COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Estudo da Resistência Mecânica de Solos da Formação Barreiras Maceió-AL Ivânia Silva de Lima Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, ivania@ lccv.ufal.br Heliene Ferreira da Silva Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] Viviane Carilho Leão Ramos Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] Marcílio Fabiano Goivinho da Silva Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] João Manoel Mathias Sampaio dos Santos Filho Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] Thaise da Silva Oliveira Morais Universidade Federal de Alagoas, Maceió, Brasil, [email protected] RESUMO: A cidade de Maceió está assentada sobre terrenos sedimentares pertencentes à Bacia Sedimentar de Alagoas. Estudar os solos da Formação Barreiras se justifica na abundância de sua ocorrência e importância como unidade geológica predominante nesta cidade. Litologicamente é composta por sedimentos clásticos de origem continental, idade Plio-Pleistocênica (TerciárioQuaternário), inconsolidados a pouco consolidados, de cor amarelo-avermelhados e constituídos por sedimentos de natureza arenácia a argilosa e siltosa. A motivação deste trabalho se integra à outras contribuições realizadas nos estudos da resistência mecânica de solos de Maceió. Neste trabalho são apresentados um estudo das características de resistência desta Formação e as propriedades geotécnicas dos solos da Formação Barreiras. Foram realizados ensaios de caracterização física e para avaliação da resistência mecânica, ensaios de cisalhamento direto de amostras indeformadas correlacionando com a variação do teor de umidade. Os resultados apresentaram-se dentro de uma faixa de variação de ângulo de atrito e coesão encontrados na literatura com relação a Formação Bareiras em Maceió. PALAVRAS-CHAVE: Resistência mecânica, Formação Barreiras, Cisalhamento direto. 1 Formação constitui-se por intercalações de espessuras diversas de sedimentos arenosos, argilosos e siltosos, que combinados a um processo de ocupação desordenado, ao longo de suas vertentes, topos e vales, torna-se uma unidade com maior vulnerabilidade a problemas relacionados a estabilidades de encostas e/ou taludes. A infiltração da água no solo constitui-se como um dos principais cusadores de instabilidade de taludes em épocas chuvosas, pois, a resistência é maior quanto mais seco estiver o solo, conforme a figura abaixo, à INTRODUÇÃO A resistência mecânica de um solo pode ser interpretada segundo os parâmetros de deformação e de resistência. Esta resistência é básica para resolução dos problemas práticos da engenharia geotécnica, dentre os usuais, destacam-se a estabilidade de taludes, a capacidade de carga de fundações e os empuxos de terra sobre estruturas de contenção. Em Maceió são freqüentes as ocorrências de deslizamentos, principalmente onde predominam solos da Formação Barreiras. Esta 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 1992; Feijó, 1994 apud Marques 2006) Redefiniram a estratigrafia da Bacia sedimentar Sergipe-Alagoas, individualizando-as em duas Bacias distintas: a Bacia de Alagoas e a Bacia de Sergipe, considerando o pacote sedimentar Terciário da Bacia de Alagoas como Formação Barreiras. A Formação Barreiras, representa os eventos deposicionais Plio-Pleistocênico, como parte fenomenológica, da evolução tectônicosedimentar tardia da Bacia Sergipe – Alagoas. Localmente esta Formação é referida morfologicamente como TABULEIROS. Os Tabuleiros se distribuem de forma limítrofe e adjacente, às planícies costeira e lagunar, em Maceió. Os tabuleiros apresentam sedimentos clásticos arenosos com intercalações de argilas e siltes de colorações variadas. Estes sedimentos tendem a gerar uma maior suscetibilidade erosiva e aos deslizamentos. O mapa geológico-geomorfológico da cidade de Maceió é apresentado na Figura 2. medida que ocorre infiltração de água, tensão de sucção (devido aos meniscos capilares nas interfaces água-ar) diminui (PENHA, 1999). Figura 1. Variação da coesão em função da saturação (PENHA, 1999). Este trabalho avaliar a resistência de um solo, mediante realização de ensaios de cisalhamento direto com a variação da umidade. Este estudo apresenta duas partes principais: uma revisão bibliográfica dos parâmetros de resistência de solos da Formação Barreiras e a análise da resistêcia mecânica de um solo desta Formação através do ensaio de cislhamento direto. Neste contexto, este estudo visa contribuir para compreensão do comportamento mecânico de solos, quando há variação da umidade, da referida unidade geológica. 2 GELOGIA - GEOTECNIA 2.1 Geologia de Maceió Na cidade de Maceió, a unidade estratigráfica predominante é a Formação Barreiras. Esta está delimitada pela planície flúvio-lagunar e a planície flúvio-marinha. As encostas interligam os interflúvios tabuliformes às duas planícies. A planície flúviomarinha integra os terraços marinhos holocênico e pleistocênico. Recentemente, Feijó (1994 apud Marques 2006), observando diferenças importantes em seu caráter estrutural e estratigráfico, afirmando que o embasamento da Bacia de Alagoas é constituído de granitos e gnaisses proterozóicos. (Feijó & Vieira, 1990; Feijó, Figura 2 . Mapa geológico-geomorfológico de Maceió – AL (SANTOS, 1998). 2.2 Dados Sobre Resistência Ao Cisalhamento De Solos Da Formação Barreiras - Revisão 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. ação da água na diminuição da resistência do solo. Sendo a coesão a parcela preponderante para esta diminuição, pois em alguns caso o ângulo de atrito aumenta, embora pouco, na condição inundada. Estudos sobre a resistência dos solos da Formação Barreiras tem sido publicados, valores referentes aos parâmetros de resistência, coesão e ângulo de atrito, encontrados nos solos da Formação Barreiras tanto maceió quanto em outras cidades do nordeste. MARQUES (2006) analisou um perfil situado no Campus da Universidade Federal de Alagoas, em praticamente todos os ensaios inundados o solo perdeu a coesão que apresentou nos ensaios na umidade natural. O ângulo de atrito praticamente não variou para as amostras. 3 METODOLOGIA Neste trabalho foram realizados ensaios no Laboratório de Geotecnia do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas e são aqui apresentados. A coleta das amostras deformada e indeformada do solo utilizada neste trabalho são de uma área destinada à construção do Centro de Tratamento de Resíduos localizado no Bairro do Benedito Bentes na Cidade de Maceió. As amostras foram coletadas entre as profundidades de 0,80 m e 1,20 m no topo de uma encosta em poço de investigação de acordo com a NBR 9604/86 da ABNT. Com as amostras deformadas foram realizados ensaios de caracterização física, granulometria e limites de consistência, de acordo com a metodologia da Associação Brasileira de Normas Técnicas: NBR 6467/86 (Preparação de Amostras), NBR 7181/84 (Análise granulométrica), NBR 6508/84 (Massa Específica dos Grãos dos Solos), NBR 6459/84 (Limite de Liquidez), NBR 7180/84 (Limite de Plasticidade). O agente defloculante utilizado foi o hexametafosfato de sódio. A partir do bloco da amostra indeformada foram realizados os ensaios de cisalhamento direto com corpos de prova retangulares com dimensões de 51 x 51 mm, tomando-se cuidado ao colocar na prensa para evita danos ao corpo de prova. Os ensaios foram realizados em um prensa automatizada (Foto 1), controlado por software, munido de célula de carga, LVDT (Linearly variable different transformer) horizontal e LVDT vertical. A velocidade de carregamento adotada foi de 0,23 mm / min. Foram ensaiados 3 corpos de prova com tensões verticais de 50 kPa, 100 kPa e 150 kPa, na condição de umidades natural e saturada, com o objetivo de Tabela 1. Parâmetros de Resistência (modificado MARQUES, 2006) Prof. (m) Natural Saturada c (KPa) c (KPa) φ(o) φ(o) 1,10-1,40 31,2 9,76 31,9 0 3,10-3,40 27,2 15,75 30,0 0 5,10-5,40 31,6 17,18 31,8 0 7,20-7,50 32,7 7,25 34,9 0 8,40-8,70 36,1 21,65 27,9 1,64 Como pode-se observar o ângulo de atrito para amostra na umidade natural varia de 27,2 a 36,1°e a coesão de 7,25 a 21,65 KPa. Para situação de saturação o ângulo de atrito de 27,9° a 34,9° e a coesão de 0 a 1,64 KPa. SOUZA (2007) analisa um encosta em Maceió e a variação do ângulo de atrito do estado natural para inundade é de 21,1° para 18,8° e da coesão de 42,9 KPa para 30,3 KPa. SANTANA (2006) observa em solos da Formação Barreiras de Pernambuco e Alagoas que o IP variou geralmente entre 7 a 20 e os parâmetros de resistência na condição inundada variam geralmente entre 0 a 13kPa (c) e 20º a 36º (φ) e na condição natural variam geralmente entre 7 a 56kPa (c) e 31º a 45º (φ). SEVERO (et al 2006) apresenta valores de coesão, do Rio Grande do Norte, elevados com relação aos apresentados anteriormente. Em condições naturais a coesão varia de 233 KPa a 396,6 KPa e inundada de 45,4 KPa a 109,7 KPa e para o ângulo de atrito , respectivamente 27,7° a 48,3° e 26,8° a 29,6°. Em praticamente todos os ensaios citados a tensão normal aplicada é de 50 a 200 KPa. Como se trata de perfies diferentes desta Formação não pode-se esperar uma semelhança nos valores numéricos contudo fica evidente a 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Limite de Liquidez - LL Limite de Plasticidade - LP Ìndice de Plasticidade - IP determinar os parâmetros de resistência do solo, ângulo de atrito (φ) e coesão (c). 18,7% 24,7% 8 Quanto ao comportamento tensão deformação são apresentados nos gráficos 2 e 3, pode-se observar que para os níveis de carga o solo não apresentou resistência de pico, tanto para a amostra natural quanto para inundada. Foto 1. Prensa de cisalhamento direto. 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Através de uma análise visual pode-se observar que o solo estudado apresenta concreções (laterítas) de cor avermelhada. Com curva granulométrica (Gráfico 1) obtida através dos ensaios de peneiramento e sedimentação podese classificar a amostra. Sendo, segundo o Sistema de Classificação Unificada de Solos (SUCS), uma argila arenosa, recebendo a denominação CL. Gráfico 2. Curva Tensão x deformação amostra natural. Gráfico 3. Curva Tensão x deformação amostra inundada. Gráfico 1. Curva defloculante. Granulométrica com uso Os gráficos 4 e 5 apresentam as envoltórias de resistência de Morh-Coulomb das amostras. Com relação as envoltórias, observou-se que em para o ensaio inundado, o solo perdeu a coesão que apresentou nos ensaios na umidade natural. Por outro lado, o ângulo de atrito aumentou. A coesão decresceu consideravelmente, 22% do valor natural e o ângulo de atrito aumenta cerca de 7 % . de A tabela 1 apresenta as propriedades físicas do solo estudado. Tabela 2. Propriedades Físicas do Solo. Propriedades do solo Massa Específica dos grãos- γg 26,6 kN/cm³ 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Gráfico 6. Envoltório das tensões das amostras. Em termos gerais os resultados aqui apresentados encontram-se condizentes com os valores encontarados na literatura, onde há uma diminuição da coesão com água. Se compararmos com os valores de MARQUES(200 6) percebe-se que a variação coesão na umidade natural de 7,25 a 21,65 KPa e para situação de saturação de 0 a 1,64 KPa. Para o ângulo de atrito apresentou um aumento também como apresentado no item 2.2 para algumas amostras de outros trabalhos. Gráfico 4. Envoltória de resistência amostra natural. 5 Obervou-se que os solos apresentam comportamento de resistência ao cisalhamento diferenciado em função da umidade, neste trabalho e nos apresentados. O aumento no teor de umidade causa redução na coesão, causada pela decréscimo da cimentação, enquanto que no ângulo de atrito há pouco variação. Logo evidênciam a importância da parcela da coesão na resistência ao cisalhamento do solo que é influenciada, significativamente, pela variação do teor de umidade. Gráfico 5. Envoltória de resistência amostra inundada. Através da envoltória de resistência obtiveram-se os valores dos parâmetros de resistência apresentados na Tabela 3. Tabela 3. Parâmetros de resistência. Umidade (%) φ(o) Natural 39,3 Saturado 42,3 CONCLUSÕES c (KPa) 25,3 5,8 Como apresentado na seção 2.2 os parâmetros encontrados nos ensaios seguem as mesmos comportamentos, ou seja, uma diminuição da coesão, pouca variação do ângulo de atrito ou aumento deste , mesmo que pouco. O gráfico 6 apresenta as envoltórias de tensões das amostras juntos. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Laboratório de Geotecnia – UFAL e ao CNPQ pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Bezerra, A. C. S. (2007) Caracterização GeológicaGeotécnica De Pérfis Da Formação Barreiras Em Macei. Trabalho de Conclusão de Curso, Colegiado do Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal de Alagoas, p 3-6. Goivinho, M. F. G. (2009) Análise do Comportamento Mecânico de Solo Reforçado com Fibras de Polipropileno. 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