12345 12345 12345 do Instituto 12345 12345 12345 Camiliano 12345 12345 de Pastoral 12345 12345 12345 da Saúde 12345 12345 12345 e Bioética 12345 12345 12345 12345 12345 12345 12345 Agosto 2004 12345 12345 12345 ANO XXII – Nº 222 12345 12345 PROVÍNCIA CAMILIANA BRASILEIRA12345 12345 Informativo 12345 12345 ❒ PASTORAL ❒ BIOÉTICA ❒ HUMANIZAÇÃO O PAPEL DO ASSISTENTE ESPIRITUAL NO AMBIENTE HOSPITALAR BRUNO GOTTWALD N o decorrer de sua história, a comunidade cristã teve algumas idéias muito felizes, entre as quais a criação de hospitais. O hospital como instituição é uma idéia feliz da comunidade cristã. A medicina já existia muito tempo antes de Jesus. Mas foram monges cristãos na Idade Média que tiveram a feliz idéia de “hospedar” em seus conventos pessoas que não podiam mais cuidar de si mesmas. Hospedar—Hospital. Nos grandes hospitais não se costuma falar em doentes ou pacientes, e sim em clientes. Que tal resgatar a idéia original do hospital e chamar e tratar essas pessoas como “hóspedes”? A comunidade cristã assumiu a tarefa de hospedar e cuidar dos enfermos porque sabe que sua missão não é apenas salvar almas, mas também cuidar, sarar e curar corpos. A teologia cristã tem sempre enfatizado a ligação estreita entre cura (saúde) e salvação. Com o passar do tempo, no entanto, graças ao Iluminismo e, principalmente, Descartes, a salvação da alma e a cura do corpo foram separadas. A cura do corpo, a questão terapêutica, foi assumida cada vez mais pelo mundo secular, pelos homens da ciência, pelos especialistas. A saúde e a cura sofreram com isso uma secularização indevida. Perdeuse o diálogo muito saudável e essencial entre teologia e medicina. Ficou com a comunidade cristã a assistência espiritual, a função da Nem sempre é possível recuperar a saúde dos enfermos. Muitas vezes um diagnóstico fechado recomenda apenas um tratamento paliativo, o que não visa prolongar a vida do enfermo, mas fazer com que essa vida tenha qualidade e sentido até seu último momento. E dessa qualidade de vida faz parte estar em paz consigo mesmo, em paz com os outros e em paz com Deus. Ser o facilitador para essa paz é o papel fundamental do assistente espiritual no ambiente hospitalar. “cura d’alma, entendida especialmente como salvação da alma do enfermo”. DOIS MODELOS DE CRISTIANISMO O modelo de cristianismo introduzido e praticado pelo catolicismo hispanoibérico tem enfocado tradicional e historicamente a assistência espiritual na prática da caridade junto ao enfermo, assistindo-o com os ritos e sacramentos da Igreja (confissão, comunhão, unção dos santos óleos, oração, missas etc.). O modelo de cristianismo introduzido e praticado pelo protestantismo, a Igreja da palavra e da pregação, por sua vez, tem enfocado a assistência espiritual ao enfermo na evangelização, na conversão, no conforto da palavra e da oração. Pessoalmente, sou da opinião de que é necessário resgatar o enfoque terapêutico da assistência espiritual aos enfermos, tendo como motivação bíblica e teológica Mateus 25,36: “estive enfermo e me visitastes (fostes ver-me)”. Dois verbos: IR e VER. IR ao encontro do enfermo onde ele se acha com seus pensamentos, sentimentos e perguntas. “Estar longe...” Nossa função, nesse momento, não é transportá-lo para a nossa realidade, dizendo: “Veja, estou aqui para trazer-lhe algo muito importante”, mas ir ao seu encontro. Carl Rogers chama isso de empatia. (Perceber a situação do outro como se fosse a sua própria.) Ir ao encontro e vê-lo, percebê-lo em sua dor total: orgânica, emocionalpsicológica, social e espiritual. O PAPEL DO ASSISTENTE ESPIRITUAL O papel do assistente espiritual no ambiente hospitalar é justamen- 2 Ano XXII – Nº 222 – Agosto 2004 – BOLETIM ICAPS te ajudar no resgate da hospitalidade do hospital. Isso não tem nada a ver com a hotelaria do hospital, e sim com o cuidado integral do paciente como um ser biopsicosociocultural-espiritual. Visando ao cuidado do enfermo como um todo, organizam-se hoje cada vez mais nos hospitais equipes interdisciplinares, entre as quais a equipe espiritual cujo agente terapêutico é como os demais das outras áreas no hospital. Por isso é muito importante que ele se sujeite a participar de cursos e treinamentos pertinentes e aprenda a usar e entender a linguagem típica do ambiente hospitalar. Tomo a liberdade de reportarme mais uma vez ao conceito de dor total. Creio que a dor orgânica dispensa maiores explicações. Dor emocional, psicológica: “Estou com medo de que para mim não há mais solução”. “Não posso falar sobre isso com minha família.” Dor social: “Como é que estão meus filhos?” “O que será de meu emprego?” “O que será de minha empresa?” “Até quando meu plano irá cobrir minha já tão longa internação?” Dor espiritual: “Por que isso tem de acontecer comigo?” “O que eu fiz?” “Onde está Deus?” O ASSISTENTE ESPIRITUAL E O CONTATO COM O DOENTE EXPEDIENTE Estar internado em um hospital é como tirar o barco para fora da água. Enquanto ele está na água não se pode ver o casco, mas... O enfermo hospitalizado é confrontado com suas limitações, sua vulnerabilidade. É tempo de reflexão. De O Boletim ICAPS é uma publicação do Instituto Camiliano de Pastoral da Saúde e Bioética - Província Camiliana Brasileira. Presidente José Maria dos Santos. Conselheiros Antônio Mendes Freitas, Leocir Pessini, Olacir Geraldo Agnolin, Niversindo Antônio Cherubin. Diretor Responsável Anísio Baldessin. Secretária Cristiana Baldessin Maina. solidão. No início, as visitas são freqüentes. A medida que a internação se prolonga, as visitas vão rareando. Lá fora, a vida continua. Os familiares e amigos vêm e vão. Profissionais da saúde vêm e vão. O enfermo fica com seus sentimentos e perguntas. Ele necessita muito de um remédio chamado “ser humano”. Cabe muito bem aqui um provérbio africano: “O melhor remédio para o ser humano é o próprio ser humano”. Ouvindo esse provérbio africano eu recordo as primeiras palavras do primeiro capítulo do evangelho de São João: “E o verbo se fez carne, e habitou entre nós”. Para trazer vida abundante ao ser humano, Deus tornou-se humano em Jesus. O enfermo hospitalizado necessita muito dessa ação terapêutica, isto é, de alguém que simplesmente esteja com ele, que tenha tempo, disposição e coragem para ouvi-lo falar sobre seus sentimentos. Os sentimentos e emoções do enfermo contribuem inevitavelmente para seu estado físico. Falando e verbalizando seus sentimentos, ele consegue reorganizar seu interior e sua situação se torna clara. Antes de levar a Boa Nova, o assistente está a seu lado, percebe sua dor como se fosse a própria dor. Assim, ele tem condições e oportunidade para compartilhar com o enfermo algo do seu tesouro espiritual. O ASSISTENTE ESPIRITUAL NO HOSPITAL O assistente espiritual, a princípio, não leva nada para junto do leito do enfermo, a não ser a si mesmo, sua pessoa, como um ser humano que se interessa pelo conforto e bem-estar de outro ser humano. Por isso, o assistente espiritual não pode preparar uma visita, do tipo: “Bem, hoje eu vou ler esta Revisora Rita de Cássia Redação Av. Pompéia, 1214 Tel. (0xx11) 3675-0035 05022-001 - São Paulo - SP e-mail: [email protected] Periodicidade Mensal Produção gráfica Edições Loyola – Fone (0xx11) 6914-1922 Tiragem 3.500 exemplares. ou aquela passagem, este ou aquele hino. Doentes precisam ter Jesus no coração, pois bem eu irei lá e farei esta cirurgia espiritual”. O assistente espiritual transmite o amor de Deus de muitas formas. O testemunho do Evangelho é uma delas. Mas na realidade hospitalar esse testemunho não precisa necessariamente ser verbal. O amor de Deus também pode ser transmitido no valor dado à pessoa do enfermo, no cuidado com ele. E a pessoa somente se sente “pessoa” quando os outros a reconhecem, percebem, acolhem e respeitam como tal, parceiro de diálogo e não “objeto” de minha ação missionária. O QUE FALAR NA VISITA? Não é possível preparar o discurso de uma visita. É o enfermo que indica a direção da conversa, que sintetiza sobre o que quer e necessita falar. Mas é possível e necessário que o assistente se prepare. E esse preparo consiste, em primeiro lugar, em despojar-se de suas experiências de vida, de sua mania de dar conselhos, de suas teologias e preconceitos. Nesse aspecto, é fundamental resgatar o respeito pela confissão religiosa, ou não, do enfermo. A assistência espiritual não acontece em função de uma Igreja ou confessionalidade religiosa, ou programa missionário. Acontece unicamente em função do amor de Deus e da saúde integral do enfermo, do seu conforto e bem-estar. O amor de Deus não é demonstrado pela imposição do Evangelho, mas, em primeiro lugar, pelo ato de acolher. A assistência espiritual aposta no acolhimento incondicional e na força do amor curador de Deus que cativa onde, quando e como quer, sem Assinatura O valor de R$10,00 garante o recebimento, pelo Correio, de 11 edições (janeiro a dezembro). O pagamento deve ser feito através de depósito bancário em nome de Província Camiliana Brasileira, no Banco Bradesco, agência 0422-7, conta corrente 89407-9. A reprodução dos artigos do Boletim ICAPS é livre, solicitando-se que seja citada a fonte. Pede-se o envio de publicações que façam a transcrição. Ano XXII – Nº 222 – Agosto 2004 – BOLETIM ICAPS necessitar da insistência em converter a pessoa a qualquer preço. ASSISTÊNCIA TOTAL A assistência espiritual no ambiente hospitalar é um trabalho voltado essencialmente para o enfermo, mas pode ser também estendido aos familiares e a todos que de alguma forma relacionam-se com o enfermo: profissionais da saúde, funcionários, administradores e pessoal de apoio. Os familiares, muitas vezes mais ansiosos do que o próprio paciente, também percebem, no momento da crise, que não são auto-suficientes e que não têm o controle sobre a vida. A noção de impotência diante do sofrimento e da morte iminente de uma pessoa amada, a esperança misturada ao desespero, a dor e a incapacidade de lidar com tudo isso são sentimentos característicos que acompanham os familiares de enfermos hospitalizados. Também os funcionários precisam ser assistidos em suas necessidades como pessoas que no dia-adia lidam com o sofrimento alheio de forma intensiva. Os cuidadores também precisam de cuidado. Espera-se dos profissionais da saúde que sejam semideuses, quando, na verdade, eles esbarram na própria vulnerabilidade, nos próprios limites, e o assistente espiritual faz parte de uma equipe que luta pelo restabelecimento da saúde e pela vida dos enfermos. Não luta apenas com amor. Pois saúde é muito mais do que o bom funcionamento do organismo. Saúde é, antes de mais nada, a harmonia da pessoa em seu ser total. Nem sempre é possível recuperar a saúde dos enfermos. Muitas vezes um diagnóstico fechado recomenda apenas um tratamento paliativo, o que não visa prolongar a vida do enfermo, mas fazer com que essa vida tenha qualidade e sentido até seu último momento. E dessa qualidade de vida faz parte estar em paz consigo mesmo, em paz com os outros e em paz com Deus. Ser o facilitador para essa paz é o papel fundamental do assistente espiritual no ambiente hospitalar. BRUNO GOTTWALD é pastor e capelão do hospital Santa Catarina de Blumenau, SC 3 XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE HUMANIZAÇÃO E PASTORAL DA SAÚDE Já estão abertas as inscrições para o XXIV Congresso Brasileiro de Humanização e Pastoral da Saúde que será realizado nos dias 5 e 6 de setembro. Aproveite a oportunidade inscrevendo-se antes do dia 25 de agosto. Pois, a partir dessa data, a taxa de inscrição passará de R$ 18,00 para R$ 30,00. Não perca tempo. Ligue para (11) 3675-0035, das 13 horas às 18 horas e fale com Cristiana. Você poderá se inscrever também mandando um fax com nome e endereço completos e o comprovante de pagamento para o número (11) 3865-2189. V CONGRESSO ECUMÊNICO BRASILEIRO DE ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL HOSPITALAR LOCAL: Atibaia – SP DATA: 18, 19 e 20 de outubro de 2004 TEMA: EVANGELIZAÇÃO E ESPIRITUALIDADE NA SAÚDE DIA 18 – SEGUNDA-FEIRA 11horas 12horas 14horas 15h30 16horas 16h30 18 horas 19horas – – – – – – – – Celebração de abertura Almoço Evangelização e espiritualidade na saúde Intervalo Apresentação dos participantes Trabalho em grupos Oração vespertina Jantar DIA 19 – TERÇA-FEIRA 8h30 9 horas 10horas 10h30 12horas 14horas – – – – – – 15h30 16h30 17horas 18horas 19horas – – – – – Oração da manhã A realidade e as necessidades do paciente e familiares Intervalo Grupos e plenária Almoço Mesa-redonda – A interação entre assistência espiritual, psicologia e psiquiatria Intervalo para o café. Partilha de experiências. Questões de organização Oração vespertina Jantar Dia 20 – Quarta-feira 8h30 9 horas 10 horas 10h30 11h15 11h45 12h30 – – – – – – – Oração matinal O agente espiritual e o corpo hospitalar Intervalo Atividades em grupo Mensagem do congresso e encaminhamentos Celebração de encerramento Almoço OBSERVAÇÃO: No local do encontro haverá hospedagem e alimentação a preço bem acessível. Nos próximos boletins encaminharemos mais informações e programação completa. 4 Ano XXII – Nº 222 – Agosto 2004 – BOLETIM ICAPS AS DOENÇAS DO MAU DESENVOLVIMENTO PAULO CHAGATELLI SABROSA M uitas doenças infecciosas voltaram a atormentar a sociedade. E a influência do homem sobre o meio ambiente é uma das principais causas. No final de século XX, com o avanço da ciência e do próprio desenvolvimento humano, as doenças infecciosas pareciam estar praticamente sanadas. No entanto retornaram. Malária, esquistossomose, hanseníase, cólera, dengue. Os nomes são familiares, principalmente por aqui. Todas são doenças infecciosas, males causados por seres vivos (parasitas) que se instalam em outros seres vivos (hospedeiros) para se alimentar, causando muitos problemas. A criação de condições propícias à transmissão e à circulação dos parasitas está vinculada à relação desarmônica entre o homem e o meio ambiente, que deve ser vista em duas dimensões: o meio ambiente propriamente dito, como o conhecemos, e o meio ambiente que é o organismo humano, cuja chance de encontrar uma doença transmissível é maior quando os dois meios, em desequilíbrio, criam condições favoráveis para a propagação dos parasitas. Essas condições são ditadas pelo nível de desenvolvimento socioeconômico de uma sociedade. Alimentação, trabalho, moradia e renda influem na saúde das pessoas e determinam maior ou menor risco de contrair doenças. Da mesma forma, as condições precárias de habitação e saneamento, a aglomeração, os deslocamentos freqüentes de pessoas, as condições inadequadas de trabalho e falta de investimentos sociais, nas cidades e nas periferias, propiciam a criação de meios favoráveis à propagação dos parasitas. ALTERAÇÃO NO QUADRO EPIDEMIOLÓGICO BRASILEIRO No Brasil, ainda hoje o principal fator de risco relacionado à propagação dos parasitas é o saneamento básico inadequado. No Nordeste, apenas 5% da população tem acesso à coleta de esgoto, e um terço dos brasileiros mais pobres ainda não possui água tratada. De acordo com o banco mundial, segundo dados divulgados em 2003, as doenças infecciosas não são mais as principais responsáveis pela mortalidade nas periferias e no interior do Brasil. Estudos apontam que malária, leishmaniose, hanseníase, sarampo, meningite, esquistossomose e cólera não apresentam tanto risco de gravidade ou morte como antes. A diminuição dos casos graves e da mortalidade não indica, no entanto, que as doenças infecciosas tenham sido erradicadas. Segundo dados do banco mundial, nos últimos anos, a transmissão das doenças aumentou. Isso porque, além de se manterem precárias as condições de vida de grande parte da popula- ção, houve uma aplicação dos circuitos especiais criados pelo homem. Assim, doenças que haviam sido erradicadas devido, por exemplo, às grandes campanhas de vacinação, ressurgiram. No caso da malária, de 80 mil casos registrados em 1970, a doença chegou a cerca de 640 mil incidências em 1990, 85% localizadas na Amazônia legal, incluindo áreas urbanas como Manaus. O sistema econômico e social desenvolvido no Brasil, nas últimas décadas, facilitou o ressurgimento de doenças infecciosas. Alguns fatores como concentração de renda e o modelo agrário ultrapassado, por exemplo, criam um desenvolvimento desigual, cuja modernização é incompleta. Muitas pessoas são excluídas da possibilidade de ter moradia própria e condições adequadas de trabalho, o que cria um constante deslocamento da população, do meio rural para pequenas cidades, e destas para os grande centros. Há uma constante movimentação de pessoas e mercadorias criando um caldo ideal para a circulação de parasitas. Está claro que o modelo de desenvolvimento adotado, que não atende às necessidades da maioria da população do mundo, favoreceu a volta das doenças infecciosas. Estado, sociedade e indivíduos devem se unir para estudar ações coletivas e dividir os conhecimentos sobre as doenças. É necessário um combate das causas, não dos efeitos. Dr. PAULO CHAGATELLI SABROZA é membro da Fundação Nacional de Saúde Pública – Fiocruz – no Rio de Janeiro. Ano XXII – Nº 222 – Agosto 2004 – BOLETIM ICAPS 5 Ademais, de acordo com estudo publicado na revista Nature, existiam, em 1999, 800 milhões de pessoas subalimentadas no planeta. Mantida a perspectiva de produção mundial de grãos, o mesmo estudo prevê que em 2020 o mundo será habitado por 2,3 bilhões de seres MIGUEL SROUGI famintos. Problema da mesma magnitude é previsto para as reservas de água potável. Emboor não aceitarem o “Gaste tudo o que você tem ra dois terços do nosso aniquilamento físiplaneta sejam formados e use sua vida até não poder mais. co e a separação dos seus por água, apenas 0,002% entes, os seres humanos É para isso que ela serve. de água pode ser utilizasempre estiveram em E não tente viver para sempre. da pelo homem. Previbusca da imortalidade. Você não terá sucesso” são feita pelo dr. Peter Essa procura incessanGleick, de Oakland, nos te está registrada até BERNARD SHAW Estados Unidos, mostra mesmo na história remoque, se não forem identa. Textos bíblicos mostificadas novas alternativas de proEm segundo lugar, herdamos dos tram que o homem foi colocado no mundo para ser imortal, mas per- nossos antepassados genes ruins, dução, em 2025 dois de cada cinco deu esse privilégio pelas transgres- responsáveis por doenças cardíacas habitantes da Terra viverão sob sões morais — aquela refeição e neurológicas, hipertensão, diabe- privação de água. Como esperado, indevida no Jardim do Éden. Mes- tes, câncer e muitas outras, que com áreas de escassez profunda no mo assim, Adão sobreviveu 930 anos, aceleram a deterioração e nos apro- norte da África e no sul da Ásia. Além das perspectivas sombrias, seu filho Seth, 912 anos, e Enos, seu ximam da morte. Finalmente, envelhecemos e temos de reconhecer que vivemos neto, 905 anos. Hoje, quando homens e mulheres vivem, em geral, morremos por influência do mundo num mundo altamente injusto. Lemenos de 80 anos, fico curioso de que nos cerca. Pela ação do próprio vantamento publicado em 2000, pela saber até que ponto a dita gula homem e por imperfeições da natu- Universidade de Cambridge, mosreza — vivemos num ambiente al- trou que 90% dos recursos para a mudou a nossa história. De acordo com os evolucionistas, tamente hostil, inundado por agen- saúde disponíveis no planeta são toda a pressão se fez para que os tes químicos, ondas eletromagnéti- destinados a 10% de sua população, seres humanos se mantivessem cas, vírus e outros microorganismos os mais ricos. Esse fenômeno, cosaudáveis até o final da sua fase nocivos. Como conseqüência, nossas nhecido como “desequilíbrio 10/90”, reprodutora; depois disso, com a células sofrem processos de muta- explica em parte por que no Japão espécie perpetuada, nosso organis- ções e são injuriadas por radicais e nos Estados Unidos a expectativa mo perderia sua relevância e vita- oxidantes produzidos por esses agen- de vida de seus habitantes já se lidade. Nessa coreografia, real ou tes, num concerto perverso que aproxima de 85 anos, e em 32 panão, há uma questão primordial. Por culmina com danos irreversíveis ao íses ela é menor do que 40 anos, em 13 deles é menor do que 35 anos, e que, biologicamente, envelhecemos organismo. em Serra Leoa é de 26 anos. e morremos? Fica claro que a imortalidade — CONSEQUÊNCIAS DE UMA ou a extensão prolongada da vida POR QUE MORREMOS? VIDA INFINITA nos seres humanos — produziria Cientificamente, por três razões. Ao se falar em estender a exis- problemas insolúveis em questões Em primeiro lugar, todos nascemos tência, seria interessante imaginar vitais como acesso a espaço, alimencom os chamados gerontogenes, como seria a nossa vida num ambi- tos, água e outros recursos necessáunidades do genoma que têm a ente de recursos finitos. Infelizmen- rios à existência digna. capacidade de determinar a morte te, quase intolerável. Sabemos, por das nossas células e, com isso, pro- exemplo, que as bactérias prolifeOS “BENEFÍCIOS” DA duzir a perda da vitalidade dos ram e morrem numa velocidade inMORTALIDADE tecidos e a indução da senescência. controlável. Se todas que povoam o Num exercício filosófico, mas de Nascemos, portanto, programados mundo fossem transformadas em para morrer, o que não ocorre pre- seres imortais, elas produziriam, significado profundo, pensar na cocemente porque os gerontogenes após 14 dias de crescimento irres- imortalidade significa enfrentar permanecem bloqueados nas primei- trito, uma biomassa equivalente ao questões morais e sociológicas tão complicadas quanto os problemas de ras décadas de vida do homem. volume da Terra. A MEDICINA PODE VENCER A MORTE? P 6 Ano XXII – Nº 222 – Agosto 2004 – BOLETIM ICAPS sobrevivência. No mundo desigual que habitamos, a extensão da vida humana seria privilégio de alguns, rapidamente aflorariam as raças dos imortais e a dos mortais. Mantidas as atuais estruturas sociais, a competição por emprego, espaço e comida seria destruidora. Surgiria, também, grande desestímulo para o desenvolvimento pessoal, já que a noção de vida finita cria, no homem, necessidades prementes de crescimento intelectual e de realizações. Não menos importante, a imortalidade tornaria muito complexas as relações familiares, pois os imortais, com filhos imortais, gerariam proles infinitas, incapazes de desfrutar das relações interpessoais que enriquecem e pacificam a mente humana. A reprodução teria de ser controlada, produzindo outra questão moral. Quem poderia? E quanto poderia? A LUTA DA MEDICINA Postando-se à margem dessa discussão e obedecendo à obsessiva demanda da sociedade, a ciência médica vem desenvolvendo esforços extremos para prolongar a existência humana. Estamos começando a compreender os fundamentos biológicos da vida, com a descodificação do nosso arcabouço genético. Na prática, já são realizadas as primeiras experiências para reparar genes danificados, responsáveis por doenças que limitam a nossa existência, como o câncer ou a aterosclerose. Transplantes de órgãos mais complexos são executados em escala, resolvendo deficiências antes incontornáveis. Corações artificiais de pequenas dimensões já podem ser implantados no peito de pacientes com falência cardíaca irreversível, proporcionando ganhos de vida. Em laboratório, consegue-se produzir camundongos mais inteligentes, inserindo nos seus cromossomos genes que interferem com as funções cerebrais. Sem falar nas técnicas de clonagem que tornam possível a criação de seres mais perfeitos a partir de células isoladas. Lembro a clonagem um pouco preocupado, pois além de questões morais delicadas, tanto homens como mulhe- res poderão gerar outro ser privadamente, dispensando aquele encontro triunfal. O HOMEM ESTÁ VIVENDO MAIS? Com todos esses progressos, o homem está vivendo mais? Lamentavelmente, não muito. No início do século 20, a expectativa de vida nos Estados Unidos era de 54 anos, no final dele o homem vivia 78 anos. Pouco animadora também foi a previsão feita por um painel de cientistas reunidos em 1996 pela revista Scientific American. Mesmo considerando os avanços médicos iminentes, como a terapia gênica ou a possibilidade de substituição de quase todos os órgãos naturais ou, ainda, a hibernação humana, no ano de 2500, a expectativa de vida no planeta será de 140 anos. Como nenhum de nós viverá até o limiar do século 26 para usufruir o privilégio, seria possível, agora, prolongar a nossa existência? Certamente, sim. Por razões biológicas óbvias, não podemos escolher os nossos pais; por isso, não temos como deixar de receber genes indesejáveis. Poderíamos tentar mudar o planeta, ou de planeta, para escapar do ambiente hostil que nos cerca, mas suspeito que essa seria uma tarefa inglória no mundo injusto e egoísta que habitamos. Também porque as fotos que vejo da Lua ou de Marte não animam muito. Na verdade, o que podemos fazer com sucesso é auxiliar nosso organismo a reparar os danos impostos aos nossos genes, que aceleram a senescência. Começando por ingerir menos calorias. Experimentos com camundongos e macacos mostraram que é possível reduzir a incidência de câncer e das doenças da idade — e aumentar o tempo de vida desses animais — restringindo em 30% a ingestão diária de calorias. Uma outra pesquisa, produzida em 2001 pela Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos, demonstrou que ganhamos dois anos de vida evitando gordura animal na dieta, e seis anos realizando exercícios diários moderados. Ademais, concluiu que indivíduos obesos e fumantes vivem, respectivamente, 10 e 11 anos menos do que pessoas sem esses hábitos. Outra série de estudos, desenvolvida em animais e em humanos, comprovou que a ingestão diária de quantidades moderadas de vinho tinto reduz em 30% os riscos de ataques cardíacos e de derrame cerebral, que contribuem para abreviar a nossa existência. Para aqueles que, com muito entusiasmo, já recorrem a esse tipo de tratamento preventivo, quero repetir que a medicina fala em “quantidades moderadas”. A história registra um sem-número de tentativas para se compreender a senescência e prolongar a existência humana. Charles BrownSequard, um endocrinologista do século 19, ficou mundialmente famoso administrando a seus pacientes extratos de testículo de cobaia, que, segundo ele, eram dotados de enorme efeito rejuvenescedor. Convicto, auto-injetava-se com o extrato e proclamava grande vigor físico e sexual. Conta a história que caiu em descrédito quando sua esposa abandonou-o por outro companheiro. René Descartes nunca anunciou que seria capaz de impedir o envelhecimento, mas propôs-se a desvendar os seus segredos. Suspeito que não tenha tido sucesso, pois morreu aos 54 anos. William Shakespeare, mais modesto, não tentou explicar nem tampouco impedir a senescência, apenas descreveu-a em “As you like it”, por meio de Jacques: “As pernas, cada vez mais finas, dançam dentro de calças cada vez mais folgadas”. Os leitores que me desculpem, mas, se grandes personagens da história não puderam resolver essa questão da imortalidade, não será um modesto cirurgião, num pequeno canto de jornal, que irá fazê-lo. E, enquanto doutores e medicina não se decidem, remeto todos a Bernard Shaw, em “The doctors dillema”: “Gaste tudo o que você tem e use sua vida até não poder mais. É para isso que ela serve. E não tente viver para sempre. Você não terá sucesso”. MIGUEL SROUGI é médico, pós-graduado em urologia pela Harvard Medical School (EUA), professor titular de urologia da Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina). Ano XXII – Nº 222 – Agosto 2004 – BOLETIM ICAPS 7 APOIO SADIO NAS SITUAÇÕES DE LUTO FR. BERNARDO, OP P essencial diante de um fato da vida deve contraditório aceitar que Deus quer 1 Aser de verdade e solidariedade, ajustadas a cada 4 o mal, parece-nos lógico que deveríamos acreditar ATITUDE situação. O fingimento é inadequado em toda a relação humana e muito especialmente em situações de intenso sofrimento. O modo e o ritmo que prenunciam a morte têm impacto diferente na consciência de perda, sofrida como agressão. O acidente mortal, segundo a densidade das relações conjugal, materna paterna, filial, fraterna ou de intensa amizade, desencadeia diferentes perturbações e por vezes revolta; e, conforme a cultura, o temperamento pessoal, a própria idade e a qualidade da vida religiosa vivida também interferem na situação do luto. Consoante as situações, não é conveniente o excesso de palavras de consolação, que poderão chocar porque soam a vazio, aceleram a revolta e adiam a conveniente adaptação à nova fase. discreta, afetiva e efetiva, com adequa2 Ados toques positivos pode amenizar a tristeza dos PRESENÇA enlutados, auxiliando-os a adaptar-se, com o possível realismo, à situação de perda e a reformar o curso da vida. Caso seja oportuno, podemos desenvolver um moderado diálogo sobre a evidência difícil da vida e da morte. De fato, ninguém pode ensinar os outros a morrer, uma vez que se trata de uma experiência pessoal intransmissível. A vida inclui a morte, a que todos estamos destinados; cada um na sua vez vai precedendo e seguindo os outros. A morte é o avesso da vida ou uma mudança radical, porque é uma saída da medida da vida pessoal constituída pelo tempo. O nascimento é a passagem do meio amniótico para o gasoso, e a morte biológica é a despedida da relação tempo–espaço. ajudar a descobrir ou a dar algum 3 Dsentido aotentar sofrimento e à morte como abertura à EVEMOS continuidade na relação para além do tempo. Sem manipular as pessoas, apanhadas pela situação de desconforto e vazio, deveríamos estimular a consciência de que os que prefiram continuam pela presença afetiva, pelo modelo de vida que viveram, pela obra realizada e, para quem acredita, a certeza de que a “vida não acaba, mas apenas se transforma”, tendo apenas mudado a forma de relação. Os limites da condição humana existencial são múltiplos, permanentes e incontroláveis. A nossa efetiva liberdade opera no desconhecido acerca do que virá depois deste presente em constante passagem pela historia e em que deparamos com medos e conflitos. ORQUE SERIA que, misteriosamente, algum bem resultara da situação cujos parâmetros parecer todos negativos e insignificantes para as pessoas enlutadas. Mesmo para os crentes, a questão é dolorosa e complexa. Até Marta interpelou o Senhor da vida: “Se estivesses aqui meu irmão não teria morrido”. E ele esclarece que a Ressurreição é fato em que cada um estabelecerá uma diferente forma de ser e estar, reestruturada a relação consigo e com os outros também de forma diferente. bem e mal são discutíveis, mas 5 Aaceita-se quedetêm algo em contraposição: o bem S NOÇÕES é ser e plenitude, e o mal – físico, psicológico e moral – implica a ausência do bem devido a um ser em uma determinada circunstância. Essa ausência representa, de modo analógico, em todos os casos, a noção de perda e fracasso. É necessário bem escalonar a ordem dos valores para conseguirmos aceitar, e, quanto possível, assimilar as diversas situações sem raiva ou revolta. Mas raramente basta um esclarecimento intelectual, visto que a afetividade, as emoções e sentimentos influenciam nosso comportamento de modo mais ou menos intenso. No caso da morte será possível fornecer uma explicação, mas não se saberá dar as razões, os porquês da morte de uma pessoa, e não de outra, em um acidente ou até em uma circunstância no dia-a-dia. A nossa liberdade e a condição humana estão submetidas ao limite e ao impossível. Estamos envolvidos pelo nevoeiro da incerteza sobre o que eventualmente poderá suceder a nós e aos que amamos; recordamos o vivido, não controlamos o futuro. “ ” penetram em outra di6 Omensão. Os crentes esperam que a morte seja S OLHOS DA FÉ CRISTÃ uma passagem para a ressurreição e confiam que “a vida não acaba, apenas se transforma”. Mas essa situação assimila-se no tempo cósmico em que podemos assumir a força da ressurreição de Cristo, mediante os sacramentos e a vida honesta, competente, partilhada com os outros solidariamente. E os laços e a solidariedade partilhada neste tempo abrem-nos à esperança de que a comunhão entre os “vivos de cá e os vivos de lá” é possível e deve ser alimentada no exercício da fé e caridade ativa. 8 Ano XXII – Nº 222 – Agosto 2004 – BOLETIM ICAPS ANEMIA É A MAIOR DEFICIÊNCIA NUTRICIONAL DO BRASIL C erca de 45% das crianças brasileiras com menos de cinco anos de idade e 21% das mulheres de 15 a 49 anos apresentam anemia causada por deficiência de ferro, segundo relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Anualmente, morrem 880 pessoas no Brasil em decorrência da anemia severa. A doença ocorre quando a concentração de hemoglobina do sangue está abaixo do índice considerado normal. Existem vários tipos de anemia. A enfermidade pode ser causada pela falta de zinco, proteínas, vitaminas B12 e ácido fólico no organismo, porém, a mais comum ocorre pela deficiência de ferro. Segundo o Ministério da Saúde, hoje a anemia ferropriva é a principal deficiência nutricional do Brasil e do mundo. A falta de ferro pode provocar anorexia, baixo ganho de peso, taquicardia e alterações no desenvolvimento motor e cognitivo. Nas crianças, pode prejudicar o crescimento e até o aprendizado na escola. Antigamente, a anemia ferropriva era mais encontrada nas famílias de baixo poder aquisitivo. Atualmente a doença está presente em todas as classes sociais brasileiras. Estudos realizados nos Estados Unidos, Suécia e Finlândia comprovaram que bebês alimentados exclusivamente no seio da mãe até os seis meses têm menor risco de desenvolver anemia. O estudo do Unicef também constatou que aproximadamente 87% das residências brasileiras utilizam sal iodado, índice ainda abaixo do apresentado por países como Uganda, Peru, China e Congo. O resultado é que 50 mil crianças brasileiras nascem anualmente com deficiências mentais causadas por falta de iodo. Já a deficiência de vitamina A compromete o sistema imunológico de 40% a 60% das crianças em países em desenvolvimento. Segundo o Unicef, a falta de vitaminas e minerais é responsável por impedir que um terço da humanidade atinja seu potencial físico e mental. De acordo com a nutricionista e consultora técnica do Ministério da Saúde, Gracy Santos, para combater a anemia o governo pretende distribuir gratuitamente, por meio dos postos de saúde, suplementos medicamentosos de sulfato ferroso para as crianças de seis a 18 meses, gestantes e mulheres que estão amamentando. A previsão é dar início ao projeto ainda no segundo semestre deste ano. Outra ação que visa diminuir os casos de anemia é a obrigatoriedade da fortificação da farinha de trigo e de milho com ferro e ácido fólico. O prazo para as indústrias regularizarem seus produtos termina em julho deste ano. Essas são justamente as duas alternativas propostas pelo Unicef para atacar o problema da deficiência nutricional. Além disso, a instituição recomenda que a população seja instruída para manter uma alimentação balanceada. Propõe também o prosseguimento dos esforços para controlar doenças como malária e diarréia, que fazem o corpo perder vitaminas e minerais. Esses métodos erradicaram o problema em nações desenvolvidas e, segundo o Banco Mundial, “provavelmente nenhuma outra tecnologia hoje oferece uma oportunidade tão boa de melhorar vidas e acelerar o desenvolvimento a um custo tão baixo em um espaço de tempo tão curto. Instituto Camiliano de Pastoral de Saúde Fone (11) 3675-0035 e-mail: [email protected] Av. Pompéia, 1214 A 05022-001 São Paulo, SP IMPRESSO