1
2
Nota do Director
Este número tem como tema central o ensino superior e a investigação. Julgamos
que o seu conteúdo, se devidamente lido, contribuirá para o esclarecimento dalguns
leitores quanto a aspectos fundamentais do seu futuro, designadamente quanto às
possibilidades que existem em obter apoio para ensino pós-graduado e projectos
de investigação. Secundariamente, proporcionamos um mapa que cartografa
detalhadamente o ensino superior público e privado, os seus desígnios e estado
actual, quanto aos níveis de qualidade e de investigação que patenteiam.
Contámos com as opiniões e visões desassombradas de académicos e
investigadores notáveis como António Coutinho, Abel Nascimento e José Miguel
Urbano.
Estamos igualmente gratos pelo contributo de várias personalidades de prestígio:
José Canavarro, Joaquim Pires Valentim, Maria Amélia Carlos, Carlos Sá Furtado e
Paulo Gomes. As suas reflexões úteis e pertinentes em muito valorizaram esta
edição.
Em plano não menos importante, mas a que já nos habituámos a contar,
destacamos as contribuições relevantes de muitos docentes do Instituto Superior
Miguel Torga.
Enquanto Director da TORGA, foi com orgulho e satisfação que passámos a
contar com a colaboração permanente do Francisco Amaral, Inês Amaral, Vanda
Lopes, Filipe Casaleiro, Bruno Cordeiro, André Pereira e Mariana Alves.
Henrique Amaral Dias
3
Editorial
Num contexto de profundas mudanças no ensino superior, julgamos ser curial que as universidades,
institutos e politécnicos se adaptem de modo célere e eficaz às mesmas.
É hoje incontroverso que o Processo de Bolonha gerará alterações radicais ao nível da
estruturação dos I e II Ciclos, obrigando as direcções dos estabelecimentos, professores e alunos
a repensar métodos pedagógicos, programas e conteúdos, formas de assimilação de conhecimento,
posicionamento face à concorrência, progressão nas carreiras e inserção no mercado de trabalho.
Capa: Aristóteles contemplando o busto
de Homero - Rembrandt
Os factores críticos de sucesso são deste modo os seguintes:
1. Actuar estrategicamente face à concorrência, que deixou de estar quase exclusivamente
confinada às fronteiras nacionais, apostando em processos de fusão/concentração e em
parcerias com instituições congéneres, nacionais ou internacionais, em projectos educativos
comuns, de I&D e de mobilidade de docentes e discentes;
2. Apostar decisivamente em captar recursos financeiros através de programas comunitários,
mecenato, projectos empresariais em parceria e candidaturas ao IV Quadro Comunitário
de Apoio em articulação com o Plano Tecnológico proposto pelo actual governo;
3. Dotar a instituição dos meios materiais indispensáveis para a prossecução dos seus
objectivos;
4. Emprestar máxima qualidade e rigor quanto à selecção na entrada de alunos e professores;
5. Acompanhar e avaliar criteriosamente a investigação desenvolvida e o ensino ministrado;
6. Adoptar um Marketing Educativo que promova as vantagens competitivas e comparativas
que a instituição já possui ou está em vias de possuir.
A maioria destes propósitos já devia ter sido concretizada. Na verdade, Bolonha vem apenas
tornar incontornável a metamorfose: as instituições que alcançarem estes objectivos sobreviverão,
as outras entrarão num processo de declínio irreversível e rapidamente desaparecerão.
Henrique Amaral Dias
FICHA TÉCNICA
Director
Henrique Amaral Dias
Editora
Andrea Marques
Coordenação
Ana Cristina Abreu
Francisco Amaral, Inês Amaral
01
04
Aconteceu
24
Uma Aplicação do Júri
de Delphi – ISMT
Alunos do 3º ano de
Informática de Gestão
47
Secretária
Vanda Lopes
Design
ID3A
Impressão
FIG - Fotocomp. e Ind. Gráficas
Tiragem
3000 exemplares
Propriedade
Instituto Superior Miguel Torga
Coimbra
ISSN 1646-2866
4
Depósito Legal 232550/05
As opiniões expressas nos artigos
publicados nesta revista são da inteira
responsabilidade dos seus autores.
54
Nem tudo o que se
ensina se equivale
Joaquim Pires Valentim
58
Porventura demasiado
inteligentes
Jorge Caiado Gomes
60
Investigação no ISMT
Ana Beatriz Bento
Fotografia
Filipe Casaleiro
AEISMT
Bruno Cordeiro
57
Henrique Amaral Dias
Redacção
André Pereira, Mariana Alves
Composição
Francisco Silva
Nota do Director
Alguns desafios para
as políticas educativas
em Portugal: o caso do
ensino não superior
José Portocarrero Canavarro
De Bibliotheca
Ana Cristina Abreu
55
Um Testemunho e
uma Proposta
Carlos Sá Furtado
63
O Ensino na União
Europeia: um dos
lados do Triângulo
Maria Carlos
Sumário
20
22
26
“A gestão democrática “A microcirurgia não
é inimiga do desené estimulada”
volvimento da
Entrevista a Abel
Universidade”
Nascimento
37
Ensino Superior e
Investigação em
Portugal
António Coutinho
Grande Entrevista
Grande Reportagem
Entrevista a José Miguel
Urbano
70
O Ensino: uma
questão de afectos
80
Maria Pinto
72
Aprender pela
experiência – a Ética
como disciplina no
Ensino Superior
Michael Knoch
75
De Bolonha ao Plano
Tecnológico
Paulo Gomes
76
¿OBJECTIVO: Que
objectivos?
Entre Bolonha e
Coimbra
Regina Tralhão
Breve Apresentação
da Tecnologia Power
Line
Hélder Silva, Joana Urbano
84
85
Alma Nostra
86
PubliReportagem
Viagem
Minha Coimbra
94
“Os alunos querem
novas instalações”
Entrevista a Bruno Cordeiro
Na rede
Inês Amaral
88
93
95
AE - ISMT
Notícias / Reportagens
98
Musica
Uma história de sucesso
99
Cinema
Foreign Affairs
100
Página Literária
103
Agenda
Henrique Amaral Dias
89
Publicações
90
Mestrados
5
Aconteceu
Fernando Teófilo
O “FALSO SELF”
No ano em que se comemoram os 150
anos do nascimento de Freud, o Instituto Superior Miguel Torga organizou
um Congresso de Psicanálise
intitulado: “O Falso Self”.
A escolha deste tema para análise,
surgiu do desafio lançado por técnicos especializados na área que sublinham o conceito do “falso self” como
um dos factores principais no adoecer
mental. Assim, R. D. Lang considera o
“falso self“ (máscara, face ridificada do
Eu) como “...um sistema de protecção
do indivíduo que tem medo do mundo,
(...)” de “se perder nas suas sensações, devido à ausência de uma segurança ontológica primária.” (Houzel e
Moggio, 2004). Tratou-se de um even-
Da esquerda para a direita:
Sónia Simões, Cristina Quintas, Carlos Amaral Dias, Jose Henriques, Henrique Amaral Dias e Alcina Martins
onde estiveram presentes personalidades de reconhecido mérito. Partici-
SESSÃO DE ESCLARECIMENTO
param como oradores: Carlos Amaral
Dias, Rui Aragão, Carlos Farate, Ma-
O PROCESSO DE BOLONHA NO ISMT
Em Abril, o ISMT realizou a primeira
de uma série de sessões de esclareci-
onalmente, discutiu-se o plano de transição no âmbito do Processo de Bo-
mento sobre o Processo de Bolonha.
Na abertura, o Director Carlos Amaral
lonha e informaram-se os presentes
acerca do acesso ao ensino superior
Dias sublinhou a rapidez e qualidade
com que as actuais licenciaturas foram
dos candidatos maiores de 23 anos.
Por último, analisaram-se as garanti-
adequadas às novas normas regulamentares que passaram a reger o en-
as de qualidade e a acreditação dos I
e II Ciclos, e expuseram-se os diver-
sino superior, bem como o dinamismo
crescente da instituição que se tradu-
sos programas de mobilidade que o
Gabinete de Relações Internacionais
ziu, entre outros factos, pela proposta
ao MCTES de 3 novas licenciaturas:
tem vindo a desenvolver, tendo a sessão terminado em diálogo fecundo
Comunicação Empresarial, Gestão e
Informática.
com os participantes.
José Henrique Dias secundou estas ideias e, na qualidade de Presidente do Conselho Científico, afirmou que
tudo faria em prol delas.
Apresentaram-se assim os novos
ciclos de estudos e seus objectivos,
os métodos de ensino e ECTS. Adici-
6 torga
to de relevo e importância na área da
Psicanálise, Psicologia e Psiquiatria,
Henrique Amaral Dias
ria do Rosário Belo Gomes, António
Mendonça, Doutora Cristina Fabião,
Jorge Caiado Gomes, Teresa Nunes
Vicente, Mário Horta, José Henrique
Rodrigues Dias, José Carlos Coelho
Rosa e Ana Bertão.
Rodrigo Lopes
Aconteceu
“Come Bem, Brinca Melhor” foi o lema
MARCHA CONTRA A OBESIDADE INFANTIL
da “Marcha Contra a Obesidade Infantil” que agitou as ruas da cidade de
Luís Carreira
Coimbra, em Maio. Cerca de duas centenas de crianças desfilaram por esta
causa desde a Câmara Municipal de
Coimbra até ao Parque Verde do
Mondego acompanhadas pelo Governador Civil, jogadores da Académica
e educadoras.
Este evento, promovido por um grupo de alunas finalistas da Licenciatura
de Ciências da Informação do Instituto
Superior Miguel Torga, pretendeu sensibilizar crianças e sociedade civil para
o fenómeno da obesidade, que tem
vindo a aumentar significativamente
na população portuguesa.
Joana Moreira
Para comemorar os 150 anos sobre o
nascimento de Sigmund Freud (18561939), o Instituto Superior Miguel Torga
150 ANOS DO NASCIMENTO DE FREUD
Filipe Casaleiro
organizou, nos dias 7 e 8 de Abril, uma
conferência dedicada ao fundador da
Psicanálise na Casa Municipal da Cultura em Coimbra.
Foram oradores José Henrique
Dias, Carlos Alberto Afonso e Carlos
Farate, contando ainda com a participação de Carlos Amaral Dias em mesas redondas.
Tendo no seu leque de ensino uma
licenciatura em Psicologia, diversas
pós-graduações e mestrados na área
da Psicoterapia, e sendo dirigido por
Carlos Amaral Dias, psiquiatra e psicanalista, Presidente da Comissão de
Ensino da Sociedade Portuguesa de
Psicanálise e autor de diversos obras
sobre Sigmund Freud, a realização
deste evento assumiu um significado
e uma importância muito especial para
Da esquerda para a direita: José Henrique Dias, Carlos Amaral Dias e Carlos Alberto Afonso
o Instituto Superior Miguel Torga.
Andrea Marques
torga
7
Aconteceu
17 DE MAIO – DIA MUNDIAL CONTRA A HOMOFOBIA
Se estás farto de Preconceito,
participa no blog…
O projecto “Excluir a Homofobia” surgiu no âmbito das disciplinas de Políti-
gravíssimo, sendo urgente tratá-la nas
suas várias dimensões e contextos.
www.homossexualidade.blogspot.com
cas Sociais para Grupos de Risco e de
Planeamento e Gestão do Desenvol-
Neste sentido, decidimos iniciar o nosso combate à homofobia com a orga-
vimento, do 4º ano de Serviço Social,
leccionadas por Regina Tralhão.
nização desta sessão de esclarecimento. A data escolhida não foi por
Este projecto está a ser desenvolvido por dois grupos de trabalho: Gru-
acaso, deve-se ao facto do dia 17 de
Maio ter sido proposto em 2005 como
po “Excluir a Homofobia” (Cecília
Freitas, Liliana Borrego, Patrícia
o Dia Mundial Contra a Homofobia.
O nosso projecto assume um ca-
Freitas e Tiago Farreca) e Grupo “Homossexualidade e Exclusão Social
rácter preventivo junto da população
académica, sobretudo a do Instituto
(Telma Duarte, Rita Quatorze e Anabela
Dias) em parceria com o ISMT e com a
Superior Miguel Torga. Pretendemos
demonstrar que a homofobia afecta
AEISMT, a quem também agradecemos desde já.
negativamente a todos, independentemente da sua orientação sexual e
Optámos pela luta contra a
homofobia, uma vez que esta sempre
explicar que esta só terá fim com uma
transformação social profunda.
prejudicou e destruiu imensas vidas,
na maior parte dos casos, tão silencio-
Terminamos com a célebre frase de
Boaventura Santos: “Temos o direito a
samente quanto o silêncio e
invisibilidade a que sempre remeteu
ser iguais sempre que a diferença nos
inferioriza; temos o direito a ser dife-
as vivências homossexuais, tal como
acabámos de assistir na nossa modes-
rentes sempre que a igualdade nos
descaracteriza”.
ta representação.
Assim torna-se claro que a
Somos um grupo de alunas do Instituto
Superior Miguel Torga, frequentamos o
4.º ano do Curso de Serviço Social. No
âmbito da disciplina de Planeamento e
Gestão do Desenvolvimento leccionada
por Regina Tralhão, estamos a realizar
um projecto que se intitula “Homossexualidade e Exclusão Social”.
Lembrámo-nos então de criar este blog
como forma de obter a participação de
todos os interessados. Através deste
blog iremos abrir reflexões acerca da
problemática social: Homofobia.
Homofobia é o preconceito contra
aqueles que amam pessoas do mesmo
sexo. É o preconceito contra pessoas
que têm sentimentos, anseios, necessidades e esperanças como qualquer
outro ser humano. O que há de errado
nisso? NADA! Não devem existir regras
para o amor... Ele deve seguir apenas o
Respeito e a Liberdade. NÃO precisas
ser um HOMOSSEXUAL para respeitar
um HOMOSSEXUAL!!!: Não pode existir mais espaço para a Homofobia, para
homofobia é um problema social
Luís Carreira
o preconceito e para o desrespeito às
diferenças neste mundo multi-identitário
em que vivemos. HOMOFOBIA NÃO!
E porque o preconceito pode MATAR,
desde já, agradecemos a participação
de todas as pessoas, aguardando pelas vossas opiniões e intervenções.
Anabela Dias
Rita Vieira
Telma Duarte
8 torga
Aconteceu
Filipe Casaleiro
Da esquerda para a direita: Américo Petim, Carlos Amaral Dias e Henrique Amaral Dias
ESCOLA DE COMÉRCIO E NEGÓCIOS, A NOVA APOSTA DO ISMT
A Escola de Comércio e Negócios é a
Equipamentos;
Liderança
e
a
comportamento da empresa quanto: à
mais recente aposta do Instituto Superior Miguel Torga no desenvolvimento
Envolvente Contextual da Organização.
utilização dos recursos financeiros; ao
relacionamento com terceiros; à
económico da região centro.
Os objectivos são claros: criar
A ECN surge porque as empresas
portuguesas apresentam um défice
comercialização das mercadorias, produtos ou serviços; aos investimentos
gestores e líderes eficazes; transmitir
conhecimentos a empresários ou pro-
preocupante em capacidade de gestão e liderança. Este problema persis-
em bens ao serviço da empresa; à
obtenção de um resultado que satisfa-
fissionais liberais, que não possuam
formação nestas áreas; e dar forma-
te desde há décadas. A economia portuguesa está inserida num mercado
ça os sócios ou accionistas e ao cumprimento atempado, tecnicamente cor-
ção intensiva, útil e de qualidade, leccionada por formadores com vasta ex-
global onde a competitividade e a inovação são factores decisivos para o
recto e optimizado das obrigações jurídicas e fiscais.
periência profissional.
As áreas em que a Escola de Co-
sucesso e, em última instância, para a
sobrevivência das organizações. Bens
Conduzido por Américo Alves
Petim, Gestor, Contabilista e Director
mércio e Negócios se propõe proporcionar formação são: Gestão da Infor-
e serviços, que até há pouco tempo se
consideravam como não expostos à
Científico da ECN, este curso tem duração de 9 semanas e decorre em ho-
mação – Contabilidade, Finanças e
Fiscalidade; Gestão dos Recursos
concorrência, i.e. não transaccionáveis, estão hoje em competição direc-
rário pós-laboral das 20 às 23 horas.
Materiais; Gestão dos Recursos Humanos; Gestão do Processo Produtivo;
ta com empresas multinacionais.
O primeiro curso a ser leccionado
Marketing; Obtenção e Estruturação
dos Recursos Financeiros; Recruta-
foi o de Contabilidade, Fiscalidade e
Gestão dirigido a Empresários e
mento, Selecção e Afectação dos Recursos Humanos; Aquisição e
Gestores que teve início no mês de
Maio. Este surgiu perante a necessi-
Alocação dos Recursos Materiais e
dade de uma visão mais alargada do
Henrique Amaral Dias
torga
9
Aconteceu
Conferência
AGOSTINHO DA SILVA CIDADANIA E LIBERDADE
to chocou com as ideias do Regime
Salazarista, o que fez com que Agosti-
Já com 87 anos, este homem que
falava 12 línguas, admite que raramen-
nho fosse acusado de perturbador, impedindo-o de fazer as suas conferênci-
te lia jornais, com excepção do “Público”, por causa do “Calvin”. Quando foi
“Um professor da vida e um pensador
livre”
as. Mais tarde, acabou por ser detido
em regime de isolamento total, durante
questionado em relação à morte, afirmou: “Não penso nada, nunca morri,
Este colóquio decorreu na Casa Muni-
20 dias, por ter desrespeitado as regras
que lhe foram impostas. Esta sua força
depois, quando morrer, e se souber alguma coisa, eu comunico”. Em 1994,
cipal da Cultura de Coimbra no passado mês Março, e contou com a partici-
fez dele um homem de movimento,
pluridimensional e pluricultural.
acaba por falecer de um acidente
vascular cerebral.
pação dos docentes do ISMT José
Henrique Dias, Maria Assunção Pinto e
Partiu para o Brasil, onde esperava
encontrar, do outro lado do Atlântico, a
A conferência terminou com a
Manuela Serra e José Henrique Dias,
Maria Manuela Serra.
Maria Assunção Pinto começou por
oportunidade de realizar os seus so-
que desenvolveram aspectos educacioFilipe Casaleiro
falar dos “caminhos de um homem
transparente”, desenvolvendo questões como a trajectória biográfica do
controverso e enigmático pensador.
Não deixou de referir o essencial de
todo o seu percurso, desde o nascimento no Porto, à escolha de Barca d’Alva
como “Terra Mãe”, a última terra portuguesa, entre a Beira e Alto Douro, antes da fronteira espanhola. Era uma terra de gente pobre, onde não havia escola nem luz eléctrica e só havia pão
uma vez por semana. Contudo, era o
paraíso de vida para Agostinho da Silva.
O pensador, e também pedagogo,
terminou a licenciatura em Filologia
Clássica, na primeira Faculdade da ci-
Da esquerda para adireita: José Henrique Dias, Carlos Amaral Dias, Manuela Serra e Maria Assunção Pinto
dade do Porto, com a média final de 20
valores. Antes de começar a estudar, o
seu grande sonho era ser marinheiro,
sonho esse que não conseguiu reali-
nhos e uma cultura que respeitasse o
modo de pensar de cada um.
nais da vida de Agostinho da Silva. As
comemorações nacionais do centená-
zar. Leonardo Coimbra, fundador da
Faculdade de Letras do Porto, assumiu
Em 1958, acaba por se naturalizar
brasileiro. Era um homem que afirma-
rio do nascimento de Agostinho da Silva incluem colóquios, exposições e ain-
o papel de professor de Filosofia Medieval de Agostinho. Porém, este não
va não estar interessado em coisa alguma, somente em viver. Regressa a
da o baptismo de um avião da TAP, com
o seu nome.
nutria muita simpatia pela matéria, acabando, mesmo assim, por fazer a disci-
Portugal, em 1969, devido à ditadura
que tinha chegado ao Brasil e, em 1990,
plina. Quando acabou a sua licenciatura, afirma que: “A minha licenciatura não
transforma-se num líder de comunicação na RTP com o programa televisivo
foi em Filologia Clássica, foi em Liberdade”.
“Conversas Vadias”. Posteriormente,
retira-se, acabando por rejeitar a comu-
Em 1942, publica um caderno que
designa por “Cristianismo”. Este escri-
nicação social: “Cada vez gosto mais
de menos gente”.
10 torga
André Pereira
Mariana Alves
Aconteceu
À DESCOBERTA DO BRASIL
Filipe Casaleiro
Filipe Sá e João Venda, finalistas do
Curso de Licenciatura em Informática de
Gestão do Instituto Superior Miguel
Torga, realizaram em 2005, um período
de estudos na Pontifícia Universidade
Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Reflectindo um pouco sobre uma nova experiência académica, social e cultural,
fizeram um balanço dos principais benefícios obtidos, bem como das dificuldades sentidas antes e durante o intercâmbio.
“Uma nova experiência, conhecer
uma nova cultura e enriquecer o (…)
currículo”, foram os principais motivos
que levaram Filipe Sá a tomar a iniciativa de desenvolver um período de estudos no Brasil com a duração de um
semestre.
Como o Gabinete de Relações Internacionais (GRI) do ISMT tinha sido
Filipe Sá e João Venda
criado recentemente, os alunos que
ambicionassem participar numa expe-
que “Os conteúdos são os mesmos
Em relação ao apoio prestado pelo
riência deste âmbito sentiriam algumas
adversidades a vários níveis. Como
apesar do método ser diferente, mas
com o passar do tempo conseguimo-
ISMT, não obstante as contrariedades
do início, no cômputo geral a aprecia-
nos relatou João Venda, “Não havia
GRI, como tal tivemos de ser nós a tra-
nos habituar”.
Assim, mesmo com todas as con-
ção foi positiva, pois tiveram equivalência a todas as disciplinas que fre-
tar de tudo. Ao contrário dos colegas
que lá estavam connosco, pagávamos
trariedades vividas, nunca sentiram
vontade de desistir, considerando que
quentaram.
A experiência
duas propinas, a da PUC que era bastante elevada e metade da propina do
a cultura brasileira, diferente da portuguesa, facilitou a sua integração, visto
enriquecedora e gratificante, os dois
estudantes da Licenciatura em
ISMT”.
Os alunos foram muito bem recebi-
que as pessoas eram mais abertas e
simpáticas.
Informática de Gestão do ISMT aconselharam todos os seus colegas com
dos na PUC. Puderam beneficiar de
uma semana de inserção plena de
Esta experiência, segundo os dois,
foi benéfica quer ao nível pessoal, por-
espírito empreendedor e motivação a
efectuarem estes intercâmbios em
actividades através da qual conheceram a cidade, a Academia e os futuros
que lhes permitiu amadurecer e encarar novas formas de estar na vida, quer
qualquer país em que julguem sentirse bem.
colegas. A Faculdade, embora muito
grande, com alunos provenientes de
ao nível profissional, pelo facto de trabalharem com pessoas diferentes. En-
diversos países, vivia um ambiente
bastante agradável, possivelmente re-
frentaram novos desa-fios e novas formas de resolver problemas, sendo tam-
sultante da diversidade cultural.
Inicialmente, sentiram algumas di-
bém potencialmente uma mais valia
para o seu currículo. Filipe Sá ressal-
ficuldades em adaptar-se à nova forma de ensino, referindo João Venda
vou que “Voltava a participar mas em
vez de seis meses ficava lá um ano”.
foi
bastante
José Manuel Moreira
Luís Manuel Ribeiro
torga 11
SERVIÇO SOCIAL E PROCESSO DE BOLONHA
Filipe Casaleiro
A qualificação alcançada pelo Serviço
Social Português e a sua presença no
debate europeu constituem um importante património a ser preservado e
desenvolvido; a manutenção da formação inicial do assistente social em 4
anos torna-se condição imprescindível para garantir uma formação adequada ao atendimento das demandas
colocadas a esse profissional, pelas
diversas áreas do mercado de trabalho.
O ISMT associou-se, a partir de
meados dos anos 90, a um Programa
de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo no Brasil. No
âmbito desta cooperação realizou-se,
no Instituto Superior Miguel Torga, uma
reunião onde se discutiu o Serviço
Social e o Processo de Bolonha.
Andrea Marques
Aula Aberta
“FOI VOCÊ QUE PEDIU UM BOM TÍTULO?”
Filipe Casaleiro
Dinis Alves deu uma aula intitulada “Foi
você que pediu um bom título?” no
passado dia 8 de Março na Casa Municipal da Cultura.
Apresentada por Sofia Figueiredo, a
aula teve como público alvo os alunos
de Ciências da informação do Instituto
Superior Miguel Torga, mas estiveram
também presentes alunos do ITAP.
Dinis Alves começou por explicar
que no início da imprensa não havia
títulos nos artigos. Os jornais diários
não perdiam a actualidade facilmente
e destinavam-se a ser lidos por completo sem grande urgência. Na verdade, os jornais pretendiam rotular informações, não intitulá-las.
Posteriormente, já com a existência de títulos, estes eram muito longos.
12
“Só a concorrência entre jornais e
a conquista do mercado publicitário fez
nascer uma indústria de títulos com a
finalidade de vender jornais”, refere
Dinis Alves.
Citando Eça de Queirós e Oliveira
Martins: “trata de fazer um bom jornal
e lembra-te de que a sensualidade
moderna, que é o fundo do gosto
moderno, gosta sobretudo de forma e
de plástica”.
O professor deixa um conselho no
que respeita à criação de títulos, ele
refere que o ideal é redigir títulos com
curtas e poucas palavras, de
preferência com uma, duas, três ou
quatro - incluindo artigos, conjunções
e preposições; pede-se ao título que
não revele tudo, mas desvende um
pouco do texto.
Para Zorilla Barroso, o título tem
quatro condições essenciais, o de ser
um texto autónomo com significado
próprio, de carácter imprescindível, de
marcada elaboração colectiva uma vez
que é o resultado da produção de
vários elementos do órgão, e por
último, de composição iconicamente
diferenciada para destacar graficamente do resto dos componentes do
texto jornalístico.
Com esta aula o professor do
Instituto Superior Miguel Torga deu
início a uma série de aulas abertas ao
público em geral que acontecem às
Quartas-feiras na Casa Municipal da
Cultura.
Ana Beatriz Bento
Aula Aberta
JORNALISMO DE AGÊNCIA
No passado dia 15 de Março teve lugar,
na Casa Municipal da Cultura, a
exemplo, “Se escrevermos uma notícia
de 350 caracteres para um jornal e o
segunda Aula Aberta de Dinis Alves
sobre “Jornalismo de Agência.”
espaço disponível só der para 300 os
últimos 50 devem ser eliminados
A sessão teve como convidado Rui
Avelar, jornalista com vasta expe-
porque serão os menos importantes”.
O jornalista afirmou que não devem
riência e actualmente Director-Adjunto
do “Campeão das Províncias”.
usar-se muitas palavras no primeiro
parágrafo, uma vez que a capacidade
Rui Avelar iniciou a sua apresentação referindo que, há uns anos atrás,
de memorização imediata de um ser
humano é de apenas 70 por cento e as
a difusão das notícias da agência aos
seus clientes era feita através de telex,
citações devem ser o mais curtas
possível. Há que ter em conta que os
uma máquina teleimpressora para
comunicação bilateral. A partir de
adjectivos em jornalismo de agência
não são bem aceites.
1992, começaram a ser transmitidas
por satélite.
Ana Beatriz Bento
O orador continuou
descrevendo um pouco o
Filipe Casaleiro
Jornalismo de Agência.
Para
Rui
Avelar
a
objectividade, o rigor e
imparcialidade são muito
importantes e o jornalista
deve ter em conta que as
fontes não são neutras. “O
trabalho de um jornalista de
agência é um trabalho
anónimo”. referiu o convidado. Numa agência de
notícias o género jornalístico predominante é a
notícia, podendo ocasionalmente haver outro
género, como por exemplo
uma entrevista.
O Director-Adjunto do
“Campeão das Províncias”
defendeu que o que se
valoriza nas notícias é o seu
interesse público. Para
escrever uma notícia há que
ter em conta a regra da
pirâmide invertida, ou seja,
o mais importante deve estar
no início. Rui Avelar deu o
Rui Avelar ex-Director da Agência LUSA
13
Aconteceu
“Comportamentos de risco, estado de
saúde e qualidade da vinculação em
COMPORTAMENTOS DE RISCO
Filipe Casaleiro
crianças e adolescentes” é o título do
colóquio que se realizou em Fevereiro, no auditório da Escola Superior de
Tecnologia da Saúde de Coimbra.
O encontro foi organizado na sequência da concretização do projecto de
investigação “Repercussões do consumo do tabaco, do álcool e de outras
drogas na saúde das crianças e adolescentes – modalidades de interacção
e influência recíproca”.
No seguimento de uma parceria
entre o Instituto Superior Miguel Torga,
a Escola Superior de Tecnologia da
Saúde, o Departamento de Psicologia
da Universidade do Minho e a Subregião de Saúde de Coimbra, surgiu
um projecto de investigação pioneiro
na área da saúde pública. O objectivo
é investigar o impacto que os comportamentos de risco podem ter sobre o
equilíbrio psicológico e o estado de
saúde dos jovens, que são utentes das
consultas de clínica geral ou de saúde
gas. Contudo, este consumo acaba por
Coimbra, Lúcia Simões Costa. A presi-
juvenil dos centros de saúde dependentes da Sub-região de Saúde de
não se fixar, não passando simplesmente de um processo de rebeldia, de
dir o colóquio, esteve o Professor Doutor Carlos Farate, docente do ISMT.
Coimbra. Este projecto está a ser levado a cabo sob os auspícios da Fun-
emancipação. Por outro lado, nos rapazes, estes comportamentos acabam
dação Calouste Gulbenkian.
O projecto mostra que, na actuali-
por se fixar como forma de se destacarem.
dade, não há grandes diferenças entre o consumo dos jovens de um meio
Estiveram presentes no colóquio
do director do Serviço de Saúde e De-
rural e urbano, como existia há 10 anos
atrás. Isto porque os jovens que vivem
senvolvimento Humano da Fundação
Calouste Gulbenkian, Professor Dou-
na periferia têm um grande contacto
com a cidade. O choque não será em
tor Manuel Rodrigues Gomes; o director do ISMT, Professor Doutor Carlos
relação aos jovens, mas sim em relação aos pais: um comportamento mais
Amaral Dias; o presidente da Administração Regional de Saúde do Centro,
antiquado pode provocar tensões na
família.
Fernando Regateiro; a coordenadora
da Sub-região de Saúde de Coimbra,
Os resultados parecem ser um pouco mais preocupantes no que diz res-
Isabel Ventura; o director do departamento de Psicologia da Universidade
peito ao consumo de drogas, álcool e
tabaco. Verifica-se um nível de consu-
do Minho, Professor Doutor Armando
Machado; a directora da Escola Supe-
mo mais elevado por parte das rapari-
rior de Tecnologia da Saúde de
14 torga
André Pereira
Mariana Alves
Aconteceu
NOVO LIVRO DE CARLOS AMARAL DIAS
Filipe Casaleiro
Foi apresentado em Fevereiro, no auditório da Escola Superior de
Tecnologia da Saúde de Coimbra, o
mais recente livro de Carlos Amaral
Dias: “Freud para além de Freud”, volume II.
Ao longo desta obra, o leitor terá
acesso a um outro “olhar e ver simultaneamente amplo e profundo, quer sobre Freud, quer sobre psicanálise e
comportamentos científicos actuais,
quer sobre a humanidade”.
No primeiro livro, a obra baseia-se
essencialmente em textos clássicos e
longos de Freud. Neste volume, há uma
síntese da obra de Freud, caracterizada como um romance familiar. São oito
textos inovadores que permitem uma
transformação na forma de ler Freud,
de uma maneira actual e viva.
Neste livro encontramos um texto
sobre o recalcamento, algumas considerações sobre a guerra e a morte, terminando com um texto sobre uma criança abatida – masoquismo na espécie humana. Está a ser ultimada a publicação de “Freud para além de Freud”
volume II em espanhol e inglês.
O terceiro volume abordará aspectos inéditos da obra de Freud, não explorados nos volumes anteriores.
Carlos Farate e Carlos Amaral Dias
André Pereira
Mariana Alves
GENOMA E PREDESTINAÇÃO
A convite da Loja Liberdade, do Grande
Oriente Lusitano, o Prof. Doutor Carlos
ilegalização por decreto do salazarismo.
A conferência, de grande importân-
genoma na construção da personalidade e seus limites.
Amaral Dias realizou uma conferência
subordinada ao tema Genoma e
cia científica, muito interessou os muitos
maçons e outros convidados presentes
Tratou-se de uma reunião científica
de particular importância, que uma vez
Predestinação. A sessão integrava-se
nas comemorações do 110º aniversá-
(a sessão foi aberta) e suscitou um interessante debate, em que o Prof. Amaral
mais pôs em evidência a importância
cultural e científica do nosso Director.
rio daquela loja maçónica, sem “abater
colunas”, o que significa que nunca in-
Dias notificou a evolução histórica de
conceitos e convocou a cientificidade
terrompeu trabalhos mesmo quando da
para explicação do significado do
José Henrique Dias
torga 15
Aconteceu
INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA NA
BLOGOSFERA
COOPERAÇÃO
CENTRO PSIQUIÁTRICO DE
“Labimprensa” é o título do directório
de prevaleça por todo o Mundo. Uma
de blogs dos alunos de Laboratório de
Imprensa da Licenciatura em Ciências
das mensagens mais comoventes foi
de uma menina que dirigiu esta men-
da Informação. Disponível em http://
labimprensa.blogspot.com/, este espa-
sagem ao Pai Natal: “Eu gosto muito
de ti... acho que me portei bem… se
ço é um índice dos weblogs (individuais ou colectivos) onde os alunos pu-
não me quiseres dar nenhuma prenda
eu não me importo, mas caso queiras
blicam trabalhos relacionados com a
disciplina de Laboratório de Imprensa
dar, eu quero que a minha irmã e o meu
pai sejam amigos… por favor tenta”.
do 4º ano de CI, leccionada por Dinis
Alves. O docente e os alunos Luís
Segundo o coordenador do projecto,
Dinis Alves, “o Pai Natal deve ser en-
Monteiro e Rogério Aguiar são os administradores deste “metablog”.
tendido como um símbolo de
fraternidade, amizade ao próximo e
Este projecto esteve também associado à iniciativa “Cartas ao Pai Na-
todos esses valores que já parecem
esquecidos”.
tal”. No último Natal, o velhinho das
barbas brancas decidiu acompanhar
Para evitar atrasos, estes meninos
pediram então as suas prendas atra-
as novas tecnologias, deixando para
trás os velhos trenós. Desta vez che-
vés da blogosfera. Quem não sabia
escrever não quis deixar de participar,
gou pela Internet mas, em vez das habituais renas, foram alguns alunos do
acabando por fazer alguns desenhos.
O mesmo aconteceu com alguns me-
ISMT que o ajudaram nesta “fantástica” viagem. Foi criado um blog (http://
ninos deficientes. Esta actividade foi
muito bem acolhida pelas crianças,
painatal2005.blogspot.com/), onde
cerca de centenas de crianças de todo
alvo principal desta iniciativa, mas também pelos pais e professores que
o país deixaram os seus pedidos, para
o último Natal.
aplaudiram este especial “Netal”.
Em balanço, Dinis Alves considera
O desafio lançado pelos alunos do
4º ano da licenciatura em Ciências da
que o projecto “Cartas ao Pai Natal”
ultrapassou todas as expectativas. “Um
Informação fez com que se deslocassem a várias escolas do país, em bus-
trabalho que foi, essencialmente, desenvolvido a nível local, acabou por
ca dos sonhos dos mais pequenos.
Nunca garantindo a sua entrega, mas
se expandir de tal modo que ganhou
proporções nacionais”, afirmou. O do-
não querendo deixar estas crianças
sem nenhum miminho, colocaram as
cente já tem iniciativas futuras entre
mãos e, mais uma vez, a sua
suas cartas e desenhos no blog, para
que o Pai Natal pudesse ver.
concretização só irá ser possível com
a colaboração dos alunos da licencia-
O blog foi um espaço criado para
que estas crianças pudessem deixar
tura em Ciências da Informação, do
Instituto Superior Miguel Torga.
aí todos os seus desejos, que não passaram só pelos carros e pelas bone-
Mariana Alves
cas, mas também por aqueles sonhos
mais difíceis de concretizar: o fim das
guerras e da pobreza, e que a amiza-
16 torga
RECUPERAÇÃO DE ARNES E
INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL
TORGA
Realizado em Coimbra, a 8 de Fevereiro de 2006, o protocolo apresenta
como objectivo genérico o desenvolvimento de relações de mútua cooperação científica, técnica, cultural e de
prestação de serviços.
Os objectivos específicos do protocolo definem-se pela instauração de
um sistema de colaboração entre as
duas instituições relativo a estágios
curriculares dos cursos de Licenciatura do ISMT, nomeadamente os cursos
de Licenciatura em Psicologia e Serviço Social e pela promoção da cooperação nas áreas da investigação graduada e pós-graduada, a nível da formação e da prestação de serviços.
Ana Cristina Abreu
Aconteceu
O NATAL COMO
NARCISISMO DE VIDA E
MODELO PARA A FAMÍLIA
O Instituto Superior Miguel Torga organizou, em Dezembro último, a conferência “O Natal no Divã – O Natal
como narcisismo de vida e modelo
para a família”. Num ambiente acolhedor, o Professor Doutor Carlos Amaral
Dias dirigiu uma amena conversa que
teve como pontos principais o mito de
Narciso e as ideias de Freud, recorrendo a dois dos seus textos.
Narciso era filho da ninfa Liriópis e
do rio Cefiso, cujo primeiro nome era
Lethis, que deu origem à palavra “letal”. Era, portanto, o rio da morte. Este
seu nome veio mais tarde a dar origem à palavra grega “alethea”, que
significa “verdade”. Isto significa que
a verdade se inscreve num lugar onde
a morte é concebida mas pode ser ultrapassada. É por saber que somos
mortais que podemos construir o
“narcisismo de vida da espécie humana”. Os gregos dividiam o mundo em
mortais e imortais. A única forma de
ser imortal, segundo Platão, é de acreditar que “uma vida não reflectida não
vale o direito de ser vivida”. O mais
extraordinário na vida de Narciso é a
sua transformação numa flor do rio.
Segundo Amaral Dias, “a pior coisa
do narcisismo de morte é nós, em vez
de nos inscrevermos no futuro,
inscrevermo-nos no passado”. Narciso fica perplexo ao ver o seu reflexo
na água. Em grego, “reflexo” significa
“olhar para trás”. Narciso, ao olhar
para trás, encontrou apenas o seu passado. A pior coisa que pode acontecer
a um ser humano é não nascer como
era “pre-nascido”, ir-se embora, partir,
levantar voo. Neste caso, podemos falar do caso português: a modernidade
começou connosco, que tivemos de
sair da nossa origem para dar novos
mundos ao mundo. É esta a missão da
frer uma de duas coisas: passar por
uma infância tormentosa e organizar
espécie. Um neurótico, sofrendo de
reminiscências, permanecendo preso
sintomas neuróticos; e tornar-se capaz
de passar por tudo aquilo que teve na
ao passado, pode ficar, como na peça
de Ovídio, transformado apenas na flor
infância. “Hoje em dia, vivemos num
mundo hipócrita em que se pensa em
de um rio. A memória de futuro é sair,
partir e crescer. “Ousar lutar é ousar
coisas tão estúpidas como os pais serem iguais às mães. A palavra parte
vencer e há que não ter medo de sair
do espelho. Quem fica no espelho ape-
do pai, mas o amor básico parte da
mãe”, afirmou Amaral Dias. Neste tex-
nas tem Eco (aquela que se apaixonou por Narciso e repetiu várias vezes
to, Freud afirma que “génios como
Leonardo não precisaram de produzir
o seu nome como prova de amor), que
tem de ser quebrado, para todos po-
sintomas mas passaram directamente
de uma espécie de competência hu-
demos ser outros, para podermos partir, para podermos crescer”, conclui
mana para o sumo máximo do desenvolvimento que era a genialidade”.
Carlos Amaral Dias.
Por sua vez, Freud escreve um tex-
Amaral Dias fez uma com-paração dizendo que “Leonardo era como os
to em 1914, dedicado a este tema “Introdução ao Narcisismo” onde afirma
bebés que chupam no dedo dentro da
barriga das mães: não precisaram de
que “a espécie humana está condenada a um universo de objectos
encontrar um seio para o substituir pelo
polegar. A genialidade está em saber
substituíveis”. Quem se condena a
olhar para o rio chorando intermina-
encontrar um polegar dentro do útero
sem nunca ter percebido que há um
velmente o amor perdido, pensando
que é amor, está enganado. De acor-
seio. Leonardo da Vinci faz parte desse grupo de pessoas”.
do com Amaral Dias, o sentimento aí
presente é o “amódio, a mistura de
Leonardo da Vinci foi capaz de olhar
o mundo daquela forma porque a sua
amor e ódio. O ódio à terra, a incapacidade de perceber o luto e de partir e
mãe o olhou assim. Aqui, surge outra
visão do narcisismo. No primeiro tex-
voltar a amar de novo”.
Já em 1910, Freud havia escrito um
to, Freud tem uma visão do narcisismo
ligada à capacidade de investir ou
texto dedicado a Leonardo da Vinci, um
dos maiores génios da Renascença,
desinvestir objectos porque se acredita no amor-próprio. Neste segundo tex-
no qual explica a coisa mais bonita que
há sobre o narcisismo humano. Leo-
to, o narcisismo é visto da forma como
nós observamos o mundo porque al-
nardo, para Freud, realizava um problema complexo, enigmático, um pro-
guém olhou para nós dessa mesma
maneira. No fundo, todos nós gostarí-
blema a que chamou de “pulsão
epistemofílica”. Segundo o Professor
amos que os nossos pais nos tivessem olhado quando nascemos da
Amaral Dias, “para além das pulsões
sexuais e agressivas, a Neuro-fisiologia
mesma forma que Leonardo foi olhado pela sua mãe.
contemporânea veio demonstrar que
nós nascemos com uma competência
sensorial específica para conhecer e
perceber a realidade”.
André Pereira
Freud afirma que a maior parte dos
seres humanos está condenada a so-
torga 17
Aconteceu
TEORIA DE JOGOS
Realizou-se, em Abril, o Seminário de
Teoria de Jogos leccionado por
Henrique Amaral Dias, com a contribuição de Regina Tralhão e organiza-
pleta, se um dos jogadores desconhece o retorno de um outro qualquer, tal
como ocorre frequentemente num lei-
do por Vicente Serrano.
lão, em que um dos interessados não
sabe quanto é que o outro (ou outros)
Referiu-se que:
está disposto a pagar. A estas classes
de jogos estão subjacentes outras tan-
a) A Teoria de Jogos se tornou numa
das mais importantes áreas de investigação científica, com implicações
determinantes na análise económica,
ciência política, biologia, direito, relações internacionais, filosofia e matemática.
tas noções de equilíbrio: equilíbrio de
Nash, equilíbrio perfeito de Nash num
subjogo, equilíbrio de Nash Bayesiano
e equilíbrio Bayesiano perfeito.
imprescindível para prosseguir análises
mais sofisticadas, associa-das às outras
classes referidas, e estruturante para um
pensamento lógico, aplicável a um vasto espectro de circunstâncias.
A este respeito, Regina Tralhão interveio amiúde, ilustrando de modo didáctico em que situações de âmbito social se podem utilizar estas ferramentas
analíticas, o que em muito enriqueceu
este evento.
e) Centrou-se a atenção apenas no
estudo de jogos estáticos com informação completa, pois o conceito (Equilíbrio de Nash) que lhes está inerente é
Andrea Marques
Henrique Amaral Dias
b) Em todas as sociedades, os indivíduos interagem constantemente. Por
vezes, essa interacção é cooperativa,
noutras é competitiva. Assim, num extremo está a formação de uma família
ou de um projecto, no outro, empresas
ou trabalhadores rivais que se
digladiam.
c) A noção de interdependência está
sempre presente — o comportamento
de alguém afecta o bem estar de outrem, positiva ou negativamente. Situações de interdependência são designadas por condicionamento estratégico, dado que um indivíduo ao decidir
da melhor forma, tem forçosamente de
considerar como é que os restantes
jogadores irão actuar. Ora, a Teoria de
Jogos pretende explicar como é que
as pessoas se comportam, e aconselhar como se deveriam comportar.
d) A Teoria de Jogos não é mais então
do que um estudo sistemático de
interacções estratégicas, centrando-se
fundamentalmente na resolução de
problemas pertencentes a quatro classes de jogos: estáticos ou dinâmicos
com informação completa e estáticos
ou dinâmicos com informação incompleta. Um jogo tem informação incom-
18 torga
Filipe Casaleiro
19
20 torga
Ensino & Investigação
21
Ensino & Investigação
Filipe Casaleiro
José Miguel Urbano tem 35 anos e um percurso invejável. Concluiu o ensino
secundário com média de 19 valores.
Candidatou-se à Universidade com média final de 19.6 valores.
Licenciou-se em Matemática, Ramo Científico (Matemática Pura) com média
final de 19 valores.
Aos 29 anos concluiu o Doutoramento em Matemática (especialidade de Análise Matemática).
É Professor Associado com Agregação no Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
“A GESTÃO DEMOCRÁTICA É INIMIGA DO DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE”
Optou por uma carreira científica em
universitário português ainda é inimigo
Sem a alteração do estatuto da car-
Portugal. Em 1995 foi bolseiro da
European Science Foundation na Ecole
do desenvolvimento científico. Nós vivemos com um estatuto da carreira do-
reira José Miguel Urbano não acredita
que as coisas mudem. Considera mes-
Polytéchnique em Paris. De Dezembro
de 1998 a Julho de 1999 esteve em
cente muito ultrapassado, vivemos com
um sistema de governo da Universida-
mo que este “se tornou totalmente perverso porque dá uma série de garanti-
Chicago, na Northwestern University,
enquanto bolseiro da Fundação Luso-
de que, em certa medida, serve os interesses das pessoas que estão no siste-
as desde muito cedo. O que acontece
hoje em dia é que a entrada para a car-
Americana. Contactou com sistemas
universitários e científicos que afirma
ma, em particular dos professores e não
reira é feita logo após a licenciatura,
serem muito mais atraentes do que o
português. Quando regressou, já Dou-
“O sistema universitário tem que ser uma oligarquia meritocrática”
torado, pensou que “era possível dar
um contributo sério para mudar o esta-
propriamente da ciência.” Para ultrapas-
sem que as pessoas prestem qualquer
do das coisas. Mas, não foram precisos
muitos anos para perceber que isso era
sar este problema José Miguel Urbano
considera urgente mudar o estatuto da
tipo de provas enquanto cientistas… A
partir daqui, as promoções são todas
uma autêntica ingenuidade. Não é possível mudar as coisas dessa maneira.”
carreira. “Isto significa: menos garantias no início da carreira relativamente ao
internas e isto gera fenómenos que todos conhecemos… Isto é completa-
“O país está a começar a crescer no
sentido certo mas eu diria que o sistema
emprego, e aumento da competitividade
em relação à promoção.”
mente contrário ao desenvolvimento do
sistema científico.”
22 torga
Ensino & Investigação
A avaliação internacional é a medida que José Miguel Urbano considera
tudo é fácil e que nada exige esforço e
muito trabalho. Quando questionado
necessária para que um país pequeno
como Portugal possa fugir ao “esque-
sobre a origem dos maus resultados a
matemática José Miguel Urbano é peremptório: “eu acho que o problema
está em quem ensina e em quem toma
ma” de serem sempre os mesmos a
avaliar, em que os resultados das avaliações são todos muito bons para todos.
Filipe Casaleiro
“Nós só conseguimos ir a algum lado
se as pessoas perceberem que a Universidade não é um sistema Democrático, não pode ser. A gestão democrática é inimiga do desenvolvimento da
Universidade. O sistema universitário
tem que ser uma oligarquia
meritocrática, isto é, devem ser os melhores a tomar as decisões. Todos os
cientistas portugueses mais conhecidos
dizem isto há muito tempo. Todos acham
que as coisas têm que mudar mas, as
coisas nunca mudam porque quem
detém o poder nas universidades não
quer que as coisas mudem, explicou o
investigador.
“A matemática é uma disciplina que
não se consegue aprender sem
esforço”
Todos os anos é a disciplina com
piores resultados nos exames nacionais. A matemática é odiada por grande parte dos alunos. José Miguel Urbano explica porquê: “eu acho que tudo
isto é consequência de uma mentalidade que se foi desenvolvendo nos últimos anos que considera que o ensino
deve ser uma actividade relacionada
com o prazer. Penso que se perdeu a
noção que estudar, como tudo aquilo
que é verdadeiramente importante na
vida, custa, exige sacrifícios e exige trabalho. A matemática é uma disciplina
que não se consegue aprender sem
esforço, sem trabalho. Isto não significa que não se possa tirar prazer de estudar matemática, só que o prazer vem
depois do esforço.”
Em Portugal criou-se a ideia de que
as decisões. Criou-se um sistema que
não funciona. Os nossos estudantes
não são melhores nem piores do que
os outros. Muitos professores têm uma
preparação científica deficiente, preferem refugiar-se em questões relacionadas com a pedagogia sem saberem
exactamente aquilo que estão a ensinar. Portanto, sabem ensinar mas não
sabem aquilo que ensinam.”
Mas, apesar dos maus resultados
e da insuficiente qualidade de ensino
da matemática, ainda há todos os anos
um “grupo razoável” de estudantes
que procuram a licenciatura em Matemática com médias altíssimas porque
gostam muito da disciplina. No entanto, “se calhar o país não precisa de
muitos mais matemáticos, de muitos
mais profissionais da matemática. Pre-
Prémio José Anastácio da
Cunha (ex aequo com Xiang
Dong Li e Pedro Resende) em
2002. Este prémio destina-se a
galardoar uma dissertação de
Doutoramento em Matemática,
escolhida por um júri de entre as
que se apresentarem a concurso,
e é concedido de 4 em 4 anos.
Programa Gulbenkian de
Estímulo à Investigação –
Fundação Calouste Gulbenkian,
1998
Prémio João Farinha em 1992:
atribuído ao estudante que
termina a Licenciatura em
Matemática na Faculdade de
Ciências e Tecnologias da
Universidade de Coimbra com a
classificação mais elevada no ano
em causa.
Medalha de Ouro: Olimpíadas
Nacionais de Matemática em
1988
cisa de matemáticos melhores”, afirma o investigador.
Andrea Marques
torga 23
Ensino & Investigação
Filipe Casaleiro
Abel Nascimento - especialista em microcirurgia e Director do Serviço
de Ortopedia dos H.U.C.
“A MICROCIRURGIA NÃO É ESTIMULADA”
Originalmente derivada da palavra Gre-
des ou ainda a reconstrução da mão. A
ral da mão, cirurgia do plexo braquial e
ga plastikos que significa moldar ou alterar a forma, a Cirurgia Plástica,
microcirurgia vascular, técnica que permite a sutura de vasos sanguíneos de
nervos periféricos, cirurgia congénita,
cirurgia reumatóide, cirurgia tumoral,
Reconstrutiva e Estética é uma especialidade que adapta princípios cirúrgi-
um milímetro ou menos de diâmetro, é
uma competência hoje indispensável
cirurgia linfática, cirurgia ortopédica e
cirurgia plástica, entre outras.
cos às necessidades específicas de
cada doente fazendo a remodelação e
em Cirurgia Plástica Reconstrutiva e
Estética nomeadamente para a
O cirurgião iniciou a sua aprendizagem de Microcirurgia em 1979, foi
a redistribuição dos tecidos.
A Cirurgia Plástica e Reconstrutiva
reimplantação de partes amputadas da
mão, de outras áreas anatómicas ou
introdutor em Portugal e pioneiro europeu do método inovador Freehand
teve o seu início numa época anterior a
Cristo, altura em que cirurgiões da Ín-
ainda para a transferência de grandes
áreas tecidulares de uma parte do cor-
System, para recuperação funcional da
mão paralítica em doentes tetra-
dia procediam à reconstrução do nariz
utilizando um retalho cutâneo proveni-
po para outra.
Abel Nascimento, director do servi-
plégicos, nos H.U.C. em 1997. “Integramos igualmente, desde 1999, um gru-
ente da região frontal.
Trata-se de uma especialidade cirúr-
ço de Ortopedia, especialista em
microcirurgia e responsável pela Uni-
po de pesquisa a nível europeu para
implantação de um sistema electrónico
gica cujo desenvolvimento recente foi
estimulado pelos desafios que surgiram
dade de Cirurgia da Mão do Serviço de
Ortopedia dos Hospitais da Universida-
de controlo de marcha em paraplégicos”,
afirmou Abel Nascimento.
aquando das graves reconstruções nas
vítimas das Guerras Mundiais.
de de Coimbra tem no currículo vários
milhares de cirurgias (cerca de 13.000),
Em 1994 defendeu o Doutoramento
em Paris (França), com o trabalho
Uma das áreas de intervenção destes cirurgiões é a cirurgia da mão, in-
nos campos da microcirurgia reconstrutiva (reimplantações, transferências
“Reconstruction plastique du membre
supérieur – investigation anatomique et
cluindo o tratamento de lesões traumáticas agudas, correcção de deformida-
de dedos do pé para a mão, retalhos
livres e pediculados, etc.), cirurgia ge-
application chirurgicale et Régénération
lymphatique en réimplantations et
24 torga
Ensino & Investigação
lambeaux vascularisés dans la
chirurgie expérimentale et clinique”
“Presentemente a nossa actividade
estende-se, pela Ortopedia Geral, Ci-
mento afirma “é possível fazer mas começa a ser desmotivante. Começa a ser
que consolidou e validou os procedimentos cirúrgicos da sua prática clíni-
rurgia Plástica Reconstrutiva do Aparelho Locomotor, Cirurgia de Urgência
um pouco difícil porque a microcirurgia
não é estimulada.”
ca. O modelo experimental animal escolhido foi o cão, tendo sido efectuadas
(Reimplantações, Cirurgia Vascular, Cirurgia Nervosa, Cirurgia da Mão, etc.),
Para 2006 está prevista a aplicação
da nova versão do sistema electrónico
131 amputações/reimplantações dos
membros posteriores para estudar a
Cirurgia da Mão Clássica, Cirurgia da
para tetraplégicos, na qual o Instituto de
Filipe Casaleiro
regeneração dos tecidos, nomeadamente a contribuição dos sistemas venoso e linfático na resolução do edema
e reorganização tecidular. Este estudo
permitiu recolher informações inéditas
preciosas para a prática médico-cirúrgica em diversos campos da cirurgia
reconstrutiva, tendo-lhe sido atribuído o
grau de Doctor Communitatis Europeae
e a medalha da Universidade René
Descartes.
“Fomos convidados para integrar o
Projecto Europeu Leonardo da Vinci
(Formation à la connaissance du
système lymphatique et à la prise en
charge de ses pathologies). O convite
foi feito na sequência da nossa investigação profunda (animal e humana) no
campo da anatomia estrutural e funcional, fisiopatologia e cirurgia linfática
(microcirurgia linfovenosa, linfonodular,
linfolinfática, linfoveno-linfática e cirurgia plástica reconstrutiva de redução de
linfedemas). Um dos grandes capítulos
da tese de doutoramento europeu versa a regeneração linfática em cirurgia
experimental”, explicou o médico.
Também foram realizados estudos
em cadáveres frescos em Paris, para
estandardizar a anatomia da rede linfática dos membros através da injecção de produtos específicos linfotró-picos. “Estudámos, na clínica, a regeneração linfática em doentes com
reimplantações totais ou retalhos dos
membros através de diversos métodos
anatomofuncionais. Estes estudos permitiram obter conclusões importantes
para o aprofundamento de técnicas de
cirurgia linfática e plástica moderna”,
acrescentou.
Mão Reumatóide, Cirurgia do Plexo
Braquial e Nervos Periféricos, Cirurgia
das Malformações Congénitas, Cirurgia
Linfática e Cirurgia dos Transplantes
Ósseos Vascularizados em necrose
asséptica da cabeça do fémur, Cirurgia
Tumoral e Cirurgia de Perdas
Osteocutâneas. Para além desta cirurgia efectuamos ainda Cirurgia dos
Tetraplégicos (clássica e recuperação
das mãos paralíticas pelo sistema
electró-nico Free Hand System – tendo
sido dos primeiros países do mundo a
aplicá-lo e introduzi-lo em Portugal). Foi
igualmente efectuada cirurgia de implantação para tetraplégicos do sistema
Brindley-Voccare, para o controle
esfincteriano por aplicação directa de
sistema electrónico na medula, em colaboração com os Serviços de Urologia
e Medicina Física e Reabilitação.”
Questionado sobre as condições
existentes para fazer investigação em
microcirurgia em Portugal Abel Nasci-
Cirurgia Reconstrutiva está envolvido em
estreita colaboração com os E.U.A.
PRÉMIOS CIENTÍFICOS
„ Menção Honrosa do Prémio Professor Jorge
Mineiro (SPOT) em 1984.
„ 1º Prémio Professor Jorge Mineiro (SPOT)
em 1986.
„ Melhor comunicação do Congresso
Europeu do G.E.L., Bruxelas, em 1994.
„ Medalha de Mérito da Faculdade de Medicina
René Descartes, Paris, em 1994.
„ Melhor comunicação do 6th Congress of
the International Federation of Societies for
Surgery of the Hand, Helsinkia, Finlândia,
1995.
„ Galardoados na Grande Gala do Casino
da Figueira da Foz, na celebração do 5º
Aniversário do Jornal “O Diário das Beiras”,
1999.
„ Distinção, na área da Medicina, no livro
dos 75 anos do Jornal “Diário de
Coimbra”, 2000.
Andrea Marques
Henrique Amaral Dias
torga
25
Ensino & Investigação
UMA APLICAÇÃO DO JÚRI DE DELPHI – ISMT
Este trabalho, coordenado por
Henrique Amaral Dias, foi desenvolvido por alunos de Informática de Gestão do 3º ano, no âmbito da disciplina
Gestão Industrial.
Utilizou-se o Método de Delphi,
pois permite chegar a resultados que
não geram dúvidas significativas na
sua análise.
O Júri Delphi é uma das poucas
metodologias científicas que permite
interpretar qualitativamente dados.
Este método permite descortinar as
opiniões de especialistas/personalidades relevantes através do preenchimento de um único questionário, que
se repete um determinado número de
vezes, variando este em função do nível de consenso atingido.
Distingue-se essencialmente por
três características básicas: o anonimato, a interacção com feedback controlado e a revelação sucessiva de resultados estatísticos gerais aos inquiridos.
Este processo realizou-se apenas
duas vezes, visto que no final do segundo round obteve-se um amplo consenso quanto às respostas dos participantes.
Este inquérito tem como escopo
delimitar, com a maior clareza possível, as linhas estratégicas a prosseguir pela nossa instituição. Neste sentido, seleccionámos um grupo restrito
de indivíduos, que pelo seu conhecimento do ISMT e as suas competências, nos garantiam um resultado
credível.
Seguidamente serão apresentadas
algumas das questões realizadas no
inquérito e as respectivas repostas.
Análise de Dados
Perguntas Gerais
É importante a instituição agregar tudo
num único edifício?
• 95% - Sim
• 5% - Não
As actuais instalações estão bem
localizadas?
• 80% - Sim
• 20% - Não
A Biblioteca é:
• 0% - Dimensão Adequada
• 100% - Pequena
• 72% - Confortável
• 28% - Desconfortável
• 58% - Bem apetrechada
• 42% - Mal apetrechada
Era importante a escola ter a sua própria
cantina ou bar?
• 95% - Sim
• 5% - Não
Se Sim, o que acha do bar da associação?
• 0% - Agradável
• 61% - Razoável
• 39% - Péssimo
Em relação aos serviços administrativos /
Secretaria como avalia o serviço por estes
prestado ao público?
• 11% - Muito Bom
• 56% - Bom
• 33% - Razoável
• 0% - Mau
• 0% - Muito Mau
Qual o horário que deveria ser praticado
na secretaria?
• 11% - O actual está bem
• 22% - O actual está bem, só que
deveria estar aberto durante
a hora de almoço
• 67% -
Alargar o horário
Se escolheu a última opção qual o
melhor horário?
• 18% - Das 9h às 12h e das 14h às 18h
• 83% -Das 9h às 18h
Perguntas Gerais
Perguntas aos Alunos
O que devia a AEISMT fornecer aos alunos?
• Computadores
• Bar com melhores condições
• Salas de Estar
• Mais convívios
O que pensa dos horários dos alunos e
da afectação das salas aos mesmos?
• 0% - Muito Bons
• 22% - Bons
• 11% - Razoáveis
• 56% - Maus
• 11% - Muito Maus
O ISMT deveria ter uma sala de
computadores só para os alunos
utilizarem?
• 89% - Sim, muito importante
• 11% - Sim
• 0% - Não necessariamente
• 0% - Não
Como avalia o site do Instituto?
• 78% - Claro
• 22% - Confuso
• 71% - Informativo
• 29% - Sem conteúdo
• 50% - Atractivo
• 50% - Desinteressante
• 57% - Visito com regularidade
• 43% - Visito com irregularidade
Como avalia o atendimento na Biblioteca?
• 11% Muito Bom
• 58% Bom
• 32% Razoável
• 0% Mau
• 0% Muito Mau
Perguntas aos Alunos
De modo geral, os professores são
competentes?
• 100% - Sim
• 0% - Não
Como avalia a competência de um docente?
• 89% - Pela exposição de aulas
• 0% - Pelo atendimento dos alunos
fora de aulas
• 0% - Pela simpatia com os alunos
• 11% - Pelo conteúdo e utilidade da
disciplina
É importante sublinhar que os resultados que de seguida descrevemos não são o produto de uma tendência de opinião do
corpo docente, discente ou de funcionários do ISMT, mas tão somente traduzem aquilo que um conjunto de indivíduos
decisivos para o futuro da instituição pensa.
26 torga
Ensino & Investigação
Tendo em conta que está numa privada,
os professores têm de dar mais atenção
aos os alunos?
• 78% - Sim
• 22% - Não
Os professores deveriam ter um limite de
faltas bem como os alunos?
• 56% - Sim
• 33% - Não
• 11% - Depende das circunstâncias
Os cursos do
estruturados?
• 33% - Todos
ISMT
estão
bem
•
•
9 - Funcionamento e horário da
tesouraria/secretaria
10 - Localização
Pergunta aos Alunos
Se o Instituto alterar todos os itens que
assinalou, então quanto estaria
disposto(a) a pagar?
• 14% - Mais de 150€ e menos de 200€
• 86% - Mais de 200€ e menos de 250€
• 67% - Alguns
Se não respondeu todos, quais é que para
si não estão?
• Multimédia - Existe carência de material.
Carga de disciplinas teóricas no 1º ano
e a falta delas nos outros anos.
• Informática de Gestão - No 2º semestre
do último ano tem excesso de disciplinas,
porque decorre em simultâneo o estágio.
• Ciências de Informação - não há estágio
curricular.
Pergunta Geral
Está de acordo com a fusão do ISMT com
a Bissaya Barreto?
• 33% - Sim
• 67% - Não
Perguntas aos Alunos
Está de acordo com a propina que os
alunos pagam actualmente?
• 33% - Sim
• 67% - Não
Se Não, qual o valor mais justo a aplicar às
propinas mensais?
• 43% - Mais de 100€ e menos de 150€
• 57% - Mais de 150€ e menos de 200€
Pergunta Geral
Quais os aspectos a alterar com maior
urgência?
• 1 - Instalações
• 2 - Interface curso/mercado de
trabalho
• 3 - Material de apoio (cadeiras/
secretárias / meios de apoio
pedagógicos e informáticos)
• 4 - Biblioteca
• 5 - Bar
• 6 - Utilidade dos conteúdos
• 7 - Qualidade dos Docentes
• 8 - Reprografia
Conclusão
Os inquiridos mostram insatisfação relativa
ao Instituto, por este não funcionar num único
edifício, mas em contrapartida a sua
localização é aceite por 80%. A opinião
negativa dos restantes 20% deve-se ao ruído,
dificuldades de estacionamento e trânsito.
Os 5% que acham que não é importante
agregar tudo num único edifício, melhorariam
nos actuais:
• Isolamento do frio
• Insonorização
• Conforto
• Dimensão das Salas
• Meios de apoios pedagógicos
• Acessibilidades
Em relação ao site do ISMT, as sugestões são
diversas:
• As notas deveriam estar actualizadas;
• A possibilidade dos alunos se
inscreverem para exames, frequências
e/ou matriculas - secretaria on-line;
• Foi respondido que o contacto dos
professores era importante mas este
já existe, como também o horário
escolar e as informações de todos os
cursos existentes.
• Outras sugestões foram a criação de
uma intranet, ou seja, um (sub) site
para cada curso, com apresentação
de disciplinas e docentes;
• Informação das cadeiras e sumários
(já existe, só para alguns cursos)
• Aulas de reposição ou extraordinárias
que sejam marcadas;
• Uma secção dedicada ao emprego;
• Trabalhos/acções de alunos; criação
de webjornal; webradio.
De acordo com as respostas relacionadas
com a fusão do ISMT com o Instituto Bissaya
Barreto, os 33 % que responderam Sim à
fusão, têm as seguintes opiniões:
• O ISMT faria parte de uma fundação
muito bem posicionada no mercado,
com boas condições;
• Para a formação de uma
Universidade;
• Iria melhorar as condições dos alunos,
para
que
tenham
melhor
aproveitamento a nível escolar.
Os 67 % que responderam Não à
fusão, têm as seguintes opiniões:
• Redução de pessoal; normas mais
restritas; maior afastamento entre a
Direcção e os Recursos Humanos;
• Uma instituição com mais de 65 anos
não deveria fundir-se com um Instituto
que foi criado a partir de alunos que
eram nossos;
• O ISMT corre o risco de perder a sua
identidade perante o seu público-alvo
e a sociedade;
• O ISMT tem potencial e não precisa
de se unir a outra instituição para
crescer mais.
Foi uma agradável surpresa constatar que
100% dos alunos consideram os seus
professores competentes e que os avaliam
pela exposição das aulas e pelo conteúdo e
utilidade da disciplina.
Os aspectos de maior urgência a
alterar serão então a nível de:
• Instalações
• Material de apoio (cadeiras/secretárias
/ meios de apoio pedagógicos e
informáticos)
• Biblioteca
• Bar
Andreia Dias
Ângela Marques
Daniela Cerveira
João Miranda de Sá
Jorge Teixeira
Nuno Peixoto
Ricardo Delgadinho
Susana Pereira
Tânia Veloso
torga
27
Grande Reportagem
Ensino Superior e Investigação em Portugal
“A nossa experiência ocidental reco-
edade do conhecimento e concretizar
lheu do direito Romano a ideia de
o objectivo fixado no Conselho Euro-
universitas, neste domínio referindo-se
peu de Lisboa: tornar-se na economia
a uma associação com o fim de de-
baseada no conhecimento mais dinâ-
· A reorganização do conhecimento;
senvolver e transmitir o saber.
mico e competitivo do mundo, capaz
· O surgimento de novas expectati-
sidades e empresas;
· A multiplicação dos lugares de produção dos conhecimentos;
Realmente as universidades são
de garantir um crescimento económi-
instituições, no rigoroso sentido com
co sustentável, com mais e melhores
Pode dizer-se que a economia e a so-
que Hauriou, Prélot e Renard organi-
empregos, e com maior coesão soci-
ciedade do conhecimento surgem da
zaram a teoria de instituição: uma ideia
al”.
combinação de quatro elementos:
vas.
de obra ou de empresa que se realiza
Segundo o mesmo comunicado,
e dura num meio social. A Universida-
durante muitos anos as Universidades
de é certamente uma das realidades
Europeias definiram-se em função de
que mais claramente reconhece e
alguns grandes modelos, em particu-
combina a convicção de que na vida
lar o modelo ideal de universidade
· A sua divulgação com as TIC’s;
social existem duas referências funda-
concebido, há quase dois séculos por
· A sua exploração através da inova-
mentais, os homens e as ideias, os pri-
Wilhelm von Humboldt na sua reforma
meiros perpetuando-se pela reprodu-
das universidades alemãs, e que faz
ção, e as segundas pela tradição, isto
da investigação o cerne da actividade
é, pela passagem de mão em mão, de
universitária e a base do ensino.
· A produção do conhecimento pela
investigação científica;
· A sua transmissão através da educação e formação;
ção tecnológica.
Em Portugal existem entidades
geração em geração”. Este é um
Actualmente as universidades ten-
que apoiam a investigação científica e
excerto do artigo de Adriano Moreira
dem a distanciar-se desses modelos
os jovens que pretendem iniciar o seu
intitulado A Universidade.
em busca de uma maior diferenciação.
percurso, tanto em Portugal como no
estrangeiro.
Por outro lado, num comunicado da
É imperativo adoptar uma série de
Comissão das Comunidades Euro-
mutações que se podem classificar em
peias onde se questiona o Papel das
5 categorias:
Universidades na Europa do Conhecimento, pode ler-se “a UE necessita de
uma comunidade universitária sólida
e próspera. A Europa precisa de excelência nas suas universidades, uma
· O crescimento da procura de formação superior;
· A internacionalização da educação
e da investigação;
vez que só assim poderá optimizar os
· O estabelecimento de uma coope-
processos que estão na base da soci-
ração estreita e eficaz entre univer-
28 torga
A Torga fez um estudo sobre algumas dessas instituições e apresenta
de seguida um breve resumo sobre
cada uma destas instituições: Fundação
para a Ciência e Tecnologia, Fundação
Luso-Americana, Fulbright e Fundação
Calouste Gulbenkian.
Grande Reportagem
Fundação para a Ciência e
Tecnologia
peração e outras formas de apoio em
parceria com universidades e outras
A Fundação para a Ciência e
instituições publicas e privadas.
As principais funções da Funda-
Tecnologia (FCT) iniciou actividades
em Agosto de 1997.
ção para a Ciência e Tecnologia são:
· Promover, financiar, acompanhar e
A promoção contínua do conhecimento científico e tecnológico em Por-
avaliar instituições de ciência e
tecnologia;
tugal explorando as oportunidades
que se revelam em todos os domínios
·
Promover, financiar, acompanhar e
avaliar programas e projectos de ci-
É de salientar que a ciência e
tecnologia, atrás referidas, são consideradas num sentido amplo que engloba as mais variadas áreas do saber: as ciências exactas, naturais e da
saúde, a engenharia, as ciências sociais e as humanidades.
Como concorrer a uma bolsa
A missão da FCT concretiza-se,
Promover a difusão e a divulgação
da cultura e do conhecimento cien-
Para certos tipos de bolsas, os
concursos mantêm-se abertos permanentemente. É o caso de Bolsas de
Pós-Doutoramento e Bolsas de Licença Sabática.
Os concursos para Bolsas de
Doutoramento e Bolsas de Mestrado –
Dissertação, são abertos através de
editais.
principalmente, através da atribuição
de financiamentos na sequência de
tífico e tecnológico, do ensino da ciência e da tecnologia;
Está permanentemente aberto, na
Agência de Inovação, o concurso para
Estimular a modernização, articulação, reforço e disponibilização
Bolsas de Estágio em Organizações
Científicas e Tecnológicas internacio-
pública de fontes de informação científica e tecnológica.
nais para formação de engenheiros no
European Organization for Nuclear
é a principal missão da FCT. O seu principal objectivo é atingir os mais elevados padrões internacionais de criação
do conhecimento, estimular a sua di-
ência e tecnologia, formação e qualificação dos recursos humanos;
·
fusão e contribuição para a melhoria
da educação, da saúde e do ambiente.
gação científica e ao desenvolvimento tecnológico;
·
avaliação de mérito de propostas de:
instituições, equipas de investigação,
indivíduos apresentados em concursos
públicos, através de acordos de coo-
Promover a criação e o reforço de
infra-estruturas de apoio à investi-
·
torga 29
Grande Reportagem
Research (CERN), na European Space
Agency (ESA) e no European Southern
·
Bolsas de Desenvolvimento de
Carreira Científica (Bdcc)
lhimento.
Estas bolsas podem ser atribuídas
Observatory (ESO).
As instituições científicas atribuem
Destinam-se a investigadores que tenham revelado mérito científico eleva-
na sequência de concurso público
aberto na respectiva instituição de aco-
directamente bolsas de investigação
científica, a maior parte com financia-
do nas actividades realizadas durante
um período de Pós-Doutoramento, em
lhimento, mas que exige o envio prévio do anuncio à FCT, com pelo menos
mento da FCT para projectos de I&D
ou unidades. Os concursos públicos
regra de quatro a cinco anos. Estas
bolsas têm como objectivo apoiar o
uma semana de antecedência em relação ao início do período de apresen-
são anunciados na página da FCT na
Internet.
desenvolvimento de aptidões de direcção e coordenação de projectos cien-
tação de candidaturas.
A selecção de bolseiros deve ser
tíficos, pelo que, durante o período da
bolsa, o bolseiro deve dirigir um pro-
efectuada por um júri de pelo menos
três doutorados, constituído por inicia-
jecto de investigação científica e
tecnológica. São apenas concedidas
tiva do Investigador Responsável do
Projecto ou de unidade I&D. Devem ser
no âmbito de projectos ou unidades
de investigação.
preparadas actas sucintas das reuniões do júri com indicação dos critérios
rencialmente há menos de cinco anos,
para realizarem trabalhos avançados
·
aplicados e das decisões tomadas, as
quais deverão ser enviadas à FCT na
de investigação científica em universidades ou instituições científicas portu-
Estas bolsas destinam-se a licenciados ou mestres para realizarem traba-
guesas ou estrangeiras de reconhecida idoneidade.
lhos de doutoramento no país em ambiente empresarial com temas de rele-
·
vância para a correspondente empresa. Devem ser solicitadas através da
Tipos de Bolsas
·
Bolsas de Pós-Doutoramento
(BPD)
Estas bolsas destinam-se a doutorados que tenham obtido o grau, prefe-
Bolsas de Doutoramento (BD)
Estas bolsas destinam-se a licenciados ou mestres para realizarem trabalhos de doutoramento em universidades portuguesas ou estrangeiras, incluindo a frequência de programas
doutorais, quando for caso disso.
·
Bolsas de Mestrado (BM) – Dissertação
Estas bolsas destinam-se a licenciados para realizarem estudos de
Bolsas de Doutoramento em Empresas (BDE)
Agência de Inovação.
·
sequência das reuniões correspondentes.
Fundação Luso-Americana
para o Desenvolvimento
Bolsas de Estágio em Organiza-
A Fundação Luso-Americana para
ções Científicas e Tecnológicas Internacionais (BEst)
o Desenvolvimento, FLAD, assinalou 20
anos em 2005.
Estas bolsas destinam-se a facultar
oportunidades de formação em orga-
Criada para contribuir para o desenvolvimento económico, social e
nizações científicas e tecnológicas de
que Portugal é membro, em condições
cultural de Portugal, disponibiliza
apoio financeiro e estratégico a pro-
a acordar com essas organizações.
jectos criativos e incentiva a cooperação entre a sociedade civil portugue-
mestrado em universidades portuguesas ou estrangeiras, no período de
Avaliação das candidaturas
preparação da dissertação, após aprovação na parte escolar do mestrado.
A FCT atribui bolsas na sequência da submissão de candidaturas em
atribuição de bolsas de apoio a pro-
concursos públicos, seguidas de avaliação por painéis constituídos para as
programas de formação e intercâmbio.
· Bolsas de Licença Sabática (BSab)
Estas bolsas destinam-se a doutorados em regime de licença sabática
para realizarem actividades de investigação em instituições estrangeiras. A
duração destas bolsas varia entre o
mínimo de três meses e o máximo de
um ano, não renovável, e refere-se
unicamente ao período de permanência no estrangeiro.
30 torga
sa e a americana.
Tem como principal actividade a
jectos institucionais e à promoção de
várias áreas científicas. Os painéis de
avaliação envolvem cerca de 200 in-
Organiza, também projectos próprios
vestigadores de várias universidades
de Portugal.
ceria com outras instituições.
São atribuídas classificações de
1 a 5, em função de três critérios: méri-
ferências monetárias do Estado português e proveniente do Acordo de Coo-
to do candidato, mérito do plano de trabalho e mérito das condições de aco-
peração e Defesa entre Portugal e os
Estados Unidos da América. O capital
que gere individualmente ou em parA FLAD foi criada através de trans-
Grande Reportagem
inicial foi de 85 milhões de euros e des-
É dada prioridade a candidaturas
de 1992 que se sustenta exclusivamen-
que estimulem a intervenção de entida-
te do rendimento do seu património.
des portuguesas e dos Estados Unidos.
Uma instituição ou pessoa a título
individual pode candidatar-se aos de-
As áreas de intervenção da Fundação situam-se ao nível da Cultura,
signados “Projectos Institucionais” e às
“Bolsas”.
Educação, Ciência e Tecnologia, Ambiente, Funções de Estado, Socieda-
As iniciativas caracterizadas como
Projectos Institucionais consideram-se
de Civil e Inovação.
a organização de seminários e conferências em Portugal e nos EUA, financiamento de intercâmbios académicos,
elaboração de estudos e investigações, programas de cooperação entre
universidades portuguesas e estrangeiras, criação de novas escolas ou
centros de investigação, iniciativas de
promoção do sector privado e programas que reforcem a capacidade de
acção das instituições não governamentais.
Os projectos devem apresentar-se
inovadores, com objectivos definidos
e exequíveis dentro das áreas previs-
Bolsas
As Bolsas de Doutoramento FLAD/
FULBRIGTH são atribuídas, preferencialmente, a candidatos com uma média de licenciatura superior a 14 valores, e com bons conhecimentos de inglês. O candidato submete-se a uma
apreciação curricular e apreciação dos
objectivos de estudo, a um teste de
avaliação de conhecimentos de inglês
e a uma entrevista.
O financiamento baliza-se até ao
máximo de 25.000 dólares para o primeiro ano de estudos, organização e
tas pela Fundação e que promovam o
administração dos processos de candidatura às universidades norte-ame-
desenvolvimento do país.
ricanas, seguro de saúde e acidentes
durante o período da bolsa.
As áreas de investigação prioritárias englobam as Engenharias, Física,
Química, Matemática, Biologia, Economia, Ciências Médicas e Ciências do
Ambiente.
As não prioritárias são as Ciências
Musicais, Filosofia, História, Língua e
Literaturas, além de serem financiadas
parcialmente.
São bolsas de longa duração, com
períodos superiores a três meses na
área da Cultura e superiores a seis
meses nas restantes áreas.
Candidaturas
Para a candidatura a Bolsas para
Acções de Formação no Estrangeiro,
deverão apresentar-se declarações
comprovativas do interesse das instituições portuguesas em que os candidatos trabalham, licenciatura concluída, vínculo a Universidades, instituições de investigação ou empresas ligadas às áreas prioritárias e não
prioritárias nos termos definidos anteriormente. A duração do estágio deve ser superior a um
mês e não superior a um
ano.
Relativamente ao Apoio à
Apresentação de Comunicações em Congressos Internacionais, existe um limite de
financiamento por trimestre,
uma vez que é objectivo da
Fundação acolher o maior
número de pedidos ao longo
do ano civil e a aprovação de
dois projectos consecutivos
não será concedida.
Além dos conferencistas,
também podem inscrever-se,
pessoas que desempenhem
funções de moderadores.
O processo de candidatura engloba o curriculum
vitae, o programa do evento,
torga 31
Grande Reportagem
o tema da comunicação e a prova de
aceitação da mesma por parte da or-
O Programa Fulbright é administrado pelo Departamento de Estado e
tadas pela Comissão Fulbright e pela
Fundação Luso-Americana. A univer-
ganização americana, indicação dos
custos previstos, patrocínios coadju-
implementado sob a supervisão do J.
William Fulbrigth Scholarship Board
sidade seleccionada terá a seu cargo
as despesas do alojamento e uma par-
vantes e a carta de recomendação da
instituição à qual o candidato está vin-
(FSB).
Em cada país o Institute of
te do custo total do programa.
As Bolsas de Investigação
culado entre outros documentos.
International Education (IIE) assiste as
Comissões Fulbrigth e as Embaixadas
Fulbright/FLAD centram os seus objectivos no apoio ao desenvolvimento de
dos EUA na administração do Programa Fulbrigth para Estudantes.
projectos de investigação em universidades ou instituições nos E.U.A. Os
“Our future is not in the stars but in
O Council for International
Exchange of Scholars (CIES) afiliado
projectos contemplam todas as áreas
do conhecimento tendo como requisi-
our minds and hearts. Creative
leadership and liberal education, which
no IIE, assiste as Comissões Fulbrigth
e as Embaixadas dos EUA na admi-
tos a média de licenciatura igual ou
superior a 14 valores, bons conheci-
go together, are the first requirement
for a hopeful future of mankind”.
nistração do Programa Fulbrigth para
Professores Universitários e Investiga-
mentos de Inglês e concordância com
o projecto por parte da instituição nor-
dores.
te-americana. O processo de selecção
passa pela apreciação curricular e do
Fulbright
Este excerto constitui o discurso
proferido pelo ex-Senador do Arkansas J. William Fulbright, em 1946,
quando decidiu estabelecer um intercâmbio cultural para estudantes e professores. A legislação que originou o
Programa Fulbright foi assinada a 1 de
Agosto do mesmo ano pelo Presidente Henry Truman.
Fulbrigth nasceu em Samner,
Missouri, a 9 de Abril de 1905. Viveu
desde pequeno em Fayetteville, no
Arkansas. Entrou na Universidade do
Arkansas com 15 anos, onde foi presidente da Associação de Estudantes.
Em 1925,após obter o seu primeiro
Bachelor’s Degree, recebeu uma Bolsa Rhodes para a Universidade de
Oxford no Reino Unido. Com essa bolsa estudou durante três anos e adquiriu o segundo Bachelor’s Degree.
Voltou depois para os Estados Unidos, para a Universidade de George
Washington onde frequentou Direito e
alcançou o terceiro Bachelor’s Degree.
Foi esta constante mobilidade cultural e académica de Fulbrigth que o
levou a concluir da importância dos intercâmbios internacionais para o desenvolvimento intelectual do indivíduo.
32 torga
Parceria Fulbright/FLAD
A Fulbright e a FLAD desenvolvem
em parceria três programas:
1-Programa Rotating Chair Fulbright/
Fundação Luso-Americana para
Distinguished Lectures;
2-Bolsas de Investigação Fulbright/
Fundação Luso-Americana;
3-Bolsas Fundação Luso-Americana
/ Fulbright Para Doutoramentos.
O primeiro tem como objectivo o
ensino, a consultoria e investigação
realizada por Professores americanos
em universidades portuguesas. Abrange a participação de três professores
americanos por um período de três
meses cada, durante um ano lectivo.
Exige-se uma elevada qualidade
académica dos bolseiros envolvidos.
Os projectos serão seleccionados
projecto, e por uma entrevista ao candidato. Com a duração entre seis a
doze meses, o financiamento situa-se
até ao máximo de 10.000 dólares, seguro de saúde e acidentes durante o
período de bolsa e a possibilidade de
acesso à linha de crédito Fulbright/
Santander Totta. Nas condições de candidatura, ressalta a obrigatoriedade
dos candidatos serem portugueses.
Bolsas
As Bolsas FLAD/Fulbright cobrem
todas as áreas do conhecimento, requerendo a licenciatura com média
igual ou superior a 14 valores e com
conhecimentos de Inglês e visam a
execução do Doutoramento nos Estados Unidos. Os candidatos devem ter
nacionalidade portuguesa e estão su-
pelo Council For International Exchange
of Scholars (CIES), que abrirá concur-
jeitos a uma apreciação do seu currículo e dos objectivos de estudo, a uma
so para professores do Estados Unidos
da América. Posteriormente, a Comis-
avaliação do nível de Inglês e a uma
entrevista. A bolsa é financiada até ao
são apresentará as candidaturas às
instituições portuguesas para aprecia-
máximo de 25.000 dólares para o 1º
ano de estudos. No 2º e 3º anos, o
ção e escolha das propostas.
As despesas de viagem e estadia
bolseiro pode candidatar-se a um financiamento extraordinário adicional,
dos scholars americanos são susten-
até ao montante total máximo de 12.000
dólares. Os restantes benefícios são
Grande Reportagem
iguais aos outros apresentados pela
parceria Fulbright/FLAD.
dólares, dependendo da duração da
estadia. Inclui seguro de saúde e aci-
lha. Os encargos de viagem e estadia
dos professores são suportados pela
As bolsas financiadas apenas pela
Fulbright abrangem as Bolsas Para
dentes durante o período da bolsa e
há a possibilidade de acesso à linha
Comissão. Dá-se, no entanto, prioridade aos projectos de instituições que
Professores e Investigadores com
Doutoramento, Bolsas Para Instituições
de crédito já indicada anteriormente.A
nacionalidade deverá ser portuguesa.
facultem apoios
logísticos.
Portuguesas de Ensino Superior e Investigação e Bolsas Senior Specialists.
Para as outras nacionalidades, dever-se-á contactar a Comissão Fulbright
As Bolsas Senior Specialists caracterizam-se por projectos de curta du-
Relativamente à Bolsa Para
Doutoramentos o objectivo é leccionar
do país em causa ou a embaixada.
Bolsas Para Instituições Portugue-
ração (tempo total de estadia entre 12
e 42 dias, incluindo os dias de viagem,
e/ou realizar trabalhos de investigação em universidades ou centros de
sas de Ensino Superior e Investigação
estão vocacionadas para o ensino,
com possibilidade de divisão do tempo total em três partes), no âmbito do
investigação dos Estados Unidos.
Qualquer área é aceite e os requisitos
consultoria e investigação por parte de
professores e/ou investigadores ame-
ensino, consultoria e investigação,
efectuados por especialistas norte-
dos candidatos passam por serem professores universitários ou investigado-
ricanos em instituições portuguesas de
ensino superior e centros de investi-
americanos em instituições portuguesas de ensino superior e de investiga-
res com doutoramento, terem bons
conhecimentos da língua inglesa e
gação. A duração da bolsa é de três
meses e abrange todas as áreas. A
ção que confiram grau. Algumas das
actividades possíveis dos projectos
obterem a aprovação do projecto por
parte da instituição americana. Serão
Comissão selecciona os projectos e
envia-os ao CIES, que procederá à
situam-se na orientação de auditorias
especializadas, estudos ou projectos
seleccionados através da avaliação
curricular e do projecto, e por uma en-
abertura do concurso. As candidaturas recebidas no CIES, depois de pré-
de investigação, participação em actividades curriculares especiais e con-
trevista. A duração da bolsa pode situar-se entre os três e doze meses e o
seleccionadas, são enviadas à Comissão, que as apresentará às instituições
ferências, consultoria no âmbito de
projectos de desenvolvimento curri-
financiamento entre 5.000 e 10.000
portuguesas, para apreciação e esco-
cular do corpo docente, apresentação
de palestras ao nível pré e pós-gradu-
financeiros
e
ado, participação ou condução de seminários ou workshops, consultoria no
âmbito de projectos de desenvolvimento dos curricula académicos ou
material de estudo. Nas áreas de estudo possíveis apontam-se Serviço Social, Comunicação e Jornalismo, Administração Pública, Antropologia, Arqueologia, Ciência Política, Ciências
do Ambiente, Ciências Documentais,
Direito, Economia, Educação, Estudos
Americanos, Estudos da Paz e Resolução de Conflitos, Gestão, Planeamento Urbano, Saúde Pública, Sociologia e Tecnologias da Informação. As
candidaturas são submetidas a uma
pré-selecção feita pela Comissão e a
aprovação final é estabelecida pelo
Bureau of Educational and Cultural
Affairs (ECA). As aprovadas são encaminhadas para o CIES, que será responsável pela selecção na sua base
torga 33
Grande Reportagem
de dados (roster), de especialistas
americanos qualificados, com base nos
dos Unidos. No 2º ano, o beneficio
mantem-se, após a comprovação do
Com a California State Uiniversity
as bolsas destinam-se a professores
requisitos da instituição. Os encargos
de deslocação e estadia dos especia-
bom aproveitamento no 1º ano. A organização e administração do proces-
doutorados ou doutorandos e têm
como objectivo a leccionação e/ou re-
listas norte-americanos serão partilhados pela ECA e pela instituição, su-
so de candidatura à universidade americana está a cargo da Comissão e
alização de trabalhos de investigação
nesta universidade durante quatro
portando a ECA o pagamento das despesas de deslocação até ao território
existe a possibilidade de acesso à linha de crédito Fulbright/ Santander
meses consecutivos. As áreas de intervenção passam pela História de
nacional e das ajudas de custo e a instituição as despesas de alojamento,
Totta.
O Instituto Camões financia com a
Portugal, Gestão Internacional, Geografia, Antropologia e Economia. Para
alimentação e deslocação dentro do
território nacional. O processo de can-
Fulbright bolsas de estudo para professores e/ou investigadores com
a selecção dos candidatos são necessários os mesmos meios de avaliação
didatura efectua-se on line em
www.bolsas fulbright.org, mas, neste
doutoramento ou doutorandos de instituições portuguesas de ensino supe-
das bolsas anteriores, incluindo a aprovação do projecto pela CSU. A nacio-
caso das bolsas para Senior Specialists, as instituições portuguesas inte-
rior. O objectivo da bolsa assenta na
leccionação e/ou realização de traba-
nalidade é obrigatoriamente portuguesa e os bolseiros usufruirão de um fi-
ressadas deverão submeter as candidaturas com pelo menos quatro me-
lhos de investigação em universidades
ou centros de investigação dos E.U.A.
nanciamento de 8.000 dólares, com
seguro de saúde e acidentes, e aces-
ses de antecedência em relação à data
pretendida para a chegada do especi-
A duração da bolsa situa-se entre os
três e os doze meses. As áreas defini-
so à linha de crédito Santander Totta.
alista.
das para o efeito são Linguística, História, Sociologia, Literatura, Ciência
Protocolos
A Fulbright conjuga também três
protocolos com instituições de renome:
Portugal Telecom, Instituto Camões e
California State University.
A Portugal Telecom estabelece com
a Fulbright o financiamento de um
mestrado em telecomunicações nos
Estados Unidos com a duração de dois
anos na área de engenharia de telecomunicações. Os candidatos prestam-se à avaliação do currículo, dos
objectivos de estudo, do nível da língua inglesa e a uma entrevista. Deverão apresentar como requisitos a licenciatura com média igual ou superior a
14 valores. São aceites somente candidaturas de indivíduos de nacionalidade portuguesa, tendo as outras nacionalidades de contactar a comissão
Fulbright do seu país de origem ou a
sua embaixada. No que diz respeito
aos benefícios, o 1º ano é financiado
até ao máximo de 25.000 dólares com
viagem de ida e volta Portugal – Esta-
34 torga
Política, Relações Internacionais e
Formação à Distância. Estas áreas
deverão estar circunscritas a temas de
língua e cultura portuguesas, sendo
dada igualmente prioridade a projectos de especial relevância para as relações culturais luso-americanas. Os
candidatos devem apresentar bons
conhecimentos de Inglês e deverão
obter concordância com o projecto por
parte da instituição americana. São
seleccionados através de avaliação
curricular e do projecto de trabalho e
através de uma entrevista. O financiamento estabelecido é de 10.000 dólares, dependendo da duração da estadia. Existe seguro de saúde e acidentes durante o tempo da bolsa e o acesso à linha de crédito Santander Totta.
Não são aceites outras nacionalidades
que não a portuguesa, pelo que os
estrangeiros devem contactar as comissões dos outros países ou a sua
embaixada.
Grande Reportagem
Fundação Calouste Gulbenkian
move e estimula projectos de ajuda ao
desenvolvimento com os países afri-
ma a promover a longo prazo uma cultura científica mais rica foram concedi-
A Fundação Calouste Gulbenkian
é uma instituição portuguesa de direi-
canos de língua portuguesa e TimorLeste; promove a cultura portuguesa
das mais de 30000 bolsas e 5000 subsídios de deslocação a conferências e
to privado e utilidade pública, cujos fins
estatutários são a Arte, a Beneficên-
no estrangeiro; desenvolve um programa de preservação dos testemunhos
cursos a estudantes portugueses.
Através de vários serviços a Fun-
cia, a Ciência e a Educação. Criada
por disposição testamentária de
da presença portuguesa no mundo e
apoia as comunidades da diáspora
dação Calouste Gulbenkian põe à disposição dos interessados um leque de
Calouste Sarkis Gulbenkian, os seus
estatutos foram aprovados pelo Esta-
arménia.
Quer na música, na dança, edições
bolsas destinadas à prossecução de
estudos, actualização e aperfeiçoa-
do Português a 18 de Julho de 1956.
A Fundação desenvolve uma vas-
e mais recentemente na investigação
científica, a Fundação Calouste
mento nas suas áreas específicas.
São atribuídas bolsas e subsídios
ta actividade em Portugal e no estrangeiro, através de actividades directas,
Gulbenkian constitui presença incontornável em Portugal.
nas áreas de Arte, Beneficência, Ciência e Educação. As bolsas para pro-
subsídios e bolsas. Realiza exposições individuais e colectivas de artis-
Os fins “caritativos, artísticos,
educativos e científicos” da Fundação
fessores e investigadores residentes
em Portugal dividem-se em bolsas de
tas portugueses e estrangeiros; promove conferências internacionais, co-
Calouste Gulbenkian estão reflectidos
na sua organização interna e na sua
curta e longa duração e destinam-se a
financiar actividades de investigação
lóquios e cursos; distribui subsídios e
concede bolsas de estudo para espe-
acção: além da caridade com o seu
Serviço de Saúde e Protecção Social,
e pós-graduação (doutoramento e
pós-doutoramento).
cializações e doutoramentos em Portugal e no estrangeiro; apoia progra-
esta Fundação tem a arte enaltecida
no seu Museu, Centro de Arte Moder-
“Com o fim principal de estimular a
investigação nos vários ramos do sa-
mas e projectos de natureza científica,
educacional e artística; desenvolve
na, Serviços ACARTE, de Belas-Artes,
de Música e nas Revistas Colóquio
ber, a Fundação Calouste Gulbenkian,
doravante designada Fundação, con-
uma intensa actividade editorial, sobretudo através do seu plano de edi-
(Artes, Letras, Ciências e Educação e
Sociedade).
cede bolsas para actividades de investigação fora do País a indivíduos de
ções de manuais universitários; pro-
O Serviço de Educação colabora
intensamente com o
nacionalidade portuguesa ou residentes em Portugal, diplomados por um
Ministério da Educação e directamente
estabelecimento de ensino superior,
que não possam de outro modo levar a
com vários estabelecimentos de ensi-
cabo, em condições de eficiência, os
trabalhos que se propõem realizar” –
no. Tem acções a
nível do ensino es-
Artº. 1º do Regulamento de Bolsas
para Investigação.
pecial e apoia fortemente a educação
Segundo o mesmo regulamento e
tendo em conta a composição das bol-
pré-escolar, básica
e secundária. Neste
sas pode ler-se:
Artº 12 - “1. A bolsa compreende
âmbito é também
mecenas de várias
subsídios para manutenção, viagens,
instalação e uma verba destinada ao
instituições sem fins
lucrativos, entre elas
pagamento de despesas obrigatórias,
cujo montante será fixado conforme os
a Associação Juvenil de Ciência. Mas
casos.
2. Nas bolsas de duração não inferi-
os investimentos da
Fundação têm hori-
or a 10 meses, será pago ao bolseiro,
no início da bolsa e por uma só vez, um
zontes ainda mais
longínquos. De for-
subsídio de instalação igual ao valor do
subsídio mensal de manutenção.
torga 35
Grande Reportagem
3. Nos casos em que o bolseiro se
encontre já no local do estágio não há
seguradora com a qual o bolseiro deve
tratar directamente de todos os assun-
se ao estrangeiro a fim de efectuar
comunicações em congressos ou rea-
lugar ao pagamento da viagem de ida e
do subsídio de instalação.
tos de seu interesse.
3. Não haverá direito ao seguro pre-
lizar breves estágios.
Também as bibliotecas itinerantes
4. O candidato que não declare, por
motivo que lhe seja imputável, o valor
visto no nº 1, sempre que o bolseiro
seja abrangido, no país onde vai de-
e fixas espalhadas por todo o país permitem aos milhares de utentes reco-
dos encargos com despesas obrigatórias até ao momento da atribuição da
correr o estágio, por disposições de
segurança social obrigatória, ou em
nhecidos o acesso a mais de 7 500
000 livros. Entre estes encontram-se
bolsa, pode perder o direito ao respectivo pagamento.”
virtude do facto da sua inscrição em
estabelecimento de ensino, ou a qual-
algumas centenas de títulos editados
pela própria Fundação. O plano edito-
Artº 13º - “1. O bolseiro tem direito
a um seguro que cobre os riscos de
quer outro título. Nestes casos, será feito
apenas um seguro de viagem.
rial visa a publicação de obras de autores nacionais e estrangeiros nas áre-
doença, invalidez e morte, nas condições especificadas no respectivo cer-
4. O bolseiro pode, caso o expresse, beneficiar do regime de segurança
as do “pensamento científico, tecnológico e humanístico”, apresentadas
social nos termos referidos no Artº 6º
do Decreto-Lei 123/99, de 20 de Abril.”
ao público em geral a preços bastante
acessíveis.
Com o principal objectivo de estimular a investigação nos vários ramos
do saber, a Fundação Calouste
Gulbenkian concede bolsas para actividades de investigação fora do país a
indivíduos de nacionalidade portuguesa ou residentes em Portugal,
diplomados por um estabelecimento de
ensino superior.
A Fundação atribui, entre outros, os
seguintes tipos de bolsas:
·
·
·
Bolsas para Doutoramentos;
Bolsas de Pós-Doutoramento;
Bolsas de Aperfeiçoamento Científico e Tecnológico.
São também concedidas bolsas de
estudo de pós-graduação para projectos de doutoramento e pós-doutoramento em centros estrangeiros de renome, com duração superior a três
meses.
tificado, incluindo os inerentes às suas
actividades de investigação.
2. A responsabilidade pelo cumprimento do contrato do seguro cabe exclusivamente à respectiva companhia
36 torga
As bolsas abrangem as várias áreas do conhecimento e destinam-se à
formação, actualização e aperfeiçoamento de profissionais qualificados.
As actividades neste domínio estendem-se ainda aos estudantes carentes do ensino secundário e superior e a todos que pretendam deslocar-
Importante, e cada vez mais reconhecido mundialmente, o Instituto
Gulbenkian de Ciência alberga o Centro de Biologia onde jovens graduados (também conhecidos como
“Super-Doutores”) realizam os Programas Gulbenkian de Doutoramento em
Medicina e Biologia. Várias publicações são também editadas periodicamente. Podemos afirmar que a Fundação Calouste Gulbenkian melhorou
substancialmente o nível cultural do
nosso país. A genialidade de um homem de negócios aliada à sua enorme generosidade e sentido estético
trouxeram a Portugal a possibilidade
de potenciar os seus artistas, cientistas, escritores e educadores, permitindo a todos nós o acesso à excelência
e originalidade nas mais variadas formas de expressão do conhecimento.
Ana Cristina Abreu
Andrea Marques
37
38
Filipe Casaleiro
ANTÓNIO COUTINHO
GRANDE ENTREVISTA
Autor de mais de 400 artigos científicos, António Coutinho tem mantido uma intensa
actividade internacional de conferencista e está associado a várias academias, revistas e conselhos científicos internacionais. Recebeu vários prestigiosos prémios:
Fernstromska Priset, Suécia (1981); FEBS Anniversary Prize (1982); Prémio
Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (1987); Prix Behring-Metchnikoff, França (1990);
Prix Lacassagne du College de France (1995). É Grande Oficial da Ordem do Infante
D. Henrique (2003).
Em Janeiro de 2002 surge no ranking do “Science Citation Index” como um dos 100
cientistas mais influentes no mundo ao longo dos últimos 20 anos.
39
Nomeado director dos Estudos Avançados de Oeiras do Instituto Gulbenkian de
Ciência, lançou e dirigiu o Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biologia e
Medicina (1993-2000).
Grande Entrevista
“É preciso mais investimento na Ciência”
António Coutinho nasceu em Sever do
Vouga, a 6 de Outubro de 1946. Licen-
na escolha das pessoas com quem se
trabalha e nas instituições onde se tra-
duos que, pela sua educação, personalidade, e pela maneira como enca-
ciou-se em 1970 em Medicina, pela
Universidade de Lisboa e em 1972 par-
balha. Eu tive muita sorte porque quando escolhi a pessoa com quem fui tra-
ram a vida, têm dificuldade em serem
pouco convencionais, portanto agar-
tiu para a Suécia, de modo a evitar a
Guerra Colonial. Doutorou-se em 1974
balhar no Instituto Karolinska em Estocolmo não tinha ideia nenhuma de
ram-se a hipóteses e modelos que já
estavam adquiridos, que já estavam no
em Microbiologia Médica (Imunologia),
no Instituto Karolisnka de Estocolmo.
nada. Fui à literatura, andei à procura… Escrevi a três pessoas diferentes
contexto da ciência actual, que já são
paradigmáticos. Estas pessoas têm
A sua formação científica e actividade
profissional desenrolou-se em diver-
para me receberem e, finalmente, por
razões mais pessoais do que outras,
menos probabilidade de vir a ter uma
grande influência porque vão continu-
sos institutos e universidades: Instituto Karolinska (1974-1975), Instituto de
acabei por ficar em Estocolmo. Podia
ter tido uma vida totalmente diferente,
ar a fazer a mesma coisa e a pensar
da mesma maneira. Se a pessoa tem
Imunologia de Basileia (1975-1979),
Faculdade de Medicina de Umeå
provavelmente com menos sucesso do
que a que tive do que se tivesse esco-
mais coragem, mais condições
contextuais ou mais oportunidades
(1979-1984), Universidade de Geneve
(1982) e Universidade de Lund (1987).
lhido outro caminho. Isto tem muito de
imponderável. Não é imaterial é
para fazer coisas que são muito arriscadas e verdadeiramente inovadoras
Entre 1982 a 1998 foi director do Serviço de Imunobiologia do Instituto
imponderável. Haverá pessoas que
controlam todos os parâmetros e que
tem mais possibilidade de ser influente. Provavelmente muitos tentam mais
Pasteur em Paris, até que decidiu regressar a Portugal.
podem fazer boas escolhas, escolher
bons orientadores, eu não tive. Foi uma
vezes mas corre mal, ou seja, afinal
aquele caminho que se abria não era
Torga (T) - Tem uma carreira científi-
escolha com feelings.
Há duas maneiras de fazer investiga-
o bom caminho e portanto isso não vai
ter influência nenhuma. Para resumir,
ca invejável. Já passou por várias
universidades e institutos internaci-
ção: uma que é mais confirmatória e
consolidante do conhecimento já ad-
acho que é importante ter sorte e acho
que é importante ser, não diria anti-
onais. Em 2002 surge no ranking do
Science Citation Índex como um dos
quirido, (não será o conhecimento propriamente dito mas o conhecimento de
convencional mas, não se levar muito
em consideração a opinião dos outros.
100 cientistas mais influentes do
mundo, na sua área, ao longo dos úl-
hipóteses já avançadas e que é o que
ocupa a maior parte das pessoas) e
Torga (T) - Arrojado?
timos 20 anos. Para além do trabalho e enorme dedicação que estão
outra que é talvez mais arriscada, que
pode dar para o torto, mas também
António Coutinho (AC) – Exactamente. Arrojado é um bom termo.
subjacentes a este ranking, quais são
os outros “ingredientes” que com-
pode resultar muito bem, que é abrir
caminho, fazer coisas novas, que ao
Torga (T) - A par com António
põem esta fórmula de sucesso?
António Coutinho (AC) – Antes de mais
serem novas são, habitualmente, “revolucionárias”, ou seja, vão contra os
Damásio e Carlos Duarte foi eleito
como um dos 250 cientistas mais in-
é preciso ter sorte. É preciso ter sorte
conceitos anteriores. Há muitos indiví-
fluentes no mundo da ciência. No
40 torga
Grande Entrevista
entanto, entre os portugueses, é o
único que está a fazer investigação e
Filipe Casaleiro
ciência em Portugal. Há essa necessidade de sair de Portugal para fazer
investigação?
António Coutinho (AC) – Havia. Antigamente havia até há alguns anos
atrás. Agora não há necessidade de
sair definitivamente de Portugal para
fazer investigação, já há instituições
muito boas no país onde se pode fazer
uma investigação competitiva, internacionalmente competitiva. Por outro
lado, é sempre necessário sair mesmo que seja por um curto espaço de
tempo. Seja para fazer doutoramento,
ou um pós-doutoramento. Aqueles que
não saem do país serão sempre provincianos na ciência. A ciência descobriu a globalização muito antes dos
economistas. Desde que há ciência,
desde a Renascença, que há globalização da ciência. E por isso, é muito
positivo, mesmo no processo formativo
dos jovens que entram na ciência que
eles conheçam outros ambientes, outras maneiras de pensar, que conheçam ambientes com mais possibilidades de trabalho, mais competitivos,
mais rápidos do que os nossos. Tudo
isto é importante na formação, ou seja,
é estritamente necessário, a meu ver,
que não haja nenhum cientista em
Portugal que não tenha saído do país
pelo menos dois, três ou quatro anos.
Mas, deixou de ser necessário que as
pessoas tivessem que emigrar definitivamente para o estrangeiro para fazer boa ciência. É verdade que é mais
difícil ser competitivo ao nível dos cem
mais competitivos do mundo em Portugal do que lá fora. Isso é óbvio porque há menos dinheiro para a ciência,
sobretudo porque a organização da
estrutura da comunidade científica em
Portugal ainda tem lacunas: por exemplo, os financiamentos para a ciência
não têm tido a regularidade que existe
“É preciso formar médicos com pensamento e espírito científico”
noutros países, portanto é muito difícil
torga 41
Grande Entrevista
fazer política a médio prazo… Além
disso, somos uma comunidade relati-
que a ciência medeia para a racionalidade não são só as descobertas e
à doença “x” porque sabíamos que
funcionava, mas não sabíamos porque
vamente pequena e portanto há menos vida intra-comunitária. Há uma
a tecnologia, é antes de mais os valores que a ciência medeia que é a
é que funcionava. Andámos a receitar
Aspirinas às pessoas durante cem
certa tendência para o provincianismo,
portanto é mais difícil ser competitivo
racionalidade. Isto em Portugal sentese muito. Em todos os jornais e revis-
anos, antes de descobrir como é que
funciona a Aspirina. Ou seja, era um
aqui mas é possível. E, hoje em dia já
há muitos cientistas em Portugal, nas
tas há sempre uma secção de horóscopo. Na minha caixa de correio tenho
bocadinho melhor do que a medicina
chinesa só porque tinha ensaios con-
instituições portuguesas, que publicam nos melhores sítios do mundo.
quase todos os dias anúncios de videntes e adivinhadores. Eu, por exem-
trolados e a medicina chinesa provavelmente não tem. De resto era da mes-
Ainda na semana passada ou há 15
dias duas publicações saíram do ITQB
plo, sei de muita gente que se diz racional e educada que faz promessas ao
ma natureza empírica. Nos últimos
anos, com o progresso da biologia
(Instituto de Tecnologia Química e Biológica) na mesma semana para dois
Santo António para o filho passar no
exame do 7º ano. Não há volta a dar.
muito do que se faz em medicina começa a ser debate científico, ou seja,
jornais de topo, uma para a Science e
outra para a Nature, portanto é perfei-
Temos uma sociedade que é profundamente irracional e isso só poderá
nós sabemos porque é que fazemos e
o que é que estamos a fazer. E para
tamente possível fazer-se ciência competitiva no país. Nós começámos a fa-
ser corrigido com o progresso do pensamento racional, com o progresso da
isso é preciso formar médicos com
pensamento e espírito científico. É pre-
zer ciência a sério há uma dúzia de
anos, com muitas honrosas excepções
ciência. Precisamos de mais cientistas. Hoje em dia já não se inventa nada
ciso trazer mais ciência aos médicos e
o reverso também é verdade, ou seja,
anteriores, mas de uma maneira mais
“massificada” há pouco tempo en-
sem saber muito, ou seja toda a
tecnologia é de base científica e por-
é preciso trazer mais médicos para a
ciência porque os médicos contribu-
quanto que os outros países estão a
fazer ciência há séculos portanto é
tanto precisamos de mais ciência para
poder tirar de lá mais aplicações da
em para a investigação científica. Uma
coisa que a maior parte dos investi-
natural que sejamos menos bons.
ciência: tecnologia, inovação, crescimento económico. O Prof. Lobo
gadores científicos não tem é uma preocupação com o organismo inteiro no
Torga (T) - João Lobo Antunes, numa
entrevista publicada na Torga, afir-
Antunes tem razão quando diz que precisamos de mais médicos mas também
seu contexto social e isso os médicos
têm. Por exemplo, o cientista que estu-
mou que é necessário fabricar médicos em Portugal. Acha que também
precisamos de mais médicos/cientistas. A medicina está a atravessar uma
da as asas das moscas ou os genes do
rato não tem essa preocupação, está
é necessário fabricar cientistas em
Portugal?
revolução extraordinária desde há
meia dúzia de anos para cá está-se a
preocupado com o gene e não com o
organismo inteiro no seu contexto soci-
António Coutinho (AC) – Eu tenho a
certeza absoluta. Estamos muito lon-
tornar numa tecnologia de base científica. A medicina resistiu talvez mais
al. E por isso é bom o lema que o Prof.
Lobo Antunes, e eu próprio, temos de-
ge dos números mínimos aceitáveis
para o número de cientistas no país.
do que outras tecnologias. Nós médicos somos uma espécie de engenhei-
fendido há alguns anos se concretize,
é um lema de mais ciência para os
Isto tem consequências importantes
para a estrutura sócio-económica e
ros do corpo e digo isto porque o nosso objectivo é utilizar aquilo que sabe-
médicos e mais médicos na ciência.
cultural do país, antes de mais cultural, ou seja, Portugal ainda é um país
mos da lei natural ao serviço do doente e da sociedade. O médico não está
Torga (T) - Não é um pouco contraditório: um país que precisa de médi-
que tem um peso muito grande de
irracionalidade na sociedade. A nos-
tão interessado em conhecer as
profundezas do conhecimento sobre
cos e que precisa de médicos/cientistas depois não lhes dá condições,
sa cultura tem uma base essencialmente irracional e religiosa. Isto não
o funcionamento do pâncreas, está
mais interessado em tratar o doente
ou seja, muitos cientistas queixamse que querem fazer investigação
se coaduna com aquilo que queremos
de uma sociedade culta e livre. Quan-
com diabetes. É esse o objectivo primário da medicina. Até aqui tratava-
mas, ou andam toda a vida a tentar
ser bolseiros ou então não têm con-
to mais ciência houver mais marcadamente se vincará o valor da
se com tecnologias que tínhamos desenvolvido com base empírica, por
dições, o país não lhes dá condições
para fazer investigação…
racionalidade na sociedade. O valor
exemplo, dávamos um medicamento
42 torga
Grande Entrevista
“Com o investimento que existe (na ciência) já há muita gente a fazer muito bem”
Filipe Casaleiro
António Coutinho (AC) – Dá e não dá.
Evidentemente que, se eu me sentar
aqui numa cadeira e esperar que me
saia a sorte grande, o mais certo é que
não me saia porque eu não comprei
sequer o bilhete. Por um lado os cientistas e os investigadores têm toda a
razão, ou seja, é preciso que haja um
maior investimento na ciência, isso
sem dúvida. Se estamos todos convencidos que a educação e a ciência são
o nosso futuro então, não faz sentido
nenhum que na Europa se gaste 40%
do orçamento com a agricultura que é
uma coisa do passado e se gaste menos de 5% com a ciência, não faz sentido nenhum. Isso é verdade, não só o
país mas a Europa não faz investimento
suficiente em ciência. Mas também é
verdade que, com o investimento que
existe, já há muita gente a fazer muito
bem, ou seja se houvesse mais investimento haveria mais gente a fazer
zado, mas, já é possível fazer. As pessoas que dizem que não fazem ciên-
muito bem. Deixou de ser desculpa que
“eu não tenho condições”. Se a pes-
cia porque não têm condições estão a
mentir.
soa quer mesmo, faz. Eu para fazer o
que fiz tive que sair do país muito cedo
Torga (T) - Nos anos 90 decidiu re-
e fiquei algum tempo sem poder voltar. Sai para não ir fazer a guerra colo-
gressar a Portugal para abraçar este
projecto do Instituto Gulbenkian de
nial e para fazer outra coisa, que era
fazer ciência, neste caso. Evidente-
Ciência. Porque é que tomou essa
decisão? Estava na altura de regres-
mente que só menos de 1% dos meus
colegas desse período recusaram a
sar? Tinha condições para regressar?
António Coutinho (AC) – Não. Condi-
guerra, 99% fizeram-na. E depois não
se venham queixar que estavam con-
ções só discutimos depois, mais tarde. Eu regressei essencialmente por-
tra a guerra colonial… estavam mas
fizeram-na. Tudo isto é muito bonito:
que em 91/92 a Fundação Gulbenkian
pediu-me para me ocupar do progra-
“não tenho condições por isso não
faço”… e colocar sempre a culpa para
ma de formação pós-graduada aqui do
Instituto porque a pessoa que estava
cima de outras pessoas. Eu estou de
acordo que é preciso mais investimen-
encarregue disso e que tinha lançado
a formação pós-graduada em Portu-
to, melhor investimento, melhor utili-
gal, que era o Prof. Van Uden tinha
torga 43
Grande Entrevista
morrido. A Fundação sugeriu que eu
me ocupasse da formação pós-gradua-
tivamente da minha ciência e fazer só
administração. Possibilitar que os outros
salários. Eu acho que a estratégia foi só
essa, fazer o melhor que sabemos,
da, eu estava em Paris nessa altura.
Depois, em 93 lançámos com o apoio
fizessem alguma coisa, que tivessem as
oportunidades que eu não tive de fazer
fazer de maneira generosa e ir
fazendo.
da Fundação Gulbenkian obviamente
mas também da Secretaria de Estado
ciência aqui neste país. Não foi uma
decisão muito difícil de tomar porque
Havia uma animosidade desde que
começámos com o programa de
do Ensino Superior, da Fundação para
a Ciência e Tecnologia e da FLAD o pri-
havia tanta gente boa à volta a querer
fazer e querer ajudar que eu acho que
Doutoramento feito fora das Universidades. As Universidades portuguesas
meiro programa de Doutoramento nesta área, o Doutoramento em Biologia e
foi uma decisão muito simples de tomar.
Uma pessoa fica menos criativa e com a
nessa altura, e ainda hoje, estão muito ciosas de alguma exclusividade na
Medicina que eu próprio conduzi com a
ajuda do Prof. Quintanilha do Porto e do
noção que já fez o que tinha a fazer, a
partir de uma certa idade. Não precisa
formação dos Doutores, algumas Universidades pelo menos… e estas coi-
Dr. Paulo Vieira que estava aqui. Durante sete anos fomos formando muita gen-
de estar a ocupar o lugar dos mais novos. Nós temos a obrigação de lhes cri-
sas levam muitos anos a mudar. As
universidades são supostamente eter-
te, fomos descobrindo muita gente muito boa. Os nossos jovens não são mais
ar as condições para eles poderem fazer.
nas, uma vez fundadas ficam para sempre. E, como são eternas são como os
inteligentes nem mais burros do que os
outros… E, os melhores ainda continu-
Torga (T) - A reforma do Instituto
diamantes… são para sempre e, passam por vezes por períodos de hiber-
am a querer vir para a ciência, que é
uma coisa muito boa. Noutros países
Gulbenkian de Ciência chegou a ser
discutida no Parlamento, um deputado
nação, ou seja, que não estão vivas
porque se estivessem vivas morriam.
querem fazer dinheiro muito cedo e
portanto não vão para a ciência. A ci-
do PSD interpelou o então Ministro
Mariano Gago dizendo que a Fundação
Tudo o que é vivo tem que morrer e eu
penso que há aqui algum problema
ência não dá dinheiro a ninguém. Havia muita gente a vir para a ciência que
Gulbenkian estava a matar a ciência
em Portugal. Qual foi a estratégia que
dessa natureza, ou seja, as universidades portuguesas não viram o que
estava imbuída de um sentido de projecto. Alguns deles estavam na perfeita
o IGC adoptou para conseguir mudar
esta mentalidade, ou seja, conseguir
estava a chegar e que está, não só da
reforma universitária europeia mas
disposição de voltar apesar de terem
propostas muito boas dos sítios onde
mostrar que o Instituto é um marco na
ciência em Portugal e é muito
também da competitividade entre as
universidades que está a chegar à
estavam. Começou a ser atraente a possibilidade de me esquecer do que esta-
importante para a investigação
cientifica?
medida que os alunos vão minguando. Há universidades a mais em Por-
va a fazer nessa altura, de esquecer a
minha própria investigação e passar al-
António Coutinho (AC) – A estratégia
que tivemos desde o início foi procurar
tugal não há duvida nenhuma. Não há
universidades de investigação, não há
guns anos a procurar ajudar a criar as
condições que permitam aos mais jo-
fazer o melhor que podíamos, não só eu
mas toda a gente que abraçou o projecto,
nenhuma em Portugal. Por definição
uma research university é uma univer-
vens fazer a sua investigação. Eu acho
que cada um de nós, naturalmente, faz
e que tem feito o projecto. Fazer o melhor
que podemos e fazer de maneira
sidade que tem tantos alunos de
doutoramento como alunos de licenci-
coisas melhor em momentos diferentes
da sua vida. Quando eu era mais jovem
generosa, ou seja, acho que nenhum
de nós está aqui de uma maneira
atura. As universidades portuguesas
têm que sofrer uma evolução muito sig-
tinha mais entusiasmo, tinha mais força,
mais excitação era menos crítico com
egocêntrica à procura das suas próprias
vantagens. Estamos por gosto e penso
nificativa. Umas vão ter que desaparecer, outras vão ter que se dedicar a
as minhas próprias ideias e com as ideias dos outros, provavelmente, era mais
que isso é evidente. Como já disse, todos
os cientistas que vieram para aqui tinham
formar só licenciaturas e outras, uma
ou duas, não há espaço para mais, vão
criativo. Quando se é jovem é-se muito
mais criativo e portanto faz-se melhor
propostas excelentes noutros sítios e
vieram apesar de não lhes darmos uma
ter que ser universidades de investigação competitivas internacionalmen-
ciência. À medida que fui envelhecendo fui evidentemente tratando mais de
posição, um salário, não lhes demos
nada, a não ser boas condições de
te porque senão também desaparecerão. Levou muito tempo para que as
administrar a ciência que os outros faziam à minha volta e pareceu-me que tam-
trabalho. Mas apesar disso vêm. Vêm
quase passar fome porque não lhes
pessoas adquirissem essa noção e viram mal que uma instituição como a
bém era a altura de me esquecer defini-
damos contratos, não lhes damos
Fundação Gulbenkian tomasse inici-
44 torga
Grande Entrevista
Filipe Casaleiro
ativas de fazer doutoramentos. Nós
não damos graus a ninguém, as pessoas vão buscar os graus às universidades onde querem mas a responsabilidade da sua formação é nossa. Os
Doutoramentos fazem-se trabalhando
ao lado do orientador. Portanto, precisamos de orientadores que estão a
tempo inteiro, que não têm mais nada
que fazer, que inclusivamente, a maior parte deles nem sequer dão aulas,
não têm outros biscates… Precisamos
de outro tipo de orientadores e por isso
mesmo, desde que existam esses
orientadores, e essas condições de trabalho os doutoramentos podem-se fazer em qualquer sítio. Só as universidades é que dão os graus, mas também não têm exclusividade, qualquer
universidade pode dar um grau desta
natureza. Penso que houve essa reacção inicial porque pensavam que
nós tínhamos uma atitude, de que “nós
é que fazemos bem”. Não é verdade,
nós sabemos que há muita coisa boa
a ser feita nas universidades portuguesas. Fazemos à nossa maneira e
estamos muito contentes que se façam
de outras maneiras. Esse foi o primeiro sinal de alguma instabilidade na estrutura académica. As estruturas
académicas nas universidades nomeadamente são extraordinariamente
estáveis e portanto qualquer sinal de
instabilidade provoca estas reacções
de autodefesa que é perfeitamente
normal.
Torga (T) - Aposta muito nos jovens
cientistas entre os 25-35 anos?
António Coutinho (AC) – Sim. Eu acho
que todos apostamos. O futuro está
neles, não está nas pessoas da minha
idade. O pico da criatividade também
vai por aí. Chega aos 40-45 e começa
a desaparecer mas, aprendemos a fa-
“Há um certo conservadorismo na estrutura universitária que não facilita a
aposta definitiva nos mais jovens”
zer outras coisas.
Torga (T) - Não será esse o grande problema das universidades portuguetorga 45
Grande Entrevista
sas, não apostar tanto nos jovens e
manter as pessoas que já estão na
altos cargos pessoas que nunca fizeram investigação científica e que,
estrangeiros. Evidentemente que muitos deles conhecem o IGC, ou já cá
estrutura há muito tempo?
António Coutinho (AC) – É certamente
portanto, não reconhecem as necessidades dos investigadores. Concor-
estiveram algum tempo, já cá passaram a dar aulas ou a fazer colabora-
um dos problemas, mas tem desculpas. Continua a ser muito difícil, pen-
da?
António Coutinho (AC) – Eu acho que
ções ou conhecem pessoas que já cá
estiveram e portanto sabem as condi-
so eu, saber o que se deve fazer com
investigadores que chegam a um pon-
as pessoas nos cargos mais altos não
podem fazer as duas coisas bem ao
ções de trabalho e interessam-se também por isso. Habitualmente nestas
to da carreira que deixam de ser criativos. O que é que um investigador sabe
mesmo tempo. Não podem fazer investigação e ao mesmo tempo estar num
coisas nada acontece por acaso, as
pessoas conhecem-se, a comunidade
fazer para além daquilo que tem estado a fazer? É essencialmente um pro-
alto cargo da estrutura universitária. O
que me parece é que será muito grave
respeita instituições portanto isso é
natural que aconteça. Também não
blema que nos preocupa, há muitos
anos, quando tentamos pensar estra-
ter à frente de uma instituição universitária pessoas que nunca fizeram in-
nos interessa, e isso é uma discussão
que temos algumas vezes entre nós e
tégias da política científica internacional. No caso das universidades é mais
vestigação, que nunca foram grandes
investigadores, isso é catastrófico. Es-
também com a administração da Fundação Gulbenkian. Não nos interessa
fácil porque um professor quanto mais
velho for, como eu, mais aulas poderá
tou de acordo. Porque são pessoas
que nunca irão perceber as necessi-
ter estrangeiros demais porque a maior parte deles quando chega ao fim do
dar porque sabe mais. Uma das coisas que me parece, na minha modes-
dades dos investigadores e a importância de fazer investigação. Obvia-
seu período aqui vai-se embora outra
vez. O que nos interessa é que as pes-
ta opinião, que está errado em Portugal é a distribuição das cargas horári-
mente que é a escolha errada. Mas, se
eu bem percebo, os cargos de respon-
soas quando chegam ao final dos seus
cinco anos aqui vão para outras uni-
as nas universidades, está ao contrário. Os que sabem menos são os que
sabilidade universitária são adquiridos
por eleição e as pessoas são eleitas
versidades ou instituições de investigação portuguesas. Assim, de alguma
dão mais aulas, são os mais jovens.
Os catedráticos são os que, por defini-
pelos seus pares, pelos estudantes e
pelos funcionários. É muito provável
maneira podemos, de facto, desempenhar a nossa missão de contribuir para
ção, sabem mais, têm mais experiência, são mais velhos têm mais saber
que os estudantes ainda não tenham
a noção da importância da investiga-
produzir novas competências e novos
líderes para a comunidade científica
no contacto com os alunos, são os que
dão menos aulas. Isto parece-me pro-
ção, não sei se os funcionários terão,
certamente que muitos dos pares tam-
portuguesa. Interessa-nos ter estrangeiros sem dúvida, pela diversidade,
fundamente errado. Além disso, os
mais jovens são os mais criativos, são
bém nunca a tiveram. Não é de estranhar que reitores eleitos, de vez em
pela
internacionalização
pela
multiculturalidade mas, não nos inte-
mais entusiastas para fazer investigação e são os que têm menos tempo
quando, nunca tenham feito investigação porque os eleitores também não
ressa ter muitos porque senão não
estamos a cumprir a nossa missão
porque estão ocupados a dar aulas.
Acho que há um certo conservado-
sabem a importância disso.
perante a comunidade cientifica portuguesa que é uma missão de “hall de
rismo na estrutura universitária que
não facilita a aposta definitiva nos mais
Torga (T) - Disse numa entrevista que
o IGC pretende ser um “hall de entra-
entrada” mas sobretudo associada a
uma espécie de incubadora de novos
jovens. Há uma carreira hierarquizada
e muito ritualizada que muitas vezes
da” para investigadores em Portugal
e não uma “sala de estar”. Há muitos
lideres.
previne que isso se faça e, quando se
aposta, não lhes é dada autonomia to-
cientistas estrangeiros a procurar o
IGC para fazer investigação?
Torga (T) - Um jovem cientista que
queira ingressar no IGC e que preci-
tal, ou seja, em áreas de racionalidade
e de criatividade intelectual ou a auto-
António Coutinho (AC) – Nós temos
cerca de 30% de chefes de grupo es-
se de ser bolseiro o que é que tem
que fazer? Como é que isso se pro-
nomia é total ou não é autonomia.
trangeiros. E isso continua a acontecer, felizmente para a ciência portugue-
cessa?
António Coutinho (AC) – Depende. Se
Torga (T) – É comum a crítica às Universidades por manterem nos mais
sa e para o Instituto. Temos muitas
pessoas interessadas em vir para cá,
é um jovem cientista que tem um currículo muito bom, apesar de muito jo-
46 torga
Grande Entrevista
vem e que tem coragem para o fazer
pode pretender ser chefe de um grupo
dem fazer a sua investigação aqui. Há
também quem concorra a bolsas naci-
soas que se sentam à espera e depois
se queixam que não há condições,
totalmente autónomo, e ter o seu próprio grupo. Nesse caso, antes de mais
onais, algumas na FCT, ou bolsas internacionais da European Molecular
para esses já não há paciência. Porque não querem ser micro empresári-
tem que passar o crivo do nosso conselho científico do IGC, um conselho
Biology Organization (EMBO), do
Human Frontier Science Program, de
os. Evidentemente que estes jovens
que se estabelecem aqui e que têm
científico muito bom e muito pesado
do ponto de vista da qualidade mas
organizações internacionais que atribuem bolsas a jovens cientistas. Eles
que procurar tudo isto, o que o Instituto lhes proporciona é um bom ambien-
também muito bom no sentido de trabalho, que olha e estuda os dossiers.
podem concorrer e depois vir instalarse aqui com essas bolsas. Como o
te de trabalho, todas as tecnologias,
todos os equipamentos, os serviços,
Eles vêm cá uma vez por ano ver as
pessoas e ouvi-las apresentar os se-
período que contactamos com eles é
de cinco anos, para eles terem tempo
os técnicos que servem essas
tecnologias e um ambiente intelectual
minários e depois decidem quem pode
de formar o seu grupo e mostrar o que
muito intenso, temos muitos cursos,
Filipe Casaleiro
“As universidades portuguesas têm que sofrer uma evolução muito significativa”
entrar como responsável científico e
quem pode ter autonomia. Os que con-
valem, mostrar que são competitivos a
buscar dinheiro, a alimentar o seu pró-
muitos workshops, muitas conferências, muitos seminários. Eles só preci-
seguem, a partir daí, nós negociamos
com eles a sua instalação e eles de-
prio grupo. Para ser cientista hoje em
dia é necessário ser uma espécie de
sam de se preocupar em fazer a sua
investigação e ir buscar dinheiro para
pois procuram onde vão buscar o dinheiro. Alguns concorrem a posições
micro empresário porque tem não só
que procurar a sua bolsa ou o seu sa-
a financiar.
de laboratórios associados do Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino
lário, mas também procurar o salário
dos seus colaboradores, tem que pro-
Torga (T) - O IGC neste momento, à
parte das universidades, é o único
Superior, outros concorrem a posições
universitárias vão dar aulas mas, po-
curar o dinheiro para trabalhar. É nesse sentido que quando se fala das pes-
centro de investigação em Portugal
onde se faz investigação científica.
torga 47
Grande Entrevista
O Instituto consegue competir com
outros centros de investigação a ní-
a instituição suficientemente pequena
para que toda a gente se conheça, com
parte dos próprios media que não vendem estas histórias. Ao contrário da
vel mundial?
António Coutinho (AC) – Sim. Temos
grupos suficientemente diversos porque são todos muito pequenos que
sua revista…
Torga (T) - Quais são os projectos
que competir senão desapareceríamos. Também nos sentiríamos mal mo-
possam interagir, aí teremos alguma
vantagem competitiva e a experiência
mais estruturantes que o IGC está a
conduzir neste momento?
ralmente de estar aqui a aceitar estudantes ou jovens investigadores ao
que temos tido até agora, é que a temos exactamente aí.
António Coutinho (AC) – O mais
estruturante para a comunidade por-
saber que não somos tão bons como
os outros. Nas áreas onde estamos
Torga (T) - Já falámos aqui que há
tuguesa é um projecto que começámos no ano passado de Doutoramento
inseridos, acho que somos competitivos. Como lhe disse, podemos ser mais
muita gente boa a fazer coisas muito
boas em Portugal, mas, é-lhes dado
em Biologia Computacional.
competitivos do que aquilo que somos.
Não somos tão competitivos como os
esse devido valor? Os portugueses
normalmente não dão muita impor-
Torga (T) - Que é único no mundo?
António Coutinho (AC) – É um dos ra-
grandes grupos que estão nas grandes instituições mas somos competiti-
tância ao que têm e dão importância
àquilo que os outros têm…
ros no mundo. Entretanto também apareceram outras coisas nesta área mas
vos de outra maneira. Por exemplo,
uma coisa que não custa dinheiro é
António Coutinho (AC) – Tem toda a
razão. Ainda se ouve muitas vezes di-
é certamente um programa inovador
no sentido do que se pretende fazer
pensar. Nalgumas instituições estrangeiras há tanto dinheiro e tantas coi-
zer “nós temos grandes cabeças mas
estão todas fora”, não estão nada. Há
porque não se pretende formar pessoas só num determinado aspecto da
sas, as pessoas estão demasiado ocupadas a produzir resultados e têm pou-
muita gente boa cá. Isso é verdade.
Há agora uma associação que se cha-
Biologia Computacional. Estamos também a formar pessoas nas áreas das
co tempo para pensar. É melhor fazer
menos e melhor, fazer menos mas mais
ma Associação Viver a Ciência que
começou com algumas pessoas daqui,
Neurociências Computacionais e
Bioinformática e a dar-lhes interesse
inovador. A Biologia unificou-se porque amadureceu, é uma ciência
mas que agora está no país todo e que
é uma associação que procura promo-
pela investigação, pela aplicação dessa investigação. Também me parece
unificada. Deixou de fazer sentido ter
especialidades e distinguir os grupos
ver alguns jovens cientistas portugueses, alguns estão fora, outros estão cá.
de alguma maneira estruturante projectos que estão em curso no instituto
que fazem microbiologia dos que fazem virologia ou fisiologia, é tudo a
É verdade que na maior parte dos casos… nem todos os jornais e revistas
e que têm a ver com a interface com a
Medicina, mais de base científica, no-
mesma coisa. E por isso, é possível ter
uma instituição com uma grande
são sérios. É verdade que a voz destes jovens cientistas pouco se faz ou-
meadamente alguns projectos que
estão a ser feitos em genética de do-
transversalidade em que as pessoas
falam todas umas com as outras e sa-
vir. E, o futuro da racionalidade está ali
com eles…
enças complexas como diabetes,
autismo, lúpus, etc. que são doenças
bem o que é que os outros estão a fazer, compreendem o que é que os ou-
Torga (T) - Essa é também uma críti-
que até há relativamente pouco tempo
nem sequer se tinha a certeza absolu-
tros estão a fazer. Esta transversalidade cria uma coisa que é muito
ca aos meios de comunicação social? À forma como actuam?
ta que eram doenças genéticas porque convencionalmente as únicas que
bonita nos sistemas complexos que é;
a partir da corporatividade dos seus
António Coutinho (AC) – Isso é um problema muito mais complicado. Os me-
estavam identificadas eram doenças
hereditárias.
componentes criar novos níveis de organização superiores. A instituição
dia vendem o que o público quer comprar… Eu acho que se venderia mais
Comparando a frequência de incidência dessas doenças na população em
passa a valer mais do que a soma dos
componentes, do que a soma das pes-
as histórias destes jovens. Vendiamse tão bem ou melhor do que as histó-
geral ou entre irmãos e irmãs, pessoas da família ou gémeos verdadeiros
soas que cá estão. Isto porque há uma
série de interacções que ultrapassam
rias dos Big Brother porque são histórias interessantes. O que eu acho que
que são clones pode-se estimar qual
é o peso da genética e o peso do am-
as pessoas. Toda a origem da novidade vem da corporatividade. Ao manter
há neste caso é falta de discernimento
sobre o que o mercado pretende da
biente, das influencias ambientais. Na
maior parte destas doenças andam
48 torga
Grande Entrevista
equilibradas, ou seja, metade do peso
é genética e portanto começa a ser
estímulo. O antigo paradigma da Medicina era diagnosticar e tratar. O
Mas, como vende mal há pouca atenção a isso e nós fizemos um esforço
possível não só estudar quais são os
genes implicados na susceptibilidade
paradigma novo é prever e prevenir.
Pela genética hoje em dia já se pode
significativo para ter aqui a biologia
evolutiva e também a biologia do de-
dessa doença no sentido de podermos
perceber como é que a doença come-
estimar para a maior parte destas doenças, qual é o risco específico de vir
senvolvimento, obviamente que as
duas estão muito ligadas e acho que é
Filipe Casaleiro
“Uma coisa que não custa dinheiro é pensar”
ça, como é que ela se desenvolve e
como é que ela se manifesta. Mas tam-
a ter uma destas doenças. Esse trabalho parece-me que é muito estrutu-
talvez das partes mais estruturantes
que se está a fazer aqui.
bém encontrar terapêuticas novas,
mais biológicas, menos farmacológica
rante, relativamente à formação dos
médicos. Mas também há outras áre-
Torga (T) - Qual é o futuro do Instituto
mas repor níveis de componentes normais do organismo que estão baixos
as que me parecem muito importantes
para o pensamento biológico moder-
Gulbenkian de Ciência?
António Coutinho (AC) – Eu espero
ou que estão em excesso e também
perceber como é que os genes funcio-
no, nomeadamente a biologia
evolutiva. Temos aqui vários grupos a
que seja um futuro bom, um futuro brilhante mas sobretudo que seja um fu-
nam para aumentar a resposta patológica a determinados estímulos do am-
trabalhar, mas é uma área da biologia
e da ciência, que se vende mal, que
turo que continue a ser de serviço ao
país. Acho que o instituto nunca pode-
biente. Portanto poder prevenir a doença prevenindo a exposição a este
não cura, que não inventa nada mas
que é a base de tudo o que fazemos.
rá estar aqui, sobretudo sendo uma
instituição privada de interesse públi-
torga 49
Grande Entrevista
co para se divertir a si mesmo, para se
vangloriar a si mesmo, para se fazer
uma das prioridades principais da Fundação Gulbenkian. Há cada vez mais
António Coutinho (AC) – Não, não tenho projectos na manga. Isto de ter
uma instituição reputada para nada.
Tem que estar aqui ao serviço dos
sinais de que a ciência vende bem no
nosso país. Enquanto o instituto esti-
responsabilidade por outras pessoas
é pesado. Quando nós começamos a
mais jovens, ao serviço desta comunidade científica do país. Enquanto esti-
ver a desempenhar bem a sua função
de serviço ao país e às outras institui-
investigação, só temos responsabilidade por nós próprios, depois acaba-
ver assim acho que vale a pena continuar. Eu já estou aqui há sete anos e
ções nacionais e continuar um sítio
atractivo para os jovens e activo do
se o Doutoramento e começa-se por ter
um técnico, um estudante, dois estu-
já estou com muita vontade de dar o
lugar a alguém porque as pessoas têm
ponto de vista intelectual e mesmo cultural acho que não temos que temer
dantes e de repente, já temos um grupo de cinco ou seis pessoas. Infeliz ou
que mudar aquilo que estão a fazer
senão começam a fazer as coisas por
sobre o que vai acontecer ao instituto.
felizmente para mim, comecei muito
cedo, ainda era muito jovem quando
rotina e isso é mau. Mas espero bem
que, como de resto tem sido anuncia-
Torga (T) - Acabou de dizer que está
na altura de dar o seu lugar a outra
me fizeram catedrático na Faculdade
de Medicina na Suécia e me deram
do pelos seus presidentes, que a ciência continua a ser e cada vez mais,
pessoa. Tem algum projecto que quer
concretizar depois do IGC?
um departamento para montar. Só havia paredes… foi preciso recrutar o
Filipe Casaleiro
pessoal inteiro, comprar tudo. Isto em
1979, eu era muito novo, aprendi muito desde essa altura. Mas também desde essa altura que me tenho que preocupar com a vida de muita gente. Isto
fica muito pesado. E eu acho que já
dei para isso e acho que agora já tenho direito de não ter esse tipo de preocupação e de responsabilidades e
gostaria muito de passar algum tempo
da minha vida a escrever. É isso que
me apetece. É o que eu tenho na manga. Já comecei pelo menos três livros
diferentes e nunca os consigo acabar.
O que escrevi há sete ou oito anos
atrás vou ler agora e já está
desactualizado porque só consigo escrever coisas que me parecem interessantes e que estão a acontecer agora.
Preciso mesmo de ter tempo para mim
para fazer isso. Eu acho que uma das
coisas mais nobres que se pode fazer
hoje em dia, para nós cientistas, é contribuir para trazer mais ciência e mais
racionalidade ao dia-a-dia das pessoas. Para mim, uma das maneiras de
contribuir agora seria essa, escrever.
Andrea Marques
“Temos uma sociedade que é profundamente irracional”
50 torga
51
Investigação no ISMT
Docentes do ISMT em Doutoramento
52 torga
Investigação no ISMT
O impacto do consumo do tabaco, do álcool e de outras drogas na saúde das crianças e
adolescentes.
O Instituto Superior Miguel Torga está a
quer para a redução da incidência dos
desenvolver um projecto de investigação sobre as repercussões somáticas,
comportamentos de risco para a saúde quer para a alteração das variá-
somato-psíquicas e relacionais dos
comportamentos de risco para a saúde
veis psicossociais que influenciam
estes comportamentos.
de crianças e adolescentes.
Esta investigação resulta de uma
O projecto de investigação desenvolvido por esta equipa, coordenada
parceria entre o Instituto Superior
Miguel Torga, a Escola Superior de
por Carlos Farate do ISMT, foi conduzido junto de uma população de cri-
Tecnologias da Saúde de Coimbra, o
Departamento de Psicologia da Uni-
anças e adolescentes utentes dos serviços de cuidados de saúde primários
versidade do Minho e a Sub-região de
Saúde de Coimbra, financiada pelo
dependentes da Sub-região da Saúde de Coimbra.
Serviço de Saúde e Desenvolvimento
Humano da Fundação Calouste
São duas as hipóteses de base
deste projecto: 1) os antecedentes de
Gulbenkian, e tem por objectivo primordial o estudo da interacção entre
doenças somáticas, sobretudo se forem precoces, graves (exigindo, por
os antecedentes somáticos, somatofuncionais e comportamentais da in-
exemplo, internamento hospitalar superior a uma semana) ou evoluírem
fância e início da adolescência e a
adopção de comportamentos de risco
de modo prolongado podem contribuir
para aumentar o risco da adopção de
para a saúde, nomeadamente o consumo de substâncias psicoactivas,
comportamentos de risco para a saúde incluindo, no caso dos adolescen-
durante a adolescência.
De facto, o estudo por inquérito
tes, o consumo de tabaco, álcool, medicamentos psicotrópicos ou outras
epidemiológico, conduzido junto da
população infanto-juvenil de um locus
substâncias psicoactivas; 2) a qualidade da vinculação exerce uma fun-
comunitário bem definido, permite não
só escrutinar o grau de penetração
ção mediadora na interacção entre
antecedentes somáticos/doença
local das medidas de promoção da
saúde (logística dos cuidados de saú-
somática actual e os comportamentos
de risco para a saúde entre os jovens
de primários, tempo, modo e circunstâncias do recurso a esses cuidados,
da população em estudo.
Foi constituída uma amostra em
articulação entre cuidados primários
e serviços especializados), mas tam-
painel, com uma dimensão global de
1500 crianças e adolescentes, repar-
bém avaliar o estado de saúde actual
dos jovens, contribuindo para escla-
tidos por 3 subgrupos de escalões
etários diferentes, sendo, cada um de-
recer de que forma é que as estratégias de prevenção primária contribuem
les, composto por 500 sujeitos de ambos os sexos:
torga 53
Investigação no ISMT
·
E1 crianças entre os 6 e os 8 anos
de idade
maturos (16,6%) e de partos distócicos
por cesariana (18%). Apenas 66% des-
de esperança.)
Relativamente aos comportamen-
·
E2 adolescentes entre os 11 e os
14 anos
tas mães referem ter tido um parto normal e 11,3% das crianças desta amos-
tos alimentares, 59,6% dos rapazes
(contra 47,2% das raparigas) referem
·
E3 adolescentes entre os 15 e os
18 anos de idade
tra foram submetidas a tratamento nesta fase da vida (37% para procedimen-
ter prazer em comer muito.
De facto, parecem ser as raparigas
O protocolo de investigação deste
inquérito epidemiológico é composto
tos de reanimação e 29,2% colocados
em incubadora).
que têm uma relação mais problemática com a alimentação.
por inventário médico (versão para os
pais de crianças e adolescentes), auto-
Com relação à primeira infância
(entre o nascimento e os 2 anos de
Assim, o prazer em comer muito
suscita o medo de não parar a 1 em
questionário psicossocial para adolescentes (adaptado a partir de Choquet
idade) para cerca de 9 em cada 10
mães o filho/ a filha cresceu bem. As-
cada 10 raparigas (e, apenas, a 2,6%
do rapazes); o mesmo comportamen-
et al.), ficha clínica resumida, PCV-M
(escala de vinculação para crianças
sim, apenas 14% das mães admitem
ter consultado o seu médico de família
to alimentar faz sentir vergonha a 10%
das raparigas inquiridas (contra 4,5%
em idade escolar, versão para pais),
IPPA (escala de vinculação para ado-
ou pediatra frequentemente nesta fase
da vida do seu filho.
dos rapazes), enquanto que a uma
percentagem similar de raparigas e
lescentes) e QAPCVIA (questionário de
avaliação da percepção do comporta-
Numa fase posterior, entre os 3 e
os 5 anos de idade, é de destacar que
rapazes, respectivamente, provoca
sentimentos depressivos.
mento de vinculação de crianças e
adolescentes, versão para pais).
existe um mesmo padrão, relativamente ao período anterior, no que diz res-
No que diz respeito ao consumo de
bebidas alcoólicas, a cerveja é a bebi-
O trabalho de campo da investigação decorreu entre Janeiro e Julho de
peito à atribuição pelas mães de um
crescimento saudável aos seus filhos.
da mais utilizada pelos jovens da amostra (de facto, 30% dos rapazes e 17,6%
2005, tendo-se registado uma taxa de
participação de 37% relativamente à
Refira-se, contudo, que 13% das crianças sofreram acidentes durante esta
das raparigas referem que bebem cerveja ocasional ou regularmente).
amostra inicialmente estimada (i.e.,
uma população de 537 sujeitos dos
fase da vida.
Analisemos agora os dados preli-
Já quanto à utilização do tabaco,
verifica-se uma inversão no rácio ra-
1500 inicialmente previstos, repartida
proporcionalmente pelos 3 sub-grupos
minares relativos aos grupos E2 e E3.
Os dados destes grupos dizem res-
pazes/raparigas, já que 1/3 das raparigas (32,5%), contra ¼ dos rapazes
da amostra em estudo).
A partir da análise estatística preli-
peito a 357 adolescentes com idades
compreendidas entre os 11 e os 18
(25%) refere a utilização ocasional ou
regular de tabaco.
minar aos resultados obtidos para o
grupo E1 é possível concluir que, ape-
anos de idade, cuja idade média é de
13,5 anos.
Os investigadores concluíram, por
outro lado, que o consumo de outras
sar de 96,4% da amostra ter beneficiado de uma gravidez medicamente as-
Quanto à preocupação com a imagem corporal, 6 em cada 10 jovens
drogas é um comportamento raro entre os jovens da amostra. Assim, o uso
sistida, cerca de 43% das mães referem ter tido um qualquer problema
classificam o seu corpo como normal,
enquanto que 1 em cada 10 adoles-
de haxixe é referido por 4,5% das raparigas e 2,7% dos rapazes.
obstétrico (principalmente vómitos no
1º trimestre e ameaça de parto prema-
centes se consideram “gordos”, sendo extremamente baixa a percentagem
Finalmente, a idade de iniciação ao
consumo do álcool ou de outras dro-
turo) e que uma em cada dez mulheres indica mais do que um problema
de jovens que se consideram “muito
magros” (3,1%).
gas, tem vindo a decrescer, situandose em média, actualmente, nos 12/13
durante a gravidez desse filho. Por
outro lado, cerca de ¼ das mães in-
No que diz respeito às queixas
somato-funcionais dos adolescentes
anos de idade (dados confirmados,
pela análise preliminar dos resultados
quiridas (25,2%) refere a ocorrência
de situações de carácter traumático
da amostra, é particularmente relevante a referência às alterações de sono,
do presente estudo).
potencial durante este período. Relativamente ao parto e período neo-natal,
às queixas álgicas (dores de cabeça,
de barriga, dores musculares) e aos
verifica-se uma proximidade estatística entre a percentagem de partos pre-
sentimentos ânsio-depressivos (nervosismo, aborrecimento, tristeza, falta
54 torga
Ana Beatriz Bento
55
Opinião
De Bibliotheca
Ana Cristina Abreu
É a partir do berço que uma criança
áreas
cursos
Com o Ensino Superior na mira do
recebe as primeiras aulas de linguística e de socialização. A mãe é o seu
leccionados ao nível da bibliografia
principal e da bibliografia ancilar. Res-
Processo de Bolonha, cabe às bibliotecas o ousado papel de actualização
primeiro centro de recursos e os sons
das palavras vão permitir o contacto
ponde às necessidades de investigação por parte dos docentes, investiga-
dos seus serviços quer ao nível dos
novos perfis dos bibliotecários, assu-
precoce com a pesquisa do seu pequeno mundo.
dores e discentes fornecendo documentação de referência completa:
mindo uma função mais activa como
agentes educativos, apoiando as pes-
Ao fim de alguns meses, este pequeno investigador ultrapassa a fase
anuários, dicionários linguísticos, resumos estatísticos, enciclopédias. Pro-
quisas da docência e dos alunos, quer
ao nível da gestão integrada da infor-
oral da procura e sai em busca de mais
informação, passando definitivamen-
porciona também, informação geral
incluindo calendários universitários,
mação e da tecnologia através das já
citadas bases de dados e bibliotecas
te para a biblioteca.
As cores, as formas, o material im-
listas de trabalhos de investigação em
curso, listas de entidades de investi-
digitais, quer ao nível das relações
interbibliotecas, por exemplo uma
presso em papel, plástico ou tecido,
convidam-no à descoberta, contudo, é
gação, anuários de sociedades eruditas.
acentuada cooperação dos serviços.
O Processo de Bolonha estabele-
imprescindível manter a comunicação
oral entre os vários elementos da fa-
A pesquisa em bases de dados remotas fazem cada vez mais parte de
ce um novo quadro educacional inserindo a investigação e o ensino na
mília e a criança.
O gosto pela leitura revela-se mais
uma realidade da qual a biblioteca
universitária não pode excluir-se. For-
construção do conhecimento e da cidadania.
tarde depois de ter tido o prazer do toque dos livros e das texturas e ter-se
necer documentação pertinente de forma célere, é o objectivo dos serviços
A aprendizagem ao longo da vida
(formação não formal e competências
deslumbrado com as cores.
Quando o indivíduo atinge os estu-
de biblioteca.
As revistas electrónicas que facul-
pela experiência) é um dos meios de
avaliação dos alunos. A biblioteca
dos superiores terá sido de extrema
importância que, além do gosto pela
tam o conteúdo integral, bases de dados de referência bibliográfica,
passa a acompanhar os alunos no
desenvolvimento das suas aptidões e
leitura adquirido em pequeno, tenha
passado por experiências de pesqui-
abstracts, constituem serviços disponíveis na maior parte das bibliotecas
competências na pesquisa bibliográfica.
sa de informação, de elaboração de
trabalhos na escola. Esse “saber da
universitárias actuais.
A abrangência na recolha e trans-
A relação professor-aluno baseiase num momento de contacto recípro-
experiência feito” na investigação de
forma sistemática, utilizando os catá-
missão de conhecimentos é um dado
adquirido. O recurso à B-On (Bibliote-
co de transmissão e descoberta e o
profissional de informação estará pre-
logos tradicionais ou informáticos, oferece-lhe os conhecimentos básicos na
ca do Conhecimento On Line),
PsycInfo ou Isi-Web of Knowledge, por
sente para responder às solicitações
de ambos, passando ele próprio a in-
procura e organização bibliográfica.
A colecção, isto é, o fundo docu-
exemplo, é inevitável pelo manancial
de informação extensa, exaustiva e de
tegrar o desafio na adaptação ao espaço de ensino europeu.
mental reflecte obrigatoriamente, as
qualidade que oferecem.
56 torga
de
estudo
dos
Opinião
Um Testemunho e uma Proposta
Carlos Sá Furtado
Professor Catedrático no Departamento de Engenharia Electrotécnica e de
Computadores
Para corresponder ao amável convite
do, em que apenas os valores das va-
erente para, finalmente, concluir com
da Torga, perguntei-me qual o tema a
escolher, por ser mais significante e,
riáveis iniciais é diferente. Reduz-se
tudo a seguir um roteiro, um guião, uma
limpidez e clareza. Os jovens, em grande percentagem, disso não sabem,
porventura, com um toque de implicância. A minha opção caíu no que tem
receita previamente decorada. Muitos
dos alunos não conhecem com rigor os
não cuidam e nem chegam a entender
que isto é importante, imprescindível.
sido a minha percepção quanto aos
saberes dos muitos alunos de que, na
conceitos fundamentais, têm impressões, vaguidades comuns com que têm
Obviamente que, chegados que são
aos vinte anos, após um percurso es-
última década, fui professor. Na generalidade, em percentagem muito ele-
vindo a viver. Também não têm o espírito moldado para a necessidade, a exi-
colar de 13, 14 anos, a culpa não lhes
pode ser assacada.
vada, pensavam bastante insuficientemente, não sabiam expor as suas
gência incontornável das leis físicas.
Tudo ou quase tudo é questão de opi-
Quanto à falta de concentração, a
minha maior evidência está na inca-
respostas, tinham falta de concentração, eram incapazes de manter a aten-
nião. O que não está bem; pois para
todos, a liberdade pressupõe o conhe-
pacidade de muitos alunos seguirem
atentamente uma aula por mais que
ção, tinham falta de conhecimentos
essenciais. Falando com muitos cole-
cimento exigente da necessidade.
O não saberem expor as suas res-
10-15 minutos. Falam uns com os outros, distraiem-se. Não é por mal, por
gas, dentro e fora da minha Escola,
tantas vezes no âmbito de comissões
postas está incluído na ausência, a
que me acabei de referir, dessa heran-
falta de respeito. Não, não é por isso;
é porque lhes é impossível estarem
de avaliação externa do CNAVES, o
seu entendimento era semelhante. O
ça grega fantástica que é o acto de
pensar e que, a meu ver, se encontra
atentos a seguir uma exposição que
exige esforço para ser compreendida.
que não quer dizer que também não
houvesse e haja colegas com ponto
ameaçado. A falta de hábitos mentais
sólidos é simultaneamente reflexo e
A razão, assim o julgo, está em não
terem sido educados para isso.
de vista contrário.
Explicitarei o meu pensamento no
causa de não dominarem adequadamente a língua materna, o Português.
Quanto à falta de conhecimentos
básicos é assunto recorrentemente fa-
que concerne às referidas insuficiências, que, em boa verdade, se tradu-
Não falo apenas de ortografia e de
construção de frases, o que já de si é
lado. No tocante a aspectos de pura
erudição, como, por exemplo, saber
zem em ameaça para a independência e afirmação de Portugal. O pensa-
coisa de monta e importa corrigir, mas
o que é muito mais preocupante trata-
rios ou batalhas, não me parece pecado mortal. Já assim não é no que toca
rem mal significa que não mostram
capacidade bastante para organizar e
se da organização do texto, enfim, da
boa retórica. Desenvolver um discurso
às essências, aos fundamentos da
área científica própria. Não saber o que
articular raciocínios complexos, de
partir de premissas, de dados conhe-
com princípio, meio e fim. Para chegar
a uma determinada conclusão, há que
é a aceleração de um móvel, o que é
força, não é tolerável para quem entra
cidos de um problema, e, por passos
sucessivos convenientemente enca-
fazer uma introdução onde se definem
a situação, as condicionantes, o
em Engenharia na Universidade. E
certo é que desconhecem a sua for-
deados, chegarem a uma conclusão.
Acertam apenas com a resposta a um
enquadramento do tema entre mãos,
depois desenvolver a argumentação
mulação rigorosa, têm ideias e impressões vulgares, difusas, apenas luga-
enunciado tipo, igual a outro já treina-
de forma inteligente, consistente e co-
res comuns.
torga 57
Opinião
Se me alonguei na explicitação das
mazelas do que julgo serem as maio-
na e hábitos de trabalho é a escola
democrática, porque, sem discrimi-na-
cerragens em extinção, que negam os
benefícios, a libertação dos espíritos e
res deficiências e incapacidades que
afectam os nossos jovens, é porque
ções, de acordo com as capacidades
de cada um, integrará os jovens na
da criatividade, entretanto operadas.
Julgo que, entre os que pensam na li-
penso dever-se ser claro no que é o
pior dos défices portugueses, origem
actividade profissional e na consciência social e de cidadania, indispensá-
nha crítica aqui exposta e no
consequente modelo dela emergente,
de todos os outros, que nos vai cortar
o passo ao desenvolvimento colectivo
veis à construção continuada e manutenção do Estado democrático e à feli-
e aqueloutros que são seguidores e
admiradores da “escola nova”, seja
com vista ao alcance de patamares
mais elevados de organização social
cidade pessoal.
Há que privilegiar o conhecimento
díficil, mesmo impossível haver acordo. Assim sendo, parece-me sábio e
e económica, afectando negativamente a prática da cidadania e da nossa
estruturado, fomentando e criando a
capacidade de abstracção. Sem abs-
aconselhável não se perder tempo em
querelas inconse-quentes e admitir
afirmação como Povo. A descrição
algo alongada que esbocei pretende
tracção não há educação dos espíritos, somente um treino para execução
nos Ensinos Básico e Secundário escolas que seguissem os modelos da
caracterizar e identificar os males maiores que afligem o nosso sistema
repetitiva de tarefas. Sem generalização, conceptualização, abstracção, os
“escola nova” e outras em que a prática pedagógica se baseasse funda-
educativo. Socorro-me aqui, em apoio,
dos estudos internacionais TIMMS e
problemas que a vida nos vai propondo em contextos e situações diversi-
mentalmente em currículos científicos
estruturados incluindo os fundamen-
PISA, que tão mal nos classificaram
entre os países analisados e a que,
ficadas não podem ser encarados com
sucesso. É do conhecimento corrente
tos das matérias em causa, na avaliação externa com exames cíclicos de
por misteriosas razões, deixámos de
nos submeter. No mesmo sentido vão,
que não é possível raciocinar criticamente sobre qualquer tema, sem pre-
periodicidade não superior a três anos,
na ênfase no conhecimento sabido e
por exemplo, os recentes exames nacionais de Matemática do 9º ano – e
viamente bem o conhecer. Só se
pode criticar e escolher consciente-
raciocinado, na disciplina e no esforço individuais. As famílias escolherão.
convinha ver qual a extensão e exigência dos conhecimentos testados –
mente o que se conhece.
É para mim ponto assente que tal
O desempenho profissional dos alunos formados num modelo ou no outro
em que a média nacional não foi além
de 2.2, na escala de 1 a 5. Convinha
como um pianista tem de fazer escalas, o maratonista tem de correr quiló-
dará seguramente indicações claras e
insofismáveis sobre a sua diferencia-
averiguar as razões deste descalabro
crescente. Mas nunca se quis fazer -
metros todos os dias, o xadrezista tem
de ter muitas horas de tabuleiro, as-
da adequação à correcta inserção social e profissional.
vá-se lá saber por quê –, antes se foram reduzindo as exigências do siste-
sim o estudante tem de estudar e
aprender o que é necessário ao longo
ma oferecendo, por exemplo, currículos alternativos, ou reduzindo os con-
do seu percurso académico, a fim de
alcançar conhecimento. Só se pode
teúdos.
Que fazer? Praticar ou deixar prati-
amar o que se conhece e o prazer está,
antes de mais, no que se alcança, na
car outra pedagogia. A incidência das
aprendizagens deverá centrar-se nos
dificuldade superada. Esta é a Escola
em que acredito e que pode criar men-
conteúdos científicos e processos
cognitivos devidamente organizados
tes bem pensantes e críticas, sensibilidades conscientes, cidadãos capa-
em currículos coerentes. Assim se contribuirá para uma escola inclusiva, en-
zes de optar entre a multitude de opções que a complexidade social, cul-
tendida como aquela que, mais tarde,
propiciará aos estudantes, indepen-
tural e técnica do Mundo actualmente
propõe.
dentemente da sua origem social, uma
melhor integração na vida profissional
Alguns chamarão de negativista,
pessimista, radical o que escrevi, e, de
e na afirmação cidadã. A escola exigente em conhecimentos, em discipli-
caminho, dirão que a “escola nova” é
incompreendida e atacada por aben-
58 torga
Opinião
Nem tudo o que se ensina se equivale
Joaquim Pires Valentim
Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade de Coimbra
É um dado banal: a escola massificou-
singularidades individuais e das cultu-
com as normas da cultura escolar, que,
se e é confrontada com uma profunda
transformação nos papéis que lhe são
ras estranhas à escola marca uma transformação de profundas consequências
por razões histórico-sociais, representam os critérios de êxito dos indivíduos.
atribuídos. Numa época em que a
multiculturalidade – uma questão de fac-
(em boa parte ainda por elucidar) face
às concepções em que a escola detin-
Acontece que as transformações
políticas, sociais e ideológicas, entretan-
to em termos históricos e sociais – das
sociedades contemporâneas está na
ha o exclusivo do saber válido e em que
as realizações escolares dos indivídu-
to ocorridas, vulgarizaram de tal modo
estas ideias que, hoje, talvez seja de
ordem do dia nas agendas dos vários
actores políticos e sociais, não admira
os apareciam como uma tradução directa – ou revelação – das suas capaci-
colocar a tónica no oposto que essa evidência oculta: esses saberes não são
que um dos temas dominantes nos discursos sobre a instituição escolar seja o
dades intelectuais. Não admira por isso
que o insucesso escolar tivesse sido atri-
equivalentes nas sociedades modernas, designadamente do ponto de vista
da diversidade. A ideia de uma escola
detentora do monopólio da cultura e do
buído sistematicamente a carências ou
faltas dos indivíduos que, uma vez na
social e performativo. Assim sendo, qual
deverá ser o papel do que se ensina na
saber tem vindo a ceder terreno face à
relativização da cultura escolar, à ideia
escola, não progrediam na aquisição de
conhecimentos escolares. Primeiro, de-
escola? Simplificando muito (talvez demasiado), diria que, a este respeito, boa
de que ela é “uma cultura entre outras”.
A instituição escolar é, cada vez mais,
vido à falta de dons ou de talentos, mais
tarde, devido à falta de estimulação cul-
parte da resposta está na aquisição de
saberes cuja validade não seja mera-
confrontada com a necessidade e com
as exigências de dar resposta às ques-
tural, sendo, neste último caso, missão
da escola fornecer um suplemento des-
mente local, isto é, que não se confine
apenas aos limites de comunidades
tões das diferenças culturais, da
pluralidade de formas de transmissão
sa alimentação cultural de que os alunos se mostravam deficitários.
particulares. Dito de outro modo, tratase de procurar assegurar a todos os in-
de saberes, da multiplicidade de conhecimentos, de práticas educativas e
Durante os anos setenta do século
passado, estas concepções foram am-
divíduos a transmissão escolar de “saberes universais” tendo em conta a
comunicacionais que caracterizam hoje
o universo escolar. Questões que ga-
plamente criticadas por sociólogos, psicólogos, linguistas e até biólogos que
multiplicidade de “saberes particulares”.
O simples reconhecimento das
nham uma acuidade particular dada a
multiplicidade de espaços educativos e
mostraram como esse diagnóstico podia resultar apenas da aceitação da cul-
especificidades culturais e do valor intrínseco de outros saberes nada garan-
de diferentes lógicas sociais em que o
pensamento se constrói e os saberes
tura escolar como uma norma de referência neutra, tomada como medida-
te. Pode até conduzir facilmente a uma
tal centração nessas especificidades,
se transmitem nas sociedades contemporâneas.
padrão para as capacidades de todos
os indivíduos e grupos. Assim, em lugar
que acaba por reforçar os mecanismos
pelos quais as diferenças se transfor-
O contraste com o modelo de igualdade homogeneizante, que caracterizou
de carências ou de realizações inferiores, estaríamos perante diferentes for-
mam em desigualdades. O papel daquilo que é ensinado na escola não se com-
o processo de generalização da cultura
escolar, dificilmente podia ser maior. De
mas de expressão das capacidades dos
indivíduos. Diferenças essas que só se
padece com defesas mais ou menos
românticas de um relativismo naif que,
facto, a consideração, pela positiva, das
tornariam défices quando comparadas
rapidamente, se transforma em deriva
torga 59
Opinião
identitária e comunitarista. Com a agravante de que, ao fazê-lo, contribuiria,
segura-mente, para acentuar as desigual-dades sociais.
A diferença entre os jogos de salão
e a Matemática, entre a letra de uma
canção pimba e os versos da Odisseia
não se dilui em nenhum relativismo. As
aprendizagens escolares têm uma espécie de imperativo, isto é, têm a obriga-
Porventura demasiado inteligentes
Jorge Caiado Gomes
Prof. Associado do ISMT
ção de possibilitar, senão mesmo garantir, aos indivíduos os meios, o passaporte e a rota para uma “migração cultural e
cognitiva”. Ou seja, o que se ensina na
escola pode – e deve – permitir a cada
um ir muito para além dos muros da sua
aldeia ou do seu gueto, por mais cosmopolita que seja a rua onde cada um
mora. Daí a importância política da adequada definição do que é necessário
ensinar num determinado momento histórico – designadamente, a definição do
que se deve ensinar, quer enquanto
aprendizagens básicas, quer enquanto
aprendizagens obrigatórias –, mas também a importância do trabalho pedagógico que garanta que aquilo que é para
aprender, se aprende mesmo.
Não pretendo com isto retomar as
ilusões das crenças iluministas sobre as
virtudes da escola. Sabemos hoje que a
escola não pode garantir tanta coisa.
Mas, por muito desencantado que seja
o nosso olhar sobre o mundo, convém
não esquecer que sem a difusão da escola as coisas seriam, sem dúvida, piores que aquilo que são.
Parece-me óbvio que o investimento e o esforço político, económico, social, pedagógico e pessoal que qualquer
“aposta na educação” exige só fazem
sentido se reconhecermos que, de facto, quando se trata do ensino escolar,
nem todos os saberes são equivalentes.
Há cerca de dois anos fui a Itália de automóvel. Só ainda
lá tinha estado na região dos lagos e tinha ficado extasiado
A Toscana não é coisa para viajantes de avião. Queria
conhecer as colinas, os ciprestes esparsos, os vinhos, o
casario, as gentes de lá onde está a qualidade de vida. O
drama de quem é português é que sempre que quer ir
para o centro tem de atravessar toda a periferia. E lá fui eu,
Espaaanha, Fraaança, auto-estraaada costeira do Oeste
– paragem obrigatória em Santa Margarida e Portofino –,
direitinho àquela que tanto me tinham recomendado: Florença, “a deusa”.
A viagem teve, como é óbvio, os seus momentos altos,
mas hoje estou aqui para dizer mal. Em primeiro lugar, as
“aires” (tinha vindo de França) eram completamente desprovidas de zonas de descanso e recreio (leia-se piquenique para poupar): lá tinhamos que comprar uma piza,
autênticas sovas.
Chegado a Florença, uma espécie de teste da realidade veio-me mais uma vez confirmar que a forma mais absoluta de estupidez é a idealização: os arredores de Florença são deprimentes, ordinariamente banais, mesmo
poeirentos e esburacados, as casas poderiam perfeitamente ser as dos arredores de Atenas. Como é óbvio,
depois de quase três mil quilómetros tive de fazer um
cíngulo maníaco e insultei-me considerando que me tinha
perdido nalguma cintura industrial, e que a maravilha ia
aparecer a qualquer momento. Aparecida, perdi-me quatro ou cinco vezes, não por não compreender a evidência
das placas, mas por não acreditar que o centro histórico
era só daquele tamanho (de tanto me perder tinha circunscrito mentalmente a área).
Em Florença, como porventura em tantas cidades italianas, o trânsito é caótico, o estacionamento é caótico, as
pessoas são caóticas, tudo cheira a cafeína. Limitei-me
apenas a pensar, como qualquer português que se preze,
que afinal os Italianos são mesmo parecidos connosco,
60 torga
Opinião
são tão desorganizados como nós:
de excelente memória a Professora, foi
randos sobre uma possível manobra
estava em casa.
Mas à medida que fui querendo
sem surpresa que assisti à forma
cordata, eficaz e firme como conduziu
para obrigar os cursos de quatro anos,
actualmente conducentes a uma licen-
estacionar, que fui querendo beber um
cafezinho (quatro euros, na altura), que
a reunião. Tendo sido obtido um acordo surpreendentemente rápido a nível
ciatura, a ficarem cingidos a ministrar
um bacharelato/licenciatura (coisa
fui querendo descansar após as intermináveis bichas de japoneses, perce-
nacional, tenho a certeza que uma
enorme fatia do mérito lhe deve ser
que, como se sabe, no caso da psicologia, serve para muito pouco). Depois
bi o quão estava equivocado: os italianos não são nada desorganizados,
outorgada: «queira aceitar, senhora, a
expressão dos meus mais distintos
havia a questão da nomenclatura: se
o primeiro ciclo de três anos se cha-
eles apenas são porventura demasiado inteligentes. Tudo estava – descon-
cumprimentos».
Relativamente à reunião e pela mi-
masse licenciatura, como se passarão
a chamar os actuais licenciados com
tando a minha veiazinha paranóide –
milimetricamente pensado para sacar os
nha parte, visto que não aprecio especialmente jogos de palavras e má po-
cinco anos de formação; e os actuais
mestres com sete anos de formação
tostõezinhos todos ao incauto turista.
Só em jeito de desabafo, e assu-
esia, as coisas eram de uma simplicidade desarmante: a maioria dos cur-
universitária?
No caso da Psicologia, alguns des-
mindo o meu jeito ignorante obscuro,
confesso-vos que prometi a mim mes-
sos de Psicologia das universidades
europeias tinha um formato 3+2+1 (o
tes problemas foram ultrapassados por
um consenso raramente observado.
mo nunca mais lá voltar, a não ser na
condição de trabalho, para ver se re-
último ano é um estágio profissional);
existe uma recomendação da Associ-
Mas o panorama geral, olhando à polémica que este assunto tem suscita-
cuperava algum do dinheirinho perdido.
ação Europeia de Psicólogos que recomenda a adopção do modelo
do nos jornais, é de suspeição, manobra, habilidade, jogo de cintura, exci-
Mas se vos estou aqui a falar de
Florença por uma razão bem distante
3+2+1; e a maior parte dos cursos de
Psicologia já instalados em Portugal
tação cafeínica...
Tudo, penso eu, problemas muito sim-
(se bem que Bolonha, se não erro, fica
a cerca de oitenta quilómetros de Flo-
tinha implícito o formato 3+2+1. A posição a adoptar, e que de resto foi do-
ples de resolver, não fossemos nós também, por ventura ou desventura, exces-
rença):
Estive, há uns meses atrás e em
minante, é que o modelo a seguir no
nosso país deveria ser o de 3+2+1.
sivamente inteligentes.
representação do curso de Psicologia
do I.S.M.T., na reunião que juntou os
Como o Instituto Miguel Torga, a par
com mais duas ou três instituições, ti-
directores dos cursos do ensino privado e cooperativo para discutir a apli-
nha tentado antecipar o Processo de
Bolonha adoptando o modelo 4+1, por
cação do Processo de Bolonha. A reunião foi promovida pela Professora
pura diligência, restava-me tentar garantir que não fossemos prejudicados
Luiza Morgado, da Universidade de
Coimbra, mandatada pela então minis-
no processo de reestruturação.
Mas era aqui que a «porca torcia o
tra da educação. Como eu conhecia
rabo»: penso ter ouvido conside-
torga 61
Opinião
Alguns desafios para as políticas educativas em Portugal: o caso do
ensino não superior
José Manuel Portocarrero Canavarro
Professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra
É com muita satisfação que me associo à Torga neste número dedicado à
partir de dois grandes eixos de actuação:
lho de quadros com formação superior, como são os professores. Serão
Educação e ao Ensino.
Agradeço a possibilidade de parti-
1. Uma melhor gestão da Escola
Pública;
igualmente dispensáveis medidas que
retirem autonomia às Escolas e que
lhar com os leitores algumas preocupações e dúvidas, sobre políticas
2. Uma maior abertura, eventualmente subsidiada directa ou indirec-
nada contribuam para que se desenvolva uma gestão “localizada” moder-
educativas dirigidas à Educação não
superior. Fá-lo-ei em tom coloquial,
tamente, à iniciativa privada no sentido de reforçar a possibilidade de es-
na, responsável, orientada para objectivos e partilhada.
sem preocupações académicas mas
com rigor.
colha da escola por parte das famílias;
O modelo da organização aprendente, que todos sabem subjacente ao
Um dos grandes problemas actuais da Educação no nosso país passa
Sem prejuízo de medidas pontuais,
que optimizem os recursos humanos
paradigma da sociedade de informação, não pode ficar distante da escola
por equilibrar a prestação dum serviço de qualidade, pois é essa a exigên-
e materiais de que o Estado dispõe
para provir o serviço de Educação aos
pública, muito mais quando a dominante política passa pelo Plano
cia da sociedade, com uma boa gestão do dinheiro público, sendo que esta
cidadãos.
Tecnológico, nas suas diferentes vertentes.
última é igualmente uma exigência da
sociedade, confrontados que estamos
1. Uma melhor gestão da Escola Pública
Há urgência na redefinição do modelo de gestão das escolas públicas,
todos com a “finitude” dos recursos
públicos, mormente os financeiros.
São pouco desejáveis medidas de
natureza administrativa e que ignorem
consagrando princípios de autonomia
alargada com a profissionalização e
Assegurada a qualidade, o equilíbrio no investimento e na despesa pú-
as componentes de motivação, de
responsabilização, de desburocrati-
responsabilização dos seus gestores.
Entende-se deste modo que uma ges-
blica em educação não superior relevará, ainda que de forma diferida, a
zação, de definição e prossecução de
objectivos que devem nortear o traba-
tão profissional das escolas será caminho para maior eficiência conjugada
62 torga
Opinião
com maior motivação dos colaboradores, conseguindo-se sinergias finan-
queda dos regimes totalitários da Europa Central e Oriental foi a existência
como a mais adequada para os seus
filhos são muito diversas e contextua-
ceiras relevantes e consequentemente
uma melhor prestação de serviço.
e o funcionamento de escolas não estatais.
lizadas:
- A qualidade da educação, o pres-
A gestão da escola pública não
deve obedecer meramente a emana-
Dado que o direito a escolher outra
escola, que não a oferecida pelo Esta-
tígio da escola e factores relacionados
com o ambiente e com a segurança;
ções centralizadoras nem fazer-se apenas pela via administrativa. Deverá,
do, não está directamente ao alcance
de todos devido aos custos que pode
- A responsabilidade nos cuidados
prestados aos filhos; a conveniência
porém, reforçar-se todo um contexto de
parceria local e de aproveitamento de
implicar, muitos países adoptam políticas que permitem subsidiar parte ou a
pessoal; a oferta de actividades
desportivas e extra-curriculares – a di-
redes instituídas de suporte social
protago-nizadas por entidades públi-
totalidade dessas despesas.
Muito recentemente, em Inglaterra,
versidade de serviços oferecidos pela
Escola;
cas e privadas, de entre as quais se
destacam: as autarquias; as associa-
o governo trabalhista liderado por Tony
Blair fez aprovar o Livro Branco da
- A qualidade dos professores;
- A proximidade do local de resi-
ções de Pais; as IPSS; e as Misericórdias
Educação no qual se consagram mecanismos concretos facilitadores da
dência, designadamente nos Ciclos de
Estudos iniciais; boas acessibilidades
Urge uma reforma do quadro legal
de autonomia e de gestão das escolas
escolha livre da Escola pelos Pais e
que vão desde informação actualiza-
viárias e de transporte, critério que se
acentua nos ciclos subsequentes.
públicas, uma reforma capaz de criar
eficiência e assim potenciar a presta-
da e independente sobre o funcionamento das escolas, a transporte gra-
Poder escolher, ter liberdade total
de escolha da Escola é um passo im-
ção dum melhor serviço aos alunos e
às famílias, sem desperdício financei-
tuito para que os pais com menos posses possam enviar os seus filhos para
portante mas que politicamente, no
nosso país, merece um tratamento
ro por via da responsabilização que,
contingencialmente, acompanhará a
escola que distem até 10 km de casa
(se essa for a sua vontade), entre ou-
faseado. A possibilidade do “cheque
ensino” ou do “voucher escolar”, pro-
autonomia. A autonomia não é verdadeira se não contemplar a vertente fi-
tros mecanismos. Sustenta-se que a
escolha livre por parte dos Pais pode-
vavelmente demasiado liberal para o
nosso contexto social, poderá ser subs-
nanceira e esta merece ponderação,
que trataremos num próximo escrito.
rá ser um impulsionador da qualidade
e referem-se vários exemplos de paí-
tituída por outras políticas, como por
exemplo:
2. A possibilidade de escolha da es-
ses, como a Suécia e os EUA (alguns
estados deste país), nos quais a adop-
- O investimento na qualidade da
Escola Pública – tornando-a mais
cola por parte das famílias…
O sistema democrático tem que
ção de mecanismos que permitem a
escolha livre da Escola conduziram a
atractiva, mais segura, com oferta peri
e pós-escolar diversa (trilho que se
permitir aos pais, em maior ou menor
grau, a escolha duma escola para os
melhorias no sistema de educação.
Em sentido inverso, mas com reac-
está a percorrer actualmente mas sem
considerar a autonomia das escolas e
seus filhos que não apenas a oferecida pelo Estado. Está consagrado na
ções conhecidas, Zapatero pretendeu
introduzir mudanças na LOE (equiva-
com o sacrifício do bem estar dos profissionais);
Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) que os pais têm o direi-
lente à nossa Lei de Bases do Sistema
Educativo) que reduzem a liberdade
- A melhoria da definição da rede
educativa, com consagração do prin-
to de escolher o tipo de educação para
os seus filhos. Também na Convenção
de escolha e que acentuam a primazia da estatização da Educação em
cipio de rede integrada público-privado – evitando investimento do Estado
Internacional dos Direitos Económicos,
Sociais e Culturais (1966) se faz a res-
Espanha. As reacções contrárias são
conhecidas. Centenas de milhares de
“em obra”, quando o serviço Educação pode ser provido pelo sector pri-
salva de respeitar a liberdade dos pais
para escolher as escolas dos seus fi-
pessoas em protesto nas ruas e uma
petição com perto de três milhões de
vado, sempre em condições “reguladas” e mesmo por concessão. Tal po-
lhos. A mesma leitura é legítima a partir da Constituição da nossa Republica.
assinaturas a pedir pela não alteração
da LOE.
derá suceder com regras a definir, evitando-se o investimento público sem-
Convirá relembrar que um dos primeiros direitos reclamados após a
As razões que movem os pais no
processo de escolha da escola julgada
pre que possa haver interesse privado
e prevendo-se a possibilidade, em
torga 63
Opinião
sede de Estatuto de Carreira Docente,
de figuras de mobilidade ou de per-
na Escola Pública (ênfase nos serviços complementares e na diversidade
nunca as sacrificando. Trata-se dum
equilíbrio que só se justifica sem a hi-
muta entre profissionais dos sectores
público-privado, ouvidos os parceiros
da oferta educativa), num equilíbrio e
abertura da rede público-privada (con-
poteca da qualidade das aprendizagens e merecerá apenas percorrê-lo
sociais e sempre em sede de negociação colectiva;
siderando a rede como una), na estabilidade e avaliação dos mecanismos
com esse ponto de partida e de chegada.
- O reforço dos mecanismos de
acompanhamento dos contratos de
de financiamento do Estado à iniciativa privada, prevendo-se a possibilida-
De outra forma, seria um caminho
sem retorno.
associação Estado-Escolas Privadas,
com contratualização definida de for-
de de regimes de concessão, nomeadamente em alguns novos investimen-
ma plurianual mas com cumprimento
de objectivos anuais rigorosamente
tos, e na possibilidade da consagração de contratos de autonomia com
explicitados;
- O estabelecimento de contratos
Escolas Públicas, também em regime
de parceria público-privado e, mesmo,
de autonomia com Escolas Públicas e
Privadas, nomeadamente para refor-
quando se justifique, com Escolas Privadas.
ço e definição de projectos inovadores de educação-formação.
3. Notas Finais
Uma das possibilidades poderá
passar por integrar na oferta das Es-
Os mecanismos motivadores da liberdade de escolha da Escola deve-
colas os actuais 3º Ciclo do Ensino
Básico, o Secundário e o Pós-Secun-
rão ser acompanhados duma maior
autonomia e profissionalismo nos exer-
dário, diversificando a oferta educativo-formativa, para além da regular-
cícios de gestão da Escola Pública e
duma maior abertura à iniciativa pri-
mente oferecida, e incluindo nesta os
Cursos de Educação-Formação (nível
vada na Educação, abertura esta que
implicará forçosamente regulação.
II), Ensino Profissional (nível III), Sistema de Aprendizagem (níveis III e IV) e
A redução da despesa pública, da
despesa do Estado em Educação, far-
Cursos de Especialização Tecnológica
(CET’s) – e assim reforçar a compo-
se-á, não só por ganhos de eficiência
que uma gestão profissionalizada con-
nente profissionalizante do Ensino e a
formação de futuros quadros intermé-
sagra, mas também pela possibilidade de integrar a oferta privada na rede
dios, tão necessárias a Portugal.
Importará definir para estas Esco-
escolar, do estabelecimento de mecanismos de concessão que reduzam o
las, quando Públicas, uma gestão com
autonomia reforçada, estruturada a
investimento público e ainda da possibilidade de mobilidade ou de permuta
partir de contratos de gestão em função de objectivos, com maior margem
de docentes entre os sistemas público
e privado.
de autonomia no desenho dos
curricula e dos conteúdos, que pode-
Algumas das preocupações que se
sobrelevam e das sugestões que se
rão ser concebidos a partir duma identificação de clusters de actividade eco-
enunciam carecem de mudanças legais, mormente na carta magna que é
nómica e empresarial considerados
localmente estratégicos e/ou emer-
a Lei de Bases do Sistema Educativo e
que este ano completa vinte anos de
gentes.
Em resumo, a liberdade de esco-
existência.
Trata-se dum caminho que se po-
lha poderá passar indirectamente por
um investimento melhor direccionado
derá percorrer sempre salvaguardando a qualidade das aprendizagens e
64 torga
Opinião
O Ensino na União Europeia: um dos lados do Triângulo
Maria Carlos
Jurista, Investigadora
[email protected]
1. Introdução
Embora, nos últimos anos, tenham sido
lançadas muitas iniciativas, a nível
nacional e comunitário, no intuito de
reforçar o valor do ensino, bem como
as ligações deste com a investigação
e inovação, resta ainda muito por fazer. A capacidade da Europa para
transformar os resultados do ensino
em oportunidades comerciais, e implantar novos modelos organizacionais adaptados às necessidades de
hoje fica ainda aquém do necessário.
Melhorar as relações entre o ensino e a inovação – atendendo em particular, à sua contribuição para o crescimento económico, emprego e coesão
social é fundamental para reforçar a
competitividade da União. É do conhecimento geral que, actualmente na
Europa, estas relações não se estabelecem tão bem quanto possível, e essa
percepção levou já a Comissão
Europeia a propor a criação de um “Instituto Europeu de Tecnologia” que funcionará como pólo de atracção para
os melhores cérebros de todo o mundo.
Em Outubro do ano passado, o
Conselho Europeu, na reunião informal de Hampton Court, solicitou a
adopção de medidas urgentes para
conferir ao ensino excelência de nível
mundial.
No seguimento de uma ampla consulta pública no final do ano passado,
na qual participaram as universidades,
os centros de investigação, as empresas e as organizações de inovação industrial mais importantes, em conjunto
com numerosos inquiridos de cada um
destes sectores, 2006 foi recebido como
um tempo novo para reforçar a qualidade dos sistemas de ensino europeus e
assim preservar a competitividade
europeia à escala global.
2. Assegurar o êxito do triângulo do
conhecimento – vantagens de uma
iniciativa nova
De acordo com a opinião geral, o
principal desafio que a União enfrenta
no domínio do ensino é a sua incapacidade para explorar e partilhar os resultados de I&D e, consequentemente,
para traduzir esses resultados em valores económicos e sociais. A Europa
necessita não apenas de desenvolver
os três lados do seu “triângulo do conhecimento” (ensino, investigação e
inovação), mas também de reforçar as
pontes entre eles.
Este diagnóstico comum deixa entrever uma vasta gama de causas. No
que diz respeito à oferta de ensino,
tanto a qualidade como a facilidade de
utilização dos resultados do conhecimento são criticadas. Em particular,
continua a ser importante a diferença
torga 65
Opinião
entre resultados de investigação e a
sua aplicação. Estas duas questões
os EUA, a Europa gasta menos em
ensino e I&D3, são mais neste conti-
vadora podem, estimular uma relação
mais eficaz e produtiva entre ensino e
não podem ser consideradas em separado. Embora o seu nível geral de
nente os actores a querer uma fatia de
um bolo menor. O sistema existente
empresas.
Nos últimos anos, foi lançada uma
desempenho universitário seja bom, a
Europa necessita de mais pólos de
nos EUA produz uma concentração de
recursos e pessoas que atinge a mas-
série de iniciativas europeias destinadas a reforçar as capacidades dos sec-
excelência1, devido à importância do
seu impacto social e económico. A ex-
sa crítica no número limitado de instituições em causa 4, permitindolhes
tores da investigação, do ensino e da
inovação. Programas de mobilidade,
celência favorece a circulação de inteligência, atrai o investimento priva-
ocupar um lugar entre as melhores do
mundo. Não é por acaso que as des-
como o programa Erasmus, têm permitido que estudantes e profissionais co-
do em I&D e fomenta a descoberta de
ideias susceptíveis de produzir efeitos
pesas das empresas de I&D comunitárias e a fuga de cérebros da União têm
nhecessem diversos contextos de
aprendizagem e formação, expondoos
colaterais alargados em termos de
ensino. Contudo, para que se possam
como meta os EUA e outros concorrentes internacionais5, e que poucas
à riqueza e à diversidade de conhecimentos que caracteriza a paisagem
desenvolver excelências, é necessário que a selecção e a carreira dos in-
universidades comunitárias são mencionadas nas classificações internaci-
europeia. Os programas-quadro de investigação comunitários prestaram um
vestigadores assentem na concorrência, que o pagamento pela obtenção
onais de universidades, que são mais
citadas a nível mundial.
contributo importante através de iniciativas como as Acções Marie Curie, os
de resultados não seja um tabu e que
a participação numa empresa seja vis-
Ao mesmo tempo, não existe procura suficiente de resultados de ensi-
Projectos Integrados, as Redes de Excelência e a promoção das Plataformas
ta positivamente, enquanto oportunidade de aprendizagem importante
no e investigação na Europa. Mesmo
que estivessem disponíveis mais pro-
Tecnológicas Europeias. E no futuro
espera-se que o Conselho Europeu de
para o currículo de um investigador.
Para tal, terão também de se desen-
dutos ou capacidades de investigação
excelentes, é pouco provável que o
Investigação apoie a investigação de
ponta ao mais alto nível, sob iniciativa
volver novas formas de trabalhar em
conjunto.
seu valor comercial fosse explorado.
Uma das razões que explicam esta fra-
dos próprios investigadores. Todos estes esforços ajudam a criar um contex-
É necessária uma concentração
crítica de recursos humanos, finan-
queza é o fosso cultural e intelectual
entre estudantes investigadores e em-
to em que as universidades comunitárias, os centros de investigação, as
ceiros e físicos para criar um círculo
virtuoso no qual faculdades, investiga-
presários6. Para inovar, é necessária
uma aprendizagem mútua, baseada
empresas e os actores públicos e privados podem colaborar mais facilmen-
dores e estudantes talentosos se atraiam mutuamente, chamando a si o fi-
na confiança e não apenas uma transferência de conhecimento no final de
te em prol de um ensino de qualidade.
No entanto, há ainda muito poten-
nanciamento competitivo dos sectores
público e privado. Actualmente, as uni-
um processo de investigação. A este
respeito, os empresários, especial-
cial por explorar e a Europa devia reforçar a sua posição nos domínios mais
versidades europeias têm ambições
muito semelhantes, mas os seus es-
mente no caso das PME, terão de adquirir uma cultura de investigação/ino-
estratégicos. Esta situação poderia ser
ultrapassada através da conjunção e
forços são demasiado dispersos. Há
quase 2 000 universidades na União
vação e de ser incentivados a correr
riscos; e os universitários e investiga-
da concentração de recursos: tal exige um contexto institucional dinâmico
Europeia que aspiram a desempenhar
um papel activo na investigação. Em-
dores precisam de compreender e desenvolver competências em empre-
e flexível, aberto à mudança e aos novos actores, capaz de desenvolver tra-
bora as situações não sejam inteiramente comparáveis, menos de 10%
endedorismo. Uma cooperação mais
intensa pode compensar a falta de
balho interdisciplinar e transdisciplinar,
bem com uma sinergia produtiva entre
das instituições de ensino superior nos
EUA
conferem
diplomas
de
massa crítica nas PME e despoletar o
potencial positivo das PME em termos
ensino, investigação e inovação.
Este tipo de mudança ocorrerá cer-
pósgraduação, sendo ainda menos as
que afirmam ser universidades com
de flexibilidade e criatividade. Os sectores do ensino público e privado têm
tamente nas organizações existentes,
mas terá de enfrentar a inércia e de-
forte actividade de investigação2. Tendo em conta que, em comparação com
um papel a desempenhar: as aquisições em matéria de investigação ino-
morará muito tempo. É necessário reflectir novamente sobre uma forma de
66 torga
Opinião
colmatar o fosso entre ensino e sociedade que funcione como modelo de
vas e produtivas do ponto de vista industrial.
3.1. Papel e missões do IET
Em nossa opinião, as actividades
referência capaz de inspirar e orientar a mudança a longo prazo. Neste
· Representará uma concentração
de recursos, que lhe permitirá igualar
do EIT incluiriam os três lados do triângulo do conhecimento:
sentido, somos a favor de uma instituição única (o que não significa um sítio
os mais exigentes padrões atingidos
por outras instituições. Não terá a obri-
· ensino: o modelo de educação
distintivo do EIT atrairia mestrandos e
único) e manifestamos a nossa preocupação relativamente ao facto de uma
gação de adoptar medidas que não
respeitem o critério de excelência.
candidatos a doutoramentos, permitindo prestarlhes um ensino compatível
rede fixa de universidades não oferecer nem a flexibilidade e abertura
3. Como funcionaria o IET?
com os padrões internacionais mais
elevados;
exigidas, nem um nível de integração
suficiente. Além disso, também não
Em nossa opinião, o IET ocuparia
uma posição única. O seu papel seria
· investigação: o IET realizaria actividades de investigação, desde a in-
reflecte o facto de a excelência se encontrar frequentemente em determina-
diferente do de qualquer outra iniciativa comunitária em vigor. Tornarseia
vestigação básica à aplicada, prestando particular atenção à indústria e
dos departamentos ou equipas e não
nas universidades, na sua totalidade.
num centro de excelência global de
elevada visibilidade, capaz de atrair
concentrandose nos domínios
interdisciplinares ou transdisciplinares
Neste sentido entendemos que o
modelo para o IET deve responder à
estudantes e investigadores de grande valor, promover a inovação de pon-
com forte potencial inovador;
· inovação: o IET desenvolveria,
seguinte preocupação: permitir a formação das melhores equipas em do-
ta e a investigação interdisciplinar e
transdisciplinar, e mobilizar financia-
desde o início, ligações estreitas com
a comunidade empresarial, a fim de
mínios estratégicos, de acordo com
modalidades que beneficiem tanto as
mento competitivo dos sectores público e privado em todo o mundo.
garantir a adequação do seu trabalho
às necessidades do mercado e facili-
equipas como as suas instituições de
origem. Deste modo estamos em crer,
Para alcançar este objectivo, o IET
deverá ter uma identidade forte deven-
tar a orientação das suas actividades
de investigação e educação em direc-
o Instituto constituirá um valor acrescentado, em particular no que diz res-
do tornarse numa marca europeia clara e visível e ser reconhecido como
ções úteis para a economia e a sociedade.
peito a três pontos:
· Proporcionará ao sector privado
parceiro de pleno direito no cenário
global. O IET terá igualmente de ser
Em todos estes domínios, o IET tiraria partido da excelência já existen-
uma relação nova com o ensino e a
investigação, criando novas oportuni-
autónomo: em termos de gestão, da
primazia atribuída à excelência no
te e estamos em crer, encorajaria o seu
desenvolvimento onde ela não exis-
dades para a comercialização da investigação, e uma intensificação dos
âmbito dos seus processos de selecção, controlo e avaliação, e do seu fi-
tisse.
Os diferentes actores no IET de-
intercâmbios nos dois sentidos. A
integração de universidades, institutos
nanciamento.
Neste sentido entendemos que a
sempenhariam, todos eles, um papel
neste contexto.
superiores, centros de investigação e
empresas constituirá uma vantagem
missão do IET seria:
· Desenvolver estudos de pósgra-
· Actualmente, são muito poucas
as universidades na Europa que se-
relativamente às universidades tradicionais. Criará igualmente oportunida-
duação, investigação e inovação em
domínios interdisciplinares e transdis-
jam excelentes em todas as áreas. No
entanto, muitos departamentos ou
des de atrair financiamento privado
para o IET.
ciplinares emergentes;
· Desenvolver competências de
equipas são reconhecidos, a título individual, pela sua excelência nos res-
· Concentrar-se-á na conjugação
dos três lados do triângulo do conhe-
gestão da investigação e da inovação;
· Atrair os melhores investigadores
pectivos domínios. Ao reunir estes departamentos e equipas, o IET liberta-
cimento ensino, investigação e inovação ficando estes indissociavelmente
e estudantes em todo o mundo;
· Disseminar novos modelos orga-
ria o seu potencial. A participação no
IET processarseia, por conseguinte, a
ligados graças à natureza do IET e à
conjugação dos seus parceiros. As
nizacionais e de gestão e
· Apor na paisagem do ensino uma
nível departamental e não universitário.
suas actividades de ensino e investigação orientarseão em direcções no-
identidade europeia nova.
·
No que diz respeito ao pessoal, a excelência dos resultados não
torga 67
Opinião
é, frequentemente, o factor decisivo
que determina as perspectivas de re-
enquanto nova estrutura organizacional
de êxito para as universidades.
O seu objectivo não deverá ser representar as instituições europeias
muneração ou promoção das pessoas
que trabalham nas universidades ou
3.2. Estrutura do IET
O coração científico do IET seria
existentes. Antes deverá estar organizado de modo a garantir um equilíbrio
nos centros de investigação. O IET
deverá criar um contexto em que a ex-
constituído pelo seu trabalho nos domínios do ensino, da investigação e
em termos das experiências representadas e a ser operacional em termos
celência seja realmente a força motriz,
em que os incentivos correspondam
da inovação, e pela sua capacidade
para integrar contribuições de parcei-
de funcionamento. Entendemos concretamente que poderia ser directa-
aos objectivos, a remuneração se baseie no desempenho, constituindo as-
ros diferentes numa estrutura única,
maior que a soma das suas partes.
mente responsável por:
– fixar as prioridades estratégicas
sim um parceiro mais eficaz para indústria e um modelo de evolução.
Para tal, constituiria uma série de parcerias integradas com universidades
do IET;
– gerir o orçamento central e afec-
· Em muitas empresas, particularmente nas PME, não existe uma cola-
existentes, centros de investigação ou
empresas (“organizações parceiras”),
tar recursos às comunidades de ensino;
boração organizada com as universidades e a investigação, pelo que em-
criando “comunidades de ensino”
seleccionadas pelo conselho directivo
– assegurar a excelência no IET e
– organizar a selecção, o controlo
presários e investigadores não partilham da mesma cultura. Em nossa opi-
do IET que responderiam perante ele.
Uma diferença fundamental entre as
e a avaliação das comunidades de
ensino;
nião, o IET deverá criar um contexto
que permita a aproximação e o desen-
“redes” normais e estas comunidades
de ensino é que, enquanto no caso das
3.2.2. As comunidades de ensino
As comunidades de ensino deve-
volvimento da compreensão entre
ambos.
primeiras, os parceiros acordam apenas numa cooperação, nas comunida-
rão ser compostas por departamentos
ou equipas de universidades, de insti-
Esta tónica na excelência exige
uma abordagem nova do financiamen-
des de ensino do IET, os parceiros afectariam recursos infraestrutura, pesso-
tutos, de centros de investigação ou
empresas reunidas numa parceria in-
to. Hoje em dia, muitas universidades
na Europa são, essencialmente, servi-
al e equipamento ao IET. Do ponto de
vista jurídico, somos da opinião que
tegrada a fim de realizarem em conjunto estudos de pósgraduação (ou
ços públicos; financiados sobretudo
pelos contribuintes, envolvem, em ge-
as comunidades de ensino deveriam
fazer parte do IET.
seja, apenas mestrados e doutoramentos), investigação e inovação.
ral, um investimento financeiro limitado de outros intervenientes. Apesar de
3.2.1. O conselho directivo e núcleo central do IET
Reunirão recursos de diferentes tipos:
pessoal e infraestrutura afectados às
estas universidades terem feito prova
do seu valor e continuarem a desem-
Neste sentido entendemos que o
IET deve ser gerido com uma mão si-
comunidades de conhecimento pelas
organizações parceiras, e recursos fi-
penhar o seu papel, estamos em crer
que o IET deveria ser claramente dife-
multaneamente suave e segura. O
conselho directivo será responsável
nanceiros provenientes de fontes públicas e privadas. Utilizarão esses re-
rente: desde o seu início, deveria ser
concebido para receber financiamen-
pela “marca” IET – garantindo que as
escolhas efectuadas (por exemplo, re-
cursos para criar uma massa crítica de
nível elevado e reunir casos de exce-
to tanto do sector público como do sector privado.
lativamente aos domínios de trabalho)
correspondem à melhor perspectiva
lência em ensino, investigação e inovação nos seus domínios respectivos.
Essa base de apoio será determinante para os dois factores que irão
disponível sobre a ciência e as empresas; que as selecções são baseadas
Os recursos físicos continuariam geograficamente dispersos, mas a comu-
condicionar o êxito do IET. Em primeiro lugar, a sua capacidade para con-
na qualidade; e que o seu programa
científico e empresarial é amplamente
nidade de conhecimento funcionaria
como um todo integrado.
vencer o sector privado de que é capaz
de produzir resultados comercialmente
aceite. O conselho directivo deverá ser
do mais alto nível e os seus membros
As comunidades de conhecimento
especializar-se-iam em domínios
importantes. Em segundo lugar, o grau
de adesão das universidades e dos
deverão ser seleccionados entre os
actores mencionados na secção 3.1.
transdisciplinares, como a mecatrónica
ou a bioinformática, ou em domínios
decisores políticos ao modelo do IET
supra.
interdisciplinares como a energia ecológica, as alterações climáticas, a ino-
68 torga
Opinião
vação ecológica ou o envelhecimento
da população. Estes domínios revelam
quando tal for determinado pela sua
procura de excelência.
plo de formação ou investigação, com
empresas privadas. Por último, o IET
o maior potencial de inovação e desenvolvimento (em ensino e investiga-
Em todas as fases, o conselho
directivo supervisionaria o controlo e
poderia criar uma fundação privada
que recolhesse fundos junto de patro-
ção) e, além disso, afastam-se da estrutura e dos currículos tradicionais
a avaliação das comunidades de ensino de acordo com parâmetros de re-
cinadores ou outras fundações.
Sabemos que o instrumento jurídi-
normalmente propostos pelas universidades na Europa.
ferência precisos.
co que cria o IET deve ser adoptado, o
mais tardar, em 2008. Mais tarde, será
Somos da opinião que as comunidades de conhecimento seriam selec-
3.3. Questões jurídicas
A criação do IET exigirá em nossa
designado um conselho directivo, juntamente com os primeiros membros do
cionadas pelo conselho directivo do
IET, no seguimento de um processo
opinião, a adopção de um instrumento
jurídico, que a Comissão Europeia terá
pessoal. A primeira identificação das
comunidades de conhecimento deve-
competitivo baseado numa avaliação
pelos pares, destinada a identificar o
que propor no final deste ano. Acreditamos que esse instrumento jurídico
rá ocorrer em seguida, até 2009, para
que as grandes despesas iniciais se
potencial de cada parceria proposta
para produzir resultados no seu domí-
criará o IET, estabelecerá os seus objectivos e definirá as disposições
realizem até 2010. Seria conveniente
portanto começar, inicialmente, com
nio, a médio prazo (10 a 15 anos). Uma
vez seleccionada, cada comunidade
operacionais necessárias.
um pequeno número de comunidades
de ensino.
de conhecimento acordaria com o conselho directivo objectivos e parâmetros
3.4. Orçamento
As despesas principais do IET es-
O calendário supra sugere que o
financiamento necessário ao IET se
precisos relativamente aos três lados
do triângulo do conhecimento no seu
tarão relacionadas com as suas comunidades de ensino. O financiamento
concentrará no final das próximas perspectivas financeiras, e que este será
domínio; um controlo e uma avaliação
regulares assegurariam que estes es-
necessário para o conselho directivo
e núcleo central seria relativamente
limitado. Pelo que, quando submeter
a sua proposta jurídica, a Comissão
tavam a ser respeitados.
Ao longo da sua existência, a co-
reduzido, já que a sua estrutura permaneceria ligeira. Embora, inicialmen-
Europeia apresentará um anexo financeiro pormenorizado expondo o volu-
munidade de ensino poderá desenvolverse de diversas formas: o siste-
te, seja necessário um financiamento
público substancial de base, à medida
me, a natureza e as origens do financiamento total necessário, incluindo o
ma terá de ser flexível. A comunidade
poderá necessitar de capacidades
que as comunidades de ensino se desenvolverem, entendemos que o IET
financiamento proveniente de fontes
nacionais ou privadas da União.
adicionais, talvez devido ao facto de
os domínios de trabalho terem de evo-
deveria obter fundos provenientes de
outras fontes de financiamento comu-
4.
luir e a entrada de parceiros novos trazer uma excelência adicional, ou tal-
nitárias e nacionais competitivas, bem
como de empresas, fundações, hono-
parceiros da sua participação no
IET?
vez porque o número de estudantes
tenha aumentado para além dos seus
rários, etc.. Atrair financiamento adicional seria um objectivo, assinalado
É razoável indagar se os incentivos à participação serão suficientes.
recursos. A comunidade de ensino
poderá igualmente diversificar as suas
com parâmetros, em todos os acordos
entre o IET e as parcerias de ensino
O objectivo é que os parceiros potenciais afectem as suas melhores equi-
actividades, devido ao facto de a evolução dos trabalhos ter tomado um
comunitárias.
O IET poderia atrair fundos priva-
pas e os seus melhores departamentos ao IET: quais serão as suas vanta-
rumo inesperado. As comunidades de
ensino deverão permanecer dinâmi-
dos de três formas. Em primeiro lugar,
as empresas privadas que fazem par-
gens e o que obterão eles em compensação?
cas e o IET deveria poder responder à
evolução científica nos moldes que
te das comunidades de ensino afectariam recursos ao IET desde o início,
As vantagens deste “investimento”
serão diferentes consoante os parcei-
entender mais apropriados, nomeadamente permitindo mudanças de par-
como os demais parceiros. Em segundo lugar, as comunidades de ensino
ros e as pessoas envolvidos. No caso
dos investigadores e pedagogos, a
ceria, ajustando disposições financeiras ou afectando fundos adicionais
que se distinguissem pela sua excelência obteriam contratos, por exem-
experiência mostra que os melhores
investigadores e pedagogos são atra-
Que vantagens aufeririam os
torga 69
Opinião
ídos pela independência que caracteriza a investigação, por perspectivas
aptos a contribuir, embora de forma
menos directa, para o trabalho
singularidade relativamente a todas as
demais iniciativas comunitárias. En-
de carreira promissoras, salários elevados e condições de trabalho interes-
académico, como teria também recursos adicionais que poderiam ser
quanto os programas existentes se
concentram em cada um dos lados do
santes. Assim, as vantagens poderiam ser financeiras, decorrer da ausên-
reafectados ou utilizados para desenvolver capacidades);
triângulo do conhecimento (o programa Erasmus, na educação; os progra-
cia de burocracia ou da excelente qualidade das instalações de trabalho. In-
– dinâmica de mudança, uma vez
que o IET mostrará aos parceiros no-
mas-quadro, na investigação; e o programa de inovação comunitário, nas
cluiriam ainda a possibilidade de se
associarem aos melhores investigado-
vas formas de trabalhar;
– benefícios locais, uma vez que os
actividades relacionadas com a inovação), o IET adoptará uma abordagem
res e empresas no respectivo domínio,
na Europa, e o consequente aumento
intervenientes locais (administrações
regionais e empresas) considerarão
prática que conjugará estes três elementos, criando sinergias entre eles.
de visibilidade académica.
No caso das organizações parcei-
prestigiosa a participação no IET enquanto oportunidade para promover os
Acreditamos que o IET será um
operador do conhecimento e não uma
ras na investigação e no ensino, pensamos que existem diversas vanta-
programas locais em matéria de conhecimento e incentivar uma coope-
agência de financiamento. Realizará
actividades com incidência nos três
gens potenciais:
–
visibilidade e imagem: o fac-
ração mais estreita com a universidade ou empresa em questão.
lados do triângulo do conhecimento
ensinará, investigará e tentará aplicar
to de contribuir com uma equipa para
o IET será um sinal de excelência que
Quanto ao sector privado, existe a
possibilidade de influenciar a orienta-
os resultados dessa investigação a fins
comerciais ou sociais. Neste ponto re-
facilitará o recrutamento de outros universitários, cientistas e estudantes e
ção da investigação de ponta e da inovação para daí obter vantagens comer-
side a verdadeira diferença relativamente às actividades realizadas no
constituirá um elemento de valorização perante as empresas;
ciais – beneficiando de uma posição
inicial privilegiada, com a garantia de
âmbito dos programas nos domínios
do ensino, investigação ou inovação,
–
relação privilegiada com os
melhores trabalhos desenvolvidos na
poder explorar os resultados mais tarde. Além disso, a relação permanente
em que a Comissão distribui essencialmente fundos destinados às várias
Europa num determinado domínio e
acesso dos estudantes e investigado-
com o IET, nomeadamente com as suas
comunidades de ensino permitiria o
actividades previstas.
Assim, o IET virá complementar
res às mentes mais brilhantes, ao melhor ensino, à melhor formação e à
acesso directo a um centro de excelência único, bem como ao prestígio e
estas actividades de financiamento.
Poderá desenvolver sinergias, em par-
melhor investigação – bem como às
recompensas adicionais que o seu
ao potencial de recrutamento daí decorrentes.
ticular com o Conselho Europeu de
Investigação. O CEI é um mecanismo
desempenho no IET poderá proporcionar;
5. Relação com outras actividades
de financiamento que não realizará
investigação. Financiará projectos de
– efeitos colaterais no ensino, tanto directos (impacto em trabalhos
comunitárias de ensino, investigação
e inovação
investigação de ponta realizados pelas diversas equipas; estará aberto a
conexos que permanecerão na organização parceira) como indirectos
A União Europeia organiza diversas actividades nos domínios do ensi-
todos os domínios científicos, utilizando essencialmente uma abordagem
(através do acesso ao conhecimento
mais avançado no domínio);
no, da investigação e da inovação mas
o IET ocupará em nossa opinião um
ascendente. O IET, enquanto instituição que desenvolve a sua actividade
– incentivos financeiros: o IET poderá investir no desenvolvimento da
espaço completamente diferente. Em
primeiro lugar, o perfil de excelência
nos domínios do ensino, investigação
e inovação numa base interdisciplinar
capacidade das organizações parceiras, a fim de as auxiliar a reconstituir
europeia desenvolvido pelo IET enquanto organismo permanente será
e transdisciplinar, concedendo especial atenção aos resultados econó-
os recursos afectados ao IET (assim,
uma universidade parceira não só
único. Acresce que a combinação entre ensino, investigação e inovação, e
micos e sociais, presta uma contribuição de carácter operacional, que está
manteria os seus antigos departamento ou equipa fisicamente presentes e
a ligação privilegiada com a comunidade empresarial assegurarão a sua
ausente no CEI. O IET em nossa opinião poderia até apresentar um pedi-
70 torga
Opinião
do de financiamento ao CEI (e a todos
os outros regimes de financiamento).
çoar as capacidades de gestão da ciência e da investigação, dessa forma
Existe igualmente uma diferença
fundamental entre as comunidades de
melhorando o processo de integração
europeu. Pode representar um desa-
ensino e as demais redes na Europa,
criadas com o apoio comunitário como
fio para os melhores licenciados e doutorandos europeus e não europeus,
as redes de excelência, ao abrigo do
6.º Programa Quadro. Enquanto as
tornando a União num pólo de atracção de inteligências.
redes de excelência implicam a
integração das capacidades de inves-
Pensamos que o ensino na Europa não irá adquirir credibilidade nos
tigação de um certo número de universidades, institutos e outras instituições
domínios universitários e da investigação de um dia para o outro. Terá de
de investigação, o IET exige um nível
de integração muito mais aprofundado,
ganhar essa credibilidade; tudo dependerá da qualidade da sua gestão,
quer em termos de capacidade de investigação quer em termos da capaci-
do seu pessoal científico e docente e
das suas realizações e resultados, as-
dade de ensino. No caso do IET, as
instituições e empresas envolvidas
sim como da sua capacidade para obter apoio fora do mundo universitário.
nas comunidades de ensino terão de
afectar recursos ao IET: esses recur-
Acreditamos por isso que um sistema
estruturado de acordo com o exposto
sos deixarão de pertencer à sua organização de origem e tornarseão, do
no presente artigo de opinião poderá
representar um valor acrescentado
ponto de vista jurídico, parte do IET. O
pessoal de uma comunidade de ensi-
importante, no âmbito dos esforços
desenvolvidos para reforçar e fomen-
no estará sujeito a uma gestão comum
e a um processo de avaliação sob a
tar o ensino no espaço europeu.
1
A Europa precisa de reforçar a sua
presença no nível mais elevado de
excelência científica. Por exemplo,
de acordo com a Shanghai
Academic
Ranking,
uma
classificação mundial das
universidades, embora 205 das
500 melhores universidades a nível
mundial se encontrem na Europa
(em comparação com 198 nos
EUA), apenas 2 fazem parte da
lista das 20 primeiras (contra 17
nos EUA).
2
Em cerca de 3 300 organismos que
conferem diplomas nos EUA, cerca
de 215 concedem diplomas de
pós- graduação. Existem menos de
100 universidades reconhecidas
como universidades com forte
actividade de investigação geral
nos EUA.
3
Em 2005, a intensidade de I&D
comunitária era 1,90% (despesa
em I&D/PIB), muito abaixo dos
EUA (2004: 2,59%) e do Japão
(2004: 3,15%).
4
Nos EUA, 95% do financiamento
federal afectado à investigação
universitária são gastos em quase
200 universidades num total de 3
300 (“S&E Indicators”, National
Science Foundation, 2005).
5
A Europa tira menos benefícios da
crescente globalização de I&D
que os seus concorrentes
principais. Entre 1997 e 2002, as
despesas das empresas da União
em I&D nos EUA aumentaram em
termos reais muito mais
rapidamente que as despesas das
empresas dos EUA em I&D na
União (+ 54% contra + 38%). Os
países emergentes como a Índia e
a China são os que mais
beneficiam dos fluxos de saída de
I&D dos EUA.
6
Esse fosso é visível na diferença entre
o número de investigadores
empregados no sector privado da
UE e noutros locais do mundo. Nos
EUA, quatro em cada cinco
investigadores trabalham nos
sectores empresariais; no Japão,
essa relação é de dois em cada
três investigadores. Na UE, apenas
menos de metade de todos os
investigadores trabalha nos
sectores empresariais.
direcção do IET baseado no desempenho.
6.
Conclusão
O programa para a modernização
do ensino, enquanto realidade
indissociável da investigação e da inovação no âmbito das universidades,
institutos e centros de investigação
europeus tem hoje boa aceitação. No
entanto, é necessário impulsionar iniciativas para acelerar o progresso. A
estratégia integral de reforço da
competitividade da Europa no que diz
respeito ao triângulo do conhecimento não se poderá reduzir ao ensino isoladamente; mas o seu papel pode ser
importante. Pode constituir um modelo de excelência de elevado nível, respondendo à diversidade própria da
Europa; pode contribuir para aperfei-
torga 71
Opinião
O Ensino: uma questão de afectos
Maria Pinto
Docente do ISMT
Muitos são os pensamentos que me vão
de total obediência, de ordem, de um
Era, pois, importante, ensinar as cri-
surgindo sempre que reflicto sobre o
percurso da minha vida profissional.
silêncio ensurdecedor.
Como se sabe, o ensino é – e sem-
anças a não pensar, a não ter vontade
própria. A aprender, desde cedo, a
Quando menos espero, vejo-me
mergulhada no passado. No meu pas-
pre será – um espelho do aparelho
político vigente. Existe uma estreita
obedecer…sem perceber. A engrossar as
fileiras de uma cidadania passiva, apáti-
sado como aluna. Com o objectivo de
compreender melhor o meu presente
relação entre ensino, política, e sociedade. Durante o Estado Novo, a esco-
ca, alheada dos valores e da importância da vontade humana individual.
como educadora.
Esta viagem no tempo leva-me aos
la foi deliberadamente utilizada para
veicular os objectivos do poder. Exal-
Por outro lado, todo o sistema escolar era profundamente discrimina-
bancos da escola primária, no início
dos anos setenta, já na fase final da
tava-se o ultra-patriotismo, assim como
os ideais de pobreza e ruralidade.
tório, segundo “as divisões naturais”
da sociedade. A co-educação deixou
ditadura.
Recordo com toda a nitidez a mi-
Considerava-se que o cumprimento da
escolaridade mínima seria mais do que
de existir. Rapazes e raparigas eram
educados em escolas diferentes para
nha sala de aula. Um conjunto de carteiras alinhadas e aparafusadas ao
suficiente. Tudo isto era uma forma de
abafar as vozes discordantes e de cri-
virem a ocupar, no futuro, funções e
espaços também diferentes.
chão. Num plano mais elevado, por
cima de um estrado, a secretária da
ar uma alma nacional, submissa ao
poder estabelecido.
No contexto do Estado Novo, a harmonia social só era conseguida “colo-
professora. Sobre a secretária, a régua, a cana, as orelhas de burro. A
As ideias de “cultura” e “alfabetização” eram consideradas altamente
cando cada um no seu lugar”. Seguindo esta linha de raciocínio, há que re-
luminosidade não é grande, mas permite realçar, na parede, as figuras de
perigosas, como se demonstra no artigo “Educar e Instruir” publicado no jor-
ferir que grande parte das crianças
não tinha hipótese de prosseguir os
Marcelo Caetano e de Américo Tomás,
ladeando um crucifixo.
nal “A Voz”, em 1927, da autoria do
escritor Alfredo Pimenta:
seus estudos. Era o próprio Estado que
as rotulava de “ineducáveis” e de “nor-
Não me lembro das aulas. Não me
lembro do exacto momento em que
“Foi o querer saber que fez
mais estúpidas”, não carecendo, por
isso, de estudos complementares.
aprendi a ler e a escrever. Mas vemme, com frequência, à memória, um
o homem pecar… Insisto:
não preconizo o analfabe-
Para essas crianças bastavam os chamados postos de ensino, autênticos
emaranhado de sensações: a angústia de ir para a escola, a rigidez dos
tismo sistemático; digo
que a Instrução é um ins-
casebres de madeira, sem quaisquer
condições, tutelados por regentes ab-
métodos de ensino e a grande desigualdade no que respeita ao tratamen-
trumento perigoso que
não pode andar em todas
solutamente desqualificados, com uma
enorme dose de severidade e, muitas
to dos alunos. Sem dúvida que a escola do Estado Novo se pautava pelo
as mãos. Como um explosivo. Como um veneno. Só
vezes, de brutalidade.
Perante este ambiente de total va-
autoritarismo e por um tipo de relação
humana profundamente hierar-
num carácter são, ela é
útil, ou pelo menos, ino-
zio emocional, apetece perguntar:
“Professor, porque me castigas? Por-
quizado. O ambiente que se vivia era
fensiva…”
que não me ensinas?”
72 torga
Opinião
Voltando à minha infância, e à minha escola, terei de salientar que ape-
mental do professor em todo o processo de ensino/aprendizagem.
sonho certamente se iria tornar realidade.
sar de tudo, fui uma criança bafejada
pela sorte. A cana e a régua quase
Quem aceita a missão de ensinar
deve, antes de mais, ajudar a formar
Passados alguns dias, este aluno
trouxe para a aula um roteiro turístico
nunca me tocaram. No entanto, desde
muito cedo que os métodos de ensino
caracteres e consciencializar-se de
que cada ser humano que passa por
de visita a Auschwitz. Lembro-me que
lhe dei força para prosseguir em di-
autoritários, arbitrários e violentos me
causaram uma profunda revolta. Des-
uma sala de aula levará consigo, para
sempre, a imagem do seu professor.
recção ao seu sonho.
A conversa passou. O ano lectivo
de pequena que sentia a falta daquele
magnetismo, daquela relação quase
Os profissionais do ensino são, essencialmente, agentes construtores de
terminou. Chegou o período de férias.
Em Outubro, reencontrei o André,
mágica que se pode e deve estabelecer entre professor e aluno. É algo por
saberes e de afectos. Como dizia o
grande mestre Agostinho da Silva,
que me ofereceu um envelope. Quando o abri, vi que o seu conteúdo in-
vezes invisível. Mas que existe. Até nos
silêncios.
“professor é o que sabe e o que ama”.
O professor necessita de conhecer
cluía uma série de fotografias de
Auschwitz (tiradas pelo seu primo
Foi preciso chegar à 4ª classe,
meses antes da Revolução de Abril,
as necessidades dos seus alunos, quer
as do domínio cognitivo, quer as do
Nuno, ex-aluno do ISMT), acompanhadas de um texto. Texto que considerei
para que o Sol despontasse. A porta
da sala de aula abriu-se e entrou a
foro afectivo. É óbvio que esta tarefa
não se afigura fácil num sistema de
de uma enorme beleza. Dele ressaltavam as emoções sentidas naquele lo-
nova professora, recém-colocada na
escola. A professora Lídia. Ao mesmo
educação massivo como se apresenta o nosso, hoje em dia. Mas é preciso
cal de horror, onde, nesse “final de tarde, nem a chuva se dignara a cair, ape-
tempo que a porta se abria, abria-se
também o seu sorriso. Um sorriso
estarmos atentos às fragilidades, às
fortalezas e também aos sonhos dos
sar do triste olhar do céu”. Onde só
mais tarde, perante os vestígios dei-
contagiante. Hoje, pensando nela, sei
que o que a diferenciava era precisa-
nossos educandos.
Por falar em sonhos, não posso
xados por anos seguidos de tortura,
“finalmente começou a chover. Mas a
mente o afecto, a doçura com que nos
tratava. As suas aulas, recordá-las-ei
deixar passar em claro uma experiência que, no passado ano lectivo, me
água não caía lá fora… Era salgada e
percorria o rosto de muitos visitantes”.
para sempre! Era uma professora exigente, ensinando-nos que estudar re-
marcou profundamente. Numa das disciplinas que lecciono (História Con-
Depois de ler este texto, imbuído
de uma sensibilidade rara, também eu
quer esforço. E era também um poço
de afectos e de sensibilidade. Por ve-
temporânea), entre outros conteúdos
programáticos, abordo a temática das
me senti profundamente motivada a
rumar em direcção a Auschwitz.
zes, olhando para ela durante a aula,
pensava que era assim que eu quere-
ditaduras fascistas, dando particular
realce à barbaridade do regime nazi.
Para mim, o ensino é uma troca,
uma partilha de vivências entre alunos
ria ser um dia, se viesse a ser professora.
À medida que as aulas foram decorrendo, apercebi-me do interesse que
e professores. É, no fundo, um processo de aprendizagens e de empatias.
E de facto, volvidos alguns anos,
iniciei-me na difícil arte de ensinar. Mas
este tema suscitava nos alunos em
geral e, em particular, no André. Este
Um processo muitas vezes penoso e
que comporta inúmeras insatisfações.
com a possibilidade de exercer a minha profissão em liberdade. A experi-
aluno sorvia os saberes que lhe eram
ministrados. Emocionava-se com as
Mas a vida é assim mesmo! Vai
sendo construída através de avanços
ência que fui adquirindo ao longo dos
anos, permitiu-me retirar algumas con-
imagens que eram projectadas. Quase no final do ano, ao terminar uma
e recuos. De momentos de plenitude e
de momentos de frustração.
clusões acerca dos métodos de ensino. Permitiu-me aliar a tradição à ino-
aula, o André acercou-se de mim e disse: “Professora, tenho um sonho! Gos-
O André concretizou um dos seus
sonhos. E eu senti-me recompensa-
vação. Tradição que, segundo penso,
deve funcionar como suporte, como
taria imenso de visitar o Campo de
Concentração de Auschwitz! Pressin-
da. Fui presenteada. Fiquei em paz.
base de sustentação dos métodos
mais inovadores. Sempre pensando
to que me iria emocionar… e aprender!”
no exemplo da professora Lídia, fui tomando consciência do papel funda-
Na altura, eu disse-lhe que havia
visitas guiadas a este local e que esse
torga 73
Opinião
Aprender pela experiência – a Ética como
disciplina no Ensino Superior
Michael Knoch
Docente do ISMT
O ensino de uma disciplina como a
Ética coloca ao professor, e igualmente aos estudantes, desafios de vária
ordem. Os estudantes, de início, têm
frequentemente a expectativa de receber umas “dicas”: regras, normas e
conselhos para a conduta profissional
e também para a sua vida. Por um lado,
querem saber o que devem fazer, mas,
por outro lado, sentem, não raramente, um mal-estar suspeitando o peso
do moralismo inerente à disciplina.
Dizem: “Conselhos morais já ouvimos
muitos”, mas já se sabe que na vida
real o proceder é outro. Aí, cada um,
luta pelo seu lugar como pode.
Por isso o ensino perderia o seu
sentido, se fosse uma mera transmissão de “matéria” sem ligação com a
vida dos que estão aprender. Até que
podemos colocar a questão de Platão
se uma Ética é algo que é “ensinável”!
A bondade parece impossível de ser
ensinada, por exemplo, apesar de ser
isto que os adultos requerem dos jovens! No entanto, quando perguntamos a eles a sua ética pessoal – partindo da suposição que cada um de
nós é um Ser moral - costumam relatar
a sua vida, onde está inscrita um comportamento e uma postura moral
exigida que declararam lhes ser incutido pela “educação”, seja esta mais
branda ou autoritária. O que a sociedade exige, e onde pune as transgressões, é o “Certo” e o “Errado”. Assim
falam sobre a ética de um modo distanciado; a ética parece-lhes uma im-
74 torga
posição, seja dos pais ou das outras
figuras mercantes da infância, seja
particularmente desta sociedade, que
nos impõe as suas regras, punindo a
quem não as cumpre, pelo menos a
quem não mantém as aparências.
Immanuel Kant, o fundador da Ética moderna, forjou para esta prática o
termo heteronomia: Uma moral alheia
ao Homem, que parte de valores superiores e que pesam sobre ele, constituindo uma certa herança de submissão à autoridade, mas de um
distanciamento interno. Às vezes parece que o indivíduo não se empenha,
mas se desenvencilha, procurando a
sua sobrevivência pessoal, em vez do
empenho social e institucional. Evidentemente, autoritarismo e dogmatismo não deixam espaço para o diálogo. Será a Ética assim?
Ao contrário disso, a Ética moderna, desde o século XVI, tem como funda-mento a liberdade – e esta liberdade necessita de se ensinada a quem
não a conceptualiza ou viveu. O ensino da Ética como ensino da liberdade
ou como ensino da obediência – eis a
questão!
Tentarei explicar:
A Ética é uma disciplina de reflexão e não de memorização! E aí, as
reacções são opostas: umas vezes
“pensar dói”, como afirmou o psicanalista Bion, e outras vezes “pensar é o
prazer mais barato”, como disse com
certa ironia o dramaturgo Brecht. Eu
diria que pensar pode provocar uma
certa perturbação, especialmente na
tradição de um ensino magistral e frontal, onde o professor “sabe” e o aluno
decora, onde não há muita possibilidade para eles aprenderem a questionar.
A Ética é uma disciplina transversal às disciplinas científicas e técnicas.
A questão se a Ética é uma ciência é
controversa. Pessoalmente, afirmo que
não. Não estou interessado numa “ciência da moral” ou numa ética descritiva, onde a moral não costuma ser
mais do que um “mix” de costumes,
tradição, normatividade social e aceitação, as vezes, cega de leis e ordens.
Não, a Ética é uma disciplina que no
seu centro, debruça-se sobre o agir
humano e se reflecte sobre as decisões que estamos a tomar em cada
momento, sejam estas individuais,
institucionais ou sociais. A nossa forma de viver moralmente, podemos
definir como atitude fundamental +
racionalidade (ciência) + agir”. Sob o
primado da acção, o sujeito da Ética
encontra-se, ao contrário das ciências, puramente no futuro. No entanto, o
futuro, apesar de todo o planeamento,
é uma vertente vivida, aberta e contingente. Não o controlamos, embora o
vivamos e criemos a todo o momento.
Isto quer dizer, uma Ética moderna não
pode partir de uma estabilidade eterna social ou institucional, por mais
desejáveis que fossem. Abrange dimensões como o conflito, a discussão
controversa, o empenho pessoal, a di-
Opinião
mensão crítica e autocrítica, que requerem um exame de consciência
mais do que a atribuição de culpas aos
que falharem. Por isso, a Ética, não
pode ser dogmática, mas será uma
busca racional e intercomunicável de
quem tem que agir num campo aberto.
Então também o ensino dela tem inerente uma estrutura dialogante.
Escrevi uma vez, num texto sobre
deontologia, que a Ética deve ser capaz de nos dar critérios, quando nos
temos de opor à lei ou a uma regra –
evidentemente, não para usufruirmos
de uma vantagem, mas para a subsistência do nosso cliente. Falo da desobediência civil (John Rawls) e cívica.
Ou seja, a Ética requer coragem – e
gostava de estimular nos alunos a coragem de tomarem as suas próprias
decisões, mesmo se estas forem incómodas. Uma atitude que Kant chama
autonomia1.
Como fazer então do campo da Ética um ensino estruturado? Vejo três
dimensões pedagógicas e educativas:
Não haverá ensino da Ética sem uma
dimensão pessoal, eminentemente ligada à vida, transformando vivências
em experiência, quando somos capaz
de agir e reagir através de uma aprendizagem existencial e racional. Usando o título do célebre livro de Bion,
“Aprender pela experiência”, refiro-me
ao “olhar para dentro” da Ética. Convido os alunos de elaborar um texto “A
minha ética” que evidentemente não
é possível de avaliação. O insight pessoal dos alunos revelou-se na prática
do ensino, a meu ver, muito mais fácil
do que imaginei – os alunos são abertos e têm todos uma vida a contar. A
impressão é errada que são mais os
professores que se escondem como
pessoas, atrás do conhecimento e da
matéria?
Mas isto exige três coisas :
a) a presença do aluno na aula,
porque não é fácil incluir a experiência viva sem um processo de diálogo
oral. Tenho consciência que isto pode
criar dificuldades aos estudantes trabalhadores, mas por outro lado, na
minha experiência, são eles, quando
estão presentes, que intervêm mais,
porque já viveram e sofreram mais!
Talvez valha a pena esclarecer que a
“liberdade académica” não é a liberdade do aluno de faltar às aulas quando quiser, mas a liberdade do professor para escolher a matéria, responsável sobre o conteúdo da disciplina
meramente de acordo com a sua consciência;
b) admitir que a Ética moderna
começa com um momento de «nãosaber», um «momento socrático » quando saímos das certezas até aqui superiores e inquestionáveis para entrar
numa reflexão racional. Não é que a
racionalidade seja o fundamento da
Ética, o agir depende da boa vontade
(Kant), de uma dimensão pessoal,
onde a própria pessoa é a sua Ética,
identificando-se com ela. Mas a
racionalidade é o único instrumento
que temos, senão ficamos presos a
preconceitos;
c) o ensino de uma dimensão do
interior humano: criar esta dimensão
não é fácil para ninguém, porque exige uma certa atitude reflexiva até um
insight especulativo ou criativo que,
lamentavelmente, não faz muito parte
da formação escolar.
No entanto, a Ética moderna não
pode simplesmente impor regras e leis
de cima para baixo. Quer preparar o
aluno para a participação na construção racional das mesmas, não tanto
por decreto ou (micro) poder, mas pelo
nosso agir. Chamamos a isso, hoje,
responsabilidade. Falo da uma responsabilidade de uma pessoa adulta
que é capaz de dar sem procurar logo
a vantagem própria. É uma responsabilidade longe da inveja ou do espírito
do castigo, mas gosta dos outros, e não
sente a “sociedade” ou a totalidade da
vida como ameaçadora ou simplesmente “má”. 2 Kant quis dizer isso,
quando desenvolveu os conceitos de
autonomia (que é diferente da autocracia e da independência dos outros) e
do imperativo categórico (que não pretende ser um mandamento rígido imposto, mas uma invocação radical do
altruísmo). Este imperativo kantiano só
inclui a humanidade e a universalidade, por isso tem que ser abstracto, sem
receita do que fazer em tal e tal situação concreta. Assim, o ensino da ética
kantiana é quer tirar as pessoas da
dependência geral, onde se sentem
laçados por todo o lado.
Evidentemente, isto não é fácil,
nem para quem aprende, nem para
quem ensina. O momento de fazer luz,
de ter um insight sobre si próprio, no
fundo, é algo de não-dito em tantas
palavras do ensino. Tanto maior é alegria, quando acontece! E acontece
muito, mesmo que tenha vivenciado
recentemente também a experiência
da resistência contra o aprender pela
experiência.
Claro que, num ensino do século
XXI, estas concepções de 200 anos
necessitam de ser transformadas e
actualizadas para a cosmovisão bastante mais complexa em que vivemos
hoje. Enquanto Kant perguntou: O que
é que devo fazer? Perguntamos hoje:
Como me oriento num mundo não só
mais complexo, mas também mais contraditório? (W. Schmid, 1998). Ou seja:
Temos que iniciar no ensino uma procura do savoir vivre. Assim, não defendemos uma mera recitação do pensamento de um autor clássico. Sabemos,
porém, que não é fácil assumir uma
responsabilidade que não guiada por
qualquer autoridade. Confesso que até
pode ser um choque para alunos que
cresceram num sistema escolar que
funciona ainda muito na repetição
exacta dos conceitos e até das palavras do professor, para “não falhar na
perfeição” ou “na nitidez dos concei-
torga 75
Opinião
tos científicos” (são citações de alunos e dos meus professores!). Com
outras palavras: Não haverá ensino da
Ética sem a célebre definição de Kant
: “Ousa servir-te da tua própria razão!”
Ainda junto uma mensagem importante: Apesar de a Ética, a partir de
certa compreensão se poder tornar fácil e algo de evidente, não há estudo,
nem da Ética, nem de uma disciplina
científica sem leitura. Melhor dito, sem
a capacidade de leitura. E refiro-me à
leitura de livros, não de cadernos que
contém o discurso oral do professor.
O que exige a leitura de um livro ou
de um artigo científico?
Em primeiro lugar, uma capacidade de estar só e de abstracção das
suas próprias preocupações e angústias, da inquietação subjacente, que
caracteriza quase a maioria dos nossos alunos.
Segundo, não há leitura sem curiosidade quase visceral de aprender,
descobrir, imaginar, inventar, em suma
investigar algo que nunca tínhamos
pensado. Quem já sabe tudo, ou pior,
já ouviu falar de tudo, já não se interessa por mais nada. Tudo já está digerido a partir das sebentas, para as
desbobinar num exame – processo que
transforma, emocionalmente, o conhecimento de algo de interessante em
ameaça e chatice que “se deve estudar”! Assim não dá gozo nem insight!
Penso que a perfeição que procuram
os melhores alunos, torna-se um enorme obstáculo a uma aprendizagem
aberta (sem saber já a solução do policial!), à leitura de um livro onde não é
oferecido o resultado dos problemas
em poucas palavras, mas onde se
imerge num discurso, em que não se
vislumbra logo a luz no fundo do túnel.
Os nossos alunos, no 5º ano, parecem
saber tudo: conhecem Kant, Max
Weber, Bourdieu, Durkheim, a
Fenomenologia, Freud, a Teoria
Sistémica, a Planificação Experimental etc, mas não se confrontaram pes-
76 torga
soalmente com estes ou outros autores, ou trabalharam nestes modelos.
Recordo-me de um exame oral de alunos candidatos a uma nota de 18, que
sabiam de Erving Goffman por várias
cadeiras, mas ler um texto dele? Isso
não foi requerido! Queria lembrar o
provérbio: Menos teria sido mais! E
queria perguntar: Quanto vale um pensamento próprio, mesmo se não for
ortodoxo?
Last but not least: Penso que também o ensino não seja possível sem a
chamada comunidade de professores
e estudantes, um ideal que não seja
só a da minha juventude. A proximidade entre professores e alunos não
deve provocar a angústia que os alunos perderem o respeito pelos professores, tal como às vezes o perdem para
com os caloiros inexperientes. Refirome à Praxe – costume que choca, contendo uma forte componente sádica e
de humilhação, concretamente dos
que mereciam protecção! Ao ouvir a
voz da Ética, podíamos perceber que
a racionalidade vale mais do que a tradição, mesmo quando é a assim chamada tradição académica! Em vez disso ser comunidade universitária significa que haja um diálogo também fora
das aulas e fora da matéria. Por exemplo, recordo-me de relatos de estudantes-trabalhadores sobre questões da
vida e do trabalho deles e das suas
famílias. Não sabia que há pais que
contraem um empréstimo para financiar o curso da filha e quando ela chumbar no exame pode acarretar uma crise familiar! Nestes diálogos os alunos
abriram-me os olhos para a dura realidade social, mas comecei a compreender também o que significa para eles
estudar.
Em suma: O ensino, e particularmente o ensino da Ética, não se desenrola num espaço estanque. Já disse que a Ética não é meramente individual. Quando começa a transformarse numa reflexão, aproxima-se da Éti-
ca social e da Ética das instituições.
Não pode ser uma admoestação de
tipo: “Porta-te bem!”, mas uma atitude
estruturada minha, relacionada com
um Tu e com uma sociedade que será
nossa. Falo do compromisso pessoal
mútuo por acordo racional.
Uma clarificação no fim: É a Ética
que faz funcionar as instituições e não
o Direito. O relacionamento entre Ética e Direito é um tema interessantíssimo, que implica temas “quentes” como
por exemplo culpa e punição, a proibição e o protesto, mas também a BioÉtica ou Ética Económica. Gostava de
abordar este assunto numa outra oportunidade.
Digo só aqui: Enquanto o Direito
reage post-factum, a Ética visa o futuro. O Direito e a punição não são nem
um meio de educação, nem fazem funcionar os serviços, só são capazes de
delimitar uma margem, enquanto no
núcleo e centro das actividades humanas e da sociedade não se manda,
mas se confia a estes que sabem voluntariamente assumir responsabilidades que também cumprem face à sua
consciência. Quem constitui a vida social, são homens e mulheres que vivem e também sofrem, mas nisto decidem e actuam.
Ver também os meus
artigos: “A deontologia
das Assistentes Sociais”,
em INTERVENCÃO
SOCIAL Nº 27; Lisboa,
2003 e “A necessidade
da ética no ensino
superior” em
INTERACCÕES, Nº 7,
Coimbra, 2004.
1
Refiro-me aqui a uma
representação social
que encontrei com
bastante frequencia nos
alunos: a “boa” família e
a “má” sociedade!
2
Opinião
De Bolonha ao Plano Tecnológico
Paulo Gomes
Engenheiro Informático, Departamento de
Engenharia Informática da Universidade de Coimbra
Bolonha está aí e as modificações
mesmo estar em causa a sua sobrevi-
implementação de novas pedagogias,
exigidas às instituições de ensino superior constituem um desafio difícil mas
vência.
novos métodos de ensino mais adequados a cada uma das matérias
interessante, que promete marcar o futuro do Ensino Superior Português. Mas
O actual modelo de ensino muito
baseado em aulas expositivas de gran-
leccionadas. Mas para haver sucesso
é necessário que alunos e professores
será que todos os agentes envolvidos
nesta mudança estão prontos? Esta é
de audiência (as chamadas teóricas)
não responde aos novos desafios, em
estejam motivados para estas novas
metodologias de ensino, sendo o pon-
uma das grandes questões que se colocam ao ensino Universitário e
especial ao desafio exigido aos professores, de captarem o interesse e moti-
to fulcral para este sucesso uma mudança de mentalidades. Tanto de pro-
Politécnico em Portugal. Para que esta
(r)evolução tenha sucesso todos os
vação dos alunos. Os estímulos externos a que os alunos estão sujeitos, des-
fessores, através do repensar das
metodologias de ensino para cadeiras
agentes envolvidos: alunos, docentes,
instituições de ensino e órgãos gover-
de as ferramentas de comunicação da
Internet até aos jogos electrónicos, con-
que leccionam e de novas dinâmicas
dentro das aulas. Como dos alunos que
namentais, têm que estar motivados, o
que para já, parece-me não estar a
somem-lhes cada vez mais tempo indispensável para o estudo. É preciso
precisam de ganhar consciência que
fazer um curso não é só fazer cadeiras,
acontecer.
encontrar novas formas de motivar os
alunos para a aprendizagem. Mais uma
é aprender, ganhar competências em
matérias e valorizar-se a nível pessoal
Existem vários pontos de vista sobre o processo de Bolonha, desde os
vez Bolonha pode ser uma solução,
pois uma das ideias chave é que a
e profissional.
que consideram que é o passo em frente para o abismo, até aos mais optimis-
contabilização das horas de um curso
deve ter em conta o esforço dos alunos
É neste ambiente de mudança que
a investigação das universidades e
tas que o vêem como um passo na direcção certa. Eu confesso que estou do
e não apenas as horas de aulas, chamadas de horas de contacto (com o
politécnicos tem um papel importante a
desempenhar. Uma das mais valias da
lado optimista, Bolonha pode vir a ser
uma lufada de ar fresco no nosso mo-
Professor). Um dos objectivos desta
mudança de paradigma é o de respon-
investigação feita nas instituições de
ensino superior é poder servir de liga-
delo de ensino, que está a esgotar-se.
Por outro lado, pode ser o fim de várias
sabilizar o aluno pela sua aprendizagem. Responsabilizar no sentido de
ção entre o ensino e o meio profissional. A inserção de alunos em activida-
instituições de ensino, em especial
aquelas que não consigam mostrar di-
consciencializar o aluno para a necessidade deste controlar o seu percurso
des de investigação e desenvolvimento é uma das formas de motivação para
nâmica e competitividade suficientes.
Com a crescente falta de candidatos ao
educativo, visto ser ele o maior interessado em todo o processo. Mas esta
a aprendizagem. Para além de começarem a ganhar os chamados “soft
ensino superior, juntamente com a mobilidade que Bolonha vai trazer (ou diz
mudança necessita de novos paradigmas pedagógicos de forma a moti-
skills” que as empresas cada vez mais
procuram nos recém licenciados. Em
que vai trazer), as instituições menos
competitivas não vão ser capazes de
var para a aprendizagem os alunos.
Esta mudança de Bolonha pode ser
relação a esta questão, experiências
piloto como a realizada na Universida-
manter a actual dimensão, podendo
bastante positiva, permitindo a
de de Aalborg (Dinamarca, http://
torga 77
Opinião
auaw2.aua.auc.dk/fak-tekn/aalborg/
engelsk/index.html) podem indicar-nos
novos caminhos, pelo menos no ensino das engenharias.
Com o papel tão importante da investigação no ensino, é inevitável falar
no Plano Tecnológico. Neste aspecto é
fundamental que a investigação seja
uma aposta forte em Portugal, e aqui o
¿OBJECTIVO: Que objectivos?
Entre Bolonha e Coimbra: Para uma
consciência crítica de um caminho… de um
processo
Regina Tralhão
Assistente do ISMT
Governo tem que dar o exemplo. A recente bandeira do Plano Tecnológico
vem de encontro a esta necessidade,
mas até agora está a trabalhar-se pouco no que é mais importante: as bases
da investigação, sendo estas constituída pelos centros de investigação e desenvolvimento das Universidade e Institutos Politécnicos. Estes são financiados pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia (FCT), tutelada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior. Para que a base da investigação trabalhe bem é preciso que a
FCT funcione eficaz e eficientemente,
respondendo em tempo útil aos processos de projectos e bolsas, e que tenha
uma estratégia de médio e longo prazo
para a Investigação em Portugal. Com
a constante mudança de Governos e
consequente mudança de direcções da
FCT, a estratégia a médio e longo prazo mudam constantemente, pelo que,
se há área onde esta estratégia tem que
ser estável e consistente é na Investigação. Em relação ao Plano Tecnológico, não me admira que noticias
vindas recentemente a público, sobre
uma sondagem junto de empresários
portugueses tenha mostrado que o dito
Plano não vai ter influência na vida das
empresas. Tal como a experiência nos
mostra (a todos nós Portugueses) só
vendo para crer, mas espero sinceramente e para bem deste nosso cantinho à beira mar plantado que o Plano
Tecnológico seja um sucesso.
Pensamento crítico e Educação
Tenho vindo a participar em várias reuniões a propósito da
reestruturação curricular que as direcções dos diferentes Cursos têm
vindo a dinamizar no sentido de «adequar» a formação de modo a
«compatibilizá-la» com outras do género, a nível internacional, sobretudo, a nível europeu, concretizando o Processo de Bolonha1.
Não podemos, é certo, passar acríticos pelo referido documento,
todavia, o que me prende aqui são, no momento, outras questões, das
mesmas… diga-se!
Se por um lado, me tem sido gratificante participar nessas discussões enquanto espaços privilegiados de aprendizagens várias, por outro
lado, e na sequência exacta de qualquer «trabalho de casa» que devemos (sempre) fazer, as mesmas, têm-me feito reflectir sobre a importância
de alguns «pequenos» pontos que gostaria de, aqui e agora, partilhar
com a comunidade educativa do ISMT, da qual faço parte e, no seio da
qual tenho procurado, também, desenvolver e promover uma «nova»
Cultura Académica2. Um Instituto diferente, que marque efectivamente
uma posição social, cultural e política de relevo, no espaço societal, sobretudo, através dos profissionais que vai formando.
Encontram-nos num período importante ao nível da definição do
que se pretende para a formação de estudantes e profissionais. Pensar
a questão dos objectivos da formação torna-se, para mim, uma questão
central e, pensar esta questão a partir do pensamento crítico, torna-se,
para mim, uma questão crucial.
No cerne do que é designado por pensamento crítico existem duas
suposições importantes: a do relacionamento entre teoria e factos e, a
do relacionamento entre factos e valores.
A relação entre teoria e factos levanta questões fundamentais acerca
da natureza (frágil?) do conhecimento. O pensamento crítico é aqui entendido como capacidade de tornar problemático tudo o que tem sido
tratado como um dado adquirido; de trazer à reflexão tudo o que tem sido
usado sem a devida problematização; e, de analisar criticamente a experiência da vida quotidiana. O conhecimento, assim considerado, exige
procura, invenção e reinvenção constantes porque, ao partir da noção de
sistema de referência e, do seu uso como instrumento interpretativo teórico-conceptual, conduz, necessariamente, ao conhecimento entendido
78 torga
Opinião
como objecto de problematização e,
um determinado facto, conceito ou ques-
necem e organizam os elementos teó-
deste modo, como objecto de investigação.
tão. Precisamos aprender a perceber a
própria essência daquilo que estamos
ricos da construção que permitirão estabelecer as relações entre os métodos,
A relação teoria e factos, transporta
consigo a outra componente fundamen-
a analisar situando-o criticamente num
sistema de relacionamento que lhe con-
conteúdo, a estrutura de um determinado Curso e a sua importância para a
tal do pensamento crítico: a relação entre factos e valores e entre o sujeito que
fira significado.
Além da (re)contextualização da in-
realidade social mais ampla. Com efeito, o que estes conceitos fazem é actu-
conhece e o objecto que é conhecido. O
modo através do qual a informação é
formação, a forma e o conteúdo das
relações sociais académicas devem ser
ar como conceitos mediadores entre as
experiências académicas de cunho
seleccionada e codificada no sentido de
construir um quadro da realidade con-
consideradas: ignorar a dinâmica deste tipo de relações sociais é, também,
cognitivo, afectivo, relacional e a vida
fora do contexto universitário. A utiliza-
temporânea e histórica, mais do que
uma operação cognitiva é, também, um
correr o risco de desenvolvermos uma
prática pedagógica mistificadora e in-
ção destes conceitos deverá tornar capaz a análise do conteúdo, valores e
processo intimamente ligado às crenças
e valores que orientam as experiências
completa. O conhecimento deve, assim,
ser visto como uma mediação entre o
normas dos Cursos, em relação aos fins
que eles pretendem ou poderiam ser-
quotidianas. Implícitas, então, na organização do conhecimento estão as su-
indivíduo e a realidade social mais
ampla. Tornamo-nos sujeitos no acto de
vir. Ou seja, os objectivos de longo alcance incluem o seguinte: diferenciar
posições ideológicas acerca de como
vemos o mundo - suposições que cons-
aprender, no acto de analisar o conteúdo e as estruturas dos relacionamentos
o conhecimento técnico-científico do
conhecimento crítico-reflexivo, explicitar
tituem a distinção entre o essencial e o
não essencial, o importante e o não im-
que fornecem os limites da nossa própria aprendizagem.
o currículum oculto e contribuir para o
desenvolvimento de sujeitos com cons-
portante. Assim, qualquer conceito de
sistema de referência tem que represen-
É no contexto destas suposições que
outras tantas poderão ser desenvolvi-
ciência crítica e política.
Os objectivos de curto e médio al-
tar mais do que uma estrutura
epistemológica de forma a incluir tam-
das e, no interior do qual poderá ser também desenvolvida uma abordagem que
cance, geralmente representam os objectivos facilmente identificados e mui-
bém uma dimensão axiomática: separar factos e valores é correr o risco de
nos provoque a pensar criticamente.
Abordagem crítica aos Objectivos
tas vezes já conhecidos dos Cursos,
isto é, consistem naquelas concepções
considerarmos os meios, independentemente da questão dos seus fins.
em Educação
O conjunto destas preocupações
‘impostas’ que constituem o núcleo de
uma dada Área Científica ou ‘Unidade
Relacionado, ainda, com as duas
anteriores suposições temos aquilo a
foram, então, por mim organizadas em
torno na noção de objectivos e, por difi-
Curricular’3 e definem o sentido da sua
investigação. Em combinações varia-
que poderemos designar de (re)contextualização da informação. Precisamos
culdade em encontrar outra designação, acabei por definir e distinguir en-
das, a maior parte dos Cursos incluem
muitos dos seguintes objectivos de curto
aprender a ser capazes de sair do nosso sistema de referências, de forma a
tre: objectivos de longo alcance e objectivos de curto e médio alcance.
e médio alcance: aquisição de conhecimento seleccionado e codificado, o
podermos questionar a legitimidade de
Os objectivos de longo alcance for-
desenvolvimento de competências de
torga 79
Opinião
aprendizagem especializadas e o desenvolvimento de competências de in-
to crítico-reflexivo é, de certa forma, um
modo filosófico de investigação no qual
to não possa ser completamente eliminado, as suas propriedades estruturais
vestigação específicas. A análise dos
pontos fortes e fracos destes objectivos
se questiona o propósito do que se ensina e aprende. É um conhecimento que
podem ser identificadas e modificadas
no sentido de criarem condições
parece mostrar que o que está em questão, não é tanto a validade dos mes-
questiona, por exemplo, o modo como
e, o fim para o qual, o conhecimento
facilitadoras para o desenvolvimento de
métodos e conteúdos pedagógicos que
mos, mas sim o seu relacionamento enquanto conjunto de objectivos limitados,
técnico-científco deve (ou não) ser usado. O conhecimento crítico-reflexivo for-
permitam a formação de sujeitos éticos
e políticos, autónomos e solidários,
com um conjunto mais amplo de objectivos - os objectivos de longo alcance.
mula as questões mais importantes
para o aperfeiçoamento da qualidade
participativos e integradores, de diálogo e de compromisso.
A importância do relacionamento entre
os dois tipos de objectivos provém da
de vida e da vida porque pergunta:
«para que fim?»
Um terceiro objectivo de longo alcance centra-se no desenvolvimento de
necessidade de se tornar claro quais
as relações entre os objectivos dos
Esta perspectiva aplica-se não somente ao conteúdo dos Cursos, mas
uma consciência crítica e política. Este
objectivo não significa enfatizar o con-
Cursos e as normas, valores e relações
estruturais enraizadas na dinâmica da
também à sua dimensão metodológica
e à sua estrutura. Nesta perspectiva, o
teúdo político no sentido mais literal do
termo, mas sugere que se desenvolva
sociedade estabelecida.
Mereceu-me particular atenção os
conhecimento deverá proporcionar,
uma unidade, uma lógica e um sentido
uma metodologia que permita um olhar
para além do quotidiano das experiên-
objectivos de longo alcance. Dei especial atenção a três deles.
de direcção que permitam considerar
todas as implicações do seu conteúdo,
cias, de modo a permitir uma compreensão das bases políticas, sociais e
Um dos objectivos de longo alcance
centra-se na diferenciação entre as no-
dentro e fora do espaço académico,
partindo do reconhecimento de que
económicas da sociedade no seu todo.
Política, neste sentido, significa possuir
ções de conhecimento técnico-científico e de conhecimento crítico-reflexivo.
todo o conhecimento e qualquer forma
de saber cumpre uma função social que
os instrumentos cognitivos e intelectuais que permitam uma participação pre-
O conhecimento técnico-científico
está principalmente preocupado com os
vai além da meta de dominar determinados saberes científicos. Como resul-
sente e actuante, em sociedade.
No centro deste objectivo está o sig-
meios; a aplicação deste tipo de conhecimento resulta na reprodução de bens
tado, o inter-relacionamento entre conhecimento e acção social torna-se
nificado e a importância da noção de
sistema de referência. Ao estarmos
e serviços materiais e, de determinado
tipo de relações (hierárquicas) e de com-
possível no seu todo.
Um segundo objectivo de longo al-
conscientes de que todos temos um sistema de referência, operando consci-
petências (de tipo mecanicista), deste
modo está preocupado com a inovação
cance centra-se no tornar explícito o
curriculum oculto tradicional. O
ente ou inconscientemente, todos teremos a oportunidade de desenvolver
dos métodos tecnológicos e científicos
com vista a uma maior eficácia competi-
curriculum oculto aqui refere-se às normas, valores e crenças não declaradas
uma estruturação conceptual na qual
possamos ordenar e (re)significar as
tiva. Assenta num modelo de
racionalidade cujo interesse dominante
que são transmitidas através da estrutura subjacente de uma determinada
nossas experiências e reconhecer a
base social das nossas percepções.
reside nos modelos que promovem
certeza(s) e controlo técnico, sugerindo
comunidade universitária. Além disso,
o curriculum oculto muita vezes actua
A importância da tomada de consciência do sistema de referência próprio
uma ênfase na eficiência e nas técnicas
do «como fazer» que ignoram, regra ge-
em oposição às metas declaradas do
curriculum formal, e, em vez de promo-
de cada um assume um significado adicional quando este sistema de referên-
ral, a importante questão dos fins.
O conhecimento crítico-reflexivo é
ver uma aprendizagem efectiva, enfraquece a mesma. Em tais condições, a
cia é informado por um modo de
racionalidade que nos auxilia a articu-
um modo de investigação destinado a
responder a questões que não são e,
subordinação e a conformidade substituem o desenvolvimento do pensamen-
lar o pessoal e o social, por outras palavras, uma epistemologia que nos aju-
não têm sido, respondidas pelo conhecimento técnico-científico; preocupa-se
to crítico e a natureza dinâmica e
conflitual das relações sociais, como ca-
da a reconhecer a natureza cultural e
social, portanto, política do pensar e do
com as questões da natureza das relações entre meios e fins. O conhecimen-
racterísticas básicas da experiência
académica. Embora o curriculum ocul-
agir. Por de trás desta posição está a
suposição de que o todo conhecimen-
80 torga
to é um fenómeno político-social e cultural que pode ser mais significativa-
e a riqueza das experiências da vida quotidiana dos agentes que nela intervêm.
mente apreendido se analisarmos a
rede de relações no qual esta inserido,
Ora, tudo isto requer tempos, espaços e formas de relacionamento espe-
isto é, a rede de relações que lhe confere sentido e significado.
cíficas. Pensar, então, a formação a partir dos seus objectivos, sobretudo, a par-
Para o desenvolvimento de uma
consciência política deve ficar claro que
tir dos seus objectivos de longo alcance
e da sua relação com os objectivos es-
a universidade é um espaço e um processo político e politizado, não apenas
pecíficos de cada Curso, constituirá, necessariamente, um aspecto importante
porque contêm uma mensagem política ou trata de temas políticos mas, tam-
para a discussão, de grandes aprendizagens, que mostrará, naturalmente, a
bém, porque é produzida e situada num
complexo de relações políticas e soci-
«fórmula» mais adequada para o tipo de
formação que desejamos.
ais das quais não pode ser abstraída.
Os objectivos de longo alcance ofe-
Cabe-nos pensar se queremos formar ‘técnicos’ ou sujeitos, profissionais,
recem, pois, um sistema de classificação destinados a ir além das noções
com consciência crítica capazes de uma
efectiva acção de transformação social
de aprendizagem limitada pelos
parâmetros de uma determinada Área
que reconheça a participação, o diálogo
crítico, a responsabilidade, a partilha da
Científica, Curso ou Unidade Curricular
Académica. Mais importante ainda, a
autoridade e o compromisso, como princípios estruturantes e estruturadores de
distinção entre os dois tipos de objectivos permite o uso de outros objectivos
qualquer forma de pensar e agir social.
Continuarei lá, nos espaços onde a
diversos afim de explorar o relacionamento entre experiência académica e
discussão se faz, procurando cumprir a
promessa de tornar possível qualquer
as forças sócio-políticas que moldam e
caracterizam a cultura dominante.
processo e forma de Encontro!
Em jeito de apelo para uma educação crítica e reflexiva …
Para mim, a flexibilidade desta abordagem não apenas torna mais fácil
avaliar a efectividade dos diferentes tipos de objectivos educacionais, como
também assegurar que qualquer organização de cursos assente numa abordagem crítica que ligue diferentes formas de aprendizagem com as normas e
valores socialmente construídos.
Devemos, pois, procurar definir e
desenvolver, para os diferentes Cursos
ministrados no ISMT, objectivos destinados a fomentar as experiências educacionais e educativas que permitirão
elucidar a riqueza política e a complexidade social da interacção entre o que é
apre(e)ndido e partilhado neste Instituto
Ver Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24
de Março – Regime jurídico sobre os
graus académicos e diplomas do
ensino superior.
1
É meu dever deixar, também aqui,
expressa e registada, a forma
implicada, dinâmica, partilhada e
assertiva com que a Área Científica
de Serviço Social – na qual estou
directamente implicada – tem
revelado em todo este processo.
2
Nova concepção para o que ainda
designamos por ‘disciplina’, prevista
no novo Decreto-Lei, supra
referenciado.
3
81
Tecnologia
Breve Apresentação da Tecnologia Power Line
Hélder Silva, Joana Urbano
{[email protected], [email protected]}
Instituto Superior Miguel Torga
A evolução do Homem ao longo dos
empresarial. Destes, refira-se a tendên-
A utilização da rede eléctrica para
tempos ficou a dever-se, essencialmente, à comunicação. Foi a comunicação
cia actual para o acesso por DSL (Digital Subscriber Line) e por cabo TV. No
transmissão de dados não é uma novidade. De facto, desde a década de
que, traduzida numa conjugação de
esforços, permitiu a sobrevivência do
entanto, outras tecnologias emergem
no sentido de entrar neste mercado e,
50 que empresas de distribuição de
energia, tais como a EDP, utilizam a
grupo e levou à construção da sociedade tal como a conhecemos hoje; “A
entre elas, podemos referir as redes
de telecomunicações sem fios (redes
rede eléctrica para transmissão de
dados de controlo. Falamos do méto-
palavra comunicação deriva do latim
communicare, que significa “tornar
WIMAX e FWA) e ainda as redes PLC
(Power Line Communications), que uti-
do “Ripple Control”, caracterizado pela
utilização de baixas frequências (en-
comum”, “partilhar”, “conferenciar”… É
comunicando … que uma pessoa ad-
lizam a rede eléctrica para a transmissão de voz e dados.
tre 100 e 900 Hz), que permite o envio
unidireccional de dados simples de
quire consciência de si e dos outros e
interioriza os comportamentos, os valores, as normas, os conhecimentos (…)
Neste último caso, assiste-se ao
ressurgimento do interesse nas comunicações de dados através da rede
monitorização, controlo e carga da
rede. A partir de 1991, a NorWeb
Communication, consórcio formado
e os seus significados na sociedade e
na cultura em que se insere” (1).
eléctrica, devido ao enorme potencial
de penetração de um serviço baseado
pela Nortel Telecom – multinacional na
área das telecomunicações – e a
É, no entanto, na sociedade actual
que a comunicação surge como uma
nesta tecnologia que permitirá elevados débitos de dados, sem a necessi-
United Utilities – empresa Britânica de
distribuição de energia eléctrica –, le-
necessidade mais premente. É na nossa “Sociedade da Informação” que os
dade de qualquer infra-estrutura de
suporte para além da vastíssima rede
vou a cabo estudos de implementação
de uma tecnologia que permitisse a
conceitos de “Aldeia Global” e “O Meio
é a Mensagem” de Marshall McLuhan
eléctrica já existente.
Neste artigo, é feita uma breve apre-
transferência bidireccional de dados
através da rede eléctrica de baixa ten-
ganham mais destaque, devido aos
meios tecnológicos ao dispor do Ho-
sentação da tecnologia PLC, tanto na
sua vertente de tecnologia de acesso,
são, permitindo ligações de 24 horas
em 24 horas e velocidades de 1 Mbps,
mem. Em 1967, quando Marshall
McLuhan publicou as suas obras, ain-
quanto na sua vertente SOHO (small
office, home Office), através da utiliza-
com uma tecnologia a que chamaram
Digital Power Line (DPL). A fase de tes-
da não existia a Internet; há, no entanto, como que uma premonição e é
ção da cablagem eléctrica dos edifícios para a construção de pequenas re-
tes foi levada a cabo em Manchester,
Inglaterra, e o projecto foi abandona-
impensável, nos nossos dias, falar de
Comunicação Global sem referir a
des de voz e dados domésticas ou de
escritório.
do em 1999, por ser considerado economicamente inviável, devido às
Internet e a WWW (World Wide Web).
Assim como, nos dias de hoje, não
Um Pouco de História
Como foi já referido, a PLC, ou sim-
condicionantes tecnológicas que implicavam a sua realização.
se pode falar da Internet sem se referir
o seu acesso, hoje tendencialmente
plesmente PL (Power Line) é uma
tecnologia que permite a transmissão
No entanto, o interesse na
tecnologia ressurgiu recentemente, com
em banda larga, para utilizadores domésticos, mas também como solução
de dados e de voz através da rede eléctrica.
várias empresas de telecomunicações
e desenvolvimento de equipamentos
82 torga
Tecnologia
Tecnologia
(por exemplo, Cisco Systems, Compac, Mitsubishi Electric Co.,
Philips, Intellon, Alcatel e Ascom) a posicionarem-se na corrida para a sua exploração, e com a constituição da HomePlug
Powerline Alliance, um grupo sem fins lucrativos, constituído
por cerca de 80 organizações, que trabalha activamente na
elaboração de normas para produtos PL.
Transmissão de Dados na Rede Eléctrica
A rede de transporte de energia eléctrica divide-se em
três níveis de tensão, alta (220 a 400 KV), média (10 a 132
KV) e baixa tensão (220 e 380V), destinados ao transporte
de energia em longas, médias e pequenas distâncias, respectivamente. Os cabos de transporte são ligados a transformadores, projectados de modo a reduzir ao mínimo as perdas de frequência da rede, que são de 50 Hz no caso da
Europa (Figura 1).
No entanto, se estes transformadores são eficientes do
ponto de vista do transporte de energia, eles actuam como
um filtro no que concerne à transferência de dados, e aqui
reside o principal problema do transporte de dados exclusivamente através de cabos de energia eléctrica. Na verdade,
Figura 1
Infra-estrutura do transporte de energia (figura retirada
de http://oni.pt).
a tecnologia actual ainda não permite a constituição de verdadeiras redes PL de backbone, sendo actualmente restringidas ao lacete local (“last mile”), ou seja, ao troço que liga a
rede ao utilizador final.
Também a nível de utilização doméstica, já em baixa tensão, surgem obstáculos à transmissão de dados na rede eléctrica, resultantes, entre outros, da variação da impedância com
a instalação de equipamentos eléctricos, como por exemplo,
electrodomésticos. Voltaremos a este assunto mais tarde, na
secção “Power line na Constituição de Redes Domésticas”.
Utilização do Power Line
Embora a tecnologia PowerLine prometa um sem número de aplicações em várias áreas das tecnologias de informação, vamos caracterizá-la nas duas vertentes actualmente mais significativas: o acesso à Internet e a constituição de
redes domésticas de voz e dados.
Power Line como Tecnologia de Acesso
A Figura 2 esquematiza a rede PL no troço final. Como
pode ser visto, a injecção dos dados na rede eléctrica é feita
Figura 2
Esquema de ligação PowerLine (retirado de http://oni.pt”).
nos postos de transformação; estes possuem um equipamento denominado headend que faz a ponte entre o
backbone de dados e a rede eléctrica. No caso europeu,
cada posto de transformação poderá servir cerca de 200
agregados familiares.
torga
torga 83
Tecnologia
Do lado dos subscritores, cada edifício onde se pretende o acesso à
termos de rapidez, fiabilidade e isenção de ruídos.1 Num prisma menos
Regulamentação
Duas das principais dificuldades
Internet por Power Line deverá ter um
repetidor (coupling unit) acoplado ao
positivo, realce-se que estas soluções
não estão ainda preparadas para to-
associadas à implantação da
tecnologia PLC são, por um lado, os
contador de energia do subscritor; este
elemento é responsável por separar
dos os sistemas operativos. A Intellon,
por exemplo, apresenta soluções para
problemas técnicos ligados à invasão
do espectro da banda reservada a co-
os dados da rede eléctrica e de os
transferir para o subscritor.
os sistemas Windows da Microsoft e
para alguns sistemas Mac OS, mas ain-
municação por rádio2 e, por outro lado,
a falta de normalização e regulamen-
Dentro de cada residência aderente,
deverá existir ainda um módulo de co-
da não oferece resposta para sistemas
Unix. Por fim, existem ainda problemas
tação legislativa, o que faz com que a
maior parte dos testes da tecnologia
municação que liga o equipamento do
utilizador.
técnicos a resolver, e a regulamentação existente é escassa e nem sem-
caiam, normalmente, num vazio legal.
No entanto, alguns factos levam a
Como pode ser verificado, a infraestrutura dos acessos por PowerLine
pre adequada (ver “Regulamentação”,
mais à frente neste artigo).
crer que estas dificuldades sejam superadas num futuro próximo. Por um
permite aos operadores de comunicações uma flexibilidade ímpar na
Problemas à parte, o PL é já muito
usado na interligação e partilha de
lado, a União Europeia (UE) assumiu
já o desenvolvimento da tecnologia
implementação da tecnologia de acesso em áreas metropolitanas, uma vez
equipamento informático (ex., acesso
Web, impressoras, discos) a nível do-
PLC como sendo vital para a
competitividade da UE e recomendou
que a instalação dos headend é feita à
medida da adesão dos subscritores,
méstico. Nos Estados Unidos, por
exemplo, esta tecnologia é muito utili-
a remoção de obstáculos injustificados
a nível da regulamentação, que impe-
sem que tal traga encargos significativos para o operador, ao contrário do
zada na domótica, em utilizações como
controlo de alarmes e de climatização.
çam esse desenvolvimento. Também
o CENELEC (Comité Europeu de Nor-
que sucede com outras tecnologias de
acesso. Tal é tanto mais evidente se
Em Portugal, e apesar desta tecnologia
estar ainda pouco divulgada, assiste-
malização Electrotécnica) e o ETSI
(Instituto Europeu de Normalização nas
pensarmos no caso de edifícios antigos e zonas remotas, onde, devido a
se a um lento mas gradual interesse
dos utilizadores no uso desta
Telecomunicações) foram mandatados pela UE para formar uma comis-
factores meramente económicos, não
existe qualquer cobertura por fornece-
tecnologia para a constituição de pequenas redes domésticas, com parti-
são técnica, com o objectivo de elaborar standards que permitam a coexis-
dores de outras tecnologias de acesso.
lha segura do acesso Web em todas
as tomadas da casa, existindo já no
tência, sem interferência, da transmissão PLC e das restantes redes de tele-
mercado diversos produtos baseados
no PLC, tais como bridges Ethernet,
comunicações.3 Finalmente, foi iniciado em 2004 o projecto OPERA (Open
conversores USB powerline, adaptadores de parede e routers com supor-
PLC European Alliance), patrocinado
pela UE e adjudicado à Iberdrola, pro-
te PowerLine, a custos razoáveis.
jecto este que pretende desenvolver a
tecnologia de transmissão de dados
O futuro próximo desta tecnologia
na sua vertente doméstica promete
em banda larga através da rede eléctrica, uniformizando tecnologias e re-
soluções plug and play com débitos na
ordem das dezenas de MB, com su-
gulamentações.
porte de voz, dados, vigilância e segurança através de web-cam, encrip-
Implementação do PowerLine
A implementação de projectos PLC
tação de dados e VLAN, tudo isto, mais
uma vez, sem qualquer instalação de
está, como seria de esperar, associado a empresas ligadas à distribuição
nova cablagem e cem por cento compatível com os acessos tradicionais por
de energia, tais como a EDP/Oni, a
Endesa e a Iberdrola, no mercado ibé-
modem ou cabo.
rico. Existem pelo mundo fora diver-
Power Line na Constituição de Redes Domésticas
Vimos já como a tecnologia PL
pode ser usada no acesso à Internet.
No entanto, as características da
tecnologia Power Line fazem com que
esta seja, igualmente, bastante interessante na constituição de redes de comunicação domésticas, uma vez que
não implicam cablagens ou sistemas
adicionais, bastando, apenas, usar as
tomadas eléctricas existentes em casa.
Neste sector, existem já algumas
soluções no mercado (por exemplo, o
PowerPacket da Intellon) que apresentam características interessantes em
84 torga
Tecnologia
Tecnologia
sos projectos PL, uns em fase de desenvolvimento ou teste, outros já em
bilidade técnica e económica do projecto, a Endesa iniciou a exploração
fase de comercialização. Um mapa interessante dos projectos PLC no mun-
comercial de serviços de telecomunicações e acesso à Internet em Banda
do pode ser observado em (2).
Larga em Saragoça (Novembro de
2003) e em Barcelona (Janeiro de
Implantação do Power Line no Mer-
2004). Por seu lado, a Iberdrola iniciou
a comercialização de serviços de tele-
cado Ibérico
A primeira empresa a aventurar-se
no acesso PowerLine em Portugal foi
a EDP, juntamente com a sua participada Oni; em 2002, realizaram um teste piloto com cerca de 300 utilizadores
na área de Lisboa, divididos entre
Telheiras e o Parque das Nações. Nes-
comunicações e acesso à Internet em
banda larga a partir de Outubro de
2003, servindo inicialmente 30.000
habitantes em dois bairros de Madrid,
Referências
(1) Comunicação. In Infopédia. Porto: Porto
Editora, 2003-2005.
(2) Sítio oficial da Teleco, http://
www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialplc/
pagina_6.asp
com velocidades de acesso simétrico
de 100 e 640 Kb, utilizando equipamento da empresa Alcatel.
te teste piloto, denominado E-Power,
foi testado o fornecimento de serviços
VoIP (Voice over IP) e acesso à Internet
em Banda Larga. Actualmente, e desde Julho de 2005, o serviço, entretanto com o nome Oni220Powerline, está
já disponível sob forma de teste comercial em algumas zonas de Lisboa, incluindo
as
referidas
acima,
disponibilizando dois tarifários, de 2/
1Mbps (download/upload) e de 5/
2Mbps, com mensalidades de €34,90
e €44,90, respectivamente.
Em Espanha, a Endesa iniciou em
2000 um conjunto de testes de VoIP e
acesso em banda larga sobre linhas
de média e baixa tensão, nas áreas
metropolitanas de Sevilha e Barcelona. Estes testes envolveram, em cada
um dos casos, 25 utilizadores finais e
duraram, respectivamente, 18 e 12
meses. Em Barcelona foi utilizado
equipamento da Ascom, tendo sido
atingidos débitos de 2 a 3 Mbps. Em
Sevilha, o equipamento utilizado foi da
empresa espanhola DS2 e a transmissão alcançou valores de 6 a 12 Mbps.
A partir de Setembro de 2001, o teste
estendeu-se à área metropolitana de
Saragoça, envolvendo 2100 utilizadores finais. Tendo concluído pela via-
1
Como já foi referido, a rede eléctrica não foi
pensada para a transmissão de dados, o
que levanta alguns problemas relativos à
atenuação do sinal, que aumenta com a
distância, e à impedância, que varia
consoante os equipamentos eléctricos que
são ligados à rede eléctrica, principalmente
motores de electrodomésticos (ruído
contínuo), arrancadores de lâmpadas
fluorescentes e “dimmers“ (ruído periódico).
Este ruído na linha dificulta a transmissão de
dados e obriga a uma constante adaptação
dos parâmetros da transmissão. De modo a
minimizar estes problemas, uma das técnicas
de modulação mais utilizadas nos modems
PL actuais é a Orthogonal Frequency Division
Multiplexing (OFDM) com correcção de
erros, semelhante à tecnologia presente nos
modems DSL. Esta tecnologia divide a gama
de frequências da rede eléctrica em mais de
80 canais, permitindo o transporte de pacotes
de voz e dados em vários destes canais, o
que aumenta a velocidade e a fiabilidade
dos dados transmitidos.
2
Na verdade, as empresas com actividade
no Power Line enfrentam uma guerra aberta
com os “macanudos” que, sinal dos tempos,
têm fóruns de debate na Internet!
3
Esta comissão trabalha em estreita
colaboração com a IEC CISPR 22
(International Electrotechnical Commission)
e com o PLC Fórum, associação internacional
que representa empresas e organismos com
interesses comuns no campo das tecnologias
PLC, da qual faz parte a Portuguesa Oni
(www.oni.pt).
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torga 85
Tecnologia
Na rede
Pesquisa científica na rede
A Microsoft lançou um motor de busca
especializado para investigadores que
permite o acesso a conteúdos académicos. O Windows Live Academic
Search (http://academic.live.com/) é
uma ferramenta útil para investigadores,
docentes, estudantes e todos os que
pesquisam na rede informação sobre
assuntos específicos em várias áreas de
investigação.
Ainda numa versão beta, o Windows
Live Academic Search permite pesquisar
artigos, publicações académicas e apresentações em áreas temáticas como
Informática, Engenharia Eléctrica e a Física.
A utilização do serviço obriga a uma
subscrição. O Windows Live Academic
Search concorre directamente com o
motor de busca do Google dedicado à
pesquisa académica. O Google Scholar
(http://scholar.google.com) é um serviço também recente e gratuito. E, actualmente, a sua pesquisa abrange mais
áreas temáticas do que o Windows Live
Academic Search.
60 Minutes no Yahoo
O programa “60 Minutes” (http://
www.cbsnews.com/sections/60minutes/
main3415.shtml) da CBS (http://
www.cbsnews.com/), que está no ar desde 1968, estar também disponível na
rede. Uma parceria entre a estação
televisiva norte-americana e o Yahoo
(http://www.yahoo.com/) vai permitir
disponibilizar online reportagens emitidas na televisão e conteúdos exclusivos para a Internet.
86 torga
O objectivo da CBS é promover o
jornalismo de investigação de excelência do “60 Minutes” e captar novos públicos, com o recurso à interactividade
em conteúdos produzidos única e exclusivamente para serem veiculados
online. O Yahoo, que tinha feito recentemente uma forte aposta na produção
própria de conteúdos informáticos, reafirma com esta parceria que o jornalismo vai voltar a ser um dos pontos importantes do portal.
Os números do negócio não são conhecidos, mas os das audiências são
impressionantes: o Yahoo tem uma média de 126 milhões de visitantes por mês,
o “60 Minutes” reúne a preferência semanal de 14 milhões de telespectadores. A partir do início do Outono, o Yahoo
vai disponibilizar um “microsite” com as
reportagens do programa semanal e
conteúdo exclusivo para a Internet.
Inês Amaral
Alma Nostra
ALMA NOSTRA
Carlos Magno – Jornalista
Carlos Amaral Dias - Psicanalista
Antena 1
Sábados
11 horas
Porque foi Sábado a emissão de 11 de
Março coincidiu com a passagem dos
dois anos sobre o atentado bombista
em Madrid.
Toda a conversa se desenrolou à
volta da temática do Terrorismo Mundial.
“Será que começámos a esquecer?” questionou Carlos Magno.
Carlos Amaral Dias respondeu que
“o terrorismo é o fenómeno político mais
importante do século XXI e que a tendência da mente humana é desmentir
a realidade da ameaça e apagar da
memória a realidade que foi
consubstanciada na fatalidade de 11
de Março. Não se deve e não se pode
esquecer o que aconteceu e sobretudo
não podemos esquecer o que isso quer
dizer.”
“O terrorismo não é previsível, é não
ter rosto e não saber quando é que ataca”, declarou Magno. Ao que Amaral
Dias replicou que “o terrorismo tem o
problema de ser essa posição omnisciente daquilo que só os outros sabem; é
isso que nos torna a todos tão indefesos”.
“Como é que uma sociedade esquece, como é que uma sociedade reprime?”
“Ela não reprime, o que ela faz é um
desmentido daquilo que ela tem de mais
radical. A situação vivida em Madrid
evidentemente que convoca a pior das
patologias que um ser humano pode
ter, que é a patologia do desamparo”,
declarou o psicanalista.
O jornalista comentou a visão
egocêntrica que os norte-americanos
têm do mundo, uma visão limitada: eles
consideram-se o centro do mundo. Um
exemplo disso é o discurso de
Samantha, personagem da série
televisiva “O Sexo e a Cidade”, quando pergunta às suas amigas a certa altura num episódio: “Quando as pessoas saem de Nova Iorque para onde é
que vão?”, como se não existisse mais
nada além de Nova Iorque.
Há inquéritos que foram feitos aos
norte-americanos, e mais de 70 por
cento não tinha ideia da data da Guerra da Secessão, nem as razões que a
motivaram.
Outra questão apresentada era:
“Depois do Iraque qual o país que acha
que devíamos invadir?”, ao que respondiam com exemplos de países como a
França e a Espanha, e outros a Austrália, não fazendo ideia da sua localização geográfica.
Os intervenientes do programa justificaram esta posição dos americanos
dizendo que a história dos E.U.A. é uma
longuíssima história de guerra, fundaram-se com a guerra e não deixaram de
estar em guerra até hoje, sendo capazes de realçar a sua intervenção política
na resolução de alguns conflitos justos.
Também se nota cada vez mais, ao
percorrer alguns países europeus, um
desconhecimento dos factos históricos,
qual a noção do Globo e do próprio país,
nomeadamente, entre as elites portuguesas, concordaram.
Magno questionou se no segundo
ano sobre a tragédia de 11 de Março:
“È possível construir um mundo onde
as pessoas possam viver em paz?”
Carlos Amaral Dias respondeu que nós
gostaríamos que a paz fosse possível.
Freud disse que a única forma que os
seres humanos têm de se defenderem
da guerra é através da cultura. Disse
também que a guerra é o mais primitivo
dos primitivos do tribalismo, explicando a teoria da encruzilhada, quando
duas tribos se encontram, matam-se uns
aos outros, ou seja, quem não faz parte
da minha tribo não existe.
No final da emissão, concluíram que
o programa terminou com um tom pessimista, mas que, dadas as circunstâncias mundiais e contextuais, devíamos
falar, e que falar também ajudaria a reflectir sobre o que se passa no nosso
país, dentro da nossa casa e dentro da
nossa Alma. “O que arde, cura” foi o
provérbio usado por Amaral Dias para
simbolizar o que fora dito.
Ana Cristina Abreu
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PubliReportagem
“UMA HISTÓRIA DE SUCESSO”
Hotel são hotéis de charme, edifícios
antigos transformados com conforto e
virados para o lazer.
Em Portugal, o primeiro hotel da
cadeia apareceu em Lisboa em 1993.
Em Coimbra surgiu um ano mais tarde, em 1994. Localizado num ponto
da cidade que dá fácil acesso aos
e outros hotéis que são explorados
em business management pela sociedade Solmeliá”, refere Vasco Mexia
Santos, administrador do Hotel. O s
hotéis Tryp são os mais urbanos da
cadeia. Com cerca de 2 anos, os hotéis Hard Rock são um conceito de
hotel mais moderno para um público
específico que resulta de uma junção
do Hard Rock Café com a cadeia
Solmeliá.
O Hotel Tryp pertence à cadeia dos
hotéis Solmeliá. Este grupo que teve
início, em 1956, com a abertura de um
primeiro hotel em Palma de Maiorca o Altair Hotel, está actualmente espalhado por todo o mundo. “Hoje em
dia, a cadeia divide-se em hotéis que
são propriedade de Gabriel Escarrer
88 torga
O grupo é composto por vários
segmentos: “O Tryp é o hotel de cidade, de negócios, o Meliá é de 5 estrelas e o GrandMeliá que é gama alta,
chamam-lhe hotel de luxo. O Sol para
praia e o Solparadisus que existe em
tudo o que é paraíso turístico – explica Vasco Mexia Santos. Os Boutique
Hospitais da Universidade de
Coimbra e à Universidade, o Hotel
Tryp Coimbra é mais vocacionado
para negócios, facilitando a quem o
procura salas de reunião de várias dimensões: há as salas executivas com
capacidade até 15 pessoas e salas
maiores como a Sala Buçaco até 60
pessoas ou a sala Lousã para acolher até 180 pessoas. Todas estas
salas dispõem de infra-estruturas de
telecomunicações que permitem uma
fácil ligação em video-conferência. É
possível ainda dentro do hotel o acesso wireless à Internet por qualquer indivíduo que tenha um computador:
“há dias em que o nosso hall parece
quase uma sala empresarial” afirma
a directora do Hotel Tryp, Ana Maria
Antunes. Não descurando o lado do
convívio, o hotel tem inúmeros serviços disponíveis à população em geral, como, por exemplo, o restaurante
“O Magistrado”, o bar ou o hall do hotel
onde, todas as Sextas-feiras e Sábados, há espectáculos de música ao
vivo ou recital de piano a partir das 21
horas. “Temos um outro segmento de
pessoas que podem tomar um chá à
tarde, às 17 horas - o Chá das Cinco -
PubliReportagem
nós temos uma panóplia de chás, à
volta de cinquenta chás diferentes
O administrador lamenta a falta de
oferta cultural na cidade de Coimbra,
que as pessoas podem vir experimentar. Isto é como uma pequena sala de
explicando que os grandes espectáculos que podiam aqui ter lugar mui-
visitas onde as pessoas se encontram
e conversam” explica Vasco Mexia
tas vezes não acontecem por falta de
um espaço que os possa acolher:
Santos.
Os 120 quartos e 13 suites júnior
“Acho que se devia apostar mais no
turismo cultural. É uma cidade rica ar-
do Tryp estão todos equipados com
TV satélite, mini bar, cofre, ar-condici-
quitectonicamente e em história e
aproveita-se muito pouco”. Conside-
onado e telefone directo.
ra urgente a construção de um centro
cultural e de congressos, o qual po-
“Devia apostar-se mais no turismo
cultural”
deria até ter o apoio de muitos empresários da região. Nota que os turistas que procuram Coimbra quando
abandonam a cidade vão desiludidos
porque a oferta cultural é pouca e os
lugares dignos de visita não têm um
horário de abertura alargado.
Resumindo a história do Hotel o
administrador, Vasco Mexia Santos,
afirma “é uma história de sucesso. Foi
bom acreditar. Nesta cidade, inicialmente as pessoas não acreditam nas
coisas, depois elas acontecem, dão
certo e isso é gratificante.” Por sua
vez, a directora conclui “com trabalho
tudo se consegue e esta ideia aplicase muito bem aqui ao hotel.”
Ana Beatriz Bento
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Foreign Affairs
A questão iraniana tem dominado as atenções nos últimos meses, mas, na realidade, há muito que
preocupa os políticos, os analistas e os interesses económicos.
Pareceu-nos por isso útil escolher um artigo que analisasse a dinâmica recente das relações bilaterais
entre os EUA e o Irão, não deixando de observar as consequências da mesma sobre o posicionamento
geo-estratégico da União Europeia, neste conflito que se tem vindo a agudizar.
Henrique Amaral Dias
Editorial du “Monde”
Bush et l’Iran
Par le truchement de l’Agence internationale de l’énergie atomique (AIEA), les grandes puissances,
apparemment unies, cherchent à empêcher l’Iran de poursuivre un programme nucléaire qui pourrait
lui permettre d’acquérir un jour la bombe. Les réunions se multiplient, les diplomates s’activent, les
pressions s’accroissent. La pièce qui se joue sur le devant de la scène a pour thème le transfert du
dossier iranien au Conseil de sécurité des Nations unies.
Mais ce n’est peut-être qu’un rideau de fumée masquant une autre bataille. Le représentant américain
à l’ONU, John Bolton, trahit les véritables préoccupations de George W. Bush en qualifiant l’Iran de
“menace globale”. Il ne fait pas seulement allusion aux ambitions nucléaires de Téhéran, qui ne sont
qu’une circonstance aggravante. Il évoque les philippiques du président Ahmadinejad contre Israël, le
soutien à des organisations placées sur la liste des groupes terroristes comme le Hezbollah libanais et
le Hamas palestinien, le rôle ambigu de l’Iran dans les affrontements qui déchirent l’Irak... Bref, il met
implicitement en cause le régime des mollahs issu de la révolution khomeiniste, dans lequel il décèle
la source de tout le mal.
Dans cette logique, la solution de la question iranienne ne peut pas être seulement partielle. Il ne
suffit pas d’envoyer quelques inspecteurs de l’AIEA sur le terrain ni même d’édicter quelques sanctions
au Conseil de sécurité. Ce n’est pas un hasard si les Etats-Unis n’ont jamais participé directement aux
négociations sur le programme nucléaire iranien. Ils ont laissé les Européens en première ligne. Si ces
derniers avaient réussi, tout le monde aurait engrangé le bénéfice. Toutefois, Washington ne croyait
guère à leur succès et, surtout, avait d’autres priorités.
George W. Bush et ses amis ont un objectif en Iran : le changement de régime. Ils ont commencé à
dégager des fonds - 85 millions de dollars - à cet effet. Ce n’est sans doute qu’un début. Pour arriver à
leurs fins, ils utiliseront tous les moyens à leur disposition. Les sanctions qu’ils réclament de la part du
Conseil de sécurité de l’ONU ne visent pas seulement à arrêter, ni même à retarder, le programme
nucléaire de Téhéran. Elles ont avant tout pour fonction de déstabiliser le régime et de contribuer à sa
chute. L’hypothèse parfois évoquée de frappes sur les installations iraniennes doit être envisagée dans
ce contexte.
Il est plus facile de parler d’un changement de régime que de le mener à bien, surtout après le fiasco
sanglant enregistré en Irak. Il n’en reste pas moins que les Américains dévoilent peu à peu leurs
véritables intentions. Au-delà de la gravité du dossier nucléaire, les Européens auraient tort d’occulter
l’autre enjeu de ce bras de fer. Sauf à se retrouver en porte à faux.
90 torga
Publicações
“ Este livro interessa a todos os alunos que queiram iniciar o estudo da Gestão das
Organizações. O leitor ficará familiarizado com o contributo dos principais autores,
neste domínio, e terá a oportunidade de aprender os conceitos fundamentais que
são ensinados nas escolas superiores. O leitor toma ainda conhecimento das
questões, por vezes polémicas, da gestão da actualidade.”
FIRMINO, Manuel
Brazinha
Gestão das
Organizações:
conceitos e
tendências actuais
Escolar Editora, 2002
“ Este livro encontra-se estruturado em três partes distintas e complementares. Esta
estruturação proporciona aos leitores uma sequência lógica dos procedimentos a
adoptar na elaboração de uma base de dados, desde a sua estruturação inicial dos
dados, passando pelas funcionalidades do Microsoft Access XP, até aos
procedimentos mais avançados suportados pela programação em Visual Basic
(VBA). É feita a utilização de um “exercício guiado” uniforme em todo o livro e que
será a base para o desenvolvimento dos procedimentos associados à elaboração
de uma base de Dados.”
AZEVEDO, Ana
ABREU, António
CARVALHO, Vidal de
Desenho
e
Implementação de
Bases de Dados com
Microsoft Access XP
Centro Atlântico, 2002
“ Strategic Planning for Information Systems explora o impacto que os sistemas de
informação e a tecnologia de informação têm no desempenho empresarial e a
contribuição que dão para as opções estratégicas das organizações. Descreve
ferramentas, técnicas e programas de gestão para sintonizar as estratégias dos
sistemas de informação e da tecnologia de informação com a estratégia empresarial,
bem como para procurar novas oportunidades através de um inovador uso
tecnológico.”
WARD, John
PEPPARD, Joe
Strategic Planning for
Information Systems
Wiley, 2004
Ana Cristina Abreu
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Mestrados
CONCLUÍDOS
FAMÍLIAS MULTIPROBLEMÁTICAS:
UMA PERSPECTIVA SISTÉMICA
SOBRE O SEU FUNCIONAMENTO FAMILIAR
Em 1 de Fevereiro de 2006, Dulce Manuel
Vasconcelos Martins concluiu o
Mestrado em Família e Sistemas Sociais.
O Júri, constituído pelos Professores
Doutores Marina Cunha Pinto Gouveia
(ISMT), Wilma Cardoso (FEQ Lorena) e
Jorge Caiado Gomes (ISMT), classificou
a prova com Muito Bom.
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SOCIAIS: CONTRIBUTO DO
MÉTODO PEDAGÓGICO UTILIZADO
NO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SOCIAIS, NOMEADAMENTE
RESPONSABILIDADE E AUTONOMIA
Em 20 de Janeiro de 2006, Ana Paula
Loureiro Serra concluiu o Mestrado em
Família e Sistemas Sociais. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
Carlos Farate (ISMT), José Henrique Dias
(ISMT) e Manuel Canaveira (UNL),
classificou a prova com Bom.
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LUTO
NO RETORNO DOS PORTUGUESES
DAS EX-COLÓNIAS AFRICANAS, NO
JORNAL O RETORNADO
Em 4 de Janeiro de 2006, Ana Simões
Sotto-Mayor de Almeida concluiu o
Mestrado em Família e Sistemas Sociais.
O Júri, constituído pelos Professores
Doutores Susana Vicente Ramos (ISMT),
Carlos Amaral Dias (ISMT) e Maria João
Pereira (ISCE), classificou a prova com
Muito Bom.
VÍNCULO E PERCEPÇÃO NA
RELAÇÃO PRECOCE: UM ESTUDO
TRANSCULTURAL
Em 7 de Setembro de 2005, Sandra Mara
Demoliner Campesatto concluiu o
Mestrado em Família e Sistemas Sociais.
O Júri, constituído pelos Professores
Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT),
Carlos Amaral Dias (ISMT) e Aníbal
Custódio dos Santos (ESEAF), classificou
a prova com Muito Bom.
PERCEPÇÃO E ATITUDES DAS
ENFERMEIRAS DO BLOCO OPERATÓRIO FACE AOS RISCOS PRO-
92 torga
FISSIONAIS
Em 8 de Fevereiro de 2006, Patrícia
Maria Menezes Pinto concluiu o
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde.
O Júri, constituído pelos Professores
Doutores Águeda Marques (ESEAF),
Susana Vicente Ramos (ISMT), René
Tápia Ormazabal (ISMT), Carlos Amaral
Dias (ISMT), António Pazo (ISPA) e
Susana Vicente Ramos (ISMT),
classificou a prova com Muito Bom.
O OLHAR DOS ADOLESCENTES
SOBRE OS PAIS EDUCADORES:
PERCEPÇÃO SOBRE ATITUDES
PARENTAIS FACE À SITUAÇÃO DE
CONJUGALIDADE
Em 7 de Dezembro de 2005, Teresa
Margarida Inácio Silva Carreira
concluiu o Mestrado em Sociopsicologia
da Saúde. O Júri, constituído pelos
Professores Doutores José Amendoeira
(IPS), Susana Vicente Ramos (ISMT),
René Tápia Ormazabal (ISMT) e Carlos
Amaral Dias (ISMT), classificou a prova
com Muito Bom.
QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE
DE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA EM
CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO
CORONÁRIA
Em 15 de Novembro de 2005, Rosa de
Coutinho Carvalho e Silva Aires dos
Reis concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos
Professores Doutores René Tápia
Ormazabal (ISMT), Manuel Antunes (UC)
e Pedro Zany Caldeira (ULL), classificou
a prova com Muito Bom.
EM NOME DO PAI
Em 4 de Janeiro de 2006, Vasco Tavares
dos Santos concluiu o Mestrado em
Aconselhamento Dinâmico. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Wilma
Cardoso (UParaíba) e Carlos Amaral Dias
(ISMT), classificou a prova com Muito
Bom.
DA INSATISFAÇÃO PROFISSIONAL AO
BURNOUT EM TRABALHADORES
AUTÁRQUICOS
Em 25 de Novembro de 2005, Ana Sofia
de Noronha Freire concluiu o Mestrado
em Aconselhamento Dinâmico. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Eduardo
Ribeiro dos Santos (UC) e Carlos Farate
(ISMT), classificou a prova com Muito
Bom.
TRATAMENTO DE UM DOENTE
PSICÓTICO GRAVE
Em 23 de Novembro de 2005, Raul
Manuel
Azevedo
Alexandrino
Fernandes concluiu o Mestrado em
Aconselhamento Dinâmico. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Rui
Coelho (UP) e Carlos Amaral Dias (ISMT),
classificou a prova com Muito Bom.
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
NO PERÍODO DE LATÊNCIA
Em 16 de Novembro de 2005, Paula Sofia Carvalho Paiva concluiu o Mestrado
em Aconselhamento Dinâmico. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Luísa
Branco Vicente (UL), Carlos Farate (ISMT)
e Carlos Amaral Dias (ISMT), classificou
a prova com Bom.
ROTAS COMERCIAIS DA DROGA EM
PORTUGAL
Em 20 de Janeiro de 2006, Vítor Manuel
Fernandes Antunes concluiu o Mestrado
em Toxicodependência e Patologias e
Psicossociais. O Júri, constituído pelos
Professores Doutores René Tápia
Ormazabal (ISMT), Carlos Farate (ISMT)
e Jorge da Silva Ribeiro (IDT), classificou
a prova com Bom.
A HEROINODEPENDÊNCIA MATERNA: INFLUÊNCIAS NAS CONSULTAS DE VIGILÂNCIA DE SAÚDE
INFANTIL E NO PLANO NACIONAL DE
VACINAÇÃO
Em 16 de Novembro de 2005, Filipe
Ferreira Moreira concluiu o Mestrado em
Toxicodependência e Patologias e
Psicossociais. O Júri, constituído pelos
Professores Doutores René Tápia
Ormazabal (ISMT), Carlos Farate (ISMT)
e Luísa Branco Vicente (UL), classificou a
prova com Muito Bom.
SUPORTE SOCIAL E QUALIDADE DE
VIDA NO PÓS-ACIDENTE VASCULAR
CEREBRAL
Em 9 de Novembro de 2005, Susana
Isabel Figueiredo Amaral concluiu o
Mestrados
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias e Psicossociais. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Sandra
Oliveira (ISMT), Michael Knoch (ISMT) e
Rui Aragão Oliveira (ISPA), classificou a
prova com Muito Bom.
QUALIDADE DE VIDA DO DOENTE
DEPRIMIDO
Em 9 de Novembro de 2005, António
Manuel Santos Pereira concluiu o
Mestrado em Toxicodependência e
Patologias e Psicossociais. O Júri,
constituído pelos Professores Doutores
René Tápia Ormazabal (ISMT), Sandra
Oliveira (ISMT), Jorge Caiado Gomes
(ISMT) e Carlos de Sousa Albuquerque
(ESEV), classificou a prova com Muito
Bom.
EM PREPARAÇÃO
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Sandra La
Salete Campos Abrantes, intitulado “(Tóxico) Dependência: à descoberta do impacto da heroínodependência no stress
parental”.
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Maria Telma
da Cruz Duarte, versando sobre o tema
do stress ocupacional e estilo de vida dos
enfermeiros.
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Rui Filipe Lopes
Gonçalves, versando sobre o tema do
investimento corporal em doentes com
paramiloidose.
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Carlos Lopes
Cardoso, versando sobre o tema da imagem corporal e depressão na infância e
o contributo para a validação de uma
escala de avaliação da imagem.
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Cristóvão
Margarido, versando sobre o tema da
reinserção sócio-profissional de
toxicodependentes e auto-conceito.
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Ana Cristina
Almeida Santos, versando sobre o tema
do arquivo morte social e idosos
institucionalizados.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Maria do Céu Ferreira dos Santos, versando sobre o tema da educação
de adultos / ensino recorrente (um
subsistema do nosso sistema educativo).
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Lúcia Nunes
Dias, versando sobre o tema da política
das drogas em Portugal 1970/2004 (perspectiva histórica global, suas continuidades, interrupções, revisões e previsões).
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Generosa Augusta Morais, versando sobre o tema da violênica e
institucionalização (trajectos e resocialização).
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Paula Monteiro
Nunes, versando sobre o tema da prevenção da gravidez na adolescência no
distrito da Guarda.
Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Tânia Ribeiro,
versando sobre o tema da rede social
dos agentes da PSP.
Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Anabela Ponces Ferret de Almeida
Correia, intitulado “Avaliação do Serviço
do Centro de Atendimento a Jovens de
Coimbra – CAJ”.
Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Cláudia Maria de Jesus Margaça,
versando sobre o tema do impacto das
situações de doença grave, crónica e
incapacitante nos profissionais de saúde.
Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Elisabete de Jesus Ramos, versando sobre o tema da simbolização e
espaço potencial na prova projectiva de
Zulliger.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Cristina Maria Rodrigues Silva
Ventura, intitulado “Estratégias de Coping
em Famílias com Crianças Autistas”.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Teresa Pechincha, versando sobre o tema dos emigrantes de Leste e a
percepção do apoio social em Portugal.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina da Silva Costa, versando sobre o tema da relação entre a
hiperactividade e a (im)possibiblidade de
brincar.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Lília Matias, versando sobre o tema
da violência entre pares de adolescentes-Bulling.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Anabela Silveira, versando sobre
o tema das patologias sazonais.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Carla Borges, versando sobre o
tema da análise comparativa entre a primeira e segunda gravidez na adolescência.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paulo Maranhão, versando sobre
o tema da actividade turística na praia de
Mira e perspectivas de desenvolvimento.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Susana de Oliveira, versando sobre o tema da união de facto e expectativas diferenciadas segundo o género.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina da Silva Costa, versando sobre o tema da relação entre a
hiperactividade e a (im)possibiblidade de
brincar.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Catarina Fernandes, versando sobre o tema da qualidade conjugal
no casal homossexual.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Luísa E. C. Nogueira dos Santos, versando sobre o tema da prestação
de cuidados a crianças: diferenciação
segundo o género do progenitor.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Susana Aleixo, versando sobre o
tema da reabilitação e amputação (importância da intervenção do serviço social hospitalar).
torga 93
Mestrados
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Miguel Pratas, versando sobre o
tema da institucionalização de crianças
e jovens e representações das famílias.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Susana Romão, versando sobre o
tema das representações sociais da
toxicodependência.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Berta Pereira Jacinto, versando
sobre o tema das representações sociais dos alunos surdos do ensino básico
de Leiria.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Ricardo Jorge de Oliveira Ferreira,
versando sobre o tema das vivências da
amputação do membro inferior por
etiologia vascular em homens na idade
adulta: abordagem fenomenológica da
corporeidade.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Brito Largo, versando sobre o tema
do impacto das construções pessoais na
intervenção clínica dos profissionais que
lidam com doenças neurológicas.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paula Sofia Carvalho, versando
sobre o tema do apoio social e o stress
dos enfermeiros.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Maria de Fátima Fonseca, versando sobre o tema do Rendimento Social
de Inserção.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Marta Ferreira, versando sobre o
tema das famílias migrantes (os pais que
vão e os filhos que ficam e as implicações ao nível da organização e estrutura
familiar).
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paulo Peralta, versando sobre o
tema da rede escolar (uma construção
dinâmica).
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina Góis, versando sobre o tema das representações sociais
de pobreza.
Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Cláudia Pereira da Silva, versando sobre o tema da adopção e a construção da identidade parental nas famílias
adoptivas.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Fernanda Maria Lucas dos Santos,
versando sobre o tema da “check-list” no
processo de cuidados em bloco operatório de neurocirurgia.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Helena Maria Martins Norinha Gomes
Sobral, versando sobre o tema do sofrimento do doente oncológico.
94 torga
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Ana Isabel Casca Jesus Carlos
Ferreira, versando sobre o tema da
paramiloidose.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Helena Maria Abrantes Mendes Belo,
intitulado “Competências maternas autopercebidas no cuidar do recém-nascido
de termo”.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Sara Cunha, versando sobre o tema
da resiliência familiar e as vivências dos
familiares de doentes oncológicos em
fase terminal de vida.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Maria Manuela António, intitulado “
Vivência da mãe toxicodependente no
período de privação do bebé durante o
internamento na Unidade de Cuidados
Intensivos”.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Ana Paula Favas, versando sobre o
tema da contracepção e adolescência.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Margarida Santos, versando sobre o
tema da enfermagem de família (análise
sistémica construtivista de necessidades
de famílias com insuficiência cardíaca).
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Cecília Pinto, versando sobre o tema
da violência de género e psicopatologia
em jovens adultos.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Hélder Simões, versando sobre o tema
da cultura e clima organizacional em escolas profissionais.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Marta Albuquerque, versando sobre
o tema da vulnerabilidade ao stress dos
cuidadores da pessoa portadora de deficiência mental.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Rita Pelote, versando sobre o tema
das representações sociais dos
politraumatizados condutores de
ciclomotores, vítimas de acidentes de viação.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Teresa Tinoco Duro, versando sobre
o tema da qualidade de vida na
hemodiálise versus diálise peritoneal.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Cláudia Oliveira, versando sobre o
tema do nível de ansiedade da mulher
grávida em relação ao parto no pré-parto
imediato.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Maria Otília Queirós, versando sobre
o tema da implantação de endopróteses
metálicas por via cutânea (estudo
rectrospectivo do tratamento de oclusões
das vias bibliares).
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Paula Cristina Parente, versando sobre o tema do burnout em enfermagem.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Cláudia Alves Cardoso, versando sobre o tema do síndrome de burnout em
enfermeiros.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Tânia Leite, versando sobre o tema
do acompanhamento da família ao
hemodializado.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Pedro Miguel Dias Sequeira, intitulado
“Educação Para a Saúde da Família do
Doente com AVC”.
Mestrado em Sociopsicologia da Saúde,
de Isabel Fernandes, versando sobre o
tema dos factores influenciadores da percepção do comportamento de cuidar na
enfermagem.
Mestrado em Serviço Social, de Paula
Manuela Almeida Marques Henriques,
versando sobre o tema do Serviço Social
nos municípios do distrito de Viseu.
Ana Cristina Abreu
Viagem
MINHA COIMBRA
Do rio, outrora basófias, hoje senhor
corpos suados, o roçar das saias das
As salas apresentam decorações
sobre os areais, não se percebe o
emaranhado de calçadas que se es-
mulheres da vida e o sabor do pão
cozido no forno comunitário, leva-nos
de ilusão de óptica. Na sala de topo,
Dom João V (1725) vigia o seu tesouro
tendem pelas colinas. O encadeamento dos telhados, das paredes, das co-
a experienciar os dias desses tempos
longínquos. A história viva apresenta-
criado nesse século das luzes, pelo
ouro do Brasil, e que deslumbrava a
res, essa assimetria tão só e tão quieta.
Quando se começa a subir, sente-
se ali aos nossos sentidos.
Em tempo de aulas, saboreia-se a
subida em cada pedra da calçada.
Corte com o seu luxo.
Do Pátio da Universidade a vista
sobre o casario e o rio sonolento en-
se a vida dos que partilham os passeios e as soleiras das portas. Os espa-
Para baixo e para cima, é um vai-vem
humano de estudantes e futricas, mas
volve-nos na mágica saudade da cidade, deixando-nos onde tudo come-
ços da rua parecem a sala de estar
daquelas casas e os sofás e janelas
dizem que Coimbra descansa quando
chegam as férias.
çou. Com as palavras do poeta suspiramos “Coimbra tem mais encanto na
quadros de enfeitar. Adivinham-se as
conversas alegres entre colegas e
Chegando ao topo, a Universidade é a dona do mundo. A Torre avista-
hora da despedida”.
Em Maio, Coimbra pinta-se de ne-
amigos ou o silêncio do estudo para o
exame da manhã seguinte.
se desde os confins dos arrozais do
Mondego.
gro e recebe com frescura e irreverência
a festa da Queima da Fitas.
Entra-se na cidade intra muros pelo
Arco de Almedina. O tempo voa até ao
A Sala dos Capelos constitui o lugar com maior significado académico,
A festa do fado abre com a Serenata Monumental às zero horas de uma
século V quando os Árabes invadiram
a cidade.
onde se fazem ainda hoje as Provas
de Doutoramento. Primitivamente, foi
sexta-feira. Durante uma semana, a cidade alimenta-se de jantares e bebi-
Ao cimo das Escadas de QuebraCostas, a Sé Velha resiste à passagem
a Sala do Trono do Palácio Real.
O barroco da Biblioteca Joanina
das, e para sobremesa, alguns amores feitos à pressa.
do tempo vestida ao estilo românico.
No centro histórico, todos os anos
dá-lhe a fama de ser única no seu estilo.
As noites coimbrãs passam pelas
ruas da Alta deixando um rasto de mis-
a Feira Medieval toma de assalto os
mais desprevenidos. Velhos, pedintes,
As paredes são revestidas por estantes lacadas de vermelho e verde-
tério nas paredes frias das casas. A
guitarra geme baixinho “lua morta, rua
nobres, leprosos, donzelas misturamse numa azáfama própria da Idade Mé-
escuro, as madeiras são exóticas do
Brasil, pintadas a dourado e policro-
torta, tua porta.”
dia, onde o cheiro nauseabundo de
madas.
Ana Cristina Abreu
torga 95
Entrevista
“Os alunos querem novas instalações”
Bruno Cordeiro está a cumprir o seu
centando ainda que “nós neste
segundo mandato e, em entrevista à
Torga confessou que ser presidente da
momento pagamos 215 euros de
propina tendo em conta as insta-
AEISMT “é uma oportunidade de deixar
um pouco do que é o meu trabalho, o
lações que temos. Eu acho que
se tivéssemos umas boas insta-
meu dinamismo, a minha criatividade e
também poder cativar os outros a fazer
lações, os alunos não se importariam de pagar um pouco mais,
coisas. O espírito da AE é representar
os alunos e resolver os seus proble-
por exemplo até 250 euros”, concluiu. O Presidente da Associa-
mas”.
A AEISMT tem colaborado com ou-
ção de Estudantes reconhece
que “os alunos só teriam a ga-
tras Associações de Estudantes e, neste momento, em conjunto com o Instituto
nhar com as novas instalações,
mesmo que para isso tivessem
Politécnico e outras instituições de ensino privadas, está a tentar “ressuscitar” a
que fazer um esforço que implicasse um aumento na propina,
FAC – Federação Académica de
Coimbra “não para fazer frente à AAC
dependendo do valor do aumento. Os alunos querem novas ins-
mas para mostrar que também estamos
aqui e também conseguimos fazer coisas”, explicou o Presidente da AEISMT.
talações. Constantemente somos
confrontados com perguntas
como: E as obras? E o novo edi-
Uma das dificuldades desde sempre
apontadas pelas anteriores direcções
fício? Para quando? Onde? Há
uma impaciência da nossa parte
da Associação de Estudantes foi a proximidade com os alunos, “continua a ser
e dos alunos no que diz respeito
às novas instalações” afirmou o
uma das nossas maiores dificuldades.
No entanto, a nossa maior vitória, desde
Presidente da AEISMT.
Bruno Cordeiro revelou tam-
há dois anos a esta parte, foi ter conseguido aproximar mais os alunos da AE.
bém que a Direcção da Associação de Estudantes tem uma rela-
•
O que eu noto cada vez mais é que os
alunos se identificam com a Associação
ção harmoniosa e de respeito
com a Direcção do ISMT: “existe
•
e isso facilita o nosso papel. Eles procuram-nos”, afirmou Bruno Cordeiro. A dis-
uma relação bastante saudável,
existe diálogo. Estamos em
persão de edifícios é apontada como
uma das causas para que não exista
sintonia, até porque temos o
mesmo objectivo que é servir os
tanta coesão entre alunos, por isso quando se fala em novas instalações o Presi-
alunos.”
dente da AE é peremptório: “Esse projecto só peca pelo adiamento porque, a
nível do ensino, vinha colmatar a maior
lacuna do ISMT, que é a dispersão de
edifícios. No que diz respeito à coesão
com os alunos, ela seria perfeita”, acres-
96 torga
Projectos
concluídos/em
curso
•
•
•
•
Andrea Marques
Henrique Amaral Dias
Obras de reestruturação
do bar da AEISMT
Garantir um Horário de
Funcionamento da AE
Esplanada no Edifício
azul
Organização do I
Encontro de Tunas
Criação da Associação
de Antigos Alunos do
ISMT
II Baile de Gala
AE
Eleições para os Corpos
Gerentes da AEISMT
No dia 9 de Março, realizaram-se nas
instalações do ISMT, as Eleições para
os Corpos Gerentes da Associação de
Estudantes do ISMT.
No mesmo dia, pelas 18H30,
procedeu-se à contagem dos votos, na
presença do Presidente da Comissão
Eleitoral e do Representante da Lista A.
Foram apurados os seguintes
resultados:
Direcção e Assembleia Geral
N.º total de Votantes - 321
Votos em Branco - 10
Lista A - 311
Nulos - 0
Conselho Fiscal
N.º Total de Votantes - 321
Votos em branco - 10
Lista A - 311
Nulos - 0
É de realçar a significativa adesão
dos alunos às urnas de voto, o que nos
deixou bastante satisfeitos.
Relatório de Contas Anual
Referentes ao Período: 2 de Março de
2005 a 14 de Março de 2006
Saldo a transportar
do último exercício ——— 1.567,42 €
Total de Receitas ——— 34.488,82 €
Total de Despesas —— 20.103,49 €
Saldo presente
no Banco ——————— 12.373,35 €
Saldo presente no
cofre da AEISMT ————— 45,39 €
Total de saldo a
transportar —————— 12.418,74 €
Bruno Cordeiro
Presidente da AEISMT
TOMADA DE POSSE DOS CORPOS GERENTES DA AEISMT
Realizou-se no dia 15 de Março de 2006,
a Tomada de Posse dos Corpos Gerentes da AEISMT, na sala 1 do Edifício Azul
da Rua Augusta.
Foram convidados todos os Docentes, Discentes e Funcionários a estarem
presentes, os quais aderiram em bom
número.
Na parte inicial foi dada a palavra
aos representantes dos Órgãos do ISMT.
Discursou a Dra. Cristina Quintas, como
representante do Conselho Directivo, a
Dra. Sofia Figueiredo (Conselho Pedagógico), o Dr. Henrique Amaral Dias, em
representação do Conselho Científico.
Enquanto Presidente da Comissão Eleitoral ouvimos o nosso caro colega Nuno
Lourenço e, seguidamente, o Dux João
Proença.
Por último, foi com muita atenção que
tivemos o prazer de escutar o Presidente reeleito, Bruno Cordeiro. O facto de
emoção da vida académica estar quase
no fim era notória no seu discurso. Falou-nos da construção constante da “nossa Associação em movimento”, no orgulho que teria em continuar a lutar, com
os seus colegas e amigos, pelos direitos e exigências de todos os alunos.
Assinada a Acta da Tomada de Posse, seguiu-se um lanche oferecido pela
AEISMT.
Para finalizar com a alegria necessária, actuou brilhantemente a Tuna Real
Torga.
Sara Ribeiro
AEISMT
torga 97
AE
Projectos da Lista Vencedora
A Lista A vencedora das eleições para
o Corpo de Gestão da AEISMT, propôs:
Objectivos gerais:
exigir um acréscimo da qualidade de
ensino e garantir a sua manutenção;
garantir um Horário de funcionamento da AE que beneficie todos os alunos;
lutar pelos direitos dos alunos (política de propinas, política educativa, etc.);
garantir uma Associação que represente
todos os estudantes, e não apenas uma
minoria.
Dinamizar os seguintes Núcleos:
1. Núcleo de Política Educativa
1. Organizar um dossier com politica
educativa;
2. Recolher junto do Instituto toda a
legislação sobre política educativa;
3. Acompanhar as novas leis sobre
Educação que vão saindo no Diário da República;
4. Recolher informação e esclarecer
os alunos acerca do Processo de
Bolonha.
2. Núcleo de Apoio ao Estudante
1. Colaborar com os elementos do
Conselho Pedagógico;
2. Fazer a ponte entre os alunos e a
A.E. acerca dos problemas pedagógicos;
3. Dinamizar o Cartão da AE;
4. Criar o Guia do Caloiro 2006/2007.
3. Núcleo de Imagem e Jornalismo
1. Gerir a página de Internet e o Blog
da AEISMT;
2. Fazer reportagens de actividades
realizadas pela AE e pelo ISMT;
3. Colaborar com a Torga;
4. Gerir e melhorar a Imagem da AE;
5. Criar de uma lista com o e-mail de
todos alunos do ISMT;
6. Criar de um Boletim Informativo
com o objectivo de difundir aos alunos toda a informação relevante
relativa ao ISMT, nomeadamente o
resumo das reuniões dos órgãos
pedagógico, directivo e assembleia
de representantes do Instituto. Visa
também o aumento franco dos índices de participação dos alunos
na vida académica.
98 torga
4. Núcleo de Desporto
1. Organizar torneios desportivos;
2. Organizar desportos radicais;
3. Facultar aos alunos momentos de
lazer e descontração;
4. Participar na discussão das políticas desportivas levadas a cabo
pelo Estado;
5. Intercâmbio com outras instituições.
5. Núcleo de Eventos e Cultura
1. Organizar o II Baile de Gala;
2. Apoiar o GIVS;
3. Apoiar a Tuna Real Torga;
4. Organização de conferências, seminários, colóquios, cursos, exposições e concursos.
6. Núcleo de Apoio à fundação da
AAAISMT
1. Fundação da Associação de Antigos Alunos do ISMT.
Reunião Geral de Alunos
No dia 15 de Março, pelas 14 h, realizou-se uma Assembleia-Geral de Alunos no Edifício Azul da Rua Augusta,
sala 1, tendo como Ordem de Trabalhos
a apresentação e aprovação do Relatório de Contas de 2 de Março de 2005 a
14 de Março de 2006, o qual foi aprovado por unanimidade.
Para além da aprovação foi com satisfação que ouvimos comentários de
felicitação pelo excelente trabalho realizado.
Houve igualmente um espaço de
debate e reflexão, no qual foram feitas
críticas e sugestões, às quais procuraremos dar resposta.
Dada a pouca participação dos alunos nesta RGA, gostávamos de apelar a
todos os alunos do ISMT para que fossem pessoas corajosas e inteligentes
ao ponto de participarem nas decisões
que lhes dizem respeito, uma vez que
não basta criticar, quando não se ajuda
a melhorar.
II Semana do Caloiro 2006
Neste ano lectivo, realizou-se a II Semana do
Caloiro. Este evento surgiu com o intuito de
promover o intercâmbio entre Caloiros e
Doutores de todos os cursos do ISMT.
O Conselho de Veteranos quis mostrar
aos caloiros o que é realmente a Praxe,
aproveitando também para apresentar o
Código de Praxe do Instituto que esteve à
venda na AEISMT por 3 euros.
Foram várias as praxes a que os caloiros
foram sujeitos, entre as quais, a tradicional
“Omoleta”.
Para além da Cruz de Celas e imediações
do Instituto, a Praxe teve também lugar no
Pavilhão “Pirilampos”, espaço que nos foi
gentilmente cedido pela Direcção, razão pela
qual nós agradecemos desde já.
Esperamos que o verdadeiro espírito da
Praxe seja para sempre mantido neste
Instituto e que decorra sempre de forma
ordeira, correcta e sem qualquer tipo de
abusos ou de desrespeito ao Código.
“Dura Praxis Sed Praxis”, A Praxe é Dura,
Mas é a Praxe!
Saudações Académicas,
João Proença
Dux Veteranorum
AE
Novidades do GIVS
Em primeiro lugar, o Grupo de Intervenção e
Voluntariado Social (GIVS) agradece a todos
aqueles que participaram na recolha de
roupa (homem/Senhora e criança), calçado,
material escolar e didáctico. Esta recolha
aconteceu no âmbito dos projectos “SemAbrigo” e “Dá-me um Sorriso”. Foi com
imenso agrado que vimos a Associação de
Estudantes cheia de sacos e é com um
Obrigado enorme que vos pomos a par do
que foi feito com todo esse material:
· Em Dezembro, foram efectuadas duas
entregas à Equipa de Rua Reduz (Sol
Nascente); uma entrega à AMI, uma à
ADAV e efectuou-se também uma
entrega em mãos a uma família
carenciada de Coimbra.
· No dia 18 de Janeiro, enviou-se uma
mega entrega para a Sol Eiras
(brinquedos, roupa, calçado, etc.)
· No dia 3 de Março, efectuou-se uma
nova entrega à AMI e dia 13 do mesmo
mês foi feita uma entrega a uma família
com carências (roupa de criança,
material escolar e alimentos).
Queríamos também lembrar que este
projecto não cessou: caso tenhas algo em
casa que não te seja útil podes trazê-lo ainda.
Ao fazê-lo estás a tornar alguém feliz! Nós
tivemos a prova disso.
Em segundo lugar gostaríamos de vos
dar a conhecer o sucesso que o projecto
“Dá-me um Sorriso” tem tido no que toca à
aceitação das instituições que contactámos
(cujo público são crianças). Toda a parte
institucional deste projecto está já
concretizada, com as devidas reuniões e
acordos com as instituições. O grupo já iniciou
a execução prática do projecto, com a ida à
Associação Integrar – Projecto Aguarela no
dia 13 de Dezembro, no dia 24 de Fevereiro
e no dia 17 de Março e ao Centro Comunitário
S. José no dia 14 de Março, Hospital
Pediátrico (dias 25/03 e 29/04), Projecto
Horizontes (29/03), Comunidade S. Francisco
de Assis (19/04), Integrar (21/04) e Casa
Infância Dr. Elísio de Moura (26/04).
Este projecto enche-nos de uma enorme
satisfação, não só porque os objectivos e
actividades dos projectos estão a ser
concretizados, mas também porque nos tem
permitido saborear o prazer do sorriso, nosso
e das crianças, numa partilha efectiva.
O GIVS tem outro motivo para sorrir. Aos
elementos fundadores do grupo juntaramse mais estudantes. Hoje, totalizamos 22
membros. Houve um investimento na
recepção e na procura desses mesmos
elementos, porque deles dependerá o futuro
do grupo. Orgulhamo-nos de juntar tantas
pessoas na busca do mesmo sonho: levar a
cabo acções que contribuam por um mundo
um pouco melhor. Estamos a unificar a família
estudantil do ISMT, confiamos nas
capacidades de inovação e conhecimento
desta família, uma família (não te esqueças)
da qual também fazes parte.
Mais novidades? Projectos novos, claro!
Estamos a realizar um Ciclo de CafésConversa com o objectivo de revitalizar as
velhas tertúlias coimbrãs, embora não
linearmente. Julgamos necessário criar
condições para que se abram espaços de
discussão académica e social, e fazer desses
mesmos espaços sítios de aprendizagem,
enriquecimento e maturação úteis para a vida
pessoal, social e profissional dos participantes.
Cafés-Conversa:
· Prostituição de Rua realizado no dia
14 de Março.
A adesão dos estudantes foi plena,
conseguiu-se criar o ambiente propício à
discussão saudável sobre esta temática. Para
tal contámos com a presença da Dr.ª Ana
Simões, Coordenadora da Equipa de Rua
Reduz.
·
A importância dos Media na
sociedade actual realizado no dia 22
de Março.
·
Despenalização do aborto
realizado no dia 28 de Março.
O Colóquio intitulado “Limiar da
(in)diferença”, teve como temática o
preconceito e a exclusão social e efectuouse no dia 5 de Abril, na Casa da Cultura.
O Colóquio sobre os comportamentos
aditivos e de risco na adolescência teve lugar
no dia 26 de Abril.
O GIVS participou num Workshop de
Animação de Rua com o Animador SócioCultural, Sérgio Lindo, no dia 22 de Fevereiro,
realizado na Sol Eiras. Considerámos que
seria interessante promover esta actividade
para os alunos do ISMT, assim realizou-se no
dia 30 de Março, no Penedo da Saudade.
Neste Workshop foram aprendidas técnicas
de malabarismo, fogo e andas, modelagem
de balões e face painting.
O grupo desenvolveu, ainda, uma
campanha de incentivo ao Voluntariado,
porque acreditamos que realizar acções
nesta área é uma mais valia a todos os níveis,
para os jovens.
Por último, gostaríamos de apelar à vossa
participação nos nossos projectos, bem
como salientar que esperamos pelo teu. Não
tens nenhum? Pensa, e não te esqueças que
“O que guia e arrasta o mundo não são as
máquinas, são as ideias” (Victor Hugo).
Gisa Barata
AEISMT
torga 99
Música
A Oferenda Musical, composta, impressa e presenteada a Frederico II, rei da
d) Em que a melodia é executada
do início para o fim e vice-versa
Prússia, por J. S. Bach, tendo como
tema base o sugerido pelo monarca,
em simultâneo;
e) Em espiral, i.e. quando se repe-
aquando da estadia do compositor em
Potsdam, é amplamente analisada por
te fá-lo, por exemplo, numa nota
acima. Se estiver ainda na mes-
Douglas Hofstadter na sua obra Gödel,
Escher e Bach: Laços Eternos. Este li-
ma escala (dó menor, seguido de
ré menor), então designa-se por
vro em boa hora foi publicado pela
Gradiva no ano de 2000.
OFERENDA MUSICAL
J. S. Bach (1747)
Johann Sebastian Bach (1685-1750) é
um génio da música. Muitos de nós
reconhecemos o nome, mas poucos
apreciam a sua arte e, ainda menos,
percebem a um nível elementar as
técnicas de composição que a
enformam. Contudo, qualquer ouvinte
atento e disposto a um raciocínio
rigoroso captá-las-á na sua essência, se
para tal envidar esforços moderados.
f)
espiral modulada;
Acompanhadas por vozes em
Dispenso-me de relatar outros por-
contraponto livre;
g) Em duplicado ou triplicado
menores históricos que rodeiam esta
composição, pois o meu propósito é o
(duas/três líderes e duas/três seguidoras).
de iluminar a estrutura musical em que
se apoia e, em particular, o cânone.
Bach foi capaz de construir cânones
Cânone vem da palavra grega para
de uma complexidade inigualável até
hoje pelo homem, onde integrava vá-
regra ou lei. Musicalmente, significa a
mais estrita forma de contraponto no
rias regras canónicas, como é o caso
do Cânone n.º 4 da Oferenda Musical
qual uma voz imita o ritmo e intervalo
de uma outra. Assim, cada nota de um
em que combina 3 vozes, duas em movimento contrário com velocidades dis-
cânone tem de assumir um carácter
melódico e harmónico dentro da mes-
tintas e uma terceira livre, sendo esta,
como era de bom tom, o augusto tema.
ma melodia. Se temos três vozes, a
nota de uma delas tem de se harmoni-
Mais curioso, é o Cânone n.º 5 a 2,
zar com as das outras duas e, simultaneamente, inserir-se melodicamente
per Tonos, cujo processo em espiral
modulada se poderia prolongar ad
na perfeição. É evidente que quanto
mais complexo é o tema que serve de
inifinitum, aproveitando o compositor
por elogiar Frederico II: “Notulis
base ao cânone e quantas mais vozes
são introduzidas, sobe dramaticamen-
crescentibus crescat Fortuna Regis”.
Contudo, e após seis modulações, fi-
te o número de combinações e,
consequentemente, a complexidade
naliza no tom original de dó menor.
musical, de modo a respeitarmos as
regras que formam o cânone.
Voltando a Hofstadter, este apresenta-o como a primeira “volta estra-
No entanto, a complexidade não se
nha”, em que existe uma “hierarquia
enredada”, ou seja, quando “nos en-
fica apenas pelo número de vozes. Podemos ter “cópias”:
contramos, inesperadamente, de volta ao lugar donde partimos.”
a) Em tons diferentes;
b) A velocidades diferentes, expan-
É pois com a certeza de antanho
dindo ou contraindo o tema;
c) Em movimento contrário, que
que os gostos se discutem e refinam,
que recomendo a Oferenda Musical.
progridem nos mesmos intervalos melódicos, mas em sentidos
opostos;
Henrique Amaral Dias
100 torga
Cinema
Ordet (1956) e Gertrud (1964)
Carl Dryer
Carl Theodor Dryer (1889-1968),
cineasta dinamarquês, é um ilustre
desconhecido do público em geral.
Todavia, os poucos filmes que realizou
são dos mais notáveis da curta história
da sétima arte. Enquanto que na
literatura, pintura ou música, raros e tolos
são os que pretendem colocar no
mesmo espaço cultural Margarida
Rebelo Pinto e Herberto Hélder, Jeff
Koons e Magritte ou Marco Paulo e
Jorge Palma, no cinema, realizadores
menores, como Spielberg ou George
Lucas são aclamados e reverenciados
como grandes mestres.
Este gigantesco disparate é, por norma, justificado pelo cariz populista e
questionável valor estético do cinema. Há
até quem vá mais longe e afirme mesmo
que ele não é uma forma de arte genuína, pois depende de artes nobres como
a fotografia e o teatro. Tenho para mim
que o cinema é uma arte legítima e fundamental. Claro que, ao longo de décadas, a comercialização em massa retirou
espaço àqueles que mais o mereciam.
Entre estes encontram-se os de Dryer, em
particular A Paixão de Joana D’Arc (1927),
Vampiro (1932), Dias de Ira (1943), A Palavra (1956) e Gertrude (1964).
São estes dois últimos que agora me
interessam. Muito diferentes na mise-enscène, nos cenários e na visão do mundo que encerram, ambos são das maiores obras de arte do século passado,
embora, infelizmente, só uma ínfima minoria os tenha alguma vez visto.
A Palavra é um filme sobre o mistério
da Fé e do Amor. Se admitirmos que
existem conceitos cujo valor simbólico é
fundamental para a nossa civilização,
Fé e Amor estarão de certeza entre eles.
Por isso é tão difícil conceber uma obra
de arte neles centrada. Em casos simi-
lares, ficamos muitas vezes com a impressão de que o autor foi arrogante e
pretensioso ao abordá-los ou, pura e
simplesmente, incapaz de os retratar. A
Palavra é uma espantosa demonstração
de que Fé e Amor existem. Só ela nos
podia dar essa certeza tão directa, emocional e verdadeira. Com uma composição de luz memorável, movimentos de
câmara precisos e austeros, planos longos e close-ups únicos, este filme, baseado numa peça de Kaj Munk (morto
pelos Nazis), é também um estudo da
esterilidade espiritual e das relações
humanas com os que nos são mais queridos.
Morten Borgen é o velho patriarca
de uma família do meio rural, que detém
uma propriedade gerida pelos seus filhos Mikkel e Anders. Um terceiro filho,
Johannes, perdeu-se num delírio maníaco, julgando-se Jesus Cristo, depois de
tanto ter lido Kierkegaard. Temos também a mulher de Mikkel, Inger, e as suas
duas filhas.
É então que, numa cena reminescente do que aconteceu ao próprio Dryer,
gótica pelo sofrimento atroz que exprime, Inger adoece gravemente ao dar à
luz. Johannes tinha previsto a sua morte
e ela vem a morrer profeticamente. No
final, a escuridão da morte de Inger, da
loucura de Johannes e da descrença de
Mikkel cede à luz divina da Fé e do Amor,
quando Inger volta à vida e dela brota
toda a sensualidade e amor. Quando
Inger se ergue do caixão, beija apaixonadamente o marido e o abraça como
se nada mais importasse, e o seu rosto
resplandece no écran, os cínicos e cépticos só podem capitular.
Como escreve João Bénard da Costa:
“As montanhas nunca se moveram,
como os mortos nunca ressuscitaram (...).
A única vez que vi isso acontecer (e é,
sem dúvida, o mais pasmoso dos milagres) foi neste filme. Se me disserem que
é cinema eu respondo que não é, não.”
Eu também senti o mesmo...
Gertrude é uma mulher de meia-idade, ex-cantora de ópera, casada com um
torga 101
Cinema
advogado poderoso (Kanning), que se
prepara para entrar na alta política.
Gertrude é uma mulher com passado,
tendo tido uma relação longa com um
poeta de renome (Gabriel Lidman). Estes dois homens vivem obcecados pelo
poder e fama, tanto que “se esqueceram de amar”. Gertrude deseja amar e
ser amada. Assim, a cena inicial é um
extenso diálogo que desemboca na
confissão de infidelidade espiritual de
Gertrude a Kanning: ama um jovem
músico e compositor, Erland, que, como
rapidamente o espectador deduz, não
retribui esse sentimento.
Quando Gertrude descobre que
Erland apenas a deseja e que até aprecia o seu marido, não suporta tamanha
desilusão e desfeita, indo para Paris
estudar psicanálise, como uma
ficcionada Lou Andreas-Salomé. Passados muitos anos, uma Gertrude
caricaturalmente envelhecida vive em
reclusão na sua terra natal. Apenas
acompanhada pelo caseiro, num chalet
que nunca chegamos a ver, mas que
imaginamos perdido num mundo irreal,
recebe a visita de Axel, um amigo de
longa data, que a acolheu na sua estada em Paris. Teria sido apenas um amigo? Sabemos somente que ele queima
à sua frente as cartas que lhe escrevera.
Após esta enigmática cena, Axel despede-se com um aceno nostálgico e Dryer
põe-nos a olhar para a porta da casa:
estará Gertrude prestes a embarcar nessa última viagem para a eternidade ou
simbolizará esse pórtico a trágica separação entre um homem e uma mulher?
Dryer não nos esclarece quanto ao
destino de Gertrude, nem nos diz o que
pensarmos do seu percurso de vida, limita-se a tratar-nos como adultos.
A Palavra e Gertrude são filmes
centrados no Amor e no risco que corremos ao acreditarmos que ele existe e
que virá ao nosso encontro, mas também no milagre que ocorre quando com
ele nos deparamos.
Henrique Amaral Dias
102 torga
Página Literária
O Autor e a Obra
Dom Dinis nasceu em 1261 e subiu ao trono em 1279. O filho de Dom
Afonso III era dotado de uma enorme educação cultural.
Denominado de Rei Trovador, da sua obra poética consta “O Livro de
Louvores da Virgem Nossa Senhora e Outras Cousas ao Divino”.
Foi autor de 138 Cantigas de elevada técnica e de grande inspiração
lírica.
Como disse António Ferreira, Dom Dinis “ honrou as musas, poetou
e leo”.
Dom Dinis fundou a Universidade em Lisboa, em 1290, transferindo-a
em 1308 para Coimbra. Encontra-se homenageado nesta cidade com uma
estátua, num largo da Alta com o seu nome.
Inserção Temporal - Século XIII; Idade Média
Género Literário – Lírico; Poesia Trovadoresca (Cantiga de Amor)
Características
A Cantiga de Amor era a expressão subjectiva da dor amorosa
masculina, determinada por um amor sem possibilidade de realização. É
um amor- adoração, um amor platónico direccionado para uma mulher
geralmente casada e que por ser um amor adúltero se esconde na
masculinização do objecto de amor -”mha senhor”.
Ana Cristina Abreu
Página Literária
Está presente nos espíritos mais sensíveis, i.e. naqueles que vagabundeiam à
noite e se vestem a rigor durante o dia,
uma ambivalência entre ideal e resignação, êxtase e tédio, futuro e presente.
Penso que muito da obra teatral e poética de Eliot gira em torno de um conflito
entre o conhecimento e a negação do
mesmo, mas cujo desfecho é sempre e
inevitavelmente a morte. O conhecimento
é a compreensão da imperfeição, logo
da nossa finitude. Podemos lamentar
melancolicamente o destino mortal, porque dele nos vamos apercebendo ao
longo da vida. Aquele que o nega, só
pode morrer atónito. Contudo, todos sofremos as agonias da morte imperscrutável.
Eliot compôs esse quadro de lugar e
lugar nenhum como ninguém:
Quer’ eu en maneyra de proençal
fazer agora hun cantar d’amor
e querrey muyt loar mha senhor,
a que prez nem fremusura non fal,
nen bondade, e mays vos direi en:
tanto a fez Deus conprida de ben
Que mays que todas las do mundo val.
Ca mha senhor quiso Deus fazer tal
quando a fez, que a fez sabedor
de todo bem e de mui gran valor
e cõn tod’ est é mui comunal,
aly hu devue; er deu-lhi bõ sem
e dês y nõ lhi fez pouco de bem,
quando nõ quis que lh’ outra foss’ igual.
Ca en mha senhor nunca Deus pos mal,
mays pos hi prez e beldad’ e loor
e falar mui bem e rijr melhor
que outra molher; dês y é leal
muyt´, e por esto nõ sey oj’ eu quen
possa compridamente no seu bem
falar, ca nõ á, tra lo seu bem, al.
(D. Dinis)
(CV 123, CBN 485)
The Cocktail Party
T. S. Eliot
Independentemente das considerações críticas que possamos tecer ao
ler The Cocktail Party, uma coisa é
certa: há nesta obra uma qualidade
rara que provoca uma adesão imediata e espontânea.
“O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo
futuro.
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
(...)
Ou digamos que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio estiveram sempre ali
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora.”1
Em The Cocktail Party é essa voz lúcida
e terapêutica que se impõe, quando
Edward e Lavínia Chamberlayne ouvem
de Reilly, convidado mistério/psicanalista:
“Terão que recordar
A visão que tiveram, mas terão também
que deixar
De a lamentar – terão de se manter numa
Rotina, a habitual, e terão de aprender
A ser tolerantes para consigo e para com
os outros,
torga 103
Página Literária
Dando e recebendo nos actos vulgares
o que é
De dar e receber. Não se queixarão;
Contentar-se-ão com a manhã que separa,
E com a tarde que une, para uma
Conversa circunstancial à lareira, duas
pessoas
Que sabem que se não compreendem
mutuamente
Que criam filhos que não compreendem
e que
Nem os compreenderão a eles nunca.”
Mas já antes Edward tinha adivinhado a sua sorte, quando se despede de
Celia, da ilusão de amor que por ela
nutria, que afinal nada mais era do que
o estertor do desejo de imortalidade, que
apenas floresce na juventude, para logo
definhar quando se aceita envelhecer:
“É o pior
Momento da vida, esse em que
Sentimos que perdemos o desejo
De tudo o que era mais desejável,
E ainda não nos contentáramos com o
que podíamos ter desejado;
E ainda sem sabermos que mais há para
ser desejado.
E continuamos até a desejar que pudéssemos desejar tudo
O que o desejo deixou em atraso.”
Eliot, noutra obra, Ash-Wednesday,
conclui o que Edward deixou em aberto:
“Porque eu não espero voltar de novo,
Porque eu não espero
Porque eu não espero voltar
(...)
Porque eu não espero conhecer de
novo
A glória frágil da hora concreta
(...)
Porque eu sei que o tempo é sempre
tempo
E o lugar é sempre e somente o lugar
E o que é real é-o uma vez somente”
Contudo, o autor destes versos inesquecíveis descerra a esperança de quem
acredita, de quem ainda acredita, de
104 torga
quem ainda quer acreditar que a vida
se estende para além das nossas misérias e cálculos, amores e desamores, espraiando-se na tranquilidade
do ser resignado e reflexivo:
“Consequentemente rejubilo, tendo de
erigir algo
Sobre que rejubilar
E rogo a Deus que se amerceie de nós
E rogo que me faça esquecer
Estas questões que comigo demasiado
discorro
Demasiado explico
(...)
Embora eu não espere voltar de novo
Embora eu não espere
Embora eu não espere voltar
De nós próprios e do nosso próximo, todos seríamos
Condenados.
(...)
Têm que viver com essas recordações,
e transformá-las
Em qualquer coisa de novo. Só a aceitação do passado
Lhe pode alterar a significação.”
Pouco depois a peça termina, com o
recomeço dessa comédia de enganos
que é a vida, a Cocktail Party.
Vacilando entre os lucros e as perdas
Neste breve trânsito em que os sonhos
cruzam
O crepúsculo de sonhos cruzado entre
o nascimento e a agonia
(...)
Não consintas que nos iludamos com
embustes
Ensina-nos a curar e a descurar
Ensina-nos a permanecer tranquilos”
Se existe um elemento clássico e religioso em The Cocktail Party, ele é a tragédia de Celia Coplestone, que se recusa a aceitar a realidade, lutando por
uma visão de algo, talvez de um amável
para amar, acabando por ser crucificada
atrozmente por canibais nalgum lugar
ou em lugar nenhum.
Seremos culpados por essa morte
em que carne e sangue nos são presenteados?
Felizmente que Reilly nos liberta e
consola:
“Se tivéssemos de ser julgados pelas
consequências
De todas as nossas palavras e actos, para além das
Intenções e do nosso limitado conhecimento
Eliot, T. S.,
Quatro Quartetos
1
Henrique Amaral Dias
Agenda
CHILE
33º CONGRESSO MUNDIAL
DE ESCOLAS DE TRABALHO SOCIAL
“CRESCIMENTO E DESIGUALDADE –
CENÁRIOS E DESAFIOS
DO TRABALHO SOCIAL NO SÉCULO XXI”
Santiago do Chile
28 a 31 de Agosto
[email protected]
COIMBRA
COMEMORAÇÕES DOS 70 ANOS
DA FORMAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
DO INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL
TORGA
Comissão organizadora
Prof. Dra. Alcina Martins
data a anunciar
EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DOS 70
ANOS DA FORMAÇÃO EM SERVIÇO
SOCIAL DO INSTITUTO SUPERIOR
MIGUEL TORGA
Organização - Biblioteca do ISMT
data a anunciar
PASSEIOS DE COIMBRA NAS
FREGUESIAS
Postos municipais de turismo
de Janeiro a Dezembro
4º Domingo de cada mês
BASÓFIAS - PASSEIOS DE BARCO
NO RIO MONDEGO
Aberto todo o ano
FUN(TASTIC)ª COIMBRA
Viagem panorâmica
Aberto todo o ano
EXPOSIÇÃO PERMANENTE
NINHOS REDONDOS COM PEDRAS DE
MOINHOS
Museu Zoológico da Univ. Coimbra
Aberto todo o ano
EXPOSIÇÃO PERMANENTE
A NATUREZA E O HOMEM
Museu Zoológico da Univ. Coimbra
Aberto todo o ano
EXPOSIÇÃO PERMANENTE
INSTRUMENTOS CIENTÍFICOS
DO SÉCS.XVIII E XIX
Museu da Física
Aberto todo o ano
EXPOSIÇÃO PERMANENTE
UM PERCURSO DO ESTUDANTE
NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Museu Académico
Aberto todo o ano
EXPOSIÇÃO PERMANENTE DO
CENTRO INTERPRETATIVO
DA CIDADE MURALHADA
Torre de Almedina
EXPOSIÇÃO PERMANENTE
COLECÇÃO TELO DE MORAIS
(pintura, escultura, cerâmica e mobiliário)
Edíficio Chiado
FADO DE COIMBRA
À Capela
Rua Corpo de Deus
Todos os dias (excepto Terça)
FADO DE LISBOA
À Capela
Rua Corpo de Deus
(às terças)
FARO
CAMINHOS DO ALGARVE ROMANO
Exposição permanente
Museu Municipal de Faro
ESPELHO DA IDENTIDADE CULTURAL:
USOS E COSTUMES
Exposição permanente
Museu Regional do Algarve
EXPOSIÇÕES DE
PINTURA DE ANA ANDRÉ
CERÂMICA DE TERESA RAMOS
Artadentro-Galeria de Arte Contemporânea
Até Junho
FIGUEIRA DA FOZ
HABITANTES E HABITATS
PRÉ E PROTO-HISTÓRIA NA BACIA DO
LIS
Castelo de Leiria
Até 30 de Setembro
A NOVA VIDA DAS IMAGENS
Pintura restaurada da colecção
do Município de Leiria- séculos XVI-XVIII
Edifício do Banco de Portugal
Até final de 2006
LISBOA
EXPOSIÇÃO ALGUNS TRABALHOS
NA COLECÇÃO DE HEIN SEMKE
CAMJAP
Até 30 de Junho
ESPECTÁCULO “DA MINORIA PARA A
MAIORIA: IMPORTAÇÕES CULTURAIS”
Fundação Calouste Gulbenkian
Setembro
CONFERÊNCIA “A UNIÃO EUROPEIA E A
IMIGRAÇÃO”
Fundação Calouste Gulbenkian
21 de Novembro
DOCUMENTÁRIO E DEBATE
“PORTUGAL E OS PORTUGUESES
VISTOS PELOS IMIGRANTES”
Fundação Calouste Gulbenkian
31 de Janeiro de 2007
CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
E LANÇAMENTO DO LIVRO
“IMIGRAÇÃO: OPURTUNIDADE
AMEAÇA?”
Fundação Caloste Gulbenkian
6 e 7 de Março de 2007
OU
EXPOSIÇÃO “UNIVERSO VISUAL E
ARTÍSTICO“ DA COLECÇÃO BERRADO
CAE
Até 17 de Setembro
EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA
“HOMO MIGRATIUS”
Fundação Calouste Gulbenkian
6 de Março a 1 de Abril de 2007
EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA
DE ANDRÉ BRITO
CAE
Até 26 de Junho
EXPOSIÇÃO DESENHOS, MEMÓRIAS
FERNANDO LEMOS
CAMJAP
Até 30 de Junho
EXPOSIÇÃO DE PINTURA
DE MARIA RUA FÉLIX
Até 2 de Julho
CONFERÊNCIA IASL 2006
LER, SABER, FAZER:
AS MÚLTIPLAS FACES DA LITERACIA
International Association of School
Librarianship
Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares
3 a 7 de Julho
LEIRIA
MÚSICA EM FAMÍLIA
NOVOS SONS EM BUSCA DE PAIS E
FILHOS
Piccolini Filarmónicos SAMP
2 de Julho
Teatro Miguel Franco
DANÇA COM LETRAS – UM
ESPECTÁCULO DE A a Z
Salão Preto e Prata
Casino Estoril
torga 105
Agenda
ORQUESTRA CASINO ESTORIL
COM PEDRO MALAGUETA
Todas as noites
Casino Estoril
EXPOSIÇÃO PERMANENTE
SÉCULO XX PORTUGUÊS:
OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA
JOÃO SOARES/MÁRIO SOARES
Casa Museu João Soares
EXPOSIÇÃO
ALGUNS TRABALHOS NA COLECÇÃO
Hein Semke
Centro de Arte Moderna de José de Azeredo
Perdigão
Até 30 de Junho
EXPOSIÇÃO
DESENHOS, MEMÓRIAS
Fernando Lemos
Centro de Arte Moderna José de Azeredo
Perdigão
Até 30 de Junho
TEATRO
A FLAUTA MÁGICA
Castelo de São Jorge
1-29 de Junho
LISBON VILLAGE FESTIVAL 2006
Festival de Cinema Digital
Cinema São Jorge
21 a 25 de Junho
CLÁSSICOS DO CINEMA
Filmes ao ar livre
Castelejo de Castelo de São Jorge
28 e 29 de Junho
CESÁRIA ÉVORA- CONCERTO
Torre de Belém
2 de Julho
ÁFRICA FESTIVAL
Concertos e tenda temática
Torre de Belém 6 a 9 de Julho
FESTIVAL INTERNACIONAL
DE MÁSCARAS E COMEDIANTES
Castelo de São Jorge
24 a 31 de Agosto
MOSTRA DE CINEMA
DA AMÉRICA LATINA
Cinema São Jorge
1 a 15 de Setembro
FESTIVAL DE CINEMA
GAY E LÉSBICO
Cinema São Jorge
16 a 24 de Setembro
PORTO
VISEU
Fundação Serralves
12º CONGRESSO
“RECURSOS, ORDENAMENTO,
DESENVOLVIMENTO
DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
PARA O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
Instituto Politécnico de Viseu
15 a 17 de Setembro
www.apdr/congresso/2006
À VOLTA DO JARDIM:
CONHECIMENTOS E PRÁTICAS
Cursos 2006
Bonsai: Jin e Shari (“madeira morta”)
23 de Setembro
Bonsai: kabudachi (“estilo maciço”)
25 de Novembro
EXPOSIÇÃO DE PINTURA
DE ANTÓNIO DACOSTA
Até 9 de Julho
EXPOSIÇÃO DE PEDRO MORAIS
Locus-Solus III- Uma Parede
de Cal Pintada e Água Corrente
Dukosan III- Lâmina e Anamorfose
em Parede Caiada
Até 16 de Julho
TEATRO
D. JOÃO DE MOLIÈRE
Teatro Nacional São João
8, 9, 11, 12, 13 de Julho
TEATRO FEI LUÍS DE SOUSA
DE ALMEIDA GARRETT
TNSJ
9, 15, 16 de Julho
VIANA DO CASTELO
EXPOSIÇÃO PERMANENTE
“A LÃ E O LINHO NO TRAJE
DO ALTO MINHO”
Museu do Traje
FEIRA DE ANTIGUIDADES
E VELHARIAS
Jardim D. Fernando
Todos os meses, no 1º sábado
FESTIVAL “ JAZZ NA PRAÇA DA ERVA”
27 a 29 de Julho
FESTIVAL INTERNACIONAL
DE MÚSICA CLÁSSICA (PORTUGAL/EUA)
1 a 15 de Agosto
FESTIVAL DE FOLCLORE
INTERNACUIONAL
4 a 10 de Setembro
“SIMPLY BLUES”FESTIVAL INTERNACIONAL DE BLUES
6 a 9 de Dezembro
Ana Cristina Abreu
106 torga
107
108
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