MERCADOS Cotadas não estão a apostar em ações próprias Portucel e Semapa são das empresas que mais têm as suas próprias ações em carteira "Façam como eu digo, não façam como eu faço." É isto que os gestotêm res das cotadas portuguesas dito aos potenciais investidores nas suas reuniões. Apesar da forte descida do preço de algumas ações na Bolsa portuguesa, no último ano, são muito poucas as cotadas portuguesas que investem na compra de ações próprias. "Muitas empresas até querem comprar ações, não têm é liquidez", frisa um analista. Há exceções, como a Portucel, que é a líder da compra de ações próprias em 2012. Desde o início do ano, mais do que duplicou o número de ações próprias em carteira. A fabricante portuguesa de pasta e papel investiu cerca de €45 milhões na compra de mais de 25 milhões de ações próprias e detém agora 6,17% do seu capital social. Segundo a emfazem presa, estas aquisições parte de um programa de recompra de ações próprias. Também a casa-mãe Semapa mantém em carteira mais de 5 milhões de ações próprias, segundo informação da empresa. No total, detém 4,6% do seu capital social. Porquê comprar ações próprias? Há três motivos principais para uma empresa comprar ações próprias. A mais óbvia é a da remuneração acionista. Havendo menos ações cotadas, aumenta o valor das restantes. Foi o que fizeram a ZON Multimedia e a Brisa, por exemplo, que juntaram ao seu pacote de remunerade reção acionista programas compra de ações próprias. podem Depois, as empresas querer comprar ações próprias quando as cotações estão muito baixas e prevêem uma valorização futura. O terceiro motivo é a remuneração de quadros, como fizeram recentemente a Sonae e a Sonaecom, que compraram ações para recompensar colaboradores. Mas, no fundo, a compra de ações próprias é um sinal forte de confiança que as empresas podem usar para transmitir confiança aos investidores em relação ao seu futuro. Claro que para comprar ações próprias as empresas têm de esfinanceira tar numa situação equilibrada e desafogada, o que atualmente não acontece com muitas. Em Portugal, muitas das cotadas pedem anualmente autorização aos acionistas para comprar e vender ações próprias. Mas poucas são as que efetivamente efetuam transações desta natureza. É o caso da EDP, cujas ações desvalorizaram 18% desde o início do ano e não comprou ações próprias. A EDP Renováveis, viu as suas ações perderem 40% do valor em 2012, mas também não está a fazer compras. E cedo para comprar Segundo analistas, a estratégia até pode "Na nossa dos gestores nacionais ser a mais acertada. opinião, ainda é cedo para as emde presas iniciarem processos compra agressiva de ações no mercado nacional, numa altura em que no mercado norte-americano já o estão a fazer", afirma José Sarmento, analista da Fincor. Adianta que o processo de redução da dívida por parte das empresas cotadas ainda está longe do fim. E frisa que o futuro da Europa ainda é incerto, o que vai continuar a afetar as Bolsas nos próximos meses. PT promete comprar, Galp admite A PT anunciou um programa de recompra de ações, mas não pensa avançar com as compras tão cedo. O seu presidente, Zeinal Bava, tem deixado claro que a PT está focada numa gestão prudente do balanço e em flexibilidade financeira. Assim, apesar de considerar que as ações da PT não refletem os fundamentais da empresa, a PT não vai começar a com- manter prar ações. Já a Galp admitiu vir a comprar ações próprias para travar uma descida da cotação devido a possíveis vendas por parte da ENI, como ficou previsto no acordo entre acionistas. Em todo o caso, fonte oficial da empresa lembra que "a Galp não de- tém ações próprias, e qualquer alteração nesta estratégia tem de ser proposta e ratificada em assembleia de acionistas". Fora do índice PSI-20, várias cotadas mantêm ações próprias em carteira, como a Brisa, recentemente alvo de uma oferta pública de aquisição (OPA) bem sucedida por parte da Tagus, liderada pela José de Mello. A Cimpor, também alvo de uma OPA este ano, também detém ações próprias, tal como a Corticeira Amorim, a Novabase, a Sumol+Compal e a Martifer. Mas se as empresas não compram ações próprias, há acionistas de controlo que têm aproveitado para comprar. A Mota Gestão e Participações tem vindo a reforçar mensalmente a sua posição na Mota-Engil e já detém 44,56% do capital social da construtora. No início de janeiro deste, tinha menos de 41%. E Alexandre Soares dos Santos, o maior acionista da Jerónimo Martins, também tem estado a comprar ações des- ta empresa. ELISABETE TAVARES [email protected] SEMAPA MANTÉM AÇÕES EM CARTEIRA A empresa liderada por Pedro Queiroz Pereira tem em carteira 4,6% do seu capital. A Semapa é controlada em 48,9% pela Cimigest, SGPS, enquanto o BPI e a Bestinver Gestión detêm 10% do capital, cada um. PORTUCEL INVESTE €45 MILHÕES EM AÇÕES E esse o montante investido pela fabricante de pasta e papel no primeiro semestre de 2012 na aquisição de ações próprias. A Portucel mais do que duplicou o número de ações próprias detidas, passando a controlar 6,17% do seu capital social. MOTIVOS PARA NÃO COMPRAR AÇÕES PRÓPRIAS NESTE MOMENTO EMPRESAS CORTAM BOLSAS DÍVIDA A incerteza nos mercados acionistas vai durar mais E CUSTOS O foco das empresas é a contenção e custos e o corte de dívida ENDIVIDAMENTO ALTO O processo de redução de dívida pelas empresas está longe de estar concluído FINANCIAMENTO DIFÍCIL O custo do capital e de acesso a financiamento é muito elevado INSTÁVEIS algum tempo CRISE EUROPEIA EM ALTA Ainda há muita incerteza relativamente à crise europeia SAÍDAS DO EURO? Eventuais saídas de países periféricos do curo ainda são incertas