do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo "Não há bem que sempre dure " A correspondência de hoje é subscrita pelo advogado Egberto Malta Moreira e endereçada a Tufi Elias Anderi: "Meu caro Tufi L i no jornal os agradecimentos e a despedida do 'Tufy", o restaurante. Já sabia da notícia, porém, ainda guardava um fio de esperança de sua sobrevida. Então é p'ra valer, concluí, lembrando da primeira parte do dizer popular "não há bem que sempre dure, Na inevitável constatação de que o ocorrido obedece à ordem natural das coisas, umas aparecendo e outras desaparecendo, testemunha da idéia do "Tufy", desde a fecundação na cabeça de seu dono, melhor foi dele poder ter desfrutado pelo tempo em que esteve de portas abertas, do que se nunca tivesse existido. Mas, sem essa de conformismo. O "Tufy" nunca foi apenas um restaurante ou um bar, ou os dois juntos. Parecia mais uma casa, com o bar e a cozinha à disposição de parentes e amigos dos donos, para lá atraídos pelo bom papo sobre assuntos territoriais e extra-territoriais, sempre com alguma novidade culinária, nem sempre árabe, mas de paladar inesquecível e qualidade sem comparação. A fama do "Tufy" ultrapassou nossas fronteiras e por muito tempo, peregrinos desavisados ainda deverão bater com o nariz na porta, retornando decepcionados e com a certeza de que Mogi ficou profundamente desfalcada. Foi-se o "Tufy", mas o Tufi aqui continua, o que sugere a possibilidade de acontecer, como diria o Michel Namura, vez por outra, uma patuscada. Bola p'ra frente, Cléo, Manira e Tufi. Valeu a pena. Foi muito bom. Flagrantes do Século XX Arquivo Francisco José Witzel No dia 28 de setembro de 1954, o então governador Lucas Nogueira Garcez veio a Mogi para assinar, no gabinete do prefeito Francisco Ferreira Lopes, contrato de empréstimo de Cr$ 18.550.280,00 para a conclusão do serviço de água na Cidade. Presentes, entre outros, o vereador Áfrodízio Witzel; sua esposa Olézia, o maestro Freire Mármora; Argeu Batalha e José Alves. Detalhe: o repórter que segura o mfcrofone para o orador é Maurício de Sousa - o rapaz que iniciou a carreira em Mogi e se transformaria, depois, no mais bem sucedido criador de histórias em quadrinhos do País Abraços do Egberto" Um passeio por Mogi de 1929 Isto é um convite. Não lhe exige traje formal e não lhe impõe horário. Pede-lhe apenas alguns minutos de tranqüilidade. Cerre os olhos por alguns segundos ao final desta frase e imagine-se voltando no tempo, retrocedendo 76 anos. Vamos passear por nossa Cidade? Estamos no dia 14 de julho de 1929. Como hoje, também um domingo. Você acordou pouco mais tarde que o convencional. Espreguiçou. O café foi rápido, logo depois de apanhar o jornal do dia. O de Mogi chamava-se "Folha do Povo" e, nesse dia, comemorava o seu primeiro ano de circulação. Por isso, tinha uma edição especial de 16 páginas. O exemplar que serviu de base para este texto foi-nos enviado pelo advogado Francisco José Witzel. Mogi das Cruzes, nessa época, não chegava a ter 20 mil habitantes; mas tinha, ainda assim, uma vida cultural intensa. Chegava a apresentar, a cada ano, 12 óperas, 5 concertos, 26 espetáculos diversos e 598 sessões cinematográficas. Por aí foi iniciada a abertura do trecho M o g i Jacareí da estrada de rodagem entre São Paulo e Rio de Janeiro. Eleito prefeito em 1921, o médico Deodato Wertheimer hospedou, no mesmo ano, Washington Luiz Pereira de Souza em sua casa. O "paulista de Macaé" que em seguida seria eleito presidente da República e para quem "governar era abrir estradas", acabou firmando uma grande amizade com Deodato Wertheimer a partir dos contatos políticos que celebraram nessa época. Há pouco havia sido demolido um dos mais antigos prédios que a Cidade tinha: as antigas instalações do Convento do Carmo, construídas no século 18, vieram abaixo para dar lugar ao edifício que está hoje na Rua São João. A Cidade ainda se recordava da briga de operários que acabou com um morto e muitos feridos no Bairro do Botujuru e do tremor de terra que acordou toda a população local. Também não tivera tempo para esquecer que o médico Deodato Wertheimer havia operado Marciano Papudo, uma figura folclórica que vivia na Cidade. Extraiu-lhe o papo. Nessa época a imprensa local insurgia-se contra aquelas que chamava de "decaídas" e habitavam a Rua Barão de Jaceguai, no trecho próximo ao Jardim Público, considerado pedaço impróprio da Cidade para a freqüência de "gente de família". Havia pouco, M o g i perdera frei Brocardo de Viliéger (tinha 46 anos de idade) e inaugurara, na Praça Toledo, Francisco Pires, Benedicto de Oliveira Mello, Synesio Siqueira e Expedito A . de Castro. Nesta Cidade de 76 anos atrás, figura curiosa era o prefeito. O imigrante português franzino que chegara a Mogi das Cruzes após rápida passagem, como auxiliar de topógrafo, pelas obras da Adutora da Cantareira, em São Paulo, era uma pessoa especial. Quem o conheceu tinha-o como um gentleman, incapaz de uma indelicadeza. Dedicou-se, em Mogi das Cruzes, à construção civil. Sob sua coordenação, ergueram-se os prédios dos antigos cines Urupema e Avenida; a primeira sede do Clube de Campo e mais de mil residências. Foi esse imigrante português franzino, Carlos Alberto Lopes, que ingressou na política em 1927. Elegeu-se vereador em um ano, vice-prefeito no ano seguinte; mais um e assumiu a Prefeitura. Deu início então à atuação Na foto de 1929 de Vosilius (acervo Isaac Grinberg), a Rua José Bonifácio e Praça Coronel política de toda a família, que marcaAlmeida com a antiga Igreja Matriz, que ruiu por infiltração de água em 1952 ria para sempre a história da Cidade. Além dele próprio, um irmão (Chico Oswaldo Cruz, recentemente de proprietários de imóveis nelas lo- Fernandes, Eunice Fonseca, Bebê Lopes) também foi prefeito; assim reurbanizada, a primeira bomba de calizados, à razão de 60 mil réis por Magnolia, Biluta Muniz, Elvira Milk, como um sobrinho (Nenê Lopes). gasolina da Cidade. Antes dela, os 100 metro de testada, pagos ao longo de Doracy Gonçalves, Nilza Pinto de Cunhados, sobrinhos e aparentados automóveis que então havia por aqui 8 anos em 16 prestações semestrais. Almeida, Gessy G . Leite, Yolanda acabaram igualmente incursionando eram abastecidos por latas de gasoli- Quem pagasse à vista teria desconto Alves, Albina Cardoso, Maria do So- pela política, mantendo uma na vendidas nos armazéns locais. No de 20%. Nesse mesmo dia, o mesmo corro, Adelaide do Carmo, Zuleika hegemonia de 40 anos, que só seria setor automobilístico, cinco mogianos prefeito informava que os automóveis Ferreira, Clarice do Carmo, Amélia desafiada no final da década de 60. Carlos Alberto Lopes ocupou a realizam uma façanha: Carlos Alberto de aluguel pagariam, para a Prefei- Jorge Assef, Ondina Santos e CecíPrefeitura de Mogi das Cruzes por Lopes, Zoé Arouche de Toledo, tura, taxa anual de 50 mil réis. lia Campos. Epaminondas Freire, João Cardoso No pedaço de anúncios imobiliáTambém encontro espaço para quatro vezes. Não é difícil traçar seu Pereira e Benedito Moacyr Lopes rios, comunicava-se a venda, "por divulgar fotos das obras do Matadouro perfil para os que não tiveram o priempreenderam a primeira viagem de motivo de doença em família", de 5 Municipal, em Braz Cubas; da nova vilégio de conhecê-lo: Carlos Alberto carro até o Rio de Janeiro. Cobriram lotes de terrenos na Rua 13 de Maio sede da Associação Comercial, na Lopes, o seo Carlos como o tratavam, o percurso de ida em 26 horas. Mas, (atual Deodato Wertheimer), por 700 atual Avenida Fernando Pinheiro morou a maior parte de sua vida de autorizados pelo governo, voltaram mil réis cada um. E, também, "um Franco e do posto médico instalado quase 90 anos na residência que ele pela nova estrada, ainda em obras e magnífico sobrado novo, de stylo pelo dr. Deodato Wertheimer na Rua próprio construiu, uma chácara que ocupava todo um quarteirão na Rua demoraram "apenas" 11 horas. moderno, com 8 accommodações, José Bonifácio. Afonso Pena. U m detalhe da casa é Pois foi nessa Cidade que a edi- cosinha, jardim de frente e grande ção de 14 de julho de 1929 da "Folha quintal fechado. E negócio de ocaOutro destaque foi para o resul- emblemático da personalidade do seu do Povo" anunciava fatos interessan- sião e próprio para família de trata- tado de um concurso literário envol- morador: para o lazer de sua filha tes. Como editais de leilão de imó- mento". vendo crianças de Mogi das Cruzes. Nanei, ele mandou construir uma veis, contestação de cobrança de proO jornal ainda anunciou, em sua A foto mostra Alba Lúcia Costa, casa de bonecas. Com todos os demissória já paga e atos do então pre- edição especial, o resultado da apu- Aurora Urizze e Alice Costa - sen- talhes: havia varanda, sala de estar, feito Carlos Alberto Lopes. O pre- ração de votos para o concurso que tadas. M a i s : Regina Fernandes cozinha, quarto, banheiro e lavandefeito anunciava, por exemplo, que as elegeria as moças mais bonitas da (organizadora do concurso), Milton ria. Em cada um dos cômodos, mobíobras de calçamento das ruas da C i - cidade. Foram votadas, em ordem Aragão, José Pires, Carlos Pires, lia em tamanho reduzido, incluindo dade passariam a ter a colaboração decrescente: Helena Ferraz, Regina Oswaldo Barroso, Ivan Arouche de fogão, banheira, armários, poltronas e camas. No quintal, uma piscina onde seo Carlos praticava natação toda manhã. E m uma manhã, já com 83 anos • de idade, seo Carlos foi nadar. Aproveitou para inspecionar o poço da chácara. Caiu. Ficou, o senhor de 83 anos, Pode parecer piada, mas é fato: as melhores A Cidade continua perdendo de goleada no fundo do poço a gritar por socorro. Como ninguém o atendesse, acabou salas de cinema de Mogi das Cruzes ficam para o sistema de câmeras que deveria em Guarulhos. Quem quiser conferir, dê um assegurar-lhe pouco mais de segurança. Emele escalando a corda do poço para safar-se do imprevisto. • • pulo no Shopping Internacional, às margenstempos de revolução digital e tecnologia da informação, anuncia-se com "orgulho" que, da Via Dutra. Vai encontrar algumas das em seis meses, elas voltarão a funcionar melhores salas de exibição do País.