Gullane Entretenimento e Janela do Mundo apresentam
Aqui Deste Lugar
Documentário | Cor
Lançamento 8 de outubro de 2015
Roteiro e Direção de Sérgio Machado e Fernando Coimbra
Produção de Caio Gullane, Fabiano Gullane e Debora Ivanov
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Apresentação
Foram dois anos de viagens pelo Brasil, quase mil entrevistados, todos
beneficiários do Programa Bolsa Família. Os diretores e roteiristas Sérgio
Machado (“Cidade Baixa”) e Fernando Coimbra (“O Lobo Atrás da Porta”) nos
guiam pela história do Brasil recente, tendo como protagonistas brasileiros que
pouco frequentam o nosso cinema. Os Barcelos de Rio Grande, no Rio Grande
do Sul; os Coresma, de Tauá, no Ceará; e os Souza Leal, de São Paulo, capital,
são mostrados de forma crua, com o mínimo de intervenções por parte da
equipe de filmagem.
A ideia era desenhar um painel o mais preciso possível sobre como vivem os
milhões de brasileiros que recebem o Bolsa Família. Para isso foi feito um
intenso trabalho de pesquisa e análise de dados que serviu como ponto de
partida para a produção. O objetivo do documentário é levar o espectador para
dentro das casas, transformá-lo em cúmplice, para que partilhe dos dilemas e
conquistas de cada família em diferentes regiões do país. Mais uma produção, e
neste caso distribuição, da Gullane Entretenimento.
Sinopse
Nos últimos dez anos, milhões de famílias brasileiras cruzaram a linha da
pobreza extrema. Essa história é contada em “Aqui Deste Lugar” através de
três famílias, espalhadas pelo nosso país-continente, que compõem o retrato
da transformação do Brasil e da forma como ela afeta cada indivíduo. O
documentário mostra como as diferentes gerações assimilaram essa mudança e
como está a nova família que nasceu sem eletricidade e hoje passa o dia em
uma lan house.
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Elenco
Família de Rio Grande/RS
Charles Antonio dos Santos Barcellos
Daiane Ezequiel Machado
Selena Domingues Barcellos
Wellington Machado Serra
Romário Machado Barcellos
Tainara Machado Barcellos
Thais Machado Barcellos
Família de Cidade Tiradentes/SP
Ângela Maria Oliveira Souza
Juvenal Borges Leal
Kenedy de Souza Leal
Kátia de Souza Leal
Karen de Souza Leal
Keliane de Souza Leal
Família de Tauá/CE
Francisca Helena Coresma da Silva
Natália Coresma Mota
Antônio Doglianos Alexandre Moreira
Emanoel Genário Coresma dos Santos
Jonas Herberte Coresma dos Santos
Pedro Miguel Coresma Linhares
Erick Carlos Coresma do Nascimento
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Ficha Técnica
Sérgio Machado e Fernando Coimbra..................Roteiro e Direção
Rodrigo Carvalho e Pablo Hoffmann..............Direção de fotografia
Karen Akerman....................................................Montagem
Hélio Villela....................................Colaboração na montagem
Beto Villares....................................................Trilha sonora
Eric Ribeiro....................................Desenho de som e Mixagem
Eli Ramos e Marina Santos.........................................Pesquisa
Celso “Not Dead” Camargo,
Waltinho Magalhães,
Francisco Fill, Igor Cosso
e Bruno Monteiro.......................................Produção de campo
Jair Neto...............................................Direção de produção
Patrícia Nelly.................................Supervisão de pós-produção
Caio Gullane e Sônia Hamburger....................Produção executiva
Caio Gullane, Fabiano Gullane e Debora Ivanov...............Produção
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Entrevistas
Sérgio Machado, diretor
Sérgio Machado iniciou sua carreira no cinema como assistente de direção de
Walter Salles nos filmes “Central do Brasil”, “O Primeiro Dia” e “Abril
Despedaçado”, sendo que nesse último dividiu também a autoria do roteiro. Em
2001, estreou na direção com o documentário “Onde a Terra Acaba”, um
retrato do lendário cineasta Mário Peixoto. O filme foi eleito melhor
documentário no Festival do Rio, São Paulo, Havana, Biarritz, entre outros. Em
2005, estreou na direção de longa-metragem de ficção com “Cidade Baixa”,
recebendo inúmeros prêmios, entre eles o de Melhor Filme no Festival do Rio e
o Prêmio da Juventude no Festival de Cannes. Em 2008, com Karim Aïnouz,
realizou o roteiro e a direção da série de TV “Alice”, uma produção da Gullane
para a HBO e primeira série do canal a ser realizada em São Paulo. Em 2010,
lançou seu terceiro longa-metragem, “Quincas Berro D’água”, baseado na obra
de Jorge Amado e dirigiu junto com Karim Ainoüz dois episódios especiais da
série "Alice" para a HBO. Este ano lança também o longa-metragem de ficção
“Tudo que Aprendemos Juntos”, produção da Gullane protagonizada pelo ator
Lázaro Ramos, exibido recentemente no Festival de Locarno.
Você já viajou pelo interior do Nordeste em diferentes momentos da
história recente por conta dos filmes dos quais participou. O que você
encontrou nessas jornadas?
Entre 1995 e 1996, viajei durante meses por alguns dos lugares mais isolados do
país em busca de locações e elenco para “Central do Brasil”, de Walter Salles.
Nos testes de elenco – que em boa parte foram feitos com não atores – eu pedia
aos candidatos que ditassem uma carta que precisavam mandar para alguém.
Ouvi histórias de carência e abandono. Boa parte das mensagens era para
parentes que haviam deixado o Nordeste a procura de uma vida melhor.
Conheci uma cidade no interior da Paraíba onde não havia homens adultos,
todos haviam migrado para o Sul, atrás de emprego.
Repeti a mesma viagem em 2001, em busca de locações para “Abril
Despedaçado”. Precisávamos encontrar uma cidade parada no tempo, sem
energia elétrica ou qualquer sinal de modernidade. Muitas vezes tive a
impressão que estava num outro século. Em um lugarejo no Tocantins, convivi
com pessoas que não sabiam o que era uma televisão, não tinham ouvido falar
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em Pelé e nem tinham ideia de quem era o presidente da República.
Em 2012, agora como diretor, fiz uma viagem semelhante para encontrar
locações para um filme sobre o Padre Cícero. Por curiosidade e nostalgia,
repeti alguns trajetos e me deparei com uma realidade diferente. Em todas as
casas havia energia elétrica, antenas parabólicas passaram a compor a
paisagem, jumentos e cavalos foram substituídos por motocicletas.
Passando pela fronteira entre o Piauí e o Ceará - região apelidada pelos
próprios habitantes como “Piorá” - conheci seu Chico Honorato, um homem de
60 anos, que me disse: “Nunca pensei em ver uma história dessas, ninguém
pode imaginar, o senhor chega na casa, aperta um botão e a luz acende na
mesma hora...”. A partir daí passei a maturar a ideia de fazer um filme.
De onde nasceu a ideia do filme?
A ideia surgiu justamente nessa última viagem de locação para o nordeste. A
sensação que tive é a de que a desigualdade social no Brasil, sob todos os
aspectos, ainda é aviltante, mas que algo de importante estava acontecendo.
Crianças que antes trabalhavam, passaram a frequentar a escola, famílias que
foram obrigadas a migrar, estavam, aos poucos, voltando para casa. Achei que
era preciso documentar e tentar entender o efeito dessas mudanças na vida das
pessoas. Outra coisa que me motivou a enveredar por esse documentário foi a
leitura da matéria “O Liberal Contra a Miséria” na revista Piauí, em que o
economista Ricardo Paes de Barros demonstrava através de matemática e
estatísticas que é possível reduzir a pobreza e a desigualdade (no Brasil e no
mundo) com um gasto relativamente irrisório.
Um filme que também alimentou o desejo de realizar esse documentário foi
“Família Braz - Dois Tempos”, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes, que traça um
painel preciso das mudanças ocorridas numa mesma família da periferia de São
Paulo no curso de uma década.
Como foi o processo de seleção das famílias retratadas? Quantas vocês
entrevistaram?
Antes de iniciar as filmagens me pareceu essencial conhecer a situação de
maneira profunda, busquei ouvir diferentes pontos de vista e buscar o máximo
de isenção. Procurei a Gullane (produtora) com a ideia de fazer o
documentário e ressaltei a importância de um longo período de pesquisa.
Conjuntamente concluímos que o trabalho era tão grande que precisaríamos de
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um segundo diretor para dar conta da empreitada. Caio e Fabiano me falaram
de Fernando Coimbra, que estava finalizando “O Lobo Atrás da Porta”. Fiquei
muito impressionado com o domínio da narrativa e a direção segura de atores.
Conversamos bastante e nos demos conta de que Fernando tinha uma visão
próxima da minha e o mesmo desconforto com relação à desigualdade social.
Antes de irmos a campo contratamos pesquisadores nas diversas regiões do país
que fizeram entrevistas e fotografaram centenas de famílias e nos enviaram as
informações. Estudamos o material, cruzamos os dados e partimos, eu e
Fernando, em busca de compreender a realidade das famílias. A ideia era
desenhar um painel o mais preciso possível do que está acontecendo no Brasil.
Por que escolheram essas três famílias? O que elas têm que chamaram sua
atenção?
Nas últimas duas décadas, houve uma ascensão das classes mais desfavorecidas
no Brasil. Essa é a grande história, mas o que queríamos buscar eram as
histórias pequenas, que escapam das estatísticas. Aberto Cavalcanti escreveu
em 1948 uma lista de 14 recomendações para jovens realizadores. O primeiro
desses conselhos é: “Não trate de assuntos generalizados: você pode escrever
um artigo sobre os correios, mas deve fazer um filme sobre uma carta”.
O objetivo do documentário era levar o espectador para dentro das casas,
transformá-lo num cúmplice, para que ele partilhasse dos dilemas e conquistas
de cada família. Queríamos entender como as diferentes gerações assimilaram
essa transformação. As histórias narradas em “Aqui Deste Lugar” são simples e
partem do cotidiano: No Ceará uma menina, ajudada por sua mãe, sonha em
cantar numa banda de forró; no Rio Grande do Sul, uma adolescente enfrenta a
oposição do pai para namorar; na periferia de São Paulo uma doméstica batalha
diariamente para manter a família. Não são histórias excepcionais ou
edificantes. São relatos singelos, mas que representam de alguma forma os
avanços e as dificuldades das camadas mais pobres da população brasileira.
Foi intencional a seleção de famílias de diferentes situações sociais e em
diferentes regiões do país? Por quê?
Viajamos por todo país para conhecer a realidade de cada região e de posse
desses dados nos encontramos com especialistas técnicos para que nossa
escolha fosse o mais representativa possível.
Chegamos finalmente a cinco famílias: no Amazonas, no Piauí, no Ceará, em
São Paulo e no Rio Grande do Sul. A ideia é que a escolha obedecesse a dados
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estatísticos precisos e objetivos. Quando fomos para a ilha de edição e
chegamos a um primeiro corte percebemos que era impossível nos aprofundar
nas cinco famílias e cortamos as famílias do Amazonas e Piauí. Escolhemos
famílias compostas por indivíduos de diferentes idades. Acreditávamos que o
choque entre gerações poderia render situações reveladoras.
Como foi a negociação com as famílias para que eles aceitassem vocês na
intimidade delas?
Em cada família a negociação se deu de um modo diferente. A família
cearense, por exemplo, desde o primeiro instante se sentiu à vontade com a
câmera e como Natalia e a mãe estavam sempre muito ocupadas com a
preparação de um show, eles sempre agiram com naturalidade e pouco se
importaram com nossa presença. Já a família que vivia na floresta amazônica,
que tinha uma realidade bem menos dinâmica, teve muito mais dificuldade de
ignorar a presença da equipe.
Por que você optou pelo cinema direto, sem intervenções? Qual é o ganho
dessa escolha para o filme?
O objetivo central do documentário foi fazer com que o espectador entrasse na
casa das famílias. Queríamos transformá-lo num cúmplice. Para isso tentamos
interferir o mínimo possível no cotidiano. O que mais nos interessava era
entender aquilo que não aparece em pesquisas e em dados estatísticos: a
subjetividade, o sentimento das pessoas. Durante os mais de dez anos em que
trabalhei na VideoFilmes tive o privilégio de acompanhar de muito perto a
trajetória de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles. Não podia ter tido
melhor escola. Através de João conheci os filmes dos irmãos Maysles, Robert
Drew e Frederick Wiseman. Coutinho - a quem o filme é dedicado - é o diretor
brasileiro que mais admiro e que mais me influenciou.
Como é a reação dos retratados nesse dia a dia de convivência com vocês?
Optamos por trabalhar com equipes reduzidas e nos dividimos para tentar
interferir o mínimo no cotidiano das famílias. Filmei as famílias do Amazonas e
do Ceará e o Fernando Coimbra as do Piauí, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A ideia era criar uma atmosfera íntima e fazer com que as famílias se
esquecessem da presença da câmera. Tentamos manter uma certa distância e
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uma relativa neutralidade, mas devo confessar que criei um inesperado vínculo
com algumas famílias.
O filme traz alguma mensagem? Qual é?
O principal objetivo desse documentário é mostrar que o combate à miséria e à
fome transcende as questões ideológicas e partidárias. Gostaria que o filme
defendesse a ideia de que a desigualdade no Brasil (e no mundo) é aviltante e
imoral e que qualquer pessoa honesta deveria apoiar iniciativas que a
combatam.
Você se sentiu pessoalmente tocado pela história dessas famílias?
Cada família me comoveu de um modo particular. Fiquei impressionado com a
trajetória de Ângela, em São Paulo, a batalha dela ilustra algo que percebemos
em diversas regiões do Brasil, que a mulher é quem movimenta esse país. Acho
bonita a união dos gaúchos, é uma família estruturada que em breve deve sair
do programa. Eu pessoalmente acabei me tornando mais próximo da família do
Ceará e mesmo depois das filmagens tenho acompanhado a luta de Natália e de
Helena para manter a família de pé apesar de todas as dificuldades. Fico
comovido com a capacidade que elas têm de sonhar e projetar um futuro
melhor.
Você se lembra de algum momento particularmente emocionante durante as
filmagens?
Fiquei muito comovido quando Jonas, o irmão da Natália, me perguntou se eu
gostava do meu filho. Achei estranha a pergunta e respondi que meu filho, que
era da idade dele, era a pessoa que mais amava no mundo. Ele fez um longo
silêncio e me contou que o pai dele não se importava e mal o conhecia. Aquilo
me deixou abalado. Eu estava há várias semanas fora de casa e sentia muita
falta da família. Fiquei pensando o quanto eram diferentes as oportunidades de
Jonas e de Jorge, o meu filho, que nasceu cercado de confortos e foi amado
desde o primeiro dia. Desde então passei a me incomodar ainda mais com os
excessos, com o desperdício e a ganância.
O que te guiou na edição do material bruto?
A montagem ficou muito a cargo da Karen Akerman, que fez um trabalho
impressionante de síntese e, com muita sensibilidade e talento, deu significado
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a uma quantidade enorme de material bruto. Só interferi na montagem num
segundo momento, quando ela e Fernando já haviam chegado num primeiro
corte com cinco famílias.
Você acha que esse filme pode trazer transformações pessoais para quem
assistir e ampliar o debate público sobre inclusão social?
Essa é uma pergunta difícil de responder. Torço para que o filme dê margem a
debates que transcendam às mesquinharias e a questões partidárias. Meu sonho
é que as pessoas que assistissem ao filme tivessem a sensação de que o
dinheiro gasto para combater a fome e diminuir o enorme abismo social no
nosso país é o melhor investimento que se pode fazer.
Acredito ser absolutamente intolerável que alguém passe fome num país rico
em recursos e que não está envolvido em uma guerra ou no meio de uma
catástrofe natural. Não tenho muitas ilusões sobre a possibilidade de um
documentário mudar a cabeça de ninguém. Mas o que posso dizer ao certo é
que a filmagem de “Aqui Deste Lugar” foi para mim uma experiência marcante
e transformadora.
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Fabiano Gullane, produtor
Os irmãos Caio e Fabiano Gullane dedicam-se ao audiovisual desde o início da
década de 90, produzindo conteúdo para cinema e televisão. Desde então,
foram mais de 40 longas-metragens, além de curtas, médias e programas para a
TV. A dupla chamou a atenção da crítica logo no primeiro longa-metragem com
a sua assinatura, “Bicho de Sete Cabeças” (2000), dirigido por Laís Bodanzky,
que conquistou mais de 40 prêmios no Brasil e no exterior. Três anos depois,
assinaram a produção-executiva da superprodução “Carandiru”, de Hector
Babenco. Foram responsáveis também pelo aclamado “O Ano em que Meus Pais
Saíram de Férias” (2008), de Cao Hamburger, vendido para mais de 30 países e
escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro, e pela franquia “Até que a Sorte nos Separe”, vista por mais de 7
milhões de espectadores somente nos cinemas. Este ano, lançaram “Que Horas
Ela Volta?” (2015), que fez longa carreira internacional, levou prêmio de
melhor filme na mostra Panorama do Festival de Berlim deste ano, e Melhor
Atriz no Festival de Sundance, além de ser o representante brasileiro na
disputa por uma vaga na categoria Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2016.
“Aqui Deste Lugar” e “Tudo o que Aprendemos Juntos”, ambos de Sérgio
Machado, são outros lançamentos deste ano.
Quais foram os desafios operacionais da produção desse documentário?
O principal desafio foi conseguir sintetizar nas famílias retratadas no filme uma
realidade extensível a todo Brasil, o daqueles atendidos pelo programa Bolsa
Família. Para isso fizemos um trabalho muito grande de pesquisa até chegar às
cinco escolhidas. Contratamos uma equipe que viajou pelas cinco regiões do
país buscando, junto com o Ministério do Desenvolvimento Social, famílias que
realmente dessem uma noção bem abrangente sobre o que está acontecendo
nessas camadas da população mais desfavorecidas, que precisam do programa
para ter condições mínimas de vida. Chegar nessas famílias-síntese foi nosso
maior desafio operacional.
Como foi o processo de seleção das famílias? Quantas famílias participaram
dessa seleção? Houve uma equipe de produção dedicada a encontrá-las e
mapeá-las?
Inicialmente, os roteiristas trabalharam em cima de informações do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) e de outros indicadores oficiais sobre a abrangência do programa Bolsa
Família e do perfil dos atendidos. Depois desse primeiro mapeamento, partimos
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para o trabalho de campo. Montamos três equipes de pesquisa, lideradas por
um pesquisador-chefe, um produtor e um assistente. Nossos grupos de
pesquisadores, com o apoio especialmente dos Centros de Referência da
Assistência Social (CRAS), que são as entidades ligadas ao Ministério do
Desenvolvimento Social, entrevistaram mais de mil famílias nas cinco regiões
do país.
Depois das entrevistas fizemos um primeiro corte pensando em quais famílias
representariam essa família-média atendida pelo programa e ficamos com 8090 famílias. Os pesquisadores e roteiristas trabalharam muito em cima das
informações de cada uma delas para finalmente chegar a sete famílias que
foram analisadas pelos produtores e diretores. Das sete, decidimos filmar
cinco: uma no interior do Piauí, uma no interior do Ceará, uma no interior do
Amazonas, uma no interior de São Paulo e outra no interior do Rio Grande do
Sul.
Quais foram os critérios para essa seleção?
Primeiro famílias que estivessem 100% enquadradas dentro dos parâmetros do
Bolsa Família. Depois partimos para um teor mais subjetivo, buscando que essa
família representasse o beneficiário-médio do programa, que tivesse diferentes
composições (irmãos de pais diferentes que moram com uma mãe, filha que
mora com o pai no seu novo casamento, uma família mais tradicional de pai,
mãe e filhos). Em seguida um olhar mais narrativo dos diretores, de perceber
quais dessas famílias teriam histórias mais interessantes, mais aplicáveis ao
teor dramático que queríamos dar ao filme.
A ideia partiu do Sérgio? Como a Gullane entrou no projeto e qual foi sua
contribuição para o filme?
O Sérgio tem uma história muito bonita. Ele tem um grande interesse pelo tipo
de cinema que chamamos de Cinema-Cidadão, que narra retratos sociais. Ao
longo dos últimos 20 anos ele fez algumas viagens para o nordeste. No final dos
anos 90, quando ele estava preparando o “Central do Brasil”, ele andou muito
pela região e viu um Brasil muito sofrido, com muitas dificuldades, as pessoas
passando fome, com condições péssimas de moradia e saneamento básico.
Dez anos depois, no final dos anos 2000, ele foi novamente fazer uma pesquisa
para um projeto que ele estava estudando realizar sobre o Padre Cícero, e já
viu uma realidade diferente.
Por isso quando o Sérgio nos trouxe essa ideia, nós entendemos a importância
de ter esse projeto realizado. E a partir desse ponto a Gullane entrou de
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cabeça, como faz em todos os seus projetos, empenhando todos seus esforços
para elevar a sofisticação artística, técnica e narrativa do filme.
Buscamos caminhos para viabilizar o projeto, a melhor logística possível para
realizar esse filme. Sugerimos também para o Sérgio a colaboração de um
segundo diretor, Fernando Coimbra, para que trabalhassem juntos no roteiro e
direção. Montamos equipes muito qualificadas, com fotógrafos, técnicos de
som, montadores.
Vocês estão envolvidos num segundo projeto com o Sérgio Machado, é uma
parceria de longo prazo? Pode-se dizer o mesmo de Fernando Coimbra, com
quem vocês já haviam realizado “O Lobo Atrás Da Porta”?
Nossa relação tanto com o Sérgio Machado quanto com o Fernando Coimbra são
sem dúvida relações de longo prazo. O Fernando já havia feito conosco um
curta-metragem, “Magnífica Desolação”, e fizemos e lançamos juntos “O Lobo
Atrás da Porta”, em 2013. Ele também foi colaborador de uma série que
fizemos para a HBO, “O Homem de Sua Vida”. E além do “Aqui Deste Lugar”, já
estamos preparando o próximo filme do Fernando, que por enquanto se chama
“Os Enforcados”. É um diretor e um parceiro no qual a Gullane sempre teve
grande interesse e vice-versa.
A mesma coisa se dá com o Sérgio. Ele é um antigo colaborador da Gullane, já
fizemos alguns projetos juntos, entre eles a série “Alice” para a HBO,
inteiramente escrita por ele e codirigida com o Karim Ainouz. Fizemos também
um curta-metragem, “O Principe Encantado”, além da colaboração dele em
diversos roteiros da Gullane. E estamos lançando este ano também o novo filme
do Sérgio, “Tudo Que Aprendemos Juntos”, que conta a história da criação da
Orquestra de Heliópolis pelo maestro Silvio Baccarelli.
Estamos trabalhando juntos também na adaptação do conto “O Adeus do
Comandante”, de Milton Hatoum e no desenho animado “A Arca de Noé”,
inspirado nas poesias de Vinicius de Moraes.
Porque a Gullane decidiu distribuir o filme sozinha? Qual o ganho de se ter
uma distribuidora parceira?
A Gullane normalmente trabalha com muitos modelos de negócio, tanto no
mercado brasileiro quanto no mercado internacional. Há alguns anos temos nos
envolvido cada vez mais com a distribuição de nossos filmes, o que acredito
que seja um caminho bem natural para uma empresa que produz tanto quanto
nós produzimos.
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Uma coisa que percebemos com projetos especiais como é o “Aqui Deste
Lugar”, é que precisamos ter uma clareza muito grande sobre a colocação
desse produto no mercado. Quando temos uma comédia, lançamos em muitas
salas de cinema e com uma grande estratégia de marketing. Mas com um filme
como este, que é um documentário, que traz à tona temas importantes e irá
gerar uma polarização, acreditamos que o importante não é que eles estejam
nos cinemas mais comerciais ou que tenham alcance no Brasil inteiro, mas sim
que ele tenha uma efetividade em cada uma das salas em que seja trabalhado.
Ou seja, que realmente cada uma das salas possa ser trabalhada por nós, pelos
parceiros do filme, pelos articuladores da questão central do filme, para
criarmos a maior ressonância possível acerca desse tema.
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Produção
Gullane Filmes
Fundada em 1996, a Gullane é uma produtora de conteúdo para cinema e
televisão que mantém participação ativa no crescimento do audiovisual
brasileiro. Suas obras conquistaram reconhecimento da crítica e de um público
cada vez maior. A qualidade técnica e artística identificada em cada produção
tornou-se referência, garantindo à Gullane um espaço conceituado no mercado
cinematográfico. Sua dedicação na produção é igualmente aplicada nas etapas
de lançamento em festivais e no circuito comercial. Esse empenho permitiu à
Gullane acumular mais de 100 prêmios em sua carreira, além de ter seus filmes
nas seleções oficiais dos mais importantes festivais de cinema do mundo, como
os de Cannes, Veneza e Berlim. Além de produções próprias, a Gullane amplia a
carteira de projetos com parcerias importantes no Brasil e no exterior, com a
busca de financiamento e venda de filmes brasileiros junto ao mercado
estrangeiro e com a realização de coproduções internacionais. Essas ações se
refletem na ampla divulgação das obras e em uma rede formada por talentos
de diversas partes do mundo. Por seu perfil empresarial, seu histórico criativo
e seu expressivo volume de realizações audiovisuais, a Gullane está posicionada
hoje entre as principais produtoras de conteúdo do Brasil.
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Download

Aqui Deste Lugar