Agosto/setembro de 2007
Ano VI - Nº 35
Educação e
cidadania
Mogi comemora seus 447 anos
Editorial
A
educação e a solidariedade fazem par te da construção coletiva de uma sociedade mais justa. A meta
de uma educação com qualidade social para todos
e todas só será atingida com a par ticipação efetiva de
todos: educadores, alunos, pais e toda a comunidade.
Esta edição da revista Educando em Mogi mostra este
caminhar da educação mogiana para o trabalho em conjunto de toda a comunidade escolar: uma educação que
traz os pais para dentro da escola e aposta em novos
caminhos para envolver os alunos.
O lúdico está presente em dois ar tigos. A criança
aprende valores e conteúdos por meio de brincadeiras e
até uma brinquedoteca, em que a convivência também
é um aprendizado. Confira também as ações do Proje to Democratizando a Informação (PDI), em que salas de
informática e Cedics (Centros de Divulgação e Construção do Conhecimento) estão aber tos aos finais de semana para a comunidade. Agentes de leitura desenvolvem
atividades para incentivar a leitura e a busca pelo co nhecimento.
Não perca o relato de Nauani de Oliveira Santos, aluna da 4ª série, da Escola Municipal , uma lição para não
nos esquecermos de agradecer as bênçãos do nosso diaa- dia. A viagem à cidade de Pirangi, no interior paulista pelo projeto Caravanas do Conhecimento – Redescobrindo o Interior também ganha um registro especial
da professora Paula Leme Dutra e Alisson Rodrigues de
Morais Car valho, aluno da 4ª série da E.M. Des. Armindo Freire Mármora.
O aniversário de Mogi das Cruzes e sua história me recem um espaço especial com o ar tigo sobre o Parque
Leon Feffer, o verdadeiro presente que nossa cidade me rece e as fotos do desfile cívico -militar que teve como
tema Educação: Protagonismo na Diversidade, o grande
tema do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê. Confira na próxima edição, tudo o que aconteceu nos quatro
dias deste grande movimento em prol da educação como
direito universal.
Secretaria Municipal
de Educação
Coordenadoria de
Comunicação Social
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Cep: 08790-900 - Centro Cívico
Mogi das Cruzes - SP
Fone: (11) 4798-5085
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• Conselho Editorial
Maria Geny Borges Avila Horle
Anne Ivanovici
Cláudia Helena Romanos Pereira
Leni Gomes Magi
Marilda Aparecida Tavares Romeiro Safiti
• Jornalista Responsável
Luiz Suzuki - MTB 22936
Kelli Correa Brito - MTB 40010
• Coordenação Editorial
Bernadete Tedeschi Vitta Ribeiro
Lilian Gonçalves
Marinina Beatriz Leite
• Fotos
Arquivos da E.M. de Mogi das Cruzes
• Colaboraram nesta edição
Mari Luce V. Garcia Missiato, Cláudia Regina Simões da Silva, Marinina Beatriz Leite,
Naete da Conceição Rosendo, Sandra N. de
Paula Scutari, Eulália Anjos Siqueira, Lucia
de Paula Pimenta, Nilcéia Aparecida Faria,
Fanny de Jesus Canalli Almeida,
Paula Leme Dutra, Alisson Rodrigues de
Morais Carvalho, Geraldina Porto Witter,
Márcia da Silva Gonçalves,
Giane Nunes de Mello, Felipe Roberto Martins, Equipe escolar da EM Profª Wanda de
Almeida Trandafilov, Janete Ignez Gomes
Henriques, Nauani de Oliveira Santos,
Equipe do ProJovem de Mogi das Cruzes,
Marco Aurélio Sobreiro, Ana Clara de
Almeida Correia, Gracila Maria Grecco
Manfré e José Sebastião Witter.
• Produção e Impressão
Marpress informática - Tel: (11) 4795.6060
• Tiragem
3.500 exemplares
A Revista Educando em Mogi, nº 35 é uma
publicação da Secretaria Municipal de
Educação de Mogi das Cruzes e não se
responsabiliza por conceitos emitidos em
artigos assinados.
Sumário
PoLÍTICA
EDUCACIONAL
16
Perguntas para motivar e
desenvolver o aluno
18
Arte, dom ou aprendizado?
20
Interdisciplinaridade: um desafio
a ser compartilhado
22
Projeto Democratizando a Informação mobiliza a comunidade em Mogi
4
O papel do brinquedo no desenvolvimento
e na aprendizagem infantil
6
Solidariedade X Piedade
8
Pró-Letramento: Alfabetização
e Matemática
24
Bom dia, mundo bom
Momentos de aproximação da
comunidade nos novos espaços de
participação e conhecimento
26
A Ação Comunitária no
ProJovem
27
Desfile cívico-militar
atrai 15 mil pessoas
ao Mogilar
30
Primeiro bloco do Cemforpe
é inaugurado
32
Uso dos espaços públicos pela
comunidade - Algumas Memórias:
do Parque Municipal ao atual
Leon Feffer
10
PRÁTICAS DE ENSINO
11
Brinquedoteca
12
Cedic incentiva a leitura através de
Monteiro Lobato
13
Um projeto de Sucesso: Programa
Caravanas do Conhecimento
ESPECIAL
34
Historiando
O verdadeiro presente
POLÍTICA EDUCIONAL
O papel do brinquedo n
aprendizag
Mari Luce V. Garcia Missiato
A
criança brinca desde os primeiros meses de vida, manifestando reações espontâneas e prazerosas diante
de determinados estímulos como, por exemplo, ao
som de um brinquedo.
Posteriormente, a criança brinca com o próprio corpo, o
que favorecerá a construção de sua inteligência, afirmação
pessoal e integração social.
O brincar favorece a construção de representações simbólicas, as quais expressam a forma como a criança vê a realidade ou imagina como ela poderia ser. Com as brincadeiras,
as crianças aprendem regras de convivência e sobre diversos
sentimentos.
Segundo Vygotsky, no brincar a criança está acima de sua
idade média, acima de seu comportamento diário. Assim, na
brincadeira de faz-de-conta as crianças manifestam certas habilidades que não seriam esperadas para sua idade. Nesse sentido,
a aprendizagem cria a zona de desenvolvimento proximal.
Nas brincadeiras de faz-de-conta, a criança transforma
objetos para representar a realidade ou um objeto ausente,
como por exemplo, um toquinho de madeira pode ser transformado em um pente de cabelo, numa brincadeira de casi-
nha. Nas situações imaginárias ocorre a presença de regras e
normas que deverão ser incorporadas pelos diferentes papéis
existentes em um contexto de faz-de-conta. Nessas situações,
as crianças reproduzem o modelo de vida real.
Assim, é preciso pensar sobre o tempo e o espaço das brincadeiras na educação infantil, visto que o brincar tem sido
cada vez mais reduzido no contexto institucional.
Os jogos e as brincadeiras devem ser introduzidos na
rotina escolar como estratégias fundamentais no processo
de aprendizagem das crianças pequenas, e não meramente
como atividades para “ocuparem” um determinado espaço
de suas rotinas.
Ao organizarmos a sala e os materiais para a vivência dos
jogos nos quais as crianças assumem papéis, como brincar de
casinha, supermercado, dentre outras, favorecemos o desenvolvimento das crianças por meio da imaginação, da expressão dramática e da linguagem.
Os jogos podem ser direcionados também para o desenvolvimento motor, como os jogos de encaixe; para o desenvolvimento social, nos jogos de competição, e cognitivos, como
por exemplo, os jogos de matemática.
o desenvolvimento e na
em infantil
Na escola, o brincar pode ser exploratório, livre ou dirigido; o essencial é que ele faça a criança avançar em sua aprendizagem e desenvolvimento.
Devemos repensar o papel dos profissionais da educação
infantil, pois isto significa compreender sua atuação no âmbito do “cuidar e do educar”, devendo ter um compromisso
com os direitos fundamentais das crianças, oferecendo-lhes
espaços acolhedores e seguros, oportunidades de aprendizagem e experiências múltiplas.
Devemos compreender, também, que os vínculos afetivos
são essenciais para o processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças e não desqualificam o trabalho profissional, e sim, torna-o mais humano.
Vejamos a seriedade do papel do professor na vida de uma
criança no texto de Robert Fulghum que segue:
“ Tudo o que eu preciso saber: como viver, o que fazer e como ser,
aprendi no jardim da infância. A sabedoria não estava no topo da
montanha mais alta, no último ano de um curso superior, mas no
tanque de areia do pátio da escolinha do maternal.Vejam o que eu
aprendi:
Dividir tudo com os companheiros.
Jogar conforme as regras do jogo.
Não bater em ninguém.
Guardar os brinquedos onde os encontrava.
Arrumar a bagunça que eu mesmo fazia.
Não tocar no que não era meu.
Pedir desculpas, se machucava alguém.
Lavar as mãos antes de comer.
Apertar a descarga da privada.
Biscoito quente e leite frio fazem bem a saúde.
Fazer de tudo um pouco: estudar, pensar e desenhar, pintar, dançar
e cantar, brincar e trabalhar.
De tudo um pouco, todos os dias.
Tirar uma soneca todas as tardes.
Ao sair pelo mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre de mãos
dadas com o companheiro e sempre “de olho” na professora”.
Mari Luce V. Garcia Missiato é professora de Educação Infantil da Escola Municipal Professora Vanda Constantino da
Costa e cursa licenciatura em pedagogia do Centro Universitário Claretiano (EAD)
OLIVEIRA,V. B. (Org). O brincar e a criança do nascimento aos
seis anos. São Paulo: Vozes, 2000.
MOYLES, J. R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
VIGOTSKY, L. S. Formação social da mente:desenvolvimento do processo psicológico superior. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes. 2003.
FULGHUM, Robert. Tudo o que eu necessito realmente saber, aprendi no jardim da infância. Aroeira, 1996.
5
POLÍTICA EDUCIONAL
Solidariedade X Piedade
Cláudia Regina Simões da Silva
R
ecordo-me que há alguns
anos, despontava a Declaração de Salamanca, com sua
arrojada proposta de igualdade entre os
seres humanos. Professores (eu, entre
eles) discutiam o que seria a inclusão
para a Educação. Durante muitos anos
(talvez ainda hoje), a palavra
Inclusão foi sinônimo
da expressão educação
especial, referindo-se
às peculiaridades das
pessoas e não ao ato
em si, com a ressalva
de que, aquela pessoa
com deficiência física,
mental ou sensorial
para a qual não tínhamos um olhar,
a não ser um leve
toque de piedade e
de alívio, por sermos,
“Deficiência não é doença, é uma condição”
(Menicucci.Puc.2006)
afinal de contas, “perfeitos”; poderia fazer
parte do nosso mundo, freqüentando a
escola e os ambientes em que vivíamos.
Lembro-me que suspirávamos aliviados,
quando o aluno com necessidades especiais estava na turma do outro professor,
mas, deste tínhamos piedade!
Que engano o nosso! Não sabíamos
que estávamos imersos em arrogância,
ao acreditar que nossas supostas perfeições físicas, mentais e sensoriais, nos
tornavam alguém privilegiado e eficiente, por estarmos de acordo com os
estereótipos impostos pela sociedade
em sua maioria.
Neste passar dos anos, fui finalmente atingida pela verdade, acho que foi
um mix de estudo, leitura, discussão,
interação, reflexão... Não sei bem, sei
apenas que o encontro com a verdade
produziu em mim um novo olhar, me
tornou alguém melhor, mais adequada
a minha condição humana de vulnerabilidade e igualdade.
Em 2006, visitei uma conhecida feira para reabilitação (Reatech), onde encontramos desde
pequenos objetos necessários para
as pessoas com necessidades especiais até
carros adaptados.
Durante o evento, aconteceram
apresentações
artísticas,
palestras e brincadeiras diversas, além de
uma maciça presença da diversidade.
Enquanto caminhava pelos corredores
visitando estandes, houve um momento que parei para observar um jogo de
basquete de cadeirantes, no qual havia
pessoas de idades e características diferentes, todos, porém, se locomoviam
com o auxílio da cadeira de rodas. Interessante... Sorriam, brincavam, empolgavam-se; eventualmente, uma cadeira de
rodas virava, rapidamente alguém corria,
desvirava a cadeira, levantava o cadeirante e o jogo continuava. No final do
jogo, todos se cumprimentavam alegres
pela oportunidade da diversão.
Uma senhora cadeirante chamou
minha atenção. Enquanto observava
aquela senhora sorrindo, participando
do jogo com crianças e jovens, pensava: “Por que será que ela está na cadeira
de rodas? Será que foi pressão alta, que
resultou em derrame (acidente vascular cerebral)? Ou um acidente de carro
que provocou lesão na coluna? Um tiro,
uma bala perdida?”
Refletindo, naquele momento compreendi a diferença entre a solidariedade
e a piedade: solidariedade é o resultado da
compreensão de que “nosso telhado é de vidro”, ou seja, na verdade somos igualmente
vulneráveis e passíveis de mudanças físicas,
mentais ou sensoriais. Esta compreensão
nos coloca lado a lado com a diversidade,
percebendo que nossos valores não se
limitam às nossas deficiências, porque o
ser humano transcende a tais limitações,
afinal, todos temos limitações
que podem variar, sendo esta
agora ou aquela outrora.
A piedade, entretanto, não nos coloca
lado a lado, e, sim, em uma condição de
superioridade, pois fazermos parte de
um grupo majoritário, que impõe estereótipos nos quais grupos minoritários
não se enquadram, e por isso ficam à
margem. Assim, a piedade sustenta um
sentimento inconsciente de superioridade, que nos direciona, eventualmente, a estender a mão (como se isso fosse
questão de vontade) para quem precisa
(subentendendo inferior ).
No passado não conseguíamos compreender que ter piedade da pessoa com
necessidades especiais ao mesmo tempo
em que faz de nós (maioria) superiores,
nos coloca na “corda bamba”, pois a tênue linha do ter ou não ter uma deficiência de acordo com os estereótipos
sociais, é muito frágil. Assim, hoje, podemos ser quem tem piedade e, amanhã,
quem precisa da piedade. A Inclusão nos
trouxe a solidariedade e com ela, a esperança. Se uma pessoa no passado tivesse,
aos 40 anos de idade, um derrame que
comprometesse sua mobilidade, provavelmente acharia que sua vida acabou;
mas com a inclusão é diferente. Sabe-se
que, embora minoria, a vida continua
com outros desafios, com algumas limitações diferentes das que já estava acostumado; mas com motivos para sorrir,
viver, sonhar e tudo o que caracteriza
a vida humana.
“As limitações enfrentadas pelas pessoas com deficiência, decorre muito mais dos
mecanismos excludentes, presentes na sociedade, do que da deficiência em si.” (Menicucci, 2006)
Acredito na Inclusão Educacional, obviamente, desde que respeitadas as determinações legais que prevêem cuidados e
recursos que possibilitem a presença da
diversidade na escola, garantindo-lhes
acessibilidade não só às instalações do
prédio, mas também à saúde e à informação, possibilitando, assim, a plena formação do educando. É um trabalho de
equipe, discussão e empenho para toda
a comunidade escolar.
Não estamos em tempo de dizer: sou
contra ou a favor, o aluno é deste ou
daquele professor, mas, sim de pesquisar, estudar e juntos elaborarmos procedimentos que visem a inclusão real
de alunos com necessidades especiais e
diferenciadas.
A Inclusão nos coloca mais próximos do ser humano e da compreensão
de nós mesmos, enriquecendo nosso
ambiente escolar, porque nos força a
refletir e buscar soluções para novos
desafios que se apresentam e ensinam
nossos alunos a conviver com a diversidade e a se adaptarem às necessidades
dos outros.
“...linhas paralelas
nunca vão se tocar, exceto no infinito... Inclusão
é traçar linhas diagonais,
ortogonais, assimétricas, aleatórias. Rabiscar
o papel da vida de uma
forma que as linhas se
toquem e se encontrem
o tempo todo. Usar as
mais variadas cores e
grafite, tinta, o que mais
houver.Até o limite onde
não se saiba mais, qual
linha teve origem onde.”
(Fabio Adiron)
Cláudia Regina Simões da Silva é professora de Educação Infantil no CCII Jornalista José de Moura Santos, graduada
em Direito e pós-graduada em Educação Infantil e Educação Especial
MENICUCCI, Maria do Carmo. Educação Inclusiva: possibilidades e desafios atuais, Belo Horizonte: PUC Minas
Virtual, 2006.
Fórum sobre inclusão (lista de discussão).Vidas Paralelas ou Vida paravidas, de Fabio Adiron. http://br.groups.
yahoo.com/group/foruminclusao/message/9029
Pró-Letramento:
Alfabetização e
Matemática
Q
uem vive em meio à leitura e à escrita, mas não inseridos nela, são marginalizados social e economicamente. O letramento foca, entre muitos aspectos,
o contexto sócio-histórico da aquisição da escrita e da matemática na atuação crítica do cidadão na sociedade.
O registro sobre o que ocorre numa sociedade (hábitos,
costumes, história, práticas psico-sociais e a riqueza de suas
manifestações) assinala a memória de um povo. No mundo
complexo no qual vivemos, é preciso estimular o desenvolvimento de habilidades que facilitem esse registro e a resolução
de problemas do cotidiano, bem como a tomada de decisões
e inferências sobre temas diversos.
Sabido é que são determinantes as experiências iniciais de
uma criança. Não estar em pé de igualdade com a sociedade
em geral, em que predomina o código escrito numa posição
de relevância, é, sem dúvida, um prejuízo à conquista da cidadania. Respeitando também a participação do cidadão em
atividades sociais, culturais, políticas e econômicas. Isso aponta
uma sociedade menos desigual e mais justa, eliminando a discriminação e valorizando a auto-estima do outro.
Comprometidos com esses objetivos, no primeiro semestre
de 2007, o Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal
de Educação, por meio da Divisão de Capacitação, ofereceu
aos professores da rede municipal o programa Pró–Letramento nas áreas de matemática e linguagem. Este contou com a
participação de duas professoras da rede municipal, Naete da
Conceição Rosendo (Matemática) e Sandra N. de Paula Scutari (Linguagem) como tutoras do Programa, segue abaixo o
relato das mesmas.
e individuais, como também atividades para serem aplicadas
em sala de aula.
Cada fascículo abordava um tema, estudamos de números naturais à avaliação em matemática. Tivemos também um
bom incentivo à utilização do jogo matemático e à resolução
de problemas, que de modo integrado, ajudam no desenvolvimento do pensamento, linguagem e afetividade.
Outro destaque do curso, foi a escrita das memórias em
matemática de cada cursista, em que pude perceber quantas
experiências boas, como também quantas lembranças ruins,
eles tinham de professores que passaram em suas vidas!
O curso terminou, mas a semente foi plantada. É necessário que os professores continuem regando os conhecimentos
experimentados, levando para sala de aula a idéia que “resolver em” matemática vai muito mais além do que a estratégia
“arme e efetue”!
Naete da Conceição Rosendo
Alfabetização e Letramento
Quando refletimos sistematicamente sobre os dois conceitos: Alfabetização e Letramento, dialogamos com objetos
próximos, porém de naturezas diferentes no que diz respeito
à construção.
Hoje, cerca de 25 anos após a mudança de concepção da
aquisição da leitura e escrita, reconhecemos a importância da
construção e aquisição de Cultura e Escrita, e está claro para
o educador de forma geral, que este processo, mais do que
mecânico, mais do que motor, é político e social.
Marinina Beatriz Leite
Ao longo da História da humanidade, pode-se observar o
quanto a linguagem e a habilidade de seu registro, assim como
Matemática
o pensamento, determinam poder nas sociedades. Por meio
da linguagem oral e escrita, segmentos de maior poder ecoO Pró-Letramento em Matemática, a partir de seus nove nômico e social de uma comunidade facilmente
fascículos, veio disponibilizar mais recursos para os professo- direcionam, manipulam ou posicionam
res que pudessem melhor qualificar seu trabalho. Neste senti- outros segmentos.
do, as aulas eram planejadas envolvendo atividades em grupo
A linguagem, de
maneira ampla, está intimamente relacionada à aquisição de conhecimento e este às soluções de problemas anteriormente já enfrentados pelo homem.
O conhecimento, isto é, a construção já experimentada por gerações anteriores que auxiliam na solução
das questões humanas, como as ciências de forma geral, é
acessível a alguns privilegiados que se empenham em cuidar
de tais privilégios. Ao universalizar o domínio de aquisição das
diferentes formas eficientes de comunicação, estamos também
democratizando o acesso a estes conhecimentos.
Durante a maior parte da história da educação no Brasil,
podemos observar a maior ênfase com relação ao código escrito quanto da alfabetização. Desta forma, mantém-se grande
parte da sociedade numa limitação no que diz respeito à extensão e o poder da escrita e leitura como forte instrumento
de libertação e compreensão do mundo em que vivemos.
Estamos num momento histórico pautado pela exposição
e apologia à comunicação. Ao limitarmos o desenvolvimento
das habilidades comunicativas, estamos, no mínimo, sonegando
informações preciosas no sentido de democraticamente permitir que o aluno escolha a forma de comunicação que lhe é
mais eficiente e que facilite sua inserção no mundo.
O programa Pró–Letramento, neste contexto tem como
principal foco, levar-nos, profissionais da Educação, a pensar
em nossas práticas diárias e ressignificá-las.
Como eixo principal, trabalhamos com a ação-reflexãoação e espera-se que nos deparemos neste processo com
novas construções, pois abrem-se possibilidades de busca de
outros caminhos, assim como estaremos mais sensíveis para
novas questões, talvez ignoradas anteriormente pelo hábito de
ações pré-estabelecidas e soluções cristalizadas. O programa
pretende que, nós, educadores, tomemos como prática sempre lançar mão de novos olhares, ainda que a situação aparente lugar comum.
Passado o primeiro semestre, com a experiência de ter trabalhado com as quatro primeiras turmas, posso afirmar que
conheci colegas competentes com boa formação acadêmica
e muito afetiva. Tive ainda a oportunidade de, por meio de
portfólios, compartilhar as construções, estar próxima e tomar
conhecimento de atividades que foram efetuadas em diferentes escolas do município, rurais e urbanas; o que para mim foi
um privilégio, avancei como profissional, além de também ter
feito as minhas reflexões.
Hoje, levar a eficiente aquisição de Cultura e Escrita é um
desafio nacional. O programa vem sendo um apoio e os encontros buscam espaços para reflexão e emancipação de nossas ações, além da legitimação de nosso fazer pedagógico por
meio do embasamento teórico. Afinal se não há neutralidade
no espaço escolar, devemos, nós, profissionais da Educação,
pensarmos direta e sistematicamente na natureza de nossas
práticas e em que espaço é este: a escola.
Finalizando, afirmo que a escola é um espaço de quem
acredita no homem, de quem acredita na Educação.
Sandra N. de Paula Scutari
Marinina Beatriz Leite é pedagoga, licenciada em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e faz parte do Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes
Naete da Conceição Rosendo é pedagoga e coordenadora pedagógica da Escola Municipal Professora Noêmia
Real Fidalgo
Sandra N. de Paula Scutari é pedagoga, psicopedagoga, fonoaudióloga e professora da Escola Municipal Professora
Ana Lucia Ferreira de Souza
Momentos de aproximação
da comunidade nos novos
espaços de participação
e conhecimento
Eulália Anjos Siqueira
Como escreve Gaddoti
...descentralização e autonomia caminham juntos. A luta pela autonomia da escola insere-se numa luta maior pela autonomia no seio da própria sociedade. Portanto, é uma luta dentro do instituído, contra o instituído, para instituir outra coisa. A eficácia dessa luta depende muito da
ousadia de cada escola em experimentar o novo caminho de construção da
confiança na escola e na capacidade dela resolver seus problemas por ela
mesma, confiança na capacidade de governar-se. (Gadotti, 1995, p. 202).
O
aprendizado que advém da participação de todos na administração do processo educativo possibilita a cada um
dos sujeitos, individualmente e a todos coletivamente, o
crescimento como pessoa humana em todos os seus aspectos.
Para a comunidade, participar da gestão de uma escola significa
todo um aprendizado político no sentido de opinar, fiscalizar e cumprir decisões e também mudar sua visão de direção de escola, passando
a não esperar decisões prontas para serem seguidas e entender que a
escola deve ser cuidada e dirigida pela comunidade e seus usuários.
O diretor da escola é o elemento fundamental na elaboração do
processo participativo dentro da escola e junto à comunidade. A direção da escola deve, portanto, ter coerência entre o discurso e a prática,
as relações interpessoais e a competência técnica no desenvolvimento
das práticas participativas.
O processo participativo dessa construção é uma aprendizagem
contínua para todos os envolvidos que não se conquista da noite para
o dia, isso demanda uma profunda reflexão e pesquisa sobre a comunidade onde a escola esta inserida e ações de encorajamento para que
esta comunidade sinta-se processo vivo desta participação.
Abrindo-se à participação, a escola estará educando para a democracia e
para a cidadania, pois, a participação constitui a “viga-mestra da construção
da cidadania” (Pinto, 1995, p. 175).
Eulália Anjos Siqueira é pós-graduada em Gestão de Processos Ensino-Educação e Gestão da Educação Básica, diretora do CCII Professora Ignêz Maria de Moraes Pettená, voluntária da ONG Criança
Segura – SAFE KIDS e membro do Comitê Organizador do Fórum
Mundial de Educação Alto Tietê.
10
GADOTTI, M. (1995). A autonomia como estragégia da qualidade de ensino e a nova organização do trabalho na escola. In L. H. da Silva e J.
C. de Azevedo (orgs.), Paixão de oprender II. Petrópolis: Vozes
PINTO, J. B. G. (1995). Planejamento participativo na escola cidadã. In L. H. da Silva e J. C. de
Azevedo (Orgs.), Paixão de Aprender II. Petrópolis: Vozes.
GHANEM, Elice. Gestão Escolar Democrática: Alternativas de Apoio à Melhoria de Educação Pública.
Guia para Equipes Técnicas. São Paulo, Ação Educativa. Assessoria, Pesquisa e Informações, 1997.
ROMÃO, J. E. e Gadotti, M. (1993). A educação e
o município: Sua nova organização. Brasília: MEC.
PRÁTICAS DE ENSINO
Brinquedoteca
N
Lucia de Paula Pimenta
ossa brinquedoteca nasceu da necessidade de termos um espaço, em que a criança pudesse brincar
particularmente e com outras crianças.
A partir de algumas observações, analisamos que o papel da
brinquedoteca foi de extrema importância, pois conseguimos
identificar um vocabulário próprio da criança, suas formas de
interagir com os brinquedos, com outros colegas, como brinca e manifesta seus sentimentos em escala de valores, aprendendo a brincar. Reconhecemos que a brinquedoteca é um
espaço privilegiado, onde a criança se apropria de elementos
de cultura popular descobrindo novos significados, além de
incentivar sua criatividade. As estantes com brinquedos foram
colocadas ao alcance da criança, para que ela pudesse manusear livremente e fazer suas escolhas, descobrindo, manipulando
e explorando as diferentes formas de brincar.
Os jogos e as brincadeiras mudaram no decorrer dos tempos,
mas o prazer de brincar não mudou, e é assim que enxergamos nossas ‘excursões’ para a brinquedoteca. Como o espaço
é pequeno, colocamos horários semanais para cada turma. As
crianças aguardam ansiosamente para visitá-la. Colocamos algumas regras que estipulam que a criança brinque e guarde o
brinquedo onde encontrou. No chão, colocamos tapetes de
E.V.A., sendo proibido pisar com calçado.
Respeitamos o momento da criança que brinca sozinha
de forma concentrada, entendendo que pode contribuir na
qualidade de seu desempenho futuro. No mundo do faz-deconta traduz a dimensão de suas necessidades e possibilidades.
Às vezes, não imita a realidade, mas, ao contrário, é um meio
de sair dela, sendo um jeito de assumir um novo ‘estado de
espírito’. Essa é uma forma de brincar fundamental para um
desenvolvimento infantil saudável, razão pelo qual deve ser
tratado e subsidiado com seriedade.
Lucia de Paula Pimenta é coordenadora pedagógica da Creche São José Operário
SANTOS, Santa Marli Pires dos, Brinquedoteca, o Lúdico em
diferentes contextos, Editora Vozes , 2000 .
CUNHA, Nilse Helena Silva, Brinquedoteca, um mergulho no
brincar, Malteses, 2000.
LAROUSSE Ilustrado da Língua Portuguesa, São Paulo, Larousse
do Brasil, 2004.
11
Cedic incentiva a leitura
através de Monteiro Lobato
Nilcéia Aparecida Faria e Fanny de Jesus Canalli Almeida
“Um país se faz com homens e livros” venil brasileira.
“Livro é sobremesa: tem que ser posto dePor ser um grande nacionalista, suas
baixo do nariz do freguês” (Monteiro Lo- obras eram ligadas à cultura brasileira,
bato, 1920)
costumes da roça e lendas folclóricas.
Seus personagens brasileiros acabaram
aseado nessas afirmações e no por se fundir a personagens universais,
Projeto Político-Pedagógico da como os da Mitologia Grega, quadriescola, as coordenadoras do Cedic nhos e cinema.
(Centro de Divulgação e Construção do
Em 1920, quando escreveu seu primeiConhecimento), com o apoio da direção ro livro, A menina do Narizinho Arrebitado,
da Escola Municipal Benedito Ferreira Lobato havia notado que faltavam obras
Lopes – Caic, programaram no período para as crianças. Em uma carta escrita
de 16 a 20 de abril, a 1ª SEMANA DO para um amigo, ele diz: “Que é que nosLIVRO INFANTIL, envolvendo a Edu- sas crianças podem ler? Não vejo nada (...)
cação Infantil e Ensino Fundamental (1ª É de tal pobreza e tão besta a nossa literaa 4ª séries e 5ª a 8ª séries).
tura infantil que nada acho para a iniciação
Nesta semana, propositalmente, coin- dos meus filhos”.
cidente ao Dia Nacional do Livro Infantil,
Foi pensando nisso, que Lobato confoi homenageado o escritor Monteiro tinuou escrevendo livros infantis de suLobato, que com tanta brasilidade foi o cesso, dando início a mais importante
precursor da literatura infanto-juvenil de suas obras: a Coleção Sítio do Picapau
brasileira.
Amarelo (1921), que envolve várias hisJosé Bento Renato Monteiro Loba- tórias, como: O Saci, O poço do Visconde,
to nasceu em 18 de Abril de 1882 na As Reinações de Narizinho, Emília no país
cidade de Taubaté, São Paulo, e foi um da Gramática, e muitos outros.
dos mais influentes escritores brasileiros
Monteiro Lobato foi um homem
do século XX.
polivalente: escritor, fazendeiro, polítiPassou sua infância em uma fazenda co, advogado, jornalista, empresário, diem sua cidade natal. Cresceu, formou- plomata e editor de livros. Ufa! Achou
se em Direito e chegou à Promotoria tempo também para defender a idéia de
Pública. Entediado com a vida na cida- que no Brasil havia petróleo, o que ende pequena, começou a escrever Uru- riqueceria muito nosso país. Na época,
pês, em 1914 e para o jornal O Estado por volta de 1930, todos acharam made São Paulo, criando um dos seus mais luquice, por isso, acabou até sendo prepolêmicos e famosos personagens: Jeca so. Hoje, há poços de petróleo jorrando
Tatu, que foi considerado o símbolo do por todo o país.
atraso e miséria que representava o camFaleceu em 04 de Julho de 1948 e
po no Brasil.
por ser tão rica sua biografia e culminar
Pouco tempo depois, vendeu sua fa- na proposta do Cedic (“o ato de ler traz
zenda, mudando-se para a capital paulis- conhecimento, acesso à informação, estuta para tornar-se um escritor-jornalista. do e pesquisa”) que nesta semana, foram
Já há algum tempo em São Paulo, em apresentadas atividades voltadas à vida e
1918, comprou a Revista do Brasil. Nessa obra de Monteiro Lobato, enfatizando o
época deu início à literatura infanto-ju- Sítio do Picapau Amarelo, por ser a obra
B
12
mais próxima da realidade dos alunos.
O Cedic foi organizado, adequadamente, ao tema. As coordenadoras fizeram apresentações em retro-projetor
e teatro de fantoches para a Educação
Infantil e Ensino Fundamental (1ª a 4ª
séries), que contaram com a participação
da aluna Layza Campioto Fontana, da 7ª
série C no fantoche, e da aluna Açucena
Raphael dos Reis, da 6ª C, caracterizada
como Emília. Ambas do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), interagindo ativamente com os alunos, mostrando toda
as obra de Monteiro Lobato que fazem
parte do acervo do Cedic. Os alunos e
professoras, ainda, puderam participar da
história contada pelos fantoches: Emília
e Visconde de Sabugosa interagiram com
o narrador de um episódio. Ao término
destas apresentações, os alunos receberam atividades impressas: jogo da forca
envolvendo a história e pintura dos personagens do Sítio.
Para finalizar a semana, houve a premiação e escolha dos “Leitores do Mês de
Abril de 2007”, voltadas ao Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), onde foi escolhido, conforme critérios anteriormente estabelecidos, um aluno por série que
desenvolveu um texto com ilustração de
um livro lido do acervo da escola, durante estes primeiros meses. Estes, por sua
vez, receberam um livro como prêmio,
direcionado à sua idade, como incentivo
à leitura. Todos os envolvidos receberam
um marcador de livros com mensagem
de incentivo à leitura , como lembrança,
confeccionado pelas coordenadoras do
Cedic, para marcar a semana.
Nilcéia Aparecida Faria e Fanny de Jesus Canalli Almeida são coordenadoras
de Cedic da Escola Municipal Benedito
Ferreira Lopes - Caic
PRÁTICAS DE ENSINO
Um projeto de Sucesso:
Programa Caravanas do
Conhecimento
Paula Leme Dutra
O
Programa Caravanas do Conhecimento Redescobrindo o Interior – 2007, uma realização do Governo do Estado de São Paulo (Secretarias de Economia, Planejamento e Educação) e das Prefeituras Municipais,
é coordenado pela Fundação Prefeito Faria Lima – Cepam
e conta com o apoio das secretarias de estado da Cultura, de
Esportes, Lazer e Turismo, Saúde, Segurança Pública (Policia
Militar), Transportes (Artesp, DER, Dersa) e outras instituições,
como as companhias de água e energia elétrica.
O público-alvo são alunos da rede pública de ensino, com
idade de 9 a 11 anos, que não conheçam o interior paulista. Seu objetivo é criar oportunidades para os participantes
conhecerem o interior do estado, ampliar os horizontes dos
escolares, por meio da vivência social que a viagem proporciona e permitir que os alunos vivenciem uma nova ex-
periência cultural.
Todas as cidades visitantes, que aderem ao programa, têm
que constituir comissão municipal, designar um coordenador,
selecionar monitores, inscrever as crianças, formar a delegação
e providenciar o meio de transporte para a viagem e passeios
no interior e o lanche para a viagem de ida ao interior.
Uma das maiores dúvidas é quanto ao perfil do monitor da
cidade visitante. Ele deve ser maior de 21 anos, sendo necessário que tenha experiência anterior no trabalho com crianças
e goste desta atividade, seja reconhecido pela comunidade, especialmente pelas crianças e seus pais, e compreenda o alcance educacional e social do programa e participe do
treinamento ministrado pelo Cepam
Neste treinamento, são abordados os
seguintes assuntos: a presença constante
do responsável pela segurança e
13
Pirangi: uma viagem
inesquecível
atendimento das crianças; a consciência
de que o monitor representa, no interior,
o nome de seu município; atentar para a
proibição de levar acompanhante; estar
consciente de que, durante uma semana,
será o pai, a mãe, o tio, o professor, o
avô e, principalmente, o amigo de cada
uma das dez crianças e conscientizar-se
de que, dificilmente, sobrará tempo para
si próprio, em função do carinho e da
atenção solicitados pelas crianças nessa
faixa etária.
O papel do monitor é acompanhar os
preparativos da viagem, como a inscrição
para apresentar-se aos pais das crianças por
ele monitoradas até a realização do exame médico prévio e o preparo do lanche
a ser consumido na viagem de ida, além
da mala básica com roupas e objetos de
uso pessoal. Devem constar também: o
entrosamento com o grupo de crianças,
o estudo prévio da cidade hospedeira e
do percurso do ônibus no mapa rodoviário, elencar as principais cidades e trabalhar as expectativas das crianças sobre a
viagem. Durante a viagem, sua presença
é fundamental na exploração da cidade
pelas crianças, na verificazção das condições dos alojamentos e nos cuidados
de higiene e horários.
14
Nestas férias de julho, estudantes de
Mogi das Cruzes viajaram pelo Programa Caravanas do Conhecimento Redescobrindo o Interior para o município
de Pirangi. Foi uma viagem realmente
inesquecível, o cronograma oferecido
pela Prefeitura Municipal de Pirangi
foi excelente.
Saímos de Mogi das Cruzes no dia
16 de julho, segunda–feira, chegamos em
Pirangi após às 16 horas. A coordenadora local Valdenice Moraes nos recebeu.
Nos apresentamos e fomos conhecer
as acomodações da delegação. Enquanto nossas crianças eram acomodadas e
monitoradas pelos professores da rede
municipal de ensino, houve uma pequena reunião de monitores e coordenador
com a equipe de apoio do Município,
na qual pedimos um monitor homem
para acompanhar o banho dos meninos,
pois a nossa delegação só contava com
quatro monitoras.
Como a chegada foi tardia resolvemos
lanchar e esperar o jantar. Nossa preocupação era que as crianças comessem
sem interferir no jantar. Após o lanche,
visitamos os pontos atrativos e sócioeducativos da nossa cidade. O jantar
contou com a presença de autoridades
locais, como o prefeito e vereadores. Em
seguida, fizemos uma quadrilha onde
todos participaram, alguns levaram trajes caipiras e se caracterizaram, foi uma
festa para as crianças.
Na terça-feira, as atividades começaram às oito horas com o café da manhã
e o sorteio do amigo secreto. As crianças, que na sua maioria não se conheciam, tentavam descobrir quem era o
seu amigo sem contar para os demais,
foi uma verdadeira surpresa.
Visitamos a zona rural do município
e observamos a paisagem, o que mais
chamou a atenção foi o Coqueiro Torto (nossos alunos já tinham visto a foto
no site). As crianças ficaram conversando como o coqueiro tinha ficado desta
forma e levantaram algumas hipóteses:
‘Alguém deveria ter feito ele ficar torto!
Será que tinha caído um raio nele? Será
que aconteceu um incêndio nas proximidades e com o calor ele entortou?’
Ao retornarmos ao alojamento, almoçamos e conversamos sobre o passeio que
iríamos fazer: uma visita ao Museu de
Paleontologia de Monte-Alto. As crianças
adoraram, foi uma oportunidade ímpar.
Observaram, questionaram o monitor
do museu e tiraram fotos.
- “Nossa! Cabe todos nós na boca desse
bico!” – falou um dos meninos.
Retornamos com os alunos comentando sobre os ossos e as peças do museu. Os comentários foram muito bons.
Logo após o jantar, assistimos a um filme
no shopping de Bebedouro, cidade próxima à Pirangi. A expectativa era grande, não só pelo filme, mas pela cidade e
o shopping, todos queriam saber se era
igual o de Mogi. As meninas adoraram
as vitrines.
No dia seguinte, conhecemos a indústria de frutas e alimentos Val Rossi,
fabricante de goiabada e massa de
tomate. Todos se surpreenderam
com o processo de fabricação da
goiabada, eles observavam atentos às máquinas, às orientações
e se maravilharam ao verem as
embalagens, especialmente a
que eles consomem em casa.
Ficaram surpresos em saber
que uma indústria pode fabricar várias marcas.
À tarde, o parque do peãozinho em Barretos nos trouxe
grandes surpresas. Visitamos
o museu das festas do peão,
a arena e o Mini-zoológico,
enfim andamos o parque todo.
À noite, assistimos ao
jogo de handebol na cidade
de Taiaçú, que
era sede das
Olimpíadas
regionais.
Na quinta-feira, fomos para a cidade de Monte Azul Paulista, o passeio foi
organizado pela ONG Kawoas, que fez
uma apresentação de assuntos relacionados ao meio ambiente. Fizemos trilha na
mata ciliar com as crianças, descemos de
tirolesa e caiaque no rio Turvo. “Foi uma
aventura Radial!”, disse uma das meninas. Outra ressaltou: “Quando eu contar que nos fomos com um grupo, dois
policiais militares, dois bombeiros e uma
ambulância, ninguém vai acreditar”. As
informações oferecidas chocaram algumas crianças, mas eles perceberam que
depende deles o futuro do nosso planeta.
Todos podem usufruir a Natureza, desde que seja de maneira consciente. As
crianças firmaram o compromisso com
a preservação do meio em que vivem e
prometeram orientar a família quanto
aos danos ao meio ambiente, lixo jogado
nos rios e a falta de reciclagem.
À noite fomos para o município de
Vista Alegre do Alto, lá encontramos com
a caravana de Franco da Rocha 04 e nos
divertimos na discoteca realizada no clube
municipal. Ao voltarmos, foi realizada a
revelação do Amigo Secreto e nos preparamos para a volta para casa. No dia 20
de julho, sexta–feira, nos despedimos e
retornamos para Mogi das Cruzes.
Ficaram gravados em nossa memória todos os momentos, que vivemos lá.
Devemos agradecer o acolhimento e as
oportunidades de passeio, mas o destaque
fica para os policiais militares, soldados
Machado e Paulo, que nos acompanharam todos os dias, das 8 às 22 horas, foram
verdadeiros amigos e companheiros.
Paula Leme Dutra é professora de Educação Infantil e Fundamental I da Escola
Municipal Desembargador Armindo Freire
Mármora e CCII Prof. Takao Ikeda
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15
PRÁTICAS DE ENSINO
Perguntas para motivar
e desenvolver o aluno
Geraldina Porto Witter
P
rofessores e alunos precisam saber fazer perguntas, aspecto relevante para o desenvolvimento do homem, do cidadão,
da sociedade. A formulação de questões e a busca de respostas têm muitas bases e implicações. A Figura 1 apresenta
uma síntese que pode ser útil no contexto acadêmico.
Figura 1 - Relações entre Perguntar-Responder, Desenvolvimento e Aprendizagem
16
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As dimensões para gerar perguntas formuladas, tanto por
professores, como alunos, são: cognitiva, motivacional, crítica,
criativa e social. É preciso verificar se a pergunta formulada
ao aluno ativa estas dimensões. Quanto mais dimensões estiverem envolvidas, melhor é a sua qualidade, seu potencial para
levar o aluno a se desenvolver e a aprender. Uma pergunta
que pede como resposta a repetição do que o aluno leu, ou
da fala da professora, tem potencial de desenvolvimento próximo do zero. Já uma pergunta que solicite do aluno comparações, inferências, observação, busca de outras informações
ativa melhor a cognição, exercita vários de seus potenciais.
Gera desenvolvimento.
Para que o perguntar-responder seja produtivo é necessário, como em qualquer atividade que vise aprendizagem e
mudanças significativas que a dimensão motivacional, ou seja,
o aluno seja motivado a buscar resposta e a formular outras
questões. Entre: o que diferencia o cão do gato? e Quais as
características do cão? Fique com a primeira pergunta, mais
ampla, requer melhor uso das informações, comparações. Portanto tem maior envolvimento cognitivo, mas também tem
maior potencial motivacional, podem ser usadas as vivências
pessoais agradáveis e mesmo desagradáveis com os dois animais.
Estimule seus alunos a recuperar as boas lembranças.
A dimensão crítica também deve ser cuidada tanto no formular perguntas, como no responder. Ao receber uma resposta estimule seu aluno a analisá-la criticamente e a melhorar a
resposta. A crítica deve ser sustentável logicamente, com dados e outras informações. Tanto a pergunta como a resposta, sempre podem ser melhoradas. Permita que seus alunos
analisem, critiquem e reformulem a pergunta feita por você.
Mesmo em situações de avaliação permita que uma pergunta
seja feita e respondida por ele, na avaliação leve em conta no
julgamento os dois aspectos.
Fazer perguntas e responder implica também em um compromisso com a dimensão criativa. O docente e o aluno precisam manter sua criatividade em desenvolvimento, além do
que ela é essencial para a saúde psicológica. Faça perguntas
que requeiram respostas criativas. Por exemplo: Como podemos aproveitar melhor o espaço da sala de aula usando o que
sabemos de geometria? Analise as respostas criativas sendo crítica, mas nunca punitiva. Punir mata a criatividade. Estudado
um assunto peça que formulem a melhor pergunta, cada vez
mais criativa. Responda as melhores com eles. Elogie todas
as tentativas e oriente para que sejam melhores.
A dimensão social também deve ser cuidada não apenas
no perguntar-responder, mas na consideração do contexto de
vida vivenciado pelos alunos, quando se trabalha a formação
da cidadania, dos valores, etc. Pergunte e solicite questões que
relacionem o que estão aprendendo na escola com sua vida,
com o que ocorre na comunidade, no país.
Conforme a figura indica, o desenvolvimento da competência de perguntar-responder em professores e alunos, considerando as dimensões referidas traz muitos benefícios. Os
cuidados devem abranger todas as atividades ao longo do currículo, durante todo o ano letivo. Deve ser responsabilidade
de todos os envolvidos no processo educacional. Desta forma
serão obtidas mudanças efetivas conceituais, afetivas, motivacionais, sociais. Crescer, aprender, cooperar, etc, tornam-se mais
prazerosas, retém-se mais e por mais tempo aprendido.
É preciso estar atento com o que e como se formulam perguntas e estimular os alunos para que também saibam fazer
melhores perguntas. Espera-se que alunos perguntem mais
do que os professores, os quais devem lembrar que, vinda do
aluno, nenhuma questão é fraca, errônea, inadequada ou impertinente. Ela espelha o que lhe foi passado em termos de
competências e habilidades. Procure sanar a falha da vivência
acadêmica do aluno, não o puna por falha do sistema. A Autoavaliação do comportamento docente no que concerne ao
tema deve ser uma constante. Cheque as questões que tem
apresentado aos alunos nos exercícios, nas provas, nas aulas. Veja
se está cuidando de desenvolver todas as dimensões. Discuta
com colegas e equipe técnica a qualidade do perguntar-responder que se tem na escola.
Empenhe-se em melhorar este aspecto da qualidade de
ensino. Será gratificante.
Geraldina Porto Witter é pedagoga, psicóloga, doutora em Ciências (Psicologia) - USP e livre docente em
Psicologia Escolar na Unicastelo
17
PRÁTICAS DE ENSINO
ARTE, DOM OU
APRENDIZADO?
Márcia da Silva Gonçalves
A
idéia surgiu em meados de abril, quando o grupo responsável pela homenagem ao dia das mães da Escola
Municipal Dr. Álvaro de Campos Carneiro pensou
sobre o convite para a festa e a idéia foi entregue ao grupo de
professores. Ao receber o convite, eu não tinha idéia da beleza da obra e do artista plástico, então como passar aos meus
alunos da 2ª série tamanha beleza?
Penso que por estar envolvida no projeto “Tocando, Cantando... Fazendo Música com Crianças” de uma forma mais
intensa e não estar tão envolvida com o trabalho de Artes Visuais; às vezes, desconhecemos alguns artistas plásticos, mas
fui em busca do meu objetivo: conhecer esta e outras obras
do artista.
A partir de então iniciei a pesquisa com alguns professores
da rede e, logicamente, pela Internet sobre o artista plástico e
suas obras. O trabalho foi gratificante, pois descobri diversos
trabalhos do artista plástico de encantadora beleza, criatividade e otimismo, inclusive a obra do convite Mother and Child
(Maternidade), do artista plástico Romero Britto.
Por meio do site de Romero Britto (www.romerobritto.
com.br), utilizei a sala de informática com a ajuda dos monitores Valente e Rejane para mostrar aos alunos a biografia
e as obras do artista. As crianças, ao terem acesso ao artista
brasileiro nascido em Recife/PE e suas obras, ficaram encantadas com as cores utilizadas que expressavam muita alegria.
Orientei os alunos quanto à reprodução. Perguntei se teriam
interesse em reproduzir a obra Mother and Child, como convite para a homenagem às mães. Embora não demonstrasse,
tive um certo receio ao ouvir a resposta “sim”, pois em minha vida e carreira não havia trabalhado com reprodução de
obras; mas como diz o ditado “quem está na chuva é pra se
molhar”, colocamos as mãos na massa.
Traçando um elo entre a Arte e a Música, os alunos fizeram
a reprodução e ensaiamos com as outras turmas de 2ª série, as
músicas: Minha Mãe e Amor de Mãe, cantando e com alguns
gestos para deficientes auditivos (libras), curso oferecido pela
rede municipal de ensino de Mogi das Cruzes.
Assim foi realizado esse trabalho inicial, em que a reprodução da obra Mother the Child, de Romero Britto foi entregue
18
como convite para a homenagem às mães ao som das músicas que ensaiamos. A atividade aconteceu no Ginásio Municipal de Jundiapeba.
Ampliando o trabalho
Uma vez vencido o desafio, porque pelas crianças foi um
sucesso, decidi fazer o mesmo trabalho com os alunos da 1ª
série da Escola Municipal Prof. Eulálio Gruppi, em parceria
com a professora Sandra, que gostou da idéia. Os alunos entusiasmados fizeram a reprodução da obra e montamos um
Painel de Exposição.
Aprofundando um pouco mais o estudo nas obras de Romero Britto, traçamos um elo com a música, pois estávamos
nos preparando para o 2º Dia Temático: Literatura e Expressão
Artística e a Festa Junina. Reuni os alunos na sala de Informática, onde acessamos o site do artista e observamos as obras.
Fizemos uma ligação com o tema Festa Junina e escolhemos
duas obras para reprodução: Grand Slam Cheek To Cheek (Rostos Colados) e Dancers (Bailarinos). As crianças disseram: “eles
estão dançando, parece a nossa dança”.
Fizemos a reprodução dessas obras e trabalhamos a ciranda com a música: Vamos Indo, com direito à dança, canto e
arranjo musical. Além das músicas: O Pomar, Fome-Come e A
sopa, com arranjos musicais e expressão corporal, sendo que
estas últimas músicas, nós, professoras das turmas de 2ª séries, trabalhamos no primeiro bimestre, porque faziam parte
do nosso tema frutas e legumes. Montamos um painel com
as reproduções dos alunos das obras de Romero Britto e sua
biografia e outro com pinturas sobre Meio Ambiente, o qual
denominei Pequenos Artistas.
Aproveitando tudo que já havíamos trabalhado, nos preparamos para o 2º. Dia Temático: Literatura e Expressão Artística, onde realizaríamos a Exposição de Arte e a Oficina
de Música. Para a exposição, algumas professoras das turmas
também reproduziram algumas obras de arte do artista plástico Alfredo Volpi e outras confeccionaram instrumentos musicais com sucata.
Não me dando por satisfeita, fui em busca de um artista
plástico de nossa região para que pudesse entrevistá-lo e se
possível trazer suas obras para a nossa exposição. Conheci o
artista plástico Policarpo Ribeiro, residente em Mogi das
Cruzes, que leciona artes no Centro Cultural de Suzano e foi
contemplado com a medalha de prata, do ano Brasil –França,
em maio de 2006, pela Academia de Artes Ciências e Letras
da França. Pesquisei também suas obras em seu site (www.
policarporibeiro.com.br), em que pude apreciá-las e admirálas. Algumas delas eram composições plásticas musicais.
Ao visitá-lo no Centro Cultural de Suzano, fiquei encantada com a beleza de uma enorme tela e solicitei sua permissão para fotografá-lo junto à mesma, tirei fotos de outras telas também. Policarpo Ribeiro emprestou algumas de
suas telas e de outros artistas para a que pudesse colocá-las
na exposição do Dia Temático.
Comentei com os alunos sobre o artista plástico de nossa
região, visitamos seu site na sala de Informática, sempre com
ajuda dos monitores Valente e Rejane, e decidimos pela reprodução de uma de suas obras que havia fotografado para
enviar como convite do 2º Dia Temático.
Montamos o painel do artista mogiano com sua biografia,
obras em galerias, fotos de seus trabalhos, locais de exposições
e experiência profissional. Com ajuda do monitor Valente,
criei um marcador de livro com a obra de Policarpo Ribeiro
para entregar aos pais como lembrança do 2º Dia Temático,
onde, nós, professoras das turmas de 2ª serie, ficamos com a
“Oficina de Música e Exposição de Arte”.
Os pais participaram junto com seus filhos e ficaram encantados com as atividades realizadas. Criamos novos arranjos com as músicas Pomar, A sopa e Fome-Come. Eles puderam admirar as telas e o painel de Policarpo Ribeiro, as
reproduções dos seus filhos das obras de Romero Britto e
Alfredo Volpi e a confecção dos instrumentos musicais construídos com sucata.
Na Escola Municipal Prof. Eulálio Gruppi também realizamos a reprodução da obra de Romero Britto, Grand Slam
Check To Check (Rostos Colados), com as turmas de 1ª série,
em que sugerimos que esta poderia ser o convite da Festa
Junina. Nossa coordenadora reproduziu o painel que ficou
maravilhoso, o convite foi um sucesso. Tudo isto foi possível com o apoio e a união da direção, coordenadora e professoras de Educação Infantil e Ensino Fundamental, pois
como diz o ditado “uma andorinha só não faz verão”. Os
pais ficaram entusiasmados com as reproduções das obras
de seus filhos, um deles nos perguntou: “foi meu filho mesmo quem fez?”.
Que possamos acreditar a cada dia nas potencialidades
das crianças e do ser humano como um todo. Enfim, que
continuemos buscando a resposta da pergunta: Arte, Dom
ou Aprendizado?
Artista plástico
Policarpo Ribeiro
Quer saber mais?
www.romerobritto.com
www.policarporibeiro.com
www.pitoresco.com.br (A Pop-Art de
Romero Britto agora em livro)
Márcia da Silva Gonçalves é professora do Ensino Fundamental com especialização em Educação Física das Escolas Municipais Dr. Álvaro de Campos Carneiro e Prof. Eulálio Gruppi
19
PRÁTICAS DE ENSINO
Interdisciplinaridade:
um desafio a ser
compartilhado
Giane Nunes de Mello
I
nício de um novo ano letivo. São
muitos planos, novos alunos, um
recomeço que assusta, mas que, ao
mesmo tempo, estimula o educador na
busca dos ideais que norteiam seu trabalho. Assim, nas entrelinhas do processo
de globalização, é fato admitir a necessidade de que a educação acompanhe
o desenvolvimento de linhas e projetos
que almejam um trabalho mais que coletivo e, sim, contextualizado.
Como várias outras terminologias,
a palavra interdisciplinaridade invadiu
o vocabulário utilizado nas instituições
escolares. Será que realmente esse termo
é compreendido da maneira correta?
20
Ao definirmos o termo interdisciplinaridade podemos dizer que esta acontece quando duas ou mais disciplinas relacionam seus
conteúdos para aprofundar o conhecimento.
(NOVA ESCOLA:55, 2004)
Talvez seja na prática pedagógica, a
melhor forma de enxergarmos a real
concepção dessa palavra que representa
um trabalho que, se bem desenvolvido,
pode mudar a realidade educacional
em nossas escolas.
Em todo Brasil, muitos profissionais desenvolvem belíssimos projetos
neste sentido. Sabemos disso por meio
de relatos de experiências publicadas
em periódicos educacionais especia-
lizados. Ninguém pode negar que esse “desafio” suscita
dúvidas e questionamentos, por isso, torna-se importante que cada vez mais educadores exponham seus projetos, auxiliando aqueles que ainda têm receio de lançar-se
nessa caminhada.
Gostaria, neste espaço, de maneira breve, relatar uma
experiência que está sendo trabalhada por mim e minha
companheira de período e série neste ano letivo. Isso por
tratar-se justamente de uma busca do processo interdisciplinar em nosso cotidiano em sala de aula. O primeiro
passo refletiu nosso interesse comum em falarmos de algo
de suma importância para a formação integral de nossos
alunos de 4ª série. Em seguida, chegamos ao consenso de
que o tema gerador mais apropriado seria o Meio Ambiente, numa abordagem ampla. Sendo assim, dividimos
nossa proposta em temas desenvolvidos bimestralmente.
São eles, em seqüência: Água, fonte de vida; Aquecimento Global; Fauna e Flora Brasileira; Animais em extinção
e Qualidade de Vida.
É importante dizer que nós, professoras, ministramos
aulas em nossa unidade escolar por disciplinas. Isso pode
parecer, no início, um pouco complicado, mas dá prazer
viver o dia-a-dia do processo e sua aceitação pelos alunos, nosso maior foco. Facilitar a aprendizagem e tornála concreta também traz às aulas um novo aspecto, uma
nova motivação. Os alunos compreendem nossa proposta
e logo começam a interagir.
Neste primeiro bimestre, o tema sobre água fez com
que nossos alunos lessem textos diversificados como: reportagens, pesquisas, letra de músicas e outros. Também,
possibilitou que ampliassem seus conhecimentos matemáticos, utilizando esses mesmos suportes textuais na
construção de gráficos, experiências, trabalhos de artes;
como também usaram as ferramentas que a informática
lhes oferece. Todas essas atividades trouxeram a oportunidade para que os alunos debatessem um problema mundial, que faz parte de sua formação como cidadão crítico,
consciente e ativo em sua sociedade.
Está sendo maravilhoso compartilhar esse exercício de
reflexão e ação, podendo contar não só com ajuda de minha colega de trabalho, mas também com a participação
dos alunos, que propõem idéias e sugestões, trazem novidades de casa sobre o tema e, o mais importante, conversam entre si e discutem com sua comunidade sobre o
que estão aprendendo na escola.
Acreditamos ser possível, ao final deste ano letivo, quando finalizaremos nosso trabalho, sentir que o objetivo de
colocarmos o conhecimento específico a serviço dos estudantes ultrapassou as barreiras das disciplinas e construiu um olhar global num mundo que precisa de pessoas
preocupadas e engajadas com o futuro do planeta. Neste
aspecto, a união dos conhecimentos assim como a união
dos seres humanos é que fará a diferença.
Giane Nunes de Mello é graduada em Letras, pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Braz Cubas e
professora nas Escolas Municipais Profª Ana Maria Barbosa Garcia e Maria Colomba Colella Rodrigues.
Quer saber mais?
www.sabesp.com.br (Sabesp ensina/sala do professor)
www.aguaecidade.org.br
www.pura.poli.usp.br
www.infohab.org.br
Revistas: Nova Escola, Ciência Hoje e Amigos da
Natureza
21
PRÁTICAS DE ENSINO
Projeto Democratizando
comunidad
E
m 2007, a Prefeitura de Mogi das Cruzes por meio de
sua Secretaria de Educação iniciou o Projeto Democratizando a Informação. O programa visa facilitar o
acesso à informação dinamizando e incentivando a prática de
leitura, além de proporcionar à comunidade condições para
pesquisas, trabalhos e cursos básicos de informática.
O trabalho é feito em parceria pela SME e a Associação de
Pais e Mestres (APM) de 25 escolas municipais que contam
com sala de informática e Centro de Divulgação e Construção
do Conhecimento (Cedic). A administração municipal repassa
recursos para as associações para o pagamento de agentes de
leitura e de informática que atuam nas unidades aos sábados
e domingos. A Secretaria oferece capacitação aos agentes e
acompanha a execução do projeto.
A tarefa destes profissionais não é somente acompanhar o
projeto, mas sim desenvolver ações para envolver a comunidade. Na área de informática, uma das propostas é oferecer
cursos básicos, quanto aos agentes de leitura, eles devem propor atividades que incentivem a leitura, a partir de seu conhecimento do acervo literário da escola.
Cartão-postal e Hora do
Conto no Parque São Mar
tinho
Escolas como a Profª Wanda
de Almeida Trandafilov, no
Parque São Martinho, também
agente de leitura Michele
contam com atividades no
Ramos do Nascimento des
Cedic. A
envolveu trabalhos interess
antes unindo leitura e ofic
inas de artes.
Projeto Cartão-postal – Ani
versário de Mogi das Cru
zes
Inicialmente, foi apresenta
da a literatura referente
a nossa cidade e como mat
Revista “Educando em Mog
erial complementar exempl
i”, assim como fotos da cida
ares da
de em diferentes moment
Em contato com todo esse
os: a cidade antiga e a atu
material, as crianças da com
al.
unidade puderam analisar,
seu próprio Cartão-postal
comparar e, por fim, confec
, retratando da melhor form
cionar
a a cidade onde moram.
materiais, como tinta, lápi
Para a ilustração utilizaram
s de cor e areia. Os cartõe
diferentes
s criados serão trocados pos
teriormente.
Projeto Hora do Conto
Para estimular a leitura no
universo infantil, proporcion
Conto seguida de uma ofic
ando momentos agradáveis
ina de arte (recriação ou
de prazer e alegria, a Hor
reprodução da história por
a do
pintura, enfim, tudo aquilo
meio de desenhos, maquet
que manifeste a expressão
es, recortes,
de sentimentos e aspirações
valioso instrumento no resg
do seu criador) têm se rev
ate do contato com o mun
elado um
do mágico da leitura. Atra
leitura, sejam elas clássico
vés das histórias narradas
s da literatura, como Os
pela agente de
três porquinhos, ou o livr
dia Ramos e Ana Raquel,
o Todo mundo tem família
ou até mesmo, as lendas
, de Anna Clauque fazem parte do nosso
respeito, solidariedade, ami
Folclore, foram trabalhados
zade e responsabilidade.
valores, como:
Apó
s a leitura e discussões,
oficinas tem trazido resultad
o envolvimento na partici
os bastante satisfatórios,
pação das
o que deixa a equipe escolar
muito feliz.
Equipe escolar da EM Pro
fª Wanda de Almeida Tra
ndafilov
22
a Informação mobiliza a
e em Mogi
O Cedic na EM Dr. Isidoro Boucalt
a Municipal Dr. Isidoro Boucalt,
portuguesa e agente de leitura na Escol
Felipe Roberto Martins é professor de língua
g.terra.com.br/, onde dá dicas
o projeto http://democratizandoisidoro.blo
na Vila da Prata. Ele montou um blog sobre
meses do projeto passaram
iros
prime
o
quatr
nos
e livros. Segundo o agente,
dicas de sites, indica outras bibliotecas
e
do agent de leitura.
visitado 1.338 vezes. Veja o depoimento
pela escola 600 usuários e o blog já foi
ovido pela Prefeitura Municipal de
prom
,
ação”
Inform
a
o
to “Democratizand
“Fiquei sabendo das inscrições para o Proje
Municipal “Benedicto Sérvulo de
ca
Públi
de Educação (SME), na Biblioteca
Mogi das Cruzes, por meio de sua Secretaria
ou a atenção foi o engajamento e a funapaixonei pela idéia. O que mais me cham
Sant´Anna”. No instante, acreditem, me
intelectuais e econômicos do município.
ais,
cultur
s,
presentes aos interesses sociai
damentação político-didático-pedagógica
os Centros de Divulgação e Consresidem ao redor da escola contariam com
Os estudantes e a própria comunidade que
r aproveitamento do acervo
melho
um
aria
rcion
propo
que
o
aos fins de semana,
trução do Conhecimento (Cedic), abertos
inclusão cultural e digital.
deira
verda
Uma
à internet para leitura e pesquisa.
literário e dos computadores conectados
ressaltou a boa utilização, organina Escola Municipal Dermeval Arouca, que
No início do projeto, tivemos uma capacitação
sou agente de leitura, notei nas
que
em
a
escol
Na
ar.
amentos do prédio escol
zação e conservação das dependências e equip
to,
proje pois eles não possuem acesso a
s e de outras pessoas que participavam do
primeiras semanas, a felicidade dos aluno
ificado com obras para todas as idades
divers
o
gráfic
biblio
o
A escola tem um acerv
livros e computadores em suas residências.
Maria Machado e Monteiro Lobato e
Ana
de
Saint Exupéry; livros infanto-juvenis
(livros infantis de Eva Furnari, Antoine de
ias, gibis, revistinhas e revistas educado, Machado de Assis), além de enciclopéd
para adultos como os de Aloísio de Azeve
to adquirido com alegria. Trata-se
cimen
conhe
ao
o
proporcionam a todos, o acess
cionais. Os Cedics não oferecem só livros,
lizado com TV e aparelho de DVD.
ada às novas necessidades do mundo globa
de uma biblioteca multimídia, “legal” e anten
primeiro visa incentivar profeso
que
sendo
,
vídeo
de
de leitura e outro
Foram criados ainda dois circuitos: um
uso do acervo de DVDs educao
izar
à leitura e o segundo procura dinam
sores, funcionários, estudantes e pais
es aos sábados e aos domingos.
inares a todos os interessados com sessõ
cionais do CEDIC em exibições interdiscipl
de empregos, uma ajuda para
ios
anúnc
e
na
sema
que trazem os destaques da
Recebemos jornais nos finais de semana,
ares, utilizando conscienescol
lhos
am na impressão de currículos e traba
quem está desempregado. Os agentes auxili
tos adquiridos em quaiscimen
conhe
os
iar
ampl
para
ou
r
de ler por praze
apenas aos sábados e
temente o espaço. Enfim, para quem gosta
es
nidad
comu
as
os
m para os CEDICs, que não são abert
informação é a nossa
a
quer áreas, fica aqui um convite, venha
ar
Democratiz
os para comunidade durante a semana.
ores culturais, resdomingos, consulte os horários programad
plicad
multi
de
ão
geraç
a
para
a, mobilizando a sociedade
e a violência,
idade
ocios
missão, incentivando o prazer pela leitur
a
,
assim
,
adas para jovens e crianças; diminuindo
gatando em atividades “legais” e fundament
de”.
verda
de
s
ãos críticos e felize
contribuindo para a consciência de cidad
ESPECIAL
Bom dia,
mundo bom
Janete Ignez Gomes Henriques
E
ste foi o tema escolhido pelo Concurso de Redação Ler é
Preciso, realizado pelo Instituto Ecofuturo, em que todos
os alunos da Escola Municipal Profª Marlene Muniz Schimidt participaram. O objetivo foi contribuir para que mais e mais
pessoas leiam e escrevam com competência.
A escola recebeu o livro A vida que a gente quer depende do que a
gente faz, com textos escritos por pesquisadores e literatos brasileiros como suporte para professores e alunos.
O titulo destaca nossa responsabilidade em fazer deste país e
deste planeta um lugar onde as pessoas possam ter acesso à educação de qualidade e viver com dignidade. Incentivamos nossos alunos a escreverem a redação, especificando a leitura, a reflexão e a
manifestação pela escrita, convidando-os a olhar para a realidade
presente e focalizar o futuro.
Entre as produções realizadas pelos alunos, a redação de
Nauani de Oliveira Santos da 4ª ”C”, aluna da professora Cleide Aparecida do Prado, foi a que melhor enfocou a importância de estarmos de
bem com a vida e vê-la com um olhar de
alegria e confiança.
A escrita da aluna nos mostra um
exemplo de simplicidade, fazendo
crescer em nós o desejo de contribuir com o nosso melhor e
assim nos aproximarmos do
melhor lugar do mundo.
Janete Ignez Gomes Henriques
é coordenadora pedagógica da
Escola Municipal Profª Marlene
Muniz Schmidt
24
Janete Ignez Gomes Henriques é coordenadora pedagógica da Escola Municipal
Profª Marlene Muniz Schmidt
25
ESPECIAL
A Ação Comunitária
no ProJovem
Equipe do ProJovem de Mogi das Cruzes
O
ProJovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens) configura
uma modalidade alternativa de educação pública que oferece a
oportunidade de reinserção na comunidade escolar e de inclusão social, destinada a jovens com idade entre 18 e 24 anos que concluíram
a 4ª série, porém não terminaram o Ensino Fundamental e estão fora do
mercado formal de trabalho. Além das disciplinas básicas (Línguas Portuguesa e Inglesa, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza),
os estudantes do ProJovem, em Mogi das Cruzes, contam com aulas de
Ação Comunitária e de Qualificação para o Trabalho nas áreas de Administração e Esporte e Lazer.
A disciplina de Ação Comunitária tem o objetivo de promover o desenvolvimento humano comunitário tendo, como foco, a ampliação da capacidade organizacional de grupos e comunidades por meio da gestão comunitária e do aprendizado produtivo. Para tanto, os estudantes devem, no
primeiro semestre do curso, fazer um diagnóstico dos principais problemas
que a juventude enfrenta atualmente, eleger prioridades e planejar uma ação
comunitária coletiva, a partir das potencialidades locais. Tal ação comunitária deve ser executada e avaliada no segundo semestre do programa.
Vale ressaltar que o público-alvo do ProJovem é composto, em grande
parte, por jovens considerados “problemas” em suas comunidades locais.
Sendo assim, a Ação Comunitária do programa oferece a esses estudantes uma oportunidade de protagonizarem uma ação social positiva, o que
possibilitaria uma transformação - para melhor - de suas imagens junto à
comunidade escolar e local, a partir do engajamento cidadão voluntário e
da formação de valores solidários.
Os estudantes da 1ª entrada do programa em Mogi das Cruzes escolheram
os seguintes temas para seus Planos de Ação Comunitária (PLAs): Alcoolismo, Drogas, Tabaco, HIV/AIDS e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), Violência doméstica, Gravidez na Adolescência, Criminalidade,
Preconceito, Cultura, Lazer, Uso Racional da Água, Segurança no Trânsito,
Campanha do Agasalho, Saneamento Básico e Pavimentação.
Ao final do curso, espera-se que os estudantes do Projovem tenham
conseguido construir as seguintes aprendizagens: os desafios do trabalho
coletivo em equipe e da gestão compartilhada (distribuição de tarefas e
tomada de decisões); os efeitos provocados pelo PLA nos seus beneficiários e atingidos; as novas competências, habilidades e sensibilidades proporcionadas aos jovens executores pela concretização do PLA; o sentido
da experiência vivenciada pelos jovens no que se refere à participação e
ao exercício da cidadania.
26
ESPECIAL
Desfile cívico-militar
atrai 15 mil pessoas
ao Mogilar
Marco Aurélio Sobreiro
U
m público estimado em 15 mil pessoas aproveitou
o dia 1º de setembro, um sábado quente e ensolarado para acompanhar o desfile cívico-militar que
marcou o 447º aniversário de Mogi das Cruzes, realizado na
avenida Professor Ismael Alves dos Santos, no Mogilar. Fanfarras, escolas, atletas, policiais militares e soldados do Tiro de
Guerra local homenagearam a cidade e empolgaram as famílias que compareceram ao evento, que se encerrou pouco
antes do meio-dia.
Neste ano, o tema do desfile foi “Educação: Protagonismo
na Diversidade”, inspirado no Fórum Mundial de Educação
Alto Tietê, realizado entre os dias 13 e 16 de setembro, em
Mogi das Cruzes. Entre o público presente, o sentimento era
de alegria. Uma das mais animadas era a professora Terezinha
de Jesus Silva Too, moradora do distrito de Braz Cubas. Ela
chegou logo cedo ao Mogilar e acompanhou de perto a passagem do desfile. Disse ter orgulho de viver em Mogi, uma
cidade que, segundo ela, “fica melhor a cada dia”.
27
Convidada a falar ao microfone pelos apresentadores oficiais do evento, Terezinha agradeceu pelo desenvolvimento de
Mogi. “O desfile está lindo, o município vem progredindo a
olhos vistos e nós temos que ressaltar o bom trabalho que está
acontecendo aqui”, disse, sendo aplaudida pelo público.
Do outro lado da avenida, a costureira Benedita Fonseca
Carvalho, de 42 anos, observava a passagem das fanfarras ao
lado da filha Bruna, de 10 anos. Segundo ela, Mogi é uma
cidade que vem se destacando principalmente na educação
– área que, segundo ela, é a base para o progresso de qualquer
localidade. “A gente vê que as escolas melhoraram muito. As
crianças têm ótimos professores, boa merenda e atividades que
complementam os estudos, como formação musical. Com isso,
a garotada terá mais chances quando crescer”, frisou.
Empregos
A geração de empregos foi outro assunto comentado pelas pessoas que assistiram ao desfile deste sábado. O soldador
Antônio Fernando Sampaio e o aposentado Henrique Maia
conversavam sobre a chegada de novas empresas à cidade e
chegaram a uma conclusão – atualmente, os jovens têm acesso
a boas oportunidades de emprego em Mogi, sem a necessidade de se deslocarem para outros municípios.
“A cada dia que passa, recebemos a notícia de que uma
fábrica ou um supermercado abriu as portas na cidade. Isso
é muito bom, porque todos os jovens precisam trabalhar. E,
para que isso aconteça, alguém precisa dar a primeira chance. Pelo que estou vendo, nos últimos anos a cidade avançou
muito nessa área. Quem está com os estudos em dia e quer
uma oportunidade acaba encontrando”, observou Sampaio.
Marco Aurélio Sobreiro é jornalista com especialização em
Comunicação Jornalística e mestre em Comunicação e Mercado pela Faculdade Cásper Líbero
28
29
ESPECIAL
Primeiro bloco do
Cemforpe é inaugurado
Marco Aurélio Sobreiro
N
o dia 5 de setembro, foi inaugurado o primeiro bloco do
Centro Municipal de Formação Pedagógica (Cemforpe), localizado
no bairro Nova Mogilar. O prédio entregue possui 4.037,89 metros quadrados e abriga um amplo auditório com
ar-condicionado e capacidade para 620
lugares, com previsão de chegar a 800
poltronas até o final deste ano. O edifício conta ainda com espaço de entrada,
camarins e um elevador específico para
pessoas portadoras de necessidades es-
30
peciais com acesso ao palco.
O Cemforpe é um espaço moderno
e aconchegante e, não é exclusivo da
Prefeitura Municipal, mas sim de toda a
cidade de Mogi das Cruzes. O objetivo
é abrigar os eventos de educação e se
transformar em um importante ponto
de referência para os educadores, sejam
eles das redes municipal, estadual ou
particular. “A educação é o grande elo
de transformação e aprimoramento de
qualquer sociedade. Neste momento
histórico, quero ressaltar a alegria que
todos nós devemos sentir por sermos
brasileiros”, disse o prefeito Junji Abe.
Concebido para promover o aperfeiçoamento
contínuo do magistério, o Cemforpe
contará com mais dois blocos. O de
número 2, chamado de Didático, terá
biblioteca, videoteca, salas de aula, de
música, de estudo, de reunião, laboratório
de informática e setor administrativo.
Haverá ainda o bloco 3, o Multiuso,
que acomodará mais um auditório,
para 150 pessoas, e salas de recepção e
almoxarifado.
Solenidade
A inauguração teve início com o hasteamento das bandeiras do Brasil, do Estado de São Paulo e de Mogi das
Cruzes, e a execução do Hino Nacional. Em seguida, o
prefeito municipal e as autoridades descerraram a placa
oficial da obra e cortaram a fita inaugural do prédio. O
chefe do executivo conduziu os convidados ao auditório, onde todos se acomodaram para o início dos discursos.
O Cemforpe faz parte do Plano de Governo Participativo (PGP) da atual Administração Municipal e existe desde 2001, ainda que não contasse com um espaço próprio.
Apesar disso, nestes seis anos foram realizados 472 eventos,
com 46.106 vagas oferecidas.
Visivelmente emocionada, a secretária municipal da educação Maria Geny Borges Ávila Horle destacou que o espaço inaugurado será de todos os educadores, e não apenas
da rede municipal de ensino. O espaço proporcionará uma
fusão entre as ações educacionais e culturais – duas realidades que caminham juntas. “Não existe educação sem cultura,
e nem cultura sem educação. São dois pólos que caminham
juntos, contribuindo decisivamente para a formação de cidadãos mais conscientes e capazes”, disse.
Apresentações
Apresentações artísticas encantaram o público. Quatro
crianças da academia Regina Balet dançaram o tema “A Bela
e a Fera”. O número seguinte – “O negro e o samba” - foi
apresentado por 10 crianças do Pólo Comunitário de Cultura
de Cezar de Souza, que funciona na Escola Municipal Cynira
Oliveira de Castro. Em seguida, a Banda Sinfônica Jovem
Mário Portes executou a música do filme “Rocky, o Lutador”
e uma seqüência de músicas-tema de filmes e seriados de TV.
As apresentações mostraram toda a capacidade acústica do
auditório, tanto que o prefeito Junji Abe convidou as autoridades – que estavam na primeira fila – para sentarem-se
no meio da platéia, a fim de que todos observassem melhor o espetáculo. “Temos aqui um ambiente confortável
e aconchegante, que abriga perfeitamente apresentações
como estas”, completou o prefeito.
Marco Aurélio Sobreiro é jornalista com especialização
em Comunicação Jornalística e mestre em Comunicação
e Mercado pela Faculdade Cásper Líbero
31
ESPECIAL
Uso dos espaço s púb
Algumas Memórias d
atual Le
Ana Clara de Almeida Correia
Q
uem é mogiano e nasceu na
década de sessenta ou setenta,
deve ter mais claramente nas
memórias de sua infância, lembranças
saudosas de lazer em família, brincadeiras com os amigos, aventuras pueris do
que foi para muitos de nós a referência
em diversão, contato com a natureza,
formação de resistentes laços de amizade,
enfim, memórias de uma fase que hoje
está armazenada no coração.
Quando penso nisso, me vêm lembranças prazerosas de uma época em que
a pureza e ingenuidade eram aspectos
primordiais para a construção da personalidade, época que foi a minha e de
muitas outras crianças, hoje adultos, se-
32
nhores de suas histórias e destinos. Relembro com saudade a cidade de Mogi
das Cruzes, hoje uma gigante, que mesmo tão próxima dos grandes centros
conserva ainda características aprazíveis
de cidade do interior.
Ah! Mogi das Cruzes, início da década de 70... Dias inesquecíveis que passamos no maravilhoso “Parque Municipal”. Quantos aprendizados tiramos da
observação da natureza em sua magnitude de contrastes e espécies. Tivemos a
oportunidade de conhecer simplesmente
no convívio com a Mata Atlântica, intacta em cada lago com carpas, cada caminho ou picada cercado de coloridas
flores características desta paisagem, cada
fonte de água pura e cristalina; o sabor,
o cheiro de terra, a diversidade de pequenos detalhes que acabaram ficando
em nossa memória sensorial e incidin-
do em nosso comportamento ambiental
hoje, quando adultos.
Idos tempos dos passeios de pedalinho,
aventuras no teleférico, as visitas à Cruz
do Século, caminhadas subindo a serra
íngreme, quando podíamos ver todo o
entorno da cidade, tempo das rampas de
vôo livre, que nos faziam invejar a liberdade que só tem os pássaros.
Com o fechamento do parque, devido às novas leis de proteção ambiental,
ficamos um pouco órfãos de lazer; nossos filhos não tiveram a oportunidade
de vivenciar as aventuras que talvez pudéssemos mostrar a eles num domingo
à tarde, repetindo hoje um piquenique
ou a visita ao Forte Apache (construção
que reproduzia fielmente a fachada de
uma fortificação como nos velhos filmes de faroeste americano...). Este era
o nosso parque, o seu ambiente imagi-
licos pela comunidade
o Parque Municipal ao
on Feffer
nário nos fazia viajar em emoções! Após
o encerramento das atividades do Parque, perdemos uma importante área de
lazer, porém com o passar do tempo e
entendimento das necessidades de nossa região, ganhamos a consciência ambiental da preservação da Serra do Itapeti,
que merece toda a nossa atenção como
cidadãos mogianos.
Vislumbrando a possibilidade de proporcionar aos moradores desta cidade um
novo centro de lazer e diversão para as
famílias, e resgatando em parte o que foi
um passado ainda muito presente para
todos nós, com a memória do Parque
Municipal, a Prefeitura planejou no início desta década, a abertura de um espaço
temático que em si mesmo, traria o resgate de nossa característica peculiar de
cidade – interior, e que retomaria toda
a hospitalidade e querência da zona
rural, povoada com os personagens do
ilustre filho desta terra, que merecidamente seria homenageado num espaço
municipal. Por fim, o Parque dedicado
ao desenhista Maurício de Souza não
pôde ser concretizado.
Não cedendo ao fracasso de uma
empreitada sem êxito; num espírito
empreendedor, buscando recuperar e
trazer ao povo mogiano um novo centro de lazer, foi que a cidade de Mogi
das Cruzes recebeu de presente o Parque Leon Feffer.
É preciso que se diga que a inauguração do Parque Leon Feffer busca um
resgate para os cidadãos mogianos, tanto
ambiental, escolhendo uma área de gran-
de devastação, houve a preocupação com
a recuperação da área no entorno do rio
Tietê; quanto comunitária, oferecendo
aos mogianos e visitantes da cidade um
novo espaço de lazer e encontro com
a natureza. Não precisamos mais sentirnos órfãos de uma área de lazer, digna de
nossa cidade, em que possamos desfrutar com nossos filhos, amigos, familiares,
momentos de descontração e porque
não dizer, qualidade de vida, cercados
de natureza, infra-estrutura e segurança.
Digo que não somos mais órfãos, pois
daquele carinho que era depositado ao
“Parque Municipal”, resgatamos agora na
nova geração, para com o “Parque Leon
Feffer”, para que possamos aprender e
ensinar a nossos jovens a importância
da convivência com a área pública, que
serve a cada um e a todos. O carinho
com a natureza e a construção de nossa
memória cultural se idealizam com as
experiências e vivências que construímos no dia-a-dia.
A busca deste resgate se desenvolverá no amor que a população mogiana e
de toda a região vem depositando neste
patrimônio municipal, afim de que no
futuro, possa este ser um oásis de cultura,
conservação ambiental e lazer, no grande centro comercial e industrial que é
Mogi das Cruzes.
Os espaços públicos são sonhos, que
se tornam realidade na visão de nossos
arquitetos e ambientalistas, que planejam no presente, a realidade futura. O
futuro destes espaços públicos, tão importantes na formação de nossas crianças,
estará também escrevendo as memórias
de infância no coração dos pequenos,
que, hoje, freqüentam estes espaços e,
principalmente, o parque, como nós há
décadas passadas tivemos o parque municipal, podendo construir suas história
de vida e saborear a infância.
A utilização dos espaços públicos pela
comunidade possibilita a formação da
cidadania e o respeito ao próximo, sem
teorias, mas, sim, na prática! Quando a
criança, jovem ou adulto tem respeito
ao patrimônio municipal, seja ele, um
parque, praça, escola, teatro; aprende a
organizar seu pensamento futuro, pois
sabe que o que lhe pertence, também
pertence ao outro, e que para ser utilizado por todos, há de se ter respeito aos
limites comuns.
Através do Projeto “Democratizando
a Informação”, da Secretaria Municipal
de Educação, muitas comunidades de
nosso município estarão experimentando lições de cidadania e de uso consciente dos espaços públicos, usufruindo
destes para sua formação pessoal e social.
Que sejam bons os frutos desta nova safra,
que começa agora na rede municipal de
ensino e que enriqueçam cada vez mais
nossas comunidades.
Ana Clara de Almeida Correia é jornalista, pedagoga e diretora das Escolas
Municipais Antonio Pedro Ribeiro e (R)
Profª Maria Alda M. Lainetti
33
HISTORIANDO
O verdadeiro presente
Foto: Ney Sarmento
Imagens: Recordações de Mogi das Cruzes, Gráfica Veiga
Gracila Maria Grecco Manfré
José Sebastião Witter
Rua Ipiranga - Mogi das Cruzes - 1956
M
uitos devem se lembrar que, há não
muito tempo atrás, era costume dos
pais presentear seus filhos em duas ocasiões do ano: no Natal e no dia do Aniversário. Momentos difíceis, situações outras... Mundo diferente
aquele no qual o apelo comercial quase não existia.
Hoje em dia, vemos pais transformando-se em verdadeiros trabalhadores compulsivos para proporcionar aos filhos não só todo o bem-estar possível, mas
para presenteá-los a qualquer instante: videogame
de última geração, celulares, notebooks, tocadores de
música digital e tantos outros produtos do mundo
tecnológico. A preocupação dos pais em deixar uma
herança material aos filhos e mesmo seu afastamento do lar por motivo de trabalho, tem sido atitudes
encaradas pela sociedade como algo extremamente
“natural”. Entretanto, pesquisas realizadas em várias
áreas da ciência têm comprovado que muitos filhos gostariam de ser menos presenteados e, em troca, receberem uma atenção maior por parte de seus pais... Não
em forma de sentimento transmitido pelos presentes, mas com demonstrações de
afeto que vão desde o compartilhar de um tempo menos escasso de convivência
familiar até o aumento do interesse dos pais em sua rotina diária. Uma observação
mais atenta ou perguntas como: o que tem aprendido na escola? Quem são seus
amigos? Como tem sido usado o tempo livre? O que espera do futuro? Você sabe
da sua importância em minha vida? Como posso ajudar?... são, desejadas e, bem
no fundo, esperadas por quem acredita ser alguém amado.
Usando tal enredo para uma apropriada metáfora, qualquer cidade também seria
muito mais feliz se, ao invés de ser lembrada e “presenteada” no dia de seu aniversário, pudesse receber a devida atenção de seus moradores todos os dias do ano. O
presente mais precioso, então, poderia não ser a inauguração de monumentos ou
edificações, mas o exercício da cidadania por parte de seus habitantes. A palavra
“cidadania” vem do latim, “civitas”, que significa cidade. Uma das mais perfeitas
definições nos é oferecida pelo Prof. Dalmo de Abreu Dallari:
“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar
ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado
ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade
dentro do grupo social”. (DALLARI, 1998).
Igreja Matriz de Sant’Anna - Mogi das
Cruzes - 1951
34
O “participar ativamente” implica em conhecer, antes de
tudo, os direitos, conquistados com árduas lutas ao longo de
anos na História, não só do Brasil, mas Mundial. Um dos
maiores exemplos do século XX é o reconhecimento internacional dos Direitos Humanos, sobretudo após a Segunda
Guerra Mundial. Com um contingente de mais de 25.000
combatentes, O Brasil entrou na guerra no ano de 1942. Mas,
muito poucos sabem que Mogi das Cruzes foi a cidade brasileira, que, proporcionalmente ao número de habitantes, mais
enviou soldados à Itália! Dos 400 soldados enviados, perdemos oito valorosos mogianos em combate: Américo Rodrigues, Abílio Fernandes, Brasílio Pingo de Almeida, Antonio
Castilho Gualda, Francisco Franco, Hamilton da Silva e Costa,
Jamil Daglia e Otto Unger. Vale salientar que nosso município
foi o primeiro a homenagear e prestar o devido reconhecimento aos combatentes da FEB (Força Expedicionária Brasileira): temos a “Associação dos Expedicionários Mogianos”,
que é a primeira Associação de Ex-Combatentes do Brasil,
além do Monumento aos Pracinhas da FEB, igualmente pioneiro no Brasil.
O exercício da cidadania é construído paulatinamente e
não termina nunca porque a dinâmica urbana exige contínua
atenção. “A cidade é o lugar doador de sentido à existência
individual e do aprimoramento de nosso corpo, nosso espírito e dos usos e hábitos de nosso tempo. (...) Ela é o lugar da
política, das leis que nos outorgamos, as quais construímos e
pelas quais mantemo-nos em coesão, compartilhando uma
fundação e um projeto de futuro comuns. (...) O que queremos fazer com ela e o que ela fará conosco? O que fazermos
para permanecer como cidadãos, e não como servos? Com
que projeto de cidade enfrentaremos o destino que se descortina para nós? “. (BRANDÃO, 2006). Com este pensamento,
temas ligados à democracia, aos direitos humanos, à solidariedade, ao respeito ao meio ambiente, à responsabilidade, à justiça, à não-violência e à ética devem permear nossos valores
e ajudar a compor uma nova concepção sobre o que significa “viver” em uma determinada cidade. E a ela doar o que
realmente seja imprescindível. Saber sobre a história e honrar
o solo em que pisamos, mas, ao mesmo tempo, questionar o
hoje, o cotidiano que nos rodeia: a segurança, a saúde, o sistema educacional, o transporte, as manifestações culturais, a
educação no trânsito, as opções de lazer nos bairros, a preservação do patrimônio... São formas, mais que especiais, de se
demonstrar amor e respeito por qualquer localidade.
Então, o que nos dizem estes valores, em forma de doação,
sobre os desejos de uma cidade? Dizem que a vida pode e
deve ser melhorada em todos os espaços deste imenso Brasil,
porque, como sabemos, o município é a base da vida política. Partiremos, assim, do micro para o macro, na intenção de
se invocar a democracia legítima para que seja, enfim, vivenciada por uma nação inteira. O verdadeiro presente em meio
ao desencontro. “A cidade é a luz feita do eu e, também, do
outro, a iluminação do conflito (...). A cidade é ambiente do
mundo moderno, feito de espelhos, no qual os homens nem
sempre se reconhecem”. (BRANDÃO, 2006).
Gracila Maria Grecco Manfré é professora universitária e
consultora educacional
José Sebastião Witter é professor titular na área de história e
professor emérito pela Universidade De São Paulo (USP)
Igreja do Carmo - Mogi das Cruzes - 1955
Largo do Bom Jesus - 1950
Parque Infantil Monteiro Lobato
BRANDÃO, Carlos Antônio Leite (org). As Cidades da Cidade.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São
Paulo: Moderna, 1998.
35
Download

Educação e cidadania