PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA SEMINÁRIO TÉCNICO MATERIAIS USADOS NA CONSTRUÇÃO DE MOTORES ELÉTRICOS JOÃO GABRIEL SOUZA MARTINS DE OLIVEIRA 2009 PORTO ALEGRE JOÃO GABRIEL SOUZA MARTINS DE OLIVEIRA MATERIAIS USADOS NA CONSTRUÇÃO DE MOTORES ELÉTRICOS Seminário Técnico apresentado como requisito parcial à obtenção do grau G1 na disciplina de Materiais Elétricos do curso de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professor: Me. Eng. Odilon Francisco Pavon Duarte Porto Alegre 2009 JOÃO GABRIEL SOUZA MARTINS DE OLIVEIRA MATERIAIS USADOS NA CONSTRUÇÃO DE MOTORES ELÉTRICOS Grau:________ AVALIADOR ___________________________________________ Me. Eng. Prof. Odilon Francisco Pavon Duarte A meu pai por todo amor, carinho, exemplo, admiração, incentivo e incondicional apoio. Por jamais desistir de me mostrar o fascínio que há na Engenharia enquanto ciência, e o prazer que há em desbravá-la. E a minha esposa meus agradecimentos pelo amor e incrível dedicação, por ter aceitado de bom grado privar-se de minha companhia em prol dos estudos, concedendo-me a oportunidade desta realização pessoal. O primeiro passo em direção ao sucesso é o conhecimento. (TESLA, Nikola) SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................8 1. O MOTOR ELÉTRICO....................................................................................10 1.1 O Motor Elétrico de Corrente Contínua .....................................................11 1.2 O Motor Elétrico De Corrente Alternada....................................................13 1.2.1 O motor trifásico assíncrono, ou motor de indução ..............................15 1.2.1.1 O motor de indução com rotor em gaiola de esquilo.....................15 1.2.2 O Motor Síncrono ................................................................................16 1.3 Outros Tipos De Motores ..........................................................................17 1.4 Um Olhar Mais A Fundo No Motor De Indução Com Rotor Em Gaiola De Esquilo ........................................................................................................................18 1.4.1 O Estator .............................................................................................19 1.4.1.1 A carcaça: .....................................................................................19 1.4.1.2 Núcleo magnético: ........................................................................20 1.4.1.3 Enrolamento estatórico: ................................................................20 1.4.2 O rotor .................................................................................................21 1.4.2.1 Eixo: ..............................................................................................21 1.4.2.2.Núcleo Magnético: ........................................................................21 1.4.2.3 Barras Condutoras: .......................................................................21 1.4.2.3 Anéis de Curto-Circuito: ................................................................22 1.4.3 As demais partes .................................................................................22 1.4.3.1 Tampas: ........................................................................................22 1.4.3.2 Caixa de Ligação: .........................................................................22 1.4.3.3 Ventilador: .....................................................................................23 2. PERDAS NO MOTOR ELÉTRICO..................................................................25 2.1 As Perdas No Ferro...................................................................................26 2.1.1 Perdas por histerese............................................................................27 2.1.2 As perdas dinâmicas ...........................................................................27 2.1.3 Compondo as perdas Totais no Ferro:................................................28 2.1.4 Noções dos processos metalúrgicos do aço: tratamento térmico e estampagem ...........................................................................................................29 2.1.4.1 Tratamento Térmico......................................................................30 2.1.4.2 Inconvenientes do Tratamento Térmico: .......................................32 2.1.4.3 Estampagem .................................................................................34 2.2 Perdas Nos Enrolamentos ........................................................................35 2.3 Perdas Dispersas ......................................................................................37 2.3.1 Antecedentes.......................................................................................37 2.3.2 Generalização......................................................................................38 2.3.3 Vazamentos da gaiola do rotor ............................................................39 2.3.4 A Dicotomia das perdas dispersas ......................................................40 2.3.5 Medição das perdas dispersas ............................................................40 3. OS MATERIAIS USADOS EM MOTORES ELÉTRICOS................................42 3.1 Materiais Magnéticos ................................................................................42 3.2 Materiais Elétricos .....................................................................................44 3.3 Materiais De Isolação................................................................................46 3.3.1 Altitude e temperatura .........................................................................47 3.3.2 As classes de isolamento ....................................................................48 3.3.3 A distribuição dos materiais de isolamento no motor...........................50 4. MOTORES ELÉTRICOS ALIMENTADOS POR INVERSORES DE FREQÜÊNCIA................................................................................................................53 4.1 A Velocidade De Rotação De Um Motor De Indução ...................................53 4.2 A Manutenção Do Torque Constante ...........................................................54 4.3 O Inversor De Freqüência ............................................................................54 4.4 Modulação Por Largura De Pulso, Ou Pulse Width Modulation (PWM): ......55 4.5 Efeitos Da Alimentção PWM Sobre O Isolamento Do Motor De Indução.....56 4.5.1 Influência do rise time: .........................................................................56 4.5.2 Locais críticos: .....................................................................................56 4.5.3 Influência da Freqüência: ....................................................................57 4.6 As Alterações Necessárias Ao Sistema De Isolamento De Um Motor De Indução Alimentado Por PWM....................................................................................58 4.7 O USO DE FILTROS.................................................................................58 5. TENDÊNCIAS ..............................................................................................60 5.1 Motores De Indução ..................................................................................60 5.1.1 A alternância de orientação dos grãos em lâminas de aço-silício: ......60 5.1.2 Aumento da Concentração do Silício:..................................................60 5.1.3 SFC com metalurgia em pó: ................................................................61 5.2 Motores Síncronos De Imã Permanente ...................................................61 5.2.1 O uso de imãs permantes:...................................................................62 5.2.2 O uso de inversores de freqüência: .....................................................62 5.2.3 Benefícios: ...........................................................................................63 6. CONCLUSÕES...............................................................................................65 BIBLIOGRAFIA....................................................................................................67 ANEXOS...............................................................................................................69 8 INTRODUÇÃO Motores elétricos são parte importantíssima do processo produtivo industrial, não só no Brasil como no mundo. Base de um sem numero de equipamentos e facilidades como gerador de força motriz, o parque de motores elétricos é responsável pelo consumo de um terço de toda a energia ofertada no país (Garcia, 2003). E num cenário onde a eficiência energética torna-se tão presente, uma vez que a energia elétrica é a solução viável para a substituição de energias 'sujas' como as por queima de combustível fóssil, reduzir o consumo de energia dos motores elétricos é fator crucial para a economia e sustentabilidade da sociedade humana como um todo. Passa a vigorar, portanto, no final deste ano, a lei nº10.295 de 17 de outubro de 2001 através do decreto 4.508 de 2002, que diz que, a partir de dezembro/2009, todos os motores elétricos de indução trifásicos até 250cv fabricados para uso dentro do país deverão ser de Alto Rendimento. Mas como conseguir níveis de rendimento satisfatórios nos motores elétricos sem agregar um custo elevado à unidade produzida? A resposta encontra-se nos materiais e técnicas usadas para sua construção. Materiais de isolamento mais robustos, elementos magnéticos mais eficientes e materiais elétricos de melhor condutividade são estudados de modo a tornar os motores máquinas mais eficazes e ao mesmo tempo economicamente viáveis. É portanto o escopo deste trabalho apresentar os materiais elétricos usados na construção de motores elétricos, com foco no motor elétrico de indução trifásico assíncrono com rotor em gaiola de esquilo, bem como os processos e esforços aos quais eles são submetidos durante o funcionamento do motor e as últimas tendências nas pesquisas desses materiais. Uma vez que o motor elétrico basicamente é um equipamento que se propõe a transformar energia elétrica em energia mecânica, o trabalho visitará todas as perdas que ocorrem no funcionamento do motor, analisando-as em seu comportamento, de modo a entender o ocorre com a energia elétrica que é requerida até que ela seja convertida em energia mecânica na ponta do eixo. Sendo o ideal a ausência total de perdas, após o estudo das perdas serão propostos e analisados os materiais usados 9 nas partes chave do motor elétrico para reduzi-las ao mínimo, e assim obter uma máquina eficiente, sempre tendo em foco a viabilidade econômica. Concluiremos trabalho o apresentando estudos de caso gentilmente cedidos pela WEG Equipamentos Elétricos S/A, a maior fabricante nacional de motores pioneira na elétricos e pesquisa de tecnologia para fabricação Figura 1 – Ilustração do peso dos motores por kW no passar do tempo dos mesmos mundial. a nível 10 1. O MOTOR ELÉTRICO O motor elétrico é um dispositivo cuja finalidade é transformar a energia elétrica a ele aplicada em energia mecânica através de interações eletromagnéticas entre as partes que o constituem. A figura 1.2, cortesia da WEG, exemplifica o variado universo dos motores elétricos: Figura 1.2 – Diversos tipos de motores elétricos Independente do modo de fabricação, o princípio básico de funcionamento dos motores é o mesmo: alimenta-se a parte fixa do motor com energia elétrica, criando-se ali um eletroimã cujo campo magnético vai variar. Esse campo criará uma força 11 magnética na parte móvel do motor que irá mover-se para tentar acompanhar a variação do campo magnético. 1.1 O Motor Elétrico de Corrente Contínua Assim como os demais motores elétricos, as duas partes principais do motor de corrente contínua são o rotor (parte móvel) e o estator (parte fixa), além de duas peças chave que proporcinam a operação correta do motor: o comutador e o par de escovas. Seu princípio de funcionamento é o mais básico dentre os motores, ocorrendo da Figura 1.3 – Esquema do Motor Elétrico de Corrente Contínua seguinte maneira: Na figura 1.3, os semicírculos formam o comutador, enquanto que as estruturas em formato de paralelepípedo com a base circular são as escovas. O estator possui um enrolamento entre seus polos que é contínuo, de modo que quando ele é energizado, torna-se um eletroimã de polaridade fixa. O rotor também alimentado por uma fonte secundária chamada de excitatriz através das escovas, e quando energizado, torna-se também um eletroimã. Entretanto, com a capacidade de girar, o rotor move-se, de modo que o seu polo sul busque o polo norte do estator e vice-versa. Uma vez que essa situação de equilíbrio é alcançada, o movimento cessaria, já que os polos opostos estariam em seu ponto mais próximo na tranjetória circular. Porém, quando os polos estão exatamente nessa posição, os semicírculos do comutador, que acompanharam o giro, trocam de escovas e com isso a corrente tem seu sentido invertido, invertendo também a polaridade do eletroimã do rotor e dando continuidade ao movimento giratório. A figura 1.4 ilustra bem essa ciclo: 12 a) e b) Quando o estator é energizado, ele torna-se um eletroimã, com polos fixos. Uma também corrente flui enrolamento do pelo rotor, causando com que este também torne-se um eletroimã. Como o rotor é móvel, quando os polos opostos se atraem e o rotor gira. c) Figura 1.4 – Orientação dos pólos do motor de corrente contínua Os polos opostos estão o mais próximo possível de si dentro da trajetória. Nesse instante, o sentido da corrente no rotor é invertido. d) Com isso, a polaridade do rotor muda, e ele continua seu giro, impulsionado no sentido anterior por sua inércia. A comutação consiste na mudança de uma lâmina do comutador, onde as bobinas são ligadas em série, para a próxima. Durante esta comutação a bobina é momentaneamente curtocircuitada pelas escovas, o que ajuda a liberar energia a armazenada, antes de a corrente fluir no sentido oposto. Porém, como essa inversão de corrente não é instantânea, uma força eletromotriz é induzida na espira, o que origina uma corrente de curto-circuito que circula no comutador, nas espiras e nas escovas. Após o curto-circuito, a interrupção dessa corrente dá origem ao aparecimento de faíscas nos contatos das escovas com o comutador, que podem gerar arcos elétricos perigosos e que danificam o comutador, tendo portanto que ser eliminadas. A velocidade de rotação do rotor é proporcional à corrente que flui por ele, e pela lei de Ohm, variando a tensão aplicada a seus terminais, conseguimos controlar a velocidade de rotação do motor. Essa é uma das principais vantagens do motor de corrente contínua, que o manteve como primeira escolha em algumas aplicações justamente pela necessidade da mudança de velocidade 13 Entretanto, o motor elétrico de corrente contínua nos traz uma série de desvantagens, dentre as quais podemos destacar: Os motores de corrente contínua são maiores e mais caros que os motores de indução, para uma mesma potência; Maior necessidade de manutenção (devido aos comutadores e escovas) Arcos e faíscas devido à comutação de corrente por elemento mecânico (não pode ser aplicado em ambientes perigosos) Tensão entre lâminas não pode exceder 20V, ou seja, não podem ser alimentados com tensão superior a 900V, enquanto que motores de corrente alternada podem ter milhares de volts aplicados aos seus terminais. Necessidade de medidas especiais de partida, mesmo em máquinas pequenas. Com o surgimento dos inversores de freqüência, os motores de indução podem variar sua velocidade com a mesma precisão que um motor de corrente contínua. O conjunto motor de indução + inversor para potências pequenas e médias ainda é mais barato que o motor de corrente contínua Com o surgimento dos inversores de freqüência e o uso de imãs permanentes no rotor, além do recente sistema brushless (sem escovas), os motores de corrente contínua não têm mais o problema do faiscamento causado pelo sistema comutador, mas justamente por isso são mais caros que seus similares com escovas, e por conseguinte muito mais caros que os motores de corrente alternada, principalmente os de indução. 1.2 O Motor Elétrico De Corrente Alternada Os motores de corrente alternada baseiam seu funcionamento no princípio do campo girante. Para conseguir esse campo (que é explicado em maiores detalhes a seguir), necessário que haja vários enrolamentos, notadamente um por fase, ao redor de núcleos magnéticos no estator que formaram os pares de polos de um eletroimã. 14 Figura 1.5 – Esquema dos enrolamentos de um motor de corrente alternada Na figura 1.5a é indicado um enrolamento trifásico, que é composto por três enrolamentos monofásicos espaçados entre si de 120º. Se este enrolamento for alimentado por um sistema trifásico, as correntes I1, I2 e I3 criarão do mesmo modo seus próprios campos magnéticos H1, H2 e H3. Além disso, como são proporcionais às respectivas correntes serão defasados no tempo também de 120º entre si e podem ser representados por um gráfico igual ao da figura 1.6. O campo total H resultante será igual à soma gráfica dos três campos H1, H2 e H3 naquele instante. Em seguida, ainda na figura 1.6 representamos essa soma gráfica para seis instante sucessivos. Assim, enrolamento alimentado trifásicas, quando um trifásico é por cria-se correntes um campo girante, como se houvesse um Figura 1.6 – Formação vetorial do campor girante único par de polos girantes, de intensidade constante. Como o campo girante gira de acordo com os máximo e mínimos de corrente que atravessa cada enrolamento, temos que quanto mais rápido a corrente alternar, mais rápido o 15 motor irá girar. Iremos usar isso mais à frente para determinar a velocidade de rotação do motor de corrente alternada e como variá-la. Há dois tipos de motores de corrente alternada: os síncronos e os assíncronos, e a maior diferença entre os dois está no rotor. Diferenciando o rotor, teremos um tipo de motor ou outro. 1.2.1 O motor trifásico assíncrono, ou motor de indução O motor elétrico de indução trifásico, como os motores em geral, é composto fundamentalmente de duas partes: uma fixa, o estator, e uma móvel, o rotor. Diferentemente dos demais tipos de motores, entretanto, a única parte do motor de indução que recebe alimentação de energia elétrica é o estator, enquanto o rotor não tem alimentação elétrica alguma. Outra diferença no rotor do motor de indução, é que ele normalmente não tem espiras. Embora alguns motores de indução, para aplicações mais específicas, tenham os rotores bobinados, a maioria dos motores de indução tem um tipo de rotor conhecido como rotor em gaiola de esquilo. 1.2.1.1 O motor de indução com rotor em gaiola de esquilo Este é o motor mais largamente utilizado na indústria, devido à construção relativamente simples, pouca necessidade de manutenção, e custo reduzido quando comparado aos diversos tipos de motor. Sua principal característica, aquilo que lhe dá o nome, é o rotor construído de modo peculiar se comparado aos demais rotores: Figura 1.6 – Rotor em gaiola de esquilo explodido 16 Conforme podemos ver na figura 1.6, não há bobinas no rotor. O que temos são barras de material condutor unidas por anéis também condutores, que são colocadas dentro do núcleo magnético através de um processo chamado de injeção, que abordaremos mais adiante. O nome "gaiola de esquilo" ou "rotor engaiolado" vem justamente em referência às barras e anéis, que formam uma gaiola similar às gaiolas feitas para esquilos, usadas nos Estados Unidos. Quando o estator é então energizado e as linhas do campo magnético girante cortam o rotor, uma diferença de potencial é induzida nas barras e logo uma corrente elétrica começa a fluir por elas. Como são feitas de bom material condutor e estão em curto-circuito, a corrente no rotor cresce de modo a tornar o rotor também um eletroimã que vai tentar acompanhar a "movimentação" do campo girante. Como sempre há uma carga (ainda que o peso do próprio rotor) mecânica, os polos do rotor nunca se alinham aos do estator, fazendo com que a velocidade de giro do motor nunca seja exatamante aquela do campo girante, fenômeno que é denominado de escorregamento. Se por acaso os polos do rotor se alinhassem aos do estator, as linhas de campo do estator não mais cortariam o rotor, e o movimento cessaria. Devido ao escorregamento, o motor de indução também é chamado de motor assíncrono. O escorregamento, ou seja, a diferença de velocidade de giro entre a rotação do rotor e a do campo girante é tão maior quanto mais resistente for a carga mecânica sendo acionada. Enquanto isto não é um empecilho para a grande maioria das aplicações, há necessidades que exigem que a rotação permaneça constante independente da carga no eixo. Para estas aplicações, usamos o motor síncrono. 1.2.2 O Motor Síncrono Conforme mencionado anteriormente, o motor síncrono precisa ter sua velocidade de rotação constante e idêntica à velocidade do campo girante, que chamaremos daqui pra frente de velocidade síncrona. O único jeito de fazer isso acontecer, é garantir que o rotor seja um eletroimã de polaridade fixa, com campo constante, de modo que ele não acompanhe as variações do campo do estator. Para isso, usaremos um rotor semelhante ao rotor do motor de corrente contínua. 17 Conforme vemos na figura1.7, o rotor é bobinado, ao invés de engaiolado, e este formato previne que haja as correntes induzidas que vimos no motor assíncrono. O rotor é feito desta maneira de modo que possamos injetar nele corrente contínua, e magnetizá-lo de forma a criar um eletroimãe de polos fixos. O próximo passo é fazê-lo girar, o que por si só não acontece Figura 1.7 – Rotor de um motor síncrono devido à rápida velocidade de rotação de campo girante. Logo, é necessário acelerar o rotor até cerca de 95% da velocidade síncrona e, somente aí, aplicar a corrente contínua que fará com que ele gire a velocidade síncrona, somente com um pequeno ângulo constante de diferença, o chamado ângulo de torque. Se por ventura for aplicada uma carga maior do que o motor síncrono é capaz de acionar e o ângulo de torque crescer demais, o motor pára e é necessário parti-lo novamente. Devido a essa necessidade de manter exatamente a mesma velocidade do campo girante, uma limitação do uso dos motores síncronos era a impossibilidade de variar a sua velocidade de rotação. Com o surgimento dos inversores de freqüência, entretanto, essa impossibilidade passou a ser contornada, aumentando o interesse no uso de motores síncronos para baixas potências, mesmo com o preço consideravelmente mais alto quando comparado a motor assíncronos de potência equivalente. 1.3 Outros Tipos De Motores Dentro do vasto universo dos motores elétricos, temos ainda outros tipos comuns, de aplicações mais leves e menos comuns, mas que ainda assim encontram expressiva utilização em sistemas de controle e posicionamento, de funcionamento 18 similar aos três aparesentados acima, mas cada um dotado de sua própria particularidade. São eles: Motor de Passo: O estator tem polos que são energizado um de cada vez, e o rotor é feito em forma de roda dentada. A cada energização de um polo do estator, o dento adjacente é atraído, e com isso, tem-se o controle preciso da rotação do motor. Servomotor: Mais preciso que o motor de passo, é normalmente um motor CC dotado de um controlador eletrônico que controlará o giro de seu eixo com extrema precisão, corrigindo erros e eventuais desvios que acontecerem. É bastante aplicado em sistemas de controle e fabricação fina. Motor Universal: Construído de modo a operar tanto com alimentação CC quando AC, o motor universal é usado em potências baixas, e sua maior aplicação deu-se nos primeiros trens elétricos, que precisavam se deslocar a grandes distâncias e em linhas que nem sempre possuiam o mesmo sistema de alimentação. Logo, esses motores podiam ser alimentados por pantógrafos (sistema de captação de linhas aéreas com corrente usualmente alternada) ou terceiro trilho (trilho adjacente aos de deslocamento dos trens com alimentação usualmente CC). Motor Linear: Ao invés de produzir um torque e causar rotação, este motor AC é feito de modo que a força magnética seja linear. Vem encontrando usos cada vez mais freqüentes nos trens maglev, que flutuam sobre um campo magnético e viajam a altíssimas velocidades. 1.4 Um Olhar Mais A Fundo No Motor De Indução Com Rotor Em Gaiola De Esquilo De todos os tipos de motores elétricos existentes, no âmbito industrial e mesmo no doméstico, o largamente mais utilizado é o motor elétrico de indução (ou assíncrono) com rotor engaiolado, presente na grande maioria das aplicações em suas versões trifásica e monofásica. Daqui pra frente, quando nos referimos a "motor elétrico", estaremos nos referindo a este motor. Além disso, apesar das diferentes formas de fabricação e alimentação, todos os motores funcionam baseados nos princípios do 19 eletromagnetismo, logo, um núcleo magnético de perdas baixas para o motor de indução apresentará perdas baixas também para um motor síncrono, e assim sucessivamente. De posse disso, vejamos as partes que constituem no todo o motor elétrico de indução trifásico. 1.4.1 O Estator O estator, a parte fixa do motor, é compreendido por três elementos principais: a carcaça, que contém aletas para resfriação nos modelos blindados, e além da sustentação, protege o motor de agressões mecânicas, químicas e climáticas, o núcleo magnético que formará os polos do motor e o enrolamento, por onde fluirá a corrente elétrica que magnetizará o motor. 1.4.1.1 A carcaça: Conforme anteriormente, mencionado ela é confeccionada de um material robusto para dar sustentação e proteção ao motor. Os materiais que a constituem são variados, e baseiam-se Figura 1.8 – Visão de um estator explodido principalmente na aplicação e exposição do motor. Para motores de uso doméstico ou cujo equipamento a que serão acoplados provém proteção o suficiente, a carcaça não passa de um sustentáculo para as chapas do estator. Em aplicações onde o motor ficará exposto a atmosferas agressivas ou mesmo explosivas, a proteção mecânica não é o suficiente, e vedações e pintura diferenciada são usadas de modo a tornar a carcaça resistente às agressões que encontrará. Os materiais mais comuns para a carcaça nos motores industriais é o ferro fundido (Fe + [2.11% - 6,77%]C) branco, que é resistente, facilmente usinável e barato. Como encontra-se numa parte fixa do motor, seu peso é de menor importância. Outro 20 fator importante do ferro fundido é sua boa condutibilidade térmica, essencial para motores blindados. Nesse tipo de motores, encontramos aletas distribuídas ao redor de sua superfície externa, feitas ali para aumentar a superfície de contato com o ar e assim elevar a dissipação térmica do motor. 1.4.1.2 Núcleo magnético: O núcleo magnético é responsável por aumentar o fluxo magnético do campo causado pelas bobinas e com isso formar eletroimãs em seus polos. Em motores de corrrente contínua, esses polos são fixos, enquanto que em motores de corrente alternada o campo gerado é o campo girante. O estator é feito com várias lâminas finas de material magnético, prensadas para formar o conjunto do estator. O estudo dos materiais usados aqui será visto em detalhes no capítulo 3, e por isso não será exposto agora. O espaço reservado para as bobinas chama-se ranhura, e as estruturas que formarão os polos propriamente ditos são os dentes. 1.4.1.3 Enrolamento estatórico: Bobinas de cobre são enroladas ao redor dos dentes do estator, e esses enrolamentos podem ser trifásicos ou monofásicos nos motores de indução. As bobinas são isoladas entre si através de um recobrimento com verniz, isoladas da ranhura, amarradas com um barbante também isolante, e recobertas com uma camada de verniz adicional. Elas são dispostas de modo que o ligamento das três fases possa ser feito em estrela, triângulo ou demais tensões. Na carcaça. temos também os olhais de Figura 1.9 – O estator erguimento do motor para transporte, e a estrutura que recebe a caixa de ligação, além dos pés, que podem ser opcionais de acordo com a forma construtiva do motor. 21 1.4.2 O rotor Conforme vimos anteriormente, no motor elétrico de indução, o rotor não possui bobinas, ao invés disso é dotado de uma estrutura semelhante a uma gaiola. No rotor do motor assíncrono temos: 1.4.2.1 Eixo: O eixo é normalmente feito de aço-carbono tratado termicamente para ser resistente e suportar os esforços mecânicos da carga a ser acionada. É também sobre a sua estrutura que é montado todo o resto do rotor e do sistema de ventilação do motor. Sua ponta é confeccionada de diversas formas dependendo da aplicação, mas usualmente possui uma chaveta. 1.4.2.2.Núcleo Magnético: Assim como acontece no estator, o núcleo magnético do rotor é feito de material magnético cortado em lâminas finas e prensadas em conjunto de modo a formar o volume desejado. O estudo de seus materiais será visto mais a fundo no capítulo 3. 1.4.2.3 Barras Condutoras: Agindo como as espiras agem nos demais tipos de rotores, elas são feitas através de um processo denominado injeção. Nesse processo, o material é fundido e derramado dentro do núcleo magnético já montado, fator que é crucial para a escolha de seu material, que veremos mais à frente. Como são percorridas por altas correntes, possuem seção reta larga. Do mesmo modo que os circuitos relevantes do motor, o estudo dos materiais das barras será feito no capítulo 3 Figura 1.10 – Estator e rotor 22 .1.4.2.4 Anéis de Curto-Circuito: Os anéis de curto circuito unem as barras condutoras e são feitos do mesmo material delas. 1.4.3 As demais partes Além de rotor e estator, o motor constituite-se de outras partes essenciais ao seu funcionamento: 1.4.3.1 Tampas: Elas protegem o motor do meio externo, e por vezes servem para acoplamento. A dianteira pode ser flangeada de acordo com normas pré-determinadas, e nesse caso pode até mesmo sustentar o peso do motor. A traseira, em motores abertos, é vazada para permitir a entrada de ar, enquanto em motores blindados é completamente fechada, permitindo apenas a passagem do Figura 1.11 – Uma tampa dianteira (esq) e uma tampa defletora (dir.) eixo que irá girar o ventilador. Nesses casos, há também a tampa defletora, que permite a passagem do ar para o ventilador e guia-o de modo a fluir melhor por sobre as aletas da carcaça. Nas duas tampas, dianteira e traseira, há o suporte para os rolamentos que irão sustentar o eixo do rotor. As tampas dianteira e traseira são normalmente feitas do mesmo material da carcaça, enquanto a defletora é normalmente de alumínio, a não ser que o motor seja aplicado em ambientes de alta agressão mecânica (por exemplo, mineração). Neste caso, é comum a tampla defletora também ser de ferro fundido. 1.4.3.2 Caixa de Ligação: A caixa de ligação é o local por onde o motor é alimentado, e por isso precisa ser bem protegida de agentes externos principalmente por questões de segurança e 23 umidade. A entrada para os cabos é vedada, e a caixa é feita do mesmo material da carcaça para evitar que agressões mecânicas venham por ventura a desconectar alguma das fases da alimentação do motor. Figura 1.12 – Caixa de ligação 1.4.3.3 Ventilador: O ventilador é o mecanismo responsável por ventilar o motor. Todo o motor é dimensionado de modo que a sua velocidade nominal de rotação gire o ventilador rápido o suficiente para que o fluxo de ar através das aletas de sua carcaça (modelos blindados) ou através de seu interior (modelos abertos) seja o necessário para resfriá-lo dentro das condições nominais de operação do motor. O ventilador nos modelos blindados é protegido pela tampa defletora, e precisa dela para seu correto Figura 1.13 – O ventilador posicionado sobre a tampa traseira funcionamento. O material usual para a confecção do ventilador é o plástico, mas em aplicações de grandes agressões químicas e/ou mecânicas, ele é feito de alumínio. A figura 1.14 ilustra bem como se dá a ventilação em motores blindados: 24 Figura 1.14 – A ventilação do motor blindado Em motores cuja velocidade de rotação apresente-se inferior à nominal, pode se fazer necessário o uso de kits de ventilação forçada, que manterá o ventilador girando rápido ainda que o eixo do motor não esteja. Nesses casos, o ventilador é independente do eixo do motor. Figura 1.15 – As partes principais do motor elétrico de indução 25 2. PERDAS NO MOTOR ELÉTRICO As perdas dentro de um motor elétrico de indução, e portanto seus principais mecanismos geradores de calor, podem ser divididos em cinco grupos principais, relacionados principalmente ao local onde eles ocorrem. Essas são as perdas Joule, as perdas por histerese, perdas por corrente de Foucault, as perdas dispersas e perdas mecânicas. Cada uma delas é sintetizada abaixo: Perdas joule: As perdas Joule correspondem à conversão de energia elétrica em térmica num meio eletricamente condutor. Esse tipo de perda está diretamente relacionado à resistência elétrica do condutor e muda proporcionalmente ao quadrado da corrente, ou seja, Pj=R.I2. Geração de calor (logo, perdas) por efeito Joule em motores elétricos de indução com rotor em gaiola de esquilo ocorre no estator (bobinas de cobre) e na gaiola do rotor (barras de alumínio). Perdas no ferro: Essas perdas ocorrem devido à conversão de energia elétrica em energia térmica no núcleo magnético dos motores, tanto no estator, quanto no rotor. Elas são divididas em perdas por histerese e por corrente de Foucault (correntes parasitas). As perdas por correntes parasitas são na verdade perdas Joule causadas por correntes induzidas no núcleo magnético. Já Figura 2.1 – Lócus BH (curva de histerese) as perdas por histerese acontecem devido à energia gasta para alinhar os dipolos magnéticos do ferro com o campo magnético, e a sua magnitude corresponde à área do ciclo de histerese conforme a figura 2.1: Perdas dispersas: Estas são perdas menores na operação do motor elétrico, e sua quantificação é muito difícil. Elas incluem as perdas devido ao efeito skin, altas freqüências, entre outras, que são desconhecidas ou não facilmente quantificadas. Representam cerca de 10% de todas as perdas. 26 Perdas mecânicas: Essas perdas compreendem a conversão de energia mecânica em energia térmica devido ao atrito e perdas por viscosidades. Aqui estão inclusas principalmente as perdas nos rolamentos e no ventilador. As perdas no ventilador acontecem devido devido à energia requerida para soprar o ar sobre a superfície do motor. Como a energia mecânica gerada no motor é obtida através da conversão de energia elétrica, as perdas mecânicas são contabilizadas nas perdas elétricas. Contribuição de cada grupo: A figura 2.2 mostra a contribuição das perdas de acordo com a sua localização (Cesário et Al., 2005), em escala relativa. Figura 2.2 – Distribuição das perdas no motor elétrico de indução 2.1 As Perdas No Ferro O campo magnético variável no tempo ao atravessar um meio magnético possui perdas associadas à histerese e às correntes induzidas (se o material for condutor). As máquinas elétricas compostas por núcleos magnéticos, como é o caso dos motores elétricos, possuem perdas energéticas que diminuem seu rendimento durante a magnetização do núcleo. Um dos modelos das perdas magnéticas no material magnético é sua separação em três componentes, perdas por histerese, perdas por correntes induzidas ou correntes de Foucault, e perdas dispersas. A fim de atenuar as correntes induzidas no 27 núcleo, o aço para fins elétricos é utilizado de forma laminada quando usado em estruturas submetidas a campos regularmente variáveis no tempo. 2.1.1 Perdas por histerese A perda por histerese está relacionada com a energia necessária para deslocar as paredes dos domínios magnéticos. Em freqüências em que o efeito pelicular de distribuição da indução em lâminas é desprezível (para lâminas de 0,5mm de espessura e até aproximadamente 400 Hz) ou seja, quando o fluxo magnético no interior do material é homogêneo, as perdas por histerese não dependem da freqüência de excitação. Podem ser medidas em uma freqüência próxima a zero, em um regime quase estático, em torno de 1Hz ou menos. Esta técnica parece ser a mais indicada, já que se está medindo o valor das perdas em uma freqüência tão baixa que as componentes dinâmicas podem ser desprezadas. A grande dificuldade deste método é o controle da forma senoidal nesta baixa freqüência, exigindo equipamentos especiais. Geralmente, o gráfico BH (ou lócus B(H)) de um material é denominado gráfico de histerese do material. A Fig. 2.3 apresenta duas formas de onda no lócus B(H) em duas freqüências distintas. Pode-se chamar gráfico de histerese a forma obtida à freqüência de 1Hz para o aço ao silício, pois corresponde aproximadamente à perda por histerese, não apresentando os efeitos significativos das perdas dinâmicas. Já a curva BH à 50 Hz representa, além das perdas por histerese, as perdas dinâmicas também. Figura 2.3 – Curvas de Perda por Histerese 2.1.2 As perdas dinâmicas Além das perdas por histerese, o material apresenta perdas que variam com a freqüência da forma de onda do fluxo, incluindo o efeito das harmônicas. Estas perdas, 28 denominadas perdas por correntes de Foucault, são geradas através das correntes induzidas no núcleo ferromagnético quando este é percorrido por um fluxo variável no tempo. A variação do fluxo produz um campo elétrico ao longo de um caminho fechado e, como este “caminho” possui uma condutividade elétrica associada, formam-se anéis de corrente. Ao analisar uma lâmina de aço, sendo seu fluxo paralelo à sua direção, haverá a formação de anéis de corrente num plano perpendicular ao do fluxo. Ao tornar a lâmina mais fina, achatam-se estes anéis de correntes induzidas, dificultando sua formação. Também é possível a inserção de silício (também alumínio ou outras substâncias) ao aço para a diminuição da condutividade da lâmina e, conseqüentemente, diminuir a densidade de corrente. Figura 2.4 – As correntes de Foucault numa lâmina de material magnético 2.1.3 Compondo as perdas Totais no Ferro: Para medir cada uma das três componentes de perdas magnéticas, devem-se realizar ensaios específicos que possibilitem separar numericamente cada uma das parcelas. A única parcela das três que pode ser medida diretamente é a perda por histerese, considerando que em uma freqüência relativamente baixa as perdas dinâmicas possam ser desprezadas. Para contornar a dificuldade prática de medir perdas em uma freqüência muito baixa, onde são necessários equipamentos especiais, é possível realizar a separação das componentes de perdas realizando um ensaio em freqüências diferentes (a norma NBR5161 indica as freqüências de 50Hz e 60Hz). Extrapolando esta curva para um valor de f = 0, o valor extrapolado corresponderá à perda por histerese. 29 Os modelos de perdas no ferro apresentados podem ser reunidos em uma única equação simplificada. Esta equação pressupõe que os três tipos de perdas não interagem entre si, sendo um sistema linear e que se pode aplicar o princípio da superposição dos efeitos. A equação (2.1) representa matematicamente as perdas magnéticas totais para qualquer amplitude de indução B e qualquer freqüência f. O valor de ft representa a freqüência em que foi realizado a medida da perda total, ou seja, para qual valor de f as constantes kf e ke foram calculadas. Wt = k h ⋅ B α + f ⋅ k f ⋅ B2 + ft f ⋅ k e ⋅ B 1.5 ft [J/kg] (2.1) A figura 2.5 mostra como se comportam as perdas no ferro de um motor elétrico de acordo com a freqüência. Observe que conforme foi dito anteriormente, a perda por histerese independe da enquanto as freqüência, perdas dinâmicas crescem de uma maneira que pode ser tida como linear valores de encontrados fornecimentos para os freqüência nos de concessionárias. E do mesmo modo, mostram-se como um sistema linear, Figura 2.5 – A composição das perdas no ferro conforme indicou a equação (2.1). Observe que os valores medidos foram muito próximos dos valores calculados. 2.1.4 Noções dos processos metalúrgicos do aço: tratamento térmico e estampagem O princípio de funcionamento dos motores elétricos de corrente alternada baseiase no fluxo magnético variável no tempo e espaço (senoidal), de forma a produzir uma força no entreferro, fazendo o rotor girar com torque definido. Como visto no capítulo 30 anterior, a passagem deste fluxo magnético em um meio condutor (as lâminas de aço) produz correntes induzidas indesejáveis, as quais provocam perdas energéticas no equipamento. Através da análise das equações das perdas, verifica-se que existem várias formas de reduzir as perdas magnéticas dos equipamentos. Podem-se diminuir tanto as perdas por histerese como as perdas dinâmicas. A minimização da perda por histerese comporta a ciência dos materiais e a metalurgia, e não será explorada aqui por enquadrar-se no escopo do trabalho do grupo de Materiais Magnéticos. Porém existem processos na produção das maquinas elétricas que influenciam estas perdas, como a estampagem das lâminas, o tratamento térmico, a pressão exercida nas lâminas, entre outros. Quanto às perdas dinâmicas, pode-se reduzi-las diminuindo a espessura da lâmina, ou aumentando sua resistência elétrica através da incorporação de silício ao aço. Uma vez otimizados todos estes fatores, resta apenas melhorar os detalhes construtivos das máquinas elétricas. Outros fatores também podem influenciar as perdas dinâmicas, tais como as rebarbas devidas à estampagem das chapas, o revestimento das lâminas e os parafusos de fixação. Assim, vários fatores influenciam o desempenho magnético e energético do motor, alguns somente na parcela por histerese, outros na parcela dinâmica, ou em ambos. Alguns detalhes construtivos serão estudados ao longo deste trabalho, isolando o efeito provocado por cada um deles nas propriedades magnéticas das lâminas. 2.1.4.1 Tratamento Térmico O processo de fabricação do aço é composto por várias etapas, podendo ser uma delas o tratamento térmico. O aço que recebe este tratamento térmico em sua última etapa de produção é conhecido como aço totalmente processado, enquanto que o aço que não recebe este tratamento é denominado como aço semi-processado. No caso especifico de aços utilizados para fins elétricos, que é o caso deste trabalho, este tratamento térmico chama-se recozimento final. O recozimento dos aços semiprocessados é fundamental para a melhoria das propriedades magnéticas entre outras, sendo então realizado pelo fabricante das máquinas elétricas. O recozimento reduz as 31 perdas magnéticas pela metade e aumenta a permeabilidade de 100 a 300%, pois durante este processo ocorre: redução do teor de carbono, devido a atmosfera oxidante; alivio das tensões (introduzidas pelo corte); recristalização; crescimento de grão; formação da camada superficial dielétrica Os aços totalmente processados já receberam o tratamento térmico na fábrica, e o recozimento pelo consumidor final é opcional. Como as propriedades magnéticas do aço são afetadas por tensões mecânicas introduzidas durante a operação de corte e puncionamento, recomenda-se um tratamento térmico para o alivio de tensões. O recozimento dos aços é realizado após o processo de estampagem, justamente para aliviar as tensões introduzidas pelo processo de corte. Foi realizado um experimento em lâminas de aço-silício semi-processadas, do tipo 1006, com e sem o tratamento térmico, onde foram medidas as perdas magnéticas, separando-as em perdas por histerese e perda dinâmica. Como o tratamento térmico apenas modifica a estrutura dos grãos magnéticos, somente a perda por histerese é modificada de modo Figura 2.6 – Efeito do tratamento térmico nas perdas no ferro significativo. A parcela das perdas dinâmicas permanece inalterada. Através da figura 2.6 percebe-se que a perda por histerese (Ph) sofre uma grande diminuição com o tratamento térmico, enquanto que a perda dinâmica (Pw) não sofre alterações significativas. Observa-se que o tratamento térmico reduziu as perdas por histerese em média de 77%. 32 Na Figura 2.7 pode-se ver o laço BH de ambas as lâminas a 50 Hz. O tratamento térmico reduziu a área do laço (conseqüência da diminuição das perdas), diminuindo também o valor do campo Hmáx necessário para o material chegar na indução de 1,5T. O laço BH da lâmina não tratada apresenta uma perda Figura 2.7 – Lócus BH comparativo de laminas tratadas e não tratadas. magnética muito maior que a lâmina tratada, na ordem de 109%. 2.1.4.2 Inconvenientes do Tratamento Térmico: Há duas maneiras de se realizar o tratamento térmico nas chapas de um motor. A primeira alternativa é realizá-lo nas lâminas antes de elas serem prensadas para formar o corpo do núcleo magnético. A outra consiste de primeiro prensar-se as chapas para formar o núcleo magnético e em seguida aplicar o tratamento térmico já no corpo prensado. No caso da segunda alternativa, pode ocorrer o que chamamos do fenômeno 'stick together', em que, devido à alta temperatura a que o material é submetido, microsoldas ocorrem em variados pontos entre as lâminas, criando caminhos para as correntes parasitas de Foucault, justamente aquelas que fez com que afinássemos as lâminas para que fossem reduzidas. Para exemplificar o efeito dessas microsoldas causadas pelo stick together, foi feito um experimento que mediu as perdas e permeabilidade magnética em núcleos magnéticos cujas lâminas foram revestidas com isolamento, de modo a impedir o stick together delas durante o tratamento térmico, e em lâminas que não foram revestidas. A figura 2.8 mostra o resultado do experimento: 33 Figura 2.8 – Efeitos do isolamento interlaminar durante o tratamento térmico Percebe-se que quanto mais lâminas juntas, que possuem micro-soldas entre si, maior é o valor das perdas no pacote e menor a permeabilidade do conjunto. Fica evidente nesta figura que a presença do revestimento na lâmina inibe a formação de micro-soldas que proporcionam caminhos alternativos para as correntes induzidas. Outra comparação realizada foi com a adição de 3 pontos de solda na aresta da circunferência externa do estator. Esta estratégia fornece parte de um caminho sólido para as correntes induzidas, sendo a outra parte do caminho fornecido pelas microsoldas entre as lâminas. Desta forma, pelos testes realizados, há uma interação entre os efeitos das micro-soldas, dos caminhos provenientes dos pontos de solda e das lâminas serem ou não revestidas. Note na figura 2.9 que o revestimento não foi suficiente para manter as perdas constantes (no caso anterior, o revestimento foi suficiente para inibir a formação de caminhos de correntes induzidas, mantendo a perda praticamente constante mesmo com a presença das micro-soldas). Desta maneira, as soldas externas ao pacote proporcionaram um caminho para a formação de correntes induzidas. Este ensaio aponta que revestimentos pobres e com pontos de contato sólidos para fixar as lâminas no pacote possibilitam que as perdas em tal núcleo sejam relativamente elevadas. Mesmo se houver um bom revestimento, os contatos sólidos diminuem a ação do revestimento preexistente no material. 34 Figura 2.9 – Efeitos da aglutinação do pacote do estator 2.1.4.3 Estampagem A estampagem consiste no corte das chapas de aço-silício nas lâminas finas que serão usadas para compor o núcleo magnético, tanto do estator quanto do rotor, de um motor elétrico. O molde do corte normalmente já é preparado de acordo com o perfil do circuito magnético do motor, pronto para ser agrupado e prensado para formar a parte a qual se destina. O processo de estampagem do material deteriora a estrutura cristalina dos domínios magnéticos. Como os grãos (ou domínios magnéticos) têm uma distribuição homogênea ao longo do material, a perda por histerese (movimentação das paredes dos domínios magnéticos) é homogênea no material. Com a estampagem, essa distribuição deixa de ser homogênea na região próxima ao corte, acarretando aumento da perda por histerese. A figura 2.10 mostra a nível microscópico como a estrutura do aço-silício é alterada pelo processo de estampagem na região próxima ao corte: 35 Figura 2.10 – Foto microscópica da região de corte de uma lâmina de aço-silício Estudos de resultados práticos revelam que o processo de estampagem produz uma deterioração na estrutura magnética com um conseqüente aumento da perda por histerese. Neste processo a resistividade do material não é afetada e, conseqüentemente, a variação das perdas dinâmicas é pequena. Talvez nas perdas dinâmicas exista uma variação da parcela das perdas excedentes, já que estas são funções da microestrutura do material. Todavia, medições em motores de indução com gaiola de esquilo mostraram que a presença de rebarbas não altera significativamente o desempenho magnéticos dos mesmos, uma vez que a zonas de stress criadas pelas rebarbas são muito pequenas, não se justificando, portanto, o acréscimo ao custo de produção que incorreria a fabricação com rebarbas menores. 2.2 Perdas No Cobre Como mencionado anteriormente, por tratar-se de um circuito predominantemente elétrico (ainda que responsável pela magnetização da máquina), as perdas no enrolamento de um motor elétrico são aquelas causadas pela transformação de energia elétrica em calor através do efeito Joule, as Perdas Joule. Todavia, diferente do que ocorre no núcleo magnético, a corrente que causa as perdas joule no enrolamento trata-se justamente na corrente nominal do motor, e está relacionada com o condutor pela qual ela flui. Além disso, o caminho por ela percorrido é conhecido e pré-estabelecido, facilitando os cálculos das perdas. 36 O enrolamento de armadura das máquinas de indução trifásicas possui três circuitos elétricos formando espiras depositadas nas ranhuras das chapas de aço-silício do estator. Iremos assumir, para fins de análise, que estes três circuitos estão ligados em Y. Tal hipótese não prejudica a generalidade pretendida e facilita a análise do circuito equivalente da máquina. Assim, analisando o enrolamento de uma fase do estator, pode-se dizer: Ele é dotado de um único condutor (na prática, os fabricantes usam vários condutores em paralelo, mas para efeito de cálculo, um único condutor chega aos mesmos resultados); Cada fase é formada por enrolamentos de um condutor de cobre com um comprimento Lf Cada fase possui uma impedância resistiva que vale: R = ρ.Lf/S, onde S é a área da seção transversal do condutor. Sendo Pest a perda total no enrolamento das três fase e Pf a perda no enrolamento de cada fase, temos que: Pest = 3Pf (2.2) Mas: Pf = R.I2 (2.3) onde I é a corrente na fase. Assim sendo, as perdas no enrolamento do estator podem ser expressas conforme abaixo: Pest = 3.ρCu.Lf/S . I2 (2.4) Logo, tal como em qualquer circuito elétrico, quanto maior a corrente que circular nas fases do enrolamento do estator, maiores serão as perdas ali. O mesmo raciocínio é aplicado para o cálculo das perdas joule nas barras do rotor. Para isso, iremos considerar a reflexão do circuito do rotor no circuito do estator – processo que não é objetivo deste estudo, e por isso não será aqui detalhado. Sendo Pb as perdas causadas pela componente de corrente induzida por cada fase sobre as barras da gaiola do rotor, diremos que a perda total no rotor, Prot é definida por: 37 Prot = 3.Pb (2.5) Sendo Lb e Sb o comprimento total das barras do rotor e a área da seção de uma barra individual, respectivamente, temos que: Prot = 3.ρAl.Lb.I2 /Sb (2.6) Logo, condutores de excelente percentagem IACS são os melhores condutores para uso em bobinas e barras de motores elétricos, uma vez que sua pureza aumentará a condutividade elétrica do material. Como visto nesta seção, escolheu-se o cobre para a confecção das bobinas do estator, mas não para as barras do rotor. Se para uma mesma potência será requerida sobre o rotor a mesma corrente independente do material de suas barras, por que então não utilizar o cobre? O motivo encontra-se no fato de que embora o cobre seja melhor condutor, assim como acontece em linhas de transmissão e outras aplicações, além de mais barato, o alumínio é mais leve que o cobre. Uma vez que o rotor é uma parte móvel, e movê-lo consome potência útil do motor como um todo, ele também precisa ser o mais leve possível. 2.3 Perdas Dispersas 2.3.1 Antecedentes A história da medição das perdas dispersas é interessante, pois apresenta um dos maiores desafios para o desenvolvimento de máquinas elétricas girantes. Em 1932, fabricantes de bombas começaram a pedir dos fabricantes de motores os "verdadeiros" rendimentos das máquinas ao invés de valores calculados das maneiras que vimos nas seções anteriores. Essas eficiências "verdadeiras", determinadas através de testes a plena carga, naturalmente revelaram um perda de energia adicional do motor além daquelas já conhecidas: perdas no ferro, no cobre e mecânicas. Na época, os principais órgãos de regulamentação americanos, o IEEE e a NEMA, baseavam suas normas somente nas perdas calculadas, e não nessas perdas recém descobertas. Embora estudos que já haviam identificado essas perdas existissem desde 1913, a dificuldade em quantificá-la 38 (normalmente 10% a 20% de toda a perda na máquina) levou a indústria a um consenso geral de somente ignorá-la. Então, de volta ao ano de 1932, expressou-se o medo de que "nos próximo anos, rendimentos reais seriam necessários (...), e isso levaria caos às várias fabricantes de motores elétricos na corrida por decifrar como se davam essas perdas". Propôs-se então que em breve seria publicado um artigo expondo os meios de quantificar essas perdas. Mas essa não era uma tarefa fácil, e ela não foi concluída "em breve". Somente em 1939 foi publicado um artigo definindo o que se tornou o único teste normatizado para quantificação das perdas dispersas até então, ele permanece controverso mesmo nos dias de hoje. Enquanto isso, em 1934, outro artigo analisou a complexa estrutura das perdas dispersas concluindo que um método satisfatório de determinação experimental ainda era um problema. Esse trabalho relacionou as perdas dispersas a um fator principal e difícil de ser medido: vazamento de fluxo magnético. 2.3.2 Generalização Em geral, essas perdas, associadas a descontinuidades no campo magnético, provém de condições que não são contabilizadas pela perda por histerese ou pelas correntes de Foucault, e acontecem quando as ranhuras do rotor - sejam elas onde se encontram as barras ou outro tipo de rotor - varrem as ranhuras do estator. Como são função de descontinuidades no campo magnético, elas são proporcionais à corrente. Logo, quanto maior o número de Ampères/espira dentro do enrolamento, maior essas perdas. Durante os testes normais do motor, a simples avaliação das perdas no ferro não vai captar as perdas dispersas porque estas variam com a corrente, logo, com a carga aplicada ao eixo do motor. Como foi dito, a maioria das perdas dispersas provêm de vazamento de fluxo magnético. O termo vazamento quer dizer simplesmente que o fluxo do campo magnético não se comporta como água num cano, ou corrente contínua num condutor. Há vários campos magnéticos num motor, que circundam condutores e penetram 39 conforme avançam em espaços magnéticos e não magnéticos, sem observar fronteiras precisas. Nós pensamos em linhas de campo magnéticos como uma rede que flui em padrões de círculos concêntricos ao redor de um condutores, ou fluindo pelos dentes de uma lâminas em trajetos paralelos entre si. A maior concentração de fluxo magnético estará seguindo justamente esses padrões, mas uma pequena parte do campo vai interagir com condutores próximos, ocupar espaços que não deveriam ocupar, e levar a perdas nessas áreas. Tais fluxos de vazamento são então distorcidos por descontinuidades nas estruturas magnéticas conforme elas atravessam o campo ou vice-cersa. Por exemplo, o chamado "fluxo zigue-zague" tem esse nome porque vai e volta pelo entreferro, interligando os condutores do rotor e do estator. Assim, quanto maior a distância de entreferro, menor se tornam alguns componentes das perdas dispersas. O preço de um entreferro mais largo, entretanto, é uma maior corrente de magnetização e por conseqüência uma maior perda no cobre. 2.3.3 Vazamentos da gaiola do rotor Vazamento de fluxo magnético na gaiola do rotor é um elemento significativo nas perdas dispersas. Em rotores engaiolados (como mencionado anteriormente, trata-se da grande maioria dos rotores), ocorrem correntes de fuga das barras para as lâminas do núcleo conforme elas buscam o caminho mais curto através do ferro de um anel de curto circuito para o outro. Por pelo menos meio século, vários métodos já foram propostos para bloquear essas correntes de fuga através de uma isolação entre as barras e o núcleo magnético. Processos químicos e metalúrgicos foram testados de forma a isolar as barras da gaiola ou a superfície das lâminas do núcleo onde elas formam as ranhuras das barras. A maioria, até agora, foram ineficientes ou de custo muito elevado. Uma das razões é que o tratamento do núcleo num rotor engaiolado precisa suportar as temperaturas de injeção do alumínio (cerca de 760ºC). Outro problema é a inevitável dilatação e contração que os materiais sofrem de forma diferente conforme a máquina esquenta ao entrar em serviço e resfria ao sair dele. 40 Um modo oposto de tratar o problema que foi usar capas condutoras de modo a reduzir a resistência barra-núcleo (o R do termo I2R) encontrou ainda maior taxa de fracasso para motores de porte pequeno e médio, produzidos em alta escala. 2.3.4 A Dicotomia das perdas dispersas Infelizmente, quando tentamos levar todas as variáveis em consideração, vemos que mudar o desenho das lâminas e a disposição dos enrolamentos para diminuir uma parcela dos componentes das perdas dispersas, nós aumentamos outras. O comprometimento do processo é inevitável. Por exemplo, perdas por pulsação nos dentes no núcleo são altamente dependentes do número de ranhuras no estator e no rotor. Um motor de 4 polos com 72 ranhuras no estator vai ter menos perdas dispersas com um rotor de 58 ranhuras do que com 86 ranhuras. Alguns fabricantes de grandes motores tentam basear seus padrões de projeto nesse princípio. Mas tal fato não pode ser aceito sem ressalvas, entretanto. Uma delas é que, em grandes máquinas, menos ranhuras no rotor implica em barras da gaiola que podem ser largas demais para serem factíveis. Outra é que menos ranhuras implica em ranhuras maiores - o que aumenta outro componente das perdas dispersas. Assim, as perdas dispersas têm alguns de seus componentes reduzidos, mas em função justamente dessa redução outros crescem. Outra prática, comum na Europa, é o uso de cunhas de material magnético para fechar as ranhuras, porque essas cunhas essencilamente eliminam a descontinuidade magnética formada pela abertura da ranhura (descontinuidade essa que, em máquinas de baixa tensão é pequena o suficientes para tornar essas cunhas especiais economicamente inviáveis). Porém, o alto custo, mudança nas propriedades do material com o envelhecimento e redução de apenas uma parte das perdas dispersas impedem o uso mais difundido desta técnica. 2.3.5 Medição das perdas dispersas Uma vez que o motor foi projetado e construído, como são determinadas suas perdas dispersas reais? Uma alternativa é assumir seu valor através de uma análise 41 empírica de um grande número de motores similares, conforme define a norma IEEE 112: O teste calorimétrico consiste em colocar o motor, com suas outras perdas medidas por meios convencionais, em operação a plena carga dentro de uma câmara termicamente isolada. O calor medido dentro desta câmara após o funcionamento equivale às perdas totais do motor. Subtrair deste valor as perdas conhecidas fornece o valor das perdas dispersas. A norma americana e a norma européia discordam na variável principal em função da qual se calculam as perdas dispersas. A americana considera que elas variam de acordo com o quadrado da corrente do rotor, enquanto a européia afirma que as perdas dispersas variam com o quadrado da corrente do estator. De qualquer modo, as perdas dispersas podem ser representadas no circuito equivalente do motor por uma resistência. A dificuldade, claro, está em determinar o valor desta resistência através de medições. Na verdade, alguns componentes das perdas dispersas ocorrem no rotor, enquanto outros no estator. Alguns variam com a corrente, outros não. O uso da determinação das perdas dispersas pela corrente de estator implica numa dificuldade de medição quando o motor opera a vazio, uma vez que há correntes significativas no rotor e ainda assim as perdas dispersas são consideradas nulas por este modelo. Por outro lado, o uso do modelo americano de variação de acordo com a corrente do rotor implica numa variável que não pode ser medida diretamente com o motor em funcionamento, e sim calculada através do circuito equivalente. Outros tipos de medição das perdas dispersas existem, todos igualmente dependentes de instrumentos específicos e dependentes da remoção do motor de seu local de aplicação. Assim sendo, essa medição é de maior interesse do projetista do motor do que de seu usuário final. No final das contas, o método adequado para redução de tais perdas é escolhido com base na aplicação, potência e rendimento desejado do motor, não havendo um padrão pré-definido empirica ou matematicamente para calculá-las. 42 3. OS MATERIAIS USADOS EM MOTORES ELÉTRICOS De posse do exposto no capítulo anterior, passamos à análise dos materiais disponíveis para os circuitos elétrico e magnético do motor, além dos materiais de isolação. Uma vez que sabemos como o motor funciona e como se dão as perdas no processo da transformação de energia elétrica em energia mecânica, escolhemos agora os materiais que usaremos para tornar essa perda o menor possível, dentro das tecnologias disponíveis e economicamentes acessíveis. Aço-silício é o material magnético macio básico para motores elétricos. Materiais de pó macio amorfo foram introduzidos apenas recentemente, com potencial para aplicação em motores de alta velocidade (alta freqüência). O cobre puro é o material preferido para os circuitos elétricos (enrolamentos), enquanto alumínio ou latão são usados para enrolamento de motores em gaiola de esquilo. 3.1 Materiais Magnéticos A primeira consideração que deve-se fazer é que precisamos de materiais de alta permeabilidade magnética, que ofereçam a mínima resistência possível ao campo magnético que, a cada ciclo da corrente, alterará o sentido dos dipolos magnéticos no núcleo magnético. Por isso, usaremos materiais magnéticos macios. Dentro dos materiais magnéticos macios, o aço é um excelente candidato devido a suas características mecânicas e propriedades magnéticas muito próximas às do ferro, mantendo porém um índice bem menor de corrosão do que a susbtância pura. Todavia, o aço por si só é bom condutor elétrico, e como visto no capítulo anterior, busca-se reduzir a condutividade do núcleo magnético dos motores de modo a reduzir as perdas por corrente de Foucault. Por isso, ao invés de somente aço, é usado o açosílicio, também conhecido por sua vasta aplicação em máquinas elétricas como aço elétrico, ou aço de transformador. O aço silício é uma liga de ferro, carbono e silício que contém até 6.5% de silício em sua composição, enquanto o carbono varia entre 0.2% e 2.1%. O uso do silício é essencial porque reduz significativamente a condutividade elétrica do aço, limitando assim as correntes de Foucault, e consequentemente a perda no núcleo magnético. 43 Há dois tipos principais de aço-silício: o de grãos orientados, e o de grãos não orientados. Entrar nos pormenores das propriedades destes dois materiais e o que os diferencia faz parte do escopo do grupo de materiais magnéticos, portanto não será abordado neste trabalho. Grão Orientado: Os dipolos magnéticos deste aço (grãos) possuem uma orientação especial, que faz com que a densidade de fluxo magnético na direção desta orientação cresça cerca de 30%, ainda que sua saturação diminua na faixa de 5%. Além disso, devido a melhor orientação dos dominínios magnéticos, possui menor vazamento de fluxo, tornando-o especialmente atrativo para a construção de motores de alto rendimento. Como era de se esperar, possui um custo elevado, o que termina por limitar seu uso a aplicações onde o preço seja essencial. Grão Não-Orientado: É o material mais amplamente usado na construção de máquinas elétricas em geral, não só motores. Mais barato e menos eficiente que o aço de grão-orientado, ainda conserva a melhor relação custo-benefício para a maioria das aplicações da indústria. Normalmente, em ambos os tipos de aço-silício, a concentração do silício varia de 3% a 3.5%. Porém, pesquisas recentes mostram que lâminas de aço-silício não orientado a 6.5% para máquinas de baixa tensão a 60Hz são capazes de obter uma redução de até 40% nas perdas no núcleo, assim como também de reduzir o ruído. Melhorias similares foram obtidas com lâminas de aço-silício de grãos orientados de 0,35mm de espessura, alternando a orientação dos grãos em lâminas adjacentes: uma com orientação magnética perpendicular, e outra com estrutura magnética cruzada. Compostos Magnéticos Macios (SFC) vem sendo produzidos por tecnologias de metalurgia em pó. O pó de partículas magnéticas são cobertos com camadas de isolação e um aglutinante, sendo comprimidos em seguida para prover a maior resistividade elétrica possível sem entretanto afetar as propriedades magnéticas deste material. Todavia, além do elevado custo, estes materiais ainda não apresentam uma permeabilidade magnética alta o suficiente para serem usados como material principal de núcleos magnéticos. 44 Todavia, vantagens como maior liberdade na escolha da geometria do núcleo do estator e o aumento do número de espiras por ranhuras preenchidas com SFCs, podem levar a um vasto uso de Compostos Magnéticos Macios em motores elétricos de indução, trazendo com isso o aumento da carga que eles serão capazes de acionar. Ainda assim, ao menos num futuro próximo, lâminas de 0,5mm de aço-sílico melhores, com grãos não orientados a 6.5% tendem a ser a base dos materiais magnéticos macios para a fabricação são só de motores elétricos, mas também da maioria das máquinas de indução 3.2 Materiais Elétricos Condutores elétricos de cobre são usados na produção dos enrolamentos. Cobre elétrico tem uma pureza alta e é fabricado por um processo de eletrólise, obtendo uma pureza acima de 99%. A seção reta de condutores de cobre a serem introduzidos nas ranhuras são retangulares ou circulares Figura 3.1 – Disposição das bobinas dentro da ranhura do estator. Em geral, condutores de seção circular são feitos em diâmetros padrões até um diâmetro de cerca de 2.5mm a 3mm. A seção reta total Acon do condutor da espira depende da corrente de fase Iln e da densidade de corrente Jcon. Acon=Iln / Jcon (3.1) A densidade de corrente varia entre 3.5 e 15 A/mm2 dependendo do sistema de ventilação, número de partidas por hora, e eficiência desejada. Motores de eficiência alta são caracterizados por densidade de corrente menor. Se Acon em é maior do que a seção reta do maior diâmetro de fio disponível, alguns condutores de diâmetro menor 45 são conectados em paralelo e enrolados juntos. Até 6 ou 8 condutores elementares podem ser conectados desta maneira. Se a Acon for maior do que 30 a 40mm2 (isto é, 6 a 8 fios de 2,5mm2 em paralelo), recomenda-se condutores de seção retangular. Em muitos países, esses condutores também são parametrizados. Em geral, a altura de condutores retangulares é pequena em comparação com a largura (a<3.5mm) para reduzir o efeito Skin. Para motores de alta potência, a área da seção reta mais comum é 3.55mmx50mm. A gaiola do rotor é geralmente feita de alumínio. A escolha do alumínio acontece pelas seguintes razões: Condutividade elétrica: O alumínio possui boa condutividade elétrica, não tão boa quanto a do ferro ou a da prata, mas ainda alta o suficiente para para que se leve os fatores abaixo em consideração; Peso: O alumínio é mais leve que o cobre, fator crucial para um componente do rotor. Uma vez que parte da energia gasta pelo motor irá ser usada para mover o rotor, este precisa ser o mais leve possível. Logo, entre os bons condutores, pela leveza, o alumínio é escolhido; Preço: Além de mais leve, o alumínio é mais barato que o cobre; Figura 3.2 – Cotação de Insumos Fabricação: Finalmente, o processo de fabricação mais comum de rotores em gaiola de esquilo consiste primeiramente em formar o núcleo de chapas do rotor. As chapas já são cortadas de tal modo que seja deixado o espaço ocupado pela gaiola de alumínio. Em seguida, é injetado 46 alumínio derretido dentro do núcleo do rotor e, quando da resfriação, ele assume o formato desejado de gaiola. Por isso, o baixo ponto de fusão do alumínio, muito inferior ao do aço-silício do rotor, é outro fator que pesa em sua escolha como condutor elétrico. 3.3 Materiais De Isolação O propósito primário do isolamento do estator é suportar as tensões de espira para espira, fase para fase, e fase para terra, de modo a direcionar a corrente elétrica palo caminho desejado no enrolamento dos estatores. As lâminas do estator são isoladas umas das outras por coberturas especiais (0,013mm) de modo a reduzir as correntes de Foucault. Sistemas de isolação elétrica para motores elétricos são caracterizados por tensão e temperatura. Eles precisam suportar as tensões esperadas entre os condutores, condutores de fase e a terra, e fase a fase. O American National Standards Institute (Instituto de Padrões Nacionais Americanos, em tradução livre - ANSI), especifica que os testes da isolação pertinentes à tensão devem ser duas vezes a tensão nominal acrescida de 100V aplicada sobre o enrolamento do estator por um minuto. O calor produzido pelas correntes no enrolamento e pelas perdas de núcleo causam temperaturas de pico que devem ser limitadas de acordo com a capacidade térmica da resina de isolação usada na máquina, e também com a sua estabilidade química. Há uma deterioração lenta porém contínua dessa resina por reações químicas internas, contaminação e outras interações, que com o tempo acaba por reduzir a força dielétrica da isolação. Materiais de isolação para motores elétricos e máquinas de indução foram organizados em classes de temperatura nas quais eles podem operar satisfatoriamente dentro da vida útil esperada A: 105ºC B:130º C F:155ºC G:180ºC 47 As conexões entre as espiras de uma fase e os bornes na caixa de ligação também têm de ser isoladas. Além disso, o cordão usado para amarrar as espiras do enrolamento à estrutura do estator de modo a evitar vibração também é feito de material isolante. Nos enrolamentos, o esmalte que recobre as espiras é o componente principal: para aplicá-lo, o condutor é passado por uma solução de resina polimerizável e esticado dentro de torres de alta temperatura, onde ele se torna um recobrimento fino, sólido, e de grande flexibilidade. Várias passadas são necessárias para se obter a espessura desejada (cerca de 0.025mm). A composição o material deste esmalte, o elemento principal do sistema de isolação do motor varia de fabricante para fabricante, e sua fórmula não é dada a conhecer, posto que muitas ainda são protegidos por patentes. Como exemplo, citamos o sistema WISE®, da WEG, acrônimo para WEG Insulation System. Há padrões específicos que determinam os testes a serem feitos em condutores esmaltados, uma vez que, para serem enrolados no estator, estes condutores serão dobrados e esticados, e o esmalte precisa passar por esse processo sem sofrer dano considerável. Normalmente, aplica-se um verniz isolador com um pincel por cima do enrolamento do estator uma vez que este está terminado, uma vez garantido que o verniz não irá interagir com o esmalte. Este verniz oferece uma proteção quimíca e física ao esmalte, não só contra contaminação, mas também contra poeira e umidade, além de dar sustentação mecânica adicional. Para motores na classes F e H, papéis especiais, empregnados com mica e fibra de vidro, são usados para isolação entre fases e entre os condutores e as ranhuras. A tensão, através de descargas parciais, pode fazer o isolamento falhar em máquinas de tensões maiores, o que é resolvido ao incorporar-se mica nos sistemas de isolamento. 3.3.1 Altitude e temperatura Uma menção em especial deve ser feita a dois fatores que são cruciais para o uso de condutores elétricos. Tal qual acontece para o dimensionamento de condutores nas demais instalações elétricas, o limite de corrente que um determinado condutor 48 pode suportar é definido por seu ponto de fusão e a capacidade térmica dos sistemas de isolação (vistos mais à frente). Assim sendo, o local de uso dos motores elétricos deve ser levado em conta para sua correta aplicação. Os motores em geral são projetados para operar numa temperatura ambiente máxima de 40ºC, e numa altitude máxima de 1000m. Embora haja a diminuição da temperatura ambiente com o aumento da altitude, há também a rarefação do ar, que se torna menos denso e, portanto, dotado de menor capacidade de absorção de calor. A WEG possui uma tabela que apresenta fatores pelos quais deve-se multiplicar a potência nominal do motor, de modo a indicar o máximo de trabalho que pode ser exigido dele em função da altitude e da temperatura. Figura 3.3 – Tabela de fatores multiplicadores da potência nominal do motor em função da altitude e temperatura ambiente. 3.3.2 As classes de isolamento Como foi visto anteriormente, o limite de temperatura depende do tipo de material empregado. Para fins de normalização, os materiais isolantes e os sistemas de isolamento (cada um formado pela combinação de vários materiais) são agrupados em CLASSES DE ISOLAMENTO, cada qual definida pelo respectivo limite de temperatura, ou seja, pela maior temperatura que o material pode suportar continuamente sem que 49 seja afetada sua vida útil. As classes de isolamento utilizadas em máquinas elétricas e os respectivos limites de temperatura conforme NBR-7034, são as seguintes: Classe A (105 ºC) Classe E (120 ºC) Classe B (130 ºC) Classe F (155 ºC) Classe H (180 ºC). As classes B e F são as comumente utilizadas em motores de linha. É muito difícil medir a temperatura do enrolamento com termômetros ou termopares, pois a temperatura varia de um ponto a outro e nunca se sabe se o ponto da medição está próximo do ponto mais quente. O método mais preciso e mais confiável de se medir a temperatura de um enrolamento é através da variação de sua resistência ôhmica com a temperatura, que aproveita a propriedade dos condutores de variar sua resistência, segundo uma lei conhecida. A elevação da temperatura pelo método da resistência, é calculada por meio da seguinte fórmula, paracondutores de cobre: ∆t = R2 − R1 ⋅ (235 + t1 ) + t1 − t a = t 2 − t a R1 (3.2) onde: ∆t é a elevação de temperatura; t1 é a temperatura do enrolamento antes do ensaio, igual à do meio refrigerante, medida por termômetro; t2 é a temperatura dos enrolamentos no fim do ensaio; ta é a temperatura do meio refrigerante no fim do ensaio, medida por termômetro; R1 é Resistência do enrolamento antes do ensaio; R2 é Resistência do enrolamento no fim do ensaio. A temperatura do ponto mais quente do enrolamento deve ser mantida abaixo do limite da classe. A temperatura total vale a soma da temperatura ambiente com a elevação de temperatura ∆t mais a diferença que existe entre a temperatura média do enrolamento e a do ponto mais quente. As normas de motores fixam a máxima elevação de temperatura ∆t, de modo que a temperatura do ponto mais quente fica limitada, baseada nas seguintes considerações: A temperatura ambiente é, no máximo 40ºC, por norma, e acima disso as condições de trabalho são consideradas especiais. A diferença entre a temperatura média e a do ponto mais quente não varia muito de motor para motor e seu valor estabelecido em norma, baseado 50 na prática é 5ºC, para as classes A e E, e 10ºC para as classes B, F e H.As normas de motores, portanto, estabelecem um máximo para a temperatura ambiente e especificam uma elevação de temperatura máxima para cada classe de isolamento. Deste modo, fica indiretamente limitada à temperatura do ponto mais quente do motor. Os valores numéricos e a composição da temperatura admissível do ponto mais quente, são indicados na tabela abaixo: Figura 3.4 – Composição da temperatura máxima de operação do motor das classes de isolação 3.3.3 A distribuição dos materiais de isolamento no motor Durante a fabricação do motor, os fios são submetidos a esforços mecânicos de tração, flexão e abrasão. Em funcionamento, os efeitos térmicos e elétricos agem também sobre o material isolante do fio. Por essa razão, ele deve ter uma boa isolação mecânica, térmica e elétrica. O esmalte utilizado atualmente nos fios garante essas propriedades, sendo a propriedade mecânica assegurada pela camada externa do esmalte que resiste a forças de abrasão durante a inserção do mesmo nas ranhuras do estator. A camada de esmalte interna garante alta rigidez dielétrica e o conjunto atribui classe 200ºC ao fio. Esse fio é utilizado em todos os motores classe B, F e H. Nos motores para extração de fumaça o fio é especial para altíssimas temperaturas. Os filmes e laminados isolantes têm função de isolar termicamente e eletricamente partes da bobina do motor. Como a vida útil do motor depende quase que 51 exclusivamente da vida útil da isolação, aplica-se o material adequado para cada classe de motor. Esses filmes e laminados são aplicados nos seguintes pontos: entre a bobina e a ranhura para isolar o pacote de chapas de aço (terra) da bobina de fios esmaltados; entre as fases para isolar eletricamente uma fase da bobina da outra fase; fechamento da ranhura do estator para isolar eletricamente a bobina localizada na parte superior da ranhura do estator e para atuar mecanicamente de modo a manter os fios dentro da ranhura do estator. Os filmes e laminados utilizados são à base de aramida e poliéster O fio circular esmaltado é um dos componentes mais importantes do motor, pois é a corrente elétrica circulando por ele que cria o campo magnético necessário para o funcionamento do motor. Os vernizes e resinas de impregnação têm como principal função manter unidos entre si todos os fios esmaltados da bobina com todos os componentes do estator através da aglutinação pelo verniz ou resina. Essa aglutinação impede que os fios vibrem e atritem entre si. Esse atrito poderia provocar falhas no esmalte do fio levando-o a um curto circuito. A aglutinação ajuda ainda na dissipação térmica do calor gerado pelo condutor. Utiliza-se atualmente dois tipos de vernizes e dois tipos de resinas de impregnação, todos à base de poliéster, para atender às necessidades construtivas e de aplicação dos motores. A resina de silicone é utilizada apenas para motores especiais projetados para altíssimas temperaturas. Os vernizes e resinas melhoram as características térmica e elétrica dos materiais impregnados podendo-se atribuir uma classe térmica maior aos materiais impregnados, quando comparados a esses mesmos materiais sem impregnação. Também atuam como proteção da bobina e partes dela contra ambientes úmidos, marítimos e produtos químicos. Os vernizes são aplicados pelo processo de imersão e posterior cura em estufa e as resinas (isentas de solventes) são aplicadas pelo processo de Fluxo Contínuo. Os cabos de ligação são construídos com materiais isolantes elastoméricos. Esses materiais têm única e exclusivamente a função de isolar eletricamente o condutor do meio externo. Eles têm alta resistência elétrica aliada à adequada flexibilidade para permitir o fácil manuseio durante o processo de fabricação, como durante a instalação e 52 manutenção do motor. Os cabos de ligação são especificados conforme a classe térmica do motor, e conforme o meio em que o motor irá ser aplicado. Um exemplo é o motor para bombas submersas em que o cabo deve ser quimicamente resistente ao óleo da bomba. Os tubos flexíveis têm a função de cobrir e isolar eletricamente as soldas das conexões entre os fios da bobina e o cabo de ligação,ou entre fios. Eles são flexíveis para permitir que se moldem aos pontos de solda e à amarração da cabeça da bobina, e possuem boa resistência elétrica. Utilizam-se atualmente três tipos de tubos: Tubo com trama de poliéster recoberto com resina acrílica – Classe 155ºC Tubo com trama de fibra de vidro recoberto com borracha de silicone Classe 180ºC Tubo de poliéster termoencolhível – Classe 130ºC 53 4. MOTORES ELÉTRICOS ALIMENTADOS POR INVERSORES DE FREQÜÊNCIA Com o avanço da eletrônica de potência, muitos aspectos relacionados às maquinas elétricas que eram tidos como padrões começaram a mudar. Um deles, foi o surgimento dos inversores de freqüência: equipamentos que são alimentados em uma determinada freqüência e em seguida fornecem outra em sua saída. Mas porque eles são importantes para os motores elétricos? 4.1 A Velocidade De Rotação De Um Motor De Indução Para o motor de indução, máquina elétrica que estudamos em profundidade até o momento, sua rotação é função de principalmente dois aspectos: o número de polos e a freqüência de alimentação, conforme mostra a equação abaixo: n= 120 ⋅ f 1⋅ (1 − s ) (4.1) p Onde f1 é a freqüência de alimentação do motor; s é o escorregamento; p é o número de par de polos; n é a rotação nominal do motor em rpm. O escorregamento é função da carga: quanto maior ela for, maior será o escorregamento, logo, não é algo que podemos alterar para controlar a velocidade de rotação do motor O número de par de polos depende do estator, e embora até mesmo existam motores de dupla polaridade, são consideravelmente mais caros e mais complexos que os motores de polaridade única. E por se tratar de uma característica do estator, é impossível mudá-lo. E finalmente, chegamos à freqüência. Até pouco tempo atrás, era impossível fazer variar a freqüência com a qual se alimentava um motor. Com os inversores de freqüência, isso se tornou possível. Porém, há outros fatores que influem no funcionamento do motor de indução, e neste caso, alterar somente a freqüência acarretaria numa grande alteração do torque. 54 4.2 A Manutenção Do Torque Constante O torque do motor é proporcional ao fluxo magnético que atravessa o rotor, de modo que quanto mais forte o fluxo, maior o torque. Temos que o fluxo pode ser aproximado pela seguinte expressão: Φm ≅ V1 f1 (4.2) Onde V1 é a tensão aplicada ao motor e, Փm é o fluxo magnético que atravessa o rotor. Vemos então que, para mantermos o fluxo (e por consequinte, o torque) constante, ao variarmos a freqüência precisamos também variar a tensão. E até a tensão de alimentação do inversor, ele faz justamente isso. 4.3 O Inversor De Freqüência O diagrama de funcionamento de um inversor de freqüência, independente de fabricante e modelo, pode ser resumido há três partes básicas: O bloco retificador, que transformará a corrente alternada da alimentação em corrente contínua O link CC, que filtrará imperfeições na corrente retificada e pode permitir alimentação direta de corrente contínua, pulando o bloco inversor O bloco chaveador, que através de componente eletrônicos irá emitir pulsos em alta freqüência que, ao serem integrados, simularão a alimentação com corrente alternada nas freqüência e tensão desejadas. A figura 4.1 ilustra bem esse diagrama. Figura 4.1 – Esquema de um inversor de freqüência 55 4.4 Modulação Por Largura De Pulso, Ou Pulse Width Modulation (PWM): Para executar a variação de freqüência e de tensão, o inversor de freqüência não emite ondas perfeitamente senoidais para as duas. O sinal de alimentação na saída do inversor de freqüência é essencialmente um simulacro de uma senóide, não uma senóide efetiva, e para isso faz-se de valores das particularidades do circuito equivalente do motor e das leis do eletromagnetismo de forma a "enganar" o motor. O modo pelo qual o inversor faz isso chama-se Modulação por Largura de Pulso, ou PWM, a sigla em inglês normalmente utilizada. A figura 4.2 nos mostra um pulso de tensão senoidal PWM. Observe que, de fato, trata-se de uma onda quadrada formada por vários pulsos variáveis, mas que, em geral, simulam uma senóide. Já os pulsos de corrente assemelham-se mais à uma senóide, e a figura 4.3 ilustra dois transistores Figura 4.2 – Onda PWM de tensão emitindo pulsos que juntos formarão a metade de um ciclo de corrente. Quando o circuito-eletromagnético do motor recebe a alimentação PWM, ele funciona normalmente alimentação como senoidal se recebesse normal. uma Entretanto, o isolamento sofre com a variação pulsante da tensão, numa freqüência muito superior à da senóide que ela emula. Figura 4.3 – Semi-ciclo PWM de corrente 56 4.5 Efeitos Da Alimentção PWM Sobre O Isolamento Do Motor De Indução Conforme visto na figura 4.2, a onda quadrado do pulso modular de tensão contém picos e variações muito díspares da senóide para a qual um motor alimentado com uma senóide pura trabalha. Tal fato originou uma nova questão vital causada pelos altos gradientes de potencial desenvolvidos nos enrolamentos assim alimentados, estressando o sistema de isolamento. O sistema de isolamento de um motor de indução, quando alimentado por inversor de freqüência, fica submetido a uma multiplicidade de fatores adversos que podem levar à ruptura de sua integridade dielétrica, ou seja, podem provocar o rompimento do dielétrico isolante, provocando a queima do motor. Como visto no capítulo 3, a degradação do sistema isolante pode ocorrer devido a causas térmicas, elétricas ou mecânicas, ou por uma combinação de todos este fatores. 4.5.1 Influência do rise time: O rise time (do inglês tempo de elevação) é a variação de tensão num espaço infinitesimal de tempo, representado por dV/dt. Devido à rapidez do crescimento do pulso de tensão (dV/dt) emitido pelo conversor ao motor , as primeiras espiras da primeira bobina de uma dadafase ficam submetidas a um alto valor de tensão. Com isto o “rise time” tem influência direta no tempo de vida útil do sistema isolante, ou seja, quanto menor o tempo de crescimento do pulso (rise time menor) maior será o nível de tensão originado entre espiras (primeiras espiras) e conseqüentemente mais rápida a degradação do sistema de isolamento do motor. Com tudo isto, em função do “rise time”, o sistema de isolamento fica submetido a altos gradientes de potencial elétrico, exigindo dos isolantes características dielétricas superiores. Os pulsos repetitivos (trem de pulsos) mesmo sendo cada um individualmente de curta duração, causam um efeito cumulativo, o qual dependendo do projeto do sistema de isolamento do motor acaba por abreviar substancialmente a vida útil deste. 4.5.2 Locais críticos: De posse do entendimento de como o rise time afeta as primeiras bobinas de um enrolamento, precisamos analisar então o que ocorre no enrolamento quando há 57 influência do rise time. No estator, há três locais principais que podem ter diferenças de potencial e que dependem do isolamento para que não haja um curto circuito: Enrolamento-Estator: Aqui, dentro da ranhura, as espiras estão separadas pelo isolamento que as recobra e mais o filme posicionado sobre o fundo de ranhura. Entre fases: Os enrolamentos de fase são isolados entre si também por um filme adicional, além do recobrimento dos fios, o que lhe confere, assim como no caso anterior, uma robustez dielétrica mais elevada. Entre espiras: Este é o caso mais crítico. No instante em que ocorre um pico de tensão, com rise time consideravelmente curto, naquele intervalo de tempo uma espira já está submetida à alta diferença de potencial, enquanto a espira subseqüente não. Separa-as somente o recobrimento de cada uma, o que faz com que a espessura do isolante seja o dobro da espessura do isolante de um fio. E neste momento a ddp pode chegar a ser máxima. 4.5.3 Influência da Freqüência: Associada aos efeitos originados pelo rápido crescimento dos pulsos está a freqüência com que estes pulsos são produzidos. Ao contrário dos impulsos provenientes de manobras de rede, os quais são eventuais e esparsos, neste caso trata-se de um trem de pulsos que é mantido numa freqüência determinada. Esta freqüência nos dias atuais, em função da rápida evolução da eletrônica de potência, atinge valores da ordem de 20kHz. Quanto maior a freqüência de pulsação do conversor mais rápida será a degradação do sistema isolante. A dependência do tempo de vida útil do isolamento em função da freqüência de pulsação, não é uma relação simples, conforme pode ser obtido de pesquisas experimentais. Então, de resultados empíricos, obtidos através de experiências práticas, podese concluir que abaixo de 5 kHz o tempo de vida do isolamento T é inversamente proporcional à freqüência, ou seja: T=A/f onde “A” é uma constante e (4.3) 58 “f” a freqüência de pulsação. Já para freqüências de pulsação acima de 5kHz o tempo de vida útil T é proporcional ao inverso do quadrado da freqüência, isto é: T=B/f2 (4.4) onde “B” é outra constante. 4.6 As Alterações Necessárias Ao Sistema De Isolamento De Um Motor De Indução Alimentado Por PWM. Diante do exposto, temos que o sistema de isolamento convencional pode não atender aos requisitos necessários para este tipo de alimentação. Neste caso o sistema de isolamento deve ser feito com materiais mais resistentes à degradação quando submetidos a elevados campos elétricos e terem os espaços entre as espiras (fios) devidamente preenchidos com material impregnante sólido, evitando a presença de espaços de ar e consequentemente as descargas parciais. O material de uma das camadas das paredes isolantes dos fios, para os casos mais críticos, pode conter óxidos metálicos (óxido de Titânio, por exemplo) os quais funcionam como espalhadores de cargas, não deixando que eventuais descargas parciais se choquem sempre contra o mesmo ponto sobre o material isolante. 4.7 O Uso De Filtros O método mais simples de filtragem é inserir em série com os cabos, entre inversor e motor, um adequado valor de reatância indutiva, a qual atua como limitadora de variação de corrente filtrando a onda e reduzindo o ruído. Este método afeta a performance dos transitórios do conversor além de ser volumoso e caro. Todavia, nos modelos mais recentes de inversores, como é o caso do CFW-11 da WEG (catálogo no Anexo 1) essas reatâncias em série já vem incorporadas ao próprio inversor. Através de filtros passa baixa de primeira ordem RC, aplicados na entrada do motor, as sobretensões impulsivas e as taxas dv/dt podem ser significativamente reduzidas. Com isto as componentes de reflexão serão grandemente atenuadas, bem como serão reduzidos os gradientes de potencial e conseqüentemente os esforços estressantes causadores de degradação do sistema de isolamento. 59 Devido a condições técnico-econômicas os filtros ficam normalmente restritos aos projetos para grandes acionamentos. Para aplicações que utilizammotores pequenos e médios, além de não usar filtros, em geral os usuários preferem utilizar motores de fabricação em série, mantidos em estoque, os quais tanto podem ser alimentados por fontes senoidais (50/60Hz) quanto por conversores (PWM). Nestes casos, portanto, a eficiência do sistema de impregnação é fundamental para garantir uma suficiente vida útil a estes motores. 60 5. TENDÊNCIAS Diante do exposto neste trabalho, podemos observar a concentração da pesquisa de redução das perdas e otimização da performance de um motor elétrico encontra-se principalmente nos materiais de isolação e nos materiais do núcleo magnético. Atualmente, o estado da arte busca aperfeiçoar os materiais usados nestes dois pontos chave de modo a reduzir ao máximo as perdas no motor elétrico. Além disso, embora este não seja o enfoque deste trabalho, rolamentos de menor atrito e vibração, além de técnicas para melhor condutividade térmica dos materiais de carcaça e tinta. Para os motores de indução, conforme dito anteriormente, a pesquisa concentrase em três frentes: lâminas feitas com aço-silício de grão orientado de orientação alternada, lâminas feitas com aço-silício 6.5% de grão não-orientado e materiais, e núcleos feitos com Materiais Ferromagnéticos Macios (SFC) em pó. 5.1 Motores De Indução 5.1.1 A alternância de orientação dos grãos em lâminas de açosilício: A primeira concorre diretamente com a segunda. Tanto a orientação dos grãos de forma perpendicular entre uma lâmina e outra quanto o aumento da concentração de silício no aço até 6.5% incorrem numa redução de perdas no ferro próxima de 40%, porém, orientar os grãos numa direção num conjunto de lâminas, e noutra em outro conjunto torna o processo de orientação dos grãos, já caro, ainda mais dispendioso, pois é necessário que seja feito duas vezes. Além disso, a espessura usual para lâminas que se submetam a esse processo é de cerca de 0.35mm, o que exige um trato mais fino no corte e na estampagem do aço. 5.1.2 Aumento da Concentração do Silício: Aumentar a concentração de silício numa lâmina de grãos não orientados exige um processo metalúrgico mais refinado que a concentração usual de 3%, uma vez que 61 o aço-silício a 6.5% representa o limiar de silício que o Aço pode receber sem prejuízo a suas propriedades mecânicas. Mas ainda assim, é feito de maneira uniforme sobre toda a bobina de aço que mais tarde será estampada em lâminas, além de ser uma tecnologia mais barata que a alternância na orientação dos grãos. Some-se a isso, o fato de que a espessura usual das lâminas de aço-silício a 6.5% é cerca de 0.5mm, um aumento de quase 43% em relação a espessura necessária para obter-se uma economia similar com as lâminas de grão com orientação alternada (0.35mm). A maior espessura torna sua fabricação mais fácil e, por isso, mais barata. 5.1.3 SFC com metalurgia em pó: Esta técnica, sem dúvida a mais cara dentre as três aqui apresentadas, consiste de aglutinar pequenas partículas de material magnético através do uso de um material isolante de modo a reduzir quase que por completo as correntes de Foucault. Além disso, apresenta uma excelente vantagem em relação aos processos atuais que é o controle da forma do material: como a forma é definida pelo aglutinante, seria possível fazer núcleos magnéticos sem lâminas, em um único bloco, e fechar as ranhuras após bobiná-las, o que reduziria consideravelmente as perdas dispersas no motor ao praticamente estancar o vazamento de fluxo que acontece ali, Ela encontra uso atualmente para a fabricação de cunhas justamente para fechar as ranhuras do estator de grandes máquinas, porém é uma técnica cara que encontra seu maior uso na Europa e ainda não é vista com bons olhos por outros fabricantes. Usá-la para construir todo o núcleo magnético de um motor seria por demais dispendioso, além de um outro fator: embora o material aglutinado possa ser de fato considerado com propriedades magnéticas de um material magnético macio, sua permeabilidade magnética ainda não é alta o suficiente para justificar seu custo em comparação às tradicionais lâminas de aço-silício. 5.2 Motores Síncronos De Imã Permanente Hoje em dia, mais de 83% do uso de motores elétricos no Brasil encontra-se nos motores de indução. Máquina de construção relativamente simples, com baixa necessidade de manutenção e robusta, ela durante décadas foi a escolha da indústria 62 para a geração de força motriz. Porém, o uso de imãs permanentes no rotor e os inversores de freqüência acabaram por trazer a perspectiva de um novo cenário para o uso de motores elétricos. 5.2.1 O uso de imãs permantes: Conforme exposto no capítulo 1, o motor síncrono possui a limitação de necessitar de um sistema auxiliar de partida e, uma vez em regime, mantém a velocidade exata do campo girante e não altera esta durante seu funcionamento. Além disso, o rotor precisava ser alimentado com corrente contínua, o que exigia o uso de escovas e consquente manutenção elevada, além da produção de faíscas. Com o uso de imãs permanentes no rotor, não se faz mais necessária a alimentação DC do rotor, o que elimina o uso de escovas e as desvantagens que as mesmas trazem. Porém, imãs permanentes perdem suas características magnéticas quando submetidos às temperaturas encontradas dentro de um motor em funcionamento, o que durante anos limitou o seu uso. Com o avanço da metalurgia, porém, imãs permanentes de Neodímio-FerroBoro, Ferrite e Samário-Cobalto começaram a surgir, capazes de suportar temperaturas de operação cada vez mais altas. O primeiro, o imã de Neodímio Ferro Boro, mantém suas propriedades magnéticas mesmo operando a 180ºC, justamente a temperatura máxima de operação da classe H. Porém, ainda restava ser solucionada a partida: mesmo com o uso de imãs permanentes, o motor síncrono ainda não é capaz de partir sozinho. 5.2.2 O uso de inversores de freqüência: Embora o rotor tenha um tempo de aceleração para vencer sua inércia e começar a girar, o campo girante atinge a velocidade síncrona no momento que o motor é energizado. E esse giro é função direta do número de polos do motor (constante) e da freqüência. Nos motores que partiam sem variação de freqüência, a velocidade de giro do campo, ainda que em altas polaridades, é rápida demais para que o rotor tenha tempo de vencer sua inércia e seguir o campo girante. 63 O inversor de freqüência regula justamente a velocidade do campo girante, e com isso, ao partir o motor, ele aumenta gradativamente a freqüência de modo a permitir que o rotor acompanhe o campo girante, e assim é solucionado o problema da partida. Além disso, uma vez em regime, a variação posterior da freqüência resultará numa variação de velocidade do motor que, pelas suas características síncronas, manterá o torque e a velocidade constante independente da carga aplicada ao eixo, até o limite de seu torque. Assim sendo, usando o uso de imãs permanentes e inversores de freqüência deu ao motor síncrono as mesmas vantagens que o motor de indução tinha sobre ele, exceto por uma: o custo. O custo de um motor síncrono de imãs permanentes é muito superior ao de um motor de indução para a mesma potência. Então, o que justifica o seu uso, e a previsão de crescimento do mesmo para os próximos anos? 5.2.3 Benefícios: Os motores síncronos de imãs permanentes acionados por inversores de freqüência com ímãs de NdFeB quase não possuem perdas Joules no rotor, ao contrário dos motores de indução com gaiola de esquilo convencional. Como as perdas Joule são uma parcela significativa das perdas totais nos motores de indução, retirando a gaiola de esquilo e substituindo-a por ímãs, o motor síncrono assegura um rendimento muito maior do que os encontrados nos motores das linhas Standard e Alto Rendimento. Para ilustrar os comparativos que seguem, usaremos como exemplo o motor WMagnet, da WEG, cujo catálogo encontra-se no Anexo 2 . 64 Figura 5.1 - Comparação de rendimento entre motores W21 Standard, W21 Alto Rendimento Plus e WMagnet Os ímãs no rotor garantem uma grande redução nas perdas elétricas e consequentemente asseguram uma menor elevação da temperatura do motor. Devido a estas vantagens, o volume e o peso do motor síncrono de imãs permanentes comparado a um motor de indução de mesma potência é menor e o tempo de vida é significativamente aumentado. Comparado a um motor de indução equivalente, o volume do motor Wmagnet chega a uma redução de aproximadamente 47%, resultando em uma alta relação de torque/volume e uma redução de 36% no peso. Para uma mesma torque/potência, relação de diminuindo-se o tamanho da carcaça, o sistema de ventilação também é reduzido . Desta Figura 5.2 – Comparação de carcaças de um motor de indução e um síncrono de imãs permanentes para uma mesma potência. pelo ventilador acoplado ao eixo do motor. forma, é verificado um significa tivo decréscimo no nível de ruído causado 65 6. CONCLUSÕES Os materiais elétricos desempenham papel crucial no desenvolvimento dos motores elétricos, de todos tipos, e continuarão desempenhando. É a ciência dos materiais que impulsiona, em maior parte, a capacidade de tornar a energia elétrica absorvida da rede tão próxima quanto possível for da energia mecânica entregue na ponta do eixo. O motor elétrico é, então, uma reserva tremenda de energia a ser explorada, bastando somente saber usá-lo de forma correta e consciente. A barreira final para a compreensão das perdas no motor que dizem respeito aos materiais envolvidos no circuito eletromagnético está nas perdas dispersas. Estas, de difícil quantidade de mensuração, quando perfeitamente compreendidas como as perdas térmicas, elétricas, mecânicas e de histerese, vão ser o penúltimo degrau na almejada busca da eficiência de 100%. Formas construtivas e processos produtivos também desempenham um grande papel no desenvolvimento do rendimento ótimo do motor elétrico, e a correta prensagem das lâminas, tratadas termicamente antes e após a prensagem, é capaz de reduzir as correntes de Foucault a ponto de ser um diferencial capaz de distinguir fabricantes que usam e não usam esse processo. Outro exemplo do tratamento correto dos materiais é a fixação do estator na carcaça, que, como exposto, é capaz de anular a correta prensagem de lâminas de material magnético macio ao criar caminhos alternativos, "por fora" do estator, para as correntes de Foucault. A metalurgia do pó parece ser a chave para a solução dos problemas das perdas dispersas, já que o vazamento de fluxo é reduzido consideravelmente na ausência de descontinuidades, porém, essa é uma técnica que ainda precisa avançar para tornar-se economicamente viável a ponto de utilização em larga escala para potências pequenas e médias. Por enquanto, ao menos a médio prazo, em se tratando de máquinas de indução, o aço silício de grão não orientado a 6.5% dá sinais de ser o melhor material 66 para núcleos magnéticos, conservando a melhor relação custo-benefício das três técnicas de tendência apresentadas. Paralelo a essa corrente, o surgimento de materiais de isolamento cada vez mais potentes permitirão o aumento de potência por carcaça, além de impedir falhas que eventualmente irão resultar numa vida útil mais curta do motor. Além disso, materiais de isolamento melhores permitem inversores de freqüência com maior freqüência de chaveamento que por sua vez emularão ondas de melhor qualidade. Por fim, a tendência mais promissora do mercado é a substituição dos motores de indução por motores síncronos de imãs permanentes alimentados por inversor de freqüência. Atualmente, a energia ainda não é tão cara, especialmente no Brasil, e o rendimento superior do motor síncrono de imãs permanentes pode não compensar o seu custo mais alto. Todavia, o preço da energia elétrica tende a aumentar, além da inevitável e compulsória necessidade de redução das emissões de gases prejudiciais do efeito estufa e que, direta ou indiretamente, incorre numa necessidade da economia de energia. A técnica do uso de imãs permanentes em rotores de motores síncronos é recente, tendo surgido nos anos 80, e seu custo tende a se reduzir conforme tornar-se mais eficaz, ao mesmo tempo que o custo da energia elétrica tende a subir. Um exemplo disto é a empresa Otis Elevadores (catálogo no Anexo 3), que já utiliza motores síncronos de imãs permanentes em seus produtos, proporcionando um reduzidíssimo consumo de energia de seus elevadores. Até pouquíssimo tempo atrás, não se falava em motores síncronos para potências que não fossem consideravelmente grandes. Que dirá para a potência de um elevador residencial. Hoje em dia, lá está ele. O motor elétrico de imãs permanentes acionado por inversor de freqüência é o futuro dos motores elétricos. 67 BIBLIOGRAFIA CONTIN, Mário Célio. Motores Alimentados por Inversores de Freqüência: o Isolamento Resiste?, WEG Equipamentos Elétricos S/A, Jaraguá do Sul. CHAPMAN, Stephen J. Electric Machinery and Power Systems, 1ª edição. McGraw Hill, 2002 FITZGERALD, A.E; KINGSLEY JR., Charles; UMANS, Stephen D. Eletric Machinery, 6ª edição. McGraw Hill, 2003. MOTORES Elétricos. WEG Equipamentos Elétricos S/A, Jaraguá do Sul, 2008 MOTORES de Corrente Contínua: Guia Rápido para Aplicação Precisa. Siemens do Brasil S/A, São Paullo, 2006. GARCIA, Agenor Gomes Pinto. Impacto da Lei de Eficiência Energética para Motores Elétricos no Potencial de Conservação de Energia na Indústria. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 2003 MEURER, Evandro Jacob. Estudos das Perdas Interlaminares em Máquinas Elétricas. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005. GILIO, Aluisio Simone. Máquinas de Indução Trifásicas, 9ª edição. Érica, 2003 CEZÁRIO, Cassiano Antunes et AL. Transient Thermal Analysis Of An Induction Electric Motor. 18º Congresso Internacional de Engenharia Mecânia, Ouro Preto, 2005. ELECTRICAL APPARATUS. Stray Load Loss: What's it all about? Barts, 1997 68 SYNCHRONOUS Motor Application and Operation. Engineer's Edge. Disponível em http://www.engineersedge.com/motors/synchronous_motor.htm MOTORES de Imãs Permanentes e Inversor de Freqüência. WEG Equipamentos Elétricos S/A, Jaraguá do Sul. 69 ANEXOS Anexo. 1: Catálogo do Inversor de Freqüência CFW11, da WEG Equipamentos Elétricos S/A: http://www.weg.net/files/products/4-1635.pdf Anexo 2: Catálogo do elevador Gen2, da Otis Elevadores do Brasil: http://www.otis.com/site/br/OT_DL_Documents/OT_DL_DocumentLibrary/Gen2/Gen2.p df Anexo 3: Catálogo do motor síncrono de imãs permanentes WMagnet, da WEG Equipamentos Elétricos S/A: http://www.weg.net/files/products/WEG-wmagnet-drivesystem-sistema-de-acionamento-com-motor-de-imas-permanentes-054-catalogoportugues-br.pdf