Curso de Jornalismo
Artigo Original
O jornal impresso: análise do impacto da internet
Marlene Lúcia Berbigier, Helena Tomaz de Aquino Mattos1
1 Alunas do Curso de Jornalismo
Professora Orientadora Ana Maria Fleury Seidl Pinheiro
RESUMO: A história da imprensa brasileira é marcada por uma série de acontecimentos, desde sua criação no século XIX com a
chegada da Coroa Portuguesa. Mas nada se compara com as dificuldades apresentadas pelo advento da Internet. Essa nova rede das
redes gerou pressões e dificuldades que até hoje não estão resolvidas pelos jornais. A intenção deste artigo é, reunida à bibliografia na
área, compreender o cenário atual e dimensionar os impactos, desafios e possibilidades que o jornal impresso vem enfrentando desde
a chegada da Internet, como uma realidade da vida social brasileira. Nesse contexto, o jornal impresso deverá se reinventar, sob o
risco de continuar a onda de falências e demissões de profissionais.
Palavras-Chave: Jornalismo; Imprensa; Jornal Impresso; Internet; Novas Tecnologias da Comunicação
ABSTRACT: The history of the Brazilian press is marked by a series of happenings, since it’s establishment in the XIX century with
the arrival of the Portuguese crowd. Nevertheless, nothing is comparable with the difficulties presented by the advent of the Internet.
That new web of the webs generate pressures and difficulties that until today aren’t solved by the newspapers. The intention of this
article is, assembled the bibliography of the area, understand the nowadays scenario and measure the impacts, challenges and possibilities that the newspapers are facing since the appearing of the Internet as a reality into the brazilian social life. In this context , the
printed newspaper should reinvent itself , at the risk of continuing the wave of bankruptcies and layoffs professionals.
KEYWORDS: Journalism; press; newspaper print; New Tecnologies of Communication
Contato: [email protected], [email protected],
INTRODUÇÃO
A revolução tecnológica causada pela
indústria da eletrônica a partir dos anos 60 provocou
diversas alterações em todo o tecido social. O que
engloba práticas culturais, processos econômicos
descentralizados, modificações na estrutura de
trabalho e na forma de divulgação e recepção de
informações.
A informática transformou a informação em
dados. Imagem e som passaram a trafegar na forma
de bits conversíveis e o computador se tornou um
potente meio de comunicação em tempo real e
interativo com a chegada da Internet.
Em ritmo acelerado, as novas tecnologias da
informação passaram a modelar a sociedade,
criando
um
ambiente
de
competitividade
completamente diferente, e, até certo ponto
anárquico. Nessa nova ordem globalizada,
interligada e liderada pela Internet, o jornal impresso
novamente, após o rádio e a TV, sente o risco de
imprescindível sob a lógica de uma nova forma de
disseminação da informação.
Assim, ao contrário do senso comum de que
a informática só traz facilidades, os jornais
impressos tiveram e ainda têm que fazer um grande
esforço para manterem-se ativos numa sociedade
em rede, em que as interações entre os usuários se
tornam cada vez mais complexas e independentes
de mediações. É importante frisar, o jornal nunca foi
tão lido, agora que tem sua versão digital. Não é o
conteúdo dos jornais que está em xeque, mas sua
forma de produção, distribuição e recepção.
As fontes habituais de receitas que estão
presentes, praticamente, desde o surgimento do
jornal, a saber, a venda de exemplares e a
1
publicidade, parecem estar se esgotando. O que
obriga o modelo a repensar formas novas de
gerenciamento. Entretanto, respostas definitivas
ainda não foram obtidas, enquanto isso as falências,
as demissões e as dificuldades já são visíveis.
Inicialmente, a pesquisa relata a história da
imprensa, desde sua criação no século XV até a
chegada da Coroa, que dá início a uma nova etapa
da imprensa brasileira, com
objetivo de
contextualizar as relações entre jornal, sociedade e
tecnologia.
Assim, a partir disso fica possível mostrar a
evolução das tecnologias e o reflexo na mídia
impressa, que serão fatores decisivos para o passo
seguinte: identificar as dificuldades encontradas no
jornal impresso nos últimos anos. Tais dificuldades
foram tamanhas e muitos jornais tiveram de deixar
de circular, basicamente por não conseguirem se
adaptar às novas circunstâncias.
Essa pesquisa procura compreender quais
fatores estão em jogo e quais as alternativas para o
impresso brasileiro no início deste século e num
ambiente informacional transformado pela Internet.
METODOLOGIA
A metodologia adotada se fundamenta numa
elaboração crítica e aprofundada de cunho
bibliográfico. Trata-se aqui de uma pesquisa
desenvolvida exclusivamente a partir de fontes
bibliográficas, isto é, de um material já elaborado,
constituído principalmente de livros, artigos
científicos, mas também declarações e material da
própria imprensa. Em consonância com as
propostas de Lakatos e Marconi (1991, p.183):
A pesquisa bibliográfica, ou de fontes
secundárias, abrange toda a bibliografia já
tornada pública (...) Sua finalidade é colocar
o pesquisador em contato direto com tudo o
que já foi escrito (...) Desta forma, a
pesquisa bibliográfica não é mera repetição
do que já foi dito ou escrito sobre certo
assunto, mas propicia o exame de um tema
sob novo enfoque ou abordagem, chegando
a conclusões inovadoras.
A partir deste material bibliográfico coletado, o
trabalho se concentrou na organização das
informações e na elaboração de uma exposição
coerente e coesa. Busca, assim, elucidar a questão
sobre as dificuldades e as possibilidades do
jornalismo impresso, por intermédio de teorias e
observações de especialistas e profissionais
qualificados da área. A partir desta coleta de
material, o procedimento se faz de modo científico,
porque hipóteses, enunciados e opiniões são
organizados de maneira sistemática. Na definição
de Lakatos e Marconi, o procedimento científico se
caracteriza por ser:
É constituído por um sistema de ideias,
logicamente correlacionadas - todo sistema
de ideias, caracterizado por um conjunto
básico
de
hipóteses
particulares
comprovadas, ou princípios fundamentais,
que procura adequar-se a uma classe de
fatos, constitui uma teoria, dessa forma,
toda Ciência possui seu próprio grupo de
teorias (MARCONI, LAKATOS, 2011, p.37).
A tarefa empenhada aqui foi no sentido de
produzir um artigo de revisão bibliográfica, cuja
importância reside não apenas em juntar o
conhecimento disponível, mas também em
interpretar essa produção existente em busca de
levar o conhecimento além dos fatos observados. O
trabalho, assim, visa examinar o mecanismo interno
dessa nova etapa do jornalismo na sociedade pósindustrial, que revela um desconforto quase
generalizado entre profissionais e donos da
imprensa, e se torna verbo nas recorrentes
declarações em torno da crise no jornalismo
impresso. Seguindo um procedimento de exame
das interdependências, das teorias e dos discursos
sobre o tema, a metodologia nos direciona para
elucidar uma questão: os impactos da Internet no
jornal impresso.
SURGIMENTO DA IMPRENSA
De acordo com P. Albert e F. Terrou para se
delimitar a história do jornalismo impresso é preciso,
inicialmente, salientar sua diferença em relação às
demais produções tipográficas que a antecederam e
influenciaram seu desenvolvimento. Para os
autores, o que diferenciavam informativos como as
1
gazetas, os pasquins, os libelos e outras folhas
volantes impressas dos “jornais” era a falta de
periodicidade.
Mas a condição tanto para o jornal como para
seus “antepassados” é a invenção da tipografia,
método de reprodução em série criado por
Johannes Gutenberg, em 1438, que se difundiu
rapidamente na Europa.
No entanto, a imprensa periódica impressa
só nasceu mais de um século e meio após
a invenção da tipografia, tendo sido
precedida por um verdadeiro florescimento
de escritos de informação dos mais
diversos tipos (ALBERT; TERROU, 1990, p
5).
1
Gazeta: periódico ou não cujas notícias e comentários se tecem
em torno de alguma área especializada, como comércio,
assuntos jurídicos, esportivos etc.
Libelo: do latim libéllus, que significa 'livro, livrinho', se tratavam
de escritos geralmente curtos, difamatórios, injuriosos ou
satíricos.
Pasquim: texto satírico colado em local público, jornal ou folheto
calunioso.
Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2009.
2
Para Albert e Terrou, antes da imprensa havia
certas “formas primárias de jornalismo”, que apesar
de inconstantes, de servirem como material para
polêmicas religiosas e de relatarem fatos
sensacionalistas, já ilustravam as três principais
funções do jornalismo: “a informação sobre os fatos
da atualidade, o relato dos pequenos eventos do dia
a dia, a expressão das opiniões” (ALBERT;
TERROU; 1990, p.6).
As publicações periódicas remontam ao início
do século XVII e, somente a partir de meados deste,
começam a surgir publicações mais elaboradas em
conteúdo e abrangência. Neste período, o mundo
estava em transformação, novas formas de
pensamento eram formuladas, o Renascimento, a
Reforma
e
a
Contrarreforma
aumentaram
exponencialmente a curiosidade e o escopo do
debate.
Os Estados ganhavam seus contornos
modernos, ao mesmo tempo em que o mapa
mundial era formulado com a descoberta do
continente americano. Intensificou-se o comércio e
as trocas financeiras, surgindo um novo sistema
com equipamentos avançados e novas redes de
informação.
Embora a necessidade de dinamismo na
difusão de informações aumentasse, no final do
século XVII a imprensa possuía um status inferior. O
livro era considerado o meio adequado e
privilegiado do conhecimento para a elite social da
época que menosprezava a imprensa, relegada
como curiosidades de segundo plano. O Estado
desconfiava de seu caráter liberal e potencialmente
subversivo, impondo diversas censuras quando não
buscava ativamente seu controle (ALBERT;
TERROU; 1990).
O século seguinte foi decisivo na história da
imprensa, por ser um período revolucionário,
portanto, de coberturas intensas. A velocidade e as
múltiplas visões dos acontecimentos fomentavam a
curiosidade do nascente público por notícias e
interpretações dos acontecimentos. Além disso, no
século XVIII foram postos em prática os princípios
da liberdade de imprensa, que serviriam de
programa e reivindicação pelos anos seguintes em
todo o mundo.
Nos dois primeiros terços do século XIX a
imprensa fez progressos consideráveis: os
jornais se multiplicaram e se diversificaram
em numerosas categorias; as tiragens
aumentaram. Na França, de 1803 a 1870, a
tiragem da imprensa cotidiana de Paris
passou de 36 mil para 1 milhão de
exemplares. Esse desenvolvimento da
imprensa foi paralelo à evolução geral do
mundo ocidental (ALBERT; TERROU, 1990,
p 29).
O IMPRESSO NO BRASIL
A transferência da família real e da corte
portuguesa para o Brasil proporcionou um
florescimento cultural sem precedentes na história
colonial. Antes da chegada dos Braganças, a
entrada de publicações no Brasil, salvo aquelas
cobertas pela licença da censura, era clandestina e
perigosa. O acesso a livros e uma relativa
circulação de ideias foram marcas distintivas do
período pós-1808. A chegada da Coroa Portuguesa
ao Brasil termina, de acordo com a periodização de
Sodré (1987), com a fase da Imprensa Colonial.
Para Sodré, dominar a imprensa era obter o
controle de uma mercadoria vital: a informação - e
quem a controlasse detinha poder. A censura
portuguesa foi intensa no Brasil, porque só assim
seria possível assegurar o domínio colonial,
agregada às condições da população, um país
analfabeto e sem uma burguesia interessada em
política (SODRÉ, 1987, p.1).
...a história da imprensa é a própria história
do
desenvolvimento
da
sociedade
capitalista. O controle dos meios de difusão
de ideias e de informações - que se verifica
ao longo do desenvolvimento da imprensa,
como reflexo do desenvolvimento capitalista
- é uma luta em que aparecem
organizações e pessoas da mais diversa
situação social, cultural e política,
correspondendo a diferenças de interesses
e aspirações (SODRÉ, 1987, p.1).
Para José Marques de Melo, o atraso em se
implementar a imprensa na colônia brasileira se
deve à “convergência de uma série de fatores, de
natureza
sociocultural,
que
a
tornaram
desnecessária e socialmente inútil na colônia
portuguesa, cujo processo de desenvolvimento
social foi bastante lento” (MELO; 2003, p.11). Para
Marques, são certos fenômenos socioculturais que
provocaram os trezentos anos de atraso até a
chegada da técnica da imprensa no Brasil:
a) natureza feitorial da colonização;
b) atraso das populações indígenas;
c) predominância do analfabetismo;
d) ausência de urbanização;
e) precariedade da burocracia estatal;
f) incipiência das atividades comerciais e
industriais;
g) reflexo da censura e do obscurantismo
metropolitanos (MELO, 2003, p.113).
A tecnologia da imprensa mecânica,
inventada há séculos atrás, desembarcou no Brasil
no início do século XIX para adequar a colônia às
necessidades da Coroa que se instalou. Ou seja,
por não ser permitida a entrada e a operação de
imprensas, a divulgação regular em grande escala
de informativos era impossível. As tentativas de
instalação da tipografia no Brasil, desde 1700 no
Paraná até as mais conhecidas, em 1706, no
Recife, e em 1746, no Rio de Janeiro, não
3
prosperaram (BAHIA, 1990).
No mesmo ano da chegada da Coroa, em
1808, surge o jornal Gazeta do Rio de Janeiro,
dando início ao jornalismo nacional. A Gazeta tinha
o perfil de um órgão oficioso da administração
portuguesa sediada no Brasil, a serviço da
Impressão Régia (instituição instaurada pela Coroa
com a finalidade de imprimir oficialmente no Brasil).
A Gazeta é o primeiro periódico impresso do Brasil,
contudo é importante frisar que já circulavam outros,
só que de maneira intermitente, trazidos por
navegantes.
Desde 1778, por exemplo, a Gazeta de
Lisboa circulava pela América portuguesa,
inclusive no Rio de Janeiro (...). Ou seja,
havia jornais produzidos na Europa e
normalmente recebidos no Brasil pelo
menos desde o século XVIII (MELO; 2003,
p.116).
Em junho de 1808, surge o Correio
Braziliense, criado por Hipólito José da Costa
Pereira Furtado de Mendonça, sediado em Londres.
O impacto do jornal é tão grande, que o Correio foi,
desde sua fundação, proibido, apreendido e
censurado, além de serem processados seus
leitores e divulgadores no Brasil e em Portugal.
O programa do Correio Braziliense
consubstancia as ideias de Hipólito da
Costa: monarquia constitucional, liberdade
de opinião, abolição da escravatura, defesa
da imigração, criação do júri popular,
instituição da universidade, mudança da
capital para a região central, independência
do Brasil (BAHIA; 1990, p.25).
O primeiro periódico de imprensa por parte da
iniciativa privada brasileira chamava-se A Idade
d'Ouro do Brasil, surgido na Bahia, em 1811. Com
tipografia própria, pertencente a Manuel Antonio da
Silva Serva, perdurou até 1823.
A censura prévia para a imprensa no Brasil,
que já não vinha ocorrendo na prática devido ao
aumento significativo de impressos circulando, é
abolida em 1821 por D. João VI. Juntamente com
uma imprensa mais livre, começa um processo de
formação da opinião pública no Brasil, nos anos
1820 e 1821, que coincide com as precipitações
rumo à Independência.
A partir daí, poderia se afirmar que a
liberdade de imprensa estaria instalada no
Brasil. Mas o que se verifica em seguida
não é uma linha progressiva e ascendente
de crescimento dessa liberdade. Houve um
crescimento da imprensa, sim, mas a
questão do controle desta atividade seguiria
uma linha sinuosa, com recuos e
expansões (MELO, 2003, p.123).
O 1º Reinado (1822-1831) foi um período
marcado pelo autoritarismo. O 2º Reinado, após a
ascensão ao trono de Dom Pedro II, deixa clara
uma realidade contraditória: modelos arcaicos de
gestão são enfraquecidos por crises econômicas,
políticas e militares, até a culminância do movimento
militar que destronaria a coroa e implementaria a
República.
Até o final do século XIX, em especial até
1889, a imprensa periódica se desenvolveu
lentamente.
Já
os
pasquins
proliferaram
alimentados pelas crises e turbulências que
enfrentou o Império Brasileiro, ao longo de seus
sessenta e sete anos.
No fim do século XIX a imprensa brasileira
estava preparada para avançar rumo uma etapa
empresarial. O próprio leitor se tornara mais
exigente com a qualidade tipográfica e com o
conteúdo. A partir daí os jornais passam a disputar
prestígio, o que requer um aparelhamento técnico e
a maior especialização profissional.
Houve também um declínio do folhetim, que
foi substituído pelo colunismo e pouco a
pouco, pela reportagem. A tendência pela
entrevista substitui o simples artigo político
e há tendência também para o predomínio
da informação sobre a doutrinação (BAHIA,
1990, p.247).
Surgiram
as
empresas
jornalísticas,
substituindo, nos maiores centros urbanos, o
jornalismo artesanal. Os jornais essencialmente
opinativos propunham novos modelos editoriais cuja
ênfase era para o artigo de fundo, o editorial,
enquanto os diários apregoavam uma suposta
neutralidade e compromisso com a verdade. O
aspecto documental foi priorizado e começou o uso
de recursos de ilustração e fotografia.
O rei trouxe a era de Gutemberg – com
mais de três séculos de atraso – ao Brasil.
Enquanto surgiam os primeiros jornais,
quase todos de vida efêmera, o país
passava
por
importantes
inovações
tecnológicas, como a utilização de estradas
de ferro (a partir de 1854); do telégrafo
(1857); do cabo submarino (1872); e do
telefone (1876), além da instalação da
primeira agência de notícias em 1874, a
Reuters-Havas (FERRARI, 2004; p.26)
Assim, começa a segunda fase da imprensa
brasileira, apoiada no espírito industrial republicano.
Em geral, era um momento em que o Brasil buscava
investimentos para tentar alcançar a modernidade,
tomando por base os modelos empresariais de
países mais avançados.
No início dos anos de 1920 dois grandes
jornais diários em circulação são fundados: O Globo
(RJ) e a Folha de São Paulo (antiga Folha da
Manhã). Contudo, essa década se fascinará com
uma nova invenção: o rádio. O novo meio de
comunicação atrai imediatamente a atenção da
população e, inicialmente, impacta o jornalismo
4
impresso no sentido de concorrência por
anunciantes e não propriamente no conteúdo
informativo. O primeiro “jornal falado”, o Jornal da
Manhã, é emitido em ondas AM e “baseado no
noticiário dos jornais do dia” (BAHIA, 1990, p. 200).
A mais importante emissora do início da Era
de Ouro, a Rádio Nacional, é formada em 1936. A
partir dela foi aberto o caminho para o
radiojornalismo, como uma linguagem diferenciada
do impresso. O jornal impresso perde sua
hegemonia na divulgação da atualidade, porque a
narração auditiva dos acontecimentos tornou mais
imediata a sua atualização, além de criar uma
relação de maior proximidade com o público. A força
da palavra radiofônica residia em ser imediata, ao
vivo, o que possibilitava atualizações constantes
com a notícia de última hora.
Contudo,
as
empresas
jornalísticas
permanecem executando programas de expansão
editorial e investimentos em novas técnicas de
impressão: “a imprensa diária e semanal generaliza
a cor, os cadernos, os encartes e os suplementos,
com maior capacidade de cópias” (BAHIA, 1990, p.
201).
Por fim, em outubro de 1930, irrompe no país
uma revolução chefiada por Getúlio Vargas e Juarez
Távora. Os grandes jornais do eixo Rio-São Paulo
não acompanham em cobertura a marcha dos fatos,
assim “publicam a notícia da revolução com dois
dias de atraso” (BAHIA, 1990, p. 205). Os jornais
brasileiros então se defrontam com a censura da
informação livre, com a instauração do Estado
Novo, de modo que a imprensa nacional é lançada
na delicada situação de lidar com a divulgação de
informação e opinião, em meio a uma ditadura.
É das represálias ao livre exercício da
opinião, das cinzas do incêndio das
redações, do empastelamento dos parques
gráficos de numerosos jornais, das prisões
e dos processos que retiram jornalistas da
circulação por ordem do governo, que
nasce uma imprensa mais consciente do
seu papel, mais resistente às pressões
oficiais. (BAHIA, 1990; p.209)
Segundo Juarez Bahia, os anos 30 marcam a
fase moderna da imprensa no Brasil, e, se num
primeiro momento houve um impulso de expansão
do jornalismo e das artes, em seguida abateu-se o
terror de um Estado Policial.
No Brasil, de 1937 a 1945, um grande
número de jornais, revistas e panfletos foram
fechados por determinação do Poder Executivo, que
impunha sua vontade durante o período da ditadura
de Getúlio Vargas. Além disso, muitos jornalistas
foram presos por cometerem delitos de imprensa. A
liberdade de imprensa foi calada. A ditadura criou
então o Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP), inspirada no modelo nazista, e as redações
foram obrigadas a conviver com seus funcionários.
NOVAS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃO
A revolução tecnológica causada pelas
tecnologias eletrônicas aplicadas aos processos e
produtos industriais, a partir dos anos 60, provocou
diversas alterações em todo o tecido social. Esta
engloba práticas culturais, processos econômicos
descentralizados, modificações na estrutura de
trabalho e na forma de divulgação e recepção de
informações.
A informática foi decisiva para a criação de
um novo ambiente de comunicação em escala
mundial. Em finais dos anos de 1990, quando sua
utilização através do computador pessoal se torna
amplamente difundida, juntamente com a Internet,
ocorre um processo de democratização cujos
impactos desencadearam novas formas de relações
sociais e práticas culturais.
Antes de um aprofundamento mais detido
quanto aos impactos trazidos pela Internet, vale
destacar que esta é parte de uma transformação
mais geral. Esse processo é a gradual perda de
predomínio dos meios de comunicação de massa.
Conforme Maria das Graças Targino (1995), a
informática conduziu ao surgimento de um novo
modelo informacional:
... distributivo, dinâmico e hipertextual, no
sentido de atender os usuários conectados
em redes eletrônicas, de modo não mais
linear, mas respeitando sua estrutura
cognitiva, suas demandas singulares,
independentemente
da
localização
geográfica (TARGINO, 1995, p.3).
Este novo modelo de comunicação direcional
ou democrática só pode ser compreendido em
relação ao seu antecessor. Na perspectiva da
referida autora, o modelo informacional está em
oposição ao modelo informativo, que é baseado nos
meios de comunicação de massa:
Estes informam, formam e deformam.
Estimulam a sociedade de consumo.
Consolidam
laços
de
dependência.
Incentivam a massificação de hábitos,
costumes e atitudes, em perspectiva
vertical, ou seja, no modelo informativo, em
que o emissor manipula as probabilidades
de transmissão de dados (TARGINO, 1995,
p.3).
O século XXI se inicia, portanto, marcado por
um novo paradigma tecnológico, mudança que
reestruturou a sociedade. O fator decisivo desta
mudança é o desenvolvimento da informática. A
comunicação deixa de ser unilateral, acaba a
passividade dos receptores que passam a
demandar conteúdos mais personalizados, navegar
pela informação de modo dinâmico, são capazes de
se apropriar desse desenvolvimento e participar
5
ativamente no processo de difusão e criação.
Usuários e criadores estão interagindo e até se
confundindo.
Houve nesse período, uma revolução com a
interface digital, que permitiu que a tecnologia da
informação penetrasse "em todos os domínios da
atividade humana, não como fonte exógena de
impacto, mas como o tecido em que essa atividade
é exercida" (CASTELLS, 2002; p.68).
A EVOLUÇÃO DA INTERNET
A Internet é uma realidade e hoje suas
utilizações são as mais variadas: consulta de
bancos, e-mail, compras, fóruns de debates, mídias
sociais, fornece acesso a rádios, jornais, revistas,
músicas do mundo todo. O pesquisador André
Lemos (2002), sintetiza as expansões da
capacidade humana graças aos meios de
comunicação, até a Internet, da seguinte forma:
A revolução do impresso, com a invenção
de Gutenberg, retirou os livros do
monopólio da Igreja, o telefone permitiu
uma comunicação instantânea entre
pessoas, a TV e o rádio levaram
informações a distância para uma massa de
espectadores. A internet cria hoje, uma
revolução sem precedentes na história da
humanidade. Pela primeira vez o homem
pode trocar informações, sob as mais diversas formas, de
maneira instantânea e planetária (LEMOS, 2002, p.116).
A Internet, um conjunto de redes planetárias
em processo crescente de popularização, começou
a ser construída com investimentos militares dos
Estados Unidos, nos anos de 1960. Esse
investimento era parte do esforço na competição
tecnológica de disputa com a URSS, que
caracterizou a Guerra Fria. Governos estavam
tentando resolver problemas de guerra, mas
acabaram por desenvolver tecnologias que
mudaram os períodos de paz no mundo de uma
maneira incrível.
Assim, ao operar em rede, os servidores de
informações americanos se descentralizavam,
permitindo, além de uma maior dinamicidade, que a
informação trafegasse e fosse armazenada (de
modo difuso), ainda que uma das centrais fosse
desconectada ou atacada por inimigos.
O passo fundamental foi dado em 1969,
quando na Universidade da Califórnia em Los
Angeles (UCLA) foi construído o primeiro ponto da
rede, que seria batizada de ARPANET, de uso
exclusivo dos cientistas e militares do Departamento
de Defesa Norte Americano (Advanced Research
Projects Agency).
A certa altura tornou-se difícil separar a
pesquisa voltada para fins militares das
comunicações científicas e conversas
pessoais. Assim, permitiu-se o acesso à
rede de cientistas de todas as disciplinas e,
em 1983, houve a divisão entre ARPANET,
dedicada a fins científicos, e a MILNET,
orientada diretamente às aplicações
militares (CASTELLS, 2002, p.83).
Na década de 70, surgem redes cooperativas
e descentralizadas para servir à comunidade
acadêmica, à sociedade em geral e depois às
empresas. Em 1986, é criada uma rede decisiva na
evolução da Internet, a NSFNET (National Science
Foundation Network), que possibilitou a união
através de supercomputadores entre cinco centros
de pesquisa científicos, com diversas ramificações.
A principal rede desse período chamava-se ARPAINTERNET, depois passou a chamar-se INTERNET,
ainda financiada pela Defesa, mas operada pela
National Science Foundation, que deu continuidade
ao projeto de funcionar como “rede das redes” - o
que naquela época queria dizer controle
governamental. Essa transição, o abandono da
ARPANET, se deu pela evolução tecnológica que
tornou obsoleta esta tecnologia, cujas atividades
foram encerrando em 1990.
Contudo, as pressões comerciais, o
crescimento de redes de empresas privadas
e de redes cooperativas sem fins lucrativos
levaram ao encerramento dessa última
espinha dorsal operada pelo governo em
abril de 1995, prenunciando a privatização
total da Internet, quando inúmeras
ramificações comerciais das redes regionais
da NSF uniram forças para formar acordos
colaborativos entre empresas privadas
(CASTELLS; 2002, p.83).
Ainda na década de 80, Tim Berners Lee, o
inventor do WWW (World Wide Web), desenvolve
um programa com a função de organizar os dados,
de modo a serem “empacotados” e transmitidos
entre vários computadores, sem perda da
informação. Em 1990, Lee com apoio de Robert
Cailliau desenvolve um sistema de hipertexto. No
prosseguimento das novas descobertas, ainda
nesse mesmo ano, foi criado um grupo de
pesquisadores e experts para estudar a capacidade
da WWW.
Com a WWW a navegação ficou mais fácil,
porque a interface gráfica era mais amigável e se
baseava no princípio de que caberia ao usuário
buscar as informações que desejasse na rede. A
partir desses conceitos foi possível a criação dos
primeiros navegadores ou browsers.
A internet oferece formas de navegação e age
como uma verdadeira incubadora de novas ideias,
ou seja, é um ambiente propício à criação de
inesperados dispositivos comunicacionais.
A cara da internet em 1993 era a mesma até
o início dos anos 2000. A partir daí começou a
apresentar grandes avanços, com o passar dos
anos ficou cada vez mais conhecida e disseminada
6
pelas populações. Segundo Ferrari (2004, p 17):
“Para dar uma dimensão do crescimento da internet,
o número de computadores conectados ao redor do
mundo pulou de 1,7 milhão em 1993 para 20
milhões em 1997”.
Foi necessário mais de uma década para que
o computador se difundisse como uma tecnologia
natural do cotidiano na sociedade brasileira. De
acordo com dados do Instituto Brasileiro de
2
Geografia e Estatística (IBGE) , em 2013 a
proporção de internautas era de 50,1% do total da
população. Isso equivale a 86,7 milhões de usuários
de internet com 10 anos ou mais. Em números
absolutos, dos 32,2 milhões de domicílios com
computador em casa, 28 milhões possuíam acesso
à Internet. No que toca à televisão, a mesma
pesquisa aponta para uma presença praticamente
absoluta da televisão nos lares brasileiros,
encontrada em 97,2% das casas.
IMPACTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Segundo Castells (2002), é possível observar
historicamente as mudanças da cultura pela
tecnologia através de três etapas: um período préindustrial, quando a vida social era local e pequena
em escala; em seguida um período industrial, que
tornou a produção em massa possível, com seus
respectivos meios de comunicação (rádio,
televisão); por fim, uma última etapa, pós-industrial,
em que a economia manufatureira dá lugar ao setor
de serviços, e no aspecto cultural, surgem
segmentos cada vez menores, acentuando a
diferenciação cultural no tecido social. Tanto a
transformação na economia quanto na cultura, nesta
nova era “pós-industrial”, está amplamente
penetrada pelas novas tecnologias de comunicação,
especialmente pela dinamização das relações
proporcionada pela Internet.
Em 2006, Rosental Calmon Alves, professor
da Universidade do Texas e catedrático da
UNESCO, em artigo intitulado Jornalismo digital:
Dez anos de web... e a revolução continua, viu na
Internet uma transformação da humanidade. Para
ele a Internet traz consequências políticas, sociais e
econômicas amplas, às quais o jornalismo não
escapava. Pelo contrário, por ser um trabalho
centrado na disseminação de informação, além de
um serviço dependente dos meios de comunicação,
a atividade jornalística estaria no centro das
transformações:
Devido a essas proporções revolucionárias que
assinalam o início de uma nova era, além de
pensar em midiamorfose, pensemos também em
midiacídio - ou seja, a possibilidade de a ruptura
tecnológica provocar a morte de meios
2
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/09/mais-de-50-dosbrasileiros-estao-conectados-internet-diz-pnad.html, acesso em:
03 de abril de 2015.
tradicionais que não tenham capacidade ou não
saibam se adaptar ao novo meio ambiente
midiático em gestação. (ALVES, 2006; p.3)
Nesta curta citação, percebe-se que o
pesquisador suscita duas possibilidades. De um
lado, podemos falar de uma possível adaptação e,
de outro, da substituição tecnológica. Essa forma de
encarar o fenômeno das novas tecnologias como
possibilidades abertas serve de alerta. Não
podemos falar com total segurança de uma crise
inevitável ou que essa crise esteja em curso sem
respostas, resistências e reinvenções.
A perspectiva da substituição se orienta pela
pergunta: até que ponto o jornalismo impresso
estaria desaparecendo por causa da Internet? Já o
viés da adaptação requer avaliar o que as novas
tecnologias
trouxeram
de
novidade.
Para
compreender melhor é preciso trabalhar as duas
tendências de maneira complementar. Diante dos
interesses desta pesquisa, cabe perguntar, a partir
desse dilema (midiamorfose ou midiacídio), quais as
mudanças na concepção que temos hoje, dentro da
era da Internet, sobre a prática jornalística.
De acordo com Alves, a Internet, e todas suas
variadas utilizações pelos mais diversos aparelhos,
é genericamente a última invenção profundamente
impactante na forma de relacionamento com o
mundo por meio da informação, de modo a ser
inserida numa longa série de avanços que
contribuíram para a mudança de paradigma: de uma
comunicação de massa para meios comunitários
(ALVES, 2006).
A preocupação com a chegada dessa nova
tecnologia gerou os primeiros debates no Brasil no
início dos anos 1990. A Internet era um artigo de
luxo, pouco conhecido pelo público em geral,
quando a Folha de São Paulo promoveu, em 1993,
o Fórum Folha de Jornalismo e Mídia. Na pauta
deste fórum internacional estava o futuro do
jornalismo impresso e do modelo vigente de
jornalismo em geral diante da chegada de novas
tecnologias.
Entre os convidados internacionais estava
Walter Bender, principal pesquisador do laboratório
de mídia do MIT (Massachusetts Institute of
Technology), que afirmou estar convicto de que
futuramente no centro da relação entre mídia e
sociedade
se
daria
um
processo
de
"personalização", onde o próprio leitor selecionaria,
graças ao computador, o que quer ler ou ver em
jornais eletrônicos.
Outro ilustre convidado, Warren Hoge, à
época chefe de redação adjunto do The New York
Times, se mostrou cético quanto às perspectivas
pessimistas sobre o fim do jornalista perante uma
personalização excessiva do conteúdo. Para Hoge,
o jornalista teria sua importância reconhecida na
tarefa de "dar ao público aquilo que ele não sabe
que precisa", ou seja, o jornalista mesmo na era
digital conservaria sua importante tarefa de
7
da economia capitalista de crescer para
sobreviver só fica mais acentuada em um
setor como o das comunicações, por
atravessar um período de mudanças
5
estruturais sem antecedentes.
mediador da sociedade.
No futuro, o leitor, em vez de comprar o
New York Times ou a Folha, liga o
computador de manhã e pede a informação
que ele quer. O preço das ações que tem, o
placar de algum jogo, alguma informação
sobre a profissão dele. E chega. Se isso
acontecer, vão roubar de nós, editores, o
direito, o poder e o desejo de levar ao leitor
o que chamo de accidental encounter, eu
ofereço a você notícias que você não sabe
3
que quer.
Em 1995, ocorreu a segunda edição do
fórum. Um dos painéis de debates do evento estava
exclusivamente voltado para a apresentação de dois
jornalistas norte-americanos, convidados para
relatar como o uso de computadores estava
revolucionando a produção e a distribuição de
notícias no mundo.
Otávio Frias Filho, diretor de Redação da
Folha de São Paulo, durante o evento expressou
sua perplexidade diante de desafios como o
descompasso entre os interesses fugazes dos
leitores e a dimensão analítica e cultural do
jornalismo, assim como a dificuldade de manter
"taxas de leitura numa civilização que é cada vez
mais refratária à palavra escrita".
O
desenvolvimento
recente,
tanto
tecnológico como econômico, parece
colocar mais uma vez em xeque o futuro do
jornalismo tal como o concebemos. O
impacto tecnológico já é visível e não mais
depende das especulações sobre uma
eventual superação do formato impresso
pelo formato eletrônico. Ainda distante no
futuro, como essa superação parece estar,
é fato, no entanto, que a forma tradicional
começa a conviver com as formas
4
eletrônicas, suplementares e alternativas.
No encerramento do segundo fórum, o
presidente da Empresa Folha da Manhã S/A (grupo
de comunicação da qual a Folha de SP fazia parte),
Otávio Frias Filho, indicou que fazia parte dos
planos empresariais do grupo a tarefa de
adaptação, de convergência e atualização digital,
como forma de se manter crescendo num contexto
ainda incerto e acirrado. O título que o jornal
impresso, no dia seguinte, deu a fala do presidente
era: "Não basta superar a concorrência".
O bit será a base comum para toda
comunicação: jornal TV, rádio, dados,
telefone. Computação, telecomunicações e
mídia estarão convergindo para uma
mesma base de distribuição. A necessidade
3
Folha de S. Paulo, 22 de outubro de 1993.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/19/brasil/33.html,
acesso em: 17 de maio de 2015
4
Assim, o desafio estava claro: era
necessário modernizar a forma de cobertura e de
disseminação ou ser superado. As empresas
jornalísticas brasileiras não empregavam a
informática na base de seus processos. Era urgente
dar o primeiro passo rumo ao movimento chamado
de "convergência das tecnologias", na qual se
fundiam tecnologias de telecomunicações e
informática, o que era central para a conformação
de empresas-rede e de redes de empresas, modelo
característico do cenário econômico contemporâneo
(CASTELLS, 2002).
Anterior a toda à problemática envolvendo a
Internet e o tempo real da informação, o jornalismo
impresso brasileiro precisava superar seus métodos
antiquados de produção e adentrar na fase prévia
da informatização das redações. Tornar a
informática e o uso de computadores uma realidade
intrínseca aos processos dos profissionais.
Mas a modernização requer investimentos e,
com isso, surge o problema de como gerar as
receitas sem provocar redução da qualidade durante
o processo de experimentação e adaptação ao
computador e, depois, às novas formas de mídia.
Sobre os obstáculos para o uso de
computadores em reportagens, disse em 1995,
Fernando Rodrigues, repórter da Folha no período:
"os equipamentos são caros, há poucos bancos de
dados informatizados e não está disseminada a
importância do processamento eletrônico de
6
informações" .
O jornal O Globo também investiu para
modernizar os equipamentos de produção de textos.
Desde 1985 a redação buscava atualizar-se para
substituir as antigas máquinas de escrever. Em
1995, o jornal adota um sistema com interface
gráfica e alcança o patamar da diagramação
eletrônica. “Com o processo de produção totalmente
eletrônico, ilustrações, gráficos e mapas que antes
eram feitos, em média, em cinco horas, passaram a
7
ficar prontos em pouco mais de meia hora” .
Antes de iniciar a complexa transposição para
as
novas
mídias,
os
jornais
impressos
acompanharam as mudanças nos padrões de
leitura, modificando sua forma de apresentação. Foi
diagnosticada uma perda de atratividade, já que as
novas tecnologias apresentam uma integração
hipermídia, com som, vídeo, imagem e,
5
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/18/brasil/35.html,
acesso em: 17 de maio de 2015
6
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/14/brasil/26.html,
acesso em: 17 de maio de 2015
7
http://memoria.oglobo.globo.com/linha-do-tempo/computadorna-redaccedilatildeo-9173808, acesso em: 17 de maio de 2015
8
principalmente, a flexibilidade de visualização.
Portanto, se fez necessário pensar uma reforma nos
projetos gráficos das publicações para torná-las
atraentes a um novo público que se familiarizava a
“navegar” livremente por plataformas hipertextuais e
convergentes.
Como tentativa de resistir ao impacto das
mudanças, vários veículos buscaram realizar uma
reformulação gráfica, da diagramação, das cores,
imagens - elementos da linguagem visual, assim
como da forma de se comunicar com a audiência.
Em 20 de dezembro de 1995, O GLOBO
mudou de cara da noite para o dia seguinte.
Sempre
acompanhando os
avanços
tecnológicos, o jornal alterou radicalmente a
sua
apresentação
gráfica,
com
a
implantação
de
um
novo
projeto,
desenvolvido em Nova York pelo escritório
dos designers Milton Glaser e Walter
8
Bernard.
Enquanto a Folha de SP organizava fóruns e
elaborava sua estratégia de “transposição” para a
Internet, o Jornal do Brasil lançou pioneiro uma
edição online (www.jb.com.br).
O Jornal do Brasil foi o primeiro meio
impresso a migrar para o campo digital, lançando
seu site em maio de 1995. Esse movimento para o
ciberespaço é acompanhado pelo O Globo e Grupo
Estado. Esses veículos trazem para a Internet a
marca histórica da imprensa brasileira, a
centralização da mídia, isto é, uma estrutura
baseada em grandes conglomerados. Esses grupos
de mídia são controlados por famílias e, na época,
eram informalmente chamados de barões da
Internet (FERRARI, 2004, p 25).
Empresas tradicionais como as Organizações
Globo, o grupo Estado (detentor do jornal O Estado
de S. Paulo e Jornal da Tarde), o grupo Folha (do
jornal Folha de S. Paulo) e a Editora Abril se
mantêm como os maiores conglomerados de mídia
do país, tanto em audiência quanto em receita com
publicidade. Foram eles que deram os primeiros
passos na Internet brasileira, seguidos pelo boom
mercadológico de 1999 e 2000, quando todas as
atenções se voltaram à Nasdaq (National
Association of Securities Dealers Automated
Quotation), a bolsa de valores da Nova Economia
(FERRARI, 2004, p 27).
Em 2001, já havia mudado o pensamento de
que sites gerariam altos ganhos com poucos
investimentos e sucesso em revistas especializadas
(FERRARI, 2004, p 28). Nesse período entraram em
cena também os portais de Internet (iG, ZipNet, O
Site, Cidade Internet e StarMedia) que recebiam
investimentos de empresários estrangeiros atraídos
8
http://memoria.oglobo.globo.com/linha-do-tempo/reformagraacutefica-9178726, acesso em: 22 de maio de 2015.
pelo promissor mercado brasileiro.
Assim, se tornou inconcebível que um jornal
não tivesse presença digital na Internet. A solução
mais imediata foi fazer a transposição do impresso
para o virtual para manter-se atualizado com as
novas tecnologias, novas formas de leitura da
audiência e, principalmente, com essa nova forma
de aquisição de receitas na Internet.
De 1997 a 2000 os sites brasileiros adotavam
a política de trabalhar visando mais a quantidade de
notícias do que o aprofundamento na qualidade dos
conteúdos.
O mercado passou a preocupar-se mais
seriamente com a integração entre
conteúdo de qualidade, design acessível e
viabilidade financeira – a ser obtida não
mais com o aporte abundante de capital dos
investidores, mas com a obtenção de
receita por publicidade, um caminho
certamente bem mais difícil (FERRARI,
2004, p 28).
Luciana Mielniczuk (2001) propõe que é
possível identificar três fases distintas a respeito do
jornalismo na Web (não exclusivamente os
impressos). Ou seja, a digitalização dos conteúdos
na Internet se tornou um imperativo e foi sendo
realizada por etapas.
A primeira se caracteriza pela transposição,
isto é, pela reprodução de partes ou na íntegra de
conteúdo dos grandes jornais impressos em seus
espaços na Web. Nessa etapa não havia uma
dinâmica própria para a velocidade instantânea do
virtual, de modo que o material era atualizado nos
sites, conforme o fechamento das edições
impressas.
Com a modernização das redações e o
aperfeiçoamento técnico dos profissionais, começa
uma segunda etapa, na qual mesmo atrelado ao
modelo do jornal impresso, o conteúdo começa a
explorar características peculiares da rede, como os
fóruns interativos com o leitor, o e-mail, e
principalmente o hipertexto.
A terceira etapa desse desenvolvimento é
caracterizada pela consolidação de processos
anteriores, como equipes mais sofisticadas, maior
integração dos usuários na produção/reprodução
dos conteúdos. A tudo isso vem somar-se a
proliferação de plataformas móveis, como celulares
e tablets. Sobre este terceiro e atual momento,
resume Mielniczuk:
O cenário começa a modificar-se com o
surgimento de iniciativas tanto empresariais
quanto editoriais destinadas exclusivamente
para a Internet. São sites jornalísticos que
extrapolam a ideia de uma simples versão
para a Web de um jornal impresso e passam
a
explorar
de
forma
melhor
as
potencialidades oferecidas pela rede. Tem-se,
então, o webjornalismo (MIELNICZUK, 2001,
p.2).
9
Os jornais impressos vivenciam um
verdadeiro desafio estrutural, pois sua produção
segue um modelo que requer um grande aparato
para funcionar: são rotativas, bobinas de papel,
eletricidade e redes complexas de distribuição. Toda
essa logística, material humano e técnica
empregada para confecção de um produto
perecível, que tem vida útil de no máximo 24 horas.
As novas tecnologias tornaram a informação
mais rápida, barata, e graças à capacidade de
armazenamento eletrônica, mais durável. Todos
esses fatores mudaram consideravelmente a
natureza das audiências. De modo que a queda de
circulação, do número de leitores e do tempo de
leitura dos jornais coincide com o período de
acirramento da concorrência de outros meios de
informação, como a Internet, as TVs por assinatura,
as emissoras de rádio noticiosas e até mesmo as
revistas semanais informativas.
As importantes transformações no mercado
publicitário e no público-alvo decorrentes da
consolidação das novas tecnologias e
também de mudanças dos hábitos de
leitura(...) representam grandes desafios
para a lucratividade dos grandes jornais.
Sua estrutura industrial, suas práticas
jornalísticas e comerciais precisam ser
repensadas, à luz dessas transformações,
sob pena de o negócio jornal tornar-se
inviável, ou de o seu produto desfigurar-se
a ponto de perder-se o que é essencial no
jornal e no jornalismo. (SANT’ANNA, 2006;
p.30)
O jornalista e pesquisador Lourival
Sant’Anna em um livro intitulado O Destino do
Jornal (2008) toma por base dois fatores estruturais
que concorreram para a queda de circulação dos
jornais, no final dos anos 2000: a diminuição do
tempo dedicado à leitura e o acirramento da
concorrência com outros meios. Estas modificações,
segundo Sant’Anna, estão em direta relação com a
inovação tecnológica.
No início da década de 2000, os três
principais jornais brasileiros – O Globo, O
Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo –
sofreram expressivas quedas de circulação.
Em meados da mesma década ela voltou a
crescer. Oscilações conjunturais à parte,
parece improvável que os grandes jornais
voltem a alcançar, algum dia, os recordes
registrados em meados dos anos 1990
(quando edições dominicais da Folha
ultrapassaram o milhão de exemplares),
impulsionados, é verdade, por agressivas
políticas de concessão de brindes, que
ficaram conhecidos como “anabolizantes”
(SANT’ANNA, 2008, p.17).
Segundo Sant’Anna, em 2006, a média de
circulação da Folha de SP entre janeiro e dezembro
era de 302.589 exemplares por dia, os dados foram
obtidos pelo Instituto Verificador de Circulação
(IVC). De acordo com dados atualizados, divulgados
pelo mesmo Instituto, em fevereiro de 2014 a
circulação média de exemplares impressos da Folha
foi de 223.832 – queda de 26%. No entanto, nesse
mesmo ano de 2014, a Folha alcançou a marca de
117.721 edições vendidas na versão do digital do
diário, o que a torna atualmente líder de vendas em
ambos os segmentos, físico e virtual.
Além da diminuição das vendas, sem uma
contrapartida
das
assinaturas
virtuais
que
equilibrasse as receitas dos veículos de jornais
impressos, estes também vivem em um ambiente de
declínio de suas receitas com publicidade.
No lide da reportagem “Projeto da Associação
Nacional de Jornais visa frear queda de publicidade
nos impressos”, publicada no portal da revista
Imprensa - Jornalismo e Comunicação, está escrito
que: “os principais jornais do Brasil enfrentam uma
crise de percepção no que diz respeito ao
mercado publicitário". Os autores da matéria
utilizam a palavra “crise”, tratamento alarmista que é
habitual quando o assunto diz respeito sobre o
financiamento
das
atividades
jornalísticas
contemporâneas. Com efeito, os dados apontados
são realmente preocupantes:
A tendência de queda observada desde a
década de 1990 foi reforçada com os dados
de 2013, quando a participação dos
veículos impressos no investimento total da
publicidade chegou a 10,12%. Em 1996 era
de 25,11%, segundo a Associação Nacional
9
dos Jornais (ANJ).
Ainda nesta reportagem, segundo os donos
de veículos e publicitários, há dois motivos para a
queda das receitas publicitárias do meio jornal: o
descompasso entre números apurados por
auditorias e a audiência; assim como o alto preço
cobrado pelos jornais, apesar de sua baixa
flexibilidade e perecibilidade.
A CRISE DO JORNALISMO IMPRESSO
Jornais impressos possuem uma necessidade
interna que os torna um empreendimento
complicado na era digital: a circulação diária implica
altos custos de impressão, que requer como
contrapartida uma vendagem mínima para seu
custeio, enquanto o público está cada vez menos
disposto a pagar pelo jornal impresso.
Jornais impressos são fechados, ocasionando
demissão em massa de experientes jornalistas. São
vários os exemplos.
9
http://www.portalimprensa.com.br/cdm/caderno+de+midia/6949
6/projeto+da+associacao+nacional+de+jornais+visa+frear+queda
+de+publicidade+nos+impressos, acesso em: 07 de abril de
2015.
10
Início do mês de setembro de 2010 o Jornal
do Brasil parou de circular no país a versão
10
impressa . Logo após completar 73 anos, o Diário
de Natal fechou a versão impressa em 2012. Dois
anos depois, mais um impresso do Rio Grande do
Norte, o Jornal de Hoje, se desfaz e passa a existir
apenas com edições digitais disponíveis na Internet.
Na edição de despedida, em 15 de abril, anunciou:
"Atenção leitores: O Jornal de Hoje anuncia nesta
quarta feira o fim de sua edição impressa. O detalhe
que obriga a RN GRÁFICA E EDITORA a iniciar a
desativação da edição impressa do jornal é o seu
elevado custo". O jornal iria completar 18 anos de
presença nas ruas de Natal, com tiragem
vespertina.
A Gazeta Mercantil, jornal tradicional de
economia, fundada em 1920, foi decretada
suspensa em 2009 devido ao acúmulo de dívidas.
Do mesmo segmento, o Diário do Comércio, jornal
paulista de 1924, anunciou em 2014 o fim de sua
edição impressa, convertendo-se unicamente em
plataforma digital. De acordo com o presidente da
Associação Comercial de São Paulo (responsável
pelo jornal), Rogério Amato, a decisão de encerrar
as atividades impressas deu-se devido a anos de
operação com resultados negativos.
O Jornal da Tarde, que apostou em novas
formas de escrita, mais afinadas com formas
literárias, também fechou as portas em 2012, após
46 anos de circulação. Em nota, O Grupo Estado,
detentor do diário, anunciou que o fechamento se
dava para concentrar investimentos no Estado de
São Paulo, assim como expandir para uma
multiplataforma integrada (papel, digital, áudio,
vídeo e mobile).
Esse fenômeno de declínio de receitas tanto
na venda avulsa quanto com os anunciantes, que
leva ao encerramento das atividades ou à total
migração para o digital, não está circunscrito ao
Brasil, sendo uma tendência mundial.
Há pelo menos seis anos, Juan Luis Cebrián,
fundador e presidente do influente diário espanhol,
El País, considera a extinção do jornal impresso
inevitável. Em 2009, o jornal espanhol anunciou a
união das versões impressa e online em uma única
redação que passou a produzir conteúdo tanto para
papel, como internet e celular. Tal convergência na
redação foi chamada por ele de "plano de
sobrevivência".
Em entrevista para o Estado de São Paulo,
em 17 de abril de 2010, afirmou categórico que o
jornal, tal como o conhecemos, se acabou:
Digital. (...) Embora, a edição digital do El País
venha crescendo bastante, eu não posso lhe dizer
que se trata só de uma bem-sucedida transposição
do impresso para o online, porque não é verdade.
11
São veículos diferentes.
Na visão do magnata Rupert Murdoch, CEO
da cadeia global da News Corporation, segundo
maior conglomerado de mídia do mundo, o futuro do
jornalismo é promissor. Murdoch defendeu essa
tese em palestra para a Comissão Federal de
Comércio Norte-americana em 2009. Assim, o
sucesso das empresas jornalísticas, especialmente
as de material impresso depende de três pontos:
saber usar a tecnologia, cobrar pelo conteúdo e
reduzir a intervenção governamental nas atividades.
"Muitos jornais e empresas de comunicação não se
adaptarão às novas realidades e fracassarão. E não
12
podemos culpar a tecnologia por esses fracassos”.
Contudo, é fato que a madura e
tecnologicamente
avançada
imprensa
norteamericana está abalada nas suas estruturas e
pressionada por questões financeiras.
É triste ver ícones como o New York Times
tendo que recorrer a empréstimos
vultuosos, com altas taxas de juros, e
analistas discutindo a possibilidade de
jornais se tornarem entidades sem fim
lucrativo, mantido por doações (BRITO,
2009, P.119).
Nos últimos dez anos a circulação de jornais
nos Estados Unidos tem registrado quedas
contínuas. Além disso, a redução de renda com
publicidade tem sido significativa nos veículos
impressos, caindo de U$ 46,7 bilhões em 2004, para
16,4 em 2014. Por outro lado, houve um aumento
no investimento em propaganda nas versões digitais
de impressos. Em 2004, este tipo de receita contava
com U$ 1,5 bilhão, alcançando mais que o dobro
em 2014, com U$ 3,5.
Tabela 1. Receita anual com propaganda
(bilhões de dólares)
Ano
2004
2006
2008
2010
2012
2014
Digital
1.5
2,7
3.1
3
3.4
3.5
Impresso
46.7
46.6
34.7
22.8
18.9
16.4
Fonte: Newspaper Association of America, BIA/Kelsey (2014)
Não significa dizer que deixarão de existir. Esse
adiós resulta tão somente da constatação de que
os impressos pertencem à sociedade industrial, e
não estamos mais nela. Entramos na sociedade
10
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/766640-empresarioanuncia-o-fim-do-jornal-do-brasil-em-versao-impressa.shtml,
acesso em 07 de abril de 2015.
13
11
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,as-teclas-de-juanluis-cebrian-fundador-do-el-pais,539361, acesso em: 10 de abril
de 2015.
12
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,para-murdoch-futurodo-jornalismo-e-promissor,478905, acessado em: 10 de abril de
2015.
13
http://www.journalism.org/2015/04/29/newspapers-fact-sheet/,
acessado em: 10 de abril de 2015.
11
No entanto, esse incremento no interesse das
agências de publicidade pelos meios digitais
encontra resistência. Na opinião de Martin Sorrell,
fundador e presidente da WPP, maior empresa
multinacional de publicidade e relações públicas, os
veículos tradicionais são mais poderosos do que
atualmente se supõe. Ancorado em suas pesquisas
recentes, o empresário acredita que mídias como
jornais e revistas possam ser mais engajadoras,
pois os leitores registram melhor a informação
14
veiculada .
A ideia de que o jornal impresso possui mais
força de confiança é respaldada em dados
coletados pela Secretaria de Comunicação Social
(Secom) da Presidência da República. Conforme a
Pesquisa Brasileira de Mídia de 2014, para o
brasileiro que consome notícias, os jornais figuram
entre o mais alto nível de confiança, com 53% dos
entrevistados, seguido pelo rádio (50%) e TV (49%).
Nesse sentido, os recortes demográficos
mostram, por exemplo, que há uma relação
direta entre renda e confiança, ou seja,
verifica-se uma tendência de aumento da
confiança na mídia conforme a renda
familiar do entrevistado aumenta. Os
resultados também sugerem que essa
relação se inverte quando o recorte é feito a
partir do porto do município, nesse caso,
quanto maior for a cidade do respondente,
menor tende a ser a sua confiança na
mídia. (SECOM, 2013, pág 81)
O alto índice de confiança obtido pelas
notícias veiculadas em jornais contrasta com outros
aspectos da pesquisa, como a presença dos meios
no cotidiano. O costume de ouvir o rádio tem 61%
de adesão dos entrevistados, 47% de acessar a
internet, já a leitura de revista e jornais alcança,
respectivamente, 25% e 15%.
Outro dado que deve soar o alarme, foi o
padrão de respostas acerca do meio de
comunicação preferido. Evidentemente, o meio
vencedor foi a TV com 76,4%, seguido pela internet
(13,1%), rádio (7,9%), por sua vez os impressos
amargam, jornais com 1,5% e revistas com 0,3%.
Na especificação dos jornais impressos mais
citados um padrão emerge.
Percebe-se, de imediato, que a lista de
jornais mais citados é predominantemente
composta por jornais populares e de baixo
custo,
que
circulam
em
regiões
metropolitanas bastante populares, como
Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador
(SECOM, 2013, p.64)
14
http://oglobo.globo.com/economia/para-gigante-da-publicidademidia-impressa-subestimada-15740444, acessado em: 10 de
abril de 2015.
Podemos identificar um movimento de duas
vias: a queda na circulação do impresso e o
aumento das assinaturas virtuais. Portanto,
devemos nos deter para explicar com mais detalhes
qual a solução adotada por diversos veículos diante
do risco de perda de receita com a gratuidade da
Internet.
ESTRATÉGIA DO “MURO” (PAYWALL)
No dia 21 de junho de 2012, usuários que
antes navegavam livremente pelo conteúdo do site
da Folha de São Paulo foram surpreendidos por um
bloqueio de conteúdo. A partir daquela data apenas
os assinantes do jornal impresso ou do provedor Uol
teriam acesso completo ao site. Para os demais
usuários, restava a opção de poderem ler até 20
textos por mês gratuitamente. Após exceder esse
limite, o visitante então é convidado a fazer uma
assinatura paga e é apresentado a promoções e
formas de pagamento. Começava, assim, o paywall
nos grandes jornais brasileiros. O vocábulo inglês
quer dizer exatamente isso, um muro, um bloqueio
que só pode ser ultrapassado mediante pagamento.
A Folha inaugurava o modelo de negócios paywall
(em seguida viria o Globo, o Estadão e outros
demais), tendência que já vinha sendo adotada em
diversos jornais pelo mundo.
A relação originária da imprensa com a
publicidade foi enfraquecida com as novas mídias.
Isso porque houve um movimento duplo em que se
diminui a quantidade de leitores de jornal, enquanto
houve um significativo aumento de usuários de
Internet nos últimos anos. Se os jornais foram
relativamente bem sucedidos em adaptarem-se às
novas tecnologias, transferindo o conteúdo para
Web, fundindo a redação impressa com a online,
criando conteúdos em múltiplas plataformas; no
quesito rentabilidade publicitária o problema é mais
complexo dado à dificuldade de financiamento pela
Internet. Uma solução para essa questão, um
contorno do impacto dos novos meios foi a adoção
do modelo paywall de cobrança.
Segundo Paulo Pinheiro Júnior (2013), até o
momento o paywall parece ser a ferramenta que
oferece os melhores resultados quanto ao
financiamento e rentabilidade de notícias online. O
pesquisador situa a origem em 1997, quando o The
Wall Street Journal, tradicional periódico dos
Estados Unidos, empregou o modelo paywall e
obteve sucesso na iniciativa, obtendo aumento nas
receitas do site e, também na audiência, que
chegou a um milhão de usuários em 2007.
Apesar do caráter publicitário encontrado
em muitos sites que oferecem notícias, a
discussão sobre quem deve pagar o custo
está no cerne do desenvolvimento de uma
estratégia como o paywall. As empresas de
comunicação alegam que as despesas com
uma estrutura de redação voltada para o
12
webjornalismo são altas. É preciso angariar
fundos para sair da maldição do jornalismo
(GOMES JÚNIOR, 2013).
"mundo B", ninguém precisa gastar um
centavo, há uma oferta enorme de sites e
16
blogs gratuitos na rede .
O paywall pode ter dois graus distintos: o
rígido e o poroso (GOMES JÚNIOR, 2013). No
primeiro, a assinatura é exigida para que se possa
utilizar qualquer conteúdo online da publicação. Isto
é, só acessa quem paga (modelo empregado pelo
site do Valor Econômico). Por outro lado, o paywall
poroso, como o nome sugere, permite uma
navegação com restrições. As restrições podem ser
do tipo "conteúdo premium" na qual existe o site
principal e um paralelo para assinantes com
conteúdos exclusivos, ou podem ser, como adotado
pelos grandes jornais no Brasil, com limitação em
termos do número de notícias.
Contudo, marco histórico sobre esse tema foi
a implantação de paywall pelo The New York Times,
em 2011. A partir de então, o modelo poroso passou
a ser discutido mundialmente. O famoso jornal
nova-iorquino argumentou que seu jornalismo de
qualidade possui elevados custos que não estavam
sendo compensados na Web, além das constantes
infrações de leis de direitos autorais as quais seu
material era exposto.
Os argumentos das empresas para justificar
e defender este modelo não são de difícil
compreensão e giram em torno das dificuldades
financeiras, da cópia não autorizada de materiais e
de uma transformação na cultura, que passou a
valorizar a imagem, a instantaneidade e a facilidade
de uso das novas tecnologias.
DESAFIO CULTURAL: A NOVA AUDIÊNCIA
As pessoas leem jornais não apenas para se
informar, mas também pelo senso de pertencimento,
pela necessidade de se sentirem partícipes da
história cotidiana e poderem falar das mesmas
coisas que todo mundo fala (agenda-setting).
Um aumento brusco na quantidade da
informação pode gerar como consequência um
empobrecimento da qualidade de atenção do leitor.
Essa hiperprodução de conteúdo que se dispersa
sem ser devidamente apreendida, no ambiente da
Internet pode alcançar proporções gigantescas.
Exemplo disso é dado por Ferrari (2004):
Entretanto, a utilização dessa ferramenta de
cobrança não é garantia de sucesso. Na
Inglaterra, The Times adotou o paywall e viu
a audiência do site cair em 95%. Parte do
público não retornou mais e isso afetou
diretamente nos contratos com agências de
publicidade (GOMES JÙNIOR, 2013; p.10).
No Brasil a tendência é de crescimento para
esse modelo de pagamento. Segundo o IVC
(Instituto Verificador de Comunicação), órgão que
vistoria mídia, a adesão a edições digitais tiveram
aumento de 118%, ao passar de 228.994 em 2013
para 500.370 em 2014. No quadro geral da
circulação de jornais, as edições digitais atingiram a
15
marca de 11,4% do mercado . Para esse fenômeno
muito contribuiu a compatibilidade dos conteúdos
digitais com os dispositivos móveis, como
smartphones.
Em 2012, a ombudsman da Folha, Suzana
Singer, destacou que o paywall não é perfeito em
questões de segurança, podendo ser burlado.
Todavia, ainda assim há um grupo disposto a arcar
com a taxa:
Para esse grupo menor, mas fiel, o jornal
precisará oferecer conteúdo de qualidade
superior à que o site tem hoje. Para ler
pequenos informes sobre o que aconteceu
nas últimas horas, em textos malajambrados, ou para saber das fofocas
mais recentes sobre celebridades do
O que prevalece é a quantidade de
informação veiculada. O [portal] Terra, por
exemplo, ganhou notoriedade em 2001,
principalmente durante os atentados
terroristas de 11 de setembro aos Estados
Unidos, quando colocou na rede um
noticiário que continha boas informações e
era reabastecido minuto a minuto (...) A
fórmula adotada foi veicular mais de
trezentas notícias relevantes entre os dias
de 11 e 12 de setembro de 2001 (FERRARI,
2004, p.20-1)
Essas
mudanças
cognitivas
foram
aproveitadas pelos tabloides que oferecem
respostas a esses problemas com matérias curtas,
rápidas e fáceis de serem apreendidas. Com tais
notificações rápidas, o jornal cumpre o papel de
alertar sobre riscos e oportunidades que aparecem
a cada dia. Se o leitor quiser aprofundar a matéria
poderá buscar outras fontes, mas com o jornal diário
terá uma gama de breves notícias.
O risco no quesito do bem público é a
proliferação de jornais que não vão além do mínimo
necessário para se manterem como veículo para
anunciantes.
É nos processos de segmentação dos
veículos para as classes C que o entretenimento
aparece com mais força. Isso se explica pela
necessidade de chamar a atenção do leitor das
classes C e D que vive com menor renda, tem baixa
15
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/03/1601557circulacao-de-jornais-digitais-tem-avanco-de-118-em2014.shtml
16
http://observatoriodaimprensa.com.br/voz-dosouvidores/_ed700_suzana_singer/
13
escolaridade.
Assim, os pontos de vista das matérias são
modificados em função da posição dos possíveis
leitores. Possíveis porque por mais que se invista
em pesquisas mercadológicas de hábitos e opiniões
dos consumidores, ainda se trata de uma imagem já
assimilada e correspondida pelas pesquisas, ou que
traga novos dados que os jornalistas internalizarão.
E essa imagem do público é determinante para o
tratamento dos acontecimentos, na maneira como
se dá o enquadramento noticioso e na posição que
esta ocupará na diagramação da página.
AGRADECIMENTOS
A minha querida mãe que está agora nos
braços do Pai e que mesmo enferma soube
compreender minha ausência, saiba que não foi
nada fácil tomar esta decisão, mas aprendi com a
senhora que a vida é para os fortes e corajosos.
Onde estiver receba o meu agradecimento especial.
A esta instituição de ensino superior, seu
corpo docente, direção e administração que
oportunizaram a janela que hoje vislumbro um
horizonte superior.
CONCLUSÃO
Os períodos de transição, ao menos num
primeiro momento, são marcados por incertezas e
pela divisão da sociedade em dois grupos: entre
aqueles que buscam se agarrar a modelos
anteriores que estão se esfacelando e outros mais
esperançosos
que
enxergam
possibilidades.
Mudanças nos meios tecnológicos sempre ocorrem
de maneira irreversível e contínua ao longo da
história.
O jornalismo impresso passa por uma
dessas fases, um período turbulento onde o modelo
anterior não é sustentável e as soluções estão em
curso. Os sites são mais atrativos e mais dinâmicos,
incorporam recursos de interatividade, como
comentários, vídeos, áudio, etc. Diante dessa nova
mídia, que também oferece conteúdo gratuito, o
jornal deve se reinventar, sob o risco de continuar a
onda de falências e demissões de profissionais.
Primeiro houve mudanças nos principais
jornais do país na ordem gráfica. Os jornais ficaram
mais coloridos, mais chamativos, com novos
layouts. Não foi o suficiente para evitar a queda
contínua de vendas tanto de exemplares quanto
assinaturas. Nesse processo, o jornalismo brasileiro
enfrentou, na década de 90, a necessária
modernização para o ingresso na era digital, com a
informatização das redações.
Assim, as empresas de mídia convencionais
foram migrando para a plataforma digital por etapas,
com tentativas e erros. Mas permanecia a questão
chave: Como manter os custos de redação e de
apuração para fornecer material de qualidade a um
usuário que, a princípio, parece indisposto a pagar
por conteúdos online?
A solução por paywall, isto é, cobrar por
acessos parcialmente ou integralmente no site, foi
uma das maneiras adotadas por vários jornais do
mundo para cobrir suas despesas.
Todavia, as assinaturas digitais não
parecem ser capazes de tapar o rombo causado
com a perda maciça de vendas e de publicidade.
Portanto, permanece em aberto a questão sobre o
destino do jornal, que está em curso e alterará
largamente a maneira como as sociedades
modernas compõem a esfera pública da informação.
A meu querido professor e coordenador Dácio
Renault pelo carinho com que sempre me acolheu.
A minha orientadora Ana Maria Fleury Seidl
Pinheiro, pelo suporte no pouco tempo que lhe
coube, pelas suas correções e incentivo.
A minha filha Karine pela paciência e
companheirismo durante toda esta jornada, o meu
amor.
A Andersem Santos de Morais, meu principal
incentivador, o meu amor eterno.
Aos meus ricos filhos Marlon e Victor, que
sempre acreditaram em mim, obrigada.
E a todos os meus colegas de sala (hoje
amigos para sempre), que fizeram parte da minha
história acadêmica o meu muito obrigada.
Aprendi a ter coragem para questionar
realidades e propor sempre um novo mundo de
possibilidades.
Marlene Lúcia Berbigier
Agradeço em primeiro lugar a Deus pela
dádiva da vida.
Agradeço a minha mãe por ter cuidado de
mim, me apoiado nas minhas decisões e por me
incentivar muito. Meu amor eterno.
A meu querido professor e coordenador Dácio
Renault pelo carinho com que sempre me acolheu.
A minha orientadora Ana Maria Fleury Seidl
Pinheiro, por seu auxilio e carinho que nos orientou
esses meses o meu muito obrigada.
Ao meu grande amor William Pelegrini por
acreditar em meu potencial, quando não acreditava.
Te amo para sempre.
14
A minha família emprestada Maria Zélia,
Nilmara e Erik, que amo muito e agradeço por me
acolherem quando mais precisei.
Helena Mattos
REFERÊNCIAS:
1- ALBERT, P; TERROU, F. História da imprensa. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
2- ALVES, Rosental C. Jornalismo digital: dez anos de web... e a revolução continua. Comunicação e
Sociedade, vol.9-10, 2006. Disponível em: http://revistacomsoc.pt/indez.php/comsoc/article/view/1157/1100,
acesso em: 27 de março de 2015, às 9h.
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4- BRITO, Judith. A força dos jornais: os 30 anos da Associação Nacional de Jornais no processo de
democratização brasileiro. Brasília, Distrito Federal: 2009.
5- CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra,
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auxilia
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8- O
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9- O GLOBO. Mais de 50% dos brasileiros estão conectados à internet, diz Pnad. Disponível em:
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/09/mais-de-50-dos-brasileiros-estao-conectados-internet-dizpnad.html, acesso em: 03 de abril de 2015, acesso em: 03 de abril de 2015 ás 23:15min.
10- O GLOBO. Para gigante da publicidade, mídia impressa é subestimada. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/economia/para-gigante-da-publicidade-midia-impressa-subestimada-15740444,
acessado em: 10 de abril de 2015 às 20:30min.
11- OTÁVIO
FRIAS
FILHO
.
É
inútil
resisitir
às
mundanças.
Disponível
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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/10/19/brasil/33.html, acesso em: 17 de maio de 2015 ás 14:45min.
12- PEWRESEARCH CENTER. Journalism & Media. Newspapers: Fact Sheet. Disponível em:
http://www.journalism.org/2015/04/29/newspapers-fact-sheet/, acessado em: 10 de abril de 2015 ás
21:45min.
13- PORTAL DA IMPRENSA. Projeto da Associação Nacional de Jornais visa frear queda de publicidade
nos
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Disponível
em:
http://www.portalimprensa.com.br/cdm/caderno+de+midia/69496/projeto+da+associacao+nacional+de+jorna
is+visa+frear+queda+de+publicidade+nos+impressos, acesso em: 07 de abril de 2015 às 22:30min.
14- SINGER Suzana. Observatório da Imprensa: Nós não vamos pagar nada. Disponível em:
http://observatoriodaimprensa.com.br/voz-dos-ouvidores/_ed700_suzana_singer/, acesso em: 15 de abril de
2015 às 17:15min.
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