1 2 Nota do Director Este número tem como tema central o ensino superior e a investigação. Julgamos que o seu conteúdo, se devidamente lido, contribuirá para o esclarecimento dalguns leitores quanto a aspectos fundamentais do seu futuro, designadamente quanto às possibilidades que existem em obter apoio para ensino pós-graduado e projectos de investigação. Secundariamente, proporcionamos um mapa que cartografa detalhadamente o ensino superior público e privado, os seus desígnios e estado actual, quanto aos níveis de qualidade e de investigação que patenteiam. Contámos com as opiniões e visões desassombradas de académicos e investigadores notáveis como António Coutinho, Abel Nascimento e José Miguel Urbano. Estamos igualmente gratos pelo contributo de várias personalidades de prestígio: José Canavarro, Joaquim Pires Valentim, Maria Amélia Carlos, Carlos Sá Furtado e Paulo Gomes. As suas reflexões úteis e pertinentes em muito valorizaram esta edição. Em plano não menos importante, mas a que já nos habituámos a contar, destacamos as contribuições relevantes de muitos docentes do Instituto Superior Miguel Torga. Enquanto Director da TORGA, foi com orgulho e satisfação que passámos a contar com a colaboração permanente do Francisco Amaral, Inês Amaral, Vanda Lopes, Filipe Casaleiro, Bruno Cordeiro, André Pereira e Mariana Alves. Henrique Amaral Dias 3 Editorial Num contexto de profundas mudanças no ensino superior, julgamos ser curial que as universidades, institutos e politécnicos se adaptem de modo célere e eficaz às mesmas. É hoje incontroverso que o Processo de Bolonha gerará alterações radicais ao nível da estruturação dos I e II Ciclos, obrigando as direcções dos estabelecimentos, professores e alunos a repensar métodos pedagógicos, programas e conteúdos, formas de assimilação de conhecimento, posicionamento face à concorrência, progressão nas carreiras e inserção no mercado de trabalho. Capa: Aristóteles contemplando o busto de Homero - Rembrandt Os factores críticos de sucesso são deste modo os seguintes: 1. Actuar estrategicamente face à concorrência, que deixou de estar quase exclusivamente confinada às fronteiras nacionais, apostando em processos de fusão/concentração e em parcerias com instituições congéneres, nacionais ou internacionais, em projectos educativos comuns, de I&D e de mobilidade de docentes e discentes; 2. Apostar decisivamente em captar recursos financeiros através de programas comunitários, mecenato, projectos empresariais em parceria e candidaturas ao IV Quadro Comunitário de Apoio em articulação com o Plano Tecnológico proposto pelo actual governo; 3. Dotar a instituição dos meios materiais indispensáveis para a prossecução dos seus objectivos; 4. Emprestar máxima qualidade e rigor quanto à selecção na entrada de alunos e professores; 5. Acompanhar e avaliar criteriosamente a investigação desenvolvida e o ensino ministrado; 6. Adoptar um Marketing Educativo que promova as vantagens competitivas e comparativas que a instituição já possui ou está em vias de possuir. A maioria destes propósitos já devia ter sido concretizada. Na verdade, Bolonha vem apenas tornar incontornável a metamorfose: as instituições que alcançarem estes objectivos sobreviverão, as outras entrarão num processo de declínio irreversível e rapidamente desaparecerão. Henrique Amaral Dias FICHA TÉCNICA Director Henrique Amaral Dias Editora Andrea Marques Coordenação Ana Cristina Abreu Francisco Amaral, Inês Amaral 01 04 Aconteceu 24 Uma Aplicação do Júri de Delphi – ISMT Alunos do 3º ano de Informática de Gestão 47 Secretária Vanda Lopes Design ID3A Impressão FIG - Fotocomp. e Ind. Gráficas Tiragem 3000 exemplares Propriedade Instituto Superior Miguel Torga Coimbra ISSN 1646-2866 4 Depósito Legal 232550/05 As opiniões expressas nos artigos publicados nesta revista são da inteira responsabilidade dos seus autores. 54 Nem tudo o que se ensina se equivale Joaquim Pires Valentim 58 Porventura demasiado inteligentes Jorge Caiado Gomes 60 Investigação no ISMT Ana Beatriz Bento Fotografia Filipe Casaleiro AEISMT Bruno Cordeiro 57 Henrique Amaral Dias Redacção André Pereira, Mariana Alves Composição Francisco Silva Nota do Director Alguns desafios para as políticas educativas em Portugal: o caso do ensino não superior José Portocarrero Canavarro De Bibliotheca Ana Cristina Abreu 55 Um Testemunho e uma Proposta Carlos Sá Furtado 63 O Ensino na União Europeia: um dos lados do Triângulo Maria Carlos Sumário 20 22 26 “A gestão democrática “A microcirurgia não é inimiga do desené estimulada” volvimento da Entrevista a Abel Universidade” Nascimento 37 Ensino Superior e Investigação em Portugal António Coutinho Grande Entrevista Grande Reportagem Entrevista a José Miguel Urbano 70 O Ensino: uma questão de afectos 80 Maria Pinto 72 Aprender pela experiência – a Ética como disciplina no Ensino Superior Michael Knoch 75 De Bolonha ao Plano Tecnológico Paulo Gomes 76 ¿OBJECTIVO: Que objectivos? Entre Bolonha e Coimbra Regina Tralhão Breve Apresentação da Tecnologia Power Line Hélder Silva, Joana Urbano 84 85 Alma Nostra 86 PubliReportagem Viagem Minha Coimbra 94 “Os alunos querem novas instalações” Entrevista a Bruno Cordeiro Na rede Inês Amaral 88 93 95 AE - ISMT Notícias / Reportagens 98 Musica Uma história de sucesso 99 Cinema Foreign Affairs 100 Página Literária 103 Agenda Henrique Amaral Dias 89 Publicações 90 Mestrados 5 Aconteceu Fernando Teófilo O “FALSO SELF” No ano em que se comemoram os 150 anos do nascimento de Freud, o Instituto Superior Miguel Torga organizou um Congresso de Psicanálise intitulado: “O Falso Self”. A escolha deste tema para análise, surgiu do desafio lançado por técnicos especializados na área que sublinham o conceito do “falso self” como um dos factores principais no adoecer mental. Assim, R. D. Lang considera o “falso self“ (máscara, face ridificada do Eu) como “...um sistema de protecção do indivíduo que tem medo do mundo, (...)” de “se perder nas suas sensações, devido à ausência de uma segurança ontológica primária.” (Houzel e Moggio, 2004). Tratou-se de um even- Da esquerda para a direita: Sónia Simões, Cristina Quintas, Carlos Amaral Dias, Jose Henriques, Henrique Amaral Dias e Alcina Martins onde estiveram presentes personalidades de reconhecido mérito. Partici- SESSÃO DE ESCLARECIMENTO param como oradores: Carlos Amaral Dias, Rui Aragão, Carlos Farate, Ma- O PROCESSO DE BOLONHA NO ISMT Em Abril, o ISMT realizou a primeira de uma série de sessões de esclareci- onalmente, discutiu-se o plano de transição no âmbito do Processo de Bo- mento sobre o Processo de Bolonha. Na abertura, o Director Carlos Amaral lonha e informaram-se os presentes acerca do acesso ao ensino superior Dias sublinhou a rapidez e qualidade com que as actuais licenciaturas foram dos candidatos maiores de 23 anos. Por último, analisaram-se as garanti- adequadas às novas normas regulamentares que passaram a reger o en- as de qualidade e a acreditação dos I e II Ciclos, e expuseram-se os diver- sino superior, bem como o dinamismo crescente da instituição que se tradu- sos programas de mobilidade que o Gabinete de Relações Internacionais ziu, entre outros factos, pela proposta ao MCTES de 3 novas licenciaturas: tem vindo a desenvolver, tendo a sessão terminado em diálogo fecundo Comunicação Empresarial, Gestão e Informática. com os participantes. José Henrique Dias secundou estas ideias e, na qualidade de Presidente do Conselho Científico, afirmou que tudo faria em prol delas. Apresentaram-se assim os novos ciclos de estudos e seus objectivos, os métodos de ensino e ECTS. Adici- 6 torga to de relevo e importância na área da Psicanálise, Psicologia e Psiquiatria, Henrique Amaral Dias ria do Rosário Belo Gomes, António Mendonça, Doutora Cristina Fabião, Jorge Caiado Gomes, Teresa Nunes Vicente, Mário Horta, José Henrique Rodrigues Dias, José Carlos Coelho Rosa e Ana Bertão. Rodrigo Lopes Aconteceu “Come Bem, Brinca Melhor” foi o lema MARCHA CONTRA A OBESIDADE INFANTIL da “Marcha Contra a Obesidade Infantil” que agitou as ruas da cidade de Luís Carreira Coimbra, em Maio. Cerca de duas centenas de crianças desfilaram por esta causa desde a Câmara Municipal de Coimbra até ao Parque Verde do Mondego acompanhadas pelo Governador Civil, jogadores da Académica e educadoras. Este evento, promovido por um grupo de alunas finalistas da Licenciatura de Ciências da Informação do Instituto Superior Miguel Torga, pretendeu sensibilizar crianças e sociedade civil para o fenómeno da obesidade, que tem vindo a aumentar significativamente na população portuguesa. Joana Moreira Para comemorar os 150 anos sobre o nascimento de Sigmund Freud (18561939), o Instituto Superior Miguel Torga 150 ANOS DO NASCIMENTO DE FREUD Filipe Casaleiro organizou, nos dias 7 e 8 de Abril, uma conferência dedicada ao fundador da Psicanálise na Casa Municipal da Cultura em Coimbra. Foram oradores José Henrique Dias, Carlos Alberto Afonso e Carlos Farate, contando ainda com a participação de Carlos Amaral Dias em mesas redondas. Tendo no seu leque de ensino uma licenciatura em Psicologia, diversas pós-graduações e mestrados na área da Psicoterapia, e sendo dirigido por Carlos Amaral Dias, psiquiatra e psicanalista, Presidente da Comissão de Ensino da Sociedade Portuguesa de Psicanálise e autor de diversos obras sobre Sigmund Freud, a realização deste evento assumiu um significado e uma importância muito especial para Da esquerda para a direita: José Henrique Dias, Carlos Amaral Dias e Carlos Alberto Afonso o Instituto Superior Miguel Torga. Andrea Marques torga 7 Aconteceu 17 DE MAIO – DIA MUNDIAL CONTRA A HOMOFOBIA Se estás farto de Preconceito, participa no blog… O projecto “Excluir a Homofobia” surgiu no âmbito das disciplinas de Políti- gravíssimo, sendo urgente tratá-la nas suas várias dimensões e contextos. www.homossexualidade.blogspot.com cas Sociais para Grupos de Risco e de Planeamento e Gestão do Desenvol- Neste sentido, decidimos iniciar o nosso combate à homofobia com a orga- vimento, do 4º ano de Serviço Social, leccionadas por Regina Tralhão. nização desta sessão de esclarecimento. A data escolhida não foi por Este projecto está a ser desenvolvido por dois grupos de trabalho: Gru- acaso, deve-se ao facto do dia 17 de Maio ter sido proposto em 2005 como po “Excluir a Homofobia” (Cecília Freitas, Liliana Borrego, Patrícia o Dia Mundial Contra a Homofobia. O nosso projecto assume um ca- Freitas e Tiago Farreca) e Grupo “Homossexualidade e Exclusão Social rácter preventivo junto da população académica, sobretudo a do Instituto (Telma Duarte, Rita Quatorze e Anabela Dias) em parceria com o ISMT e com a Superior Miguel Torga. Pretendemos demonstrar que a homofobia afecta AEISMT, a quem também agradecemos desde já. negativamente a todos, independentemente da sua orientação sexual e Optámos pela luta contra a homofobia, uma vez que esta sempre explicar que esta só terá fim com uma transformação social profunda. prejudicou e destruiu imensas vidas, na maior parte dos casos, tão silencio- Terminamos com a célebre frase de Boaventura Santos: “Temos o direito a samente quanto o silêncio e invisibilidade a que sempre remeteu ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser dife- as vivências homossexuais, tal como acabámos de assistir na nossa modes- rentes sempre que a igualdade nos descaracteriza”. ta representação. Assim torna-se claro que a Somos um grupo de alunas do Instituto Superior Miguel Torga, frequentamos o 4.º ano do Curso de Serviço Social. No âmbito da disciplina de Planeamento e Gestão do Desenvolvimento leccionada por Regina Tralhão, estamos a realizar um projecto que se intitula “Homossexualidade e Exclusão Social”. Lembrámo-nos então de criar este blog como forma de obter a participação de todos os interessados. Através deste blog iremos abrir reflexões acerca da problemática social: Homofobia. Homofobia é o preconceito contra aqueles que amam pessoas do mesmo sexo. É o preconceito contra pessoas que têm sentimentos, anseios, necessidades e esperanças como qualquer outro ser humano. O que há de errado nisso? NADA! Não devem existir regras para o amor... Ele deve seguir apenas o Respeito e a Liberdade. NÃO precisas ser um HOMOSSEXUAL para respeitar um HOMOSSEXUAL!!!: Não pode existir mais espaço para a Homofobia, para homofobia é um problema social Luís Carreira o preconceito e para o desrespeito às diferenças neste mundo multi-identitário em que vivemos. HOMOFOBIA NÃO! E porque o preconceito pode MATAR, desde já, agradecemos a participação de todas as pessoas, aguardando pelas vossas opiniões e intervenções. Anabela Dias Rita Vieira Telma Duarte 8 torga Aconteceu Filipe Casaleiro Da esquerda para a direita: Américo Petim, Carlos Amaral Dias e Henrique Amaral Dias ESCOLA DE COMÉRCIO E NEGÓCIOS, A NOVA APOSTA DO ISMT A Escola de Comércio e Negócios é a Equipamentos; Liderança e a comportamento da empresa quanto: à mais recente aposta do Instituto Superior Miguel Torga no desenvolvimento Envolvente Contextual da Organização. utilização dos recursos financeiros; ao relacionamento com terceiros; à económico da região centro. Os objectivos são claros: criar A ECN surge porque as empresas portuguesas apresentam um défice comercialização das mercadorias, produtos ou serviços; aos investimentos gestores e líderes eficazes; transmitir conhecimentos a empresários ou pro- preocupante em capacidade de gestão e liderança. Este problema persis- em bens ao serviço da empresa; à obtenção de um resultado que satisfa- fissionais liberais, que não possuam formação nestas áreas; e dar forma- te desde há décadas. A economia portuguesa está inserida num mercado ça os sócios ou accionistas e ao cumprimento atempado, tecnicamente cor- ção intensiva, útil e de qualidade, leccionada por formadores com vasta ex- global onde a competitividade e a inovação são factores decisivos para o recto e optimizado das obrigações jurídicas e fiscais. periência profissional. As áreas em que a Escola de Co- sucesso e, em última instância, para a sobrevivência das organizações. Bens Conduzido por Américo Alves Petim, Gestor, Contabilista e Director mércio e Negócios se propõe proporcionar formação são: Gestão da Infor- e serviços, que até há pouco tempo se consideravam como não expostos à Científico da ECN, este curso tem duração de 9 semanas e decorre em ho- mação – Contabilidade, Finanças e Fiscalidade; Gestão dos Recursos concorrência, i.e. não transaccionáveis, estão hoje em competição direc- rário pós-laboral das 20 às 23 horas. Materiais; Gestão dos Recursos Humanos; Gestão do Processo Produtivo; ta com empresas multinacionais. O primeiro curso a ser leccionado Marketing; Obtenção e Estruturação dos Recursos Financeiros; Recruta- foi o de Contabilidade, Fiscalidade e Gestão dirigido a Empresários e mento, Selecção e Afectação dos Recursos Humanos; Aquisição e Gestores que teve início no mês de Maio. Este surgiu perante a necessi- Alocação dos Recursos Materiais e dade de uma visão mais alargada do Henrique Amaral Dias torga 9 Aconteceu Conferência AGOSTINHO DA SILVA CIDADANIA E LIBERDADE to chocou com as ideias do Regime Salazarista, o que fez com que Agosti- Já com 87 anos, este homem que falava 12 línguas, admite que raramen- nho fosse acusado de perturbador, impedindo-o de fazer as suas conferênci- te lia jornais, com excepção do “Público”, por causa do “Calvin”. Quando foi “Um professor da vida e um pensador livre” as. Mais tarde, acabou por ser detido em regime de isolamento total, durante questionado em relação à morte, afirmou: “Não penso nada, nunca morri, Este colóquio decorreu na Casa Muni- 20 dias, por ter desrespeitado as regras que lhe foram impostas. Esta sua força depois, quando morrer, e se souber alguma coisa, eu comunico”. Em 1994, cipal da Cultura de Coimbra no passado mês Março, e contou com a partici- fez dele um homem de movimento, pluridimensional e pluricultural. acaba por falecer de um acidente vascular cerebral. pação dos docentes do ISMT José Henrique Dias, Maria Assunção Pinto e Partiu para o Brasil, onde esperava encontrar, do outro lado do Atlântico, a A conferência terminou com a Manuela Serra e José Henrique Dias, Maria Manuela Serra. Maria Assunção Pinto começou por oportunidade de realizar os seus so- que desenvolveram aspectos educacioFilipe Casaleiro falar dos “caminhos de um homem transparente”, desenvolvendo questões como a trajectória biográfica do controverso e enigmático pensador. Não deixou de referir o essencial de todo o seu percurso, desde o nascimento no Porto, à escolha de Barca d’Alva como “Terra Mãe”, a última terra portuguesa, entre a Beira e Alto Douro, antes da fronteira espanhola. Era uma terra de gente pobre, onde não havia escola nem luz eléctrica e só havia pão uma vez por semana. Contudo, era o paraíso de vida para Agostinho da Silva. O pensador, e também pedagogo, terminou a licenciatura em Filologia Clássica, na primeira Faculdade da ci- Da esquerda para adireita: José Henrique Dias, Carlos Amaral Dias, Manuela Serra e Maria Assunção Pinto dade do Porto, com a média final de 20 valores. Antes de começar a estudar, o seu grande sonho era ser marinheiro, sonho esse que não conseguiu reali- nhos e uma cultura que respeitasse o modo de pensar de cada um. nais da vida de Agostinho da Silva. As comemorações nacionais do centená- zar. Leonardo Coimbra, fundador da Faculdade de Letras do Porto, assumiu Em 1958, acaba por se naturalizar brasileiro. Era um homem que afirma- rio do nascimento de Agostinho da Silva incluem colóquios, exposições e ain- o papel de professor de Filosofia Medieval de Agostinho. Porém, este não va não estar interessado em coisa alguma, somente em viver. Regressa a da o baptismo de um avião da TAP, com o seu nome. nutria muita simpatia pela matéria, acabando, mesmo assim, por fazer a disci- Portugal, em 1969, devido à ditadura que tinha chegado ao Brasil e, em 1990, plina. Quando acabou a sua licenciatura, afirma que: “A minha licenciatura não transforma-se num líder de comunicação na RTP com o programa televisivo foi em Filologia Clássica, foi em Liberdade”. “Conversas Vadias”. Posteriormente, retira-se, acabando por rejeitar a comu- Em 1942, publica um caderno que designa por “Cristianismo”. Este escri- nicação social: “Cada vez gosto mais de menos gente”. 10 torga André Pereira Mariana Alves Aconteceu À DESCOBERTA DO BRASIL Filipe Casaleiro Filipe Sá e João Venda, finalistas do Curso de Licenciatura em Informática de Gestão do Instituto Superior Miguel Torga, realizaram em 2005, um período de estudos na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Reflectindo um pouco sobre uma nova experiência académica, social e cultural, fizeram um balanço dos principais benefícios obtidos, bem como das dificuldades sentidas antes e durante o intercâmbio. “Uma nova experiência, conhecer uma nova cultura e enriquecer o (…) currículo”, foram os principais motivos que levaram Filipe Sá a tomar a iniciativa de desenvolver um período de estudos no Brasil com a duração de um semestre. Como o Gabinete de Relações Internacionais (GRI) do ISMT tinha sido Filipe Sá e João Venda criado recentemente, os alunos que ambicionassem participar numa expe- que “Os conteúdos são os mesmos Em relação ao apoio prestado pelo riência deste âmbito sentiriam algumas adversidades a vários níveis. Como apesar do método ser diferente, mas com o passar do tempo conseguimo- ISMT, não obstante as contrariedades do início, no cômputo geral a aprecia- nos relatou João Venda, “Não havia GRI, como tal tivemos de ser nós a tra- nos habituar”. Assim, mesmo com todas as con- ção foi positiva, pois tiveram equivalência a todas as disciplinas que fre- tar de tudo. Ao contrário dos colegas que lá estavam connosco, pagávamos trariedades vividas, nunca sentiram vontade de desistir, considerando que quentaram. A experiência duas propinas, a da PUC que era bastante elevada e metade da propina do a cultura brasileira, diferente da portuguesa, facilitou a sua integração, visto enriquecedora e gratificante, os dois estudantes da Licenciatura em ISMT”. Os alunos foram muito bem recebi- que as pessoas eram mais abertas e simpáticas. Informática de Gestão do ISMT aconselharam todos os seus colegas com dos na PUC. Puderam beneficiar de uma semana de inserção plena de Esta experiência, segundo os dois, foi benéfica quer ao nível pessoal, por- espírito empreendedor e motivação a efectuarem estes intercâmbios em actividades através da qual conheceram a cidade, a Academia e os futuros que lhes permitiu amadurecer e encarar novas formas de estar na vida, quer qualquer país em que julguem sentirse bem. colegas. A Faculdade, embora muito grande, com alunos provenientes de ao nível profissional, pelo facto de trabalharem com pessoas diferentes. En- diversos países, vivia um ambiente bastante agradável, possivelmente re- frentaram novos desa-fios e novas formas de resolver problemas, sendo tam- sultante da diversidade cultural. Inicialmente, sentiram algumas di- bém potencialmente uma mais valia para o seu currículo. Filipe Sá ressal- ficuldades em adaptar-se à nova forma de ensino, referindo João Venda vou que “Voltava a participar mas em vez de seis meses ficava lá um ano”. foi bastante José Manuel Moreira Luís Manuel Ribeiro torga 11 SERVIÇO SOCIAL E PROCESSO DE BOLONHA Filipe Casaleiro A qualificação alcançada pelo Serviço Social Português e a sua presença no debate europeu constituem um importante património a ser preservado e desenvolvido; a manutenção da formação inicial do assistente social em 4 anos torna-se condição imprescindível para garantir uma formação adequada ao atendimento das demandas colocadas a esse profissional, pelas diversas áreas do mercado de trabalho. O ISMT associou-se, a partir de meados dos anos 90, a um Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no Brasil. No âmbito desta cooperação realizou-se, no Instituto Superior Miguel Torga, uma reunião onde se discutiu o Serviço Social e o Processo de Bolonha. Andrea Marques Aula Aberta “FOI VOCÊ QUE PEDIU UM BOM TÍTULO?” Filipe Casaleiro Dinis Alves deu uma aula intitulada “Foi você que pediu um bom título?” no passado dia 8 de Março na Casa Municipal da Cultura. Apresentada por Sofia Figueiredo, a aula teve como público alvo os alunos de Ciências da informação do Instituto Superior Miguel Torga, mas estiveram também presentes alunos do ITAP. Dinis Alves começou por explicar que no início da imprensa não havia títulos nos artigos. Os jornais diários não perdiam a actualidade facilmente e destinavam-se a ser lidos por completo sem grande urgência. Na verdade, os jornais pretendiam rotular informações, não intitulá-las. Posteriormente, já com a existência de títulos, estes eram muito longos. 12 “Só a concorrência entre jornais e a conquista do mercado publicitário fez nascer uma indústria de títulos com a finalidade de vender jornais”, refere Dinis Alves. Citando Eça de Queirós e Oliveira Martins: “trata de fazer um bom jornal e lembra-te de que a sensualidade moderna, que é o fundo do gosto moderno, gosta sobretudo de forma e de plástica”. O professor deixa um conselho no que respeita à criação de títulos, ele refere que o ideal é redigir títulos com curtas e poucas palavras, de preferência com uma, duas, três ou quatro - incluindo artigos, conjunções e preposições; pede-se ao título que não revele tudo, mas desvende um pouco do texto. Para Zorilla Barroso, o título tem quatro condições essenciais, o de ser um texto autónomo com significado próprio, de carácter imprescindível, de marcada elaboração colectiva uma vez que é o resultado da produção de vários elementos do órgão, e por último, de composição iconicamente diferenciada para destacar graficamente do resto dos componentes do texto jornalístico. Com esta aula o professor do Instituto Superior Miguel Torga deu início a uma série de aulas abertas ao público em geral que acontecem às Quartas-feiras na Casa Municipal da Cultura. Ana Beatriz Bento Aula Aberta JORNALISMO DE AGÊNCIA No passado dia 15 de Março teve lugar, na Casa Municipal da Cultura, a exemplo, “Se escrevermos uma notícia de 350 caracteres para um jornal e o segunda Aula Aberta de Dinis Alves sobre “Jornalismo de Agência.” espaço disponível só der para 300 os últimos 50 devem ser eliminados A sessão teve como convidado Rui Avelar, jornalista com vasta expe- porque serão os menos importantes”. O jornalista afirmou que não devem riência e actualmente Director-Adjunto do “Campeão das Províncias”. usar-se muitas palavras no primeiro parágrafo, uma vez que a capacidade Rui Avelar iniciou a sua apresentação referindo que, há uns anos atrás, de memorização imediata de um ser humano é de apenas 70 por cento e as a difusão das notícias da agência aos seus clientes era feita através de telex, citações devem ser o mais curtas possível. Há que ter em conta que os uma máquina teleimpressora para comunicação bilateral. A partir de adjectivos em jornalismo de agência não são bem aceites. 1992, começaram a ser transmitidas por satélite. Ana Beatriz Bento O orador continuou descrevendo um pouco o Filipe Casaleiro Jornalismo de Agência. Para Rui Avelar a objectividade, o rigor e imparcialidade são muito importantes e o jornalista deve ter em conta que as fontes não são neutras. “O trabalho de um jornalista de agência é um trabalho anónimo”. referiu o convidado. Numa agência de notícias o género jornalístico predominante é a notícia, podendo ocasionalmente haver outro género, como por exemplo uma entrevista. O Director-Adjunto do “Campeão das Províncias” defendeu que o que se valoriza nas notícias é o seu interesse público. Para escrever uma notícia há que ter em conta a regra da pirâmide invertida, ou seja, o mais importante deve estar no início. Rui Avelar deu o Rui Avelar ex-Director da Agência LUSA 13 Aconteceu “Comportamentos de risco, estado de saúde e qualidade da vinculação em COMPORTAMENTOS DE RISCO Filipe Casaleiro crianças e adolescentes” é o título do colóquio que se realizou em Fevereiro, no auditório da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra. O encontro foi organizado na sequência da concretização do projecto de investigação “Repercussões do consumo do tabaco, do álcool e de outras drogas na saúde das crianças e adolescentes – modalidades de interacção e influência recíproca”. No seguimento de uma parceria entre o Instituto Superior Miguel Torga, a Escola Superior de Tecnologia da Saúde, o Departamento de Psicologia da Universidade do Minho e a Subregião de Saúde de Coimbra, surgiu um projecto de investigação pioneiro na área da saúde pública. O objectivo é investigar o impacto que os comportamentos de risco podem ter sobre o equilíbrio psicológico e o estado de saúde dos jovens, que são utentes das consultas de clínica geral ou de saúde gas. Contudo, este consumo acaba por Coimbra, Lúcia Simões Costa. A presi- juvenil dos centros de saúde dependentes da Sub-região de Saúde de não se fixar, não passando simplesmente de um processo de rebeldia, de dir o colóquio, esteve o Professor Doutor Carlos Farate, docente do ISMT. Coimbra. Este projecto está a ser levado a cabo sob os auspícios da Fun- emancipação. Por outro lado, nos rapazes, estes comportamentos acabam dação Calouste Gulbenkian. O projecto mostra que, na actuali- por se fixar como forma de se destacarem. dade, não há grandes diferenças entre o consumo dos jovens de um meio Estiveram presentes no colóquio do director do Serviço de Saúde e De- rural e urbano, como existia há 10 anos atrás. Isto porque os jovens que vivem senvolvimento Humano da Fundação Calouste Gulbenkian, Professor Dou- na periferia têm um grande contacto com a cidade. O choque não será em tor Manuel Rodrigues Gomes; o director do ISMT, Professor Doutor Carlos relação aos jovens, mas sim em relação aos pais: um comportamento mais Amaral Dias; o presidente da Administração Regional de Saúde do Centro, antiquado pode provocar tensões na família. Fernando Regateiro; a coordenadora da Sub-região de Saúde de Coimbra, Os resultados parecem ser um pouco mais preocupantes no que diz res- Isabel Ventura; o director do departamento de Psicologia da Universidade peito ao consumo de drogas, álcool e tabaco. Verifica-se um nível de consu- do Minho, Professor Doutor Armando Machado; a directora da Escola Supe- mo mais elevado por parte das rapari- rior de Tecnologia da Saúde de 14 torga André Pereira Mariana Alves Aconteceu NOVO LIVRO DE CARLOS AMARAL DIAS Filipe Casaleiro Foi apresentado em Fevereiro, no auditório da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, o mais recente livro de Carlos Amaral Dias: “Freud para além de Freud”, volume II. Ao longo desta obra, o leitor terá acesso a um outro “olhar e ver simultaneamente amplo e profundo, quer sobre Freud, quer sobre psicanálise e comportamentos científicos actuais, quer sobre a humanidade”. No primeiro livro, a obra baseia-se essencialmente em textos clássicos e longos de Freud. Neste volume, há uma síntese da obra de Freud, caracterizada como um romance familiar. São oito textos inovadores que permitem uma transformação na forma de ler Freud, de uma maneira actual e viva. Neste livro encontramos um texto sobre o recalcamento, algumas considerações sobre a guerra e a morte, terminando com um texto sobre uma criança abatida – masoquismo na espécie humana. Está a ser ultimada a publicação de “Freud para além de Freud” volume II em espanhol e inglês. O terceiro volume abordará aspectos inéditos da obra de Freud, não explorados nos volumes anteriores. Carlos Farate e Carlos Amaral Dias André Pereira Mariana Alves GENOMA E PREDESTINAÇÃO A convite da Loja Liberdade, do Grande Oriente Lusitano, o Prof. Doutor Carlos ilegalização por decreto do salazarismo. A conferência, de grande importân- genoma na construção da personalidade e seus limites. Amaral Dias realizou uma conferência subordinada ao tema Genoma e cia científica, muito interessou os muitos maçons e outros convidados presentes Tratou-se de uma reunião científica de particular importância, que uma vez Predestinação. A sessão integrava-se nas comemorações do 110º aniversá- (a sessão foi aberta) e suscitou um interessante debate, em que o Prof. Amaral mais pôs em evidência a importância cultural e científica do nosso Director. rio daquela loja maçónica, sem “abater colunas”, o que significa que nunca in- Dias notificou a evolução histórica de conceitos e convocou a cientificidade terrompeu trabalhos mesmo quando da para explicação do significado do José Henrique Dias torga 15 Aconteceu INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA NA BLOGOSFERA COOPERAÇÃO CENTRO PSIQUIÁTRICO DE “Labimprensa” é o título do directório de prevaleça por todo o Mundo. Uma de blogs dos alunos de Laboratório de Imprensa da Licenciatura em Ciências das mensagens mais comoventes foi de uma menina que dirigiu esta men- da Informação. Disponível em http:// labimprensa.blogspot.com/, este espa- sagem ao Pai Natal: “Eu gosto muito de ti... acho que me portei bem… se ço é um índice dos weblogs (individuais ou colectivos) onde os alunos pu- não me quiseres dar nenhuma prenda eu não me importo, mas caso queiras blicam trabalhos relacionados com a disciplina de Laboratório de Imprensa dar, eu quero que a minha irmã e o meu pai sejam amigos… por favor tenta”. do 4º ano de CI, leccionada por Dinis Alves. O docente e os alunos Luís Segundo o coordenador do projecto, Dinis Alves, “o Pai Natal deve ser en- Monteiro e Rogério Aguiar são os administradores deste “metablog”. tendido como um símbolo de fraternidade, amizade ao próximo e Este projecto esteve também associado à iniciativa “Cartas ao Pai Na- todos esses valores que já parecem esquecidos”. tal”. No último Natal, o velhinho das barbas brancas decidiu acompanhar Para evitar atrasos, estes meninos pediram então as suas prendas atra- as novas tecnologias, deixando para trás os velhos trenós. Desta vez che- vés da blogosfera. Quem não sabia escrever não quis deixar de participar, gou pela Internet mas, em vez das habituais renas, foram alguns alunos do acabando por fazer alguns desenhos. O mesmo aconteceu com alguns me- ISMT que o ajudaram nesta “fantástica” viagem. Foi criado um blog (http:// ninos deficientes. Esta actividade foi muito bem acolhida pelas crianças, painatal2005.blogspot.com/), onde cerca de centenas de crianças de todo alvo principal desta iniciativa, mas também pelos pais e professores que o país deixaram os seus pedidos, para o último Natal. aplaudiram este especial “Netal”. Em balanço, Dinis Alves considera O desafio lançado pelos alunos do 4º ano da licenciatura em Ciências da que o projecto “Cartas ao Pai Natal” ultrapassou todas as expectativas. “Um Informação fez com que se deslocassem a várias escolas do país, em bus- trabalho que foi, essencialmente, desenvolvido a nível local, acabou por ca dos sonhos dos mais pequenos. Nunca garantindo a sua entrega, mas se expandir de tal modo que ganhou proporções nacionais”, afirmou. O do- não querendo deixar estas crianças sem nenhum miminho, colocaram as cente já tem iniciativas futuras entre mãos e, mais uma vez, a sua suas cartas e desenhos no blog, para que o Pai Natal pudesse ver. concretização só irá ser possível com a colaboração dos alunos da licencia- O blog foi um espaço criado para que estas crianças pudessem deixar tura em Ciências da Informação, do Instituto Superior Miguel Torga. aí todos os seus desejos, que não passaram só pelos carros e pelas bone- Mariana Alves cas, mas também por aqueles sonhos mais difíceis de concretizar: o fim das guerras e da pobreza, e que a amiza- 16 torga RECUPERAÇÃO DE ARNES E INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA Realizado em Coimbra, a 8 de Fevereiro de 2006, o protocolo apresenta como objectivo genérico o desenvolvimento de relações de mútua cooperação científica, técnica, cultural e de prestação de serviços. Os objectivos específicos do protocolo definem-se pela instauração de um sistema de colaboração entre as duas instituições relativo a estágios curriculares dos cursos de Licenciatura do ISMT, nomeadamente os cursos de Licenciatura em Psicologia e Serviço Social e pela promoção da cooperação nas áreas da investigação graduada e pós-graduada, a nível da formação e da prestação de serviços. Ana Cristina Abreu Aconteceu O NATAL COMO NARCISISMO DE VIDA E MODELO PARA A FAMÍLIA O Instituto Superior Miguel Torga organizou, em Dezembro último, a conferência “O Natal no Divã – O Natal como narcisismo de vida e modelo para a família”. Num ambiente acolhedor, o Professor Doutor Carlos Amaral Dias dirigiu uma amena conversa que teve como pontos principais o mito de Narciso e as ideias de Freud, recorrendo a dois dos seus textos. Narciso era filho da ninfa Liriópis e do rio Cefiso, cujo primeiro nome era Lethis, que deu origem à palavra “letal”. Era, portanto, o rio da morte. Este seu nome veio mais tarde a dar origem à palavra grega “alethea”, que significa “verdade”. Isto significa que a verdade se inscreve num lugar onde a morte é concebida mas pode ser ultrapassada. É por saber que somos mortais que podemos construir o “narcisismo de vida da espécie humana”. Os gregos dividiam o mundo em mortais e imortais. A única forma de ser imortal, segundo Platão, é de acreditar que “uma vida não reflectida não vale o direito de ser vivida”. O mais extraordinário na vida de Narciso é a sua transformação numa flor do rio. Segundo Amaral Dias, “a pior coisa do narcisismo de morte é nós, em vez de nos inscrevermos no futuro, inscrevermo-nos no passado”. Narciso fica perplexo ao ver o seu reflexo na água. Em grego, “reflexo” significa “olhar para trás”. Narciso, ao olhar para trás, encontrou apenas o seu passado. A pior coisa que pode acontecer a um ser humano é não nascer como era “pre-nascido”, ir-se embora, partir, levantar voo. Neste caso, podemos falar do caso português: a modernidade começou connosco, que tivemos de sair da nossa origem para dar novos mundos ao mundo. É esta a missão da frer uma de duas coisas: passar por uma infância tormentosa e organizar espécie. Um neurótico, sofrendo de reminiscências, permanecendo preso sintomas neuróticos; e tornar-se capaz de passar por tudo aquilo que teve na ao passado, pode ficar, como na peça de Ovídio, transformado apenas na flor infância. “Hoje em dia, vivemos num mundo hipócrita em que se pensa em de um rio. A memória de futuro é sair, partir e crescer. “Ousar lutar é ousar coisas tão estúpidas como os pais serem iguais às mães. A palavra parte vencer e há que não ter medo de sair do espelho. Quem fica no espelho ape- do pai, mas o amor básico parte da mãe”, afirmou Amaral Dias. Neste tex- nas tem Eco (aquela que se apaixonou por Narciso e repetiu várias vezes to, Freud afirma que “génios como Leonardo não precisaram de produzir o seu nome como prova de amor), que tem de ser quebrado, para todos po- sintomas mas passaram directamente de uma espécie de competência hu- demos ser outros, para podermos partir, para podermos crescer”, conclui mana para o sumo máximo do desenvolvimento que era a genialidade”. Carlos Amaral Dias. Por sua vez, Freud escreve um tex- Amaral Dias fez uma com-paração dizendo que “Leonardo era como os to em 1914, dedicado a este tema “Introdução ao Narcisismo” onde afirma bebés que chupam no dedo dentro da barriga das mães: não precisaram de que “a espécie humana está condenada a um universo de objectos encontrar um seio para o substituir pelo polegar. A genialidade está em saber substituíveis”. Quem se condena a olhar para o rio chorando intermina- encontrar um polegar dentro do útero sem nunca ter percebido que há um velmente o amor perdido, pensando que é amor, está enganado. De acor- seio. Leonardo da Vinci faz parte desse grupo de pessoas”. do com Amaral Dias, o sentimento aí presente é o “amódio, a mistura de Leonardo da Vinci foi capaz de olhar o mundo daquela forma porque a sua amor e ódio. O ódio à terra, a incapacidade de perceber o luto e de partir e mãe o olhou assim. Aqui, surge outra visão do narcisismo. No primeiro tex- voltar a amar de novo”. Já em 1910, Freud havia escrito um to, Freud tem uma visão do narcisismo ligada à capacidade de investir ou texto dedicado a Leonardo da Vinci, um dos maiores génios da Renascença, desinvestir objectos porque se acredita no amor-próprio. Neste segundo tex- no qual explica a coisa mais bonita que há sobre o narcisismo humano. Leo- to, o narcisismo é visto da forma como nós observamos o mundo porque al- nardo, para Freud, realizava um problema complexo, enigmático, um pro- guém olhou para nós dessa mesma maneira. No fundo, todos nós gostarí- blema a que chamou de “pulsão epistemofílica”. Segundo o Professor amos que os nossos pais nos tivessem olhado quando nascemos da Amaral Dias, “para além das pulsões sexuais e agressivas, a Neuro-fisiologia mesma forma que Leonardo foi olhado pela sua mãe. contemporânea veio demonstrar que nós nascemos com uma competência sensorial específica para conhecer e perceber a realidade”. André Pereira Freud afirma que a maior parte dos seres humanos está condenada a so- torga 17 Aconteceu TEORIA DE JOGOS Realizou-se, em Abril, o Seminário de Teoria de Jogos leccionado por Henrique Amaral Dias, com a contribuição de Regina Tralhão e organiza- pleta, se um dos jogadores desconhece o retorno de um outro qualquer, tal como ocorre frequentemente num lei- do por Vicente Serrano. lão, em que um dos interessados não sabe quanto é que o outro (ou outros) Referiu-se que: está disposto a pagar. A estas classes de jogos estão subjacentes outras tan- a) A Teoria de Jogos se tornou numa das mais importantes áreas de investigação científica, com implicações determinantes na análise económica, ciência política, biologia, direito, relações internacionais, filosofia e matemática. tas noções de equilíbrio: equilíbrio de Nash, equilíbrio perfeito de Nash num subjogo, equilíbrio de Nash Bayesiano e equilíbrio Bayesiano perfeito. imprescindível para prosseguir análises mais sofisticadas, associa-das às outras classes referidas, e estruturante para um pensamento lógico, aplicável a um vasto espectro de circunstâncias. A este respeito, Regina Tralhão interveio amiúde, ilustrando de modo didáctico em que situações de âmbito social se podem utilizar estas ferramentas analíticas, o que em muito enriqueceu este evento. e) Centrou-se a atenção apenas no estudo de jogos estáticos com informação completa, pois o conceito (Equilíbrio de Nash) que lhes está inerente é Andrea Marques Henrique Amaral Dias b) Em todas as sociedades, os indivíduos interagem constantemente. Por vezes, essa interacção é cooperativa, noutras é competitiva. Assim, num extremo está a formação de uma família ou de um projecto, no outro, empresas ou trabalhadores rivais que se digladiam. c) A noção de interdependência está sempre presente — o comportamento de alguém afecta o bem estar de outrem, positiva ou negativamente. Situações de interdependência são designadas por condicionamento estratégico, dado que um indivíduo ao decidir da melhor forma, tem forçosamente de considerar como é que os restantes jogadores irão actuar. Ora, a Teoria de Jogos pretende explicar como é que as pessoas se comportam, e aconselhar como se deveriam comportar. d) A Teoria de Jogos não é mais então do que um estudo sistemático de interacções estratégicas, centrando-se fundamentalmente na resolução de problemas pertencentes a quatro classes de jogos: estáticos ou dinâmicos com informação completa e estáticos ou dinâmicos com informação incompleta. Um jogo tem informação incom- 18 torga Filipe Casaleiro 19 20 torga Ensino & Investigação 21 Ensino & Investigação Filipe Casaleiro José Miguel Urbano tem 35 anos e um percurso invejável. Concluiu o ensino secundário com média de 19 valores. Candidatou-se à Universidade com média final de 19.6 valores. Licenciou-se em Matemática, Ramo Científico (Matemática Pura) com média final de 19 valores. Aos 29 anos concluiu o Doutoramento em Matemática (especialidade de Análise Matemática). É Professor Associado com Agregação no Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. “A GESTÃO DEMOCRÁTICA É INIMIGA DO DESENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE” Optou por uma carreira científica em universitário português ainda é inimigo Sem a alteração do estatuto da car- Portugal. Em 1995 foi bolseiro da European Science Foundation na Ecole do desenvolvimento científico. Nós vivemos com um estatuto da carreira do- reira José Miguel Urbano não acredita que as coisas mudem. Considera mes- Polytéchnique em Paris. De Dezembro de 1998 a Julho de 1999 esteve em cente muito ultrapassado, vivemos com um sistema de governo da Universida- mo que este “se tornou totalmente perverso porque dá uma série de garanti- Chicago, na Northwestern University, enquanto bolseiro da Fundação Luso- de que, em certa medida, serve os interesses das pessoas que estão no siste- as desde muito cedo. O que acontece hoje em dia é que a entrada para a car- Americana. Contactou com sistemas universitários e científicos que afirma ma, em particular dos professores e não reira é feita logo após a licenciatura, serem muito mais atraentes do que o português. Quando regressou, já Dou- “O sistema universitário tem que ser uma oligarquia meritocrática” torado, pensou que “era possível dar um contributo sério para mudar o esta- propriamente da ciência.” Para ultrapas- sem que as pessoas prestem qualquer do das coisas. Mas, não foram precisos muitos anos para perceber que isso era sar este problema José Miguel Urbano considera urgente mudar o estatuto da tipo de provas enquanto cientistas… A partir daqui, as promoções são todas uma autêntica ingenuidade. Não é possível mudar as coisas dessa maneira.” carreira. “Isto significa: menos garantias no início da carreira relativamente ao internas e isto gera fenómenos que todos conhecemos… Isto é completa- “O país está a começar a crescer no sentido certo mas eu diria que o sistema emprego, e aumento da competitividade em relação à promoção.” mente contrário ao desenvolvimento do sistema científico.” 22 torga Ensino & Investigação A avaliação internacional é a medida que José Miguel Urbano considera tudo é fácil e que nada exige esforço e muito trabalho. Quando questionado necessária para que um país pequeno como Portugal possa fugir ao “esque- sobre a origem dos maus resultados a matemática José Miguel Urbano é peremptório: “eu acho que o problema está em quem ensina e em quem toma ma” de serem sempre os mesmos a avaliar, em que os resultados das avaliações são todos muito bons para todos. Filipe Casaleiro “Nós só conseguimos ir a algum lado se as pessoas perceberem que a Universidade não é um sistema Democrático, não pode ser. A gestão democrática é inimiga do desenvolvimento da Universidade. O sistema universitário tem que ser uma oligarquia meritocrática, isto é, devem ser os melhores a tomar as decisões. Todos os cientistas portugueses mais conhecidos dizem isto há muito tempo. Todos acham que as coisas têm que mudar mas, as coisas nunca mudam porque quem detém o poder nas universidades não quer que as coisas mudem, explicou o investigador. “A matemática é uma disciplina que não se consegue aprender sem esforço” Todos os anos é a disciplina com piores resultados nos exames nacionais. A matemática é odiada por grande parte dos alunos. José Miguel Urbano explica porquê: “eu acho que tudo isto é consequência de uma mentalidade que se foi desenvolvendo nos últimos anos que considera que o ensino deve ser uma actividade relacionada com o prazer. Penso que se perdeu a noção que estudar, como tudo aquilo que é verdadeiramente importante na vida, custa, exige sacrifícios e exige trabalho. A matemática é uma disciplina que não se consegue aprender sem esforço, sem trabalho. Isto não significa que não se possa tirar prazer de estudar matemática, só que o prazer vem depois do esforço.” Em Portugal criou-se a ideia de que as decisões. Criou-se um sistema que não funciona. Os nossos estudantes não são melhores nem piores do que os outros. Muitos professores têm uma preparação científica deficiente, preferem refugiar-se em questões relacionadas com a pedagogia sem saberem exactamente aquilo que estão a ensinar. Portanto, sabem ensinar mas não sabem aquilo que ensinam.” Mas, apesar dos maus resultados e da insuficiente qualidade de ensino da matemática, ainda há todos os anos um “grupo razoável” de estudantes que procuram a licenciatura em Matemática com médias altíssimas porque gostam muito da disciplina. No entanto, “se calhar o país não precisa de muitos mais matemáticos, de muitos mais profissionais da matemática. Pre- Prémio José Anastácio da Cunha (ex aequo com Xiang Dong Li e Pedro Resende) em 2002. Este prémio destina-se a galardoar uma dissertação de Doutoramento em Matemática, escolhida por um júri de entre as que se apresentarem a concurso, e é concedido de 4 em 4 anos. Programa Gulbenkian de Estímulo à Investigação – Fundação Calouste Gulbenkian, 1998 Prémio João Farinha em 1992: atribuído ao estudante que termina a Licenciatura em Matemática na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra com a classificação mais elevada no ano em causa. Medalha de Ouro: Olimpíadas Nacionais de Matemática em 1988 cisa de matemáticos melhores”, afirma o investigador. Andrea Marques torga 23 Ensino & Investigação Filipe Casaleiro Abel Nascimento - especialista em microcirurgia e Director do Serviço de Ortopedia dos H.U.C. “A MICROCIRURGIA NÃO É ESTIMULADA” Originalmente derivada da palavra Gre- des ou ainda a reconstrução da mão. A ral da mão, cirurgia do plexo braquial e ga plastikos que significa moldar ou alterar a forma, a Cirurgia Plástica, microcirurgia vascular, técnica que permite a sutura de vasos sanguíneos de nervos periféricos, cirurgia congénita, cirurgia reumatóide, cirurgia tumoral, Reconstrutiva e Estética é uma especialidade que adapta princípios cirúrgi- um milímetro ou menos de diâmetro, é uma competência hoje indispensável cirurgia linfática, cirurgia ortopédica e cirurgia plástica, entre outras. cos às necessidades específicas de cada doente fazendo a remodelação e em Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética nomeadamente para a O cirurgião iniciou a sua aprendizagem de Microcirurgia em 1979, foi a redistribuição dos tecidos. A Cirurgia Plástica e Reconstrutiva reimplantação de partes amputadas da mão, de outras áreas anatómicas ou introdutor em Portugal e pioneiro europeu do método inovador Freehand teve o seu início numa época anterior a Cristo, altura em que cirurgiões da Ín- ainda para a transferência de grandes áreas tecidulares de uma parte do cor- System, para recuperação funcional da mão paralítica em doentes tetra- dia procediam à reconstrução do nariz utilizando um retalho cutâneo proveni- po para outra. Abel Nascimento, director do servi- plégicos, nos H.U.C. em 1997. “Integramos igualmente, desde 1999, um gru- ente da região frontal. Trata-se de uma especialidade cirúr- ço de Ortopedia, especialista em microcirurgia e responsável pela Uni- po de pesquisa a nível europeu para implantação de um sistema electrónico gica cujo desenvolvimento recente foi estimulado pelos desafios que surgiram dade de Cirurgia da Mão do Serviço de Ortopedia dos Hospitais da Universida- de controlo de marcha em paraplégicos”, afirmou Abel Nascimento. aquando das graves reconstruções nas vítimas das Guerras Mundiais. de de Coimbra tem no currículo vários milhares de cirurgias (cerca de 13.000), Em 1994 defendeu o Doutoramento em Paris (França), com o trabalho Uma das áreas de intervenção destes cirurgiões é a cirurgia da mão, in- nos campos da microcirurgia reconstrutiva (reimplantações, transferências “Reconstruction plastique du membre supérieur – investigation anatomique et cluindo o tratamento de lesões traumáticas agudas, correcção de deformida- de dedos do pé para a mão, retalhos livres e pediculados, etc.), cirurgia ge- application chirurgicale et Régénération lymphatique en réimplantations et 24 torga Ensino & Investigação lambeaux vascularisés dans la chirurgie expérimentale et clinique” “Presentemente a nossa actividade estende-se, pela Ortopedia Geral, Ci- mento afirma “é possível fazer mas começa a ser desmotivante. Começa a ser que consolidou e validou os procedimentos cirúrgicos da sua prática clíni- rurgia Plástica Reconstrutiva do Aparelho Locomotor, Cirurgia de Urgência um pouco difícil porque a microcirurgia não é estimulada.” ca. O modelo experimental animal escolhido foi o cão, tendo sido efectuadas (Reimplantações, Cirurgia Vascular, Cirurgia Nervosa, Cirurgia da Mão, etc.), Para 2006 está prevista a aplicação da nova versão do sistema electrónico 131 amputações/reimplantações dos membros posteriores para estudar a Cirurgia da Mão Clássica, Cirurgia da para tetraplégicos, na qual o Instituto de Filipe Casaleiro regeneração dos tecidos, nomeadamente a contribuição dos sistemas venoso e linfático na resolução do edema e reorganização tecidular. Este estudo permitiu recolher informações inéditas preciosas para a prática médico-cirúrgica em diversos campos da cirurgia reconstrutiva, tendo-lhe sido atribuído o grau de Doctor Communitatis Europeae e a medalha da Universidade René Descartes. “Fomos convidados para integrar o Projecto Europeu Leonardo da Vinci (Formation à la connaissance du système lymphatique et à la prise en charge de ses pathologies). O convite foi feito na sequência da nossa investigação profunda (animal e humana) no campo da anatomia estrutural e funcional, fisiopatologia e cirurgia linfática (microcirurgia linfovenosa, linfonodular, linfolinfática, linfoveno-linfática e cirurgia plástica reconstrutiva de redução de linfedemas). Um dos grandes capítulos da tese de doutoramento europeu versa a regeneração linfática em cirurgia experimental”, explicou o médico. Também foram realizados estudos em cadáveres frescos em Paris, para estandardizar a anatomia da rede linfática dos membros através da injecção de produtos específicos linfotró-picos. “Estudámos, na clínica, a regeneração linfática em doentes com reimplantações totais ou retalhos dos membros através de diversos métodos anatomofuncionais. Estes estudos permitiram obter conclusões importantes para o aprofundamento de técnicas de cirurgia linfática e plástica moderna”, acrescentou. Mão Reumatóide, Cirurgia do Plexo Braquial e Nervos Periféricos, Cirurgia das Malformações Congénitas, Cirurgia Linfática e Cirurgia dos Transplantes Ósseos Vascularizados em necrose asséptica da cabeça do fémur, Cirurgia Tumoral e Cirurgia de Perdas Osteocutâneas. Para além desta cirurgia efectuamos ainda Cirurgia dos Tetraplégicos (clássica e recuperação das mãos paralíticas pelo sistema electró-nico Free Hand System – tendo sido dos primeiros países do mundo a aplicá-lo e introduzi-lo em Portugal). Foi igualmente efectuada cirurgia de implantação para tetraplégicos do sistema Brindley-Voccare, para o controle esfincteriano por aplicação directa de sistema electrónico na medula, em colaboração com os Serviços de Urologia e Medicina Física e Reabilitação.” Questionado sobre as condições existentes para fazer investigação em microcirurgia em Portugal Abel Nasci- Cirurgia Reconstrutiva está envolvido em estreita colaboração com os E.U.A. PRÉMIOS CIENTÍFICOS Menção Honrosa do Prémio Professor Jorge Mineiro (SPOT) em 1984. 1º Prémio Professor Jorge Mineiro (SPOT) em 1986. Melhor comunicação do Congresso Europeu do G.E.L., Bruxelas, em 1994. Medalha de Mérito da Faculdade de Medicina René Descartes, Paris, em 1994. Melhor comunicação do 6th Congress of the International Federation of Societies for Surgery of the Hand, Helsinkia, Finlândia, 1995. Galardoados na Grande Gala do Casino da Figueira da Foz, na celebração do 5º Aniversário do Jornal “O Diário das Beiras”, 1999. Distinção, na área da Medicina, no livro dos 75 anos do Jornal “Diário de Coimbra”, 2000. Andrea Marques Henrique Amaral Dias torga 25 Ensino & Investigação UMA APLICAÇÃO DO JÚRI DE DELPHI – ISMT Este trabalho, coordenado por Henrique Amaral Dias, foi desenvolvido por alunos de Informática de Gestão do 3º ano, no âmbito da disciplina Gestão Industrial. Utilizou-se o Método de Delphi, pois permite chegar a resultados que não geram dúvidas significativas na sua análise. O Júri Delphi é uma das poucas metodologias científicas que permite interpretar qualitativamente dados. Este método permite descortinar as opiniões de especialistas/personalidades relevantes através do preenchimento de um único questionário, que se repete um determinado número de vezes, variando este em função do nível de consenso atingido. Distingue-se essencialmente por três características básicas: o anonimato, a interacção com feedback controlado e a revelação sucessiva de resultados estatísticos gerais aos inquiridos. Este processo realizou-se apenas duas vezes, visto que no final do segundo round obteve-se um amplo consenso quanto às respostas dos participantes. Este inquérito tem como escopo delimitar, com a maior clareza possível, as linhas estratégicas a prosseguir pela nossa instituição. Neste sentido, seleccionámos um grupo restrito de indivíduos, que pelo seu conhecimento do ISMT e as suas competências, nos garantiam um resultado credível. Seguidamente serão apresentadas algumas das questões realizadas no inquérito e as respectivas repostas. Análise de Dados Perguntas Gerais É importante a instituição agregar tudo num único edifício? • 95% - Sim • 5% - Não As actuais instalações estão bem localizadas? • 80% - Sim • 20% - Não A Biblioteca é: • 0% - Dimensão Adequada • 100% - Pequena • 72% - Confortável • 28% - Desconfortável • 58% - Bem apetrechada • 42% - Mal apetrechada Era importante a escola ter a sua própria cantina ou bar? • 95% - Sim • 5% - Não Se Sim, o que acha do bar da associação? • 0% - Agradável • 61% - Razoável • 39% - Péssimo Em relação aos serviços administrativos / Secretaria como avalia o serviço por estes prestado ao público? • 11% - Muito Bom • 56% - Bom • 33% - Razoável • 0% - Mau • 0% - Muito Mau Qual o horário que deveria ser praticado na secretaria? • 11% - O actual está bem • 22% - O actual está bem, só que deveria estar aberto durante a hora de almoço • 67% - Alargar o horário Se escolheu a última opção qual o melhor horário? • 18% - Das 9h às 12h e das 14h às 18h • 83% -Das 9h às 18h Perguntas Gerais Perguntas aos Alunos O que devia a AEISMT fornecer aos alunos? • Computadores • Bar com melhores condições • Salas de Estar • Mais convívios O que pensa dos horários dos alunos e da afectação das salas aos mesmos? • 0% - Muito Bons • 22% - Bons • 11% - Razoáveis • 56% - Maus • 11% - Muito Maus O ISMT deveria ter uma sala de computadores só para os alunos utilizarem? • 89% - Sim, muito importante • 11% - Sim • 0% - Não necessariamente • 0% - Não Como avalia o site do Instituto? • 78% - Claro • 22% - Confuso • 71% - Informativo • 29% - Sem conteúdo • 50% - Atractivo • 50% - Desinteressante • 57% - Visito com regularidade • 43% - Visito com irregularidade Como avalia o atendimento na Biblioteca? • 11% Muito Bom • 58% Bom • 32% Razoável • 0% Mau • 0% Muito Mau Perguntas aos Alunos De modo geral, os professores são competentes? • 100% - Sim • 0% - Não Como avalia a competência de um docente? • 89% - Pela exposição de aulas • 0% - Pelo atendimento dos alunos fora de aulas • 0% - Pela simpatia com os alunos • 11% - Pelo conteúdo e utilidade da disciplina É importante sublinhar que os resultados que de seguida descrevemos não são o produto de uma tendência de opinião do corpo docente, discente ou de funcionários do ISMT, mas tão somente traduzem aquilo que um conjunto de indivíduos decisivos para o futuro da instituição pensa. 26 torga Ensino & Investigação Tendo em conta que está numa privada, os professores têm de dar mais atenção aos os alunos? • 78% - Sim • 22% - Não Os professores deveriam ter um limite de faltas bem como os alunos? • 56% - Sim • 33% - Não • 11% - Depende das circunstâncias Os cursos do estruturados? • 33% - Todos ISMT estão bem • • 9 - Funcionamento e horário da tesouraria/secretaria 10 - Localização Pergunta aos Alunos Se o Instituto alterar todos os itens que assinalou, então quanto estaria disposto(a) a pagar? • 14% - Mais de 150€ e menos de 200€ • 86% - Mais de 200€ e menos de 250€ • 67% - Alguns Se não respondeu todos, quais é que para si não estão? • Multimédia - Existe carência de material. Carga de disciplinas teóricas no 1º ano e a falta delas nos outros anos. • Informática de Gestão - No 2º semestre do último ano tem excesso de disciplinas, porque decorre em simultâneo o estágio. • Ciências de Informação - não há estágio curricular. Pergunta Geral Está de acordo com a fusão do ISMT com a Bissaya Barreto? • 33% - Sim • 67% - Não Perguntas aos Alunos Está de acordo com a propina que os alunos pagam actualmente? • 33% - Sim • 67% - Não Se Não, qual o valor mais justo a aplicar às propinas mensais? • 43% - Mais de 100€ e menos de 150€ • 57% - Mais de 150€ e menos de 200€ Pergunta Geral Quais os aspectos a alterar com maior urgência? • 1 - Instalações • 2 - Interface curso/mercado de trabalho • 3 - Material de apoio (cadeiras/ secretárias / meios de apoio pedagógicos e informáticos) • 4 - Biblioteca • 5 - Bar • 6 - Utilidade dos conteúdos • 7 - Qualidade dos Docentes • 8 - Reprografia Conclusão Os inquiridos mostram insatisfação relativa ao Instituto, por este não funcionar num único edifício, mas em contrapartida a sua localização é aceite por 80%. A opinião negativa dos restantes 20% deve-se ao ruído, dificuldades de estacionamento e trânsito. Os 5% que acham que não é importante agregar tudo num único edifício, melhorariam nos actuais: • Isolamento do frio • Insonorização • Conforto • Dimensão das Salas • Meios de apoios pedagógicos • Acessibilidades Em relação ao site do ISMT, as sugestões são diversas: • As notas deveriam estar actualizadas; • A possibilidade dos alunos se inscreverem para exames, frequências e/ou matriculas - secretaria on-line; • Foi respondido que o contacto dos professores era importante mas este já existe, como também o horário escolar e as informações de todos os cursos existentes. • Outras sugestões foram a criação de uma intranet, ou seja, um (sub) site para cada curso, com apresentação de disciplinas e docentes; • Informação das cadeiras e sumários (já existe, só para alguns cursos) • Aulas de reposição ou extraordinárias que sejam marcadas; • Uma secção dedicada ao emprego; • Trabalhos/acções de alunos; criação de webjornal; webradio. De acordo com as respostas relacionadas com a fusão do ISMT com o Instituto Bissaya Barreto, os 33 % que responderam Sim à fusão, têm as seguintes opiniões: • O ISMT faria parte de uma fundação muito bem posicionada no mercado, com boas condições; • Para a formação de uma Universidade; • Iria melhorar as condições dos alunos, para que tenham melhor aproveitamento a nível escolar. Os 67 % que responderam Não à fusão, têm as seguintes opiniões: • Redução de pessoal; normas mais restritas; maior afastamento entre a Direcção e os Recursos Humanos; • Uma instituição com mais de 65 anos não deveria fundir-se com um Instituto que foi criado a partir de alunos que eram nossos; • O ISMT corre o risco de perder a sua identidade perante o seu público-alvo e a sociedade; • O ISMT tem potencial e não precisa de se unir a outra instituição para crescer mais. Foi uma agradável surpresa constatar que 100% dos alunos consideram os seus professores competentes e que os avaliam pela exposição das aulas e pelo conteúdo e utilidade da disciplina. Os aspectos de maior urgência a alterar serão então a nível de: • Instalações • Material de apoio (cadeiras/secretárias / meios de apoio pedagógicos e informáticos) • Biblioteca • Bar Andreia Dias Ângela Marques Daniela Cerveira João Miranda de Sá Jorge Teixeira Nuno Peixoto Ricardo Delgadinho Susana Pereira Tânia Veloso torga 27 Grande Reportagem Ensino Superior e Investigação em Portugal “A nossa experiência ocidental reco- edade do conhecimento e concretizar lheu do direito Romano a ideia de o objectivo fixado no Conselho Euro- universitas, neste domínio referindo-se peu de Lisboa: tornar-se na economia a uma associação com o fim de de- baseada no conhecimento mais dinâ- · A reorganização do conhecimento; senvolver e transmitir o saber. mico e competitivo do mundo, capaz · O surgimento de novas expectati- sidades e empresas; · A multiplicação dos lugares de produção dos conhecimentos; Realmente as universidades são de garantir um crescimento económi- instituições, no rigoroso sentido com co sustentável, com mais e melhores Pode dizer-se que a economia e a so- que Hauriou, Prélot e Renard organi- empregos, e com maior coesão soci- ciedade do conhecimento surgem da zaram a teoria de instituição: uma ideia al”. combinação de quatro elementos: vas. de obra ou de empresa que se realiza Segundo o mesmo comunicado, e dura num meio social. A Universida- durante muitos anos as Universidades de é certamente uma das realidades Europeias definiram-se em função de que mais claramente reconhece e alguns grandes modelos, em particu- combina a convicção de que na vida lar o modelo ideal de universidade · A sua divulgação com as TIC’s; social existem duas referências funda- concebido, há quase dois séculos por · A sua exploração através da inova- mentais, os homens e as ideias, os pri- Wilhelm von Humboldt na sua reforma meiros perpetuando-se pela reprodu- das universidades alemãs, e que faz ção, e as segundas pela tradição, isto da investigação o cerne da actividade é, pela passagem de mão em mão, de universitária e a base do ensino. · A produção do conhecimento pela investigação científica; · A sua transmissão através da educação e formação; ção tecnológica. Em Portugal existem entidades geração em geração”. Este é um Actualmente as universidades ten- que apoiam a investigação científica e excerto do artigo de Adriano Moreira dem a distanciar-se desses modelos os jovens que pretendem iniciar o seu intitulado A Universidade. em busca de uma maior diferenciação. percurso, tanto em Portugal como no estrangeiro. Por outro lado, num comunicado da É imperativo adoptar uma série de Comissão das Comunidades Euro- mutações que se podem classificar em peias onde se questiona o Papel das 5 categorias: Universidades na Europa do Conhecimento, pode ler-se “a UE necessita de uma comunidade universitária sólida e próspera. A Europa precisa de excelência nas suas universidades, uma · O crescimento da procura de formação superior; · A internacionalização da educação e da investigação; vez que só assim poderá optimizar os · O estabelecimento de uma coope- processos que estão na base da soci- ração estreita e eficaz entre univer- 28 torga A Torga fez um estudo sobre algumas dessas instituições e apresenta de seguida um breve resumo sobre cada uma destas instituições: Fundação para a Ciência e Tecnologia, Fundação Luso-Americana, Fulbright e Fundação Calouste Gulbenkian. Grande Reportagem Fundação para a Ciência e Tecnologia peração e outras formas de apoio em parceria com universidades e outras A Fundação para a Ciência e instituições publicas e privadas. As principais funções da Funda- Tecnologia (FCT) iniciou actividades em Agosto de 1997. ção para a Ciência e Tecnologia são: · Promover, financiar, acompanhar e A promoção contínua do conhecimento científico e tecnológico em Por- avaliar instituições de ciência e tecnologia; tugal explorando as oportunidades que se revelam em todos os domínios · Promover, financiar, acompanhar e avaliar programas e projectos de ci- É de salientar que a ciência e tecnologia, atrás referidas, são consideradas num sentido amplo que engloba as mais variadas áreas do saber: as ciências exactas, naturais e da saúde, a engenharia, as ciências sociais e as humanidades. Como concorrer a uma bolsa A missão da FCT concretiza-se, Promover a difusão e a divulgação da cultura e do conhecimento cien- Para certos tipos de bolsas, os concursos mantêm-se abertos permanentemente. É o caso de Bolsas de Pós-Doutoramento e Bolsas de Licença Sabática. Os concursos para Bolsas de Doutoramento e Bolsas de Mestrado – Dissertação, são abertos através de editais. principalmente, através da atribuição de financiamentos na sequência de tífico e tecnológico, do ensino da ciência e da tecnologia; Está permanentemente aberto, na Agência de Inovação, o concurso para Estimular a modernização, articulação, reforço e disponibilização Bolsas de Estágio em Organizações Científicas e Tecnológicas internacio- pública de fontes de informação científica e tecnológica. nais para formação de engenheiros no European Organization for Nuclear é a principal missão da FCT. O seu principal objectivo é atingir os mais elevados padrões internacionais de criação do conhecimento, estimular a sua di- ência e tecnologia, formação e qualificação dos recursos humanos; · fusão e contribuição para a melhoria da educação, da saúde e do ambiente. gação científica e ao desenvolvimento tecnológico; · avaliação de mérito de propostas de: instituições, equipas de investigação, indivíduos apresentados em concursos públicos, através de acordos de coo- Promover a criação e o reforço de infra-estruturas de apoio à investi- · torga 29 Grande Reportagem Research (CERN), na European Space Agency (ESA) e no European Southern · Bolsas de Desenvolvimento de Carreira Científica (Bdcc) lhimento. Estas bolsas podem ser atribuídas Observatory (ESO). As instituições científicas atribuem Destinam-se a investigadores que tenham revelado mérito científico eleva- na sequência de concurso público aberto na respectiva instituição de aco- directamente bolsas de investigação científica, a maior parte com financia- do nas actividades realizadas durante um período de Pós-Doutoramento, em lhimento, mas que exige o envio prévio do anuncio à FCT, com pelo menos mento da FCT para projectos de I&D ou unidades. Os concursos públicos regra de quatro a cinco anos. Estas bolsas têm como objectivo apoiar o uma semana de antecedência em relação ao início do período de apresen- são anunciados na página da FCT na Internet. desenvolvimento de aptidões de direcção e coordenação de projectos cien- tação de candidaturas. A selecção de bolseiros deve ser tíficos, pelo que, durante o período da bolsa, o bolseiro deve dirigir um pro- efectuada por um júri de pelo menos três doutorados, constituído por inicia- jecto de investigação científica e tecnológica. São apenas concedidas tiva do Investigador Responsável do Projecto ou de unidade I&D. Devem ser no âmbito de projectos ou unidades de investigação. preparadas actas sucintas das reuniões do júri com indicação dos critérios rencialmente há menos de cinco anos, para realizarem trabalhos avançados · aplicados e das decisões tomadas, as quais deverão ser enviadas à FCT na de investigação científica em universidades ou instituições científicas portu- Estas bolsas destinam-se a licenciados ou mestres para realizarem traba- guesas ou estrangeiras de reconhecida idoneidade. lhos de doutoramento no país em ambiente empresarial com temas de rele- · vância para a correspondente empresa. Devem ser solicitadas através da Tipos de Bolsas · Bolsas de Pós-Doutoramento (BPD) Estas bolsas destinam-se a doutorados que tenham obtido o grau, prefe- Bolsas de Doutoramento (BD) Estas bolsas destinam-se a licenciados ou mestres para realizarem trabalhos de doutoramento em universidades portuguesas ou estrangeiras, incluindo a frequência de programas doutorais, quando for caso disso. · Bolsas de Mestrado (BM) – Dissertação Estas bolsas destinam-se a licenciados para realizarem estudos de Bolsas de Doutoramento em Empresas (BDE) Agência de Inovação. · sequência das reuniões correspondentes. Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento Bolsas de Estágio em Organiza- A Fundação Luso-Americana para ções Científicas e Tecnológicas Internacionais (BEst) o Desenvolvimento, FLAD, assinalou 20 anos em 2005. Estas bolsas destinam-se a facultar oportunidades de formação em orga- Criada para contribuir para o desenvolvimento económico, social e nizações científicas e tecnológicas de que Portugal é membro, em condições cultural de Portugal, disponibiliza apoio financeiro e estratégico a pro- a acordar com essas organizações. jectos criativos e incentiva a cooperação entre a sociedade civil portugue- mestrado em universidades portuguesas ou estrangeiras, no período de Avaliação das candidaturas preparação da dissertação, após aprovação na parte escolar do mestrado. A FCT atribui bolsas na sequência da submissão de candidaturas em atribuição de bolsas de apoio a pro- concursos públicos, seguidas de avaliação por painéis constituídos para as programas de formação e intercâmbio. · Bolsas de Licença Sabática (BSab) Estas bolsas destinam-se a doutorados em regime de licença sabática para realizarem actividades de investigação em instituições estrangeiras. A duração destas bolsas varia entre o mínimo de três meses e o máximo de um ano, não renovável, e refere-se unicamente ao período de permanência no estrangeiro. 30 torga sa e a americana. Tem como principal actividade a jectos institucionais e à promoção de várias áreas científicas. Os painéis de avaliação envolvem cerca de 200 in- Organiza, também projectos próprios vestigadores de várias universidades de Portugal. ceria com outras instituições. São atribuídas classificações de 1 a 5, em função de três critérios: méri- ferências monetárias do Estado português e proveniente do Acordo de Coo- to do candidato, mérito do plano de trabalho e mérito das condições de aco- peração e Defesa entre Portugal e os Estados Unidos da América. O capital que gere individualmente ou em parA FLAD foi criada através de trans- Grande Reportagem inicial foi de 85 milhões de euros e des- É dada prioridade a candidaturas de 1992 que se sustenta exclusivamen- que estimulem a intervenção de entida- te do rendimento do seu património. des portuguesas e dos Estados Unidos. Uma instituição ou pessoa a título individual pode candidatar-se aos de- As áreas de intervenção da Fundação situam-se ao nível da Cultura, signados “Projectos Institucionais” e às “Bolsas”. Educação, Ciência e Tecnologia, Ambiente, Funções de Estado, Socieda- As iniciativas caracterizadas como Projectos Institucionais consideram-se de Civil e Inovação. a organização de seminários e conferências em Portugal e nos EUA, financiamento de intercâmbios académicos, elaboração de estudos e investigações, programas de cooperação entre universidades portuguesas e estrangeiras, criação de novas escolas ou centros de investigação, iniciativas de promoção do sector privado e programas que reforcem a capacidade de acção das instituições não governamentais. Os projectos devem apresentar-se inovadores, com objectivos definidos e exequíveis dentro das áreas previs- Bolsas As Bolsas de Doutoramento FLAD/ FULBRIGTH são atribuídas, preferencialmente, a candidatos com uma média de licenciatura superior a 14 valores, e com bons conhecimentos de inglês. O candidato submete-se a uma apreciação curricular e apreciação dos objectivos de estudo, a um teste de avaliação de conhecimentos de inglês e a uma entrevista. O financiamento baliza-se até ao máximo de 25.000 dólares para o primeiro ano de estudos, organização e tas pela Fundação e que promovam o administração dos processos de candidatura às universidades norte-ame- desenvolvimento do país. ricanas, seguro de saúde e acidentes durante o período da bolsa. As áreas de investigação prioritárias englobam as Engenharias, Física, Química, Matemática, Biologia, Economia, Ciências Médicas e Ciências do Ambiente. As não prioritárias são as Ciências Musicais, Filosofia, História, Língua e Literaturas, além de serem financiadas parcialmente. São bolsas de longa duração, com períodos superiores a três meses na área da Cultura e superiores a seis meses nas restantes áreas. Candidaturas Para a candidatura a Bolsas para Acções de Formação no Estrangeiro, deverão apresentar-se declarações comprovativas do interesse das instituições portuguesas em que os candidatos trabalham, licenciatura concluída, vínculo a Universidades, instituições de investigação ou empresas ligadas às áreas prioritárias e não prioritárias nos termos definidos anteriormente. A duração do estágio deve ser superior a um mês e não superior a um ano. Relativamente ao Apoio à Apresentação de Comunicações em Congressos Internacionais, existe um limite de financiamento por trimestre, uma vez que é objectivo da Fundação acolher o maior número de pedidos ao longo do ano civil e a aprovação de dois projectos consecutivos não será concedida. Além dos conferencistas, também podem inscrever-se, pessoas que desempenhem funções de moderadores. O processo de candidatura engloba o curriculum vitae, o programa do evento, torga 31 Grande Reportagem o tema da comunicação e a prova de aceitação da mesma por parte da or- O Programa Fulbright é administrado pelo Departamento de Estado e tadas pela Comissão Fulbright e pela Fundação Luso-Americana. A univer- ganização americana, indicação dos custos previstos, patrocínios coadju- implementado sob a supervisão do J. William Fulbrigth Scholarship Board sidade seleccionada terá a seu cargo as despesas do alojamento e uma par- vantes e a carta de recomendação da instituição à qual o candidato está vin- (FSB). Em cada país o Institute of te do custo total do programa. As Bolsas de Investigação culado entre outros documentos. International Education (IIE) assiste as Comissões Fulbrigth e as Embaixadas Fulbright/FLAD centram os seus objectivos no apoio ao desenvolvimento de dos EUA na administração do Programa Fulbrigth para Estudantes. projectos de investigação em universidades ou instituições nos E.U.A. Os “Our future is not in the stars but in O Council for International Exchange of Scholars (CIES) afiliado projectos contemplam todas as áreas do conhecimento tendo como requisi- our minds and hearts. Creative leadership and liberal education, which no IIE, assiste as Comissões Fulbrigth e as Embaixadas dos EUA na admi- tos a média de licenciatura igual ou superior a 14 valores, bons conheci- go together, are the first requirement for a hopeful future of mankind”. nistração do Programa Fulbrigth para Professores Universitários e Investiga- mentos de Inglês e concordância com o projecto por parte da instituição nor- dores. te-americana. O processo de selecção passa pela apreciação curricular e do Fulbright Este excerto constitui o discurso proferido pelo ex-Senador do Arkansas J. William Fulbright, em 1946, quando decidiu estabelecer um intercâmbio cultural para estudantes e professores. A legislação que originou o Programa Fulbright foi assinada a 1 de Agosto do mesmo ano pelo Presidente Henry Truman. Fulbrigth nasceu em Samner, Missouri, a 9 de Abril de 1905. Viveu desde pequeno em Fayetteville, no Arkansas. Entrou na Universidade do Arkansas com 15 anos, onde foi presidente da Associação de Estudantes. Em 1925,após obter o seu primeiro Bachelor’s Degree, recebeu uma Bolsa Rhodes para a Universidade de Oxford no Reino Unido. Com essa bolsa estudou durante três anos e adquiriu o segundo Bachelor’s Degree. Voltou depois para os Estados Unidos, para a Universidade de George Washington onde frequentou Direito e alcançou o terceiro Bachelor’s Degree. Foi esta constante mobilidade cultural e académica de Fulbrigth que o levou a concluir da importância dos intercâmbios internacionais para o desenvolvimento intelectual do indivíduo. 32 torga Parceria Fulbright/FLAD A Fulbright e a FLAD desenvolvem em parceria três programas: 1-Programa Rotating Chair Fulbright/ Fundação Luso-Americana para Distinguished Lectures; 2-Bolsas de Investigação Fulbright/ Fundação Luso-Americana; 3-Bolsas Fundação Luso-Americana / Fulbright Para Doutoramentos. O primeiro tem como objectivo o ensino, a consultoria e investigação realizada por Professores americanos em universidades portuguesas. Abrange a participação de três professores americanos por um período de três meses cada, durante um ano lectivo. Exige-se uma elevada qualidade académica dos bolseiros envolvidos. Os projectos serão seleccionados projecto, e por uma entrevista ao candidato. Com a duração entre seis a doze meses, o financiamento situa-se até ao máximo de 10.000 dólares, seguro de saúde e acidentes durante o período de bolsa e a possibilidade de acesso à linha de crédito Fulbright/ Santander Totta. Nas condições de candidatura, ressalta a obrigatoriedade dos candidatos serem portugueses. Bolsas As Bolsas FLAD/Fulbright cobrem todas as áreas do conhecimento, requerendo a licenciatura com média igual ou superior a 14 valores e com conhecimentos de Inglês e visam a execução do Doutoramento nos Estados Unidos. Os candidatos devem ter nacionalidade portuguesa e estão su- pelo Council For International Exchange of Scholars (CIES), que abrirá concur- jeitos a uma apreciação do seu currículo e dos objectivos de estudo, a uma so para professores do Estados Unidos da América. Posteriormente, a Comis- avaliação do nível de Inglês e a uma entrevista. A bolsa é financiada até ao são apresentará as candidaturas às instituições portuguesas para aprecia- máximo de 25.000 dólares para o 1º ano de estudos. No 2º e 3º anos, o ção e escolha das propostas. As despesas de viagem e estadia bolseiro pode candidatar-se a um financiamento extraordinário adicional, dos scholars americanos são susten- até ao montante total máximo de 12.000 dólares. Os restantes benefícios são Grande Reportagem iguais aos outros apresentados pela parceria Fulbright/FLAD. dólares, dependendo da duração da estadia. Inclui seguro de saúde e aci- lha. Os encargos de viagem e estadia dos professores são suportados pela As bolsas financiadas apenas pela Fulbright abrangem as Bolsas Para dentes durante o período da bolsa e há a possibilidade de acesso à linha Comissão. Dá-se, no entanto, prioridade aos projectos de instituições que Professores e Investigadores com Doutoramento, Bolsas Para Instituições de crédito já indicada anteriormente.A nacionalidade deverá ser portuguesa. facultem apoios logísticos. Portuguesas de Ensino Superior e Investigação e Bolsas Senior Specialists. Para as outras nacionalidades, dever-se-á contactar a Comissão Fulbright As Bolsas Senior Specialists caracterizam-se por projectos de curta du- Relativamente à Bolsa Para Doutoramentos o objectivo é leccionar do país em causa ou a embaixada. Bolsas Para Instituições Portugue- ração (tempo total de estadia entre 12 e 42 dias, incluindo os dias de viagem, e/ou realizar trabalhos de investigação em universidades ou centros de sas de Ensino Superior e Investigação estão vocacionadas para o ensino, com possibilidade de divisão do tempo total em três partes), no âmbito do investigação dos Estados Unidos. Qualquer área é aceite e os requisitos consultoria e investigação por parte de professores e/ou investigadores ame- ensino, consultoria e investigação, efectuados por especialistas norte- dos candidatos passam por serem professores universitários ou investigado- ricanos em instituições portuguesas de ensino superior e centros de investi- americanos em instituições portuguesas de ensino superior e de investiga- res com doutoramento, terem bons conhecimentos da língua inglesa e gação. A duração da bolsa é de três meses e abrange todas as áreas. A ção que confiram grau. Algumas das actividades possíveis dos projectos obterem a aprovação do projecto por parte da instituição americana. Serão Comissão selecciona os projectos e envia-os ao CIES, que procederá à situam-se na orientação de auditorias especializadas, estudos ou projectos seleccionados através da avaliação curricular e do projecto, e por uma en- abertura do concurso. As candidaturas recebidas no CIES, depois de pré- de investigação, participação em actividades curriculares especiais e con- trevista. A duração da bolsa pode situar-se entre os três e doze meses e o seleccionadas, são enviadas à Comissão, que as apresentará às instituições ferências, consultoria no âmbito de projectos de desenvolvimento curri- financiamento entre 5.000 e 10.000 portuguesas, para apreciação e esco- cular do corpo docente, apresentação de palestras ao nível pré e pós-gradu- financeiros e ado, participação ou condução de seminários ou workshops, consultoria no âmbito de projectos de desenvolvimento dos curricula académicos ou material de estudo. Nas áreas de estudo possíveis apontam-se Serviço Social, Comunicação e Jornalismo, Administração Pública, Antropologia, Arqueologia, Ciência Política, Ciências do Ambiente, Ciências Documentais, Direito, Economia, Educação, Estudos Americanos, Estudos da Paz e Resolução de Conflitos, Gestão, Planeamento Urbano, Saúde Pública, Sociologia e Tecnologias da Informação. As candidaturas são submetidas a uma pré-selecção feita pela Comissão e a aprovação final é estabelecida pelo Bureau of Educational and Cultural Affairs (ECA). As aprovadas são encaminhadas para o CIES, que será responsável pela selecção na sua base torga 33 Grande Reportagem de dados (roster), de especialistas americanos qualificados, com base nos dos Unidos. No 2º ano, o beneficio mantem-se, após a comprovação do Com a California State Uiniversity as bolsas destinam-se a professores requisitos da instituição. Os encargos de deslocação e estadia dos especia- bom aproveitamento no 1º ano. A organização e administração do proces- doutorados ou doutorandos e têm como objectivo a leccionação e/ou re- listas norte-americanos serão partilhados pela ECA e pela instituição, su- so de candidatura à universidade americana está a cargo da Comissão e alização de trabalhos de investigação nesta universidade durante quatro portando a ECA o pagamento das despesas de deslocação até ao território existe a possibilidade de acesso à linha de crédito Fulbright/ Santander meses consecutivos. As áreas de intervenção passam pela História de nacional e das ajudas de custo e a instituição as despesas de alojamento, Totta. O Instituto Camões financia com a Portugal, Gestão Internacional, Geografia, Antropologia e Economia. Para alimentação e deslocação dentro do território nacional. O processo de can- Fulbright bolsas de estudo para professores e/ou investigadores com a selecção dos candidatos são necessários os mesmos meios de avaliação didatura efectua-se on line em www.bolsas fulbright.org, mas, neste doutoramento ou doutorandos de instituições portuguesas de ensino supe- das bolsas anteriores, incluindo a aprovação do projecto pela CSU. A nacio- caso das bolsas para Senior Specialists, as instituições portuguesas inte- rior. O objectivo da bolsa assenta na leccionação e/ou realização de traba- nalidade é obrigatoriamente portuguesa e os bolseiros usufruirão de um fi- ressadas deverão submeter as candidaturas com pelo menos quatro me- lhos de investigação em universidades ou centros de investigação dos E.U.A. nanciamento de 8.000 dólares, com seguro de saúde e acidentes, e aces- ses de antecedência em relação à data pretendida para a chegada do especi- A duração da bolsa situa-se entre os três e os doze meses. As áreas defini- so à linha de crédito Santander Totta. alista. das para o efeito são Linguística, História, Sociologia, Literatura, Ciência Protocolos A Fulbright conjuga também três protocolos com instituições de renome: Portugal Telecom, Instituto Camões e California State University. A Portugal Telecom estabelece com a Fulbright o financiamento de um mestrado em telecomunicações nos Estados Unidos com a duração de dois anos na área de engenharia de telecomunicações. Os candidatos prestam-se à avaliação do currículo, dos objectivos de estudo, do nível da língua inglesa e a uma entrevista. Deverão apresentar como requisitos a licenciatura com média igual ou superior a 14 valores. São aceites somente candidaturas de indivíduos de nacionalidade portuguesa, tendo as outras nacionalidades de contactar a comissão Fulbright do seu país de origem ou a sua embaixada. No que diz respeito aos benefícios, o 1º ano é financiado até ao máximo de 25.000 dólares com viagem de ida e volta Portugal – Esta- 34 torga Política, Relações Internacionais e Formação à Distância. Estas áreas deverão estar circunscritas a temas de língua e cultura portuguesas, sendo dada igualmente prioridade a projectos de especial relevância para as relações culturais luso-americanas. Os candidatos devem apresentar bons conhecimentos de Inglês e deverão obter concordância com o projecto por parte da instituição americana. São seleccionados através de avaliação curricular e do projecto de trabalho e através de uma entrevista. O financiamento estabelecido é de 10.000 dólares, dependendo da duração da estadia. Existe seguro de saúde e acidentes durante o tempo da bolsa e o acesso à linha de crédito Santander Totta. Não são aceites outras nacionalidades que não a portuguesa, pelo que os estrangeiros devem contactar as comissões dos outros países ou a sua embaixada. Grande Reportagem Fundação Calouste Gulbenkian move e estimula projectos de ajuda ao desenvolvimento com os países afri- ma a promover a longo prazo uma cultura científica mais rica foram concedi- A Fundação Calouste Gulbenkian é uma instituição portuguesa de direi- canos de língua portuguesa e TimorLeste; promove a cultura portuguesa das mais de 30000 bolsas e 5000 subsídios de deslocação a conferências e to privado e utilidade pública, cujos fins estatutários são a Arte, a Beneficên- no estrangeiro; desenvolve um programa de preservação dos testemunhos cursos a estudantes portugueses. Através de vários serviços a Fun- cia, a Ciência e a Educação. Criada por disposição testamentária de da presença portuguesa no mundo e apoia as comunidades da diáspora dação Calouste Gulbenkian põe à disposição dos interessados um leque de Calouste Sarkis Gulbenkian, os seus estatutos foram aprovados pelo Esta- arménia. Quer na música, na dança, edições bolsas destinadas à prossecução de estudos, actualização e aperfeiçoa- do Português a 18 de Julho de 1956. A Fundação desenvolve uma vas- e mais recentemente na investigação científica, a Fundação Calouste mento nas suas áreas específicas. São atribuídas bolsas e subsídios ta actividade em Portugal e no estrangeiro, através de actividades directas, Gulbenkian constitui presença incontornável em Portugal. nas áreas de Arte, Beneficência, Ciência e Educação. As bolsas para pro- subsídios e bolsas. Realiza exposições individuais e colectivas de artis- Os fins “caritativos, artísticos, educativos e científicos” da Fundação fessores e investigadores residentes em Portugal dividem-se em bolsas de tas portugueses e estrangeiros; promove conferências internacionais, co- Calouste Gulbenkian estão reflectidos na sua organização interna e na sua curta e longa duração e destinam-se a financiar actividades de investigação lóquios e cursos; distribui subsídios e concede bolsas de estudo para espe- acção: além da caridade com o seu Serviço de Saúde e Protecção Social, e pós-graduação (doutoramento e pós-doutoramento). cializações e doutoramentos em Portugal e no estrangeiro; apoia progra- esta Fundação tem a arte enaltecida no seu Museu, Centro de Arte Moder- “Com o fim principal de estimular a investigação nos vários ramos do sa- mas e projectos de natureza científica, educacional e artística; desenvolve na, Serviços ACARTE, de Belas-Artes, de Música e nas Revistas Colóquio ber, a Fundação Calouste Gulbenkian, doravante designada Fundação, con- uma intensa actividade editorial, sobretudo através do seu plano de edi- (Artes, Letras, Ciências e Educação e Sociedade). cede bolsas para actividades de investigação fora do País a indivíduos de ções de manuais universitários; pro- O Serviço de Educação colabora intensamente com o nacionalidade portuguesa ou residentes em Portugal, diplomados por um Ministério da Educação e directamente estabelecimento de ensino superior, que não possam de outro modo levar a com vários estabelecimentos de ensi- cabo, em condições de eficiência, os trabalhos que se propõem realizar” – no. Tem acções a nível do ensino es- Artº. 1º do Regulamento de Bolsas para Investigação. pecial e apoia fortemente a educação Segundo o mesmo regulamento e tendo em conta a composição das bol- pré-escolar, básica e secundária. Neste sas pode ler-se: Artº 12 - “1. A bolsa compreende âmbito é também mecenas de várias subsídios para manutenção, viagens, instalação e uma verba destinada ao instituições sem fins lucrativos, entre elas pagamento de despesas obrigatórias, cujo montante será fixado conforme os a Associação Juvenil de Ciência. Mas casos. 2. Nas bolsas de duração não inferi- os investimentos da Fundação têm hori- or a 10 meses, será pago ao bolseiro, no início da bolsa e por uma só vez, um zontes ainda mais longínquos. De for- subsídio de instalação igual ao valor do subsídio mensal de manutenção. torga 35 Grande Reportagem 3. Nos casos em que o bolseiro se encontre já no local do estágio não há seguradora com a qual o bolseiro deve tratar directamente de todos os assun- se ao estrangeiro a fim de efectuar comunicações em congressos ou rea- lugar ao pagamento da viagem de ida e do subsídio de instalação. tos de seu interesse. 3. Não haverá direito ao seguro pre- lizar breves estágios. Também as bibliotecas itinerantes 4. O candidato que não declare, por motivo que lhe seja imputável, o valor visto no nº 1, sempre que o bolseiro seja abrangido, no país onde vai de- e fixas espalhadas por todo o país permitem aos milhares de utentes reco- dos encargos com despesas obrigatórias até ao momento da atribuição da correr o estágio, por disposições de segurança social obrigatória, ou em nhecidos o acesso a mais de 7 500 000 livros. Entre estes encontram-se bolsa, pode perder o direito ao respectivo pagamento.” virtude do facto da sua inscrição em estabelecimento de ensino, ou a qual- algumas centenas de títulos editados pela própria Fundação. O plano edito- Artº 13º - “1. O bolseiro tem direito a um seguro que cobre os riscos de quer outro título. Nestes casos, será feito apenas um seguro de viagem. rial visa a publicação de obras de autores nacionais e estrangeiros nas áre- doença, invalidez e morte, nas condições especificadas no respectivo cer- 4. O bolseiro pode, caso o expresse, beneficiar do regime de segurança as do “pensamento científico, tecnológico e humanístico”, apresentadas social nos termos referidos no Artº 6º do Decreto-Lei 123/99, de 20 de Abril.” ao público em geral a preços bastante acessíveis. Com o principal objectivo de estimular a investigação nos vários ramos do saber, a Fundação Calouste Gulbenkian concede bolsas para actividades de investigação fora do país a indivíduos de nacionalidade portuguesa ou residentes em Portugal, diplomados por um estabelecimento de ensino superior. A Fundação atribui, entre outros, os seguintes tipos de bolsas: · · · Bolsas para Doutoramentos; Bolsas de Pós-Doutoramento; Bolsas de Aperfeiçoamento Científico e Tecnológico. São também concedidas bolsas de estudo de pós-graduação para projectos de doutoramento e pós-doutoramento em centros estrangeiros de renome, com duração superior a três meses. tificado, incluindo os inerentes às suas actividades de investigação. 2. A responsabilidade pelo cumprimento do contrato do seguro cabe exclusivamente à respectiva companhia 36 torga As bolsas abrangem as várias áreas do conhecimento e destinam-se à formação, actualização e aperfeiçoamento de profissionais qualificados. As actividades neste domínio estendem-se ainda aos estudantes carentes do ensino secundário e superior e a todos que pretendam deslocar- Importante, e cada vez mais reconhecido mundialmente, o Instituto Gulbenkian de Ciência alberga o Centro de Biologia onde jovens graduados (também conhecidos como “Super-Doutores”) realizam os Programas Gulbenkian de Doutoramento em Medicina e Biologia. Várias publicações são também editadas periodicamente. Podemos afirmar que a Fundação Calouste Gulbenkian melhorou substancialmente o nível cultural do nosso país. A genialidade de um homem de negócios aliada à sua enorme generosidade e sentido estético trouxeram a Portugal a possibilidade de potenciar os seus artistas, cientistas, escritores e educadores, permitindo a todos nós o acesso à excelência e originalidade nas mais variadas formas de expressão do conhecimento. Ana Cristina Abreu Andrea Marques 37 38 Filipe Casaleiro ANTÓNIO COUTINHO GRANDE ENTREVISTA Autor de mais de 400 artigos científicos, António Coutinho tem mantido uma intensa actividade internacional de conferencista e está associado a várias academias, revistas e conselhos científicos internacionais. Recebeu vários prestigiosos prémios: Fernstromska Priset, Suécia (1981); FEBS Anniversary Prize (1982); Prémio Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (1987); Prix Behring-Metchnikoff, França (1990); Prix Lacassagne du College de France (1995). É Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (2003). Em Janeiro de 2002 surge no ranking do “Science Citation Index” como um dos 100 cientistas mais influentes no mundo ao longo dos últimos 20 anos. 39 Nomeado director dos Estudos Avançados de Oeiras do Instituto Gulbenkian de Ciência, lançou e dirigiu o Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biologia e Medicina (1993-2000). Grande Entrevista “É preciso mais investimento na Ciência” António Coutinho nasceu em Sever do Vouga, a 6 de Outubro de 1946. Licen- na escolha das pessoas com quem se trabalha e nas instituições onde se tra- duos que, pela sua educação, personalidade, e pela maneira como enca- ciou-se em 1970 em Medicina, pela Universidade de Lisboa e em 1972 par- balha. Eu tive muita sorte porque quando escolhi a pessoa com quem fui tra- ram a vida, têm dificuldade em serem pouco convencionais, portanto agar- tiu para a Suécia, de modo a evitar a Guerra Colonial. Doutorou-se em 1974 balhar no Instituto Karolinska em Estocolmo não tinha ideia nenhuma de ram-se a hipóteses e modelos que já estavam adquiridos, que já estavam no em Microbiologia Médica (Imunologia), no Instituto Karolisnka de Estocolmo. nada. Fui à literatura, andei à procura… Escrevi a três pessoas diferentes contexto da ciência actual, que já são paradigmáticos. Estas pessoas têm A sua formação científica e actividade profissional desenrolou-se em diver- para me receberem e, finalmente, por razões mais pessoais do que outras, menos probabilidade de vir a ter uma grande influência porque vão continu- sos institutos e universidades: Instituto Karolinska (1974-1975), Instituto de acabei por ficar em Estocolmo. Podia ter tido uma vida totalmente diferente, ar a fazer a mesma coisa e a pensar da mesma maneira. Se a pessoa tem Imunologia de Basileia (1975-1979), Faculdade de Medicina de Umeå provavelmente com menos sucesso do que a que tive do que se tivesse esco- mais coragem, mais condições contextuais ou mais oportunidades (1979-1984), Universidade de Geneve (1982) e Universidade de Lund (1987). lhido outro caminho. Isto tem muito de imponderável. Não é imaterial é para fazer coisas que são muito arriscadas e verdadeiramente inovadoras Entre 1982 a 1998 foi director do Serviço de Imunobiologia do Instituto imponderável. Haverá pessoas que controlam todos os parâmetros e que tem mais possibilidade de ser influente. Provavelmente muitos tentam mais Pasteur em Paris, até que decidiu regressar a Portugal. podem fazer boas escolhas, escolher bons orientadores, eu não tive. Foi uma vezes mas corre mal, ou seja, afinal aquele caminho que se abria não era Torga (T) - Tem uma carreira científi- escolha com feelings. Há duas maneiras de fazer investiga- o bom caminho e portanto isso não vai ter influência nenhuma. Para resumir, ca invejável. Já passou por várias universidades e institutos internaci- ção: uma que é mais confirmatória e consolidante do conhecimento já ad- acho que é importante ter sorte e acho que é importante ser, não diria anti- onais. Em 2002 surge no ranking do Science Citation Índex como um dos quirido, (não será o conhecimento propriamente dito mas o conhecimento de convencional mas, não se levar muito em consideração a opinião dos outros. 100 cientistas mais influentes do mundo, na sua área, ao longo dos úl- hipóteses já avançadas e que é o que ocupa a maior parte das pessoas) e Torga (T) - Arrojado? timos 20 anos. Para além do trabalho e enorme dedicação que estão outra que é talvez mais arriscada, que pode dar para o torto, mas também António Coutinho (AC) – Exactamente. Arrojado é um bom termo. subjacentes a este ranking, quais são os outros “ingredientes” que com- pode resultar muito bem, que é abrir caminho, fazer coisas novas, que ao Torga (T) - A par com António põem esta fórmula de sucesso? António Coutinho (AC) – Antes de mais serem novas são, habitualmente, “revolucionárias”, ou seja, vão contra os Damásio e Carlos Duarte foi eleito como um dos 250 cientistas mais in- é preciso ter sorte. É preciso ter sorte conceitos anteriores. Há muitos indiví- fluentes no mundo da ciência. No 40 torga Grande Entrevista entanto, entre os portugueses, é o único que está a fazer investigação e Filipe Casaleiro ciência em Portugal. Há essa necessidade de sair de Portugal para fazer investigação? António Coutinho (AC) – Havia. Antigamente havia até há alguns anos atrás. Agora não há necessidade de sair definitivamente de Portugal para fazer investigação, já há instituições muito boas no país onde se pode fazer uma investigação competitiva, internacionalmente competitiva. Por outro lado, é sempre necessário sair mesmo que seja por um curto espaço de tempo. Seja para fazer doutoramento, ou um pós-doutoramento. Aqueles que não saem do país serão sempre provincianos na ciência. A ciência descobriu a globalização muito antes dos economistas. Desde que há ciência, desde a Renascença, que há globalização da ciência. E por isso, é muito positivo, mesmo no processo formativo dos jovens que entram na ciência que eles conheçam outros ambientes, outras maneiras de pensar, que conheçam ambientes com mais possibilidades de trabalho, mais competitivos, mais rápidos do que os nossos. Tudo isto é importante na formação, ou seja, é estritamente necessário, a meu ver, que não haja nenhum cientista em Portugal que não tenha saído do país pelo menos dois, três ou quatro anos. Mas, deixou de ser necessário que as pessoas tivessem que emigrar definitivamente para o estrangeiro para fazer boa ciência. É verdade que é mais difícil ser competitivo ao nível dos cem mais competitivos do mundo em Portugal do que lá fora. Isso é óbvio porque há menos dinheiro para a ciência, sobretudo porque a organização da estrutura da comunidade científica em Portugal ainda tem lacunas: por exemplo, os financiamentos para a ciência não têm tido a regularidade que existe “É preciso formar médicos com pensamento e espírito científico” noutros países, portanto é muito difícil torga 41 Grande Entrevista fazer política a médio prazo… Além disso, somos uma comunidade relati- que a ciência medeia para a racionalidade não são só as descobertas e à doença “x” porque sabíamos que funcionava, mas não sabíamos porque vamente pequena e portanto há menos vida intra-comunitária. Há uma a tecnologia, é antes de mais os valores que a ciência medeia que é a é que funcionava. Andámos a receitar Aspirinas às pessoas durante cem certa tendência para o provincianismo, portanto é mais difícil ser competitivo racionalidade. Isto em Portugal sentese muito. Em todos os jornais e revis- anos, antes de descobrir como é que funciona a Aspirina. Ou seja, era um aqui mas é possível. E, hoje em dia já há muitos cientistas em Portugal, nas tas há sempre uma secção de horóscopo. Na minha caixa de correio tenho bocadinho melhor do que a medicina chinesa só porque tinha ensaios con- instituições portuguesas, que publicam nos melhores sítios do mundo. quase todos os dias anúncios de videntes e adivinhadores. Eu, por exem- trolados e a medicina chinesa provavelmente não tem. De resto era da mes- Ainda na semana passada ou há 15 dias duas publicações saíram do ITQB plo, sei de muita gente que se diz racional e educada que faz promessas ao ma natureza empírica. Nos últimos anos, com o progresso da biologia (Instituto de Tecnologia Química e Biológica) na mesma semana para dois Santo António para o filho passar no exame do 7º ano. Não há volta a dar. muito do que se faz em medicina começa a ser debate científico, ou seja, jornais de topo, uma para a Science e outra para a Nature, portanto é perfei- Temos uma sociedade que é profundamente irracional e isso só poderá nós sabemos porque é que fazemos e o que é que estamos a fazer. E para tamente possível fazer-se ciência competitiva no país. Nós começámos a fa- ser corrigido com o progresso do pensamento racional, com o progresso da isso é preciso formar médicos com pensamento e espírito científico. É pre- zer ciência a sério há uma dúzia de anos, com muitas honrosas excepções ciência. Precisamos de mais cientistas. Hoje em dia já não se inventa nada ciso trazer mais ciência aos médicos e o reverso também é verdade, ou seja, anteriores, mas de uma maneira mais “massificada” há pouco tempo en- sem saber muito, ou seja toda a tecnologia é de base científica e por- é preciso trazer mais médicos para a ciência porque os médicos contribu- quanto que os outros países estão a fazer ciência há séculos portanto é tanto precisamos de mais ciência para poder tirar de lá mais aplicações da em para a investigação científica. Uma coisa que a maior parte dos investi- natural que sejamos menos bons. ciência: tecnologia, inovação, crescimento económico. O Prof. Lobo gadores científicos não tem é uma preocupação com o organismo inteiro no Torga (T) - João Lobo Antunes, numa entrevista publicada na Torga, afir- Antunes tem razão quando diz que precisamos de mais médicos mas também seu contexto social e isso os médicos têm. Por exemplo, o cientista que estu- mou que é necessário fabricar médicos em Portugal. Acha que também precisamos de mais médicos/cientistas. A medicina está a atravessar uma da as asas das moscas ou os genes do rato não tem essa preocupação, está é necessário fabricar cientistas em Portugal? revolução extraordinária desde há meia dúzia de anos para cá está-se a preocupado com o gene e não com o organismo inteiro no seu contexto soci- António Coutinho (AC) – Eu tenho a certeza absoluta. Estamos muito lon- tornar numa tecnologia de base científica. A medicina resistiu talvez mais al. E por isso é bom o lema que o Prof. Lobo Antunes, e eu próprio, temos de- ge dos números mínimos aceitáveis para o número de cientistas no país. do que outras tecnologias. Nós médicos somos uma espécie de engenhei- fendido há alguns anos se concretize, é um lema de mais ciência para os Isto tem consequências importantes para a estrutura sócio-económica e ros do corpo e digo isto porque o nosso objectivo é utilizar aquilo que sabe- médicos e mais médicos na ciência. cultural do país, antes de mais cultural, ou seja, Portugal ainda é um país mos da lei natural ao serviço do doente e da sociedade. O médico não está Torga (T) - Não é um pouco contraditório: um país que precisa de médi- que tem um peso muito grande de irracionalidade na sociedade. A nos- tão interessado em conhecer as profundezas do conhecimento sobre cos e que precisa de médicos/cientistas depois não lhes dá condições, sa cultura tem uma base essencialmente irracional e religiosa. Isto não o funcionamento do pâncreas, está mais interessado em tratar o doente ou seja, muitos cientistas queixamse que querem fazer investigação se coaduna com aquilo que queremos de uma sociedade culta e livre. Quan- com diabetes. É esse o objectivo primário da medicina. Até aqui tratava- mas, ou andam toda a vida a tentar ser bolseiros ou então não têm con- to mais ciência houver mais marcadamente se vincará o valor da se com tecnologias que tínhamos desenvolvido com base empírica, por dições, o país não lhes dá condições para fazer investigação… racionalidade na sociedade. O valor exemplo, dávamos um medicamento 42 torga Grande Entrevista “Com o investimento que existe (na ciência) já há muita gente a fazer muito bem” Filipe Casaleiro António Coutinho (AC) – Dá e não dá. Evidentemente que, se eu me sentar aqui numa cadeira e esperar que me saia a sorte grande, o mais certo é que não me saia porque eu não comprei sequer o bilhete. Por um lado os cientistas e os investigadores têm toda a razão, ou seja, é preciso que haja um maior investimento na ciência, isso sem dúvida. Se estamos todos convencidos que a educação e a ciência são o nosso futuro então, não faz sentido nenhum que na Europa se gaste 40% do orçamento com a agricultura que é uma coisa do passado e se gaste menos de 5% com a ciência, não faz sentido nenhum. Isso é verdade, não só o país mas a Europa não faz investimento suficiente em ciência. Mas também é verdade que, com o investimento que existe, já há muita gente a fazer muito bem, ou seja se houvesse mais investimento haveria mais gente a fazer zado, mas, já é possível fazer. As pessoas que dizem que não fazem ciên- muito bem. Deixou de ser desculpa que “eu não tenho condições”. Se a pes- cia porque não têm condições estão a mentir. soa quer mesmo, faz. Eu para fazer o que fiz tive que sair do país muito cedo Torga (T) - Nos anos 90 decidiu re- e fiquei algum tempo sem poder voltar. Sai para não ir fazer a guerra colo- gressar a Portugal para abraçar este projecto do Instituto Gulbenkian de nial e para fazer outra coisa, que era fazer ciência, neste caso. Evidente- Ciência. Porque é que tomou essa decisão? Estava na altura de regres- mente que só menos de 1% dos meus colegas desse período recusaram a sar? Tinha condições para regressar? António Coutinho (AC) – Não. Condi- guerra, 99% fizeram-na. E depois não se venham queixar que estavam con- ções só discutimos depois, mais tarde. Eu regressei essencialmente por- tra a guerra colonial… estavam mas fizeram-na. Tudo isto é muito bonito: que em 91/92 a Fundação Gulbenkian pediu-me para me ocupar do progra- “não tenho condições por isso não faço”… e colocar sempre a culpa para ma de formação pós-graduada aqui do Instituto porque a pessoa que estava cima de outras pessoas. Eu estou de acordo que é preciso mais investimen- encarregue disso e que tinha lançado a formação pós-graduada em Portu- to, melhor investimento, melhor utili- gal, que era o Prof. Van Uden tinha torga 43 Grande Entrevista morrido. A Fundação sugeriu que eu me ocupasse da formação pós-gradua- tivamente da minha ciência e fazer só administração. Possibilitar que os outros salários. Eu acho que a estratégia foi só essa, fazer o melhor que sabemos, da, eu estava em Paris nessa altura. Depois, em 93 lançámos com o apoio fizessem alguma coisa, que tivessem as oportunidades que eu não tive de fazer fazer de maneira generosa e ir fazendo. da Fundação Gulbenkian obviamente mas também da Secretaria de Estado ciência aqui neste país. Não foi uma decisão muito difícil de tomar porque Havia uma animosidade desde que começámos com o programa de do Ensino Superior, da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da FLAD o pri- havia tanta gente boa à volta a querer fazer e querer ajudar que eu acho que Doutoramento feito fora das Universidades. As Universidades portuguesas meiro programa de Doutoramento nesta área, o Doutoramento em Biologia e foi uma decisão muito simples de tomar. Uma pessoa fica menos criativa e com a nessa altura, e ainda hoje, estão muito ciosas de alguma exclusividade na Medicina que eu próprio conduzi com a ajuda do Prof. Quintanilha do Porto e do noção que já fez o que tinha a fazer, a partir de uma certa idade. Não precisa formação dos Doutores, algumas Universidades pelo menos… e estas coi- Dr. Paulo Vieira que estava aqui. Durante sete anos fomos formando muita gen- de estar a ocupar o lugar dos mais novos. Nós temos a obrigação de lhes cri- sas levam muitos anos a mudar. As universidades são supostamente eter- te, fomos descobrindo muita gente muito boa. Os nossos jovens não são mais ar as condições para eles poderem fazer. nas, uma vez fundadas ficam para sempre. E, como são eternas são como os inteligentes nem mais burros do que os outros… E, os melhores ainda continu- Torga (T) - A reforma do Instituto diamantes… são para sempre e, passam por vezes por períodos de hiber- am a querer vir para a ciência, que é uma coisa muito boa. Noutros países Gulbenkian de Ciência chegou a ser discutida no Parlamento, um deputado nação, ou seja, que não estão vivas porque se estivessem vivas morriam. querem fazer dinheiro muito cedo e portanto não vão para a ciência. A ci- do PSD interpelou o então Ministro Mariano Gago dizendo que a Fundação Tudo o que é vivo tem que morrer e eu penso que há aqui algum problema ência não dá dinheiro a ninguém. Havia muita gente a vir para a ciência que Gulbenkian estava a matar a ciência em Portugal. Qual foi a estratégia que dessa natureza, ou seja, as universidades portuguesas não viram o que estava imbuída de um sentido de projecto. Alguns deles estavam na perfeita o IGC adoptou para conseguir mudar esta mentalidade, ou seja, conseguir estava a chegar e que está, não só da reforma universitária europeia mas disposição de voltar apesar de terem propostas muito boas dos sítios onde mostrar que o Instituto é um marco na ciência em Portugal e é muito também da competitividade entre as universidades que está a chegar à estavam. Começou a ser atraente a possibilidade de me esquecer do que esta- importante para a investigação cientifica? medida que os alunos vão minguando. Há universidades a mais em Por- va a fazer nessa altura, de esquecer a minha própria investigação e passar al- António Coutinho (AC) – A estratégia que tivemos desde o início foi procurar tugal não há duvida nenhuma. Não há universidades de investigação, não há guns anos a procurar ajudar a criar as condições que permitam aos mais jo- fazer o melhor que podíamos, não só eu mas toda a gente que abraçou o projecto, nenhuma em Portugal. Por definição uma research university é uma univer- vens fazer a sua investigação. Eu acho que cada um de nós, naturalmente, faz e que tem feito o projecto. Fazer o melhor que podemos e fazer de maneira sidade que tem tantos alunos de doutoramento como alunos de licenci- coisas melhor em momentos diferentes da sua vida. Quando eu era mais jovem generosa, ou seja, acho que nenhum de nós está aqui de uma maneira atura. As universidades portuguesas têm que sofrer uma evolução muito sig- tinha mais entusiasmo, tinha mais força, mais excitação era menos crítico com egocêntrica à procura das suas próprias vantagens. Estamos por gosto e penso nificativa. Umas vão ter que desaparecer, outras vão ter que se dedicar a as minhas próprias ideias e com as ideias dos outros, provavelmente, era mais que isso é evidente. Como já disse, todos os cientistas que vieram para aqui tinham formar só licenciaturas e outras, uma ou duas, não há espaço para mais, vão criativo. Quando se é jovem é-se muito mais criativo e portanto faz-se melhor propostas excelentes noutros sítios e vieram apesar de não lhes darmos uma ter que ser universidades de investigação competitivas internacionalmen- ciência. À medida que fui envelhecendo fui evidentemente tratando mais de posição, um salário, não lhes demos nada, a não ser boas condições de te porque senão também desaparecerão. Levou muito tempo para que as administrar a ciência que os outros faziam à minha volta e pareceu-me que tam- trabalho. Mas apesar disso vêm. Vêm quase passar fome porque não lhes pessoas adquirissem essa noção e viram mal que uma instituição como a bém era a altura de me esquecer defini- damos contratos, não lhes damos Fundação Gulbenkian tomasse inici- 44 torga Grande Entrevista Filipe Casaleiro ativas de fazer doutoramentos. Nós não damos graus a ninguém, as pessoas vão buscar os graus às universidades onde querem mas a responsabilidade da sua formação é nossa. Os Doutoramentos fazem-se trabalhando ao lado do orientador. Portanto, precisamos de orientadores que estão a tempo inteiro, que não têm mais nada que fazer, que inclusivamente, a maior parte deles nem sequer dão aulas, não têm outros biscates… Precisamos de outro tipo de orientadores e por isso mesmo, desde que existam esses orientadores, e essas condições de trabalho os doutoramentos podem-se fazer em qualquer sítio. Só as universidades é que dão os graus, mas também não têm exclusividade, qualquer universidade pode dar um grau desta natureza. Penso que houve essa reacção inicial porque pensavam que nós tínhamos uma atitude, de que “nós é que fazemos bem”. Não é verdade, nós sabemos que há muita coisa boa a ser feita nas universidades portuguesas. Fazemos à nossa maneira e estamos muito contentes que se façam de outras maneiras. Esse foi o primeiro sinal de alguma instabilidade na estrutura académica. As estruturas académicas nas universidades nomeadamente são extraordinariamente estáveis e portanto qualquer sinal de instabilidade provoca estas reacções de autodefesa que é perfeitamente normal. Torga (T) - Aposta muito nos jovens cientistas entre os 25-35 anos? António Coutinho (AC) – Sim. Eu acho que todos apostamos. O futuro está neles, não está nas pessoas da minha idade. O pico da criatividade também vai por aí. Chega aos 40-45 e começa a desaparecer mas, aprendemos a fa- “Há um certo conservadorismo na estrutura universitária que não facilita a aposta definitiva nos mais jovens” zer outras coisas. Torga (T) - Não será esse o grande problema das universidades portuguetorga 45 Grande Entrevista sas, não apostar tanto nos jovens e manter as pessoas que já estão na altos cargos pessoas que nunca fizeram investigação científica e que, estrangeiros. Evidentemente que muitos deles conhecem o IGC, ou já cá estrutura há muito tempo? António Coutinho (AC) – É certamente portanto, não reconhecem as necessidades dos investigadores. Concor- estiveram algum tempo, já cá passaram a dar aulas ou a fazer colabora- um dos problemas, mas tem desculpas. Continua a ser muito difícil, pen- da? António Coutinho (AC) – Eu acho que ções ou conhecem pessoas que já cá estiveram e portanto sabem as condi- so eu, saber o que se deve fazer com investigadores que chegam a um pon- as pessoas nos cargos mais altos não podem fazer as duas coisas bem ao ções de trabalho e interessam-se também por isso. Habitualmente nestas to da carreira que deixam de ser criativos. O que é que um investigador sabe mesmo tempo. Não podem fazer investigação e ao mesmo tempo estar num coisas nada acontece por acaso, as pessoas conhecem-se, a comunidade fazer para além daquilo que tem estado a fazer? É essencialmente um pro- alto cargo da estrutura universitária. O que me parece é que será muito grave respeita instituições portanto isso é natural que aconteça. Também não blema que nos preocupa, há muitos anos, quando tentamos pensar estra- ter à frente de uma instituição universitária pessoas que nunca fizeram in- nos interessa, e isso é uma discussão que temos algumas vezes entre nós e tégias da política científica internacional. No caso das universidades é mais vestigação, que nunca foram grandes investigadores, isso é catastrófico. Es- também com a administração da Fundação Gulbenkian. Não nos interessa fácil porque um professor quanto mais velho for, como eu, mais aulas poderá tou de acordo. Porque são pessoas que nunca irão perceber as necessi- ter estrangeiros demais porque a maior parte deles quando chega ao fim do dar porque sabe mais. Uma das coisas que me parece, na minha modes- dades dos investigadores e a importância de fazer investigação. Obvia- seu período aqui vai-se embora outra vez. O que nos interessa é que as pes- ta opinião, que está errado em Portugal é a distribuição das cargas horári- mente que é a escolha errada. Mas, se eu bem percebo, os cargos de respon- soas quando chegam ao final dos seus cinco anos aqui vão para outras uni- as nas universidades, está ao contrário. Os que sabem menos são os que sabilidade universitária são adquiridos por eleição e as pessoas são eleitas versidades ou instituições de investigação portuguesas. Assim, de alguma dão mais aulas, são os mais jovens. Os catedráticos são os que, por defini- pelos seus pares, pelos estudantes e pelos funcionários. É muito provável maneira podemos, de facto, desempenhar a nossa missão de contribuir para ção, sabem mais, têm mais experiência, são mais velhos têm mais saber que os estudantes ainda não tenham a noção da importância da investiga- produzir novas competências e novos líderes para a comunidade científica no contacto com os alunos, são os que dão menos aulas. Isto parece-me pro- ção, não sei se os funcionários terão, certamente que muitos dos pares tam- portuguesa. Interessa-nos ter estrangeiros sem dúvida, pela diversidade, fundamente errado. Além disso, os mais jovens são os mais criativos, são bém nunca a tiveram. Não é de estranhar que reitores eleitos, de vez em pela internacionalização pela multiculturalidade mas, não nos inte- mais entusiastas para fazer investigação e são os que têm menos tempo quando, nunca tenham feito investigação porque os eleitores também não ressa ter muitos porque senão não estamos a cumprir a nossa missão porque estão ocupados a dar aulas. Acho que há um certo conservado- sabem a importância disso. perante a comunidade cientifica portuguesa que é uma missão de “hall de rismo na estrutura universitária que não facilita a aposta definitiva nos mais Torga (T) - Disse numa entrevista que o IGC pretende ser um “hall de entra- entrada” mas sobretudo associada a uma espécie de incubadora de novos jovens. Há uma carreira hierarquizada e muito ritualizada que muitas vezes da” para investigadores em Portugal e não uma “sala de estar”. Há muitos lideres. previne que isso se faça e, quando se aposta, não lhes é dada autonomia to- cientistas estrangeiros a procurar o IGC para fazer investigação? Torga (T) - Um jovem cientista que queira ingressar no IGC e que preci- tal, ou seja, em áreas de racionalidade e de criatividade intelectual ou a auto- António Coutinho (AC) – Nós temos cerca de 30% de chefes de grupo es- se de ser bolseiro o que é que tem que fazer? Como é que isso se pro- nomia é total ou não é autonomia. trangeiros. E isso continua a acontecer, felizmente para a ciência portugue- cessa? António Coutinho (AC) – Depende. Se Torga (T) – É comum a crítica às Universidades por manterem nos mais sa e para o Instituto. Temos muitas pessoas interessadas em vir para cá, é um jovem cientista que tem um currículo muito bom, apesar de muito jo- 46 torga Grande Entrevista vem e que tem coragem para o fazer pode pretender ser chefe de um grupo dem fazer a sua investigação aqui. Há também quem concorra a bolsas naci- soas que se sentam à espera e depois se queixam que não há condições, totalmente autónomo, e ter o seu próprio grupo. Nesse caso, antes de mais onais, algumas na FCT, ou bolsas internacionais da European Molecular para esses já não há paciência. Porque não querem ser micro empresári- tem que passar o crivo do nosso conselho científico do IGC, um conselho Biology Organization (EMBO), do Human Frontier Science Program, de os. Evidentemente que estes jovens que se estabelecem aqui e que têm científico muito bom e muito pesado do ponto de vista da qualidade mas organizações internacionais que atribuem bolsas a jovens cientistas. Eles que procurar tudo isto, o que o Instituto lhes proporciona é um bom ambien- também muito bom no sentido de trabalho, que olha e estuda os dossiers. podem concorrer e depois vir instalarse aqui com essas bolsas. Como o te de trabalho, todas as tecnologias, todos os equipamentos, os serviços, Eles vêm cá uma vez por ano ver as pessoas e ouvi-las apresentar os se- período que contactamos com eles é de cinco anos, para eles terem tempo os técnicos que servem essas tecnologias e um ambiente intelectual minários e depois decidem quem pode de formar o seu grupo e mostrar o que muito intenso, temos muitos cursos, Filipe Casaleiro “As universidades portuguesas têm que sofrer uma evolução muito significativa” entrar como responsável científico e quem pode ter autonomia. Os que con- valem, mostrar que são competitivos a buscar dinheiro, a alimentar o seu pró- muitos workshops, muitas conferências, muitos seminários. Eles só preci- seguem, a partir daí, nós negociamos com eles a sua instalação e eles de- prio grupo. Para ser cientista hoje em dia é necessário ser uma espécie de sam de se preocupar em fazer a sua investigação e ir buscar dinheiro para pois procuram onde vão buscar o dinheiro. Alguns concorrem a posições micro empresário porque tem não só que procurar a sua bolsa ou o seu sa- a financiar. de laboratórios associados do Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino lário, mas também procurar o salário dos seus colaboradores, tem que pro- Torga (T) - O IGC neste momento, à parte das universidades, é o único Superior, outros concorrem a posições universitárias vão dar aulas mas, po- curar o dinheiro para trabalhar. É nesse sentido que quando se fala das pes- centro de investigação em Portugal onde se faz investigação científica. torga 47 Grande Entrevista O Instituto consegue competir com outros centros de investigação a ní- a instituição suficientemente pequena para que toda a gente se conheça, com parte dos próprios media que não vendem estas histórias. Ao contrário da vel mundial? António Coutinho (AC) – Sim. Temos grupos suficientemente diversos porque são todos muito pequenos que sua revista… Torga (T) - Quais são os projectos que competir senão desapareceríamos. Também nos sentiríamos mal mo- possam interagir, aí teremos alguma vantagem competitiva e a experiência mais estruturantes que o IGC está a conduzir neste momento? ralmente de estar aqui a aceitar estudantes ou jovens investigadores ao que temos tido até agora, é que a temos exactamente aí. António Coutinho (AC) – O mais estruturante para a comunidade por- saber que não somos tão bons como os outros. Nas áreas onde estamos Torga (T) - Já falámos aqui que há tuguesa é um projecto que começámos no ano passado de Doutoramento inseridos, acho que somos competitivos. Como lhe disse, podemos ser mais muita gente boa a fazer coisas muito boas em Portugal, mas, é-lhes dado em Biologia Computacional. competitivos do que aquilo que somos. Não somos tão competitivos como os esse devido valor? Os portugueses normalmente não dão muita impor- Torga (T) - Que é único no mundo? António Coutinho (AC) – É um dos ra- grandes grupos que estão nas grandes instituições mas somos competiti- tância ao que têm e dão importância àquilo que os outros têm… ros no mundo. Entretanto também apareceram outras coisas nesta área mas vos de outra maneira. Por exemplo, uma coisa que não custa dinheiro é António Coutinho (AC) – Tem toda a razão. Ainda se ouve muitas vezes di- é certamente um programa inovador no sentido do que se pretende fazer pensar. Nalgumas instituições estrangeiras há tanto dinheiro e tantas coi- zer “nós temos grandes cabeças mas estão todas fora”, não estão nada. Há porque não se pretende formar pessoas só num determinado aspecto da sas, as pessoas estão demasiado ocupadas a produzir resultados e têm pou- muita gente boa cá. Isso é verdade. Há agora uma associação que se cha- Biologia Computacional. Estamos também a formar pessoas nas áreas das co tempo para pensar. É melhor fazer menos e melhor, fazer menos mas mais ma Associação Viver a Ciência que começou com algumas pessoas daqui, Neurociências Computacionais e Bioinformática e a dar-lhes interesse inovador. A Biologia unificou-se porque amadureceu, é uma ciência mas que agora está no país todo e que é uma associação que procura promo- pela investigação, pela aplicação dessa investigação. Também me parece unificada. Deixou de fazer sentido ter especialidades e distinguir os grupos ver alguns jovens cientistas portugueses, alguns estão fora, outros estão cá. de alguma maneira estruturante projectos que estão em curso no instituto que fazem microbiologia dos que fazem virologia ou fisiologia, é tudo a É verdade que na maior parte dos casos… nem todos os jornais e revistas e que têm a ver com a interface com a Medicina, mais de base científica, no- mesma coisa. E por isso, é possível ter uma instituição com uma grande são sérios. É verdade que a voz destes jovens cientistas pouco se faz ou- meadamente alguns projectos que estão a ser feitos em genética de do- transversalidade em que as pessoas falam todas umas com as outras e sa- vir. E, o futuro da racionalidade está ali com eles… enças complexas como diabetes, autismo, lúpus, etc. que são doenças bem o que é que os outros estão a fazer, compreendem o que é que os ou- Torga (T) - Essa é também uma críti- que até há relativamente pouco tempo nem sequer se tinha a certeza absolu- tros estão a fazer. Esta transversalidade cria uma coisa que é muito ca aos meios de comunicação social? À forma como actuam? ta que eram doenças genéticas porque convencionalmente as únicas que bonita nos sistemas complexos que é; a partir da corporatividade dos seus António Coutinho (AC) – Isso é um problema muito mais complicado. Os me- estavam identificadas eram doenças hereditárias. componentes criar novos níveis de organização superiores. A instituição dia vendem o que o público quer comprar… Eu acho que se venderia mais Comparando a frequência de incidência dessas doenças na população em passa a valer mais do que a soma dos componentes, do que a soma das pes- as histórias destes jovens. Vendiamse tão bem ou melhor do que as histó- geral ou entre irmãos e irmãs, pessoas da família ou gémeos verdadeiros soas que cá estão. Isto porque há uma série de interacções que ultrapassam rias dos Big Brother porque são histórias interessantes. O que eu acho que que são clones pode-se estimar qual é o peso da genética e o peso do am- as pessoas. Toda a origem da novidade vem da corporatividade. Ao manter há neste caso é falta de discernimento sobre o que o mercado pretende da biente, das influencias ambientais. Na maior parte destas doenças andam 48 torga Grande Entrevista equilibradas, ou seja, metade do peso é genética e portanto começa a ser estímulo. O antigo paradigma da Medicina era diagnosticar e tratar. O Mas, como vende mal há pouca atenção a isso e nós fizemos um esforço possível não só estudar quais são os genes implicados na susceptibilidade paradigma novo é prever e prevenir. Pela genética hoje em dia já se pode significativo para ter aqui a biologia evolutiva e também a biologia do de- dessa doença no sentido de podermos perceber como é que a doença come- estimar para a maior parte destas doenças, qual é o risco específico de vir senvolvimento, obviamente que as duas estão muito ligadas e acho que é Filipe Casaleiro “Uma coisa que não custa dinheiro é pensar” ça, como é que ela se desenvolve e como é que ela se manifesta. Mas tam- a ter uma destas doenças. Esse trabalho parece-me que é muito estrutu- talvez das partes mais estruturantes que se está a fazer aqui. bém encontrar terapêuticas novas, mais biológicas, menos farmacológica rante, relativamente à formação dos médicos. Mas também há outras áre- Torga (T) - Qual é o futuro do Instituto mas repor níveis de componentes normais do organismo que estão baixos as que me parecem muito importantes para o pensamento biológico moder- Gulbenkian de Ciência? António Coutinho (AC) – Eu espero ou que estão em excesso e também perceber como é que os genes funcio- no, nomeadamente a biologia evolutiva. Temos aqui vários grupos a que seja um futuro bom, um futuro brilhante mas sobretudo que seja um fu- nam para aumentar a resposta patológica a determinados estímulos do am- trabalhar, mas é uma área da biologia e da ciência, que se vende mal, que turo que continue a ser de serviço ao país. Acho que o instituto nunca pode- biente. Portanto poder prevenir a doença prevenindo a exposição a este não cura, que não inventa nada mas que é a base de tudo o que fazemos. rá estar aqui, sobretudo sendo uma instituição privada de interesse públi- torga 49 Grande Entrevista co para se divertir a si mesmo, para se vangloriar a si mesmo, para se fazer uma das prioridades principais da Fundação Gulbenkian. Há cada vez mais António Coutinho (AC) – Não, não tenho projectos na manga. Isto de ter uma instituição reputada para nada. Tem que estar aqui ao serviço dos sinais de que a ciência vende bem no nosso país. Enquanto o instituto esti- responsabilidade por outras pessoas é pesado. Quando nós começamos a mais jovens, ao serviço desta comunidade científica do país. Enquanto esti- ver a desempenhar bem a sua função de serviço ao país e às outras institui- investigação, só temos responsabilidade por nós próprios, depois acaba- ver assim acho que vale a pena continuar. Eu já estou aqui há sete anos e ções nacionais e continuar um sítio atractivo para os jovens e activo do se o Doutoramento e começa-se por ter um técnico, um estudante, dois estu- já estou com muita vontade de dar o lugar a alguém porque as pessoas têm ponto de vista intelectual e mesmo cultural acho que não temos que temer dantes e de repente, já temos um grupo de cinco ou seis pessoas. Infeliz ou que mudar aquilo que estão a fazer senão começam a fazer as coisas por sobre o que vai acontecer ao instituto. felizmente para mim, comecei muito cedo, ainda era muito jovem quando rotina e isso é mau. Mas espero bem que, como de resto tem sido anuncia- Torga (T) - Acabou de dizer que está na altura de dar o seu lugar a outra me fizeram catedrático na Faculdade de Medicina na Suécia e me deram do pelos seus presidentes, que a ciência continua a ser e cada vez mais, pessoa. Tem algum projecto que quer concretizar depois do IGC? um departamento para montar. Só havia paredes… foi preciso recrutar o Filipe Casaleiro pessoal inteiro, comprar tudo. Isto em 1979, eu era muito novo, aprendi muito desde essa altura. Mas também desde essa altura que me tenho que preocupar com a vida de muita gente. Isto fica muito pesado. E eu acho que já dei para isso e acho que agora já tenho direito de não ter esse tipo de preocupação e de responsabilidades e gostaria muito de passar algum tempo da minha vida a escrever. É isso que me apetece. É o que eu tenho na manga. Já comecei pelo menos três livros diferentes e nunca os consigo acabar. O que escrevi há sete ou oito anos atrás vou ler agora e já está desactualizado porque só consigo escrever coisas que me parecem interessantes e que estão a acontecer agora. Preciso mesmo de ter tempo para mim para fazer isso. Eu acho que uma das coisas mais nobres que se pode fazer hoje em dia, para nós cientistas, é contribuir para trazer mais ciência e mais racionalidade ao dia-a-dia das pessoas. Para mim, uma das maneiras de contribuir agora seria essa, escrever. Andrea Marques “Temos uma sociedade que é profundamente irracional” 50 torga 51 Investigação no ISMT Docentes do ISMT em Doutoramento 52 torga Investigação no ISMT O impacto do consumo do tabaco, do álcool e de outras drogas na saúde das crianças e adolescentes. O Instituto Superior Miguel Torga está a quer para a redução da incidência dos desenvolver um projecto de investigação sobre as repercussões somáticas, comportamentos de risco para a saúde quer para a alteração das variá- somato-psíquicas e relacionais dos comportamentos de risco para a saúde veis psicossociais que influenciam estes comportamentos. de crianças e adolescentes. Esta investigação resulta de uma O projecto de investigação desenvolvido por esta equipa, coordenada parceria entre o Instituto Superior Miguel Torga, a Escola Superior de por Carlos Farate do ISMT, foi conduzido junto de uma população de cri- Tecnologias da Saúde de Coimbra, o Departamento de Psicologia da Uni- anças e adolescentes utentes dos serviços de cuidados de saúde primários versidade do Minho e a Sub-região de Saúde de Coimbra, financiada pelo dependentes da Sub-região da Saúde de Coimbra. Serviço de Saúde e Desenvolvimento Humano da Fundação Calouste São duas as hipóteses de base deste projecto: 1) os antecedentes de Gulbenkian, e tem por objectivo primordial o estudo da interacção entre doenças somáticas, sobretudo se forem precoces, graves (exigindo, por os antecedentes somáticos, somatofuncionais e comportamentais da in- exemplo, internamento hospitalar superior a uma semana) ou evoluírem fância e início da adolescência e a adopção de comportamentos de risco de modo prolongado podem contribuir para aumentar o risco da adopção de para a saúde, nomeadamente o consumo de substâncias psicoactivas, comportamentos de risco para a saúde incluindo, no caso dos adolescen- durante a adolescência. De facto, o estudo por inquérito tes, o consumo de tabaco, álcool, medicamentos psicotrópicos ou outras epidemiológico, conduzido junto da população infanto-juvenil de um locus substâncias psicoactivas; 2) a qualidade da vinculação exerce uma fun- comunitário bem definido, permite não só escrutinar o grau de penetração ção mediadora na interacção entre antecedentes somáticos/doença local das medidas de promoção da saúde (logística dos cuidados de saú- somática actual e os comportamentos de risco para a saúde entre os jovens de primários, tempo, modo e circunstâncias do recurso a esses cuidados, da população em estudo. Foi constituída uma amostra em articulação entre cuidados primários e serviços especializados), mas tam- painel, com uma dimensão global de 1500 crianças e adolescentes, repar- bém avaliar o estado de saúde actual dos jovens, contribuindo para escla- tidos por 3 subgrupos de escalões etários diferentes, sendo, cada um de- recer de que forma é que as estratégias de prevenção primária contribuem les, composto por 500 sujeitos de ambos os sexos: torga 53 Investigação no ISMT · E1 crianças entre os 6 e os 8 anos de idade maturos (16,6%) e de partos distócicos por cesariana (18%). Apenas 66% des- de esperança.) Relativamente aos comportamen- · E2 adolescentes entre os 11 e os 14 anos tas mães referem ter tido um parto normal e 11,3% das crianças desta amos- tos alimentares, 59,6% dos rapazes (contra 47,2% das raparigas) referem · E3 adolescentes entre os 15 e os 18 anos de idade tra foram submetidas a tratamento nesta fase da vida (37% para procedimen- ter prazer em comer muito. De facto, parecem ser as raparigas O protocolo de investigação deste inquérito epidemiológico é composto tos de reanimação e 29,2% colocados em incubadora). que têm uma relação mais problemática com a alimentação. por inventário médico (versão para os pais de crianças e adolescentes), auto- Com relação à primeira infância (entre o nascimento e os 2 anos de Assim, o prazer em comer muito suscita o medo de não parar a 1 em questionário psicossocial para adolescentes (adaptado a partir de Choquet idade) para cerca de 9 em cada 10 mães o filho/ a filha cresceu bem. As- cada 10 raparigas (e, apenas, a 2,6% do rapazes); o mesmo comportamen- et al.), ficha clínica resumida, PCV-M (escala de vinculação para crianças sim, apenas 14% das mães admitem ter consultado o seu médico de família to alimentar faz sentir vergonha a 10% das raparigas inquiridas (contra 4,5% em idade escolar, versão para pais), IPPA (escala de vinculação para ado- ou pediatra frequentemente nesta fase da vida do seu filho. dos rapazes), enquanto que a uma percentagem similar de raparigas e lescentes) e QAPCVIA (questionário de avaliação da percepção do comporta- Numa fase posterior, entre os 3 e os 5 anos de idade, é de destacar que rapazes, respectivamente, provoca sentimentos depressivos. mento de vinculação de crianças e adolescentes, versão para pais). existe um mesmo padrão, relativamente ao período anterior, no que diz res- No que diz respeito ao consumo de bebidas alcoólicas, a cerveja é a bebi- O trabalho de campo da investigação decorreu entre Janeiro e Julho de peito à atribuição pelas mães de um crescimento saudável aos seus filhos. da mais utilizada pelos jovens da amostra (de facto, 30% dos rapazes e 17,6% 2005, tendo-se registado uma taxa de participação de 37% relativamente à Refira-se, contudo, que 13% das crianças sofreram acidentes durante esta das raparigas referem que bebem cerveja ocasional ou regularmente). amostra inicialmente estimada (i.e., uma população de 537 sujeitos dos fase da vida. Analisemos agora os dados preli- Já quanto à utilização do tabaco, verifica-se uma inversão no rácio ra- 1500 inicialmente previstos, repartida proporcionalmente pelos 3 sub-grupos minares relativos aos grupos E2 e E3. Os dados destes grupos dizem res- pazes/raparigas, já que 1/3 das raparigas (32,5%), contra ¼ dos rapazes da amostra em estudo). A partir da análise estatística preli- peito a 357 adolescentes com idades compreendidas entre os 11 e os 18 (25%) refere a utilização ocasional ou regular de tabaco. minar aos resultados obtidos para o grupo E1 é possível concluir que, ape- anos de idade, cuja idade média é de 13,5 anos. Os investigadores concluíram, por outro lado, que o consumo de outras sar de 96,4% da amostra ter beneficiado de uma gravidez medicamente as- Quanto à preocupação com a imagem corporal, 6 em cada 10 jovens drogas é um comportamento raro entre os jovens da amostra. Assim, o uso sistida, cerca de 43% das mães referem ter tido um qualquer problema classificam o seu corpo como normal, enquanto que 1 em cada 10 adoles- de haxixe é referido por 4,5% das raparigas e 2,7% dos rapazes. obstétrico (principalmente vómitos no 1º trimestre e ameaça de parto prema- centes se consideram “gordos”, sendo extremamente baixa a percentagem Finalmente, a idade de iniciação ao consumo do álcool ou de outras dro- turo) e que uma em cada dez mulheres indica mais do que um problema de jovens que se consideram “muito magros” (3,1%). gas, tem vindo a decrescer, situandose em média, actualmente, nos 12/13 durante a gravidez desse filho. Por outro lado, cerca de ¼ das mães in- No que diz respeito às queixas somato-funcionais dos adolescentes anos de idade (dados confirmados, pela análise preliminar dos resultados quiridas (25,2%) refere a ocorrência de situações de carácter traumático da amostra, é particularmente relevante a referência às alterações de sono, do presente estudo). potencial durante este período. Relativamente ao parto e período neo-natal, às queixas álgicas (dores de cabeça, de barriga, dores musculares) e aos verifica-se uma proximidade estatística entre a percentagem de partos pre- sentimentos ânsio-depressivos (nervosismo, aborrecimento, tristeza, falta 54 torga Ana Beatriz Bento 55 Opinião De Bibliotheca Ana Cristina Abreu É a partir do berço que uma criança áreas cursos Com o Ensino Superior na mira do recebe as primeiras aulas de linguística e de socialização. A mãe é o seu leccionados ao nível da bibliografia principal e da bibliografia ancilar. Res- Processo de Bolonha, cabe às bibliotecas o ousado papel de actualização primeiro centro de recursos e os sons das palavras vão permitir o contacto ponde às necessidades de investigação por parte dos docentes, investiga- dos seus serviços quer ao nível dos novos perfis dos bibliotecários, assu- precoce com a pesquisa do seu pequeno mundo. dores e discentes fornecendo documentação de referência completa: mindo uma função mais activa como agentes educativos, apoiando as pes- Ao fim de alguns meses, este pequeno investigador ultrapassa a fase anuários, dicionários linguísticos, resumos estatísticos, enciclopédias. Pro- quisas da docência e dos alunos, quer ao nível da gestão integrada da infor- oral da procura e sai em busca de mais informação, passando definitivamen- porciona também, informação geral incluindo calendários universitários, mação e da tecnologia através das já citadas bases de dados e bibliotecas te para a biblioteca. As cores, as formas, o material im- listas de trabalhos de investigação em curso, listas de entidades de investi- digitais, quer ao nível das relações interbibliotecas, por exemplo uma presso em papel, plástico ou tecido, convidam-no à descoberta, contudo, é gação, anuários de sociedades eruditas. acentuada cooperação dos serviços. O Processo de Bolonha estabele- imprescindível manter a comunicação oral entre os vários elementos da fa- A pesquisa em bases de dados remotas fazem cada vez mais parte de ce um novo quadro educacional inserindo a investigação e o ensino na mília e a criança. O gosto pela leitura revela-se mais uma realidade da qual a biblioteca universitária não pode excluir-se. For- construção do conhecimento e da cidadania. tarde depois de ter tido o prazer do toque dos livros e das texturas e ter-se necer documentação pertinente de forma célere, é o objectivo dos serviços A aprendizagem ao longo da vida (formação não formal e competências deslumbrado com as cores. Quando o indivíduo atinge os estu- de biblioteca. As revistas electrónicas que facul- pela experiência) é um dos meios de avaliação dos alunos. A biblioteca dos superiores terá sido de extrema importância que, além do gosto pela tam o conteúdo integral, bases de dados de referência bibliográfica, passa a acompanhar os alunos no desenvolvimento das suas aptidões e leitura adquirido em pequeno, tenha passado por experiências de pesqui- abstracts, constituem serviços disponíveis na maior parte das bibliotecas competências na pesquisa bibliográfica. sa de informação, de elaboração de trabalhos na escola. Esse “saber da universitárias actuais. A abrangência na recolha e trans- A relação professor-aluno baseiase num momento de contacto recípro- experiência feito” na investigação de forma sistemática, utilizando os catá- missão de conhecimentos é um dado adquirido. O recurso à B-On (Bibliote- co de transmissão e descoberta e o profissional de informação estará pre- logos tradicionais ou informáticos, oferece-lhe os conhecimentos básicos na ca do Conhecimento On Line), PsycInfo ou Isi-Web of Knowledge, por sente para responder às solicitações de ambos, passando ele próprio a in- procura e organização bibliográfica. A colecção, isto é, o fundo docu- exemplo, é inevitável pelo manancial de informação extensa, exaustiva e de tegrar o desafio na adaptação ao espaço de ensino europeu. mental reflecte obrigatoriamente, as qualidade que oferecem. 56 torga de estudo dos Opinião Um Testemunho e uma Proposta Carlos Sá Furtado Professor Catedrático no Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores Para corresponder ao amável convite do, em que apenas os valores das va- erente para, finalmente, concluir com da Torga, perguntei-me qual o tema a escolher, por ser mais significante e, riáveis iniciais é diferente. Reduz-se tudo a seguir um roteiro, um guião, uma limpidez e clareza. Os jovens, em grande percentagem, disso não sabem, porventura, com um toque de implicância. A minha opção caíu no que tem receita previamente decorada. Muitos dos alunos não conhecem com rigor os não cuidam e nem chegam a entender que isto é importante, imprescindível. sido a minha percepção quanto aos saberes dos muitos alunos de que, na conceitos fundamentais, têm impressões, vaguidades comuns com que têm Obviamente que, chegados que são aos vinte anos, após um percurso es- última década, fui professor. Na generalidade, em percentagem muito ele- vindo a viver. Também não têm o espírito moldado para a necessidade, a exi- colar de 13, 14 anos, a culpa não lhes pode ser assacada. vada, pensavam bastante insuficientemente, não sabiam expor as suas gência incontornável das leis físicas. Tudo ou quase tudo é questão de opi- Quanto à falta de concentração, a minha maior evidência está na inca- respostas, tinham falta de concentração, eram incapazes de manter a aten- nião. O que não está bem; pois para todos, a liberdade pressupõe o conhe- pacidade de muitos alunos seguirem atentamente uma aula por mais que ção, tinham falta de conhecimentos essenciais. Falando com muitos cole- cimento exigente da necessidade. O não saberem expor as suas res- 10-15 minutos. Falam uns com os outros, distraiem-se. Não é por mal, por gas, dentro e fora da minha Escola, tantas vezes no âmbito de comissões postas está incluído na ausência, a que me acabei de referir, dessa heran- falta de respeito. Não, não é por isso; é porque lhes é impossível estarem de avaliação externa do CNAVES, o seu entendimento era semelhante. O ça grega fantástica que é o acto de pensar e que, a meu ver, se encontra atentos a seguir uma exposição que exige esforço para ser compreendida. que não quer dizer que também não houvesse e haja colegas com ponto ameaçado. A falta de hábitos mentais sólidos é simultaneamente reflexo e A razão, assim o julgo, está em não terem sido educados para isso. de vista contrário. Explicitarei o meu pensamento no causa de não dominarem adequadamente a língua materna, o Português. Quanto à falta de conhecimentos básicos é assunto recorrentemente fa- que concerne às referidas insuficiências, que, em boa verdade, se tradu- Não falo apenas de ortografia e de construção de frases, o que já de si é lado. No tocante a aspectos de pura erudição, como, por exemplo, saber zem em ameaça para a independência e afirmação de Portugal. O pensa- coisa de monta e importa corrigir, mas o que é muito mais preocupante trata- rios ou batalhas, não me parece pecado mortal. Já assim não é no que toca rem mal significa que não mostram capacidade bastante para organizar e se da organização do texto, enfim, da boa retórica. Desenvolver um discurso às essências, aos fundamentos da área científica própria. Não saber o que articular raciocínios complexos, de partir de premissas, de dados conhe- com princípio, meio e fim. Para chegar a uma determinada conclusão, há que é a aceleração de um móvel, o que é força, não é tolerável para quem entra cidos de um problema, e, por passos sucessivos convenientemente enca- fazer uma introdução onde se definem a situação, as condicionantes, o em Engenharia na Universidade. E certo é que desconhecem a sua for- deados, chegarem a uma conclusão. Acertam apenas com a resposta a um enquadramento do tema entre mãos, depois desenvolver a argumentação mulação rigorosa, têm ideias e impressões vulgares, difusas, apenas luga- enunciado tipo, igual a outro já treina- de forma inteligente, consistente e co- res comuns. torga 57 Opinião Se me alonguei na explicitação das mazelas do que julgo serem as maio- na e hábitos de trabalho é a escola democrática, porque, sem discrimi-na- cerragens em extinção, que negam os benefícios, a libertação dos espíritos e res deficiências e incapacidades que afectam os nossos jovens, é porque ções, de acordo com as capacidades de cada um, integrará os jovens na da criatividade, entretanto operadas. Julgo que, entre os que pensam na li- penso dever-se ser claro no que é o pior dos défices portugueses, origem actividade profissional e na consciência social e de cidadania, indispensá- nha crítica aqui exposta e no consequente modelo dela emergente, de todos os outros, que nos vai cortar o passo ao desenvolvimento colectivo veis à construção continuada e manutenção do Estado democrático e à feli- e aqueloutros que são seguidores e admiradores da “escola nova”, seja com vista ao alcance de patamares mais elevados de organização social cidade pessoal. Há que privilegiar o conhecimento díficil, mesmo impossível haver acordo. Assim sendo, parece-me sábio e e económica, afectando negativamente a prática da cidadania e da nossa estruturado, fomentando e criando a capacidade de abstracção. Sem abs- aconselhável não se perder tempo em querelas inconse-quentes e admitir afirmação como Povo. A descrição algo alongada que esbocei pretende tracção não há educação dos espíritos, somente um treino para execução nos Ensinos Básico e Secundário escolas que seguissem os modelos da caracterizar e identificar os males maiores que afligem o nosso sistema repetitiva de tarefas. Sem generalização, conceptualização, abstracção, os “escola nova” e outras em que a prática pedagógica se baseasse funda- educativo. Socorro-me aqui, em apoio, dos estudos internacionais TIMMS e problemas que a vida nos vai propondo em contextos e situações diversi- mentalmente em currículos científicos estruturados incluindo os fundamen- PISA, que tão mal nos classificaram entre os países analisados e a que, ficadas não podem ser encarados com sucesso. É do conhecimento corrente tos das matérias em causa, na avaliação externa com exames cíclicos de por misteriosas razões, deixámos de nos submeter. No mesmo sentido vão, que não é possível raciocinar criticamente sobre qualquer tema, sem pre- periodicidade não superior a três anos, na ênfase no conhecimento sabido e por exemplo, os recentes exames nacionais de Matemática do 9º ano – e viamente bem o conhecer. Só se pode criticar e escolher consciente- raciocinado, na disciplina e no esforço individuais. As famílias escolherão. convinha ver qual a extensão e exigência dos conhecimentos testados – mente o que se conhece. É para mim ponto assente que tal O desempenho profissional dos alunos formados num modelo ou no outro em que a média nacional não foi além de 2.2, na escala de 1 a 5. Convinha como um pianista tem de fazer escalas, o maratonista tem de correr quiló- dará seguramente indicações claras e insofismáveis sobre a sua diferencia- averiguar as razões deste descalabro crescente. Mas nunca se quis fazer - metros todos os dias, o xadrezista tem de ter muitas horas de tabuleiro, as- da adequação à correcta inserção social e profissional. vá-se lá saber por quê –, antes se foram reduzindo as exigências do siste- sim o estudante tem de estudar e aprender o que é necessário ao longo ma oferecendo, por exemplo, currículos alternativos, ou reduzindo os con- do seu percurso académico, a fim de alcançar conhecimento. Só se pode teúdos. Que fazer? Praticar ou deixar prati- amar o que se conhece e o prazer está, antes de mais, no que se alcança, na car outra pedagogia. A incidência das aprendizagens deverá centrar-se nos dificuldade superada. Esta é a Escola em que acredito e que pode criar men- conteúdos científicos e processos cognitivos devidamente organizados tes bem pensantes e críticas, sensibilidades conscientes, cidadãos capa- em currículos coerentes. Assim se contribuirá para uma escola inclusiva, en- zes de optar entre a multitude de opções que a complexidade social, cul- tendida como aquela que, mais tarde, propiciará aos estudantes, indepen- tural e técnica do Mundo actualmente propõe. dentemente da sua origem social, uma melhor integração na vida profissional Alguns chamarão de negativista, pessimista, radical o que escrevi, e, de e na afirmação cidadã. A escola exigente em conhecimentos, em discipli- caminho, dirão que a “escola nova” é incompreendida e atacada por aben- 58 torga Opinião Nem tudo o que se ensina se equivale Joaquim Pires Valentim Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra É um dado banal: a escola massificou- singularidades individuais e das cultu- com as normas da cultura escolar, que, se e é confrontada com uma profunda transformação nos papéis que lhe são ras estranhas à escola marca uma transformação de profundas consequências por razões histórico-sociais, representam os critérios de êxito dos indivíduos. atribuídos. Numa época em que a multiculturalidade – uma questão de fac- (em boa parte ainda por elucidar) face às concepções em que a escola detin- Acontece que as transformações políticas, sociais e ideológicas, entretan- to em termos históricos e sociais – das sociedades contemporâneas está na ha o exclusivo do saber válido e em que as realizações escolares dos indivídu- to ocorridas, vulgarizaram de tal modo estas ideias que, hoje, talvez seja de ordem do dia nas agendas dos vários actores políticos e sociais, não admira os apareciam como uma tradução directa – ou revelação – das suas capaci- colocar a tónica no oposto que essa evidência oculta: esses saberes não são que um dos temas dominantes nos discursos sobre a instituição escolar seja o dades intelectuais. Não admira por isso que o insucesso escolar tivesse sido atri- equivalentes nas sociedades modernas, designadamente do ponto de vista da diversidade. A ideia de uma escola detentora do monopólio da cultura e do buído sistematicamente a carências ou faltas dos indivíduos que, uma vez na social e performativo. Assim sendo, qual deverá ser o papel do que se ensina na saber tem vindo a ceder terreno face à relativização da cultura escolar, à ideia escola, não progrediam na aquisição de conhecimentos escolares. Primeiro, de- escola? Simplificando muito (talvez demasiado), diria que, a este respeito, boa de que ela é “uma cultura entre outras”. A instituição escolar é, cada vez mais, vido à falta de dons ou de talentos, mais tarde, devido à falta de estimulação cul- parte da resposta está na aquisição de saberes cuja validade não seja mera- confrontada com a necessidade e com as exigências de dar resposta às ques- tural, sendo, neste último caso, missão da escola fornecer um suplemento des- mente local, isto é, que não se confine apenas aos limites de comunidades tões das diferenças culturais, da pluralidade de formas de transmissão sa alimentação cultural de que os alunos se mostravam deficitários. particulares. Dito de outro modo, tratase de procurar assegurar a todos os in- de saberes, da multiplicidade de conhecimentos, de práticas educativas e Durante os anos setenta do século passado, estas concepções foram am- divíduos a transmissão escolar de “saberes universais” tendo em conta a comunicacionais que caracterizam hoje o universo escolar. Questões que ga- plamente criticadas por sociólogos, psicólogos, linguistas e até biólogos que multiplicidade de “saberes particulares”. O simples reconhecimento das nham uma acuidade particular dada a multiplicidade de espaços educativos e mostraram como esse diagnóstico podia resultar apenas da aceitação da cul- especificidades culturais e do valor intrínseco de outros saberes nada garan- de diferentes lógicas sociais em que o pensamento se constrói e os saberes tura escolar como uma norma de referência neutra, tomada como medida- te. Pode até conduzir facilmente a uma tal centração nessas especificidades, se transmitem nas sociedades contemporâneas. padrão para as capacidades de todos os indivíduos e grupos. Assim, em lugar que acaba por reforçar os mecanismos pelos quais as diferenças se transfor- O contraste com o modelo de igualdade homogeneizante, que caracterizou de carências ou de realizações inferiores, estaríamos perante diferentes for- mam em desigualdades. O papel daquilo que é ensinado na escola não se com- o processo de generalização da cultura escolar, dificilmente podia ser maior. De mas de expressão das capacidades dos indivíduos. Diferenças essas que só se padece com defesas mais ou menos românticas de um relativismo naif que, facto, a consideração, pela positiva, das tornariam défices quando comparadas rapidamente, se transforma em deriva torga 59 Opinião identitária e comunitarista. Com a agravante de que, ao fazê-lo, contribuiria, segura-mente, para acentuar as desigual-dades sociais. A diferença entre os jogos de salão e a Matemática, entre a letra de uma canção pimba e os versos da Odisseia não se dilui em nenhum relativismo. As aprendizagens escolares têm uma espécie de imperativo, isto é, têm a obriga- Porventura demasiado inteligentes Jorge Caiado Gomes Prof. Associado do ISMT ção de possibilitar, senão mesmo garantir, aos indivíduos os meios, o passaporte e a rota para uma “migração cultural e cognitiva”. Ou seja, o que se ensina na escola pode – e deve – permitir a cada um ir muito para além dos muros da sua aldeia ou do seu gueto, por mais cosmopolita que seja a rua onde cada um mora. Daí a importância política da adequada definição do que é necessário ensinar num determinado momento histórico – designadamente, a definição do que se deve ensinar, quer enquanto aprendizagens básicas, quer enquanto aprendizagens obrigatórias –, mas também a importância do trabalho pedagógico que garanta que aquilo que é para aprender, se aprende mesmo. Não pretendo com isto retomar as ilusões das crenças iluministas sobre as virtudes da escola. Sabemos hoje que a escola não pode garantir tanta coisa. Mas, por muito desencantado que seja o nosso olhar sobre o mundo, convém não esquecer que sem a difusão da escola as coisas seriam, sem dúvida, piores que aquilo que são. Parece-me óbvio que o investimento e o esforço político, económico, social, pedagógico e pessoal que qualquer “aposta na educação” exige só fazem sentido se reconhecermos que, de facto, quando se trata do ensino escolar, nem todos os saberes são equivalentes. Há cerca de dois anos fui a Itália de automóvel. Só ainda lá tinha estado na região dos lagos e tinha ficado extasiado A Toscana não é coisa para viajantes de avião. Queria conhecer as colinas, os ciprestes esparsos, os vinhos, o casario, as gentes de lá onde está a qualidade de vida. O drama de quem é português é que sempre que quer ir para o centro tem de atravessar toda a periferia. E lá fui eu, Espaaanha, Fraaança, auto-estraaada costeira do Oeste – paragem obrigatória em Santa Margarida e Portofino –, direitinho àquela que tanto me tinham recomendado: Florença, “a deusa”. A viagem teve, como é óbvio, os seus momentos altos, mas hoje estou aqui para dizer mal. Em primeiro lugar, as “aires” (tinha vindo de França) eram completamente desprovidas de zonas de descanso e recreio (leia-se piquenique para poupar): lá tinhamos que comprar uma piza, autênticas sovas. Chegado a Florença, uma espécie de teste da realidade veio-me mais uma vez confirmar que a forma mais absoluta de estupidez é a idealização: os arredores de Florença são deprimentes, ordinariamente banais, mesmo poeirentos e esburacados, as casas poderiam perfeitamente ser as dos arredores de Atenas. Como é óbvio, depois de quase três mil quilómetros tive de fazer um cíngulo maníaco e insultei-me considerando que me tinha perdido nalguma cintura industrial, e que a maravilha ia aparecer a qualquer momento. Aparecida, perdi-me quatro ou cinco vezes, não por não compreender a evidência das placas, mas por não acreditar que o centro histórico era só daquele tamanho (de tanto me perder tinha circunscrito mentalmente a área). Em Florença, como porventura em tantas cidades italianas, o trânsito é caótico, o estacionamento é caótico, as pessoas são caóticas, tudo cheira a cafeína. Limitei-me apenas a pensar, como qualquer português que se preze, que afinal os Italianos são mesmo parecidos connosco, 60 torga Opinião são tão desorganizados como nós: de excelente memória a Professora, foi randos sobre uma possível manobra estava em casa. Mas à medida que fui querendo sem surpresa que assisti à forma cordata, eficaz e firme como conduziu para obrigar os cursos de quatro anos, actualmente conducentes a uma licen- estacionar, que fui querendo beber um cafezinho (quatro euros, na altura), que a reunião. Tendo sido obtido um acordo surpreendentemente rápido a nível ciatura, a ficarem cingidos a ministrar um bacharelato/licenciatura (coisa fui querendo descansar após as intermináveis bichas de japoneses, perce- nacional, tenho a certeza que uma enorme fatia do mérito lhe deve ser que, como se sabe, no caso da psicologia, serve para muito pouco). Depois bi o quão estava equivocado: os italianos não são nada desorganizados, outorgada: «queira aceitar, senhora, a expressão dos meus mais distintos havia a questão da nomenclatura: se o primeiro ciclo de três anos se cha- eles apenas são porventura demasiado inteligentes. Tudo estava – descon- cumprimentos». Relativamente à reunião e pela mi- masse licenciatura, como se passarão a chamar os actuais licenciados com tando a minha veiazinha paranóide – milimetricamente pensado para sacar os nha parte, visto que não aprecio especialmente jogos de palavras e má po- cinco anos de formação; e os actuais mestres com sete anos de formação tostõezinhos todos ao incauto turista. Só em jeito de desabafo, e assu- esia, as coisas eram de uma simplicidade desarmante: a maioria dos cur- universitária? No caso da Psicologia, alguns des- mindo o meu jeito ignorante obscuro, confesso-vos que prometi a mim mes- sos de Psicologia das universidades europeias tinha um formato 3+2+1 (o tes problemas foram ultrapassados por um consenso raramente observado. mo nunca mais lá voltar, a não ser na condição de trabalho, para ver se re- último ano é um estágio profissional); existe uma recomendação da Associ- Mas o panorama geral, olhando à polémica que este assunto tem suscita- cuperava algum do dinheirinho perdido. ação Europeia de Psicólogos que recomenda a adopção do modelo do nos jornais, é de suspeição, manobra, habilidade, jogo de cintura, exci- Mas se vos estou aqui a falar de Florença por uma razão bem distante 3+2+1; e a maior parte dos cursos de Psicologia já instalados em Portugal tação cafeínica... Tudo, penso eu, problemas muito sim- (se bem que Bolonha, se não erro, fica a cerca de oitenta quilómetros de Flo- tinha implícito o formato 3+2+1. A posição a adoptar, e que de resto foi do- ples de resolver, não fossemos nós também, por ventura ou desventura, exces- rença): Estive, há uns meses atrás e em minante, é que o modelo a seguir no nosso país deveria ser o de 3+2+1. sivamente inteligentes. representação do curso de Psicologia do I.S.M.T., na reunião que juntou os Como o Instituto Miguel Torga, a par com mais duas ou três instituições, ti- directores dos cursos do ensino privado e cooperativo para discutir a apli- nha tentado antecipar o Processo de Bolonha adoptando o modelo 4+1, por cação do Processo de Bolonha. A reunião foi promovida pela Professora pura diligência, restava-me tentar garantir que não fossemos prejudicados Luiza Morgado, da Universidade de Coimbra, mandatada pela então minis- no processo de reestruturação. Mas era aqui que a «porca torcia o tra da educação. Como eu conhecia rabo»: penso ter ouvido conside- torga 61 Opinião Alguns desafios para as políticas educativas em Portugal: o caso do ensino não superior José Manuel Portocarrero Canavarro Professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra É com muita satisfação que me associo à Torga neste número dedicado à partir de dois grandes eixos de actuação: lho de quadros com formação superior, como são os professores. Serão Educação e ao Ensino. Agradeço a possibilidade de parti- 1. Uma melhor gestão da Escola Pública; igualmente dispensáveis medidas que retirem autonomia às Escolas e que lhar com os leitores algumas preocupações e dúvidas, sobre políticas 2. Uma maior abertura, eventualmente subsidiada directa ou indirec- nada contribuam para que se desenvolva uma gestão “localizada” moder- educativas dirigidas à Educação não superior. Fá-lo-ei em tom coloquial, tamente, à iniciativa privada no sentido de reforçar a possibilidade de es- na, responsável, orientada para objectivos e partilhada. sem preocupações académicas mas com rigor. colha da escola por parte das famílias; O modelo da organização aprendente, que todos sabem subjacente ao Um dos grandes problemas actuais da Educação no nosso país passa Sem prejuízo de medidas pontuais, que optimizem os recursos humanos paradigma da sociedade de informação, não pode ficar distante da escola por equilibrar a prestação dum serviço de qualidade, pois é essa a exigên- e materiais de que o Estado dispõe para provir o serviço de Educação aos pública, muito mais quando a dominante política passa pelo Plano cia da sociedade, com uma boa gestão do dinheiro público, sendo que esta cidadãos. Tecnológico, nas suas diferentes vertentes. última é igualmente uma exigência da sociedade, confrontados que estamos 1. Uma melhor gestão da Escola Pública Há urgência na redefinição do modelo de gestão das escolas públicas, todos com a “finitude” dos recursos públicos, mormente os financeiros. São pouco desejáveis medidas de natureza administrativa e que ignorem consagrando princípios de autonomia alargada com a profissionalização e Assegurada a qualidade, o equilíbrio no investimento e na despesa pú- as componentes de motivação, de responsabilização, de desburocrati- responsabilização dos seus gestores. Entende-se deste modo que uma ges- blica em educação não superior relevará, ainda que de forma diferida, a zação, de definição e prossecução de objectivos que devem nortear o traba- tão profissional das escolas será caminho para maior eficiência conjugada 62 torga Opinião com maior motivação dos colaboradores, conseguindo-se sinergias finan- queda dos regimes totalitários da Europa Central e Oriental foi a existência como a mais adequada para os seus filhos são muito diversas e contextua- ceiras relevantes e consequentemente uma melhor prestação de serviço. e o funcionamento de escolas não estatais. lizadas: - A qualidade da educação, o pres- A gestão da escola pública não deve obedecer meramente a emana- Dado que o direito a escolher outra escola, que não a oferecida pelo Esta- tígio da escola e factores relacionados com o ambiente e com a segurança; ções centralizadoras nem fazer-se apenas pela via administrativa. Deverá, do, não está directamente ao alcance de todos devido aos custos que pode - A responsabilidade nos cuidados prestados aos filhos; a conveniência porém, reforçar-se todo um contexto de parceria local e de aproveitamento de implicar, muitos países adoptam políticas que permitem subsidiar parte ou a pessoal; a oferta de actividades desportivas e extra-curriculares – a di- redes instituídas de suporte social protago-nizadas por entidades públi- totalidade dessas despesas. Muito recentemente, em Inglaterra, versidade de serviços oferecidos pela Escola; cas e privadas, de entre as quais se destacam: as autarquias; as associa- o governo trabalhista liderado por Tony Blair fez aprovar o Livro Branco da - A qualidade dos professores; - A proximidade do local de resi- ções de Pais; as IPSS; e as Misericórdias Educação no qual se consagram mecanismos concretos facilitadores da dência, designadamente nos Ciclos de Estudos iniciais; boas acessibilidades Urge uma reforma do quadro legal de autonomia e de gestão das escolas escolha livre da Escola pelos Pais e que vão desde informação actualiza- viárias e de transporte, critério que se acentua nos ciclos subsequentes. públicas, uma reforma capaz de criar eficiência e assim potenciar a presta- da e independente sobre o funcionamento das escolas, a transporte gra- Poder escolher, ter liberdade total de escolha da Escola é um passo im- ção dum melhor serviço aos alunos e às famílias, sem desperdício financei- tuito para que os pais com menos posses possam enviar os seus filhos para portante mas que politicamente, no nosso país, merece um tratamento ro por via da responsabilização que, contingencialmente, acompanhará a escola que distem até 10 km de casa (se essa for a sua vontade), entre ou- faseado. A possibilidade do “cheque ensino” ou do “voucher escolar”, pro- autonomia. A autonomia não é verdadeira se não contemplar a vertente fi- tros mecanismos. Sustenta-se que a escolha livre por parte dos Pais pode- vavelmente demasiado liberal para o nosso contexto social, poderá ser subs- nanceira e esta merece ponderação, que trataremos num próximo escrito. rá ser um impulsionador da qualidade e referem-se vários exemplos de paí- tituída por outras políticas, como por exemplo: 2. A possibilidade de escolha da es- ses, como a Suécia e os EUA (alguns estados deste país), nos quais a adop- - O investimento na qualidade da Escola Pública – tornando-a mais cola por parte das famílias… O sistema democrático tem que ção de mecanismos que permitem a escolha livre da Escola conduziram a atractiva, mais segura, com oferta peri e pós-escolar diversa (trilho que se permitir aos pais, em maior ou menor grau, a escolha duma escola para os melhorias no sistema de educação. Em sentido inverso, mas com reac- está a percorrer actualmente mas sem considerar a autonomia das escolas e seus filhos que não apenas a oferecida pelo Estado. Está consagrado na ções conhecidas, Zapatero pretendeu introduzir mudanças na LOE (equiva- com o sacrifício do bem estar dos profissionais); Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) que os pais têm o direi- lente à nossa Lei de Bases do Sistema Educativo) que reduzem a liberdade - A melhoria da definição da rede educativa, com consagração do prin- to de escolher o tipo de educação para os seus filhos. Também na Convenção de escolha e que acentuam a primazia da estatização da Educação em cipio de rede integrada público-privado – evitando investimento do Estado Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1966) se faz a res- Espanha. As reacções contrárias são conhecidas. Centenas de milhares de “em obra”, quando o serviço Educação pode ser provido pelo sector pri- salva de respeitar a liberdade dos pais para escolher as escolas dos seus fi- pessoas em protesto nas ruas e uma petição com perto de três milhões de vado, sempre em condições “reguladas” e mesmo por concessão. Tal po- lhos. A mesma leitura é legítima a partir da Constituição da nossa Republica. assinaturas a pedir pela não alteração da LOE. derá suceder com regras a definir, evitando-se o investimento público sem- Convirá relembrar que um dos primeiros direitos reclamados após a As razões que movem os pais no processo de escolha da escola julgada pre que possa haver interesse privado e prevendo-se a possibilidade, em torga 63 Opinião sede de Estatuto de Carreira Docente, de figuras de mobilidade ou de per- na Escola Pública (ênfase nos serviços complementares e na diversidade nunca as sacrificando. Trata-se dum equilíbrio que só se justifica sem a hi- muta entre profissionais dos sectores público-privado, ouvidos os parceiros da oferta educativa), num equilíbrio e abertura da rede público-privada (con- poteca da qualidade das aprendizagens e merecerá apenas percorrê-lo sociais e sempre em sede de negociação colectiva; siderando a rede como una), na estabilidade e avaliação dos mecanismos com esse ponto de partida e de chegada. - O reforço dos mecanismos de acompanhamento dos contratos de de financiamento do Estado à iniciativa privada, prevendo-se a possibilida- De outra forma, seria um caminho sem retorno. associação Estado-Escolas Privadas, com contratualização definida de for- de de regimes de concessão, nomeadamente em alguns novos investimen- ma plurianual mas com cumprimento de objectivos anuais rigorosamente tos, e na possibilidade da consagração de contratos de autonomia com explicitados; - O estabelecimento de contratos Escolas Públicas, também em regime de parceria público-privado e, mesmo, de autonomia com Escolas Públicas e Privadas, nomeadamente para refor- quando se justifique, com Escolas Privadas. ço e definição de projectos inovadores de educação-formação. 3. Notas Finais Uma das possibilidades poderá passar por integrar na oferta das Es- Os mecanismos motivadores da liberdade de escolha da Escola deve- colas os actuais 3º Ciclo do Ensino Básico, o Secundário e o Pós-Secun- rão ser acompanhados duma maior autonomia e profissionalismo nos exer- dário, diversificando a oferta educativo-formativa, para além da regular- cícios de gestão da Escola Pública e duma maior abertura à iniciativa pri- mente oferecida, e incluindo nesta os Cursos de Educação-Formação (nível vada na Educação, abertura esta que implicará forçosamente regulação. II), Ensino Profissional (nível III), Sistema de Aprendizagem (níveis III e IV) e A redução da despesa pública, da despesa do Estado em Educação, far- Cursos de Especialização Tecnológica (CET’s) – e assim reforçar a compo- se-á, não só por ganhos de eficiência que uma gestão profissionalizada con- nente profissionalizante do Ensino e a formação de futuros quadros intermé- sagra, mas também pela possibilidade de integrar a oferta privada na rede dios, tão necessárias a Portugal. Importará definir para estas Esco- escolar, do estabelecimento de mecanismos de concessão que reduzam o las, quando Públicas, uma gestão com autonomia reforçada, estruturada a investimento público e ainda da possibilidade de mobilidade ou de permuta partir de contratos de gestão em função de objectivos, com maior margem de docentes entre os sistemas público e privado. de autonomia no desenho dos curricula e dos conteúdos, que pode- Algumas das preocupações que se sobrelevam e das sugestões que se rão ser concebidos a partir duma identificação de clusters de actividade eco- enunciam carecem de mudanças legais, mormente na carta magna que é nómica e empresarial considerados localmente estratégicos e/ou emer- a Lei de Bases do Sistema Educativo e que este ano completa vinte anos de gentes. Em resumo, a liberdade de esco- existência. Trata-se dum caminho que se po- lha poderá passar indirectamente por um investimento melhor direccionado derá percorrer sempre salvaguardando a qualidade das aprendizagens e 64 torga Opinião O Ensino na União Europeia: um dos lados do Triângulo Maria Carlos Jurista, Investigadora [email protected] 1. Introdução Embora, nos últimos anos, tenham sido lançadas muitas iniciativas, a nível nacional e comunitário, no intuito de reforçar o valor do ensino, bem como as ligações deste com a investigação e inovação, resta ainda muito por fazer. A capacidade da Europa para transformar os resultados do ensino em oportunidades comerciais, e implantar novos modelos organizacionais adaptados às necessidades de hoje fica ainda aquém do necessário. Melhorar as relações entre o ensino e a inovação – atendendo em particular, à sua contribuição para o crescimento económico, emprego e coesão social é fundamental para reforçar a competitividade da União. É do conhecimento geral que, actualmente na Europa, estas relações não se estabelecem tão bem quanto possível, e essa percepção levou já a Comissão Europeia a propor a criação de um “Instituto Europeu de Tecnologia” que funcionará como pólo de atracção para os melhores cérebros de todo o mundo. Em Outubro do ano passado, o Conselho Europeu, na reunião informal de Hampton Court, solicitou a adopção de medidas urgentes para conferir ao ensino excelência de nível mundial. No seguimento de uma ampla consulta pública no final do ano passado, na qual participaram as universidades, os centros de investigação, as empresas e as organizações de inovação industrial mais importantes, em conjunto com numerosos inquiridos de cada um destes sectores, 2006 foi recebido como um tempo novo para reforçar a qualidade dos sistemas de ensino europeus e assim preservar a competitividade europeia à escala global. 2. Assegurar o êxito do triângulo do conhecimento – vantagens de uma iniciativa nova De acordo com a opinião geral, o principal desafio que a União enfrenta no domínio do ensino é a sua incapacidade para explorar e partilhar os resultados de I&D e, consequentemente, para traduzir esses resultados em valores económicos e sociais. A Europa necessita não apenas de desenvolver os três lados do seu “triângulo do conhecimento” (ensino, investigação e inovação), mas também de reforçar as pontes entre eles. Este diagnóstico comum deixa entrever uma vasta gama de causas. No que diz respeito à oferta de ensino, tanto a qualidade como a facilidade de utilização dos resultados do conhecimento são criticadas. Em particular, continua a ser importante a diferença torga 65 Opinião entre resultados de investigação e a sua aplicação. Estas duas questões os EUA, a Europa gasta menos em ensino e I&D3, são mais neste conti- vadora podem, estimular uma relação mais eficaz e produtiva entre ensino e não podem ser consideradas em separado. Embora o seu nível geral de nente os actores a querer uma fatia de um bolo menor. O sistema existente empresas. Nos últimos anos, foi lançada uma desempenho universitário seja bom, a Europa necessita de mais pólos de nos EUA produz uma concentração de recursos e pessoas que atinge a mas- série de iniciativas europeias destinadas a reforçar as capacidades dos sec- excelência1, devido à importância do seu impacto social e económico. A ex- sa crítica no número limitado de instituições em causa 4, permitindolhes tores da investigação, do ensino e da inovação. Programas de mobilidade, celência favorece a circulação de inteligência, atrai o investimento priva- ocupar um lugar entre as melhores do mundo. Não é por acaso que as des- como o programa Erasmus, têm permitido que estudantes e profissionais co- do em I&D e fomenta a descoberta de ideias susceptíveis de produzir efeitos pesas das empresas de I&D comunitárias e a fuga de cérebros da União têm nhecessem diversos contextos de aprendizagem e formação, expondoos colaterais alargados em termos de ensino. Contudo, para que se possam como meta os EUA e outros concorrentes internacionais5, e que poucas à riqueza e à diversidade de conhecimentos que caracteriza a paisagem desenvolver excelências, é necessário que a selecção e a carreira dos in- universidades comunitárias são mencionadas nas classificações internaci- europeia. Os programas-quadro de investigação comunitários prestaram um vestigadores assentem na concorrência, que o pagamento pela obtenção onais de universidades, que são mais citadas a nível mundial. contributo importante através de iniciativas como as Acções Marie Curie, os de resultados não seja um tabu e que a participação numa empresa seja vis- Ao mesmo tempo, não existe procura suficiente de resultados de ensi- Projectos Integrados, as Redes de Excelência e a promoção das Plataformas ta positivamente, enquanto oportunidade de aprendizagem importante no e investigação na Europa. Mesmo que estivessem disponíveis mais pro- Tecnológicas Europeias. E no futuro espera-se que o Conselho Europeu de para o currículo de um investigador. Para tal, terão também de se desen- dutos ou capacidades de investigação excelentes, é pouco provável que o Investigação apoie a investigação de ponta ao mais alto nível, sob iniciativa volver novas formas de trabalhar em conjunto. seu valor comercial fosse explorado. Uma das razões que explicam esta fra- dos próprios investigadores. Todos estes esforços ajudam a criar um contex- É necessária uma concentração crítica de recursos humanos, finan- queza é o fosso cultural e intelectual entre estudantes investigadores e em- to em que as universidades comunitárias, os centros de investigação, as ceiros e físicos para criar um círculo virtuoso no qual faculdades, investiga- presários6. Para inovar, é necessária uma aprendizagem mútua, baseada empresas e os actores públicos e privados podem colaborar mais facilmen- dores e estudantes talentosos se atraiam mutuamente, chamando a si o fi- na confiança e não apenas uma transferência de conhecimento no final de te em prol de um ensino de qualidade. No entanto, há ainda muito poten- nanciamento competitivo dos sectores público e privado. Actualmente, as uni- um processo de investigação. A este respeito, os empresários, especial- cial por explorar e a Europa devia reforçar a sua posição nos domínios mais versidades europeias têm ambições muito semelhantes, mas os seus es- mente no caso das PME, terão de adquirir uma cultura de investigação/ino- estratégicos. Esta situação poderia ser ultrapassada através da conjunção e forços são demasiado dispersos. Há quase 2 000 universidades na União vação e de ser incentivados a correr riscos; e os universitários e investiga- da concentração de recursos: tal exige um contexto institucional dinâmico Europeia que aspiram a desempenhar um papel activo na investigação. Em- dores precisam de compreender e desenvolver competências em empre- e flexível, aberto à mudança e aos novos actores, capaz de desenvolver tra- bora as situações não sejam inteiramente comparáveis, menos de 10% endedorismo. Uma cooperação mais intensa pode compensar a falta de balho interdisciplinar e transdisciplinar, bem com uma sinergia produtiva entre das instituições de ensino superior nos EUA conferem diplomas de massa crítica nas PME e despoletar o potencial positivo das PME em termos ensino, investigação e inovação. Este tipo de mudança ocorrerá cer- pósgraduação, sendo ainda menos as que afirmam ser universidades com de flexibilidade e criatividade. Os sectores do ensino público e privado têm tamente nas organizações existentes, mas terá de enfrentar a inércia e de- forte actividade de investigação2. Tendo em conta que, em comparação com um papel a desempenhar: as aquisições em matéria de investigação ino- morará muito tempo. É necessário reflectir novamente sobre uma forma de 66 torga Opinião colmatar o fosso entre ensino e sociedade que funcione como modelo de vas e produtivas do ponto de vista industrial. 3.1. Papel e missões do IET Em nossa opinião, as actividades referência capaz de inspirar e orientar a mudança a longo prazo. Neste · Representará uma concentração de recursos, que lhe permitirá igualar do EIT incluiriam os três lados do triângulo do conhecimento: sentido, somos a favor de uma instituição única (o que não significa um sítio os mais exigentes padrões atingidos por outras instituições. Não terá a obri- · ensino: o modelo de educação distintivo do EIT atrairia mestrandos e único) e manifestamos a nossa preocupação relativamente ao facto de uma gação de adoptar medidas que não respeitem o critério de excelência. candidatos a doutoramentos, permitindo prestarlhes um ensino compatível rede fixa de universidades não oferecer nem a flexibilidade e abertura 3. Como funcionaria o IET? com os padrões internacionais mais elevados; exigidas, nem um nível de integração suficiente. Além disso, também não Em nossa opinião, o IET ocuparia uma posição única. O seu papel seria · investigação: o IET realizaria actividades de investigação, desde a in- reflecte o facto de a excelência se encontrar frequentemente em determina- diferente do de qualquer outra iniciativa comunitária em vigor. Tornarseia vestigação básica à aplicada, prestando particular atenção à indústria e dos departamentos ou equipas e não nas universidades, na sua totalidade. num centro de excelência global de elevada visibilidade, capaz de atrair concentrandose nos domínios interdisciplinares ou transdisciplinares Neste sentido entendemos que o modelo para o IET deve responder à estudantes e investigadores de grande valor, promover a inovação de pon- com forte potencial inovador; · inovação: o IET desenvolveria, seguinte preocupação: permitir a formação das melhores equipas em do- ta e a investigação interdisciplinar e transdisciplinar, e mobilizar financia- desde o início, ligações estreitas com a comunidade empresarial, a fim de mínios estratégicos, de acordo com modalidades que beneficiem tanto as mento competitivo dos sectores público e privado em todo o mundo. garantir a adequação do seu trabalho às necessidades do mercado e facili- equipas como as suas instituições de origem. Deste modo estamos em crer, Para alcançar este objectivo, o IET deverá ter uma identidade forte deven- tar a orientação das suas actividades de investigação e educação em direc- o Instituto constituirá um valor acrescentado, em particular no que diz res- do tornarse numa marca europeia clara e visível e ser reconhecido como ções úteis para a economia e a sociedade. peito a três pontos: · Proporcionará ao sector privado parceiro de pleno direito no cenário global. O IET terá igualmente de ser Em todos estes domínios, o IET tiraria partido da excelência já existen- uma relação nova com o ensino e a investigação, criando novas oportuni- autónomo: em termos de gestão, da primazia atribuída à excelência no te e estamos em crer, encorajaria o seu desenvolvimento onde ela não exis- dades para a comercialização da investigação, e uma intensificação dos âmbito dos seus processos de selecção, controlo e avaliação, e do seu fi- tisse. Os diferentes actores no IET de- intercâmbios nos dois sentidos. A integração de universidades, institutos nanciamento. Neste sentido entendemos que a sempenhariam, todos eles, um papel neste contexto. superiores, centros de investigação e empresas constituirá uma vantagem missão do IET seria: · Desenvolver estudos de pósgra- · Actualmente, são muito poucas as universidades na Europa que se- relativamente às universidades tradicionais. Criará igualmente oportunida- duação, investigação e inovação em domínios interdisciplinares e transdis- jam excelentes em todas as áreas. No entanto, muitos departamentos ou des de atrair financiamento privado para o IET. ciplinares emergentes; · Desenvolver competências de equipas são reconhecidos, a título individual, pela sua excelência nos res- · Concentrar-se-á na conjugação dos três lados do triângulo do conhe- gestão da investigação e da inovação; · Atrair os melhores investigadores pectivos domínios. Ao reunir estes departamentos e equipas, o IET liberta- cimento ensino, investigação e inovação ficando estes indissociavelmente e estudantes em todo o mundo; · Disseminar novos modelos orga- ria o seu potencial. A participação no IET processarseia, por conseguinte, a ligados graças à natureza do IET e à conjugação dos seus parceiros. As nizacionais e de gestão e · Apor na paisagem do ensino uma nível departamental e não universitário. suas actividades de ensino e investigação orientarseão em direcções no- identidade europeia nova. · No que diz respeito ao pessoal, a excelência dos resultados não torga 67 Opinião é, frequentemente, o factor decisivo que determina as perspectivas de re- enquanto nova estrutura organizacional de êxito para as universidades. O seu objectivo não deverá ser representar as instituições europeias muneração ou promoção das pessoas que trabalham nas universidades ou 3.2. Estrutura do IET O coração científico do IET seria existentes. Antes deverá estar organizado de modo a garantir um equilíbrio nos centros de investigação. O IET deverá criar um contexto em que a ex- constituído pelo seu trabalho nos domínios do ensino, da investigação e em termos das experiências representadas e a ser operacional em termos celência seja realmente a força motriz, em que os incentivos correspondam da inovação, e pela sua capacidade para integrar contribuições de parcei- de funcionamento. Entendemos concretamente que poderia ser directa- aos objectivos, a remuneração se baseie no desempenho, constituindo as- ros diferentes numa estrutura única, maior que a soma das suas partes. mente responsável por: – fixar as prioridades estratégicas sim um parceiro mais eficaz para indústria e um modelo de evolução. Para tal, constituiria uma série de parcerias integradas com universidades do IET; – gerir o orçamento central e afec- · Em muitas empresas, particularmente nas PME, não existe uma cola- existentes, centros de investigação ou empresas (“organizações parceiras”), tar recursos às comunidades de ensino; boração organizada com as universidades e a investigação, pelo que em- criando “comunidades de ensino” seleccionadas pelo conselho directivo – assegurar a excelência no IET e – organizar a selecção, o controlo presários e investigadores não partilham da mesma cultura. Em nossa opi- do IET que responderiam perante ele. Uma diferença fundamental entre as e a avaliação das comunidades de ensino; nião, o IET deverá criar um contexto que permita a aproximação e o desen- “redes” normais e estas comunidades de ensino é que, enquanto no caso das 3.2.2. As comunidades de ensino As comunidades de ensino deve- volvimento da compreensão entre ambos. primeiras, os parceiros acordam apenas numa cooperação, nas comunida- rão ser compostas por departamentos ou equipas de universidades, de insti- Esta tónica na excelência exige uma abordagem nova do financiamen- des de ensino do IET, os parceiros afectariam recursos infraestrutura, pesso- tutos, de centros de investigação ou empresas reunidas numa parceria in- to. Hoje em dia, muitas universidades na Europa são, essencialmente, servi- al e equipamento ao IET. Do ponto de vista jurídico, somos da opinião que tegrada a fim de realizarem em conjunto estudos de pósgraduação (ou ços públicos; financiados sobretudo pelos contribuintes, envolvem, em ge- as comunidades de ensino deveriam fazer parte do IET. seja, apenas mestrados e doutoramentos), investigação e inovação. ral, um investimento financeiro limitado de outros intervenientes. Apesar de 3.2.1. O conselho directivo e núcleo central do IET Reunirão recursos de diferentes tipos: pessoal e infraestrutura afectados às estas universidades terem feito prova do seu valor e continuarem a desem- Neste sentido entendemos que o IET deve ser gerido com uma mão si- comunidades de conhecimento pelas organizações parceiras, e recursos fi- penhar o seu papel, estamos em crer que o IET deveria ser claramente dife- multaneamente suave e segura. O conselho directivo será responsável nanceiros provenientes de fontes públicas e privadas. Utilizarão esses re- rente: desde o seu início, deveria ser concebido para receber financiamen- pela “marca” IET – garantindo que as escolhas efectuadas (por exemplo, re- cursos para criar uma massa crítica de nível elevado e reunir casos de exce- to tanto do sector público como do sector privado. lativamente aos domínios de trabalho) correspondem à melhor perspectiva lência em ensino, investigação e inovação nos seus domínios respectivos. Essa base de apoio será determinante para os dois factores que irão disponível sobre a ciência e as empresas; que as selecções são baseadas Os recursos físicos continuariam geograficamente dispersos, mas a comu- condicionar o êxito do IET. Em primeiro lugar, a sua capacidade para con- na qualidade; e que o seu programa científico e empresarial é amplamente nidade de conhecimento funcionaria como um todo integrado. vencer o sector privado de que é capaz de produzir resultados comercialmente aceite. O conselho directivo deverá ser do mais alto nível e os seus membros As comunidades de conhecimento especializar-se-iam em domínios importantes. Em segundo lugar, o grau de adesão das universidades e dos deverão ser seleccionados entre os actores mencionados na secção 3.1. transdisciplinares, como a mecatrónica ou a bioinformática, ou em domínios decisores políticos ao modelo do IET supra. interdisciplinares como a energia ecológica, as alterações climáticas, a ino- 68 torga Opinião vação ecológica ou o envelhecimento da população. Estes domínios revelam quando tal for determinado pela sua procura de excelência. plo de formação ou investigação, com empresas privadas. Por último, o IET o maior potencial de inovação e desenvolvimento (em ensino e investiga- Em todas as fases, o conselho directivo supervisionaria o controlo e poderia criar uma fundação privada que recolhesse fundos junto de patro- ção) e, além disso, afastam-se da estrutura e dos currículos tradicionais a avaliação das comunidades de ensino de acordo com parâmetros de re- cinadores ou outras fundações. Sabemos que o instrumento jurídi- normalmente propostos pelas universidades na Europa. ferência precisos. co que cria o IET deve ser adoptado, o mais tardar, em 2008. Mais tarde, será Somos da opinião que as comunidades de conhecimento seriam selec- 3.3. Questões jurídicas A criação do IET exigirá em nossa designado um conselho directivo, juntamente com os primeiros membros do cionadas pelo conselho directivo do IET, no seguimento de um processo opinião, a adopção de um instrumento jurídico, que a Comissão Europeia terá pessoal. A primeira identificação das comunidades de conhecimento deve- competitivo baseado numa avaliação pelos pares, destinada a identificar o que propor no final deste ano. Acreditamos que esse instrumento jurídico rá ocorrer em seguida, até 2009, para que as grandes despesas iniciais se potencial de cada parceria proposta para produzir resultados no seu domí- criará o IET, estabelecerá os seus objectivos e definirá as disposições realizem até 2010. Seria conveniente portanto começar, inicialmente, com nio, a médio prazo (10 a 15 anos). Uma vez seleccionada, cada comunidade operacionais necessárias. um pequeno número de comunidades de ensino. de conhecimento acordaria com o conselho directivo objectivos e parâmetros 3.4. Orçamento As despesas principais do IET es- O calendário supra sugere que o financiamento necessário ao IET se precisos relativamente aos três lados do triângulo do conhecimento no seu tarão relacionadas com as suas comunidades de ensino. O financiamento concentrará no final das próximas perspectivas financeiras, e que este será domínio; um controlo e uma avaliação regulares assegurariam que estes es- necessário para o conselho directivo e núcleo central seria relativamente limitado. Pelo que, quando submeter a sua proposta jurídica, a Comissão tavam a ser respeitados. Ao longo da sua existência, a co- reduzido, já que a sua estrutura permaneceria ligeira. Embora, inicialmen- Europeia apresentará um anexo financeiro pormenorizado expondo o volu- munidade de ensino poderá desenvolverse de diversas formas: o siste- te, seja necessário um financiamento público substancial de base, à medida me, a natureza e as origens do financiamento total necessário, incluindo o ma terá de ser flexível. A comunidade poderá necessitar de capacidades que as comunidades de ensino se desenvolverem, entendemos que o IET financiamento proveniente de fontes nacionais ou privadas da União. adicionais, talvez devido ao facto de os domínios de trabalho terem de evo- deveria obter fundos provenientes de outras fontes de financiamento comu- 4. luir e a entrada de parceiros novos trazer uma excelência adicional, ou tal- nitárias e nacionais competitivas, bem como de empresas, fundações, hono- parceiros da sua participação no IET? vez porque o número de estudantes tenha aumentado para além dos seus rários, etc.. Atrair financiamento adicional seria um objectivo, assinalado É razoável indagar se os incentivos à participação serão suficientes. recursos. A comunidade de ensino poderá igualmente diversificar as suas com parâmetros, em todos os acordos entre o IET e as parcerias de ensino O objectivo é que os parceiros potenciais afectem as suas melhores equi- actividades, devido ao facto de a evolução dos trabalhos ter tomado um comunitárias. O IET poderia atrair fundos priva- pas e os seus melhores departamentos ao IET: quais serão as suas vanta- rumo inesperado. As comunidades de ensino deverão permanecer dinâmi- dos de três formas. Em primeiro lugar, as empresas privadas que fazem par- gens e o que obterão eles em compensação? cas e o IET deveria poder responder à evolução científica nos moldes que te das comunidades de ensino afectariam recursos ao IET desde o início, As vantagens deste “investimento” serão diferentes consoante os parcei- entender mais apropriados, nomeadamente permitindo mudanças de par- como os demais parceiros. Em segundo lugar, as comunidades de ensino ros e as pessoas envolvidos. No caso dos investigadores e pedagogos, a ceria, ajustando disposições financeiras ou afectando fundos adicionais que se distinguissem pela sua excelência obteriam contratos, por exem- experiência mostra que os melhores investigadores e pedagogos são atra- Que vantagens aufeririam os torga 69 Opinião ídos pela independência que caracteriza a investigação, por perspectivas aptos a contribuir, embora de forma menos directa, para o trabalho singularidade relativamente a todas as demais iniciativas comunitárias. En- de carreira promissoras, salários elevados e condições de trabalho interes- académico, como teria também recursos adicionais que poderiam ser quanto os programas existentes se concentram em cada um dos lados do santes. Assim, as vantagens poderiam ser financeiras, decorrer da ausên- reafectados ou utilizados para desenvolver capacidades); triângulo do conhecimento (o programa Erasmus, na educação; os progra- cia de burocracia ou da excelente qualidade das instalações de trabalho. In- – dinâmica de mudança, uma vez que o IET mostrará aos parceiros no- mas-quadro, na investigação; e o programa de inovação comunitário, nas cluiriam ainda a possibilidade de se associarem aos melhores investigado- vas formas de trabalhar; – benefícios locais, uma vez que os actividades relacionadas com a inovação), o IET adoptará uma abordagem res e empresas no respectivo domínio, na Europa, e o consequente aumento intervenientes locais (administrações regionais e empresas) considerarão prática que conjugará estes três elementos, criando sinergias entre eles. de visibilidade académica. No caso das organizações parcei- prestigiosa a participação no IET enquanto oportunidade para promover os Acreditamos que o IET será um operador do conhecimento e não uma ras na investigação e no ensino, pensamos que existem diversas vanta- programas locais em matéria de conhecimento e incentivar uma coope- agência de financiamento. Realizará actividades com incidência nos três gens potenciais: – visibilidade e imagem: o fac- ração mais estreita com a universidade ou empresa em questão. lados do triângulo do conhecimento ensinará, investigará e tentará aplicar to de contribuir com uma equipa para o IET será um sinal de excelência que Quanto ao sector privado, existe a possibilidade de influenciar a orienta- os resultados dessa investigação a fins comerciais ou sociais. Neste ponto re- facilitará o recrutamento de outros universitários, cientistas e estudantes e ção da investigação de ponta e da inovação para daí obter vantagens comer- side a verdadeira diferença relativamente às actividades realizadas no constituirá um elemento de valorização perante as empresas; ciais – beneficiando de uma posição inicial privilegiada, com a garantia de âmbito dos programas nos domínios do ensino, investigação ou inovação, – relação privilegiada com os melhores trabalhos desenvolvidos na poder explorar os resultados mais tarde. Além disso, a relação permanente em que a Comissão distribui essencialmente fundos destinados às várias Europa num determinado domínio e acesso dos estudantes e investigado- com o IET, nomeadamente com as suas comunidades de ensino permitiria o actividades previstas. Assim, o IET virá complementar res às mentes mais brilhantes, ao melhor ensino, à melhor formação e à acesso directo a um centro de excelência único, bem como ao prestígio e estas actividades de financiamento. Poderá desenvolver sinergias, em par- melhor investigação – bem como às recompensas adicionais que o seu ao potencial de recrutamento daí decorrentes. ticular com o Conselho Europeu de Investigação. O CEI é um mecanismo desempenho no IET poderá proporcionar; 5. Relação com outras actividades de financiamento que não realizará investigação. Financiará projectos de – efeitos colaterais no ensino, tanto directos (impacto em trabalhos comunitárias de ensino, investigação e inovação investigação de ponta realizados pelas diversas equipas; estará aberto a conexos que permanecerão na organização parceira) como indirectos A União Europeia organiza diversas actividades nos domínios do ensi- todos os domínios científicos, utilizando essencialmente uma abordagem (através do acesso ao conhecimento mais avançado no domínio); no, da investigação e da inovação mas o IET ocupará em nossa opinião um ascendente. O IET, enquanto instituição que desenvolve a sua actividade – incentivos financeiros: o IET poderá investir no desenvolvimento da espaço completamente diferente. Em primeiro lugar, o perfil de excelência nos domínios do ensino, investigação e inovação numa base interdisciplinar capacidade das organizações parceiras, a fim de as auxiliar a reconstituir europeia desenvolvido pelo IET enquanto organismo permanente será e transdisciplinar, concedendo especial atenção aos resultados econó- os recursos afectados ao IET (assim, uma universidade parceira não só único. Acresce que a combinação entre ensino, investigação e inovação, e micos e sociais, presta uma contribuição de carácter operacional, que está manteria os seus antigos departamento ou equipa fisicamente presentes e a ligação privilegiada com a comunidade empresarial assegurarão a sua ausente no CEI. O IET em nossa opinião poderia até apresentar um pedi- 70 torga Opinião do de financiamento ao CEI (e a todos os outros regimes de financiamento). çoar as capacidades de gestão da ciência e da investigação, dessa forma Existe igualmente uma diferença fundamental entre as comunidades de melhorando o processo de integração europeu. Pode representar um desa- ensino e as demais redes na Europa, criadas com o apoio comunitário como fio para os melhores licenciados e doutorandos europeus e não europeus, as redes de excelência, ao abrigo do 6.º Programa Quadro. Enquanto as tornando a União num pólo de atracção de inteligências. redes de excelência implicam a integração das capacidades de inves- Pensamos que o ensino na Europa não irá adquirir credibilidade nos tigação de um certo número de universidades, institutos e outras instituições domínios universitários e da investigação de um dia para o outro. Terá de de investigação, o IET exige um nível de integração muito mais aprofundado, ganhar essa credibilidade; tudo dependerá da qualidade da sua gestão, quer em termos de capacidade de investigação quer em termos da capaci- do seu pessoal científico e docente e das suas realizações e resultados, as- dade de ensino. No caso do IET, as instituições e empresas envolvidas sim como da sua capacidade para obter apoio fora do mundo universitário. nas comunidades de ensino terão de afectar recursos ao IET: esses recur- Acreditamos por isso que um sistema estruturado de acordo com o exposto sos deixarão de pertencer à sua organização de origem e tornarseão, do no presente artigo de opinião poderá representar um valor acrescentado ponto de vista jurídico, parte do IET. O pessoal de uma comunidade de ensi- importante, no âmbito dos esforços desenvolvidos para reforçar e fomen- no estará sujeito a uma gestão comum e a um processo de avaliação sob a tar o ensino no espaço europeu. 1 A Europa precisa de reforçar a sua presença no nível mais elevado de excelência científica. Por exemplo, de acordo com a Shanghai Academic Ranking, uma classificação mundial das universidades, embora 205 das 500 melhores universidades a nível mundial se encontrem na Europa (em comparação com 198 nos EUA), apenas 2 fazem parte da lista das 20 primeiras (contra 17 nos EUA). 2 Em cerca de 3 300 organismos que conferem diplomas nos EUA, cerca de 215 concedem diplomas de pós- graduação. Existem menos de 100 universidades reconhecidas como universidades com forte actividade de investigação geral nos EUA. 3 Em 2005, a intensidade de I&D comunitária era 1,90% (despesa em I&D/PIB), muito abaixo dos EUA (2004: 2,59%) e do Japão (2004: 3,15%). 4 Nos EUA, 95% do financiamento federal afectado à investigação universitária são gastos em quase 200 universidades num total de 3 300 (“S&E Indicators”, National Science Foundation, 2005). 5 A Europa tira menos benefícios da crescente globalização de I&D que os seus concorrentes principais. Entre 1997 e 2002, as despesas das empresas da União em I&D nos EUA aumentaram em termos reais muito mais rapidamente que as despesas das empresas dos EUA em I&D na União (+ 54% contra + 38%). Os países emergentes como a Índia e a China são os que mais beneficiam dos fluxos de saída de I&D dos EUA. 6 Esse fosso é visível na diferença entre o número de investigadores empregados no sector privado da UE e noutros locais do mundo. Nos EUA, quatro em cada cinco investigadores trabalham nos sectores empresariais; no Japão, essa relação é de dois em cada três investigadores. Na UE, apenas menos de metade de todos os investigadores trabalha nos sectores empresariais. direcção do IET baseado no desempenho. 6. Conclusão O programa para a modernização do ensino, enquanto realidade indissociável da investigação e da inovação no âmbito das universidades, institutos e centros de investigação europeus tem hoje boa aceitação. No entanto, é necessário impulsionar iniciativas para acelerar o progresso. A estratégia integral de reforço da competitividade da Europa no que diz respeito ao triângulo do conhecimento não se poderá reduzir ao ensino isoladamente; mas o seu papel pode ser importante. Pode constituir um modelo de excelência de elevado nível, respondendo à diversidade própria da Europa; pode contribuir para aperfei- torga 71 Opinião O Ensino: uma questão de afectos Maria Pinto Docente do ISMT Muitos são os pensamentos que me vão de total obediência, de ordem, de um Era, pois, importante, ensinar as cri- surgindo sempre que reflicto sobre o percurso da minha vida profissional. silêncio ensurdecedor. Como se sabe, o ensino é – e sem- anças a não pensar, a não ter vontade própria. A aprender, desde cedo, a Quando menos espero, vejo-me mergulhada no passado. No meu pas- pre será – um espelho do aparelho político vigente. Existe uma estreita obedecer…sem perceber. A engrossar as fileiras de uma cidadania passiva, apáti- sado como aluna. Com o objectivo de compreender melhor o meu presente relação entre ensino, política, e sociedade. Durante o Estado Novo, a esco- ca, alheada dos valores e da importância da vontade humana individual. como educadora. Esta viagem no tempo leva-me aos la foi deliberadamente utilizada para veicular os objectivos do poder. Exal- Por outro lado, todo o sistema escolar era profundamente discrimina- bancos da escola primária, no início dos anos setenta, já na fase final da tava-se o ultra-patriotismo, assim como os ideais de pobreza e ruralidade. tório, segundo “as divisões naturais” da sociedade. A co-educação deixou ditadura. Recordo com toda a nitidez a mi- Considerava-se que o cumprimento da escolaridade mínima seria mais do que de existir. Rapazes e raparigas eram educados em escolas diferentes para nha sala de aula. Um conjunto de carteiras alinhadas e aparafusadas ao suficiente. Tudo isto era uma forma de abafar as vozes discordantes e de cri- virem a ocupar, no futuro, funções e espaços também diferentes. chão. Num plano mais elevado, por cima de um estrado, a secretária da ar uma alma nacional, submissa ao poder estabelecido. No contexto do Estado Novo, a harmonia social só era conseguida “colo- professora. Sobre a secretária, a régua, a cana, as orelhas de burro. A As ideias de “cultura” e “alfabetização” eram consideradas altamente cando cada um no seu lugar”. Seguindo esta linha de raciocínio, há que re- luminosidade não é grande, mas permite realçar, na parede, as figuras de perigosas, como se demonstra no artigo “Educar e Instruir” publicado no jor- ferir que grande parte das crianças não tinha hipótese de prosseguir os Marcelo Caetano e de Américo Tomás, ladeando um crucifixo. nal “A Voz”, em 1927, da autoria do escritor Alfredo Pimenta: seus estudos. Era o próprio Estado que as rotulava de “ineducáveis” e de “nor- Não me lembro das aulas. Não me lembro do exacto momento em que “Foi o querer saber que fez mais estúpidas”, não carecendo, por isso, de estudos complementares. aprendi a ler e a escrever. Mas vemme, com frequência, à memória, um o homem pecar… Insisto: não preconizo o analfabe- Para essas crianças bastavam os chamados postos de ensino, autênticos emaranhado de sensações: a angústia de ir para a escola, a rigidez dos tismo sistemático; digo que a Instrução é um ins- casebres de madeira, sem quaisquer condições, tutelados por regentes ab- métodos de ensino e a grande desigualdade no que respeita ao tratamen- trumento perigoso que não pode andar em todas solutamente desqualificados, com uma enorme dose de severidade e, muitas to dos alunos. Sem dúvida que a escola do Estado Novo se pautava pelo as mãos. Como um explosivo. Como um veneno. Só vezes, de brutalidade. Perante este ambiente de total va- autoritarismo e por um tipo de relação humana profundamente hierar- num carácter são, ela é útil, ou pelo menos, ino- zio emocional, apetece perguntar: “Professor, porque me castigas? Por- quizado. O ambiente que se vivia era fensiva…” que não me ensinas?” 72 torga Opinião Voltando à minha infância, e à minha escola, terei de salientar que ape- mental do professor em todo o processo de ensino/aprendizagem. sonho certamente se iria tornar realidade. sar de tudo, fui uma criança bafejada pela sorte. A cana e a régua quase Quem aceita a missão de ensinar deve, antes de mais, ajudar a formar Passados alguns dias, este aluno trouxe para a aula um roteiro turístico nunca me tocaram. No entanto, desde muito cedo que os métodos de ensino caracteres e consciencializar-se de que cada ser humano que passa por de visita a Auschwitz. Lembro-me que lhe dei força para prosseguir em di- autoritários, arbitrários e violentos me causaram uma profunda revolta. Des- uma sala de aula levará consigo, para sempre, a imagem do seu professor. recção ao seu sonho. A conversa passou. O ano lectivo de pequena que sentia a falta daquele magnetismo, daquela relação quase Os profissionais do ensino são, essencialmente, agentes construtores de terminou. Chegou o período de férias. Em Outubro, reencontrei o André, mágica que se pode e deve estabelecer entre professor e aluno. É algo por saberes e de afectos. Como dizia o grande mestre Agostinho da Silva, que me ofereceu um envelope. Quando o abri, vi que o seu conteúdo in- vezes invisível. Mas que existe. Até nos silêncios. “professor é o que sabe e o que ama”. O professor necessita de conhecer cluía uma série de fotografias de Auschwitz (tiradas pelo seu primo Foi preciso chegar à 4ª classe, meses antes da Revolução de Abril, as necessidades dos seus alunos, quer as do domínio cognitivo, quer as do Nuno, ex-aluno do ISMT), acompanhadas de um texto. Texto que considerei para que o Sol despontasse. A porta da sala de aula abriu-se e entrou a foro afectivo. É óbvio que esta tarefa não se afigura fácil num sistema de de uma enorme beleza. Dele ressaltavam as emoções sentidas naquele lo- nova professora, recém-colocada na escola. A professora Lídia. Ao mesmo educação massivo como se apresenta o nosso, hoje em dia. Mas é preciso cal de horror, onde, nesse “final de tarde, nem a chuva se dignara a cair, ape- tempo que a porta se abria, abria-se também o seu sorriso. Um sorriso estarmos atentos às fragilidades, às fortalezas e também aos sonhos dos sar do triste olhar do céu”. Onde só mais tarde, perante os vestígios dei- contagiante. Hoje, pensando nela, sei que o que a diferenciava era precisa- nossos educandos. Por falar em sonhos, não posso xados por anos seguidos de tortura, “finalmente começou a chover. Mas a mente o afecto, a doçura com que nos tratava. As suas aulas, recordá-las-ei deixar passar em claro uma experiência que, no passado ano lectivo, me água não caía lá fora… Era salgada e percorria o rosto de muitos visitantes”. para sempre! Era uma professora exigente, ensinando-nos que estudar re- marcou profundamente. Numa das disciplinas que lecciono (História Con- Depois de ler este texto, imbuído de uma sensibilidade rara, também eu quer esforço. E era também um poço de afectos e de sensibilidade. Por ve- temporânea), entre outros conteúdos programáticos, abordo a temática das me senti profundamente motivada a rumar em direcção a Auschwitz. zes, olhando para ela durante a aula, pensava que era assim que eu quere- ditaduras fascistas, dando particular realce à barbaridade do regime nazi. Para mim, o ensino é uma troca, uma partilha de vivências entre alunos ria ser um dia, se viesse a ser professora. À medida que as aulas foram decorrendo, apercebi-me do interesse que e professores. É, no fundo, um processo de aprendizagens e de empatias. E de facto, volvidos alguns anos, iniciei-me na difícil arte de ensinar. Mas este tema suscitava nos alunos em geral e, em particular, no André. Este Um processo muitas vezes penoso e que comporta inúmeras insatisfações. com a possibilidade de exercer a minha profissão em liberdade. A experi- aluno sorvia os saberes que lhe eram ministrados. Emocionava-se com as Mas a vida é assim mesmo! Vai sendo construída através de avanços ência que fui adquirindo ao longo dos anos, permitiu-me retirar algumas con- imagens que eram projectadas. Quase no final do ano, ao terminar uma e recuos. De momentos de plenitude e de momentos de frustração. clusões acerca dos métodos de ensino. Permitiu-me aliar a tradição à ino- aula, o André acercou-se de mim e disse: “Professora, tenho um sonho! Gos- O André concretizou um dos seus sonhos. E eu senti-me recompensa- vação. Tradição que, segundo penso, deve funcionar como suporte, como taria imenso de visitar o Campo de Concentração de Auschwitz! Pressin- da. Fui presenteada. Fiquei em paz. base de sustentação dos métodos mais inovadores. Sempre pensando to que me iria emocionar… e aprender!” no exemplo da professora Lídia, fui tomando consciência do papel funda- Na altura, eu disse-lhe que havia visitas guiadas a este local e que esse torga 73 Opinião Aprender pela experiência – a Ética como disciplina no Ensino Superior Michael Knoch Docente do ISMT O ensino de uma disciplina como a Ética coloca ao professor, e igualmente aos estudantes, desafios de vária ordem. Os estudantes, de início, têm frequentemente a expectativa de receber umas “dicas”: regras, normas e conselhos para a conduta profissional e também para a sua vida. Por um lado, querem saber o que devem fazer, mas, por outro lado, sentem, não raramente, um mal-estar suspeitando o peso do moralismo inerente à disciplina. Dizem: “Conselhos morais já ouvimos muitos”, mas já se sabe que na vida real o proceder é outro. Aí, cada um, luta pelo seu lugar como pode. Por isso o ensino perderia o seu sentido, se fosse uma mera transmissão de “matéria” sem ligação com a vida dos que estão aprender. Até que podemos colocar a questão de Platão se uma Ética é algo que é “ensinável”! A bondade parece impossível de ser ensinada, por exemplo, apesar de ser isto que os adultos requerem dos jovens! No entanto, quando perguntamos a eles a sua ética pessoal – partindo da suposição que cada um de nós é um Ser moral - costumam relatar a sua vida, onde está inscrita um comportamento e uma postura moral exigida que declararam lhes ser incutido pela “educação”, seja esta mais branda ou autoritária. O que a sociedade exige, e onde pune as transgressões, é o “Certo” e o “Errado”. Assim falam sobre a ética de um modo distanciado; a ética parece-lhes uma im- 74 torga posição, seja dos pais ou das outras figuras mercantes da infância, seja particularmente desta sociedade, que nos impõe as suas regras, punindo a quem não as cumpre, pelo menos a quem não mantém as aparências. Immanuel Kant, o fundador da Ética moderna, forjou para esta prática o termo heteronomia: Uma moral alheia ao Homem, que parte de valores superiores e que pesam sobre ele, constituindo uma certa herança de submissão à autoridade, mas de um distanciamento interno. Às vezes parece que o indivíduo não se empenha, mas se desenvencilha, procurando a sua sobrevivência pessoal, em vez do empenho social e institucional. Evidentemente, autoritarismo e dogmatismo não deixam espaço para o diálogo. Será a Ética assim? Ao contrário disso, a Ética moderna, desde o século XVI, tem como funda-mento a liberdade – e esta liberdade necessita de se ensinada a quem não a conceptualiza ou viveu. O ensino da Ética como ensino da liberdade ou como ensino da obediência – eis a questão! Tentarei explicar: A Ética é uma disciplina de reflexão e não de memorização! E aí, as reacções são opostas: umas vezes “pensar dói”, como afirmou o psicanalista Bion, e outras vezes “pensar é o prazer mais barato”, como disse com certa ironia o dramaturgo Brecht. Eu diria que pensar pode provocar uma certa perturbação, especialmente na tradição de um ensino magistral e frontal, onde o professor “sabe” e o aluno decora, onde não há muita possibilidade para eles aprenderem a questionar. A Ética é uma disciplina transversal às disciplinas científicas e técnicas. A questão se a Ética é uma ciência é controversa. Pessoalmente, afirmo que não. Não estou interessado numa “ciência da moral” ou numa ética descritiva, onde a moral não costuma ser mais do que um “mix” de costumes, tradição, normatividade social e aceitação, as vezes, cega de leis e ordens. Não, a Ética é uma disciplina que no seu centro, debruça-se sobre o agir humano e se reflecte sobre as decisões que estamos a tomar em cada momento, sejam estas individuais, institucionais ou sociais. A nossa forma de viver moralmente, podemos definir como atitude fundamental + racionalidade (ciência) + agir”. Sob o primado da acção, o sujeito da Ética encontra-se, ao contrário das ciências, puramente no futuro. No entanto, o futuro, apesar de todo o planeamento, é uma vertente vivida, aberta e contingente. Não o controlamos, embora o vivamos e criemos a todo o momento. Isto quer dizer, uma Ética moderna não pode partir de uma estabilidade eterna social ou institucional, por mais desejáveis que fossem. Abrange dimensões como o conflito, a discussão controversa, o empenho pessoal, a di- Opinião mensão crítica e autocrítica, que requerem um exame de consciência mais do que a atribuição de culpas aos que falharem. Por isso, a Ética, não pode ser dogmática, mas será uma busca racional e intercomunicável de quem tem que agir num campo aberto. Então também o ensino dela tem inerente uma estrutura dialogante. Escrevi uma vez, num texto sobre deontologia, que a Ética deve ser capaz de nos dar critérios, quando nos temos de opor à lei ou a uma regra – evidentemente, não para usufruirmos de uma vantagem, mas para a subsistência do nosso cliente. Falo da desobediência civil (John Rawls) e cívica. Ou seja, a Ética requer coragem – e gostava de estimular nos alunos a coragem de tomarem as suas próprias decisões, mesmo se estas forem incómodas. Uma atitude que Kant chama autonomia1. Como fazer então do campo da Ética um ensino estruturado? Vejo três dimensões pedagógicas e educativas: Não haverá ensino da Ética sem uma dimensão pessoal, eminentemente ligada à vida, transformando vivências em experiência, quando somos capaz de agir e reagir através de uma aprendizagem existencial e racional. Usando o título do célebre livro de Bion, “Aprender pela experiência”, refiro-me ao “olhar para dentro” da Ética. Convido os alunos de elaborar um texto “A minha ética” que evidentemente não é possível de avaliação. O insight pessoal dos alunos revelou-se na prática do ensino, a meu ver, muito mais fácil do que imaginei – os alunos são abertos e têm todos uma vida a contar. A impressão é errada que são mais os professores que se escondem como pessoas, atrás do conhecimento e da matéria? Mas isto exige três coisas : a) a presença do aluno na aula, porque não é fácil incluir a experiência viva sem um processo de diálogo oral. Tenho consciência que isto pode criar dificuldades aos estudantes trabalhadores, mas por outro lado, na minha experiência, são eles, quando estão presentes, que intervêm mais, porque já viveram e sofreram mais! Talvez valha a pena esclarecer que a “liberdade académica” não é a liberdade do aluno de faltar às aulas quando quiser, mas a liberdade do professor para escolher a matéria, responsável sobre o conteúdo da disciplina meramente de acordo com a sua consciência; b) admitir que a Ética moderna começa com um momento de «nãosaber», um «momento socrático » quando saímos das certezas até aqui superiores e inquestionáveis para entrar numa reflexão racional. Não é que a racionalidade seja o fundamento da Ética, o agir depende da boa vontade (Kant), de uma dimensão pessoal, onde a própria pessoa é a sua Ética, identificando-se com ela. Mas a racionalidade é o único instrumento que temos, senão ficamos presos a preconceitos; c) o ensino de uma dimensão do interior humano: criar esta dimensão não é fácil para ninguém, porque exige uma certa atitude reflexiva até um insight especulativo ou criativo que, lamentavelmente, não faz muito parte da formação escolar. No entanto, a Ética moderna não pode simplesmente impor regras e leis de cima para baixo. Quer preparar o aluno para a participação na construção racional das mesmas, não tanto por decreto ou (micro) poder, mas pelo nosso agir. Chamamos a isso, hoje, responsabilidade. Falo da uma responsabilidade de uma pessoa adulta que é capaz de dar sem procurar logo a vantagem própria. É uma responsabilidade longe da inveja ou do espírito do castigo, mas gosta dos outros, e não sente a “sociedade” ou a totalidade da vida como ameaçadora ou simplesmente “má”. 2 Kant quis dizer isso, quando desenvolveu os conceitos de autonomia (que é diferente da autocracia e da independência dos outros) e do imperativo categórico (que não pretende ser um mandamento rígido imposto, mas uma invocação radical do altruísmo). Este imperativo kantiano só inclui a humanidade e a universalidade, por isso tem que ser abstracto, sem receita do que fazer em tal e tal situação concreta. Assim, o ensino da ética kantiana é quer tirar as pessoas da dependência geral, onde se sentem laçados por todo o lado. Evidentemente, isto não é fácil, nem para quem aprende, nem para quem ensina. O momento de fazer luz, de ter um insight sobre si próprio, no fundo, é algo de não-dito em tantas palavras do ensino. Tanto maior é alegria, quando acontece! E acontece muito, mesmo que tenha vivenciado recentemente também a experiência da resistência contra o aprender pela experiência. Claro que, num ensino do século XXI, estas concepções de 200 anos necessitam de ser transformadas e actualizadas para a cosmovisão bastante mais complexa em que vivemos hoje. Enquanto Kant perguntou: O que é que devo fazer? Perguntamos hoje: Como me oriento num mundo não só mais complexo, mas também mais contraditório? (W. Schmid, 1998). Ou seja: Temos que iniciar no ensino uma procura do savoir vivre. Assim, não defendemos uma mera recitação do pensamento de um autor clássico. Sabemos, porém, que não é fácil assumir uma responsabilidade que não guiada por qualquer autoridade. Confesso que até pode ser um choque para alunos que cresceram num sistema escolar que funciona ainda muito na repetição exacta dos conceitos e até das palavras do professor, para “não falhar na perfeição” ou “na nitidez dos concei- torga 75 Opinião tos científicos” (são citações de alunos e dos meus professores!). Com outras palavras: Não haverá ensino da Ética sem a célebre definição de Kant : “Ousa servir-te da tua própria razão!” Ainda junto uma mensagem importante: Apesar de a Ética, a partir de certa compreensão se poder tornar fácil e algo de evidente, não há estudo, nem da Ética, nem de uma disciplina científica sem leitura. Melhor dito, sem a capacidade de leitura. E refiro-me à leitura de livros, não de cadernos que contém o discurso oral do professor. O que exige a leitura de um livro ou de um artigo científico? Em primeiro lugar, uma capacidade de estar só e de abstracção das suas próprias preocupações e angústias, da inquietação subjacente, que caracteriza quase a maioria dos nossos alunos. Segundo, não há leitura sem curiosidade quase visceral de aprender, descobrir, imaginar, inventar, em suma investigar algo que nunca tínhamos pensado. Quem já sabe tudo, ou pior, já ouviu falar de tudo, já não se interessa por mais nada. Tudo já está digerido a partir das sebentas, para as desbobinar num exame – processo que transforma, emocionalmente, o conhecimento de algo de interessante em ameaça e chatice que “se deve estudar”! Assim não dá gozo nem insight! Penso que a perfeição que procuram os melhores alunos, torna-se um enorme obstáculo a uma aprendizagem aberta (sem saber já a solução do policial!), à leitura de um livro onde não é oferecido o resultado dos problemas em poucas palavras, mas onde se imerge num discurso, em que não se vislumbra logo a luz no fundo do túnel. Os nossos alunos, no 5º ano, parecem saber tudo: conhecem Kant, Max Weber, Bourdieu, Durkheim, a Fenomenologia, Freud, a Teoria Sistémica, a Planificação Experimental etc, mas não se confrontaram pes- 76 torga soalmente com estes ou outros autores, ou trabalharam nestes modelos. Recordo-me de um exame oral de alunos candidatos a uma nota de 18, que sabiam de Erving Goffman por várias cadeiras, mas ler um texto dele? Isso não foi requerido! Queria lembrar o provérbio: Menos teria sido mais! E queria perguntar: Quanto vale um pensamento próprio, mesmo se não for ortodoxo? Last but not least: Penso que também o ensino não seja possível sem a chamada comunidade de professores e estudantes, um ideal que não seja só a da minha juventude. A proximidade entre professores e alunos não deve provocar a angústia que os alunos perderem o respeito pelos professores, tal como às vezes o perdem para com os caloiros inexperientes. Refirome à Praxe – costume que choca, contendo uma forte componente sádica e de humilhação, concretamente dos que mereciam protecção! Ao ouvir a voz da Ética, podíamos perceber que a racionalidade vale mais do que a tradição, mesmo quando é a assim chamada tradição académica! Em vez disso ser comunidade universitária significa que haja um diálogo também fora das aulas e fora da matéria. Por exemplo, recordo-me de relatos de estudantes-trabalhadores sobre questões da vida e do trabalho deles e das suas famílias. Não sabia que há pais que contraem um empréstimo para financiar o curso da filha e quando ela chumbar no exame pode acarretar uma crise familiar! Nestes diálogos os alunos abriram-me os olhos para a dura realidade social, mas comecei a compreender também o que significa para eles estudar. Em suma: O ensino, e particularmente o ensino da Ética, não se desenrola num espaço estanque. Já disse que a Ética não é meramente individual. Quando começa a transformarse numa reflexão, aproxima-se da Éti- ca social e da Ética das instituições. Não pode ser uma admoestação de tipo: “Porta-te bem!”, mas uma atitude estruturada minha, relacionada com um Tu e com uma sociedade que será nossa. Falo do compromisso pessoal mútuo por acordo racional. Uma clarificação no fim: É a Ética que faz funcionar as instituições e não o Direito. O relacionamento entre Ética e Direito é um tema interessantíssimo, que implica temas “quentes” como por exemplo culpa e punição, a proibição e o protesto, mas também a BioÉtica ou Ética Económica. Gostava de abordar este assunto numa outra oportunidade. Digo só aqui: Enquanto o Direito reage post-factum, a Ética visa o futuro. O Direito e a punição não são nem um meio de educação, nem fazem funcionar os serviços, só são capazes de delimitar uma margem, enquanto no núcleo e centro das actividades humanas e da sociedade não se manda, mas se confia a estes que sabem voluntariamente assumir responsabilidades que também cumprem face à sua consciência. Quem constitui a vida social, são homens e mulheres que vivem e também sofrem, mas nisto decidem e actuam. Ver também os meus artigos: “A deontologia das Assistentes Sociais”, em INTERVENCÃO SOCIAL Nº 27; Lisboa, 2003 e “A necessidade da ética no ensino superior” em INTERACCÕES, Nº 7, Coimbra, 2004. 1 Refiro-me aqui a uma representação social que encontrei com bastante frequencia nos alunos: a “boa” família e a “má” sociedade! 2 Opinião De Bolonha ao Plano Tecnológico Paulo Gomes Engenheiro Informático, Departamento de Engenharia Informática da Universidade de Coimbra Bolonha está aí e as modificações mesmo estar em causa a sua sobrevi- implementação de novas pedagogias, exigidas às instituições de ensino superior constituem um desafio difícil mas vência. novos métodos de ensino mais adequados a cada uma das matérias interessante, que promete marcar o futuro do Ensino Superior Português. Mas O actual modelo de ensino muito baseado em aulas expositivas de gran- leccionadas. Mas para haver sucesso é necessário que alunos e professores será que todos os agentes envolvidos nesta mudança estão prontos? Esta é de audiência (as chamadas teóricas) não responde aos novos desafios, em estejam motivados para estas novas metodologias de ensino, sendo o pon- uma das grandes questões que se colocam ao ensino Universitário e especial ao desafio exigido aos professores, de captarem o interesse e moti- to fulcral para este sucesso uma mudança de mentalidades. Tanto de pro- Politécnico em Portugal. Para que esta (r)evolução tenha sucesso todos os vação dos alunos. Os estímulos externos a que os alunos estão sujeitos, des- fessores, através do repensar das metodologias de ensino para cadeiras agentes envolvidos: alunos, docentes, instituições de ensino e órgãos gover- de as ferramentas de comunicação da Internet até aos jogos electrónicos, con- que leccionam e de novas dinâmicas dentro das aulas. Como dos alunos que namentais, têm que estar motivados, o que para já, parece-me não estar a somem-lhes cada vez mais tempo indispensável para o estudo. É preciso precisam de ganhar consciência que fazer um curso não é só fazer cadeiras, acontecer. encontrar novas formas de motivar os alunos para a aprendizagem. Mais uma é aprender, ganhar competências em matérias e valorizar-se a nível pessoal Existem vários pontos de vista sobre o processo de Bolonha, desde os vez Bolonha pode ser uma solução, pois uma das ideias chave é que a e profissional. que consideram que é o passo em frente para o abismo, até aos mais optimis- contabilização das horas de um curso deve ter em conta o esforço dos alunos É neste ambiente de mudança que a investigação das universidades e tas que o vêem como um passo na direcção certa. Eu confesso que estou do e não apenas as horas de aulas, chamadas de horas de contacto (com o politécnicos tem um papel importante a desempenhar. Uma das mais valias da lado optimista, Bolonha pode vir a ser uma lufada de ar fresco no nosso mo- Professor). Um dos objectivos desta mudança de paradigma é o de respon- investigação feita nas instituições de ensino superior é poder servir de liga- delo de ensino, que está a esgotar-se. Por outro lado, pode ser o fim de várias sabilizar o aluno pela sua aprendizagem. Responsabilizar no sentido de ção entre o ensino e o meio profissional. A inserção de alunos em activida- instituições de ensino, em especial aquelas que não consigam mostrar di- consciencializar o aluno para a necessidade deste controlar o seu percurso des de investigação e desenvolvimento é uma das formas de motivação para nâmica e competitividade suficientes. Com a crescente falta de candidatos ao educativo, visto ser ele o maior interessado em todo o processo. Mas esta a aprendizagem. Para além de começarem a ganhar os chamados “soft ensino superior, juntamente com a mobilidade que Bolonha vai trazer (ou diz mudança necessita de novos paradigmas pedagógicos de forma a moti- skills” que as empresas cada vez mais procuram nos recém licenciados. Em que vai trazer), as instituições menos competitivas não vão ser capazes de var para a aprendizagem os alunos. Esta mudança de Bolonha pode ser relação a esta questão, experiências piloto como a realizada na Universida- manter a actual dimensão, podendo bastante positiva, permitindo a de de Aalborg (Dinamarca, http:// torga 77 Opinião auaw2.aua.auc.dk/fak-tekn/aalborg/ engelsk/index.html) podem indicar-nos novos caminhos, pelo menos no ensino das engenharias. Com o papel tão importante da investigação no ensino, é inevitável falar no Plano Tecnológico. Neste aspecto é fundamental que a investigação seja uma aposta forte em Portugal, e aqui o ¿OBJECTIVO: Que objectivos? Entre Bolonha e Coimbra: Para uma consciência crítica de um caminho… de um processo Regina Tralhão Assistente do ISMT Governo tem que dar o exemplo. A recente bandeira do Plano Tecnológico vem de encontro a esta necessidade, mas até agora está a trabalhar-se pouco no que é mais importante: as bases da investigação, sendo estas constituída pelos centros de investigação e desenvolvimento das Universidade e Institutos Politécnicos. Estes são financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), tutelada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Para que a base da investigação trabalhe bem é preciso que a FCT funcione eficaz e eficientemente, respondendo em tempo útil aos processos de projectos e bolsas, e que tenha uma estratégia de médio e longo prazo para a Investigação em Portugal. Com a constante mudança de Governos e consequente mudança de direcções da FCT, a estratégia a médio e longo prazo mudam constantemente, pelo que, se há área onde esta estratégia tem que ser estável e consistente é na Investigação. Em relação ao Plano Tecnológico, não me admira que noticias vindas recentemente a público, sobre uma sondagem junto de empresários portugueses tenha mostrado que o dito Plano não vai ter influência na vida das empresas. Tal como a experiência nos mostra (a todos nós Portugueses) só vendo para crer, mas espero sinceramente e para bem deste nosso cantinho à beira mar plantado que o Plano Tecnológico seja um sucesso. Pensamento crítico e Educação Tenho vindo a participar em várias reuniões a propósito da reestruturação curricular que as direcções dos diferentes Cursos têm vindo a dinamizar no sentido de «adequar» a formação de modo a «compatibilizá-la» com outras do género, a nível internacional, sobretudo, a nível europeu, concretizando o Processo de Bolonha1. Não podemos, é certo, passar acríticos pelo referido documento, todavia, o que me prende aqui são, no momento, outras questões, das mesmas… diga-se! Se por um lado, me tem sido gratificante participar nessas discussões enquanto espaços privilegiados de aprendizagens várias, por outro lado, e na sequência exacta de qualquer «trabalho de casa» que devemos (sempre) fazer, as mesmas, têm-me feito reflectir sobre a importância de alguns «pequenos» pontos que gostaria de, aqui e agora, partilhar com a comunidade educativa do ISMT, da qual faço parte e, no seio da qual tenho procurado, também, desenvolver e promover uma «nova» Cultura Académica2. Um Instituto diferente, que marque efectivamente uma posição social, cultural e política de relevo, no espaço societal, sobretudo, através dos profissionais que vai formando. Encontram-nos num período importante ao nível da definição do que se pretende para a formação de estudantes e profissionais. Pensar a questão dos objectivos da formação torna-se, para mim, uma questão central e, pensar esta questão a partir do pensamento crítico, torna-se, para mim, uma questão crucial. No cerne do que é designado por pensamento crítico existem duas suposições importantes: a do relacionamento entre teoria e factos e, a do relacionamento entre factos e valores. A relação entre teoria e factos levanta questões fundamentais acerca da natureza (frágil?) do conhecimento. O pensamento crítico é aqui entendido como capacidade de tornar problemático tudo o que tem sido tratado como um dado adquirido; de trazer à reflexão tudo o que tem sido usado sem a devida problematização; e, de analisar criticamente a experiência da vida quotidiana. O conhecimento, assim considerado, exige procura, invenção e reinvenção constantes porque, ao partir da noção de sistema de referência e, do seu uso como instrumento interpretativo teórico-conceptual, conduz, necessariamente, ao conhecimento entendido 78 torga Opinião como objecto de problematização e, um determinado facto, conceito ou ques- necem e organizam os elementos teó- deste modo, como objecto de investigação. tão. Precisamos aprender a perceber a própria essência daquilo que estamos ricos da construção que permitirão estabelecer as relações entre os métodos, A relação teoria e factos, transporta consigo a outra componente fundamen- a analisar situando-o criticamente num sistema de relacionamento que lhe con- conteúdo, a estrutura de um determinado Curso e a sua importância para a tal do pensamento crítico: a relação entre factos e valores e entre o sujeito que fira significado. Além da (re)contextualização da in- realidade social mais ampla. Com efeito, o que estes conceitos fazem é actu- conhece e o objecto que é conhecido. O modo através do qual a informação é formação, a forma e o conteúdo das relações sociais académicas devem ser ar como conceitos mediadores entre as experiências académicas de cunho seleccionada e codificada no sentido de construir um quadro da realidade con- consideradas: ignorar a dinâmica deste tipo de relações sociais é, também, cognitivo, afectivo, relacional e a vida fora do contexto universitário. A utiliza- temporânea e histórica, mais do que uma operação cognitiva é, também, um correr o risco de desenvolvermos uma prática pedagógica mistificadora e in- ção destes conceitos deverá tornar capaz a análise do conteúdo, valores e processo intimamente ligado às crenças e valores que orientam as experiências completa. O conhecimento deve, assim, ser visto como uma mediação entre o normas dos Cursos, em relação aos fins que eles pretendem ou poderiam ser- quotidianas. Implícitas, então, na organização do conhecimento estão as su- indivíduo e a realidade social mais ampla. Tornamo-nos sujeitos no acto de vir. Ou seja, os objectivos de longo alcance incluem o seguinte: diferenciar posições ideológicas acerca de como vemos o mundo - suposições que cons- aprender, no acto de analisar o conteúdo e as estruturas dos relacionamentos o conhecimento técnico-científico do conhecimento crítico-reflexivo, explicitar tituem a distinção entre o essencial e o não essencial, o importante e o não im- que fornecem os limites da nossa própria aprendizagem. o currículum oculto e contribuir para o desenvolvimento de sujeitos com cons- portante. Assim, qualquer conceito de sistema de referência tem que represen- É no contexto destas suposições que outras tantas poderão ser desenvolvi- ciência crítica e política. Os objectivos de curto e médio al- tar mais do que uma estrutura epistemológica de forma a incluir tam- das e, no interior do qual poderá ser também desenvolvida uma abordagem que cance, geralmente representam os objectivos facilmente identificados e mui- bém uma dimensão axiomática: separar factos e valores é correr o risco de nos provoque a pensar criticamente. Abordagem crítica aos Objectivos tas vezes já conhecidos dos Cursos, isto é, consistem naquelas concepções considerarmos os meios, independentemente da questão dos seus fins. em Educação O conjunto destas preocupações ‘impostas’ que constituem o núcleo de uma dada Área Científica ou ‘Unidade Relacionado, ainda, com as duas anteriores suposições temos aquilo a foram, então, por mim organizadas em torno na noção de objectivos e, por difi- Curricular’3 e definem o sentido da sua investigação. Em combinações varia- que poderemos designar de (re)contextualização da informação. Precisamos culdade em encontrar outra designação, acabei por definir e distinguir en- das, a maior parte dos Cursos incluem muitos dos seguintes objectivos de curto aprender a ser capazes de sair do nosso sistema de referências, de forma a tre: objectivos de longo alcance e objectivos de curto e médio alcance. e médio alcance: aquisição de conhecimento seleccionado e codificado, o podermos questionar a legitimidade de Os objectivos de longo alcance for- desenvolvimento de competências de torga 79 Opinião aprendizagem especializadas e o desenvolvimento de competências de in- to crítico-reflexivo é, de certa forma, um modo filosófico de investigação no qual to não possa ser completamente eliminado, as suas propriedades estruturais vestigação específicas. A análise dos pontos fortes e fracos destes objectivos se questiona o propósito do que se ensina e aprende. É um conhecimento que podem ser identificadas e modificadas no sentido de criarem condições parece mostrar que o que está em questão, não é tanto a validade dos mes- questiona, por exemplo, o modo como e, o fim para o qual, o conhecimento facilitadoras para o desenvolvimento de métodos e conteúdos pedagógicos que mos, mas sim o seu relacionamento enquanto conjunto de objectivos limitados, técnico-científco deve (ou não) ser usado. O conhecimento crítico-reflexivo for- permitam a formação de sujeitos éticos e políticos, autónomos e solidários, com um conjunto mais amplo de objectivos - os objectivos de longo alcance. mula as questões mais importantes para o aperfeiçoamento da qualidade participativos e integradores, de diálogo e de compromisso. A importância do relacionamento entre os dois tipos de objectivos provém da de vida e da vida porque pergunta: «para que fim?» Um terceiro objectivo de longo alcance centra-se no desenvolvimento de necessidade de se tornar claro quais as relações entre os objectivos dos Esta perspectiva aplica-se não somente ao conteúdo dos Cursos, mas uma consciência crítica e política. Este objectivo não significa enfatizar o con- Cursos e as normas, valores e relações estruturais enraizadas na dinâmica da também à sua dimensão metodológica e à sua estrutura. Nesta perspectiva, o teúdo político no sentido mais literal do termo, mas sugere que se desenvolva sociedade estabelecida. Mereceu-me particular atenção os conhecimento deverá proporcionar, uma unidade, uma lógica e um sentido uma metodologia que permita um olhar para além do quotidiano das experiên- objectivos de longo alcance. Dei especial atenção a três deles. de direcção que permitam considerar todas as implicações do seu conteúdo, cias, de modo a permitir uma compreensão das bases políticas, sociais e Um dos objectivos de longo alcance centra-se na diferenciação entre as no- dentro e fora do espaço académico, partindo do reconhecimento de que económicas da sociedade no seu todo. Política, neste sentido, significa possuir ções de conhecimento técnico-científico e de conhecimento crítico-reflexivo. todo o conhecimento e qualquer forma de saber cumpre uma função social que os instrumentos cognitivos e intelectuais que permitam uma participação pre- O conhecimento técnico-científico está principalmente preocupado com os vai além da meta de dominar determinados saberes científicos. Como resul- sente e actuante, em sociedade. No centro deste objectivo está o sig- meios; a aplicação deste tipo de conhecimento resulta na reprodução de bens tado, o inter-relacionamento entre conhecimento e acção social torna-se nificado e a importância da noção de sistema de referência. Ao estarmos e serviços materiais e, de determinado tipo de relações (hierárquicas) e de com- possível no seu todo. Um segundo objectivo de longo al- conscientes de que todos temos um sistema de referência, operando consci- petências (de tipo mecanicista), deste modo está preocupado com a inovação cance centra-se no tornar explícito o curriculum oculto tradicional. O ente ou inconscientemente, todos teremos a oportunidade de desenvolver dos métodos tecnológicos e científicos com vista a uma maior eficácia competi- curriculum oculto aqui refere-se às normas, valores e crenças não declaradas uma estruturação conceptual na qual possamos ordenar e (re)significar as tiva. Assenta num modelo de racionalidade cujo interesse dominante que são transmitidas através da estrutura subjacente de uma determinada nossas experiências e reconhecer a base social das nossas percepções. reside nos modelos que promovem certeza(s) e controlo técnico, sugerindo comunidade universitária. Além disso, o curriculum oculto muita vezes actua A importância da tomada de consciência do sistema de referência próprio uma ênfase na eficiência e nas técnicas do «como fazer» que ignoram, regra ge- em oposição às metas declaradas do curriculum formal, e, em vez de promo- de cada um assume um significado adicional quando este sistema de referên- ral, a importante questão dos fins. O conhecimento crítico-reflexivo é ver uma aprendizagem efectiva, enfraquece a mesma. Em tais condições, a cia é informado por um modo de racionalidade que nos auxilia a articu- um modo de investigação destinado a responder a questões que não são e, subordinação e a conformidade substituem o desenvolvimento do pensamen- lar o pessoal e o social, por outras palavras, uma epistemologia que nos aju- não têm sido, respondidas pelo conhecimento técnico-científico; preocupa-se to crítico e a natureza dinâmica e conflitual das relações sociais, como ca- da a reconhecer a natureza cultural e social, portanto, política do pensar e do com as questões da natureza das relações entre meios e fins. O conhecimen- racterísticas básicas da experiência académica. Embora o curriculum ocul- agir. Por de trás desta posição está a suposição de que o todo conhecimen- 80 torga to é um fenómeno político-social e cultural que pode ser mais significativa- e a riqueza das experiências da vida quotidiana dos agentes que nela intervêm. mente apreendido se analisarmos a rede de relações no qual esta inserido, Ora, tudo isto requer tempos, espaços e formas de relacionamento espe- isto é, a rede de relações que lhe confere sentido e significado. cíficas. Pensar, então, a formação a partir dos seus objectivos, sobretudo, a par- Para o desenvolvimento de uma consciência política deve ficar claro que tir dos seus objectivos de longo alcance e da sua relação com os objectivos es- a universidade é um espaço e um processo político e politizado, não apenas pecíficos de cada Curso, constituirá, necessariamente, um aspecto importante porque contêm uma mensagem política ou trata de temas políticos mas, tam- para a discussão, de grandes aprendizagens, que mostrará, naturalmente, a bém, porque é produzida e situada num complexo de relações políticas e soci- «fórmula» mais adequada para o tipo de formação que desejamos. ais das quais não pode ser abstraída. Os objectivos de longo alcance ofe- Cabe-nos pensar se queremos formar ‘técnicos’ ou sujeitos, profissionais, recem, pois, um sistema de classificação destinados a ir além das noções com consciência crítica capazes de uma efectiva acção de transformação social de aprendizagem limitada pelos parâmetros de uma determinada Área que reconheça a participação, o diálogo crítico, a responsabilidade, a partilha da Científica, Curso ou Unidade Curricular Académica. Mais importante ainda, a autoridade e o compromisso, como princípios estruturantes e estruturadores de distinção entre os dois tipos de objectivos permite o uso de outros objectivos qualquer forma de pensar e agir social. Continuarei lá, nos espaços onde a diversos afim de explorar o relacionamento entre experiência académica e discussão se faz, procurando cumprir a promessa de tornar possível qualquer as forças sócio-políticas que moldam e caracterizam a cultura dominante. processo e forma de Encontro! Em jeito de apelo para uma educação crítica e reflexiva … Para mim, a flexibilidade desta abordagem não apenas torna mais fácil avaliar a efectividade dos diferentes tipos de objectivos educacionais, como também assegurar que qualquer organização de cursos assente numa abordagem crítica que ligue diferentes formas de aprendizagem com as normas e valores socialmente construídos. Devemos, pois, procurar definir e desenvolver, para os diferentes Cursos ministrados no ISMT, objectivos destinados a fomentar as experiências educacionais e educativas que permitirão elucidar a riqueza política e a complexidade social da interacção entre o que é apre(e)ndido e partilhado neste Instituto Ver Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24 de Março – Regime jurídico sobre os graus académicos e diplomas do ensino superior. 1 É meu dever deixar, também aqui, expressa e registada, a forma implicada, dinâmica, partilhada e assertiva com que a Área Científica de Serviço Social – na qual estou directamente implicada – tem revelado em todo este processo. 2 Nova concepção para o que ainda designamos por ‘disciplina’, prevista no novo Decreto-Lei, supra referenciado. 3 81 Tecnologia Breve Apresentação da Tecnologia Power Line Hélder Silva, Joana Urbano {[email protected], [email protected]} Instituto Superior Miguel Torga A evolução do Homem ao longo dos empresarial. Destes, refira-se a tendên- A utilização da rede eléctrica para tempos ficou a dever-se, essencialmente, à comunicação. Foi a comunicação cia actual para o acesso por DSL (Digital Subscriber Line) e por cabo TV. No transmissão de dados não é uma novidade. De facto, desde a década de que, traduzida numa conjugação de esforços, permitiu a sobrevivência do entanto, outras tecnologias emergem no sentido de entrar neste mercado e, 50 que empresas de distribuição de energia, tais como a EDP, utilizam a grupo e levou à construção da sociedade tal como a conhecemos hoje; “A entre elas, podemos referir as redes de telecomunicações sem fios (redes rede eléctrica para transmissão de dados de controlo. Falamos do méto- palavra comunicação deriva do latim communicare, que significa “tornar WIMAX e FWA) e ainda as redes PLC (Power Line Communications), que uti- do “Ripple Control”, caracterizado pela utilização de baixas frequências (en- comum”, “partilhar”, “conferenciar”… É comunicando … que uma pessoa ad- lizam a rede eléctrica para a transmissão de voz e dados. tre 100 e 900 Hz), que permite o envio unidireccional de dados simples de quire consciência de si e dos outros e interioriza os comportamentos, os valores, as normas, os conhecimentos (…) Neste último caso, assiste-se ao ressurgimento do interesse nas comunicações de dados através da rede monitorização, controlo e carga da rede. A partir de 1991, a NorWeb Communication, consórcio formado e os seus significados na sociedade e na cultura em que se insere” (1). eléctrica, devido ao enorme potencial de penetração de um serviço baseado pela Nortel Telecom – multinacional na área das telecomunicações – e a É, no entanto, na sociedade actual que a comunicação surge como uma nesta tecnologia que permitirá elevados débitos de dados, sem a necessi- United Utilities – empresa Britânica de distribuição de energia eléctrica –, le- necessidade mais premente. É na nossa “Sociedade da Informação” que os dade de qualquer infra-estrutura de suporte para além da vastíssima rede vou a cabo estudos de implementação de uma tecnologia que permitisse a conceitos de “Aldeia Global” e “O Meio é a Mensagem” de Marshall McLuhan eléctrica já existente. Neste artigo, é feita uma breve apre- transferência bidireccional de dados através da rede eléctrica de baixa ten- ganham mais destaque, devido aos meios tecnológicos ao dispor do Ho- sentação da tecnologia PLC, tanto na sua vertente de tecnologia de acesso, são, permitindo ligações de 24 horas em 24 horas e velocidades de 1 Mbps, mem. Em 1967, quando Marshall McLuhan publicou as suas obras, ain- quanto na sua vertente SOHO (small office, home Office), através da utiliza- com uma tecnologia a que chamaram Digital Power Line (DPL). A fase de tes- da não existia a Internet; há, no entanto, como que uma premonição e é ção da cablagem eléctrica dos edifícios para a construção de pequenas re- tes foi levada a cabo em Manchester, Inglaterra, e o projecto foi abandona- impensável, nos nossos dias, falar de Comunicação Global sem referir a des de voz e dados domésticas ou de escritório. do em 1999, por ser considerado economicamente inviável, devido às Internet e a WWW (World Wide Web). Assim como, nos dias de hoje, não Um Pouco de História Como foi já referido, a PLC, ou sim- condicionantes tecnológicas que implicavam a sua realização. se pode falar da Internet sem se referir o seu acesso, hoje tendencialmente plesmente PL (Power Line) é uma tecnologia que permite a transmissão No entanto, o interesse na tecnologia ressurgiu recentemente, com em banda larga, para utilizadores domésticos, mas também como solução de dados e de voz através da rede eléctrica. várias empresas de telecomunicações e desenvolvimento de equipamentos 82 torga Tecnologia Tecnologia (por exemplo, Cisco Systems, Compac, Mitsubishi Electric Co., Philips, Intellon, Alcatel e Ascom) a posicionarem-se na corrida para a sua exploração, e com a constituição da HomePlug Powerline Alliance, um grupo sem fins lucrativos, constituído por cerca de 80 organizações, que trabalha activamente na elaboração de normas para produtos PL. Transmissão de Dados na Rede Eléctrica A rede de transporte de energia eléctrica divide-se em três níveis de tensão, alta (220 a 400 KV), média (10 a 132 KV) e baixa tensão (220 e 380V), destinados ao transporte de energia em longas, médias e pequenas distâncias, respectivamente. Os cabos de transporte são ligados a transformadores, projectados de modo a reduzir ao mínimo as perdas de frequência da rede, que são de 50 Hz no caso da Europa (Figura 1). No entanto, se estes transformadores são eficientes do ponto de vista do transporte de energia, eles actuam como um filtro no que concerne à transferência de dados, e aqui reside o principal problema do transporte de dados exclusivamente através de cabos de energia eléctrica. Na verdade, Figura 1 Infra-estrutura do transporte de energia (figura retirada de http://oni.pt). a tecnologia actual ainda não permite a constituição de verdadeiras redes PL de backbone, sendo actualmente restringidas ao lacete local (“last mile”), ou seja, ao troço que liga a rede ao utilizador final. Também a nível de utilização doméstica, já em baixa tensão, surgem obstáculos à transmissão de dados na rede eléctrica, resultantes, entre outros, da variação da impedância com a instalação de equipamentos eléctricos, como por exemplo, electrodomésticos. Voltaremos a este assunto mais tarde, na secção “Power line na Constituição de Redes Domésticas”. Utilização do Power Line Embora a tecnologia PowerLine prometa um sem número de aplicações em várias áreas das tecnologias de informação, vamos caracterizá-la nas duas vertentes actualmente mais significativas: o acesso à Internet e a constituição de redes domésticas de voz e dados. Power Line como Tecnologia de Acesso A Figura 2 esquematiza a rede PL no troço final. Como pode ser visto, a injecção dos dados na rede eléctrica é feita Figura 2 Esquema de ligação PowerLine (retirado de http://oni.pt”). nos postos de transformação; estes possuem um equipamento denominado headend que faz a ponte entre o backbone de dados e a rede eléctrica. No caso europeu, cada posto de transformação poderá servir cerca de 200 agregados familiares. torga torga 83 Tecnologia Do lado dos subscritores, cada edifício onde se pretende o acesso à termos de rapidez, fiabilidade e isenção de ruídos.1 Num prisma menos Regulamentação Duas das principais dificuldades Internet por Power Line deverá ter um repetidor (coupling unit) acoplado ao positivo, realce-se que estas soluções não estão ainda preparadas para to- associadas à implantação da tecnologia PLC são, por um lado, os contador de energia do subscritor; este elemento é responsável por separar dos os sistemas operativos. A Intellon, por exemplo, apresenta soluções para problemas técnicos ligados à invasão do espectro da banda reservada a co- os dados da rede eléctrica e de os transferir para o subscritor. os sistemas Windows da Microsoft e para alguns sistemas Mac OS, mas ain- municação por rádio2 e, por outro lado, a falta de normalização e regulamen- Dentro de cada residência aderente, deverá existir ainda um módulo de co- da não oferece resposta para sistemas Unix. Por fim, existem ainda problemas tação legislativa, o que faz com que a maior parte dos testes da tecnologia municação que liga o equipamento do utilizador. técnicos a resolver, e a regulamentação existente é escassa e nem sem- caiam, normalmente, num vazio legal. No entanto, alguns factos levam a Como pode ser verificado, a infraestrutura dos acessos por PowerLine pre adequada (ver “Regulamentação”, mais à frente neste artigo). crer que estas dificuldades sejam superadas num futuro próximo. Por um permite aos operadores de comunicações uma flexibilidade ímpar na Problemas à parte, o PL é já muito usado na interligação e partilha de lado, a União Europeia (UE) assumiu já o desenvolvimento da tecnologia implementação da tecnologia de acesso em áreas metropolitanas, uma vez equipamento informático (ex., acesso Web, impressoras, discos) a nível do- PLC como sendo vital para a competitividade da UE e recomendou que a instalação dos headend é feita à medida da adesão dos subscritores, méstico. Nos Estados Unidos, por exemplo, esta tecnologia é muito utili- a remoção de obstáculos injustificados a nível da regulamentação, que impe- sem que tal traga encargos significativos para o operador, ao contrário do zada na domótica, em utilizações como controlo de alarmes e de climatização. çam esse desenvolvimento. Também o CENELEC (Comité Europeu de Nor- que sucede com outras tecnologias de acesso. Tal é tanto mais evidente se Em Portugal, e apesar desta tecnologia estar ainda pouco divulgada, assiste- malização Electrotécnica) e o ETSI (Instituto Europeu de Normalização nas pensarmos no caso de edifícios antigos e zonas remotas, onde, devido a se a um lento mas gradual interesse dos utilizadores no uso desta Telecomunicações) foram mandatados pela UE para formar uma comis- factores meramente económicos, não existe qualquer cobertura por fornece- tecnologia para a constituição de pequenas redes domésticas, com parti- são técnica, com o objectivo de elaborar standards que permitam a coexis- dores de outras tecnologias de acesso. lha segura do acesso Web em todas as tomadas da casa, existindo já no tência, sem interferência, da transmissão PLC e das restantes redes de tele- mercado diversos produtos baseados no PLC, tais como bridges Ethernet, comunicações.3 Finalmente, foi iniciado em 2004 o projecto OPERA (Open conversores USB powerline, adaptadores de parede e routers com supor- PLC European Alliance), patrocinado pela UE e adjudicado à Iberdrola, pro- te PowerLine, a custos razoáveis. jecto este que pretende desenvolver a tecnologia de transmissão de dados O futuro próximo desta tecnologia na sua vertente doméstica promete em banda larga através da rede eléctrica, uniformizando tecnologias e re- soluções plug and play com débitos na ordem das dezenas de MB, com su- gulamentações. porte de voz, dados, vigilância e segurança através de web-cam, encrip- Implementação do PowerLine A implementação de projectos PLC tação de dados e VLAN, tudo isto, mais uma vez, sem qualquer instalação de está, como seria de esperar, associado a empresas ligadas à distribuição nova cablagem e cem por cento compatível com os acessos tradicionais por de energia, tais como a EDP/Oni, a Endesa e a Iberdrola, no mercado ibé- modem ou cabo. rico. Existem pelo mundo fora diver- Power Line na Constituição de Redes Domésticas Vimos já como a tecnologia PL pode ser usada no acesso à Internet. No entanto, as características da tecnologia Power Line fazem com que esta seja, igualmente, bastante interessante na constituição de redes de comunicação domésticas, uma vez que não implicam cablagens ou sistemas adicionais, bastando, apenas, usar as tomadas eléctricas existentes em casa. Neste sector, existem já algumas soluções no mercado (por exemplo, o PowerPacket da Intellon) que apresentam características interessantes em 84 torga Tecnologia Tecnologia sos projectos PL, uns em fase de desenvolvimento ou teste, outros já em bilidade técnica e económica do projecto, a Endesa iniciou a exploração fase de comercialização. Um mapa interessante dos projectos PLC no mun- comercial de serviços de telecomunicações e acesso à Internet em Banda do pode ser observado em (2). Larga em Saragoça (Novembro de 2003) e em Barcelona (Janeiro de Implantação do Power Line no Mer- 2004). Por seu lado, a Iberdrola iniciou a comercialização de serviços de tele- cado Ibérico A primeira empresa a aventurar-se no acesso PowerLine em Portugal foi a EDP, juntamente com a sua participada Oni; em 2002, realizaram um teste piloto com cerca de 300 utilizadores na área de Lisboa, divididos entre Telheiras e o Parque das Nações. Nes- comunicações e acesso à Internet em banda larga a partir de Outubro de 2003, servindo inicialmente 30.000 habitantes em dois bairros de Madrid, Referências (1) Comunicação. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2005. (2) Sítio oficial da Teleco, http:// www.teleco.com.br/tutoriais/tutorialplc/ pagina_6.asp com velocidades de acesso simétrico de 100 e 640 Kb, utilizando equipamento da empresa Alcatel. te teste piloto, denominado E-Power, foi testado o fornecimento de serviços VoIP (Voice over IP) e acesso à Internet em Banda Larga. Actualmente, e desde Julho de 2005, o serviço, entretanto com o nome Oni220Powerline, está já disponível sob forma de teste comercial em algumas zonas de Lisboa, incluindo as referidas acima, disponibilizando dois tarifários, de 2/ 1Mbps (download/upload) e de 5/ 2Mbps, com mensalidades de €34,90 e €44,90, respectivamente. Em Espanha, a Endesa iniciou em 2000 um conjunto de testes de VoIP e acesso em banda larga sobre linhas de média e baixa tensão, nas áreas metropolitanas de Sevilha e Barcelona. Estes testes envolveram, em cada um dos casos, 25 utilizadores finais e duraram, respectivamente, 18 e 12 meses. Em Barcelona foi utilizado equipamento da Ascom, tendo sido atingidos débitos de 2 a 3 Mbps. Em Sevilha, o equipamento utilizado foi da empresa espanhola DS2 e a transmissão alcançou valores de 6 a 12 Mbps. A partir de Setembro de 2001, o teste estendeu-se à área metropolitana de Saragoça, envolvendo 2100 utilizadores finais. Tendo concluído pela via- 1 Como já foi referido, a rede eléctrica não foi pensada para a transmissão de dados, o que levanta alguns problemas relativos à atenuação do sinal, que aumenta com a distância, e à impedância, que varia consoante os equipamentos eléctricos que são ligados à rede eléctrica, principalmente motores de electrodomésticos (ruído contínuo), arrancadores de lâmpadas fluorescentes e “dimmers“ (ruído periódico). Este ruído na linha dificulta a transmissão de dados e obriga a uma constante adaptação dos parâmetros da transmissão. De modo a minimizar estes problemas, uma das técnicas de modulação mais utilizadas nos modems PL actuais é a Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) com correcção de erros, semelhante à tecnologia presente nos modems DSL. Esta tecnologia divide a gama de frequências da rede eléctrica em mais de 80 canais, permitindo o transporte de pacotes de voz e dados em vários destes canais, o que aumenta a velocidade e a fiabilidade dos dados transmitidos. 2 Na verdade, as empresas com actividade no Power Line enfrentam uma guerra aberta com os “macanudos” que, sinal dos tempos, têm fóruns de debate na Internet! 3 Esta comissão trabalha em estreita colaboração com a IEC CISPR 22 (International Electrotechnical Commission) e com o PLC Fórum, associação internacional que representa empresas e organismos com interesses comuns no campo das tecnologias PLC, da qual faz parte a Portuguesa Oni (www.oni.pt). torga torga 85 Tecnologia Na rede Pesquisa científica na rede A Microsoft lançou um motor de busca especializado para investigadores que permite o acesso a conteúdos académicos. O Windows Live Academic Search (http://academic.live.com/) é uma ferramenta útil para investigadores, docentes, estudantes e todos os que pesquisam na rede informação sobre assuntos específicos em várias áreas de investigação. Ainda numa versão beta, o Windows Live Academic Search permite pesquisar artigos, publicações académicas e apresentações em áreas temáticas como Informática, Engenharia Eléctrica e a Física. A utilização do serviço obriga a uma subscrição. O Windows Live Academic Search concorre directamente com o motor de busca do Google dedicado à pesquisa académica. O Google Scholar (http://scholar.google.com) é um serviço também recente e gratuito. E, actualmente, a sua pesquisa abrange mais áreas temáticas do que o Windows Live Academic Search. 60 Minutes no Yahoo O programa “60 Minutes” (http:// www.cbsnews.com/sections/60minutes/ main3415.shtml) da CBS (http:// www.cbsnews.com/), que está no ar desde 1968, estar também disponível na rede. Uma parceria entre a estação televisiva norte-americana e o Yahoo (http://www.yahoo.com/) vai permitir disponibilizar online reportagens emitidas na televisão e conteúdos exclusivos para a Internet. 86 torga O objectivo da CBS é promover o jornalismo de investigação de excelência do “60 Minutes” e captar novos públicos, com o recurso à interactividade em conteúdos produzidos única e exclusivamente para serem veiculados online. O Yahoo, que tinha feito recentemente uma forte aposta na produção própria de conteúdos informáticos, reafirma com esta parceria que o jornalismo vai voltar a ser um dos pontos importantes do portal. Os números do negócio não são conhecidos, mas os das audiências são impressionantes: o Yahoo tem uma média de 126 milhões de visitantes por mês, o “60 Minutes” reúne a preferência semanal de 14 milhões de telespectadores. A partir do início do Outono, o Yahoo vai disponibilizar um “microsite” com as reportagens do programa semanal e conteúdo exclusivo para a Internet. Inês Amaral Alma Nostra ALMA NOSTRA Carlos Magno – Jornalista Carlos Amaral Dias - Psicanalista Antena 1 Sábados 11 horas Porque foi Sábado a emissão de 11 de Março coincidiu com a passagem dos dois anos sobre o atentado bombista em Madrid. Toda a conversa se desenrolou à volta da temática do Terrorismo Mundial. “Será que começámos a esquecer?” questionou Carlos Magno. Carlos Amaral Dias respondeu que “o terrorismo é o fenómeno político mais importante do século XXI e que a tendência da mente humana é desmentir a realidade da ameaça e apagar da memória a realidade que foi consubstanciada na fatalidade de 11 de Março. Não se deve e não se pode esquecer o que aconteceu e sobretudo não podemos esquecer o que isso quer dizer.” “O terrorismo não é previsível, é não ter rosto e não saber quando é que ataca”, declarou Magno. Ao que Amaral Dias replicou que “o terrorismo tem o problema de ser essa posição omnisciente daquilo que só os outros sabem; é isso que nos torna a todos tão indefesos”. “Como é que uma sociedade esquece, como é que uma sociedade reprime?” “Ela não reprime, o que ela faz é um desmentido daquilo que ela tem de mais radical. A situação vivida em Madrid evidentemente que convoca a pior das patologias que um ser humano pode ter, que é a patologia do desamparo”, declarou o psicanalista. O jornalista comentou a visão egocêntrica que os norte-americanos têm do mundo, uma visão limitada: eles consideram-se o centro do mundo. Um exemplo disso é o discurso de Samantha, personagem da série televisiva “O Sexo e a Cidade”, quando pergunta às suas amigas a certa altura num episódio: “Quando as pessoas saem de Nova Iorque para onde é que vão?”, como se não existisse mais nada além de Nova Iorque. Há inquéritos que foram feitos aos norte-americanos, e mais de 70 por cento não tinha ideia da data da Guerra da Secessão, nem as razões que a motivaram. Outra questão apresentada era: “Depois do Iraque qual o país que acha que devíamos invadir?”, ao que respondiam com exemplos de países como a França e a Espanha, e outros a Austrália, não fazendo ideia da sua localização geográfica. Os intervenientes do programa justificaram esta posição dos americanos dizendo que a história dos E.U.A. é uma longuíssima história de guerra, fundaram-se com a guerra e não deixaram de estar em guerra até hoje, sendo capazes de realçar a sua intervenção política na resolução de alguns conflitos justos. Também se nota cada vez mais, ao percorrer alguns países europeus, um desconhecimento dos factos históricos, qual a noção do Globo e do próprio país, nomeadamente, entre as elites portuguesas, concordaram. Magno questionou se no segundo ano sobre a tragédia de 11 de Março: “È possível construir um mundo onde as pessoas possam viver em paz?” Carlos Amaral Dias respondeu que nós gostaríamos que a paz fosse possível. Freud disse que a única forma que os seres humanos têm de se defenderem da guerra é através da cultura. Disse também que a guerra é o mais primitivo dos primitivos do tribalismo, explicando a teoria da encruzilhada, quando duas tribos se encontram, matam-se uns aos outros, ou seja, quem não faz parte da minha tribo não existe. No final da emissão, concluíram que o programa terminou com um tom pessimista, mas que, dadas as circunstâncias mundiais e contextuais, devíamos falar, e que falar também ajudaria a reflectir sobre o que se passa no nosso país, dentro da nossa casa e dentro da nossa Alma. “O que arde, cura” foi o provérbio usado por Amaral Dias para simbolizar o que fora dito. Ana Cristina Abreu torga 87 PubliReportagem “UMA HISTÓRIA DE SUCESSO” Hotel são hotéis de charme, edifícios antigos transformados com conforto e virados para o lazer. Em Portugal, o primeiro hotel da cadeia apareceu em Lisboa em 1993. Em Coimbra surgiu um ano mais tarde, em 1994. Localizado num ponto da cidade que dá fácil acesso aos e outros hotéis que são explorados em business management pela sociedade Solmeliá”, refere Vasco Mexia Santos, administrador do Hotel. O s hotéis Tryp são os mais urbanos da cadeia. Com cerca de 2 anos, os hotéis Hard Rock são um conceito de hotel mais moderno para um público específico que resulta de uma junção do Hard Rock Café com a cadeia Solmeliá. O Hotel Tryp pertence à cadeia dos hotéis Solmeliá. Este grupo que teve início, em 1956, com a abertura de um primeiro hotel em Palma de Maiorca o Altair Hotel, está actualmente espalhado por todo o mundo. “Hoje em dia, a cadeia divide-se em hotéis que são propriedade de Gabriel Escarrer 88 torga O grupo é composto por vários segmentos: “O Tryp é o hotel de cidade, de negócios, o Meliá é de 5 estrelas e o GrandMeliá que é gama alta, chamam-lhe hotel de luxo. O Sol para praia e o Solparadisus que existe em tudo o que é paraíso turístico – explica Vasco Mexia Santos. Os Boutique Hospitais da Universidade de Coimbra e à Universidade, o Hotel Tryp Coimbra é mais vocacionado para negócios, facilitando a quem o procura salas de reunião de várias dimensões: há as salas executivas com capacidade até 15 pessoas e salas maiores como a Sala Buçaco até 60 pessoas ou a sala Lousã para acolher até 180 pessoas. Todas estas salas dispõem de infra-estruturas de telecomunicações que permitem uma fácil ligação em video-conferência. É possível ainda dentro do hotel o acesso wireless à Internet por qualquer indivíduo que tenha um computador: “há dias em que o nosso hall parece quase uma sala empresarial” afirma a directora do Hotel Tryp, Ana Maria Antunes. Não descurando o lado do convívio, o hotel tem inúmeros serviços disponíveis à população em geral, como, por exemplo, o restaurante “O Magistrado”, o bar ou o hall do hotel onde, todas as Sextas-feiras e Sábados, há espectáculos de música ao vivo ou recital de piano a partir das 21 horas. “Temos um outro segmento de pessoas que podem tomar um chá à tarde, às 17 horas - o Chá das Cinco - PubliReportagem nós temos uma panóplia de chás, à volta de cinquenta chás diferentes O administrador lamenta a falta de oferta cultural na cidade de Coimbra, que as pessoas podem vir experimentar. Isto é como uma pequena sala de explicando que os grandes espectáculos que podiam aqui ter lugar mui- visitas onde as pessoas se encontram e conversam” explica Vasco Mexia tas vezes não acontecem por falta de um espaço que os possa acolher: Santos. Os 120 quartos e 13 suites júnior “Acho que se devia apostar mais no turismo cultural. É uma cidade rica ar- do Tryp estão todos equipados com TV satélite, mini bar, cofre, ar-condici- quitectonicamente e em história e aproveita-se muito pouco”. Conside- onado e telefone directo. ra urgente a construção de um centro cultural e de congressos, o qual po- “Devia apostar-se mais no turismo cultural” deria até ter o apoio de muitos empresários da região. Nota que os turistas que procuram Coimbra quando abandonam a cidade vão desiludidos porque a oferta cultural é pouca e os lugares dignos de visita não têm um horário de abertura alargado. Resumindo a história do Hotel o administrador, Vasco Mexia Santos, afirma “é uma história de sucesso. Foi bom acreditar. Nesta cidade, inicialmente as pessoas não acreditam nas coisas, depois elas acontecem, dão certo e isso é gratificante.” Por sua vez, a directora conclui “com trabalho tudo se consegue e esta ideia aplicase muito bem aqui ao hotel.” Ana Beatriz Bento torga 89 Foreign Affairs A questão iraniana tem dominado as atenções nos últimos meses, mas, na realidade, há muito que preocupa os políticos, os analistas e os interesses económicos. Pareceu-nos por isso útil escolher um artigo que analisasse a dinâmica recente das relações bilaterais entre os EUA e o Irão, não deixando de observar as consequências da mesma sobre o posicionamento geo-estratégico da União Europeia, neste conflito que se tem vindo a agudizar. Henrique Amaral Dias Editorial du “Monde” Bush et l’Iran Par le truchement de l’Agence internationale de l’énergie atomique (AIEA), les grandes puissances, apparemment unies, cherchent à empêcher l’Iran de poursuivre un programme nucléaire qui pourrait lui permettre d’acquérir un jour la bombe. Les réunions se multiplient, les diplomates s’activent, les pressions s’accroissent. La pièce qui se joue sur le devant de la scène a pour thème le transfert du dossier iranien au Conseil de sécurité des Nations unies. Mais ce n’est peut-être qu’un rideau de fumée masquant une autre bataille. Le représentant américain à l’ONU, John Bolton, trahit les véritables préoccupations de George W. Bush en qualifiant l’Iran de “menace globale”. Il ne fait pas seulement allusion aux ambitions nucléaires de Téhéran, qui ne sont qu’une circonstance aggravante. Il évoque les philippiques du président Ahmadinejad contre Israël, le soutien à des organisations placées sur la liste des groupes terroristes comme le Hezbollah libanais et le Hamas palestinien, le rôle ambigu de l’Iran dans les affrontements qui déchirent l’Irak... Bref, il met implicitement en cause le régime des mollahs issu de la révolution khomeiniste, dans lequel il décèle la source de tout le mal. Dans cette logique, la solution de la question iranienne ne peut pas être seulement partielle. Il ne suffit pas d’envoyer quelques inspecteurs de l’AIEA sur le terrain ni même d’édicter quelques sanctions au Conseil de sécurité. Ce n’est pas un hasard si les Etats-Unis n’ont jamais participé directement aux négociations sur le programme nucléaire iranien. Ils ont laissé les Européens en première ligne. Si ces derniers avaient réussi, tout le monde aurait engrangé le bénéfice. Toutefois, Washington ne croyait guère à leur succès et, surtout, avait d’autres priorités. George W. Bush et ses amis ont un objectif en Iran : le changement de régime. Ils ont commencé à dégager des fonds - 85 millions de dollars - à cet effet. Ce n’est sans doute qu’un début. Pour arriver à leurs fins, ils utiliseront tous les moyens à leur disposition. Les sanctions qu’ils réclament de la part du Conseil de sécurité de l’ONU ne visent pas seulement à arrêter, ni même à retarder, le programme nucléaire de Téhéran. Elles ont avant tout pour fonction de déstabiliser le régime et de contribuer à sa chute. L’hypothèse parfois évoquée de frappes sur les installations iraniennes doit être envisagée dans ce contexte. Il est plus facile de parler d’un changement de régime que de le mener à bien, surtout après le fiasco sanglant enregistré en Irak. Il n’en reste pas moins que les Américains dévoilent peu à peu leurs véritables intentions. Au-delà de la gravité du dossier nucléaire, les Européens auraient tort d’occulter l’autre enjeu de ce bras de fer. Sauf à se retrouver en porte à faux. 90 torga Publicações “ Este livro interessa a todos os alunos que queiram iniciar o estudo da Gestão das Organizações. O leitor ficará familiarizado com o contributo dos principais autores, neste domínio, e terá a oportunidade de aprender os conceitos fundamentais que são ensinados nas escolas superiores. O leitor toma ainda conhecimento das questões, por vezes polémicas, da gestão da actualidade.” FIRMINO, Manuel Brazinha Gestão das Organizações: conceitos e tendências actuais Escolar Editora, 2002 “ Este livro encontra-se estruturado em três partes distintas e complementares. Esta estruturação proporciona aos leitores uma sequência lógica dos procedimentos a adoptar na elaboração de uma base de dados, desde a sua estruturação inicial dos dados, passando pelas funcionalidades do Microsoft Access XP, até aos procedimentos mais avançados suportados pela programação em Visual Basic (VBA). É feita a utilização de um “exercício guiado” uniforme em todo o livro e que será a base para o desenvolvimento dos procedimentos associados à elaboração de uma base de Dados.” AZEVEDO, Ana ABREU, António CARVALHO, Vidal de Desenho e Implementação de Bases de Dados com Microsoft Access XP Centro Atlântico, 2002 “ Strategic Planning for Information Systems explora o impacto que os sistemas de informação e a tecnologia de informação têm no desempenho empresarial e a contribuição que dão para as opções estratégicas das organizações. Descreve ferramentas, técnicas e programas de gestão para sintonizar as estratégias dos sistemas de informação e da tecnologia de informação com a estratégia empresarial, bem como para procurar novas oportunidades através de um inovador uso tecnológico.” WARD, John PEPPARD, Joe Strategic Planning for Information Systems Wiley, 2004 Ana Cristina Abreu torga 91 Mestrados CONCLUÍDOS FAMÍLIAS MULTIPROBLEMÁTICAS: UMA PERSPECTIVA SISTÉMICA SOBRE O SEU FUNCIONAMENTO FAMILIAR Em 1 de Fevereiro de 2006, Dulce Manuel Vasconcelos Martins concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Marina Cunha Pinto Gouveia (ISMT), Wilma Cardoso (FEQ Lorena) e Jorge Caiado Gomes (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SOCIAIS: CONTRIBUTO DO MÉTODO PEDAGÓGICO UTILIZADO NO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS SOCIAIS, NOMEADAMENTE RESPONSABILIDADE E AUTONOMIA Em 20 de Janeiro de 2006, Ana Paula Loureiro Serra concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Carlos Farate (ISMT), José Henrique Dias (ISMT) e Manuel Canaveira (UNL), classificou a prova com Bom. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO LUTO NO RETORNO DOS PORTUGUESES DAS EX-COLÓNIAS AFRICANAS, NO JORNAL O RETORNADO Em 4 de Janeiro de 2006, Ana Simões Sotto-Mayor de Almeida concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Susana Vicente Ramos (ISMT), Carlos Amaral Dias (ISMT) e Maria João Pereira (ISCE), classificou a prova com Muito Bom. VÍNCULO E PERCEPÇÃO NA RELAÇÃO PRECOCE: UM ESTUDO TRANSCULTURAL Em 7 de Setembro de 2005, Sandra Mara Demoliner Campesatto concluiu o Mestrado em Família e Sistemas Sociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Carlos Amaral Dias (ISMT) e Aníbal Custódio dos Santos (ESEAF), classificou a prova com Muito Bom. PERCEPÇÃO E ATITUDES DAS ENFERMEIRAS DO BLOCO OPERATÓRIO FACE AOS RISCOS PRO- 92 torga FISSIONAIS Em 8 de Fevereiro de 2006, Patrícia Maria Menezes Pinto concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores Águeda Marques (ESEAF), Susana Vicente Ramos (ISMT), René Tápia Ormazabal (ISMT), Carlos Amaral Dias (ISMT), António Pazo (ISPA) e Susana Vicente Ramos (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. O OLHAR DOS ADOLESCENTES SOBRE OS PAIS EDUCADORES: PERCEPÇÃO SOBRE ATITUDES PARENTAIS FACE À SITUAÇÃO DE CONJUGALIDADE Em 7 de Dezembro de 2005, Teresa Margarida Inácio Silva Carreira concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores José Amendoeira (IPS), Susana Vicente Ramos (ISMT), René Tápia Ormazabal (ISMT) e Carlos Amaral Dias (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE DE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA EM CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO CORONÁRIA Em 15 de Novembro de 2005, Rosa de Coutinho Carvalho e Silva Aires dos Reis concluiu o Mestrado em Sociopsicologia da Saúde. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Manuel Antunes (UC) e Pedro Zany Caldeira (ULL), classificou a prova com Muito Bom. EM NOME DO PAI Em 4 de Janeiro de 2006, Vasco Tavares dos Santos concluiu o Mestrado em Aconselhamento Dinâmico. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Wilma Cardoso (UParaíba) e Carlos Amaral Dias (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. DA INSATISFAÇÃO PROFISSIONAL AO BURNOUT EM TRABALHADORES AUTÁRQUICOS Em 25 de Novembro de 2005, Ana Sofia de Noronha Freire concluiu o Mestrado em Aconselhamento Dinâmico. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Eduardo Ribeiro dos Santos (UC) e Carlos Farate (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. TRATAMENTO DE UM DOENTE PSICÓTICO GRAVE Em 23 de Novembro de 2005, Raul Manuel Azevedo Alexandrino Fernandes concluiu o Mestrado em Aconselhamento Dinâmico. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Rui Coelho (UP) e Carlos Amaral Dias (ISMT), classificou a prova com Muito Bom. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO PERÍODO DE LATÊNCIA Em 16 de Novembro de 2005, Paula Sofia Carvalho Paiva concluiu o Mestrado em Aconselhamento Dinâmico. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Luísa Branco Vicente (UL), Carlos Farate (ISMT) e Carlos Amaral Dias (ISMT), classificou a prova com Bom. ROTAS COMERCIAIS DA DROGA EM PORTUGAL Em 20 de Janeiro de 2006, Vítor Manuel Fernandes Antunes concluiu o Mestrado em Toxicodependência e Patologias e Psicossociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Carlos Farate (ISMT) e Jorge da Silva Ribeiro (IDT), classificou a prova com Bom. A HEROINODEPENDÊNCIA MATERNA: INFLUÊNCIAS NAS CONSULTAS DE VIGILÂNCIA DE SAÚDE INFANTIL E NO PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO Em 16 de Novembro de 2005, Filipe Ferreira Moreira concluiu o Mestrado em Toxicodependência e Patologias e Psicossociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Carlos Farate (ISMT) e Luísa Branco Vicente (UL), classificou a prova com Muito Bom. SUPORTE SOCIAL E QUALIDADE DE VIDA NO PÓS-ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Em 9 de Novembro de 2005, Susana Isabel Figueiredo Amaral concluiu o Mestrados Mestrado em Toxicodependência e Patologias e Psicossociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Sandra Oliveira (ISMT), Michael Knoch (ISMT) e Rui Aragão Oliveira (ISPA), classificou a prova com Muito Bom. QUALIDADE DE VIDA DO DOENTE DEPRIMIDO Em 9 de Novembro de 2005, António Manuel Santos Pereira concluiu o Mestrado em Toxicodependência e Patologias e Psicossociais. O Júri, constituído pelos Professores Doutores René Tápia Ormazabal (ISMT), Sandra Oliveira (ISMT), Jorge Caiado Gomes (ISMT) e Carlos de Sousa Albuquerque (ESEV), classificou a prova com Muito Bom. EM PREPARAÇÃO Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Sandra La Salete Campos Abrantes, intitulado “(Tóxico) Dependência: à descoberta do impacto da heroínodependência no stress parental”. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Maria Telma da Cruz Duarte, versando sobre o tema do stress ocupacional e estilo de vida dos enfermeiros. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Rui Filipe Lopes Gonçalves, versando sobre o tema do investimento corporal em doentes com paramiloidose. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Carlos Lopes Cardoso, versando sobre o tema da imagem corporal e depressão na infância e o contributo para a validação de uma escala de avaliação da imagem. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Cristóvão Margarido, versando sobre o tema da reinserção sócio-profissional de toxicodependentes e auto-conceito. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Ana Cristina Almeida Santos, versando sobre o tema do arquivo morte social e idosos institucionalizados. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Maria do Céu Ferreira dos Santos, versando sobre o tema da educação de adultos / ensino recorrente (um subsistema do nosso sistema educativo). Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Lúcia Nunes Dias, versando sobre o tema da política das drogas em Portugal 1970/2004 (perspectiva histórica global, suas continuidades, interrupções, revisões e previsões). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Generosa Augusta Morais, versando sobre o tema da violênica e institucionalização (trajectos e resocialização). Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Paula Monteiro Nunes, versando sobre o tema da prevenção da gravidez na adolescência no distrito da Guarda. Mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, de Tânia Ribeiro, versando sobre o tema da rede social dos agentes da PSP. Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Anabela Ponces Ferret de Almeida Correia, intitulado “Avaliação do Serviço do Centro de Atendimento a Jovens de Coimbra – CAJ”. Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Cláudia Maria de Jesus Margaça, versando sobre o tema do impacto das situações de doença grave, crónica e incapacitante nos profissionais de saúde. Mestrado em Aconselhamento Dinâmico, de Elisabete de Jesus Ramos, versando sobre o tema da simbolização e espaço potencial na prova projectiva de Zulliger. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Cristina Maria Rodrigues Silva Ventura, intitulado “Estratégias de Coping em Famílias com Crianças Autistas”. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Teresa Pechincha, versando sobre o tema dos emigrantes de Leste e a percepção do apoio social em Portugal. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina da Silva Costa, versando sobre o tema da relação entre a hiperactividade e a (im)possibiblidade de brincar. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Lília Matias, versando sobre o tema da violência entre pares de adolescentes-Bulling. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Anabela Silveira, versando sobre o tema das patologias sazonais. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Carla Borges, versando sobre o tema da análise comparativa entre a primeira e segunda gravidez na adolescência. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paulo Maranhão, versando sobre o tema da actividade turística na praia de Mira e perspectivas de desenvolvimento. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Susana de Oliveira, versando sobre o tema da união de facto e expectativas diferenciadas segundo o género. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina da Silva Costa, versando sobre o tema da relação entre a hiperactividade e a (im)possibiblidade de brincar. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Catarina Fernandes, versando sobre o tema da qualidade conjugal no casal homossexual. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Luísa E. C. Nogueira dos Santos, versando sobre o tema da prestação de cuidados a crianças: diferenciação segundo o género do progenitor. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Susana Aleixo, versando sobre o tema da reabilitação e amputação (importância da intervenção do serviço social hospitalar). torga 93 Mestrados Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Miguel Pratas, versando sobre o tema da institucionalização de crianças e jovens e representações das famílias. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Susana Romão, versando sobre o tema das representações sociais da toxicodependência. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Berta Pereira Jacinto, versando sobre o tema das representações sociais dos alunos surdos do ensino básico de Leiria. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Ricardo Jorge de Oliveira Ferreira, versando sobre o tema das vivências da amputação do membro inferior por etiologia vascular em homens na idade adulta: abordagem fenomenológica da corporeidade. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Brito Largo, versando sobre o tema do impacto das construções pessoais na intervenção clínica dos profissionais que lidam com doenças neurológicas. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paula Sofia Carvalho, versando sobre o tema do apoio social e o stress dos enfermeiros. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Maria de Fátima Fonseca, versando sobre o tema do Rendimento Social de Inserção. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Marta Ferreira, versando sobre o tema das famílias migrantes (os pais que vão e os filhos que ficam e as implicações ao nível da organização e estrutura familiar). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Paulo Peralta, versando sobre o tema da rede escolar (uma construção dinâmica). Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Ana Cristina Góis, versando sobre o tema das representações sociais de pobreza. Mestrado em Família e Sistemas Sociais, de Cláudia Pereira da Silva, versando sobre o tema da adopção e a construção da identidade parental nas famílias adoptivas. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Fernanda Maria Lucas dos Santos, versando sobre o tema da “check-list” no processo de cuidados em bloco operatório de neurocirurgia. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Helena Maria Martins Norinha Gomes Sobral, versando sobre o tema do sofrimento do doente oncológico. 94 torga Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Ana Isabel Casca Jesus Carlos Ferreira, versando sobre o tema da paramiloidose. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Helena Maria Abrantes Mendes Belo, intitulado “Competências maternas autopercebidas no cuidar do recém-nascido de termo”. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Sara Cunha, versando sobre o tema da resiliência familiar e as vivências dos familiares de doentes oncológicos em fase terminal de vida. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Maria Manuela António, intitulado “ Vivência da mãe toxicodependente no período de privação do bebé durante o internamento na Unidade de Cuidados Intensivos”. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Ana Paula Favas, versando sobre o tema da contracepção e adolescência. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Margarida Santos, versando sobre o tema da enfermagem de família (análise sistémica construtivista de necessidades de famílias com insuficiência cardíaca). Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Cecília Pinto, versando sobre o tema da violência de género e psicopatologia em jovens adultos. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Hélder Simões, versando sobre o tema da cultura e clima organizacional em escolas profissionais. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Marta Albuquerque, versando sobre o tema da vulnerabilidade ao stress dos cuidadores da pessoa portadora de deficiência mental. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Rita Pelote, versando sobre o tema das representações sociais dos politraumatizados condutores de ciclomotores, vítimas de acidentes de viação. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Teresa Tinoco Duro, versando sobre o tema da qualidade de vida na hemodiálise versus diálise peritoneal. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Cláudia Oliveira, versando sobre o tema do nível de ansiedade da mulher grávida em relação ao parto no pré-parto imediato. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Maria Otília Queirós, versando sobre o tema da implantação de endopróteses metálicas por via cutânea (estudo rectrospectivo do tratamento de oclusões das vias bibliares). Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Paula Cristina Parente, versando sobre o tema do burnout em enfermagem. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Cláudia Alves Cardoso, versando sobre o tema do síndrome de burnout em enfermeiros. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Tânia Leite, versando sobre o tema do acompanhamento da família ao hemodializado. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Pedro Miguel Dias Sequeira, intitulado “Educação Para a Saúde da Família do Doente com AVC”. Mestrado em Sociopsicologia da Saúde, de Isabel Fernandes, versando sobre o tema dos factores influenciadores da percepção do comportamento de cuidar na enfermagem. Mestrado em Serviço Social, de Paula Manuela Almeida Marques Henriques, versando sobre o tema do Serviço Social nos municípios do distrito de Viseu. Ana Cristina Abreu Viagem MINHA COIMBRA Do rio, outrora basófias, hoje senhor corpos suados, o roçar das saias das As salas apresentam decorações sobre os areais, não se percebe o emaranhado de calçadas que se es- mulheres da vida e o sabor do pão cozido no forno comunitário, leva-nos de ilusão de óptica. Na sala de topo, Dom João V (1725) vigia o seu tesouro tendem pelas colinas. O encadeamento dos telhados, das paredes, das co- a experienciar os dias desses tempos longínquos. A história viva apresenta- criado nesse século das luzes, pelo ouro do Brasil, e que deslumbrava a res, essa assimetria tão só e tão quieta. Quando se começa a subir, sente- se ali aos nossos sentidos. Em tempo de aulas, saboreia-se a subida em cada pedra da calçada. Corte com o seu luxo. Do Pátio da Universidade a vista sobre o casario e o rio sonolento en- se a vida dos que partilham os passeios e as soleiras das portas. Os espa- Para baixo e para cima, é um vai-vem humano de estudantes e futricas, mas volve-nos na mágica saudade da cidade, deixando-nos onde tudo come- ços da rua parecem a sala de estar daquelas casas e os sofás e janelas dizem que Coimbra descansa quando chegam as férias. çou. Com as palavras do poeta suspiramos “Coimbra tem mais encanto na quadros de enfeitar. Adivinham-se as conversas alegres entre colegas e Chegando ao topo, a Universidade é a dona do mundo. A Torre avista- hora da despedida”. Em Maio, Coimbra pinta-se de ne- amigos ou o silêncio do estudo para o exame da manhã seguinte. se desde os confins dos arrozais do Mondego. gro e recebe com frescura e irreverência a festa da Queima da Fitas. Entra-se na cidade intra muros pelo Arco de Almedina. O tempo voa até ao A Sala dos Capelos constitui o lugar com maior significado académico, A festa do fado abre com a Serenata Monumental às zero horas de uma século V quando os Árabes invadiram a cidade. onde se fazem ainda hoje as Provas de Doutoramento. Primitivamente, foi sexta-feira. Durante uma semana, a cidade alimenta-se de jantares e bebi- Ao cimo das Escadas de QuebraCostas, a Sé Velha resiste à passagem a Sala do Trono do Palácio Real. O barroco da Biblioteca Joanina das, e para sobremesa, alguns amores feitos à pressa. do tempo vestida ao estilo românico. No centro histórico, todos os anos dá-lhe a fama de ser única no seu estilo. As noites coimbrãs passam pelas ruas da Alta deixando um rasto de mis- a Feira Medieval toma de assalto os mais desprevenidos. Velhos, pedintes, As paredes são revestidas por estantes lacadas de vermelho e verde- tério nas paredes frias das casas. A guitarra geme baixinho “lua morta, rua nobres, leprosos, donzelas misturamse numa azáfama própria da Idade Mé- escuro, as madeiras são exóticas do Brasil, pintadas a dourado e policro- torta, tua porta.” dia, onde o cheiro nauseabundo de madas. Ana Cristina Abreu torga 95 Entrevista “Os alunos querem novas instalações” Bruno Cordeiro está a cumprir o seu centando ainda que “nós neste segundo mandato e, em entrevista à Torga confessou que ser presidente da momento pagamos 215 euros de propina tendo em conta as insta- AEISMT “é uma oportunidade de deixar um pouco do que é o meu trabalho, o lações que temos. Eu acho que se tivéssemos umas boas insta- meu dinamismo, a minha criatividade e também poder cativar os outros a fazer lações, os alunos não se importariam de pagar um pouco mais, coisas. O espírito da AE é representar os alunos e resolver os seus proble- por exemplo até 250 euros”, concluiu. O Presidente da Associa- mas”. A AEISMT tem colaborado com ou- ção de Estudantes reconhece que “os alunos só teriam a ga- tras Associações de Estudantes e, neste momento, em conjunto com o Instituto nhar com as novas instalações, mesmo que para isso tivessem Politécnico e outras instituições de ensino privadas, está a tentar “ressuscitar” a que fazer um esforço que implicasse um aumento na propina, FAC – Federação Académica de Coimbra “não para fazer frente à AAC dependendo do valor do aumento. Os alunos querem novas ins- mas para mostrar que também estamos aqui e também conseguimos fazer coisas”, explicou o Presidente da AEISMT. talações. Constantemente somos confrontados com perguntas como: E as obras? E o novo edi- Uma das dificuldades desde sempre apontadas pelas anteriores direcções fício? Para quando? Onde? Há uma impaciência da nossa parte da Associação de Estudantes foi a proximidade com os alunos, “continua a ser e dos alunos no que diz respeito às novas instalações” afirmou o uma das nossas maiores dificuldades. No entanto, a nossa maior vitória, desde Presidente da AEISMT. Bruno Cordeiro revelou tam- há dois anos a esta parte, foi ter conseguido aproximar mais os alunos da AE. bém que a Direcção da Associação de Estudantes tem uma rela- • O que eu noto cada vez mais é que os alunos se identificam com a Associação ção harmoniosa e de respeito com a Direcção do ISMT: “existe • e isso facilita o nosso papel. Eles procuram-nos”, afirmou Bruno Cordeiro. A dis- uma relação bastante saudável, existe diálogo. Estamos em persão de edifícios é apontada como uma das causas para que não exista sintonia, até porque temos o mesmo objectivo que é servir os tanta coesão entre alunos, por isso quando se fala em novas instalações o Presi- alunos.” dente da AE é peremptório: “Esse projecto só peca pelo adiamento porque, a nível do ensino, vinha colmatar a maior lacuna do ISMT, que é a dispersão de edifícios. No que diz respeito à coesão com os alunos, ela seria perfeita”, acres- 96 torga Projectos concluídos/em curso • • • • Andrea Marques Henrique Amaral Dias Obras de reestruturação do bar da AEISMT Garantir um Horário de Funcionamento da AE Esplanada no Edifício azul Organização do I Encontro de Tunas Criação da Associação de Antigos Alunos do ISMT II Baile de Gala AE Eleições para os Corpos Gerentes da AEISMT No dia 9 de Março, realizaram-se nas instalações do ISMT, as Eleições para os Corpos Gerentes da Associação de Estudantes do ISMT. No mesmo dia, pelas 18H30, procedeu-se à contagem dos votos, na presença do Presidente da Comissão Eleitoral e do Representante da Lista A. Foram apurados os seguintes resultados: Direcção e Assembleia Geral N.º total de Votantes - 321 Votos em Branco - 10 Lista A - 311 Nulos - 0 Conselho Fiscal N.º Total de Votantes - 321 Votos em branco - 10 Lista A - 311 Nulos - 0 É de realçar a significativa adesão dos alunos às urnas de voto, o que nos deixou bastante satisfeitos. Relatório de Contas Anual Referentes ao Período: 2 de Março de 2005 a 14 de Março de 2006 Saldo a transportar do último exercício ——— 1.567,42 € Total de Receitas ——— 34.488,82 € Total de Despesas —— 20.103,49 € Saldo presente no Banco ——————— 12.373,35 € Saldo presente no cofre da AEISMT ————— 45,39 € Total de saldo a transportar —————— 12.418,74 € Bruno Cordeiro Presidente da AEISMT TOMADA DE POSSE DOS CORPOS GERENTES DA AEISMT Realizou-se no dia 15 de Março de 2006, a Tomada de Posse dos Corpos Gerentes da AEISMT, na sala 1 do Edifício Azul da Rua Augusta. Foram convidados todos os Docentes, Discentes e Funcionários a estarem presentes, os quais aderiram em bom número. Na parte inicial foi dada a palavra aos representantes dos Órgãos do ISMT. Discursou a Dra. Cristina Quintas, como representante do Conselho Directivo, a Dra. Sofia Figueiredo (Conselho Pedagógico), o Dr. Henrique Amaral Dias, em representação do Conselho Científico. Enquanto Presidente da Comissão Eleitoral ouvimos o nosso caro colega Nuno Lourenço e, seguidamente, o Dux João Proença. Por último, foi com muita atenção que tivemos o prazer de escutar o Presidente reeleito, Bruno Cordeiro. O facto de emoção da vida académica estar quase no fim era notória no seu discurso. Falou-nos da construção constante da “nossa Associação em movimento”, no orgulho que teria em continuar a lutar, com os seus colegas e amigos, pelos direitos e exigências de todos os alunos. Assinada a Acta da Tomada de Posse, seguiu-se um lanche oferecido pela AEISMT. Para finalizar com a alegria necessária, actuou brilhantemente a Tuna Real Torga. Sara Ribeiro AEISMT torga 97 AE Projectos da Lista Vencedora A Lista A vencedora das eleições para o Corpo de Gestão da AEISMT, propôs: Objectivos gerais: exigir um acréscimo da qualidade de ensino e garantir a sua manutenção; garantir um Horário de funcionamento da AE que beneficie todos os alunos; lutar pelos direitos dos alunos (política de propinas, política educativa, etc.); garantir uma Associação que represente todos os estudantes, e não apenas uma minoria. Dinamizar os seguintes Núcleos: 1. Núcleo de Política Educativa 1. Organizar um dossier com politica educativa; 2. Recolher junto do Instituto toda a legislação sobre política educativa; 3. Acompanhar as novas leis sobre Educação que vão saindo no Diário da República; 4. Recolher informação e esclarecer os alunos acerca do Processo de Bolonha. 2. Núcleo de Apoio ao Estudante 1. Colaborar com os elementos do Conselho Pedagógico; 2. Fazer a ponte entre os alunos e a A.E. acerca dos problemas pedagógicos; 3. Dinamizar o Cartão da AE; 4. Criar o Guia do Caloiro 2006/2007. 3. Núcleo de Imagem e Jornalismo 1. Gerir a página de Internet e o Blog da AEISMT; 2. Fazer reportagens de actividades realizadas pela AE e pelo ISMT; 3. Colaborar com a Torga; 4. Gerir e melhorar a Imagem da AE; 5. Criar de uma lista com o e-mail de todos alunos do ISMT; 6. Criar de um Boletim Informativo com o objectivo de difundir aos alunos toda a informação relevante relativa ao ISMT, nomeadamente o resumo das reuniões dos órgãos pedagógico, directivo e assembleia de representantes do Instituto. Visa também o aumento franco dos índices de participação dos alunos na vida académica. 98 torga 4. Núcleo de Desporto 1. Organizar torneios desportivos; 2. Organizar desportos radicais; 3. Facultar aos alunos momentos de lazer e descontração; 4. Participar na discussão das políticas desportivas levadas a cabo pelo Estado; 5. Intercâmbio com outras instituições. 5. Núcleo de Eventos e Cultura 1. Organizar o II Baile de Gala; 2. Apoiar o GIVS; 3. Apoiar a Tuna Real Torga; 4. Organização de conferências, seminários, colóquios, cursos, exposições e concursos. 6. Núcleo de Apoio à fundação da AAAISMT 1. Fundação da Associação de Antigos Alunos do ISMT. Reunião Geral de Alunos No dia 15 de Março, pelas 14 h, realizou-se uma Assembleia-Geral de Alunos no Edifício Azul da Rua Augusta, sala 1, tendo como Ordem de Trabalhos a apresentação e aprovação do Relatório de Contas de 2 de Março de 2005 a 14 de Março de 2006, o qual foi aprovado por unanimidade. Para além da aprovação foi com satisfação que ouvimos comentários de felicitação pelo excelente trabalho realizado. Houve igualmente um espaço de debate e reflexão, no qual foram feitas críticas e sugestões, às quais procuraremos dar resposta. Dada a pouca participação dos alunos nesta RGA, gostávamos de apelar a todos os alunos do ISMT para que fossem pessoas corajosas e inteligentes ao ponto de participarem nas decisões que lhes dizem respeito, uma vez que não basta criticar, quando não se ajuda a melhorar. II Semana do Caloiro 2006 Neste ano lectivo, realizou-se a II Semana do Caloiro. Este evento surgiu com o intuito de promover o intercâmbio entre Caloiros e Doutores de todos os cursos do ISMT. O Conselho de Veteranos quis mostrar aos caloiros o que é realmente a Praxe, aproveitando também para apresentar o Código de Praxe do Instituto que esteve à venda na AEISMT por 3 euros. Foram várias as praxes a que os caloiros foram sujeitos, entre as quais, a tradicional “Omoleta”. Para além da Cruz de Celas e imediações do Instituto, a Praxe teve também lugar no Pavilhão “Pirilampos”, espaço que nos foi gentilmente cedido pela Direcção, razão pela qual nós agradecemos desde já. Esperamos que o verdadeiro espírito da Praxe seja para sempre mantido neste Instituto e que decorra sempre de forma ordeira, correcta e sem qualquer tipo de abusos ou de desrespeito ao Código. “Dura Praxis Sed Praxis”, A Praxe é Dura, Mas é a Praxe! Saudações Académicas, João Proença Dux Veteranorum AE Novidades do GIVS Em primeiro lugar, o Grupo de Intervenção e Voluntariado Social (GIVS) agradece a todos aqueles que participaram na recolha de roupa (homem/Senhora e criança), calçado, material escolar e didáctico. Esta recolha aconteceu no âmbito dos projectos “SemAbrigo” e “Dá-me um Sorriso”. Foi com imenso agrado que vimos a Associação de Estudantes cheia de sacos e é com um Obrigado enorme que vos pomos a par do que foi feito com todo esse material: · Em Dezembro, foram efectuadas duas entregas à Equipa de Rua Reduz (Sol Nascente); uma entrega à AMI, uma à ADAV e efectuou-se também uma entrega em mãos a uma família carenciada de Coimbra. · No dia 18 de Janeiro, enviou-se uma mega entrega para a Sol Eiras (brinquedos, roupa, calçado, etc.) · No dia 3 de Março, efectuou-se uma nova entrega à AMI e dia 13 do mesmo mês foi feita uma entrega a uma família com carências (roupa de criança, material escolar e alimentos). Queríamos também lembrar que este projecto não cessou: caso tenhas algo em casa que não te seja útil podes trazê-lo ainda. Ao fazê-lo estás a tornar alguém feliz! Nós tivemos a prova disso. Em segundo lugar gostaríamos de vos dar a conhecer o sucesso que o projecto “Dá-me um Sorriso” tem tido no que toca à aceitação das instituições que contactámos (cujo público são crianças). Toda a parte institucional deste projecto está já concretizada, com as devidas reuniões e acordos com as instituições. O grupo já iniciou a execução prática do projecto, com a ida à Associação Integrar – Projecto Aguarela no dia 13 de Dezembro, no dia 24 de Fevereiro e no dia 17 de Março e ao Centro Comunitário S. José no dia 14 de Março, Hospital Pediátrico (dias 25/03 e 29/04), Projecto Horizontes (29/03), Comunidade S. Francisco de Assis (19/04), Integrar (21/04) e Casa Infância Dr. Elísio de Moura (26/04). Este projecto enche-nos de uma enorme satisfação, não só porque os objectivos e actividades dos projectos estão a ser concretizados, mas também porque nos tem permitido saborear o prazer do sorriso, nosso e das crianças, numa partilha efectiva. O GIVS tem outro motivo para sorrir. Aos elementos fundadores do grupo juntaramse mais estudantes. Hoje, totalizamos 22 membros. Houve um investimento na recepção e na procura desses mesmos elementos, porque deles dependerá o futuro do grupo. Orgulhamo-nos de juntar tantas pessoas na busca do mesmo sonho: levar a cabo acções que contribuam por um mundo um pouco melhor. Estamos a unificar a família estudantil do ISMT, confiamos nas capacidades de inovação e conhecimento desta família, uma família (não te esqueças) da qual também fazes parte. Mais novidades? Projectos novos, claro! Estamos a realizar um Ciclo de CafésConversa com o objectivo de revitalizar as velhas tertúlias coimbrãs, embora não linearmente. Julgamos necessário criar condições para que se abram espaços de discussão académica e social, e fazer desses mesmos espaços sítios de aprendizagem, enriquecimento e maturação úteis para a vida pessoal, social e profissional dos participantes. Cafés-Conversa: · Prostituição de Rua realizado no dia 14 de Março. A adesão dos estudantes foi plena, conseguiu-se criar o ambiente propício à discussão saudável sobre esta temática. Para tal contámos com a presença da Dr.ª Ana Simões, Coordenadora da Equipa de Rua Reduz. · A importância dos Media na sociedade actual realizado no dia 22 de Março. · Despenalização do aborto realizado no dia 28 de Março. O Colóquio intitulado “Limiar da (in)diferença”, teve como temática o preconceito e a exclusão social e efectuouse no dia 5 de Abril, na Casa da Cultura. O Colóquio sobre os comportamentos aditivos e de risco na adolescência teve lugar no dia 26 de Abril. O GIVS participou num Workshop de Animação de Rua com o Animador SócioCultural, Sérgio Lindo, no dia 22 de Fevereiro, realizado na Sol Eiras. Considerámos que seria interessante promover esta actividade para os alunos do ISMT, assim realizou-se no dia 30 de Março, no Penedo da Saudade. Neste Workshop foram aprendidas técnicas de malabarismo, fogo e andas, modelagem de balões e face painting. O grupo desenvolveu, ainda, uma campanha de incentivo ao Voluntariado, porque acreditamos que realizar acções nesta área é uma mais valia a todos os níveis, para os jovens. Por último, gostaríamos de apelar à vossa participação nos nossos projectos, bem como salientar que esperamos pelo teu. Não tens nenhum? Pensa, e não te esqueças que “O que guia e arrasta o mundo não são as máquinas, são as ideias” (Victor Hugo). Gisa Barata AEISMT torga 99 Música A Oferenda Musical, composta, impressa e presenteada a Frederico II, rei da d) Em que a melodia é executada do início para o fim e vice-versa Prússia, por J. S. Bach, tendo como tema base o sugerido pelo monarca, em simultâneo; e) Em espiral, i.e. quando se repe- aquando da estadia do compositor em Potsdam, é amplamente analisada por te fá-lo, por exemplo, numa nota acima. Se estiver ainda na mes- Douglas Hofstadter na sua obra Gödel, Escher e Bach: Laços Eternos. Este li- ma escala (dó menor, seguido de ré menor), então designa-se por vro em boa hora foi publicado pela Gradiva no ano de 2000. OFERENDA MUSICAL J. S. Bach (1747) Johann Sebastian Bach (1685-1750) é um génio da música. Muitos de nós reconhecemos o nome, mas poucos apreciam a sua arte e, ainda menos, percebem a um nível elementar as técnicas de composição que a enformam. Contudo, qualquer ouvinte atento e disposto a um raciocínio rigoroso captá-las-á na sua essência, se para tal envidar esforços moderados. f) espiral modulada; Acompanhadas por vozes em Dispenso-me de relatar outros por- contraponto livre; g) Em duplicado ou triplicado menores históricos que rodeiam esta composição, pois o meu propósito é o (duas/três líderes e duas/três seguidoras). de iluminar a estrutura musical em que se apoia e, em particular, o cânone. Bach foi capaz de construir cânones Cânone vem da palavra grega para de uma complexidade inigualável até hoje pelo homem, onde integrava vá- regra ou lei. Musicalmente, significa a mais estrita forma de contraponto no rias regras canónicas, como é o caso do Cânone n.º 4 da Oferenda Musical qual uma voz imita o ritmo e intervalo de uma outra. Assim, cada nota de um em que combina 3 vozes, duas em movimento contrário com velocidades dis- cânone tem de assumir um carácter melódico e harmónico dentro da mes- tintas e uma terceira livre, sendo esta, como era de bom tom, o augusto tema. ma melodia. Se temos três vozes, a nota de uma delas tem de se harmoni- Mais curioso, é o Cânone n.º 5 a 2, zar com as das outras duas e, simultaneamente, inserir-se melodicamente per Tonos, cujo processo em espiral modulada se poderia prolongar ad na perfeição. É evidente que quanto mais complexo é o tema que serve de inifinitum, aproveitando o compositor por elogiar Frederico II: “Notulis base ao cânone e quantas mais vozes são introduzidas, sobe dramaticamen- crescentibus crescat Fortuna Regis”. Contudo, e após seis modulações, fi- te o número de combinações e, consequentemente, a complexidade naliza no tom original de dó menor. musical, de modo a respeitarmos as regras que formam o cânone. Voltando a Hofstadter, este apresenta-o como a primeira “volta estra- No entanto, a complexidade não se nha”, em que existe uma “hierarquia enredada”, ou seja, quando “nos en- fica apenas pelo número de vozes. Podemos ter “cópias”: contramos, inesperadamente, de volta ao lugar donde partimos.” a) Em tons diferentes; b) A velocidades diferentes, expan- É pois com a certeza de antanho dindo ou contraindo o tema; c) Em movimento contrário, que que os gostos se discutem e refinam, que recomendo a Oferenda Musical. progridem nos mesmos intervalos melódicos, mas em sentidos opostos; Henrique Amaral Dias 100 torga Cinema Ordet (1956) e Gertrud (1964) Carl Dryer Carl Theodor Dryer (1889-1968), cineasta dinamarquês, é um ilustre desconhecido do público em geral. Todavia, os poucos filmes que realizou são dos mais notáveis da curta história da sétima arte. Enquanto que na literatura, pintura ou música, raros e tolos são os que pretendem colocar no mesmo espaço cultural Margarida Rebelo Pinto e Herberto Hélder, Jeff Koons e Magritte ou Marco Paulo e Jorge Palma, no cinema, realizadores menores, como Spielberg ou George Lucas são aclamados e reverenciados como grandes mestres. Este gigantesco disparate é, por norma, justificado pelo cariz populista e questionável valor estético do cinema. Há até quem vá mais longe e afirme mesmo que ele não é uma forma de arte genuína, pois depende de artes nobres como a fotografia e o teatro. Tenho para mim que o cinema é uma arte legítima e fundamental. Claro que, ao longo de décadas, a comercialização em massa retirou espaço àqueles que mais o mereciam. Entre estes encontram-se os de Dryer, em particular A Paixão de Joana D’Arc (1927), Vampiro (1932), Dias de Ira (1943), A Palavra (1956) e Gertrude (1964). São estes dois últimos que agora me interessam. Muito diferentes na mise-enscène, nos cenários e na visão do mundo que encerram, ambos são das maiores obras de arte do século passado, embora, infelizmente, só uma ínfima minoria os tenha alguma vez visto. A Palavra é um filme sobre o mistério da Fé e do Amor. Se admitirmos que existem conceitos cujo valor simbólico é fundamental para a nossa civilização, Fé e Amor estarão de certeza entre eles. Por isso é tão difícil conceber uma obra de arte neles centrada. Em casos simi- lares, ficamos muitas vezes com a impressão de que o autor foi arrogante e pretensioso ao abordá-los ou, pura e simplesmente, incapaz de os retratar. A Palavra é uma espantosa demonstração de que Fé e Amor existem. Só ela nos podia dar essa certeza tão directa, emocional e verdadeira. Com uma composição de luz memorável, movimentos de câmara precisos e austeros, planos longos e close-ups únicos, este filme, baseado numa peça de Kaj Munk (morto pelos Nazis), é também um estudo da esterilidade espiritual e das relações humanas com os que nos são mais queridos. Morten Borgen é o velho patriarca de uma família do meio rural, que detém uma propriedade gerida pelos seus filhos Mikkel e Anders. Um terceiro filho, Johannes, perdeu-se num delírio maníaco, julgando-se Jesus Cristo, depois de tanto ter lido Kierkegaard. Temos também a mulher de Mikkel, Inger, e as suas duas filhas. É então que, numa cena reminescente do que aconteceu ao próprio Dryer, gótica pelo sofrimento atroz que exprime, Inger adoece gravemente ao dar à luz. Johannes tinha previsto a sua morte e ela vem a morrer profeticamente. No final, a escuridão da morte de Inger, da loucura de Johannes e da descrença de Mikkel cede à luz divina da Fé e do Amor, quando Inger volta à vida e dela brota toda a sensualidade e amor. Quando Inger se ergue do caixão, beija apaixonadamente o marido e o abraça como se nada mais importasse, e o seu rosto resplandece no écran, os cínicos e cépticos só podem capitular. Como escreve João Bénard da Costa: “As montanhas nunca se moveram, como os mortos nunca ressuscitaram (...). A única vez que vi isso acontecer (e é, sem dúvida, o mais pasmoso dos milagres) foi neste filme. Se me disserem que é cinema eu respondo que não é, não.” Eu também senti o mesmo... Gertrude é uma mulher de meia-idade, ex-cantora de ópera, casada com um torga 101 Cinema advogado poderoso (Kanning), que se prepara para entrar na alta política. Gertrude é uma mulher com passado, tendo tido uma relação longa com um poeta de renome (Gabriel Lidman). Estes dois homens vivem obcecados pelo poder e fama, tanto que “se esqueceram de amar”. Gertrude deseja amar e ser amada. Assim, a cena inicial é um extenso diálogo que desemboca na confissão de infidelidade espiritual de Gertrude a Kanning: ama um jovem músico e compositor, Erland, que, como rapidamente o espectador deduz, não retribui esse sentimento. Quando Gertrude descobre que Erland apenas a deseja e que até aprecia o seu marido, não suporta tamanha desilusão e desfeita, indo para Paris estudar psicanálise, como uma ficcionada Lou Andreas-Salomé. Passados muitos anos, uma Gertrude caricaturalmente envelhecida vive em reclusão na sua terra natal. Apenas acompanhada pelo caseiro, num chalet que nunca chegamos a ver, mas que imaginamos perdido num mundo irreal, recebe a visita de Axel, um amigo de longa data, que a acolheu na sua estada em Paris. Teria sido apenas um amigo? Sabemos somente que ele queima à sua frente as cartas que lhe escrevera. Após esta enigmática cena, Axel despede-se com um aceno nostálgico e Dryer põe-nos a olhar para a porta da casa: estará Gertrude prestes a embarcar nessa última viagem para a eternidade ou simbolizará esse pórtico a trágica separação entre um homem e uma mulher? Dryer não nos esclarece quanto ao destino de Gertrude, nem nos diz o que pensarmos do seu percurso de vida, limita-se a tratar-nos como adultos. A Palavra e Gertrude são filmes centrados no Amor e no risco que corremos ao acreditarmos que ele existe e que virá ao nosso encontro, mas também no milagre que ocorre quando com ele nos deparamos. Henrique Amaral Dias 102 torga Página Literária O Autor e a Obra Dom Dinis nasceu em 1261 e subiu ao trono em 1279. O filho de Dom Afonso III era dotado de uma enorme educação cultural. Denominado de Rei Trovador, da sua obra poética consta “O Livro de Louvores da Virgem Nossa Senhora e Outras Cousas ao Divino”. Foi autor de 138 Cantigas de elevada técnica e de grande inspiração lírica. Como disse António Ferreira, Dom Dinis “ honrou as musas, poetou e leo”. Dom Dinis fundou a Universidade em Lisboa, em 1290, transferindo-a em 1308 para Coimbra. Encontra-se homenageado nesta cidade com uma estátua, num largo da Alta com o seu nome. Inserção Temporal - Século XIII; Idade Média Género Literário – Lírico; Poesia Trovadoresca (Cantiga de Amor) Características A Cantiga de Amor era a expressão subjectiva da dor amorosa masculina, determinada por um amor sem possibilidade de realização. É um amor- adoração, um amor platónico direccionado para uma mulher geralmente casada e que por ser um amor adúltero se esconde na masculinização do objecto de amor -”mha senhor”. Ana Cristina Abreu Página Literária Está presente nos espíritos mais sensíveis, i.e. naqueles que vagabundeiam à noite e se vestem a rigor durante o dia, uma ambivalência entre ideal e resignação, êxtase e tédio, futuro e presente. Penso que muito da obra teatral e poética de Eliot gira em torno de um conflito entre o conhecimento e a negação do mesmo, mas cujo desfecho é sempre e inevitavelmente a morte. O conhecimento é a compreensão da imperfeição, logo da nossa finitude. Podemos lamentar melancolicamente o destino mortal, porque dele nos vamos apercebendo ao longo da vida. Aquele que o nega, só pode morrer atónito. Contudo, todos sofremos as agonias da morte imperscrutável. Eliot compôs esse quadro de lugar e lugar nenhum como ninguém: Quer’ eu en maneyra de proençal fazer agora hun cantar d’amor e querrey muyt loar mha senhor, a que prez nem fremusura non fal, nen bondade, e mays vos direi en: tanto a fez Deus conprida de ben Que mays que todas las do mundo val. Ca mha senhor quiso Deus fazer tal quando a fez, que a fez sabedor de todo bem e de mui gran valor e cõn tod’ est é mui comunal, aly hu devue; er deu-lhi bõ sem e dês y nõ lhi fez pouco de bem, quando nõ quis que lh’ outra foss’ igual. Ca en mha senhor nunca Deus pos mal, mays pos hi prez e beldad’ e loor e falar mui bem e rijr melhor que outra molher; dês y é leal muyt´, e por esto nõ sey oj’ eu quen possa compridamente no seu bem falar, ca nõ á, tra lo seu bem, al. (D. Dinis) (CV 123, CBN 485) The Cocktail Party T. S. Eliot Independentemente das considerações críticas que possamos tecer ao ler The Cocktail Party, uma coisa é certa: há nesta obra uma qualidade rara que provoca uma adesão imediata e espontânea. “O tempo presente e o tempo passado Estão ambos talvez presentes no tempo futuro. E o tempo futuro contido no tempo passado. Se todo o tempo é eternamente presente Todo o tempo é irredimível. (...) Ou digamos que o fim precede o princípio, E que o fim e o princípio estiveram sempre ali Antes do princípio e depois do fim. E tudo é sempre agora.”1 Em The Cocktail Party é essa voz lúcida e terapêutica que se impõe, quando Edward e Lavínia Chamberlayne ouvem de Reilly, convidado mistério/psicanalista: “Terão que recordar A visão que tiveram, mas terão também que deixar De a lamentar – terão de se manter numa Rotina, a habitual, e terão de aprender A ser tolerantes para consigo e para com os outros, torga 103 Página Literária Dando e recebendo nos actos vulgares o que é De dar e receber. Não se queixarão; Contentar-se-ão com a manhã que separa, E com a tarde que une, para uma Conversa circunstancial à lareira, duas pessoas Que sabem que se não compreendem mutuamente Que criam filhos que não compreendem e que Nem os compreenderão a eles nunca.” Mas já antes Edward tinha adivinhado a sua sorte, quando se despede de Celia, da ilusão de amor que por ela nutria, que afinal nada mais era do que o estertor do desejo de imortalidade, que apenas floresce na juventude, para logo definhar quando se aceita envelhecer: “É o pior Momento da vida, esse em que Sentimos que perdemos o desejo De tudo o que era mais desejável, E ainda não nos contentáramos com o que podíamos ter desejado; E ainda sem sabermos que mais há para ser desejado. E continuamos até a desejar que pudéssemos desejar tudo O que o desejo deixou em atraso.” Eliot, noutra obra, Ash-Wednesday, conclui o que Edward deixou em aberto: “Porque eu não espero voltar de novo, Porque eu não espero Porque eu não espero voltar (...) Porque eu não espero conhecer de novo A glória frágil da hora concreta (...) Porque eu sei que o tempo é sempre tempo E o lugar é sempre e somente o lugar E o que é real é-o uma vez somente” Contudo, o autor destes versos inesquecíveis descerra a esperança de quem acredita, de quem ainda acredita, de 104 torga quem ainda quer acreditar que a vida se estende para além das nossas misérias e cálculos, amores e desamores, espraiando-se na tranquilidade do ser resignado e reflexivo: “Consequentemente rejubilo, tendo de erigir algo Sobre que rejubilar E rogo a Deus que se amerceie de nós E rogo que me faça esquecer Estas questões que comigo demasiado discorro Demasiado explico (...) Embora eu não espere voltar de novo Embora eu não espere Embora eu não espere voltar De nós próprios e do nosso próximo, todos seríamos Condenados. (...) Têm que viver com essas recordações, e transformá-las Em qualquer coisa de novo. Só a aceitação do passado Lhe pode alterar a significação.” Pouco depois a peça termina, com o recomeço dessa comédia de enganos que é a vida, a Cocktail Party. Vacilando entre os lucros e as perdas Neste breve trânsito em que os sonhos cruzam O crepúsculo de sonhos cruzado entre o nascimento e a agonia (...) Não consintas que nos iludamos com embustes Ensina-nos a curar e a descurar Ensina-nos a permanecer tranquilos” Se existe um elemento clássico e religioso em The Cocktail Party, ele é a tragédia de Celia Coplestone, que se recusa a aceitar a realidade, lutando por uma visão de algo, talvez de um amável para amar, acabando por ser crucificada atrozmente por canibais nalgum lugar ou em lugar nenhum. Seremos culpados por essa morte em que carne e sangue nos são presenteados? Felizmente que Reilly nos liberta e consola: “Se tivéssemos de ser julgados pelas consequências De todas as nossas palavras e actos, para além das Intenções e do nosso limitado conhecimento Eliot, T. S., Quatro Quartetos 1 Henrique Amaral Dias Agenda CHILE 33º CONGRESSO MUNDIAL DE ESCOLAS DE TRABALHO SOCIAL “CRESCIMENTO E DESIGUALDADE – CENÁRIOS E DESAFIOS DO TRABALHO SOCIAL NO SÉCULO XXI” Santiago do Chile 28 a 31 de Agosto [email protected] COIMBRA COMEMORAÇÕES DOS 70 ANOS DA FORMAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DO INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA Comissão organizadora Prof. Dra. Alcina Martins data a anunciar EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DOS 70 ANOS DA FORMAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DO INSTITUTO SUPERIOR MIGUEL TORGA Organização - Biblioteca do ISMT data a anunciar PASSEIOS DE COIMBRA NAS FREGUESIAS Postos municipais de turismo de Janeiro a Dezembro 4º Domingo de cada mês BASÓFIAS - PASSEIOS DE BARCO NO RIO MONDEGO Aberto todo o ano FUN(TASTIC)ª COIMBRA Viagem panorâmica Aberto todo o ano EXPOSIÇÃO PERMANENTE NINHOS REDONDOS COM PEDRAS DE MOINHOS Museu Zoológico da Univ. Coimbra Aberto todo o ano EXPOSIÇÃO PERMANENTE A NATUREZA E O HOMEM Museu Zoológico da Univ. Coimbra Aberto todo o ano EXPOSIÇÃO PERMANENTE INSTRUMENTOS CIENTÍFICOS DO SÉCS.XVIII E XIX Museu da Física Aberto todo o ano EXPOSIÇÃO PERMANENTE UM PERCURSO DO ESTUDANTE NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA Museu Académico Aberto todo o ano EXPOSIÇÃO PERMANENTE DO CENTRO INTERPRETATIVO DA CIDADE MURALHADA Torre de Almedina EXPOSIÇÃO PERMANENTE COLECÇÃO TELO DE MORAIS (pintura, escultura, cerâmica e mobiliário) Edíficio Chiado FADO DE COIMBRA À Capela Rua Corpo de Deus Todos os dias (excepto Terça) FADO DE LISBOA À Capela Rua Corpo de Deus (às terças) FARO CAMINHOS DO ALGARVE ROMANO Exposição permanente Museu Municipal de Faro ESPELHO DA IDENTIDADE CULTURAL: USOS E COSTUMES Exposição permanente Museu Regional do Algarve EXPOSIÇÕES DE PINTURA DE ANA ANDRÉ CERÂMICA DE TERESA RAMOS Artadentro-Galeria de Arte Contemporânea Até Junho FIGUEIRA DA FOZ HABITANTES E HABITATS PRÉ E PROTO-HISTÓRIA NA BACIA DO LIS Castelo de Leiria Até 30 de Setembro A NOVA VIDA DAS IMAGENS Pintura restaurada da colecção do Município de Leiria- séculos XVI-XVIII Edifício do Banco de Portugal Até final de 2006 LISBOA EXPOSIÇÃO ALGUNS TRABALHOS NA COLECÇÃO DE HEIN SEMKE CAMJAP Até 30 de Junho ESPECTÁCULO “DA MINORIA PARA A MAIORIA: IMPORTAÇÕES CULTURAIS” Fundação Calouste Gulbenkian Setembro CONFERÊNCIA “A UNIÃO EUROPEIA E A IMIGRAÇÃO” Fundação Calouste Gulbenkian 21 de Novembro DOCUMENTÁRIO E DEBATE “PORTUGAL E OS PORTUGUESES VISTOS PELOS IMIGRANTES” Fundação Calouste Gulbenkian 31 de Janeiro de 2007 CONFERÊNCIA INTERNACIONAL E LANÇAMENTO DO LIVRO “IMIGRAÇÃO: OPURTUNIDADE AMEAÇA?” Fundação Caloste Gulbenkian 6 e 7 de Março de 2007 OU EXPOSIÇÃO “UNIVERSO VISUAL E ARTÍSTICO“ DA COLECÇÃO BERRADO CAE Até 17 de Setembro EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA “HOMO MIGRATIUS” Fundação Calouste Gulbenkian 6 de Março a 1 de Abril de 2007 EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA DE ANDRÉ BRITO CAE Até 26 de Junho EXPOSIÇÃO DESENHOS, MEMÓRIAS FERNANDO LEMOS CAMJAP Até 30 de Junho EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE MARIA RUA FÉLIX Até 2 de Julho CONFERÊNCIA IASL 2006 LER, SABER, FAZER: AS MÚLTIPLAS FACES DA LITERACIA International Association of School Librarianship Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares 3 a 7 de Julho LEIRIA MÚSICA EM FAMÍLIA NOVOS SONS EM BUSCA DE PAIS E FILHOS Piccolini Filarmónicos SAMP 2 de Julho Teatro Miguel Franco DANÇA COM LETRAS – UM ESPECTÁCULO DE A a Z Salão Preto e Prata Casino Estoril torga 105 Agenda ORQUESTRA CASINO ESTORIL COM PEDRO MALAGUETA Todas as noites Casino Estoril EXPOSIÇÃO PERMANENTE SÉCULO XX PORTUGUÊS: OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA JOÃO SOARES/MÁRIO SOARES Casa Museu João Soares EXPOSIÇÃO ALGUNS TRABALHOS NA COLECÇÃO Hein Semke Centro de Arte Moderna de José de Azeredo Perdigão Até 30 de Junho EXPOSIÇÃO DESENHOS, MEMÓRIAS Fernando Lemos Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão Até 30 de Junho TEATRO A FLAUTA MÁGICA Castelo de São Jorge 1-29 de Junho LISBON VILLAGE FESTIVAL 2006 Festival de Cinema Digital Cinema São Jorge 21 a 25 de Junho CLÁSSICOS DO CINEMA Filmes ao ar livre Castelejo de Castelo de São Jorge 28 e 29 de Junho CESÁRIA ÉVORA- CONCERTO Torre de Belém 2 de Julho ÁFRICA FESTIVAL Concertos e tenda temática Torre de Belém 6 a 9 de Julho FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÁSCARAS E COMEDIANTES Castelo de São Jorge 24 a 31 de Agosto MOSTRA DE CINEMA DA AMÉRICA LATINA Cinema São Jorge 1 a 15 de Setembro FESTIVAL DE CINEMA GAY E LÉSBICO Cinema São Jorge 16 a 24 de Setembro PORTO VISEU Fundação Serralves 12º CONGRESSO “RECURSOS, ORDENAMENTO, DESENVOLVIMENTO DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL Instituto Politécnico de Viseu 15 a 17 de Setembro www.apdr/congresso/2006 À VOLTA DO JARDIM: CONHECIMENTOS E PRÁTICAS Cursos 2006 Bonsai: Jin e Shari (“madeira morta”) 23 de Setembro Bonsai: kabudachi (“estilo maciço”) 25 de Novembro EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE ANTÓNIO DACOSTA Até 9 de Julho EXPOSIÇÃO DE PEDRO MORAIS Locus-Solus III- Uma Parede de Cal Pintada e Água Corrente Dukosan III- Lâmina e Anamorfose em Parede Caiada Até 16 de Julho TEATRO D. JOÃO DE MOLIÈRE Teatro Nacional São João 8, 9, 11, 12, 13 de Julho TEATRO FEI LUÍS DE SOUSA DE ALMEIDA GARRETT TNSJ 9, 15, 16 de Julho VIANA DO CASTELO EXPOSIÇÃO PERMANENTE “A LÃ E O LINHO NO TRAJE DO ALTO MINHO” Museu do Traje FEIRA DE ANTIGUIDADES E VELHARIAS Jardim D. Fernando Todos os meses, no 1º sábado FESTIVAL “ JAZZ NA PRAÇA DA ERVA” 27 a 29 de Julho FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA CLÁSSICA (PORTUGAL/EUA) 1 a 15 de Agosto FESTIVAL DE FOLCLORE INTERNACUIONAL 4 a 10 de Setembro “SIMPLY BLUES”FESTIVAL INTERNACIONAL DE BLUES 6 a 9 de Dezembro Ana Cristina Abreu 106 torga 107 108