CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROFa. DRa. BEATRIZ REGINA PEREIRA SAETA
Diretora
PROFa. DRa. IRANÍ TOMIATTO DE OLIVEIRA
Coordenadora do Curso de Psicologia
PROFa. MS. TÂNIA ALDRIGHI
Resp. pela Área de Psicologia Institucional e
Coordenadora de Extensão
Núcleo de Estudos e
Pesquisas Psicossociais do
Cotidiano
PROGRAMAÇÃO
7h30 - Abertura Oficial do Evento
Profa. Dra. Beatriz Regina Pereira Saeta
Diretora do CCBS
Profa. Dra. Iraní Tomiatto de Oliveira
Coordenadora do Curso de Psicologia
Organização:
Núcleo de Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano
ANAIS
DA
VI MOSTRA
DE PSICOLOGIA
DO COTIDIANO
Professores Orientadores
Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
Profa. Dra. Anete de Souza Farina
Profa. Dra. Claudia Stella
Prof. Ms. João Garção
Profa. Dra. Vânia Conselheiro Sequeira
Prof. Ms. Walter Lapa
DIA: 06/11/2007
HORÁRIO: das 7h30 às 18 horas
LOCAL: Auditório Benedicto Novaes
Garcez – Prédio 9
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ARTE
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MÚLTIPLOS SENTIDOS DO GRAFITE: ENTRE A RECEPÇÃO E A PRODUÇÃO
Pesquisadores
Andréa de Góes Ribeiro,
Anny Rose Siqueira Machado,
Beatriz Barone Guida,
Fabiane Manuchakian,
Pamella Sousa Cornetti Rocha,
Stefanie Barery
Orientação: Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
O objetivo deste trabalho é analisar: (1) O impacto dos grafites em transeuntes nas ruas da
cidade de São Paulo; (2) as representações dos produtores deste tipo de manifestação artística
sobre o trabalho que realizam. A escolha do tema ocorreu em função do grafite ser uma forma
de expressão simbólica presente no cotidiano. Trata-se de reconhecer o grafite como uma
“técnica social do sentimento”, (expressão usada por Vigotski, 1999, para se referir à arte), pela
qual os artistas destroem determinados conteúdos pela forma, tornando-os mais complexos e
maiores que a própria vida. Assim, para Lassaca (2007), “O trabalho dos grafiteiros,
normalmente, tem por ideologia desmistificar os símbolos de dominação cultural, contribuindo
dessa forma para uma melhor compreensão cultural, questionamento social e um
aproveitamento diferenciado do espaço urbano” (p. 17). Para Pennachin (2003), o grafite se
constitui como conjunto de signos policodificados que envolvem o cruzamento de linguagem
diversas, marca das metrópoles contemporâneas. Diante de tal profusão de imagens, “O sujeito
urbano corre o risco de perder esta habilidade de ver, sendo condenado a saltar de uma
mensagem a outra sem conseguir se aprofundar nos significados de nenhuma delas” (p.1). O
grafitismo tem origem nos tempos das pinturas rupestres e, hoje, revela as expressões , no
cotidiano, do sujeito contemporâneo. Desta forma, nos anos 60, o grafite surge nos Estados
Unidos como expressão de identidade e crítica à descriminação social – o sujeito já não quer
ser apenas mais um na multidão. No entanto, é possível que a percepção dos transeuntes esteja
tipificada (segundo Berger e Luckmann, 2007). Assim, qual o impacto dos grafites em seus
receptores? Seria produzir uma síntese psicológica, isto é, fazer com que a percepção cotidiana
seja desconstruida a partir dos efeitos produzidos pelo trabalho artístico? Ou o grafite é visto
apenas a partir de formas construídas socialmente? Como salienta Gonçalves (2007) as “ linhas
do graffiti conduzem tanto a movimentos de subordinação? quanto a movimentos de
resistência à produção em série de subjetividades” (p.I). Neste sentido, a arte faz parte do
processo de construção da subjetividade, seja para manter ou criticar representações sociais
estabelecidas. Utilizou-se o método analítico objetivo, tal como proposto por Vigotski (1999),
ou seja, realizaram-se entrevistas com transeuntes, e Grafiteiros/artistas, sobre o trabalho
percebido e/ou realizado. Os resultados parciais indicam que, para os grafiteiros, o trabalho
que realizam embeleza a cidade e é diferente de outras imagens, como a pichação, que é, por
eles, associada ao vandalismo. O grafite é importante na medida que, entre outras coisas,
recupera a memória da cidade (característica especifica do um trabalho de um grafiteiro).
Todos os grafiteiros tomam o grafite como arte e um deles ressalta que o trabalho que realiza
assim o é em função do domínio técnico exigido, e não apenas de um suposto “dom”. Os
transeuntes também diferenciam pichação e grafite, referindo-se ao primeiro como
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vandalismo, mas nem todos perceberam o grafite, o que indica que estão submersos no
império das imagens, sem no entanto buscar entendê-las ou lhes atribuir significados.
REFERÊNCIAS
BERGER, P E LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópoles: Vozes,
2004.
CARVALHO, A. Arte e Psicologia: uma relação delicada. In: Introdução à Psicologia do
cotidiano. São Paulo: Expressão e Arte, 2007.
GONÇALVES, G. Inscrições Urbanas: uma cartografia dos processos de subjetivação
envolvidos no graffiti: Dissertação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, 2007.
LASSACA, G; AZEVEDO, W. Os tipos gráficos da pichação: Desdobramentos visuais.
Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) Universidade Presbiteriana
Mackenzie, de São Paulo, 2006.
PENNACHIN, D. Signos Subversivos: das significações de graffiti e pichação:
metrópoles contemporâneas como miríades signicas. Comunicação, Belo Horizonte, MG,
2003.
VIGOTSKI, L. Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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URSINHOS CARINHOSOS: MONTANDO UM OUTRO FOCO
Pesquisadores:
Adriana Suzuki
Beatriz Rodrigues
Camila Shwafaty de Oliveira
Cibele Baston
Elisa Rubbo
Marina Sandrini
Phillipe Fernandes
Raona Martins
Rodrigo Mostaço Andrade
Orientação: Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho
Segundo Leite (2002) a explicação psicológica da arte procura uma forma de compreensão a
partir das características do indivíduo, essa necessidade de explicação se dá em função da nova
condição da vida social na modernidade; na medida em que o homem deixou de acreditar no
sobrenatural ou na determinação hereditária, ele passou a encontrar outras explicações, por
isso ao invés de se dirigir para o mundo externo, onde ele encontra possibilidades de
desenvolvimento muito diferentes, até opostas, ele se interioriza. A arte costuma valorizar os
aspectos individuais, não apenas de formas inovadoras, como também resignificando “velhos
temas”. Neste estudo analisaremos, do ponto de vista da narrativa cinematográfica, os
comportamentos apresentados por Timothy Treadwell, “O homem urso”. Timothy passou 13
anos vivendo com os ursos no Alasca e registrou mais de cem horas desta vivência com sua
câmera. Do acordo com a teoria de Vigotski (1998) a arte não é apenas representação de
concepções morais, sociais, ou pedagógicas, mas sobretudo, uma construção (como técnica
social dos sentimentos) que pressupõe uma atividade mental e emotiva do sujeito a respeito da
obra de arte. Merleau Ponty (1969) no artigo “O cinema e a nova psicologia”, diz que um filme
não deseja exprimir nada além dele próprio, ele não é pensado e sim percebido. A arte
acontece no cinema, para Hebert Head (1969), pois a formação estética do cinema envolve um
critério de seleção de cenas, técnica e sensibilidade. Bazin (1992) também concebe o cinema
como criação de sentidos que as imagens não têm objetivamente, mas que decorrem da sua
relação, isto é, da montagem. Em outras palavras, para o autor “o sentido não está na imagem,
mas sim na sombra projetada pela montagem no plano consciente do espectador” (p. 73). No
artigo “Uma nota sobre um filme” a autora Susan Langer (1969) compara o cinema com um
sonho, pois os dois criam uma realidade virtual e atemporal, entretanto, quem leva o sujeito
para essa realidade no cinema é a câmera. Walter Benjamin afirma em seu artigo “A obra de
arte na época de suas técnicas de reprodução” (1969) sendo que a arte sempre foi passível de
reprodução, apesar de que, na reprodução manual o original se mantém distante. Diz ele que a
reprodução técnica elimina todo caráter histórico da arte. Por outro lado, a arte tinha, para ele,
grande potencial revolucionário, que se manifestava, dentre todas as formas artísticas, com
maior força, no cinema, pois este é uma forma de ampliação da percepção. Assim, transcendia
seu ponto de partida: o cotidiano. O filme foi construído de tal forma que: 1-) as filmagens
feitas por Timothy demonstram um deslocamento progressivo dos personagens, isto é, passa
da natureza para o próprio “homem urso”, que, assim, utiliza a câmera como confessionário;
2-) o diretor Werner Herzog contrapõe os sentidos atribuídos pelo homem urso a si mesmo e
a natureza a uma interpretação que muda o foco: afinal, o que deseja o homem urso ao se
comportar interagindo com uma natureza idealizada? Pudermos observar no filme “O homem
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urso” uma fantasia de onipotência, por parte de Timothy Treadwell, na sua relação com os
ursos e com a natureza, onde ele era o único diferente, ou seja, ser humano. Sendo assim, na
sua concepção, ele dominava a natureza e em decorrência disso dominava a si mesmo. Devido
a busca incessante por um estado de completude, a vivência com os ursos o fez humanizar os
ursos simbolicamente, e devido às frustrações sociais, desconsiderar os seres humanos. O
homem urso, na busca de uma sociedade ideal, vai contra a civilização, e acaba indo contra a
natureza devido à essa busca desenfreada por algo que ele nunca terá. Essa revolta ocorre
então, pelo desamparo ocasionado socialmente, na relação com o outro e com ele mesmo.
REFERÊNCIAS
BAZIN, A. (1992) O que é cinema. Cap:7. Lisboa: Editora Livros Horizonte.
CARVALHO, A. (2007) Introdução à Psicologia do Cotidiano. (Arte e Psicologia: uma
relação delicada, Cap.2). São Paulo: Expressão e Arte.
GRÜNNEWALD, J.L. (1996) A idéia do cinema. Rio de Janeiro: Editora: Civilização
Brasileira, p. 15-96.
LEITE, D. (2002) Psicologia e Literatura. São Paulo, Unesp.
VIGOSTSKI, L. A formaçao social da mente. (1984). São Paulo: Editora Martins Fontes,
p.323-363.
VIGOSTSKI, L. (1998) Psicologia da Arte. São Paulo: Editora: Martins Fontes.
VIGOSTSKI, L. (2001) Psicologia Pedagógica. São Paulo: Editora Martins Fontes.
AS DIARISTAS ENCONTRAM DAVID E PIETÁ DE MICHELANGELO
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Pesquisadores:
Alan da Rocha Brum
André Fortini de Oliveira
André Guimarães Pisani
Andrea Berezin
Caroline Domene Rodrigues
João Paulo Fernandes Nery Rafael
Rudemberg de Almeida Mendonça
Tatiana Neves Catalano
Orientação: Prof. Dr. Alex Moreira Carvalho.
Este trabalho teve como objetivo analisar a reação de diaristas a duas obras do período
renascentista - David e Pietá de Michelangelo. Inicialmente as pranchas foram apresentadas às
colaboradoras em recortes contendo fragmentos das obras acima citadas e em seguida,
contendo as obras como um todo. A divisão em dois momentos de apresentação das obras se
deu em função da possibilidade de verificar se a reação estética se pauta no modelo de
harmonia e equilíbrio, conforme os princípios da “poética” do renascimento ou se as
mudanças no campo das imagens produzidas no mundo contemporâneo – de imagens
fragmentadas – alteram a percepção. A aplicação foi realizada com seis colaboradoras do sexo
feminino, diaristas e trabalhadoras em casa de família ao menos uma vez por semana. Os
sujeitos foram escolhidos uma vez que se buscou avaliar o impacto das duas formas de
apresentação da obra em pessoas sem formação acadêmica especializada. As pranchas eram de
tamanho A4 no papel couchet e apresentadas às colaboradoras as quais puderam falar livremente
sobre elas. Segundo Vigotski (1998), a criação artística se realiza como uma técnica social dos
sentimentos que produz uma reação estética de cunho emocional. Ao mesmo tempo, tal reação
pode estar determinada por formas apreendidas de percepção do universo artístico. O
renascimento tinha como principais características a representação do homem tal como
supostamente ele é na realidade mantendo suas proporções de profundidade, perspectiva e
simetria; estudo do corpo e do caráter humano; e simplicidade na construção. Esta concepção
de arte tornou-se hegemônica no ocidente. Por outro lado a contemporaneidade produz o
avesso da representação renascentista sob formas de imagens fragmentadas e destituídas de
unidade e equilíbrio. Assim, restou-se saber qual seria a reação das diaristas diante de duas
maneiras de se apresentar um objeto estético. Verificou-se que as colaboradoras não
relacionaram os fragmentos entre si, nem dialogaram com o todo, imprimindo no seu encontro
o cotidiano, sem dar espaço à objetividade da obra. Em outras palavras, a obra ficou reduzida
às interpretações relacionadas às histórias pessoais, sem que um diálogo se construísse.
Segundo Berger e Luckmann (2002), a realidade da arte é uma construção social e, nesse
sentido, as colaboradoras perceberam o material apresentado a partir do referencial realista que
supostamente sustentou o renascimento. Heller (2004) e Vigostki (1998) consideram que a arte
ultrapassa o cotidiano, questionando e produzindo estranhamento e mudança de percepção de
mundo no receptor. Pode-se afirmar que houve um encontro, de cunho cognitivo e emocional,
das diaristas com as imagens apresentadas, mas na medida em que apresentaram percepção
tipificada e submetida às suas próprias realidades, resta discutir, como fez Vigotski (2004), a
necessidade de uma educação que se paute na aprendizagem da forma artística como condição
para a reação estética.
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REFERÊNCIAS
BERGER, P. L. & LUCKMANN, T. A construção social da realidade. São Paulo: Vozes,
2002.
HELLER, A. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e terra SA, 2004.
VIGOTSKI, L. Psicologia da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
___________. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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FAMÍLIA
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HERÓIS COTIDIANOS: REINVENTANDO A FAMÍLIA
Pesquisadores:
Deborah Lima
Karina Santarosa
Leandro M. Souza
Ligia Puosso
Marcelo Szajubok
Mariana A. A. Marques
Michele Christmann
Susan H. Almeida
Orientação: Profa Dra Vânia C. Sequeira
Segundo dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios-IBGE) as novas
famílias têm apresentado a seguinte configuração: média de 2,5 filhos, quando na década de 60
este número era de 6,5 filhos, apontando uma queda na taxa de fecundidade. As famílias
nucleares (pai, mãe e filhos) ainda são predominantes com 59,4% em 1992, mas este número
vem caindo, dados de 2002 apontam que 47% dos domicílios já são constituídos por famílias
que um dos pais está ausente. Outro tipo de família é a unipessoal que vem apresentando uma
taxa de crescimento considerável, em 1992 representava 7,3% e em 2001 passou para 9,2%.
No mesmo caminho, houve um aumento das mulheres sem cônjuge com filhos, de 15,1% em
1992 para 17,8% em 2001, o que demonstra novamente um aumento considerável das famílias
monoparentais. Houve um aumento das famílias de casais sem filhos passando de 12,9% em
1992 para 13,8% em 2001. Também existem novas categorias, outros tipos de família: 5,2%
em 1992 para 5,9% em 2001 (homossexuais e outros arranjos). A família é fundamental no
desenvolvimento, não é essencial apenas para a sobrevivência do indivíduo, mas também para
a transmissão de valores culturais, sociais para a manutenção da sociedade (CARVALHO e
ALMEIDA, 2003). A família é o primeiro núcleo de relações do indivíduo, compreender como
essas relações constituem a subjetividade é de fundamental importância para a psicologia.
Nesse sentido, muitas transformações ocorreram nas configurações familiares desde o modelo
nuclear burguês até a atualidade, com padrões e papéis diferenciados, que devem ser
compreendidos, não só pela psicologia, mas pela sociedade em geral. Desenvolver estudos
sobre os novos modelos familiares pode capacitar profissionais na orientação das famílias, no
esclarecimento da sociedade em geral, evitando um olhar, muitas vezes, preconceituoso em
relação a essas questões. O conhecimento é possivelmente, um primeiro passo para uma
reflexão sobre as formas de intervenção para a melhoria da qualidade de vida das famílias. O
objetivo desse estudo é compreender as vivências das pessoas envolvidas em novas
configurações familiares. Método: Os sujeitos desta pesquisa foram seis pessoas integrantes de
uma nova configuração familiar: separados, recasados, homossexuais, solteiros com filhos e
adotantes. Como instrumento adotou-se a entrevista semi-dirigida com o objetivo de
compreender as vivências das pessoas diante das transformações no modelo familiar
tradicional. As entrevistas foram realizadas pelos pesquisadores, no local de escolha do sujeito,
e por se tratar de entrevistas com seres humanos, ressalta-se que foram tomados os devidos
cuidados éticos. Os dados coletados, por meio da entrevista semi-dirigida, foram analisados
qualitativamente com base na análise de conteúdo, no sentido de compreender as vivências
nessas novas estruturas de família. Análise de dados: Como observamos em nossas
entrevistas, a família deixou de ser sinônimo de pai, mãe e filhos para dar lugar à união de
pessoas que estão ligadas por laços de parentesco ou afetivos, pelo desejo de compartilhar suas
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vidas, independente de filhos, da legalidade ou da opção sexual, o que nem sempre ocorre
no modelo de família tradicional. Mais importante do que a presença concreta de pai e mãe, é o
vínculo que o cuidador estabelece com a criança, o que constituiu o universo simbólico para o
desenvolvimento emocional saudável de filhos biológicos ou adotados, em qualquer caso, seja
de família monoparental, recomposta ou de casais homossexuais. As funções, materna e
paterna, aparecem de diferentes maneiras, essa nova família pode criar um ambiente seguro e
acolhedor, não ficando restrita aos moldes tradicionais de configuração familiar. O mais
importante é o desejo de ser mãe ou pai, que sem dúvida é indispensável para formação de um
individuo, independente da opção sexual ou estado civil. O afeto, a responsabilidade e o desejo
superam os laços legalmente estabelecidos ou biologicamente constituídos para dar lugar a pais
e mães que são capazes de oferecer um modelo afetivo que proporcione os recursos
necessários para o desenvolvimento de um ser humano. Kamers (2006) diz que o amor
materno e paterno não são dados biologicamente, podemos concluir que esses afetos e
relações são construídos através da convivência e do aprendizado, ou seja as interações, os
cuidados e a relação diária constroem os laços afetivos. Segundo Borges (2005) é função dos
pais guiar e introduzir a criança na cultura, garantir a transmissão de valores, de conduta e
regras. Quanto ao questionamento sobre as novas configurações, podemos entender que o
essencial para que se cumpra a função materna e paterna e como conseqüência, a simbólica, é
que essas relações sejam carregadas de desejo. É importante e estruturante para o ser humano
ocupar um lugar no desejo do outro (BORGES, 2005). A tomada de consciência de que os
aspectos relevantes das funções parentais e simbólicas podem ser executados satisfatoriamente,
não apenas por um modelo familiar único, pode trazer um novo olhar para a família e suas
novas configurações, menos preconceituoso e moralista.
REFERÊNCIAS
BORGES, M.L. (2005). Função Materna e Função Paterna, suas vivências na atualidade.
Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2005.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. 31ª edição. São Paulo:
Saraiva, 2003.
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Campinas 2003.
CARVALHO, I. M. M. de e ALMEIDA, P. H. Família e proteção social. São Paulo Perspec. ,
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COSTA, L. F. e CAMPOS, N. M. V. A avaliação psicossocial no contexto da adoção: vivências
das famílias adotantes, 2003 . Disponível em: http://www.scielo.br
FÉRES-CARNEIRO, T. Casamento contemporâneo: O Difícil convívio da individualidade
com a conjugalidade., Psicologia Reflexão e Critica, ano/vol.11, número 002, Universidade
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12
GERVENY, C. M. de O. A família como modelo: Desconstruindo a patologia.
Campinas: Editorial Psy II, 1994.
HAMAD, Nazir. A criança adotiva e suas famílias. Rio de Janeiro: companhia de Freud,
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Separação Conjugal. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2004.
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SOUSA, Aline Delias. A Família Informal: As Novas Espécies de Famílias não Fundadas no
Casamento. Rev. Esc. Direito. Pelotas , jan.-dez./2005.
13
TESOURO APARTADO DE MIM: A VIDA APÓS O LUTO
Pesquisadores:
Aline Sá
Amanda Barreiras
Débora Lopes
Francisco Durante
Lila Yucari
Marcela Deo Trevisolli
Marina Reis Tebar
Nathália Sposito
Thais Aparecida E. R. de Oliveira
Valeria Aparecida Campos Soares Panhoni
Orientação: Profª. Drª. Vânia Conselheiro Sequeira
Nas diversas culturas, as famílias têm maneiras próprias de manifestarem o luto, por meio de
festas, sacrifícios, reações prolongadas e intensas de tristeza, oferendas e muitas outras. Dentre
estas formas, não há uma mais correta que as demais, elas são apenas diferentes. O luto é um
processo de reação à perda de alguém querido, que pode resultar em sentimento de dor,
tristeza e desinteresse pelo mundo externo, fazendo também com que se questione valores e o
sentido da própria vida. Ele não ocorre de forma linear, pode apresentar momentos de
negação e fragilidade, é um evento emocional, mas diretamente relacionado com os costumes e
valores sociais. No luto, é necessário um processo de enfrentamento em que o indivíduo e a
própria família darão um sentido novo às suas existências, entendendo a morte como um
evento que encerra a vida. Por ser um assunto tabu em nossa sociedade, com forte carga
emocional, não se pode falar em um tempo determinado para que a família vivencie o luto e
restabeleça o equilíbrio funcional existente antes da morte, já que isso depende muito da
integração emocional e da intensidade da perturbação causada pela morte, em cada família.
Para Bromberg (1999), apud Kalincka (2006), para encarar a morte na família, é necessário um
rearranjo do sistema familiar e, como conseqüência, a construção de uma nova identidade, um
novo nível de equilíbrio. A morte de um filho é possivelmente a perda mais dolorosa para uma
família, pois é uma ruptura com a ordem natural dos acontecimentos, onde os mais velhos
morrem antes dos mais novos. Este tipo de perda gera diversas conseqüências, como risco de
suicídio, problemas de saúde, conflitos familiares, divórcio, entre outras. Os familiares tendem
a se isolar em sua dor, a presença de amigos ajuda os familiares a compreender mais
rapidamente a separação, tendo um papel importante na reestruturação emocional da família.
Segundo Kalincka (2006), a perda de um filho é um tipo singular de luto. Perder um filho
requer dos pais (ou outro cuidador), um ajuste emocional para enfrentar a situação individual e
também as alterações no sistema familiar. Diante da perda, há certas tarefas do luto a serem
realizadas, a fim de que o equilíbrio existente antes da morte possa ser restabelecido. Tais
tarefas implicam em um processo de aceitação e elaboração da morte, concomitantemente a
um ajuste familiar e reposicionamento emocional diante da ausência do ente que faleceu. Um
processo terapêutico específico tem como objetivo fazer o enlutado voltar a desempenhar as
atividades anteriores à morte do membro da família, reassumindo uma rotina, definida a partir
de suas atuais necessidades. O recurso terapêutico da psicoterapia breve, adaptada à crise
específica despertada pelo luto, se mostra eficaz no processo de elaboração do luto, uma vez
que não é hora para aprofundar conflitos intrapsíquicos inconscientes que seriam
aprofundados em um processo analítico tradicional. Na resolução do luto deve-se considerar o
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quadro emocional da família, levando em conta os recursos disponíveis que esta detém para
trabalhar o luto. Budman e Gurman (1988), citados por Bromberg (1994), afirmam ser objetivo
final do terapeuta, ante as situações de perda, fazer com que o paciente consiga realizar a
transposição da situação de vítima para a de sobrevivente. Um sinal de luto terminado se faz
presente quando é possível pensar na pessoa que faleceu sem desorganização subjetiva, o que
não implica na ausência de tristeza e saudades, sentimentos que estarão sempre presentes.
Além disso, é fundamental poder investir emoções na vida e no viver. Método: Foram
entrevistadas oito pessoas, sendo seis pais que perderam seus filhos de forma abrupta e dois
profissionais que estudam o tema abordado. Todas as entrevistas seguiram os procedimentos
éticos para as pesquisas com seres humanos: carta de informação da pesquisa para devida
ciência dos procedimentos aos quais seria submetido, como também, consentimento livre e
esclarecido de participação e concordância no uso eventual dos depoimentos e/ou de imagens
gravadas. Foram elaborados dois roteiros semi-estruturados, um para os pais e outro para os
profissionais, com perguntas abertas centradas na temática do luto. A entrevista teve o cunho
narrativo, sem estrutura fixa, deixando os entrevistados à vontade em suas colocações,
permitindo com isso, que o discurso emergisse naturalmente. Os dados foram analisados
qualitativamente e a partir das respostas foram criados eixos temáticos para compreensão do
tema: reação familiar; apoio emocional; fases do luto e, vida após a perda. Procurou-se
observar se as respostas dos entrevistados condiziam com a literatura estudada, ou seja, se
existe tempo médio para elaboração do luto, se na prática as fases do luto são observáveis,
assim como, a reação familiar e os sentimentos presentes no momento da perda, como
negação, tristeza, desesperança diante da própria vida e, se a retomada das atividades cotidianas
poderiam contribuir para o enfrentamento do luto. Análise dos dados: Percebe-se que em
decorrência das perdas, desenvolve-se o sentimento de dor, de tristeza e o desinteresse pelo
mundo externo, pois toda energia está direcionada à dor e às recordações, sendo necessário um
trabalho do indivíduo enlutado para desapegar-se e para investir sua energia libidinal em outros
objetos. A notícia de que algo aconteceu com seu filho é um momento, descrito pelos
entrevistados, de muita angústia, seguida de choro e falta de ação. Entre a notícia e a morte
propriamente dita, a esperança é um alento para suportar a dor. Para Worden (1998), a
primeira tarefa do processo de luto é enfrentar a realidade de que a pessoa está morta, de que
ela se foi e não irá retornar, o que inclui a negação, mesmo que por um período curto de
tempo, que funciona como anestesia, depois da notícia inesperada e chocante. A negação é
substituída pela aceitação parcial, como se a dor tivesse esvanecido, a luta tivesse cessado
(Kubler-Ross, 1994). Existe a possibilidade de desenvolver depressão, diante da dor dilacerante
da perda ou sentimento de culpa por não ter protegido o suficiente o filho. Um grande desafio
de nossas vidas a ser transposto e de suma importância é aceitar a morte. As conseqüências de
uma perda dependem da fase do desenvolvimento em que a família e cada indivíduo se situam
naquele momento. É imprescindível informar que não existe um tempo pré-estabelecido para
que a família se reestruture e estabeleça novamente um equilíbrio emocional, pois isso depende
muito da integração emocional e da intensidade de perturbação que a morte causa em cada
família, sempre respeitando a individualidade de cada pessoa. É importante ressaltar que a
perda não deve ser esquecida ou negada, mas sim vivenciada e elaborada, de tal forma que se
possa superar o acontecimento e prosseguir a vida. Nesse sentido, a psicoterapia breve é de
extrema importância ao dar suporte emocional para o enfrentamento do luto, o que poderá
beneficiar a qualidade de vida da pessoa, no entanto é possível perceber que alguns
entrevistados foram em busca de ajuda e não receberam um trabalho específico que
possibilitasse esse suporte emocional.
15
REFERÊNCIAS
BROMBERG, Maria Helena. A psicoterapia em situações de perdas e luto. Campinas:
Editorial Psy II, 1994.
FRANCO, Maria Helena Pereira. Atendimento psicológico para emergências em aviação: a
teoria revista na prática. Estud. psicol. (Natal), Natal, v. 10, n. 2, 2005. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413294X2005000200003&lng=pt
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FREITAS, Neli Klix. Luto materno e psicoterapia breve. São Paulo: Summus, 2000.
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WORDEN, W. J. Terapia do Luto, um manual para o profissional de saúde mental.
Porto Alegre: Artes Médica, 1998.
16
OS PAIS DE NARCISO: REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO
CONTEMPORÂNEA
Pesquisadores:
Bruna Ferreira de Souza
Monique A. Nascimento Sousa
Mylenna Taja Trevisani
Natalia Cecília Lourençato
Patrícia Munck Macedo
Vanessa dos Santos Tiso
Vanessa Pereira Lima
Vivian Romeiro Pegoraro
Orientação: Profa Dra Vania C. Sequeira
O narcisismo começa nos espelhos – no espelho que é a mãe, cujos olhos cintilantes e sorriso
receptivo refletem o encanto pelo filho – (HOLMES, 2005, p.5) e instaura a subjetividade,
sempre dada por esse outro que cuida inicialmente da criança (mãe ou representante dela), mas
será preciso ir além deste espelho para construir a noção de alteridade. Esse estado inicial
fusional mãe-bebê dá condição para o surgimento do eu, porém, é preciso a intervenção do pai
(ou seu representante), da lei, dos limites para que o sujeito seja inserido na cultura e
desenvolva laços com os outros. O amor permissivo, excessivo não é suficiente, pois sem
disciplina e ordem, ele não consegue assegurar a continuidade das gerações, da qual depende
toda a cultura. (LASCH, 1983, p. 209). De acordo com Lasch (1983), o narcisismo se define
como um individualismo extremo, falta de interesse no passado e no futuro, desprezo pelos
outros, preocupações com as relações pessoais em detrimento das relações de poder e falta de
interesse pela coesão social. Percebemos que o homem da atualidade vive assim,
desinteressado dos outros e desenraizado da sociedade. O homem pós-moderno - que faz de sua
vida pessoal, a profissional - fica sujeito às instabilidades que a economia pode gerar, sendo
recorrente a instabilidade afetiva e, conseqüentemente, familiar. (RODRIGUES e ABECHE,
2005) Assim, a relação entre pais e filhos fica sujeita aos horários e compromissos da vida
profissional dos pais, e os filhos ficam cada vez mais sozinhos, isso pode reforçar a idéia de
que são auto-suficientes, independentes e com a ausência de afetos, podem existir
compensações com objetos, roupas, brinquedos e muita permissividade. A crescente
dificuldade de impor limites e fazer com que eles sejam seguidos acabou por convencer os
especialistas de que eles são uma solução para as dificuldades da família(LASCH, 1983). Assim,
os pais passaram a agir não de acordo com seus sentimentos ou julgamentos, mas sim de
acordo com o que os representantes das agencias do bem-estar: os especialistas, definem como
correto. De acordo com Lasch (1983), podemos observar historicamente o incentivo de uma
cultura liberal na relação de pais e filhos, que incentiva acima de tudo a compreensão, mesmo
que excessiva e permissiva. Muitas transformações ocorreram no contexto sócio-histórico o
que levou a modificações na família, o ideal de família burguesa não corresponde aos conflitos
que os pais estão enfrentando para educar seus filhos. Diante das exigências das
transformações sociais, os pais receiam tornar-se antiquados e passam a ser permissivos em
demasia. Segundo La Taille (2000), isso ocorre porque os pais não têm certeza de seus próprios
valores, encontrando assim, dificuldades diante da transmissão de valores aos filhos. Por tudo
isso, o objetivo deste trabalho é compreender as vivências de pais e filhos no que se refere à
educação cotidiana. Método: A pesquisa é de natureza qualitativa. Desta maneira, segundo
Goldenberg (2003, p.53), esses dados devem buscar uma descrição detalhada de situações com
17
o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos. Os dados não são
padronizados como os dados quantitativos, obrigando o pesquisador a ter flexibilidade e
criatividade no momento de coletá-los e analisá-los. O estudo foi realizado com adolescentes
de 15 a 20 anos e seus pais, totalizando 9 sujeitos. Também foram analisados casos, divulgados
na mídia, de adolescentes de classe média/alta com comportamentos de desrespeito e de
desvalorização ao outro. Foram escolhidos sujeitos que apresentavam algum tipo de
dificuldade com relação à educação: os pais reclamavam dos excessos de seus filhos, pareciam
perdidos; os filhos transgrediam regras sociais e aparentavam achar que podiam fazer tudo que
queriam (como dirigir sem carteira de motorista). Também selecionamos reportagens sobre
adolescentes sem-limites, como por exemplo, o caso de adolescentes que espancaram uma
empregada doméstica no ponto de ônibus. A coleta de dados foi realizada em setembro de
2007. Optou-se pelo uso de entrevista semi-estruturada individual, com roteiro prévio de
perguntas que se referiam à educação cotidiana, vivenciada pelos pais e filhos. As entrevistas
foram gravadas e depois transcritas, com autorização prévia. Os sujeitos também só
participaram da pesquisa após o consentimento livre e esclarecido. Os dados foram analisados
de acordo com o referencial teórico, a partir da elaboração de categorias sobre as vivências de
pais e filhos no que se refere à educação cotidiana. Discussão de Resultados: A partir das
entrevistas e do material recolhido da mídia, pode-se notar que os pais parecem preferir uma
postura permissiva, pois aparentemente é mais fácil concordar com as atitudes e imposições
dos filhos do que enfrentá-los, dizendo não, correndo o risco de perder o afeto e a amizade
deles. Os pais se aproximam mais dos filhos, ficam amigos dos filhos, não exercendo a função
de autoridade, assim, os filhos adquirem uma ilusão de onipotência, acham que podem tudo,
por não terem se deparado com a frustração de ouvir não aos seus desejos. Desse modo,
criam-se pequenos reis ou bebês-gigantes, que acham que o mundo deve servi-los, que todos os
outros estão a serviço da realização de suas vontades, o que pode dar origem a pessoas
narcisistas, tais como as que encontramos hoje, apenas voltadas para si, onde o outro não tem
nenhum valor, a não ser como objeto de satisfação pessoal. É claro que existe relação entre a
sociedade capitalista e as dificuldades dos pais, pois a exigência da mão de obra feminina, além
das horas excessivas de trabalho, também levou a ausência dos pais na criação dos filhos pela
falta de tempo e pelo cansaço, com isso se estabelece relações frias e superficiais entre pais e
filhos. Segundo Lasch (1983), a família contemporânea cria uma ilusão de normalidade em suas
relações familiares, onde as funções dos pais são feitas de maneira mecânica. Segundo
Goldenberg (1998), os filhos não possuem limites e seria a função da figura paterna, impor as
regras, dar limites e desenvolver a capacidade de ser social na relação com o outro. A mãe, por
sua vez, pode estar ausente e/ou assumir uma função de mãe superprotetora, protegendo e
colocando seu filho num pedestal, para suprir sua ausência ou a do pai, fazendo com que ele
acredite que é o centro do mundo, o que pode gerar uma personalidade narcisista. Em grande
parte das entrevistas feitas, encontramos pais ausentes concretamente, ou a figura dele não
internalizada psiquicamente com o sentido de Lei. Quando presentes, a relação é de amizade,
os pais não têm voz ativa, trabalham demais e não vêem os filhos, ou tentam ser extremamente
democráticos e acabam, permissivos. De acordo com o referencial teórico utilizado neste
estudo, é a função de o pai transmitir a lei e fazer com que ela se cumpra, para que não haja
uma ausência de internalização desta. É na adolescência, também, que os pais devem
distanciar-se dos filhos para que se torne bem clara a diferenciação da relação com os pais
daquela que se tem com os amigos, a fim de consolidar a idéia de autoridade (KNOBEL,1985).
Partindo do princípio de que a família é essencial na formação da criança e de sua relação com
o mundo, podemos analisar que é a partir do que se passa no ambiente familiar que se formam
os pequenos narcisos, que um dia virão a se tornar adolescentes que cometerem atos de
desrespeito e desprezo ao outro. Assim, a família deixa de ser um lugar de amparo, dando lugar
18
à manifestação de um individualismo exacerbado. Portanto, é preciso amparar essa família
fragilizada, aprofundar as discussões sobre essa temática e não atuar como os tradicionais
especialistas que tomam o lugar dos pais, gerando mais incerteza e dúvidas na educação dos
filhos.
REFERÊNCIAS
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Porto Alegre: Artes e Ofícios Editora Ltda., 1994, p. 25 –30.
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setembro 2005. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ts/v17n2/a04v17n02.pdf.
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TANIS, B. A família atual, a constituição subjetiva da criança e a psicanálise. In:
COMPARATO, M. C. M. e MONTEIRO, D. S. F. A Criança na Contemporaneidade e a
Psicanálise: Família e Sociedade: Diálogos interdisciplinares. Volume I. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2001.
19
MÍDIA E CONSUMO
20
AMOR NA MÍDIA
Pesquisadores
Aline Mendes
Camila Lemos
Kelly Kimie
Malka Sheery
Natalia Feijó
Natalie Cardeal
Patrícia Gomes
Renata Pozelli
Simone Luccas
Orientação Prof. Ms. João Garção
Introdução: Talvez nenhum tema tenha merecido tanta atenção dos pesquisadores, poetas,
escritores, músicos e das pessoas comuns, como o amor. Entre o fascínio e a desilusão, este
tema se mantém presente e essencial desde o início das sociedades, e da história do homem.
Nosso objetivo foi revisitar a história amorosa presente na mídia (veículos de massa, literatura,
música e na poesia). Também não poderíamos deixar de lado pesquisadores atuais, e para isso
fomos conversar com o psicanalista Dr. Flávio Gikovate, com a socióloga Maria Helena
Matarazzo, com a antropóloga Paula Miraglia, e com o teólogo Ariovaldo Ramos. Eles
ajudaram a compor cenário para nosso entendimento sobre as diversas facetas do amor.
Pretensão à parte, este é um trabalho que possibilitou um novo olhar para o maior tema da
humanidade: o amor. Objetivo de estudo: Analisar o amor entre as pessoas comuns às
transmitidas pelos veículos de comunicação. Método: Realização de entrevistas semiestruturadas com profissionais estudiosos no assunto. Privilegiando os autores pesquisadores.
Pesquisa dos programas audiovisuais e revistas colaborarão metodologicamente. Discussão: O
trabalho presente é uma grande fonte de inspiração do ser humano que passa por esse
sentimento, o amor e suas múltiplas facetas (amores impossíveis, amores possessivos, amores
oposto, amores gay e lésbicas) na sociedade contemporânea, tentamos buscar entender o
porquê e como esses amores e suas múltiplas facetas ocorrem hoje, juntando com o tema
essencial, a mídia, como esta usufruí desses sentimentos tão complexos, como e o porquê o ser
humano agrega a esses sentimentos seguindo suas normas e regras dando nomes à seus
amores. ”Nietzsche dizia que no amor é sobre tudo o temor que faz crescer. A ilusão amorosa
mostra a beleza do outro, mas o temor estimula a refletir, a buscar, a adivinhar, ou seja, a
exercitar-se para penetrar na realidade para além das aparências. O medo desempenha o papel
propulsor, de conhecimento.“ (Carotenuto, p.51). Os amores contemporâneos refletem hoje
variáveis contingências tanto de modismo, de satisfação, idealização no meio social e no
próprio ser humano, porém algumas pessoas ainda procuram determinados amores como, por
exemplo: o amor de Eros e Psiqué, “Eros é o amor personificado. Em grego desejar
ardentemente, significa com exatidão o desejo dos sentidos. Psique é igualmente a alma
personificada.” (Morin, p.137) Sopra e respira – princípio vital – amor de Eros e Psiqué. Freud
considera que o amor é a manifestação da libido e que a libido se volta para os outros, ou se
volta para a própria pessoa. Já observava que o amor tende a funcionar como modelo de busca
da felicidade e reconhecera sua natureza ilusória no sentido de consolar e tornar tolerável o
mal- estar próprio do desejo humano. (Fromm, p.74). Portanto não é que se pense que o amor
não é importante. Todos sentem fome dele, assistem a inúmeros filmes sobre histórias de
21
amor, felizes e infelizes, dizem centenas de sovadas canções que falam de amor, e, contudo,
quase ninguém passa haver alguma coisa a respeito do amor que necessite ser aprendida. Creio
que nenhuma terapia, nenhuma experiência permita eliminar esse sentimento de vazio que o
amor iludindo-nos promete nos preencher. Quando cremos que o vazio foi abolido, é provável
que estejamos enganando a nós mesmos. Tememos uma dialética da ausência (se dilata) e da
presença (se condensa) do ser amado. Assim como é costumeiro acreditar que dores e tristezas,
em quaisquer circunstâncias, poderiam ser evitadas, também se acredita que o amor significa a
ausência de qualquer conflito. Tendo esses sentimentos facilmente atribuídos, enfraquecido
pela própria sociedade, a mídia se valida principalmente da televisão imaterial, colocando-se em
primeiro a afetividade onde o sujeito se identifica com o objeto (mercado fetiche); pois todo
comportamento humano é emocional, e a propaganda se utiliza desses mecanismos para
garantir a comunicação com o espectador. Por exemplo: nas novelas, propagandas, revistas
femininas (“como conquistar um amor, como se vestir”). Há um fascínio do homem
contemporâneo pela imagem, “espelhos” sociais – si mesmo (Narciso/Eros e Psiqué).
Segundo Moniz Sodré, na obra “Televisão e Psicanálise”, há uma associação entre o real, a
imagem e a televisão. “O real do conjunto – do espaço social, é cada vez mais fabricado pelos
dispositivos ideológicos do mercado. Jamais lidamos com um “real em si”, o real produzido”.
(Sodré, p. 30). Tendo uma forma de relacionamento social com o objeto de sua identificação,
pois com seu ego reprimido o problema do amor é a esperança de completude, facilmente é
reconhecível quando se trata deste sentimento, tem como fundamento uma perda original,
colocada por Freud em termos de objeto perdido de uma satisfação primeira e origem deu
profundo e permanente anseio por seu retorno, o qual recebe o nome de desejo. Já para Lacan,
o amor paixão se dirige ao outro como objeto complementaridade e revelando sua raiz
narcísica, já indicada por Freud; ou seja, o sujeito ama para ser amado, acrescenta que a paixão
(além do amor, o ódio e a ignorância) é, justamente, alienação do desejo no objeto. Em sua
face simbólica diferentemente, o eixo do amor é situado, não no objeto, mas naquilo que o
objeto não tem. Nisso ditando a satisfação pela saciação do desejo de consumir e ter o belo,
vão surgindo várias conseqüências inventadas pelo homem, entre elas preconceitos e
discriminação em relação à escolha de seus parceiros. Havendo uma idealização de completude
nas relações amorosas devido as suas exigências, tendo em vão os amores impossíveis, e o
fascismo que pode ser situado aos fanáticos, neuróticos, possessivos. Tendo sempre estagnado
os amores impossíveis, pois delimita ser o mais bonito e é justamente a impossibilidade que
atrai, a dificuldade nos impulsiona, nos motiva. Por exemplo, num amor impossível cabem
todos os sonhos, todas as perfeições, o mínimo detalhe é idealizado. Porque uma vez que o
amor torna-se possível, acaba a expectativa, ou seja, acaba o sonho.Por ter o seu ego
enfraquecido o individuo dentro da sociedade de massa tenta se satisfazer rapidamente usando
a tecnologia e a comodidade que a sociedade trás, não possibilitando pensar e se desenvolver
de forma consciente. O encontro regressivo padronizado, pré-redigida, a padronização deve
ser disfarçada como uma livre escolha em resultado do público, a indústria cultural produz o
coletivo e perde a individualidade e por sua vez mascara a individualidade, tendo o processo de
socialização forçado. O indivíduo contém a fragilidade dentro da sociedade no seu modo de
amar, tanto homem como a mulher adquiri o seu modo de amor porém juntamente dentro da
sociedade. Podemos citar uma relação que geralmente é criada e recriada nas sociedades, numa
relação sempre há um egoísta e um generoso, assim diz Flavio Gikovate. Para Edgar Morin em
método 6, saber amar é ter um equilíbrio na relação razão-paixão. ”O verdadeiro amor
alimenta a dialógica (razão-paixão) sempre viva na qual a sabedoria e loucura se geram
reciprocamente. Por isso o amor é o máximo da sabedoria e da loucura”. (Morin,
p.139)Considerações Finais: O amor quando relacionado à mídia é um tema instigante, pois
este sentimento interfere no íntimo de cada indivíduo, de como ele se relaciona com o objeto.
22
Embora a mídia divulgue imagens amorosas, cada ser humano parece ter seu jeito de amar,
este jeito é o que faz com que cada poeta ou escritor conte o amor de forma tão substantiva.
Padronizar o amor é como formá-lo objeto de consumo, porém ninguém será rico o suficiente
para adquiri-lo, visto que o amor é uma conquista.
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BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A Construção Social da Realidade.17ª ed.
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LAPA, Walter; FARINA, A. S.; FRANCO, E. M. ; GARCAO, J.; CARVALHO, A. M.;
SEQUEIRA, V. C.; STELLA, C. Introdução á psicologia do cotidiano. 2007.
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artigo
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Platônico">artigo da Wikipédia "Amor Platônico"</a>.
WEBCINE. Melhores filmes- Romance. Disponível em:
<http://www.webcine.com.br/especial/filmes/melhroma.htm>
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MÍDIA E CONSUMO DA JUVENTUDE – FENÔMENOS DA PÓSMODERNIDADE
Pesquisadores:
Aline Cristina de Melo,
Carlos Eduardo Damasceno Espósito
Fernanda Moraes Strutz
Isabela Ferraz do Amaral Campos
Jonathan Brian Jentof,
Karen Mello Westerstahl
Márcia Jorge
Maria Virginia Tibuzio Ress,
Maureen Gabriela dos Santos Gouvêa
Pedro Figueiredo de Moraes
Willy Civitate Casarini
Orientação: Prof. Ms. João Garção
Introdução: A sociedade considerada por muitos autores como pós-moderna, é monopolizada
pelo imaginário da televisão e da publicidade. Comandada pela lógica do capital, tem como
valor supremo a visibilidade. É uma sociedade não mais regulada pela política, religião e nem
pela repressão imposta pelas diversas pedagogias, mas pelo espetáculo (KEHL, 2002). A beleza
externa e o capital passaram a ser supervalorizados e tornaram-se o centro da sociedade. Com
a transição da sociedade moderna para a pós-moderna, o caráter social foi perdido, e a
sociedade cada vez mais massificada. “Massa é o que resta quando se esqueceu tudo do social”
(BAUDRILLAD, 1994). As massas não são uma referência, porque não têm natureza
representativa, não se expressam, não refletem. Elas querem espetáculo, nenhuma força pode
convertê-las à seriedade dos conteúdos (BAUDRILLAD, 1994). Com a valorização
desenfreada do capital e da imagem, houve uma enorme procura por se tornar visível aos
outros, e cada vez mais, os artistas da televisão e da moda se tornaram os ídolos da sociedade,
que, por sua vez, quer estar no lugar onde seus ídolos estão. O pensamento dominante é que
“só posso estar na televisão se eu me parecer com quem já está lá”, assim, o lado intelectual foi
desvalorizado. Isso fez com que as pessoas procurassem, cada vez mais, cirurgiões plásticos,
produtos para emagrecer e se manter jovem e comprar em lojas onde os ídolos “televisíveis”
anunciam. Outra forma de mídia na sociedade atual são as revistas. Milhões de exemplares são
vendidos semanalmente, visando à boa forma, a boa aparência, sem se preocuparem com a
saúde física e mental de quem os lê. “As revistas transmitem o mito da beleza como um
evangelho de uma nova religião” (WOLF, 1992). A conseqüência é o consumo excessivo e a
procura pela eterna juventude, para que só assim possamos ser reconhecidos pelo outro. Desta
forma, fica clara a desvalorização do ser humano como pessoa, todos se tornam peças, objetos
não pensantes, que têm a beleza como prioridade e não como uma “simples forma de nos
relacionarmos com o mundo” (DUARTE, 2003). Objetivo: Refletir sobre este tema é o
principal objetivo desta pesquisa, investigando até quando e onde a mídia e todas as suas
formas de manifestação controlam as vidas, os pensamentos e as vontades de cada pessoa,
refletida em cada espelho que é o outro. Método: A metodologia consiste em pesquisas
bibliográficas, considerando os autores mais relevantes, revistas semanais, quinzenais e mensais
que tratam do tema, considerando o número de páginas dedicadas ao assunto,
complementando foram realizadas entrevistas com profissionais e estudiosos do assunto.
Foram entrevistadas 17 pessoas de ambos os sexos, e de faixa etária acima dos 50 anos, e uma
24
jovem de 28 anos, modelo e atriz. As entrevistas foram abertas e semi-dirigidas, procurando
descobrir o grau de prazer com a vida de cada pessoa. Todos os entrevistados consentiram
livremente prestar seus depoimentos dentro de todos os pressupostos da ética, todos leram e
assinaram a carta de informação ao sujeito, e o termo de consentimento livre e esclarecido. As
entrevistas foram realizadas no Esporte Clube Pinheiros, na loja de produtos de beleza Phytá e
na Agência Léquipe de atores e modelos, com a devida autorização de cada estabelecimento.
Todos os entrevistados concordaram que seus depoimentos fossem filmados e fotografados
para a utilização neste trabalho acadêmico. Discussão: A indústria da comunicação e da
cosmética tem na juventude sua maior fonte de lucro e divulgação. Vender juventude está
sendo provado como um negócio lucrativo para quem vende e, pelo menos a curto prazo, um
investimento para quem compra. Hoje vivemos em uma sociedade que preza demais o corpo,
o que é visível, o espetáculo, e por isso tantas pessoas procuram cirurgias plásticas, para
corrigir o que elas acham que está errado, ou o que o outro acharia que está errado. Tornar-se
jovem é a meta de quem já está envelhecendo e permanecer jovem é a meta de quem ainda é
novo. As entrevistas e pesquisas também ilustram que a vida não existe apenas aos mais
jovens, sendo possível envelhecer com beleza, graça e sabedoria, embora em uma sociedade
massificada, mostrar que isso realmente é possível, é um trabalho árduo, que envolve tempo
para que as pessoas tomem consciência disso e passem a rever seus valores. Considerações
finais: Entendemos que esse fenômeno da busca pela juventude eterna, presente no nosso
cotidiano, domina o pensamento das sociedades massificadas. Quem não está seguindo as
mesmas regras que os outros, é visto como uma pessoa não digna de pertencer à um grupo e,
para evitar exclusões, integram-se na sociedade massificada, passando a ter o mesmo
pensamento e o mesmo comportamento. Fica claro, pelas entrevistas, que nem todos pensam
assim, muitas pessoas sabem como preservar seus corpos e suas imagens sem a necessidade de
cirurgias, mas, com o crescente número de operações plásticas que são feitas a cada ano, com o
número de revistas que trata do assunto, fica claro que esse é um fenômeno que cresce cada
vez mais. É necessária muita conscientização para que as pessoas deixem esse culto ao corpo
para voltar a valorizar o lado intelectual, e a mídia tem um papel fundamental na influência das
pessoas, então deve-se tomar muito cuidado com o que é dito e o que é exposto.
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massas. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
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DUARTE JÚNIOR, João Francisco. O que é beleza: experiência estética. São Paulo:
Brasiliense, 2003.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
MARCUSE, Herbert. A dimensão estética. Lisboa: Edições 70, 1999.
SODRÉ, Muniz. Televisão e psicanálise. São Paulo: Ática, 1987.
WOLF, Naomi. O mito da beleza – como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres.
Rio de Janeiro: Rocco, 1992
25
UMA POSSÍVEL ANÁLISE DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: MÍDIA,
CULPA E SOLIDÃO
Pesquisadores:
Ana Carolina Palaria
Celina Horvat
Eduardo Pierozzi
Eliane Espanha
Keli Lourenço
Leonardo Prado
Rafael Rodrigo
Viviane Colin
Orientação: Prof. Ms. João Garção
Introdução: Com o advento da pós-modernidade e a introdução do sistema econômico
capitalista, ocorreu um conseqüente consumo desenfreado, que causou alterações nos valores
humanos. Tornaram-se mais freqüentes sentimentos tais como a culpa e a solidão, visto que o
homem afastou-se do outro e uniu-se ao tecnológico e à mercadoria. No sistema informativo
pós-moderno, o “pseudo – acontecimento” gera outros acontecimentos em progressão
geométrica e numa tal grandeza de simulação que já não se podem traçar fronteiras claras entre
o real e o imaginário, nem mesmo chamar de pseudo a um acontecimento. Nietzsche, em uma
de suas obras diz que “o homem conhece apenas os efeitos das leis da natureza, mas não elas mesmas”, e
também que o homem é quem cria seus próprios valores, dando um sentido humano às coisas,
tendo então como resultado um mundo articulado.
Segundo Berman:
Tudo é absurdo, mas nada é chocante porque todos se acostumam a
tudo. Este é um mundo em que o bom, o mau, o belo, o feio, a
verdade, a virtude, têm uma existência apenas local e limitada.
(BERMAN, 2000, pág. 27)
O trajeto histórico no qual percorrerá esta reflexão compreende desde a idade média até o
advento da modernidade, passando pelo iluminismo e alcançando a pós-modernidade, local
onde vigorará o enfoque e os destaques deste trabalho, que adquirem maior evidência no final
do século 20, início do século 21. Objetivos: Após uma breve reflexão da sociedade
contemporânea, discutiremos a tríade: mídia, culpa e solidão, com o objetivo de identificar as
repercussões que esses temas têm no cotidiano dos sujeitos que compõem o cenário em que
eles atuam. Esta sociedade, denominada sociedade da imagem é caracterizada pelas
informações que precedem os fatos e a instantaneidade. Método: Buscou-se na literatura de
Sigmund Freud, Teixeira Coelho, Marshall Berman, entre outros, os conceitos que circundam
os temas, e os mesmos foram articulados. Filmes e propagandas, que discutem o tema foram
assistidos. Entrevistas de forma semi-estruturada foram realizadas com intelectuais das áreas de
filosofia e semiologia. Para as entrevistas utilizou-se instrumentos audiovisuais. Os dados
coletados foram analisados pelos membros da equipe, sob a supervisão do professor
responsável, tendo como critérios de análise os fundamentos teóricos selecionados.
Discussão: Na formação psíquica, social e estrutural do sujeito, tem-se a necessidade da
relação face a face, que participará da constituição da subjetividade e no processo
intersubjetivo dele. Conforme Berger; Luckmann (2003), na situação face a face, a
subjetividade do outro me é acessível porque ele é plenamente real. Porém, aquilo que sou não
26
é acessível para mim o tempo todo, e para que isso aconteça, é necessário a reflexão, que só
é provocada pela atitude que o outro manifesta com relação a mim. Assim, podemos inferir
que se nos afastamos da situação face a face, além de perdermos o contato social, nos
distanciamos de nós mesmos e do contato com nossa subjetividade, causada entre outros
fatores, pela substituição do encontro com o outro por aparelhos automatizados. Desta forma,
segundo Freud (1920), a culpa é oriunda de material recalcado por duas vias: ou o sujeito
sente-se culpado ao transgredir a regra social ou por transgredir uma regra internalizada pelo
superego. A repercussão que o recalque e consequentemente a culpa causam na sociedade atual
é de exacerbação do desejo, ou seja, consome-se por um desejo, por uma falsa necessidade.
Neste ponto, a mídia, a partir da consciência do desejo do indivíduo e de posse de ferramentas
poderosas, bombardeia-o incessantemente com informações e produtos para aliviar a culpa por
não estar presente, por exemplo, no dia a dia de um filho. Logo, uma emoção cultural pode ser
autoprotetora e ilusória, a partir do momento que insere valores que escondem a culpa que se
possa sentir por algo que se faça, e também por encontrarem um “bode expiatório” para suas
próprias culpas e luxúrias. Contudo, os produtos automatizados não substituem as relações
sociais, que são fundamentais para a construção da subjetividade do indivíduo, podendo assim,
levá-lo à solidão. O consumo dos produtos não ocasiona a retirada do sentimento de culpa e
agrega a ele, o sentimento de solidão. Ao sentir-se culpado e só, os indivíduos recorrem
frequentemente aos objetos divulgados pela mídia, que tem a capacidade de fetichização da
matéria. Assim, a mídia se faz presente em todos os seguimentos, ditando o que comer, vestir,
falar, enfim, modificando comportamentos e alterando os hábitos, visando o lucro,
característica principal da sociedade de consumo. Esses ensinamentos visam quase sempre à
aquisição de um produto, não bastando mais a dona de casa ir ao supermercado. Nessa
realidade, o supermercado passa a ser o “lugar de gente feliz”, perdendo o seu verdadeiro
sentido (vender de alimentos). Os produtos acabaram por exercer o papel de preencher algum
sentimento de falta no sujeito, o que na realidade expressa o sentimento de solidão que este
possui em si e em sua vida cotidiana. De uma forma irônica poderíamos propor a seguinte
análise: o fato de a dona de casa não ir ao mercado não significa que ela não seja feliz, mas que
se ela for estará sendo mais feliz ou talvez tentando comprar a tão esperada felicidade. Pois se
lá é lugar de gente feliz, então porque não fazer parte e conquistar um pouco dessa felicidade
também? A simples visão de qualquer fragmento do mundo miraculosamente produzido no
vídeo e a sensação de que o mundo está quase presente ali diante dos olhos, são elementos
capazes de conectar o telespectador com o mundo, amenizando a absurda solidão que possa
sentir enquanto indivíduo solitário na massa gigantesca da grande cidade. A comunicação entre
as pessoas é um dos exercícios mais freqüentes, indispensáveis e, no entanto, frustrantes do
cotidiano. Nem sempre o que se diz é o que de fato se sente. A solidão é um estado interno, a
princípio um sentimento de que algo ou alguém está faltando. Uma sensação de separatividade
e desconexão com algo ainda inconsciente. Na sociedade como a de hoje, pode ser percebido a
experimentação de uma sensação coletiva de futilidade: a futilidade de uma vida que não se fixa
nem se afirma em qualquer objetivo permanente, a qual perdure para além do esforço
despendido. Refletindo um sentimento de solidão, de vazio existencial, onde as pessoas são
condicionadas a reprimir o que sentem, não é mais permitido sofrer, vide em muitas
propagandas, novelas, filmes onde sempre há um final feliz, sem sofrimento. Assim:
Como é impossível que o homem que se desenvolva como homem no
isolamento, igualmente é impossível que o homem isolado produza
um ambiente humano. Solitário é um ser no nível do animal.
(BERGER; LUCKMANN, 1996, pg. 75)
27
Neste contexto, os produtos surgem como uma solução para todos os males, e os
personagens funcionam como inspiração para se ter uma vida melhor, ou como algo que
nunca se alcançará, e esses valores, estilos de vida se renovam a cada primeiro capítulo e a cada
estréia no cinema. O problema está em como absorver estes valores que a mídia expõe e que
elas não sejam usadas como um pano para se esconder a realidade vivida de cada um.
O mercado de mercadorias culturais provê a única medida através da
qual um diálogo em escala pública pode ocorrer: nenhuma idéia chega
a atingir ou modificar os modernos, a não ser que possa ser colocada
no mercado não só em termos de sobrevivência material, mas também
em termos de sustento espiritual – um sustento para cuja provisão eles
sabem que não podem contar com o mercado. (BERMAN, 2002, p.
144)
Na telerealidade o poder é uma forma reguladora que simula o mundo para melhor
reespecializá-lo e administrá-lo. De fato, não se transmite nenhum conhecimento realmente
produtivo, mas ilusões, imagens de conhecimento, para fins de captação pura e simples do
olhar e melhor imposição dos efeitos de organização social.
Segundo Sodré:
A televisão é o espelho no qual, a ordem técnico-capitalista se reflete e
indica as suas grandes linhas da constituição das identidades sociais.
Como um tigre em sua jaula, o simulacro televisivo é capaz de fascinar
nosso olho, precisamente porque nos “mata” ou exclui, enquanto
identidades originais. (SODRÉ, 2002, p.54)
Assim, a televisão simula uma sociedade fundada não mais numa ética do trabalho material,
mas na produção psíquica. O que no vídeo se produz é o desejo. Se a finalidade imediata da
produção é o consumo então nenhum consumo pode satisfazer realmente um desejo, afim de
que não pare jamais a escalada geométrica da ordem produtiva. Por fim, a ética e a moral
adquirem um papel de grande importância, uma vez que esses termos sofreram uma resignificação, onde impõe-se o individualismo, que não engrandecem o sujeito e o torna cada
vez mais distante do verdadeiro Eu. Considerações Finais: Na discussão, o grupo procurou
considerar que a mídia, como instrumento veiculador da informação, pode participar do
processo de eliminação da relação face a face e a conseqüente eliminação da reflexão do sujeito
quanto a si próprio e ao mundo, permitindo que este absorva um conteúdo repleto de
intenções políticas, econômicas, sociais e afetivas, que desencadeiam um enfraquecimento do
Eu.
REFERÊNCIA
BAUDRILLARD, Jean. A sombra das maiorias silenciosas, o fim do social e o surgimento
das massas. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A Construção social da realidade: tratado de
sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1996.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.
São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983
28
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1974.
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004.SODRÉ,
Muniz. Televisão e psicanálise. São Paulo: Ática, 1987.
BONDACZUK, Pedro J. Solidão. Disponível em: http://www.planetanews.com/news/2006
/10382, 2006. Acesso em: 20 Set 2007.
FONG, E L. O que é solidão. Disponível em: <http://www.institutouniao.com.br/artigos/
solidao.asp>. Instituto União. Acesso em: 20
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RELIGIÃO
30
DIVERSOS FENÔMENOS, DIVERSAS EXPLICAÇÕES E MUITAS (IN)
CERTEZAS
Pesquisadores:
Adriana Teixeira Buriti
Alexandre Borgh Kühl
Ana Elisa Macedo Alves
Bárbara M. de Santana
Fabiana Muramatsu
Heloise Bayeh
Igor de O. Chappaz
Karen Cláudia B. da Silva
Milton N. de C. Neto
Paula Tiroli
Paulo Rodrigo V. Falcade
Thais Cristina M. Maschietto
Orientação: Prof. Ms. Walter Lapa
O presente trabalho pretende apresentar diferentes fenômenos religiosos com o objetivo de
abrir precedentes para a discussão sobre as diversas leituras da realidade, tendo como foco os
fenômenos de manifestações espirituais dentro das religiões mais representativas no Brasil,
promovendo assim, um debate entre a neuropsicologia, metapsicologia e dogmas religiosos.
Para a realização do trabalho foi necessário identificar quais são as religiões que fazem parte do
cotidiano dos brasileiros e para isso foi utilizado como instrumento o último censo realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2000, o percentual de católicos
no país era de 73,8%, evangélicos 15,45%, sem religião 7,3% e outros 3,45%. É importante
considerar a possibilidade de variação desses índices, pois o IBGE realizou a pesquisa com
uma amostra reduzida da população e, além disso, é provável que algumas pessoas que se
dizem católicas escondem o fato de freqüentarem outros cultos religiosos. Entretanto,
considerando as possíveis variáveis, os dados obtidos pelo IBGE são os que mais se
aproximam da realidade dos brasileiros, o que nos mostra que o tema em questão é de grande
importância pelo fato de a religiosidade estar presente no cotidiano de grande parte da
população. Para viabilizar o projeto foram utilizados materiais provenientes de fundamentação
bibliográfica - consulta a livros e a sites que disponibilizam teses e artigos científicos - de
orientação teológica, psicológica e neuropsicológica. Durante todo o processo de pesquisa
teve-se a preocupação em se utilizar informações de fontes seguras e variadas para que ao final
do trabalho fossem obtidos dados o menos tendenciosos possíveis. A pesquisa trouxe
elementos para a produção de um vídeo (em formato DVD, com aproximadamente 12 min.),
composto por imagens relacionadas às religiões, que visa possibilitar a reflexão acerca dessa
temática durante a VI Mostra de Psicologia do Cotidiano, evento promovido semestralmente
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. A Psicologia enquanto ciência humana busca por
meio de diversas abordagens compreenderem como o homem se relaciona com o meio e
também procura conhecer quais são as explicações que a psique humana produz a partir dos
fenômenos que ocorrem. Fenômenos psíquicos são pesquisados por muitos estudiosos no
campo da Psicologia, especialmente os da abordagem junguiana. Para esses estudiosos e para
Jung, os fenômenos psíquicos podem ser demonstrados empiricamente por meio de conceitos
metafísicos. Segundo Jung, “a fé é uma relação com conteúdos projetados” e a fé mantêm a
31
convicção de que a projeção é uma realidade” (JUNG, 1998, p. 305) e os fenômenos
psíquicos ou psi são:
“Todo e qualquer evento que esteja atrelado a ocorrências
significativas não-ordinárias marcantes para uma ou algumas
pessoas, envolvendo a obtenção de informações por vias não
comuns e/ou produção de manifestações físicas que
aparentem expressar uma ação inteligente não passível de ser
explicada a contento por causas físicas ou ordinárias”.
(GUIMARÃES, 2004, p. 23)
É possível definir o que são os fenômenos psi, no entanto sua complexidade é ainda maior
quando há um esforço na busca por explicações para o seu acontecimento. De fato, existem
diversas formas para se interpretar esses fenômenos e são essas diversas formas que esse
trabalho propõe analisar. Serão abordados fenômenos espirituais de estigma e exorcismo
(catolicismo), incorporação (religiões afro-brasileiras), psicografia e cirurgia espiritual
(espiritismo) - alguns desses fenômenos são comuns no cotidiano de quem participa dos
cultos, rituais e celebrações religiosas e são, sem dúvida, um campo de muito interesse e
curiosidade para cientistas, entre eles, os psicólogos. Considerando que a conciliação entre
ciência e religiosidade, apesar das tentativas de setores isolados de ambas as partes, tem sido
motivo de muita polêmica, esse projeto não tem a pretensão de chegar a conclusões definitivas,
mas sim de abrir a discussão sobre esses fenômenos que são explicados tanto por vias
dogmáticas quanto científicas.
REFERÊNCIAS
ANTONIAZZI, Alberto. As religiões no Brasil segundo o censo de 2000. In: Revista de
estudos da religião, nº. 2/ 2003, pág. 75-80.
GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
GUIMARÃES, Carlos Antônio Fragoso. Carl Gustav Jung e os fenômenos psíquicos: as
vivências e os fatos biográficos de Jung ligados ao espiritismo, à metapsíquica e a
parapsicologia e seus contatos com Sigmund Freud, William James e Joseh Banks
Rhine/ Carlos Fragoso Guimarães. São Paulo: Madras, 2004.
JUNG, Carl Gustav. A vida simbólica: escritos diversos/ C. G. Jung; Tradução Edgar
Orth/ revisão técnica de Jette Bonaventura. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. (Obras completas de
C. G. Jung, V. 18/2).
32
SEXO E RELIGIÃO: PECADO OU BENÇÃO?
Pesquisadores:
Adriana A. S. Feitosa
Amanda L. S. Gil
Bianca F. Centurione
Débora Diegues,
Ellen G. Gonçalves
Gabriela M. do A. Prado
Ligia P. Silva
Lilian B. de L. Perez
Luciano Nascimento
Michelle Finotti.
Orientação: Prof. Ms. Walter Lapa
Na maioria das religiões o sexo é visto como tabu, há pouco material cientificamente escrito
sobre o assunto e dentro de algumas delas a questão é mencionada apenas para coibir a prática
sexual pré-matrimonial. Segundo o psiquiatra e sexólogo Ronaldo Pamplona da Costa,
membro da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, o sexo é visto como um benefício à
saúde física e mental, não acarretando prejuízos quando feito seguramente, pelo contrário, ele
estimula a produção de endorfina e serotonina. Essas substâncias ocasionam a perda de
calorias, dão à sensação de prazer, aliviam dores, tensões e favorece a criatividade, sendo uma
válvula de escape para o estresse, e com a liberação de serotonina há um possível afastamento
de transtornos psicológicos, como por exemplo, a depressão. Já quando a prática sexual é
realizada de forma doentia, sem responsabilidade, pode trazer conseqüências negativas como a
gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis ou até desenvolver patologias
relacionadas ao sexo, como a pedofilia ou compulsão pelo mesmo. No entanto, a mídia exibe
cenas de sexo há “qualquer hora” e “em qualquer lugar”, temos a banalização do mesmo, além
dos “incentivos” para iniciar a vida sexual cada vez mais precocemente. E ao mesmo tempo
em que a mídia exibe esse tipo de informação, cada vez mais em novelas, filmes e propagandas,
há também, uma exibição de precauções que devem ser tomadas para o sexo, como em
algumas novelas juvenis, em que aparecem as preocupações dos jovens em utilizar a camisinha,
incentivando assim o uso da mesma, mesmo que seja jovem o bastante para a prática do sexo.
Para Berger e Luckman (1985), “a linguagem objetiva as experiências partilhadas e torna-as acessíveis a
todos dentro da comunidade lingüística, passando a ser assim a base e o instrumento do acervo coletivo do
conhecimento.” (p. 96). A partir dessa idéia, mostra-se que através da linguagem, trabalhada nesta
pesquisa, a midiática, há uma reprodução das idéias sobre sexo na sociedade, através dos meios
de comunicação. Com isso, neste trabalho buscou-se entender como o sexo e a religião se
articulam em uma sociedade em que de certa forma “apóia” a prática sexual.
“A linguagem... é o meio mais importante pelo qual as sedimentações objetivadas
são transmitidas na tradição da coletividade” (Berger e Luckman, 1985, p.
96), nas religiões o que se percebe, em muitos cultos, rituais, missas, é
que através da linguagem, os fiéis retiram os seus princípios morais
para a vida cotidiana. “A linguagem das religiões é realizada por meio de
símbolos que, ao longo do tempo, têm influenciado profundamente a vida dos
homens.” (Lapa, 2007, p. 161).
Para Berger e Luckman (1985), a religião seria uma instituição, e como tal ela incorpora-se à
experiência do indivíduo por meio de papéis. Estes papéis, linguisticamente objetivados, são
33
essenciais ao mundo objetivamente acessível de qualquer sociedade. Ao desempenhar
papéis, o indivíduo participa de um mundo social, tornando-o subjetivamente real para ele
próprio. Porém, alguns papéis não têm outra função senão a de representação simbólica da
ordem institucional como totalidade integrada como no caso, papas, pastores, rabinos, entre
outros. Aos fiéis cabem funções menos enaltecidas para serem desempenhadas no cotidiano,
porém algumas vezes estes também representam simbolicamente a ordem institucional. Ele
desenvolve seu papel para participar da instituição religiosa. A pesquisa contou com
informações de apenas algumas religiões mais representativas no Brasil, como Catolicismo,
Protestantismo, Espiritismo e Judaísmo. Os oito sujeitos dessa pesquisa são jovens
universitários maiores de 18 anos, membros das religiões citadas acima. Através de entrevistas
semidirigidas foram respondidas as perguntas formuladas pelo grupo de pesquisa, em que se
questionava: qual a visão do sexo na religião do sujeito, qual a opinião do sujeito sobre aquela
idéia de sexo, e como que o sujeito lida com a regra proposta pela religião que segue. A coleta
de dados ocorreu de forma a se contatar os possíveis sujeitos que gostariam de realizar a
pesquisa, informando a estes colaboradores sobre a mesma. A análise e interpretação de dados
ocorreram de forma a estudar o que os sujeitos entendem da própria religião com relação ao
sexo, e se os mesmos concordam com esse ponto de vista e realmente pratica o que a religião
deles propõe. Para a maioria das religiões o sexo pode ser praticado não apenas para fins
procriativos desde que seja pós-matrimonial. Por exemplo, segundo os sujeitos entrevistados,
da Religião Católica, é condenado o uso de métodos contraceptivos artificiais como a
camisinha, entretanto não condena a “tabelinha” por ser um método natural. Ao contrário, no
Protestantismo (na denominação Batista) é liberado o uso dos mesmos, bem como a busca
pelo prazer. A doutrina espírita não se coloca diretamente sobre a questão da sexualidade. Ela
diz que cada indivíduo é responsável pelos seus atos, tanto os bons quanto os ruins. O
espiritismo sugere condutas corretas, mas todos têm livre arbítrio para fazer sua escolha. Não
há proibição do sexo, pois ele é visto como um instinto, uma atitude natural do homem. Por
fim, no Judaísmo, o sexo é liberado desde que haja o matrimonio, e o homem deve priorizar o
prazer a sua companheira, entretanto é proibido o uso de métodos contraceptivos. Apesar dos
dogmas das religiões apresentadas, alguns sujeitos deixaram transparecer o uso do livre arbítrio
ao declararem que na maioria das vezes, mesmo não concordando seguem, enquanto outros
não concordam e não seguem as regras sobre sexualidade na religião. Apesar da grande
importância do assunto, este trabalho não pretende esgotar o tema, pois seu principal objetivo
foi abordar o assunto com fins acadêmicos. Portanto, mesmo após a pesquisa permanece ainda
a questão: sexo e religião: pecado ou benção?
REFERÊNCIAS
BERGER e LUCKMANN. A construção social da realidade. Tradução Floriano Souza
Fernandes – Petrópolis, Vozes, 1985.
LAPA; WALTER. Religião, religiosidade na vida cotidiana: algumas reflexões. In:
Introdução à psicologia do Cotidiano – Org: Núcleo de estudos e Pesquisas Psicossociais do
Cotidiano. Ed. Expressão e Arte, São Paulo. 2007
http://saude.terra.com.br/interna/0,,OI296222-EI1517,00.html, acessado em 20/08/2007.
34
ABORTO X RELIGIÃO: ALÍVIO OU CULPA?
Pesquisadores
Evandro Peixoto
Ligia Duarte
Márcia Ferreira
Monisy de Sá
Natasha Mazzola
Paloma Ferreira
Silvia Andréia
Orientação: Prof. Ms Walter Lapa
O aborto, nos dias de hoje, é algo que vem gerando muita polêmica em nossa sociedade uma
vez que este tema envolve questões morais e religiosas. Quanto a moral, de acordo com Heller
(2004): “Uma das funções da moral é a inibição, o veto. A outra é a transformação, a culturalização das
aspirações da particularidade individual. Isso não se refere apenas à vida do indivíduo, mas também a da
humanidade”. (p.23). Apesar disso, no Brasil, são realizados, anualmente, 4 a 5 milhões de
aborto, 10% do total mundial, que cresce a cada ano (CAMON, A. 2002). Através da mídia, a
legalização do aborto vem sendo muito discutida, dividindo opiniões e colocando em dúvida se
a mãe tem ou não o poder de decidir o ciclo de vida do feto. Esta pesquisa tem por objetivo
verificar a concepção religiosa sobre o aborto. Propõe-se a entender como as religiões –
protestante, católica, espírita – pensam sobre o assunto. Nosso trabalho também teve como
preocupação a situação psicológica das mulheres que, por um motivo ou outro, trilharam por
este caminho: como lidaram com esta situação? Como enfrentaram a sociedade? Como se
sentiram na ocasião. arrependem-se atualmente. Como se sentem hoje. Freqüentavam alguma
religião. A religião as ampararam. Que tipo de auxílio foi oferecido? Optamos pela entrevista
semidirigida a fim de compreender melhor os motivos que as levaram ao aborto. Foram
entrevistadas cinco mulheres que realizaram o aborto e três líderes religiosos representantes
das religiões já citadas. Foi perguntado a esses líderes como eles encaram o aborto, e como a
religião a qual eles representam lida com a questão. Entre as cinco mulheres que fizeram o
aborto: duas se arrependeram logo após, sendo uma espírita e a outra católica não praticante;
uma se arrependeu depois de algum tempo - freqüentava a igreja católica -; duas não se
arrependeram – uma católica não praticante e a outra espírita – afirmaram que fariam
novamente caso estivessem na mesma situação. As religiões pesquisadas foram categóricas em
afirmar que são contra o aborto, entretanto, os motivos que as levam a esta posição são
diferentes. A igreja católica não apóia a lei do aborto, considerando um crime e algo imoral,
portanto um grave pecado. Em casos que existem risco de morte para a mãe e havendo uma
prescrição médica, o aborto pode ser realizado, obtendo assim o perdão da igreja. O
protestantismo, no caso de nossa pesquisa - a Igreja Presbiteriana do Brasil reconhece que:
Muitos problemas são causados anualmente pela prática
clandestina de abortos, trazendo a morte de muitas mulheres
jovens e adultas. Todavia, entende que a legalização do aborto
não solucionará o problema, pois o mesmo é causado
basicamente pela falta de educação adequada na área sexual, a
falta de controle de natalidade, a banalização da vida, a
decadência dos valores morais e a desvalorização do casamento
e da família. Visto que: Deus é o Criador de todas as coisas e
35
que, como tal, somente Ele tem o direito sobre nossas vidas.
(BRASILEIRO; R. 2007, p. 6)
O espiritismo considera a vida do ser já existente como prioritária em relação ao ser que ainda
não existe e, havendo risco para a mãe, a interrupção da gravidez pode ser praticada. Segundo a
doutrina espírita, o espírito sempre existiu, desligando-se pela morte e reencarnando em outro
corpo. Para eles, portanto, não há, no caso de um aborto, a "morte" de um ser. O que existe é
a frustração de um espírito que tem seu corpo abortado. Se as razões para esta interrupção da
gravidez forem injustificáveis, existirá um espírito, que, já sabia, e já possuía essa escolha de
nascer naquela família, e ao ser abortado terá que buscar outra mãe imediatamente, assim,
buscando outra família que lhe deseje. Considerando os dados coletados podemos afirmar que
todas as religiões pesquisadas são contra o aborto, apenas levam em conta a saúde da mulher,
podendo realizá-lo como forma de preservação de sua vida. A partir das entrevistas, observa-se
que existe a consciência da reprovação de sua religião em relação ao aborto. A maioria das
entrevistadas mostraram-se arrependidas após algum tempo da realização do aborto, o que
possivelmente pode ter acontecido devido a influência da socialização religiosa.
O aborto é uma manifestação desesperada das dificuldades da
mulher para realizar uma opção livre e consciente na procriação e
uma forma traumática de controle da natalidade. Mesmo numa
consideração não religiosa, o aborto é um signo de uma rendição,
nunca uma afirmação de liberdade. (NATA; A. 1975).
Algumas das colaboradoras demonstraram encontrar certo alívio de sua culpa, ao se
aproximarem mais de suas religiões. Uma vez que:
O processo de abortamento incompleto deixa marcas
indeléveis. A culpa, a depressão e a psicossomatização são
sinais de feridas psicológicas sofridas pelas mulheres, indicando
quão profundamente o aborto às sensibiliza, fazendo-as sofrer
física e emocionalmente. (MOTTA; I. S. 2005)
Esta pesquisa não teve a pretenção de esgotar o assunto, pois trata-se de uma experiência
acadêmica, ficando aberta a possibilidade de investigações mais profundas.
REFERÊNCIAS:
BRASILEIRO; R. Revista Informativa da Junta de Missões Nacionais da Igreja
Presbiteriana do Brasil – Nº. 11 – 2007 – Editora Cultura Cristã. Artigo:
CAMON; A. (Org) A Ética na Saúde. São Paulo: Pioneira, 2002.
HELLER; AGNES O Cotidiano e a História. São Paulo: Paz e Terra S.A. 7ª. Ed, 2004.
MOTTA; I. S. A relação interpessoal entre profissionais de saúde e a mulher em
abortamento incompleto: "o olhar da mulher". Rev. Bras. Saude Mater. Infant. [online].
2005, vol. 5, no. 2 [citado 2007-10-04], pp. 219-228. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519
38292005000200011&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1519-3829.
36
NATA; A. O Aborto e a Liberdade; Sec. Geral do Partido Socialista Italiano in Rinascita,
1975 (site http: //www.aborto.com.br/aborto_liberdade/index.htm )
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Núcleo de Estudos e Pesquisas
Psicossociais do Cotidiano. Introdução à psicologia do cotidiano. São Paulo: Expressão &
Arte, 2007.
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SUBJETIVIDADE E
CULTURA
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"TORCIDA ORGANIZADA: ENTRE O AMOR E O ÓDIO, DO ESPETÁCULO
À MORTE".
Pesquisadores:
Bruna Praxedes Yamamoto
Juliana Rocha de Faria
Lucila Isabel Faustino
Marcelo Rodrigues Silveira Oliveira
Rafael do Amaral Braga
Orientação: Profª. Dra. Claudia Stella
Para Pimenta (2000) a violência entre as torcidas organizadas tem vários aspectos, tais como: o
esvaziamento político-cultural-coletivo dos novos sujeitos sociais, isto é, a juventude cada vez
mais exaurida de consciência social e coletiva; a ausência de expectativa de futuro a esses
jovens; as transformações sentidas nos cotidiano dos amplos centros urbanos; um modelo de
sociedade de consumo instaurada no Brasil que valoriza a individualidade, o banal e o vazio,
bem como o prazer e a excitação provocada pelas violências ou pelos confrontos agressivos; a
familiarização com a violência; má distribuição de renda; entre muitos outros que geram todo
um ambiente favorável para o desenvolvimento desses grupos. Cabe ressaltar, que nas torcidas
organizadas seu percentual de torcedores está concentrado em jovens de até 18 anos e de baixa
renda. Entretanto, isso não é uma exclusividade, visto que, conforme estudos para a pesquisa
constam que há torcedores de todas as idades e condições sociais. O objetivo desse estudo foi
entender a construção da subjetividade do indivíduo dentro da torcida organizada, assim como
os motivos das afiliações e desligamento de seus integrantes. Para isso também foi necessário
estudar o funcionamento das torcidas e entender a diferença que existe entre os torcedores que
freqüentam os estádios, mas que não fazem parte da torcida organizada e os filiados às
torcidas. Atualmente, como podemos observar em nossa vida cotidiana, os indivíduos estão se
isolando cada vez mais, o que causa um sentimento de solidão. Uma reação que o indivíduo
pode ter a essa solidão é a de se agregar a um grupo concreto e factível, pois assim ele poderá
viver uma relação mais fácil, pré-determinada e definida do que as relações que são
estabelecidas na “vida real”. Para Horkheimer e Adorno (1973), a família é um microgrupo
primário no desenvolvimento de sua personalidade e na manutenção de ideais sociais, assim, a
criança se desenvolve por meio de expectativas e identificações de sua cultura e suas ações
passam a ser o reflexo das atitudes que o adulto reproduz, para não decepcioná-lo com medo
de perder seu amor. Encontramos essa atitude nos indivíduos que fazem parte da torcida
organizada, geralmente seu time é escolhido pelos pais, afirmando a influência da família na
criança para adotar um ideal. A formação do indivíduo se estabelece de acordo com a
sociedade e a cultura onde está inserido. De acordo com Figueiredo (2006, apud STELLA,
2007) caso o indivíduo não tenha apoio da sociedade e de suas instituições, ele passa a
constituir referências internas, assim, desenvolvendo sua reflexão moral tentando conciliar seus
desejos pessoais com as exigências impostas pela sociedade. O que podemos perceber na
torcida organizada é que os torcedores quando relacionado a seu grupo podem não constituir
uma reflexão das normas que a sociedade impõe. Ressaltamos aqui a subjetividade privatizada,
sendo esta uma experiência íntima, onde ninguém tem acesso aos nossos pensamentos,
sentimentos e nossas vivências. Para Figueiredo (2006), a subjetividade privatizada entra em
crise quando se descobre que a liberdade e a diferença são, em grande medida, ilusões. Essa
crise nos torcedores pode se dá por perceberem o quanto eles tem do outro, do adversário, de
suas semelhanças, de seus ideais e de suas atitudes. Segundo Freud (1921), em um grupo o
39
indivíduo se torna membro de uma raça, uma nação, uma instituição, ou como parte de uma
multidão de pessoas que se organizam em determinada situação para um intuito definido. No
grupo os indivíduos podem colocar no lugar de seu ideal de ego um único e mesmo objeto, no
caso a torcida organizada, e por isso se identificam uns com os outros em seus egos. Na
torcida organizada geralmente encontramos um líder, de acordo com Freud (1921), esse líder
pode ser substituído por uma idéia dominante, assim o indivíduo estará ligado a dois laços
libidinais, de um lado o líder, e do outro pelos membros do grupo. Encontramos aqui a falta
de liberdade do indivíduo num grupo, pois se cada indivíduo está preso por um laço libidinal
tão intenso, não encontramos dificuldade em atribuir a essas circunstâncias a alteração e a
limitação que foram observadas em sua personalidade. Os intensos vínculos emocionais que
podem ser observados nas torcidas organizadas e em seus gritos de guerra podem explicar a
característica e a semelhança de reações de todos eles. Seus integrantes são reduzidos a
indivíduos grupais, perdendo assim suas características individuais. Le Bon (apud FREUD,
1921) acredita que as particularidades do indivíduo se apagam num grupo e assim sua
distintividade desaparece, apresentando novas características que não possuíam anteriormente,
buscando a razão disto em três fatores: o sentimento de poder invencível; o contágio; e a
sugestionabilidade. Essas características singulares do indivíduo podem desaparecer nos
torcedores da torcida organizada, já que quando inseridos a um grupo, estes se sentem
inabaláveis, fortalecidos e protegidos pelos demais, sendo contagiados pelos gritos de guerra,
pela disputa, liderança, entre outros fatores. “Um grupo é impulsivo, mutável e irritável. É
levado quase que exclusivamente por seu inconsciente”. (FREUD, 1921 p. 187). Em Freud
(1921) podemos identificar dentro da torcida organizada, alguns aspectos comuns em grupos,
como a fraqueza intelectual, a falta de controle emocional, a incapacidade de moderação ou
adiamento e a inclinação a exceder todos os limites emocionais e descarregá-la completamente
sob a forma de ação. Essas características seriam uma espécie de comprovação da regressão da
atividade mental a um estágio anterior, como observado em selvagens e crianças. Como
resultado dessa regressão que tornam seus impulsos emocionais particulares e os atos
intelectuais desses indivíduos fracos demais para alcançarem algo por si próprios, há uma
necessidade de serem reforçados por sua igual repetição nos outros membros do grupo.
Segundo Roquette (1999), há condições que estão relacionadas aos acontecimentos violentos
provocados pela massa: a distinção ordenada, onde o grupo adota uma identidade num
processo de categorização permitindo a percepção do outro e então a confrontação com ele; a
minorização onde a violência praticada pela massa é contra uma minoria e escolhida como
objeto de uma contrariedade da massa, isto é, após sua identificação no grupo o sujeito se põe
contra aqueles opositores; a excepiconalidade, onde o tempo de violência é um momento
excepcional no desenrolar normal dos dias, a violência existe em uma situação
desindividualizada. O método utilizado para este indivíduo foi entrevistas semi-dirigidas,
pesquisa em acervos eletrônicos e pesquisas bibliográficas. A análise foi realizada segundo os
referenciais adotados na pesquisa. Podemos perceber também que o ego daquele que participa
da torcida organizada pode ter duas características: a primeira seria uma estrutura egóica
marcada pela falta de uma autoridade paterna (simbólico ou real) e essa imagem paterna seria
substituída pela organização Torcida. A segunda, uma estrutura egóica marcada pela
identificação com os ideais da torcida (“um por todos, todos por um”). Muitos integrantes da
torcida organizada buscam ali dentro formas de amparo e muitas vezes encontram, pois o
sentimento de família e de que todos são iguais, esteve presente na fala de todos os
entrevistados. Podemos notar que no momento em que o individuo faz parte da torcida
organizada, esta seria o seu ideal de ego e que a partir do momento em que o ideal de ego desse
indivíduo passa a ser outro, ele abandona a torcida. Neste trabalho apresentamos a formação
do indivíduo e sua influência por parte da sociedade e como a criança é influenciada pela
40
família para obtenção de um time, consequentemente a estrutura egóica que o indivíduo tem
em comum dentro de sua torcida e a atitude dessas torcidas organizadas causando violência
sem refletir as conseqüências ou as exigências da sociedade.
REFERÊNCIAS
FIGUEIREDO, Luís C. M.. Psicologia uma (nova) introdução; uma visão histórica da
psicologia como ciência/ Luís Mendonça Figueiredo e Pedro Luiz Ribeiro de Santi. – 2. ed.
– São Paulo: Educ, 2006.
FREUD, S. Psicologia das massas e análise do eu. In: Obras completas de Sigmund Freud;
Rio de Janeiro: Imago Editora, 1972.
HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theador. Temas básicos da sociologia. São Paulo:
Cultrix, 1973.
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA PSICOSSOCIAIS DO COTIDIANO. Introdução
à psicologia do cotidiano. – São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2007.
PIMENTA, Carlos Alberto Máximo. Violência entre torcidas organizadas de futebol. São
Paulo Perspec. , São Paulo, v. 14, n. 2, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
ROUQUETTE, Michel-Louis. Massas, normas e violência. Ciênc. saúde coletiva. Rio de
Janeiro, v. 4, n. 1, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
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O PRECONCEITO DO SUJEITO “NÃO-PRECONCEITUOSO”
Pesquisadores:
Aline Mossmann Fernandes
Débora Cozachevici de Jesus
, Dulninéia Bastos Duarte
Elaine Ap. de Campos
Ivan Ratcov
Juliana Rampim Chiantia
Karen Danielle Magi Ferreira
Maria Pia appendino Santoro Ribeiro
Nathalie Igli de Figueiredo
Priscila Souza Mendes
Orientação: Prof. Drª. Claudia Stella.
A proposta deste trabalho é definir preconceito de acordo com as idéias da teoria crítica da
sociedade. Para entender como ocorre a representação social do preconceito é preciso
compreender o processo de constituição da subjetividade. Segundo Stella (2007) a
subjetividade não é um sistema fechado, mas sim um processo que ocorre de modo dialético
no desenvolvimento psíquico do sujeito em relação à cultura e aos processos sociais nas quais
está inserido. Freud (1930) nos fala que a barbárie encontra-se no próprio princípio
civilizatório. Adorno (2003) entende por barbárie o fato das pessoas no decorrer do processo
civilizatório encontrarem-se tomadas por uma agressividade primitiva, um ódio primitivo ou,
na terminologia culta, por um impulso de destruição. Ele diz ainda que a barbárie seria advinda
de uma educação repressora, em que o sujeito não obtém consciência, ele apenas reproduz as
ideologias e representações sociais vigente em sua cultura. Crochík (2006) utilizando idéias de
Marcuse cita que a constituição do indivíduo com predisposição ao preconceito, normalmente,
ocorre no processo de socialização primária com o enfraquecimento da família. Diante disso o
indivíduo passa a ser socializado diretamente pelo todo social e tem maiores dificuldades em se
constituir, consequentemente, as identificações que realiza são genéricas e frágeis e, com o
fortalecimento do capitalismo, a mediação da família responsável pelo processo de socialização
da criança passou a ser desnecessário à formação de indivíduos atuantes e críticos e é
justamente porque a autoridade da família se enfraqueceu que a adesão a autoridade e cultura
social foi possível. Crochík (2001) ainda afirma que a falta de experiência e reflexão geram
preconceito, propondo a partir disso uma hipótese de contato, que consiste em que o sujeito
preconceituoso se relacione com o alvo de seu preconceito, o que geraria reflexão e
identificação, porém, isso é pouco possível porque o sujeito preconceituoso é frágil e está
inserido em uma sociedade competitiva, ou seja, que exige dele uma postura forte e autoritária.
Freud (1930) relata que a sociedade incentiva a relação por identificação, projetando sua
agressividade em um outro que possa odiar. Somente através desse mecanismo é possível o
processo civilizatório. A partir destas definições, tomamos como objetivo para este trabalho a
análise do preconceito por meio de falas de estudantes universitários, especialmente sobre
preconceito contra o sujeito que é preconceituoso, tentando identificar a ideologia presente no
discurso deste que se diz não-preconceituoso. Sendo essa postura identificada, verifica-se se há
existência de preconceito velado na forma de um discurso justificador. Frente a uma
constelação de leis que proibem a discriminação, grupos marjoritários desenvolvem estratégias
ideológicas que perpetuam práticas discriminatórias de forma não aberta, mas, segundo
Stefano (2007), mascarada, causando a impressão que o discurso clássico discriminativo
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diminuiu, os atuais discursos ideológicos justificam a situação dominante sem,
aparentemente, infringir as normas vigentes, atribuindo o discurso preconceituoso e
justificados a população brasileira e não a si mesmo. Para a realização da pesquisa, o grupo se
baseou nos textos indicados pela supervisão e realizaram fichamentos extraindo os principais
conceitos relacionados ao preconceito. Após discussões dos textos, o grupo elaborou uma
entrevista semi-dirigida, que foi aplicada em estudantes universitários, sendo gravadas e
transcritas posteriormente, servindo como objeto de análise cujo objetivo era identificar as
representações sociais do preconceito contido no ambiente acadêmico. O grupo se preocupou
em tentar abarcar questões que evocassem cenas que pudessem mostrar a simbolização que o
indivíduo tem do preconceito, o significado que o sujeito atribui ao conceito e avaliar o
sentimento que suscita no entrevistado quando este se depara com o sujeito preconceituoso.
Dessa forma, tentar analisar se há o preconceito velado quando o discurso não condiz com
suas reações, ou se há o preconceito assumido contra quem o possui. A ideologia dominante
do preconceito, na qual o que se prega é não ser preconceituoso, é bastante difundida em
nossa sociedade. Segundo Horkheimer e Adorno (1973) a presença de caráter esteriotipado
não é exclusivo dos preconceituosos, mas que muitas vezes é identificado em pessoas de
caráter “livre de preconceito” e que disso se cria um tipo “rígido”. A sociedade atual propaga a
idéia do “politicamente correto” e o que se prega é o não preconceito, porém, percebemos
que, de um modo geral, nas entrevistas as pessoas se dizem não-preconceituosas mesmo sendo
possuidoras de preconceitos. Consideramos que este trabalho serviu para compreender a
existência do preconceito em indivíduos que se dizem não-preconceituosos, identificar que as
pessoas, muitas vezes, têm um preconceito velado. Além disso, constatamos que uma parcela
dos estudantes universitários trás reflexões que auxiliam no movimento crítico quanto a este
tema bastante complexo que é o preconceito, Verifica-se também a importância deste tema ser
trabalhado com profundidade, seja no ambiente acadêmico, e/ou no todo social, pois, como
diz Adorno (2003), o desenvolvimento da consciência individual não significa progresso social,
pois, para que haja transformação na sociedade, o homem precisa se engajar em projetos
sociais e ideários, ou seja, compreender que é produto e produtor da história.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. Educação após Auschiwitz. In: Educação e Emancipação. São Paulo: Paz e Terra,
2003.
CROCHÍK, J. L. Preconceito, Indivíduo e Cultura. 3º Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
CROCHÍK, J. L. Teoria crítica da sociedade e estudos sobre preconceito. In: Revista Sociedade Brasileira
de Psicologia Política, ano 1. Vol. 1. N. 1. 2001.
FREUD, S. O mal-estar na civilização, Rio de Janeiro: Imago, 1997. 1ª Edição, 1930.
HORKHEIMER, M., & ADORNO, T. W. (1973). Temas básicos de Sociologia. São Paulo:
Editora Cultrix.
MATOS, O. Sociedade, Tolerância, Confiança, Amizade. Revista USP. São Paulo, p.92-100, marmaio, 1998.
43
STELLA, C. Subjetividade e Cultura In: Introdução à Psicologia do Cotidiano – Organização
Núcleo de Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano. São Paulo: Expressão e Arte
Editora, 2007.
STEFANO, M. S. Representação social e Esteriótipo: A zona muda das representações sociais. USP.
Disponível em: http:// ww.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s01023272006000100006&1ng=pt&nrm=isso, 06 de set, 17:00hs, 2007.
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NÃO QUERO LUXO NEM LIXO: PRODUÇÃO DE LIXO E A CONSTITUIÇÃO
DA SUBJETIVIDADE NA CULTURA DO CONSUMO.
Pesquisadores:
Adriana Harumi
Brian Couto
Bruna Cortez
Caroline Borges
Diogo Moreira
Fernanda França
Flávio Nunes
Joyce Hiratsuka
Lauana Garcia
Marcel Ferraz
Mayara Patrão
Patrícia Constantino
Priscila Bezerra.
Orientação: Profª. Drª. Claudia Stella
“O conceito de subjetividade não pode ser compreendido isoladamente da sociedade na qual o
indivíduo se desenvolve; antes, ele se apresenta dialeticamente constituído nos conceitos de
cultura e sociedade” (Stella, 2007, p.137). Partindo desse pressuposto, entendemos que a
subjetividade do indivíduo está vinculada à sociedade na qual ele se desenvolve. Segundo
Adorno, a formação cultural converte-se em semiformação pela necessidade de sua expansão.
Essa necessidade é defendida pela ideologia com a finalidade de ocultar a cisão social. O
sujeito, sem condições financeiras, tem acesso a determinados elementos culturais de maneira
mais barata. Desta forma, a ideologia equilibra classes sociais distintas, promove uma falsa
sensação de igualdade e banaliza tais elementos. A semiformação imprime no sujeito a
possibilidade de saber de tudo. O sujeito pode entrar em contato com qualquer elemento
cultural, não importa a distância, pois a indústria cultural se incumbirá disso. O fato do sujeito
não estar dissociado do meio e este meio ser permeado de aspectos falseados da cultura, cria,
nesse indivíduo, pseudonecessecidades advindas de um constante desejo de completar um
vazio que, supostamente pode ser preenchido pelo consumir, tratando-se possivelmente de um
ato inconsciente e insatisfatório. Associando, portanto o tema do lixo com a obra de Freud:
Mal-Estar na Civilização nota-se que as pessoas, para continuarem na sensação de completude
(sentimento oceânico), muitas vezes passam por cima de seus desejos individuais, com o
intuito de se integrarem ao grupo, submetendo-se a produtos de maneira inconsciente, com a
ilusão de se sentirem completos, deixando assim de lado suas individualidades. As indústrias de
consumo, aproveitando desse desejo de “querer ser completo”, lançam seus produtos, e
através dos meios de comunicação, convencem o público de que estes são a fonte de realização
dos seus desejos. As pessoas iludidas por essa idéia consomem com a intenção não só de terem
a sensação de completude, mas também se integram nesse grupo consumidor em busca da
felicidade (gozo) e na tentativa de evitar o sofrimento em suas relações. Assim, há um grande
consumismo e, decorrente disso, uma superprodução de coisas descartáveis que pertencem aos
produtos, os quais depois de utilizados, não servem mais ao consumidor. Essa superprodução
tornou-se maior a partir do momento em que consumir virou uma necessidade indispensável
nessa sociedade. Analisando-se por meio do conceito de beleza, ordem e limpeza da obra de
Freud, o lixo produzido é retirado das casas de seus consumidores, dando-lhes a impressão de
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ordem e limpeza, de que o lixo foi embora, desapareceu. Entretanto, o lixo é despejado em
aterros a céu aberto, mostrando que este problema é muito mais grave. Hoje, o lixo também
conhecido como “Resíduo Sólido Urbano” (RSU), é visto como tudo aquilo que se joga fora,
pois não tem utilidade. Os dicionários de língua portuguesa definem a palavra como sendo:
sujeira, imundice, coisas inúteis, imprestáveis, velhas, sem valor; qualquer material produzido
pelo homem que perde a funcionalidade e é descartado. O conceito de lixo tem subdivisões:
lixo comercial e industrial, lixo público, lixo de fontes especiais e o lixo domiciliar, que é o foco
principal deste trabalho. Decidimos estudar a respeito do lixo ao entrar em contato com a
realidade de como o mesmo é descartado pelas pessoas nas metrópoles brasileiras. Segundo
último censo do IBGE (2000), a população brasileira —de 182.420.808 habitantes — produziu
228.413 toneladas de lixo; o que representa 1,25 quilos diários por cada habitante. Do total
produzido, apenas 23% passam por algum tipo de tratamento ou disposição final. Mesmo
quando o lixo é tratado adequadamente, alguns problemas persistem, mas no Brasil 59% do
lixo produzido é lançado a céu aberto. Diariamente, cerca de 15000 toneladas diárias de lixo
são produzidas na cidade de São Paulo, em que 73% provêm de domicílios. Cada pessoa, em
média, produz de 800 gramas a 1,3 quilos, de acordo com a classe social, chegando a 2 quilos
no caso das classes mais altas. Do total produzido, metade trata-se de lixo orgânico, sendo que
a outra parte é praticamente composta de materiais recicláveis, assim, 40% do que nós
compramos é jogado fora. (IDEC, 2003; NOTÍCIAS, 2007). Pouco se pensa sobre os resíduos
gerados, e muito menos para onde eles vão. É papel da psicologia não só zelar pelo bem estar
emocional do indivíduo, mas também pela integridade do ambiente em que este reside. O
objetivo deste trabalho é estudar a inter-relação da sociedade de consumo e seus descartes para
trazer uma reflexão acerca da produção do lixo na atual sociedade de consumo. Além disso,
junto com essa reflexão compreender a constituição da subjetividade do sujeito e comparar as
pessoas que apenas produzem e descartam o lixo àquelas que vivem e trabalham com ele. Para
coletar estes dados, foram utilizadas entrevistas semi-dirigidas com pessoas que produzem lixo
e pessoas que trabalham com o lixo. Essas entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas
com referencial teórico adotado nesse trabalho. Também foram realizadas dentro dos
princípios de ética em pesquisa. De acordo com as entrevistas realizadas, podemos observar
que a constituição do que é lixo é diferente para os profissionais que trabalham com coisas
descartadas e aquele que somente o produz. Por exemplo, os coletores e os funcionários de
cooperativa de reutilização e reciclagem representam o lixo como “dinheiro” e chegam até a
mencionar a necessidade da sua existência para sua sobrevivência, ajudando de uma maneira
nem sempre consciente, com preservação do meio. Já os que apenas descartam vêm o lixo
como algo incômodo, que rompe com o ideal de limpeza, beleza e ordem. Poucos têm
consciência da produção efetiva de seu lixo e dos danos causados por este, o que justifica a não
preocupação com os resíduos sólidos descartados. Isso ocorre devido ao modo de
funcionamento do mercado de consumo, pois este incentiva o descarte de produtos para o
aumento do consumo de outras coisas semelhantes transvestidas de novas, já que, fornecendo
novos itens, logo a sociedade e seus indivíduos apresentam, em seguida, a sua demanda pelo
consumo. Com base no trabalho realizado, consideramos ser necessário pensar-se em políticas
públicas que englobem conceitos fundamentais para preservação ambiental e a constituição do
sujeito, por meio de reflexão e conscientização do seu papel na sociedade e na indústria de
consumo, pois ao consumir e descartar, o sujeito, em um movimento dialético se torna uma
parte consumida e também descartada pela sociedade atual.
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REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W. Teoria da semicultura. In: Educação e Sociedade. Nº 56, ano XVII,
dezembro, 1996.
FIALCOFF, D. É lixo demais. Ago1998. Disponível em< http://www.sinpro-rs.org.br
(acesso em 1.09.2007).
FREUD, Sigmund. Mal-Estar na Civilização. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1997/1930.
GONÇALVES-DIAS, S. L. F. Há vida após a morte: um (re)pensar estratégico para o
fim da vida das embalagens. Gestão & Produção, 2006, vol.13, n. 3.
IDEC em ação. Lixo: sociedade precisa produzir menos e reciclar mais. 27 jan.2003.
Disponível em< http://www.idec.org.br (acessado em 19.08.2007).
OLIVEIRA, G. G. M.; MATTIOLI, O. C. Brincando com sucata: a espontaneidade em
jogo. Encontros de Psicologia de Assis. ANAIS_DO_XIX_ENCONTRO, 138. Assis, 2006.
Disponível em< http://www.assis.unesp.br. (acessado em 19.08.2007).
STELLA, C. Subjetividade e cultura: perspectivas da psicologia do cotidiano. In: Núcleo de
Estudos e Pesquisas Psicossociais do Cotidiano. Introdução à Psicologia do Cotidiano. São
Paulo: Expressão e arte editora, 2007.
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TRABALHO E LAZER
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INVISIBILIDADE PROFISSIONAL: UM PROCESSO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL
Pesquisadores:
Alyne Cassola Abranches
Charlotte Fabienne Marie Jouk
Elise Priscilla Silva Casarine
Glauce Gomes da Rocha
Marcella Andrade dos Santos
Maytê de Souza Araújo
Michele Sombra de Almeida
Nathalya Pedrassolli de Jesus
Rosana Esses
Rosimeire de Oliveira
Tatiana Maia Machado
Orientação: Profª Drª. Anete Farina
Nas línguas latinas a palavra trabalho é originada da palavra tripalium, instrumento usado para
tortura. Trabalho, ainda hoje, representa sofrimento ou castigo. Mas não só o esforço físico
pode ser denominado como tal; a atividade intelectual também é nomeada da mesma forma,
assim como a obra. O trabalho é uma atividade determinada e transformadora, muitas vezes,
de forma penosa, porém necessária. Carmo (1992) cita o fato da sociedade atribuir valores aos
indivíduos considerando-os como “ganhadores” e “perdedores” através de suas conquistas
profissionais e conseqüentemente monetárias. Ele coloca como exemplo Van Gogh e
Gauguin, que foram considerados “perdedores” quando vivos e hoje seus quadros são tidos
como investimentos. A sociedade reconhece o valor do indivíduo através da notoriedade e
acúmulo de capital proporcionado por sua atividade econômica. Quando o homem não se
enquadra no padrão de sucesso estabelecido por seu meio, ele passa a ser enxergado como
indivíduo de segunda classe, ou às vezes, nem consegue ser enxergado. Originando assim a
invisibilidade social, espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros
homens. Esta envolve dois fenômenos que assumem caráter crônico nas sociedades
capitalistas, que são: primeiro, a humilhação social, e segundo, a retificação. A humilhação
social apresenta-se como um fenômeno histórico, construído e reconstruído ao longo de
muitos séculos, e determinante do cotidiano dos indivíduos das classes populares. É expressão
da desigualdade política, indicando exclusão intersubjetiva de uma classe inteira de homens de
âmbito público da iniciativa e da palavra. Constitui, assim, um problema político. Por outro
lado, a retificação configura-se como um processo pelo qual, nas sociedades industriais, o valor
do que quer que seja (pessoas, relações inter-humanas, objetos, instituições, etc.) vem
apresentar-se à consciência dos homens como importância econômica, ou seja, tudo passa a
contar, primeiramente, como mercadoria. Não somente a sociedade preconceituosa, mas
também o homem predisposto ao preconceito rotula o que tem diante de si e o enquadra num
estereótipo de grupo. Ao fazer isso, habitualmente passa por cima das propriedades do
indivíduo que não coincidem com as do grupo. No modo de produção capitalista os homens
são transformados em coisas e as coisas são transformadas em “gente”. Assim, o trabalhador
passa a ser uma “coisa” chamada de força de trabalho, que recebe uma outra coisa chamada
salário. O conceito ser-humano desaparece, eles existem agora na forma de coisas. As relações
sociais são relações alienadas por parecerem imediatas e naturais e não um produto da ação dos
próprios indivíduos da sociedade. A classe social ganha autonomia, aparecendo como
49
causadora das relações e não como um resultado das ações dos indivíduos na sociedade.
Neste contexto, será abordada a invisibilidade social mediada pelo trabalho e suas
características intrínsecas de valoração econômica e de reconhecimento na sociedade. O
presente estudo teve por objetivo explorar os aspectos psicossociais desencadeados em
profissões de baixo prestígio social. Participaram da pesquisa, 11 profissionais das seguintes
carreiras (dois garis, segurança, plaqueiro, cobrador de ônibus, impermeabilizador do metrô,
faxineira, artista de rua, auxiliar de limpeza, panfleteiro e manobrista). Como estratégia de
investigação utilizamos à entrevista semidirigida que procurou investigar a percepção que têm
do trabalho. A análise foi feita baseada na leitura específica sobre as concepções de trabalho,
invisibilidade, preconceito e ideologia. Procurou-se investigar sobre o cotidiano do trabalho; as
dificuldades que o envolvem; a autopercepção do profissional; a percepção do outro em
relação a eles; o sentimento que existe ao praticar tal atividade e o que é esperado em relação
ao próprio futuro e ao dos filhos. As entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho
e os depoimentos foram gravados em áudio e vídeo para garantir fidedignidade à análise. Os
entrevistados foram informados sobre os objetivos do estudo e também sobre a liberdade de
participação ou não, segundo os padrões éticos impostos para pesquisas com seres humanos.
Os dados revelam convergências temáticas, que posteriormente foram divididas em três eixos
de análise: (1) histórico de desemprego; (2) percepção de uma vida e um futuro prédeterminados e (3) contradições sobre o respeito social que a profissão exercida apresenta. As
mudanças econômicas que aconteceram do século XIX para o século XX se refletiram muito
no trabalho do homem e na sua relação com o mesmo, criando uma ideologia de trabalho que
engloba um conjunto de regras sociais que começaram a gerar preconceito contra aquele que
não se encaixava nesse sistema (quem não trabalha é preguiçoso, incompetente, vagabundo…),
Crochik (1997). Segundo Suzana Albornoz (2000), a sociedade reage de forma diferenciada em
relação ao desemprego baseando-se nas causas que levaram ao mesmo. Quando o indivíduo é
visto como um desempregado voluntário, ele sofre coerção e repressão à vadiagem. Já quando
o desemprego é considerado involuntário, existe uma mobilização de diversos setores da
sociedade para incluir este indivíduo no mercado de trabalho. Entretanto, não são levadas em
consideração as necessidades psicossociais e econômicas da pessoa.
“Por mim, eu tando trabalhando, porque eu fiquei nove anos desempregado, então para mim, ta uma vitória,
né. Por mim, tanto faz se tá trabalhando com faxina, na metalurgia, tanto faz. Qualquer coisa, eu tando
trabalhando e tendo o meu salário, é o que importa.”
“Ah! Por mim né. Foi o que apareceu no momento né. Então, eu tive que pegar né, mas por mim, normal né.
Antes eu tinha vergonha, né, é mais agora eu tiro de letra.”
Para Chauí a ideologia é algo que não possibilita ao indivíduo perceber sua situação
socioeconômica como uma conseqüência de processos históricos e sociais. Assim, esta
situação é vista como natural.
Bourdieu (1992) apontou as estruturas sociais como representações relativamente repetidas e
homogêneas. Conceito o qual, ele nomeou de habitus, o que determina no grupo a reprodução
de práticas ideológicas através da interiorização das crenças, tradições e regras. Desta forma a
vida se torna pré-determinada sem possibilidade de objetivar uma realidade diferente daquela
vivida no seu cotidiano.
“Só espero para meus filhos, porque para mim, de agora para diante é só Jesus, mais nada. Meu futuro agora
só tá no meu serviço. Enquanto eu to trabalhando eu dou conta de cuidar dos meus filhos, se eu parar eu não
dou conta.”
“Olha, eu, infelizmente, não tive oportunidade de estudar, então eu casei muito nova, então eu não tive estrutura
para manter. Sabe? Ter assim, ter uma forma de ter uma estrutura boa, nos longo dos anos, então as
conseqüências vêm depois, como eu não fiz minha carreira de nova, então eu to né encontrando mais
dificuldade....”
50
O trabalho é um parâmetro valorativo para a nossa sociedade, principalmente em relação à
remuneração salarial. A profissão para o indivíduo, não tem apenas um caráter exclusivamente
econômico, mas também uma significativa representação à subjetividade, pois ocupa grande
parte do seu cotidiano. Com base neste sistema de valorização, as atividades dividem-se em
socialmente reconhecidas ou não. Tal divisão cria condições para se estabelecer preconceitos
e/ ou rotulações dos profissionais. Crochik (2006) entende o preconceito como um fenômeno
psicológico e de processo social, no qual se transforma e se forma o indivíduo. A sua
manifestação é individual, assim como responde às necessidades irracionais do indivíduo, mas
surge no processo de socialização como resposta aos conflitos aí então gerados. Para Heller,
(1979), o pensamento cotidiano, torna-se um pensamento fixado na experiência, empírico e ao
mesmo tempo, ultrageneralizador. Essa é obtida de duas maneiras: por um lado assumem-se
estereótipos, analogias e esquemas já elaborados e por outro, eles são “introduzidos” pelo meio
em que crescemos, tornando-se inevitável na vida cotidiana, pois cada uma de nossas atitudes
baseia-se numa avaliação probabilística. Foi-se evidenciado que a valorização preconceituosa às
profissões abordadas está arraigada até mesmo na concepção destes profissionais, porque
através de seus discursos, pode-se verificar a contradição sobre o respeito social às funções
desempenhadas.
“Eu acho que é visto sim, sabe?! Muita gente dá parabéns pra gente. Outros já né têm uns madames, aí, mais
ricão, aí, que às vezes olha pra gente que nem um lixo mesmo. Mas a gente não é lixo não, a gente trabalha
porque a gente precisa...... e a gente gosta também (risos).”
“Acho que não é a profissão que digna a pessoa e sim o caráter”.
“... um futuro de respeito. O que eu falo pra ele: não interessa que seja qual for a profissão, mas trate os seres
humanos iguais. Porque não há diferença entre a profissional gerente e um profissional faxineiro, ou qualquer
uma profissão. Mas eu acho que tem que ser de igual para igual.”
Com este estudo foi possível verificarmos que os entrevistados possuem uma visão de vida pré
determinada, sem perspectivas de futuro, ou seja, não há uma possibilidade de mudança. Os
papéis que estes profissionais assumem na sociedade são derivados de diversos processos
sociais e a partir daí nota-se um universo limitado. Uma possível mudança só poderia ocorrer
se houvesse uma modificação da realidade para esses indivíduos que estão imersos em um
cotidiano voltado para a urgência da sobrevivência. O estudo identificou que os profissionais
trabalham e vivem seu cotidiano para suprirem suas necessidades de subsistência o que os
impedem de refletir sobre as perspectivas de futuro.
RFERÊNCIAS
ALBORNOZ, S. O que é o trabalho. São Paulo: Brasiliense, 2000.
BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1992.
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51
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Núcleo de Estudos e Pesquisas
Psicossociais do Cotidiano. Introdução à psicologia do cotidiano. São Paulo: Expressão &
Arte, 2007.
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A ARTE EM TRIDIMENSÃO: UM PROJETO DE EXPLORAÇÃO
MULTISENSORIAL PARA INCLUSÃO DE DEFICIENTES VISUAIS.
Pesquisadores:
Bárbara Costa Ferreira de Pádua
Bianca Nader
Cíntia Rodrigues de Campos Tonetti
Simone Fabiane da Silva
Orientação: Profa. Dra. Anete Souza Farina
O presente estudo teve por finalidade explorar o trabalho de profissionais que atuam na área
da arte em projetos de inclusão de deficientes visuais em museus. O termo deficiência visual
refere-se a uma situação onde a pessoa tem baixa visão, mesmo após tratamento clínico e/ou
cirúrgico e uso de óculos convencionais ou é cega. O conceito de deficiência surgiu com a
declaração dos direitos das pessoas deficientes, aprovada pela Assembléia Geral da ONU em 9
de dezembro de 1975. O termo “pessoa deficiente” refere-se a qualquer pessoa incapaz de
assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social
normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas ou
mentais. No entanto, de acordo com Ribas (1985) a palavra deficiente, em todas as sociedades
adquire um valor segundo padrões, regras e normas estabelecidas no bojo de suas relações
sociais. Isto porque em qualquer sociedade existem valores que se concretizam no modo como
a sociedade se encontra organizada. Estes mesmos valores refletem no pensamento e nas
imagens dos homens e passam a nortear e a influenciar suas ações. São valores que se infiltram,
inclusive nas palavras utilizadas pelos homens para sua expressão. Berger e Luckmann (1985)
definem estes valores como objetivações, ou seja, “produtos da atividade humana que estão ao
dispor, tanto dos produtores quanto dos outros homens, como elementos que são de um
mundo comum”. Sendo a vida cotidiana somente possível por causa destas objetivações.
Segundo Heller (1998), nosso pensamento e comportamento do cotidiano são caracterizados
pela ultrageneralização: assumimos estereótipos, analogias e esquemas já elaborados, que nos
são apresentados pelo meio em que crescemos e pode-se passar muito tempo até percebermos
com atitude crítica esses esquemas recebidos. Desta forma, os preconceitos são produzidos
pela vida cotidiana e são obras da própria integração social. O preconceito relaciona-se à
particularidade e seu afeto é a fé que está em contradição com o saber, isto porque “resiste sem
abalos ao pensamento e à experiência que a controlam.”. A linguagem, como responsável pelo
processo socializador, tipifica as experiências, permitindo-nos agrupá-las em amplas categorias.
Ao mesmo tempo em que tipifica também torna anônimas as experiências, pois as experiências
tipificadas podem ser repetidas por qualquer pessoa. (BERGER e LUCKMANN, 1985). A
linguagem é mais que um aglomerado de sons e signos. Ela é um sistema de sinais carregados
de significados que permite a interação entre os seres humanos. Além disso, por meio dela, e
com ela, o homem compreende e constrói a realidade, dotando-a de ordem, conceitos e idéias.
Assim a vida cotidiana faz com que tenhamos uma concepção de deficiência pré-definida. A
linguagem é capaz de se tornar o repositório objetivo de vastas acumulações de significados e
experiências, que se preservam no tempo. Ela possibilita a transmissão de um acervo social de
conhecimento para as outras gerações. Sendo assim, a compreensão da linguagem é essencial
para a compreensão da realidade da vida cotidiana. (BERGER e LUCKMANN, 1985). A
forma como nos relacionamos com as outras pessoas é estabelecida por esquemas
tipificadores. Através deles apreendemos as pessoas e organizamos a nossa interação. É
importante salientar que toda tipificação acarreta uma anonimidade inicial. (BERGER e
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LUCKMANN, 1985) Se uma pessoa deficiente for tipificada como incapaz, a tendência é
considerar esta uma característica da categoria “pessoa deficiente”. A soma dessas tipificações
e dos padrões recorrentes de interação estabelecidos por meio delas formam a estrutura social
que permite que ocorra a exclusão. Segundo Ribas, a exclusão para com o deficiente está
inserida em um mecanismo que ao mesmo tempo segrega o “diferente” e afirma que todos os
cidadãos são iguais numa “ideologia de integração” que é colocada em prática pelas
instituições. Estas devem preparar o indivíduo com deficiência para que este seja aceito pela
sociedade. Segundo Berger e Luckmann (1985), “as instituições estruturam o contexto em que
o indivíduo se insere; suas características são o controle, a historicidade e as tipificações
atribuídas pelos indivíduos entre eles próprios.”. O “individualismo como representação
coletiva” é um mecanismo que aparece como uma forma de legitimar a exclusão. Ele foi
estudado por Robert Farr (1991) e se caracteriza como “a atribuição do sucesso e do fracasso
exclusivamente a pessoas particulares, esquecendo-se completamente de causalidades históricas
e sociais. Há uma individualização do social e um endeusamento do individual.” (SAWAIA,
2006) Ou seja, a pessoa deficiente que se destaca na sociedade é vista como alguém que
realmente se dedicou a conquistar algo, enquanto que os outros não tiveram o mesmo
resultado por falta de vontade e esforço. É feito este julgamento sem levar em consideração
que são poucas as oportunidades oferecidas. É garantido em Lei o direito de acesso à arte pelas
pessoas deficientes. O Decreto 5.296/2004 estabelece que as áreas governamentais
responsáveis pelas atividades de cultura, esportes, turismo e lazer deverão desenvolver
“tratamento prioritário e adequado aos assuntos relacionados à proteção dos deficientes de
forma que estimulem e viabilizem medidas de acesso aos meios de comunicação social, às artes
e às letras e promovam o desenvolvimento de programas que estimulem a participação destas
pessoas no campo das artes e das letras”. No entanto, percebemos que o trabalho de
profissionais da arte junto às pessoas deficientes é ainda algo muito novo. Mesmo a arte sendo
uma atividade de extrema importância ao indivíduo. A arte é uma das formas de elevação
acima da vida cotidiana que produzem objetivações duradouras. Segundo Heller (1998), o
reflexo artístico rompe com a tendência espontânea do pensamento cotidiano (tendência
orientada ao Eu individual-particular). Isto ocorre, pois a arte tem em sua essência a
autoconsciência e a memória da humanidade. A arte possibilita que o artista concentre toda a
sua atenção sobre uma única questão, suspendendo qualquer outra atividade e empregando sua
inteira individualidade humana na resolução de uma determinada tarefa. Este processo chamase homogeneização, que não pode ocorrer de forma arbitrária e sim de modo que nossa
particularidade individual se dissipe na atividade humana genérica escolhida consciente e
autonomamente, enquanto indivíduos. Segundo Vigotski (1999) “o procedimento da arte é o
procedimento do estranhamento dos objetos e o procedimento da forma complexificada, o
qual aumenta a dificuldade e a duração da percepção, uma vez que o processo de percepção
em arte é um fim em si e deve ser prolongado.” Sendo assim, a arte rompe com os
mecanismos da vida cotidiana, tais como: as tipificações, o imediatismo, ações não refletidas e
de caráter simplesmente funcional. Sabendo da importância da arte, buscamos explorar de que
forma o deficiente visual está tendo acesso a trabalhos artísticos. É importante salientar que
algumas bibliotecas e museus já estão oferecendo um atendimento adequado a estes usuários.
São eles: Pinacoteca do Estado de São Paulo, Biblioteca Louis Braille, assim como um museu
adaptado na Espanha. Método: Participaram do estudo dois profissionais que atuam em
projetos de inclusão de deficientes visuais em museus, além de um usuário deficiente visual.
Para tanto adotou-se a entrevista semidirigida como estratégia de investigação. O roteiro
previamente estabelecido procurou observar: a) a percepção do profissional sobre o próprio
trabalho que realizam em visitas programadas para grupos de deficientes visuais. b) a
percepção do usuário deficiente visual sobre o trabalho realizado por estes profissionais. As
54
entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho seguindo os procedimentos éticos
definidos para pesquisa com seres humanos. Após a transcrição dos depoimentos realizou-se
uma análise qualitativa dos dados que permitiram identificar dois eixos temáticos: a)
acessibilidade social e b) inacessibilidade. Discussão: a) Este eixo informa sobre a
preocupação dos profissionais em relação ao processo de socialização dos deficientes visuais.
Ocorre com isso uma ampliação do universo simbólico como forma de inclusão, não só à
cultura, à arte, mas também em relação à sociedade. A ida ao museu possibilita um contato
maior com diferentes pessoas o que é importante para uma socialização mais abrangente.
Para isso, os profissionais devem decodificar a linguagem da arte não somente de forma visual,
mas também multisensorial, possibilitando a percepção e o conhecimento da arte por meio de
outros sentidos como o tátil, o olfativo, o sonoro, o cinestésico, etc. São utilizadas reproduções
em relevo de obras de arte, jogos sensoriais, maquetes táteis com a localização e a arquitetura
do museu e publicações em tinta e braile. Segundo Berger e Luckmann (1985), o homem não
nasce membro da sociedade, ele torna-se membro da sociedade. Isto porque ocorre um
processo de socialização onde “a relação do homem com seu ambiente caracteriza-se pela
abertura para o mundo.”. Berger e Luckmann (1985) afirmam que o universo simbólico
oferece a ordem para a apreensão subjetiva da experiência biográfica. Experiências
pertencentes a diferentes esferas da realidade são integradas pela incorporação ao mesmo
envolvente universo de significação. Esta integração de situações “diferentes” com a realidade
predominante da vida cotidiana tem grande importância porque estas situações constituem a
mais aguda ameaça à existência naturalmente aceita e rotinizada na sociedade. Além disso, o
universo simbólico ordena a história em passado, presente e futuro. Em relação ao futuro,
estabelece um quadro de referência comum para a projeção das ações individuais. Desta forma,
quanto maior o acesso de deficientes visuais através de projetos que possibilitem a eles novas
experiências, tanto maior serão as possibilidades de acessibilidade no futuro. A importância da
linguagem, segundo Berger e Luckmann (1985) está no poder que esta possui de transcender e
integrar nossas experiências e significações, sendo que por meio dela, um mundo inteiro pode
ser atualizado em qualquer momento. b) O eixo inacessibilidade aponta sobre as dificuldades
que se impõe aos projetos destinados ao deficiente visual. De acordo com os entrevistados a
formação acadêmica pouco explora o processo de decodificação da arte para deficientes
visuais, tornando esta experiência um exercício que tenha sua origem na vontade individual de
alguns profissionais. Além disso, foi relatada a escassez de projetos específicos de inclusão de
deficientes visuais em museus. É provável que isto se justifica pela ultrageneralização e por
esquemas tipificadores. Heller (1998) relata que possuímos um “eu particular” e um “nós
generalizado”. Quando uma pessoa segue sua própria vontade, podemos dizer que o particular
está se sobressaindo ao que é genérico. Isto pode ocorrer quando o indivíduo passou por uma
experiência, como ter tido um familiar com deficiência e por influência disto se sente motivado
a realizar um trabalho com pessoas que estejam na condição de deficiente. Já a
ultrageneralização faz parte da vida cotidiana, os indivíduos agem ou por meio de
generalizações tradicionalmente aceitas e difundidas na sociedade ou segundo generalizações
que eles mesmos estabelecem a partir de suas próprias experiências particulares. Normalmente
as pessoas não se orientam a partir de uma consideração mais precisa dos casos singulares que
compõem a sua vida. Segundo Heller (1998), o pensar e agir sem uma reflexão consciente e
crítica — seria a característica dominante da vida cotidiana. Assim, esta espontaneidade faz
com que nos utilizemos de esquemas tipificadores, que por sua vez, moldam a interação social.
Considerações finais: Este trabalho permitiu uma resignificação, gerada pelo choque de
realidade, em função da possibilidade de inserção do deficiente visual dentro do museu,
interiorizando um novo conceito de acessibilidade. Esta possibilidade de acesso é resultado de
uma condição histórica e social de inclusão do deficiente, buscando, em primazia, a
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socialização. O profissional, que decodifica a linguagem para o deficiente visual, torna-se
parte deste processo de socialização. Isto porque o usuário é obrigado a interagir com a
sociedade desde seu trajeto para o museu, até com as pessoas que nele trabalham e visitam.
Deste modo o deficiente não se isola e nem é isolado da comunidade. Enfim, consideramos
importante o acesso do deficiente visual na arte, pois as diferentes experiências fazem com que
o seu universo simbólico se amplie. Desta maneira, o indivíduo não ficará apenas
reproduzindo uma realidade já estabelecida, mas principalmente poderá ser sujeito da sua
história.
REFERÊNCIAS:
BERGER E LUCKMANN. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1985.
HELLER, A. O cotidiano e a história. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
KALUME, Pedro de Alcântara. Deficientes: ainda um desafio para o governo e para a
sociedade. São Paulo: LTr, 2005.
RIBAS, João Baptista Cintra. O que são pessoas deficientes. São Paulo: Brasiliense, 20030.
SAWAIA, Bader. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da
desigualdade social. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.
VIGOTSKI, L. S. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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ASPECTOS CULTURAIS DO TRABALHO INFANTIL E SUAS
REPERCUSSÕES
Pesquisadores:
Gabriel Silva Ricardi
Rodrigo Noia Mattos Montan
Thatiana Naveiros Ramalho
Thiago Marinho Reis e Silva
Orientação: Profª. DrªAnete Souza Farina
Introdução: O trabalho é hoje um dos principais meios de formação da identidade social das
classes populares, em razão do fenômeno do desemprego. Desde a Revolução Industrial o
trabalho se firmou na sociedade como um meio de exploração da sobrevivência da classe
trabalhadora. A partir desse processo se construiu socialmente a luta de classes, responsável
pela constituição do universo simbólico que, neste caso, apresenta para o homem
contemporâneo um cotidiano intrinsecamente ligado ao tipo de trabalho que ele desempenha.
De acordo com Heller (2000), o ser humano recolhe de seu cotidiano somente os elementos
que lhe interessam, porque o cotidiano é imediato e pragmático. Como o trabalho é percebido
como inserção social, principalmente em tempos de desemprego, o tipo de trabalho realizado
perde o valor. Nesse caso, as classes populares se inserem em atividades ocupacionais que, em
geral, são desprestigiadas socialmente e, portanto, são pessimamente remunerados. Tais
condições impõem à urgência da subsistência e reduz o pensamento crítico, além de imprimir
na família a luta diária para subsistência, o que inclui a exploração do trabalho infantil. Cada
vez mais essa condição se faz presente em nossa sociedade, pois “para desenvolvermos nosso
caráter, temos de fugir da rotina” (Sennet apud Smith, p 43). De acordo com Marques (2003),
no início do século XIX, cientistas afirmavam que o trabalho infantil era importante como
antídoto aos possíveis perigos provenientes do ócio e vício que estavam presentes na vida das
crianças pobres, desocupadas e que “nunca seriam os futuros trabalhadores ordeiros,
disciplinados, demandados pelo capital”. A partir dessa forte ideologia o trabalho infantil se
constitui como uma forma válida de preparação para o futuro, encobrindo sua real intenção. A
formação diretamente ligada ao trabalho encontrou nas classes populares o apoio da família. O
cotidiano, assim apresentado, pode ser definido como uma estrutura orientadora que norteia a
vida e mostra os objetivos a serem seguidos. Essa rede protetora é tecida, na maior parte das
suas malhas, com atividades laboriosas e objetos de devoção. São referenciais importantes, que
mostram ao homem por onde andar, como andar, e para que andar. Sem este suporte, a vida
poderia parecer um salto mortal e sem significado. Para tanto, desde a tenra idade aprende-se o
mundo em sua forma objetiva e, também, sobre os valores, as crenças, os costumes e todos os
elementos que compõem a cultura do próprio grupo de convivência. É assim que a
socialização permite o processo de interiorização da realidade em sua forma objetiva, e
somente no processo de exteriorização fica explicitada a realidade em sua forma subjetiva.
(Farina, 2007). Na exteriorização tem-se a possibilidade de observar a ação da instituição como
entidade organizada e coercitiva. Os papéis se consolidam em uma relação dialética entre o
individuo e a sociedade. Uma vez cristalizados, podem manter-se ou serem alterados pelas
instituições. Dessa maneira, as Leis do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), são
difíceis de serem aplicadas a todas as situações. Pois, para esses pais, não há nada de errado em
colocar os filhos para trabalharem na infância. Para Bourdieu (1992), toda atividade humana
está sujeita ao habito. Ação freqüentemente repetida torna-se moldada em um padrão que
pode ser repetido com economia de esforço. As experiências humanas retidas na consciência,
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uma vez sedimentadas como entidades reconhecíveis e capazes de serem lembradas,
favorecem sentido verdadeiramente social, quando se objetivou em um sistema de sinais,
repedindo-se uma objetivação compartilhada. É dessa forma que as instituições se organizam
e se cristalizam e constituem as suas sociedades, a partir do pensamento e das ações do
homem. O habitus torna-se o habitus. O hábitus é assim definido por Bourdieu: “um sistema de
disposições socialmente constituídas que, enquanto estruturas estruturada, estruturantes, constituem o princípio
gerador e unificador do conjunto de práticas e das ideologias características de um grupo de agentes” (1992, p.
191). Objetivo do trabalho: O presente estudo teve por objetivo abordar os aspectos culturais
do trabalho infantil e suas repercussões. Método: Participaram do estudo seis trabalhadores,
sendo quatro adultos e dois jovens. Como estratégia de investigação adotou-se a entrevista
semidirigida, que procurou identificar o cotidiano de trabalho, a história das pessoas e as
repercussões do trabalho infantil. As entrevistas foram realizadas nos próprios lugares de
trabalho, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) e a feira
de artesanato da cidade de Embu – SP, seguindo os procedimentos éticos de pesquisas com
seres humanos. Os dados foram analisados qualitativamente a partir de dois eixos temáticos (a)
O valor do trabalho (b) O trabalho infantil e suas repercussões. Discussão – Analise e
Interpretação: Entendendo o trabalho infantil como um problema histórico e cultural, foi
possível a partir do depoimento dos entrevistados verificar que todos sentem orgulho em
trabalhar e de terem iniciado a vida profissional junto com a família a partir dos 5 anos de
idade. Os motivos relatados descrevem a necessidade de subsistência da família e justificam a
intensa jornada de trabalho empreendida desde a tenra idade. Para Berger (2004), o espírito
geral de uma dada cultura influirá em grande parte no desenvolvimento da personalidade de seus
membros. E afirma que isso ocorre porque o organismo humano encontra-se em
desenvolvimento biológico e psicológico, quando já está em relação com o meio. O caráter do
eu, como produto social, envolve obviamente um equipamento psicológico, o qual passa a
inviabilizar a compressão do homem fora do particular contexto social em que foi formado.
Os entrevistados supõem que o trabalho infantil contribuiu para a formação do eu e, portanto,
é valido como estratégia educacional dos filhos. Entretanto, para os entrevistados jovens o
discurso se mostra ambíguo, porque revelam uma contradição entre o gosto pelo trabalho que
realizam e o aborrecimento em desempenhá-lo. De acordo com Sennett (1999), “do ponto de
vista da instituição, a flexibilidade dos jovens os torna mais maleáveis tanto em termos de
assumir riscos quanto de submissão imediata” (p. 111). Esse pensamento pode ser utilizado
facilmente nesse contexto. As crianças evitam decepcionar os pais que lhes atribuíram uma
responsabilidade, sujeitam-se ao trabalho sem questionar. Os pais que fazem os filhos
trabalharem justificam sua opção como um processo educacional e como contribuição para a
renda da família. A criança fica sujeita ao trabalho, ainda que esse o afaste de um adequado
desenvolvimento físico, psicológico e social. De acordo com Freud (1930), a família seria a
célula germinal da civilização. Aspecto importante a se discutir quando é notório que a maioria
dos casos de trabalho infantil origina-se no ambiente familiar. Quase que de forma invisível,
encontra-se no discurso das pessoas que trabalharam na infância uma subjetivação proveniente
do capitalismo, pois como disse Guattari (2005), na fabrica “injeta-se representações nas mães,
nas crianças, como parte do processo de produção subjetiva.” (p.33). É na família que as
instituições também operam uma formação coletiva da força de trabalho. Deste ponto de vista,
o que se passa na família é uma socialização da criança às relações de poder dominante. “Os
pais são convidados as serem bons ‘pais de alunos’ ou professores em casa...” e “esta função
generalizada estratifica papeis, hierarquiza a sociedade, codifica destinos... procura mais fazer
com que as pessoas entrem nos quadros preestabelecidos, para adaptá-los às atividades
universais e eternas...” (Guattari, 1981).
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Considerações Finais. Com este estudo foi possível compreender que o trabalho infantil
possui influências históricas e culturais fortes e devido a essas influências, continua presente
em nossa sociedade. Em especial na população mais carente da sociedade, lugar em que ele se
faz mais presente. Os limitados recursos financeiros e a forte ideologia capitalista estruturam e
sustentam o trabalho precoce que é reproduzido culturalmente nas famílias. Ao introduzem os
filhos no trabalho, cada vez mais rígido e estratificado será o seu papel durante a formação
subjetiva da criança. Não há maneira melhor de subjetivar o futuro trabalhador do que se
aproveitar de sua infância para que tal subjetividade funcione no próprio coração dos
indivíduos, na sua percepção perante o mundo e ordem social e cultural.
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Almeida Prado, Sonia Miceli e Wilson CamposVieira. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
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Socializador in Introdução à Psicologia do Cotidiano. – São Paulo: Expressão e Arte
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SENNETT, RICHARD. A Corrosão do Caráter. Rio de Janeiro: Record. 1999.
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