cultural proveniente dos tempos coloniais que insiste em mostrar qual deveria ser o lugar social e o uso linguístico dessa população; por outro lado, focará a capacidade dessa população em resistir à padronização da linguagem, via escola e recompor a sua história por meio da própria palavra. OSSAIN, O PROTETOR DAS FOLHAS: ENSINO DO LÉXICO AFRO-BRASILEIRO POR MEIO DA CONTAÇÃO DOS MITOS YORUBANOS Lise Mary Arruda DOURADO – UNEB [email protected] Ossain, o protetor das folhas, um dos mitos do livro O Sonho do Iaô Afonjá – Mitos AfroBrasileiros, de Vanda Machado compõe o acervo dos mitos contados às crianças estudantes da Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos (doravante EMEAS), vinculada ao Ilê Axé Opô Afonjá, terreiro de candomblé situado à Rua Direita de São Gonçalo do Retiro, em Salvador, Bahia. No terreiro, há muito, contam-se histórias, transmitindo oralmente traços significativos da cultura afrobrasileira. Se, durante muito tempo, a Língua Portuguesa, como idioma do colonizador, privilegiou a transmissão das culturas de origem europeia, contribuindo para a perpetuação de valores e princípios civilizatórios judaico-cristãos, por outro, na contemporaneidade, o ensino do léxico afrobrasileiro nas aulas de Língua Portuguesa e em outros espaços da EMEAS, por meio da contação de mitos yorubanos, vem mobilizando valores afros que engendram o combate às ideologias de recalque e denegação da cultura afro-brasileira. Neste artigo, objetiva-se demonstrar como se dá o ensino do léxico afro-brasileiro por meio da contação de mitos africanos que permaneceram, anos a fio, na oralidade do povo brasileiro, principalmente confinados nos terreiros de candomblé. Considerando que seja o léxico de um povo o seu mais valoroso espólio cultural, a escrita deste artigo justifica-se pela necessidade de discutir e divulgar o redimensionamento da importância do léxico de origem africana na educação brasileira, fazendo cumprir, dessa forma, a Lei 10.639/03. No tocante aos estudos e ao ensino desse léxico, lança-se mão de Cacciatore (1935), Mendonça (1935), Yai (1985), Castro (2001), Lody (2003), Petter e Fiorin (2009), entre outros. Dessa forma, pensa-se visibilizar a presença africana na constituição do português falado no Brasil, bem como sensibilizar os educadores no sentido de respeitar e transmitir o legado linguístico afro-brasileiro no cotidiano das suas aulas de Língua Portuguesa. A “LINGUAGEM DE RUA” FALADA POR ADOLESCENTES NEGROS AUTORES DE ATOS INFRACIONAIS Simone de Loiola Ferreira FONSECA – UNESP [email protected] A consciência de ser um indivíduo à margem dos direitos civis na sociedade estadunidense e brasileira despertou no negro, o sentimento de solidariedade de uns para com outros em que, a língua portuguesa é concebida como uma produção cultural e simbólica que tem seu uso político, enquanto veículo de inclusão e de resistência, elaborado por adolescentes autores de atos infracionais. No caso brasileiro constatamos que a maioria destes adolescentes é negra que está sob medida sócio-educativa de internação. Estes adolescentes participam da criação de um código linguístico baseado na “linguagem da rua”. Esta produção cultural visa à adesão e a ascensão em outra ordem social competitiva que atua como formadora de uma identidade social que os integra, 29 enquanto brasileiros e falantes de uma língua portuguesa que se pluraliza cotidianamente nas periferias das cidades brasileiras e, sobretudo, nos sistemas sócio-educativos. A língua portuguesa como outras línguas e linguagens está situada no jogo das classes sociais, posto que é usada a partir de valores socioculturais identificadores da realidade vivida pelos seus usuários. Neste sentido, o seu uso pelos adolescentes negros presentes nos sistemas sócio-educativos ou em projetos similares expressam um português carregado de bens simbólicos, de ginga e de gestos corporais. Esta realidade linguística e corporal gera um conhecimento também das várias culturas que compõem a origem africana desta população adolescente, pois de certa forma a ginga, a gestualidade e a postura corporal livre também sobrevivem nas Américas através de diversas manifestações culturais, particularmente na dança de rua, expressando os atos de resistência, inclusão e de identidade social destes sujeitos, posto que a língua gera uma nova existência social que define um novo tempo, um novo contexto linguístico que denuncia a desigualdade social em função da diferença que representam no cotidiano dos diversos segmentos sociais. A ESCRITA COMO INSTRUMENTO DE INSERÇÃO SOCIAL: PROCESSOS DE ESCOLARIZAÇÃO DE REDATORES E LEITORES DA IMPRENSA NEGRA PAULISTA DO INÍCIO DO SÉCULO XX Sabrina Rodrigues Garcia BALSALOBRE – UNESP [email protected] Esse trabalho se propõe a investigar a situação de alfabetização da população negra do período posterior à abolição da escravatura e décadas iniciais do regime republicano no Brasil. Tomando como base a informação oficialmente divulgada a respeito desse período, de que há índices muito baixos de escolarização no país, sobretudo no que concerne à população negra, majoritariamente marginalizada pela sociedade dominante, é questionável o modo como essa população, caracteristicamente analfabeta, se apropriou da norma culta para empregar um veículo de difusão de informação, como o texto jornalístico. Além dessa questão, também cabem as seguintes indagações: o emprego da norma culta revela uma tentativa de inserção social por meio da língua? Se há homens se dedicando à produção jornalística, também, consequentemente, deve haver um público leitor: quem são esses leitores? Esse trabalho não tem a pretensão de esclarecer todos esses questionamentos, mas busca elencar dados da história social de São Paulo das décadas iniciais do século XX sobre a população em questão. Além disso, faz-se imprescindível considerar o panorama histórico esboçado por pesquisadores da área de educação acerca do processo de escolarização do negro no estado de São Paulo no século XX. Corroborando com o ponto de vista defendido por esses pesquisadores, também está em foco a análise dos jornais da Imprensa Negra que tiveram um papel acentuado na elaboração de uma identidade afro-brasileira Para os objetivos específicos desse trabalho, de se observar o espaço destinado ao incentivo à educação nos jornais por parte dos redatores aos leitores negros e tentar depreender o modo como esses redatores se apropriaram da norma culta, serão analisados especificamente os jornais O Alfinete e O Kosmos, além dos depoimentos de José Correia Leite, um dos exímios militantes negros do período e responsável pelo jornal O Clarim d’Alvorada. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA: DA COLONIZAÇÃO ETNOCÊNCTRICA À DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL Marluce de Santana VIEIRA – UNEB [email protected] A natureza etnocêntrica do currículo escolar faz parte da representação do pensamento hegemônico que norteou um projeto de sociedade comprometido com um ocidentalismo capitalista, o qual buscou eliminara “diferença” pautando-se em paradigmas capazes de estabelecer hierarquizações, a fim de valorizar determinada cultura, determinados saberes,determinado modo de ser, viver e estar 30 no mundo. As iniciativas que questionaram o currículo tradicional brasileiro denunciam uma configuração curricular que representa o mesmo etnocentrismo ocidental, na medida em que traz narrativas que superiorizam a cultura do colonizador e inferiorizam, invisibilizam ou estereotipam os grupos formadores da identidade nacional subordinados. Tomando as tendências contemporâneas que reivindicam para o currículo a multiculturalidade presente na constituição do povo brasileiro é pertinente a crítica ao currículo narrado sob o olhar etnocêntrico, cujas narrativas inferiorizam negros, índios, mulheres e pobres. Trazemos a experiência da Uneb no que se refere à proposta curricular do curso de formação de professores em Letras e Literaturas de Língua Portuguesa, resultante da reformulação curricular implementada em 2005.Este projeto possibilita uma formação interdisciplinar fundamentada na pesquisa e abre espaços para estudos direcionados à realidade local, que tematizam as relações étnico-raciais, despertam para o conhecimento e valorização da cultura africana e dão suporte para intervenções no sentido de formar uma consciência negra e construir uma identidade afrobrasileira positiva. Percebe-se que os professores formados sob essa orientação curricular vão para as suas salas de aula com uma outra consciência e postura frente às questões étnico-raciais, buscando interferir por meio de uma prática que busca refletir o etnocentrismo e desconstruir as narrativas excludentes e discriminatórias que perpassam o currículo tradicional. AS LÍNGUAS NACIONAIS E O PRESTIGIOSO PORTUGUÊS EM ANGOLA Dagoberto José FONSECA – UNESP [email protected] A língua portuguesa era uma língua falada pela população de assimilados que estava situada próxima à costa atlântica, especialmente em Luanda. Sendo a língua materna e nacional para muitos daqueles que estiveram à frente do processo independentista e constituíram o MPLA na década de 1950. E que ao terem saído de Angola na juventude para estudarem em Portugal não tiveram a oportunidade de conhecerem os amplos e complexos rincões culturais, sociais, políticos e filosóficos tradicionais presentes nas diversas etnias do país. Eles foram formados a partir da ideologia e da literatura marxista-leninista e procuraram efetiva-la no momento posterior a independência em 1975, sem, contudo, estabelecerem uma relação crítica e de oposição a língua portuguesa, posto que a viam como a língua que patrocinava o intercâmbio entre todos os angolanos e, ainda, não gerava a valorização de uma língua em detrimento de outra nativa. A língua portuguesa foi apropriada pelos líderes independentistas angolanos como a língua oficial do novo Estado em 1975. Daí que se constata que esta língua convive com as demais línguas nacionais em nítida concorrência. Ela se afirma cotidianamente nos altos escalões do governo e da burocracia, mas também na literatura e na música. Ela hierarquiza grupos e indivíduos que estão em particular na cidade de Luanda. O português organiza e estrutura o grande mercado de bens materiais e simbólicos em Luanda e no restante do país, mas não é a língua que monopoliza o mercado das ruas, pois não é a língua do candongueiro e das zungueiras. GRUPO TEMÁTICO 3: A QUESTÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DA TRANSPOSIÇÃO AOS GESTOS DIDÁTICOS COORDENADORES: Adair Vieira GONÇALVES (UFGD) – [email protected]; Elvira Lopes NASCIMENTO (UEL) [email protected] A abordagem da linguagem como um fenômeno sócio-histórico resultante da articulação de aspectos de natureza extralinguística impõe aos pesquisadores novo foco como ferramenta de ensino: as formas de enunciação produzidas em uma sociedade. Decorrente de tal premissa, a questão dos gêneros discursivos e da formação docente, focos centrais do debate, aparecerão neste grupo de trabalho com enfoques distintos, porém interligados. Serão objetivos do GT: a) a transposição didática de gêneros; b) os modelos didáticos e as dimensões ensináveis; c) a construção de sequências didáticas pelo professor formador em processo colaborativo com o 31 docente em serviço; d) dos textos pré-figurativos da ação docente que guiam a ação do professor; e) dos gestos didáticos do docente. Dessa forma, objetivamos reunir trabalhos que, diante das práticas de linguagem nos eixos de ensino (leitura, produção e análise linguística) evidenciem o papel das ferramentas para práticas significativas em sala de aula, exatamente porque auxiliam o processo de internalização daquilo que o professor deseja que o seu aluno internalize. As dificuldades encontradas na formação inicial e continuada de professores de Língua Portuguesa justificam a organização deste GT, por propiciar reflexões tanto sobre os subsídios prático metodológicos que dão suporte à formação, quanto ao desenvolvimento de ferramentas didáticas considerando a sua relação e adequação ao projeto de ensino do professor, assim como quanto à busca de identificação e compreensão dos agires realizados por professores durante o planejamento, elaboração e aplicação dessas ferramentas. O conhecimento, a discussão e a aplicação de procedimentos pedagógicos atualizados serão, portanto, o fio condutor dos pesquisadores ligados ao GT. A ABORDAGEM FORMATIVA NAS AULAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL: A ARGUMENTAÇÃO ESCRITA Luiz Eduardo Mendes BATISTA – UFU [email protected] Em uma perspectiva formativa, como definido em Perrenoud (2000) o professor, para gerenciar a progressão de aprendizagens, precisa ter claros os objetivos de ensino e questionar constantemente seus modos de ensino, a fim de buscar sentido para os saberes evidenciados. O desafio maior do professor, nesse caso, é o de diagnosticar, mapear com certo detalhamento os conhecimentos prévios dos alunos sobre o conteúdo e, de acordo com o nível de conhecimento destes, realizar as devidas adaptações, ou, no dizer de Bronckart (2006, p.205), as transposições para o âmbito didático. Com base nessas concepções referentes às práticas pedagógicas, pretendemos apresentar uma experiência didática sobre a introdução da argumentação escrita no início do quarto ciclo da Educação Básica, correspondente ao 8º ano, antiga 7ª série. Dessa forma, faremos, em primeiro lugar, uma breve exposição do aporte teórico de que nos apropriamos para a elaboração das atividades em sala de aula. Nesse caso, nos baseamos na ideia inicial de Bakhtin (2003) sobre gênero, nas distinções entre texto, gênero e tipo textual presentes em autores como Marcuschi (2003) e Schneuwly (1994/ 2004) e especialmente na noção de sequência argumentativa, conforme Adam (1992; 2008). Em segundo lugar, mostraremos como desenvolvemos atividades com o objetivo precípuo de diagnosticar o saber dos alunos referente às capacidades de argumentação escrita. De um modo geral, partimos de uma avaliação sobre o que o livro didático apresentava como proposta para a produção textual e percebemos que o manual não apresentava atividades diagnósticas. Diante do impasse, buscamos dois textos do gênero “carta de leitor” na revista VEJA (20/ 04/ 2011) e, em seguida, realizamos um trabalho de leitura e produção a partir de sua estrutura argumentativa. A AÇÃO PEDAGÓGICA DE UMA PROFESSORA EM FORMAÇÃO INICIAL: ARTICULAÇÃO ENTRE OS CONHECIMENTOS TEÓRICOS EM PROCESSO FORMATIVO E A PRÁTICA DE SALA DE AULA Marilúcia dos Santos Domingos STRIQUER – UENP [email protected] A busca por melhorias no desempenho profissional tem se tornado uma preocupação cada vez mais presente nos debates atuais sobre os resultados obtidos no desempenho de alunos da educação básica, sobretudo na escola pública brasileira. Investigações se realizam de forma contínua e sob diferentes perspectivas, entre as quais a que concebe, entre muitos outros fatores, os conhecimentos teóricos adquiridos na universidade e os adquiridos na prática do ofício como importantes fontes de constituição dos “saberes profissionais” do professor (TARDIF, 2002). Nesse sentido, como 32 participante da formação inicial de professores coordenamos um projeto de extensão universitária, constituído sob o aporte teórico-metodológico do Interacionismo Social (BAKHTIN, 2003, 2006) e do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 2006, 2008, 2009) cujo objetivo principal foi o de mediar a apropriação de conhecimentos específicos da disciplina de atuação profissional aos estudantes de cursos de licenciatura em Letras, considerando que essa rede de conhecimentos específicos pressupõe a articulação de saberes teóricos e práticos se constituindo simultaneamente. Com o objetivo de entender as dimensões que constituem o processo de apropriação/internalização da teoria dos gêneros na interface com as práticas de sala de aula (NASCIMENTO, 2011), centramos o foco dessa investigação em uma das professoras em formação inicial integrante daquele projeto. A questão que norteou a investigação realizada sobre a ação da professora em formação foi: como a partir da participação em atividades coletivas de estudos teóricos/científicos e elaboração de materiais didáticos se constitui a ação docente da professora no cenário de sala de aula? Os resultados apontam que muito mais do que colocar em prática uma teoria ou proposta de trabalho, a professora em formação se assumiu em sala de aula como mediadora entre os objetos de ensino e os alunos. A CONSTRUÇÃO DO GÊNERO CADERNO DA REALIDADE EM UM CEFFA TOCANTINENSE E O TRABALHO DOCENTE Cicero da SILVA – SEDUC-TO [email protected] Este trabalho apresenta um recorte da dissertação intitulada “Pedagogia da alternância: um estudo do gênero caderno da realidade com foco na retextualização”. Considerando que a produção escrita (escolar) é o objeto de investigação, o estudo tem como objetivo analisar os aspectos constitutivos do Caderno da Realidade (CR) e o processo de retextualização dos textos que compõem esse gênero. A investigação concebe o CR enquanto gênero discursivo e objeto de ensino. Ao focalizar essa temática, propôs-se compreender a composição de seus textos considerando as condições de produção, o contexto de ensino e os modos com que a escrita se constitui no trabalho docente. Trata-se de uma pesquisa documental. O corpus é representado por textos de 04 (quatro) Cadernos da Realidade, um instrumento didático-pedagógico das unidades de ensino que adotam a Pedagogia da Alternância, produzidos nos anos letivos de 2008 e 2009, sendo 02 (dois) de alunos do 8º ano e 02 (dois) do 9º ano da Escola Família Agrícola (EFA), localizada no município de Colinas do Tocantins, Estado do Tocantins. O estudo ainda leva em consideração as concepções teóricometodológicas do contexto da Pedagogia da Alternância, bem como as práticas pedagógicas demandadas na escrita do gênero CR. Neste sentido, a construção do referido gênero orientada por atividades de reescrita pode ser uma ferramenta significativa para que os alunos possam avançar em suas capacidades discursivas, já que o nível de produção escrita está relacionado ao contexto sociocultural dos aprendizes e ao processo de ensino-aprendizagem da língua materna. O CR constitui um instrumento pedagógico fundamental no contexto da PA, pois reflete as várias tradições da educação em regime de alternância, as inovações no ensino a partir da realidade do meio rural, a interação nessa esfera social, dentre outros aspectos. A ESCRITA DO GÊNERO CONTOS DE FADAS A PARTIR DE CONHECIMENTOS ADVINDOS DA ORALIDADE José Ricardo CARVALHO – UFS (Apoio PIBIB – Nº 001/2011/CAPES) [email protected] A produção de texto corresponde um desafio para os professores da Educação Básica em todos os seus segmentos. Ela começa na Educação Infantil, quando as crianças, sem dominarem os rudimentos da linguagem verbal escrita, são capazes de formularem discursos pela via da linguagem 33 oral. Por meio da modalidade oral, as crianças são capazes de recontar histórias ouvidas, dramatizar, mudar o final de uma história, entre outras atividades. Todavia, as competências orais envolvidas para contar uma história não são incorporadas em estratégias pedagógicas para narrar textos do gênero escrito. Seguindo a proposta de Dolz e Schneuwly (2004), é possível desenvolver uma sequencia de atividades didáticas voltadas para apropriação dos gêneros de textos na escola, considerando-se, a escolha dos gêneros e a compreensão dos processos de interação envolvidos no contexto de transposição pedagógica. Em nosso entendimento, o reconto oral do gênero contos de fadas apresenta-se como um recurso expressivo para a produção de sua versão escrita, servindo de amparo para uma série de atividades de compreensão linguístico-discursivo. Neste trabalho, relatamos uma experiência de formação de professores que propõe a produção textual, por oficinas. Tomamos como base os conhecimentos orais transcritos e retextualizados em uma classe de quarto ano do ensino fundamental para implementar ações pedagógicas. A partir destas atividades, organizamos uma sequencia didática para reescrever o conto de fada “O rei sapo”, apresentando duas versões da mesma história. Os dados demonstram o progresso dos alunos após as atividades realizadas nas oficinas de produção de texto. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O LIVRO DIDÁTICO E A APOSTILA Naiá Sadi CÂMARA – UNIFRAN [email protected] O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados de uma análise comparativa entre os gêneros livro didático e apostila a fim de identificar as práticas discursivas responsáveis por sua constituição e assim verificar os pontos de convergência e divergência entre esses, que são, atualmente, os gêneros mais utilizados no ensino básico. Segundo Bakhtin (2010), existem nas sociedades, em todos os campos de atividades, enunciados “ investidos de autoridade” que são responsáveis por determinar as diretrizes, o tom nos quais as pessoas devem se basear, como afirma o autor: “ aquelas ideias determinantes dos “ senhores do pensamento” de uma época verbalmente expressas [...]” (Bakhtin, 2010, p. 290). Com base nessa postura, partimos do pressuposto de que os gêneros livro e apostila, classificados como gênero didático-pedagógico, são manifestações do discurso legitimado pela sociedade, investidos de autoridade, e por isso desempenham junto a outros gêneros, o papel de senhor do pensamento na constituição dos sujeitos. Acreditamos, portanto, que a análise dos processos de construção dos sentidos nesse gênero formado por enunciados compostos por diferentes materialidades, permite verificar como as ideologias e valores neles apresentados determinam as competências e habilidades exigidas para os professores e para os estudantes do ensino fundamental, médio. As transformações nos processos da comunicação social, motivadas, sobretudo pela evolução das tecnologias digitais, das formas de interação e construção de significados e da convergência cultural e midiática propiciam um convívio cada vez maior com a diversidade cultural e linguística. Sendo o discurso didático- pedagógico um dos principais instrumentos de competencialização tanto dos alunos quanto dos professores, pretendemos, em nossas análises, verificar em que medida esse gênero apreende e representa essa diversidade e essas transformações. CONSTRUÇÃO DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA EM CURSO DE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSOR: UM DESAFIO POSSÍVEL Flávia Ferreira da SILVA – UFS [email protected] O avanço das pesquisas em torno das teorias dos gêneros vem possibilitando inquestionáveis mudanças de postura no ensino de línguas, em geral, e de modo mais específico, no ensino de língua materna. No entanto, esses avanços parecem ainda não satisfatórios quando se considera a transposição didática dos gêneros textuais no ensino fundamental e médio. Várias questões parecem 34 contribuir para esse quadro, dentre elas está a dificuldade, no primeiro momento, de se perceber a língua como ação, pautada no conceito de linguagem construída sócio-ideologicamente e, nessa direção, conceber os gêneros como formações interativas, multimodalizadas e flexíveis de organização social e de produção de sentido, dificultando que se perceba a necessidade do enfoque no funcionamento do texto em seu contexto de produção em detrimento dos aspectos meramente formais. Assim, o propósito desta investigação é o de analisar como se dá a construção de sequências didáticas em curso de formação inicial de professores de língua portuguesa. A fundamentação teórica se baseia nos estudos da teoria dos gêneros textuais e nas sequências didáticas propostas por Scheneuwly e Dolz (2004). Metodologicamente a pesquisa foi realizada com duas turmas do Curso de graduação em Letras de uma instituição pública federal. Os resultados obtidos pela pesquisa nos permitiram alguns aspectos que colocam em perspectiva a apropriação das teorias do gênero e o ensino de língua. Percebemos a) a necessidade de se rediscutir a concepção de língua, determinante para o ensino com base nos gêneros; b) rediscutir os propósitos do ensino de língua; c) Necessidade de aprofundamento teórico d) a percepção das sequências didáticas como forma de articulação dos eixos de ensino (leitura, produção escrita, análise linguística e oralidade). DA FÁBULA AO RAP: REFLEXÕES SOBRE ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL Ana Lúcia Furquim Campos TOSCANO – UNI-FACEF [email protected] Monica de Oliveira FALEIROS – UNI-FACEF [email protected] O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre as práticas de linguagem no que se refere à leitura e produção textual realizadas por alunos do Curso de Letras, bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID), financiado pela CAPES, junto a duas escolas da Rede Pública de Franca – São Paulo. O referencial teórico-metodológico adotado são os estudos do Círculo de Mikhail Bakhtin sobre gêneros do discurso, tendo em vista que as atividades iniciam-se com a leitura e interpretação do texto “O escorpião e a rã”, de Rubem Alves, que remete à tradição da fábula cuja temática evidencia o conflito dos seres diante de determinadas escolhas e, posteriormente, como produção de texto, converge para a escrita do gênero rap, que se caracteriza principalmente por ser um “recado”, um grito de protesto diante de uma situação de discriminação ou opressão. Tem-se, assim, o levantamento de hipóteses, entre elas, de que a orientação metodológica realizada pelos coordenadores do projeto pode contribuir para a formação dos futuros professores, pois envolve diferentes práticas, como o planejamento, elaboração e aplicação das atividades. Há, ainda, que se levar em consideração que a leitura de diferentes gêneros no ambiente escolar promove não somente a compreensão de textos, mas também a possibilidade de transformação em outros gêneros a partir do conteúdo temático que leva à reflexão sobre o estilo e a estrutura composicional de cada um desses gêneros. Como resultado, verificamos que os futuros professores, embasados em conhecimentos teóricos, podem planejar e aplicar atividades que, efetivamente, promovam a leitura e produção de textos no ambiente escolar. FORMAÇÃO INICIAL E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE ENTURMAÇÃO EM MATO GROSSO Luciane Miranda FARIA – CEFAPRO [email protected] O presente trabalho objetiva apresentar dados de investigação sobre a prática de ensino de Língua Portuguesa por acadêmicos (as) do 6º Semestre do curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT/Cáceres-MT, em cumprimento à carga horária da Disciplina de Estágio 35 Curricular Supervisionado I, para a qual os (as) estagiários (as) propuseram, no ano letivo de 2011/02, uma Oficina de Leitura e Escrita a alunos de enturmação, ou seja, àqueles com defasagem ano/ciclo, enturmados pelo critério de idade, conforme orientação da Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso para as escolas organizadas em Ciclo de Formação Humana. Pretende-se, contudo, evidenciar se houve a organização de uma sequência didática pelos (as) acadêmicos (as), visto que, a Oficina se pautou em releituras das versões do gênero Contos de Fada, que apresenta um mundo habitado por seres maravilhosos, como: fadas, magos, bruxas, anões, gigantes, gênios, princesas e cuja principal característica é a antropoformização de personagens. Os contos selecionados foram, em sua grande maioria, de autores como Charles Perrault e Irmãos Grimm, dentre os quais se enfocou o conto “Chapeuzinho Vermelho; por isso, pretende-se evidenciar, também, o resultado da interação dos alunos com o gênero proposto. Assim, a metodologia respalda-se na observação das aulas, bem como, na análise dos relatórios dos (as) estagiários (as) e de produções dos alunos participantes da Oficina. Para tanto, fundamento a discussão em concepções linguísticas que focalizam a língua como instrumento de interação e como prática social significativa, principalmente em contribuições teóricas da Teoria Enunciativo-Discursiva de Bakhitin/Volochínov (1988 [1929] e em Teoria de Aprendizagem Sociointeracionista de Vygotsky (1987 [1934], 1988 [1930]). METODOLOGIA COLABORATIVA: UMA PESQUISA COM PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA Laura Silveira BOTELHO – UFJF [email protected] Tânia Guedes MAGALHÃES – UFJF [email protected] Este trabalho apresenta resultados parciais da pesquisa intitulada “Gêneros textuais e ensino: uma pesquisa colaborativa com professores de Língua Portuguesa”, desenvolvida em 2011/2012. Como pressupostos teóricos, utilizamos o embasamento oriundo do interacionismo sociodiscursivo, que reconhece a primazia da dimensão social da linguagem (SCHNEUWLY e DOLZ, 2004; BAKHTIN, 2010). Tal concepção teórica ressalta que a apropriação, pelos alunos, das diferentes dimensões da linguagem, utilizando como objeto os gêneros textuais, se dá por meio das sequências didáticas nas práticas escolares. Contudo, percebemos, ainda, que há grandes dificuldades por parte dos professores em incorporar em seu trabalho essa perspectiva interacionista (BOTELHO e MAGALHÃES, 2011). Nesse sentido, desenvolvemos uma pesquisa com professores de Língua Portuguesa, de viés colaborativo (KEMMIS & MCTAGGART, 1988; IBIAPINA, 2008), que se caracteriza por ser conduzida por pesquisador externo ao ambiente escolar, auxiliando os profissionais da escola selecionada; ser colaborativa, visto que o pesquisador está inserido no contexto a ser pesquisado; e ter objetivos de mudanças, com intervenção na realidade. Para esses autores, a motivação inicial para desenvolver a pesquisa é mudar o sistema, descrevendo e compreendendo os fenômenos apenas numa etapa inicial. Nosso trabalho centrou-se na construção de sequências didáticas com gêneros diversos, a partir de um programa elaborado coletivamente com esse mesmo corpo docente, para confecção de materiais didáticos com a finalidade de aplicação pedagógica. Os dados, gravados em áudio durante as sessões reflexivas, mostram que foram construídos coletivamente conhecimentos pelos professores sujeitos da pesquisa, tanto em relação aos gêneros textuais escolhidos, quanto em relação ao processo de transposição didática. MODELIZAÇÃO DIDÁTICA DE GÊNEROS: UMA ALTERNATIVA METODOLÓGICA COM O GÊNERO CARTA DO LEITOR Fábio Pessoa da SILVA – UFPB [email protected] 36 O ensino de língua, principalmente a partir das publicações acerca dos gêneros textuais, passou a ser entendido como o espaço institucional para se desenvolver as habilidades de leitura e de produção de texto, aprimorando com isso a competência comunicativa dos aprendizes. Os documentos oficiais passaram a defender um ensino pautado em práticas efetivas de usos da língua(gem) por meio da utilização dos diferentes gêneros de textos. Assim, o presente artigo traz uma reflexão acerca da modelização didática de gêneros como ferramenta para o professor trabalhar a leitura e a produção escrita em sala de aula por meio da construção de sequências didáticas (SDs). Além disso, apresentamos uma experiência metodológica vivenciada/construída em um curso de formação continuada com uma turma professores do ensino fundamental (1ª fase) da rede estadual de ensino do Estado da Paraíba, ocorrida entre os meses de outubro a dezembro de 2011, em João Pessoa-PB. Durante os encontros, tivemos a oportunidade de construir junto aos cursistas modelos didáticos para se trabalhar gêneros (orais e escritos) na aula de língua materna; dentre estes, a carta do leitor. O objetivo deste artigo é, portanto, expor a SD desenvolvida e aplicada por um grupo de três professoras participantes dessa formação continuada, utilizando o gênero em questão. Nossa base teórica são os postulados do Interacionismo sociodiscursivo – ISD e as contribuições de pesquisas de cunho sociointeracionista que tratam do ensino-aprendizagem com textos e de práticas de letramento. Fundamentamo-nos em autores como Bronckart (2006; 2007), Schneuwly e Dolz (2004), Lopes-rossi (2006), Bezerra (2007), Rojo (2001; 2005), Machado e Cristovão (2009), Gonçalves (2011), dentre outros, para subsidiar nossa exposição teórica e metodológica. OS GÊNEROS TEXTUAIS E O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DA TEORIA À PRÁTICA Karen Alves de ANDRADE – UEL [email protected] Após a publicação dos PCN, a necessidade de uma reestruturação no ensino ficou ainda mais evidente e, dessa forma, os livros didáticos rapidamente buscaram adaptar-se às novas exigências. Para atender a essa demanda, revelou-se uma despreocupação com a profundidade em que isso deveria ocorrer. É possível notar que as mudanças que acompanham o ensino de Língua Portuguesa ao longo dos anos estão diretamente relacionadas ao entendimento do texto como evento comunicativo, que se manifesta no gênero textual, e da necessidade de se priorizar o trabalho com os gêneros no contexto da sala de aula. Por mais que grande parte dos livros didáticos recentes já traga, pelo menos teoricamente, tais concepções, o trabalho com textos na sala de aula insiste em ser penoso e, na maioria das vezes, deficiente. Avaliações sistêmicas como a Prova Brasil e o ENEM denunciam inabilidade de muitos alunos em operar com a língua e nos fazem questionar o que ainda insiste em barrar o progresso da educação brasileira em Língua Portuguesa. Práticas equivocadas de ensino da língua propõem fórmulas para se trabalhar o texto, ignorando que, na realidade, é a função que o condiciona e ao seu gênero. Sendo assim, o professor e os livros didáticos perdem tempo ao situarem os alunos quanto às noções de gênero, enunciação e texto, esquecendo-se de desenvolver a habilidade de adequar os enunciados a diversas e renováveis situações comunicativas. Em vez de se trabalhar os gêneros como formas relativamente estáveis de agrupamentos de textos – como postulou Bakhtin (1997) -, o entendimento que se tem acerca dele impõe uma sistematização lógica e cristalizada de formas prototípicas que são, na verdade, idealizações insuficientes de modelos de textos. Neste artigo, analisamos, então, as mudanças trazidas pelo estudo dos Gêneros Textuais nas salas de aula e, mais especificamente, nos livros didáticos de Língua Portuguesa. REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE PRÁTICAS DE LEITURA VOLTADAS PARA A DIVERSIDADE DE GÊNEROS TEXTUAIS Maria Aparecida Lopes ROSSI – UFG [email protected] 37 A necessidade da escola em trabalhar a leitura como construção de sentidos e também as funções sociais dos diferentes gêneros de textos, tem levado os professores a enfrentar inúmeras dificuldades. Dentre estas se pode ressaltar a articulação entre os estudos que enfocam a abordagem dos gêneros de texto na sala de aula e o planejamento das atividades de ensino. Este trabalho surge das reflexões suscitadas pela experiência adquirida em curso de pedagogia com a disciplina: Fundamentos e Metodologia de Ensino de Língua Materna e na orientação de trabalhos de final de curso e monografias de cursos de especialização. No presente artigo abordo a experiência vivida em duas situações de orientação em que dois alunos/professores se propuseram a construir práticas de leitura voltadas para a diversidade de gêneros de texto. O processo de orientação forneceu elementos para a reflexão sobre como são construídos os saberes inerentes à prática docente. O que ficou evidenciado foi a dificuldade dos alunos/professores em transformar suas práticas de ensino, calcadas em um modelo de leitura voltado somente para pseudo-textos e fragmentos de escrita literária, para um trabalho apoiado na diversidade de gêneros textuais. O que se pode concluir, é que uma prática de ensino, voltada para os textos que circulam socialmente, carece de um professor que esteja em um processo de formação contínua, atento à articulação entre o conhecimento produzido e suas práticas de ensino. Neste processo, conforme os dizeres de um dos alunos/professores, ele é o primeiro a se favorecer. Ou seja, é o próprio professor que terá suas habilidades de leitura aperfeiçoadas, não só para ampliar o seu grau de letramento, mas também para ter condições de oferecer um ensino produtivo, que leve os alunos a se inserirem nas práticas letradas de uso da linguagem escrita. TEORIA E PRÁTICA SOBRE LEITURA. DO VÍNCULO INSUPERÁVEL NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA Sirlene Cíntia ALFERES – UFU [email protected] Neste trabalho, pretendemos expor teórico-analiticamente aspectos relativos à perspectiva de se tomar o dispositivo da (re)construção de temática textual para o trabalho de leitura na aula de Língua Portuguesa (LP). Para tanto, partiremos da discussão de uma experiência que vivenciamos em um seminário voltado para a formação de professores de LP da rede municipal de Uberlândia. Naquela oportunidade, via oficina, propusemos um exercício de (re)construção de temática textual, tendo em vista o fato de que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) orientam a prática de se tomar o texto como ponto de partida ede chegada das aulas de Língua Portuguesa. Ademais, consideramos ali a questão de os PCN fundamentarem a relevância de uma aula de leitura em que haja a articulação entre os diferentes campos do saber, naquilo que o texto oferece de possibilidades. Sob essa visada, a abordagem do texto pelo texto, em sala de aula, acirraria a perspectiva de que a linguagem é multifacetada e, sobretudo, inextricável da relação social na qual ela está implicada. Nesse sentido, propomos a seguinte questão central: Em que medida a (re)construção de temática textual para a aula de leitura pode permitir a articulação entre teoria e prática, conforme os PCN? Assim, aventamos a hipótese de que a fundamentação conceitual do dispositivo de (re)construção de temática textual convoca, por um lado, uma interface entre questões do texto e do discurso, resguardadas as especificidades dos campos, e, por outro, questões relativas ao processo de ensino e aprendizagem de línguas. E isso permite a assunção de condições de ensino para a aula de leitura em que o texto seria trabalhado, pelo professor, não a partir de obviedades, mas sim a partir de uma leitura fundamentada nas possíveis relações que todo texto (com)porta, dada a inextricabilidade entre língua e sociedade. TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA APRESENTADA PELO GESTAR II PARA A PRODUÇÃO ESCRITA EM SALA DE AULA Maria José Cavalcante de LIMA – UFRN 38 [email protected] Este trabalho propõe-se a analisar as orientações teórico-metodológicas apontadas pelo Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – GESTAR II, programa de formação continuada, oferecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), na modalidade semipresencial, destinado aos professores do 6º ao 9º ano, do Ensino Fundamental, em Língua Portuguesa. Esta pesquisa tem como objetivo analisar como estas orientações teóricas são transpostas didaticamente pelos professores cursistas, em três escolas públicas de Natal, bem como investigar como o professor que passou pelo processo de formação continuada do Gestar II mobiliza, atualiza, transpõe e constrói conhecimentos em situações cotidianas de sala de aula, principalmente no que concerne a concepção de linguagem, de ensino e de escrita. Pretende-se, ainda, perceber que impactos este curso de formação continuada, oferecido pelo MEC, pode proporcionar as práticas pedagógicas do ensino de LM em sala de aula, pois se acredita que a Língua deve ser vista como processo de interação entre sujeitos usuários da mesma, que constroem sentidos e significados que se constituem segundo seus conhecimentos prévios, seus papéis sociais, nas diversas situações de comunicação em que se envolvem diariamente, por isso compreende-se que a prioridade é estudar a língua em uso, da qual necessitamos ter proficiência. Por saber da complexidade que é analisar um manual didático considerando as questões de LM que ele propõe abordar, a natureza científica dessa pesquisa e ainda a perspectiva sob a qual se propõe a fazê-la, a nossa discussão delimita-se nas orientações dadas para o trabalho com a escrita. Nosso corpus são os documentos elaborados pelo MEC. Metodologicamente, está inserida no campo da Linguística Aplicada, sendo de natureza qualitativa interpretativista, fundamenta-se no conceito de gênero discursivo de Bakhtin e seu círculo (1992), e em Geraldi (2003), Antunes (2003) pelas reflexões sobre a produção de textos na esfera escolar. GESTOS DIDÁTICOS: ARENA DE SIGNIFICAÇÕES PARA INTERPRETAR PRÁTICAS DOCENTES Elvira Lopes NASCIMENTO – UEL [email protected] O objetivo é refletir sobre meios semióticos acionados pelo professor para operar processos de aprendizagem nas atividades com foco em gêneros textuais. A discussão está ancorada nos postulados do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART; 2006, 2008; SCHNEUWLY, 2009; DOLZ, 2010), segundo os quais a linguagem, ao adquirir em dado momento uma função particular de controle do próprio comportamento, produz desenvolvimento. Na situação de ensinoaprendizagem, a linguagem verbal e não verbal pode intervir como ferramenta para mediar o processo de desenvolvimento tanto do professor em seu agir profissional como dos alunos. Dados deixam entrever que a linguagem oral e gestual do professor é um instrumento vinculado à situação que conserva uma função psicológica para ele, pois depende de operações que, tendo em vista finalidades, motivos e intenções dá acabamento e estilo à sua ação linguageira. Nessa perspectiva, o agir do professor diante dos alunos é uma arena de significações por mobilizar gestos didáticos para mediar a apropriação dos objetos de ensino. Para compreender o trabalho realizado é preciso compreender as características da atividade na interação com os alunos, o que implica uma análise multifocada em que gestos e configurações corporais no curso da ação interacional são inseparáveis da ação verbal-discursiva. Para apreender as características multimodais da ação de uma professora em sala de aula, recorremos aos registros em áudio e vídeo em oficinas de uma sequência didática efetivamente realizada. O reconhecimento de estilo profissional é fundamental para a estabilidade e desenvolvimento de um campo profissional (CLOT, 2006) o que nos leva a não negligenciar o fato de que profissionais da educação podem estar mobilizando recursos verbais e não verbais que precisam ser investigados pelas implicações com novas ferramentas de ensino e aprendizagem. 39 SEQUENCIALIDADE TIPOLÓGICA DE ARTIGOS OPINATIVOS EM CONTEXTOS DE VESTIBULAR Adair Vieira GONÇALVES – UFGD [email protected] O objetivo desta comunicação é apresentar resultados de uma pesquisa envolvendo a análise de sequências tipológicas explicativas e argumentativas, consideradas como essencialmente dialógicas, a partir de uma proposta de escrita do gênero artigo de opinião. Os textos foram produzidos por candidatos ao Curso de Letras durante o processo seletivo vestibular da Universidade Federal da Grande Dourados- UFGD. O aporte teórico-metodológico utilizado foi o interacionismo sociodiscursivo (ISD) e no seu modelo de análise de textos (Bronckart, 2003[1999]). Tal aparato foi associado à abordagem didática para o ensino de línguas da Universidade de Genebra, isto é, ao desenvolvimento de capacidades de linguagem: i) capacidades de ação (relativas ao contexto de produção); ii) capacidades discursivas (desenvolvimento da infraestrutura textual); iii) capacidades linguístico-discursivas (relativos aos mecanismos de textualização e de enunciação). Para a realização da pesquisa, apoiamo-nos nos pressupostos da pesquisa qualitativa, de abordagem interpretativista. Para Bortoni-Ricardo (2008), sob esse ponto de vista, não há como observar o mundo independentemente das práticas sociais e dos significados vigentes. Para Flick (2004), nesta abordagem metodológica, constitui papel importante a reflexividade do pesquisador sobre as ações e observações; neste caso, reflexões sobre as ações de linguagem empreendidas por candidatos ao curso de Letras de uma instituição federal de ensino superior. Os resultados apontaram para uma incidência maior de sequências argumentativas completas, consideradas como favorecedoras de maior potencial argumentativo, em contraposição ao uso reduzido desequências explicativas, usadas parcialmente pelos vestibulandos. O grande percentual de sequências explicativas parciais justificase pela simplicidade do tema escolhido, não exigindo explanação detalhada do tema em discussão. GESTOS DIDÁTICOS FUNDADORES: DA MOBILIZAÇÃO DA MEMÓRIA DAS APRENDIZAGENS NO DESENVOLVIMENTO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA Eliana Merlin Deganutti de BARROS – UEL [email protected] Esta comunicação é fruto de uma pesquisa de doutoramento, intitulada “Gestos de ensinar e de aprender gêneros textuais: a sequência didática como instrumento de mediação” (UEL), orientada pela Profª. Drª. Elvira Lopes Nascimento, cujo objeto de investigação foi uma intervenção colaborativa em campo, efetuada em um 6º ano de uma escola pública da periferia de Londrina. O objetivo geral da pesquisa pautou-se na validação didática da metodologia de ensino da língua proposta pelos pesquisadores de Genebra filiados ao Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) em contexto específico da escolarização pública brasileira. Tal metodologia se orienta por em um interacionismo instrumental, propondo ferramentas para o agir do professor no seu trabalho de ensinar a língua por meio de gêneros textuais. A pesquisa investigou todo o processo de implementação de um projeto de escrita baseado na transposição didática do gênero “carta de reclamação” e orientado pela ferramenta “sequência didática” (SD). Para esta comunicação, apresentamos a teoria dos gestos didáticos, adaptada do conceito de gestos profissionais da Clínica da Atividade, por pesquisadores de Genebra, e expandida por pesquisadores brasileiros filiados ao ISD. O objetivo é apresentar resultados relativos ao agir do professor na mobilização da ferramenta SD, tomando como foco o gesto didático fundador relativo à mobilização da memória didática. Esse gesto se mostrou de suma importância no desenvolvimento da SD, pois proporciona a articulação entre os demais gestos didáticos fundadores, conferindo unicidade ao projeto de escrita. Por meio dele é possível fixar conteúdos já trabalhados (institucionalização), efetuar a regulação do aprendizado, articular objetos de ensino já institucionalizados com objetos em processo de delimitação, retomar a presentificação do objeto social em foco, assim como auxiliar o 40 encaminhamento das atividades e das tarefas. GESTOS PROFISSIONAIS DO PROFESSOR E A CONSTRUÇÃO DOS OBJETOS ENSINO POR MEIO DO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DE Márcia Andréa Almeida de Oliveira – UNICAMP (Apoio CNPq) [email protected] Neste trabalho, assumindo uma perspectiva didática, os gestos profissionais são sistematicamente relacionados com os objetos ensinados e tem como objetivo transformar as significações atribuídas, por exemplo, pelos autores e editores do Livro Didático de Português, aos objetos apresentados e construir progressivamente novas significações. Segundo Aeby Daghé e Dolz (2008), é por meio dos gestos que o professor delimita, mostra e decompõe o objeto de ensino. Para os autores, “identificar os gestos específicos da profissão de ensino supõe, portanto, uma clarificação das situações e das atividades escolares dentro das quais elas se realizam, bem como as ferramentas e as abordagens que permitem sua realização” (AEBY-DAGHÉ; DOLZ, 2008, p. 83). Nessa acepção, o campo disciplinar e os objetos de ensino assumem um papel principal para analisar o agir do professor. Levando em consideração esse quadro teórico, a partir da análise dos gestos profissionais de duas professoras de Língua Portuguesa do ensino fundamental II, buscamos descrever e analisar a maneira como os objetos didatizados (presentes no Livro Didático) são reconstruídos em sala de aula, tornando-se objetos ensinados. Neste trabalho, portanto, reconhecemos a existência de gestos, como a implementação de dispositivos didáticos, que acaba sendo o responsável pela presentificação e elementarização do objeto de ensino. É a partir da escolha desse dispositivo que observamos como o objeto é recortado, abordado e como ele é organizado em uma sequência progressiva, o que faz dele um elemento essencial do trabalho do professor. Assim, o objeto construído em sala de aula é resultado do dispositivo implementado, o que implica a mobilização de vários meios: a organização da sala de aula, os textos escritos ou suporte para escrever (quadro, cadernos), o discurso do professor, a regulação entre outros. GRUPO TEMÁTICO 4: A IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM HUMANA COORDENADORA: Paula G. ARBEX (UFU) [email protected] Este Grupo de Trabalho tem o objetivo de reunir pesquisadores da área da linguagem que se dedicam a estudá-la estabelecendo a relação linguagem/realidade do cotidiano no que diz respeito ao papel de significação da linguagem. Importante perceber como a linguagem representa o mundo. Em linhas gerais, este Gt propõe-se a discutir: i. as operações cognitivas constituintes da competência discursiva humana; ii. a relação entre linguagem, mundo e pensamento; iii. o desenvolvimento de estratégias de ensino que forneçam aos estudantes uma concepção de linguagem literária; iv. o funcionamento das noções de linguagem “mais elaborada” e “menos elaborada”; v. o papel da linguagem e a linguagem como criadora de uma imagem do mundo. Diferentes trabalhos e o conhecimento acerca da linguagem serão, portanto, o fio condutor das discussões do GT 4. A “REPRESENTAÇÃO” LINGUÍSTICO-COGNITIVA DO MUNDO NA CONSTRUÇÃO DO SELF José Cláudio Luiz NOBRE – DOCTUM [email protected] O estudo que aqui se apresenta delimita seu objeto no âmbito das operações cognitivas, constituintes da competência discursiva humana e fundamentais na construção de categorias linguísticas, que indiciam ‘representações’ mentais de objetos de discurso (co)instituídos em 41 atividades de linguagem. Busca-se um novo olhar à noção de “representação linguística” difundida pela sequência dos estudos a respeito das funções da linguagem a partir do achado de Bühler, repensado por Kainz e ampliado por Jakobson. Propõe-se (re)pensar a função representativa da linguagem a partir da interface estabelecida pelos estudos da Linguística Cognitiva e da Neurociência, com os postulados de Edelman (1987), Maturana e Varela (1995), Damásio (2000), que (re)configuram a noção de ‘representação’ a partir da ideia ‘enação’ e/ou de (re)categorização da construção de sentido, em consonância com a atividade cognitiva de (re)construção do self e da vida humana, como uma expansão da capacidade de seleção natural darwiniana. Promove-se, assim, a noção de ação cognitiva, de experiência, em vez de representação. Trabalhamos com a hipótese de o cérebro não ser um órgão cuja atividade reflete mundos, objetos. Se assim o fosse, todas as pessoas, nas mesmas condições de espaço-tempo constituiriam as mesmas ‘representações’ dos objetos mundanos. Em linhas gerais, ainda que o processo de ‘representação’ linguístico-cognitiva de objetos de discurso seja, o quanto possível, regular e analisável entre pessoas de uma comunidade, o ponto de vista de cada sujeito é, necessariamente parcial (dada a condição limitada do ser humano, o homem não percebe a integralidade dos fenômenos: seleciona um ou alguns de seus aspectos), e não pode ser neutro. E tal posição está relacionada a numerosos componentes psicológicos, sociais, constitutivos das experiências de vida de cada ser, que produzem uma variedade de respostas dos indivíduos face aos mesmos estímulos ambientais. CONEXÕES ENTRE LINGUAGEM, MUNDO E PENSAMENTO NO ESTUDO DE TEORIAS SOBRE LINGUAGEM Fernanda CIZESCKI – UFSC [email protected] O presente trabalho visa incitar e desenvolver uma discussão sobre a relação entre linguagem, mundo e pensamento. Esses três conceitos e suas conexões são amplamente discutidos tanto na Filosofia da Linguagem, quanto na própria Linguística. Isso ocorre, entre outros motivos, pois uma teoria sobre a linguagem necessariamente (mas nem sempre explicitamente) se compromete com uma visão sobre o que é a linguagem, qual sua natureza e, porque não, qual a sua origem. Dessa forma, a ideia é pensar sobre a concepção de linguagem que é automaticamente e, às vezes, acriticamente adotada ao se trabalhar com teorias sobre a linguagem. Para desenvolver tal pensamento, buscar-se-á auxílio nas discussões filosóficas já estabelecidas a respeito do tema. Partindo disso, o trabalho será desenvolvido em dois momentos: um em que para embasar a discussão da representação do mundo pela linguagem, será abordado Frege e sua discussão sobre a diferença entre sentido e referência e outro no qual o resultado da discussão supracitada será confrontado com a teoria das funções da linguagem de Karl Bühler. Bem como com a perspectiva de Fiorin segundo a qual usamos a linguagem para interpretar o mundo. Esse confronto tem o objetivo duplo de i) lançar perspectivas à questão das relações entre linguagem, mundo e pensamento e ii) pensar sobre a compatibilidade da visão subjacente de linguagem apresentada por esses dois escritores. Por isso, essa é uma pesquisa de base teórica e filosófica, mas que, por tocar em pontos vitais da constituição da linguagem no homem é de suma importância para o profissional que objetiva trabalhar com o ensino de língua. ASPECTOS DISCURSIVOS DO ENSINO DE DETERMINADA LINGUAGEM LITERÁRIA EM RELAÇÃO À UTILIZAÇÃO DOS TERMOS KITSCH E BREGA Lucas Martins Gama KHALIL – UFU [email protected] Na prática escolar, considerando-se as aulas das disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura, quando separadas curricularmente ou mesmo quando lecionadas sem distinção oficial, nota-se, a partir dos anos finais do Ensino Fundamental (com mais regularidade), o desenvolvimento de 42 estratégias de ensino que objetivam “fornecer” aos alunos uma concepção de linguagem literária, ou, grosso modo, uma linguagem que, por se constituir a partir de uma elaboração peculiar, transcenda às limitações de uma linguagem julgada como cotidiana. Com base nesse tipo de prerrogativa, são ensinadas, por exemplo, as diversas figuras de linguagem, bem como a distinção entre conotação e denotação. No trabalho ora apresentado, objetivamos refletir sobre o funcionamento das noções de linguagem “mais elaborada” e “menos elaborada”, conceitos que ultrapassam o âmbito escolar, na medida em que dão sustentação para determinadas representações relacionadas à língua, evidenciando alguns posicionamentos de sujeito e não outros. Do mesmo modo que se constitui uma análise do status da linguagem utilizada em um texto trabalhado em sala de aula, trabalhado em sala de aula, o julgamento qualitativo artístico realizado em variados contextos perpassa alguns critérios de elaboração aliados a certa representação de língua. É por isso que propomos relacionar as especificidades do funcionamento do conceito de linguagem literária, baseando-nos em discursos provenientes da escola enquanto instituição que difunde parâmetros e diretrizes curriculares, às práticas discursivas que envolvem julgamentos relativos à utilização da linguagem, focalizando as noções de “brega” (no âmbito musical) e de “kitsch” (em um âmbito artístico mais generalizante). Considerando o arcabouço teórico da Análise do Discurso de linha francesa, a partir de reflexões de Michel Pêcheux e Michel Foucault, propõe-se, desse modo, a discussão sobre os parâmetros que permitem definir, em dados contextos, o porquê de uma utilização da língua ser “melhor”/“mais elaborada” ou “pior”/ “menos elaborada” que outra. REPRESENTAR E SIGNIFICAR O MUNDO: A MENTE E O SÓCIO INTERACIONISMO DISCURSIVO Emanuela Francisca Ferreira SILVA – PUC MINAS [email protected] Este trabalho é uma tentativa de perceber como a linguagem representa o mundo com seu poder criador, significando-o. Tendo a semântica atencional como forma de perceber a relação existente entre mente e sociedade. Para tanto se conceitua significado (S) como a relação entre um organismo (O) e seu ambiente físico e cultural (A) determinado pelo valor (V) de A para O, na tentativa de expandir o campo de significação humana. A reflexão é desenvolvida a partir de textos de Zlatev e Marcheti sobre semântica atencional e textos de Marcuschi e Davidson sobre o sóciointeracionismo discursivo. O significado não é puramente linguístico- não se encontra somente na relação dos elementos dentro de uma sentença, subjetiva – não está puramente na cabeça do falante - e nem é determinantemente objetivo – não se centra no mundo. Ele resulta da interação do organismo – o ser humano – com o ambiente, seja ele físico ou cultural. A maneira como nós dizemos aos outros as coisas é decorrência de nossa atuação intersubjetiva sobre o mundo e da inserção sócio-cognitiva no mundo em que vivemos. Acredita-se que o pensamento depende da comunicação. A atenção é uma operação mental conduzida por elementos sensoriais como a visão, a audição e o tato. Representar e significar são, pois, compreender palavras e pensamentos do outro numa interpretação que otimize o acordo, tendo como pressuposto que somos uma “sociedade de mentes”. (Marcuschi). A linguagem não é um instrumento transparente. O papel da linguagem é significar, possibilitando a comunicação objetiva que, tem como base a comunicação intersubjetiva. A mente juntamente com os elementos sensoriais como a visão, a audição e o tato possibilitam que a interação cognição – social se realize e que o papel de significação da linguagem seja realizado. O CONCEITO DO NOME PRÓPRIO: UMA QUESTÃO LINGUÍSTICO-FILOSÓFICA Stefania Montes HENRIQUES – UFU (CAPES-DS) [email protected] A discussão sobre o papel da referência na linguagem está presente desde a Antiguidade Clássica – 43 com o diálogo Crátilo de Sócrates, por exemplo – e envolve conceitos importantes, tais como o de arbitrariedade, língua, linguagem, objeto e signo. Ao admitirmos, por exemplo, que a língua possui como única função representar o mundo, podemos cair na armadilha de considerá-la somente como nomenclatura, sem levar em consideração suas especificidades. Entretanto, se aceitarmos que algumas categorias linguísticas possuem a característica de “estar por objetos” e outras não, é possível encontrar um ponto de encontro entre uma ordem inerente à língua – sem relações extralinguísticas – e uma ordem que possibilite o estabelecimento de uma relação entre as palavras e as coisas. Neste trabalho, pretendemos investigar o conceito de nome próprio na medida em que ele é, ao nosso ver, a categoria linguística que mais se enquadra na possibilidade de se pensar uma relação entre a língua e o mundo. Nosso percurso teórico consistirá nos estudos da Filosofia Analítica da Linguagem e da Linguística, passando por autores como Gottlob Frege, P. F. Strawson, F. de Saussure e É. Benveniste. É válido afirmar que a escolha destes autores justifica-se na medida em que todos eles teorizaram sobre a língua, partindo de pontos de vista e objetivos distintos e desempenhando um papel importante nas Ciências da Linguagem. Pretendemos assim, compreender de que maneira o conceito de nome próprio é entendido nas Ciências da Linguagem e se há a possibilidade de se pensar uma teoria linguística que abarque a relação entre linguagem e mundo. INTENCIONALIDADE E CONSCIÊNCIA NÃO INTENCIONAL NA AÇÃO LINGÜÍSTICA DE BASE METAFÓRICA Daniel Felix da Costa JÚNIOR – UFF/UFRJ [email protected] Desde Lakoff e Johnson (1980), a noção de metáfora ganhou uma amplitude que ultrapassa o plano linguístico, com afirmações do tipo “as metáforas podem criar realidades, especialmente realidades sociais”, “uma metáfora pode converter-se em guia para a ação futura, que, ajustar-se-ão à metáfora”, postulou-se que o nosso sistema conceitual é de base metafórica. Sabendo da natureza agente da metáfora, fizemos uma associação desta ideia com uma teoria da ação razoavelmente formulada, como a descrita por Searle (1983). Obteve-se, então, a possibilidade de três critérios para a observação da metáfora, sob o enfoque da ação: a) a metáfora considerada intencional, b) a metáfora considerada não intencional, e c) a metáfora como uma não ação. A partir disso, passamos a investigar a consistência teórica dessas três hipóteses de metáforas, até encontrar alguns argumentos que podem refutar essa distinção dentro da própria teoria searleana, são estes: • toda ação possui uma intenção em ação, • existe possibilidade intencional na metáfora não intencional, e • a aceitação do objetivismo, dentro da concepção de uma não ação metafórica, exclui a ideia de intencionalidade e não intencionalidade da metáfora. A confirmação ou não desses argumentos foi analisada neste trabalho, bem como, a defesa da não atividade da metáfora ser considerada parte do Background, que é o pano de fundo para toda e qualquer ação. Os problemas teóricos citados por Dreyfus e Wakefield (1991) e por Dreyfus (1993), sobre a não obrigatoriedade da intenção em ação para alguns casos de ação, e sobre a desvinculação da experiência de agir com a intenção em ação, foram levados em conta para a convergência do experiencialismo lakoff-johnsoniano com a teoria da ação. A REPRESENTAÇÃO DO MUNDO NA CONSCIÊNCIA HUMANA Eliane Siqueira Costa COELHO – UERJ/FFP [email protected] A linguagem tem um grande poder: o de criar. Entende-se então que a linguagem, criadora de uma imagem do mundo é também criação do mundo. A relação linguagem/realidade parece ter preocupado o homem, desde os primórdios. Os filósofos pré-socráticos, ao lado da questão em que se buscavaexplicar a origem do universo e de todas as coisas, promoviam, também, essa discussão: qual é a origem e qual é a natureza da linguagem? Diante dessa reflexão o presente trabalho visa 44 discutir a importância dos estudos da Linguagem Humana e suas principais funções, assim como a representação do mundo em sua consciência. A pesquisa baseia-se nas observações de Buhler que formulou o clássico modelo tradicional das funções da linguagem que por longa data vem sendo perquiridas por filósofos da linguagem. Por essa razão, existem três conceitos fundamentais que devem ser levados em conta ao realizarmos pesquisas sobre a Linguagem Humana, a saber: a representação mental, a exteriorização psíquica e o apelo. Sabendo que as duas últimas não são funções representativas, logo cabe à Representação Mental ou Função Representativa da Linguagem Humana o nosso foco de estudo. A reflexão é desenvolvida a partir de textos de Fiorin onde a linguagem é entendida como a maneira de perceber e interpretar o mundo. Buscaremos então criar espaços de reflexão sobre o conceito de signo, o papel da linguagem e a celebre discussão sobre pensamento e linguagem. A partir dessas abordagens, buscaremos expor que a função representativa mais que uma função “é a própria essência da linguagem humana no homem” (Karl Bühler). GRUPO TEMÁTICO 5: AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: O DISCURSO VERBAL E VERBO-VISUAL NA ELABORAÇÃO DE CONTEÚDOS COORDENADOR: Carlos Augusto Baptista de ANDRADE (UNICSUL) – [email protected] A linguagem é o meio pelo qual a comunicação humana se estabelece. Ela, no princípio da comunicação, realizou-se por meio de grunhidos, gestos, pictogramas etc, com a finalidade de marcar/destacar sua natureza sócio-histórico-cultural, pois ela só existe como patrimônio de um determinado grupo social. Com a evolução da espécie humana, as formas de comunicação foram aperfeiçoadas, a ponto de desenvolver-se a língua como um produto social da própria linguagem, interconectadas e indissociáveis. A linguagem, assim, foi buscando novos espaços e, hoje em dia, encontrou no chamado ciberespaço local privilegiado para possibilitar a interação humana. Pretende-se, neste GT, refletir/discutir sobre produções verbais e verbo-visuais produzidas para os chamados AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM - AVA. Para atender tal proposta, optouse pela teoria bakhtiniana dialógica da linguagem centrada nos gêneros discursivos (BAKHTIN, 2003), com a finalidade de se criar um solo epistemológico de discussão. Há muita banalização a respeito do assunto. Muitas produções de material para esse ambiente são desenvolvidas por pessoas que desconhecem processos educativos de interação. As práticas interacionais e interativas em AVA exigem conhecimento da área específica do curso, da área tecnológica e do conhecimento linguístico, para a produção de materiais de qualidade e de construção de processos de interação na rede. Ambientes de aprendizagem não podem ser apenas repositórios de documentos. Eles podem e devem proporcionar interação “na” e “pela” linguagem entre os sujeitos que participam dos diversos cursos. Muitos trabalhos apontam para a potencialidade do desenvolvimento de aprendizagem a partir do surgimento do ciberespaço, permitindo a elaboração e organização de materiais de muito boa qualidade. Cabe aos pesquisadores das diversas áreas do conhecimento realizar intensa discussão sobre o assunto para, criticamente, oferecer contribuições à modalidade educativa a distância e semipresencial que cresce a passos largos no país, com algumas boas experiências e outras não tão boas. A IMPORTÂNCIA DO ÍCONE PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Marílio Salgado NOGUEIRA – UFC [email protected] Viviane Batista de OLIVEIRA – SEDUC [email protected] Diversos setores sociais têm acompanhado o desenvolvimento e a mudança da sociedade. Uma 45 destas mudanças foi o surgimento do mundo virtual. Neste sentido, a educação tem acompanhado tais mudanças, saindo de um modelo exclusivamente presencial para um ambiente parcial ou completamente virtual de ensino. Neste contexto, a Linguística vem realizando estudos sobre elementos que foram gradativamente adicionados em hipertextos, como sons, imagens, vídeos, links, ícones, entre outros recursos midiáticos, principalmente no que versa os sites educacionais utilizados na Educação Aberta e a Distância – EAD. Neste caso, sob uma perspectiva semiótica de Pierce, os ícones, objetos de estudo desta pesquisa, têm a cada dia conquistado uma importância maior dentro do contexto hipertextual educacional. O objetivo deste trabalho é discutir e verificar a função e a importância de tal recurso presente em sites educativos para o ensino da Língua Portuguesa aos estrangeiros. Para tanto, foi hipotetizado que os ícones não estavam em consonância com o texto verbal escrito e não exerciam sua função, dificultando a compreensão do conteúdo pelos aprendizes estrangeiros de língua portuguesa. Para este trabalho, foram aplicados dois questionários a um grupo de professores nativos do Canadá, Estados Unidos, França e Inglaterra, de cursos livres de língua estrangeira, cujos sujeitos interessam-se pela língua portuguesa, com o intuito de eleger um site educativo para o ensino-aprendizagem de LP e para serem analisados os ícones. De forma unânime, foi indicado o site da BBC, especificamente a seção Learning/Language/Portuguese. Ao fim da análise, conclui-se que alguns ícones do referido site não cumpriu com a sua função, dificultando a leitura do usuário ou deixando-o em dúvida quanto à compreensão. CONTRIBUIÇÕES AUDIOVISUAIS NA PRODUÇÃO TEXTUAL DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE INTERDISCIPLINAR Loraine Vidigal LISBOA – IFGOIANO [email protected] Trabalhar o processo de leitura e produção textual em sala de aula da rede pública de ensino não tem sido tarefa fácil. O que tem sido um desafio também, não só para o professor de língua portuguesa mas para os docentes em geral, é favorecer a construção da cidadania do aluno no que se refere à preservação do mundo em que vivemos. Tendo em vista tais dificuldades e sem desistirmos de nossas obrigações como educadores, realizamos no Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí, o Projeto Cerrado, que visa à conscientização do alunado em relação aos problemas ambientais enfrentados não só no centro oeste, mas em todo o planeta e, consequentemente, concretizar tais reflexões através da elaboração de textos. Este trabalho aborda especificamente a relação entre a exibição do filme "O dia depois de amanhã" e a produção textual de alunos que participaram deste projeto e como se deu o processo de reescrita de alguns deles. A condução do trabalho objetivou o desenvolvimento de habilidades e competências discursivas dos alunos, assim como a conscientização de problemas de conduta que prejudicam o meio ambiente. Objetivou-se, também, abordar temas referentes ao bioma Cerrado (que circunda a região do IFGoiano) propiciando discussões a respeito dos problemas ambientais enfrentados em todo o mundo. O caráter interdisciplinar deste projeto fomentou a participação de docentes de diversas áreas. Sendo assim, na atividade de elaboração das redações (foco deste trabalho), participaram dos debates, professores de geografia, pedagogas e professores de língua portuguesa. DISCUSSÕES EM FÓRUNS VOLTADOS PARA O TRABALHO COLABORATIVO ON-LINE: UM ESTUDO DE CASO Michele Lidiane da SILVA – UNESP [email protected] O presente trabalho teve como principal objetivo a reflexão sobre as características da discussão em fóruns on-line em um AVA e sua utilização como ferramenta no processo reflexivo de ensinoaprendizagem. Para tanto, apresentou-se um estudo de caso a partir de dados coletados em um curso 46 de extensão ministrado na modalidade semipresencial. O trabalho foi dividido em três olhares: os pressupostos teóricos para caracterização do fórum de discussão - as noções bakhtinianas de constituição dos gêneros; as contribuições de Marcuschi ao tratar os fóruns virtuais como gêneros emergentes, sugerindo várias comparações entre eles, e as atribuições do gênero como um instrumento educacional, segundo Shneuwly e Dolz, foram os trabalhos que nortearam este estudo de acordo com a natureza desse gênero. Além de procurar compreender a situação atual da educação a distância no Brasil, lançou-se mão da teoria desenvolvida por R. Garrison et al sobre as Comunidades de Investigação e as presenças social, cognitiva e de ensino existentes nessas comunidades. E, para analisar as questões referentes ao uso da linguagem foram utilizados os pressupostos de Eggins & Slade, que dialogam com a teoria de Garrison embusca de respostas para a questão das marcas de interatividade nos fóruns. Percebeu-se que no Moodle há a disposição vários recursos e tipos de fóruns que podem ser utilizados na elaboração de diferentes atividades, constituindo-se como uma ferramenta muito eficiente em cursos de formação a distância que visem à reflexão e ao acompanhamento do processo de construção do conhecimento por parte de professores e alunos. Há uma forte concomitância em relação às presenças social, cognitiva e de ensino, sendo que as marcas e/ou expressões linguísticas reconhecidas nas mensagens serviram como base para se compreender que função ou que tipo de presença os participantes possuiam no fórum, influenciando ou não o trabalho desenvolvido. PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS PARA EAD: PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E AVALIAÇÃO Marcos Andrei OTA – UNICSUL [email protected] Paulo Luiz VIEIRA – IFSP [email protected] Com o aumento da procura por cursos totalmente online, passam-se também configurar novas exigências, como por exemplo, a utilização de recursos e aplicativos ágeis para a produção e customização de materiais didáticos em ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs). Os recursos tecnológicos sozinhos não possibilitam ações educacionais como forma de inovação, há, portanto, três elementos fundamentais: tecnologia, linguagem e aprendizagem. É necessário repensar sobre as formas de uso dessas tecnologias disponíveis, criando novas formas de ensinar. As instituições devem atentar-se à complexibilidade do processo de produção de material online, pois não requer apenas aparatos tecnológicos, mas sim, momentos de planejamento, envolvimento entre especialistas e recursos didático-pedagógicos que vão ao encontro das reais necessidades dos alunos. As interações e interatividade sistêmica fortalecem a relação de aprendizado baseado na exploração de conteúdos mediados por recursos em formato multimídia. O especialista em conteúdo desempenha ao lado do designer instrucional uma tarefa essencial para selecionar e organizar as informações que serão disponibilizadas nos conteúdos temáticos do curso. Nessa ação, são discutidas algumas estratégias comunicacionais, como por exemplo: a disposição textual nos recursos midiáticos e o uso de elementos gráficos para facilitar e reduzir a carga cognitiva. Diante dos processos da comunicação nos espaços virtuais, nota-se que os maiores desafios dos professores que passaram a produzir materiais didáticos online estão na concepção do curso e elaboração do material didático. Por meio das mídias disponíveis torna-se possível criar condições de conduzir uma comunicação dinâmica entre os professores e alunos. Pretende-se, neste GT, apresentar contribuições/discussões a partir do material do curso – Nova Ortografia da Língua Portuguesa. O estudo tem como fundamentação teórica autores como: Moore & Kearsley, Filatro, Garrison, Gagné, Vygotsky, Lévy, Bloom, Preti e Behar. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM PELA INTERAÇÃO E PELA INTERATIVIDADE Carlos Augusto Baptista de ANDRADE – UNICSUL 47 [email protected] Viver em sociedade requer a produção de diálogos que sustentem a interação humana. À medida que se pensa tal interação na educação a distância, deve-se refletir na premissa de que é pela interação e pela interatividade que o processo educativo em ambientes virtuais são construídos. Portanto, torna-se imprescindível pensar sobre os papéis dos interlocutores e os instrumentos tecnológicos à disposição para cursos em EAD. O texto disponibilizado para o estudante, em termos de compreensão ou interpretação, constitui uma atividade interacional, já que o aluno não é apenas um receptor passivo do sentido: ele o constrói atuando sobre o material verbal, verbo-visual e extralinguístico. É na interlocução que ele se constitui e é por meio das relações que estabelece com os conteúdos que pode compreendê-los e interpretá-los de forma mais adequada à situação de aprendizagem. Nesse sentido, é importante considerar que algumas tecnologias disponíveis no mercado estão propiciando melhores possibilidades de interação, devido a interatividade que proporcionam por meio de seus diversos programas. Assim, já se tornou possível desenvolver atividades nos ambientes informáticos que envolvem voz, imagem, entonação, gestos, expressões fisionômicas, movimentos corporais, atividades que colaboram para a construção do sentido. Podese dizer que, também na EAD, a base da aprendizagem se encontra na relação com o outro, no encontro, no diálogo, mediado pela linguagem e, neste caso, também, pela máquina. Sendo assim, para que qualquer proposta de curso de qualidade possa ser desenvolvida, é fundamental refletir sobre os complexos conceitos de interação e interatividade. É o que se pretende apresentar nesta comunicação. Para atender este cenário, consider-se-á os seguintes aspectos teóricos como fundamentais: o dialogismo e a abordagem sociointeracionista, relativas à interação, que nos revelam a obrigatoriedade de discutir, também, o complexo conceito de interatividade sistêmica e de usabilidade diretamente ligados às reflexões das tecnologia de informação. GRUPO TEMÁTICO 6: ANÁLISE DE PRÁTICAS DISCURSIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR COORDENADORAS: Maria Adélia Ferreira MAURO (USP) – [email protected]; Maria Valíria Aderson de Mello VARGAS (UNICSUL/USP) – [email protected]. Pretende-se nesse GT apresentar tanto resultados de pesquisa quanto discussões teórico-analíticas que tenham como foco o tratamento de aspectos discursivos do texto em práticas de leitura e escrita no contexto escolar. No espaço dessa discussão, podemos destacar alguns temas: a questão das “vozes” e os efeitos de seu “cruzamento” no texto; a polifonia discursiva; o(s) sujeito(s) do discurso e as “imagens” que projetam de si, dos outros e dos objetos de sua prática discursiva; “representações” e posicionamentos discursivos; o gênero como categoria de ensino; aspectos enunciativos e discursivos que caracterizam o texto de um determinado gênero; gênero, memória e interdiscurso. Com essa temática, que abrange uma extensa gama de possibilidades de pesquisas, espera-se que os trabalhos a serem selecionados contribuam para uma significativa troca de experiências e que contribuam para a delimitação do escopo da discussão das práticas de leitura e escrita do texto no contexto escolar. O objetivo central do GT situa-se, enfim, na busca de promover a análise do texto sob a perspectiva da análise do discurso. E, dentro dessa ampla área de estudos do discurso, elegemos os teóricos da vertente francesa da AD, sem estabelecer uma rígida fronteira entre eles. Julgamos que essa nossa opção deve permitir uma espécie de “leitura de aproximação”, no contexto das práticas escolares da leitura e da escrita. O MANEJO DAS CATEGORIAS GRAMATICAIS NA PRODUÇÃO DOS EFEITOS DISCURSIVOS E ARGUMENTATIVOS EM UMA CRÔNICA DE MANUEL BANDEIRA Manoel Francisco GUARANHA – UNICSUL [email protected] Vinculado ao projeto de pesquisa “Gramática, texto e argumentação para a prática de leitura e 48 escrita”, desenvolvido no programa de mestrado em linguística da Universidade Cruzeiro do Sul, este trabalho pretende analisar a seleção e o arranjo dos tempos verbais na crônica de Manuel Bandeira: “Greta Garbo, o rapazola que queria ser pintor e novos indícios da existência de Deus”, publicada originalmente na Revista Para Todos, em 29 de setembro de 1928 . O estudo tem como pressuposto a premência de uma análise textual que considere as categorias linguísticas como elementos não estanques e sujeitos a adaptações no texto em função do discurso e da argumentatividade que ele busca construir, o que nos leva a considerar a importância do valor posicional dos termos em contraste com o valor absoluto deles, quando se busca um exercício de leitura crítica que não trate o texto como pretexto para aquisição de terminologias esvaziadas de sentido. Essa adaptabilidade das categorias gramaticais à finalidade da cena enunciativa articula-se às teorias da construção do sujeito de Émile Benveniste, cuja proposta é entender como o sujeito se apropria da língua para atualizar uma experiência central por meio qual “se determina a possibilidade mesma do discurso”; da análise do discurso de linha francesa, de Dominique Maingueneau, notadamente os conceitos ligados à cenografia, entendida como “o centro em torno do qual gira a enunciação” e o consequente conceito de ethos discursivo, que “suscita a adesão do leitor por meio de um modo de dizer” que “se integra ao universo de sentido que a obra pressupõe e pretende impor” por meio de um gênero; e dos estudos de linguística descritiva de Joaquim Mattoso Câmara, notadamente quanto à questão dos verbos. A CATEGORIA VERBAL NO CONTEXTO DAS PRÁTICAS ESCOLARES DA LEITURA E DA ESCRITA Maria Valíria Aderson de Mello VARGAS – UNICSUL [email protected] O objetivo central deste trabalho é demonstrar que o texto deve constituir-se num efetivo objeto de ensino, capaz de levar o aluno a compartilhar, de fato, a construção do sentido e, ao mesmo tempo, atribuir significado ao que aprende, por meio da exploração das inúmeras possibilidades e dos recursos que a linguagem oferece. O foco da discussão concentra-se no ensino das formas verbais. Observa-se, nas gramáticas e em certos materiais didáticos (livros, apostilas, manuais de orientação ao professor etc.), queo tratamento dado ao verbo, muitas vezes, limita-se à exposição de quadros de conjugação, sem que se expliquem os usos de determinadas construções, por exemplo, de locuções e perífrases verbais, em vez das formas simples. Por essa razão, busca-se discutir neste trabalho algumas questões centrais em relação ao emprego do verbo: que marcas o sujeito enunciador deixa de si mesmo ao utilizar as formas verbais? O que pretende dizer ao ouvinte/leitor e como quer que ele interprete o que foi dito? A opção pelo emprego de certas formas pode ser interpretada como uma maneira de provocar a participação do leitor/ouvinte no processo de construção de sentido do texto? Com base nas concepções de sujeito, de gênero e de discurso, lançadas por estudiosos da AD de linha francesa, em especial D. Maingueneau, examinam-se algumas atividades presentes em livros didáticos e propõem-se outras, sempre com vistas a caracterizar o ensino do verbo como uma reflexão linguística que pode conduzir o aluno a compreender o verbo como real objeto do discurso, ou seja, como um dos mecanismos essenciais da língua que permite ao sujeito/falante exprimir certezas, desejos, comandos, emoções e, sobretudo, buscar a cumplicidade do interlocutor na expressão de tudo o que pretende comunicar nos textos que produz. DISCURSO PEDAGÓGICO NO INÍCIO DO SÉCULO XX: ANÁLISE DE UMA PRÁTICA DE ENSINO DE LEITURA Maria Sílvia Olivi LOUZADA – UNICSUL [email protected] O trabalho toma como corpus recomendações pedagógicas e didáticas aos professores em uma 49 Revista Escolar do início do século XX, integrante do Arquivo Público do Estado - “Memória da Educação Paulista” -, observando-se o modo como nela emergem as vozes dos participantes da interação escolar – professor e alunos- e, em especial estuda-se a manifestação de ethos docente que é possível nelas entrever, qual é o papel reservado ao professor, quais as características adequadas para o bom desempenho docente. Ainda, analisa-se na mesma Revista Escolar a proposição de uma prática de linguagem em que é possível observar tanto a manifestação de um ethos discursivo docente de saber, de autoridade, como também analisar o modo de proposição de uma atividade de leitura em situação escolar. Sabe-se que, em nossa cultura, a imagem do professor remete a um estereótipo social: aquele que detém o saber valorizado pela sociedade e cuja missão é repassá-lo às futuras gerações. Nessa medida, toma-se como fundamento a Análise do Discurso, e, principalmente, as noções de memória, de cenografia, de representação e de ethos discursivo, para averiguar como a manifestação da voz docente no corpus analisado adere ou refrata esse estereótipo. Os resultados apontam tanto para efeitos de prestígio como de desqualificação docente, assim como para uma relação assimétrica no interior da escola. Entende-se que esta pesquisa tanto pode contribuir para o avanço da teoria e análise discursivas como para uma reflexão mais geral sobre a constituição da memória do sistema público de ensino paulista, por meio de análises de depoimentos e relatos de professores sobre seu fazer pedagógico e sobre seu papel social. A OBJETIVAÇÃO DO SUJEITO PROFESSOR NO LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS Wesley Luis CARVALHAES – UEG /UFG [email protected] Eliane Marquez da Fonseca FERNANDES – UFG [email protected] Os professores de língua portuguesa contam, em seu fazer pedagógico, com o auxílio do Livro Didático de Português (LDP). Esse apoio, financiado pelo Estado, é visto comumente como um importante instrumento de trabalho docente. Não é difícil supor, nem faltam fontes bibliográficas que indicam o LDPcomo algo significativamente presente na atividade pedagógica dos professores do materno idioma. A configuração desse instrumento de ensino não foi sempre a mesma, sendo discursivamente alterada segundo as necessidades de uso e a realidade sócio-histórico-cultural. O surgimento, a partir de 1970, de livros didáticos acompanhados de um manual do professor, por exemplo, merece uma especial atenção. A questão desse sujeito e de sua subjetividade é um tema de muitos desdobramentos no âmbito da Análise do Discurso. Considerando esse dado, o presente estudo realiza a análise de manuais do professor em LDP, à luz das contribuições de Pêcheux, Foucault e de outros estudiosos do discurso. Temos como objetivo principal refletir a respeito das relações entre o manual e a constituição da forma-sujeito professor. De 1980 a 2006, foram selecionadas algumas obras para compor o corpus. Como principais conclusões, pode-se afirmar que o manual do professor nos LDP configura-se como um espaço no qual se travam relações de poder que podem ser tratadas como processos – pensados a partir das noções de formação imaginária e formação discursiva – constitutivos da forma-sujeito professor como alguém que precisa ser apoiado e conduzido no decorrer de sua ação pedagógica. ENSINO DE GÊNERO ESCRITO NA ESCOLA: REFLEXÕES SOBRE UMA PROPOSTA DIDÁTICA Regina Espíndola Chaves GOMES – UNICSUL [email protected] Pretende-se refletir sobre o desenvolvimento de uma pesquisa em ação a respeito de produção escrita de alunos do 5º ano do ensino fundamental com relação ao ensino do gênero notícia, previsto no planejamento escolar e suportado por sequência didática sugerida por materiais elaborados pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. A pesquisa incluiu o trabalho de formação docente 50 e de intervenção didática, fundamentando-se na noção de gênero segundo Bakhtin e também nas reflexões e indicações didáticas de Dolz e Schneuwly, relativas a agrupamentos de gêneros para a organização e progressão curricular. Ainda, as pesquisas de Pasquier e Dolz relativas à proposição de sequências didáticas para o ensino e aprendizagem dos gêneros, bem como os estudos de Yves Reuter sobre as relações e interações entre leitura e escrita em contexto escolar são também tomados como base para esta pesquisa. Compreende-se que os aspectos discursivos, enunciativos e linguísticos que configuram um gênero podem ser mais bem compreendidos pelos alunos quando fazem parte de uma sequência didática em que os conteúdos são organizados de modo progressivo e consequente. O trabalho de pesquisa encontra-se em fase de análise das produções escritas dos alunos, colhidas ao longo do ano de 2011, por isso os resultados são ainda provisórios, mas já apontam para a melhoria do ensino do gênero escrito, o que, de certa forma, confirma a hipótese de que a perspectiva didática proposta pelos autores Dolz e Schneuwly é exequível e se revela animadora, produzindo bons resultados no processo de ensino e aprendizagem dos gêneros escritos na escola de ensino fundamental. A LEITURA E A BUSCA DE SENTIDO NA INTERAÇÃO DOS SUJEITOS DO DISCURSO Diana Maria de MORAIS – UNICSUL [email protected] Com este trabalho pretende-se apresentar uma reflexão sobre alguns elementos referenciais e discute-se o papel fundamental que os mesmos exercem na construção dos sentidos e no estabelecimento da efetiva comunicação entre os sujeitos do discurso, bem como destacar as imagens que esses sujeitos constroem de si e dos outros. Trata-se de uma relação de interação face a face em que os sujeitos vão se construindo enquanto produzem esse discurso. Parte-se do pressuposto que ao analisar um texto é preciso que se busquem os implícitos que nele se apresentam, pela linguagem, como intenção de dizer. É necessário, também, considerar o sujeito como mentor da comunicação; um sujeito que não seja apenas enunciativo, mas que enquanto sujeito social possa ter uma ação capaz de “instaurar e dizer o mundo”, de possibilitar a construção dos sentidos para o estabelecimento de uma efetiva comunicação entre os sujeitos do discurso, além de dar sentido à leitura. O objetivo aqui é analisar o texto sob a perspectiva da análise do discurso, apresentando em que medida alguns fatores de textualidade contribuem para o estabelecimento do sentido. Também se busca refletir sobre questões relacionadas ao sujeito, a leitura e ao sentido, com embasamentos teóricos em Marcuschi, Soares e Orlandi, dentre outros. Para tanto, o corpus escolhido para análise consiste em trechos de uma entrevista sobre o tema “ repetência escolar”. A entrevistada é uma pesquisadora; a entrevista foi publicada em uma revista que trata de educação, cujo contexto de circulação é a escola. LEITURA E ESCRITA NO ENSINO MÉDIO: O GÊNERO RELATO E A INTERDISCIPLINARIDADE COM AS CIÊNCIAS DA NATUREZA E O ESTUDO DO LOCAL Maria Aparecida Pereira MONTAGNER – UNICAMP [email protected] Fernanda Keila Marinho da SILVA - USP/RP [email protected] Este trabalho surgiu da pareceria universidade pública – UNICAMP - Instituto de Geociências - e escola pública de Campinas e deu origem a pesquisa de mestrado no mesmo instituto. Partimos da ideia de que o ensino de Língua Portuguesa se modificou nos últimos anos, fundamentado nas teorias sobre leitura, escrita, gêneros textuais, dialogia, entre outras, que chegam da academia aos professores. Entretanto, algumas práticas permanecem cristalizadas como a separação entre leitura, escrita e análise linguística. O ensino se realiza em torno de alguns gêneros textuais aparentemente mais adequados às práticas de ensino da disciplina, como observamos nos livros didáticos de 51 português. A possibilidade de produzir sentidos utilizando gêneros textuais de outras disciplinas pouco acontece, a não fragmentação do ensino não alcança as práticas escolares como poderia, o cotidiano dos alunos é pouco explorado na construção de conhecimento. Assim, esse trabalho surge da hipótese de que uma abordagem interdisciplinar favorece a aprendizagem, facilita a leitura, a escrita e a construção de sentidos, e o ensino será mais efetivo em atividades e práticas que explorem o local onde circulam nossos alunos com suas histórias. Partindo disso, adotamos o olhar para o ensino de língua portuguesa como espaço de práticas dialógicas, reflexivas, destacando o lugar e papel dos sujeitos na construção dos sentidos. O diálogo interdisciplinar materializou-se nas leituras realizadas pelos alunos de gêneros textuais de literatura e outras disciplinas. Na produção escrita, adotamos o gênero relato como forma de integração disciplinar por entendermos ser um gênero adequado tanto para escrita quanto para oralidade. Para analisarmos os dados dessas observações, fundamentamo-nos na abordagem sócio-histórica de Bakhtin, no conceito de vozes, enunciação, dialogia entre outros. PRÁTICAS DISCURSIVAS NA PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM Carla Lima Massolla Aragão da CRUZ –UNICSUL [email protected] O presente artigo se apresenta como parte de um projeto maior de mestrado em andamento, que contempla o estudo das práticas discursivas em ambientes virtuais: gênero, enunciação e discurso. Com as mudanças na abordagem tradicional da linguagem e o avanço tecnológico das últimas décadas, diversas esferas de uso da linguagem impactaram na comunicação, emergiram novas possibilidades na relação dos sujeitos da linguagem, e, consequentemente, um novo meio de interação e uma nova dimensão do contexto sociocognitivo. Diante desta realidade, o desafio dos educadores é de adequar-se as recentes diretrizes da prática educacional, utilizando as ferramentas eletrônicas como uma alavanca para o aprendizado. Trata-se de uma nova maneira de aprender a aprender para responder às necessidades e exigências contemporâneas, que contribua para o desenvolvimento da criatividade e facilite a aquisição de competências para a autoaprendizagem. O ambiente virtual privilegia os processos interativos e, em relação construção da “imagem de si” dos sujeitos, ultrapassa a persuasão por argumentos e, retomando a noção de ethos de Mainguenau, em sua obra Ethos, cenografia, incorporação (apud AMOSSY, 2005), é indissociável da reflexibilidade enunciativa na relação entre corpo e discurso que ela implica e incidente em textos escritos e em textos sem sequencialidade de tipo discursivo. Propomo-nos a apresentar, por ora, considerações sobre as práticas discursivas na produção e interpretação de textos no ambiente virtual de aprendizagem. O objetivo central deste trabalho é, portanto, a partir da vertente francesa da Análise do Discurso, tecer considerações sobre o processo de adesão de sujeitos à determinada posição discursiva e identificar as marcas e particularidades que o caracterizam e definem. Para tanto, faremos primeiramente alguns apontamentos sobre os principais aspectos do ambiente virtual e, na sequência, sobre as “vozes” presentes no discurso e a interdiscursividade. RECURSOS ESTILÍSTICOS, LEITURA E ENSINO Guaraciaba MICHELETTI –UNICSUL [email protected] Esta comunicação tem o objetivo de apresentar uma possibilidade de leitura de textos poéticos, de diferentes épocas, no Ensino Médio, a partir de um corpus cuja temática seja semelhante, neste caso – o amor não correspondido, o abandono, a indiferença, sob a óptica de um eu lírico feminino. Foram selecionados três textos para identificar, pelo uso de recursos estilístico-discursivos, como o enunciador feminino, com marcas características, estrutura seu poema numa cantiga de amigo paralelística de Martim Codax, “Ondas do mar de Vigo”, possivelmente do século XIII , num 52 poema romântico, “Leito de Folhas Verdes”, de Gonçalves Dias, século XIX e num poema contemporâneo, “As penélopes urbanas não têm ajuda dos deuses”, de Alberto Cunha Melo, século XX . Por meio de análises desses poemas e de uma comparação entre os recursos linguísticos utilizados, serão abordadas questões relativas à sintaxe, ao léxico, à enunciação, com vistas a pôr à mostra o sujeito na construção de sentido e na expressividade, o papel do contexto, em diferentes períodos literários e, assim, construir a interpretação. Utilizam-se como base teórica, além da Estilística, disciplinas dos estudos da linguagem que têm seu foco no texto e no discurso, em particular a Análise do Discurso de linha francesa, alguns elementos da Linguística Textual e pressupostos das teorias da Enunciação. Considera-se uma gama de autores cujos estudos, partindo de ângulos de abordagem diferentes, contribuem para uma leitura mais proficiente de textos, conduzindo os leitores a uma reflexão sobre questões de caráter individual e do contexto social mais amplo. Entre eles, destacam-se, Nilce S. Martins, D. Maingueneau, C. Kerbrat-Orecchioni, Amossy, Benveniste, Bakhtin. GÊNEROS POÉTICOS NA ESCOLA: LEITURA OU PRODUÇÃO? PARA PROFESSOR OU ALUNO? Ana Elvira Luciano GEBARA –UNICSUL [email protected] O trabalho com os gêneros poéticos na escola podem ser considerados por duas perspectivas: a dos professores e a dos alunos. Ambas as perspectivas exigem que se assuma uma posição de leitura, culturalmente determinada, submetida a certa variação de acordo com as concepções vigentes em relação à poesia e de acordo com o status atribuído ao leitor (PELLETIER apud ADAM, 1985). Na perspectiva do professor, os gêneros poéticos não são objeto de produção, porém para que sejam incluídos em sala de aula, é necessário um trabalho de leitura e produção de documentos que cercam a consideração, a legitimação e a proposição de atividades. As leituras referem-se às propostas curriculares; ao projeto pedagógico da escola; e aos materiais afins sobre os gêneros em questão; bem como relatórios sobre o desempenho dos alunos; já os de produção se referem aos planos de aula; propostas de atividades e material didático; e avaliações (MATÊNCIO, 2006; LERNER, 2008). Já na perspectiva dos alunos, exige-se a leitura dos poemas, sem que tenham sido informados de forma explícita sobre a legitimidade desses gêneros; há a leitura das atividades propostas para os textos poéticos. Quanto à produção, há duas: respostas de atividades ou ainda produção de poemas (GEBARA, 2009). Nesta participação no grupo temático, tem-se como objetivo apresentar essas duas perspectivas e as relações que se estabelecem entre elas buscando explicitar os resultados dessas relações em termos de eficiência na compreensão dos gêneros e propor uma resposta possível à sempre renovada pergunta de qualquer proposição curricular: para trabalhar com os textos poéticos, o foco deve ser leitura ou produção? Para o professor ou para o aluno? O TEXTO LITERÁRIO COMO OBJETO DE ENSINO: PROBLEMATIZAÇÕES ACERCA DO LIVRO DIDÁTICO Jaciane Martins Ferreira – UFU [email protected] Pêcheux (2011), em seu texto Leitura e memória: projeto de pesquisa, fundamentado na nova forma de interpretar a história trazida pela chamada escola dos Annales, propõe uma maneira outra de ler os textos de circulação de seu tempo. Essa nova leitura está baseada em critérios que levam em conta os percursos feitos pela memória para chegar à interpretação do texto. Pêcheux se refere a uma memória que é social. Por isso, é preciso que o leitor busque os signos de auto-compreensão de uma sociedade para uma futura interpretação, ou seja, um estatuto social inscrito pela memória no corpo da coletividade, produzindo, portanto, condição para o funcionamento discursivo e para a interpretação dos textos (PÊCHEUX, 1999). Considerando essa teoria, pergunto-me: como acontece 53 a abordagem do texto literário em sala de aula? Para realizar a análise, trarei como corpus de minha pesquisa um recorte feito de um livro de didático intitulado Português: contexto, interlocução e sentido (ABAURRE; ABAURRE; PONTARA, 2010). Na unidade escolhida, trabalharei com o tópico Texto para análise, o qual apresenta um texto literário (conto) de Julio Cortázar, a saber, Continuidade dos parques e um depoimento de Érico sobre um episódio marcante de sua adolescência. Dessa forma, pretendo lançar meu olhar para o direcionamento das questões propostas, visando observar se essas questões possibilitam uma interpretação que vá além da leitura factual do texto. Depois de observar/analisar as questões propostas pelo livro didático, pretendo, caso seja necessário, propor uma forma de (re)elaboração dessas questões de forma que contemple o intradiscursivo, ou seja, a transversalidade do discurso dentro do próprio discurso, levando em consideração o posicionamentos dos sujeitos em questão. A CONCISÃO DO DISCURSO POÉTICO: CONCEITOS E SENTIDOS Magalí Elisabete SPARANO – UNICSUL [email protected] Esta comunicação tem por objetivo apresentar o discurso conciso do gênero poético, utilizando como corpus de análise os poemas Poética de José Paulo Paes (2006) e Dialética de Vinícius de Moraes (1986). Neles encontramos um jogo de conceitos e sentidos que se mesclam e se concretizam sem o uso das estruturas próprias de um discurso que busca explicar o mundo, tais como livros cujos temas estejam filiados a correntes filosóficas, ou mesmo verbetes de dicionários que intentam transmitir um conceito, um significado. Em Poética, de Paes, ocorre a discussão desse conceito, poética, por meio de uma organização discursiva que usa marcadores de pontuação e estruturas morfofonéticas. O enunciador não se revela explicitamente, escolhendo fazer um símile da objetividade típica dos textos acadêmico-científico, por exemplo, mas que, ao se valer da referida linguagem lúdica, rompe com a objetividade proposta. Em Dialética, de Vinícius, o conceito expresso no título também não é defino por meio de uma composição modelar, mas se materializa pela construção do significado expresso no poema. Toda a subjetividade do enunciador, marcada pela desinência verbal número-pessoal de primeira pessoa do singular e do próprio pronome pessoal do caso reto, eu, presente no último verso do poema, é, curiosamente, ultrapassada pelo entrelaçamento linguístico, cujo resultado metaforiza a ideia proposta na nomeação do poema. Essas e outras observações analíticas têm como base os estudos estilístico-discursivos em diálogo com a Análise do Discurso de linha francesa, a Linguística Textual e a Gramática Descritiva, compondo parte dos resultados de pesquisa do Projeto Linguagem, discurso e ensino. O PERFIL ESTÉTICO DO HUMOR E ETHOS EM CRÔNICAS DE STANISLAW PONTE PRETA: ESTRATÉGIA RELEVANTE NO INCENTIVO Á LEITURA João Paulo Feliciano MAGALHÃES –UNICSUL [email protected] Este trabalho consiste em uma análise de como a construção do ethos de personagens e alguns mecanismos linguísticos possibilitam a constituição do humor, bem como podem ser usados no desenvolvimento da leitura, em crônicas de Stanislaw Ponte Preta. Essas crônicas estão presentes na trilogia publicada pelo autor, na década de 1960: “Tia Zulmira e eu”, “Primo Altamirando e elas” e “Rosamundo e os outros”. Os estudos do humor na linguagem têm despertado interesses desde a Grécia Antiga, com as reflexões de Aristóteles, até os dias atuais, com os estudos de piadas promovidos por Possenti, por exemplo. Observando essa ampla reflexão, optamos por basear nossa análise nas definições e categorizações do humor proposta pelo filósofo Bergson. Já no que se refere ethos, pautamo-nos nas observações de Maingueneau, que afirma que é possível verificar que a movimentação subjetiva no discurso nos permite estabelecer imagens (ethos). Assim, tornam-se relevantes na construção de sentido, em especial, do humor, nesse ou naquele texto literário. 54 Também, por meio de elementos linguísticos, podemos observar efeitos discursivos, tais como a intertextualidade e a ironia, ambas comuns no contexto da crônica. Considerando essas proposições e, em consonância com os estudos de memória e discurso em textos literários, pretendemos mostrar, nas crônicas de Ponte Preta, como esses elementos linguísticos, o ethos e o humor se caracterizam a partir da materialiade linguística apresentada pelo autor, e como a exposição dos mesmos podem servir de motivadores à leitura na sala de aula. LEITURA E MEMÓRIA: RELAÇÕES HISTÓRICAS Maria Aparecida CONTI –UFU [email protected] Uma questão que se fez e se faz constante no meio acadêmico (e mesmo fora da academia), sendo foco de estudiosos tanto das ciências humanas quanto das ciências exatas, refere-se à leitura. Filósofos, sociólogos, historiadores, críticos literários, pedagogos, psicólogos e, especialmente, linguistas dedicam-se a pesquisar esta questão. Michel Pêcheux, fundador da Análise do Discurso, focaliza a leitura e a memória em seu projeto de pesquisa enviada para a Comissão de Psicologia do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) em 1982. Nesse projeto, pretendia questionar a relação existente entre leitura e memória retomando os ensinamentos de Foucault sobre o modo de tratar o corpus como um monumento e não como documento, tal como exposto em Arqueologia do Saber. Nascida com essa preocupação, a Análise do Discurso francesa (AD) aponta duas vertentes para tratar da leitura e sua relação com a memória e a história: a que se preocupa com a investigação do dispositivo social de circulação dos textos e a que se dedica ao estudo dos sentidos produzidos pelo texto. Ao propormos tratar da segunda questão apontando para algumas das abordagens elaboradas pela AD com o intuito de contribuir para a reflexão do tema neste GT, pretendemos ressaltar uma forma de leitura outra; ou seja, ao nos atentarmos para o processo de aprendizagem de leitura, tomado como um trabalho que fazemos para produzir alguns sentidos com os textos que lidamos cotidianamente, vamos observar que o mesmo requer esforços para resultar em um produto da interpretação e é a este produto interpretativo que chamamos de leitura discursiva. O PODER DA PERSUASÃO: A REVISTA PODER EM FOCO Leandro de Oliveira SILVA – UNINOVE [email protected] A Revista PODER, publicada pela Glamurama Editora Ltda, sob direção de Joyce Pascowitch, trata de diversos assuntos ligados à sociedade contemporânea, desde reportagens até anúncios publicitários. Trata-se de uma revista que apresenta uma ideologia permeada pelo discurso da classe dominante. O objetivo desta comunicação é apresentar uma análise da constituição do ethos discursivo, e de como se configura o pathos que é despertado no co-enunciador a partir da capa da revista publicada em setembro de 2011. O estudo parte dos pressupostos teóricos da análise do discurso de linha francesa, sobretudo aqueles feitos por Maingueneau (2008, 2010 e 2011) e outros autores que tratam em suas obras do o discurso dominante persuasivo, como: Bourdieu e Passeron (2011); Citelli (2004) e van Dijk (2010). Observa-se que o jogo entre a linguagem verbal e a não verbal presentes nos enunciados da capa da revista evidenciam um ethos do enunciador que vai ao encontro do discurso dominante. A revista utiliza elementos discursivos que desperta pathos no coenunciador para persuadi-lo a alienar-se a um estilo de vida permeado por uma ideologia que favorece a elite. É relevante ressaltar que através dessa comunicação podemos inferir que a Análise do Discurso tem papel fundamental para o profissional de Letras, a habilidade de leitura como prática social, seja na prática da docência, ou na cidadania. O leitor que faz uso eficaz da Análise do Discurso não se deixa alienar à reprodução discursiva da classe dominante. 55 REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO LEITOR EM VERSÕES DE UM CONTO POPULAR Maria Adélia Ferreira MAURO – USP-FFLCH [email protected] O objetivo do trabalho é analisar como os autores das versões do conto popular “As três cidras do amor” constroem discursivamente a imagem de seu leitor. Na prática escolar da leitura e escrita é mais frequente encontrarem-se trabalhos que focalizam essa questão, na perspectiva da imagem que o sujeito enunciador faz de si. Considerando o fazer discursivo do sujeito enunciador, esse trabalho volta sua atenção para os vestígios do outro na materialidade do texto, vai em busca das marcas que sinalizam essa "presença" do sujeito leitor. Com vistas a identificar as marcas dessa "objetivação", dois aspectos vão merecer atenção: o "texto" e a linguagem, mais especificamente, os procedimentos de textualização; os modos de mostrar a presença das vozes no texto; a escolha dos registros de fala; as relações intertextuais; a seleção de palavras e expressões e a preferência por determinadas estruturas sintáticas. Portanto, ao se examinar o fazer discursivo, no qual o sujeitoenunciador "escolhe" determinados recursos expressivos da língua; no qual estão implicados os fatores da situação enunciativa em que esse sujeito está inscrito e no qual está pressuposta a relação com um conjunto de outros discursos que lhe dá suporte. Busca-se, assim, caracterizar não só o modo de presença desse outro no texto, mas também entender qual o sentido que ele empresta à construção de tal imagem. O que pretende o sujeito enunciador dizer ao seu leitor? O que essa "representação" do outro significa? Em síntese, trata-se de uma análise do texto na perspectiva da AD de linha francesa, em especial D. Maingueneau. GRUPO TEMÁTICO 7: AS MÍDIAS NO ENSINO DA LEITURA COORDENADORAS: Ana Cláudia de SOUZA (UFSC) [email protected]; Rejane Croharé DANIA (UDESC) – [email protected]. Um dos grandes desafios diante do qual a escola de educação básica brasileira se encontra é o ensino da leitura, justamente uma de suas funções prioritárias, que não vem sendo devidamente contemplada, conforme se pode observar nos próprios espaços escolares, bem como no desempenho dos estudantes em avaliações, tais como o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) - INEP/MEC, o INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional) – Instituto Paulo Montenegro, e o PISA (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes) – OCED. Considerando esta demanda que a escola e a sociedade nos apresentam atualmente e a crescente variedade de mídias ativamente utilizadas no cotidiano, este Grupo Temático objetiva demonstrar e discutir possibilidades de (re)inserção de diferentes mídias, a exemplo do cinema, do computador, da internet e do próprio livro, no ensino e no aprimoramento das competências em leitura da linguagem verbal escrita. Os quadros teóricos contemplados neste GT estarão circunscritos em propostas teórico-analíticas, metodológicas e/ou em resultados de pesquisas desenvolvidas com base em estudos psicolinguísticos, sociolinguísticos e aplicados, voltados à leitura na educação básica. Como exemplo, citamos o projeto de ensino “O mundo de Sofia e os diálogos com o ensino de Língua Portuguesa”, realizado em Florianópolis, Santa Catarina, e inspirado no romance “O mundo de Sofia: romance da história da Filosofia”, de Jostein Gaarder. Diferentes mídias foram exploradas para a projeção de imagens, canções e vários episódios do filme homônimo. Um dos pontos fundamentais deste projeto foi o incentivo e o aprimoramento da leitura e a presença da intertextualidade permitida pelo cruzamento dos gêneros textuais estudados e pelos temas abordados. AS MÍDIAS, A INTERTEXTUALIDADE E O ENSINO Rejane Croharé DANIA – UDESC [email protected] 56 Nesta comunicação, pretende-se apresentar projeto de ensino de leitura, fruto de pesquisa interdisciplinar que considera diversas manifestações de linguagem, de sorte a promover contexto propício à aproximação dos alunos da educação básica ao universo da literatura. O projeto de ensino “O mundo de Sofia: romance da história da Filosofia” foi desenvolvido em 2009 em uma escola básica pública de Florianópolis, SC, como atividade da disciplina de Prática de Ensino II, do Curso de Letras, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O tema de inspiração filosófica possibilitou aos alunos o exercício da compreensão e do questionamento sobre o mundo, por meio da exibição de episódios do filme “O mundo de Sofia”, acompanhada de discussões no espaço e tempo de sala de aula. Para estudar o período histórico retratado nesta obra foi empregada uma abordagem ampla, que pudesse abranger música, pintura, arquitetura, vestuário, decoração, escultura pertencentes à época. Posteriormente, o Quinhentismo foi trabalhado a partir da identificação das referências do descobrimento do Brasil e de duas de suas manifestações básicas: a literatura de informação e a literatura jesuítica ou catequética. Tal abordagem permitiu incluir o estudo de gêneros textuais (sinopse e relato): a Carta de Caminha, documento histórico que marca a descoberta do nosso país pelos portugueses; a História de Fernão Lopes; a música Monte Castelo de Renato Russo, o que permitiu construir a intertextualidade e o entrecruzamento de temas transversais, tais como a filosofia, a história e a religião ao longo deste projeto, despertando o interesse dos(as) alunos(as) para a leitura do livro “ O Mundo de Sofia”. OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DO USO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS PARA O ENSINO DA LEITURA Silvane DAMINELLI – UFSC [email protected] Considerando que as conquistas tecnológicas facilitam, a cada dia, o contato com várias mídias, nesta comunicação objetiva-se examinar a importância dos recursos tecnológicos para o ensino da leitura que pode ser abordado através de novas perspectivas, entre as quais o uso de filmes legendados. A legenda, por apresentar caráter pedagógico, está estritamente ligada ao uso da imagem em sala de aula. A mediação entre legenda e leitura resulta em aprimoramento das habilidades leitoras. Portanto, a proposta em questão é, colocando em prática o uso da tecnologia, propiciar uma aprendizagem significativa aos estudantes no que se refere ao ensino e aprendizagem da leitura. Quanto à organização, este artigo contempla a discussão sobre o uso de recursos tecnológicos em sala de aula, sobre o processo ensino-aprendizagem da leitura para, então, chegar a uma questão importantíssima: como os professores trabalham com filmes legendados? Para obter aproximação ao objetivo da investigação, investigou-se o campo da formação docente, partindo da observação das concepções e práticas docentes com base em pesquisa teórico-exploratória que envolveu entrevista e observação. Participaram da pesquisa professores da área de Letras que atuam em uma escola pertencente à rede pública estadual, localizada no sul de Santa Catarina. A pesquisa aponta que cada vez mais fica evidente a falta de preparo para trabalhar e explorar, em sala de aula, o uso de filmes, principalmente legendados. Portanto, a articulação entre formação e prática é essencial ao processo, podendo contribuir para que o ensino da leitura seja percebido diferentemente, ou seja, ensinar leitura através de recursos tecnológicos é uma possibilidade. Por esse viés, é fundamental que o docente seja e esteja preparado para fazer uso desses recursos, tendo em vista que, hoje, são ferramentas que contribuem significativamente no processo de ensino e aprendizagem de uma disciplina. TEXTO ESCRITO E COMPREENSÃO Nair Rodrigues RESENDE – IFSC [email protected] Um dos principais problemas encontrados em sala de aula por professores, sejam os de língua 57 materna ou estrangeira, ou de qualquer outra disciplina curricular, é a dificuldade que os estudantes têm de compreender o que leem. É perceptível que o ensino de leitura nas escolas brasileiras não é satisfatório, uma vez que dados como os do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), do ano de 2009, apontam que 27% da população do Brasil entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional. Segundo a avaliação deste instituto de pesquisa, analfabeto funcional é aquele indivíduo que tanto não consegue realizar as mais simples tarefas envolvendo a escrita, como ler e escrever seu nome, quanto consegue tão somente localizar dados e informações explícitas em textos curtos e familiares. A presente proposta de pesquisa e discussão objetiva apresentar meios, a partir de investigações no campo teórico, que promovam a aprendizagem da leitura de sorte que os estudantes atinjam níveis plenos de alfabetização, que, de acordo com a mesma pesquisa do INAF, são alcançados por apenas outros 27% da população. De modo geral, a proposta é levar os estudantes a lerem textos com intuito de buscar neles os elementos textuais que lhes conferem legibilidade e que propiciam a adequada compreensão e interpretação textual. Embora se assuma que a leitura é dependente da relação que o leitor estabelece com o texto, o alvo desta pesquisa é o texto em si e seus elementos constitutivos que possibilitam a elaboração da trama textual com vistas à produção de sentidos. A LEITURA E USO DAS MÍDIAS EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM Andressa da Costa FARIAS – UFSC [email protected] O objetivo desta comunicação é salientar a importância da leitura no uso das mídias em ambientes virtuais de aprendizagem. Os chamados AVEA são um recurso utilizado em larga escala na modalidade de educação a distância, que já se consolida como política pública educacional através da Universidade Aberta do Brasil (UAB) em parceria com diversas outras universidades e instituições de ensino no país. Parte-se do princípio de que o texto publicado nos AVEAs são hipertextos e, como tais, englobam os mais diversos recursos midiáticos: utilização de vídeos, videoaulas, videoconferências, animações, áudio, etc. Este estudo parte de dissertação de mestrado em andamento no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução na UFSC cuja pesquisa envolve a retextualização, que é compreendida como um processo tradutório. Considera-se aqui o texto fonte como o texto impresso e o texto meta o texto digital (que engloba o uso de mídias). Propõe-se mostrar, sobretudo, o texto meta a partir da leitura e o uso das mídias em uma unidade curricular publicada no AVEA Moodle no Curso de Aperfeiçoamento Docente em Educação Integral e Integrada (extensão UFSC-UAB). Escolhemos uma unidade curricular publicada digitalmente no AVEA deste curso, à qual chamamos disciplina A, para demonstrar como o texto foi apresentado em relação ao que diz respeito ao uso das mídias. Cabe salientar que o suporte de publicação é a tela digital e que, para atingir o público-alvo, o texto abarcou as mídias digitais disponibilizadas: links, hiperlinks, ilustrações, fóruns interativos, áudio de animação, etc. Procuramos ressaltar que o suporte de publicação digital requer o uso coerente de mídias para atingir o propósito almejado do texto em contexto de EaD envolvendo interação, mediação e aprendizado. A DISCURSIVIDADE JORNALÍSTICA NO ENSINO DA LEITURA Leila Mara FRANCO – UEMG [email protected] O uso de produtos da mídia como material de leitura tem sido bastante frequente na sala de aula. Por entender a leitura como atividade essencial a qualquer área do conhecimento, uma forma de encontro entre o homem e a realidade sociocultural, consideramos relevante dar esse enfoque com aspectos da discursividade jornalística. A leitura é tomada aqui como “um ato de afirmação e de defesa” “instrumento de participação social”, de tomada de posição, de questionamento e crítica, 58 pois, o movimento de desvelar os sentidos inscritos nessa discursividade, permite a emergência do ser leitor. Nesse sentido, este estudo objetiva analisar a discursividade jornalística acerca do Programa Bolsa Família. A orientação teórica do estudo está então na Análise do Discurso de Linha Francesa. Fundamenta-se ainda em questões acerca do discurso jornalístico. O corpus inclui 60 artigos jornalísticos, veiculados em três jornais: Folha de São Paulo, Estado de Minas, O Globo, sendo 20 de cada jornal, de janeiro de 2003 a janeiro de 2010. O interesse pelo estudo se justifica porque o discurso é marcado sócio-historicamente e ideologicamente. É movimento dos sentidos, lugares provisórios de conjunção e dispersão, de unidade e de diversidade, de trajetos e de vestígios. “É o ritual da palavra, pois diante de qualquer fato, de qualquer objeto simbólico – “o leitor” - é levado a interpretar”. Logo, o papel da escola é oportunizar o diálogo do aluno com a palavra, e , nesse caso específico, o diálogo com a discursividade jornalística, preparando-o para atuar como cidadão-leitor, de cuja formação os meios de comunicação fazem parte. NOVOS OLHARES SOBRE O TEXTO HÍBRIDO DA MÍDIA IMPRESSA E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO ENSINO DA ESCRITA E LEITURA Welisson Marques – UFU [email protected] Este trabalho pretende discutir sobre a importância de se explorar o não-verbal (especialmente a imagem) como meio de compreensão/interpretação de diferentes textos, em especial de artigos de opinião publicados por diferentes veículos midiáticos, e como esse olhar favorece novas compreensões acerca desses materiais significantes. De tal sorte, inscritos sob o viés teórico da Análise do Discurso de linha francesa (AD), percebemos que tal teoria nos moldes em que foi fundada por Pêcheux, possibilita a análise dessas diferentes materialidades. Ademais, traremos para discussão a problemática de como as contribuições advindas da Semiologia histórica cuja noção foi cunhada por J.-J. Courtine na década de 1980 na França possibilita ampliar a dimensão do nãoverbal, especialmente se se considerar que o discurso sobre política veiculado na mídia explora constantemente o rosto e corpo do homo politicus. De tal sorte, muito além dos signos semiológicos, os sinais e indícios dessas materialidades corroboram os processos de significação desses discursos. Assim, no jogo ideológico e conflitante entre os sujeitos do discurso, em especial quando se tem o discurso político em pauta, acreditamos ser necessário trabalhar tais questões em sala-de-aula com vias a realmente formarmos aprendizes críticos e capazes de interpretar as eternas relações de poder inerentes a qualquer prática discursiva. Portanto, traremos para análise um artigo publicado pela revista Veja no período eleitoral para o pleito presidencial em 2010 e, nesse ínterim, observaremos como tais questões teórico-metodológicas, se exploradas, alteram os sentidos das análises. Enfim, uma análise pautada em uma abordagem discursiva, ou melhor, em uma perspectiva semiológica histórica, possibilita uma amplitude e concomitante mudança do olhar leitor sobre esses textos híbridos, rompendo com a prática de análise puramente verbal. Além disso, tais questões podem/devem ser exploradas como ponto de partida para exercícios de interpretação, em especial na produção oral e escrita sobre esses mesmos discursos. O PROCESSAMENTO EM LEITURA DE TEXTO CINEMATOGRÁFICO LEGENDADO Ana Cláudia de SOUZA – UFSC [email protected] O processamento em leitura de legendas fílmicas é o tema desta comunicação, cujo foco recai sobre aspectos cognitivos, visualizados como agentes fundamentais à execução da tarefa de produção do sentido. Trata-se de discutir a relevância e a complexidade implicadas na leitura de legendas, que se constituem como paratextos dependentes dos demais elementos (não) linguísticos do texto ao qual estão vinculados. Contemplar obra cinematográfica estrangeira que tenha sido traduzida por meio da legendação envolve, além da competência geral em leitura da língua materna, a competência em 59 leitura de fragmento textual exposto em tempo limitado conforme à sincronização com o filme, e ainda a condição de, simultaneamente, processar de modo ativo, e quiçá consciente, o conjunto de linguagens que se transformam em elementos constitutivos da tão complexa arte cinematográfica. Teoricamente, discutem-se questões relativas à atividade tradutória e à técnica de legendação, à leitura e à memória de trabalho, construto mental responsável pela percepção, manutenção, processamento e manipulação dos estímulos nos processos de compreensão da linguagem. Na perspectiva do espectador, as informações imagéticas, sonoras e linguísticas competem no processo de produção do sentido. As legendas, constituintes do paratexto linguístico, compõem o repertório de informações a serem simultaneamente processadas pelo espectador. Cabe a cada espectador administrar as diversas tarefas cognitivas coocorrentes, em espaço e tempo limitados e prédeterminados, com vistas à elaboração de representação possível da obra cinematográfica contemplada. Sob a ótica aqui assumida, a legendação, intimamente ligada à distribuição das obras, aproxima o espectador do texto cinematográfico, ainda que se constitua em elemento que dificulta o processamento e exige maior controle de atenção. ESPECTADOR, LEITOR, TEMPO E ESPAÇO: O ABRIL DESPEDAÇADO DE ISMAIEL KADARÉ E DE WALTER SALLES Lara Maringoni GUIMARÃES – UFSC [email protected] Neste trabalho pretendo abordar, sob perspectiva linguística, as questões relativas à leitura na tradução do romance albanês Abril Despedaçado, de Ismail Kadaré (1982/2006) para a modalidade intersemiótica cinematográfica, em uma obra brasileira homônima, dirigida por Walter Salles (2001) – roteiro de Salles, Machado e Ainouz. Ainda que, para fins de discussão, sejam apresentados exemplos retirados do romance, o foco da análise será a tradução, ou seja, a película. É fundamental discutir de que forma leitor do texto escrito trabalha como “criador” (ou seja, o texto se dá, se cria, no ato da leitura). Por outro lado, busca-se, discutir qual papel cabe ao espectador, de que forma este leitor é retirado do seu papel de criador – ocupado, a priori, pelo diretor do filme, que promove a encenação do seu texto escrito na tela do cinema – e passa a desempenhar outra função, talvez como “agregador”, ou “co-criador”, ou, ainda, um novo “criador”, tendo em perspectiva que o filme seria apenas uma porta de entrada para os infinitos intertextos propostos pelo diretor. É importante discutir, também, o quão letrada cinematograficamente é a sociedade em que vivemos, ou se temos um caso de “letramento funcional”, em que as habilidades de decodificar as imagens estão parcialmente dominadas, mas o interlocutor não é um espectador proficiente. Em princípio não parece absurdo afirmar que um bom leitor não é necessariamente um bom espectador, e vice-versa. Torna-se relevante, portanto, a discussão de quais habilidades são necessárias para a formação de um leitor proficiente. É fundamental discutir quais são as habilidades necessárias para que uma pessoa possa tornar-se um espectador competente, tendo em vista que o cinema opera com diferentes mídias simultaneamente, e apontar quais habilidades são coincidentes e quais diferem na formação destes dois tipos de interlocutores. PROJETO DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA: A PRÁTICA DE LEITURA E A PRODUÇÃO TEXTUAL A PARTIR DE UM ESTUDO COMPARATIVO DOS CONTOS DE FADAS E DO CINEMA Danilo Corrêa PINTO – UFU [email protected] Ana Cláudia Nascimento THEODORO – UFU [email protected] Neste trabalho buscamos mostrar e refletir sobre uma proposta de ensino que engloba a prática de leitura e a produção textual narrativa. Partimos do pressuposto que um estudo comparativo entre 60 textos literários e sua adaptação midiática possibilita uma melhor compreensão, por parte dos alunos, das características que compõem uma narrativa, além disso, esta prática também pode levar o aluno a entender processos de intertextualidade. Para a confecção deste projeto, selecionamos teorias pertinentes para o diálogo entre as produções literárias e fílmicas como os estudos em interartes, definições literárias sobre a narrativa, bem como a adaptação e a paródia. De maneira geral, a narrativa pode ser entendida como um texto que conta, relata fatos ou acontecimentos reais ou fictícios, e isto, em suma, também compõe uma narrativa fílmica. Silva (2007, p.11) destaca que “o texto literário e o texto fílmico, quando narrativas lineares, possuem os mesmos elementos constituintes: narrador, personagem, espaço e tempo”. Além disso, Cunha (2006, p. 63) afirma que “é importante se ter em mente que qualquer obra realizada a partir de outra, para ser relevante, deve valer por si só, ou seja, ter vida própria” e, nesse caso, consideramos que a adaptação, paródica ou não, é “o catalisador das relações entre literatura e cinema”, conforme observa Brito (1996, p. 17). Para a realização teórica e prática do projeto selecionamos o conto de fadas Chapeuzinho vermelho, dos Irmãos Grimm e o filme Deu a louca na Chapeuzinho (2005). Posto isto, o projeto visa a prática de uma produção textual narrativa por parte dos alunos (no caso, alunos do ensino fundamental 2) a partir da leitura de contos de fadas ou fábulas infantis que os auxiliarão na criação/recriação de um texto que parte dos modelos narrativos adotados pela relação entre a literatura e o cinema elencada aqui. O ENSINO DA LEITURA NUMA SOCIEDADE MIDIÁTICA E IMAGÉTICA: LIÇÕES DO DESIGN GRÁFICO Cristiane Seimetz RODRIGUES – SATC [email protected] Atualmente, é impraticável pensar no exercício da comunicação sem pensar nos veículos que a midiatizam. Desde os desenhos pré-históricos encontrados nas cavernas até os hipertextos em mídias digitais, o que o ser humano tem feito é possibilitar a troca de informações entre pessoas em lugares e, também, em tempos diferentes. Afinal, a escrita é isso: o desejo/necessidade de tornar perene algo tão fugaz como a fala. Portanto, em sua condição de tecnologia, a representação gráfica da linguagem verbal exige um ensino formalizado, estruturado metodologicamente. É evidente que, entre os desenhos pré-históricos e os hipertextos em mídias digitais, há um salto evolutivo nas práticas de registro do pensamento humano, as quais já não envolvem apenas o uso da escrita. Mais e mais, outdoors, folders, jornais, anúncios publicitários, sites, embalagens, cinema sinalizam uma convergência entre linguagem verbal e linguagem não verbal. Nesse cenário, a ascensão da imagem/visualidade como importante mecanismo na construção de textos traz à tona questões que não podem ser ignoradas no ensino da leitura. Aliando, então, pressupostos teóricos da psicolinguística aos conhecimentos produzidos sobre codificação e descodificação na área de Design Gráfico, este trabalho visa levantar algumas implicações para o ensino da leitura da linguagem verbal escrita numa sociedade em que a visualidade/imagem vem assumindo papel crucial na codificação de informações nas mais diferentes mídias. Interessada nos aspectos teóricometodológicos do ensino da leitura, a proposta nasce de reflexões da pesquisadora como professora de Comunicação e Expressão no curso de Design Gráfico da Faculdade Satc, tendo, por isso, um caráter analítico-exploratório. INTERPRETAÇÃO E TRADUÇÃO - ABORDAGEM TEÓRICA E PEDAGÓGICA Fábio Júlio Pereira BRIKS – UFSC [email protected] Comumente a tradução é conceituada como aquela que faz o intermédio comunicativo entre línguas diferentes, colocando em evidência a língua de partida e a de chegada. Como consequência dessa perspectiva, surgiu a ideia de que a tradução somente entrou em foco quando o homem começou a 61 ter contato com uma língua e cultura diferentes da sua, já que a necessidade de compreender e ser compreendido aparecera. Para além dessa perspectiva, partindo da premissa de que a tradução entra em foco no momento em que a necessidade de fazer com que o incompreensível se torne compreensível, a ideia de interpretação como tradução emerge. Nessa abordagem, então pode-se dizer que a tradução já se evidenciara antes mesmo de o homem ter entrado em contato com línguas e culturas diferentes. Ela já estava presente no interior da sua língua e da cultura da sociedade onde ele estava inserido e, em todo momento em que havia interpretação de qualquer tipo de linguagem apresentado pela sua comunidade, a intenção de traduzir já aflorava. Com a evolução da espécie humana, muitas tecnologias apareceram. Entre elas, podemos destacar, com ênfase, a escrita, já que é a partir dela que a transmissão do conhecimento humano perpassa tempos. Por ser a escrita uma tecnologia, não é inata do ser humano, isto é, nenhum ser humano nasce sabendo-a. Por esse motivo, o homem só vai ter plena habilidade no uso dela, se for realmente ensinada. Da mesma forma que ela é ensinada, saber interpretar essa tecnologia também deve sê-lo. Considerando tal perspectiva de tradução, esta pesquisa tem como objetivo geral abordar a tradução de textos escritos, seja ela entre línguas distintas ou dentro de uma mesma língua, como uma competência que pode e deve ser ensinada e aprendida. GRUPO TEMÁTICO 8: ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR DE LÍNGUA PORTUGUESA: EM PAUTA CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E TEXTO COORDENADORAS: Fernanda MUSSALIM (UFU) – [email protected]; Maura Alves de Freitas ROCHA (UFU) – [email protected] Neste Grupo Temático, pretende-se discutir a problemática do ensino de leitura e produção de textos na escola, abordando, mais especificamente, aspectos da construção do currículo escolar. Os PCNs de Língua Portuguesa assumem como conceito fundante de sua proposta a noção de gênero de discurso de Bakhtin, noção que implica uma abordagem de texto radicalmente inscrita no espaço social. Entretanto, em função do processo de didatização característico da prática escolar, nem sempre o espaço social tem sido efetivamente considerado nas práticas de leitura e escrita propostas pela escola – não raras vezes, nesse contexto, a compreensão do que seja trabalhar com textos se reduz a abordar aspectos de estruturação textual, de argumentação e de narratividade, sem levar em conta, por exemplo, pontos cruciais como as instâncias de circulação dos textos, os sujeitos que se colocam (ou podem se colocar) como enunciadores e co-enunciadores de determinados textos e, sobretudo, sem considerar a historicidade das relações sociais que instauram as práticas discursivas em questão. Nesse sentido, parece que, muitas vezes, falta, nas propostas e no trabalho de leitura e escrita em contexto escolar, uma noção de “inscrição social” que possibilite levar às últimas consequências o pressuposto de que ler e escrever são práticas linguageiras de produção de sentidos. O currículo de Língua Portuguesa, se pensado nessa perspectiva, sofre uma alteração substancial que pode, efetivamente, contribuir para um ensino de Língua Portuguesa mais efetivo, que contemple, não apenas de maneira muito geral noções como as de norma e variação linguística, mas que, sobretudo, possa formar alunos e cidadãos conhecedores de concepções de língua que lidam, de maneira produtiva, com a relação inextrincável entre a heterogeneidade linguística e a social. CRITÉRIOS DE ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO ESCOLAR DE LÍNGUA PORTUGUESA: A RELEVÂNCIA DA NOÇÃO DE “INSCRIÇÃO SOCIAL” Fernanda MUSSALIM – UFU [email protected] Maura Alves de Freitas ROCHA – UFU [email protected] 62 Dolz e Schneuwly (2004), em “Gêneros e progressão em expressão oral e escrita – elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona)”, apresentam uma distinção relevante entre currículo e programa escolar. Segundo os autores, o programa escolar centra-se sobre a matéria a ensinar e é organizado segundo a estrutura interna dos conteúdos, enquanto, no currículo, os conteúdos disciplinares são definidos em função das capacidades do aprendiz e das experiências a ele necessárias; tais conteúdos são sempre colocados em relação com os objetivos de aprendizagem e com outros componentes do ensino. Neste trabalho, assumiremos como noção norteadora de nossa abordagem essa noção de currículo, a fim de refletirmos sobre um dos componentes curriculares, a saber, a progressão, compreendida como a organização temporal do ensino. Tomando os gêneros de discurso como objeto de ensino, buscaremos demonstrar que um caminho possível para se organizar a progressão curricular é o agrupamento (e não a sequenciação) de gêneros em função da esfera de atividade social, o que implica considerar o processo de interação social. Dessa perspectiva, “onde”, “como” e “por que” somos convocados como enunciadores e co-enunciadores de discursos (ou, quais são as condições de produção dos discursos, como se dá o processo de inscrição social dos sujeitos) passam a ser questões cruciais a serem consideradas na organização do currículo de língua portuguesa. Outras questões, também fundamentais de serem consideradas nessa organização, tais como a estruturação textual; o desenvolvimento de competências argumentativas, narrativas, expositivas etc.; os problemas específicos da modalidade escrita de texto; e as questões propriamente linguísticas, devem ser contempladas no processo de organização curricular, mas como subcritérios, não como ponto de partida – caso se queira efetivamente assumir, tal como o conceito de gênero de discurso permite pressupor, que ler e escrever são atividades de produção de sentidos e não meras atividades escolares. O CURRÍCULO DA DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA PÓS-PCN: UM ESTUDO DE CASO Nara Caetano RODRIGUES – UFSC [email protected] A regulação dos ensinos e das práticas docentes por meio da elaboração de documentos oficiais está presente desde a constituição da escola como espaço de ensino-aprendizagem, no século XVI. No Brasil, a última reforma do ensino, ocorrida no final da década de 1990, foi oficializada com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. No que diz respeito ao ensino de LP no 3 e 4 ciclos do Ensino Fundamental, o documento indica o trabalho com os gêneros discursivos/textuais para o desenvolvimento de atividades de leitura e produção textual, bem como atividades de análise linguística para desenvolver a reflexão sobre a língua. Mas, como a escola vem implementando as recomendações oficiais? Quais gêneros têm sido selecionados? Neste trabalho, pretendemos problematizar a configuração do currículo da disciplina de LP em uma escola da rede pública federal a partir da análise dos planos de ensino e de exemplos de elaboração didática de alguns gêneros presentes na ementa da 8ª série/9º ano do EF, no ano de 2011. Nosso olhar para os dados gerados, dá-se a partir da concepção de linguagem como interação, proveniente dos estudos do Círculo de Bakhtin. Tomaremos, ainda, a noção de gêneros escolares de Schnewuly e Dolz, 1999 e a concepção de currículo de Sacristán (2000). Os resultados apontam a inclusão de gêneros escolares e gêneros que circulam socialmente no currículo da disciplina; além disso, evidenciam que o trabalho com os gêneros pode se configurar um espaço para o exercício da autonomia e da autoria do aluno. O IMPORTANTE PAPEL DO TEXTO NAS AULAS DE PORTUGUÊS NA PRÁTICA ESCOLAR Cleide Inês WITTKE – UFPEL [email protected] 63 O quadro social do ensino de língua revela que esta prática escolar não tem produzido os resultados desejados, ou seja, que o aluno se expresse com segurança, clareza e naturalidade, tanto falando, lendo quanto escrevendo. Essa realidade mostra a emergente necessidade de repensar o objeto de estudo e de análise, bem como os procedimentos metodológicos a serem empregados em aula. Vale lembrar que tal reorganização implica mudanças não somente na grade curricular do ensino básico, mas também nos Currículos dos Cursos de Letras. Com base em estudos de linguistas que abordam essa temática, tais como Geraldi (1991, 2006), Possenti (2002), Kleiman (2000, 2006), Travaglia (2003), Marcuschi (2008), Antunes (2003, 2007, 2009), Koch e Elias (2010), citando apenas alguns deles, este artigo tem como objetivo problematizar essa questão, não com vistas a apresentar uma fórmula única e acabada, mas com a intenção de apontar possibilidades de soluções a serem efetuadas nas aulas de português, na prática cotidiana. Concebendo, então, a língua e seu ensino como uma prática social de interlocução verbal, vemos o texto (mais especificamente os diferentes gêneros textuais, que circulam em diversas instâncias sociais) como objeto de estudo e sugerimos a prática de diferentes estratégias de leitura, análise linguística e produção de textos (orais e escritos) como método para trabalhar a língua. A nosso ver, o ensino e a aprendizagem de língua devem funcionar como um trabalho que aborda diversos gêneros textuais, isto é, como um frequente e natural exercício de comunicação, pelo qual alguém diz algo significativo a outro alguém, em dada situação social. O OBSCURECIMENTO DAS PROPOSTAS CURRICULARES DIALÓGICAS EM ESCOLAS PÚBLICAS PARANAENSES Edson Ribeiro da SILVA – SEED-PR [email protected] Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a disciplina Língua Portuguesa assumem a concepção dialógica da linguagem. Esta deve ser abordada em seu aspecto interativo, social, e tal proposta curricular faz das práticas discursivas um princípio metodológico e avaliativo. Antes disso, a primeira proposta curricular do estado do Paraná, em 1990, já se fundamentava em Bakhtin. E, no final daquela década, uma nova proposta paranaense assume as práticas discursivas como eixos que estruturam conteúdo, metodologia e avaliação. Oralidade, leitura e escrita são as práticas discursivas, enquanto a análise linguística aparece apenas como suporte para elas. Os gêneros discursivos são os conteúdos básicos da disciplina. As linguísticas discursivas orientam a abordagem dos textos. Para tanto, a Linguística Textual, com seus elementos de textualidade, e a teoria dos gêneros, da Escola de Genebra, fornecem os conceitos medulares. No entanto, após três propostas curriculares bakhtinianas, o que se constata em inúmeros segmentos da educação pública paranaense é o abandono progressivo das concepções dialógicas, interacionistas, e a adoção da concepção estruturalista como norteadora da ação docente. Algumas escolas públicas vistas como exemplos de êxito, por exemplo, na capital do estado, adotam ações como provas de gramática, esta desvinculada de qualquer funcionalidade e desatrelada das práticas discursivas. Tais ações são até vistas como ruptura, causas de resultados satisfatórios. E iludem a comunidade escolar, alheia aos objetivos fixados para a disciplina, assim como a seus conteúdos efetivos. O aluno desconhece os conceitos que estão na base da construção das competências linguísticas, como os de texto e gênero discursivo. A produção de textos e a leitura, quando feitas, não contemplam a linguagem através da concepção dialógica. Trata-se de uma postura facilitadora, sem cientificidade, cujo interesse evidente é poupar alunos e docentes de um trabalho efetivo com a língua, através do obscurecimento das propostas curriculares. PRÁTICAS DE ENSINO NAS AULAS DE “LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS” Renata da Silva Ferreira ASBA – USP [email protected] 64 Nossa pesquisa de mestrado, cujo título é “Leitura e produção de texto”: da constituição da disciplina às práticas de ensino, investiga a disciplina “Leitura e produção de texto” (LPT), que compôs, de 2009 a 2011, a grade curricular do segundo ciclo do Ensino Fundamental (5ª à 8ª série/6º ao 9º ano) nas escolas estaduais paulistas. A disciplina foi inserida em 2009, no contexto da implementação de um novo currículo que prioriza a leitura e a escrita, mas, para nossa surpresa, foi suprimida da grade no presente ano. Ministrada por professores licenciados em Letras mediante duas aulas semanais, sua proposta, segundo o Caderno do professor de LPT (material de apoio distribuído aos docentes), era a ampliação das práticas de leitura e escrita, focalizando, especialmente, o texto literário. Em nosso projeto, investigamos, em primeiro lugar, a inserção e a constituição da disciplina, tomando como base documentos governamentais, e, em segundo lugar, as práticas de leitura e escrita desenvolvidas em sala de aula. Com isso, objetivamos estabelecer um contraponto entre as propostas dos documentos oficiais e as práticas concretas realizadas nas instituições escolares. Nesta comunicação, apresentaremos considerações sobre um “exercício etnográfico” realizado numa escola estadual, no qual foram observadas, de março a junho de 2011, aulas de LPT numa turma de EJA. Os conteúdos abordados foram o conceito de dissertação, a diferença entre fato e opinião e os mecanismos de coesão textual. As práticas usuais promovidas pela professora foram a escrita de pequenos textos pelos alunos, o atendimento individual para a correção e a resolução de exercícios sobre a organização do texto. Tais conteúdos e práticas não correspondem à concepção “oficial” da disciplina LPT como espaço para promoção da leitura literária, o que revela uma tensão entre o que se prega nas normas oficiais e o que se faz no cotidiano escolar. GRUPO TEMÁTICO 9: CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA AO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL COORDENADORAS: Elza Sabino da Silva BUENO (UEMS) – [email protected]; Rosangela Villa da SILVA (UFMS) – [email protected]. O português é um dos idiomas oficiais da União Europeia desde 1986. Na América Latina, com os acordos do MERCOSUL, o português é ensinado como língua estrangeira nos países que dele participam (Argentina, Paraguai e Uruguai). No Brasil, a tendência a incorporar palavras e expressões orais/coloquiais e a simplificar a gramática é bastante forte e tem como preocupações principais: a expressão de uma afetividade maior por meio da entonação e da estrutura da frase, mais que por um vocabulário cuidadosamente escolhido, o que leva a se desenvolver no país uma linguagem própria, que valoriza as inovações e criações ocorridas em suas grandes regiões, a maioria delas de origem popular. Diante disso, o grupo temático Contribuições da pesquisa sociolinguística ao ensino da língua portuguesa no Brasil propõe apresentar e discutir pesquisas realizadas no âmbito da pós-graduação, no Brasil e em Portugal, que revelam estudos envolvendo a teoria sociolinguística variacionista laboviana, com utilização de metodologia própria a trabalhos dessa natureza. As pesquisas estão constituídas por córpus do português brasileiro e as variações linguísticas analisadas são aquelas produzidas na modalidade oral da língua e identificadas como regionais, sociais ou individuais. Assim, com a discussão das diferentes variações da linguagem, as características de cada tipo de variação, as possíveis causas dos fenômenos analisados mostrarão de que forma a investigação pode contribuir para melhorar o processo de ensino/aprendizagem do idioma na educação básica, considerando os impactos que a presença da oralidade da língua nos livros didáticos tem causado na sociedade como um todo. Contribuindo com essa perspectiva, este estudo apresenta pesquisa desenvolvida em Portugal acerca do ensino da língua portuguesa na educação básica e as possíveis contribuições do modelo português de ensino ao ensino do idioma no Brasil. A ABORDAGEM EXPLÍCITA PELA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA DO LIVRO DIDÁTICO APROVADO PELO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO PARA O ENSINO MÉDIO (PNLEM) DE 2009 MAIS ADOTADO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. 65 César Augusto GONZÁLES – UFRGS [email protected] Desde os Parâmetros Curriculares Nacionais, a variação linguística tem lugar garantido nadisciplina de Português. Recentemente, o PNLEM reafirmou a necessidade de trazer essa questão para a sala de aula, exigindo que os livros didáticos abordem-na. Frente a isso, o presente trabalho investiga como o livro didático aprovado pelo PNLEM 2009 mais adotado no Rio Grande do Sul aborda a variação em seus capítulos dedicados ao tema. Inicialmente, bucamos na sociolinguística laboviana postulados que contribuam para o ensino de língua; selecionamos três: (1) a estrutura linguística não é homogênea; (2) as estruturas linguísticas não são certas ou erradas; e (3) deve-se respeitar as diferentes variedades linguísticas. Esses postulados apontam para a necessidade de se abordar as seguintes noções sociolinguísticas (que discutimos neste trabalho): língua, norma culta e variedades linguísticas populares. Partindo dessas noções, elaboramos as seguintes perguntas que nortearam a análise do livro didático: (a) alíngua é tida como um sistema homogêneo abstrato ou um conjunto de variedades?; (b) a norma culta é confundida com a norma-padrão?; (c) a norma culta tem sua importância explicitada?; (d) admite-se a existência de variedades linguísticas populares?; e (e) as variedades linguísticas populares são respeitadas e o preconceito linguístico discutido? A investigação sugere que o livro didático analisado apresenta a língua como um conjunto de variedades, em que variedades linguísticas populares existem, mas são minoritárias, sendo a norma culta (confundida com a norma-padrão) exigida em determinadas situações sociais. O livro não aborda o preconceito linguistico. Por fim, vale lembrar que este trabalho integra o projeto “Norma e variação nos livros didáticos de Língua Portuguesa e Literatura aprovados pelo PNLEM 2009”, que pretende analisar todos os livros aprovados pelo PNLEM 2009 em termos de como é a abordagem explícita da variação linguística e de como é a abordagem de fenômenos linguísticos altamente estigmatizados. A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E A SALA DE AULA DO PROEJA: CONCEPÇÕES DISCENTES E DOCENTES NO IFMT – CAMPUS CAMPO NOVO DO PARECIS Vanessa Hiroko KUSANO – IFMT [email protected] Vinícius Carvalho PEREIRA – IFMT [email protected] O Proeja é um desafio proposto que se ergue diante de uma realidade nova. Milhões de brasileiros, marginalizados por não terem concluído sua educação básica, e cada vez mais distantes do mercado de trabalho por essa condição, vislumbram nesta política pública uma possibilidade de reinserção sociolaboral. Entretanto, são muitos os desafios para que essa política seja realmente eficiente, entre os quais se destaca a forma de lidar com a pluralidade do perfil discente em esferas como a etária, econômica e linguística. Desta forma, para além dos entraves concernentes à natureza de novas políticas públicas, há desafios que se apresentam na sala de aula, como questões do currículo integrado e da relação ensino-aprendizagem com este novo alunado, com expectativas sobre a escola, o professor e a linguagem verbal muitas vezes distintas das postuladas por docentes e projetos políticos pedagógicos. No que tange a essadiversidade sociocultural e de expectativas, ganha destaque a diversidade linguística encontrada em sala de aula, com a qual tanto alunos quanto professores precisam aprender a lidar, negociando significados sobre os conceitos de língua, linguagem e a constituição dos sujeitos e do tecido social a partir dessas instâncias. A pesquisa apresentada busca, com base nas discussões da sociolinguística sobre língua e poder, variação linguística e educação, demonstrar se tal diversidade pode constituir uma barreira no aprendizado dos alunos de Proeja no IFMT – Campus Campo Novo do Parecis. Como resultados, percebe-se um consenso de discentes e docentes sobre o papel da linguagem verbal na vida em sociedade, em suas diversas manifestações. No entanto, os dados obtidos nos questionários apontam para visões 66 dissonantes entre professores e alunos quanto ao impacto da variação linguística sobre a comunicação em sala de aula e, consequentemente, sobre a relação de ensino-aprendizagem. A LÍNGUA QUE FALAMOS: UM ESTUDO SOBRE AS VARIANTES FONÉTICAS DO PORTUGUÊS NA FORNTEIRA TABATINGA (BRASIL) – LETÍCIA (COLÔMBIA) Marcilene da Silva Nascimento CAVALCANTE – UFAM [email protected] A língua que falamos é cheia de variações, basta observarmos ligeiramente como usamos a linguagem e perceberemos que ninguém fala igual a ninguém, pois há diversos fatores linguísticos e extralinguísticos que influenciam na forma da linguagem de cada falante. As variantes fonéticas caracterizam uma comunidade de fala ou grupo social, pois são índices que sofrem variações em diferentes contextos linguísticos, regionais e/ou sociais. Portanto, considera-se importante o estudo das variantes fonéticas para que se conheça também o grupo social com qual trabalhamos nas escolas, principalmente neste caso em que a localização geográfica (Tabatinga é um município do Estado do Amazonas que faz fronteira com Peru e Colômbia, além disso, tem várias comunidades indígenas e ribeirinhas) possibilita um plurilinguismo natural e que faz parte do cotidiano das salas de aulas de escolas de fronteiras. Considerando esses pressupostos, este artigo tem como objetivo principal expor os resultados parciais do projeto de mestrado em Estudos Amazônicos pela Universidade Nacional da Colômbia, cujo tema possibilitou fazer uma identificação e análise de algumas variantes fonéticas que estão presentes na fala de estudantes do Ensino Médio das Escolas Públicas do município de Tabatinga. A metodologia utilizada foi gravação da fala dos estudantes através de um Questionário Fonético-Fonológico (QFF). A partir da identificação das variantes foi possível constatar que os estudantes têm a fala caracterizada pelo uso de diversas variantes fonéticas, entre as quais algumas são consideradas variantes de prestígio e outras variantes estigmatizadas. A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DE LÍNGUA PORTUGUESA QUENTO AO FENÔMENO LINGUÍSTICO DA AUSÊNCIA/PRESENÇA DE ARTIGO DEFINIDO DIANTE DE ANTROPÔNIMOS NAS LOCALIDADES DE ABRE CAMPO E MATIPÓ Andréia Almeida MENDES – UFMG [email protected] Este trabalho analisa se o fenômeno da ausência/presença de artigo definido diante de antropônimos na fala dos moradores da zona urbana de Abre Campo e Matipó, em Minas Gerais; tendo como objetivo comprovar se os falantes das distintas localidades possuem percepção a respeito do fenômeno, para tanto, serão utilizados os pressupostos teóricos da sociolinguística laboviana. Pretende-se também avançar um pouco mais na pesquisa realizada em 2009, durante o mestrado. A escolha destas duas localidades dá-se pelo fato de exibirem padrão linguístico diferenciado no que diz respeito ao uso do artigo diante de antropônimo: apesar de vizinhas limítrofes, Abre Campo apresenta mais presença de artigo definido no contexto de antropônimo do que Matipó. Em estudo anterior, Callou e Silva (1997) afirmam que o fenômeno não é estigmatizado e nem valorizado socialmente, estando ligado somente a aspectos teóricos sobre a definitude e à questão da mudança linguística, sendo, por essa razão que a sua evolução é observada através do tempo. Apesar disso, a pesquisadora percebe no discurso de alguns de seus alunos que essa distinção é clara; alguns alunos das diferentes cidades distinguem a variação e acabam valorizando socialmente a forma de falar de sua localidade em detrimento com a fala dos moradores da localidade vizinha. Cumpre ressaltar que, apesar de vizinhas limítrofes, como foi salientado, não se pode dizer que haja relação de dominação entre as duas cidades, uma vez que elas não possuem nenhuma relação econômica ou social realmente fortes que possam determinar algum tipo de dominação; sabe-se apenas que a cidade de Matipó foi, por muitos anos, distrito da cidade de Abre Campo. 67 DESCRIÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA DE TEXTOS ESCOLARES: O PÚBLICO E O PRIVADO Edmara Cristina Meliso GONÇALVES – UFMS [email protected] A temática apresentada neste trabalho trata da pesquisa em sociolinguística voltada para a variação fonético-fonológica e os reflexos dessa variação na produção escrita de alunos do ensino fundamental de duas escolas de Campo Grande: uma pública, localizadas na área periférica da cidade, e uma particular, localizada na área central urbana. O levantamento e análise das interferências da modalidade oral na produção escrita da língua foram feitos com base na teoria da Sociolinguística Variacionista. O objeto da pesquisa recai sobre o interesse em mostrar as interfaces entre as linguagens: oral e escrita. O objetivo do trabalho foi o de registrar, descrever e interpretar as marcas das variedades linguísticas fonológicas, nos desvios decorrentes da transposição do ato da fala para a escrita de alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, caracterizando e comparando a produção textual dos alunos, e também correlacionando a sua competência linguística com a estratificação social da escola. O método empregado nesta pesquisa foi o da Sociolinguística Variacionista Quantitativa (Labov 1972), com aplicação do programa computacional Goldvarb 2001 para a análise estatística dos dados e pesquisa de cunho qualitativa, que descreve e analisa os desvios ortográficos influenciados pela oralidade, a partir de dados de textos escritos. Considerando a intenção da pesquisa, que foi a de verificar a influência dialetal na escrita, foram considerados os seguintes fenômenos: Neutralização da vogal anterior /e//; Neutralização da vogal posterior /0/;Monotongação de ditongos decrescentes ow; Monotongação de ditongos decrescentes ey; Supressão do R em verbos, Rotacização e Junção. Após a compreensão das diferenças na apropriação da escrita dos alunos pelos postulados da sociolinguística, o estudo propõe reflexões metodológicas adequadas e alternativas práticas para subsidiar o trabalho de educadores procurando instrumentalizá-los em suas práticas cotidianas, a fim de melhorar o processo da aquisição da escrita padrão pelos alunos. EDUCAÇÃO INFANTIL: LINGUAGEM ORAL E APRENDIZAGEM Daniela Gomes LOUREIRO – UFMS [email protected] A Educação Infantil é a etapa educativa durante a qual ocorrem importantes mudanças no desenvolvimento das crianças e essas mudanças são as mais intensas que o ser humano experimenta ao longo de sua vida. Vale dizer que a aprendizagem real não começa na escola, pois inúmeras pesquisas já ressaltaram que é nos primeiros anos que se produzem as aprendizagens fundamentais. Estamos, assim, frente ao desafio de pensar que os conteúdos requeridos por essa etapa, como estimular um bom desempenho, mostram que a escola é um dos contextos em que se produz esse desenvolvimento. Sob a perspectiva da Sociolinguística, este estudo estabeleceu como objetivo refletir sobre a função da fala das crianças e dos professores nas aulas da educação infantil, tendo como pressuposto que aprender a falar é aprender a usar a linguagem para distintas funções. Essas funções estão vinculadas às atividades de aprendizagem que se propõem, pois a fala é uma conquista social e tem caráter comunicativo; além disso, a competência linguística se desenvolve com a atividade verbal em contextos significativos durante a realização de atividades e com a participação do professor e das próprias crianças, sendo que é no primeiro ciclo da etapa da educação infantil que se desenvolve a capacidade de falar, destacando a necessidade de uma aula flexível, dinâmica, menos voltada para o papel e o lápis; uma aula na qual se pode observar, experimentar, inovar, e onde a oralidade se manifeste como instrumento de aprendizagem, favorecendo a troca verbal entre os atores do contexto educativo. O estudo ressaltou que o esforço necessário para expressar as ideias, convencer, explicar, entre outros, desencadeia o aumento da competência linguística. 68 ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE A SOCIOLINGUÍSTICA E A SALA DE AULA: O DIÁLOGO ENTRE A FORMAÇÃO DOCENTE E O ENSINO DA LÍNGUA MATERNA Kédma Keila Gonçalves BARBOSA – UPM [email protected] O presente estudo tem o objetivo de desenvolver um olhar que enxergue com amplitude e lucidez a realidade do ensino do português como língua materna. Buscou-se fazer, por meio da pesquisa sociolinguística, uma reflexão sistemática sobre a formação de professores, os documentos de parametrização do ensino, o planejamento, a prática pedagógica, a implantação e a avaliação do processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa dentro das escolas de ensino fundamental e médio. Nesse sentido, questionou-se como se dá (ou não) a apropriação da língua e da produção textual no âmago escolar; não somente quanto ao uso da língua em sua forma culta, mas também das possíveis intencionalidades, variações e identidades que a linguagem pode fornecer enquanto instrumento de comunicação. Por essas razões é que se fez necessário explorar o relacionamento imbricado da sociolinguística nas aulas cuja base fosse a formação de concepções de linguagem como interação entre sujeitos em sociedade (sociointeracionista) na qual implica a capacidade dos sujeitos sociais de participar ou também construir contextos (construcionista), resultando em ações que refutem a discriminação e o preconceito linguístico. Para tanto, é necessário ao professor de língua materna, em qualquer nível de ensino, uma boa formação linguística, visto que, ainda é comum ver muitos equívocos da parte de docentes que lidam com o ensino de forma superficial, desarticulada ou que pensam na disciplina de língua portuguesa como algo isolado e excludente; sem contar os que por não compreenderem totalmente certas perspectivas, ignoram seu importante papel no desenvolvimento de habilidades e competências voltadas à comunicação, bem como, sua intervenção no momento da correção e das reflexões acerca da escrita e da fala. O PROCESSO DE MUDANÇA DAS PREPOSIÇÕES DOS VERBOS IR E VIR, ENTRE SINCRONIAS, NO PORTUGUÊS ESCRITO DE UBERABA Thamiris Abraão BORRALHO – UFU [email protected] A língua portuguesa, como qualquer outra língua, sofreu e sofre variações e/ou mudanças à medida que é utilizada por seus falantes. Uma vez que é inerente a estrutura da língua ser variável de acordo com as necessidades dos que a utilizam, a língua falada ou escrita de sincronias passadas não é a mesma utilizada nos dias de hoje. Seguindo esta perspectiva de língua – variável e heterogênea –, muitos linguistas estão desenvolvendo pesquisas sobre o português mineiro, entretanto ainda há poucas sobre o português da região de Uberaba. Partindo desse pressuposto, foi relevante um estudo que auxiliasse na caracterização do português da cidade de Uberaba, como, por exemplo, a relação existente entre os verbos ir e vir com aspreposições que os acompanham, levando em conta os complementos que serão objetos desse verbo. O trabalho tentou discutir a variação linguística no português mineiro escrito de Uberaba. Assim, o objetivo desse estudo era realizar uma pesquisa descritivo-comparativa entre os usos das preposições que acompanham os verbos ir e vir nos jornais dos anos de 1937, no jornal “Lavoura e Comercio”, em que os dados colhidos provieram de cópias digitalizadas a partir dos jornais, disponíveis no Arquivo Público de Uberaba, e, na atualidade, nos jornais do “Jornal da Manhã”. Foram elencadas 50 ocorrências dos verbos “ir” e “vir” em cada jornal, que totalizam 100 ocorrências no corpus. Uma vez estabelecido os dados, a análise seguiu os pressupostos teórico-metodológicos da sociolinguística laboviana (Weinreich, Labov, Herzog 2006 [1968]; Labov 1972, 1994). As informações obtidas foram tratadas estatisticamente, e posteriormente, qualitativamente, analisando os grupos de fatores e suas correlações. Assim, a pesquisa consistiu em apresentar um estudo entre sincronias sob a teoria variacionista que estabeleceu uma análise em que se pode descobrir que houve variação linguística. 69 ROTACISMO: A ALTERNÂNCIA DO /l/ E DO /r/ EM VARIEDADES LINGUÍSTICAS NA COMUNIDADE ESCOLAR Eva de Mercedes Martins GOMES – UFMS [email protected] Estudos envolvendo a pesquisa ajudam a compreender as razões subjacentes que levam os falantes ao usode diferentes formas de expressão oral. Para expressar-se adequadamente, o indivíduo necessita conhecer,além das características da norma culta, as variações linguísticas, pois o estigma de falar "certo" ou "errado" aumenta a diferença que o separa do contexto social. A linguística, como ciência, vem promover uma reflexão na atitude de tratamento do "caos linguístico" – linguagem diferenciada – da relação língua/sociedade. A elaboração e o uso de tais modelos representativos de variantes dentro da oralidade confere subsídios para se tentar dissecar as particularidades e alcançar o conhecimento de uma pequena parcela da complexa realidade linguística brasileira. Este estudo estabeleceu como objetivo descrever e compreender as representações gráficas que alunos em processo de aprendizagem propõem para as líquidas / l / e / r /, quando figuram na posição de segunda consoante prevocálica. Para isso, primeiramente, realizouse uma descrição linguística stricto sensu, em termos fonéticos-fonológicos, das consoantes / l / e / r /, procurando levantar alguns aspectos sociolinguísticos. Por último, buscou-se mostrar como os alunos observados pronunciam/escrevem/transcrevem tais consoantes. Observou-se a necessidade de a escola trabalhar com clareza e adequação as possibilidades de uso do português-padrão edo português não-padrão, para não gerar confusão que venha interferir de forma negativa no processo da aprendizagem. É importante oferecer ao aluno a oportunidade de expor o conhecimento já adquirido, mesmo que a rigidez da língua padrão não aprove tal atitude. Em se tratando da língua materna, as alterações na fala ou na escrita podem ser atribuídas a diversas causas, como, o desconhecimento de regras ortográficas, aplicação incorreta dessas regras ou interferências da oralidade. Além disso, fatores patológicos, psicológicos, sociológicos e pedagógicos podem ser causadores de inadequações em todas as situações de uso da língua. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NUMA PERSPECTIVA TEXTUAL Anderson de SOUTO – UERJ [email protected] A Sociolinguística veio, indubitavelmente, desde os anos 60, época de tantas renovações nas sociedades, de tantos avanços tecnológicos e de tantos movimentos contestadores de tradições repressoras, focalizar um ponto essencial para a educação linguística: a urgência de atentar para a heterogeneidade inerente às línguas. Assim, nossa escola foi aos poucos, no decorrer dos anos, incorporando muitas das inovações sociolinguísticas. Hoje, por exemplo, ao menos em termos programáticos, conceitos como heterogeneidade, variação, variante linguística etc. se fazem presentes em orientações curriculares, em materiais didáticos e outros.No entanto, apesar de todas essas conquistas, a variação linguística ainda é, pelo viés de uma concepção reducionista de língua: negada preconceituosamente em nome do único modo de dizer legitimado - a norma-padrão; vista como erro que, presente no texto dos alunos, tem de ser apagado, sem qualquer preocupação culturalmente sensível; abordada de forma “conteudística”, fragmentária e estanque, principalmente nos livros didáticos; perspectivizada somente pelo combate ao preconceito linguístico ou pela adequação da linguagem; negada quanto ao poliglotismo inerente aos usuários da língua; negada como elemento estilístico e como possibilidade de ser estratégia de dizer; e dissociada de outras práticas de linguagem.Este trabalho move-se pela concepção sociointeracional da linguagem, de modo a não se limitar a apenas a incluir, em tal educação, propostas de descrição da variação linguística, nem somente a tornar menos assimétrica a relação professor-aluno, vai além, sobremaneira porque prega a criação de condições de produção de verdadeiras práticas dialógicas da linguagem, nas quais se destacam a relação autor-texto-leitor e a expressividade da variação. 70 GRUPO TEMÁTICO 10: DISCURSIVIDADES SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COORDENADORES: João Bôsco Cabral dos SANTOS (UFU) – [email protected]; Marco Antonio VILLARTA-NEDER (UFLA) – [email protected] Entendendo a discursividade como uma emergência de discursos, entremeada pela produção de sentidos, a partir da tomada de posição de instâncias-sujeito no interior de uma enunciação, vinculada a um acontecimento, este grupo de trabalho tem por objetivo problematizar, descrever, interpretar, relacionar e examinar a natureza enunciativa das discursividades vinculadas ao ensino de língua portuguesa. Nessa perspectiva, apresenta-se a expectativa de reflexões teóricometodológicas e pragmáticas acerca de discursividades pedagógico-operacionais, genérico-textuais, político-educacionais, gramático-linguísticas, sintático-semânticas, entre outras que evidenciem inscrições discursivas, sentidos de uma prática político-discursiva, constituições sujeitudinais e singularidades acerca do acontecimento em estudo. Uma perspectiva discursiva enfoca efeitos de sentido sobre enunciações, inscrições político-ideológicas acerca da forma e do funcionamento de uma dada produção de sentidos, além de modos de constituição de formas-sujeito, lugares sociais e lugares discursivos de gestores educacionais, professores, alunos, leitores, scriptors, entre outras facetas de constituição do sujeito. Discursividades sobre o ensino de língua portuguesa contemplam sentidos produzidos em torno de políticas educacionais de ensino, metodologias, escolhas didáticas, enfoques pedagógicos entre outras singularidades que revelam uma diversidade de práticas discursivas. As perspectivas teóricas de Análise do Discurso com as quais o Laboratório de Estudos Polifônicos tem realizado experimentos acadêmicos envolvem a chamada Análise do Discurso Francesa com incursões epistemológicas na obra de Michel Pêcheux e seus seguidores; na obra de Michel Foucault; na chamada Análise Dialógica do Discurso que aborda obras teóricas que discorrem sobre o pensamento bakhtiniano; na Teoria Semiolinguística de Patrick Charaudeau e na denominada Análise Crítica do Discurso, com suporte teórico na obra de Norman Fairclough. CONSTITUIÇÃO DO LEITOR NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA João Bôsco Cabral dos SANTOS – UFU [email protected] Compreendendo que trabalhar com a língua portuguesa no ensino fundamental é constituir um processo de identificação de leitores e scriptors nos aprendentes, com este trabalho pretendo construir uma reflexão sobre as bases político-linguístico-discursivas que orientam o processo de constituição do leitor nas aulas de língua portuguesa. Começo pela instauração de uma inscrição político-pedagógica, calcada notripé Sensibilização Comunicacional, Habilidades Integradas e Práticas Discursivas. A Sensibilização Comunicacional parte de um trabalho de construção desse processo de identificação, contemplando a leitura de mundo a partir de um escrutínio do conhecimento local do aprendente. As Habilidades Integradas possuem a função de exercitar esse processo de identificação na descoberta/exposição/relação de/entre gêneros discursivos, constitutivos da inscrição em uma cultura de leitura, projetada em um ethos sócio-político-cultural do aprendente. As Práticas Discursivas dizem respeito à constituição de um sujeito-leitor, interpelado que se torna por inscrever-se em práticas de leitura, instaurando a partir do ato de ler, uma prática social, uma escolha cultural ou um exercício de resistência política. É com base nesse tripé que discuto a existência de uma episteme histórico-discursiva, balizadora da constituição do leitor na aula de língua portuguesa. Tomo por premissa teórica, os fundamentos da Análise do Discurso Francesa, mais especificamente, as reflexões realizadas em torno da obra de Michel Pêcheux. Parto da noção de sujeito em suas facetas de forma-sujeito aluno, lugar social de aprendente e lugar discursivo de leitor, para então, avaliar as inscrições histórico-ideológicas em que se instaura a aula de leitura em língua portuguesa como uma enunciação e, por fim, crivar a interdiscursividade que perpassa o processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa no 71 contexto educacional regular. AULAS DE REDAÇÃO EM PORTAL EDUCACIONAL: RELAÇÕES EXOTÓPICAS EM DISCURSIVIDADES SOBRE O VELHO E O NOVO NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA Marco Antonio Villarta NEDER – UFLA [email protected] Esta apresentação pretende analisar, a partir de um viés discursivo da conceitos da Análise Dialógica do Discurso, de Mikhail Bakhtin, com os conceitos de polifonia, exotopia e excedente de visão, e do conceito de silêncio (Villarta-Neder, 2011), as discursividades e concepções sobre ensino de Língua Portuguesa em um Portal Educacional gratuito na Internet, especificamente em aulas sobre Redação. O primeiro objetivo desta análise é contrapor as diferentes posições sujeitudinais e as alteridades nas discursividades constantes das aulas, bem como os silêncios (por ausência, excesso e não-aparição) que movimentam esses sentidos. A partir dessa discussão, pretende-se, também, situar o lócus do ensino de Língua Portuguesa em suportes virtuais. Outro objetivo consiste em identificar quais as representações de velho e novo, enquanto postura tradicional e postura inovadora nessas aulas em vídeo, e as representações do lugar-outro do aluno de Língua Portuguesa/internauta na construção do ensino de escrita e reflexão sobre a língua. Partese do pressuposto de que o ensino de um língua consiste em um espaço exotópico de representações e constituições sujeitudinais e que a essa constituição seja ou não crítico-reflexiva na medida em que atende ou não a discursividades que se silenciam na construção dos lugares sociais, históricos, ideológicos, culturais e institucionais. No caso do ensino de Língua Portuguesa, considera-se uma postura tradicional um enfoque não-reflexivo e semissistemático, calcado numa tradição mnemônica e deôntica. Em face da modificação dos suportes nos quais atualmente circulam situações de ensino de português, cabe discutir quais vozes se opõem e se encontram nos discursos sobre interatividade e participação do outro, característicos desses suportes. VALORAR OU AVALIAR – POR ABERTURAS ÉTICAS NAS PRÁTICAS AVALIATIVAS DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS Ismael Ferreira ROSA – UFU [email protected] Muito já se discutiu sobre a avaliação no contexto escolar, sobretudo no que concerne ao processo de ensino-aprendizagem de línguas. Inúmeros questionamentos, críticas, perspectivas já foram levantados. Não obstante a avaliação ser uma prática inerente ao homem as dimensões do que seja avaliar em línguas não têm sido claras na escola. Constantemente confundida com “medidação”, a avaliação parece estar ainda balizada pela lógica da mensuração. Mesmo que discussões tenham sido instauradas e se tenham apontados outros caminhos a prática do avaliar persiste em ser um procedimento numérico-quantificador. É justamente esta prática mensurativa que constituirá meu objeto de discussão. Tenho por fito problematizar que antes da própria definição do que seja avaliação e avaliar em língua, é preciso atentar ao avaliador, ao avaliado e ao objeto de ensinoaprendizagem. Imperativo se faz levar em conta as concepções do que é sujeito, língua, produção de sentidos. De nada adianta prorrogar uma postura emancipatória, participativa e (re)formadora, se a língua, enquanto objeto de ensino-aprendizagem, é concebida como um sistema autônomo, regido por regras e normas imanentes e inerentes a sua estrutura, cuja descrição de seu funcionamento por meio de metatermos constitui o escopo do ensinar e aprender. É em vão postular uma avaliação em línguas pautada na mediação contínua e interventora se o processo deste ensinar e aprender é balizado por um viés transmissivo-passivo e extremamente metalinguístico, cujo objetivo seja o uso correto e exímio dessa língua por um sujeito aluno que nada sabe e deve aprender a descrever o funcionamento para então usá-la conscientemente de forma plena. Entendo ser preciso repensar a 72 noção de sujeito e língua neste processo. Para tanto, tomo as noções bakhtinianas de sujeito, língua, ato e ética para empreender a algumas elucubrações sobre a avaliação, alvitrando aberturas éticas neste espaço, de modo a existir um sujeito responsivo, responsável, criativo. PRÁTICAS DE SUBJETIVAÇÃO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Guilherme Figueira BORGES – UFU [email protected] Vinculo-me ao pensamento do filósofo Michel Foucault (1995, 1996, 2006, 2008) para pensar o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa (LP) enquanto uma prática discursiva em que os indivíduos se constituem sujeitos, instaurada por resistências, objetificações, dentre outros. Esses sujeitos que, a um só passo, exercem poder e sobre os quais poderes são exercidos, tornan a escola em uma instituição que se instaura enquanto tal por vontades (de poder) que movimentam forças belicantes. Nesse trabalho, objetivo analisar os dizeres de três alunos do terceiro ano do ensino médio a fim de desvelarmos como que eles se constituem sujeitos pela sua relação com o ensinoaprendizagem de LP. Para tanto, pretendo estabelecer um diálogo com a rede teórica foucaultinana (1995, 1996, 2006, 2008) no que tange, principalmente, às noções de sujeito, de discurso, de Cuidado de Si, de governamentalidade. Posso dizer que os sujeitos-aluno, quando evocados a enunciar sobre o por quê de aprenderem LP, revelam saberes com os quais e pelos quais poderes são exercidos. Nesse imbricamento entre saber e poder, os sujeitos-aluno entram em jogos de verdade naturalizados nos espaços escolares. Quando os sujeitos-aluno são evocados a escrever sobre a sua relação com a LP, já-ditos emergem em seus dizeres revelando tensões e conflitos. Pode-se dizer que esses sujeitos oscilam entre a vinculação a uma dominação da gramática tradicional e a resistência a aspectos coloquiais que se encontram presentes em seus próprios dizeres enquanto enunciadores em LP. É relevante dizer ainda que, quando os sujeitos enunciam sobre a LP, eles enunciam também sobre a constituição de si mesmos. POR UM ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA ESCRITA, REFERENCIADA NAS PRÁTICAS ECONÔMICO-JURÍDICO-IDEOLÓGICO-POLÍTICODISCURSIVAS Gílber Martins DUARTE – UFU [email protected] Nesse trabalho, refletiremos um pouco sobre a luta por deslocar sujeitos-aprendizes em direção ao conhecimento de uma língua sócio-histórica-política-ideológica-jurídica-economicamente engajada e registrada através da escrita. Os passos fundamentais dessa luta travam-se nas concepções teóricas, bem como na arena prática da vida, exigindo teórica e praticamente um deslocamento dos sujeitos-aprendizes em relação à economia-ideologia-jurisdição, discursivamente dominante, em um país capitalista como o Brasil. Abordaremos em particular a batalha que se trava em torno de: interpelar sujeitos-aprendizes no ensino fundamental para terem a prática de desenvolver táticas linguísticas em língua portuguesa escrita, em uma conjuntura econômico-jurídico-ideológicodiscursiva que valoriza prioritariamente a fala, a TV, asimagens virtuais, além de ter as concepções ideologizadas e economicamente rentáveis dos Livros Didáticos como principal meio de difusão da Língua Portuguesa escrita. Desenhamos um quadro teórico-prático para o professor de Língua Portuguesa que se sabe sujeito-político: 1) um saber sobre o próprio papel político que está a serviço da transformação das relações de produção ou a serviço da reprodução das relações de produção; 2) uma leitura crítica sobre as concepções teóricas que engajam os sujeitos-aprendizes no estudo da Língua Portuguesa; 3) uma leitura crítica do que é valorizado linguisticamente na sociedade, desde a prioridade absoluta à oralidade até a prioridade às imagens televisivas e virtuais rápidas, constitutivas de sujeitos acríticos ao analfabetismo funcional e cultural que serve à ordem; 4) uma leitura política dos LDs que sugerem atividades linguísticas alheias à 73 reprodução/transformação das relações de produção, seja nas opressões de classe, raça, gênero, sexo, seja nas naturalizações ideológicas que constituem sujeitos-aprendizes assujeitados às interpelações econômico-jurídico-ideológico-político-discursivas do mundo capitalista; 5) um olhar sobre a gramática da Língua como táticas linguísticas para se constituir sujeito de Língua Portuguesa, produzindo interpelações no processo, ao mesmo tempo, em que se prepara para as contraditórias práticas econômico-jurídico-ideológico-político-discursivas que interpelam a todos. UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES IMAGINÁRIAS NA AUTOAJUDA Gabriela Belo da SILVA – UFU [email protected] O estudo que propomos faz parte de nosso projeto de dissertação “Um Imaginário de Identificação com a Literatura de Autoajuda”, na Universidade Federal de Uberlândia, cujo corpus é a obra Pais Brilhantes Professores Fascinantes de Jorge Augusto Cury. Trabalhamos com esse corpus, considerando-o enquanto uma materialidade linguística, mediadora de ideologias, que se constitui a partir de um amálgama discursivo que é transpassado pelo interdiscurso, produzindo assim uma significância que resultará em efeitos de sentidos. Desta feita, concebemos essa obra enquanto uma resultante de processos e elementos sócio-históricos-ideológicos, que é dotado de uma multiplicidade de vozes, e tivemos como intento ponderar o funcionamento discursivo da obra em análise. Tivemos como objetivo proceder a uma pesquisa descritiva, interpretativo-analítica, em que a unidade de recorte os enunciados operadores selecionados a partir da materialidade linguística do opúsculo em análise foram os enunciados. Estamos entendendo materialidade linguística de acordo com a concepção de Gadet (1997, p. 180) “entendida no sentido de sequência oral ou escrita de dimensão variável, em geral superior à frase. Trata-se aí de um “discurso” concreto, isto é, do objeto empírico afetado pelos esquecimentos 1 e 2, na medida mesmo em que é o lugar de sua realização, sob a forma, coerente e subjetivamente vivida como necessária de uma dupla ilusão”. Esses recortes nos serviram como ponto norteador para a análise sobre o funcionamento do discurso de autoajuda, que constituiu-se enquanto descritiva porque fizemos o levantamento dos enunciados operadores no escopo da obra, realizando o arrolamento das potencialidades interpretativas do corpus. Interpretativo-analítica porque lançamos um olhar-leitor sobre os enunciados, tentando evidenciar um gesto de interpretação, com uma posterior análise minuciosa dos enunciados selecionados, relacionada aos processos de identificação e as formações imaginárias viabilizadas pelas pela instância sujeitudinal Augusto Cury. CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE DE DISCURSOS POLÍTICO-MIDIÁTICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Camila Fernandes BRAGA – UFU [email protected] Este trabalho tem por objetivo abordar algumas contribuições da pesquisa de mestrado intitulada “Instâncias midiáticas – sujeitos discursivos no discurso político”, com suporte epistemológico em Análise do Discurso de linha Francesa, para o ensino de Língua Portuguesa. Em nossa pesquisa, explicitamos como uma instituição midiática desloca sentidos de candidaturas à Presidência da República de forma a evidenciar processos de identificação e desidentificação com essas. Além disso, verificamos como as instâncias enunciativas sujeitudinais (SANTOS, 2009) VEJA e ÉPOCA se posicionam frente essas candidaturas de forma a produzir sentidos de (des)identificação em seus leitores. Para tanto, noções como ideologia, efeitos de sentido, condições de produção e formações discursivas são relevantes na medida em que apontam questões relevantes concernentes à língua, à linguagem e ao discurso. Nessa perspectiva, nossa proposta é descrever a relevância de uma análise 74 discursiva de discursos político-midiáticos para a produção e interpretação de textos em Língua Portuguesa. Considerando-se que o exercício de interpretação de textos envolve, necessariamente, uma tomada de posição do sujeito leitor/aluno frente o discurso em questão, pretendemos demonstrar a relevância do conhecimento das condições de produção desses enunciados, uma vez que essas são as responsáveis pela produção de sentidos no interlocutor e, consequentemente, da interpretação que esse fará do que foi lido. Considerando-se, em seguida, o exercício de produção de textos, explicitaremos a relevância da tomada de posição do sujeito escritor/aluno, pois é na ação de se posicionar frente algum acontecimento que o indivíduo se constitui sujeito ideológico e se torna capaz de enunciar/escrever. Ao fazer esses apontamentos, pretendemos evidenciar a relevância dos estudos discursivos na formação do caráter do sujeito aluno, uma vez que essa formação depende de uma tomada de posição, ação que possibilita uma visão crítica sobre questões diversas. O DISCURSO MÍTICO DE IFÁ NO AMBIENTE SALA DE AULA – UM EXERCÍCIO DE ANÁLISE Juliano Araújo CARVALHO – UFU [email protected] Este trabalho tem por base teórica a Análise do Discurso de Linha Francesa, especificamente os postulados de Michel Pêcheux, e compreende um exercício de análise de uma dada discursividade manifestada no ambiente sala de aula, por ocasião do trabalho de leitura e compreensão de textos, no ensino de Língua Portuguesa. A materialidade que permite a constituição de uma outricidade para esta análise configura-se por um recorte das interações enunciativas e de registros escritos em atividades discentes, conduzidos por um “sujeito professor”, quando da apresentação aos alunos de uma lenda de orixás – uma modalidade de enunciado mais popularizado em face dos Itans Ifá, textos míticos oraculares de origem africana, dos quais nos ocupamos numa pesquisa mais ampla no curso de mestrado do Programa da Pós-Graduação emEstudos Linguísticos – PPGEL da Universidade Federal de Uberlândia –UFU. Diante do contato entre “sujeito professor”, “sujeitos alunos” e o discurso mítico-religioso de raiz africana, surgem os seguintes questionamentos: Em que condições se dá a (re) produção deste discurso no ambiente sala de aula? Que historicidade fundamenta esse acontecimento no ambiente sala de aula? O que evoca a memória discursiva? Que traços podem ser observados das possíveis formações discursivas presentes nessa sala de aula, nesse processo de interação enunciativa? E, por fim, quais as relações sentidurais, pela nossa clivagem de sujeito pesquisador, são passíveis de identificação?Sobre estas questões incumbe a este trabalho refletir, uma vez que podem contribuir para uma mais apurada compreensão das relações entre efeitos e sentidos produzidos a partir de tais enunciados de matriz africana. O DISCURSO POLÍTICO PRESENTE NO LIVRO DIDÁTICO: UMA ANÁLISE PELA VIA DE MICHEL FOUCAULT Renato Bernardo da SILVA – UFU [email protected] A presente Comunicação pretende demonstrar que os Discursos, em especial, o de ordem política, produzidos por intermédio dos textos presentes nos livros didáticos, disponibilizados pelos órgãos de Estado (Municipal, Estadual e no âmbito Federal) aos alunos de ensino médio, na disciplina Língua Portuguesa, são confeccionados respeitando a um regime de Procedimentos. Tais Procedimentos são definidos e fundamentados pela ótica dos estudos em Michel Foucault, mais precisamente, pelo livro intitulado “A ordem do discurso” (1970). Segundo o autor, o surgimento discursivo é delineado por manobras, combinações, organizações e funcionamentos, determinado por Procedimentos, com intuito de conjurar poderes e perigos, dominar o conhecimento aleatório e esquivar a pesada materialidade. Dentre inúmeros, o Procedimento de Interdição, sobre o qual 75 recairá nosso trabalho e funcionará como método, congrega: (i) Tabu do objeto; (ii) Ritual da circunstância; (iii) Direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala, elementos privativos que em diversos momentos, ora se cruzam, ora se reforçam, ora se compensam no formato de uma rede que processa constantemente mutações. Partindo dessa configuração, os Discursos constituídos pelo viés político vinculados ao livro didático não propagam tão somente informações de valor descritivo ou meramente reproduzem dados da vida empírica, revelam uma faceta ardilosa capaz de reunir em sua natureza aspectos sociais e elementos relativos e norteados pelo poder. Desse modo, as leis para produzir Discursos determinam previamente que sua propagação não poderá ser efetuada em qualquer espaço, não será permitido enunciar de forma completa sobre um determinado assunto e, por fim, o direito de dizer sobre um assunto que apetece será cerceado. O ÓDIO À LÍNGUA PORTUGUESA NA INTERNET: REPRESENTAÇÕES E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Eliana Maria Severino Donaio RUIZ - UNINCOR / USF [email protected] Este trabalho tem por objetivo analisar, da perspectiva francesa de Análise do Discurso, com incursões epistemológicas na obra de Michel Pêcheux e de seus seguidores e na de Michel Foucault, as representações de língua portuguesa que emergem do texto de perfil, da foto e de comentários de sujeitos integrantes da comunidade virtual Eu odeio a língua portuguesa!!, do site de relacionamentos Orkut. Considerando que a perspectiva discursiva enfoca efeitos de sentido sobre enunciações e modos de constituição de formas-sujeito, parece-nos possível tecer gestos de interpretação que nos indiciem acerca dos lugares discursivos ocupados por tais sujeitos e seus respectivos pares. A análise revela que o espaço social ocupado por esse grupo circunscreve-se à escola e seus atores mais imediatos, os alunos e os professores. Comprova-se a hipótese de que a gramática normativa corresponde ao imaginário desses sujeitos acerca da Língua Portuguesa, tendo em vista seu espaço privilegiado enquanto conteúdo disciplinar escolar, o que leva os sujeitos integrantes dessa comunidade a considerá-la uma língua difícil e instrumento de segregação social. A análise revela, ainda, que a discursividade da referida comunidade, tendo em vista a tomada de posição das instâncias-sujeito no interior da enunciação “fórum” nela proposto, incide sobre o ensino de língua portuguesa, contemplando, pois, sentidos produzidos em torno da política educacional de ensino de língua materna, suas metodologias, escolhas didáticas e enfoques pedagógicos, permitindo-nos problematizá-los. ENTRE ORGANIZAÇÃO E ORDEM DA LÍNGUA: UMA INVESTIGAÇÃO DISCURSIVA SOBRE A ABORDAGEM DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS EM LIVRO DIDÁTICO DE ENSINO MÉDIO Aline Danielly Leal da SILVA – UFCG [email protected] Esse trabalho parte do pressuposto de que o livro didático de língua portuguesa (LDLP) constitui-se como um instrumento linguístico (AUROUX, 2009 [1992]), uma vez que ele, além de promover descrições de linguagem e estudos metalinguísticos, constitui-se como meio de interagir socialmente, modificando as práticas linguísticas humanas. Desse modo, o objetivo principal é investigar em que formações discursivas (FDs) estão inscritas as concepções de língua e de gramática predominantes em umlivro didático do ensino médio – “Textos: leituras e escritas” de autoria de Ulisses Infante (volume único), tendo como critério de discussão a abordagem das orações subordinadas adjetivas, consideradas como termos estruturadores da frase. Para tanto, inicialmente, analisamos o manual do professor, em que estão materializados os fundamentos teórico-metodológicos propostos pelo livro, e, em seguida, investigamos, com base nos conceitos de ordem e organização (ORLANDI, 1996; 2009), a seção “Gramática aplicada aos textos”, em que 76 são abordadas as orações em estudo. Como aporte teórico-metodológico, adotamos os pressupostos da Análise de Discurso de linha francesa, dialogando com os estudos de Pêcheux (1990; 2010 [1988]); Gadet e Pêcheux (2004); Orlandi (1996; 2009); Indursky (2010). Resultados parciais indicam um conflito entre a FD da linguística da enunciação e a FD da gramática tradicional, com a predominância desta última. Esse fato contribui para a construção do imaginário de unicidade de língua, presente na predominância da abordagem didática sobre a organização em detrimento da ordem, o que evidencia a não consideração da língua em sua materialidade simbólica. A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS NA ARGENTINA: A CONFIGURAÇÃO DE UM ESPAÇO DE ENUNCIAÇÃO TRANSNACIONAL Angela Corrêa Ferreira BAALBAKi – UERJ [email protected] O presente trabalho tem como objetivo analisar alguns aspectos da formação de professores de português como língua estrangeira em dois textos oficiais argentinos – a lei 26.468, de 16 de janeiro de 2009, e o documento "Proyecto de mejora para la formación inicial de profesores para el nivel secundário”, produzido pelo Ministério da Educação da Argentina, que aborda questões relativas à formação inicial de docentes de línguas estrangeiras. Nossa análise fundamenta-se teoricamente nos conceitos advindos da Análise do Discurso definida por Michel Pêcheux, na França e, posteriormente, desenvolvida por Eni Orlandi, no Brasil. Além das contribuições dos trabalhos desenvolvidos no campo da História das Ideias Linguísticas no Brasil. Mobilizamos, sobretudo, os conceitos de língua transnacional (Zóppi-Fontana, 2009), acontecimento institucional (Guimarães, 2004), espaços de enunciação (Guimarães, 2004), espaços de enunciação ampliados (ZóppiFontana, 2009), e as formulações sobre as políticas linguísticas (Orlandi, 2007). Vale destacar que da posição teórica que assumimos a política linguística não está fora deuma determinada maneira de dividir a sociedade, em atribuir formas de falar para grupos sociais distintos. Em relação aos procedimentos metodológicos, recortamos sequências discursivas não só da referida lei argentina, como também da introdução e das metas do documento dedicado à formação de professores daquele país. Com a análise destes recortes, buscou-se responder uma questão: quais são as funções simbólicas que ocupa o PB nos cursos de formação de professores em um espaço político de enunciação? Em linhas gerais, por meio da análise da materialidade discursiva, podemos dizer que as disciplinas curriculares oferecidas funcionam também como instrumentos de gramaticalização (Auroux, 1992) da língua portuguesa – caracterizada duplamente como língua oficial do Brasil e como língua estrangeira – dentro de um espaço de enunciação transnacional (Zóppi-Fontana, 2009). O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA: CONTRAPONTO ENTRE O DISCURSO DA MÍDIA E OS PCN Márcia Fonseca de AMORIM – UFLA [email protected] O ensino da Língua Portuguesa tem recebido, nas últimas décadas, contribuições significativas dos estudos linguísticos. Essas contribuições, contudo, são frequentemente alvo de críticas de normativistas e/ou defensores de uma proposta de ensino calcada na tradição gramatical. O ensino da língua é constantemente confundido com a prescrição de normas gramaticais, e o que não corresponde a essa prescrição é considerado “erro”. Para os defensores dessa perspectiva teórica, não ensinar as regras gramaticais tais como são prescritas pela gramática normativa pode comprometer o futuro da língua portuguesa. Recentemente, foram veiculados em telejornais, jornais impressos, revistas de circulação nacional, reportagens e artigos com acusações aos autores do livro Por uma vida melhor, da ONG Ação Educativa, que, segundo a mídia, defende os “erros de concordância” no ensino da língua portuguesa; e ao MEC, por aprovar um livro que “ensina a falar 77 e a escrever errado”. A crítica se estende aos linguistas que passaram a ser tratados pela mídia como defensores do “falar errado”. Essa postura dos meios de comunicação não condiz com os estudos linguísticos de cunho sociocognitivista e sociointeracionista que tratam a língua como um fato social. Tendo em vista o conflito instaurado em torno do livro didático de Língua Portuguesa e partindo do pressuposto de que a constituição de um discurso envolve não apenas os enunciadores, mas a condição de produção, os outros dizeres com os quais inter-relaciona, o modo como esse discurso é disseminado numa dada sociedade, a ideologia evocada e/ou propagada por ele, o presente estudo propõe estabelecer um contraponto entre o discurso veiculado na mídia e a proposta de estudo dos PCN de Língua Portuguesa, com base na perspectiva teórica da Análise do Discurso de linha Francesa. UM ENSINO DE SUCESSO SEGUNDO OS DISCURSOS DA REVISTA VEJA Rita Maria Fonseca Matos CHAGAS – UPM [email protected] Bolsa Mérito Mack-Pesquisa Esta comunicação faz parte de um trabalho maior: minha Tese de Doutorado defendida em 2010, quando apresentei uma análise linguístico-discursiva de um corpus composto por 23 reportagens da Revista Veja,setor Educação, referentes ao ano de 2007. Neste trabalho, apresento uma reflexão em torno da reportagem (edição n. 1995 de 14 de fevereiro de 2007) intitulada: “Escola pública, gestão particular: umaparceria que melhorou o ensino público em 190 cidades brasileiras”. Analisam-se as estratégias linguístico-discursivas utilizadas pelos enunciadores com vista a demonstrar os desdobramentos éticos e políticos que advêm da forma mediante a qual os atores sociais da Educação são representados pela referida revista. Assume-se a hipótese de que os enunciadores utilizam o discurso tecnicista e o discurso neoliberal como base para solução dos problemas educacionais. Escolhe-se, como aparato teórico-metodológico, o paradigma qualitativo interpretativista, conforme discutem Moita Lopes (1994), Cavalcanti (1996), dentre outros. Emprega-se, como fundamentação teórica para as análises, os pressupostos da Análise do Discurso Crítica (ADC) segundo as contribuições de Fairclough (1997, 2001a, 2011b), Van Leeuwen (1997), os pressupostos da Linguística Sistêmico-Funcional são apresentados de acordo com Halliday (2004); as contribuições da Linguística Funcionalista conforme os estudos de Neves (2000); noções sobre ideologia são apresentadas segundo aponta Thompson (1996) e as noções de poder são problematizadas de acordo com os estudos de Foucault (2000). Os resultados das análises indicaram que a escola, os alunos e os professores ideais de Veja são aqueles que se enquadram nos moldes tecnicistas e nos moldes neoliberais, perspectivas que se complementam e transitam sobre o mesmo chão epistemológico da eficiência, do controle e da razão advindos do paradigma positivista. De modo geral os atores sociais da educação (sistema, professores e alunos) foram representados como objetos e como fins em si mesmos para se adequarem a um projeto maior: abastecer o mercado. EDUCAÇÃO: O DISCURSO QUE NÃO PARA NO TEMPO Valdoméria Neves de Moraes MORGADO – UFG [email protected] Neste trabalho, discutimos as relações discursivas que constituem enunciados de documentos históricos do Estado de Goiás e de textos midiáticos que abordam a imagem do professor do ensino público no Brasil. Nesse horizonte, um problema nos parece peculiar: trata-se de pensar nas práticas sociais da repetição constante da ineficiência da ação pedagógica dos professores. Ou seja, a emergência desse discurso tem provocado, e por muito tempo, a multiplicação de outros discursos que anulam, em muitos casos, o papel do professor, e mais que isso, apaga-se os responsáveis, de fato, pelo (in)sucesso da educação brasileira. Para a análise, fizemos um recorte temporal a partir de 1799, sem estabelecer uma ordem cronológica específica, mas para selecionar discursos que, na 78 dispersão histórica dos acontecimentos e dos sujeitos, fosse possível perceber as regularidades que atravessam esses dizeres. Poressa razão, tomamos, em Michel Foucault, as noções de documento e monumento, em Arqueologia do Saber, e as relações de poder que incide o verdadeiro que emana dessa relação, basicamente em Microfísica do poder. Assim, objetivamos verificar como os discursos sobre o professor, que é visto como despreparado para assumir a sala de aula, são construídos e de como se dá o funcionamento da redede verdades a partir do exercício do poder. Nesse aspecto, observamos que mesmo que os discursos se pareçam idênticos, trazem, em cada circunstância de aparição, novos sujeitos, novos objetos que fazem com que, a cada novo contexto, tais discursos também sejam considerados novos e verdadeiros. GRUPO TEMÁTICO 11: DO TEXTO DE APOIO À PRODUÇÃO TEXTUAL: A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO NO TEXTO ESCOLAR. COORDENADORAS: Ana Cristina Salviato SILVA (UNIFAE) – [email protected]; Sandra Salviato TERRA (UNISEB COC – Polo SRV) – [email protected] A proposta deste GT é discutir a produção do texto escolar considerando todo o processo da escrita. O percurso de elaboração textual inicia-se na leitura e interpretação dos textos de apoio, na bagagem intrínseca do aluno e, finalmente, no momento em que se redige o texto, em que se materializa o pensamento elaborado. Observa-se que nas salas de aula, em especial no Ensino Médio, a atividade de redação é sempre acompanhada por um trabalho significativo com textos que abordam variados temas, sobretudo aqueles que se colocam essenciais para a vida da sociedade, tais como saúde, meio ambiente, política, drogas, violência, entre outros. Verifica-se que, apesar de sua importância social, o uso dos textos de apoio, em muitos casos, condiciona à construção de um texto engessado no qual o aluno, preocupado com o politicamente correto, constrói seu raciocínio de modo limitado por valores sociais que nem sempre fazem parte da sua realidade ativa. Os textos, que deveriam ser utilizados como apoio ao raciocínio e reflexão individuais, podem levar o aluno à produção de paráfrases, baseadas em opiniões já cristalizadas pelo meio social. Dessa forma, questiona-se: o processo de produção textual na escola vem sendo utilizado como instrumento de formação de um indivíduo que se sente inserido e capaz de olhar a sociedade de forma crítica, avaliando-a e contribuindo para sua transformação por meio do material linguístico-literário? O GT proposto está aberto a qualquer linha teórica que se proponha a discutir o processo de produção do texto, levando em conta elementos textuais discursivos, argumentativos, gramaticais ou literários. A ATIVIDADE PARAFRÁSTICA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS DO TEXTO EM CONTEXTO ESCOLAR Cássia Regina Coutinho SOSSOLOTE – UNESP [email protected] Há unanimidade na comunidade linguística que se mostra nos documentos oficiais que instruem a prática do professor de Língua Portuguesa de que se deve simular situações para a produção de textos em contexto escolar sem perder de vista princípios oriundos de Teorias Enunciativas que permitam aos alunos, no processo de atribuição de sentidos ao texto, considerar a situação em que o texto foi produzido, a intenção de significação que presidiu a sua construção bem como a identificação dos enunciadores implicados em sua construção. A experiência a divulgar diz respeito a trabalho realizado com graduandos de Letras que cursaram Prática de Ensino de Grego e Latim. Tendo selecionado as fábulas de Esopo como objeto desta disciplina, focalizamos, inicialmente, a estrutura da fábula composta de discurso narrativo, discurso metalingüístico e discurso moral (LIMA, 1964). Os efeitos de sentido produzidos pelo discurso metalingüístico que se materializa na fábula por meio de expressões como “A fábula mostra que [...]”, por exemplo, leva o leitor a acreditar que na narrativa um sentido foi construído, retomado, por sua vez, na moralidade. Partindo deste princípio, problematizado em momento posterior, solicitamos que a intenção de significação construída no discurso narrativo fosse reconhecida pelo aluno sem o recurso a moralidade.Na 79 comparação entre os sentidos reconhecidos pelos alunos pôde-se constatar que o discurso narrativo é polissêmico, uma vez que foram construídas diferentes relações sinônimicas entre um discurso e outro. Consideramos que esta atividade parafrástica permitiu, posteriormente, demonstrar como “o fabulista" ou os compiladores da fábula buscaram controlar a polissemia do discurso moral, atribuindo ao discurso narrativo um único sentido na moralidade, fato que denota a situação enunciativa em que a fábula foi produzida, o sentido intencionado, e os co-enunciadores, que ficam mais visíveis quando se compara diferentes fábulas de “Esopo”. A INTENÇÃO DO SUJEITO ENUNCIADOR PRESENTE NAS MARCAS DO DISCURSO MODALIZADO – UMA SONDAGEM NAS RELAÇÕES LÉXICO-GRAMATICAIS Gloria Edini Dos Santos GALLI – UFSCAR [email protected] Este trabalho fundamenta-se em redações escolares, com alunos do Ensino Fundamental II, 2º ciclo e propõe uma investigação com olhar sobre os mecanismos enunciativos presentes nestes textos. Este estudo ancora-se, mais especialmente, na teoria das operações predicativas de Antoine Culioli, que se fundamenta pelas operações de representação mental, referenciação e regulação, responsáveis por sustentar a atividade de linguagem - a inserção do sujeito, mais precisamente, das intenções do sujeito na composição dos enunciados. O corpus da pesquisa foi constituído por narrativas. Dentre as questões observadas neste tipo de texto, tomou-se uma para análise - o momento em que o aluno (sujeito enunciador) rompe com aquele plano enunciativo e generaliza o discurso, trazendo para o texto, suas características físico-sócio-culturais, seu conhecimento de mundo. Busca-se, pois, as marcas linguísticas, expressões modalizadoras, que traduzem essa generalização/ singularização, ou seja, o momento em que ‘emerge’ esse sujeito crítico – uma situação, que pode ser vista como um ‘erro’, mas na visão da teoria em que o trabalho se ancora, essa desconectividade, é vista como uma situação de ‘ganho’, ou seja, a instauração de diferentes planos, embora esse processo não esteja ainda bem construído pelo aluno. Ele está, pois, na iminência de uma construção desejável. É preciso que o professor ofereça um trabalho a partir dessas marcas linguísticas identificadas que, ao invés de submetê-lo a um quadro metodológico que vai inibir sua ação participativa, possa ajudá-lo a expressar-se com criatividade, auxiliando-o a aumentar sua capacidade discursiva. Propõe-se, a partir das análises feitas, criar um referencial teórico que explique as diversas modalizações ocorridas pelas operações predicativas. A INTERDISCURSIVIDADE EM REDAÇÕES DE ALUNOS SOB O PONTO DE VISTA DA SEMIÓTICA Márcia Andrade MORAIS – UFRJ [email protected] O presente trabalho busca investigar a presença de outras vozes nas redações de alunos do ensino médio, buscando perceber os discursos que perpassam tanto os textos de apoio como os textos dos alunos. Partindo da perspectiva da teoria semiótica de linha francesa, busca-se traçar um caminho de significação dos textos, tendo em vista o modo como o texto diz o que diz, analisando o nível discursivo da etapa do percurso gerativo de sentido, principalmente a semântica discursiva, verificando os procedimentos discursivos e as estratégias utilizadas para construir uma orientação argumentativa nos textos, considerando, sobretudo, os efeitos de sentido causados em determinada escolha discursiva. Tendo como base para análise a teoria semiótica greimasiana, compreendem-se também as importantes contribuições de Bakhtin a respeito do discurso dialógico, que pressupõe a existência de duas vozes, demarcadas ou não, em todo o enunciado, para o exame da heterogeneidade nos textos, constituindo os vários discursos que denotam determinados valores e ideologias. Para tanto, recolheu-se um corpus composto de redações de alunos do ensino médio, 80 escritas sob a tipologia predominantemente argumentativa. Nesse corpus, verificam-se os temas e figuras que perfazem os percursos temáticos e figurativos dos textos dos alunos e que são comuns aos textos de apoio disponibilizados na composição do enunciado da proposta de redação. Assim, discute-se a respeito das questões de originalidade e criatividade na abordagem do tema pelos alunos, a exploração de um senso comum, refletindo também sobre a pouca variedade de pontos de vista inscritos nos textos de apoio que oferecem suporte para o desenvolvimento de um texto autônomo dos discentes. FORMAS DE CITAÇÃO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E EM TEXTOS JORNALÍSTICOS Duane VALENTIM – UFSCAR [email protected] Este trabalho aborda questões de ensino/aprendizagem de língua sob a ótica enunciativa e investiga os mecanismos de instauração discursiva, quer seja, as formas de citação discursiva, tais como, os discursos direto, indireto e indireto livre. Essas três formas de citação, se observadas em textos jornalísticos e em textos literários, comportam-se de maneira diferente daquele preconizado pelas gramáticas e materiais didáticos e, então, vislumbrado nas produções de textos escolares. Enquanto nesses últimos focalizam-se as regras de pontuação ou as regras de transposição do discurso direto ao discurso indireto, nos demais contextos - entre os quais selecionamos o meio jornalístico e o meio literário - é possível observar a quebra de regras pela imbricação dessas formas de citação, o que gera variados sentidos. Julgando que essa imbricação de formas discursivas, nem sempre condizente com as normas linguísticas, possa tratar-se de uma estratégia linguística interessante que põe em relação a subjetividade e a objetividade ou a aproximação e o distanciamento entre interlocutores, consideramos pertinente repensar o modo como o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre são abordados e avaliados no ensino de língua, em especial, no processo de produção de texto, uma vez que o objetivo do ensino de língua é desenvolver a capacidade discursiva dos alunos. Como suporte deste trabalho, nos apoiamos na Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas, referencial teórico que tem Antoine Culioli como fundador e pela qual pretendemos mostrar a pertinência de se abordar no ensino, a articulação entre a produção textual e as formas de citação discursivas. SITUAÇÕES DE ESCRITA NA FORMAÇÃO DO LEITOR LITERÁRIO: UMA EXPERIÊNCIA DE REESCRITA DE CONTO COM CRIANÇAS DE SEIS ANOS Ana Cláudia Santos NICOLAU – CEFV [email protected] Formar o leitor literário é um objetivo do ensino de Língua Portuguesa desde o início da escolaridade. No intuito de alcançar esse propósito, os encaminhamentos em sala de aula estão comumente vinculados à leitura de contos e poemas, bem como a posteriores debates ou comentários sobre as obras. O objetivo desse trabalho é evidenciar o quanto essa formação pode ser potencializada quando não permanece restrita apenas a situações de leitura, mas também seja foco de análise e intervenções em situações de escrita. Para tanto, conta com a análise de um projeto de reescrita do conto clássico Chapeuzinho Vermelho em uma classe de 1º ano do Ensino Fundamental. Sob a ótica de uma concepção construtivista de ensino, buscou-se validar propostas, encaminhamentos e intervenções que, potencialmente, possam contribuir para uma formação do leitor iniciante de literatura mais amplo. A hipótese inicial era que, ao analisar versões diferentes do mesmo conto em situações de leitura compartilhada – e, posteriormente, voltar a essas observações no momento de textualização e revisão da reescrita, as crianças pudessem chegar a interpretações mais aprofundadas sobre os contos de fada. No decorrer de um projeto, as crianças atuaram como 81 usuárias de todos os âmbitos das práticas de linguagem, por meio de leitura analítica de versões da narrativa, planejamento, textualização em pequenos grupos e em duplas, revisão e edição de suas reescritas. Os resultados obtidos após a análise evidenciam o quanto é possível propor análises literárias mais refinadas a crianças de apenas seis anos de idade, bem como proporcionou a percepção do quanto leitura e escrita se complementam ao longo do projeto, com eficazes entradas nas quais os alunos são convidados a compreender, extrair significados, comparar, relacionar, refletir – e, dessa forma, aproximando-se com mais consistência de se tornarem usuários competentes da Língua Portuguesa. A PRODUÇÃO DO TEXTO DE OPINIÃO NO CONTEXTO ESCOLAR Sandra Salviato TERRA – UNISEB [email protected] O presente trabalho realiza uma análise comparativa de textos escolares na modalidade dissertativa, produzidos por alunos do Ensino Médio, especificamente, na rede particular de ensino. Os textos que compõem o corpus de análise permitem a percepção de diversos processos geradores de sentido, bem como os elementos de progressão textual que qualificam um texto como bem sucedido (elementos de coesão, coerência, recursos de estilo, proposições, induções, deduções, citações, entre outros recursos de escrita). Nesse processo de escrita, em que o sentido passa a ser gerado mediante o encadeamento de ideias, observam-se os elementos que permitem ao emissor efetuar a criação de um texto opinativo que, estruturalmente, diferencie-se do processo comum de paráfrase dos textos de apoio ou de base, frequentes nas propostas de elaboração textual de âmbito escolar. Também são analisadas as relações de inferência e referência que se processam no ato de escrita e que permitem ao autor tornar seu texto uma produção pessoal, distanciando-o, efetivamente, da colagem de ideias. Observa-se, porém, que o processo reflexivo-opinativo que se espera do produtor textual nessa etapa escolar é tendencioso à paráfrase dos textos de apoio e pode ser, frequentemente, desvinculado do processo de reflexão autônoma, necessário para o fortalecimento de uma mente criativa e de construção de um indivíduo que possa ser atuante na sociedade por meio da modalidade de comunicação escrita. Portanto, é necessário que os professores favoreçam por meio de métodos e direcionamentos a forma de elaboração do texto escrito escolar, incentivando a autonomia e reflexão. A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO EM TEXTOS PUBLICADOS NA REVISTA VEJA, UMA PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA TEXTUAL Reginaldo Lima SILVA – UNIRG [email protected] Este trabalho tem por finalidade analisar a construção do sentido em textos publicados na revista Veja, os fatores envolvidos em sua produção e recepção, destacando os princípios da Textualidade, com ênfase ao aspecto da intertextualidade, conteúdo e/ou forma, como mecanismo linguístico responsável pelo efeito de sentido evidenciado nos textos, uma perspectiva da Linguística Textual. Nesse sentido, esse estudo desenvolve-se de acordo com o postulado dialógico de Bakhtin (1929), de que um texto (enunciado) não existe nem pode ser avaliado e/ou compreendido isoladamente: ele está sempre em diálogo com outros textos, revelando uma relação radical de seu interior com seu exterior, ou seja, não podemos construir um texto sem nos ligarmos a outros textos previamente enunciados. É demonstrada também, a situação em que os textos foram produzidos (contexto histórico). Portanto, o corpus de análise dessa pesquisa constada propaganda “Ford planeta sustentável” e publicidade “Botas Timberland”, publicadas no período de 2010/2011, que dialogam com textos de Mario Mariotti “Arte nas mãos” e outros bíblicos. Desse modo, esse trabalho visa contribuir para o reconhecimento da intertextualidade, mostrando que seu processo de compreensão depende do conhecimento de outros textos pré-existentes por parte dos interlocutores, sendo de suma importância para o estabelecimento dos tipos e gêneros de texto na medida em que os 82 relaciona e os distingue, além de colaborar para a coerência textual. Dessa forma, o tema da intertextualidade, abordado nos termos de um diálogo é imprescindível porque ao mesmo tempo em que explica as diferenças, revela as semelhanças de pontos vista, constituindo-se um caminho para a interpretação. A PRODUÇÃO DE TEXTO NO ENSINO DE LÍNGUA: PROCESSOS DE LEITURA Marilia Blundi ONOFRE – UFSCAR [email protected] A discussão proposta acerca do exercício de produção e interpretação de texto no ensino de língua assenta-se sobre os seguintes pontos: i. o que se pretende alcançar com esse exercício, e, ii. qual prática adotar para cumprir tal objetivo. Tais questões, presentes nos documentos responsáveis pelas diretrizes do ensino, referem-se, respectivamente, ao desenvolvimento da competência discursiva do aluno e às práticas que levam o aluno a refletir sobre a produção textual. Assume-se, assim, uma perspectiva dialógica no ensino, o que significa conceber a linguagem como meio de interação e a língua como a materialização discursiva. É preciso considerar, no entanto, que, sob essa perspectiva, inscrevem-se diferentes abordagens linguísticas que podem servir de referenciais para o ensino. Observa-se que o trabalho com a produção textual na escola faz-se sob várias óticas discursivas e dentre elas pretendemos por em discussão, e em oposição, de um lado, aquelas que consideram o texto enquanto processo gerador da significação, e, de outro, aquelas que consideram o texto enquanto produto que traduz uma dada estabilidade sociodiscursiva. Defendendo a primeira posição, apoiamo-nos no quadro enunciativo proposto por Antoine Culioli a partir do qual ressaltamos a relevância de se abordar, no ensino, processos criativos pelos quais os alunos se constituem como sujeitos. Nesse contexto, observaremos, na produção textual de alunos, ocorrências linguísticas pelas quais podemos deflagrar o exercício linguístico-cognitivo do sujeito enunciador na constituição de um dizer. Trata-se da leitura que o aluno/sujeito enunciador estabelece com noções semântico-discursivas preconstruídas, sempre presente como ponto de referência para a produção textual, seja de modo implícito seja explícito , quando em presença de um texto de apoio. Tais ocorrências, instaladas na fronteira entre construções linguísticas mais ou menos adequadas, traduzem a emergência de processos linguístico-cognitivos, e dessa forma caracterizam-se como dados a serem explorados no ensino. ENTRE A INFRINGÊNCIA POR ERRO E POR PROJETO: UM ESTUDO SOBRE A MARCA "PRÓXIMA" Stéfano Grizzo ONOFRE – UFSCAR [email protected] A Teoria das Operações Predicativas e enunciativas de Antoine Culioli teoriza a atividade de produção de significação deflagrada pelo agenciamento das marcas linguísticas. Nesse contexto, a produção e o reconhecimento de textos são resultado de um trabalho do sujeito enunciador. Desse modo, a enunciação é uma atividade ininterrupta, pois o sujeito enunciador deve equilibrar-se a todo o momento diante de si próprio e do outro. Essa espessura dialógica revela a indeterminação das marcas linguísticas; ou melhor, revela que a determinação é um ponto provisório sempre sujeito a revisão e a reformulação. A tese de indeterminação da linguagem faz com que polarizações clássicas como denotação e conotação, língua e linguagem, errado e certo se tornem insustentáveis. Tal orientação teórica leva-nos a questionar se uma ocorrência linguística do termo “próxima”, em contexto de deslocamento enunciativo, pode apenas ser relacionada ao eixo enunciativo, e, se em ocorrências em que o termo “próxima” aparece no eixo enuncivo, ela é uma ocorrência que 83 transgride regras de boa formação do enunciado, revelando, portanto, um sujeito enunciador não criativo, o qual desconhece o uso correto dos mecanismo enunciativos. O estabelecimento dessa distinção precisa entre o uso “correto” e o uso “deslocado” de uma marca linguística é sugerido por Fiorin. A recuperação dessa discussão de Fiorin levanta problemas do ponto de vista da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas, qual seja, a impossibilidade de colocar etiquetas de usos aceitáveis e inaceitáveis quando se considera a dinamicidade dos processos de predicação. Acreditamos que repensar deslocamentos enunciativos sob a perspectiva da enunciação culioliana apontam caminhos para uma nova contextualização do modo de se compreender esse fenômeno no ensino/aprendizagem de produção e interpretação de textos. MARCAS COESIVAS E SUAS NUANCES DISCURSIVAS Eliane Cristina Lopes MARCHETTI – UFSCAR [email protected] (Apoio CAPES) O objetivo deste trabalho é pesquisar como se dá a coesão, mais especificamente o processo tradicionalmente conhecido como referenciação, em textos de alunos do terceiro ano do Ensino Fundamental e proporcionar atividades que possam ajudá-los a refletir sobre as diversas possibilidades de uso dos recursos coesivos. O trabalho está sendo pautado na Teoria Predicativa Enunciativa de Antoine Culioli (1990) que trabalha com a articulação entre linguagem e línguas naturais. Busca-se também estabelecer pontos de encontro com a teoria construtivista desenvolvida por Jean Piaget. A pesquisa está sendo desenvolvida com alunos do terceiro ano do Ensino Fundamental. Para o corpus, coletamos, aproximadamente, cem narrativas produzidas pelos alunos. A partir do embasamento teórico fornecido pelas leituras e discussões realizadas, estamos analisando como os alunos constroem seus textos e fazem uso dos recursos coesivos em reescritas de narrativas e propondo, paralelamente, um trabalho de reflexão por meio de atividades parafrásticas e epilinguísticas. Por último, serão relatados os resultados obtidos ao longo do trabalho. Trabalhamos com a hipótese de que a coesão vista apenas como um recurso de “substituição”, para evitar repetições, não garante ao aluno a compreensão sobre os aspectos discursivos e qualitativos de seus textos. Pelo que desenvolvemos até o momento, percebemos que as leituras realizadas tem enriquecido nossa compreensão sobre o assunto e que já é possível constatar que as produções recentes dos alunos, após o trabalho que se propôs realizar com os mesmos, mostram diferenças qualitativas quanto ao aspecto trabalhado. O PAPEL DAS PARCERIAS NA PRODUÇÃO TEXTUAL: AS DIFERENTES REFLEXÕES COLOCADAS EM JOGO NA SALA DE AULA Miruna Kayano GENOINO – CEFV O trabalho que aqui se apresenta, fruto da monografia de finalização do curso de Pós-Graduação latu-sensu teve como objetivo principal analisar as discussões mantidas por alunos do Ensino Fundamental I durante uma situação de produção textual, buscando identificar como as diferentes trocas verbais mantidas entre dois alunos que ainda enfrentam diferentes desafios ao reescrever um texto conhecido podem favorecer a aprendizagem em língua portuguesa. Esta situação foi analisada sob a luz da concepção construtivista de ensino e aprendizagem, tendo também como referência a teoria dos gêneros discursivos e a teoria Vygotskiana de aprendizagem. Este marco teórico esteve acompanhado da metodologia de observação prática da situação acima mencionada. A hipótese principal do trabalho centrava-se na importância para a aprendizagem da leitura e da escrita, das conversas, discussões e trocas mantidas entre os alunos durante a reescrita de um texto, ou seja, de como a possibilidade de produzir um texto de forma compartilhada não oferece apenas uma ajuda para conseguir realizar a tarefa, mas também constitui-se como uma potente situação na qual diferentes aprendizagens são colocadas em jogo. Os resultados obtidos na pesquisa permitiram 84 identificar que as discussões dos alunos são extremamente ricas e complexas e podem ser categorizadas de maneira a orientar a análise dos benefícios deste tipo de situação para a aprendizagem dos alunos. Os alunos mostraram que ao produzir em parceria tinham o desafio de discutir com seus colega aspectos discursivos e notacionais do texto, situação que permitia que diferentes conteúdos da língua fossem analisados pelos produtores de texto no momento de tomarem as decisões inerentes a uma situação de produção escrita. O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE NOS TEXTOS DIDÁTICOS Ana Cristina Salviato SILVA – UNIFAE [email protected] O trabalho ora proposto resulta de reflexões desenvolvidas ao longo de nossa trajetória acadêmica e, mais recentemente, profissional. Trata-se da observação do trabalho docente e na recepção discente acerca da construção do sentido no processo de escrita. Mais especificamente, a partir do tema “Noções de Sustentabilidade”, serão analisados os textos didáticos que, de alguma forma propõem reflexões a respeito do conceito de desenvolvimento sustentável. Para isso, a pesquisa utilizará o conceito de noção proposto pela Teoria das operações predicativas e enunciativas, de Antoine Culioli. O linguista concebe a linguagem como uma atividade de produção de significação desenvolvida por interlocutores em interação, a qual manifesta-se por meio da língua. A Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas propõe um estudo de língua baseado na articulação entre esta e os processos de linguagem, resultando em uma gramática de produção linguística. Neste sentido, o processo de produção da escrita se dá de forma dinâmica e se deixa compor de diferentes maneiras para se chegar ao sentido que se quer criar. Será ainda utilizado, para fins de organização temática, algumas técnicas da análise de conteúdo, de modo que a temática da Sustentabilidade seja melhor visualizada no decorrer da pesquisa. Os resultados da pesquisa apontarão para dois caminhos importantes no contexto escolar: o primeiro, voltado para o processo de produção textual, mostrará propostas de cunho linguístico que ajudarão o professor no desenvolvimento dos temas de redação, oferecendo possibilidades de agregar o ensino de redação à reflexão acerca da língua e da linguagem. O segundo, de cunho social, mostrará o papel dos textos didáticos na divulgação do conceito de Desenvolvimento Sustentável, colocando em questão a maneira como este conceito tem chegado até o aluno e a profundidade teórica e científica dos textos em questão. GRUPO TEMÁTICO 12: EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA COORDENADORA: Flaviane REIS (UFU) – [email protected] A presente pesquisa demonstra um estudo voltado para a melhoria do ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos. Como ensinar, aprender e usar a metodologia específica diferenciada na lingüística, na cultura, na identidade aos dos ouvintes, que pudesse ressaltar os procedimentos da modalidade escrita pelos surdos, e que pode apresentar reflexões sobre o ensino de língua portuguesa para surdos, considerando as proposições oficiais para o ensino. O foco desse eixo temático são estudos de como ensinar a língua portuguesa para surdos considerando que os mesmos são usuários da língua de sinais como primeira língua, utilizando o ensino bilíngue como uma fronteira linguística, repensando sobre quais concepções de língua e de cultura constituem o imaginário do documento do CENESP/MEC de 1979, MEC 1997 e MEC 2002. Antigamente, a Língua de Sinais não era valorizada. A partir da regulamentação da Libras como língua oficial do Brasil, através da Lei 10.436/2002, o objetivo principal, no que se refere à educação de surdos, passa a ser o ensino de língua de sinais como primeira língua e língua portuguesa como segunda língua. Assim os alunos deveriam estar adaptados para a convivência na sociedade em geral inseridos no contexto da educação, de um modo geral, mas no ambiente lingüístico para surdos com 85 o uso da Libras como língua de instrução (L1) e da língua portuguesa como segunda língua (L2) para surdos. Dessa forma, respeitando a língua dos surdos, que poderão encontrar nesse cenário uma espécie de fronteira lingüística, com a experiência de vida surda privilegiada no ambiente lingüístico através da Libras e com o aprendizado do português escrito, mecanismo essencial para esse sujeito, que convive numa sociedade de maioria ouvinte e usuária da Língua Portuguesa. A CONSTRUÇÃO DE INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM DE PORTUGUÊS POR SURDOS Neiva de Aquino ALBRES – UFSCAR [email protected] Atualmente os estudos apontam que a Língua Portuguesa escrita deve ser ensinada aos surdos como segunda língua, já que não ouvem a língua usada no país e como falantes de Libras seria improvável a aprendizagem da escrita como língua materna. O decreto nº 5.626/2005 considera que o aluno com surdez tem direito a uma avaliação diferenciada. Percebemos que o fracasso escolar do aluno surdo muitas vezes está na forma como é conduzida a aprendizagem da leitura e escrita da Língua Portuguesa, como também pelos instrumentos de avaliação adotados na escola que o comparam ou esperam uma produção como a de uma criança ouvinte. O intuito deste trabalho é o de compartilhar modos, saberes e fazeres relacionados ao processo de avaliação da Língua Portuguesa. Apresentamos caminhos trilhados por um grupo de professores em formação continuada em escola bilíngue para surdos e a produção de instrumento avaliativo. Para este fim nos fundamentamos na linguística aplicada que indica formas mais apropriadas para elaboração de instrumentos para avaliar o conhecimento linguístico de aprendizes de segunda língua. Analisamos uma prova de português do 8º ano do EF. A amostra de prova analisada revela uma preocupação na busca de objetivos mais realistas para o uso do conhecimento adquirido da segunda língua. A competência linguística avaliada na prova vai ao encontro das definições de Richards (2006) para as competências para a proficiência em leitura, pois as questões procuram abordar a competência gramatical (três questões), a competência sociolinguística (uma questão), competência estratégica (duas questões) e competência discursiva (duas questões). Constatamos que professores bilíngues com fundamentação teórica podem construir uma avaliação adequada à condição linguística dos surdos e minimizar o processo discriminatório que perpassa pela avaliação. AS IDENTIDADES CULTURAIS NAS BI-LÍNGUAS PELOS SUJEITOS SURDOS: LIBRAS E LÍNGUA PORTUGUESA Janaina Pereira CLAUDIO – PUCRS [email protected] O presente artigo tem por objeto uma abordagem introdutória sobre a educação do surdo, em escolas do Brasil, considerando as identidades culturais destes grupos. Suas línguas expressam uma forma de compreender o outro, através da comunicação. Os sujeitos surdos, que recebem informações pela Língua Brasileira de Sinais não só apresenta a possibilidade de construir conceitos e de relacionar-se com o ambiente educativo, social e cultural. Porém, recebe também diferente caminho que lhe permitirá entrar nas “Identidades Culturais nas Bi-línguas pelos sujeitos surdos: LIBRAS e Língua Portuguesa” onde representa a aquisição de duas línguas se dão espaço de forma do conhecimento entre dois mundos. Colocando os novos impactos desta visão no mundo do direito da educação e partindo de uma pirâmide política, onde a narrativa é exposta a partir do sujeito surdo. Além disso, as análises pretendem contribuir para a discussão da comunicação digital de uma leitura geral, que está vinculada aos discursos sobre identidade, cultura e diferença. Nesta investigação, em busca de alguns recortes postados no mural do facebook, pelos sujeitos surdos: revemos algumas situações, revisitamos os desafios e as lutas de transpor para o direito da língua, a experiências de aproximar o mundo dos surdos, relacionando a convivência nestas duas culturas 86 diferentes. Esta possibilidade, a evolução da tecnologia influencia os sujeitos surdos, o modo do saber, de narrar, de articular com outros. A escola, a comunidade surda, tem por missão conhecer, aprender, principalmente o valor do saber e do poder, de modo que os sujeitos surdos também desempenham um papel importante, a continuidade da bandeira da língua dos surdos. ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS POR MEIOS GÊNEROS TEXTUAIS: UMA ABORDAGEM SOBRE GÊNEROS EM LIBRAS Cleuzilaine Vieira da SILVA – UFSJ [email protected] No Brasil, os estudos linguísticos dos sinais ainda são recentes. A Língua de Sinais Brasileira – LIBRAS, foi oficializada a partir da Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 e posteriormente com o decreto 5.626 de 22 dezembro de 2005, que dá outras providências quanto ao uso e ensino da língua e a formação dos intérpretes. Os surdos brasileiros produzem fábulas sinalizadas, assim como outros tipos de gêneros textuais em Libras. O reconhecimento desta língua como oficial dos surdos brasileiros, impulsionou a inclusão de surdos no ensino regular e também propiciou o reconhecimento da cultura e identidade dos surdos. Nesse sentido, as pesquisas quanto às produções em linguística acerca da Libras são poucas, justificando a importância do presente trabalho, na busca de evidenciar elementos culturais da comunidade surda brasileira.O tipo de leitura, análise e produção por pessoas surdas é voltada para prática social de linguagem, ligada a sua cultura, história e ideologia. Na poesia, essas práticas são expressas na beleza dos movimentos, num sentido de propor uma sintonia entre os movimentos e configurações de mãos. Para registro dos textos produzidos por surdos, as mídias visuais, as redes sociais e os sites de armazenamento de vídeos tem sido o principal veículo de divulgação de textos sinalizados por surdos. Os surdos se expressam por meio da língua de sinais, mas também se utilizam desta para a produção de seus textos, que mesmo em modalidade diferente também são coerentes.Os surdos ensinar para outros surdos por meio de metáforas contando e recontando histórias a partir de visões modificadas das realidades vivenciadas durante anos de exclusão. ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: CULTURA SURDA EM FOCO Bruno Gonçalves CARNEIRO – UFG [email protected] Keli SOUZA – UFU [email protected] Considerando a relação intrínseca entre língua e cultura, o aprendizado de uma segunda língua faz com que enxerguemo-nos como sujeitos culturais. Figueiredo (2007, p. 49) menciona que esse processo oportuniza o aluno a se ver diante de “oportunidades singulares que poderão guiá-lo ao reconhecimento de tudo aquilo que direciona suas próprias atitudes”. A comunidade surda é bilíngue e bicultural (QUADROS; SPENCE, 2006) e o professor de portuguesa para surdos deve reconhecer a existência desses mundos, conduzir o aluno para o contato entre português/ cultura ouvinte e libras/ cultura surda, pois para decodificarmos certas mensagens, é necessário compreendermos contextos culturais. O objetivo deste trabalho é apresentar aspectos sobre a cultura surda observados em aulas de português para uma turma de alunos surdos. A oficina abordou conceitos como língua e linguagem, modalidade, polissemia e metáfora na língua portuguesa (FARIA-NASCIMENTO, 2006). Esses conceitos foram abordados inicialmente com base na libras e depois na língua portuguesa. Após as apresentações iniciais, a turma deu um sinal para um dos participantes da oficina, que até então, não convivia com a comunidade surda. Interessante observarmos a importância do contato surdo-surdo para a constituição da identidade surda (PERLIN, 2005). No decorrer da oficina, os alunos exemplificaram situações que contrastavam com 87 a língua portuguesa. Vimos a construção de um “ambiente surdo”, baseado na língua de sinais, para só depois, ser contrastado com a língua portuguesa. Sugerimos que o ensino de português para surdos deve partir de uma zona de conforto cultural e linguístico. Nesse sentido, deve-se prestigiar a cultura surda na construção de conhecimento. É necessária também a formação de professores surdos de língua portuguesa. ESTÁGIO SUPERVISIONADO E EDUCAÇÃO DE SURDOS: A IMPORTÂNCIA DO BILINGUISMO Paulo Sérgio de JESUS – UFU [email protected] Marisa Pinheiro MOURÃO – UFU [email protected] Este trabalho procura apresentar relatos da disciplina de Estágio Supervisionado realizada no curso de graduação em Letras Libras (licenciatura) da Universidade Federal de Santa Catarina, concluída no ano de 2011. O estágio foi desenvolvido na Associação de Surdos (ASUL) localizada no município de Uberlândia – MG, no período de agosto a dezembro. A ASUL atendia, à época, trinta e um alunos surdos por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O objetivo geral do estágio consistiu em trabalhar com o tema Fonética e fonologia da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Além disso, procurou-se também abordar os aspectos linguísticos da língua de sinais referentes aos pares mínimos em Libras. A metodologia utilizada foram aulas teóricas expositivas, com espaço para debates e trocas de opiniões entre professor e alunos. A avaliação foi pautada na observação do progresso do aluno em relação ao conteúdo e a aprendizagem. Como referencial teórico nos respaldamos na legitimidade da Libras como meio natural de comunicação dos surdos brasileiros, considerando que por meio desta é possível promover o seu desenvolvimento afetivo, cognitivo, social e cultural. A partir do estágio foi possível perceber que os professores ouvintes que trabalham com os alunos surdos ainda não são capacitados e não dominam a Libras, como língua de instrução. Até mesmo com os alunos surdos foi possível perceber a falta de domínio da “norma culta” da Libras, ou seja, a sua gramática. Como as aulas propostas pelo professor surdo foi possível perceber o envolvimento dos alunos com o tema, especialmente com o reforço dos estímulos visuais para os surdos e pelo fato do ensino ser ministrado em Libras. Houve um desenvolvimento satisfatório na turma, pois o ensino da fonética e fonologia permitiu um conhecimento e uma aproximação maior com a Língua de Sinais. FRONTEIRAS LINGUÍSTICAS E CULTURAIS NO PROCESSO DE ENSINOAPRENDIZAGEM: CONTRAPONDO AS TURMAS COM SURDOS ÀS DE SURDOS Carlos Henrique RODRIGUES – UFJF [email protected] Luciana de Assis MIRANDA – UFJF [email protected] (Apoio BIC/PROVOQUE-UFJF) Com o Decreto 5.626/05, a formação de turmas com surdos e, até mesmo, de turmas somente de surdos nas escolas públicas brasileiras tornou-se mais evidente e as discussões acerca da Libras na educação e do ensino do Português como segunda língua mais intensas. Considerando esses dois espaços específicos de produção e apropriação de conhecimentos, os quais se constituem como territórios de fronteiras, no sentido de que se caracterizam por encontros culturais e linguísticos, propomos uma reflexão acerca das especificidades desses espaços, bem como de suas implicações e impactos no processo de ensino-aprendizagem da Libras e do Português como segunda língua. Entendemos que as fronteiras culturais constituem e caracterizam não só a sociedade contemporânea, mas o processo de escolarização, exigindo dos participantes do contexto escolar o 88 domínio e exploração de múltiplos sistemas semióticos e conhecimentos linguísticos e culturais. Portanto, a construção de oportunidades de aprendizagem e participação em sala de aula relacionase à maneira pela qual os seus participantes – alunos, professores e intérpretes – lidam com as diferenças linguísticas e culturais e relacionam as diversas pistas de contextualização para entender os objetivos de e como participar em o processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, numa abordagem etnográfica (GREEN, DIXON, ZAHARLICK, 2005), utilizamos dados coletados por meio de observação participante (SPRADLEY, 1980) (1) numa turma de surdos com professores ouvintes falantes de Libras e sem intérprete de sinais, em 2007-2008, numa escola em Belo Horizonte, MG, e (2) numa turma com surdos com professores ouvintes não-falantes de Libras e intérprete de sinais, em 2010-2011, numa escola em Juiz de Fora, MG. A investigação evidenciou a realidade do atual processo educacional de surdos, oferecendo importantes contribuições para se refletir acerca do ensino do Português como segunda língua em turmas com surdos e em turmas de surdos. LITERATURA BRASILEIRA EM QUADRINHOS COMO AUXÍLIO LINGUÍSTICO PARA SURDOS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA Diogo Souza MADEIRA – IFSUL [email protected] Esse presente artigo apresenta o resultado de uma prática pedagógica do ensino de Língua Portuguesa realizado, na Escola Alfredo Dub, uma escola de surdos, localizada na cidade de Pelotas, no Sul do Estado do Rio Grande do Sul. O intuito da prática pedagógica era analisar a participação dos alunos surdos em seu conhecimento da Literatura na escola para surdos. Esta prática é o processo de conclusão do Pós em Linguística e Ensino de Língua Portuguesa da FURG. Antes de iniciar a prática, eu vinha planejando minhas aulas e realizando pesquisas sobre o tema relacionado com o ensino de Língua Portuguesa para surdos e inclusive utilizando os livros teóricos principalmente de Mikhail Bakhtin, Moacy Cirne e Ronice Quadros para a minha pesquisa. O objetivo da prática era obter os resultados reais. O fornecimento da Literatura Surda permite o conhecimento específico por meio das narrativas visuais a quem ainda não tem afinidade com a Literatura por encontrar dificuldades na leitura. O caminho certo, ou seja, talvez, apresentar a introdução da Literatura Brasileira em quadrinhos aos alunos surdos antes de conhecer a Literatura Majoritária, já que a Literatura na escola Alfredo Dub ainda não se incorpora como disciplina regular. Todorov (2009) reforça a ideia do que se fala: a literatura é uma arte de contar e escrever independente do paradigma e pode ser fornecida de forma adequada, ou seja, de acordo com o público alvo. Sabe-se que ensinar aos alunos surdos a apreciar a Literatura prevê um grande empenho, conforme Skliar comentou acima, é necessário aceitar a cultura surda deles no meio da sala de aula, ou seja, no meio do ambiente educacional. Pela situação preocupante, o impasse literário para alunos surdos será estudado até desvendar, em outra reiteração, o porquê, com precisão. O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA SURDOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS INCLUSIVAS DE GOIÁS Cristiane Batista Do NASCIMENTO – UFG/UNB [email protected] Thaís Fleury AVELAR – UFG [email protected] A presente pesquisa, intitulada O Ensino de Português para Surdos nas escolas públicas inclusivas de Goiás, faz parte do projeto de Prática como Componente Curricular – PCC – da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás – UFG – criado para participação dos alunos de letras. O projeto tem como objetivo principal conhecer a realidade do ensino de português para alunos surdos 89 nas escolas públicas de Goiás bem como sondar se a Língua Brasileira de Sinais – Libras - tem sido valorizada como língua de instrução, investigar se conhecem a Lei 10.436/2002 e o Decreto 5.626/2005 que regulamenta a referida lei e fornece informações importantes para o ensino de português para surdos como segunda língua. Este trabalho trata-se de um estudo teórico que parte do pressuposto de que a Libras é a língua materna do surdo, sendo portanto a língua de instrução por excelência para esses indivíduos, conforme mencionam Salles et al (2002:47) e portanto, o ensino de língua portuguesa deve ser tratado como segunda língua (L2). Os alunos de letras irão a campo aplicar um questionário padrão, criado pelas professoras responsáveis pelo projeto para investigar o ensino de português para surdos nas escolas públicas de Goiás. Por meio do questionário buscamos respostas para as perguntas como, por que o ensino de português como L2 não está ocorrendo? Quais seriam os possíveis entraves? A Libras é importante para ensinar o português? Após as entrevistas faremos gráficos e investigaremos os motivos do por que o ensino de língua portuguesa para surdos não tem acontecido de forma adequada. Com base nas pesquisas e teorias de ensino de segunda língua, vamos propor ideias que possam auxiliar os professores de surdos a ensinar o português como L2. OFICINAS DE PORTUGUÊS PARA SURDOS Flavia Regina Valente da SILVA – UTP [email protected] Os avanços acadêmicos, científicos e legislativos têm se tornado ferramentas especialmente frutíferas para a comunidade surda garantindo além do acesso e permanência dos alunos surdos nas escolas públicas e privadas de ensino; o direito a uma abordagem bilíngue, na qual a rota visual de aprendizagem é privilegiada, a língua de sinais é considerada a língua natural, ou seja, a língua adquirida sem impedimento, de forma natural. Sendo esta, a primeira língua do aluno surdo. Ao passo que a língua portuguesa é ensinada na modalidade escrita da língua com princípios de segunda língua. Nesse contexto, a língua de sinais torna-se protagonista em todo o processo educativo, possibilitando por meio dela que os alunos participem das discussões e acessem os conteúdos e as atividades escolares propostas. A luz nessas ideias, esse grupo de pesquisadores objetiva discutir o uso da língua portuguesa por um grupo de surdos e suas possibilidades de trocas linguísticas e culturais durante as atividades realizadas em oficinas de português para surdos. Os dados foram coletados em 2011, durante 18 oficinas em um colégio estadual para Surdos, localizado em Curitiba, Brasil. Fizeram parte oito surdos e quatro pesquisadores da Universidade Tuiuti do Paraná. Os resultados demonstram que por meio das oficinas participantes surdos passaram a ressignificar a língua portuguesa escrita; tendo assim a possibilidade de inserir-se em práticas sociais de leitura e escrita que diretamente podem melhorar sua qualidade de vida. UMA REFLEXÃO ACERCA DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: UM ESTUDO DE CASO EM ESCOLAS PÚBLICAS DE LAGUNA-SC E TUBARÃO-SC Bruna Crescêncio NEVES – UFSC [email protected] A educação de surdos no Brasil tem sido alvo de discussões e mudanças nos últimos anos, estas ocasionadas pelo reconhecimento da língua de sinais como língua natural do surdo e do acesso da mesma na escola regular por meio das diretrizes nacionais para a educação especial (resolução CNE/CEB n. 2, de 2001, a lei 10.098/94 - VII, que trata sobre a acessibilidade à língua de sinais), da lei 10.436/02 que estabeleceu que LIBRAS é o meio legal de comunicação e expressão do surdo e do Decreto 5.626/. Desse modo, as instituições de ensino buscam adequar-se às novas diretrizes para atender esses alunos; entretanto, a realidade encontrada nas escolas difere daquela que seria a ideal. Nesse sentido, o presente artigo focaliza a análise nas seguintes questões: a) A realidade do aluno surdo do ensino médio em duas escolas públicas de Laguna e Tubarão, ambas em Santa 90 Catarina, b) A visão dos professores de língua portuguesa acerca destes alunos, c) O cotidiano escolar que envolve surdo, professor e intérprete e d) A aprendizagem da língua portuguesa como segunda língua. Essa pesquisa se caracterizou como um estudo de caso. Participaram do estudo cinco surdos alunos do ensino médio, dois professores de língua portuguesa e dois intérpretes. Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados questionários e atividades de produção textual. Encontrou-se como resultado desta pesquisa alunos integrados no ambiente escolar, com professores intérpretes como exige a lei, mas com relevantes limitações na aprendizagem da língua portuguesa. GRUPO TEMÁTICO 13: ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS SURDOS COORDENADORAS: Maria Cristina da Cunha PEREIRA (PUCSP) – [email protected]; Sueli de Fátima FERNANDES (UFPR) – [email protected] O ensino da língua portuguesa para alunos surdos tem despertado o interesse de pesquisadores devido ao fato de que, diferentemente das crianças ouvintes, as surdas, filhas de pais ouvintes, chegam geralmente à escola sem uma língua adquirida, seja a de sinais ou a portuguesa. Até recentemente, com base na concepção de língua como código e na concepção comportamentalista de ensino de línguas, os professores selecionavam palavras e estas eram combinadas em estruturas frasais, obedecendo a uma ordem de complexidade morfossintática. Por meio de exercícios de substituição e de repetição, esperava- se que as estruturas frasais trabalhadas fossem memorizadas e generalizadas. Embora alguns alunos conseguissem produzir um texto bem estruturado, a maioria apresentava muitas dificuldades, resultando em frases desestruturadas, o que comprometia muitas vezes a compreensão de suas produções escritas. As dificuldades eram tão gerais que passaram a ser atribuídas à surdez. Nos últimos anos, pesquisas têm mostrado que é possível se obter melhores resultados no aprendizado da língua portuguesa por alunos surdos se os professores adotarem a concepção discursiva de língua e a concepção interacionista de ensino. Além disso, a língua portuguesa deve ser considerada segunda língua para os alunos surdos, o que pressupõe a aquisição da língua de sinais, primeira língua. A língua de sinais tornará possível a participação dos alunos surdos em atividades em que a escrita está presente. Por meio da língua de sinais, os alunos surdos poderão ter acesso ao conteúdo de materiais escritos, o que possibilitará o aprendizado da língua portuguesa escrita. Com base nestas idéias, é objetivo deste grupo temático discutir o ensino da língua portuguesa para alunos surdos. Para isso serão contempladas pesquisas que focalizem o ensino da língua portuguesa para alunos surdos nos diferentes níveis de escolaridade. A LÍNGUA PORTUGUESA PRODUZIDA POR SURDOS: INDÍCIOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA Maria Clara MACIEL – UFMG [email protected] Este estudo focaliza uma questão polêmica e complexa: a relação dos surdos com o português escrito. Polêmica porque as formas de se conceber e definir os próprios surdos – e as relações que eles estabelecem com as línguas – têm sido revistas e reformuladas ao longo do tempo. Complexa porque, linguistico-pedagogicamente, a diferença de modalidade entre a língua fonte e a língua alvo exige do professor aprofundamento na primeira e visão estratégica apurada para ensinar a segunda. Além disso, não há consenso teórico sobre a forma de se compreender as origens e as especificidades da performance linguística dos surdos em português escrito, assim como não o há em relação às estratégias de ensino que funcionam ou não. A partir deste cenário, objetivamos refletir sobre a pertinência e os benefícios de se compreender a relação dos surdos com o português no âmbito da sociolinguística, mais especificamente, a partir do fenômeno da variação linguística. Se os surdos são usuários de uma língua genuína que se desenvolve a partir da modalidade visuoespacial, portanto, não oral-auditiva e se, por isso mesmo, são considerados uma minoria linguística 91 no Brasil, “usuários estrangeiros” do português; se são considerados um povo específico, constituidores e fomentadores de uma cultura que se estabelece a partir da Libras e de uma forma específica de socialização; se a comunidade apresenta uma forma própria de se relacionar com o português, apresentando padrões semelhantes de comportamento linguístico, porque não pensar, então, que a língua portuguesa utilizada pelos surdos no Brasil possui características linguísticosociais que a caracteriza como um tipo de variação linguística do português? Aceitar esta tese implicaria: a) execrar a noção de erro ou insuficiência linguística do surdo b) repensar práticas pedagógicas que partem desse princípio c) entender que, se a variação existe, ela precisa ser aceita, em alguma medida, em algumasinstâncias. CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS SURDOS Maria Cristina da Cunha PEREIRA – PUCSP [email protected] Este trabalho tem como objetivo discutir as concepções de língua adotadas no ensino da língua portuguesa para alunos surdos. Por terem perda auditiva, os surdos apresentam dificuldades significativas na aquisição da língua portuguesa oral. Assim, é comum que cheguem à idade escolar com apenas fragmentos desta língua. Na tarefa de ensinar a língua portuguesa para alunos surdos, muitos professores ainda hoje privilegiam vocábulos e sua combinação em frases. Por meio de exercícios de substituição, preenchimento de lacunas, entre outros, esperam que os alunos aprendam a língua portuguesa e a usem. Esta forma de trabalho, que se fundamenta na concepção de língua como código e na concepção behaviorista de ensino-aprendizagem, tem resultado em desorganização morfossintática acentuada, frases desestruturadas, nas quais faltam elementos de ligação, flexões etc. Nos últimos anos, observam-se tentativas de mudança na concepção de língua no ensino de alunos surdos. Em vez de código, a língua tem sido concebida como atividade discursiva e, como tal, o foco é colocado no texto e não nos vocábulos. O objetivo deixa de ser a condução do processo pelo professor e passa a ser o resultado do processo interativo entre professores, alunos e textos. No ensino de alunos surdos, espera-se que, inseridos em atividades que envolvam o uso da Língua Portuguesa em textos, os mesmos apreendam a convencionalidade da língua. Visando ilustrar o efeito da adoção da concepção discursiva no ensino da língua portuguesa a alunos surdos, são analisadas, neste trabalho, produções escritas de um aluno surdo, produzidas em diferentes momentos da sua escolaridade. Nestas produções, fica evidente o avanço no processo de aquisição da língua portuguesa. Como conclusão, ressalta-se que, devido às dificuldades de acesso à linguagem oral, é pela visão que os alunos surdos vão adquirir a língua portuguesa, o que torna imprescindível que eles sejam expostos a textos escritos. A ORGANIZAÇÃO TEXTUAL E A COERÊNCIA EM TEXTOS ESCRITOS EM LÍNGUA PORTUGUESA POR CANDIDATOS SURDOS NO EXAME DE PROFICIÊNCIA EM TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE LIBRAS-LP Simone Maria Barbosa Nery do NASCIMENTO – UEM [email protected] Em tempos passados, acreditava-se que a surdez era associada a alguma outra deficiência que acarretava um déficit de inteligência nas pessoas surdas. Além disso, a Libras, Língua Brasileira de Sinais, não era reconhecida como língua e, por isso, por muito tempo, a educação e o estímulo ao desenvolvimento intelectual foram relegados aos surdos por parte de seus familiares e da sociedade. Hoje, porém, com os recentes estudos linguísticos, leis e decretos governamentais a favor da educação, da inclusão e da acessibilidade à comunidade surda, e também com as contribuições de abordagens educacionais, como o Bilinguismo, é possível pensarmos em metodologias que contribuam para o ensino de Língua Portuguesa para os surdos. Nesse sentido, em um primeiro 92 momento, o estudo pretende analisar textos escritos em Língua Portuguesa por candidatos surdos para verificar o nível de coerência e as dificuldades estabelecidas nos textos. Será realizada uma descrição dos aspectos gramaticais e discursivos dos textos que, após, serão submetidos a um estudo comparativo com o intuito de se chegar a possíveis causas relacionadas a essas dificuldades de escrita em L2. No estudo comparativo, serão analisados textos de candidatos aprovados no exame e textos de candidatos não aprovados. A hipótese do trabalho é a de que existem, no histórico de vida, educacional e clínico dessas pessoas, variáveis que interferiram na aprendizagem da segunda língua. Pretende-se, em um segundo momento, portanto, fazer um levantamento acerca do histórico de vida por meio do questionário socioeconômico respondido no ato da inscrição. Acredita-se que o estudo em questão fornecerá dados que contribuirão com futuras pesquisas voltadas a metodologias de ensino de Língua Portuguesa para surdos. ANÁLISE DOS NÍVEIS DE LETRAMENTO DE ESTUDANTES SURDOS NO ENSINO MÉDIO PÚBLICO DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA Sueli FERNANDES – UFPR [email protected] Luana Pizolato BENELLI – UFPR [email protected] Em 2012, comemoramos uma década da oficialização da Língua Brasileira de Sinais – Libras, cujo impacto mais significativo foi o reconhecimento político da situação de bilinguismo das comunidades surdas brasileiras. Em que pese o avanço dessa conquista, circunstanciada pela política de inclusão do Ministério de Educação (BRASIL, 2008), a matrícula preferencial dos estudantes surdos ocorre no ensino regular, contexto no qual impera o monolinguismo em língua portuguesa, a precariedade de apoios especializados e a adoção de encaminhamentos metodológicos que não contemplam suas necessidades linguísticas diferenciadas. É nesse complexo cenário que apresentamos resultados parciais de uma investigação que buscou delinear o mapa social e os níveis de letramento de estudantes surdos bilíngues incluídos nas escolas do ensino médio da rede pública de Curitiba e Região Metropolitana. O projeto tem como pressuposto metodológico a natureza quali-quantitativa dos dados empíricos da realidade social da educação de surdos, com apoio em categorias de análise fundadas na concepção dialógica de linguagem, conforme debatidas por Bakhtin (1988, 1990, 1992), Faraco (2009) e Soares (1998, 2002), entre outros autores. A pesquisa desenvolveu-se com base no levantamento de dados da realidade sócio-educacional dos sujeitos, por meio da coleta de dados em estabelecimentos de ensino de Curitiba e Região Metropolitana; em prova de compreensão e produção textual em língua portuguesa e na produção do Mapa Social dos estudantes, de modo a constituir um quadro conceitual de compreensão mais ampla e crítica das condições concretas de seu processo de escolarização. Os resultados parciais revelam a incipiente situação de bilinguismo vivenciada pelos surdos e denunciem sua exclusão includente na educação básica. A despeito das políticas de acesso ao ensino regular, as condições de permanência, com sucesso, nesse contexto, não se efetivaram, promovendo uma expulsão velada que se materializa na impossibilidade de apropriação efetiva de conhecimento e letramento. ENSINO DE PORTUGUÊS NUMA TURMA DE ALUNOS SURDOS: UMA ANÁLISE DO COTIDIANO DA SALA DE AULA Giselli Mara da SILVA – FALE-UFMG [email protected] Nesta apresentação, pretende-se fazer uma reflexão a respeito do ensino de português como segunda língua a alunos surdos, a partir da análise de dados provenientes de pesquisa de mestrado (SILVA, 2010), desenvolvida numa turma de 9º ano do Ensino Fundamental, composta por alunos surdos e professora ouvinte. A orientação teórico-metodológica adotada explora contribuições oriundas do 93 campo de estudos da surdez (QUADROS, 1997; BERNARDINO, 1999; BOTELHO, 2002; CHAVES, 2002; LODI; HARRISON, CAMPOS, 2002), contribuições conceituais da Sociolinguística Interacional (GUMPERZ, 2002; ERICKSON; SCHULTZ, 2002), Etnografia Interacional (GREEN; BLOOME, 1995; GREEN; DIXON; ZAHARLICK, 2005) e dos Estudos do Letramento (BLOOME, 1987, 1989; CASTANHEIRA et. al, 2001; CASTANHEIRA; GREEN; DIXON, 2007) que favorecem a compreensão da aprendizagem e das interações estabelecidas em sala de aula como fenômenos socialmente construídos. O estudo foi realizado numa perspectiva etnográfica, envolvendo observação participante (SPRADLEY, 1980) e filmagens das aulas de português durante três meses, tempo durante o qual também foram realizadas entrevistas e coleta de artefatos impressos que circularam entre os participantes do grupo observado. O processo analítico possibilitou a identificação de padrões interacionais relativos ao uso do português sinalizado e da Libras no processo de ensino de português, além de padrões relativos à organização das aulas de português neste grupo. Além disso, evidenciou como a construção dos significados para as práticas de letramento do grupo passa pelo trânsito entre as duas línguas durante as interações em sala de aula, sendo que em todas as atividades realizadas pelo grupo os participantes precisam lidar com as diferenças entre as duas línguas presentes na sala de aula e constroem práticas e significados para essas práticas ao longo de suas interações, (re)negociando constantemente a forma como deve ser usada a língua de sinais para se referir ao português escrito. ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA POR ALUNOS SURDOS: UMA ANÁLISE SEGUNDO A TEORIA DE KRASHEN José Carlos de OLIVEIRA –UFSC [email protected] O presente trabalho apresenta uma análise do processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa por alunos surdos como segunda língua, a partir da abordagem natural proposta por Stephen Krashen, considerando a retrospectiva histórica do processo de educação desses indivíduos. Busca identificar e analisar o papel da aprendizagem implícita e explicita, dentro e fora da sala de aula e da mediação do professor no processo educacional considerando não apenas as línguas envolvidas no processo, mas também, fatores culturais e o ambiente em que tal processo ocorre. Para a transcrição dos dados, buscou-se identificar as bases educacionais e as abordagens através de questionário escrito e encaminhado via mensagem eletrônica, cujos participantes variam em: faixa etária, grau de escolaridade e região. O resultado da análise mostra o retrocesso dos métodos educacionais que levam esses alunos ao fracasso escolar pelo fato de não considerá-los enquanto seres pensantes, já conhecedor inato de uma língua e que, portanto carrega consigo uma bagagem cultural e linguística, em que se observa a luta das comunidades de surdos em buscara do resgate das raízes de sua educação através da pedagogia surda em salas bilíngues. Verificou-se que na maioria dos casos o papel da aprendizagem implícita é captado fora de sala de sala de aula e por iniciativa própria dos alunos, sem o incentivo e mediação do professor. Espera-se que a análisedas experiências contribua para os estudos linguísticos na área de educação de surdos; uma vez que esses indivíduos se encontram em déficit com relação ao aprendizado da Língua Portuguesa. O SURDO E A LÍNGUA PORTUGUESA: UMA RELAÇÃO DE (IM)POSSIBILIDADE Onilda Aparecida GONDIM – UFU-ILEEL [email protected] Nosso trabalho tem por objetivo problematizar, sob uma visada discursiva, o modo como o processo de inclusão de alunos surdos se apresentou em uma escola regular do estado de Goiás, mais notadamente no ensino da Língua Portuguesa. Para tanto, vamos enfocar os possíveis efeitos que se constituíram para as instâncias intérprete, aluno surdo e professor, dada a relação que eles contraem nesse processo de inclusão, levando em conta como isso, de fato, aconteceu na escola em questão. 94 Partimos da seguinte hipótese: o surdo concernido pela escola regular pesquisada parecia sofrer efeitos discursivos de rarefação subjetiva, de modo a não promover uma relação entre ele e o conhecimento em Língua Portuguesa. Em outros termos, trabalhamos com a perspectiva de que o surdo não era levado a se constituir na posição discursiva aluno, de modo a não haver uma dimensão acontecimental entre ele e o conhecimento em Língua Portuguesa. Em vista disso, procuramos responder ao seguinte questionamento: O surdo se constitui ou é constituído aluno no contexto de sala de aula de Língua Portuguesa pesquisado? Filiamo-nos, teoricamente, ao arcabouço teórico da Análise do Discurso de orientação pecheutiana em sua terceiraépoca (1983). A análise foi constituída de algumas sequências discursivas recortadas das transcrições dasaulas observadas e gravadas em vídeo e das entrevistas com os professores, alunos surdos e intérpretes. Nossa pesquisa indicou por meio de nossas análises que o jogo de endereçamento entre professor ouvinte, aluno surdo e intérprete não se sustenta de modo suficiente para que o aluno surdo assuma sua posição discursiva de aluno e, diante disso, produza conhecimento em Língua Portuguesa. O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: UMA ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS E MATERIAIS DIDÁTICOS Eli Ribeiro dos SANTOS – UFMG [email protected] O surdo ainda enfrenta dificuldades para o ingresso na Universidade pública, nas provas de concurso e em situações que envolvam o uso da Língua Portuguesa L2. O ensino de LP para surdos passa por muitas transformações, graças às novas concepções advindas da Educação Bilíngue. O entendimento de que a Libras, uma língua de modalidade visual-espacial, é a língua natural dos surdos e que a Língua Portuguesa, de modalidade oral-auditiva, é uma L2, traz novos desafios para professores de alunos surdos. Nesta pesquisa estudamos os materiais didáticos utilizados para o ensino da LP no contexto da Educação Bilíngue. Contamos com as contribuiççoes dos estudos sobre Bilinguismo, Educação Bilíngue e ensino de português como L2. As redes de ensino de Minas Gerais adotam livros didáticos para o ensino das crianças ouvintes, mas não há um material didático específico para as necessidades dos alunos surdos, usuários de Libras e aprendizes de LP. Não sabemos, de forma clara, qual o destino desses livros, nas aulas dos alunos surdos. Para ampliar e propiciar o ensino da LP, o professor dessa disciplina precisa pesquisar e produzir materiais didáticos e desenvolver estratégias de aplicação e avaliação do ensino-aprendizagem nas aulas dos alunos surdos. Nosso objetivo nesta pesquisa é perceber como os professores estão suprindo esta lacuna, a ausência de livros e materiais didáticos para o ensino Bilíngue . Acreditamos que a partir dessas observações poderemos definir um quadro atual dos materiais didáticos da sala de aula de LP para alunos surdos e com isso contribuir para a elaboração de materiais, cada vez mais adequados às especificidades do surdo para que, de fato, promovam o aprendizado da LP, promovendo a apropriação das duas línguas e a efetiva inclusão do surdo na sociedade. Esperamos, com isso, contribuir com as pesquisas sobre o ensino de LP para surdos. CURSO DE PRODUÇÃO TEXTUAL E PRÁTICA DO PORTUGUÊS PARA SURDOS: UM PROJETO DE EXTENSÃO Elidéa Lucia Almeida BERNARDINO –UFMG [email protected] Marianna Ferreira DRUMOND – UFMG [email protected] Este trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de criação, realização e resultados obtidos no Curso de Produção Textual e Gramática do Português, oferecido pelo Centro de Extensão da Faculdade de Letras da UFMG (Cenex). A metodologia é baseada em propostas de produção textual pela perspectiva dos Gêneros do Discurso, ressaltando-se o aspecto social do texto e análise 95 contrastiva da estrutura da Libras e do Português para abordagem de questões gramaticais. O curso tem seu enfoque no ensino de Português como L2 para Surdos alfabetizados; é constituído de aulas expositivas, práticas, exercícios de fixação, leitura e produção de textos, além de atividades extraclasse; é dividido em dois módulos semestrais independentes, com carga horária de 52 horas/aula cada. A professora é fluente em Libras e ministra todo o curso nessa língua. O material didático é elaborado pela professora, graduada em Letras / Português, sob a orientação da pesquisadora, contando com atividades recolhidas de materiais didáticos de Português (tanto L1 como L2), textos de jornais, revistas e da internet. O foco é apresentar aos surdos textos reais, de circulação social real e não textos reduzidos ou elaborados descontextualizadamente. Os textos produzidos pelos alunos são projetados e revisados em sala, com o auxílio deles. O curso nasceu da análise das demandas linguísticas especiais do surdo, constatadas pela pesquisadora e pela professora em seus estudos e pesquisas. Os objetivos são: organizar um programa de curso prático e que atenda às lacunas pedagógicas e linguísticas existentes no processo escolar do surdo; elaborar um material de qualidade, buscando sanar as suas dificuldades de produção de texto; verificar que tipos de materiais são adequados ou não ao ensino do Português como L2 para o surdo; proporcionar aos alunos instrumentos que lhes possibilitem alcançar uma produção textual com aspectos gramaticais e linguísticos dentro da norma padrão do Português. O PEQUENO PRÍNCIPE: O DESPERTAR DOS ALUNOS SURDOS PARA UM GRANDE CONHECIMENTO Sandra Patrícia de Faria do NASCIMENTO – SEDF [email protected] Juliana Resende NISTA – SEDF [email protected] Em busca de estratégias mais adequadas para o ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos, com base nos pressupostos teóricos discursivos e interacionistas para o ensino de segunda língua e nos estudos surdos e culturais, este trabalho apresenta uma unidade de ensino ministrada, durante o segundo semestre de 2011, para turmas de alunos surdos do 1º ano do Ensino Médio, que frequentaram o Programa POPS (Português para Surdos), desenvolvido no Centro Educacional 06 de Taguatinga, Escola pública do Distrito Federal. Essa unidade desenvolveu-se a partir da seleção de um filme digital animado e legendado em português, em torno do qual foram desenvolvidas diversas atividades pedagógicas com as quais foi possível ampliar o conhecimento de mundo dos alunos, bem como seu conhecimento linguístico nos níveis: lexical, morfológico, sintático, semântico e pragmático. Foram desenvolvidas estratégias para aleitura e interpretação das legendas do filme e focalizadas estruturas lexicais das unidades eleitas para a construção do sentido do texto; muitas dessas unidades lexicais foram ampliadas e aplicadas a outros contextos. Ao mesmo tempo, a aplicação dessa unidade propiciou ao aluno um conhecimento da literatura universal, posto que a obra escolhida tem como personagem principal o Pequeno Príncipe, ícone da clássica obra de Antoine de Saint-Exupéry. No decorrer da unidade foi sistematizada uma sequência de passos e estratégias para leitura e apreensão do sentido das legendas do vídeo e a criação e confecção de atividades impressas específicas para o desenvolvimento da unidade, suporte para o desenvolvimento da produção escrita dos alunos. PROCESSO DE REFERENCIAÇÃO EM RELATÓRIOS DE ESTÁGIO DE SURDOS: DESCRIÇÃO E CONTRIBUIÇÃO AO ENSINO Sonia Maria Duchandt BROCHADO – UENP [email protected] Clemilton Lopes PINHEIRO – UFRN [email protected] 96 Este trabalho retoma a discussão desenvolvida em dois trabalhos anteriores dos autores sobre a produção escrita em português de usuários de LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais (Pinheiro e Brochado, 2011 e Brochado, 2011), especificamente no que diz respeito aos processos de referenciação. O objetivo é, a partir de análises de estudos anteriores sobre os processos de referenciação na produção escrita de usuários de Libras, propor atividades de ensino, tendo em vista a maior eficiência escrita de estudantes surdos universitários. Consideramos uma conclusão bastante recorrente em estudos anteriores: a de que nos seus textos acadêmicos, os estudantes surdos apresentam pouco domínio dos processos de referenciação mais complexos, tais como a recategorização e as anáforas associativas. A partir disso, sugerimos uma sequência didática, nos termos de Dolz e Schneuwly (2004), para trabalhar, especificamente, o gênero relatório de estágio. Focalizamos esse gênero voltado mais especificamente para a formação de docentes, sabendo-se que constitui uma prática social bastante disseminada nos domínios de transmissão e construção do saber, abrangendo diferentes esferas profissionais. Em geral, o relatório de estágio tem como propósito principal relatar o levantamento de dados sobre determinada área profissional através de observação e registro de informações, acrescido das atividades de prática profissional supervisionada, durante o período de formação, na área em questão. Essa sequência focaliza os processos de referenciação presentes nesse gênero para possibilitar que os estudantes coloquem em prática os processos que eles ainda não têm domínio. Assumimos que a topicalidade é um princípio de organização do texto e tomamos a articulação tópica como uma estratégia textual-interativa que orienta o interlocutor para a montagem-formulação do texto e para um conjunto de outros aspectos interacionais que orientam a construção do seu sentido, destacando-se as estratégias de referenciação. PARECERES DESCRITIVOS DE ALUNOS SURDOS: REVELAÇÕES SOBRE SEU DESEMPENHO EM LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO FUNDAMENTAL Andréia Gulielmin DIDÓ – UNISINOS [email protected] Catia de Azevedo FRONZA – UNISINOS [email protected] Este estudo tem como objetivo refletir sobre como se constitui o parecer descritivo de Língua Portuguesa referente ao desempenho de alunos surdos de uma escola de ensino fundamental da rede municipal da região metropolitana de Porto Alegre, e, a partir disso, verificar concepções acerca da aprendizagem da Língua Portuguesa escrita indicadas por vozes que permeiam este documento. Para tal fim, além do contato com as professoras dos alunos, de observações de aulas, com o apoio da equipe diretiva, foram tomados para análise pareceres descritivos de 15 alunos surdos dos ciclos I, II e III, elaborados semestralmente no ano de 2010. A reflexão sobre tais dados toma por base estudos que se voltam ao percurso da educação de surdos e ao ensino e à aprendizagem de línguas, mais especificamente Língua Portuguesa e Libras, trazendo pressupostos de Vygotsky quanto ao desenvolvimento intelectual e aprendizagem, concepções bakhtinianas sobre linguagem, complementadas por investigações sobre o gênero parecer descritivo. Entre as constatações deste trabalho, ressalta-se que o parecer descritivo constitui-se como preceito sobre o sujeito surdo, o qual tem seu registro centrado na busca pela adequação, normalização desse sujeito a partir de saberes já construídos. Esses documentos, portanto, não registram o nível de conhecimento linguístico dos alunos, priorizando aspectos comportamentais. Nodiálogo possibilitado pelos dados que foram sendo gerados ao longo do estudo com as pesquisas que alicerçaram as discussões, reforça-se a necessidade de mais reflexões acerca da avaliação dos alunos surdos e sobre todo o cenário dos processos de ensino e de aprendizagem no qual se configura a educaçãode surdos e, neste caso, o acesso à sua língua e à da comunidade ouvinte. 97 O PROBLEMA DA AMBIQUIDADE LEXICAL PARA A INTERPRETAÇÃO ENVOLVENDO A LÍNGUA PORTUGUESA E A LIBRAS Jorge BIDARRA – UNIOESTE [email protected]/ [email protected] Tania Aparecida MARTINS – UNIOESTE [email protected] As diferenças existentes entre a LIBRAS e a língua portuguesa, tanto no que concerne às estruturas morfossintáticas, quanto à realização das palavras, quer individualmente ou em contexto, impõem para os intérpretes e para os alunos surdos muitos desafios. Para ultrapassar os limites e as dificuldades presentes no processo de tradução e interpretação a que estão sujeitos, é comum, que lancem mão de estratégias para que a comunicação se estabeleça. Enquanto em Português as marcas morfológicas de tempo, aspecto, número, gênero e pessoa estão na constituição interna das palavras, em LIBRAS as palavras resultam de uma complexa combinação entre signos, gestos e expressões não manuais atrelados a movimentos realizados no espaço de enunciação. Ser bem sucedido nesse trabalho de tradução e interpretação depende da capacidade e habilidade de ambos no estabelecimento das relações determinadas nesse processo. Em geral um dos grandes desafios impostos pelas línguas, aos linguistas diz respeito ao tratamento das palavras ambíguas. Para refletirmos sobre esse assunto, apresentamos alguns resultados preliminares das pesquisas que vimos desenvolvendo numa escola pública da nossa região, da qual tomam parte, como nossos informantes, 2 alunos surdos, 1 professor e 1 intérprete de LIBRAS. Com base no corpus coletado, resultado das transcrições até o momento tanto da exposição oral do professor quanto da interpretação pelo intérprete, identificamos e analisamos a ocorrência de palavras ambíguas nos dois registros e o modo como elas são trabalhadas pelo intérprete. Um dos objetivos é verificar até que ponto o que chega para o aluno, em LIBRAS, está equivalente a exposição do professor. Como resultados, temos percebido que as escolhas feitas pelo intérprete para contornar os problemas decorrentes das ambiguidades lexicais, nos dois sistemas, nem sempre são capazes de manter a essência do que fora dito pelo professor, com prejuízos significativos para o ensino e aprendizagem do aluno surdo. O PARÂMETRO “EXPRESSÕES NÃO MANUAIS” COMO DETERMINANTE DAS ILOCUÇÕES ABSTRATAS NA LIBRAS – UM ESTUDO FUNCIONALISTA Maria Luisa Mendes – UFG [email protected] Mostraremos como as categorias - Ilocuções abstratas, do Nível Interpessoal, propostas por Hengeveld e Mackenzie, na Gramática Discursiva Funcional são visíveis na Libras. Ilocuções são atos discursivos que variam de acordo com as intenções dos usuários da língua e se manifestam de forma diferente, conforme a modalidade desta língua. O estruturalismo funcional postula que “a linguagem, acima de tudo, permite ao homem reação e referência à realidade extralinguística”. A língua é concebida como instrumento de interação verbal; onde a relação entre as intenções dos falantes e a interpretação do destinatário é mediada, mas não precisamente, estabelecida pela expressão linguística. A língua nesse sentido é fluida, dinâmica e sensível às mudanças culturais, sociais e cognitivas, pois a comunicação humana envolve todas as outras funções psíquicas superiores, além da linguagem e todas essas funções e competências são acionadas nas situações comunicativas e interativas humanas. Para os funcionalistas as mudanças partem do discurso para a gramática, ou seja, são as escolhas de registro que o falante faz; e, de acordo com suas intenções (contexto) para com seu interlocutor, como ele quer que o destinatário receba e retorne a ele que irão definir a sentença linguística. Os dados apresentados são de contextos comunicativos cotidianos. Selecionamos algumas situações de interação nas quais as ilocuções abstratas são 98 mostradas em Língua Portuguesa, manifestadas e marcadas pela entonação e pontuação, para verificar se estão presentes na Libras. Fizemos uma descrição detalhada de cada sinal que compõe os enunciados apresentados a fim de mostrar qual parâmetro está em ênfase. Observamos que essas categorias na Libras são manifestadas e marcadas pelo parâmetro “Expressões não Manuais – ENM”, especificamente a expressão facial dos usuários. Identificar tais ilocuções favorece para que o professor ao ensinar Língua Portuguesa aos surdos faça a relação, entonação, em línguas oralizadas e expressão corporal/facial, em línguas sinalizadas. GRUPO TEMÁTICO 14: ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: EXCLUSÃO, PRECONCEITO E CIDADANIA COORDENADORAS: Maria Cecília de LIMA (UFU) – [email protected]; Vânia Aparecida Martins BERNARDES (UFU) – [email protected] Neste Grupo de Trabalho, o tema é o ensino de Língua Portuguesa e sua relação convergente, ou divergente, com a exclusão, o preconceito e a cidadania. Isso porque entendemos que ao ensinar o/a professor/a, conscientemente ou não, reproduz discursos que ora podem contribuir com a construção da cidadania discente e sua emancipação; para a reprodução de preconceitos e de exclusão ou não; contribuindo para a formação de alunos-cidadãos-críticos ou não. Com essa reflexão inicial, intentamos levantar discussões sobre o ensino de Língua Portuguesa e sua possível contribuição para uma visão crítica da realidade e para com a crítica à exclusão social, ao preconceito de todas as formas. Acreditamos que refletir sobre o ensino de Língua Portuguesa pode ser também, para além de padrões formais, pensar na construção da cidadania discente, de uma nova consciência social e de uma nova sociedade. Para as nossas discussões e reflexões, empregaremos como quadro teórico-metodológico teorias críticas que reflitam sobre o ensino e sobre a sociedade: Adorno (1986, 2000); Chouliaraki e Fairclough (1999); Giddens (1993), por exemplo. Esse quadro crítico será empregado em discussões teóricas, discussões teórico-analíticas e resultados de pesquisa sobre a temática em questão. Entendemos que o ensino tradicional de Língua Portuguesa, por si, só vem perdendo a força em função de se ter, atualmente, o ensino de língua com um papel social: o de saber agir por meio da linguagem. E é esse agir e saber agir que precisa ser posto em discussão, que precisa ser propalado para que as contribuições dessa nova visão do ensino de Língua Portuguesa em sala de aula possam ser proficientes quanto à crítica a processos de exclusão social e toda e qualquer forma de preconceito, levando, assim, à cidadania discente e à contribuição para a construção de uma sociedade com novos valores e práticas. ENSINAR E APRENDER PORTUGUÊS NA ESCOLA: TRAJETÓRIAS, IMPLICAÇÕES E DESDOBRAMENTOS James Deam Amaral FREITAS – IFG [email protected] A sala de aula, a despeito de suas limitações e contradições, constitui um lugar de interação, de constituição das identidades sociais (LOURO, 1997; MOITA LOPES, 2002), de reflexão coletiva, de ensino da condição humana (MORIN, 2001), de produção do conhecimento, de exercício da cidadania, e da prática da liberdade (FREIRE, 2006). É nesse espaço, em que coexistem, paradoxalmente, práticas de inclusão e discriminação, que se configuram as possibilidades de ressignificações e mudanças. Diante da relevância da sala de aula e de sua construção por processos linguísticos, constitui nosso objetivo a problematização de um intervalo significativo desse espaço: a aula de língua portuguesa. Isso porque estamos defendendo uma concepção que transcende uma visão instrumentalista de ensino-aprendizagem de língua portuguesa e enfatizando as múltiplas imbricações entre língua, sociedade, cultura e política. Em outros termos, não podemos conceber a língua isolada dos sujeitos falantes, de sua História, suas culturas e seus contextos. Desse modo, destacamos a necessidade de inserir esse ensino em uma ação educativa, comprometida com a reflexão sobre as identidades e práticas sociais, constituídas e reiteradas por meio de nossas 99 interações discursivas. Para tanto, pretendemos realizar um breve reexame de políticas linguísticas e produções teórico-acadêmicas, que tiveram a pretensão de reestruturar os arranjos e epistemologias dessa disciplina curricular. Na sequência, essas ações serão submetidas a um olhar crítico, na tentativa de instigar o reposicionamento do processo de ensinar e aprender português na escola, de forma que ele faça mais que prescrever regras, reduzir a língua a um caráter de imanência ou perpetuar práticas sócio-discursivas hierarquizantes e excludentes. O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E SUA RELAÇÃO COM A EXCLUSÃO / INCLUSÃO SOCIAL Jéssica Teixeira de MENDONÇA – UFU [email protected] Esta comunicação tem como tema a reflexão sobre a relação entre o ensino de Língua Portuguesa, a inclusão e/ou exclusão social do aluno e a consciência que ele tem das diversidades linguísticas. Isso porque, para que o aluno possa ser livre de preconceitos linguísticos, ele precisa ter a consciência da diversidade e do valor que a ela é atribuído. Essa consciência pode ser realizada por meio do ensino crítico de Língua Portuguesa. Com essa reflexão inicial, temos como objetivo levantar questões referentes ao trabalho com a diversidade linguística no ensino de Língua Portuguesa, ao material teórico que se tem disponível sobre o ensino dessa língua, uma vez que percebemos que há divergência entre o que se fala sobre o ensino da variedade linguística nas aulas de Língua Portuguesa e como realmente acontece esse ensino. Para a realização desta discussão de cunho empírico e bibliográfico, empregaremos como quadro teórico, discussões de BRASIL (1997), FAIRCLOUGH (1999), BAGNO (2007), dentre outros. Esse quadro contribuirá para a discussão de que o ensino de Língua Portuguesa como vem acontecendo em sala de aula, ou seja, o ensino tradicional dessa língua, apesar de ter a sua importância, não colabora para a formação de alunos críticos e conscientes em relação a sua própria língua e, como consequência, conscientes em relação a sua própria sociedade. Apesar de teoricamente existir preocupação com a formação da cidadania, apenas o ensino do Português padrão ou formal faz com que os alunos saiam das escolas com alguns preconceitos em relação à diversidade linguística. Dessa forma, o ensino de Língua Portuguesa deve ser repensando e tratado como um grande aliado para a formação de alunos críticos em relação ao preconceito e contra qualquer forma deexclusão, constituindo-se assim, um promotor de inclusão social. PROPOSTAS DIDÁTICO-METODOLÓGICAS PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES: REFLEXÕES SOBRE A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA E CULTURAL AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL Jorge Augusto Alves da SILVA – UESB [email protected] Valeria Viana SOUSA – UESB [email protected] A Lei Federal 10.639/2003 que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira” nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares encontrou professores e graduandos completamente despreparados para enfrentarem cientificamente a inclusão em sala de aula de assuntos permeados de preconceitos e visões equivocadas. Embora a mesma lei, no âmbito do Art. 26, § 2°, ordene que profissionais na prática do Ensino de Literatura devam ministrar aulas que priorizassem conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira, os profissionais de Letras e os graduandos em Letras pouco ou nada sabem como lidar com elementos de Cultura Afro-Brasileira em nossa realidade. Tal despreparo leva-os a repetirem equívocos históricos e alimentarem preconceitos sobre a presença do negro africano e seus descendentes em nossa civilização. Nesse sentido, as propostas, fruto da pesquisa e da aplicação de 100 tais conteúdos nos cursos de formação de professores, vêm preencher uma lacuna, visto que considera a necessidade de se apresentar a cultura africana e de seus descendentes não como uma contribuição à formação da nossa identidade nacional, mas como elemento constituidor de nossa história e de nossa cultura. Além disso, o estudo procura responder à crucial pergunta: como ensinar Cultura Afro-Brasileira de forma científica, já que as produções nessa área são eivadas de preconceitos e deturpações e as recentes pesquisas científicas não foram, ainda, “filtradas” para os não-especialistas? Destarte, o estudo apresenta reflexões científicas sobre a atual realidade, à medida que procura fazer uma revisão sobre o papel de negros africanos e seus descendentes pelo viés da linguagem, palco onde os conflitos se atualizam e se renovam diuturnamente. O ESTÁGIO DE PORTUGUÊS NO CENTRO DE CONVIVÊNCIA E CULTURA: FORMAÇÃO CRÍTICA PARA OS ESTAGIÁRIOS, INSERÇÃO PARA OS PARTICIPANTES Cirlana Rodrigues de SOUZA –UFU [email protected] A disciplina Estágio supervisionado de Português em diferentes contextos, do curso de Letras (UFU), visa possibilitar aos alunos a prática do ensino da Língua Portuguesa fora do contexto regular de educação. O estágio pode facilmente se restringir a eventuais cursos de português instrumental para diferentes demandas como entrevista de emprego e preparação para concurso público. Sem invalidar essas iniciativas – que respondem a uma demanda social de ensino e formação – a proposta, para um grupo de estagiários, foi ampliar a noção de diferentes contextos, objetivando uma espécie de inserção de mão dupla: inserção dos alunos estagiários no contexto do Centro de Convivência e Cultura da rede de saúde mental de Uberlândia e dos participantes do projeto ali realizado, os pacientes em momento de inserção social e cultural. Neste trabalho, refletiremos sobre essa singular experiência de estágio considerando que a educação tem a capacidade de transformar as relações sociais, pois possibilita discutir e instaurar o respeito às diferenças. Desse modo, trabalhar em diferentes contextos descentralizando a educação seria um exercício de emancipação social e cultural tanto para alunos como para os participantes. Essa experiência se constituiu de oficinas de produção textual enfatizando a produção de textos literários e jornalísticos. Essas oficinas foram elaboradas considerando o interesse do grupo de participantes que realiza, semanalmente, uma oficina de comunicação. Foram produzidos gêneros textuais como o conto, a poesia, a história em quadrinhos e aqueles que poderiam contribuir para a produção do jornal do Centro, como o editorial e a crônica esportiva. Assim, tomaremos como fundamentação para esta experiência educativa, cultural e social, o potencial formativo do pensamento crítico enfatizado por Adorno (1995, 1996) sustentando ser o sentido da educação a autorreflexão crítica, melhor dizendo, a educação deve refletir criticamente sobre si mesma. O PAPEL DA ESCOLA NA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O PRECONCEITO LINGUÍSTICO – UMA PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA Maridelma LAPERUTA-MARTINS – UNESP [email protected] A presente comunicação tem por objetivo expor o desenvolvimento de minha pesquisa de doutorado, provisoriamente intitulada: “A sociolinguística e o ensino de língua portuguesa: uma proposta para um ensino aprendizagem livre de preconceitos”. Trata-se de um projeto que se inicia a partir de um percurso de 7 anos no curso de Letras da UNIOESTE, observando o discurso dos alunos de graduação e de professores de E.F. sobre suas atitudes linguísticas e concluindo, empiricamente, a existência de preconceito linguístico nesses discursos. A partir dessa conclusão, trago à tona a hipótese de que é, apenas, por meio da escola que se pode fazer um trabalho de conscientização linguística que possa amenizar discursos e atitudes preconceituosas sobre a linguagem. Estou realizando uma pesquisa aplicada de abordagem qualitativa com os seguintes 101 passos: 1. averiguação/comprovação, por meio de entrevistas não estruturadas, com um grupo de professores de E.F. e com seus alunos, de seus discursos preconceituosos sobre a linguagem; 2. discussão, com esse mesmo grupo de professores, sobre os pressupostos teóricos da Sociolinguística; 3. elaboração, ainda com esse mesmo grupo de professores, de uma sequência de atividades de ensino que aborde amplamente questões como variação e mudança linguísticas, homogeneidade e heterogeneidade linguísticas, normas, o vernáculo, estigma e prestígio, preconceito linguístico, entre várias outras; 4. verificação, com o mesmo grupo de professores e alunos, dos resultados da aplicação dessas atividades pelos professores, o que confirmará ou não a hipótese desta proposta de pesquisa. Neste momento, já foram executados os itens 1, 2 das proposições acima. O item 3 está sendo feito e aplicado pelos professores e o item 4 será realizado no final da pesquisa (final deste semestre). Acredito que o resultado deste trabalho seja positivo e que, por meio da escola, ele possa auxiliar a luta contra o preconceito linguístico existente na sociedade. LEI 10.639/03 E LEI 11.645/08: DESAFIOS PARA A DISCIPLINA LÍNGUA PORTUGUESA Luciane Ribeiro Dias GONÇALVES – UFU [email protected] Cairo M I KATRIB – UFU [email protected] O recente arcabouço jurídico-normativo educacional tem desafiado a disciplina Língua Portuguesa a encontrar estratégias teórico-metodológicas para responder à necessidade de observar a diferença étnico-cultural que compõe a cultura brasileira com novos olhos. Este trabalho objetiva demonstrar que a Língua Portuguesa é uma das disciplinas com potencial para romper com o eurocentrismo predominante no contexto escolar. Para analisar esta problemática utilizamos de revisão de documentos normativos relacionadas à educação das relações étnico-raciais na perspectiva das Leis 10.639/03 e 11.645/08. Tanto as leis citadas anteriormente, quanto as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura afrobrasileira e africana, preconizam que a disciplina língua portuguesa deverá atentar para questões didático-pedagógicas como a diversidade da literatura africana, o uso da oralidade, atenção às ilustrações dos livros a respeito de estereótipos entre outros aspectos, a visibilidade e os papéis das personagens negras e a manutenção e/ ou inovação na violência simbólica calcada em preconceitos e caricaturas. As discussões baseiam-se no quadro teórico metodológico que contemplem estudos com discussões teóricas e analíticas que busquem alternativas para que se desfaçam equívocos históricos sobre a população negra e indígena, reconheça a complexidade do processo de construção da identidade nacional e avance em estratégias de pesquisa e propostas metodológicas para uma educação que busque a formação cidadã. Entendemos que a língua portuguesa potencializa uma imensa contribuição a oferecer em prol da luta anti-racista educacional e consequentemente, contribuir para a mudança da sociedade brasileira neste aspecto. O JORNAL COMO MECANISMO DE INCLUSÃO SOCIAL: UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO NEGRO POR MEIO DA CONSTRUÇÃO ANAFÓRICA Lúcia Mosqueira de Oliveira VIEIRA – FPU [email protected] A história evidencia o quanto o preconceito racial ainda está arraigado fortemente em nossa realidade. Neste contexto, o Movimento Negro age sob o legítimo ofício de assegurar os direitos indispensáveis a qualquer cidadão – o direito à educação, à saúde, ao trabalho, à participação política e social. Incontestavelmente, a escola exerce um papel fundamental no sentido de viabilizar ações para que esses direitos possam ser reconhecidos e legitimados. O objetivo desse trabalho é 102 refletir, então, como o professor de língua materna pode contribuir ou não para um ensino mais inclusivo. Dentre as várias possibilidades, o trabalho com jornais se afigura como uma fonte rica para explorar várias questões, dentre elas a representação da figura negra pela construção anafórica por meio da coesão lexical. Restringimos nossa análise à anáfora indireta por meio do processo metonínimo. Para isto, analisamos os jornais da Imprensa Negra, especificamente “A voz da Raça”, “A Rua”, “A liberdade”. Baseamo-nos em Charolles (1991), Cornish (1996), Fauconnier (1994) e Perelman e Olbretchts &Tytheca (1996). A análise dos dados evidenciou que a construção anafórica, especificmente a anáfora indireta por metonímia, é resultado de operações mentais, situada no interior de um sistema de conhecimentos de mundo partilhado pelos interlocutores. Desse modo, o dizer do professor e o seu trabalho por meio do jornal são cruciais para o resgate das grandes questões relacionadas à atuação do negro no Brasil, sendo um dos fatores coadjuvantes para promover um ensino mais inclusivo em nosso país. POR UMA EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA: O SAMBA E A FORMAÇÃO DA CIDADANIA Fábio André Cardoso COELHO – UERJ [email protected] A partir da necessidade de se pensar sobre um ensino reflexivo da língua portuguesa, este trabalho tem como objetivo abordar algumas práticas docentes no processo de ensino-aprendizagem na escola e apontar possíveis relações do samba com as práticas de cidadania. Desinteresse pela leitura e pelas descobertas que os textos podem proporcionar são alguns dos apontamentos evidenciados, decorrentes da constatação de um ensino precário e ineficaz da língua. Para essa análise, faremos uma abordagem sobre o conceito de língua, sujeito, cidadania, ensino, cultura do samba, concepções de linguagem e de gramática, tendo como pressupostos teóricos os fundamentos didático-metodológicos da língua portuguesa, à luz dos trabalhos de Antunes (2009), Azeredo (2002), Geraldi (1996), (2000), Guedes (2009), Moura (2004), Pereira (2002) e (2004), Rojo (2000), Suassuna (1995) e Travaglia (2000). Tentaremos entender de que maneira as letras dos sambas apresentam suas potencialidades linguísticas e como os recursos linguístico-expressivos presentes neles podem ser apreendidos e compreendidos pelos alunos. Ressaltaremos a apropriação dos direitos propiciados e deveres exigidos pela língua. E mais, se ela representa a possibilidade de o sujeito tornar o seu conhecimento explícito, revalidá-lo e representá-lo,e se saber o idioma é mais do que conhecer sua estrutura gramatical, tornamos produtivo entender que saber a língua é saber mais de si e do outro com quem interagimos. Partindo da premissa de que o ensino de língua portuguesa estabelece relações com as práticas linguísticas de cidadania, discutiremos também sobre o papel do professor como mediador desse processo e a necessidade de pensarmos como os mecanismos linguísticos presentes nas letras dos sambas contribuem nessa construção do alunocidadão. LETRAMENTOS PARA O EXERCÍCIO DA CIDADANIA Viviane Raposo PIMENTA – UFMG [email protected] Neste estudo, objetiva-se apresentar a discussão sobre os Multiletramentos, mais especificamente, no que se refere ao ensino de leitura e produção de textos nas aulas de Língua Portuguesa, os letramentos críticos e protagonistas para o exercício da cidadania. Neste sentido, a abordagem da língua enquanto instrumento de poder. Ora, se o sujeito se constitui na e pela linguagem, é no âmbito das aulas de Língua Portuguesa que encontramos ambiente profícuo para a abordagem dos direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição Federal de 1988. Constata-se que a efetividade dos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição está diretamente relacionada ao grau de conhecimento destes pelos cidadãos. No Brasil, onde a maior parte da população não dispõe dos mais básicos direitos, sobrevivendo em precárias situações, revela-se o baixo nível de 103 conscientização jurídica e política, a exigir um programa de letramentos em direitos fundamentais. Portanto, o aspecto objetivo de uma legislação que garante os direitos humanos precisa ser complementado pelo aspecto subjetivo, uma educação para os direitos humanos, de modo a tornálos um consenso cultural enraizado no sentir, no pensar e no agir das pessoas. Assim, acredita-se que o exercício da cidadania pressupõe a consciência do homem de que é sujeito de direitos. Superando concepções positivistas e idealistas dos direitos humanos, cumpre traçar o perfil da abordagem pedagógica adequada à conscientização crítica dos direitos fundamentais por meio do trabalho com os mais variados gêneros do discurso que favoreçam a discussão, e promovam uma combinação dialética entre o conhecimento local e o formal. ANÁLISE DE JORNAIS DA IMPRENSA NEGRA: EXCLUSÃO, PRECONCEITO E CIDADANIA – CONTRIBUIÇÕES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA LEI Nº 10.639/03 EM AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA Maria Cecília de LIMA – UFU [email protected] Janaína Jácome dos SANTOS – IESP [email protected] A imprensa negra foi criada para dar vez e voz aos negros brasileiros no período pós-abolição (PINTO, 2010). Época em que a ideologia veiculada pelo mito da democracia racial não permitia que o preconceito e a discriminação fossem admitidos. Ao discutir esse tema, nesta comunicação, temos como objetivo mostrar como a análise de jornais da imprensa negra -, de modo social e textualmente orientado, trazendo à tona os processos de exclusão e preconceito aos quais os negros estavam expostos e sua luta para a construção de sua cidadania - pode contribuir com a implementação da lei nº 10.639/03, em aulas de Língua Portuguesa, para a constituição de novas identidades. Para tanto, empregamos os pressupostos teóricos e metodológicos da Análise de Discurso Crítica (ADC) e da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), demonstrando a estreita relação entre linguagem e sociedade. A Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2001; RESENDE, RAMALHO, 2002) parte do princípio de que a linguagem é parte irredutível da vida social, e responsável pela constituição de crenças, valores, identidades e conhecimentos, discursos que são materializados/concretizados em textos. Esses discursos podem ser analisados por teorias linguísticas que também consideram a linguagem como parte irredutível da sociedade, bem como uma prática social. Uma dessas teorias é a Gramática Funcional (HALLIDAY, 1994), que apresenta como ideia básica que a língua constrói o contexto social e é por ele construída, sendo os significados construídos na interação. Com o emprego dessas teorias, e de discussões sobre raça e etnia (SCHWARCZ, 2010; MUNANGA, 1996), procedemos a análise de jornais da imprensa negra na tentativa de contribuir com o ensino de Língua Portuguesa engajado com a leitura crítica de problemas sociais como o vivido pela população negra na pós-abolição e que ainda tem seus reflexos na sociedade. O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO PROCESSO DISCRIMINATÓRIO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR EM MOÇAMBIQUE Vânia Aparecida Martins BERNARDES – UFU [email protected] O presente artigo é a analise sobre o resultado de várias pesquisas realizadas pelo investigador moçambicano e diretor do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane professor PhD. Armindo Ngunga. O pesquisador defende a tese de que ao se introduzir o projeto de expansão do uso da Língua Portuguesa oficialmente pelo Estado em Moçambique é inevitável associar a ação pedagógica denominado de Projeto Bilingue, que atende os interesses da população também com o uso da língua materna. Os objetivos desta pesquisa consistem em publicizar os 104 resultados de que somente o ensino da Língua Portuguesa na educação escolar contribuiu com a evasão das crianças do sistema escolar. Estudos demonstraram que os sujeitos/alunos pesquisados dos cursos primários obtiveram, desde o ano de 2009, baixo nível de domínio dos conteúdos e das metodologias de ensino por parte dos professores. Todavia o pesquisador chama a atenção para a injustiça por parte do Estado daquele país em exigir que suas crianças moçambicanas sejam alfabetizadas com êxito, menciona como exemplos a província de Niassa e Cabo Degaldo. Portanto, os resultados apontam que “a situação do sistema de ensino-aprendizagem nas duas províncias é preocupante, quer entre as crianças, quer em relação aos professores envolvidos/testados” (Courlon e Mendes, 2009:45). Tal processo anula toda a identidade cultural de séculos e séculos de tradição da língua materna africana, uma vez que há diferença entre alfabetizar na língua materna e o ensino de uma segunda língua. Com base nesse nesses pressupostos, tornou-se possível evidenciar através do levantamento de dados voltados para o ambiente escolar, mais especificamente, a formação docente, a gestão escolar, os pais e encarregados da educação que com o ensino exclusivo da Língua Portuguesa resulta em processos discriminatórios na educação escolar em Moçambique. GRUPO TEMÁTICO 15: ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: MÚLTIPLOS OLHARES; MÚLTIPLAS FACETAS COORDENADORES: Adriane Teresinha SARTORI (UFMG) – [email protected]; Silvio Ribeiro da SILVA (UFG – Campus Jataí) – [email protected] O ensino de português como língua materna tem-se caracterizado por ser um objeto complexo e multifacetado. Dada essa configuração, este Grupo de Trabalho pretende reunir pesquisas concluídas, ou em fase de conclusão, que visam analisar a atual realidade do ensino de língua portuguesa em nível de educação básica, ensino fundamental ou médio. Que práticas de ensino de nossa língua são efetivadas nas salas de aula das escolas brasileiras? Como essas práticas são orientadas/encaminhadas pelo(s) material(is) didático(s)? Essas são perguntas essenciais a serem respondidas pelos pesquisadores interessados em participar deste GT. Dessa forma, interessa-nos analisar as propostas ou práticas de ensino de leitura, de redação ou produção de textos, de gramática ou análise linguística, além das relacionadas à oralidade. Parece-nos essencial investigar esses eixos de ensino, considerando o ideário que tem constituído os documentos oficiais dos diversos níveis de gestão, bem como os estudos linguísticos, que têm acumulado avanços significativos nessas últimas décadas em relação aos temas mencionados. Paralelamente a esse corpo de conhecimento, há a realidade da escola, na qual se concretizam às vezes práticas mais tradicionais ou alternativas de ensino, mediadas, muitas vezes, por materiais didáticos, revelando a heterogeneidade e a multiplicidade de concepções ali presentes. No embate permanente entre “métodos” para ensinar, está a necessidade de equacionar o tão propalado problema do analfabetismo funcional em língua materna de boa parte dos egressos da escola. Assim, pretendemos reunir pesquisadores interessados em analisar o ensino de português como língua materna, cujas abordagens teórico-metodológicas tenham cunho qualitativo e preferencialmente estejam filiadas à Linguística Aplicada, área de investigação definida como transdisciplinar por excelência. PRÁTICAS COLABORATIVAS DE ESCRITA? DISCUTINDO CONCEITOS PARA REPENSAR A PRODUÇÃO TEXTUAL NA ESCOLA Petrilson Alan PINHEIRO – UFMS [email protected] O objetivo desta comunicação é apresentar uma discussão acerca da questão da produção textual colaborativa (incluindo os conceitos já bastante comuns de colaboração e cooperação) no contexto sócio-histórico atual de reconfiguração no campo da comunicação e da informação na Web 2.0. Essa discussão se apoia em dados empíricos gerados a partir de um projeto de ensino de um jornal digital escolar desenvolvido numa escola estadual localizada no município de Campinas (SP), entre 105 os meses de agosto e dezembro de 2008, com um grupo de voluntários composto por dezenove alunos(as) do Ensino Médio. A intenção do uso desses dados no presente trabalho é mostrar como práticas de escrita se constituem ao longo de um processo colaborativo de escrita e de apresentar uma proposta de conceituação do que estou chamando de ‘práticas colaborativas de escrita’. Para tanto, parto de uma discussão importante e controversa acerca dos conceitos de colaboração e cooperação no campo de ensino-aprendizagem, para, então, tratar das práticas colaborativas de escrita e mostrar como estas podem trazer uma nova perspectiva para o ensino de produção textual na escola. Assim, busca-se refletir sobre as práticas colaborativas de escrita como processos de aprendizagem, que são sempre mediados por artefatos sociais, históricos e culturais diversos. Nesse sentido, é possível afirmar que a internet, como o principal artefato tecnológico atual, propicia muitas ferramentas digitais que podem funcionar como instrumentos de mediação e contribuir para atividades de produção textual, não de forma individual, como, em geral, a escola sempre trabalhou, mas de uma forma que faça com que alunos e professores possam se engajar em práticas colaborativas de escrita efetiva no contexto escolar. COM QUANTAS FOLHAS SE FAZ UM PROFESSOR? – ANÁLISE DE PAPÉIS ASSUMIDOS POR PROFESSORES DE REDAÇÃO DE TERCEIRO ANO DE ENSINO MÉDIO Samelly Xavier da CRUZ – UFCG [email protected] Nosso trabalho tem o objetivo de, à luz das teorias discursivas sobre o ensino como trabalho (MACHADO: 2004, 2007), investigar como se caracteriza o professor de redação do terceiro ano do Ensino Médio das escolas da cidade de Campina Grande. Obtivemos um corpus de 9 professores, os quais foram analisados quanto sua caracterização de trabalho a partir de três papéis assumidos por estes profissionais, a saber: corretor, elaborador de material didático e produtor de textos. Tais papéis fazem parte da práxis escolar, e pretendemos observar como um influencia/interfere no outro além de observarmos a influência do novo ENEM na configuração correlativa a estes três papéis do professor. É também nosso intuito caracterizar estes papéis e analisar as correlações possíveis entre eles e os sujeitos que o assumem, seja em relação a eles próprios, seja em relação aos outros professores. Para realizar essa caracterização e essa correlação, nos utilizamos de um estudo primordialmente exploratório, embora apresente um caráter também documental. Este trabalho se insere na lógica da Linguística Aplicada (MOITA LOPES: 2006), portanto, é de cunho descritivo-interpretativista. Os dados gerados para compor os perfis dos sujeitos envolvidos nessa pesquisa foram coletados a partir de um questionário, uma entrevista semi-estruturada e da análise de suas provas escolares. Os resultados obtidos apontam para uma não necessária correlação entre as três categorias por nós abordadas e uma influência direta do ENEM, que representa o efeito retroativo. Tal trabalho nos trouxe novas percepções sobre o agir docente. A ESCRITA NA SALA DE AULA: A AUTORIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Fabiana Claudia Viana BORGES – FFCL-ITUV [email protected] Uma das práticas de ensino de língua portuguesa mais efetivadas em sala de aula dos anos iniciais é a reescrita de textos, sobretudo literários. Essa prática propõe a organização escrita do texto lido e procura focar nas diferenças existentes essas duas ‘modalidade’ textuais, a leitura e a escrita. Dessa forma, questionamos de que maneira essa prática contribui para o aluno produzir um texto com autoria, historicizando os sentidos. Como o texto escrito em detrimento ao texto oral é trabalhado em sala de aula, assim como o ‘texto informal’ versus o ‘texto formal’? Preterindo a esses objetivos, nossas análises dar-se-ão a partir de textos escritos por alunos dos anos iniciais, materialidades linguísticas originadas por atividades de reescrita de textos, conforme já mencionado, os literários, e 106 a partir das orientações dadas pelos documentos oficiais destinados a professores de língua portuguesa dos anos iniciais do ensino fundamental, documentos esses legitimados a dizer “o que” e “como” trabalhar com escrita e leitura em sala de aula. A teoria que embasa esta pesquisa é a Análise de Discurso de linha francesa e as teorias de Letramento, a partir de autores como Pêcheux, Orlandi, Pfeiffer, Pacífico, Cagliari, Tfouni, Rojo, que possibilitam discutir questões, dentre outras, que versam sobre sujeito, sentido, autoria, paráfrase, polissemia, fôrma-leitor, e possibilitam, também, verificar se essa prática, tal como pregoam os documentos oficiais, propicia aos alunos a assunção da autoria ou se apenas se constituem como paráfrases, repetições do texto literário lido, que objetivam à ‘qualidade’ do texto escrito, sua estrutura, e,assim, a assunção da autoria por parte do aluno não é considerada pela escola. GESTOS DE LEITURA E ESCRITA: A SUBJETIVIDADE NA LINGUAGEM DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO Thais Silva MARINHEIRO – FFCL [email protected] Pensando-se a linguagem como fonte de representação do sujeito, é perceptível o quanto o discurso autoritário ainda se faz presente nos textos dos alunos de Ensino Médio, de modo que é através da escrita, dos gestos de leitura e da fala que o homem tenta se fazer entender, sem, muitas vezes, pensar nos equívocos, derivas e incompletudes que há na língua que podem causar sentidos outros. Embasada pelos teóricos da Análise do Discurso, esta pesquisa tem a finalidade de perceber como a subjetividade se instaura nos alunos enquanto produtores da linguagem. Acreditamos que, como difere Orlandi (2003), em alguns textos há o predomínio do discurso polissêmico, em que o aluno argumenta a partir de uma relação entre sua formação ideológica e seu interdiscurso, enquanto outros partem do discurso parafrástico, de maneira que não irrompem com o discurso dominante. Para isso, foram analisados textos escritos produzidos por alunos do segundo ano do Ensino Médio de uma escola estadual, em uma situação específica de produção, e, a partir das análises dos textos, percebeu-se que os discentes, para sustentar seus argumentos, utilizavam-se de sua identidade, falavam de si mesmos, de suas qualidades, defeitos, infância, educação, atribuindo a si muitos adjetivos, a isto a Análise do Discurso denomina subjetividade, ou seja, de acordo com Pêcheux (1999), é a imagem que o eu faz de si, inconscientemente. Os conceitos de autoria, paráfrase e polissemia, argumentação, utilizados nesta pesquisa são apresentados por Orlandi (1996, 2001), arquivo, subjetividade por Pêcheux (1999), função-leitor, por Pacífico (2002), assim como os conceitos de texto, discurso e outros propostos pela Análise de Discurso. OS ELEMENTOS DISCURSIVOS E A PRÁTICA DOCENTE UMA LEITURA DO FILME TAPETE VERMELHO Marcilene de Assis Alves ARAÚJO – UNIRG [email protected] Esse trabalho aborda questões relacionadas à prática docente do ensino de língua portuguesa e aos avanços da linguística, considerando as discussões acerca dos gêneros textuais, na perspectiva de incentivar uma prática de pesquisa interativa em sala de aula, por meio de um trabalho, cujo foco parte do estudo das variações linguísticas e da análise morfossintática, dos enunciados proferidos pelas personagens do filme, Tapete Vermelho. Nesse sentido, a partir dos pressupostos da Sociolinguística discutidas por Bortoni-Ricardo (2006), Tarallo (2000) e Mollica (2003), além das bases teóricas da Gramática Gerativa Transformacional (GGT), considerando as orientações teóricas de Chomsky e Dubois, rediscutidos por Sautchuk (2010); Koch e Silva (2005) propõe-se um trabalho visando a identificação e classificação dos elementos, tanto verbais quanto não verbais, os quais possibilitam a construção das marcas de identidade cultural dos sujeitos, bem como, a análise dos aspectos morfossintáticos presentes nos enunciados proferidos pelos personagens do 107 filme. Nesse contexto, propõe-se, nessa análise, considerar o funcionamento discursivo dos elementos analisados, a partir do contexto da interação verbal, partindo do inter-relacionamento existente entre os componentes sintático, semântico e pragmático com o propósito de apresentar ao aluno a efetiva compreensão do funcionamento da língua, em situações reais de comunicação, levando-o a compreender e usar a língua materna como geradora de significados e integradora da organização do mundo. Desse modo, esse trabalho apresenta uma linha de estudo embasada na concepção funcionalista de estudo da linguagem, ao conceber a língua como instrumento de comunicação proveniente de situações comunicativas construídas a partir do contexto discursivo. OS SIGNIFICADOS NO FAZER IMPRENSA ESCOLAR: O TRABALHO COM PROJETOS NA AULA DE PORTUGUÊS Raquel Leão LUZ – UFRGS [email protected] Luciene Juliano SIMÕES – UFRGS [email protected] Este trabalho tem como objetivos apresentar o processo de construção de um projeto de imprensa escolar em uma escola da rede municipal de Porto Alegre – Rio Grande do Sul, com os alunos do terceiro ciclo do Ensino Fundamental, por meio da relação essencial que ele estabelece com a construção de conhecimentos na aula de Língua Portuguesa, bem como apresentar as práticas de letramento envolvidas nesse processo, do ponto de vista dos estudos de letramento como prática social. Para tanto, partimos de um dado gerado no primeiro semestre deste ano, que possibilita a formulação das seguintes hipóteses de análise: (a) o estudo da língua é mais bem aproveitado pela sua relação com o projeto imprensa escolar, (b) visto que os alunos participantes estão engajados em uma atividade social de linguagem (c) com propósitos e interlocuções definidos e configurados por eles mesmos em seus procedimentos de produção e/ou publicação de textos. Nesse sentido, a relevância do trabalho está em (a)discutir como se proporciona permeabilidade entre a aula de Língua Portuguesa e os projetos pedagógicos da escola que envolvem práticas letradas do projeto mais amplo (imprensa escolar) e (b) na reflexão acerca dos significados que este projeto adquire localmente em relação ao marco conceitual que o envolve. Apresentamos ainda a relevância de se construir, por meio de um projeto pedagógico, interlocução efetiva entre os membros da escola, pela leitura e pela escrita em situações de produção em que os alunos possam estar engajados em práticas sociais que sejam relevantes para eles mesmos. PROJETO DIDÁTICO O SOM QUE FAZ A NOSSA CABEÇA: RELATO INTERPRETATIVO DESSA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA William KIRSCH – UFRGS [email protected] A presente comunicação consiste na síntese dos resultados obtidos por minha dissertação de mestrado, que oferece o relato da investigação qualitativa/interpretativa do projeto didático mencionado no título, executado em colaboração com uma professora de língua portuguesa do ensino fundamental da rede estadual do estado do Rio Grande do Sul. O projeto didático teve por objetivo a leitura e produção de notas autobiográficas centradas na relação entre canções favoritas e questões autobiográficas pertinentes a essa relação. Após uma sequência de tarefas – leitura e interpretação, estudo do texto, e foco em recursos expressivos –, os alunos produziram notas autobiográficas, publicadas num CD da turma. O CD da turma continha um encarte com uma nota produzida por cada aluno e uma mídia com cada canção escolhida para as notas. O projeto didático teve por pilares teóricos: (1) o enquadre dialógico do Círculo de Bakhtin, no tocante à conceituação de língua/linguagem, gêneros do discurso e autoria; (2) os pressupostos do ensino e aprendizagem por projetos. No que tange à geração e tratamento de dados, a base teórica foi a tradição de pesquisa 108 qualitativa/interpretativa. Os resultados da pesquisa sugerem que há uma intrincada relação entre interlocução, publicidade e autoria no âmbito dos projetos para o ensino de língua portuguesa. Os dados mostram diversos momentos em que os alunos se engajam em atividades pedagógicas; os dados também mostram momentos em que os alunos sustentam publicamente a autoria dos textos escritos por meio da exibição de responsabilidade pelos efeitos de sentido que os textos suscitam nos seus leitores. Esses momentos de autoria são, em larga medida, deflagrados na interação professor/aluno, o mais robusto subsídio empírico do relato. REFLEXÕES ACERCA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: AULAS QUE NÃO ACONTECEM Josa Coelho da Silva IRIGOITE – UFSC [email protected] Esta comunicação traz um recorte de uma pesquisa de Dissertação cujo tema é a aula de Português, com foco em fatores que comprometem a formação dos alunos como leitores e produtores de textos-enunciado escritos em diferentes gêneros discursivos. O objetivo foi identificar razões pelas quais as aulas de Português não acontecem no espaço escolar em estudo, em se tratando do ensino e da aprendizagem da leitura e da produção textual escrita. A tipificação da pesquisa constitui uma pesquisa-ação, com ancoragem etnográfica, cuja geração de dados partiu da inserção em uma escola estadual do município de São José, nas aulas de Português de duas turmas: uma 7º série do ensino fundamental e um 1º ano do ensino médio. A operacionalização incluiu observação participante das aulas de Português com geração de notas de campo e um período de intervenção didática, além de entrevistas e análises documentais. As aulas pesquisadas tiveram como foco norteador o gênero crônica, uma exigência local por conta das Olimpíadas de Português de que a escola iria participar na época. Os resultados sinalizam para uma provável divergência entre as práticas de letramento dos alunos e as práticas de letramento escolares. Mais do que uma divergência, conclui-se que muitos dos gêneros do discurso que compõem a aula de Português – a exemplo da crônica – correspondem a propostas de eventos de letramento para os quais as práticas de letramento dos alunos não oferecem suporte. As atividades de leitura e escrita propostas pela escola, assim, não fazem sentido para os alunos, que, por sua vez, não se engajam nas aulas; não havendo engajamento, a aula de Português não acontece como gênero discursivo, na concepção de Matêncio (2001). PARTICIPAÇÃO, IDENTIDADE E VARIAÇÃO EM UMA COMUNIDADE DE PRÁTICA DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EJA Andréa Burgos de Azevedo MANGABEIRA – UFRGS [email protected] Este trabalho buscou estabelecer relações entre a construção de identidades em uma comunidade de prática e a variação na concordância nominal de número como uma prática social na fala de seus participantes. Para isto, se apoiou no conceito de comunidades de prática e de participação periférica legitimada, com vistas a observar, delimitar e analisar uma comunidade de prática emergente na sala de aula de Língua Portuguesa na EJA, por meio da interpretação das relações sociais estabelecidas entre seus membros na construção de suas identidades nesta comunidade. A análise dos dados mostrou a emergência das categorias sociais de Jovens e Adultos reificadas no discurso dos participantes e na constituição socio-histórica da escola. Além disso, foram encontradas categorias emergentes de participação na comunidade de prática analisada, mostrando que a negociação do status de participante pleno, periférico e marginalizado na comunidade de prática em questão é dinâmica e constante. A partir destas categorias locais, realizou-se uma análise interpretativa da variação na concordância nominal de número na fala dos participantes na sala de aula de Língua Portuguesa, e uma análise interpretativa, mas também quantitativa, de suas taxas de 109 aplicação de concordância padrão nas entrevistas individuais realizadas. A análise dos dados de variação linguística e interação na comunidade de prática em questão mostrou que esta variável linguística é utilizada localmente pelos participantes como recurso simbólico, ao fazerem movimentos estilísticos, no sentido de construir suas identidades de participação na comunidade de prática analisada, bem como a relação deste uso local com resultados macrossociais encontrados por pesquisas anteriores de larga escala. Este resultado evidencia a importância da associação entre pesquisas interpretativas locais e pesquisas quantitativas macrossociais para o entendimento dos significados sociais da variação linguística, e para compreender as relações destes significados com a configuração social construída na escola e na sala de aula de Língua Materna. ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ORIENTADO POR PROJETOS DIDÁTICOS DE GÊNERO: UM OUTRO OLHAR SOBRE A PRÁTICA DE SALA DE AULA Dorotea Frank KERSCH – UNISINOS [email protected] No âmbito do projeto “Por uma formação continuada cooperativa para o desenvolvimento do processo educativo de leitura e produção textual escrita no Ensino Fundamental, que tem apoio do Programa Observatório da Educação da Capes, vimos discutindo, com os professores bolsistas da rede municipal de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre e demais integrantes do projeto, alternativas para qualificar o trabalho com língua portuguesa na sala de aula. Pautadas por uma concepção interativa de linguagem (BAKHTIN, 2003; BRONCKART, 2004), damos início à formação continuada dos professores, partindo da discussão de conceitos fundantes para o trabalho: concepção de linguagem, letramento, educação linguística e a noção de gênero. Esses conceitos ancoram a co-construção do que estamos denominando projeto didático de gênero (PDG), proposta de trabalho surgida dessa discussão, quando nos sentimos desafiadas a ligar teoria à prática. Ampliamos o conceito de sequência didática (SCHNEUWLY & DOLZ, 2004) para colocar a produção de leitura lado a lado com a produção textual e tomá-las como práticas sociais efetivas. Neste trabalho objetivamos apresentar alguns resultados do projeto, dando destaque à atuação de dois dos professores bolsistas e aos PDG por eles desenvolvidos. Nossos resultados mostram que a mudança em sala de aula ocorre quando o professor se sente estimulado a ser autor, e essa atitude positiva em relação a seu trabalho vai estimulá-lo a dar também voz a seus alunos, construindo um ambiente em que todos ensinam e aprendem. A mudança também passa pelo trabalho cooperativo entre academia e escola, em que teoria alimenta prática e vice-versa. O QUE A REPRESENTAÇÃO DO TRABALHO DE PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA REVELA SOBRE O AGIR DOCENTE Alessandra Preussler de ALMEIDA – UNISINOS [email protected] Este trabalho é um recorte da pesquisa a respeito da atuação profissional de professores de língua portuguesa no ensino fundamental de escolas públicas de uma cidade do Vale do Rio dos Sinos, RS, que está inserido em um projeto bem mais amplo de formação continuada e cooperativa para professores graduados em Letras. Para embasar o estudo, valemo-nos do arcabouço teóricometodológico do Interacionismo Sociodiscursivo, o qual lança o olhar científico para as questões pertinentes ao agir vinculadas à situação de trabalho. Sob essa perspectiva, entendemos que o trabalho de ensinar requer a incorporação, por parte dos trabalhadores da educação, dos atributos, do preparo e do esforço necessários para a execução do agir nas relações de sala de aula, o que os torna atores no contexto em questão. Para Bronckart (2008), o termo ator indica aquele que possui capacidades, motivos e intenções, enquanto o termo agente está associado àquele que é desprovido de tais atributos. Abordamos a terceira dimensão do plano geral de pesquisa bronckartiano, o trabalho representado pelos actantes, que se configura pela avaliação do trabalho feita pelos 110 próprios profissionais, através de uma entrevista respondida antes e após a aplicação do projeto pedagógico nas suas salas de aula A entrevista faz com que os professores reflitam e comentem sobre sua prática, concepção de língua e de ensino de língua materna, currículo escolar, metodologia de ensino e avaliação discente. A partir disso, buscamos identificar as figuras de ação interna e externa (Bulea, 2007) presentes no discurso dos professores, as quais indicam fatores relevantes para a constituição do docente como um ator no processo de ensino. A LÍNGUA MATERNA DO PONTO DE VISTA DO ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA Marcelo CONCÁRIO – UNESP [email protected] Há dois objetivos nesta comunicação: (1) apresentar resultados de uma pesquisa qualitativa interpretativa acerca do papel da língua materna na construção do conhecimento escolar, com ênfase em características de livros didáticos, e (2) avaliar novos materiais a partir desses resultados. Com base na análise de livros usados em duas escolas públicas do interior de São Paulo em aulas de Ciência, História e Matemática, entre 2005 e 2008, foram identificadas características que poderiam estimular ou limitar oportunidades para que os alunos aprimorassem suas habilidades e competências na língua materna enquanto conteúdos específicos de outras disciplinas eram abordados. Com o intuito de retomar essa temática e analisar livrosmais recentes, foram avaliados novos materiais a partir das categorias de interpretação originais. Alguns dados mostram avanços na medida em que parecem valorizar a produção linguística dos alunos, entretanto permanece a necessidade de reavaliar o modo como os conteúdos são apresentados (em vez de abordados?). Além disso, aspectos relacionados à divisão de papéis entre alunos e professores no encaminhamento e na avaliação das atividades permanecem praticamente iguais. Notam-se, ainda, poucas mudanças em relação ao ensino ou à análise de estratégias de planejamento, de execução propriamente dita, e de promoção de autonomia no uso e desenvolvimentos de novos conhecimentos, de novas habilidades ou atitudes, que seriam objetivos da aprendizagem. Durante a discussão desses resultados, propõe-se um olhar para as oportunidades de ensino-aprendizagem de língua materna segundo tradições consolidadas em alguns contextos de ensino de língua estrangeira, principalmente o ensino comunicativo, o uso de tarefas e a integração entre língua e conteúdos específicos em situações de ensino. SISTEMATIZAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PROPOSTOS POR SISTEMA DE APOSTILADOS PARA A LEITURA E A INTERPRETAÇÃO NO ENSINO MÉDIO Sílvio Ribeiro da SILVA – UFG-CAJ [email protected] Neste trabalho, apresento dados de uma pesquisa, inserida no campo da Linguística Aplicada, cuja análise objetivou identificar que capacidades de leitura são desenvolvidas a partir da abordagem teórico-metodológica dada à leitura e à interpretação de gêneros do discurso por dois sistemas de apostilados amplamente adotados em todo território nacional no Ensino Médio: COC e Positivo. Além disso, analisei de que forma o desenvolvimento dessas capacidades contribui para o desenvolvimento do(s) letramento(s) do aluno. Para a análise dos dados, procedo a uma descrição dos parâmetros teórico-metodológicos apresentados pelos apostilados, bem como à análise das seções nas quais as atividades de leitura e interpretação são apresentadas, usando para a sistematização dos dados algumas capacidades colocadas em prática durante o ato de leitura. A análise dos dados indica que, para a construção do conhecimento acerca da leitura e da interpretação de gêneros do discurso, os apostilados apresentam um apego excessivo à prática da compreensão, deixando de lado a interpretação, favorecendo certo(s) letramento(s), porém desconsiderando o que seria mais pertinente para ser usado em outras instâncias que não meramente a escolar. Nota-se, ainda, a total desarticulação dos eixos de ensino leitura/interpretação, produção oral e escrita e 111 análise linguística. Faltou, também, aos materiais a apresentação de atividades voltadas diretamente para o desenvolvimento de capacidades implicadas na leitura proficiente, como o resgate de aspectos relevantes das condições de produção do texto, o reconhecimento do gênero e/ou do tipo de texto em jogo, por exemplo. Por outro lado, foram comuns atividades que exploraram a compreensão global, a localização de informações explícitas, a inferência de informações implícitas. Por fim, os conhecimentos propostos pelos materiais não permitem que se construa uma reflexão sobre a natureza e o funcionamento da linguagem e, em especial, sobre a língua materna. REFLETINDO SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: O QUE TRAZ O MANUAL DO PROFESSOR E QUE REALIDADE É INSTAURADA NO LIVRO DIDÁTICO Raquel da Silva GOULARTE – UFSM [email protected] Acompanhado pelo surgimento da Linguística como ciência, o estudo dos gêneros ganha nova dimensão. Antes era diretamente vinculado ao âmbito literário. Mas Mikhail Bakhtin foi o estudioso que estabeleceu um vínculo entre os gêneros discursivos e as atividades humanas. Com isso, os gêneros passam a ser observados pelo viés da linguagem. Com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1998, o texto foi tomado como unidade de ensino. A partir de então, a noção de gênero é aplicada na escola, com a expectativa de ser uma eficiente ferramenta de inovação dos métodos tradicionais de ensino. Porém, a aplicação dos conceitos linguísticos no ensino pode ser um problema se não houver atualização e planejamento docente. Na verdade, o problema é o uso direto que se faz, na escola e nos livros didáticos, da variedade de perspectivas linguísticas que tratam de gêneros. Por isso, esta pesquisa contribui com a investigação de três livros didáticos que estão sendo utilizados nas escolas brasileiras hoje. Nesse sentido, analisou-se o conteúdo e as orientações do manual do professor a respeito das propostas de projeto e verificou-se como isso aparece no livro didático. Este estudo é o recorte de uma pesquisa maior que investiga o conceito de gêneros em livros didáticos. Por meio da análise dos projetos, buscou-se destacar algumas questões que demonstrassem em que medida o trabalho com gêneros nos livros didáticos está em consonância com o que foi defendido pelos autores nos manuais para orientar o professor. Assim, tratamos primeiramente dos gêneros em contexto de ensino e da noção de gêneros nos documentos oficiais, em seguida, abordamos o gênero projeto. E a análise está fundamentada na concepção sócio-histórica de Vygostsky (1991,1998), Bakhtin (1992) e Bakhtin/ Volochinov (1988). LIVROS DIDÁTICOS DE LP E ENSINO DA CONEXÃO Janice Helena Silva de Resende Chaves MARINHO – UFMG [email protected] Apresento uma análise do trabalho proposto para o estudo da conexão, em duas coleções livros didáticos de língua portuguesa, 6º a 9º anos, aprovados no PNLD 2011. Considerando o livro didático um importante instrumento no trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor, dentro e fora da sala de aula, e a conexão como importante mecanismo de articulação textual esta pesquisa se propôs a analisar atividades, presentes nos livros didáticos (LDs), que visam ensinar o uso dos conectores em textos, com o objetivo de investigar se os LDs orientam os alunos para o uso efetivo dos mecanismos de conexão, tais como as conjunções, as locuções conjuntivas, os pronomes relativos, os advérbios e as locuções adverbiais, nos diferentes gêneros e tipos textuais. Ou seja, meu objetivo foi analisar se, por meio de atividades que exploram os mecanismos de conexão, é possível levar os alunos à compreensão não só dos processos de combinação intra-sentenciais, tradicionalmente trabalhados, mas também dos processos de articulação por encadeamentos de enunciados e sequências textuais implicados nos diferentes gêneros e tipos textuais. O referencial teórico da pesquisa são estudos sobre os conectores e a articulação textual desenvolvidos no âmbito 112 da Linguística Textual. Foram analisadas atividades que visam à exploração dos conhecimentos constitutivos dos processos de encadeamento de segmentos textuais de qualquer extensão (orações, períodos, parágrafos, subtópicos, sequências textuais ou partes inteiras do texto), sobretudo as que se encontram nas seções voltadas para o trabalho com os conhecimentos linguísticos. As análises realizadas evidenciaram que as duas coleções tratam da conexão e dos conectores a partir de descrições, explicações e classificações nos moldes tradicionais, apresentando atividades de identificação e classificação dos mecanismos de conexão, numa perspectiva mais estrutural. Apesar disso, elas apresentam algumas atividades que possibilitam uma reflexão sobre os valores semânticos dos conectores e seu funcionamento na construção da coesão do texto. CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA CONTEXTUALIZADA E SEU ENSINO: QUE DEFINIÇÕES O PROFESSOR DO ENSINO BÁSICO E O PROFESSOR-FORMANDO TECEM SOBRE ISSO? Janete Silva dos SANTOS – UFT [email protected] O presente estudo analisa concepções de gramática contextualizada para o ensino de língua materna, enunciadas por estudantes do curso de Letras e por docentes do ensino básico, residentes no estado do Tocantins. Partimos do pressuposto de que, apesar das orientações dos PCN e de crescente orientação didática para esse ensino, feita por professores-pesquisadores e pesquisadores interessados no tema, muitos formandos de licenciatura em Letras e professores em atuação ainda sentem consideráveis incertezas sobre o que compreende esse tipo de saber e sua abordagem. Pesquisa exploratória no âmbito local, e ainda em andamento, apoia-se metodologicamente na Análise do Discurso para tratar qualitativamente os dados gerados: inicialmente respostas a formulários com indagações sobre o tema (posteriormente haverá geração de entrevistas em áudio). Nosso marco teórico, transdisciplinar, baseia-se em trabalhos de pesquisadores e estudiosos das áreas da Linguística, Linguística Aplicada, Sociologia, Filosofia e Educação. Esta investigação objetiva mapear e caracterizar as concepções de gramática contextualizada e seu ensino, tanto por meio dos conceitos propostos pelos respondentes, como pelas propostas de atividades fornecidas por eles, confrontando-se as aproximações e o distanciamento entre suas definições, tendo como referência discursos oficiais como as indicações dos PCN e de outras vozes de autoridade no assunto. As primeiras análises confirmam nossa hipótese inicial de que o campo se mostra ainda bastante obscuro para o professor e o formando em Letras sobre o que comporta esse saber e sobre como abordá-lo na escola básica. Entendemos que esta investigação (e sua continuidade) poderá dar suporte ao redimensionamento do trabalho docente nas escolas locais bem como no estágio supervisionado de língua portuguesa, na graduação do curso de Letras, atraindo, outrossim, a atenção para o tema em pesquisas na pós-graduação local. O ENSINO DE GRAMÁTICA NORMATIVA EM ESCOLAS DA REDE PÚBLICA E PRIVADA DO MUNICÍPIO DE JANUÁRIA Alan Jackson Pereira ROSA – PUC-MINAS [email protected] Geane Cássia Alves SENA – UNIFRAN [email protected] Este trabalho tem como objetivo principal mostrar como a gramática normativa da Língua Portuguesa está sendo ensinada nas escolas de rede pública e privada de ensino do município de Januária- Norte de Minas Gerais. Para isso, realizamos uma pesquisa bibliográfica, a fim de fazermos um levantamento de teorias que sirvam de suporte para as nossas análises e discussões, embasada em autores que discutem sobre o ensino de Língua Portuguesa, de gramática normativa e sobre prática docente, como Travaglia (2001), Possenti (1996), Luft (2001), Medrado (2009), dentre outros. Ainda realizamos uma pesquisa de campo, de cunho qualitativo, por ser um tipo de pesquisa 113 que permite analisar um determinado problema, ter um maior contato com a realidade e possibilitar a obtenção de dados que ocorrem espontaneamente no ambiente da pesquisa. Como sujeitos da pesquisa, selecionamos três docentes que atuavam no ensino fundamental, sendo um da rede municipal, 01 da rede privada e 01 da rede estadual de ensino que atuavam no ensino fundamental. Após a seleção dos docentes, aplicamos, durante a pesquisa de campo, uma entrevista semiestruturada para obtenção dos dados. A partir das análises dos dados, percebemos que: há divergência quanto aos conteúdos que os docentes privilegiam nas suas aulas de Língua Portuguesa; os objetivos dos docentes ao ensinarem as normas gramaticais são diferenciados; os três docentes entrevistados utilizam o livro didático como principal recurso didático, sendo que apenas um deles afirmou recorrer a outros materiais didáticos; os três docentes também demonstraram que valorizam os conhecimentos linguísticos trazidos pelos alunos e apresentam dificuldades para conciliar tais conhecimentos com o ensino da gramática normativa. Ainda, foi possível verificarmos que o ensino de gramática muitas vezes privilegia o ensino prescritivo da língua, valorizando a gramática normativa como se esta fosse a única forma correta de se usar a língua, independentemente da situação comunicativa. GRUPO TEMÁTICO 16: ENSINO DE LÍNGUAS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR EM PERSPECTIVAS DISCURSIVAS: EMBATES E DIÁLOGOS COORDENADORAS: Maria de Fátima Fonseca GUILHERME (UFU) [email protected]; Cristiane Carvalho de Paula BRITO (UFU) – [email protected] Este GT se propõe a reunir trabalhos que, ancorados na Linguística Aplicada (LA) em interface com a Análise do Discurso (AD) em suas diferentes filiações, discutam aspectos pertinentes ao processo de ensino-aprendizagem de línguas materna e estrangeiras e à formação do professor dessas línguas. Trabalhar nessa interface pressupõe pensar o ensino-aprendizagem de línguas e a formação do professor como processos sempre (des)contínuos pelo fato de serem os sujeitos heterogêneos, descentrados e a linguagem polifônica e marcada pela opacidade. Assim, é a partir desse olhar que nos interessam aqui questões como: os discursos que atravessam/transpassam tais processos; as políticas educacionais e linguísticas; a relação teoria/prática na formação do professor de línguas; aspectos identitários que constituem os professores que atuam em diferentes instâncias pedagógicoeducacionais. Interessa-nos ainda problematizar os desdobramentos dessas questões para a LA que, em dialogia com a AD, produz um movimento epistemológico no interior do campo da LA, estabelecendo possibilidades inter/transdisciplinares. Além disso, um espaço para que sejam problematizadas discursividades acerca de línguas estrangeiras em sua relação com a língua materna será também aberto por compreendermos que o sujeito de uma língua estrangeira é jásujeito de língua materna, afetado por uma gama de representações referentes ao ‘saber a/sobre a língua’ que inevitavelmente afetam a sua constituição enquanto sujeito de linguagem. Trata-se, pois, de adotar uma postura que questione a visão tradicionalmente dicotômica acerca da linguagem pela qual comumente se concebe o processo de ensino-aprendizagem de línguas e a formação de professores e advogar por uma perspectiva que considere esses acontecimentos discursivos como processos constituídos por conflitos, movências e tensões. Esperamos que esse GT possa agregar trabalhos que discutam questões referentes à língua materna, às línguas estrangeiras e à relação entre elas. DISCURSIVIDADE MIDIÁTICA SOBRE O ENSINO DE CULTURA ESTRANGEIRA EM ESCOLAS BRASILEIRAS Maria de Fátima Fonseca GUILHERME – UFU [email protected] Cristiane Carvalho de Paula BRITO – UFU [email protected] 114 O ensino da cultura estrangeira em escolas brasileiras tem sido foco de pesquisas no escopo dos estudos realizados em Linguística Aplicada (LA). Entendendo esse campo de estudo como inter/transdisciplinar, que tem como tarefa ser “responsiva à vida social” (MOITA LOPES, 2006, p. 97), buscamos realizar um trabalho de entremeio com a Análise do Discurso Francesa (ADF) e a Análise Dialógica do Discurso (ADD), o que permitirá abordar uma possibilidade epistemológica para a discursividade midiática que enuncia questões sobre o ensino de cultura em escolas brasileiras. Para tanto, analisaremos um artigo veiculado na internet em dezembro de 2011, intitulado “Estrangeiros dão aulas culturais em escolas públicas no Brasil”. Metodologicamente, sequências discursivas serão selecionadas por meio de suas regularidades enunciativas e quando entre elas houver ressonâncias discursivas de significação (SERRANI-INFANTE, 1998). Nesse sentido, será possível delinear as redes de sentidos que levam o sujeito-enunciador do artigo a determinadas tomadas de posição e, consequentemente, examinar em quais formações discursivas se circunscrevem as práticas discursivas presentes em seus dizeres. Para tentar darconta dessa proposta, nos pautaremos nas seguintes questões: (a) quais efeitos de sentido são produzidos sobre o conceito de língua, cultura e ensino?; (b) qual o lugar atribuído à cultura no processo de ensinoaprendizagem de alunos brasileiros?; (c) qual a representação discursiva construída sobre o professor nativo/não-nativo nesse processo?; (d) como os alunos brasileiros são discursivamente representados?; (e) quais as implicações desse discurso midiático para o ensino de línguas materna e estrangeira e a formação do professor? A proposta aqui apresentada pode contribuir para a LA na medida em que, numa abordagem inter/transdisciplinar com a ADF e a ADD, busca compreender alguns aspectos do funcionamento da discursividade midiática em análise e seus possíveis desdobramentos/impactos no processo de ensino-aprendizagem e na formação do professor de línguas materna e estrangeiras. DISCURSIVIDADES SOBRE NOVAS TECNOLOGIAS E ENSINO DE LÍNGUAS Mônica Ines de Castro NETTO – UFU [email protected] Proponho apresentar um trabalho que se instala no entremeio Linguística Aplicada, Análise do Discurso Francesa e Análise Dialógica do Discurso e, para tanto, me apoio em Santos (2007, p 189), para quem a LA se situa “como um campo de conhecimento que media um jogo entre os usos da língua no esteio da história”. Busco na Análise do Discurso, que tem como característica abarcar conceitos múltiplos e variados, multiplicidade de pensamentos e possibilidade de imbricamento com investigações variadas, a possibilidade de encontrar um contorno que me permita tentar mostrar, a partir dos fundamentos teóricos que embasam a pesquisa, de que forma essas duas teorias se constituem como uma interface relevante para pesquisas que focalizam a questão do sujeito e sua constituição. Então, partindo da pesquisa de Mestrado, intitulada “Constituição de discursos e sujeitos ensinantes e aprendentes de uma língua estrangeira frente às novas tecnologias” desenvolvido no PPGEL da Universidade Federal de Uberlândia, alvitro investigar em Queiroz (2004), as inscrições discursivas subjacentes ao discurso das novas tecnologias e os efeitos de sentidos que podem ser produzidos dessa discursividade. Para realizar tal intento, utilizo como metodologia de análise, o dispositivo matricial (Santos, 2004) em consonância com o dispositivo axiomático – partindo do conceito de axioma discursivo em Figueira (2007), em que as matrizes serão o direcionamento para a construção dos axiomas discursivos. Na concepção aqui adotada, compreendo os sujeitos ensinante e aprendente como social e histórico, e compreendo também que não basta apenas colocá-los em contato com as estruturas linguístico-gramaticais da Língua Inglesa para que ele possa apreendê-la. Ao contrário, entendo que esse sujeito deva ser interpelado a produzir sentidos a partir do que está aprendendo, e interessa-me especialmente perceber, como a adoção das NT tem sido discursivamente produzida acerca desse processo. 115 REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS CONSTRUÍDAS POR ALUNOS COM NECESSIDADE EDUCACIONAIS ESPECIAIS QUANDO ENUNCIAM SOBRE SUA COMPETÊNCIA ORALENUNCIATIVA Márcia Regina TITOTO – UFU [email protected] Algumas interpelações, advindas de nossa prática como professora de língua espanhola de duas alunas com necessidades educacionais especiais (NEEs), nos instigaram a investigar sobre a possibilidade do aluno com NEEs, tornar-se um enunciador competente na língua estrangeira (LE). Notávamos em nossas aulas, que as alunas, mesmo com algumas dificuldades próprias da Paralisia Cerebral Leve ou da Síndrome de Down, compreendiam o que falávamos (na/pela LE) e destacavam-se nas aulas apresentando interesse em participar. Com base nessas afirmações, partimos da hipótese, de que, para que o aluno com NEEs torne-se um enunciador competente na LE (espanhol/inglês), é necessário muito mais do que adquirir conhecimentos linguísticos. É necessário, pois, identificar-se com essa língua estrangeira. A partir, então, dessa hipótese, buscamos neste trabalho, descrever, analisar e interpretar as representações discursivas construídas nas inscrições enunciativas de quatro alunas com NEEs quando enunciam sobre seu processo de aprenderem a língua estrangeira, mais especificamente, quando enunciam sobre sua competência oral-enunciativa (COE) nessa língua. Para alcançar nossos objetivos, pensamos o processo de ensino-aprendizagem de sujeitos com NEEs a partir de uma proposta discursiva. Sendo assim, nossa pesquisa é desenvolvida abordando questões da Linguística Aplicada, da Análise do Discurso de Linha Francesa e da Análise Dialógica do Discurso. Isso posto, propomos a desenvolver um trabalho descritivo-analítico-interpretativista, usando como dispositivo metodológico-analítico, matrizes discursivas, que foram construídas por sequências discursivas advindas da materialidade linguística/corpus da pesquisa. Nos resultados parciais advindos de análises preliminares foi possível depreender que a relação dos participantes da pesquisa, em relação à COE é regida por três representações: i) A COE enquanto projeção; ii) A COE enquanto devir; iii) A COE enquanto inclusão. O LUGAR DA LÍNGUA ESTRANGEIRA (INGLÊS) NO DISCURSO FUNDADOR DOS IFETS Edilson Pimenta FERREIRA – IFTM [email protected] Este trabalho foi esboçado a fim de propor uma discussão acerca do discurso fundador dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs). Ancorado teoricamente na Linguística Aplicada, em interface com os estudos do discurso de base pecheutiana e bakhtiniana e tendo como corpus de análise a lei 11.892 de 29 de Dezembro de 2008 que regulamentou o funcionamentos dos IFETs no Brasil, este trabalho visa a melhor compreender o lugar da língua inglesa nessa instância pedagógico-educacional de formação do sujeito-brasileiro-profissional. De acordo com a referida lei, os IFETs foram criados com a principal finalidade de ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional. Assim, em meio ao pensamento capitalista-neoliberal atual e frente à realidade socio-economica-profissional deste país, entende-se que a língua inglesa seria elemento de primazia na qualificação desses cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da economia. Nesse sentido, parece relevante investigar as discursividades construídas na referida lei de criação dos IFETs, ou seja, cumpre analisar as vozes constitutivas desse documento, parte integrante de um conjunto documental que regulamenta a construção e o funcionamento dos IFETs, a fim de examinar como as vozes constitutivas dessas discursividades incidem sócio-histórica e ideologicamente no processo de ensino-aprendizagem de 116 língua inglesa desses/nesses institutos. ENTRECRUZAMENTOS ENTRE TEORIA E PRÁTICA NA CONSTITUIÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS Nélio Martins ARAÚJO – EMPA [email protected] O presente trabalho visa apresentar algumas reflexões sobre a relação entre teoria e prática no tocante ao ensino e aprendizagem de línguas. Com o objetivo de viabilizar análises discursivas – via Análise do Discurso francesa em interface com a Linguística Aplicada - de dizeres de professores de línguas sobre o entrecruzamento entre teoria e prática com o processo de ensino e aprendizagem de línguas, pretendemos apresentar nossa visão de como a relação mantida entre elas deve ser vista como um sistema de revezamentos em uma unidade que é marcada por uma multiplicidade de componentes tanto teóricos quanto práticos, conforme discutem Deleuze e Foulcault (1996). Nesse diálogo, constante do livro Microfísica do poder, Deleuze esclarece que, ao penetrar em um domínio, a teoria encontra obstáculos que vão tornar necessários revezamentos de outros tipos de discursos. Daí compreendermos que a teoria não totaliza, mas sim se multiplica e faz multiplicar, visto que está diretamente ligada à prática do professor de línguas, que deve tomar esta última como o resultado de suas interações com o conhecimento, com os sujeitos ali envolvidos e tudo o que estiver ligado ao processo de ensino e aprendizagem em questão. Estamos pensando na reflexão de Santos (1999), quando explica que “enquanto iniciador do processo interativo na sala de aula, o SP [sujeito-professor] se constitui na heterogeneidade e na alteridade dos conhecimentos que envolvem o ato de ensinar. Assim, ele representa, retoma, usa, complementa e aprofunda sentidos em torno desses conhecimentos com o propósito de influenciar na percepção, avaliação, reavaliação, absorção, produção, construção, reconstrução, criação e recriação dos mesmos”. Nossa análise se dispõe a discutir a constituição do professor de línguas a partir de entrecruzamentos discursivos que o atravessam marcados por tensões e embates comuns a qualquer sujeito atuante no espaço discursivo de sala de aula. DO ENCONTRO COM A SALA DE AULA AO REPOSICIONAMENTO FRENTE ÀS TEORIAS Vilma Aparecida Botelho FREITAS – UFU [email protected] Nesta apresentação, recorte de nossa pesquisa que está em andamento, objetivamos discutir alguns movimentos subjetivos de uma professora de inglês, tomando como referencial dois momentos: o estágio supervisionado e o início de sua vida profissional, como docente. Consideramos o estágio um momento privilegiado, uma vez que propicia ao professor pré-serviço vivenciar, situações as quais poderão viabilizar uma forma diferenciada de se posicionar frente ao saber, frente às teorias, não mais como alunos, mas como professores. Nesse sentido, para esse estudo, identificaremos e analisaremos as representações de ser professor, aluno e ensinar, construídos nesses dois momentos. Partimos da hipótese de que o início da carreira docente será marcado por uma retomada de questões da sua história de aprender inglês, de forma sublimada. Objetivamos, especificamente, analisar como a sala de aula proporciona um re-posicionamento do professor frente ao saber. Para a análise do corpus recorremos a alguns conceitos advindos da Psicanálise freudo-lacaniana, tais como: representação, sujeito, subjetividade, sublimação, discurso, dentre outros. Investimos no pressuposto de que há um movimento subjetivo nesses dois momentos, justamente pela concepção de sujeito que adotamos: a subjetividade nãoé fixa nem estável, ao contrário, ela é sempre (re)construída nas relações, a partir de cada elemento subjetivado; e, no momento em que é solicitado dessa professora que ela coloque “algo de si”, aqui resgatando Lacan (1998, p. 11), em 117 sua prática docente. Assim, a professora ao “colocar algo de si” subjetivando e relacionando as teorias estudadas à sua prática docente, não coloca apenas algo de um tempo determinado, o tempo que estudou na graduação, por exemplo. Mas, o que ela é na graduação já é resultante de uma construção subjetiva que ocorreu ao longo de sua vida e que será determinante no encontro dessa aluna com o “tornar-se professora de LE”. FORMAÇÃO E IDENTIDADE DO PROFESSOR DE LÍNGUAS: UMA ANÁLISE SOCIODISCURSIVA DE NARRATIVAS Carla Callegaro Correa KADER – IFF [email protected] Neste trabalho buscaremos discutir e analisar o interacionismo sociodiscursivo (ISD) e o estudo da linguagem voltado para narrativas em memoriais descritivos, bem como as representações e identidades identificadas a partir dos ditos da família, dos professores e da instituição. Para tanto, ancoraremos nosso estudo em Bronckart (1999, 2006), Cristóvão (2008), Rossi (2004), Fabrício e Bastos(2009), na intenção de apresentarmos as bases epistemológicas do interacionismo sociodiscursivo (ISD) e sua proposta de análise. Partimos do pressuposto que o desenvolvimento humano se efetua do agir e que os conhecimentos construídos pelo indivíduo são frutos dessa ação que se realiza em um determinado quadro social. A linguagem, a partir desse paradigma, torna-se fundamental e indispensável para esse desenvolvimento, constituindo-se como construtora da memória e organizadora das interações humanas e do agir no discurso. E nessa perspectiva, buscamos por meio da análise de narrativas escritas, construir e interpretar esse agir. Com a finalidade de analisar o agir, utilizamos a proposta do ISD que propõe como procedimentos a análise de duas grandes dimensões: a) do ambiente humano (das atividades coletivas, dasformações sociais, dos textos e dos mundos formais de conhecimento); b) de textos (orais e /ou escritos) em três conjuntos: i) as características dos sistemas educacionais e formativos, institucionalizados ou não, que permitem a transmissão dos pré-construtos sociais às novas gerações; ii) a dimensão didática e pedagógica da educação formal; iii) as avaliações das práticas sociais e dos conhecimentos construídos. E incluímos a identificação das condições de produção dos textos e análises textuais. Os resultados dessa análise apontam para a complexidade do trabalho do professor em formação e a necessidade de se estudaras diversas dimensões do agir docente no processo de formação de professores. A IDEOLOGIA E SEUS EFEITOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA NOS CURSOS DE LETRAS Rosemeire Parada Granada Milhomens da COSTA – UFT [email protected] Sabe-se que o educador está sempre em construção e entende-se que o conhecimento não é algo pronto e acabado. Pensando dessa forma, questiona-se: (a) como tem se dado a formação desses profissionais em pré-serviço? (b) que crenças acompanham esses futuros profissionais e que visão eles tem sobre o processo de ensino e aprendizagem da língua estrangeira? (c) até que ponto as crenças trazidas por esses futuros profissionais para os bancos universitários terão influência na sua atividade docente? São questões como essas que esta pesquisa parcial pretende responder a fim de contribuir com os cursos de Letras a formarem profissionais capacitados para o exercício da profissão. Nesta comunicação tem-se como objetivo discutir a necessidade de pesquisa na área de formação de professores de Língua Estrangeira dos cursos de Letras, especialmente sobre suas crenças e saberes a fim de oferecermos a sociedade profissionais conscientes do seu papel como educadores de LE. A pesquisa é qualitativa e vêm sendo trabalhada através de questionários direcionados a alunos do Curso de Letras do Centro Universitário Unirg situado em Gurpi –TO. A pesquisadora tem analisado esses dados e inferido até o presente momento da pesquisa que os 118 formadores e os cursos que eles representam tem a tarefa de apresentar a esses futuros educadores os pilares que sustentam o processo de ensino-aprendizagem e de sua práxis e ainda que se faz necessário mostrar a esses indivíduos que para se ensinar uma LE é preciso, mais do que seguir modelos, conceitos ou pré-conceitos, é também indispensável para isso, efetivarmos um estudo consciente, linear, que possa guiar esses alunos através de suas crenças pessoais a atingirem um nível de competência profissional satisfatório ao terminarem o curso de Letras e finalmente ingressarem no mercado de trabalho . IMPACTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA NA PRÁTICA DO ENSINO DE PORTUGUÊS: UM ESTUDO DE CASO Maria Verônica Anacleto PONTES – UFCG [email protected] Este trabalho tem por objetivo analisar impactos na prática de uma professora, a partir de sua formação continuada, tanto no que se refere ao curso de especialização quanto à uma formação oferecida pela pesquisadora. Utilizamos como referencial teórico, as contribuições, dentre outros autores, de Tardif (2002), e Magalhães (2001), que afirmam que geralmente o professor volta à universidade em busca de novas aquisições teóricas acerca do objeto de ensino, mas a estrutura dos cursos oferecidos não propicia a modificação de concepções internalizadas, pois embora se registre mudança no seu discurso, sua prática não apresenta variações. Para a realização da pesquisa, acompanhamos uma professora, graduada em Letras, em dois contextos de atuação: um curso de formação continuada, em nível de especialização; e seu contexto de serviço. Este representado por duas situações de atuação da docente: a etapa de planejamento de sequência didática; e a ministração das aulas, numa turma regular de Ensino Fundamental de uma escola de Campina Grande. Na primeira situação, realizamos um trabalho, junto à professora participante, de análise e discussão de questões relacionadas ao ensino/ aprendizagem de língua materna, de forma a assegurarmos orientação metodológica, a partir das recentes contribuições teóricas recebidas pela docente em seu contexto de formação continuada. Os dados analisados apontam que a orientação prática assegurada ao professor, no decorrer da formação continuada, favorece a sua participação ativa, contribuindo para que este deixe de apenas receber preceitos prontos, oriundos de pesquisas realizadas por outros, para tornar-se construtor de sua prática, a partir de seus próprios questionamentos. A DISCUSSÃO SOBRE O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NOS CURSOS DE PEDAGOGIA Giovana Azzi de CAMARGO – USF/ FE [email protected] A presente apresentação pretende discutir questões referentes ao ensino de Língua Portuguesa na formação inicial de professores. Os alunos dos cursos de Pedagogia, futuros professores das séries iniciais, deparam-se com duas ou três disciplinas em sua formação sobre o componente curricular que tem maior carga horária no Ensino Fundamental e permeia outros componentes: Língua Portuguesa (LP). Nesse sentido, a pesquisa em andamento, busca conhecer em um contexto de estágio remunerado, sob a supervisão do professor da sala de aula, como os alunos relacionam a discussão teórica e o planejamento de ações didáticas? Assim, nos perguntamos como esses conhecimentos favorecem para o trabalho com a LP nas séries iniciais? O referencial teórico é amparado pela contribuição de Bakhtin sobre a concepção de língua e o conceito gênero do discurso, de Geraldi sobre o texto na aula de português e Tardif e Lessardsobre os saberes do trabalho docente, André sobre o estado da Arte na formação de professores. A metodologia de pesquisa escolhida é a pesquisa-ação, por meio de encontros de formação com o grupo composto por professores da rede pública de ensino e alunos do curso de pedagogia, participantes do projeto 119 mencionado que serão gravadas em áudio. Além da formação, aulas e atividades serão planejadas, desenvolvidas nas salas dos professores participantes e observadas, registradas em diário de campo para que sejam discutidas nos próximos encontros.Além disso, entrevistas semi-estruturadas com os participantes em diversos momentos. Para esse trabalho, optamos pela apresentação dos dados colhidos nas entrevistas iniciais feitas com integrantes do grupo. ENTRE LEITURAS E DESCOBERTAS – O DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS E A HABILIDADE DE LEITURA EM LÍNGUA FRANCESA: QUE LEITOR SOU EU? Maria Estela Marques OCHIUCCI – UFU [email protected] Proponho-me, neste trabalho, a relatar algumas experiências advindas da minha prática com o ensino de leitura em língua francesa, focalizando o processo reflexivo que o aluno é levado a desenvolver para se tornar sujeito de sua própria leitura, a partir do desenvolvimento de estratégias que o conduzem a esta reflexão. Ancorada na visão de leitura como sendo um evento social, em que o sentido do texto é construído pelo leitor, no momento de sua leitura, por meio da negociação de significados estabelecida entre leitor e texto (MOITA LOPES, 1996), minha prática neste domínio tem apontado para o desenvolvimento de habilidades a partir de textos autênticos e atuais que levem o aluno a se reconhecer como partícipe deste processo, pois o texto passa a ser visto como uma unidade de sentido construída a partir de determinados fins sociocomunicativos e em contextos socio-históricos determinados (cf. Bakhtin, 2003 e 2006). Nesta perspectiva, minha opção pela abordagem de textos autênticos e atuais nas aulas de leitura em língua francesa visa a criar rotas de sentido para que, ao serem expostos a estes textos, os alunos estabeleçam conexões com a realidade que os cerca, cada vez mais globalizada e para a qual não há, praticamente, fronteiras que impeçam o ir e vir das informações e dos saberes. Assim, sob um enfoque sociointeracionista, diversos gêneros discursivos têm sido trabalhados nas aulas, podendo ser percebidos o interesse e a motivação dos alunos para com a leitura, a análise dos textos e as discussões que daí decorrem, desafiando-os a se conhecerem como leitores, seja em língua estrangeira ou materna. ANALYSIS OF THE TEACHING AND LEARNING PROCESS OF THE ENGLISH LANGUAGE IN PUBLIC HIGH SCHOOLS OF GURUPI, TOCANTINS, BRAZIL Maria Elaine MENDES – UFT [email protected] Bearing in mind that the Foreign Language discipline in public Elementary and Intermediate schools in Brazil has not reached their goals in an effective way, a survey has been required to identify the causes of such a deficiency. Do teaching methods used by schools answer to the propose needs and goals? Have teachers had a good formation to develop their teaching practice in a satisfactory way? Is the amount of classes enough so that teachers can work the four essential skills in the learning a foreign language (reading, speaking, listening and writing)? Does the quantity of students allow the teacher to develop such skills? Do teachers have the necessary resources to make teaching effective (books, CDs, video, TV, etc)? Why are teachers and students so unmotivated in teaching and learning of a foreign language? Besides this, the theme proposed is relevant in order to collaborate with teaching professionals helping them reach their goals. This study aims to identify the factors related to the difficulties faced by public high school teachers in their English classes in Gurupi, state of Tocantins, Brazil in the process of teaching and learning a foreign language. Also it collaborates with the educational system of the Tocantins State in search of the effectiveness of the English Language discipline. It reflects upon the importance of motivation in the teaching process and in the acquisition of a new language. The research is qualitative because the events were studied in their natural environment. A number of research 120 techniques were applied, including: a questionnaire for students, interviews with teachers of the English language and lesson observation. It is necessary to develop strategies and techniques that can encourage and improve teaching and learning. ‘COÇA... COÇA... PULA... PULA... OLHA A PURGA!’: PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA MATERNA NOS ANOS INICIAIS – ESBOÇANDO UM OLHAR TRANSDISCIPLINAR PARA AS RELAÇÕES ENTRE SUJEITO, LÍNGUA E IDENTIDADE, NA PERSPECTIVA DA LA Fabiana Rodrigues CARRIJO – UFU [email protected] Não se pretende aqui realizar um trabalho, eminentemente, teórico, circunscrevendo os espaços possíveis, as diversas e sempre novas possibilidades de olhar para a LA – enquanto um campo teórico já consolidado e com pesquisas relevantes e fartamente anunciadas não só no Brasil como no Mundo, trabalho este já, habilmente, realizado por linguistas aplicados de todo o país. Importa aqui, evidenciar, trazer à baila uma pesquisa em LA que promova, incite, suscite futuras indagações e tragas outras leituras e desdobramentos. Nesse sentido, implica-nos trazer o local, o saber local vivenciado e colocado à prova em uma Escola Pública Municipal de Catalão/GO que atende quatorze bairros de periferia e que vivencia os problemas, as singularidades, as dificuldades de se Ensinar a Língua Materna para aqueles alunos que, em sua maioria, tem seu primeiro e único contato com o registro da Língua Materna apenas e tão somente na Escola. Assim, circunscritos nos escopos teóricos da LA e de outros de seus campos de interface, entre eles, o da Pedagogia Crítica, a dos Estudos Pós-Modernos pretende-se olhar para o Ensino de Língua Materna, desta feita concebendo o professor e o aluno enquanto instâncias: a de sujeito-ensinante e de sujeitoaprendente em um processo de mão dupla. O ensino, neste caso, assim como SANTOS (2006) concebe não é algo a ser depositado, camufladamente e falseadamente por uma figura detentora do saber, trata-se, antes, de um processo ininterrupto de ensinância e aprendência. O professor não só não é o detentor do saber como o aluno não é o receptáculo que tudo absorve e tudo devolve tal qual fora ensinado. Trata-se de instâncias-sujeito em processo de aprendizagem e cada uma delas é, devidamente, e, satisfatoriamente imbuídas de/por um desejo. GRUPO TEMÁTICO 17: ENSINO DE PORTUGUÊS EM COMUNIDADES INDÍGENAS, PRIMEIRA E SEGUNDA LÍNGUA COORDENADORES: Dulce do Carmo FRANCESCHINI (UFU) – [email protected]; Wilmar da Rocha D'ANGELIS (UNICAMP) – [email protected] No âmbito deste GT pretendemos discutir questões relacionadas ao ensino de língua portuguesa como 1ª e como 2ª língua, em contexto escolar de sociedades indígenas brasileiras. Trata-se de situações cada vez mais comuns, dado o vertiginoso crescimento da oferta de educação escolar em comunidades indígenas na última década, e o correspondente incremento das investigações teóricas sobre os mais variados aspectos envolvidos nessas práticas. Dessa forma, o GT abre espaço para o tratamento de distintos temas relacionados a esses processos, tais como: inter-influência do português na produção escrita em língua indígena e de língua indígena na produção escrita em português; distinção entre interferências fonológicas e interferências ortográficas; relação do ensino de Português nesses contextos com a norma culta e com variantes dialetais regionais; formação de docentes indígenas em programas específicos de Licenciatura em Letras; avaliação de metodologias de ensino empregadas; discussão sobre materiais didáticos de ensino de 1ª e de 2ª língua; entre outras. Somam-se a isso questões igualmente de interesse relacionadas aos processos de aquisição de 2ª língua, seja ela o Português, seja uma língua indígena ancestral introduzida no âmbito escolar. O GT também pretende favorecer a troca de experiências entre pesquisadores e educadores (índios e não-índios) que trabalham nessa área ou sobre o tema. Entende-se que, dado o contexto específico (o de comunidades indígenas; e em grande parte, bilíngues), os enfoques privilegiados são os da 121 Linguística (sob diferentes aspectos: Fonologia, Sintaxe, Psicolinguística, Sociolinguística), da Linguística Aplicada e da Pedagogia, sob quaisquer perspectivas teóricas, embora sejam mais desejáveis aqueles enfoques inter- ou transdisciplinares. "DE QUE BILINGUISMO FALAMOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS?" Domingos Barros NOBRE – IEAR/UFF [email protected] O trabalho objetiva discutir o conceito de Bilinguismo difundido na Educação Escolar Indígena em geral, na legislação brasileira e na Formação de Professores, em especial. Aborda o tema numa perspectiva crítica levantando as contradições existentes nas práticas curriculares de Formação de Professores Indígenas e nas práticas pedagógicas de algumas escolas indígenas. Parte inicialmente de algumas definições teóricas de Bilinguismo e em seguida aponta alguns desafios que estão postos para aqueles que trabalham com formação, já levantados no VI ELESI. Aponta que há uma carência generalizada na definição de políticas lingüísticas que sustentem os programas de formação de professores indígenas. Falta aprofundamento na discussão sobre que tipo de ensino bilíngue deve ser ministrado nas escolas indígenas, acompanhado da definição de que tipos de práticas sociais devem ser estimuladas pelas comunidades interessadas, com o objetivo de lutar pela preservação, resistência ou desenvolvimento das línguas indígenas. Os processos de escolarização indígena trazem demandas por 5ª a 8ª Séries e Ensino Médio para as comunidades indígenas. Tais processos de implantação trazem inúmeras dificuldades para o ensino de línguas, devido à carência de formação de educadores indígenas em nível de licenciaturas, o que implica a presença majoritária de professores não indígenas neste segmento de ensino. Nas etapas iniciais de criação de escolas indígenas e da elaboração dos Projetos Político-Pedagógicos exigem-se assessorias especializadas para, por exemplo, sistematizar a escrita da língua indígena para se constituir numa base para a produção de materiais didáticos específicos nas áreas de Ciências da Sociedade, da Natureza e Matemática. Nos programas de formação de professores indígenas devem ser incluídas oficinas permanentes de pesquisa e produção de material didático específico, o que implica em investimento. "SE A GENTE NÃO SABER FALAR O PORTUGUÊS OU LER EM PORTUGUÊS, VAI ACABAR SENDO EXPLORADO": DIREITOS LINGUÍSTICOS E EDUCAÇÃO ESCOLAR GUARANI NO TEKOA ITATY Carlos Maroto GUEROLA – UFSC [email protected] Dentro do paradigma teórico da linguística aplicada, em base à metodologia de pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, esta pesquisa tem como objetivo geral contribuir para a reconstrução intercultural dos direitos humanos linguísticos escolares da comunidade da escola estadual indígena de ensino fundamental Itaty, da aldeia Guarani do Morro dos Cavalos (Palhoça/SC). Dentre os diversos direitos humanos linguísticos interculturais identificados na pesquisa (direito à voz e a serem ouvidos, direito à língua guarani como primeira língua de alfabetização, direito à oralidade como prática escolar, etc.) surge o direito à língua portuguesa e ao letramento em português como direito econômico e político para o empoderamento burocrático em prol da autonomia e da sustentabilidade. A língua portuguesa é “questão de sobrevivência", o principal instrumento para a defesa dos seus direitos perante a sociedade envolvente, pois "se a gente não saber falar o português ou ler em português, a escrita no português, muitas vezes vai acabar sendo explorado". Porém, os Guarani ressaltam a necessidade de um “cuidado com a língua portuguesa", isto é, adaptar o projeto político-pedagógico às características e necessidades sociolinguísticas dos alunos, selecionando práticas e adaptando-as ao conhecimento situado que se deseja gerar na escola. Os professores da escola Itaty se sentem na responsabilidade de que os alunos consigam falar português "de verdade, 122 corretamente", a fim de empoderá-los politicamente para que possam escrever pra mandar pro Presidente da República”. Porém, as dificuldades do dia a dia escolar tornam as práticas de letramento em língua portuguesa visivelmente discordes em relação às necessidades, expectativas e desejos apontadas pelos professores. São diversas as estratégias a propor e diversas também as estratégias que estão sendo implementadas na escola, como o trabalho em torno do gênero textual projetos de sustentabilidade, para a qual o letramento em português se tornou indispensável. A FUNÇÃO DA ESCRITA E DA ORALIDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA/ENTRE O POVO MANCHINERI Antônio Cláudio Brito do NASCIMENTO – SEE Programa de Formação de Professores Indígenas do Acre [email protected] Andréa Almeida CAMPÊLO – SEE Programa de Formação de Professores Indígenas do Acre [email protected] Na atualidade, muito se tem pensado sobre o espaço que a língua portuguesa vem assumindo nas comunidades onde a língua indígena é forte e viva. Nesse momento de ocorrência de tantos debates e discussões em torno da educação indígena, nos surge uma forte inquietação: qual a função e em que medida o ensino da língua portuguesa nas modalidades oral e escrita deve ser contemplada no Projeto Político Pedagógico - PPP das comunidades Educativas Manchineri – etnia pertencente à família lingüística aruak - uma vez que a manutenção e a vitalização da língua nativa é um dos objetivos traçados pelas comunidades educativas e assumido pelos órgãos educacionais. A questão não é de tão fácil resolução. Nesse artigo, faremos algumas reflexões acerca das ações educativas referentes ao ensino de línguas desenvolvidas junto ao povo Manchineri que habita as Terras Indígenas Mamoadate e Seringal Guanabara, ambas localizadas no município de Assis Brasil-Acre. Desenvolvemos nas escolas dessas comunidades a discussão a respeito da representação e a função que a língua portuguesa exerce na escrita e na oralidade desse povo. Contudo, dado a diversidade linguística e a dispersão geográfica do povo Manchineri, abordaremos especificamente a metodologia de ensino do português como segunda língua, discutida e adotada pelas comunidades educativas Manchineri da Terra Indígena Mamoadate. No estágio atual das ações de ensino e de pesquisa descrevemos as aproximações alcançadas na elaboração das metodologias de ensino de segunda língua junto à citada comunidade, de recente ortografização da língua nativa. Esta é, em linhas gerais, a proposta de análise desse estudo. ENSINO DE PORTUGUÊS NA COMUNIDADE TUPINAMBÁ: O PORTUGUÊS ÍNDIO Francisco Vanderlei Ferreira da COSTA – IFBA [email protected] A comunidade Tupinambá do Sul da Bahia não dispõe de uma língua indígena. Essa afirmação, porém, carece de um debate mais profundo. Atualmente, nessa região, ainda se pode notar a presença de muitas palavras da língua Tupi, quando perguntados sobre sua língua surgem inúmeras palavras que creditam à língua de seus ancestrais, sendo que essas palavras são usadas por pessoas que são consideradas “falantes da língua”. Essa realidade linguística apresenta um português característico. Colocado como português marcado, característico da comunidade indígena da região de Olivença, Ilhéus, BA (VIEGAS, 2007), essa “Fala de índio” é para ser usada somente por índios e vai ser ironizada até por outros Tupinambás. Essa autora traz a fala de uma índia velha que morou muito tempo na roça “quando eu vivia na roça eu não falava assim não, falava índio mesmo ...”, ou seja, em pleno final de século XX (época da pesquisa) havia (ainda há) falantes de uma variedade de português específica, pois fala de índio não é a língua indígenas tradicional. Recorrendo a Tereza Maher (1998, p. 115), o português dificilmente pode ser visto como marca de indianidade, mas as 123 comunidades indígenas deram a essa língua uma direção bastante própria, podendo considerar determinada variedade como um Português Índio. Parece ser essa a direção que os indígenas Tupinambás deram a essa variante, mas ela está em perigo, a escola e a proximidade da cidade tem mostrado esse português como pejorativo, com menos valor. Esse trabalho mostrará como esse português ainda permanece nesta região e precisa chegar à escola, pois esta é a primeira língua de um número grande de indígenas. As tentativas de apagar essa fala agride uma língua de constituição identitária de um grupo. DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE ENSINO: LÍNGUA PORTUGUESA PARA ÍNDIOS MUNDURUKU Águeda Aparecida da Cruz BORGES – CUA/UFMT [email protected] Ao assumir uma experiência com Educação Escolar Indígena professores não-índios precisam deixar-se afetar, também, pelo modo de ser índio, é preciso significar. A atitude de abrir-se ao modo de ser do Outro possibilita um trabalho em cooperação, num movimento contínuo que recria a vida em sua intensidade, em cada tempo-espaço em que a educação escolar se está constituindo. Assim, o professor indígena como interlocutor, é fundamental. Aqui, estou falando de minhas experiências no trabalho em linguagem(ens) com povos indígenas - que se materializam como efeito de sentido de toda uma história povoada pelo meu contato com povos de diversas etnias, desde a década de setenta, quando saí de Minas Gerais e passei a morar no interior do Mato Grosso. Contudo, escolhi, para a discussão nesse Grupo de Trabalho, uma experiência realizada no Projeto Ibaorebu de Ensino Médio Integrado Munduruku, na aldeia Sai-Cinza, no Pará. O Curso foi distribuído etapas e selecionei diversos tipos de texto que circulam e regulamentam a vida numa sociedade de escrita. É importante dizer que, além da estrutura da língua, fundamentamo-nos nas relações que ela estabelece com o sujeito, a história, a ideologia, a política, o mundo, ou seja, trabalhamos com a língua em funcionamento, fazendo sentido e levando em conta que o público atendido, em certo número, frequenta a cidade, ou seja, está em relação com o universo urbano, com o Outro. Os Munduruku, assim como outros povos indígenas, não estão livres do conflito, na tensãodo inevitável contato, e o ensino de 2ª língua, na perspectiva adotada precisa considerar as condições de produção apresentadas. PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA NO PROJETO DE ENSINO MÉDIO INTEGRADO MUNDURUKU: PRÁTICA DE PRODUÇÃO DE JORNAL Lucimar Luisa FERREIRA – UNICAMP [email protected] O ensino de português como segunda língua em cursos de formação específica para os índios, no país, é uma garantia do Estado e parte das reivindicações dos povos, tendo em vista que se faz necessário no estabelecimento das relações de contato. Nessa perspectiva, o ensino carece ser pensado e desenvolvido considerando os diversos fatores de ordem linguística, cultural, social e política que estão relacionados à educação escolar indígena. A partir de uma perspectiva teórica discursiva, neste trabalho trato de uma experiência de ensino de português como segunda língua, desenvolvida em 2010, com alunos do Projeto de Ensino Médio Integrado Munduruku. A proposta foi montada com base na importância do português oral e escrito para o povo em situações concretas, dentro e fora das aldeias. O trabalho tem como objetivo desenvolver uma discussão sobre ensino de língua portuguesa com enfoque na interpretação e na produção textual, enfatizando a possibilidade da ocupação de uma posição de autoria por parte dos alunos indígenas. Tomando a língua portuguesa em uso na esfera jornalística, o trabalho possibilitou aos alunos a compreensão e a produção de textos de gêneros orais e escritos, abordando questões de estrutura e de funcionamento, através de sequências didáticas variadas. A partir do gênero “notícia” vários 124 aspectos da oralidade e da escrita do português foram tratados, tendo em vista as diferenças de uma notícia lida em um jornal impresso, ouvida no rádio, assistida na tevê e acessada na internet. A produção de notícias, montagem e apresentações de noticiários de rádio e tevê, produção de jornal escrito com matérias sobre o cotidiano das aldeias foram atividades propostas e desenvolvidas pelos alunos no curso, sendo o processo de desenvolvimento das atividades na relação com a cultura indígena um aspecto fundamental na discussão. O ENSINO DA LÍNGUA MUNDURUKU COMO AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE INDÍGENA NO GRUPO MUNDURUKU TAKUARA Sâmela Ramos da SILVA – UFG [email protected] Esse trabalho apresenta nossa pesquisa realizada com o grupo indígena Munduruku Takuara e os primeiros resultados desta. A aldeia Munduruku Takuara se localiza no Oeste do estado do Pará, e apresenta uma situação linguística marcada pela tentativa de resgate da língua Munduruku através do ensino desta na escola indígena. Muitas vezes eles expressam que, apesar de falarem português, essa não é sua língua original. A partir desse contexto, temos tentado investigar quais as políticas linguísticas que ogrupo tem desenvolvido, a fim de reaprender a língua Munduruku, e como o ensino da Língua Munduruku tem contribuído na construção da identidade étnica, cultural e linguística da comunidade. Embasamos este trabalho nas obras de Rajagopalan (1998; 2003; 2006) e Maher (1998) sobre identidade, Pennycook e Makoni (2007) que oferecem concepções críticas sobre as noções de língua, e nas teorias pós-coloniais de Walter Mignolo (2003) e outros autores latino-americanos. Para o desenvolvimento de nossa pesquisa temos feito entrevistas, notas de campo, observação direta e estabelecido uma interação estreita com o grupo. Nossa experiência entre os Munduruku Takuara têm nos mostrado como a identidade é uma intensa ação de construção. Assim, temos refletido que não é a Língua Munduruku em si mesma que constrói a identidade do grupo, nem a aparência ou a cor de pele que marcam definitivamente se o grupo é ou não indígena. A sua postura, seu discurso, suas opiniões e ideias sobre quem eles são, constroem sua identidade. Apesar de não serem falantes de uma língua indígena, isso não os faz menos indígenas. Mesmo em português, eles defendem, articulam e negociam sua identidade. PORTUGUÊS BRASILEIRO EM USO POR PROFESSORES INDÍGENAS DO ESTADO DO AMAPÁ Antonio Almir Silva GOMES – UNIFAP [email protected] Muito se tem discutido atualmente sobre o papel das línguas nas diferentes escolas indígenas brasileiras, sobretudo quando pensado na perspectiva da interculturalidade. A valorização, dentre outros aspectos, da língua indígena (LI) é vislumbrada como central na Educação Escolar Indígena (EEI). Mesmo assim, o Português Brasileiro (PB) marca fortemente sua presença nesse contexto educacional, mesmo em casos cuja comunidade indígena ainda preserva uma língua materna distinta do PB. O trabalho que aqui apresento não entra no mérito dessa questão, mas, embasado em minha experiência inicial em EEI, trata das formas como os responsáveis por essa modalidade de ensino se apropriam da língua nacional; bem como levanta alguns questionamentos inerentes à relação estabelecida entre escola indígena e PB. Para tal, tomo como fonte o contexto da EEI no estado do Amapá, onde professores que atuam nas escolas indígenas têm recebido formação em nível superior nas áreas de Ciências Humanas, Ciências Exatas e da Natureza e Linguagens e Códigos. Ao longo de sua formação, os referidos professores são solicitados ininterruptamente a escrever em PB. É a produção textual desses professores que indica as distintas formas de apropriação do PB pelos mesmos. Particularmente aqueles que se especializam na área de Linguagens e Códigos tornar-se-ão os responsáveis pelo ensino de PB nas escolas indígenas. Aqui 125 detenho-me à analise de aspectos fonético/fonológicos, morfológicos e sintáticos inerentes aos textos produzidos por esses professores. Em seguida, apresento alguns questionamentos que tenho feito ao longo de meu primeiro ano como docente de um curso intercultural de formação de professores indígenas, estando o primeiro deles, e talvez principal, relacionado ao papel dos cursos desta natureza no que confere à formação voltada para o uso do PB. Nesse sentido, o trabalho apresenta observações de uso do PB por professores indígenas e, consequentemente, alguns questionamentos gerados por tal uso. PORTUGUÊS-INDÍGENA VERSUS PORTUGUÊS-ACADÊMICO: TENSÕES, DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA AS LICENCIATURAS INDÍGENAS Maria Gorete NETO – UFMG [email protected] Este artigo discute algumas características do português-indígena escrito e a apropriação do português-acadêmico no contexto universitário, mormente nos cursos de licenciatura indígena. A pesquisa, de natureza etnográfica (Erickson, 1986), focaliza um corpus constituído de dois tipos de registros. O primeiro foi coletado junto ao povo Tapirapé, do Mato Grosso, no período de 1999 – 2006, e é composto por textos escritos por alunos do ensino fundamental e monografias de conclusão de curso superior de professores Tapirapé. O segundo, por sua vez, é constituído de textos produzidos em sala de aula por universitários Pataxó, Xacriabá e Tupiniquim do curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas da Universidade Federal de Minas Gerais, no período de 2011-2012. Aportam a análise os conceitos de representações (Hall, 1997; e outros), hibridismo (Bhabha, 1994/2003), identidades (Hall, 1997; Bhabha, 1994/2003), culturas (Cuche, 1999/2002; e outros), língua(gem) (Cavalcanti e César, 2007), letramento (Street, 1984) e letramento acadêmico (Lea e Street, 1998). A análise indica que, se por um lado, há uma premência pela apropriação do português-acadêmico pelos povos focalizados, impulsionada pela exigência do mesmo por parte da academia, por outro, o português-indígena tem características linguísticas próprias e se constitui em importante construtor/veiculador das identidades indígenas. Há, portanto, a necessidade de que os cursos de formação indígena em nível superior focalizem, discutam e problematizem tanto a tensão que pode ser estabelecida entre português-acadêmico e portuguêsindígena como as metodologias de ensino de língua portuguesa e das demais disciplinas de forma que estas possam contribuir para a apropriação do português-acadêmico sem que isso signifique silenciamento do português-indígena. O ENSINO DO PORTUGUÊS EM GRUPOS INDÍGENAS DE CONTATO RECENTE ANA SUELLY ARRUDA CÂMARA CABRAL Ana Suelly Arruda Câmara CABRAL – UNB [email protected] Suseile Andrade SOUSA – UNB [email protected] Os estudos sobre o Português de contato que caracteriza o Português falado por grupos indígenas brasileiros chegam todos a conclusões análogas, sendo o traço distintivo dos diferentes falares, a adaptação feita por cada povo dos dados da outra língua, segundo os padrões fonológicos, morfossintáticos e semânticos de suas respectivas línguas nativas (EMMERICH, 1992; BRAGA, 1998; CABRAL et al., 2011). Assim, as variantes do Português faladas por indígenas são, em geral, fortemente marcadas fonologicamente, pelas adaptações sofridas pelos sons do Português aos padrões fonológicos das respectivas línguas nativas dos indígenas, que se agrava com a falta de orientação na aprendizagem do Português por indígenas. O presente estudo é chamar a atenção para a necessidade de políticas linguísticas oficiais que passem a reconhecer a necessidade de uma aprendizagem ética e funcional do Português por índios de recente contato, como é o caso do grupo 126 Zo’é, que vive na Frente Etno-ambiental Cuminapanema, localizada no Pará. Novas políticas linguísticas deverão favorecer o desempenho oral do Português falado pelos indígenas, quando for o caso, favorecer também a aprendizagem da escrita do Português (sem que para tanto se instituam escolas), visando o fortalecimento de relações mais equilibradas entre os índios e os não índios. PORTUGUÊS INTERCULTURAL: FUNDAMENTOS PARA A ELABORAÇÃO CURRICULAR DE UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA PARA PROFESSORES E PROFESSORAS INDÍGENAS BRASILEIROS EM FORMAÇÃO SUPERIOR ESPECÍFICA André Marques do NASCIMENTO – UFG [email protected] O objetivo desta comunicação é apresentar os fundamentos da proposta de trabalho com práticas comunicativas em língua portuguesa para professores e professoras indígenas brasileiros no contexto de formação superior específica do curso de Licenciatura Intercultural da Universidade Federal de Goiás, implantado nesta universidade em 2006 e do qual fazem parte atualmente aproximadamente 220 professores e professoras indígenas pertencentes aos povos Apinajé, Canela, Gavião, Guajajara, Guarani, Javaé, Karajá, Karajá Xambioá, Krahô, Krikati, Tapirapé, Tapuia e Xerente. A diversidade sociocultural e, naturalmente, sociolinguística destes professores e professoras, assim como de suas comunidades, impôs constantes desafios à implementação do ensino de língua portuguesa no curso de Licenciatura Intercultural desde seu início, tendo em vista que esta língua se configura entre estes povos como primeira, segunda ou terceira língua. Considerando-se, assim, esta heterogeneidade cultural e linguística, bem como as inevitáveis dimensões éticas e morais que envolvem este trabalho no que concerne às relações de poder que perpassam a educação em geral, assim como a educação linguística em contextos de assimetria sociocultural, o aspecto central dessa proposta é situar os professores e professoras indígenas como os sujeitos geradores e co-construtores de suas bases, ou seja, demonstrar como a voz desses professores e professoras, através de suas demandas, percepções e expectativas em relação ao uso da língua portuguesa e ao seu estudo, constitui o fundamento a partir do qual se dá toda reflexão concernente à elaboração do currículo dos cursos de Português Intercultural, a partir de uma perspectiva que vise à autonomia dos professores e professoras indígenas no que concerne ao uso da língua portuguesa em suas práticas comunicativas interculturais, e que seja, antes de tudo, cultural e linguisticamente responsiva. O ENSINO DE PORTUGUÊS NOS CURSOS DE MAGISTÉRIO E NOS CURSOS INTERCULTURAIS INDÍGENAS Ana Maria Gouveia Cavalcanti AGUILAR – UNB [email protected] Aisanain Paltu KAMAIURA – UNB [email protected] A presente comunicação focaliza aspectos do ensino do português nos cursos de magistério e nos cursos de graduação interculturais indígenas. Discutiremos os problemas enfrentados pelos profissionais indígenas, seja no exercício de suas práticas docentes, seja nos seus próprios cursos de graduação ou de pós-graduação que frequentam. Pautaremos nossa discussão pelos problemas enfrentados por alunos indígenas de cursos de graduação e de pós-graduação na Universidade de Brasília e nas soluções encontradas para minimizar as dificuldades por eles experimentadas. Lançamos mão, também, de várias entrevistas realizadas no Acre e em Brasília com indígenas de diferentes etnias, matriculados em diferentes cursos de graduação e de pós-graduação da Universidade de Brasília e da Universidade Federal do Acre. Ilustraremos as dificuldades por eles enfrentadas no desempenho das modalidades oral e escrita do Português, por meio de trechos das próprias entrevistas e por meio de trabalhos acadêmicos cedidos pelos entrevistados. Queremos por 127 em evidência elementos que devem ser considerados na formulação de políticas que visam à formação de professores e pesquisadores indígenas do Brasil. Este estudo tem como referência trabalhos sobre o ensino de Português enquanto L2/LE, com ênfase especial na análise da formação de professores indígenas. O estudo leva em consideração trabalhos sobre educação, bilinguismo e diversidade, como o de Rodrigues (1981, 1993) e o de D’Angelis & Veiga (1997, 2000) sobre educação para os povos indígenas e política linguística. O presente estudo se apoia em uma abordagem do ensino de língua portuguesa sob as perspectivas variacionista e funcionalista. O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM COMUNIDADES SATERÉ-MAWÉ Dulce do Carmo FRANCESCHINI – UFU [email protected] Denize de Souza CARNEIRO – UFU [email protected] Nesta comunicação, pretende-se apresentar alguns dados relativos à situação em que se encontra o ensino de português em algumas das escolas das comunidades da área indígena sateré-mawé. Os Sateré-Mawé (ou Mawé) contam com uma população de cerca de 9.000 pessoas e vivem, há mais de 400 anos, na região do Baixo-Amazonas. O território Sateré-Mawé, chamado Andirá-Marau, foi demarcado pela FUNAI em 1982 e compreende 788.528 hectares situados entre os Estados do Pará e do Amazonas, nos municípios de Parintins, Barreirinha e Maués no Estado do Amazonas. Na Área Indígena Sateré-Mawé atuam cerca de 220 professores no Ensino Fundamental, destes 117 nas comunidades da região do Marau-Urupadi, município de Maués (AM), que contava com 2.109 (dois mil cento e nove) alunos matriculados em 2009; e 110 professores lecionam na região do Andirá (Barreirinha-AM) e Waikurapá (Parintins-AM) para um total de 2.404 alunos matriculados em 2009. O número de alunos matriculados na área indígena é, portanto, de 4.513, o que representa mais de 50% da população que aí reside. Nesta comunicação pretende-se abordar, além da formação dos professores, a questão da metodologia e do material didático empregado pelos professores indígenas no ensino de Língua Portuguesa, a situação sociolinguística dos alunos quanto ao domínio da Língua Portuguesa e da língua materna, bem como a atitude e comportamento linguísticos dos professores e alunos quanto ao uso do português e da língua materna. A partir disso, pretende-se discutir questões ligadas à criticidade e às diferenças de estilos interacionais, por acreditarmos, assim como Tereza Machado Maher (1994), serem tais questões fundamentais nos programas de ensino de língua portuguesa para as comunidades indígenas. PORTUGUÊS PARA TAPIRAPÉ E INGLÊS PARA KAINGANG: ALGUMAS COISAS EM COMUM Wilmar da Rocha D’angelis – UNICAMP [email protected] A presente comunicação relata duas breves experiências de ensino de Segunda Língua em comunidades indígenas: uma experiência de oficina de Leitura em Língua Portuguesa com professores Tapirapé (falantes nativos da língua de mesmo nome, da família Tupi-Guarani), e uma experiência de curso breve de Inglês para professores Kaingang em formação (falantes nativos da língua Kaingang, da família Jê). Nos Tapirapé, a maior parte dos participantes tinha sérias dificuldades com a modalidade escrita do Português (alguns também com Português falado). Nos Kaingang, todos eram bastante proficientes também em português, mas poucos tinham experiência muitíssimo limitada de contato com a língua inglesa. O que as duas experiências tiveram em comum foi o emprego de um recurso (que por outros motivos, também empreguei em Oficina com professores Mura, AM): o contato direto com textos escritos sobre sua etnia (sobre seus antepassados, mais propriamente) publicados na língua alvo. Com os Tapirapé trabalhei sobre trechos da obra “Lágrimas de boas vindas”, do antropólogo Charles Wagley (originalmente 128 publicada em inglês, em 1977). Com os Kaingang, sobre trechos do capítulo The Caingang, de Alfred Métraux, no “Handbook of South American Indians” (1946). Nos dois casos, a estratégia despertou enorme interesse nos participantes, e a temática relacionada à sua cultura, história e região favoreceu a aproximação ao texto, seja por acionar um particular conhecimento de mundo evocado nele, seja pela presença de um léxico previamente conhecido (incluídos os topônimos). O recurso empregado visou, além dos ganhos didáticos mencionados (e a teorização sobre eles), apresentar aos professores indígenas uma possibilidade de ensino de Português centrado no fortalecimento da identidade indígena, ou seja, um ensino de Português prioritariamente voltado ao fortalecimento de laços com sua própria comunidade, sua cultura e sua história, em lugar de um ensino favorecedor da construção de lealdades ao mundo e à cultura da língua alvo. ENSINO DE PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA EM COMUNIDADES INDÍGENAS KAINGANG – RS Moana de Lima e SILVA – USP [email protected]/ [email protected] O presente trabalho é um desmembramento da minha pesquisa realizada durante os estudos de mestrado (Lima e Silva, 2011 ) que se focou, grosso modo, nas questões da ausência de concordância verbal e nominal relacionadas à escrita em Língua Portuguesa de falantes nativos do Kaingang, no RS. Para este trabalho, serão apresentados textos escritos em Português, por alunos bilíngues kaingang, que é uma língua da família Jê, do tronco- Macro Jê. Tais textos foram produzidos por alunos, participantes da minha Pesquisa de Campo realizada em 2009, que cursavam naquele momento o Ensino Fundamental II da Escola Kaingang. Embora sejam falantes fluentes da Língua Portuguesa, os kaingang apresentam grandes dificuldades na elaboração de textos escritos. O corpus deste trabalho constitui-se de 20 textos narrativos, dos quais foram analisados os desvios da norma padrão relativos à flexão nominal – gênero e número – a fim de se detectar quais problemas poderiam ser decorrentes do input recebido pelo contato com falantes nativos e quais seriam resultados de transferência de parâmetros da língua materna. Porém, a intenção deste trabalho não será a de buscar uma análise linguística dos dados apresentados, mas sim, através destes discutir e tentar sugerir as linhas fundamentais para o desenvolvimento de um programa de ensino para as escolas indígenas dessa região. Dessa forma, pretende-se, através das propostas do Referencial Curricular Nacional das Escolas Indígenas (RCNEI), das experiências apresentadas por Amado (2007, 2010), D’Angelis (2002, 2008), Maher (1994) e também de outros estudiosos da área, pensar em uma metodologia de ensino pautada na criação literária, ou seja, na produção dos mais diversos gêneros textuais, podendo assim contribuir para a definição de uma planificação e um planejamento linguístico nessas comunidades indígenas. ESCREVER EM PORTUGUÊS: DESAFIOS PARA UMA ESCOLA INDÍGENA Cristina Martins FARGETTI – UNESP [email protected] Lígia Egídia MOSCARDINI – UNESP [email protected] Apresentaremos considerações a respeito de atividades de escrita entre os juruna, cuja autodenominação é yudjá, do Parque Indígena Xingu, MT. Sua localização se dá em sete aldeias, próximas à BR-80, na região do Baixo Xingu (Tubatuba, Matxiri, Pequizal, Paqsamba, Pakayá, Pakajá, Mupadá) e em dois postos indígenas na mesma região (Posto Diauarum e Posto Piaraçu). A população é de 400 pessoas, aproximadamente, todos falantes da língua indígena. Há escola na aldeia, com ensino bilíngue. Embora possuidores de forte tradição oral, tem demonstrado interesse pela escrita, que lhes permite, inclusive, o registro de importantes aspectos culturais. Na escola, tais atividades não se restringem hoje ao uso do Português apenas, pois professores e alunos escrevem 129 em sua língua também, usando ortografia instituídana década de 1990, para uma língua tonal, com forte processo de nasalização. A escrita na língua apresenta menos problemas para os juruna, que, inclusive a usam na internet, e com ela se comunicam satisfatoriamente com amigos, parentes e outros. Contudo, ao utilizarem o Português para escrever, não se sentem bem sucedidos, ao se comunicarem com órgãos do governo, ONGs, imprensa, organização de concursos, etc. Percebem sua dificuldade de adequação aos gêneros textuais em questão e de adequação às normas de escrita. Assim, solicitam-nos um trabalho de orientação, dirigido a professores e alunos, para que possam ter êxito em suas demandas, seus posicionamentos políticos, através da escrita. Com isso, nos deparamos com questões tais como: o que é um texto bem sucedido, escrito por um representante de uma comunidade indígena? Como auxiliar na melhoria da produção textual em Português? NÚMERO EM NOMES: DIFICULDADES NA AQUISIÇÃO DA FLEXÃO NOMINAL DO PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA (PL2) POR FALANTES DE LÍNGUAS INDÍGENAS Rosane de Sá AMADO – USP [email protected] A distância entre o português e a cultura brasileira e as muitas línguas e culturas indígenas tem levantado uma série de questões para os linguistas indigenistas e os linguistas aplicados dedicados à investigação dos processos de aquisição e aprendizagem de aspectos formais e pragmáticos do PL2 por falantes de línguas indígenas. Este estudo teve por objetivo descrever e analisar dificuldades encontradas em textos produzidos em português por falantes de uma língua indígena: o timbira, família Jê, tronco Macro-jê. Tais textos foram produzidos por alunos, participantes de um curso de Português L2 no X Módulo do Ensino Fundamental da Escola Timbira, promovido pelas Secretarias de Educação do Maranhão e do Tocantins em parceria com a Funai e com o Centro de Trabalho Indigenista. Embora sejam falantes de Português como segunda língua, com nível de fluência oral intermediário, os timbiras apresentam grandes dificuldades na elaboração de textos escritos. O corpus deste trabalho constituiu-se de trinta textos descritivos, dos quais foram analisados os erros relativos à flexão de número nos nomes, a fim de se detectar quais problemas poderiam ser decorrentes do input recebido pelo contato com falantes nativos e quais poderiam ser resultados de transferências de parâmetros da língua materna. Também a Teoria dos 4-M de MyersScotton e Jake (2000), que traça a relação da ordem de aquisição a quatro tipos de morfemas, forneceu-nos subsídios para atentarmos a universais morfológicos de aquisição que poderiam estar envolvidos nos erros produzidos pelos aprendentes. Além disso, questões de pluri- e interculturalidade, como a tradição oral indígena, também foram contempladas. Este trabalho faz parte de um projeto mais amplo desta pesquisadora, que visa compreender as dificuldades da aprendizagem do Português Segunda Língua, buscando dirimi-las por meio da criação e do desenvolvimento de abordagens didático-instrucionais especialmente voltadas para os povos indígenas. ENSINO DE LÍNGUA NA ESCOLA DA COMUNIDADE INDIGENA KYIKATÊJÊ DO SUDESTE DO ESTADO DO PARÁ Austria Rodrigues BRITO – UFPA/UNB [email protected] Eliane Machado SOARES – UFPA/FAEL [email protected] O presente trabalho insere-se em um projeto de pesquisa em desenvolvimento no Laboratório de Línguas Indígenas da UnB, cujo principal objetivo é refletir sobre o ensino de línguas na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Kyikatêjê, tendo em vista ser a língua portuguesa nessa comunidade a língua majoritária, tanto nos usos cotidianos da seio dessa 130 comunidade quanto no ensino que se desenvolve em sua escolar. A constituição brasileira, no artigo 210 diz que: “o ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”. No entanto, a realidade observada nesta escola e em grande parte de outras escolas indígenas do Pará é a de que as crianças são alfabetizadas na língua portuguesa, ficando a língua indígena relegada a “segunda língua”. Isso tem ocorrido a despeito de se ter nesta referida escola uma disciplina específica sobre Língua e Cultura, ministrada por alguns indígenas da comunidade. Considerando a situação sociolinguística em que a língua nativa perde cada vez mais espaço para o Português, este trabalho se propõe a verificar as dificuldades enfrentadas pelos professores indígenas e não índios para que a língua nativa tenha seu uso fortalecido na escola e refletir sobre soluções que minimizem o deslocamento da língua nativa das funções sociais que deveria ter. A reflexão direciona-se para questões curriculares, a concepção de escola e sua função social, as relações de poder que se estabelecem numa discussão sobre educação, processos de ensinoaprendizagem e o papel da língua indígena na escola. GRUPO TEMÁTICO 18: ENSINO DE PRODUÇÃO DE TEXTO EM LÍNGUA PORTUGUESA: TECNOLOGIAS E PROCESSOS DE EDIÇÃO COORDENADORES: Ana Elisa RIBEIRO (CEFET/MG) – [email protected]; Carlos F. B. D'ANDRÉA (UFV) – [email protected] Neste trabalho, baseando-nos em uma questão fundamental sobre processo e produto na produção escrita, propomos uma discussão sobre o ensino de produção de texto, mediado por tecnologias, em língua portuguesa. Nosso objetivo é conhecer experiências de ensino de produção textual, em qualquer nível ou modalidade de ensino (presencial, virtual, formal, informal, etc.), que empregue tecnologias (digitais ou não) e/ou processos nelas implicados. São também aceitas discussões de caráter teórico ou analítico, sem preferência por esta ou aquela afiliação teórica, desde que contemplem a análise de exemplos ou a sugestão de atividade, de alguma forma. Resultados de pesquisa acadêmica em produção de textos são bem-vindas. Considerando que, já há vários anos, novas tecnologias afetaram a produção de textos, inclusive na escola (e para a escola), trataremos do emprego de novas tecnologias (especialmente as digitais) para ensino de produção textual (na escola formal ou fora dela) e da maneira como tais tecnologias afetaram os processos de edição do texto, isto é, sua criação e sua revisão, passando também por projetos enunciativos que propõem novas formas de pesquisa, de citação, de construção do texto (como o hipertexto ou a hipermídia), suas relações com outras semioses (multimodalidade) e sua relação com o design e a formatação. Embora nosso foco seja um novo processo de edição de textos, com ferramentas tecnológicas, e as questões de ensino/aprendizagem ligadas a isso, esta proposta de discussão abrange quaisquer trabalhos relacionados ao ensino de produção de texto e ao próprio processo de redação/criação, em escopos como a história desses processos, a educação, a comunicação, o design, entre outros. A SALA DE AULA, O BLOG E OS ADOLESCENTES: A CONSTRUÇÃO TEXTUAL NO ESPAÇO DE PAPEL E DA TELA Geralda C. FORTUNATO – ISEAT [email protected] A proposta do presente trabalho foi investigar a produção escrita de alunos da Educação Básica da Rede Pública de Belo Horizonte sob condições diferenciadas de produção – em um ambiente convencional de sala de aula e em ambiente virtual (o blog). Buscamos com isso verificar se esses textos, produzidos em suportes, condições e processos de interlocução diferentes, apresentam estratégias diferenciadas referentemente à estrutura composicional e organização discursiva, além de averiguar se os espaços do ambiente virtual se apresentam mais motivadores à produção dos alunos. Para isso selecionamos uma turma do 8º ano do Ensino Fundamental e, por meio de um questionário, uma entrevista e a coleta de uma resenha produzida em sala de aula e outra produzida 131 no blog da biblioteca escolar, compusemos o corpusdeste trabalho. Como metodologia, utilizamos o estudo de caso, com abordagens qualitativa e quantitativa, e como aporte teórico buscamos os estudos relacionados ao sociointeracionismo discursivo, os conceitos fundamentais da teoria de gêneros textuais e os modelos teóricos de produção textual, além dos estudos recentes ligados ao uso das novas tecnologias de comunicação e informação (TIC) em ambientes pedagógicos, assim como as práticas discursivas e de interação social realizadas nos ambientes virtuais. Os resultados apontam que a produção escrita dos adolescentes no ambiente virtual demonstrou ser mais interativa com o leitor do que as produções em sala de aula, embora mantivessem características linguísticas e textuais bastante semelhantes. O blog mostrou ser um ambiente incentivador para a escrita se estiver atrelado a projetos pedagógicos que promovam a interação e a participação de todos os alunos, com vistas ao letramento amplo dos mesmos. BLOGS DE TURMAS COMO FERRAMENTAS PEDAGÓGICAS PARA PUBLICAÇÃO DE TEXTOS PRODUZIDOS NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: O (DES)ENCONTRO ENTRE GÊNEROS ESCOLARES E GÊNEROS DIGITAIS Lia SCHULZ – UFRGS [email protected] O objetivo deste trabalho é analisar processos de construção e manutenção de blogs para publicação de textos produzidos em aulas de Língua Portuguesa. O trabalho fundamenta-se nos conceitos de gêneros textuais e gêneros digitais com a finalidade de mapear e relacionar os gêneros exclusivamente escolares e gêneros digitais usados por alunos para realizarem ações no mundo. A pesquisa foi realizada com turmas de ensino médio e de uma escola particular de Porto Alegre em 2010 e com uma turma de ensino fundamental de outra escola privada de Porto Alegre em 2011. Em uma primeira etapa, investigou-se que gêneros, mídias e tecnologias eram mais usadas pelos alunos para se comunicar, se informar, ler e escrever; posteriormente, foi proposto a cada turma a elaboração de um blog coletivo para a publicação dos textos produzidos em aula, permitindo assim, que todo o processo de construção e manutenção dos blogs das turmas fosse acompanhado. Na análise preliminar, verificou-se que os participantes não reconheciam os gêneros digitais como pertencentes à vida escolar. Pelo contrário, para vários alunos, os textos de e-mails e blogs fazem parte da “vida real” e não deviam ser tratados na escola, evitando, assim, serem alvo de avaliação escolar. Nesse contexto, os blogs das turmas eram entendidos pelos participantes apenas como espaços de postagem de textos de aula propostos pela professora com fins avaliativos. Além disso, a análise das produções indicou que grande parte dos alunos tinham como modelo a redação do vestibular e não conseguiam diferenciar tal modelo das produções para o blog. Os resultados da pesquisa apontam, portanto, para a necessidade de se pensar as relações entre os gêneros escolares e os gêneros digitais para que as práticas de produção de texto ampliem de fato suas possibilidades pedagógicas com a publicação em meios digitais. O USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Janete A. de ESPÍRITO SANTO – UENF [email protected] Este trabalho tem por objetivo discutir como a tecnologia vem atuando em nosso cotidiano, causando mudanças sociais e culturais profundas, transformando nosso comportamento e, consequentemente, nossas vidas de uma forma acelerada. Isso implica pensar que este momento requer uma atenção diferenciada para o ensino de Língua Portuguesa, numa perspectiva de trazer para o ambiente escolar, recursos materiais e humanos que contribuam para a Educação com uma pedagogia apropriada. Esta, por sua vez, deverá atender os “nativos digitais”, que chegam às salas de aula, conectados em aparelhos tecnológicos que incorporam equipamentos multifuncionais cada 132 vez mais potentes. Para isso, destaca-seo papel do professor e requer dele novas posturas, fazendo que este deixe de ser o centro da informação e passe a atuar como mediador, gestor, facilitador e indicador de caminhos. Portanto é fundamental que o docente modifique as formas de aprender e ensinar. As causas do fracasso escolar têm preocupado os profissionais da educação que aspiram a uma escola ideal com alunos competentes. E muitos destes profissionais destacam a indisciplina como a maior dificuldade encontrada em sala de aula. Porém, sabe-seque muitos podem ser os fatores que influenciam neste fracasso, mas, muitas vezes, não se atribui a ele causas como: falta de laboratórios de informática, bibliotecas bem equipadas, salas de vídeos ou data shows disponíveis ou funcionando normalmente e professores preparados para um ensino mais inclusivo. Estes profissionais precisam optar por caminhos que levem o aluno a aprender, a construir o conhecimento, ao invés de permanecerem na mesma estratégia secularmente conhecida, que “ensinar por ensinar”. O aluno atual está em contato diário com as mais modernas tecnologias. Por isso, a escola e professor precisam propor metodologias inovadoras utilizando as TIC’s para atingir resultados significativos, vivenciando processos de comunicação e participação interpessoal e grupal afetivos. LETRAMENTO DIGITAL: A PRODUÇÃO DO GÊNERO NOTÍCIA NO FACEBOOK Maria Regina Moura de CARVALHO – FA7 [email protected] Vicente de LIMA-NETO – UFC [email protected] Considerando a importância de se adquirir, na sociedade da informação, conhecimentos e habilidades para o letramento digital, propusemo-nos a verificar o desenvolvimento do letramento digital em alunos do 1° ano do ensino médio de uma escola da rede pública do estado do Ceará, a partir do desempenho desses estudantes na realização de uma atividade de produção textual do gênero notícia, efetuada no ambiente Grupo do Facebook. A atividade tinha como propósito a adequada produção do gênero e a ampliação de suas habilidades comunicativas nessa rede social. Para tal, criamos uma sequência de atividades que forampublicadas e realizadas nessa ferramenta do Facebook e, para a realização delas, seguimos os seguintes procedimentos: primeiramente, foram apresentados, em sala de aula, os elementos específicos que compõem uma situação comunicativa envolvendo o gênero discursivo notícia; depois, com base na análisede três notícias diferentes, os alunos responderam a perguntas que os levaram a refletir sobre tais elementos; por fim, esses jovens produziram a sua própria notícia nesse ambiente digital, o que serviu como uma das etapas de avaliação das atividades realizadas por eles. Os resultados nos permitiram perceber que esses aprendizes desenvolveram, além das ferramentas para a produção do gênero, o domínio de determinadas práticas para se comunicarem nessa rede social, uma vez que continuaram a realizar outras práticas de linguagem nesse Grupo, como chats, convites, anúncios, mensagens em geral, de forma livre e espontânea, permitindo que eles ganhassem, com a atividade, habilidades que desenvolveriam o seu letramento digital com o intuito de (inter)agir no mundo. DOCS, WIKIS, BLOGS... FERRAMENTAS E REESCRITAS SOBREPOSTAS EM SALA DE AULA Carlos de Brito D’ANDRÉA – UFV [email protected] No trabalho refletimos sobre como as atividades de produção e edição de textos por alunos de graduação podem se apropriar das especificidades técnicas de diferentes ferramentas da web para promover práticasde reescrita e retextualização. Partimos da ideia de que a produção colaborativa e coletiva de textos é uma perspectiva relevante para incentivar os alunos a refletirem sobre suas produções (e a dos colegas), assimcomo para melhor compreender os mecanismos de edição das 133 redes de produção editorial. Nesse sentido, entendemos que as reescritas e retextualizações (D'ANDRÉA e RIBEIRO, 2010) podem acontecer na lógica da wikificação, por nós definida em d'Andréa (2010) como um modelo de gestão de conteúdo baseado na colaboração e na atualização contínua de textos. O trabalho é uma reflexão advinda de aulas práticas/laboratoriais em andamento no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa. Neste contexto, utilizamos várias ferramentas baseadas na web (em especial Google Docs, wikis, e blogs) para incentivar os alunos redigirem, editarem e publicarem seus próprios textos e o de colegas a partir de pesquisas e leituras do referencial teórico adotado na disciplina “Cibercultura”. Como resultadores preliminares, observamos que a atividade facilita a compreensão das especificidades de diferentes gênerosdiscursivos e permite os alunos reconhecer a importância das reescritas e retextualizações, por diferentessujeitos, antes de um texto circular socialmente. Além disso, parece-nos que a prática em questão ajuda os alunos a enxergar “seus” textos como parte de uma rede de produção editorial que relativiza a ideia de autoria como algo estritamente individual e intransferível. ESTRATÉGIAS DE RETEXTUALIZAÇÃO NA MUDANÇA DE PLATAFORMA IMPRESSO/DIGITAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM DISCIPLINA BÁSICA DO ENSINO SUPERIOR Ana Elisa RIBEIRO – CEFET/MG [email protected] Este trabalho relata uma bem-sucedida experiência de produção de textos em disciplina básica de cursos de engenharia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). Estão em jogoa multimodalidade (Kress; Van Leeuwen, 2001; 2006), a retextualização e a reescrita (Fiad, 1991; Marcuschi, 2001; Matencio, 2002; 2003; Dell'Isola, 2007), além de orientações sobre produção de texto na web, dispersas em vários manuais. Em atendimento a um item da ementa do curso no qual esta experiência foi executada, qual seja, o trabalho com língua oral e língua escrita, foi solicitado a uma turma de primeiro período de engenharia de computação que recompusesse um texto transcrito (originalmente, uma locução de rádio) no formato de uma notícia de jornal impresso e em algum tipo de produção para ambiente digital, tal como um blog ou um site, por exemplo. Não houve orientações muito engessadas para os alunos, dos quais eram esperadas certa criatividade e alguma autonomia. Um texto transcrito foi disponibilizado, em arquivo de texto, para que fosse trabalhado pelos estudantes, que se arranjaram em grupos de quatro ou cinco pessoas. Cada grupo trabalhou sobre a proposta e apresentou suas soluções, das quais ressaltaremos aspectos como a seleção de linguagens visuais e a substituição de narrativa ou explicação verbal por algum texto visual considerado pertinente, resultando em um texto multimodal diferente do texto de partida. Tais elementos foram propiciados pelo ambiente digital, mas também encontram análogos impressos, em sua maioria. O "pensar visualmente" (Teixeira, 2010) é, então, discutido para o caso deste tipo de retextualização. TIPÓGRAFOS, TABLETS E PROFESSORES: POSSIBILIDADES DE DIÁLOGOS ENTRE HISTÓRIA DO LIVRO, INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E ENSINO DA ESCRITA Pablo Guimarães de ARAÚJO – CEFET/MG [email protected] O mercado editorial passa por um período de transição. Edições independentes são impulsionadas pela impressão sob demanda; a internet e as redes sociais possibilitam novas maneiras de divulgação, distribuição e comercialização das obras; o vídeo, o áudio e a animação estão cada vez presentes nos departamentos de produção. A autopublicação, a impressão digital e a produção de conteúdo para mídias digitais crescem rapidamente, alterando procedimentos tradicionais, criando novas demandas profissionais em editoras e despertando o interesse e a curiosidade de pessoas de todas as idades. O objetivo deste trabalho é discutir alternativas de atividades em sala de aula que, 134 por meio da abordagem dos ofícios tradicionais presentes na história do livro e das mudanças recentes que têm alterado significativamente os processos de produção, estimulem a elaboração de textos e a reflexão sobre a importância de adequação da linguagem para o trabalho com diferentes suportes. A proposta é que os professores discutam o tema com os alunos, orientem a produção de textos com opiniões sobre o futuro do livro, coordenem atividades de gravação de vídeos com relatos de moradores da comunidade sobre suasexperiências com livros e realizem oficinas de desenho e grafite com mensagens sobre a importância da leitura. A organização dos dados possibilitará a publicação de um livro para comercialização sob demandano formato impresso, a criação de um roteiro para o vídeo que poderá complementar o texto na publicação de uma obra digital no formato ePub, a publicação das mensagens e das imagens em uma campanha em favor da leitura nas redes sociais e, sobretudo, o contato dos alunos com diferentes formas de texto. GRUPO TEMÁTICO 19: ESTUDOS DE FONÉTICA E FONOLOGIA NO CONTEXTO ESCOLAR COORDENADORA: Marlúcia Maria ALVES (UFU) – [email protected] O presente grupo temático visa ao conhecimento e à discussão de pesquisas em Fonética e Fonologia no contexto escolar. Estas são duas grandes áreas da linguística contemporânea que se ocupam basicamente dos sons da comunicação humana. Apesar de serem áreas que tratam do estudo dos sons, e de serem tratadas como áreas interdependentes, são domínios que ocupam funções bastante distintas na gramática de uma língua. A fonética estuda comparativamente os sons que ocorrem em duas ou mais línguas. Assim, é possível, no contexto escolar, estudar as semelhanças e as diferenças sonoras da língua portuguesa em comparação ao da língua inglesa, por exemplo. Além disso, podem ser identificadas pronúncias específicas e particulares de cada indivíduo, verificando a variação linguística inerente à língua. Já a fonologia se ocupa do estudo dos sons da língua do ponto de vista de sua função no âmbito da comunicação linguística. Segundo Dubois et al. (1997), os estudos desta área priorizam os elementos fônicos que diferenciam, em uma mesma língua, duas mensagens de significado diferente, como, por exemplo, a diferença de sentido existente entre as palavras ‘bala’ e ‘mala’, quando se observa o primeiro elemento sonoro de cada sequência. Especificamente no contexto escolar, observa-se que os livros didáticos, em sua maioria, não apresentam distintamente estas áreas da linguística. Por exemplo, observa-se que não há uma apresentação aprofundada da noção de fonema, e que termos como dígrafo, encontro consonantal e encontros vocálicos poderiam ficar mais bem esclarecidos se houvesse uma preocupação em diferenciar o que se estuda em cada área. O ideal seria estudar cada área levando em consideração o seu objeto de estudo, para que o aluno entenda o lugar da fonética e da fonologia na gramática da língua portuguesa. ENSINO DE FONÉTICA E FONOLOGIA NO CURSO DE LETRAS/ PORTUGUÊS: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ Lucirene da Silva Carvalho – UESPI [email protected] O presente trabalho busca discutir o ensino da disciplina fonética e fonologia da língua portuguesa na Graduação, especificamente, no curso de Letras Português. Parte-se do pressuposto de que o ensino dessas disciplinas, às vezes, torna-se difícil e complicado, em virtude de os alunos não trazerem do ensino básico (fundamental e médio), quase nenhuma formação de fonética e fonologia da língua materna; dificultando o processo-ensino aprendizagem. Muitas vezes, falta ao aluno clareza e entendimento de noções básicas, sobretudo, o papel delas na sua formação como futuro professor de língua materna. Entende-se que a culpa não deve recair somente no que apresenta a proposta curricular do ensino básico, que, como é sabido, pouca importância dá a essas áreas de conhecimento. Acrescente-se a isso, também, a forma como os manuais didáticos trabalham essa disciplina, trazendo, com raras exceções, apenas o que é dígrafo, divisão silábica e encontro 135 consonantal, por exemplo. Outro aspecto a ser aventado é o fato de, na maioria dos cursos de letras, ser ofertado apenas uma disciplina na grade curricular, o que distancia o discente da realidade da língua. O ideal seria que os cursos de graduação dessem mais importância a elas, contemplando, na grade curricular, um enfoque maior tanto para uma como para a outra, dedicando-lhes maior carga horária. Dessa forma, o discente teria condições de se especializar e sair da graduação com conhecimentos mais aprofundados e com maior qualidade de ensino, o que consequentemente, resultaria numa melhor qualidade do profissional de Letras com formação nessa área. EPÊNTESE VOCÁLICA NA ESCRITA: UMA ABORDAGEM SOCIOLINGUÍSTICA Claudine Costa da SILVA - UEPB [email protected] André Pedro da SILVA – UEPB [email protected] A epêntese vocálica é um fenômeno típico da linguagem oral que geralmente é representado na escrita durante a fase de sua aquisição. Após esse período, a representação gráfica da epêntese vocálica é considerada um “erro” de grafia. No entanto, com base nos estudos sociolinguísticos, os quais defendem uma perspectiva diferente do “erro” e adotam a concepção de variação linguística, esse “erro” foi observado sobre um novo prisma e analisado sob os postulados da proposta laboviana de Sociolinguística Quantitativa. Segundo essa perspectiva teórica, o estudo das variantes linguísticas devem ser quantificados e relacionados com as variáveis extralinguísticas a fim de identificar os fatores envolvidos na variação de fenômenos linguísticos. Este estudo teve como objetivo verificar a influência de variantes extralinguísticas sobre a variação linguística no fenômeno fonético-fonológico da ocorrência da epêntese vocálica na escrita. Para isto, esta pesquisa se realizou em campo e adotou-se como opção metodológica uma análise quantitativa e qualitativa dos dados, sendo este estudo experimental e transversal. O corpus foi constituído por 60 alunos de Ensino Fundamental e Médio, como idade entre 9 e 17 anos. Os resultados encontrados demonstraram haver influência das variantes extralinguísticas analisadas sobre a ocorrência do fenômeno-alvo, sendo as variantes utilizadas sexo, grau de escolaridade e grau de familiaridade com as palavras. A partir da realização deste estudo houve uma melhor compreensão dos processos envolvidos na ocorrência gráfica do fenômeno fonético fonológico, visto que esse fenômeno apenas tinha sido analisado na sua modalidade oral, sendo este estudo um dos pioneiros na análise da ocorrência gráfica da epêntese vocálica. FONÉTICA E FONOLOGIA NO ÂMBITO ESCOLAR Marlúcia Maria ALVES – UFU [email protected] A presente pesquisa visa conhecer em detalhes o estudo da fonética e da fonologia no contexto escolar. A linguística é a ciência que se preocupa em analisar os fenômenos relativos à linguagem e à caracterização das estruturas das línguas do mundo. A fonética e a fonologia são duas grandes áreas da linguística contemporânea, que se ocupam basicamente dos sons da comunicação humana. Embora sejam áreas que estudem os sons, são domínios que ocupam funções bastante diferentes na gramática da língua. Verifica-se que os livros didáticos, em sua maioria, não apresentam distintamente estas áreas da linguística. Observa-se que não há uma apresentação aprofundada da noção de fonema, que os termos como dígrafo, encontro consonantal e encontros vocálicos poderiam ficar mais bem esclarecidos se houvesse uma maior preocupação em diferenciar o que se estuda em cada área. Seria importante estudar cada área levando em conta o seu objeto de estudo, para que o aluno entenda o lugar da fonética e da fonologia na gramática da língua portuguesa. São objetivos desta pesquisa: a) conhecer detalhadamente o objeto de estudo da fonética; b) conhecer aprofundadamente o objeto de estudo da fonologia; c) comparar as áreas de fonética e fonologia e 136 possibilitar o entendimento do que é semelhante e divergente em cada área de estudo; d) analisar criticamente livros didáticos de língua portuguesa do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, para identificar o que, de fato, se estuda com relação às áreas da fonética e da fonologia e e) colaborar para o melhor entendimento de cada área de estudo no contexto escolar. A sua aplicação se deu por meio de um projeto de extensão oferecido a alunos da escola estadual. HARMONIZAÇÃO VOCÁLICA: UM ESTUDO DE VOGAIS PRETÔNICAS NA CIDADE DE PRATA Lunara Abadia Gonçalves CALIXTO – UFU [email protected] A Harmonização vocálica pode ser definida, de acordo com Bisol (1981), como um processo fonológico, de caráter assimilatório, que muda a qualidade de uma ou mais vogais do vocábulo para harmonizar-se com outra vogal presente no mesmo vocábulo. Este fenômeno de assimilação pode ser regressivo, que atinge as vogais pretônicas, harmonizando-as com a altura da vogal seguinte, em que pode abaixar a vogal (novela~n[o]vela) ou elevá-la (costume~c[u]stume), de acordo com a vogal tônica. Para a análise deste fenômeno, tomou-se como referência a Teoria da Otimalidade, em que esta se baseia em um modelo de análise gramatical que objetiva estabelecer propriedades universais da linguagem além de caracterizar os limites possíveis da variação entre as línguas naturais. Para a realização da pesquisa, houve o total de 12 participantes: 6 homens e 6 mulheres. Foram realizadas entrevistas, baseadas em uma conversa informal, em que o participante fala sobre seu cotidiano. A partir dos dados coletados, é possível dizer que a Harmonização Vocálica está presente na cidade de Prata. Este fenômeno se encontra nas diversas faixas etárias e também nos diversos graus de escolaridade. Em alguns casos também é possível perceber o abaixamento da vogal média na posição pretônica. Como nos trabalhos de Alves (2008), em Belo Horizonte, na cidade de Prata é possível encontrar a realização tanto de vogais médias altas quanto de médias baixas em posição pretônica. O que se pode afirmar é que, mesmo com a definição de Mattoso Câmara de haver cinco vogais em posição pretônica, é possível encontrar também as vogais médias baixas nesta posição. Outro fator importante percebido é que a realização da retroflexa alveolar vozeada, ou “erre caipira”, que se mostra como predominante na cidade, apresenta-se como um grande fator favorecedor para a produção das vogais médias baixas. HARMONIA VOCÁLICA NO DIALETO DE UBERLÂNDIA CONFORME A TEORIA DA OTIMALIDADE Morgana Bertoni SOUSA – UFU [email protected] O presente trabalho pretende considerar o processo fonológico da harmonia vocálica que é definida como a assimilação de um ou mais traços vocálicos de uma mesma palavra, processo esse que envolve a produção das vogais. No português falado na região do Triângulo Mineiro, especificamente em Uberlândia, é possível a realização de palavras como ‘p[i]squisa’ e ‘c[u]stume’. A pesquisa não considerará apenas uma descrição fonológica, mas também procurará abordar o fenômeno vocálico conforme uma teoria formal da linguagem. A teoria escolhida é a Teoria da Otimalidade, que oferece a possibilidade de explicar os fatos fonológicos de modo mais satisfatório. Os objetivos deste estudo são: contribuir para a construção de um banco de dados representativo da região do Triângulo Mineiro; descrever o sistema vocálico do português brasileiro falado nesta região; analisar os fenômenos vocálicos conforme uma teoria formal da linguagem, a Teoria da Otimalidade e apresentar uma caracterização fonológica que sirva como parâmetro da região. A presente pesquisa será constituída de três etapas: a) bibliográfica, para o melhor entendimento do tema pesquisado; b) de campo, em que documentador coletará os dados necessários para a pesquisa feita e c) analítica, já que os resultados serão avaliados conforme a Teoria da Otimalidade. Os dados 137 serão obtidos por meio de entrevistas, com registros de gravação oral em ambiente adequado para que o informante se sinta à vontade para relatar algum tipo de situação que tenha vivenciado, como, por exemplo, relatos de fatos associados à família, religião, política, saúde, estudo, lazer, etc. É importante ressaltar que a pesquisa ainda está em andamento, apresentando apenas resultados parciais. REDUÇÃO VOCÁLICA EM UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS, DE ACORDO COM A TEORIA DA OTIMALIDADE Ana Raquel Pereira MARQUES – UFU [email protected] A redução vocálica é um assunto discutido no âmbito da Fonética e da Fonologia, área da linguística que visa à compreensão, à classificação e ao estudo dos elementos mínimos da linguagem articulada em sua realização concreta. Como encolhimento geral do espaço vocálico (MILLER, 1981), esse aspecto será embasado na Teoria da Otimalidade, em que princípios processados em paralelo serão hierarquizados e verificados de acordo com pessoas entrevistadas na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, a qual fora escolhida por ser uma região de destaque no estado e principalmente no Triângulo Mineiro. Procedimentos analíticos e críticos serão considerados, com o objetivo de se definir o escopo teórico a ser utilizado; a habilitação crítica será necessária, em que será discutido o tema da redução vocálica. Complementarmente, serão investigadas comunidades, indivíduos, instituições entre outros – procurar-se-á conjugar a pesquisa bibliográfica e a experiência de diálogo sociocultural, sendo que os entrevistados não terão suas identidades divulgadas e suas entrevistas serão arquivadas em computadores e armazenadas em CDs. Será considerado profícuo o entendimento dos aspectos fonológicos supracitados para que se distinga e mencione o sistema vocálico na referida cidade, apresentando-se dados fonológicos que irão particularizar os falantes de Uberlândia e diferenciá-los de outros falantes do estado de Minas Gerais. Sendo assim, será elaborado um banco de dados significativos sobre os falantes da cidade de Uberlândia e conceitos, critérios e categorias de análise serão emersos para uma pesquisa qualitativa. Com isso, contribuir-se-á com as pesquisas na área com a obtenção de informações e dados acerca do fenômeno pesquisado (redução vocálica). GRUPO TEMÁTICO 20: ESTUDOS DIACRÔNICOS DO PORTUGUÊS COORDENADOR: Israel Elias TRINDADE (UFG) – [email protected] Os estudos de caráter histórico e filológico contribuem significativamente na compreensão dos processos de mudança linguística, processos esses que são capazes de revelar a vivacidade e o dinamismo da língua. Por meio da filologia podemos delinear o percurso histórico-linguístico e isso nos permite formular hipóteses não só acerca dos estágios primitivos da língua, mas também compreender os fenômenos que colaboraram para seu estágio atual, além de ser possível fazer generalizações e suposições dos rumos que a língua eventualmente poderia tomar. Em outras palavras, é por meio de formas “mortas” que a filologia revela a vivacidade da língua, uma vez que sendo a mudança consequência da variação, pode-se reconhecer essa manifestada naquela. Embora seja uma área de pesquisa relativamente recente nos estudos linguísticos, já se encontram concluídas e em desenvolvimento, nos mais diversos centros de pesquisa das universidades brasileiras e mundiais, inúmeras pesquisas neste seara. Enfim, por ser um campo de trabalho extremamente profícuo nos estudos de linguagem, dentre eles processos de aquisição, variação, mudança linguística e ampliação lexical, dentre outros, é que propomos um GT cujo enfoque seja o de discutir e analisar essas pesquisas em filologia e Linguística Histórica com dados do português. A proposta do GT Estudos diacrônicos do português é partilhar experiências, discutir corpus, pressupostos teóricos, resultados e metodologias, para, a partir desse debate, levantar os aspectos mais pertinentes relativos a esse assunto e fazer propostas, em linhas gerais, de solução dos diversos 138 problemas envolvidos nas pesquisas de cunho histórico e filológico, sobretudo buscando pontuar o valor desses trabalhos na descrição do português. MOTIVAÇÕES LINGUÍSTICAS E VARIAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A POSIÇÃO DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS EM JORNAIS DO FIM DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX Caroline Carnielli BIAZOLLI – UNESP [email protected] Circunscrita nas premissas da Linguística Histórica e da Sociolinguística Variacionista, a referida investigação verificou a posição dos clíticos pronominais, adjungidos a lexias verbais simples, presentes em textos do jornal paulistano A Província de São Paulo – que, com o advento da República, em 1890, passa a ser O Estado de São Paulo –, entre os anos de 1880 a 1920, um período pouco investigado do ponto de vista linguístico. O material selecionado como matriz das análises, os jornais, destaca-se por sua pluralidade, abarcando textos de naturezas diversas – variados gêneros textuais –, o que permite ao pesquisador o registro de dados referentes à norma-padrão e, também, à norma não-padrão; neste caso, buscaram-se usos das formas conservadoras e inovadoras quanto à colocação dos pronomes clíticos em relação à norma linguística vigente na época mencionada. No que diz respeito à região escolhida, a cidade de São Paulo, estabeleceu-se o pensamento de ser, já naquele momento, um centro de desenvolvimento acelerado, com grande fluxo de pessoas, caracterizando-se, assim, como significativa fonte de análise de dados linguísticos. Baseando-se nos pressupostos teórico-metodológicos da Teoria da Variação e Mudanças Linguísticas, portanto, a partir da análise estatística fornecida pelo pacote de programas GOLDVARB-X, ressaltaram-se as seguintes variáveis independentes linguísticas, apresentadas, de acordo com os valores de significância para a motivação de determinada posição do pronome átono, em ordem decrescente: 1ª) presença ou ausência de elemento proclisador na oração; 2ª) formas verbais; 3ª) verbo hospedeiro do pronome clítico em início, ou não-início, absoluto na oração; 4ª) função do clítico, e 5ª) tipo de verbo, do ponto de vista lógico-semântico. Como objetivo geral, pretendeu-se colaborar com a descrição do Português Brasileiro e a construção da história interna da variedade paulista. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DA POSPOSIÇÃO DE DEMONSTRATIVOS EM PORTUGUÊS Victor Hugo Barbosa RAMALHO – UFMG [email protected] Este trabalho apresenta um estudo sobre os demonstrativos em português quando aparecem em posição pós-nominal no SN. Tendo em vista o quadro teórico tipológico-funcional proposto por Givón (2001) e o conceito de gramaticalização de Hopper & Traugott (1993), essa estrutura foi tratada como uma construção gramaticalizada que teria surgido para desempenhar funções discursivas diferentes das expressas pela estrutura anteposta. Para se entender suas origens e quais as seriam essas funções comunicativas específicas ao longo dos séculos, fez-se um estudo diacrônico baseado em corpora, a partir da classificação morfológica, sintática, semântica e discursivo-pragmática das ocorrências de posposição encontradas no Corpus do Português. A análise diacrônica permitiu a identificação da época de surgimento das várias ordenações lineares nome-demonstrativo (orações exclamativas, demonstrativos anafórico-correferenciais e demonstrativos pospostos), possibilitando reforçar a hipótese sugerida por Cambraia (2009), o qual propõe que a posposição do demonstrativo em português teria surgido no século XIX a partir da reanálise das outras estruturas em que havia o contato entre substantivo e demonstrativo de SNs diferentes. Os dados encontrados no corpus permitem ver como essa construção foi paulatinamente ampliando seus contextos de ocorrência, tornando-se, assim, mais produtiva, como mostrou a análise morfossintática, em que houve tanto um progressivo aumento de formas de demonstrativos 139 com que a estrutura passou a ser empregada, de apenas F1 a também F2 e F3, quanto a ampliação das estruturas sintáticas em que passou a ocorrer, de apenas seguida de orações relativas para também seguida de sintagmas preposicionados. Do ponto de vista semântico, viu-se que a posposição de demonstrativo em português restringe-se essencialmente à expressão de um valor referencial anafórico e dêitico-discursivo e, além disso, a partir de uma análise discursivopragmática, concluiu-se que aparece em contextos com baixa distância referencial, ou seja, em que há um alto grau de acessibilidade do referente em questão. ORDEM VS GRAMÁTICA NORMATIVA NOS SÉCULOS XIX E XX: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Luiza Pereira SANTANA – UFG [email protected] Inúmeros estudos, tanto no âmbito gerativista (PILATI, 2006; VIOTTI, 2002; LOBATO, 1989; KATO e TARALLO, 1983) quanto no âmbito funcionalista (PEZATTI, 1993) têm se debruçado sobre a variação na ordem de constituintes das línguas naturais, mais especificamente sobre a alternância na ordem sujeito-verbo em Português. Alguns desses estudos defendem a ideia de que o Português Brasileiro apresenta como ordem básica a ordem Sujeito(S) Verbo(V) Objeto(O), atrelando a essa questão fenômenos de ordem discursiva, estilística, sintática e semântica. No âmbito da Gramática Normativa, todavia, parece não haver tal sistematização, haja vista serem outros os seus objetivos. Por tal razão, o presente estudo almeja descrever e analisar de que maneira gramáticas normativas do Português do século XIX e XX lidam com a ordem Verbo-Sujeito (VS), ou seja, de que maneira são apresentadas as prescrições acerca da chamada inversão estilística do sujeito (cf. SILVA NETO, 1970; CAMARA JR, 1976; DIAS, 1959; SPANO, 2002). Para tanto, são analisadas, à luz da Linguística Histórica, definições conceituais sobre a categoria gramatical sujeito e sobre ordem de palavras. Além disso, são analisados os tipos de verbos que comumente aparecem nas referidas gramáticas normativas associados à inversão do sujeito na frase. Como resultado parcial, verifica-se que, de modo geral, as gramáticas normativas dos séculos XIX e XX, não apresentam critérios sintáticos satisfatórios ao propor uma ou outra ordem de palavras. Com base nesses resultados e nos resultados de outras pesquisas, serão consideradas as possíveis implicações didáticas de tais definições para o ensino do Português Brasileiro contemporâneo, uma vez que o ensino de língua deve ser repensado a partir das descobertas científicas da Linguística. UM ESTUDO DIACRÔNICO DA PREPOSIÇÃO EM SINTAGMAS NOMINAIS DO PORTUGUÊS EUROPEU E BRASILEIRO Simone Azevedo FLORIPI – UFU [email protected] Floripi (2008) descreve e analisa, sob uma perspectiva diacrônica, a variação do uso do determinante em estruturas com sintagmas nominais (DP) possessivos em textos do século16 a 19 do Português Europeu. Com base nesta metodologia, buscamos aplicá-la a investigação do comportamento da mudança sintática no Português Brasileiro, sob uma perspectiva diacrônica. A partir da recolha automática de dados morfologicamente etiquetados, passamos para o processo de classificação, quantificação e análise qualitativa das ocorrências de artigos considerando 18 fatores, expostos na apresentação do trabalho de Floripi (2008). Com a recolha de dados, verificamos que havia uma variação no emprego do artigo nos séculos iniciais, passando no decorrer do tempo para uma obrigatoriedade manifestada nos dias de hoje nesse contexto (cf. Castro 2006 e Floripi 2008). Diante da análise dos dados observados, determinamos alguns contextos influenciadores para a realização ou inibição do artigo, tais como o emprego de uma preposição, o tipo de núcleo do sintagma nominal, além das influências específicas em relação aos contextos sintáticos envolvidos. Apresentamos neste trabalho uma investigação sintática, sob perspectiva diacrônica, do comportamento da preposição no intuito de delinear um panorama de evolução da mudança 140 sintática do emprego do artigo no Português Europeu e do Português Brasileiro. Como arcabouço teórico utilizaremos uma abordagem minimalista (Chomsky (1995), Kayne (1994) e Schoorlemmer (1998)), tendo como pressupostos teóricos o Modelo de Princípios e Parâmetros. Sobre as características do Português Europeu Clássico e Moderno, utilizaremos asinvestigações de Floripi (2008), Castro (2006), Castro e Costa (2002), Miguel Sarmento (2002, 2004) e Brito (2001, 2007). CHEGAR, PREGAR: DOIS DIFERENTES PROCESSOS DE GRAMATICALIZAÇÃO Carmen Maria FAGGION – UCS [email protected] A partir do verbo latino plĭcare (‘dobrar’) formaram-se os dois verbos acima do português. O verbo latino era produtivo: criaram-se também applĭcare (‘dirigir-se para’) explĭcare, implĭcare, replĭcare. Chegar tinha originalmente uso náutico: os marinheiros ‘dobravam’ as velas ao atingir a margem, ou o porto; depois, por metonímia, passou a designar o próprio ato de ‘atingir determinado ponto’. As alterações de significado foram acompanhadas por alterações fonológicas e por novas construções sintáticas. Pregar veio de um sentido estendido de plĭcare (‘cravar’), donde derivam as formas prego, pregado. De plĭca proveio o substantivo português prega (‘dobra feita em tecido’), donde preguear, pregueado. Fazendo parte de um estudo mais amplo sobre a história do verbo chegar, e o desenvolvimento de seus significados dentro da língua, este trabalho tem por objetivo descrever os processos de gramaticalização ocorridos com os dois verbos, e os novos sentidos desenvolvidos. Com base na noção de gramaticalização, na Semântica Lexical e no estudo dos metaplasmos, pretende-se averiguar as hipóteses seguintes. Os novos significados de chegar desenvolveram-se, inicialmente, do lugar concreto para o lugar abstrato (e.g. chegar ao porto, chegar ao delírio). Chegar admite muitos adjuntos, e o mais antigo, o locativo, pode ser considerado complemento (e.g. cheguei a/em Porto Alegre; aqui; na escola (cedo/tarde; rapidamente; apesar do trânsito; etc.), no sentido de que é essencial à compreensão discursiva da frase. Chegar, além disso, desenvolveu sentidos metonímicos e também metafóricos. Novos sentidos permitiram/exigiram novas construções sintáticas. Já o caráter inacusativo do verbo sempre se manteve inalterado. Quanto a pregar, com menos alterações fonológicas, teve menos alterações de sentido e menos configurações sintáticas (não confundi-lo com seu homônimo que proveio de praedicare). Como instrumentos de análise, dicionários da língua portuguesa, dicionários da língua latina e dicionários etimológicos das duas línguas. A VARIAÇÃO DE PREPOSIÇÃO E O GÊNERO TEXTUAL "ANÚNCIO PUBLICITÁRIO" Letícia Cordeiro de Oliveira BUENO – UNESP [email protected] Tomando como referência os estudos em Sociolinguística e Linguística Histórica, este trabalho visa identificar qual a relação estabelecida entre a variação de preposições e o gênero do discurso “anúncio publicitário”, presente em revistas femininas dos anos 60 e revistas femininas atuais. Pretende-se, com base no caráter social da linguagem, explicitar a importância dos elementos extralingüísticos nas situações de variação e mudança, tomando como ponto de partida os conceitos e definições de gênero textual, uma vez que estes são considerados atividades discursivas socialmente estabilizadas. A pesquisa tomou como corpus os anúncios publicitários das revistas Capricho dos anos 60 e atuais, pois acredita-se que esse tipo de texto seja bastante permeável à utilização de formas próprias da oralidade. Em estudos voltados para a caracterização de processos de variação, a busca por fontes próximas da oralidade é condição essencial, já que tais processos têm início na fala informal, podendo-se expandir gradualmente para usos mais formais e chegar, finalmente, à escrita. Com base nessa possível relação entre variação e mudança e gêneros textuais, esta pesquisa tem como objetivo maior explicitar de que forma o gênero “anúncio publicitário” se relaciona com a variação de preposições. Para tanto, levou-se em consideração as mudanças 141 sintáticas, sendo posteriormente selecionadas quatro preposições – a, até, em e para – identificadas em estudos anteriores (cf. Berlinck, 2001; Guedes & Berlinck, 2003) como variantes em contexto de complementação verbal no português. Assim, busca-se estabelecer de que forma a noção de gênero textual é capaz de esclarecer esses processos de mudança. Essa análise seguiu os pressupostos teórico-metodológicos da Teoria da Variação e Mudança (Labov 1972, 1982, 1994) e as informações obtidas foram tratadas estatisticamente, por meio da utilização do pacote estatístico GOLDVARB. CONTRIBUIÇÕES DA BÍBLIA NA DIFUSÃO DA LEITURA E DA ESCRITA Israel Elias TRINDADE – UFG [email protected] O objetivo desta pesquisa foi investigar possíveis presenças dos textos bíblicos nos primeiros contatos com leitura e escrita, considerando estudos preliminares de que essas primeiras experiências são significativas no processo de formação de leitor e de escritor. Produzida num intervalo de 1500 anos, envolvendo 40 autores diferentes e, por atualmente ter ampla divulgação em diversas línguas, em três continentes, em inúmeras edições, consideramos que a Bíblia destaca-se no rol das leituras. Foi o primeiro livro impresso por Gutemberg e, historicamente, nenhuma outra coleção literária é tão venerada e analisada quanto a Bíblia. Do códex à tela, é uma das obras mais difundidas no mundo. Durante os três primeiros meses de 2012, propusemo-nos a investigar se esta obra, composta de livros de gêneros variados (cartas, narrativas e poesias) estava presente, de alguma forma, nos primeiros contatos do aluno com o universo da leitura e da escrita. Para isso, elaboramos um questionário que fora aplicado em quatro centros de ensino da cidade de GoiâniaGO, abordando desde a primeira fase do ensino fundamental até o ensino superior. Esta pesquisa, de abordagem quantitativa, apresentou resultados interessantes: Pelo menos algum trecho da Bíblia já foi lido por 94% dos entrevistados. Para a maioria, o primeiro contato antecede os 5 anos de idade, com a leitura efetivamente iniciada entre 5 e 10 anos. A maioria, mesmo considerando a leitura bíblica “sagrada” e “mais difícil”, afirma que a lê frequentemente. Os resultados deste estudo de caso permitem-nos, por meio de generalizações, formular considerações que contrariam a estimativa de que alunos não leem em casa. Além disso, revela que os textos bíblicos exercem papel importante no ingresso e na manutenção dos alunos no universo de leituras de gêneros diversificados. O trabalho, em linhas gerais, amplia nosso olhar sobre leitura e escrita e seu processo de difusão na sociedade. ESTUDO LEXICULTURAL DO “LIVRO 1X DE REGISTROS DE ÓBITOS DE SANTA LUZIA” (1814-1829) Maria Helena de PAULA – UFG [email protected] Apoio FAPEG – Processo 200910267000375 Pretende-se, nessa proposta, realizar um estudo lexical do português manuscrito por religiosos no século XIX em terras goianas. O material de análise é o “Livro 1X de Registros de Óbitos de Santa Luzia”, da primeira metade do século XIX (1814-1829), e um dos muitos da Paróquia de Santa Luzia, atual Luziânia-GO, que relata sobre os óbitos na Vila homônima. Pela sua natureza de registro diverso sobre os mortos, nos quinze anos de óbitos registrados, o Livro se caracteriza como valiosa matéria da vida social na Vila, uma vez que permite traçar o perfil da população cuja morte era registrada. Destinado a registrar mortes, informando sobre filiação, origem étnica, profissões e causa mortis de brancos e negros, livres ou escravos, o Livro é valioso para se conhecer sobre como se nomeava e significava na Província de Goyaz, servindo, nessa comunicação de pesquisa, a um estudo lexical que inventariou os nomes dados a doenças, profissões, origem étnica dos escravos neles registrados e buscou os significados conferidos a esses nomes. A perspectiva da proposta 142 assenta-se, assim, nos ensinamentos sobre a indissociabilidade entre léxico e cultura, defendendo que o nome não é mera etiqueta dada aos referentes; antes, as palavras estão sempre prenhes de significados sociais, conferidos na vida do grupo de que emerge ou que as (re)cria, (re)elabora, (res)significa. Para o estudo proposto, metodologicamente realizaram-se as etapas: leitura do livro manuscrito, edição semidiplomática dos fragmentos que apresentem os itens de interesse, inventário lexical de profissões, doenças e origens dos mortos e cotejo em dicionários específicos, como o “Diccionario da lingua portugueza”, de Silva (1813), coetâneo ao livro de registro, e o “Dicionário de Escravidão Negra no Brasil”, de Moura (2004) e, por fim, análise das relações do contexto histórico-cultural com a realização lexical. A LINGUÍSTICA E A HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO DE GOIÁS E SEUS DESDOBRAMENTOS Maria Sueli de AGUIAR – UFG [email protected] Esta comunicação objetiva historiar o percurso da investigação FILOBAND (Filologia Bandeirante), iniciada pelo professor Heitor Megale (USP) e seus desdobramentos em Goiás, desde a elaboração do projeto denominado “A linguística e a história da colonização de Goiás”, até a ampliação desta pesquisa para outros lugares do Brasil, como Minas Gerais, Tocantins e Maranhão. O ano de 1997 demarcou o início deste trabalho. O foco principal do estudo era o mapeamento do português falado em regiões onde existiu a participação de bandeirantes paulistas e portugueses; durante os séculos XVII, XVIII e XIX. Com a ampliação da pesquisa, inúmeros registros históricolinguísticos foram encontrados em várias regiões do estado de Goiás. O trabalho se direciona para a fala dos idosos, com o intuito de observar sua produção para posterior análise. O tema central das entrevistas se constitui na história que eles contam sobre o surgimento da localidade em que vivem. Assim, com base na fala espontânea dessas pessoas é possível analisar dados linguísticos como fenômenos inovadores e/ou conservadores. Importa registrar também a extensão para pesquisas realizadas em Portugal a fim de disponibilizar dados para análises comparativas, além de relacionar itens lexicais, expressões e estruturas frasais encontradas nas falas de idosos para comparação com a fala documentada de regiões inseridas no projeto inicial. Os pesquisadores consideram aspectos fonéticos, fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos e lexicais da emissão oral. Como resultado, atualmente, temos dissertações concluídas, algumas em andamento; bem como tese de doutorado concluída e três em andamento. Para embasar as análises, reporta-se à Linguística Histórica e se dialoga com obras de autores expressivos da área. UMA REVISÃO SOBRE A FORMAÇÃO DA PALAVRA FONOLÓGICA: CONSIDERAÇÕES ALÉM-MAR Lisa Valéria Vieira TORRES – UFG [email protected] Esta comunicação propõe uma discussão sobre a formação da palavra fonológica a partir de dados encontrados na fala de idosos na região do centro-oeste do Brasil e em Trás-os-Montes, Portugal. Desta forma, retomo os estudos sobre o (PB) português brasileiro e o europeu (PE); que tanto caminham em direção a descrição dos processos fonológicos na fala popular destes dois países onde a língua portuguesa é falada, como também que consideram este processo como recurso organizacional. Para tanto, importa entender dois aspectos que se sobrepõem, quando o assunto revela o registro diacrônico do português falado: a língua e a cultura que, de certo modo, governam a exploração dos fenômenos linguísticos de conservação e/ou inovação no interior do sistema, que é a própria língua. As diferenças fonéticas e fonológicas, entretanto, necessitam de uma consideração à parte devido, pelo menos, à uma razão: tanto Portugal como o Brasil têm uma variedade importante de falares distribuídos por suas regiões que implicam diferenças tanto fonéticas quanto 143 fonológicas, mesmo dentro de suas fronteiras.Neste trabalho, como simples objetivo e curiosidade, comento sobre a questão da formação de sândi e a formação da palavra fonológica.Ocorre que há que se ter sempre em mente a premissa primeira da Fonêmica, comentada e exemplificada para o português por Silva (2003) na obra intitulada Fonética e Fonologia do Português. O autor alerta para a tendência dos sons em serem modificados pelo ambiente em que se encontram e responsabiliza este movimento pela constituição de sons vizinhos “precedentes ou seguintes”, pela fronteira de sílabas, de morfemas, de palavras e a posição do som em relação ao acento. Por outro lado, retomo também a agenda de discussões sobre este tema por meio das principais obras de Câmara Junior O PERCURSO SEMÂNTICO DAS ACEPÇÕES DO TERMO HUMOR José de Sousa SILVA – UFG [email protected] Realizou-se um levantamento diacrônico dos principais semantismos da lexia humor em um percurso iniciado na antiga medicina grega, seguindo-se pela retórica grega, pela dramaturgia renascentista francesa e culminando-se no seu sentido patêmico atual com o objetivo de testar a hipótese de que a ampliação conceitual experimentada pelo termo só foi possível porque o léxico é o lugar de investimentos dos usos linguísticos. Tal percurso foi constituído considerando-se o pressuposto teórico da Semiótica greimasiana segundo o qual a práxis enunciativa é a responsável pelos arranjos observados em discurso. Estes arranjos são os produtos do uso. Para se desenvolver a diacronia do semantismo de um dado termo é apropriado se partir de uma abordagem históricolinguística que considere a evolução dos sentidos de uma lexia, cuja morfologia e fonologia permanecem praticamente as mesmas no Português, Espanhol, Francês, Inglês, Latim e no Grego, e cujos mesmos conceitos novos foram agregados a cada unidade léxica através do neologismo semântico. O primeiro passo metodológico foi descrever o sentido do termo para a antiga medicina grega e confrontá-lo com a acepção do termo pathos da antiga retórica grega para em seguida descrevê-lo no campo da dramaturgia francesa do renascimento. Este salto justifica-se, pois, após a Grécia antiga, o termo conheceu uma ampliação semântica importante apenas na França do período citado. Por último, demonstra-se a última acepção do termo, o efeito de sentido patêmico, a partir da teoria da semiótica das paixões. O percurso realizado permitiu verificar (i) que desde a Grécia antiga o termo humor ampliou sua gama semântica toda vez que mudou de campo discursivo e que (ii) a teoria da semiótica das paixões pode ser considerada na análise de neologismos semânticos. GRUPO TEMÁTICO 21: ESTUDOS LINGUÍSTICOS E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: É POSSÍVEL ALIAR PRÁTICA A TEORIA NOS CURSOS DE LETRAS? COORDENADORAS: Juliana Bertucci BARBOSA (UFTM) – [email protected]; Marinalva Vieira BARBOSA (UFTM) – [email protected] A formação inicial em Letras tem sido, há algum tempo, objeto de preocupação. Como formar um professor capaz de aliar a prática de ensino à teoria linguística para transformar seus alunos também em sujeitos produtores de textos? Na universidade não é difícil perceber a dificuldade de professores em formação para mobilizar teorias linguísticas na análise de textos, considerando os elementos responsáveis pela textualidade; ou para compreender a linguagem que os alunos trazem para a escola e, principalmente, para construir respostas para os problemas relacionados à leitura e interpretação de textos. Diante disso, persiste a crença de que as teorias linguísticas não têm relação com o ensino que se realiza na escola. Surge outro questionamento: o que as recentesTeorias Linguísticas – e os linguistas – fazem em relação ao ensino de língua materna? Os linguistas, por sua vez, criticam o ensino tradicional e o caráter excessivamente normativo do trabalho com a linguagem nas escolas. Segundo essa crítica, estas desconsideram a diversidade linguística e colocam de forma desproporcional a transmissão das regras e conceitos gramaticais como o objeto nuclear de estudo, confundindo ensino de língua com ensino de gramática. Uma consequência dessa prática pode ser observada quando alunos de Letras corrigem textos escritos: muitos deles ignoram 144 as teorias estudadas e saem à caça de “erros” gramaticais, sem se deterem a outros elementos que compõem o texto. O aluno-professor conhece a Sociolinguística, Análise do Discurso, etc., mas, diante dos problemas plurais de aprendizagem da língua portuguesa, teoria e prática ficam sem convergências. Assim, três temas interessam a este GT: reflexões sobre os usos das teorias linguísticas na construção de estratégias de ensino de língua portuguesa na escola básica; o olhar do professor de língua portuguesa para as variações da língua-texto do aluno e reflexões sobre o ensino da Linguística nos cursos de Letras. AULA SIMULADA: (RE)ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS PARA O ENSINO DO PORTUGUÊS Andressa Cristina Coutinho BARBOZA – UFOP O trabalho tem a proposta de avaliar os produtos da atividade de aula simulada, desenvolvida durante as disciplinas de Estágio Supervisionado da licenciatura em Língua Portuguesa da Universidade Federal de Outro Preto. Com base nas orientações para elaboração de uma sequência didática, os licenciandos planejam intervenções didáticas a serem testadas nos encontros de estágio, antes de serem apresentadas ou aplicadas em campo, seja ele uma escola ou instituição socioeducativa. Acredita-se a aula simulada seja um momento privilegiado para discussão, entre pares, a respeito de diferentes concepções de ensino, da percepção do texto como objeto de ensino e da adequação de estratégias didáticas para o contexto escolar. O artigo procura avaliar as diferentes etapas de elaboração e reelaboração de uma aula simulada, quais sejam: o registro do plano, a aplicação do plano, a reformulação da aula simulada, a aplicação da aula em uma turma da educação básica e a autoavaliação do aluno. Observa-se que, nestes diferentes momentos, os futuros professores precisam articular: a) a formação teórica recebida nos primeiros anos do curso; b) os saberes teórico-metodológicos abordados em disciplinas voltadas à metodologia do ensino da língua portuguesa; os limites e possibilidades de aplicação de uma sequência didática em campo. A análise da dinâmica e dos produtos obtidos em aulas simuladas aponta para a relevância desta atividade para o desenvolvimento de saberes de caráter formativo e experiencial específicos da docência. Palavras-chave: formação de professoras; aula simulada; saberes docentes. OS PRINCÍPIOS DA COMPLEXIDADE E DA TRANSDISCIPLINARIDADE COMO CONTRIBUIÇÃO PARA A REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA Maurício Viana de ARAÚJO - UFU/PUCSP [email protected] A relação teoria e prática certamente está posta para todos aqueles que se preocupam com o ensinoaprendizagem de língua portuguesa, mas o problema que se coloca é como conseguir metodologicamente uma integração entre teoria e prática se epistemologicamente essas duas instâncias do ensino-aprendizagem estão profundamente separadas em nossos currículos escolares. Os currículos estão tão saturados com os princípios de separação e fragmentação dos saberes, marcas do paradigma cartesiano hoje hegemônico como forma de conceber o conhecimento humano, que mesmo as iniciativas mais bem intencionadas de articulação entre teoria e prática não costumam resultar em mudanças satisfatórias, levando à decepção e à descrença de que seja possível uma transformação efetiva no âmbito da educação que venha a por fim ao atual estado de coisas. Meu objetivo, nesta comunicação, é defender que uma reflexão sobre a articulação entre teoria e prática nos cursos de Letras teria muito a ganhar com as contribuições do pensamento complexo e da transdisciplinaridade que, em contraposição ao paradigma cartesiano que preza a fragmentação do conhecimento humano, têm como um de seus princípios a necessidade de reintegração do homem e de suas práticas. Parto do princípio de que não é possível mudança metodológica sem que também haja mudança epistemológica: nesse sentido, a complexidade e a 145 transdisciplinaridade buscam uma transformação no modo de compreender o homem e o conhecimento, de forma que não seja mais possível pensar questões como teoria e prática como entidades isoladas. É preciso, portanto, que o pensamento mude para que a prática possa mudar, porque só quando epistemologicamente a teoria e a prática forem concebidas como constituintes de um mesmo fenômeno, será possível a sua materialização metodológica nos currículos e nas atividades didáticas. PROFESSORES FORMADORES FALAM A MESMA LÍNGUA? CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM UM CURSO DE LETRAS Helvio Frank de OLIVEIRA - UEG/UFG [email protected] Futuros professores geralmente terão suas práticas, pedagógicas e/ou discursivas, (des)ativadas com base nas experiências de aprendizagem, de ensino e de formação ao longo das vivências escolares. No contexto de Letras/Licenciatura, o papel de professores formadores torna-se decisivo ao direcionar e/ou construir naqueles possíveis abordagens, métodos e metodologias, a partir da própria instrução/orientação explorada na Universidade. Nesse bojo, saber o que formadores pensam sobre língua(gem) e ensino de língua portuguesa, recai diretamente sobre a maneira como concebem e efetivam o processo de formação, uma vez que “modelos” poderão ser (re)produzidos ou (re)forçados (in)conscientemente por eles a seus alunos durante a prática, transformando-se em posteriores formas e ciclos de ensino. Sob tais perspectivas, neste texto, pretendo mapear e refletir sobre crenças de professores formadores em torno da língua portuguesa e de seu processo de ensino-aprendizagem. Para tanto, um estudo de caso qualitativo foi implementado, com a participação de uma professora de linguística, uma professora de língua portuguesa e uma professora de estágio de língua portuguesa de uma universidade pública de Goiás, a fim de saber, dessas ocupantes de diversas instâncias acadêmicas, cada qual com sua responsabilidade inerente ao processo, sobre como concebem a língua materna e compreendem seu ensino-aprendizagem. Por meio de um questionário e de discussões em fórum on-line, elas narraram suas trajetórias e concepções sobre o assunto, em janeiro e fevereiro/2012. Os resultados apontam para divergências em termos de como lidar com a língua em sala de aula e no curso, confirmando o grande desafio de mobilizar conhecimentos teóricos, normalmente propostos pela universidade, com a prática real, realizada por futuros professores na escola. Também foram mapeadas críticas em relação ao ensino tradicional da língua, visível e exclusivamente aplacado por abordagens gramaticais, bem como do verdadeiro abismo existente entre o que se entende e o que se faz ao lecionar português. TEORIA E PRÁTICA: O PAPEL DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUA Aliete Gomes Carneiro ROSA – UFRPE [email protected] O par teoria e prática tem sido discutido em todas as áreas do ensino e o debate tem sido profícuo para as reflexões sobre as implicações pedagógicas decorrentes das concepções que o professor tem do que seja ensina um dado conteúdo. No caso de Língua Portuguesa, a questão se centra em qual é a concepção de língua e linguagem subjacente às práticas e materiais de ensino. O objetivo deste trabalho é, então, discutir o currículo da disciplina Estudos Linguísticos no curso de Letras, seu papel e suas práticas. Queremos refletir sobre a importância da aplicação das teorias linguísticas para a sala de aula que considere o trabalho com diversos gêneros textuais e com a gramática. Isso implica dizer que a própria disciplina precisa ser “modelo” para o aluno em formação a fim de situá-lo nas teorias linguísticas desde os pré-saussurianos até as teorias atuais de modo que perceba os recortes teóricos. Nesse sentido, trazemos experiências de ensino na disciplina na qual vimos observando alunos do curso de Letras em atividades práticas. Nossa hipótese é a de que, 146 experimentando a teoria, o aluno as situe na observação de livros e materiais didáticos assim como em aulas e exercícios práticos. Trazemos resultados de atividades realizadas em sala as quais deixam claro que é possível mobilizar conhecimentos no aluno em formação e ajudá-los a compreender a importância da teoria para a prática. E mais que isso, ajudá-los a compreender a complexidade de entrelaçar concepções, objetivos e resultados para a ampliação de competências dos alunos na escola (ANTUNES, 2003). O TRABALHO COM O TEXTO NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA, SOB O OLHAR DA LINGUÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO Claudia Stumpf Toldo OUDESTE – UPF [email protected] Este trabalho propõe um trabalho de análise linguística do texto, com vistas ao ensino da leitura, em disciplinas de Língua Portuguesa no Curso de Letras, a fim de formar professores aptos ao trabalho com o texto nas salas de aula da educação básica. Na verdade, é uma tentativa de explicitar como a perspectiva enunciativa de análise linguística pode proporcionar um entendimento da linguagem que se articula a uma prática de análise linguística menos distanciada da realidade dos falantes. Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é fazer um recorte nos estudos da enunciação, para aprofundar o entendimento de conceitos propostos na teoria enunciativa de Émile Benveniste (cf. 1988 e 1989). Esse objetivo tem como pano de fundo uma necessidade de entender melhor como explicar e descrever o uso e a organização da língua em dada situação discursiva e como fazê-lo em circunstâncias de ensino de língua portuguesa. Cabe adiantar que a expressão “uso e organização da língua em dada situação discursiva” tem sentido específico, neste trabalho, e poderia ser adequadamente parafraseada pela palavra “texto”, uma vez que a nossa compreensão do texto se coaduna com a ideia do uso linguístico em uma dada instância de discurso que, segundo entendemos, está de acordo com a teoria enunciativa de Benveniste. Em outras palavras: mesmo que Benveniste não reflita sobre a noção de texto ao longo de seus Problemas de lingüística geral ao menos não como isso é feito nos parâmetros atuais da linguística – acreditamos que é possível inferir de seus trabalhos uma noção sintonizada com essa ideia de uso e organização em dada situação. Com isso, queremos dizer que o fato de o autor não identificar uma noção com um termo técnico – “texto”, neste caso – não implica a inexistência da noção, mesmo que sob outra designação. SOBRE A PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ESCOLA: AUTORIA E REPRESENTAÇÕES DE ESCRITA Jauranice Rodrigues CAVALCANTI – UFTM [email protected] Renata Borges Fernandes SOUSA – UFTM [email protected] O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) – Português – da Universidade Federal do Triângulo Mineiro tem por objetivo principal trabalhar a produção textual junto a alunos do Ensino Médio de escolas públicas da cidade de Uberaba-MG, a fim promover/desenvolver as competências que são avaliadas na prova de redação do ENEM (Exame do Ensino Médio). A escrita é por nós tomada como uma atividade complexa, um trabalho com os recursos que a língua oferece para construir diferentes modos de dizer. Em outros termos: concebemos a produção de textos como orientadatanto pelos efeitos de sentido pretendidos como por um jogo de imagens que envolve a situação interlocutiva, aquele que escreve e o para quem ele escreve. Os grupos formados pelos licenciandos promovem oficinas de produção textual em horário separado das aulas, abrindo, assim, um espaço onde os alunos (re) escrevem textos, tendo por leitores interlocutores e não apenas corretores de texto. Antes de cada produção, há discussões ligadas à leitura e 147 contextualização do tema selecionado para a escrita, momento em que se reflete com eles questões ligadas ao texto argumentativo, tais como a importância da seleção de argumentos (que podem ser extraídos da própria coletânea), o emprego da variedade culta da língua, o uso adequado de elos coesivos etc. Pretendemos nesta comunicação analisar um corpus ainda emconstrução, constituído de produções textuais realizadas pelos alunos nas oficinas que oferecemos. Nosso objetivo é observar não apenas quais são as maiores dificuldades dos estudantes, mas também as imagens sobre a escrita que circulam no ambiente escolar, como essas representações se materializam nos textos. CONTRIBUIÇÃO DA SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL PARA O ENSINOAPRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM RETRATO DA INTERAÇÃO PROFESSOR E ALUNO E SEUS REFLEXOS NA SALA DE AULA Danielly Lopes de LIMA – UFCG [email protected] A Sociolinguística Interacional, por abordar a língua utilizada no seu contexto social de uso, sem secundarizar a importância dos indivíduos que a utilizam, tem grande importância quando o assunto é a sala de aula. Esta corrente da linguística pode auxiliar professores e alunos a manterem um relacionamento mais harmonioso, partindo do princípio que existem mecanismos de polidez e de preservação à face do outro que muito contribuem nas relações sociais existentes dentro do ambiente escolar. Professores e alunos possuem fatores socioculturais diferentes e muitas vezes divergentes que podem interferir no processo de ensino-aprendizagem. Diante deste cenário, acredita-se que a linguagem utilizada é moldada de acordo com as situações comunicativas, seguindo ou não algumas regras de polidez da fala. Muitas vezes, o discurso polido ou não interfere diretamente na relação entre professor-aluno. Acreditando que obom relacionamento entre discente e docente pode acarretar em um ambiente mais favorável para o ensino-aprendizagem, surgiu a idéia deste trabalho que aborda a Sociolinguítica Interacional, a partir de Hymes (1972), Romaine(1982), Gumperz (1995), Bortoni(2005), e a sua importância para o ambiente educacional, principalmente, para as aulas de Língua Portuguesa. Para fazer uma ponte entre teoria e prática, observamos as aulas de Língua Portuguesa, durante os anos de 2007/2008, em duas turmas do 2º ano do Ensino Médio de uma escola da rede pública de ensino da cidade de João Pessoa. Durante as observações, coletamos um corpus e analisamos a partir da perspectiva sociolinguística, buscando compreender como ocorre a relação entre professor e alunos durante as aulas e como esta interação reflete diretamente no processo de ensino-aprendizagem. Acreditamos que não existe uma receita para o sucesso de uma aula, mas podemos fornecer ferramentas possíveis para se utilizar nas salas de aula do Ensino Médio, tentando adaptá-las à realidade dos alunos e dos professores envolvidos. UMA REFLEXÃO ACERCA DO PROCESSO COORDENATIVO APLICADO NOS LIVROS DIDÁTICOS Fernanda Alvarenga TELES – USP [email protected] O ensino de Língua Portuguesa como língua materna, no que se refere ao ensino gramatical, representa um motivo recorrente de preocupação na vida de muitos professores de Português das escolas de Ensino Fundamental e Médio, já que estes utilizam, geralmente, métodos classificatórios como metodologia para transmitir conteúdos gramaticais. Há muito tempo, tais métodos classificatórios têm-se mostrado ineficazes para um ensino de língua produtivo que se justifique, essencialmente, pelo objetivo de aprimorar a competência comunicativa do discente em situações reais de interação. É nesse contexto puramente classificatório que podemos inserir o ensino do período composto por coordenação, pois este se restringe apenas ao aprimoramento da capacidade de classificar as orações conforme a memorização da lista das conjunções coordenativas. Contudo, 148 o discente não consegue apreender o funcionamento lógico-semântico que as conjunções implicam nas relações entre as proposições e nem como tais relações exercem influência na interação comunicativa. Assim, partindo das perspectivas teóricas desenvolvidas por Carone (2006), Castilho (2010), Neves (2000) e Travaglia (2003, 2006), dentre outros autores, esta pesquisa se justifica por apresentar uma proposta diferenciada para o tratamento das orações coordenadas sindéticas, não mais ancorado na visão tradicional e taxionômica de classificação de conteúdos, mas em estudos semânticos estabelecidos em proposições de reais situações interativas de comunicação. Portanto, o presente trabalho pretende avaliar como o conteúdo referente ao processo coordenativo vem sendo apresentado nos livros didáticos da série final do Ensino Médio, permitindo a reflexão se tais manuais possuem propostas interativas de ensino que possibilitem o aperfeiçoamento da competência comunicativa do discente. A PRODUÇÃO DE TEXTOS NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO Carla Lopes MENDES – UFTM [email protected] Este trabalho tem como objetivo apresentar resultados do projeto de extensão “Produção de texto em ambiente universitário” – desenvolvido na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e ligado ao Grupo de Estudos e Ensino da Leitura e da Escrito no Ensino Superior (GEDELES) . A proposta central do projeto é possibilitar que alunos do Curso de Letras, a partir da correção de textos dos acadêmicos das licenciaturas de matemática, física, química, história, geografia e serviço social, consigam na prática, aplicar a teoria estuda em diferentes disciplinas do curso. Espera-se que, a partir desse contato com as produções textuais, aprendam a analisar e propor alternativas de correção e ensino da leitura e escrita na escola. O projeto de extensão teve início no segundo semestre de 2009 e, ao longo desse período, constatamos os problemas relacionados ao ensino e aprendizagem da escrita ainda constitui um problema para a escola. A carência de percepção lingüística-textual não se limita a determinada área de conhecimento, é “global”. Os desvios cometidos por eles são, em sua maioria, os mesmos, o que demonstra a maneira equivocada que as escolas de ensino fundamental e médio ministram as aulas de produção textual. Nesse sentido, a proposta do projeto de extensão tem fundamental importância porque se soma à iniciativa de delineamento da formação inicial do professor de Língua Portuguesa. No que concerne ao ensino da leitura e da escrita, as concepções e as próprias produções dos professores do nível médio é um tema de intensa e contínua preocupação porque ler e escrever são atividades centrais tanto para quem ensina quanto para quem aprende. PRÁTICAS DE ENSINO DA LEITURA NAS SÉRIES INICIAIS Candice Guarato SANTOS – UFTM [email protected] No contexto em que a leitura não é um hábito fora do ambiente escolar e se acontece é imposta, o trabalho que se inicia logo nas séries iniciais do Ensino Fundamental pode ter influenciado nessa desmotivação, pois nesse momento delicado em que o texto é apresentado para o aluno as concepções que guiam a prática docente podem tanto formar leitores cometentes quanto valorizar aspectos que não estimulem a formação de leitores que vão além do que já está expresso no texto. A partir dessa questão, esta pesquisa se fundamentou nas teorias da Análise do Discurso, com Bakhtin (1929) e Geraldi (1984 e 1995), e da Linguística Textual, com Koch (2006, 2007, 2008, 2009), para saber se a leitura é estimulada em sala e, se isso acontece, como essa atividade influencia na escrita e também analisar as concepções que permeiam a prática de ensino de leitura de dez professores das cinco primeiras séries do Ensino Fundamental de uma escola pública de Uberaba, em Minas Gerais. Para a identificação das concepções dos professores foram entregados questionários e para identificar como esses pontos de vista influenciam suas práticas, também foram recolhidas 149 produções textuais de seus alunos. A conclusão chegada foi a de que a prática da leitura realmente acontece, mas que é influenciada por uma concepção de língua fechada, pois apesar de a leitura ser uma atividade frequente na aula, o mesmo não acontece em relação a transformação do aluno em leitor crítico e capaz de construir sentidos de forma independente e não um simples reprodutor de conhecimento. UMA ANÁLISE DAS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA DE GÊNEROS TEXTUAIS E DA ANÁLISE LINGUÍSTICA PARA O ENSINO DE LEITURA E ESCRITA DE TEXTOS ACADÊMICOS NA DISCIPLINA LÍNGUA PORTUGUESA DO CURSO DE LETRAS Catia Regina Braga MARTINS - UNB/CEUB [email protected] Mara Lúcia CASTILHO – UNB/CEUB [email protected] Este estudo tem como objetivo apresentar a metodologia de ensino do componente curricular Língua Portuguesa em cursos de licenciatura em Letras na perspectiva da Teoria dos Gêneros Textuais para o ensino de leitura e escrita de textos acadêmicos. A leitura é compreendida como atividade interativa de produção de sentidos que se realiza com base em elementos linguísticos diversos, presentes na superfície textual (co-texto), no contexto, no intertexto, no interdiscurso, na mobilização do conhecimento enciclopédico ou de mundo. Nesse sentido, a interação extrapola o conhecimento do código em si, é um momento em que o leitor constrói e é construído. Entre os elementos linguísticos presentes na construção de sentidos de um texto, interessa-nos nesse artigo a cadeia de referenciação do texto a revisão conceitual da língua materna a partir da análise linguística em textos diversos ((não)acadêmicos). O tratamento escolhido para a análise linguística nesse estudo se estende à noção de tema, de ação de linguagem e contexto de produção, de composição, de sequências didáticas, de argumentação e tipologia argumentativae de estilo e efeito de sentido. Essa perspectiva analítica de ensino-aprendizagem de leitura e escrita considera essencial o reconhecimento da funcionalidade dos textos (materialização das práticas discursivas) e de suas condições de produção e circulação em diferentes contextos sociais. Ainda foi possível observar a ampliação do letramento universitário, em decorrência das aulas desenvolvidas em uma perspectiva sociointeracionista, nas quais o trabalho com a linguagem esteve relacionado à competência leitora e de produção escrita dos alunos. Observou-se também a relevância do emprego da Sequência Didática para ampliação do letramento acadêmico e do capital cultural dos interlocutores, a partir da multimodalidade discursiva e do acesso aos gêneros específicos no ambiente acadêmico. O APRENDIZADO DA REESCRITA EM DUAS PERSPECTIVAS Marinalva Vieira BARBOSA – UFTM [email protected] Juliana Bertucci BARBOSA – UFTM [email protected] Não é necessário desenvolver uma pesquisa acurada para concluir que alunos das mais diferentes etapas de escolarização acreditam que produzir um texto é simplesmente pegar um papel, uma caneta, escrever e entregar para o professor. Não há a compreensão de que a escrita é produto de reflexão. Consequentemente, reescrever é visto muito mais como revisão de erros gramaticais. Tanto que, além de ser comum o aluno se sentir desanimado mediante o pedido para reescreva um texto, prevalece a ideia de que a reescrita é uma espécie de presente de grego oferecido pelo professor àqueles que não sabem ler e escrever. Esse modo de ver a atividade de reescrita aponta para duas questões: a reescrita continua sendouma atividade que não faz parte do aprendizado da escrita na escola; o professor de língua portuguesa continua ocupando a posição de revisor e não de 150 interlocutor. Não há escrita sem reescrita porque escrita não demanda somente o domínio de vocábulos, mas também o domínio simbólico dos elementos linguísticos que, aliados às vivências, transformam a linguagem em lugar de trabalho e produto desse trabalho. Por isso, na universidade, é necessário um trabalho para que o futuro professor de língua portuguesa não só conheça as teorias que reafirmam esses posicionamentos, mas que tenha acesso às metodologias de trabalho com o texto que leve a compreensão acerca de como trabalhar a escrita e a reescrita na escola. Nesta comunicação, analisaremos as concepções de reescrita pela perspectiva do professor e do aluno. Após, analisaremos, tendo como base produções escritas de alunos de licenciaturas e correções de alunos de Letras, o que o aluno faz com as correções textuais quando se vê diante da necessidade de reescrever e, principalmente, o que o aluno de Letras faz quando se vê na posição de quem deve corrigir um texto. GRUPO TEMÁTICO 22: FONÉTICA E FONOLOGIA E O ENSINO DA LÍNGUA MATERNA COORDENADORA: Carine HAUPT (UFT) – [email protected] O tema central desse GT é a relação entre as disciplinas de Fonética e Fonologia e o ensino da língua materna. Tem como objetivo, portanto, discutir diversas questões pertinentes à escrita, mais especificamente ao ensino da ortografia, como: a importância das disciplinas de Fonética e Fonologia para o ensino da língua materna; implicações fonéticas e fonológicas na alfabetização; dificuldades ortográficas dos alunos de diferentes níveis; tratamento dado ao ensino da ortografia (e da fonética e fonologia) pelos livros didáticos; influência dos fenômenos da fala na escrita (relação escrita e fala); teorias fonológicas como suporte para a prática. Para discutir esses e outros temas pertinentes ao tema central, diferentes quadros teórico-metodológicos podem ser abordados. A possibilidade de diversidade de enfoques tem como propósito enriquecer as discussões. Assim, a metodologia de ensino da ortografia, por exemplo, pode ser discutida sob o ponto de vista de abordagens tradicionais, que delimitam uma clara separação entre Fonética e Fonologia, ou baseada em modelos conexionistas e/ou multirrepresentacionais, que prevêem uma integração entre as duas áreas. Trabalhos de cunho sociolinguístico também poderão ser aceitos, desde que discutam variações no nível fonético/fonológico e remetam para a questão do ensino. Entende-se que esses estudos aplicam-se também ao ensino da língua materna, uma vez que o conhecimento dos fenômenos da fala pode ajudar o professor a entender alguns desvios ortográficos e orientar a sua prática. A natureza dos trabalhos que comporá esse GT pode ser diversa: discussões teóricas, discussões teórico-analíticas; resultados de pesquisa, etc. Espera-se que esse GT possa, de alguma forma, contribuir para um novo olhar sobre a Fonética e a Fonologia, um olhar voltado para o ensino da língua materna. AS NOÇÕES DE FONEMA, SOM E LETRA NOS LIVROS DIDÁTICOS DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Evilazia Ferreira MARTINS – UFMG [email protected] O livro didático é um instrumento de trabalho para o professor, que, muitas vezes, torna-se a principal fonte de conhecimento para o aluno. Ele se constitui de um recorte de várias especialidades de uma disciplina, e pode trazer, subjacente aos conhecimentos, uma, ou várias, teoria(s). Entretanto, ele também tem o dever de, mesmo parcialmente, de modo iniciante, levar até o aluno um conjunto de informações partilhadas e consideradas “indiscutíveis”- independentes de posicionamento teórico. Nos livros didáticos de ensino de língua portuguesa, observamos uma coletânea de informações que vão desde a teoria literária, perpassa o estudo dos gêneros textuais, até a exposição dos conceitos linguísticos de áreas distintas como a sintaxe, a semântica e, inclui, neste bojo, a interface entre a fonologia, a fonética e a ortografia, que será o foco deste estudo. A pesquisa e a leitura cotidianas de livros didáticos mostrou-nos a necessidade de discutir os conceitos de fone, fonema e grafema trazidos nos livros do 6º ano do ensino fundamental. Estes conceitos 151 foram observados e analisados por Witzel (2002) em livros de 5ª série (atual 6º ano). Ela parte da observância da inadequação de materiais que tratam como sinônimos os termos fonema e som. A pesquisa de Witzel (2002), realizada há dez anos, foi o ponto de partida que nos guiou a seguinte pergunta: como os livros didáticos atuais tratam os conceitos supracitados? Deste modo, como fonte de dados para esta pesquisa, recorremos às publicações atuais de livros correspondentes aos anos de 2009, 2010 e 2011. Para análise e discussão de suas informações, utilizamosos conceitos fonéticos e fonológicos apresentados por Hyman (1975), Mori (2005), Sapir (1925; 1933) e Silva (2001). Entendemos que os livros precisam ser, literalmente, “didáticos”, mas faz-se necessário discutirmos, também, até que ponto a didática dos livros pode transformar e facilitar essas informações. ORALIDADE PRESENTE NA ESCRITA DE ALUNOS DO 2º ANO DO FUNDAMENTAL Luana Carvalho COELHO – UESB [email protected] Apoio Programa de Iniciação Científica da UESB – PIC/UESB O presente trabalho objetiva classificar os erros ortográficos dos alunos do ensino fundamental a partir de algumas categorizações propostas por um dos linguistas mais influentes no assunto, Cagliari (2004, Alfabetização e Linguística). O público alvo desta pesquisa são os alunos de uma turma em curso no 2º ano do ensino fundamental de uma escola municipal de Vitória da Conquista – BA. A pesquisa aqui adotada foi o Estudo de Caso, visto ser essa uma pesquisa que pretende investigar por meio de estudos os “erros” ortográficos de alunos que acabaram de concluir a alfabetização. Foram observados textos de setenta por cento dos alunos de uma sala de aula. Para isso, recolhemos uma redação feita pelos alunos, em que deveriam se basear em uma imagem para contar uma história, essa redação foi analisada, posteriormente, pelos pesquisadores. Partindo da realidade da produção textual dos discentes em questão, acredita-se que quando chegam à escola trazem uma bagagem de comunicação e variedade de suas experiências sociais e isso faz com que o aluno escreva de uma maneira muito próxima da fala. Conforme as observações dos textos, concluímos que a criança, quando no início do entendimento do sistema alfabético, começa a analisar a relação entre fala e escrita e percebe que uma letra pode ter vários sons. Os “erros” ortográficos se devem ao fato do aluno escrever de uma maneira muito próxima da fala. Alguns professores deixam de levar em consideração as hipóteses que motivam o aluno a cometer esses “erros”, julgando, apenas, a escrita como certa ou errada; além disso, muitos professores não reconhecem os acertos da criança que está na fase de aquisição da escrita. ELEVAÇÃO DA VOGAL /e/ DOS CLÍTICOS EM DADOS DE FALA E ESCRITA Maria José Blaskovski VIEIRA – UFPEL [email protected] O presente trabalho tem como objetivo verificar a influência, na língua escrita, da elevação da vogal /e/ nos clíticos “me”, “te”, “se”, “lhe”, “de” comum na fala de indivíduos da cidade de Pelotas/RS. A partir de pesquisa quantitativa de análise de dados de fala, procurou-se identificar o grau e os fatores que condicionam tal elevação. Para tanto foram analisadas 15 entrevistas retiradas do Banco de Dados VARX para identificação dos fatores condicionantes da elevação. A partir desses resultados, buscou-se analisar a influência na escrita essa elevação. Com essa finalidade, foram tomados dados de escrita do Banco de Textos de Aquisição da Escrita (FaE/UFPel) de alunos da 4ª série da rede de ensino da cidade de Pelotas, buscando-se verificar a ocorrência ou não da elevação da vogal /e/ dos clíticos e os contextos de elevação. A discussão sobre a elevação da vogal /e/ dos clíticos está diretamente relacionada à natureza dessas partículas. Câmara Jr. (1988, p.63), ao discutir a composição do vocábulo fonológico no português do Brasil, afirma que as partículas átonas, pronominais e não-pronominais, “não têm status de vocábulo fonológico”, uma vez que 152 dependem de um item lexical com acentuação própria para junto com ele formar uma unidade fonológica. Quando se associam ao vocábulo que as antecede, as partículas átonas valem como uma sílaba postônica desse vocábulo; quando se associam ao vocábulo que as segue, valem como uma sílaba pretônica. Quando o clítico coloca-se na posição postônica, a vogal que lhe pertence enquadra-se no sistema vocálico átono final, ou seja, deve ser uma das três vogais /a i u/. No entanto, quando ele se coloca na posição pretônica, observa-se a neutralização entre as vogais médias e as vogais altas, em proveito das altas, comportando-se essas vogais como se fossem átonas finais (CÂMARA, 1988). GRUPO TEMÁTICO 23: FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: REFLEXÕES E POSSIBILIDADES COORDENADORAS: Dulce Cassol TAGLIANI (FURG) – [email protected]; Elaine Nogueira da SILVA (FURG) – [email protected] Este grupo temático busca discutir questões que integram a formação docente e o ensino de língua portuguesa, em diferentes níveis. Críticas ao processo de ensino e aprendizagem de língua materna são uma constante em nosso meio. Há, evidentemente, muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente se atentarmos para resultados de avaliações oficiais divulgadas pelo MEC, e, também, para o desempenho de alunos recém egressos do ensino médio e entrando na universidade. As críticas mais comuns estão focadas em aspectos básicos da formação do cidadão, como ler de forma efetiva ou redigir minimamente um texto. Apesar de as inovações tecnológicas estarem batendo à porta da maioria das escolas públicas brasileiras, ainda nos ressentimos de um processo de ensino e aprendizagem produtivo, que desenvolva as habilidades básicas de leitura e escrita. Muitos são os aspectos que podem estar envolvidos nessa questão. Assim, este fórum de discussões busca, fundamentado principalmente na Linguística Aplicada, discutir a interface formação docente e ensino de língua portuguesa, considerando não só que a melhoria da qualidade do ensino passa por pressupostos teóricos renovados, mas também pelo atendimento às reais necessidades do professor. Nesse sentido, percebemos um grande descompasso entre a teoria que perpassa a formação do professor e a sua prática em sala de aula. Da academia, o professor recebe um bombardeio de novas teorias, desde o uso do texto e seus diferentes gêneros até os múltiplos letramentos, passando pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda um desconhecido para muitos professores. Pretendemos, então, congregar discussões teórico-analíticas que busquem perceber em que medida a formação inicial e/ou continuada do professor está afinada com as orientações curriculares nacionais e, consequentemente, contribuindo para a educação linguística do aluno, considerando que o ensino de língua materna deve estar voltado para a função social da língua. O DISCURSO DE PROFESSORAS DE LÍNGUA PORTUGUESA SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE: UMA LACUNA COM RELAÇÃO AO USO DAS TICS Flávia Motta de PAULA – UFU [email protected] Este trabalho está vinculado ao Grupo de Pesquisas em Análise de Discurso Crítica e Linguística Sistêmico-Funcional, do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia. Nele, apresentamos os resultados de uma pesquisa de iniciação científica, cujo objetivo é investigar e discutir a representação discursiva da inserção das tecnologias de informação e comunicação (TICs) na educação, construída na revista Nova Escola e no discurso de professoras de Língua Portuguesa de escolas da rede pública de Uberlândia. Neste momento, selecionamos parte das entrevistas e analisamos como as professoras de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental representam discursivamente a inserção das TICs na educação e os efeitos dessa inserção na constituição identitária dessas docentes. Para a análise do discurso das professoras, adotamos os pressupostos da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2001, 2003). A preocupação da ADC 153 é com as mudanças radicais que estão ocorrendo na vida social contemporânea, com o modo como o discurso figura dentro dos processos de mudança, e com as transformações na relação entre o discurso/semiose e outros elementos sociais dentro das redes de práticas (OTTONI, 2007). Um fator relevante que foi observado ao longo das três entrevistas é a questão da formação dos professores, a qual está diretamente ligada ao não uso ou ao pouco uso das TICs na educação. A ausência de preparo na graduação reflete-se claramente nas práticas dentro de sala de aula. As três professoras se formaram na UFU e elas apontam que, durante a graduação, não tiveram nenhuma disciplina que as incentivasse ou que ao menos as ensinasse a utilizar as TICs e a associá-las aos diferentes conteúdos. Elas afirmam que eram utilizadas tecnologias pelos professores universitários, mas nunca tiveram nenhum esclarecimento sobre como poderiam usá-las nas escolas de educação básica. A CONTRIBUIÇÃO DA UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES LEITORES E ESCRITORES Rosângela Oliveira Cruz PIMENTA – UFAL [email protected] Diante da dificuldade de leitura e escrita apresentada por vários alunos, resolvemos investigar qual a contribuição, na opinião deles, que a universidade vem dando nas suas formações como leitores e escritores, pois ao final do curso os aprovados deverão sair habilitados a ensinar outros a ler e a escrever. O presente trabalho pretende, então, discutir qual a contribuição da formação inicial dos professores no tocante à sua formação como leitores e escritores. Nosso referencial teórico encontra-se na área da Linguística Aplicada, da Formação de Professores e da Didática, principalmente nos estudos de Kleiman (2001), Coracini (2003, 2010), André (2001) e Soares (2001). Nosso instrumento de pesquisa foi um questionário de sondagem pedagógica a respeito das práticas de leitura e escrita acadêmica dos alunos, aplicados em uma disciplina de ensino de língua portuguesa, nos períodos finais do curso de Pedagogia, de uma instituição pública federal. Em linhas gerais, os resultados nos mostram que, apesar de uma boa parte, 65%, dos discentes acreditarem que, de alguma forma, a universidade contribui para o seu desenvolvimento leitor e escritor. Eles apontam lacunas no tratamento dado à leitura e a escrita por parte dos professores e ainda há um número significativo de alunos que acreditam que ela não contribui ou que contribui muito pouco. Isto demonstra que talvez se façam necessárias novas práticas de leitura e escrita do que as que vêm sendo adotadas na relação ensino e aprendizagem estabelecida com eles até então e, nesse sentido, nosso trabalho se propõe a indicar possíveis caminhos. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E OS GÊNEROS DISCURSIVOS: SABERES EM QUESTÃO Klebia Seliane Pereira de SOUZA – UNP [email protected] Este artigo é parte das reflexões feitas na dissertação de mestrado, apresentada ao Programa de PósGraduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e tem como objetivo apresentar uma análise acerca da formação inicial docente, mais especificamente, sobre o saber a respeito dos gêneros discursivos e sua utilização em sala de aula por profissionais polivalentes da educação básica. Para tanto, analisamos, a partir dos discursos dos professores de quarto e quinto ano do ensino fundamental, se a formação inicial oferece subsídios às aulas de língua portuguesa, ou seja, se no processo de formação docente emergem conceitos de gêneros discursivos, quais são os conceitos aparecem e como esse conhecimento auxilia o docente em sala de aula. Como aporte teórico levamos em consideração os estudos realizados sobre a formação inicial docente, sobre a diversidade de saberes que compõem o saber docente e também os que tratam dos gêneros discursivos. Sobre os gêneros, adotamos a definição segundo Bakhtin, concepção abordada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Esta pesquisa se configura 154 como qualitativa de base interpretativista e teve como instrumentos de coleta de dados um questionário estruturado com questões abertas e observação de sala de aula com gravação em áudio. Como resultados desta investigação, é possível destacar que a formação inicial tem deixado lacunas no que se refere ao ensino de língua portuguesa, e ainda mais sobre os gêneros do discurso; que não há apenas um tipo de saber que constitui os saberes docentes e, por esse motivo, trabalhar com os saberes ditos disciplinares, especificamente o saber sobre os gêneros do discurso, é enfatizar um dentre muitos outros saberes. FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL EM ANÁLISE: PROCESSOS DE (RE)CONSTRUÇÃO DE PRÁTICAS DE ENSINO DE LEITURA E DE TEXTO Rosângela Rodrigues BORGES – UNIFAL [email protected] A inserção de Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) nos cenários intra e extraescolar leva-nos a refletir acerca dos processos de formação inicial do professor de línguas estrangeira e materna. Entendemos que, apesar de a academia reconhecer a importância dessas tecnologias na formação inicial e continuada de professores da Educação Básica, o discurso e as práticas acadêmicas em cursos de licenciaturas ainda não conseguem, de fato, instrumentalizar/capacitar o graduando quanto à utilização das NTIC no ensino de línguas, numa visão interacional, em diferentes situações comunicativas. Nesse contexto, busca-se refletir acerca dos processos de construção e reconstrução de um Curso de Redação para o Enem, na modalidade semipresencial, edições 2011 e 2012, ambientados no moodle, por licenciandos de Letras, egressos da escola pública, de uma universidade pública. Norteiam este trabalho pressupostos teóricos da Linguística Aplicada, em especial a Teoria dos Gêneros Textuais e Discursivos. Interessa-nos saber se e de que forma esses licenciandos estão se apropriando de teorias linguísticas para a proposição de práticas de produção de leitura e de textos voltados para o gênero “artigo de opinião”, solicitado no Enem. Acreditando que avaliações externas, como o Enem, podem influenciar a perspectiva teórico-metodológica de ensino, este trabalho objetiva ainda analisar o efeito retroativo desse exame na formação inicial. A análise inicial aponta que há uma tensão produtiva entre os licenciandos e a professora-pesquisadora nas etapas de planejamento, seleção de conteúdos e de gêneros textuais, elaboração e avaliação de materiais e atividades na medida em que há uma recorrente proposição de práticas de ensino tradicionais e cristalizadas na memória discursiva desses graduandos. Conclui-se que, apesar de os sujeitos de pesquisa estarem familiarizados com as NTIC e teorias linguísticas, há um forte apego às aulas presenciais e a práticas típicas do letramento escolar. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES Elias Ribeiro da SILVA – UOFU [email protected] O ensino de português como língua estrangeira (PLE) vem se expandindo rapidamente devido, em grande parte, à consolidação do Brasil como uma das principais economias mundiais. O interesse pela aprendizagem de português é mais evidente nos países sul-americanos, mas também está em expansão em praticamente todos os continentes, o que tem gerado uma crescente demanda por profissionais para ensinar PLE no Brasil e no exterior. De forma geral, o que se tem observado é a “migração” de professores de português como língua materna (LM) e de língua estrangeira (LE) para esse novo nicho de mercado. Nos últimos anos, no entanto, algumas universidades brasileiras vêm criando cursos de graduação e de pós-graduação visando formar profissionais qualificados para ensinar o português do Brasil como segunda língua (L2) e/ou LE, uma vez que, como as pesquisas na área indicam (ALMEIDA FILHO e LOMBELLO, 1992; ALMEIDA FILHO, 2004; SCARAMUCCI e WIEDEMANN, 2008), ensinar PLE é uma tarefa complexa, considerando-se, 155 por exemplo, o grau de proximidade/distanciamento existente entre o português e a LM dos aprendizes. Outra questão potencialmente problemática envolve a grande variação existente entre as diferentes variedades do português. No que se refere especificamente à formação de professores brasileiros de PLE, o grande desafio a ser superado pelos profissionais da área diz respeito a qual variedade do português do Brasil “deve” ser ensinada. Com base nessas considerações e em minha experiência como formador de professores e como professor de PLE, objetivo, nesta comunicação, discutir os desafios de se formar professores de PLE frente à variação que caracteriza o português brasileiro. De forma mais específica, objetivo discutir como formar professores de PLE capazes de lidar com a variação linguística sem reproduzir preconceitos linguísticos, ou legitimar uma representação tradicional de língua (fundamentada em uma visão normativista), a qual não reflete o português falado no Brasil. A PRODUÇÃO ESCRITA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS: DESAFIOS E REFLEXÕES Liv Rocha FERNANDES – UNICAMP [email protected] A formação de professores de Português traz muitos desafios aos docentes. O ensino de gêneros acadêmicos na disciplina de produção escrita é apenas um deles. Este trabalho apresenta o contexto de um curso de produção escrita na formação de professores de Português em uma faculdade privada em uma cidade do interior do estado de São Paulo. As reflexões que ocorreram de seu projeto, andamento e resultados e tem como objetivo apresentar a metodologia, as reflexões e resultados além de discutir a prática docente. A turma de calouros, bolsistas e oriundos da escola pública, mostrou dificuldades lingüísticas e de letramento acadêmico. Além de problemas com o uso de computadores (não apresentaram falta de letramento digital, mas no uso de ferramentas formais de escrita) e de total desconhecimento da vida e das práticas acadêmicas (artigos científicos, publicações e congresso). A partir de uma investigação de cunho etnográfico foi possível estabelecer questionamentos – baseados principalmente em Street (2003/2011), Lillis (1999) e no grupo dos Novos Estudos do Letramento – estratégias e uma metodologia para o ensino. O curso tinha como objeto de ensino os gêneros acadêmicos (principalmente resumo, resenha e fichamento) os quais foram trabalhados por sequências didáticas – embasadas no trabalho de Schneuwly e Dolz (1996). Além disso, foi proposto aos alunos atividades-extras para compensar a heterogeneidade e dificuldade com escrita, por meio de propostas de escrita envolvendo gêneros discursivos bakhtinianos diversos e discussões através de um blog da disciplina, contendo os Power Points e propostas para debates. Os resultados obtidos das aulas e do fim do curso foram profícuos tanto para os alunos quanto para o docente: o entendimento de papéis, fortalecimento da identidade, crescimento do senso crítico e melhoria na escrita. O “LUGAR” DO FORMADOR E A FÁBULA DO OLEIRO, NO (RE)SIGNIFICAR DA PRÁTICA DO PROFESSOR ALFABETIZADOR EM LEVY GASPARIAN: CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA Luciane Aparecida de SOUZA – UFJF [email protected] A comunicação tem como objetivo compartilhar o trabalho que foi fruto do Programa de Formação Continuada: “Pró-Letramento – Alfabetização e Linguagem”, realizado com os professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental, do município de Comendador Levy Gasparian – interior do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com o MEC, através do CEEL (Centro de Estudos em Educação e Linguagem), da Universidade Federal de Pernambuco e do LEDUC (Laboratório de Estudos de Linguagens, Leitura, Escrita e Educação), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Universidades que integram a Rede Nacional de Formação Continuada). Os encontros de 156 formação desse grupo de alfabetizadores, realizados semanalmente na rede de ensino municipal, foram tomados como objeto de reflexão, tendo como desafio compreender as estratégias de formação utilizadas pela tutora formadora, bem como seu “lugar” nesse espaço de formação. Assim, durante dez meses do ano letivo de 2009, além de problematizar a prática formadora da tutora desse grupo, procurei também compreender as “limitações”, as expectativas e as dúvidas dos professores da rede municipal de ensino, a partir de um Programa de Formação Continuada, que teve como objetivo sistematizar as capacidades mais relevantes a serem atingidas no ensino-aprendizagem, a partir de uma ação pedagógica que possibilite aos alunos a compreensão e o uso da língua como forma de interação social, favorecendo assim, a inserção dos alunos em práticas reais de leitura e escrita. Assim, o registro dessa experiência é um exercício que me proporcionou o debruçar sobre a prática: observando, questionando e refletindo, para entender melhor a teoria, tendo condições de voltar à prática para um fazer diferente. PRODUÇÃO TEXTUAL NA DISCIPLINA DE LÍNGUA PORTUGUESA: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES DE TERCEIRO E QUARTO CICLOS DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL DE ENSINO EM FLORIANÓPOLIS (SC) Eloara TOMAZONI – UFSC [email protected] Esta comunicação tematiza o processo de ensino e aprendizagem da produção textual escrita. O estudo tem como objetivo descrever analiticamente as concepções dos professores de terceiro e quarto ciclos, na disciplina de Língua Portuguesa, atuantes em escolas da rede estadual de ensino, situadas no município de Florianópolis, Santa Catarina. As bases que orientam o estudo são a concepção de língua como objeto social (Vigotski, 2007 [1978], Bakhtin, 1999 [1929]); as teorizações acerca do fenômeno do letramento (Street (1984, 1988, 2000, 2003); Barton (1994)); as teorizações que dizem respeito aos gêneros do discurso (Bakhtin, 2010 [1952/53]); os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (1998) – no que diz respeito às atividades de produção de texto escrito -; Geraldi (1997) – com destaque a suas concepções no que respeita à linguagem, ao sujeito e suas ações linguísticas, ao texto como parte do conteúdo de ensino, ao contexto social das interações verbais e às atividades de produção de textos escritos –; Britto (1983; 1997); e Antunes (2003; 2009) - no que diz respeito às discussões sobre produção de textos escritos. O estudo foi operacionalizado por meio de entrevistas com 47 professores, 90,38%, dos 52 em atividade nos terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental nas 29 escolas da rede estadual de ensino situadas no município mencionado. A partir desse instrumento gerador de dados, identificamos, descrevemos e analisamos quais as concepções dos docentes participantes do estudo. Os resultados mostram que há, ainda, uma lacuna no que diz respeito à formação teórica do professor de Língua Portuguesa, bem como um distanciamento entre o que tem sido discutido na universidade e o que realmente acontece na sala de aula. O PAPEL DA LEITURA E DA ESCRITA NA SALA DE AULA: ESTRATÉGIAS DE ENSINO PARA DINAMIZAÇÃO DOS PROCESSOS DE LEITURA E ESCRITA Mary RANGEL – UFF [email protected] Jane do Carmo MACHADO – UFF [email protected] Este artigo tem por objetivo desenvolver uma reflexão sobre o ensino da Linguagem nas escolas de educação básica, especialmente nos anos finais do ensino fundamental. Para tanto, pensa-se a linguagem, não como um recurso que transita somente na disciplina de Língua Portuguesa do currículo escolar, mas como conteúdo essencial ao ensino e à aprendizagem de todas as disciplinas com seus respectivos conteúdos. Essas considerações motivam e justificam este estudo que 157 privilegia a metodologia do ensaio orientando o encadeamento de análises fundamentadas e a construção de argumentos que revelam a importância de um trabalho coletivo, conjunto e articulado por parte de todos os professores. Esse trabalho de professores viabiliza uma melhor apreensão, compreensão e uso da linguagem por parte dos alunos que a percebem como matriz fundamental de todo ensino e aprendizagem. Indica-se que as práticas dos professores devem ser pensadas coletivamente, assim, os professores têm a oportunidade de planejar suas aulas, avaliar e reavaliar estratégias e planos, estudar e pesquisar para poder conquistar os objetivos e as metas traçadas por intermédio de caminhos mais significativos para os alunos e para os professores. Os estudos sobre o corpo teórico oferecem aos professores as possibilidades de pensar as práticas já implementadas e as que ainda serão de modo mais fundamentado, articulando um discurso que transita em um caminho de reflexão-ação-reflexão. Nesse sentido, a formação continuada e em serviço de professores, realizada na escola e dinamizada pelo orientador pedagógico, surge como um valioso meio capaz de potencializar o trabalho coletivo de professores, que os levem a significar a linguagem escrita e oral em todas as suas práticas implementadas, de modo a criar um ambiente propício ao ensino e à aprendizagem. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE CONCEPÇÕES ACERCA DO PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DE LEITURA DE PROFESSORES DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DE FLORIANÓPOLIS Sabatha Catoia DIAS – UFSC [email protected] O estudo realizado tem como tema leitura, entendida como co-construção de sentidos em interrelações humanas –, processo que implica decodificação gráfica para compreensão textual. O objetivo é descrever analiticamente concepções docentes sobre as práticas de leitura nas aulas de Língua Portuguesa em turmas finais do Ensino Fundamental, em escolas situadas em Florianópolis, pertencentes à rede estadual de ensino, fazendo-o com foco em quatro domínios distintos: domínio ontológico, domínio axiológico, domínio teórico-epistemológico e domínio metodológico. Assim, o estudo pretende responder ao seguintequestionamento: Como professores de LP dos anos finais do Ensino Fundamental, de escolas estaduais localizadas em Florianópolis, trabalham com leitura em sala de aula? Que concepções tais professores explicitam sobre o ato de ler, no que se refere aos domínios ontológico, axiológico, teórico-epistemológico e metodológico? Para responder a tal questão, analisam-se respostas obtidas em entrevistas realizadas com 47 professores que versam sobre os domínios mencionados. O aporte teórico delineado para tratamento do tema constitui-se de teorizações de Vigotski (2007 [1978]); de estudos cognitivistas, como Dehaene (2007), Rumelhart (1981), Leffa (1996), entre outros; de estudos que concebem a leitura como um processo cultural, como Gee (2004) e Lahire (2008 [1995]); da teoria de gêneros discursivos de Bakhtin (2010[1952/53]) e de teorias de letramento, com base em Street (1984, 1988, 2003), Hamilton, Barton e Ivanic (2000) e outros. A análise dos dados sugere que a maioria dos docentes participantes da pesquisa não possui uma formação acadêmica que possibilite trabalhar leitura em todas as suas dimensões, com textos pertencentes a diferentes gêneros discursivos. Ao que parece, tais professores não conhecem ou conhecem muito pouco a respeito das teorias cognitivistas e sociointeracionistas, o que acarreta numa abordagem superficial dos textos lidos em sala. DESCRITORES DE LÍNGUA PORTUGUESA E O ENSINO DE LEITURA: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO Sandra Eleutério Campos MARTINS – UFTM [email protected] 158 O estágio Supervisionado em Língua Portuguesa I, no Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, constitui-se de uma atividade curricular na qual os licenciandos atuam nas aulas de língua portuguesa, em turmas das séries finais do ensino fundamental. Nessa atividade, propõe-se que os licenciandos delimitem como foco de seu trabalho como estagiários, o desenvolvimento da competência de ler dos alunos do ensino fundamental. Para isso, trabalham com os Descritores de Língua Portuguesa do Saeb, que constituem a melhor descrição e detalhamento dos conhecimentos relativos ao processo de leitura, construindo atividades que, ao serem propostas aos alunos, propiciam o desenvolvimento das habilidades e a construção dos conhecimentos necessários a uma prática de leitura proficiente. Antes de se dirigem às escolas, os licenciandos conhecem e estudam os Descritores de Língua Portuguesa das Matrizes Curiculares do Saeb. Tão logo começam as suas atividades em sala de aula, nas escolas-campo de estágio, os licenciandos elaboram uma avaliação diagnóstica, para identificar as habilidades de leitura que os alunos ainda não desenvolveram. Após a aplicação desse instrumento, corrigem-no, procedendo a um levantamento dos erros e acertos, o que resulta na construção de gráficos, os quais revelam, assim, os estágios de desenvolvimento da competência de leitura desses alunos. Em seguida, elaboram e aplicam outras atividades de compreensão de textos, durante todo o semestre, todas contemplando o que os alunos ainda não sabem sobre o processamento da leitura. O trabalho tem sido importante para a consolidação da formação dos licenciandos, pois eles já estão construindo uma prática de professor de língua materna, que não se concentre no ensino de tópicos gramaticais descontextualizados, mas que se debruce sobre um dos aspectos que constituem o papel social do professor de Português: formar leitores e produtores de texto proficientes. FORMAÇÃO CONTINUADA NA ESCOLA: INICIATIVA MOTIVADA POR AVALIAÇÕES EXTERNAS Paula Baracat de GRANDE – UNICAMP [email protected] O trabalho discute uma iniciativa de formação continuada demandada e organizada por professoras do quinto ano do Ensino Fundamental de uma rede municipal do interior paulista. A iniciativa foi gerada por necessidades docentes devido a avaliações externas que recaem sobre esse ano do Ensino Fundamental: o SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) e a Prova Brasil (prova de âmbito federal). A discussão a ser apresentada está inserida no projeto de doutorado “Formação do professor em serviço: letramentos, gêneros discursivos e identidades profissionais na escola”, orientado pela Profa. Dra. Angela Kleiman. O objetivo geral da pesquisa é investigar os gêneros discursivos que circulam na formação que se dá no local de trabalho e durante a prática docente, e a relação desse processo formativo com identidades profissionais de professores. O interesse recai sobre os funcionamentos internos da escola como esfera de formação do professor, procurando compreender as práticas discursivas e eventos de letramento relacionados à formação que emergem na esfera escolar. A pesquisa se sustenta na concepção bakhtiniana de linguagem e na perspectiva sócio-antropológica dos Estudos de Letramento. A metodologia, de caráter qualitativo-interpretativista, é de natureza etnográfica e utiliza dados gerados por observação participante em reuniões de HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo) e outros eventos de formação situados na escola ou secretaria municipal de ensino. No evento analisado, professoras discutem o documento “Matrizes de Referência, Temas, Tópicos e Descritores”, enviado às secretarias estaduais e municipais de educação nos anos de aplicação da Prova Brasil. As análises mostram como as professoras ressignificam e se apropriam de conceitos e práticas abordadas nos documentos a partir das demandas de sua realidade como também de seus saberes profissionais já familiares. 159 GRUPO TEMÁTICO 24: GÊNEROS DISCURSIVOS, ENSINO E PRÁTICAS COORDENADORAS: Maria de Fátima Alves da COSTA (UFCG) – [email protected]; Roziane Marinho RIBEIRO (UFCG) [email protected] Desde as últimas décadas do século XX, os pesquisadores brasileiros preocupados com o ensinoaprendizagem de língua portuguesa defendem a necessidade de mudança no sentido de concebermos a lingua(gem) como lugar de interação e de interlocução humana, e não mais como uma forma abstrata de signos linguísticos. Nesta perspectiva, não há como concebermos o ensino de língua portuguesa sem considerarmos as várias esferas sociais nas quais as práticas comunicativas se materializam. Nesse sentido, os gêneros textuais/ discursivos dão sustentação às práticas escolares e se mostram, na verdade, como ferramentas indispensáveis ao ensino-aprendizagem de leitura e de escrita, uma vez que neles se intercruzam uma multiplicidade de linguagens, em suas formas e funções possíveis de ampliar as possibilidades de compreensão leitora e de produção textual dos alunos aprendizes e, portanto, torná-los capazes de agir linguisticamente em múltiplas situações de uso social da língua. Partindo dessa premissa, propomos este Grupo Temático com o objetivo de abrirmos um espaço para exposição e discussão de trabalhos científicos, resultantes de pesquisas em andamento ou concluídas, que apresentem discussões teórico-analíticas acerca do tema proposta. Nosso interesse, neste GT, é discutirmos e refletirmos, em bases teóricas sociodiscursivas, como os gêneros discursivos/textuais estão sendo utilizados pelos professores como ferramentas para o ensino da leitura e da escrita e como práticas comunicativas no espaço da sala de aula. A ESCRITA NO COTIDIANO DE MULHERES INSERIDAS EM TURMA DE PRIMEIRO SEGMENTO DA EJA: DIMENSÃO EXTRAESCOLAR E ESCOLAR DOS USOS Rosangela PEDRALLI – UFSC [email protected] Este trabalho teve como objeto a modalidade escrita da língua no cotidiano extraescolar e escolar de três mulheres, moradoras de Florianópolis – SC, inseridas no mercado de trabalho e participantes do Curso de Educação de Jovens e Adultos – I Segmento da Prefeitura Municipal de Florianópolis. O estudo é fruto de uma vivência de quase cinco meses no espaço escolar em que se deu a pesquisa, o que gerou um conjunto de dados composto principalmente por notas de campo, entrevistas e em interações em grupo focal gravadas e imagens fotográficas. Foi nosso objetivo responder às seguintes questões: Como se caracterizam os usos sociais da escrita nos contextos extraescolar e escolar das alfabetizandas adultas, participantes desta pesquisa, inseridas nos contornos grafocêntricos das vivências sociais em Florianópolis – SC? De quais eventos de letramento tais senhoras participam em seu dia-a-dia?. Os dados apontam para usos escolares da escrita que parecem se caracterizar por uma dimensão ainda bastante artificializada, restrita ao ambiente escolar, não raro com componentes de infantilização ou com aproximações demasiadamente amplas no que respeita ao senso comum, rarefazendo a escrita. Observamos, contudo, um movimento em busca de novas configurações, aproximações com o ideário teórico dos gêneros discursivos (BAKHTIN, 2003 [1952/53]) e um trabalho ainda inicial com as novas tecnologias. Os eventos de letramento especificamente de que tomam parte tais senhoras cotidianamente demonstraram ter implicações conceituais relacionadas ao que vimos chamando de pragmatismo estreito edimensão ontológica da subjetividade¸ com vistas a explicar a divisão substancial nos usos cotidianos da escrita por parte das participantes deste estudo. Pareceu-nos nodal, ainda, nessa discussão acerca dos usos as questões de disponibilidade e acesso a materiais escritos (KALMAN, 2003). 160 PRÁTICAS DE LEITURA PELO VIÉS DO HIBRIDISMO PRESENTE NO GÊNERO PUBLICITÁRIO Luciana Martins ARRUDA – UFMG [email protected] Dalcylene Dutra LAZARINI- UFMG [email protected] Devido à facilidade de exposição aos anúncios publicitários e à sua capacidade de absorver outros gêneros, percebemos que práticas de leitura dentro e fora do ambiente escolar poderiam ser feitas a partir desse gênero textual, por se constituir, geralmente, de forma híbrida. Segundo Bakhtin (1953), os gêneros discursivos apresentam regularidades e coerções, características que os tornam reconhecíveis, enfatiza ainda sua relativa estabilidade de constituição, e seu reconhecimento devese ao conteúdo temático, ao estilo verbal e à constituição composicional. Além disso, por se tratar do gênero publicitário, devemos nos ater principalmente à sua função: divulgar um produto/serviço/ideia. A proposta do trabalho fundamenta-se na articulação entre teorias do texto (MARCUSCHI, 2002, 2008; KOCK, 2003) e análise do discurso (CHARAUDEAU, 1984, 2004; MAIGUENEAU, 1997, 2001), visto que o texto é a materialização do discurso. A partir dessa perspectiva, devemos conceber as práticas de leitura considerando as várias esferas culturais nas quais se materializam. Daí os gêneros textual-discursivos serem importantes instrumentos de ensino-aprendizagem para diferentes leituras que acontecem nas diversas situações sociais. O corpus se compõe por anúncios impressos que captam diferentes gêneros, oportunizando assim uma gama variada de leituras. Práticas de leitura que envolvam não só o conhecimento linguístico e metagenérico do aluno, mas sua capacidade crítica para perceber as mensagens subliminares que os perpassam são de extrema valia, pois atualmente a multimodalidade tem sido objeto de estudo por envolver texto e imagem. Desse modo, talvez o desafio de se criar o hábito de leitura possa ocorrer a partir de peças publicitárias, devido ao seu poder de sedução, produzido pelas escolhas imagéticas e linguísticas. Em linhas gerais, os resultados encontrados se mostram no interesse pela busca de anúncios em que outros gêneros apareçam e na tentativa de se estabelecer o porquê de ser aquele o gênero captado, podendo, assim, tornarem-se leitores mais proficientes. USOS SOCIAIS DA ESCRITA NA FAMÍLIA E NA ESCOLA Michelle Donizeth EUZÉBIO – UFSC [email protected] Esta pesquisa topicaliza os usos sociais da escrita e tem como tema a interface entre escrita e comunidade de prática (WENGER, 1998), ancorando-se em estudos de Street (1984; 2003a; 2003b); Street e Lefstein (2007); Barton (1994); Barton e Hamilton (1998); Barton, Hamilton e Ivanic (2000); Hamilton (2000a); Kleiman (2006). Seu objetivo foi descrever, com base em teorizações de Hamilton (2000b), práticas e eventos de letramento vivenciados por um grupo de crianças – na escola e em casa –, residentes em um bairro de vulnerabilidade social no município de Florianópolis/SC, identificando concepções sobre a escrita em ambos os espaços e depreendendo implicações de aprendizagem, no que diz respeito à formação dos alunos, decorrentes de similaridades ou diferenças entre tais práticas. Participaram do estudo seis alunos, cursando o quarto ou o quinto ano do Ensino Fundamental; compuseram, ainda, o quadro de participantes as mães e os funcionários da escola. O estudo teve como mote as seguintes questões de pesquisa: Como se caracterizam práticas e eventos de letramento subjacentes/presentes às/nas relações intersubjetivas que crianças de comunidades socioeconomicamente desprivilegiadas e de baixo nível de escolarização estabelecem na escola e em casa? Que divergências e convergências emergem no que diz respeito a práticas e eventos de letramento vivenciados por tais crianças nesses grupos e na escola? Há implicações de aprendizagem depreensíveis nessa maior ou menor 161 convergência? Os resultados evidenciam que a hipotetizada divergência entre práticas de letramento que caracterizam o espaço escolar e práticas de letramento que caracterizam a ambientação familiar, ainda que se institua naquele espaço, não parece ser o foco efetivo implicado na não ressignificação das representações das crianças sobre os usos da modalidade escrita da língua na sociedade contemporânea. Parece haver, na verdade, uma flagrante ausência de escrita na ambientação escolar e nas aulas dessa classe. A POLIFONIA EM GÊNERO ESCOLAR DE LEITURA DA DÉCADA DE 50 Raimunda Dias DUARTE – UFPA [email protected] Laura Maria Silva Araújo ALVES – UFPA [email protected] Este trabalho tem como objetivo analisar a polifonia no livro didático ‘Primeiro Guia de Leitura’, da série 'Ler', destinado às séries iniciais, cuja primeira edição foi publicada no Brasil em 1947. Neste trabalho, é analisada a 8a. edição, publicada em 1956. Para alcançar o objetivo, busca-se fazer um levantamento histórico dos livros de leitura no Brasil, focalizando a classificação, a função, os tipos, os gêneros e os modelos desses livros didáticos; investigar o contexto sócio-histórico e político da década de 50 e de décadas anteriores que influenciaram na produção de material didático desse período e, por último, analisar as ideologias presentes em 3 das 26 lições que compõem o livro didático por meio das diferentes vozes presentes no texto. A pesquisa está ancorada na vertente teórica da análise do discurso, baseada nos postulados de Mikhail Bakhtin. A metodologia empregada é a histórico-documental, cujos dados são analisados do ponto de vista discursivo, considerando-se as ideologias presentes no gênero do discurso em foco. A asserção inicial é de que a produção didática da década de 50 constituiu um instrumento de controle do Estado Brasileiro. Os dados revelam que os discursos construídos no livro sob análise o são a partir de discursos que legitimam, nas relações de poder, as ideologias dominantes, ou seja, as ideologias do Estado Brasileiro. Os dados comprovam a tese de Bakhtin de que os discursos são atravessados por outros discursos, posto que, o gênero analisado trata de categorias muito presentes na Era Vargas (1930 a 1945), tais como ‘trabalho’ e ‘patriotismo’. Palavras-chave: Gênero escolar de leitura; análise do discurso; ideologia; polifonia A IMPORTÂNCIA DA INTERGENERICIDADE NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Ana Clara Gonçalves Alves de MEIRA – UFMG [email protected] Há vários estudos sobre o ensino de língua materna e, quando se trata desse assunto, são observadas, geralmente, duas questões: os tipos de ensino e o motivo de lecionar aulas de português para falantes nativos. Depois de muitas reflexões, defendeu-se a importância de um ensino que não seja conduzido com o único objetivo de transmitir ao aluno a norma culta. Valoriza-se, então, o desenvolvimento da competência comunicativa e a linguagem como forma de interação. Levando em conta todos esses aspectos, pensou-se, neste trabalho, em quais seriam as possíveis estratégias utilizadas pelo professor para um ensino baseado na interação. A hipótese acolhida é a de que os gêneros textuais/discursivos podem contribuir para alcançar esse objetivo, já que o estudo dos gêneros colabora não só para a compreensão de textos, mas também para sua produção. Optou-se por apresentar um estudo sobre “intergenericidade”, com o objetivo de mostrar que as fronteiras entre os gêneros não são precisamente definidas e que semelhante estudo é importante para o ensino de língua. Para definir a “intergenericidade”, utilizar-se-á, como referencial teórico, os trabalhos de Marcuschi (2002) e Dell’Isola (2007). Será analisado um gênero com a forma de bula de remédio e a função de convite de casamento. Além disso, a situação comunicativa e a maneira utilizada pelo produtor do texto para alcançar o seu interlocutor serão pontos fundamentais na análise desse 162 gênero. Acredita-se que o fato de o intergênero se caracterizar por apresentar forma de um gênero e função de outro contribui para que o aluno veja como o processo de interação é fundamental nas diversas situações comunicativas, reafirmando a importância dos gêneros para um ensino reflexivo da linguagem. SELEÇÃO DE GÊNEROS DO DISCURSO PARA ELABORAÇÃO DIDÁTICA: ALEATORIEDADE OU FUNDAMENTAÇÃO? Rodrigo Acosta PEREIRA – UFRN [email protected] Gianka Salustiano BEZERRIL – UFRN [email protected] Diversas pesquisas em Linguística Aplicada têm se preocupado com os diferentes saberes que (res)significam a prática docente do professor de língua materna frente às novas perspectivas teórico-metodológicas para o ensino e aprendizagem da língua portuguesa (BRAKLING, 2002; KLEIMAN, 2001; ROJO, 2002; RODRIGUES, 1999; 2002; SIGNORINI, 2005). Sob esse panorama, o presente trabalho objetiva investigar quais critérios o professor de português de escolas da rede pública estadual e municipal da cidade de Currais Novos, no estado do Rio Grande do Norte se utiliza para selecionar gêneros do discurso para suas atividades em sala de aula, para as práticas de leitura, escrita e análise linguística. Para tanto, a ordem metodológica dessa investigação segue parâmetros da pesquisa etnográfica (ERICKSON, 1987; ANDRÉ, 1997) e da Análise Dialógica de Discurso (BAKHTIN, 1998 [1934-1935]; 2003 [1969]; 2006 [1929]), procurando compreender os saberes que se engendram nos critérios desses professores a partir da análise interpretativa de seus discursos. Selecionamos quatro escolas da rede pública para aplicação de questionários e realização de entrevistas com oito professores, além de observações feitas por meio de gravações audiovisuais. Os resultados apontam para diferentes caminhos (aleatórios e teóricos) engendrados na prática docente dos professores quanto aos saberes que se entrecruzam na seleção de gêneros do discurso para as aulas de língua portuguesa, seja sob um âmbito dasteorias do cotidiano, seja sob o das teorias profissionais (BARTON, 1994). Entendemos que essa pesquisa torna-se relevante, à medida que não apenas contribui para estudos de perspectiva etnográfica, como, em adição, colabora para investigações na área de teorias de gêneros discursivos no campo da LA. CONTRIBUIÇÕES DA RETÓRICA PARA O ENSINO DA PRODUÇÃO DE TEXTO Mônica Moreira de MAGALHÃES – UFMG [email protected] (Apoio CAPES) Este trabalho tem por objetivo discutir algumas contribuições da Retórica, mais especificamente, da teoriados tópicos e da teoria da stasis, para a produção de textos argumentativos. A grande questão que propomos é: Onde e como um aluno vai buscar argumentos para desenvolver um tema que lhe é apresentado? Assim, o foco desta discussão está justamente no uso das referidas teorias na busca por argumentos. Tomamos, como ponto de partida, algumas inquietações de Edward P. J. Corbett quanto à necessidade de se “ensinar” a produção de textos. Justifica-se o uso das aspas porque, muitas vezes, acredita-se que basta pedir a um aluno para escrever um número x de redações que, automaticamente, ele aprenderá a escrever bem. Por outro lado, quando temos a oportunidade de ler um texto de um aluno e de orientá-lo no que ele precisar melhorar, isso se traduz em oportunidade ímpar de aprendizado. Torna-se visível o progresso desse aprendiz no processo de aprendizagem da escrita. Além do mais, segundo Corbett, mesmo os alunos mais brilhantes precisam de orientação no desenvolvimento do processo de escrita, a qual pode se dar pela retórica clássica. Interessamnos, de modo especial, os tópicos de invenção, ou seja, aqueles que ajudam a descobrir argumentos. Como estamos interessados na relação entre a Retórica e o ensino da produção de textos 163 argumentativos, analisaremos algumas estratégias de argumentação empregadas por alunos do Ensino Médio em produções textuais bem sucedidas. ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: ENTRE A ANÁLISE DIALÓGICA E A APLICAÇÃO Eliana Vianna Brito KOZMA – UNITAU [email protected] Mirian Bauab PUZZO – UNITAU [email protected] Os artigos de divulgação científica fazem parte da esfera jornalística e geralmente são redigidos por jornalistas especializados ou por um especialista da área que tenha facilidade de transformar conceitos complexos e resultados de pesquisa de maneira mais simples de modo a levar o conhecimento a um público leigo no assunto. Portanto, a teoria é explicitada numa linguagem mais acessível e de fácil entendimento do leitor presumido da mídia em que o texto é veiculado. Desse modo, a linguagem científica vem associada à linguagem do cotidiano, criando um estilo misto entre o científico acadêmico e orepertório cultural do leitor.Para compreender melhor esse processo comunicativo, é preciso reportar à teoria dialógica da linguagem de Bakhtin e do Círculo, cuja perspectiva conceitual tem auxiliado as pesquisas no âmbito da comunicação humana, observando tanto o processo individual da expressão linguística quanto as relações enunciativas no plano mais amplo das interações com o contexto sócio-histórico e o momento de produção do enunciado. Com essa visão teórica, procura-se analisar a linguagem do artigo de divulgação científica“Bebês à la carte”, publicado na revista Ciência Hoje, com o intuito de perceber os artifícios linguísticos e a proposta comunicativa do autor em função do público leitor. Em seguida, analisa-se o modo pelo qual acadêmicos do curso de Jornalismo de uma universidade particular situada no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, identificam as características discursivas do referido gênero, de modo a perceber não somente a construção composicional, o conteúdo e o estilo de cada um, elementos que caracterizam os gêneros enquanto tipos relativamente estáveis de enunciados, mas também, e talvez principalmente, como o coro de vozes se concretiza no texto selecionado. AVANÇANDO NA PRÁTICA: O TRABALHO COM GÊNEROS TEXTUAIS NO GESTAR II Valéria Rios Oliveira ALVES – UEFS [email protected] Thaís Nascimento SANTANA – UNEB [email protected] Sabe-se que as últimas décadas representaram significativos avanços no campo dos estudos linguísticos, desencadeando mudanças também expressivas no que concerne ao ensino de língua na sala de aula. No Brasil, a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de língua portuguesa (BRASIL, 1998) já direcionava o enfoque do ensino da língua para seu uso e funcionamento contextualizados em situações comunicativas concretizadas nos textos, elegendo, para tanto, os gêneros textuais como objeto de ensino. No entanto, mais de uma década depois, ainda se percebe um descompasso entre o que é prescrito pelas instâncias governamentais e a prática docente em sala de aula, uma vez que os professores, por muitas razões, ainda sentem dificuldades em transformar esse conhecimento teórico sobre gêneros textuais em atividades que contemplem essa perspectiva de ensino. Dada esta realidade, alguns programas têm sido instituídos pelo MEC com o intento de amenizar as dificuldades de alunos e professores no processo de ensinoaprendizagem de leitura/produção de textos. Dentre estes programas, destacamos o Programa Gestão da Aprendizagem Escolar, o GESTAR II de Língua Portuguesa, voltado para professores das séries finais do Ensino Fundamental. Assim, este trabalho tem o intuito de discutir algumas propostas para o ensino de gêneros textuais sugeridas nos materiais de apoio do referido programa, 164 analisando-as à luz de autores como Marcuschi (2008); Rojo (2000); Dolz & Schneuwly (2004), entre outros. Para direcionar nossa análise, tomamos como pergunta norteadora de pesquisa, a seguinte questão: Qual a abordagem/tratamento dos gêneros textuais pelo GESTAR II nas propostas de ensino sugeridas ao professor nas seções “Avançando na prática”? Isso será possível fazendo uma pesquisa documental dos materiais teóricos referidos e do módulo que trata do ensino de gêneros no GESTAR II. GÊNEROS ORAIS NA ESCOLA: POR UMA SUGESTÃO DA LÍNGUA ORAL COMO OBJETO DE ENSINO Elaine Cristina Forte-FERREIRA – UFC [email protected] Como nossa preocupação recai sobre o ensino da língua oral, mais especificamente sobre o tratamento metodológico concedido ao trabalho com gêneros orais, consideramos, assim como Bakhtin (1997), que a dificuldade de comunicação oral ou escrita, em alguns eventos de interação, pauta-se na ausência de domínio de gêneros do discurso, por isso consideramos fundamental a prática da língua, seja oral ou escrita, a partir de um estudo com base em gêneros. O objetivo deste trabalho, que é um recorte da nossa tese em andamento, é discutir a língua oral como um dos focos da prática pedagógica em sala de aula, porque consideramos essencial a utilização de atividades significativas que possam conceber a modalidade oral da língua como objeto de ensino da escola. Por acreditarmos que a habilidade de produção oral pode ser adquirida na prática, decidimos pensar em atividades que possam atender à prática da oralidade a partir de situações com gêneros orais nas quais eles possam ser produzidos pelos alunos. Para alcançar nosso objetivo, ministramos quatro aulas, nas quais apresentamos atividades que solicitavam dos alunos a produção de gêneros orais (peça teatral, relato e contação de história). A partir dessas produções, conseguimos identificar alguns entraves no processamento do texto oral, os quais podem ser amenizados se houver, para os alunos, momentos que propiciem a prática da língua oral. Com os dados da primeira etapa do experimento, verificamos que, para efetuarem a produção textual e, consequentemente, a construção de sentido na interação, os alunos utilizaram a repetição, que, por ser utilizada em demasia, pode tornar o texto prolixo; o marcador conversacional aí com uma função que parece funcionar não só como elemento de articulação textual, mas também como uma estratégia para prender a atenção do público; e os assaltos constantes ao turno, que ferem o princípio da cooperação (GRICE, 1982). O GÊNERO EXPOSIÇÃO ORAL NO CONTEXTO DO ENSINO MÉDIO Regina Lúcia FÉLIX – PETEDI – UFU [email protected] Este trabalho objetiva analisar a aplicação do gênero exposição oral no contexto do Ensino Médio. Baseia-se, principalmente, na perspectiva teórica de Schneuwly & Dolz et al. (2004), Rojo (2000, 2001, 2002, 2005 e 2007) e Marcuschi (1999, 2001, 2002, 2003, 2005). Este gênero foi escolhido como objeto de pesquisa em razão de possibilitar aos alunos o desenvolvimento das habilidades de raciocínio, de percepção do outro, de trabalhar com outros gêneros, de funcionar como instrumento de trabalho com a prática da oralidade. Partiu-se da hipótese de que os gêneros orais não são trabalhados formalmente no contexto escolar, pois os professores não têm uma forma de abordagem que sustente sua prática. O percurso metodológico adotado nesta pesquisa foi de caráter descritivoanalítico. A partir do corpus coletado, foram analisados as condições de produção em que ocorreram as exposições dos alunos, a construção interna das exposições realizadas por eles, os mecanismos de articulação textual presentes em suas produções orais e alguns elementos não verbais da comunicação pertinentes à compreensão do gênero. Verificou-se que o trabalho com a modalidade oral da língua é realizado com frequência em sala de aula, porém sem intervenções didáticas em relação à forma como os alunos apresentam-nas. Falta aos professores embasamento 165 teórico- pedagógico. Sendo assim, este estudo pode contribuir para que os professores não só reconheçam a importância da exposição oral no contexto escolar e na vida social do aluno, mas também desenvolvam um trabalho sistemático, possibilitando a seus alunos empregarem esse gênero com competência nas diversas situações comunicativas. PIBID E INICIAÇÃO A DOCÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA: O GÊNERO DISCURSIVO COMO OBJETO DE ENSINO Francisca das Chagas Nobre de LIMA – BW [email protected] Este trabalho tem como objetivos compreender o gênero discursivo como objeto de ensino nas práticas sociais de linguagem dentro e fora da esfera educativa nas quais os alunos estão inseridos, por meio das ações norteadas pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), especificamente, o subprojeto de Língua Portuguesa, bem como desenvolver o convívio com discursos materializados nos textos, os valores e as concepções que circulam nestes, além de considerar o contexto de produção textual e o meio no qual ele será veiculado. Nesse sentido, é importante entendermos que esse gênero é relativo estável, mediado pelo uso da linguagem, que se efetua por meio de enunciados concretos e singulares. Este trabalho está fundamentado nos pressupostos teóricos desenvolvidos por Bakhtin (2009, 2010a, b e c) sobre linguagem, enunciado, gênero discursivo, Geraldi (2010), acerca da aula como acontecimento, entre outros. A pesquisa que subsidia esse trabalho é qualitativa de orientação sócio-histórica embasada nos aportes teóricos desenvolvidos por Freitas (2007) e Rojo (2006). Ademais, foram realizadas atividades com alguns gêneros textuais em sala de aula com os alunos do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio da Escola Estadual Berilo Wanderley, localizada em Natal/RN, por alunos bolsistas do PIBID juntamente com a professora-supervisora de Língua Portuguesa, dentre os quais destacamos a fábula, o artigo de opinião e o comentário. A partir daí foi possível discutirmos aspectos relativos à linguagem como interação verbal (a noção de constitutividade dos sujeitos), as mudanças acontecidas nas diferentes produções textuais, resultando em aprendizados significados que conduziram os estudantes a construir e a reconstruir habilidades essenciais no processo de ensino-aprendizagem. O trabalho se insere na área de Linguística Aplicada que concebe a linguagem como prática social que acontece nas diferentes esferas da atividade humana. PRÁTICAS SOCIAIS CIENTÍFICAS E GÊNEROS: UMA ANÁLISE CONSTITUTIVA E COMPARATIVA Nágila Machado Pires dos SANTOS – UFU [email protected] Pesquisas nas últimas décadas apontam para uma mudança na forma de conceber o ensino de língua portuguesa, tanto no nível escolar quanto no nível acadêmico, mas que ainda requer aprofundamento teórico para entender como a pluralidade de gêneros existe e acontece na sociedade para, também, melhor compreender o que um gênero realiza socialmente e como isso é representado linguisticamente a fim de ue o interlocutor seja bem sucedido em sua interação. Dessa forma, ensinar língua por meio de gênero significa ensinar suas formas e funções possíveis que possibilitem uma compreensão de leitura e produção capaz ensinar formas de agir socialmente por meio da linguagem. Entendendo que a língua é lugar de interação humana que nos constitui sócio e historicamente, é necessário considerar que seu ensino deva considerar as esferas sociais a que pertencem e circulam os gêneros discursivos e quais práticas sociais eles realizam. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo apresentar a proposta de um trabalho de mestrado, ainda em estágio inicial, de análise de caracterização e comparação entre gêneros acadêmicos, a saber o ensaio acadêmico e o artigo científico. A terminologia desses gêneros tem sido utilizada indiscriminadamente para designar, na maioria das vezes, apenas um deles, quando, na verdade, 166 parece haver uma prática que os distinguem por suas especificidades e propósitos. Para a realização dessa pesquisa que aqui propomos, utilizamos como aporte o trabalho sobre gêneros desenvolvido por Swales (1990, 1992) numa abordagem que ficou conhecida como Sociorretoria e nos estudos textuais de van Dijk (1977, 1978, 1990, 1992). Esperamos contribuir, dessa forma, para o avanço dos estudos sobre gêneros discursivos e sobre as práticas sociais mediadas pela linguagem. UMA PLANTA É UM GÊNERO? CONHECIMENTOS E PROJETOS DE LEITURA ENVOLVENDO GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS EM CONTEXTO DE FORMAÇÃO CONTINUADA Roziane Marinho RIBEIRO – UFCG [email protected] Maria de Fátima Alves da COSTA – UFPB [email protected] Este trabalho tem como objetivo relatar, de forma analítica, uma experiência de Formação Continuada vivenciada por duas professoras da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, cuja meta era subsidiar as práticas de ensino de professores de escolas públicas da cidade de Campina Grande – PB, no que se refere ao ensino da leitura a partir dos gêneros textuais. O que pudemos constatar, a partir da convivência com professores em dois cursos de Formação Continuada, é que os conhecimentos acerca da leitura e do ensino dos gêneros textuais ainda são muitos limitados. Em geral, estes professores, continuam trabalhando a leitura de forma fragmentada, priorizando o modelo estruturalista, os aspectos formais do texto, em detrimento dos aspectos discursivos e pragmáticos. O corpus aqui apresentado constitui-se de projetos de leitura elaborados pelos professores envolvidos nos referidos cursos de formação. Para analisá-lo, tomamos como fundamentos teóricos as pesquisas desenvolvidas por Marcuschi (2002), Schnewly, Dolz e Noverraz (2004), Brakling (2006), Nascimento (2009), Hila (2009) entre outros. Os resultados apontam para o fato de que os professores do Ensino Fundamental, com os quais trabalhamos, conseguiram ressignificar o planejamento e o desenvolvimento de suas práticas de leitura contemplando os gêneros textuais. Acreditamos que essa mudança foi propiciada pela ação interventiva dos formadores, embora seja preciso dizer que este cenário de resultados ainda está incompleto, precisando de ajustes e aprofundamentos, o que nos leva a inferir que urge a necessidade de políticas de formação continuada que consigam atender as demandas de melhorias de ensino da Língua Materna e da qualidade da leitura em nosso país. GRUPO TEMÁTICO 25: GÊNEROS MULTIMODAIS COMO OBJETO DE ENSINO: TEORIA E PRÁTICA COORDENADOR: Julio Neves PEREIRA (UFBA) – [email protected] Na conjuntura atual do processo de comunicação, segundo Kress & Van Leeuven, observase uma rede multiforme de linguagem semiótica sendo utilizada para comunicar algo. O sujeito da comunicação tem a sua mão uma variedade sígnica e de suporte, além das inúmeras maneiras de organizá-la. Como conseqüência direta dessa nova configuração comunicacional, a noção de letramento é ampliada para a de multiletramentos (Cope e Kalantzis), cujo pressuposto é de que uma educação linguística e suas preocupações didático-pedagógicas devem estar assentadas em três pilares: diversidade produtiva (trabalho), pluralismo cívico (cidadania) e identidades multifacetadas (vida pessoal). Por isso, e a partir da crescente preocupação com o visual e com outras formas de linguagem presentes na comunicação, o ato de ler e de escrever passa também, e com veemência, pelo desenvolvimento da habilidade de lidar com os sentidos produzidos pela multicodificação textual, produto dos constantes avanços tecnológicos, os quais conferem novas e diversas configurações lingüísticas às práticas sociais. Nesse sentido, a formação de usuários que sejam eficientes tanto na produção quanto na recepção desses novos textos é de extrema importância. Em 167 virtude disso, o Grupo Temático objetiva, de um lado, a discussão teórica acerca do gênero multimodal como objeto de ensino e, de outro, a apresentação de resultados de pesquisas que focam as didáticas e metodologias de ensino desses textos desenvolvidas em/para aula de língua portuguesa. O quadro teórico norteador pretende-se transdisciplinar, na medida em que é formado pelas contribuições da teoria dos Gêneros desenvolvida por Bakhtin (2003), Bazerman (2006); pelas teorias de letramentos, multiletramentos e multimodalidade desenvolvidas por Kleiman (1995), Signorini e Cavalcanti (1998), Street (1984), Cope e Kalantzis (2006), Kress e Van Leeuven (2001), J. Lemke (s/d) e da semiótica discursiva (Greimas). ELEMENTOS DE SEMIÓTICA FRANCESA APLICADOS À ABORDAGEM DE TEXTOS NÃO VERBAIS E SINCRÉTICOS Clebson Luiz de BRITO – UFMG [email protected] (Apoio FAPEMIG) Há uma crença comum segundo a qual entender um texto, interpretá-lo requer sensibilidade e/ou perseverança e ainda outra que toma como texto apenas produções com linguagem verbal. A primeira desconsidera elementos mais objetivos do processo de leitura, ligados ao conhecimento sobre como o sentido se constitui textualmente, enquanto a segunda desconsidera não só que os textos não verbais constituem uma unidade de sentido, como também que o sentido pode ser veiculado numa relação entre duas ou mais linguagens nos textos sincréticos. Ironicamente, na sociedade atual, os textos, não raro, recorrem a diferentes linguagens na produção do sentido ou exploram sobremaneira a linguagem visual, o que mostra que a habilidade de leitura de textos visuais e sincréticos é, pois, necessária, mas pouco exercitada, sistematizada. Nesse sentido, pretende-se, por meio de uma aplicação a diferentes gêneros – propaganda, campanha comunitária, capa de revista –, demonstrar a produtividade de elementos da Semiótica Francesa na abordagem de tais textos. Esta teoria postula que o sentido parte de uma forma mais simples e abstrata e vai se enriquecendo até atingir o grau de complexidade e concretude observado na superfície textual. Esse postulado implica, portanto, a possibilidade de apreender o sentido em diferentes níveis de complexidade, simulando diferentes procedimentos de abstração e comparação que o ato de leitura exige. Nesta apresentação, serão exploradas a semântica fundamental e a semântica discursiva, que permitem apreender o sentido, respectivamente, sob a forma de uma oposição semântica axiologizada graças à categoria euforia/disforia e sob a forma de temas, figuras e isotopias disseminados no texto. Em suma, pretende-se demonstrar que o conhecimento de categorias propostas pela Semiótica pode servir de subsídio no desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação de textos que circulam na sociedade contemporânea. A IMAGEM E A SUA FUNÇÃO SEMIÓTICA EM DISCURSOS MULTIMODAIS Izabella da Silva Negrão TRAJANO – UnB [email protected] A presente comunicação tem como objetivo discutir o papel da imagem como um modo semiótico nos discursos multimodais e sua importância para a construção da representação social. À luz da ADC na visão de Chouliaraki e Fairclough (1999), partiu-se da percepção do discurso como um elemento essencial das práticas sociais, o qual diz respeito não somente à linguagem verbal, mas também a outros modos semióticos como, por exemplo, as imagens. Por meio dos conceitos teóricos da Multimodalidade de Kress e van Leeuwen (1996, 2001), da Análise Crítica do Discurso de Fairclough (1992, 1995, 2006), van Leeuwen (2008), entre outros que enfatizam o discurso como um modo de representação de mudança social, buscou-se mostrar como importantes áreas da vida social têm focalizado na mídia de massa se tornando autoconscientes sobre a linguagem que utilizam. A mídia tem um importante papel hegemônico não só em reproduzir, mas também em 168 reestruturar a relação entre os domínios públicos e privados, e as sociedades modernas complexas envolvem a formação em rede de diferentes práticas sociais através de diferentes domínios ou campos da vida social perpassando diferentes escalas, nas quais os textos são umaparte fundamental dessas relações em rede (Fairclough, 1992). Por meio de análises de textos multimodais (propagandas de lojas de hortifruti e campanhas públicas) foi possível constatar que a expressão de uma imagem com todos os seus elementos de composição funcionam como modos semióticos produzindo significados que auxiliarão na construção da represerntação social, especialmente em marcas comerciais. LETRAMENTO MULTIMODAL E CONSTRUÇÃO CONJUNTA DE CONHECIMENTO DA FALA-EM-INTERAÇÃO Andréia KANITZ – UFRGS [email protected] A partir da análise de um dado de fala-em-interação, o presente trabalho tem por objetivo caracterizar um evento de letramento multimodal e demonstrar como, no âmbito de tal evento, é possível flagrar o trabalho social e interacional de construção conjunta de conhecimento entre os participantes da interação. Para tanto, um segmento interacional em que há engajamento dos participantes em uma atividade de leitura de um gráfico foi identificado, transcrito e analisado pela perspectiva dos próprios participantes acerca do que fazem em conjunto, focalizando as ações para as quais eles se orientam turno a turno de modo a darem conta da atividade de leitura em que estão engajados. A análise sustenta que o segmento interacional constitui um evento de letramento multimodal na medida em que (a) os participantes envolvem-se em uma atividade conjunta de leitura de uma imagem (um gráfico) (b) em outro espaço de escrita que não o papel (a tela de um computador) (c) que demanda deles a negociação conjunta de um procedimento que lhes possibilite realizar naquele espaço a atividade de leitura (do gráfico em uma tela de computador). Engajados nesse evento de letramento, argumentamos também, que os participantes constroem conhecimento conjuntamente na medida em que constroem conjuntamente um procedimento de leitura satisfatório para os seus propósitos situados que lhes possibilita obter com alguma precisão a informação em busca da qual estavam quando iniciaram a leitura do material. O presente trabalho contribui com estudos sobre o letramento que contemplam os multiletramentos decorrentes da nova configuração comunicacional atual em que se observa uma rede multiforme de linguagem semiótica sendo utilizada na comunicação. Além disso, a investigação aponta para eventos de letramento multimodais, enquanto instâncias de construção conjunta de conhecimento, como oportunidades significativas de aprendizagem que devem, assim, estar contempladas nas propostas de leitura na prática de sala de aula. HIPERCONTOS MULTISSEMIÓTICOS E A PROMOÇÃO DOS MULTILETRAMENTOS Anair Valênia Martins DIAS – UNICAMP [email protected] Na contemporaneidade, as Novas Tecnologias de Informação e de Comunicação têm exigido práticas letradas que requerem um deslocamento das práticas já canônicas realizadas pelos protagonistas do cenário escolar em direção a práticas mais condizentes com o contexto multissemiótico atual. As NTIC trouxeram, então, possibilidades de potencialização da circulação, do uso e de ações para produzir e modificar textos multimodais e multissemióticos. Nesse sentido, a proposta deste trabalho é apresentar uma discussão sobre a recepção do gênero digital multimodal e multissemiótico hiperconto, que busca promover interatividade e romper com a linearidade dos textos canônicos. Segundo Kress e Van Leewen (1996), a linguagem deve ser vista como constitutivamente multimodal e os sentidos são produzidos quando inter-relacionados vários modos de linguagem na constituição textual. Os recursos midiáticos ampliam as possibilidades de sentidos 169 que podem ser produzidos a partir da materialidade linguística apresentada na literatura digital. Em especial, os processos interativos aumentam as produções de sentidos, podendo o leitor, em alguns hipercontos, interferir na forma de organização do texto, potencializando a sua significação e modificando o seu final, por exemplo. Em uma perspectiva sociocultural e discursiva, a interação ocorre entre sujeitos em um processo comunicativo em que o locutor, por meio da linguagem, exerce um fazer persuasivo e o interlocutor um fazer interpretativo (BRONCKART, 1999). Nesse processo, porém, os papéis não são fixos, sendo que o sujeito pode, em um determinado momento da interação, ser locutor e em outro ser interlocutor. A imersão do aluno em um universo repleto de textos multimodais e multissemióticos amplia o seu universo de significações, pois cada modalidade expressiva com a qual é confrontado integra um universo de significados possíveis. A multimodalidade pode desafiar os leitores a entenderem as estratégias estéticas e as singularidades requeridas para a composição da literatura eletrônica. O GÊNERO CANÇÃO NO ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ADICIONAL José Peixoto Coelho de SOUZA – UFRGS [email protected] O uso de gêneros multimodais em sala de aula é uma prática comum entre os profissionais da área do ensino de línguas (materna e adicional). Entretanto, o seu uso geralmente acaba reduzindo-se a um mero pretexto para a introdução e/ou discussão de um dado conteúdo gramatical, com foco na compreensão da linguagem verbal sem abordar as especificidades da(s) outra(s) linguagem(ns) constitutiva(s) do gênero emquestão. Isso é particularmente comum no caso da canção, cuja interface musical acaba praticamente silenciada por falta de instrumentalização por parte do professor com essa linguagem. Nesse contexto, esta comunicação tem como objetivo apresentar uma investigação sobre a canção na perspectiva dos gêneros do discurso, objeto da minha pesquisa de mestrado sobre o uso desse gênero como instrumento didático no ensino de português como língua adicional (PLA). Devido às diversas interlocuções e propósitos estabelecidos pelos diferentes gêneros musicais e à complexa relação que se dá entre as duas materialidades constitutivas da canção, proponho que a canção seja pensada não apenas como um gênero discursivo, mas como uma constelação de gêneros. Nessa perspectiva, as canções de cada gênero musical, como, por exemplo, canção de rock, canção de bossa nova, também sejam pertencentes a diferentes gêneros do discurso, quais sejam, gênero do discurso canção de rock e gênero do discurso canção de bossa nova. Assim, existiriam tantos gêneros discursivos canção de gênero musical quanto os gêneros musicais existentes, cada um com ouvintes presumidos e contextos de produção, circulação e recepção distintos, e tema, construção composicional e estilo relativamente estáveis, tanto no discurso verbal quanto no musical. No final, abordo algumas implicações de compreendermos canção como constelação de gêneros para o ensino de PLA, visando dar mais subsídios para uma exploração mais aprofundada desse gênero em sala de aula. MULTIMODALIDADE, LEITURA EM TABLETS E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Acir Mário KARWOSKI – UFTM [email protected] Na dimensão dialógica de linguagem, o processo de interação do leitor com as configurações multissemióticas dos gêneros digitais exige, além de domesticação com as novas ferramentas tecnológicas, novas habilidades de leitura e estratégias diversificadas de processamento e de compreensão. Nosso foco de investigação recai sobre a leitura em tablets. O leitor utiliza os mesmos procedimentos para leitura em ambiente digital na internet e em tablets? O que muda nessa interação leitor e suporte digital? Há maior interação e motivação para a leitura? Quais as principais diferenças no ato de ler diante de um computador (desktop ou laptop) e em tablets? Como reage o leitor diante de textos multimodais com palavras, imagens, cores, sons, movimentos e apelos 170 sensoriais diversificados e muitas vezes inusitados que configuram os gêneros multimodais especialmente em tablets? Esses e outros questionamentos fazem parte de um projeto financiado pelo CNPq no qual visamos estudar as atitudes, estratégias, procedimentos e motivações de uma estudante nascida na década de 60 do século passado - geração de famílias sem nenhum contato com computador nem internet - até sua entrada no curso de Letras em uma universidade pública em 2009. Destacamos as críticas apontadas por Carr (2011) quanto à geração superficial e o que a internet está fazendo com os nossos cérebros. Defendemos, no entanto, que a inserção das novas tecnologias nos espaços escolares e estímulos para a leitura em ambiente digital, especialmente em tablets, é uma importante estratégia para o ensino de língua portuguesa mais atraente e atualizado. O letramento digital é necessário para o exercício pleno da cidadania. A inserção nas redes sociais, a leitura em ambiente virtual, o domínio das ferramentas tecnológicas apontam para a definição de um perfil de usuário com pleno domínio de habilidades antigamente não exigidas para a prática da leitura. MULTIMODALIDADE E ESCRITA COLABORATIVA: CONECTANDO FANFICS E GOOGLEDOCS À PRODUÇÃO DE TEXTOS EM SALA DE AULA Eliane Fernandes AZZARI – UNICAMP [email protected] Melina Aparecida CUSTÓDIO – UNICAMP [email protected] Ler e produzir textos multimodais são necessidades da era em que vivemos, marcada pela presença das tecnologias digitais. Nesta era, novas competências são necessárias para um novo modelo de leitor-autor. Essas competências são destacadas pela pedagogia dos multiletramentos, que busca analisar os letramentos recorrentes na atualidade na relação com o papel que a escola deve desempenhar diante das novas demandas da realidade de jovens alunos. Diante disso, este trabalho apresenta uma experiência de escrita colaborativa em ambiente escolar feita com o suporte do GOOGLE DOCs para a produção do gênero discursivo tragédia. Ao lançar mão das várias semioses que já fazem parte da rotina do perfil desse aluno atual, permitiu-se contextualizar a escrita colaborativa na esfera escolar. Essa proposta se configurou como um deslocamento da produção de um gênero canônico, parte do currículo escolar, para os gêneros ditos impuros do ambiente on-line, uma vez que mobilizou, sobretudo, o desenvolvimento detextos multimodais. Os resultados dessa experiência são comparados ao funcionamento do gênero discursivo FANFIC, (termo reduzido pra FANFICTION, i.e.; ficção de fã. Uma estória escrita por fãs, apartir de um livro, quadrinhos, anime, filme ou série de TV) que engloba escrita criativa, a metalinguagem e o pertencimento a uma base de fãs (FANDOM) em meios eletrônicos. Propomos uma abordagem acerca da escrita em esfera escolar sob a perspectiva dos multiletramentos e concluímos com as convergências entre o gênero FANFIC e a produção dos alunos participantes. PROCESSOS REFERENCIAIS EM TEXTOS MULTIMODAIS: APLICAÇÃO AO ENSINO Clemilton Lopes PINHEIRO – UFRN [email protected] Uma das discussões acerca da inserção da multimodalidade no escopo de assuntos pertinentes à Linguística Textual é o emprego de dispositivos analíticos oriundos dos estudos do texto verbal que permitam trabalhar também com signos não verbais. Este trabalho se situa nessa discussão, tentando ampliá-la ao âmbito da aplicação ao ensino. Pretendo estender à análise de textos multimodais estáticos os princípios analíticos dos processos de referenciação, que, no âmbito da Linguística Textual, têm servido para subsidiar a análise de textos apenas verbais. A referenciação aqui está sendo concebida conforme resumem Cavalcante, Pinheiro, Lins e Lima (2010, p. 233-4), ou seja, “o processo pelo qual, no entorno sociocognitivo-discursivo e interacional, os referentes se 171 (re)constroem. Trata-se, portanto, de um ponto de vista cognitivo-discursivo, e é por isso que se diz que a referenciação é um processo em permanente elaboração, que, embora opere cognitivamente, é indiciado por pistas linguísticas e completado por inferências várias”. Nesse sentido, assumo que os elementos não verbais são fundamentais e inevitavelmente constitutivos dos textos multimodais e incorporá-los na análise se faz necessário para explicar e compreender a forma como ocorre, também nesses textos, o processo de compreensão. O objetivo do trabalho é, portanto, propor atividades para explorar, em sala de aula, a função dos processos de referenciação na construção do sentido do texto multimodal, tendo em vista o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita dos estudantes. As atividades focalizam basicamente as funções discursivas, a construção dos referentes e o jogo polifônico dos processos referenciais e são propostas a partir de alguns exemplares de histórias em quadrinhos e charges. O INFOGRÁFICO NA SALA DE AULA: CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES COMPLEXAS E EMBARALHADAS Carmen Brunelli de MOURA – UNP [email protected] Na contemporaneidade, as subjetividades se constituem em uma trama na qual o enunciável e o visível se enredam (FOUCAULT, 2005) e isto faz pensar a infografia como outra possibilidade de apreensão de sentidos, transformações, aprendizagem. O infográfico não se constitui somente como um apoio ao gênero notícia, mas como um aspecto da realidade no qual se constroem saberes a partir da seleção lexical, propósitos do autor, interlocutor, momento da produção (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001). É preciso compreender que o infográfico é um gênero que não deve sobrecarregar o aluno de informações, mas, ao mesmo tempo, deve aproximar a imagem do texto para uma melhor compreensão pelo aluno. Por isso, no campo educacional, há um regime de dizibilidades acerca deste gênero multimodal e de sua relevância no ensino e aprendizagem; mas, na sala de aula, sua presença é tímida, inexpressiva e desconhecida. Este trabalho tem como objetivo descrever uma experiência de planejamento com infográficos na disciplina de Leitura e produção de textos, oferecida em dois cursos, em áreas distintas, em uma instituição de ensino superior. O corpus foi constituído por textos da mídia convencional e digital. Esta discussão está fundamentada em uma concepção de linguagem como prática social, nos estudos da Teoria da multimodalidade (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001) e na abordagem sócio discursiva de gêneros, filiada à nova retórica (BAZERMAN, 2006). Os resultados evidenciam que o uso do infográfico nas aulas de leitura e produção de textos deixa apreender ressignificações, rupturas, realidades diferentes que se fazem presentes na materialidade linguística dos textos produzidos pelos alunos. O GÊNERO MULTIMODAL CARTUM E SUA ARTICULAÇÃO COM O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Alex Caldas SIMÕES – Fac. DOCTUM-ES [email protected] Atualmente, o ensino de língua materna tem se direcionado para o ensino do texto em sala de aula, materializado em algum gênero do discurso. Tal postulação tem instigado pesquisadores das mais diversas áreas de estudo do objeto a investigar a questão: como levar os gêneros discursivos para sala de aula? Instigados por essa questão, pesquisadores ainda se indagam como utilizar os gêneros multimodais como objeto de ensino das aulas de língua portuguesa. Afinal, que tipo de teorias e métodos podem ser utilizados nessa tarefa? Em nossa exposição, apresentaremos a teoria sistêmicofuncional proposta por Hasan (1989) como forma de instrumentalizar os professores de línguas para o trabalho com os gêneros multimodais em sala de aula. Como corpus de pesquisa configuraremos o gênero cartum, ao depreendermos a Estrutura Potencial (EPG) de 20 cartuns de Allan Sieber (2006). Concluímos que configurar gêneros é uma tarefa essencial para o entendimento e aprofundamento 172 da noção de gênero em sala de aula. Entender as especificidades do gênero, no nosso caso o do gênero cartum, por meio de sua configuração parece ser uma atividade sine qua non para instrumentalização desse objeto no ensino de línguas. Entretanto pesquisas destinadas a configuração de gêneros ainda são escassas. De nossa discussão, compreendemos ainda que ao depreendemos a Estrutura Potencial dos Gêneros (EPG) podemos evidenciar, mais facilmente, para os alunos a importância do contexto para o texto e ainda indicar: (a) “o que ensinar do gênero”, ou seja, seus estágios obrigatórios, no caso do cartum os estágios interdiscursividade, personagem (figurante) e assinatura autoral; e (b) “como”, ou seja, por meio da configuração de sua Estrutura Potencial (EPG), no caso do cartum os estágios obrigatórios supracitados, os estágios opcionais (título, cor, sargeta, requadro, cenário e seriação) e os estágios iterativos ou recursivos (balão, onomatopéia e linhas e traços). GRUPO TEMÁTICO 26: INTERPRETAÇÃO, LEITURA E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA COORDENADORES: Carmen AGUSTINI (UFU) – [email protected]; Ernesto Sérgio BERTOLDO (UFU) – [email protected] Na terceira época da Análise de Discurso de linha pecheuxtiana, toma-se partido pelo real, o que implica levar a sério que não há uma interpretação única para uma enunciação, mesmo considerando sua exterioridade constitutiva no processo de interpretação. Isso abre para a problematização sobre qual o papel do analista. Segundo Pêcheux, cabe ao analista expor o olharleitor à opacidade da materialidade linguística em sua relação constitutiva com sua própria materialidade histórica. Essa tomada de posição pelo real da língua coloca em relação e relevo os conceitos de estrutura e de acontecimento, naquilo que eles têm a ver com a relação entre memória e re-atualização. Para tanto, pensamos um conceito de enunciação em sua relação com certo conceito de discurso e de fala. Enunciação deve comportar, em concomitância, fala e discurso. Fala enquanto aquilo que é da ordem do singular e, portanto, irrepetível, aquilo que sempre guarda algo de inapreensível e discurso, enquanto algo organizado, socialmente estabilizado e que, por isso, sustenta uma regularidade enunciativa e suas representações im-possíveis. Assim, parece-nos possível discutir e problematizar a subjetividade da interpretação, assim como evidenciar a importância da materialidade linguística no processo de interpretação. Pretendemos, portanto, mostrar que a ordem própria da língua é o espaço limítrofe da relação constitutiva entre memória e atualização, entre discurso e fala, entre estrutura e acontecimento. Pares conceituais que trazem em si essa relação que a enunciação mo(vi)menta e que o procedimento de leitura precisa comportar de modo a colocar à mostra a rebeldia da significação nos pontos de deriva da produção de (ir)regularidade de efeitos de sentido. Se a interpretação mobiliza aspectos subjetivos, então procuramos discutir e problematizar o que essas questões teóricas postas pela AD podem contribuir para o ensino de interpretação e de leitura em Língua Portuguesa. LEITURA DO NÃO-VERBAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA VIA POSSÍVEL A PARTIR DA AD Érica Daniela de ARAÚJO – UFU [email protected] Carmem Lúcia Hernandes AGUSTINI – UFU [email protected] Neste trabalho, propomo-nos a analisar, a partir da perspectiva teórica da Linguística da Enunciação de abordagem benvenistiana, (re)lida do ponto de vista da Análise de Discurso de linha pecheuxtiana (doravante AD), de que modo as práticas metodológicas de ensino, propostas nos livros didáticos da educação básica da edição direcionada ao professor, abordam o trabalho sobre a leitura e sobre a interpretação do não-verbal. Muitas vezes, verificamos um mero repasse da 173 linguagem não-verbal para a verbal, o que, dado o aporte teórico a que nos filiamos, aponta para um reducionismo. Isso porque coadunamos com a perspectiva de que essas linguagens possuem funcionamentos específicos, bem como modos de significância (Cf. BENVENISTE, 1970) também particulares: ler uma imagem é muito diferente de ler uma palavra, uma vez que os recursos de interpretação daquela nem sempre podem receber um recobrimento pela linguagem verbal. Dito de outro modo, poderíamos destacar que há uma hiância estrutural entre linguagem verbal e nãoverbal, uma opacidade que, fatalmente, produz efeitos para o próprio ato de interpretar. Diante disso, intentamos refletir em que medida o trabalho sobre a leitura e sobre a interpretação da linguagem não-verbal pode ganhar operacionalização em alguns livros didáticos de língua portuguesa no que concerne aos aspectos metodológicos sobre os quais os professores geralmente se embasam. Para tanto, a partir de uma articulação conceitual entre a AD e a Linguística da Enunciação, privilegiaremos algumas categorias conceituais, tais como: opacidade, silêncio, real da língua, equivocidade, modos de significância, estrutura e acontecimento, entre outras, de modo a sustentarmos a perspectiva de que, a partir de uma visada discursiva, algumas (im)possibilidades de trabalho de leitura e interpretação sobre a linguagem não-verbal podem ser, de certo modo, enfrentadas no fazer do professor. AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: A INTERPRETAÇÃO COMO FATO ENUNCIATIVO João de Deus LEITE – UFU [email protected] Inserido no âmbito de um contínuo de preocupações mais amplas, este trabalho irá particularizar um exame teórico-analítico voltado para uma aula de leitura em Língua Portuguesa que ocorreu em uma escola regular pública. Isso porque, nessa aula, ocorreu um fato interessante, tendo em vista as questões teóricas a que nos filiamos, qual seja: ao explanar o poema “Nunca se perguntou”, de Marina Colasanti, o professor foi surpreendido com a interpretação de um aluno, quando este questionou o valor positivo da liberdade que até então estava sendo considerado pelo professor a partir do poema. Em vista disso, comprometidos com a terceira época da Análise de Discurso francesa peuchetiana e com a Linguística da Enunciação de cunho benvenistiana, passamo-nos a fazer os seguintes questionamentos: Em que o processo de reversibilidade entre locutores, subjacente ao diálogo entre professor e alunos em uma aula de leitura, teria a ver com a própria (im)possibilidade de a interpretação se efetivar? Mais: em que medida esse processo de reversibilidade nos permitiria pensar a interpretação como fato enunciativo? Aventamos a hipótese de que ali o processo de reversibilidade, assegurado pelo próprio funcionamento da língua, permitiu aos locutores da enunciação o movimento de se correferirem sobre o quê estava sendo tratado, sendo que essa relação não possui certa simetria; isso parece fundamentar a própria possibilidade de direcionamento outro para o sentido que até então estava sendo construído para aquele poema. Sendo assim, propomo-nos: analisar os possíveis efeitos que o processo de reversibilidade entre os locutores da enunciação, no caso encabeçado por professor e alunos, pode implicar para a atividade leitura e interpretação, e, articulado a isso, analisar em que medida a questão da correferência entre (inter)locutor pode afetar a própria (im)possibilidade de se trabalhar a interpretação de um texto em sala de aula. COESÃO SEQUENCIAL: MECANISMO ARTICULADOR DA ARGUMENTAÇÃO DE TEXTOS EM QUADRINHOS Vilma Aparecida GOMES – ESEBA/UFU [email protected] Esta comunicação tem o objetivo de apresentar um relato de experiência de uma atividade de leitura e de interpretação de textos em quadrinhos. É uma proposta que objetiva oportunizar aos alunos analisar as sequências discursivas presentes em quadrinhos, charges e tirinhas. Por meio dessas 174 análises é possível que eles entendam como essas sequências estabelecem a coesão sequencial de um texto. Para isso, as atividades realizadas têm por objetivo orientar os alunos para que eles compreendam que as pistas textuais - verbais e não verbais - fazem as informações progredirem e contribuem para que o leitor construa o sentido do texto. Nesse momento, é possível o professor problematizar, levando em consideração as respostas dos alunos, que é possível mais de uma interpretação para um mesmo texto em um dado momento enunciativo. Para sustentar essa perspectiva de leitura tomaremos por base a vertente teórica da Análise do Discurso de linha francesa no que se refere à terceira fase, momento em que Pêcheux convoca para seu campo teórico o real da língua. Apostar que há um real da língua significa entender que a língua comporta o furo porque existe sujeito, e, por isso, a subjetividade emerge durante o processo de leitura e de interpretação de textos. Nesse sentido, entendemos que esta atividade pode contribuir para o ensino de leitura em Língua Portuguesa no momento em que evidência a subjetividade do leitor diante da opacidade das sequências linguísticas. Esse fato coloca em cena a possibilidade de mais de uma interpretação para o mesmo texto. SOBRE A AUTONOMIA RELATIVA DA SINTAXE NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA PORTA PARA A INTERPRETAÇÃO? Patrícia de Brito ROCHA – UFU [email protected] A Análise de Discurso (abreviadamente AD) surge no cenário da intelectualidade francesa em 1960 como reação ao Estruturalismo e à Gramática Gerativa Transformacional – ambas, mesmo que cada uma em sua abordagem concebe a sintaxe como autônoma. Ademais, a AD faz franca oposição a certas áreas das Ciências Humanas cujo enfoque volta(va)-se para a análise de conteúdos, sendo, pois, tal análise responsável por conferir à língua transparência; levando essas interpretações pautarem-se por essa perspectiva. Embora, primordialmente, a AD de filiação peuchextiana preocupe-se com questões inerentes ao processo de interpretação das materialidades discursivas bem como os processos discursivos que a constituem, traz a discussão sobre a (im)possível relação entre a sintaxe e o discurso. Assim, sob a perspectiva discursiva, a sintaxe passa a ser apresentada como dotada de autonomia relativa, pois o deslocamento promovido pela AD é de que a sintaxe saia do campo estritamente linguístico, onde é compreendida como da ordem da estabilidade e da transparência, para o campo discursivo, passando a ser concebida como produtora de efeitos de sentido. Historicamente, o ensino de Língua Portuguesa pauta-se, sobretudo, pela abordagem da sintaxe e da interpretação como algo fechado, que não comporta o “furo” ou o “impossível”, além de, muitas vezes, não “ver” e ou promover a interrelação entre elas. Contudo, a AD, ao problematizar uma nova abordagem sobre a sintaxe e conferir a ela o status de “observatório do discurso”, abre o flanco para que o ensino possa integrar essas novas concepções ao processo de leitura, levando o aluno a (re)conhecer que as materialidades linguística e histórica fazem emergir efeitos de sentidos, e não O sentido. Assim, este trabalho apresenta-se inserido em uma perspectiva teórico-analítica, que busca mostrar como esse novo processo pode dar vistas à interpretação; para tanto, propondo o estudo das orações adjetivas em uma peça publicitária. INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS E ENFRENTAMENTO DO REAL Thiago André R. LEITE – UFU [email protected] Karine Rios de OLIVEIRA – UFU [email protected] O ensino da Língua Portuguesa, em suas vertentes de leitura e interpretação, pode permitir a problematização de pontos de deriva possíveis, a partir de enunciações que ocorrem em decorrência da leitura de enunciados. Esses pontos de deriva indicam que não há uma interpretação definitiva, o 175 que remete ao fato de que, conforme apregoa Pêcheux, todo enunciado é suscetível de vir a ser outro, porque há, por exemplo, real da língua, de modo que um texto se fecha textualmente, mas nunca discursivamente. Isso mostra que a essência do signo linguístico é, de acordo com a teoria de Saussure, escapar sempre à vontade individual ou social. Diante disso, o estudo da Literatura vinculado ao ensino da Língua Portuguesa apresenta-se como um campo profícuo à análise dessa abertura a diferentes sentidos possíveis, abertura essa que deve levar o professor a preocupar-se com o modo como se portar frente à impossibilidade de uma interpretação única para, por exemplo, textos literários. Dessa maneira, para exemplificarmos essa impossibilidade, objetivamos analisar um poema de Gregório de Matos e um poema de Álvares de Azevedo, procurando compreender que, mesmo escrevendo em momentos diferentes na história e na literatura brasileira, esses poemas, assim como qualquer texto, indicam que vai sempre haver real da língua. Portanto, como há real da língua, a interpretação permanece em aberto. Entretanto, entendemos que, em cada poema, há efeitos de sentido esperados em detrimento de outros, dada a própria memória discursiva em relação a textos desses autores. No entanto, o im-possível é possível, posto que há subjetividade envolvida na interpretação. O DIZER DO OUTRO SOB (E)FEITO DE GESTOS DE INTERPRETAÇÃO DO LEITOR: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Hélder Sousa SANTOS – UFU [email protected] Valendo-se de pressupostos teóricos da Análise de Discurso de linha francesa, sobremaneira da noção de interpretação que daí é bastante difundida, o presente trabalho se propõe a refletir acerca de gestos de interpretação que um aluno vestibulando, ao tomar para si enunciados do texto motivador da prova de redação de vestibular (doravante, TM), textualizou em uma redação que produziu em contexto de vestibular. Para tanto, procuramos daí explicitar algumas operações com a língua nas quais esse aluno, afetado pela ideologia e pela historicidade, apoiou, a fim de “recuperar”, via interdiscurso, enunciados que não eram de sua autoria e de colocá-los no fio do discurso que (re)formulou. No que concerne a tais operações, salientamos que se tratam de movimentos subjetivos da ordem do recortar-estrair-deslocar-confrontar informações de um dado texto, em caso nosso, do TM, conforme estudos de M. Pêcheux (1980) os considera. Face, então, a esses movimentos que o vestibulando — estando diante de um dizer que, a princípio, não lhe constitui — realizou, temos como ponto nodal de discussões deste trabalho a possibilidade de espreitarmos reviramentos de sentidos que se concretizaram em sua produção textual, ao se apoiar em enunciados do TM da prova de redação de vestibular. Em decorrência, pretendemos enfatizar que esse reviramento de sentidos se deu, pois há o impossível próprio à língua (o real da interpretação) (se) re(ins-es)crevendo a cada gesto de leitores que se colocam a reformular o dizer do outro; daí, pois, assumirmos que não há “a” interpretação (no sentido de ser esta uma produção fechada, imaginariamente esperada) para o que se lê. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE SENTIDOS ENTRE A CONTIGÊNCIA DO REAL E A ILUSÃO DA TRANSPARÊNCIA Vânia Duarte GONZALEZ – UEG [email protected] Realizamos esta pesquisa no campo da Linguística Aplicada em interface com as concepções teóricas da A.D. de linha francesa de cunho histórico-ideológico. Na linha de estudos sobre ensino e aprendizagem de línguas ocorreu-nos problematizar a leitura-interpretação-produção de sentidos, a partir do trabalho que se efetua nas aulas de Língua Portuguesa do ensino fundamental em três escolas da rede pública de ensino. A hipótese direcionadora deste estudo foi que, em virtude de o sujeito-aluno não se configurar como um leitor dos textos lidos na escola, na produção de textos 176 esperada, não constitui condição suficiente para se afirmar que ele não seja um leitor proficiente. Quanto ao sujeito-professor, em vez de tratar a interpretação como um momento privilegiado de produção de sentidos, dada a sua constituição e o poder que exerce na sala de aula, prossegue trabalhando com verdades dadas e absolutas. Enquanto categoria teórica de análise, a noção de sujeito - um efeito de linguagem - não pode configurar-se em plenitude, porque é cindido, faltoso, desejante. Junto a essa perspectiva téorica de sujeito-efeito de linguagem, outros conceitos como formações discursivas, interdiscurso, memória discursiva, heterogeneidades, sentidos e efeitos de sentido são operacionalizados no propósito de ancorarem as análises dos enunciados, ora extraídos das aulas gravadas, ora dos questionários aplicados aos sujeitos-professores. O fazer/dizer dos sujeito-professores e dos sujeitos-alunos assinalou que o funcionamento de sala de aula, procurando acertar pela metodologia, trabalha no cumprimento de tarefas definido pelas regras de muitos jogos que se jogam de memória. A produção de sentidos prossegue encerrada nos limitesdas concepções de linguagem e de leitura. Problematizar a transparência na linguagem, tangenciada por pontos de impossível - o Real, prepara-nos para a abertura de outros acessos e de outras saídas na produção de sentidos possíveis para os sujeitos-alunos, para os sujeitos-professores e para a escola. O SUJEITO CONSTITUÍDO NA E PELA LEITURA: A DIMENSÃO IDENTITÁRIA DA FORMAÇÃO DE LEITORES NA ESCOLA Rosimeire A. M. P. FERREIRA – PMU/SME [email protected] Neste trabalho objetivamos problematizar a questão da interpretação de textos literários instaurada nas práticas de leitura na sala de aula de língua portuguesa. Trata-se de um pré-projeto de pesquisa que intentamos desenvolver. Por trilharmos no campo da Linguística os caminhos da Análise do Discurso de linha francesa encontramos na questão da leitura um território fértil para análises. Isto porque concebemos o sujeito como efeito de linguagem e seus dizeres como produto de suas práticas sociais inclusive, a sua prática leitora. Desta feita, entendemos que a leitura é uma prática social que, constitutiva dos sujeitos, os singulariza. Partimos do pressuposto que para cada leitura os sujeitos lançam diferentes olhares, o que implica dizer que não há uma interpretação única para um enunciado neste caso, textos literários que circulam nos livros didáticos de língua portuguesa. A análise consiste em comparar as respostas escritas de diferentes alunos para uma mesma pergunta de interpretação. Interessa-nos saber em que medida as práticas de interpretação (im)possibilitam a produção de sentido dos textos lidos. Neste trabalho buscamos refletir sobre a questão identitária da leitura no viés enunciativo-discursivo trazendo para o debate a relação constitutiva entre a leitura na sala de aula e a singularização dos sujeitos leitores. Nesse sentido, pretendemos realizar um trabalho que acolha diferentes conceitos como discurso, acontecimento, memória, formação discursiva, interdiscurso, materialidades discursivas, representação e enunciação mobilizados a partir das relações entre a linguagem e a subjetividade e que contribuam para o debate em torno do ensino da leitura e suas implicações na formação de sujeitos leitores. O TEXTO NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA Palmira V. B. H. ALVAREZ – UEFS [email protected] Esta comunicação objetiva discutir sobre o tratamento do texto no livro didático de Língua Portuguesa do Projeto Araribá. Sabe-se que a noção de texto na Linguística Textual hodierna extrapola bastante as concepções formais que o consideravam como um conjunto de frases ou uma junção de palavras, colocando-o como um produto a partir do qual se deveria extrair um sentido. em pesquisas realizadas no âmbito do Núcleo de Pesquisa Do Discurso (Nuped) da UFBA observou-se que a noção de texto esboçada nos livros didáticos de Língua Portuguesa Da Coleção Projeto Araribá continua presa às concepções formais, visto que o mesmo ora é considerado como um 177 conjutno de frases, ora como uma frase de grande extensão. Ao mesmo tempo, não se considera o texto como um complexo elemento que envolve múltiplas modalidades. Assim, ao ser tratado como um produto pronto, cabe ao aluno, em boa parte das perguntas propostas no livro apenas copiar e retirar do texto informações explícitas, sem no entanto realizar inferências que possam extrapolar o cotexto estritamente linguístico. Desse modo, percebe-se que, apesar de haver uma grande diversidade de gêneros textuais/discursivos colocados nesse livro, a abordagem que se faz dos mesmos é insuficiente, uma vez que ainda é comum solicitar na parte de interpretação textual que os alunos copiem ou transcrevam trechos do texto. Há, desse modo uma contradição que coloca teoria e prática em pólos opostos na abordagem do texto no livro didático, fazendo com que o mesmo nesses manuais seja visto apenas como produto pronto e acabado, diferentemente da proposta estabelecida pelas teorias contemporâneas da Linguística Textual. O USO DE DICIONÁRIOS ESCOLARES NO ENSINO BÁSICO: DIFERENTES LEITURA E USOS Jordan Oliveira da SILVA – UFT [email protected] O presente trabalho analisa os usos dos dicionários de língua portuguesa e de língua inglesa em sala de aula em uma escola particular do estado do Tocantins, buscando identificar e realizar quais são os usos do dicionário em aulas de leitura de língua inglesa e portuguesa investigando quais são as concepções de leitura e de sentido por parte de alunos e professores. Os dicionários em questão são variados e de diferentes editoras e autores, uma vez que a escola não indica especificamente um modelo a ser adquirido. Ao analisar os dados obtidos à luz da teoria da Análise do Discurso, fizemos uma tentativa de conferir quais são as crenças e concepções de /sobre dicionário que alunos e professores tem. A teoria escolhida nos ajudou a explicitar os discursos presentes nas falas de alunos e professores e também nos próprios dicionários, uma vez que compreendemos os dicionários como objetos atravessados/reprodutores por/de diferentes discursos que podem ser conferidos através das entradas nos diversos verbetes e na própria proposta do dicionário. A pesquisa tem como um dos objetivos dar encaminhamentos para a criação de um referencial teóricometodológico que instrua os professores de língua estrangeira em questões que envolvem o uso de dicionários em sala de aula, tal qual já existe para a língua materna desde a publicação do Manual “Dicionários em sala de aula”. Além dos usos e concepções, buscamos analisar o discurso dos alunos e professores quanto à escolha dos dicionários feita pelos mesmos, apontando se alunos e professores, entre outros aspectos, tem consciência das recomendações de dicionários feitas pelo MEC em relação à qualidade e os diferentes tipos de dicionário de acordo com a faixa etária. ESTUDOS PRÉ-TEXTUAIS E SEUS REFLEXOS NO ENSINO DE LEITURA Eliamar GODOI – UFU [email protected] Esse trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre o ensino de leitura e ainda apresentar os resultados de um estudo sobre ensino da Leitura com enfoque em um trabalho com o enunciado de questões discursivas para a interpretação de texto. Esse estudo foi desenvolvido com alunos do ensino fundamental da escola pública por meio de estratégias de ensino de leitura utilizando estudos pré-textuais. Buscamos fomentar discussões o ensino de leitura e apresentar um panorama sobre leitura e o seu ensino em sala de aula. Partimos da hipótese de que um trabalho feito articulando questões envolvendo a temática do texto a ser lido antes da apresentação do mesmo, favorece a compreensão do tema pelos alunos. A leitura é vista como um processo que envolve professor e aluno num trabalho mediado por textos que abranjam a diversidade de seus gêneros contemplando os interesses dos alunos. No cenário atual, mesmo aluno já letrado demonstra grande dificuldade quanto à compreensão do texto. Há problemas também quanto à 178 compreensão dos enunciados de questões discursivas relacionadas ao texto lido e dificuldades na construção de sentido, além de problemas na formação desse aluno como sujeito da linguagem. Percebemos que essa não-compreensão dos enunciados advém da não-compreensão do texto lido, motivador das questões. Como não conseguem abstrair o conteúdo do texto, não conseguem seguir nem relacionar as instruções indicadas pelos enunciados propostos. Como resultado, percebemos que apenas a disponibilização de textos diversos para atividades de leitura e produção de textos não resolve a questão. Observamos ainda que, o ensino de leitura, por meio da articulação de debates, estudos pré-textuais e conteúdos multidisciplinares anteriores à leitura, favoreceu na compreensão dos textos lidos e auxiliou os alunos no processo de construção de respostas mais adequadas às questões discursivas propostas para interpretação do texto. GRUPO TEMÁTICO 27: INVESTIGAÇÃO SOBRE O TEXTO ACADÊMICO: DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO AO ARTIGO CIENTÍFICO COORDENADORAS: Maria Otilia Guimarães NININ (PUCSP/ CNPq) – [email protected]; Leila BARBARA (PUCSP/ CNPq) – [email protected] A escrita acadêmica tem provocado discussões entre pesquisadores da área da linguagem, que vêem nessa produção textual um campo de estudos promissor para se compreender como estudantes internalizam os diferentes discursos teóricos aos quais são apresentados ao longo de sua formação. Ao produzir o texto científico, o autor recorre a elementos da língua para marcar sua posição de autoridade, de maior ou menor concordância em relação aos teóricos que discutem a mesma temática, revelando a apropriação das características textuais e discursivas dos gêneros textuais acadêmicos. Esses posicionamentos, evidenciados nas escolhas lexicogramaticais feitas pelo sujeito, têm sido largamente discutidos. Teóricos como Bazerman, já em 1988, e Swales, em 1990, dedicaram estudos em busca de caracterizar os gêneros acadêmicos. De lá para cá, pesquisadores brasileiros como Motta-Roth (2001, 2002, 2007), Hendges (2002), Araujo (2002), Borges e Moreira (2004), Machado et al. (2005), Figueiredo e Bonini (2006), Oliveira (2008), Botelho (2009), MottaRoth e Hendges (2010), Santos e Carmo (2011), apoiados em diferentes frames teóricos, têm apresentado estudos voltados ao texto acadêmico, focalizando desde a nomeação do sujeito nesse discurso e seu percurso de autoria ao ensino da escrita acadêmica e à apropriação das características desse gênero textual. Nessa direção, o grupo temático proposto tem por objetivo provocar uma discussão sobre a construção do discurso acadêmico, desde o trabalho de conclusão de curso, produzido por alunos de graduação, aos trabalhos de mestrado, doutorado e artigos científicos, produzidos por estudantes de pós-graduação. Espera-se que, a partir das discussões, seja possível propor estudos e novas pesquisas que auxiliem nas propostas de ensino da linguagem acadêmica, bem como na atividade de orientação a esses trabalhos. OS PROCESSOS VERBAIS NOS ARTIGOS CIENTÍFICOS DA REVISTA GESTÃO E SECRETARIADO: UMA ANÁLISE COM BASE NA LINGUÍSTICA SISTÊMICOFUNCIONAL Keyla Christina Almeida PORTELA – PUC-SP [email protected] Karin Claudia Nin BRAUER – PUC-SP [email protected] Esta trabalho está inserida no Projeto SAL (Systemics across Languages) que tem como objetivo apoiar pesquisas linguísticas que investigam a relação entre gramática e discurso em termos sistêmico-funcionais. O trabalho tem como objetivo analisar os processos verbais em 23 artigos científicos da revista Gestão e Secretariado, publicados online. Os processos verbais quando empregados,ratificam, esclarecem e explicam fatos ou situações, desempenhando um papel imprescindível na sustentação dos argumentos apresentados por autores frente à temática do texto. 179 Como fundamentação teórica será utilizada a Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), que estuda a língua em uso em diferentes contextos, desenvolvida por M.A.K Halliday (1985, 1994) e revista por Halliday e Matthiessen e outros. A pesquisa basearse-á na metafunção ideacional da Linguística Sistêmico-Funcional – que compreende a língua como atividade social, avaliando seus contextos de uso (HALLIDAY,1994 e HALLIDAY & MATTHIESSEN, 2004). No que se refere aos estudos sobre gêneros científicos, a pesquisa estará fundamentada em Bhatia (1993), Swales (1989, 1990), Swales & Feak (1999), Motta-Roth (1995, 2006) e outros. O gênero artigo científico um gênero serve como uma via de comunicação entre pesquisador, profissionais, professores e alunos de graduação e pós-graduação. Na análise do dados, será observada a frequência dos processos do dizer e a sua relação com os participantes da oração (dizente e verbiagem). A metodologia utilizada será subsidiada pelo programa de Linguística de Corpus Wordsmith Tools 5.0 (Scott, 2009), mais especificamente as ferramentas wordList e concordance. Esta pesquisa pretende auxiliar o melhor entendimento de como os autores que publicam na revista Gestão e Secretariado utilizam dos processos do dizer. PROCESSOS VERBAIS NA AVALIATIVIDADE DE RESENHAS DAS ÁREAS DE LITERATURA E HISTÓRIA Aline Cristina Flávio da SILVA – PUC-SP [email protected] O presente trabalho pretende descrever o gênero resenha nas áreas de Literatura e História, analisando diferenças e semelhanças que permitem caracterizar a resenha como um gênero único para todas as áreas e que pode servir como um parâmetro mais consistente a ser seguido por estudiosos que pretendam contribuir com esse gênero acadêmico e outros que necessitam utilizá-lo, como é o caso dos alunos em geral, uma vez que, trata-se de um importante instrumento de escolha para selecionar produções para leitura, permitir que os leitores possam inteirar-se das diversas publicações que circulam o meio acadêmico e dentre essas o que é de maior relevância. Essa investigação vincula-se a um projeto maior sobre análise de processos verbais - SAL- Systemic Across Language. O objeto de análise constitui-se de resenhas, sendo uma parte retirada do Scielo, portanto Qualis A1ou 2 e outras que não estão no Scielo, mas são classificadas como Qualis A2 ou B2. Como base teórica serão utilizados conceitos e categorias propostas pela Linguística SistêmicoFuncional (HALLIDAY, 1994), adotando a concepção do gênero resenha proposta por (SWALES, 1991; MOTTA-ROTH, 2002). Com o apoio da Linguística de Corpus através do programa Wordsmith Tools.5 (SCOTT, 2008) faremos o tratamento do corpus, utilizando as ferramentas wordlist e concordancer. Serão utilizadas as metafunções Ideacional e Interpessoal (HALLIDAY, 1994), avaliando a verbiagem que acompanha os processos verbais utilizados nas diferentes resenhas e a relação delas no que se refere à avaliatividade, assim será possível verificar se esse tipo de processo é mais frequente no “Movimento 3- Ressaltando partes do livro”, seguindo critérios de MOTTA-ROTH (2002), baseada em Swales (1991), apesar de também acontecer no decorrer da obra. PROPOSTA DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA A ESCRITA DE ARTIGO CIENTÍFICO Raquel Abreu AOKI – UFMG [email protected] Cristina Rodrigues MIRANDA – NP [email protected] O objetivo deste trabalho foi apresentar uma proposta de intervenção na realidade escolar de alunos do primeiro período do curso de Engenharia. Por observar as enormes dificuldades que tais alunos apresentavam na escrita de artigos científicos, e com a finalidade de integrar as práticas linguísticas que favorecessem o uso situado da língua e que contribuíssem para o desenvolvimento efetivo de 180 tais alunos, optamos pelo desenvolvimento de uma sequência didática (SD). Esta SD foi organizada por nós, com base na proposta de Schneuwly&Dolz (2004), e foi relevante para ajudar os graduandos a melhor dominar o gênero de texto, permitindo-lhes, assim, escrever de uma maneira mais adequada numa dada situação de comunicação. Nessa perspectiva a linguagem é vista como interação, a língua deixa de ser considerada estática, “pronta e acabada” e passa a ser dinâmica, sujeita a mudanças, pois ela pertenceria não mais aos dicionários ou manuais de gramática, mas aos falantes que a utilizam por meio de enunciados reais. A estrutura dessa SD foi construída considerando a seguinte metodologia: contextualização (análise de diferentes artigos científicos), elaboração e tratamento dos conteúdos temáticos, planificação (organização do texto em partes), textualização (utilização dos recursos da língua) e releitura, revisão e reescrita do texto. Nesse sentido, a SD sugerida por tais autores, e adotada nessa proposta de intervenção, constituir-se-ia como uma estratégia apropriada para o ensino de produção textual acadêmica, no que tange à redação científica. Ao final deste trabalho, percebemos que os alunos conseguiram reconhecer melhor o gênero artigo científico. Além disso, observou-se o melhor desempenho na capacidade comunicativa dos mesmos, em relação à instrumentalização da escrita do gênero artigo científico. O PADRÃO TEMÁTICO EM ARTIGOS CIENTÍFICOS Edna Cristina Muniz da SILVA – UnB [email protected] O objetivo deste estudo é investigar qual informação está contida nos Temas das orações nos textos de artigos científicos em diferentes áreas do conhecimento e sua relação com o desenvolvimento do texto em cada estágio desse gênero. Por que investigar o Tema? Porque a informação contida nos Temas relaciona-se ao método de desenvolvimento do texto e à progressão temática (Fries, 1981). Como a progressão temática relaciona-se à estrutura de um texto, é importante analisar quais ideias coodenam-se e/ou subordinam-se a outras ideias. Esta pesquisa apoia-se nos estudos sobre o Sistema de Tema, segundo a Gramática Sistêmico-Funcional (Halliday e Matthiessen, 2004; Eggins 2004; Thompson 2004; Butt e al. 2003; Martin & Rose 2003; Fries, 1981, 1992, 1995; Danes, 1974). Foram analisados quatro artigos científicos representativos de quatro áreas: ciências da saúde, ciências exatas e da terra, ciências humanas e ciências sociais aplicadas para verificar que entidades da dimensão da experiência os Temas representaram e como foram retomadas. Os resultados evidenciam variação na progressão temática, materializada no modo como os períodos e os parágrafos se estruturam – parataxe e hipotaxe – nos textos das diferentes áreas. A hipótese que se busca confirmar é se a variação na progressão temática está demonstrando que as diferenças nas práticas discursivas implicam diferenças na léxico-gramática dos textos dos artigos das diferentes áreas e como isso acontece. Embora as línguas apresentem estruturas diferentes na organização textual da oração, em Português, o Tema tipicamente se realiza na posição inicial da oração. Em textos científicos, que são mais padronizados, as informações contidas nos temas oracionais criam um padrão de progressão temática específico. Os artigos analisados foram baixados da base Scielo – que é uma biblioteca eletrônica de periódicos científicos brasileiros. LEITURA E ESCRITA NA ACADEMIA – REFLEXOS DE UMA REALIDADE A SER DISCUTIDA Miranilde Oliveira NEVES – IFPA [email protected] Propor uma reflexão sobre a prática de produção textual escrita com destaque para a importância da leitura e da interpretação diária e contínua na Academia constitui-se um dos principais objetivos do trabalho aqui apresentado. No decorrer deste artigo serão demonstradas as etapas do projeto de oficinas acadêmicas desenvolvidas nas Instituições de Ensino Superior Público de Tucuruí-PA: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA, Universidade Federal do Pará 181 – UFPA e Universidade do Estado do Pará – UEPA, além da metodologia aplicada, os objetivos do projeto e o mais importante: os resultados que foram obtidos através de uma concepção dialógica de estudo que valorizou teoria e prática na elaboração de textos acadêmicos produzidos pelos educandos – participantes do projeto “Oficinas de Textos: como obter sucesso em produções acadêmicas”. Para que este trabalho se desenvolvesse com êxito foram utilizadas como respaldo teórico, dentre outras autoras Délia Lerner, a qual é referência no âmbito da leitura e da escrita em todo o Brasil, além de Irandé Antunes – baluarte quanto à análise e produção de textos. O projeto teve uma duração de seis meses e comprovou o quanto é importante e necessário o estudo da Língua, principalmente no que diz respeito à clareza, concisão, objetividade, argumentação, coesão, coerência, intertextualidade, informatividade, aceitabilidade, intencionalidade e situacionalidade. Comprovou-se durante o período em que ocorreu o projeto que apesar de vivenciar uma necessidade cotidiana de qualificar a produção textual acadêmica, pelo fato de grande parte dos graduandos pertencerem a cursos na área de ciências exatas, principalmente, já não estão priorizando a prática de produção textual como deveriam. DISCURSO ACADÊMICO EM FOCO: UMA ANÁLISE SISTÊMICO-FUNCIONAL DE MONOGRAFIAS DE ALUNOS DO CURSO DE LETRAS Fabíola Aparecida Sartin Dutra Parreira ALMEIDA – UNEMAT [email protected] Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma análise de trabalhos monográficos realizados por alunos do curso de Letras de duas universidades, tendo como enfoque teórico a Gramática Sistemico-Funcional (Halliday, 1994/2004), mais especificamente, o Sistema de Avaliatividade – subsistema de Atitude (Martin, 1992, 2000; Martin & Rose, 2003; Martin & White, 2005). O sistema de Avaliatividade contempla os significados interpessoais utilizados pelos falantes/escritores para negociar emoções, julgamentos e avaliações, sob três domínios interacionais, ou subsistemas: Atitude (Attitude), Engajamento (Engagement) e Graduação (Graduation). A expressão de atitude, que será explorada neste trabalho, não é apenas um comentário sobre o mundo e sim uma postura interpessoal do falante/escritor cujo objetivo é obter uma resposta de solidariedade do seu interlocutor (Martin, 2000). A análise dos elementos avaliativos presentes nas monografias pode indicar as escolhas realizadas em um texto acadêmico, portanto, um gênero textual específico que extrapola as caraterísticas inerentes ao gênero e prevê uma resposta de solidariedade dos leitores. Tendo isso em mente, é nesse enfoque que se trata este estudo: será apresentada uma análise dos elementos avaliativos, concentrando-se no subsistema de Atitude presentes nas partes da Introdução e Considerações Finais das monografias das áreas da Linguística, Linguística Aplicada e Literatura do curso de Letras. Os resultados apontam para o uso dos elementos avaliativos direcionando as respostas dos leitores esperadas pelos alunos/escritores em suas respectivas pesquisas. Foi possível perceber a mudança de foco dos elementos avaliados e também a forma pela qual a avaliação é realizada, mostrando a intencionalidade dos escritores, bem como, a obtenção da resposta de solidariedade. Trazendo para o contexto de ensino, este trabalho ilustra as contribuições do uso da Linguística Sistêmico-Funcional como instrumento de análise linguística no contexto de sala de aula, uma vez que propicia aos alunos a compreensão e interpretação do processo de construção dos textos. DISSERTAÇÕES E TESES SOB O VIÉS DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL Norma Lírio de Leão JOSEPH – UFLA [email protected] Como professora em uma universidade brasileira com várias áreas de pesquisa, percebo a necessidade de ter como uma das principais tarefas educacionais, capacitar futuros cientistas à escrita acadêmica em suas áreas de especialização. As dissertações e teses, como gênero específico 182 do contexto acadêmico possuem circulação restrita e, assim sendo, não se tornam familiar aos discentes que se iniciam nos estudos superiores. É preciso, portanto, refletir sobre as questões de ensino e produção acadêmica e sobre a relação entre texto-linguagem-contexto e seu papel na produção textual. Insere-se esta pesquisa em um projeto interinstitucional e internacional denominado SAL (Systemics Across Languages), tendo como base a teoria de gêneros textuais (Christie, 2005; Martin e Rose, 2003), a análise do discurso de base sistêmico-funcional (Halliday, 2007; Halliday e Mathiessen, 2004). Esta pesquisa tem como foco de análise o sistema de transitividade proposto por Halliday (1985) e revisitado em Halliday (1994; 2004). Por meio da análise dos elementos de transitividade se identificará as múltiplas possibilidades de manifestação da transitividade, averiguando as motivações funcionais (semântico-pragmáticas, sociais, cognitivas) subjacentes a cada contexto de uso da língua e se definirá padrões linguísticos das escolhas a fim de investigar as motivações do contexto de cultura e de situação. Essa investigação segue a metodologia da Linguística de Corpus, por meio do uso do programa WordSmith Tools 5.0.(Scott, 2008). Este aparato metodológico permite avançar na análise e entender a construção do discurso acadêmico, a fim de prover através dessa compreensão sistêmica um melhor ensino em língua portuguesa brasileira. Este estudo prioriza, portanto, desconstruir possíveis representações sobre dificuldades da escrita, fazendo que os discentes percebam e explorem a estrutura textual do gênero acadêmico. Para a comunidade acadêmica, pretendo trazer contribuições para uma reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem. UM USO MUITO PARTICULAR DA PARTÍCULA SE Leila BARBARA – PUC-SP [email protected] Fernanda Beatriz Caricari de MORAIS [email protected] Nesta pesquisa, analisa-se um conjunto de verbos cujo funcionamento ou significado varia quer ocorram com a partícula se ou não. O corpus de estudo contém 1225 artigos científicos de diversas áreas do conhecimento retirados da plataforma scielo. A multiplicidade de funções é uma das características da partícula se, um dos problemas mais interessantes da língua portuguesa e de outras como Francês, espanhol e italiano. Uma das controvérsias em torno dessa partícula é a possibilidade do sujeito estar ou não indeterminado, como discutem as pesquisas de Nunes (1991), Monteiro (1994), Bagno (2000), Camacho (2002, 2003), entre outros. O mesmo ocorre com o on em francês, se em espanhol e si em italiano, conforme trabalhos de Ruwet (1972), Suñer (2002) e Cinque (1988). A base teórica, a Linguística Sistêmico-Funcional de Halliday (1985, 1994, 2004), tem como foco a língua em uso e permite analisar as escolhas gramaticais do autor em textos (escritos ou falados) com base no contexto de cultura e de situação em que se realizam. A partir das condições contextuais, o falante organiza seus textos recorrendo às três metafunções da linguagem, das quais a que interessa, a este trabalho, é a ideacional responsável pelo uso da língua para falar sobre o mundo, tanto externo (coisas, eventos, qualidades, etc.), como interno (pensamentos, crenças, sentimentos, etc.). Pretende-se contribuir com os estudos sobre o uso dessa partícula em língua portuguesa e, também, subsidiar a elaboração de materiais didáticos e desenho de cursos instrumentais que visam atender a produção e compreensão escrita de artigos científicos. GRUPO TEMÁTICO 28: LEITURA E GRAMÁTICA COORDENADORAS: Onici Claro FLÔRES (UNISC) – [email protected]; Vera Wannmacher PEREIRA (PUCRS) – [email protected] Todo texto apresenta palavras, organização interna e um modo de estruturação identificável pelo leitor. Sem isso não se estabelece comunicação. Assim, entende-se por gramática o modo de organização/estruturação dos textos (orais ou escritos), de vez que é textualizando que os indivíduos 183 conseguem seus fins comunicativos. A gramática de uma língua é, então, o meio pelo qual o indivíduo atua linguisticamente, deixando em seu texto as marcas linguísticas e os indicadores situacionais que direcionam o leitor para o que intenta obter. Não há, portanto, como negar o vínculo entre leitura e gramática nem desconsiderar os elementos que constituem o texto - as palavras. Elas expressam os processos e as operações por meio dos quais os indivíduos refletem sobre o real, interpretam o mundo e partilham suas experiências. Usar uma ou outra palavra, organizá-las de algum modo traz implicações diversas, pois as unidades lexicais não existem isoladamente. Por tudo isso, não se pode entender nem produzir um texto sem recorrer à gramática, ou seja, à distribuição das palavras sintagmática e paradigmaticamente, dependendo a interpretação/compreensão textual da extensão do conhecimento lexical de cada indivíduo. Faz-se necessário, então, discutir o que é ensinado, de fato, nas aulas de português, em maior profundidade e detalhe, pois os resultados em termos de avaliação leitora têm sido insatisfatórios. De outra parte, os alunos parecem não ter noção de qual o papel das palavras na frase, desconhecendo inclusive a distinção entre substantivo e verbo. Resta saber, então, sobre o que, exatamente, versam as aulas de português, nas escolas. Diante disso, é urgente perguntar o que o professor entende por gramática, discutindo propostas de ensino de leitura, escrita e gramática – suas inter-relações - e possibilidades para estabelecer um panorama geral da questão e efetivar mudanças no modo de ensinar e de aprender língua. A FUNCIONALIDADE DISCURSIVA DAS CONSTRUÇÕES APOSITIVAS NO GÊNERO TEXTUAL MEMÓRIA LITERÁRIA Diana Ribeiro GUIMARÃES – UFCG [email protected] O presente artigo consiste no estudo da possível contribuição da realização funcional-discursiva das construções apositivas para o dinamismo comunicativo do gênero textual memória literária. Os dados que compõem essa pesquisa foram coletados no livreto de coletâneas de memórias, o qual faz parte do material destinado aos educadores inscritos na 2ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, no ano de 2010, disponível no site: http://escrevendo.cenpec.org.br/ecf. Com base nesses dados, investigamos a seguinte questão: Qual o modo de estrutaração da aposição na construção funcional-discursiva do gênero memória literária? Para isso delimitamos o seguinte objetivo: Descrever o processo de manifestação da aposição, em forma de sintagma simples ou clausular, no gênero memória literária. Para aprofundar nossa pesquisa de natureza qualitativa e cunho descritiva-interpretativista, nos baseamos em estudos de Cunha (2008), Neves (2006), Perini (1995), Aquino (2001), Bechara (2009), Bosi (1994), entre outros. Os resultados sugerem que as construções apositivas, caso especial de parentéticos na memória literária, apresentaram funções distintas que atenderam a determinados objetivos do escritor, o qual buscava estabelecer um determinado tipo de relação com o seu interlocutor, ao acrescentar uma informação nova. Ademais, verificamos que o “aposto” não se trata de um termo “acessório”, como sugerem as gramáticas tradicionais, e sim de um termo “essencial” para interação comunicativa e, portanto, pode ser um conteúdo de fundamental importância para ser trabalhado em sala de aula, se abordado a partir de uma perspectiva funcional-discursiva em uma situação sóciocomunicativa real: os gêneros textuais. Com esse estudo, esperamos contribuir para a expansão dos estudos funcionalistas, particularmente, no que se refere ao tratamento do fenômeno linguístico da aposição, e argumentar a favor da contribuição da abordagem funcional-discursiva de elementos gramaticais em gêneros textuais. OS DEVERBAIS NA CONSTRUÇÃO TEXTUAL DO GÊNERO EDITORIAL André William Alves de ASSIS – UEM [email protected] 184 A circulação de ideias e opiniões têm se difundido cada vez mais nos diferentes veículos de informações. No campo jornalístico, mesmo com o avanço da internet, que também serve de suporte para a circulação de notícias, o jornal impresso ainda tem grande aceitabilidade e circula por todo o país levando informações, notícias, opinião, denúncias, etc. A língua, neste contexto, deve ser observada como forma de ação social, como atividade sociocognitiva evidenciada no continuum enunciativo dos diferentes gêneros nele inseridos. Um tipo de produção que merece destaque no jornal é o gênero editorial. Por ser um gênero opinativo, sua estrutura composicional está recheada de características que dão sustentação à opinião que se quer (re)produzir, entre essas características estão os deverbais, substantivos abstratos oriundos de verbos que mantém a estrutura argumental de sua origem. Para que possamos verificar qual o papel desse tipo de substantivo na construção do gênero editorial, selecionamos como corpus dois textos publicados no jornal Folha de São Paulo em momentos distintos. Na análise, observamos que nesse gênero os deverbais além de exercerem função textual encapsuladora e coesiva, são de maioria bivalentes marcados pela presença de substantivos abstratos que contribuem para a produção de um texto subjetivo,parcial. A quantidade significativa desses substantivos de base verbal no editorial de jornal justifica-se em relação ao gênero, pois evidenciam a opinião/posicionamento do produtor do texto ou instituição por ele representada, contribuindo assim para um texto opinativo, argumentativo, com alto grau de informatividade, característico do editorial. Os deverbais evidenciam a opinião/posicionamento do produtor do texto, contribuem para um alto grau de informatividade dos editoriais que se mostram excelentes fontes para se trabalhar estratégias argumentativas com os alunos, uma vez que nos permite observar função e gramática no uso crítico da língua num movimento enunciativopragmático de posicionamento, de argumentação. ALGUM/NENHUM: UMA BUSCA DE OPERAÇÕES E DE VALORES REFERENCIAIS Joana Darc Rodrigues da COSTA – UFPI [email protected] Os pronomes indefinidos, seja em uma abordagem tradicional, seja na abordagem descritiva, compõe-se de elementos que se unem por seu traço ‘indeterminador’, isto é, se agrupam por apresentarem como característica comum uma indefinição semântica e que são estudados e classificados basicamente por critérios morfológicos, sintáticos. Dessa forma, seu conceito não varia, basicamente são conceituados como “pronomes que se aplicam a terceira pessoa gramatical, quando considerada de modo vago e indeterminado” (Cunha & Cintra, 1985, p. 347). Porém, ao observarmos a língua em situações de uso efetivo, é possível perceber que eles não se resumem a tal definição. Seus usos podem variar conforme as pretensões dos enunciadores e podem apresentar graus diferentes de especificidade fugindo dessa ideia de indeterminação. Assim, embasando-nos na Teoria das Operações Predicativas e Enunciativa, proposta por Antoini Culioli, para quem o enunciado é um agenciamento de formas a partir do qual os mecanismos enunciativos podem ser analisados, este trabalho visa analisar os pronomes indefinidos como marcadoresde operação de determinação nominal, a fim de caracterizá-los a partir de operações abstratas que estão subjacentes a sua manifestação nos enunciados. Para nós, determinação é considerada como um conjunto de operações elementares através das quais o nome é resultado. Com base no pressuposto descrito, propomos uma descrição da língua em seu funcionamento apresentando os usos das palavras que indicam “indefinição”, isto é, os pronomes indefinidos, analisando e identificando os sentidos promovidos pelos sujeitos em enunciados, aprofundando a ideia de que eles contribuem para a significação do enunciado. Para tanto, por questões metodológicas, nossas análises versarão apenas sobre os usos das palavras algum e nenhum encontradas em artigos de opinião publicados nos jornais de circulação em Teresina. UMA LACUNA NO ENSINO DO SISTEMA VERBAL PORTUGUÊS: A AUSÊNCIA DA CATEGORIA GRAMATICAL ASPECTO NAS AULAS DE LP 185 Thais Franco de PAULA – UFMG [email protected] (Apoio CAPES/DS – Bolsa de Pós-graduação) Este trabalho, fazendo o caminho inverso da questão sobre o que versam as aulas de língua portuguesa, vem discutir uma categoria gramatical sobre a qual as aulas de português e as gramáticas tradicionais não versam (ou versam de maneira inadequada), a saber, a categoria de aspecto, que está ligada ao verbo. Embora o conceito expresso pelo verbo possa ser dimensionado de diferentes formas por meio das categorias verbais, que são em número de seis: aspecto, tempo, modo, voz, pessoa e número, nossas gramáticas e, consequentemente, nossas aulas de língua portuguesa consideram apenas as cinco últimas categorias verbais e desconsideram o aspecto, categoria que define a duração do processo verbal. Quando acontecem referências à categoria de aspecto, elas são de forma indireta e, geralmente, aparecem quando se trata do tempo e do modo verbal. Com a ausência do tratamento do aspecto ou do seu tratamento inadequado, cria-se uma lacuna no ensino do sistema verbal português. Este trabalho, portanto, com base nas teorias sobre o aspecto verbal no português, busca discutir essa lacuna, acreditando que, se ela não existisse, o aluno entenderia com mais propriedade e facilidade o emprego dos tempos e modos verbais, pois há diferenças semânticas em enunciados que são decorrentes de questões aspectuais. Discutiremos também uma lacuna no ensino do modo. Por meio do uso consciente dessas categorias gramaticais, o aluno teria mais possibilidade de melhor atuar linguisticamente, deixando em seus textos, e sabendo localizar na leitura de outros textos, as marcas linguísticas e os indicadores situacionais expressos por elas. O nosso trabalho reforça a afirmação do Grupo Temático Leitura e Gramática de que não há como negar o vínculo entre leitura e gramática, nem desconsiderar os elementos que constituem o texto. USO DE VOCÁBULOS EM ASSOCIAÇÃO POR CONTIGUIDADE E CONSC. LINGUÍSTICA NA COMPREENSÃO LEITORA DE ALUNOS UNIVERSITÁRIOS Thais Vargas dos SANTOS – PUC-RS [email protected] O projeto teve como objetivo construir um Objeto de Aprendizagem que contribua para o desenvolvimento da competência em leitura de alunos universitários. Considera-se, para isso, o desenvolvimento da compreensão leitora e da consciência linguística, no que se refere ao exame de vocábulos associados por contiguidade nos textos que constituem os materiais linguísticopedagógicos, OAs. Nesse sentido, as atividades buscam conscientizar o aluno sobre a relevância desse tipo de associação no desenvolvimento do texto, auxiliando o leitor durante a compreensão daquilo que lê. Nesse processo de elaboração de um OA, o presente estudo visou à avaliação do material elaborado, por professores e alunos da Faculdade de Letras da PUCRS envolvidos em pesquisa sobre o processo de aprendizagem por meio desses materiais OAs. Para alcançar esse objetivo, foram elaborados dois instrumentos: um direcionado a professores com questões referentes à correspondência do Objeto com a abordagem teórica adotada pela pesquisa; e outro encaminhado a alunos, os quais responderam a questões referentes à estrutura e ao funcionamento dos materiais. Esses instrumentos foram analisados e as percepções dos avaliadores conduziram à revisão e à alteração do material de acordo com os princípios estabelecidos no início da pesquisa. O resultado foi a redução dos blocos de atividades propostas inicialmente e a alteração da sua estrutura metodológica, considerando as observações apontadas pelos avaliadores. ENSINO DA LEITURA: TRAÇOS LINGUÍSTICOS DO TEXTO E COMPREENSÃO Vera Wannmacher PEREIRA – PUC-RS [email protected] Onici Claro FLÔRES – UNISC 186 [email protected] Com frequência, uma aula de Língua Portuguesa segue os seguintes passos: apresentação do texto (por exemplo, do gênero A), leitura em voz alta (ou pelo professor, ou por um ou mais alunos), questionário com perguntas sobre o conteúdo do texto, atividades sobre marcas linguísticas do texto, atividades sobre funções gramaticais apoiadas no texto, produção de um texto (por exemplo, do gênero B). Essa aula já pode ser considerada bastante “atualizada”, uma vez que reconhece que uma aula de Língua Portuguesa supõe o uso de texto, assume conceitos de gênero textual e de marcas lingüísticas e define gramática para além da concepção normativa. É possível perceber nessa perspectiva conhecimentos de Linguística por parte do professor. No entanto, dois problemas aí estão. O primeiro está no fato de a análise linguística ser realizada em momento posterior à análise do conteúdo do texto. O segundo está na ausência de correspondência entre o gênero de leitura e o gênero de produção escrita. Nesta comunicação, o objetivo é explicitar, com apoio na Psicolinguística, as relações entre leitura e gramática, no que se refere à importância da análise linguística para a compreensão do conteúdo do texto e da correspondência entre o gênero de leitura e o gênero de escrita. Para esse objetivo, a comunicação traz elementos teóricos para o esclarecimento desses conceitos com apoio nos estudos psicolingüísticos em interface com os estudos do texto. Além disso, disponibiliza algumas sugestões para o ensino da leitura (vinculado ao ensino da escrita) com apoio nas marcas linguísticas do texto. O ENSINO DE GRAMÁTICA NUMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL EM VITÓRIA DA CONQUISTA – BAHIA: ESTUDO DE CASO COM PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA Aleandra Rocha SANTANA – UESB [email protected] O ensino de gramática nas escolas públicas é descontextualizado, pois a gramática é ensinada por meio de frases soltas, desvinculadas de um contexto. A gramática que predomina nessas escolas é a gramática prescritiva, na qual somente a língua padrão é considerada correta. Portanto, esse trabalho tem o intuito de analisar como está ocorrendo o ensino de gramática numa escola pública, no interior da Bahia, o olhar desses professores a respeito dos seus trabalhos, os recursos utilizados por eles e o significado da avaliação que realizam. As hipóteses apontam para um ensino de gramática descontextualizado, tradicional e professores que não praticam o ensino de acordo autores que indicam caminhos para uma aprendizagem contextualizada. Para o presente projeto foi realizada uma pesquisa do tipo Estudo de Caso, como modalidade de pesquisa, tendo em vista a sua importância cada vez mais crescente como instrumento de investigação, uma modalidade de pesquisa que pode ser aplicada em diversas áreas do conhecimento. A natureza do estudo de caso, seu delineamento como metodologia de investigação e a sua aplicação serão aqui demonstradas. Ocorreram algumas observações em aulas de língua portuguesa, em uma escola pública do ensino fundamental, com a finalidade de verificar o trabalho que o docente realiza e coletar dados evidentes, a partir de aplicação de questionários, que serão interpretados juntamente ao referencial teórico escolhido. Pode-se observar que o resultado aponta para o ensino de uma gramática tradicional e descontextualizada que não favorece a aprendizagem da língua de forma significativa. A LEITURA EM VOZ ALTA: OBSERVAÇÕES PROSÓDICAS SOBRE O PORTUGUÊS DE BELO HORIZONTE Camila Tavares LEITE – UFMG [email protected] A leitura, apesar de ser uma atividade realizada frequentemente após a alfabetização, não se apresenta como uma tarefa simples. Ao contrário, exige a interação de diferentes mecanismos de 187 comportamento como a identificação das letras, o reconhecimento de palavras e seus significados, bem como a integração sintática e semântica (PERFETTI, 1985). Entretanto, a leitura não se limita à decodificação do texto; ler implica compreender o material lido (GOUGH; JUEL; GRIFFITH, 1992). Shreiber (1991), Kuhn (2003) e Breznitz (2006) sugerem que aspectos prosódicos fariam parte do processo de desempenho da leitura, pois são necessários para que haja uma eficiente compreensão do texto lido. Diferentes pesquisadores afirmam que a prosódia apropriada durante a leitura em voz alta caracteriza uma leitura fluente (RASINSKI, 1990; SAMUELS, REINKING, SHAERMER, 1992). Resultados de pesquisas indicam que, à medida que as crianças se tornam mais fluentes na leitura, estas leem com pausas mais curtas e declinação gradual da frequência fundamental ao final das sentenças (HAMILTON; WISENBALER; KUHN; STAHL, 2004). Visto sob este enfoque, pensamos que a prosódia é um indicador da capacidade de compreensão da leitura; logo, deve ser observada como um fator essencial na análise da leitura. No presente trabalho observamos a leitura em voz alta de 30 sujeitos, falantes do Português de Belo Horizonte. Tais sujeitos foram divididos em três grupos de diferentes idade e escolaridade. Analisamos os dados prosódicos (tempo de elocução, taxas de elocução e de articulação, pausa, número de sintagmas entoacionais) acústica e estatisticamente e nossos resultados, contrariamente ao esperado, não apresentaram diferenças significativas entre os grupos analisados, senão para um dado: a pausa. Na leitura, esse é um dado que mostra a forma como o sujeito segmenta o texto em unidades menores. O LUGAR DAS EXCEÇÕES DAS GRAMÁTICAS NORMATIVAS DO PORTUGUÊS Caroline Pessalácia MARINI – CESV [email protected] Thayanne Raísa Silva e LIMA – UFU [email protected] O ensino de gramática da língua portuguesa nas escolas é tópico de discussão entre pesquisadores da área e tema de debate há anos, uma vez que nos deparamos com alunos que não conseguem ler, compreender, e até mesmo escrever um texto. Autores como Travaglia (1994) se preocuparam em "propor e exemplificar uma forma de ensino de gramática que nos parece produtiva e pertinente para o aluno. E também, segundo o autor, quando consideramos o ensino da gramática, devemos considerar que há diversos tipos de gramática e que “o trabalho com cada um desses tipos pode resultar em trabalhos (atividades) completamente distintos em sala de aula para o atendimento de objetivos bem diversos”. O objetivo deste trabalho é mostrar e analisar algumas das exceções existentes em Gramáticas Normativas da Língua Portuguesa. As reflexões a respeito do lugar das exceções na constituição de uma gramática partem das afirmações do lingüista francês Jean Claude Milner: “Os linguistas tratam a língua como se ninguém a falasse”(1987). Nós acrescentaríamos que também o gramático trata a língua como se ninguém a falasse. As nossas análises basearão-se nas gramáticas de Rocha Lima, Macambira e Celso Cunha. Estes autores trazem nos seus compêndios as procuradas regras e as temidas exceções, estas últimas muitas vezes são até mais usadas do que as primeiras. Os referidos gramáticos foram escolhidos porque apesar de orientações distintas nas formulações de suas gramáticas, gozam do respeito de professores e alunos que procuram neles um modelo da língua portuguesa. Além disso, nos interessa sublinhar que apesar de algumas diferenças, o que os une é a relação com a norma e a exceção. CORPO E GRAMÁTICA: LEITURAS SOBRE CONCEPTUALIZAÇÃO LINGUÍSTICA E CORPOREIDADE Leosmar Aparecido da SILVA – UFG [email protected] Uma importante consideração da linguística cognitiva é a de que a gramática é uma conceptualização. Segundo esse princípio teórico, as estruturas gramaticais e as palavras 188 disponíveis no léxico configuram-se como recursos que o falante utiliza para simbolizar suas experiências da vida cotidiana. Aquilo que as pessoas falam a respeito do mundo não representa o mundo em si, mas a visão que elas têm dele. Outra importante consideração das ciências cognitivas é a hipótese de que de que a mente corporificada (embodied mind), conforme defendem Lakoff e Johnson ([1980] 2002), Johnson (1987), Lakoff (1987), Casasanto (2011), Kövecses (1992, 2005, 2009) e outros. Segundo essa hipótese, todos os seres humanos têm estrutura corporal semelhante e realizam basicamente as mesmas atividades com seus corpos: movimentos, percepção etc, logo, algumas metáforas, que se constituem como conceptualizações sobre mundo, têm base corporal e integram tanto o léxico quanto a gramática. Considerando-se que o corpo é o vetor semântico pelo qual a evidência da relação com o mundo é construída, esta comunicação tem o propósito evidenciar a importância do texto falado no que diz respeito, principalmente, à produçãoda leitura que o falante faz do mundo por meio de expressões linguísticas metafóricas, criadas a partir da relação desse falante com o seu corpo. Dados de fala do português goiano, dialeto do português brasileiro, contribuirão para se verificar as metáforas conceptuais que emergem desse dialeto e que se alinham às conceptualizações metafóricas corporais de falantes do restante do Brasil. Além disso, serão mostrados dados de outras línguas que revelam a presença do corpo tanto no léxico quanto na gramática. GRUPO TEMÁTICO 29: LETRAMENTO DIGITAL COORDENADORAS: Andréa Lourdes RIBEIRO (FALE/UFMG) – [email protected]; Carla Viana COSCARELLI (FALE/UFMG) – [email protected] O objetivo deste GT é discutir o letramento digital. Sabemos que a leitura e a escrita têm sido realizadascada vez mais no computador e em outros dispositivos digitais como tablets e celulares. Precisamos, então, verificar como a escola tem incorporado ou deveria incorporar atividades que contribuíssem para o letramento digital. Para isso precisamos saber que habilidades de leitura esses ambientes exigem do leitor, como a escrita se realiza nesses ambientes, que possibilidades ela oferece e como os escritores têm se apropriado delas. Precisamos saber em que aspectos a leitura e a escrita em ambientes digitais se diferem do impresso. Em relação às práticas escolares, precisamos verificar como as escolas tradicionais têm incorporado as tecnologias digitais para ensino aprendizagem de língua materna. Como a leitura, a escrita e os conhecimentos linguísticos têm sido ensinados na escola com o auxílio do computador e da internet? De que forma os professores de português têm introduzido as tecnologias digitais em sua prática docente? Sabemos que há matrizes de letramento digital e avaliações desse letramento em exames de larga escala como o Enem e o Pisa. Que matrizes são adotadas nessas e em outras avaliações e que elementos do letramento digital elas julgam ser importantes? Precisamos discutir com que bases e como esse letramento tem sido avaliado. Além disso, sabemos que jogos digitais têm conquistado cada vez mais o mercado e são programados com base em princípios que deveriam ser incorporados à educação formal. Em vista disso, precisamos verificar o que os jogos digitais têm oferecido à educação, qual a qualidade dos jogos educativos disponíveis na internet e que contribuições eles têm dado às práticas pedagógicas. Essas são algumas das questões que pretendemos discutir nesse GT. LETRAMENTO DIGITAL NA PRÁTICA Carla Viana COSCARELLI – UFMG [email protected] O professor de português não pode mais se furtar a desenvolver um trabalho que auxilie os alunos a desenvolverem habilidades requeridas para que conquistem um grau satisfatório de letramento digital. Essas habilidades são requisitadas no cotidiano desses alunos em muitas situações fora da escola e, como são imprescindíveis na vida contemporânea de cidadãos que desejamos críticos e participativos em diversas instâncias da nossa sociedade, já são cobradas deles em exames de larga 189 escala como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Para desenvolver um bom trabalho, o professor precisa, não apenas de ter familiaridade com os ambientes digitais e com as ferramentas e aplicativos que eles oferecem, mas precisa também conhecer matrizes de letramento digital e determinar as habilidades que pretende auxiliar os alunos a desenvolver em sua prática pedagógica. Além disso, deve elaborar atividades que desenvolvam as habilidades dos seus alunos requeridas na leitura e produção de textos nesses ambientes.Discutiremos nesse trabalho os descritores de habilidades elencados pelo PISA e pelo ENEM, levantando aspectos positivos e negativos deles. Depois disso, apresentaremos atividades elaboradas pelo Projeto Redigir, que visam lidar com essas habilidades em atividades práticas de sala de aula de língua materna. Esse projeto tem como principal objetivo criar e disponibilizar atividades que ofereçam ao professor formas de lidar com diversos gêneros textuais, bem como com artes, música, cinema e com o letramento digital, entre outros, desenvolvendo habilidades de leitura, produção de textos e reflexão gramatical. Pretendemos, nessa comunicação, apresentar algumas das atividades disponibilizadas no site, que lidam com o letramento digital e discutir os aspectos e conceitos que fundamentam a elaboração delas. ANÁLISE DE QUESTÕES DO ENEM QUE OBJETIVAM AVALIAR COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NO TRATO COM AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO Francis Arthuso PAIVA – COLTEC [email protected] Léa Dutra COSTA – COLTEC [email protected] O ENEM acentua a necessidade de o ensino de Língua Portuguesa (re)definir objetivos, propor e consolidar metodologias mais adequadas à demanda social pelo letramento digital. Nosso objetivo era avaliar as questões do ENEM 2010 que se destinam a medir o desempenho de estudantes no que se refere à competência nove: “Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar”. A partir disso, buscamos levantar o que poderia estar se apresentando como dificuldade encontrada pelos alunos. Elaboramos um teste composto por 15 questões do ENEM/2010 aplicado a 280 alunos, 103 dos quais em final de 1º ano do E.M em 2011 e o restante é iniciante do 1º ano do E.M. em 2012, todos são alunos de escola pública federal que oferece cursos técnicos de nível Médio. Confrontamos esse levantamento com os enunciados e as alternativas das questões bem como com as habilidades previstas na Matriz de Referência de Códigos, Linguagens e suas Tecnologias para o ENEM. Pudemos observar que as questões da referida competência exploram descritores comuns a outras competências de leitura, ao mesmo tempo em que busca ativar e relacionar os conhecimentos do aluno sobre tecnologias da informação mediadas pelo computador, ainda que em algumas questões exija conhecimento específico que está além das matrizes curriculares do Ensino Médio, pelo menos das de Língua Portuguesa, e distante das práticas de ensino na Educação Básica. Procuramos então depreender dos resultados obtidos indicadores tanto para o trabalho do professor de língua materna quanto para o aprimoramento dos instrumentos de avaliação adotados pelas instituições de ensino. PRÁTICAS DE LETRAMENTO MULTISSEMIÓTICO NA REDE SOCIAL FACEBOOK Dáfnie Paulino da SILVA – UNICAMP [email protected] Marylin Lima Guimarães FIRMINO – UNICAMP [email protected] 190 No presente trabalho realizamos um estudo de caso das práticas de letramento multissemióticas acionadas na rede social Facebook. Em nosso estudo, selecionamos um sujeito com letramento digital avançado, pois utiliza amplamente as diversas propiciações que o site Facebook proporciona. Verificamos que os artefatos utilizados por redes sociais como Facebook, Orkut e afins constituem práticas de letramento contemporâneas, múltiplas, intersemióticas e que exigem de seus usuários cada vez mais competências para leitura e produção de significados, acionando mídias combinadas. Há uma evolução notável nos espaços virtuais que tende ao hibridismo midiático, solicitando dos sujeitos um letramento de integração de mídias bastante elevado. Dentro de tais plataformas percebemos um processo de construção identitária por multissemiose: na criação do perfil, são oferecidas múltiplas propiciações pelo artefato, como inserções de links, imagens, vídeos, e uma infinidade de aplicativos. Não obstante estes fatores, os sites de redes sociais apontam a capacidade dos indivíduos em desenvolver um letramento bastante sofisticado de autoapresentação e gerenciamento da própria imagem por meio de articulações sociais, uso de aplicativos e seleção de gostos (BOYD & ELLISON, 2007). Em nossa análise, percebemos que o sujeito faz do seu perfil on-line um reflexo de uma coleção de bens simbólicos, e mesmo que esteja em desacordo com as coleções do sistema cultural, essa mistura e ruptura são parte do processo de hibridação cultural que vivenciamos (CANCLINI, 2008). Por meio de uma breve comparação das interfaces do Orkut e do Facebook também será possível refletir sobre as tendências multimodais presentes no desenvolvimento dessas redes sociais. Concluímos que as propiciações do meio digital impelem o usuário para as práticas hipertextuais e hipermidiáticas, mesclando linguagens e textos, criando apropriações, usos e convergências comuns aos multiletramentos e letramentos multiculturais. APROPRIAÇÃO DAS TICS POR GRUPOS PERIFÉRICOS: NOVOS E HÍBRIDOS LETRAMENTOS PARA A PARTICIPAÇÃO SOCIAL Junot de Oliveira MAIA – UNICAMP [email protected] A grande relevância que as TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação – têm assumido nestes tempos de capitalismo rápido faz com que os indivíduos tenham, cada vez mais, acesso a elas, mesmo pertencendo a classes sociais de menor poder aquisitivo. Por conseguinte, o contato com a Internet, a rede mundial de computadores, seja por meio de lanhouses, computadores, celulares ou tablets, torna-se mais amplo e, dessa forma, grupos periféricos são capazes de se apropriar desses recursos de tecnologia. Essa apropriação é viabilizada pela hibridação entre novos e diferentes letramentos e, justamente por isso, a análise proposta busca ir além das tradicionais e naturalizadas binariedades, como subalterno/hegemônico ou incluído/excluído, e privilegia o foco em práticas marginais, fronteiriças, de contato entre culturas. A hibridação, aqui, se explica por três ações: a desterritorialização, representada pelo fim da ligação natural e direta entre espaço geográfico e prática cultural; a descoleção/recoleção, que parte e mistura coleções tradicionalmente organizadas pelas práticas constantes dos sistemas de cultura; e a expansão dos gêneros impuros, que são os híbridos resultantes dessas duas ações anteriormente mencionadas. Então, levando em consideração esses três processos, o presente estudo analisa a maneira como ocorre a hibridação entre os diferentes e novos letramentos que permitem a apropriação das TICs por parte de indivíduos de periferia. Entender tal processo pode ser um passo necessário para buscar caminhos que favoreçam uma maior participação social dos grupos periféricos no espaço virtual. LETRAMENTO DIGITAL: DO CONCEITO À PRÁTICA Carla Geralda Leite MOREIRA – CEFET-MG [email protected] O objetivo deste estudo é abrir uma discussão em torno do conceito de letramento digital e do uso das novas tecnologias na escola. Na tentativa de compreender a importância do uso da informática 191 na educação, a abordagem teórica desta pesquisa segue as considerações de Bawden (2008); Coscarelli e Ribeiro (2005); Kleiman (2007); Gilster (2006); Soares (2002); Mey (1998) e Lévy (1999). A hipótese que orienta esta investigação é que há uma resistência por parte desses profissionais da educação no uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Com relação à metodologia, foram examinados nos modos de dizer de três professores com faixa etária entre 45 e 65 anos que lecionam para os cursos de graduação e pós-graduação, do Centro de Educação Tecnológica de Minas Gerais- Belo Horizonte (Cefet-MG), a concepção de letramento digital e, ainda, como os professores fazem uso das ferramentas hipermidiáticas e tecnólogicas em suas aulas. As análises desenvolvidas partem de um conjunto de dados coletados a partir de entrevistas realizadas com os professores de português da referida instituição acima. De natureza interpretativa e qualitativa, no exame dos dados, utilizou-se a Análise de Conteúdo (Bardin, 1977) a fim de interpretar nas entrelinhas a concepção do uso das tecnologias. Nessa linha, por meio da técnica de conteúdo temático categorial, foram selecionadas escolhas lexicais consideradas chave, e também, a frequência dessas escolhas no discurso para a interpretação dos dados. A investigação possibilitou compreender que as representações acerca da concepção de letramento digital podem interferir no seu agir docente. LETRAMENTO DIGITAL: A PRODUÇÃO ESCRITA NA ESCOLA E NAS REDES SOCIAIS Sergio Vale da PAIXÃO – IF- PR [email protected] Nesse trabalho estão sendo abordados temas relacionados às práticas pedagógicas nas aulas de língua portuguesa e suas interfaces com práticas de produção textual realizadas pelos alunos em instrumentos de comunicação na internet, tendo em vista a sua utilização frequente nas redes sociais e das manifestações textuais dos mesmos fora do contexto escolar – como chats, sites de relacionamento diversos, torpedos de celulares, dentre outros – buscando aproximar essas duas realidades, a da escola e a do meio virtual, com vistas ao desenvolvimento das capacidades discursivas e o letramento discente. Nossa pesquisa está ancorada em estudos sobre letramento digital advindos de teóricos que discutem práticas sociais de leitura e escrita em consonância com a influência das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) como Xavier (2005) Araújo; Dieb (2009) e Coscarelli (2006), entre outros, somados aos fundamentos teóricos advindos dos estudos sobre letramento (KLEIMAN, 1995; SOARES, 2000). Com a coleta dos dados, para o desenvolvimento de nossa pesquisa, pudemos observar e confirmar nossas hipóteses acerca do distanciamento entre as tecnologias de informação e comunicação, tão utilizadas hoje em dia pelos alunos, e o trabalho pedagógico com a produção escrita orientada pela escola. Constatamos uma forte expectativa dos alunos em receber tais tecnologias na sala de aula e uma resistência dos professores em trabalhar com esses instrumentos de comunicação para fins pedagógicos o que os limita a utilizar apenas recursos como a TV e vídeo, quando os utilizam. Nesse sentido, defendemos a ideia da aproximação das TICs no ambiente da escola com vistas a melhoria no que tange o desenvolvimento comunicativo do alunado, uma vez que os mesmos estão em constante participação nas redes sociais da internet, o que colaborará sobremaneira para uma melhor e maior aceitabilidade dessas tecnologias para fins didáticos. LETRAMENTOS DIGITAIS EM CURSOS A DISTÂNCIA E A CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Valeska Virgínia Soares SOUZA – UFU [email protected] Waldenor Barros Moraes FILHO – UFU [email protected] 192 Quando nos referimos ao meio digital, entendemos que há um ambiente mundial que possibilita novas situações para práticas sociais, inclusive no campo educacional. Nesta comunicação, buscamos aspectos emergentes do processo de letramento digital de estudantes da modalidade a distância. Adotamos a compreensão de letramentos digitais como o conjunto de competências necessárias para que o usuário entenda e use informação em formatos múltiplos, oriunda de variadas fontes e apresentada por meio do computador. Esse usuário deve se apropriar das tecnologias digitais de informação e comunicação de maneira crítica e estratégica para atingir seus objetivos, muitas vezes compartilhados social e culturalmente. Os letramentos digitais terão impactos efetivos nas comunidades de aprendizagem no momento em que as tecnologias digitais de informação e comunicação forem naturalizadas nas práticas sociais e educativas, ou seja, quando essas se tornarem invisíveis como tais, permitindo que o foco concentre-se na atividade pedagógica em si (CHAMBERS; BAX, 2006). Apresentamos dados coletados da disciplina “Introdução à Educação a Distância” e que foram postados em um ambiente virtual de aprendizagem no qual interagiram tutores e estudantes matriculados nos cursos de Letras na modalidade de Educação a Distância, oferecidos pelo Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia. Nossas análises mostram a importância da contextualização do processo de ensino e aprendizagem para propiciar uma relação positiva entre os aprendizes e o ambiente de aprendizagem. Parece-nos importante, por vezes, tirar o foco nas tecnologias digitais de informação e comunicação, e ao mesmo tempo garantir a visibilidade de sua importância para permitir seu uso não problemático. A PRODUÇÃO DE TEXTO NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM (AVA) MOODLE: RELATO DE EXPERIÊNCIA Daniele de OLIVEIRA – UFMG [email protected] O objetivo deste trabalho é refletir sobre a produção de texto no ambiente virtual de aprendizagem Moodle. A disciplina UNI003, oferecida pela Faculdade de Letras da UFMG tem como públicoalvo os alunos de graduação da universidade em geral. Nela trabalhamos com o texto acadêmico, tendo como eixo-norteador de todo o processo a temática da Cultura Livre. Dessa forma, os alunos aprendem e produzem textos acadêmicos (esquema, resumo, resenha, artigo), além de conhecerem as possibilidades do Software Livre. Trataremos especificamente das tarefas que tem como objetivo final a produção de um artigo a ser apresentado no evento online Universidade, EAD e Software Livre – UEADSL. Para tanto, partiremos de uma reflexão sobre a Educação a Distância (BELLONI, 2008; SCHLEMMER, 2005), focando na importância do letramento digital e da autonomia do aluno. Pretendemos demonstrar também como se desenvolve o processo de produção colaborativa de textos, tendo em vista as proposições de Lévy (1996, 1999) sobre essa nova forma de construção de sentidos que o autor denomina de "leitura-escrita coletiva". Além disso, lançaremos mão ainda do conceito de "information literacy" (Dudziak, 2003) que pode ser entendido como uma competência em informação. A competência em informação é fundamental nos dias de hoje, haja vista a enorme influência da Internet e dos meios digitais nas nossas vidas. O que se pode observar da experiência com a produção colaborativa de textos no Moodle é que a incorporação de uma disciplina totalmente online em cursos de graduação presenciais é de fundamental importância para que os alunos possam desenvolver (ou adquirir) sua competência em informação. PESQUISAS DE INTERVENÇÃO EM LETRAMENTO DIGITAL: APROXIMAÇÕES INICIAIS Núbio Delanne Ferraz MAFRA – UEL/UFMG (Apoio: Fundação Araucária – Edital 16/2011) Estudos desenvolvidos nos últimos anos no âmbito do letramento digital têm identificado perfis e forma de atuação do professor de Língua Portuguesa. Não obstante a importância dos resultados 193 destes estudos, atualmente constata-se também a necessidade de identificação de investigações que tenham atuado interventivamente na esfera didático-pedagógica das salas de aula. Quando pensamos no cotidiano do professor de Língua Portuguesa, construído entre concepções e ações em sala de aula, o contexto da escolarização não só é constitutivo deste cotidiano como contribui na definição, em termos de Linguística aplicada, das ações didático-metodológicas e as concepções de linguagem. Partindo destas premissas, apresentamos os resultados preliminares da análise de pesquisas sobre letramento digital que contemplam projetos de intervenção em aulas de Língua Portuguesa na Educação Básica (Fundamental II e Ensino Médio). Com base nos dados oriundos do projeto de pesquisa nacional “A pesquisa em Linguagem e Tecnologia: o estado da arte no Brasil” do GT Linguagem e Tecnologia da ANPOLL (PAIVA; ARAÚJO, 2010) e tendo em vista o perfil de letramento do professor identificado em Mafra e Moreira (2011), estão sendo analisadas teses, dissertações e projetos de pesquisas de docentes de programas de pós-graduação em Letras, Linguística e Linguística Aplicada, produzidas no período 2000-2010. Que concepções de linguagem e que práticas de ensino, constantes nesses projetos de intervenção, têm contribuído para delinear o trabalho de letramento digital do professor? Quais as fundamentações teóricas e os encaminhamentos metodológicos das referidas pesquisas? Estas são algumas das questões que têm sido trabalhadas, tendo em vista o delineamento de um cenário teórico-prático dos projetos de intervenção desenvolvidos recentemente. AQUISIÇÃO DA ESCRITA NA ERA VIRTUAL: INCORPORANDO OS JOGOS DIGITAIS ONLINE Andréa Lourdes RIBEIRO – UFMG [email protected] O presente trabalho se propõe a analisar como os jogos digitais disponíveis na internet podem contribuir para a aquisição da escrita. Acreditamos que o uso de jogos digitais online possa tornar o aprender a escrever mais lúdico, divertido e interessante, possibilitando inclusive a inserção das crianças no ambiente das novas tecnologias da comunicação e da informação. A metodologia desse estudo baseou-se na observação de crianças em processo de alfabetização jogando. Foram selecionados para essa observação 8 (oito) jogos digitais de acesso gratuito na internet disponíveis no site Escola Games, jogos esses que giram em torno de atividades pertinentes às fases de aquisição da escrita tais como escrever palavras ditadas, aprender o alfabeto, separar as sílabas, construir palavras, identificar letras, e que se revelaram atraentes para o público infantil por fazerem uso de imagens, cores, sons e movimentos. O acompanhamento dos jogadores em ação tomou como parâmetro: as fases de alfabetização definidas na psicogênese da escrita de Ferreiro & Teberosky (1991); as novas práticas de leitura e de escrita na cibercultura de Soares (2002), bem como as discussões sobre o letramento digital de Coscarelli (2005); a teoria de aprendizagem sócio-histórica de Vygotsky (1991); as considerações sobre aprendizagem e jogos digitais de Gee (2004, 2007) e de Prensky (2006). Os critérios de observação buscaram identificar como as crianças jogam, o que e de que forma estão aprendendo com os jogos digitais online. Com esse trabalho, que se baseia em princípios teóricos das pesquisas sobre a aquisição da linguagem, da teoria dos jogos e do letramento digital, esperamos contribuir para que o aprendizado da escrita inclua as possibilidades da era virtual, em especial, os jogos digitais online. JOGOS, ALFABETIZAÇÃO, SALA DE AULA E NOVAS TECNOLOGIAS: UM CONJUNTO DE POSSIBILIDADES Ana Paula Campos Cavalcanti SOARES – UFMG [email protected] Delaine Cafiero BICALHO – UFMG [email protected] 194 Jogos e brincadeiras fazem parte da vida da criança, independentemente de sua condição social, do tempo em que vive, da cultura e dos costumes que vivencia. A criança é essencialmente lúdica e essa sua natureza faz com que dê vida a objetos para brincar e construa experiências significativas na relação com esses objetos. Reconhecendo a infância como um tempo em que as brincadeiras são fundamentais, a escola tem utilizado diferentes jogos na alfabetização. Os professores do infantil e das séries iniciais brincam com seus alunos, propõem jogos de diferentes tipos. Muitos desses podem desenvolver capacidades como concentração, coordenação motora, percepção. Outros tantos são usados com a finalidade de levar o aluno a aprender a lidar com os sons da língua, e também estimular a consciência fonológica e fonética; ainda há os que buscam desenvolver a ortografia entre outros. Que jogos são esses usados no dia a dia da sala de aula? Que capacidades estão subjacentes a esses jogos? Que tipo de interação eles geram? Quais jogos as crianças gostam? É possível desenvolver esses jogos, que já tomam parte na sala de aula, usando outras linguagens? Com base nos conceitos de alfabetização e de letramento de Soares (1999) e considerando a importância do brinquedo e do brincar conforme Cunha (2004), o objetivo deste trabalho é identificar jogos utilizados hoje na alfabetização na sala de aula, verificando até que ponto eles podem ser reconstruídos por meio das linguagens das novas tecnologias. Como metodologia, o trabalho utilizou entrevistas com alunos em fase de alfabetização em escolas públicas de Belo Horizonte e com seus respectivos professores, além de analisar alguns jogos de sala de aula e reconhecer nele as capacidades que mobilizam e que são importantes para o processo de alfabetização. PESQUISAS SOBRE JOGOS DIGITAIS NO BRASIL: APRENDIZAGEM E DIVERSÃO Anderson Pimentel BORGES – UFMG [email protected] O objetivo desta comunicação é apresentar o contexto brasileiro sobre o uso dos jogos digitais na educação, tendo como referência as dissertações e teses publicadas pelos programas nacionais de stricto sensu. A pesquisa documental foi realizada no Banco de Teses da Capes e nos acervos digitais das universidades brasileiras que publicaram os documentos selecionados. Foram analisados os problemas, os objetivos, a fundamentação teórica, os principais resultados e as conclusões obtidas nessas pesquisas. A partir desses dados, avaliou-se como cada trabalho construiu as relações entre as necessidades de aprendizagem do conteúdo escolar e as possibilidades que o jogo possui para a diversão. Observou-se que as teses e dissertações se concentraram, basicamente, em duas perspectivas de investigações: as potencialidades que os jogos de entretenimento possuem para o uso na escola; e a criação de jogos com o intuito de tornar os conteúdos educacionais curriculares mais atrativos para os alunos. Em linhas gerais, os jogos digitais foram reconhecidos como uma tecnologia educacional viável e benéfica, porém, percebeuse que a inserção do conteúdo escolar no ambiente do jogo não foi explorada como um princípio de aprendizagem, que pode motivar o jogador a se divertir continuamente enquanto ele tenta vencer os desafios propostos. Esse aspecto ainda é percebido como um problema a ser resolvido em jogos com fins educacionais, pois, segundo Gee (2004) e Bates (2004), os jogos digitais que se tornaram sucesso na sociedade estão focados na diversão proporcionada aos jogadores. Diversão fundamentada em princípios de aprendizagens que engajam os jogadores a realizarem as atividades estabelecidas no ambiente do jogo. A ESCOLARIZAÇÃO DO GÊNERO CHAT: REFLEXÕES NA PERSPECTIVA DA SEMIÓTICA DISCURSIVA Naiane Vieira dos REIS – UFT –[email protected] Luiza Helena Oliveira da SILVA – UFT [email protected] Este trabalho analisa implicações do uso do chat com fins pedagógicos em aulas de um curso de 195 Letras, em regime semipresencial, considerando o modo como os acadêmicos se apropriam desse gênero e o reconfiguram à luz do contexto didático. Os acadêmicos em questão são professores do norte tocantinense inscritos no programa PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica) e buscam a primeira ou segunda licenciatura. Como parte da carga horária se dá a distância e pela internet, esses docentes em formação têm como um dos desafios a apropriação de conhecimentos relativos à esfera digital. Nesse sentido, como se trata de práticas escolares, é necessário que o uso do computador e o contato com a internet se deem de modo a auxiliar os sujeitos na sua formação, como mais um recurso que permita o acesso ao conhecimento, tendo em vista práticas de letramento digital. Tomando como subsídio teórico a semiótica discursiva em suas reflexões mais recentes sobre a interação e regimes de presença, a pesquisa problematiza a relação em ato com o outro mediada pelo chat e o modo como o gênero sofre as coerções das relações intersubjetivas. Num primeiro momento, mediante o reconhecimento de papéis actanciais previamente definidos e apontando para a previsibilidade de um pretenso exercício didático, confirma-se o que a semiótica designa como regime da programação. Na medida em que a interação avança, os professores em formação vão se apropriando das possibilidades do chat, caminhando na direção da subversão do contrato pedagógico inicial. Instauram-se diálogos paralelos,apontando para novas formas de interação (im)previstas. Este trabalho parte de uma pesquisa inicial que mobiliza a semiótica para compreensão do letramento digital, buscando contribuir para a reflexão sobre os usos da internet no âmbito da escolarização. (Apoio CAPES). LETRAMENTO DIGITAL: O LEITOR UNIVERSITÁRIO E A (RE) CONSTRUÇÃO DE SUAS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA EM AMBIENTE ACADÊMICO Maria da Guia SILVA – UFRN [email protected] Glícia Marili Azevedo de Medeiros TINOCO – UFRN [email protected] As práticas de leitura e escrita em ambiente acadêmico são múltiplas e atendem a diferentes propósitos comunicativos. Todavia, com a expansão tecnológica e a informatização dos processos que compõem o cotidiano das universidades brasileiras, parecem não ser suficientes as competências de leitor e de escrevente desenvolvidas no mundo do papel. Desde a matrícula do graduando, passando pelos trâmites mais corriqueiros de envio, avaliação e entrega de exercício semanal e/ou de disponibilização de notas ao fim do semestre, até o encerramento do curso superior, professores e graduandos vêm-se em situações de comunicação que requerem a contínua ampliação do letramento digital. É nesse contexto sócio-histórico que pretendemos debater como a escrita se instaura, em plena virada digital, na vida de graduandos do Bacharelado em Ciências e Tecnologia, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e que diferenças eles declaram existir entre a leitura e a escrita impressa e a digital. Para tanto, analisaremos textos de diferentes gêneros discursivos, produzidos por esses sujeitos de pesquisa em sala de aula e pelo Sigaa, ambiente virtual de ensino-aprendizagem da UFRN. A análise desses dados de pesquisa cuja vertente é etnográfica segue o escopo teórico-metodológico dos estudos de letramento entendido como prática sociocultural (IVANIC, 1994; BAYNHAM, 1995), plural e situada em Linguística Aplicada (KLEIMAN, 2005; TINOCO, 2008; OLIVEIRA e KLEIMAN, 2008); as discussões de natureza dialógica da linguagem (BAKHTIN [1952-1953] 2000); e os estudos sobre a linguagem na web (LÉVY, 1996; BRAGA e RICARTE, 2005; COSCARELLI e RIBEIRO, 2007). LETRAMENTO DIGITAL: O QUE AS ESCOLAS (NÃO) ESTÃO FAZENDO PARA (RE) ESCREVER A HISTÓRIA Claudia Almeida Rodrigues MURTA - COLÉGIO ATENAS [email protected] 196 Márcia Luiza ABREU - COLÉGIO ATENAS Flávio MARTINS – COLÉGIO ATENAS O uso das tecnologias digitais e dos sistemas de informação permeiam as relações sociais na atualidade, portanto, letramento digital é uma necessidade para o exercício das práticas sociais. Nesse cenário informatizado, o papel do professor, mais uma vez, se mostra fundamental para estimular os alunos ao desenvolvimento do letramento digital, orientando-os a utilizar o computador e a internet, de maneira segura, crítica e autônoma, dentro ou fora da escola. Diante de mais esse desafio, temos que questionar sobre o que a escola tem feito para a inserção do computador na sala de aula, na capacitação dos professores e como estes estão usando as tecnologias digitais em sua prática pedagógica, no sentido de desenvolver o letramento digital dos alunos. O objetivo desta pesquisa é verificar as ações efetivas da escola em prol do letramento digital de seus alunos e os programas de formação continuada e condições de trabalho que propiciam a seus docentes para que estes estejam habilitados a inserirem o computador e as tecnologias digitais em suas aulas. Trata-se de uma pesquisa de campo realizada no ano de 2010 em escolas das redes pública e privada em três cidades de Minas Gerais. A coleta de dados envolveu professores, alunos e direção das escolas. Concluiu-se que os resultados encontrados em escolas de realidades diferentes são comuns. As escolas reconhecem a importância do letramento digital no contexto moderno, mas pouco fazem para alcançar o objetivo. O professor tem pouco apoio das instituições de ensino para o desenvolvimento de seu letramento digital e para o uso das tecnologias em sala de aula. Os alunos usam os recursos das TICs nos seus cotidianos, mas conhecem muito pouco dos usos educacionais. Percebemos que é preciso inserir o computador nas práticas pedagógicas e juntos, professor e aluno, letrarem-se digitalmente para exercerem a cidadania no mundo digitalizado. LETRAMENTOS DIGITAL, ACADÊMICO E LITERÁRIO DE ALUNOS DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO DA UFOP Hércules Tolêdo CORRÊA – UFOP [email protected] Esta comunicação tem por objetivo apresentar alguns dados sobre práticas de letramentos digital, acadêmico e literário de alunos de graduação do curso de Ciência da Computação da Universidade Federal de Ouro Preto. Os referenciais teóricos que subsidiam a pesquisa são, basicamente, os estudos sobre os multiletramentos (digital – COSCARELLI e RIBEIRO; literário – PAULINO e COSSON; acadêmico – STREET; além dos estudos e reflexões de pesquisadores pioneiros no assunto, no Brasil, como SOARES e KLEIMAN) e as concepções de língua, linguagem, ensino de língua portuguesa e gêneros textuais/discursivos (BAKHTIN, BRONCKART, MARCUSCHI, COSTA VAL e ROJO). A disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ministrada aos alunos de Ciência da Computação, tem como principal objetivo promover o letramento acadêmico dos alunos, por meio da leitura e escrita de gêneros discursivos mais utilizados no espaço acadêmico contemporâneo, como fichamentos, resumos, resenhas, relatórios de leitura, artigos científicos e de divulgação científica, memoriais de leitura e fóruns de discussão. A pesquisa que ora apresentamos origina-se, sobretudo, de informações coletadas por meio de memoriais de leitura e escrita produzidos pelos alunos matriculados nas turmas e pelas informações postadas nos fóruns de discussão. Neste trabalho, focamos nossa análise nas instâncias ou agências promotoras do letramento, como a família, a escola em seus diferentes níveis, as bibliotecas, a própria literatura e as disposições individuais, por meio de depoimentos coletados pelos memoriais de leitura e escrita que revelam, em sua maioria, um perfil de alunos que, se não são exatamente nativos digitais, estão longe de serem migrantes digitais, como a maioria dos professores universitários. O GÊNERO PESQUISA ESCOLAR E O LETRAMENTO DIGITAL Lílian ARÃO – CEFET-MG 197 [email protected] Nossa era é marcada por uma gama de informações e por rápidas mudanças. Experimentamos no nosso dia a dia, devido às novas tecnologias, o aumento da obtenção de informações, a ampliação de seu armazenamento e a rapidez na sua distribuição. A realidade digital promoveu novas condições de produção que determinaram novas formas de organização do discurso, novos gêneros, novos modos de ler e de escrever. Esse estado de coisas foi denominado como letramento digital. O modo como o texto se apresenta na tela e a maneira como o manuseamos nos obriga a dominar novos conhecimentos e novas estratégias de leitura e de escrita. Nesse sentido, um dos desafios para os educadores de hoje é preparar os alunos para viverem de modo completo e produtivo nessa sociedade da informação. Diante desse novo espaço de múltiplas vozes promovido pelo meio digital, verificamos uma diluição dos limites entre a apropriação legítima e o plágio. Se por um lado temos a democratização do acesso à produção de conhecimento, por outro corre-se o risco de trabalharmos com a falsa ilusão de construção de saberes, já que a produção de pesquisa pode se transformar apenas num movimento de colagens esquizofrênicas, sem o exercício de leitura, seleção e síntese das informações. Este trabalho configura-se como uma síntese de nossa pesquisa de iniciação científica do programa BIC Jr que buscou refletir sobre a forma como alunos e professores do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Campus VIII, localizado na cidade de Varginha, têm lidado com o gênero pesquisa escolar, qual o significado que esses sujeitos dão a essa atividade e até que ponto a Internet tem sido usada como fonte de pesquisa. MÃOS À OBRA: ESCRITA COLABORATIVA E JORNAL VIRTUAL NO ENSINO MÉDIO Marcelo Cristiano ACRI – UEL [email protected] O ensino de língua portuguesa parte de uma concepção de língua como ferramenta para a interação entre sujeitos e concretiza-se na sala de aula através dos gêneros discursivos. No entanto, a escola, promotora de um letramento a ensinar (portanto, filtrado pelo crivo da pedagogização de conhecimentos e práticas), ainda não incorporou de forma satisfatória práticas promotoras do letramento digital. As ações que buscam tornar o aluno letrado digital têm se baseado nas habilidades necessárias para leitura e escrita fora do ambiente virtual, além de ainda pensar que se deve “alfabytizar” o aluno, não o tornar um letrado digital. Da mesma forma que a alfabetização pode ser desenvolvida através do letramento, a utilização do computador e da internet pode vir acompanhada do letramento digital. É preciso levar em consideração uma matriz de letramento digital, como a apresentada por Dias e Novais (2009), para deixar mais visível ao professor o que se espera do aluno. O projeto que elaboramos trata-se de uma proposta de intervenção em que estão sendo colocadas em ação habilidades relacionadas ao letramento digital através do uso das ferramentas digitais Google Docs e Blogger para o desenvolvimento da escrita colaborativa e elaboração de um jornal virtual e, dessa forma, da escrita pessoal do aluno. Com esse artigo pretendemos relacionar as habilidades específicas de uma matriz de letramento digital em desenvolvimento no projeto. Considerando que as habilidades não são restritas a si mesmas, propomos confrontar os objetivos do projeto e as habilidades exigidas dos alunos para seu sucesso buscando verificar quais são exclusivamente relacionadas ao ambiente virtual e como se relacionam. GRUPO TEMÁTICO 30: LÍNGUA E DISCURSO: APROXIMAÇÕES INTERDISCIPLINARES COORDENADORA: Eliana Crispim França LUQUETTI (UENF) – [email protected] Até os anos de 1960-70, os estudos de língua e de discurso eram conduzidos separadamente nos programas disciplinares das nossas faculdades de Letras. O linguístico e o extralinguístico não se cruzavam metodologicamente, apesar de as pesquisas pioneiras de Jakobson e Benveniste já 198 apontarem para a dimensão discursiva do texto. É dessa época a descoberta metodológica de que a relação entre linguagem e sociedade não é casual. Assim, relacionando as origens comuns – e de idêntico escopo metodológico – entre a linguística e as ciências sociais, surgem as disciplinas Análise de Discurso e Sociolinguística, objetivando criar espaços amplos de discussão sobre sociais e culturais da linguagem nos quesitos sujeito, ideologia, identidade, variantes linguísticas e tantos outros conceitos que demandam o esforço metodológico interdisciplinar. A sessão de comunicações intitulada “Língua e discurso: aproximações interdisciplinares” tem como objetivo reunir trabalhos que, partindo da concepção primária de língua, linguagem e discurso, possam contribuir com uma discussão mais ampla das ciências humanas, desde quando seus pesquisadores passaram a priorizar o depoimento pessoal (constituição de corpus próprio) em detrimento da pesquisa históricodocumental. Além disso, pretende- se promover a interface entre Linguística e Educação a fim de preencher um grande vazio existente entre as teorias produzidas na academia e a escola, pois, acredita-se que essa discussão levará aos interessados a uma proposta escolar de tratamento da língua que não isole seu falante da vivência da linguagem. O papel da escola/pesquisador é colocar o discente em condições de reconhecer, de fato, a língua que ele fala, que ele lê, que ele escreve. A língua que se manifesta pela ativação da linguagem representa olhá-la em uso, em contexto, em seus interfaceamentos. A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO E DO(S) SENTIDO(S) NO INTERIOR DO ETHOS EDUCACIONAL Fernando Lima da COSTA – UFU [email protected] Juliana Vilela ALVES- UFU [email protected] O presente estudo pretende refletir sobre o processo de constituição do sujeito e do(s) sentido(s) que emergem no interior de um ethos educacional. A reflexão teórica, que se inscreve a partir dos estudos da Análise do Discurso de Michael Pêcheux (ADF) em diálogo com os estudos desenvolvidos no interior da Lingüística Aplicada (LA). Desse modo, observa-se que a LA configura-se, ao nosso olhar, enquanto campo em constante (re)construção de saberes e práticas tomando enquanto corpus as práticas linguageiras que se instauram no interior de um ethos educacional[1]. Entendemos, neste estudo, por práticas linguageiras os diferentes usos da língua(gem) que uma instância sujeito realiza no interior de uma manifestação enunciativa. Logo, observamos que é por meio dessas práticas que podemos ter acessa a constituição do sujeito e dos sentidos, de acordo com Santos (2007), essas práticas “demarcam uma diversidade de posições e lugares que esse sujeito pode ocupar com seus usos dessa língua” (SANTOS, 2007, p. 189), como, também, da constituição dos sentidos que delas decorrem. Assim, este trabalho propõe-se a analisar como se manifesta os processos onde sujeitos e sentidos são produzidos por meio das reflexões sobre a rede conceitual da ADF em conformidade com a LA, no que tange a concepção do que é (ou venha a ser) literatura. Pois, o "analista do discurso vem, dessa forma, trazer sua contribuição às hermenêuticas contemporâneas. Como todo hermeneuta, ele supõe que um sentido oculto deve ser captado, o qual, sem uma técnica apropriada, permanece inacessível"(MAINGUENEAU, 1997, p. 11). [1] Utilizamos ethos educacional para referirmos aos diferentes contextos educacionais em que a língua(gem) se manifesta como, também, dos processos que ela engendra no interior deles. JOGOS DE LINGUAGEM E SEMÂNTICA ABORDADOS NAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS E SUAS APLICAÇÕES NA LINGUAGEM COTIDIANA Vanderlei de OLIVEIRA – UENF [email protected] 199 Este trabalho analisa os escritos de Ludwig Wittgenstein, com relação aos jogos de linguagem e semântica abordados na sua obra Investigações Filosóficas. Nas IF, a visão de linguagem para Wittgenstein sofre uma mudança, ele passa a ver a linguagem como “uso” e não mais somente como uma forma lógica de representar o mundo. Existe um mundo em si que nos é dado independentemente da linguagem, mas que a linguagem tem a função de exprimir. Até então, Wittgenstein queria uma linguagem artificial, pois se a tivesse ela seria a medida de qualquer linguagem. Dados aos diversos equívocos acerca dos jogos de linguagem e suas funções na linguagem ordinária, concebe uma nova estrutura da língua a partir das IF. Ele dá início a uma reviravolta pragmática e concebe, a partir de então, uma análise da linguagem no seu usoparticular. Wittgenstein passa a trabalhar os conceitos acerca de jogos de linguagem, postulando que, para se entender uma determinada linguagem, há a necessidade de se entender primeiro o “uso” particular dela, levando assim em consideração o contexto no qual a linguagem é empregada. Vê-se que o significado de uma palavra é seu lugar em um jogo de linguagem. Pois as palavras só têm sentido porque há objetos que elas designam. Nas IF ele trabalha justamente com a linguagem cotidiana, pois a sua preocupação não é mais a de construir uma metalinguística, mas, a partir do “uso” que se faz de uma determinada palavra, pode-se então estabelecer sua regra e então essa palavra será compreendida, podendo haver a variação de contexto para cada palavra. O USO DO ELEMENTO "BEM": UMA ANÁLISE DE ENSINO DE GRAMÁTICA SOB A PERSPECTIVA FUNCIONALISTA Karina Pereira DETOGNE – UENF [email protected] Eliana Crispim França LUQUETTI – UENF [email protected] O presente trabalho busca propor uma nova concepção de ensino de gramática sob a perspectiva da linguística funcionalista, detendo-se especificamente nos usos do elemento bem, pois sabemos que a gramática normativa classifica esse vocábulo, por exemplo, como advérbio, sem levar em consideração seucontexto, ou mesmo seu uso no discurso, prevalecendo apenas a modalidade escrita da língua, desconsiderando a oralidade e os usos concretos. Para realização desse estudo, faremos uma análise qualitativa de cunho funcionalista do elemento bem no corpus da região nortenoroeste fluminense. Não pretendemos reformular conteúdos, ou mesmo, mudar as concepções teórico-metodológicas. Mas temos evidenciado que o ensino de língua na escola, ainda, não contempla os eixos norteadores propostos nos PCNs, assim como, uma reconfiguração das práticas pedagógicas que ainda, não estão pautadas nesses novos paradigmas de ensino. Além disso, procuraremos evidenciar as contradições do ensino de gramática em diferentes concepções, a fim de buscarmos subsídios na linguística, mais especificamente na corrente funcionalista, objetivando um ensino mais produtivo e eficaz nas salas de aula. Observando a linguagem oral, à luz do Funcionalismo, verifica-se a necessidade de análise do elemento bem, visto que a Gramática Normativa postula apenas uma classificação para o elemento. Entretanto, no uso, verifica-se que o mesmo não se efetiva somente na classificação prescrita pela Gramática.Por não abordar esses aspectos do uso, faz-se necessário um estudo aprofundado do que a Gramática não leva em consideração.Com base nos conceitos de Gramaticalização e Discursivização serão identificadas outras formas de classificação do bem, valendo-se de teóricos, como MARTELOTTA (1996), LUQUETTI (2008), FURTADO (2007), NEVES (2001) entre outros. TRABALHO, OPRESSÃO E LÍNGUA: POR UMA ANÁLISE DO CONTO “A ENXADA”, DE BERNARDO ÉLIS Fabianna Simão Bellizzi CARNEIRO – UFG [email protected] 200 Este trabalho objetiva uma análise do conto “A enxada” (1966), do escritor goiano Bernardo Élis, sob uma perspectiva inserida em contexto de opressão e violência que durante muitos anos marcou as relações de trabalho no campo. Tal fato fica ainda mais evidenciado, no Brasil, no início do século passado quando se intensifica a produção agrícola em larga escala de forma a atender demandas do capital. Élis contribuiu para ressaltar a literatura goiana, limitadamente inserida em categorias como regionalista, rural ou sertaneja. Neste conto, o autor expõe problemas que atingem o homem do campo, mas que se encaixam em várias outras situações de opressão contra grupos minoritários – grupos que muitas vezes expõem a vulnerabilidade de um sistema que pretende alcançar a máxima obediência das pessoas que o compõem. Com uma escrita contundente e reveladora das mazelas e asperezas vividas pelo homem do campo, este conto nos possibilita outros cruzamentos e análises que englobam não só a opressão do trabalho conforme citada, bem como questões envolvendo linguagem, religião, sociedade e discriminação. Notaremos, ao longo do texto, as possíveis interseções entre a Análise do Discurso, A Literatura e as Ciências Sociais – áreas em princípio diferenciadas, mas que se aproximam no momento em que ressaltam as relações entre o homem e língua inseridas em nossa contemporaneidade. Trata-se de um trabalho analítico e não conclusivo, portanto a metodologia se sustenta em pesquisa bibliográfica e tem como suporte teórico textos de Marcos Bagno, Ismael de Lima Coutinho, Tomaz Tadeu da Silva, Sergio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Michel Foucault e outros que serão referenciados ao longo do texto. EM BUSCA DE UM SENTIDO Janice Alves GOMES – IFG [email protected] A Semiótica, teoria que tem como objeto a significação, é atualmente, mas ainda timidamente, trabalhada em sala de aula por alguns professores de línguas, que tentam diminuir os espaços que separam falante, língua e discurso. Trabalhada na graduação, a Semiótica tem sido utilizada como elemento facilitador na análise de textos. Em turmas de ensino médio tem auxiliado o aluno a compreender as considerações que envolvem os discursos, assim como o percurso que o texto faz para produzir sentido. O que importa, porém, é levar o aluno a descobrir o que está subentendido no texto, o que nem sempre ele consegue compreender com facilidade ou habilidade. Importante ressaltar que a Semiótica procura analisar o texto por meio de elementos que, quando utilizados adequadamente pelo aluno, tais como os elementos modais, este aluno tenha condições de perceber que o enunciado ali produzido não foi organizado aleatoriamente, há uma intenção implícita ou mesmo explícita por parte do enunciador ao elucidar determinado pensamento. A enunciação está ali, presente, marcada por elementos formais que constituem a língua. Uma conjunção, um adjetivo, um advérbio etc., além da pontuação, podem alterar o sentido do texto dependendo da forma como são dispostos em um texto, o discurso muda com a proporção em que as ideias tomam forma no corpo do texto por meio das palavras escolhidas e dispostas no mesmo. Assim,o aluno percebe que uma análise textual não parte do nada, como muitos são levados a pensar. Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo fazer uma abordagem sobre o uso da Semiótica na análise de textos em turmas do primeiro ano do ensino médio técnico tecnológico, pois que essa ciência tem sido uma saída para resolver alguns problemas de leitura e interpretação apresentadas pelos alunos. A RELAÇÃO DO EU E DO OUTRO Carlos Alexandre Nascimento ARAGÃO – UFS [email protected] No decorrer deste trabalho fazemos uma discussão acerca dos postulados da enunciação com o intuito de apresentarmos a visão significativa que o filosofo russo Bakhtin (2003, 2009), trouxe para o universo da linguagem a partir das grandes contribuições do linguista Saussure mesmo sendo um 201 grande opositor a elas. Assim, buscamos entender a relação existente entre o EU e o OUTRO à luz dos postulados deste filosofo, trabalhando a noção de enunciação, por esta se encontrar no eixo da interação entre os sujeitos do discurso. Nesse sentido, a fala é concebida como um processo social que se constrói a partir da interação entre os sujeitos e não individual, porque na medida que o individuo a adquire passa a agir e interagir com o seu meio. Levando, assim, ao processo de comunicação verbal que pode ocorrer entre indivíduos/textos. Nesse mesmo caminho, o pensador russo coloca a noção da palavra, tomada como um fenômeno ideológico e por este motivo transmite um valor social. Em seguida apresentamos uma análise dos corpora formados por entrevistas realizadas com professores de Língua Portuguesa a partir desta teoria. Este trabalho consiste em uma abordagem parcial da dissertação de mestrado, cujo tema é “O Ethos discursivo do professor de Língua Portuguesa no Município de Monte Alegre - SE”. Tem como objetivo investigar as questões relacionadas aos problemas concernentes ao ensino de língua materna, numa perspectiva discursiva, apesar deste ainda ser um problema atual, mesmo com a presença da Linguística. A ORDENAÇÃO DE ADVERBIAIS DE TEMPO E O ENSINO DE GRAMÁTICA SOB A ÓTICA FUNCIONALISTA Giselda Maria Dutra BANDOLI – UENF [email protected] Sérgio Arruda de MOURA – UENF [email protected] Partilhamos com a concepção de que o ensino de língua materna deveria ser baseado no funcionamento da língua em efetiva comunicação, como uma estrutura maleável, para que sua complexidade fosse entendida a partir de uma reflexão coerente e não apenas de um conjunto de regras isoladas. Se o processo de ensino-aprendizagem não for assim conduzido não contribuirá para o objetivo maior dos estudos de língua/linguagem: habilitar o aluno à produção/interpretação de textos orais e escritos, concretizados em gêneros discursivos e ajustados à s inúmeras situações de comunicação, em níveis variados de formalidade. Nossa proposta é proceder a um estudo sobre a ordenação dos adverbiais de tempo em um corpus constituído de textos orais e escritos de falantes da região norte-noroeste fluminense, a fim de refletirmos sobre os usos dessa categoria gramatical. Esses textos produzidos pertencem a gêneros diversos, a saber: narrativa de experiência pessoal; narrativa recontada; descrição de local; relato de procedimento e relato de opinião e produzidos inicialmente por 133 informantes de ambos os sexos, idade diversa e diferentes níveis de escolaridade. Além disso, procuraremos buscar uma proposta didático-metodológica alinhada a um ensino mais produtivo e reflexivo ao fazermos as abordagens desse tópico gramatical, através de uma perspectiva, além de gramatical, também discursivo-pragmática. Este trabalho, portanto, se justifica na medida em que apresenta uma metodologia alternativa ao ensino tradicional de gramática, buscando uma aproximação da linguística com a prática cotidiana na sala de aula. Assim, o ensino de Língua Portuguesa contemplaria o estudo de tópicos gramaticais não mais desvinculados do uso, mas inseridos em um efetivo contexto de comunicação. O LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA E O PROCESSO ENSINOAPRENDIZAGEM Monique Teixeira CRISÓSTOMO – UENF [email protected] O presente trabalho visa evidenciar a questão ideológica nos livros didáticos de Língua Portuguesa, que funcionam, na maioria das vezes, como um veículo de discriminação, uma vez que enfatizam apenas o uso da linguagem culta da classe dominante e distanciam-se, portanto, da realidade da maioria de sua clientela: os alunos pertencentes a uma classe social menos favorecida. Apesar das várias reformulações sofridas pelo livro ao longo dos anos, ainda prevalece em seu discurso a 202 abordagem da língua tradicional, que se baseia nas regras prescritas pela gramática normativa e que é utilizada de forma mecânica e descontextualizada. Entretanto, quando um autor tenta (re)pensar a linguagem sob uma perspectiva linguística, em que busca enfocar as variações da língua e seu uso no discurso, é mal interpretado como, por exemplo, ocorreu com a autora Heloísa Ramos, do livro didático “Por uma vida melhor”, selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD/MEC) para modalidade da Educação de Jovens e Adultos - EJA. Assim, pretende-se mostrar que os manuais didáticos não podem ser vistos como a única fonte de mediação do conhecimento na sala de aula e que, se sua abordagem fosse realizada a partir do enfoque da Linguística Funcional, o ensino de Língua Materna seria bem mais produtivo, revelando e, consequentemente, ampliando outros usos da língua, ou seja, a língua na interação comunicativa. Para realizar essas propostas, utilizaremos os pressupostos teóricos da Análise do Discurso, da Sociolinguística, assim como da Linguística Funcional, valendo-se de diversos teóricos, dentre eles Maingueneau, Citelli, Soares, Fairclough, Martelotta, Cunha, Bagno e outros. ESPECIFICIDADES E INTERSEÇÕES ENTRE OS CONCEITOS DE IMAGINÁRIOS SOCIODISCURSIVOS, IMAGEM DE SI, ESTEREÓTIPOS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Renata Aiala de MELLO – UFMG [email protected] Os conceitos de “imagem de si”, de “estereótipos”, de “representações sociais” e de “imaginários sociodiscursivos”, comumente utilizados em Análise do Discurso, são de natureza cognitiva e discursiva. Todos eles se configuram, explícita ou implicitamente, em mecanismos utilizados pelo indivíduo para ler, construir o mundo, a realidade, a imagem do outro, além da de si próprio. Essas representações, que ajudam na construção de sistemas de pensamento e visão do mundo, que estabelecem crenças, orientam condutas, definem e constituem os sujeitos e suas relações, interferem, direta ou indiretamente, no contrato de comunicação entre eles. Mas, o que diferencia esses conceitos que, segundo Charaudeau, se apresentam como esquemas de classificação e de julgamento de um grupo social? Quais as suas especificidades? Quais interseções podemos estabelecer entre esses quatro conceitos? Às vezes, nos parece, que eles são utilizados como sinônimos. Propomo-nos, nesse trabalho, clarear um pouco essa questão. Perguntamos-nos, por exemplo, o que exatamente diferencia “ethos” de “imagem de si”? “Imagem” e “imaginários” são palavras correlatas, logo, quais o sentidos específicos? Como se dá a constituição dessas representações, dessas imagens e desses imaginários? Onde eles surgem? Quais são suas formas de materialização? Como eles se cristalizam? Se nossas representações sociais são tidas como estereotipadas e ancoradas nos imaginários sociodiscursivos, como distinguir esses conceitos? Para subsidiar este trabalho, baseamo-nos, sobretudo, em alguns artigos de Ruth Amossy que tratam mais especificamente sobre “ethos” e “imagem de si”, de Henri Boyer e Dylia Lysardo-Dias, que tratam mais particularmente sobre “estereótipos”, e de Patrick Charaudeau que trata de “imaginários sociodiscursivos” e de “representações sociais”. UM ESTUDO SISTEMÁTICO SOBRE AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS DO NORTE FLUMINENSE Gelson Caetano Paes JUNIOR – UENF [email protected] Dhienes Charla FERREIRA– UENF [email protected] O objetivo da presente pesquisa é apresentar o processo de elaboração de um corpus representativo da região Norte Fluminense. A elaboração de um corpus dessa natureza é de suma importância para que se possam promover estudos lingüísticos na região, não somente para pesquisadores da área de ciências humanas, mas também de outras áreas. Além disso, este banco de fala permite registrar e 203 resgatar a memória, as características de fala de seus habitantes, em oposição aos traços lingüísticos típicos dos habitantes de outras regiões. Em primeiro lugar, realizou-se um estudo mais aprofundado da estrutura social das cidades que compõem a região. Já, em segundo lugar, foi feito uma coleta de amostras da cidade de Campos para a elaboração de uma análise da fala da região. Esta proposta pretende ser ampliada para toda a região norte fluminense, a fim de atender às demandas e particularidades dessa região. Como a elaboração de um corpus está necessariamente subordinada aos objetivos referentes a outras análises que serão desenvolvidas, este projeto trata, não apenas da elaboração de um corpus, mas também de fornecer informações básicas acerca dos estudos futuros para os quais o material recolhido servirá de base. Este banco de fala de fundamental importância para estudos posteriores poderá possibilitar a reflexão e análise de traços da fala de habitantes de diferentes cidades da região Norte Fluminense. Sua exatidão, característica necessária ao meio acadêmico, favorece ao estudo da variedade linguística e da oralidade, pois apresenta situações reais de uso da fala de forma dinâmica. O corpus Discurso & Gramática constitui a base do corpus elaborado. Nesse sentido, o que se pretendeu foi: adaptar as estratégias de elaboração do corpus D & G para os objetivos que no momento norteiam a presente proposta. UMA PROPOSTA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: O USO DAS EXPRESSÕES “ASSIM”, “TIPO” E “TIPO ASSIM” SOB A PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL Karine Lôbo CASTELANO – UENF [email protected] Eliana Crispim França LUQUETTI – UENF [email protected] O presente trabalho pretende evidenciar o uso das expressões “assim”, “tipo” e “tipo assim” nas diferentes abordagens do estudo da língua portuguesa sob a perspectiva da Linguística Funcional. Além disso, busca-se analisar as ocorrências desses elementos em cinco tipos distintos de textos: a) narrativa de experiência pessoal; b) narrativa recontada; c) descrição de local; d) relato de procedimento; e e) relato de opinião, estratificados de acordo com as variáveis sociais, tais como: sexo, idade e escolaridade, na modalidade oral de informantes da Região Norte-Noroeste Fluminense. Para a análise dos dados, inicialmente, levamos em consideração o contexto de realização dos operadores em questão, como também seu comportamento sintático, sua proximidade com determinadas categorias gramaticais, bem como sua noção semântica no contexto. Diferentemente do estudo da gramática tradicional, que se caracteriza pela falta de reflexão em seu uso, a utilização das expressões em questão prova que há várias condições que são determinantes para o estudo da língua, como as de interlocução. Por isso, o estudo da gramática precisa estar relacionado ao uso efetivo da língua, incentivando o aluno a desenvolver conscientemente suas habilidades linguísticas. Pesquisas que registram, descrevem e analisam sistematicamente os aspectos sociais de uma comunidade de falantes devem ser levadas para a sala de aula, a fim de se compreender a estrutura da língua por meio da observação, por exemplo, da variedade linguística existente na sociedade e detectar as diferenças entre as camadas socioculturais de discursos. Esperase, com esta pesquisa, contribuir para o preenchimento de um grande vazio existente entre as teorias produzidas na academia e a escola, ou seja, entre o pesquisador e o professor, que está na sala de aula vivenciando todos os enfrentamentos que o ensino oferece. GRUPO TEMÁTICO 31: LÍNGUA E LITERATURA: ARTICULAÇÕES PELA PRÁTICA PEDAGÓGICA COORDENADOR: Raul de Souza PÜSCHEL (IFSP) – [email protected] Ligações entre a língua e a literatura são frutos da experiência prévia ao ingresso que o bacharel e o licenciado em Letras têm antes de adentrarem as salas da universidade. Entretanto, tal articulação começa a se apagar quando, já docente, o profissional da área de Letras se dirige aos programas de 204 Mestrado e Doutorado que, em geral, costumam dissociar as duas "subáreas". No entanto, a experiência em sala de aula exige, quase sempre, que tais saberes se aproximem. Poucos textos literários, mesmo os que se afastam violentamente da norma, da sintaxe padrão, da tradição, não têm predominantemente uma matriz linguística. Muito também a literatura tem colaborado historicamente para a ampliação do leque de possibilidades linguísticas. Assim, a sala de aula é um motor concreto em que a linguagem se revela, para o neófito - o nosso aluno- enquanto construção que ultrapassa a comunicação imediata e se torna aquele rio caudaloso que vem de variegada fonte: do saber do velho lente que esteve a vida a compulsar todos os velhos alfarrábios; do poeta que busca a expressão e a dicção inesperadas, ao driblar antigas referências; do povo com seu contato atravessado por aparelhos, fazeres, ironias, fórmulas, variações, construções em aberto. Reaproximar língua e literatura é o que fazemos diuturnamente, mesmo quando aparentemente nos descuramos de uma das duas vertentes. Os alunos do ensino fundamental, do médio e até do superior não são ainda especialistas. Ao procurarem a língua, muitas vezes pedem que a literatura apresente "o abra-te sésamo". Ao procurarem a literatura, muitas vezes pedem que a língua explique como um distante objeto se antepôs ao sujeito. Por isso, o que este GT privilegiará é o retorno de experiências que saibam revelar um tal nó articulatório. Mais que uma linha de estudos, uma troca de logos, um diálogo produtivo. IMAGEM DA PROFESSORA NO ROMANCE TIL – ELOS ENTRE A LÍNGUA E A LITERATURA Ulysses Rocha FILHO – UFG [email protected] Os objetos dessa comunicação são a imagem primeira e a figura secundária de uma professora, por nós denominada leiga, no romance clássico de José de Alencar (1829-1877) bem como, minimamente, ressaltar seu discurso, sua didática e os princípios norteadores da profissão nos idos do Império brasileiro. A literatura pode oferecer para a história uma representação do estado da humanidade num determinado tempo, num determinado lugar. Costumes, opiniões, afetos, desavenças, homens e mulheres, crianças, um e outro sexo ou gênero; efeitos privados dos acontecimentos públicos (que com mais propriedade se dizem históricos). Sempre seguindo as trilhas bakhtinianas de que a palavra é o território comum do locutor e do interlocutor e a expressão do indivíduo é um produto de várias vozes interligadas, mencionaremos desde como “preparava” suas aulas, sua abordagem no incentivo e na orientação do aprendizado pelos alunos, passando por seu foro íntimo e ressaltando a concepção de uma mocinha romântica presa a um sistema rudimentar do exercício do ato de ensinar. De uma forma romântica, a professora Til/Berta é uma das primeiras imagens de educadores na literatura brasileira: numa época de transição, onde a mulher não era considerada enquanto agente social, essa leiga educa, forma e questiona valores e preconceitos da época em que viveu. A presente comunicação, baseada nos preceitos literários e pedagógicos de KLEIMAN, A. (1995) e SOARES, M.(1998-b), é produto e parte integrante do projeto de pesquisa A figura do professor na literatura brasileira - primeiros momentos, registrada sob nº 29568/SAPP-UFG. EXPERIÊNCIAS DE LEITURA: A FORMAÇÃO DO LEITOR Ida Maria MARINS – UNIPAMPA [email protected] O Projeto Experiências de leitura: a formação do leitor tem por objetivo geral incentivar a formação de leitores a partir da prática de leitura de múltiplos gêneros discursivos; como também desenvolver o gosto pela produção escrita como manifestação individual e coletiva na promoção da cidadania. Partimos da crença que os alunos, ao engajarem-se discursivamente em práticas de leitura e escrita aliadas ao prazer, desenvolvem sua aprendizagem e a capacidade de interagir na sociedade de forma 205 crítica e participativa. Ainda hoje o ensino da leitura/escrita na escola é pautado por uma perspectiva instrumental, cujas práticas apontam um fazer enquanto instrumento de trabalho, furtando o leitor/sujeito da relação potencial do prazer e da experiência de lazer que a leitura/escrita podem mobilizar. Para intervir nessa realidade o projeto desenvolve suas ações com alunos do ensino fundamental e médio da cidade de Jaguarão/RS, realizadas pelos discentes de Letras, como também oportuniza a formação continuada de professores da educação básica, visto que todas as práticas pressupõem a interlocução universidade-escola. Das ações implementadas temos como elementos para reflexão que a experiência dos estudantes com textos diversificados - literatura, teatro, filme, documentários, canção, histórias em quadrinhos, permite que o leitor contraponha suas experiências de vida com as de outros colegas, elevando sua auto-estima e o desejo em participar de atividades coletivas, levando-o a construir seu lugar como sujeito dentre a diversidade de leitores e escritores na sala de aula. Além disso, percebemos o interessante desafio colocado diante da possibilidade e da necessidade de propor práticas interdisciplinares de ensino de língua e literatura, rompendo com a tradicional dicotomia que costuma eleger para o ensino da língua as formas prescritivas e para a literatura o estético/artístico. A LÍNGUA PORTUGUESA NA MODALIDADE EJA: LITERATURA OU GRAMÁTICA? Hadassa dos Passos FREIRE – UFG [email protected] (Bolsista CAPES - Mestrado UFG/SEE-GO) As diferenças entre estudos linguísticos e estudos literários são acentuadas tanto no meio acadêmico de formação de professores quanto nas salas de aula de escolas públicas e particulares. Além disso, a hierarquização comumente feita dentro dos cursos universitários – em que os bacharelados são considerados melhores, mais ricos e mais importantes que as licenciaturas – estigmatiza o professor licenciado. Por isso, é extremamente importante refletir sobre o que se teoriza e o que se pratica nas diversas modalidades da educação. E, como foco, serão traçadas algumas considerações para refletir sobre a modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos) no que se refere à disciplina de Língua Portuguesa. É uma modalidade prejudicada, porque, além de uma carga horária menor, não existe uma cultura da leitura, literatura e nem de produção textual, e sim uma “cultura da gramática”. Para que os estudos de língua portuguesa sejam promissores, é imperioso que se busque, ao invés das diferenças, o diálogo entre estudos linguísticos e estudos literários. Objetivando repensar a disciplina dentro da modalidade EJA, contempla-se o espaço do leitor em Barthes (1987), faz-se uso das considerações de Candido (1987) sobre a importância dos estudos literários e dos comentários de Compagnon (2009; 2010) sobre os poderes da literatura. Ainda, não se pode olvidar a performatividade do discurso em Austin (1988), as críticas realizadas por Derrida (1990), e a educação como prática libertadora em bell hooks (1994). E há que se observar, também, as proposições do MEC (2011) para o EJA. Por fim, será analisado o ensino de língua e literatura realizado em turmas de EJA do Colégio Estadual Damiana da Cunha nos anos de 2010 e 2011, em Goiânia-GO. A FRUTÍFERA RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA E LITERATURA NO ENSINO FUNDAMENTAL Suely CORVACHO – IF-SP [email protected] A escolha de textos literários no Ensino Fundamental permite a reflexão da língua enquanto construção e, simultaneamente, propicia o desfrute do poder humanizador desta construção. Conforme Antonio Candido, em “O direito à Literatura”, o poeta ou narrador oferece um modelo de coerência, gerado pela força da palavra organizada, cuja análise contribui para organizar a mente e os sentimentos. Nessa perspectiva, a comunicação propõe a leitura da construção linguística, estética e humanizadora de “Os ‘ossos’ do arroz”, conto que explica a adoção do cereal na dieta 206 alimentar do povo chinês. A história da pequena Miniya, obrigada a trabalhar para a rainha sem comer, e, posteriormente, sua descoberta dos “ossos do arroz” é um bom exemplo da forma pela qual é possível introduzir o aluno do Ensino Fundamental na reflexão sobre a função social da lenda, permitir que identifique os elementos linguísticos que indicam a origem do conto; o uso do diminutivo para construção de uma personagem frágil; as figuras de linguagem, notadamente provenientes do contexto oriental; além de problematizar os valores universais, especialmente os de verdade e mentira. Certamente, a análise linguística produzirá desdobramentos, induzindo reflexões sobre o contexto brasileiro, as construções linguísticas que nos caracterizam, as construções ideológicas que nos envolvem. As reflexões servirão não só para ampliar o repertório do aluno quanto a noções de gênero, construção linguística, efeitos de sentido produzidos por escolhas linguísticas, mas também contribuirão para o que Antonio Candido defende como o caráter humanizador da Literatura. Por esses motivos, acreditamos que a adoção de textos literários no Ensino Fundamental é determinante para uma formação mais globalizante do aluno. O PAPEL DA PESQUISA CIENTÍFICA NO ENSINO MÉDIO Graziela Bachião Martins Colombári Pereira de PAULA – IF-SP [email protected] A pesquisa escolar tem sido ferramenta utilizada por docentes para o ensino de conceitos aos alunos. A partir de 2010, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq disponibilizou oito mil bolsas de Iniciação Científica para os estudantes do Ensino Médio por meio do PIBIC-EM (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino Médio). Acreditamos que a pesquisa científica colabora para uma complementação aos estudos escolares, uma vez que impulsiona o pesquisador a identificar problemas e procurar soluções, exercitar a responsabilidade e o cumprimento de metas, ler, analisar e interpretar dados, além de desenvolver o senso crítico. O desenvolvimento de trabalhos no âmbito da ciência leva o aluno a adentrar o mundo do pensamento estratégico e favorece a autonomia do sujeito e a independência enquanto estudante e sujeito consciente de suas escolhas e poder de decisão. O presente estudo visa refletir sobre os ganhos gerados pelo desenvolvimento do trabalho científico desde o Ensino Médio a partir de uma perspectiva de que a socialização de um indivíduo ocorre dentro das várias instituições de sua cultura. O indivíduo aprende, assim, a usar as práticas de discurso relacionadas a elas. Essas práticas são fundamentais em sua formação, pois são elas que controlam o modo como o indivíduo percebe o mundo, fala e se comporta dentro de sua área particular de experiência. Às várias instituições sociais relacionam-se determinados tipos de discurso. Utilizando o discurso racional da ciência, o aluno constitui-se em agente e transmissor cultural do conhecimento, participando da tarefa educadora da própria escola. ENSINANDO O TEXTO ARGUMENTATIVO A PARTIR DO POEMA “MULHER NOVA, BONITA E CARINHOSA FAZ O HOMEM GEMER Leandro Tadeu Alves da LUZ – IF-SP [email protected] A escola tradicional acabou por estabelecer fronteiras ao ensino de língua que a própria língua desconhece. Não faz sentido ensinar literatura, gramática e produção de texto de forma desarticulada. Apesar disso, ainda é bastante comum encontrarmos situações de ensinoaprendizagem nas quais essa fragmentação acontece. O uso efetivo da língua pressupõe o acionamento de diversas habilidades que se conectam de forma interdependente. Assim, qual a finalidade de se ensinar gramática se não for para aprimorar o texto do aluno? E como desconectar literatura e língua se a matéria-prima do escritor é a palavra, ou seja, o signo linguístico? Como, finalmente, ensinar leitura e produção de texto sem levar em consideração a literatura como uma manifestação linguística possível e sem considerar as características estruturais e funcionais da 207 língua? Parece-me, também, inconcebível que nossos livros didáticos ainda sejam estruturados de forma fragmentada: uma parte para literatura, outra para língua e uma terceira para produção de texto. Este trabalho busca apresentar um possível rompimento com o paradigma acima exposto. Trata-se de um exemplo de como uma obra literária pode ser usada para se discutir e ensinar dissertação. Todos sabemos da importância de se elaborar bons textos dissertativos e sabemos, também, que esta não é uma tarefa fácil para o aluno, principalmente porque engloba saberes variados, como a capacidade de acionar conhecimento de mundo, de articular as partes constitutivas do texto e de usar a palavra de forma clara, concisa, coesa e coerente. Diversos são os gêneros do dissertar presentes em inúmeras situações diárias de comunicação. Este trabalho parte do poema "Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor", de Otacílio Batista, musicado por Zé Ramalho, para ensinar a estrutura da dissertação e o uso da argumentação na defesa de uma ideia. LÍNGUA E LITERATURA EM PRÁTICAS DE FORMAÇÃO DE LEITORES Begma Tavares BARBOSA – UFJF [email protected] Este trabalho discute o ensino de língua e literatura a partir da descrição de práticas de ensino e de leitura desenvolvidas no Ensino Médio. A indissociabilidade das práticas de ensino de língua e literatura decorre de uma concepção de língua como atividade sociocognitiva e discursiva e do reconhecimento de que seu ensino deve ocupar-se dos usos da língua, desenvolvendo as capacidades de ler, ouvir, falar e escrever. Torna-se ainda mais clara a vinculação entre língua e literatura, se considerarmos como tarefa central da disciplina Língua Portuguesa a formação de leitores, que deve incluir um conjunto de práticas, dentre as quais se destacam as de ensino, voltadas para o desenvolvimento de habilidades e estratégias de leitura e que incluem o domínio de conhecimentos sobre a linguagem e sobre os textos - literários e não literários – que auxiliam os processos de construção de sentidos. Essas práticas situam o que tradicionalmente vem sendo objeto da disciplina literatura – a historiografia literária ou quaisquer outros conhecimentos sobre literatura – em posição secundária, devendo ocupar-se em “letrar literariamente” os leitores em formação. Tratada a leitura como construção de sentidos, particularmente o texto literário é “obra aberta”. A formação do leitor de literatura pressupõe, portanto, práticas que, prioritariamente, motivem os alunos a produzirem suas leituras. E esse é um desafio a ser enfrentado pelas práticas que aqui propomos: o de fazer escolhas metodológicas que não firam a experiência estética, particularmente subjetiva, que caracteriza o contato com a literatura. Embora se reconheça a efetividade de práticas de ensino, inclusive quando se aborda o literário, paralelamente a elas, devem-se criar, na escola, espaços de escolha e leitura mais espontâneas, num movimento que busque enfrentar o que a “escolarização” da literatura e da leitura possa ter de mais prejudicial. A APRECIAÇÃO DO GÊNERO POÉTICO FORA DO CONTEXTO ESCOLAR: SABERES EM UMA PESQUISA COLABORATIVA Adriane de Oliveira e SILVA – UFMG [email protected] A pesquisa que ora desenvolvemos tem por objetivo analisar alguns dos efeitos de uma prática de trabalho, intitulada “Oficinas de Letras e Laço”, sobre a leitura e escrita do gênero poético, por crianças em contexto não escolar. Trata-se da análise de um trabalho que foi desenvolvido com duas turmas de alunos do 4º ano do ensino fundamental, de uma Escola Municipal, Senador Levindo Coelho,localizada em Belo Horizonte. Nesse sentido, pretendemos verificar em que medida o contato sistemático das crianças com o texto poético colaborou para ampliação do gosto de ler e escrever literariamente, favorecendo a presença da palavra poética dos alunos em situação escolar e cotidiana de suas vidas. Buscaremos conceitos advindos das teorias que envolvem o 208 aprender e o ensinar, tendo Dewey, Charlot e Freire como referenciais teóricos. Para um maior aprofundamento de conceitos relativos a Gêneros Textuais e especificamente o Gênero Poético e suas relações com o lúdico, a multiplicidade de sentidos e a criação, buscaremos autores como Bakhtin, Huizinga, Bosi, Tavares e Bordini. Ao escolhermos o texto poético para ser o principal objeto de apreciação nas oficinas , tínhamos como hipótese a de que o contato sistemático com esse gênero favorece a compreensão de si mesmo e do mundo, fazendo da linguagem poética uma ponte de interesses entre o indivíduo e a vida. DIÁLOGOS POÉTICOS EM SALA DE AULA: REALIDADE OU MAIS UM CONTO DA CAROCHINHA? Fernanda Cristina de CAMPOS – UFU [email protected] O estudo de textos poéticos em sala de aula destaca-se como um dos mais adequados instrumentos didáticos. Daí a necessidade de inserir a leitura de poesia desde as primeiras séries escolares. O jogo poético que se dá a partir da fruição de textos poéticos em sala de aula, de acordo com Nely Novaes Coelho, estimula o educando a olhar o mundo a sua volta e a experimentar novas vivências que, ludicamente, se incorporam em seu desenvolvimento psíquico e existencial. É por isso que este trabalho almeja refletir o papel humanizador da Literatura em sala de aula, em especial o poder da Poesia, no que tange o envolvimento dos sujeitos – professor-aluno – no processo de leitura/recepção/escrita de textos poéticos. Assim, serão discutidas as transformações em nível emocional e estético do educando quando este se depara com uma multiplicidade de leituras poéticas. Este trabalho tem ainda como objetivo discutir e ressaltar a importância do professor como o mediador por excelência dos diálogos poéticos em sala de aula, uma vez que, como afirma Antônio Cândido, a escola, tendo como apoio máximo do docente, é a instituição que garante não só ao aluno, mas a toda a comunidade escolar, o direito à fruição da arte e da literatura. Mesmo sabendo do poder transformador da poesia ao ser inserida no cotidiano escolar, é sabido que poucos docentes ousam trabalhar com tal instrumento tão poderoso e requintado. Teria uma justificativa para tal procedimento? É o que busca responder este trabalho. AVALIAÇÃO ESCOLAR: LEITURA, LITERATURA E O “DEVER DE CASA” André Luís Batista MARTINS – PMU [email protected] Neste artigo, abordo elementos do processo de avaliação escolar a partir do contexto específico da formação de leitores, focando a leitura literária. Trago a perspectiva diagnóstica e dialógica da avaliação, fundamentado em Luckesi (2004) que entende a avaliação como um processo de subsidiar a construção do melhor resultado possível e não apenas aprovar ou reprovar alguma coisa. Discuto a ideia da necessidade de uma abrangência maior do processo avaliativo. Do mesmo modo, os professores teriam a avaliação como parte do dia a dia de suas aulas. Parto do princípio de que a ação avaliativa deve constituir-se em um reflexo do trabalho em termos produtivos. Para que, assim, os alunos possam ser avaliados a partir da construção de um processo qualitativo/quantitativo de exposição e envolvimento com os conteúdos formais, principalmente no que diz respeito à leitura reflexiva. A avaliação não deve se pautar apenas pelo aspecto quantitativo de questões que esperam do aluno o julgamento certo ou errado, reguladas por parâmetros de apreciação do professor. No meu entendimento, o processo avaliativo deve valorizar os diferentes olhares que o aluno possui sobre o objeto estudado. Principalmente, quando se trata de leitura. De tal modo, entendo que tratar as habilidades de leitura implica promover ações pedagógicas que encaminhem o aluno para uma relação de identificação e pertencimento com o próprio ato de ler e com a obra literária. E, concluo que devemos sustentar o papel, eminentemente, político da avaliação como forma de julgar a qualidade do ensino oferecido, bem como apontar as responsabilidades adequadamente. 209 A ATUALIDADE DO MODELO DE ROMAN JAKOBSON Raul de Souza PÜSCHEL – IF-SP [email protected] O conhecido modelo das Funções da Linguagem de Roman Jakobson; que inclui as funções emotiva, conativa ou apelativa, fática, metalinguística, referencial e poética; pode parecer, pelo fato de ser repetido há muitos anos em salas de aula, como algo envelhecido e superado. No entanto, sem ter o caráter da abrangência total dos fenômenos linguísticos e comunicativos, consegue ainda hoje iluminar vários aspectos da comunicação, de sua tipicidade, de sua realização e da predominância de marcas que diferenciam os textos, inclusive em situação de enunciação. Dialoga tanto com a semiótica, quanto com a linguística. É possível ainda visualizar articulações produtivas com a teoria dos gêneros e, até mesmo, com a análise do discurso. Aqui, neste trabalho, se discutirá uma maneira de aprofundar sua discussão em sala de aula, o que, na prática, também capacita o aluno a melhorar aspectos da produção redacional, por lhe dar consciência de certos mecanismos. Além disso, será discutido como tal modelo ajuda a elevar e ampliar o nível de compreensão textual. Assim, a partir de um plano de aula, com seus desdobramentos na produção textual, proposta como atividade, será mostrado de que modo a competência linguístico-comunicativa, bem como a estilístico-redacional podem sofrer impactos positivos se o professor souber tirar bom proveito da teoria apresentada, pensando em propostas adequadas à seriação, mas que promovam também o crescimento do educando. Outrossim a concepção e a formulação de Jakobson serão reavaliadas, pensando-se nos atuais estudos da ciência da linguagem e da teoria literária. GRUPO TEMÁTICO 32: LÍNGUA PORTUGUESA EM FOCO COORDENADORES: Maria Madalena Teles de Vasconcelos Leite Dias Ferreira e TEIXEIRA (IPS/UL/Portugal) [email protected]; José António Brandão Soares de CARVALHO (Universidade do Minho – PT) [email protected] De facto, numa época em que se procuram soluções e respostas para as exigências de uma sociedade cada vez mais competitiva, urge refletir sobre a adequação e a pertinência de documentos reguladores, orientadores e investigativos do trabalho docente, no que respeita à língua portuguesa, face aos desempenhos exigidos aos futuros cidadãos participativos na vida ativa. Ora, tendo a língua portuguesa, de acordo com dados constantes na página do Observatório de Língua Portuguesa, 240,52 milhões de falantes no mundo, entre os que são nativos e aqueles que a atualizam como língua segunda – CPLP e RAE de Macau - um número bastante significativo e que lhe confere o sexto lugar no ranking das línguas mais faladas no mundo -, é pois premente (re)pensar teorias e práticas do português, muitas vezes desarticuladas entre si, e que, para os mais jovens, parecem afastar-se cada vez mais da realidade que os circunda, culminando em resultados estudantis pouco abonatórios. Muitas têm sido as tentativas de combate à realidade supramencionada, ou registandose um maior enfoque na teoria, ou observando-se uma maior centralização na prática, ou havendo mais intensidade na literatura, ou verificando-se um pendor mais elevado na linguística, não tendo, porém, esta disjunção apontada para um caminho certo. A falta de recetividade ao “outro” e a assunção de teorias e práticas tidas como únicas e inequívocas na sua aplicação, quando há aplicação, têm contribuído para uma fragmentação do conhecimento, tendo implicações nefastas, sobretudo, na era da coconstrução dos saberes. Enquanto “andarmos nisto, o puzzle continua por montar”. Uma língua, sem dúvida, é um “organismo” vivo, que se reveste de uma complexidade reveladora de várias faces: uma língua é um marco de cultura, é (co)construtora da identidade de indivíduos; é matriz de um percurso marcado pelas relações com o outro e onde se edifica o ser social; é o lugar onde se acolhe e se produz o conhecimento; é a matéria que abre o imaginário; é o espelho que revela uma cultura, seja coletiva, seja individual. Uma língua é um marco da existência 210 humana, promotora da dinâmica enraizada entres os povos, uma vez que suporta conflitos, interesses, partilhas. É ela que permite ser humano numa sociedade humana e que se pretende humanizada. Assim, consideram-se objetivos gerais deste grupo de trabalho: - promover e divulgar estudos sobre a língua portuguesa; - promover a investigação científica no âmbito da língua portuguesa; - contribuir para a articulação das diferentes componentes científicas que envolvem o estudo de uma língua; - contribuir para a consolidação do conhecimento científico; - articular estudos do português como língua materna e como língua não materna (PLM, PLE, PL2). A (IM)PRECISÃO ORTOGRÁFICA NO ENSINO BÁSICO E NO ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO DE CASO Madalena Dias TEIXEIRA – IPS/UL [email protected] A escrita tem sido e é motivo de estudo para muitos investigadores (Carvalho, 2011; Gomes, 1982 Barbeiro, 2008 Teixeira, 2011). No entanto, os contextos de insucesso, no que respeita a esta competência, parecem não diminuir ao longo do percurso académico dos alunos, tanto no que respeita à dimensão textual, como no que concerne à dimensão ortográfica. Apesar de não ser raro ouvir “os erros de ortografia ainda não são o pior”, “a ortografia é o mal menor”, considero que há que (tentar) encontrar soluções para esta ocorrência, não só porque se trata de uma imprecisão geradora consequências nefastas, mas também porque nós professores contribuímos para a preparação de indivíduos na vida ativa. Assim, o presente estudo surge no âmbito de imprecisões ortográficas diagnosticadas em alunos do primeiro ciclo do ensino básico e em alunos do 1º ciclo de estudos superiores e tem os seguintes objetivos: Identificar imprecisões ortográficas em ambos os ciclos; analisar comparativamente essas imprecisões, categorizando-as; apresentar os resultados obtidos, por esses alunos, depois de submetidos a uma aprendizagem explícita de ortografia. Estão envolvidas quatro turmas, sendo duas do 1º ciclo do ensino básico e duas do 1º ciclo de estudos superiores, perfazendo um total de 100 alunos. Os resultados apontam para uma melhoria de correção da ortografia, estando, todavia, o estudo ainda em curso. A AULA DE LÍNGUA MATERNA E SUAS PRÁTICAS DE LINGUAGEM: O (DES) ENCONTRO COM OS DOCUMENTOS OFICIAIS Vilma Nunes da Silva FONSECA – UFT [email protected] Esta comunicação apresenta uma pesquisa em processo que se encontra pautada numa discussão preliminar sobre a elaboração e utilização, enquanto ferramentas teóricas norteadoras das ações educativas, das Orientações Curriculares para o Ensino Médio e da Proposta Curricular do Estado do Tocantins – Secretaria de Educação e Cultura, com enfoque no confronto das perspectivas teoria e prática, iniciada durante a disciplina Investigação da Prática Pedagógica e Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa e Literatura, com alunos do Curso de Letras da Universidade Federal do Tocantins / Campus de Araguaína. Este estudo introduz em seu escopo uma reflexão diagnóstica acerca do ensino de Língua Portuguesa e suas práticas de linguagem com base nos gêneros discursivos, privilegiando a língua em seu contexto de uso e enquanto prática social constituída na e para a interação dos sujeitos. Objetiva-se verificar a relevância das OCEM, assim como da PCT– SEC para o fazer pedagógico do docente, no tocante à projeção de mudanças significativas da sua prática, com vistas no redimensionamento do ensino de língua portuguesa, postulado pelas investigações linguísticas do momento atual. Para isso, partiu-se de uma leitura crítica dos textos, como também dos marcos teóricos que lhes dão suporte, tendo como pressupostos os trabalhos desenvolvidos por BAKHTIN (1992), MARCUSCHI (2008), KOCH (2009), TRAVAGLIA (2009), NEVES (2004). Optou-se pela modalidade de pesquisa qualitativa, pois os seus procedimentos atendem às prioridades do estudo, sendo utilizados os seguintes instrumentais para efeito de registro 211 e análise dos fatos: observação de aulas, realização de entrevistas, aplicação de questionários, coleta de depoimentos e relatos dos professores, durante as visitas dos estagiários às escolas conveniadas. EXEMPLOS EM DICIONÁRIOS ESCOLARES BRASILEIROS Orlene Lúcia de Saboia CARVALHO – UnB [email protected] Responsáveis pela contextualização da palavra-entrada, em suas diferentes acepções, os exemplos aqui incluídas também as abonações são responsáveis por veicular, no eixo das combinações, informações de natureza diversa. Sua presença é, em princípio, imprescindível, uma vez que é por meio deles que se conhecem os reais usos da palavra, seus aspectos pragmáticos. Esse pressuposto, no entanto, não corresponde à realidade dos dicionários escolares brasileiros, nos quais a inclusão dessa categoria lexicográfica não costuma ser sistemática, salvo raríssimas exceções. Apesar da ausência de sistematicidade, os exemplos estão distribuídos pelos verbetes de todas as classes de palavras ? os critérios para tal seleção, se é que existem, não são esclarecidos nas propostas lexicográficas. Assim, com o intuito de contribuir para uma melhor compreensão das características dos exemplos, propomo-nos a analisá-los em verbetes de dicionários pertencentes a diferentes Tipos (aqui nos referimos à tipologia utilizada como parâmetro nas avaliações do Ministério da Educação: o PNLD-Dicionário de 2006 e de 2012). Na lexicografia pedagógica brasileira, encontram-se tanto dicionários que seguem o padrão lexicográfico tradicional, aproximando-se dos dicionários padrão, quanto aqueles cujos verbetes se apoiam nas definições oracionais, de natureza mais pedagógica. Portanto, nossa análise contemplará exemplos que se encontram separados das definições (padrão tradicional), bem como exemplos sintática e semanticamente integrados à definição oracional. Responsáveis pela contextualização da palavra-entrada, em suas diferentes acepções, os exemplos aqui incluídas também as abonações são responsáveis por veicular, no eixo das combinações, informações de natureza diversa. Sua presença é, em princípio, imprescindível, uma vez que é por meio deles que se conhecem os reais usos da palavra, seus aspectos pragmáticos. MACAU COMO ESPAÇO ARTICULADOR PRIVILEGIADO NA ÁSIA PARA A DISCUSSÃO SOBRE ENSINO E DIFUSÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO MUNDO Roberval Teixeira SILVA – UM [email protected] Nessa comunicação, temos como objetivo apresentar o contexto da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) como um espaço de referência para reflexões sobre o ensino e a difusão da língua portuguesa na Ásia e no mundo. Nesse espaço, evidenciam-se muitos aspectos que merecem discussões aprofundadas em termos técnicos e em termos sociopolíticos. Para desenvolver a nossa reflexão, então, focalizaremos o contexto específico da sala de aula de português como língua não materna (PLNM) das escolas luso-chinesas (escolas oficiais da RAEM) através da análise de materiais didáticos, uma vez que refletem o ambiente sociocultural que a língua portuguesa constrói e que por ela é contruído nesssa região. Trabalhamos com a perspectiva da Sociolinguística Interacional, assim tocaremos nas esferas políticas, socioculturais e linguísticas no tratamento desses instrumentos-lugares pedagógicos. A partir deles, discutiremos a questão do português como uma língua de cultura mundial, como língua internacional, que, embora também seja um espaco de lutas e de encontros, é sem dúvida vista, pelos sujeitos que são constituídos por/com ela, tanto falantes nativos quanto não-nativos, como um traço cultural comum a todos. Procuraremos abordar o apagamento de diferenças, a ingenuidade harmônica e também o sentimento de conexão que está presente no termo lusofonia para ressignificar essse conceito, adotando uma perspectiva que assume a singularidade e as diferenças das comunidades que vivem em português nos quatro cantos do mundo. Para finalizar, ilustraremos a atuação da Associação Internacional de Linguística do Português (AILP), que escolheu Macau como sede até 2013, como uma entidade internacional, interinstitucional e também interdisciplinar, sem fronteiras ou filiações políticas a estados, que 212 assume, como estratégia mestra de trabalho, a conexão. O espaço de Macau passa a ser, então, um lugar estratégico para esse trabalho de promoção de projetos de cooperação internacional e de referência para o ensino da língua portuguesa. A discussão que levantaremos poderá servir como colaboração ao propósito desse simpósio que é o de buscar caminhos para aproximações e ações conjuntas em prol de um tratamento mais politicamente consciente, produtivo e plural para a língua portuguesa no mundo. RELAÇÃO TEORIA/PRÁTICA NA FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES DE LÍNGUA PORTUGUESA Lúcia de Fátima SANTOS – UFAL [email protected]; [email protected] Embora exista uma diversidade de trabalhos com reflexões sobre possibilidades de alterações no ensino de língua portuguesa, as evidências sobre as dificuldades de aprendizagem dos alunos são reiteradas frequentemente pela mídia e em pesquisas realizadas em diferentes áreas de estudo. Porém, conforme afirma Moita Lopes (2001), somente a compreensão do que ocorre na sala de aula oferece condições para o conhecimento acerca do modo como acontece a aprendizagem do aluno e sobre a forma como o professor ensina. Nesse sentido, as contribuições para o ensino e aprendizagem de língua portuguesa fundamentadas na perspectiva da área de Linguística Aplicada (LA) oferecem condições de interferências efetivas nessa realidade, porque são dados obtidos num caráter processual, analisados sob uma conjugação diversificada de olhares teóricos, tal como exige a heterogeneidade de questões que emergem nas práticas cotidianas de uma sala de aula. Com base na perspectiva teórico-metodológica da LA, nesta comunicação tem-se como objetivo discutir as orientações teórico-metodológicas adotadas por professores em formação inicial em oficinas de leitura e escrita de textos em língua portuguesa, ministradas para alunos do ensino fundamental, observando as posições que permeiam a fala do professor na prática da sala de aula. Trata-se de dados provenientes de um trabalho de ensino e pesquisa desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), em escolas públicas de Maceió. De acordo com resultados até então obtidos, observa-se que as orientações teórico-metodológicas que fundamentam a formação do professor, sobretudo aquelas discutidas no PIBID/Letras/UFAL, propiciam mudanças tanto na atuação desses professores quanto na aprendizagem dos alunos. Os dados confirmam a importância de o professor atuar como sujeito reflexivo, analisando a sua própria prática, para que possa construir alternativas para dificuldades enfrentadas no cotidiano pedagógico. A ESCRITA NO ENSINO SUPERIOR – (DES)CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM? Madalena TEIXEIRA – IPS [email protected] Roberto Carlos Macedo AZEVEDO – ESSE/IPS [email protected] Reconhecendo a importância da escrita ao longo de todo o percurso escolar do aluno e entendendoa diretamente relacionada com o seu sucesso, vários estudos têm vindo a ser realizados, reforçando a relevância desta competência (Carvalho, 1989; Barbeiro & Pereira, 2008; Azevedo & Teixeira, 2011). Tais investigações sugerem que a maioria dos alunos tem grandes dificuldades na expressão escrita, nomeadamente ao nível da argumentação e autocorreção, considerando-se que os doze anos de escolaridade não garantem o domínio da ortografia. Assim, este estudo pretende avaliar a competência de escrita – de acordo com Teixeira, 2010 - que os alunos universitários revelam, especificamente na produção de textos do género argumentativo. Os resultados analisados demonstram que os estudantes apresentam muitas dificuldades no decorrer do processo de escrita, desde a falta de estratégias adequadas ao objetivo do texto ao desconhecimento da sua própria estrutura. A maioria dos alunos revela ainda a necessidade de orientações claras e supervisão do professor no decorrer de todo o seu trabalho. 213 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS E A REFLEXÃO DA SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA Morganny RIBEIRO – [email protected] Sandra Jardim de Menezes FERREIRA – UEG [email protected] A formação inicial de professores de línguas tem dado vazão apenas a aspectos eminentemente técnicos utilitaristas durante a formação. No entanto, o ensino teórico deveria estar estritamente ligado ao ensino prático, a fim de proporcionar uma formação profissional com qualidade e com a verdadeira proposta que lhe compete. Para esta sincronia perfeita (teoria e prática), tornam-se necessárias práticas discursivas que funcionam como análise e reflexão sobre a problemática do ensino, a fim de promover transformação e consequentemente a formação de professores críticos, pesquisadores da sua própria prática. A formação não é limitada, pelo contrário, merece ser contínua devido à complexidade da prática pedagógica a se estender além da sala de aula, com vistas à promoção de saberes docentes alicerçados à crítica. A formação continuada não se resume em pós-graduação, e outros, mas também no esforço individual de cada profissional em planejar a aula, estudar o conteúdo e total domínio e confiança aliado às leituras teóricas sobre complexidade que enfrenta. Este trabalho é de cunho qualitativo, feito a partir de questionários abertos respondidos por professores em formação continuada de uma universidade do interior do Goiás, que optaram por uma formação continuada, dando ênfase, também, à sua formação inicial, Através dos questionários comprovamos que a formação continuada se tornou essencial no desempenho profissional e a importância de ser professor crítico-reflexivo e pesquisador. Enfim, o hábito de pesquisar, se torna uma recorrente sinalização para uma opção construtiva da docência, a fim de multiplicar o conhecimento sobre os processos de ensino. GRUPO TEMÁTICO 33: LÍNGUA PORTUGUESA NO ESPAÇO E NO TEMPO SOB AS MACROPERSPECTIVAS FORMALISTA E FUNCIONALISTA: UMA VISÃO PANCRÔNICA E PANTÓPICA COORDENADOR: Marcelo Moraes CAETANO (UERJ/IBMR) – [email protected] O objetivo deste GT é a exposição e discussão das epistemologias, teóricas e empíricas, que visem à elucidação dos fenômenos da Língua Portuguesa ocorridos no espaço e no tempo (perspectiva pancrônica), sob os pontos de vista Formalista (estrutural) e Funcionalista (discursivo) em Linguística, e como essas epistemologias se complementam ou, até, se contrapõem. Com esses cotejos recíprocos, busca-se a consubstanciação de construtos teóricos que permitam visões passíveis de ampliação do ensino da língua. Assim sendo, pelas perspectivas pacrônica e pantópica, e sob o diálogo contínuo do Formalismo com o Funcionalismo, podem-se entrever pesquisas mais específicas da Filologia e da Linguística, tais como a etimologia, os processos/paradigmas de gramaticalização e lexicalização, a gramaticografia, a lexicografia, as sociolinguísticas variacionista, interacional, dinâmica, a linguística aplicada, a pragmática. Tendo em vista que todas essas áreas de pesquisa contribuem com casos concretos e arcabouços teóricos, que possuem interdependência, este GT poderá 1) partir de resultados de pesquisas já efetivadas, numa análise que procure levar a conclusões; 2) partir de hipóteses teóricas que necessitem de empiria ou fundamentos argumentativos a fim de tornarem-se teses; 3) promover o diálogo entre essas duas metodologias de pesquisa. Tudo isso, ressalte-se, com o fito ulterior de ampliar as fronteiras do ensino da Língua Portuguesa aos discentes dos diversos níveis estudantis: fundamental, médio, superior. Por fim, convém reiterar que o Formalismo e o Funcionalismo possuem gamas teóricas suficientes para ensejar pesquisas que abarquem a trajetória da Língua Portuguesa no espaço e no tempo, fomentando hipóteses e teses que ajudem a elucidar questões prementes tanto num nível sincrônico, como diacrônico, e tanto na sua unidade normativa, como em sua pluralidade diafásica, diastrática, diatópica. 214 A DIDATIZAÇÃO DOS GÊNEROS POPULARES NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Célia Zeri de OLIVEIRA – UFPA [email protected] A proposta deste trabalho é de trazer para a discussão as propostas de ensino-aprendizagem de língua materna por meio dos gêneros do discurso na perspectiva dialogal baktiniana, pois apesar de haver o consenso do ensino de linguagem centrado no texto, na prática pedagógica diária, a circulação de textos nas escolas ainda não atingiu a dimensão textual-discursiva, uma vez que pressupõe a concepção de linguagem centrada na interlocução, tratando o texto de forma diferenciada, com formas diferentes de textualização em situações distintas de interlocução. Os objetivos consistem em fornecer subsídios para que os professores de linguagem possam superar as dificuldades em trabalhar com a didatização dos gêneros em sala de aula, levando em consideração que mesmo para aqueles que se propõem a realizar um trabalho dialógico, ainda faltam recursos metodológicos que deem suporte para fazer a associação entre a teoria e a prática. Dentre as inúmeras possibilidades em se didatizar os gêneros para o ensino de língua materna, destacamos o trabalho com os contos, mitos e lendas da região amazônica do Brasil, pelo fato de haver nesse contexto sócio-histórico-cultural uma imensa riqueza desses gêneros, variedades essas que caracterizam a peculiaridade cultural da região, a qual, mesmo levando em conta a colonização portuguesa, tem no povo a característica marcante da intensa miscigenação, resultado das matrizes étnicas lusitana e ameríndia, acrescida pelos negros africanos. Os resultados apontam para o caráter explicativo que o mito e a lenda possuem em nossa sociedade, que por meio da composição textual simples tematiza questões complexas da sociedade, como o amor, o ódio, o desejo de vingança, a atração pelo incomum, além da percepção dos recursos macroestrutural e microestrutural dos textos. COMPETÊNCIA DISCURSIVA E REFLEXÃO GRAMÁTICAL NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Willie Macedo de ALMEIDA – UFMS [email protected] Raimunda Madalena Araújo MAEDA (PPGMEL/ UFMS) mailto:[email protected] A partir de 1998, com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados pela Secretaria de Ensino Fundamental do Ministério da Educação mediante a colaboração de muitos educadores brasileiros, os objetivos da educação se reorganizam a fim de construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. No caso do ensino de Língua Portuguesa, o domínio da linguagem passa a ser concebido como uma atividade discursiva e cognitiva. Nessa perspectiva, esta comunicação apresenta resultados parciais da pesquisa em andamento, na qual se investiga a incoerência entre os métodos de ensino de língua materna perpetuados pelas práticas pedagógicas nas escolas e a proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. O problema foco central da pesquisa são duas situações instauradas na escola: de um lado, a maioria das escolas de ensino fundamental e médio, no que se refere ao ensino da língua portuguesa, ainda voltado para atividades de exercitação da metalinguagem, i.e., na simples transmissão de conteúdos, na taxonomia de formas, definição gramatical, quadros de flexão, classificações, tanto de base nocional como de base morfológica e sintática, etc.; do outro lado, os PCNs que orientam o ensino da língua portuguesa pautado em atividades de reflexão e operação sobre a linguagem, visando o desempenho linguístico dos alunos nas diversas instâncias comunicativas. Esta pesquisa é de caráter qualitativo, na qual serão analisados os procedimentos metodológicos e teóricos utilizados pelos professores de língua portuguesa; observação das aulas; e análise das produções escritas dos alunos. A análise dos dados coletados dar-se-á por meio da revisão das propostas curriculares e da (re)aplicação das concepções teóricas que os embasaram. 215 MALABARISMOS LEXICAIS NA LITERATURA: OS NEOLOGISMOS VISITAM A SALA DE AULA Solange Maria Moreira de CAMPOS – UFMG [email protected] A análise das formações neológicas presentes em produções literárias brasileiras contemporâneas para crianças e jovens permite verificar que tais inovações contribuem fortemente para a ampliação vocabular dos alunos leitores, além de demonstrar que o trânsito dos novos itens lexicais nelas encontrados mostra uma das principais contribuições dos neologismos para a literatura: dar dinamismo ao texto por seu caráter lúdico e bem-humorado. Na literatura, os neologismos causam surpresa e estranhamento ao leitor, proporcionando expressividade. O contexto é que determinará se o neologismo tem ou não valor para aquela obra. É preciso considerar, ainda, que os recursos expressivos da língua, ao transitarem esteticamente no cenário textual, em seus vários planos (fonológico, morfossintático e léxico-semântico), dão forma à linguagem literária, resgatando o jogo verbal no que tange não só à correção e à adequação, mas à inventividade linguística. Autores criativos trazem para suas produções uma linguagem inovadora, reflexo de um tempo iconográfico e célere, totalmente divorciada dos “inhos”, que menosprezam a inteligência do aluno/leitor, do didatismo e das lições de moral. Em tais obras, a palavra criada é bailarina, natural, neológica e desliza sobre a tessitura textual exercendo malabarismos de toda ordem: sintáticos e semânticos. Com esse estudo, pretende-se demonstrar a função lúdica dos neologismos na literatura destinada a crianças e jovens, como também atiçar a curiosidade de leitores e professores para uma das particularidades do dinamismo da língua – a criação neológica – e oferecer mais uma possibilidade de leitura dos textos de ficção na sala de aula. Por outro lado, busca-se pontuar um dos elementos básicos da poética contemporânea – a renovação lexical – que se realiza no tecido textual por meio da valorização dos recursos oferecidos pela língua e, a partir dela, sugerir uma nova possibilidade dos estudos linguísticos e da literatura na escola. O ENSINO DE LÍNGUA MEDIADO POR SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA NO CURSO DE DIREITO Maria Aparecida de SOUSA – UNICEUB [email protected] O ensino de língua portuguesa no ensino superior traz desafios específicos, uma vez que os estudantes, quando ingressam nos cursos escolhidos, buscam conhecimentos específicos das novas áreas pelas quais optaram e consideram menos relevantes as aprendizagens ligadas à leitura e à escrita. Tradicionalmente, o ensino de língua no primeiro semestre dos diferentes cursos de graduação debate-se com objetivos distintos, entre eles o de revisar conteúdos curriculares pertinentes à educação básica, o que diminui o interesse dos estudantes e sua implicação nas atividades de sala de aula. Essas reflexões levaram um grupo de professores de uma instituição particular do Distrito Federal a introduzir o ensino de língua portuguesa por meio de sequências didáticas e a incluir gêneros textuais próprios de cada área de formação como objeto de leitura e de escrita. Este artigo tem por objetivo apresentar uma experiência de produção, revisão e refacção do gênero textual petição, no curso de Direito, enfocando a revisão lingüística mediada por tabela de correção textual. Como referencial teórico, foram adotados os estudos de gênero textual, a linguística textual e as sequências didáticas. Como orientação metodológica, foi utilizada pesquisa qualitativa, e os dados, obtidos por meio de entrevista com um grupo de 40 estudantes de uma das cinco turmas do curso de Direito sob orientação da mesma professora. Além da entrevista, também foi analisada a primeira e a segunda versão de dez textos escolhidos aleatoriamente. Concluiu-se, tanto pela resposta dos estudantes quanto pela análise das produções, que as estratégias utilizadas conduziram à aprendizagem e deram um novo significado ao ensino de língua no primeiro semestre do curso de direito na turma investigada. 216 TRANSPARÊNCIA x OBSCURIDADE NA ETIMOLOGIA DAS PALAVRAS Afranio da Silva GARCIA – UERJ [email protected] Causa espanto como certas palavras usadas frequentemente dão pistas sobre sua origem etimológica, semque os falantes sequer percebam estes indícios, às vezes gritantes. Este trabalho pretende apresentar uma série de palavras cuja origem, se prestarmos atenção na sua forma ou no seu conteúdo, é extremamente óbvia, tão óbvia que, quando ela nos é explicada, achamos graça de nunca termos percebido tais semelhanças antes. Por vezes, estas palavras são transparentes por sua natureza semântica, consistindo apenas em um novo uso de conteúdos semânticos já bastante conhecidos, como é o caso de avião, que nada mais é do que o aumentativo de ave, gerando a catacrese que agora denomina vários tipos de máquinas de voar. Outras vezes, constituem uma variante morfológica ou morfossintática de palavras comuns, para enfatizar o fato de estarem sendo usadas num sentido específico ou restrito, como ocorre com porto, que nada mais é do que uma porta para o mar; barca, um tipo específico de barco. Muitas vezes, as palavras sofrem modificações fônicas, que obscurecem sua origem, ainda assim bastante transparente, como é o caso da nome do autor deste artigo, proveniente do latim africaanius, termo que designava os romanos que nasciam na África. Por último, temos onomatopéias que há muito deixaram de ser sentidas como tal, passando a constituir novos vocábulos da língua portuguesa, o que aconteceu com bambambã, que representava o barulho de um chefe dando socos na mesa e passou designar os chefes, os poderosos; ou o termo popular xixi, que reproduzia o som de um esguicho, e hoje é usado sem que sequer se cogite da sua origem. GRUPO TEMÁTICO 34: LÍNGUA PORTUGUESA PARA FINS ESPECÍFICOS: CONTRASTES E CONFRONTOS COORDENADORES: Sandro Luis da SILVA (UNINOVE) – [email protected]; Cirlei Izabel da Silva PAIVA (PUC/SP) – [email protected] As mudanças sociais, políticas, econômicas e as próprias políticas institucionais das universidades brasileiras têm exigido dos cursos superiores novas posturas face ao processo de ensinoaprendizagem, cujo objetivo é promover uma formação inicial mais abrangente, considerando a complexidade presente na vida diária das pessoas que vivem nas diferentes áreas profissionais. Várias diretrizes são elaboradas pelos órgãos oficiais demonstrando preocupação com o ensino da língua portuguesa e seu uso nos diferentes meios sociais. E muitas pesquisas se voltam para esse fim, ou seja, compreender como se dá o processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa no curso superior. É preciso desenvolver nos alunos posturas com dimensões ampliadas em relação à autonomia, à criticidade e a uma formação permeada por um processo reflexivo e o estudo da língua é um meio para atingir este objetivo. Este grupo de trabalho abre espaço para reflexões e socialização de atividades de leitura e de produção textual desenvolvidas e a respectiva avaliação em diferentes cursos de formação inicial (diferente de Letras). Assim, busca discussão sobre metodologias e possibilidades de avaliação de atividades de língua portuguesa junto a um público não especializado em estudos de linguagem. São bem vindas as pesquisas voltadas para práticas pedagógicas que envolvam a leitura e a produção textuais, levando-se em consideração as competências comunicativas, sobretudo as que envolvem o estudo da língua portuguesa, as quais são exigidas para o exercício acadêmico e profissional, além de levantar questões sobre a eficácia das propostas que têm sido executadas nos Projetos Pedagógicos de Cursos de formação inicial na tentativa de cumprir as orientações dos documentos oficiais em relação ao desenvolvimento de competências comunicativas. Enfim, este grupo aborda o ensino de Língua Portuguesa em suas possibilidades práticas diversificadas, na formação de profissionais que atuarão em áreas cujo foco não é o estudo da linguagem, mas a ação por meio dela. 217 ANÁLISE E RETEXTUALIZAÇÃO DE GÊNERO: DO TRABALHO ESCOLAR À REVISÃO DE LITERATURA Marli Hermenegilda PEREIRA – UFRRJ [email protected] Maria Augusta G. de Macedo REINALDO – UFCG [email protected] Gêneros acadêmicos como resenha, artigo de pesquisa, monografia, entre outros, por serem produzidos e circularem na universidade, tendem a ser desconhecidos dos alunos ingressantes. Nesse sentido, a prática de leitura e produção desses gêneros torna-se condição indispensável para a inserção desses discentes na comunidade discursiva acadêmica (MOTTA ROTH, 2009; ARANHA, 2009; MARINHO, 2010; LIMA & GONÇALVES, 2010). Sustenta-se, neste trabalho, que o ensino da escrita deve ser uma prática situada no universo acadêmico, levando em conta os conhecimentos prévios dos alunos e suas necessidades, aspectos que evidenciam a preocupação com o ensino de língua materna para um fim específico (HOLMES, 1981, apud CINTRA & PASSARELLI, 2008, p.60). Alinhando-se a essa perspectiva, esta comunicação tem por objetivo descrever a experiência com o ensino da escrita acadêmica, realizada na Disciplina Português Instrumental, oferecida aos graduandos do primeiro período do curso de Computação, da UFCG. Defende-se, aqui, o papel da análise de gênero (BAWARSHI & REIFF, 2010) e da retextualização (MATÊNCIO, 2002; DELL’ISOLA, 2007) como estratégias que propiciam a inserção do graduando nas práticas discursivas da esfera acadêmica. Considerando que a retextualização se configura como um procedimento metodológico produtivo para alcançar esse objetivo, os alunos foram conduzidos a retextualizar o trabalho escolar, produzido por ocasião dos seminários, em um artigo tutorial. As estratégias de análise e de retextualização de gêneros favoreceram a ampliação da rede de contatos com os membros mais experientes da comunidade acadêmica, a apropriação de conhecimentos relacionados ao curso, e, finalmente, o desenvolvimento da reflexão acerca das normas que regulam a organização e o funcionamento do discurso acadêmico-científico. Enfim, esses procedimentos metodológicos se alinham à proposta do ensino de língua materna para fins específicos, acadêmico e profissional. O PORTIFÓLIO ELETRÔNICO COMO ESTRATÉGIADE PRODUÇÃO TEXTUAL EM CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE: REFLEXÕES Sandro Luis da SILVA – UNIFESP [email protected] A escrita constitui-se em um processo que proporciona aos alunos a possibilidade de, por meio do texto, registrar o seu modo de ver o mundo, as possíveis leituras que se fazem da realidade em que está inserido. Em um curso de formação inicial, como, por exemplo, o de Tradutor e Intérprete, o futuro profissional precisa ter um espaço para refletir sobre a leitura e escrita, assim como momentos para desenvolver essashabilidades tão importantes no futuro exercício da profissão. Tendo em vista essas considerações, esta comunicação objetiva apresentar os resultados (ainda que preliminares) de uma experiência na prática docente em relação ao trabalho de produção textual com alunos do primeiro período do curso de Tradutor e Intérprete, em uma universidade privada da cidade de São Paulo, na disciplina Leitura e Produção Textual. Pretendem-se levantar algumas reflexões sobre o processo de escrita a partir da análise de portfólios eletrônicos elaborados pelos alunos, nos quais eles registraram suas impressões, dificuldades e superações no processo de ensino-aprendizagem de escrita durante o semestre em relação à disciplina. Acreditando em uma avaliação processual, a idéia de elaboração de um portfólio eletrônico surgiu-nos por alguns fatores, dentre os quais podemos o fato de o portfólio constituir-se em um instrumento que vem a auxiliar 218 nos procedimentos (auto)avaliativos no processo de ensino-aprendizagem. A análise, quanto ao processo de escrita, está pautada, sobretudo, em Koch & Elias (2007, 2008) e em Marcuschi (2001), em Schneuwly & Dolz (2004) quanto aos gêneros textuais e, em relação ao portfólio como estratégia de avaliação, em Hernández (2000). Observou-se que os alunos apresentaram um olhar crítico não só para a própria produção textual, como também para as estratégias de ensino que versam a produção textual de diferentes gêneros, em especial, as que objetivam a formação acadêmica. POSICIONAMENTOS ACADÊMICOS SOBRE AS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA EM CURSOS DE ENGENHARIA: ESTUDO DE CASO Renata dos SANTOS – UNIFEI [email protected] Esta pesquisa foi realizada no 2º semestre de 2011, cuja população foram graduandos em engenharia de uma universidade pública federal do interior de Minas Gerais. O objetivo deste artigo é mostrar o posicionamento desses discentes quanto à validade das aulas de Língua Portuguesa para o aprimoramento da escrita profissional. Por meio desta, ocorre a interlocução, na qual o autorescritor manifesta seu pensamento, suas prioridades e seus ideais ao autor-leitor. Quando a interlocução ocorre na forma escrita, torna-se essencial a sólida formação acadêmica para essa situação, aprimorada ao longo da atuação profissional. Durante a formação acadêmica, esse processo de aprimoramento da escrita deve estar pautado legal e didaticamente. Existem várias legislações que respaldam a validade da comunicação escrita no ambiente profissional, tais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 2010) e Resoluções do Conselho Nacional de Educação (2002) e do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (2005). Em relação aos aspectos didáticos, é salutar levar em consideração a realização de atividades que desenvolvam o protagonismo, a aprendizagem significativa e a relação entre teoria e prática. O protagonismo é uma forma de o discente nortear suas formações acadêmica e profissional, preparando-se por meio da aprendizagem significativa, por meio da qual se atribui significado à aprendizagem. Dessa forma, a relação entre teoria e prática será mais sólida. A coleta de dados ocorreu por meio do Google Docs, cujo questionário foi encaminhado por e-mail a todos os graduandos que assistiram às aulas, no 1º semestre de 2011, da disciplina em questão. Os resultados demonstraram que os discentes se posicionaram favoráveis à validade das aulas de Língua Portuguesa, em cursos de engenharia, como forma de aprimoramento da atuação profissional com foco na comunicação escrita. PRÁTICAS DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL NO CONTEXTO DE ENSINOAPRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA FINS ESPECÍFICOS Giovanni Ferreira PITILLO – UFU [email protected] Pollyanna Zati FERREIRA – UFU [email protected] O ensino de português como língua estrangeira existe na Universidade Federal de Uberlândia, como projeto de extensão, desde o ano de 2000 institucionalizando-se em 2008 quando da parceria com a Diretoria de Relações Internacionais e Interinstitucionais, que recebe em média 25 alunos estrangeiros por ano, no primeiro e no segundo semestres. O trabalho com a língua portuguesa se desenvolve nessa curso sob a perspectiva da abordagerm comunicativa de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras . Os alunos de mobilidade estudantil fazem dois módulos, um por semestre. No primeiro semestre são trabalhados conteúdos comunicativos básicos para o estabelecimento de 219 contatos orais e escritos em língua portuguesa. No segundo semestre são abordados aspectos linguísticos que priorizam a leitura e compreensão de textos privilegiando aqueles que subsidem as práticas discursivas do cotidiano, assim como as da academia.Esse segundo módulo pretende responder às necessidades do uso efetivo da língua portuguesa,na modalidade da escrita, que se constitui em condição básica de registro de seus estudos acadêmicos específicos de suas áreas de atuação A produção textual desses alunos-estrangeiros é reveladora do processo de produção escrita do “universo linguístico” que subjaz no falante-escritor estrangeiro que se vê obrigado a gerenciar as intercorrências linguisticas de sua língua materna no confronto com a língua portuguesa, aqui compreendida como estrangeira.O objetivo dessa comunicação é refletir sobre esse processo de escritura a partir de algumas produções escritas dos alunos estrangeiros promotoras do uso da língua portuguesa como língua estrangeira, para fins específicos; assim como apresentar resultados dessa produção textual enquanto ferramentas comunicacionais que vão além do uso básico de elementos linguísticos e que se ancoram em questões culturais individualizadas componentes de uma maior eficácia de suas prátticas discursivas cotidianas e acadêmicas. RELATÓRIO DE PALESTRA: UMA PORPOSTA DE ENSINO PARA CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO E ENGENHARIA DA COMPUTAÇÃO Luciane Cristina Eneas LIRA – UnB [email protected] Rosi Valéri Corrêa ARAÚJO – UnB [email protected] Este trabalho apresenta resultados de uma experiência de ensino de Língua Portuguesa na graduação em Ciência da Computação e Engenharia da Computação, por meio de sequência didática (SD). A proposta de trabalho por meio dessa metodologia de ensino foi inicialmente concebida com o intuito de se explorar elementos linguísticos pontuais para produção de textos comuns à realidade acadêmica dos discentes. A partir da teorização e organização dos gêneros textuais, apoiadas nas premissas da Linguística Textual (KOCH, 2004) e nos conceitos sociointeracionistas, fundamentados em Dolz e Schneuwly (2004a; 2004b), foi elaborada uma sequência didática sobre ética profissional, sendo trabalhada a produção, revisão e refacção do gênero textual relatório de palestra. O foco da análise de aspectos linguísticos da sequência didática deu-se na referenciação, especialmente na articulação dos significados em textos escritos por meio de cadeias referenciais. Para tanto, foram acessadas contribuições teórico-metodológicas nos estudos de Roncarati (2010) e Koch (2008 e 2009). A escolha do gênero relatório de palestra para produção textual surgiu por conta de uma demanda dos próprios cursos de Ciência da Computação e Engenharia da Computação, pois são textos comumente solicitados aos alunos por ocasião de sua frequente participação em eventos acadêmicos. Além do mais, trabalhar o gênero relatório de palestras constitui uma oportunidade importante para se explorar elementos textuais comuns a relatórios técnicos que serão abordados em semestres seguintes do curso. Os resultados indicam que o trabalho com SD propicia maior reflexão e compreensão dos elementos linguísticos constituintes do gênero, assim como maior envolvimento dos alunos no processo de leitura e produção textual. RESUMO ACADÊMICO EM SALA DE AULA: UMA EXPERIÊNCIA COM GRADUANDOS DE GEOGRAFIA Elizabeth Maria da SILVA – UFCG [email protected] O componente curricular Língua Portuguesa é obrigatório na maioria dos cursos oferecidos na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), bem como em outras instituições de ensino 220 superior, sejam públicas, sejam particulares. A ementa desse componente refere-se, de modo geral, à leitura e à produção de gêneros acadêmicos orais e escritos – resumo, resenha, artigos científicos, relatórios, exposições orais, seminários, entre outros. Quando se ministra essa disciplina, espera-se que os alunos demonstrem motivação/interesse pelos conteúdos estudados, bem como desempenho satisfatório nas atividades propostas. Para tal, faz-se ser necessário planejar a referida disciplina de modo a atender às necessidades acadêmicas dos discentes, selecionando para a leitura textos cuja temática seja do interesse da área na qual estão inseridos e para a escrita, gêneros requeridos nas disciplinas contempladas na grade curricular do curso que estão estudando. É nessa perspectiva que se situa este trabalho – apresentar um relato de experiência com o objetivo de descrever e analisar uma proposta metodológica relativa ao ensino da escrita acadêmica, mais especificamente do gênero resumo acadêmico, para graduandos em Geografia, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Fundamenta-se nos estudos de ESP (English for Specific Purposes) e na teoria das necessidades (CINTRA & PASSARELLI, 2008). A aplicação da proposta metodológica evidencia motivação e interesse dos alunos pela escrita do resumo, seja porque a temática abordada no textofonte (violência contra a mulher) é alvo de discussão na subcomunidade discursiva acadêmica em que estão inseridos (curso de Geografia), seja porque o gênero solicitado para produção é bastante requerido tanto nos componentes curriculares que estavam cursando naquele período letivo (2011.1) quanto em outros que ainda iriam cursar. AVALIAÇÃO DE GRADUANDOS ACERCA DO ENSINO-APRENDIZAGEM NA DISCIPLINA LÍNGUA PORTUGUESA Patrícia Fabiana Nascimento de OLIVEIRA – UFCG [email protected] Ao ingressarem na universidade, muitos alunos não trazem consigo competências necessárias para produzirem os gêneros científicos requisitados nesse nível de ensino. Desse modo, parece necessária a inclusão de uma disciplina no currículo das universidades que forme esses alunos no tocante às práticas letradas exigidas na comunidade discursiva acadêmica na qual estão começando a se inserir. Tendo em vista que uma disciplina dessa natureza já vem sendo ministrada na UFCG, Língua Portuguesa, procurou-se analisar a visão de graduandos a respeito do processo de ensinoaprendizagem desse componente curricular após tê-lo cursado. Para tal, foi realizada uma pesquisa de caráter descritivo-interpretativa, cujo corpus foi constituído por cento e vinte e dois (122) alunos da instituição já referida. Foi aplicado com esses sujeitos um questionário estruturado com perguntas objetivas e subjetivas no final do período letivo 2011.2. Os dados coletados foram analisados com base nos estudos de gêneros na tradição sociorretórica (HEMAIS & BIASIRODRIGUES, 2007; CARVALHO, 2007), bem como nos princípios norteadores do ensino de gêneros para fins específicos (SWALES, 1990; BAWARSHI & REIFF, 2010). Os resultados obtidos evidenciaram que os alunos acreditam que a disciplina supracitada deve fazer parte dos currículos dos cursos de graduação da UFCG e que o foco desta deve ser no trabalho com a leitura e, principalmente, com a produção de gêneros acadêmicos. Além disso, tais discentes defendem que língua portuguesa deve ser ministrada com o objetivo de atender às suas necessidades acadêmicas específicas. Os participantes da pesquisa fizeram, assim, uma avaliação positiva da disciplina, pois, quando a cursaram, o professor parece ter tido a preocupação de planejá-la de modo a atender, de forma geral, aos interesses acadêmicos do público-alvo para o qual estava sendo ministrada. ENSINO DO LÉXICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA: INVESTIGAÇÃO REALIZADA EM MATERIAL DIDÁTICO Izabel Cristina Silva DINIZ – CEFET/MG [email protected] 221 No Brasil, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tornou-se uma modalidade de ensino da rede pública natentativa de interferir no alto índice de analfabetismo do país. No entanto pouco se conhece sobre como se dá a ampliação e a renovação lexical em adultos analfabetos em processo de alfabetização, uma vez que, as pesquisas publicadas sobre esse tema geralmente investigam a aquisição do léxico em crianças e a inovação em adolescentes ou jovens estudantes. Além disso, nas últimas décadas, tem se dedicado ao estudo do léxico um grupo reduzido de linguistas; o que, muitas vezes, dificulta a capacitação de professores e a elaboração de material didático que contemple de forma eficiente e eficaz o ensino do vocabulário de uma determinada língua. Diante disso, este trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre o ensino do léxico de língua portuguesa na Educação de Jovens e Adultos. Para efetiva concretização do objetivo aqui proposto, investigou-se o livro didático adotado no ano letivo de 2010 pela Secretaria Municipal de Educação da cidade de Belo Horizonte. Essa investigação foi pautada, principalmente, nos estudos realizados por Biderman (1996 e 1998), nos quais a autora estabelece as palavras de maior ocorrência no Português brasileiro. Os resultados demonstram que o material didático adotado pela rede municipal de educação de BH serve de apoio para o professor, porém não sendo suficiente para o ensino eficaz e eficiente do léxico. Isso aponta para a importância de se contemplarem, na formação de professores, não só questões sobre Letramento mas também sobre o estudo do Léxico. ENSINO-APRENDIZAGEM NO ENSINO SUPERIOR: UMA PRÁTICA POSITIVA Ariádne Castilho de FREITAS – UNITAU [email protected] Este resumo relata como se dá o processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa em uma universidade no interior paulista. A disciplina Português Instrumental, com 136 horas, é obrigatória nas séries iniciais dos 49 cursos da instituição e tem como escopo trabalhar a leitura e a produção de gêneros discursivos acadêmicos e profissionais. Tem-se por hipótese que o aluno deve ser despertado para ler e redigir esses gêneros e se tornar um cidadão crítico e atuante; para tanto, a prática pedagógica do professor é importante para interagir com o aluno e construir o conhecimento linguístico do acadêmico e futuro profissional. Considerando isso, estruturou-se, em 1987, um grupo denominado Grupo de Estudos de Língua Portuguesa (GELP), em atividade até hoje. Ele é formado por professores doutores e mestres, todos aprovados em concurso público e com longa prática, que não trabalham isoladamente. O material didático, apostilado, com aporte teórico nas contribuições, dentre outros, de Bakhtin (1992), Solé (1998) e Kleimam (1989, 1993, 1995), é construído de forma conjunta pelos docentes; seu conteúdo passa por revisões, alterações e atualizações, após pesquisa anual do perfil do aluno, a maioria oriunda de escolas públicas. No uso do material didático, flexibilizado, tendo em vista a especificidade de cada curso, professores e alunos estão em constante troca, para a construção da aprendizagem. O trabalho desenvolvido pelos professores componentes do GELP tem sido avaliado positivamente pelos alunos e pela administração. Ressaltamos que o diferencial do Grupo é preparar os acadêmicos para o uso que farão da língua em sua futura atuação profissional. FORMAÇÃO DE SUJEITOS LEITORES NO CURSO DE PEDAGOGIA Cintia Maria Di Sevo CASELLA – UNINOVE [email protected] O objetivo desse trabalho é trazer para debate a importância da formação de leitores no curso de pedagogia, uma vez que esse curso se destina à preparação de profissionais que irão atuar na área da educação infantil e ensino fundamental I. Dessa forma, o futuro pedagogo insere a criança no 222 mundo das letras, ensinando-a ler o mundo, decifrar os signos e compreender a língua como algo vivo. Acredita-se que o trabalho desenvolvido por esse profissional é um dos fatores determinantes para que a criança aprenda que a leitura pode nos abrir um universo mágico de encanto. Dessa forma, o futuro pedagogo, deve aprender a ler de forma plena, deve fazer da leitura mais que um hábito. Este estudo defende a idéia de que no currículo de formação inicial do pedagogo a disciplina língua portuguesa deve estar presente ao longo de todo o curso estimulando e inserindo o aluno no mundo da leitura. Para tanto, deve ser pautado em um projeto educativo que contemple a leitura interdisciplinar como instrumento para adentrá-lo nesse universo. As reflexões aqui contidas resultam de uma pesquisa de observação participativa realizada em uma Instituição privada do ABC paulista, que apontou a grande dificuldade dos alunos desse curso em ler e interpretar criticamente os textos propostos pelos professores. Destaca a leitura como condição básica para a construção de um profissional mais competente e capaz de transformar seu aluno em um leitor reflexivo. A base teórica deste estudo é Kleiman (1999). Quanto à metodologia estrutura-se na pesquisa bibliográfica e na observação participativa. LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO NO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS: MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES DE AÇÃO PARA TRANSFORMAÇÃO Cirlei Izabel da Silva PAIVA – UNINOVE [email protected] Esta comunicação procura explorar a hipótese de que o ensino de língua portuguesa em curso de licenciatura em Ciências Sociais é fundamental para a formação de educadores capazes de colaborar para o processo de transformação de seus educandos, a partir de uma prática pautada na leitura e no diálogo. O estudo, ainda, analisa o programa da disciplina Leitura e Produção de Texto (LPT) existente no curso de licenciatura em Ciências Sociais, de uma Universidade privada da cidade de São Paulo, a fim de compreender se a proposta da disciplina colabora na formação de leitores competentes e sujeitos capazes de entender os diferentes discursos presentes na sociedade. É preciso defender a idéia de que o ensino de língua portuguesa no curso de Ciências Sociais seja voltado para a formação do sujeito leitor e proporcione uma reflexão sobre a relação entre o uso adequado da língua e a formação de uma postura critica e autônoma do cidadão. Objetiva-se, ainda, por em questão o ensino de português para fins específicos e apontar a necessidade de se adequar o currículo da disciplina para atender às necessidades especificas do curso de Ciências Sociais e, para isso, ela deve ser trabalhada dentro de uma visão interdisciplinar, que possibilita articular o conhecimento de forma plural e mostrar ao aluno a possibilidade de se inserir no mundo de forma consciente através do domínio da leitura e da compreensão do seu papel na sociedade. O estudo está pautado em kleiman (1999), Ghiraldhelli (2002) e . A metodologia adotada se estrutura na abordagem qualitativa, realizou-se entrevistas com alunos do ultimo ano de Ciências Sociais. O TEXTO ACADÊMICO E SUAS PECULIARIDADES LINGUÍSTICAS NO SERVIÇO SOCIAL: REFLEXÕES Adriano Gonçalves dos SANTOS – UNITINS [email protected] É indiscutível a importância da língua portuguesa no processo de ensino-aprendizagem na formação inicial dos diferentes cursos, nas diversas áreas do conhecimento, especialmente para a articulação de textos nos mais variados gêneros textuais e, sobretudo, dos acadêmicos para o estudante universitário. Durante a formação inicial, um profissional de Serviço Social precisa dominar os diferentes gêneros acadêmicos a fim de, dentre vários objetivos, a elaboração de textos que levem à reflexão acadêmica e o futuro exercício da profissão. Esta comunicação pretende apresentar uma 223 reflexão sobre o ensino de língua portuguesa, em especial, os mecanismos lingüísticos que auxiliam na elaboração de textos acadêmicos – resumo e resenha – que levam a demonstrar a competência comunicativa do acadêmico. Vale lembrar que as competências comunicativas, nos limites deste estudo, envolvem a competência lingüística, textual, temática e pragmática. As reflexões apresentadas no texto partem de uma experiência vivenciada nas aulas de língua portuguesa no curso de Serviço Social, realizado em uma Instituição privada na cidade de São Paulo. O estudo está dividido em duas partes: análise de um questionário quantitativo aplicado aos alunos do primeiro semestre e, em seguida, análise de três textos (resumos) produzidos pelos alunos. Esta análise pauta-se nos estudos de, sobretudo, em Koch & Elias (2007, 2008) e em Marcuschi (2001), em Schneuwly & Dolz (2004) quanto aos gêneros textuais. As conclusões a que se chega com este estudo evidenciam que os alunos ainda apresentam dificuldades na articulação de frases coesas e coerentes, o que demonstra a necessidade de um ensino de língua portuguesa para fins específicos em cada área do conhecimento. SEQUÊNCIA DIDÁTICA APLICADA AO ENSINO DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS PARA CURSOS NA ÁREA DE SAÚDE (ENSINO SUPERIOR): O EXEMPLO DA RESENHA Priscilla da Silva SANTOS – UnB [email protected] O presente estudo visa (i) a refletir sobre o uso de Sequências Didáticas como metodologia para a disciplina de Língua Portuguesa em contexto universitário; e (ii) a apresentar os resultados do trabalho com o gênero textual resenha em turmas da área da saúde de uma instituição de ensino superior. A metodologia em questão foi proposta por Dolz e Schneuwly (2004), e está sendo adaptada ao contexto universitário com vias a instrumentalizar o aluno, recém-chegado ao terceiro grau, a transitar nos ambientes discursivos próprios ao contexto acadêmico. Nesse sentido, o aluno precisa estar apto a agir nesse meio, e a dominar as habilidades de leitura e escrita inerentes aos cursos, e à sua futura prática profissional. Para tanto, considera-se o texto como unidade comunicativa mínima, e, consequentemente, os gêneros textuais como base para a interação. Nesse âmbito, o estudo alicerça-se em Bazerman (2006), que entende que os fatos sociais são formados por gêneros textuais, além de Marcuschi (2010), para quem o gênero é visto como prática social e prática textual-discursiva. O trabalho com a resenha se justifica pela demanda da vida acadêmica dos alunos, considerando que diversos professores utilizam esse gênero textual como parte de suas avaliações. Para o trabalho sistematizado com a resenha, foi elaborada uma Sequência Didática, cujo fim era trabalhar os tipos textuais pertinentes a ela. Finalmente, o aluno foi exposto ao gênero trabalhado, e realizaram a produção de duas resenhas, baseados em situações comunicativas hipotéticas, às quais deveriam reagir. O estudo apresentado está em andamento, e os resultados obtidos até então indicam que o trabalho sistematizado com gêneros textuais contribui sobremaneira para o desenvolvimento das habilidades de leitura e produção de texto no contexto universitário, e indicam uma especial dificuldade dos alunos realizarem com sucesso o gênero textual em foco. GRUPO TEMÁTICO 35: LINGUAGEM, CURRÍCULO E IDENTIDADES: DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LP COORDENADORAS: Ana Lúcia Silva SOUZA (UFBA) – [email protected]; Kassandra da Silva MUNIZ (UFOP) – [email protected] Partindo do pressuposto de que a área de formação de professores em Língua Portuguesa ainda está se abrindo para os estudos sobre linguagens, currículos e identidades sociais, propomos novamente este GT para criar um espaço de discussão sobre esse tema. Os estudos sobre currículo apontam a necessidade de revermos nossas práticas pedagógicas e por isso mesmo nossas escolhas metodológicas, teóricas, conteudísticas relacionadas ao processo identitário. Ver o currículo como 224 documento de identidade é o que vem sendo solicitado para quem se debruça sobre o fazer cotidiano na educação. No nosso caso, interessa em particular discutir como os professores de Língua Portuguesa vem se relacionando com essas novas demandas, uma vez que se a Sociolingüística já nos provou que a língua varia, muda e é dinâmica e as aulas de língua portuguesa parecem ainda não ter aprendido esta lição. Quais fatores produzem essas mudanças? Quem são os sujeitos e os contextos sociais nos quais estão envolvidos? O que significa “trazer a realidade do aluno para a sala de aula”? E as Instituições que formam os professores como têm tratado a temática? Faz parte do currículo acadêmico dos cursos o diálogo com essas “novas“ demandas identitárias? É com essas inquietações e outras que visem repensar os estudos sobre formação de professores, currículo e identidades que esperamos receber trabalhos que estejam preocupados não apenas em apresentar o estado da arte do tema do GT mas também serão bem vindas propostas, experiências e pesquisas que mostrem as possibilidades já existentes desse campo. Queremos não apenas refletir e problematizar acerca dos desafios da formação de professores e sua relação com os estudos sobre identidades, mas também tratar das perspectivas e ações necessárias para compor a formação inicial e continuada dos profissionais da linguagem. RASURAS: DE CURRÍCULO E LETRAMENTOS DE JOVENS COTISTAS NO TERCEIRO GRAU Ana Lucia Silva SOUZA – UFBa [email protected] O presente trabalho se propõe a apresentar parte de um estudo sobre a trajetória de acadêmica de estudantes negros cotistas, integrantes Programa Conexões de Saberes: diálogos entre a universidade e as comunidades populares na Universidade Federal da Bahia. O foco recai sobre os discursos referentes às suas percepções a respeito das estratégias usadas por docentes e discentes no ambiente acadêmico e que são capazes de ressignificar suas práticas de letramentos. Trata-se de buscar compreender de que maneira os letramentos que circulam no ambiente de terceiro grau que, aparentemente, e apenas aparentemente, ocorrem desconectados de outros contextos, são vividos, percebidos e valorados pelos estudantes. Tomando como objeto de análise um conjunto de entrevistas pretende-se verificar como constroem e revelam, discursivamente, suas identidades como letrados, trajetória intensamente afetada por condições históricas, econômicas, sociais e culturais e nem sempre considerada quando se discute currículo. Os aportes teóricos que embasam o estudo e as análises estão ancorados na perspectiva bakhtiniana de linguagem; nas abordagens sobre letramentos múltiplos e heterogêneos e em estudos sobre concepções de cultura e identidades. Destaca-se que o projeto caminha na direção da sustentação da noção de Letramentos de Reexistência que rejeita a noção do binômio, a nosso ver, simplista, que opõe de um lado O letramento escolar e de outro. O letramento não escolar e o que é mais grave, muitas vezes alimentando uma suposta hierarquização de modo que o primeiro prevaleça sobre o segundo. O projeto, pelo contrário, busca evidenciar a existência de um amálgama, uma reinvenção de práticas de uso da linguagem que os sujeitos realizam levando em conta suas mais diversas experiências educativas. HISTÓRIAS DE LETRAMENTO E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ivana Carla Oliveira SACRAMENTO – UNEB [email protected] Este trabalho descreve e analisa os percursos de letramento de uma professora de língua portuguesa da rede estadual de ensino do estado da Bahia, da cidade de Alagoinhas. Procurou-se identificar as práticas de leitura e de produção da escrita que são privilegiadas por essa professora nas aulas de língua portuguesa, práticas essas determinadas pelas suas condições de letramento. Portanto, 225 procurou-se analisar, pelas nuances que se manifestaram nessas práticas, como a professora elabora a mesclagem das novas teorias dos estudos sobre letramento e sobre o ensino da leitura e da escrita a que foi exposta a partir da graduação, em face aos modelos e concepções teóricas em que foi formada e como ela procura transpor para a sua sala de aula esses conceitos. A pesquisa está alinhada às perspectivas dos Estudos Culturais, mas lança mão dos aportes teóricos da Linguística Aplicada, portanto obedecendo ao caráter transdisciplinar dessa área. Além disso, está baseada na perspectiva teórica e epistemológica dos Estudosdo Letramento (Barton e Hamilton, 2000; Kleiman, 1995, 2001, 2008). No âmbito dos Estudos Culturais, dialoga com Hall (2003, 2009), principalmente para discutir as questões identitárias. A metodologia de investigação seguiu o viés qualitativo (Minayo, 1999; André e Ludke, 1986) e (auto)biográfico (Delory-Momberger, 2008; Josso, 2004). Esses aportes conceituais nortearam a observação dos movimentos de recuos e avanços da professora no processo de elaboração da prática da leitura e da escrita como objeto social e do reconhecimento de suas práticas como legítimas e culturalmente situadas. Concluiu-se que a professora elabora modelos variados de letramento, ora voltados para a reprodução de práticas do modelo autônomo em que foi formada, ora revela transformações de movimentos anteriores em direção a práticas baseadas no modelo ideológico, e tais movimentos estão atrelados à sua condição de letramento. EU SOU 'NEGUINHO'? Maria Cândida Santos e MOURA – UFOP [email protected] O trabalho intitulado ‘Eu sou Neguinho?’ versa sobre o modo como a linguagem é representada em termos de domínio político-ideológico. Para tanto, lança mão de referências teóricas como Santos (2006), Derrida (1999), Bakhtin (1993), dentre outros autores, para, através do entrecruzamento de suas reflexões, buscar rever o modo como ciência e racionalidade agem e interferem no campo onto-epistemológico da linguagem. O título escolhido para esta reflexão remete à atual composição de Caetano Veloso, intitulada Neguinho, através da qual se pensou poder estabelecer uma possibilidade de diálogo entre linguagem e as perspectivas de ‘responsabilidade’, tanto bakhtiniana, condensada na idéia de não-álibi para o ser, quanto derridiana. O que se pretende, a partir de tais referências teóricas, é dar ênfase à necessidade de que os indivíduos tragam para os seus espaços de reflexão questionamentos como: de que modo é realmente possível pensar a linguagem? Sob a égide de que concepções, de que lógica de pensamento devo concebê-la? Ou ainda, com que finalidade nos apropriamos dela para este ou aquele fim? Trata-se de reforçar a importância de que se considere a natureza irrevogavelmente social da linguagem e, portanto, o seu caráter dinâmico, para, a partir daí, propor que sejam considerados alguns problemas provenientes de um modo fundamentalista de pensá-la. Ao sugerir a idéia de que a relação estabelecida entre linguagem e sociedade deva ser pensada em termos de imanência, este trabalho visa evidenciar, também, o jogo de interesses e de poder do qual essa sofre influência e sobre o qual também a exerce, o que nos exige uma postura cada vez mais reflexiva e, politicamente, estratégica, nos constantes e inevitáveis momentos em que são percorridas as labirínticas veredas da linguagem, nas quais estão língua e identidade. TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA: EXPERIÊNCIAS A PARTIR DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO Luana Francisleyde Pessoa de FARIAS – UEPB [email protected] O presente trabalho discute a formação inicial do graduando em Letras, mais especificamente, no tocante à relação entre teoria e prática no ensino de língua portuguesa. Pretende-se, dessa forma, 226 ampliar o debate sobre o espaço destinado às “novas” teorias linguísticas, em especial, ao trabalho pautado no uso e reflexão da língua(gem), demanda esta que se faz urgente nas salas de aula da Educação Básica brasileira. As considerações, aqui expostas, estão ancoradas nas pesquisas de Pimenta & Lima (2010), Antunes (2009), Barreiro e Gebran (2006), Guedes (2006), Kleiman (2001), entre outros estudiosos, que apontam a necessidade da formação inicial basear-se na construção de uma prática que se constitui mediante a díade do fazer docente, pesquisa e reflexão. É sabido, contudo, que a aplicação dos novos direcionamentos teórico-metodológicos, advindos das contribuições dos linguistas, há algumas décadas já se tornaram o mote das discussões acadêmicas, mas que, em razão da velha dicotomia teoria versus prática, ainda há uma resistência no tocante à transposição para a sala de aula. Para analisar esse contexto, constituiu-se um corpus baseado nas experiências vivenciadas, durante o acompanhamento e orientação de turmas de Estágio Supervisionado, tanto no período da observação/vivência quanto no período da regência/intervenção, no Campus III da Universidade Estadual da Paraíba. Ao término deste estudo, constatou-se que o espaço privilegiado e legitimado pela componente curricular Estágio Supervisionado deve efetivamente oportunizar momentos que possibilitem o debate e aplicação das estratégias e atividades, na sala de aula de língua portuguesa, pautadas no uso social e historicamente situado da língua. FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CONSTITUIÇÃO DE IDENTIDADES DOCENTES Letícia Fonseca Richthofen de FREITAS – UFPEL [email protected] Este trabalho tem por objetivo analisar de que maneira um grupo de alunos do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal de Pelotas/UFPel constrói, ao longo do curso, suas identidades docentes. O estudo situa-se no campo na Linguística Aplicada Transdisciplinar em sua conexão com os Estudos Culturais, tendo como pressuposto a relação entre a linguagem e a produção de identidades, considerando o papel que as narrativas desempenham no processo de construção identitária, no sentido de organizar o discurso no mundo social. Nesse sentido, pesquisadores têm apontado que as narrativas possuem uma função preponderante na constituição das identidades pessoais e sociais, uma vez que é o processo contínuo de narrar, de ouvir e de contar histórias que vai constantemente produzindo nossas identidades, inclusive as identidades docentes. Sendo assim, entende-se que as narrativas produzidas, contadas e recontadas no ambiente acadêmico sobre o ser docente concorrem sobremaneira para a constituição das identidades dos professores em formação. Com base nesses pressupostos, foram analisadas narrativas de dez alunos do quinto e do sexto semestres do referido curso, a fim de mapear como estão sendo construídas suas identidades docentes. O estudo aponta principalmente para uma tensão entre a identidade do professor de língua portuguesa alinhado às teorias linguísticas e ao profissional que deve também ensinar a gramática normativa. Além disso, emergem das narrativas discursos sobre a preocupação dos futuros professores em relação ao seu embasamento teórico e sobre a insegurança que isso causa ao enfrentar a efetiva prática em sala de aula no momento da realização dos estágios. Por fim, cabe ressaltar a importância das pesquisas a respeito da constituição das identidades docentes, no sentido de elaborarmos estratégias diferenciadas para a formação de professores. MEMORIAL DE LEITURA: UMA POSSÍVEL ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Luana de Araújo CARVALHO – UFOP [email protected] 227 Este trabalho tem como objetivo discutir a importância de memoriais de leitura no curso de formação de professores como estratégia pedagógica para a constituição identitária dos futuros docentes. Tem-se como pressuposto que o memorial de leitura possa ser uma estratégia pedagógica contemplada nos currículos de formação de professores, uma vez que, por meio da produção de narrativas autobiográficas-memoralísticas os alunos poderão compreender suas trajetórias de vida escolar e seus históricos de aprendizado por meio desta auto-reflexão, possibilitando ressignificar suas práticas leitoras. Outro pressuposto deste estudo é que na constituição do rememoramento - ato de rememorar, via memorial - entra em jogo a ideologia dos sujeitos envolvidos, assim como suas identidades sociais, ou seja, o rememorar contribui na compreensão da formação identitária dos sujeitos, assim como em sua consciência histórica. Partindo desta hipótese, este trabalho procura contemplar reflexões sobre a memória como fonte de ressiginificação e a formação identitária docente. Assim, acredita-se que o memorial como estratégia pedagógica para a formação de professores possibilita com que o sujeito-narrador compreenda melhor sua formação. Pensando nos benefícios e possibilidades que o memorial acarreta à formação dos sujeitos, como instrumento pedagógico que proporciona a melhoria da formação, as narrativas podem representar uma esperança nas estratégias de formação de professores. Procuramos, com este trabalho, de forma mais ampla, compreender a formação de professores por meio da formação dos leitores, na perspectiva dos estudos sobre o letramento e subsidiados por contribuições da sociologia, principalmente aquela ligada à investigação sobre a importância das práticas culturais na constituição do profissional docente. NEGROS E INVISIBILIDADE: OS PROJETOS PEDAGÓGICOS DOS CURSOS DE LICENCIATIRA DA UFOP Kassandra da Silva MUNIZ – UFOP [email protected] Este trabalho visa discutir os resultados obtidos por meio das análises dos Projetos PolíticoPedagógicos (PPPs) dos cursos de licenciatura da UFOP e a grade curricular, analisando a presença ou não de temáticas afro-brasileiras em seus PPPs, a fim de observar neste corpus alguma referência à pluralidade afro-cultural do estado de Minas Gerais, levando-se em consideração a implementação da Lei 10.639/03. Verificamos nesses documentos, com metodologia qualitativa, se aparecem termos como pluralidade cultural, cultura popular, multiculturalismo, diferenças ou outras expressões que possam dialogar com a problemática da diversidade e, dessa forma, inserir os professores em formação dentro das atuais demandas das políticas de identidades. A análise lingüística dos PPPs e grades curriculares foi empreendida a partir do aparato teórico sobre Linguagem e Identidades, dentro do campo da Lingüística Aplicada. A análise dos PPPs das licenciaturas se fundamentou na perspectiva de que o currículo precisa ser concebido como documento de identidade, assinalando entre outras coisas que os futuros professores precisam reconhecer a heterogeneidade cultural e identitária de seus estudantes sem homogeneizá-las. Constatamos por meio da pesquisa que quando os PPPs deixam de abordar a diversidade cultural como fundamental para a formação de um profissional ou de um aluno, deixam também de abrir as portas para o tema das africanidades e das relações étnico-raciais. Se levamos em consideração que a região é predominantemente afrodescendente, isso se torna mais preocupante e a implementação da lei mais urgente. Além disso, a pesquisa evidenciou a intrínseca relação entre o campo da linguagem e das identidades sociais. O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA NA PROPOSTA CURRICULAR DO ENSINO FUNDAMENTAL DE FEIRA DE SANTANA/BA: DEBATES, PROPOSIÇÕES E DESAFIOS Elizabete Bastos da SILVA – UNEB 228 [email protected] O ensino da língua portuguesa no Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Feira de Santana encontra-se em debate. O Grupo de Elaboração da Proposta Curricular do Ensino Fundamental do Município (GCEF) composto por profissionais especialistas da rede estão com a responsabilidade de ouvir e registrar a vozes dos docentes em função do currículo escolar vigente e das novas demandas da educação municipal. Com esse trabalho, pretende-se apresentar uma análise da concepção do ensino da língua portuguesa que vem se construindo na elaboração/construção da proposta curricular em questão, além de perceber qual o lugar do letramento nos discursos e práticas curriculares. O caminho metodológico segue orientações da pesquisa qualitativa, onde os sujeitos da pesquisa são professores da rede municipal de ensino e o lócus são as escolas da rede, respeitando suas especificidades. O trabalho em foco encontra-se fundamentado, inicialmente, na perspectiva pós-crítica e a concepção que situa a temática abordada se apóia em Tomaz Tadeu da Silva (1995), ao afirmar que, em resumo, as questões curriculares são marcadas pelas discussões sobre conhecimento, verdade, poder e identidade. No que tange o ensino da língua portuguesa, espera-se que o desenvolvimento dessa pesquisa possa contribuir com uma proposta curricular que contemple as especificidades locais, bem como as demandas de um ensino da lp que empodere o sujeito no uso eficaz da língua (gem) de forma efetiva, não como um documento apenas, pois o currículo é muito mais que matriz ou grade curricular, são também os discursos, as ações, as atitudes e posturas desenvolvidas na escola. SOBRE ‘LÍNGUAS CASEIRAS’, CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS Suzane Lima COSTA – UFBa [email protected] Quando se fala em letramentos, uma série de ‘modos caseiros’ de usar a língua é posta em evidência. Os processos escolares de usos da Língua Portuguesa vão depender da forma como essa série se constitui na língua usada para comer, para dormir, para tomar banho, para acordar, para estar em casa ou para sair dela. Esses modos caseiros de usar a língua podem ser lidos tanto como um conjunto de gestualidades que fazem significar os lugares subjetivos de enunciação dos seus falantes, quanto como práxis de quem fala, lê e escreve pela necessidade e consequência do ordinário da sua própria vida. Este trabalho analisa e discute como essas ‘línguas caseiras’, presentes nos modos de vida dos professores indígenas das aldeias Pankararé e Xucuru-Kariri, da região de Paulo Afonso-Ba, mesmo sendo parte dos letramentos dos próprios professores, dos estudantes e dos demais membros da comunidade, são modos de usar a Língua Portuguesa ainda distantes das propostas curriculares que defendem uma educação intercultural, bilingue e diferenciada para povos indígenas. Para tanto, pretende-se repensar os pressupostos do Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas e os Referenciais para a Formação de Professores Indígenas, para colocar em movimento uma discussão sobre o estudo desses letramentos na direção de um conceito de diferença que possa fazer valer a vida comum dos povos indígenas da Bahia, creditando os modos de fazer e de dizer dessas ‘línguas caseiras’ pela ambivalência que os seus usos possam operar no imaginário romantizado e idílico do índio de cocar, que ainda precisa dançar Toré para angariar direitos. IDENTIDADES INDÍGENAS NA ESCRITA DE DANIEL MUNDURUKU Waniamara de Jesus dos SANTOS – UFOP [email protected] 229 Conforme Hall (2002), os efeitos da globalização ocasionaram mudanças rápidas e permanentes que contribuíram para o descentramento do sujeito (do seu lugar no mundo sociocultural e de si próprio). As classes ditas minoritárias – tais como negros, mestiços, índios, mulheres, homossexuais, judeus, etc. – ganham voz nesse novo cenário e, por meio da evidência de seus discursos, contrapõem suas ‘imagens’ aos modelos estáticos existentes na sociedade vigente. É sob esse viés que se discute o lugar da literatura indígena no cenário literário brasileiro. Almeida (2009) aponta a fundação dessa literatura na tradição oral de conservação e transmissão de suas “histórias” – mitos, lendas, ritos, cantos, grafismo, etc. – e promove o renascimento do indígena pela linguagem própria. Ao constituir uma voz de discussão de sua condição minoritária, de contrapor-se ao discurso hegemônico, aos povos indígenas é possível evidenciar uma nova configuração identitária para si e seus povos. Dentre os autores indígenas, Daniel Munduruku destaca-se no cenário literário brasileiro. Assumindo posição de destaque, o escritor coloca-se numa situação de “negociação” em razão da coletividade de seu povo. Sua ação é de militância, sua literatura é política. Este trabalho objetiva refletir sobre o processo de escrita e (re)invenção indígena por Daniel Munduruku através da obra premiada pela UNESCO na questão da tolerância, em 2002, Meu vô Apolinário: um mergulho no rio da (minha) memória. A análise do texto evidencia que sob a assinatura do escritor inaugura-se uma nova identidade cultural. Representa uma consciência de classe fundada numa linguagem simples e clara. O autor indígena cria novos olhares sobre o índio brasileiro, em que não vigorem os estereótipos da barbárie, do exótico, da preguiça, da animália e do atraso cultural. LINGUAGEM, EDUCAÇÃO INCLUSIVA, CURRÍCULO E IDENTIDADE: ALGUMAS QUESTÕES Luiz Carlos Souza BEZERRA – PUC/SP [email protected] Este trabalho centra em discutir a relação linguagem, currículo e identidade, especialmente no contexto da educação inclusiva. Esta pesquisa origina de questões que são suscitadas a partir de propostas de formação inicial e contínua de professores na perspectiva da inclusão social e escolar que temos realizado. A questão condutora do trabalho é: como formar professores de línguas para atuar na escola inclusiva, construindo um currículo escolar que favoreça a constituição de identidade do aluno, sem antes constituir espaços de enunciação que possam abordar a identidade do sujeito- professor? Partimos do princípio de que a escola é espaço de constituição subjetiva e de funcionamento de linguagem. Desse modo, pretendemos, neste trabalho, tecer considerações acerca da constituição de identidade de sujeito-professor e de sujeito-educando a partir de práticas escolares. Nesse contexto, passamos a olhar o currículo escolar não apenas no sentido restrito de formalização do trabalho pedagógico, mais, sim, no sentido de experiências permeadas por valores simbólicos que incidem sobre a subjetividade. Destarte, tomaremos como material de análise a experiência desenvolvida durante cursos de formação e discurso de professores. Para análise e fundamentação do trabalho que desenvolvemos, recorremos à leituras da psicanálise, especialmente de trabalhos nas interfaces psicanálise e educação. Os resultados apontam que o sujeito-professor, durante sua formação, necessita de um espaço de escuta para que possam expor suas questões sobre a função docente. Deste modo, é certo que assumir a função docente não se constitui, apenas, em construir um referencial teórico a ser ensinado, é preciso haver identificação e desejo em ocupar tal lugar. Assim, evidenciamos que nas formações de professores é importante um espaço que seja propício à enunciação, onde o sujeito possa refletir acerca de sua constituição, de seus valores, assim como possa reelaborar as imagens que constitui de si, da escola e da função docente. TECNOLOGIA E INTERAÇÃO EM UMA COMUNIDADE DE PRÁTICA: COLABORAÇÃO ENTRE DOCENTES - RESULTADOS 230 Silvane Aparecida GOMES – CEFET [email protected] Vicente Aguimar PARREIRAS – CEFET [email protected] Este artigo considera a necessidade da revisão do sistema escolar brasileiro, no que se refere a adequação da escola às novas condições sociais com o advento das novas tecnologias da informação e da comunicação (TDIC) e, na atenção que se deve dar à formação inicial e continuada de professores. Procuro apontar nuances do campo do currículo, que reflete a/na identidade social; do campo da linguagem, que incide sobre a prática docente, com o foco nos desafios especificamente dos professores de Língua Portuguesa, articulado com os resultados da pesquisa de mestrado que trata da colaboração entre docentes no uso dos recursos tecnológicos para execução de trabalho essencialmente virtual. A partir do conceito de Comunidade de prática (WENGER, 1991, 1998 e 2002) que trata da produção de conhecimento em ambientes colaborativos, o estudo qualitativo aponta os benefícios do uso das ferramentas tecnológicas para o trabalho docente num processo de avaliação sistêmica nacional, dando pistas de que um olhar de seriedade e liberação de investimentos em tecnologia da informação (TI) voltada para a educação poderia assim, promover melhores resultados ao desempenho de equipes de correções das mais diversas provas seriadas que compõe o cenário da educação brasileira. Legitimando a lisura e o sigilo que as correções exigem e, certificando aos milhares de estudantes a exatidão de seus resultados nas avaliações. A pesquisa mostra a importância da formação inicial e continuada dos professores (aqui especificamente) de Língua Portuguesa no quesito desenvolvimento das habilidades no uso de ferramentas tecnológicas, não apenas para uma melhor mediação do conhecimento em sala de aula, mas, para que este docente tenha a opção de outros trabalhos que demandem letramento digital consolidado. GRUPO TEMÁTICO 36: LINGUÍSTICA DE TEXTO E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA – DIÁLOGO ENTRE TEORIA E PRÁTICA COORDENADORA: Maria Ednilza Oliveira MOREIRA (UFC) [email protected]; Maria Helenice Araújo COSTA (UECE) [email protected] Nos últimos anos, as teorias da enunciação e do discurso, particularmente a Linguística Textual, vêm ampliando o campo de estudos da linguagem. Com Beaugrande (1997), o texto passa a ser definido como um evento comunicativo que abrange aspectos linguísticos, sociais e cognitivos, o que leva naturalmente a uma nova orientação para o ensino de línguas. Visto por esse prisma, o texto transpõe os limites da materialidade linguística e/ou imagética e adquire um caráter mais fortemente multimodal e multimidiático. Por sua vez, todos os atos discursivos (falar, ouvir, escrever, ler) são experiências sociocognitivas e, como tal, devem ser “vividas”, não apenas simuladas. Ensinar uma língua é, então, criar condições para que essas práticas se façam presentes na sala de aula e fora dela, isto é, para que a leitura, a escrita e a reflexão linguística aconteçam mais naturalmente, na interação. Algumas questões importantes surgem com a consideração desses pressupostos: (a) Até que ponto essa visão, que se aproxima da concepção bakhtiniana de “língua viva”, chega às aulas de língua materna? (b) Em que medida os múltiplos aspectos da linguagem são acionados, a partir da materialidade textual, na construção de sentidos? (c) Até onde os alunos são instigados a refletir sobre as diferentes maneiras como se relacionam esses elementos em função das diferentes formas de agir pela linguagem? O objetivo deste GT é desenvolver discussões que enfoquem essas e outras questões concernentes à relação entre teoria e prática, no âmbito da abordagem do texto, para o ensino de Língua Portuguesa, à luz dos estudos sociocognitivistas e interacionais da linguagem. Nessa perspectiva, aceitam-se trabalhos teórico-práticos, voltados para a exploração do texto, nos seguintes níveis: compreensão/produção textual, análise e/ou produção de material didático e formação ou atuação do professor na interação presencial ou virtual com alunos. 231 IMPLICAÇÕES DO CONHECIMENTO TEÓRICO DO PROFESSOR DE LÍNGUA MATERNA NO ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTUAL Mirella de Oliveira FREITAS – UFT [email protected] O presente trabalho constitui uma análise da relação entre conhecimento teórico e prática docente na rede pública de ensino de Palmas-TO, no que se refere a correção e avaliação de textos em língua materna. Para esse fim, foi reunido um grupo de professores em um projeto de extensão proposto por docentes da Universidade Federal do Tocantins, cujo objetivo geral era, por meio de discussões teóricas e atividades práticas de produção, correção e avaliação de textos, contribuir para o aprimoramento do ensino de língua materna, com ênfase no trabalho com a macroestrutura textual. Nesse contexto, buscou avaliar as habilidades desses profissionais ao corrigirem textos, a partir de falhas textuais e linguísticas por eles identificadas em produções de alunos. Para tanto, foi trabalhada com os professores a correção de textos diversos, todos eles de tipologia dissertativa e produzidos no contexto de sala de aula. Esse material permitiu identificar quais os critérios empregados por esses profissionais nas correções e avaliações a que procedem, bem como as concepções de texto arraigadas no processo. De igual modo, tanto as correções quanto a produção textual desses profissionais permitiram que se compreendesse o conhecimento que tinham de instâncias semânticas e de aspectos pragmáticos e formais, conforme postulados de Costa Val (2006). As diretrizes teóricas que nortearam o trabalho partiram, pois, dos conceitos de texto, textualidade, coerência, coesão e fatores pragmáticos, propostos por teóricos da Linguística Textual. A metodologia de pesquisa empregada, além de contemplar a análise descritiva e quantitativa dos textos produzidos pelos próprios professores, compreendeu respostas dadas por esses docentes a um questionário que lhes possibilitava registrar informações com vistas a se autoavaliarem a partir de sua formação e de suas práticas. A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE VARIAÇÃO NUMA SALA DE AULA DO CURSO DE LETRAS Laura Tey IWAKAMI – UECE [email protected] As atividades de ensino em salas de aula tem, por princípio, promover aprendizagem, assimilação de conceitos, discussões, debates e reflexões acerca do tema em estudo, visando a formação intelectual do aluno. Este trabalho tem por objetivo verificar e refletir como os discentes da disciplina sociolinguística ofertada em uma turma do Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará vão processando conceitos referentes à diversidade e variação linguística, objetivo maior da disciplina. As várias atividades promovidas na sala de aula por meio da interação e de discussões reflexivas vão construindo concepções sobre a Língua numa abordagem que vai além da simples sistematização estruturalista da língua para uma visão mais contextualizada e sociocognitivamente situada da Linguagem. Para tal, textos pré selecionados, pertinentes à disciplina, são trabalhados através de aulas expositivo-interativas, leituras e discussões em grupo e escrita de textos construídos a partir das compreensões desenvolvidas durante a disciplina. Dessa forma, a complexidade da questão no tratamento da variação e suas implicações sociais e, particularmente na educação, vão tomando sentido também pela constatação de que só podemos compreender as dinâmicas sóciodicursivas e linguísticas pela visão interdisciplinar das ciências. Autores como BAGNO (2001,2003), CAMACHO (2001), CALVET (2002), BORTONI-RICARDO (2005), entre outros, cujos textos são trabalhados a partir da visão interativa e sociocognitiva, trazem as teorizações e 232 reflexões necessárias para a disciplina em que os sujeitos, na sala de aula, vão se situando e assumindo uma posição e uma postura crítico-reflexiva dos múltiplos usos e funções da linguagem exercidos na sociedade. O TRATAMENTO DA POLIFONIA TEXTUAL NOS PROCESSOS DE RETEXTUALIZAÇÃO: EXEMPLOS DE ANÁLISE DOS MODOS DE CITAÇÃO DO DISCURSO DO OUTRO SEGUNDO A TIPOLOGIA DE BOCH & GROSSMANN Beatriz Julia Isabel ALVAREZ – UECE [email protected] No contexto do curso de Letras, conforme atestam trabalhos publicados por autores como Matencio e Boch & Grossmann, a prática de exercícios de retextualização pode representar uma atividade complexa para os professores em formação. O gerenciamento das vozes dos discursos que estão sendo retextualizados constitui um dos pontos críticos desse tipo de exercício. A desconstrução de textos base e a construção de um novo texto significa citar a fala alheia, o discurso de outrem, tarefa que pode representar um obstáculo para que os alunos produzam um texto final adequado. Com a intenção de colaborar com o tratamento dos mecanismos enunciativos em sala de aula, este artigo exibe a análise da maneira como é citado o discurso de outrem em textos, colhidos na mídia digital, que constituem o produto da retextualização de notícias em artigos de opinião postados em blogs. Para tanto, a partir da concepção de língua como atividade situada (MARCUSCHI, 2001) e da perspectiva enunciativo-discursiva bakhtiniana, é apresentada a temática da retextualização segundo Marcuschi (2001) e Matencio (2002, 2003, 2004), autores que, por sua vez, baseiam suas obras nos conceitos de gêneros discursivos de Bakhtin (2010). O tratamento das vozes do discurso também encontra fundamento na teoria enunciativa da linguagem de Bakhtin, enquanto que, para realizar a análise proposta, é utilizada a tipologia dos modos de referência ao discurso do outro de Boch & Grossmann (2002). A relevância deste artigo fundamenta-se na importância que o tratamento adequado da polifonia textual adquire para a leitura compreensiva e a escrita produtiva de textos. Em outras palavras, este trabalho pode significar uma contribuição significativa para o desenvolvimento dessas competências na universidade, na medida em que apresenta uma ferramenta específica para analisar as estratégias de gerenciamento das vozes do discurso, assim como fornece exemplos práticos de sua aplicação. IRACEMA SOB MÚLTIPLAS LINGUAGENS: UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DE LEITURA Maria Ednilza Oliveira MOREIRA – UFC [email protected] Os estudos atuais em Línguística Textual, de orientação sociocognitivista, consideram que o texto pode ser definido como um evento comunicativo que integra aspectos linguísticos, sociais e cognitivos. Neste trabalho, aliamos a esses marcos teóricos o projeto que desenvolvemos em torno da presença histórica e cultural de Iracema, essa personagem de José de Alencar que é retratada nas múltiplas esculturas que integram a paisagem de Fortaleza e que já se tornou um dos símbolos da cidade. Propusemos, com base nesse contexto de uso da imagem da personagem alencarina, o desenvolvimento de um curso de leitura, explorando a obra literária Iracema nas várias modalidades de linguagem. O curso, envolvendo os estudantes de Letras na prática da regência de sala de aula, foi oferecido para professores e professorandos do Instituto de Educação do Ceará - IEC e para professores de escolas do ensino médio de Cabo Verde, bem como para alunos do ensino fundamental de escola particular em Fortaleza, incluindo aula de campo do roteiro turístico "Caminhos de Iracema". Antes, porém, contatamos várias instituições (Casa de José de Alencar, 233 Câmara Municipal de Fortaleza, SETFOR, IEC), a fim de buscar consistência para nossas ações. Socializando nosso trabalho, participamos de vários eventos acadêmicos e, assim, cumprimos com os objetivos de contribuir com a difusão da cultura cearense, a partir da personagem Iracema, enfocada por meio de diferentes linguagens. Reforçamos, assim, a ideia de que o texto – no caso a obra de Alencar Iracema –, é situado, o que leva à necessidade de tornar o ensino da leitura e da escrita práticas sociais autênticas. REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTUAL NA PERSPECTIVA DA SOCIOCOGNIÇÃO E DA INTERAÇÃO Francisca Poliane Lima de OLIVEIRA – UECE [email protected] A questão da referência tem interessado bastante aos pesquisadores que se abrigam sob os estudos da Linguística Textual. Uma contribuição importante trazida por esses estudos diz respeito ao fato de se considerar a exterioridade na busca dos sentidos, como afirma Custódio Filho (2011). Essa teoria ainda aponta para a dinamicidade presente nas construções dos objetos do discurso como nos fazem ver Mondada e Dubois (2003), Ciulla (2008) e Costa (2007). Ou seja, nessa perspectiva, trabalha-se a partir de uma ótica que explica a relação entre o materialmente colocado e o extra material como ferramenta de produção e compreensão dos discursos. Fato esse que ficou bem entendido na pesquisa que desenvolvemos em nossa dissertação, ao tomarmos o depoimento de profissionais da criação em design. A nosso ver, essa tem sido uma maneira eficiente de pensar a questão dos sentidos. Dentro dessa concepção, se encaixa com muita clareza a necessidade de levar em conta o que se sabe e também o que se imagina que o outro saiba, além das relações que se estabelecem entre as pessoas e o mundo, pois o mecanismo que produz os sentidos é uma situação desencadeada pelos sujeitos em suas interações sociais, o que imprime certo dinamismo a essa consideração. Desta feita, nosso estudo se propõe a refletir sobre o ensino da produção textual num contexto que leva em conta uma definição mais ampla de texto, uma vez que acreditamos que uma metodologia de ensino que favoreça a compreensão ampla da construção discursiva pode se tornar uma ferramenta útil na formação de leitores e produtores competentes e aptos a lidarem com as diversas situações discursivas. O PAPEL DAS EXPRESSÕES ENCAPSULADORAS E ROTULADORAS NA CONSTRUÇÃO DOS SENTIDOS DO TEXTO: DA ANÁLISE À APLICAÇÃO Graziela ZAMPONI – UNITAU [email protected] Entre os mecanismos de articulação textual-discursiva, merecem destaque as rotulações, poderoso recurso que desempenha um papel de extrema importância na construção dos sentidos do texto, assumindo simultaneamente uma função argumentativa e cognitiva, além de uma função textual. Muitos estudos têm-se voltado para esse fenômeno, lançando luz sobre sua natureza, constituição e funções. No entanto, falta um trabalho que tome as rotulações como objeto de prática pedagógica específica, com o objetivo de levar os alunos a refletir sobre esse mecanismo e usá-lo como uma estratégia consciente, que envolve controle e planejamento prévio, prática inserida numa dimensão de capacidade cognitiva mais elevada, intimamente relacionada à metacognição. Situada na vertente da Linguística Textual que faz opção pelo sociocognitivismo, em que o texto é tomado como evento comunicativo, o que pressupõe interação, abordamos primeiramente o fenômeno dos encapsulamentos e rotulações, ilustrando com exemplos atestados a sua natureza e funcionamento, e, em seguida, voltamos nossa atenção para o aspecto didático da questão. Nosso principal objetivo é sugerir ao professor ou estudante de Letras alguns exercícios que exploram as expressões 234 nominais encapsuladoras e rotuladoras usadas para estabelecer a articulação do texto argumentativo. Especificamente, a proposta envolve de questões de múltipla escolha – com apenas uma resposta adequada ou mais adequada – até a escolha lexical em que o aluno poderá exercer livremente sua subjetividade, passando por exercícios em que são dadas algumas soluções não excludentes. As atividades sugeridas, suscetíveis de ser realizadas na sala de aula, envolvem observação e produção a fim de levar os alunos a explorar, de forma consciente e planejada, esse recurso na produção do texto. LINGUÍSTICA TEXTUAL E ENSINO DE PORTUGUÊS: TEORIA, PRÁTICA DOCENTE E MATERIAL DIDÁTICO Dalva Ramos de Rezende MATOS – UFU [email protected] Parece que o ensino de língua materna nas escolas vive, hoje, um longo período de transição, entre a tradição gramatical e outras dimensões da língua, como o texto e o discurso. Convivem no mesmo espaço escolar, docentes adeptos das correntes formalistas, do Estruturalismo, do Funcionalismo, das teorias da enunciação e até mesmo os que desconhecem esses estudos linguísticos. Nessa realidade, será que os professores de Português que, na teoria, dizem seguir determinada corrente linguística (por exemplo a Linguística Textual) estabelecem, na prática, um diálogo coerente entre suas concepções linguísticas, suas atuações metodológicas e os livros didáticos utilizados por eles? Diante dessa questão, esta comunicação tem por objetivo promover uma reflexão sobre a relação entre teoria linguística, prática docente e material didático, à luz dos estudos sociocognitivistas e interacionais da linguagem. O que se põe em discussão é resultado de um trabalho teórico-prático, desenvolvido por alunos do Curso de Letras da UFU na modalidade a distância, que buscou investigar e analisar relações entre algumas concepções linguísticas e a prática de professores de línguas do Ensino Fundamental e Médio, por meio de entrevistas e coleta do material didático adotado por eles. Dessa forma, pretende-se promover uma oportunidade de análise e reflexão sobre a teoria e a prática no contexto escolar. E a partir disso, propiciar também ao docente a possibilidade de ele reestruturar o seu fazer e reconfigurar a sua atuação como professor de Língua Portuguesa. IMPLICAÇÕES DO CONHECIMENTO TEÓRICO DO PROFESSOR DE LÍNGUA MATERNA NO ENSINO DE PRODUÇÃO TEXTUAL MIRELLA DE OLIVEIRA FREITAS UFT [email protected] O presente trabalho constitui uma análise da relação entre conhecimento teórico e prática docente na rede pública de ensino de Palmas-TO, no que se refere a correção e avaliação de textos em língua materna. Para esse fim, foi reunido um grupo de professores em um projeto de extensão proposto por docentes da Universidade Federal do Tocantins, cujo objetivo geral era, por meio de discussões teóricas e atividades práticas de produção, correção e avaliação de textos, contribuir para o aprimoramento do ensino de língua materna, com ênfase no trabalho com a macroestrutura textual. Nesse contexto, buscou avaliar as habilidades desses profissionais ao corrigirem textos, a partir de falhas textuais e linguísticas por eles identificadas em produções de alunos. Para tanto, foi trabalhada com os professores a correção de textos diversos, todos eles de tipologia dissertativa e produzidos no contexto de sala de aula. Esse material permitiu identificar quais os critérios empregados por esses profissionais nas correções e avaliações a que procedem, bem como as concepções de texto arraigadas no processo. De igual modo, tanto as correções quanto a produção textual desses profissionais permitiram que se compreendesse o conhecimento que tinham de instâncias semânticas e de aspectos pragmáticos e formais, conforme postulados de Costa Val 235 (2006). As diretrizes teóricas que nortearam o trabalho partiram, pois, dos conceitos de texto, textualidade, coerência, coesão e fatores pragmáticos, propostos por teóricos da Linguística Textual. A metodologia de pesquisa empregada, além de contemplar a análise descritiva e quantitativa dos textos produzidos pelos próprios professores, compreendeu respostas dadas por esses docentes a um questionário que lhes possibilitava registrar informações com vistas a se autoavaliarem a partir de sua formação e de suas práticas. PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA SOB A PERSPECTIVA DA INTERLOCUÇÃO E DA SOCIOCOGNIÇÃO Jariza Augusto Rodrigues dos SANTOS – UECE [email protected] Por ser ainda a principal fonte de leitura de grande parcela dos alunos do Ensino Básico e o principal instrumento de trabalho de que o professor dispõe, o livro didático de Língua Portuguesa assume um papel importante na formação do leitor-produtor de texto. Contudo, tal instrumento não deve ser utilizado como uma “cartilha fechada”, haja vista o fato de os manuais didáticos, em sua maioria, não incorporarem às suas atividades os atuais pressupostos da Linguística Textual que dizem tomar como base. É fundamental que o professor possua autonomia para avaliar, criticar e complementar o material de que dispõe, e até mesmo para produzir o seu próprio. No entanto, para que haja essa autonomia, é preciso que ele esteja embasado teoricamente e que saiba como aliar esse embasamento às suas práticas. A partir desse entendimento, lançamos olhar para o contexto de formação docente a fim de estimular os alunos do curso de Letras/Português da Universidade Estadual do Ceará – por meio de uma oficina de elaboração de atividades para compreensão/produção textual – a promover um diálogo entre teoria e prática. Objetivamos, com esse trabalho, investigar o processo de produção dos graduandos, observando se e de que maneira eles buscam incorporar o conhecimento teórico visto na academia às suas atividades. Para conferir sustentação à nossa pesquisa, nos apoiamos na concepção de língua(gem) como interlocução (MARCUSCHI, 2007; BAKHTIN, 2011) e na noção de aprendizagem como saber construído de forma situada (COSTA, 2010). ENSINO DE LEITURA NA PERSPECTIVA DO TEXTO COMO EVENTO: O DESAFIO DE FAZER EMERGIR O SENTIDO Maria Helenice Araújo COSTA – UECE [email protected] A Linguística Textual, como ciência multidisciplinar, exibe um histórico que, de certo modo, reflete as mudanças conceituais sofridas por outras disciplinas com as quais estabelece interface, tais como a Filosofia da Linguagem e as Ciências da Cognição. O texto, seu objeto natural de estudo, inicialmente visto como matéria linguística que apenas transpunha as fronteiras frásticas, ocupa atualmente o status de evento sociocomunicativo que envolve, além da materialidade linguística, aspectos sociais e cognitivos. Para Marcuschi (2001), essa nova concepção de texto constitui uma base teórica importante para o ensino de línguas, na medida em que dá conta da produção e da compreensão da linguagem do ponto de vista processual. Neste trabalho objetivamos refletir sobre outra noção que entendemos estar naturalmente ligada a essa visão de texto e que, segundo nos parece, é negligenciada pela maioria dos manuais didáticos, dado o caráter mecanicista das atividades que apresentam essas obras. Assumimos a tese de que conceber o texto como evento implica percebê-lo como uma realidade dinâmica, dependente de cada “atualização”, e, em consequência, admitir a instabilidade de sentidos como elemento constitutivo dessa realidade. A partir daí, tentamos demonstrar como atividades focadas na aprendizagem como cognição situada e incorporada condizem com essa visão dinâmica e instável de texto e contribuem para que de fato o 236 sentido se construa na interação. Para tanto, recorremos a exemplos de questões extraídas do livro de Língua Portuguesa Siaralendo, material didático voltado para a leitura em cuja elaboração houve a tentativa de pôr em prática essa interface entre texto como evento e aprendizagem como cognição situada, publicado pela SEDUC - CE. GRUPO TEMÁTICO 37: NOVAS ABORDAGENS PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM NOVO OLHAR PARA UM VELHO QUADRO COORDENADORA: Ormezinda Maria RIBEIRO (UNB) – [email protected] Nos últimos anos, têm ocorrido inúmeras discussões acerca de como a Língua Portuguesa deve ser ensinada. A proposta de rompimento com a visão tradicional tem sido amplamente discutida entre pesquisadores e professores. Propõe-se a criação de uma nova maneira de se ensinar a língua nas escolas, considerando a produção de textos como ponto de partida para o aprendizado da língua. Assim, o ensino de português não mais se reduziria ao repasse de um conjunto de regras a ser decorado. Nesse sentido, exige a formação cada vez mais abrangente de professores que, conhecendo bem a gramática da língua vernácula, possa propor atividades e situações de aprendizagem que priorizem a prática de leitura e escrita, de forma a evidenciar as competências linguísticas necessárias ao bom desempenho da escrita nas mais diversas situações comunicativas. Diante disso, novas abordagens para o ensino da Língua Portuguesa têm surgido, trazendo novos enfoques e métodos de ensino, apresentados aos professores por meio de programas de formação continuada e aos alunos de Licenciatura nos cursos de formação inicial. Nessa nova proposta que segue as sugestões dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e refuta a prática tradicional, o professor deve incentivar o aluno a expressar-se verbalmente e a conhecer as linguagens utilizadas em diferentes meios sociais, a fim de que saibam fazer uso de sua língua com adequação para compreender e fazer-se compreender. Em vista disso, alguns professores têm sido estimulados a modificar as práticas pedagógicas, direcionando seu trabalho de forma criativa e profícua. Nessa perspectiva, esse GT pretende reunir trabalhos que enfoquem experiências significativas de ensino de Língua Portuguesa, nos mais diferentes âmbitos. Aceitará: relatos de experiências e pesquisas que destaquem abordagens criativas e estimulantes no ensino de Língua Portuguesa presencial e a distância. LER COM PRAZER, ESCREVER SEM MEDO: HABILIDADES LINGUÍSTICAS EM LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Ormezinda Maria RIBEIRO – UnB [email protected] Apresentamos o curso de extensão promovido pelo Fórum Permanente de Estudantes-FPE da GIE/CESPE/UnB, e Departamento de Linguística e Língua Portuguesa, destinado ao aperfeiçoamento da competência linguística de jovens do 9º ano do Ensino Fundamental e Ensino Médio, visando sua preparação para avaliações de ingresso na universidade e melhor desempenho nas atividades acadêmicas. Ofertado em junho de 2011, teve como público-alvo 900 estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e de 1º a 3º anos do Ensino Médio de escolas públicas do Distrito Federal. A divulgação ocorreu por meio do envio de cartazes para as escolas do DF e entorno e por mala direta aos estudantes já cadastrados no FPE. As vagas foram preenchidas e distribuídas em 24 turmas, sob responsabilidade de 64 alunos das disciplinas de Estágio docente em Português, sob nossa orientação. Esses estagiários, formando duplas, realizaram o planejamento e elaboração dos materiais didáticos usados nas aulas que contaram com a observação e registro de 64 alunos da Disciplina de Estágio Supervisionado em Português 1. As principais teorias que fundamentam nossas reflexões sobre a necessária e produtiva articulação ensino-pesquisa-extensão no ensinoaprendizagem de língua materna são de base sociolinguística, sociointeracional e sociodiscursiva, 237 para as quais as práticas de letramento se inserem em amplos processos sociais, e são responsáveis por reforçar ou questionar valores, tradições, padrões de poder presentes no contexto social. Este curso enfatizou a criatividade e o processo de autoria, visando preparar os alunos da Educação Básica para a produção de textos exigida nos exames e também para a vida cotidiana. Além disso, promoveu o intercâmbio de ações entre estudantes universitários e estudantes da Educação Básica, visando à melhoria da qualidade do ensino e a autonomia na formação dos licenciandos em Língua Portuguesa. O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA A PARTIR DA VISÃO CONSTRUTIVISTA Vera Lúcia Lopes SILVEIRA – IFRO [email protected] A teoria do Construtivismo não é mais novidade no âmbito educacional; todavia, persistem muitos equívocos quando o assunto é a transposição didática dos conteúdos. Este trabalho objetiva a apresentação dos resultados de uma pesquisa cujo enfoque principal é o ensino de Língua Portuguesa para alunos do ensino médio, a partir da visão construtivista. A opção pela pesquisa bibliográfica, enfatiza os conceitos relativos ao Construtivismo e a Língua Portuguesa, visando uma aprendizagem significativa para o aluno. Ainda se pretende diagnosticar os reais conceitos dos discentes e da comunidade escolar sobre o estudo desta disciplina através da coleta de dados. A Língua Portuguesa tornou-se relevante na Grade Curricular da Educação Básica e maioria dos Cursos de Graduação, devido sua pertinência no desenvolvimento em outras áreas de conhecimento; contudo, observa-se certa aversão à disciplina entre muitos alunos que rotulam os professores de Língua Portuguesa como meros Fiscais da gramática. O intuito é descobrir o motivo deste preconceito, que afasta os falantes da própria Língua e apontar estratégias para solucionar o problema. Em uma perspectiva construtivista, a prática docente é norteada pelo conceito de um aluno ativo e a metodologia permite a intervenção e avaliação durante o processo de ensino e aprendizagem. Com o avanço da linguística, houve um equívoco entre docentes, conduzindo a prática didática de um extremo à outro, da tradicional aula de gramática à aula do 'vale tudo” composta por produção textual sem intervenção, ausência de correções e utilização de recursos tecnológicos sem planejamento. Estudar Língua Portuguesa é desenvolver a competência sociocomunicativa, para o uso adequado da língua em diferentes situações na comunicação oral ou escrita. Os docentes precisam compreender a disciplina e seu real objetivo, pois a teoria só se efetiva na prática, quando deixa de ser do autor para se tornar do professor. AUTORIA E LEITOR: O PROCESSO DE PRODUÇÃO TEXTUAL NO PROJETO “COMUNICA REALEZA” Clóvis Alencar BUTZGE – UFFS [email protected] Sabrina CASAGRANDE – UFFS [email protected] O projeto “Comunica Realeza” é um laboratório de produção textual o qual objetiva desenvolver habilidades de leitura e produção textual de alunos do Ensino Básico e Superior. No projeto Comunica, o texto é tratado como principal veículo de ensino da língua, compreendendo-se, também, o texto como uma prática social, que inclui socialmente o sujeito falante/escrevente. Nesse sentido, o trabalho de produção textual tem suas bases nos pressupostos teóricos da linguística textual e da enunciação. Partimos da hipótese de que produzindo o texto em circunstâncias "reais" (ter o que dizer; para quem dizer; motivos para dizer; constituir-se como sujeito de seu dizer; usar de estratégias - gêneros - para dizer) foge-se ao artificialismo da "redação escolar". Além de trabalhar com as habilidades textuais de cada integrante do projeto, procura-se estimular a leitura e a produção de diferentes gêneros textuais, no caso, textos da esfera jornalística que permitem a 238 produção de textos reais, fazendo com que o autor passe a ser o protagonista do próprio texto. A metodologia do “Comunica” baseia-se em: reuniões de estudos, reuniões de pauta, orientações, produção e divulgação de textos. Com a prática da produção textual, semanalmente, e as orientações aluno/professor, gera-se bons resultados, tanto aos alunos de Ensino Médio quanto aos alunos de graduação. O projeto já trabalhou em suas reuniões de estudos diversos gêneros jornalísticos, dos quais se destacam: reportagens, notícias, entrevistas, artigos de opinião, editorial, resenhas e crônicas. Mais importante que o aspecto “jornalístico” do projeto é a evolução dos alunos participantes, pois as atividades desenvolvidas se tornaram uma ferramenta para o aperfeiçoamento da escrita e para o entendimento dos gêneros textuais. Percebe-se, também, que o domínio técnico das produções textuais é associado à capacidade crítica dos envolvidos no projeto. O ENSINO DA FUNÇÃO SINTÁTICA SUJEITO PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: ESTUDO DE CASO E PROPOSTA METODOLÓGICA Gabriela Guimarães JERÔNIMO – UFG/CAC [email protected] O trabalho que ora propomos tem como objetivo apresentar os resultados do projeto realizado durante a disciplina Estágio III, ofertada pelo curso de Letras Licenciatura em Português, da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Grenissa Bonvino Stafuzza, que se trata de um estudo sobre a maneira como tem sido o ensino de Língua Portuguesa nas escolas. Como desdobramento das discussões, escolhemos a sintaxe e especificamente a função sintática sujeito como objeto de nossas análises. Neste sentido, fizemos uma discussão sobre os critérios que vem sendo abordados pelos livros didáticos em se tratando do ensino do sujeito que, enquanto função sintática, tem sido realizado através de critérios semânticos, que grosso modo são os estudos que abrangem o sentido. Para isso, levantamos questões à luz dos estudos de Travaglia (2009); Possenti (1996); Souza (1986); Franchi (2006) e Perini (2007). Após a reflexão teórica, levamos para os alunos, no momento das aulas, conteúdos que contemplassem a sintaxe para ensinar a função sujeito, de modo que pudemos motivá-los a pensar na língua e nas relações que podemos estabelecer ao fazermos uso deste instrumento de comunicação tanto na escrita quanto na fala. No que se refere aos resultados, podemos dizer que tivemos uma boa experiência e acreditamos que contribuímos para o aprendizado dos alunos, de modo os proporcionamos uma nova visão sobre gramática, bem como sobre a língua portuguesa e seu estudo. Assim, acreditamos que poderemos contribuir também para as pesquisas feitas na área do ensino de Língua Portuguesa, de maneira especial para as que tem foco no ensino de sintaxe. A SEMIÓTICA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM NOVO OLHAR SOBRE A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL Roseméri LORENZ – UPF [email protected] Cristina Momberger Zanferrari - ULBRA [email protected] As atividades de interpretação textual nas escolas apresentam, geralmente, caráter empírico e intuitivo, e a abordagem textual dos livros didáticos, em sua grande maioria, é praticamente destituída de qualquer linha teórica que a sustente. Diante desse contexto, o presente trabalho busca contribuir para a qualificação do ensino de Língua Portuguesa, em especial no que concerne às atividades de leitura e interpretação de textos. Fundamentando-se teoricamente na semiótica discursiva, a qual explicita os mecanismos responsáveis pela construção dos sentidos do texto, serão apresentadas e discutidas propostas de análise de textos, verbais e não-verbais, dos mais variados gêneros (poesia, fábula, anúncio publicitário, filme, etc). Tais propostas não pretendem constituir “receitas” a serem aplicadas em sala de aula, mas possíveis direções a serem seguidas a fim de que 239 o aluno possa, a partir dos elementos mais concretos e superficiais do texto, chegar às suas instâncias mais abstratas e profundas, melhorando, assim, sua competência linguística. Afinal, a percepção da estrutura subjacente dos textos torna possível estabelecer os planos de leitura do mesmo, evitando interpretações equivocadas, já que ela funciona como uma espécie de roteiro. Além disso, permite a percepção dos efeitos de sentido produzidos pelas diversas escolhas realizadas pelo enunciador, bem como as estratégias argumentativas utilizadas por ele para produzir as mais diferentes reações no enunciatário. Desse modo, por meio da identificação de marcas deixadas pelo enunciador no enunciado, percebe-se que as leituras que o texto admite já estão inscritas nele como possibilidades, não podendo, pois, estar subordinadas a um mero “achismo” do leitor. ENSINANDO LÍNGUA PORTUGUESA ATRAVÉS DO GÊNERO CARTAS Solange Montalvão de OLIVEIRA – UFBA [email protected] A necessidade de aprimorar as competências de ler e produzir textos em língua portuguesa tem sido uma preocupação dos que estão diretamente envolvidos com o processo de ensino-aprendizagem desta língua. Entretanto, em muitas escolas de Ensino Fundamental e Médio, essas competências cedem lugar ao ensino que prioriza as regras e nomenclaturas estabelecidas pela gramática normativa, sendo o texto usado apenas como um “pretexto” para mimetizar o uso de normas gramaticais. Além disso, o trabalho de leitura e produção de texto se limita à prática de tipos textuais como se fossem textos concretos. Assim, o aluno desenvolve a ideia de que aprender a escrever resume-se em produzir narração, descrição e dissertação. Todavia, vale ressaltar que toda manifestação verbal só se concretiza através de textos que se realizam por meio de um determinado gênero. Dessa forma, este trabalho consiste em relatar uma experiência desenvolvida em uma oficina de leitura e escrita, com alunos da 1ª e 2ª série do Ensino Médio, cujo objetivo foi exercitar a capacidade de leitura crítica juntamente com atividades de (re)escrituras textuais, visando à ampliação e ao aprimoramento linguístico desses alunos. As atividades desenvolveram-se na perspectiva dos gêneros textuais através de pesquisas, leitura, compreensão e (re)escritura de gêneros orais e escritos, com destaque para as cartas. O trabalho partiu das seguintes questões norteadoras: Que reflexões são possíveis realizar junto ao aluno, a fim de contribuir para a melhoria da prática de leitura e produção de textos ? De que modo o ensino centrado em uma metodologia culturalmente sensível, ajudará o aluno na prática de ler e escrever textos? Que atividades levam o aluno a perceber a função social do gênero carta nas diversas situações comunicativas? O trabalho resultou na produção de um livro de cartas e na mudança de pensar dos alunos. A PRODUÇÃO DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS NO ENSINO MÉDIO: REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS METODOLÓGICAS E DISCURSIVAS Marcos Vinícius Ferreira PASSOS – UnB [email protected] Temos observado, no cenário contemporâneo, que a produção de textos dissertativos é a forma como a escola tem avaliado o senso crítico dos alunos ali encaminhados. Tal fator, muitas vezes, é até suposto e interpretado nos PCNs. Para os alunos, é natural que a repetição reprodutora de discursos apenas reitera para a disciplina de redação um estruturalismo infindável e desgastante. É necessário, então, promover reflexões nos alunos e nas comunidades docentes que, para se trabalhar com argumentação, basta criatividade e respeito à individualidade autoral. Este trabalho provoca olhar sobre metodologias alternativas usadas em aulas de ensino médio em escolas de ensino médio de Brasília para observar em qualquer produção de texto a capacidade de argumentar, defender e posicionar-se diante de temáticas diversas. É perceptível que a produção textual reflete um processo reflexivo do cidadão diante do mundo em que vive. Para isso, percebe-se que existem elementos instaurados no texto que refratam pensamento crítico, visão cultural, capacidade de raciocínio e 240 criatividade, por exemplo. Uma das necessidades básicas que se consolidaram no contexto educacional é a afirmação de um referencial crítico ou reflexivo na produção de textos argumentativos, salientando criatividade na articulação de ideias. A tipologia textual em que se salientam os aspectos mencionados anteriormente é a dissertação, seja expositiva, seja argumentativa. Percebem-se, ao contrário do que se imagina, dificuldades inerentes à produção dessa classificação tipológica. Uma estratégia metodológica desenvolvida diz respeito à inserção de partes de natureza argumentativa que integram outros tipos de textos (narração ou descrição), sem consciência de nomenclaturas ou técnicas de produção, a fim de observar com que naturalidade e recorrência a reflexão permitirá o desenvolvimento do texto de modo satisfatório. O GÊNERO PARÓDIA EM AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA ABORDAGEM CRIATIVA ENTRE LETRA E MÚSICA Alan Caldas SIMÕES – UFES [email protected] Nas últimas décadas temos visto que as teorias de ensino e aprendizagem tem buscado abordagens pedagógicas que valorizem a participação ativa do aluno em sala de aula, de modo a tornar a aprendizagem estimulante e significativa. Nesse sentido, professores de diversas áreas do conhecimento, vêem buscando abordar conteúdos tradicionais do ensino de língua portuguesa utilizando propostas criativas de produção textual, entre outros. Entendemos que uma das formas de se construir propostas criativas de produção textual é através do uso de abordagens multi-(ou inter)disciplinares. Abordagens multi-(ou inter)disciplinares podem ser utilizadas como importantes instrumentos de atuação/ação pedagógica (ANTOLÍ, 1998; FAZENDA, 1998; JAPIASSU, 1976). Dentro dessa perspectiva, em nossa exposição, apresentaremos práticas de produção textual que utilizam o gênero paródia como instrumento de ensino. Dessa forma, aproximaremos duas disciplinas: A Língua Portuguesa e a Música. Essa interseção é bastante comum nas aulas de línguas, embora muitas vezes aspectos relacionados a linguagem musical não sejam explorados, talvez por falta de instrumentos didáticos apropriados. Nossa proposta visa encaminhar essa questão, ao se pautar em uma abordagem que conjuga letra e música, que visa incentivar os alunos a se expressar por escrito de forma lúdica, musical e poética através do gênero paródia. De nossa abordagem, concluímos que práticas multi-(ou inter)disciplinares, em especial as que conjugam a área de Língua Portuguesa e Música, tendem a ser fonte de estímulo para produção textual. Ao produzirem o gênero paródia os aluno podem observar ainda que a língua portuguesa não se pauta em construções rígidas ou fechadas, mas que com ela pode-se criar, aprender e se divertir. A INSERÇÃO CURRICULAR DA INTERCOMPREENSÃO: PERCURSOS E EFEITOS NA COMPREENSÃO DA ESCRITA EM LÍNGUA PORTUGUESA Rudson Edson Gomes de SOUZA – UFRN [email protected] Selma Alas MARTINS – UFRN [email protected] Esta comunicação tem como objetivo apresentar o percurso da intercompreensão no contexto educacional da cidade de Natal/RN. A primeira inserção dessa abordagem ocorreu em agosto de 2010, com a oferta da disciplina "Intercompreensão de Línguas Românicas" no curso de Licenciatura em Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Paralelamente, foi realizada uma formação para professores e alunos de pós-graduação da instituição por meio da plataforma Galapro. Reflexões e conhecimentos adquiridos durante essa formação deram origem a um projeto de doutorado visando apresentar uma proposta plurilíngue ao ensino de língua portuguesa para as escolas públicas municipais. Partindo da hipótese de que essa abordagem pode auxiliar no desenvolvimento de competências de leitura em língua materna, iniciamos uma 241 pesquisa-ação cujo público alvo foram crianças do ensino fundamental II, em uma escola localizada na periferia de Natal. Carrasco Perea (2003) sugere que a intercompreensão, principalmente quando inserida no contexto da escola primária, pode contribuir para consolidar a aquisição da língua materna através de comparações com uma língua-alvo. Essa inserção permite identificar tanto a alteridade quanto a diversidade linguística e cultural, além de capacitar o aprendiz a reconhecer a presença dessa pluralidade num ambiente próximo ou distante. Para a nossa pesquisa selecionamos grupo experimental e grupo de controle. A partir de agosto de 2011, o grupo experimental passou a ter quatro aulas semanais de língua portuguesa e uma aula da disciplina "Intercompreensão de Línguas Românicas" inserida também no contexto da educação pública básica. Para fins de coleta de dados foi organizado um caderno de atividades com textos plurilíngues – italiano, francês e espanhol –, com conteúdo similar ao manual de língua materna da escola. Os resultados preliminares demonstram um grande aumento da motivação pela descoberta das línguas do projeto, assim como um avanço significativo na compreensão textual em língua portuguesa. EU APRENDI A INTERPRETAR: QUANDO O ENTENDIMENTO DO TEXTO FICA CONDICIONADO À PRESENÇA DE HABILIDADES COGNITIVAS Leandro Wallace MENEGOLO – UNIR [email protected] Trata-se de um empreendimento que se realiza na interface entre cognição e ensino. Para tanto, projetou-se a execução de um projeto aos alunos da turma XIX do curso de letras da UNIR-campus de Vilhena, Rondônia, propondo a realização de um conjunto de atividades didático-pedagógicas de interpretação de textos, com três fases de execução, fundamentadas nas orienta-ções de Andaloussi (2004) para a pesquisa-ação: I – diagnóstico da situação; II – início e desen-volvimento das ações docentes; III – avaliação e desencadeamento de novas ações. O trabalho é conduzido em alunos do 4.º período noturno do curso de letras da UNIR (Universidade Federal de Rondônia), Campus de Vilhena, na disciplina de Língua Portuguesa IV. O foco das ações docentes é o desenvolvimento progressivo de um rol de habilidades cognitivas, com o objetivo de determinar em que medida a execução desse trabalho, em quatro períodos regulares, garantiria a aquisição dessas habilidades, que foram fixadas pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Esse órgão é associado ao Ministério da Educação e promove, bienal e nacionalmente, as avaliações nominadas de “Prova Brasil” e “Saeb”, compostas de 26 questões que são construídas para medir a existência (ou não) de 21 habilidades nos alunos dos períodos finais de escolarização. Como se trata de uma pesquisa já iniciada e está em andamento, mas com término programado para uma semana antes do I SIELP (Simpósio Internacional de Ensino de Língua Portuguesa), não há resultados e conclusões a serem expostos. Entretanto, fica o compromisso de apresentá-los nesta sessão de comunicações. A LEITURA DE TEXTOS MULTISSEMIÓTICOS: NOVOS DESAFIOS PARA VELHOS PROBLEMAS Mauriceia Silva de Paula VIEIRA – UFLA [email protected] Questões ligadas ao ensino da leitura fazem parte da agenda de diversos pesquisadores e evidenciam a relevância desse tema no cenário de práticas de ensino e de aprendizagem da língua portuguesa. Em uma cultura grafocêntrica e tecnológica surgem diversos gêneros a fim de atenderem às necessidades sociocomunicativas de seus integrantes. O terreno é fértil para gêneros que entrelaçam, em sua constituição, diversas linguagens. Neste sentido, esta pesquisa discute questões relacionadas à leitura de textos que integram vários recursos multissemióticos e parte dos seguintes questionamentos: em que medida os livros didáticos de Língua Portuguesa contribuem para a formação de um leitor proficiente? Quais são as competências e habilidades exploradas? Ao 242 aliar recursos visuais como desenhos, fotografias, tabelas, links etc. a textos verbais curtos, tais gêneros demandam modos diferenciados de leitura e sobrelevam a necessidade de um trabalho mais ativo por parte do leitor, uma vez que a construção do sentido está relacionada à mobilização de conhecimentos prévios, ao levantamento de hipóteses e à produção de inferências. Por outro lado, na interface da formação de um leitor proficiente encontra-se a escola, cuja responsabilidade transcende os limites da leitura como uma simples prática escolar e alcança a dimensão de uma prática social. Nessa direção, esta investigação conjuga princípios deuma abordagem quantitativa a uma abordagem qualitativa e toma como objeto de análise livros didáticos aprovados no PNLD para o Ensino Fundamental – anos finais. A construção do quadro teórico baseia-se em autores como Soares, Dionísio e Rojo. Os resultados parciais indicam uma exploração que não vialibiza o desenvolvimento de capacidades relativas à leitura de textos multissemióticos e, de modo especial, das especificidades próprias dos gêneros digitais. A PRODUÇÃO ESCRITA NO CURSO DE LETRAS: IMPACTOS SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL Helena Maria FERREIRA – UFLA [email protected] A escola é o espaço institucional em que se efetiva a relação entre o sujeito e a escrita de forma mais sistematizada. Independentemente da natureza desse espaço (modalidades de ensino), inúmeras são as dificuldades vivenciadas na produção de um texto escrito por parte dos estudantes. Este trabalho elegeu como objeto de estudo a produção textual no ensino superior, de modo especial, no Curso de Licenciatura em Letras. Assim, buscou-se analisar estudos teóricos que versam sobre a relação com a escrita nessa modalidade de ensino, com vistas a discutir concepções e metodologias. Para ilustrar o estudo teórico, procedeu-se a uma análise de textos produzidos por alunos do 1º período de Letras, com a intenção de analisar as principais dificuldades. A partir desses dados, intentou-se formular uma reflexão acerca da forma como é concebida a língua e seu ensino por parte dos alunos. Nesse aspecto, esta pesquisa disponibiliza uma discussão acerca do encaminhamento da produção escrita de um modo geral e, mais especificamente, para os estudos voltados para o ensino da produção do texto escrito nos cursos de formação inicial de professores, estendendo-se para sinalizações acerca da seleção de disciplinas a serem priorizadas na constituição da matriz curricular dos cursos de Letras, uma vez que o domínio da escrita é condição essencial para um adequado exercício por parte de um profissional que ensina a língua. Nesse sentido, partese do princípio de que a produção de textos se constitui como uma atividade de linguagem em que o aluno realmente se sinta sujeito do seu dizer e tenha conhecimento de formas diferenciadas para escrever o que tem a dizer. AULA DE PORTUGUÊS: PALAVRAS E CONTRA PALAVRAS Fernanda de Castro Batista COELHO – UESB [email protected] Ester Maria de Figueiredo SOUZA – UESB [email protected] (Apoio FAPESB – Processo N0 406/2011) A comunicação em tela configura-se como um eco à defesa de que a palavra (seu funcionamento) em sala de aula é mais do que possibilidade, e mesmo condição, de/para a emergência de processos de socialização e aprendizagem é um velho quadro que merece ser revisto. A sala de aula é espaço que instaura a aula como gênero de discurso, pela plasticidade e possibilidades enunciativas da palavra. Nossa proposta é, portanto, a de repensar o ensino de língua(s) – e em específico o ensino de português – potencializando a ideia de palavra. Assumindo uma noção de palavra movente e rarefeita nos termos bakthinianos/volochinoviano (BAKHTIN/VOLOCHNINOV, 1929/2004) 243 pode-se estudar a interação e a aprendizagem, a interação na aprendizagem e/ou a interação como contexto de aprendizagem (KLEIMAN, 1991), pode-se, enfim, considerar que todas as ações em torno da palavra estão submetidas a forças que se opõem: a uma dialogia de forças. A palavra (i) institui movimentos sociais (processo de enunciação) sendo, ao mesmo tempo, por eles determinada (produto enunciativo); (ii) apresenta-se simultaneamente como interrogação (produção de sentido) e réplica (efeito de sentido); e (iii) reitera e ratifica ideologias (discursos). O que os sujeitos fazem, ou são capazes de fazer, em sala de aula, fazem, sobretudo, por meio da palavra falada ou com vistas a ela, o que, certamente, ocorre com o auxílio de outros sistemas semióticos. Exemplos de interações didáticas, decorrentes de pesquisas de campo de natureza etnográfica, são trazidos para demonstração de que o uso da palavra em sala de aula é motor que catalisa elementos para se pensar em novas abordagens para o ensino de língua(s). LÍNGUA E IDENTIDADE CULTURAL: O ESTUDO DA TOPONÍMIA LOCAL NA ESCOLA Ana Paula Mendes Alves de CARVALHO – IF-MG [email protected] Esta comunicação é resultado de um trabalho interdisciplinar desenvolvido, no ano letivo de 2009, nas séries finais do ensino fundamental (8º e 9º anos) e no ensino médio de escola da rede estadual da cidade de Barra Longa/MG. Com o intuito de resgatar e conhecer a história e a memória local, propôs-se, para os alunos, um estudo da motivação dos nomes das escolas do município. Vinculada ao eixo temático Educação Patrimonial, a proposta de trabalho se orientou pelos pressupostos teórico-metodológicos da Toponímia que, de acordo com Dick (1990), é o estudo da motivação dos topônimos, nomes próprios de lugares, isto é, enunciados linguísticos formados por um universo transparente significante que reflete aspectos culturais de um núcleo humano existente ou preexistente. Transmitidos de geração para geração como signos operacionais, é através dos nomes que o homem exerce sua capacidade de exprimir sentimentos, ideias e de cristalizar conceitos. Desse modo, para a autora, o patrimônio lexical de uma língua constitui um arquivo que armazena e acumula as aquisições culturais representativas de uma sociedade, refletindo percepções e experiências multisseculares de um povo, podendo, por isso, ser considerado testemunho de uma época. Nessa perspectiva, acredita-se que, ao investigar as questões que envolvem a motivação de determinado nome de lugar é possível conhecer o modo de viver de uma cultura e a maneira desta representar os seus valores, identificando fatores socioculturais, históricos e ideológicosrelacionados à história da região. Desse modo, a partir da investigação toponímica proposta, pôde-se conhecer aspectos sociopolíticos e culturais da época em que se deu a criação dessas escolas e recuperar informações a respeito da constituição do patrimônio cultural da comunidade. ESTUDOS CRÍTICOS DO DISCURSO NA FORMAÇÃO DO/A PROFESSOR/A DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA MATERNA Viviane Cristina Vieira Sebba RAMALHO – UnB [email protected] Neste trabalho, buscamos levantar reflexões sobre potencias contribuições dos estudos em Análise de Discurso Crítica para a formação do/a professor/a de português como língua materna. Para a ADC, a relação entre linguagem e sociedade é interna e dialética: práticas sociais sempre articulam ação/interação, pessoas (e suas histórias, crenças, valores), mundo material, relações sociais e discurso. O discurso figura em práticas sociais como modos de (inter)agir, de representar e de identificar(se), constituindo-se no social mas também causando efeitos nas formas de (inter)ação; nos valores, crenças e identidades das pessoas; no mundo material e nas relações sociais (Chouliaraki & Fairclough, 1999; Fairclough, 2003; Resende & Ramalho, 2006; Ramalho & Resende, 2011). Tal compreensão pode contribuir para a formação de educadores/as críticos/as 244 preparados/as para atuar em projetos de consciência linguística crítica, que buscam desenvolver a consciência acerca do papel da linguagem na instauração, manutenção ou transformação de relações de poder. Partindo de uma experiência de pesquisa-ação, que envolveu planejamento e oferta de cursos de extensão de leitura e produção textual por estudantes de Estágio Supervisionado em Português na Universidade de Brasília, discutimos alguns (des)caminhos na formação de educadores/as capazes de analisar criticamente os discursos que circulam em nossa sociedade; de promover a consciência linguística crítica e, sobretudo, de analisar reflexivamente suas próprias práticas docentes. LÍNGUA PORTUGUESA E FORMAÇÃO CONTINUADA: UM CAMINHO PARA DESCONSTRUÇÃO DO ENSINO TRADICIONAL Giselly de Oliveira LIMA – FAR [email protected] Ana Júlia Queiroz FURQUIM – FESURV [email protected] O ensino de Língua Portuguesa tem sido amplamente discutido na comunidade linguística. Constantemente, surgem dúvidas sobre o que ensinar e como ensinar. Isso porque a Universidade não prepara o futuro professor com “receitas” para qualquer dificuldade que venha encontrar, ou seja, ela constitui o início da construção de conhecimentos, os quais nunca estarão prontos e acabados. Embora exista o livro didático para que o professor possa preparar suas aulas, este ainda não será suficiente em sua prática, uma vez que constitui um suporte. Diante disso, os cursos de formação continuada oferecem suporte teórico e prático para que os professores possam refletir sua prática e, também, propõem aos docentes relatos e trocas de experiências. Contudo, muitos professores, graduados ou especialistas, insistem em ter suas práticas pedagógicas pautadas em um ensino tradicional, seguindo os preceitos da gramática normativa, não compreendendo que o ensino/aprendizagem da língua deve ser reflexivo. Ou seja, deve apoiar-se na gramática internalizada dos alunos. Estes educadores, geralmente, negam a participar de cursos de formação continuada, pois acreditam que não precisam participar de nenhuma formação. Atualmente, têm surgido cursos para professores das séries iniciais e para professores que ministram aulas de Língua Portuguesa de 6º ao 9º ano. Os cursos propõem novas abordagens e estratégias, seguindo as sugestões dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Dessa forma, se os professores de Língua Portuguesa não começarem a quebrar os “tijolos” do muro construído por eles e a pensar em um ensino de maneira mais amplo, o ensino de Língua Portuguesa permanecerá sem sentido para muitos aprendizes. O ESTUDO DO TEXTO NA SALA DE AULA: UMA VISÃO DISCURSIVA DA LINGUAGEM Luzia Rodrigues da Silva – UFG [email protected] Proponho-me a apresentar recortes de uma pesquisa - de caráter metodológico qualitativo e etnográfico - realizada em escolas públicas do Ensino Básico. Demonstro eventos de letramento da sala de aula – gravados em áudio e transcritos – e analiso como os textos são estudados nas aulas de Língua Portuguesa e em que medida tal estudo contribui para que as/os estudantes desenvolvam seu potencial crítico e suas capacidades para agirem e interagirem em diferentes domínios e práticas sociais. À luz dos pressupostos teóricos e metodológicos que fundamentam a Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 1992, 2003 e CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999) e das perspectivas que ancoram os Novos Estudos do Letramento (STREET, 1984, org., 2001; BARTON 245 e HAMILTON, 1998; KALMAN, 2005; KLEIMAN, 1995), trabalho com a concepção de linguagem como parte irredutível da prática social (FAIRCLOUGH, 2003), que se configura, portanto, como forma de ação sócio-cultural e constitutiva da realidade. A Análise de Discurso Crítica rompe com as fronteiras disciplinares entre a Linguística e as Ciências sociais, o que situa a linguagem na sua dimensão de discurso, que figura nas práticas sociais como forma de ação e representação. Indico, como resultado, que as professoras - sujeitos da investigação - privilegiam a natureza funcional e interativa da língua, contrariando um letramento desvinculado de significados sociais, que põe em foco o aspecto formal e estrutural, que, tradicionalmente, vem orientando o tratamento dado à linguagem em muitos contextos escolares. Rompendo com uma prática pedagógica tradicional – no que diz respeito ao ensino essas profissionais adotam um letramento como prática social, mobilizando estudos de textos como práticas comunicativas socialmente situadas. Palavras-chave: textos; leitura; letramento. GRUPO TEMÁTICO 38: O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA CONTEMPORANEIDADE: O DESAFIO DA INSERÇÃO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NO AMBIENTE DE SALA DE AULA COORDENADORA: Janaína de Aquino FERRAZ (UNB) – [email protected] Em meio à grande diversidade de tecnologias hoje disponíveis, surge uma nova agenda de práticas que envolvem estratégias no trabalho de construção do sentido. Na contemporaneidade, espera-se que o leitor competente processe, critique, contradiga ou avalie a informação diante de si e para tanto são necessárias habilidades que envolvam o uso de diferentes modalidades da linguagem. Nesse cenário, o ensino de Língua Portuguesa passa pelo desafio de lidar com novas formas de circulação da informação. A regra hoje é levar o estudante a lidar com sistemas hipermodais que permitam a navegação por informações distribuídas de forma multilinear. Dessa forma, este GT tem como objetivo trazer à berlinda acadêmica estudos já concluídos ou em andamento que investiguem práticas de ensino de Língua Portuguesa, seja como língua materna, seja como segunda língua, que envolvam várias modalidades integradas de linguagem além da verbal, considerando as diferentes mídias hoje circulantes. Partimos do pressuposto de que explorar a multiplicidade simultânea de materiais multimodais é uma tarefa que passa anteriormente por uma construção do conhecimento discursivo crítico e do conhecimento multimodal como bases para o desenvolvimento de novas práticas de ensino de língua e é nessa direção que estudos linguísticos podem lançar luz sobre quais são as reais mudanças na linguagem trazidas pelas novas mídias. Assim, os trabalhos aqui reunidos podem revelar pistas significativas sobre como a reconfiguração de recursos linguísticos no meio digital podem promover o desenvolvimento e a dinamização de atividades didáticas que favoreçam o estudo de Língua Portuguesa de acordo com demandas específicas da atualidade. Palavras-chave: ensino; multimodalidade; mídias; Língua Portuguesa. 246 AS TICS E A PROVA DO ENEM: O DESAFIO DO LETRAMENTO DIGITAL Francisca Cordelia Oliveira da SILVA – INEP [email protected] O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem se configurado como uma política pública que apresenta como principais objetivos: democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio. No entanto, o exame extrapola os limites políticos e resulta em mudanças acadêmicas e pedagógicas que reverberam nas salas de aula de todo o Brasil. Na área de Códigos e Linguagens, uma das mudanças foi a inserção das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), como um dos elementos avaliados. Essa inclusão abre espaço para que professores repensem suas escolhas pedagógicas, uma vez que os gêneros a serem abordados em sala de aula foram ampliados pela necessidade de se repensar o letramento de modo geral e, em particular, o letramento digital. Neste trabalho, o objetivo é analisar a abordagem das TICs na prova do Enem, assim como o conceito de letramento a ela subjacente. Partimos do pressuposto de que, na realidade multimidiática em que vivemos, a escola precisa dotar o aluno em multiletramentos para que ele consiga atuar em práticas sociais variadas, convivendo com gêneros discursivos diversos, entre eles os digitais. Nesse sentido, estamos entendendo, assim como Marcuschi (2008), que todo funcionamento significativo da linguagem ocorre em situações reais de uso, em textos e em discursos produzidos e recebidos em situações enunciativas ligadas a domínios discursivos da vida cotidiana e realizados em gêneros que circulam na sociedade. Para o estudo, serão usados, como aporte teórico, trabalhos de Marcuschi (2005, 2008, 2010), Soares (2002) e outros. Ao final, com as considerações traçadas, pretendemos contribuir para o debate sobre o ensino de Língua Portuguesa e para o aprimoramento do exame em questão. MULTIMODALIZANDO PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: O TEXTO SOB NOVA PERSPECTIVA Eni Abadia BATISTA – UnB [email protected] Com a sociedade imersa no mundo repleto de tecnologias, o grande desafio do ensino de Língua Portuguesa é desenvolver nos alunos habilidades que envolvam textos constituídos pelas diversas modalidades da linguagem. Nesse cenário, a disciplina de Língua Portuguesa exige dos docentes práticas de ensino que valorizem textos multimodais os quais permitem explorar a construção do conhecimento discursivo crítico e do conhecimento multimodal como potencial de significado semiótico. Nessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo apresentar uma discussão sobre essa configuração de texto com um olhar sobre os aspectos multimodais da linguagem e, sobretudo, vislumbrando a possibilidade de aplicar, nas práticas didáticas, a leitura composicional de textos multimodais. A leitura multimodal busca compreender os significados dos recursos semióticos que representam as relações sociais e os eventos discursivos que permeiam a sociedade. Para tanto, considera, segundo Kress & van Leuwen (1997), que as imagens são inseridas no universo multimodal porque fazem parte de tudo que pode ser comunicado com o uso de vários modos semióticos. Nos textos, os significados são interpretados e reproduzidos por meio de recursos representacionais e comunicacionais. Essa capacidade de gerar multiplicidade de interpretações é característica do texto multimodal e pode contribuir para uma reflexão crítica nas interações didáticas. Para alcançar esses objetivos, utilizo como aporte teórico a Análise de Discurso Crítica proposta por Fairclough (1992, 2003), a Teoria da Semiótica Social (Kress, 1982, 1989, 1995) e a Gramática Visual de Kress e van Leeuwen (1997). A reflexão sugere aplicação de textos multimodais, no contexto de sala de aula. Pretende trazer uma contribuição para pesquisas que postulam o ensino da Língua Portuguesa, pois indica pistas significativas de que essa 247 reconfiguração de texto pode promover o desenvolvimento e a dinamização de práticas que favoreçam a aprendizagem mais condizente com as demandas da atualidade. OS INDÍCIOS DA FALA NA ESCRITA DE REDAÇÕES DE VESTIBULAR: SUBSÍDIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DE OBJETO DE APRENDIZAGEM NO LAPREN SOBRE O EMPREGO DO “QUE” EM ORAÇÕES RELATIVAS Valéria Pinheiro RAYMUNDO – PUC-RS [email protected] Jocelyne da Cunha BOCCHESE – PUC-RS [email protected] Indícios da fala na escrita de redações de vestibular: subsídios para o desenvolvimento de objeto de aprendizagem no LAPREN sobre o emprego do “que” em orações relativas Jocelyne da Cunha Bocchese; Valéria Pinheiro Raymundo PUCRSA análise de redações de vestibular com baixo rendimento revela a pouca familiaridade de alguns candidatos com a organização e a linguagem do texto escrito. Além do desconhecimento das convenções da escrita, os desvios assinalados pela banca de corretores sinalizam a interferência indesejável de características do texto falado nas produções dos vestibulandos. A não distinção entre as duas situações discursivas não só comprometem a aceitabilidade e a inteligibilidade dos textos avaliados como geram preocupação com o futuro graduando, considerando que, no meio acadêmico, o domínio das competências necessárias para a produção de textos em língua padrão é uma exigência. Neste trabalho, apresentaremos as ações implantadas pelo Laboratório de Aprendizagem da PUCRS para amenizar esse problema. Retomaremos, também, as características da fala e da escrita (CASTILHO, 2002 e 2010; PÉCORA, 1999) com vistas a fundamentar a análise de trechos de textos de vestibulandos para ilustrar o processo, focalizando o emprego do pronome relativo “que”. Com a análise, buscamos subsídios para apoiar a pesquisa sobre a relação entre o desenvolvimento da consciência linguística e a superação das dificuldades de expressão escrita dos estudantes universitários. A metodologia consiste no planejamento, elaboração e testagem de objetos de aprendizagem (WILEY, 2000). O trabalho, desenvolvido por professores e licenciandos da Faculdade de Letras no Laboratório de Aprendizagem da Universidade, já resultou na construção e na testagem de um objeto de aprendizagem sobre fala e escrita e no planejamento de outro, mais específico, sobre o emprego do relativo “que” em textos escritos. O APRIMORAMENTO DE HABILIDADES DISCURSIVAS A PARTIR DO USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Marlete Sandra DIEDRICH – UPF/UFRGS [email protected] Marlei Maria DIEDRICH – UPF [email protected] Partimos do princípio de que o uso das tecnologias digitais na sociedade letrada é uma realidade e atinge o espaço escolar. De posse deste princípio, pretendemos discutir de que forma o professor da educação básica pode se valer de tais tecnologias a fim de aprimorar as habilidades discursivas de seus educandos. Assim, propomos um diálogo a partir de nossa experiência enquanto professoras de língua portuguesa em cursos de graduação, uma vez que usamos, em nossas aulas, ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) e o trabalho realizado nas escolas de educação básica. Esta experiência construída nas interações promovidas em AVA tem nos apontado a necessidade de preparar o educando das classes de educação básica para o uso de ferramentas digitais de forma consciente e produtiva, a fim de que ele seja capaz de usufruir desses benefícios na sua formação enquanto leitor e produtor de textos. Infelizmente, o que temos verificado nos cursos de graduação 248 nos quais atuamos é que este educando chega ao curso superior com suas habilidades discursivas extremamente limitadas, apesar de ter acesso às tecnologias de informação e comunicação desde cedo. Refletimos, então, a partir de uma perspectiva funcionalista do objeto língua, segundo a qual falar e escrever bem é, antes de tudo, ser bem-sucedido na interação, sobre a possibilidade de um trabalho, junto à educação básica, que dê conta do aprimoramento das habilidades discursivas explorando as tecnologias digitais disponíveis e popularizadas na sociedade. Cremos que seja possível a realização de um trabalho de leitura e produção de textos enquanto processo de interação extremamente produtivo no que diz respeito ao uso da língua em situações reais de comunicação. OS INTERNETÊS: UM ESTUDO MULTIMODAL DA ESCRITA JUVENIL Sandra Rodrigues Sampaio CAMPÊLO – SEEDF [email protected] O surgimento dos internetês trouxe inquietações no mundo dos letrados, por parte dos pais, dos professores e de toda a sociedade de maneira geral. Num primeiro impacto a sensação é de total desacordo às normas da gramática, queda na qualidade de ensino-aprendizado, uma confusão/revolução na língua escrita. Num estudo mais específico vemos os internetês com olhos mais amadurecidos e notamos que suas especificidades dão vida, movimento e cara ao texto. Isso tudo é consequência da nova forma de comunicação “imposta” pela sociedade que integra diversas modalidades sensoriais para estabelecer inter-relação. Já dizia Saussure: “A linguagem é um fato social”. Dessa necessidade de comunicação RÁPIDA que atendesse à velocidade da informação nasceram os internetês. Criado e usado por jovens na intenção de comunicar-se com rapidez. O que se pode observar é que essa linguagem tem “idade” para acontecer e espaço também. Dependendo da comunicação a ser estabelecida os jovens modificam e adéquam com naturalidade o emprego da língua. Este estudo vem acontecendo há alguns anos junto a alunos da rede pública e privada (estes, via on line) de 12 a 17 anos em visitas a salas de bate-papos, blogs, orkuts e facebooks. Representa também as observações feitas pela professora dos comportamentos dos alunos no laboratório de informática durante as aulas de língua portuguesa e a exploração de diversos gêneros da atualidade. O trabalho é um relato das aplicações em sala de aula de atividades de conferências, webquests, blogs, etc usando a internet. A proposta é apresentar tal realidade e discutir outras que incrementarão o uso da Língua por professores e alunos. USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS EM ATIVIDADES DO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DA REDE MUNICIPAL DE VESPASIANO Amilcar Figueiroa Peres dos SANTOS – PMV [email protected] Este trabalho apresenta uma contribuição para possíveis usos das ferramentas digitais e tecnologias hipermidiáticas como prática escolar para o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa de alunos do Ensino Fundamental. É importante ressaltar que, pesquisas como as de Pongelupe (2004) e de Capelão (2005) mostram que os alunos de classes menos favorecidas costumam usar o computador e/ou acessar a internet nas escolas, nos telecentros e nas lan houses, por isso a escola deve assumir o papel de cuidar da formação dos estudantes, atendendo de forma ampla à preparação deles para as exigências do mundo contemporâneo. Para isso, as instituições de ensino devem mostrar para os aprendizes a importância de se tornarem letrados alfabeticamente, bem como de ser letrados digitalmente (XAVIER), com a finalidade de se capacitar para assumirem seu papel de cidadão deste século XXI, dominando equipamentos e programas de computador. É importante destacar que essa mudança de paradigma e a inserção das ferramentas digitais deveria levar a uma forma mais dinâmica, participativa e colaborativa de aprendizagem, voltada ainda mais para as necessidades e os interesses dos estudantes, bem como para a exploração do ambiente hipermidiático na procura de saberes, de forma cada vez mais autônoma e construtiva. Diante disso, este material apresenta uma 249 iniciativa voltada para alunos dos anos finais do ensino fundamental da rede pública municipal de Vespasiano a um melhor desempenho linguístico, contribuindo para o letramento (SOARES, 2003) deles, bem como articulando esta competência com o letramento digital (COSCARELLI E RIBEIRO, 2005) deles por meio de atividades que estimulem o uso das tecnologias digitais e das ferramentas disponíveis na internet para fins pedagógicos, tais como o uso de e-mail, de redes sociais e de ferramentas de busca, de forma mais produtiva e responsável, com o objetivo de conseguir o aprimoramento do uso da língua pelos alunos. E PRA QUE SERVE? REFLETINDO SOBRE AS ATITUDES E CRENÇAS DE LICENCIANDOS DE LETRAS FACE AO USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA Jailma do Socorro Uchoa BULHOES – UFPA [email protected] A formação de novos professores para a utilização das tecnologias de comunicação e informação deve contemplar aspectos que contribuam para o interesse do futuro docente pelos conhecimentos produzidos com as revoluções tecnológicas e para o desenvolvimento de atitudes responsáveis e críticas em relação aos novos papéis que emergem para o professor em consequência das novas tecnologias. Assim, esta proposta tem como escopo discutir a respeito do papel das novas tecnologias na educação, como ponto de partida para uma investigação das atitudes e crenças de licenciandos em Letras da UFPA acerca da efetividade dos recursos tecnológicos no ensinoaprendizagem do Português. De cunho qualitativo, este trabalho apóia-se em estudos sobre educação, tecnologia e aprendizagem e em conteúdos de formação inicial para a sociedade de informação (COLL & MONERO, 201; LIBANEO, 2007; AMORA, 2007), objetivando averiguar, por meio de entrevista semi-estruturada, como se caracterizam as atitudes e crenças dos discentes face ao emprego de recursos tecnológicos e suas possibilidades de uso em sala de aula. Em linhas gerais, as primeiras análises apontam para a pouca valorização dessas tecnologias como instrumentos didáticos, haja vista os discentes reduzirem seu uso apenas ao âmbito individual. Todavia, no desenrolar da análise dos depoimentos, verifica-se que a atitude negativa dos discentes tende a tornar-se favorável à utilização da tecnologia em sala de aula após contato com disciplina específica da área. Os resultados também apontam que parte do caráter negativo na postura dos alunos se deve a ausência de aprimoramento de suas competências tecnológicas, bem como à falta de manuseio e de familiarização com os diferentes instrumentos tecnológicos nas práticas de ação e formação do Curso de Letras. O ENSINO DE LINGUA PORTUGUESA, LITERATURA E AS NOVAS TECNOLOGIAS Márcio Issamu YAMAMOTO – UFU [email protected] O objetivo desta comunicação é apresentar os projetos de ensino desenvolvidos na ESEBA - Escola de Educação Básica da UFU, e o ensino de Português Língua Estrangeira no Instituto de Letras e Lingüística. Estes projetos visam o ensino de Língua Portuguesa e o uso de Novas Tecnologias – NT, diferindo porém quanto ao público-alvo, sendo que o primeiro constituiu-se de alunos do 2º ciclo do ensino fundamental, e o segundo de alunos de português língua estrangeira. Estes projetos envolveram acadêmicos do curso de graduação em Letras e professores da universidade que atuam no ensino de português como L1 e L2. Para fundamentar as práticas de ensino e o uso das NT como recurso pedagógico, baseamo-nos em Moran (1997, 2000, 2009), na teoria de Múltiplas Inteligências de Gardner (1993) e no Letramento Digital, segundo Kleiman (1995), Soares (2002) e Xavier (2000). Com este embasamento, conhecemos os diferentes perfis de alunos, os possíveis usos da tecnologia e o alvo a atingir: um aluno capaz de dominar o uso da tecnologia rumo à construção do conhecimento, à instrumentalização do aprendizado e à sua autonomia, tornando-se 250 apto a exercer a cidadania. Foram trabalhados documentos de texto, áudio e vídeos de origem brasileira e europeia. Também houve a produção de material didático digital visando atender a vários objetivos de ensino e aprendizagem, que ao final do projeto resultou na criação de um banco de dados disponibilizado para os professores. Este material foi utilizado em laboratórios de português e em sala de aula, possibilitando o enriquecimento das aulas e a busca de uma prática pedagógica em consonância com o uso das NT no ensino. O TEXTO LITERÁRIO E A SUA RESSEMIOTIZAÇÃO NAS MÍDIAS DIGITAIS Carolina Alvim FERREIRA – UnB [email protected] A sociedade passa hoje por uma revolução sem precedentes: a revolução tecnológica. Nesse contexto, cabe o repensar de diversas práticas discursivas, entre elas a da literatura. O texto literário ganha novos espaços. Assim, esta pesquisa tem como foco a análise da ressemiotização do texto literário em duas diferentes modalidades: mídias analógicas e mídias digitais. Para tanto, nas mídias analógicas, lança-se mão da Análise de Discurso Crítica (ADC) para a investigação da importância do contexto e do conceito de sujeito em um conto de grande circulação, “Além do Ponto”, do autor Caio Fernando Abreu, parte do livro “Morangos Mofados”, publicado em 1982. Já nos meios digitais, far-se-á uso da ADC sob a perspectiva de Norman Fairclough (2001, 2006), juntamente com a Teoria da Multimodalidade, de Kress e van Leeuwen (2006) e do conceito de Ressemiotização de Iedema (2003). A análise da ressemiotização segundo o que define Iedema mostra como o texto literário, quando em meio digital, pode ter seu sentido modificado pelo leitor/apropriador: (i) porque mostra como os sistemas semióticos são traduzidos de um sistema para o outro como processos sociais; (ii) porque questiona a razão pela qual um sistema semiótico é mobilizado, em vez de outro, para concretizar algo em tempos específicos. A forma como apreendemos o mundo está subordinada a categorizações. A linguagem verbal é um modo de percebermos e expressarmos essa realidade. Outros sistemas semióticos coexistem para significarmos essa mesma realidade, o que evidencia a necessidade de multiletramentos para o leitor contemporâneo. O texto literário que hoje circula em mídia impressa e mídia digital passa por constante ressemiotização, oferecendo novas possibilidades de interpretação e reinterpretação de seus sentidos. FANFICTIONS E PRODUÇÃO DE NARRATIVAS EM AMBIENTE ESCOLAR: UM LINK POSSÍVEL? Talita de Cássia MARINE – UFU [email protected] A concepção de língua e linguagem que assumimos neste estudo, coaduna-se com a de Koch (2009), para quem a linguagem é o lugar da interação. Dessa forma, os sujeitos são vistos como atores sociais e o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação, a qual se realiza com base nos elementos linguísticos presentes na superfície do texto e na sua forma de organização, requerendo também a mobilização de um vasto conjunto de saberes (“enciclopédia”) e sua reconstrução no interior do evento comunicativo. Nesta perspectiva, os interlocutores são os sujeitos ativos que dialogam e constróem-se neste lugar de interação e o sentido de um texto é construído na interação “autor-texto-leitor”, não sendo, portanto, algo preexistente (cf. MARCUSCHI, 2007; KOCH, 2009). Como se sabe, para concretizar a comunicação, o homem utiliza-se de diversos gêneros textuais e, atualmente, na era digital, a internet trouxe uma verdadeira “explosão” de novos gêneros e novas formas de comunicação, embora, a maioria deles, possua gêneros similares em outros “ambientes”, ou seja, em outros suportes. Esses novos gêneros já provocam polêmicas quanto à natureza e proporção de seu impacto na linguagem e na vida social, já que os ambientes virtuais são extremamente versáteis e, hoje, competem, de maneira expressiva, com atividades comunicativas suportadas pelo papel e pelo som (MARCUSCHI e XAVIER, 2009; FREITAS e 251 COSTA, 2006; CRYSTAL, 2005). Em meio a essas questões, este trabalho busca apresentar e descrever um gênero digital relativamente novo, a fanfictic – ou simplesmente, fanfics -, a partir de algumas fanfics produzidas no site “AnimeSpirit”, avaliando se a prática de produção desse gênero textual pode contribuir – como ferramenta complementar ao ensino de produção textual - para a melhora na qualidade dos textos produzidos por alunos adolescentes em sala de aula, sobretudo, os de caráter narrativo. TECNOLOGIAS DIGITAIS E ENSINO: O USO PEDAGÓGICO DO BLOG PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA MATERNA Luana Fabricia Correia SILVA – CEFET-MG [email protected] Tecnologias digitais e ensino são temas discutidos com frequência por educadores e pesquisadores que se interessam pelos estudos referentes à inserção das ferramentas tecnológicas nas práticas docentes. No atual contexto em que os aparatos tecnológicos estão cada vez mais inseridos no dia a dia dos alunos, faz-se necessário pensar no ensino e na aprendizagem da língua materna utilizando as tecnologias da informação e comunicação de forma consciente e adequada. Este trabalho apresenta uma reflexão sobre o blog como recurso e estratégia pedagógica, a fim de discutir as possibilidades de uso desse gênero nas práticas de ensino da Língua Portuguesa. Além disso, discutir-se-ão alternativas criativas e estimulantes para trabalhar com escrita e leitura nas atividades escolares, tendo em vista a importância de desenvolverem-se novos contextos de interação para um ensino motivador e participativo para o aluno. Para isso, serão elencadas algumas experiências de educadores que utilizam ou utilizaram esse gênero na sala de aula e, em seguida, serão apresentadas algumas observações sobre o uso do blog nas práticas pedagógicas e os quesitos que devem ser considerados. Nesse sentido, ressalta-se que os recursos digitais podem oferecer instrumentos que atendam às necessidades de professores e alunos, desde que utilizados de modo a propiciar um aprendizado significativo para o educando e não servir apenas como um meio de transmitir informações descontextualizadas. As pesquisas sobre o uso do blog como recurso e estratégia didática demonstram que ainda são necessários estudos mais aprofundados sobre os resultados de sua utilização no ambiente escolar, tendo em vista a importância da elaboração de projetos pedagógicos que visem a um melhor desempenho dos alunos, integrando práticas habituais de ensino às possibilidades oferecidas pelas tecnologias digitais. O GÊNERO "MEME" EM PROPOSTAS DE PRODUÇÃO DE TEXTOS: IMPLICAÇÕES DISCURSIVAS E MULTIMODAIS Marcos Vinícius Ferreira PASSOS - UnB [email protected] Este trabalho propõe discutir a relação que pode existir, nos dias de hoje, entre produção de textos para alunos de ensino médio e a articulação com o conhecimento prévio de gêneros já conhecidos e produtivos no cotidiano. A proposição aqui entendida diz respeito à reflexão crítico-pedagógica sobre o uso de textos multimodais na construção de temas para produção de textos nas aulas de redação do ensino médio. O gênero "MEME" poderia, portanto, ser usado como forma de motivar discussões linguísticas, discursivas e sociais sobre o mundo real? De que modo? Em que medida? Amparados pelo modelo de prática pedagógica proposto por Paulo Freire, diversos autores salientam que é importante partir do que já é conhecido pelos alunos, o que geraria, logo, a valorização do conhecimento prévio, das noções partilhadas pelo grupo discente. Nesse sentido, introduzir as aulas de linguagens e suas tecnologias com considerações sobre o que os alunos já usam em suas práticas sociais cotidianas seria por demais produtivo, uma vez que promove reflexões sobre a linguagem, sua funcionalidade contextual, características de uso, por exemplo. Tem sido observado, nos últimos anos, um interesse particular pelas formas alternativas de construir textos que se integram a mídias tecnológicas ou outros suportes que serviriam como meios de transmissão. Observa-se, então, a necessidade de se valorizar a presença de gêneros no contexto 252 pedagógico alinhados às mídias eletrônicas ou tecnológicas, como forma atualizada e adequada às propostas vinculadas aos Parâmetros Curriculares Nacionais, em que se cobra a adaptação das competências linguístico-discursivas a fim de promover um ensino inclusivo, atuante e protagonista. GRUPO TEMÁTICO 39: O ENSINO DOS GÊNEROS DISCURSIVOS NO BRASIL COORDENADORAS: Eliana DIAS (UFU) – [email protected]; Elisete Maria de Carvalho MESQUITA (UFU) – [email protected] Pesquisas sobre os gêneros discursivos têm, cada vez mais, conquistado espaço entre os estudiosos. Sob a ótica do ensino, podemos afirmar que os milhares de professores de Língua Portuguesa, principalmente, espalhados pelo Brasil, parecem ter descoberto que o trabalho com essas entidades em sala de aula é uma excelente oportunidade de se lidar com a língua nos mais variados contextos. Desse modo, após muitas discussões, muitos erros e acertos, hoje, é consenso que o ensino de Língua Portuguesa deve se abrir à pluralidade discursiva, o que significa que todos os gêneros que circulam em diferentes esferas de uma sociedade devem ter espaço (maior ou menor) em sala de aula. Os Parâmetros Curriculares Nacionais têm papel relevante nesse processo de mudança, uma vez que, desde sua primeira versão (1996), vêm defendendo o trabalho com os gêneros discursivos nas salas de aula como principal estratégia para a formação de alunos cidadãos, preparados para enfrentar o mundo moderno. Considerando que a cada dia novos gêneros orais e escritos surgem para atender à demanda da sociedade e que é tarefa da escola ensiná-los, não somente os da esfera privada, mas também os formais públicos, com este grupo de trabalho pretendemos: i) oportunizar um espaço de discussão sobre os múltiplos aspectos ensináveis dos gêneros discursivos; ii) constatar como os gêneros têm sido tratados em sala de aula; iii) perceber quais aspectos dos gêneros discursivos são mais/menos ensinados; iv) considerar os resultados obtidos a partir do trabalho com os diversos gêneros discursivos em sala de aula. GÊNEROS: COMO ENSINAR? Eliana DIAS – UFU [email protected] Na última década, a grande mudança ocorrida nas aulas de Língua Portuguesa (LP), na escola, foi a chegada dos gêneros discursivos. Porém, o que está ocorrendo na atualidade é uma pequena confusão no modo de ensinar e trabalhar com esses gêneros. Muitos docentes da escola fundamental ainda adotam uma postura tradicional e equivocada. Diante disso e da dificuldade dos professores no trabalho com os gêneros, foi realizada uma pesquisa para verificar se a afirmativa é verdadeira e o que, de fato, ocorre na escola. A presente comunicação tem por objetivo apresentar uma pesquisa sobre a metodologia adotada por professores de LP para o ensino dos gêneros discursivos em uma escola pública da cidade de Uberlândia. A pesquisa retrata parte do trabalho desses professores no que diz respeito à utilização dos gêneros que estão a serviço da aprendizagem da LP. Em relação à metodologia adotada para a pesquisa, foi elencada e estudada uma vasta bibliografia sobre gêneros e ensino de LP. Na sequência, foram assistidas 40 aulas de 6º ao 9ºs anos (de leitura e produção de diferentes gêneros) com o intuito de perceber a metodologia utilizada pelo professor no ensino desses gêneros. Percebeu-se que, em sua maioria, os professores observados continuam apresentando aos alunos as características formais de cada gênero, sem fugir ao uso de práticas tradicionais predominantes no ensino de Língua Portuguesa durante a maior parte do século passado. Como contributo ao ensino dos gêneros discursivos, optou-se por elaborar um artigo com diferentes sugestões de como tratá-los na escola. 253 O ENSINO DE GÊNEROS DISCURSIVOS POR MEIO DO TRABALHO COM JORNAL ESCOLAR Paula Isaias CAMPOS-ANTONIASSI – UFSC [email protected] O trabalho com jornal escolar tornou-se, ao longo dos anos, um instrumento bastante importante para o ensino de linguagem. Além de fornecer subsídios para que a leitura e escrita sejam ensinadas, trabalhar com o jornal feito pelos alunos, na escola, oferece a possibilidade de que o ensino de gêneros discursivos (BAKTHIN, 2003 [1953/54]; MARCUSCHI, 2010) faça parte do processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa (BONINI, 2009). A fim de verificar a forma com que o jornal escolar auxilia o ensino de LP por meio dos gêneros discursivos, este trabalho tem por objetivo analisar os jornais feitos pela Escola Básica Vitor Miguel de Souza, de Florianópolis, no ano de 2011. Para isso, será feita uma discussão acerca da organização textual destes jornais, evidenciando as sessões e quais textos pertencem a cada uma, a forma com que os jornais foram diagramados e se esta organização evidencia, de alguma maneira, a importância que cada nota ou notícia tem para as autoras e coordenadores do projeto. Após isso, haverá um levantamento dos gêneros discursivos pertencentes aos números publicados naquele ano, para que seja feita uma análise mais aprofundada do gênero que mais fora utilizado e, consequentemente, mais trabalhado pelas autoras. Nesta análise, será possível analisar os assuntos trabalhados e a forma que este trabalho aconteceu, bem como a organização deste gênero. Neste momento, será possível inferir se os gêneros pertencentes a este jornal são, de fato, pertencentes à ordem jornalística ou se os textos são escolares. (BALTAR, 2006 [2004]), partindo, assim, para uma busca sobre a configuração do jornal escolar, evidenciando se este é apenas um simulacro do convencional ou se os alunos estão apropriando-se da teoria dos gêneros discursivos e se há ressignificação de suas identidades a partir deste trabalho. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS MULTIMODAIS E O ENSINO DE GÊNEROS DISCURSIVOS Walleska Bernardino SILVA – UFU [email protected] O espaço e as práticas educativas tradicionais no ensino de língua portuguesa, suas representações simbólicas, seus conteúdos e seus recursos reagem às demandas contemporâneas da significação que requerem sujeitos interagentes às várias modalidades para além da oralidade e escrita: gestual, visual, sonora, espacial (Kress e Van Leuween). Sob essa perspectiva, o professor necessita rever sua metodologia a fim de propiciar ao aluno condições de ascensão nas e para as práticas sociais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) já sinalizam um caminho promissor ao proporem o ensino da língua por meio dos gêneros discursivos. Mesmo assim, exames nacionais, como Prova Brasil, Saeb, Enem, e internacionais, como o Pisa, apontam índices não satisfatórios no que concerne às habilidades linguístico-discursivas dos alunos. A partir desse dado, o presente trabalho pretende discutir a necessidade de o professor de língua portuguesa repensar as práticas pedagógicas no sentido de ampliar seu poder de alcance, considerando modos outros de produzir sentido, dada a vertiginosa mudança, provocada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), no ensino-aprendizagem de língua materna. Para tanto, nessa proposta, as intervenções pedagógicas multimodais devem estar atreladas ao estudo dos gêneros, contribuindo para a formação de sujeitos letrados que não somente leem e escrevem, mas são capazes de relacionar, analisar, interpretar os vários planos dos quais decorre a significação: plano pictórico, plano sensorial, plano visual, plano espacial. Assim, acreditamos que atividades que sistematizam o ensino dos gêneros a partir de enfoques multimodais promovem letramentoS (ROJO, 2009) que recobrem os usos sociais da língua, em perspectiva dialógica (Bakhtin, 2003). 254 A CONCEPÇÃO DIALÓGICA DA LINGUAGEM E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UMA REFLEXÃO A PARTIR DE RELATOS DE PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL DE BLUMENAU Vanessa Arlésia de Souza Ferretti SOARES – UFSC [email protected] Há, hoje, atuando no cenário nacional fatores internos e externos (SOARES, 2002) que contribuem para mudanças reais nas práticas de ensino de língua. Nesse contexto se destacam as novas abordagens sobre a linguagem – na Linguística Aplicada, sobretudo, a concepção dialógica de Bakhtin, que têm propiciado novas perspectivas para o ensino de língua, e cuja presença é visível nos documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNLP, 1998). Nesse sentido, o presente artigo busca entender como têm se dado tal processo de mudança no contexto da sala de aula. Para tanto, faz-se uma análise qualitativa, de cunho interpretativista, sob o arcabouço teórico bakhtiniano (BAKHTIN, 2006 [1929]; 2003 [1952/53]), de relatos de professores de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II. Os docentes possuem formação recente (menos de 10 anos) e são participantes do curso de extensão GESTAR II (Gestão de Aprendizagem), que propõe, justamente, o diálogo dessas teorias com a prática docente. A análise focaliza-se nas seguintes questões: a) Como esses profissionais têm entendido gêneros discursivos; b) Como têm sido trabalhados os gêneros em sala de aula e c) Quais as implicações de determinadas práticas para o processo educacional local. Busca-se, a partir desse estudo, contribuir para a reflexão do estado atual da cultura escolar (JULIA, 2001), ou seja, como as normas que definem o que ensinar e as práticas que permitem tal ensino têm se articulado nessas salas de aula. O estudo permite perceber que convivem, na escola, práticas próximas de um arcabouço bakhtiniano, ou da língua-discurso (RODRIGUES, 2005) e práticas convergentes ainda com uma concepção de língua-sistema (RODRIGUES, 2005), tendo aquela, apresentado implicações muito mais significativas para o processo educacional, como o maior envolvimento dos discentes nas práticas de letramento e o desenvolvimento da autoria desses alunos. AS REPRESENTAÇÕES DOS ALUNOS SOBRE AS AULAS DE PORTUGUÊS VOLTADAS PARA PRODUÇÃO DE TEXTOS Hélida Maria de Oliveira ALVES – SME/PMU [email protected] Valéria Lopes de Aguiar BACALÁ – UFLA [email protected] Este trabalho resulta da reflexão sobre a produção textual em aulas de Língua Portuguesa, mais especificamente, da representação dos alunos sobre essa temática. Estamos vivendo na era pósmoderna. Essa nova era exige que os sujeitos se posicionem, frente aos valores sociais, ativa e criticamente. Para tanto, torna-se necessário que os sujeitos se apropriem, com eficiência, dos processos de produção de textos orais e/ou escritos que circundam o cotidiano. Alardeiam-se nesse cenário que saber produzir um bom texto é garantir os direitos de cidadão. É na escola, ambiente em que se produz o conhecimento sistemático, que as pessoas terão oportunidade de compreender o funcionamento da linguagem e adquirirem ferramentas para se instrumentalizarem. Por esse motivo, é importante compreender as representações que os alunos criam sobre as aulas de Português voltadas para a produção de texto. A compreensão dessas representações pode ser o primeiro passo para as mudanças nas práticas de sala de aula e para a construção de um ensino mais significativo. Esse estudo tem como objetivo investigar como os alunos de ensino fundamental constroem suas imagens e como eles a representam no espaço escola/sociedade. A pesquisa está fundamentada nos estudos sobre os gêneros discursivos e linguagem e nas teorias sobre representação. As análises apoiam-se nos estudos de Schnewly & Dolz(1998); Bourdier(2002); Bakthin(1984); González 255 Rey(2003). A hipótese investigada é que os alunos constroem suas representações baseando-se nos discursos que os circundam socialmente, principalmente aqueles propagados na escola. A pesquisa tem uma base qualitativa, com aplicação de questionários semiestruturados, cujo resultado aponta para a confirmação de que os alunos realmente apropriam-se dos discursos sociais na construção de suas representações. LETRAMENTO EM MARKETING NO PORTAL DO PROFESSOR: SOBRE GÊNEROS E DEFINIÇÕES PRESENTES NAS ATIVIDADES Jônio Machado BETHÔNICO – UFMG [email protected] (Apoio CNPq – Processo 140694/2011-0 / Pró-Reitoria de Extensão PROEX/UFMG – Registro no SIEX nº. 400447) A fim de verificar se e como o Portal do Professor (lançado em 2008 pelo MEC em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia) incentiva a formação de alunos críticos quanto às mensagens de caráter publicitário e quanto ao consumo (processo nomeado Letramento em Marketing), foi feita uma seleção de atividades a partir do material disponível no site para ser analisada – atividades estas principalmente voltadas para a disciplina de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental. Este artigo é composto por dados referentes à análise quantitativa dos gêneros textuais encontrados nas atividades e relativos à análise qualitativa das definições de conceitos ali presentes. Na construção da fundamentação teórica, faz-se referência a estudiosos como Mikhail Bakhtin, Luiz Antônio Marcuschi e Ângela Paiva Dionísio. Por fim, chegou-se à conclusão, sobre o primeiro aspecto, que a seleção dos materiais abordados nas atividades mostra-se incompatível com as estratégias de comunicação usadas atualmente nas empresas – resultados muito semelhantes àqueles provenientes de outras duas investigações sobre Letramento em Marketing. Quanto às definições, os problemas mais graves encontrados se concentraram nos conceitos relativos à esfera da Comunicação/Marketing, revelando que os professores-autores têm dificuldades para tratar desses assuntos. Estas conclusões estão vinculadas àquelas relativas à primeira análise do Portal do Professor realizada pelo mesmo grupo de pesquisa – que permitiu verificar que os gêneros publicitários ainda não recebem um tratamento discursivo adequado nas atividades disponibilizadas nesse Portal. RASTREANDO ESTRATÉGIAS DE DIDATIZAÇÃO DOS GÊNEROS DO DISCURSO EM PRÁTICAS DE ENSINO Janaína Zaidan Bicalho FONSECA – PUC/MG [email protected] O presente trabalho tem por objetivo rastrear as estratégias de didatização relativas ao ensino dos gêneros do discurso. Por estratégias de didatização, entendem-se as ações responsáveis pela construção e pela condução de um objeto de ensino, no caso deste trabalho, dos gêneros do discurso. Para tanto, tomaram-se como objeto de análise as aulas de Língua Portuguesa de duas informantes, os instrumentos didáticos que conduzem suas práticas de ensino e também os documentos que norteiam o ensino de língua materna, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Tais objetos de análise receberam tratamento metodológico baseado numa perspectiva etnográfica, que considera o locus natural de atuação dos informantes – no nosso caso – a sala de aula. Teoricamente, este trabalho se fundou em Bakhtin (1997, 2003), para o tratamento dos gêneros, e em estudiosos da transposição didática, representado, fundamentalmente, na figura de Chevallard (1991). Além disso, o contou-se com vasto arsenal teórico da linguística aplicada. Foram identificadas, no decorrer das análises das aulas, estratégias de didatização utilizadas pelas professoras e pelo material didático, cotejando-as com aquelas previstas pelos documentos parametrizadores. Todas elas foram descobertas a partir de uma análise discursiva dos índices 256 linguísticos que se apresentavam com maior frequência nos discursos examinados. Entre as estratégias mais comuns, estas se fizeram imperativas: pergunta-resposta, da ordem, rememoração, reiteração, exemplificação, determinação, aconselhamento, definição, comparação, retificação e anuência. Tais estratégias mostraram que os modos de dizer são responsáveis pelos modos de agir, revelando modelos e representações particulares do que seja uma aula de Língua Portuguesa. Mesmo numa realidade mais recortada, foi possível perceber que as professoras possuíam posturas e iniciativas didáticas diferentes uma das outras; o que implica dizer que não há uma única forma de efetivar o ensino de língua materna. UMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO DOS GÊNEROS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Fabiana Ferreira dos SANTOS – UFU [email protected] O Programa Algar Educa foi uma experiência de formação de professores ocorrida entre 2008 e 2010 com escolas de cidades do Triângulo Mineiro e Maranhão. Esse projeto tinha como hipótese inicial a idéia de que o ensino de gêneros de divulgação científica poderia se concretizar pela combinação de duas metodologias: a sequência didática e o projeto temático. Pelo projeto temático, trabalhar-se-iam os temas das Ciências Naturais (p. ex.: o ciclo da água), enquanto que os gêneros jornalísticos pelos quais se faz a divulgação científica (como a reportagem) seriam ensinados no âmbito de sequências didáticas. Para a construção das sequências didáticas, a equipe de formação utilizou como princípio teórico os estudos de J. Dolz e B. Schneuwly, divulgados no Brasil, tanto nas orientações curriculares oficiais quanto em bibliografias para o ensino da língua portuguesa. Quanto aos projetos temáticos, o embasamento teórico se constituiu a partir das idéias de F. Hernández e M. Ventura. As sequências didáticas e projetos temáticos assim construídos foram submetidos à apreciação dos professores e foram experimentados com alunos nos três anos do Programa. Como conseqüência dessa experimentação, foi possível avaliar em que medida a hipótese inicial podia ser validada: a conclusão revelou que o trabalho com os projetos temáticos – possibilitando aos alunos a compreensão dos temas das Ciências Naturais ajudou-os a construir um corpo de conhecimentos necessário à escrita dos gêneros de divulgação científica trabalhadosnas sequências didáticas. O trabalho com as sequências fortaleceu o desenvolvimento de capacidades de linguagem que favoreceram a compreensão de textos científicos e de divulgação. Além disso, a natureza das sequências didáticas permitiu articular dimensões do ensino da língua que, para o grupo de professores, costumavam ser abordadas de forma fragmentada. Essa sistemática favoreceu, finalmente, o trabalho contextualizado e interdisciplinar. PROPOSTA DE ENSINO DO RESUMO POR MEIO DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS Valdete Aparecida Borges ANDRADE – UFU [email protected] Diariamente, entramos em contato com uma infinidade de gêneros que circulam na sociedade. Para nos comunicar linguisticamente recorremos a gêneros pertencentes a esfera comunicativa a qual estamos inseridos. Assim, quanto mais gêneros um indivíduo é capaz de reconhecer e produzir, maior é o seu nível de letramento. Nesse sentido, cabe à escola assumir o papel de transmissora desse conhecimento, mais especificamente, nas aulas de Língua Portuguesa. Como as práticas sociais, os gêneros são infinitos, já que falamos, lemos e escrevemos por meio deles. Dessa forma, há de se pensar que o ensino de um gênero pode possibilitar ao indivíduo o domínio de outros em diferentes esferas comunicativas. Mesmo aquelas pessoas que possuem domínio sobre uma língua, em algumas situações cotidianas não possuem domínio sobre algum gênero em particular, por isso, a necessidade de se trabalhar uma proposta didática, para se ensinar gêneros que circulam na sociedade. Nesta comunicação, teremos como objetivo trabalhar o gênero resumo por meio das sequências didáticas propostas por Dolz e Schnewuly (2011), para aperfeiçoar as práticas de escrita 257 e de produção oral dos alunos do ensino médio em aulas de Língua Portuguesa. A escolha do gênero resumo se justifica já que em processos seletivos em que se exige a elaboração desse gênero, os alunos não conseguem produzi-lo satisfatoriamente. Essa constatação contraria a crença da maioria dos professores de que os alunos já dominam esse gênero, por fazer parte da “comunicação verbal espontânea” (BAKHTIN, 2003), cotidiana, imediata. De acordo com esse pensamento muitos professores acreditam que não é necessário trabalhá-lo em sala de aula de forma sistemática, o que faz com que os alunos, como dito anteriormente, fiquem prejudicados ao serem requeridos para elaboração desse gênero. O USO DE CONECTORES EM TEXTOS DE OPINIÃO Elisete Maria de Carvalho MESQUITA – UFU [email protected] Desde a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os professores brasileiros vêm se esforçando para se adequarem à mudança teórica e, principalmente, metodológica, proposta para o ensino de língua portuguesa. De acordo com as diretrizes desse documento, o ensino dessa língua deve fazer com que o aluno desenvolva as habilidades básicas de leitura e produção de textos, principalmente, o que pode garantir que ele seja bem sucedido em qualquer situação de uso da língua. Considerando a necessidade de se trabalhar com os gêneros discursivos em situação formal de ensino, optou-se pela análise de alguns aspectos linguísticos do texto de opinião, gênero que costuma ser muito solicitado pelos professores que visam a perceber e avaliar não somente o conhecimento do aluno sobre determinado assunto, mas também sua habilidade para expor/contrapor ideias, argumentar e se posicionar diante desse assunto. Objetiva-se, especificamente, para atingir os propósitos deste estudo, perceber quais são os elementos de conexão textual mais/menos comuns nos textos de opinião produzidos por alunos do 3º ano do Ensino Médio. Parte-se da hipótese de que esses alunos se mantêm fiéis ao modelo proposto para a produção do tipo dissertativo, há muito defendido pelas escolas brasileiras. Para atingir a meta proposta, foram selecionados e analisados 20 textos de opinião produzidos por alunos matriculados em diferentes escolas públicas da cidade de Uberlândia-MG. Com base em uma proposta interacionista sociodiscursiva, representada por Bronckart (1999) e Bakhtin (1953/1992), principalmente, constatou-se que os textos de opinião produzidos pelos alunos apresentam número significativo de elementos de conexão textual, cuja maioria aparece em pontos previsíveis do texto. GÊNEROS TEXTUAIS PARA A PRODUÇÃO DE TEXTOS ESCRITOS NO LIVRO DIDÁTICO Laice Raquel DIAS – UFG/CAC [email protected] Entende-se por Gêneros Textuais entidades de natureza sociocultural que materializam a língua em situações comunicativas diversas. É um campo de estudo que tem recebido uma maior atenção nos últimos anos, devido à percepção de sua relevância para o ensino de língua portuguesa e funcionalidade na vida cotidiana, nas incontáveis áreas de conhecimento que esta abrange e com as quais o aluno poderá entrar em contato.No cenário da educação, visualiza-se o livro didático como principal instrumento utilizado pelo professor para mediar o ensino da Língua Portuguesa e, em seu contexto, os Gêneros Textuais.Constitui-se desta pesquisa a análise dos Gêneros Textuais para produção de textos escritos presentes no livro didático do nono ano do ensino fundamental, observando-se ali como são trabalhados e a maneira como estão dispostos no livro, se alguns gêneros são privilegiados e outros deixados de lado, no intuito de apontar as contribuições do Gênero Textual para o ensino/aprendizado de Língua Portuguesa, tendo como principal referência os apontamentos feitos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Este trabalho faz parte de uma pesquisa de especialização e tem como objetivo também observar se os gêneros textuais para produção de textos escritos são encontrados no livro didático de maneira a abranger as expectativas 258 e direcionamentos propostos pelos PCNs, à luz das definições de Bakhtin (2000) e Marcuschi (2005, 2008), entre outros autores. Foram escolhidos como corpus da pesquisa livros utilizados nas salas de aula em duas instituições de ensino públicas da cidade de Ipameri – GO, numa proposição de aproximar-se ao máximo da situação real de ensino e, dessa forma, chegar a um parecer que contribua de maneira mais concreta para o ensino de Língua Portuguesa. OS GÊNEROS DO HUMOR E DA ESFERA JORNALÍSTICA EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA Maria Aparecida Resende OTTONI – UFU [email protected] Neste trabalho apresento uma comparação entre parte dos resultados de duas pesquisas. No primeiro estudo, investiguei quais são os gêneros do humor (GHs) incluídos em livros didáticos de Língua Portuguesa (LDLPs) do Ensino Fundamental e como esses GHs são abordados. No segundo, Ludymilla Fogassi de Oliveira Rocha e eu investigamos quais gêneros da esfera jornalística (GJs) estão presentes em uma coleção de LDLPs do Ensino Médio adotada em escolas públicas de Uberlândia e como são abordados. Nos dois estudos, a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais e diferentes estudos sobre o LDLP (CORTEZ, 1996; BUNZEN, 2005) constituíram o aporte teórico. Além disso, a primeira pesquisa foi fundamentada em estudos sobre os gêneros do humor (MAGALHÃES, 2006; MUNIZ, 2004; RASKIN, 1985 e 1987; POSSENTI, 1998; TRAVAGLIA, 1990) e, a segunda, em estudos sobre os gêneros da esfera jornalística (MARQUES DE MELO, 2003; BUENO, 2011). Os resultados mostram que os GHs e os GJs estão presentes nos LDLPs em escala bem maior do que se via antes da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Contudo, no que diz respeito aos GHs, eles são utilizados predominantemente como pretexto para estudo de tópicos gramaticais, o que não acontece com os GJs. Para o trabalho com os GJs são propostas atividades diversas, mas menos de 20% delas são voltadas para a abordagem das especificidades dos gêneros. Além disso, nos LDLPs analisados, o que se tem são trechos muito pequenos dos GJs e a maioria não aparece nomeada, o que compromete o trabalho com o gênero. Dessa forma, percebe-se há diversidade de gêneros nos LDLPs, mas estes ainda não estão realmente sendo tomados como objeto de ensino na elaboração desses materiais. REESCREVA O TEXTO NA LÍNGUA PADRÃO”: CONSIDERAÇÕES ACERCA DO TRABALHO COM A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA ESCOLA Claudia Goulart MORAIS - UNICAMP/ESEBA-UFU [email protected] Uma das propostas das políticas de ensino de Língua Portuguesa para o nível fundamental é a de que os alunos devem ser levados a refletir sobre suas práticas de linguagem (orais e escritas) e sobre suas atitudes em relação às praticas de linguagem dos outros a fim de que sejam desenvolvidas as competências comunicativas necessárias para o exercício da oralidade e do letramento, num contínuo que vai da fala e da escrita mais popular à fala e à escrita mais monitorada, em gêneros variados. Para a apresentação deste trabalho, tomamos como objeto de análise uma aula que apresenta uma proposta de ensino de variação linguística para discutir alguns conceitos importantes, tais como a relação constitutiva entre fala/escrita e oralidade/letramento (MARCUSCHI, 2001) e o princípio da marcação (GIVÓN, 2001), sobretudo quando se leva para a sala de aula gêneros orais estilizados. A análise de algumas aulas nos permite concluir que as orientações para o trabalho com a variação linguística na escola servem apenas de pretexto para um discurso sociolinguístico, porque são pautadas, ainda, pela apresentação dos conceitos de norma padrão x não padrão, pelo viés da escrita, e por atividades que pedem ao aluno a reescrita de determinado texto na variedade padrão da língua sem se fazer uma discussão sobre as relações de constituição conjunta entre fala/escrita e oralidade/ letramento, mostrando que tal constituição se dá num contínuo e não na observação dicotômica desses dois polos prototípicos. A perspectiva levada a cabo na escola por 259 professores e por materiais didáticos pouco colabora para que os alunos pensem sobre a diversidade de usos da língua nos variados contextos em que necessitam usar uma e outra modalidade. Portanto, é preciso trabalhar questões de variação linguística de forma sistemática e não apenas considerandoa mais um conteúdo a ser dado. O OBJETO DE ENSINO "GÊNERO DO DISCURSO" EM PERSPECTIVA SÂMIA ARAÚJO DOS SANTOS Sâmia Araújo dos SANTOS – UFC/SEDUC [email protected] Francisca Tarciclê Pontes RODRIGUES – IFCE/UFC [email protected] O objetivo desse trabalho é analisar algumas pesquisas acadêmicas desenvolvidas sobre o tema “ensino de língua portuguesa”, especificamente em torno dos aspectos teórico-metodológicos relacionados ao objeto de ensino “gênero do discurso”. Trata-se de pesquisas acadêmicas que tomaram os documentos oficiais como corpus, de que são exemplos os Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino fundamental (PCN) e os Parâmetros em Ação (PCN+). Para alcançar esse objetivo, adotou-se a pesquisa bibliográfica desenvolvida através da revisão da literatura acerca da noção de gênero do discurso em Bakhtin (2009), na tese de Gomes-Santos (2004) e nas dissertações de Figueiredo (2005) e de Virmond (2004) e na abordagem desenvolvida nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006), de Língua Portuguesa. A análise dos dados se deu a partir do pressuposto da interdiscursividade (MAINGUENEAU, 2005) existente entre essas pesquisas acadêmicas, por isso se concentrou nos recortes feitos em sua materialidade linguística como forma de evidenciar que, pelo diálogo (BAKHTIN, 2009) estabelecido entre elas, instauram-se perspectivas teórico-metodológicas bastante específicas sobre o objeto de ensino “gênero do discurso”. Tais perspectivas resultam de uma problematização em torno de como a noção de “gênero do discurso” foi evocada nos documentos oficiais com a finalidade de fundamentar as orientações didático-pedagógicas para o ensino de Língua Portuguesa no Brasil e, assim, lançam luzes sobre que dimensões do gênero discursivo são privilegiadas em sua transposição didática. Essa pesquisa, além de explicitar a interdiscursividade entre os discursos oficiais e os acadêmicos, chega à conclusão de que o modo como a noção de “gênero do discurso” foi tomada nos primeiros documentos oficiais que tomaram Bakhtin como referência carecia de revisão e de atualização, principalmente, no sentido de se considerarem os aspectos enunciativos e não somente os textuais do gênero, conforme se constatou e se criticou nos PCN. GÊNERO GLOSSÁRIO: SUPORTE PARA O TRABALHO INTERDISCIPLINAR Solange Aparecida Faria CARDOSO – UFU [email protected] Esta comunicação tem o objetivo de apresentar um projeto interdisciplinar, desenvolvido por duas professoras (Língua Portuguesa e Biologia) de uma escola pública de Uberlândia-MG. A partir de uma perspectiva sociointeracionista, historicamente situada, e de caráter essencialmente cognitiva, entendemos que os alunos do 1º ano (Ensino Médio) apresentam dificuldades para o domínio tanto oral quanto escrito do léxico (termo técnico-científico) da disciplina Biologia. Diante disso, desenvolvemos um trabalho voltado tanto para o adequado uso da terminologia técnico-científica quanto para o uso de radicais gregos e latinos na formação desses termos. Optamos pela elaboração de glossário, porque este é um instrumento lexicográfico que opera recorte no acervo lexical da língua, ou seja, efetua um inventário limitado de signos linguísticos e, então, procede a sua definição por meio da descrição parcial ou total dos seus significados. A elaboração de glossários pode favorecer a compreensão e a aprendizagem dos alunos em diferentes áreas de conhecimento. Cientes de que o trabalho com o léxico deve ser uma preocupação constante dos professores para uma efetiva aprendizagem, acreditamos ser esta proposta uma sugestão para o trabalho com o 260 gênero glossário. Considerando o contexto apresentado, obedecemos aos seguintes objetivos: trabalhar o gênero glossário em turmas do 1º ano do Ensino Médio; desenvolver habilidades para a leitura de glossários; fazer com que o aluno reconheça as marcas linguísticas do gênero; desenvolver a competência linguística para a elaboração desse gênero. Visando a atingir os objetivos propostos, organizamos as tarefas em módulos e sequências didáticas (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004), de modo que todas as ações correspondessem a situações concretas, reais de comunicação que propiciam a aproximação entre as atividades escolares e as situações sociais e cotidianas. Ao final do projeto, apresentaremos os trabalhos dos alunos em uma exposição coletiva a ser realizada nas dependências da escola. CONSTRUINDO LETRAS: PRODUÇÃO TEXTUAL NO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM MOODLE Agleice Marques GAMA – UFMG [email protected] Levando em consideração que a proposta dos PCNs (1996) privilegia o texto a partir dos gêneros como unidade de ensino de Língua Portuguesa e que as tecnologias digitais abrem novos espaços para a prática da escrita, tem-se como objetivo deste trabalho analisar a utilização de um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) como instrumento auxiliar de ensino-aprendizagem de gêneros do discurso no contexto presencial da educação básica durante a realização do curso Construindo Letras que se baseou nas sequências didáticas para o ensino de artigo de opinião, resenha crítica, memórias e crônica. O curso foi ofertado no Portal Escolar: Educação sem Distância do Estado do Pará sob a coordenação de uma professora de Português e de duas técnicas de laboratório de informática e teve como clientela alunos do 9º ano das redes municipal e estadual de ensino do interior. Como aporte teórico-metodológico de análise, fundamenta-se no conceito de gêneros do discurso de Bakhtin (2006) e na proposta de sequências didáticas organizada por Joaquim Dolz, Michèle Noverraz e Bernard Schneuwly (2010 [2004]) sobre ensino de gêneros orais e escritos na escola, tendo por base uma abordagem sócio-interacionista. Os resultados deste estudo mostram que, nos dias de hoje, é de suma importância a agregação de AVAs no ensino básico regular, haja vista que além de enriquecer as aulas pela facilidade de pesquisa, pelo acesso a diferentes gêneros discursivos, pelo estímulo à escrita e pela interação on-line ainda amplia o horário de estudo e o espaço da sala de aula convencional, antes restrita aos muros escolares. Todavia, o estudo mostra, também, a necessidade de esclarecimento nas concepções da professora quanto ao trabalho com gêneros via sequências didáticas, principalmente em um AVA do tipo Moodle. OBRAS LITERÁRIAS INFANTIS: SABERES E PRÁTICAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Eliana Aparecida CARLETO – UFU [email protected] Este texto evidencia uma pesquisa inicial de doutorado em desenvolvimento no Programa de Pósgraduação em Educação na Universidade Federal de Uberlândia, na linha de pesquisa Políticas, Saberes e Práticas Educativas. Neste trabalho, pretende-se investigar e analisar os saberes e práticas educativas nos anos iniciais do Ensino Fundamental expressas em obras de literatura infantil veiculadas no acervo do Programa Nacional e Biblioteca da Escola (PNBE), instituído pelo Ministério da Educação (MEC), durante o ano letivo de 2010. Pretende-se também investigar o grau de interdisciplinaridade de obras literárias infantis em salas de aulas dos anos iniciais do Ensino Fundamental por meio do estudo dos Temas Transversais propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), tendo como foco a formação histórica cidadã. A opção metodológica é por desenvolver uma pesquisa qualitativa, pois possibilita a inserção com uma realidade social, política, econômica e cultural, além de ser flexível, pois se trabalha com a realidade. A investigação 261 pressupõe pesquisa bibliográfica, análise documental, trabalho de campo e entrevistas semiestruturadas. O cenário da investigação limita-se a salas de aulas dos anos iniciais do Ensino Fundamental de duas escolas da rede pública, uma estadual e outra municipal, da cidade de Uberlândia-MG. Em cada escola será selecionada uma sala de aula dos anos iniciais do Ensino Fundamental e a pesquisa será realizada com todos os professores e alunos das referidas salas. Justifica-se esse projeto uma vez que sua importância reside no fato de as obras literárias apoiarem aprendizagem escolar. A PROPOSTA CURRICULAR DE LÍNGUA PORTUGUESA DA SEE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO: UM TRABALHO COM OS GÊNEROS DISCURSIVOS Vanessa Souza da SILVA – UERJ [email protected] O presente texto é fruto da minha dissertação de mestrado e objetiva compreender como o documento Reorientação Curricular de Língua Portuguesa, proposto pela Secretaria de Estado de Educação do Estadodo Rio de Janeiro, e entregue às escolas em 2006, trabalha com os gêneros discursivos e sua eficácia no ensino da língua materna. Este estudo toma como estratégia metodológica a análise documental e partiu da hipótese de que o documento utiliza os gêneros do discurso como objeto de ensino. Este estudo é suma importância, porque o documento apresenta como resultados a concepção dialógica de linguagem, de M. Bakhtin, como arcabouço teórico, os gêneros como objeto de ensino e o texto a unidade de ensino da educação básica, objetivando o letramento dos alunos da educação básica estadual e abrindo espaço para a pluralidade discursiva ao privilegiar o trabalho com diversos gêneros. Tendo em vista que a escola deve munir o aluno de ferramentas para interagir em variados ambientes de letramento, interessa-me, neste texto, observar como a proposta curricular apresenta e desenvolve no seu discurso oficial o trabalho com os gêneros, tendo como referência o conceito de gêneros do discurso desenvolvido por Bakhtin. Na primeira parte, apresento a caracterização do documento, contextualizando o objeto investigado. Na segunda, desenvolvo o arcabouço teórico, observando como o conceito de gêneros do discurso é discutido por Bakhtin e, finalmente, investigo como a proposta curricular em estudo apresenta e desenvolve a questão dos gêneros em seu discurso oficial, tendo em vista as orientações dos PCNs para o ensino da língua no país e seus resultados em sala de aula. NOTÍCIA: A FLUIDEZ DE UM GÊNERO Pollyanna Honorata SILVA – ESEBA/UFU [email protected] Mariana Batista do Nascimento Silva – ESEBA/UFU [email protected] Embora o conceito do gênero notícia, a priori, nos remeta a uma concepção clara, definida e objetiva desse gênero textual, após uma análise das condições de produção, bem como de sua realização em jornais e revistas, percebemos que se trata de um gênero que nem sempre se configura de uma maneira prototípica, conforme postulam muitos manuais de redação e estilo de jornalismo e também os livros didáticos que se propõem a ensinar tal gênero. Além disso, devemos considerar as transmutações deste gênero em meio virtual, ou seja, as diferenças decorrentes do suporte de leitura em que será veiculado. Desta forma, este trabalho pretende apresentar algumas problemáticas em torno da definição do gênero notícia, bem como discutir algumas implicações pedagógicas decorrentes dessa problemática, especialmente em relação à avaliação da produção textual, tomando como referencial teórico Bakhtin (1997), Travaglia (2007) e Marcuschi (2008). A notícia possui variações na sua estrutura composicional, que entendemos como superestrutura textual, de acordo com o conteúdo que ela veicula, segundo Silva (2007). Desta forma, mesmo nas notícias mais prototípicas, ainda percebemos que muitas características de superestrutura textual, como sub-título, possuem variações e às vezes não aparecem na superfície do texto. Em notícias on- 262 line, estas variações do gênero se ressaltam. Diante dessa fluidez do gênero notícia a que os alunos estão expostos no cotidiano, que postura deve ter o professor ao avaliar, por exemplo, uma notícia que foi produzida sem sub-título (que pode ou não aparecer), ou uma notícia em que o lead se desenvolve ao longo do corpo da notícia e não no primeiro parágrafo? Essas são questões sobre as quais pretendemos refletir, bem como apontar algumas direções de resposta. GRUPO TEMÁTICO 40: O ESTUDO DO LÉXICO EM SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA COORDENADORA: Aderlande Pereira FERRAZ (UFMG) – [email protected] No âmbito da educação básica brasileira, o ensino do léxico em sala de aula geralmente não tem ido muito além, guardadas as raras exceções, do estudo de palavras em sentenças isoladas. Tal procedimento não estimula, evidentemente, a capacidade de o aluno apreender o significado de novas palavras mediante o contexto lingüístico e o seu conhecimento prévio. O objetivo principal deste Grupo Temático é reunir trabalhos que mostrem a importância de se trabalhar com o léxico de forma integrada, possibilitando a ampliação da competência lexical do aluno, o que na prática contribui para que este, em variadas situações de interação comunicativa, venha produzir adequadamente textos orais ou escritos e de compreender os textos orais ou escritos que recebe. Em consideração a isso, serão bem-vindas contribuições que se articulem em torno da aplicação didática, com discussões teórico-analíticas e/ou apresentação de resultados de pesquisa, de quatro grandes blocos de pesquisa: a criação lexical, a fraseologia portuguesa, a semântica lexical, a lexicografia pedagógica, todos convergindo para o estudo do léxico em sala de aula. Assim, o GT contemplará trabalhos que relacionam a produção de neologismos no português, em toda a sua tipologia, com a aquisição lexical em língua materna, mediada pela sala de aula; estudos sobre a fraseologia (expressões idiomáticas, colocações, provérbios etc.), aplicados ao enriquecimento lexical no ensino da língua portuguesa; abordagens que estimulem o tratamento da semântica da palavra, em sala de aula, no processamento da leitura e da produção textual; e trabalhos sobre a lexicografia pedagógica, que contribuam para a melhor utilização do dicionário como instrumento didático na sala de aula de língua portuguesa. OBSERVATÓRIO DE NEOLOGIA NA PUBLICIDADE IMPRESSA: IMPLICAÇÕES NO ENSINO DE PORTUGUÊS Aderlande Pereira FERRAZ – UFMG [email protected] Um olhar mais atento sobre o ensino de português no Brasil permite-nos ver (Kleiman, 1996; Dionísio & Bezerra, 2001; Travaglia, 2003) muitos aspectos importantes da língua portuguesa ignorados tanto nos programas que orientam a sala de aula como nos livros didáticos. Desses aspectos, queremos destacar o que diz respeito ao léxico do português, considerando que, em grande parte dos livros didáticos, a neologia lexical ou não é tratada ou é abordada apenas em certos gêneros, em geral da esfera literária, o que pode dar ao aluno a falsa impressão de que a neologia é restrita a tais gêneros. Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo principal discutir alguns aspectos importantes relacionados à metodologia de ensino de léxico, a partir do estudo da neologia lexical em língua portuguesa, já que o desenvolvimento da competência lexical é condição fundamental para desenvolver no aluno habilidades de compreensão e produção textual. Como corpus de análise, contou-se com um banco de neologismos extraídos de textos publicitários, veiculados pelas revistas Veja, Istoé e Época, em edições de 2005 a 2010. Para a abordagem do léxico em sala de aula, resolveu-se aproveitar aqui, tanto quanto possível, o modelo teórico em que o léxico ocupa posição central, o chamado enfoque léxico (The Lexical Approach) de Lewis (1993 e 1997), no qual a unidade léxica é a unidade de aprendizagem. Como referencial teórico, ainda foi aproveitado aqui trabalho anterior de Ferraz (2008), no que diz respeito à aplicação do corpus ao desenvolvimento da competência lexical. Este trabalho permitirá, assim, a apresentação de alguns 263 resultados do Observatório de neologia, no que diz respeito especificamente ao desenvolvimento da competência lexical, quando se leva em conta o estudo da neologia lexical em sala de aula de português. ESTRANGEIRISMOS DA PUBLICIDADE NA SALA DE AULA Fabiana Kelly de SOUZA – UFMG [email protected] A neologia de empréstimos é uma forma de ampliação lexical bastante produtiva e recorrente no português e nas línguas em geral. Partindo desse pressuposto, julgamos ser importante que os estrangeirismos sejam trabalhados em sala de aula de modo a contribuir para a ampliação da competência lexical em língua materna. Neste trabalho tem-se por objetivo apresentar uma proposta pedagógica de trabalho, que utiliza como instrumentos didáticos textos publicitários veiculados na revista Veja, do período de janeiro de 2009 a janeiro de 2010, destacando-se os vários tipos de estrangeirismos, assim considerados sob a perspectiva da neologia de empréstimos. O corpus de análise se justifica por consideramos que as propagandas veiculadas nessa revista noticiosa conseguem abarcar grande parte dos estrangeirismos lexicais que entram no português brasileiro, através dos textos publicitários e também pelo fato de tal revista ser de grande circulação. Como metodologia de trabalho, procuramos estabelecer a diferença entre estrangeirismo e empréstimo lexical, utilizando o critério lexicográfico, lançando mão para isso de um corpus de exclusão, constituído pelos seguintes dicionários: Dicionário Eletrônico Houaiss da língua portuguesa, de 2009; Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 5ª ed., de 2010 e Dicionário Caudas Aulete, de 2007. Assim, os termos constantes do corpus de exclusão foram considerados empréstimos linguísticos e os que ainda não se encontram dicionarizados são considerados estrangeirismos. Neste trabalho apresentaremos alguns textos publicitários em que os estrangeirismos são utilizados pelo publicitário como recurso estilístico ou elemento de persuasão e demonstraremos algumas formas de explorá-los em sala de aula, de modo a contribuir para a ampliação da competência lexical e discursiva dos alunos. A utilização de textos como ponto de partida para o trabalho com os estrangeirismos lexicais baseia-se na concepção interacionista defendida por Antunes (2008), em que se busca trabalhar a língua em situações reais de comunicação. O VIRTUAL E O REAL: A LÍNGUA DO FACEBOOK NA ESCOLA Renise Cristina SANTOS – UFMG [email protected] Na sala de aula de língua portuguesa, ainda é, de modo geral, prática comum ensinar a língua escrita especificamente em contextos formais, ignorando as circunstâncias nas quais a modalidade escrita vem sendo usada de um modo mais informal ou despreocupado com regras gramaticais. Entretanto, existem várias situações em que isso ocorre e os alunos sabem disso, principalmente quando fazem uso da rede social Facebook, na qual, normalmente, tem-se um uso linguístico mais despojado, abreviado, com grafia alterada ou com palavras novas e específicas desse contexto de uso. O objetivo deste trabalho, portanto, é evidenciar a análise realizada sobre a escrita presente nessa rede social, mostrando que esse aspecto, levando-se em conta a inovação lexical, pode e deve ser trabalhado em sala de aula, tendo em vista o desenvolvimento da competência lexical. A metodologia adotada foi a descrição das unidades lexicais neológicas, destacando-se os aspectos mais produtivos, além da inserção da perspectiva sociolinguística referente aos usuários dessa rede virtual. Diante da tipologia de processos neológicos presente no ambiente virtual em foco, recebeu destaque especial o neologismo gráfico, uma vez que o ambiente virtualem análise permite ao usuário fazer alterações na grafia da escrita, considerando-se o contexto comunicacional em que se encontra e o interlocutor com quem se comunica. Diante disso, selecionou-se para este trabalho um número de trinta unidades lexicais neológicas, numa pequena amostragem das palavras novas que 264 estão entrando no português do Brasil por meio da Internet. Para a identificação de neologismos, adotou-se o critério lexicográfico. Como fundamentação teórica, este trabalho se apoiou em importantes textos teóricos como os de Guilbert (1975) e Alves (1990), na conceituação de neologia e neologismo; e Ferraz (2006), no que diz respeito à análise do corpus. NEOLOGISMOS E DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEXICAL, A PARTIR DE QUERÔ - UMA REPORTAGEM MALDITA Ruy Maurício Azevedo MORATO – UFMG [email protected] A partir de uma análise preliminar do livro Querô – Uma reportagem maldita, de Plínio Marcos, foi possível perceber a riqueza vocabular presente em todo o texto, com vocábulos que por si sós já caracterizavam um dialeto social. OBJETIVOS: A partir da análise do romance supracitado, apresentar adescrição dos neologismos lexicais na perspectiva do ensino do léxico, de modo a contribuir para o desenvolvimento da competência lexical. QUADRO TEÓRICOMETODOLÓGICO: Partindo da hipótese de que a obra acima apresentava, pela caracterização da linguagem dos personagens, um vocabulário especial, encontramos nesse vocabulário variados tipos de neologismos lexicais. Posteriormente, após a extração desses itens lexicais, vinculamos os neologismos e seu estudo ao desenvolvimento da competência lexical. Conforme Sandmann (1991), ser competente no uso da língua é o que nos permite compreender palavras novas e utilizá-las. Além disso, poderemos formar unidades que sejam funcionais, evitando outras que somos capazes de julgar, boas ou más formações. O neologismo é compreendido aqui como o elemento resultante do processo de criação lexical (ALVES, 2004). E a identificação do item lexical como neologismo seguirá o critério lexicográfico (FERRAZ, 2006). Segundo Basílio (2004, p. 90), a competência lexical é o “conhecimento internalizado do falante nativo sobre o léxico de sua língua, abrangendo itens lexicais, relações lexicais e processos de formação”. Conhecimento esse que, segundo Sandman (1991, p. 14), além de fixar regras que conduzem à formação de novas unidades, também limitam essas formações, gerando bloqueios e restrições de unidades não previstas pelo sistema linguístico. RESULTADOS: Com a coleta de neologismos lexicais, foi possível estabelecer uma ampla discussão em torno do ensino de palavras novas na sala de aula. Com isso, foram organizadas algumas propostas de atividades pedagógicas, possíveis de serem aplicadas em sala de aula, visando ao desenvolvimento da competência lexical. A INFERÊNCIA DO SIGNIFICADO LEXICAL NA LEITURA DE TEXTOS HUMORÍSTICOS PRESENTES NOS LIVROS DIDÁTICOS DE PORTUGUÊS Geraldo José Rodrigues LISKA – UFMG [email protected] Este trabalho investiga o tratamento do sentido lexical nos livros didáticos de Língua Portuguesa. Observando-os quais abordam a inferência da significação dos itens lexicais por meio da seleção criteriosa das palavras a fim de produzir efeitos de sentido, lembrando a particularidade, a significado que e multissignificação e a polissemia no contexto e na situação comunicativa em que as palavras estão inseridas. Limita-se, neste trabalho, a análise do item lexical em relação aos gêneros textuais humorísticos. Deve-se trabalhar o aluno a conscientização dos traços intra e interlinguísticos, semânticos e pragmáticos, que permeiam o funcionamento da língua e atribuem ou desconstroem o significado das ‘coisas’ no mundo, seja de quando se trata do que é novo, do que se está ou esteve em uso. Esses fatores são importantes para a concepção do Léxico como a base funcional em que se estrutura a língua. O objetivo central deste trabalho é observar o tratamento de um pequeno conjunto de textos humorísticos nos livros didáticos, mostrando como se pode destacar os humores da palavra, com vista a favorecer o desenvolvimento da competência lexical. Foram abordadas as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e do Currículo Básico 265 Comum (CBC) a respeito do uso dos gêneros textuais em sala de aula (focando o de interesse para este trabalho) e, neles, o envolvimento com a seleção lexical e efeitos de sentido, fazendo com que o aluno apreenda, reconheça e utilize recursos lexicais e semânticos de expressão, compreenda a importância da significação de palavras e expressões e saiba identificar inadequações lexicais, imprecisões e contradições semânticas. Enfim, o corpus utilizado compõe-se de textos humorísticos presentes em livros didáticos de português, selecionados por mostrarem contradições semânticas intencionais, como comprovação prática do efeito humorístico da polissemia presente nas unidades lexicais. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO LEXICULTURAL NO ENSINO MÉDIO Rosemeire de Souza Pinheiro Taveira SILVA – UFG/CAC [email protected] A herança linguística é o maior patrimônio que um povo possui, porém devido às mudanças, fatos, acontecimentos e diversidades culturais as linguagens estão mudando, outras estão ganhando novos sentidos. Nesse sentido, não podemos continuar ensinando a língua portuguesa como antes, não podemos ignorar as modificações multiculturais, as quais influenciam no valor lexical. Para ensinar línguas é necessário contextualizar as expressões, respeitar os aspectos geográficos, culturais, históricos e linguísticos. Assim, esse estudo será abordado com base em reflexões sobre o ensino e aprendizagem do léxico na língua portuguesa no ensino médio, no que tange à preparação de nossos alunos para entender os processos de sinonímia, antonímia, polissemia e homonímia não de forma decorada, isolada e superficial, como aparecem nos livros didáticos, mas inseridas em um contexto sociocultural, levando-se em consideração a diversidade linguística e o conhecimento prévio do aluno. Diante de tais reflexões nos cabe questionar: Os livros didáticos ampliam o vocabulário do aluno ou limitam?Qual a forma mais adequada de se ensinar o léxico no português, para que o ensino seja eficaz e possibilite ao aluno um maior domínio com relação a sua língua materna?Para tentar responder, apoiaremos em estudo bibliográfico de literaturas lexiculturais e exemplificaremos com exercícios de livros didáticos de língua portuguesa usada pelos alunos do ensino médio. Ancorado na linguística lexical este estudo visa apresentar uma visão fechada, repetitiva e ineficaz do ensino do léxico, por meio das atividades de vocabulário apresentadas pelos livros didáticos, os quais definem os significados das unidades léxicas sem contextualizar, desvalorizando o conhecimento sociocultural e linguístico do aluno. O arcabouço teórico deste estudo se fundamenta, nas contribuições de Aparecida Negri Isquerdo (2010), Vilela (1994), Biderman( 2001; 2011), Coelho (2008) e Eliana Dias (2006) dentre outros teóricos que trilham pelo mesmo caminho. O LÉXICO COMO EXPRESSÃO DE CARGA CULTURAL DA LÍNGUA PORTUGUESA Suzana Ferreira PAULINO – UFPE [email protected] Noadia Íris da SILVA – UFPE [email protected] O léxico é o objeto de estudo da lexicologia e sua origem vem do grego lexicon que tem, em sentido lato, o significado de vocabulário. É a estrutura linguística menos sistemática e depende da realidade extralinguística. Ele é constituído pelos morfemas, que constituem suas unidades básicas, podendo ser morfemas lexicais e gramaticais. Assim como a língua portuguesa, toda língua é constituída fundamentalmente por duas classes de palavras: as que representam o mundo extralinguístico e as que representam as palavras instrumentais. As que representam o universo extralinguístico nomeiam as coisas, qualidades e processos e são constituídas pelo verbo, o adjetivo, o substantivo e o advérbio nominal. As classes que representam as palavras instrumentais organizam a estrutura interna das línguas e funcionam apenas inseridas no sistema linguístico. Esta pesquisa tem por objetivo geral pesquisar a carga cultural das palavras do léxico da língua 266 portuguesa, analisando a importância desses aspectos nas seleções lexicais de seus falantes, ressaltando a relação cultura-léxico-ensino/aprendizagem de língua portuguesa em uma abordagem sócio-interacionista. Adotamos uma perspectiva discursiva que compreende a língua como fenômeno sócio interativo, histórico e cognitivo. O trabalho está baseado nos pressupostos teóricos de Carvalho (1999), Gallisson (1989), Biderman (2001), entre outros, com seus trabalhos sobre o léxico. Constatamos que a relação do léxico e cultura é intrínseca e podemos afirmar que conhecer essa relação facilita a aprendizagem da língua em sala de aula, a compreensão dos falantes sobre seus aspectos culturais, no que se refere à organização extralinguística da língua, ajudando os estudantes a significar o mundo. ANÁLISE DA ESCOLHA LEXICAL NO ESTUDO DE PROVÉRBIOS EM LDP Ana Paula Gonçalves SANTOS – UFMG [email protected] Os provérbios são expressões populares que constituem parte do léxico da língua e estão presentes nas diversas esferas discursivas. São enunciados que fazem parte da cultura de um povo. São carregados de ideologia, polifonia, autoridade, sendo por muitas vezes tidos como uma verdade absoluta e consagrados por uma comunidade linguística, que os transmite de geração para geração. Apesar de toda a mudança de concepção de língua e linguagem trazida pelas ciências linguísticas no final do século passado e suas contribuições para o ensino de Língua Portuguesa e de esses enunciados estarem presentes em discursos orais e escritos, formais e coloquiais, os provérbios, mesmo considerados parte importante do léxico, ficam à margem do ensino de Língua Portuguesa. Partindo da hipótese de que nos LDP são pouco recorrentes as atividades envolvendo provérbios na perspectiva da competência lexical, procurou-se então empreender a análise de uma dessas coleções. Em consideração a isso, o presente trabalho objetiva a avaliar os tipos de provérbios trabalhados no LDP, no que diz respeito à linguagem mais ou menos elaborada e/ou mais ou menos contemporânea, considerando a escolha lexical apresentada pela coleção. Foi então analisada a coleção “Uma proposta para o letramento”, de Magda Soares, destinada aos anos finais do Ensino Fundamental, por apresentar atividades em que são utilizados provérbios populares. A partir dos resultados obtidos, podemos afirmar que, por vezes, não há o cuidado esperado em relação à escolha dos provérbios utilizados. Como referencial teórico, o trabalho se apoiou em importantes trabalhos no campo da Fraseologia, mais especificamente da Paremiologia, como o de Xatara & Succi (2008). Aproveitou-se também o suporte teórico da Linguística Aplicada, através de autores como Antunes (2003) e Val & Marcuschi (2005). O TRATAMENTO DADO ÀS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS EM SALA DE AULA Priscila de RESENDE – UFMG [email protected] Conhecer o léxico de uma língua, de forma sistematizada, como deveria acontecer em sala de aula, contribui significativamente para que o falante desenvolva a sua competência comunicativa. No uso cotidiano da língua, em meio às diversas modalidades de comunicação, muitas vezes lançamos mão, naturalmente, de certas expressões idiomáticas. A expressão idiomática é definida por Xatara (1998, p. 149) como “uma lexia complexa indecomponível, conotativa e cristalizada em um idioma pela tradição cultural”. Quando se trata do ensino de português como língua materna, porém, as expressões idiomáticas não ganham a devida importância, uma vez que há poucos trabalhos voltados especificamente para o tema. A partir disso, então, o presente trabalho tem como objetivo principal verificar e analisar como os livros didáticos de português do ensino fundamental II, aprovados no PNLD/2011, tratam a questão. Para tanto, foram analisadas duas coleções de livros 267 didáticos. Em recente trabalho FERRAZ & CUNHA (2010) já abordaram tal assunto é concluíram que o trabalho com as expressões idiomáticas nos livros tem como fundamento apenas a exemplificação do que seja o sentido figurado/conotativo. Diante disso, este trabalho tem ainda como objetivo mostrar o que mudou em relação à importância devida às expressões idiomáticas no contexto de sala de aula, a partir do que consta nos livros didáticos. O estudo das expressões idiomáticas no âmbito do ensino de português como língua materna, portanto, é importante e se justifica pelo fato de que essas expressões se constituem por suas características especiais, tanto semânticas quanto lexicais, razão para amplas reflexões em torno de seu uso, bem como em torno do estudo do léxico em sala de aula. A VARIAÇÃO TERMINOLÓGICA EM CO-TEXTOS LINGUÍSTICOS E EM CONTEXTOS DISCURSIVOS Cleide Lemes da Silva CRUZ – IFB [email protected] A dimensão conceitual do universo terminológico responde fortemente pelas interpretações de que um termo é, antes de uma unidade linguística, uma unidade de conhecimento, cujo valor define-se pelo lugar que ocupa na estrutura conceitual de especialidade. Assim, consideramos que uma adequada compreensão das linguagens de especialidade somente se pode dar a partir do entendimento de que os termos não existem em isolamento, nem derivam sua existência apenas de um arcabouço lógico-conceptual, mas se manifestam, circulam e exercem sua função em situação de uso efetivo. Neste trabalho, propomos a análise da terminologia em co-textos linguísticos e em contextos discursivos da língua escrita e oral. Nosso objetivo é mostrar como o léxico da língua de especialidade se apresenta no cotidiano dos estudantes do Curso Técnico em Edificações, a fim de explorar a variação terminológica. Nessa discussão, procuramos investigar a natureza da variação em terminologia, provocada por variáveis que determinam uma classe de objetos. Tendo em vista o propósito revelado, faremos a coleta do léxico especializado, bem como teceremos algumas considerações que seguem a fundamentação teórica do texto, divida em três momentos: Inicialmente, apresentamos um breve panorama sobre a variação terminológica, enfocando que a unidade terminológica, o termo, “pode assumir diferentes valores, de acordo com a função que uma dada variável desempenha nos contextos de ocorrência”; em seguida, uma seção trata do constructo teórico da variação e, finalmente, discorremos sobre a aplicação do constructo encaixando cada ocorrência, dentro de uma das regras a fim de sistematizar estruturas léxico-terminológicas variantes. A AMPLIAÇÃO LEXICAL NO ENSINO ESCOLAR Evandro Silva MARTINS – UFU [email protected] O léxico de uma língua contempla toda a experiência humana de um determinado grupo. Por meio dele podemos aquilatar o que nossos antepassados vivenciaram e o que a sociedade humana está privilegiando, no momento atual. O fazer dos membros desta sociedade é revestido por vocábulos que, posteriormente, entram nos dicionários, produtos culturais, e são conhecidos por verbetes. Estes são textos que, bem construídos, permitem ao ser que os domina se relacionar com o grupo em que se encontra e crescer intelectualmente. Assim, é consabido que a ampliação lexical permite um domínio maior do mundo em que vivemos, permitindo apropriamos das experiências já vividas. No entanto, na nossa experiência docente, acompanhando nossos estagiários nas escolas de ensino fundamental e médio temos notado a pouca importância relegada ao estudo do léxico. Uma das causas, possivelmente, é o desconhecimento da Lexicologia e Lexicografia, por parte do corpo 268 docente, responsável pela Língua Portuguesa, já que estas ciências há pouco tempo entraram nos currículos universitários e, quase sempre, como matéria optativa. Além disso, poucas escolas possuem boas obras de referências e muitas delas somente contam com os minidicionários que são distribuídos fartamente nas escolas brasileiras, mais por uma questão de preço e marketing do que por qualidade. Quanto ao trabalho com o léxico, no Ensino Fundamental, muita vez os professores se limitam a mandar os alunos buscarem no dicionário o sentido de algum vocábulo. O aluno, sem um acompanhamento adequado, volta-se para a primeira acepção encontrada e, assim, não logram o resultado esperado. Esta comunicação pretende salientar a importância do léxico para melhorar a competência textual do aluno e, para isso, propor algumas estratégias que, realizadas no Ensino Fundamental. PARA O ENRIQUECIMENTO DO REPERTÓRIO DISCENTE Darcília Marindir Pinto SIMÕES – UERJ [email protected] Eleone Ferraz de ASSIS – UERJ [email protected] (Apoio CNPq/UERJ). Essa apresentação visa a demonstrar a pesquisa em andamento “Iconicidade em Eça de Queiroz: leitura para o domínio da língua (fase II)”. OBJETIVOS: explorar os contos de Eça de Queiroz, com vista a não só familiarizar os alunos com a leitura dos textos clássicos, mas, principalmente, promover o enriquecimento do domínio lexical discente. Considerando o humor como marca do texto eciano, elegemos o humor-irônico (a ironia) como subtema para apuração das trilhas léxicas presentes na superfície dos contos. BASE TEÓRICA: A Teoria da Iconicidade Verbal e Funcionalismo de Halliday são a moldura teórica com que se vem investigando a presença de trilha lexical que comprove a produção da ironia nos contos-córpus. HIPÓTESES: a principal é de que o léxico ativado nos textos materializa recortes temáticos subjacentes ao tema principal; a secundária é de que o texto clássico é fonte segura de aquisição de itens léxicos (além dos ganhos enciclopédicos decorrentes). RESULTADOS PARCIAIS: (a) no plano dos textos em estudo, já foi possível verificar a existência das trilhas que orientam a leitura para captar a ironia nos contos ecianos; (b) o estudo do léxico nos contos ecianos tem despertado o interesse dos graduandos para a leitura da obra do autor em foco; (c) o conteúdo socio-histórico dos textos tem aguçado a leitura crítica dos discentes, promovendo a discussão comparativa de fatos históricos da época dos contos com a realidade atual. O engajamento dos estudantes no trabalho com um tipo de texto cujo uso didático hoje é discutível vem constatar não apenas a seriedade com que os jovens se ocupam da pesquisa, mas, sobretudo a alegria das descobertas que resultam da leitura de cada conto, uma vez que o estudante se conscientiza da riqueza do texto clássico, tanto no plano linguístico quando no plano socio-histórico. EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS NA SALA DE AULA: UMA PERSPECTIVA DE ENSINO A FAVOR DO ENRIQUECIMENTO LEXICAL Aline Luiza da CUNHA – UFMG [email protected] As expressões idiomáticas são unidades lexicais versáteis, capazes de expressar sutilezas do nosso pensamento através de metáforas, graças à sua característica principal, o valor semântico que é sempre conotativo. Ao utilizar uma expressão idiomática, o indivíduo transmite uma mensagem que vai muito além do significado literal de cada componente da expressão, uma mensagem capaz de evidenciar as experiências cotidianas e aspectos culturais de uma comunidade linguística. A 269 presença das expressões idiomáticas é muito recorrente na fala, mas também, é possível encontrálas em um número bastante expressivo na linguagem escrita. A publicidade escrita, por exemplo, faz uso das expressões idiomáticas principalmente pela função que elas desempenham. Entretanto, se por um lado são recorrentes no cotidiano dos falantes, por outro lado elas não recebem tanta atenção no ensino do léxico. Um dos principais motivos que contribui para a marginalização das expressões idiomáticas em sala de aula deve-se ao fato de essas estruturas pertencerem ao nível coloquial da língua. Além disso, muitos professores negligenciam o trabalho com esse tipo de fraseologia em sala por não o conhecer a fundo. Tal fato evidencia um problema muito maior, a escassez de estudos relativos às expressões idiomáticas no âmbito do ensino do léxico, especialmente no português como língua materna. Considerando a interface expressões idiomáticas e língua materna, este trabalho tem por objetivo principal trazer reflexões sobre o uso das expressões idiomáticas encontradas na publicidade de revistas noticiosas (Veja, Istoé, Época) dentro de sala de aula para o enriquecimento lexical do aluno/falante. Além disso, apresentaremos, como amostra do que é possível fazer em sala de aula, atividades didáticas que privilegiam o trabalho com as expressões idiomáticas contextualizadas em textos publicitários autênticos. ENSINO DO LÉXICO EM LÍNGUA MATERNA: USOS E SISTEMATIZAÇÃO DE FUNCIONAMENTO ENUNCIATIVO Elza CONTIERI- UNIFESP [email protected] No universo da linguagem, sabe-se que o estudo do sentido relacionado à análise dos variados usos lexicais toca em questões cadentes. Em relação a questões de ensino, sobretudo, verifica-se que não se consegue abarcar a riqueza semântica dos usos linguísticos, visto que há, predominantemente, em língua materna, uma prática educacional que pouco evidencia as múltiplas possibilidades semânticas que envolvem o usuário e a língua. Desse modo, tanto atitudes do educador face à língua, quanto práticas de ensino devem ser reavaliadas. Nosso objetivo, nesse trabalho, é o de apresentar atividades reflexivas sobre o ensino do léxico e de seus processos de significação em língua portuguesa tomando por fundamento o verbo “partir”, analisado em suas diferentes construções sintáticas e sob a ótica das várias acepções que lhe são conferidas. Mais precisamente, busca-se promover a oportunidade de reflexão constante acerca do funcionamento da língua, rompendo com a crença de que unidades linguísticas são dotadas de “conteúdos intrínsecos”, o que impede uma melhor compreensão de seu funcionamento na sintaxe das orações. Para tanto, utilizaremos como corpus exemplos extraídos de fontes lexicográficas reconhecidas, em particular Borba (1991). Como instrumental teórico, fundamentamo-nos na Teoria das Operações Enunciativas (TOE), de Antoine Culioli (1990), que compreende o sentido como o resultado das relações que as unidades linguísticas operam para compor os enunciados. Nota-se, por meio desse viés teórico, que a identidade semântica da unidade – no caso, a do verbo em questão – deve ser buscada no próprio desenrolar do processo enunciativo. Por conseguinte, por meio de nossas análises, embora em andamento, já se pode notar um funcionamento operatório que aproxima acepções tão díspares quanto “ir embora” e “despedaçar”, para citar apenas dois dos valores que lhe são atribuídos. Dar conta dessas proximidades de funcionamento é de suma importância para um trabalho de linguagem diferenciado em sala de aula. UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA EXPRESSÃO EM OUTRAS PALAVRAS EM ARTIGO DE OPINIÃO Fernanda Teixeira da Costa MENDES – UFMG [email protected] Este trabalho analisou a expressão em outras palavras, em artigos de opinião da revista “Isto é”, com o objetivo de investigar suas propriedades sintáticas, semânticas e pragmáticas. Partiu-se da 270 hipótese de que em outras palavras seria um conector reformulativo. Para verificação dessa hipótese, apresento a distinção entre reformulação parafrástica e não-parafrástica proposta pelo Modelo de Análise Modular do Discurso. Em seguida, descrevo a expressão em outras palavras, com base nos seguintes critérios para identificá-la como marca de reformulação parafrástica: existência de relação parafrástica com relativo grau de equivalência semântica; presença da expressão reformulativa; posição da expressão; localização do enunciado que provocou a reformulação; substituição por expressões sinônimas; comparação dos segmentos com e sem conectores; funções pragmáticas. A análise mostrou que em outras palavras é um conector de reformulação parafrástica; pode ou não introduzir o segmento reformulado; pode ser substituído por expressões reformulativas como isto é e ou seja; o segmento que provocou a reformulação pode estar ou não em posição imediatamente precedente à sequência reformulada; os trechos analisados sem a presença do conector em outras palavras pode sinalizar relações argumentativas. Essas características evidenciaram as seguintes propriedades de em outras palavras: forma fixa com relativa mobilidade, característica que aproxima essa expressão das locuções adverbiais (sintática); mantém-se uma predicação de identidade em relação ao ponto de vista inferível com a enunciação do segmento que provocou a reformulação (semântica); o segmento reformulado introduz uma explicação para esclarecimento de uma informação (pragmática). A investigação dessas propriedades possibilitou compreender o funcionamento de em outras palavras como conector que instrui o leitor no processamento do sentido das informações, de modo a guiá-lo no percurso interpretativo. DICIONÁRIOS ESCOLARES: CONTRIBUIÇÕES NO ENSINO-APRENDIZAGEM DO LÉXICO Cacildo Galdino RIBEIRO – UFG [email protected] Tendo em vista a necessidade de estudos sobre como o dicionário escolar está sendo utilizado nas escolas públicas brasileiras, surgem pesquisas, ainda que em pequeno número, feitas por estudiosos interessados pelo assunto. Verifica-se nas bibliografias especializadas as contribuições que a lexicologia pedagógica, a lexicografia e a metalexicografia têm dado às pesquisas sobre a prática do uso dos dicionários escolares nas escolas brasileiras. Falamos de pesquisas que se preocupam com o ensino do léxico, tendo como ferramenta pedagógica o dicionário escolar. Especialmente no contexto das escolas públicas brasileiras, somente com o PNLD/2000 os dicionários foram inseridos como material pedagógico necessário ao processo de ensino-aprendizagem da língua materna. Ao contrário do livro didático, o dicionário é uma ferramenta ainda pouco explorada nas escolas. A última distribuição de dicionários pelo MEC às escolas públicas foi em 2007, conforme o PNLD/2006, depois de terem sido avaliados por estudiosos da linguagem que se preocupam com o ensino da Língua Portuguesa e do léxico. Nesse sentido, este estudo tem o objetivo de revisar os conceitos e concepções de estudiosos acerca da importância e necessidade do uso dos dicionários escolares nas escolas, ressaltando aspectos fundamentais sobre as propostas pedagógicas mais acertadas que contribuem no processo de aquisição do léxico dos alunos em diferentes faixas de maturidade linguística. Reserva-se a este estudo apenas a utilização de bibliografias escritas em língua portuguesa, incluindo-se livros, capítulos, dissertações e teses, inclusive de pesquisadores que compuseram a comissão de avaliação dos dicionários do PNLD/2006. Trata-se de um estudo bibliográfico e iniciante que fará parte da dissertação de Mestrado em Estudos da Linguagem, recentemente iniciado na Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão. O ENSINO DO LÉXICO E O DICIONÁRIO TEMÁTICO INFANTIL Sheila de Carvalho Pereira GONÇALVES – UNESP [email protected] 271 Os assuntos relacionados ao uso do dicionário na sala de aula estão sendo amplamente debatidos na atualidade. Nosso trabalho repousa na lexicografia pedagógica e é resultado de uma pesquisa de doutorado que tem como cerne a produção de um dicionário temático infantil, denominado por nós de DTI, cujo público-alvo são alunos do ensino fundamental em fase de consolidação do domínio da escrita. A metodologia por nós adotada foi a seguinte: (i) seleção dos dicionários do tipo 2, previamente analisados e aprovados pelo Programa Nacional do livro didático do Ministério da Educação e Cultura –PNLD/MEC-2006, a saber: Dicionário Escolar da Língua Portuguesa Ilustrado com a Turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Caldas Aulete, editora Nova Fronteira, 2005; Dicionário Ilustrado de Português de Maria Tereza Biderman, editora Ática; 2004; Dicionário da Língua Portuguesa ilustrado, editora Saraiva Júnior, 2005; (ii) análise da macro e microestrutura das obras selecionadas; (iii) seleção dos campos temáticos a partir de pesquisas realizadas com alunos de escolas públicas e particulares e (iv) seleção das unidades léxicas para comporem a nomenclatura do DTI a partir dos campos temáticos selecionados pelos alunos. Dois motivos principais conduziram nossa pesquisa e nos levaram à elaboração dessa proposta de dicionário temático: primeiro por acreditarmos que uma obra lexicográfica de organização onomasiológica, em que se é possível ao consulente perceber a relação das palavras, pode contribuir sobremaneira com o ensino do léxico e, depois, por acreditarmos na importância do dicionário enquanto material didático e como ferramenta no ensino e aprendizagem do léxico. Como resultado final, esperamos contribuir com o propósito de um dicionário mais didático, qualitativo e adequado ao público em questão e que possa ser útil na sala de aula de Língua Portuguesa e consequentemente no ensino do vocabulário. O USO DO DICIONÁRIO COMO MEDIADOR NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ALUNOS SURDOS: EM BUSCA DE UMA METODOLOGIA FUNCIONAL Bárbara Neves SALVIANO – UFMG [email protected] A educação dos alunos surdos tem sido objeto de discussão, especialmente desde que a escola inclusiva foi proposta pela legislação vigente no Brasil. As dificuldades que muitos professores de português enfrentam para lecionar para alunos portadores de surdez em turmas de maioria ouvinte se devem, em geral, à falta de método e instrumentos didáticos adequados. Muitos elementos nos permitem afirmar que o bom uso de dicionários em sala de aula de português com alunos surdos contribui em muito para o desenvolvimento da competência lexical em Língua Portuguesa. Partindo da hipótese de que há grande defasagem no que diz respeito à quantidade e qualidade de material didático específico para educação dos surdos em escolas regulares no Brasil, neste trabalho o objetivo central é mostrar a importância de se usar e como usar dicionários de língua, tanto da Língua Portuguesa como da Língua Brasileira de Sinais, como auxílio na promoção do ensino de Português ao sujeito surdo. Como metodologia de trabalho, desenvolvemos alguns procedimentos didáticos, mostrando como dicionários podem contribuir para que os surdos compreendam aspectos da Língua Portuguesa normalmente percebidos pela audição. Para tanto, foram selecionados os principais dicionários brasileiros: Dicionário Houaiss da língua portuguesa, de 2009; Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, de 2010, Dicionário Caudas Aulete, de 2007 e Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da língua de sinais brasileira, 2001. Para a elaboração deste trabalho contou-se ainda, como fundamentação teórica, com textos de Biderman (2000) e Hofling (2000), Quadros (1997), Faria (2001) e Longo. Enfim, propor metodologias que vão além de um livro didático, como o uso dos dicionários já disponíveis e em circulação, possibilitará oferecer aos alunos surdos acesso amplo à Língua Portuguesa, tão importante nos círculos sociais nos quais estão inseridos. O DICIONÁRIO ELETRÔNICO COMO FACILITADOR DE PESQUISA E AQUISIÇÃO DE NOVAS UNIDADES LEXICAIS 272 Jaciara Mesquita ROSA – UFG [email protected] Não é mais novidade afirmar que os estudantes de hoje, cercados por tecnologias audiovisuais, precisam de um aprendizado na sala de aula diferente do modelo iluminista adotado ainda hoje por grande parte das escolas e pelos seus professores; estes devem se atentar a essas necessidades e trabalhá-las dentro da perspectiva de um mundo multimídia, em que o acesso à internet e a programas interativos na TV pode ser controlado. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo mostrar que a leitura e a pesquisa de palavras podem tornar-se interessantes, se realizadas em um dicionário eletrônico. O dicionário, por sua natureza de memória lexical, se bem usado pelo professor, pode despertar no aluno um mundo novo de conhecimentos e interesses pela língua, ou outras línguas inventariadas na obra. É sabido que no léxico português do Brasil há várias palavras estrangeiras e que já foram dicionarizadas, incorporando-se ao nosso vocabulário e ao nosso cotidiano. Trataremos, então, da influência francesa na língua portuguesa do Brasil, com seus empréstimos e estrangeirismos, observando que, através do dicionário, as aquisições de vocábulos de outros idiomas passam a integrar nossa língua e, sobretudo, nossa cultura. Para isso, faremos um recorte no dicionário eletrônico português (HOUAISS, 2001) e mostraremos a inserção desses galicismos no léxico português. Para comprovar a origem francesa, utilizaremos o dicionário “Le Petit Robert de Poche” (2009). Dessa maneira, o aluno poderá descobrir na obra lexicográfica brasileira unidades lexicais de seu próprio vocabulário que, na verdade, são de origem estrangeira, nesse caso, de origem francesa. O presente estudo pretende, ainda, discutir como o uso do dicionário eletrônico pode despertar nos estudantes o interesse em adquirir um novo idioma ou, pelo menos, novos vocábulos. A UTILIZAÇÃO DE CORPUS NA PRÁTICA LEXICOGRÁFICA Carolina Medeiros COELHO – UFU [email protected] Fernanda Alvarenga REZENDE – UFU [email protected] A Lexicografia brasileira sofreu transformações significativas desde as primeiras publicações na área. O século XX ficou marcado historicamente, pois, de acordo com Nunes (2010), nesse período foram publicados os primeiros grandes dicionários monolíngues. A consolidação da Lexicografia no Brasil, nos anos 1900, acarretou mudanças frequentes na história dos dicionários brasileiros. Além da tendência de transferir as obras publicadas em papel para a mídia eletrônica, observa-se a utilização de corpora linguísticos no fazer lexicográfico. Essa nova proposta permite que os profissionais da área produzam obras com informações atualizadas dos verbetes, pautadas em dados sincrônicos da língua. Com este trabalho, temos o objetivo de mostrar como o corpus pode ser utilizado na produção de dicionários e como isso é relevante para a prática lexicográfica. Nossa análise partiu da escolha de cinco verbos, a saber: agarrar, apanhar, catar, pegar e tomar. Pretendíamos verificar se esses verbos tinham uma acepção em comum e se isso permitiria que eles ocorressem num mesmo contexto linguístico que codifica a ação de “tomar posse de um objeto para si”. Além disso, buscamos identificar uma acepção particular de cada um e, assim, justificar seus usos em contextos bem específicos, nos quais a substituição por qualquer outro verbo parece não ser possível. Como suporte, utilizamos o Dicionário da Língua Portuguesa (Aurélio, 2010) e o Dicionário: sinônimos e antônimos (Houaiss, 2008). Com base nas acepções identificadas nos dicionários, comprovamos empiricamente, a partir dos dados coletados do Corpus do Português, que existe uma acepção comum aos verbos analisados, o que explica sua ocorrência em um mesmo contexto linguístico, embora assumam acepções particulares a depender do contexto. GRUPO TEMÁTICO 41: O latim e o ensino de português 273 COORDENADOR: João BORTOLANZA (UFU) – [email protected] O Latim é fundamental para o ensino de Português? Esta é uma questão não suficientemente abordada em nosso País, que abandonou o estudo do Língua Latina desde a década de 1960, justamente no começo da democratização da educação pública. Que conteúdos acabaram sendo excluídos da prática de ensino de nossa Língua Portuguesa, bem como de outras línguas modernas, e que seriam fundamentais para um estudo em profundidade da língua? Sem dúvida, Língua é um processo, mas é também um produto de todo um fazer-se da cultura do povo ou povos que a construíram e mantiveram, adaptando-a e modificando-a. A língua é o veículo dessa cultura que se veio construindo em palavras e textos. Para estudá-la em profundidade cumpre conhecer sua diacronia. O Latim é o terminus a quo indispensável para o conhecimento do terminus ad quem do português atual e dos estágios anteriores nesses mais de oitocentos anos de produção. Quais as perspectivas para o professor em formação e para o professor em atividade e como chegar à fonte de nossa Língua, para um ensino mais eficaz? Que experiências vêm sendo desenvolvidas para um ensino de Língua e Literatura que vise também ao viés diacrônico? O Grupo Temático “O Latim e o Ensino de Português”, iniciado no I SIELP, pretende contribuir para a retomada desse viés histórico e filológico no ensino de Língua e Literaturas Portuguesas. Neste II Simpósio Internacional do Ensino de Língua Portuguesa, a UFU quer continuar a discussão da importância do estudo de Latim enquanto conteúdo fundamental para o licenciado em Letras. DAS PARTES DA ORAÇÃO ÀS CLASSES GRAMATICAIS Luiz Roberto Peel Furtado de OLIVEIRA – UFT [email protected] A prática dos estudos clássicos aprimora a análise lógica e a percepção estética; desenvolvendo, ainda, a percepção da necessária e profícua conjunção dos estudos da ciência com os estudos das humanidades e das artes. Ou seja, proporcionando ao acadêmico o conhecimento históricopragmático da Língua e da Literatura Latina, dirigido para a compreensão lógica do fato linguístico pancrônico, torna-se possível o desenvolvimento de sua capacidade de análise, síntese, interpretação e avaliação crítica, almejando sempre uma aprendizagem significativa para a atuação profissional futura com a língua portuguesa. Este trabalho apresenta, como princípios para atingir esses objetivos propostos, os seguintes pontos: o conhecimento do fato linguístico latino por meio de textos, isto é, de dentro para fora (do concreto para o abstrato), sendo que os textos utilizados são aqueles das primeiras gramáticas latinas; a compreensão do fato linguístico como um fenômeno pancrônico; a aplicação do conhecimento adquirido em traduções de textos simples latinos e na interpretação do fato linguístico português; a inferência dos fatos linguísticos em categorias pragmático-lógicas; a avaliação da própria práxis hermenêutica; o aproveitamento dos saberes e aprendizagens adquiridos fora do ambiente acadêmico, para que o processo não se construa afastado da práxis cotidiana; e a articulação de teoria e prática através de ações educativas capazes de instrumentalizar o aluno para a metodologia de incorporação dos saberes da área de Letras. O norte teórico deste trabalho é composto pela filosofia da linguagem de Bakhtin e pela semiótica europeia. DE PRIXCIANO À SINTAXE NORMATIVA Bárbara de Freitas FARAH – UFT [email protected] A vivência dos estudos clássicos desenvolve a percepção pancrônica do fenômeno linguístico, ampliando a necessária e profícua conjunção dos estudos da ciência com os estudos das humanidades e das artes. Neste trabalho, partindo do tratado de Prisciano, talvez a primeira apresentação detalhada de uma sintaxe latina, e visando à gramática normativa, abordamos, também, o tratado acerca da sintaxe de Apolônio Díscolo (fonte e origem das afirmações do 274 tratadista latino), relacionando-o, por conseguinte, com as afirmações de Prisciano e da Gramática Normativa da Língua Portuguesa. O corpus para análise foi composto por frases de Mário de Andrade, presentes nos 'Contos Novos', e a apreciação tem como substrato epistemológico a Semiótica, não restringida aqui a uma escolha entre a americana e a europeia, mas como conjunção dialética de saberes acerca do processo sígnico, ou semiose, sendo que os autores que mais obtiveram êxito nesta empreitada foram Fontanille e Landowisk, que fizeram uma síntese das abordagens citadas acima, propondo uma interdisciplinaridade profícua e inteligente. O norte teórico deste trabalho é composto, ainda, pela Fenomenologia (Husserl e Merleau-Ponty). No quadro teórico-metodológico predomina a abordagem qualitativa, pois não entramos em detalhes de cunho quantitativo, já que o que nos interessa é simplesmente o estudo do fenômeno diacrônico como criador de uma cultura linguística madura. Os resultados da pesquisa se dirigem, ainda, à publicação de livro sobre os tratados gramaticais compostos nos períodos clássico e medieval da língua latina. PREFIXO: DO VOCÁBULO LATINO AO VERNÁCULO Frederico de Sousa SILVA – UFU [email protected] A língua latina, quase excluída das salas de aula do Ensino Superior, é de suma importância para o ensino de língua portuguesa. Não só conhecer o idioma de Cícero, mas também estudá-lo por meio da sua gramática, história, filosofia e literatura, permite ao aluno de Letras um aprofundamento nas questões de língua portuguesa. Para esta apresentação no II SIELP (Simpósio Internacional de Ensino de Língua Portuguesa), na Universidade Federal de Uberlândia, organizado pelo Instituto de Letras e Linguística, propomos uma continuação de estudos que visem à articulação em língua portuguesa dos prefixos latinos, cuja incidência é vasta e de suma importância para o entendimento da formação de vocábulos e consequentemente assimilação de sentidos e significados. Dessa maneira, discutiremos um estudo mais voltado para a estrutura da língua portuguesa, embora hoje se priorizem diferentes estudos, talvez voltados mais à análise do discurso, do que um estudo mais acurado do nosso vernáculo. Por meio desse tipo de partícula latina, o prefixo, podem-se discutir em sala de aula aspectos relacionados à etimologia em língua portuguesa, bem como verificar uma formação de palavras diferente da usualmente estudada e, assim, propor uma nova formação de palavras que priorize aspectos ligados, de fato, à língua latina. Para este SIELP, o estudo desse afixo latino dará atenção a algumas partículas que formam, em língua portuguesa, nomes e, principalmente, verbos. Desse modo, selecionaremos prefixos como ad-, pre-, de-, se- e alguns outros que participam ativamente da formação de vocábulos em língua portuguesa, como o uso de, por exemplo, ¬se- em separar e segregar. O CONSERVADORISMO DO PB E O ENSINO DE LATIM: POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES Luiz Henrique Milani QUERIQUELLI – UFSC [email protected] Este trabalho pretende oferecer uma síntese do debate em torno do suposto conservadorismo do português brasileiro (PB) e aventar algumas implicações positivas dessa questão para o ensino de latim no Brasil. A tese do conservadorismo do PB é bastante propalada entre os pesquisadores que debatem as diferenças entre a língua do Brasil e o português europeu (PE). Em suma, tal tese levantada inicialmente por Serafim da Silva Neto, na década de 50 - consiste em afirmar que grande parte das diferenças entre o PE e o PB se deve ao fato de que este último conservou aspectos do português arcaico, trazido à América no século XVI, enquanto que o PE teria inovado em relação a eles. A primeira parte do trabalho faz uma apresentação do debate em torno da questão. Nela, são discutidas questões epistemológicas subjacentes eanalisados especialmente fatos fônicos e sintáticos que endossam a tese. A segunda parte discute possíveis implicações do conservadorismo do PB 275 para o ensino de latim no Brasil, particularmente em cursos de Letras-Português, no qual se formam professores de língua portuguesa que atuam no Ensino Básico. Esta parte pretende mostrar que alguns dos conservadorismos do PB que o ligam ao PA estão diretamente relacionados ao latim, língua que lhe serviu de substrato. A partir disso, sugere que um ensino de latim capaz de salientar tais conexões - que associam as particularidades do PB diretamente à sua herança latina - dá mais sentido ao estudo dessa língua antiga a um estudante brasileiro e, ainda, contribui para que ele valorize sua própria língua, desfazendo o mito de que o PB deturpa o PE. LÍNGUA LATINA NOS CURRICULA DE LP NUMA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS CULTURAIS Wellinton Ferreira LIMA – UNIFAL [email protected] O Latim nos curricula das licenciaturas em Língua Materna passa por um estrangulamento em boa parte das instituições brasileiras - sobretudo nas particulares - como levantado pelo II Encontro de Professores de Latim (Campinas – 2011). O estrangulamento que se agravou, sobretudo, após a homologação do parecer CNE/CES 492/2001 e da Res. CNE/CP 02/2002 é combatido, muitas vezes, a partir das “Diretrizes para o aperfeiçoamento do ensino/aprendizado de língua portuguesa”, de 1986, que, além da caducidade da legislação, peca pela brevidade com que trata a matéria (em relação aos demais 18 itens que compõem o documento) e pela impossibilidade de dar respostas às modernas correntes funcionalistas que dominam os curricula de Letras nos últimos anos. Tendo em vista as formações em Língua Latina no Brasil, que não privilegiam estudos diacrônicos do português, mas antes, concentram-se no estudo da Língua Latina em si mesma, a defesa do Latim como complemento ou medium para os estudos diacrônicos do Português torna-se cada vez mais difícil. Propomos uma revisão desta postura, substituindo a noção de Língua Latina como medium ad finem, pela valorização do Latim nos cursos de Língua Portuguesa, per se, calcando-nos em dois pontos: primeiro, o destaque ao caráter humanístico do Curso de Letras previsto nas diretrizes de 2001, apesar do pragamatismo profissionalizante das orientações. Segundo, pela recolocação das questões de conflito entre “dominantes” e “minorias” – conflito explícito em políticas como as do Decreto 10.639, que institui o ensino de conteúdos ligados à história afro-descendente brasileira – por pensadores dos Estudos Culturais latino-americanos, em especial, o pensamento de Ernesto Laclau sobre a relação ‘universal/particular’, que nos ajuda a repensar a dureza da colocação deste conflito em fase anterior dos Cultural Studies. O VOCABULÁRIO ERUDITO: UM MUNDO DE PESQUISAS João BORTOLANZA – UFU [email protected] A Língua portuguesa atualiza a milenar história do Latim, trazendo em seu vocabulário as marcas de sua evolução fonética, morfológica, sintática e léxico-semântica. Basta abrir um dicionário completo ou ler um simples artigo científico para se perceber, não digo as transformações do Latim para o Português, como se tivesse sido concluída a evolução, mas a presença de toda essa caminhada nas formas populares e erudita do vocabulário atual. Apontam-se nesta comunicação aspectos que poderão motivar longas pesquisas, ligadas ao tema "O Latim e o Ensino de Português", procurando apreender em profundidade diacrônica os fenômenos de nossa língua. Serão muitos os campos abertos para essas possíveis investigações: fundamentais serão as coocorrências de radicais populares e eruditos ou semi-eruditos, os ditos alomorfes; não menos importante será estudar o percurso diacrônico do significado presente em suas etapas evolutivas nos diferentes cognatos; de alto interesse será o enfoque na regressão erudita para a formação de neonímias e neologismos; buscar as marcas do saber elaborado na terminologia científica de cada área, sobretudo a nossa, serão de especial conveniência. Serão passíveis de estudo os metaplasmos reconstituídos nos alomorfes; as reminiscências latinas na morfologia e na sintaxe; a história da 276 língua e a nomenclatura gramatical; a análise sintática e a estrutura frasal latina; as marcas latinas nas inversões e hipérbatos; o léxico e as marcas do percurso semântico das raízes. No dizer de João Guimarães Rosa, "toda língua são rastros de velhos mistérios" e, se todo professor de Português deve ser um filólogo, nossa tarefa de profissionais do ensino de Língua Portuguesa deve primar pela hermenêutica e interpretação de cada vocábulo Português, em todos os documentos de ua longa história. GRUPO TEMÁTICO 42: O POSSÍVEL FIM DO CONFLITO ENTRE LINGUÍSTICA E GRAMÁTICA NORMATIVA COORDENADORA: Maria Isabel BORGES (UEL) – [email protected]. Duas gramáticas sobre o português brasileiro foram lançadas recentemente: Ataliba T. de Castilho publicou “Nova gramática do português brasileiro” em 2010; enquanto Marcos Bagno, “Gramática pedagógica do português brasileiro” em 2011. Não é novidade a relação pouco amigável entre linguistas e gramáticos “normativistas”, como já afirmaram, por exemplo, Rajagopalan (2003) e Borges (2010). Essa relação mal resolvida é fruto de diversas críticas a respeito do inadequado tratamento da língua portuguesa como objeto de ensino sob o olhar da gramática normativa, na educação básica. Alguns desses críticos são: Antunes, Bagno, Britto, Faraco, Franchi, Possenti, Neves, Travaglia, entre outros. A crítica se tornou um dos princípios da política linguística brasileira a partir dos “Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa” (1997). Desde então, é um “pecado” ensinar língua portuguesa, tomando como base a gramática normativa. Na verdade, por mais condenável que isso possa parecer, ainda se ensina língua portuguesa, por exemplo, como se tivesse dez classes gramaticais. Entretanto, segundo Bagno (2011), a interjeição constitui uma “bizarrice” (termo usado pelo autor). O objetivo deste grupo temático não é apresentar mais teorias sobre a gramática do português brasileiro (terminologia usada tanto por Castilho quanto por Bagno), e sim questionar se a relação “pouca amigável” entre linguística e gramática normativa realmente chegou ao fim. A linguística possui a tão sonhada credibilidade por parte dos falantes do português brasileiro? Ou a credibilidade ainda pertence à gramática normativa? Esperamos trabalhos que tematizem: a) a relação entre linguística e gramática normativa; b) as implicações dessas duas visões sobre o ensino do português; c) as consequências ético-políticas em torno da nomeação/predicação “português brasileiro”. O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA A PARTIR DE UM OLHAR SOBRE A ABORDAGEM DE LIVROS DIDÁTICOS Maria Aparecida Silva FURTADO – UFMG [email protected] A proposta, aqui, é analisar como tem sido o ensino da língua portuguesa nas escolas públicas deste país. Será tomado como base um olhar sobre dois livros didáticos adotados nessas escolas em décadas diferentes, sendo um do ano 1994 e o outro do ano 2009. A análise visa promover uma reflexão sobre como o conteúdo gramatical, que é abordado conforme a gramática normativa, ainda hoje continua sendo um objeto primordial de estudo para se ensinar a Língua Portuguesa. Dos livros selecionados, será eleito o conteúdo gramatical verbo. Sabe-se que o ensino da Língua Portuguesa a partir da gramática mostra-se, hoje em dia, ineficiente, mas, mesmo diante desta constatação, ainda se verifica que ele continua sendo trabalhado nas salas de aulas praticamente do mesmo modo conforme ocorria há décadas passadas. Sabe-se, ainda, conforme Castilho (2010, p. 99) que “em 1999, o Governo Federal editou os Parâmetros Curriculares Nacionais, que representaram um grande avanço na política linguística, com sua ênfase nos usos da linguagem e na valorização da língua falada”. Conforme o autor, “trata-se de um texto extraordinário, que tem motivado uma série de iniciativas de aprimoramento do ensino” e mudança de postura no estudo da língua portuguesa. Isso, entretanto, parece caminhar a passos muito lentos. Ao analisar as abordagens dos livros 277 didáticos acerca do conteúdo “verbo”, constata-se que, comparado ao livro de 1994, no livro didático de 2009, houve um avanço significativo na abordagem do conteúdo, sendo, neste, levado em consideração a situação comunicativa do uso verbal. Entretanto, apesar desse avanço, o que ainda se percebe na abordagem atual é o predomínio do ensino das estruturais gramaticais do verbo. Uma abordagem que repeti lições que refletem outros usos oriundos de outros momentos históricos da sociedade brasileira e que, em alguns casos, não satisfazem a complexidade da realidade linguística atual. O ENSINO DOS ADVÉRBIOS EM LÍNGUA MATERNA: UM ESTUDO ENUNCIATIVO Kelly BARBOSA – SMEC [email protected] O ensino de língua materna é tema de constantes discussões, apesar de hoje serem praticamente unânimes as vozes que afirmam que o objetivo das aulas de Língua Portuguesa seja o ensino de um bom repertório de gêneros textuais, nos quais se explore a relação forma-sentido. Há inquietações sobre o tratamento da gramática em sala de aula, surgindo as problemáticas: deve-se ensinar gramática nas aulas de língua materna? Como deve ser o estudo da gramática na sala de aula? Os manuais didáticos são eficientes instrumentos metodológicos no ensino-aprendizagem de gramática, especificamente dos advérbios? As formas linguísticas são as estruturas que se organizam e, na constituição dos textos, atualizam a língua, convertendo-a em discurso; promovem, pois, efeitos de sentido no texto. Em gramáticas normativas, os advérbios são concebidos como acessórios ou ideias circunstanciais dependentes ou incidentes dos verbos, adjetivos, outros advérbios ou frases.A linguística da enunciação, que constituirá nosso principal aporte teórico, trata dos efeitos semânticos produzidos pela inserção do sujeito na língua em funcionamento, que implica quatro elementos: eutu-aqui-agora. Em toda a extensão da língua, consoante Benveniste, conjugam-se a forma e o sentido, de modo que o analista da lí