UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia Programa de Pós-Graduação em Geografia Mestrado Everaldo Lisboa dos Santos Reorganização Espacial na Área Central de Nova Iguaçu: o Centro Velho e o Centro Novo Rio de Janeiro 2008 2 Everaldo Lisboa dos Santos Reorganização Espacial na Área Central de Nova Iguaçu: o Centro Velho e o Centro Novo Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico . Orientadora: Profª Dra. Susana Mara Miranda Pacheco Rio de Janeiro 2008 3 Everaldo Lisboa dos Santos Reorganização Espacial na Área Central de Nova Iguaçu: o Centro Velho e o Centro Novo Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico. Aprovado em ________________________________________________________________ Banca Examinadora: ____________________________________________________________ Prof.a Dra. Susana Mara Miranda Pacheco (Orientadora) Instituto de Geografia da UERJ ____________________________________________________________ Prof. Dr. Miguel Ângelo Ribeiro Instituto de Geografia da UERJ ____________________________________________________________ Prof. Dr. Manoel Ricardo Faculdade de formação de Professores de Geografia da UERJ - São Gonçalo ____________________________________________________________ Prof. Dr. Ruy Erthal Departamento de Geografia da UFF 4 Para Maria Clara e Ana Luisa, meus dois pedacinhos de Deus, que tornaram esta caminhada mais feliz com os seus sorrisos e brincadeiras. 5 AGRADECIMENTOS... São muitos. São necessários. No entanto, irei me ater às pessoas mais próximas neste momento. Nesta caminhada amizades foram sendo somadas, tornando mais fácil esta estrada que agora se anuncia repleta de mudanças... de vida, de estado, de cidade... Para todos os colegas de curso e, particularmente, para Alexandre, André e Paulo com quem dividi nas manhãs ensolaradas e nos intervalos, durante o café, interrogações e alegrias presentes no curso. Aos amigos de longa data, dentre eles Miguel que acompanhou desde o início e nos diversos caminhos da cidade o crescimento deste trabalho. À Carla, ex - aluna de pré vestibular comunitário e, atualmente, colega de profissão, que nesta reta final foi de grande valia a mão estendida colaborando, opinando, cedendo mapas, dicas e o seu tempo, até altas horas, nos fins de semana, inclusive. Aos amigos recentes, Andréia Prestes, Cristiane Araújo, Fernando, Gabriela, Hellen Cardoso, Luis Carlos e Vítor Vasconcelos, que foram sendo somados durante esta caminhada e que foram igualmente importantes nas idéias e nas práticas cotidianas, às vezes impostas e tantas vezes contornadas, com companheirismo. Aos colegas de ensinar, Denise, Eliana, Marcelo Carneiro e Solange, e de aprender, alunos e alunas, dos Cieps 119 e 134, nos bairros distantes do Centro da cidade cheio de carências diversas, que incentivaram e me ensinaram cotidianamente acreditar num mundo mais justo mesmo diante das dificuldades, aceitando e dividindo as ausências durante o período de realização do curso e, particularmente, desta dissertação. Deste modo, um agradecimento especial às coordenadoras Bethânia e Maria de Fátima, que sabiamente souberam suprir as minhas ausências. Aos corretores imobiliários e gerentes - administrativos, dentre eles Elizabeth, Ronaldo e Glauco que colaboraram fornecendo preciosas informações para a realização desta dissertação e também para que: “Nova Iguaçu não fique só conhecida como cidade dormitório”. Novamente à Robson Belém de Azeredo, proprietário do tradicional jornal localCorreio da Lavoura- que mais uma vez abriu gentilmente as portas deste jornal e permitiu me encontrar dados referentes ao meu trabalho. 6 A todos os moradores da cidade, principalmente, aos dos bairros mais distantes que enfrentam cotidianamente as dificuldades impostas e que conseguem, ainda, se organizar e acreditar que: “um dia o bairro melhora”. Aos mestres e mestras do curso e também às funcionárias da secretária, Maira e Nathália, pela gentileza e pelo sorriso sempre dispostas à atender e solucionar as questões que foram surgindo durante esta caminhada que colaboraram, de alguma forma, para a realização deste trabalho. Em particular, à orientadora Susana Mara Miranda Pacheco, que diante de todas as suas atribuições profissionais e atribulações pessoais aceitou esta tarefa de orientar o seu “primeiro orientando de monografia” incentivando - me na busca do conhecimento e ensinando - me o quanto é importante o comprometimento com a pesquisa. Aos meus primos, com certo atraso, Alonso, Damião e Luiz, particularmente, pela acolhida durante o período de formação acadêmica. Sei o quanto foram importantes as estadias na “casa mais próxima da faculdade”. Aos meus irmãos, Edmundo (in memorian), Elias, Edson, Edmilson, Eliezer e Edilson (in memorian), que trilharam caminhos abrindo mãos de seus afazeres e sonhos... sei o quanto foram importantes nesta jornada. Aos meus pais, Edalvo e Rosa, que me ensinaram a trilhar os caminhos da vida, de forma sempre honesta e correta, abrindo mãos de realizações pessoais em prol desta caminhada. Sei que este trabalho também é muito do esforço pessoal deles. POR FIM, Este trabalho é dedicado a Marli, minha namorada, amiga e esposa, porque oferecer a ela, neste momento muito distante, algo seria muito pouco. Esta dissertação também tem muito de seus incentivos e foi realizada em conjunto em todas as diferentes fases e, graças a ela, por sua ajuda e compreensão, pôde ser finalizado sendo mais uma de nossas filhas, que agora chega ao mundo. Enfim, este trabalho é nosso. Nova Iguaçu, setembro 2008. 7 CAMINHANDO SEMPRE O caminho é longo É preciso chegar ao fim!... O caminho é pedregoso!... È preciso desviar das pedras, quebrar as rochas e seguir avante!... É preciso ter coragem, correr os riscos, enfrentar o perigo, ser constante! O caminho não está feito!... É preciso ir construindo todos os dias, arrancando espinhos, derrubando barreiras, atravessando valas... O caminho às vezes escurece! É preciso estar prevenido; não deixando nunca a lâmpada sem azeite Pronto para tudo o que acontece. Às vezes chove, faz frio e o vento sibila furioso entre a selva! É preciso de abrigo! Às vezes o caminho é solitário! É preciso um amigo... Às vezes o sol queima, a sede devora! É preciso uma sombra, uma fonte onde a gente se revigora... É preciso uma esperança profunda, sem limite! Uma esperança que nunca desvanece, A certeza de que não estamos sós nesta jornada. Caminha sempre! Não importa que haja quedas! Importa sempre começar de novo! Caminhando sempre, de mãos dadas com a mesma coragem, Conquistando o seu dia a dia na certeza de vencer... (Autor desconhecido) 8 O novo não chega a todos os lugares e quando chega não é ao mesmo momento; por isso, o novo nem sempre chega quando é absolutamente novo. Milton Santos 9 RESUMO A reorganização espacial das atividades de comércio varejista e serviços especializados na Área Central de Nova Iguaçu é conseqüência da ação dos agentes hegemônicos- endógenos e exógenos- através de investimentos de médio e grande porte, na escala local, promovendo um processo de modernização alterando, desta forma, a fisionomia local. O processo em tela tem origem a partir dos anos de 1980 quando inicia - se a ruptura com a ordem anteriormente instalada, intensificando - se a partir deste período a produção de novos produtos imobiliários- shopping centers, condomínios fechados, apart - hotéis, edifícios comerciais, dentre outros, polarizados no Centro Novo. A descentralização das atividades terciárias, fruto das forças de repulsão e de atração em áreas centrais e não - centrais, ocasionou a emergência do Centro Novo, concentrando o comércio de luxo e os serviços especializados da cidade atendendo os segmentos de alta renda, localizados no sopé da Serra de Madureira. Em contrapartida, temos a reafirmação do Centro Velho e o seu comércio popular, que surgiu nos anos de 1960 e 1970 quando a cidade tornou - se um expoente sub - centro comercial da região Metropolitana do Rio de Janeiro atendendo a população de menor poder aquisitivo. O surgimento do Centro Novo e a reafirmação do Centro Velho reorganiza e redefine o espaço interno da cidade de Nova Iguaçu. Palavras-chave: Nova Iguaçu. Reorganização espacial. Área Central. Descentralização. Modernização. 10 ABSTRACT SANTOS, EVERALDO LISBOA DOS. (2008): Spatial reorganization in the Central Area of Nova Iguaçu: the old center and the new center. Orienter: Susana Mara Miranda Pacheco. Rio de Janeiro. The spatial reorganization of the retailer commerce activities and specialized services in the Central Area of Nova Iguaçu is a consequence of the hegemonic agents- exogenous and endogenous- through big and medium investiments, in local scala, promoving a process of modernization changing, this way, the local physiognomy. The process itself has origin through the 80’s when begins the disruption with the first instaled order, growing through this period the production of new real estate productsshopping centers, closed buildings, apart - hotels, commercial building through others, polarized in new center. The not decentralization of the third activities, result of repulse and atraction force in central areas and not central, cause the emerge of the New Center, concentrating the luxury commerce and specialized services in the city serving the high society, localized in foot of Madureira mountain range. On the other hand, we have the reassert of the Old Center and its popular commerce, that appeared in the 60’s and 70’s when the city turned an exponent commercial sub - center of the Metropolitan region of Rio de Janeiro, attending the population with lower acquisitive power. The emerging of the New Center and the reassert of the Old Center reorganize and redefine the in space of Nova Iguaçu city. Key-Words: Nova Iguaçu, spatial reorganization, Central Area, decentralization, modernization. 11 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Vista parcial da Via Light na Área Central de Nova Iguaçu....................................25 Figura 2 - Obras públicas realizadas pela Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu.....................29 Figura 3 - Portal Nilo Peçanha, um dos marcos do Shopping à Céu Aberto............................31 Figura 4 - Área Central de Nova Iguaçu na década de 1940....................................................42 Figura 5 - Generalizações da estrutura interna das cidades......................................................49 Figura 6 - Bairro Ouro fino, localizado na periferia de Nova Iguaçu.......................................61 Figura 7 - Distribuição espacial dos investimentos em seis municípios da Baixada Fluminense................................................................................................................................65 Figura 8 - Anúncio de venda dos apartamentos do condomínio Clube - Residencial Acqua........................................................................................................................................66 Figura 9 - Vista Parcial do Parque Aquático do Paradiso - Club..............................................70 Figura 10 - Fachada do apart - hotel Mont Blanc, localizado no Centro Novo da cidade........71 Figura 11 - Empreendimento imobiliário Apart - Hotel San Marino, destacando - se no cenário local.........................................................................................................................73 Figura 12 - Convocação de moradores exigindo do poder público melhorias na Área Central de Nova Iguaçu.............................................................................................................81 Figura 13 - O “conflito” entre os ambulantes e o comércio legal.............................................82 12 Figura 14 - Estrutura do relatório do Plano Estratégico de Nova Iguaçu.................................84 Figura 15 - Lar de Joaquina- Reminiscência dos Laranjais......................................................86 Figura 16 - O Passo dos Laranjais no trecho central da Via Light em Nova Iguaçu................87 Figura 17 - Ocupação urbana em diferentes momentos da cidade...........................................88 Figura 18 - Vista Parcial da cidade de Nova Iguaçu a partir do Morro do Cruzeiro................89 Figura 19 - A Avenida Marechal Floriano Peixoto em dois tempos distintos..........................91 Figura 20 - O ‘calçadão’ de Nova Iguaçu, na Avenida Governador Amaral Peixoto..............95 Figura 21 - Rua Nilo Peçanha nos anos de 1931....................................................................105 Figura 22 - Mapa de cadastro da distribuição dos loteamentos nas subida da Serra de Madureira, na Àrea Central de Nova Iguaçu..........................................................................117 Figura 23 - Concentração espacial dos condomínios de alto luxo no Centro Novo...............120 Figura 24 - Anúncio de venda de imóveis nos anos de 1980 na área próxima da faculdade..121 Figura 25 - Anúncio de venda de imóveis nos anos de 1980 no centro da cidade nos anos de 1980.........................................................................................................................................122 Figura 26 - Condomínio residencial Afrânio Peixoto, destinados às camadas de alta renda.126 Figura 27 - Condomínio Prime Residences, no sopé da Serra de Madureira.........................127 Figura 28 - Acqua Residencial, empreendimento imobiliário lançado pela Gafisa no Centro Novo de Nova Iguaçu.............................................................................................................128 Figura 29 - Forró Ferrado – popular casa de show iguaçuana nos anos de 1980...................133 13 LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Localização do município de Nova Iguaçu...............................................................19 Mapa 2 - Área Central de Nova Iguaçu....................................................................................20 Mapa 3 - O Centro Velho de Nova Iguaçu...............................................................................21 Mapa 4 - O Centro Novo de Nova Iguaçu................................................................................22 Mapa 5 - Distribuição espacial dos equipamentos de saúde no município de Nova Iguaçu....76 Mapa 6 - Distribuição espacial dos equipamentos de educação no município de Nova Iguaçu........................................................................................................................................77 Mapa 7 - Centro Velho- Distribuição espacial das lojas de vestuário......................................96 Mapa 8 - Centro Velho- Atividades relacionadas advocacia e contabilidade...........................98 Mapa 9 - Centro Velho- Distribuição espacial das atividades relacionadas à saúde e estética.......................................................................................................................................99 Mapa 10 - Centro Velho- Distribuição espacial de farmácias e drogarias..............................100 Mapa 11 - Centro Velho- Distribuição espacial das opções de lazer......................................101 Mapa 12 - Centro Velho- Distribuição espacial das atividades relacionadas ao setor financeiro................................................................................................................................102 Mapa 13 - Centro Velho- Distribuição espacial das atividades relacionadas ao setor automotivo..............................................................................................................................104 Mapa 14 - Centro Velho- Distribuição espacial das atividades relacionadas ao comércio de alimentos.................................................................................................................................107 14 Mapa 15 - Centro Velho- Distribuição espacial de escolas, cursos, papelarias e livrarias.....108 Mapa 16 - Centro Velho- Distribuição espacial das imobiliárias...........................................109 Mapa 17 - Centro Velho- Distribuição espacial de agências de viagem.................................111 Mapa 18 - Centro Velho- Distribuição espacial de agências de correio.................................112 Mapa 19 - Centro Velho- Distribuição espacial de lojas de móveis e eletroeletrônicos.........113 Mapa 20 - Centro Velho- Distribuição espacial de lojas de material de construção..............114 Mapa 21 - Centro Velho- Distribuição espacial de floriculturas............................................115 Mapa 22 - Índice de Qualidade de Vida no município de Nova Iguaçu.................................118 Mapa 23 - Centro Novo- Distribuição espacial das atividades relacionadas à saúde e estética.....................................................................................................................................135 Mapa 24 - Centro Novo- Distribuição espacial de farmácias e drogarias...............................136 Mapa 25 - Centro Novo- Distribuição espacial de opções de lazer........................................137 Mapa 26 - Centro Novo- Distribuição espacial das atividades relacionadas ao setor de vestuário..................................................................................................................................139 Mapa 27 - Centro Novo- Distribuição espacial de escolas, cursos, papelarias e livrarias......141 Mapa 28 - Centro Novo- Distribuição espacial de cartórios, escritórios de advocacia e contabilidade...........................................................................................................................142 Mapa 29 - Centro Novo- Distribuição espacial das atividades ligadas ao setor financeiro....144 15 Mapa 30 - Centro Novo- Distribuição espacial de imobiliárias..............................................145 Mapa 31 - Centro Novo- Distribuição espacial de atividades ligadas ao comércio de alimentos.................................................................................................................................146 Mapa 32 - Centro Novo- Distribuição espacial das atividades relacionadas ao setor automotivo..............................................................................................................................147 Mapa 33 - Centro Novo- Distribuição espacial das agências de correio................................148 Mapa 34 - Centro Novo- Distribuição espacial de lojas de móveis........................................149 Mapa 35 - Centro Novo- Distribuição espacial de pet shops e veterinárias...........................150 GRÁFICOS Gráfico 1 - Empregados por atividade econômica....................................................................30 Gráfico 2 - Estabelecimentos por atividade econômica............................................................30 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Investimentos públicos e privados em Nova Iguaçu...............................................24 Tabela 2 - Estações ferroviárias existentes em períodos selecionados................................40-41 Tabela 3 - Grau de urbanização no município de Nova Iguaçu................................................60 16 Tabela 4 - Número de loteamentos e reloteamentos.................................................................60 Tabela 5 - Taxa de homicídios na população total por 100 mil habitantes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro...............................................................................................63 Tabela 6 - Atividades terciárias no Centro Velho de Nova Iguaçu.....................................93-94 Tabela 7 -Valores dos imóveis para a venda segundo a localização no município de Nova Iguaçu......................................................................................................................................123 Tabela 8 – profissões e origens dos proprietários dos empreendimentos imobiliários: Club – Residência Springs e Apart - hotel San Marino......................................................................124 Tabela 9 – Atividades terciárias no Centro Novo de Nova Iguaçu.................................130-131 17 SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS 18 2 ABORDAGEM TEÓRICO-CONCEITUAL 37 2.1 A formação dos sub-centros na região metropolitana do Rio de Janeiro 37 2.2 A modernização periférica 44 2.3 A noção de Área Central 47 3 A NOVA PERIFERIA DA BAIXADA: O EXEMPLO IGUAÇUANO 57 3.1 Da periferia abandonada aos novos investimentos: a nova fisionomia da Baixada Fluminense 57 3.2 Nova Iguaçu: a Capital da Baixada 68 4 REORGANIZAÇÃO ESPACIAL NA ÁREA CENTRAL DO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU: O CENTRO VELHO E O CENTRO NOVO 79 4.1 A caracterização da Área Central de Nova Iguaçu 80 4.2 O coração econômico e o processo de reorganização espacial do Centro Velho 90 4.2.1 A distribuição espacial das atividades terciárias na Área Central de Nova Iguaçu: o Centro Velho 92 4.3 O processo de ocupação do Centro Novo e as metamorfoses do espaço 116 4.3.1 A distribuição espacial das atividades terciárias na área central de Nova Iguaçu: o Centro Novo 130 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 154 REFERÊNCIAS 159 18 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Estando localizado na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Mapa 1), o município de Nova Iguaçu vem apresentando, desde os anos 1980, um processo de modernização ocasionando mudanças no espaço urbano da Baixada Fluminense e, particularmente, em Nova Iguaçu, locus privilegiado deste processo e nosso objeto de estudo. Esse processo de mudanças é presenciado no cotidiano da cidade que acelera e intensifica metamorfoses que ocorrem principalmente na sua Área Central (Mapa 2), posto que para esta é destinada a maior parte dos investimentos que chegam a Nova Iguaçu, constituindo - se, desta forma, como uma área de grande interesse público e privado devido ao seu arranjo funcional de comércio varejista1 e serviços (CORDEIRO, 1978). Diante do quadro delineado, constatamos o surgimento de novas formas que se expandem pela cidade promovendo rupturas e alterando o espaço urbano da mesma deixando à retaguarda a imagem de cidade agrícola e dormitório que a caracterizou até os anos 1970 1980. Essas formas estão presentes nos shopping centers, nos condomínios fechados, nas residências luxuosas, nos edifícios de serviços que surgem vertiginosamente, espacial e funcionalmente com a criação e a emergência de um novo Centro. Concomitantemente a esse fenômeno, vemos o desaparecimento de importantes referenciais urbanos: a decadência e a extinção dos cinemas tradicionais das áreas centrais, expulsos para os shoppings; a destruição das praças públicas; danceterias transformadas em agências bancárias ou em templos religiosos; ruas que passam a ser apenas local de passagem; o desaparecimento das pequenas lojas e armarinhos que sucumbiram diante da expansão das galerias comerciais; armazéns de secos e molhados extintos diante do crescimento das grandes redes de supermercados, os antigos barracões de laranja que se refuncionalizaram ou desapareceram dentre outros. Essa dinâmica reorganiza e redefine os diversos usos do espaço urbano. 1 CORRÊA (2000) destaca o desenvolvimento do comércio varejista ressaltando que este: “é parte integrante do desenvolvimento capitalista, tendo a sua existência, de um lado, como escoadouro da crescente produção industrial e, de outro, como participante do processo de reprodução social por meio do consumo de produtos necessitados por uma população progressivamente produtora de mercadorias”. 19 Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar a reorganização espacial na Área Central2 de Nova Iguaçu, recorte espacial desta pesquisa, pois essa: constitui - se no foco principal não apenas da cidade mas também de sua hinterlândia. Nela concentram - se as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada, e os terminais de transportes inter - regionais e intra - urbanos. Ela se destaca na paisagem da cidade pela sua verticalização (CORRÊA, 1989, p. 38). Mapa 1- Localização do Município de Nova Iguaçu. Fonte: PMNI, 2001. 2 A análise, na verdade, nos remete ao núcleo central de Nova Iguaçu. 20 Mapa 2 – Área Central de Nova Iguaçu. Fonte: Google maps, 2008 O enfoque deste estudo é empiricizado a partir da formação de Nova Iguaçu como um sub - centro na Área Metropolitana do Rio de Janeiro até o processo de reorganização em sua Área Central, com a constituição do Centro Velho3 (Mapa 3) e do Centro Novo4 (Mapa 4). 3 A expressão Centro Velho está relacionada ao desenvolvimento das atividades de comércio varejista e serviços localizadas no lado norte da estação ferroviária, principalmente após a cidade configurar - se como um importante sub - centro. Esta área compreende trechos das seguintes ruas e avenidas: Rua Dom Walmor, Nilo Peçanha, Otávio Tarquíno e Luiz Guimarães, Avenidas Marechal Floriano Peixoto e Governador Amaral Peixoto. 4 Em contrapartida a expressão Centro Novo refere - se, na verdade, a área próxima ao sopé da Serra de Madureira. Deste modo, o novo expressa - se face ao despontar econômico desta área após os anos de 1980. Delimitamos como sendo o Centro Novo as seguintes avenidas e ruas, respectivamente: Avenida Doutor Mário Guimarães e Bernardino de Mello, Ruas Doutor Thibau, Rua Ivan Vigné, Coronel Alfredo Soares, Sebastião Herculano de Mattos, Paulo Fróes Machado, Getúlio Vargas, Capitão Gaspar e Doutor Humberto Gentil Barone. 21 Mapa 3 – O Centro Velho de Nova Iguaçu. Fonte: Google maps, 2008. O “Centro Velho” do município caracteriza - se por apresentar um comércio diversificado com grande desenvoltura, que já se apresentava desde a década de 1950, quando o município, ao vivenciar uma grave crise econômica resultante do declínio da citricultura, busca, nas funções de cidade dormitório, industrial, local de baldeação e de sub - centro comercial, meios para resistir às transformações que ocorriam na cidade resultantes desta crise (cf. SOARES, 1962). Porém, o desenvolvimento comercial não ocorre de forma homogênea na Área Central do Município de Nova Iguaçu, posto que a passagem da via férrea divide a cidade. De um lado está o “Centro Velho” com lojas de comércio popular e de eletrodomésticos, escritórios de advocacia e de contabilidade, papelarias, óticas, bancos, bares, farmácias, drogarias, lanchonetes, entre outros, atendendo a uma população de menor poder aquisitivo do município iguaçuano e adjacências. Diante da modernização que vem ocorrendo na cidade, esta área aí permanece adaptando - se às transformações e mudanças que 22 ocorrem em Nova Iguaçu e, de forma mais intensa, no “Centro Novo”, localizado do lado oposto à estação ferroviária, próximo à encosta da Serra de Madureira, correspondendo à área de concentração dos setores de alta renda de Nova Iguaçu, destacando - se dentre os diversos bairros que compõem o município. Mapa 4 – O Centro Novo de Nova Iguaçu. Fonte: Google maps, 2008. Este quadro é facilmente perceptível através dos diversos investimentos públicos e privados que ocorrem no município e, principalmente, nesta área: condomínios fechados, casas de festas, agências bancárias, clínicas médicas, lojas de luxo, serviços especializados, como restaurantes da culinária internacional, academias de ginástica, dentre outros, promovendo uma fragmentação do espaço urbano, propiciando uma polarização de 23 investimentos nesta localidade, penalizando os bairros periféricos de Nova Iguaçu, distantes e sub-equipados. Estando próximo à metrópole carioca, o município de Nova Iguaçu não fica alheio a estas mudanças e se apropria e refaz essas adaptações desta modernidade já anteriormente operadas no Rio de Janeiro, reproduzindo as formas aí presentes e metamorfoseando a sua fisionomia5. Essas mudanças ocorrem, progressivamente, no decorrer da formação territorial do município iguaçuano que, inicialmente, desempenhou funções agrícolas refletidas através das atividades econômicas da cana - de - açúcar, café e laranja. No período posterior à citricultura, ocorreu um grande crescimento populacional em Nova Iguaçu e, também, em toda a Baixada Fluminense, resultante de um processo de fragmentação das terras além da chegada de um elevado número de migrantes nordestinos. Os loteamentos caracterizam - se por rupturas significativas quando a cidade deixa, no passado, atividades agrícolas e assume a função de Cidade - Dormitório. Posteriormente, a cidade configura - se como um importante sub - centro da Área Metropolitana do Rio de Janeiro atraindo para a sua área de influência pequenas localidades e, até mesmo, municípios, à época, recentemente emancipados como São João de Meriti e Nilópolis. Uma outra característica deste período é o quadro de abandono e de esquecimento por parte dos poderes privado e público, principalmente, no que diz respeito aos investimentos de infra - estrutura. Essa ausência de investimentos estigmatiza toda a região como sendo uma área desvalorizada social e economicamente, sendo ocupada, então, por uma população de baixa renda, expulsa da metrópole carioca e que encontrou nos lotes baratos uma forma de se fixar em áreas mais pobres. Enfim, desprovida de recursos econômicos, uma parcela desta população se vê impedida de instalar - se de forma legal em áreas onde haja equipamentos e serviços urbanos, deslocando - se, então, para áreas de risco, invasões de terrenos particulares e áreas de preservação ambiental (FONSECA, 1998) sinalizando a fragmentação do tecido sociopolítico - espacial6 (SOUZA, 2000, p. 208). No entanto, a partir dos anos 1980, a Baixada Fluminense vem sendo alvo de elevadas somas de investimentos que vêm modificando a sua fisionomia, quase sempre caracterizada como área de pobreza, carências urbanas e exclusão social, dinamizando a sua economia. Dentre os investimentos, destacamos: a construção da Linha Vermelha e da Via Light, a 5 Segundo SANTOS (1997) a noção de fisionomia está relacionada à forma - aparência materializada e concretizada no espaço urbano. 6 Esta noção segundo SOUZA (2000, p. 216) coloca em primeiro plano a dimensão política, vale dizer, a dimensão do poder. 24 construção de um grande número de condomínios fechados destinados à classe média local e construções de shopping centers, como o Shopping Grande Rio, em São João de Meriti, o Shopping UNIGRANRIO em Duque de Caxias e Iguaçu Square e o Top Shopping, ambos em Nova Iguaçu, além do Shopping à Céu Aberto na Área Central da cidade. Diante desses investimentos, a cidade iguaçuana transformou - se na “Capital da Baixada” (ver Tabela 1), rivalizando com o município de Duque de Caxias. Tabela 1- Investimentos públicos e privados em Nova Iguaçu (2008) Empreendimentos Valores (em reais - à época) Expansão da Via Light* 14.000.000.00 Construção do Campus da Universidade 8.799.194.72 Rural* Implantação de Infra - Estrutura e 10.660.928.41 Urbanização no Eixo do Viaduto da Posse* Vila Olímpica* 2.495.000.00 Setor Imobiliário** 2.000.000.000.00 Clube - Aquático Paradiso Club*** 18.000.000,00 Apart - Hotel Mont Blanc*** 6.000.000 Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu* - Corretores imobiliários, O Dia, O Globo, Correio da Lavoura** Gerência Administrativa*** A importância de Nova Iguaçu no contexto do cenário estadual é realçada pela sua posição geográfica: proximidade de ferrovias de cargas, portos, aeroportos, é cortada pela principal rodovia do país- a Rodovia Presidente Dutra, dentre outros, além da presença da Via Light (Figura 1) conectando Nova Iguaçu ao bairro da Pavuna, no Rio de Janeiro. Mencionamos ainda que o município destaca - se como um importante pólo regional de comércio, além da presença de instituições que visam qualificar a mão - de - obra local, dentre as quais destacamos a implantação do campus avançado da Universidade Federal Rural do 25 Rio de Janeiro (UFRRJ), já em fase de construção às margens da Rodovia Presidente Dutra, com inauguração prevista para o próximo ano. Os investimentos em tela resultaram na fragmentação e segregação do espaço urbano, propiciando uma organização territorial com a existência de enclaves territoriais Figura 1 - Vista parcial da Via Light na Área Central de Nova Iguaçu. Fonte: Movimento de Criação Olhar da Maioria (MOCOM) – 2008. A passagem da Via Light promoveu metamorfismos na Área Central de Nova Iguaçu com a emergência de empreendimentos comerciais- bares, restaurantes, revendedoras de automóveis, dentre outros, às suas margens. que não apresentam uma continuidade sócio - espacial com o seu entorno (SALGUEIRO, 1998). Os fenômenos anteriormente mencionados são facilmente visíveis dentro do município, pois verificamos no mesmo um elevado e crescente desnível entre a opulência de uns poucos e as dificuldades de muitos. É a distância entre a riqueza, representada nas moradias suntuosas da ‘Tijuquinha iguaçuana’, e a pobreza dos bairros de trabalhadores, carentes de serviços urbanos básicos- transporte, água, esgoto, habitação. É o contraste presente entre os bairros7 da elite local e os bairros periféricos de Nova Iguaçu. 7 Dentre estes bairros mencionamos: Vila Nova, Rancho Novo, Caonze, Centro, Jardim Califórnia etc 26 Essa modernização ou ‘enobrecimento’ é também resultante da mobilidade populacional do município do Rio de Janeiro, com renda entre 5 e 20 salários mínimos, para outras áreas como Niterói, Duque de Caxias e Nova Iguaçu (JARDIM, 2007). Os deslocamentos intrametropolitanos datam do final do século XIX e intensificaram - se no século XX resultantes das reformas urbanas que valorizaram os espaços cêntricos e o seu entorno, destinados às residências, e expulsando a população de baixa renda da cidade em direção aos subúrbios e às terras da Baixada Fluminense (ABREU, 1988). Nos anos de 1960, esses deslocamentos estavam relacionados à valorização das terras no núcleo do Rio de Janeiro contribuindo, deste modo, para o aumento da segregação sócio espacial. Acrescente - se, também, a desvalorização das terras na Baixada Fluminense resultado da crise da citricultura e do grande parcelamento da terra que transformaram a área, ou seja, com a conversão das chácaras em loteamentos a cidade deixa à retaguarda a imagem bucólica e caracteriza - se, neste momento, pelo elevado crescimento populacional, com a chegada de uma população de baixa renda, com destaque para os migrantes nordestinos, e pelo abandono do poder público consolidando - se, deste modo, como periferia da metrópole (PACHECO, 1984, SOUZA, 1992, SANTOS, 1995). Nos anos 1980 e 1990, um milhão de pessoas deslocou - se do Rio de Janeiro para os demais municípios metropolitanos, sendo que a grande maioria era constituída por uma população de baixa renda. No entanto, no âmbito desses deslocamentos constata - se a presença de uma população de média e alta renda, que se sobressai em relação aos demais migrantes, já que detêm mais de 50% da renda dos fluxos diferenciando - se em relação à população residente do município de destino (JARDIM, 2007). Deve - se destacar, no entanto, que este processo de enobrecimento antecede aos movimentos migratórios anteriormente mencionados, posto que durante a época de riquezas proporcionadas pela citricultura e o período de formação como sub - centro constitui - se, em Nova Iguaçu, uma classe média formada por famílias tradicionais remanescentes do período da citricultura, políticos locais, profissionais liberais, empresários e comerciantes, dentre outros, localizada próximo do Centro e da Serra de Madureira. Diante do quadro exposto, a presença destas classes mais abastadas contrapõe - se ao imaginário de pobreza e miséria lançadas sobre Nova Iguaçu. Os deslocamentos em tela provocaram uma expansão da mancha urbana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Segundo dados da Fundação Centro de Informações e Dados do Estado (CIDE), órgão oficial do Estado, entre os anos 1975 e 1999, houve um crescimento da ordem de 18,64%. Esse crescimento urbano acompanha os grandes eixos de circulação na 27 Região Metropolitana do Rio de Janeiro e nos municípios de Nova Iguaçu, Nilópolis, São João de Meriti e Belford Roxo. Essa expansão é fortemente influenciada pela passagem da Rodovia Presidente Dutra. Já em São Gonçalo, Niterói, Itaboraí e Tanguá a mancha urbana expande - se acompanhando a RJ - 106, antiga Rodovia Amaral Peixoto. Posteriormente, esse processo ocorre às margens da BR - 101 seguindo o processo de expansão do mercado imobiliário da metrópole do Rio de Janeiro. Ainda segundo dados deste órgão, nos últimos anos, os investimentos apontam uma melhoria nas condições de vida da população destes municípios da região metropolitana como: aumento da taxa de alfabetização passando de 89,2% em 1980 para 95,4% em 1999. Um outro ponto a ser destacado é a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 60.398. 591.609 para R$ 108. 399. 045. 794 em 1999 (AUTRAN, 2001). Analisando especificamente o município de Nova Iguaçu, observamos uma dualidade que é ressaltada com a configuração atual da cidade: temos, de um lado, a presença do ‘Centro Velho’ adaptando - se ao processo de mudanças impostas pela lógica capitalista. De outro, o ‘Centro Novo’ que desponta diante das transformações que ocorrem no local configurando - se, portanto, como área nobre da cidade. Nesse sentido, apresentamos os seguintes questionamentos: Quais foram as condições iniciais para este processo de reorganização espacial? Como se configuram estas duas áreas? Como o ‘Centro Velho’ se reorganiza e se adapta às mudanças? Qual é o papel desempenhado pelo ‘Centro Novo’ em relação à Área Central? Diante desses questionamentos, mencionaremos, brevemente, os passos metodológicos desenvolvidos na elaboração desta dissertação. Salientamos, no entanto, que a mesma é um desdobramento de pesquisas anteriormente realizadas, pelo próprio autor, durante a realização dos cursos de graduação em geografia e pós - graduação em sociologia urbana, a saber: A transformação do capital fundiário em capital imobiliário na Estrada de Madureira, município de Nova Iguaçu (1995) e Segregação e exclusão social em Nova Iguaçu: os bairros da Luz e Riachão- disparidades sociais (2001), respectivamente. Os trabalhos, mencionados anteriormente, nos permitem observar, analisar e interpretar o processo de reorganização espacial na Área Central de Nova Iguaçu, ocasionando, deste modo, metamorfoses no espaço urbano. Os conhecimentos teóricos anteriormente adquiridos do objeto de estudo viabilizaram e possibilitaram a realização do mesmo, pois, como morador do local, o autor vivencia as transformações que estão ocorrendo na cidade e no município através das caminhadas percorrendo os diversos bairros do município, seja no Centro seja nos bairros periféricos. 28 É importante salientar o caráter exploratório e embrionário deste estudo, pois não há na literatura sobre Nova Iguaçu trabalhos que tratem especificamente do espaço interno da cidade. A literatura a respeito de Nova Iguaçu aborda quase sempre questões relacionadas às atividades agrícolas, a formação da Vila de Iguassú, o período de explosão dos loteamentos e o processo de autoconstrução, a constituição da periferia e os processos de segregação, os movimentos políticos - sociais, dentre outros. Deste modo, este estudo surge como pioneiro nos estudos sobre a Área Central de Nova Iguaçu. Paralelamente às leituras de base teórica, foram realizadas buscas em sites especializados e levantamentos, quadra por quadra, rua por rua, entrevistas com corretores, gerentes administrativos, empresários e proprietários de estabelecimentos comerciais objetivando a obtenção de dados que nos permitissem uma compreensão da organização espacial das atividades terciárias presentes no Centro da cidade. A etapa posterior consistiu na adaptação e elaboração de mapas e plantas que nos possibilitassem identificar e delimitar o Centro de Nova Iguaçu bem como analisar a distribuição espacial destas atividades presentes na Área Central, que propiciaram este processo de modernização e reorganização nesta área. O fenômeno em tela resulta de elevadas somas em investimentos, com destaque para o setor imobiliário que vem criando: “este ano 25 novos empreendimentos foram aprovados pela prefeitura (...) vão criar ao todo cerca de 5.000 novas unidades habitacionais para todas as classes sociais” (Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, 2007), realizados por agentes diversos, dotando estas áreas de infra - estrutura (Figura 2), modificando significativamente a fisionomia destas áreas com a produção de novas formas urbanas que se instauram promovendo rupturas com a ordem anteriormente instalada. A presença do novo gera um jogo no qual atuam forças contraditórias combinando variáveis de tempos diferentes na qual: “não existe um lugar onde tudo seja novo ou onde tudo seja velho” (SANTOS, 1997, p. 98). Este jogo de forças contraditórias, entre os diversos agentes, reorganiza e redefine o espaço através de ações que articulam a ordem global à ordem local. Ressaltamos, no entanto, que o grande capital seleciona áreas para investimentos diante das oportunidades oferecidas produzindo, na atualidade, uma modernização excludente. Ao analisar a modernização contemporânea, SANTOS (2006, p. 322) nos afirma que: todos os lugares se mundializam. Mas há lugares globais simples e lugares globais complexos. Nos primeiros apenas alguns vetores da modernidade atual se instalam. Nos lugares complexos, que geralmente coincidem com as metrópoles, há profusão de vetores: desde os que diretamente representam as lógicas hegemônicas, até os que a elas se opõem. 29 Figura 2 – Obras públicas realizadas pela PMNI no Centro de Nova Iguaçu. As diversas obras realizadas pelo poder público municipal dotam o centro de infra - estrutura que se encontrava em estado precário. (Autor: Everaldo Lisboa, agosto 2008) A instalação destes vetores, em áreas selecionadas, produz um espaço onde nem todos têm acesso às novas tecnologias, aos novos produtos imobiliários e às novas formas de consumo propiciando a formação de espaços de exclusão nos quais os mais carentes: “sobretudo, os mais pobres, estão isentos dessa absorção, mesmo porque não dispõem dos recursos para adquirir aquelas coisas que transmitem e asseguram essa cultura de massa” (Idem, 2006, p. 327). Neste contexto, insere - se o município de Nova Iguaçu, locus privilegiado de investimentos na Baixada Fluminense, que, a partir das duas últimas décadas do século passado, consolida - se como uma importante centralidade na Área Metropolitana no Rio de Janeiro, destacando - se pela desenvoltura comercial e prestação de serviços especializados, polarizados, principalmente, no Centro Novo. A desenvoltura comercial iguaçuana resulta da multiplicidade das atividades comerciais varejistas e de prestação de serviços que somadas empregam mais de 50% da força de trabalho local e concentram quase 75% dos estabelecimentos por atividades econômicas do município. Merece destaque o papel desempenhado pela indústria de transformação que 30 GRÁFICO 1 Empregados por Atividade Econômica Extrativa Mineral 473 Indústria de 14.388 Transformação Serviço Industrial de 2.590 Utilidade Pública Construção Civil 1.331 Comércio 16.800 Serviço 21.318 Administração Pública 6.325 Agropecuária 91 Outros 9.505 TOTAL 72.821 Fonte: Anuário Estatístico do Estado do Rio de JaneiroCIDE- 1995/1996 absorve 19,7% dos trabalhadores do setor formal, apresentando uma participação expressiva no cenário interno, como atestam os dados acima (gráficos 1 e 2). GRÁFICO 2 Estabelecimentos por Atividade Econômica Extrativa Mineral 19 Indústria de Transformação 600 Serviço Industrial de utilidade 09 pública Construção Civil 107 Comércio 2.477 Serviço 1.496 Administração Pública 15 Agropecuária 31 Outros 611 TOTAL 5.373 Fonte: Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro-CIDE1995/1996 O vigor comercial de Nova Iguaçu resulta da aglomeração de estabelecimentos comerciais (3.980) e empresas de prestação de serviços (1.618) totalizando 5.598 empresas (PMNI, 2002) presentes no Centro da cidade dinamizando e dando vida à economia local com um fluxo permanente de veículos e consumidores durante todos os dias da semana. 31 O Centro Velho, no entanto, vem ganhando um novo significado através de uma série de investimentos atraindo lojas que se destacam no setor de vestuário, com destaque para a moda feminina. A nova fisionomia desta área desponta com o Shopping à Céu Aberto (Figura 3), projeto elaborado pelo poder privado tendo como objetivo valorizar o comércio local e com a presença dos novos empreendimentos imobiliários às margens da Via Light – bares, restaurantes, shopping centers, cursos, escolas, escritórios de advocacia, dentre outros. Figura 3 – Portal Nilo Peçanha, um dos marcos do Projeto Shopping à Céu Aberto. O portal em tela faz parte do projeto Shopping à Céu Aberto elaborado pelo poder privado objetivando dinamização da economia local. Fonte: PMNI, 2000. As iniciativas realizadas por agentes públicos e privados, dotando - a de infra estrutura, revigoram o fôlego das atividades aí desenvolvidas que, desta forma, se distinguem do Centro Novo, que se destaca na fisionomia da cidade seduzindo e polarizando 32 investimentos realizados, com maior intensidade, pós - anos de 1980 atraindo uma clientela de moradores iguaçuanos de média e alta renda bem como de outros municípios da Baixada Fluminense. Ganham destaque, nessa área, os edifícios comerciais que surgem vertiginosamente conjugando o uso residencial, com o de serviços, pois estes abrigam, no seu interior, consultórios médicos e dentários, serviços de informática, escritórios de advocacia promovendo uma ruptura com o seu entorno, destacando - se no cenário local diante do processo de verticalização com a destruição de antigas formas, com novas funções. A produção destas novas formas presentes na Área Central se contrapõe às luxuosas residências que nos remetem ao período da citricultura, combinando, deste modo, distintas espacialidades e temporalidades articulando o presente e o passado no processo de construção e reconstrução da cidade, arrasando os lugares de tempo lento, substituindo - os pelas novas paisagens (SALGUEIRO, 2003). Diante da relevância apresentada, as Áreas Centrais das cidades constituem - se, no início do século XX, como foco de interesse atraindo o olhar de diversos estudiosossociólogos, geógrafos, economistas, arquitetos, dentre outros, que passam a estuda - la de forma sistemática objetivando a sua delimitação, tema de grande relevância para os estudos de Geografia Urbana. Para delimitar a Área Central da Cidade, analisamos as fachadas de alguns edifícios e residências que nos remetem ao período da citricultura, pois aí estão presentes construções que datam da primeira metade do século passado além de identificar elementos ou referenciais urbanos que se sobressaem na fisionomia urbana que nos auxiliassem nesta tarefa. Desta forma, destacam - se na cidade os seguintes limites: ao sul a Serra de Madureira, impondo - se como obstáculo ao processo de expansão da cidade, ao norte a Avenida Governador Amaral Peixoto, a oeste, a Rua Dom Walmor e a leste, a rua Doutor Luiz Guimarães, antiga Treze de Maio. Os limites da Área Central realizados de forma preliminar, estendem - se, segundo a Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu (PMNI), para além desses limites, onde identificamos uma faixa de transição que se caracteriza por uma ocupação residencial e por atividades expulsas do Centro: gráficas, oficinas mecânicas, borracharias, lavanderias, madeireiras, depósitos de bebidas, entre outros, configurando - se, desse modo, como a periferia do Centro. Diante do quadro delineado, constatamos que a área a ser delimitada por esta pesquisa seria uma área contínua, formada pelo Centro Velho e o Centro Novo. Para que possamos analisar e delimitar a Área Central, ganham destaque, nesta dissertação, as seguintes variáveis: densidade demográfica, ocupação funcional e uso do solo, posto que essas variáveis 33 apresentam importante relevância quando comparamos esta área com o restante do município de Nova Iguaçu. Essas variáveis destacam - se na delimitação desta área, pois segundo CORDEIRO (1978; p. 4): “a ‘cidade’ (...) ou o Centro é de difícil reconhecimento pelo homem da rua, pelos homens de empresa e mesmo pelos homens públicos: confunde - os e desorienta - os”. Deste modo, buscamos identificar, através de um levantamento minucioso, a rede de comércio e serviços desenvolvidos no Centro de Nova Iguaçu através do uso do solo, permitindo - nos um claro conhecimento das atividades aí desenvolvidas. Com esse intuito, adotamos os seguintes procedimentos: visitas à Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e Associação de Comércio e Indústria de Nova Iguaçu (ACINI) em busca de dados que nos permitissem compreender a dimensão econômica da Área Central da cidade de Nova Iguaçu, pois nesta área estão localizados o comércio varejista, serviços e firmas do município. Ressaltamos, no entanto, as dificuldades impostas na obtenção de dados nestas instituições, nas imobiliárias, construtoras, shoppings, entre outros, dificultando, desta forma, nossa análise. Na etapa seguinte, visitamos o Setor de Arquivos e Plantas e o Setor de Cartografia da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu em busca de mapas e plantas que nos fornecessem com maior exatidão os limites dessa área da cidade bem como identificar os diversos usos do solo aí localizados. Tarefa esta que se baseou na identificação de alguns referenciais que pudessem delimita - la e compreender as suas tendências espaciais de expansão. Consideramos, também, as construções e os edifícios presentes na Área Central da cidade visto que os mesmos apresentam uma grande verticalidade destacando - se nitidamente da paisagem que compõe o restante da cidade. Um outro aspecto a ser considerado diz respeito à ocupação funcional, essencial para o reconhecimento e delimitação do Centro (CORDEIRO, 1978). Para uma melhor compreensão deste processo, buscamos, de imediato, uma bibliografia que fundamentasse a compreensão da expansão da cidade do Rio de Janeiro e aqui nos interessa mais precisamente o seu crescimento em direção à Baixada Fluminense e ao município de Nova Iguaçu. A bibliografia utilizada analisa a transição do período no qual se desenvolviam atividades agrícolas, com destaque para a citricultutura, até o período dos loteamentos populares, que irão modificar significativamente a fisionomia de Nova Iguaçu. Esse é um período em que a região e o município iguaçuano deixaram para trás o seu passado agrícola e irão desempenhar as funções de Cidade Dormitório e Industrial configurando - se 34 como um importante sub - centro comercial na Área Metropolitana do Rio de Janeiro (SOARES, 1962, PEREIRA, 1977, ABREU, 1988). Posteriormente, nossa análise voltou - se para a expansão dos loteamentos na região da Baixada Fluminense e para o município de Nova Iguaçu. Uma vasta literatura (BERNARDES, 1983, COSTA, 1983, PACHECO, 1984, SANTOS, 1995, OLIVEIRA, 2004) nos possibilitou compreender o processo em tela que modificou a fisionomia dessa área. Esse período caracteriza - se pela “febre imobiliária” que tomou conta da região, gerando impactos significativos com a conversão de áreas rurais em loteamentos, propiciando o surgimento de novos bairros que cresciam de forma desordenada e também o crescimento populacional com a chegada de grandes levas de migrantes que viam na Baixada Fluminense e no município de Nova Iguaçu a possibilidade de conquistarem o seu lote de terra, fugindo, desta forma, dos preços elevados de aluguel presentes na metrópole carioca. Além da literatura geográfica, de grande valia também foi a contribuição das análises oriundas da antropologia e da sociologia urbana, respectivamente (SOUZA, 1992, ALVES, 2006). Além destas, permitimos - nos a busca por obras literárias e aqui destacamos a obra Clara dos Anjos (BARRETO, 2003) que nos oferece preciosas descrições a respeito dos subúrbios. Utilizamos, também, notícias- antigas e atuais- veiculadas por jornais e revistas que tinham e têm, como temas, questões referentes à Região Metropolitana do Rio de Janeiro e, particularmente, ao município iguaçuano. O período pós - anos de 1980 vem se caracterizando pela modernização das periferias das grandes cidades brasileiras metamorfoseando a sua fisionomia (FURLANETTO, et alli 1987, OLIVEIRA, 2000, SANTI, 2003, CARLOS, 2004). Esse processo resulta de grandes investimentos, realizados pelo poder público e privado, impondo um conflito e um diálogo entre diferentes ordens- local e global- buscando uma racionalidade espacial (CARLOS, 2004, SANTOS, 2006) resultando da ação de diversos agentes que atuam na produção do espaço redefinindo o seu uso (CÔRREA, 1989, PACHECO, 1999) com a construção de novos produtos imobiliários ocasionando uma redescoberta e uma requalificação do espaço na Baixada Fluminense com destaque para Nova Iguaçu que polariza investimentos na Área Central, onde estão localizados os setores de alta renda da cidade. A concentração das camadas de alta renda em determinados setores da cidade confirma uma tendência e uma tradição histórica da elite brasileira de se localizar em uma área da cidade, promovendo, deste modo, a auto - segregação destas classes e uma bipartição do espaço urbano com a presença de camadas de mais baixa renda morando nas periferias das 35 metrópoles brasileiras contrapondo - se às elites, situadas, historicamente, próximas ao Centro. O deslocamento destas camadas para áreas afastadas promove o deslocamento territorial das atividades econômicas orientado para os bairros residenciais das camadas de alta renda (SPÓSITO, 2001, VILLAÇA, 2001) originando, deste modo, o Centro Novo, descentralizado e especializado, deixando para as camadas populares áreas deterioradas ou em processo de decadência, o Centro Velho e o seu comércio popular (CORDEIRO, 1978, ERTHAL, 1980, SERPA, 1991, REIS, 2007). No caso específico da cidade de Nova Iguaçu, a presença deste setor de alta renda, localizado no sopé da Serra de Madureira, próxima ao Centro e à estação ferroviária, (SOARES, 1962, Filho, 1999, JARDIM, 2007, SIMÕES, 2007) consolida, dessa forma, a área como o bairro da elite local e área de intensas mudanças no município de Nova Iguaçu. Deste modo, esta pesquisa tem como objetivo analisar comparativamente as atividades de comércio varejista e serviços na Área Central de Nova Iguaçu com a configuração de um espaço bipartido: o Centro Novo e o Centro Velho. A partir das considerações iniciais, o trabalho está estruturado tendo seqüência no capítulo 2 com uma abordagem teórico conceitual na qual é desenvolvido o debate sobre Área Central, descentralização, a gênese de Nova Iguaçu como um expoente sub - centro após os anos de 1960 quando a cidade desponta como uma importante centralidade na Região Metropolitana do Rio de Janeiro exercendo um papel complementar das atividades terciárias desenvolvidas na metrópole carioca. Este recorte temporal adquire grande relevância quando identificamos neste período a consolidação das atividades terciárias presentes no Centro Velho da cidade. Posteriormente, nossa atenção volta - se para a análise do processo de modernização, redescoberta e requalificação do espaço urbano na Baixada Fluminense que, deste modo, configura - se após os anos de 1980, como área para investimentos promovidos por agentes endógenos e exógenos deixando à retaguarda as atividades agrícolas e de cidade - dormitório e alterando significativamente a fisionomia local com a produção de novos produtos imobiliários que ganham destaque na cidade. Dessa maneira, no capítulo 3, será apresentado o período compreendido entre os anos 1960 até os anos 1980, marcado pela escassez de investimentos públicos e privado na área caracterizando - se, deste modo, como periferia distante e subequipada. Há que se destacar que distintos estudos FURLANETTO (1987), SANTOS (1995), OLIVEIRA (2000) e SIMÕES (2007) já sinalizam a emergência de uma “nova” periferia, caracterizada pela heterogeneidade sócio - espacial, com destaque para o município de Nova Iguaçu, contando 36 com a presença de classes mais abastadas soterrando a imagem da periferia composta homogeneamente por segmentos de menor poder aquisitivo. O capítulo 4 analisa comparativamente a reorganização espacial das atividades de comércio varejista e serviços especializados na Área Central de Nova Iguaçu com a configuração do Centro Velho e do Centro Novo. Por fim, nas considerações finais, serão apresentadas algumas conclusões, recuperando a temática específica deste trabalho – o processo de reorganização espacial na Área Central das atividades terciárias com a emergência do Centro Novo e a consolidação do Centro Velho, avaliando e reunindo as principais análises a respeito do processo em tela e as tendências de expansão da cidade. 37 2 ABORDAGEM TEÓRICO-CONCEITUAL O objetivo deste capítulo é analisar o processo de modernização que vem ocorrendo na periferia do Rio de Janeiro, de modo particular, em Nova Iguaçu, locus privilegiado desse processo e recorte espacial desta dissertação. Este fenômeno produz impactos refletindo na reorganização espacial das atividades terciárias na Área Central do município. O processo anteriormente delineado resulta da ação de agentes exógenos e endógenos que através de elevadas somas e investimentos vêm transformando a sua fisionomia com a produção de novas formas urbanas que se destacam no espaço urbano, promovendo rupturas com o seu entorno e deixando no passado a função de sub - centro comercial exercida anteriormente na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Deste modo, diante destes investimentos, a cidade configura - se como um importante pólo de atividades terciárias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, destacando - se pela sua desenvoltura comercial e pelos serviços especializados, implantados, principalmente, no Centro Novo resultado do processo de descentralização das atividades terciárias na Área Central de Nova Iguaçu. 2.1 Da formação dos sub - centros na Região Metropolitana do Rio de Janeiro Mesmo diante desta modernização acentuada por novos produtos imobiliários, a cidade de Nova Iguaçu ainda apresenta uma imagem fortemente marcada pela multiplicidade de comércio varejista e serviços- escolas, bares, restaurantes baratos, bancos, consultórios médicos e dentários, imobiliárias, escritórios de advocacia, contabilidade- principalmente em sua Área Central, atraindo, deste modo, uma clientela, caracterizada pelo menor poder aquisitivo, pertencentes aos diversos municípios que compõem a Baixada Fluminense, exercendo, desta forma, um papel complementar de centro de atividades terciárias na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ao analisar a expressão sub - centro, VILLAÇA (2001, p. 293) nos diz que: O sub - centro consiste (...) numa réplica em tamanho menor do centro principal, com o qual concorre em parte sem, entretanto, a ele se igualar. Atende aos mesmos requisitos de otimização de acesso apresentados anteriormente para o centro principal. A diferença é que o sub - centro apresenta tais requisitos apenas para uma parte da cidade, e o centro da cidade cumpre - os para toda cidade. 38 O surgimento dos sub - centros, nos anos 1930-1940, resulta do processo de descentralização das atividades comerciais e de serviços, provocada por fatores de repulsão e de atração em áreas centrais e não - centrais, possibilitando a multiplicação dessas dinâmicas células terciárias (SERPA, 1991, p. 1) dotando - as de equipamentos comerciais, resultado do dinamismo comercial da metrópole que expulsou para áreas distantes atividades anteriormente exercidas pela Área Central do Rio de Janeiro quando: certos pontos da metrópole - nos bairros- que se caracterizavam, de modo predominante, pela função residencial, desenvolveram - se, também com intensidade e complexidade, muitos daqueles serviços, até então encontrados na Área Central (IBGE, 1967, p. 13). De suma importância são as considerações apresentadas por DUARTE (1974, p. 55) participando deste debate ao assinalar que: “A organização espontânea dos centros funcionais resulta de um conjunto de transformações econômicas - sociais, decorrentes (...) do aumento da população urbana e da expansão das atividades secundárias e terciárias”. VILLAÇA (2001, p. 296) participa deste debate analisando a formação dos sub centros no Rio de Janeiro e, particularmente, a Praça Saens Pena, acrescenta que: levando em conta essas circunstâncias históricas, é válido concluir que a Praça Saens Peña atingiu a categoria de sub - centro na década de 1930, antes do Méier, de Madureira e Copacabana, bairros que atingiram essa condição somente na década de 1940. O sub-centro individualiza - se no cenário metropolitano por apresentar “aglomerações diversificadas e equilibradas de comércio e serviços, que não o centro principal” (VILLAÇA, 2001, p. 293), distante e de difícil acesso para as camadas populares, que impossibilitada de usufruir do Centro principal desenvolveu nos bairros mais distantes atividades de comércio varejista e serviços que atendessem às demandas da localidade podendo este processo ser atribuído ao crescimento da cidade em determinadas direções. Deste modo, organizando - se de forma espontânea em locais distantes da Área Central estas áreas constituem - se como “uma miniatura do núcleo central. Possui uma gama complexa de tipos de lojas e serviços, incluindo uma enorme variedade de tipos, marcas e preços de produtos” (CORRÊA, 1989, p. 51), polarizando uma gama de atividades comerciais e serviços, essenciais à população, exercendo um papel complementar com atividades presentes na metrópole atraindo uma parcela da população local e do seu entorno não rivalizando com o Centro Principal que atende toda a cidade concentrando as atividades anteriormente mencionadas. 39 Ao analisar o fenômeno dos subcentros SOARES (1962, p. 126 - 127), nos aponta que este: é comum às grandes metrópoles, onde a expansão urbana vai aumentando as distâncias e levando os moradores a procurarem estabelecimentos mais próximos, em busca, pelo menos, de mercadorias e serviços não especializados. Ganha destaque, deste modo, a importância dos meios de transporte como indutores do processo de expansão da malha urbana do Rio de Janeiro em direção à Zona Sul e ao subúrbio, no final do século XIX e início do século XX, gerando grandes distâncias entre o Centro da cidade e as zonas de residência ocasionando uma ocupação intensiva às margens das ferrovias. Ao analisar o papel do transporte ferroviário e dos bondes neste processo, ABREU (1988, p. 43), participando deste debate afirma que: este período começa, na realidade, em 1858, com a inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro Dom Pedro II (atual Central do Brasil) que permitiu, a partir de 1861, a ocupação acelerada das freguesias suburbanas por ela atravessadas. Segundo VILLAÇA (2001, p. 83) as estações ferroviárias, inauguradas a partir de 1858, (ver Tabela 2) atraíram para o seu entorno uma aglomeração populacional favorecendo a proliferação dos novos sub - centros e dos bairros suburbanos que: “nesse contexto, obedeceu à gradativa estruturação dos pequenos núcleos, que foram se desenvolvendo, pouco a pouco ao longo da via férrea” (SERPA, 1991, p. 12). O surgimento destas áreas é amplamente beneficiado pela acessibilidade provocada pela expansão da via férrea decretando a abertura de espaços mais distantes, acelerando a ocupação e conectando através dos ramais Leopoldina, Rio D’ Ouro, Linha Auxiliar e Estrada de Ferro Central do Brasil, as novas aglomerações populacionais ao Centro do Rio de Janeiro (ABREU, 1988). DUARTE (1974, p. 57) participando deste debate acrescenta que: “Essa expansão só foi possível após 1930, quando iniciou - se o saneamento da região. Até esta data, a Baixada Fluminense não oferecia condições favoráveis à urbanização”. A conseqüência imediata da passagem da via férrea por essas áreas será a transformação das freguesias em áreas rurais atraindo uma população de baixa renda em busca de moradia barata. O quadro delineado será repetido, em meados do século XX, com a mesma intensidade nas terras da Baixada Fluminense, quando a crise da citricultura, a eletrificação da via férrea e a abertura de rodovias- Washington Luis e Rodovia Presidente Dutra- favorecem a fragmentação das terras, atraindo uma população de baixa renda para a 40 Tabela 2 – Estações ferroviárias existentes em períodos selecionados Rio de Janeiro 1. Estrada de Ferro Central do Brasil (antes D. Pedro II): linha centro em 1858 Em 1890 Em 1919 Corte Pedro II Pedro II São Cristóvão Marítima Marítima Engenho Novo São Diogo São Diogo Cascadura São Cristóvão Lauro Muller Nova Iguassú Derby Club São Cristóvão Queimados Mangueira Derby Club São Francisco Xavier Mangueira Rocha São Francisco Xavier Riachuelo Riachuelo Sampaio Sampaio Engenho Novo Engenho Novo Meyer Meyer Todos os Santos Todos os Santos Engenho de Dentro Engenho de Dentro Encantado Encantado Piedade Piedade Quintino Bocaiúva Quintino Bocaiúva Cascadura Encantado Madureira Madureira Deodoro D. Clara 41 Mesquita Prof. Bento Ribeiro Nova Iguassú Marechal Hermes Queimados Deodoro Vic. De Albuquerque Anchieta Engenheiro Neiva Mesquita Nova Iguassú Morro Agudo Austim Queimados Fonte: VILLAÇA, 2001. localidade, convertendo imensas áreas rurais em loteamentos, transformando significativamente a fisionomia local. Com o incremento populacional em Nova Iguaçu, resultado da expansão imobiliária, beneficiada, dentre outros, pela eletrificação da via férrea, a cidade já havia se expandido e acelerado a sua ocupação e em nada se assemelhava àquela pequena cidade (Figura 4), que se constituía “de duas ruas marginando a ferrovia, totalmente cercada de laranjais” (SOARES, 1962, p. 212) onde as diversas chácaras de laranja envolviam completamente a pequena cidade que crescia e se desenvolvia com as riquezas geradas pela exportação dessa fruta. Imagens e fotografias das primeiras décadas do século passado nos mostram a Nova Iguaçu daquele período no qual: “estava ela envolvida completamente pelas pequenas chácaras de laranja (...) os primeiros esboços de ruas transversais perdiam - se dentro dos laranjais” (SOARES, 1962, p. 212). A expansão da cidade, resultado da multiplicação dos loteamentos, e o grande desenvolvimento comercial transformam Nova Iguaçu, à época, em um importante sub centro regional de comércio e serviços, aparelhado de galerias comerciais8 e filiais de lojas, 8 Para uma análise a respeito das galerias comerciais ver MARTINS JÚNIOR (2001) 42 até então, presentes na metrópole carioca que exerciam grande influência sobre outras localidades. Ao analisar essa questão, SOARES (1962, p. 221) nos diz que: a cidade, progressivamente, tem melhorado o seu comércio e aperfeiçoado seus serviços, para bem servir a essa população suburbana cada dia mais numerosa e mais exigente, em face de um aumento de padrão de vida das classes operárias. Por outro lado, as dificuldades crescentes do acesso ao centro da metrópole, decorrentes da sobrecarga dos transportes coletivos também contribuíram, nos últimos anos, para a maior diversificação e ampliação das funções comercial e de serviços de certos núcleos, dentre os quais se salienta Nova Iguaçu, que se constituiu em ativo sub - centro da metrópole. Figura. 4 - Área Central de Nova Iguaçu na Década de 1940. Neste período pode - se constatar a expansão da cidade em direção ao seu interior resultado da fragmentação das terras. No entanto, é possível observar a presença de laranjais ocupando as encostas da Serra de Madureira. Fonte: PMNI, 2000. 43 Diante deste quadro de dificuldade de acesso à metrópole, por um lado, e contando com a presença de um amplo comércio e serviços, de outro, é que a cidade irá se constituir, nos anos 1960, como um vigoroso sub - centro comercial apresentando seis agências bancárias, diversos estabelecimentos educacionais, 11 armarinhos, nove postos de gasolina e 266 botequins e 22 restaurantes, enfileirados na rua da estação e nas outras ruas do centro sendo considerada a ‘Capital do Subúrbio’ (SOARES, 1962). Os números, anteriormente mencionados, atestam a relevância das atividades comerciais e de serviços desenvolvidas em Nova Iguaçu dando à cidade um papel de destaque na Área Metropolitana do Rio de Janeiro não rivalizando, no entanto, com os sub - centros de Madureira e Méier, hierarquicamente superiores. O desenvolvimento das atividades terciárias na cidade beneficiou - se da estrutura viária implantada durante o período da citricultura com a construção, por parte do poder público, de estradas de rodagem ligando os centros agrícolas à sede do município (PEREIRA, 1977). Ao apresentar tamanha diversidade no que diz respeito ao comércio e serviços é evidente a influência que o município de Nova Iguaçu exerce sobre as outras localidades, atraindo clientela de Nilópolis e São João de Meriti, como atestam as palavras de SOARES (Idem, p. 195): As relações entre Nova Iguaçu e a faixa suburbana da metrópole ao norte do estado da Guanabara se apresentam do seguinte modo: relações diárias com a área situada dentro do perímetro urbano, relações freqüentes com a população dos distritos de Belford Roxo e Mesquita e relações ocasionalmente necessárias com a população dos municípios de Nilópolis e São João de Meriti. É dentro desse contexto, bem aparelhada de serviços e comércio, apresentando uma convergência de linhas de ônibus, atraindo um elevado número de consumidores e trabalhadores, que a cidade exercerá na escala local uma centralidade polarizando as atividades de comércio varejista e serviços na área que estamos considerando, atualmente, como Centro Velho. Diante do quadro em tela, a cidade sobreviverá à crise da citricultura apresentando uma multiplicidade de funções- dormitório, industrial, local de baldeação e sub centro- exercendo influência sobre localidades populacionais que não apresentam tais serviços, atraindo, desta forma, uma classe mais abastada residente em Nova Iguaçu que irá se concentrar nas proximidades do Centro, no sopé da Serra de Madureira9, contrapondo - se aos bairros mais distantes da Área Central da cidade que concentram uma população de menor poder aquisitivo, penalizada pelas políticas públicas que relegaram estas áreas ao segundo 9 A formação dessa área será estudada mais detalhadamente no capítulo final dessa dissertação. 44 plano no que diz respeito aos investimentos em infra - estrutura deixados à margem do processo de modernização que ocorre na cidade. 2.2 A modernização periférica O período posterior- anos 1970/1980- à formação de Nova Iguaçu como um dinâmico sub - centro comercial na Região Metropolitana do Rio de Janeiro será caracterizado pelo abandono e pelo esquecimento do poder público e privado no que diz respeito aos investimentos nesta área, relegada a um plano secundário caracterizando - se pelo agravamento das mazelas socioeconômicas da Baixada Fluminense. Este quadro inicia um processo de transformações e rupturas a partir dos anos 1980 e se intensifica na década de 1990 com a chegada de novos empreendimentos imobiliários – shopping centers, clube - aquático, condomínios fechados10, centros de estética, dentre outros, promovendo um processo de modernização na cidade que, no entanto, é seletiva pois atende a uma pequena parcela da população da localidade e, de modo particular, no município de Nova Iguaçu, palco privilegiado de nossos estudos. O processo, em tela, que agora se vivencia em Nova Iguaçu, anteriormente realizado na metrópole carioca, visa à inserção e à integração do município no mercado global, através do Rio de Janeiro, ampliando as perspectivas para atrair investimentos conectando a ordem global à ordem local. O processo delineado resulta da ação de agentes diversos impactando diretamente na Área Central de Nova Iguaçu, um espaço dotado de luminosidade que se opõe aos espaços opacos deixados à margem das inovações pelos agentes hegemônicos que privilegiam espaços que oferecem possibilidades para sua atuação. SANTOS (2006, p. 326), ao analisar este quadro, nos afirma que: essa historicização da metafísica crava no organismo urbano áreas constituídas ao sabor da modernidade e que se justapõem, superpõem e contrapõem ao uso da cidade onde vivem os pobres, nas zonas urbanas ‘opacas’. O processo de modernização, em curso na cidade, materializado na paisagem urbana, vem modificando significativamente a sua fisionomia com o surgimento de novas formas que se espalham pela cidade metamorfoseando o espaço urbano. 10 SOUZA (2000, P. 203) define deste modo estes espaços: “o espaço condominal não é exatamente o espaço privado familiar, mas tampouco é propriedade pública. Consiste em uma propriedade privada compartilhada, como nos casos dos condomínios de prédios (espaços de uso comum) ou, em outro patamar de complexidade morfológica e sóciopolítica - espacial, os “condomínios exclusivos”, onde a acessibilidade é regulada através de convenção. 45 Ao analisar a presença das novas formas urbanas, PACHECO (1999, p. 1) nos aponta que: “As novas formas urbanas são visíveis no ambiente construído e encerram um conteúdo igualmente revelador das novas formas organizacionais do trabalho”. A presença do novo, cristalizado nas formas urbanas modernas, produz um rearranjo do espaço que, segundo SANTOS (1997, p. 98), ocorre: “através da aceitação ou rejeição do novo, vai depender da ação dos fatores de organização existentes (...) quais sejam, o espaço, a política, a economia, o social, o cultural...” caracterizando - se, a modernização, pela: “contínua mudança, o movimento ininterrupto de transformação, em que a velocidade e o ritmo são avassaladores” (HAESBAERT, 2002, p. 80) no qual o moderno se realiza e se concretiza “contraditoriamente, por meio de descompassos e expressando tensões, rupturas, continuidades e descontinuidades” (MIELE, 2006, p. 164). Desta forma, a Área Central de Nova Iguaçu vem sendo submetida a uma série de ações dos agentes hegemônicos que intensificam as transformações, modificando a fisionomia da cidade, com uma velocidade vertiginosa, através da ordem global que se impõe à ordem local, buscando: “impor, a todos os lugares, uma única racionalidade” (SANTOS, 2006, p. 38). No entanto, destacamos que a ordem local responde à ordem global não aceitando de forma pacífica esta imposição, rejeitando, em alguns momentos, a presença da modernidade. O novo espaço produzido e reorganizado acarreta também rupturas com as estruturas preexistentes que nem sempre aceitam a chegada do novo, pois as ordens hegemônicas temem ficar à retaguarda deste processo resistindo, desta forma, à presença do novo no qual: “novas técnicas, novas relações sociais, grandes projetos, etc. são freqüentemente chamados a testemunhar essa propalada modernização do espaço” (HAESBAERT, 2002, p. 79). Ao analisar o conflito entre o novo e o velho, SANTOS (1997, p. 99) nos aponta que: “muitas vezes, o novo expulsa logo o velho, às vezes, este resiste por muito tempo”. Neste contexto de resistência, estão inseridos os comerciantes da Área Central da cidade que, com a instalação do Top Shopping: “teriam sofrido, segundo esses, uma queda de cerca de 20% em suas vendas, dado o desvio de veículos e pedestres em direção ao novo pólo de desenvolvimento” (FILHO, 1999, p. 41). A construção do Top Shopping, com o capital privado e com o auxílio do governo municipal, fez com que os pequenos e médios empresários reivindicassem maior atenção do poder público com relação à infra - estrutura, condição indispensável para atrair a clientela ao Centro da cidade. Neste sentido, o poder privado elaborou o Projeto Shopping à Céu Aberto criando uma área onde se sobressaem: “mais de 1880 estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços integrados e 46 humanizados por uma moderna infra - estrutura urbanística” (RETRATO DE NOVA IGUAÇU, 2002, p. 20). Deve - se destacar, no entanto, que “o novo não chega em todos os lugares e quando chega não é ao mesmo momento; por isso, o novo nem sempre chega quando é absolutamente novo” (SANTOS, 1997, p. 98). Segundo HAESBAERT (2002, p. 80) a modernidade apresenta - se, deste modo, como “um templo de conflitos entre o ‘moderno’ e o ‘tradicional’, mas também entre as visões do novo e a imprevisibilidade das transformações, entre as versões proclamadas da mudança e os processos efetivamente vividos.” A respeito desta questão, LEFEBVRE (2004, p. 117) nos aponta: “as diferenças que emergem e se instauram no espaço não provém do espaço enquanto tal, mas do que nele se instala, reunido, confrontado pela/na realidade urbana”. Deste modo, a idéia de reorganização espacial desponta, nesta dissertação, a partir das metamorfoses que vêm ocorrendo no município e, de modo particular, na Área Central de Nova Iguaçu com a presença de modernos edifícios de serviços caracterizando, então, o novo, o “moderno”, que se opõe às velhas formas, ao “antigo”, presente, principalmente, no Centro Velho. A produção destas novas formas urbanas, dentre as quais destacamos os novos produtos imobiliários, implantados principalmente na Área Central, diferenciam - se na fisionomia da cidade provocando metamorfoses e rupturas diversas com o seu entorno e combinando usos distintos para o solo urbano. Estas formas valorizam de modo significativo o espaço interno da cidade, reorganizando espacialmente o território (PACHECO, 2004). Sobre esta questão, SALGUEIRO (1998, p. 87) nos aponta que: efectivamente, os actuais complexos imobiliários de grande dimensão representam a negação do zoneamento rígido que caracterizava a cidade moderna, voltam, a misturar actividades no mesmo espaço, reunindo habitação e o trabalho, o lazer e as compras, os residentes e os forasteiros. Neste contexto, insere - se a área nobre da cidade- o Centro Novo, localizada na Área Central de Nova Iguaçu, despontando como locus privilegiado de investimentos públicos e privados, metamorfoseando o espaço urbano, caracterizando - se pela oferta de trabalho no setor de serviços qualificados que coexistem com as opções de lazer e locais de moradia, contrapondo - se ao Centro Velho e deixando à retaguarda a função de sub - centro comercial exercida, historicamente, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 47 2.3 A noção de Área Central O processo de reorganização espacial na Área Central de Nova Iguaçu, após os anos de 1980, representa na escala interna, um momento de rupturas com a ordem anteriormente instalada evidenciando um processo de transição e de passagem com a constituição do Centro Novo e a reafirmação do Centro Velho, conseqüência da ação dos agentes hegemônicosendógenos e exógenos- qualificando e redescobrindo Nova Iguaçu enquanto foco de novos investimentos, com destaque para o setor imobiliário que se favorece das possibilidades oferecidas promovendo um processo de modernização na Área Central da cidade. As inovações, destacadas nas novas formas que despontam em Nova Iguaçu, reorganizam e redefinem a estrutura interna da cidade onde os espaços privilegiados estão mais abertos a este processo. Em contrapartida, há espaços deixados à margem sendo relegados ao plano secundário. Deste modo, é possível afirmar que os mecanismos que definem e hierarquizam os investimentos públicos e privados definem para si mesmos as escalas de suas interações sócio - espaciais. Neste momento, é importante destacar o papel da escala: “essencial para compreender a diversidade e o choque entre intencionalidades em diversos níveis, as quais se revelam através de decisões e têm repercussão na ordem econômica, cultural, política e moral, assim como na ordem territorial” (SANTOS, 1997, p. 82). A reorganização espacial, refletida na nova configuração das atividades terciárias, é resultado da articulação de diferentes espaços e subespaços: de um lado a metrópole carioca polarizando investimentos que impactam e refletem nas diversas cidades que a circundam, dentre elas Nova Iguaçu, conectada à metrópole carioca, exercendo, deste modo, no plano regional o papel de centralidade. O surgimento, no plano interno, de uma nova centralidade, representada pelo Centro Novo, reorganiza o espaço reproduzindo objetos, formas, novos estilos de vida e novas formas de morar que, neste momento, chegam a cidade, principalmente, na Área Central . O termo Área Central apresenta distintas acepções “a parte mais ativa da cidade, onde estão os setores comercial e financeiro”, “centro de gravidade”, “centro de atividades metropolitanas”, “zona comercial central”, “lugar onde se desenvolvem certas atividades com objetivo determinado”, popularmente conhecido como “centro” e tem sido utilizado de forma indiscriminada associando - se a diversas escalas, sejam elas local, regional, global ou de bairro. Deste modo, faz - se necessário cautela ao se utilizar este vocábulo que: “na mais 48 generosa interpretação, essa palavra designaria uma área bem ampla” (VILLAÇA, 2001, p. 32). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esta área: “se individualiza dentro do conjunto urbano, por ser o lugar de trabalho de uma elevada porcentagem da sua população terciária” (IBGE, 1967, p. 13) sendo segundo CÔRREA (2001, p. 123) característica comum da metrópole moderna: “a existência de uma área onde se concentram as principais atividades comerciais e de serviços, bem como os terminais de transporte interurbanos e intra - urbanos. (...) conhecida como Área Central” sendo designada: “o centro da moderna cidade capitalista cuja formação se dá através de sua segmentação em dois setores, quais sejam, o CBD e a Zona Periférica do Centro” (REIS, 2007, p. 9). CORDEIRO (1978, p. 3) compartilhando suas idéias define deste modo esta área como sendo: “uma área cujo arranjo funcional de comércio a varejo, serviços e escritórios de interesse privado e público aparecem num nível de intensidade e forma tão compacta como não ocorre em toda a extensa massa de edificações da metrópole”. Desta forma, a Área Central distingue - se do conjunto urbano, caracterizando - se pela multiplicidade no que diz respeito ao uso do solo – áreas de uso industrial, áreas onde há o predomínio de residências, localidades dominadas por instituições públicas, dentre outras, obedecendo ou não a um zoneamento prévio. Estas características específicas dão a esta área uma individualidade configurando - se, deste modo, como uma área singular dentro da cidade, tornando - se facilmente identificável, distinguindo - se das outras frações que compõem o espaço urbano. Esta área caracteriza - se pelo simbolismo, pela gestão pública e privada, pela concentração de atividades terciárias, atraindo, desta forma, uma numerosa população que converge para os seus locais de trabalho, constituindo - se como um lugar de intensos fluxos de veículos e pedestres, apresentando um grande burburinho durante o dia e ficando esvaziado durante o período noturno, sendo ocupado também por atividades marginais. Por isso a densidade demográfica diurna é bem diferente da noturna, aspecto comum às metrópoles, pois: aos sábados à tarde, aos domingos, e à noite, após o ‘rush’, quando os escritórios são fechados, o comércio cerra suas portas e o expediente nas repartições já terminou, o centro da cidade perde seu movimento, as ruas ficam desertas, praticamente vazias, contrastando com o burburinho diurno (IBGE, 1967, p. 16). Acrescenta CORRÊA (2001, p. 159) ao analisar, de modo geral, esta fração do espaço urbano, enfatizando que determinadas ruas, à noite, constituem outros ambientes, tornando - se: 49 “mal - afamado para parcela considerável dos transeuntes diurnos do núcleo central”. O quadro anteriormente exposto também é assinalado por OLIVEIRA (2002) ao analisar especificamente os logradouros da Área Central de Nova Iguaçu. Devido à aceleração do processo de expansão urbana e da descentralização de atividades econômicas para além dos limites da Área Central, a retomada pelo estudo destas áreas ganha fôlego sinalizando um novo interesse por esta parte do espaço urbano. Sendo de difícil apreensão, tanto pelo cidadão comum como pelo homem público (CORDEIRO, 1978), estas áreas atraem, a partir do século XX, olhares de diversos estudiosos, seduzindo geógrafos e não - geógrafos, pois, juntamente com os sub - centros e os bairros residenciais, compõem a estrutura urbana, configurando - se como tema de grande relevância para os estudos de geografia urbana, principalmente após os anos de 1950 estendendo - se até o início dos anos 1970, quando a Área Central distingue - se mais nitidamente dos subúrbios, posto que até os anos de 1930 esta área não havia se expandido horizontalmente diante da possibilidade de crescimento vertical e do surgimento dos subcentros (CARTER apud MOTTA, 2001, p. 10). Os estudos relacionados às Áreas Centrais nos remetem aos modelos e teorias que tinham como objetivo identificar os distintos padrões do uso do solo que iam surgindo à medida que se transformava a paisagem urbana. Dentre estes modelos e teorias formalizadas e apresentadas em esquemas (Figura 5) ganham destaque o das zonas cêntricas (Burguess), a Figura 5 – Generalizações da estrutura interna das cidades. Os esquemas acima sinalizam a estrutura interna da cidade assinalando as etapas do seu crescimento. Fonte: EUFRÁSIO, 1999, p. 231. 50 teoria dos setores (Hoyt) e a teoria dos núcleos múltiplos da estrutura urbana (Harris e Ullman) (EUFRÁSIO, 1999) que visam identificar os distintos padrões do uso do solo. As teorias e modelos, citados acima, explicam, em parte, a realidade das metrópoles brasileiras que: “tem uma organização interna que é um misto de círculos concêntricos e de setores de círculos” (VILLAÇA, 2001, p. 113), facilmente perceptível nestas metrópoles. O quadro em tela também é evidente quando analisamos esta situação no Rio de Janeiro, onde a população de classe média está distribuída pelos bairros da metrópole carioca e também em outros municípios que compõem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro com destaque para Niterói, Duque de Caxias e Nova Iguaçu compondo, deste modo, um mosaico caracterizado pela heterogeneidade social. A expansão da cidade, pensada como um organismo vivo e permanentemente, expandindo - se radialmente do Centro para fora em círculos concêntricos, provoca um processo de dupla face posto que esta área concentrava as atividades de negócio e à medida que a cidade crescia as atividades expulsas desta zona iam sendo alocadas em localidades mais distantes, pois: “a aglomeração em um único ponto é impossível; logo alguém será obrigado a se afastar” (VILLAÇA, 2001, p. 238). A emergência da Área Central, deste modo, é resultado do próprio crescimento da cidade com a saída de funções anteriormente presentes nesta área com destaque para a função residencial que se desloca na busca de áreas mais atrativas. Em contrapartida, observamos a chegada das atividades de comércio varejista e serviços visando atender as necessidades da população sinalizando o declínio da Área Central enquanto local de moradia e a ascensão desta área enquanto local das atividades terciárias. A respeito do processo de centralização, ERTHAL (1980, p. 7) nos aponta que: “A Área Central surge graças à ação do processo sócio - econômico que se afirma em decorrência da centralização espacial”. Segundo VANCE (Apud MOTTA, 2001) ao analisar, de modo geral, a emergência da Área Central destaca seis períodos distintos no seu processo de evolução. O primeiro destes períodos caracteriza - se pela emergência do núcleo original da cidade. O segundo refere - se ao processo de exclusão quando a função residencial é expulsa para fora do núcleo central onde é menor o valor do uso do solo. O terceiro momento refere - se a separação, quando as atividades complementares ou competidoras formam sub - distritos especializados. A zona de assimilação constitui o quarto período deste processo relacionando - se ao crescimento horizontal da Área Central. Os processos de réplica e competição com a formação dos sub - 51 centros configuram o quinto período desta evolução. Por fim, a última etapa, corresponde ao redesenvolvimento com a ação do planejamento estatal objetivando a renovação desta área. O afastamento das atividades terciárias para áreas mais distantes promoveu o desenvolvimento das atividades comerciais e de serviços onde os pequenos núcleos comerciais dos bairros se configuraram, em alguns casos, em grandes centros funcionais da cidade (SERPA, 1991) estruturados hierárquica e funcionalmente dispondo de uma estrutura de serviços já consolidada, atraindo fluxos de diversas partes da cidade (DUARTE, 1974). Ganha destaque, nesta questão, o papel dos transportes urbanos viabilizando a acessibilidade ao Centro, atraindo lojas, bares, restaurantes, escritórios de advocacia e contabilidade, cinemas, dentre outros, possibilitando a expansão do mercado de trabalho. O quadro anteriormente delineado destaca dois aspectos fundamentais para a compreensão da Área Central: a acessibilidade e a concentração de atividades de comércio varejista e serviços. Sendo palco de disputas entre as classes sociais que almejam localizar - se na zona central, vemos o conflito destas classes, na qual estão presentes interesses contraditórios, em torno do acesso espacial às vantagens ou recursos proporcionados pela sua localização exercendo um papel de domínio sobre as outras áreas e sobre as outras classes. Deste modo, a Área Central apresenta duas áreas distintas e complementares que exercem funções diferenciadas. A primeira é o Centro em si, considerado um local de grande heterogeneidade com relação ao uso do solo, destacando - se pela concentração maciça das atividades terciárias, notadamente do comércio varejista e da função financeira e de serviços, que exigem grande centralidade, atraindo um elevado número de consumidores. Outra característica sempre ressaltada pela literatura diz respeito ao uso do solo nesta localidade que adquire maior valor ocasionando uma seletividade das atividades implantadas na área em destaque expulsando - as para o entorno do Centro atendendo a um público mais especializado. A segunda zona, a periferia, constitui - se no entorno do Centro caracterizando - se pelo uso semi - intensivo do solo e por atividades marginais expulsas da Área Central, apresentando terrenos mais baratos, sendo ocupada por uma população de menor poder aquisitivo, com bares e lanchonetes populares, construções que se destacam pelo estado de envelhecimento e abandono. O desenvolvimento das Áreas Centrais, promovendo a disputa por pontos privilegiados, impacta na estrutura interna da cidade, pois as “atividades que não requeriam 52 nem suportavam uma localização Central, localizavam - se fora da Área Central” (CORRÊA, 1989, p. 40) produzindo a descentralização, fenômeno historicamente recente. Prossegue CORRÊA (Idem; p. 44) ao analisar, de modo geral, a gênese deste processo: “A Área Central tem sofrido o efeito, desde a década de 1920, e sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, de um crescimento espacialmente descentralizado” repartindo com outras frações do conjunto urbano atividades centrais, reorganizando e redefinindo o espaço urbano diante das transformações socioeconômicas, tornando - o mais complexo. Segundo REIS (2007, p. 1): a descentralização encerra um fenômeno típico da moderna cidade capitalista no século XX, embora sua difusão possa variar espaço - temporalmente em ritmo e magnitude diferenciados, este processo se generalizou em cidades de várias partes do mundo. Ao analisar, na década de 1930, a atuação das forças de atração e repulsão nas cidades capitalistas, COLBY (Apud CORRÊA, 1989, p. 45 - 46), nos aponta as razões deste processo: a) aumento constante do preço da terra, impostos e aluguéis, afetando certas atividades que perdem a capacidade de se manterem localizados na Área Central; b) congestionamento e alto custo do sistema de transporte e comunicações, que dificulta e onera as interações entre firmas (...); d) ausência ou perda de amenidades. No caso específico de Nova Iguaçu, diante de um quadro de decadência do Centro, agravado pelas razões anteriormente mencionadas, observamos um processo de abandono desta área pelas camadas de alta renda que deste modo deslocam - se em busca de áreas que atendam as suas necessidades oferecendo acessibilidade e amenidades naturais. Prossegue o referido autor (Apud CORRÊA 1989, p. 46) ao especificar cinco fatores de atração em áreas não - centrais: a) terras não ocupadas, a baixo preço e impostos; b) infra - estrutura implantada; c) facilidade de transporte; d) qualidades atrativas do sítio, como topografia e drenagem; e) possibilidade de controle do uso das terras; f) amenidades. Ao se remeter e analisar, especificamente em Vitória, o desdobramento do CBD, como uma singularidade da descentralização, REIS (2007; p. 7) identifica duas fases deste processo, a primeira fase: Abrange desde a década de 1920 até, aproximadamente, meados da década de 1970. Neste período a descentralização se caracteriza, em termos gerais, por suscitar o surgimento de núcleos secundários que, embora possam variar quanto a forma, a função e escala, não colocam em xeque a supremacia do CBD na estrutura interna da cidade. 53 Prossegue REIS (Idem, ibid) ao analisar a segunda fase deste processo: “que abarca o período entre meados da década de 1970 e se estende até o presente, constata - se o surgimento de novas expressões de centralidade intra - urbana” promovendo um rearranjo na estrutura interna da cidade. DUARTE (1974, p. 18), ao participar deste debate, analisando este processo na metrópole carioca nos afirma que: O crescimento em sentido NW ultrapassou os limites políticos do Estado da Guanabara, atingindo os municípios fluminenses vizinhos, em sua faixa periférica. Ocorreu o fenômeno de que células urbanas que começavam a se desenvolver como tais, nas cercanias da cidade do Rio de Janeiro, em poucos anos, foram sendo absorvidas. A expansão horizontal da metrópole, nos anos 1930, incorporando, de imediato, áreas suburbanas transformou estas zonas e fez com que: “Madureira passasse a ter a condição de interface entre a área urbana e as zonas suburbanas e rural” (DUARTE, 2005). Posteriormente, este processo atingiu as terras dos municípios da Baixada Fluminense transformando áreas rurais em áreas favoráveis à ocupação, atraídos por fatores de atração em áreas não - centrais, dentre os quais destacamos: a oferta de terras amplas, planas, a preços baixos e vazias resultado da crise da citricultura, a eletrificação da via férrea, a abertura da Rodovia Presidente Dutra, amenidades naturais, dentre outros, deflagraram o processo de urbanização nesta localidade possibilitando o surgimento espontâneo dos sub - centros combinando uma série de elementos: o crescimento populacional, o maior poder de compras destas localidades, o difícil acesso às áreas centrais resultado da precariedade dos transportes públicos, dentre outros, possibilitando à população destes bairros a economia de tempo e de transporte, dinamizando, deste modo, a economia local, que passa a exercer um papel complementar das atividades anteriormente desenvolvidas em Áreas Centrais. No que diz respeito a Nova Iguaçu, a emergência da Área Central, no início do século XX, está diretamente relacionada à segunda metade do século XIX, período de intensas transformações para a Baixada Fluminense com a passagem da Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1858, e o abandono das vias fluviais e das vilas - entrepostos deixando no passado as atividades agrícolas anteriormente desenvolvidas – a cana - de - açúcar e o café (PRADO, 2000). Neste período destacamos ainda a transferência da sede municipal da antiga Vila de Iguassú para Maxambomba, em 1891, que agora dará nome à estação ferroviária. Deste modo, esta estação desenvolveu - se como um importante ponto de embarque da produção citrícola 54 das diversas chácaras que compunham o cenário local. A produção de cítricos destinada ao porto do Rio de Janeiro, de onde seria escoada em direção aos mercados europeus fez emergir, à época, o embrião das atividades comerciais presentes atualmente no Centro Velho. Ao analisar a emergência da Área Central em Nova Iguaçu no início do século passado SOARES (1962, p. 227 - 228) destaca que: O “centro” atual ostenta desenvolvimento maior do lado da planície, para onde a aglomeração se expandiu. No entanto, mesmo a faixa de construções antigas da cidade, imprensada entre a montanha e a ferrovia, está sendo conquistada pela expansão do centro, comportando - se como verdadeira área pioneira da área central, onde já se instalaram o novo mercado, um cinema, a sede de um jornal, etc. A presença destas atividades somadas a passagem da via férrea, no caso de Nova Iguaçu, próximo ao sopé da Serra de Madureira, juntamente com o saneamento da Baixada Fluminense, a partir de 1936, atraíram para o seu entorno um aglomerado populacional, ao lado da estação, onde as casas iam se organizando espontaneamente às margens da estrada de ferro propiciando o surgimento de novos lugarejos. Posteriormente, a função residencial cederá lugar a outros usos do solo atraindo atividades comerciais beneficiadas pela acessibilidade proporcionada pela eletrificação da via férrea e melhoria das condições de circulação, além do incremento populacional. O desenvolvimento da citricultura, nas primeiras décadas do século passado, havia dotado a cidade de serviços e atividades relacionadas ao comércio atendendo a uma nova elite social – os laranjeiros que tanto se utilizavam do comércio local como faziam suas compras em outras áreas. As atividades comerciais estavam representadas pelos: armazéns de secos e molhados, armarinhos, casas de ferragens, poucas lojas de tecidos e sapatarias (...) 257 casas comerciais (bares, botequins, salões de barbeiro, armarinhos, açougues, padarias e lojas de pequeno comércio) existentes na sede municipal (...) era elegante fazer compras no Distrito Federal e até mesmo no exterior, havendo casos de enxovais para batizados e casamentos comprados diretamente na França... (PEREIRA, 1977, p. 143). O quadro anteriormente exposto sinaliza o conteúdo social dos ocupantes do centro da cidade neste período que através de suas relações comerciais dinamizavam esta área. O enriquecimento propiciado pela exportação da laranja dotou a cidade de uma infra - estrutura ainda inexistente: abertura de rodovias, instalação de agências bancárias, centros educacionais, hospitais, dentre outras, transformando a pequena cidade. 55 Na atual zona periférica do Centro da cidade de Nova Iguaçu estão presentes a rodoviária municipal, garagens de ônibus, antigos barracões de laranja, anteriormente abandonados, constituindo no passado recente um quadro de ruínas após a perda de suas funções. Atualmente, esta tornou - se foco de investimentos públicos e privados com a construção de instalações do Projeto Bairro - Escola, do Restaurante Popular, inaugurado na gestão da ex - governadora Rosinha Garotinho, atraindo diariamente um grande número de consumidores e revendedoras de automóveis ocupando antigos packing - houses. Mencionamos também a presença do Shopping Iguaçu Square, importante referencial urbano que se destaca no cenário local, considerado um fracasso por não conseguir: “definir o perfil do seu consumidor” (SIMÕES, 2007, p. 242). A morfologia desta área destaca - se pelo abandono das pequenas residências, sujas e sem pintura, com cercas de madeira e bambu, sinalizando o conteúdo social desta localidade. No entorno, da rodoviária municipal estão distribuídos os vendedores ambulantes e as biroscas. Nova Iguaçu, uma vez já identificada e definida como sub - centro, inicia a partir dos anos 1980, o processo de descentralização do comércio varejista e dos serviços especializados do Centro Velho em direção ao Centro Novo, polarizando estes serviços. Este quadro foi favorecido pela proximidade e infra - estrutura desta área em relação ao Centro. Salientamos, no entanto, o surgimento de uma terceira área11 que compreende o trecho entre a Via Light e o Top Shopping configurando - se, deste modo, com a concentração de uma nova área de atividades comerciais e de serviços na cidade com a instalação de um novo shopping – o Via Light Mall, Hospital de Clínicas Mário Lione recentemente inaugurado, alterando, deste modo, a estrutura e a organização comercial da cidade. A descentralização das atividades comerciais, na direção do Centro Novo da cidade, resulta, na verdade, da combinação de uma série de fatores de repulsão presentes na Área Central: trânsito caótico, escassez de vagas em estacionamentos, a poluição visual, sonora e do ar, os elevados custos dos aluguéis e do solo nesta área, dentre outros. No que diz respeito aos fatores de atração relacionados ao Centro Novo mencionamos que a concentração das camadas de alta renda nesta área atraindo em sua direção o comércio de alto luxo e os serviços especializados devem - se a oferta de terrenos amplos e baratos, acessibilidade favorecida pela expansão da Via Light facilitando o acesso à área nobre da cidade e também pelos viadutos - João Musch, Kaonze e Dom Adriano Hipólito - articulando 11 Vide SIMÕES, Manoel Ricardo, 2007 56 os dois centros: o Novo e o Velho, a presença de terrenos que se destacam pela boa topografia facilitando a abertura de vias e a livre circulação dos meios de transporte, a localização da universidade e a proximidade com a Zona Oeste do Rio de Janeiro, amenidades naturais onde se sobressai a Serra de Madureira, arborizada e com clima mais agradável. O processo de descentralização de comércio e serviços não coloca “em xeque o papel dominante do CBD como o mais importante centro da cidade” (REIS, 2007, p. 11) que, deste modo, apresenta um papel dominante dentro da estrutura urbana sobrepondo - se as áreas de sua influência. A descentralização das atividades econômicas em direção ao trecho inicial da Avenida Abílio Augusto Távora, antiga Estrada de Madureira, constituindo - se como a área identificada por nós como o Centro Novo, incorporando novas áreas sinaliza mais investimentos no setor imobiliário que, deste modo, produz novos bairros e novos condomínios que se destacam pelo acabamento e luxo, com apartamentos de dois e três quartos destinados à classe média local, com valores, em média, de 300 mil reais, assinalando o ideal de sucesso e status dos novos ricos iguaçuanos reproduzindo, na escala interna, modelos anteriormente presentes nos condomínios da Zona Sul carioca e da Barra da Tijuca. Os agentes imobiliários, atentos à demanda de residências, destinadas para as classes de menor poder aquisitivo, constroem, em áreas mais afastadas do Centro, condomínios e residências voltados para essas classes expulsando os mais pobres para localidades mais distantes. Neste contexto, destacamos que a emergência do Centro Novo da cidade, após os anos 1970/1980, não rivaliza e nem ameaça o papel do Centro Velho, posto que esta área teve como uma de suas atribuições o comércio voltado para uma população de menor poder aqusitivo. Diante das inovações que estão ocorrendo, nesta área, o Centro Velho se vê obrigado a se modernizar adaptando - se às transformações para poder também atrair investimentos, que, atualmente, estão concentrados no Centro Novo da cidade. A produção de novas formas que se sobressaem na paisagem urbana vem metamorfoseando a fisionomia da Baixada Fluminense e, particularmente, de Nova Iguaçu que deixa à retaguarda a imagem de abandono e carências diversas constituindo - se, deste modo, como um importante pólo de atividades terciárias na Região Metropolitana do Rio de Janeiro constituindo - se como uma “nova” periferia. 57 3 A NOVA PERIFERIA DA BAIXADA: O EXEMPLO IGUAÇUANO Neste capítulo abordaremos o período compreendido entre os anos 1960 e 1980 que será caracterizado pela escassez de investimentos e abandono por parte das esferas pública e privada, configurando, deste modo, a Baixada Fluminense como periferia distante e sub equipada penalizando a população mais carente de recursos. No entanto, nas últimas décadas, esse quadro vem sofrendo alterações diante dos investimentos que metamorfoseiam de forma significativa a fisionomia local. Deve - se destacar, porém, que tais investimentos concentram - se, principalmente, nos municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu, que rivalizam o posto de ‘Capital da Baixada’. 3.1 Da periferia abandonada aos novos investimentos: a nova fisionomia da Baixada Fluminense ...essa gente que vai morar para as bandas de Maxambomba (atual Nova Iguaçu) e adjacências se é levada a isso pela relativa modicidade do aluguel de casa. Aquela zona não lhes oferece outra vantagem. Tudo é tão caro como no subúrbio propriamente. Não há água, (...) não há esgotos, não há médicos, não há farmácias (BARRETO, s.d., p.85). Com a conversão das chácaras de laranjas em loteamentos, a cidade vai sendo incorporada pelo Rio de Janeiro, constituindo, desta forma, os aglomerados populacionais distantes da Área Central, com carências diversas no tocante à infra - estrutura e serviços públicos, mas com a presença de uma população trabalhadora, migrante e de baixa renda configurando, desta forma, a periferia – local de moradia do migrante associada ao locus de uma população de baixa renda. Diante do quadro de desenvolvimento econômico do eixo Rio - São Paulo, os migrantes, ao chegarem ao Rio de Janeiro, impedidos de obter moradia na Área Central, foram expulsos em direção à Baixada Fluminense e, principalmente, para Nova Iguaçu que, diante da crise e decadência dos laranjais, apresentava enormes espaços vazios, atraindo um grande contingente populacional que procurava habitações de baixo custo, em área dotada de 58 transportes freqüentes para a metrópole e um sub - centro bem equipado de uma rede de serviços com a possibilidade de conquistar a sua casa própria e fugir dos elevados aluguéis no centro do Rio de Janeiro consolidando, deste modo, a periferia definida como sendo um espaço social e economicamente desvalorizado, carente de infra - estrutura e de uma coordenação da gestão dos bens públicos numa escala mais abrangente (a metropolitana), ocupada por contingentes populacionais de baixa renda, que, normalmente, o usam como função de dormitório (FURLANETTO, et ali, 1987) vivenciando cotidianamente uma série de dificuldades12. Com a consolidação da periferia, vai - se elaborando e construindo o espaço metropolitano do Rio de Janeiro, com um novo modo de urbanização, um padrão caracterizado pela dicotomia entre a Área Central que concentra uma população de alta renda, a produção, circulação e consumo mais elevado em oposição à periferia composta por uma população de baixa renda, pela omissão e ausência do Estado no que diz respeito aos equipamentos e serviços urbanos, pois: ao contrário da área nobre, entretanto, a ocupação suburbana se realizou praticamente sem qualquer apoio do Estado ou das concessionárias de serviços públicos, resultando daí uma paisagem caracterizada principalmente pela ausência de benefícios urbanísticos (ABREU, 1988, p. 82). Ao analisar o surgimento da periferia, VILLAÇA (2001, p. 233) afirma que: “assim surgiu a periferia longínqua e sub - equipada nas metrópoles brasileiras do século XX – como área residencial típica da classe dominada”. Esta configuração espacial já se desenhava desde os anos 1920 em um padrão dicotômico: colocando em oposição o centro rico e a periferia pobre, dois espaços distintos que se justapõem, mas que, no entanto, são complementares (LAGO, 1996). Participando deste debate, a referida autora (Idem, p. 58), ao analisar a atuação do Estado na organização do espaço urbano do Rio de Janeiro, na primeira metade do século passado, nos afirma que: no início deste século, já era possível perceber o lugar de cada classe social no espaço urbano no Rio de Janeiro. O processo de separação entre pobres e ricos já havia sido inaugurado no final do século passado, quando as camadas sociais abastadas foram deslocadas para novos bairros recém - construídos especialmente para elas. Nesse período sob a orientação do capital- em particular as empresas de bonde- e do Estado, as fronteiras da cidade expandiram - se rapidamente em direção às Zonas Sul e Norte (...) Essa expansão, no entanto, possibilitou o deslocamento apenas das classes mais altas, restando aos trabalhadores 12 O transporte caótico, carência de serviços de educação, saúde e lazer, elevados índices de criminalidade, os problemas de moradia, dentre outros, despontam como dificuldades comuns à população de baixa renda das periferias brasileiras que resiste e sobrevive as dificuldades cotidianas impostas às populações que residem nestas áreas. 59 urbanos os bairros proletários nas áreas centrais ou, para aqueles em condições de arcar com os gastos diários com transporte, as freguesias suburbanas, que, com a chegada dos trens, começavam a perder a sua função rural. A partir dos anos 1950, intensifica - se o processo de urbanização no país com uma tendência à aglomeração populacional nas quais os núcleos com mais de 20.000 residentes quase dobram a sua participação no conjunto da população brasileira passando de 15% para 28,43% no período compreendido entre 1940 - 1960 (SANTOS, 1996). FARIA (1988, p. 103) ratifica este quadro ao analisar as razões que favoreceram este processo: Alimentada, pelo menos até o final da década de 60, por elevadas taxas de crescimento vegetativo, e durante todo o período por crescentes fluxos migratórios do campo para a cidade, a população urbana (...) que em 1950 mal atingira a cifra de 18 milhões de habitantes, representando 36% da população total, atinge em 1980 a casa dos 80 milhões. Em trinta anos a taxa de urbanização sobe para 68%. Só em cidades de mais de 20 mil habitantes viviam, em 1980, mais de 60 milhões de brasileiros. Semelhante processo ocorre no município de Nova Iguaçu que acelera e intensifica a urbanização, ocasionando a transição de um mundo rural para um mundo urbano, sofrendo, neste momento, grandes transformações na fisionomia que antes se caracterizava pelas atividades agrícolas (SOUZA, 1992). Os fluxos migratórios que intensificaram nos anos 1960 e 197013 colaboraram significativamente para o fenômeno da urbanização, apresentando, neste período, uma rápida expansão populacional na qual a taxa geométrica média anual é de 9,5%, menor apenas que os municípios de Duque de Caxias e São João de Meriti (FUNDREM, 1979). Boa parte destes migrantes tem como destino a Baixada Fluminense e, principalmente, Nova Iguaçu, que terá neste momento um elev4ado incremento populacional, conseqüência direta dos loteamentos e reloteamentos (ver Tabelas 3 e 4) favorecendo a ‘febre imobiliária’ (ABREU, 1988) e atraindo uma população carente de recursos. Sobre a intensidade dos loteamentos, SOUZA (Idem, p. 94) atesta que: nos anos 1950, o crescimento de áreas loteadas foi tão intenso – possivelmente o mais forte desse século, que esse processo ficou registrado, pelos geógrafos e na memória social daqueles que viveram e estavam atentos a essa transformação, como um boom imobiliário, uma febre. Esse movimento crescente foi verificado em São João de Meriti, Duque de Caxias, São Gonçalo, Zona Oeste do Rio de Janeiro e, em Nova Iguaçu (...) alcançou proporções surpreendentes. 13 Entre as décadas de 1960 e 1970, Nova Iguaçu consolidou - se como um dos principais municípios mais populosos do país apresentando um taxa geométrica de 7,3% conseqüência da febre dos loteamentos que atingiu o município. Fonte: PMNI, 2000. 60 No que diz respeito ao período 1970 - 1980, SANTOS (1996, p. 76) nos afirma que: “somente para o período de 1970 - 1980, as periferias de São Paulo e Rio de Janeiro absorvem 11, 61% do incremento demográfico do País”. Tabela 3 – Grau de urbanização no município de Nova Iguaçu. Área 1950 1960 1970 Nova Iguaçu 53,40 71,66 99,61 1a sede 64,50 81,55 100,00 2a Queimados 27,18 58,35 100,00 3a Cava 9,82 19,35 90,58 4a Belford Roxo 54,45 59,61 100,00 5a Mesquita - 100,00 100,00 6a Japeri - 13,98 100,00 RMRJ 90,13 90,52 96,58 Fonte: Censos Demográficos de 1950, 1960 e 1970 (apud BERNARDES, 1983, p.48). Tabela 4 – Número de loteamentos e reloteamentos, município de Nova Iguaçu. Período Loteamentos Aprovados Reloteamentos 1960-1964 173 42 1965-1969 199 44 1970-1974 136 18 1975-1977 65 7 Fonte: CT - PDUUIO - Dados obtidos junto aos registros da secretaria Municipal de Obras e Urbanismo (Apud BERNARDES, 1983; p. 58). É diante deste contexto de urbanização acelerada, com a explosão dos loteamentos, que se inicia a transição definitiva do município de área rural para uma área urbana, incorporada pela metrópole, caracterizando - se pela ausência de investimentos públicos e privados que irão estigmatizar a região com elevados índices de criminalidade e violência, ruas sem calçamento, miséria, carência habitacional, de áreas verdes, transportes, saúde, lazer, esgotos, equipamentos urbanos (Figura 6) reunindo mazelas presentes na cidade, características comuns às periferias urbanas do país e à Baixada Fluminense (SANTOS, 2001). 61 Figura 6 – Bairro Ouro fino, localizado na periferia de Nova Iguaçu. Destacamos nessa foto as precárias condições de moradia do bairro Ouro Fino, em Comendador Soares - Nova Iguaçu. Essas construções localizam - se às margens do rio Botas. (Autor: Everaldo Lisboa, julho de 2007). Um outro grave problema, constatado na Baixada Fluminense, diz respeito aos elevados índices de criminalidade presentes nestas cidades apresentando: uma das maiores concentrações urbanas do Brasil (...) as cidades que compõem esta região possuem uma formação histórica, espacial e social marcada por um padrão comum de segregação da classe trabalhadora, original pela extrema violência expressa na média de aproximadamente dois mil assassinatos por ano, ou seja, mais de 70 homicídios por 100 mil habitantes (ALVES, 2006, p. 35). Ao analisar este quadro na área, TOLEDO (1999) nos afirma que (Apud ALVES, Idem, p. 35): em 1997, Duque de Caxias aparecia em 14º lugar no ranking das 100 cidades mais violentas do país, com 76,6 homicídios por 100.000 habitantes; Belford Roxo em 19º, com 73,1; São João de Meriti em 22º, com 72,4; Nilópolis em 24º, com 70,5; Queimados em 26º com 69,4; Japeri em 37º, com 61,8 e Nova Iguaçu em 38º, com 61,2. 62 Deste modo, a Baixada Fluminense ganha visibilidade nos noticiários nacionais e internacionais14 devido aos elevados índices de criminalidade e violência que atingem a área, dando notoriedade e construindo uma imagem negativa diante da opinião pública, posto que: “no caso da Baixada, 65,2% das matérias sobre polícia noticiam ações policiais e 30,5% referem - se a crimes cometidos pelas polícias” (RAMOS & PAIVA, 2006, p. 70). No entanto, ressaltamos que os elevados índices de violência não se restringem apenas à região, uma vez que os homicídios são fenômenos comuns às regiões metropolitanas brasileiras, pois: “o estado do Rio de Janeiro, que tem três em cada quatro dos seus cidadãos morando na área metropolitana, encontra - se sempre entre os estados com a maior taxa do Brasil” (RIBEIRO et alli, 2005, p. 50). A criminalidade e a violência, porém, não se distribuem de forma homogênea na Área Metropolitana do Rio de Janeiro, visto que apresentam maior intensidade na região da Baixada Fluminense, computando: “uma taxa de homicídios que é superior, em aproximadamente 21%, à taxa tanto do município do Rio quanto do conjunto do estado” (Idem et alli, 2006, p. 50). Nos municípios que compõem a Baixada Fluminense (ver Tabela 5), os elevados índices de criminalidade também distribuem - se de forma desigual posto que os municípios de Magé e Paracambi destoam das estatísticas sobre essa temática, caracterizando - se pela tranqüilidade e pelos baixos índices de violência e criminalidade, situação oposta em todos os municípios localizados na Baixada Fluminense, acentuando, deste modo, o estigma de violência desta área. 14 O fato de associar a área quase sempre aos elevados índices de criminalidade, estigmatizando - a, cria, no entanto, uma invisibilidade da região negando a existência de um bom potencial para investimento e consumo bem como as diversas amenidades naturais – Reserva Ambiental, Serra do Vulcão, mananciais, dentre outros – e o potencial para o desenvolvimento de atividades turísticas. 63 Tabela 5 – Taxa de homicídios por 100 mil habitantes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Município de Residência Homicídios¹ População Taxa por dolosos estimados residente² 2002 100.000 hab. Belford Roxo 387 456.559 84,69 Duque de Caxias 631 806.133 78,25 Guapimirim 28 40.205 69,61 Itaguaí 95 88.428 107,29 Japeri 64 88.544 72,56 Magé 121 218.051 55,65 Mesquita 109 173.801 62,56 Nilópolis 113 152.595 74,33 Nova Iguaçu 591 791.096 74,75 Paracambi 16 40.950 39,16 Queimados 88 128.950 68,17 São João de Meriti 340 456.701 74,52 Seropédica 53 70.373 75,67 B. Fluminense 2.637 3.597.734 73,29 Região Metropolitana 7.524 11.247.424 66,89 ¹ Fonte: Declarações de óbito – SUS/Ministério da Saúde ² Projeção Populacional obtida através do Censo 2000/IBGE Fonte: Adaptado de RIBEIRO et alli, 2005. 64 Sobre os problemas, já mencionados, e sobre a expansão das periferias urbanas FARIA (1988, p. 108) nos diz que: as “periferias urbanas”, muitas vezes incrustadas no coração das cidades sob a forma de favelas e cortiços, marcadas pela habitação precária, pelo transporte difícil e pela ausência de saneamento básico, disseminaram - se por cidades dos mais variados tamanhos e nas diversas regiões do país. Segundo MARTINS & BONFIM (2002) há ainda uma grave crise habitacional que atinge a Baixada Fluminense, apresentando um déficit de pelo menos 100 mil moradias. O município de Duque de Caxias é o que apresenta a maior carência com déficit habitacional de 40 mil moradias sendo seguido de perto pelo município de São João de Meriti onde esta carência chega a 30 mil imóveis. O quadro anteriormente delineado é conseqüência da omissão do poder público que conforme SIMÕES (2007, p. 135 e 136): em suas múltiplas instâncias, principalmente na Baixada Fluminense, também não será um grande produtor de moradia, já que podemos ‘contar nos dedos’ os conjuntos habitacionais construídos, ou mesmo financiados pelo Estado ou seus agentes, que fossem voltados para a população de baixa renda. No entanto, a partir da década de 1980, inicia - se um processo de “desconstrução” da imagem negativa da periferia construída historicamente com o passar dos anos, pois, diante dos investimentos, os diversos municípios que compõem a Baixada Fluminense despontaram com um significativo potencial consumidor sendo, deste modo, alvo de novos investimentos endógenos e exógenos, alterando sua fisionomia e construindo, desta forma, uma imagem positiva da área. Segundo JARDIM (2007, p. 171): já nos anos 1970, a periferia metropolitana ganhava novos contornos: aumentava a segregação sócio - espacial, com a construção de condomínios de classe média, cujas demandas de consumo contribuíam para o surgimento de novas áreas cêntricas, valorizadas em função da infra - estrutura urbana localizada. Analisando, de modo particular, os investimentos em alguns dos municípios da Baixada Fluminense, OLIVEIRA (2004, p. 41 e 42) nos informa que: Nova Iguaçu, que desponta com o delineamento da produção de cosméticos, pois várias fábricas funcionam neste município, possuindo no cerne de seu centro comercial, alguns shopping - centers e galerias destinadas a venda exclusiva destes produtos. Outro ponto relevante é a ampliação do Iguaçu Top Shopping e, também, a implantação, há quase três anos, do mercado atacadista MAKRO (...) No tocante a São João de Meriti (...) vem ampliando suas atividades no setor de prestação de serviços. Em Belford Roxo, além da Bayer do Brasil (...) foi preparado um condomínio industrial, mantendo - se na disputa para atrair novas empresas. Já Duque de Caxias, que possui comércio em ampliação, recebe o Pólo Gás Químico, fora a REDUC que já se encontra consolidada na região. 65 Paracambi, onde se destaca o Centro Tecnológico Universitário, vive reais possibilidades da construção de uma hidroelétrica e duas termelétricas que atrairá, certamente, recursos para a região. Em Queimados, existe um parque industrial que compreende dezoito empresas, podendo ampliar seu potencial atrativo se algumas melhorias forem realizadas no intuito de facilitar o acesso a este município. (...) Itaguaí abriga o Porto de Sepetiba que, indubitavelmente, será beneficiada com a construção da RJ - 109, pois esta desembocará na rodovia Washington Luiz, maximizando assim as suas relações. Mesquita é outro que aguarda a construção desta rodovia, pois a Estação Aduaneira do Interior – o Porto Seco, aumentaria seu fluxo de manipulação de cargas. Ratificando estes investimentos em seis municípios (Figura 7) BRUNO (2006, p. 3) nos aponta que estes municípios: “vão gerar cerca de quatro mil empregos e investimentos de R$ 1,6 bilhão aproximadamente” reorganizando a geografia econômica local. Figura 7 – Distribuição espacial dos investimentos em seis municípios da Baixada Fluminense. Os investimentos nos municípios destacados promovem uma reorganização econômica da Baixada Fluminense. Fonte: Jornal O GLOBO, 25 JUN. 2006. 66 Dentre estes novos investimentos, destacamos os empreendimentos imobiliários (Figura 8) que visam conquistar a classe média local oferecendo serviços especializados que se sobressaem pela qualidade, pelo “conforto e sofisticação” como garagem privativa, salão de convenções, playground, academias de ginástica, dentre outros, constituindo - se, deste modo, como um clube vip para as camadas de alta renda presentes na Baixada Fluminense. Figura 8 – Anúncio de venda dos apartamentos do condomínio Clube - Residencial Acqua. Anúncio do Clube - Residencial Acqua, localizado no trecho inicial da Avenida Abílio Augusto Távora, antiga Estrada de Madureira, sinalizando as vantagens oferecidas pelo empreendimento propondo um novo estilo de morar que valoriza o lazer, a segurança e os serviços. (Autor: Everaldo Lisboa, julho de 2007). Há, no momento, um surto imobiliário com a construção de diversos empreendimentos polarizados, principalmente, em Duque de Caxias e Nova Iguaçu, com 1.355 apartamentos já lançados destinados à elite local, movimentando o mercado imobiliário e a economia local que, segundo dados da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), concentram os investimentos em torno de R$ 2,5 bilhões (GALVÃO, 2008, p. 3) 67 atraindo para as áreas, anteriormente citadas, construtoras e incorporadores que se destacam no cenário nacional. Diante deste quadro, CAMPOS (2007, p. 15) ratifica esta questão ao observar que: a Baixada Fluminense está sendo cobiçada por grandes construtoras. A Gafisa lança hoje o segundo empreendimento na região. (...) O novo condomínio fica na Rua Ana Néri 150, no bairro 25 de Agosto, em Duque de Caxias. Batizado de Celebrare, o empreendimento terá 188 unidades de dois e três quartos, além de coberturas. A Mozak Engenharia lançou o Golden Plaza Residencial, em Belford Roxo. O empreendimento terá casas de dois e três quartos, com spa, sauna com sala de repouso, piscinas e salão de festas. Segundo o diretor da Gafisa Rio, Luiz Henrique Rimes, em entrevista a CAMPOS (Idem, ibid), estes empreendimentos tem como objetivo: oferecer o que há de melhor em opções de lazer para o morador da Baixada, sem que ele tenha que sair da cidade implantando o conceito de clube - residência com opções de espaço gourmet, brinquedoteca, fitness, repouso com hidro, piscinas e serviços, como centrais de arrumação e limpeza, posto de coleta de lavanderia e car wash. Estes investimentos, isoladamente, no entanto, não são capazes de sanar os problemas, mencionados anteriormente, relacionados à Baixada Fluminense, pois: um projeto de desenvolvimento para a região não é viável se não estiver claramente identificado com a superação da exclusão social e a afirmação da cidadania para todos e todas. Um caso exemplar é o fato da maioria dos postos de trabalho de média e alta qualificação da refinaria de petróleo e do pólo gás - químico serem preenchidos por pessoas que moram na cidade do Rio de Janeiro (OLIVEIRA & SANTOS, 2006, p.27). Acrescentem - se, ainda, questões relacionadas às constantes enchentes, às ocupações irregulares às margens dos diversos rios que cortam a região agravando ainda mais o estado de conservação dos mesmos, aos elevados índices de desnutrição infantil, às elevadas parcelas da população afetadas pelo racionamento de água, à ineficácia dos meios de transporte, à precariedade na prestação de serviços como a coleta de lixo nos bairros mais distantes, dentre outras mazelas que assolam a localidade. Constatamos, desta forma, que a ausência de infra - estrutura e os graves problemas socioeconômicos, dessa região, apresentam - se como obstáculos, dificultando o desenvolvimento social e econômico local, conferindo à região o estigma de área abandonada pelos poder público e privado. 68 3.2 Nova Iguaçu: a capital da Baixada A região da Baixada Fluminense sempre apresentou diversos limites e diferentes interpretações que foram sendo constantemente modificadas ao longo do tempo. É muito comum o uso dos termos Baixada e Baixada Fluminense (OLIVEIRA, 2004) para designar os municípios das vizinhanças ocidentais do Rio de Janeiro, reunindo - os sob a idéia de uma região, de uma área física compondo uma mesma realidade geográfica e social (SOUZA, 1992). Segundo MENDES (1944, p. 21), para os geógrafos, do ponto de vista de classificação natural, a Baixada Fluminense pode ser definida da seguinte forma: a região do Estado do Rio de Janeiro conhecida pelo nome de Baixada Fluminense constitui uma área de aproximadamente 17.000 Km abrangendo as terras baixas que se estendem da escarpa da Serra do Mar até o Oceano Atlântico, numa faixa de algumas dezenas de quilômetros de largura desde Coroa Grande, em Itaguaí, até a foz do Itabapoana. Ainda a respeito da regionalização da Baixada Fluminense, OLIVEIRA & SANTOS (2006, p. 21), participando deste debate, apontam - nos que: o mais usual é considerar como Baixada Fluminense a área restrita às cidades originárias do município de Nova Iguaçu- conhecido como Maxambomba até 1916- integrando os municípios de Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis, Queimados, Japeri, Belford Roxo e Mesquita, que começaram a se emancipar a partir dos anos 1940, com características socioeconômicas semelhantes e próximos a cidade - pólo, Rio de Janeiro. Devido a estas divergências para proceder à delimitação do espaço dessa região, esclarecemos que utilizamos, neste trabalho, a definição estabelecida pela Secretaria de Desenvolvimento da Baixada Fluminense (SEDEB), atualmente, conhecida como Secretaria de Desenvolvimento da Baixada e Região Metropolitana (SEDEBREM) que considera esta área como o agrupamento de treze municípios15. Os municípios a seguir apresentam características comuns ao seu processo histórico de formação quase sempre marcado pela carência de investimentos do poder público e privado. No entanto, nas últimas décadas do século XX, vem se observando um processo de modernização nesta região através de projetos macroeconômicos tendo como objetivo o reordenamento econômico da Baixada Fluminense. Essa adaptação ao moderno se realiza recusando uma vocação e um destino produzido dentro do organismo urbano (SANTI, 2003). Esses investimentos, no entanto, estão polarizados nos municípios de Duque de Caxias e 15 Os municípios que compõem a região da Baixada Fluminense segundo a SEDEBREM são: Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Nilópolis, São João de Meriti, Belford Roxo, Mesquita, Japeri, Queimados, Magé, Guapimirim, Itaguaí, Paracambi e Seropédica. 69 Nova Iguaçu, acentuando ainda mais o quadro de pobreza, estagnação econômica e as diferenças sócio - espaciais entre os diversos municípios que compõem a localidade, principalmente no município de Japeri, o mais pobre desta área. Estes despontam como centralidades na Baixada Fluminense exercendo influências que extrapolam os seus limites territoriais acirrando um quadro de rivalidades, pois ambos reivindicam o posto de “Capital da Baixada”. A respeito destas cidades, SIMÕES (2007, p. 224) nos afirma que: coube a essas cidades, além de uma função industrial de peso, o papel de centro de negócios, com uma grande diversidade de ofertas de bens e serviços que vão dos mais simples aos mais complexos que, no entanto, exibem lacunas de atendimento que obrigam as populações desses núcleos e do seu entorno a se deslocarem para o Rio de Janeiro16. Constatamos, desta forma, que as respectivas cidades apresentam certa autonomia desempenhando em suas Áreas Centrais as mesmas funções apresentadas na metrópole do Rio de Janeiro, em escalas menores, evidentemente. Nova Iguaçu e Duque de Caxias apresentam um centro de comércio varejista e serviços bastante diversificados, um considerável mercado consumidor, uma classe média com renda elevada e uma infra - estrutura que a distinguem dos demais municípios da região. Diante deste quadro, o município de Nova Iguaçu concentra uma série de investimentos na Baixada Fluminense: abertura da Via Light, inauguração do Complexo Aquático Paradiso Club, implantação do Projeto Shopping à Céu Aberto e Top Shopping, o Infoshopping, a inauguração do Apart - Hotel Mont Blanc, de diversos clubes - residências em fase de construção na cidade além da inauguração do Via Light Mall17 que abrigará: “12 restaurantes e outras dez mini lojas” (Jornal O DIA, 23/03/2008, p. 03). Ao analisar o quadro em tela OLIVEIRA (2000, p. 39) sinaliza outros investimentos públicos em Nova Iguaçu: Além da construção da Via Light, outras obras marcaram o cenário urbano de Nova Iguaçu, durante a década de 1990. os centros comerciais dos três distritos mais populosos de Nova Iguaçu – Miguel Couto, Km 32 e Austin – também passaram por reformas urbanas, ganhando novas praças e sendo revitalizados através da construção de quiosques, “mercadões”, abrigo para ponto de ônibus e rearrumação dos ambulantes. 16 Este quadro está sendo atenuado com a implantação do campus avançado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e da FAETEC no município de Nova Iguaçu 17 Este empreendimento, recentemente inaugurado, constitui – se como um point de happy - hour sugerindo a emergência de uma terceira área de lazer, entre a Via Light e o Top Shopping, como citada por Simões, 2007. 70 Prossegue o referido autor (Idem , p. 41) ao analisar os investimentos privados e, de modo especial, a Via Light: A Abertura desta nova rodovia, cruzando a área central da cidade, reacendeu o comércio local, além de atrair para seu entorno diversas atividades, como agências bancárias, cursos de línguas e de pré - vestibulares, lojas comerciais, clínicas médicas e odontológicas, academias de ginástica, shoppings e outros investimentos. Outro investimento que ganha destaque no cenário interno diz respeito ao Complexo Aquático Paradiso - Club (Figura 9), recentemente inaugurado, atendendo a uma população Figura 9 – Vista Parcial do Parque Aquático do Paradiso - Club. Localizado no Bairro do Cabuçu e próximo à Rodovia Presidente Dutra, este parque aquático atrai um grande número de freqüentadores dos municípios da Baixada Fluminense e também da Zona Oeste do Rio de Janeiro, com destaque para o bairro de Campo Grande e o município de Mangaratiba, segundo informações obtidas com o gerente administrativo (Fonte: Material de divulgação do empreendimento). 71 carente de opções de lazer e que se via obrigada a se deslocar para a região da Costa Verde ou para as praias da Zona Sul carioca ou Barra da Tijuca, desgastando - se em longas viagens, nas quais o tempo do lazer é perdido dentro das conduções Em pleno funcionamento, este parque aquático oferece em seus 242 mil metros quadrados pistas de skate, 11 piscinas, quadras poliesportivas, ginásio, palco para shows, restaurantes, rio de correnteza, salão de jogos, churrasqueiras, campos de futebol, estacionamentos para 1. 600 veículos, dentre outros, com o espaço total do complexo Paradiso Clube envolvendo: uma área de 4,6 milhões de metros quadrados, algo semelhante ao bairro de Copacabana, no Rio. O empreendimento é liderado pelas empresas Barpa, construtora do Carioca Shopping, Pontal Engenharia e Multienge, tendo como um dos objetivos a transformação da área em um novo bairro, chamado Iguaçu Nova (BRUNO, 2006, p. 15). Outro investimento de grande porte que se destaca na cidade, diz respeito a construção do Mont Blanc (Figura 10) primeiro apart - hotel de Nova Iguaçu e da Baixada Fluminense, Figura 10– Fachada do Apart - Hotel Mont Blanc, localizado no Centro Novo da cidade. Este foi o primeiro apart - hotel da cidade destacando - se no cenário local pela sofisticação dos serviços oferecidos. (Fonte: Material de divulgação do empreendimento). 72 inaugurado em 01 de outubro de 2003, localizado na área nobre e próximo ao Centro da cidade. Aluísio Chambareli, gerente administrativo, em entrevista oral, nos informa que: Quando foram lançados os apartamentos custavam R$ 60 mil. Atualmente, o valor é de R$ 95 mil. Construído pela construtora Azevedo e Cotrik o custo total da obra foi de 6 milhões de reais. O Apart - Hotel Mont Blanc é constituído por 8 andares com 12 apartamentos por andar totalizando 96 apartamentos, sendo que 3 andares são destinados à garagem. Apresentando um projeto arquitetônico moderno e destacando - se na paisagem urbana da cidade, esse residence service apresenta no térreo 6 lojas: 1 restaurante e bar, 1 boutique, 1 salão de beleza, 1 cyber café, além de uma imobiliária e uma loja de artigos para presentes atendendo à população local e também aos hóspedes oriundos de outros estados, com destaque para o Estado de São Paulo. Prossegue o gerente administrativo: destes 96 apartamentos, 31 são residências fixas e outros 65 destinados ao setor hoteleiro. 70% dos apartamentos são de propriedade de empresários iguaçuanos. 90% dos hóspedes são provenientes do Estado de São Paulo com destaque para os prestadores de serviços, técnicos e gerentes de empresas com filiais na Baixada Fluminense. Mantendo uma ocupação de 100% durante todos os dias da semana com diárias variando entre R$ 170,00 e R$ 192,00. Há a perspectiva da construção de filiais deste apart - hotel, do mesmo grupo imobiliário, em Duque de Caxias, com previsão de inauguração para outubro de 2008, no bairro de 25 de Agosto gerando investimentos da ordem de R$ 25 milhões (BRUNO, 2006, p. 5) além de outras unidades, já em fase de construção em Itacuruçá e Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O sucesso deste empreendimento tem levado outras construtoras a investir neste segmento, pois já está em fase de construção o Apart - Hotel San Marino (Figura 11) localizado na Rua Doutor Mário Guimarães, e deve fazer concorrência ao Mont Blanc, pois ambos estão localizados na mesma área, disputando, deste modo, a clientela que tem como objetivo hospedar - se em Nova Iguaçu. A emergência destes apart - hotéis em Nova Iguaçu é conseqüência da desenvoltura comercial apresentada pela cidade atraindo profissionais de outros estados que vem à Baixada Fluminense prestar serviços para as diversas firmas e indústrias situadas nesta área. 73 Localizados na Área Central, a acessibilidade ao apart - hotel está sendo facilitada com o alargamento das vias que conectam este empreendimento à Rodovia Presidente Dutra18. Figura 11 – Empreendimento imobiliário Apart - Hotel San Marino, destacando - se no cenário local. Em fase de construção (em 2008), este apart - hotel está igualmente localizado no Centro Novo da cidade para atender a mesmo perfil de clientes do Apart - Hotel Mont Blanc. (Fonte: Material de divulgação do empreendimento, 2008). Os investimentos em tela vêm transformando a fisionomia e o olhar lançados sobre o município e o transformam em “Capital da Baixada”19 fruto das condições favoráveis apresentadas pela cidade como destaca o PLANO ESTRATÉGICO (2000, p. 15) da cidade: 18 Em face da expressividade da rodovia conectando Rio de janeiro e São Paulo a presença deste apart - hotel supre a carência de hospedagem, posto que praticamente não há empreendimentos deste tipo no trecho que corta a Baixada Fluminense sendo encontrados apenas após a Serra das Araras. 19 Essa expressão foi cunhada durante a gestão de governo do ex - prefeito Nelson Bornier. 74 a 20a posição em termos de facilidades para negócios (...) Nova Iguaçu é a 4a cidade do estado na geração de receita em telefonia fixa. Aqui estão instalados 29 agências bancárias, 14 agências dos Correios, 17 provedores de Internet e 2 instituições escolares de nível superior. Esses investimentos, distribuídos de modo desigual, promovem a fragmentação e segregação do espaço urbano, fenômenos facilmente visíveis dentro da cidade, pois observamos nos bairros mais nobres uma melhor qualidade de vida, oferta de serviços e bens de consumo mais eficientes. Em contrapartida, temos os bairros periféricos, onde os fatores, acima arrolados, estão praticamente ausentes ocasionando na escala interna a ocorrência de um ‘apartheid social’ na cidade. A respeito deste processo, SALGUEIRO (1998, p. 39) afirma que: Entendemos por fragmentação uma organização territorial marcada pela existência de enclaves territoriais distintos e sem continuidade com a estrutura sócio - espacial que os cerca. Este fenômeno é uma das características mais marcantes da metrópole brasileira, criando - se sítios sociais muito particulares. O fenômeno da modernização, em curso em Nova Iguaçu, ocorre de forma seletiva não contemplando todo município, acentuando significativamente as disparidades internas, pois os investimentos estão polarizados nos bairros centrais, com destaque para os bairros localizados no trecho compreendido entre a “Tijuquinha Iguaçuana” e o bairro do Kaonze, nas imediações da Serra de Madureira, dotados de melhor infra - estrutura e serviços, penalizando os bairros periféricos distantes e sub - equipados do município, ou seja, não são todos os espaços da cidade de que são contemplados e se transformam do mesmo modo e ao mesmo tempo, pois: há um contínuo processo de modernização em curso, que não atinge todos os lugares e ao mesmo tempo, que é estimulado pelo Estado, e que obedece á lógica do capital e não aos interesses do homem (manifestando - se como uma “modernização maldosa”20. Tal processo define os usos do solo, a apropriação da natureza, as relações entre os lugares, enfim, a organização do espaço. Seu traço geral é a desigualdade, pois a história do capital é seletiva, elege áreas, estabelece uma divisão territorial do trabalho, impõe uma hierarquização dos lugares, pela dotação diferenciada dos equipamentos (MORAES, 1983, p. 125). Segundo o ATLAS ESCOLAR DE NOVA IGUAÇU (2001, p. 27) tal fato é comprovado assim: Nova Iguaçu, como a grande maioria das cidades brasileiras, apresenta grandes diversidades e desigualdades na ocupação do seu território. Observa - se, por exemplo, uma concentração de serviços e equipamentos urbanos em certas regiões, enquanto noutras, praticamente, não existe qualquer infra - estrutura urbana. Vale ressaltar que essa distribuição desigual de benefícios sociais guarda uma coincidência (ou equivalência) com a distribuição desigual dos níveis de renda e escolaridade da população. 20 Expressão cunhada por Milton Santos em Por uma Geografia Nova 75 Ao analisarmos o desenvolvimento das cidades, e, como exemplo, mencionamos a cidade de Nova Iguaçu, verificamos um crescente desnível entre as áreas nobres e os bairros periféricos, ou seja, a distância, perceptível no espaço, entre a riqueza das áreas nobres, com suas casas luxuosas e dotadas de infra - estrutura e a pobreza dos bairros de trabalhadores, carentes dos serviços urbanos básicos como educação, saúde (ver Mapas 5 e 6), transporte, água, esgoto e habitação. O crescimento desordenado da cidade acentuado com o surto imobiliário agravou ainda mais os problemas relacionados à questão de esgotamento sanitário e água exigindo, atualmente, do poder público maior atenção que a partir de 1997: “passou - se a exigir, sobretudo dos grandes empreendimentos imobiliários, supermercados, condomínios e conjuntos habitacionais, a instalação de estações de tratamento de esgoto” (RETRATO DE NOVA IGUAÇU, 2002, p. 24). Prossegue a referida produção ao analisar o abastecimento de água21 na cidade (Idem, ibid): apesar de aproximadamente 80% dos domicílios estarem ligados à rede, a distribuição e a qualidade da água ainda constituem um sério problema para a população local. Em termos de consumo, não ultrapassa os 2.972.117 metros cúbicos mensais, sendo 2.531.688 residenciais, 260.681 comerciais, 104.746 industriais e 75.002 públicos. Ainda de acordo com dados apresentados pelo “Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto - 2003”, elaborado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS, do Ministério das Cidades, a respeito do índice médio de atendimento com esgotamento sanitário, o município iguaçuano só apresenta: o índice no município é de 0,4%, enquanto a média de atendimento de população urbana no Brasil considerando as prestadoras de serviços de abrangência regional, é de 40,6%, sendo que a média da CEDAE é de 42,2% e da sudeste é de 60,2%22 (PORTO, 2005, p. 3). Como solução para os problemas mencionados anteriormente, o PLANO ESTRATÉGICO DA CIDADE de Nova Iguaçu apresenta como projeto: “A universalização de água e esgoto. Municipalização da gestão dos serviços de água e esgoto, objetivando o atendimento a toda a população” e não apenas ao enclave constituído pelos setores mais abastados, localizado no sopé da Serra de Madureira. 21 Este problema tende a ser acentuado diante da expansão imobiliária com o surgimento de diversos novos produtos imobiliários elevando o consumo de água. Esta questão já tem sido, inclusive, levantada por associação de moradores, políticos e a mídia local. 22 Durante a realização da ‘II Conferência das Cidades – Etapa Nova Iguaçu – Reforma Urbana: cidades para todos (Saneamento Ambiental e Desenvolvimento Urbano), realizada no período de 15,16 e 17 de julho de 2005. 76 Mapa 5 - Distribuição dos equipamentos de saúde no município de Nova Iguaçu. Através de uma breve análise constata - se a concentração destes equipamentos nos bairros mais próximos do Centro ou próximos das vias de circulação da cidade relegando aos bairros mais distantes um papel secundário no que diz respeito aos equipamentos de saúde. (Fonte: PMNI, 2001). 77 Mapa 6 - Distribuição dos equipamentos de educação no município de Nova Iguaçu. O quadro em tela nos aponta semelhante situação aos equipamentos de saúde com a polarização dos investimentos em educação nos bairros mais próximos do Centro. (Fonte: PMNI, 2001). 78 Enfim, ao analisarmos estes dados, percebemos a gravidade deste quadro no município de Nova Iguaçu e como resultado da ausência destes serviços, exemplificamos que a população das áreas mais carentes utiliza as instalações de drenagem urbana para fazer o lançamento de seus esgotos sanitários, sem tratamento, nos cursos de água que cortam a cidade tornando estes rios, que no passado foram importantes vias de circulação, em valas negras a céu aberto. Mencionamos também, o racionamento de água nos diversos bairros iguaçuanos, os elevados índices de mortalidade infantil23. Percebem - se, desta forma, as desigualdades do espaço produzido contraditoriamente. Ressaltamos que a construção desta nova periferia e a redescoberta da Baixada Fluminense como área de grande potencial para investimentos, reafirma - se nas bases das contradições da produção do espaço urbano existentes configurando - se, deste modo, como um enclave territorial 23 Segundo dados da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu (PMNI), em 1988, este índice era de 29,5 por mil 79 4 REORGANIZAÇÃO ESPACIAL NA ÁREA CENTRAL DO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU: O CENTRO VELHO E O CENTRO NOVO Nesta quarta etapa, abordaremos o fenômeno de reorganização espacial em curso na Área Central da cidade de Nova Iguaçu, questão norteadora desta dissertação. O processo em tela resulta dos elevados investimentos públicos e privados, ocasionando a descentralização econômica, originando, deste modo, o Centro Novo contrapondo - se ao Centro Velho que se adapta às transformações presenciadas na cidade. Este processo resulta de investimentos concentrados na Área Central onde o Centro Novo se configura em pólo de comércio de luxo e serviços especializados no município, atraindo, deste modo, uma clientela local e oriunda de diversos bairros de Nova Iguaçu bem como de outros municípios da região da Baixada Fluminense com capacidade de consumo de bens e serviços oferecidos, distinguindo - se do comércio popular, característica que singulariza e individualiza o Centro Velho da cidade exercendo, deste modo, uma importante centralidade atraindo um grande número de consumidores de menor poder aquisitivo. A análise do padrão de localização das atividades de comércio varejista e serviços na Área Central de Nova Iguaçu baseou - se na literatura especializada, tanto na relação dos serviços quanto sobre Área Central, além da pesquisa em sites especializados e também em levantamentos realizados rua por rua, quarteirão por quarteirão, quadra por quadra, assinalando a distribuição espacial das atividades terciárias pela Área Central de Nova Iguaçu. Deste modo, podemos distinguir, de imediato, a existência de duas áreas que se sobressaem e concentram estas atividades, a saber: 1ª – O Centro Velho - caracterizando - se pelo comércio popular e atendendo a uma população de menor poder aquisitivo do município e do seu entorno; 2ª – O Centro Novo - com as atividades de comércio e serviços mais sofisticados atendendo uma clientela mais abastada de Nova Iguaçu e de diversos municípios da Baixada Fluminense. 80 4.1 A caracterização da Área Central de Nova Iguaçu No contexto de reorganização espacial, insere - se o interesse pela Área Central de Nova Iguaçu, visto que, a partir dos anos de 1980, essa área tem sido alvo de elevadas somas em investimentos que vêm alterando a sua fisionomia com a produção de novos produtos imobiliários que se destacam pela arquitetura, grande desenvoltura comercial concentrando, segundo dados da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, mais de 700 lojas e absorvendo 27% da mão - de - obra local (RETRATOS DE NOVA IGUAÇU, 2002) apresentando uma multiplicidade de comércio e serviços, relevantes referenciais de consumo. As ações dos poderes público e privado têm como objetivo a reurbanização desta área dotando - a de uma infra - estrutura que se apresentava em estado precário: inexistência de edifícios que possam atender serviços especializados, os congestionamentos crônicos nos horários de rush, resultantes da maior circulação de automóveis e pedestres, a carência de vagas para estacionamentos, precariedade na infra - estrutura de comunicações, ausência de áreas arborizadas, poluição atmosférica, sonora e visual (com acúmulo de informações e cartazes, tornando a paisagem local poluída), acúmulo de lixo espalhado nas ruas, dentre outros, assinalando um quadro de abandono e deterioração desta área, problemas já detectados anteriormente nos anos de 1980 (Figura 12). Diante do quadro exposto, busca - se também, a revitalização e a dinamização do comércio nesta área. Sobre os investimentos no Centro de Nova Iguaçu, ASSENOF (O DIA, 09/09/2001, p. 01) nos diz que: O Centro de Nova Iguaçu vai sofrer uma mudança radical (...) O Centro ganhará novo sistema de drenagem, abastecimento de água, rede de esgoto, iluminação pública, projeto paisagístico, sinalização, fornecimento de energia elétrica subterrânea, padronização das calçadas com pisos nivelados pintados de vermelho e instalação de mobiliário urbano. A reurbanização desta área de Nova Iguaçu tem como objetivo uma revalorização do uso do solo urbano provocando a substituição das áreas degradadas, feias e sujas por áreas novas, limpas e atraentes à população local. 81 Figura 12- Convocação de moradores exigindo do poder público melhorias na Área Central de Nova Iguaçu. A convocação demonstra o elevado grau de insatisfação da população com relação ao poder público, ressaltando o estado de abandono e decadência do centro e reivindicando melhorias nesta área da cidade (Autor: Everaldo Lisboa, abril de 2008). Fonte: Jornal Correio da Lavoura, 5 a 6 de maio 1988, p. 6). A revitalização da Área Central, no entanto, não se restringe apenas à cidade de Nova Iguaçu, pois Duque de Caxias, outra importante centralidade na Baixada Fluminense, vivencia este movimento em sua Área Central, como ressalta MONTEIRO (2007, p. 06): no que depender da prefeitura de Duque de Caxias, o Centro do Município passará por uma transformação radical. (...) Uma das principais ações do projeto será a remoção das favelas Vila Nova, conhecida como Favela do Lixão, e Vila Ideal (...) O objetivo é humanizar e urbanizar uma área que sofre há anos com o abandono. Nesse processo, estão envolvidos diversos atores urbanos, interessados e inseridos no processo de recuperação do Centro da cidade – o Poder Executivo, líderes, empresários da cidade, as classes mais abastadas e a população engajada em contribuir para um futuro mais próspero, alterando positivamente a imagem da cidade, reivindicando mudanças no trânsito, áreas de estacionamento e de lazer, mais segurança e ruas e praças arborizadas que possibilitem torná - las mais acolhedoras e atraentes para a população, posto que a cidade 82 encontra - se descaracterizada face às metamorfoses que ocorrem no espaço construído, desconstruído e reconstruído através de sucessivos governos. Este fenômeno pode ser constatado na fisionomia urbana da Área Central na qual é possível observar os prédios e edifícios com as suas fachadas modernas e iluminadas, destacando - se e distinguindo - se das formas características do período da citricultura promovendo rupturas e produzindo, deste modo, os espaços exclusivos que: “são gerados tanto na esfera de produção como na esfera de consumo e representam os novos modos de urbanização que tantas vezes se mostram condizentes com os princípios da globalização” (PACHECO, 1999, p. 2). O projeto de revitalização foi elaborado diante da constatação de crise evidenciada pela intensidade dos problemas urbanos presentes nesta área da cidade. Acrescente - se, ainda, o comércio informal que toma conta das ruas e calçadas (Figura 13), acirrando conflitos entre Figura 13 - O “conflito” entre os ambulantes e o comércio legal. A exposição de mercadorias nas calçadas assinala um quadro de caos, desordem e ausência do poder público nas principais ruas e avenidas na Área Central da cidade, agravando a imagem negativa desta área (Autor: Everaldo Lisboa, março de 2006). 83 os comerciantes, os vendedores ambulantes e o poder público, situação já apresentada nos anos 1970, que buscava: dotar o centro da cidade de meios essenciais para a movimentação dos pedestres, em toda a área comercial. A Divisão de Fiscalização de Posturas vem mantendo uma equipe de fiscais para coibir práticas ilegais levadas à efeito por maus comerciantes. Dentre as irregularidades combatidas, estão: colocação de mercadorias no passeio, mercadorias sobre o letreiro luminoso e nas marquises, lavagem das lojas em horários de grande movimentação popular” (Jornal O CORREIO DA LAVOURA, 18 e 19 de agosto, 1979, p. 03). Outro aspecto que ganha destaque e visibilidade nesta área é a dualidade presente na cidade: de um lado o processo de modernização representado nas novas formas urbanas, contrapondo - se, de outro lado, à informalidade do comércio ambulante, aos meninos de rua nos sinais de trânsito, às atividades marginais, aos pedintes que se espalham pelo Centro evidenciando um quadro de desvalorização e decadência desta área. Segundo PACHECO (1999, p. 02): “fora da hora do trabalho, o centro, menos institucional que antes, não é mais atrativo para a elite dirigente, e ganha possibilidades para afirmação dos grupos sociais excluídos, como os meninos de rua e as prostitutas. Ao analisar este quadro, especificamente na Área Central de Nova Iguaçu, participando deste debate RIBEIRO (2002, p. 145) nos aponta que: ao término do horário comercial, parte das ruas Coronel Francisco Soares e demais logradouros são ocupados paulatinamente por travestis que transitam por alguns bares localizados nestas ruas, organizando verdadeiro território da prostituição, pleno de centralidade, confirmando o papel de atração.24 Diante do quadro exposto, torna - se necessário repensar a cidade implantando projetos de transformações urbanas que atendam aos anseios da sociedade como um todo e não somente à elite local. Deste modo, o plano estratégico desponta como ideário de abordagem da Área Central através de ações concretas25 alterando os problemas apresentados e vivenciados pela cidade, unificando diagnósticos, concretizando atuações públicas e privadas e estabelecendo um quadro coerente de mobilização e de cooperação dos atores sociais urbanos (BORJA, 1998). A estrutura do PLANO ESTRATÉGICO DA CIDADE DE NOVA IGUAÇU (Figura 14) apresenta propostas tendo como objetivo central: 24 Ressaltamos, no entanto, que atualmente as atividades marginais, expulsas da Área Central, estão concentradas, principalmente, às margens da Rodovia Presidente Dutra com destaque para o trecho que corta os municípios de São João de Meriti e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. 25 Tal qual a implantação do Projeto Shopping à Céu Aberto, com a retirada de veículos das ruas centrais. 84 Figura 14– Estrutura do relatório do Plano Estratégico de Nova Iguaçu Fonte: Plano Estratégico da Cidade de Nova Iguaçu, 2000. 85 tornar Nova Iguaçu um Centro Metropolitano gerador de oportunidades comerciais, de serviços e logístico - industriais. Uma cidade mais justa na oferta e distribuição de serviços públicos, com melhor qualidade na estrutura urbana, comprometida com a preservação do seu patrimônio ambiental, histórico e cultural; coesa, integrada socialmente e acolhedora à participação cidadã. Uma cidade com identidade própria (2000, p. 39). No entanto, deve - se ressaltar que a cidade busca reafirmar uma identidade que a singularize no contexto atual, pois esta: “é um processo que apresenta uma dinâmica fundada na história da cidade, nas suas realidades (estrutura urbana, ambiente natural) e nos seus projetos de futuro. Ela “marca” a imagem da cidade para quem vive nela” (Idem, ibid, p. 31). Embora venha vivenciando um processo de modernização, buscando criar a sua “marca” e melhorar a sua imagem, o município iguaçuano ainda traz consigo reminiscências do seu passado agrícola, símbolos eternizados na memória e nas lembranças das elites agrárias, resistindo às transformações que ocorrem na cidade, pois: “os grandes monumentos ou prédios preservados por seu ‘valor histórico’(...) assumem sobretudo um valor simbólico como signos que traduzem uma memória coletiva” (HAESBAERT, 2002, p. 85). O perfume dos floridos laranjais ainda simboliza a imagem da cidade para os que vivenciaram este período de crescimento e riquezas26. Esse aspecto pode ainda ser observado ao caminharmos pelo Centro da cidade e o seu entorno, nos quais temos a presença de casarões e bangalôs (Figura 15), simbolizando as famílias tradicionais do período da citricultura, pois, mesmos pulverizados, permanecem e perpetuam - se na memória coletiva através da restauração de símbolos desta época. Sobre esta questão, LYNCH (1999, p. 11) nos aponta que: “todo cidadão possui numerosas relações com algumas partes da sua cidade e a sua imagem está impregnada de memórias e significações”. Essa evocação ou culto ao passado permanece e persiste ainda através das ações dos grupos dominantes ou do Estado, ou seja, o poder constituído, buscando resgatar esse passado glorioso através das formas simbólicas – parques, monumentos, avenidas, paço, praças públicas – dotadas de intencionalidades políticas objetivando atender aos interesses pelas quais foram criadas. Essa resistência às transformações é fruto de ações da PMNI27 e das elites locais que buscam resgatar e perpetuar um passado glorioso, que não mais existe. Para melhor ilustrar 26 Este fato é representado com o plantio de laranjeiras no trecho da Via Light que corta a Área Central da cidade, próximo ao Passo dos Laranjais. 27 A Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu instituiu, à época, o dia 22 de setembro como o “Dia da laranja” , visando resgatar o período de crescimento e riquezas da economia local identificado, desta forma, como a “Idade do Ouro” (SOUZA, 1992). 86 Figura 15 – Lar de Joaquina – Reminiscência dos Laranjais. Símbolos do período da citricultura – os bangalôs – estão presentes na Área Central da cidade. Estando alguns, atualmente, em estado de abandono (Autor: Everaldo Lisboa, março de 2006). esse caráter simbólico dos lugares, citamos O Passo dos Laranjais (Figura 16), localizado no trecho da Via Light que corta a Área Central da cidade. Esse memorial dá visibilidade a essa forma simbólica que nos remete ao passado agrícola e bucólico de Nova Iguaçu. Ressaltamos, no entanto, que o patrimônio histórico da cidade não tem sido valorizado, nem faz parte dos 87 Figura 16 – O Passo dos Laranjais no trecho central da Via Light em Nova Iguaçu. A criação destes símbolos visa resgatar o passado agrícola da cidade. Uma boa parcela da população, no entanto, ignora este aspecto destruindo os monumentos públicos. (Autor: Everaldo Lisboa, março de 2006). 88 símbolos presentes no cotidiano do iguaçuano que ignora e destrói, através de pichações e cartazes colados, os monumentos relacionados ao período da citricultura, ignorando, deste modo, um passado histórico de grande relevância para a cidade. A estrutura urbana da cidade é realçada pela Área Central com as ruas com os seus traçados apertados e retilíneos que nos remetem ao período dos laranjais. Esta área caracteriza - se por uma colcha de retalhos à medida que nos distanciamos dela, evidenciando a imagem desorganizada e assinalando os diversos momentos de expansão e desenvolvimento da cidade (Figura 17) refletindo a complexidade de sua evolução. Figura 17- Ocupação urbana em diferentes momentos da cidade. O mapa assinala as diferentes fases de expansão da cidade em direção ao seu interior. Há que se destacar a ‘colcha de retalhos’ após a crise da citricultura e a febre imobiliária (SOARES, 1962, p. 217) As ruas da cidade caracterizam - se pela topografia plana, não sendo, portanto, um obstáculo ao processo de expansão da cidade. Esse quadro sofre uma pequena alteração 89 próximo à Serra de Madureira de onde descem ruas íngremes em direção ao Centro de Nova Iguaçu (Figura 18). Figura 18 – Vista Parcial da cidade de Nova Iguaçu a partir do Morro do Cruzeiro. Ganha destaque nesta vista a concentração de prédios na Área Central de Nova Iguaçu e as residências de luxo no Centro Novo. (Autor: Everaldo Lisboa, março de 2006). É possível constatar na Área Central da cidade o contraste e a heterogeneidade das construções, pois nesta área despontam edifícios com mais de 10 andares, surgidos após os anos 1970, com linhas arquitetônicas modernas, contrapondo - se aos velhos sobrados de dois ou três andares que nos remetem aos anos 1930 e 1940, período de expansão e crescimento da cidade. A área em tela destaca - se no cenário interno pela elevada verticalidade, concentração das atividades terciárias, alto fluxo de pedestres e veículos. A passagem da Estrada de Ferro Central do Brasil pelo Centro age como uma barreira física seccionando a cidade onde de um lado está “o lado rico” atendendo às camadas de média e alta renda e, do outro, “o lado pobre” atendendo à população de menor poder aquisitivo. Os dois lados estão articulados pelas passarelas, viadutos e passagens subterrâneas que estão presentes na cidade. 90 4.2 O coração econômico e o processo de reorganização espacial do Centro Velho A área identificada como Centro Velho de Nova Iguaçu, que se destaca na porção norte da estrada de ferro, caracteriza - se por apresentar um comércio ‘popular’ que a singulariza, individualiza e distingue - a do restante da cidade. Esse aspecto é facilmente perceptível ao observarmos a classe dos produtos e mercadorias expostas, penduradas ou amontoadas, vendidas nas diversas lojas que não apresentam grande preocupação com a qualidade dos produtos e com a sua aparência, tanto interna quanto externa, presentes nesta área, sinalizando a pequena preocupação em atrair as classes mais abastadas. Essa área apresenta uma estrutura arquitetônica envelhecida, principalmente na Avenida Marechal Floriano Peixoto (Figura 19), às margens da Estrada de Ferro Central do Brasil, onde se localizam diversos sobrados que remontam ao período da citricultura, deixando à retaguarda a função residencial, abrigando, atualmente, a função comercial, expressa na multiplicidade de pequenas lojas. Os edifícios comerciais, que datam dos anos 1960 - 1970, com suas fachadas cinzentas e abandonadas, sinalizam a ausência de novas construções nesta área, explicada pela emergência do Centro Novo onde despontam e concentram - se os novos prédios e edifícios comerciais. Outros edifícios e sobrados no Centro Velho estão sendo reformados e conjugam a função residencial e comercial. Esta área, no entanto, vem revigorando o fôlego das atividades terciárias com a implantação do Projeto Shopping à Céu Aberto, estratégia político administrativa dos agentes hegemônicos, objetivando a retomada das atividades de comércio e serviços nesse espaço, assinalando o processo de modernização desta área. Ao analisar a implantação deste projeto, OLIVEIRA (2000, p. 42) nos afirma que: O pólo comercial ocupa uma área de aproximadamente 800 mil metros quadrados (...) O objetivo deste projeto foi o de transformar o centro num conjunto de lojas, reunindo cerca de três mil estabelecimentos padronizados por ramo de atividade. (...) Representando investimentos da ordem de US$ 15 milhões. O cruzamento das ruas Governador Amaral Peixoto e Nilo Peçanha destaca - se como o ponto de maior convergência e fluxo da população, pois é um ponto de passagem de grande relevância para quem corta o Centro da cidade, caracterizando - se pela multiplicidade de funções comerciais e de serviços. A escassez de terrenos vazios, no entanto, congela a expansão desta área, resultando num processo de estagnação do Centro Velho. 91 Figura 19 – A Avenida Marechal Floriano Peixoto em dois tempos distintos. Nesta avenida ainda estão presentes os antigos sobrados do período da citricultura, imprimindo a sua marca no cenário local. Fonte: Nova Iguaçu – 175 anos, 2008, p. 7. Um outro ponto de destaque relacionado ao Centro Velho diz respeito à sua baixa densidade demográfica presente no “Coração Econômico” da cidade, conseqüência do “crescimento da concentração das atividades comerciais e do alto valor imobiliário da propriedade” (CORDEIRO, 1978, p. 148), sinalizando, desta forma, a “morte” do Centro, nos finais de semana, com as suas ruas desertas e vazias, em nada lembrando o “corre - corre” diário dos dias da semana. No entanto, prossegue a referida autora (Idem, ibid) a nos lembrar que não se deve esquecer: “da pulsação acelerada da população no período diurno. À noite, 92 porém, o ambiente do Coração do Centro Principal é o do silêncio, do vazio de gente e de trânsito” favorecendo a expansão das atividades marginais, dentre elas a prostituição. Ao analisar este quadro conflitante na Área Central de Nova Iguaçu, OLIVEIRA (2002, p. 144), participando deste debate, nos mostra que: a desenvoltura do centro comercial torna - se mais evidente na Área Central de Nova Iguaçu (...) Esta desenvoltura, consagrada por consumidores e usuários, bem como pelo corre - corre dos veículos e pelo alarido dos vendedores, durante o decorrer do dia, contrasta marcantemente com o período noturno, no qual configura - se, em uma das suas porções, a prostituição dos travestis e outras atividades tidas como ilícitas. Essa desenvoltura se expressa no ritmo frenético das ruas do Centro Tradicional com os seus serviços especializados apresentando significados múltiplos, permitindo uma leitura da cidade, pois a cidade se escreve, nos seus muros, nas suas ruas (LEFEBVRE, 2004). 4.2.1 A distribuição espacial das atividades terciárias na Área Central de Nova Iguaçu: o Centro Velho As atividades de serviços e comércio varejista (ver Tabela 6) estão distribuídas pelas galerias comerciais, pequenas e grandes lojas nas ruas, travessas e avenidas que compõem o Centro Velho, atendendo a uma ampla parcela da população local dinamizando e dando vida à economia da cidade através de um fluxo constante de veículos e pedestres, que circulam apressados por ruas apertadas. O conjunto formado pelas ruas Dom Walmor, Otávio Tarquíno, Doutor Luiz Guimarães (antiga Treze de Maio) e as avenidas Marechal Floriano Peixoto, Governador Amaral Peixoto e Nilo Peçanha desponta como o coração econômico de Nova Iguaçu, distinguindo - se pela forte concentração de diversas instituições financeiras, das atividades de serviços e comércio varejista, presentes em décadas anteriores, com as suas lojas populares de produtos baratos: agências bancárias, eletrodomésticos, consultórios, óticas, bares, papelarias, livrarias, escritórios, restaurantes populares, dentre outros, atraindo uma clientela com a finalidade de transações comerciais e proporcionando às lojas um grande volume de negócios. 93 Tabela 6- Atividades terciárias no Centro Velho de Nova Iguaçu. Avenida Avenida Rua Doutor Avenida Rua Rua Marechal Gov. Luiz Nilo Otávio Dom Floriano Amaral Guimarães Peçanha Tarquíno Walmor Peixoto Peixoto - - - - 5 - - 3 2 - - 1 2 - 2 26 1 1 1 9 - - 2 - CASAS LOTÉRICAS 1 1 - - 1 1 CASAS NOTURNAS - - - - - - CENTRO DE 1 3 1 - 3 1 25 29 - - 18 9 - 1 2 52 28 10 ESCOLAS / CURSOS 5 3 2 2 7 1 ESCRITÓRIOS DE 18 3 1 7 16 7 ESTACIONAMENTOS 2 - 1 - 1 - FARMÁCIAS E 7 10 2 1 3 1 FLORICULTURA 1 - - - 2 1 IMOBILIÁRIAS 5 4 - 2 7 1 ATIVIDADES Avenida Avenida Rua Doutor Avenida Rua Rua Dom Marechal Gov. Luiz Nilo Otávio Walmor Floriano Amaral Guimarães Peçanha Tarquíno ATIVIDADES TERCIÁRIAS AGÊNCIAS DE CORREIO AGÊNCIAS DE VIAGEM AUTO - PEÇAS (LOJAS) BANCOS E FINANCEIRAS ESTÉTICA E BELEZA CONSULTÓRIOS E CLÍNICAS MÉDICAS ENDEREÇOS EMRESARIAIS (ESCRITÓRIOS) ADVOCACIA E CONTABILIDADE DROGARIAS TERCIÁRIAS 94 Peixoto Peixoto 3 10 1 1 1 - 28 106 4 45 13 1 5 2 2 - 11 1 - - 5 5 - - 2 - - - - 1 - - - 2 - - 5 15 1 2 10 3 SALÕES DE FESTAS - - - - 1 - SETOR DE 5 11 1 5 11 1 - - - - 1 - LIVRARIAS E PAPELARIAS LOJAS DE VESTUÁRIO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO MECÂNICAS E OFICINAS MÓVEIS E DECORAÇÕES E ELETRO ELETRÔNICOS POSTOS DE COMBUSTÍVEL RESTAURANTES E BARES ALIMENTOS VÍDEO LOCADORA Fonte: www. apontador.com/guia _de_ruas/rj/nova_iguacu.br (Adaptada pelo autor - 2008) Em uma rápida análise a respeito da distribuição espacial das atividades terciárias no Centro Velho, é possível constatar nitidamente a existência de duas grandes artérias: as Avenidas Marechal Floriano Peixoto e Governador Amaral Peixoto, mais conhecida como ‘calçadão’ (Figura 20), paralelas à estrada de ferro, destacam - se pela concentração das atividades anteriormente mencionadas, configurando - se, desta forma, como ‘o coração econômico’ - ‘hard core’ ou ‘central business district core’ (...) da cidade (CORDEIRO, 1978, p. 81) constituindo - se: “em realidade, no primeiro foco da concentração varejista da moderna cidade” (CORRÊA, 2001, p. 38). 95 Figura 20 – O ‘calçadão’ de Nova Iguaçu, na avenida Governador Amaral Peixoto. Esta avenida destaca - se pela grande concentração de lojas de vestuário popular, atraindo uma clientela de menor poder aquisitivo. O ritmo frenético, com a circulação e movimento constantes de consumidores, intensifica - se durante as datas comemorativas. O comércio relacionado ao vestuário popular (Mapa 7) predomina nas Avenidas Marechal Floriano Peixoto, Nilo Peçanha e, principalmente, na Avenida Governador Amaral Peixoto onde esta atividade desponta quase que ofuscando as outras atividades atraindo um elevado número de consumidores, promovendo um burburinho e um “vai - e - vem” constante pelas ruas. As atividades comerciais, dedicadas à venda de roupas e calçados, estão distribuídas, principalmente, entre os trechos das ruas Doutor Luiz Guimarães e Otávio Tarquíno. Ganha destaque nesta área a baixa qualidade e os preços populares destes produtos, expostos em bancadas e nas vitrines que destinam - se, principalmente, ao público feminino. Deve - se ressaltar, no entanto, a presença de lojas de departamento – Lojas Americanas, C&A e Marisa – que se sobressaem no setor de vestuário, localizadas, na Avenida Nilo Peçanha destoando das demais, apresentando fachadas modernas, ambientes refrigerados, uma melhor distribuição e a melhor qualidade dos seus produtos. A presença destas lojas, juntamente com a Toulon, a Impecável Maré Mansa e a Rosalém, voltadas para o público masculino, sinaliza o processo de adaptação e renovação às transformações que vêm 96 97 ocorrendo no Centro Velho. À medida que nos deslocamos deste trecho em direção ao terminal rodoviário, localizado na periferia imediata, constatamos a rarefação destes estabelecimentos comerciais e a presença de lojas de ferragens, bares, biroscas, botequins, padarias, supermercados, do restaurante popular, dentre outros, expulsos do coração econômico da cidade devido aos elevados custos e, também no caso dos supermercados, pela necessidade de terrenos amplos e de fácil acesso, aspecto de grande dificuldade para quem circula pelas ruas apertadas da cidade, abertas em sua grande maioria durante a primeira metade do século. De grande relevância nas avenidas Marechal Floriano Peixoto e Governador Amaral Peixoto, juntamente com a rua Otávio Tarquíno e Dom Walmor, é a concentração de profissionais liberais- escritórios de contabilidade e advocacia (Mapa 8), consultórios e clínicas médicas, laboratórios (Mapa 9), dentre outros, beneficiando - se da grande circulação de pedestres facilitada pela acessibilidade, pois estas atividades estão localizadas próximas à estação ferroviária e aos pontos de linhas de ônibus que transportam passageiros dos diversos bairros de Nova Iguaçu e também de outros municípios da Baixada Fluminense. Diferentemente das lojas de vestuário popular que ocupam o térreo, as atividades anteriormente mencionadas estão alojadas nos andares superiores dos edifícios e sobrados desta área ocupando pequenas e apertadas salas. Decorre, da concentração de clínicas médicas e consultórios, a aglomeração de farmácias e drogarias (Mapa 10) no entorno das avenidas Marechal Floriano Peixoto e Governador Amaral Peixoto. Os restaurantes e bares (Mapa 11) também apresentam grande concentração espacial, quase 50%, na área em estudo. Estes estão dispersos em toda a sua extensão, distribuindo - se: “um atrás do outro, na rua da estação e nas outras ruas do Centro” (SOARES, 1961, p. 195) apresentando características que nos remetem aos anos de 1960. Prossegue a referida autora (Idem, ibid) ao explicar esta localização: tal fato pode ser melhor compreendido se considerarmos as necessidades de repouso e alimento de uma população muito numerosa que acorre para Nova Iguaçu, a fim de se utilizar do seu importante setor de serviços. Ocupando pequenas lojas e oferecendo lanches e refeições que variam de acordo com a sua localização. Cabe destacar que o quadro delineado permanece atual diante da consolidação desta área como um importante referencial de comércio e serviços. As atividades relacionadas aos bancos, financeiras e casas lotéricas (Mapa 12) estão polarizadas nestas duas avenidas ocupando as lojas do térreo. A incidência destas atividades 98 99 100 101 102 103 está relacionada, possivelmente, ao período da formação de Nova Iguaçu como um sub centro na Região Metropolitana do Rio de Janeiro quando a cidade apresentava: seis agências bancárias: Banco do Brasil, Banco Comércio e Indústria, Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais, Banco de Minas Gerais, Banco Predial do Estado do Rio de Janeiro e Caixa Econômica Federal (SOARES, idem, p. 194). Atualmente, inicia - se uma tímida descentralização destas atividades em direção ao Centro Novo com instalação de agências bancárias e financeiras, da mesma instituição, nas ruas Alfredo Soares e Doutor Thibau e, de outra instituição, na Rua Getúlio Vargas. Destacamos ainda a presença de agências bancárias nos bairros de Miguel Couto, Comendador Soares e Austin, centros mais bem equipados e dotados de comércio e serviços quando comparados com outros bairros. Estes bairros seriam a configuração de subcentros embrionários, localizados na periferia iguaçuana. As lotéricas não apresentam grande expressividade no Centro Velho distribuindo - se nas proximidades das agências bancárias nas galerias comerciais ocupando pequenas salas. As atividades vinculadas aos endereços empresariais (escritórios), em sua maioria, relacionadas ao setor automotivo (Mapa 13) – de peças e acessórios, oficinas mecânicas, estacionamentos, dentre outros, imprimindo a sua marca na paisagem urbana, estão aglomeradas na Avenida Nilo Peçanha28, que se destaca como um importante pólo automotivo no cenário metropolitano, estendendo - se da estação ferroviária até a Rodovia Presidente Dutra, que beneficia o acesso a esta avenida onde concentram - se um grande número de lojas, somente no trecho compreendido entre esta rodovia e a Via Light. Segundo Furtado (2005, p. 14), ao analisar a importância econômica deste pólo nos afirma que as “lojas de autopeças empregam cerca de 1.500 pessoas”. A diversidade e a oferta de produtos e acessórios – pneus, borrachas, mangueiras, baterias, dentre outros – atraem um elevado número de consumidores originários dos diversos bairros que compõem o município, de outros municípios da Baixada Fluminense e também dos bairros da metrópole carioca, ou seja, esta avenida estende seu raio de influência para muito além dos seus limites, promovendo um intenso fluxo de pessoas, de consumidores que nela circulam com seus veículos agravando os crônicos congestionamentos nesta via estreita, principalmente, aos sábados pela manhã, quando aumenta o fluxo de veículos e pedestres tornando - a intransitável em nada lembrando a fisionomia desta avenida nos anos de 1930, 28 Destacamos que este setor está concentrado no trecho entre a Rodovia Presidente Dutra e a Via Light, de aproximadamente 1,5 Km. 104 105 quando esta apresentava uma função essencialmente residencial, sendo margeada por floridas laranjeiras (Figura 21). Figura 21 - Rua Nilo Peçanha no ano de 1931. “À esquerda, depois do muro gradeado, início da Avenida Governador Amaral Peixoto; ao final, à direita, o bar Brasil, os laranjais cobrindo a Serra de Madureira” – Foto do Arquivo de Francisco Manoel Brandão. (FONTE: ÁLBUM FOTOGRÁFICO DE NOVA IGUAÇU, 1978). Ao analisar a localização dos estabelecimentos de revenda de automóveis em Niterói, ERTHAL (1980, p. 132) nos afirma que: “a fuga do miolo central por parte das empresas, deve - se não só a escassez de espaço – tão necessária à exposição de autos – como também à procura de vias de tráfego intenso”. Quadro semelhante é encontrado nesta avenida, que juntamente com a Avenida Carlos Marques Rollo, concentra as agências e concessionárias revendedoras de automóveis da cidade. Beneficiando - se da proximidade com a Avenida Nilo Peçanha, as mecânicas e oficinas, necessitando de espaços maiores, estão concentradas no seu entorno, ou seja, na Avenida Doutor Luiz Guimarães e Otávio Tarquínio. 106 Os estacionamentos apresentam números insignificantes diante da importância do tráfego de veículos na Área Central da cidade. A pouca oferta de estacionamentos agrava ainda mais os problemas de circulação pelo Centro Velho dificultando o desenvolvimento do potencial de centro comercial de Nova Iguaçu. Os projetos de vaga certa, implantados pela PMNI, incluíram a questionável demolição de residências e sobrados, “apagando”, deste modo, a memória da cidade. No entanto, destacamos que a abertura de novos estacionamentos soluciona parcialmente este problema, pois diante do aquecimento econômico e da expansão do mercado imobiliário29, vem aumentando o número de veículos circulando pela cidade e, particularmente, pela Via Light e pela Avenida Marechal Floriano Peixoto. No que diz respeito ao comércio de alimentos (Mapa 14) é possível constatar que as padarias, supermercados, açougues e confeitarias estão distribuídos por quase todas as ruas do Centro Velho. Uma análise dos dados apresentados, na tabela 6, já mencionada, nos permite identificar o predomínio destas atividades na Avenida Governador Amaral Peixoto e Otávio Tarquíno beneficiando - se da grande circulação de consumidores por estas vias. O setor educacional – cursos e escolas (Mapa 15) – também destaca - se pela presença nos logradouros estudados, concentrando - se na parte mais interna da cidade na rua Otávio Tarquíno, por onde transita diariamente um elevado número de pedestres. A aglomeração destas instituições na área em tela atrai estudantes de municípios localizados no entorno imediato, como Mesquita, Nilópolis, Queimados e também de localidades mais distantes como Paracambi, que buscam vagas nos colégios e escolas públicas e privadas mais renomadas da cidade. Beneficiando - se deste aspecto, as papelarias e livrarias estão concentradas na Avenida Governador Amaral Peixoto. Mas, salientamos que as mesmas estão distribuídas por quase todas as ruas estudadas ocupando lojas maiores que, em algumas ocasiões, desempenham o comércio do tipo ‘tem tudo’ oferecendo uma grande variedade de produtos. As imobiliárias (Mapa 16) estão distribuídas em cinco das seis ruas e avenidas estudadas, concentradas, principalmente, nas Avenidas Floriano Peixoto e Governador Amaral Peixoto ocupando quase sempre pequenas salas nos andares superiores dos sobrados. A atuação de algumas imobiliárias nos remete ao período pós - citricultura quando a febre dos 29 Assim como o aumento do consumo, a expansão do mercado imobiliário também colocando nas ruas um número maior de veículos preocupa as autoridades locais. 107 108 109 110 loteamentos atraiu para Nova Iguaçu empresas construtoras e imobiliárias interessadas na comercialização das terras. Paralelamente, assinalamos o surgimento de imobiliárias criadas pelos citricultores que viram no comércio das terras a solução para recuperar o capital investido na citricultura construindo avenidas, vilas, abrindo ruas, comercializando os lotes de terra, legalizando imóveis, dentre outros (SANTOS, 1995). Algumas destas imobiliárias ainda permanecem em atividade vendendo lotes nos diversos bairros do município, principalmente, ao longo da Estrada Abílio Augusto Távora, destacando - se pelo financiamento a longo prazo, com prestações mais acessíveis, atendendo às populações de baixa renda. Segundo Iracema Barone, filha de um dos maiores exportadores de laranjas, à época, as terras no trecho próximo ao Centro da cidade foram as últimas a serem loteadas, pois os citricultores esperavam retirar delas a maior margem de lucro possível. As lojas de eletroeletrônicos e informática, embora apresentem números que atestam a sua presença nesta área, estão migrando para o entorno do Top Shopping, onde “foi inaugurado um mini - shopping voltado para produtos de informática” (SIMÕES, 2007, p. 242) sinalizando uma descentralização destas atividades. As agências de viagem (Mapa 17) e de correios (Mapa 18) estão presentes na área mais interna da cidade atendendo a uma ampla parcela da população, concentrada, principalmente, nas ruas Otávio Tarquíno e Avenida Doutor Luiz Guimarães. As lojas de móveis, decorações e eletroeletrônicos (Mapa 19), material de construção (Mapa 20), estão localizadas fora da área mais interna da cidade, pois estas atividades destacam - se pela necessidade de espaços maiores, sendo este um fator de expulsão destas atividades para áreas mais distantes do Centro, além do permanente fluxo de caminhões com suas mercadorias que, na Área Central, promoveriam grandes transtornos ao fluxo de veículos e pedestres desta área. As atividades relacionadas às floriculturas (Mapa 21), vídeo - locadoras, salões de festas, academias de ginástica, casas noturnas, hotéis e pousadas destacam - se pela inexpressividade no Centro Velho não se configurando, deste modo, como atividades relevantes nesta área. 111 112 113 114 115 116 4.3 O processo de ocupação do Centro Novo e as metamorfoses do espaço Esta área que agora se configura como Centro Novo resulta do processo de modernização que vem ocorrendo na cidade pós - anos 1980, com a chegada e a concentração de modernos edifícios, de serviços especializados, resultado da expansão do setor imobiliário, que surgem de forma vertiginosa promovendo rupturas e metamorfoseando a sua fisionomia impactando a vida cotidiana e criando espaços diferenciados pelo valor do uso do solo urbano. O processo de ocupação desta área nos remete ao século XVIII quando quem seguia pelo Caminho de Terra Firme encontrava: “o engenho de Maxambomba o último dos estabelecimentos rurais (...) Esse esboço de função, que data, provavelmente, dos fins do século XVIII e início do XIX, daria lugar a implantação da semente urbana da qual brotaria Nova Iguaçu” (SOARES, 1962, p. 198). Este processo intensifica - se durante e após o período da citricultura nos anos de 1940 quando extensas faixas de terras, no sopé da Serra de Madureira, próximas da Área Central do município, foram reservadas às classes mais abastadas da cidade. O relevo íngreme apresentava - se, de imediato, como obstáculo à ocupação urbana dificultando a expansão dos loteamentos. As hostilidades impostas pelas condições físicas do terreno retardaram a fragmentação e a ocupação das terras nesta área. A respeito desta questão, prossegue a referida autora (Idem, p. 234): Nessas encostas de declive forte, onde ainda se vislumbram restos dos belos laranjais que as recobriam, foram abertos vários loteamentos. Devido a hostilidade, tais espaços só foram loteados nos últimos anos, quando as vantagens de sua proximidade do ‘centro’e da estação colocaram em segundo plano as desvantagens para loteadores e compradores, decorrentes da topografia. Ruas foram abertas serpenteando pelas encostas e esses loteamentos logo se povoaram de pequenas casas. Vencidas as dificuldades impostas pelo relevo, essa área dará origem aos espaços residenciais elitizados de Nova Iguaçu, pois, parte das terras loteadas (Figura 22) da encosta, foram destinadas à classe média local constituída por profissionais liberais: médicos, arquitetos, advogados, artistas plásticos e empresários do ramo industrial e do comércio, além de políticos locais que aí se instalaram quando a cidade deixou à retaguarda as atividades agrícolas e adquiriu funções de sub - centro comercial oferecendo uma gama de serviços que atendiam às necessidades desta classe social. 117 LOTEAMENTOS Década de 1940 Década de 1950 Década de 1960 Década de 1970 Figura 22- Mapa de cadastro da distribuição dos loteamentos na subida da Serra de Madureira, na Área Central de Nova Iguaçu. Os loteamentos são legalizados e datam da década de 1940. A figura acima assinala os diferentes momentos de ocupação desta encosta (Fonte: SANTI, 2004) Participando deste debate SIMÕES (2007, p. 235) nos aponta que: Assim, entre a estação ferroviária e a encosta da Serra de Madureira estabeleceu - se uma área residencial ocupada, desde o seu início, pelos setores mais abastados da cidade. Nessa faixa moravam os antigos exportadores, comerciantes e profissionais liberais que possuíam uma renda bem acima da maioria da população e ocupavam casas amplas próximas à estação e nas encostas do maciço, longe dos alagadiços e áreas inundáveis do lado norte da via férrea. Com a população de alta renda residindo nesta área, iniciou - se nela, a partir dos anos de 1980, um rápido processo de verticalização, atraindo para o bairro condomínios fechados, lojas de decorações, apart - hotéis, edifícios de escritórios, academias de ginástica, restaurantes de comida mexicana, árabe, japonesa, cantinas italianas configurando, desta forma, uma pequena concentração gastronômica na cidade. Destacamos, ainda, a presença de 118 escolas de idiomas, clínicas médicas, consultórios dentários, agências bancárias, casas de festas, lavanderias, lojas selecionadas de confecções e calçados, instituições universitárias, clínicas de estética, valorizando, desta forma, o solo urbano desta área e do seu entorno que, deste modo, configura - se como área de concentração das camadas de alta renda de Nova Iguaçu despontando como uma nova centralidade. Este processo fez com que muitos dos antigos sobrados e casarios do período da citricultura dessem lugar às novas construções, quando a maioria dos prédios novos, quase sempre apresentando mais de 10 andares, assinalam, pela data de inauguração – Edifício Di Cavalcanti (1980), Edifício Residencial Jatiúca (1994), Centro Empresarial Vianense (2001), Condomínio Edifício Plaza Business Center (2002), Residencial Afrânio (2006) – o surto imobiliário que se instalou nesta área após este período. Segundo o ranking, divulgado pela PMNI, esta área destaca - se dentre os bairros que apresentam os melhores Índices de Qualidade de Vida da cidade (Mapa 22), pois, à medida que nos distanciamos desta área e do seu entorno, observamos a carência de infra - estrutura assinalando as precárias condições de vida dos bairros periféricos, ressaltando as desigualdades internas presentes em Nova Iguaçu. Esse índice tem como objetivo: “mapear o município com um levantamento completo dos bairros visando à melhoria de atendimentos por parte do governo municipal, com a realização de obras” (O DIA, 12/03/2000). O processo de modernização presente nesta área destaca a ação dos agentes hegemônicos que atuam na produção e reorganização do espaço urbano através de ações complexas incorporando áreas rurais ao espaço urbano com projetos de renovação destas áreas através da intervenção do Estado, pressionado pelos agentes imobiliários que buscam extrair ao máximo a valorização da terra. Ao analisar e distinguir a produção do espaço urbano na cidade capitalista, VILLAÇA (2001, p. 249) constata que: do ponto de vista do espaço urbano, dividimos a cidade capitalista em dois períodos: o das cidades do início do capitalismo (...) e o período das cidades a que chamaremos de “tipicamente capitalistas”. A produção do espaço urbano no primeiro período é marcada por forte intervenção direta do Estado, enquanto na cidade “tipicamente capitalista” essa produção se faz principalmente por meio do mecanismo no mercado imobiliário. 119 Mapa 22 – Índice de Qualidade de Vida no Município de Nova Iguaçu. Fonte: PMNI, 2001. 120 Esse processo de modelação e estruturação do espaço, através da atuação das diversas instâncias do poder público e do poder privado, revela o elevado grau de complexidade da relação entre o Estado e o espaço já que apenas este agente tem possibilidade de intervir, permitir e direcionar os investimentos no espaço, normatizando o seu uso e hierarquizando os investimentos que, no caso da cidade de Nova Iguaçu, estão concentrados no Centro. Os promotores imobiliários, outro grupo de destaque e com forte presença no Centro Novo, atuam nesta área criando moradias de alto luxo e condomínios fechados, polarizados nesta área (Figura 23) destinados à classe média local, usufruindo das benfeitorias realizadas pelo poder público, dotando o bairro de infra - estrutura e, conseqüentemente, valorizando e seletivizando o acesso a esta área nobre da cidade criando, deste modo, no Centro Novo áreas residenciais exclusivas com destaque para os clubes - residências. A demanda de residências luxuosas, nesta localidade, restrita à boa parte da população e entendida como status, a escassez de terrenos, bastante valorizados e prontos para a construção e a privilegiada localização, proximidade do Centro e da Serra de Madureira, acarretaram impactos no valor da terra que, deste modo, atingiu cifras bastante elevadas restringindo esta área aos setores de alta renda. A valorização dos imóveis, nesta área, já é percebida no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, quando se intensifica o processo de ocupação pelos setores de alta renda na cidade de Nova Iguaçu, através de diversos anúncios de imóveis e terrenos amplos (Figuras 24 e 25) presentes no Jornal Correio da Lavoura, tradicional jornal da cidade, ressaltando a qualidade destes e as vantagens de morar nesta área. 121 Figura 23 – Concentração espacial dos condomínios de alto luxo no Centro Novo. A proximidade da Área Central e as amenidades naturais atraíram para o Centro Novo os setores de alta renda da cidade. A presença desta classe emergente composta por empresários, comerciantes, políticos e familiares remanescentes do período da citricultura produziu na cidade uma área exclusiva voltada para a elite local. (Fonte: Material de divulgação do empreendimento - adaptado pelo autor). 122 CASA- PRÓXIMO A FACULDADE - 3 QUARTOS, SALA, COPA, COZ.., 2 BANHEIROS, área e varanda. Preço Cr$ 800.000,00, com Cr$ 400.000,00 de entrada. ANTÔNIO CARDOSO IMÓVEIS LTDA – Tel. : 767 - 4530 Figura 24 – Anúncio de venda de imóvel nos anos de 1980 na área próxima à faculdade. Fonte: JORNAL CORREIO DA LAVOURA, 25 e 26/7/1981, p. 7. 123 TERRENOS – PRÓXIMOS AO CENTRO NOVA IGUAÇU – Com 360,00 m². Preço Cr$ 300.00, 00. ANTÔNIO CARDOSO IMÓVEIS LTDA. Tel.: 767 - 4530. Figura 25 – Anúncio de venda de imóvel no Centro da cidade nos anos de1980. Fonte: JORNAL CORREIO DA LAVOURA, 25 e 26/7/1981, p. 7. O quadro em questão permanece presente quando comparamos os valores dos imóveis para a venda (ver Tabela 7) entre o Centro Novo e os diversos bairros que compõem o município de Nova Iguaçu, pois, à medida que nos distanciamos desta área, observamos um decréscimo no que diz respeito à qualidade dos imóveis e também nos valores dos mesmos. Favorecendo - se das vantagens locacionais, anteriormente mencionadas, grandes, médias e pequenas construtoras que se destacam no setor imobiliário- RJZ/Cyrella, Gafisa, Klabin Segall, Bezon Engenharia e Azevedo e Cotrik, TECCO, CHL , Nicol e Agra- estão atentas às novas oportunidades e carências de investimentos no setor e constroem residências luxuosas e condomínios fechados, produzindo novos bairros e criando o conceito de clube residência no município e na Baixada Fluminense. Constata - se, deste modo, um surto imobiliário destinado à classe média local com poder aquisitivo para comprar apartamentos de 2, 3, 4 e 5 quartos, custando, em média, acima de 300 mil reais atendendo, deste modo, à demanda das camadas de alta renda de Nova Iguaçu que são, em sua maioria, os compradores destes empreendimentos imobiliários como nos apontam os dados a seguir (ver Tabela 8) exercendo profissões bem remuneradas e, em sua maior parte, cedendo estes empreendimentos ao pool hoteleiro que tem como função gerenciar estes imóveis. 124 Tabela 7 - Valores dos imóveis para a venda segundo a localização no Município de Nova Iguaçu (2008). LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS VALOR DO IMÓVEL MORRO CRUZEIRO DO 04 quartos (3 suítes 01 c/ hidro), sala (03 R$ 590.000,00 ambientes) copa/ cozinha/ dispensa/ lavanderia/ dependência/ escritório/ piscina/ churrasqueira/ lavabo/ 06 banheiros/ cisterna/ garagem 440m² construído (granito/ piso porcelanato) BAIRRO DA LUZ Casa duplex, 3 quartos, sala, lavabo, cozinha, R$ 120.000,00 banheiro, área de serviço e garagem para 1 carro MIGUEL COUTO Casa em condomínio fechado, 2 quartos, sala, R$ 18.000,00 cozinha, banheiro. Fonte: Nunes e Duarte Imóveis - Agência imobiliária, 2008. 125 Tabela 8 – Profissões origem dos proprietários dos empreendimentos imobiliários: Club Residência Springs e ao Apart - Hotel San Marino (%) (Período: Dez 2007 - Jun 2008) Profissões Springs San Marino 38 5 Empresários e Comerciantes 27 63 Funcionários Públicos 14 - Médicos e Dentistas 14 25 Outros (Professores, funcionários da 7 7 Municípios Springs (%) San Marino Nova Iguaçu 86 100 Belford Roxo, Nilópolis e Queimados 14 - Profissionais Liberais (economistas, 30 administradores, pastores e padres) Bayer, comerciantes, bancários) Fonte: Corretores Imobiliários, jul. 2008 Origem dos Proprietários (%) Fonte: Corretores Imobiliários, jul. 2008 Assim como essas grandes construtoras, a Construtora Tenda, recentemente comprada pela Fit Residencial, braço popular da Gafisa, usufrui das vantagens naturais, disponibilidade de terrenos amplos e baratos, acessibilidade e vêm construindo unidades residenciais, que se destacam pela simplicidade com 2 quartos, ao longo da Avenida Abílio Augusto Távora, área de expansão da cidade, com a construção de condomínios, alguns já lançados, atendendo ao segmento da população na qual a renda familiar varia entre 3 e 10 salários mínimos. O valor das unidades residenciais da construtora, em Nova Iguaçu, é de R$ 73,5 mil com prestações fixas a partir de R$ 240,00 destacando - se pela simplicidade e sobressaindo se na localidade onde estão presentes diversos conjuntos habitacionais da Caixa Econômica Federal (CEF) e da Marinha: Vila Belga, Grão Pára, Dom Bosco, Parque São Carlos, Curral Novo (SANTOS, 1995), desprovidos de saneamento básico, redes de esgoto, água, 30 A categoria pastor foi incluída como profissional liberal 126 iluminação pública, precariedade de transportes, destinados a uma população carente de recursos, expulsa para áreas desvalorizadas e distantes, onde se recria a dinâmica da autoconstrução configurando os velhos espaços excluídos (OLIVEIRA, 2000). A produção destes condomínios, neste trecho da estrada, e as diversas obras públicas promovem um processo de revalorização das terras, que, após o período de maior intensidade dos loteamentos, tiveram uma queda em seus valores, pois segundo a PMNI: “os bairros ao longo da Estrada de Madureira vão receber o maior montante dos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)” . Constatamos, desta forma, a interação entre as diversas esferas dos poderes público e privado que atuam conjuntamente na produção da cidade: “cujos interesses poderosos estão nos bastidores da expansão urbana” (CORDEIRO, 1978, p. 140). SANTOS (1998, p. 84) ratifica esta afirmação nos apontando que o mercado: “é ajudado por decisões de ordem pública, incluindo o planejamento, as operações de renovação urbana” e, no caso específico de Nova Iguaçu, coibindo as construções irregulares na encosta do Morro do Cruzeiro. A emergência do Centro Novo, com a conquista do espaço urbano, representa no imaginário da classe média local, o ideal de sucesso no qual estão presentes novos hábitos, novas formas de morar e um novo estilo de vida, que agora se consolida, com a instalação de lojas de artigos de luxo, imobiliárias e construtoras de alto padrão, agências bancárias com atendimento exclusivo, modernas academias de ginástica, anteriormente instalada no Top Shopping, simbolizando um mundo irreal e distante da realidade do restante do município. Neste contexto, surgem os condomínios fechados, belas residências (Figura 26) protegidas atrás das grades e dos altos muros, justificados, pelos setores de alta renda, como necessários à sua proteção, favorecendo o isolamento e o acesso privativo. Estes novos produtos imobiliários despontam nesta área promovendo, deste modo, a segregação e a fragmentação do espaço urbano isolando esta área nobre do restante da cidade, acentuando as desigualdades presentes e opondo: “a cidade da minoria burguesa a uma outra cidade: a da maioria pobre. Julgam os moradores desses condomínios ser esta última “outra cidade”, violenta, pobre, atrasada e com a qual elas nada têm que ver” (VILLAÇA, 2001, p. 349). Ao analisar o quadro em tela SOUZA (2000, p. 206) nos aponta que a criação destes condomínios: “é mesmo uma procura de recriação de um ideal de vida em comunidade (...) o desejo de apartar - se, deixando de fora de seu território tudo o que for supostamente feio ou perigoso” . 127 Os empreendimentos imobiliários acentuam este quadro vendendo um “projeto da Baixada para a Baixada”, a imagem do espetáculo pois: “você vai viver num lugar onde todo mundo sonha em passar as férias”, localizado “num dos melhores endereços da cidade mais Figura 26 - Condomínio Residencial Afrânio, destinado às camadas de alta renda. A emergência destes condomínios, protegidos pelas grades, sinalizam uma Nova Iguaçu para novos iguaçuanos (Autor: Everaldo Lisboa, março de 2006). desejada da Baixada” estimulando a criação de um Centro Novo deixando para trás e para as camadas populares o Centro Velho, abandonado e decadente. A presença destes novos produtos imobiliários, testemunhos da modernização, sobrepõem - se à ordem anteriormente instalada, promovendo transformações significativas ocorrendo entre eles um processo de luta e interação que caracteriza esta dinâmica. Atraída pelas amenidades naturais e pela localização (Figura 27) e com fácil acesso aos principais pontos da cidade: universidades particulares (Universidade de Nova Iguaçu e Associação Brasileira de Ensino Universitário) e a primeira universidade pública da cidadeUniversidade Federal Rural do Rio de Janeiro-, as casas noturnas e restaurantes especializados (Akira), academias de ginástica (Tecnofit), cursos de língua estrangeira (Fisk), o principal 128 shopping - center da cidade (Top Shopping) a classe média iguaçuana aceita, no entanto, as desvantagens desta localização: o aumento do fluxo de veículos congestionando o trânsito em suas principais vias, a ocupação irregular no Morro do Cruzeiro que vem sendo coibida pela PMNI, os problemas relacionados ao aumento da violência e da criminalidade Figura 27 – Condomínio Prime Residences, no sopé da Serra de Madureira. A localização do Prime Residences destacando a acessibilidade às atividades de comércio e serviços presentes no Centro Novo. (Fonte: Material de divulgação do empreendimento). com roubos de veículos e residências, seqüestros relâmpagos, desmatamentos e queimadas na Serra de Madureira, dentre outros, aceitando morar em apartamentos cada vez menores (Figura 28) e cada vez mais caros – permanecendo nesta área, produzindo o seu espaço e vivendo num espaço onde estão os ‘seus iguais’. 129 Figura 28 – Acqua Residencial, empreendimento imobiliário lançado pela Gafisa no Centro Novo de Nova Iguaçu. O lançamento do Residencial Acqua simboliza um novo estilo de vida e de morar da classe média local reproduzindo na escala interna o modo de vida dos bairros da Zona sul carioca e da Barra da Tijuca. Fonte: Material de divulgação do empreendimento. 130 4.3.1 A distribuição espacial das atividades terciárias na Área Central de Nova Iguaçu: o Centro Novo O Centro Novo, localizado na porção sul do município de Nova Iguaçu, nas proximidades da Serra de Madureira, caracteriza - se por apresentar atividades comerciais e de serviços mais sofisticados (ver Tabela 9), com destaque para os serviços médico odontológicos e escritórios de advocacia que atendem à clientela mais abastada do município e de outras localidades da Baixada Fluminense configurando - se, deste modo, como uma nova centralidade de Nova Iguaçu. No entanto, salientamos a presença, no entorno desta área, de atividades relacionadas ao circuito inferior31 da economia – papelarias e bazar, açougues, peixarias, pequenos bares, vendas de frutas e verduras, ‘camelôs’ com suas pequenas barracas vendendo produtos diversos – dvd’s pirateados, antenas de televisão, cadeados, baralhos, dentre outros, buscando estratégias de sobrevivência. As atividades, anteriormente mencionadas, coexistem com atividades sofisticadas, presentes no circuito superior da economia, conjugando atividades voltadas para atender à classe média e concentrando uma relevante parcela dos empregos das camadas de baixa renda em serviços domésticos (SILVEIRA, 2004), pois esse grande número de atividades relacionadas ao circuito inferior está ligado ao fato dessa localidade ter sempre existido como área residencial para esta população na área mais elevada da encosta. Esses serviços são oferecidos para essa população de menor poder aquisitivo que ainda busca produtos alimentícios não se importando muitas vezes com o preço mais elevado dos mesmos quando comparados aos dos grandes supermercados localizados no Centro Velho da cidade. O supermercado Vianense, localizado no andar térreo do Edifício Empresarial Vianense, mais freqüentado pela população do Centro Novo oferece serviço de entrega utilizando o próprio carrinho do supermercado. As pessoas se comportam como se os serviços estivessem no prolongamento de sua casa e essa comodidade é cobrada como valor agregado os produtos constituindo - se em novos hábitos de morar reproduzindo o estilo presente na Zona Sul carioca. 31 SANTOS (1978) sinaliza que as diferenças entre estes circuitos: “está nas diferenças de capital, tecnologia e organização, entre outras” 131 Com o intuito de melhor compreender e definir a relevância econômica do Centro Novo, analisamos os principais logradouros32 desta área que se transformaram em importantes eixos comerciais representados pelas novas atividades terciárias. Deste modo, após o levantamento de uma literatura específica sobre a temática dos serviços especializados somados aos levantamentos realizados em campo e pesquisas em sites especializados e a análise dos dados pode - se afirmar que as atividades de comércio varejista e serviços estão distribuídos espacialmente da seguinte forma por esta área. Tabela 9 – Atividades terciárias no Centro Novo de Nova Iguaçu. ATIVIDADES TERCIÁRIAS A B C D E F G H I J ACADEMIAS 4 - - - - - 1 - 1 - BANCOS E FINANCEIRAS 1 - 1 - - - - 3 - - BARES E RESTAURANTES 11 5 7 1 2 1 5 5 - 3 CARTÓRIOS - - - - - - 6 5 - - CENTRO CULTURAL - - - - - - - - - CENTROS DE ESTÉTICA 1 1 1 - 1 1 - 4 - - CONSULTÓRIOS E 2 16 2 3 6 - 1 39 3 3 - - - - - - - 1 1 1 - 4 - - - 1 3 3 - 1 ESTACIONAMENTOS 2 2 1 - - 1 2 2 - - FARMÁCIAS E 2 2 2 - 1 - - 4 - - - 1 - - - - - - 1 - 1 - - - - - - - - - CENTROS DE DIAGNÓSTICOS ESCOLADE IDIOMAS E CURSOS CARTÓRIOS,ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA E CONTABILIDADE DROGARIAS HOSPITAIS E POSTOS DE SAÚDE HOTÉIS E POUSADAS 32 Avenida Doutor Mário Guimarães, Avenida Bernardino de Mello, Rua Doutor Thibaú, Rua Ivan Vigné, Rua Coronel Francisco Soares, Rua Sebastião Herculano de Mattos, Rua Paulo Fróes Machado, Rua Getúlio Vargas, Rua capitão Gaspar Soares e Rua Humberto Gentil Barone 132 IMOBILIÁRIAS 3 2 - - - - - 3 - - LIVRARIAS E - 1 - - - - - 1 - 1 LOJAS DE VESTUÁRIO 4 - 2 - 2 1 2 2 - 3 PET SHOPS E CLÍNICAS 1 1 - - 2 - - - - 1 4 - - - - - - - - - SALÕES DE FESTAS 3 - - - - - - 1 - - COMÉRCIO DE 4 1 3 3 1 - 1 1 - - 1 - - - - - - 1 - - PAPELARIAS VETERINÁRIAS POSTOS DE COMBUSTÍVEL ALIMENTOS VÍDEO LOCADORA Fonte: www. apontador.com/guia _de_ruas/rj/nova_iguacu.br (Adaptada pelo autor) Legenda: A- Avenida Doutor Mário Guimarães B- Avenida Bernardino de Mello C- Rua Doutor Thibaú D- Rua Ivan Vigné E- Rua Coronel Alfredo Soares F- Rua Sebastião Herculano de Mattos G- Rua Paulo Fróes machado H- Rua Getúlio Vargas I- Rua Capitão Gaspar Soares J- Rua Humberto Gentil Barone Na área próxima à estação ferroviária de Nova Iguaçu, ganha destaque a rua Bernardino de Mello, via que margeia a estrada de ferro, caracterizando - se pelo movimento intenso e pelo comércio de ‘beira de estação’ – papelarias, bares, lanchonetes, restaurantes populares, chaveiros, brechós, cursos profissionalizantes, escolas, diversos estacionamentos, armarinhos, concentração de vendedores ambulantes que se espalham por toda esta área, ocupando os andares inferiores dos pequenos prédios. Os consultórios dentários e as lojas especializadas em fotografias ocupam os andares superiores destes prédios apertando - se em salas de pequenas dimensões. 133 As atividades anteriormente mencionadas atraem uma população de menor poder aquisitivo que se desloca para o pequeno terminal rodoviário, localizado nesta área, tendo como destino os bairros distantes do centro de Nova Iguaçu localizados na Avenida Abílio Augusto Távora. Outro ponto de destaque nesta avenida diz respeito ao desaparecimento das opções de lazer que compunham este cenário. Ganha destaque a extinção do Cine Iguaçu, construído pelo citricultor e exportador Antônio Vaz Teixeira. Anteriormente o prédio foi ocupado por igrejas evangélicas. Atualmente, encontra - se abandonado. Salientamos, que os atuais cinemas da cidade estão localizados no Top Shopping. Quadro semelhante, de abandono e extinção, vivencia o antigo Forró Ferrado (Figura 29), casa de shows onde estiveram presentes cantores da MPB, como: Maria Bethânia e Raimundo Fagner, dentre outros, na realização de shows no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, em homenagem a João do Valle, compositor local e preso político durante a ditadura militar. A presença de casas de shows, boates e danceterias sinalizam a opção de lazer, característica comum destas áreas. A casa de shows Forró beneficiava - se do fácil acesso, pois estava localizada em frente à estação ferroviária e em uma das principais vias de circulação da cidade, como nos mostra o material de divulgação. Atualmente, este espaço pertence à Associação Brasileira de Ensino Universitário (UNIABEU) que o transformou em estacionamento. Ganha destaque dentre as opções de lazer e cultura nesta área a presença do Espaço Cultural Sílvio Monteiro abrigando no seu interior biblioteca onde estão presentes também publicações locais, um teatro com apresentações aos finais de semana, inclusive com peças apresentadas anteriormente em diversos teatros da cidade do Rio de Janeiro e um espaço para exposições atraindo um público específico. 134 • Forró Ferrado Apresenta • Festa de aniversário do Programa Claudinho 1000 da rádio AM O DIA. • AGEPÊ – DICRÓ – CRIOULO DOIDO – NEGUINHO DA BEIJA – FLOR – MUSSUM (dos trapalhões) – LECY BRANDÃO E BEZERRA DA SILVA – JOVELINA PERÓLA NEGRA E MADAME SATÃ Figura 29- Forró Ferrado - popular casa de show iguaçuana nos anos de 1980. Com o surgimento do shopping centers as opções de lazer como cinemas e casas de shows populares desapareceram da Área Central da cidade de Nova Iguaçu. Fonte: Correio da Lavoura, 12 e 13/5/1980. As atividades relacionadas aos hospitais, consultórios, clínicas médicas e centros de estética, que visam atender a um perfil de cliente com maior poder aquisitivo estão concentradas em duas áreas. A primeira está localizada no entorno do Hospital Nossa Senhora de Fátima, 135 próxima ao bairro do Kaonze, que desponta dentre os bairros de Nova Iguaçu destacando - se pelo elevado índice de qualidade de vida mantendo, deste modo, o status adquirido nos anos de 1980. A aglomeração desses tipos de serviços nesta área é facilitada também pelo acesso proporcionado pela proximidade com a Via Light, do lado oposto da cidade, e também pelas vias bem pavimentadas que cortam esta área, não apresentando congestionamentos crônicos. Diante da expansão destes serviços, alteraram - se significativamente as funções presentes nesta área através da transformação de antigas residências em clínicas médicas, laboratórios e consultórios, dentre outros, em nada lembrando os ambientes apertados das clínicas populares presentes no Centro Velho. A segunda área de concentração destes serviços (Mapa 23) está localizada próxima ao Hospital Iguassú, principalmente nas ruas Getúlio Vargas e Alfredo Soares, atendendo aos moradores que se destacam pelo elevado padrão de vida, exigindo serviços de qualidade. Na rua Getúlio Vargas as clínicas médicas e consultórios estão localizadas, principalmente, Condomínio Edifício Plaza Business Center (2002) ocupando amplas salas em ambientes refrigerados com médicos e pediatras que atendem também em hospitais de referência na metrópole carioca. O diferencial de renda, neste caso, quando comparados aos demais bairros do município, apresenta - se como um requisito que irá distinguir os serviços médicos presentes no Centro Novo diferenciando - se das clínicas populares e hospitais públicos localizados nos bairros periféricos. As farmácias e drogarias (Mapa 24) estão distribuídas por diversas ruas desta área, concentrando - se nas proximidades das ruas Getúlio Vargas e Alfredo Soares, ponto de concentração dos serviços relacionados à saúde. A Avenida Doutor Mário Guimarães desponta como a principal artéria do Centro Novo caracterizando - se pela multiplicidade e concentração de atividades terciárias relacionadas as opções de lazer (Mapa 25). O setor hoteleiro destaca - se pela presença do apart - hotel San Marino, em fase de construção, e Mont Blanc, já em funcionamento. Os apartamentos deste empreendimento estão entregues a um pool hoteleiro que os gerencia qualificando e oferecendo serviços especializados acompanhado de serviços complementares e de lazer noturno atendendo à classe média local, às empresas endógenas e exógenas e políticos locais que organizam neste apart - hotel convenções políticas, hospedando jogadores de futebol bem como artistas de destaque no cenário musical – Paralamas do Sucesso, Roupa Nova, Lulu Santos, dentre outros, que se hospedam no apart 136 137 138 139 Hotel Mont Blanc quando apresentam seus shows na Universidade de Nova Iguaçu (UNIG) que ultimamente vem se destacando na realização de eventos musicais. A proximidade do Iguaçu Top Shopping e de bares, restaurantes e academias torna a sua localização, próximo ao comércio e serviços especializados, de fácil acesso um outro atrativo. Nos últimos anos, esta avenida, juntamente com as ruas Doutor Thibau e Ivan Vigné, vem se destacando pela concentração de requintados serviços relacionados às atividades gastronômicas, com destaque para a culinária internacional. Estas atividades instalaram - se nesta área após os anos 2000 seduzindo a classe média local que deixou para trás o Baixo Iguaçu, antigo point de concentração das classes mais abastadas onde estavam localizados bares, casas noturnas, churrascarias, pizzarias e restaurantes tradicionais da cidade. O abandono do Baixo Iguaçu pela elite local, é resultado da chegada dos ‘mais pobres’, ‘dos indesejáveis’, originários dos diversos bairros do município freqüentando as carrocinhas de cachorro - quente, os bares baratos e churrasquinhos, alterando, deste modo, o conteúdo social da localidade. O processo anteriormente citado deu origem ao deslocamento destas atividades em direção ao Centro Novo seguindo os passos dos setores mais abastados. Também o crescimento de bares nessa área se deve ao fato de os moradores de classe média e alta desse Centro Novo buscar a comodidade de terem próximo às suas residências bons bares e restaurantes para freqüentar. Uma vez que isso caracteriza a grande oferta de serviços do bairro que escolheram para morar e dispensando o grande deslocamento para locais mais afastados como o Baixo Iguaçu, área distante do Centro Novo, e, até mesmo, a metrópole carioca do Rio de Janeiro, já que a violência nas vias de acesso ao Rio de Janeiro têm aumentado muito nos últimos anos. Ressalta - se ainda a presença de modernas academias de ginástica, algumas oferecendo atendimento exclusivo à clientela feminina, os salões de festas oferecendo buffets, grande diversidade de brinquedos, espaço exclusivo, estacionamentos com manobristas. Os serviços em tela tem se expandido por esta área cobrando, em média, R$ 2.000,00 para eventos com até cem pessoas. A rua Sebastião Herculano de Mattos também está vivenciando lentamente as metamorfoses que ocorrem neste espaço, pois esta vem deixando à retaguarda a função somente residencial e assumindo uma nova função, a comercial e de serviços, com a chegada de consultórios médicos, escritórios de advocacia e lojas de vestuário (Mapa 26) sofisticado ocupando antigas residências. 140 141 As sofisticadas lojas de vestuário, que se sobressaem pelo acabamento e pela qualidade dos produtos, assim como pela revenda de grifes famosas que os clientes não encontram no shopping do município, expostos em suas vitrines atraindo, deste modo, a clientela mais abastada da cidade, estão distribuídas por quase todas as ruas desta área, assinalando o momento de expansão do comércio de roupas sofisticadas atraindo, principalmente, o público feminino destacando - se também pela sofisticação, tanto interna quanto externa. Estas lojas aproveitaram - se dos antigos casarios do período da citricultura promovendo, desta forma, uma refuncionalização destes imóveis. Há que se destacar, também, a presença de imobiliárias, escritórios de contabilidades, supermercados e padarias, livrarias e escolas de idiomas singularizando esta avenida do restante da cidade. Vale lembrar que as escolas de idiomas e os cursos (Mapa 27) que se localizam no Centro Novo são as franquias dos cursos mais famosos do Rio de Janeiro como: Fisk, Brasas e Cultura Inglesa, que só chegaram a Nova Iguaçu a partir dos anos 2000. Aproveitando - se da presença destes cursos e também de tradicionais colégios e de uma faculdade particular observamos, deste modo, a localização de papelarias e livrarias nesta área. As ruas Getúlio Vargas e Paulo Fróes Machado, nas adjacências do antigo fórum, localizado próximo à estação ferroviária, ganham destaque pela maior concentração de cartórios, escritórios de advocacia e contabilidade (Mapa 28) do município. A construção do novo fórum, no entanto, no bairro Da Luz sinaliza a desconcentração e o esvaziamento destas atividades nas ruas, anteriormente mencionadas, posto que alguns destes escritórios estão migrando para esta nova área onde também já surgem escritórios de advocacia, restaurantes, pequenas papelarias, dentre outros, alterando, deste modo, as funções desta área gerando economias de aglomeração. As ruas Humberto Gentil Barone e Alfredo Soares, interligadas pela rua Paulo Fróes Machado, sobressaem - se pela função residencial, expressa nos diversos condomínios residenciais de alto luxo de Nova Iguaçu, alguns ainda em fase de construção, levando a um consumo intenso do lugar onde praticamente não há terrenos para serem comercializados. Nessas ruas, estão presentes serviços de advocacia, escolas de idiomas, livrarias, papelarias e artigos para presente e decoração, dentre outros sinalizando o conteúdo social presente nesta área. Os condomínios de alto luxo que estão sendo construídos no entorno do Morro do Cruzeiro confirmam o processo de ocupação: o controle ao acesso da população de baixa renda em relação a esta área. É possível constatar a presença de vigilantes de rua, particulares, fazendo a ronda das ruas na porção baixa da vertente e a falta de serviços de saneamento, 142 143 144 pavimentação e de coleta de lixo que não chegavam à população de baixa renda que ocupa a porção média da vertente criando espaços diferenciados contrapondo segundo Oliveira (2000, p, 43): “duas realidades distintas: os velhos espaços excluídos e os novos espaços excludentes da cidade de Nova Iguaçu”. Esses moradores só permanecem nesse local por que a maior parte das residências possui escrituras oficiais que datam das décadas de 1940, 1950, 1960 e 1970. A própria prefeitura, ainda no governo do Mario Marques, coibia novas ocupações irregulares, incentivados pelos moradores de classe média e alta que ocupavam a parte baixa da vertente. No que diz respeito às atividades financeiras (Mapa 29) do município, estas ainda permanecem concentradas no Centro Velho. No entanto, nos últimos anos, as ruas Getúlio Vargas, Alfredo Soares e Doutor Thibaú ganham destaque, pois aí estão localizadas as agências bancárias do Centro Novo. Esse processo sinaliza um movimento de descentralização destas atividades anteriormente instaladas nas artérias principais do Centro Velho e indica um interesse crescente em atender e propiciar conforto a essa clientela especializada. As imobiliárias (Mapa 30), concentradas em apenas três ruas do Centro Novo, atendem a clientes específicos – empresários, políticos, comerciantes, profissionais liberais, dentre outros, que tem como objetivo a compra de imóveis de alto luxo na cidade para moradia ou mesmo repassando estes imóveis para o pool hoteleiro, aspecto anteriormente citado. Algumas destas apresentam uma tradição em Nova Iguaçu, pois pertencem à famílias do período da citricultura e que, atualmente, atuam em parceria com construtoras locais e de fora do município. O comércio de alimentos (Mapa 31), distribuídos pelas ruas do Centro Novo, ganha destaque nas Avenida Doutor Mário Guimarães, nas rua Ivan Vigné e Doutor Thibau onde está presente o Centro Empresarial Vianense. No térreo funciona o único grande mercado desta área atendendo e levando as compras diretamente às casas dos clientes. As atividades relacionadas ao setor automotivo (Mapa 32) estão espalhadas pelas ruas do Centro Novo. Há, que se destacar ao crescimento do número de estacionamentos localizados em áreas anteriormente ocupadas por residências, bangalôs e casas de shows. Já é possível constatar que a população local já opta por deixar seus automóveis neste lado da cidade evitando, desta forma, os congestionamentos comuns ao Centro Velho. A construção de dois edifícios comerciais soluciona, em parte, este problema, pois alguns andares destinam - se às garagens. 145 146 147 148 149 As agências de correio (33), embora estejam presentes no Centro Novo não apresentam grande expressividade na área em destaque, concentrando - se no Centro Velho. As lojas de móveis (Mapa 34) e pet shops e veterinárias (Mapa 35) não se destacam pelos números expressivos, mas sim pela qualidade dos produtos expostos e por oferecer serviços que não estão presentes no Centro Velho. O conjunto de ruas, anteriormente mencionado, forma o coração econômico do Centro Novo, pois aí estão localizadas lojas sofisticadas, agências bancárias com atendimento exclusivo, dentre outros. Um outro aspecto a ser ressaltado diz respeito à concentração dos condomínios, edifícios e residências de alto luxo, que se destacam na fisionomia urbana pelas fachadas bem acabadas, arquitetura arrojada, padrão de acabamento e os elevados preços. A nova fisionomia desta área da cidade, com a presença destas formas urbanas, corresponde, também, a um processo de renovação parcial com a destruição de velhas casas ou vilas cedendo lugar aos estacionamentos ou a modernos edifícios que atendem às novas necessidades funcionais para abrigar os ‘novos moradores’, ‘os novos iguaçuanos’, resultando num processo contínuo de construção, desconstrução e reconstrução da cidade. Ainda em fase de consolidação do seu espaço, o Centro Novo expande - se, gradativamente, para além dos seus limites incorporando novos espaços com destaque para o trecho inicial da Estrada de Madureira, atual Avenida Abílio Augusto Távora, corredor viário que liga o município à Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde já despontam novos condomínios, escolas de equitação, sinalizando, deste modo, o processo de expansão seletiva da cidade. Essa área vem recebendo investimentos que ressaltam essa expansão. No entanto, os investimentos estão polarizados no trecho compreendido entre o Centro e o bairro Jardim Alvorada onde está localizada uma das universidades do município - a Universidade de Nova Iguaçu (UNIG), os condomínios de alto luxo e a melhor infra - estrutura do município. No trecho entre os bairros Jardim Alvorada e Cabuçu predomina a escassez de edifícios e serviços, sobressaindo - se os loteamentos populares que se destacam pela carência de serviços públicos. A presença da escola de equitação e a construção de novos condomínios assinalam um processo de invasão - sucessão onde os grupos de menor poder aquisitivo estão sendo expulsos em direção ao trecho final da Estrada de Madureira que se destaca pela elevada concentração de conjuntos habitacionais (SANTOS, 1995). O bairro da Luz e de Santa Eugênia, articulado ao Centro Novo pelo viaduto Dom Adriano Hipólito, despontam como áreas que também vêm sendo incorporadas pelo Centro da cidade, destacando - se pela presença de uma classe média, ruas arborizadas, casas de festas, presença do Novo Fórum, do 150 151 152 153 Centro Integrado de Atendimento à Mulher (CIAM), casas de shows, pizzarias e restaurantes que, neste momento, se estabelecem nestes bairros. A desenvoltura comercial do Centro Velho, a sua reafirmação e a reorganização do espaço incipiente constituição de tendência de expansão do Centro Novo, imprimindo uma dinâmica modernizadora através de serviços especializados, devem receber dos órgãos públicos uma atenção mais acurada, posto que estas áreas despontam com grande relevância na economia regional tornando o Município de Nova Iguaçu uma referência na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 154 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Baixada Fluminense vem se destacando a partir do início dos anos de 1980 como área de atração de investimentos entre os diversos setores econômicos- imobiliários, comércio, serviços e indústria- dentre as outras áreas do Estado do Rio de Janeiro propiciando um processo de modernização periférica. Esses investimentos, realizados pelos agentes hegemônicos, vêm alterando gradativamente a fisionomia dessa área, deixando à retaguarda a imagem de esquecimento e abandono que a estigmatizou no período posterior às atividades agrícolas quando as diferentes esferas dos poderes público e privado a relegaram ao segundo plano, penalizando os municípios e as populações mais pobres sem provê - la de infra-estrutura. Diante do quadro exposto ocorre tentativa de reconstruir uma nova imagem para a Baixada Fluminense, que vem sendo inclusive reforçada pela mídia através de diversos veículos de comunicação com destaque para os jornais O DIA e O GLOBO em sua edição dominical onde a Baixada Fluminense ganha destaque, assinalando uma mudança no qual a mesma é abordada- bom potencial para investimentos no setor industrial, comércio e de serviços, a expansão do mercado imobiliário, potencial turístico a ser explorado, emergência de uma classe média com bom poder de compra , referindo - se a redescoberta desta área, que deixou de ser associada à violência, projetando - se como alternativa para novos investimentos o Estado do Rio de Janeiro, dentre outros. No entanto, ainda é possível constatar notícias esporádicas a respeito dos graves problemas sócio - econômicos locais. Os investimentos, porém, ainda não deixaram, por completo, no passado, a imagem de região abandonada pelo poder público e privado, pois ainda persistem os elevados índices de violência e criminalidade, de subnutrição, de analfabetismo, a favelização, a grave crise no setor de saúde, os elevados percentuais de pobreza e miséria que assolam toda a região. Deste modo, a nova e a velha periferia se entrecruzam evidenciando as contradições presentes na produção e reprodução do espaço, pois ao lado das áreas elitizadas, verdadeiros enclaves, convivem as áreas mais pobres acentuando as disparidades socioeconômicas entre estas áreas. Os investimentos não contemplam e não se distribuem de forma homogênea pela Baixada Fluminense, posto que a maior parte desses destina - se para os municípios de Duque de Caxias e Nova Iguaçu, relegando os outros municípios desta área a um plano secundário. 155 Os municípios destacados configuram - se como áreas de maior poder de atração na Baixada Fluminense devido às possibilidades oferecidas por esses municípios- uma classe média com poder aquisitivo, mercado consumidor já consolidado e que se destaca no cenário local, duas grandes rodovias (Washington Luis, em Duque de Caxias e a Rodovia Presidente Dutra, em Nova Iguaçu), uma economia que se destaca no cenário estadual face à presença da REDUC (em Duque de Caxias) e a pujança dos setores de comércio e serviços em Nova Iguaçu, dentre outros. A cidade de Nova Iguaçu, no entanto, se sobressai e desponta como a ‘Capital da Baixada’ seduzindo e aglutinando investimentos públicos e privados- a perspectiva de construção de dois novos shopping centers, um já em fase de construção, além da expansão do Iguaçu Top Shopping, a perspectiva de construção de dois novos apart - hotéis, além do já existente; projeto de ampliação do aeroporto local; a presença de um centro de lazer aquático; instalação de centros de distribuição; inauguração do hipermercado Makro e do Atacadão Varejista, localizados às margens da Rodovia Presidente Dutra; a presença de locadoras de automóveis, com destaque para a Localiza, que atua no mercado nacional atendendo aos empresários, comerciantes, políticos locais e de outras cidades e estados que vêm à cidade realizar suas transações comerciais. Outro aspecto a ser ressaltado diz respeito ao crescimento dos estabelecimentos destinados à venda de piscinas e produtos relacionados a este mercado, sinalizando as novas formas de morar em residências espaçosas, arborizadas, com terrenos amplos e com piscinas projetadas por escritórios de arquitetura com suas sedes no Rio de Janeiro, contratando a mão - de - obra local, realizando parceria com empreendedores locais e também com empresas que atuam, principalmente, na Costa Verde, do Estado do Rio de Janeiro e que, agora, se instalam em Nova Iguaçu. Desta forma, apresentando uma melhor infra-estrutura constatamos a mobilidade de segmentos de alta renda para a cidade em busca de novas opções e negócios e melhor qualidade de vida. Situação bem exemplificada pelo proprietário da Trattoria Italiana, que saiu de Nova Friburgo, na região serrana, e que, morando na Ilha do Governador, viu no Centro Novo a possibilidade de abrir o seu negócio. Além destes fatores, mencionamos a abertura de um novo acesso conectando a Ilha do Governador à Linha Vermelha facilitando o fluxo de 16 mil veículos em direção à Baixada Fluminense. Os investimentos, anteriormente citados, vêm alterando a imagem da cidade promovendo rupturas e deixando, no passado, as atividades agrícolas e a função de Cidade Dormitório e Industrial adquirindo, desta forma, uma nova fisionomia proporcionada pelo 156 processo de modernização em curso na cidade. No entanto, esses investimentos estão concentrados em sua maior parte na Área Central da cidade produzindo uma modernização excludente no espaço urbano de Nova Iguaçu. De um lado estão os bairros melhor dotados33 de serviços realizados pela Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, e de outro lado, os bairros periféricos distantes e carentes de serviços e de infra-estrutura sinalizando um quadro de exclusão34, refletindo as diversas políticas de separação realizadas pelos sucessivos governos beneficiando os setores de alta renda que usufruindo do poder político e econômico criaram novos bairros isolando - se da “outra cidade” composta pelos segmentos de baixa renda. Destacamos que, diante do quadro de abandono e de caos- trânsito caótico, comércio informal tomando conta das ruas, poluição sonora e visual, a Área Central vem sendo alvo de atenção especial nos últimos governos que têm investido elevadas somas, propiciando a revitalização desta fração do espaço urbano de Nova Iguaçu, com destaque para o Shopping a Céu Aberto, valorizando o comércio e qualificando a estrutura urbana, atraindo, deste modo, uma clientela oriunda de diversas localidades do município e de outros que compõem a Baixada Fluminense, beneficiando, deste modo, as atividades terciárias da cidade. O quadro exposto, na área identificada por nós como o Centro Velho, é acentuado diante da escassez de terrenos que ‘congelam’ e impedem a sua expansão, da carência de novos prédios comerciais que possam atender aos serviços mais qualificados e, também, do comércio informal invadindo as ruas e calçadas da cidade produzindo uma imagem negativa da cidade para a população. Esta função permanece até os dias atuais, mas ganha fôlego e dinamiza as suas atividades comerciais atraindo lojas como Ponto Frio, Casas Bahia, Rosalém, Marisa e C&A, que se destacam nos setores de eletrodoméstico e de vestuário. 33 Os 10 bairros que se destacam no município, segundo o Índice de Qualidade de Vida (IQV) apresentado pela Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, dotados de melhor infra - estrutura são: Vila Nova, Rancho Novo, Centro, Caonze, Jardim Tropical, Califórnia, Vila operária, Santa Eugênia, Bairro da Luz e Posse. 34 Segundo Fleury (Apud ABRAMOVAY et al, 1999, p. 51) a exclusão: “se expressa em normas formais ou informais que impedem o acesso de grupos ou indivíduos ao conjunto ou parte dos direitos – econômicos, políticos, sociais, culturais – de que gozam os que desfrutam da plena cidadania”. 157 A força da atividade comercial continua presente no Centro Velho, que se adapta às mudanças e vivencia um processo de modernização diante dos investimentos realizados no Centro, dotando esta área de uma infra-estrutura que se encontrava em estado precário. O Centro Novo desponta, a partir dos anos 1980, como área nobre configurando - se como o bairro residencial da classe média local constituída por profissionais liberais e classes mais abastadas que aí se estabeleceram no período posterior à crise da citricultura quando extensas faixas de terra foram reservadas para a elite iguaçuana, atraída pelas amenidades naturais, acessibilidade e pela proximidade do Centro da cidade, concentrando os serviços especializados ocupando amplas salas nos edifícios comerciais. O surgimento do Centro Novo desponta com atividades de comércio varejista e serviços especializados, que já surgiam nesta área, que servia anteriormente como estoque de valor e que, atualmente, abrigam as atividades em tela. Ganha destaque na área em tela o setor imobiliário com a produção de novos produtos imobiliários que chegam à cidade através de pequenas, médias e grandes construtoras e incorporadoras que se destacam no cenário nacional. Algumas destas construtoras representam o capital local- Nicol, rivalizando com outras construtoras recentemente chegadas a cidade- Cotrik e Azevedo e AGRA, que atuam, principalmente, em Volta Redonda e São Paulo. A presença de uma grande incorporadora e construtora- a Gafisa, com sede no Rio de Janeiro aqueceu o mercado imobiliário local gerando novas oportunidades de emprego, atraindo também outras construtoras de grande porte também do Rio de Janeiro, dentre elas a RJZ/Cyrella que projeta para o segundo semestre de 2008 o lançamento de um grande empreendimento nesta área: a construção de um novo condomínio destinado a classe média local, juntamente com um novo shopping center : “do mesmo tamanho do Barra Shopping”, segundo um corretor local, ocupando a área onde estava instalada anteriormente a pedreiraVigné, apostando no potencial de consumo da população local. Ressaltamos, neste momento, o tom ufanista do corretor ao super dimensionar o crescimento econômico de Nova Iguaçu. Outros empreendimentos de grande porte também estão sendo lançados por construtoras como a MDL Realty e a Concal Construtora que, atuando em parceria lançaram o Gran Vista um luxuoso condomínio projetado “para atender aos anseios das famílias tradicionais da região”. Voltadas para atender outro público, construtoras de menor porte como a CR2 Empreendimentos estão lançando o Cidade Paradiso- bairro planejado propondo um novo 158 conceito de morar para os moradores da Baixada Fluminense incluindo lazer, moradia e trabalho, pois neste novo bairro- o Iguaçu Nova- também serão construídos, segundo o planejamento inicial, um shopping, escritórios, serviços e uma universidade. Ressaltamos, que este bairro planejado destaca - se também pela acessibilidade, pois está distante quatro quilômetros da Rodovia Presidente Dutra, oito quilômetros do município de Queimados e do arco viário, a ser implantado e dois quilômetros da expansão da Via Light. A proliferação destes novos condomínios já sinaliza o agravamento dos problemas relacionados à escassez de água refletindo o aumento no consumo de água e já sinalizados pelos moradores locais e aos congestionamentos presentes, atualmente, no Centro Novo da cidade repercutindo o aumento do número de veículos que circulam pelas ruas apertadas desta área, que anteriormente servia como área de escape do caótico trânsito na Área Central de Nova Iguaçu. A inauguração da Via Light, há uma década, amenizou, à época, este problema que agora volta a se agravar e esta via já começa a dar sinais de estar saturada no trecho que corta o centro da cidade. Atualmente, constatamos um processo de expansão do Centro Novo em direção ao trecho inicial da Avenida Abílio Augusto Távora, absorvendo novas áreas, onde surgem escolas de equitação, novos condomínios, casas de shows, pizzarias, restaurantes em bairros que, até então, caracterizavam – se pela função residencial, promovendo uma urbanização calcada na descontinuidade da ocupação. A modernização presente no Centro Novo vem metamorfoseando a fisionomia dessa área promovendo um processo de rupturas com a ordem anteriormente instalada, produzindo um espaço identificado pela instalação de novas formas que se destacam no cenário urbano . Deste modo, o que se percebe é que a cidade de Nova Iguaçu vem vivenciando, a partir dos anos 1980, um processo de modernização que reorganiza a distribuição espacial das atividades terciárias, transformando a sua imagem, objetivando deixar no passado a imagem de periferia abandonada e penalizada pelo poder público e privado configurando - se como um importante centro regional metropolitano, destacando - se pelas atividades de comércio varejista e serviços, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 159 REFERÊNCIAS ABREU, Maurício de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. _____. O crescimento das periferias urbanas nos países do terceiro mundo: uma apresentação do tema. In: SIMPÓSIO LATIN AMERICAN REGIONAL CONFERENCE, UGI/IGU. Rio de Janeiro, IBGE, 1982 vol. 2, 197-201. ALVES, José Cláudio Souza. Violência e política na Baixada: o caso dos grupos de extermínio. In.: Impunidade na Baixada Fluminense - Relatório 2005. 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