Agosto/setembro de 2007 Ano VI - Nº 35 Educação e cidadania Mogi comemora seus 447 anos Editorial A educação e a solidariedade fazem par te da construção coletiva de uma sociedade mais justa. A meta de uma educação com qualidade social para todos e todas só será atingida com a par ticipação efetiva de todos: educadores, alunos, pais e toda a comunidade. Esta edição da revista Educando em Mogi mostra este caminhar da educação mogiana para o trabalho em conjunto de toda a comunidade escolar: uma educação que traz os pais para dentro da escola e aposta em novos caminhos para envolver os alunos. O lúdico está presente em dois ar tigos. A criança aprende valores e conteúdos por meio de brincadeiras e até uma brinquedoteca, em que a convivência também é um aprendizado. Confira também as ações do Proje to Democratizando a Informação (PDI), em que salas de informática e Cedics (Centros de Divulgação e Construção do Conhecimento) estão aber tos aos finais de semana para a comunidade. Agentes de leitura desenvolvem atividades para incentivar a leitura e a busca pelo co nhecimento. Não perca o relato de Nauani de Oliveira Santos, aluna da 4ª série, da Escola Municipal , uma lição para não nos esquecermos de agradecer as bênçãos do nosso diaa- dia. A viagem à cidade de Pirangi, no interior paulista pelo projeto Caravanas do Conhecimento – Redescobrindo o Interior também ganha um registro especial da professora Paula Leme Dutra e Alisson Rodrigues de Morais Car valho, aluno da 4ª série da E.M. Des. Armindo Freire Mármora. O aniversário de Mogi das Cruzes e sua história me recem um espaço especial com o ar tigo sobre o Parque Leon Feffer, o verdadeiro presente que nossa cidade me rece e as fotos do desfile cívico -militar que teve como tema Educação: Protagonismo na Diversidade, o grande tema do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê. Confira na próxima edição, tudo o que aconteceu nos quatro dias deste grande movimento em prol da educação como direito universal. Secretaria Municipal de Educação Coordenadoria de Comunicação Social Av. Ver. Narciso Yague Guimarães, 277, Cep: 08790-900 - Centro Cívico Mogi das Cruzes - SP Fone: (11) 4798-5085 Fax: (11) 4726-5304 [email protected] wwwmogidascruzes.sp.gov.br • Conselho Editorial Maria Geny Borges Avila Horle Anne Ivanovici Cláudia Helena Romanos Pereira Leni Gomes Magi Marilda Aparecida Tavares Romeiro Safiti • Jornalista Responsável Luiz Suzuki - MTB 22936 Kelli Correa Brito - MTB 40010 • Coordenação Editorial Bernadete Tedeschi Vitta Ribeiro Lilian Gonçalves Marinina Beatriz Leite • Fotos Arquivos da E.M. de Mogi das Cruzes • Colaboraram nesta edição Mari Luce V. Garcia Missiato, Cláudia Regina Simões da Silva, Marinina Beatriz Leite, Naete da Conceição Rosendo, Sandra N. de Paula Scutari, Eulália Anjos Siqueira, Lucia de Paula Pimenta, Nilcéia Aparecida Faria, Fanny de Jesus Canalli Almeida, Paula Leme Dutra, Alisson Rodrigues de Morais Carvalho, Geraldina Porto Witter, Márcia da Silva Gonçalves, Giane Nunes de Mello, Felipe Roberto Martins, Equipe escolar da EM Profª Wanda de Almeida Trandafilov, Janete Ignez Gomes Henriques, Nauani de Oliveira Santos, Equipe do ProJovem de Mogi das Cruzes, Marco Aurélio Sobreiro, Ana Clara de Almeida Correia, Gracila Maria Grecco Manfré e José Sebastião Witter. • Produção e Impressão Marpress informática - Tel: (11) 4795.6060 • Tiragem 3.500 exemplares A Revista Educando em Mogi, nº 35 é uma publicação da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes e não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados. Sumário PoLÍTICA EDUCACIONAL 16 Perguntas para motivar e desenvolver o aluno 18 Arte, dom ou aprendizado? 20 Interdisciplinaridade: um desafio a ser compartilhado 22 Projeto Democratizando a Informação mobiliza a comunidade em Mogi 4 O papel do brinquedo no desenvolvimento e na aprendizagem infantil 6 Solidariedade X Piedade 8 Pró-Letramento: Alfabetização e Matemática 24 Bom dia, mundo bom Momentos de aproximação da comunidade nos novos espaços de participação e conhecimento 26 A Ação Comunitária no ProJovem 27 Desfile cívico-militar atrai 15 mil pessoas ao Mogilar 30 Primeiro bloco do Cemforpe é inaugurado 32 Uso dos espaços públicos pela comunidade - Algumas Memórias: do Parque Municipal ao atual Leon Feffer 10 PRÁTICAS DE ENSINO 11 Brinquedoteca 12 Cedic incentiva a leitura através de Monteiro Lobato 13 Um projeto de Sucesso: Programa Caravanas do Conhecimento ESPECIAL 34 Historiando O verdadeiro presente POLÍTICA EDUCIONAL O papel do brinquedo n aprendizag Mari Luce V. Garcia Missiato A criança brinca desde os primeiros meses de vida, manifestando reações espontâneas e prazerosas diante de determinados estímulos como, por exemplo, ao som de um brinquedo. Posteriormente, a criança brinca com o próprio corpo, o que favorecerá a construção de sua inteligência, afirmação pessoal e integração social. O brincar favorece a construção de representações simbólicas, as quais expressam a forma como a criança vê a realidade ou imagina como ela poderia ser. Com as brincadeiras, as crianças aprendem regras de convivência e sobre diversos sentimentos. Segundo Vygotsky, no brincar a criança está acima de sua idade média, acima de seu comportamento diário. Assim, na brincadeira de faz-de-conta as crianças manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para sua idade. Nesse sentido, a aprendizagem cria a zona de desenvolvimento proximal. Nas brincadeiras de faz-de-conta, a criança transforma objetos para representar a realidade ou um objeto ausente, como por exemplo, um toquinho de madeira pode ser transformado em um pente de cabelo, numa brincadeira de casi- nha. Nas situações imaginárias ocorre a presença de regras e normas que deverão ser incorporadas pelos diferentes papéis existentes em um contexto de faz-de-conta. Nessas situações, as crianças reproduzem o modelo de vida real. Assim, é preciso pensar sobre o tempo e o espaço das brincadeiras na educação infantil, visto que o brincar tem sido cada vez mais reduzido no contexto institucional. Os jogos e as brincadeiras devem ser introduzidos na rotina escolar como estratégias fundamentais no processo de aprendizagem das crianças pequenas, e não meramente como atividades para “ocuparem” um determinado espaço de suas rotinas. Ao organizarmos a sala e os materiais para a vivência dos jogos nos quais as crianças assumem papéis, como brincar de casinha, supermercado, dentre outras, favorecemos o desenvolvimento das crianças por meio da imaginação, da expressão dramática e da linguagem. Os jogos podem ser direcionados também para o desenvolvimento motor, como os jogos de encaixe; para o desenvolvimento social, nos jogos de competição, e cognitivos, como por exemplo, os jogos de matemática. o desenvolvimento e na em infantil Na escola, o brincar pode ser exploratório, livre ou dirigido; o essencial é que ele faça a criança avançar em sua aprendizagem e desenvolvimento. Devemos repensar o papel dos profissionais da educação infantil, pois isto significa compreender sua atuação no âmbito do “cuidar e do educar”, devendo ter um compromisso com os direitos fundamentais das crianças, oferecendo-lhes espaços acolhedores e seguros, oportunidades de aprendizagem e experiências múltiplas. Devemos compreender, também, que os vínculos afetivos são essenciais para o processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças e não desqualificam o trabalho profissional, e sim, torna-o mais humano. Vejamos a seriedade do papel do professor na vida de uma criança no texto de Robert Fulghum que segue: “ Tudo o que eu preciso saber: como viver, o que fazer e como ser, aprendi no jardim da infância. A sabedoria não estava no topo da montanha mais alta, no último ano de um curso superior, mas no tanque de areia do pátio da escolinha do maternal.Vejam o que eu aprendi: Dividir tudo com os companheiros. Jogar conforme as regras do jogo. Não bater em ninguém. Guardar os brinquedos onde os encontrava. Arrumar a bagunça que eu mesmo fazia. Não tocar no que não era meu. Pedir desculpas, se machucava alguém. Lavar as mãos antes de comer. Apertar a descarga da privada. Biscoito quente e leite frio fazem bem a saúde. Fazer de tudo um pouco: estudar, pensar e desenhar, pintar, dançar e cantar, brincar e trabalhar. De tudo um pouco, todos os dias. Tirar uma soneca todas as tardes. Ao sair pelo mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre de mãos dadas com o companheiro e sempre “de olho” na professora”. Mari Luce V. Garcia Missiato é professora de Educação Infantil da Escola Municipal Professora Vanda Constantino da Costa e cursa licenciatura em pedagogia do Centro Universitário Claretiano (EAD) OLIVEIRA,V. B. (Org). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. São Paulo: Vozes, 2000. MOYLES, J. R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002. VIGOTSKY, L. S. Formação social da mente:desenvolvimento do processo psicológico superior. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes. 2003. FULGHUM, Robert. Tudo o que eu necessito realmente saber, aprendi no jardim da infância. Aroeira, 1996. 5 POLÍTICA EDUCIONAL Solidariedade X Piedade Cláudia Regina Simões da Silva R ecordo-me que há alguns anos, despontava a Declaração de Salamanca, com sua arrojada proposta de igualdade entre os seres humanos. Professores (eu, entre eles) discutiam o que seria a inclusão para a Educação. Durante muitos anos (talvez ainda hoje), a palavra Inclusão foi sinônimo da expressão educação especial, referindo-se às peculiaridades das pessoas e não ao ato em si, com a ressalva de que, aquela pessoa com deficiência física, mental ou sensorial para a qual não tínhamos um olhar, a não ser um leve toque de piedade e de alívio, por sermos, “Deficiência não é doença, é uma condição” (Menicucci.Puc.2006) afinal de contas, “perfeitos”; poderia fazer parte do nosso mundo, freqüentando a escola e os ambientes em que vivíamos. Lembro-me que suspirávamos aliviados, quando o aluno com necessidades especiais estava na turma do outro professor, mas, deste tínhamos piedade! Que engano o nosso! Não sabíamos que estávamos imersos em arrogância, ao acreditar que nossas supostas perfeições físicas, mentais e sensoriais, nos tornavam alguém privilegiado e eficiente, por estarmos de acordo com os estereótipos impostos pela sociedade em sua maioria. Neste passar dos anos, fui finalmente atingida pela verdade, acho que foi um mix de estudo, leitura, discussão, interação, reflexão... Não sei bem, sei apenas que o encontro com a verdade produziu em mim um novo olhar, me tornou alguém melhor, mais adequada a minha condição humana de vulnerabilidade e igualdade. Em 2006, visitei uma conhecida feira para reabilitação (Reatech), onde encontramos desde pequenos objetos necessários para as pessoas com necessidades especiais até carros adaptados. Durante o evento, aconteceram apresentações artísticas, palestras e brincadeiras diversas, além de uma maciça presença da diversidade. Enquanto caminhava pelos corredores visitando estandes, houve um momento que parei para observar um jogo de basquete de cadeirantes, no qual havia pessoas de idades e características diferentes, todos, porém, se locomoviam com o auxílio da cadeira de rodas. Interessante... Sorriam, brincavam, empolgavam-se; eventualmente, uma cadeira de rodas virava, rapidamente alguém corria, desvirava a cadeira, levantava o cadeirante e o jogo continuava. No final do jogo, todos se cumprimentavam alegres pela oportunidade da diversão. Uma senhora cadeirante chamou minha atenção. Enquanto observava aquela senhora sorrindo, participando do jogo com crianças e jovens, pensava: “Por que será que ela está na cadeira de rodas? Será que foi pressão alta, que resultou em derrame (acidente vascular cerebral)? Ou um acidente de carro que provocou lesão na coluna? Um tiro, uma bala perdida?” Refletindo, naquele momento compreendi a diferença entre a solidariedade e a piedade: solidariedade é o resultado da compreensão de que “nosso telhado é de vidro”, ou seja, na verdade somos igualmente vulneráveis e passíveis de mudanças físicas, mentais ou sensoriais. Esta compreensão nos coloca lado a lado com a diversidade, percebendo que nossos valores não se limitam às nossas deficiências, porque o ser humano transcende a tais limitações, afinal, todos temos limitações que podem variar, sendo esta agora ou aquela outrora. A piedade, entretanto, não nos coloca lado a lado, e, sim, em uma condição de superioridade, pois fazermos parte de um grupo majoritário, que impõe estereótipos nos quais grupos minoritários não se enquadram, e por isso ficam à margem. Assim, a piedade sustenta um sentimento inconsciente de superioridade, que nos direciona, eventualmente, a estender a mão (como se isso fosse questão de vontade) para quem precisa (subentendendo inferior ). No passado não conseguíamos compreender que ter piedade da pessoa com necessidades especiais ao mesmo tempo em que faz de nós (maioria) superiores, nos coloca na “corda bamba”, pois a tênue linha do ter ou não ter uma deficiência de acordo com os estereótipos sociais, é muito frágil. Assim, hoje, podemos ser quem tem piedade e, amanhã, quem precisa da piedade. A Inclusão nos trouxe a solidariedade e com ela, a esperança. Se uma pessoa no passado tivesse, aos 40 anos de idade, um derrame que comprometesse sua mobilidade, provavelmente acharia que sua vida acabou; mas com a inclusão é diferente. Sabe-se que, embora minoria, a vida continua com outros desafios, com algumas limitações diferentes das que já estava acostumado; mas com motivos para sorrir, viver, sonhar e tudo o que caracteriza a vida humana. “As limitações enfrentadas pelas pessoas com deficiência, decorre muito mais dos mecanismos excludentes, presentes na sociedade, do que da deficiência em si.” (Menicucci, 2006) Acredito na Inclusão Educacional, obviamente, desde que respeitadas as determinações legais que prevêem cuidados e recursos que possibilitem a presença da diversidade na escola, garantindo-lhes acessibilidade não só às instalações do prédio, mas também à saúde e à informação, possibilitando, assim, a plena formação do educando. É um trabalho de equipe, discussão e empenho para toda a comunidade escolar. Não estamos em tempo de dizer: sou contra ou a favor, o aluno é deste ou daquele professor, mas, sim de pesquisar, estudar e juntos elaborarmos procedimentos que visem a inclusão real de alunos com necessidades especiais e diferenciadas. A Inclusão nos coloca mais próximos do ser humano e da compreensão de nós mesmos, enriquecendo nosso ambiente escolar, porque nos força a refletir e buscar soluções para novos desafios que se apresentam e ensinam nossos alunos a conviver com a diversidade e a se adaptarem às necessidades dos outros. “...linhas paralelas nunca vão se tocar, exceto no infinito... Inclusão é traçar linhas diagonais, ortogonais, assimétricas, aleatórias. Rabiscar o papel da vida de uma forma que as linhas se toquem e se encontrem o tempo todo. Usar as mais variadas cores e grafite, tinta, o que mais houver.Até o limite onde não se saiba mais, qual linha teve origem onde.” (Fabio Adiron) Cláudia Regina Simões da Silva é professora de Educação Infantil no CCII Jornalista José de Moura Santos, graduada em Direito e pós-graduada em Educação Infantil e Educação Especial MENICUCCI, Maria do Carmo. Educação Inclusiva: possibilidades e desafios atuais, Belo Horizonte: PUC Minas Virtual, 2006. Fórum sobre inclusão (lista de discussão).Vidas Paralelas ou Vida paravidas, de Fabio Adiron. http://br.groups. yahoo.com/group/foruminclusao/message/9029 Pró-Letramento: Alfabetização e Matemática Q uem vive em meio à leitura e à escrita, mas não inseridos nela, são marginalizados social e economicamente. O letramento foca, entre muitos aspectos, o contexto sócio-histórico da aquisição da escrita e da matemática na atuação crítica do cidadão na sociedade. O registro sobre o que ocorre numa sociedade (hábitos, costumes, história, práticas psico-sociais e a riqueza de suas manifestações) assinala a memória de um povo. No mundo complexo no qual vivemos, é preciso estimular o desenvolvimento de habilidades que facilitem esse registro e a resolução de problemas do cotidiano, bem como a tomada de decisões e inferências sobre temas diversos. Sabido é que são determinantes as experiências iniciais de uma criança. Não estar em pé de igualdade com a sociedade em geral, em que predomina o código escrito numa posição de relevância, é, sem dúvida, um prejuízo à conquista da cidadania. Respeitando também a participação do cidadão em atividades sociais, culturais, políticas e econômicas. Isso aponta uma sociedade menos desigual e mais justa, eliminando a discriminação e valorizando a auto-estima do outro. Comprometidos com esses objetivos, no primeiro semestre de 2007, o Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, por meio da Divisão de Capacitação, ofereceu aos professores da rede municipal o programa Pró–Letramento nas áreas de matemática e linguagem. Este contou com a participação de duas professoras da rede municipal, Naete da Conceição Rosendo (Matemática) e Sandra N. de Paula Scutari (Linguagem) como tutoras do Programa, segue abaixo o relato das mesmas. e individuais, como também atividades para serem aplicadas em sala de aula. Cada fascículo abordava um tema, estudamos de números naturais à avaliação em matemática. Tivemos também um bom incentivo à utilização do jogo matemático e à resolução de problemas, que de modo integrado, ajudam no desenvolvimento do pensamento, linguagem e afetividade. Outro destaque do curso, foi a escrita das memórias em matemática de cada cursista, em que pude perceber quantas experiências boas, como também quantas lembranças ruins, eles tinham de professores que passaram em suas vidas! O curso terminou, mas a semente foi plantada. É necessário que os professores continuem regando os conhecimentos experimentados, levando para sala de aula a idéia que “resolver em” matemática vai muito mais além do que a estratégia “arme e efetue”! Naete da Conceição Rosendo Alfabetização e Letramento Quando refletimos sistematicamente sobre os dois conceitos: Alfabetização e Letramento, dialogamos com objetos próximos, porém de naturezas diferentes no que diz respeito à construção. Hoje, cerca de 25 anos após a mudança de concepção da aquisição da leitura e escrita, reconhecemos a importância da construção e aquisição de Cultura e Escrita, e está claro para o educador de forma geral, que este processo, mais do que mecânico, mais do que motor, é político e social. Marinina Beatriz Leite Ao longo da História da humanidade, pode-se observar o quanto a linguagem e a habilidade de seu registro, assim como Matemática o pensamento, determinam poder nas sociedades. Por meio da linguagem oral e escrita, segmentos de maior poder ecoO Pró-Letramento em Matemática, a partir de seus nove nômico e social de uma comunidade facilmente fascículos, veio disponibilizar mais recursos para os professo- direcionam, manipulam ou posicionam res que pudessem melhor qualificar seu trabalho. Neste senti- outros segmentos. do, as aulas eram planejadas envolvendo atividades em grupo A linguagem, de maneira ampla, está intimamente relacionada à aquisição de conhecimento e este às soluções de problemas anteriormente já enfrentados pelo homem. O conhecimento, isto é, a construção já experimentada por gerações anteriores que auxiliam na solução das questões humanas, como as ciências de forma geral, é acessível a alguns privilegiados que se empenham em cuidar de tais privilégios. Ao universalizar o domínio de aquisição das diferentes formas eficientes de comunicação, estamos também democratizando o acesso a estes conhecimentos. Durante a maior parte da história da educação no Brasil, podemos observar a maior ênfase com relação ao código escrito quanto da alfabetização. Desta forma, mantém-se grande parte da sociedade numa limitação no que diz respeito à extensão e o poder da escrita e leitura como forte instrumento de libertação e compreensão do mundo em que vivemos. Estamos num momento histórico pautado pela exposição e apologia à comunicação. Ao limitarmos o desenvolvimento das habilidades comunicativas, estamos, no mínimo, sonegando informações preciosas no sentido de democraticamente permitir que o aluno escolha a forma de comunicação que lhe é mais eficiente e que facilite sua inserção no mundo. O programa Pró–Letramento, neste contexto tem como principal foco, levar-nos, profissionais da Educação, a pensar em nossas práticas diárias e ressignificá-las. Como eixo principal, trabalhamos com a ação-reflexãoação e espera-se que nos deparemos neste processo com novas construções, pois abrem-se possibilidades de busca de outros caminhos, assim como estaremos mais sensíveis para novas questões, talvez ignoradas anteriormente pelo hábito de ações pré-estabelecidas e soluções cristalizadas. O programa pretende que, nós, educadores, tomemos como prática sempre lançar mão de novos olhares, ainda que a situação aparente lugar comum. Passado o primeiro semestre, com a experiência de ter trabalhado com as quatro primeiras turmas, posso afirmar que conheci colegas competentes com boa formação acadêmica e muito afetiva. Tive ainda a oportunidade de, por meio de portfólios, compartilhar as construções, estar próxima e tomar conhecimento de atividades que foram efetuadas em diferentes escolas do município, rurais e urbanas; o que para mim foi um privilégio, avancei como profissional, além de também ter feito as minhas reflexões. Hoje, levar a eficiente aquisição de Cultura e Escrita é um desafio nacional. O programa vem sendo um apoio e os encontros buscam espaços para reflexão e emancipação de nossas ações, além da legitimação de nosso fazer pedagógico por meio do embasamento teórico. Afinal se não há neutralidade no espaço escolar, devemos, nós, profissionais da Educação, pensarmos direta e sistematicamente na natureza de nossas práticas e em que espaço é este: a escola. Finalizando, afirmo que a escola é um espaço de quem acredita no homem, de quem acredita na Educação. Sandra N. de Paula Scutari Marinina Beatriz Leite é pedagoga, licenciada em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e faz parte do Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes Naete da Conceição Rosendo é pedagoga e coordenadora pedagógica da Escola Municipal Professora Noêmia Real Fidalgo Sandra N. de Paula Scutari é pedagoga, psicopedagoga, fonoaudióloga e professora da Escola Municipal Professora Ana Lucia Ferreira de Souza Momentos de aproximação da comunidade nos novos espaços de participação e conhecimento Eulália Anjos Siqueira Como escreve Gaddoti ...descentralização e autonomia caminham juntos. A luta pela autonomia da escola insere-se numa luta maior pela autonomia no seio da própria sociedade. Portanto, é uma luta dentro do instituído, contra o instituído, para instituir outra coisa. A eficácia dessa luta depende muito da ousadia de cada escola em experimentar o novo caminho de construção da confiança na escola e na capacidade dela resolver seus problemas por ela mesma, confiança na capacidade de governar-se. (Gadotti, 1995, p. 202). O aprendizado que advém da participação de todos na administração do processo educativo possibilita a cada um dos sujeitos, individualmente e a todos coletivamente, o crescimento como pessoa humana em todos os seus aspectos. Para a comunidade, participar da gestão de uma escola significa todo um aprendizado político no sentido de opinar, fiscalizar e cumprir decisões e também mudar sua visão de direção de escola, passando a não esperar decisões prontas para serem seguidas e entender que a escola deve ser cuidada e dirigida pela comunidade e seus usuários. O diretor da escola é o elemento fundamental na elaboração do processo participativo dentro da escola e junto à comunidade. A direção da escola deve, portanto, ter coerência entre o discurso e a prática, as relações interpessoais e a competência técnica no desenvolvimento das práticas participativas. O processo participativo dessa construção é uma aprendizagem contínua para todos os envolvidos que não se conquista da noite para o dia, isso demanda uma profunda reflexão e pesquisa sobre a comunidade onde a escola esta inserida e ações de encorajamento para que esta comunidade sinta-se processo vivo desta participação. Abrindo-se à participação, a escola estará educando para a democracia e para a cidadania, pois, a participação constitui a “viga-mestra da construção da cidadania” (Pinto, 1995, p. 175). Eulália Anjos Siqueira é pós-graduada em Gestão de Processos Ensino-Educação e Gestão da Educação Básica, diretora do CCII Professora Ignêz Maria de Moraes Pettená, voluntária da ONG Criança Segura – SAFE KIDS e membro do Comitê Organizador do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê. 10 GADOTTI, M. (1995). A autonomia como estragégia da qualidade de ensino e a nova organização do trabalho na escola. In L. H. da Silva e J. C. de Azevedo (orgs.), Paixão de oprender II. Petrópolis: Vozes PINTO, J. B. G. (1995). Planejamento participativo na escola cidadã. In L. H. da Silva e J. C. de Azevedo (Orgs.), Paixão de Aprender II. Petrópolis: Vozes. GHANEM, Elice. Gestão Escolar Democrática: Alternativas de Apoio à Melhoria de Educação Pública. Guia para Equipes Técnicas. São Paulo, Ação Educativa. Assessoria, Pesquisa e Informações, 1997. ROMÃO, J. E. e Gadotti, M. (1993). A educação e o município: Sua nova organização. Brasília: MEC. PRÁTICAS DE ENSINO Brinquedoteca N Lucia de Paula Pimenta ossa brinquedoteca nasceu da necessidade de termos um espaço, em que a criança pudesse brincar particularmente e com outras crianças. A partir de algumas observações, analisamos que o papel da brinquedoteca foi de extrema importância, pois conseguimos identificar um vocabulário próprio da criança, suas formas de interagir com os brinquedos, com outros colegas, como brinca e manifesta seus sentimentos em escala de valores, aprendendo a brincar. Reconhecemos que a brinquedoteca é um espaço privilegiado, onde a criança se apropria de elementos de cultura popular descobrindo novos significados, além de incentivar sua criatividade. As estantes com brinquedos foram colocadas ao alcance da criança, para que ela pudesse manusear livremente e fazer suas escolhas, descobrindo, manipulando e explorando as diferentes formas de brincar. Os jogos e as brincadeiras mudaram no decorrer dos tempos, mas o prazer de brincar não mudou, e é assim que enxergamos nossas ‘excursões’ para a brinquedoteca. Como o espaço é pequeno, colocamos horários semanais para cada turma. As crianças aguardam ansiosamente para visitá-la. Colocamos algumas regras que estipulam que a criança brinque e guarde o brinquedo onde encontrou. No chão, colocamos tapetes de E.V.A., sendo proibido pisar com calçado. Respeitamos o momento da criança que brinca sozinha de forma concentrada, entendendo que pode contribuir na qualidade de seu desempenho futuro. No mundo do faz-deconta traduz a dimensão de suas necessidades e possibilidades. Às vezes, não imita a realidade, mas, ao contrário, é um meio de sair dela, sendo um jeito de assumir um novo ‘estado de espírito’. Essa é uma forma de brincar fundamental para um desenvolvimento infantil saudável, razão pelo qual deve ser tratado e subsidiado com seriedade. Lucia de Paula Pimenta é coordenadora pedagógica da Creche São José Operário SANTOS, Santa Marli Pires dos, Brinquedoteca, o Lúdico em diferentes contextos, Editora Vozes , 2000 . CUNHA, Nilse Helena Silva, Brinquedoteca, um mergulho no brincar, Malteses, 2000. LAROUSSE Ilustrado da Língua Portuguesa, São Paulo, Larousse do Brasil, 2004. 11 Cedic incentiva a leitura através de Monteiro Lobato Nilcéia Aparecida Faria e Fanny de Jesus Canalli Almeida “Um país se faz com homens e livros” venil brasileira. “Livro é sobremesa: tem que ser posto dePor ser um grande nacionalista, suas baixo do nariz do freguês” (Monteiro Lo- obras eram ligadas à cultura brasileira, bato, 1920) costumes da roça e lendas folclóricas. Seus personagens brasileiros acabaram aseado nessas afirmações e no por se fundir a personagens universais, Projeto Político-Pedagógico da como os da Mitologia Grega, quadriescola, as coordenadoras do Cedic nhos e cinema. (Centro de Divulgação e Construção do Em 1920, quando escreveu seu primeiConhecimento), com o apoio da direção ro livro, A menina do Narizinho Arrebitado, da Escola Municipal Benedito Ferreira Lobato havia notado que faltavam obras Lopes – Caic, programaram no período para as crianças. Em uma carta escrita de 16 a 20 de abril, a 1ª SEMANA DO para um amigo, ele diz: “Que é que nosLIVRO INFANTIL, envolvendo a Edu- sas crianças podem ler? Não vejo nada (...) cação Infantil e Ensino Fundamental (1ª É de tal pobreza e tão besta a nossa literaa 4ª séries e 5ª a 8ª séries). tura infantil que nada acho para a iniciação Nesta semana, propositalmente, coin- dos meus filhos”. cidente ao Dia Nacional do Livro Infantil, Foi pensando nisso, que Lobato confoi homenageado o escritor Monteiro tinuou escrevendo livros infantis de suLobato, que com tanta brasilidade foi o cesso, dando início a mais importante precursor da literatura infanto-juvenil de suas obras: a Coleção Sítio do Picapau brasileira. Amarelo (1921), que envolve várias hisJosé Bento Renato Monteiro Loba- tórias, como: O Saci, O poço do Visconde, to nasceu em 18 de Abril de 1882 na As Reinações de Narizinho, Emília no país cidade de Taubaté, São Paulo, e foi um da Gramática, e muitos outros. dos mais influentes escritores brasileiros Monteiro Lobato foi um homem do século XX. polivalente: escritor, fazendeiro, polítiPassou sua infância em uma fazenda co, advogado, jornalista, empresário, diem sua cidade natal. Cresceu, formou- plomata e editor de livros. Ufa! Achou se em Direito e chegou à Promotoria tempo também para defender a idéia de Pública. Entediado com a vida na cida- que no Brasil havia petróleo, o que ende pequena, começou a escrever Uru- riqueceria muito nosso país. Na época, pês, em 1914 e para o jornal O Estado por volta de 1930, todos acharam made São Paulo, criando um dos seus mais luquice, por isso, acabou até sendo prepolêmicos e famosos personagens: Jeca so. Hoje, há poços de petróleo jorrando Tatu, que foi considerado o símbolo do por todo o país. atraso e miséria que representava o camFaleceu em 04 de Julho de 1948 e po no Brasil. por ser tão rica sua biografia e culminar Pouco tempo depois, vendeu sua fa- na proposta do Cedic (“o ato de ler traz zenda, mudando-se para a capital paulis- conhecimento, acesso à informação, estuta para tornar-se um escritor-jornalista. do e pesquisa”) que nesta semana, foram Já há algum tempo em São Paulo, em apresentadas atividades voltadas à vida e 1918, comprou a Revista do Brasil. Nessa obra de Monteiro Lobato, enfatizando o época deu início à literatura infanto-ju- Sítio do Picapau Amarelo, por ser a obra B 12 mais próxima da realidade dos alunos. O Cedic foi organizado, adequadamente, ao tema. As coordenadoras fizeram apresentações em retro-projetor e teatro de fantoches para a Educação Infantil e Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries), que contaram com a participação da aluna Layza Campioto Fontana, da 7ª série C no fantoche, e da aluna Açucena Raphael dos Reis, da 6ª C, caracterizada como Emília. Ambas do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), interagindo ativamente com os alunos, mostrando toda as obra de Monteiro Lobato que fazem parte do acervo do Cedic. Os alunos e professoras, ainda, puderam participar da história contada pelos fantoches: Emília e Visconde de Sabugosa interagiram com o narrador de um episódio. Ao término destas apresentações, os alunos receberam atividades impressas: jogo da forca envolvendo a história e pintura dos personagens do Sítio. Para finalizar a semana, houve a premiação e escolha dos “Leitores do Mês de Abril de 2007”, voltadas ao Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), onde foi escolhido, conforme critérios anteriormente estabelecidos, um aluno por série que desenvolveu um texto com ilustração de um livro lido do acervo da escola, durante estes primeiros meses. Estes, por sua vez, receberam um livro como prêmio, direcionado à sua idade, como incentivo à leitura. Todos os envolvidos receberam um marcador de livros com mensagem de incentivo à leitura , como lembrança, confeccionado pelas coordenadoras do Cedic, para marcar a semana. Nilcéia Aparecida Faria e Fanny de Jesus Canalli Almeida são coordenadoras de Cedic da Escola Municipal Benedito Ferreira Lopes - Caic PRÁTICAS DE ENSINO Um projeto de Sucesso: Programa Caravanas do Conhecimento Paula Leme Dutra O Programa Caravanas do Conhecimento Redescobrindo o Interior – 2007, uma realização do Governo do Estado de São Paulo (Secretarias de Economia, Planejamento e Educação) e das Prefeituras Municipais, é coordenado pela Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam e conta com o apoio das secretarias de estado da Cultura, de Esportes, Lazer e Turismo, Saúde, Segurança Pública (Policia Militar), Transportes (Artesp, DER, Dersa) e outras instituições, como as companhias de água e energia elétrica. O público-alvo são alunos da rede pública de ensino, com idade de 9 a 11 anos, que não conheçam o interior paulista. Seu objetivo é criar oportunidades para os participantes conhecerem o interior do estado, ampliar os horizontes dos escolares, por meio da vivência social que a viagem proporciona e permitir que os alunos vivenciem uma nova ex- periência cultural. Todas as cidades visitantes, que aderem ao programa, têm que constituir comissão municipal, designar um coordenador, selecionar monitores, inscrever as crianças, formar a delegação e providenciar o meio de transporte para a viagem e passeios no interior e o lanche para a viagem de ida ao interior. Uma das maiores dúvidas é quanto ao perfil do monitor da cidade visitante. Ele deve ser maior de 21 anos, sendo necessário que tenha experiência anterior no trabalho com crianças e goste desta atividade, seja reconhecido pela comunidade, especialmente pelas crianças e seus pais, e compreenda o alcance educacional e social do programa e participe do treinamento ministrado pelo Cepam Neste treinamento, são abordados os seguintes assuntos: a presença constante do responsável pela segurança e 13 Pirangi: uma viagem inesquecível atendimento das crianças; a consciência de que o monitor representa, no interior, o nome de seu município; atentar para a proibição de levar acompanhante; estar consciente de que, durante uma semana, será o pai, a mãe, o tio, o professor, o avô e, principalmente, o amigo de cada uma das dez crianças e conscientizar-se de que, dificilmente, sobrará tempo para si próprio, em função do carinho e da atenção solicitados pelas crianças nessa faixa etária. O papel do monitor é acompanhar os preparativos da viagem, como a inscrição para apresentar-se aos pais das crianças por ele monitoradas até a realização do exame médico prévio e o preparo do lanche a ser consumido na viagem de ida, além da mala básica com roupas e objetos de uso pessoal. Devem constar também: o entrosamento com o grupo de crianças, o estudo prévio da cidade hospedeira e do percurso do ônibus no mapa rodoviário, elencar as principais cidades e trabalhar as expectativas das crianças sobre a viagem. Durante a viagem, sua presença é fundamental na exploração da cidade pelas crianças, na verificazção das condições dos alojamentos e nos cuidados de higiene e horários. 14 Nestas férias de julho, estudantes de Mogi das Cruzes viajaram pelo Programa Caravanas do Conhecimento Redescobrindo o Interior para o município de Pirangi. Foi uma viagem realmente inesquecível, o cronograma oferecido pela Prefeitura Municipal de Pirangi foi excelente. Saímos de Mogi das Cruzes no dia 16 de julho, segunda–feira, chegamos em Pirangi após às 16 horas. A coordenadora local Valdenice Moraes nos recebeu. Nos apresentamos e fomos conhecer as acomodações da delegação. Enquanto nossas crianças eram acomodadas e monitoradas pelos professores da rede municipal de ensino, houve uma pequena reunião de monitores e coordenador com a equipe de apoio do Município, na qual pedimos um monitor homem para acompanhar o banho dos meninos, pois a nossa delegação só contava com quatro monitoras. Como a chegada foi tardia resolvemos lanchar e esperar o jantar. Nossa preocupação era que as crianças comessem sem interferir no jantar. Após o lanche, visitamos os pontos atrativos e sócioeducativos da nossa cidade. O jantar contou com a presença de autoridades locais, como o prefeito e vereadores. Em seguida, fizemos uma quadrilha onde todos participaram, alguns levaram trajes caipiras e se caracterizaram, foi uma festa para as crianças. Na terça-feira, as atividades começaram às oito horas com o café da manhã e o sorteio do amigo secreto. As crianças, que na sua maioria não se conheciam, tentavam descobrir quem era o seu amigo sem contar para os demais, foi uma verdadeira surpresa. Visitamos a zona rural do município e observamos a paisagem, o que mais chamou a atenção foi o Coqueiro Torto (nossos alunos já tinham visto a foto no site). As crianças ficaram conversando como o coqueiro tinha ficado desta forma e levantaram algumas hipóteses: ‘Alguém deveria ter feito ele ficar torto! Será que tinha caído um raio nele? Será que aconteceu um incêndio nas proximidades e com o calor ele entortou?’ Ao retornarmos ao alojamento, almoçamos e conversamos sobre o passeio que iríamos fazer: uma visita ao Museu de Paleontologia de Monte-Alto. As crianças adoraram, foi uma oportunidade ímpar. Observaram, questionaram o monitor do museu e tiraram fotos. - “Nossa! Cabe todos nós na boca desse bico!” – falou um dos meninos. Retornamos com os alunos comentando sobre os ossos e as peças do museu. Os comentários foram muito bons. Logo após o jantar, assistimos a um filme no shopping de Bebedouro, cidade próxima à Pirangi. A expectativa era grande, não só pelo filme, mas pela cidade e o shopping, todos queriam saber se era igual o de Mogi. As meninas adoraram as vitrines. No dia seguinte, conhecemos a indústria de frutas e alimentos Val Rossi, fabricante de goiabada e massa de tomate. Todos se surpreenderam com o processo de fabricação da goiabada, eles observavam atentos às máquinas, às orientações e se maravilharam ao verem as embalagens, especialmente a que eles consomem em casa. Ficaram surpresos em saber que uma indústria pode fabricar várias marcas. À tarde, o parque do peãozinho em Barretos nos trouxe grandes surpresas. Visitamos o museu das festas do peão, a arena e o Mini-zoológico, enfim andamos o parque todo. À noite, assistimos ao jogo de handebol na cidade de Taiaçú, que era sede das Olimpíadas regionais. Na quinta-feira, fomos para a cidade de Monte Azul Paulista, o passeio foi organizado pela ONG Kawoas, que fez uma apresentação de assuntos relacionados ao meio ambiente. Fizemos trilha na mata ciliar com as crianças, descemos de tirolesa e caiaque no rio Turvo. “Foi uma aventura Radial!”, disse uma das meninas. Outra ressaltou: “Quando eu contar que nos fomos com um grupo, dois policiais militares, dois bombeiros e uma ambulância, ninguém vai acreditar”. As informações oferecidas chocaram algumas crianças, mas eles perceberam que depende deles o futuro do nosso planeta. Todos podem usufruir a Natureza, desde que seja de maneira consciente. As crianças firmaram o compromisso com a preservação do meio em que vivem e prometeram orientar a família quanto aos danos ao meio ambiente, lixo jogado nos rios e a falta de reciclagem. À noite fomos para o município de Vista Alegre do Alto, lá encontramos com a caravana de Franco da Rocha 04 e nos divertimos na discoteca realizada no clube municipal. Ao voltarmos, foi realizada a revelação do Amigo Secreto e nos preparamos para a volta para casa. No dia 20 de julho, sexta–feira, nos despedimos e retornamos para Mogi das Cruzes. Ficaram gravados em nossa memória todos os momentos, que vivemos lá. Devemos agradecer o acolhimento e as oportunidades de passeio, mas o destaque fica para os policiais militares, soldados Machado e Paulo, que nos acompanharam todos os dias, das 8 às 22 horas, foram verdadeiros amigos e companheiros. Paula Leme Dutra é professora de Educação Infantil e Fundamental I da Escola Municipal Desembargador Armindo Freire Mármora e CCII Prof. Takao Ikeda es, árvores e legais: plantaçõ e s ta ni em bo ag s vi , lá tama isa Sobre legal. Vi co u do Dinossauro viagem muito fomos ao Muse s c), mas et nó o, a, at íd tr Eu achei essa sa re ra a tadores, port a nossa primei pu .N m es co nt , re as . fe c) rm di (a et coisas s antigas ntes, ossos, sições de coisa ros (crânio, de e “O quarbém havia expo s dos dinossau ei sistimos o film ss as fó e o os i ur fo do ei be st Be go s brica goiade ai fa m ng se e pi o qu nema no Shop alimentos onde ci de ao ria os st m fo dú in À noite visitamos a Na . No outro dia do Peãozinho. teto fantástico” hup. tc ke e e at tes e o Parque m e en to qu nd s de pe wa sa io de as In Ka m s bada, seu do ecemos a ONG visitamos o Mu Depois foul Paulista conh . Az es e rt Em Barretos, nt po es Mo de de ra a prática mos na cidade o rio Turvo pa quinta-feira fo anco da Rocha. ente e utiliza bi um grupo de Fr es. am o m ei co m os o m ra nt série da EM “D co preserva 4ª en s da no o oteca onde Carvalho, alun s ai or M de mos para a Disc s isson Rodrigue Redação de Al ármora” M re ei Armindo Fr 15 PRÁTICAS DE ENSINO Perguntas para motivar e desenvolver o aluno Geraldina Porto Witter P rofessores e alunos precisam saber fazer perguntas, aspecto relevante para o desenvolvimento do homem, do cidadão, da sociedade. A formulação de questões e a busca de respostas têm muitas bases e implicações. A Figura 1 apresenta uma síntese que pode ser útil no contexto acadêmico. Figura 1 - Relações entre Perguntar-Responder, Desenvolvimento e Aprendizagem 16 ! ! ! ? ?! ? ! ? ? !! ? ! ! ? ? ? !? ! ? As dimensões para gerar perguntas formuladas, tanto por professores, como alunos, são: cognitiva, motivacional, crítica, criativa e social. É preciso verificar se a pergunta formulada ao aluno ativa estas dimensões. Quanto mais dimensões estiverem envolvidas, melhor é a sua qualidade, seu potencial para levar o aluno a se desenvolver e a aprender. Uma pergunta que pede como resposta a repetição do que o aluno leu, ou da fala da professora, tem potencial de desenvolvimento próximo do zero. Já uma pergunta que solicite do aluno comparações, inferências, observação, busca de outras informações ativa melhor a cognição, exercita vários de seus potenciais. Gera desenvolvimento. Para que o perguntar-responder seja produtivo é necessário, como em qualquer atividade que vise aprendizagem e mudanças significativas que a dimensão motivacional, ou seja, o aluno seja motivado a buscar resposta e a formular outras questões. Entre: o que diferencia o cão do gato? e Quais as características do cão? Fique com a primeira pergunta, mais ampla, requer melhor uso das informações, comparações. Portanto tem maior envolvimento cognitivo, mas também tem maior potencial motivacional, podem ser usadas as vivências pessoais agradáveis e mesmo desagradáveis com os dois animais. Estimule seus alunos a recuperar as boas lembranças. A dimensão crítica também deve ser cuidada tanto no formular perguntas, como no responder. Ao receber uma resposta estimule seu aluno a analisá-la criticamente e a melhorar a resposta. A crítica deve ser sustentável logicamente, com dados e outras informações. Tanto a pergunta como a resposta, sempre podem ser melhoradas. Permita que seus alunos analisem, critiquem e reformulem a pergunta feita por você. Mesmo em situações de avaliação permita que uma pergunta seja feita e respondida por ele, na avaliação leve em conta no julgamento os dois aspectos. Fazer perguntas e responder implica também em um compromisso com a dimensão criativa. O docente e o aluno precisam manter sua criatividade em desenvolvimento, além do que ela é essencial para a saúde psicológica. Faça perguntas que requeiram respostas criativas. Por exemplo: Como podemos aproveitar melhor o espaço da sala de aula usando o que sabemos de geometria? Analise as respostas criativas sendo crítica, mas nunca punitiva. Punir mata a criatividade. Estudado um assunto peça que formulem a melhor pergunta, cada vez mais criativa. Responda as melhores com eles. Elogie todas as tentativas e oriente para que sejam melhores. A dimensão social também deve ser cuidada não apenas no perguntar-responder, mas na consideração do contexto de vida vivenciado pelos alunos, quando se trabalha a formação da cidadania, dos valores, etc. Pergunte e solicite questões que relacionem o que estão aprendendo na escola com sua vida, com o que ocorre na comunidade, no país. Conforme a figura indica, o desenvolvimento da competência de perguntar-responder em professores e alunos, considerando as dimensões referidas traz muitos benefícios. Os cuidados devem abranger todas as atividades ao longo do currículo, durante todo o ano letivo. Deve ser responsabilidade de todos os envolvidos no processo educacional. Desta forma serão obtidas mudanças efetivas conceituais, afetivas, motivacionais, sociais. Crescer, aprender, cooperar, etc, tornam-se mais prazerosas, retém-se mais e por mais tempo aprendido. É preciso estar atento com o que e como se formulam perguntas e estimular os alunos para que também saibam fazer melhores perguntas. Espera-se que alunos perguntem mais do que os professores, os quais devem lembrar que, vinda do aluno, nenhuma questão é fraca, errônea, inadequada ou impertinente. Ela espelha o que lhe foi passado em termos de competências e habilidades. Procure sanar a falha da vivência acadêmica do aluno, não o puna por falha do sistema. A Autoavaliação do comportamento docente no que concerne ao tema deve ser uma constante. Cheque as questões que tem apresentado aos alunos nos exercícios, nas provas, nas aulas. Veja se está cuidando de desenvolver todas as dimensões. Discuta com colegas e equipe técnica a qualidade do perguntar-responder que se tem na escola. Empenhe-se em melhorar este aspecto da qualidade de ensino. Será gratificante. Geraldina Porto Witter é pedagoga, psicóloga, doutora em Ciências (Psicologia) - USP e livre docente em Psicologia Escolar na Unicastelo 17 PRÁTICAS DE ENSINO ARTE, DOM OU APRENDIZADO? Márcia da Silva Gonçalves A idéia surgiu em meados de abril, quando o grupo responsável pela homenagem ao dia das mães da Escola Municipal Dr. Álvaro de Campos Carneiro pensou sobre o convite para a festa e a idéia foi entregue ao grupo de professores. Ao receber o convite, eu não tinha idéia da beleza da obra e do artista plástico, então como passar aos meus alunos da 2ª série tamanha beleza? Penso que por estar envolvida no projeto “Tocando, Cantando... Fazendo Música com Crianças” de uma forma mais intensa e não estar tão envolvida com o trabalho de Artes Visuais; às vezes, desconhecemos alguns artistas plásticos, mas fui em busca do meu objetivo: conhecer esta e outras obras do artista. A partir de então iniciei a pesquisa com alguns professores da rede e, logicamente, pela Internet sobre o artista plástico e suas obras. O trabalho foi gratificante, pois descobri diversos trabalhos do artista plástico de encantadora beleza, criatividade e otimismo, inclusive a obra do convite Mother and Child (Maternidade), do artista plástico Romero Britto. Por meio do site de Romero Britto (www.romerobritto. com.br), utilizei a sala de informática com a ajuda dos monitores Valente e Rejane para mostrar aos alunos a biografia e as obras do artista. As crianças, ao terem acesso ao artista brasileiro nascido em Recife/PE e suas obras, ficaram encantadas com as cores utilizadas que expressavam muita alegria. Orientei os alunos quanto à reprodução. Perguntei se teriam interesse em reproduzir a obra Mother and Child, como convite para a homenagem às mães. Embora não demonstrasse, tive um certo receio ao ouvir a resposta “sim”, pois em minha vida e carreira não havia trabalhado com reprodução de obras; mas como diz o ditado “quem está na chuva é pra se molhar”, colocamos as mãos na massa. Traçando um elo entre a Arte e a Música, os alunos fizeram a reprodução e ensaiamos com as outras turmas de 2ª série, as músicas: Minha Mãe e Amor de Mãe, cantando e com alguns gestos para deficientes auditivos (libras), curso oferecido pela rede municipal de ensino de Mogi das Cruzes. Assim foi realizado esse trabalho inicial, em que a reprodução da obra Mother the Child, de Romero Britto foi entregue 18 como convite para a homenagem às mães ao som das músicas que ensaiamos. A atividade aconteceu no Ginásio Municipal de Jundiapeba. Ampliando o trabalho Uma vez vencido o desafio, porque pelas crianças foi um sucesso, decidi fazer o mesmo trabalho com os alunos da 1ª série da Escola Municipal Prof. Eulálio Gruppi, em parceria com a professora Sandra, que gostou da idéia. Os alunos entusiasmados fizeram a reprodução da obra e montamos um Painel de Exposição. Aprofundando um pouco mais o estudo nas obras de Romero Britto, traçamos um elo com a música, pois estávamos nos preparando para o 2º Dia Temático: Literatura e Expressão Artística e a Festa Junina. Reuni os alunos na sala de Informática, onde acessamos o site do artista e observamos as obras. Fizemos uma ligação com o tema Festa Junina e escolhemos duas obras para reprodução: Grand Slam Cheek To Cheek (Rostos Colados) e Dancers (Bailarinos). As crianças disseram: “eles estão dançando, parece a nossa dança”. Fizemos a reprodução dessas obras e trabalhamos a ciranda com a música: Vamos Indo, com direito à dança, canto e arranjo musical. Além das músicas: O Pomar, Fome-Come e A sopa, com arranjos musicais e expressão corporal, sendo que estas últimas músicas, nós, professoras das turmas de 2ª séries, trabalhamos no primeiro bimestre, porque faziam parte do nosso tema frutas e legumes. Montamos um painel com as reproduções dos alunos das obras de Romero Britto e sua biografia e outro com pinturas sobre Meio Ambiente, o qual denominei Pequenos Artistas. Aproveitando tudo que já havíamos trabalhado, nos preparamos para o 2º. Dia Temático: Literatura e Expressão Artística, onde realizaríamos a Exposição de Arte e a Oficina de Música. Para a exposição, algumas professoras das turmas também reproduziram algumas obras de arte do artista plástico Alfredo Volpi e outras confeccionaram instrumentos musicais com sucata. Não me dando por satisfeita, fui em busca de um artista plástico de nossa região para que pudesse entrevistá-lo e se possível trazer suas obras para a nossa exposição. Conheci o artista plástico Policarpo Ribeiro, residente em Mogi das Cruzes, que leciona artes no Centro Cultural de Suzano e foi contemplado com a medalha de prata, do ano Brasil –França, em maio de 2006, pela Academia de Artes Ciências e Letras da França. Pesquisei também suas obras em seu site (www. policarporibeiro.com.br), em que pude apreciá-las e admirálas. Algumas delas eram composições plásticas musicais. Ao visitá-lo no Centro Cultural de Suzano, fiquei encantada com a beleza de uma enorme tela e solicitei sua permissão para fotografá-lo junto à mesma, tirei fotos de outras telas também. Policarpo Ribeiro emprestou algumas de suas telas e de outros artistas para a que pudesse colocá-las na exposição do Dia Temático. Comentei com os alunos sobre o artista plástico de nossa região, visitamos seu site na sala de Informática, sempre com ajuda dos monitores Valente e Rejane, e decidimos pela reprodução de uma de suas obras que havia fotografado para enviar como convite do 2º Dia Temático. Montamos o painel do artista mogiano com sua biografia, obras em galerias, fotos de seus trabalhos, locais de exposições e experiência profissional. Com ajuda do monitor Valente, criei um marcador de livro com a obra de Policarpo Ribeiro para entregar aos pais como lembrança do 2º Dia Temático, onde, nós, professoras das turmas de 2ª serie, ficamos com a “Oficina de Música e Exposição de Arte”. Os pais participaram junto com seus filhos e ficaram encantados com as atividades realizadas. Criamos novos arranjos com as músicas Pomar, A sopa e Fome-Come. Eles puderam admirar as telas e o painel de Policarpo Ribeiro, as reproduções dos seus filhos das obras de Romero Britto e Alfredo Volpi e a confecção dos instrumentos musicais construídos com sucata. Na Escola Municipal Prof. Eulálio Gruppi também realizamos a reprodução da obra de Romero Britto, Grand Slam Check To Check (Rostos Colados), com as turmas de 1ª série, em que sugerimos que esta poderia ser o convite da Festa Junina. Nossa coordenadora reproduziu o painel que ficou maravilhoso, o convite foi um sucesso. Tudo isto foi possível com o apoio e a união da direção, coordenadora e professoras de Educação Infantil e Ensino Fundamental, pois como diz o ditado “uma andorinha só não faz verão”. Os pais ficaram entusiasmados com as reproduções das obras de seus filhos, um deles nos perguntou: “foi meu filho mesmo quem fez?”. Que possamos acreditar a cada dia nas potencialidades das crianças e do ser humano como um todo. Enfim, que continuemos buscando a resposta da pergunta: Arte, Dom ou Aprendizado? Artista plástico Policarpo Ribeiro Quer saber mais? www.romerobritto.com www.policarporibeiro.com www.pitoresco.com.br (A Pop-Art de Romero Britto agora em livro) Márcia da Silva Gonçalves é professora do Ensino Fundamental com especialização em Educação Física das Escolas Municipais Dr. Álvaro de Campos Carneiro e Prof. Eulálio Gruppi 19 PRÁTICAS DE ENSINO Interdisciplinaridade: um desafio a ser compartilhado Giane Nunes de Mello I nício de um novo ano letivo. São muitos planos, novos alunos, um recomeço que assusta, mas que, ao mesmo tempo, estimula o educador na busca dos ideais que norteiam seu trabalho. Assim, nas entrelinhas do processo de globalização, é fato admitir a necessidade de que a educação acompanhe o desenvolvimento de linhas e projetos que almejam um trabalho mais que coletivo e, sim, contextualizado. Como várias outras terminologias, a palavra interdisciplinaridade invadiu o vocabulário utilizado nas instituições escolares. Será que realmente esse termo é compreendido da maneira correta? 20 Ao definirmos o termo interdisciplinaridade podemos dizer que esta acontece quando duas ou mais disciplinas relacionam seus conteúdos para aprofundar o conhecimento. (NOVA ESCOLA:55, 2004) Talvez seja na prática pedagógica, a melhor forma de enxergarmos a real concepção dessa palavra que representa um trabalho que, se bem desenvolvido, pode mudar a realidade educacional em nossas escolas. Em todo Brasil, muitos profissionais desenvolvem belíssimos projetos neste sentido. Sabemos disso por meio de relatos de experiências publicadas em periódicos educacionais especia- lizados. Ninguém pode negar que esse “desafio” suscita dúvidas e questionamentos, por isso, torna-se importante que cada vez mais educadores exponham seus projetos, auxiliando aqueles que ainda têm receio de lançar-se nessa caminhada. Gostaria, neste espaço, de maneira breve, relatar uma experiência que está sendo trabalhada por mim e minha companheira de período e série neste ano letivo. Isso por tratar-se justamente de uma busca do processo interdisciplinar em nosso cotidiano em sala de aula. O primeiro passo refletiu nosso interesse comum em falarmos de algo de suma importância para a formação integral de nossos alunos de 4ª série. Em seguida, chegamos ao consenso de que o tema gerador mais apropriado seria o Meio Ambiente, numa abordagem ampla. Sendo assim, dividimos nossa proposta em temas desenvolvidos bimestralmente. São eles, em seqüência: Água, fonte de vida; Aquecimento Global; Fauna e Flora Brasileira; Animais em extinção e Qualidade de Vida. É importante dizer que nós, professoras, ministramos aulas em nossa unidade escolar por disciplinas. Isso pode parecer, no início, um pouco complicado, mas dá prazer viver o dia-a-dia do processo e sua aceitação pelos alunos, nosso maior foco. Facilitar a aprendizagem e tornála concreta também traz às aulas um novo aspecto, uma nova motivação. Os alunos compreendem nossa proposta e logo começam a interagir. Neste primeiro bimestre, o tema sobre água fez com que nossos alunos lessem textos diversificados como: reportagens, pesquisas, letra de músicas e outros. Também, possibilitou que ampliassem seus conhecimentos matemáticos, utilizando esses mesmos suportes textuais na construção de gráficos, experiências, trabalhos de artes; como também usaram as ferramentas que a informática lhes oferece. Todas essas atividades trouxeram a oportunidade para que os alunos debatessem um problema mundial, que faz parte de sua formação como cidadão crítico, consciente e ativo em sua sociedade. Está sendo maravilhoso compartilhar esse exercício de reflexão e ação, podendo contar não só com ajuda de minha colega de trabalho, mas também com a participação dos alunos, que propõem idéias e sugestões, trazem novidades de casa sobre o tema e, o mais importante, conversam entre si e discutem com sua comunidade sobre o que estão aprendendo na escola. Acreditamos ser possível, ao final deste ano letivo, quando finalizaremos nosso trabalho, sentir que o objetivo de colocarmos o conhecimento específico a serviço dos estudantes ultrapassou as barreiras das disciplinas e construiu um olhar global num mundo que precisa de pessoas preocupadas e engajadas com o futuro do planeta. Neste aspecto, a união dos conhecimentos assim como a união dos seres humanos é que fará a diferença. Giane Nunes de Mello é graduada em Letras, pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Braz Cubas e professora nas Escolas Municipais Profª Ana Maria Barbosa Garcia e Maria Colomba Colella Rodrigues. Quer saber mais? www.sabesp.com.br (Sabesp ensina/sala do professor) www.aguaecidade.org.br www.pura.poli.usp.br www.infohab.org.br Revistas: Nova Escola, Ciência Hoje e Amigos da Natureza 21 PRÁTICAS DE ENSINO Projeto Democratizando comunidad E m 2007, a Prefeitura de Mogi das Cruzes por meio de sua Secretaria de Educação iniciou o Projeto Democratizando a Informação. O programa visa facilitar o acesso à informação dinamizando e incentivando a prática de leitura, além de proporcionar à comunidade condições para pesquisas, trabalhos e cursos básicos de informática. O trabalho é feito em parceria pela SME e a Associação de Pais e Mestres (APM) de 25 escolas municipais que contam com sala de informática e Centro de Divulgação e Construção do Conhecimento (Cedic). A administração municipal repassa recursos para as associações para o pagamento de agentes de leitura e de informática que atuam nas unidades aos sábados e domingos. A Secretaria oferece capacitação aos agentes e acompanha a execução do projeto. A tarefa destes profissionais não é somente acompanhar o projeto, mas sim desenvolver ações para envolver a comunidade. Na área de informática, uma das propostas é oferecer cursos básicos, quanto aos agentes de leitura, eles devem propor atividades que incentivem a leitura, a partir de seu conhecimento do acervo literário da escola. Cartão-postal e Hora do Conto no Parque São Mar tinho Escolas como a Profª Wanda de Almeida Trandafilov, no Parque São Martinho, também agente de leitura Michele contam com atividades no Ramos do Nascimento des Cedic. A envolveu trabalhos interess antes unindo leitura e ofic inas de artes. Projeto Cartão-postal – Ani versário de Mogi das Cru zes Inicialmente, foi apresenta da a literatura referente a nossa cidade e como mat Revista “Educando em Mog erial complementar exempl i”, assim como fotos da cida ares da de em diferentes moment Em contato com todo esse os: a cidade antiga e a atu material, as crianças da com al. unidade puderam analisar, seu próprio Cartão-postal comparar e, por fim, confec , retratando da melhor form cionar a a cidade onde moram. materiais, como tinta, lápi Para a ilustração utilizaram s de cor e areia. Os cartõe diferentes s criados serão trocados pos teriormente. Projeto Hora do Conto Para estimular a leitura no universo infantil, proporcion Conto seguida de uma ofic ando momentos agradáveis ina de arte (recriação ou de prazer e alegria, a Hor reprodução da história por a do pintura, enfim, tudo aquilo meio de desenhos, maquet que manifeste a expressão es, recortes, de sentimentos e aspirações valioso instrumento no resg do seu criador) têm se rev ate do contato com o mun elado um do mágico da leitura. Atra leitura, sejam elas clássico vés das histórias narradas s da literatura, como Os pela agente de três porquinhos, ou o livr dia Ramos e Ana Raquel, o Todo mundo tem família ou até mesmo, as lendas , de Anna Clauque fazem parte do nosso respeito, solidariedade, ami Folclore, foram trabalhados zade e responsabilidade. valores, como: Apó s a leitura e discussões, oficinas tem trazido resultad o envolvimento na partici os bastante satisfatórios, pação das o que deixa a equipe escolar muito feliz. Equipe escolar da EM Pro fª Wanda de Almeida Tra ndafilov 22 a Informação mobiliza a e em Mogi O Cedic na EM Dr. Isidoro Boucalt a Municipal Dr. Isidoro Boucalt, portuguesa e agente de leitura na Escol Felipe Roberto Martins é professor de língua g.terra.com.br/, onde dá dicas o projeto http://democratizandoisidoro.blo na Vila da Prata. Ele montou um blog sobre meses do projeto passaram iros prime o quatr nos e livros. Segundo o agente, dicas de sites, indica outras bibliotecas e do agent de leitura. visitado 1.338 vezes. Veja o depoimento pela escola 600 usuários e o blog já foi ovido pela Prefeitura Municipal de prom , ação” Inform a o to “Democratizand “Fiquei sabendo das inscrições para o Proje Municipal “Benedicto Sérvulo de ca Públi de Educação (SME), na Biblioteca Mogi das Cruzes, por meio de sua Secretaria ou a atenção foi o engajamento e a funapaixonei pela idéia. O que mais me cham Sant´Anna”. No instante, acreditem, me intelectuais e econômicos do município. ais, cultur s, presentes aos interesses sociai damentação político-didático-pedagógica os Centros de Divulgação e Consresidem ao redor da escola contariam com Os estudantes e a própria comunidade que r aproveitamento do acervo melho um aria rcion propo que o aos fins de semana, trução do Conhecimento (Cedic), abertos inclusão cultural e digital. deira verda Uma à internet para leitura e pesquisa. literário e dos computadores conectados ressaltou a boa utilização, organina Escola Municipal Dermeval Arouca, que No início do projeto, tivemos uma capacitação sou agente de leitura, notei nas que em a escol Na ar. amentos do prédio escol zação e conservação das dependências e equip to, proje pois eles não possuem acesso a s e de outras pessoas que participavam do primeiras semanas, a felicidade dos aluno ificado com obras para todas as idades divers o gráfic biblio o A escola tem um acerv livros e computadores em suas residências. Maria Machado e Monteiro Lobato e Ana de Saint Exupéry; livros infanto-juvenis (livros infantis de Eva Furnari, Antoine de ias, gibis, revistinhas e revistas educado, Machado de Assis), além de enciclopéd para adultos como os de Aloísio de Azeve to adquirido com alegria. Trata-se cimen conhe ao o proporcionam a todos, o acess cionais. Os Cedics não oferecem só livros, lizado com TV e aparelho de DVD. ada às novas necessidades do mundo globa de uma biblioteca multimídia, “legal” e anten primeiro visa incentivar profeso que sendo , vídeo de de leitura e outro Foram criados ainda dois circuitos: um uso do acervo de DVDs educao izar à leitura e o segundo procura dinam sores, funcionários, estudantes e pais es aos sábados e aos domingos. inares a todos os interessados com sessõ cionais do CEDIC em exibições interdiscipl de empregos, uma ajuda para ios anúnc e na sema que trazem os destaques da Recebemos jornais nos finais de semana, ares, utilizando conscienescol lhos am na impressão de currículos e traba quem está desempregado. Os agentes auxili tos adquiridos em quaiscimen conhe os iar ampl para ou r de ler por praze apenas aos sábados e temente o espaço. Enfim, para quem gosta es nidad comu as os m para os CEDICs, que não são abert informação é a nossa a quer áreas, fica aqui um convite, venha ar Democratiz os para comunidade durante a semana. ores culturais, resdomingos, consulte os horários programad plicad multi de ão geraç a para a, mobilizando a sociedade e a violência, idade ocios missão, incentivando o prazer pela leitur a , assim , adas para jovens e crianças; diminuindo gatando em atividades “legais” e fundament de”. verda de s ãos críticos e felize contribuindo para a consciência de cidad ESPECIAL Bom dia, mundo bom Janete Ignez Gomes Henriques E ste foi o tema escolhido pelo Concurso de Redação Ler é Preciso, realizado pelo Instituto Ecofuturo, em que todos os alunos da Escola Municipal Profª Marlene Muniz Schimidt participaram. O objetivo foi contribuir para que mais e mais pessoas leiam e escrevam com competência. A escola recebeu o livro A vida que a gente quer depende do que a gente faz, com textos escritos por pesquisadores e literatos brasileiros como suporte para professores e alunos. O titulo destaca nossa responsabilidade em fazer deste país e deste planeta um lugar onde as pessoas possam ter acesso à educação de qualidade e viver com dignidade. Incentivamos nossos alunos a escreverem a redação, especificando a leitura, a reflexão e a manifestação pela escrita, convidando-os a olhar para a realidade presente e focalizar o futuro. Entre as produções realizadas pelos alunos, a redação de Nauani de Oliveira Santos da 4ª ”C”, aluna da professora Cleide Aparecida do Prado, foi a que melhor enfocou a importância de estarmos de bem com a vida e vê-la com um olhar de alegria e confiança. A escrita da aluna nos mostra um exemplo de simplicidade, fazendo crescer em nós o desejo de contribuir com o nosso melhor e assim nos aproximarmos do melhor lugar do mundo. Janete Ignez Gomes Henriques é coordenadora pedagógica da Escola Municipal Profª Marlene Muniz Schmidt 24 Janete Ignez Gomes Henriques é coordenadora pedagógica da Escola Municipal Profª Marlene Muniz Schmidt 25 ESPECIAL A Ação Comunitária no ProJovem Equipe do ProJovem de Mogi das Cruzes O ProJovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens) configura uma modalidade alternativa de educação pública que oferece a oportunidade de reinserção na comunidade escolar e de inclusão social, destinada a jovens com idade entre 18 e 24 anos que concluíram a 4ª série, porém não terminaram o Ensino Fundamental e estão fora do mercado formal de trabalho. Além das disciplinas básicas (Línguas Portuguesa e Inglesa, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza), os estudantes do ProJovem, em Mogi das Cruzes, contam com aulas de Ação Comunitária e de Qualificação para o Trabalho nas áreas de Administração e Esporte e Lazer. A disciplina de Ação Comunitária tem o objetivo de promover o desenvolvimento humano comunitário tendo, como foco, a ampliação da capacidade organizacional de grupos e comunidades por meio da gestão comunitária e do aprendizado produtivo. Para tanto, os estudantes devem, no primeiro semestre do curso, fazer um diagnóstico dos principais problemas que a juventude enfrenta atualmente, eleger prioridades e planejar uma ação comunitária coletiva, a partir das potencialidades locais. Tal ação comunitária deve ser executada e avaliada no segundo semestre do programa. Vale ressaltar que o público-alvo do ProJovem é composto, em grande parte, por jovens considerados “problemas” em suas comunidades locais. Sendo assim, a Ação Comunitária do programa oferece a esses estudantes uma oportunidade de protagonizarem uma ação social positiva, o que possibilitaria uma transformação - para melhor - de suas imagens junto à comunidade escolar e local, a partir do engajamento cidadão voluntário e da formação de valores solidários. Os estudantes da 1ª entrada do programa em Mogi das Cruzes escolheram os seguintes temas para seus Planos de Ação Comunitária (PLAs): Alcoolismo, Drogas, Tabaco, HIV/AIDS e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), Violência doméstica, Gravidez na Adolescência, Criminalidade, Preconceito, Cultura, Lazer, Uso Racional da Água, Segurança no Trânsito, Campanha do Agasalho, Saneamento Básico e Pavimentação. Ao final do curso, espera-se que os estudantes do Projovem tenham conseguido construir as seguintes aprendizagens: os desafios do trabalho coletivo em equipe e da gestão compartilhada (distribuição de tarefas e tomada de decisões); os efeitos provocados pelo PLA nos seus beneficiários e atingidos; as novas competências, habilidades e sensibilidades proporcionadas aos jovens executores pela concretização do PLA; o sentido da experiência vivenciada pelos jovens no que se refere à participação e ao exercício da cidadania. 26 ESPECIAL Desfile cívico-militar atrai 15 mil pessoas ao Mogilar Marco Aurélio Sobreiro U m público estimado em 15 mil pessoas aproveitou o dia 1º de setembro, um sábado quente e ensolarado para acompanhar o desfile cívico-militar que marcou o 447º aniversário de Mogi das Cruzes, realizado na avenida Professor Ismael Alves dos Santos, no Mogilar. Fanfarras, escolas, atletas, policiais militares e soldados do Tiro de Guerra local homenagearam a cidade e empolgaram as famílias que compareceram ao evento, que se encerrou pouco antes do meio-dia. Neste ano, o tema do desfile foi “Educação: Protagonismo na Diversidade”, inspirado no Fórum Mundial de Educação Alto Tietê, realizado entre os dias 13 e 16 de setembro, em Mogi das Cruzes. Entre o público presente, o sentimento era de alegria. Uma das mais animadas era a professora Terezinha de Jesus Silva Too, moradora do distrito de Braz Cubas. Ela chegou logo cedo ao Mogilar e acompanhou de perto a passagem do desfile. Disse ter orgulho de viver em Mogi, uma cidade que, segundo ela, “fica melhor a cada dia”. 27 Convidada a falar ao microfone pelos apresentadores oficiais do evento, Terezinha agradeceu pelo desenvolvimento de Mogi. “O desfile está lindo, o município vem progredindo a olhos vistos e nós temos que ressaltar o bom trabalho que está acontecendo aqui”, disse, sendo aplaudida pelo público. Do outro lado da avenida, a costureira Benedita Fonseca Carvalho, de 42 anos, observava a passagem das fanfarras ao lado da filha Bruna, de 10 anos. Segundo ela, Mogi é uma cidade que vem se destacando principalmente na educação – área que, segundo ela, é a base para o progresso de qualquer localidade. “A gente vê que as escolas melhoraram muito. As crianças têm ótimos professores, boa merenda e atividades que complementam os estudos, como formação musical. Com isso, a garotada terá mais chances quando crescer”, frisou. Empregos A geração de empregos foi outro assunto comentado pelas pessoas que assistiram ao desfile deste sábado. O soldador Antônio Fernando Sampaio e o aposentado Henrique Maia conversavam sobre a chegada de novas empresas à cidade e chegaram a uma conclusão – atualmente, os jovens têm acesso a boas oportunidades de emprego em Mogi, sem a necessidade de se deslocarem para outros municípios. “A cada dia que passa, recebemos a notícia de que uma fábrica ou um supermercado abriu as portas na cidade. Isso é muito bom, porque todos os jovens precisam trabalhar. E, para que isso aconteça, alguém precisa dar a primeira chance. Pelo que estou vendo, nos últimos anos a cidade avançou muito nessa área. Quem está com os estudos em dia e quer uma oportunidade acaba encontrando”, observou Sampaio. Marco Aurélio Sobreiro é jornalista com especialização em Comunicação Jornalística e mestre em Comunicação e Mercado pela Faculdade Cásper Líbero 28 29 ESPECIAL Primeiro bloco do Cemforpe é inaugurado Marco Aurélio Sobreiro N o dia 5 de setembro, foi inaugurado o primeiro bloco do Centro Municipal de Formação Pedagógica (Cemforpe), localizado no bairro Nova Mogilar. O prédio entregue possui 4.037,89 metros quadrados e abriga um amplo auditório com ar-condicionado e capacidade para 620 lugares, com previsão de chegar a 800 poltronas até o final deste ano. O edifício conta ainda com espaço de entrada, camarins e um elevador específico para pessoas portadoras de necessidades es- 30 peciais com acesso ao palco. O Cemforpe é um espaço moderno e aconchegante e, não é exclusivo da Prefeitura Municipal, mas sim de toda a cidade de Mogi das Cruzes. O objetivo é abrigar os eventos de educação e se transformar em um importante ponto de referência para os educadores, sejam eles das redes municipal, estadual ou particular. “A educação é o grande elo de transformação e aprimoramento de qualquer sociedade. Neste momento histórico, quero ressaltar a alegria que todos nós devemos sentir por sermos brasileiros”, disse o prefeito Junji Abe. Concebido para promover o aperfeiçoamento contínuo do magistério, o Cemforpe contará com mais dois blocos. O de número 2, chamado de Didático, terá biblioteca, videoteca, salas de aula, de música, de estudo, de reunião, laboratório de informática e setor administrativo. Haverá ainda o bloco 3, o Multiuso, que acomodará mais um auditório, para 150 pessoas, e salas de recepção e almoxarifado. Solenidade A inauguração teve início com o hasteamento das bandeiras do Brasil, do Estado de São Paulo e de Mogi das Cruzes, e a execução do Hino Nacional. Em seguida, o prefeito municipal e as autoridades descerraram a placa oficial da obra e cortaram a fita inaugural do prédio. O chefe do executivo conduziu os convidados ao auditório, onde todos se acomodaram para o início dos discursos. O Cemforpe faz parte do Plano de Governo Participativo (PGP) da atual Administração Municipal e existe desde 2001, ainda que não contasse com um espaço próprio. Apesar disso, nestes seis anos foram realizados 472 eventos, com 46.106 vagas oferecidas. Visivelmente emocionada, a secretária municipal da educação Maria Geny Borges Ávila Horle destacou que o espaço inaugurado será de todos os educadores, e não apenas da rede municipal de ensino. O espaço proporcionará uma fusão entre as ações educacionais e culturais – duas realidades que caminham juntas. “Não existe educação sem cultura, e nem cultura sem educação. São dois pólos que caminham juntos, contribuindo decisivamente para a formação de cidadãos mais conscientes e capazes”, disse. Apresentações Apresentações artísticas encantaram o público. Quatro crianças da academia Regina Balet dançaram o tema “A Bela e a Fera”. O número seguinte – “O negro e o samba” - foi apresentado por 10 crianças do Pólo Comunitário de Cultura de Cezar de Souza, que funciona na Escola Municipal Cynira Oliveira de Castro. Em seguida, a Banda Sinfônica Jovem Mário Portes executou a música do filme “Rocky, o Lutador” e uma seqüência de músicas-tema de filmes e seriados de TV. As apresentações mostraram toda a capacidade acústica do auditório, tanto que o prefeito Junji Abe convidou as autoridades – que estavam na primeira fila – para sentarem-se no meio da platéia, a fim de que todos observassem melhor o espetáculo. “Temos aqui um ambiente confortável e aconchegante, que abriga perfeitamente apresentações como estas”, completou o prefeito. Marco Aurélio Sobreiro é jornalista com especialização em Comunicação Jornalística e mestre em Comunicação e Mercado pela Faculdade Cásper Líbero 31 ESPECIAL Uso dos espaço s púb Algumas Memórias d atual Le Ana Clara de Almeida Correia Q uem é mogiano e nasceu na década de sessenta ou setenta, deve ter mais claramente nas memórias de sua infância, lembranças saudosas de lazer em família, brincadeiras com os amigos, aventuras pueris do que foi para muitos de nós a referência em diversão, contato com a natureza, formação de resistentes laços de amizade, enfim, memórias de uma fase que hoje está armazenada no coração. Quando penso nisso, me vêm lembranças prazerosas de uma época em que a pureza e ingenuidade eram aspectos primordiais para a construção da personalidade, época que foi a minha e de muitas outras crianças, hoje adultos, se- 32 nhores de suas histórias e destinos. Relembro com saudade a cidade de Mogi das Cruzes, hoje uma gigante, que mesmo tão próxima dos grandes centros conserva ainda características aprazíveis de cidade do interior. Ah! Mogi das Cruzes, início da década de 70... Dias inesquecíveis que passamos no maravilhoso “Parque Municipal”. Quantos aprendizados tiramos da observação da natureza em sua magnitude de contrastes e espécies. Tivemos a oportunidade de conhecer simplesmente no convívio com a Mata Atlântica, intacta em cada lago com carpas, cada caminho ou picada cercado de coloridas flores características desta paisagem, cada fonte de água pura e cristalina; o sabor, o cheiro de terra, a diversidade de pequenos detalhes que acabaram ficando em nossa memória sensorial e incidin- do em nosso comportamento ambiental hoje, quando adultos. Idos tempos dos passeios de pedalinho, aventuras no teleférico, as visitas à Cruz do Século, caminhadas subindo a serra íngreme, quando podíamos ver todo o entorno da cidade, tempo das rampas de vôo livre, que nos faziam invejar a liberdade que só tem os pássaros. Com o fechamento do parque, devido às novas leis de proteção ambiental, ficamos um pouco órfãos de lazer; nossos filhos não tiveram a oportunidade de vivenciar as aventuras que talvez pudéssemos mostrar a eles num domingo à tarde, repetindo hoje um piquenique ou a visita ao Forte Apache (construção que reproduzia fielmente a fachada de uma fortificação como nos velhos filmes de faroeste americano...). Este era o nosso parque, o seu ambiente imagi- licos pela comunidade o Parque Municipal ao on Feffer nário nos fazia viajar em emoções! Após o encerramento das atividades do Parque, perdemos uma importante área de lazer, porém com o passar do tempo e entendimento das necessidades de nossa região, ganhamos a consciência ambiental da preservação da Serra do Itapeti, que merece toda a nossa atenção como cidadãos mogianos. Vislumbrando a possibilidade de proporcionar aos moradores desta cidade um novo centro de lazer e diversão para as famílias, e resgatando em parte o que foi um passado ainda muito presente para todos nós, com a memória do Parque Municipal, a Prefeitura planejou no início desta década, a abertura de um espaço temático que em si mesmo, traria o resgate de nossa característica peculiar de cidade – interior, e que retomaria toda a hospitalidade e querência da zona rural, povoada com os personagens do ilustre filho desta terra, que merecidamente seria homenageado num espaço municipal. Por fim, o Parque dedicado ao desenhista Maurício de Souza não pôde ser concretizado. Não cedendo ao fracasso de uma empreitada sem êxito; num espírito empreendedor, buscando recuperar e trazer ao povo mogiano um novo centro de lazer, foi que a cidade de Mogi das Cruzes recebeu de presente o Parque Leon Feffer. É preciso que se diga que a inauguração do Parque Leon Feffer busca um resgate para os cidadãos mogianos, tanto ambiental, escolhendo uma área de gran- de devastação, houve a preocupação com a recuperação da área no entorno do rio Tietê; quanto comunitária, oferecendo aos mogianos e visitantes da cidade um novo espaço de lazer e encontro com a natureza. Não precisamos mais sentirnos órfãos de uma área de lazer, digna de nossa cidade, em que possamos desfrutar com nossos filhos, amigos, familiares, momentos de descontração e porque não dizer, qualidade de vida, cercados de natureza, infra-estrutura e segurança. Digo que não somos mais órfãos, pois daquele carinho que era depositado ao “Parque Municipal”, resgatamos agora na nova geração, para com o “Parque Leon Feffer”, para que possamos aprender e ensinar a nossos jovens a importância da convivência com a área pública, que serve a cada um e a todos. O carinho com a natureza e a construção de nossa memória cultural se idealizam com as experiências e vivências que construímos no dia-a-dia. A busca deste resgate se desenvolverá no amor que a população mogiana e de toda a região vem depositando neste patrimônio municipal, afim de que no futuro, possa este ser um oásis de cultura, conservação ambiental e lazer, no grande centro comercial e industrial que é Mogi das Cruzes. Os espaços públicos são sonhos, que se tornam realidade na visão de nossos arquitetos e ambientalistas, que planejam no presente, a realidade futura. O futuro destes espaços públicos, tão importantes na formação de nossas crianças, estará também escrevendo as memórias de infância no coração dos pequenos, que, hoje, freqüentam estes espaços e, principalmente, o parque, como nós há décadas passadas tivemos o parque municipal, podendo construir suas história de vida e saborear a infância. A utilização dos espaços públicos pela comunidade possibilita a formação da cidadania e o respeito ao próximo, sem teorias, mas, sim, na prática! Quando a criança, jovem ou adulto tem respeito ao patrimônio municipal, seja ele, um parque, praça, escola, teatro; aprende a organizar seu pensamento futuro, pois sabe que o que lhe pertence, também pertence ao outro, e que para ser utilizado por todos, há de se ter respeito aos limites comuns. Através do Projeto “Democratizando a Informação”, da Secretaria Municipal de Educação, muitas comunidades de nosso município estarão experimentando lições de cidadania e de uso consciente dos espaços públicos, usufruindo destes para sua formação pessoal e social. Que sejam bons os frutos desta nova safra, que começa agora na rede municipal de ensino e que enriqueçam cada vez mais nossas comunidades. Ana Clara de Almeida Correia é jornalista, pedagoga e diretora das Escolas Municipais Antonio Pedro Ribeiro e (R) Profª Maria Alda M. Lainetti 33 HISTORIANDO O verdadeiro presente Foto: Ney Sarmento Imagens: Recordações de Mogi das Cruzes, Gráfica Veiga Gracila Maria Grecco Manfré José Sebastião Witter Rua Ipiranga - Mogi das Cruzes - 1956 M uitos devem se lembrar que, há não muito tempo atrás, era costume dos pais presentear seus filhos em duas ocasiões do ano: no Natal e no dia do Aniversário. Momentos difíceis, situações outras... Mundo diferente aquele no qual o apelo comercial quase não existia. Hoje em dia, vemos pais transformando-se em verdadeiros trabalhadores compulsivos para proporcionar aos filhos não só todo o bem-estar possível, mas para presenteá-los a qualquer instante: videogame de última geração, celulares, notebooks, tocadores de música digital e tantos outros produtos do mundo tecnológico. A preocupação dos pais em deixar uma herança material aos filhos e mesmo seu afastamento do lar por motivo de trabalho, tem sido atitudes encaradas pela sociedade como algo extremamente “natural”. Entretanto, pesquisas realizadas em várias áreas da ciência têm comprovado que muitos filhos gostariam de ser menos presenteados e, em troca, receberem uma atenção maior por parte de seus pais... Não em forma de sentimento transmitido pelos presentes, mas com demonstrações de afeto que vão desde o compartilhar de um tempo menos escasso de convivência familiar até o aumento do interesse dos pais em sua rotina diária. Uma observação mais atenta ou perguntas como: o que tem aprendido na escola? Quem são seus amigos? Como tem sido usado o tempo livre? O que espera do futuro? Você sabe da sua importância em minha vida? Como posso ajudar?... são, desejadas e, bem no fundo, esperadas por quem acredita ser alguém amado. Usando tal enredo para uma apropriada metáfora, qualquer cidade também seria muito mais feliz se, ao invés de ser lembrada e “presenteada” no dia de seu aniversário, pudesse receber a devida atenção de seus moradores todos os dias do ano. O presente mais precioso, então, poderia não ser a inauguração de monumentos ou edificações, mas o exercício da cidadania por parte de seus habitantes. A palavra “cidadania” vem do latim, “civitas”, que significa cidade. Uma das mais perfeitas definições nos é oferecida pelo Prof. Dalmo de Abreu Dallari: “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”. (DALLARI, 1998). Igreja Matriz de Sant’Anna - Mogi das Cruzes - 1951 34 O “participar ativamente” implica em conhecer, antes de tudo, os direitos, conquistados com árduas lutas ao longo de anos na História, não só do Brasil, mas Mundial. Um dos maiores exemplos do século XX é o reconhecimento internacional dos Direitos Humanos, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial. Com um contingente de mais de 25.000 combatentes, O Brasil entrou na guerra no ano de 1942. Mas, muito poucos sabem que Mogi das Cruzes foi a cidade brasileira, que, proporcionalmente ao número de habitantes, mais enviou soldados à Itália! Dos 400 soldados enviados, perdemos oito valorosos mogianos em combate: Américo Rodrigues, Abílio Fernandes, Brasílio Pingo de Almeida, Antonio Castilho Gualda, Francisco Franco, Hamilton da Silva e Costa, Jamil Daglia e Otto Unger. Vale salientar que nosso município foi o primeiro a homenagear e prestar o devido reconhecimento aos combatentes da FEB (Força Expedicionária Brasileira): temos a “Associação dos Expedicionários Mogianos”, que é a primeira Associação de Ex-Combatentes do Brasil, além do Monumento aos Pracinhas da FEB, igualmente pioneiro no Brasil. O exercício da cidadania é construído paulatinamente e não termina nunca porque a dinâmica urbana exige contínua atenção. “A cidade é o lugar doador de sentido à existência individual e do aprimoramento de nosso corpo, nosso espírito e dos usos e hábitos de nosso tempo. (...) Ela é o lugar da política, das leis que nos outorgamos, as quais construímos e pelas quais mantemo-nos em coesão, compartilhando uma fundação e um projeto de futuro comuns. (...) O que queremos fazer com ela e o que ela fará conosco? O que fazermos para permanecer como cidadãos, e não como servos? Com que projeto de cidade enfrentaremos o destino que se descortina para nós? “. (BRANDÃO, 2006). Com este pensamento, temas ligados à democracia, aos direitos humanos, à solidariedade, ao respeito ao meio ambiente, à responsabilidade, à justiça, à não-violência e à ética devem permear nossos valores e ajudar a compor uma nova concepção sobre o que significa “viver” em uma determinada cidade. E a ela doar o que realmente seja imprescindível. Saber sobre a história e honrar o solo em que pisamos, mas, ao mesmo tempo, questionar o hoje, o cotidiano que nos rodeia: a segurança, a saúde, o sistema educacional, o transporte, as manifestações culturais, a educação no trânsito, as opções de lazer nos bairros, a preservação do patrimônio... São formas, mais que especiais, de se demonstrar amor e respeito por qualquer localidade. Então, o que nos dizem estes valores, em forma de doação, sobre os desejos de uma cidade? Dizem que a vida pode e deve ser melhorada em todos os espaços deste imenso Brasil, porque, como sabemos, o município é a base da vida política. Partiremos, assim, do micro para o macro, na intenção de se invocar a democracia legítima para que seja, enfim, vivenciada por uma nação inteira. O verdadeiro presente em meio ao desencontro. “A cidade é a luz feita do eu e, também, do outro, a iluminação do conflito (...). A cidade é ambiente do mundo moderno, feito de espelhos, no qual os homens nem sempre se reconhecem”. (BRANDÃO, 2006). Gracila Maria Grecco Manfré é professora universitária e consultora educacional José Sebastião Witter é professor titular na área de história e professor emérito pela Universidade De São Paulo (USP) Igreja do Carmo - Mogi das Cruzes - 1955 Largo do Bom Jesus - 1950 Parque Infantil Monteiro Lobato BRANDÃO, Carlos Antônio Leite (org). As Cidades da Cidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006. DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. 35