Gullane Entretenimento e Janela do Mundo apresentam Aqui Deste Lugar Documentário | Cor Lançamento 8 de outubro de 2015 Roteiro e Direção de Sérgio Machado e Fernando Coimbra Produção de Caio Gullane, Fabiano Gullane e Debora Ivanov 1 Apresentação Foram dois anos de viagens pelo Brasil, quase mil entrevistados, todos beneficiários do Programa Bolsa Família. Os diretores e roteiristas Sérgio Machado (“Cidade Baixa”) e Fernando Coimbra (“O Lobo Atrás da Porta”) nos guiam pela história do Brasil recente, tendo como protagonistas brasileiros que pouco frequentam o nosso cinema. Os Barcelos de Rio Grande, no Rio Grande do Sul; os Coresma, de Tauá, no Ceará; e os Souza Leal, de São Paulo, capital, são mostrados de forma crua, com o mínimo de intervenções por parte da equipe de filmagem. A ideia era desenhar um painel o mais preciso possível sobre como vivem os milhões de brasileiros que recebem o Bolsa Família. Para isso foi feito um intenso trabalho de pesquisa e análise de dados que serviu como ponto de partida para a produção. O objetivo do documentário é levar o espectador para dentro das casas, transformá-lo em cúmplice, para que partilhe dos dilemas e conquistas de cada família em diferentes regiões do país. Mais uma produção, e neste caso distribuição, da Gullane Entretenimento. Sinopse Nos últimos dez anos, milhões de famílias brasileiras cruzaram a linha da pobreza extrema. Essa história é contada em “Aqui Deste Lugar” através de três famílias, espalhadas pelo nosso país-continente, que compõem o retrato da transformação do Brasil e da forma como ela afeta cada indivíduo. O documentário mostra como as diferentes gerações assimilaram essa mudança e como está a nova família que nasceu sem eletricidade e hoje passa o dia em uma lan house. 2 Elenco Família de Rio Grande/RS Charles Antonio dos Santos Barcellos Daiane Ezequiel Machado Selena Domingues Barcellos Wellington Machado Serra Romário Machado Barcellos Tainara Machado Barcellos Thais Machado Barcellos Família de Cidade Tiradentes/SP Ângela Maria Oliveira Souza Juvenal Borges Leal Kenedy de Souza Leal Kátia de Souza Leal Karen de Souza Leal Keliane de Souza Leal Família de Tauá/CE Francisca Helena Coresma da Silva Natália Coresma Mota Antônio Doglianos Alexandre Moreira Emanoel Genário Coresma dos Santos Jonas Herberte Coresma dos Santos Pedro Miguel Coresma Linhares Erick Carlos Coresma do Nascimento 3 Ficha Técnica Sérgio Machado e Fernando Coimbra..................Roteiro e Direção Rodrigo Carvalho e Pablo Hoffmann..............Direção de fotografia Karen Akerman....................................................Montagem Hélio Villela....................................Colaboração na montagem Beto Villares....................................................Trilha sonora Eric Ribeiro....................................Desenho de som e Mixagem Eli Ramos e Marina Santos.........................................Pesquisa Celso “Not Dead” Camargo, Waltinho Magalhães, Francisco Fill, Igor Cosso e Bruno Monteiro.......................................Produção de campo Jair Neto...............................................Direção de produção Patrícia Nelly.................................Supervisão de pós-produção Caio Gullane e Sônia Hamburger....................Produção executiva Caio Gullane, Fabiano Gullane e Debora Ivanov...............Produção 4 Entrevistas Sérgio Machado, diretor Sérgio Machado iniciou sua carreira no cinema como assistente de direção de Walter Salles nos filmes “Central do Brasil”, “O Primeiro Dia” e “Abril Despedaçado”, sendo que nesse último dividiu também a autoria do roteiro. Em 2001, estreou na direção com o documentário “Onde a Terra Acaba”, um retrato do lendário cineasta Mário Peixoto. O filme foi eleito melhor documentário no Festival do Rio, São Paulo, Havana, Biarritz, entre outros. Em 2005, estreou na direção de longa-metragem de ficção com “Cidade Baixa”, recebendo inúmeros prêmios, entre eles o de Melhor Filme no Festival do Rio e o Prêmio da Juventude no Festival de Cannes. Em 2008, com Karim Aïnouz, realizou o roteiro e a direção da série de TV “Alice”, uma produção da Gullane para a HBO e primeira série do canal a ser realizada em São Paulo. Em 2010, lançou seu terceiro longa-metragem, “Quincas Berro D’água”, baseado na obra de Jorge Amado e dirigiu junto com Karim Ainoüz dois episódios especiais da série "Alice" para a HBO. Este ano lança também o longa-metragem de ficção “Tudo que Aprendemos Juntos”, produção da Gullane protagonizada pelo ator Lázaro Ramos, exibido recentemente no Festival de Locarno. Você já viajou pelo interior do Nordeste em diferentes momentos da história recente por conta dos filmes dos quais participou. O que você encontrou nessas jornadas? Entre 1995 e 1996, viajei durante meses por alguns dos lugares mais isolados do país em busca de locações e elenco para “Central do Brasil”, de Walter Salles. Nos testes de elenco – que em boa parte foram feitos com não atores – eu pedia aos candidatos que ditassem uma carta que precisavam mandar para alguém. Ouvi histórias de carência e abandono. Boa parte das mensagens era para parentes que haviam deixado o Nordeste a procura de uma vida melhor. Conheci uma cidade no interior da Paraíba onde não havia homens adultos, todos haviam migrado para o Sul, atrás de emprego. Repeti a mesma viagem em 2001, em busca de locações para “Abril Despedaçado”. Precisávamos encontrar uma cidade parada no tempo, sem energia elétrica ou qualquer sinal de modernidade. Muitas vezes tive a impressão que estava num outro século. Em um lugarejo no Tocantins, convivi com pessoas que não sabiam o que era uma televisão, não tinham ouvido falar 5 em Pelé e nem tinham ideia de quem era o presidente da República. Em 2012, agora como diretor, fiz uma viagem semelhante para encontrar locações para um filme sobre o Padre Cícero. Por curiosidade e nostalgia, repeti alguns trajetos e me deparei com uma realidade diferente. Em todas as casas havia energia elétrica, antenas parabólicas passaram a compor a paisagem, jumentos e cavalos foram substituídos por motocicletas. Passando pela fronteira entre o Piauí e o Ceará - região apelidada pelos próprios habitantes como “Piorá” - conheci seu Chico Honorato, um homem de 60 anos, que me disse: “Nunca pensei em ver uma história dessas, ninguém pode imaginar, o senhor chega na casa, aperta um botão e a luz acende na mesma hora...”. A partir daí passei a maturar a ideia de fazer um filme. De onde nasceu a ideia do filme? A ideia surgiu justamente nessa última viagem de locação para o nordeste. A sensação que tive é a de que a desigualdade social no Brasil, sob todos os aspectos, ainda é aviltante, mas que algo de importante estava acontecendo. Crianças que antes trabalhavam, passaram a frequentar a escola, famílias que foram obrigadas a migrar, estavam, aos poucos, voltando para casa. Achei que era preciso documentar e tentar entender o efeito dessas mudanças na vida das pessoas. Outra coisa que me motivou a enveredar por esse documentário foi a leitura da matéria “O Liberal Contra a Miséria” na revista Piauí, em que o economista Ricardo Paes de Barros demonstrava através de matemática e estatísticas que é possível reduzir a pobreza e a desigualdade (no Brasil e no mundo) com um gasto relativamente irrisório. Um filme que também alimentou o desejo de realizar esse documentário foi “Família Braz - Dois Tempos”, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes, que traça um painel preciso das mudanças ocorridas numa mesma família da periferia de São Paulo no curso de uma década. Como foi o processo de seleção das famílias retratadas? Quantas vocês entrevistaram? Antes de iniciar as filmagens me pareceu essencial conhecer a situação de maneira profunda, busquei ouvir diferentes pontos de vista e buscar o máximo de isenção. Procurei a Gullane (produtora) com a ideia de fazer o documentário e ressaltei a importância de um longo período de pesquisa. Conjuntamente concluímos que o trabalho era tão grande que precisaríamos de 6 um segundo diretor para dar conta da empreitada. Caio e Fabiano me falaram de Fernando Coimbra, que estava finalizando “O Lobo Atrás da Porta”. Fiquei muito impressionado com o domínio da narrativa e a direção segura de atores. Conversamos bastante e nos demos conta de que Fernando tinha uma visão próxima da minha e o mesmo desconforto com relação à desigualdade social. Antes de irmos a campo contratamos pesquisadores nas diversas regiões do país que fizeram entrevistas e fotografaram centenas de famílias e nos enviaram as informações. Estudamos o material, cruzamos os dados e partimos, eu e Fernando, em busca de compreender a realidade das famílias. A ideia era desenhar um painel o mais preciso possível do que está acontecendo no Brasil. Por que escolheram essas três famílias? O que elas têm que chamaram sua atenção? Nas últimas duas décadas, houve uma ascensão das classes mais desfavorecidas no Brasil. Essa é a grande história, mas o que queríamos buscar eram as histórias pequenas, que escapam das estatísticas. Aberto Cavalcanti escreveu em 1948 uma lista de 14 recomendações para jovens realizadores. O primeiro desses conselhos é: “Não trate de assuntos generalizados: você pode escrever um artigo sobre os correios, mas deve fazer um filme sobre uma carta”. O objetivo do documentário era levar o espectador para dentro das casas, transformá-lo num cúmplice, para que ele partilhasse dos dilemas e conquistas de cada família. Queríamos entender como as diferentes gerações assimilaram essa transformação. As histórias narradas em “Aqui Deste Lugar” são simples e partem do cotidiano: No Ceará uma menina, ajudada por sua mãe, sonha em cantar numa banda de forró; no Rio Grande do Sul, uma adolescente enfrenta a oposição do pai para namorar; na periferia de São Paulo uma doméstica batalha diariamente para manter a família. Não são histórias excepcionais ou edificantes. São relatos singelos, mas que representam de alguma forma os avanços e as dificuldades das camadas mais pobres da população brasileira. Foi intencional a seleção de famílias de diferentes situações sociais e em diferentes regiões do país? Por quê? Viajamos por todo país para conhecer a realidade de cada região e de posse desses dados nos encontramos com especialistas técnicos para que nossa escolha fosse o mais representativa possível. Chegamos finalmente a cinco famílias: no Amazonas, no Piauí, no Ceará, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. A ideia é que a escolha obedecesse a dados 7 estatísticos precisos e objetivos. Quando fomos para a ilha de edição e chegamos a um primeiro corte percebemos que era impossível nos aprofundar nas cinco famílias e cortamos as famílias do Amazonas e Piauí. Escolhemos famílias compostas por indivíduos de diferentes idades. Acreditávamos que o choque entre gerações poderia render situações reveladoras. Como foi a negociação com as famílias para que eles aceitassem vocês na intimidade delas? Em cada família a negociação se deu de um modo diferente. A família cearense, por exemplo, desde o primeiro instante se sentiu à vontade com a câmera e como Natalia e a mãe estavam sempre muito ocupadas com a preparação de um show, eles sempre agiram com naturalidade e pouco se importaram com nossa presença. Já a família que vivia na floresta amazônica, que tinha uma realidade bem menos dinâmica, teve muito mais dificuldade de ignorar a presença da equipe. Por que você optou pelo cinema direto, sem intervenções? Qual é o ganho dessa escolha para o filme? O objetivo central do documentário foi fazer com que o espectador entrasse na casa das famílias. Queríamos transformá-lo num cúmplice. Para isso tentamos interferir o mínimo possível no cotidiano. O que mais nos interessava era entender aquilo que não aparece em pesquisas e em dados estatísticos: a subjetividade, o sentimento das pessoas. Durante os mais de dez anos em que trabalhei na VideoFilmes tive o privilégio de acompanhar de muito perto a trajetória de Eduardo Coutinho e João Moreira Salles. Não podia ter tido melhor escola. Através de João conheci os filmes dos irmãos Maysles, Robert Drew e Frederick Wiseman. Coutinho - a quem o filme é dedicado - é o diretor brasileiro que mais admiro e que mais me influenciou. Como é a reação dos retratados nesse dia a dia de convivência com vocês? Optamos por trabalhar com equipes reduzidas e nos dividimos para tentar interferir o mínimo no cotidiano das famílias. Filmei as famílias do Amazonas e do Ceará e o Fernando Coimbra as do Piauí, São Paulo e Rio Grande do Sul. A ideia era criar uma atmosfera íntima e fazer com que as famílias se esquecessem da presença da câmera. Tentamos manter uma certa distância e 8 uma relativa neutralidade, mas devo confessar que criei um inesperado vínculo com algumas famílias. O filme traz alguma mensagem? Qual é? O principal objetivo desse documentário é mostrar que o combate à miséria e à fome transcende as questões ideológicas e partidárias. Gostaria que o filme defendesse a ideia de que a desigualdade no Brasil (e no mundo) é aviltante e imoral e que qualquer pessoa honesta deveria apoiar iniciativas que a combatam. Você se sentiu pessoalmente tocado pela história dessas famílias? Cada família me comoveu de um modo particular. Fiquei impressionado com a trajetória de Ângela, em São Paulo, a batalha dela ilustra algo que percebemos em diversas regiões do Brasil, que a mulher é quem movimenta esse país. Acho bonita a união dos gaúchos, é uma família estruturada que em breve deve sair do programa. Eu pessoalmente acabei me tornando mais próximo da família do Ceará e mesmo depois das filmagens tenho acompanhado a luta de Natália e de Helena para manter a família de pé apesar de todas as dificuldades. Fico comovido com a capacidade que elas têm de sonhar e projetar um futuro melhor. Você se lembra de algum momento particularmente emocionante durante as filmagens? Fiquei muito comovido quando Jonas, o irmão da Natália, me perguntou se eu gostava do meu filho. Achei estranha a pergunta e respondi que meu filho, que era da idade dele, era a pessoa que mais amava no mundo. Ele fez um longo silêncio e me contou que o pai dele não se importava e mal o conhecia. Aquilo me deixou abalado. Eu estava há várias semanas fora de casa e sentia muita falta da família. Fiquei pensando o quanto eram diferentes as oportunidades de Jonas e de Jorge, o meu filho, que nasceu cercado de confortos e foi amado desde o primeiro dia. Desde então passei a me incomodar ainda mais com os excessos, com o desperdício e a ganância. O que te guiou na edição do material bruto? A montagem ficou muito a cargo da Karen Akerman, que fez um trabalho impressionante de síntese e, com muita sensibilidade e talento, deu significado 9 a uma quantidade enorme de material bruto. Só interferi na montagem num segundo momento, quando ela e Fernando já haviam chegado num primeiro corte com cinco famílias. Você acha que esse filme pode trazer transformações pessoais para quem assistir e ampliar o debate público sobre inclusão social? Essa é uma pergunta difícil de responder. Torço para que o filme dê margem a debates que transcendam às mesquinharias e a questões partidárias. Meu sonho é que as pessoas que assistissem ao filme tivessem a sensação de que o dinheiro gasto para combater a fome e diminuir o enorme abismo social no nosso país é o melhor investimento que se pode fazer. Acredito ser absolutamente intolerável que alguém passe fome num país rico em recursos e que não está envolvido em uma guerra ou no meio de uma catástrofe natural. Não tenho muitas ilusões sobre a possibilidade de um documentário mudar a cabeça de ninguém. Mas o que posso dizer ao certo é que a filmagem de “Aqui Deste Lugar” foi para mim uma experiência marcante e transformadora. 10 Fabiano Gullane, produtor Os irmãos Caio e Fabiano Gullane dedicam-se ao audiovisual desde o início da década de 90, produzindo conteúdo para cinema e televisão. Desde então, foram mais de 40 longas-metragens, além de curtas, médias e programas para a TV. A dupla chamou a atenção da crítica logo no primeiro longa-metragem com a sua assinatura, “Bicho de Sete Cabeças” (2000), dirigido por Laís Bodanzky, que conquistou mais de 40 prêmios no Brasil e no exterior. Três anos depois, assinaram a produção-executiva da superprodução “Carandiru”, de Hector Babenco. Foram responsáveis também pelo aclamado “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (2008), de Cao Hamburger, vendido para mais de 30 países e escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e pela franquia “Até que a Sorte nos Separe”, vista por mais de 7 milhões de espectadores somente nos cinemas. Este ano, lançaram “Que Horas Ela Volta?” (2015), que fez longa carreira internacional, levou prêmio de melhor filme na mostra Panorama do Festival de Berlim deste ano, e Melhor Atriz no Festival de Sundance, além de ser o representante brasileiro na disputa por uma vaga na categoria Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2016. “Aqui Deste Lugar” e “Tudo o que Aprendemos Juntos”, ambos de Sérgio Machado, são outros lançamentos deste ano. Quais foram os desafios operacionais da produção desse documentário? O principal desafio foi conseguir sintetizar nas famílias retratadas no filme uma realidade extensível a todo Brasil, o daqueles atendidos pelo programa Bolsa Família. Para isso fizemos um trabalho muito grande de pesquisa até chegar às cinco escolhidas. Contratamos uma equipe que viajou pelas cinco regiões do país buscando, junto com o Ministério do Desenvolvimento Social, famílias que realmente dessem uma noção bem abrangente sobre o que está acontecendo nessas camadas da população mais desfavorecidas, que precisam do programa para ter condições mínimas de vida. Chegar nessas famílias-síntese foi nosso maior desafio operacional. Como foi o processo de seleção das famílias? Quantas famílias participaram dessa seleção? Houve uma equipe de produção dedicada a encontrá-las e mapeá-las? Inicialmente, os roteiristas trabalharam em cima de informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e de outros indicadores oficiais sobre a abrangência do programa Bolsa Família e do perfil dos atendidos. Depois desse primeiro mapeamento, partimos 11 para o trabalho de campo. Montamos três equipes de pesquisa, lideradas por um pesquisador-chefe, um produtor e um assistente. Nossos grupos de pesquisadores, com o apoio especialmente dos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), que são as entidades ligadas ao Ministério do Desenvolvimento Social, entrevistaram mais de mil famílias nas cinco regiões do país. Depois das entrevistas fizemos um primeiro corte pensando em quais famílias representariam essa família-média atendida pelo programa e ficamos com 8090 famílias. Os pesquisadores e roteiristas trabalharam muito em cima das informações de cada uma delas para finalmente chegar a sete famílias que foram analisadas pelos produtores e diretores. Das sete, decidimos filmar cinco: uma no interior do Piauí, uma no interior do Ceará, uma no interior do Amazonas, uma no interior de São Paulo e outra no interior do Rio Grande do Sul. Quais foram os critérios para essa seleção? Primeiro famílias que estivessem 100% enquadradas dentro dos parâmetros do Bolsa Família. Depois partimos para um teor mais subjetivo, buscando que essa família representasse o beneficiário-médio do programa, que tivesse diferentes composições (irmãos de pais diferentes que moram com uma mãe, filha que mora com o pai no seu novo casamento, uma família mais tradicional de pai, mãe e filhos). Em seguida um olhar mais narrativo dos diretores, de perceber quais dessas famílias teriam histórias mais interessantes, mais aplicáveis ao teor dramático que queríamos dar ao filme. A ideia partiu do Sérgio? Como a Gullane entrou no projeto e qual foi sua contribuição para o filme? O Sérgio tem uma história muito bonita. Ele tem um grande interesse pelo tipo de cinema que chamamos de Cinema-Cidadão, que narra retratos sociais. Ao longo dos últimos 20 anos ele fez algumas viagens para o nordeste. No final dos anos 90, quando ele estava preparando o “Central do Brasil”, ele andou muito pela região e viu um Brasil muito sofrido, com muitas dificuldades, as pessoas passando fome, com condições péssimas de moradia e saneamento básico. Dez anos depois, no final dos anos 2000, ele foi novamente fazer uma pesquisa para um projeto que ele estava estudando realizar sobre o Padre Cícero, e já viu uma realidade diferente. Por isso quando o Sérgio nos trouxe essa ideia, nós entendemos a importância de ter esse projeto realizado. E a partir desse ponto a Gullane entrou de 12 cabeça, como faz em todos os seus projetos, empenhando todos seus esforços para elevar a sofisticação artística, técnica e narrativa do filme. Buscamos caminhos para viabilizar o projeto, a melhor logística possível para realizar esse filme. Sugerimos também para o Sérgio a colaboração de um segundo diretor, Fernando Coimbra, para que trabalhassem juntos no roteiro e direção. Montamos equipes muito qualificadas, com fotógrafos, técnicos de som, montadores. Vocês estão envolvidos num segundo projeto com o Sérgio Machado, é uma parceria de longo prazo? Pode-se dizer o mesmo de Fernando Coimbra, com quem vocês já haviam realizado “O Lobo Atrás Da Porta”? Nossa relação tanto com o Sérgio Machado quanto com o Fernando Coimbra são sem dúvida relações de longo prazo. O Fernando já havia feito conosco um curta-metragem, “Magnífica Desolação”, e fizemos e lançamos juntos “O Lobo Atrás da Porta”, em 2013. Ele também foi colaborador de uma série que fizemos para a HBO, “O Homem de Sua Vida”. E além do “Aqui Deste Lugar”, já estamos preparando o próximo filme do Fernando, que por enquanto se chama “Os Enforcados”. É um diretor e um parceiro no qual a Gullane sempre teve grande interesse e vice-versa. A mesma coisa se dá com o Sérgio. Ele é um antigo colaborador da Gullane, já fizemos alguns projetos juntos, entre eles a série “Alice” para a HBO, inteiramente escrita por ele e codirigida com o Karim Ainouz. Fizemos também um curta-metragem, “O Principe Encantado”, além da colaboração dele em diversos roteiros da Gullane. E estamos lançando este ano também o novo filme do Sérgio, “Tudo Que Aprendemos Juntos”, que conta a história da criação da Orquestra de Heliópolis pelo maestro Silvio Baccarelli. Estamos trabalhando juntos também na adaptação do conto “O Adeus do Comandante”, de Milton Hatoum e no desenho animado “A Arca de Noé”, inspirado nas poesias de Vinicius de Moraes. Porque a Gullane decidiu distribuir o filme sozinha? Qual o ganho de se ter uma distribuidora parceira? A Gullane normalmente trabalha com muitos modelos de negócio, tanto no mercado brasileiro quanto no mercado internacional. Há alguns anos temos nos envolvido cada vez mais com a distribuição de nossos filmes, o que acredito que seja um caminho bem natural para uma empresa que produz tanto quanto nós produzimos. 13 Uma coisa que percebemos com projetos especiais como é o “Aqui Deste Lugar”, é que precisamos ter uma clareza muito grande sobre a colocação desse produto no mercado. Quando temos uma comédia, lançamos em muitas salas de cinema e com uma grande estratégia de marketing. Mas com um filme como este, que é um documentário, que traz à tona temas importantes e irá gerar uma polarização, acreditamos que o importante não é que eles estejam nos cinemas mais comerciais ou que tenham alcance no Brasil inteiro, mas sim que ele tenha uma efetividade em cada uma das salas em que seja trabalhado. Ou seja, que realmente cada uma das salas possa ser trabalhada por nós, pelos parceiros do filme, pelos articuladores da questão central do filme, para criarmos a maior ressonância possível acerca desse tema. 14 Produção Gullane Filmes Fundada em 1996, a Gullane é uma produtora de conteúdo para cinema e televisão que mantém participação ativa no crescimento do audiovisual brasileiro. Suas obras conquistaram reconhecimento da crítica e de um público cada vez maior. A qualidade técnica e artística identificada em cada produção tornou-se referência, garantindo à Gullane um espaço conceituado no mercado cinematográfico. Sua dedicação na produção é igualmente aplicada nas etapas de lançamento em festivais e no circuito comercial. Esse empenho permitiu à Gullane acumular mais de 100 prêmios em sua carreira, além de ter seus filmes nas seleções oficiais dos mais importantes festivais de cinema do mundo, como os de Cannes, Veneza e Berlim. Além de produções próprias, a Gullane amplia a carteira de projetos com parcerias importantes no Brasil e no exterior, com a busca de financiamento e venda de filmes brasileiros junto ao mercado estrangeiro e com a realização de coproduções internacionais. Essas ações se refletem na ampla divulgação das obras e em uma rede formada por talentos de diversas partes do mundo. Por seu perfil empresarial, seu histórico criativo e seu expressivo volume de realizações audiovisuais, a Gullane está posicionada hoje entre as principais produtoras de conteúdo do Brasil. 15