UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA MESTRADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL (MCTA) RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO. Campina Grande, Paraíba 2009 RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO. Dissertação apresentada ao Mestrado de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Orientador: Professor Dr. José da Silva Mourão Co-orientador: Professor Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves Campina Grande, Paraíba. 2009 É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB B238e Barboza, Raynner Rilke Duarte. A etnoecologia dos tatus-peba (Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) na perspectiva dos povos do semi-árido paraibano [manuscrito] / Raynner Rilke Duarte Barboza. – 2009. 177 f. : il. color. Digitado Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental), Centro de Ciências e Tecnologias, Universidade Estadual da Paraíba, 2009. “Orientação: Prof. Dr. José da Silva Mourão, Departamento de Biologia”. 1. Etnoecologia. 2. Semi-árido. 3. Etnozoologia. 4. Caatinga. I. Título. 22. ed. CDD 591.7 RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO. Dissertação apresentada ao Mestrado de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. José da Silva Mourão Co-orientador: Professor Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves COMISSÃO EXAMINADORA __________________________________ __________________________________ Prof. Dr. José da Silva Mourão Universidade Estadual da Paraíba Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves Universidade Estadual da Paraíba __________________________________ __________________________________ Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida Universidade Federal da Paraíba Prof. Dr. Luiz Carlos Serramo Lopez Universidade Federal da Paraíba Campina Grande, Paraíba, 22 de Junho de 2009 Dedicatória Agradeço ao Meu Amado e Bom Deus por tudo o que me concedeu, desde nascituro, e o que ainda fará por mim ao longo de minha vida, do momento em que escrevo essas linhas até o cerramento dos meus olhos. Agradeço pela força, coragem, obstinação, disciplina, inspiração e fé que me impulsionaram a concretizar mais um importante passo em minha carreira. Agradeço ao Onipotente, Onipresente e Onisciente pelo dom de discernir os ensinamentos que vem dos homens e os que vêm de Deus. A Ele dedico meu trabalho. Agradeço aos meus Pais: Gerson Alves Barboza e Salete Duarte Barboza, pela honra de tê-los como genitores, por serem minhas maiores referencias, as jóias indeléveis e os pilares de minha vida e por mais uma vez estarem presentes e ostensivos em todos os momentos possíveis e imagináveis. Agradeço-lhes grandiosamente por todas as lições, princípios e ensinamentos de vida a qual me foram passados e que serão retribuídos e perpetuados aos meus descendentes. Agradeço ao meu Pai pelo Amor, Dedicação e Fidedignidade onde me possibilitou realizar e concretizar esse trabalho. A Minha Mãe pelo Amor, Acolhimento e Ternura típicos e insubstituíveis de Mãe. A estes dedico meu trabalho. Agradeço de forma ímpar todo apoio e dedicação, toda a presteza e prontidão, todo Amor e Carinho de minha noiva Adma Henriques Costa e familiares em todos os momentos passados. Agradeço a Adma toda solidariedade e ajuda nos momentos difíceis e todo contentamento e entusiasmo dos momentos de alegria e sucesso. Agradeço por estar presente em minha vida e por continuar a estar para sempre. A estes dedico meu trabalho. Agradeço aos meus Irmãos: Vanessa Duarte Barboza, Walny Duarte Borborema, Walkiria Duarte Borborema, Walnete Duarte Borborema, Walniza Duarte Borborema e Walderez Duarte Borborema pela Presteza, Ajuda e Paciência necessária nesses dois anos de dedicação. Agradeço especialmente ao meu irmão Walny e esposa Lucy pelos sinceros e valiosos votos de Felicidade e Sucesso que sempre me foram desejados. A estes dedico meu trabalho. A minha tia Leônia, e meu primo Jurandir (Danda); ao meu tio Leônidas e meu primo Lindiberg, pelo incondicional apoio em minha estadia na cidade de Sumé, Sem eles, certamente as chances de êxito não seriam grandes. A estes dedico meu trabalho. Agradeço aos meus estimados e queridos, Amigos e Orientadores, José da Silva Mourão e Rômulo Romeu da Nóbrega Alves pelas pessoas impolutas e de conduta ilibada que são. Agradeço por toda ajuda, paciência e ensinamentos bem como por todo apoio que me foi dado para a realização desse mestrado. A estes dedico meu trabalho. Agradeço especialmente ao meu eterno e fiel amigo Wedson de Medeiros Silva Souto por ter sido como um irmão desde a graduação, mestrado e continuará sendo por toda nossas vidas. Agradeço pela solidariedade, apoio, sucesso e companhia, ao longo desses anos. Da mesma forma agradeço em especial aos seus familiares Iracema Medeiros Silva (mãe); Antônio Clarindo da Silva Neto (tio) e Dona Ana (avó) pelo acolhimento, carinho, presteza, amizade e disposição que sempre tiveram a minha pessoa. A Estes dedico meu trabalho. Não poderia esquecer outros amigos e companheiros de Mestrado que estiveram presentes comigo e que me ajudaram em ampla escala para realização desse trabalho. Francisco Pires de Castro Junior e Michelle da Silva Pimentel Rocha, Ana Maria, Ronaldo Justino de Araújo Junior e Fabrício Borges. Agradeço especialmente ao Chico e a Mika por tudo que aprendi em minha vida pessoal e pelo que foi somada a minha vida profissional. A estes dedico meu trabalho. Agradeço especialmente ao Professor José Cavalcanti da Silva por ter colaborado com seus conselhos e ensinamentos mesmo antes de entrar no mestrado. A este dedico meu trabalho. Agradeço ao meu bom amigo e companheiro de viagens, Geraldo, pela paciência e boa vontade em sempre prontificar-se a nos acompanhar nos tranalados as cidades de pesquisa. Agradeço pelas palavras de confiança e solidariedade que sempre teve para minha pessoa. A este dedico meu trabalho. E em conjectura alguma poderia deixar de lembrar minha Amiga Ana Alice e familiares, residentes do Município de Monteiro, por todo seleto e incomparável apoio que me foi concedido para realização das pesquisas nessa cidade. Sem sobra de dúvidas foram peçaschave e insubstituíveis para a conclusão de minha dissertação. A estes dedico meu trabalho. Agradeço a todos os familiares do Professor Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, residentes da cidade de São Mamede, pela frutuosa e calorosa estadia que me foi concedida de modo à realização do meu trabalho de pesquisa. Agradeço e saúdo particularmente o Patriarca da família, o senhor Obede, a quem devo meu prestigio e carinho e cuja alcunha popularmente conhecida na cidade (“pebão”) me derão a certeza de estar na casa certa, no lugar certo e com a família certa para concretizar minha pesquisa com as espécies de tatus estudadas. Ao senhor Obede, sua esposa, aos filhos: Obedin, Fábiano, Marizinha e Alain, a estes dedico meu trabalho. A todos os participantes, entrevistados, residentes e informantes do semi-árido paraibano a qual fizeram parte de minha pesquisa. Meus mais sinceros e humildes agradecimentos. A estes dedico meu trabalho. A concretização deste trabalho contou com a participação de diversas pessoas, que direta e indiretamente apoiaram a causa. Desculpando-me pela omissão de alguns nomes MEUS MAIS SINCEROS AGRADECIMENTOS. A estes, dedico meu trabalho. Dedico ao meu Criador e Senhor, ao meu Bom Deus por tudo que me concedeu e por tudo que Fez em minha vida. Dedico esta dissertação a toda minha família, composta por meus verdadeiros mestres, modelos reais de perseverança, parceria, dedicação e ética. “...A diversidade de nossas opiniões não decorre de uns serem mais razoáveis que os outros, mas somente porque conduzimos nossos pensamentos por diversas vias, e não consideramos as mesmas coisas” René Descartes Resumo Este trabalho teve como objetivo geral obter informações junto a moradores de cinco municípios do semi-árido do Estado da Paraíba (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa, Sumé) acerca dos conhecimentos ecológicos e comportamentais (alimentação, reprodução, habitat, predação e utilização) que os mesmos possuem sobre os tatus-peba (Euphractus sexcinctus) e tatus verdadeiros (Dasypus novemcinctus), bem como analisar e descrever as atividades cinegéticas e finalidades da caça exercida sobre essas duas espécies de tatus, visando subsidiar medidas de conservação e manejo. Para obtenção dos dados, utilizouse uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos. Dentre os métodos qualitativos, destacam-se: entrevistas livres, semi-estruturadas, bola de neve ou “snow Ball – em inglês” e turnês guiadas já os dados quantitativos foram trabalhados em médias e porcentagens simples no software Microsoft® Excel e analisados por meio do cálculo do Nível de Fidelidade (FL). Os dados obtidos foram analisados por meio de uma abordagem emicista/eticista, na qual os conhecimentos tradicionais foram comparados com aqueles correspondentes e/ou correlacionados na literatura científica. Foram contactados 177 homens e 37 mulheres com atividades relacionadas aos tatus, cujas idades variaram de 16 a 77 anos. Os resultados obtidos mostraram que as informações referentes à alimentação, nicho ecológico e reprodução foram descritas de maneira muito elucidativa pela maioria dos entrevistados, demonstrando um profundo conhecimento e percepção sobre a ecologia e biologia das duas espécies de tatus estudadas. Tais níveis de percepção estão diretamente associados a questões regionais e culturais de cada localidade bem como as práticas de criação desses animais em cativeiro. As principais técnicas de caça e captura desses animais foram: Caça com armas de fogo, com cães e o uso de armadilhas como tatuzeiras ou pebeiras, também conhecidas como cachorrode-arame; e Balde com água. Os povos do semi-árido paraibano utilizam os E. sexcinctus e D. novemcinctus tanto na gastronomia local como para fins medicinais e mágico-religiosos, onde foram documentados usos para o tratamento de 10 condições ou doenças: asma, dor de ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas de insetos, reumatismo, varizes e verrugas. Destaca-se nessa pesquisa o registro da caça para fins recreacionais e comercial por parte dos moradores das localidades estudadas. Sob uma ótica conservacionista, as técnicas e modalidades de caça descritas nesse trabalho podem trazer grandes impactos na dinâmica populacional dessas duas espécies de tatus. Estudos adicionais relativos a atividades de caça serão úteis de modo a contribuir com propostas de normas e leis que possam regular a caça controlada em cada região bem como para implementação de planos de manejo e uso sustentável dessas espécies. Palavras-chave: Etnoecologia, atividades cinegéticas, tatu-peba, tatu verdadeiro, Abstract The ethnoecology of six-banded armadillo (Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) and nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) by the perception of the people of semi-arid region, Paraiba. This study addressed to obtain general information from the residents of five municipalities in the semi-arid region of Paraiba State (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa, Sumé) about their knowledge on the ecological and behavioral (feeding, reproduction, habitat, predation and use) of two specimens of armadillos (Euphractus sexcinctus) and (Dasypus novemcinctus) that occurs in that area, as well as to describe and analyze the cinegetic activities and purposes of game hunting carried on these two species, seeking support conservation and management measures. Data collection was obtained through a combination of qualitative and quantitative methods. Among the qualitative methods: free interviews, semi-structured interviews, snow ball technique and guided tours were used; the quantitative data were done on simple averages and percentages in Microsoft ® Excel software and analyzed using the calculation of Fidelity Level (FL). Data were analyzed by an emic/ethics approach in which traditional knowledge were compared with those involved and/or related to the literature. 177 men and 37 women were contacted, whose ages ranged from 16 to 77 years. The results showed that the information regarding the foraging, ecological niche and reproduction were described in a very elucidating way by most of the interviewees, demonstrating a deep knowledge and perception on the ecology and biology of the two species of armadillos studied. Such levels of perception are directly linked to regional and cultural issues of each locality and the practices of creation of those animals in captivity also. The main hunting techniques and capture of those animals were: firearms, with dogs, the use of wire-dog and bucket with water. The people of the semi-arid of Paraiba use the E. sexcinctus and D. novemcinctus such in the local gastronomy, as for medicinal and magicalreligious purposes, which were documented in this work for the treatment of 10 conditions or diseases: asthma, earache, wounds, furunculosis, deafness, blocked nose, insect bites, rheumatism, and varicose veins and warts. The practice of recreational and commercial hunting was documented in this research by the residents of the studied localities. From a conservation perspective, the techniques and methods of game described in this work can bring major impacts on population dynamics of these two species of armadillos. Additional studies on the activities of hunting will be useful to contribute to proposals for rules and laws that may regulate the controlled hunting in each region and for implementation of management plans and sustainable use of these species. Keywords: Ethnoecology, game activities, six-banded armadillo, nine-banded armadillo, Lista de Ilustrações Figuras Figura 1. Localização da área de estudo................................................................................ 26 Figura 2. Isoieta de 1000m..................................................................................................... 44 Figura 3. Algumas diferenças visuais marcantes entre E. sexcinctus.................................... 68 Figura 4. Foto de E. sexcinctus com pênis parcialmente protuso.......................................... 68 Figura 5.................................................................................................................................. 121 Figura 6.................................................................................................................................. 122 Figura 7. Cães de caça usados na captura de tatus no semi-árido da Paraíba........................ 125 Figura 8. Tatuzeira de madeira.............................................................................................. 127 Figura 9. Tatuzeira de ferro....................................................................................................127 Figura 10. Instrumentos usados por caçadores de tatus-peba e verdadeiro........................... 129 Figura 11. Instrumentos usados por um caçador de tatus no município de São Mamede, Paraíba.................................................................................................................................... 129 Figura 12. Tatus-peba criados em tonéis por um entrevistado do município de Campina Grande.................................................................................................................................... 136 Figura 13. Registro do preparo de um tatu-peba na culinária do semi-árido paraibano........ 138 Figura 14. Foto do rabo de um tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé para tratamento de mouquidão............................................................................................... 143 Figura 15. Registro do sebo tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé para tratamento de várias enfermidades, sobretudo para reumatismo................................... 143 Figura 16. Rabos de tatus-peba e verdadeiros usados na proteção de residências contra “mau olhado”................................................................................................................................... 148 Figura 17. Registro de patas de tatu-peba usados em oferendas a deidades.......................... 148 Quadros Quadro 1. Epíteto folk de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido da Paraíba......... 59 Quadro 2. Cognição comparada das principais diferenças entre tatu-peba e verdadeiro...... 62 Lista de Tabelas Tabela 1. Perfil socioeconômico dos entrevistados..................................................................54 Tabela 2. Porcentagem dos informantes que relataram a facilidade ou não de se encontrar as espécies em cada localidade visitada........................................................................................60 Tabela 3. Percepção de moradores do semi-árido da Paraíba quanto aos hábitos sociais de D. novemcinctus e E. sexcinctus....................................................................................................71 Tabela 4. Horários de forrageio para as duas espécies de tatus (E. sexcinctus e D. novemcinctus)........................................................................................................................... 73 Tabela 5. Percepção dos moradores locais quanto aos períodos de reprodução a parturição de D. novemcinctus e E. sexcinctus............................................................................................... 82 Tabela 6. Cognição comparada do conhecimento dos entrevistados em função do conhecimento científico sobre aspectos reprodutivos de tatus-peba e verdadeiro................... 86 Tabela 7. Nível de Fidelidade das categorias de finalidades de usos de D. novemcinctus e E. seecinctus................................................................................................................................133 Tabela 8. Usos medicinais e mágico-religiosos de E. sexcinctus e D. novemcinctus.............144 Tabela 9. Valores para comércio de tatus-peba e verdadeiro registrados em cada localidade........................................................................................................................153 Abreviaturas ADH.............. Atlas do Desenvolvimento Humano CITES........... Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora, sigla em inglês. EMBRAPA... Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMEPA......... Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S. A. IBGE............. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ITIS............... Sistema de Informação Taxonômica Integrada, sigla em inglês IUCN............. União Internacional para Conservação da Natureza, sigla em inglês MMA............. Ministério do Meio Ambiente do Brasil SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL....................................................................................................... 16 OBJETIVO GERAL.............................................................................................................. 20 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................................. 20 ÁREA DE ESTUDO.............................................................................................................. 21 Município de Campina Grande.................................................................................. 21 Município de Monteiro.............................................................................................. 22 Município de Sumé.................................................................................................... 23 Município de São Mamede........................................................................................ 23 Município de Sousa.................................................................................................... 24 CAPÍTULO I. O Conhecimento ecológico local dos moradores do semi-árido paraibano em relação às espécies de tatus: Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus...................... 27 1.1 Introdução........................................................................................................................ 28 1.2 Material e Métodos.......................................................................................................... 33 1.2.1 Da coleta dos dados........................................................................................... 33 1.2.2 Da análise dos dados......................................................................................... 34 1.2.3 Da identificação das espécies............................................................................ 34 1.3 Referencial Teórico.......................................................................................................... 36 1.3.1 As Ciências dos saberes: A Etnobiologia e a Etnoecologia.......................................... 36 1.3.2 O Conhecimento Ecológico Tradicional........................................................... 39 1.3.3 As Caatingas dos Sertões Paraibanos................................................................ 42 1.3.3.1 Característica Etimológica e Geográfica da Caatinga........................ 44 1.3.3.2 Características Físicas........................................................................ 45 1.3.3.3 Características biológicas................................................................... 46 1.3.3.4 Sobre a mastofauna da Caatinga........................................................ 47 1.3.4 A Ordem Xenarthra........................................................................................... 49 1.3.4.1 Características gerais, origem e filogenia...........................................49 1.3.4.2 Distribuição........................................................................................ 52 1.4 Resultados e discussão..................................................................................................... 54 1.4.1 Aspectos socioeconômicos das populações estudadas...................................... 54 1.4.2 Percepção gerais dos entrevistados quanto as espécies de tatu estudada.......... 56 1.4.2.1 Epítetos folk das espécies................................................................... 59 1.4.2.2 Sobre a disponibilidade das espécies nas localidades estudadas........ 60 1.4.2.3 Principais diferenças apontadas para ambas as espécies.................... 61 1.4.3 Nicho Ecológico................................................................................................ 69 1.4.3.1 Aspectos de comportamentos sociais................................................. 71 1.4.3.2 Atividades de Forrageio..................................................................... 73 1.4.4 Locas, buracos ou fossados............................................................................... 76 1.4.5 Percepção dos moradores quanto aos aspectos reprodutivos dos tatus-peba e verdadeiro...............................................................................................................................79 1.5 Conclusões....................................................................................................................... 88 1.6 Referências....................................................................................................................... 89 CAPÍTULO II. A caça e usos tradicionais de tatus (Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus) no semi-árido do Estado da Paraíba.................................................................... 113 2.1 Introdução........................................................................................................................ 114 2.2 Objetivos.......................................................................................................................... 117 2.2.1 Geral.................................................................................................................. 117 2.2.2 Específicos........................................................................................................ 117 2.3 Material e Métodos.......................................................................................................... 118 2.3.1 Procedimentos das coletas dos dados................................................................ 118 2.3.2 Procedimentos de análises dos dados................................................................ 119 2.3.3 Da identificação das espécies............................................................................ 119 2.4 Resultados e Discussão.................................................................................................... 120 2.4.1 Técnicas e estratégias de caça aplicada aos tatus usados por caçadores do semiárido paraibano....................................................................................................................... 120 2.4.1.1 Armas de fogo.................................................................................... 120 2.4.1.2 Caça com cães.................................................................................... 123 2.4.1.3 Tatuzeira, Pebeira ou Cachorro-de-Arame......................................... 126 2.4.1.4 Balde com água.................................................................................. 127 2.4.1.5 Ferramentas utilizadas para caça........................................................ 128 2.4.2 Finalidades de usos de D. novemcinctus e E. sexcinctus por moradores do semiárido da Paraíba: Compreensões e perspectivas.................................................................... 133 2.4.2.1 Os tatus (peba e verdadeiro) como iguaria gastronômica e seus tabus alimentares............................................................................................................................. 134 2.4.2.2 Os tatus como seres medicinais e mágico-religiosos na percepção dos povos do semi-árido paraibano.............................................................................................. 140 2.4.2.3 Caça Recreacional.............................................................................. 150 2.4.2.4 A Caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins Comerciais............................................................................................................................. 152 2.4.3 Implicações para um manejo sustentável de D. novemcinctus e E. sexcinctus........................................................................................................................... 154 2.5 Conclusões....................................................................................................................... 158 2.6 Referências....................................................................................................................... 159 APÊNDICE............................................................................................................................ 173 Apêndice A – Questionário semi-estruturado........................................................................ 174 16 Introdução Geral As etnociências, dado o atual panorama mundial, estão passando por um questionamento epistemológico a partir da perspectiva da racionalidade ambiental, que leva à análise do diálogo, ao amálgama e às relações de poder entre os saberes locais [autóctones e tradicionais] com as ciências e as tecnologias modernas (LEFF, 2005). Uma nova discussão parece estar sendo estabelecida neste momento – a revisão do papel da comunidade na conservação dos recursos naturais. Cada comunidade possui suas peculiaridades no uso de recursos e, portanto, o conhecimento delas pode ser extremamente útil na elaboração de planos de manejo e conservação mais eficazes, uma vez que, segundo Gibson (1999), para muitos defensores da comunidade, estas têm uma necessidade a longo prazo pelos recursos renováveis próximos de onde estão e possuem mais conhecimentos acerca destes recursos do que outros atores sociais potenciais. Para Leff (2005) é fato que os saberes tradicionais certamente foram ignorados, subjugados e substituídos pelos modelos científicos e pelos estilos de vida modernos. Portanto é necessário esclarecer as relações de dominação, sujeição e desconhecimento dos saberes tradicionais pela macrocultura modernizadora; libertar os saberes subjugados (FOUCAULT, 1980) não formalizados em códigos científicos, e interrogar os atuais processos de hibridação entre a ciência e a sabedoria dos códigos culturais e as práticas tradicionais. As etnociências participam assim da construção de uma racionalidade ambiental que tenha em seu cerne o principio da diversidade cultural e de formas diferenciadas de apropriação da natureza. Os saberes locais ou tradicionais inscrevem-se na construção de um novo paradigma, estreitamente relacionado aos princípios do holismo (LEFF, 2005), motivo pelas quais várias simbioses foram estabelecidas entre o conhecimento tradicional, expresso no prefixo etno com a imagem das disciplinas da cultura letrada, o que fica expresso nas próprias designações etnobotânica, etnozoologia, etnogeografia, entre outras (FRAZÃO-MOREIRA, 2001). A Etnoecologia, neste âmbito, emerge para o estudo e compreensão do saber acumulado, das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade humana a respeito da natureza e dos diferentes usos e formas de manejo dos recursos naturais (TOLEDO, 1992). Ela é um campo multidisciplinar que integra técnicas da Biologia, Antropologia, Etologia, Linguística, Economia e outras áreas (GERIQUE, 2006) e que igualmente pressupõem a investigação do conhecimento das populações humanas acerca da natureza, baseada nas crenças, no conhecimento tradicional, nas percepções e manejo dos recursos naturais 17 (TOLEDO, 1992). Marques (2002) corrobora de tal pensamento ampliando o estudo etnoecológico para os sentimentos e comportamentos que intermediam as interações entre as populações humanas e os demais elementos dos ecossistemas que as incluem, bem como os impactos ambientais daí decorrentes. De maneira semelhante, para Nazarea (1999) a etnoecologia é o estudo dos conhecimentos, estratégias, atitudes e ferramentas que permitem às diferentes culturas produzir e reproduzir as condições materiais de sua existência social por meio de um manejo apropriado dos recursos naturais. Ellen (1999) lembra que o conhecimento local sobre os recursos naturais inclui também o conhecimento sobre a extração e utilização dos recursos, atividades que em última análise aumentam a adaptabilidade da população local, ou que são dinamicamente adaptativas. Tais abordagens, de acordo com Guimarães e Mourão (2006), são importantes pelo fato de não apenas levarem em consideração os recursos naturais, mas também as populações humanas que sobrevivem destes. Os programas de manejo podem e devem ser úteis para uma política ecológica e socialmente responsável ou ainda, para garantir o saber tradicional, o qual torna a herança cultural humana universal. A natureza interdisciplinar da etnoecologia é outro aspecto relevante a qual promove a articulação e integração entre o conhecimento científico e o conhecimento das pessoas, sobretudo de camponeses ou povos indígenas. A região semi-árida do nordeste do Brasil é um campo bastante fértil à aplicação deste enfoque, em especial no que se refere aos recursos faunísticos e florísticos explorados. Neste diapasão, Albuquerque e Andrade (2002a) destacam que a caatinga ainda é pouco estudada no que diz respeito às relações seres humanos/natureza, não sendo identificados muitos dos usos que são feitos de seus recursos. Para estes autores, o estudo destas relações possibilita combinar o saber científico com o saber local visando contribuir com o planejamento de estratégias para um desenvolvimento sustentável. Nesta área, residem 30 milhões de pessoas (LEAL et al., 2003), muitas das quais possuem uma estreita dependência do bioma local, de onde extraem madeira para uso como combustível doméstico, além de plantas e animais silvestres, obtidos por meio de caça e coleta, os quais são fontes de alimentos e de medicamentos, como constataram alguns trabalhos prévios, a exemplo: Albuquerque e Andrade (2002a; b), Albuquerque et al. (2007a, b), Alves et al. (2006, 2007, 2009), Alves e Rosa (2007a, b) e Silva et al. (2004). Poucos estudos etnoecológicos desenvolvidos anteriormente confirmam a existência de um relevante conhecimento tradicional dos moradores do semi-árido nordestino em relação às espécies que os cercam. Araújo et al. (2005) realizaram um estudo etnoornitológico no município de Soledade, Estado da Paraíba, onde identificaram uma forte correlação entre o conhecimento 18 local sobre 30 aves com o prenúncio de chuvas. Mourão et al. (2006) encontraram entre os caçadores do semi-árido paraibano um rico conhecimento da taxonomia folk da mastofauna da região. O uso de algumas espécies de animais com finalidades medicinais no semi-árido nordestino indica ser mais bem documentada à estudos etnoecológicos da fauna local (ver ALMEIDA & ALBUQUERQUE, 2002; ALVES, 2009; ALVES & ROSA, 2006, 2007b; ALVES et al., 2007, 2008; BARBOZA et al., 2007; COSTA-NETO, 1999a) o que implica em uma urgente necessidade de mais trabalhos que possam dimensionar e compreender o conhecimento das pessoas residentes nessa região do Brasil no tocante aos recursos naturais que os cercam, possibilitando a posteriori, a aplicação do conhecimento local em estratégias que visem à conservação da biodiversidade da caatinga. Considerando-se que no Brasil, país caracterizado por sua megadiversidade (15-20% do total mundial) (MMA, 2003), os animais vêm sendo usados para diversos fins por sociedades indígenas e por descendentes de europeus desde o período colonial, é de se esperar que a utilização da vida silvestre pelos moradores do semi-árido nordestino seja amplamente variada. Relativo à fauna, o seu uso vem se perpetuando ao longo da história da humanidade e, nas sociedades contemporâneas, animais silvestres vêm sendo utilizados para diversas finalidades, desde alimentação, atividades culturais, comércio de animais vivos, partes deles ou subprodutos usados como vestuário, ferramentas e para uso medicinal e mágico-religioso (ALVES & PEREIRA-FILHO, 2007; ALVES & ROSA, 2006, 2007a; BENNETT & ROBINSON, 1999, NARANJO et al., 2004). Dentre os biomas brasileiros, a caatinga é, provavelmente, o mais desvalorizado e menos conhecido botanicamente e faunisticamente (BRANDÃO & YAMAMOTO, 2004; GIULIETTI et al., 2004) sendo descrita na maioria das vezes como um ecossistema pobre em espécies e endemismos. Segundo Oliveira et al. (2003), o tradicional ponto de vista que os mamíferos da caatinga são subconjunto da fauna daqueles do cerrado agora se apresenta de forma enganosa. Dados recentes confirmam a presença de cerca de 150 espécies de mamíferos neste bioma, sendo que ao menos 10 seriam endêmicas, contrapondo-se a informação de que haveria oitenta espécies, com menção de um único caso de endemismo (OLIVEIRA et al., 2003, 2004). A ordem Xenarthra - representada pelos tamanduás, tatus e preguiças arborícolas - está inserida na diversidade de espécies da mastofauna da Caatinga, sendo detentora de significâncias ímpares para com os nordestinos, constituindo fonte de alimento, remédios tradicionais, renda e ainda explorados para atividades cinegéticas e usos mágico-religiosos (ALVES et al., 2008, 2009; ALVES, 2009; BARBOZA et al., 2007; COSTA-NETO, 2000a; 19 MOURÃO et al., 2006). Tendo em vista que tais atividades freqüentemente acarretam na morte de exemplares e que, de fato, são impactantes em maior ou menor grau sobre as populações das espécies exploradas, é fundamental verificar o uso exercido pelas comunidades das espécies dos ambientes que as cercam, assim como registrar o conhecimento tradicional inserido neste contexto, tornando-se uma ferramenta valiosa na formulação de uma gestão participativa e sustentável dos recursos naturais. Em relação às espécies de Xenarthras que habitam o semi-árido paraibano e que são popularmente exploradas, encontram-se os tatus verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e peba (Euphractus sexcinctus). Contudo, há uma carência de estudos a despeito dos aspectos culturais diretamente vinculados a ecologia, biologia e aos diversos usos que se fazem das espécies anteriormente citadas. Desta forma, o presente trabalho objetivou obter informações junto a moradores de 5 municípios do Estado da Paraíba sobre os conhecimentos bioecológicos (alimentação, reprodução, habitat, predação), bem como identificar as principais técnicas de caça e utilização que eles possuem sobre os tatus-peba (Euphractus sexcinctus) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus); além de interagir o conhecimento tradicional com o conhecimento científico, buscando contribuir para que as populações locais sejam inseridas de forma participativa em futuros planos de manejo e conservação, além de identificar as estratégias de caça e as finalidades de uso destas espécies. 20 Objetivo Geral Obter informações junto a moradores de cinco municípios do semi-árido do Estado da Paraíba (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa, Sumé) sobre os conhecimentos ecológicos e comportamentais (alimentação, reprodução, habitat, predação e utilização) que os mesmos possuem sobre os tatus-peba (Euphractus sexcinctus) e tatus verdadeiros (Dasypus novemcinctus); e analisar as atividades cinegéticas associados a tais usos Objetivos específicos Analisar o perfil socioeconômico dos entrevistados; Estudar o conhecimento ecológico local dos moradores envolvidos na pesquisa; Identificar os diversos usos de Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus empregados pelos moradores dos municípios estudados; Interagir o conhecimento ecológico local com o conhecimento científico; Identificar as técnicas e estratégias de caça por parte dos moradores; Indicar possíveis alternativas para inclusão em um futuro plano de manejo sustentável das espécies alvo desse estudo; 21 Área de Estudo O presente estudo foi desenvolvido em cinco municípios do semi-árido paraibano (bioma caatinga): Município de Campina Grande (mesorregião do Agreste), municípios de Monteiro e Sumé (microrregião do Cariri Ocidental paraibano) e os municípios de São Mamede e Sousa (Sertão paraibano) (Figura 1), todos descritos a seguir. A escolha da área de estudo obedeceu aos seguintes critérios: (1) indicativo da existência de atividades de caça de subsistência e/ou recreativa, (2) importância nas mesorregiões ou microrregiões onde estão localizados, (3) acessibilidade, (4) conhecimento com os moradores locais, (5) carência de estudos em etnoecologia e etnozoologia nas regiões citadas, (6) grande diversidade cultural, (7) processo avançado de antropização. Município de Campina Grande Campina Grande possui uma população de 371.060 indivíduos e ocupa uma área territorial de 621 km² (IBGE, 2008). Trata-se do município de maior população do interior do estado da Paraíba e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,721 (médio desenvolvimento humano) (ADH, 2004). Embora possua uma população predominantemente urbana (aproximadamente 91%), cerca de 31 mil pessoas residem na zona rural (ADH, 2004; IBGE, 2008). As principais atividades do município são serviços e a indústria, as quais contribuem com mais de 95% do Produto Interno Bruto (PIB) segundo o IBGE (2008). Apresenta as coordenadas geográficas de (07º 13' 50" S 35º 52' 52" O) (Figura 1) e situa-se na microrregião com o mesmo nome e na mesorregião do Agreste do Estado da Paraíba (EMBRAPA, 2006; RODRIGUEZ et al., 2002). É considerada a maior e mais importante cidade do interior do Nordeste. Pólo de cinco microrregiões homogêneas que compõe o Compartimento da Borborema – área que abrange 79 municípios, cerca de 44% do território paraibano e população que soma mais de um milhão de habitantes – a cidade exerce influência geoeconômica em limites que transpõem fronteiras estaduais, tornando-se, assim, uma das mais importantes do Nordeste do Brasil (HENRIQUE, 2006). De acordo com a classificação de Köppen, o tipo de clima encontrado em Campina Grande-PB é As‟(quente e úmido com chuva de outono-inverno) (HENRIQUE, op. cit.; EMEPA, 2008). O período chuvoso inicia-se de fevereiro a março prolongando-se até agosto. A amplitude térmica anual é muito pequena em função da baixa latitude. As temperaturas 22 variam um pouco durante o ano e as médias anuais são elevadas, com valores compreendidos entre 22 °C e 26 °C. Os meses mais quentes são janeiro e fevereiro e os menos quentes são julho e agosto (HENRIQUE, 2006). A umidade relativa do ar apresenta médias de 80% (EMEPA, 2008). O solo do município de Campina Grande é raso e de natureza argilo-arenosa. Em função da pequena camada de terreno sedimentar e da escassez de chuvas, este solo não favorece a formação de associações florestais densas (HENRIQUE, 2006). Desses fatores decorre a precariedade da cobertura vegetal. Não obstante, a paisagem florística é bastante diversificada, apresentando formações de palmáceas, cactáceas em geral, leguminaceas e bromeliáceas, além de rarefeitas associações de marmeleiros, juazeiros, umbuzeiros e algarobas (Ibdem). Município de Monteiro O município de Monteiro possui uma área de 986 km2 e está localizado na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental da Paraíba (RODRIGUEZ et al., 2002; IBGE, 2008). Suas coordenadas geográficas são 07º 53' 22" S 37º 07' 12" O (EMBRAPA, 2006) A população total do município é estimada em 29.980 habitantes (IBGE, 2008), consistindo a maior população do Cariri Ocidental do Estado da Paraíba e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,603 (médio desenvolvimento humano) (ADH, 2004). Destes habitantes, 16.684 (55,6%) residem na zona urbana e o restante (44,4%) na zona rural. O tipo climático é Bsh - semi-árido quente, correspondendo, estando inserido na área mais seca do Estado com precipitações médias anuais muito baixas (média de 500 mm), e uma estação seca que pode atingir onze meses (EMEPA, 2008). A vegetação desta unidade é formada por florestas subcaducifólica e caducifólica, compondo o que se conhece por caatinga, próprias das áreas interioranas do Nordeste do Brasil e a temperatura média é de 28ºC (BRASIL, 2005a). O município de Monteiro está inserido na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, relevo predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos 23 de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino (BRASIL, 2005a). Com respeitos aos solos, nos Patamares Compridos e Baixas Vertentes do relevo suave ondulado ocorrem os Planossolos, mal drenados, fertilidade natural média e problemas de sais; Topos e Altas Vertentes, os solos Brunos não Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado ocorrem os Podzólicos, drenados e fertilidade natural média e as Elevações Residuais com os solos Litólicos, rasos, pedregosos e fertilidade natural média (Ibdem). Município de Sumé Igualmente localizada na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental da Paraíba possui uma área de 838 km2 (ADH, 2004; RODRIGUEZ et al., 2002). De acordo com o IBGE (2008), a população total do município é de 16.456 habitantes, consistindo, em termos populacionais, no segundo maior município de Cariri Ocidental paraibano. Destes habitantes, 10.877 (66,1%) residem na zona urbana e o restante (33,9%) na zona rural. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,658 (médio desenvolvimento humano) (ADH, 2004). Segundo a classificação de Köppen, o clima é do tipo Bsh – semi-árido quente (EMEPA, 2008). A vegetação é basicamente composta por Caatinga hiperxerófila com trechos de Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do tipo tropical semi-árido, com a pluviosidade média anual de cerca de 695mm e temperatura média anual de 26,5ºC (ALBUQUERQUE et al., 2002). Em relação ao solo, em geral, são pouco profundos, podendo apresentar elevada saturação de bases, argilas de atividade alta no horizonte B e capacidade de retenção de água disponível média a baixa, necessitando de um manejo eficiente para sua utilização agrícola (EMEPA, 2008). Município de São Mamede O município de São Mamede (coordenadas 06º 55' 36" S 37º 05' 44" O) localiza-se na mesorregião do Sertão do Estado da Paraíba e na microrregião do Seridó Oriental, correspondendo ao segundo município-pólo desta (ADH, 2004; RODRIGUEZ et al., 2002). A população total do município é de 7.782 habitantes, dos quais 5.567 (71,5%) residem na zona urbana e 2.215 moram na zona rural (IBGE, 2008). O IDH desta população é de 0,646 (médio desenvolvimento humano), contudo, a renda per capita mensal é baixa, cerca de R$ 108,45 24 (ADH, 2004). As atividades ligadas ao setor agropecuário representam de 50,1 a 75% da economia local (BRASIL, 2005b). A pecuária local tem como principais rebanhos bovinos (6953 cabeças), caprinos (3303 cabeças) e ovinos (1359 cabeças). A vegetação é basicamente composta por Caatinga hiperxerófila com trechos de Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do tipo climático AW' - quente e úmido com chuvas de verão e outono e a pluviosidade média anual de cerca de 431,8 mm (BRASIL, 2005b). Relativo aos aspectos fisiográficos, o município de São Mamede, está inserido na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, relevo predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino (BRASIL, 2005b). Nos Patamares Compridos e Baixas Vertentes do relevo suave ondulado ocorrem os Planossolos, mal drenados, fertilidade natural média e problemas de sais; Topos e Altas Vertentes, os solos Brunos não Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas Vertentes do relevo ondulado ocorrem os Podzólicos, drenados e fertilidade natural média e as Elevações Residuais com os solos Litólicos, rasos, pedregosos e fertilidade natural média (Ibdem). Município de Sousa O município de Sousa (coordenadas centrais 06º 45' 33" S, 38º 13' 41" W; Figura 1) está localizado na mesorregião do Sertão do Estado da Paraíba. Devido à importância econômica e educacional, é principal pólo e atribui o mesmo nome da microrregião onde está inserido. Possui um a população total de 63.783 habitantes, sendo que 46.200 (72,4%) são residentes da zona urbana e os demais (17.583) vivem na zona rural (IBGE, 2008). A atividade agropecuária constitui uma das principais atividades de ordem econômica no município (BRASIL, 2005c). Na produção agrícola, destaca-se a produção de bananas (15 mil toneladas) e coco-da-baía (19 mil fritos) e na pecuária as principais criações são de boi (22.000 cabeças), ovinos (6.600 cabeças) e caprinos (4.500 cabeças) (IBGE, 2008). O clima é do tipo AW' (classificação de Köppen), com chuvas de verão. O período chuvoso se inicia em novembro com término em abril e a pluviosidade média de 690 mm 25 (PARAÍBA, 2008). A vegetação – similarmente a que ocorre em São Mamede - é composta por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia (Ibdem). Os solos são, de um modo geral, argilosos e a drenagem é de moderada a imperfeita, além de apresentar em alguns casos excessiva pedregosidade (EMEPA, 2008). 26 Sousa São Mamede Campina Grande Figura 1. Localização da área de estudo Legenda: A. Município de Campina Grande (07º 13' 50" S 35º 52' 52" W), B. Município de Monteiro (07º 53' 22" S 37º 07' 12" W), C. Município de Sumé (07º 40' 18" S 36º 52' 48" W), D. Município de São Mamede (06º 55' 36" S 37º 05' 44" W), E. Município de Sousa (06º 45' 3" S 38º 13' 41" W) Sumé Monteiro 27 CAPÍTULO I O Conhecimento ecológico local dos moradores do semi-árido paraibano em relação às espécies de tatus: Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus 28 1.1 Introdução Estudar o conhecimento ecológico tradicional dos moradores do semi-árido paraibano é bastante difícil em virtude da carência de estudos etnoecológicos prévios o que pode, em maior ou menor medida, interferir significativamente no desenvolvimento de um trabalho recém-esboçado. Embora haja muita discussão a respeito do que são comunidades tradicionais, neste trabalho, compartilho da definição provida por Diegues et al. (1999) que insere os sertanejos/vaqueiros como um grupo tradicional não-indígena, conceito este que abarca grande parte dos moradores de pequenas e médias localidades do interior do Nordeste do Brasil e que corrobora em grande parte com o decreto-lei nº 6.040 de 7 de fevereiro de 2007 a qual define povos ou comunidades tradicionais como “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007). Compreender o saber e o saber-fazer de sertanejos/vaqueiros relativo ao uso de recursos naturais implica necessariamente em entender como ocorreu a ocupação européia pelo interior nordestino, processo marcado pelo aprendizado e assimilação de conhecimentos dos indígenas locais, assim como a execução de conhecimentos e práticas daqueles em um processo que, além de duradouro, foi altamente impactante para o bioma caatinga. O período de ocupação européia do interior do Brasil, em especial no Norte e Nordeste, reflete, pois, apenas um dos mais variados exemplos de interações ser humano-natureza, haja vista que tal processo foi marcado pela transferência de espécies, invasão de novas, predatismo intenso e impactos ecológicos por um modelo de ocupação onde basicamente era sustentado pelo tríade: gado-exploração-gente, onde a pecuária certamente foi à principal atividade econômica (para uma leitura mais detalhada ver CROSBY, 1993; DIEGUES et al., 1999; GUEDES, 2006; MESGRAVIS & PINSKY, 2000) e elemento fixador de populações humanas descendentes de europeus no interior das novas terras. A despeito dos conflitos com os indígenas locais decorrentes desta ocupação, a qual foge do escopo de nossa abordagem, não é difícil deduzir que os “invasores” europeus assimilaram, à medida que se expandiam com seus rebanhos pela vastidão do interior da neoeuropa sul-americana, conhecimentos dos nativos no que diz respeito a espécies locais com utilidade para o homem (e.g., fontes de alimento, remédios, utilitários, entre outros) (ver CARVALHO, 2000; HUE, 2008; 29 MESGRAVIS & PINSKY, 2000). Fruto da interação com os indígenas locais, a mandioca, bananas e cajus, além de animais silvestres como antas, tatus, pacas e peixes-boi consistiram importantes fontes de alimentos para os portugueses que vinham ao Brasil no século XVI (CARVALHO, 2000). Em outro exemplo, pode-se inferir que a diversidade cultural brasileira contribuiu para o estabelecimento de um rico e complexo conhecimento acerca de plantas e animais medicinais e seus potenciais usos terapêuticos. Animais como o teju Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839), a jibóia Boa constrictor (Linnaeus, 1758), o tatu-peba Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), o tatu verdadeiro Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) e tamanduás (e.g., tamanduá bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 e o tamanduá mirim Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) explorados para fins medicinais no Brasil (ver ALVES et al., 2007), provavelmente tiveram seus usos a partir dos conhecimentos de indígenas. Os colonizadores [ocupadores, grifo meu] procuraram descrever e entender a realidade ecológica brasileira nos dois primeiros séculos de colonização, destacando, sobretudo, o caráter utilitário das espécies, revelando a necessidade por parte dos colonizadores em conhecer a realidade ecológica na qual estavam inseridos e, neste particular, as informações recolhidas junto aos índios eram imprescindíveis (GUEDES, 2006). Esta situação reflete apenas a questão trabalhada por Turner et al. (2003) de que, extremidades culturais, constituindo lugar de zonas de borda entre entidades sociais discretas, tornam-se zonas de interação social, cruzamento de conhecimento e sinergia, onde as pessoas não só trocam bens materiais, mas também ocorre aprendizado entre ambas as partes. O uso de animais da fauna brasileira por sociedades indígenas e por descendentes dos colonizadores europeus justifica a construção de um conhecimento tradicional a qual vem se perpetuando durante séculos, transferido de geração a geração, sobretudo oralmente entre os neoocupantes dos sertões brasileiros – descendentes de europeus e mestiços destes com outras etnias. Esse tipo de conhecimento destaca-se por seu vasto campo e variedade que comportam: “técnicas de manejo de recursos naturais, métodos de caça e pesca, conhecimentos sobre os diversos ecossistemas e sobre propriedades farmacêuticas, alimentícias e agrícolas de espécies e as próprias categorizações e classifcações de espécies da fauna e da flora utilizadas pelas populações tradicionais” (SANTILLI, 2005, p. 192). O estudo do conhecimento tradicional das relações ser humano e natureza é abordado à luz das Etnociências, em especial da Etnoecologia, onde inicialmente definida como o estudo dos sistemas de conhecimento desenvolvido por uma dada cultura para classificar os objetos, atividades, e eventos do universo dos povos tradicionais (HARDESTY, 1977), 30 transcede a questão etnotaxonômica (ver BERKES, 1999) e engloba o estudo das relações ambientais de comunidades e culturas particulares (SLIKKERVEER, 2000), permitindo convergir os aspectos concretos do manejo de recursos naturais sem ignorar os aspectos gerais socias, culturais e cognitivos relatados (RIST & DAHDOUH-GUEBAS, 2006). De acordo com Albuquerque e Andrade (2002a) a Etnoecologia, juntamente com a Etnobiologia, têm sido campos que vêm contribuindo no fornecimento de dados que muitas vezes corroboram a idéia de que as práticas locais são ecologicamente sustentáveis e podem fornecer alternativas para as práticas importadas pelos cientistas, que não raro olvidam a realidade local. Contraposto a esta afirmação, destaca-se o fato de que as práticas locais podem ser impactantes, a exemplo das técnicas de “arremedo” ou “facheado” usada por caçadores do semi-árido paraibano (ver ALVES et al., 2009) ou mesmo o uso de animais silvestres para fins medicinais, tal como a exploração para esta finalidade de diversas espécies ameaçadas de ursos na China (ver FENG et al., 2009), ou ainda no Nordeste do Brasil, onde 230 das cerca de 250 espécies de animais usadas com propósitos medicinais são silvestres e 52 estão em listas de espécies ameaçadas (e.g., IUCN, CITES, MMA) (ALVES, 2009), refletindo numa forte pressão sobre as populações exploradas. No entanto, mesmo em situações nas quais esses tipos de usos de recursos são impactantes, o conhecimento local pode ser útil para a elaboração de planos de uso e manejo de recursos naturais. É fato que comunidades locais, as quais exploram determinadas espécies para fins específicos, possuem um valioso conhecimento etnobioecológicos das mesmas. Ad exemplum, 68 espécies são exploradas como recursos pesqueiros no Estuário do Rio Mamanguape no Estado da Paraíba (ROCHA et al., 2008), e nesta mesma área, Alves e Nishida (2002), constataram que percepção dos pescadores locais relativo ao processo de ecdise do caranguejo-uçá - U. cordatus corrobora em muitas das informações fornecidas com aquelas existentes na literatura. O conhecimento que os pescadores possuem das dimensões espaço-temporais do estuário do rio Mamanguape é igualmente rico, de tal maneira que estes conseguem diferir duas estações climáticas que sobrepõem às variações de salinidade na região estuarina e, conseqüentemente, afetam na distribuição das espécies nesses períodos (ver MOURÃO & NORDI, 2006). Na região semi-árida do Nordeste brasileiro a carência de estudos ecológicos e etnoecológicos são marcantes, como constataram previamente alguns autores, a exemplo de Albuquerque et al. (2007b), Almeida et al. (2006). Isto acarreta algumas preocupações, visto que algumas perguntas - tais como: Como as comunidades que vivem na caatinga, ou nos seus domínios, se relacionam com os recursos faunísticos? Como se dá a apropriação dos recursos 31 neste bioma? ou Como os recursos da caatinga são percebidos? - tornam-se, no máximo, parcialmente respondidas pela comunidade científica. No caso específico da mastofauna, a Caatinga, paulatinamente, começa a ser desmistificada em termos de pobreza e diversidade; contudo, ainda permanece pouco estudada do ponto de vista das interações estabelecidas entre os moradores locais com os mamíferos da região. Sabe-se, no entanto, que alguns grupos de espécies desempenham papéis-chave no imaginário e na cultura popular dos nordestinos, sobretudo daqueles que vivem no Sertão. Entre esses grupos, estão os Xenarthras – tamanduás, tatus e preguiças. Etnozoologicamente, esses animais têm tido uma longa história de inter-relações com os povos americanos, desempenhando papéis importantes na dieta, folclore, medicina, língua, religião, recreação, economia e cosmologia de diferentes culturas ameríndias, tanto presentes quanto passadas (GILMORE, 1986; MARTÍNEZ, 1995; SÁNCHES & ROMERO, 1994; SETZ, 1991). Os tatus, em especial o tatu-peba (E. sexcinctus) e o tatu verdadeiro (D. novemcinctus), são animais intrinsecamente associados à cultura do Nordeste brasileiro. Linguisticamente, o termo tatu relaciona-se com expressões populares, tais como: “cara de tatu”, que se refere aquele com rosto comprido; “levar um tatu”, que significa cair (COSTANETO, 2000a). Há registros do uso de E. sexcinctus e D. novemcinctus na farmacopéia da região Nordeste para o tratamento de várias enfermidades, incluindo asma, dor de ouvido, edema, ferimentos, pneumonia, sinusite, trombose entre outras (ver ALVES, 2009). Essas práticas normalmente exigem a morte de espécimes dos tatus supracitados, o que implica, necessariamente, em atividades de caça. Tais espécies têm sido exploradas para fins alimentares e recreacionais (caça esportiva) de forma freqüente no interior do Brasil (ver ALVES et al., 2009; MOURÃO et al., 2006; MEDRI, 2008). Torna-se uma questão central o fato de que caçar implica à necessidade de um conhecimento tradicional detalhado da ecologia dos animais explorados assim como de outros aspectos ecológicos locais, fato este confirmado por outros autores, como Henfrey (2002). A partir deste contexto, o presente estudo teve por finalidade registrar o conhecimento ecológico tradicional de moradores do semi-árido paraibano em relação à ecologia dos tatus-peba (Euphractus sexcinctus) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus), contribuindo para que esse conhecimento seja um dos fatores a ser inserido de forma participativa em futuros planos de manejo e conservação destas espécies. Nosso estudo parte da premissa de que, apesar do valioso conhecimento ecológico tradicional de muitos moradores do semi-árido paraibano, 32 esse corpus raramente recebe atenção ou análise necessária perante aqueles que se preocupam com o uso e manejo de recursos. 33 1.2 Material e Métodos O trabalho de campo foi desenvolvido em dois períodos distintos. O primeiro deles foi de janeiro a março de 2008, onde os dados foram coletados no município de Sousa. O segundo período ocorreu de outubro de 2008 a abril de 2009, no qual os foram coletados nos demais municípios. Em ambos os casos a freqüência de visita à área de estudo foi quinzenal com permanência de quatro dias, normalmente das quintas-feiras aos domingos. Os dados foram obtidos e analisados mediante a aplicação de um conjunto de técnicas qualitativas e quantitativas descritas a seguir. 1.2.1 Coleta dos dados A coleta dos dados consistiu fundamentalmente na realização de entrevistas, as quais eram sempre precedidas pela identificação do entrevistador, por uma rápida explanação sobre o trabalho e por um pedido de permissão para realização das entrevistas. Inicialmente foram realizadas entrevistas livres com informantes encontrados ad libitum (ao acaso), tendo por objetivo compreender de forma mais ampla o conhecimento dos moradores locais em relação às espécies de tatus enfocadas nesse estudo. De acordo com Mourão & Nordi (2006), este tipo de entrevista é de extrema importância, pois permite ao entrevistado discorrer livremente sobre o assunto tratado. Por este motivo, muitos estudos etnobiológicos e etnoecológicos fizeram uso dessa técnica, a exemplo de Araújo et al. (2005), Costa-Neto (1999b), Mourão et al. (2006), Rocha et al. (2008), Thé (2003). Após esta etapa inicial, foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com residentes locais, incluindo aqueles identificados como especialistas. Um especialista pode ser definido como uma pessoa reconhecida pela comunidade como sendo detentora de um profundo conhecimento acerca do uso de animais para propósitos diversos (BAILEY, 1994). Esta etapa foi pautada por um questionário semi-estruturado (ver Apêndice A) que englobava os seguintes aspectos: características físicas e biológicas, preferências alimentares, de habitat, reprodução e outros aspectos bioecológicos. Também foram realizadas turnês guiadas com especialistas em trilhas escolhidas pelos mesmos, quando foi possível fazer registros fotográficos e identificar in loco as espécies de tatus estudadas, além de podermos constatar parte das interações (positivas ou negativas) estabelecidas destas pessoas com esses animais. 34 O universo de entrevistados foi determinado principalmente por meio da técnica bola de neve (snow Ball – em inglês) (BERNARD, 1988). Tal técnica consiste na seqüência de indicação (ões) feita(s) por moradores de uma determinada área o qual possibilita reconhecer os indivíduos culturalmente competentes em relação a um determinado assunto. As entrevistas individuais ou coletivas ocorreram tanto na zona urbana quanto na zona rural dos municípios estudados. Muito embora os tempos de cada sessão tenham sido variados, quase sempre as entrevistas tiveram duração superior a 40 minutos. A amostra total foi de 214 indivíduos, 177 homens e 37 mulheres, assim distribuídos: 109 de Campina Grande (76 homens e 33 mulheres), 18 de Monteiro (todos homens), 23 de São Mamede (todos homens), 32 de Sousa (28 homens e 04 mulheres) e 32 de Sumé (todos homens). A média de idade dos entrevistados foi de 40,1 anos. 1.2.2 Análise dos dados Qualitativamente, os dados obtidos foram analisados por meio de uma abordagem emicista/eticista, na qual os conhecimentos tradicionais foram comparados com aqueles correspondentes e/ou correlacionados na literatura científica (POSEY, 1986), assim como pelo modelo de união das diversas competências individuais (HAYS, 1976). Segundo este modelo, toda informação pertinente ao assunto pesquisado é considerada. A confirmação das informações fornecidas pelos entrevistados ocorreu principalmente de forma sincrônica, que consiste em perguntas idênticas feitas a indivíduos diferentes em tempos muito próximos (MARANHÃO, 1975). A análise do conhecimento ecológico tradicional dos moradores das áreas estudadas foi fundamentalmente realizada por meio de tabelas de cognição. Este tipo de análise, essencialmente qualitativa, consiste na geração de uma “tabela” que compara fragmentos do conhecimento dos entrevistados com fragmentos do corpus da literatura científica, buscandose convergências ou divergências. Por esse motivo, tal comparação entre os diferentes corpus citados é um técnica amplamente utilizada em trabalhos de etnoecologia (ANDRADE et al., 2006; COSTA-NETO, 2000b; MARQUES, 1995; MOURA, 2002; SOUZA, 2004). 1.2.3 Identificação das espécies Similar ao procedimento realizado por Alves e Rosa (2006), os animais foram identificados das seguintes formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2) 35 fotografias 3) através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas familiarizados com a fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 36 1.3 Referencial Teórico 1.3.1 As Ciências dos saberes locais: A Etnobiologia e a Etnoecologia As questões ambientais emergidas ao longo dos dois últimos séculos vieram interrogar o papel dominante da ciência como sintetizadora e direcionadora dos conhecimentos da humanidade. A crise ambiental – a qual toma proporções marcantes a partir da segunda metade do século XX transcende a superexploração dos recursos naturais. O cartesianismo da ciência moderna subjugou saberes e gerou, no seio de nossa sociedade, a idéia de única verdade como sendo aquela a qual poderia ser metodologicamente testada, mediante parâmetros préestabelecidos que, somente após repetidos testes e produção de resultados é que assim seria efetivada (CHEN, 2004). A existência de Etnociências, em primeiro lugar, e o estabelecimento de relações possíveis entre elas e as Ciências, em segundo lugar, permaneceram para além dos limites do pensável, durante muito tempo (DIAS & JANEIRA, 2005). Ou seja, era impensável que pudesse existir a possibilidade de juntar o prefixo <éthos> a <scientiae>; também não se podia conceber que pudessem existir outras realidades, com o mesmo radical, fora das ciências modernas (DIAS & JANEIRA, op. cit.). No auge desta crise, os demais saberes não científicos, outrora subjugados, agora passariam a ganhar destaque, como atesta Leff (2005). Este contexto é o marco do início da popularização das etnociências (COTTON, 1996; MARTIN, 1995) a qual engloba, por exemplo, a etnobotânica (CUNNINGHAM, 2001; MINNIS, 2000), a etnozoologia, a palaeoetnobotânica, zooetnoarqueologia, etnoecologia (NAZAREA, 1999), etnoagronomia (ALTIERI, 1993), etnopedologia (WINKLERPRINS & SANDOR, 2003), e outras áreas relacionadas como a etnoclimatologia (ORLOVE et al., 2002), a etnoastronomia (FABIAN, 2001), etnomedicina (NICHTER, 1992), ou etnofarmacologia e nutrição (PIERONI & PRICE, 2005); assim como na matemática (D‟AMBROSIO, 1999; HUYLEBROUCK, 2005), ou seja, as „etno abordagens‟ estão tornando-se mais disponíveis (RIST & DAHDOUHGUEBAS, 2006). Ao invés de desagregar as práticas encontradas nos modos de vida de agricultores, mercadantes, artesãos e xamãs [assim como outros grupos tradicionais], empacotando-as em disciplinas altamente especializadas da ecologia, agronomia, botânica, medicina, entre outras; as etno-abordagens estão adotando uma visão mais compreensiva focada sobre as mais 37 variadas dimensões culturais subjacentes (ATRAN, 1991; NAZAREA, 1999; POSEY & PLENDERLEITH, 2002; RIST & DAHDOUH-GUEBAS, 2006; WINKLERPRINS & BARRERA-BASSOLS, 2004). Isto reflete apenas a questão de que outras culturas, e não apenas a ocidental, tem gerado um conhecimento confiável acerca dos fenômenos naturais, o que convida a exploração da atividade que outras culturas possam ter diferentes “ciências” (POMEROY, 1992). Para Rist e Dahdouh-Guebas (2006) as etnociências podem desempenhar um importante papel no avanço da transdisciplinaridade e desenvolvimento sustentável, uma vez que o principal desafio para os estudos transdisciplinares consiste em encontrar modos de encorajar o diálogo e cooperação entre grupos heterogêneos de atores sociais com diferentes formas de conhecimento, ao invés de impor uma visão ampla e coerente do mundo por meio de um discurso hegemônico que silencia todos os outros discursos pelo posicionamento destes fora das questões tratadas. Este ponto certamente constitui um avanço das discussões sobre o papel da ciência e das interações estabelecidas por esta com outros saberes considerados não científicos. Por suas características, a ciência ocidental moderna foi [ou quase sempre o foi] considerada como sendo a única capaz de descrever o mundo e de dar a ele um sentido lógico (COSTANETO, 1999c). Seus princípios, métodos e técnicas foram levados para todos os recantos do mundo e tomados como universais. Nessa perspectiva, qualquer hipótese ou interpretação de fatos que não afinem com as idéias vigentes era ignorada; qualquer tentativa de incluir explicações criadas fora do rigor científico ocidental, que fuja da objetividade, era banida dos templos acadêmicos (Ibdem). Dentre as etnociências, a etnobiologia merece uma atenção especial por envolver a análise de classificação de sistemas sobre a natureza e por ter uma profunda ligação com os temas da botânica, zoologia e ecologia (MOURÃO et al., 2006). Embora não haja uma definição universal de etnobiologia podemos considerar clássica a que afirma: “o estudo do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes, relacionando-se, nesse sentido, à ecologia humana, além de dar ênfase às categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo” (POSEY, 1986). Benthall (1993) define a etnobiologia como um novo ramo da ciência a qual une duas áreas do conhecimento humano – a etnologia, o estudo de culturas, e a biologia, o estudo da vida. A etnobiologia abrange as mais diferentes áreas da botânica, zoologia, ecologia, etc., mas que no saber indígena [ou local], estão integradas formando um amálgama de plantas, animais, atividades de caça e coleta, horticultura, espíritos, mitos, cerimônias, ritos, reuniões, energias, cantos e 38 danças e que não se enquadram nas categorias e subdivisões que são definidas dentro das Ciências Biológicas [grifo meu] (COSTA, 2002). Valendo-se dos paradigmas e da epistemologia da ciência moderna, a etnobiologia, desta maneira, fornece um arcabouço teórico para interligar diferentes áreas das ciências sociais e naturais com outros sistemas de conhecimentos não-acadêmicos (SANTOS-FITA & COSTA-NETO, 2007). De acordo com Diegues et al. (1999), este ramo das etnociências ainda está construindo seu método e sua teoria a respeito da maneira pela qual os povos classificam os seres vivos, seu ambiente físico e cultural. Ainda segundo estes autores, pressupõe-se que cada povo possua um sistema único de perceber e organizar as coisas, os eventos e os comportamentos. Begossi et al. (2002), definem a etnobiologia de forma semelhante a Diegues (2000), onde esta “busca entender os processos de interação das populações humanas com os recursos naturais, com especial atenção à percepção, conhecimento e usos (incluindo o manejo de recursos), contribuindo para esclarecer diferenças culturais e analisar a diversidade ou heterogeneidade cultural”. No entanto, estas definições não compreendem os aspectos epistemológicos e metodológicos questionados, de modo que a etnobiologia pode ser confundida ou sobreposta a alguns enfoques teórico-metodológicos mais recentes, como é o da etnoecologia (SOUZA, 2004). Ela caracteriza-se como um enfoque ou abordagem teórico-metodológica no estudo da relação sociedade-natureza onde enfatiza o papel da cognição no comportamento humano, apresentando-se como uma ferramenta útil para analisar problemas relacionados com o manejo, sustentabilidade, conservação e direito de propriedade intelectual (Ibdem). Estudos inseridos neste contexto antecedem o século XIX; a designação etnobotânica foi datada academicamente em 1890 (FEWKES, 1896; HARSHBERGER, 1896) e etnozoologia foi o nome dado por Mason nos Estados Unidos, em 1899, para definir a “zoologia da região como exatamente descrita por indígenas” (MOURÃO et al., 2006). Posteriormente, a etnociência assume um caráter multidisciplinar, ramificando-se em diversas áreas do conhecimento como, por exemplo: etnopedologia, etnofarmacologia, etnozoologia, etnoentomologia, entre outras. (VALLE, 2007) De modo muito similar a Toledo (1992), Marques (1995), define a etnoecologia como: “(...) o estudo das interações entre a humanidade e o resto da ecosfera, através da busca da compreensão dos sentimentos, comportamentos, conhecimentos e crenças a respeito da natureza, característicos de uma espécie biológica (Homo sapiens) altamente polimórfica, fenotipicamente plástica e ontogeneticamente dinâmica, cujas novas propriedades emergentes geram-lhe múltiplas descontinuidades com o resto da própria natureza. Sua ênfase, pois, deve ser na 39 diversidade biocultural e o seu objetivo principal, a integração entre o conhecimento ecológico tradicional e o conhecimento ecológico científico”. Para Toledo (op. cit.), a etnoecologia está integrada em três dimensões em seu universo de estudo: o complexo cosmos – corpus – práxis. O cosmos se refere aos sistemas de crenças, mitos e rituais que englobam uma relação com o meio ambiente (CABRERA et al., 2002). O corpus refere-se, no enfoque etnoecológico, a todo o repertório de conhecimento que se enquadram dentro das mentes dos produtores e que geralmente não são escritos, ao passo que dentro da esfera da práxis, encontra-se todo o conjunto de práticas produtivas que tomam lugar durante a apropriação dos recursos naturais (Ibdem). As definições de etnobiologia e etnoecologia mostradas aqui podem, segundo Bandeira (2001), nos levar a concluir que estas têm aspectos em comum e estabelecem como enfoque principal dessa disciplina, as relações sociedade-cultura-natureza. Para Descola (1996), a etnobiologia busca entender basicamente os mesmos problemas centrais de outras disciplinas, enfoques, tradições e escolas, como a etnoecologia, a ecologia humana, dentre outras. As dificuldades de se delimitar epistemologicamente o campo científico da etnobiologia e da etnoecologia estão fundadas em sua natureza interdisciplinar e em seu recente desenvolvimento teórico-metodológico. Portanto, as ferramentas de que dispõem pertencem a diferentes campos científicos (antropologia, botânica, zoologia, ecologia, história, geografia) (Souza, 2004). Segundo Bandeira (2001), essa sobreposição é o resultado do rápido desenvolvimento da etnobiologia, assim como a proliferação de escolas, enfoques e tendências teóricas, o que caracteriza o estado atual de desenvolvimento de disciplinas. Na verdade, a etnobiologia e a etnoecologia estão intimamente associadas, haja vista que ambas possuem como essência de estudo o Conhecimento Tradicional (CT) ou Conhecimento Ecológico Tradicional (CET) dos mais variados povos. 1.3.2 O Conhecimento Ecológico Tradicional O estudo do conhecimento humano é tão antigo quanto à história da humanidade. O Conhecimento Ecológico Tradicional integra complicados vínculos entre os seres humanos e os recursos naturais (EYSSARTIER et al., 2008). Esta construção tem sido definida como o conhecimento adquirido através das gerações, que compreende um amplo espectro de povos os quais incluem modos materiais, espirituais e culturais, tais como a agricultura, a caça e práticas medicinais. 40 As sociedades tradicionais possuem um conhecimento apurado sobre o ambiente onde vivem o que lhes permite adaptarem-se às condições desse ambiente (COSTA-NETO, 1999c). A questão do conhecimento tem sido um tema central da filosofia e da epistemologia desde o período grego. Contudo, não se tem alcançado um consenso em relação a uma definição geral da palavra. Nos anos recentes o conhecimento começou a ganhar uma nova onda de atenção. (RAHMAN, 2000). Apesar destes esforços e avanços, ainda existem muitas propostas para a definição do Conhecimento Tradicional (CT), mas segundo alguns autores (e.g., BERKES, 1993; BERKES & HENLEY, 1997; JOHNSON, 1992; McCORKLE, 1994; QUIROZ 1996) todas são incompletas, pois o conceito é relativamente novo e ainda está sendo construído. Entretanto, alguns deles são marcantes e nos permite obter um mínimo de compreensão pertinente a este termo. De acordo com Wenzel (1999), Kimmerer (2002) e Mourão et al. (2006), o conhecimento sobre o mundo natural os quais as pessoas detêm através das gerações é usualmente denominado de “local” ou “tradicional”. Esse tipo de conhecimento caracteriza-se por responder à cosmovisão de sua cultura e, portanto, o tipo de conhecimento tradicional detido por cada povo ou comunidade local, difere um do outro. (GERMAN-CASTELLI, 2004). Não obstante, o termo conhecimento tradicional, em virtude de sua pluralidade de conceituações, caracteriza-se por igual diversidade de sinônimos, onde podemos destacar: “Conhecimento Ecológico Tradicional (CET)” ou (TEK do inglês Traditional Ecological Knowledge) (DREW, 2005; GUIMARÃES & MOURÃO, 2006; HUNN, 2007; KNUDSEN, 2008), “Conhecimento Ecológico e Sistemas de Manejo Tradicionais (CETSM)” (GERMANCASTELLI, 2004), “Conhecimento Local (CL)” ou (LK do inglês Local Knowledge) (BEGOSSI & SILVANO, 2008; PEDROSO-JÚNIOR, 2002), “Conhecimento Indígena (CI)” ou (IK do inglês Indigenous Knowledge) (EL-HANI & BANDEIRA, 2008), “Conhecimento Comunitário (CC)” (do inglês Community Knowledge) (JOHANNES, 1989), “Conhecimento dos Habitantes Rurais (CHR)” (do inglês Rural Peoples‟ Knowledge) (THOMPSON & SCOONES, 1994) e “Conhecimento dos Produtores (CP)” ou (FK do inglês Farmers‟ knowledge) (ETTEN, 2004). Todos os termos acima são utilizados para expressar o mesmo tipo de conhecimento que, segundo Kimmerer (2002), é racional e confiável tendo sido desenvolvido através das gerações por meio do íntimo contato de povos nativos com suas terras. A transmissão do CET é essencialmente distinta da transmissão do conhecimento científico que se dá por métodos predominantemente vinculados à escrita. Símbolos, fonemas, narrativas, rituais, músicas e 41 danças são impressos nas mentes das pessoas como memes, constituindo as principais formas de transmissão do CET (MOURÃO et al., 2006). No tocante aos memes, segundo Waizbort (2003), estes seriam replicadores de uma natureza diferente. A informação de sua origem não está inscrita em fitas de DNA, mas em substâncias muito mais tênues. De acordo com este autor, como os genes, os memes poderiam ser compreendidos se prestarmos atenção: 1) ao processo hereditário pela qual as informações culturais se reproduzem em populações de cérebros humanos (horizontal e verticalmente), 2) ao processo que faz com que as informações culturais variem, e 3) ao processo de seleção de informações culturais, dado o número limitado de cérebros e uma virtual infinidade de idéias, fragmentos destas, bem como complexos delas. Grandes expoentes dos estudos acerca da memética, Richard Dawkins e Susan Blackmore, exprimiram definições valiosas a respeito dos memes. Em 1976, Richard Dawkins defendeu pela primeira vez essa estranha idéia: [O meme é] uma unidade de transmissão cultural, ou unidade de imitação. “Mimeme” vem da raiz grega adequada, mas quero um termo que soe mais como “gene”... Também se pode pensar que ele está relacionado com “memória” ou com a palavra même, do francês (DAWKINS, 1976) Em The meme machine, publicado nos EUA em 1999, Susan Blackmore defendeu que a história evolutiva do homem tem sido perversamente guiada pela lógica de unidades culturais de imitação chamadas memes. Basicamente, estes são idéias e/ou informações, que se reproduzem de mente para mente, de ser humano para ser humano: memes são “instruções para realizar comportamentos, estocadas no cérebro (ou em outros objetos), e passada adiante por imitação” (BLACKMORE, 1999, p. 43) Torna-se evidente que o conhecimento ecológico tradicional, em suas mais variadas dimensões, constitui uma representação menemônica intrinsecamente associado à Biologia. Conseqüentemente, os enfoques da memética associadas ao estudo do conhecimento tradicional são recentes, sendo esta relação frequentemente citada a partir do final da década de 1980 e com mais ênfase somente no começo deste século (e.g., ARAUJO et al., 2005; BARBOZA et al., 2007; MOURA, 2002; MOURÃO et al., 2006). Compreender as mais diversas interações estabelecidas entre os povos tradicionais ou locais com os recursos que os cercam, bem como a transmissão do conhecimento ecológico tradicional através das gerações, constitui uma demonstração da interdisciplinaridade estabelecida entre as ciências humanas e naturais na construção dos estudos etnoecológicos. 42 Este tipo de conhecimento, como afirma Mourão et al. (2006), é o objeto de estudos etnocientíficos, onde o prefixo etno refere-se ao sistema de conhecimento e cognição que são típicos de cada cultura. O aumento da apreciação das etnociências, antigas e contemporâneas, como afirma Berkes (1999), pavimentou o caminho da aceitação da validade do conhecimento tradicional em uma variedade de campos e alguns estudos demonstram como o Conhecimento Ecológico Tradicional é uma ferramenta que deve ser considerada na elaboração de planos de manejo, seja em casos onde as práticas tradicionais são positivas ou mesmo quando impactantes, a exemplo daquelas que favorecem o desmatamento como em Loma Alta, Equador (ver BECKER & GHIMIRE, 2003). A compreensão das interações estabelecidas entre as comunidades locais e os biomas que os cercam é de fundamental importância para estabelecimento de um plano de manejo adequado e participativo, haja vista que o envolvimento de comunidades locais e a garantia dos direitos de grupos pobres e marginalizados no manejo sustentável de recursos naturais é o tema central na assistência internacional para o desenvolvimento (DINAMARCA, 2007). Neste âmbito, destaca-se o fato de que no Brasil o manejo de recursos é comumente imposto sobre as comunidades locais pelo Governo Federal (SILVANO & BEGOSSI, 2005). Relativo à Caatinga, inventariar e/ou disseminar o conhecimento tradicional das comunidades locais está inserido na perspectiva de geração de conhecimento e na formação de recursos humanos para políticas públicas em recente identificação de áreas e ações prioritárias para a conservação deste bioma (ver TABARELLI & SILVA, 2003). 1.3.3 As Caatingas dos Sertões Paraibanos De forma a retratar com mais fidelidade o cenário multidiverso em que os secos Sertões nordestinos e paraibanos se desvendaram a designação “as Caatingas” foi aqui adotada da mesma forma com que Andrade-Lima (1966) já havia apontado, usando este termo no plural, ao se referir das várias e diferentes fisionomias de vegetação, bem como de numerosas fácies, denominadas por Sampaio (1995) de mosaicos de vegetação. Historicamente, o processo de ocupação das Caatingas brasileiras e, principalmente, as dos Sertões paraibanos por colonos europeus caracterizou-se por meio da pecuária extensiva a qual foi inserida no Nordeste pelos portugueses no final século XVI onde se valiam de uma mão-de-obra livre e barata (AB‟SABER, 2003; ANDRADE, 2005; DIÉGUES JÚNIOR, 1960; PIERSON, 1972; RIBEIRO, 1995). Em favor da preeminência dos Engenhos açucareiros na Zona da Mata e da crescente demanda da população pelo gado, o qual além de 43 oferecer suporte motriz e de carga; artefatos a base de couro e suprimento alimentar, estes rebanhos já não encontravam mais o espaço necessário ao seu desenvolvimento. De acordo com Ribeiro (1995), o contraste da condição de vida dos engenhos açucareiros, possivelmente, tornou a criação de gado mais atrativa para os brancos pobres e para mestiços dos núcleos litorâneos. Sendo assim, tendo como ponto de referência o Rio São Francisco, grandes boiadas foram sendo conduzidas cada vez mais ao interior da região Nordeste, onde depararam-se com grandes obstáculos como a escassez hídrica e de alimentos, as altas temperaturas além dos fervorosos conflitos com os povos indígenas dos Sertões. Segundo Andrade (2005), uma série de mudanças ocorreu nos últimos tempos, tanto no que tange a configuração espacial desses Sertões quanto ao patrimônio comportamental das populações que nele habitam. Devido às primitivas sesmarias, a sucessão hereditária nessas áreas por meio das consecutivas divisões de terra fez com que se constituísse uma grande população de pequenos proprietários latifundiários. Todavia, apesar de ter existido um componente comum (a criação de gado) que tornou possível o processo de ocupação humana do Mediterrâneo Nordestino, não se pode dizer que há nessa região uma “uniformidade perfeita e completa” (DIÉGUES JÚNIOR, 1960). Na Paraíba, dada a gradual estabilização das populações no processo de povoamento, novos elementos de fixação e, por conseqüência, novas atividades apareceram, marcando com traços próprios os modos de vida que se fundaram. Surgiu, então, uma diversidade de aspectos peculiares dentro da unidade fundamental em que se desenvolveram as populações dos Sertões paraibanos (ANDRADE, 2005; DIEGUES JÚNIOR, 1960). De acordo com Andrade (2005), as intervenções governamentais feitas na região semi-árida reproduziram o sistema de exploração colonial de áreas em processo de ocupação, relegando-se, a um segundo plano, os indígenas e os caboclos, antigos ocupantes da terra. O autor ainda destaca que, a partir da década de 1960, introduziu-se, sobretudo, no Sertão do São Francisco, a agricultura voltada à exportação. Para Vilaça e Albuquerque (2003), em meados da segunda metade do século XIX, o processo de ocupação demográfica e produtiva dos interiores semi-áridos do Nordeste, e destacadamente da Paraíba, embora ainda rarefeita, já apresentava grosseiramente, a sua atual configuração. Dessa forma, o “modus vivendi” dos povos e trabalhadores sertanejos nas áreas de caatinga até quase nossos dias vem se tecendo (ANDRADE, 2005). 44 1.3.3.1 Característica Etimológica e Geográfica da Caatinga A etimologia da palavra caatinga é de origem tupi e sua formação lexical significa KAA (floresta, mata) e – TINGA (um sufixo que significa “branco”, “claro”) (AMANCIO ALVES, 2007), referindo-se ao aspecto da vegetação durante a estação seca, quando a maioria das árvores perde as folhas e os troncos esbranquiçados e brilhantes dominam a paisagem (PRADO, 2003) A despeito das várias definições existentes, a caatinga compreende basicamente um mosaico de arbustos espinhosos e florestas sazonalmente secas que cobre a maior parte dos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a parte nordeste de Minas Gerais, no vale do Jequitinhonha. Estendendo-se por cerca de 735.000 km2 a 800.000 km2 (CASTELLETTI et al., 2003; LEAL et al., 2005; PRADO, 2003). Este bioma representa 70% da região Nordeste e 11% do território nacional Bucher 1 (1982) apud Castelletti et al., (2003). Com características físicas e biológicas únicas, a Caatinga no Nordeste brasileiro consiste de formações áridas e semi-áridas heterogêneas rodeadas por mais formações mésicos-fitogeográficos, possuindo limite crítico da Caatinga segue aproximadamente o da isoieta de 1000 mm, na qual extende-se a pouco mais de 3°-16° de latitude Sul e de 35°-45° longitude Oeste (MARES et al., 1985; PRADO, 2003) (Figura 2). No caso específico do Estado da Paraíba, 92% de toda sua área está inserida no Bioma Caatinga (IBGE, 2004). Figura 2. Isoieta de 1000m, parâmetro de limite da região semi-árida da caatinga nordestina. Em azul os limites terrestres da Região Nordeste e em amarelo os limites da isoieta de 1000mm 1 BUCHER, E.H. 1982. Chaco and caatinga – South American arid savannas, woodlands and thickets. Pp. 48-79 in: B. J. Huntey & B. H. Walther (eds.) Ecology of tropical savanas. Springer-Verlag, New York. 45 1.3.3.2 Características Físicas O principal e mais característico componente físico do bioma Caatinga é seu clima, onde, segundo a classificação de Köppen, é do tipo semi-árido BSh (ANDRADE-LIMA, 1981). Temperaturas médias anuais muito elevadas é outra característica marcante das Caatingas (REIS, 1976), com valores entre 26 a 28ºC (NIMER, 1972). Entretanto, todas as áreas superiores a 250 m de altitude têm temperaturas médias mais baixas (20 – 22ºC) (PRADO, 2003). De acordo com Arruda (1997), a região Nordeste se caracteriza por apresentar temperaturas elevadas e ser a região mais seca do país. A sua variabilidade espacial e temporal de precipitação é elevada, o que é característico de climas semi-áridos. Os índices, de um ano para outro, apresentam desvio de até 200%. A análise climatológica sugere que a semi-aridez é causada por mecanismos da circulação geral da atmosfera, conhecida como circulação de HADLEY-WALKER. A interação das células de HADLEY e WALKER determinam a variabilidade e a intensidade de aridez (SILVA, 1980). Esse clima apresenta precipitação anual de baixa a moderada, variando de 300 mm na maioria das regiões áridas até mais de 1600 mm nas regiões de platô elevado os quais recebem chuvas orográficas (MARES et al., 1985). Cerca de 50% da área recebe menos de 750 mm, enquanto certas regiões localizadas têm menos de 500 mm, tais como o raso da Catarina, juntamente com uma grande área central dos Estados de Pernambuco e Paraíba (PRADO, 2003). O semi-árido nordestino possui uma longa estação seca, onde as chuvas são caracterizadas como torrenciais e irregulares, havendo períodos de extrema deficiência hídrica, denominados de seca, que têm ocorrido com freqüência irregular a cada 10 a 20 anos (RODAL et al., 1992). Relativo aos solos, a origem geomorfológica e geológica das Caatingas têm resultado em vários mosaicos complexos com características variadas mesmo dentro de pequenas distâncias (SAMPAIO, 1995). Talvez a classe de solos mais comum seja a dos marrons sem cálcio (BAUTISTA, 1986; BEEK & BRAMAO, 1968), freqüentemente variando de Vérticos com características intermediárias a vertissolos (FIGUEIREDO-GOMES, 1981), com um horizonte B textural e pedras e pedregulhos característicos na superfície. Dada a natureza desta região, entissolos e, particularmente, latossolos são muito abundantes, derivados de rochas-mãe sob ação do clima. Afloramentos extensivos de rochas são regionalmente chamados de “lajedos”, que atuam ecologicamente como meios desérticos e como locais onde apenas plantas suculentas são encontradas. Em muitas áreas, a base rochosa é exposta como 46 acumulações de grandes rochas que se encontram em algumas áreas suficientemente extensas surgindo como cordilheiras montanhosas baixas localmente conhecidas como serras (MARES et al., 1985). 1.3.3.3 Características biológicas As caatingas, segundo Prado (2003), podem ser caracterizadas como florestas arbóreas ou arbustivas, compreendendo principalmente árvores e arbustos baixos muitos dos quais apresentam espinhos, microfilia e algumas características xerofíticas. De acordo com este autor, algumas das espécies lenhosas mais típicas da vegetação das Caatingas são: Amburana cearensis (Fr.All.) A.C. Smith, (“imburana de cheiro”, Fabaceae –Papilionoideae), Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Altschul (“angico”, Fabaceae – Mimosoideae), Aspidosperma pyrifolium Mart. (“pau-pereiro”, Apocynaceae), Caesalpinia pyramidalis Tul. (“catingueira”, Fabaceae-Caesalpinioideae), Cnidoscolus phyllacanthus (Müll. Arg.) Pax & Hoffm. (“faveleira”, Euphorbiaceae), Commiphora leptophloeos (Mart.) Gillet (“imburana”, Burseraceae, também conhecida como Bursera leptophloeos Mart.), várias espécies de Croton (“marmeleiros”e “velames”, Euphorbiaceae) e de Mimosa (“calumbíes” e “juremas”, Fabaceae-Mimosoideae), Myracrodruon urundeuva Fr. All., (“aroeira”, Anacardiaceae), Schinopsis brasiliensis Engler (“baraúna”, Anacardiaceae), e Tabebuia impetiginosa (Mart. ex A. DC.) Standley (“pau d‟arco roxo”, Bignoniaceae). Apesar de ser a única grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional, pouca atenção tem sido dada à conservação da variada e marcante paisagem da Caatinga, e a contribuição da sua biota à biodiversidade extremamente alta do Brasil tem sido subestimada (SILVA et al., 2003). Tradicionalmente descrito como um ecossistema pobre em espécies e endemismos, agora tem sido demonstrado a importância deste bioma para a conservação da biodiversidade brasileira (LEAL et al., 2003, 2005). Já foram registradas 932 espécies de plantas vasculares (380 endêmicas) (GIULIETTI et al., 2004), 187 de abelhas (ZANELLA & MARTINS, 2003), 240 de peixes (ROSA et al., 2003), 167 de répteis e anfíbios (RODRIGUES, 2003), 62 famílias e 510 espécies de aves (SILVA el al., 2003). O nível de endemismo varia de 3% nas aves (15 das 510 espécies; SILVA et al., 2003) a cerca de 7% para mamíferos (10 de 143) (OLIVEIRA et al., 2003) e 57% em peixes (136 de 240) (ROSA et al., 2003). No tocante a fauna de mamíferos da caatinga esta tem sido geralmente reconhecida como depauperada, representativa de apenas um subconjunto da fauna de mamíferos do 47 cerrado, bioma esse mais extenso e mais úmido (ver MARES et al., 1981, 1985). Essa proposição, no entanto, está longe de ser verdadeira (OLIVEIRA et al., 2003). Já foram registradas 148 espécies de mamíferos, mas o número total para a Caatinga pode ser maior, uma vez que alguns registros de roedores e de morcegos não foram comprovados no nível específico e, portanto, foram excluídos da contagem final (Ibdem). A insuficiência amostral mostra-se ainda consideravelmente agravada, dada à falta de informações sobre a comunidade de mamíferos adequadamente levantados na região (OLIVEIRA, 2004). De acordo com Oliveira (2004), a mastofauna das Caatingas pode ser dividida em três grupos principais: (1) espécies endêmicas ou que apresentam grande parte da distribuição neste bioma, somando 19 espécies; (2) espécies amplamente distribuídas em outros biomas, mas que apresentam registros esporádicos na Caatinga, 18 espécies; e, (3) espécies amplamente distribuídas na Caatinga e em outros biomas, todas as demais. Inserido na biodiversidade deste bioma, estão os mamíferos da ordem Xenarthra, a qual é representada atualmente pelos tatus, preguiças e tamanduás (ENGELMANN, 1985; NOWAK, 1991). Dentre os animais desta ordem encontrados na caatinga do Nordeste do Brasil, estão o a preguiça comum - Bradypus variegatus Schinz, 1825, o tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758, o tamanduá-mirim - Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758), o tatu-bola - Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758), o tatu-de-rabo-mole – Cabassous tatouay (Desmarest, 1804), o tatu-de-rabo-mole - Cabassous unicinctus (Linnaeus, 1758), o tatu-verdadeiro - Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758, o tatu-mirim Dasypus septemcinctus Linnaeus, 1758 e o tatu-peba - Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), das quais apenas C. tatouay e D. septemcinctus não ocorrem no semi-árido paraibano (ver IUCN EDENTATE SPECIALIST GROUP, 2004). Os tatus-peba (E. sexcinctus) e verdadeiro (D. novemcinctus), em especial, indicam ser aqueles de maior distribuição na caatinga (ver Oliveira et al., 2003) e estão entre os animais mais caçados no semi-árido nordestino (ALVES, 2009; MOURÃO et al., 2006; VALLE, 2007). Este tipo de interação é um dos motivos que levam a necessidade de realização de estudos para conhecer o nível de percepção de moradores locais com os xenarthras. 1.3.3.4 Sobre a mastofauna da Caatinga Estudos realizados até o presente sobre os mamíferos da Caatinga têm revelado uma mastofauna relativamente depauperada, com uma baixa incidência de endemismos e representativa apenas de um subconjunto da fauna de mamíferos do cerrado, bioma esse mais 48 extenso e mais úmido (MARES et al. 1981, 1985; OLIVEIRA, 2004). Essa baixa diversidade e a ausência de adaptações fisiológicas para as condições áridas da região entre os pequenos mamíferos mais ubíquos, também levaram a Mares et al. (1985) a concluir que a fauna de mamíferos da Caatinga consiste, em sua maior parte, em um subconjunto da fauna do Cerrado (OLIVEIRA et al., 2003). Essas constatações têm contribuído para a hipótese de que a maior parte das áreas de caatinga registradas na atualidade seja relativamente recente em formação, e possivelmente derivada de pequenos refúgios durante períodos mésicos do Pleistoceno, quando as florestas tropicais ter-se-iam expandido consideravelmente através do Nordeste do Brasil (SARMIENTO, 1975). Quanto ao conjunto de mamíferos da Caatinga tal proposição, no entanto, está longe de ser verdadeira (MONTEIRO DA CRUZ et al. 2005; OLIVEIRA et al, 2003; OLIVEIRA, 2004) e contrastam diametralmente com amostras de levantamentos prévios (FREITAS, 1957; WILLING & MARES, 1989), indicando que não só o número de espécies características da Caatinga é maior, como também os registros que têm suportado a hipótese do surgimento recente do bioma são em um número relativamente pequeno frente ao número total de espécies presentes. Este número pode ainda ser maior, uma vez que alguns registros de roedores e de morcegos não foram comprovados ao nível específico e, portanto, foram excluídos da contagem final (Ibdem). Outro exemplo foi à exceção dada aos registros de Dasypodidae (Xenarthra), listados a partir de Santos (1993), cujo inventário foi realizado principalmente a partir de entrevistas (OLIVEIRA, 2004). Até a metade do século passado os mamíferos dos Sertões nordestinos eram analisados segundo amostras bastante reduzidas. Pesquisa pioneira, porém restrita, sobre a fauna de mamíferos dessa região, ficou a cargo do extinto Serviço Nacional da Peste (SNP), entre os anos de 1952 e 1955 (FREITAS, 1957). Os dados foram coletados em cerca de 40 dos então 187 municípios do “polígono das secas”; e cerca de 60 mil espécimes de pequenos mamíferos não voadores estão depositados no Museu Nacional (UFRJ). Outro levantamento realizado no bioma através do projeto “Ecology, evolution and zoogeografy of mammals” por pesquisadores do Carnigie Museum of Natural History, entre 1975 e 1978, na Chapada do Araripe, resultou em uma lista limitada a 80 espécies, indicando uma fauna relativamente pobre em riqueza, endemismo e adaptações (WILLING & MARES, 1989). Os registros referentes aos tatus (Xenarthra, Dasypodidae), a partir de entrevistas, incluem pontos através de toda a Caatinga. O tatu-de-rabo-mole (Cabassous sp.) estaria representado em pelo menos 108 municípios, apesar de uma revisão baseada nas amostras de 34 coleções, incluindo as maiores brasileiras (WETZEL, 1980), não ter relacionado sequer um 49 indivíduo para a Caatinga. Não foi possível, portanto, com base nas informações consultadas, concluir a espécie ou espécies a que pertencem os registros de Cabassous do domínio da Caatinga. Dasypus novemcinctus está listado, por entrevistas, em 189 municípios, mas representado por material testemunho ou observação direta em apenas 18 Dasypus septemcinctus foi relacionado por entrevistas em 54 e Euphractus sexcinctus em 191 municípios. O tatu-bola, Tolypeutes tricinctus consta das entrevistas em 76 municípios, mas de apenas sete são os registros bibliográficos e de museus. (OLIVEIRA et al., 2003). 1.3.4 A Ordem Xenarthra 1.3.4.1 Características gerais, origem e filogenia Previamente o termo Xenarthra ser estabelecido, a nomenclatura Edentada (cujo significado é sem dentes), fora cunhada por Cuvier (1758) sendo comumente usada por diversos autores para designar os tamanduás, tatus, preguiças, pangolins e aardvarks, sendo melhor aplicado como sinônimo das ordens Pholidota e Tubulidentata (GLASS, 1985). Porém, somente em 1872 o pesquisador Huxley achou melhor retirar os pangolins e aardvarks da ordem Edentata. Posteriormente, após o século XVIII, foram aderidas à ordem Edentata grupos de fósseis tais como preguiças terrícolas em 1796 e gliptodontídeos em 1838 (SIMPSON, 1945). Dentre os xenarthros, os tamanduás são os únicos representantes que não possuem dentes. Por outro lado os tatus e as preguiças do gênero Bradypus, possuem dentes molares e as preguiças do gênero Choloepus, possuem dentes caninos e molares. Deste modo, Glass (1985) considerou o nome Xenarthra (xenon = estranho + athros = articulação) como legítimo e descritivo, para tamanduás, tatus e preguiças, sejam eles viventes ou fósseis. O uso deste termo como nomenclatura da ordem, ao invés de Edentata, reconhece que os seus integrantes são portadores de articulações adicionais entre as vértebras lambares chamadas de “xenártricas”, “xenarthrales” ou “xenarthrous process”, que são estruturas ósseas que em conjunto com o crânio formam o esqueleto axial, característica sinapomórfica do subfilo Vertebrata, no qual os xenartros, assim como os outros mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes estão inclusos. Os membros também possuem articulações do ísquio com a coluna vertebral, incorporando a vértebra sacral, que nos demais mamíferos pode compor elementos caudais (GLASS, 1985). Estas articulações extras conferem maior resistência e flexibilidade ao esqueleto axial que, em conjunto com membros terminados em garras fortes e robustas, 50 facilita a realização de tarefas que exigem grande desgaste do esqueleto como a escavação para os tatus, quebra de cupinzeiros para os tamanduás e a rotação do corpo em até 180° para as preguiças arborícolas (MENDEL, 1985). Na escápula, os processos coracóide e acrômio apresentam-se muito bem desenvolvidos, em relação aos outros mamíferos. Apresentam dentição homodôntica, ou seja, a completa perda dos dentes (GLASS, 1985). Outras peculiaridades anatômicas desta ordem são: (1) a presença de veia cava posterior dupla enquanto a maioria dos mamíferos tem somente uma; (2) o número de vértebras cervicais varia de seis a nove dependendo da espécie, enquanto na maioria dos outros mamíferos há sete vértebras cervicais e (3) as fêmeas têm um ducto comum para os tratos urinário e genital e os machos têm testículos internos (NOWAK, 1999; DICKMAN, 2001). Mesmo apresentando tais caracteres esqueléticos e fisiológicos comuns a todos os membros desta ordem, a designação Edentata ainda continua sendo empregada erroneamente. (BERGQVIST et al., 2000; GLASS, 1985; NOWAK, 1999; WETZEL, 1985a,b). Todos os animais que fazem parte da superordem Xenarthra (tatus, tamanduás e preguiças) apresentam temperaturas corporais mais baixas (média = 34,1ºC, amplitude = 32,7º a 35,5ºC) do que os demais mamíferos placentários que regulam suas temperaturas entre 36º e 38ºC (McNAB, 1985; MEDRI, 2008). Além disso, os tatus, tamanduás e preguiças apresentam taxas basais de metabolismo mais baixas do que o esperado para suas massas corporais. Nos tatus, o hábito de utilizar tocas traz consigo alguns problemas como o superaquecimento do corpo durante a escavação, e a troca insuficiente de gases entre a toca e o ambiente externo. Entretanto, a taxa basal de metabolismo mais baixa nestes animais pode contribuir para a redução destes problemas (McNAB, 1985; MEDRI, 2008). Sobre os atributos sistemáticos e filogenéticos dos xenarthras, muito pouco se tem documentado (DELSUC et al., 2001) e ainda há muitas lacunas na classificação taxonômica para serem resolvidas, o que tem provocado um grande interesse no estudo desse grupo (ver AMRINE-MADSEN et al., 2003; BARROS et al., 2003; De JONG et al., 1985; DELSUC et al., 2001, 2002, 2003, 2004; EIZIRIK et al. 2001; ENGELMANN, 1985; MURPHY et al., 2001a, b; SARICH, 1985). Segundo Gardner (2005a, b) os xenartros passam a ser divididos em duas ordens: Pilosa [com o corpo recoberto por pelos] – onde estão inseridos os tamanduás e preguiças arborícolas e Cingulata [com o corpo recoberto por osteodermos] – compreendidos pelos tatus. Sendo assim o “status” taxonômico de Xenarthra foi elevado em função das novas discussões sobre relações filogenéticas, tema este que não é mérito de discussão desse trabalho. 51 Estudos mostram que essa superordem é de grande importância para a compreensão da filogenia dos mamíferos como atesta McKenna (1975) e Delsuc et al. (2001) onde os mesmos destacaram que os Xenarthras representam o grupo irmão a todos os outros eutérios viventes (antes chamados Epitérios), enfatizam que muitos pesquisadores moleculares têm usado os seus representantes baseados na raiz filogenética dos eutério. Vários estudos vêm utilizando técnicas bioquímicas e moleculares desde a década de 60, e estas tiveram significativo desenvolvimento trazendo contribuições para o esclarecimento de diversos aspectos da biologia, ecologia, biogeografia e evolução, sendo atualmente reconhecidas como ferramentas fundamentais para a aquisição de novos conhecimentos a respeito dos indivíduos dessa ordem bem como de todas as outras. Inserida na filogenia dos mamíferos placentários da infra-ordem Eutheria, as relações filogenéticas da ordem Xenarthra ainda não estão completamente definitivas. Com objetivo de verificar tais relações De Jong et al. (1985), utilizaram em experimento laboratorial um exemplar de Bradypus variegatus (preguiça) e um exemplar de duas espécies de tamanduás diferentes (Tamandua mexicana e Myrmecophaga tridactyla). Nesta experimentação os pesquisadores isolaram e seqüenciaram os aminoácidos de uma proteína do cristalino, a αcristalina destes espécimes e os resultados mostraram uma origem monofilética das preguiças e dos tamanduás, e posicionaram a ordem como um grupo-irmão de Eutheria. Conclusões semelhantes sucederam em outro experimento laboratorial com isolamento e seqüenciamento de dezoito genes (quinze nucleares e três mitocondriais), onde Murphy et al. (2001a), trabalhando com uma extensa abordagem filogenética em 64 espécies de mamíferos placentários, concluíram que os dados obtidos permitiram distribuir as espécies em quatro grandes agrupamentos: Afrotheria [constituído por Sirenia, Proboscidea, Hyracoidea, Tubulidentata, Terencidae e Macroscelidea]; Xenarthra [tatus, tamanduás e preguiças]; Euarchontoglires [Rodentia, Lagomorpha, Scandentia, Dermoptera e Primates]; e Laurasiatheria contemplando todos os outros mamíferos placentários. Ainda de acordo com os dados obtidos pelos autores a ordem Xenarthra apresentou forte indicativo de origem monofilética, no entanto organizou-se em dois subgrupos: Pilosa [tamanduás e preguiças] e Cingulata [tatus]. A filogenia mais completa da ordem Xenarthra foi inferida por Delsuc et al. (2001), a partir das seqüências de três genes nucleares. Este estudo mostra as relações filogenéticas dentro da ordem Xenarthra, evidenciando a monofilia dos agrupamentos Vermilingua (tamanduá) e Folivora (preguiças). Estes dois agrupamentos formam a infra-ordem Pilosa, a qual se separa da infra-ordem Cingulata, família Dasypodidae (tatus) pela deleção de genes 52 específicos do seqüenciamento gênicos desses grupos. Esta família se subdivide em três tribos: Dasypodinae, Tolypeutinae e Euphractinae, que se caracterizam pela deleção de quatro genes do tipo (aa) do gene ADRA2B e três (aa) do gene BRCA1. Vale-se ressaltar que as relações entre as espécies de Tolypeutinae e Euphractinae ainda não foram completamente resolvidas 1.3.4.2 Distribuição Segundo Engelmann (1985), grande parte dos fósseis de Xenarthra foi encontrada na América do Sul e a especialização dessa ordem é posterior a separação entre África e América do Sul, onde se desenvolveram com total isolamento da grande maioria dos mamíferos placentários no Paleoceno Superior. Durante este momento geológico, a mastofauna sul americana permaneceu separada, o que propiciou a estruturação, a adaptação e o estabelecimento de novos modelos de mamíferos, capazes de colonizar os nichos presentes neste ambiente (BERGQVIST et al., 2000). Com esse acontecimento, de maneira geral, os xenarthros adquiriram formatos legitimamente neotropicais, quando da junção das plataformas da América do Norte com a América do Sul, estes migraram para o norte, mas não conseguindo se estabelecer nesse novo continente (Ibdem). Segundo Couto (1973) um dos primeiros documentos escrito sobre os xenarthros fósseis foi publicado em 1907 na Revista do Museu Paulista pelo paleontólogo argentino Ameghino. Descobertas de fósseis de Xenarthras foram documentadas também por Couto (1973) no Estado de São Paulo. De acordo com Eisenberg (1981) e Bergqvist et al. (2000), entre o Paleoceno e o Plioceno sucedeu a irradiação dos xenarthros e que, neste período, os indicativos fósseis mostram a constituição de quase todas as formas principais que hoje estão vivas, exceto as preguiças arborícolas. Para Couto (1973), do final do Pleistoceno até a contemporaneidade, o clima na região Neotropical vem sofrendo alterações de uma tendência semi-árida e de baixa pluviosidade para um regime úmido e de boa precipitação pluvial, o que pode ter contribuído para a extinção de algumas espécies como as preguiças gigantes (megaloniquídeos, megaterídeos, milodontídeos e nototerídeos) e os tatus gigantes (pampatérios e gliptodontídeos) ou a migração para locais de clima favorável à sobrevivência. A ordem Xenarthra contém 31 espécies vivas distribuídas em 13 gêneros, possui representantes cuja origem e distribuição geográfica são restritos à região Neotropical, e ocorrem predominantemente na América do Sul (FONSECA & AGUIAR, 2004; MEDRI, 53 2008), com exceção da espécie Dasypus novemcinctus sendo o único a ocorrer na América do Norte (McKENNA & BELL, 1997) . Dezenove dessas espécies, distribuídas em dez gêneros e quatro famílias, podem ser encontradas no Brasil (FONSECA et al., 1996). Esta ordem está substancialmente ligada à história evolutiva dos mamíferos (FONSECA, 2001) e é potencialmente uma ramificação basal dos primeiros mamíferos placentários (MURPHY et al., 2001a). Apesar da sua importância ecológica e da necessidade de destacar-los em programas de conservação, os Xenarthros são muito pouco estudados, quando comparados a outros mamíferos mais conhecidos (FONSECA, 2001). A família Dasypodidae possui 14 gêneros e aproximadamente 30 espécies (FERRARI et al., 1998), sendo cerca de 20 delas viventes (PEREIRA JUNIOR et al., 2003), praticamente todas distribuídas pela região tropical da América (FERRARI et al., 1998). 54 1.4 Resultados e discussão 1.4.1 Aspectos socioeconômicos das populações estudadas As áreas estudadas englobam os municípios de Campina Grande (mesorregião do Agreste), municípios de Monteiro e Sumé (microrregião do Cariri Ocidental paraibano) e os municípios de São Mamede e Sousa (Sertão paraibano). Todas estas localidades se caracterizam por ter seu modo de vida e seus conhecimentos tradicionais passados de geração a geração até os dias atuais. De modo geral a idade dos entrevistados variou de 16-77 anos. A faixa etária dos entrevistados para cada localidade estudada variou entre 19-65 anos (mulheres) e 16-77 anos (homens) em Campina Grande; 28-62 (homens) em Monteiro; 25-51 (homens) em São Mamede; 33-38 (mulheres) e 21-59 (homens) em Sousa e finalmente 21-64 (homens) em Sumé. Quanto a distribuição por faixa etária, em Campina Grande a maior parte dos entrevistados se concentrou na faixa de até 29 anos (40,4%). Em Monteiro 44,4% dos entrevistados apresentavam idade entre 30-39 anos. Em São Mamede se distribuíram quase igualmente entre 30-39 anos (34,78%) e 40-49 anos (43,47%). Em Sumé 32% dos entrevistados tinham entre 40-49 anos, ao passo que em Sousa 43,7% se enquadraram nessa categoria de idade (Tabela 1). Em todas as localidades, a maioria dos entrevistados era casada oficialmente ou apresentava união estável com seu respectivo cônjuge. Tabela 1. Perfil socioeconômico dos entrevistados Municípios Feminino Masculino Até 29 30- 39 40 – 49 50 – 59 60 – 69 70 ou mais Campina Grande (nTotal=109) (%) 30.27 (n=33) 69.73 (n=76) 40,4 (n=44) 17,4 (n=19) 15,6 (n=17) 9,2 (n=10) 11,9 (n=13) 5,5 (n=6) Monteiro (nTotal=18) (%) 0 100 (n=18) 5,6 (n=1) 44,4 (n=8) 27,8 (n=5) 11,1 (n=2) 11,1 (n=2) 0 São Mamede (nTotal=23) (%) 0 100 (n=23) 17,39 (n=4) 34,78 (n=8) 43,47 (n=10) 4,34 (n=1) 0 0 Casado União Estável Solteiro 56,88 (n=62) 11 (n=12) 24,77 (n=27) 66,66 (n=12) 0 16,66 (n=3) 73,91 (n=17) 4,34 (n=1) 21,73 (n=5) Parâmetros Sexo Idade Estado Civil Sumé (nTotal=32) (%) 0 100 (n=32) 12,5 (n=4) 32 (n=10) 18,75 (n=6) 25 (n=8) 12,5 (n=4) 0 81,25 (n=26) 0 18,75 (n=6) Sousa (nTotal=32) (%) 12.5 (n=4) 87.5 (n=28) 15,6 (n=5) 43,7 (n=14) 25 (n=8) 15,6 (n=5) 0 0 84,37 (n=27) 0 15,62 (n=5) 55 Viúvo 3,66 (n=4) 0 0 0 0 Divorciado/separado Agricultor, pecuarista e relacionados Caçador Profissão Comércio e Serviços Outras ocupações Sem ocupação Menos de 1 salário mínimo Entre 1 e 2 salários mínimos Entre 3 e 4 salários Renda mínimos Entre 4 e 5 salários mínimos Não declarou Analfabeto Semi-analfabeto (lê ou escreve com dificuldade) Ensino Fundamental Grau de Escolaridade Incompleto Fundamental Completo Médio incompleto Médio completo 3,66 (n=4) 16,66 (n=3) 0 0 0 63,30 (n=69) 14,67 (n=16) 2,75 (n=3) 16,51 (n=18) 2,75 (n=3) 61,11 (n=11) 0 38,88 (n=7) 0 0 69,56 (n=16) 0 21,73 (n=5) 8,69 (n=2) 0 59,37 (n=19) 15,62 (n=5) 18,75 (n=6) 6,25 (n=2) 0 65,62 (n=21) 9,37 (n=3) 12,5 (n=4) 12,5 (n=4) 0 6,42 (n=7) 16,66 (n=3) 0 54,12 (n=59) 66,66 (n=12) 73,91 (n=17) 9,37 (n=3) 65,62 (n=21) 3,12 (n=1) 78,12 (n=25) 73,76 (n=15) 16,66 (n=3) 17,39 (n=4) 25 (n=8) 6,25 (n=2) 0 25,68 (n=28) 0 0 0 0 0 8,69 (n=2) 0 0 0 0 6,25 (n=2) 6,25 (n=2) 0 20,18 (n=22) 22,22 (n=4) 8,69 (n=2) 18,75 (n=6) 64,22 (n=70) 77,77 (n=14) 69,56 (n=16) 25 (n=8) 59,37 (n=19) 13,76 (n=15) 1,83 (n=2) 0 0 0 0 12,5 (n=4) 3,12 (n=1) 0 Própria Alugada 53,21 (n=58) 18,43 (20) 83,33 (n=15) 0 86,95 (n=20) 4,34 (n=1) 12,5 (n=4) 3,12 (n=1) 0 84,37 (n=27) 6,25 (n=2) Outra situação 28,44 (n=31) 16,66 (n=3) 8,69 (n=2) 9,37 (n=3) 6,25 (n=2) 0 0 68,75 (n=22) 0 31,25 (n=10) Habitação 75 (n=24) A maior parte dos entrevistados (82,7%) nesse estudo correspondeu a indivíduos do sexo masculino uma vez que estes eram os mais acessíveis a diálogos e aproximações, além de terem círculos de amizade voltados a pessoas do sexo o que permitiu indicações a outros indivíduos de seus convívios do mesmo sexo. Em relação a profissão, 63,5% dos entrevistados são primordialmente agricultores, pecuaristas ou desempenham atividades relacionados a estas práticas. Em São Mamede, 69,56% dos entrevistados enquadraram-se nesta categoria. O exercício da atividade de caça como profissão, de um modo geral, foi baixo nas localidades estudadas, com maior índice para a cidade de Campina Grande (14,67%). Tais indicativos não devem figurar tal realidade uma vez que esta pratica está direta ou indiretamente associada aos hábitos e culturas desses povos, além de provocar receio e desconfiança aos que conhecem da ilegalidade dessa atividade. A renda dos entrevistados é baixa, visto que 148 deles alegaram possuir renda de 56 até 2 salários, sendo que destes, 136 afirmaram que a renda pessoal também coincidia com a renda integral da família. O nível de escolaridade é baixo. Dee uma amostra de 210 individuos, 98,1% eram constituídos de semi-analfabetos, fundamental incompleto ou completo. Esses dados estão em concordância com Alves e Nishida (2003), os quais destacam que o abandono dos estudos e a inserção no mundo do trabalho resultam do contexto social e econômico em que essas comunidades estão inseridas, no qual o exito na escola, por membros de seu grupo social, constitui uma exceção. Considerando estudos anteriores sobre uso de recursos faunísticos, é possível afirmar que os fatores acima, em especial a renda e escolaridade baixas, contribuem para que esses moradores das áreas estudadas possuam uma dependência de recursos faunísticos região para fins de subsistência, medicinal ou mesmo recreacional (ver ALVES & ROSA, 2007b; CHARDONNET et al., 2002; OMS, 2005). Surgik (2007), por exemplo, relacionou a baixa renda com o aumento da probabilidade da prática de caça na Amazônia. Obviamente, a diminuição da fauna e flora do Nordeste, assim como da flora é agravada devido aos impactos antrópicos, em função da ocupação agrícola, urbana e, sobretudo pela pobreza acentuada de boa parte da população, que busca sua fonte de alimentação e de renda nos recursos naturais ali existentes (ALVES et al., 2008). Sabendo-se que algumas espécies de animais do semi-árido nordestino sofrem impactos derivados da caça, atividade vinculada quase sempre estimulada pela realidade socioeconômica local, é de presumir que a solução desse problema certamente envolverá a disponibilidade de fontes alternativas de renda e subsistência para a população local (THE NATURE CONSERVANCY DO BRASIL/ASSOCIAÇÃO CAATINGA, 2004), assim como o provimento de um sistema educacional de qualidade aos moradores da região. 1.4.2 Percepções gerais dos entrevistados quanto às espécies de tatus estudadas Inserida na ordem Xenarthra a família Dasypodidae é a mais diversificada em número de espécies e distribuição geográfica, com 20 espécies ocorrendo do sul da América do Sul até o sul dos Estados Unidos (GARDNER, 1993 apud BONATO, 2002). Esta família engloba os gêneros de tatus atualmente existentes: Cabassous, Chaetophractus, Chlamyphorus, Dasypus, Euphractus, Priodontes, Tolypeutes e Zaedyus (ITIS, 2008; FONSECA & AGUIAR, 2004). Dentre as espécies de tatus que ocupam o território americano, duas são as mais importantes do ponto de vista de distribuição e número de indivíduos no bioma caatinga: 57 o tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e o tatu-peba (Euphractus sexcinctus) (FONSECA & AGUIAR, 2004). De acordo com os entrevistados 47,66% (n = 102), sobre quantidade de espécies de tatus que habitam as regiões estudadas, estes afirmaram existir apenas um único tipo de tatu, o chamado tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus), não considerando a outra espécie (Euphractus sexcinctus) como sendo da mesma “família” dos tatus uma que este não apresenta a tenacidade, resistência e velocidade típica dos D. novemcinctus, mas sim por apenas compartilhar uma relação de parentesco com o tatu verdadeiro (na ótica das populações locais estudadas) como se pode ver em alguns depoimentos relatados. “Só existi um tipo de tatu, que é o verdadeiro. O peba é o falso por isso que só existe de tatu o verdadeiro. O tatu verdadeiro é o único que corre e pula mais”. (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de Sousa) “Eu só conheço o nome “tatu” pro verdadeiro. O peba não tem “tatu” não. Todo mundo só conhece por peba mermo (...) O verdadeiro corre, o peba não.” (Sr. Inácio Laureiro, 47 anos, residente da zona rural de Campina Grande.” “Tatu é uma coisa, peba é outra. Tatu mermo só existe o verdadeiro”. (Sr. Lúcio Claudio, 36 anos, residente da cidade de Monteiro “O peba não é tatu. O peba é parente....é o mermo que ser primo. São de famílias diferentes”. (Sr. José louro, 41 anos, residente da zona rural de São Mamede) Aos que consideraram haver dois tipos de tatus obteve-se um percentual total de 38,75% (n = 83). Para estes, o emprego exclusivo da palavra “peba”, referindo-se ao E. sexcinctus, não o colocaria aparte da família dos tatus, mas sim por se tratar de uma alcunha opcional para os indivíduos dessa espécie, podendo ou não empregar o termo “tatu” precedido do nome popular, como em “tatu-peba”. Além dessa consideração, muitos dos entrevistados afirmavam que as semelhanças externas entre as duas espécies, como por exemplo a presença de uma carapaça contendo listras e unhas fortes para cavar, eram mais evidentes que suas diferenças, por tanto, padronizá-los como tatus foi algo habitual sendo passado de forma menemônica através das gerações. Tal suposição encontra-se de acordo com a literatura uma vez que a carapaça é uma estrutura dérmica comum a todos os tatus, importante na proteção contra predadores e que minimiza os danos causados pelo atrito com a vegetação bem como unhas extremamente fortes usadas em escavações e na perfuração de cupinzeiros (MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003). 58 “(...) por aqui nóis encontra tanto o tatu-peba como o tatu verdadeiro (...) eu só conheço esses dois mermo”. (Sr. João Mendes, 28 anos, residente na zona rural de Galante do município de campina Grande) “(...) o peba também é um tatu só que tem gente que pensa que é outro bixo (...) todos os dois tem “casco” nas costas (...) as unhas dos dois são muito forte e pode cortar a pele se não segurar ele com cuidado”. (Sr. Leonidas Duarte, 59 anos, residente na cidade de Sumé) Considerando o menor percentual dos entrevistados encontramos cerca de 13,55% (n = 29) dos que afirmaram conhecer mais de 2 tipos de tatus na região. O caso mais notório diz respeito à presença de espécies raras de tatus nos municípios de São Mamede e Sumé como pôde ser observado com o tatu-bola (provavelmente Tolypeutes tricinctus); a maioria expressiva dos entrevistados acredita que esta espécie já não exista mais ou deixou de existir a muitas décadas no local. Segundo um dos entrevistados uma carcaça em bom estado de conservação de T. tricinctus esteve por muitos anos de posse de um vaqueiro, porém o mesmo já não o teria mais; outros entrevistados afirmaram que, ocasionalmente, avistavam rastros desse animal durante as caçadas em locais de difícil acesso; e ainda um jovem caçador que relatou já ter pego três bolas, mas que é extremamente difícil encontrá-los ou mesmo capturálos. Por esses relatos pode-se inferir que, provavelmente, a população de tatus-bola nesses locais de presença da espécie deve estar extremamente reduzida, o que em curto prazo pode significar o desaparecimento deste animal no local, como já supõe alguns moradores ratificando, inclusive, situação semelhante com o tatu verdadeiro (D. novemcinctus). “eu nunca vi não, penso eu que já deve nem existi mais, mas um vaqueiro do sítio de meu pai tinha um casco inteirin do bixo [tatu-bola], mas já faz muito tempo que ele vendeu”. (Sr. Belizario Santos, 34 anos, residente da zona rural de Sumé) “eu mermo já peguei três tatu-bola, mostrei a outros caçador e disseram que era bola”. (Adelino Dantas, 23 anos, residente da zona rural de São Mamede) Segundo Monteiro da Cruz et al. (2005), em analise as variações da biodiversidade do bioma caatinga, diagnosticaram através de relatos fornecidos por comunidades locais que o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) desapareceu em vários pontos dos Sertões paraibanos, cearenses e pernambucanos. Porém, Valle (2007) em seu estudo sobre os vaqueiros da comunidade de Lagoa Grande - PE e os mamíferos nativos das caatingas pernambucanas documentou a ocorrência dessa espécie nessa localidade, inclusive sendo relatada como quase 59 extinta, porém sendo usada para diversas finalidades inclusive medicinalmente e de forma mágico-religiosa. 1.4.2.1 Epítetos folk das espécies De acordo com o Dicionário Houaiss (2004), a etimologia da palavra “peba” tem origem do tupi “pewa” ou “bewa” e quer dizer: chato, achatado, plano, liso, largo, podendo também ser empregada gramaticalmente como adjetivo comum de dois gêneros possuindo os mesmos significados mencionados. Mas também ela pode ser uma palavra presente em regionalismo do Nordeste do Brasil, nesse caso assumindo um significado de: sem valor e/ou importância, reles, ordinário. Exemplos do emprego desta palavra podem ser vistos em jargões populares paraibanos como: “cara de peba”; “tudo que não presta é peba”; “gordo feito um peba”; “come feito um peba”; “leso como um peba”, etc (CLEROT, 1959). Em relação ao Dasypus novemcinctus, para Smith e Doughty (1984) a palavra “Dasypus” é de origem Grega e quer dizer "coelho". Combinando-se Novem (nove) com cinctus (banda, faixa, cinta) forma-se a palavra "coelho de nove-bandas". Segundo o mesmo autor, retirando-se a carapaça do tatu de nove bandas [ou tatu verdadeiro como é mais conhecido na Paraíba] o mesmo se assemelharia a um coelho. A designação dos nomes populares para ambas as espécies estudadas foi bastante diversa nessa pesquisa, principalmente em relação ao Euphractus sexcinctus (tatu-peba), sendo a maioria destes vernáculos empregada de forma pluri-nominal. Algumas das nomeações encontradas estão de acordo com as poucas literaturas disponíveis para as espécies. Quadro 1. Epíteto folk de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido da Paraíba ESPECIE E. sexcinctus D. novemcinctus EPITETO FOLK REFERÊNCIAS Tatu-peba; peba; pebinha; Alves et al. (2007), Alves et tatu-peludo, tatu de seis - al. faixas, tatu papa-defunto, Barboza et al. (2007), Costa- papinha defunto. Neto (2000a), Valle (2007) Tatu-verdadeiro, tatu-galinha, Alves et al. (2007), Alves tatu cinza, tatu escuro, tatu de (2009), Costa-Neto (2000a), nove-faixas Valle (2007) (2008), Alves (2009), 60 1.4.2.2 Sobre a disponibilidade das espécies nas localidades estudadas. “O pebinha é mais fácil conseguir, o verdadeiro é muito difícil, tá quase acabando”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural de Sumé) “aqui mermo quem pega tatu-peba é os meninos (...) já faz muito tempo que vi um verdadeiro”. (Sra. Enedina Maria, 58 zona rural da cidade de Campina Grande) “(...) tatu-verdadeiro aqui acabou-se...” (Sr. Arnaldo, 45 anos, residente da cidade de São Mamede) Ao serem questionados sobre a facilidade ou não de encontrar ambas as espécies em cada localidade especifica os entrevistados esboçaram respostas bem semelhantes, sobretudo denotando certo reconhecimento e preocupação no que tange o destino de uma das espécies estudada. (ver Tabela 2). Tabela 2. Porcentagem dos informantes que relataram a facilidade ou não de se encontrar as espécies em cada localidade visitada. CIDADES Campina Grande Monteiro São Mamede Sousa Sumé DISPONIBILIDADE AS ESPÉCIES E.sexcimctus D. novemcinctus Sim (%) Não (%) Sim (%) Não (%) 44% 55,96% 23,85% 76,14% 100% 100% 100% 13,04% 91,3% 100% 15,62% 84,37% 100% 25% 75% Os resultados obtidos mostraram que em quatro das cinco localidades estudadas 100% dos entrevistados afirmaram ser bastante fácil encontrar os tatus-peba (E. sexcinctus) nas localidades especificas, com ressalva para a cidade de Campina Grande onde 55,96% (n = 61) alegaram ser muito difícil encontrá-los em sua zona rural. Uma possível explicação para este fato pode ser devido as áreas de caatinga desse município apresentarem fragilidades intrinsecamente alta, grau de alteração e pressão antrópica também alta (BRANDÃO et al., 2004), o que justificaria uma significativa redução nas populações dessa espécie, assim como de várias outras espécies da biodiversidade local. De um modo geral, a facilidade de obtenção de E. sexcinctus pode ser explicada por três motivos básicos: (1) Trata-se de uma espécies que permanece resistente aos distúrbios humanos, (2) possui uma ampla distribuição (AGUIAR, 2004; HASS et al., 2003) e (3) dieta caracteristicamente onívora (HASS et al., 2003), permitindo ampla ocupação de uma variedade de habitats. 61 A cidade de Monteiro foi a única a qual obteve percentagem de 100% (n = 18) de disponibilidade para ambas as espécies de tatus. Em relação ao tatu verdadeiro (D. novemcinctus) a maior porcentagem em termos de dificuldade de encontrar essa espécie na região foi da cidade de São Mamede onde 91,3% (n = 21) dos entrevistados alegaram veementemente a escassez de encontrá-los na região. Em seqüência destacam-se as cidades de Sousa, Sumé e Campina Grande, com respectivos 84,37% (n = 27), 75% (n = 24) e 76,14% (n = 83) onde os entrevistados confirmaram a pouca disponibilidade dessa espécie na região. De forma a se obter elucidações mais presumíveis quanto a real disponibilidade dessas espécies em cada localidade estudada faz-se necessário pesquisas sobre dinâmica populacional, tema este que não será abordado ao longo do trabalho. 1.4.2.3 Principais diferenças apontadas para ambas as espécies De acordo com os moradores, quando questionados sobre a facilidade ou não de diferenciá-los visualmente a resposta foi positiva e unânime para os 214 entrevistados, sendo, portanto, um dos poucos itens do questionário aplicado (ver Apêndice) a qual obteve 100% de universalidade das respostas. No âmbito das diferenças anatômicas meramente visuais entre as duas espécies de tatus, de acordo com a literatura essas vão bem mais além daquelas apontadas pelos entrevistados. Porém, vale ressaltar que os caracteres: tamanho corporal, tamanho das orelhas, focinho, peso (kg), cor e presença ou não de dentição foram os itens mais explicitados e caracterizados quando questionados sobre as principais diferenças externas para ambas as espécies. Tal comparação pode ser melhor compreendida no quadro de cognição comparada (ver Quadro 2, Figura 3). 62 Quadro 2. Cognição comparada das principais diferenças entre tatu-peba e verdadeiro Informações dos entrevistados Principais Diferenças Apontadas TAMANHO DO CORPO Informações científicas Tatu-peba Tatu verdadeiro E. suxcinctus “ele é pouco menor que o verdadeiro...ele mede mais ou menos uns dois palmos podendo passar um pouco (...) ele chega a uns 40 – 50 cm (...) as femi são sempre menorzinha” (Sr. Vilmar dias, 64 anos residente da zona rural de Sumé) “é igual ao peba, mais já peguei uns que passavam de meio metro de cumprimento até o rabo” (Sr. Jurandir, 47 residente da zona rural de Sumé) Os adultos de Euphractus sexcinctus podem medir mais de 40 cm de comprimento cabeça-corpo (REDFORD & WETZEL 1985) Os tatus de novebandas são animais de porte médio, podendo chegar até 64,5 cm de comprimento do focinho a parte final da calda. (SMITH & DOUGHTY, 1984) “ahh, mede uns 50 cm ou mais (...) alguns bixo são do mermo tamanho do peba senão maior” (Sr. Arnaldo, residente da cidade de São Mamede) Os tatus-peba apresentam um tamanho corporal bastante relativo podendo chegar até 50 cm de comprimento, machos e fêmeas, com tendência das fêmeas serem menores (MEDRI, 2008) D. novemcinctus são animais com musculatura muito bem desenvolvida podendo variar de 50 cm a pouco mais de 60 cm. Machos maiores que as fêmeas (HUMPHREY, 1974) Animal com carapaça em quase todas as partes do corpo, excetuando Tem orelhas longas, bem juntas no alto da cabeça e coberta por placas dérmicas “dependendo da idade o bixo chega a mais de meio metro do fucinho ao rabo (...) é do mesmo tamanho que o veradeiro” (Inaldo lima, 27 anos, residente da cidade de Sousa) “as veiz chega ao tamanho do peba, mais é menor (...) os macho são pouca coisa maior que as fêmi” (Sr. Edilvan, 36 anos, residente na zona rural de Campina Grande) D. novemcinctus “é muito maior que o verdadeiro, nem se compara. Mede mais de 50 cm e mais de um palmo de largura (Sr. João Batista, 32 anos, residente na zona rural de São Mamede) TAMANHO DAS ORELHAS “ele tem as orelhinhas bem pequenininhas, bem menor que “é grande demais, nem se compara ao do Peba”. (Idalina Sousa, 33 63 as do tatuverdadeiro” (Sra. Maria de Lurdes, 54 anos, residente da zona rural de Campina Grande) “tem duas orelhinhas bem curtinhas (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro) FOCINHO PESO (Kg) “são muito diferentes, a do peba é mais grossa e pequena a do verdadeiro não” (Sr. Claudio, 44, residente na zona rural de Campina Grande) “a cabeça é grande e grossa da ponta da venta até o fim da cabeça” (Sra Enedina Maria, residente da zona rural de Campina Grande) “é o mermo peso do verdadeiro...vari a de 3,0 a 5,0 kg (...) as fême são menor um pouco” (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de Sousa) anos, moradora da zona rural de Sousa) “E muito cumprida, bem mais que a do tatu-peba. Até parece cum orelha de burro”. (Sr. Jurandir, residente da zona rural de Sumé) “o fucin é bem afiladinho, bem mais bunito que o do peba” (Sr. Damião, 58 anos, residente da cidade de São Mamede) “é bem cumprido e tem a „ventinha‟ bem pequena e a boquinha também” (Sr. José louro, 41 anos, residente da zona rural de São Mamede) a parte ventral e as (TAULMAN & orelhas e estas ROBBINS, 1996) apresentando tamanho pequeno em relação ao porte (CARTER & ENCARNAÇAO, 1983) Os tatus-peba são distinguíveis dos demais por apresentarem orelhas curtas, cabeça achatada tornando-se triangular em direção ao focinho (NOWAK, 1999) A cabeça é triangular e o escudo que a cobre é composto de muitas escamas ósseas, deixando de fora o focinho de comprimento curto e os olhos pequenos (MEDRI, 2008) “tem bixo de todo peso, mas penso que eles tem peso parecido...é 3 -4 5 kg...depende” (Janilson, residente da cidade de Campina Grande) Os adultos de Euphractus sexcinctus podem medir massa corporal variando de 3,2 a 6,5 kg (REDFORD & WETZEL 1985) “é tudo igual pros dois...já peguei No habitat natural pode chegar aos 5 kg, podendo O comprimento da trufa a occiptal (focinho) é comprido e afilado (LAYNE & GLOVER, 1977) Indivíduos machos adultos podem pesar cerca de 5,0 kg (DALPONTE & TAVARES-FILHO, 2004) A variação média de peso para os D. novemcinctus é de 5,35 kg aproximadamente, 64 “a base é a merma pros dois... é 3 – 4 kilo” (Fabio Lacerda, 29 anos, residente da cidade de São Mamede) “Já peguei um que pesava 4,2 kg, mas em casa eles sempre engorda mais porque tem mais cumida né?” (Sr Francisco, 51 anos, morador da cidade de Sousa) “é meio amarronzado, mais tem deles que é bem clarin num sabe” (Sra. Fátima, 65 anos, moradora da zona rural de Campina Grande) PADRÃO DE COR “olhe, tem deles que tem o couro e o casco bem amarelinho, mas tem outros que são vermelho como barro” (Sr. Vilmar dias, 64 anos residente da zona rural de Sumé “ahh, depende da terra que nois encontra eles, mas quando lava na água fica bem clarin‟ (Lindiberg Dantas, 23 anos, residente da zona rural de tanto do grande como do pequeno, o maior tinha mais de 5 kilo” (Sr. Leonidas Duarte, 59 anos, residente na cidade de Sumé) atingir valores maiores tanto para os machos como as fêmeas (MEDRI, 2008) “são preto, tanto no casco quanto no couro” (Sr. José de Lara, 35 anos, residente da cidade de Campina Grande) Apresentam carapaça de coloração pardoamarelada a marrom clara, esparsamente coberta com pêlos esbranquiçados e longos, e possuem de 6 a 8 cintas móveis (MEDRI, 2008) “tem deles que são branquinho, mas tem deles que tem o casco preto” (Sr. Damião, residente da cidade de São Mamede) “eles tem cor de chumbo....é um cinza, bem parecido com cimento” (Inaldo lima, 27 anos, residente da cidade de Sousa) com variação para menos no caso de fêmeas (MONTGOMERY, 1985) Variação média de 3,0 a 5,0 kg (DALPONTE & TAVARESFILHO, 2004) A coloração da carapaça varia do escuro ao brancoamarelado (SMITH & DOUGHTY, 1984). A grande maioria dos D. novemcinctus apresentam colorações que varia do cinza ao marrom, dependendo do substrato que tenham A cor da couraça é contato. (WILSON amarelo& REEDER, 1993) avermelhada, com a pele fina que une as peças de cor enegrecida, porém como está sempre coberta de terra parece de cor parda assim como os pêlos. (CARTER & ENCARNAÇAO, 1983 65 São Mamede) “eles tem dente, e se pegar no dedo, tira sangue mermo” (Sr. José Quirino, 45 anos, residente na zona rural de Sousa) DENTIÇÃO “os dente deles são muito duro. Eles moi (moem) até osso de bixo morto se encontrar”. (Sr. Apolinário, 69 residente da cidade de Monteiro) “esses bixin morde de mais. Uma vez um me mordeu e foi tive que estancar o sangue depois” (Sr. Severino Santos, residente da zona rural Sumé) “ahhh tem não, eles não tem força pra morder e mastigar não mode o fucin se bem estreitin” (Sr. Genival Caldas, 50 anos, residente da zona rural de Sumé). “tem dente não. Pode colocar o dedo dentro da boquinha dele que ele num faiz nada” ( Maria de Lurdes, 33 anos, residente na zona rural de Sousa) “os dentinho são miudinho de mais, tem deles que nem tem. Num morde porque não tem força na boca” (Denilson mota, 22, morador do município de Campina Grande) O E. sexcinctus é o representante dos tatus com a maior e mais poderosa dentição dentre os tatus ajudando-o a macerar a e triturar carnes, peles e ossos (TAVARESFILHO, 2006) Os D. novemcinctus não possuem incisivos ou caninos e os dentes são enraizados individualmente. Os adultos não possuem dentes esmaltados (NOWAK, 1999) De forma geral, os itens que mais ganharam destaque, estão de acordo ou muito próximos com o que aborda as referências da literatura. Porém, vale ressaltar outras características peculiares sobre as duas espécies complementando os depoimentos apresentados. De acordo com Nowak (1999), a cor da couraça dos E. sexcinctus varia de uma tonalidade amarela a amarelo-avermelhada apresentando uma fina pele que une as peças dérmicas de cor enegrecida, entretanto, como geralmente estão em contatos com os mais diferentes tipos de substratos, é muito provável que ocorra variações de padrões de cor. Em relação aos D. novemcicntus, Silva Júnior e Nunes (2001) afirmam que a maioria apresenta colorações que vão do marrom ao cinza-escuro, apresentando pequeninos pelos esbranquiçados. Quanto aos escudos dorsais, anterior e posterior, estes são compostas por 66 múltiplas pequenas peças as quais se apresentam soldadas entre si. Esses escudos estão separados uns dos outros por 5 ou 6 faixas transversais móveis (tatu-peba) ou por 7 a 11 faixas (tatu verdadeiro), as quais funcionam como um elástico (comprimindo e expandindo) quando preciso, e desse modo a pele se estica e as faixas se mexem, favorecendo ao corpo a capacidade de virar-se e dobrar-se (LOUGHRY et al., 2002). A cabeça do E. sexcinctus apresenta um formato triangular e o escudo que a cobre é composto de muitas escamas ósseas, deixando de fora o focinho, os pequenos olhos e as orelhas que não são muito compridas (MEDRI, 2008). A cauda não é muito extensa, é cônica e coberta por fortes escamas. As patas são curtas e se apresentam com 5 fortes unhas. A parte inferior da cabeça, corpo e a região interna das patas são cobertas por pele muito grossa, tuberculosa e provida de pêlos longos, grossos, ásperos que nascem de verrugas ou tubérculos na pele. A parte exterior e posterior das patas apresenta longas e abundantes cerdas (BEZERRA et al., 2001). Da mesma forma, os D. novemcinctus possuem uma carapaça que recobre desde a cabeça até os pés, com exceção dos olhos e a parte ventral a qual é recoberta por uma espessa camada de pele (TAULMAN & ROBBINS, 1996). Esta carapaça é dividida em três secções: Um escudo escapular, um escudo pélvico e uma série de faixas em torno da secção do meio. (MONTGOMERY, 1985) O Euphractus sexcinctus possui cinco dedos em cada membro, todos com garras, sendo que o segundo dedo é o mais desenvolvido (POCOCK, 1924), por outro lado o D. novemcicntus apresenta apenas 4 dedos nos membros dianteiros e traseiros, porém com garras bem fortes e desenvolvidas (HUMPHREY, 1974). Ambas as espécies apresentam na região dorsal da cintura pélvica 2 a 4 glândulas odoríferas na carapaça, tanto de machos como de fêmeas (REDFORD & WETZEL, 1985). A secreção destas glândulas é provavelmente utilizada para a demarcação de tocas, e também pode ser importante na identificação e na informação da receptividade sexual dos indivíduos (McDONOUGH & LOUGHRY, 2003). Segundo a literatura não há dimorfismo sexual evidente em ambas as espécies de tatus, muito embora o sexo possa ser facilmente determinado pela observação das genitálias. Ressalta-se que tal forma de diferenciação entre machos e fêmeas exclusivamente pelas genitálias foi a única apontada pelos entrevistados. Os tatus machos apresentam um dos pênis mais longos (proporcionalmente ao corpo) dentre os mamíferos, estendendo-se até cerca de 2/3 do comprimento do corpo em algumas espécies (McDONOUGH & LOUGHRY, 2001) (Figura 4). A vida social deste grupo provavelmente é dominada pelo sentido do olfato, órgão bastante desenvolvido, pois todas as espécies produzem secreções odoríferas em glândulas anais, que são utilizadas para marcar trajetos, árvores ou objetos conspícuos. Estas secreções 67 são provavelmente ferormônios, utilizados para advertir a presença, e possivelmente a condição sexual de cada indivíduo (DICKMAN, 2001). Esses animais usam tanto o sentido do olfato para localizar o alimento e perceber os predadores bem como o sentido da audição, complementando o sentido da visão uma vez que é pobre. (REDFORD & WETZEL, 1985) A existência ou não de dentição, segundo os (n=203)/94,85% entrevistados afirmaram contundentemente não haver presença de dentes para os D. novemcinctus uma vez que o tamanho de sua boca bem como os componentes de sua dieta não o faria dependente dos mesmos. Por outro lado, 5,14% (n = 11) alegaram acreditar na presença de dentes ou mesmo em vestígios destes. Segundo a literatura científica, o crânio do tatu verdadeiro é caracterizado por um longo e estreito rostro. A parte posterior do crânio é expandida lateralmente, chegando a medir até quatro vezes a largura transversal do focinho. Os Dasypus novemcinctus são desprovidos de dentes incisivos e caninos, porém apresentam molares que são arredondados e cada um possui uma única raiz (MCBEE & BAKER, 1982). Quanto ao E. sexcinctus, 100% (n = 214) dos entrevistados alegaram possuir dentes, inclusive destacando sua dureza. Segundo Nowak (1999) o crânio dos tatus-pebas é relativamente pesado, apresentando poderosas mandíbulas. Mesmo sem a presença do esmalte dos dentes, estes são realmente fortes, apresentando 9 pares de dentes no maxilar superior, e 10 pares no maxilar inferior. 68 A C B D Figura 3. Algumas diferenças visuais marcantes entre E. sexcinctus (3A e 3B) e D. novemcinctus (3C e 3D) apontadas entre os entrevistados. Cor: E. sexcinctus – mais alaranjado; D. novemcinctus – tonalidades de cinza. Orelhas: E. sexcinctus – pequenas e levemente arredondadas; D. novemcinctus – finas e longas. Características do corpo: E. sexcinctus – largo e mais achatado do que D. novemcinctus. Focinho: E. sexcinctus – pequeno e largo, D. novemcinctus – estreito e cumprido. Fotos: 3A e 3B, zona rural de Campina Grande, por Raynner R. D. Barboza; 3C e 3D, município de São Mamede, por Wedson M. S. Souto. Figura 4. Foto: do Autor. E. sexcinctus com pênis parcialmente protuso disposto em uma mesa. Município de Campina Grande. 69 1.4.3 Nicho Ecológico No Brasil, os dasipodideos são animais bastante comuns, principalmente os da espécie E. sexcinctus e D. novemcinctus, ocorrendo em vários biomas como Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal, Cerrado e Caatinga (FONSECA et al., 1996; WETZEL, 1985a). Estas duas espécies se adaptaram muito bem ao bioma caatinga, onde encontraram pouca variação sazonal e as várias fisionomias de sua vegetação promoveu-os uma gama de opções de habitats. (OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 2002; SILVA & BATES, 2002). De acordo com os informantes, os locais de maiores ocorrência dessas espécies em cada uma das localidades estudadas são em áreas de: várzea, baixio, serras e serrotes para o E. sexcinctus (tatu-peba); e serras densas e fechadas para o D. novemcicntus (tatu verdadeiro) como mostra a transcrição de alguns depoimentos: “onde eles sempre tão é em alto de serra, em baixil de serra, alguns em vázea, depende”. (Sr. Isaias, 30 anos, residente na zona rural do Municipio de campina Grande” “O peba você encontra em baixil e em serrote e o verdadeiro só em serra alta mermo”. (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro) “eles faiz as toca em baixil de serra e em vázea (tatu-peba) (...) o verdadeiro é mais difícil de encontrar (...) ele só vive em serra alta e fechada” (Sr. Hildânio, 59 anos, residente da zona rural de Sousa) “eles veve em serrote, baixil de serra e em vázea as veiz veim até o quintal de casa” (Sr. Damião, 58 anos, residente da cidade de São Mamede) O conhecimento sobre as áreas de vida dos tatus, principalmente as dos tatus-peba, Euphractus sexcinctus, é bastante limitado. Destacam-se os trabalhos de Encarnação (1987) como uma das poucas documentações onde foi abordada a ecologia de diversas espécies de tatus no Parque Nacional da Serra da Canastra – MG, e a de Medri (2008) onde estudou a Ecologia e História Natural do Tatu-peba no Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul. Apesar desses estudos supracitados não tratarem diretamente o uso de hábitats do tatupeba ou tatu verdadeiro, pode-se encontrar em alguns poucos trabalhos informações sobre esse tema, por exemplo: Bonato et al. (2008), Carter e Encarnação (1983), Hass et al. (2003), Schaller (1983), Trolle (2003), Vizcaíno e Giallombardo (2001). Para Medri (2008), o estudo do monitoramento de 20 exemplares de tatus-peba no Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul, mostrou uma maior porcentagem de localizações desses indivíduos em habitats com dossel de vegetação mais densa, como em 70 matas fechadas, campos cerrado, do que em áreas abertas como campos úmidos. Ainda para a autora, diferenças podem ser encontradas quanto ao uso do hábitat dos E. sexcicntus devido às características peculiares de cada região e de cada hábitat dentro destas regiões, como por exemplo: diferentes disponibilidades de alimento, diversidade de características do solo (que podem facilitar ou dificultar a escavação de tocas) e diferentes disponibilidades de parceiros para a reprodução. Em relação às áreas de habitat do D. novemcinctus nos biomas em que ele está presente, pouco é documentado. Segundo Taulman e Robbins (1996), os habitats dos tatus verdadeiros tendem a ser em áreas de florestas temperadas bem como de variedades de regiões tropicais e sub-tropicias, com preferência a vegetação densa e fechada. Para Humphrey (1974), os tatus, de um modo geral, habitam áreas de cobertura vegetal densa e fechada como florestas arborícolas ou em regiões que apresentam feições de caatingas hipo e hiperxerófilas, cujos componentes predominantes são árvores e arbustos com dominância de poucas espécies. Comparando os relatos dos entrevistados com a literatura disponível, pode-se dizer que estes foram bem próximos dos resultados que já foram previamente documentados uma vez que os locais de ocorrência de nicho ecológico das duas espécies de tatus são bem típicos de cada localidade estudada e no caso específico da Caatinga paraibana, há escassez de estudos quanto à ecologia e biologia dessas duas espécies. Fato curioso constatado diz respeito ao emprego dos termos locais “baixio e várzea”, por 80,84% (n = 173) dos entrevistados (em todas as localidades visitadas) designando locais bem específicos de ocorrência e habitat dos tatus-peba (E. sexcinctus). “nois anda pelos baixil porque é onde eles fica e é mais fácil de pegá (...) baixil é como um campo descampado ou com capim alto”. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural de Sumé) “tem muito é em vázea, e „serração‟. No mei de duas cerras daqui tem uma grande (várzea) que sempre os meninos daqui vão” (Sra. Ana Lucia, 34 anos, residente da zona rural de Sousa) Segundo os informantes o “baixio” seria uma extensão de área plana que se conecta com as bases de Serras e as “várzeas” seriam extensões de terra presente entre serras desprovidas de arvores ou cobertas por gramas altas ou mesmo vegetação rasteira. De acordo com Kalliola et al. (1993) os baixios são depressões, circundada por cumes de montes, onde existem depósitos de águas subterrâneas e normalmente apresentam menor diversidade de 71 espécies quando comparadas a outras extensões de terra e abrigam animais e plantas adaptados a condições hidrológicas sazonais. As várzeas são terrenos baixos e mais ou menos planos, à margem de um rio ou ribeirão (SILVA et al., 1992). Verifica-se que o uso de tais colocações bem como suas descrições para designar as áreas de habitat dos tatus-peba (E. sexcinctus) está bem próximo com o que trata as referencias científicas, no entanto, ainda de acordo com a literatura, tais localidades podem abrigar córregos, rios e depósitos de água em suas áreas. Quando questionados se alguma das duas espécies de tatus habitam ou podem habitar áreas que apresentem rios, córregos ou açudes, 68,22% (n = 146) dos entrevistados alegaram que não. Os demais, 19,15% (n = 41) afirmaram que esses animais podem habitar locais com presença de água, e apenas 12,61% (n = 27) dos entrevistados afirmaram não saber. 1.4.3.1 Aspectos de comportamentos sociais Em relação aos hábitos sociais dessas duas espécies as opiniões foram bem divididas em cada localidade (Tabela 3). Tabela 3. Percepção de moradores do semi-árido da Paraíba quanto aos hábitos sociais de D. novemcinctus e E. sexcinctus HÁBITO SOCIAL CIDADE Tatu-peba (E. sexcinctus) Tatu verdadeiro (D.novemcinctus) Campina Grande (n=109) Monteiro (n=18) São Mamede (n=23) Sousa (n=32) Sumé (n=32) Sozinho (%) Casal (%) Grupos (%) Sozinho (%) Casal (%) Grupos (%) 54,12% (n=59) 37,61% (n=41) 8,25% (n=9) 72,47% (n=79) 20,18% (n=22) 7,33% (n=8) 38,88% (n=7) 86,95% (n=20) 43,75% (n=14) 59,37% (n=19) 61,11% (n=11) 13,04% (n=3) 50% (n=16) 28,12% (n=9) - 72,22% (n=13) 91,30% (n=21) 81,25% (n=26) 78,12% (n=25) 27,77% (n=5) 4,34% (n=1) 18,75% (n=6) 21,87% (n=7) - 6,25% (n=2) 12,5% (n=4) 4,34% (n=1) - De acordo com as percentagens gerais, conclui-se que a grande maioria dos entrevistados afirmou que tanto o tatu-peba 55,60% (n = 119) quanto o tatu verdadeiro 76,63% (n = 164) apresentam hábito solitário. Porém, em relação ao convívio em casal, 37,38% (n = 80) e 19,15% (n = 41) dos entrevistados afirmaram que os tatus-peba e os tatus 72 verdadeiros (respectivamente), na maioria das vezes estão em companhia de sua(s) parceira(s) e apenas 7% (n = 15) e 4,20% (n = 9) alegam que os pebas e os verdadeiros estão sempre dispostos em grupos, porém se debandam muito rapidamente quando estão ameaçados. Segundo Medri (2008), o E. sexcinctus apresenta hábito solitário, com ressalva para a época reprodutiva onde as fêmeas com seu(s) filhote(s) estão juntos. Outras situações também podem levar ao agrupamento ocasional desta espécie. Desbiez et al. (2006) registraram comportamentos de perseguição em grupos envolvendo indivíduos dessa espécie no Pantanal, porém muitos poucos estudos retrataram sobre esse raro fenômeno entre os tatus-peba e sua função ainda é considerada bastante enigmática, porém há provas que este copmportamento tenha haver com períodos de acasalamento. Tal caracteristica dá-se pelo fato de indivíduos machos correrem um atrás dos outros em fileiras, percorrendo por várias distancias outros grupos ou mesmo fêmeas. Em relação ao D. novemcinctus, estes podem viver de forma solitária e nômade, ou em pares ou mesmo em pequenos grupos de indivíduos (McDONOUGH, 1994). Conclusão semelhante teve o pesquisador Clark (1951) em seu estudo sobre ecologia e história dos tatus no Platô oeste de Edwards (Texas – EUA), onde afirmou a dificuldade de pesquisas sobre mortalidades de D. novemcinctus devido suas freqüentes mudanças de moradias e hábito solitário. McDonough (2000) ainda complementa que, nesta espécie, a permuta de moradias entre machos e fêmeas proporciona a estes indivíduos interatuar e dividir o espaço demarcado uns com os outros, dependendo da densidade de indivíduos. Tratando-se do comportamento social com outros animais (nativos ou silvestres) os quais compartilham do mesmo espaço físico, menos de 3% (n = 5) dos entrevistados comentaram a respeito. De forma geral, essa questão ficou mais na suposição uma vez que os momentos que depreendem maior atenção sobre a ecologia das duas espécies estudadas são em oportunidade de caça, e como essa atividade sempre gera momentos de agitação e estresse, muitos detalhes ecológicos são despercebidos nessa ocasião, principalmente quando se refere ao D. novemcinctus, pois, segundo os informantes, o acesso ao seu nicho é muito mais restrito quando comparado ao E. sexcinctus. De acordo com a literatura, aspectos sobre o comportamento social da maioria dos tatus ainda não são totalmente conhecidos (CARTER & ENCARNAÇÃO, 1983). 73 1.4.3.2 Atividades de Forrageio O conhecimento que os informantes possuem sobre os horários de forrageio das duas espécies de tatus estão quase sempre associadas aos horários de caça por parte dos praticantes ou das informações que estes transmitem aos demais membros que os cercam, como os indivíduos da própria família ou da comunidade. O período noturno ou crepuscular correspondeu à maior porcentagem dos relatos como sendo o principal período de forrageio para ambas as espécies de tatus (ver Tabela 4). Para muitos que praticam a atividade de caça, esse horário é o preferível para a captura e/ou abate desses animais, pois a necessidade de procurar alimentos força os tatus a saírem de suas locas, conseqüentemente, tornando-os alvos fáceis aos cães, armas de fogo ou armadilhas preparadas. “tudo que eles faiz é a noite (...) seja pra comer, beber, procriar e morrer”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural de Sumé) “a noite é hora que eles mais sai, tanto peba como o verdadeiro (...) o verdadeiro sai lá pelas altas hora da madrugada e o peba sai mais cedo” (Venâncio da silva, 27 anos, morador da zuna rural de Campina Grande) “nois sempre caça a noite (...) entra na mata de noite e fica até o dia raiá (...) as veiz eles (tatus) demora a sair (...) tem dia que num pega nada (...) o verdadeiro é mais demorado poque ele só sai quase amanhecendo”. (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede) Tabela 4. Horários de forrageio para as duas espécies de tatus (E. sexcinctus e D. novemcinctus) PERÍODO DIÁRIO Cidades DIURNO VESPERTINO NOTURNO/CREPUSCULA 2,80% (n = 6) 8,25% (n = 9) 43,92% (n = 94) Monteiro 5,55% (n = 1) 5,55% (n = 1) 88,88% (n = 16) São Mamede 21,73% (n = 5) 4,34% (n = 1) 73,9% (n = 17) 12,5% (n = 4) 87,5% (n = 28) Campina Grande Sousa Sumé 3,12% (n = 1) - 96,87% (n = 31) 74 O quadro mostra que a grande maioria dos informantes, 86,91% (n = 186), atribui ao horário da noite como o principal para as atividades de alimentação dos E. sexcinctus e D. novemcinctus, e o menor índice de relatos foi em relação ao período diurno com 6,07% (n = 13). Quando comparados com a literatura, notamos que a grande porcentagem de informações fornecidas pelos entrevistados no que diz respeito aos horários de forrageio dos E. sexcinctus serem preferencialmente noturnos são discrepantes, uma vez que a procura por alimentos ocorre principalmente no período diurno, embora ocasionalmente podem estar ativos à noite (REDFORD & WETZEL, 1985). Porém, em relação aos tatus verdadeiros (D. novemcinctus), os dados obtidos estão de acordo com as referencias cientificas, uma vez que os indivíduos adultos possuem hábito preferencial crepuscular e/ou noturno, mas também podem ser ocasionalmente observados durante o dia, dependendo da temperatura ambiente. No entanto vale destacar que os indivíduos juvenis têm o máximo de atividade durante a manhã e no fim da tarde (MCDONOUGH & LOUGHRY, 2001). Em relação aos componentes da dieta alimentar de ambos os tatus estudados, os dados obtidos pelos informantes estão bem próximas com a literatura cientifica disponível. Estes comumente destacavam a incrível capacidade e diversidade alimentar dos tatus-peba comparando-os aos suínos, sendo essa habilidade, provavelmente, um dos motivos da capacidade de criação e manejo dessa espécie em cativeiro, habito comum em muitos dos locais estudados. Quanto aos tatus verdadeiros, os informantes relataram que, diferentemente dos tatus-peba, este é bem mais seletivo em sua dieta, sendo, portanto, uma das características que a maioria das pessoas creditam forçar a espécie a cobrir maiores áreas de domínio, e assim, dificultar o acesso a seus habitats de remanescência. Alguns depoimentos podem ser vistos e comparados com a literatura, como segue: “O peba como de tudo, de tudo mermo; é mermo que vê um poico [porco] (...) o verdadeiro só come bichinho miudinho, besoro, formiga”. (Izoulda de Lurdes, 19 anos, residente da zona rural de Campina) “(...) come de TUDO. Tudo que encontrar pela frente o bixo come; o que colocar pra ele come também. Num tem diferença prum porco (...) o tatuverdadeiro num come porquera [porcaria] não, só rama de feijão, raiz de batata, furmiga, besoro, aranha...”. (Sr. Jurandir, residente da zona rural de Sumé) 75 “o verdadero é mais limpo que o peba porque só come raiz, fruitinha, e bixo pequenininho; logo ele num tem dente pra morder como o peba que come de tudo, ele tem que buscar essas cumida cada veiz mais longe” “já vi o bixo [tatu-peba] cumer até uma carcaça de vaca morta...passei por ela [carcaça] e vi um troço se bulino [mexendo] lá dento; pensei que era inté um tejú, mais deixa que era um peba se intrufando [caminhando] dentro da carniça...é um poico direitinho....come de tudo (...) o verdadeiro come esses bixinho miúdo [pequeno]...é grilo, galfanhoto, barata, cupim, fuimiga, rama de fejão, raiz de batata...”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural de Sumé) De acordo com os relatos deve-se realçar o emprego da palavra “tudo” referindo-se a dieta dos E. sexcinctus. O uso desse termo faz correlação com o que diz a literatura que aponta os tatus-peba como sendo onívoros, alimentando-se de uma grande variedade de itens, incluindo material vegetal (frutos de bromélias e palmeiras, tubérculos, etc.), invertebrados, pequenos vertebrados e até mesmo matéria orgânica em decomposição (BEZERRA et al., 2001; DALPONTE & TAVERES-FILHO, 2004; MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003; REDFORD, 1985). Analises de tratos digestivos ou de fezes não foi realizado com nenhuma das duas espécies de tatus nessa pesquisa, estudo este que seria de grande importância para efeito de elucidações quanto às variedades de componentes alimentares das duas espécies. Pesquisas sobre dieta alimentar dos E. sexcinctus foram realizadas por Dalponte e Taveres-Filho (2004) que analisaram o trato digestivo de 74 exemplares encontrados mortos em estradas e rodovias dos municípios de Ribeirão Preto, Luis Antonio e Pradópolis, região nordeste de São Paulo. Além desses animais, mais 4 exemplares de E. sexcinctus foram coletados em dois outros municípios de São Paulo (Guareí e São José do Rio Preto) e no Mato Grosso (Cuiabá e Vila Bela), todos em estradas que cruzavam campos cultivados. Os resultados obtidos mostraram que, pelo menos 21 itens alimentares estavam presentes nos estômagos dos tatus-peba. Desses, itens como: sementes de milho, arroz, sementes e polpa de laranja, cana-de-açúcar e outras sementes não identificadas faziam parte dos componentes vegetal encontrado. Dentre os invertebrados foram encontrados: formigas, besouros, cupins, larvas de borboleta, grilos e alguns aracnídeos. Algumas espécies de vertebrados também foram registradas: alguns mamíferos, ofídios, aves e alguns outros vertebrados não identificados. Tais resultados foram comparados aos estudos prévios feitos por Schaller (1983) onde foram feitas analises de conteúdo estomacal de oito E. sexcinctus no Pantanal Mato-Grossense demonstrando semelhança nas composições alimentares dessa espécie. Baseando-se nos relatos obtidos, o termo “limpo” foi bastante empregado ao longo das entrevistas para o tatu verdadeiro, colocando-o, muitas vezes, em preferência para o consumo humano ao tatu-peba. Notou-se quase uma unanimidade entre os informantes das localidades 76 estudadas o fato de acreditarem que os D. novemcinctus não se alimentam de animais (vertebrados) muito menos possuírem hábito saprófago. Pode-se inferir que este meme poderia estar correlacionado aos testemunhos de indivíduos que presenciaram comportamentos de forrageio dessa espécie em seu habitat natural ou mesmo quando houve tentativa de criação da espécie em cativeiro possibilitando comparação direta com os E. sexcinctus, uma vez que é bastante comum indivíduos dessa espécie serem mantidos em cativeiro; ou mesmo pelo fato de acreditarem que os tatus verdadeiro são destituído de dentes, portanto, não teriam capacidade de ingerirem itens com certa consistência. Segundo a literatura os tatus verdadeiros são animais que consomem raízes de forma bem generalista e, em relação à matéria animal, estão presentes em sua dieta invertebrados como: artrópodes, minhocas bem como pequenos vertebrados a exemplo de repteis, anfíbios e até aves. O hábito saprófago também está presente nos indivíduos dessa espécie, porém sendo uma característica não muito marcante (SCHAEFER & HOSTETLER, 2003). Analises dos conteúdos estomacais de mais de 800 indivíduos de D. novemcinctus revelaram quase 500 itens diferentes, com componentes animais representando 90% de sua dieta em termos de volume (DAVIS & SCHMIDLY, 1997). Os tatus-verdadeiros inclusive conseguem nadar e se alimentar na água (PARERA, 2002). Destaca-se que todos os itens alimentares abordados na literatura são encontrados nas áreas de habitat das duas espécies de tatus estudadas. Suas distribuições são amplas e com o passar dos tempos adaptaram-se da melhor forma possível a escassez hídrica, aridez e altas temperaturas do semi-árido paraibano. 1.4.4 Locas, buracos ou fossados Dentro do conhecimento dos entrevistados no que diz respeito à construção dos buracos pelos tatus, estes o costumam denominá-los de “locas” e afirmam não apresentarem muitas diferenças de construção de uma espécie para outra, no entanto, reconhecem a incrível habilidade de escavação dos tatus-peba e a dificuldade de encontrar os buracos feitos pelos tatus verdadeiros, sendo um dos motivos justificados na dificuldade de acesso aos locais de ocorrência da espécie. Porém, quando questionados sobre os motivos pelos quais esses animais constroem tais cavidades alegaram que serviria tanto para descanso, abrigo, proteção e nascimento dos filhotes. 77 “já vi loca de todo tamanho e de toda fundura (...) eles tem as cria lá e dormi Tb”. (Sr. Sebastião Deda, 47 anos, morador da zona rural de Sumé) “cavar como o peba tem igual não (...) com dois minutu o bixo se „entuma” [esconde] debaixo da terra e não tem cristão quem tire (...) o verdadeiro cava mas né muito não (...) algumas loca são do mermo tamanho outras são menor” (Sr. Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de Sousa) “eles veve [vivem] lá dentro (...) come, bebe, se esconde, se protege dos cachorro e tem as cria tudo lá” (Sr. Genival Caldas, 32 anos, morador da cidade de Monteiro) De acordo com Carter e Encarnação (1987) os buracos construídos pelos tatus, de um modo geral, são usados para acolhê-los durante o sono; como local de nidificação; refúgio de predadores; como local de procriação e como reservatórios de insetos a exemplo de formigas e cupins. Em relação à nidificação, alguns adultos e jovens costumam recolher folhas secas e capins e os trazem até suas tocas adentrando de costas até o fim do túnel. Além disso, podem formar aglomerados de tocas em áreas abertas (LIMA BORGES & TOMÁS, 2004) A atividade de escavar tocas é uma das características mais notáveis dos tatus, e em relação ao E. sexcinctus, essa torna-se uma habilidade a parte. O hábito de escavar também auxilia no processo de alimentação do tatu-peba. Em relação aos tipos de buracos construídos, têm-se os “fossados” os quais são escavados com propósito de busca por alimento (ANACLETO, 2006), e as “tocas” ou “locas” que são buracos típicos para refúgio e/ou abrigo dos filhotes. Tanto os fossados como as locas podem chegar entre 1 a 2 m de profundidade (NOWAK, 1999). Sabe-se que, ao contrário de algumas outras espécies de tatus, quando se sentem ameaçados, cavam tocas para se esconderem de possíveis predadores, porém a primeira reação de defesa do tatu-peba é correr, podendo morder quando capturado. Logo, tão rápido encontre a toca mais próxima, o tatu-peba não hesita em entrar neste refúgio de modo a livrar-se de qualquer situação de perigo (REDFORD & WETZEL, 1985). Um dos fatos mais marcantes dessa pesquisa veio de depoimentos de moradores de 3 das cinco localidades estudadas (São Mamede, Sumé e Sousa), os quais afirmaram a presença de cobras da espécie cascavel (Crotalus durissus) em buracos abandonados ou ocupados por tatus-peba. Devido à falta de acesso a alguns locais de habitat das espécies de tatus estudadas nessa pesquisa, tal relato não pode ser devidamente comprovado por filmagem ou fotografia. “(...) quando os cachorros já tinha acuado ele (tatu-peba) dentro do buraco, eu coloquei os troço no chão <instrumentos de caça> e comecei a cavar (...) peguei ele pelo rabo e fui trazendo ele pra cima, assim que o bixo saiu, saiu também uma cascavel grande, era quase da grossura do meu braço. 78 Larguei o peba e os cachorro começaro a latir em cima dela (..) matei a bixa (cobra) e larguei o peba) (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede) “(...) quando abaixei e cutuquei o buraco ouvi um chiado. Pensei que era o peba fungando, quando menos esperei saiu uma cascavel de dentro da loca (...) nunca pensei que ali podia ter uma cobra (...) não, ela não fez nada com o peba”. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural Sumé) “(...) pelo tempo que já cacei foi a primeira vez que eu vi um bixo desse (cobra) dentro de uma loca de peba (...) quase me mordeu (...) nunca mais ando sem „chibanca‟ <picareta> e lanterna” (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de Sousa) Para os informantes que relataram ter visto tal acontecimento, nenhuma explicação especial foi dada a não ser que esses dois animais (tatu-peba e cascavel) convivem harmonicamente num tipo de proto-cooperação onde a cascavel, possivelmente, lhes trazia segurança contra outros invasores e o tatu-peba abrigo em sua morada. Nenhum relato quanto a episódio semelhante foi documentado em relação aos tatus verdadeiros (D. novemcinctus). De acordo com a literatura, Medri (2008) afirma que as escavações feitas pelos tatus-peba (Euphractus sexcinctus) também servem como refúgio para outras espécies de animais. A autora ainda complementa que em sua pesquisa, realizado com 70 tocas de tatus-peba, a fauna comensal encontrada consistiu em espécies de vespas, anfíbios e espécies de répteis como lagartos e uma cobra venenosa, nesse caso uma boca-de-sapo ou jararaca, Bothrops mattogrossensis Amaral, 1925. Sabe-se que a temperatura corporal e o nível basal de metabolismo dos integrantes da superordem Xenarthra (tatus, tamanduás e preguiças) são mais baixos do que os valores esperados para mamíferos placentários com massa corporal semelhante (McNAB, 1985). Estes animais possuem estratégias fisiológicas e comportamentais para contornar problemas relacionados à exposição a temperaturas ambientais extremas. Desse modo, outra possível conclusão para a construção de fossados e tocas pode estar provavelmente relacionada com a termorregulação dos tatus, logo as temperaturas em seu interior propiciariam local adequado a uma série de visitantes. 79 1.4.5 Percepção dos moradores quanto aos aspectos reprodutivos dos tatus-peba e verdadeiro “quando é o tempo deles procriá os peba fica tudo doido procurando no mato as pebinha-femi. (...) os verdadeiro são do mermo jeito, só que é mais complicado de vê mode [devido] eles são ligero [veloz] demais e corre de vorta pras loca”. (Sr. Lucenildo, 52 anos residente da zona rural de Sumé) “acho que eles pari o ano todo, principarmente o peba”. (Sra Severina Carmo, 42 anos, residente da zona rural de Campina Grande) “eles começa a procriar em Junho inté começo de Agosto, se a bixa [a peba fêmea] vingá [garantir o cio] no máximo em Dezembro os bixin [filhotes] já nasce. (...) é a merma coisa pro verdadero, o tempo é igual” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede) Dentro do universo de conhecimento dos informantes quanto ao tema reprodução, pôde-se notar que a grande maioria mencionava meses específicos do ano onde ocorria o inicio do processo reprodutivo [procura por fêmeas e acasalamento] e fim deste [gestação e parturição] para ambas as espécies de tatus. Segundo a maioria dos informantes, tão logo as fêmeas entrem no cio os machos ficam em estados de frenesi com saídas mais frequentes de seus abrigos ou mesmo cobrindo áreas maiores em busca por fêmeas disponíveis. Para os informantes, entre os meses de Julho a Setembro ou Junho a Agosto a busca de fêmeas por machos inicia-se podendo durar entre um ou dois meses de investidas. Os informantes ainda reiteram que este processo, o qual ocorre durante o período que eles compreendem como reprodutivo, acontece em comum para ambas às espécies de tatus estudadas. Dessa forma, tão logo termine o processo de procura por fêmeas férteis e copula, o que geralmente leva de um a dois meses, os machos separam-se de suas parceiras e estas ficam gestantes por períodos de 50 a no máximo 90 dias (na ótica dos entrevistados). Ainda segundo os entrevistados, esse longo período de acasalamento é uma forma que os machos têm de garantir a “prenhes” das fêmeas e de garantir que a futura prole seja bem sucedida. Desse modo, os meses em que ocorreria o fim da gestação até a parturição seriam entre Novembro a Fevereiro ou Dezembro a Março. De acordo com o quadro (Tabela 5), os meses de Julho a Setembro apresentaram as maiores citações por parte dos informantes em relação aos períodos de acasalamento dos tatus-peba, com um percentual de 44,85% (n=96) contra 27,10% (n=58) para os meses de Junho a Setembro. Em relação aos tatus verdadeiros, percebe-se que os meses de Julho a Setembro novamente se destacaram, com percentual 53,27% (n=114) contra 34,57% (n=74). 80 Tal fato pode ser justificado pelos numerosos relatos obtidos pelos informantes onde a reprodução de ambas as espécies ocorria em sincronia. Destacam-se ainda os percentuais de 20,09% (n=43) e 3,73% (n=8) para os informantes que afirmaram ocorrer atividades reprodutivas para ambas as espécies de tatus (E. sexcinctus e D. novemcinctus respectivamente) ao longo de todo o ano. Uma pequena parcela dos informantes, 7,94% (n=17) [tatu-peba] e 8,41% (n=18) [tatu verdadeiro], os quais afirmaram não saber ou não ter certeza. Comparando-se os dados com os da literatura cientifica, estes apresentaram bastante coerentes. Durante o período de acasalamento dos tatus verdadeiro (D. novemcinctus) estes são bastante ávidos em seguir as fêmeas de modo a estabelecerem contatos mais próximos e forragearem juntos por vários dias (MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003). De acordo com Guimarães (1997) uma fêmea adulta de tatu verdadeiro sendo perseguida por dois machos adultos da mesma espécie foi documentada. Segundo o autor, os machos desta espécie mostraram comportamento agressivo uns com os outros, seja se interpondo na frente da fêmea e expulsando outros intrusos ou mesmo pulando em cima e rolando pelo chão. De acordo com Enders (1966) o tempo de ovulação das fêmeas de D. novemcinctus pode variar espacialmente e temporalmente de acordo com as condições ambientais. Esse tipo de variação é bem exemplificado pelos dados de pesquisas feitas no Texas – EUA. Hamlett (1932) atribuiu o dia 15 de Julho como sendo a data média do acasalamento, porém, Talmage & Buchanan (1954) consideraram que o período de ovulação poderia apenas se aproximar aos meses de junho a agosto. Dessa forma, seguindo o modelo do ciclo reprodutivo generalista de Enders (1966), o estro ocorreria de Junho a julho. Notou-se que a maioria das fêmeas multíparas ovularam no mês de Setembro comparando com o mês de novembro para os indivíduos nulíparas. Em relação aos E. sexcinctus, Desbiez et al. (2006) registraram, em duas ocasiões, o comportamento de perseguição envolvendo três e oito indivíduos da espécie, na região do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Durante estes eventos os tatus-peba correram uns atrás dos outros, formando fileiras. Suspeitava-se que este comportamento de perseguição estivesse relacionado com a reprodução da espécie. Esta suspeita foi confirmada com observações posteriores, também no Pantanal, onde foi constatada a cópula após esses momentos de perseguição. Os povos pantaneiros locais acreditam piamente que essas perseguições envolvendo os machos de tatus-peba (E. sexcinctus) em busca das fêmeas realmente ocorrem motivadas pelo período de estro das fêmeas, desse modo, as perseguições poderiam ser uma forma de competição dos machos por fêmeas. Atualmente muito pouco se tem documentado 81 sobre esse tipo de comportamento dos E. sexcinctus, desse modo, para uma melhor compreensão dessa característica peculiar, uma série de informações precisariam ser levantadas tais como sexo, idade e estado reprodutivo dos indivíduos envolvidos. O período de gestação registrado em cativeiro para a espécie foi de 60 a 64 dias, com os nascimentos ocorrendo ao longo do ano. 82 Tabela 5. Percepção dos moradores locais quanto aos períodos de reprodução a parturição de D. novemcinctus e E. sexcinctus PERIODOS DE REPRODUÇÃO A PARTURIÇÃO CIDADES E. sexcinctus JUL-SET1 NOV-FEV2 JUN-AGO1 DEZ-MAR2 D. novemcinctus ANO TODO NÃO SABE JUL-SET1 NOVFEV2 JUN-SET1 DEZMAR2 ANO TODO ÑÃO SABE Campina Grande 52,29% (n=57) 11,92% (n=13) 21,10% (n=23) 14,67% (n=16) 60,55% (n=66) 33,02% (n=36) - 6,42% (n=7) Monteiro 22,22% (n=4) 44,44% (n=8) 33,33% (n=6) - 33,33% (n=6) 38,88% (n=7) - 27,77% (n=5) São Mamede 39,13% (n=9) 34,78% (n=8) 26,08% (n=6) - 56,52% (n=13) 30,43% (n=7) 8,69% (n=2) 4,34% (n=1) Sousa 28,12% (n=9) 50% (n=16) 18,75% (n=6) 3,12% (n=1) 37,5% (n=12) 34,37% (n=11) 12,5% (n=4) 15,62% (n=5) Sumé 53,12% (n=17) 40,62% (n=13) 6,25% (n=2) - 53,12% (n=17) 40,62% (n=13) 6,25% (n=2) 1 Período de acasalamento 2 Final da gestação e parturição - 83 De maneira geral, todos os itens abordados pelos entrevistados, no que diz respeito à reprodução das duas espécies de tatus, tiveram coerência com o que aborda a literatura científica. Ao longo das pesquisas notou-se que a variação da quantidade de filhotes obtidos por ninhada, de acordo com a visão dos informantes, ou eram de 2, entre 2 e 4 ou mais que quatro filhotes para ambas as espécies de tatus. Dessa forma, destacam-se percentuais de 65,42% dos informantes que relataram a quantidade de 2 a 4 filhotes para o tatu verdadeiro (D. novencicntus) e de 65,88% para os que afirmaram ninhadas de apenas 2 filhotes para a espécie tatu-peba (E. sexcinctus) (Tabela 6). Estas percentagens mostram que os informantes possuem, de um modo geral, um conhecimento bastante concordante com a literatura uma vez que, para ambas as espécies, a quantidade de filhotes pode variar de um a três (GUCWINSKA, 1971; McDONOUGH, 2000). Dentre os relatos obtidos, destaca-se a forma de conhecimento e percepção por parte dos informantes quanto à reprodução dos tatusverdadeiros. Alguns afirmaram veementemente que sua prole era composta por dois ou quatro filhotes e que ao nascerem, todos são de um mesmo sexo. Tal afirmação pode ser assim conferida: “...a fêmi do verdadero só pari de par. E tem mais, se um deles for macho, o resto todo é macho, se um deles for fêmi, o resto tudin é femi também” (Sr. Severino Santos, residente da zona rural Sumé) “é muito difícil de ver eles parindo [tatu-verdadeiro], mas uma vez eu vi quatro tatuzinho saindo da toca e cheguei perto eles correro pra dento, a mãe num tava por perto, coloquei a mão e tirei todos 4...era tudo machinho (...) divia ter uns 2 meis mais ou meno” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede) “o peba só pari de dois e o verdadeiro é de quatro. E tudin é de um mermo sexo. Se for macho os irmão vão ser macho, se for femi, tudin é femi também,” (Sr. Jurandir, residente da zona rural de Sumé) Analisando os relatos apontados, tal particularidade, percebida apenas com o tatu verdadeiro (D. novemcinctus), é conhecida cientificamente como o fenômeno da poliembrionia. A poliembrionia é o sistema reprodutivo que se caracteriza pelo desenvolvimento de mais de um indivíduo a partir de uma única célula-ovo, sendo este sistema relatado no gênero Dasypus (GALBREATH, 1985; PRODÖHL et al., 1998). De acordo com Benirschke et al. (1964), análises com transplante de pele foram realizadas nessa espécie (Dasypus novemcinctus) de modo a confirmar a existência de diferenças entre os filhotes de uma mesma ninhada. Os animais transplantados apresentaram quadros de rejeição (na região do transplante ocorreu aumento da atividade imunológica para 84 expulsar o tecido de origem desconhecida), o que mostrou haver diferenciação entre os indivíduos de mesma ninhada, provavelmente devido a estímulo do ambiente intra-uterino, uma vez que cada indivíduo da ninhada é gestado na sua própria placenta. Outro fenômeno associado à poliembrionia é a chamada “Implantação Tardia”, que consiste no retardo do processo de desenvolvimento da célula-ovo e sua implantação na parede uterina por certo período de tempo (PRODÖHL et al., 1998). Portanto, para Nowak (1999), na espécie Dasypus novemcinctus demora aproximadamente quatro meses para suceder à implantação no útero e reiniciar o ciclo de desenvolvimento. Especula-se que a implantação tardia seja a causa da poliembrionia, todavia não há argumentos científicos a favor desta hipótese. Em relação aos tatus-peba (E. sexcinctus), constatou-se que muitos dos depoimentos obtidos são baseados em modos de criações próprias (cativeiro) ou convívio com pessoas as quais fazem manejo dessa espécie, o que reflete em conhecimentos detalhados e específicos para estes indivíduos. Quanto aos tatus verdadeiros (D. novemcinctus), mesmo sendo a espécie com mais ressalvas apontadas (segundos os entrevistados) quanto a sua ecologia e biologia, ainda sim os relatos demonstraram coesão quando comparados a literatura cientifica. Aspectos bem singulares a ambas as espécies como: cuidado parental, tempo de maturidade sexual, presença de rituais de cortejos e monogamia ou poligamia, foram respondidas pelos informantes com uma ampla margem de fidedignidade com o que se tem documentado. Para o tatu-peba (E. sexcinctus) tem-se que as fêmeas em geral parem quatro crias, apesar de que pesquisadores já tenham detectado a presença de 2-6 embriões, e muito embora que alguns fetos possam morrer no decurso da gestação. Ao nascerem, os filhotes pesam cerca de 85 gramas e têm uma carapaça rosada e muito fina. As crias crescem rapidamente, aos 60 – 80 dias já se tornam independentes, apesar de serem amamentados até os 3 meses, visto que os membros da mesma ninhada permanecem juntos durante varias semanas antes de iniciarem uma vida solitária. Com cerca de 16 meses de idade, as fêmeas e os machos alcançam a maturidade sexual, embora o seu desenvolvimento físico venha a estar completo por volta dos 3-4 anos (CARTER & ENCARNAÇAO, 1983; GUCWINSKA, 1971; HASS, 2003) . Em cativeiro, o período de gestação registrado para a espécie foi de 60 a 65 dias, o nascimento dos filhotes ocorreu ao longo do ano, com prole de um a três filhotes de sexos iguais ou diferentes, de massa corpórea entre 95 e 115 g (GUCWINSKA, 1971). Os filhotes atingiram a maturidade em torno de nove meses (GUCWINSKA, 1971). Em cativeiro, um indivíduo desta espécie viveu por 18 anos e dez meses (NOWAK 1999, p. 160). Para o tatu verdadeiro (D. novemcinctus), sabe-se que as fêmeas dão a luz a filhotes muito precoces. Os nascituros apresentam uma massa de aproximadamente 85 – 113g 85 (McDONOUGH et al., 1998; STORRS, 1967). Os olhos se abrem ao nascer e os indivíduos já se tornam ativos desde então. Os jovens assemelham-se aos adultos, porém suas carapaças permanecem com consistência macia até certo tempo de vida, em seguida adquirem textura rígida. Alguns dados foram verificados com indivíduos mantidos em cativeiro experimental: entre 20 e 22 dias de nascidos, os filhotes, machos e fêmeas de D. novemcinctus, começaram a sair dos ninhos, entre 21 e 25 dias já bebiam água, de 35 – 42 dias consumiam alimento solido; entre 71 e 74 dias começaram a incluir invertebrados em sua dieta; e entre 82 a 140 dias para fêmeas e 89 a 160 dias para os machos, acontece o desmame (McDONOUGH, 2000). Em habitat natural Os jovens começam a acompanhar suas mães fora dos buracos por volta dos 2 – 3 meses e começam a se tornarem auto-suficientes entre os 3 – 4 meses de idade. De acordo com Talmage e Buchanan (1954) os machos adquirem maturidade sexual por volta dos 6 meses de idade, porém McCusker (1985) encontrou espermátides em machos com idades variando de 7-12 meses. Em relação às fêmeas não há muito consenso entre os pesquisadores quanto à idade propicia a gerar a primeira ninhada. Estimam entre 1 (TALMAGE & BUCHANAN, 1954) a 2 anos de idade (GALBREATH, 1980; GAUSE, 1980). Em relação à ocorrência ou não de rituais de cortejo entre os indivíduos das duas espécies de tatus estudados, notam-se percentuais bem próximos para os informantes que negaram a existência desse comportamento (55,14% e 56,54%) e os que não souberam (44,85% e 41,12%) para o D. novemcinctus e E. sexcinctus respectivamente (Tabela 6). A ausência ou desconhecimento de rituais de acasalamento dessas espécies já foi anteriormente afirmada Desbiez et al. (2006) e McDonough e Loughry (2003), embora não haja consenso nessa questão. Quanto à presença de monogamia ou poligamia nas duas espécies estudada, os informantes destacaram a característica poligâmica presente entre os indivíduos de tatus com 79,43% e 82,24% das citações para os tatus-peba e verdadeiro, respectivamente (ver Tabela 6). De acordo com Peppler et al., (1986) o processo de acasalamento entre os tatus, de forma geral, é do tipo poligâmico, uma vez que a maioria dos reprodutores machos procuram se emparelhar com mais de uma fêmea durante esse período, muito embora as fêmeas prefiram a monogamia. A poligamia é uma forma de competição dos machos por parceiras e uma forma de garantir o sucesso reprodutivo da espécie. 86 Tabela 6. Cognição comparada do conhecimento dos entrevistados em função do conhecimento científico sobre aspectos reprodutivos de tatus-peba e verdadeiro. CARACTERÍSTICAS Informações dos entrevistados D. novemcinctus (tatu verdadeiro) E. sexcinctus (tatu peba) 2 filhotes (n=52) 2-4 filhotes (n=140) +4 filhotes (n=22) buraco no chão, oco de árvore morta; em loca, toca, embaixo de pedra, perto de cupinzeiro 24,29% Apenas a fêmea (n=195) Ambos (n=19) Quanto ao período de 2 – 4 (meses) (n=140) cuidado parental +4 (meses) (n=74) Quanto ao tempo para 4 – 10 meses (n = 129) se atingir a 91,12% Quanto ao nº de filhotes nascidos Quanto ao local onde as fêmeas parem Cuidado Parental 65,42% 10,28% 100% 8,87% 65,42% 34,57% 60,28% 2 filhotes (n=141)* 2-4 filhotes (n=47) +4 filhotes (n=24) buraco no chão, oco de árvore morta; em loca, toca, embaixo de pedra, perto de cupinzeiro 65,88% Apenas a fêmea (n=191) Ambos (n=23) 2 – 4 (meses) (n=181) +4 (meses) (n=33) 4 – 10 Meses 89,25% 21,96% 11,21% 100% 10,74% 84,57% 15,42% 55,60% Informações científicas D. novemcinctus (tatu E. sexcinctus (tatu peba) verdadeiro) Sabe-se que algumas espécies o nascimento dos filhotes podem dar a luz a mais de 1 ocorre ao longo do ano, com filhotes e alguns outros variar prole de um a três filhotes entre 1 – 3 (McDONOUGH, de sexos iguais ou diferentes 2000) (GUCWINSKA, 1971) Os buracos de tatus, além de A construção dos buracos servirem de abrigo contra ou fossos são lugares idéias incêndio e predadores ainda para as fêmeas derem a luz a abrigam as ninhadas. Desde que salvo dos predadores. bem protegidos podem usar (CARTER & outros locais como aberturas de ENCARNAÇÃO, 1983) rochas e cavernas (TALMAGE & BUCHANAN, 1954; TAULMAN & ROBBINS, 1996) O cuidado parental é trabalho As fêmeas passam a exclusivo das fêmeas amamentar e cuidar de sua (McDONOUGH & prole (MEDRI, 2008) LOUGHRY, 2001) A partir dos 3-4 os filhotes iniciam a independência (STORRS, 1978) Com 4 meses de idades os filhotes já se alimentam por conta própria (ENCARNAÇÃO, 1987) Machos adquirem idade sexual por volta dos 6 meses, podendo Os indivíduos machos atingem a maturidade por 87 (n=119) maturidade sexual Quanto à presença de corte de acasalamento pelos machos > 10 meses (n=85) 39,71% > 10 meses (n=95) 44,39% Sim (n=5) 2,33% Sim - Não (n=118) Não Sabe (n=96) Quanto à monogamia Monogâmico (n=4) ou poligamia durante o período reprodutivo Poligâmico (n=170) Não Sabem (n=40) 55,14% 44,85% 1,86% 79,43% 18,69% (n=0) Não (n=121) Não Sabe (n=88) Monogâmico (n=13) Poligâmico (n=176) Não Sabem (n=25) 56,54% 41,12% 6,07% 82,24% 11,68% chegar até os 12 meses, e as volta dos 9 meses de idade fêmeas entre 1 e 2 anos. quanto as fêmeas pode (McCUSKER,1985; variar entre um ano ou mais. TALMAGE & BUCHANAN, (GUCWINSKA, 1971) 1954) Apesar de o macho forragear Não há evidencias claras de junto à fêmea por dias durante o cortejo entre os indivíduos período de acasalamento não há (DESBIEZ et al., 2006) indícios característicos de corte como é aparente em outros mamíferos (McDONOUGH & LOUGHRY, 2003) Tanto a poligamia como a Tanto a poligamia como a monogamia podem estar monogamia podem estar presente na maioria dos presente na maioria dos dasipodideos (PEPPLER et al., dasipodideos (PEPPLER et 1986) al., 1986) 88 1.5 Conclusões Os moradores das 5 localidades estudadas (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa e Sumé) apresentaram um significativo conhecimento sobre as espécies de tatus estudadas (E. sexcinctus e D. novemcinctus) o que inclui aspectos da taxonomia, biologia, hábitat, ecologia, disponibilidades, reprodução e várias características comportamentais típicos de cada uma das espécies. Verificou-se uma grande quantidade de nomes populares para cada uma das espécies, dessa forma considera-se que tanto o tatu-peba como o tatu verdadeiro estão dentre as espécies endêmicas da fauna da Caatinga intimamente associados à cultura local de cada região. Apesar das amplas áreas de habitat as quais essas duas espécies de tatus se adaptaram tão bem, constatou-se que a espécie D. novemcinctus (tatu verdadeiro) foi tida como a mais difícil de encontrar e a mais requisitada para fins gastronômicos. Tal situação de escassez foi mencionada pelos entrevistados como preocupante para o futuro dessa espécie devido à superexploração que a mesma vem sofrendo. Porém, o tatu-peba (É. Sexcinctus) foi tido como o mais fácil de captura e localização. Questões relacionadas aos horários de forrageio e de reprodução dessas duas espécies estão diretamente ligadas às condições favorecidas para cada local de habitat a qual estão inseridas, podendo estas condições influenciar na biologia e comportamento dos animais, além de serem percebidas de múltiplas formas pelas pessoas que caçam ou fazem algum uso dessas espécies em cada região. Constatou-se uma grande correlação com a literatura quanto aos períodos de acasalamento e parturição relatados pelos informantes. O perfil socioeconômico dos moradores das localidades estudada revela que a grande maioria dos entrevistados possui como profissão atividades ligada a agricultura e pecuária, porém com condições precárias de educação e renda. Essas condições contribuem de forma direta para que esses moradores dependam dos recursos faunísticos da região socioeconômicos aliadas ao conhecimento empírico devem ser levadas em consideração no estabelecimento de planos e leis de manejo. 89 1.6 Referências AB' SABER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 1. ed. São Paulo: Ateliê, 2003. ADH. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Brasília: Plano Nacional para o Desenvolvimento (PNUD), 2004. Download em: < http://www.pnud.org.br/atlas/dl/unico/AtlasIDH2000.exe>. Executável em Windows 98, Millennium, NT, 2000, XP ou VISTA. Tamanho: 8,507 MB. AGUIAR, J. M. Species Summaries and Species Discussions. In: FONSECA, G. et al. (Orgs.). The 2004 Edentate Species Assessment Workshop. Edentata, n. 6, p. 3-26, 2004. ALBUQUERQUE, U.P.; ANDRADE, L.H.C. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no Estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta bot bras, v.16, n.3, p. 273-285, 2002a. ______. Uso de recursos vegetais da caatinga: o caso do Agreste do Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil). Interciencia, v.27, n.7, p. 336-346, 2002b. ALBUQUERQUE, U.P.; MONTEIRO, J.M.; RAMOS, M.A.; AMORIM, E.L.C. Medicinal and magic plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.110, p. 76-91, 2007a. ALBUQUERQUE, U.P.; MEDEIROS, P.M.; ALMEIDA, A.L.S.; MONTEIRO, J.M.; NETO, E.M.F.L.; MELO, J.G.; SANTOS, J.P. Medicinal plants of the caatinga (semi-arid) vegetation of NE Brazil: A quantitative approach. Journal of Ethnopharmacology, v.114, p. 325–354, 2007b. ALMEIDA, C.F.C.B.R.; ALBUQUERQUE, U.P. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): Um estudo de caso. Interciencia, v.27, n.6, p. 276-285, 2002. ALMEIDA, K. S.; FREITAS, F. L. C.; PEREIRA, T. F. C. Etnoveterinária: A Fitoterapia na visão do futuro profissional veterinário. Revista Verde, v.1, n.1, p. 67-74, 2006. ALTIERI, M. A. Ethnoscience and biodiversity – key elements in the design of sustainable pestmanagement systems for small farmers in developing-countries. Agriculture Ecosystems & Environment, v. 46, n. 1–4, p. 257–272, 1993. 90 ALVES, R.R.N. Fauna used in popular medicine in Northeast Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.5, n.1, p. 1-30, 2009. ALVES, R. R. N.; FILHO, G. A. P.; LIMA, Y. C. C. Snakes used in Ethnomedicine in Northeast Brazil. Environment, Development and Sustainability, v.9, n.4, p. 455-464, 2006. ALVES, R. R. N.; LIMA, H. N.; TAVARES, M. C.; SOUTO, W. M. S.; BARBOZA, R. R. D.; VASCONCELLOS, A. Animal-based remedies as complementary medicines in Santa Cruz do Capibaribe, Brazil. BMC Complementary and Alternative Medicine, v.8, p. 1-44, 2008. ALVES, R. R. N.; MENDONÇA, L. E. T.; CONFESSOR, M. V .A.; VIEIRA, W. L. S.; LOPEZ, L. C. S. Hunting strategies used in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.5, n.12, p. 1-50, 2009. ALVES, R. R. N.; NISHIDA, A. K. A ecdise do caranguejo-uçá, Ucides cordatus L. (DECAPODA, BRACHYURA) na visão dos caranguejeiros. Interciencia, v.27, n.3, p. 110117, 2002. ______. Aspectos socioeconômicos e percepção ambiental dos catadores de caranguejo-uçá Ucides cordatus cordatus (L. 1763) (Decapoda, Brachyura) do estuário do Rio Mamanguape, Nordeste do Brasil. Interciencia, v. 28, n. 1, p. 36-43, 2003. ALVES, R. R. N.; PEREIRA-FILHO, G. A. Commercialization and use of snakes in North and Northeastern Brazil: implications for conservation and management. Biodivers. Conserv., v.16, p. 969–985, 2007. ALVES, R .R .N.; ROSA, I. L. From cnidarians to mammals: The use of animals as remedies in fishing communities in NE Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.107, p. 259–276, 2006. ______. Zootherapeutic practices among fishing communities in North and Northeast Brazil: A comparison. Journal of Ethnopharmacology, v.111, p. 82–103, 2007a. ______. Zootherapy goes to town: The use of animal-based remedies in urban areas of NE and N Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.113, p. 541-555, 2007b. ALVES, R. R. N.; ROSA, I. L.; SANTANA, G. G. The Role of Animal-derived Remedies as Complementary Medicine in Brazil. BioScience, v.57, n.11, p. 949-955, 2007. 91 AMANCIO ALVES, J. J. Geoecologia da Caatinga no Semi-Árido do Nordeste Brasileiro. Climatologia e Estudos da Paisagem, v. 2, n. 1, p. 58-51, 2007. AMRINE-MADSEN, H. et al. A new phylogenetic marker, apolipoprotein B, provides compelling evidence for eutherian relationships. Mol. Phylogenet. Evol. v. 28, p.225-240, 2003. ANACLETO, T. C. S. Distribuição, dieta e efeitos das alterações antrópicas do Cerrado sobre os tatus. 2006. 139f. Tese (Doutorado), Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, 2006. ANDRADE, M. C. A Terra e o Homem do Nordeste. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 334 p. ANDRADE-LIMA, D. Vegetacão. In: IBGE/Conselho Nacional de Geografia. 1. ed. Atlas Nacional do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, v. 3, 1966. ______. The Caatingas Dominium. Revista Brasileira de Botânica, v. 4, n. 2, p. 149-163. 1981 ANDRADE, C. T. S.; MARQUES, J. G. W.; ZAPPI, D. C. Utilização medicinal de cactáceas por sertanejos baianos. Rev Bra Pl Med, v.8, n.3, p. 36-42, 2006. ARAUJO, H. F. P.; LUCENA, R. F. P.; MOURÃO, J.S. Prenúncio de chuvas pelas aves na percepção de moradores de comunidades rurais no município de Soledade-PB, Brasil. Interciencia, v.30, n.12, p. 764-769, 2005. ARRUDA, M. B. Conservação, Ecologia humana e sustentabilidade na Caatinga: Estudos da região do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI). Série Meio Ambiente em Debate. Brasília, DF: IBAMA; 1997, n.13, 96 p. ATRAN, S. Ethnoscience today. Social Science Information Sur Les Sciences Sociales, v. 30, n. 4, p. 595–662, 1991 BAILEY, K. Methods of social reached. 4 ed. New York: The Free Press; 1994, p. 588. BANDEIRA, F. P. S. F. Construindo uma epistemologia do conhecimento tradicional: problemas e perspectivas. In: ENCONTRO BAIANO DE ETNOECOLOGIA E ETNOBIOLOGIA, Feira de Santana. 2001, Anais. Feira de Santana: Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, 2001. p.109-133. 92 BARBOZA, R. R. D.; SOUTO, W. M. S.; MOURÃO, J. S. The use of zootherapeutics in folk veterinary medicine in the district of Cubati, Paraíba State, Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.3, n.32, p. 14, 2007. BARROS, M.C.; SAMPAIO, I.; SCHNEIDER, H. Phylogenetics analysis of 16S mitochondrial DNA data in sloths nad anteaters. Genetics and Molecular Biology. v. 26, n. 1, p. 5-12, 2003. BAUTISTA, H. P. Espécies arbóreas da caatinga: sua importância econômica. In: SIMPÓSIO SOBRE CAATINGA E SUA EXPLORAÇÃO RACIONAL, Feira de Santana, 1986, Anais. Feira de Santana, Brasil, 1986, p. 117-140. BECKER, C. D.; GHIMIRE, K. Synergy Between Traditional Ecological Knowledge and Conservation Science Supports Forest Preservation in Ecuador. Conservation Ecology, v. 8, n. 1, 2003 BEEK, K. J.; BRAMAO, D. L. Nature and geography of South American soils. In: FITTKAU, E. J.; ILLIES, J.; KLINGE, H.; SCHWABE, G. H.; SIOLI, H. (Eds.). Biogeography and Ecology in South America. 1. ed. [S.l.]: Springer, 1968. p. 82-112. BEGOSSI, A.; HANAZAKI, N. ; SILVANO, R. A. M.. Ecologia Humana, Etnoecologia e Conservação. In: AMOROZO, M. C. de M.; MING, L. C.; SILVA, S. M. P. da. Métodos de coleta e análise de dados em Etnobiologia e disciplinas correlatas: Anais, Riop Claro, SP. 29/11 a 01/12/2001. UNESP/ CNPq, 2002. p. 93-128. BEGOSSI, A.; SILVANO, R. A. M. Ecology and ethnoecology of dusky grouper [garoupa, Epinephelus marginatus (Lowe, 1834)] along the coast of Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 4, n. 20, 2008. BENNETT, E. L.; ROBINSON, J. G. Hunting for Sustainability: The start of a synthesis. In: ROBINSON, J. G. & BENNETT, E. L. (Eds). Hunting for sustainability in Tropical Forests (Biology and Resource Series). 1. ed. Nova York: Columbia University Press, 1999. BENTHALL, J. Rights to ethnobiology. Anthropology Today, v. 9, n. 3, p. 1–2, 1993. BERGQVIST, L.P.; ABUHID, V.S.; DEL GIUDICE, G.M. Mamíferos. In: Paleontologia. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2000. cap. 32. p. 595-623. BERNARD, H. R. Research methods in cultural anthropology. 1. ed. Newbury Park: Sage Publications, 1988. 520 p. 93 BERKES, F. Traditional ecological knowledge in perspective. In: INGLIS, J. T. (Ed.) Traditional Ecological Knowledge: Concepts and Cases. Ottawa, Canadá: International Program on Traditional Ecological Knowledge and International Development Research Centre. 1993. p 1-9. ______. Sacred Ecology: Traditional ecological knowledge and resource management. 1. ed. Philadelphia, USA: Taylor & Francis, 1999. p. 236. BERKES, F.; HENLEY, T. Co-management and traditional knowledge: threat or opportunity?. Policy Options, p. 29-31, 1997 (Março). BENIRSCHKE, K.; SULLIVAN, M. M.; MARÍN-PADILLA, M. Size and number of umbilical vessels. A study of multiple pregnancy in man and the armadillo. Obstet. Gynecol. v.24, p. 819-834, 1964 BEZERRA, A. M. R.; RODRIGUES, F. H. G.; CARMIGNOTTO, A. P. Predation of Rodents by the Yellow Armadillo (Euphractus sexcinctus) in Cerrado of Central Brazil. Mammalia, v. 65, n. 1, p. 86-88, 2001. BLACKMORE, S. The power of memes. Scientific american, v. 283, p 53-61, 2000. BONATO, V. Ecologia e história natural dos tatus do Cerrado de Itirapina, São Paulo. 2002. 90 f. Dissertação (Curso de Ecologia), Universidade de Campinas, Campinas, SP, 2002. BONATO, V. et al. Ecology of the armadillos Cabassous unicinctus and Euphractus sexcinctus (Cingulata: Dasypodidae) in a Brazilian Cerrado. Journal of Mammalogy, v. 89, n. 1, p. 168-174, 2008. BRANDÃO, C. R. F.; YAMAMOTO, C. I. Invertebrados da Caatinga. In: SILVA, J. M. C. et al. (Coord.). Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004. p. 135-140. BRANDÃO, C. R. F. et al. Invertebrados: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga . In: SILVA, J. M. C. et al. (Coord.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004. p. 141-147 BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Secretaria de Geologia, Mineração e Transporte Mineral. Secretaria de Desenvolvimento Energético. Diagnóstico do Município de Monteiro. Recife, out. 2005a. 20 p 94 BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Secretaria de Geologia, Mineração e Transporte Mineral. Secretaria de Desenvolvimento Energético. Diagnóstico do Município de São Mamede. Recife, out. 2005b. 25 p. ______. Diagnóstico do Município de Sousa. Recife, out. 2005c. 34 p. BRASIL. Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6040.htm>. Acesso em: 16 mar 2009. CABRERA, A.; INCHÁUSTEGUI, C.; GARCÍA, A.; TOLEDO, V. Etnoecología Mazateca: Una Aproximación al Complejo cosmos-corpus-praxis Etnoecológica, v. 6, n. 8, p. 61-83, 2002. CARTER, T. S.; ENCARNAÇÃO, C. D. Characteristics and use of burrows by four species of armadillos in Brazil. Journal of Mammalogy, v. 64, n. 1, p. 103-108, 1983. CARVALHO, F. N. Cambiantes do paladar: a alimentação dos colonos no Brasil do século XVI. Penélope, n. 23, 2000. p. 31-39. CASTELLETTI, C. H. M.; SANTOS, A. M .M.; TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C. Quanto ainda resta da Caatinga? Uma estimativa preliminar. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. 1. ed. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, 2003. p. 719-734 CHARDONNET, P. et al. The value of wildlife. Rev sci tech Off int Epiz, v. 21, n. 1, p. 1551, 2002. CHEN, X. Culture and Understanding: The Cartesian Suspicion, The Gadamerian Response, and the Confucian Outcome. Journal of Chinese Philosophy, v. 31, n. 3, p. 389-403, 2004. CLARK, W. K. Ecological life history of the armadillo in the Edwards Plateau region. American Midland Naturalist, v. 46, p. 337-358, 1951. CLEROT, L. F. R. Vocabulário de têrmos populares e gíria da Paraíba (Estudo de glotologia e semântica paraibana). Rio de Janeiro: s.ed., 1959 COTTON, C. M. Ethnobotany: Principles and Applications. 1. ed. Baffins Lane, Chichester, Inglaterra: John Wiley & Sons, 1995. 95 COSTA, M. A. G. Aspectos Etnobotânicos do Trabalho com Plantas Medicinais realizado por curandeiros no município de Iporanga, SP. 2002. 134 f. Tese (Doutorado) Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil, 2002. COSTA-NETO, E. M. Healing with animals in Feira de Santana City, Bahia, Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.65, p. 225-230, 1999a. ______. Ciência e Diversidade Cultural: A contribuição de Claude Chrétien. Sitientibus, n. 20, p. 9-14, 1999c. ______. Traditional use and sale of animals as medicines in Feira de Santana City, Bahia, Brazil. Indigenous Knowledge and Development Monitor, v.7, n.2, p. 6-9, 1999b. ______. As interações homem/xenarthra: tamanduás, preguiças e tatus no folclore ameríndio. Actualidades Biológicas, v. 22, n. 73, 2000a. p. 203-213. ______. Conhecimento e usos tradicionais de recursos faunísticos por uma comunidade AfroBrasileira. Resultados preliminares. Interciencia, v.25, n.9, p. 423-431, 2000b. COUTO, C. P. Edentados Fósseis de São Paulo. Anais da Academia de Ciênias, v. 45, n. 2, p. 261-275, 1973. CROSBY, A.W. Imperialismo Ecológico: A expansão biológica da Europa, 900-1900. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 320 p. CUNNINGHAM, A. B. Applied ethnobotany: People, wild plant use and conservation. 1. ed. Londres, Inglaterra: Earthscan Publications Ltd., 2001. 300 p. DALPONTE, J. C.; TAVARES-FILHO, J. A. Diet of the Yellow Armadillo, Euphractus sexcinctus, in South-Central of Brazil. Edentata, n. 6, p. 37-41, 2004. DAVIS, W. B.; SCHMIDLY, D.J. The Mammals of Texas – Edição online. Universidade de Tecnologia do Texas - EUA. 1997. DAWKINS R. The selfish gene. 1. ed. Oxford: Oxford University Press, 1976. DE JONG, W. W. et al. Protein Sequence Analysis Applied to Xenarthran and Pholidote Phylogeny. In: Montgomery, G. G. (Ed.). The evolution and ecology of armadillos, sloths 96 and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 65-76. DELSUC, F. et al. The evolution of armadilllos, anteaters and sloths depicted by nuclear and mitochondrial phylogenies: implications for the status of the enigmatic fossil Eurotamandua. Proc. R. Soc. Lond., v. 268, p. 1605-1615, 2001. DELSUC, F. et al. Molecular phylogeny of living xenarthrans and the impact of character and taxon sampling on the placental tree rooting Mol. Biol. Evol., v. 19, n. 10, p. 1656-1671, 2002. DELSUC, F. et al. Molecular systematic of arnadillos (Xenarthra, Dasypodidae): contribuition of maximum likelihood and Bayesian analyses of mitochondrial and nuclear genes. Mol. Phylog. Evol., v. 28, n. 10, p. 261-275, 2003. DELSUC, F.; VIZCAÍNO, S. F.; DOUZERY, E. J. P. Influence of Tertiary paleoenvironmental changes on the diversification of South American mammals: a relaxed molecular clock study within xenarthrans. BMC Evolutionary Biology, v. 4, 2004. DESBIEZ, A. L. J.; LIMA BORGES, P. A.; MEDRI, Í. M. Chasing Behavior in Yellow Armadillos, Euphractus sexcinctus, in the Brazilian Pantanal. Edentata, n. 7, p. 51-53, 2006. DESCOLA, P. Constructing Nature: Symbolic Ecology and Social Practice. In: DESCOLA, P.; PÁLSSON, G. (eds.). Nature and Society. Anthropological Perspectives. 1. ed. Londres, Inglaterra: Routledge, 1996 DIAS, A. S.; JANEIRA, A. L. Entre Ciência e Etnociências. Episteme, n.21, p. 107-127, 2005. DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss e Ed. Objetiva, 2004 DICKMAN, C. R. Anteaters. In: MACDONALD, D. (Ed.). The New Encyclopedia of Mammals. 1. ed. Oxford: Oxford University Press, 2001. DIEGUES, A. C. S. Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. São Paulo : Ed. Hucitec/NUPAUB, 2000. p. 165-174. DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R .S. V.; SILVA, V. C. F.; FIGOLS, F. A. B.; Andrade, D. Os Saberes Tradicionais e a Biodiversidade no Brasil. 1. ed. São Paulo: Ministério do Meio Ambiente, 1999. 211 p. 97 DIÉGUES JÚNIOR, M. Regiões Culturais do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, 1960. 535 p. DINAMARCA. Ministry of Foreign Affairs of Denmark. Community-Based Natural Resource Management. Copenhague: Governo da Dinamarca, 2007. D‟AMBROSIO, U. Ethnomathematics: The art or thechnique of explaining and knowing; History of mathematics in the periphery: The basin metaphor: As illustrated by Latin America. 1. ed. Berlim, Alemanha: Max-Planck-Institut fu¨ r Wissenschaftsgeschichte, 1999. 116 p. DREW, J. A. Use of Traditional Ecological Knowledge in Marine Conservation. Conservation Biology, v. 19, n. 4, p. 1286-1293, 2005. EISENBERG, J. F. The Edentata. In: The Mammalian Radiations. The Univ. of Chicago Press, London, 1981. p. 42-56. EIZIRIK, E.; MURPHY, W. J.; O'BRIEN, S. J: Molecular dating and biogeography of the early placental mammal radiation. J. Hered., v. 92, p. 212-219, 2001. EL-HANI, C. N.; BANDEIRA, F. P. S. F. Valuing indigenous knowledge: to call it „„science‟‟ will not help. Cult Stud of Sci Educ, v. 3, p. 751–779, 2008. ELLEN, R. Modes of subsistence and ethnobiological knowledge: between extraction and cultivation in Southeast Asia. In: MEDIN, D.L.; ATRAN, S. (eds.) Folkbiology. 1. ed. Cambridge: The Massachusets Institute of Technology Press, 1999. p. 91-117. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Urbanização nos Municípios da Paraíba, Campinas, 21 mar. 2006. Disponível em: < http://www.urbanizacao.cnpm.embrapa.br/conteudo/uf/pb.html>. Acesso em: 14 fev. 2009. EMEPA – Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S. A. João Pessoa, 2008. Disponível em: <http://www.emepa.org.br>. Acesso em: 14 jan. 2009. ENCARNAÇÃO, C. D. Contribuição à ecologia dos tatus (Xenarthra, Dasypodidae) da Serra da Canastra, Minas Gerais. 1987. 210f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1987. ENDERS, A. C. The reproductive cycle of the nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus). In: Rowlands, I. W. (Ed.). Comparative biology of reproduction in mammals. 1. ed. Nova Iorque: Academic Press, 1966. p. 295–310 98 ENGELMANN, G. F. The phylogeny of the Xenarthra. In: MONTGOMERY, G. G. (Ed.). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas, Washington, EUA e Londres, Inglarerra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 51-64. ETTEN, J. V. Changes in farmers' knowledge of maize diversity in highland Guatemala, 1927/37-2004. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 2, n. 12, 2006. EYSSARTIER, C.; LADIO, A. H.; LOZADA, M. Cultural Transmission of Traditional Knowledge in two populations of North-western Patagonia. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 4, n. 25, p. 1-8, 2008. FABIAN, S. M. Patterns in the sky an introduction to ethnoastronomy. Illinois, EUA: Waveland Press, Prospect Heights, 2001. 125 p. FENG, Y.; SIU, K.; WANG, N.; NG, K.-M.; TSAO, S.-W.; Nagamatsu, T.; Tong, Y. Bear bile: dilemma of traditional medicinal use and animal protection. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.5, n.2, p. 1-45, 2009. FERRARI, C. et al. The brain of the armadillo Dasypus hibridus: a general wiew of its most salient features. Biocell, v. 22, n. 2, p. 123-140, 1998. FEWKES, J. W. A contribution to ethnobotany. American Anthropologist, v. 9, p. 14-21, 1896. FIGUEIREDO-GOMES, M. A. Padrões de caatinga nos Cariris Velhos, Paraíba. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 1981. FONSECA, G. A. B.; AGUIAR, J. M. Species Summaries. Edentata, n. 6, p. 3-26, 2004. FONSECA, G. A. B. et al. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Occasional Papers in Conservation Biology, v. 4, p. 1-38, 1996 FONSECA, G. A. B. Editorial: The conservation of Xenarthra will be vital for the preservation of mammalian phylogenetic diversity. Edentata, v. 4, n. 1, 2001 FOUCAULT, Michael. Power/Knowledge. 1. ed. Nova York: Pantheon, 1980. FRAZÃO-MOREIRA, A. As Classificações Botânicas Nalu (Guiné-Bissau): Consensos e Variabilidades. Etnográfica, v.5, p. 131-155, 2001. 99 FREITAS, C. A. Notícia sobre a peste no nordeste. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais, v. 9, p. 123-133, 1957. GALBREATH, G. J. Aspects of Natural selection in Dasypus novemcinctus. 1987. Tese (Doutorado), University of Chicago, Chicago, EUA. 1987. GALBREATH, G. J. The evolution of monozygotic polyembryony in Dasypus. In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 243-245. GARDNER, A. L. Order Cingulata. In: WILSON, D. E.; REEDER, D. M., Mammal Species of the World. 3. ed. Baltimore, EUA: Johns Hopkins University Press, 2005a. p. 94-99. GARDNER, A. L. Order Pilosa. In: WILSON, D. E.; REEDER, D. M., Mammal Species of the World. 3. ed. Baltimore, EUA: Johns Hopkins University Press, 2005b. p. 100-103. GAUSE, G. E. Physiological and morphometric responses of nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus) to environmental factors. 1980. Tese (Doutorado), University of Florida, Gainesville, EUA, 1980. GERIQUE, A. An Introduction to Ethnoecology and Ethnobotany: Theory and Methods. Advanced Scientific Training, Loja, Equador, set. 2006. Disponível em: <http://www.utpl.edu.ec/summerschool/images/stories/presentaciones/ethnoecology.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2009 GERMAN-CASTELLI, P. Diversidade Biocultural: Direitos de Propriedade Intelectual Versus Direitos dos Recursos Tradicionais.2004. 223 f. Tese (Doutorado) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004. GIBSON, C. Politicians and Poachers: The Political Economy of Wildlife Policy in Africa. 1. ed. Cambridge, Inglaterra: Cambridge University Press, 1999. 264 p. GILMORE, R. M. Fauna e etnozoologia da América do Sul tropical. In: RIBEIRO, Darcy (Editor). Suma Etnológica Brasileira. 2. ed. Petrópolis: Vozes, Finep, 1987, v.1. p. 189-234. GIULIETTI, A. M. et al. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, p. 48-90, 2004 100 GLASS, B.P. History of classification and nomenclatura in Xenarthra (Edentata). In: MONTGOMERY, G. G. (Ed.). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. Washington, EUA e Londres, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. 451 p. GUCWINSKA, H. Development of Six-banded armadillos Euphractus sexcinctus at Wroclaw Zoo. International Zoo Yearbook, v. 11, p. 88-89, 1971 GUEDES, P. H. M Q. A colonização do sertão da Paraíba: agentes produtores do espaço e contatos interétnicos (1650 – 1730). 2006. 157 f. Dissertação (Mestrado Em Geografia). UFPB. João Pessoa, PB, 2006. GUIMARÃES, M. M. Área de vida, territorialidade e dieta do tatu-bola, Tolypeutes tricinctus (Xenarthra, Dasypodidae), num Cerrado do Brasil Central. 1997. 58f. Dissertação (Mestrado), Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1997. GUIMARÃES, A. S.; MOURÃO, J. S. Management of plant species for controlling pests, by peasant farmers at Lagoa Seca, Paraíba state, Brazil: an ethnoecological. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.2, n.42, 2006. 5 p. HAMLETT, G. W. D. The reproductive cycle in the armadillo. Zeitschrift für Wissenchaftliche Zoologie, v. 141, p. 143-157, 1932. HARDESTY, D.L. Ecological Anthropology. 1. ed. Nova Iorque: Wiley, 1977. HARSHBERGER, J. W. The purposes of ethnobotany. The Botanical Gazette, v. 21, p. 146154, 1896. HASS, A.; RODRIGUES, F. H. G; OLIVEIRA, T. G. The Yellow Armadillo, Euphractus sexcinctus, in the North/Northeastern Brazilian Coast. Edentata, v. 5, p. 46-47, 2003. HAYS, T. E. An Empirical Method for the Identification of Covert Categories in Ethnobiology. American Ethnologist, v.3, n.3, p. 489-507, 1976. HENFREY, T.B. Ethnoecology, Resource Use, Conservation And Development In A Wapishana Community In the South Rupununi, Guyana. 2002. 296 f. Tese (Doutorado) Department of Anthropology and Durrell Institute of Conservation and Ecology, University of Kent, Canterbury, UK, 2002 101 HENRIQUE, F. A. N. Estimativa da Evapotranspiração de Referência em Campina Grande-PB. 2006. 107 f. Dissertação (Mestrado em Metereologia). Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande-PB, [2006]. HUE, S. M. Delícias do Descobrimento: a gastronomia brasileira no século XVI. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, 207p. HUMPHREY, S. R. Zoogeography of the nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus) in the United States: Bioscience, v. 24, n. 8, p. 457–462, 1974. HUNN, E. Ethnobiology in four fases. Journal of Ethnobiology, v. 27, n. 1, p. 1-10, 2007. HUYLEBROUCK, D. Afrika en Wiskunde. 1. ed. Bruxelas, Bélgica: VUB Press, 2005. 304 p. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Canal Cidades@. Brasília, 2008. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em: 12 jan. 2009. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mapa de Biomas e de Vegetação. Brasília, 2004. Disponível em: <http:// http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169>. Acesso em: 20 jan. 2009. ITIS - Integrated Taxonomic Information System. 2008. Disponível em: < http://www.itis.gov/>. Acesso em: 12 jan. 2008. IUCN/SSC Edentate Specialist Group. Edentata. Washington, EUA: IUCN, n.6, 2004. JOHANNES, R. E. (ed). Traditional Ecological Knowledge: A Collection of Essays. 1. ed. Gland, Suíça e Cambridge, Inglaterra: IUCN, 1989. JOHNSON, M. (editor). Lore: Capturing Traditional Environmental Knowledge. 1. ed. Hay River, NWT: Dene Cultural Institute and International Development Research Centre, 1992 KALLIOLA, R.; PUHAKKA, M.; DANJOY, W. Amazonia peruana: vegetación húmeda tropical en el llano sudandino. Finlândia: Gummerus Printing, 1993. p.265 KIMMERER, R. W. Weaving Traditional Ecological Knowledge into Biological Education: A Call to Action. BioScience, v. 52, n. 5, 2002. 102 KNUDSEN, S. Ethical Know-how and Traditional Ecological Knowledge in Small Scale Fisheries on the Eastern Black Sea Coast of Turkey. Human Ecology, v. 36, p. 29-41, 2008. LAYNE, J. N.; GLOVER, D. Home range of the armadillo in Florida. Journal of Mammalogy, v. 58, n. 3, p. 411-413, 1977. LEAL, I. R.; SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; LACHER Jr., T. E. Mudando o curso da conservação da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil. Megadiversidade, v. 1, n. 1, p. 139-146, 2005. LEAL, I.R.; TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C. Ecologia e Conservação da Caatinga: Uma Introdução ao Desafio. In: Leal IR, Tabarelli M, Silva JMC (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, 2003. p.XIII-XVI LEFF, E. Saber Ambiental. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 494 p. LIMA BORGES, P. A.; TOMÁS, W. M.. Guia de rastros e outros vestígios de mamíferos do Pantanal. 1. ed. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2004. 139 p. LOUGHRY, W. J.; McDONOUGH, C. M.; ROBERTSON, E. G. Patterns of anatomical damage in a population of nine-banded armadillos Dasypus novemcinctus (Xenarthra, Dasypodidae). Mammalia, v. 66, n. 1, p. 111–122, 2002. MARANHÃO, T. P. Naútica e classificação ictiológica em Icaraí,Ceará: um estudo em antropologia cognitva. 1975. 170 f. Dissertação (Mestrado). UNB. Brasília, DF, 1975. MARES, M. A.; WIILIG, M. R.; STREILEIN, K. E.; LACHER JR, T. E. The mammal of northeastern Brazil: A preliminary assessment. Annals of Carnegie Museum. v. 50, n. 4, p. 81-100, 1981. MARES, M. A.; WILLIG, M. R.; LACHER JR., T. E. The Brazilian Caatinga in South American Zoogeography: Tropical Mammals in a Dry Region. Journal of Biogeography, v. 12, n. 1, p. 57-69, 1985. MARQUES, J. G. W. Pescando Pescadores: Etnoecologia abrangente no baixo São Francisco Alagoano. 1. ed. São Paulo, Brasil: NUPAUB/USP, 1995. p. MARQUES, J. G. W. O olhar (des)multiplicado. O papel do interdisciplinar e do qualitativo na pesquisa etnobiológica e etnoecológica. In: AMOROZO, M. C. M.; MING, L. C.; SILVA, S. M. P. (Ed.). Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Anais... Rio Claro: UNESP/CNPq, 2002a. p. 31-46. 103 MARTIN, G.J. Ethnobotany: a methods manual.1. ed. London: Champman & Hall, 1995. 268 p. MARTÍNEZ, C. E. Etnobiología de los Cofanes de Dureno. 1. ed. Quito, Equador: Publicaciones del Museo Ecuatoriano de Ciencias Naturales, 1995. 207 p. MCBEE, K.; BAKER, R.J. Dasupus novemcinctus. Mammals species. v. 162, p. 1-9, 1982. McCORKLE, C. Farmer Innovation in Niger. Studies in Technology and Social Change Series, n. 21, 1994. McCUSKER, J.S. 1985. Testicular cycles of the common long-nosed armadillo Dasypus novemcinctus, in north central Texas. In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 255–261. McDONOUGH, C. M. Determinants of aggression in nine-banded armadillos. Journal of Mammalogy, v. 75, p. 189-194, 1994. ______. Social organization of nine-banded armadillos (Dasypus novemcinctus) in a riparian habitat. American Midland Naturalist, v. 144, p. 139-151, 2000. McDONOUGH, C. M.; LOUGHRY, W. J. Armadillos. In: McDONOUGH, D. (Ed.). The New Encyclopedia of Mammals. Oxford, Inglaterra: Oxford University Press, 2001. p. 796799. McDONOUGH, C. M.; LOUGHRY, W. J. Armadillos (Dasypodidae). In: HUTCHINS, M. (Ed.). Grzimek's Animal Life Encyclopedia. 1. ed. Farmington Hills: Gale Group, 2003. vol. 13. p. 181-192. McDONOUGH, C. M.; McPHEE, S. A.; LOUGHRY, W. J. Growth rates of juvenile ninebanded armadillos. Southwestern Naturalist, v. 43, p. 462-468. McNAB, B.K. Energetics, population biology, and distribution os xenarthras, living and extinct. In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 219-235. McKENNA, M. C. Toward a phylogenetic classification of the Mammalia. In: LUCKETT, W. P.; SZALAY, F. S. (Eds.). Phylogeny of the primates. 1. ed. New York: Plenum Press, 1975. p. 21-46. 104 McKENNA M. C.; BELL S. K. Classification of Mammals above the species level. Nova Iorque, EUA: Columbia University Press, 1997. MEDRI, Í. M. Ecologia e História Natural do Tatu-peba, Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), no Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul. 2008. 187 f. Tese (Doutorado) - Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2008. MENDEL, F. C. Adaptations for Suspensory Behavior in the Limbs of Two – Toed Sloths. In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The Evolution and Ecology of Armadillos, Sloths, and Vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA/ Londres, Inglaterra: Smithsonian Institution Press, 1985. p. 151 – 162. MESGRAVIS, L.; PINSKY, C. B. O Brasil que os Europeus encontraram. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2000, 111 p. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Status of the National Biodiversity Strategy Advances. In: International Meeting for Identification of Issues on Biodiversity for Cooperation and Interchanging Among South American countries, 2003 MINNIS, P (ed.). Ethnobotany: a reader. 1. ed. Norman, EUA: University of Oklahoma Press, 2000. MONTEIRO DA CRUZ, M. A. O. et al. In: ARAÚJO, F. S.; RODAL, M. J. N.; BARBOSA, M. R. V. (Eds). Análise das Variações da Biodiversidade do Bioma Caatinga, suporte e estratégias regionais de conservação. Biodiversidade 12. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2005. p. 16-33. MONTGOMERY, G. G. (Ed). The Evolution and Ecology of Armadillos, Sloths, and Vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA/ Londres, Inglaterra: Smithsonian Institution Press, 1985 MOURA, F. B. P. Entre o peixe e o dendê:etnoecologia do povo dos Marimbús (Chapada Diamantina-BA). 2002. 121 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, 2002. MOURÃO, J.S.; ARAUJO, H.F.P.; ALMEIDA, F.S. Ethnotaxonomy of mastofauna as practised by hunters of the municipality of Paulista, state of Paraíba-Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.2, n.19, p. 7, 2006. MOURÃO, J. S.; NORDI, N. Pescadores, peixes, espaço e tempo: uma abordagem Etnoecológica. Interciencia, v.31, n.5, p. 358-363, 2006. 105 MURPHY, W. J. et al. Resolution of the early placental mammal radiation using Bayesian phylogenetics. Science, v.294, p. 2348-51, 2001a. MURPHY, W. J. et al. Molecular phylogenetics and the origins of placental mammals. Nature, v. 409, p. 614-18, 2001b. NARANJO, E. J.; GUERRA, M. M.; BODMER, R. E; BOLANOS, J. E. Subsistence hunting by three ethnic groups of the Lacondon Forest, Mexico. Journal of Ethnobiology, v. 24, p. 384-395, 2004 NAZAREA, V. D. Introduction: A view from a point: Ethnoecology as situated knowledge. IN: NAZAREA, V.D. Ethnoecology: Situated knowledge/located lives. The University of Arizona Press. 1999. NICHTER, M. Anthropological approaches to the study of ethnomedicine. 1. ed. Amsterdã, Holanda: OPA, 1992. NIMER, E. Climatologia da região Nordeste do Brasil. Introdução à climatologia dinâmica. Revista Brasileira de Geografia, v. 34, p. 3-51, 1972. NOWAK, R. M..Walker’s mammals of the world. 5. ed. Baltimore, EUA: The John Hopkins Univ. Press, 1991. ______. Walker’s mammals of the world. 6. ed. Baltimore, EUA e Londres, Inglaterra: The Johns Hopkins University Press, 1999. p. 147-168. OLIVEIRA, J.A. Diversidade de mamíferos e o estabelecimento de áreas prioritárias para a conservação do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (Orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília/DF: Ministério do Meio Ambiente/Universidade Federal de Pernambuco, 2004. p. 264-282. OLIVEIRA, J. A.; GONÇALVES, P. R.; BONVICINO, C .R. Mamíferos da Caatinga. In: Leal I. R, Tabarelli M., Silva J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, 2003. p. 275-336 OLIVEIRA, J. A.; COIMBRA FILHO, A.; SOUTO, A. S.; BONVICINO, C. R.; SCHEIBLER, D. R.; WOLF, F.; ROCHA, P. L. B. Mamíferos: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (Orgs.). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. 1 ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004, v. 1, p. 284-292 106 OLIVEIRA-FILHO, A.T.; RATTER, J. A. Vegetation Physiognomies and Woody Flora of the Cerrado Biome. In: Oliveira, P. S. & Marquis, R. J. The cerrados of Brazil: ecology and natural history of a neotropical savanna. Universidade da Columbia, Nova Iorque, EUA. p.91-120. 2002 OMS – Organização Mundial da Saúde. Millenium Ecosystem Assessment. Ecosystems and Human Well-being. Geneva: Switzerland, 2005. 18 p. ORLOVE, B. S.; CHIANG, J. C. H.; CANE, M. A. Ethnoclimatology in the Andes. A crossdisciplinary study uncovers a scientific basis for the scheme Andean potato farmers traditionally use to predict the coming rains. American Scientist, v. 90, n. 5, p. 428–435, 2002 PARERA, A. Los Mamíferos de la Argentina y la Región Austral de Sudamérica. Editorial El Ateneo, Buenos Aires, 2002 PEDROSO-JÚNIOR, N. N. Etnoecologia e Conservação em Áreas Naturais Protegidas: Incorporando o Saber Local na Manutenção do Parque Nacional do Superagui. 2002. 80 f. Dissertação (Mestrado) - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, 2002. PEPPLER, R. D., HOSSLER, F. E.; STONE, S. C. Determination of reproductive maturity in the female nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus). Journal of Reproduction and Fertility, v.76. p.141– 146. 1986. PEREIRA JUNIOR, H. R. J.; JORGE, W.; BAGAGLI, E. Por que tatu? Revista Ciência Hoje, v. 34, n. 199, p. 70-73, nov. 2003. PIERONI, A.; PRICE, L. L. Eating and healing: Traditional food as medicine. 1. ed. Nova Iorque, EUA: Food Products Press, 2005. 361 p. PIERSON, D. O Homem do Vale do São Francisco. Tomo II. Rio de Janeiro: Ministério do interior, Superintendência do Vale do São Francisco, 1972. 503 p. POCOCK, R. I. The External Characters of the South American Edentates. Proceedings of the Zoological Society of London, v. 63, p. 983-1031, 1924. POMEROY, D. Science accross cultures: Building bridges between traditional Western and Alaskan native cultures. In: Hills, S. (Ed.). History and philosophy of science in science education. 1. ed. Kingston, ON: Queen‟s University, v. 2, 2002. p. 257–268. 107 POSEY, D. A. Introdução a Etnobiologia: teoria e prática. IN: Ribeiro, D. Suma Etnológica Brasileira, v. 1. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986 POSEY, D. A.; PLENDERLEITH, K. Kayapâo ethnoecology and culture. 1. ed. Londres, Inglaterra /Nova Iorque, EUA: Routledge, 2002. PRADO, D. E. As caatingas da América do Sul. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. 1. ed. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, 2003. p. 3-73 PRODÖHL P.A. et al. Genetic maternity and paternity in a local population of armadillos assessed by microsatellite DNA markers and field data. Am. Nat., v. 151, p.7-19, 1998. QUIROZ, C. Farmer Experimentation in a Venezuelan Andean Region. In WARREN, D. M.; FUJISAKA, S.; PRAIN, G. (eds). Indigenous Experimentation and Cultural Diversity. 1. ed. Londres: IT Publications, 1996 RAHMAN, A. Development of an Integrated Traditional and Scientific Knowledge Base: A Mechanism for Accessing, Benefit-Sharing and Documenting Traditional Knowledge for Sustainable Socio-Economic Development and Poverty Alleviation. In: UNCTAD Expert Meeting on Systems and National Experiences for Protecting Traditional Knowledge, Innovations and Practices, 30 out. – 1 nov., 2000. Anais., Genebra, Suíça: ONU, 2000. p. 115. REDFORD, K. H. Food habitats of armadillos (Xenarthra: Dasypodidae). In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 429-437. REDFORD, K. H.; WETZEL, R. M. Euphractus sexcinctus. Mammalian Species, v. 252: p. 1-4, 1985. REIS, A. C. Clima da caatinga. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 48, 1976. RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. 1. ed. São Paulo: Companhia das letras, 1995. 475 p. RIST, S.; DAHDOUH-GUEBAS, F. Ethnosciences––A step towards the integration of scientific and indigenous forms of knowledge in the management of natural resources for the future. Environ Dev Sustain, v.8, p. 467–493, 2006. 108 ROCHA, M. S. P.; MOURÃO, J. S.; SOUTO, W. M. S.; BARBOZA, R. R. D.; ALVES, R. R. N. Uso dos recursos pesqueiros no Estuário do Rio Mamanguape, Estado da Paraíba, Brasil. Interciencia, v.33, n.12, p. 903-909, 2008. RODAL, M. J. N.; SAMPAIO, E. V. S. B.; FIGUEIREDO, M. A. Manual sobre métodos de estudo florístico e fitossociológico – Ecossistema Caatinga. Sociedade Botânica do Brasil, 1992, 24 p. RODRIGUES, M. T. Herpetofauna da Caatinga. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, 2003. p. 181-236. RODRIGUEZ, J. L.; BEZERRA, C. P.; MAGALHÃES, C. M. G. M.; TELLES, G. M. V. V.; SILVA, J. N.; CARVALHO, M. G. R. F.; TRAVASSOS, M. S. B.; MACIEL, V. S. Atlas Escolar Paraíba. 3. ed. João Pessoa: Grafset, 2002. 112 p. ROSA, R. S.; MENEZES, N. A.; BRITSKI, H. A.; COSTA, W. J. E. M.; GROTH, F. Diversidade, padrões de distribuição e conservação dos peixes da Caatinga. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, v., 2003. p. 135-181. SAMPAIO, E. V. S. B. Overview of the Brazilian Caatinga. In: BULLOCK, S.H.; MOONEY, H.A.; MEDINA, E. (Eds.). Seasonally dry forests. 1. ed. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 1995. p. 35-58. SÁNCHES, H. C.; ROMERO, M. L. A. Importancia etnobiológica y aprovechamiento sostenido de los mamíferos silvestres de Michoacan. In: I Congresso Mexicano de Etnobiologia, 1994, Cidade do México. Livro de Resumos, 1994. SANTILLI, J. Socioambientalismo e Novos Direitos. A proteção jurídica da diversidade biológica e cultural. 1. ed. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2005. SANTOS, I. B. Bionomia, distribuição geográfica e situação atual do tatubola (Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758)) no Nordeste do Brasil. 1993. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1993. SANTOS-FITA, D.; COSTA-NETO, E. M. As interações entre os seres humanos e os animais: a contribuição da etnozoologia. Biotemas, v. 20, n. 4, p. 99-110, 2007. SARICH, V. M. Xenarthran Systematics: Albumin Immunological Evidence. In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The evolution and ecology of armadillos, sloths and 109 vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 77-81. SARMIENTO, G. The dry plant formations of South America and their floristic connections. Journal of Biogeography, v. 2, p. 233-251, 1975. SCHAEFER, J. M.; HOSTETLER, M. E. The nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus). UF/IFAS document WEC, v. 76. 2003. SCHALLER, G. B. Mammals and their biomass on a Brazilian Ranch. Arquivos de Zoologia, v. 31, n. 1, p. 1-36, 1983. SETZ, E. Z. F. Animals in the Nammbiquara diet: methods of collection and processing. Journal of Ethnobiology, v.11, n.1, p. 1-22, 1991. SILVA, M. A. V. Curso de meteorologia básica. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, (mimeog), 1980. SILVA, M. L. V.; ALVES, Â .G. C.; Almeida, A. V. A zooterapia no Recife (Pernambuco): uma articulação entre as práticas e a história. Biotemas, v.17, n.1, p. 95-116, 2004. SILVA, J. M. C.; BATES, J. M. Biogeographic patterns and conservation in South American cerrado: a tropical savanna hotspot. BioScience, v. 52, p. 225-233, 2002. SILVA, L. O.; COSTA. D. A.; FILHO, K. E. S. & FERREIRA, H. D. Levantamento florístico e fitossociológico em duas áreas de cerrado sensu stricto no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás. Acta botanica brasílica, v. 16, n.1, p.43-53, 2002. SILVA, J. M. C.; SOUZA, M. A.; BIEBER, A. G. D.; CARLOS, C. J. Aves da Caatinga: Status, uso do habitat e sensitividade. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, 2003. p. 237-274 SILVA JÚNIOR, J. S.; NUNES, A. P. The Disjunct Geographical Distribution of the Yellow Armadillo, Euphractus sexcinctus (Xenarthra, Dasypodidae). Edentata, n. 4, p. 16-18, 2001. SILVANO, R. A. M.; BEGOSSI, A. Local knowledge on a cosmopolitan fish Ethnoecology of Pomatomus saltatrix (Pomatomidae) in Brazil and Australia. Fisheries Research, v. 71, n., p. 43-59, 2005. 110 SIMPSON, G. G. The principles of classification and a classification of mammals. American Museum of Natural History, Bulletin, n. 85, p. 1-350, 1945. SMITH, L. L.; DOUGHTY, R. W. The Amazing Armadillo: Geography of a Folk Critter. Austin, TX, EUA: University of Texas Press, 1984. SLIKKERVEER, J. Ethnoscience, ›TEK‹ and its Application to Conservation. In: POSEY, D. A. (Ed.). Cultural and Spiritual Values of Biodiversity. Londres: Intermediate Technology Publications UNEP, 2000. p. 169–177. SOUZA, M. R. Etnoconhecimento Caiçara e Uso de Recursos Pesqueiros por Pescadores Artesanais e Esportivos no Vale do Ribeira.2004. 102 f. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004. STORRS, E. E. Individuality in monozygotic quadruplets of the armadillo Dasypus novemcinctus. 1967. Tese (Doutorado), University of Texas, Austin, TX, EUA, 1967. ______. Workshop on experimental leprosy. In: Proceedings of International Leprosy Congress, XI, Cidade do Mexico, Novembro13-18. p. 359-364. 1978. SURGIK, A. C. S. . Eficácia da Lei de Fauna (Lei 5197/67) em uma Região da Amazônia. In: XV Congresso Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, 2007, Manaus. Anais do XV Congresso Nacional do CONPEDI. Florianópolis : Fundação Boiteux, 2007. TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. Áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga. In: LEAL I. R., TABARELLI M., SILVA J. M. C. (Ed.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, v., 2003. p. 777-796 TALMAGE, R. V.; BUCHANAN, G. D. The armadillo (Dasypus novemcinctus)— a review of its natural history, ecology, anatomy and reproductive physiology: The Rice Institute Pamphlet XLI. Houston, TX, EUA: The Rice Institute. 1954 TAULMAN, J. F.; ROBBINS, L. W. La expansión reciente de la gama y límites de distribución del armadillo nueve-rayado (novemcinctus de Dasypus) en los Estados Unidos. Diar. Biogeog. v., 23, p. 635–648, 1996. THÉ, A.P.G. Conhecimento Ecológico, Regras de Uso e Manejo Local dos Recursos Naturais na Pesca do Alto-Médio São Francisco, MG. 2003. 197 f. Tese (Doutorado) Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, 2003. 111 THE NATURE CONSERVANCY DO BRASIL & ASSOCIAÇÃO CAATINGA. As unidades de conservação do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C. et al. (Coord.). Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004. p. 295-300. THOMPSON, J.; SCOONES, I. Challenging the populist perspective: rural peoples knowledge, agricultural research, and extension practice. Agriculture and Human, v. 11, n. 2-3, p. 58–76, 1994. TOLEDO, V. M. What is ethnoecology? Origins, scope and implications of a rising discipline. Etnoecológica, v. 1, n. 1, p. 5-21, 1992. TROLLE, M. Mammal survey in the southeastern Pantanal, Brazil. Biodiversity and Conservation, v. 12, p. 823-836, 2003. TURNER, N. J.; DAVIDSON-HUNT, I. J.; O‟FLAHERTY, M. Living on the Edge: Ecological and Cultural Edges as Sources of Diversity for Social–Ecological Resilience. Human Ecology, v.31, n.3, p. 439-459, 2003. VALLE, Y.B.M. Vaqueiros do Sítio do Meio (Lagoa Grande/PE) & Mamíferos Nativos das Caatingas Pernambucanas: Percepções e Interações 2007. 225 f. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Geografia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brazil, 2007. VILAÇA, M. V.; ALBUQUERQUE, R. C. Coronel, Coronéis: apogeu e declínio do coronelismo no Nordeste. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, 208 p. VIZCAÍNO, S. F.; GIALLOMBARDO, A. Armadillos del Noroeste Argentino (Provincias de Jujuy y Salta). Edentata, v. 4, p. 5-9, 2001. WAIZBORT, R. Dos Genes aos Memes: A Emergência do Replicador Cultural. Episteme, n. 16, p. 23-44, 2003. WENZEL, G.W. Traditional Ecological Knowledge and Inuit: Reflections on TEK Research and Ethics. Arctic, v. 52, n. 2, p. 113-124, 1999. WETZEL, R. M. Revision of the naked-tailed armadillos, genus Cabassous McMurtrie. Annals of the Carnegie Museum, v. 49, p. 323-357, 1980. 112 ______. The identification and distribution of recent Xenarthra (=Edentata). In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985a. p. 5-21. WETZEL, R. M. Taxonomy and distribution of armadillos, Dasypodidae. In: MONTGOMERY, G. G. (Ed). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985b. p. 23-46. WILLING, M. R.; MARES, M. A. Mammals from the Caatinga: an update list and summary of recent research. Revista Brasileira de Biologia, v. 49, p. 361-367, 1989. WILSON, D. E.; REEDER, D. M., Mammal Species of the World. 3. ed. Baltimore, EUA: Johns Hopkins University Press, 2005. WINKLERPRINS, A. M. G. A.; SANDOR, J. A (Eds.). Ethnopedology. Geoderma, número especial 111, 2003. WINKLERPRINS, A. M. G. A.; BARRERA-BASSOLS, N. Latin American ethnopedology: A vision of its past, present, and future. Agriculture and Human Values, v. 21, p. 139–156, 2004. ZANELLA, F. C. V.; MARTINS, C. F. Abelhas da Caatinga: Biogeografia, Ecologia e Conservção. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife, Brasil: Ed. Universitária da UFPE, v., 2003. p. 75-134. 113 CAPÍTULO II A caça e usos tradicionais de tatus (Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus) no semi-árido do Estado da Paraíba 114 2.1 Introdução As relações entre humanos e os outros animais remonta aos primordios da história de nossa espécie. Mesmo antes da domesticação desses, a base de subsistência da espécie humana era a caça e a coleta (BLAIN, s.d.; GUPTA, 2004). Como Holland (1994) destacou, sociedades pré-históricas usaram animais e seus produtos para diversas finalidades, especialmente com propósitos de alimento. Animais silvestres e partes de seus corpos ou subprodutos são usados em uma ampla variedade de modos por sociedades contemporâneas: como recursos alimentares, como pets, em atividades culturais, em propósitos mágicoreligiosos, como roupas e ferramentas (ALVES & ROSA, 2008; BENNETT & ROBINSON, 1999; NARANJO et al., 2004; ROCHA et al., 2008). Os vários usos de recursos faunísticos tem sempre estimulado a caça, a qual persiste, em menor ou maior escala, nos dias atuais (AYRES & AYRES, 1979; CALOURO, 1995; SMITH, 1976) e que pode representar um impacto negativo sobre as populações silvestres (ALVARD, 1994; ALVARD et al., 1997; BODMER, 1994; PERES 1990). Em ambientes Neotropicais, povos rurais tem historicamente usado a vida selvagem primariamente para propósitos de subsistência, religião e comércio (BARRERA-BASSOLS & TOLEDO, 2005; MONTIEL et al., 1999; QUIJANO-HERNÁNDEZ & CALMÉ, 2002; RAMÍREZ, 1992; SCHENCK et al., 2006). A persistência de atividades ilegais de caça está amplamente associada a questões culturais e pelo fato de que animais têm importância nutricional para famílias de baixa renda as quais não obtêm recursos protéicos suficientes da criação (ALVES et al., 2009) ou compra de animais. No Nordeste do Brasil aspectos socioeconômicos e culturais específicos atuam como elemento catalisador no estímulo a atividades cinegéticas e estas, por sua vez, desempenham um importante papel nas formas de obtenção de alimentos e remédios, além de constituir meios de obtenção ou complementação de renda (ver ALVES, 2009; ALVES et al., 2009; COSTA-NETO, 2000). Na caatinga, grande parte da população rural é extremamente pobre e os longos períodos de seca diminuem ainda mais a produtividade da região, aumentando o sofrimento da população (SAMPAIO & BATISTA, 2004), desse modo a caça de animais juntamente com práticas extrativistas e agropecuárias insustentáveis constituem as principais ameaças aquele bioma (LEAL et al., 2005). No entanto, questões relacionadas à prática de atividades cinegéticas e sua importância entre as populações tradicionais brasileiras têm sido desconsideradas no manejo das Unidades 115 de Conservação e na elaboração de políticas de conservação do país (ANDRIGUETTOFILHO et al., 1998). No caso específico do bioma caatinga isto é particularmente importante uma vez que ela tem o menor número e a menor extensão protegida dentre todos os biomas brasileiros (LEAL et al., 2005) e poucos são os programas de manejo e conservação desenvolvidos nessa área do Brasil que englobem de maneira participativa comunidades locais. Compartilhando com a visão de Holmern et al. (2004), a conservação exige uma perspectiva que se estende para os limites de áreas protegidas e necessita envolver programas que afetam a subsistência de comunidades locais. Dessa maneira, conforme apontado por Trinca e Ferrari (2006), conhecer quais espécies são escolhidas e quais as finalidades de uso estão entre os aspectos fundamentais para compreender a forma de uso e grau de ameaça da caça sobre cada espécie silvestre. Neste contexto, os tatus, em especial o peba (E. sexcinctus) e verdadeiro (D. novemcinctus), são espécies-chave no universo cultural nordestino. Atividades cinegéticas com propósito de usos dessas espécies para fins alimentares (ALVES et al., 2009; VALLE, 2007) e medicinais (ALVES & ROSA, 2006; ALVES & ROSA 2007a,b; ALVES, 2009; BARBOZA et al., 2007) já foram registrados no Nordeste do Brasil. Estes estudos podem ser considerados indicativos de como essas espécies desempenham uma relevante importância para as populações locais. Especificamente no semi-árido da Paraíba não há praticamente nenhum estudo das interações estabelecidas entre as comunidades locais com essas espécies de tal forma que se torna uma questão de extrema importância determinar quais são as principais formas de pressões antrópicas e impactos sobre elas. Essa realidade também se estende ao continente americano onde poucos estudos foram realizados a respeito da dinâmica atual e importância das práticas de uso da vida silvestre (como parte das estratégias de subsistência) que diferem em magnitude e são muito diversas em formas e propósitos (LEON & MONTIEL, 2008). Isto ressalta a importância de abordagens ecológicas, sociais e locais, para avaliação do uso da fauna silvestre em contextos regionais específicos, sobretudo onde o desenvolvimento e a implementação de programas de manejo e conservação da vida selvagem são necessários (a exemplo do bioma Caatinga). Mediante isto, nosso estudo teve como objetivo principal identificar quais as técnicas e principais finalidades da caça do tatu verdadeiro (D. novemcinctus) e do tatu-peba (E. sexcinctus), espécies popularmente caçadas no semi-árido nordestino e paraibano, porém pouco estudadas do ponto de vista etnoecológico e de percepções de moradores locais, em 116 relação ao futuro das populações dessas espécies. Nossos dados poderão ser utilizados na elaboração de programas de manejo sustentável de D. novemcinctus e E. sexcinctus, visando a manutenção dos estoques populacionais desses tatus. Nossa análise é baseada em uma abordagem metodológica mista envolvendo questionários aplicados com caçadores de tatus. Usando uma análise qualitativa e quantitativa registramos a caça tradicional de tatus-peba e verdadeiro no semi-árido paraibano, assim como os tipos principais de finalidades de predação, objetivando contribuir para inserção desses dados em futuras políticas públicas que visem à conservação dessas espécies. 117 2.2 Objetivos 2.2.1 Geral Analisar as atividades cinegéticas e finalidades da caça do tatu verdadeiro (D. novemcinctus) e do tatu peba (E. sexcinctus) em cinco municípios do semi-árido paraibano; 2.2.2 Específicos Descrever as técnicas e estratégias de caça usadas por caçadores de tatus; Identificar os diversos usos de Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus empregados pelos moradores dos municípios estudados; Registrar eventuais tabus relativos aos usos das espécies citadas; Verificar a percepção dos moradores locais em relação ao status das populações de tatu peba e tatu verdadeiro; 118 2.3 Material e Métodos Os dados referentes aos aspectos da caça aos tatus-peba e verdadeiro foram coletados em dois momentos: O primeiro deles foi de janeiro a março de 2008, onde os dados foram coletados no município de Sousa. O segundo ocorreu de outubro de 2008 a abril de 2009, no qual os foram coletados nos demais municípios. Em ambos os casos a freqüência de visita à área de estudo foi quinzenal com permanência de quatro dias, normalmente das quintas-feiras aos domingos. 2.3.1 Procedimentos das coletas dos dados Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com residentes locais, incluindo aqueles identificados como especialistas. Nesta aplicou-se um questionário semi-estruturado (ver Apêndice A) que englobava aspectos de caça e comércio dos tatus-peba e verdadeiro, além da finalidades de uso dessas espécies. Turnês guiadas foram conduzidas com especialistas nativos em trilhas escolhidas por eles mesmos, quando foi possível fazer registros fotográficos e identificar in loco as espécies de tatus estudadas, além de podermos constatar parte das interações estabelecidas destas pessoas com esses animais. O universo de entrevistados foi determinado principalmente por meio da técnica de bola de neve (snow ball – em inglês) (BERNARD, 1988), de tal maneira que a partir da seqüência de indicação(ões) feita(s) por moradores da área estudada, foi possível reconhecer os indivíduos culturalmente competentes em relação as atividades de caça e/ou finalidades de usos de D. novemcinctus e E. sexcinctus. As entrevistas individuais ou coletivas ocorreram tanto na zona urbana quanto na zona rural dos municípios estudados. Muito embora os tempos de cada sessão tenham sido variados, quase sempre, as entrevistas tiveram duração superior a 40 minutos. A amostra total foi de 214 indivíduos, 177 homens e 37 mulheres, assim distribuídos por municípios onde residem: 109 de Campina Grande (76 homens e 33 mulheres), 18 de Monteiro (18 todos homens), 23 de São Mamede (23 todos homens), 32 são de Sousa (28 homens e 04 mulheres) e 32 de Sumé (32 todos homens). A média de idade dos entrevistados foi de 40,1 anos. 119 2.3.2 Procedimentos de análises dos dados Utilizou-se um conjunto de técnicas qualitativas e quantitativas para a análise dos dados. Nós utilizamos o modelo de união das diversas competências individuais (HAYS, 1976), onde toda informação pertinente ao assunto pesquisado é considerada para a análise e interpretação dos dados. Em virtude do n de entrevistados ter sido relativamente grande (ntotal>100), em função do tempo, optou-se por realizar a confirmação das informações de maneira sincrônica, procedimento que, segundo Maranhão (1975), consiste em perguntas idênticas feitas a indivíduos diferentes em tempos muito próximos. A fim de determinar quais as principais finalidades de usos locais de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano, a parte quantitativa foi analisada por meio do cálculo do Nível de Fidelidade (FL) de Friedman et al, (1986), adaptado por Mahawar e Jaroli (2007), que demonstra a porcentagem de entrevistados que afirmaram usar um determinado animal para um propósito específico, e foi calculado como: 𝑭𝑳 % = (𝑁𝑝 𝑥 100) 𝑁 Onde: Np é o número de entrevistados que afirmaram fazer uso de D. novemcinctus ou E. sexcinctus para uma finalidade particular e N, neste trabalho, é o número de entrevistados que usaram das espécies para um propósito qualquer. 2.3.3 Identificação das espécies Semelhante ao procedimento realizado por Alves e Rosa (2006), os animais serão identificados das seguintes formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2) fotografias ou 3) através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas familiarizados com a fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 120 2.4 Resultados e Discussão A vida silvestre é um importante recurso para muitos povos na América Latina, os quais se beneficiam destes para diversos propósitos, embora a alimentação e obtenção de renda sejam os mais comuns (FANG et al., 1999; FRAGOSO et al. 2004; OJASTI, 1996; PRESCOTT-ALLEN & PRESCOTT-ALLEN, 1982; ROBINSON & BENNET 2000a; SILVIUS et al. 2004). Muitos estudos mostraram que a caça de subsistência tem um forte impacto sobre as populações selvagens, geralmente acarretando extirpações locais (CULLEN et al., 2004; BENNET & ROBINSON, 2000; ROBINSON & BENNET, 2000b). Além do mais, quando há uma relação conflituosa e estreita entre os povos locais e a vida silvestre, o desafio está em encontrar um equilíbrio entre as necessidades desses e a conservação da biodiversidade (ALTRICHTER, 2006). O papel da biodiversidade na vida desses povos locais, contudo, é amplamente variável, refletindo diferenças sócio-econômicas, ambientais e culturais. No Brasil, de um modo geral, a caça de tatus para diversos fins tais como alimento, animal de estimação ou criação e uso de partes especificas como suvenires e adornos é uma prática comum (ver MEDRI, 2008; MEDRI et al., 2006). Nas áreas de caatinga, a caça é um conhecimento passado de forma transgeracional e é parte da cultura dos povos locais (ALVES et al., 2009) e, por meio dela, estes obtêm alimentos protéicos, remédios zooterapêuticos e para outros fins. Nessa região é popularmente difundida a captura de Euphractus sexcinctus e Dasypus novemcinctus tanto como fins de subsistência, comércio ou lazer. A captura desses animais seja entre jovens e adultos é realizada por meio de diferentes técnicas que são adaptadas a diferentes situações. Nesse âmbito, nosso primeiro objetivo é descrevê-las a fim de obter uma maior compreensão dos impactos das técnicas usadas pelos caçadores nesta atividade. 2.4.1 Técnicas e estratégias de caça aplicada aos tatus usados por caçadores do semiárido paraibano 2.4.1.1 Armas de fogo De acordo com Alves et al. (2009), as armas de fogo constituem a ferramenta básica dos caçadores do semi-árido paraibano, mesmo quando elas não são usadas diretamente para 121 abater a presa. Em nosso estudo 25,23 % de um total de 214 entrevistados afirmaram fazer uso freqüente desse recurso durante as caçadas de tatus-peba e verdadeiro. As armas de fogo usadas pelos caçadores podem ser artesanais ou industriais, desse modo as armas do tipo “sovaqueira” (Figura 5A e B), também conhecidas como “soqueiras” ou “soca-soca”, são aquelas frequentemente apoiadas abaixo das axilas e caracterizadas por serem fabricadas artesanalmente com partes de outras armas e cujo corpo é predominante de madeira. Para este tipo de instrumento a munição utilizada é composta exclusivamente de pólvora com pequeninas esferas de chumbo, sendo necessário o auxilio de uma vareta de ferro para prensar a pólvora no interior do cano. Já as “garruncheiras” (Figura 6) são armas do tipo espingardas, podendo ser conhecidas localmente como “cartucheiras” ou “carabinas”; são industrializadas podend apresentar cano longo ou curto de acordo com a preferência de cada caçador. Este tipo de instrumento é preparado para receber munição de cartuchos (múltiplos projéteis) ou balas (projéteis individuais). A B Figura 5. (A) Seu Olegário, antigo caçador de tatus da zona rural do município de Campina Grande empunhando uma arma do tipo “sovaqueira”. (B) Detalhe da sovaqueira destacando seu caráter artesanal. Fotos: do autor. - - 122 Figura 6. Seu Vander (azul) e companheiro de caçadas José (amarelo) empunhando uma arma tipo garruncheira empregadas para abater tatus-peba ou verdadeiro. Local da Foto: Sumé, PB. Constatou-se que todos os entrevistados que desempenhavam atividades de caça tinham preferência por estas armas (de maior porte) àquelas de uso pessoal e de pequeno porte, conhecidas como pistolas ou revólveres. Possíveis explicações para este fato deve-se a alguns motivos, tais como: manutenção barata, munição de fácil acesso e de baixo custo, além do hábito tradicional do uso e porte desses instrumentos. Ressalta-se que, mesmo as espingardas confeccionadas de modo artesanal, estão sob suspensão de uso e porte, sendo possíveis de aplicação penal (Lei Federal 9.437/97). Outros estudos já constataram que o uso de armas de fogo é uma prática quase universal (ALMEIDA et al., 2002), além de ser uma técnica que tem favorecido muito na facilidade de captura da fauna local (MENA et al., 2000; STEARMAN, 2000). No caso especifico dos caçadores entrevistados, esta técnica indica ser uma das formas mais impactantes empregada, uma vez que, em um determinado período de tempo, ela possibilita o abate de mais espécimes caçados quando comparados a outras estratégias de caça. Tal fato é confirmado por outros autores, como Bennett e Robinson (2000), os quais afirmam que a mudança de armas tradicionais para o uso de armas de fogo, como método primário de caça pela tribo Huaorani do Equador, acarretou num aumento de 15% em número de animais e biomassa capturados. Pôde-se perceber que tal estratégia não é uma técnica exclusiva aos tatus, visto que os caçadores das áreas estudadas empregam também essa modalidade no abate de outros animais, a exemplo de répteis como a cascavel Crotalus durissus e o tejuaçu Tupinambis merianae, mas principalmente para mamíferos de pequeno ou médio porte, como o mocó 123 Kerodon rupestris; a ticaca Conepatus semistriatus; o tamanduá-mirim Tamandua tetradactyla; o gato maracajá Leopardus tigrinus, o gato vermelho Puma yagouaroundi, a raposa Cerdocyon thous e do preá Cavia aperea. 2.4.1.2 Caça com cães Muito embora ninguém saiba exatamente quando os cães foram domesticados, arqueólogos constataram que várias culturas ao redor do globo começaram a tratar os cães como membros de suas tribos por volta de 14.000 anos atrás. Esta aliança com os cães foi tão profunda que em muitos cemitérios antigos, esqueletos desses animais foram encontrados enterrados em mesmas sepulturas que seres humanos (CAMPBELL, 1997; GUPTA, 2004; PONTING, 1995). Inúmeros informativos resumem a domesticação do cão no Oriente Médio e dão detalhes desse processo de desenvolvimento no relacionamento estabelecido entre seres humanos neolíticos e o Canis sp. selvagem daquela região. A maioria destes cenários sugere o fato de que uma ou mais subespécies de lobos do sudoeste asiático (C. lupus pallipes, C. lupus arabs) seriam os canídeos que provavelmente se envolveram neste processo. Por conseguinte, este contato inicial foi seguido pela rápida dispersão destes seres humanos primitivos e seus "cães-lobos" para fora do Oriente Médio, se movendo para o sul em direção a África, e para o leste, atravessando a Índia em direção ao sudoeste asiático (BRISBIN & RISCH, 1997). No entanto, ainda existe uma notável carência de informações sobre as características destes cães-lobos, precocemente domesticados, e sobre seu relacionamento durante o desenvolvimento do vínculo homem-cão. (Ibdem). As raças caninas, como atualmente são conhecidas, só vieram a se estabelecer de maneira organizada há aproximadamente 200 anos. Mas antes disso o homem já selecionava os cães para funções específicas como pastoreio, companhia, guarda de territórios e a caça em sua associação (LANTZMAN, 2000). Neste estudo, dentre as técnicas de caça empregada para captura e abate dos tatus observou-se durante as visitas nas localidades estudadas que os cães são os aliados mais importantes aos caçadores nessa atividade, e em consórcio com as armas de fogo, as chances de êxito durante as caçadas são bem maiores quando comparadas àquelas sem o auxilio de um desses meios. No que diz respeito a algumas excepcionais modalidades de caça profissional permitidas por lei no Brasil (Lei N° 5197/67), o auxilio de cães de raça é mandatório e 124 essencial. Nas áreas pesquisadas constatou-se que a grande maioria 85,98% (n=184) dos que praticam ou afirmaram já ter praticado atividades de caça utilizaram, preferencialmente, cães sem raça-definida ou com alguma consangüinidade com possíveis raças típicas de caça (brasileiras ou estrangeiras) (Figura 7). Esses cães, tidos como sem raça-definida, são habitualmente conhecidos pelos caçadores como: vira-latas; crioulos; pé-duros ou bragados (Figura 7). Para tal, mesmo trazendo em seus nomes populares significados de cunho pejorativo como: ordinário, sem valor, de cor escura ou desbotada, nota-se um grande apreço, por parte daqueles que caçam, a estes cães. A primazia por esses animais seguem contextos simples, tais quais: a rusticidade e obstinação para adaptar-se a diversas condições de sobrevivência; a não necessidade de cuidados veterinários constantes, o baixo custo de mantimento; a facilidade de acondicionamento e adestramento para atividades de caça, e o alto valor comercial que podem atingir. O treinamento desses cães por parte dos caçadores de tatus segue técnicas de condicionamento bem simples, sendo iniciado a partir do terceiro mês de vida, onde o filhote participa de brincadeiras estimulativas com animais mortos ou vivos, colocados em sacolas ou amarrados em troncos de árvores, em alturas alternadas com o decorrer do treinamento. Aos 5 meses, estes já participam de caçadas junto a outros cães já condicionados. Segundo os caçadores, o contato com esses cães experientes é o fator mais importante para o cão iniciante, e será através desses momentos que revelará ao caçador se o cão jovem terá aptidão natural ou não para desempenhar a caça. Nem todos os cães tidos como vira-latas trazem aptidão natural para a caça dos tatus, segundo os informantes. Os mais valorizados são aqueles que descendem de animais cuja qualidade e tenacidade são conhecidas e reconhecidas na comunidade. De acordo com os entrevistados essa é a justificativa para o fato desses animais poderem atingir altíssimos valores de venda. Segundo alguns informantes, valores já pagos por caçadores a bons cães de caça variavam de R$500,00 a 5.000,00. Numa das visitas a cidade de Sumé (microrregião do Cariri paraibano), pôde-se acompanhar uma caçada noturna realizada por dois jovens caçadores e com cães emprestados de outros caçadores da região. Percebeu-se que essa prática, além de comum, mostra coletividade ao grupo das pessoas que praticam esse tipo de atividade. As caçadas de tatus com cães, normalmente conduzidas à noite e com a presença de mais de um homem, foi previamente documentada por Mourão et al. (2006) e Alves et al. (2009). Trinca e Ferrari (2006) registraram que este tipo de caça é o segundo mais usado por moradores de um assentamento em Novo Horizonte, Amazônia mato-grossense. 125 Durante as pesquisas nas áreas estudadas, notou-se que os caçadores não têm preferência por cães machos ou fêmeas nas caçadas, porém, durante as turnês guiadas (survey – em inglês), percebeu-se que os cães os quais nos acompanhavam estavam em casal. Tal justificativa foi pelo fato de alegaram a maior atenção das fêmeas e a agressividade dos machos para as presas. O intuito da caçada era exclusiva para tatus (E. sexciinctus ou D. novemcinctus) e pôde-se observar o vigor físico e a obstinação dos cães quando em atividade de atenção, perseguição e estresse. - B A D C Figura 7. Cães de caça usados na captura de tatus no semi-árido da Paraíba. (6A) Um exemplo de cão de raça (Neste caso, Pointer alemão); (6B, C e D) Cães sem raça definida (“vira-latas”). (6C e D) Cães sendo estimulados por caçador a morderem um exemplar de tatu-peba. 126 2.4.1.3 Tatuzeira, Pebeira ou Cachorro-de-Arame Outra modalidade de captura de tatus é o uso de armadilhas preparadas em locais estratégicos de ocorrência dessas espécies. Verificou-se que o uso dessas armadilhas como técnicas de caça não são as preferenciais aos caçadores uma vez que é preciso mais tempo e paciência quando comparado ao emprego de armas de fogo e cães. Tal preferência não é restrita apenas ao semi-árido nordestino, uma vez que Johnson et al. (2003) constataram que armas de fogo são as opções mais comuns e oportunas para a captura de animais silvestres em uma área tropical protegida no Laos na Indochina. A origem e a forma de confecção desses dispositivos possivelmente remontam a longas datas e estariam associadas às culturas e tradições locais de cada região. Essas armadilhas são conhecidas popularmente como tatuzeiras e/ou pebeiras, podendo também ser chamadas de “cachorro-de-arame”, e são confeccionadas de forma artesanal de madeira ou ferro (Figura 8A, B e 9A, B). Linguisticamente, apesar da palavra pebeira sugerir seu uso especifico para os tatus-peba (E. sexcinctus) e o termo tatuzeira aparentar ser especifica para os tatus verdadeiros (D. novemcinctus), tais dispositivos podem ser usados indistintamente para essas espécies. Segundo os caçadores, o mecanismo de funcionamento desses dispositivos é bastante simples e funcional, sendo o local de disposição dessas armadilhas dentro dos próprios buracos dos tatus. Tanto na pebeira como na tatuzeira existe uma porta de entrada numa das extremidades e esta se fecha tão logo o animal adentre a armadilha, desse modo a sua saída fica impossibilitada. Esta técnica requer dos caçadores retornos mais constantes aos locais onde as mesmas foram armadas uma vez que dependem dos oportunismos de captura desses animais em seus abrigos. Percebe-se que, em relação aos caçadores que não possuem condições de desempenhar atividades de caça com cães ou que possuem receio de apreensão civil ou federal por porte indevido de armas, a utilização dessas armadilhas torna-se uma opção atrativa e de baixo custo. Porém dependendo do tamanho da tatuzeira, seu impacto pode ser agravado, uma vez que pode ocasionar a captura apenas de indivíduos jovens. De acordo com Alves et al. (2009) uma outra modalidade de armadilha artesanal foi apontada por caçadores do semi-árido nordestino como útil na captura de E. sexcinctus, conhecida por “Arataca”. Esse tipo de dispositivo de ferro consiste em duas "queixas" (mandíbulas) impelidas por uma mola extremamente forte e sob grande tensão. Quando armada, as queixas ficam abertas e uma isca é colocada no centro das mesmas de modo a 127 atrair a presa. Quando o animal pisa no gatilho perto da base da arataca o mecanismo funciona e prende, geralmente, as patas do animal entre as duas queixas. Figura 8. Tatuzeira de madeira. (A) Vista lateral e superior, (B) Tatuzeira armada. Local: São Mamede, Paraíba. Fotos: do autor A B A B Figura 9. Tatuzeira de ferro. (A) Visão Geral, (B) Comparação de uma tatuzeira, encontrada em posse de entrevistado no município de Campina Grande, com um tatu-peba adulto. Fotos: do autor. 2.4.1.4 Balde com água A mais simples das técnicas relatadas diz respeito ao uso de um recipiente (bacia ou balde) repleto de água a qual é entornado sobre os buracos de tatus. Essa modalidade de uso pode ser empregada para ambas as espécies estudadas facilitando suas capturas uma vez que a água torna o meio onde estão abrigados impróprio para sua permanência, pois provocaria afogamento, logo são forçados a subir a superfície onde são rapidamente capturados. A técnica de balde pode ser utilizada em associação com as tatuzeiras ou pebeiras garantindo 128 maiores chances de captura desses animais vivos, porém é raramente utilizada uma vez que a água utilizada normalmente deriva de localidades com estoques ou córregos e está associada a proximidade desses locais aos buracos dos tatus ou em épocas do ano em que o período de chuvas é mais intenso como no inverno (meses de Maio a Agosto) onde o acumulo de água nessas áreas é maior. 2.4.1.5 Ferramentas utilizadas na caça De acordo com os entrevistados, além das principais técnicas da caça aos tatus, o uso de outras instrumentárias é essencial aos caçadores de modo a garantir o sucesso da captura e/ou abate dos animais ou mesmo para segurança dos próprios caçadores. Itens como: Enxadeco (meia picareta); cavador (semelhante ao enxadeco, mas com a base reta em relação ao corpo da ferramenta), bisaco (sacola); lanterna ou lampião; perneiras (proteção para as pernas feitas de couro); gancho (ferramenta de ferro usada para “içar” o tatu da toca ou de locais onde o mesmo procura refúgio durante uma perseguição de caçada), facas e fósforos estão sempre presentes aos caçadores (Figuras 10 e 11). “Nois num pode ir pra mata sem a lanterna, o enxadeco, os cachorro, e o bisaco. Se for pra uma mata fechada ainda levo as pernera mode picada de cobra”. (Sr. Francisco José, 44 anos, residente na zona rural de Sousa) “(...) tem enxadeco, lampião ou uma boa lanterna, o bisaco pra levá os fosfro [fósforos] e outros troço menor. Tudo isso tem que levá”. (Sr. Paulo Amaral, 29 anos, residente do Município de Campina Grande) Dentre os entrevistados que ainda praticam a caça aos tatus (21,02%, n=45) ou que já caçaram (64,95%, n=139), afirmaram ter preferência por desempenhar essa atividade em associação com um ou dois companheiros. Esse hábito, além de caracterizar uma forma de coletividade e cooperação entre os praticantes, assegura uma divisão de tarefas durante as caçadas. Tomando como exemplo a caça noturna, a qual é a mais comum, normalmente um dos caçadores que segue a frente da trilha conduz a lanterna e os cães e os demais, os instrumentos de caça. Não raro, crianças e adolescentes podem estar presentes durante as caçadas, e na maioria das vezes estas desempenham funções de “carregadores” de pequenos objetos ou ferramentas. É comum parentes como irmãos, primos ou sobrinhos seguirem os caçadores mais velhos durante as caçadas, evidenciando que a atividade de caça surge precocemente na vida das crianças as quais estão sempre ávidas e imperativas quando são convidadas a acompanhar os caçadores. 129 - (4) (2) (1) (1) (5) (3) Figura 10. Instrumentos usados por caçadores de tatus-peba e verdadeiro. Da esquerda para direita: (1) Bisaco, (2) Lanterna artesanal (lampião), (3) Espingarda do tipo sovaqueira, (4) Faca, (5) Enxadeco. Local da foto: município de Sumé, cariri ocidental do Estado da Paraíba. Foto: do autor. (2) (1) (3) (5) (4) 130 Figura 11. Instrumentos usados por um caçador de tatus no município de São Mamede, Paraíba. Da esquerda para direita: (1) Lâmina do Enxadeco, (2) Lanterna elétrica, (3) Cavador, (4) Gancho, (5) Bisaco. Detalhe para o tatu verdadeiro Dasypus novemcinctus capturado pelo caçador, Seu “A” na noite do dia 18 de abril de 2009. Data da foto: 19 de abril de 2009. Foto: Wedson de Medeiros S. Souto Tal fato já é disseminado no imaginário popular dessas crianças que encaram a atividade como sinônimo de aventura ou diversão. “as veiz vai primo ou subrinho de 10 – 11 anos....eles vão carregando alguma coisa, as veiz faiz o fogo e esquenta o café lá na mata”. (Sr. Galdino Ferreira, 36 anos, morador da zona rural de Souza) “tem caçador que gosta de ir de escoteiro [solitário] e tem deles que vão em grupo de dois a três. As veiz um ou dois mininote [meninos] acumpanha só pra ele [caçador] não ir só” (Sr. Sebastião, morador da zona rural de Monteiro). Os períodos e horários de caça não são pré-estabelecidos por regras ou princípios. Cada caçador ou praticante decide qual melhor momento pretende caçar, apesar de que os dias e horários estão, na maioria das vezes, associados a percepção e conhecimentos dos caçadores aos hábitos de cada animal. No caso especifico da caça aos tatus estudados (E. sexcinctus e D. novemcinctus), o horário preferencial praticado na atividade de caça inicia-se a noite e transcorre até o inicio da manhã seguinte, muito embora horários diurnos ou vespertinos possam ocorrer livremente. Nas caças noturnas de tatus (peba e verdadeiro), observamos que as fases lunares podem influenciar as atividades de caça, sendo associadas a benefícios ou dificuldades. Para 31,77% (n=68) as melhores caçadas ocorrem durante as fases de lua Cheia, uma vez que a quantidade de luz resplandecente da lua possibilita aos caçadores e os cães (quando acompanhados) maiores dinamismos, melhor alcance de visão bem como maiores percursos de áreas em locais de vegetação alta e fechada, a exemplo de serras. Para 45,32% (n=97) dos informantes, as caçadas durante luas Minguante e Nova são ideais, pois favorece uma maior liberdade de saída dos tatus de seus refugios. Segundo os informantes, o mínimo de luminosidade da lua garante aos animis forrageios mais longos e distantes, conseqüentemente, tornando-os alvos mais vulneráveis as perseguições dos cães e as investidas dos caçadores. E para 22,89% (n=49), estes alegaram que o maior ou menor sucesso de caçadas independe das fases lunares, uma vez que o grau de experiência dos caçadores bem como da qualidade dos cães são suficientes para conseguir capturar ou abater os tatus. 131 “Eu sempre caço nos dia de lua cheia porque dá pra vê tudo inclusive onde eles tão intumado [entocado]...tem veiz que eu pego peba inté sem cachorro, só tirando os bixo com a mão. (...) os verdadeiro, os cachorro corre mais fácil e consegue pega”. (Sr Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede) “(...) só presta quando tá quase sem lua ou com muitas nuve [nuvem], assim os bixo sempre sai atraiz de cumida ou das parceras (...) e devagarinho nois pega eles de surpresa”. (Sr. Jurandir, 47 anos, residente da zona rural de Sumé) “(...) eu acredito que num faiz diferença não, meus minino desde quando vão caçar, outros homens perto daqui vão também e num faz questão de lua não” (Sra. Enedina Maria, 58 anos, zona rural da cidade de Campina Grande) Similarmente ao verificado nessa pesquisa, as influências das fases lunares estão presentes nas formas de percepção e cultura não apenas de caçadores do semi-árido paraibano, mas também nos pescadores do litoral do referido Estado, os quais são regidos por condições de tempo e amplitude de marés bem como as fases lunares, como apontado por Nishida et al. (2006) Dentre as inúmeras características da atividade de caça aos tatus, foram obtidos relatos e testemunhos relacionados às crenças a deidades regionais, as quais fazem parte do ideário popular nas áreas pesquisadas, e representam sinônimos de respeito e temor. Os seres mais relatados foram a “Mãe do Mato”, e a “Cumade Florzinha”, que segundo as definições relatadas, parecem tratar-se dos mesmos seres, relacionados com a proteção das matas e dos animais, temidos por perseguir os caçadores e seus cães, e conhecidos por possuírem os hábitos de fumar e assobiar. Foi relatado que, para certos momentos, de modo a quebrar o encanto da “Cumade Florzinha” sobre os cães quando estes estão acuados, latindo e não se consegue enxergar nada, (acredita-se que esta entidade esteja por perto) batem-se dois ferros (o exadeco com o cano da espingarda) e o feitiço é cortado. Muitos moradores acreditam na existência dessas entidades, porém outros não, e embora não acreditem pelo fato de nunca terem presenciado nenhum episódio, mesmo assim temem seus encantos. Os entrevistados também relataram fazer uso de alguns amuletos oriundos de partes das espécies de tatus (E. sexcinctus e D. novemcinctus). As partes citadas foram patas, unhas ou rabos, as quais podem estar presentes na indumentária pessoal de cada caçador. Segundo eles, é sempre recomendável levar consigo um desses itens de modo a garantir uma boa caça ou livrar-lhes de algum eventual confronto com alguma das deidades supracitadas. 132 “quando caço, tenho que levar, seja um pouco de fumo ou amarrar no meu cinto um rabo de peba ou verdadero pra num ter pobrema com “cumadi flozinha”. (Sr. Luiz Albino de Sousa, 39 anos, residente da zona rural de Sumé) “no tempo que eu caçava já ouvi muitos gritos de cachorros levando pisas da Mãe do Mato, e já ouvi muito assobio que me arrupiava da cabeça pus [aos] pés. É sempre bom levar arguma oferenda a ela mode deixar uma boa caçada”. (Sr. José Santo, 70, residente da zona rural de Sousa) “se ouvir ela assubiar pode para no canto que você está e esperar, se os cachorro começarem a latir, é certeza que ela tá perto. Coloque o que você trouxe [oferencda] no chão e faça uma prece, se os cachorro ainda continuarem a latir, pegue o enxadeco e bata no cano da garrucha e depois pode ir andando normalmente” (Sr. Inácio Laureiro, 47 anos, residente da zona rural de Campina Grande) De acordo com a literatura, a cultura popular tem como cerne o imaginário, o qual configura uma riqueza incomensurável, e é nesse cenário fértil que o imaginário popular atua, revelando sentimentos que desabrocham em lendas, mitos, contos, crendices, superstições e em outras belezas que retratam a nossa cultura (LÓSSIO, 2006). Há de se considerar, que as lendas são narrativas que enriquecem e caracterizam o lugar, acompanhadas de mistérios, assombrações e medo. Elas acompanham fatos e acontecimentos comuns, ilustradas por cenários exóticos e de curta extensão. Muitas vezes são fatos verídicos acrescentados de novos dados ou até mesmo recriados, podendo ser muitas vezes confundidas com os mitos (LÓSSIO, 2006). As crenças religiosas são componentes importantes da cultura (HONGMAO et al., 2002) e todas as principais religiões do mundo são sensitivas a importância do ambiente natural e da biodiversidade (DAVID & JOY, 1998; HAMILTON, 1993; MCNEELY, 2000; PUSPA, 1996) estabelecendo com elas conexões interativas positivas ou negativas, dependendo de cada cultura regional. Compreender essas crenças torna-se uma questão chave, possibilitando a inserção de um elemento memético na multidimensionalidade de planos de manejo e conservação de espécies silvestres contemporâneas. 2.4.2 Finalidades de usos de D. novemcinctus e E. sexcinctus por moradores do semi-árido da Paraíba: Compreensões e perspectivas 133 A Tabela 7 resume os dados relativos aos Níveis de Fidelidade das categorias de uso de D. novemcinctus e E. sexcinctus. Considerou-se como categorias essenciais o uso dessas espécies para: a alimentação, medicinal, mágico religioso, caça esportiva e comércio. Todas essas categorias necessitam da caça aos tatus, motivo pelo qual fizemos uma abordagem prévia das técnicas empregadas na captura de D. novemcinctus e E. sexcinctus. A categoria “caça esportiva” corresponde aquela onde os tatus são capturados com propósito principal recreacional, muito embora nesta atividade o consumo e a venda desses animais possam ocorrer como uma prática derivada. Tabela 7. Nível de Fidelidade das categorias de finalidades de usos de D. novemcinctus e E. seecinctus. Os dados indicam um Nível de Fidelidade elevado do uso de D. novemcinctus e E. Categorias de usos Espécie D. novemcinctus ALIMENTAÇÃO MEDICINAL MÁGICORELIGIOSO CAÇARECREACIONAL COMÉRCIO Nº de Nº de entrevistados entrevistados que que citaram a espécie citaram a espécie para a categoria de para algum uso uso 214 214 Nível de Fidelidade (%) 100,00 E. sexcinctus 214 214 100,00 D. novemcinctus 214 32 14,95 E. sexcinctus 214 81 37,85 D. novemcinctus 214 28 13,08 E. sexcinctus 214 65 30,37 D. novemcinctus 214 35 16,36 E. sexcinctus 214 52 24,30 D. novemcinctus 214 44 20,56 E. sexcinctus 214 40 18,69 sexcintus para alimentação (NF=100% para ambas), para uso medicinal (NF=14,95% para D. novemcinctus e 37,85% para E. sexcintus) e mágico-religioso (NF=13,08% para D. novemcinctus e 30,37% para E. sexcintus). Contudo, por razões a serem discutidas a posteriori, D. novemcinctus tem uma importância maior para fins comerciais do que para fins medicinais ou mágicos. A importância desses tatus para a subsistência dos moradores da área estudada é evidenciada nas próprias declarações deles, ao passo que afirmam, em variados graus, a dependência que exercem dos tatus-peba e verdadeiro: 134 “Nós sai pra pegar o tatu e peba quando não tem mistura [termo popular usado para se referir a qualquer tipo de carne] (...) nós prefere pegar o tatu, mas ele é mais difici, aí se tiver um peba ou outro bicho como a rolinha nós pega” (Maza, 28 anos, caçador no município de Sumé) “teve de tempo que a única coisa que nois comia em casa era o que vinha das caçada e no tempo que tinha muito peba, era o que nois comia mais” (Lourivaldo Agripino, 77 anos, morador do município de Campina Grande) Verificamos que, apesar de constante, a caça de subsistência ocorre mais intensamente durante determinados períodos, tais como épocas de secas prolongadas. Amir (2006) encontrou similar situação na Somália, onde constatou que a caça de subsistência é mais freqüente em épocas de escassez de chuvas ou condições de sazonalidade intensa, e a cadeia de consumo é extremamente simples e frequentemente envolve apenas o caçador e sua família (WCS & TRAFFIC, 2004). Por subsistência, nesse estudo, englobamos tanto os usos dos tatus-peba e verdadeiro para fins alimentares bem como para propósitos medicinais e mágicoreligoso, uma vez que estes itens simbolizam necessidades essenciais aos seres humanos bem como de elementos arraigadas no repertorio culturais de certos povos. A seguir nós descrevemos o uso e importância de D. novemcinctus e E. sexcinctus como fontes de alimento e remédios, incluindo os registros dessas espécies como finalidades mágico-religiosas. 2.4.2.1 Os tatus (peba e verdadeiro) como iguaria gastronômica e seus tabus alimentares Nois cria peba aqui mermo e abate ainda cedo A carne é bem macia e é do caba lambê os dedo Nois limpa e tempera ele cum tempero especiá Amoqueia numa vazia, tampa bem pra mode descansá Coloca numa chapa quente no nosso fogo de lenha Cum manteiga da terra é que faiz a diferença Serve cum pirê de mandioca, arroi branco e pirão de queijo Vinagrete, feijão verde e a proteção de São Pedro. (Cantiga popular do tatu-peba na culinária narrada pelo Sr. Apolinário, município de Sousa, Paraíba). Nos últimos anos temos assistido a uma tendência para a exploração excessiva da vida selvagem nos trópicos, especialmente na África e América do Sul (EVES & RUGGIERO, 2001; MILNER-GULLAND et al., 2003; PERES, 2000; ROWCLIFFE et al., 2005; SCHENCK et al., 2006; WILKIE et al., 2001). Em conjunto com intensas transformações de habitat, estas super-explorações representam uma das principais ameaças à biodiversidade 135 mundial e para as pessoas que dependem dos animais silvestres para sua sobrevivência (BARRERA-BASSOLS & TOLEDO, 2005; BODMER, 1995; ESCAMILLA et al., 2000; MILNER-GULLAND et al., 2003; PERES, 2000; ROWCLIFFE et al. 2005). Nessa pesquisa, observamos a unanimidade das respostas 100% (n = 214) para apreciação das duas espécies de tatus na culinária regional, com maior preferência a carne dos tatus verdadeiros (D. novemcinctus) 60,28 % (n=129) em relação aos tatus-peba (E. sexcinctus) 39,71% (n=85). Foi constatado que esse destaque preferencial aos tatus verdadeiros deve-se ao fato da população local vincular a qualidade da carne desse animal aos seus hábitos de alimentação mais seletivos quando comparados aos tatus-peba, de habito mais generalista, desse modo, acredita-se que estes animais são destituídos de quaisquer tabus alimentares quando preparados para consumo. Entre os entrevistados que consumem carne dos tatus-peba (E. sexcinctus) muitos capturam o animal ainda vivo e os mantêm em cativeiro por períodos de cevagem, os quais costumam também chamar de “engorda” (Figura 12). Nesse período costumam fornecer alimentos selecionados e de fácil absorção por prazos que variam entre 30 a 90 dias, dependendo da idade ou condição física do animal. Além de garantir um maior aumento de massa aos animais que vão ser abatidos, os informantes alegaram que esse procedimento de engorda traz melhorias ao sabor da carne e menores efeitos colaterais quando consumidos uma vez que o conhecido hábito saprófago da espécie provoca a chamada “remosidade” ou “carne carregada” típica dos tatus-peba. “eu prefiro carne do verdadeiro do que o peba mode ela ser mais limpa e mais gostosa. O peba é bom também, mais a do verdadeiro sempre é mais gostosa” (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de Sousa) “Carne de peba é boa mais tem que ter cuidado com ela, porque o bixo é sujo e come de tudo que vê pela frente. É muito remosa, mas engordando ele por uns 2 a 3 meis [meses] ela fica melhor e mais limpa” (Sra Severina Carmo, 42 anos, residente da zona rural de Campina Grande) 136 “eu prefiro mais a carne do tatu-verdadero, mas como de peba também quando nois caça (...) as veis me dá furunco [furunculose] e coçera pelo corpo, mas depois passa” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede) Figura 12. Tatus-peba criados em tonéis por um entrevistado do município de Campina Grande. A prática popular de criação desses animais é impactante, visto que são coletados espécimes da natureza e mantidos em cativeiro até o abate, sem reposição ao ambiente natural. Durante as pesquisas na cidade de Campina Grande, foi possível presenciar in loco todos os preparativos para abate e trato culinário de um exemplar de E. sexcinctus por um caçador veterano onde, na ocasião, dispunha deste animal em cativeiro por cerca de 50 dias de engorda. Os materiais utilizados são bastante comuns e de simples acesso tais como: bastão de ferro ou madeira e facas de médio e grande porte (Figura 13A) A técnica de abate do animal ocorre com fortes pancadas deferidas na região da cabeça acarretando morte por traumatismo craniano (Figura 13B). Segundo o informante, este método além de neutralizar e imobilizar o animal imediatamente garante uma morte mais rápida quando comparado outros métodos tais como perfuração de artérias ou órgãos, os quais deixariam os animais em estados agonizantes. Muito embora os relatos obtidos soassem de forma fria e tranqüila, notou-se a intenção do respeito pela vida do animal mesmo que seja destinado ao consumo humano. Logo após esse procedimento o animal é perfurado na região da artéria aorta de modo a jorrar o sangue que está no seu corpo. Uma vez expelido grande quantidade de sangue, iniciar-se a limpeza do animal a partir da desobstrução das glândulas odoríferas que estão presentes na região dorsal da cintura pélvica da carapaça tanto de machos como fêmeas desta espécie (Figura 13C). Lava-se em água corrente a fim de remover parte do substrato a qual fica aderida na pele e casco, em seguida um grande recipiente contendo água fervente é preparado onde o animal é submergido de modo a retirar a pele e as placas 137 dérmicas do casco, sendo finalizado com um rápido contato com fogo (nesse caso, fogão a gás) onde pêlos remanescentes são eliminados (Figura 13D e E). Em seguida, cabeças, patas e rabo são cortados e separados para algum fim medicinal ou mágico-religioso ou simplesmente descartados (Figura 13F) e inicia-se a limpeza interna do animal onde todo o trato digestivo e tecido adiposo sobressalente é descartado ou guardado para utilizações especiais como em propósitos mágico-religiosos. Depois de totalmente limpo, o animal pode ser preparado a gosto tanto de forma assada, torrada ou guisada, e servido com outros acompanhamentos, caracterizando uma iguaria gastronômica regional. Tal preparo segue o mesmo padrão para os tatus verdadeiros (D. novemcinctus), sendo estes degustados com mais apreciação quando comparados aos tatus-peba (E. sexcinctus). Fato curioso relacionado aos tatus-peba está nos tabus alimentares apresentados pelos informantes das localidades estudadas quando questionados da liberdade de consumo da carne deste animal por qualquer individuo. A grande maioria 85,04% (n=182) dos informantes, além de enfatizarem a capacidade de acarretar problemas de saúde após a ingestão da carne, endossa que pessoas as quais apresentam certas características imunológicas ou físicas estariam de sobreavisos para o consumo. Problemas como: infecções diversas, cortes, arranhões, ferimentos, doenças venéreas, inchaços, rouquidão; hepatite, lumbago e mulheres de resguardo ou no período menstrual estariam inseridos no quadro de restrições para aqueles que pretendem ingerir dessa iguaria. E apenas uma pequena parcela 10,74% (n=23) afirmou não haver qualquer restrição para o consumo da carne do tatu-peba, no entanto para outra minoria 4,2% (n=9) as ressalvas existem para ambas as espécies de tatus. Constata-se que esses tabus alimentares testemunhados ao longo das visitas nas localidades estudadas têm origem devido ao hábito onívoro e saprófago dos E. sexcinctus. No entanto essa característica também pode acontecer aos D. novemcinctus, porém não é predominante (SCHAEFER & HOSTETLER, 2003). Relatos de óbitos por pessoas que ingeriram exclusivamente da carne de tatus-peba foram raros, porém presentes 2,8% (n=6). “um cumpadre meu morreu cinco depois que cumeu um peba (...) sentiu umas dores nas costas e na bucho [estômago] e num agunetou” (Sr. Francisco de Pádua, 64 anos, residente da zona rural de Sumé) 138 A B C D [email protected]; E F Figura 13. Registro do preparo de um tatu-peba na culinária do semi-árido paraibano. (A) Ferramentas usadas no abate e “trato” do animal. (B) Exemplar morto por traumatismo craniano – detalhe do bastão de ferro usado para abater o animal (C) Limpeza das glândulas odoríferas, (D) Imersão em aguar fervente, (E) Retirada de pêlos remanescentes através de fogo, (F) Animal “tratado” e pronto para cozimento. Foto: do autor. De acordo com a literatura, um modo a justificar esse meme atribuído aos possíveis efeitos colaterais acometidos aos indivíduos que consomem a carne desses animais ou aos casos de óbitos humanos relacionados à ingestão desta, têm-se que os Xenarthras de maneira geral são hospedeiros de alguns protozoários hemoflagelados como, Leishmania sp. 139 (protozoário causador da leishmaniose) o Trypanosoma cruzi (protozoário causador da doença de Chagas) e Endotrypanum sp. (SHAW, 1985). Para Dias (2006) a ingestão de carne crua ou mal cozida dos tatus-peba ou verdadeiro é, inclusive, uma das principais formas de transmissão de T. cruzi, além disso, em indivíduos sujeitos a fatores imunossupressores a ingestão desse tipo de carne pode transmitir a toxoplasmose, a zoonose capaz de provocar aborto ou lesões fetais (NAIFF et al., 1986). Em relação aos tatus (E. sexcinctus e D. novemcinctus) como são animais de vida livre, estes também podem se infectar com a leptospirose, doença presente nos roedores, principalmente na ratazana de esgoto, um importante reservatório. Como a leptospirose penetra pela pele, o simples fato de manusear o animal já pode transmitir a doença a qualquer individuo (SHAW, 1985). Dasypus novemcinctus e Cabassous centralis são hospedeiros e/ou reservatórios naturais de alguns fungos patogênicos dimórficos, como por exemplo, o Paracoccidioides brasiliensis (agente etiológico da Paracoccidioidomicose ou Blastomicose sul-americana, micose sistêmica, que acomete principalmente os órgãos linfáticos e pulmões), cujo isolamento ambiental é difícil, sendo o tatu a única espécie onde se consegue obter o isolamento deste fungo, facilitando o estudo de sua forma saprofítica (ambiental) (BAGAGLI et al, 1998; CORREDOR et al., 2004). O tatu verdadeiro, atualmente, é um animal que serve de modelo experimental para infecção com bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae) e há estudos mostrando que 17% dos indivíduos possuem os anticorpos específicos (McDONOUGH, 1997), pois a doença se apresenta da mesma maneira que a observada em humanos, com formação de hansenomas. Pelo fato do bacilo de Hansen não ser cultivável em laboratório, os tatus são usados experimentalmente para multiplicação desses patógenos, possibilitando a obtenção de material biológico para o diagnóstico e a pesquisa de vacina para a doença. Constatamos que o hábito de caçar e consumir a carne de tatus é bastante comum nas localidades estudadas. Isto corresponde a uma atividade rotineira nos sertões do Brasil uma vez que mamíferos terrestres sofrem a pressão de caça, ainda que essa atividade seja ilegal no país há mais de 35 anos (COSTA et al., 2005). No Nordeste e especificamente no semi-árido paraibano os tatus-peba e verdadeiro estão entre os animais presentes nos hábitos alimentares das populações rurais mais apreciados (ver ALVES et al., 2009; MOURÃO et al., 2006; SILVA, 1993). Muito embora o acesso à carne desses animais seja quase sempre por meio da caça de subsistência, esse costume está arraigado na cultura dos sertanejos e permanece tradicionalmente até os dias atuais (PAIVA, 1995; SILVA 1993). Este panorama insere-se na tendência atual de destruição e sobre-exploração dos recursos biológicos (LUGO-MORIN, 140 2007), onde as estruturas das comunidades de animais silvestres se tornam afetadas de forma negativa (GUEVARA et al., 2005; LUGO, 2001; MARES, 1986; MARES & OJEDA, 1984; MOLINA & BARROS, 2005; OLIVERO et al., 1995; RUIZ, 2004; WHITMORE, 1997; ZAPATA, 2001). Além de questões de riscos sanitários, a contínua exploração de animais silvestres para fins alimentares vem sendo apontada como uma das causas de extinção ou declínio populacional de várias espécies da fauna silvestre (ALTRICHTER, 2005; CHIARELLO, 2000; FACHÍN-TERÁN et al., 2004; CALOURO & MARINHO-FILHO, 2005; NARANJO et al., 2004; PERES, 1996; 2000; 2001; REDFORD, 1997; ROBINSON & BODMER, 1999; THIOLLAY, 2005; THOISY et al., 2005). Nesse âmbito, nós sugerimos que este tipo de prática venha a ser considerada na perspectiva de planos de manejo e conservação de Dasypus novemcinctus e E. sexcinctus, já que o consumo gastronômico dessas espécies indica ser uma atividade culturalmente disseminada no semi-árido do Estado da Paraíba e, muito provavelmente, nas demais áreas do semi-árido Nordestino onde esses tatus ocorrem. 2.4.2.2 Os tatus como seres medicinais e mágico-religiosos na percepção dos povos do semi-árido paraibano “já usei banha de tatu [E. sexcinctus] pra tratar asma de um minino meu e ele recupero-se bem” (Sr. Arnaldo, 46 anos, residente na zona rural de São Mamede) “rabo de peba ou de verdadeiro é muito bom pra cutucar ouvido com moquidão (...) inveiz [ao invés] de colocar pumada ou remédio de farmácia pode colocar o rabinho dentro do ouvido e deixá por uns 3 minuto que passa” (Sra. Fátima, 65 anos, moradora da zona rural de Campina Grande) “em casa tem uns rabo de peba pendurado (...) é bom pra espantar qualquer tipo de inseto [inseto aqui é apontado como todo e qualquer animal peçonhento]” (Sr. José Quirino, 45 anos, residente na zona rural de Sousa) Diferentes povos têm usado a fauna ao longo dos séculos para fornecer carne, roupas, medicamentos tradicionais e ornamentos, além de os abaterem para uso na proteção de plantações e rebanhos (HAPPOLD, 1995). Documentos sobre o uso medicinal de animais começaram a surgir juntamente com a invenção da escrita. Arquivos, papiros, e outras fontes de registros históricos onde abordaram a pratica médica mostraram que os animais, e suas partes ou subprodutos, eram comumente utilizados como remédios (LEV, 2003). 141 Atualmente, os recursos faunísticos desempenham um papel significante nos processos de cura e em rituais mágicos em todos os continentes (COSTA-NETO & MARQUES, 2000). As populações tribais ou rurais têm uma ampla farmacopéia composta de plantas e animais silvestres e, mesmo atualmente, elas dependem [em maior ou menor grau] do sistema tradicional de cura para seus cuidados primários da saúde (JAIN et al., 2007). Nesse contexto, a Organização Mundial da Saúde estima que 80% das pessoas no hemisfério Sul fazem uso da medicina tradicional (ALCORN, 1995; WHO, 1993). A cura de doenças humanas por meio do uso de remédios derivados de animais ou partes deles é conhecida como zooterapia (COSTA-NETO, 2005). Nas sociedades modernas esta prática constitui uma importante alternativa entre muitas outras conhecidas e praticadas no mundo (ALVES & ROSA, 2005). Não obstante, o uso de animais para fins medicinais tem sido mais frequentemente estudada nos últimos anos no Brasil (ver ALVES & ROSA, 2006, 2007a, b, ALVES et al., 2007; ALVES, 2009; BARBOZA et al., 2007; MOURA & MARQUES, 2008). Pelo menos 290 animais são explorados para propósitos terapêuticos no país (ALVES, 2008), sendo que na região Nordeste, 250 animais foram registrados para estes fins (ALVES, 2009). Na farmacopéia brasileira os tatus (peba e verdadeiro) foram previamente registrados tanto para uso medicinal quanto mágico-religioso (ver ALVES & ROSA, 2006, 2007a,b; ALVES, 2009; BRANCH & SILVA, 1983; COSTA-NETO, 1999a,b, 2000). Em nosso estudo constatamos que o uso de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins medicinais e mágicoreligioso nas áreas estudadas foi de significativa importância, correspondendo, no caso específico do tatu-peba, as categorias de exploração mais importantes após o uso para subsistência (ver Tabela 7). D. novemcinctus e E. sexcinctus são usados para o tratamento de 10 condições ou doenças: Asma, dor de ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas de insetos, reumatismo, varizes e verrugas. Houve ainda registros significantes do uso dessas espécies para dois fins mágico-religiosos: proteção contra “mau olhado” e como oferendas a deidades em atividades de caça A Tabela 8 sumariza os usos medicinais e mágico-religiosos do tatu-peba e verdadeiro nas localidades estudadas. Com o objetivo de dimensionar quais tipos de doenças ou usos mágicos são mais empregadas as espécies citadas, separamos as informações por município e Nível de Fidelidade de cada uso. Quanto maior o Nível de Fidelidade, maior a importância o uso de uma espécie para aquela finalidade particular. 142 Destacando-se os níveis de fidelidades para cada localidade, os dados demonstram que tanto o rabo de E. sexcinctus (Figura 14) quanto o de D. novemcinctus são frequentemente usados no tratamento de mouquidão, exceto em São Mamede e em Sousa. Nas cidades de Campina Grande e Sumé o NF para o uso do rabo de tatu-peba para tratar esta enfermidade foi extremamente alto, 60 e 65,22%, respectivamente. Outros autores igualmente registraram o emprego dessas espécies como terapêuticas para esta condição, a exemplo de Alves e Rosa (2007a), Alves et al. (2007), Costa-Neto (1999a, b), o que indica que este uso possivelmente é disseminado em todo o Nordeste brasileiro. Embora ainda não documentado na literatura, o uso de banha/sebo desses tatus no tratamento de reumatismo foi significante, sobretudo em Campina Grande e Sumé, onde as banhas de D. novencinctus e de E. sexcinctus foram bastante lembradas pelos moradores locais (NF=46,67% e 47,83%, respectivamente) (Figura 15). Outros registrados que não haviam sido previamente documentados foi o uso de banha de D. novemcinctus para tratamento de furunculoses e obstrução nasal; a utilização da banha de E. sexcinctus para picadas de insetos, além do sangue deste animal empregado no tratamento de varizes e verrugas no município de São Mamede. À maioria dos entrevistados (n=87) que usam tatuspeba e verdadeiro como zooterapêuticos alegaram que esses correspondem a fontes de medicamento eficazes no tratamento das enfermidades por eles listadas, a exemplo das declarações abaixo: “A banha do pebinha é o melhó remédio pra quando um bicho [inseto] morde a pessoa” (Sr. Josafá, 57 anos, morador do município de São Mamede). “Pra junta dura [reumatismo] não tem outra. Derrete a banha do peba e passa em cima” (Sr. Antônio Domiciano, 62 anos, morador do município de Monteiro). “A banha do verdadeiro só é boa mesma pra furuncú [furúnculos]” (Sr. Jakson Moura, 46 anos, residente na zona rural do muncípio de Sousa) 143 Figura 14: Rabo de um tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé para tratamento de mouquidão. Figura 15: Amostra do sebo tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé para tratamento de várias enfermidades, sobretudo para reumatismo 144 Tabela 8. Usos medicinais e mágico-religiosos de E. sexcinctus e D. novemcinctus Município Nº total de informantes que usam a espécie para fins medicinais Espécie Finalidades de usos Partes usadas Nº de informantes E. sexcinctus MOUQUIDÃO RABO 36 60,00 REUMATISMO BANHA 24 40,00 ASMA BANHA 16 MAU OLHADO RABO 26 43,33 MOUQUIDÃO RABO 29 48,33 REUMATISMO BANHA/SEBO 28 46,67 ASMA BANHA 9 15,00 MAU OLHADO RABO 34 56,67 REUMATISMO BANHA 5 38,46 MOUQUIDÃO RABO 7 53,85 FURUNCULOSE BANHA 2 ASMA BANHA 2 15,38 MAU OLHADO OFERENDA A ENTIDADES RABO 7 53,85 RABO 1 7,69 REUMATISMO BANHA 1 7,69 MOUQUIDÃO RABO 4 30,77 FURUNCULOSE NARIZ ENTUPIDO BANHA 3 23,08 BANHA 2 15,38 MAU OLHADO OFERENDA A ENTIDADES RABO 6 46,15 RABO, PATAS 4 30,77 CAMPINA GRANDE D. novemcinctus E. sexcinctus 60 13 NF (%) 26,67 15,38 MONTEIRO D. novemcinctus 145 E. sexcinctus MOUQUIDÃO RABO 15 65,22 ASMA NARIZ ENTUPIDO BANHA 6 26,09 BANHA 3 REUMATISMO PICADA DE INSETO PROTEÇÃO MAU OLHADO BANHA/SEBO 11 47,83 BANHA 8 34,78 RABO; UNHAS 12 52,17 23 13,04 SUMÉ D. novemcinctus E. sexcinctus SÃO MAMEDE MOUQUIDÃO NARIZ ENTUPIDO RABO 9 39,13 BANHA 4 17,39 REUMATISMO BANHA 9 39,13 FERIMENTOS PROTEÇÃO MAU OLHADO USO COMO OFERENDA SEBO 2 8,70 RABO; UNHAS 8 34,78 RABO 8 34,78 MOUQUIDÃO RABO 3 16,67 ASMA NARIZ ENTUPIDO BANHA 5 27,78 BANHA 5 27,78 REUMATISMO PICADA DE INSETO DOR DE OUVIDO BANHA 5 27,78 BANHA 8 44,44 SEBO/BANHA 8 VARIZE SANGUE 11 61,11 VERRUGA SANGUE 11 61,11 FURUNCULOSE BANHA 2 11,11 18 44,44 146 D. novemcinctus E. sexcinctus SOUSA D. novemcinctus PROTEÇÃO MAU OLHADO RABO 14 77,78 ASMA BANHA 2 11,11 REUMATISMO BANHA 4 22,22 MOUQUIDÃO RABO 4 22,22 FURUNCULOSE BANHA 1 5,56 MAU OLHADO RABO 7 38,89 OFERENDA PATAS 4 22,22 MOUQUIDÃO RABO 4 17,39 REUMATISMO BANHA 7 30,43 ASMA BANHA 2 8,70 FURUNCULOSE SEBO/BANHA 5 FERIMENTOS SEBO 8 34,78 MAU OLHADO RABO 21 91,30 MOUQUIDÃO RABO 2 8,70 REUMATISMO BANHA 3 13,04 ASMA BANHA 1 4,35 MAU OLHADO RABO 8 34,78 OFERENDA RABO/PATAS 5 21,74 23 21,74 147 É importante notar que por trás da eficácia desses medicamentos percebida pelos usuários, a popularidade dos remédios derivados de animais é influenciada por aspectos culturais, e as relações entre humanos e a biodiversidade na forma de práticas zooterapêuticas é condicionada por relações sociais e econômicas entre humanos (ALVES et al., 2008). Confirmando este fato, percebe-se que a renda de todos os entrevistados nesse estudo é considerada baixa e a maioria (n=76) declararam que tinham acesso precário aos sistemas públicos de saúde. Aliado a essa questão sabe-se que os tatus são popularmente caçados no Brasil para diversos fins, além de serem parte do imaginário cultural de vários povos americanos (cf. COSTA-NETO, 2000; MEDRI, 2008) o que possivelmente favorece a exploração de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins medicinais. Do ponto de vista farmacológico, é necessário destacar a importância da validação científica dos efeitos desses remédios antes que eles possam ser recomendados para o uso. Mais pesquisas são essenciais para estabelecer se tais usos medicinais de D. novemcinctus e E. sexcinctus tem complicações adversas em longo prazo. Por outro lado é importante o registro do conhecimento do uso de animais medicinais, uma vez que de acordo com a ONU (2002) mais da metade das drogas modernas do mundo são derivadas de recursos biológicos, ao passo que substâncias derivadas de 90 espécies são usadas mundialmente. Além do papel na cura, produtos naturais frequentemente têm significância mágicoreligiosa, refletindo as diferentes visões de saúde e doença que existem dentro de diferentes culturas (ALVES et al., 2008), ou mesmo expressando simbologicamente as relações dos indivíduos com divindades de diferentes credos. O uso do rabo de tatus como amuleto de proteção contra “mau olhado” foi algo constantemente registrado em todos os municípios estudados (Figura 16A e B). De alguma maneira, esse fato aparenta estar associado com a cultura local o que justifica um Nível de Fidelidade elevado em todos os municípios, sempre acima de 30% e atingindo 91,30% em relação ao uso de E. sexcinctus para este fim no município de Sousa. Alves e Rosa (2006, 2007a) constataram que o rabo de tatu peba é considerado como amuleto na proteção de “olho gordo” no Estuário do Rio Mamanguape, Paraíba e no município de Raposa, Maranhão. Outro uso mágico foi relatado em todos os municípios, exceto em Campina Grande, foi o uso de patas e do rabo como oferendas para “cumadre fulozinha” (Figura 17) uma deidade da cultura do Nordeste brasileiro, considerada protetora da fauna e da flora. As oferendas são realizadas antes do início da atividade de caça dos tatus, almejando uma boa captura das espécies. 148 A B Figura 16. Rabos de tatus-peba e verdadeiros usados na proteção de residências contra “mau olhado”. (A) Fotografia do telhado de uma casa de um entrevistado no município de Monteiro. (B) Fotografia de rabos de peba e verdadeiro presos a um móvel doméstico, local: Campina Grande, Paraíba. Fotos: do autor. Figura 17. Patas de tatu-peba usados em oferendas a deidades (“cumadre fulozinha”). Local da foto: município de Sumé, foto: do autor. 149 A observação anterior está em concordância com as fornecidas por Alves et al. (2007) o qual apontou que a medicina tradicional brasileira está frequentemente associada com sistemas de crenças locais de simpatias e, estas crenças podem ter diferentes implicações na maneira pela qual as espécies animais são usadas e as tradições da comunidade. De acordo com Mello e Souza (1975), a magia, a medicina, as simpatias, a invocação divina, a exploração da fauna e da flora e os conhecimentos agrícolas fundem-se de modo único em um sistema que abrange, na mesma continuidade, o campo, a mata, a semente, o animal, a água e o próprio céu. Aqueles autores ainda afirmam que “dobrado sobre si mesmo pela economia de subsistência, encerrado no quadro dos agrupamentos vivinais, o homem aparece ele próprio como segmento de um vasto meio, ao mesmo tempo natural, social e sobrenatural”. Paradoxal é a importância das espécies de animais usadas para fins medicinais ou mágico-religiosos, na descoberta de novas drogas ou na elaboração de terapias que possibilitem a cura ou bem-estar das pessoas, desse modo o uso de recursos faunísticos tem consequências diretas sobre a conservação da biodiversidade. Das espécies zooterapêuticas utilizadas na medicina tradicional brasileira, 71 estão listadas na Lista Vermelha da IUCN e outras 54 estão ainda listadas na CITES. No caso específico de D. novemcinctus e de E. sexcinctus, embora estes não estejam sobre risco preocupante de extinção, faz-se necessário que este tipo de prática seja inserido em estratégias que visem a um uso sustentável dessas espécies nas áreas estudadas, visto que a medicina tradicional é um dos importantes usos da biodiversidade (CELSO, 1992) e pode contribuir para que espécies silvestres se tornem ameaçadas (cf. ALVES et al., 2007; ASHWELL & WALSTON, 2008; FENG et al., 2009). De acordo com os entrevistados, sempre que se fizesse uso de um tatu-peba ou verdadeiro para fins medicinais o espécime era morto a fim de se extrair a parte do animal com interesse na produção do remédio almejado. Segundo Alves e Rosa (2006) os impactos de práticas zooterapêuticas sobre as populações da área estudada deve ser cuidadosamente avaliadas, particularmente nessas condições onde a obtenção de produtos deriva de animais mortos. Nesse contexto, Almeida e Albuquerque (2002) apontam para a necessidade do aumento da sensibilização acerca da utilização sustentável dos remédios tradicionais derivados de animais. 150 2.4.2.3 Caça Recreacional A caça de lazer ou recreacional possui uma diversidade de sinônimos. Segundo a IUCN (2006), há dois grupos básicos de caça recreacional: a primeira representada por termos como “caça de conservação”, “caça turística” e “caça de troféu” que se distingue de uma segunda categoria cuja caça é estritamente voltada para o amadorismo com pouca infraestrutura formal, essa sendo objeto deste estudo. As relações entre caça de lazer e conservação da biodiversidade são alvos de polêmica. A caça de lazer intensa pode perturbar populações silvestres, ameaçando sua sobrevivência (DURIEZ et al., 2005; KEANE et al., 2005; TAMISIER et al., 2003); pode ser fonte de contaminação (GRANDLIC et al., 2006; GUITART et al., 2002; MATSUDA, 2003) e pode motivar a introdução de espécies exóticas invasoras (JESCHKE & STRAYER, 2006; ZACCAGNINI, 2002). Por outro lado, a caça de lazer é uma forma de manejo de populações abundantes (BONINO, 1986; DAVIDSON & FRASER, 1991) e dessa maneira motivou a criação de áreas protegidas, refúgios de vida silvestre e aporte de fundos para programas de conservação (GRAF & WADSACK, 2002; OLDFIELD et al., 2003). Pessoas têm a caça como um esporte há milênios (CHARDONNET et al., 2002) e, ainda hoje a caça recreativa tradicional desempenha um papel importante em muitos países (KALCHREUTER, 1984). Em diversos lugares como a África, a Europa e a América do Norte esta atividade adquiriu um grau avançado de exploração e, nestes locais esta atividade é um sub-setor da indústria do turismo e desempenha um importante papel para alguns países e sociedades, enquanto sofre oposição em outras (CHARDONNET et al., 2002). No Brasil, entretanto, a caça para fins recreacionais ainda padece de investigação (GUADAGNIN et al., 2007). Tal atividade não é claramente regulamentada neste país, sendo necessária, talvez, uma revisão da legislação, sobretudo na lei 5197/67 a qual dispõe no artigo 1º -§ 1º e no artigo 11 de brechas para a execução da prática da caça recreacional, amadorística ou esportiva. Embora não permitida por lei, constatamos que a caça recreacional de D. novemcinctus e E. sexcinctus é uma prática relativamente comum nas áreas estudadas e, para esta última espécie, é uma atividade exploratória a qual é superada, baseado no nível de fidelidade (Ver Tabela 7), pelo uso da caça para fins alimentares, medicinal e mágicoreligioso. Os depoimentos abaixo mostram como a caça de tatu é uma atividade considerada lúdica e frequente para os caçadores: 151 “pra mim eu gosto de caçar mode [porque] eu disopilo (...) tem muito tatu difícil de pega, esses eu ainda guardo ou o rabo ou o casco” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede) “quando dá eu vou caçar numas terras [propriedades particulares] por ali e só volto depois de achar uns bixos [tatus] bons de peleja [perseguição]. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural de Sumé) “antigamente, todo fim de semana eu ia caçar com um irmão e um primo e nois sempre competia pra quem pegasse o primeiro verdadeiro (Edvânia Gurjão, 19 anos, residente na zona rural de Campina Grande) A maioria dos entrevistados (n=48) afirmou preferir caçarem sozinhos ou com no máximo outro colega a fim de evitar possíveis conflitos na distribuição dos benefícios da caça, como demonstrado nos depoimentos abaixo: “Nois caça de dois ou três, e sempre parente ou colega” (Sr. Claudio, 44, residente na zona rural de Campina Grande). “Quem caça só prefere caçar em dupla ou só. Quando caçava só era sozinho porque sempre acontecia de se desentender na hora de dividir” (Sr. Genival Caldas, 50 anos, residente da zona rural de Sumé). “Eu só caço só (...) eu fico mais à vontade pra pegar o bixo que quiser e quantos eu quiser” (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro) Idêntica situação foi registrada por Léon e Montiel (2008) em estudo sobre a caça na península de Yucatán, México. Altrichter (2006), constatou que os caçadores rurais da região do Chaco, semi-árido argentino, geralmente caçam sozinhos ou com membros de sua família de maneira amadoristica e quando não dispunham a caça no local de abate à carne da mesma era partilhada pelo caçador e seus dependentes. Justificar o porquê grande parte dos caçadores de tatus dão preferência a realizar a caça recreacional (11,21%, n=24) sozinhos ou com poucos companheiros adentra em outra esfera: a caça comercial. O fato de capturar poucos exemplares de tatus após uma caçada recreacional pressupõe a divisão dos lucros da venda de espécimes de E. sexcinctus e D. novemcinctus. Torna-se difícil precisar quando uma caça é apenas recreacional, para a subsistência, ou ainda para fins comerciais. Mas de um modo geral, quando são capturados mais de um tatu em uma caçada, um exemplar é degustado pelos participantes da “aventura”, ao passo que o outro é levado para a comunidade/cidade onde é vendido a terceiros, ou mesmo mantido em cativeiro para venda posterior. A questão da caça comercial de tatus é marcante, em especial a caça de D. novemcinctus o qual, devido às 152 dificuldades de captura, possui um preço de venda superior ao de E. sexcinctus, sendo uma espécie cobiçada por caçadores do semi-árido do Estado da Paraíba. 2.4.2.4 A Caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins Comerciais “por aqui tem como comprar fácil. Se você quiser um peba eu consigo, se você quiser um verdadeiro eu consigo também” (Sr. Josias Caldas, 46 anos, residente do Município de Sousa) “tem caçador por aqui que aceita encomenda e vende pro pessoal aí (...) antigamente o povo encontrava inté nas feiras, mas hoje é proibido (...) quem quer basta ter interesse e dinheiro na mão” (Sr. Francisco Luis, 52 anos, residente da cidade de Monteiro) Nos últimos anos, houve uma progressiva e importantes transições das atividades cinegéticas de subsistência para aquelas com propósitos comerciam, essencialmente devido ao aumento da densidade populacional humana, a modernização das técnicas de caça e uma maior acessibilidade as remotas áreas silvestres (FA & GARCÍA YUSTE, 2001; WILKIE & CARPENTER, 1999). De acordo com Bisbal E. (1994), a caça para obtenção de alimento diário deriva a caça comercial. Esta pode ser de diferentes formas e escalas, desde o ganho excedente proveniente de uma caça para a subsistência, até a exploração comercial organizada de certas espécies para a obtenção de carne, peles, chifres, ou mesmo animais vivos (CHARDONNET et al., 2002). A caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins de comércio nas áreas estudas é considerada pelos caçadores da região como uma forma de obtenção de renda complementar para os mesmos e seus dependentes. “tem gente que caça aqui pra ajudar a inteirar o mês sabe [renda extra ao salário]. Em época de muito peba, tem muitos [caçadores] que vende e no tempo que tem pouca gente caçando mode [devido] a fiscalização vendem caro. (Sr. Alcides José, 65, residente da zona rural de Campina Grande). “quando eu pego de dois ou três eu sempre fico com um e vendo os dois, ou crio em casa, engordo e vendo (...) O verdadeiro é sempre mais pedido” (Sr. Maza, 27 anos, residente do município de Sumé). A caça comercial de tatus-peba e verdadeiros mostrou ser uma prática oportunística e crescente uma vez que, segundo declarações dos próprios entrevistados, a carne desses animais possui uma excelente aceitação entre os sertanejos, e nesta perspectiva, os tatus verdadeiros são tidos, segundo 129 entrevistados (60,28%), como os mais requisitados para 153 consumo. Este cenário torna-se particularmente preocupante, uma vez que, segundo Fa et al. (1995) a caça comercial oferece um significativo incentivo monetário à população rural e, desta maneira, exerce uma gradual pressão sobre as populações das espécies estudadas. O real valor comercial de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano é de difícil cômputo devido ao grande mercado informal e ilegal desses animais assim como a inexistência de registros confiáveis de tal atividade. Associado a esta questão, percebeu-se durante a atividade de campo que muitos moradores locais realizaram ou realizam o comércio de tatus, mas esquivaram-se de ceder mais informações com receio de serem punidos por órgãos como IBAMA. É provável que a prática comercial desses animais seja superior ao hábito de uso delas para fins medicinais, apesar de que, em vias gerais, nossos resultados (ver Tabela 7) não indiquem isso. Adicionalmente, Reading et al. (1998) destaca que as análises sobre existência de comércios clandestinos fornecem apenas uma indicação aproximada do que possa existir atualmente. De acordo com estes autores, as atividades de caça podem muito bem ter variações de ano para ano, sendo assim, a demanda por animais pode acompanhar períodos de abundância ou escassez. Contudo, foi possível determinar variações de valores comerciais para ambas às espécies em cada localidade, como mostra a tabela abaixo. Tabela 9. Valores para comércio de tatus-peba e verdadeiro registrados em cada localidade Cidade Campina Grande Monteiro São Mamede Sousa Sumé E. sexcinctus Preço (R$) Mínimo Máximo R$ 15,00 R$ 25,00 R$ 10,00 R$ 30,00 R$ 15,00 R$ 20,00 R$ 15,00 R$ 20,00 R$ 20,00 R$ 25,00 D. novemcinctus Preço (R$) Mínimo Máximo R$ 15,00 R$ 40,00 R$ 20,00 R$ 40,00 R$ 15,00 R$ 40,00 R$ 20,00 R$ 50,00 R$ 20,00 R$ 35,00 Baseado nos dados acima percebe-se que tanto E. sexcinctus quanto D. novemcinctus são importantes na obtenção de renda extra por parte dos moradores dos municípios avaliados, sobretudo o tatu verdadeiro, cujo preço médio sempre foi acima do preço cotado para o tatu-peba e, segundo 44 entrevistados, o valor para venda do tatu verdadeiro era acima de R$ 40,00 o que, em junho de 2008, correspondia a quase 10% do valor do salário mínimo brasileiro vigente a época (R$ 465,00). Relacionando esta informação ao perfil socioeconômico dos entrevistados, percebe-se a significativa importância desses números, 154 uma vez que a maioria (n=148) possuía renda de até dois salários mínimos no período de realização do presente estudo e, muitas vezes, essa quantia correspondia a própria renda familiar. Os dados anteriores corroboram com o estudo realizado por Freitas et al. (2006) sobre o tráfico de animais no Brasil, onde constata que comércio ilegal de animais silvestres está associado a problemas culturais, de educação e pobreza e à falta de opções econômicas. Esta prática é a terceira maior atividade ilícita do mundo, sendo suplantada apenas pelos tráficos de armas e de drogas (RENCTAS, 2003). Mediante o exposto, sugerimos que as análises sobre as atividades de caça comercial podem fornecer uma oportunidade para pesquisas onde tragam indicadores de tendências reais de populações silvestres ou endêmicas, além de sugerir quais espécies requerem análises mais rigorosas sobre suas densidades populacionais. Os resultados indicam que há uma necessidade ampla de elaboração de estratégias alternativas de geração de renda para aqueles que praticam o uso comercial de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano. 2.4.3 Implicações para um manejo sustentável de D. novemcinctus e E. sexcinctus Devido o crescimento populacional, as melhorias nos sistemas de transporte, a exploração descontrolada da biodiversidade, as práticas de caça para subsistência e o consumo de carnes de animais silvestres, o comércio de animais têm aumentado consideravelmente a qual acompanha essa demanda acarretando níveis insustentáveis (BAKARR et al., 2001), mesmo em âmbito local. No caso específico do D. novemcinctus e E. sexcinctus ambas as espécies são listadas como “LC” Least concern na Lista vermelha da IUCN (IUCN, 2008), ou seja, são espécies que não se encontram ameaçadas. A justificativa fornecida para esta baixa preocupação de ameaça dessas espécies está na ampla área de distribuição das mesmas, a tolerância de alterações de habitat e a suposta ausência de declínio da população desses animais (AGUIAR, 2004; IUCN, 2008). Contudo, isto não impede que em nível local D. novemcinctus e E. sexcinctus estejam sofrendo impactos severos podendo acarretar extinções em áreas específicas. Não obstante, os entrevistados desse estudo afirmaram que o tatu verdadeiro é, atualmente, de difícil obtenção, não sendo mais encontrado em determinados áreas dos municípios de Monteiro e São Mamede. Esta realidade foi constatada localmente em visitas realizadas nas áreas de estudo com caçadores nativos. 155 “Tatu verdadeiro por aqui tá muito difícil de encontrar. Acho que esses bixos tão perto de se acabar” (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro). “(...) tá difícil de conseguir verdadeiro por aqui. Quem pega anda muito e quem tem pra vender é muito caro” (Sr. Damião, 58 anos, residente da cidade de São Mamede) A exploração tradicional dessas espécies certamente foi intensificada após a ocupação européia no Brasil, haja vista que os tatus, considerados como uma das melhores “caça do mato”, eram pratos muito apreciados e constituíam importante fonte de proteínas para os brancos, porque a abundância deles supria a falta dos diversos tipos de gado cuja criação começava a ser implantada (MESGRAVIS & PINSKY, 2000). A intensificação da caça desses animais também ocorreu pelo fato de que os europeus trouxeram dois elementos que aumentaram a eficiência [impacto] da caça a qual foram também assimilados pelos indígenas: o uso de cães e as armas de fogo (MELATTI, 1994). Semelhante ao estudo de Alves et al. (2009) sobre as técnicas usadas por caçadores no município de Pocinhos, Estado da Paraíba, independente do método usado na captura das espécies de xenarthras aqui estudadas, a maioria das atividades de caça implicam no uso de armas de fogo. O uso difundido desse tipo de artefato, o qual é mais eficiente que outros métodos tradicionais são ainda mais impactantes, pois não é seletista quanto ao tamanho e ao tempo de vida da presa. A crescente dificuldade de se capturar os tatus (acima citados), em especial D. novemcinctus, pode estar refletindo apenas os impactos locais que as populações desses animais têm sofrido ao longo de séculos. Torna-se necessário, portanto, a realização de estudos precisos de dinâmica populacional de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano. Similar aos resultados obtidos por Kellerts (1978), porém contrapondo-se aos impactos gerados, os caçadores entrevistados nesse estudo exibiram certo interesse e afeição pela vida silvestre, assim como uma preocupação quanto à possibilidade de desaparecimento de tatus verdadeiro nas áreas estudadas: “Daqui a uns tempo, encontrar tatu nessas banda [região] vai ser como uma gota d‟água no mar (Elenildo J. Torres, 25 anos, município de Sumé-PB) 156 A conservação necessita envolver programas que afetem o sustento das comunidades locais (HOLMERN et al., 2004). Considerando que pouca atenção tem sido dada ao uso social da biodiversidade no Brasil, estudos que englobam o conhecimento tradicional a respeito do uso de animais e sua importância para os grupos humanos devem ser realizados de modo a conduzir mais adequadamente a exploração dos recursos naturais e, desta forma, contribuir para sua conservação e para que as futuras gerações possam conhecê-los e gerenciá-los (COSTA-NETO, 1999a). Nessa perspectiva, nosso estudo, a qual abordou tanto a percepção dos povos do semiárido paraibano sobre a etnoecologia dos D. novemcinctus e de E. sexcinctus (primeira parte), quanto o conhecimento local sobre a caça tradicional dessas espécies (segunda parte), constituem ferramentas que devem ser inseridos em futuros programas de manejo sustentável desses animais. Como exemplo a ser seguido, sugerimos o trabalho desenvolvido por Maass (1999) na Guatemala, onde o conhecimento ecológico tradicional de caçadores locais foi utilizado juntamente com o conhecimento científico na elaboração de um calendário indicando as restrições temporais para as práticas de caça. Ainda segundo este autor, integrando as informações sócio-econômicas com as ecológicas para combinar dados qualitativos e quantitativos, pode fornecer novas perspectivas sobre a conservação da natureza e usos sustentáveis de seus recursos. No caso especifico de E. sexcinctus, há ainda possibilidades da criação dessa espécie em cativeiro, uma vez que estes indivíduos apresentam: capacidade de se reproduzir em cativeiro, hábito gregário, poligamia, prolificidade, precocidade, docilidade, período de gestação curto e outros atributos biológicos desejáveis à domesticação, tornando-se possível mitigar os efeitos da intensa exploração da mesma. Uma sugestão seria transformar caçadores em criadores devidamente credenciados e registrados. Tomando como exemplo um manejo de cutias atualmente realizado do Estado do Rio Grande do Norte, onde o CEMAS em parceria com a AACC (Associação de Apoio às Comunidades de Campo), uma organização não-governamental, estão fornecendo aos colonos um par de matrizes e um macho de cutias, para serem criadas em cativeiro e estes, por sua vez, se comprometem após um ano a devolverem o mesmo número de animais, de modo a se tornar rotativo o empréstimo das matrizes e do reprodutor de cutias. Os modelos acima apenas ilustram apenas algumas das ações prioritárias que poderiam ser aproveitadas nas áreas em questão, no entanto, outros modelos foram sugeridos por Velloso et al. (2004) para o bioma caatinga, as quais incluem: o incentivo à implantação de criadouros comunitários (cooperativas) de animais silvestres (exemplos: caititu, preá, 157 arribaçã, mocó, ema, peixes e outros escolhidos a partir de estudos); Identificação de atividades alternativas como fonte de proteína e de renda, assim como a capacitação das comunidades para executá-las. Nesse diapasão, esses exemplos são amostras de o quão possível é interagir conhecimento tradicional dos moradores locais com seus modos de subsistência e a caça de animais silvestres. Motivo pelo qual poderão prover uma base na elaboração de um futuro plano de manejo local dos tatus-peba e verdadeiro no semi-árido da Paraíba. 158 2.5 Conclusões A riqueza do conhecimento local foi notadamente demonstrada ao longo de toda a experiência de campo, revestida por detalhes intrínsecos as atividades cinegéticas, e que em alguns casos não podem ser corroborados com o conhecimento científico, por falta de informações na literatura. O emprego de armas de fogo em associação a cães foi à técnica de caça mais relatada e empregada pelos caçadores das cinco localidades estudadas, e com maior índice de eficácia quando comparado a outras técnicas de caça como as armadilhas. Verificou-se uma supervalorização aos cães destinados a caça especifica de tatus (peba e verdadeiro) os quais podem chegar a valores de venda bastante elevados, o que pode, inclusive, sugerir um comércio clandestino desses cães. Os caçadores exercem um treinamento intenso com os cães desde muito jovens, o que condiciona esses animais a terem aptidões para a caça mais rapidamente. Tanto o tatu-peba (E. sexcinctus) como o tatu verdadeiro (D. novemcinctus) possuem consideráveis finalidades de usos por moradores do semi-árido da Paraíba, onde se destaca o maior Nível de Fidelidade dessas duas espécies na gastronomia local com (NF=100% para ambas as espécies) para uso medicinal (NF=14,95% para D. novemcinctus e 37,85% para E. sexcintus) e mágico-religioso (NF=13,08% para D. novemcinctus e 30,37% para E. sexcintus). Além disso, essas duas espécies são usadas para o tratamento de 10 condições ou doenças: Asma, dor de ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas de insetos, reumatismo, varizes e verrugas. Bem como proteção contra “mau olhado” e como oferendas a deidades em atividades de caça. Apesar da noção das proibições de porte ilegal de armas de fogo e para o exercício da caça de animais silvestres no Brasil, constata-se que, na maioria das vezes, os caçadores não cumprem as normas ou leis para exercerem a caça nas regiões estudadas. Tal pratica ocorre de livre vontade por parte daqueles que usam dessas atividades cinegéticas, seja para subsistência ou para comércio. A caça para subsistência foi à principal justificativa para o desempenho desta atividade, e no que se refere ao comércio desses animais, esta se destaca como sendo uma forma complementar de renda aos que caçam os tatus (peba e verdadeiro) ou mesmo para os que capturam e criam-nos em condições de cativeiro. Identificou-se, inclusive, registros de práticas voltadas à caça recreativa, o que implica, necessariamente, no aumento das pressões antrópicas exercida as populações desses animais nas áreas de ocorrência. 159 2.6 Referências AGUIAR, J. M. Species Summaries and Species Discussions. In: FONSECA, G.; AGUIAR, J. RYLANDS, A.; PAGLIA, A.; CHIARELLO, A.; SECHREST, W. (Orgs.). The 2004 Edentate Species Assessment Workshop. Edentata. n. 6, Washington, EUA, 2004. p. 3-26. ALCORN, J. N. Indigenous peoples and conservation. In: EHRENFELD, D. (Ed.). Readings from Conservation Biology. 1. ed. Londres: Blackwell Science, 1995. pp. 20-22. ALMEIDA, M. B. et al. Caçar. In: CUNHA, M. C.; ALMEIDA, M. B. Enciclopédia da floresta – o Alto Juruá: práticas e conhecimentos das populações. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 311-335. ALMEIDA, C.F.C.B.R.; ALBUQUERQUE, U.P. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): Um estudo de caso. Interciencia, v.27, n.6, p. 276-285, 2002. ALTRICHTER, M. Factors underlying the interactions between people and wildlife in the Argentine Chaco. 2005. Tese (Doutorado), School of natural Resources, University of Arizona, EUA. 2005. ALTRICHTER, M. Wildlife in the life of local people of the semi-arid Argentine Chaco. Biodiversity and Conservation, v. 15, n., p. 2719–2736, 2006. ALVARD, M. Conservation by native people: prey choice in a depleted habitat. Human Nature, v. 5, p. 127–154, 1994. ALVARD, M.; ROBINSON, J.; REDFORD, K.; KAPLAN, H. The sustainability of ubsistence hunting in the Neotropics. Conservation Biology, v. 4, p. 977–982, 1997. ALVES, R. R. N. Animal-Based Remedies as Complementary Medicine in Brazil. Forsch Komplementmed, v. 15, n., p. 226–227, 2008. ______. Fauna used in popular medicine in Northeast Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 5, n. 1, p. 1-30, 2009. ALVES, R. R. N. et al. Hunting strategies used in the semi-arid region of northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 5, n. 12, p. 1-50, 2009. ALVES, R. R. N.; LIMA, H. N.; TAVARES, M. C.; SOUTO, W. M. S.; BARBOZA, R. R. D.; VASCONCELLOS, A. Animal-based remedies as complementary medicines in Santa 160 Cruz do Capibaribe, Brazil. BMC Complementary and Alternative Medicine, v.8, p. 1-44, 2008. ALVES, R. R. N.; ROSA, I. L. Why study the use of animal products in traditional medicines? Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 1, n. 5, p. 1-5, 2005. ______. From cnidarians to mammals: The use of animals as remedies in fishing communities in NE Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v. 107, n., p. 259–276, 2006. ______. Zootherapeutic practices among fishing communities in North and Northeast Brazil: A comparison. Journal of Ethnopharmacology, v.111, p. 82–103, 2007a. ______. Zootherapy goes to town: The use of animal-based remedies in urban areas of NE and N Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v.113, p. 541-555, 2007b. _______. Medicinal animals for the treatment of asthma in Brazil. BMC Complementary and Alternative Medicine, v. 14, p. 350-351, 2008. ALVES, R. R. N.; ROSA, I. L.; SANTANA, G. G. The Role of Animal-derived Remedies as Complementary Medicine in Brazil. BioScience, v.57, n.11, p. 949-955, 2007. AMIR, O. G. Wildlife trade in Somalia. 1. ed. [S.l.]: IUCN/SSC/Antelope Specialist Group, 2006. 28 p. ANDRIGUETTO-FILHO, J. M.; KRUGER, A. C.; LANGE, M. B. R.. Caça, biodiversidade e gestão ambiental na Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Biotemas, v. 11, p. 133–156, 1998. ASHWELL, D.; WALSTON, N. An overview of the use and trade of plants and animals in traditional medicine systems in Cambodia. Hanoi, Vietnam: TRAFFIC Southeast Asia, Greater Mekong Programme, 2008. 112 p. AYRES, J. M.; AYRES, C. Aspectos da caça no alto rio Aripuanã. Acta Amazonica, v. 9, n. 2, p. 287-298, 1979. BAGAGLI, E. et al. Isolation of Paracoccidioides brasiliensis from armadillos (Dasypus noveminctus [novemcinctus]) captured in an endemic area of paracoccidioidomycosis." Am. J. Trop. Med. Hyg., v. 58, p. 505-512, 1998. 161 BAKARR et al. Hunting and bushmeat utilization in the African rain forest: Perspectives toward a Blueprint for Conservation Action. 1. ed. Washington, EUA: Conservation International e Center for Applied Biodiversity Science, 2001. 174 p. BARBOZA, R. R. D.; SOUTO, W. M. S.; MOURÃO, J. S. The use of zootherapeutics in folk veterinary medicine in the district of Cubati, Paraíba State, Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.3, n.32, p. 14, 2007. BARRERA-BASSOLS, N.; TOLEDO, V. Ethnoecology of the Yucatec Maya: Symbolism, Knowledge and Management of Natural Resources. Journal of Latin American Geography, v. 4, n. 1, p. 9–41, 2005. BENNETT, E. L.; ROBINSON, J. G. Hunting for Sustainability: The start of a synthesis. In: ROBINSON, J. G.; BENNETT, E. L. (eds). Hunting for sustainability in Tropical Forests (Biology and Resource Series). Columbia University Press. New York, 1999. ______. Hunting for the Snark. In: ROBINSON, J.; BENNET, E. (Eds). Hunting for Sustainability in Tropical Forests. Nova Iorque: Columbia University Press, 2000. P. 1-9. BERNARD, H. R. Research methods in cultural anthropology. 1. ed. Newbury Park: Sage Publications, 1988. 520 p. BISBAL E., F. J. Consumo de fauna silvestre en la Zona de Imataca, Estado Bolivar, Venezuela. Interciencia, v. 19, n. 1, 1994. BLAIN, R. The Evolution of Man - The History of Hunting. [s.d.]. Disponível em: < http://www.streetdirectory.com/travel_guide/7607/recreation_and_sports/the_evolution_of_m an___the_history_of_hunting.html>. Acesso em: 13 ago. 2008. BODMER, R. Priorities for the Conservation of Mammals in the Peruvian Amazon. Oryx, v. 29, p. 23–28, 1995. BONINO, N. La liebre europea II. La libre como problema. Métodos de control. Buenos Aires: INTA, 1986. BRANCH, L. C.; SILVA, M. F. Folk medicine in Alter do Chão, Pará, Brazil. Acta Amazonica, v. 13, p. 737-797, 1983 BRISBIN, L.; RISCH, T.S.: Primitive dogs, their ecology and behavior: Unique opportunities to study the early development of the human- canine bond. JAVMA, v. 210, n. 8, p. 11221123, 1997. 162 CALOURO, A. M. Caça de subsistência: sustentabilidade e padrões de uso entre seringueiros ribeirinhos e não ribeirinhos do Estado do Acre. 1995. Dissertação (Mestrado), Universidade de Brasília, Brasília, 1995. CALOURO, A. M.; MARINHO-FILHO, J. S. A sustentabilidade da caça de subsistência entre seringueiros do Acre (Brasil). In: DRUMOND, P. M. (Org.). Fauna do Acre. Rio Branco, AC: EDUFAC, 2005. p. 91-108. CAMPBELL, W. E. Behavior Problems in Dogs. 2.ed. American Veterinary Publications, 1997. p. 34-41; 201-211. CELSO, R. Criação de condições e incentivos para a conservação local de biodiversidade. In: Speth, J. C.; Holdgate, M. W.; Tolba, M. K. (Orgs.). A Estratégia Global da Biodiversidade. Diretrizes de Ação para Estudar, Salvar e Usar de Maneira Sustentável e Justa a Riqueza Biótica da Terra, 92-93. Rio de Janeiro: WRI/UICN/PNUMA, 1992. CHARDONNET, P. et al. The value of wildlife. Rev sci tech Off int Epiz, v. 21, n. 1, p. 1551, 2002. CHIARELLO, A.G. Density and population size of mammals in remnants of Brazilian Atlantic forest. Conservation Biology, v. 14, n. 1649-1657, 2000. CORREDOR, G. G. et al. The naked-tailed armadillo Cabassous centralis (Miller 1899): a new host to Paracoccidioides brasiliensis. Molecular identification of the isolate. Medical Mycology, ago. 2004. COSTA, L. P. et al. Conservação de Mamíferos no Brasil. Megadiversidade, v.1, n.1, p.103112, 2005. COSTA-NETO, E. M. Healing with animals in Feira de Santana City, Bahia, Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v. 65, n., p. 225-230, 1999a. COSTA-NETO, E. M. Traditional use and sale of animals as medicines in Feira de Santana City, Bahia, Brazil. Indigenous Knowledge and Development Monitor, v. 7, n. 2, p. 6-9, 1999b. ______. Conhecimento e usos tradicionais de recursos faunísticos por uma comunidade AfroBrasileira. Resultados preliminares. Interciencia, v. 25, n. 9, p. 423-431, 2000. 163 ______. Animal-based medicines: biological prospection and the sustainable use of zootherapeutic resources. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 77, n. 1, p. 33-43, 2005. COSTA-NETO, E. M.; MARQUES, J. G. W. Faunistic resources used as medicines by artisanal fishermen from Siribinha Beach, State of Bahia, Brazil. J Ethnobiol, v. 20, p. 93– 109, 2000. CULLEN, L. et al. Mammalian densities and species extinctions in Atlantic forest fragments: the need for population management. In: SILVIUS, K. M.; BODMER, R. E.; FRAGOSO, J. M. V. (Eds). People in Nature. Nova Iorque: Columbia University Press, 2004. p. 211–226. DAVID, E. C.; JOY, A. P. (Eds). Sprit of the Environment: Religion, Value and Environmental Concern. 1. ed. Londres: Routledge, 1998. p 1–12. DAVIDSON, M. M.; FRASER, K.W. Official Hunting Patterns, and Trends in the Proportions of Sika (Cervus-Nippon) and Red Deer (C-Elaphus-Scoticus) in the Kaweka Range, New-Zealand, 1958-1988. New Zealand Journal of Ecology, v. 15, n. 1, p. 31-40, 1991. DIAS, J. C. P. Notas sobre o Trypanosoma cruzi e suas características bio-ecológicas, como agente de enfermidades transmitidas por alimentos. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 39, n. 4, 2006. DURIEZ, O. et al. Factors affecting population dynamics of Eurasian woodcocks wintering in France: assessing the efficiency of a hunting-free reserve. Biological Conservation, v. 122, n. 1, p. 89-97, 2005. ESCAMILLA, A et al. Habitat Mosaic, Wildlife Availability, and Hunting in the Tropical Forest of Calakmul, Mexico. Conservation Biology, v. 14, n. 6, p. 1592–1601, 2000. EVES, H.; RUGGIERO, R. Socio-economics and the Sustainability of Hunting in the Forest of Northern Congo (Brazzaville). In: ROBINSON, J.; BENNET, E. (Eds). Hunting for Sustainability in Tropical Forests. 2. ed. Nova Iorque: Columbia University Press, 2001. FA, E. J.; GARCÍA YUSTE, J. E. Commercial bushmeat hunting in the Monte Mitra forests, Equatorial Guinea: extent and impact. Anim. Biodiv. Conserv., v. 24, n. 1, p. 31-52, 2001. FA, J. E et al. Impact of market hunting on mammal species in equatorial Guinea. Conservation Biology, v. 9, n. 5, p. 1107-1115, 1995. 164 FACHÍN-TERÁN, A.; VOGT, R. C.; THORBJARNARSON, J. B. Patterns of use and hunting of turtles in the Mamirauá Sustainability Devepment Reserve, Amazonas, Brasil. In: SILVIUS, K. M.; BODMER, R. E.; FRAGOSO, J. M. V. (Ed). People in nature: wildlife conservation in South and Central America. Nova Iorque: Columbia University Press, 2004. p. 362-377. FANG, T. G.; MONTENEGRO, O. L.; BODMER, R. E. Manejo y conservación de fauna silvestre em America Latina. 1. ed. La Paz, Bolivia: Instituto de Ecología,. 1999. FENG, Y. et al. Bear bile: dilemma of traditional medicinal use and animal protection. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 5, n. 2, p. 1-45, 2009. FRAGOSO J. M. V.; BODMER, R. E.; SILVIUS, K. M. Introduction Wildlife conservation and management in South and Central America: Multiple pressures and innovative solutions. In: SILVIUS, K. M.; BODMER, R. E.; FRAGOSO, J. M. V. (Eds) People in Nature. Nova Iorque: Columbia University Press, 2004. p. 1–8. FREITAS, A. P. A. et al. Tráfico da fauna silvestre brasileira: vulnerabilidade dos animais versus responsabilidade social. In: GARRAFA, V.; CORDÓN, J. (Org.). Pesquisas em Bioética no Brasil de hoje. Gaia, p. 231-251, 2006. FRIEDMAN, J. et al. A preliminary classification of the healing potential of medicinal plants, based on a rational analysis of an Ethnopharmacological field survey among bedouins in the Negev desert, Israel. Journal of Ethnopharmacology, v. 16, n., p. 275-287, 1986. GRAF, W.; WADSACK, J.A. The open field species project of the Hessian Hunters Association. Zeitschrift fur Jagdwissenschaft, v. 48, p. 42-50, 2002. GRANDLIC, C.J. et al. Lead pollution in a large, prairie- pothole lake (Rush Lake, WI, USA): Effects on abundance and community structure of indigenous sediment bacteria. Environmental Pollution, v. 144, n. 1, p. 119-126, 2006 GUADAGNIN, D. L.; PERELLO, L. F. C.; MENEGHETI, J. O. A situação atual da caça de lazer e manejo de áreas úmidas no Rio Grande do Sul. Neotropical Biology and Conservation, v. 2, n. 2, p. 63-70, 2007. GUEVARA, R; ROSALES, J; SANOJA, E. Vegetación pionera sobre rocas, un potencial biológico para la revegetación de áreas degradadas por la minería de hierro. Interciencia, v. 30, n. 10, p. 644-651, 2005. 165 GUITART, R.; SERRATOSA, J.; THOMAS, V. G. Lead-poisoned wildfowl in Spain: a significant threat for human consumers. International Journal of Environmental Health Research, v. 12, n. 4, p. 301-309, 2002. GUPTA, A.K. Origin of agriculture and domestication of plants and animals linked to early Holocene climate amelioration. Current Science, v.87, n.1, p.54-59, 2004. HAMILTON, L. S. Ethics, Religion and Biodiversity. 1. ed. Cambridge, EUA: The White House Press, 1993. HAYS, T. E. An Empirical Method for the Identification of Covert Categories in Ethnobiology. American Ethnologist, v.3, n.3, p. 489-507, 1976. HAPPOLD, D.C.D. The interactions between humans and mammals in Africa in relation to conservation: A review. Biodiversity and Conservation, v. 4, p. 395–414, 1995. HONGMAO L. et al. Practice of conserving plant diversity through traditional beliefs: a case study in Xishuangbanna, southwest China. Biodiversity and Conservation v. 11, p. 705–713, 2002. HOLLAND, K. Medicine from animals: from mysticism to science. Pharmaceutical Historian, v. 24, n. 3, p. 9-12, 1994. HOLMERN, T. et al. Human-Wildlife Conflicts and Hunting in the Western Serengeti, Tanzania. Trondheim, Noruega: Norwegian Institute for Nature Research, 2004. 26 p. IUCN. Symposium Recreational hunting, conservation and rural livelihoods: science and practice. Anais… Londres, 12-13 out. 2006. IUCN. IUCN Red List of Threatened Species, [S. l.], 2008. Disponível em: <http://www.iucnredlist.org/search>. Acesso em: 3 mai. 2009. JAIN, A. et al. Unrecorded Ethnomedicinal Uses of Biodiversity from Tadgarh-Raoli Wildlife Sanctuary, Rajasthan, India. Acta Botanica Yunnanica, v. 29, n. 3, p. 337-344, 2007. JESCHKE, J. M.; STRAYER, D. L. Determinants of vertebrate invasion success in Europe and North America. Global Change Biology, v. 12, n. 9, p. 1608-1619, 2006. 166 JOHNSON, A. et al. Wildlife hunting and use in the Nam Ha National Protected Area: Implications for rural livelihoods and biodiversity conservation. Vientiane, Laos: Wildlife Conservation Society, 2003. KALCHREUTER, H. 1984. Die Sache mit der Jagd. Munique, Alemanha: BLV Verlagsgesellschaft GmbH. KEANE, A.; BROOKE, M. D.; MCGOWAN, P. J. K. Correlates of extinction risk and hunting pressure in gamebirds (Galliformes). Biological Conservation, v. 126, n. 2, p. 216233, 2005 KELLERTS, R. Attitudes and characteristics of hunters and antihunters. North Am. Wildl. and Nat. Resour. Conf. v. 43, p. 412-423, 1978 LANTZMAN, M. Agressão Canina. 2000. Disponível em: <http://www.pet.vet.br>. Acesso em: 21 jan. 2009. LEAL, I. R.; SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; LACHER Jr., T. E. Mudando o curso da conservação da biodiversidade na Caatinga do Nordeste do Brasil. Megadiversidade, v. 1, n. 1, p. 139-146, 2005. LEÓN, P.; MONTIEL, S. Wild Meat Use and Traditional Hunting Practices in a Rural Mayan Community of the Yucatan Peninsula, Mexico. Human Ecology, v. 36, n., p. 249–257, 2008. LEV, E. Traditional healing with animals (zootherapy): medieval to present-day Levantine practice. Journal of Ethnopharmacology, v. 85, p. 107-118, 2003. LÓSSIO, R. 2006. Processo de Folkcomunicaçao. Fundaçao Joaquin Nabuco. Disponivel em: <http://www.fundaj.gov.br/geral/folclore/lendastextos.pdf>. Acesso em: 21 jan. 2009. LUGO, A. El manejo de la biodiversidad en el siglo XXI. Interciencia, v. 26, n. 10, p. 484490, 2001. LUGO-MORIN, D. R. Aves de caza del grupo indígena E‟ñepa de Guaniamo, Venezuela. Ecosistemas, v. 16, n. 2, p. 86-97, 2007. MAASS, P. The cultural context of biodiversity conservation. In: MARKUSSEN, M.; BUSE, R.; GARRELTS, H.; COSTA, M. A. M.; MENZEL, S.; MARGGRAF, R. (Ed.). Valuation and Conservation of Biodiversity: Interdisciplinary Perspectives on the Convention on Biological Diversity Berlim: Springer, v., 1999. p. 315-342 167 MAHAWAR, M. M.; JAROLI, D. P. Traditional knowledge on zootherapeutic uses by the Sahari tribe of Rajasthan, India. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 3, n. 25, p. 6, 2007. MARANHÃO, T. P. Naútica e classificação ictiológica em Icaraí,Ceará: um estudo em antropologia cognitva. 1975. 170 f. Dissertação (Mestrado). UNB. Brasília, DF, 1975. MARES, M. Conservation in South America : problems, consequences and solutions. Science, v. 233, p. 734-739, 1986. MARES, M; OJEDA, R. Faunal commercialization and conservation in South America. BioScience, v. 34, p. 580-584, 1984. MATSUDA, H. Challenges posed by the precautionary principle and accountability in ecological risk assessment. Environmetrics, v. 14, n. 2, p. 245-254, 2003. McDONOUGH, C. M. Pairing behavior of the nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus). Am. Midl. Nat. v. 138, p. 290-298, 1997. McNEELY, J. A. Cultural factors in conserving biodiversity. In: JIANCHU, X. (Ed.). Links Between Cultures and Biodiversity. Proceeding of the Cultures and Biodiversity Congress, 2000, p. 124–142. MEDRI, Í. M. Ecologia e História Natural do Tatu-peba, Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), no Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul 2008. 187 f. Tese (DSc Thesis) - Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2008. MEDRI, Í. M.; MOURÃO, G. M.; RODRIGUES, F. H. G. Ordem Xenarthra. In: REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, I. P. (Ed.). Mamíferos do Brasil. Londrina, Paraná, Brasil: Universidade Estadual de Londrina, v., 2006. p. 71-100. (MELLO E SOUZA) CANDIDO, Antonio. Os Parceiros do Rio Bonito. 1. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1975. MELATTI, J. C. Índios do Brasil. 8. ed. São Paulo: HUCITEC, 1994. 220 p. MENA, P. V. et al. The Sustainability of Current Hunting Practices by the Huaorani. In: ROBINSON, J.; BENNET, E. (Eds). Hunting for Sustainability in Tropical Forests. Nova Iorque: Columbia University Press, 2000. p. 57-78. 168 MESGRAVIS, L.; PINSKY, C. B. O Brasil que os Europeus encontraram. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2000, 111 p. MILNER-GULLAND, E. et al. Wild Meat: The Bigger Picture. TRENDS in Ecology and Evolution, v. 18, n. 7, p. 351–357, 2003. MOLINA, A; BARROS, J. Aplicación de los SIG para la evaluación del estado de conservación del hábitat del paujil de pico azul Crax alberti (Aves: cracidae) en el nororiente de Antioquia, Colombia. Rev. EIA, v. 3, p. 95-105, 2005. MONTIEL, S.; ARIAS, L.; DICKINSON, F. La Cacería Tradicional en el Norte de Yucatán: Una Práctica Comunitaria. Revista de Geografía Agrícola, v. 29, p. 43–52, 1999. MOURA, F. B. P.; MARQUES, J. G. W. Zooterapia popular na Chapada Diamantina: uma Medicina incidental? Ciência & Saúde Coletiva v. 13, n., p. 2179-2188, 2008. NAIFF, R. D. et al. Paracoccidioidomicose enzootica em tatus (Dasypus novemcinctus) no estado do Pará. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, v. 28, p. 19-27, 2006. NARANJO, E. J.; GUERRA, M. M.; BODMER, R. E; BOLANOS, J. E. Subsistence hunting by three ethnic groups of the Lacondon Forest, Mexico. Journal of Ethnobiology, v. 24, p. 384-395, 2004 OJASTI, J. Wildlife Utilization in Latin America: Current situation and prospects for sustainable management. 1. ed. Roma: FAO Conservation, FAO, 1996. OLDFIELD, T. E. E. et al. Field sports and conservation in the United Kingdom. Nature, v. 423, n. 6939, p. 531-533, 2003. OLIVERO, J; MENDONZA, C; MESTRE, J. Mercurio en cabello de diferentes grupos ocupacionales en una zona de minería aurífera en el norte de Colombia. Rev. Saúde Pública, v. 29, n. 5, p. 376-379, 1995. ONU. A Framework for Action on Biodiversity and Ecosystem Management. Johannesburg: WEHAB Working Group, 2002. PAIVA, M. P. Fauna do Nordeste do Brasil Conhecimento Científico e Popular. Fortaleza – BNB; 1995. 169 PERES, C. A. Effects of hunting on western amazonian primate community. Biological Conservation, v. 54, p. 47–59, 1990. PERES, C. A. Population status of white-lipped Tayassu pecari and collared peccaries T. tajacu in hunted and unhunted amazonian forests. Biological Conservation, v. 77, p. 115123, 1996. PERES, C. Effects of Subsistence Hunting on Vertebrate Community Structure in Amazonian Forest. Conservation Biology, v. 14, n. 1, p. 240–253, 2000. PERES, C. A. Synergistic effects of subsistence hunting and habitat fragmentation on Amazonian forest vertebrates. Conservation Biology, v. 15, p. 1490-1505, 2001. PONTING, C. A. Um História Verde do Mundo. 1. ed. Rio de Janeiro, 1995. cap. 4, p. 76124. PRESCOTT-ALLEN, R.; PRESCOTT-ALLEN, C. What‟s Wildlife Worth?. 1. ed. Washington, EUA: International Institute for Environment and Development, 1982. PUSPA, G. Plant used in religious beliefs of the Tai Khamtis. In: PEI, S. (Ed). Proceedings of the Second International Congress of Ethnobiology. Kunming, China: Yunnan Science and Technology Press, 1996. QUIJANO-HERNÁNDEZ, E.; CALMÉ, S. Patrones de cacería y conservación de la fauna silvestre en una comunidad Maya de Quintana Roo, México. Etnobiología, v. 2, p. 1-18, 2002. RAMÍREZ, P.. Aprovechamiento de Fauna Silvestre en las Comunidades Mayas del Centro de Quintana Roo. Amigos de Sian Ka‟na, v. 10, p. 6–8, 1992. READING, R. P.; MIX, H.; LHAGVASUREN, B; TSEVEENMYADAG, N. The commercial harvest of wildlife in Dornod Aimag, Mongolia. Journal of Wildlife Management, v. 62, p. 59-71, 1998. REDFORD, K. A Floresta vazia. In: VALLADARES-Pádua, C.; BODMER, R. E. (Org.). Manejo e conservação de vida silvestre no Brasil. Brasília, DF: CNPq; Belém, PA: Sociedade Civil de Mamirauá. 1997. p. 1-22. RENCTAS. 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. 2003. Disponível em: <http://www.renctas.org.br/files/REL_RENCTAS_pt_final.pdf>. Acesso em: 7 mai. 2009. 170 ROBINSON, J.; BENNET, E. (Eds). Hunting for Sustainability in Tropical Forests. Nova Iorque: Columbia University Press, 2000a. ROBINSON, J. G.; BODMER, R. E. Towards wildlife management in tropical forests. Journal of Wildlife management, v. 63, p. 1-13, 1999. ROCHA, M. S. P.; MOURÃO, J. S.; SOUTO, W. M. S.; BARBOZA, R. R. D.; ALVES, R. R. N. Uso dos recursos pesqueiros no Estuário do Rio Mamanguape, Estado da Paraíba, Brasil. Interciencia, v.33, n.12, p. 903-909, 2008. ROWCLIFFE, J.; MILNER-GULLAND, E.; COWLISHAW, G. Do Bushmeat Consumers Have Other Fish to Try? TRENDS in Ecology and Evolution, v. 20, n. 6, p. 274–276, 2005. RUIZ, D. La biodiversidad en la ecorregión de los llanos de Venezuela y las prioridades para su conservación. Ecosistemas, v. 2, n. 1-8, 2004. SAMPAIO, Y; BATISTA, J. E. M. Desenvolvimento regional e pressões antrópicas no bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C. et al. (Coord.). Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004. p. 311-324. SCHAEFER J.M; HOSTETLER, M. E. The nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus). UF/IFAS document WEC, v.76. University of Florida, 2003. SCHENCK, M. et al. Why People Eat Bushmeat: Results From Two-Choice, Taste in Gabon, Central Africa. Human Ecology, v. 34, n. 3, p. 433–445, 2006. SHAW, J. K. The hemoflagellates of sloths, vermilinguas (anteaters) and armadillos. In: Montgomery, G. G. (Ed.). The evolution and ecology of armadillos, sloths and vermilinguas. 1. ed. Washington, EUA e London, Inglaterra: Smithisonian Institution Press, 1985. p. 279-292. SILVA, G. A. Mamíferos de importância cinegética na Várzea de Marituba e na Fazenda Boa Vista, Alagoas: espécies caçadas e métodos de caça. In Dissertação Universidade Federal de Alagoas, Maceió; 1993 SILVIUS, K. M.; BODMER, R. E.; FRAGOSO, J. M. V. (Eds). People in Nature. Nova Iorque: Columbia University Press, 2004. 171 SMITH, N. J. H. Utilization of game along Brazil's transamazon highway. Acta Amazonica, v. 6, p. 455-466, 1976. STEARMAN, A. M. A Pound of Flesh. Social Change and Modernization as Factors in Hunting Sustainability among Neotropical Indigenous Societies. In: ROBINSON, J.; BENNET, E. (Eds). Hunting for Sustainability in Tropical Forests. Nova Iorque: Columbia University Press, 2000. p. 233-250. TAMISIER, A. et al. Effects of hunting disturbance on waterbirds. A review of literature. Revue D Ecologie-la Terre et la Vie, v. 58, n. 4, p. 435-449, 2003. THIOLLAY, J. Effects of hunting on guianan forest game birds. Biodiversity and Conservation, v. 14, p. 1121-1135, 2005. THOISY, B. DE; RENOUX, F.; JULIOT C. Hunting in northern French Guiana and its impacts on primate communities. Oryx, v. 39, p. 149-157, 2005. TRINCA, C. T.; FERRARI, S. F. Caça em assentamento rural na Amazônia matogrossense. In: JACOBI, P.; FERREIRA, L. C. (Ed.). Diálogos em ambiente e sociedade no Brasil. 1. ed. Indaiatuba: ANPPAS, 2006. p. 155-167. VALLE, Y.B.M. Vaqueiros do Sítio do Meio (Lagoa Grande/PE) & Mamíferos Nativos das Caatingas Pernambucanas: Percepções e Interações 2007. 225 f. Dissertação (Mestrado) - Departamento de Geografia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brazil, 2007. VELLOSO, A. L. et al. Unidades de conservação: áreas e ações prioritárias para a conservação da Caatinga. In: SILVA, J. M. C. et al. (Coord.). Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004. p. 302-310. WCS; TRAFFIC. Hunting and Wildlife Trade In Asia. Proceedings of a Strategic Planning Meeting of the Wildlife Conservation Society (WCS) and TRAFFIC. Bali, Indonesia: WCS e TRAFFIC, 2004. WHITMORE, T. Tropical forest disturbance, disappearance and species loss. Neotropical forest remnants: ecology, management and conservation of fragmented communities. In: LAURENCE, W; BIERREGAARD, R. (Eds). Chicago, EUA: The University of Chicago, 1997. p. 3-12. WHO. Guidelines on Conservation of Medicinal Plants. 1993. Disponível em: <http://www.wwf.org.uk/filelibrary/pdf/guidesonmedplants.pdf>. Acesso em 13 mai. 2009. 172 WILKIE, D. et al. Defaunation or Deforestation: Comercial Logging and Market Hunting in Northern Congo. In FIMBEL, R.; ROBINSON J.; GRAJAL, A. (Eds.). The Cutting Edge: Conserving Wildlife in Logged Tropical Forest. Nova Iorque, EUA: Columbia University Press, 2001. p. 375–399. WILKIE D. S.; CARPENTER, J. F. Bushmeat hunting in the Congo Basin: an assessment of impacts and options for mitigations. Biodiv. Conserv., v. 8, p. 929-955, 1999. ZACCAGNINI, M. E. Los patos en las arroceras del noreste de Argentina: ¿plagas o recursos para caza deportiva y turismo sostenible? In: BLANCO, D. E.; BELTRÁN J.; DE LA BALZE, V. (Eds.). Primer Taller sobre la Caza de Aves Acuáticas: Hacia una estrategia para el uso sustentable de los recursos de los humedales. 1. ed. Buenos Aires: Wetland International, 2002. p. 35-57. ZAPATA, G. Sustentabilidad de la cacería de subsistencia: el caso de cuatro comunidades quichuas en la Amazonía Nororiental Ecuatoriana. J. Neotrop. Mammal., v. 8, n. 1, p. 59-66, 2001. 173 APÊNDICE 174 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO ROTEIRO DAS ENTREVISTAS 1 – Quais tipos de Tatus existem na região? 2 – Como você os chama? Quais seus nomes? 3 – É fácil diferenciá-los? ( ) SIM ( ) NÃO 4 – Quais são as principais diferenças entre eles? a) Tatu peba * TAMANHO * PESO * COR * DENTIÇÃO b) Tatu Verdadeiro * TAMANHO * PESO * COR * DENTIÇÃO 5 – É fácil encontrá-los na região? ( ) SIM ( ) NÃO 6 – São animais solitários ou vivem em grupos? ( ) SIM ( ) NÃO ALIMENTÇÃO 1–De que se alimentam a) Tatu Peba: os Tatus? b) Tatu verdadeiro: 2 – É verdade que o “tatu-peba” come carniça ou defunto? ( ) SIM ( ) NÃO 3 – Quais são os horários que eles saem para suas atividades de alimentação? Por quê? ( ) manhã/matutino/diurno ( ) tarde/vespertino ( ) noite/noturno/crepúsculo HABITAT 1 – Quais os locais que comumente encontramos os tatus na região? a) Tatu Peba b) Tatu Verdadeiro 2 – Eles vivem perto de locais que tenham água? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) açude, rio, riacho, ribeirão, poços, outros... 3 – Que tipo de vegetação eles vivem? a) Tatu Peba b) Tatu verdadeiro 4 – Convivem bem com outros animais ou são ariscos? ( ) SIM convivem ( ) NÃO convivem ( ) SIM+ ariscos REPRODUÇÃO 1 – Qual época/estação/mês do ano ocorre à reprodução dos tatus? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 2 – Quantos filhotes em média as fêmeas parem? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 3 – Em que local as fêmeas dão a luz? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 4 – Quem cuida dos filhotes? a) Tatu Peba: ( ) só o macho ( ) só a fêmea ( ) os2 b) Tatu Verdadeiro: ( ) só o macho ( ) só a fêmea ( ) os 2 5 – Como eles cuidam? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 6 – Com que idade (tempo de vida) os pais deixam de cuidar dos filhotes? a) Tatu peba: b) Tatu verdadeiro: 175 7 – Com que idade os tatus já são adultos e prontos pra reprodução? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 8 – Existe algum tipo de ritual/dança/corte de acasalamento do macho para a fêmea ou viceversa? Como seria? a) Tatu Peba: ( ) SIM ( ) NÃO b) Tatu Verdadeiro: ( ) SIM ( ) NÃO 9 – Os machos acasalam e vivem com apenas 1 única fêmea ou várias? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 10 – Um tatu de um tipo pode acasalar/reproduzir com de outro tipo? Por quê? ( ) SIM ( ) NÃO USO DAS ESPÉCIES GASTRONOMIA 1 – Quais dos dois tipos de tatus pode-se comer? ( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) Ambos ( ) Nenhum 2 – Qual dos dois é mais saboroso? ( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) Ambos ( ) Nenhum 3 – Como se costuma tratá-los (prepará-los)? 4 – Algum deles possui a carne carregada/remosa? ( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) Ambos ( ) Nenhum 5 – Qual(s) a(s) contra-indicação(s) para se consumir tal carne? 6 – Com que freqüência você consome carne de tatu? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro CAÇA 1 – Existe muita caça/caçador (ainda) na região? ( ) SIM ( ) NÃO 2 – Qual dos tatus se costuma caçar mais? Por quê? ( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) os dois 3 – Qual a finalidade da caça? ( ) consumo pessoal (familiar) ( ) venda (comércio, demanda) ( ) esporte 4 – Qual dos dois é mais fácil ou difícil de capturar ou abater? Por quê? ( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) os dois 5 – Qual época/estação/mês do ano é melhor para caçá-los? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 6 – Qual melhor horário para caçálos/capturá-los? a) Tatu Peba: ( ) manhã/matutino/diurno ( ) tarde/vespertino ( ) noite/noturno/crepúsculo b) Tatu Verdadeiro: ( ) manhã/matutino/diurno ( ) tarde/vespertino ( ) noite/noturno/crepúsculo 7 – As fazes da Lua interferem para uma boa caçada? Qual é a melhor? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NOVA ( ) MINGUANTE ( ) QUARTOCRESCENTE ( ) CHEIA 8 – Crianças participam das caçadas? A partir de que idade? ( ) SIM ( ) NÃO IDADE: __________ 9 – Quais as armas ou ferramentas os caçadores utilizam para caçar os tatus? a) Tatu Peba: b) tatu Verdadeiro: 176 10 – Quando capturados vivos, onde o caçador guarda esses animais? a) Tatu Peba b) Tatu Verdadeiro 18 – Qual tem melhor aceitação de mercado? Por quê? ( ) fêmea ( ) macho ( ) ambos 11 – Há condições de criar esses animais em casa? MEDICINAL/MÁGICO-RELIGIOSO 1 – Qual o uso medicinal que se faz com alguma das espécies de tatus? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 12 – Quais os procedimentos antes de sair para caçar? 2 – Que ou quais partes são utilizadas? 13 – Costuma-se engordar/cevar esses animais em casa? Quanto tempo de engorda? ( ) SIM ( ) Não Tempo: 3 – O caçador tem algum ritual/crença/preparação antes, durante ou depois da caça? Qual? 14 – O que costumam comer em cativeiro? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 15 – Como o caçador lida com seus cães antes e depois da caça? a) ANTES: b) DEPOIS: 16 – Os cães usados para caçar os tatus são de alguma raça definida ou “raceados”? Qual? ( ) SIM definida ( ) NÃO raceado 12 – Como se faz o adestramento dos cães? 17 – É comum a venda de cães (filhotes ou adultos) com predisposição a caça ou já adestrado para caça de tatus? a) ( ) SIM - ( ) ADULTO ( ) FILHOTE ( ) ADESTRADO ( ) NÃO-ADESTRADO ( ) TODOS b) ( ) NÃO 15 – Qual o valor de mercado desses cães? COMÉRCIO 1 – Os tatus podem ser encontrados vivos ou abatidos em feiras-livres? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) só o tatu peba ( ) só o tatu verdadeiro ( ) ambos 2 – Qual o valor de mercado destes animais? a) Tatu Peba: b) Tatu Verdadeiro: 3 – Quais têm melhor aceitação de mercado? Por quê? a) Tatu Peba: ( ) Macho ( ) Fêmea ( ) ambos b) Tatu Verdadeiro: ( ) Macho ( ) Fêmea ( ) ambos 4 – Os Preços diferenciam se vivos ou mortos? Por quê? a) Tatu Peba b) Tatu Verdadeiro 5 – É fácil adquirir/comprar nas feiras ou sob encomenda? 177 TATU PEBA Encomenda a) ( ) SIM: ( ) Feira ( ) b) ( ) NÃO TATU VERDADEIRO a) ( ) SIM: ( ) Feira ( ) Encomenda b) ( ) NÃO 6 – O IBAMA atua de forma eficaz na região? ( ) SIM ( ) NÃO VISÃO DO ENTREVISTADO 1 – Em sua opinião existem bastantes ou poucos tatus na região? a) Tatu Peba: ( ) MUITOS ( ) POUCOS b) Tatu Verdadeiro: ( ) MUITOS ( ) POUCOS 2 – Em sua opinião nos tempos dos seus pais ou avós existiam mais tatus, menos ou a quantidade é igual a de hoje em dia? Por quê? a) Tatu Peba: ( ) MAIS ( ) MENOS ( ) IGUAL b) Tatu Verdadeiro: ( ) MAIS ( ) MENOS ( ) IGUAL 3 – O que poderá acontecer com os tatus durante os próximos 20 anos ou mais?