UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Ponta Grossa - PR 2012 KAROLLINE CHRISTINY SZEREMETA DA SILVA AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Engenharia de Segurança do Trabalho. Orientador: Prof. Dr. Eng. José Adelino Krüger Ponta Grossa - PR 2012 TERMO DE APROVAÇÃO Karolline Christiny Szeremeta da Silva AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Engenharia de Segurança do Trabalho. COMISSÃO EXAMINADORA __________________________________________ Prof. Dr. Eng. José Adelino Krüger (Orientador) Universidade Estadual de Ponta Grossa __________________________________________ Prof. M. Sc. Flávio Guimarães Kalinowski Universidade Estadual de Ponta Grossa ___________________________________________ Prof. Eng. Luiz Carlos Lavalle Filho Universidade Estadual de Ponta Grossa Ponta Grossa, 31 de maio de 2012. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, porque ele é fiel e justo para cumprir cada promessa. De forma especial, agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Eng. José Adelino Krüger, pela paciência, confiança, incentivo e amizade. Não poderia ter tido um orientador mais atencioso. Aos meus pais pelo suporte e dedicação. Certamente são as pessoas mais interessadas no meu futuro e sucesso. A todos aqueles que garantiram que esse trabalho pudesse ser feito. A diretora da escola por ter autorizado o estudo de caso, e aos professores que contribuíram de forma direta ou indireta para a conclusão desse trabalho. Aos meus amigos e namorado que com tanta paciência entenderam minha ausência nos churrascos, casamentos, e demais comemorações devido à importância desse trabalho. Aos queridos mestres do tempo da escola que não apenas ensinaram o caminho das letras e números, mas que de forma inesquecível marcaram minha vida. Vocês foram minha inspiração na escolha do tema visto nesse trabalho. Por último, mas não menos importante pelos professores presentes na banca. Obrigada por terem tirado um tempo para ler e avaliar este trabalho. "Não sois máquinas; Homens é que sois." (Charles Chaplin) SILVA, Karolline Christiny Szeremeta da. Avaliação Ergonômica das Atividades do Professor na Educação Infantil. 2012. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de Ponta Grossa. RESUMO Esse trabalho buscou realizar uma avaliação ergonômica de uma situação de trabalho dos professores da educação infantil em uma escola particular em uma cidade no interior do Paraná. Para o estudo de caso foram analisados os aspectos significativos foram discutidos a fisiologia, e a biomecânica, além das leis que protegem o trabalhador, entre elas a NR-17 e a CLT. Visando sempre priorizar o trabalho do professor, em especial na educação infantil, que foi o tema central do trabalho. Faz parte dessa pesquisa o questionário respondido por toda a população de professores da educação infantil do município em questão. Entre os principais resultados foram observados má postura, dores, principalmente na coluna, e estresse entre os professores. Também fez parte do objetivo desse trabalho propor melhorias nas condições de trabalho, no que envolva ergonomia e segurança. Palavras-chave: Professor, ergonomia, educação infantil. SILVA , Karolline Christiny Szeremeta da. Ergonomic Evaluation of Activities of the teacher in Early Childhood Education. 2012. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de Ponta Grossa. ABSTRACT This study attempts to make an ergonomic evaluation of the work situation of teachers in early childhood education in a private school in rural zone of the state of Paraná. The case study analyzed the significant aspects were discussed physiology, and biomechanics, beyond the laws that protect workers, including the NR-17 and CLT. Aiming always to prioritize the work of teachers, especially in early childhood education, which was the central theme of the thesis. Part of this research is the questionnaire answered by the entire population of teachers of early childhood education in the city in question. Among the main results were noticed bad postures, back pains (more often) and stress. It is also part of the objective of this study to suggest improvements in working conditions, involving ergonomics and safety precautions. Key-words: Teacher, ergonomics, early childhood education. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – A coluna vertebral. Fonte: (MÁSCULO ET AL., 2011 P. 171) ............. .....20 Figura 2 – Alavanca de primeiro grau. Fonte: (Sistema de alavancas) ................ .....21 Figura 3 – Alavanca de segundo grau. Fonte: (Sistema de alavancas) ............... .....22 Figura 4 – Alavanca de terceiro grau. Fonte: (Sistema de alavancas) ................. .....22 Figura 5 – À esquerda método squat lifting, e a direita método stoop lifting. Fonte: (Master Garden) ................................................................................. .....25 Figura 6 – Posição do pescoço: à esquerda ideal, e à direita errada. Fonte: (Elementu Vitalle) ............................................................................... .....28 Figura 7 – A – Sala de aula nível IV; B – Sala de aula nível V; C – Brinquedoteca; e D – Playground. ................................................................................... ....31 Figura 8 – Método stoop lifting observado (professoras): à esquerda – nível IV, e à direita – Nível V .................................................................................. .....34 Figura 9 – Professora segurando carga de 18 kg em pé ..................................... .....35 Figura 10 – Posições mais comuns – Professora Nível IV ................................... .....36 Figura 11 – Posições mais comuns – Professora Nível V .................................... .....36 Figura 12 – Trabalho sentado no playground. – Professora Nível IV ................... .....37 Figura 13 – Professores na Distribuição entre Níveis .......................................... .....38 Figura 14 – Dores Mencionadas pelos Professores ............................................. .....39 Figura 15 – Porcentagem de Queixa de Dores pelos Professores....................... .....40 Figura 16 – Porcentagem de Frequência de Stress entre os Professores ........... .....41 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico clássico Fonte: (MÁSCULO ET AL., 2011 p.12).....................................................13 Quadro 2 – Equação de NIOSH revisada (1994) Fonte: (VIEIRA, 2011) ................. 24 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Massa em quilograma dos alunos do Nível IV.........................................32 Tabela 2 – Massa em quilograma dos alunos do Nível V..........................................33 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12 1.1 Justificativa ......................................................................................................... 13 1.2 Objetivo .............................................................................................................. 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 15 2.1 NR-17...................................................................................................................15 2.2 Fisiologia do Trabalho..........................................................................................17 2.3. Biomecânica...............................................................................................19 2.3.1 Levantamento de Cargas .........................................................................22 2.3.2 Trabalho em Pé .......................................................................................25 2.3.3 Trabalho Sentado e Antropometria...........................................................26 2.4 Doenças Ocupacionais de Origem Biomecânica.................................................28 2.5 O Professor na Educação Infantil.........................................................................29 3 ESTUDO DE CASO................................................................................................31 3.1 Aspectos Significativos.........................................................................................32 3.1.1 Análise do Levantamento de Cargas........................................................32 3.1.2 Análise do Trabalho em Pé.......................................................................34 3.1.3 Análise do Trabalho Sentado e Antropometria.........................................35 3.1.4 Condições do Trabalho.............................................................................37 3.2 Aspectos Não Significativos .............................................................................. 42 3.3 Sugestões para Melhorias ................................................................................. 43 4 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 46 ANEXO A – QUESTIONÁRIO .................................................................................. 48 1. INTRODUÇÃO A ergonomia pode ser definida como o estudo das atividades humanas em termos de esforço físico, intelectual, relacionamento e dedicação. Essa foi a primeira definição proposta pelo cientista polonês Wojciech Jastrzebowski, em 1857. A palavra ergonomia vem do grego, no qual ergo significa trabalho e nomos leis naturais. Esse conceito tenta agrupar quatro naturezas distintas em apenas uma, a natureza físico-motora, a estético-sensorial, a mental-intelectual e a espírito-moral. (MÁSCULO ET AL., 2011 p.9) O conceito de ergonomia surgiu no século XIX, porém existem indícios da preocupação com o trabalho eficiente e adequado desde os primórdios, como por exemplo, os utensílios como a pedra lascada que se adaptavam na tentativa de melhoria da eficiência de seus devidos fins na caça e na pesca. Outro indício, os papiros egípcios indicam a preocupação ergonômica com a construção civil. Além de referencias com posturas inadequadas e deformações apontadas pelo filósofo grego Platão. (MÁSCULO ET AL., 2011 p.10). No final do século XIX, inicio do século XX, a primeira publicação sobre ergonomia foi abordada por F. W. Taylor como estudo de rendimento fisiológico com equipamentos que permitiam a mensuração do desempenho físico humano. Em contrapartida, J. Amar sugeria a idéia do homem como transformador de energia, uma espécie de motor humano. Esse paradigma serviu de inspiração durante a Revolução Industrial e se consolidou a partir de 1915, quando na Inglaterra foi formado um comitê para analisar vários aspectos da saúde do trabalhador, formado por engenheiros, médicos e fisiologistas, os quais foram estudados durante o período de paz entre as duas guerras mundiais. Outra definição de ergonomia surgiu no pós-guerra, a qual citava o estudo como a relação entre o homem, o seu trabalho e o ambiente, aplicando noções de anatomia, fisiologia e psicologia. Tais conceitos são abrangidos no Quadro 1, a seguir (MÁSCULO ET AL., 2011 p.11). Quadro 1 – Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico clássico (MÁSCULO ET AL., 2011 p.12) Disciplinas Formadoras Autores Filosofia (cognição) Platão, Aristóteles Medicina Ramazzini, Villermé, Tissot Físico-Química Lavoisier, Coulomb Fisiologia do Trabalho Amar, Chaveau, Marey Engenharia do Produto Da Vinci, Vauban, Jacquart Organização Taylor, Gilbreth, Ford Em 1947 foi formada a primeira sociedade ergonômica do mundo, nomeada Ergonomics Research Society, ou seja, Sociedade de Pesquisa Ergonômica, criada por cientistas ingleses e americanos, que teve como inspiração salvar a vida de pilotos treinados. Com a mudança drástica de altitude e manobras perigosas, notouse ser necessário levar em consideração não somente a o desenvolvimento mecânico dos aviões, mas também a máquina humana que a operava. Perder um piloto significava perder anos de treinamento, o que dificultava as operações de guerra. Na mesma corrente nasceu a ergonomia chamada de Fatores Humanos (Human Factors & Ergonomics – HFE). O vasto material da HFE incluía leiaute de postos de trabalho, projeto de cockpits, lista de pontos de verificação etc. Mais tarde, em 1966, foi formalizada a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) pelo cientista francês Alain Wisner (MÁSCULO ET AL., 2011 p. 12-13). No Brasil a ergonomia teve berço universitário, sendo o pioneiro no ramo o professor Sérgio Kehl, da Universidade de São Paulo, no curso de Engenharia de Produção, o qual abordou o tópico homem e produto. Em 1971 a ergonomia se tornou disciplina obrigatória em cursos como Design e Desenho Industrial, e em 1975 foi criado o primeiro curso de especialização na área (MÁSCULO ET AL., 2011 p.14-15). 1.1 JUSTIFICATIVA A escolha desse tema para a monografia se deu pela desvalorização do professor. O professor é a alma de qualquer instituição de ensino. Com o avanço da tecnologia ainda não foi inventada máquina alguma que possa substituir esse profissional. Por mais que se invista no equipamento das escolas, através da infraestrutura, serão apenas aspectos materiais acessórios, se comparados ao papel e à importância do professor. Apesar da importância desses profissionais na sociedade, é visível que a carreira do professor não é devidamente reconhecida e valorizada. Começando pelo salário, sempre abaixo do piso, provocando greves e diversas manifestações. Além da situação de estresse causada pela vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O estatuto visa à proteção da criança e do adolescente, e é respaldado pelo ordenamento jurídico brasileiro, deixando o professor muitas vezes em situação de impotência e de risco, pois o aluno se sente poderoso, sendo agressivo e intocável. Até mesmo os professores, quando escrevem suas teses e dissertações, estão geralmente preocupados com o desenvolvimento pedagógico das crianças em sala de aula. Pouco se fala do papel do professor em sua profissão, deixando lacunas para discussões sobre como o professor precisa se comportar para a melhor aceitação dos conteúdos pelos alunos. Dessa forma, o professor deixa de ser o portador do conhecimento e se transforma em um refém do que lhe é ditado. Diante disso, fica justificado porque o professor merece estudos visando à melhoria das condições de trabalho. Um profissional bem tratado torna-se um melhor profissional. 1.2 OBJETIVO Esse trabalho tem como objetivo o levantamento da situação de trabalho dos professores da educação infantil em uma escola particular em uma cidade no interior do Paraná. Faz parte desse trabalho a avaliação ergonômica da profissão de professores na educação infantil. Também são propostas melhorias nas condições de trabalho para esse estudo de caso específico. Considera-se estudo de caso uma pesquisa empírica, que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real. Responde a perguntas como “o quê” e “quanto”, entendendo “como”. (FOCCA - 2012) 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 NR – 17 A NR-17 é uma Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego específica para ergonomia, criada em 23 de novembro de 1990 pela Portaria nº 3.751. O processo de criação da norma começou em 1986, quando surgiram casos de tenossinovite ocupacional, uma espécie de inflamação do tendão do polegar, comum entre digitadores, o que levou o sindicato da categoria a buscar recursos para a prevenção de tais lesões (VIEIRA, 2011). Através de uma equipe constituída por médicos e engenheiros, estudos ergonômicos foram realizados, nos quais foram verificadas as condições de trabalho com relação à saúde de trabalhadores, como o pagamento de prêmios por produção, a ausência de pausas, a prática de horas extras, entre outros. Foi constatada a presença de fatores que favoreciam o aparecimento de lesões por esforços repetitivos (LER). Com exceção de aspectos como ruído, temperatura e luminosidade, o Ministério não tinha regulamentação alguma que pudesse melhorar as condições de trabalho referentes à ergonomia (VIEIRA, 2011). Durante os anos de 1988 e 1989 o Ministério do Trabalho, juntamente com a FUNDACENTRO, realizou em Brasília reuniões nas quais foi criado um projeto de norma, a qual abordou temas como limite de cadência no trabalho, proibição de prêmios de produtividade, além da elaboração de critérios de conforto para o trabalhador, incluindo mobiliário, ambiente térmico, luminoso e sonoro. Ao mesmo tempo, houve a abertura para sugestões de alteração na nova Norma Regulamentadora. No segundo semestre de 1989 a equipe decidiu que a norma não deveria ser aplicada apenas a profissionais no departamento de armazenamento de dados, pois havia indícios de que a LER era também observada em outros ramos, além do fato de que uma norma específica para uma área abriria campo para outros setores exigirem sua própria norma como consequência (VIEIRA, 2011). Dessa forma a organização de ideias que criavam a Norma Regulamentadora teve um estudo mais abrangente para incluir todos os tipos de trabalho, o que foi visto pela equipe como uma forma de se avançar na legislação. Em março de 1990 foi assinada a alteração das Normas 17 e 5, porém a NR-5 não foi aprovada pela classe patronal. Mais tarde, houve uma mudança na NR-17 que publicava o conteúdo vetado anteriormente (VIEIRA, 2011). Os aspectos gerais da NR-17 limitam-se ao manuseio de materiais, mobiliário, equipamentos, condições e organização do trabalho (MÁSCULO ET AL., 2011). Segundo a NR-17, o critério principal para o manuseio de materiais não está ligado diretamente à quantidade de carga máxima, mas sim voltada à ausência de recursos que facilitem essa tarefa. Segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, 2012), a carga máxima que pode ser levantada por um homem é de sessenta quilogramas, enquanto por uma mulher é de vinte quilogramas, porém existem estudos realizados no exterior com limites de tolerância abaixo dos indicados pela CLT. De qualquer forma, o mais importante é não comprometer a saúde do trabalhador, independentemente de seu gênero (MÁSCULO ET AL., 2011). Com relação à postura, o mais indicado é a mudança constante. Não existe nenhuma postura fixa que seja adequada. É recomendada a alternância, sendo que até mesmo trabalhar em pé é aceito, porém quando a maior parte do trabalho é realizada sentada. A acessibilidade também é um item importante. É necessário ressaltar que o mobiliário deve ser adaptado às características dos trabalhadores e à natureza das tarefas (MÁSCULO ET AL., 2011). Os equipamentos dos postos de trabalho precisam ser adequados, o que significa que para cada função devem ser analisados e escolhidos instrumentos que viabilizem o desempenho confortável, seguro e eficiente da função exigida. Além disso, cada função deve ser estudada para que seja oferecido o suporte adequado (MÁSCULO ET AL., 2011). As condições ambientais deveriam proporcionar acima de tudo o conforto no ambiente de trabalho. Um exemplo disso é citado por Másculo et al. (2011) quando afirma que acha necessária a comunicação verbal para garantir a segurança no ambiente de trabalho: “O nível de ruído ambiental, embora situado na faixa dos limites de tolerância, era suficiente para impedir a boa comunicação verbal em manobras de operação”. Um ambiente ruidoso aumenta os índices de equívocos no trabalho. Além dos ruídos devem ser levados em consideração a temperatura, que deve ser mensurada a partir do tórax do trabalhador, e a luminosidade, que deve ser aferida não apenas pela quantidade de luz mas também pela refletância dos materiais escolhidos, de acordo com a função do trabalhador (MÁSCULO ET AL., 2011). A organização do trabalho é definida na NR-17 vagamente, com apenas alguns elementos observáveis, porém é de boa compreensão. Por ser genérica, cabe ao engenheiro de produção, ou ao chefe direto, administrar e organizar o ambiente. Com relação às lesões por esforços repetitivos, sempre que houver dor ou sobrecarga muscular devem ser incluídas pausas para o descanso, e deve ser evitada a avaliação por desempenho individual (MÁSCULO ET AL., 2011). 2.2 Fisiologia do Trabalho A fisiologia do trabalho tem como objetivo estudar os fenômenos do corpo humano nas situações de trabalho. Dentro da fisiologia, o funcionamento dos músculos é conhecido como função neuromuscular. Esses movimentos voluntários são comandados pelo cérebro, que utilizam a medula espinhal como meio de comunicação entre os músculos e o cérebro. Esse mecanismo é chamado de sinapse. Entre as propriedades da sinapse encontra-se a fadiga, como a redução da capacidade de transmissão da sinapse (MÁSCULO ET AL., 2011). Segundo Másculo et al. (2011), a fadiga é o efeito de um trabalho continuado que provoca uma redução reversível da capacidade do organismo de uma degradação qualitativa desse trabalho. Enquanto psicólogos garantem que a fadiga tenha a ver com a mente do ser humano, os fisiologistas estabelecem maior ênfase para o funcionamento do organismo. Sendo assim, a fadiga é considerada uma condição psicossomática que favorece a sensação de cansaço (MÁSCULO ET AL., 2011). Entre as possíveis causas da fadiga física estão a monotonia, a duração e intensidade do trabalho físico, o ambiente inadequado, relacionado à temperatura elevada, à baixa iluminação ou ao alto nível de ruído, o comprometimento da alimentação, assim como a deficiência de oxigênio e o esforço físico superior à capacidade muscular (VIEIRA et al., 2005). Já a fadiga psíquica não se manifesta de forma localizada, porém tem como indicadores a sensação de cansaço, o aumento da irritabilidade, o desinteresse e a maior sensibilidade a certos estímulos, como fome, calor, frio ou má postura. Ocorre em situações nas quais prevalece o trabalho mental e pouco esforço físico. Segundo Vieira et al. (2005), a fadiga psíquica está relacionada a uma série de fatores como monotonia, motivação, estado geral de saúde e relacionamento social. Os autores afirmam ainda que em tarefas com excesso de carga mental a fadiga reduz a precisão na discriminação de sinais, retardando as respostas sensoriais e aumentando a irregularidade das respostas. A monotonia consiste na repetição de ações que exigem do organismo uma situação pobre de estímulos. Seus principais sintomas são a fadiga, a sonolência, a falta de disposição e o déficit de atenção. Segundo Másculo et al. (2011), “... a experiência mostra que as atividades repetitivas de longa duração, com mínimo grau de dificuldade, mas sem possibilidade de desligar-se mentalmente de todo o trabalho, ou tarefas de observação de longa duração, pobres em quantidade e diversidade de estímulos, com a obrigação de atenção permanente, são condições que desencadeiam o estado de monotonia” (MÁSCULO ET AL., 2011). A ampliação de diversificação de tarefas tem como objetivo diminuir a monotonia e aumentar a qualidade de vida do trabalhador. Através disso a produtividade também pode ser elevada em longo prazo. Uma simples modificação pode enriquecer o trabalho e possibilitar o melhor uso das capacidades humanas, como por exemplo (MÁSCULO ET AL., 2011): troca de tarefas; a consideração dos contatos pessoais no trabalho; pausas curtas e frequentes; a diferenciação da postura durante as pausas; condições ambientais adequadas. Pausa é um período de inatividade intercalada entre períodos de atividade. As pausas no trabalho podem ser classificadas entre fisiológicas, furtivas ou organizadas. As pausas fisiologias consistem em intercalar atividades dinâmicas com atividades de relaxamento. A relação ideal para o trabalho muscular é de um tempo de trabalho e um tempo equivalente de pausa; quanto ao trabalho mais pesado, seria a razão de um para um e meio, respectivamente (MÁSCULO ET AL., 2011). Com relação às pausas furtivas, essas são determinadas pelo próprio trabalhador. Como o próprio nome já diz, é uma maneira de fugir do trabalho, e diz respeito à autonomia do trabalhador. Normalmente são pouco eficazes, pois geralmente são mais longas do que o necessário, e de pequeno valor recuperativo devido ao controle do superior (MÁSCULO ET AL., 2011). As pausas organizadas são consideradas as melhores, pois são uma forma do trabalhador ser tratado com dignidade, além de combater as pausas furtivas. Elas são classificas em pausas curtíssimas, curtas e longas. As curtíssimas, com alto efeito recuperativo, são aquelas que podem ter lugar entre duas operações numa linha de produção. As pausas curtas referem-se ao tempo de três a cinco minutos, intercaladas em um período de uma hora de trabalho leve que exija atenção, ou com intervalo de tempo de dez minutos em duas horas de trabalho. Quando se trata de um trabalho pesado, as pausas longas devem ser consideradas, e devem ter o mesmo intervalo de tempo da atividade em período de trabalho. As refeições não devem ser consideradas como pausas (MÁSCULO ET AL., 2011). A NR-17, no item 17.6.4, alínea d, garante no mínimo pausas de 10 minutos para 50 minutos trabalhados, não deduzidos da jornada normal de trabalho (NR-17, 2012). 2.3 Biomecânica A biomecânica se preocupa com a análise física dos sistemas biológicos, examinando, entre outros, os efeitos das forças mecânicas sobre o corpo humano em movimentos cotidianos, de trabalho (BIOMECÂNICA, 2012). Dentro da mecânica existe a divisão de estática e dinâmica, sendo o corpo humano considerado como uma estrutura óssea em equilíbrio do ponto de vista estático, e um sistema de alavancas no que diz respeito ao ponto de vista dinâmico (MÁSCULO ET AL., 2011). O esqueleto humano é formado por 208 ossos e se divide em duas partes: o esqueleto axial, que tem como principal função sustentar o corpo e proteger órgãos vitais, sendo formado pelo crânio, tórax e coluna vertebral, e o esqueleto apendicular, formado pelos membros e ossos que ligam o esqueleto apendicular ao axial. Esses ossos que ligam os esqueletos são chamados de cintura escapular e pélvica. Nas juntas ocorre o ligamento de dois ou mais ossos, e normalmente permitem a realização de movimentos, sendo chamadas de articulações. Os ossos se mantêm firmes no lugar das articulações através dos ligamentos, cordões resistentes constituídos por tecido conjuntivo fibroso e sobre eles se unem aos músculos por um tecido particular, e os tendões que não se contraem (MÁSCULO ET AL., 2011). Segundo Másculo et al. (2001), a coluna vertebral, que pode ser observada na Figura 1, também conhecida como espinha dorsal, é constituída por vértebras alinhadas e sobrepostas, e sua estrutura é dividida em quatro regiões: cervical: região do pescoço, composta por sete vértebras extremamente sensíveis; torácica: corresponde à região dorsal, composta por doze vértebras; lombar: parte inferior da coluna, composta por cinco vértebras; e sacrococcígea: essa já uma parte da coluna que integra a cintura pélvica, composta por cinco vértebras e uma terminação óssea específica, o cóccix, formado por quatro vértebras especiais com juntas fixas, a exemplo do que acontece no crânio (MÁSCULO ET AL., 2011). Figura 1: A coluna vertebral Fonte: (MÁSCULO ET AL., 2011) A vista anterior da Figura 1 mostra a coluna vertebral na postura reta. Qualquer desvio lateral é chamado de escoliose. Na ilustração central é mostrada a coluna de perfil, apresentando quatro curvaturas muito eficientes no levantamento de pesos. É possível observar uma lordose na parte cervical, seguida de uma cifose na área dorsal, uma grande lordose lombar e por fim uma cifose na coluna sacra. Dessa forma, deve-se evitar levantar cargas com as costas curvadas para não criar a componente transversal dos esforços na coluna. Quando a coluna é dobrada através de movimentos de flexão, extensão e flexão lateral são provocados um estresse compressivo de um lado dos discos e um estresse de tração do outro lado; já quando é forçada uma rotação na coluna cria-se um estresse tangencial. Na postura ereta a coluna é submetida comumente à compressão na aplicação de uma carga (MÁSCULO ET AL., 2011). Do ponto de vista dinâmico, o corpo trabalha como um sistema de alavancas, no qual cada movimento depende de pelo menos dois músculos que trabalham antagonicamente, o que significa que quando um se contrai o outro é distendido e relaxa, e vice-versa. Na mecânica o corpo possui três tipos de alavancas: (MÁSCULO ET AL., 2011): 1) alavanca de primeiro grau, também conhecida como interfixa - o apoio se encontra entre a potência (força) e a resistência. Quanto maior a potência, menor terá que ser a força para equilibrar a resistência. Um exemplo no corpo humano é o tríceps, como mostra a Figura 2. Essa alavanca é indicada para transmitir velocidade e pouca força (Apostila de Ergonomia, 2012). Figura 2: Alavanca de primeiro grau Fonte: Sistema de alavancas (2012) 2) Quanto à alavanca de segundo grau, ou interpotente, a resistência é superior à força. Esse tipo de alavanca sacrifica a velocidade para ganhar força, como é o caso do músculo posterior da perna, como mostra a Figura 3 (Apostila de Ergonomia, 2012). Figura 3: Alavanca de segundo grau Fonte: Sistema de alavancas (2012) 3) Na alavanca de terceiro grau, ou alavanca inter-resistente, a intensidade de força requerida para vencer uma determinada resistência é sempre menor do que o valor da resistência (Apostila de Ergonomia, 2012). É o tipo de alavanca mais comum no corpo humano. Embora com o sacrifício da força, os músculos se inserem próximos às articulações e facilitam a realização dos movimentos, como no caso do bíceps, como mostra a Figura 4 (Apostila de Ergonomia, 2012). Figura 4: Alavanca de terceiro grau Fonte: Sistema de alavancas (2012) 2.3.1 Levantamento de Cargas Existem controvérsias sobre o limite ideal de peso que o trabalhador pode carregar. Segundo a NR-17, nenhum trabalhador deve administrar carga de peso que possa prejudicar sua saúde, porém a Norma Regulamentadora não dita a quantidade em massa máxima em carga (NR-17, 2012). Em contrapartida, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, 2012) prevê no artigo 198: “É de 60 kg (sessenta quilogramas) o peso máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher”. Em 1981, o National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH desenvolveu uma equação para o manuseio de cargas no trabalho (VIEIRA, 2011). Esse estudo surgiu como uma ferramenta para combater a lombalgia, que é a segunda causa de ausência ao trabalho de pacientes acima de 45 anos (MÁSCULO ET AL., 2011 p. 173). Másculo (org.). (2011) relatam ainda que “ ...ao levantar 10 kg (o peso de uma criança ou de uma carga leve) estamos fazendo a coluna lombar receber uma carga de cerca de 100 kg. Em decorrência disso, atividades, mesmo moderadas, de trabalho são suscetíveis de estar na origem de dores lombares (MÁSCULO ET AL., 2011). Em 1991, a equação de NIOSH foi revista, e foram considerados novos fatores como: a manipulação assimétrica de cargas, a duração da tarefa, a frequência dos levantamentos e a qualidade da pega. De qualquer forma ambas as versões levam em consideração os fatores biomecânicos, fisiológicos e psicofísicos (VIEIRA, 2011). O critério biomecânico considera o limite de estresse na região lombo-sacra, para cargas que exigem esforço, porém não são frequentes. A instituição chegou a considerar 3,4 kN como força limite para o risco de aparecimento de lombalgia (VIEIRA, 2011). O critério fisiológico aplica-se a movimentos repetitivos que podem causar fadiga. Tarefas com levantamentos repetitivos podem exceder as capacidades normais de energia do trabalhador, diminuindo sua resistência e aumentando a probabilidade de lesão do trabalhador. Alguns dos limites da capacidade aeróbica máxima para cálculo do gasto energético levam em consideração que para levantamentos repetitivos, 9,5 Kcal/min é o máximo que o trabalhador deve gastar no levantamento. Quando for necessário erguer os braços acima de 75 cm, não ultrapassará 70% da capacidade aeróbica máxima. As tarefas de duração de uma hora, de uma a duas horas e de duas a oito horas, não podem superar a capacidade aeróbica de 50%, 40% e 30%, respectivamente (VIEIRA, 2011). O critério psicofísico baseia-se no limite de peso aceitável para uma pessoa trabalhando em condições determinadas, e pode ser aplicável a todo tipo de tarefa. Integra os critérios biomecânicos e fisiológicos, mas tende a estimular demasiadamente o trabalhador a tarefas repetitivas e prolongadas (VIEIRA, 2011). Esses critérios deram origem à equação de NIOSH, revisada em 1994. Segundo essa revisão o levantamento de cargas determina o limite de peso recomendado a partir dos sete fatores citados a seguir, no Quadro 2. Sendo assim, o índice de risco associado ao levantamento, o quociente entre o peso da carga levantada e o limite de peso recomendado para condições concretas de levantamento não devem ultrapassar 1 (um). Quando ultrapassa significa que a carga levantada tem massa superior ao limite de peso recomendado, ou seja está acima do limite (VIEIRA, 2011). Quadro 2 - Equação de NIOSH revisada (1994) Fonte: Vieira (2011) EQUAÇÃO DE NIOSH REVISADA (1994) LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM LPR: limite de peso recomendado LC = constante de carga HM: fator de distância horizontal VM: fator de altura DM: fator de deslocamento vertical AM: fator de assimetria FM: fator de frequência CM: fator de pega A constante de carga LC, do inglês load constant, é o limite de peso recomendado dentro dos parâmetros de conforto, no que diz respeito à postura simétrica e sem torções do dorso, com um levantamento de carga a menos de 25 cm de distância do corpo, foi estabelecida segundo os critérios citados acima no valor de 23 kg. Através desse valor foram verificadas melhorias na condição de lombalgias em 70% do público feminino e até 90% do masculino (VIEIRA, 2011). Figura 5: À esquerda método squat lifting, e a direita método stoop lifting Fonte: Master Garden (2012) Entre os métodos para levantamento de carga mais comumente utilizados estão o stoop lifting e o squat lifting como mostra a Figura 5. O stoop lifting, método com a coluna fletida, o qual corresponde ao abaixamento, é o que apresenta menor gasto energético, muito utilizado por pessoas que não são treinadas para o levantamento de peso. O método squat lifting, que significa agachamento em inglês, reduz a sobrecarga na espinha dorsal. É o mais indicado para proteção da coluna, porém exige bastante dos músculos dos membros inferiores, aumentando a ação de forças compressivas nas articulações dos joelhos. Para evitar essa ação é recomendado colocar alças nos objetos, ou erguê-los a partir de um tablado (VIEIRA, 2011). 2.3.2 Trabalho em Pé É na vertical que o corpo humano encontra seu melhor ponto de equilíbrio. Porém existe um baixo nível de tensão dos músculos em geral (APOSTILA DE ERGONOMIA, 2012). Segundo Másculo et al., 2011, o ser humano não fica em pé, e sim se esforça para manter o equilíbrio. A posição prolongada imóvel em pé dificulta a circulação do sangue nas pernas, aumentando a pressão hidrostática nas veias, diferentemente de quando o trabalhador está andando, quando as pernas funcionam como um mecanismo de bombeamento do sangue (MÁSCULO ET AL., 2011). A posição parado em pé pode provocar inconveniências como: fadiga dos músculos da panturrilha, dores nos pés, inchaços e até mesmo o aparecimento de varizes, além de provocar problemas nas costas, pés e pernas, e agravar os problemas de coluna já existentes (APOSTILA DE ERGONOMIA, 2012) Segundo a Nota Técnica nº 060/2001 do Ministério do Trabalho e do Emprego, o trabalho em pé só pode ser justificado nas seguintes circunstâncias: a tarefa exige deslocamentos contínuos, como no caso de carteiros e pessoas que fazem rondas; a tarefa exige manipulação de cargas com peso igual ou superior a 4,5 kg; a tarefa exige frequentes alcances amplos, para cima, para frente ou para baixo; no entanto, deve-se tentar reduzir a amplitude destes alcances para que se possa trabalhar sentado; a tarefa exige operações frequüentes em vários locais de trabalho, fisicamente separados; a tarefa exige a aplicação de forças para baixo, como em empacotamento. (Nota Técnica nº 060/2001) Toda e qualquer situação diferente das citadas acima é considerada desconforme e passível de fiscalização (MÁSCULO ET AL., 2011). A NR-17 também deixa claro que sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição (NR-17, 2012). Uma curiosidade é abordada pela revista Super Interessante sobre como o trabalho muda o corpo, no que diz respeito ao professor, que em média trabalha oito horas por dia, e na maior parte do tempo em pé. Segundo a revista, o sangue que circula na parte de baixo do organismo tem dificuldade de correr para cima, devido à gravidade. O que acaba acontecendo é que o sangue vai ficando nas pernas e nos pés, o que provocam o aumento das veias para aguentar o maior volume de sangue, as quais vão ficando tortuosas. Segundo a reportagem, além da deformação da pele pelas varizes, quando as veias dos pés já estão dilatadas e o sangue fica estagnado lá, até o pé cresce (SUPER INTERESSANTE, 2012). 2.3.3 Trabalho Sentado e Antropometria O trabalho sentado traz conforto, evitando posições forçadas no corpo, reduz o consumo de energia, traz alívio para as pernas, e consequentemente fornece a melhor circulação do sangue pelos membros. Porém também existem desvantagens para esse tipo de trabalho, como a flacidez dos músculos da barriga, além da provável cifose, além de poder causar danos aos membros e à coluna lombar (MÁSCULO ET AL., 2011). A pressão nas nádegas e nas coxas reduz a circulação local, o que pode provocar formigamento e dormência, além de dor, inchaço etc. Para diminuir esses problemas é necessário utilizar cadeiras adequadas para o tamanho do trabalhador (MÁSCULO ET AL., 2011). É aí que entra a antropometria, que é o estudo das medidas humanas, que são importantes para que sejam determinadas as posturas ideais para cada posto. Sendo assim, o grande problema da antropometria é que cada indivíduo tem suas próprias dimensões, o que significa que a altura boa para uma pessoa, não é a ideal para todas as outras pessoas (APOSTILA DE ERGONOMIA, 2012) Segundo Másculo et al. (2011), se o assento for muito alto, toda a coxa estará fortemente apoiada sobre o assento, inclusive a parte próxima ao joelho, enquanto os pés ficarão em balanço total ou parcial. Isso pode diminuir a circulação sanguínea, por espremer os vasos sanguíneos e nervos que estão presentes na região. Já quando o assento é baixo demais os autores afirmam que uma grande parte do peso do corpo estará apoiada sobre uma região muito restrita das nádegas, causando dor no local. Com a diminuição do ângulo do joelho, o mesmo problema da circulação da cadeira muito alta também se verifica (MÁSCULO ET AL., 2011). Outro problema está relacionado ao posicionamento das costas nas cadeiras. A hérnia de disco pode ocorrer não apenas em trabalhos pesados, mas também em trabalhos leves na posição sentada. Isso se dá pelo enfraquecimento da parede do disco, consequência da postura forçada. Para amenizar esses impactos um assento na cadeira ideal seria aquele que fosse móvel e ajustável à altura do individuo, podendo assim acompanhar o movimento do corpo. Esse instrumento suporta parte do corpo, diminuindo a pressão sobre a coluna. Um apoio para a parte inferior da coluna também é bem vindo quando mantém a curvatura a mais natural possível. Outra sugestão seria um apoio para a cabeça, que ajuda a manter o pescoço em uma posição mais confortável. Pausas também podem evitar a fadiga na região da coluna cervical (MÁSCULO ET AL., 2011). O campo visual do ser humano alcança uma faixa de 30º, sendo dividido em dois campos: 15º para cima e 15º para baixo. Recomenda-se que quando esteja inclinado para frente o pescoço atinja no máximo entre 20º e 30º, e quando em trabalhos prolongados, essa faixa não deve ultrapassar 15º. Com relação aos membros superiores, segundo Másculo et al. (2011), para prevenir possíveis problemas para os ombros, a mesa e o assento devem ser ajustados de forma a permitir que os ombros permaneçam relaxados, os cotovelos estejam abaixados e próximos ao corpo (até 15º com braço em ângulos de 85º a 110º). A Figura 6 mostra a posição ideal para o pescoço com um ângulo de 20º e na parte direita a posição errada, nesse caso com 50º de inclinação. Figura 6: Posição do pescoço: ideal à esquerda e errada à direita Fonte: Elementu Vitalle (2012) Segundo a NR-17 (2012): “17.3.3 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto: a) altura ajustável à estrutura do trabalhador e à natureza da função exercida; b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; c) borda frontal arredondada; d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar”. 2.4 Doenças ocupacionais de origem biomecânica As duas doenças ocupacionais de origem biomecânica encontradas com maior frequência têm sido as lombalgias e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho, conhecidos pela sigla DORT. Essas doenças são comumente conhecidas como lesões, que são anormalidades nos tecidos. Existem dois tipos de lesões: as agudas e as cumulativas (MÁSCULO ET AL., 2011). A lesão aguda está associada a esforços que excedem o limite de tolerância na estrutura musculoesquelética, e normalmente aparecem após esforços de grande intensidade. Por outro lado, a lesão cumulativa relaciona-se com a repetição de tarefas, e a constante aplicação de força sobre uma estrutura específica. Isso leva ao desgaste da estrutura, e a redução da tolerância do ponto onde é ultrapassado seu limite. Esse tipo de lesão representa maior desgaste de estrutura e tem se tornado bastante comum em postos de trabalho com tarefas repetitivas (MÁSCULO ET AL., 2011). Lombalgia é a dor na região da coluna lombar. É um sintoma e não uma doença, sendo que 90% da população apresentaram ou vão apresentar pelo menos um episódio de dor durante a vida. Não difere por gênero, porém com o passar dos anos as mulheres começam a sentir mais o sintoma devido à menopausa e como consequência da osteoporose. A lombalgia é a segunda causa de procura médica causada por doenças crônicas, superando o câncer, o acidente vascular cerebral e até mesmo a AIDS. Nos países desenvolvidos é a principal incapacidade em trabalhadores com idade inferior a 45 anos (MÁSCULO ET AL., 2011). Os autores ainda comentam que “... trata-se de um problema médico e econômico por seus elevados custos sociais, assistência médica, falta no trabalho, diminuição da produtividade e do número de tarefas cotidianas, substituição de suas atividades por terceiros e afastamento do trabalho, temporário ou definitivo”. As DORT, conhecidas no passado como Lesões por Esforços Repetitivos (LER), são lesões cumulativas de esforço excessivo e inadequado em ossos, nervos, tendões e músculos. São comuns em membros superiores, como mãos, punhos, braços, antebraços, ombros e coluna cervical. Encontram-se entre as recomendações para a redução de impactos das DORT a diminuição da pressão em trabalhos, seja de ordem física ou psicológica, a redução da repetição de tarefas e o estabelecimento de pausas. Também podem ser promovidos ajustes no posto de trabalho no que diz respeito aos móveis, que permitam uma postura mais saudável e confortável, obedecendo às formas antropométricas do trabalhador, dentro das tarefas abordadas (MÁSCULO ET AL., 2011). 2.5 O Professor na Educação Infantil – O que o professor deve fazer A educação infantil deve ser realizada de forma em que a criança, depois de crescida, lembre-se com saudade dessa importante fase de seu passado. Fazem parte da educação infantil a fantasia, a intuição, a imaginação e a brincadeira. O lúdico então faz parte importante do trabalho realizado na educação de crianças, quando cada brincadeira deve possuir objetivos específicos em uma área de conhecido (ANPED, 2012). Dessa forma, “... o papel do professor muda radicalmente, pois o coloca além do centro do processo, como aquele que ensina enquanto as crianças aprendem passivamente; e além da postura de aguardar que as crianças digam o que, como e quando querem aprender. (...) O professor torna-se o agente mediador do processo de ensino-aprendizagem, propondo desafios às crianças a orientando-as a resolvê-los (ABPP, 2012). Das diversas formas de ensinar, o meio é parte importante do desenvolvimento das crianças, pois a sala de aula torna-se o espaço mais utilizado, no qual as crianças passam a maior parte de seu tempo em atividade, inclusive lá realizando o seu lanche (ANPED, 2012). As salas de aula na educação infantil são idealizadas para as crianças, e o professor deve adaptar-se à mesma. Segundo ANPED (2012) não se deve fazer da Educação Infantil uma dura canção, repetitiva, mecânica, rígida. Sendo assim, o professor tem autonomia para preparar suas aulas da maneira que lhe parece mais interessante e eficiente no aprendizado. O educador deve observar o desenvolvimento das crianças, o que gostam de fazer, o que as chama mais a atenção, o espaço no qual preferem ficar, e até mesmo os momentos do dia em que ficam mais agitados ou mais tranquilos. O dia a dia deve ser surpreendente e estimulante (ANPED, 2012). O professor deve transmitir os seus conhecimentos como transmissor e monopolizador do espaço, do tempo, das interações e das atividades da sala de aula. Isso sem ignorar o bem estar das crianças, pois é importante lembrar que as crianças necessitam de horários flexíveis. Esses devem atender às necessidades básicas de atividades desenvolvimento. variadas que potencializem sua aprendizagem e 3. ESTUDO DE CASO Esse estudo de caso foi realizado em uma escola particular de educação infantil, em uma cidade de cerca de trinta mil habitantes no interior do estado do Paraná. Foi analisado o trabalho de dois professores regentes dos cursos de Nível IV, com alunos de três a quatro anos, com quatorze alunos matriculados, e Nível V, com alunos de quatro a cinco anos, com vinte alunos matriculados. A escola funciona no período vespertino, das treze às dezessete horas, de segunda a sextafeira, somando um total de 200 dias letivos por ano. Cada professor faz uso de sua sala de aula, da brinquedoteca, e do playground que as duas salas compartilham, como mostra a Figura 7. Figura 7: A – Sala de aula nível IV; B – Sala de aula nível V; C – Brinquedoteca; e D – Playground Fonte: A autora (2012) Não foi observado um ciclo específico, pois dentro da educação infantil não devem ser seguidas rotinas rígidas, como abordado anteriormente. Cada professor tem autonomia para trabalhar da forma que achar mais conveniente, utilizando qualquer dos espaços citados e mostrados anteriormente. Ambas respondem diretamente à pedagoga e à diretora responsável pela escola. 3.1 Aspectos Significativos Entre os aspectos significativos serão analisados o levantamento de cargas seguindo o conceito de NIOSH, o trabalho em pé, que deve ser evitado, o trabalho sentado obedecendo aos conceitos apresentados na NR-17 e a antropometria. Também será abordada a fadiga, no que diz respeito à fisiologia do trabalho. 3.1.1 Análise do Levantamento de Cargas A carga em questão foi considerada como sendo cada criança, pois na educação infantil as professoras seguram seus alunos no colo em diversas situações. Nesse sentido seguem os dados coletados com uma balança digital, com capacidade para 150 kg, e graduação de 100 g, na Tabela 1, para os alunos do Nível IV, e na Tabela 4, para os alunos do Nível V: Tabela 1 – Massa em quilograma dos alunos do Nível IV Nível IV – Massa dos alunos (kg) 14,4 16,0 18,0 18,2 18,6 14,4 17,0 17,2 18,9 19,0 18,7 20,2 20,4 19,0 É observado na Tabela 2 que todos os alunos estão abaixo dos 23 kg, ou seja, estão dentro do padrão da equação de NIOSH, sendo desnecessário encontrar sua média aritmética. Tabela 2 – Massa em quilograma dos alunos do Nível V Nível V – Massa dos alunos (kg) 17,9 16,4 18,4 19,7 20 19,4 21,2 18,4 21,1 22,5 22,6 18,8 22,0 17,8 21,2 21,0 24,8 22,5 24,5 23,0 Com relação aos alunos do Nível V, a média aritmética da massa corporal dos alunos matriculados é de: Ou seja, a massa média dos alunos no Nível V está de acordo com os padrões estabelecidos pela NIOSH de massa máxima igual a 23,0 kg. Porém podese observar na Tabela 4 que existem três valores iguais ou superiores aos recomendados pela instituição; são eles: 23,0 kg; 24,5 kg; e 24,8 kg. De qualquer maneira, esse valor está em conformidade com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A postura na qual as professoras seguram as crianças no colo não é ideal. Elas utilizam o método stoop lifting, que utiliza os músculos das costas e coloca uma sobrecarga na coluna. Isso pode ser observado na Figura 8, na qual à esquerda é apresentada a professora do nível IV e à direita a professora do nível V, no momento em que elas se abaixam para segurar a criança no colo. Figura 8: Método stoop lifting: à esquerda, professora do nível IV, e à direita professora do nível V Fonte: A autora (2012) 3.1.2 Análise do Trabalho em Pé Também foi observado que em um dia comum as professoras passam a maior parte de seu tempo em pé. Isso inclui distribuir atividades, andar pela sala de aula, verificar se está tudo em ordem no playground e na brinquedoteca etc., o que toma cerca de 80% da carga horária, o que significa mais de três horas. Essa posição, como mencionado anteriormente, dificulta a circulação do sangue nas pernas. A Figura 9 mostra a situação na qual a professora do nível IV segura na posição em pé uma criança de mais ou menos 18 kg. Além da coluna estar suportando o peso do próprio corpo, existe uma carga de aproximadamente 18 kg sobre a estrutura da coluna vertebral. Figura 9: Professora segurando carga de 18 kg em pé Fonte: A autora (2012) 3.1.3 Análise do Trabalho Sentado e Antropometria O trabalho sentado é o recomendado pela NR-17. Como mencionado anteriormente, o trabalho do professor é realizado na maior parte de seu tempo em pé. É por isso que é extremamente importante que, quando sentado, o professor possa estar em uma posição confortável, de postura ideal. Na educação infantil, o professor tem sua própria cadeira, mas em vários momentos, utiliza a cadeira das crianças, que é significativamente menor do que uma cadeira para adultos. Dessa forma os joelhos ficam em um ângulo de aproximadamente 75º, o que aumenta a pressão sobre as nádegas. A cadeira também tem um encosto menor para as costas, o que não dá suporte para a coluna. Já na cadeira para adultos, os joelhos de ambas as professoras ficam na posição correta e os pés alcançam o chão. Existe também apoio para as costas. As Figuras 10 e 11 mostram as posições sentadas mais comuns das professoras, dos níveis IV e V respectivamente. À esquerda, na posição antropometricamente errada, e à direita, mais próximo do que é considerado como ideal. Figura 10: Posições mais comuns – Professora Nível IV Fonte: A autora (2012) Figura 11: Posições mais comuns – Professora Nível V Fonte: A autora (2012) O mesmo acontece no playground, onde muitas vezes as professoras sentam nos brinquedos com as crianças, como por exemplo em balanças, em vez de sentar-se no banco próprio. Isso é ilustrado na Figura 12: à esquerda onde as professoras sentam, e à direita onde elas deveriam se sentar. Figura 12: Trabalho sentado no playground. – Professora Nível IV Fonte: A autora (2012) 3.1.4 Condições do trabalho Para verificar as condições de trabalho foi distribuído um questionário em forma de texto, apresentado no Anexo A, nas escolas municipais e também na escola particular da cidade para que todos os professores de educação infantil de todo o município tivessem a oportunidade de responder. Vinte três professores contribuíram para o trabalho, atingindo o total de 100% da população de professores do município. A idade dos professores varia entre vinte e um a cinquenta e um anos, e as escolaridades também têm grande variabilidade, desde a formação em Magistério até Especialista em Educação Infantil. O tempo de exercício da função também é bem variado, desde professores com dois anos de experiência até a professores que estão próximos da aposentadoria, com 25 anos. Os professores trabalham do Nível I, que são crianças no berçário, até Nível V, de crianças que completam cinco anos durante o ano, ou seja, até o dia 31 de dezembro. Os níveis com maior número de professores foram o Nível IV e V, referente a mais que 60% da população, como pode ser observado na Figura 13. Figura 13: Professores na Distribuição entre Níveis Fonte: A autora (2012) Quando perguntados sobre o que era bom no trabalho, os professores também tiveram liberdade para desenvolver suas ideias. Algumas das mais interessantes foram: bom relacionamento organizacional (citado 15 vezes); horário flexível (citado 2 vezes); fácil acesso (citado 1 vez); realização profissional (citada 20 vezes); aprendizado dos alunos (citado 12 vezes); e segurança (citada 1 vez). A mesma liberdade foi dada para o desenvolvimento de ideias quando perguntados sobre o que era ruim no trabalho, na qual as mais diversas respostas foram dadas: salas de aula muito cheias (citadas 2 vezes); falta de estrutura (citada 3 vezes); cobranças frequentes da direção e equipe pedagógica (citadas 18 vezes); choro (mencionado sempre no período de adaptação) (citado 2 vezes); problemas de aprendizagem dos alunos (citados 5 vezes); o comprometimento com o trabalho, que acaba deixando pouco tempo para o lazer (citado 2 vezes); a limitação das metodologias pedagógicas para a realidade da maioria dos alunos (citada 10 vezes); leis que limitam o trabalho do professor (citadas 1 vez); e baixa remuneração (citada 1 vez). Algumas declarações merecem ser ressaltadas. Um professor comentou sobre o sistema educacional, no qual os alunos têm direitos explícitos e seus deveres negligenciados. Outra professora declarou que a escola hoje assume, ou se obriga a assumir, funções familiares, até mesmo de carinho, em vista que são filhos de pais que trabalham muitas horas. Quando perguntados se sentem dores, onde, e com que frequência, também houve grande discrepância nas respostas. As respostas foram agrupadas independentemente da idade dos professores e há quanto tempo realizam a função. Dos vinte e três entrevistados, vinte e um responderam sentir dores nos mais diversos lugares, e com variadas frequências. Isso corresponde a 91% dos entrevistados. Algumas vezes os professores declararam sentir dores em mais de um lugar, como pode ser observado na Figura 14. Figura 14: Dores Mencionadas pelos Professores Fonte: A autora (2012) A mais citada das dores entre os professores é a dor nas costas. Doze dos professores entrevistados mencionaram ter dor nas costas, seguidos por oito professores que afirmaram ter dores de cabeça. As dores musculares separadamente ficaram em terceiro lugar, primeiramente nas pernas, com 6 professores, nos braços, com 5 professores e nos ombros, com 4 professores. Porém quando somadas, as dores musculares foram mencionadas por 15 dos entrevistados, totalizando 43% das queixas. A Figura 15 ilustra essa situação. Figura 15: Porcentagem de Queixa de Dores pelos Professores Fonte: a autora (2012) A última questão do questionário era se o trabalhador sentia-se estressado com o trabalho, e o motivo disso. Negaram sentir estresse sete dos professores entrevistados, sempre justificando que gostam daquilo que fazem. Os outros 16, que correspondem a quase 70% dos entrevistados disseram sentir estresse por uma variedade de razões. Entre as razões encontram-se: choro dos alunos (citado 2 vezes); problemas pessoais (citados 1 vez); cansaço (citado 19 vezes); cobranças frequentes da direção e da equipe pedagógica (citadas 15 vezes); envolvimento com problemas dos alunos (citado 2 vezes); falta de integração dos pais (citada 1 vez); e por se sentirem insignificantes (baixa autoestima) (citada 1 vez). Também quando questionados em relação ao estresse, algumas declarações ou desabafos merecem ser comentadas: Como a do professor que disse: “Há dificuldade de diálogo com pais, que não assumem a responsabilidade de educar e cuidar integralmente de seus filhos.” Outro se justifica demonstrando mínima autoestima: “Por mais que nos esforcemos, esse trabalho se torna insignificante perante a sociedade.” Outro ainda sente-se refém do sistema educacional: “Na maioria das vezes não temos autoridade para chamar a atenção de um aluno, com péssimo comportamento, e na escola não há uma atitude que o limite, que o faça respeitar o ambiente escolar, ficando tudo muito solto e à vontade. Isso reflete na convivência em sala de aula, e como somos seres humanos tudo tem um limite, e o psicológico não aguenta.” No total, 68% dos entrevistados se sentem estressados na frequência que varia entre às vezes, muitas vezes e sempre. Por outro lado, 32% dos entrevistados dizem não se sentirem estressados com o trabalho, como mostra a Figura 16. Figura 16: Porcentagem de Frequência de Estresse entre Professores fonte: A autora (2012) Dos entrevistados que disseram ter dores de cabeça, somando oito professores, apenas cinco disseram se sentirem estressados com o trabalho. Algo curioso, sendo que nenhum dos entrevistados apontou o barulho como algo ruim no trabalho, ou fonte de estresse. Segundo Jack Barchas, neuroquímico da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, dores de cabeças estão relacionadas ao estresse. (UNESP - 2012) 3.2 Aspectos Não Significativos Não foram considerados nesse trabalho os aspectos térmico, luminoso, sonoro ou cognitivo das situações de trabalho. Segundo Saliba e Corrêa (2011), o índice de temperatura efetiva não deve ultrapassar o valor de 28ºC. Porém esse valor não analisa a sobrecarga térmica, como fatores de tempo de exposição, calor radiante e o que diz respeito à atividade do trabalhador. Além do mais, a Norma Regulamentadora (NR-15), sobre questões de higiene do trabalho, não considera as variações climáticas regionais. Nem tampouco as vestimentas, a idade, a cor da pele, a obesidade etc. Dessa forma, considera-se somente o calor artificial para fins que possam caracterizar insalubridade, o que não é o caso de uma sala de aula em temperatura ambiente. (SALIBA E CORRÊA, 2011). Segundo a NR-17 (2012), no item 5.2-b, é considerada índice de temperatura efetiva entre 20ºC e 23ºC. Para manter essa faixa de temperatura é indicado em dias quentes que ventiladores sejam ligados, além da abertura de janelas e portas para a circulação do ar. Nos dias frios, roupas adequadas devem ser utilizadas. Com relação à luminosidade, a NR-17 cita em seu item 5.3: “Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade”. Segundo a NBR 5413, item 5.3.13, para escolas a luminosidade das salas de aula deve ser 200 – 300 – 500 lux. (NBR 5413). Apesar de não ter sido medido esse fator para ser comparada à Norma, foi considerada uma luminosidade adequada, pois existe luminosidade natural advinda das janelas, já que o período de trabalho é à tarde, e também artificial para dias nublados. Além da importância do campo visual durante a realização do trabalho é relativamente baixa. (NR-17, 2012). Segundo Saliba e Corrêa (2011) apud Anexo Nº1 – Limites de Tolerâncias para Ruído Contínuo ou Intermitente, se um empregador trabalhar sem protetor auricular, em local com ruído de 90 dB(A), a insalubridade será caracterizada quando o tempo de exposição diário for superior a 4 horas. Levando em consideração que em uma conversa normal a intensidade oscila entre 60 e 75 dB, quando alta, o ambiente sonoro não causa danos à audição dos trabalhadores (AUDIÇÃO, 2012). E por fim, o ambiente cognitivo, que foi completamente ignorado no trabalho em questão, pois foge do objetivo da problemática que se propôs analisar. Segundo Másculo et al., 2001, “A ergonomia cognitiva também enfoca o ajuste entre habilidades e limitações humanas às maquinas, às tarefas, ao ambiente, mas também observa o uso de certas faculdades mentais, aquelas que nos permitem operar, ou seja, relacionar e tomar decisões no trabalho (MÁSCULO ET AL., 2001). 3.2 Sugestões para Melhorias Para melhorias em ergonomia e segurança podem ser sugeridas várias pequenas coisas que podem fazer a diferença para os professores, tornando o ambiente de trabalho mais confortável e agradável. Dentro das salas de aula é recomendada a troca das cadeiras das professoras por um modelo mais confortável e ergonomicamente correto, de preferência estofada. A cadeira de madeira não favorece a postura ideal para a coluna, por ter o apoio para as costas em 90º com relação ao apoio para se sentar, além de ser de material duro e pouco confortável para as nádegas. O apoio para as costas também deve ser mais longo, podendo também dar apoio ao pescoço, quando necessário. Com a troca de cadeiras, as mesas das professoras devem ser inspecionadas para que o conjunto forneça conforto ao professor. Caso isso não ocorra, as mesas também devem ser substituídas. Seguindo as recomendações da NR-17, item 17.3.3, já citado neste trabalho. Na brinquedoteca não existe mesa especifica para o professor, talvez por se considerar que o professor fica em pé o tempo todo, ou senta-se no chão, ou nas cadeiras que são antropometricamente incorretas para um adulto. A sugestão então seria inserir um móvel adequado para que o professor pudesse se sentar quando sentisse a necessidade. Uma poltrona ou uma cadeira estofada poderia ser a solução. No playground, os professores devem evitar sentar nos balanços, e utilizar o banco, que pode ser visto à direita da Figura 12. A própria existência do banco perde o sentido quando este não é utilizado. Para melhorar o conforto, é sugerido forrar o banco com colchonetes que podem ser manuseados facilmente e não precisam ficar o tempo todo no playground, expostos a condições climáticas, e sim guardados em local adequado e de fácil acesso. Outra sugestão para o playground diz respeito à segurança. A troca da areia por um piso emborrachado pode evitar quedas de mesmo nível, além de proporcionar mais conforto e ser mais higiênico, evitando o acumulo de fungos e bactérias, além de manter o ambiente mais limpo. É também necessário um treinamento adequado que ensine o método correto para levantamento de cargas. As professoras utilizam o método stoop lifting, quando deveriam estar utilizando o método squat lifting. Essa simples mudança pode diminuir significativamente a ocorrência de dores nas costas. Além da proposta de ginástica laboral para contribuir para a melhoria das condições de saúde. Outra sugestão é realizar reuniões que tenham o objetivo de valorizar o professor. Essas podem ser formais, dentro da escola, como também fazer uso de jantares, palestras etc. Um trabalhador motivado desenvolve um melhor trabalho. As cobranças da diretoria e da equipe pedagógica devem ser feitas de formas mais descontraídas, para que deixem de parecer cobranças, e passem a ser vistas como ocorrência comum, ou necessidade do trabalho em equipe. Para cada professora regente existe um professor auxiliar, ou assistente. Nesse caso as pausas podem ser consideradas uma possibilidade para evitar o estresse. Além disso, as professoras têm algumas pausas mais longas por semana, chamadas de hora atividade, durante as quais os alunos saem das salas de aula para participarem de diversas atividades, como educação física, aula de pintura etc. Essas pausas também podem ser aproveitadas para combater a fadiga. 4. CONCLUSÃO Esse trabalho avaliou alguns aspectos ergonômicos do trabalho do professor fazendo o estudo de caso baseado na educação infantil de uma escola particular de uma cidade no interior do estado do Paraná. Fizeram parte dessa avaliação a biomecânica e a fisiologia do trabalho, além de ser baseada em termos legais, como a norma regulamentadora de Ergonomia, NR-17, e a Consolidação das Leis do Trabalho. Foi observado que com relação ao levantamento de carga os investigados estão dentro dos padrões estabelecidos pela equação de NIOSH, contudo a postura utilizada pelas professoras para segurar as crianças no colo não é a ideal, pois elas utilizam o método “stoop lifting”. No que diz respeito ao trabalho sentado, observouse que as cadeiras e bancos não estão adequados ao trabalho dos professores, sendo sugerida a troca destes. Esse trabalho também contém informações especificas da escola, através de fotos e dados. Um questionário foi distribuído a todos os professores de educação infantil do município, e analisado nesse trabalho. Foi observado que as dores nas costas, seguidas pelas dores de cabeça, são razão de maior desconforto entre os professores. O bom relacionamento e o aprendizado dos alunos foram citados como coisas boas no trabalho, e a cobrança frequente e a limitação metodológica como coisas ruins. Finalmente conclui-se que cerca de 70% dos entrevistados sentem-se estressados por cobranças da equipe pedagógica e da direção, além do cansaço. Sugestões foram feitas com a intenção de melhorar a qualidade do ambiente de trabalho. REFERÊNCIAS ABPP - A importância das interações sociais na educação infantil: um caminho para compreender o processo de aprendizagem. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/abppprnorte/pdf/a15silva03.pdf> Acessado em: 01 de maio de 2012. ANPED – Um tempo vivido, uma prática exercida, uma história construída: o sentido do cuidar e do educar. Disponível em: <http://www.anped.org.br/ reunioes/30ra/trabalhos/GT07-3333--Int.pdf> Acessado em: 01 de maio de 2012. Apostila de Ergonomia. Disponível em: <http://www.ergonomianotrabalho.com.br/ artigos/Apostila_de_Ergonomia_2.pdf> Acessado em: 27 de abril de 2012. Audição. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vyaestelar/audicao_surdez.htm> Acessado em: 01 de maio de 2012. Biomecânica. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd113/a-biomecanica-ea-educacao-fisica.htm> Acessado em 15 de abril de 2012. CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.cpact.embrapa.br/ cipa/pdf/clt.pdf> Acessado em 28 de abril de 2012. Elementu Vitalle. Disponível em: <http://www.elementuvitalle.com.br/ artigos_itens.html> Acessado em: 01 de maio de 2012. FOCCA – Estudo de caso. Disponível em: < http://www.focca.com.br/cac/textocac/Estudo_Caso.htm> Acessado em: 9 de junho de 2012. MÁSCULO, Francisco Soares; VIDAL, Mario Cesar (org.). Ergonomia: Trabalho Adequado e Eficiente. 1º edição. Rio de Janeiro: Elsevier/ABEPRO, 2011. 648 p. Master Garden. Disponível em: <http://www.mastergardenproducts.com/ gardenerscorner/ knee5.jpg> Acessado em: 28 de abril de 2012. MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO. Nota Técnica nº 060/2001. Brasília, 2001. 9 p. NBR 5413. Disponível em: <http://www.labcon.ufsc.br/anexos/13.pdf> Acessado em: 9 de junho de 2012. NR-17 – Norma Regulamentadora – Ergonomia. Disponível em: < http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BE914E6012BEFBAD7064803/nr_17.pd f > Acessado em 28 de abril de 2012. SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Insalubridade e Periculosidade – Aspectos Técnicos e Práticos. 10º edição. São Paulo: LTr, 2011. 284 p. Sistema de alavancas. Disponível em: <http://diegoaguiar22.wordpress.com/ 2011/09/28/sistemas-de-alavancas-do-corpo-humano/> Acessado em: 28 de abril de 2012. Super Interessante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/saude/como-trabalhomuda-seu-corpo-656185.shtml> Acessado em: 06 de maio de 2012. UNESP – Sintomas do Estresse. Disponível http://www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/alegria/estresse/sintomas.htm> em: 9 de junho de 2012. em: < Acessado VIEIRA, Hélio Henrique Monteiro; TAYAMA, Mauri; MUNHOS, Paulo Sergio Faria. Análise ergonômica da atividade de triagem manual de cartas nos correios: um estudo de caso. 2005, 79. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2005 VIEIRA, Jair Lot. Manual de Ergonomia. 2º edição. São Paulo: Edipro, 2011. 110 p. ANEXO A UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO QUESTIONÁRIO Professor Nível: ____________Escolaridade:_______________________________ Idade: ______________________Data de nascimento:______/______/__________ Há quanto tempo realiza essa atividade? __________________________________ Trabalha quantas horas por dia?_________________________________________ O que é bom no trabalho para você? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ O que é ruim no trabalho para você? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Você sente dores? Onde? Com que frequência? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Você se sente estressado com o trabalho? Por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________