ISBN 978-85-8015-054-4
Cadernos PDE
VOLUME I
Versão Online
2009
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
DA NATUREZA PERCEBIDA À PERCEPÇÃO DA NATUREZA: A CIDADE DE
BITURUNA/PR EM DOIS TEMPOS (1927-2010)
Giovana Gonçalves da Maia Krul1
RESUMO: o presente trabalho apresenta os resultados das atividades (de pesquisa e docência) realizadas junto
ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), Secretaria do Estado de Educação do Paraná (2009-2011).
A pesquisa partiu da análise do Álbum Phtograhico e Descriptivo da Colônia Santa Bárbara e do Álbum de
Fotos da Prefeitura Municipal de Bituruna; a intenção é verificar como os imigrantes italianos apreenderam a
natureza e a sociedade no início dos anos 1920. A partir destes documentos e de textos de História Ambiental,
desenvolveu-se a prática docente com alunos de História do Ensino Médio, Escola Estadual Santa Bárbara, a fim
de trabalhar as percepções ambientais (pretérita e atual) construídas para a cidade de Bituruna-Pr.
PALAVRAS-CHAVE: História do Paraná. História Ambiental. Percepção do Meio Ambiente.
1 PERCEBER A NATUREZA
Os problemas ambientais têm local de destaque na sociedade contemporânea. Isto
porque as catástrofes naturais e mesmo a intervenção do homem sobre a natureza provocam
efeitos imperceptíveis, desesperadores e, às vezes anunciados. Cabe-nos, portanto apontar
duas questões fundamentais – ao mesmo tempo antagônicas e complementares – que
nortearam as reflexões aqui apresentadas: a primeira é a necessidade de incluir nos debates a
reflexão histórica acerca destes problemas, e a segunda é a valorização das reflexões
estabelecidas entre professores e alunos em torno da temática ambiental. Afinal de contas,
compreender como a sociedade se comporta em relação à natureza é uma tarefa de todos nós
na medida em que se integra ao nosso cotidiano e nos mostra uma relação profunda e densa.
Não nos esqueçamos disto por nenhum momento. Este exercício duplo, o da pesquisa e o da
pedagogia nos torna mais sábios e, portanto nos faz agir. Mesmo que as ações – individuais ou
coletivas – sejam minúsculas e, em especial localizadas no lugar em que vivemos, elas são
primordiais para percebemos melhor o nosso lugar na natureza e o lugar da natureza em nossa
sociedade.
Foi a partir destas idéias que procuramos trazer à luz da sociedade um importante
documento sobre os primórdios da colonização na Colônia Santa Bárbara no início dos anos
1920, e ao mesmo tempo, a refletir junto com os alunos do Colégio Estadual Santa Bárbara
1
Especialista em História e Sociedade, professora de rede pública estadual, Colégio Estadual Santa Bárbara.
Trabalho desenvolvido junto a Secretaria de Educação-Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE.
Orientador, professor Dr. Michel Kobelinski, Colegiado de História, Universidade Estadual do Paraná
(UNESPAR), Campus de União da Vitória.
(1ª. Série B, Ensino Médio) a percepção e a apropriação da natureza na cidade de Bituruna –
PR. Se a pesquisa nos instigou a interpretar como os colonizadores italianos perceberam a
natureza, por outro lado, preocupamo-nos com as sensibilidades de nossos alunos no tempo
presente. Entre as perspectivas que desejamos alcançar com este trabalho em duas vias – o da
pesquisa e o da pesquisa em sala de aula – estão a disseminação do conhecimento em história
ambiental e a conscientização dos adolescentes para os problemas contemporâneos. Neste
sentido, alertamos nossos leitores que as estratégias e as operações foram múltiplas e
recompensadoras. A começar pelo lugar de aparição da autora que vos escreve, e em segundo
lugar, pela consistência dos trabalhos realizados pelos alunos-pesquisadores. Mas é necessário
reconhecer algumas coisas. A limitação da presente pesquisa. A importância de outras
disciplinas, embora nossa perspectiva fosse além da educação ambiental. Constatar que nossa
influência foi decisiva para levar os alunos a entender que as questões ambientais de nosso
tempo estão ligadas – de alguma forma aos primórdios da exploração da natureza no
município estudado. Assim, apresentamos os resultados desta pesquisa(ação) ao longo dos
anos de 2010 e 2011. Esperamos que eles sejam úteis a professores e alunos, e que iniciativas
desta natureza marquem uma nova etapa na vida dos professores de história no estado do
Paraná.
2 NATUREZA PERCEBIDA: BITURUNA (PR) NOS ANOS 1920
A atual degradação da natureza é assustadora. Quanto mais a estudamos, mais temos
consciência de sua importância. Foi isto que levou um batalhão de especialistas a se
preocupar com o assunto em fins do século XX. O maior símbolo desta aparente vitória que
se expressou na educação ambiental, não só contrastou com a exploração da natureza, como
também não levou em conta a contribuição dos historiadores. Mas é preciso lembrar que no
início do século passado a escola dos Annales já produzia trabalhos sobre clima, paisagem,
terremotos e tsunamis, eventos estes sempre associados à vida dos homens. Portanto, nossa
pesquisa se insere no âmbito da atual retomada destes trabalhos (PÁDUA, 2002).
O desafio atual é estimular a pesquisa em História Ambiental e fazer com que nossos
alunos atuem em sociedade. Tal direcionamento poderá fazê-los reconhecer que são sujeitos
no mundo e que podem intervir para melhorar a qualidade de vida a partir do estudo e da
pesquisa. Mas como a natureza era encarada no início do século passado na colônia Santa
Bárbara? Quais eram as percepções da natureza naquele momento? E por outro lado, como é a
nossa percepção da natureza e da sociedade que nos cerca? Como percebemos e avaliamos
esta interação? Notadamente as respostas são provisórias em razão de não termos todos os
documentos e não compreendermos completamente a realidade. Nesta parte do trabalho
traremos à tona algumas respostas aos primeiros questionamentos, e depois, o resultado das
pesquisas com os alunos.
O Álbum Phtograhico e Descriptivo da Colônia Santa Bárbara (doravante A. P. D.)
elaborado no início dos anos de 1920 nos leva a pensar no esforço da colonização. Trata-se de
uma campanha publicitária na qual A. Cordeiro, inspetor de terras, incentivava a colonização
na colônia de Santa Bárbara. O Álbum ainda apresenta a narrativa da viagem que o padre
Estanislau Schaette fez àquele assentamento. É claro que seu objetivo era a catequese.
Entretanto, suas preocupações com a colonização foram utilizadas para sensibilizar os
leitores. O franciscano nasceu em Wupertal, Alemanha (1872); chegou a Petrópolis para
trabalhar na escola São José (1897). Ordenou-se em fins de 1902, transferindo-se mais tarde
para Santa Catarina e Paraná; foi sócio fundador do Clube 29 de junho e, como membro do
Instituto Histórico de Petrópolis produziu várias obras de interesse histórico (FRÓES, 1960,
p. 4).
A colônia Santa Bárbara foi idealizada pela Empresa Colonisadora Santa Bárbara
Ltda, cuja sede se estabeleceu em União da Vitória. A sociedade se constituiu em 23 de
dezembro de 1924, na cidade de Curitiba. Seus sócios eram: Dr. Oscar Geyer (gerente),
Alfedro Werminghoff (sub-gerente), Jõao Ghilardi, Jóse Carlos Ely, André Carbonera, Gabriel
Cherubini, Luiz Torriani & Cia e o Dr. Constante G. Battochio. A empresa tinha sede em
União da Vitória e filial em Porto Vitória. As terras foram adquiridas da empresa Hauer,
Beltão & Cia. Não se sabe ao certo o motivo da denominação da colônia (FERREIRA, 1996).
Provavelmente em homenagem a Santa Bárbara de Nicomédia, santa protetora de
tempestades, raios e trovões. Coincidência ou não a expedição de Afonso Botelho de 1771
chegou às bordas dos campos de Guarapuava exatamente “[...] no dia de Santa Bárbara, 4 de
dezembro [...]” (KOBELINSKI, 2008, p. 206), justamente nas imediações do perímetro do
assentamento de Santa Bárbara.
Naquele momento, o interior do estado do Paraná se apresentava como uma fronteira
aberta ao povoamento, o que significava a necessidade de um domínio sobre a natureza e
sobre os espaços referenciais do cotidiano de comunidades indígenas. Não seria a primeira
vez na história do Brasil que ocorreriam contatos, confrontos e destruição. A caça, a pesca e a
agricultura indígena rivalizaram com o empreendimento colonizador. Assim, a derrubada de
madeira para construção das primeiras casas, o terreno aberto para o plantio das primeiras
vinhas eram o fruto do incentivo e da força do capital na remodelação do território brasileiro.
Portanto, a história desta cidade paranaense começa com a destruição, termo em geral muito
mais simbólico na civilização ocidental do que na cultura ameríndia. Igualmente, uma
mudança de atitude em relação às plantas e aos animais na Idade Moderna inglesa, isto é,
antes da revolução industrial, já caracterizava a devastação da fauna e da flora, iniciada não
naquele período, mas desde o ano mil (THOMAS, 2000). De qualquer modo, é preciso dizer
que a existência das sociedades estava ligada à exploração dos recursos naturais
(DRUMOND, 1991, p. 2).
A expansão da colonização do Paraná no início do século passado se justificava com a
concessão de terras a baixo preço e um ideário progressista. No oeste e no sudoeste as
companhias concessionárias exploravam erva-mate e madeira de lei de forma indiscriminada,
além da força de trabalho de imigrantes e brasileiros. O princípio da exploração era o da
infinitude dos recursos naturais. Neste período, as correntes migratórias européias que se
dirigiram para o Paraná tiveram um importante papel neste processo. Fluxo este engrossado
por famílias oriundas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina que transformaram o Paraná
em terra dos sonhos de brasileiros e estrangeiros.
Os primeiros núcleos coloniais se estabeleceram no Rio Grande do Sul por volta de
1820. Os fluxos migratórios eram decorrentes do avanço do capital, do nacionalismo e das
revoltas sociais que se espalharam pela Europa (HOBSBAWM, 1991). De certa forma, estes
grupos ocupavam as regiões florestais que não eram interessantes à sociedade tradicional
campeira. É neste sentido que a colonização avançou para Santa Catarina e depois para o
Paraná. A partir dos anos 1920, atingiu o sudoeste do Paraná. As autoridades se interessavam
pela mão de obra estrangeira, principalmente por razões econômicas. Além do mais, “no
século XIX, procura-se povoar vazios demográficos ou se criar agricultura para
abastecimento. Neste século, procura-se implantar a colonização com imigrantes que tenham
certo capital, fundando-se cooperativas e empresas agrícolas” (BORUSZENKO apud
FERREIRA, 1996, p.77). Estes grupos se instalaram inicialmente em Pato Branco e depois
nos vales dos rios Chopim, Piquiri, Paraná e Iguaçu.
“Esta corrente povoadora é que
realmente ocuparia a terra, onde a exploração da erva-mate e da madeira, feita via de regra
por estrangeiros, deixaria apenas rarefeitos caboclos, seminômades na floresta” (BALHANA,
MACHADO & WESTPHALEN, 1969, p. 218).
De qualquer maneira, “[...] uma nova estrutura sócio-econômica implantada em uma
região implica uma nova organização do espaço, que por sua vez modifica as condições
ambientais anteriores” (CASSETI, 1996, p.20). Tal situação provocou conflitos como, como
por exemplo, a Guerra do Contestado (1912-1916) que colocou em lados opostos
“camponeses”, o exército brasileiro e o capital internacional (MAGALHÃES, 2001). Além
disso, deve-se lembrar as disputas territoriais entre os estados de Santa Catarina e Paraná. Daí
a gênese do termo contestado. Por outro lado, em meados deste século “[...] o que se
delineava no Sudoeste era a luta permanente entre os dois pólos extremos do processo de
ocupação do território brasileiro: de um lado, o monopólio fundiário, de outro, a divisão da
terra em pequenas propriedades” (BATISTI, 2006, p. 66).
Os discursos presentes do Álbum Phtographico e Descriptivo propiciavam uma
imagem surreal da realidade brasileira ao “vender” uma imagem que se distanciava da
realidade. O discurso de Cordeiro procurou articular argumentos técnicos e sentimentais para
convencer os sujeitos da potencialidade da terra e do investimento. Assim, a generosidade
divina se mostrava na fertilidade do solo, na abundância de águas, nas características
climáticas que não só remetiam a uma similaridade com a Europa, mas também evidenciavam
as condições necessárias para o desenvolvimento agrícola. A exploração da natureza junto
com os bons negócios contrastava com a realidade da exploração de terrenos distribuídos por
entre “serras e coxilhas”. Em termos físicos o sítio urbano da cidade se situa entre 900 e 1100
metros de altitude. O clima predominante é o subtropical úmido mesotérmico (Cfb), com
média térmica entre 18 e 20° C. (MAACK,1981, 189).
No documento a natureza era, antes de tudo, descrita de forma técnica, cujas
particularidades excepcionais reforçavam a vocação agrícola européia. A narração das
maravilhas da natureza em torno do assentamento da colônia Santa Bárbara foi reforçada pelo
desenvolvimento urbano regional. Assim, a principal referência era União da Vitória. Isto
dava a entender que quem se estabelecesse ali teria as condições necessárias de se
desenvolver rapidamente, pois havia transporte e comunicação facilitados. Era uma ocupação
que, a exemplo de outras no estado do Paraná, diferenciava-se da que ocorria nos Estados
Unidos no século XIX, onde a preservação da natureza em estado selvagem, na forma de
parques nacionais, vinculava-se à idéia de preservação da memória nacional (NASH, apud
DRUMOND, 1991, p. 7). Como aponta Camargos (2006, p. 4) “[...] os parques nacionais
tornaram-se possíveis a partir de condições que deles fizeram um emblema importante da
independência da nação”. No caso da colônia Santa Bárbara, o Álbum Phtographico destaca
apenas o aspecto funcional do povoamento, ou seja, a divisão dos lotes, o alinhamento das
ruas, a separação entre a zona urbana e zona rural e locais reservados ao lazer, como por
exemplo, campo de futebol e o clube local. Na propaganda oficial do assentamento os
leitores eram convidados a desfrutar de uma natureza pródiga. Mas para isso era preciso
preparar o terreno, isto é, derrubar a mata para estabelecer as bases de um povoamento
inédito.
O documento também faz referência a povoamentos particulares no município de
Guarapuava. A grande extensão territorial daquele município atraia contingentes de migrantes
poloneses e ucranianos oriundos de Prudentópolis e Rio Claro. Neste caso, o estudo da
percepção, atitudes e valores atribuídos ao meio ambiente no início do século passado ainda
estão por se fazer. Em todo caso, os aspectos perceptivos e racionais devem ser levados em
conta, principalmente quando eles se referem a vivências no Brasil e na Europa: “[...] os
migrantes viram o meio ambiente novo através dos olhos que estavam adaptados a outros
valores” (Tuan, Yi-Fu, p.76).
Na segunda parte do Álbum Phtograhico e Descriptivo o apelo é apoteótico. Nada
mais significativo do que o discurso de um clérigo. A descrição do padre Estanislau Schaett
foi bem dirigida e, portanto, providencial aos interesses da empresa colonizadora. Partiu de
referenciais memoriais nos quais comparou o ambiente fluvial do rio Iguaçu às baias do Rio
de Janeiro e Bahia. Estes lugares de referência e trânsito, nos quais ficam evidentes os
vínculos afetivos e teológicos, traziam também a noção de civilização e barbárie: “[...] assim,
dentro de pouco tempo, os primeiros moradores que, presentemente, possuem apenas picadas,
feitas na mata virgem, terão à sua disposição excellentes estradas de rodagem incorporando
desta forma suas primitivas residencias à civilização” (A. P. D., 1927, p. 9). No entanto, a
crítica foi esmaecida ao exaltar a satisfação e a felicidade na colônia Santa Bárbara, pois ela
permitia a integração comunitária e a prosperidade. O principal elemento que tirava os
indivíduos da barbárie e do isolamento era a construção da estrada geral. E este motivo de
orgulho do pároco também era compartilhado pelos membros da empresa Santa Bárbara,
Oscar Geyer e Alfredo Werminghoff. Porém, o padre Estanislau acreditava que a colonização
deveria ser realizada por colonos alemães, em razão de seu sucesso nos estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.
Mas o Álbum Phtograhico e Descriptivo não é constituído apenas de discursos. Junto
deles estão referenciais imagéticos que parecem confirmar a tônica das idéias apresentadas
para o empreendimento. Concordamos com a premissa de que a fotografia significa uma
fragmentação da realidade e uma forma de discurso (ACHUTTI, 2004, p.93), da mesma
maneira que os discursos se constituem como manipulações do real. Assim, as fotografias
inseridas neste documento destacam a intervenção e a monumentalidade da paisagem. O
ambiente florestal era composto por espécies da Floresta Ombrófila Mista ou mata-dearaucária (VELOSO, RANGEL FILHO, LIMA, 1991, p. 71), tais como imbuía, erva mate,
xaxim, samambaia-açu, canela, sassafrás, caviúnas, monjoleiros, cedros e guabiroba. É preciso
lembrar que neste ambiente florestal a serraria se tornou um estabelecimento comum e a
madeira o esteio da economia. Neste particular, a madeira era retirada, serrada em pranchões e
tábuas e levada para União da Vitória, onde era beneficiada e comercializada. A erva-mate
também desempenhou um importante papel econômico, pois o estado do Paraná a exportava
para a Argentina, além de abastecer mercado interno. Como podemos verificar nestes
discursos justapostos às imagens, glorificava-se a exuberância vegetal e sua infininitude.
O Álbum Phtograhico e Descriptivo é um documento composto de quarenta e quatro
imagens, a maioria acompanhada de legendas, uma planta e relação de proprietários oriundos
dos municípios de Alfredo Chaves (30), Prata (72), Antonio Prado (83), Bento Gonçalves (56),
Encantado (23), Antagorda (10), Guaporé (6), Erechim (12), Est. Barro (4), Nova Veneza e
Urussanga (13), Cruzeiro (2), Capinzal (1), Lagoa Vermelha (17), Palmas (9), Ouro Verde (1),
Rio Bonito (1), Paulo Frontin (12), São Mateus do Sul (1), Caxias (3), Estrella (1), Colônia
Vera Guarani (3), Sananduya (3), Rio Negro (1). Entre os trezentos e sessenta e três
proprietários, cinco formaram associações, como as de Pedro Giordani & Irmãos, Francisco
Debastiani Netto & Irmãos, Vicente Reali & Cia, Luiz Zavarizze & Cia e João Cavagnolli &
Irmãos. As fotos foram tiradas pelo jornalista e cineasta José Cleto. A lista de proprietários
provisória é de “[...] junho de 1927” (A. P. D., 1927, p.49 et seq.).
O discurso fotográfico que aderiu às formas discursivas de Schaette & Cordeiro
centrou-se nos seguintes temas: empresa colonizadora (fotos 1 e 2 filial em Porto Vitória; 3
matriz em União da Vitória), natureza (fotos 5 e 6, rio Iguaçu;7 e 8, mata virgem; 39, cascata
do Herval), agricultura (fotos 9 e 10, plantação de fumo, 11, plantação de mandioca),
transportes e trabalhadores (fotos 4, lancha da empresa de navegação Estrella; 12, ponte do
rio Jararaca; 13-14-21, estrada e pontes entre Porto Vitória-Mangueirinha; 15 e 16, Estrada
Geral, serra da Jararaca; 17, balsa no rio Jangada; 19 e 20, ponte do rio Herval; 22-23 e 24 a
27, trabalhadores e agrimensor), além do povoamento (18, moradia de João Tonin; 36,
moradia de Miguel Leonartowicz, primeiro morador; 30 e 31, 38, avenidas Paraná e Brasil,
respectivamente; 29, vista parcial da sede da colônia; 32, Igreja Santa Bárbara; 34, imagem
da padroeira; 35, missa inaugural do padre Schaette; 37, visita do padre Schaete; 35 churrasco
da 1ª. Festa de Santa Bárbara, em 4-12-1926; 40, inauguração do moinho de Vitório Dalmás;
41 e 42, engenho de serra dos irmãos Gianello; 43-44, benção da igreja pelo frei Francisco, de
União da Vitória; 28, planta da sede do assentamento de Santa Bárbara).
Estas imagens reforçam as idéias presentes nos discursos, denotando primeiramente a
estruturação da companhia colonizadora (figura 1). Uma natureza magnânima com rios e
florestas que precisavam ser dominados e aproveitados comercialmente (figura 2). Uma
agricultura que já mostrava resultados excepcionais em razão das riquezas do solo e das
características climáticas (figura 3). A idéia de prosperidade e de progresso associadas à
facilidade de transportes (terrestre e fluvial) que evitava o isolamento e permitia o escoamento
da produção, apesar das características onduladas do relevo (figura 4). Destaque-se aqui a
ênfase de José Cleto para os trabalhadores-construtores de estradas. E em seguida, o foco
central das imagens-discursos enfatiza o sucesso da colonização. São imagens diversificadas
das casas dos primeiros colonos, de atos inaugurais de serrarias, engenhos e igreja, que
evidenciavam a prosperidade (figura 5). Mostrava-se um panorama do assentamento e de
avenidas que cortavam a mata virgem (figura 6). O catolicismo foi denotado não só pelas
imagens consagradas da presença dos padres Schaete e Francisco no assentamento, mas
também na cooperação entre os colonos (figura 7). Todas estas imagens têm como pano de
fundo o interesse pela propriedade privada da terra e a intervenção humana na natureza. No
final do documento aparecem recursos complementares aos discursos textuais e imagéticos,
ou seja, um mapa com a localização dos limites da colônia e uma planta da estrutura do
povoamento (figuras 8 e 9).
Figura 1 - Filial e matriz da empresa de colonização Santa Bárbara. Porto Vitória e União da
Vitória, respectivamente, A. P. D., 1927, p.13-14.
Figura 2 - Saltos e corredeira no Rio Iguaçu e mata virgem, A. P. D., 1927, p. 17-18.
Figura 3 - Plantação e colheita de fumo, A. P. D., 1927, p. 20-21.
Figura 4 - Estrada Geral (ponte sobre o rio Jararaca) e trabalhadores na estrada
Porto Vitória-Mangueirinha, A. P. D., 1927, p. 23-30.
Figura 4-
Figura 5 - 1ª. Missa na Igreja Santa Bárbara e serraria dos irmãos Gianello, A.P.D., 1927,
p. 38-46.
Figura 5 -
Figura 6 - Avenidas Paraná e Brasil, A.P.D., 1927, p. 36-37.
Figura 7 - Benção da Igreja pelo padre Francisco,
A.P.D., 1927, p. 48.
Figura 8 - Planta do assentamento Santa Bárbara,
A. P. D., 1927, p. 34.
Figura 9 - Mapa da localização do assentamento Santa Bárbara, entre os
estados do Paraná e Santa Catarina, A. P. D., 1927, p. 51.
3 A DOCÊNCIA E A PESQUISA NA ESCOLA SANTA BÁRBARA
Saber como a natureza era e é percebida no município de Bituruna é importante por
vários motivos. O estudo de diferentes comportamentos ao longo da história nos faz refletir as
ações atuais sobre o meio ambiente. A relação dos conteúdos históricos com as nossas
vivências igualmente nos lembra que somos sujeitos da história. Assim, a descoberta do
mundo e de seus problemas passa pela leitura, pela pesquisa e, principalmente pelas nossas
ações.
Nossa preocupação nesta parte da pesquisa(ação) se direcionou para as atividades com
os alunos do Colégio Estadual Santa Bárbara, Ensino Médio. O plano de trabalho foi disposto
em duas fases distintas, no entanto complementares. Inicialmente oportunizou-se uma
discussão sobre a história da cidade e um contato com o seu principal documento, o “Álbum
Photographico e Descriptivo da Colônia Santa Barbara”. Os alunos foram instruídos a
trazerem para a sala de aula imagens e/ou objetos coletados em suas próprias casas ou com
parentes. Seguiu-se a análise destes materiais, um trabalho com o Álbum Fotográfico do
Município e a aplicação de um questionário sobre o tema estudado. O objetivo era perceber
os principais problemas ambientais na cidade e no Brasil. Sem dúvida as práticas foram
recompensadoras. Ao trabalharmos com este tema reconhecemos que a tarefa do professor em
sala de aula deve contemplar uma série de mecanismos, entre eles “os meios expressivos e
artísticos, crenças e valores” (LEITE 1998, p.44) para que a realidade seja devidamente
interpretada. Foi com base nestas premissas que idealizamos um caleidoscópio fotográfico
para que os alunos compreendessem as transformações as principais modificações ocorridas
na paisagem da cidade.
3.1 Documentos e pesquisa de campo
A proposta de intervenção pedagógica se iniciou com aulas expositivas, estudo dirigido, debates, trabalhos em grupo, representações artísticas e pesquisa de campo. Além de selecionarmos textos provenientes da internet, trabalhamos com o Albúm Photographico e Descriphitivo da Colonia Santa Bárbara, análise de fotografias antigas e atuais, culminando com
debates e a apresentação dos resultados. Em geral, constatou-se que a exploração dos recursos
naturais no Brasil se vinculou essencialmente às esferas política e econômica. Apesar deste
direcionamento, isto não quer dizer que políticos brasileiros como José Bonifácio, por exemplo, não tenham se preocupado com a transformação das florestas imperiais em paisagens
áridas (PÁDUA, 2002). Na verdade os recursos naturais sempre se constituíram como um
grande trunfo para o progresso do país. Ainda hoje questionamos os custos deste empreendimento predatório e de uma nova legislação que permite a devastação florestal.
Na análise do Albúm Photographico e Descriphitivo da Colonia Santa Bárbara os alunos perceberam que os colonizadores procuravam um mundo melhor para suas famílias e,
neste caso deviam “enfrentar” a natureza para concretizarem o sonho de ter um pedaço de
terra para trabalhar. Entendeu-se que o domínio sobre a natureza era uma necessidade que se
manifestava em termos de atividades comerciais e de subsistência; a imensidão da natureza
era um obstáculo a ser transposto. E nem poderia ser diferente. Mesmo porque não havia uma
idéia de depredação da natureza. O domínio sobre ela implicava na manutenção da vida.
Depois de os alunos terem iniciado a leitura da cidade a partir de seu principal documento passamos para a pesquisa de campo. Neste caso seguimos as disposições do DecretoLei nº 196/96, elaborando Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para evitar
qualquer problema relacionado à pesquisa envolvendo seres humanos. Assim, o primeiro levantamento foi sobre a origem familiar. A oportunidade não poderia passar despercebida, pois
o Álbum Descritivo traz uma relação de pessoas que adquiriram propriedades, a qual poderia
ser vinculada com a história familiar dos alunos. Nas discussões dos resultados concluiu-se
que alguns antepassados dos alunos vieram do Rio Grande do Sul, Lages e Palmas; outros
eram refugiados da II Guerra Mundial. Em geral a motivação para virem à Bituruna era a
busca por melhores condições de vida, e mais recentemente vagas de trabalho nas madeireiras
da cidade, entre outros.
Outro ponto fundamental nas atividades como os alunos foi colocado em prática a partir do trabalho de Oliveira (1996). Tratou-se da representação espacial e discursiva da cidade.
A perspectiva era a do início do século e atualmente. Nestes trabalhos com imagens e legendas verificamos um ideal bucólico, “naquela época tudo era mais verde”, “o ar era mais puro,
pois não haviam fábricas”. Mas este ideal contrastava com a dificuldade do desbravamento.
Por outro lado, também havia a crítica à atual poluição dos rios, principalmente a do rio Herval.
Com vistas às lembranças da antiga paisagem do município, os alunos trabalharam
com depoimentos familiares. Entre os mais freqüentes estão a necessidade do desmatamento
para a lavoura, o cultivo sem defensivos agrícolas, a construção das casas, a venda de madeiras para aumentar a renda familiar; o uso do rio Iguaçu para fins de transporte, o uso de animais para a preparação do terreno e transporte de mercadorias, o perigo dos animais selvagens, a abertura de picadas para o trânsito de animais e carroças, e finalmente o isolamento.
É digno de nota a constatação de que a realidade era tão dura quanto a que tinham deixado
para trás.
O que constatamos com estas atividades foi o cruzamento dos espaços perceptivo e
cognitivo na interpretação da realidade circundante (OLIVEIRA, 1996, p. 203-204). O trabalho pedagógico deve preconizar novos desafios para a escola e para os alunos, tendo em vista
também a reformulação do agir e do pensar pedagógico, isto é, um processo dialético do trabalho pedagógico (GASPARIN, 2002). Por outro lado, conforme destaca Corazza (1991, p.
84), “[...] o conhecimento se origina na prática social dos homens e nos processos de transformação da natureza por eles forjados. [...] Agindo sobre a realidade os homens a modificam,
mas numa relação dialética, esta prática produz efeitos sobre os homens, mudando tanto seu
pensamento, como sua prática”.
Quando os educandos foram questionados se a exploração da natureza no início dos
anos 1920 interferiu em nosso cotidiano, as respostas seguiram a lógica preservacionista, amplamente divulgada nas escolas e nos meios de comunicação. O estranhamento foi o de a história trabalhar com este tema. A maioria dos estudantes concluiu que a interferência na natureza traz problemas, mas ao mesmo tempo precisamos dela. Assim, a atividade exploratória
era uma necessidade da mesma maneira que atualmente a economia madeireira existente no
município é vital para a comunidade. Além disto, destacou-se a vitivinicultura como um legado cultural comemorado anualmente (Festa da Uva e do Vinho). É preciso salientar que alguns alunos não estabeleceram uma relação entre a exploração florestal no início da colonização e a que se realiza atualmente neste município.
Para finalizar esta parte da programação pedagógica procuramos verificar como os estudantes percebem o município. As comparações com o início do século foram inevitáveis. O
desenvolvimento é considerado uma realidade, embora também seja visível a degradação do
ambiente. O atenuante é que em comparação com outras regiões a natureza no município ainda é preservada.
3.2 Imagens e memórias da cidade
A fotografia pode produzir nos observadores vários sentimentos. Para Kossoy (2002,
p. 41, et seq.) há outro nível de apreensão, ou seja, a da objetividade-subjetividade de alguém
que fotografou alguma coisa, além do fato de as imagens e as memórias se fundirem, compondo uma única linguagem. Já constatamos isto no tópico anterior. Numa foto qualquer um
observador que tenha familiaridade com aquilo que foi registrado percebe imediatamente as
transformações. Os professores podem trabalhar com fotografias em sala de aula. Mas é preciso que eles ajudem os alunos a interpretá-las, seja na análise de conteúdo, seja no enquadramento e seqüências de quem as produziu. O trabalho com imagens referenciais pode levar
os alunos a ampliar o seu saber ao mesmo tempo em que se estimula a memória. Tudo isto
ajudará na compreensão dos fatos históricos e do cotidiano do aluno.
Como manusear imagens é uma atividade complexa, optamos por trabalhar com a associação entre imagens da cidade de Bituruna e a memória dos alunos e de seus pais. O objetivo era perceber através destes dois referenciais as transformações mais visíveis na paisagem
da cidade. Por outro lado, reconhecemos também que a memória, individual ou coletiva, é
fugidia e fragmentária, sendo ainda um instrumento ou objeto de poder (LE GOFF, 2003,
p.469).
Os alunos se dividiram em grupos e escolheram fotos pré-selecionadas, de diferentes
épocas (Álbum de Fotos da Prefeitura Municipal de Bituruna), para desenvolverem as atividades. Os alunos dos seis grupos trabalharam com a vista Área de Bituruna, 1977; vista Parcial de Bituruna, 1965; foto Aérea do distrito de Santo Antônio do Iratim, 1977; e
Parcial do bairro São Vivente , 1965 (figuras 10 e 11).
Vista
Figura 10 - Vistas parciais de Bituruna, 2010 e 1965. Álbum de Fotos da Prefeitura
Municipal de Bituruna.
Figura 11 - Vista parcial do bairro São Vicente e Hospital no mesmo bairro (1969). Álbum
de Fotos da Prefeitura Municipal de Bituruna.
O resultado foi proveitoso, pois os alunos estabeleceram comparações a partir de suas
experiências pessoais e memoriais para constatar as mudanças na imagem da cidade. A vegetação de outrora existente cedeu lugar às inúmeras construções. Antigamente o ritmo das atividades humanas não era tão alucinante como atualmente. A ocupação de encostas eliminou a
vegetação nativa. O desmatamento foi dado como atividade consciente e vinculado ao capital.
Mudanças climáticas. A ruralidade perdeu espaço para a urbanidade. Antigos caminhos foram
substituídos por rodovias pavimentadas. O cemitério ocupou uma área de cultivo. O contraste
entre a igreja e uma cerraria que ocuparam sempre o mesmo lugar. Estruturas mais modernas
como as do Ginásio de Esportes, Colégio Estadual, comércio e posto de Saúde. Locais que se
transformariam em bairros. Grandes áreas vegetadas foram transformadas em lavouras e acabaram engolidas pela cidade. Além das mudanças, contatou-se ainda a permanência de várias
áreas vegetadas no entorno da cidade. Como podemos verificar até aqui, priorizamos uma
abordagem particularizada, para então estabelecermos relações mais amplas entre o município
de Bituruna e o Brasil. Isto serviu para mostrar aos alunos que não há isolamento absoluto.
3.3 As relações entre o local e o global
Depois de lermos Jhon Naisbitt (1997) ficou impossível não estabelecermos relações
entre o local e o global. Igualmente, procuramos levar os alunos a entenderem estas analogias.
Para isto, selecionamos algumas perguntas da Pesquisa Nacional de Opinião (P.N.O.) realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (2006), O que o Brasileiro pensa sobre o meio ambiente e do consumo sustentável e depois instruímos os alunos a aplicarem-nas aos seus país (figura 12). Os objetivos da pesquisa são conhecer “[...] as opiniões e avaliações da população
sobre meio ambiente e biodiversidade, bem como sua disposição para contribuir para a solução dos problemas identificados”, além de “[...] verificar se e como o conhecimento sobre
meio ambiente e a consciência ambiental crescem no país” (P. N. O., 2006, p. 3) . A pesquisa
é realizada a cada quatro anos, e inicialmente foi coordenada por Samyra Crespo e Eduardo
Novaes. Desta maneira, poderíamos verificar coletivamente como as questões relacionadas ao
meio ambiente eram assimiladas por algumas famílias no município de Bituruna.
Figura 12 - Pesquisa Nacional de Opinião, 2006.
ISER, MMA, VOX POPULI.
Os alunos, ao todo vinte e quatro, responderam a três questionamentos que a nosso ver
complementaram os temas trabalhados em sala de aula: “Pensando no meio ambiente do Brasil, qual a maior vantagem que há em relação aos outros países?”, Quais os principais problemas ambientais que você vê no Paraná?”, “Quais os problemas ambientais que você vê no
mundo?”. As respostas dos alunos confirmaram os resultados da amostra nacional. Na
primeira questão prevaleceu o orgulho de contar com uma natureza exuberante. Foi
necessário
trabalhar com os alunos para enfatizar que a floresta Amazônica e a diversidade
da fauna e da flora brasileira são destruídos continuamente ao longo da história. E que a
preservação não deve vislumbrar só o que está distante, mas também aquilo que está a nossa
volta. Por isto é necessário instruir e estimular os alunos para atividades preservacionistas.
Quanto a segunda pergunta, os principais problemas ambientais apontados foram a
destruição das florestas nativas, as queimadas, o uso abusivo de agrotóxicos na agricultura e a
poluição de rios e florestas. Os respondentes que moram na área urbana do município
destacam a falta de saneamento básico e coleta de lixo, o que coincide com os dados do
ISER/MMA. Os moradores da área rural acrescentam ainda o desmatamento promovido por
assentamento do MST e madeireiras, principalmente junto às nascentes d‟àgua, para produção
de carvão. Segundo a pesquisa nacional de opinião se observam diferentes opiniões segundo
as regiões brasileiras, sendo que no Sul do Brasil onze por cento (11%) elegem os problemas
de saneamento básico como principal problema dos municípios.
As respostas para a terceira pergunta seguiram a média nacional. Concluiu-se que os
principais problemas mundiais são o desmatamento, a poluição das águas e o lixo nos rios e
nas ruas. Para a grande maioria dos familiares dos alunos a preocupação com o meio ambiente no Brasil por parte dos pode público ainda é limitada devido a falta de investimentos. E o
contraste é nítido, pois os brasileiros cada vez mais têm consciência dos problemas
ambientais e, principalmente da biodiversidade. Também havia a idéia de que o homem não
devia interferir na natureza. Aproveitamos a oportunidade para ressaltar aos alunos que isto
era impossível, uma vez que o homem faz parte dela.
Apesar de a pesquisa ser reduzida serviu aos propósitos do projeto pedagógico.
O
„exercício‟ permitiu várias ponderações e se transformou em manancial de informações, as
quais todos os brasileiros deveriam conhecer. Mesmo com a disseminação da educação ambiental ainda é preciso trabalhar com os alunos os conceitos de “biodiversidade” e “meio ambiente”, a fim de que percebam as correlações entre os homens e natureza. O meio ambiente
ainda é entendido como o espetáculo no qual figuram apenas as plantas e animais, não deixando espaço para os homens. Entendendo isto desmistificamos várias coisas como a idéia de
paraíso terreal e a de que os recursos naturais são inesgotáveis. Também foi possível trabalhar
com os alunos a idéia de que os historiadores se preocupam com a natureza.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades de pesquisa e docência ao longo destes dois anos junto ao Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) e alunos da Escola Santa Bárbara foram instigantes e
recompensadoras. Não há dúvida de que este programa inovador, colocado a bom termo pelo
governo do Estado do Paraná, supera parte dos problemas da educação ao estimular os
professores a produzirem conhecimento e melhorar a qualidade do ensino. Que ganha com
tudo isto são os professores, os alunos e a comunidade. O que há de mais significativo nisto
tudo é a disseminação dos resultados desta pesquis(ação) coletiva, na qual participaram a
proponente que vos escreve (e que se motiva para outros trabalhos), alunos, pais e orientador.
Uma das conseqüências mais fecundas deste empreendimento é a oportunidade de
incluir a reflexão histórica sobre os problemas ambientais. Além de constatarmos as
preocupações de personalidades históricas com a natureza brasileira, entendemos que discutir
os problemas que causamos a nos mesmos é uma tarefa de todos nós, independentemente do
ramo disciplinar. Particularmente chamamos a atenção para as percepções fragmentárias da
natureza no início do século passado no interior do Paraná. À luz da interpretação de um
material bem conhecido da comunidade e carcomido por péssimas reproduções, isto é, o
Álbum Phtograhico e Descriptivo da Colônia Santa Bárbara, pudemos entender,
indiretamente, como os colonizadores perceberam a natureza. A conclusão é a de que a
natureza bruta precisava ser dominada porque significava a luta pela subsistência. Portanto,
era coerente aos primeiros habitantes da colônia Santa Bárbara ter a idéia de infinitude dos
recursos naturais, ainda mais quando a imensidão do estado do Paraná não estava
completamente povoada. Entendemos que estas percepções estavam ligadas, não só às
memórias e vivências de sujeitos em trânsito pelo sul do país até sua instalação definitiva,
mas também à intervenção do capital na remodelação do território brasileiro.
Por fim, a pesquisa permitiu aos alunos do Colégio Estadual Santa Bárbara perceber os
problemas ambientais em seu cotidiano. Eles descobriram que a história permite sabermos
com as pessoas de outros tempos percebiam sua realidade. Isto é significativo porque nos
aproximamos mais delas e por conseqüência, conhecemos mais de nós mesmos. É claro que
tudo isto a partir de uma visão parcial da história e de nossa memória. Saber como os
indivíduos perceberam o meio ambiente no período da colonização de Bituruna e como o
percebemos na atualidade, suas fontes de satisfação e insatisfação são fundamentais. Só
assim, confrontando realidades distintas será possível avançarmos. Um bom começo para
futuras reflexões.
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VOLUME I - Secretaria de Estado da Educação do Paraná