0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA - CAEN MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA - MPE FRANCISCO SÉRGIO RODRIGUES PEREIRA EXISTE EFEITO DO CINTURÃO DIGITAL NA QUALIDADE DO ACESSO À INTERNET NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DO CEARÁ? UMA ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS DIRETORES FORTALEZA 2014 1 FRANCISCO SÉRGIO RODRIGUES PEREIRA EXISTE EFEITO DO CINTURÃO DIGITAL NA QUALIDADE DO ACESSO À INTERNET NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DO CEARÁ? UMA ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS DIRETORES Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia – Mestrado Profissional – da Universidade Federal do Ceará - UFC, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia do Setor Público. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Brito Soares FORTALEZA 2014 2 FRANCISCO SÉRGIO RODRIGUES PEREIRA EXISTE EFEITO DO CINTURÃO DIGITAL NA QUALIDADE DO ACESSO À INTERNET NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DO CEARÁ? UMA ANÁLISE SOBRE A PERCEPÇÃO DOS DIRETORES Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia – Mestrado Profissional – da Universidade Federal do Ceará - UFC, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia do Setor Público. Data de Aprovação: 23 de janeiro de 2014 BANCA EXAMINADORA __________________________________ Prof. Dr. Ricardo Brito Soares (Orientador) Universidade Federal do Ceará - UFC __________________________________ Prof. Dr. Guilherme Diniz Irffi Universidade Federal do Ceará - UFC __________________________________ Prof. Dr. Jair Andrade de Araújo Universidade Federal do Ceará - UFC 3 A Deus, pai e amigo fiel. À minha família, base do meu ser. 4 AGRADECIMENTOS À minha mãe Irene, visionária e incentivadora de minhas conquistas. À minha esposa Sandra, pelo amor, companheirismo e compreensão. Às minhas filhas Sergiane e Sofia, inspirações do meu viver. Ao Prof. Ricardo Brito, pela excelência na orientação, dedicação, reponsabilidade e ética no que faz. Aos colegas de trabalho da SEPLAG, pelo apoio e motivação, em especial à Graça Diógenes e a saudosa Lúcia Facundo (in memoriam). 5 RESUMO O Projeto Cinturão Digital do Ceará (CDC) é uma iniciativa do Governo local, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), para prover internet de alta velocidade, com qualidade, objetivando universalizar o acesso à informação. Este trabalho objetiva analisar se existe efeito do Cinturão Digital quanto à qualidade do acesso à internet nas escolas públicas estaduais do Ceará. Esta medida de qualidade é definida pelas percepções dos diretores, extraídas dos questionários socioeconômicos contidos na Prova Brasil (INEP) referentes aos períodos de 2009 (antes do projeto), e de 2011 (após a implementação do CDC). Como nem todas as escolas foram beneficiadas pelo CDC, foi possível empregar o método de diferenças em diferenças, para avaliar os resultados e impactos ocasionados pelo projeto. Verificou-se pela estatística descritiva que os diretores das escolas beneficiadas perceberam uma melhora absoluta e relativa quanto à qualidade do acesso à internet para uso dos alunos. O diferencial em favor destas foi de 7,4 pontos percentuais nas médias. No entanto, no modelo logit estimado, o diferencial positivo a favor das escolas beneficiadas não foi estatisticamente significante, fazendo com que os resultados de impacto não sejam robustos. Palavras-Chave: Cinturão digital. Internet. Percepção de qualidade. Avaliação de Políticas Públicas. Modelo Diferenças em Diferenças. 6 ABSTRACT Digital Belt design of Ceará (CDC) is an initiative of the local government, in partnership with the Ministry of science, technology and innovation (MCTI), to provide high-speed internet, with quality, aiming to universalize the access to information. This work aims to analyze whether there is Digital belt effect on the quality of internet access in public schools State of Ceará. This measure of quality is defined by perceptions of Directors, drawn from socio-economic questionnaires contained in Brazil (INEP) relating to periods of 2009 (before the project), and 2011 (after implementation of the CDC). As not all schools were benefited by the CDC, it has been possible to employ the method of differences in differences, to assess the results and impacts caused by the project. It was found by descriptive statistics that the directors of the schools benefited realized an improvement absolute and relative quality of internet access for use of the student use. The differential in favour of these was 7.4 percentage points in the medium. In estimated logit model, however, the positive differential in favour of schools benefited was not statistically significant, causing the impact results are not robust. Keywords: Digital belt. Internet. Perception of quality. Evaluation of Public Policies. Model Differences in Differences. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Cinturão Digital do Ceará (CDC)........................................................... 30 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Percentual de domicílios brasileiros com rádio, tv, telefone, e microcomputador com acesso à internet.............................................. 19 Gráfico 2 - Motivos para a falta de internet no domicílio......................................... 20 Gráfico 3 - Velocidade da conexão em banda larga nos domicílios brasileiros (%)......................................................................................................... 22 Gráfico 4 - Diferenças entre grupos no tempo........................................................ 38 Gráfico 5 - Estimador DD = Impacto....................................................................... 41 Gráfico 6 - Função logística acumulada................................................................. 49 Gráfico 7 - Média da variável internet para uso dos alunos sobre a amostra total........................................................................................................ 51 Gráfico 8 - Média da variável internet para uso dos alunos para as escolas da amostra situadas em Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte................ 53 Gráfico 9 - Média da variável internet para uso dos alunos para as escolas da amostra situadas nos demais municípios cearenses............................ 54 9 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Modelo de diferença em diferenças.................................................... 38 Quadro 2 - Regra de decisão do modelo de diferença em diferenças.................. 43 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Média da variável internet para uso dos alunos nos anos de 2009 e 2011 sobre a amostra total.................................................................... 51 Tabela 2 - Média da variável internet para uso dos alunos nos anos de 2009 e 2011 para os municípios de Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte..... 52 Tabela 3 - Média da variável internet para uso dos alunos nos anos de 2009 e 2011 para os demais municípios cearenses......................................... 53 Tabela 4 - Média das variáveis caracterizadoras das escolas e de seus diretores nos anos de 2009 e 2011 para o Grupo de Tratamento......... 56 Tabela 5 - Média das variáveis caracterizadoras das escolas e de seus diretores nos anos de 2009 e 2011 para o Grupo de Controle............. 56 Tabela 6 - Modelos estimados com a variável dependente internet para uso dos alunos.................................................................................................... 58 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANATEL BNDES CDC CETIC.br CGI.br COELCE ETICE GIGAFOR IBGE ICMS INEP IPCA Mbps MBps MCTI MEC NIC.br PNAD PNBL RIGAV RNP SEDUC/CE TELEBRÁS TIC Agência Nacional de Telecomunicações Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Cinturão Digital do Ceará Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação Comitê Gestor da Internet no Brasil Companhia Energética do Ceará Empresa de Tecnologia da Informação do Estado do Ceará Rede Metropolitana de Fortaleza Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Índice de Preços ao Consumidor Amplo Megabit por segundo Mebabyte por segundo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Ministério da Educação Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Programa Nacional de Banda Larga Rede Governamental de Dados e Internet do Estado do Ceará Rede Nacional de Ensino e Pesquisas Secretaria da Educação Básica do Estado do Ceará Telecomunicações Brasileiras S.A. Tecnologias da Informação e Comunicação 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 13 2 INCLUSÃO DIGITAL E POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO À INTERNET.................................................................................................... 17 2.1 Acesso à Internet no Brasil – contexto recente....................................... 19 2.2 O Programa Nacional de Banda Larga..................................................... 23 2.3 O Projeto Cinturão Digital do Ceará......................................................... 27 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS................................................................. 34 3.1 Métodos de avaliação de impactos em programas sociais.................... 34 3.2 O método diferenças em diferenças......................................................... 36 3.2.1 Hipótese básica.......................................................................................... 39 3.2.2 O modelo econométrico do método DD................................................... 40 3.3 A base de dados......................................................................................... 44 3.4 O modelo Logit........................................................................................... 48 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................................. 50 4.1 Estatística descritiva.................................................................................. 50 4.2 Análise e discussão dos resultados do modelo DD Estimado.............. 57 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 60 REFERÊNCIAS............................................................................................ 63 13 1 INTRODUÇÃO O emprego de tecnologias e conteúdos de multimídias na educação evidencia o importante papel da escola como ambiente de inclusão digital, num mundo voltado para a sociedade da informação. Ainda que não existam evidências sobre o efeito de mídias no desempenho, a priori, parece inquestionável a potencial contribuição das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para o processo pedagógico, principalmente quando aplicada nas instituições públicas, dado o contexto socioeconômico em que estão inseridas e a oportunidade do efetivo exercício de cidadania. As TIC surgem como possibilidade de democratizar a informação para alunos e professores, como ferramentas que possam vir a contribuir para o incremento de novos conteúdos educacionais de qualidade, inovando a linguagem e as práticas de ensino, de modo a tornar a escola mais atraente às novas gerações, mostrando-se mais relevante na formação de seus protagonistas. Contudo, o acesso a computadores e internet por alunos e professores ainda não se encontra universalizado em quantidade e qualidade desejadas. Deixando de lado questões que implicam em estudos a parte, como por exemplo, o despreparo desses usuários, quer seja na operacionalização, quer seja na falta de direcionamento para o uso adequado desses instrumentos visando o aprimoramento do aprendizado, tem-se que mesmo com os crescentes investimentos em TIC na educação pública, o déficit dessas ferramentas ainda é grande, não obstante a baixa qualidade dos serviços de internet disponibilizados para essas instituições, dentro e fora dos grandes centros urbanos do Brasil. Consoante a essa temática, Lima (2013) ressalta que: Esse conjunto de argumentos parece tão óbvio que corre-se o risco de promover políticas e programas educacionais que visam a adoção das TIC na educação sem uma definição clara de seus objetivos. Como consequência, sem assegurar que eles sejam compreendidos ou compartilhados pelos educadores e sem garantir as condições adequadas para que os resultados se concretizem de fato. Além da infraestrutura inadequada em um grande número de escolas, aponta-se para a insuficiente formação do corpo docente, relacionada, entre outros fatores, à baixa atratividade da carreira, às difíceis condições de trabalho, à estrutura e qualidade dos cursos de formação inicial (...). Tampouco é irrelevante a defasagem de aprendizagem dos estudantes, uma consequência inevitável do perverso percurso de desigualdades de oportunidades sociais, 14 econômicas e educacionais com as quais convivemos, como se naturais fossem, desde o inicio de nossa constituição como nação. De acordo com a TIC Educação 2012, dos 1.236 professores de escolas públicas que responderam a pesquisa, 67% informaram que frequentemente “todos os dias ou quase” realizam exercícios com os alunos no laboratório de informática para prática do conteúdo exposto em sala de aula, e que 49% costumam realizar atividades de pesquisa na internet. O tímido percentual de acesso à rede mundial é justificado pela baixa velocidade de conexão que dificulta o uso das TIC no processo pedagógico, isso, de acordo com 78% dos diretores, 73% dos professores e 71% dos coordenadores dessas escolas. Para Sorj e Guedes (2005), as políticas públicas podem aproveitar as TIC para melhorar as condições de vida da população. Para tanto, devem empregar esforços na busca de mapear as diversas formas de acesso às novas tecnologias, suas qualidades, seu uso e seus retornos, proporcionando uma atuação integrada com outras ações que apontem para o desenvolvimento. Nesse contexto, tem-se o Projeto Cinturão Digital do Ceará (CDC), uma iniciativa do Governo local, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), para prover internet de alta velocidade, com qualidade, chegando aos lugares mais remotos do Estado e a um preço acessível a todos, objetivando universalizar o acesso à informação, contribuindo para o desenvolvimento local e inclusão social dos cidadãos cearenses. Em operação desde 2011, os serviços disponibilizados pelo projeto ocorreram inicialmente apenas para as escolas, postos de saúde, hospitais, delegacias e demais órgãos públicos do Governo do Estado. O seu monitoramento tem sido efetivado, vislumbrando-se agora proceder uma avaliação dos resultados e impactos ocasionados. Mediante o exposto, o presente estudo propôs-se a investigar a disponibilidade e o uso da infraestrutura tecnológica no âmbito das escolas públicas da rede estadual do Ceará, e avaliar o quão acessível está às novas aplicações, delimitando a pesquisa a observar um dos principais elementos que tem desmotivado o emprego das novas tecnologias na educação que é a baixa velocidade de conexão à internet, de acordo com TIC Educação 2012. Visando contribuir para a expansão do conhecimento acadêmico referente ao tema em pauta, e viabilizar uma análise sobre esse projeto de inclusão digital, a 15 pesquisa tem como problemática avaliar se essa política pública promoveu alguma melhoria para as escolas beneficiadas pelo programa. Na busca de esclarecer o questionamento suscitado, instituiu-se como objetivo geral: analisar se, na percepção dos diretores, existe efeito do Cinturão Digital na qualidade do acesso à internet nas escolas públicas estaduais do Ceará beneficiadas pelo projeto. Para a consecução da meta principal, definiram-se como objetivos específicos: a) apresentar políticas públicas de acesso à internet no Brasil; b) descrever o Projeto Cinturão Digital do Ceará; c) identificar métodos de avaliação de políticas públicas; e d) verificar se o Cinturão Digital proporcionou alguma melhoria quanto ao acesso e qualidade dos serviços de internet banda larga, identificando suas vantagens, restrições, e os desafios que tem a percorrer considerando a sua proposta social e econômica. Metodologicamente, empregar-se-á o modelo econométrico de diferenças em diferenças para verificar se a política pública proposta pelo Projeto CDC resultou alguma melhoria quanto à qualidade do acesso à internet nas escolas analisadas, implicando em observar dois grupos, em dois períodos de tempos distintos, em 2009 (antes da política), quando o projeto ainda não tinha sido implementado, e em 2011 (depois da política), com o seu funcionamento, sendo que um grupo foi contemplado pelos serviços de internet disponibilizados pelo projeto, enquanto que o outro grupo que não foi beneficiado pela política. Como base de dados que subsidiará o modelo econométrico, foram utilizadas informações dos questionários da escola e dos diretores realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), por ocasião da Prova Brasil, referentes aos anos de 2009 e 2011; os dados referentes à infraestrutura dessas escolas, disponibilizados pela Secretaria da Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE); e as informações da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (ETICE), quanto ao fornecimento da internet banda larga para estas escolas através do CDC. A apresentação da dissertação está disposta da seguinte forma: após esta introdução, a segunda seção dispõe sobre a inclusão digital e políticas públicas de acesso à internet, no âmbito nacional e local, apresentando o Projeto CDC. Em seguida, a terceira seção trata dos aspectos metodológicos da pesquisa, dispondo sobre o método diferenças em diferenças empregado na avaliação de impacto de projetos sociais, sobre a base de dados utilizada, e sobre o modelo empírico de 16 estimação aplicado. A quarta seção apresenta e discute os resultados encontrados sobre a política pública avaliada. Por fim, a quinta seção traz as considerações finais sobre a pesquisa realizada. 17 2 INCLUSÃO DIGITAL E POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSO À INTERNET A exclusão digital vista como parte de uma extensa camada da sociedade que fica à margem da informação e das redes digitais por não ter acesso às inovações tecnológicas, no Brasil, também faz parte do bojo da exclusão socioeconômica que reflete a distribuição desigual dos diferentes recursos, nesse caso, os relacionados às TIC, como, por exemplo, o acesso a computadores e internet. De acordo com Sorj e Guedes (2005), esse acesso pode facilitar o alcance dos cidadãos aos serviços públicos, à educação, ao trabalho e a busca deste, promovendo melhorias na renda dessa população, mas a luta contra a exclusão digital visa, sobretudo, encontrar caminhos que diminuam seu impacto negativo sobre a distribuição de riquezas e oportunidades. Contudo a distribuição desigual dessas ferramentas é uma das expressões de injustiça social no Brasil, e requer soluções para a promoção do bem-estar e equilíbrio social. Conforme Silveira (2003 apud RIOS et al., 2011): O acesso à comunicação em rede é a nova face da liberdade de expressão na era da informação. Todo cidadão ou cidadã deve ter o direito de acessar a web e de utilizar uma caixa postal eletrônica. Todo cidadão deve ter direito a acessar as informações e serviços governamentais que cada vez mais migram para a Internet. A cidadania na era da informação impõe o direito de se comunicar, de armazenar e processar informações velozmente, independentemente da condição social, capacidade física, visual ou auditiva, gênero, idade, raça, ideologia e religião. O atendimento das demandas por inclusão digital por meio das TIC requer novos arranjos institucionais nas relações federativas, ou seja, projetos e ações de colaboração e/ou de competição entre atores governamentais que possam contribuir para uma maior igualdade social, investindo nas políticas de inclusão digital como um dos meios para o exercício da cidadania. As políticas de inclusão digital devem ter metas claras, baseadas no que esperam e no que for possível alcançar, dadas as condições sociais existentes e a sua capacidade efetiva pública para absorver as TIC. A fim de alcançar níveis mais altos de eficiência sócio-financeira, as políticas de inclusão digital devem usar estudos quantitativos e qualitativos profundos. Os estudos devem usar metodologias e indicadores que considerem as várias formas de acesso e usos das TIC e as barreiras para melhorar/ possibilitar a inclusão digital. (REMOLD, SORJ, 2005). 18 Para Selwyn (2008), embora o uso das TIC não seja um pré-requisito para sobreviver na sociedade, neste século é um dos elementos fundamentais para prosperar na instituída economia do conhecimento. Conforme o autor, para muitos analistas, isso parece se aplicar melhor à educação e ao aprendizado do que a qualquer outra área. O acesso dos indivíduos a computadores e internet é tido como um dos instrumentos que podem contribuir para o desenvolvimento da sociedade, sendo a escola um lugar oportuno para disseminar e universalizar esse acesso. O Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br1 (2013), em sua Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras – TIC Educação 2012, comenta que: As tecnologias de informação e comunicação (TIC) estão revolucionando o mundo e têm provocado rápidas e profundas mudanças na sociedade. Esses processos de mudanças incluem o mundo da educação, da escola e de seus atores principais: professores, alunos, coordenadores pedagógicos e diretores. Como consequência, novas maneiras de pensar e conviver com as tecnologias no âmbito da escola estão sendo debatidas nas esferas do governo, da academia e do setor privado. Informações da TIC Educação 2012, divulgadas em maio de 2013 pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br)2, evidenciam que 99% das 576 escolas públicas brasileiras pesquisadas possuem computador, sendo que 84% desse montante encontram-se instalados nos laboratórios de informática, estando 89% deles com acesso à Internet. A pesquisa revelou que das escolas públicas com acesso à internet, 57% possuem Internet sem fio, sendo que 32% possuem conexão inferior a 1 Mbps3, enquanto 26% se conectam com velocidade entre 1 e 2 Mbps. Do total, 24% dos diretores disseram não saber a velocidade da internet de suas instituições. O tímido percentual de acesso à rede mundial, de acordo com mais de 70% dos diretores, professores e coordenadores dessas escolas, é justificado pela baixa velocidade de conexão, o que dificulta e desestimula o uso das TIC no processo pedagógico. 1 O CGI.br coordena projetos fundamentais ao funcionamento e desenvolvimento da Internet no país. O CETIC.br é responsável pela coordenação e publicação de pesquisas sobre a disponibilidade e uso da Internet no Brasil. Esses estudos são referência para a elaboração de políticas públicas que garantam o acesso da população às TIC, monitorem e avaliem o impacto socioeconômico delas. 3 “Mbps” é uma notação para megabit por segundo. 1 Mbps = 1.000 Kbps = 1.000.000 bits. É uma unidade binária para medir a velocidade ou largura da banda da internet. Difere dos “Bytes” usado para medira a taxa de transferência de dados: 1 byte = 8 bits; 1 kilobyte (KB ou Kbytes) = 1024 bytes; 1 megabyte (MB ou Mbytes) = 1024 kilobytes; 1 gigabyte (GB ou Gbytes) = 1024 megabytes. 2 19 Todavia, e considerando o uso de tecnologias para promover a inclusão social em termos de oportunidades e resultados educacionais, na concepção do CETIC.br (2013) existem outras dimensões da apropriação das TIC nos processos pedagógicos que também precisam ser medidas e avaliadas: as habilidades no uso da tecnologia, os principais elementos motivadores e as principais limitações que impedem o seu uso pelos principais atores do sistema educacional. Nesse âmbito, esta parte do estudo incumbiu-se a observar o que vem sendo realizado em termos de políticas de inclusão digital, especificamente no que diz respeito ao acesso e qualidade dos serviços de internet, visando beneficiar a camada da população brasileira ainda à margem da sociedade da informação. 2.1 Acesso à Internet no Brasil – contexto recente Os novos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) – 2012, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram que 83 milhões de pessoas com 10 anos ou mais declararam ter acessado a internet no País nos três meses anteriores à pesquisa. Em 2011, tinham sido 77,7 milhões. O estudo revelou que os domicílios com microcomputador conectado à internet passaram de 36,5% em 2011 para 40,3% em 2012. Gráfico 1 – Percentual de domicílios brasileiros com rádio, tv, telefone, microcomputador e micro com acesso à internet Fonte: Estatísticas de Domicílios Brasileiros (IBGE – <http://www.teleco.com.br/pnad.asp>. Acesso em: 01 out. 2013. PNAD/2012). Disponível em: 20 Essa ilustração evidencia a crescente demanda da sociedade pelas novas tecnologias, destacadamente, microcomputador com acesso à internet, aqui já mencionado como ferramentas que possibilitam os cidadãos a se integrarem ao mundo digital e estarem aptos a um maior número de oportunidades, postulados pelo processo de inclusão social através das TIC. Contudo, dentre os resultados das pesquisas TIC Domicílios realizadas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (2012), tem-se que uma das maiores barreiras a um maior acesso à internet nos domicílios brasileiros continua sendo o elevado custo dos serviços cobrados pelos provedores de acesso à Internet. Gráfico 2 – Motivos para a falta de internet no domicílio Fonte: Apresentação da TIC Domicílios 2012. <http://www.cetic.br/usuarios/tic/2012/analises.htm>. Acesso em: 05 out. 2012. Disponível em: Em relação à qualidade do acesso de banda larga oferecido pelos provedores, o CGI.br (2012) argumenta que esse serviço ainda enfrenta grandes desafios no Brasil, conforme apontado pelo estudo Broadband Quality Score – BQS, ao destacar nessa pesquisa que entre os 66 países investigados, o País se colocou em 49º lugar, atrás de países como Argentina, África do Sul e México. O Comitê Gestor da Internet no Brasil (2012) em sua pesquisa TIC Provedores – 2011 sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil expõe que: 21 Embora a universalização do acesso ainda seja um grande desafio para o país, os resultados da pesquisa TIC Domicílios ao longo dos últimos anos revelam duas importantes tendências: aumento significativo das conexões em banda larga e aumento das conexões com velocidades mais altas. A pesquisa também revela que o acesso discado no Brasil vem caindo de forma rápida a cada ano, e as conexões de banda larga e o modem 3G estão tendo um crescimento expressivo nas áreas rurais e urbanas. Ocorre que o Brasil ainda não tem uma regulamentação que indique qual é a velocidade mínima para uma conexão ser considerada de banda larga4. Por exemplo, a Colômbia estabeleceu uma velocidade mínima de 512kbps e os Estados Unidos de 200kbps. O significado já sofreu várias modificações conforme o tempo. Inicialmente, banda larga era o nome usado para definir qualquer conexão à internet acima da velocidade padrão dos modems analógicos (56 Kbps). A Banda Larga brasileira varia entre 300 Kbps e 100 Mbps (sendo mais utilizadas velocidades máximas de até 15 Mbps). A recomendação I.113 do setor de padronização da União Internacional de Telecomunicações (UIT)5 define banda larga como a capacidade de transmissão que é superior àquela da primária do ISDN a 1,5 ou 2 Megabits por segundo. O CGI.br (2012) em sua pesquisa TIC Provedores 2011, observa que, ao longo dos últimos três anos, houve um aumento significativo na velocidade da conexão nos domicílios brasileiros com acesso à Internet. Enquanto, em 2008, 66% dos domicílios brasileiros possuíam conexão com velocidades de até 1 Mbps, e apenas 7% com velocidade superior a 2 Mbps, em 2010 verifica-se um aumento da proporção de domicílios com conexões mais velozes: 15% dos domicílios com acesso à Internet possuem conexão com velocidades acima de 2 Mbps. Apesar disso demonstrar um aumento da velocidade das conexões de banda larga no Brasil, a proporção de domicílios com conexões com velocidade abaixo de 1 Mbps ainda é elevada, refletindo um grande passivo a descoberto a ser superado. 4 Banda Larga. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2013. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=banda_larga>. Acesso em: 17 out. 2013. 5 A União Internacional de Telecomunicações (UIT) é a agência da ONU especializada em tecnologias de informação e comunicação. Destinada a padronizar e regular as ondas de rádio e telecomunicações internacionais, é composta pelos países membros, setor privado e acadêmico. 22 Gráfico 3 – Velocidade da conexão em banda larga nos domicílios brasileiros (%) Fonte: Pesquisa TIC Provedores 2011. Disponível <http://www.cetic.br/usuarios/tic/2012/analises.htm>. Acesso em: 05 out. 2012. em: Quanto à universalização da banda larga no contexto internacional e no cenário brasileiro, Silva (2012, p. 107) frisa que: A Internet banda larga deixou de ser algo particular, direcionado apenas para um grupo restrito de pessoas capazes de pagar pela contratação desse serviço, e se tornou uma necessidade universal, um direito a ser garantido a todo cidadão. Isso ocorre por uma razão simples: a vida, no século 21, foi digitalizada. As mais diversas atividades cotidianas passam hoje pelas infovias digitais, incluindo sociabilidade, cultura, educação, conhecimento, economia, a própria dinâmica do sistema político e o exercício de princípios fundamentais como a liberdade de expressão. Em termos práticos, isso implica um enorme e crescente volume de dados que são produzidos a cada segundo e que precisam ser transportados incessantemente, cruzando cidades, continentes e oceanos. Nesse cenário, os países que não possuírem infraestrutura e leis adequadas, mantendo contingentes da população à margem do acesso às redes de alta velocidade, encontrarão sérias barreiras para o desenvolvimento social. Normalmente, já se observa a presença dos grandes provedores de acesso e serviços de internet nos mercados mais prósperos, sendo que recentemente, percebeu-se também um aumento significativo de pequenos e médios provedores. Entretanto, Getschko (2012) comenta que este cenário ainda está longe de ser satisfatório, dado que um número expressivo de municípios brasileiros (5.565 – de acordo com o Censo 2010, publicado pelo IBGE) enfrenta severas limitações, ou sequer possuem acesso à Internet. 23 Como consequência, uma grande parte desses municípios fica restrita ao acesso à internet, e quando a têm é por meios como discagem telefônica direta à distância ou via satélite, cujos custos são altos e os preços cobrados ao consumidor final acabam tornando-se impraticáveis para a população menos favorecida. O avanço do processo de inclusão digital no Brasil está diretamente relacionado ao desenvolvimento e à expansão da infraestrutura de acesso à Internet, sobretudo em localidades de menor atratividade de mercado. Além da necessária expansão da estrutura física de telecomunicações sobre a qual a Internet funciona, os provedores dos serviços de acesso, de conteúdo, de hospedagem, de e-mail ou de aplicações da Internet, são componentes vitais para a expansão da rede no país. (GETSCHKO, 2012). Assim, é necessário conhecer o cenário do setor de provimento de acesso à internet no Brasil, para que se possa diagnosticar e entender a situação atual dos fornecedores desse serviço, de modo a identificar os principais desafios para o desenvolvimento deste elemento da infraestrutura das TIC no Brasil, principalmente quando da elaboração de políticas públicas voltadas para sua universalização. 2.2 O Programa Nacional de Banda Larga O Governo Federal, através do Ministério das Comunicações, lançou o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), nos termos do Decreto nº 71.752 de 12/05/2010. O objetivo do plano é expandir a infraestrutura e os serviços de telecomunicações, promovendo o acesso pela população, com melhores condições de preço, cobertura e qualidade, proporcionando o acesso à banda larga a 40 milhões de domicílios brasileiros até 2014 à velocidade de no mínimo 1 Mbps. Também estão contemplados 100% dos órgãos de governo, inclusive escolas públicas, postos de saúde e bibliotecas públicas. De acordo com informações disponibilizadas no website do Ministério das Comunicações, a implementação do programa ficou a cargo da Telecomunicações Brasileiras S.A. (TELEBRÁS)6. Mesmo com a infraestrutura existente, sob controle de estatais, fez-se necessário contratar os enlaces de operadoras privadas, dado o maior alcance e capilaridade de seus serviços já ramificados pelo país. 6 Antiga holding das empresas estatais de telefonia brasileiras, que foi reestruturada e reativada pelo governo federal para se tornar a operadora do backbone do PNBL. 24 O que está proposto pelo PNBL às operadoras é que o valor dos serviços de internet para 1Mbps, com limite de download de 300 MB, custará R$ 35,00 sendo que nos estados onde há isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o valor máximo a ser cobrado é de R$ 29,90. Além das metas quantitativas há diversas diretrizes relacionadas à melhoria da qualidade, estímulo à competição, disponibilidade de financiamento e regulação descritas no plano, tais como a mobilização de estrutura de fibras óticas existente detidas por empresas estatais para viabilizar um novo backbone 7 nacional, novas outorgas para o setor de TV por assinatura via cabo, diminuição de carga tributária, oferecimento de financiamento pelo BNDES8, neutralidade da rede e descontingenciamento de recursos do FUST9 e do FUNTTEL10. Entretanto, o programa tem recebido criticas por entidades de defesa do consumidor e observadores da tecnologia pelo limite de download praticado pelo programa, que acaba por tornar o plano de banda larga em uma conexão muito longe desta realidade em poucas horas de uso. Isso ficou evidente nos termos do decreto que oficializou o programa, quando sem usar números específicos define banda larga como aquela que “permita aos consumidores finais, individuais ou corporativos, fixos ou móveis, usufruírem, com qualidade, de uma cesta de serviços e aplicações baseada em voz, dados e vídeo”. Ocorre também que as operadoras têm dado pouco apoio a esse programa ao não treinar seus atendentes para prestar informações quanto a esta opção de plano de internet e seus benefícios, e ainda não divulgá-lo em seus sites 7 “No contexto de redes de computadores, o backbone (backbone traduzindo para português, espinha dorsal, embora no contexto de redes, backbone signifique rede de transporte) designa o esquema de ligações centrais de um sistema mais amplo, tipicamente de elevado desempenho”. (BACKBONE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2013. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Backbone>. Acesso em: 17 out. 2013.) 8 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES é atualmente o principal instrumento de financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em todos os segmentos da economia, de âmbito social, regional e ambiental. 9 O Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – FUST tem por finalidade proporcionar recursos destinados a cobrir a parcela de custo exclusivamente atribuível ao cumprimento das obrigações de universalização de serviços de telecomunicações, que não possa ser recuperada com a exploração eficiente do serviço, nos termos da Lei no 9.472/97. 10 O Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – FUNTTEL, objetiva estimular o processo de inovação tecnológica, incentivar a capacitação de recursos humanos, fomentar a geração de empregos e promover o acesso de pequenas e médias empresas a recursos de capital, de modo a ampliar a competitividade da indústria brasileira de telecomunicações. 25 como deveria. Não obstante, sucede-se ainda por parte das operadoras questões como a “venda casada” (tv, telefonia móvel e/ou fixa, internet). Para Berezin (2012), é fato que o que está sendo ofertado pelo programa é superior ao que grande parte da população brasileira tem acesso. No entanto, esta continuará carente dos serviços digitais, pois só passará a ser contemplada com o devido investimento em infraestrutura, dado que inicialmente os novos planos começam a ser oferecidos exclusivamente nas praças em que as operadoras já atuam, o que não é grande vantagem para o que propaga o PNBL em termos de universalização. Outro problema é o fato de que, em relação ao que o programa propõe, algumas operadoras já oferecem no mercado planos superiores ao que passarão a comercializar, de modo que o projeto não favorecerá essa parte da população, podendo vir a prejudicar a experiência desses internautas. Observa-se ainda que as metas definidas no PNBL se referem somente ao acesso domiciliar, de modo que não existem metas de velocidade ou de atendimento da internet de banda larga para as empresas brasileiras. De acordo com Sallowicz (2013), um estudo divulgado em setembro desse ano pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), mostra que o país está muito atrasado em cobertura e qualidade da banda larga para o mercado corporativo. O estudo da FIRJAN cita países como Índia, que quer universalizar a cobertura de 10 Mbps para empresas nas grandes cidades, e a vizinha Argentina, que estabeleceu que 80% das empresas devem ter acesso de 50 Mbps em 2016. No Brasil, as grandes empresas geralmente utilizam os chamados "links dedicados" conseguindo velocidades maiores, em torno de 10 Mbps, e quando não o conseguem contratar é devido às limitações da infraestrutura existente no local. A pesquisa traz ainda uma radiografia da banda larga para empresas no país atualmente. Houve uma queda no custo do serviço. Para contratar 1 mbps de velocidade o custo é de R$ 48,55, ante os R$ 70,85 de 2011. No caso de 10 mbps, o preço foi de R$ 105,23, em 2011, para R$ 88,87. No entanto, a minoria das empresas brasileiras possui acesso à internet de velocidade superior a 10 mbps. O percentual não foi informado. Segundo a Firjan, devido a limitações da infraestrutura existente, parte considerável das empresas ainda utiliza velocidade de até 1 mbps. Muitas empresas simplesmente não conseguem contratar uma velocidade maior porque há locais onde não há esse acesso.(SALLOWICZ, 2013). Percebeu-se que a principal aspiração do PNBL de levar a Internet para pessoas que ainda não a acessam, por enquanto, parece uma realidade distante. 26 Apesar da expansão da banda larga no Brasil, esse serviço ainda apresenta problemas de qualidade e falta de clareza das operadoras na entrega das conexões. Os resultados citados em algumas análises demonstraram a necessidade de adequação dos contratos de prestação de serviços ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor e Regulamentação de Telecomunicações, bem como a necessidade de melhoria na qualidade dos serviços oferecidos pelo segmento. Essa falta de compromisso com a qualidade do serviço de internet banda larga ofertado de modo equânime, seja por parte das prestadoras, seja por parte dos órgãos públicos regulamentadores dessa atividade no Brasil, é reflexo do que está previsto no Regulamento de Gestão da Qualidade do Serviço de Comunicação Multimídia (RGQ-SCM), aprovado pela Resolução Anatel n.º 574, de 28 de outubro de 2011, pregando que as prestadoras devem oferecer a seus usuários, gratuitamente, software de medição de qualidade de conexão. Entretanto, somente em 2013 é que algumas delas estão disponibilizando programas para aferição da qualidade de banda larga no país. Contudo, tais projetos ainda estão recrutando voluntários assinantes desse serviço que estejam interessados em testar o desempenho da conexão à internet banda larga de seu provedor. Espera-se que os resultados da medição possam ser utilizados pelos usuários como ferramenta para o acompanhamento e controle da qualidade de sua conexão banda larga, e que os organismos responsáveis pelo controle e regulamentação desses serviços façam cumprir a legislação vigente, aperfeiçoando e melhorando o acesso e a qualidade da internet banda larga no Brasil. Em tempo, registre-se que desde outubro de 2012, a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) definiu uma tabela visando melhorar a qualidade do serviço de internet prestado no país, determinando que a partir de 1º de novembro de 2013 os provedores de conexão de internet banda larga respeitem uma média mensal de, no mínimo, 70% da velocidade contratada pelo cliente. A ANATEL estipulou ainda que a velocidade também não deve nunca estar abaixo de 30% do valor contratado a partir desta data. Antes dessa nova propositura, tais exigências eram de 60% e de 20% respectivamente. Para 2014, essas médias serão de 80% e 40%. Resta a sociedade usuária desse serviço fazer valer o que foi acordado, cobrando isso diretamente das operadoras ou através do órgão regulador, dada a 27 falta de estrutura do poder público para fiscalizar e punir o que por ele foi normatizado. 2.3 O Projeto Cinturão Digital do Ceará De acordo com Teixeira (2004), Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) como a internet têm o potencial de proporcionar às instituições públicas a oportunidade de fortalecer a relação: Estado x Sociedade, de ampliar as democracias representativas e participativas, de aumentar a eficácia e a eficiência de seus serviços e de expandir e/ou reforçar o desenvolvimento econômico local. Nessa perspectiva, surge em 2008, uma iniciativa do Governo do Estado do Ceará para prover internet de alta velocidade com qualidade, chegando aos lugares mais remotos e a um preço acessível a todos. Trata-se do projeto Cinturão Digital do Ceará (CDC) propondo universalizar o acesso à informação por meio da internet. Pioneira, a iniciativa serviu de modelo para outros estados, inclusive para o Plano Nacional de Banda Larga do Governo Federal, anunciado dois anos depois. De acordo com o resumo executivo do projeto, disponível na página eletrônica da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (ETICE), entidade da Administração Indireta do Governo Estadual, responsável pela implementação e gerência do CDC, segue o descritivo, com última atualização em Julho de 2012. Informa a ETICE que, até recentemente, no Ceará ninguém havia procurado se beneficiar do fato de que Fortaleza, por sua posição geográfica, concentra todos os cabos submarinos que partem (ou chegam) para a América do Norte e Europa, o que pode ser comprovado pelos altos valores pagos em Fortaleza e no interior do Estado para acesso aos serviços digitais. Conforme a entidade, em cidades como Tauá/CE, por exemplo, 1 Mbps chegava a custar R$ 1.000,00 (hum mil reais), quando se sabe que, a época, nos Estados Unidos esse custo era de R$ 10,00 (dez reais) e que no Japão pagava-se apenas R$ 0,20 (vinte centavos) pelo fornecimento de tais serviços. O resultado disso é que apenas 3% da população cearense podiam pagar pelo acesso à internet banda larga. Considerando ainda que o problema relacionado com a baixa qualidade e o alto preço nos contratos de tráfego de dados no Brasil vem do modelo monopolista da telefonia fixa, como também do componente ligado ao fato da extensão territorial 28 do Ceará, para a ETICE, o Governo local acredita que é dele o papel do fomento à competição, tendo que criar ambiente de negócios de telecomunicações propícios ao investimento privado, que leva à massificação do acesso. Visando mudar esse cenário e reconhecendo a importância da universalização dos serviços digitais, com sustentabilidade financeira, o Estado do Ceará resolveu lançar uma infraestrutura de alta tecnologia para suprir suas próprias necessidades de comunicação e, ao mesmo tempo, estimular o desenvolvimento local e social dos cidadãos cearenses. A meta do projeto é alcançar inicialmente cerca de 85% da população urbana do estado, proporcionando benefícios como: A inclusão sócio digital no Estado; A ampliação, de forma estratégica, da infraestrutura de comunicação já existente para uso do Governo; A disponibilização de instrumentos que criem as condições necessárias e suficientes para a geração de emprego e renda no interior do Ceará; A construção de uma infraestrutura, que permita o Estado à implantação de projetos voltados a disseminação dos conhecimentos; A contribuição para a melhoria do ensino formal e da educação da população menos favorecida; entre outras oportunidades. A ETICE relata que tudo começou em 2008, quando foi inaugurada a Rede Metropolitana de Fortaleza – GIGAFOR, uma rede de comunicação de dados de alta velocidade, que conecta todos os órgãos de ensino e pesquisa, localizados na Capital e Região Metropolitana de Fortaleza. Com 15 instituições participantes e 54 km de extensão, a GIGAFOR foi implantada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e auxílio de parcerias com o Governo do Estado do Ceará, Prefeitura Municipal de Fortaleza e a Companhia Energética do Ceará (COELCE). O acordo celebrado com o Governo do Estado, através da ETICE, garantiu a cessão por parte da RNP de 02 (dois) pares de fibras ópticas apagadas da infraestrutura da Rede GIGAFOR. Com isso o Governo promoveu a interligação de unidades Governamentais localizados em Fortaleza e Região Metropolitana. Em contrapartida a ETICE, ficou responsável pela manutenção preventiva e corretiva da infraestrutura, garantindo o funcionamento contínuo da Rede GIGAFOR e sua expansão. O seu uso pelo Governo buscava uma melhoria na Rede Governamental 29 de Dados e Internet do Estado do Ceará – RIGAV, resultado do contrato celebrado entre a ETICE e a Empresa TNL PCS S/A visando a otimização da troca de dados, voz e internet, da redução dos custos com telecomunicações e aperfeiçoar a qualidade de interconexão entre o Cidadão e os órgãos governamentais. O Cinturão Digital do Ceará teve início com a assinatura da ordem de serviço em dezembro de 2008 para o fornecimento e instalação da rota óptica pelo interior do Estado. Finalizado em novembro de 2010 e com seus serviços já disponibilizados para algumas instituições públicas estaduais, o projeto foi inaugurado oficialmente em novembro 2011, contando com um anel de fibra óptica redundante, “iluminado” a 10 Gbps, com cerca de 3.000km de extensão de cabos ópticos de 24 fibras (e ramificações com 12 fibras) lançadas nos postes da COELCE, passando por 92 municípios do Estado do Ceará, contemplando 53 cidades com o sinal de internet via rádio. Essa infraestrutura se interliga com a rede GIGAFOR (Capital e Região Metropolitana), tornando-se uma rede única. Os serviços de transporte de dados já estão implantados e em operação na maioria das unidades do governo do Estado, que se encontram na capital e no interior. Em 2012, a maioria dos órgãos e entidades da Administração Direta e Indireta já haviam encerrado os contratos mantidos com a TNL PCS S/A – Empresa Oi referentes ao fornecimento de transporte de dados, restando apenas aqueles onde o CDC não conseguiu chegar. O Projeto CDC custou em torno de R$ 78 Milhões, investidos na construção da infraestrutura abrangendo contratação de serviços de lançamento de fibra óptica, instalação do sistema de multiplexação de fibras DWDM, instalação de torres e mastros, instalação de rádios e aquisição de equipamentos de rede (switchs, nobreaks, racks) e treinamentos dos técnicos da ETICE envolvidos no projeto. Os recursos necessários a sua realização derivaram do Tesouro Estadual, de financiamentos oriundos de operações de crédito junto ao Banco Mundial (Operação SWAP) e ao BNDES, e da parceria com o Governo Federal firmada através de convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Pelos cálculos da ETICE, em três anos deverá ocorrer o retorno completo do investimento realizado, valor que será absorvido com a economia gerada pela transmissão de dados e pela diminuição de despesas de telefonia pelo CDC, enquanto que o custeio de manutenção será coberto pela iniciativa privada, que se beneficiará da rede. 30 Uma vez concluído, a distribuição do acesso ao CDC se dá através de um sistema de multiplexação de canais em fibra óptica utilizando diversos comprimentos de onda ou por meio da tecnologia Wimax (rede sem fio). Assim, os usuários do CDC podem ser conectados diretamente por meio de fibra óptica ou via rádio, dependendo da topologia no qual está localizado. Figura 1 – Cinturão Digital do Ceará (CDC) Fonte: ETICE. Disponível em: <http://www.etice.ce.gov.br/index.php/cinturao-digital>. Acesso em: 25 fev. 2013. 31 Na primeira fase do projeto foram interligados os órgãos públicos estaduais e Tribunal de Justiça do Estado na Capital e região metropolitana, viabilizado pelo acordo celebrado entre a ETICE e a RNP. Em sua segunda etapa, com a implantação da infraestrutura de fibra óptica no interior do Estado, deu-se a distribuição do acesso as demais unidades governamentais sob o alcance do CDC. No terceiro momento está ocorrendo a disponibilidade da internet banda larga para uso administrativo e em projetos sociais das Prefeituras do interior do Estado do Ceará, selecionadas por meio de Edital de Chamada Pública. Em relação ao Edital nº 01/2012, de acordo com a ETICE apenas 25 prefeituras encaminharam propostas, destas, 21 foram aprovadas, porém, apenas 6 cumpriram os prazos previstos no edital (Banabuiú, Limoeiro do Norte, Quixadá, Tauá, Sobral e Viçosa do Ceará) e atualmente já recebem a conexão de 150 megabits por segundo. Em seguida foi lançado o Edital nº 01/2013 com uma nova chamada pública, sendo anunciado pela ETICE que outras 49 prefeituras municipais farão parte do projeto do Governo do Estado. Encontra-se em andamento a quarta fase do projeto, através do Edital de Concessão de Fibra Óptica para as Empresas Privadas provedoras de serviços de telecomunicações para compartilhar o direito de uso da infraestrutura das fibras ópticas já instaladas do CDC, bem como a sua manutenção, como forma de suprir a demanda de redução de preços da internet junto ao cidadão cearense por meio da competição entre as empresas que necessitavam de infraestrutura para prover serviços de banda larga. A ETICE informa que poderão participar empresas individualmente ou em consórcio, desde que uma das empresas seja do ramo de telecomunicações e possua licença da ANATEL para operar. A concessão será realizada para um prazo de 15 anos, renovável por igual período. Em resumo, observou-se no descritivo do programa disponibilizado pela ETICE, que em relação à infraestrutura do Projeto Cinturão Digital, tem-se que entre backbone e ramificações, a fibra óptica passa ao todo pelo domínio territorial de 100 municípios, sendo que em 52 deles encontram-se os armários DWDM para ampliação e estabilização do sinal, distribuído diretamente por fibras ou via rádio (ERB – Estação Rádio Base) instalados em torres e mastros, com alcance de 2,4 até 80km da base de transmissão. 32 Efetivamente, desde junho de 2011, 48 municípios encontram-se conectados ao Cinturão Digital através de órgãos/entidades estaduais: escolas, delegacias, postos de saúde e hospitais, que se encontram na capital e no interior, proporcionando o acesso à internet banda larga com qualidade e a um custo menor para o do Governo do Estado do Ceará. Ressalte-se que o Cinturão Digital não foi concebido para levar internet gratuita para a casa das pessoas. O projeto visa inicialmente, além da redução do gasto público com comunicações, disponibilizar conectividade de banda larga para que os órgãos do governo possam melhorar e ampliar os serviços públicos por eles prestados, principalmente nas áreas de saúde, educação e segurança. Posteriormente, mediante adesão das prefeituras ao programa proporcionando a expansão e a disseminação dos benefícios do projeto por todo o Estado, espera-se que a população cearense também possa vir a ser efetivamente contemplada com os serviços disponibilizados pelo CDC, como o acesso gratuito em praças públicas e a redução nos custos dos serviços de provimento de internet banda larga com qualidade, possibilitando àqueles menos favorecidos o acesso à informação e aos frutos desta; de modo que esses fatores contribuam diretamente para alavancar o desenvolvimento sócio-econômico local. Considerando o CDC como uma política pública que geralmente propõe soluções visando atender às mais diversas necessidades da população, pode ocorrer que, por motivos alheios ou não à vontade do agente governamental, nem todas estas soluções possam ser efetivamente implementadas ou apresentar os resultados esperados. Um dos instrumentos fundamentais para analisar estas questões é a avaliação de impacto, que permite isolar a contribuição de uma ação específica no alcance dos resultados de interesse do programa. No entanto, isolar o impacto de uma ação pode não ser uma tarefa simples e fácil. Na concepção de Filho (2012, p. 9), a avaliação de impacto “usa ferramentas estatísticas para estimar o efeito de um programa sobre os seus beneficiários, ou seja, se o programa atingiu ou não seus objetivos iniciais e qual a magnitude desse efeito”. Para o autor, essa avaliação necessita ter indicadores objetivos e mensuráveis, que possam ser utilizados para aferir o sucesso do programa. 33 Além do mais é necessário também saber se os benefícios gerados a partir do impacto estimado superam os custos do programa, ou seja, se o projeto vale a pena do ponto de vista econômico, tornando clara a relação custo x benefício e/ou impacto x retorno. A ETICE informou existir um estudo sobre o estabelecimento de um marco analítico, metodológico e gerencial, voltado para a ampliação dos impactos mais relevantes do Programa Cinturão Digital do Ceará. Este trabalho foi realizado pela empresa especializada BMR Consultoria e Treinamento (contratada pelo Governo do Estado do Ceará, através da ETICE, e em parceria com o Banco Mundial), para desenhar uma sistemática de Avaliação de Resultados do Programa CDC. Entretanto, as orientações prestadas pela consultoria ainda não foram colocadas em prática. Recentemente, a ETICE divulgou na sua página eletrônica11 que o Cinturão Digital trouxe uma economia de R$ 20 milhões anuais para o Governo do Ceará, informando que antes, os gastos com o fornecimento dos serviços de internet para os órgãos e autarquias estaduais giravam em torno de R$ 38 milhões/ano até 2007, e que hoje não passa de R$ 18 milhões. Isso revela que o Governo já obteve o retorno do investimento financeiro realizado, mas que ainda faltam serem mensurados os ganhos futuros, inclusive sob o enfoque do desenvolvimento econômico local, bem como da repercussão social que a universalização do acesso à internet pode e deve vir a proporcionar ao cidadão cearense. Nesse contexto, o presente estudo propôs-se a testar uma das metodologias científica adequada à avaliação de impacto de políticas públicas, objetivando verificar se o que foi planejado e executado produziu os efeitos e/ou alcançou os resultados desejados. 11 Disponível em: <http://www.etice.ce.gov.br/index.php/sala-de-imprensa/noticias/44421-cinturaodigital-projeto-e-economia-para-o-estado>. Acesso em: 11 dez. 2013. 34 3 ASPECTOS METODOLÓGICOS Esta seção se dedica à apresentação da metodologia empregada no presente estudo, cujo principal propósito é analisar se existe efeito do CDC na qualidade do acesso à internet nas escolas públicas estaduais do Ceará beneficiadas pelo projeto, buscando captar na percepção dos diretores dessas instituições se ocorreu uma melhoria nesse serviço. O Cinturão Digital do Ceará ainda que não tenha sido idealizado exclusivamente como um projeto de cunho social, dado o interesse do Governo em reduzir custos e atender suas próprias necessidades de TIC, contempla também em seu arcabouço uma política pública de inclusão digital, que pode obter um alcance social para a população atendida por alguns dos benefícios desse projeto. 3.1 Métodos de avaliação de impactos em programas sociais A finalidade de uma avaliação de impacto é verificar se, na realidade, um determinado programa está alcançando os objetivos ou impactos esperados, possibilitando também verificar se os recursos que estão sendo investidos estão de fato sendo aplicados da melhor maneira possível. De acordo com Barros e Lima (2012, p. 13): “A decisão dos formuladores de políticas públicas de investir em um programa social sempre parte do pressuposto de que aquela intervenção terá um impacto positivo sobre um conjunto de resultados de interesse coletivo ou individual”. Reforçam os autores que, em última instância, esses resultados devem trazer benefícios para ao menos uma parcela da sociedade. Por outro lado, podemos argumentar que o objetivo de uma avaliação de impacto vai muito além de simplesmente determinar a existência ou não do impacto. Mesmo que tenhamos convicção da existência de impacto de um dado programa, ainda assim será necessário conduzir uma avaliação para que possamos “entender” o impacto. Tanto para o gestor do programa, quanto para os usuários, tão ou mais importante do que saber se há algum impacto é conhecer a magnitude do impacto, assim como saber sobre quais dimensões o programa tem impacto e que canais permitem que este impacto se manifeste. Este conhecimento é indispensável para o aperfeiçoamento do programa e para a melhoria na sua adequação às necessidades de seus usuários. (BARROS; LIMA, 2012, p. 15). 35 Dessa forma, o impacto do programa é determinado pela comparação entre duas situações: “uma real (a situação dos participantes após a participação no projeto) e outra hipotética (a situação em que estariam caso não tivessem tido a oportunidade de participar do programa)”. (BARROS; LIMA, 2012, p. 15). Essa análise deve ser feita de forma objetiva, pois a avaliação necessita ter indicadores objetivos e mensuráveis, que possam ser utilizados para aferir o sucesso do programa, bem como, é necessário que haja um grupo de controle, ou seja, pessoas, escolas ou regiões que não foram atendidas pelo programa e que são parecidas com o grupo que sofreu a intervenção, chamado, seguindo a tradição da literatura, de grupo de tratamento. (FILHO, 2012). Barros e Lima (2012, p. 26) alertam para os momentos em que as avaliações de impacto de um programa podem ocorrer: “(i) antes do início do programa (avaliações ex-ante); (ii) durante o período de execução do programa (avaliações ex-post de percurso); e (iii) após a conclusão do programa (avaliações ex-post de encerramento)”. Para os autores, em cada caso, a avaliação é caracterizada por metodologias e objetivos distintos, condicionados à disponibilidade de informações relacionadas ao programa naquele momento do tempo. Destaque-se que as avaliações de impacto ex-post não são baseadas em modelos teóricos, mas sim em métodos empíricos que procuram estimar diretamente dos dados os impactos do programa. Entendimento do qual comungam Peixoto et al. (2013, p. 33) complementando que: Em contraste com o método ex-ante, que geralmente é empregado antes da implementação da intervenção, as avaliações ex-post só podem ocorrer durante ou após a execução do programa. Ademais, a maior parte das avaliações ex-post são “model-free”, isto é, preferem deixar os próprios dados “falarem” ao invés de proporem modelos teóricos para explicar os resultados encontrados. Extremamente úteis para se conhecer a efetividade das intervenções, as avaliações ex-post normalmente só estimam os impactos específicos dos programas. Os métodos de avaliação de impacto em programas sociais geralmente dividem-se em dois grupos: experimental e não-experimental. Para Peixoto et al. (2012), na literatura sobre avaliação de impacto observa-se uma variedade de métodos distintos que, embora façam uso de hipóteses específicas para identificar o efeito causal do programa, procuram mimetizar o método experimental que é baseado na seleção aleatória dos participantes e não participantes do programa. 36 De acordo Oliveira e Neto (2007, p. 356): A principal diferença entre estes métodos se refere à natureza do grupo de controle. No método não-experimental, o grupo de controle é composto de indivíduos que possuem características similares ao grupo de tratamento, utilizando uma fonte alternativa de informações. Este método utiliza a econometria para se corrigir o viés decorrente do problema de heterogeneidade não observada, já que o grupo de controle não é constituído através de um mecanismo de alocação aleatória sob controle do pesquisador. Os indicadores de eficácia são comparados entre os grupos e os resultados são interpretados em termos de “diferenças em diferenças”: diferenças entre os grupos das diferenças entre os indicadores nos períodos depois e antes do programa, que devem ser estatisticamente significantes. Todavia, uma comparação simples entre os indicadores de eficácia dos grupos não permite obter estimativas consistentes, porque os grupos podem não ser equilibrados em relação a todas as variáveis associadas ao resultado. Desse modo, uma diferença observada após o tratamento pode se dever ao efeito real do tratamento ou a diferenças pré-existentes entre os grupos. A avaliação de resultados e impactos pode envolver a adoção de entrevistas com agentes institucionais, grupos de discussão com beneficiários dos programas, pesquisas amostrais, delineamentos quase-experimentais ou estudos comparativos de casos. A escolha do método a ser empregado numa avaliação de impacto depende em larga medida do programa a ser avaliado, dos arranjos institucionais existentes, dos custos envolvidos na avaliação, além da disponibilidade de dados. (JANNUZZI, 2011). Nesse contexto, e considerando as características e o objetivo da pesquisa, identificou-se um dos métodos mais empregados na área de avaliação de impacto de programas sociais: o método das diferenças em diferenças (DD). 3.2 O método diferenças em diferenças Nas ciências sociais aplicadas, muitas pesquisas são feitas analisando os chamados experimentos naturais, que ocorrem quando algum evento exógeno, como, por exemplo, uma mudança de política do governo muda o ambiente no qual indivíduos, famílias, instituições ou municípios operam. Para analisar um experimento natural a pesquisa tem que ter um grupo de controle que não foi afetado pela mudança e um grupo de tratamento que foi agraciado pelo evento. Estes grupos devem ter características semelhantes, com exceção do recebimento da política. 37 Quanto a esse aspecto, Amaral (2011, p. 2) ressalta que: Ao contrário de um experimento real em que os grupos de tratamento e controle são escolhidos aleatoriamente para impedir viés nas estimativas, os grupos em um experimento natural emergem da forma com que a mudança é efetuada. Para estudarmos as diferenças entre os dois grupos precisamos de dados de antes e depois do evento para os dois grupos. Assim, nossa amostra é dividida em quatro grupos: (1) grupo de controle antes da mudança; (2) grupo de controle depois da mudança; (3) grupo de tratamento antes da mudança; e (4) grupo de tratamento depois da mudança. Foguel (2012) entende que o problema central da área de avaliação de programas é construir um bom contrafactual do grupo tratado pelo programa, ou seja, ter um grupo de comparação que seja o mais próximo possível do que teria ocorrido com o grupo tratado caso este não tivesse recebido a intervenção. Considerando que qualquer indivíduo está sempre em uma de duas situações distintas: ter sido ou não ter sido tratado pelo programa, idealmente, o melhor grupo de comparação para os indivíduos tratados seria formado pelos mesmos indivíduos na situação em que eles não fossem tratados. Contudo, essas situações são mutuamente exclusivas: claramente não é possível observar os mesmos indivíduos na condição de tratados e de não tratados ao mesmo tempo. O desafio do avaliador é encontrar um grupo de indivíduos que represente adequadamente a situação de não tratamento, ou seja, um grupo que funcione como um bom contrafactual do grupo tratado. (FOGUEL, 2012, p. 49). O método de Diferenças em Diferenças (DD) é indicado quando a pesquisa dispõe de informações sobre os grupos de tratamento e controle em dois períodos distintos para cada uma das unidades de observação que compõe cada grupo. Dessa forma, sua operacionalização requer a existência de informações para ambos os grupos para pelo menos um período de tempo antes e um período depois da implementação do programa. Em se tratando dessa metodologia, Foguel (2012, p. 69) observa que por ser um método não experimental, ou seja, não é baseado na seleção aleatória dos grupos de tratamento e controle, ele “não garante que os dois grupos se diferenciem entre si apenas pela participação no programa”. Contudo, o autor salienta que em relação a outros métodos nãoexperimentais, o método DD é capaz de lidar com o viés de seleção associado a certo tipo de características não observáveis dos indivíduos, especificamente àquelas que não variam no tempo. 38 Gráfico 4 – Diferenças entre grupos no tempo y Tratamento Contrafactual Controle Antes Depois t Fonte: Elaborado pelo autor Conforme menciona Foguel (2012, p. 69), o método Diferenças em Diferenças (DD) é baseado no cálculo de uma dupla subtração: “a primeira se refere à diferença das médias da variável de resultado entre os períodos anterior e posterior ao programa, para o grupo de tratamento e para o de controle, e a segunda se refere à diferença da primeira diferença calculada entre esses dois grupos”. Quadro 1 – Modelo de diferença em diferenças Grupo Antes Depois Tratamento T0 T1 Controle C0 C1 Diferenças T 0 – C0 T 1 – C1 Fonte: Elaborado pelo autor Diferenças T1 – T0 C1 – C0 (T1 – T0) – (C1 – C0) ou (T1 – C1) – (T0 – C0) Pode-se inferir dos dados apresentados no Quadro 1, que: T1 – T0 e C1 – C0: representam, respectivamente, em que medida o grupo de tratamento e o de controle se alteraram, entre o período anterior e posterior ao evento que está sendo examinado; 39 Como por hipótese o grupo de controle não sofreu impacto do evento, essas mudanças se deveram a outros fatores, que também devem ter influenciado o grupo de tratamento; T0 – C0 e T1 – C1: representam as diferenças inerentes entre grupos de controle e tratamento antes e depois do evento, respectivamente; Subtraindo (T1 – T0) – (C1 – C0) ou (T1 – C1) – (T0 – C0), encontraremos a diferença da diferença verificada entre os grupos de tratamento e controle, entre os dois períodos: antes e depois da política. O resultado potencial da hipótese requerida pelo método Diferenças em Diferenças é que a variação temporal na média do contrafactual do grupo tratado seja igual à variação observada na média do grupo de controle. 3.2.1 Hipótese básica A principal hipótese do método Diferenças em Diferenças é que a trajetória temporal da variável de resultado para o grupo de controle represente o que ocorreria com o grupo tratado caso não houvesse a intervenção (contrafactual). Foguel (2012, p. 70) reforça que “naturalmente, essa hipótese não pode ser testada diretamente nos dados, mas uma indicação de sua validade aparece quando as trajetórias dos dois grupos são parecidas pré-programa”. De acordo com o autor, se as trajetórias se assemelham durante o período antes do programa, então parece razoável supor que a evolução do grupo de controle após o programa represente com fidedignidade o que ocorreria com o grupo de tratados na situação de não tratamento. Dessa forma, quando existem dados para vários períodos de tempo préprograma, basicamente testa-se se as séries da variável de resultado para os dois grupos possuem a mesma tendência temporal. Embora este não seja um teste cabal da hipótese, ele é bastante intuitivo e pode ser realizado com facilidade. 40 3.2.2 O modelo econométrico do método DD O método de Diferenças em Diferenças pode ser utilizado com dados seccionais (cross-section) repetidos no tempo. As informações seccionais são dados temporais calculados para unidades mais agregadas tais como escolas, hospitais, setores de atividade, bairros, municípios ou estados. A agregação dos dados normalmente é feita de termos de proporções ou médias das variáveis de interesse para a avaliação. Já os momentos no tempo geralmente são meses ou anos. Matematicamente, o método DD pode ser representado com a seguinte equação: DD = ( yT1 – yC1 ) – ( yT0 – yC0 ) (1) Considerando que “y” representa a média da variável estudada para cada ano e grupo, com a letra representando o grupo a qual o dado pertence (“C”, para o grupo de controle e “T”, para o grupo de tratamento) e o número subscrito representando o período da amostra (“0”, para antes e “1”, para depois da mudança); “DD” é a estimativa a partir da diferença em diferenças, a qual determina o impacto do experimento natural sobre a variável que pretende-se explicar. De acordo com Foguel (2012), uma maneira simples de demonstrar o estimador do método de DD é calculando uma dupla diferença de médias da variável de resultado. Denotando T = {1,0} a participação (1) ou não (0) no programa e t = {1,0} os períodos posteriores (1) e anterior (0) à intervenção, respectivamente; o estimador de DD será dado pela diferença temporal do que ocorreu com o grupo de tratamento subtraída da mesma diferença calculada para o grupo de controle, conforme a expressão abaixo: βDD = {E[Y/T = 1, t = 1] – E[Y/T = 1, t = 0]} – {E[Y/T = 0, t = 1] – E[Y/T = 0, t = 0]} (2) Nesse estimador está intrínseca a hipótese de que a variação temporal na variável de resultado para o grupo de controle representa a variação contrafactual do grupo tratado, ou seja, a variação que seria experimentada pelo grupo de tratamento na ausência do programa. (FOGUEL, 2012). 41 Por conseguinte, a diferença entre a variação efetivamente observada para o grupo de tratamento e a variação contrafactual fornecida pelo grupo de controle possivelmente vai capturar o efeito causal da intervenção, em decorrência dessa hipótese. Gráfico 5 – Estimador DD = Impacto y Impacto Grupo de Tratamento Grupo de Controle t Antes Política Depois Fonte: Elaborado pelo autor Uma forma equivalente de expressar o estimador DD é pela dupla diferença, que é apenas um rearranjo da expressão (2), demonstrando que o estimador de DD também pode ser visto como o contraste das diferenças de médias existentes entre os dois grupos no período anterior e posterior ao programa. Nesse momento, Foguel (2012) enaltece que se torna ainda mais evidente que o método permite a existência de diferenças de médias entre os dois grupos no período pré-programa, isto é, o método não requer que o segundo termo entre chaves na equação (3) seja igual a zero. βDD = {E[Y/T = 1, t = 1] – E[Y/T = 0, t = 1]} – {E[Y/T = 1, t = 0] – E[Y/T = 0, t = 0]} (3) 42 A média da variável de resultado para o grupo de controle no período anterior ao programa não precisa coincidir com a média correspondente para o grupo de tratamento, ou seja, os grupos podem ou não partir de um mesmo ponto. Na realidade, na maior parte das aplicações do procedimento de diferenças em diferenças, os dois grupos têm essas médias distintas, um fato que tipicamente reflete as diferentes influências dos atributos observáveis e não observáveis dos indivíduos sobre a variável de resultado. O que o método de fato requer é que a variação temporal do que ocorre com o grupo de controle antes e depois do programa reflita corretamente a variação temporal do grupo de tratados na situação contrafactual de não tratamento. (FOGUEL, 2012, p. 75). Representando o método DD por meio de uma regressão, e supondo inicialmente que se têm observações para dois períodos de tempo, um anterior e o outro posterior ao programa, a equação básica do modelo econométrico pode ser especificada como: Yit = β0 + β1.D2it + β2.Dtit + β3.D2it.Dtit + β4.Xit + εit (4) onde “Y” representa a variável estudada, tendo o subscrito “t” acrescentado à notação para expressar o período de tempo no qual o indivíduo (ou unidade de observação) “i” se encontra, ou seja, denotando “i” = {1,0} a participação (1) ou não (0) no programa e “t” = {1,0} os períodos posterior (1) e anterior (0) à intervenção, respectivamente; sendo “β” os coeficientes estimados; e criando as variáveis indicadoras (ou dummys): “D2”, igual a “1” para o período pós-política, e “0” caso os dados se refiram ao período antes da política e “Dt”, igual a “1” se o indivíduo pertence ao grupo de tratamento e “0” se ele pertence ao grupo de controle; “X” é uma matriz de variáveis explicativas caracterizadoras da unidade de referência; e o termo de erro aleatório não observado (variáveis independentes não incluídas) é dado por “ε”. Sob a hipótese de que E [ε/X, D2, Dt ] = 0, o efeito causal do programa (condicional a X) é medido pelo parâmetro “β3”. O modelo estimado para esta equação será: E (Y/X) = ^β0 + ^β1.D2 + ^β2.Dt + ^β3.D2.Dt + ^β4.X (5) Considerando que os coeficientes estimados sejam positivos, temos que: 43 ^β0: capta justamente o valor esperado da variável estudada quando se analisa o grupo de controle antes da mudança, o que nos dá, basicamente, o parâmetro de comparação (termo constante). ^β1: capta o impacto de se estar no período depois da política sobre a variável estudada; ^β2: capta o impacto de se estar no grupo de tratamento sobre a variável estudada; ^β3: capta o impacto pós-evento do grupo de tratamento vis-à-vis (comparativamente) do grupo de controle sobre a variável estudada (que é justamente o que se quer descobrir). Os valores esperados médios da variável dependente definida na equação (5), para cada grupo e período, são dados por: _ (1) E(Y/D2=1, Dt=1, X) = ^β0 + ^β1 + ^β2 + ^β3 + ^β4X _ (2) E(Y/D2=1, Dt=0, X) = ^β0 + ^β1 + ^β4X _ (3) E(Y/D2=0, Dt=1, X) = ^β0 + ^β2 + ^β4X _ (4) E(Y/D2=0, Dt=0, X) = ^β0 + ^β4X Quadro 2 – Regra de decisão do modelo de diferença em diferenças Grupo Antes Depois Tratamento (3) (1) Controle (4) (2) Diferenças ^β2 ^β2 + ^β3 Fonte: Elaborado pelo autor Diferenças ^β1 + ^β3 ^β1 ^β3 A regra de decisão está em cima dos coeficientes em que o valor da probabilidade é menor que 5%, ou seja, para um grau de confiança de 95%, tem-se que: Pvalor < 0,05 implicando que a variável é estatisticamente significante e relevante para explicar a variável dependente, e, como visto no Quadro 2, ^β3 é quem vai dizer se a política teve impacto, e se teve, é do tamanho de ^β3. Assim, espere-se que ^β3 seja positivo e estatisticamente significante. No entanto, é preciso controlar por outros fatores relevantes na regressão, o que no jargão econométrico quer dizer que, antes de alegar que “^β3” dará o impacto da política exógena, tem-se que descobrir e isolar o efeito de todas as outras variáveis que podem estar causando mudanças na variável estudada. 44 De acordo com Amaral (2011), isso é feito inserindo as variáveis de controle relevantes na regressão, evitando-se assim que efeitos de outras variáveis produzam viés da estimação. Com esse procedimento determina-se, portanto, o efeito puro do experimento natural sobre a variável que se pretende explicar, desde que as demais variáveis mantenham-se constantes (efeito “ceteris paribus”). 3.3 A base de dados Para a realização dessa pesquisa, procurou-se avaliar os meios necessários para consecução do seu objetivo que é analisar se existe efeito do Cinturão Digital do Ceará (CDC) quanto ao acesso e qualidade dos serviços de internet nas escolas públicas estaduais beneficiadas pelo projeto, de modo a averiguar se o programa produziu resultados, e se produziu, tentar mensurar a magnitude do impacto proporcionado pela intervenção do programa. Observou-se que, por ainda não ter realizado nenhuma análise ou avaliação quanto à efetividade do Projeto CDC, o Governo local dispõe de poucas informações qualificadas e/ou quantificadas quanto o alcance e efetividade desse programa. Em 2011, os benefícios dessa política estavam disponíveis somente para alguns órgãos/entidades do Estado, como as escolas públicas, definida como unidade de referência a ser analisada nessa pesquisa. Inicialmente, identificaram-se algumas restrições como a escassez do tempo, da logística e dos custos gerais para a coleta de dados primários essenciais ao estudo, a fim de captar algum impacto promovido pela política junto aos principais beneficiados pelo programa (nesse caso, alunos, professores e diretores das escolas envolvidas na pesquisa), o que poderia vir a ser obtido por meio de questionários direcionados aos grupos, com perguntas pontuais que produzissem respostas objetivas à problemática suscitada. Isto posto, buscou-se analisar dados disponíveis que pudessem refletir a percepção de melhoria no acesso e qualidade da internet banda larga após a implementação dos serviços disponibilizados pelo Cinturão Digital. Para tanto, colheu-se junto a ETICE a relação das escolas que foram beneficiadas pelo projeto CDC em 2011, agregando a cada unidade as informações pertinentes ao objeto da pesquisa, extraídas de suas avaliações institucionais 45 realizadas pela Secretaria da Educação do Estado do Ceará – SEDUC/CE e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira – INEP (Prova Brasil), referentes aquele ano. No seu delineamento metodológico, a pesquisa enquadrou-se no plano quase-experimental (onde não há distribuição aleatória), útil, portanto, quando se quer medir o impacto de um programa no caso em que não é possível distribuir pessoas ou entidades para serem atendidas pelo programa, ou seja, não se pode controlar o processo de decidir a quem cabe o tratamento. Optou-se por realizar uma análise quantitativa dos dados, com a utilização de um método científico aplicado na avaliação de impacto de programas sociais, nesse caso, o método de diferenças em diferenças (DD), anteriormente apresentado. Isso foi possível porque a pesquisa dispõe de informações sobre as escolas beneficiadas e as que não foram contempladas pela política (grupos de tratamento e controle) em dois períodos distintos (2009 e 2011) para cada uma das unidades de observação que compõe cada grupo, conforme reque a teoria do método diferenças em diferenças (DD). Quanto aos períodos, buscaram-se as mesmas informações para as escolas contempladas pelo projeto em relação aos dados da SEDUC/CE e da Prova Brasil (realizada a cada dois anos) de 2009 e de 2011, sabendo que em 2009 a internet disponível naquelas escolas ainda não era fornecida pelo Cinturão Digital do Ceará. Assim, obteve-se informações para as unidades observadas em dois períodos diferentes, em 2009 antes da política, e em 2011 depois da política. Quanto aos grupos, a ETICE forneceu uma relação com 169 escolas beneficiadas em 2011 com os serviços de internet proporcionados pelo CDC. Em tese, essas escolas passariam a compor o Grupo de Tratamento. A SEDUC/CE, com base no Censo Escolar 2011 realizado pelo INEP, relaciona em seu site informações de 675 escolas que compunham a rede pública de ensino de responsabilidade do Governo Estadual, naquele ano. Desse universo, seria extraída uma amostra com as escolas que iriam compor o Grupo de Controle, no caso, aquelas que não foram beneficiadas com a internet banda larga fornecida pelo Cinturão Digital do Ceará. Uma análise preliminar da população observada apontou que do total de 675 escolas, 623 estavam localizadas nas zonas urbanas das sedes e/ou distritos 46 dos municípios cearenses, representando 92% do total, enquanto que os 8% restante, ou seja, 53 escolas encontravam-se na zona rural. Verificou-se ainda que 641 escolas possuíam laboratório de informática, mas apenas 625 delas contavam com computadores, sendo que 617 tinham acesso à internet, e destas, 541 eram com conexão banda larga. Ocorre que na avaliação de programas sociais e de acordo com a hipótese básica do método DD, para se construir o contrafactual do grupo tratado deve-se obter um grupo de comparação com características semelhantes. Considerando as particularidades do projeto e da pesquisa, estabeleceuse como atributos comuns às escolas, tanto em 2009 quanto em 2011, de modo a tornarem aptas a serem observadas nesse estudo, o fato de: Serem escolas públicas da rede estadual de ensino; Estarem localizadas na zona urbana dos municípios (sede e distritos); Terem infraestrutura de TIC: laboratório de informática, computador e internet banda larga; e Apresentarem respostas válidas nos questionários da escola e do diretor em relação à Prova Brasil dos dois períodos. Mediante as prerrogativas instauradas, identificou-se que das 169 instituições de ensino mencionadas pela ETICE, somente 44 escolas beneficiadas pelo projeto CDC atendiam a todos os requisitos nos dois períodos de tempo, definindo-se assim o Grupo de Tratamento para 2011 e 2009. Observando as escolas não contempladas com a internet banda larga fornecida pelo CDC, mas que exceto o fato de não terem sido beneficiadas pelo projeto, apresentavam características semelhantes, compondo um bom contrafactual ao grupo de tratados, resultou que 164 escolas permitiam serem observadas tanto em 2011 (depois da política) quanto em 2009 (antes da política), definindo-se assim o Grupo de Controle da pesquisa. Por ocasião da Prova Brasil, o INEP realiza alguns questionários de cunho sócio-econômico que produzem informações importantes para subsidiar o Governo na formulação das políticas públicas necessárias ao desenvolvimento da educação no país, como por exemplo, os que indagam os diretores solicitando que: “Indique se nesta escola existem ou não os recursos apontados e quais são suas condições de uso”. 47 Verificou-se que um item perguntava-os sobre o: “Acesso à internet para uso dos alunos”. No que diz respeito ao objeto dessa pesquisa, esse item foi qualificado como a variável a ser estudada, metodologicamente, a variável dependente, ou seja, o “Y” do modelo econométrico do método diferença em diferenças, visto na equação (4). De responsabilidade do diretor, as repostas a serem dadas a esse questionamento, tinham como opções: (a). Bom; (b). Regular; (c). Ruim; e (d). Inexistente. Para efeitos metodológicos da pesquisa, quantificou-se essas informações imputando a sentença “1” para a resposta: “(a). Bom” e a sentença “0” para as demais respostas. Nesse ponto, optou-se por considerar que o atributo “Bom” dado pelos diretores quanto à existência e condições de uso da internet pelos alunos daquelas escolas, poderia ser aquele que qualificaria melhor a percepção deles em relação ao efeito produzido pela internet banda larga de qualidade que passou a ser fornecida pelo Cinturão Digital do Ceará a partir de 2011. Tendo em vista o modelo econométrico a ser aplicado e a importância da qualificação da informação que resultaria no possível impacto promovido pela política, buscou-se controlar outras variáveis relevantes à regressão, visando descobrir e isolar o efeito de todas as outras variáveis que pudessem vir a causar mudanças na variável estudada, evitando-se assim que os efeitos dessas outras variáveis produzam viés na estimação. Dessa forma, e aproveitando os microdados disponibilizados pelo INEP, extraíram-se alguns dados das escolas e de seus diretores com o intuito de agregar informações caracterizadoras dessas variáveis. Quanto às características das escolas que compõem os grupos observados, foram vinculadas informações sobre a infraestrutura dessas unidades. Dentre os itens questionados pelo INEP, optou-se por analisar as respostas dadas pelos gestores relacionadas às condições de uso de bibliotecas e laboratórios dessas instituições. Para efeitos metodológicos da pesquisa, quantificou-se esses dados atribuindo a sentença “1” para a resposta: “(a). Bom”, e a sentença “0” para as demais avaliações: “(b) Regular; (c) Ruim; e (d) Inexistente”. Manteve-se o entendimento de que o conceito “Bom” qualifica melhor a percepção do diretor. 48 Quanto às características dos diretores dessas escolas, foram associadas informações qualificadoras desses indivíduos. Dentre as particularidades elencadas pelo INEP, optou-se por analisar as respostas relacionadas ao sexo e idade dos gestores. Para efeitos metodológicos da pesquisa, quantificou-se os dados referentes ao sexo, atribuindo a sentença: “1” para “Masculino” e “0” para “Feminino”; quanto à idade do diretor a sentença foi determinada em anos. 3.4 O modelo Logit Os resultados empíricos desta dissertação serão obtidos a partir da estimação de modelos logit, tendo em vista que nos modelos estimados a variável dependente é do tipo dicotômica, ou seja, se um evento acontece seu valor é “1”, caso contrário seu valor é “0”. No modelo logit, a probabilidade de se observar uma aprovação (Y=1), condicionada a um vetor de variáveis explicativas possui uma distribuição logística, dada por: (6) Em outras palavras, esse modelo é baseado na função de probabilidade logística acumulada, que é especificada por: (7) Conforme Gujarati (2006) a distribuição logística tende a determinar probabilidades maiores para Y=0 quando probabilidades menores para Y=0 quando é extremamente pequeno (e é muito grande) em relação à distribuição normal. Na equação (7), dada a ocorrência de é a probabilidade de ocorrência de um certo evento, na observação i, e k corresponde ao número de observações da amostra existente. Já F(Zi) é definida como a função de distribuição acumulada, representa o coeficiente das variáveis explicativas. O gráfico a seguir mostra uma função de distribuição logística acumulada. 49 Gráfico 6 – Função logística acumulada Fonte: Gujarati (2006) A estimação do modelo logit é feita usualmente pelo método de Máxima Verossimilhança. Este método consiste em maximizar a função de verossimilhança, que significa obter os valores dos parâmetros desconhecidos de maneira tal que a probabilidade de observar os dados Y seja a mais elevada possível. Os coeficientes do modelo logit não têm uma interpretação tradicional de efeito marginal. Os betas representam a inclinação da função logarítmica da razão de chances. Desta forma, deve-se concentrar no sinal dos coeficientes e nos seus níveis de significância. 50 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados encontrados foram obtidos em dois estágios, seguindo a metodologia de Diferenças em Diferenças apresentada nessa pesquisa. A primeira análise trata de uma estatística descritiva básica, ao observar o contraste das diferenças de médias existentes entre os dois grupos no período anterior e posterior ao programa, sendo que a diferença encontrada vai capturar o efeito causal da intervenção. A segunda etapa aborda o método DD por meio de regressão linear por Máxima Verossimilhança, imputando ao modelo econométrico algumas variáveis explicativas caracterizadoras das escolas e de seus diretores, visando isolar o efeito de outras variáveis não observadas que podem estar causando mudanças na variável estudada. 4.1 Estatística descritiva Analisando as escolas que compõem a amostra e sua distribuição pelo território cearense, verificou-se que Fortaleza (4), Sobral (6) e Juazeiro do Norte (7) concentram 17 das 44 escolas que compõem o Grupo de Tratamento (GT), estando às outras 27 espalhadas por 16 municípios: Granja (1), Itapipoca (2), Itapagé (1), Canindé (1), Caucaia (4), Maracanaú (2), Crateús (2), Nova Russas (1), Quixadá(1), Quixeramobim (2), Limoeiro do Norte (1), Russas (1), Iguatu (2), Lavras da Mangabeira (1), Barbalha (1) e Crato (4). Já para as 164 escolas do Grupo de Controle (GC), temos que 115 estão situadas em Fortaleza e as outras 49 encontram-se distribuídas em 40 cidades do interior do Estado do Ceará: Maranguape (3), Pacatuba (2), Tabuleiro do Norte (2), Iracema (2), Aurora (3), Barro (2), Poranga (2), e uma escola situada em Bela Cruz, Morrinhos, São Benedito, Santa Quitéria, Amontada, São Gonçalo do Amarante, Uruburetama, Baturité, Guaramiranga, Itapiúna, Redenção, Cascavel, Caucaia, Eusébio, Itaitinga, Maracanaú, Monsenhor Tabosa, Boa Viagem, Piquet Carneiro, Icó, Várzea Alegre, Baixio, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira, Umari, Assaré, Potengi, Caririaçu, Mauriti, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Antonina do Norte. 51 Mediante a distribuição territorial da amostra acima detalhada, os aspectos metodológicos da pesquisa e o tratamento qualificado que foi atribuído às informações da base de dados dessa amostra, resolveu-se construir algumas tabelas para representar a estatística descritiva da variável internet para uso dos alunos nos dois períodos analisados, 2009 e 2011 (antes e depois da política). Tabela 1 – Média da variável internet para uso dos alunos nos anos de 2009 e 2011 sobre a amostra total GRUPOS 2009 2011 DIFERENÇAS TRATAMENTO 0,5681 0,7727 0,2046 CONTROLE 0,6012 0,7317 0,1305 DIFERENÇAS 0,0741 -0,0331 0,0410 Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa As médias obtidas na Tabela 1 foram projetadas graficamente abaixo possibilitando visualizar o comportamento da variável estudada em relação aos períodos anterior e posterior ao evento. Gráfico 7 – Média da variável internet para uso dos alunos sobre a amostra total Fonte: Elaborado pelo autor Em relação a todas as escolas que compõem a amostra: 44 do grupo de tratamento e 164 do grupo de controle, observa-se nos dados da Tabela 1, projetados no Gráfico 7, que para o grupo de tratamento, a média da variável estudada foi de 0,5681 em 2009 e que progrediu para 0,7727 em 2011, 52 demonstrando um aumento de 0,2046; enquanto que no grupo de controle obteve-se uma média de 0,6012 em 2009 evoluindo para 0,7317 em 2011, o que revela um aumento de apenas 0,1305. De uma forma geral, os resultados vistos na Tabela 1 mostram que a política implementada pelo projeto Cinturão Digital do Ceará promoveu um diferencial de avaliação positivo, apresentando, em média, um acréscimo de 7,41 pontos percentuais na percepção dos diretores quanto à qualidade do acesso à internet banda larga para uso dos alunos. Apesar de tímido, esse percentual demonstra uma melhoria nos serviços de internet para as escolas beneficiadas pelo programa, em relação àquelas que ainda não foram contempladas pelo projeto CDC no âmbito das escolas públicas estaduais do Ceará. Tabela 2 – Média da variável internet para uso dos alunos nos anos de 2009 e 2011 para os municípios de Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte GRUPOS 2009 2011 DIFERENÇAS TRATAMENTO 0,5294 0,7059 0,1765 CONTROLE 0,6034 0,7069 0,1035 DIFERENÇAS 0,0730 -0,0740 -0,0010 Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa A Tabela 2 apresenta a média da variável estudada para as escolas situadas em Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte. Comparando os resultados obtidos em 2009 com os de 2011, observa-se que para as escolas do grupo de tratamento a média dessa variável apresentou um aumentou de 0,1765; enquanto que para as escolas que compõem o grupo de controle ocorreu um acréscimo de apenas 0,1035 no mesmo período, ainda que as médias das escolas não beneficiadas fossem superiores àquelas obtidas pelas escolas contempladas pelo projeto CDC. 53 Gráfico 8 – Média da variável internet para uso dos alunos para as escolas da amostra situadas em Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte Fonte: Elaborado pelo autor Em outra perspectiva, o Gráfico 8 permite visualizar que as escolas tratadas saíram bem atrás na avaliação realizada em 2009, e que após o projeto CDC, chegaram praticamente juntas às percepções tidas pelas escolas do grupo de controle em 2011. Assim, denota-se que a política ocasionou um diferencial de avaliação positivo, apresentando, em média, um acréscimo de 7,30 pontos percentuais na análise dos diretores quanto à qualidade do acesso à internet banda larga destinada ao uso dos alunos nas escolas localizadas nas três grandes cidades do Estado do Ceará. Tabela 3 – Média da variável internet para uso dos alunos nos anos de 2009 e 2011 para os demais municípios cearenses GRUPOS 2009 2011 DIFERENÇAS TRATAMENTO 0,5926 0,8148 0,2222 CONTROLE 0,5957 0,7917 0,1959 DIFERENÇAS 0,0263 -0,0031 0,0231 Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa Quanto à média da variável estudada para escolas situadas nos demais municípios do Estado, verifica-se na Tabela 3, que as escolas do grupo de tratamento apresentaram em média um acréscimo de 0,2222 em relação às avaliações feitas entre 2009 e 2011; ao passo que nesse mesmo período, a média 54 das percepções dos diretores das escolas do grupo de controle resultou numa evolução de 0,1959. Gráfico 9 – Média da variável internet para uso dos alunos para as escolas da amostra situadas nos demais municípios cearenses Fonte: Elaborado pelo autor Conforme se observa no Gráfico 9, a política proporcionou um pequeno diferencial de avaliação positiva, apresentando, em média, um acréscimo de 2,63 pontos percentuais na análise dos diretores quanto à qualidade do acesso à internet banda larga destinada ao uso dos alunos, em relação às escolas situadas nos demais municípios cearenses, após a efetivação do projeto CDC. Merece destaque as médias obtidas em relação ao exame de escolas segregadas por grandes centros urbanos do Ceará. Observa-se que as escolas situadas nos demais municípios, que não os três grandes: Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte, e que foram beneficiadas pela política, apresentaram em 2011 um índice de aprovação alto de 81,48% dado pelos diretores em relação à melhoria da qualidade do acesso à internet para uso dos alunos após a implementação do CDC, demonstrando uma evolução de 22,22 pontos percentuais em relação à avaliação feita em 2009, a maior entre todas as análises realizadas, o que poderia denotar uma maior satisfação dos gestores dessas escolas comparativamente àqueles situadas dos grandes centros. 55 Contudo, e de acordo com a metodologia vista no descritivo do modelo Diferenças em Diferenças, nota-se que a média global de 0,0730 obtida pelas escolas localizadas nas cidades de Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte, é bem superior à média de 0,0263 apresentada pelos demais municípios, e que certamente deve ter contribuído para a média de 0,0741 em relação ao total da amostra. Percebe-se ainda que em relação à avalição do acesso e qualidade da internet para uso dos alunos nas instituições de ensino que não foram beneficiadas pela política, os diretores das escolas situadas nos grandes centros urbanos não melhoraram muito o seu conceito de um período para o outro ao apresentarem uma média de 0,1035 ao passo que os diretores das escolas do grupo de controle localizadas nos demais municípios, foram mais sensíveis às alterações ocorridas no período 2009 X 2011, apresentando uma média de 0,1959 dando a entender que estão mais satisfeitos com a realidade desses serviços em seus estabelecimentos. Também foram construídas tabelas com a estatística descritiva de algumas variáveis caracterizadoras dos diretores, como sexo e idade, e da infraestrutura das escolas analisadas nessa pesquisa em relação às condições de uso das Bibliotecas e dos Laboratórios de Informática, observadas nos anos de 2009 e 2011 conforme a base de dados mencionada anteriormente. Vale lembrar que para efeitos metodológicos da pesquisa, decidiu-se atribuir a sentença “1” para a resposta: “(a). Bom”, e a sentença “0” para as demais: “(b) Regular; (c) Ruim; e (d) Inexistente”, em relação à avaliação dos gestores para os itens relacionados à infraestrutura das escolas. Quanto às características dos diretores dessas instituições, quantificaram-se os dados referentes ao sexo, atribuindo a sentença: “1” para “Masculino” e “0” para “Feminino”; ao passo que em relação à idade do diretor a sentença foi determinada em anos. A Tabela 4, a seguir, reporta-se ao comportamento das variáveis estudadas caracterizadoras dos diretores e da infraestrutura das escolas que compõem o Grupo de Tratamento, antes e depois do projeto CDC. 56 Tabela 4 – Média das variáveis caracterizadoras das escolas e de seus diretores nos anos de 2009 e 2011 para o Grupo de Tratamento MÉDIA DESVIO-PADRÃO VARIÁVEL 2009 2011 Δ p.p 2009 2011 Δ p.p Biblioteca 0,6136 0,7727 0,1591 0,4925 0,4239 -0,0686 Laboratório 0,5909 0,7954 0,2045 0,4973 0,4080 -0,0893 Sexo 0,4090 0,3953 -0,0137 0,4973 0,4947 -0,0026 Idade 42,21 42,95 0,74 6,83 9,22 2,39 Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa Considerando o intervalo de tempo, antes e depois do evento, verifica-se que os diretores das escolas beneficiadas pela política, apresentaram, em média, entre 42 e 43 anos de idade aproximadamente. A cada 10 desses gestores, em média, 6 (seis) são do sexo feminino e 4 (quatro) do sexo masculino. No que diz respeito ao conceito “BOM”, atribuído pelos diretores às condições de uso dos laboratórios de informática, observa-se que houve uma melhora na avaliação com um acréscimo, em média, de 15,91 pontos percentuais entre os períodos analisados, refletida na redução do desvio-padrão de 6,86 p.p. no mesmo período. Quanto ao conceito dado pelos gestores dessas escolas à infraestrutura das bibliotecas, verificou-se que de 2009 para 2011 houve um aumento significativo, em média, de 20,45 pontos percentuais na avaliação proferida, constatado pela redução de 8,93 p.p. no desvio-padrão ocorrida no mesmo espaço de tempo. Tabela 5 – Média das variáveis caracterizadoras das escolas e de seus diretores nos anos de 2009 e 2011 para o Grupo de Controle MÉDIA DESVIO-PADRÃO VARIÁVEL 2009 2011 Δ p.p 2009 2011 Δ p.p Biblioteca 0,5345 0,7987 0,2642 0,5003 0,4021 -0,0982 Laboratório 0,4968 0,6463 0,1495 0,5015 0,4795 -0,0220 Sexo 0,3414 0,2812 -0,0602 0,4756 0,4510 -0,0246 Idade 41,44 42,57 1,13 7,04 7,78 0,74 Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa. Para as escolas do Grupo de Controle, a Tabela 5 retrata o comportamento das variáveis caracterizadoras dos diretores e da infraestrutura dessas instituições, antes e depois do projeto CDC. Nas escolas não contempladas pelo projeto, observa-se na que de 2009 para 2011 seus gestores apresentaram aproximadamente, em média, 42 anos de 57 idade, e que reduziu em 6 (seis) pontos percentuais a participação do sexo masculino em relação ao sexo feminino na direção destas instituições. Quanto à avaliação dos diretores em relação aos laboratórios de informática, observa-se no período analisado que o conceito “BOM” atribuído às condições de uso dessas instalações melhorou, apresentando de 2009 para 2011 um aumento, em média, de 14,95 pontos percentuais, correspondente a redução do desvio-padrão de 2,2 p.p. no mesmo período. Os gestores dessas escolas também avaliaram a infraestrutura das bibliotecas, verificando-se uma evolução significativa na avaliação realizada, em média, de 26,42 pontos percentuais, externada pela redução ocorrida no mesmo período, de 9,82 p.p. no desvio-padrão. No geral, observam-se características semelhantes entre os Grupos de Controle e de Tratamento, quando ambos apresentaram de 2009 para 2011 uma melhora considerável nas avaliações das condições de uso dos laboratórios e bibliotecas das escolas analisadas, ao mesmo tempo em que se manteve, aproximadamente, uma média de 42 anos de idades e a predominância das mulheres em relação ao sexo dos diretores dessas escolas, no período analisado. 4.2 Análise e discussão dos resultados do modelo DD Estimado A Tabela 6 mostra os resultados do Modelo Logit estimado por Máxima Verossimilhança, que como visto anteriormente, deve-se avaliar o sinal e os níveis de significância dos coeficientes obtidos, dado que os betas representam a inclinação da função logarítmica da razão de chances do evento acontecer, nesse caso, que os diretores das escolas do grupo de tratamento percebam uma melhoria na qualidade do acesso à internet após os serviços passarem a ser fornecidos pelo Cinturão Digital do Ceará. Foram estimados dois modelos objetivando captar o impacto pós-evento do grupo de tratamento vis-à-vis (comparativamente) do grupo de controle sobre a variável dependente internet para uso dos alunos. No Modelo 1 é observado o comportamento da variável estudada em relação às variáveis independentes que indicam se a escola está sendo observada 58 no período posterior a implementação da política (D2) e se elas pertencem ao grupo de tratamento (Dt). No Modelo 2, além das variáveis explicativas do Modelo 1, resolveu-se incluir variáveis caracterizadoras do perfil dos dirigentes como sexo e idade; variáveis referentes às condições de uso da biblioteca e do laboratório de informática das escolas analisadas; e uma variável identificando se as escolas observadas encontram-se situadas nos municípios de Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte. Tabela 6 – Modelos estimados com a variável dependente internet para uso dos alunos VARIÁVEIS MODELO – 1 MODELO – 2 0,5927* 0,2146 D2 (0,013) (0,427) Dt -0,1361 (0,692) -0,3317 (0,389) D2.Dt 0,3566 (0,499) 0,4392 (0,449) Sexo - -0,3618 (0,152) Idade - 0,0111 (0,481) Biblioteca - 0,7909* (0,002) Laboratório - 1,0625* (0,000) Fortaleza, Sobral e Juazeiro - -0,2113 (0,431) 0,4105* (0,010) -0,6891 (0,332) -258,66 0,019 415 -221,62 0,111 391 Constante Log Likelihood Pseudo R2 Número de Observações Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados da pesquisa Nota: Pvalor do Teste “z” entre parênteses. / * Significativo a 1% Verifica-se nos dois modelos da Tabela 6 que o coeficiente estimado da variável D2.Dt não apresenta resultado estatisticamente significante, ou seja, não apresenta efeito sobre a percepção do diretor em relação ao acesso e qualidade da internet banda larga, para as especificações dos modelos apresentados, dado que essa variável é quem revela se a política teve impacto, e se teve, seria do tamanho de D2.Dt, conforme visto anteriormente nas equações (4) e (5) do modelo econométrico apresentado para o método DD. 59 Foram testados outros modelos, contudo, a variável D2.Dt continuou não apresentando significância, demonstrando que os modelos estimados não permitem concluir resultados sobre os impactos da política pública. No Modelo 1 observa-se que apenas os coeficientes da variável D2 e da Constante da regressão foram positivos e significativos a 1%. Em outras palavras, esses coeficientes contribuem para elevar a probabilidade dos diretores terem percebido a melhora na qualidade do acesso à internet para uso dos alunos das escolas públicas, de uma maneira geral. Por outro lado, Dt é negativo e não apresentou resultado estatisticamente significativo. O Modelo 2 apresentou o menor valor para o Log Verossimilhança e o maior valor do Pseudo R2. Assim, pode-se dizer que esse modelo foi o que demonstrou o melhor ajuste e especificação por outras variáveis e a maior previsão de acerto da probabilidade, respectivamente. Verificou-se ainda que as variáveis Biblioteca e Laboratório apresentaram coeficientes positivos e significativos a 1%, sugerindo que escolas que dispõem dessas instalações em sua infraestrutura e estando estas em boas condições de uso, aumentam a probabilidade dos seus dirigentes perceberem a melhoria da qualidade do acesso à internet oferecidos aos discentes, após serem beneficiadas pela política. Diferentemente disso, às variáveis referentes ao sexo e a idade do gestor, bem como o fato das escolas estarem situadas em grandes municípios do Ceará como: Fortaleza, Sobral e Juazeiro do Norte, não foram estatisticamente significantes. 60 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta dissertação procurou analisar se existe efeito do Cinturão Digital do Ceará na qualidade do acesso à internet para uso dos alunos nas escolas públicas estaduais contempladas pelo programa. Para delineamento desse objetivo foi utilizado o modelo de diferença em diferença para verificar se a política pública proposta pelo Cinturão Digital promoveu algum impacto para as escolas beneficiadas. Dentre as principais conclusões tem-se que: O Cinturão Digital iniciou em 2008 com a implantação da fibra óptica pelo interior do Ceará. Concluído em 2011, mas em funcionamento desde 2010 conectando as unidades do Governo do Estado ao seu alcance, o CDC custou em torno de R$ 78 milhões aos cofres públicos, resultando num anel de fibra óptica redundante com cerca de 3.000km de extensão cobrindo cerca de 85% das zonas urbanas dos municípios cearenses com a distribuição do acesso por meio do transporte de dados na velocidade de 10 Gbps, via cabo ou através do sinal de rádio. Essa infraestrutura se interliga com a rede GIGAFOR em Fortaleza e Região Metropolitana, tornando-se uma rede única em todo o Estado. O CDC objetiva inicialmente, além da redução do gasto público com comunicações, disponibilizar conectividade de banda larga com qualidade para que os órgãos do governo possam melhorar e ampliar os serviços públicos por eles prestados, principalmente nas áreas de saúde, educação e segurança. Contudo, encontra-se intrínseco em sua arquitetura a expectativa de um ganho social (ainda não mensurado) para o povo cearense em função dos benefícios que essa política pública de inclusão digital possa vir a proporcionar. Visando proceder a uma avaliação dos resultados e impactos ocasionados pelo projeto, foi empregado o método de diferenças em diferenças sobre uma base de dados composta por informações pertinentes a algumas escolas beneficiadas e de outras não beneficiadas pelo CDC. Tomando-se por base as respostas dos diretores das escolas analisadas quanto à qualidade do “acesso à internet para uso dos alunos” nos grupos de tratamento e de controle, antes e depois da implantação da política, foram apuradas as médias da variável estudada, buscando-se aferir essa medida de qualidade através da percepção dos gestores dessas instituições de ensino. 61 A estatística descritiva dessa análise revelou que após o Cinturão Digital, os diretores das escolas beneficiadas perceberam uma melhora na qualidade do acesso à internet para uso dos alunos, verificando-se que a política promoveu um diferencial de avaliação positiva de 7,4 pontos percentuais nas médias. Contudo, uma comparação simples entre os indicadores dos grupos não permite obter estimativas consistentes, porque os grupos podem não ser equilibrados em relação a todas as variáveis associadas ao resultado. Desse modo, uma diferença observada após o tratamento pode se dever ao efeito real do tratamento ou a diferenças pré-existentes entre os grupos. Prova disso, é que foram estimados modelos logit por máxima verossimilhança, e verificouse que os resultados obtidos não permitem encontrar coeficientes estatisticamente significantes relacionados aos impactos proporcionados por essa política pública, excetuando-se o fato de que as escolas que dispõe de uma boa infraestrutura (como bibliotecas e laboratórios) tendem a influenciar os seus diretores a terem uma percepção positiva dos efeitos do programa. Pondera-se que limitações da base de dados utilizada podem ter influenciado esses resultados. Para a realização da pesquisa, não havia dados primários capazes de produzirem informações consistentes que pudessem explicar a variável estudada (que nesse caso, poderiam ser obtidos através de questionários orientados ao cerne da questão). Contou-se apenas com uma relação de escolas beneficiadas pela política e com informações extraídas da Prova Brasil realizada no ano em que o projeto foi implantado, de modo que os dados trabalhados não eram direcionados, tão pouco objetivos quanto o recebimento da política. Outro fato importante para os resultados do modelo econométrico empregado, foi um número pequeno de observações a serem trabalhadas e que poderia comprometer a eficiência dos estimadores, considerando que uma amostra com um tamanho grande poderia ser um paliativo na solução das limitações do método utilizado. Registre-se que ainda não foi realizada nenhuma avaliação de fato do projeto CDC, de modo que o governo não dispõe de informações quantitativas e/ou qualitativas quanto o alcance e efetividade desse programa. Esse fato revela o caráter inovador e a importância do presente estudo para a expansão do conhecimento sobre o tema no meio social e acadêmico, podendo vir a contribuir 62 para a formulação e o direcionamento de uma análise concreta quanto à eficiência e eficácia da política pública intrínseca nesse projeto. Assim sendo, deixa-se como sugestão para estudos futuros sobre o tema dessa pesquisa, a realização de entrevistas in loco para adquirir informações primárias e objetivas diretamente com os diretores, professores e alunos beneficiados pelo projeto; bem como, que as observações se deem sobre um período de tempo maior de exposição das escolas ao Cinturão Digital, que possivelmente estará contemplando um número maior de escolas, o que certamente produzirá uma base de dados mais robusta para a pesquisa. 63 REFERÊNCIAS AMARAL, Ernesto F. L. Aplicação do método de diferença em diferenças. [S.l.:s.n.], 2011. Disponível em: <http://www.ernestoamaral.com/dcp046-111.html>. 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