X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul Sensibilidade do Modelo Utilizado pelo Software Hydrus 1D aos Parâmetros Térmicos e Hidráulicos na Simulação da Temperatura do Solo Ezequiel Koppe(1); Anderson Luiz Zwirtes(2), Dalvan José Reinert(3), André Somavilla(4) (1) Doutorando no programa de Pós Graduação em Ciência do Solo; Universidade Federal de Santa Maria; Rua E Jardim Lindóia n° 50, Apto 201, Bairro São José, Santa Maria-RS, CEP 97110-126; [email protected]; (2)Doutorando no programa de Pós Graduação em Ciência do Solo Universidade Federal de Santa Maria; (3) Professor Adjunto, Departamento de Solos, Universidade Federal de Santa Maria; (4)Aluno do curso de graduação do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria; RESUMO– A utilização de softwares e modelos matemáticos para estimativa de fluxo de solutos no solo está cada vez mais difundida entre os pesquisadores, dentre os softwares o mais utilizados está o softwares Hydrus 1 D. Dessa forma, o objetivo do trabalho foi determinar a sensibilidade do modelo utilizado pelo software Hydrus 1D aos parâmetros térmicos e hidráulicos utilizados para a simulação da temperatura do solo. Foi construído um perfil de simulação com 1 m de profundidade, o ponto de observação foi inserido na profundidade de 0,1 m. O perfil criado apresentava apenas um tipo de material, com características hidráulicas e térmicas utilizando parâmetros apresentados no Hydrus 1D para solos de textura arenosa. Adotou-se a condutividade do solo saturada como nula (zero) buscando isolar o resultado apenas na variação que causou a mudança no valor do parâmetro especifico em questão. O Hydrus 1D apresentou forte sensibilidade ao parâmetro b3 da equação de condutividade térmica do solo, o volume de sólidos e a quantidade de calor contida na faze sólida são parâmetros sensíveis da equação para determinação da temperatura solo. Os parâmetros hidráulicos têm pouca influência na estimativa da temperatura do solo. Palavras-chave: Modelagem, fluxo de calor, conteúdo de água. INTRODUÇÃO– Atualmente existem diversas formas de determinar os fluxos de solutos no solo, seja ela de forma direta, por meio de medições em laboratório ou a campo (Soares, 2013), ou indireta por meio de modelagem matemática (Santos et al., 2010). O uso da modelagem para determinar fluxos de água e calor no solo apresentam como vantagem agilidade na obtenção dos resultados e menor demanda de mão de obra e equipamentos para sua determinação. A representação dos fluxos em meios isotrópicos, como o solo, requer utilização de modelos matemáticos complexos, em sua maioria solução numérica, sendo necessário a utilização de softwares capazes de resolver tais equações. O software Hydrus 1D (Siminek et al., 2005), conta com diversos modelos já propostos, para simular o fluxos de água, calor e solutos no solo. Para a simulação dos fluxos de água e calor no solo o software soluciona a equação de Richards e de Fourire, respectivamente. Considerando que os modelos utilizados para a simulação da temperatura e do conteúdo de água no solo são modelos não lineares, a sensibilidade do modelo a variação dos parâmetros vai influenciar de forma mais ou menos significativa na determinação final do conteúdo de água e temperatura, dessa forma exigindo cuidado na obtenção dos parâmetros mais sensíveis (Chaves, 2009). O objetivo do trabalho foi determinar a sensibilidade do modelo/software Hydrus 1D aos parâmetros térmicos e hidráulicos utilizados para a simulação da temperatura do solo. MATERIAL E MÉTODOS– As simulações da temperatura e conteúdo de água no solo foram realizadas com o software Hydrus 1D (Simunek et al., 2005). O perfil de simulação foi criado com 1 m de profundidade, discretizado em 401 pontos equidistantes. Um ponto de observação foi inserido na profundidade de 0,1 m. O perfil criado apresentava apenas um tipo de material com características hidráulicas e térmicas utilizando parâmetros apresentados no Hydrus 1D para solos de textura arenosa (Tabela 1). Adotou-se a condutividade do solo saturada como nula (Ks=0 cm h-1) buscando isolar o resultado apenas a variação ocasionado pela mudança no valor do parâmetro especifico em questão. Para a simulação foram desconsiderados entrada e saída de água do sistema, enquanto que a temperatura da superfície apresentava temperaturas em media 8 ºC superior que a temperatura da camada inferior do solo. Utilizou-se um passo de tempo inicial de 0,024 h, com mínimo de 0,00024 h e máximo de 120 h e o tempo final de 24 horas. O modelo de van Genuchten-Mualem (Van Genuchten, 1980), sem hysteresis, foi utilizado para descrever a curva de retenção de água e condutividade hidráulica do solo não saturado. O fluxo de água foi simulado para as condições de contorno de pressão atmosférica e possibilidade de ocorrência de escoamento superficial (superior) e drenagem livre (inferior). Para o fluxo de calor, adotou-se a temperatura como condição de contorno superior e inferior, sendo a condutividade X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 o Tabela1– Propriedades físicas e térmicas do solo requeridas para a simulação dos fluxos de água e calor no solo com o HYDRUS 1D. -------Parâmetros de fluxo de água------Qr(cm3 cm-3) Qs(cm3 cm-3) Alpha 0,045 0,43 0,145 -------Parâmetros de fluxo de água------N Ks (cm h-1) I 2,68 0 0,5 -------Parâmetros de fluxo de calor------Solid Org m b1 0,57 0 1.06E+18 -------Parâmetros de fluxo de calor------b2 b3 Cw -1,12E+13 2,29E+13 5,42E+11 Os parâmetros considerados na analise de sensibilidade foram: amplitude térmica, horas por ciclo, fração volumétrica do sólido (Sólidos), fração volumétrica da matéria orgânica (org), dispersividade térmica longitudinal (disp), coeficientes b1, b2 e b3 da função de condutividade térmica, capacidade volumétrica de calor da fase sólida (cn), capacidade volumétrica de calor da fase orgânica (co), capacidade volumétrica de calor da fase líquida (cw), conteúdo de água residual (Qr), conteúdo de água para saturação (Qs), parâmetros alpha,n da equação de retenção de água no solo (van Genuchten, 1980), condutividade hidráulica saturada (Ks) parâmetro de tortuosidade da função de condutividade (I). A analise de sensibilidade foi conduzida sistematicamente através da multiplicação de cada um dos parâmetros térmicos (amplitude térmica, horas por ciclo, Sólidos, org, disp, b1, b2, b3, cn, co, cw) e hidráulicos (Qr, Qs, alpha, n, Ks, I) por 0,5, 1, 1,5 e 2 vezes o valor inicial do parâmetro, enquanto os demais parâmetros permaneceram constantes. Para efeitos de comparação dos resultados das simulações foi tomado o valor da temperatura e conteúdo de água no solo no ponto de observação às 16 horas. RESULTADOS E DISCUSSÃO– Nas Figuras 1, 2 e 3 estão expressos os resultados da análise de sensibilidade do modelo utilizado pelo software Hydrus 1 D. Na figura 1 são apresentados o resultados obtidos com a variação dos parâmetros térmicos utilizado pelo software Hydrus 1D na simulação dos fluxos de calor no solo. Dos componentes da equação o mais sensível é o coeficiente b3 da equação da condutividade térmica do solo, com variação deste parâmetro de 0,5 a 2,0 vezes dos valores originais acarretaram em alterações na ordem de 2,89 °C na temperatura do solo estimada pelo modelo. Observa-se ainda que a redução do valor do parâmetro, em comparação com o valor original proporciona uma redução no valor da temperatura do solo simulada, enquanto que o aumento do valor em comparação ao original ocasiona um aumento da temperatura do solo, resposta inversa a apresentada quando há variação nos demais parâmetros. A variação dos parâmetros Cn e volume de sólidos ocasionaram alterações consideráveis nos valores de temperatura estimados pelo modelo, sendo que com alterações destes parâmetros de 0,5 a 2,0 vezes dos valores originais acarretaram em alterações na ordem de 1,60 °C. A variação capacidade volumétrica de calor da fase líquida (Cw) proporciona alteração no valor simulado para a temperatura do solo, embora menos pronunciado, quando comparado com parâmetros anteriores, porém ainda expressivo, com a variação, 0,5 a 2,0 vezes nos parâmetros originais, a alteração do valor simulado de temperatura do solo foi na ordem de 1 °C. Com o seu aumento de 2 vezes do coeficiente b2 da equação da condutividade térmica do solo observa-se que a simulação apresentou redução de 0,6 °C. Amplitude Horas por Ciclo Solidos Disp b1 b2 b3 cn co cw 30.5 30.0 Temperatura °C térmica descrita pela equação (Chung and Horton, 1987). 29.5 29.0 28.5 28.0 27.5 27.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 Vezes o valor original Figura 1– Análise de sensibilidade da difusividade térmica do solo. Com mesmo intuito de avaliar a sensibilidade do modelo foi realizada a mesma variação, de 0,5 a 2,0 vezes, nos parâmetros hidráulicos, e foi observado o comportamento dos resultados gerados. Conforme exposto na figura 2 para a temperatura do solo e na figura 3 para o conteúdo de água no solo, pode-se verificar baixa sensibilidade do modelo para a variação dos parâmetros hidráulicos, sendo que nenhum dos parâmetros influenciou de forma expressiva nos valores de temperatura simuladas. Deve-se considerar ainda, que para esta situação considerou-se a condutividade hidráulica padrão como zero. Este resultado já era esperado devido a não ocorrência de fluxo de água no perfil do solo, porém serve como comprovante de que os valores do conteúdo de água e temperatura permaneceram sem alterações. 2 X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 30.0 Temperatura °C 29.5 29.0 28.5 Qr Qs Alpha n Ks I 28.0 27.5 27.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 Vezes o valor original Figura 2– Temperatura do solo em função dos parâmetros hidráulicos do solo. Assim como a variação dos parâmetros hidráulicos não influenciaram na estimativa da temperatura do solo, a influência dos mesmos foi baixa na estimativa do conteúdo de água no solo. 0.19 0.18 CHAVES, H. M. L. Sensibilidade do Modelo Hydrus aos Parâmetros Hidráulicos do Solo em Diferentes Texturas. Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 14 n.2, 33-37 Abr/Jun 2009. CHUNG, S.O.; HORTON, Soil heat and water flow with a partial surface mulch, Water Resour. Res. 23, 2175-2186, 1987. SIMUNEK, M.; VAN GENUCHTEN, M.T.; SEJNA, M. 2005. THE Hydrus 1-D Software Package Manual, v. 3.0., Riverside, 240 p. 2005. 3 -3 REFERÊNCIAS SANTOS, T.V.; FONTANA, D.C.; ALVES, R.C.M. Avaliação do fluxo de calor e evapotranspiração pelo modelo sebal com o uso do sensor ASTER. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, V. 45, n. 5, p. 488496, maio 2010. 0.20 Umidade (m m ) CONCLUSÕES– Dos parâmetros térmicos, necessários para a realização das simulações de fluxo de calor no solo, o mais sensível para simulações da temperatura é o coeficiente b3 da equação de condutividade térmica do solo. O volume de sólidos e a quantidade de calor contida na faze sólida também se apresentam como parâmetros com alta sensibilidade na simulação da temperatura solo. Os parâmetros hidráulicos têm pouca influência na simulação da temperatura do solo quando este não apresentar fluxo de água em seu interior. 0.17 Qr Qs alpha n Ks 0.16 0.15 0.14 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 Vezes o valor original Figura 3– Conteúdo de água em função da variação dos parâmetros hidráulicos do solo. SOARES, W. A. Análise Comparativa do Fluxo de Calor no Solo em Profundidade e na Superfície. Revista Brasileira de Geografia Física, v.06, n.04, 665-679, 2013. GENUCHTEN, M.T. Van. A closed-form equation for predicting the hydraulic conductivity of unsaturated soils. Soil Science Society of America Journal, Madison, v.44, n.5, p.892898, 1980. 3