Estilo de vida
[ Fotos: Gustavo Aragão ]
Meritíssimos
faixas-pretas
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Juízes e desembargadores – todos
faixas-pretas de Jiu-Jitsu – dão
dicas e lições para você, estudioso
leitor, aproveitar a essência da arte
suave para alcançar suas metas
profissionais e viver melhor
Da esquerda para a direita, os
ilustres magistrados faixas-pretas
Saldanha, Laguna, Jangutta, Direito
e Ruliere. “Quando estamos sob
pressão durante um julgamento,
o sangue-frio que desenvolvemos
com o Jiu-Jitsu nos ajuda a superar
os momentos mais difíceis.”
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O desembargador
Antonio Saldanha (por
baixo) e o juiz Marcel
Laguna demonstram
um armlock da guarda.
E
xistem muitas semelhanças entre a trajetória que
um praticante de Jiu-Jitsu percorre até chegar à
faixa-preta, e o caminho de um estudante de direito
que deseja ascender à condição de juiz. A começar
pela sucessão de obstáculos e desafios ao longo
de ambas as trilhas. Não existem atalhos. É preciso muito estudo, disciplina, consistência e, sobretudo, coragem – já que,
nos momentos de maior adversidade, muitos desistem de suas
metas e abandonam a travessia.
Marcel Laguna, 24 anos de faixa-preta e 17 de toga, ainda se lembra dos tempos em que prestava concurso para a
magistratura. “Eu não conseguia passar nas provas; era um
processo seletivo dificílimo. Só não desisti por causa daquela
força mental que desenvolvi na academia do Carlson Gracie.
Eu estudava como quem se prepara para uma série de campeonatos. Sabia que minhas derrotas iniciais eram uma forma
de aprendizado e de acumular conhecimento para o teste
seguinte. E foi assim, com aquele espírito de lutador, que um
dia consegui ser aprovado.”
Atraída por relatos como o de Laguna, a equipe de GRACIEMAG fez uma visita ao complexo de prédios do Fórum do
Centro da Cidade do Rio de Janeiro, onde, para a surpresa de
nossos repórteres, há um dojô de Jiu-Jitsu. Foi lá que, numa
tarde de quarta-feira, reunimos um grupo seleto de meritíssimos
faixas-pretas para um treininho solto, uma conversa descontraída e uma sessão de fotos.
Enquanto trocava o terno pelo kimono, o desembargador
Antonio Saldanha Palheiro exaltou os benefícios que o Jiu-Jitsu
oferece à saúde de seus praticantes: “Vejo muitos colegas sedentários aqui no Fórum. Eles reclamam de taxas altas de colesterol, costumam estar acima do peso... Enfim, são problemas
que tendem a não afetar as pessoas que seguem a filosofia do
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Jiu-Jitsu. Atividade física constante, alimentação saudável, culto pela natureza... Eu, aos 62 anos, tenho muito mais disposição
para trabalhar que vários jovens que estão apenas iniciando a
carreira. Devo essa energia toda ao Jiu-Jitsu.”
“E não é só uma questão de saúde do corpo”, completa
Paulo Roberto Jangutta, juiz de direito, hoje auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça. “A saúde da mente também está em
jogo. Temos que arrumar uma maneira de aliviar a pressão e o
estresse inerentes à nossa profissão. De certa forma, os problemas da sociedade recaem sobre os ombros dos juízes, e é
preciso ter uma válvula de escape. O Jiu-Jitsu é minha forma
de extravasar e encontrar um equilíbrio”, diz Jangutta, que, no
dia da reportagem, tinha um machucado no rosto, próximo
ao supercílio direito, em decorrência de um treino puxado,
na academia do professor Roberto Corrêa de Lima, o Gordo.
Campeão superpesado do Internacional Master & Senior
de 2010 (na categoria senior 2), Jangutta demonstrou à nossa
equipe o passo-a-passo de um de seus golpes preferidos, o
qual ele apelida de “nana, neném”. Trata-se de uma finalização
a partir do domínio lateral, capaz de provocar grande desconforto para quem está por baixo. Em linhas gerais, o juiz projeta
o peso do próprio corpo sobre o adversário, dominando com
os braços o pescoço e uma das pernas do oponente. “Quem
cai nesta posição comigo desiste na hora”, garantiu o juiz, em
tom bem-humorado.
Enquanto registrávamos o “nana, neném”, o juiz Carlos
Gustavo Direito e o desembargador Camilo Ruliere trocavam
algumas considerações sobre a chave omoplata, golpe que
Carlos tem facilidade de aplicar em função de suas pernas
compridas e de um bom jogo de quadris. O papo fluía com
naturalidade, como se os magistrados estivessem debatendo
minúcias técnicas de algum processo.
O respeito e a admiração à hierarquia são outros aspectos
muito semelhantes entre os fundamentos do Poder Judiciário e
os de uma escola de Jiu-Jitsu. Todos os magistrados reunidos
no dojô da Fórum Academia se mostraram unânimes ao elogiar
o trabalho do Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux,
hoje faixa-coral de Jiu-Jitsu, pupilo de mestre Osvaldo Alves.
Num artigo antológico publicado em 2004, na GRACIEMAG #93, Fux declarou: “Quando disputei o cargo de ministro, não faltaram pessoas a me esmorecer nessa caminhada,
a dizer que eu era muito jovem, que não devia perseguir a
posição. Mas aquela coragem, a ousadia, a determinação e a
autoconfiança que aprendi nos tatames sempre me levaram
a prosseguir. Desde cedo fui muito perseverante, e decidi que
precisava estudar exaustivamente para realizar meus objetivos,
mas o Jiu-Jitsu exacerbou essa qualidade e foi fundamental
paras as minhas conquistas profissionais”.
Após a sessão de fotos no dojô, nossa equipe de reportagem ainda visitou os magistrados em seus gabinetes
e caminhou com eles pelos corredores agitados do Fórum.
“Ficamos felizes em ver que a GRACIEMAG não se interessa
apenas pelos competidores, mas sim por praticantes de Jiu­Jitsu com diversos perfis e estilos de vida”, disse o juiz Carlos
Gustavo Direito. “Acho que a nossa arte marcial oferece lições
valiosíssimas em várias instâncias, lições que se revelam não
só em academias e campeonatos, mas também em nossas
vidas cotidianas e nos deveres profissionais.”
Carlos Gustavo estava certo. GRACIEMAG acredita que,
no final das contas, o que importa não é o título de campeão
em si, mas a saborosa sensação de vitória que cada indivíduo
pode carregar em seu íntimo, em meio aos diversos tipos de
luta cotidiana. Sabemos que a filosofia do Jiu-Jitsu pode ajudar
a todos nesses desafios do dia a dia, estimulando cada um a
alcançar o verdadeiro potencial em sua vida, como demonstram os ilustres magistrados desta reportagem.
“A ideia de coragem, de ousadia no limite da responsabilidade e de respeito ao próximo que o Jiu-Jitsu transmite me
ajudou no decorrer da carreira de juiz, em que é preciso ser
independente e ter vigor para enfrentar as dificuldades”, disse
o Excelentíssimo Ministro Fux, no artigo de 2004. “O juiz pode
sofrer pressões de todos os níveis. Acho fundamental para o
ser humano o desprendimento e a disposição de não temer,
porque a pior sensação é o medo do medo. E o Jiu-Jitsu dá, de
antemão, a prevenção dessa sensação, por meio da autoconfiança. A arte ensina que, se eventualmente você estiver numa
situação-limite, na pior das hipóteses vai saber se defender.”
GRACIEMAG torce para que todos os nossos leitores
batam o martelo e definam esse tipo de postura como uma
sentença irrevogável na busca do sucesso pessoal. Que vocês
tenham a mesma sorte do Ministro Fux. Oss!
Foto: José Cruz/Agência Brasil
O ministro faixa-coral
No dojô e no gabinete,
dois momentos do
cotidiano do juiz Paulo
Jangutta. Na foto menor, o
Ministro do STF Luiz Fux.
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