LIVRO BRANCO DA CIRURGIA República de Moçambique Ministério da Saúde DNS/DAM Programa Nacional de Cirurgia Livro Branco da Cirurgia Programa Nacional de Cirurgia Setembro de 2002 República de Moçambique Ministério da Saúde DNS/DAM Programa Nacional de Cirurgia Livro Branco da Cirurgia Coordenador geral: Dr. Gonzalo Martín Becerril Colaboradores: Drs. Ivo Garrido, Juan Carballedo, Manuel R. Simão Autor do “Estudo de Custos de Cirurgia”: Lluis Vinyals Consultores: Dr. Victor Gratchev, Dr. Pablo López de Arbeloa, Dr. Giuliano Russo Participantes directos na recolha de dados: Tc. Alberto Nhavoto (Maputo Cd.), Enf. Joaquim de Amaral (Maputo Prov.), Tc. Jacinto (Gaza), Enf. Atanásio (Inhambane e Nampula), Enf. Viegas (Beira), Enf. Mainguissana (Manica), Dr. Marquesini e Enf. Kondelaque (Zambézia), Enf. Rossana (Tete), Tc. Raite (Nampula), Dra. Nuria (Cabo Delgado), Enf. Macanica (Niassa) Todos os cirurgiões das províncias como supervisores. Colaboradores no tratamento informático: Emilio Valverde, Miriam Llera, Orlanda Simeão Revisão gramatical e ortográfica em português: Louis de Castro Paul Ficha Técnica: Título: Autor: Editor: Produção gráfica: Nº de Registo: Financiador: Tiragem: Livro Branco da Cirurgia Dr. Gonzalo Martín Becerril Conselho Interhospitalar de Cooperação EloGráfico 3065/RLINLD/2002 Cooperação Española 250 exemplares Setembro de 2002 Maputo, Moçambique 5 Livro Branco da Cirurgia Prólogo O LIVRO BRANCO DA CIRURGIA EM MOÇAMBIQUE que agora se torna público constitui a primeira tentativa de, de forma organizada, se proceder à recolha de dados sobre a actividade cirúrgica a todos os níveis do Serviço Nacional de Saúde de Moçambique, desde os Hospitais Centrais aos Postos de Saúde. O estudo, com a duração de cerca de 2 anos e meio, abrangeu 41 Hospitais (Centrais, Provinciais, Gerais, Distritais e Rurais) e 320 Centros e Postos de Saúde. Ele permitiu recolher informação detalhada sobre a maioria das unidades sanitárias do nosso País onde se pratica cirurgia (cirurgia concebida num sentido lato, por forma a englobar não apenas a cirurgia geral, como também a neurocirurgia, a urologia, a cirurgia torácica, a cirurgia maxilo-facial, a ortopedia, a oftalmologia e a otorrinolaringologia), assim como sobre os recursos humanos e os equipamentos envolvidos na actividade cirúrgica. Paralelamente o LIVRO BRANCO contém informação detalhada sobre outros aspectos determinantes para o sucesso da Cirurgia, como por exemplo: * a situação do abastecimento de água e energia eléctrica às diversas unidades sanitárias. ** a disponibilidade de cada unidade sanitária em serviços de apoio tais como laboratório, imagiologia (RX, ecografia, etc.), banco de sangue,... O LIVRO BRANCO DE CIRURGIA constitui o primeiro passo no processo de elaboração de um Plano de Acção da Cirurgia em Moçambique para os próximos 20-25 anos. Paralelamente temos a convicção que, pelo manancial de informação nele contido, a consulta do LIVRO BRANCO será útil para outros Programas e Acções do Ministério da Saúde. Para que este projecto se tornasse realidade foi decisivo o apoio da CIC - Moçambique e da Cooperação Espanhola, para quem vai o nosso reconhecimento. Finalmente esperamos e desejamos que o LIVRO BRANCO seja revisto pelo menos de 5 em 5 anos, no sentido de se actualizarem os dados nele contidos. O Director do Programa Nacional de Cirurgia Prof. Dr. Paulo Ivo Garrido Especialista em Cirurgia Geral Mestre em Educação de Profissionais de Saúde (MHPE) Prólogo Maputo, Setembro de 2002 7 Livro Branco da Cirurgia Prefácio Este trabalho está dedicado ao meu pai, que desde criança ensinou-me que o conhecimento é a base da independência e esta, o caminho da liberdade. Uma longa viagem deu-te Ítaca. Mais do que isso não lhe cumpre dar-te. Ítaca não te iludiu, se a achas pobre. Tu te tornaste sábio, um homem de experiência, e agora sabes o que significam as Ítacas. (“Ítaca”. Konstantinos Kaváfis) U ma longa viagem tem sido, realmente, a produção deste “Livro Branco da Cirurgia” (LBC), e como a viagem de Ulisses à Ítaca, o caminho acabou por se converter na essência deste trabalho. E é assim que este LBC, que parecia predestinado a ser um retrato definitivo da situação da assistência cirúrgica neste país, veio ter vocação de caminhante e acabou sendo um estimulante exercício de exploração no qual têm sido abertas muitas novas portas, ficando outras ainda por se abrirem, tendo sido documentadas, como resultado deste trabalho, graves situações e levantadas questões decisivas que servem mais que para dar respostas, sugerir debates. Este cenário convida-nos a todos, ao MISAU, ao próprio PNC, aos doadores e a todo o pessoal envolvido de alguma maneira nas actividades cirúrgicas, a participar nesta aventura cujo objectivo se restringe à melhoria da Cirurgia em Moçambique Foi a Agência Espanhola de Cooperação Internacional (AECI), dentro dos seus compromissos de cooperação bilateral com o governo moçambicano e através do Conselho Inter-hospitalar de Cooperação (CIC), quem deu, o estímulo económico e técnico necessários para que todas as inquietudes surgidas no seio do PNC começassem a dar frutos. Todos os que participámos neste processo, considerámos que a prioridade inicial seria ter um conhecimento actual e objectivo da situação da assistência cirúrgica a nível nacional, para assim podermos estabelecer prioridades de trabalho futuro. O conhecimento de que dispúnhamos era parcial e bastante subjectivo. A situação não Prefácio Tudo começou em 1997, com a criação do Programa Nacional de Cirurgia (PNC) pelo MISAU, integrando-o no Departamento de Assistência Médica da Direcção Nacional de Saúde, com a reorganização do Departamento de Cirurgia do HCM, e com a nomeação do Dr. Ivo Garrido para a Director do mesmo e responsável pelo PNC. 8 Livro Branco da Cirurgia Prefácio era muito melhor em outras especialidades hospitalares, já que tanto o MISAU como as organizações colaboradoras têm vindo a prestar uma quase exclusiva atenção à assistência primária. Também não haviam referências semelhantes em outros países da região. E foi assim que nasceu a ideia do Livro Branco. Tive a honra de receber a responsabilidade de comandar esta viagem. Muitos foram os companheiros da mesma; alguns bons, sem os quais nunca teria sido isto possível, e outros nem tanto; mas em ambos casos, foi-me permitido aprender alguma coisa, que espero ter sabido reflectir neste documento. É por esta vocação de caminhante que concedemos uma relevância especial à Metodologia de trabalho, que supus uma fonte contínua de reflexão e um factor fundamental que matizou as nossas conclusões. Para todos aqueles que partilharam comigo a ansiedade desta viagem de mais de dois anos, o meu agradecimento por me terem estimulado tanto, e os meus parabéns, por eles serem também protagonistas do LBC. Sei que este grande esforço só nos levou ao fim do princípio, e é por isso que me sinto nestes momentos mais como um Sísifo, empurrando eternamente a sua pedra sem chegar nunca ao cume, que como um Ulisses, descobrindo que na própria viagem está o destino. Mas no fundo, não me quero deixar entregar ao cansaço e luto por pensar que sempre existirão novas Ítacas. Prefácio Maputo, Setembro de 2002 O Autor do Livro Branco da Cirurgia Dr. Gonzalo Martín Becerril Especialista em Cirurgia Geral 9 Livro Branco da Cirurgia Índice Prólogo .................................................................................................. 5 Prefácio ................................................................................................. 7 Abreviaturas ....................................................................................... 11 Sumário executivo / Executive summary ................................... 13/19 Introdução .......................................................................................... 25 Metodologia ....................................................................................... 29 Recolha de Informação ................................................................ 29 Informatização .............................................................................. 36 Análise e Conclusões ................................................................... 38 Reflexão sobre os resultados ...................................................... 41 Apresentação do trabalho ........................................................... 43 Conclusões e Propostas (por sectores) .......................................... 63 Metodologia .................................................................................. 64 Dados Gerais ................................................................................. 66 Infra-estruturas ............................................................................. 69 Equipamentos e Instrumental .................................................... 71 Pessoal .......................................................................................... 74 Estatísticas .................................................................................... 79 Abastecimentos ............................................................................ 82 Serviços complementares ............................................................ 84 Limpeza e Esterilização ............................................................... 86 Manutenção .................................................................................. 88 Critérios de qualidade ................................................................. 89 Conclusões e Propostas finais ......................................................... 91 Anexos ................................................................................................ 97 Estudo de Custos de Cirurgia” - Sumário Executivo ................. 97 Como utilizar o CD ..................................................................... 101 Índice Resultados .......................................................................................... 45 Dados Gerais ................................................................................. 48 Infra-estruturas ............................................................................. 49 Equipamentos e Instrumental .................................................... 50 Pessoal .......................................................................................... 51 Estatísticas .................................................................................... 52 Abastecimentos ............................................................................ 53 Serviços complementares ............................................................ 54 Limpeza e Esterilização ............................................................... 55 Manutenção .................................................................................. 56 Critérios de qualidade ................................................................. 57 11 Livro Branco da Cirurgia Abreviaturas AECI Agência Espanhola de Cooperação Internacional BO Bloco operatório CIC Conselho Inter-hospitalar de Cooperação CS (-U, -I, -II, -III) Centro de Saúde (Urbano, Tipo I, II e III) DAM ou DNS/DAM Departamento de Assistência Médica da DNS DCO Dias Camas Ocupadas DDS Direcção Distrital de Saúde DNS Direcção Nacional de Saúde DPS Direcção Provincial de Saúde DSCM Direcção de Saúde da Cidade de Maputo ENF Enfermaria EST Esterilização FG, FP Fichas grande (completa) e pequena (reduzida) HC, HP, HR, HG, HD Hospitais Central, Provincial, Rural, Geral e Distrital HCM, HCB, HCN Hospitais Centrais de Maputo, de Beira e de Nampula LBC Livro Branco da Cirurgia MISAU Ministério da Saúde PD Países Desenvolvidos PNC Programa Nacional de Cirurgia PS Posto de Saúde RC, RCM ou RCA Rendimento Cama, Mensal ou Anual SIS Sistema de Informação de Saúde SO Sala de operações TMP Tempo Médio de Permanência TOC Taxa de Ocupação de Camas URG Urgências US Unidade Sanitária ENGLISH Spanish Agency of International Cooperation Operating Theatre Inter-hospital Co-operation Council Health Centre (Urban, Type I, II and III) Department of Medical Assistance of DNS Daily Occupied Beds District Health Administration National Health Administration Provincial Health Administration Health Administration of Maputo Ward Sterilisation Complete and Reduced Record Files Central, Provincial, Rural, General e District Hospitals Maputo, Beira and Nampula Central Hospitals White Book of Surgery Ministry of Health Developed Countries National Programme of Surgery Health Post Monthly and Yearly Bed Turnover Rate Health Information System Operating Room Mean Lenght of Stay Bed Occupation Rate Casualties Health Unit Abreviaturas PORTUGUÊS 13 Livro Branco da Cirurgia Sumário executivo O Livro Branco da Cirurgia (LBC) foi concebido como ponto de partida do Programa Nacional de Cirurgia (PNC) com o OBJECTIVO de se conhecer o estado actual da assistência cirúrgica em Moçambique, para assim poder-se decidir com critério e implementar eficazmente as acções a curto e médio prazos, optimizando os recursos materiais e humanos disponíveis actualmente e planificando os investimentos futuros em termos de custo/benefício. Para se chegar a este objectivo, foram analisados os resultados obtidos a partir de um estudo sobre todos os aspectos do sistema de cirurgia, abrangente a todo o território nacional e a todas as categorias de unidades sanitárias (US) do sistema público de saúde. Este estudo foi realizado com a seguinte METODOLOGIA: Para cada nível, foram definidos os dados a recolher dos diferentes aspectos do sistema de cirurgia: infra-estruturas, equipamentos, instrumental, abastecimentos, serviços complementares, pessoal, actividades (estatística) e critérios de qualidade. 2. Recolha de informação (dados retrospectivos, referentes a 2000 - 2001), mediante um inquérito nacional com fichas diferentes para cada um dos dois níveis definidos. Foram estudados 41 hospitais (todos os previstos) e 320 centros e postos de saúde (79% dos inicialmente previstos), chegando-se a recolher mais de 100.000 dados, que foram ordenados informaticamente em duas bases de dados (Hospitais e Centros de Saúde), que são um dos produtos fundamentais deste trabalho. O HCM não está incluído nas bases de dados, nem em muitos dos análises onde as suas características (pouco representativas da realidade do resto do país) deformariam muito os resultados. Porém está considerado nos análises de alguns dos dados básicos, onde a sua exclusão limitaria o significado dos resultados. 3. Devido à grande dificuldade do estudo e à falta generalizada de dados fiáveis nas US, foi preciso estabelecer diferentes filtros de controle (periféricos e centralizados), que dão ao estudo uma fiabilidade aceitável. Sumário Executivo 1. Para definir o âmbito do estudo, as US foram dividida s em dois níveis de assistência cirúrgica: US com bloco operatório (BO) (foram incluídos os 41 hospitais do país) e US sem BO mas com alguma actividade de pequena cirurgia (PC) (foram seleccionados 405 centros e postos de saúde). 14 Livro Branco da Cirurgia Sumário executivo 4. Análise de resultados, mediante diferentes consultas (directas e relacionais) às bases de dados, sobre os aspectos de maior interesse do sistema de cirurgia. Os resultados foram analisados e apresentados graficamente, tanto por categorias de US (HC, HP, HG, HR, CS-I, CS-II, CS-III, PS) como com critérios geográficos (resultados nacionais, por regiões e por províncias). 5. Debate interno do PNC que levou a estabelecer as conclusões do estudo, onde se mostram todos os pontos fracos e factores limitantes ao desenvolvimento do sistema de cirurgia, e se expõem uma série de propostas ao próprio PNC e ao MISAU para poder melhorar a situação actual. No ANÁLISE DOS RESULTADOS também foram divididos os diferentes aspectos do sistema, sendo os mais relevantes os seguintes: Sumário Executivo Dados Gerais São factores limitantes pela sua escassez tanto as camas cirúrgicas (1/5 das existentes em países desenvolvidos PD), como as mesas operatórias (1/4 das existentes em PD) e o pessoal especializado (1/10 do existente em PD). Além disso, estes recursos estão distribuídos irregularmente (mais no Sul, especialmente no HCM). As distâncias e tempos de transferência de doentes são máximos dos HP aos HC, e dos CS (sedes distritais) aos HR, pelo que estás US deviam ter o maior protagonismo no sistema de referência. Infra-estruturas Metade dos BO do país tem deficiências importantes (10% sem água, 18% sem energia 24 h., 27% sem casa-de-banho, 50% não reabilitados nos últimos 7 anos, etc.). Um terço dos BO pode considerar-se sem os mínimos necessários para realização de cirurgia. O estado das enfermarias, consultas e urgências é semelhante. Equipamentos e instrumental As US maiores (HC, HP e HG) têm o mínimo necessário para o tipo de cirurgia que se faz actualmente, embora seja insuficiente se pretenderem fazer uma cirurgia mais complexa. 15 Livro Branco da Cirurgia Sumário executivo As US mais pequenas (HR, CS e PS) estão muito pouco dotadas, pelo que permitem apenas a realização da cirurgia mais básica. Em geral (até 80% das US), não se trabalha com kits, embora existam instrumentos suficientes para os preparar. Pessoal Existem poucos operadores (1/20 dos existentes em PD), com uma concentração no HCM. Existe um salto qualitativo entre HC-HP (com cirurgiões) e US mais pequenas (só com técnicos). O rendimento operatório é máximo nos HP. O pessoal de enfermagem e serventuário dos BO é insuficiente em todos os níveis (média por BO: 2.5 enf. e 3.1 serv.), mas os HR estão especialmente infra-dotados (1.3 enf. e 1.6 serv.). Actividade (estatísticas) Existe uma grave sub-utilização de camas cirúrgicas (TOC 49%, RC 20 doentes/ano) e de mesas operatórias (1 operação de GC/mesa/dia), sendo os HR os piores. Realizam-se uma média anual de 150 operações de GC por cada 100.000 habitantes (1/ 15 das realizadas em PD), das quais só 59% são electivas (80% nos PD). Realizam-se 150 consultas externas e 75 de urgência por dia em todo o país (provável sub-registo). Não existe uma diferença significativa entre o nível de complexidade das operações nas diferentes categorias de US, mas não é possível fazer-se um estudo sério de diagnósticos e operações por falta de dados e de um sistema próprio de codificação. Abastecimentos São um grave factor limitante da actividade cirúrgica (para todas as categorias de US), por apresentar habituais roturas de stocks. Só 12% das US dispõem sempre de todos os materiais básicos (lâminas, luvas, fios, etc.) e 0% dos materiais avançados (algálias, sondas, etc.). Sumário Executivo 1/4 das US nem tem registos, e o resto apresentam dados estatísticos pouco fiáveis. 16 Livro Branco da Cirurgia Sumário executivo Serviços complementares São um grave factor limitante das capacidades cirúrgicas e da qualidade da assistência (sobretudo nos HR). Só 22% das US dispõem sempre de todos serviços básicos (laboratório mínimo, RX simples, etc.) e 0% dos serviços intermédios (ecografia,...) e avançados (anatomia patológica,...). Limpeza e esterilização A maioria das US tem autoclave (85%) ou estufa ou ebulidor (83%), mas quase todos estão obsoletos e não dão a mínima garantia de qualidade. Existem graves deficiências de biosegurança do pessoal dos BO (90% sem óculos protectores, 50% sem depósitos de objectos pontiagudos). Manutenção Sumário Executivo 3/4 das US não dispõem de serviços próprios de manutenção (geralmente estão centralizados nas capitais provinciais). Garantia de qualidade Só 1/2 das US garantem uns critérios mínimos de qualidade. Só em 1/2 das US é que se preenchem habitualmente os processos dos doentes. Só 1/4 das US faz habitualmente avaliação pré-operatória aos doentes. Menos de 1/5 dos BO faz uma correcta circulação de limpo-sujo. A maioria das US recebe uma supervisão não controlada e sem “feed-back”. A grande maioria das US (90%) não tem nenhuma capacidade de gestão própria de recursos. Apresentam-se no estudo uma grande quantidade de conclusões, obtidas a partir dos resultados, as quais podem-se resumir nas CONCLUSÕES GERAIS a que o PNC chega: 1. Os recursos materiais (camas cirúrgicas, mesas operatórias, abastecimentos, etc.) e humanos (operadores) disponíveis actualmente são muito insuficientes para satisfazer as necessidades cirúrgicas mínimas esperadas. 17 Livro Branco da Cirurgia Sumário executivo 2. Existem importantes desequilíbrios de recursos materiais e humanos, no respeitante à distribuição geográfica e por categorias de US, não existindo uma definição detalhada das responsabilidades de cada tipo de hospital (“carteira de serviços”), nem dos recursos (humanos, materiais e financeiros) que devem dispor para cumpri-las. 3. Os escassos recursos disponíveis estão subaproveitados (poucas operações, baixas taxas de ocupação, baixo rendimento de pessoal e de equipamentos). 4. Não existe nenhum controle sobre o sistema sanitário cirúrgico nem uma estratégia planificada para a melhoria do mesmo. - pessoal especializado escasso e mal aproveitado; - abastecimentos irregulares; e - controle do sistema inexistente (estandardização de procedimentos, supervisão, garantia da qualidade, etc.). A partir das conclusões chegadas neste estudo, o Programa Nacional de Cirurgia dá ao MISAU uma série de PROPOSTAS FINAIS para a melhoria da cirurgia em Moçambique: * Optimizar os recursos materiais e humanos actuais, para evitar os desequilíbrios e baixo rendimento, colocando o HP como eixo do sistema de referência. ** Definir detalhadamente as capacidades de assistência cirúrgica (em quantidade, qualidade e nível de complexidade) que cada categoria de US deve ter, e dos recursos financeiros, materiais e humanos que devem dispor para o cumprimento dessas funções. *** Capacitar o PNC para liderar todos estes processos, garantindo a sua presença real nas estruturas centrais e provinciais do MISAU e outorgando a capacidade de gestão própria (orçamento). ****Discutir e Aprovar (MISAU e PNC) e Executar (PNC) um “Plano de Desenvolvimento da Cirurgia” a 5-10 anos, com objectivos, actividades e métodos de seguimento concretos, colocando como pontos principais: a gestão dos recursos humanos, a garantia dos abastecimentos e manutenção, e a implementação de um sistema nacional (regulamentos, sistemas de controle, formação contínua, etc.). Sumário Executivo 5. Os principais factores limitantes do desenvolvimento do sistema cirúrgico são: 19 Livro Branco da Cirurgia Executive summary The “White Book of Surgery” (LBC: “Livro Branco da Cirurgia”) was produced as a starting point for the “National Programme of Surgery” (PNC: “Programa Nacional de Cirurgia”), with the OBJECTIVE of knowing the present state of surgical practice in Mozambique and to create a tool for reasonable decision making. This tool will help to implement efficient short-term actions in order to optimise the available human and material resources, and to plan future cost/effective investments. To achieve this objective, the results of a nation wide survey was analysed, including all aspects of the “System of Surgery” in the whole country and for all categories of “health units” (US: Unidades Sanitárias). This study was carried out with the following METHODOLOGY: 1. To better define the scope of the survey, the US were divided into 2 levels of surgical assistance: US with “operating theatre” (BO: Bloco Operatório) (that includes the 41 hospitals of the country), and ** US without BO, just with minor surgical activities (that includes 405 health centres and posts). Information about the different aspects of the system were defined and collected: infrastructures, equipment and instruments, supplies, ancillary services, human resources, activities (statistics) and quality criteria. 2. Data was collected retrospectively from 2000 and 2001 for each of the 2 levels. There were studied the 41 included hospitals and 320 of the health centres and posts (79% of the included ones), managing to collect more than 100.000 data, which were entered into 2 computer data bases (Hospitals and Health Centres). This is one of the main products of the LBC. The Maputo Central Hospital (HCM) is not included in either the database or in most of the analysis, as its particular characteristics would distort the national results (HCM is not representative of the rest of the country). Nevertheless, it was considered in some particular analysis, where its exclusion would be most distorting. 3. Due to difficulties that arose as a result of the generalised lack of reliable data in the US, different control filters (peripheral and centralised) were used to ensure reliability of the study. Executive summary * 20 Livro Branco da Cirurgia Executive summary 4. Analysis of Results, in the database was done. The results were analysed, divided into several US categories (HC, HP, HG, HR, CS-I, CSII, CS-III, PS) as well as geographically (national, regional and provincial results) and then shown graphically. 5. Internal discussion (PNC) was performed to establish the conclusions to the survey, where limiting factors to the system development are shown and some proposals for improvement are stated. The ANALYSIS OF RESULTS shown is divided into the different aspects of the surgical system: General data Executive summary Lack of surgical beds (1/5 of existing in developed countries, PD), operating tables (1/4 of existing in PD) and specialised personnel (1/10 of existing in PD) are limiting factors of surgical activity. In addition, these resources are irregularly distributed (they are more concentrated in the South, especially at the HCM). Referral distance and time are highest from Provincial Hospitals (HP) to Central Hospitals (HC), and from Main Health Centres (CS-I) to the District Hospitals (HR), and that’s why these two categories should have more weight in the referral system. Infrastructures Half of the country’s health units with BO have some severe deficiencies: - 10% with no tapped water, - 18% without constant electricity, - 27% have no bathrooms, and - 50% have not been rehabilitated in the last 7 years. A third of health units with BO do not have the minimum requirements to perform safe surgery. Surgical wards, Emergency rooms and OPD are not better. 21 Livro Branco da Cirurgia Executive summary Equipment and instruments The biggest US (HC, HP e HG) have a minimum for the kind of surgery they usually perform, but this wouldn’t be enough if the complexity of operations increased. Smaller US (HR, CS e PS) are underresourced, so only the most basic surgery is possible at this level Up to 80% of US work without the necessary kits, although there are enough instruments to prepare them. Human resources There are few (1/20 of existing in PD) surgeons (including the surgical technicians, who operate at district hospital level), with the highest concentration at HCM. There is a qualitative gap between HC-HP level (with surgeons) and smaller US (only with technicians). Surgical performance is highest at HP level. Activities (statistics) 25% of US do not have clinical records, and the rest do not show reliable data. There is a low utilisation of surgical beds: Bed Occupation Rate (TOC) is 49%, with a Bed Turnover Rate (RC) of 20 patients/year. Utilisation of operating tables is low as well: 1 operation per table daily. HR have the worst values. 150 major operations per 100.000 inhabitants are performed yearly (1/15 of performed in PD), representing the elective ones, only 59% of the total (around 80% in PD). There are 150 OPD surgical consultations and 75 surgical emergencies occurring daily in the whole country (probably, they are not all recorded). There is not any significant difference of operation complexity among the different categories of US, but it was not possible to do a reliable survey of diagnostics and operations, due to the lack of data and a system of codification. Supplies They are a serious limiting factor of surgical activities (for all the categories of US), as they go frequently out of stocks. Executive summary Nursing personnel in the BO is not enough for the job (2.5 nurses and 3.1 assistants), especially at HR level (1.3 and 1.6). 22 Livro Branco da Cirurgia Executive summary Only 12% of US were permanently stocked with all the basic supplies (sterile gloves, sutures, blades,...) and 0% with all the advanced supplies (NG tubes, catheters,...). Ancillary services The lack of ancillary services seriously limits the capacity and quality of surgery, especially at HR level. Only 22% of US have permanently all the basic services like basic laboratories or radiography. Intermediate (ultrasound,...) and advanced (pathologist,...) are not permanently available in any US. Cleaning and sterilisation 85% of US have autoclave, 83% have either a stove or boiler (83%), but majority of them is out of date and therefore does not guarantee an optimum of quality. There are serious deficiencies in bio-safety of BO personnel (90% with no protecting glasses, 50% with no sharp objects bin). Executive summary Maintenance In 75% of US, internal maintenance services are not available (they are centralised in provincial capitals). Guarantee of quality Only half of US guarantee a minimum of quality. In just 1/2 of US, the clinical notes (patient records) are complete, and in just 1/4 of US, pre-operating examination of the patients is performed. Less than 1/5 of BO perform a correct circulation. Most of the US receive supervision, but it’s usually not surgery-oriented and gives no “feed-back”. 90% of the US do not have any capacity of self-management of resources. From results, this study shows many conclusions, which could be summarised in the following FINAL CONCLUSIONS: 1. The presently available material (surgical beds, operating tables, supplies,...) and human (surgeons) surgical resources are very inadequate to satisfy the minimal needs. 23 Livro Branco da Cirurgia Executive summary 2. There’s a serious imbalance of material and human resources among provinces and among categories of US. There’s a lack of definition of responsibilities for each category of US and resources (material, human and financial) to comply with those. 3. The limited available resources are underused (few operations, low TOC and RC, and poor equipment and personnel performance). 4. There is neither a control over the surgical system, nor a planned strategy to improve it. - shortage and underutilization of specialised personnel; - uneven supplies; and - non-existent system of control (standardisation of proceedings, supervision, guarantee of quality,...). Given those conclusions, the PNC provides the Ministry of Health (MISAU) with some PROPOSALS to improve the quality of surgery in Mozambique: * Optimise the present material and human resources, to avoid imbalances and low performance, placing the HP as referral system axis. ** Define the surgical assistance capabilities (quantity, quality and complexity level) that each category of US has to reach, and define the material, human and financial resources that each US should get to comply with those functions. *** Qualify the PNC to lead all these processes, guaranteeing its real presence in central and provincial administrations, and granting it some degree of self-management of resources. ****Discuss and approve (MISAU and PNC) and Execute (PNC) a “Surgery Development Plan (5-10 years)” with objectives, activities and methods of monitoring. Its main items should be: personnel management, guarantee of supplies and maintenance, and implementation of a national system of surgery (with regulations, standard proceedings, training, supervision,...). Executive summary 5. The main limiting factors to surgical development are: 25 Livro Branco da Cirurgia Introdução O Programa Nacional de Cirurgia (PNC) foi criado por Ordem Ministerial a 18 de Setembro de 1997 e integrado ao Departamento de Assistência Médica da Direcção Nacional de Saúde (DNS/DAM) com objectivos muito gerais de melhoria da cirurgia a nível nacional. O PNC começou a ser definido a partir da sua 1ª Reunião, realizada em Maputo de 26 a 28 de Novembro de 1997, onde se analisou e avaliou a actividade cirúrgica no país com o objectivo de desenhar um plano de actividades para 1998-2000. Dessa reunião, na qual foram convidados os diferentes sectores relacionados com a assistência cirúrgica, incluindo o Conselho Inter-hospitalar de Cooperação (CIC), resultou um primeiro rascunho do denominado Programa de Cirurgia, documento que analisa superficialmente a situação das infra-estruturas dos blocos operatórios, salas de pequena cirurgia, salas de esterilização e actividades dos técnicos de cirurgia e instrumentação, assim como lança uma chamada de atenção sobre os escassos recursos humanos especializados moçambicanos com os que conta o sector. Foi o então Chefe da DNS/DAM, Dr. Manuel R. Simão, quem elaborou um primeiro documento onde se apresentavam as ideias de partida e se pediam sugestões aos colegas para acabar de definir as linhas básicas de actuação e as possíveis fontes de financiamento do recém criado PNC. O MISAU solicitou, dentro dos Acordos Bilaterais estabelecidos na Comissão Mista Espanha - Moçambique, o apoio específico da Cooperação Espanhola, que aprovou a proposta e escolheu o CIC para a sua implementação ao longo de um mínimo de três anos a partir de 1999. O PNC pretende uma abordagem ampla dos problemas da cirurgia, pelo que define as seguintes linhas de actuação: b) Organização do sector da Esterilização. c) Formação e seguimento das actividades do pessoal cirúrgico especializado (cirurgiões, técnicos de cirurgia, técnicos de instrumentação, esterilização,...). d) Seguimento das actividades assistenciais das especialidades cirúrgicas e integração das mesmas (Cirurgia Geral, ORL, Maxilo-facial, Cardiovascular e Torácica, Pediátrica, Plástica,...). e) Promoção de uma boa gestão das unidades sanitárias. f) Introdução de critérios de garantia de qualidade. Introdução a) Investimento em Infra-estruturas. Reabilitação e Organização dos blocos operatórios, incluindo as pequenas cirurgias. 26 Livro Branco da Cirurgia Introdução Na hora de definir as actividades concretas dentro de cada uma dessas linhas, apareceu o primeiro obstáculo, que foi a falta de informação que se tinha sobre o estado real da assistência cirúrgica em todo o país, ponto de partida crucial para o estabelecimento de prioridades de acção. O Livro Branco da Cirurgia (LBC) foi pensado com o objectivo de paliar esta carência, tentando fornecer ao PNC e ao MISAU uma informação actualizada, fiável e objectiva sobre os diferentes aspectos (infraestruturas, equipamentos, instrumentais, abastecimentos, pessoal, estatística, supervisão,...) que definem as características da assistência cirúrgica actual em Moçambique. Durante os mais de dois anos que tem durado o processo de produção do mesmo, os seus objectivos iniciais (definição detalhada, estática e definitiva da situação da Cirurgia em Moçambique como ponto de partida do PNC) têm mudado ligeiramente para um conceito mais dinâmico (criação dum estímulo de avaliação contínua da realidade que permita ao MISAU e ao próprio PNC monitorizar as necessidades reais e definir as prioridades). Esta mudança foi necessária logo no início do trabalho, ao enfrentar-se a realidade das unidades sanitárias do país: a impossibilidade de uma recolha de dados tão exaustiva e fiável como era desejada, pela própria incapacidade do sistema. Mas o que poderia ter sido o empobrecimento da qualidade do trabalho, passou a ser o motor do mesmo, e assim, a fragilidade que mostrou o sistema sanitário abriu-nos os olhos à realidade da imensa maioria das US e converteu-se em referência necessária das conclusões. Introdução Por tanto, passou a ser um trabalho que ia dar respostas às perguntas e aos muitos preconceitos existentes; a ser uma fonte inesgotável de novas questões. Da mesma maneira, conforme se foi avançando neste trabalho, decidiu-se mudar o formato de apresentação: da ideia inicial de um livro volumoso cheio de informação, passou-se ao formato de um livro que mostra somente os aspectos mais importantes e decisivos na tomada de decisões, juntamente com um CD que recolhe todo o resto da informação disponível de uma maneira mais funcional e acessível à consulta. O livro inclui os seguintes tópicos: * Metodologia, que mostra as diferentes fases na colheita de dados, os motivos das mudanças progressivas na abordagem e as conclusões às que chegámos. ** Conclusões aos resultados obtidos do análise dos dados e propostas de melhoria, com os recursos humanos e materiais actualmente e a curto prazo disponíveis. Neste 27 Livro Branco da Cirurgia Introdução tópico incluem-se as secções de “Análise de Resultados” (só os gráficos mais representativos) e de “Conclusões e Propostas” (completa). *** Anexos (parciais, incluindo o Sumário Executivo do “Estudo de Custos de Cirurgia”). O CD, com um formato de página web (html), para além de todo o material contido no livro, contem a informação seguinte: * Análise de Resultados, completo com todos os gráficos. Apresentação do PNC, com organigrama, objectivos, actividades realizadas, em curso e futuras, etc. ** Papel do CIC no apoio ao MISAU, com as actividades e projectos actuais e futuros. *** Bases de dados completas do LBC (em formato mbd de Access): - US com internamento cirúrgico: hospitais (ficha completa ou grande); - US sem internamento cirúrgico: centros e postos de saúde (ficha reduzida ou pequena). ****Anexos completos. *****O “Estudo de Custos de Cirurgia” (já apresentado anteriormente ao MISAU), complemento necessário que demonstra, do ponto de vista económico, as deficiências do sistema de assistência cirúrgica e propõe formas de aumentar a eficiência com os recursos actuais. Introdução Para aliviar os textos, tem sido utilizadas abreviaturas sistematicamente, pelo que recomenda-se consultá-las quando for necessário. 29 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Com o objectivo de fazer um trabalho o mais eficazmente possível, visando dar uma informação fiável, completa e organizada, e encaminhado à tomada de decisões em níveis superiores, a metodologia foi planeada em várias fases: 1. Recolha de informação 2. Informatização dos dados recolhidos 3. Análise dos resultados obtidos 4. Reflexão sobre os resultados: Conclusões, Propostas e Constrangimentos 5. Apresentação do trabalho Recolha de informação O primeiro passo foi definir o alcance da informação que ia ser recolhida. Pensou-se que seria óptimo ter dados de todas as US de todo o país. Seriam estudados todos os hospitais, todos os CS e alguns PS (máximo de 5 por província), que pelo seu tamanho, localização ou actividade, mereceram ser incluídos. Assim houve uma selecção inicial de 491 US. Este número seria ainda reduzido, pelos diferentes motivos que se explicam mais adiante, às 361 US que são apresentadas neste estudo [Figura 1]. Criou-se uma abordagem metodológica baseada em inquéritos escritos (fichas) para serem preenchidos em todas as US seleccionadas. Foram definidos dois tipos diferentes de US pelo tipo de actividade cirúrgica que realizavam, e que, por tanto, requeriam modelos de inquérito diferentes: Metodologia Mas uma reflexão mais profunda das vantagens e desvantagens desta vontade inicial, avaliando a dificuldade extrema de chegar às mais de 1000 US que tem o país, muitas delas remotas e de difícil acesso e com mínima ou nula actividade cirúrgica, fez mudar a estratégia e decidiu-se excluir a grande maioria dos PS. 30 Livro Branco da Cirurgia Metodologia * Aquelas com capacidade de grande cirurgia (com bloco operatório, camas cirúrgicas e pessoal cirúrgico mínimo), que incluíam todos os hospitais (HC, HP, HG e HR), e alguns CS (em processo de re-categorização como HR). ** Aquelas com capacidade apenas de pequena cirurgia, sem bloco operatório nem internamento cirúrgico e sem pessoal especializado, que incluíam os CS e alguns dos PS. Foram excluídos: - A maioria dos PS, pela escassa actividade cirúrgica e pela dificuldade de acesso; - O HCM, por ser uma instituição autónoma, complicada de estudar e pouco representativa da realidade do país; - As clínicas privadas, por não pertencerem ao sistema público de saúde. Em qualquer caso, a sua contribuição na assistência cirúrgica ainda é mínima; - As US militares, por não pertencerem ao MISAU, embora sejam utilizadas por civis; - As chamadas “Aldeias” (postos de saúde de último nível); - Algumas US (quase todos PS) que estão encerradas há já algum tempo. Metodologia Em algumas províncias (Sofala, Nampula e Cabo Delgado), pela grande quantidade de CS existentes e pela dificuldade em resolver os problemas logísticos (DPS, responsável, etc.), durante a recolha, decidiu-se diminuir ainda mais o número de US, eliminando-se a maioria dos CS de tipo III, mantendo pelo menos uma US por cada distrito. Depois de um amplo debate interno sobre o tipo de dados que devíamos recolher, foram desenhadas (Janeiro 2000) as fichas adequadas a estes dois tipos diferentes de US, e foram produzidos dois modelos: a Ficha grande (FG ou completa), para as US com capacidade para grande cirurgia, e a Ficha pequena (FP ou reduzida), para as US com capacidade para pequena cirurgia. Modelos completos das Fichas (que incluem instruções para o seu preenchimento) aparecem nos “Anexos” do CD. Cada ficha incluía dados básicos e adequados ao tipo de actividade realizada em cada um dos sectores cirúrgicos das US (bloco operatório, esterilização, enfermaria, urgência e consultas), considerando os seguintes aspectos: - Dados gerais da US; - Infra-estruturas; - Equipamento e Instrumentos; 31 Livro Branco da Cirurgia Metodologia - Pessoal; - Actividades cirúrgicas (estatística); - Abastecimentos (“consumíveis”); - Meios diagnósticos; - Critérios de qualidade. Cada DPS recebeu (Fevereiro 2000) um pacote de fichas adequado às US incluídas de cada província, juntamente com as instruções para a sua distribuição, preenchimento e recolha, com um prazo de 3 meses para devolver o trabalho realizado. Esta estratégia fracassou completamente por graves carências a todos os níveis. Ao nível das DPS, algumas nem chegaram a distribuir as fichas, que ficaram perdidas “nas gavetas”, outras não deram instruções às US e não fizeram seguimento algum. Ao nível das US, poucas foram as que preencheram (por falta de vontade, de informação e de supervisão) e destas, a maioria foi mal preenchida. Também não era o momento oportuno, pelo estado de emergência em que se encontrava o país por causa das cheias. Eles escolheriam, junto com as DPS, um responsável em cada província (técnico ou enfermeiro da sala de operações com ampla experiência em temas cirúrgicos, de razoável nível intelectual e de responsabilidade e honestidade comprovadas) para fazer o trabalho directamente, a tempo inteiro durante cerca de três meses. Estes responsáveis seriam formados centralmente em cada região, pelo próprio coordenador do LBC, que também supervisionaria depois o trabalho realizado. Cada uma das DPS deveria: • Assumir as despesas da viagem de formação do responsável escolhido; • Comunicar ao cirurgião da província o papel supervisor que este deveria aceitar; • Assumir as despesas de comunicação (telefone, fax e correio) que o responsável precisasse (com Maputo ou intra-regionais); • Libertá-lo de todas as outras funções durante dois ou três meses; • Permitir a utilização do meio de transporte da DPS para deslocar-se às unidades, sempre que possível; Metodologia Por tanto, foi preciso propor uma nova estratégia, que foi baseada na participação dos coordenadores regionais do PNC (Drs. Simão, Américo e Mujovo). 32 Livro Branco da Cirurgia Metodologia • Dar ao mesmo, uma guia de marcha que lhe permita fazer o trabalho em todas as US da província. O PNC (com financiamento do CIC) pagaria subsídios a cada responsável por cada ficha correctamente preenchida. A incapacidade administrativa de muitas das DPS fez com que os trabalhos demorassem imenso tempo e que finalmente, na maior parte dos casos, uma importante parte das despesas (combustível, ajudas de custo,...) fosse assumida pelo PNC-CIC. Foram escolhidos responsáveis para todas as províncias do Sul e Centro, e a sua formação foi feita de Junho a Julho de 2000, na Beira (para os responsáveis de Sofala, Zambézia, Tete e Manica) e em Maputo (para os responsáveis de Maputo, Gaza e Inhambane). Após a formação, já na própria província, o responsável realizaria uma primeira viagem a cada US incluída no estudo, para entregar a ficha em mão, à pessoa que iria preenchêla (que devia ser o máximo responsável das actividades cirúrgicas da US correspondente) e explicar a este o procedimento de preenchimento. Passado um determinado tempo, o responsável voltaria a cada US, recolheria a ficha já preenchida e faria a supervisão directamente “in-situ”. Metodologia O cirurgião de cada província ficaria como assessor técnico para qualquer dúvida que surgisse, e deveria visionar o preenchimento da ficha. Cada coordenador regional do PNC deveria resolver qualquer problema logístico, legal, etc., que pudesse aparecer no processo. Finalmente, o coordenador do LBC faria uma supervisão final em cada província, para garantir a fiabilidade do trabalho. Na região Norte, em resposta à proposta do seu coordenador regional, fez-se uma estratégia diferente. Em vez de um responsável por província, foram formados (Nampula, Junho 2000) todos os técnicos de cirurgia e alguns médicos da região, com a responsabilidade de cada um fazer a recolha de dados nos seus respectivos distritos. Resultou em fracasso, com a entrega de poucas fichas, no geral mal preenchidas e com grande demora de tempo. Finalmente, depois de se terem perdido 6 meses de trabalho, decidiu-se fazer a mesma estratégia que nas outras regiões, para a qual tiveram de ser formadas novas pessoas como responsáveis ou, no caso de Nampula, enviar o responsável de Inhambane, que tinha feito um bom trabalho. 33 Livro Branco da Cirurgia Metodologia A previsão generosa inicial de ter todas as fichas correctamente preenchidas (depois das revisões necessárias) nos finais do ano 2000, foi mais uma vez excessivamente optimista e só as províncias mais participativas conseguiram ter o trabalho pronto no primeiro trimestre de 2001, demorando outras até o segundo ou terceiro trimestre, depois de numerosas chamadas de atenção. Em todo este processo, e para tentar dar maior seriedade e disciplina às DPS e responsáveis na recolha, foram enviadas desde a própria DNS, duas cartas diferentes exigindo a rapidez dos trabalhos. Mesmo assim, a resposta foi bastante pobre. Em Maputo Cidade, o responsável foi o Tec. Alberto Nhavoto, que fez um trabalho razoável. Depois de diferentes revisões e vários adiamentos de prazo, foram entregues no 1º trimestre de 2001 todas as fichas propostas: 2 FG (HG) e 13 FP (todos CS-U, sem PS). Facilitaram as coisas a DSCM, que colaborou sem problemas, e algumas US de fácil acesso. Em Maputo Província, o responsável foi o Enf. Joaquim de Amaral, que fez um trabalho excelente. Foram aceites em Dezembro 2000 todas as fichas propostas: 2 FG (HR e CS) e 42 FP (todos os CS e 5 PS). Em Gaza, o responsável foi o Tec. Jacinto, que fez um trabalho muito pobre, parcial e de baixa qualidade, com graves demoras e repetidos enganos. Foram aceites (as últimas já fora-de-prazo, em Novembro 2001) todas as 5 FG propostas (HP e HR) e só 15 das 22 FP propostas (todos os CS e 9 PS). A DPS prestou aparente colaboração, mas o responsável queixou-se de falta de apoio desta. Em Inhambane, o responsável foi o Enf. Atanásio, que fez um bom trabalho (entregue no 1º trimestre de 2001), que infelizmente não acabou bem, já que parte das fichas foi perdida em dois envios (um em mão, pelo motorista, que diz ter entregue a um servente qualquer no HCM, e outro por correio, que também nunca chegou). Foi necessário repetir duas das três FG já enviadas e ficaram muitas FP perdidas. Finalmente estão disponíveis: as 3 FG propostas (HP e 2 HR) e 38 das 61 FP propostas (parte dos CS e 4 PS). A DPS prestou razoável colaboração. Metodologia A DPS deu a máxima colaboração. 34 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Em Sofala, o responsável foi o Enf. Viegas, quem depois de um mau começo (não cumpriu nada do prometido durante mais de 6 meses), conseguiu finalmente fazer um trabalho razoável, embora para isso tivesse sido necessário diminuir o número de US e prolongar os prazos (até Junho 2001). Por haverem muitos CS na província, a maioria com pouca actividade cirúrgica, das 65 FP seleccionadas inicialmente (todos os CS e 2 PS), diminuiu-se para 56, das quais apresentam-se apenas 53 (as outras 3 não eram acessíveis pelas cheias no momento da recolha). As 5 FG da província (HC e HR) estão disponíveis. De alguns dos CS, os dados foram obtidos a partir as sedes distritais correspondentes, por falta de acesso pelas cheias. A DPS colaborou, mas foi preciso insistir. Destacou-se o apoio do HCB. Em Manica, o responsável foi o Enf. Mainguissana, que fez um excelente trabalho. Foram entregues em Dezembro 2000 todas as fichas propostas: 2 FG (HP e HR) e 24 FP (todos os CS e 10 PS). A DPS colaborou razoavelmente. Em Tete, o responsável foi a Enf. Rossana, que fez um bom trabalho, com óptima disposição. Foram entregues no 1º trimestre de 2001 todas as fichas propostas: 4 FG (HP, HR e CS) e 30 FP (CS e 9 PS). Houveram 3 CS finalmente excluídos por estarem dentro de US maiores ou por estarem fechados. Metodologia A DPS deu máxima colaboração. Na Zambézia, o responsável foi o Enf. Kondelaque, que fez um trabalho razoável. Foram entregues no 1º trimestre de 2001 grande parte das fichas propostas: todas as 5 FG (HP, HR e CS) e 25 FP (CS e 3 PS). A colaboração da DPS foi mínima, mas graças ao apoio do Dr. Marchesini, que esteve sempre presente, foi possível acabar o trabalho. Em Nampula, depois de fracassar o sistema descentralizado de recolha de dados, o Dr. Mujovo delegou funções ao Tec. Raite, que só conseguiu fazer uma pequena parte do trabalho. Foi necessário mandar finalmente (Junho 2001) o Enf. Atanásio (Inhambane) para realizá-lo. Também foi preciso diminuir as iniciais 92 FP (todos os CS e 1 PS), para apenas 42. 35 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Foram entregues às 6 FG propostas (HC, e HR) e 37 FP (CS e 1 PS). Houveram 5 CS não incluídos por serem inacessíveis no momento da recolha. Como nas outras províncias do Norte, foi preciso insistir muito à DPS para receber alguma colaboração. Em Cabo Delgado, o trabalho foi encarregue ao Enf. Mário que não só, quase nada fez, como também ficou com o dinheiro destinado ao trabalho, tendo sido posteriormente afastado do LBC. Foi preciso enviar a Dra. Núria para completar o trabalho. Como em Nampula, também foi preciso diminuir as iniciais 52 FP (todos os CS), para apenas 32. Foram entregues as 4 FG propostas (HP, e HR) e as 32 FP (CS). Houveram problemas de comunicação com a DPS, enquanto esteve presente o Enf. Mário. Em Niassa, com o sistema descentralizado, não foi feito nada durante todo o ano 2000. Finalmente foi formado o Dr. Ussene (Novembro 2000), que delegou funções ao Enf. Macanica. O trabalho foi feito apenas parcialmente, mesmo depois da visita (Junho 2001) à Lichinga do coordenador do LBC. Foram alegados problemas logísticos, os quais a DPS não conseguiu resolver durante quase um ano. Foram entregues as 3 FG propostas (HP, HR e CS) e somente 11 das 19 FP propostas (CS e 4 PS). No total, das mais de 1100 US do país, foram seleccionadas inicialmente 41 para FG (todos os hospitais, menos o HCM) e 450 para FP (eliminando a grande maioria dos PS e alguns CS-III, sem alguma actividade cirúrgica). As 450 FP foram finalmente reduzidas para 403 (eliminando mais CS III). Desta selecção, são apresentadas neste trabalho as 41 FG e 320 FP, o que supõe 100% dos hospitais e 79% das US com pequena cirurgia [Figura 1]. Uma lista completa destas aparece nos “Anexos” do CD. Metodologia Houveram muitas promessas, mas pouca ajuda por parte da DPS, que nunca chegou a esclarecer os problemas apresentados. 36 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Para garantir a mínima credibilidade dos dados foram estabelecidos diferentes filtros de controle: - O primeiro nível (periférico) de controle foi estabelecido pelos próprios responsáveis provinciais, que foram pessoalmente à grande maioria das US, para conferirem os dados lançados pelo pessoal de cada uma das US. - No segundo nível (central) de controle, todas as fichas foram revisadas pelo responsável nacional do LBC, tendo corrigido os erros, as dúvidas e os dados incompletos na presença de cada um dos responsáveis provinciais, que colaborou com a experiência acumulada durante o trabalho. Foi preciso adaptar à realidade encontrada sobre o terreno, algumas partes das fichas que tinham sido originalmente mal desenhadas (dados repetidos, impossíveis de recolher, inúteis, etc.) por falta de conhecimento de alguns detalhes do sistema de saúde. - Depois do lançamento dos dados na base electrónica, todos os dados foram novamente conferidos (nível informático), eliminando aqueles menos fiáveis. Informatização dos dados recolhidos O imenso volume de informação disponível (acima de 100.000 dados recolhidos) só poderia ser manejado por meio de uma informatização cuidadosa. Metodologia Foram preparadas 2 bases de dados diferentes (uma para cada tipo de ficha: grande e pequena), criadas com formato (.mdb) de Microsoft Access. Cada base de dados (colecção de dados ordenados e de rápido acesso) contém informação sobre os serviços cirúrgicos que presta cada um dos dois níveis definidos (FG e FP). Cada ficha preenchida (chamada “registo”) corresponde a uma US diferente, e contém várias (20 nas FG e 8 nas FP) partes diferentes (contentores de informação relacionada, chamados “formulários”), que se pode resumir no seguinte (para os dois tipos de fichas): • Dados gerais: data da recolha, identificação da US e dados gerais sobre as mesmas (não só os cirúrgicos); • Infra-estruturas: estado do espaço físico onde são realizadas as actividades cirúrgicas; • Equipamentos: quantificação de equipamentos e instrumentos utilizados nas actividades cirúrgicas; 37 Livro Branco da Cirurgia Metodologia • Pessoal: definição dos recursos humanos envolvidos nas actividades cirúrgicas; • Estatísticas cirúrgicas: dados sobre as actividades cirúrgicas realizadas no último ano; • Consumíveis: disponibilidade de recursos materiais cirúrgicos fungíveis; • Serviços complementares: disponibilidade de meios de ajuda ao diagnóstico; • Limpeza, Esterilização e Manutenção; • Critérios de qualidade: disponibilidade de actividades que garantam a qualidade da assistência cirúrgica. Cada formulário contém a informação estruturada em “campos” (iguais em cada registo), unidade básica de informação, cada um dos quais contém um só “dado” possível (diferente em cada registo, correspondente ao valor lançado no campo para essa US). - Numéricos, onde o dado contido será um número (exemplo: “Nº total anual de consultas”). - De texto, onde o dado contido será em texto (exemplo “Comentários”). - Sim/Não, onde o dado só se preenche como “Sim” ou “Não”, podendo também, ser marcado ou não no campo (exemplo “Disponibilidade habitual de luvas” ou “Falta habitual de reagentes”). - De escolha múltipla, onde o dado deve ser escolhido entre uma lista limitada (exemplo “Categoria profissional”). Os dados (excepto no formulário “dados gerais”) referem-se apenas às actividades cirúrgicas. Não incluem: Oftalmologia, ORL nem Ginecologia-Obstetrícia. Referem-se ao ano anterior à data de preenchimento, geralmente 1999 ou 2000, sendo os dados descritivos correspondentes ao último dia do ano referido, e os dados estatísticos ao ano inteiro (ou médias mensais do citado ano). Em alguns casos (indicado assim nos “Comentários”) as estatísticas anuais foram extrapoladas de um registo inferior ao de um ano completo. Alguns dos campos são de avaliação subjectiva e devem ser considerados como tal, pelo que embora tivessem sido dados alguns critérios de avaliação, pelo facto de estarem sujeitos à apreciação pessoal, podem mostrar resultados dificilmente quantificáveis. Metodologia Esta base de dados contém “campos” de vários tipos: 38 Livro Branco da Cirurgia Metodologia São campos de escolha múltipla, onde os critérios dados foram: “bom” quando o estado da estrutura avaliada garante uma função própria do mesmo; “regular” quando tem alguns defeitos que devem ser reparados, mas que não impedem uma função mínima; e “mau” quando tem defeitos importantes, que impedem até as funções mínimas e cuja reabilitação é considerada uma prioridade. Outros campos de avaliação subjectiva são do tipo Sim/Não (como alguns dos Comentários pré-definidos: “Espaço insuficiente”) ou do tipo de texto (como os Comentários livres). Os modelos informatizados de FG e FP tem várias vantagens sobre os modelos em papel utilizados na recolha sobre o terreno, de forma que elimina informação repetida, inútil ou falsa, sendo a informação disponível de fácil acesso. Análise dos resultados obtidos As possibilidades de análise que dão um volume tão grande de informação numa base de dados estruturada são praticamente infinitas. Esta evidência ofereceu novas e importantes reflexões: Metodologia Por um lado, foi preciso fazer uma selecção dos aspectos a estudar (“consultas à base de dados”). Por isso, foram consultados vários membros do PNC, tendo-se formulado uma lista definitiva dos aspectos sobre os quais interessava investigar. Por outro lado, a base de dados passou a ser apenas um simples meio para conhecer a realidade cirúrgica do país, passou a ser uma fonte de informação viva. Isto é, para além dos resultados obtidos neste estudo, podem ser feitas outras inúmeras consultas à base de dados, que poderão dar uma nova face à realidade cirúrgica deste país. De facto, isto é um convite a todos os interessados a utilizar a base de dados como ferramenta para novos estudos. Finalmente, deve-se considerar que este trabalho foi realizado ao longo de mais de dois anos, o que num sistema dinâmico como é o da saúde pública, significa que alguns dados podem estar já desactualizados, pelo que novamente são convidados os interessados (DNS/DAM, DPS, próprios hospitais, doadores, etc.) a manter actualizada esta base de dados. De facto, esta é a filosofia deste trabalho. 39 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Para simplificar o processo de consulta e apresentação de resultados foi necessário passar as bases de dados para um formato de folha de cálculo (.xls) sobre as quais foram feitas as operações estatísticas. A análise dos dados foi feita, para todos os aspectos estudados, mediante operações estatísticas simples (somatórios, médias, etc.) sem entrar em outras mais complexas (significação estatística, etc.). - Directas: como a maioria das apresentadas, nas quais se acham os resultados (estatísticas, gráficos, etc.) a partir de um único “campo”. Alguns exemplos são: a percentagem nacional de hospitais com ecógrafo (só se considera o campo de verificação “Possuir ecógrafo”) ou a média de procedimentos cirúrgicos realizados anualmente nos CS de Sofala (só se considera o campo numérico “Quantidade de procedimentos”, acoutado para uma província). - Relacionais: como a minoria das apresentadas, mais precisas, mas de difícil interpretação, nas quais se acham os resultados a partir da relação entre vários campos. Um exemplo deste tipo de consulta é o número de pessoal cirúrgico por número de procedimentos realizados (consideram-se os campos numéricos “Número de pessoal” e “Número de procedimentos”). Isto dá uma melhor ideia do rendimento da US que a consulta simples de “Número de procedimentos”. A desvantagem é que o número de relações que podem ser criadas são infinitas, a maioria delas inúteis, pelo que é necessária uma cuidadosa selecção. São poucas as consultas relacionais mostradas neste trabalho, mas conforme se definam as necessidades na tomada de decisões, outras consultas poderão ser sempre feitas. Em ambos tipos de consultas (directas e relacionais) e para as duas bases de dados (FP e FG), foram procurados os resultados sob dois pontos de vista diferentes: - Por categorias de US, comparando HC, HP, HG, HR e CS para a base de dados de hospitais (FG), e CS (por tipos) e PS para a base de dados de centros de saúde (FP); - Geograficamente, onde foram analisados tanto os hospitais (FG) como os centros de saúde (FP) por províncias e por regiões; Metodologia Têm sido feitas consultas de dois tipos a cada uma das duas bases de dados: 40 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Tendo sido o processo descrito (FG / FP, consulta directa / relacional, critério geográfico / de categoria) realizado para cada uma das áreas de recolha de dados: - Por sectores (no caso dos hospitais) dos serviços cirúrgicos: Bloco operatório, Esterilização, Enfermaria, Urgência e Consultas (no caso dos centros de saúde foi considerado um único sector: Pequena Cirurgia / Consulta cirúrgica); - Por aspectos do sistema de cirurgia: Contexto geral da US, Infra-estruturas, Equipamento, Instrumental, Recursos humanos, Abastecimentos, Meios diagnósticos, Estatística e Critérios de qualidade. Esta sequência no tratamento dos dados conduz-nos a resultados, que são apresentados tanto numericamente, de forma individual ou em tabelas, como em gráficos de diferentes tipos (barras, linhas, mapas, etc.). Metodologia Os comentários que aparecem junto a cada um dos resultados numéricos e gráficos completam a informação exposta mediante: • Esclarecimento de procedimentos particulares realizados para a obtenção desse resultado; • Análise das limitações e constrangimentos particulares desse resultado, credibilidade do mesmo e localização no contexto global do estudo; • Explicação objectiva do significado do resultado; e • Implicação do mesmo nas posteriores conclusões (subjectivas). Insiste-se em que os resultados obtidos dessas consultas, sejam considerados básicos para definir o perfil geral da assistência cirúrgica em Moçambique e para dar alguns argumentos técnicos às tomadas de decisões a nível político. Nunca se pretendeu fazer uma descrição de problemas pontuais, menores ou locais, mas com o volume de informação disponível nas bases de dados também seria possível mediante estudos posteriores, chegar-se a um nível “micro” de avaliação. 41 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Reflexão sobre os resultados: Conclusões, propostas e constrangimentos A partir dos resultados obtidos, são apresentadas as conclusões quer por áreas de recolha de dados, quer de forma global, dando especial importância às mais evidentes, às que definem melhor as características da assistência cirúrgica neste país e às que têm um maior peso para a tomada de decisões políticas. Também são indicadas como tal, as conclusões que não parecem tão claras, que não estão suficientemente documentadas e precisam de mais estudos, ou que podem ser contraditórias. Igualmente são orientadas as linhas de futuros trabalhos. Finalmente, junto às conclusões, são apresentadas propostas, que são ideias do próprio PNC para paliar os problemas detectados mediante este estudo no sistema de saúde pública no campo da Cirurgia. Logicamente estas propostas têm sido feitas sob um ponto de vista técnico, pelo que a conveniência da sua implementação deve ser antes avaliada considerando outros factores (políticos, económicos, etc.). - Uma alta fiabilidade a nível “macro” (números e estatísticas globais), por forma a que as conclusões tenham uma base de realidade comprovada (pode-se falar com segurança, por exemplo, da eficácia dos abastecimentos numa certa província); - Uma fiabilidade irregular a nível “micro” (dados concretos de certas US), por forma a que não se tomem decisões locais e pontuais somente com base nos dados apresentados neste estudo (não se deveriam, por exemplo, tomar decisões sobre a movimentação de pessoal numa certa província, sem antes se conferir os dados aqui apresentados); - A grande maioria dos dados estão actualizados para 2000 (alguns para 1999 e outros para 2001), pelo que é preciso considerar possíveis mudanças posteriores à recolha dos dados. Metodologia Se bem que foram tomadas todas as precauções para garantir a fiabilidade dos dados (instruções e exemplos detalhados nas próprias fichas, formação e seguimento dos responsáveis provinciais, várias revisões das fichas preenchidas, etc.), a informação disponível deve ser avaliada com cautela, tendo em conta os preceitos seguintes sobre este estudo: 42 Livro Branco da Cirurgia Metodologia É de salientar o momento de mudança e actualização em que se encontram as estruturas do sistema de saúde em Moçambique. Isto faz com que coexistam diferentes nomenclaturas, que se tornaram num importante factor de distorção deste trabalho: - Existe discrepância entre as várias fontes consultadas (MISAU, DPS, US, etc.) quanto aos nomes oficiais das próprias US (exemplo: Mandlakaze, Mandjacaze, Madjacaze Sede, etc.). Sempre se teve o cuidado, de se escolher como critério, o nome mais oficial e actualizado, não tendo sido sempre possível consegui-lo. - Existe um processo de redefinição de categorias das US, coexistindo uma nomenclatura antiga (HC, HP, HG, HR, CS e PS) com categorias dificilmente encaixáveis (CS-U, Aldeias, US militares, US de empresas, etc.) e com a re-categorização de US (alguns CS-I passam a ser HR ou HD, muitos dos PS passam para CS-III, etc.). Aqui o critério foi seguir a nomenclatura utilizada habitualmente pelas DPS, já que a nova não parece completamente implementada. - Igualmente, existe um processo de redefinição de categorias de recursos humanos, coexistindo as categorias antigas definidas de acordo com diferentes critérios (Enfermagem geral, básica e elementar, Serventes, Enfermagem de 1ª, 2ª, 3ª, Maqueiros, Práticos, etc.), com as novas categorias (assistente técnico, auxiliar técnico, etc.). O critério neste trabalho foi seguir, também, as denominações habitualmente usadas nas DPS, ao ver que as mais recentes ainda não se usam extensivamente. Metodologia Embora ao se desenhar a abordagem metodológica, tenham sido em grande parte considerados os factores da capacidade real do sistema público de saúde, por não existirem experiências prévias neste tipo de estudo num meio como Moçambique, houve um erro de sobrevalorização destas mesmas capacidades. Todos estes problemas apresentados (falta de colaboração, falta de autoridade, lentidão nas comunicações, dificuldade nos transportes, incapacidade financeira e logística das DPS, etc.), como já se viu, obrigaram a repetidas mudanças de estratégia, que a meu ver se deveram à grandes atrasos (uma ano sobre o tempo previsto), perda de dinheiro (até ultrapassar o orçamentado para este trabalho), gasto de energia e desmoralização. Isto não foi necessariamente um fracasso, pelo contrário permitiu conhecer melhor a realidade do país, o que foi fundamental para a discussão de propostas e para as conclusões finas, tendo fornecido uma experiência importante para encarar problemas similares no futuro. 43 Livro Branco da Cirurgia Metodologia Finalmente, o imenso volume de dados recolhidos e as quase infinitas consultas e resultados que podem ser feitos à base de dados complicaram o processo de selecção destas, separando a informação estatística e praticamente significativa (para a dedução das conclusões gerais) da grande massa de dados menos relevantes. Embora este processo de selecção, seja o que dê valor a este trabalho, não quer isto dizer que entre os dados não analisados não existam questões de interesse, que devam ser oportunamente estudadas no futuro. Apresentação do trabalho Também o formato de apresentação do LBC tem sofrido mudanças sobre a primeira ideia, que era a de apresentar toda a informação em papel. Isto foi logo descartado pelo grande volume de informação que existia, pela dificuldade no acesso que daria uma base de dados impressa e com este tamanho, e por motivos económicos evidentes na edição dum livro que só poderia ter sido editado em vários volumes. Foi por isto que se decidiu editar um CD com toda a informação, que complementaria o livro impresso de dimensões e conteúdos reduzidos. Poucos anexos aparecem, mas foi incluído o Sumário Executivo do “Estudo de Custos de Cirurgia”, trabalho já apresentado ao MISAU, realizado dentro das actividades do PNC e que complementa o LBC, chegando a conclusões parecidas, sob um ponto de vista estritamente económico. A informação contida no CD-ROM é apresentada em formato de página web (.htm), pelo que deve ser lida a partir de um explorador de Internet (incluído nos sistemas operativos habituais), a partir do arquivo de entrada (“LivroBrancoCirurgia”). Para além de toda a informação disponível do LBC, o CD inclui também: a versão completa do “Estudo de Custos de Cirurgia”, uma “Apresentação do PNC”, como programa da DNS/DAM com objectivos e actividades concretas em curso, e uma “Apresentação do CIC/ AECI”, explicando o papel destes como colaboradores do PNC. Metodologia O livro impresso pretende ser um guia de leitura rápida orientada às conclusões e às propostas derivadas destas, pelo que só inclui a metodologia (tem sido determinante na avaliação dos resultados), os resultados mais evidentes e as conclusões e propostas. 44 Livro Branco da Cirurgia Metodologia A informação própria do LBC está dividida em cinco áreas diferentes: • as próprias bases de dados (como arquivo .mdb do Access), com vários sistemas de busca rápida de fichas; • os resultados das consultas realizadas às bases de dados, com todas as tabelas e gráficos, e a análise dos mesmos; • todo o texto (metodologia, conclusões, propostas, etc.); • todos os anexos; e • o “Estudo de Custos de Cirurgia”. Metodologia As Instruções para o manejo do CD-ROM estão como link (“Como utilizar este CD”) na página de começo do mesmo. Neste livro as instruções encontram-se nos Anexos. 45 Livro Branco da Cirurgia Resultados C ada aspecto do sistema de cirurgia tem sido estudado e representado graficamente sob dois pontos de vista: por categorias de US e por distribuição geográfico. Para cada aspecto estudado foram feitos os gráficos correspondentes e uma interpretação aos mesmos foi dada pelo PNC, dividida em: Nacional, Por categorias, Por regiões e províncias e Comentários. Os gráficos são de linhas ou de colunas (separadas, apinhadas, etc.) e incluem sempre: uma tabela de dados anexada, uma legenda dos dados mostrados e uma referência do tipo de estudo (por categorias ou geográfico). Os dados nacionais ficam no meio, separados por um espaço, tendo a cada lado os dados por categorias e grupos funcionais (nos gráficos de categorias) ou os dados provinciais e regionais (nos gráficos geográficos). O ESTUDO POR CATEGORIAS DE U.S. foi feito, no caso dos hospitais, para cada uma das categorias actuais de US com capacidade de grande cirurgia (com Bloco Operatório, por tanto): HC, HP, HG, HR e HR(CS). Dentro da categoria de HR(CS) só estão incluídos os 3 CS que estão em processo de re-categorização como HR. Pelas características de similitude, próprias de cada uma destas categorias, achou-se conveniente estudá-las também como duas únicas categorias: HC-HP por um lado e, HG-HR-HR(CS) por outro. Este novo critério de escolha permite uma maior fiabilidade de resultados, por ser uma classificação funcional mais real que a das categorias oficiais (que às vezes só fornece resultados irregulares de difícil avaliação) e por serem amostras maiores, com mais significado estatístico. Também, um elemento de distorção nas categorias oficiais, é o facto de certas categorias possuírem poucas US (só 2 HC, 3 HG e 3 HR(CS)), pelo que, os resultados não são estatisticamente significativos. No caso dos centros e postos de saúde, o estudo foi feito para cada uma das categorias actuais de US sem capacidade de grande cirurgia: CS-U (Centros de Saúde Urbanos), CS-I (CS tipo I), CS-II (CS tipo II), CS-III (CS tipo III) e PS (Postos de Saúde). Foram estudados só as US que realizam algum tipo de pequena cirurgia. Isto fez com que muitas das pequenas US do país fossem eliminadas do estudo [Figura 1]. O facto de ser um estudo amplo mas parcial deve ser tido muito em conta na hora da avaliação dos resultados, por provocar um certo sesgo podendo-se chegar à conclusões erradas. Resultados Destacar que dos 3 HG, 2 não fazem urgências, por estarem na cidade de Maputo (transferem ao HCM), que exerce grande influência sob os serviços cirúrgicos desta categoria. 46 Livro Branco da Cirurgia Resultados Assim, têm sido evitados ao máximo os dados “totais” (somatórios), uma vez que seriam sempre menores aos reais (sobretudo no estudo geográfico e nas categorias mais pequenas, por terem sido eliminadas do estudo mais US). Pelo contrário, os dados apresentados como “médias” e “percentagens” podem aparecer mais (no caso de valores positivos) ou menos (dados de deficiência) elevados que os valores reais, por terem sido estudadas as melhores US de cada província. Portanto, sempre aparecem médias e percentagens melhores que as reais. É, por isto que, é conveniente comparar os dados nacionais e geográficos achados com os dos PS estudados, porque estes podem representar essa grande maioria de US não incluídas neste estudo, e que em geral, têm as piores condições em tudo (são maioritariamente PS, e constituem o maior número de US do país). O ESTUDO GEOGRÁFICO foi feito tanto individualmente (estudo comparativo entre províncias) como regionalmente (estudo comparativo por regiões). Como no caso das categorias, a divisão por regiões proporciona resultados mais claros que por províncias, onde aparecem resultados muitas vezes irregulares. Novamente, no caso dos hospitais, um elemento de distorção no estudo provincial é o facto de certas províncias terem poucas US (só 2 em Manica e 3 em Niassa e Inhambane), pelo que, os resultados não são estatisticamente significativos. No estudo geral, não está incluído o HCM, por ser uma instituição autónoma, complicada e de características tão diferentes que não é representativa do país. Resultados O HCM só está incluído (é convenientemente assinalado na legenda) nos gráficos onde se avaliam cifras totais (somatórios) e relações por população, que é onde mais distorção provocaria, já que nos gráficos onde se manejam médias, percentagens, etc. os valores do HCM não são tão influentes. A inclusão ou não do HCM em cada gráfico, deve-se ter em conta, porque poderá provocar um sesgo importante na interpretação dos resultados (especialmente por províncias e regiões), já que uma grande parte da actividade cirúrgica de Maputo e da região Sul realiza-se no HCM. Também não foram incluídos HG especializados, sem nenhuma actividade cirúrgica, como são os da Machava e Chamanculo (na cidade de Maputo). No estudo por províncias, no termo “Maputo” foram incluídas tanto a província como a cidade. Isto foi feito porque uma grande proporção de doentes dos HG da cidade de Maputo vem da província, não existindo nesta nenhum HP. Desta maneira, “Maputo” não está representado no grupo de HC-HP. 47 Livro Branco da Cirurgia Resultados Em geral, no Livro Branco, os “serviços cirúrgicos” de HC e HP referem-se só ao Serviço de Cirurgia. Nos casos de HG, HR e HR(CS), os “serviços cirúrgicos” referem-se aos Serviços de Cirurgia e Ortopedia, que sempre estão juntos nos hospitais destas categorias. Para evitar o sesgo que isto provocaria na interpretação de alguns dos resultados, nos gráficos que incluem Camas, Altas e Operações, tem sido incluída (convenientemente assinalado na legenda) a Ortopedia para todas as categorias (também HP e HC). No caso dos centros e postos de saúde, lembrar que os dados que aparecem como “médias” sempre são médias por US (de cada província ou região) e não médias do total dessa província ou região. DEVIDO AO GRANDE VOLUME DA INFORMAÇÃO PRODUZIDA NO CAPÍTULO DE “RESULTADOS”, NESTA EDIÇÃO IMPRESSA SÓ APARECEM OS RESULTADOS MAIS DESTACÁVEIS, JUNTO COM OS GRÁFICOS E MAPAS MAIS IMPORTANTES. UMA VERSÃO COMPLETA DOS “RESULTADOS” PODE SER CONSULTADA NA EDIÇÃO ELECTRÓNICA (CD), ANEXADA A ESTE LIVRO. Como nos outros capítulos do livro, a informação está classificada nos diferentes aspectos do sistema de cirurgia. Resultados No estudo por províncias, “Maputo Cidade” e “Maputo Província” foram considerados de forma separada. 48 Livro Branco da Cirurgia Resultados Dados gerais Existem poucas Camas cirúrgicas, com uma baixa Taxa por população (1/5 do que em PD) e com poucas camas cirúrgicas nas totais [Figura 2]. Destaca um Efeito HCM (distorção dos resultados pela inclusão do HCM no gráfico: tem quase 1/4 das camas totais do pais e 1/3 das cirúrgicas) e uma Centralização provincial (quase 1/2 das camas totais e quase 2/3 das cirúrgicas, estão nas capitais das províncias) [Figura 3]. Observa-se uma degradação de Sul a Norte [Figuras 4a e 4b]. O Pessoal qualificado é insuficiente (médicos por cama hospitalar são 1/10 dos médicos em PD) [Figura 5]. A Distância é um factor limitante nas referências, especialmente desde os HP (para os HC) [Figura 6]. Também há poucas Mesas de GC (grande cirurgia) disponíveis por população (1/4 do que em PD). Maputo é a província mais favorecida [Figura 7]. Resultados Demostra-se uma baixa relação entre as mesas de GC e de PC (1,2 / 1) o qual é típico também de países subdesenvolvidos (6 / 1 em PD). 49 Livro Branco da Cirurgia Resultados Infra-estruturas 1/2 dos BO e das ENF tem um estado geral de conservação deficiente [Figura 8a] e até 1/3 dos BO não tem nem as mínima condições de trabalho [Figura 8b]. - 10% dos BO não tem água 24 h (30% tem problemas de abastecimento). - 18% dos BO não tem energia 24 h. - O tamanho das SO parece aceitável, mas na realidade é pequeno já que acostumam alojar bens que deveriam estar em outros espaços do BO (armazéns,...). - O espaço para a Esterilização é muito pequeno (especialmente nos HR). - 27% dos BO não tem casa de banho. - 85% das US tem a Central de Esterilização dentro do BO (a conveniência disto é uma questão a debater). - Razoável relação espaço/cama declarada nas ENF, que é menor na realidade, por existirem camas não declaradas e por falta de espaços comuns nas ENF (armazéns, lavagem, esterilização, pensos,...). - 1/2 dos BO e das ENF não foram reabilitados nos últimos 7 anos. - 80% das US não tem na Urgência separados os quartos de PC (pequena cirurgia), ST (sala de tratamentos) e SG (sala de gessos). Resultados Dados interessantes são: 50 Livro Branco da Cirurgia Resultados Equipamentos e Instrumental O Equipamento básico dos BO é bastante limitado (média nacional de 1.5 aspiradores e 0.8 electrocoaguladores por mesa), sendo as cifras muito menores no caso dos HR. Existem suficientes aparelhos de esterilização (muitos obsoletos) e estão aparentemente infra-utilizados para a actividade existente nos BO (~300 operações/autoclave/ ano). Na realidade trabalham muito mais, já que servem a todo o hospital, e não só ao BO. A maior produtividade dos aparelhos dá-se nos HC e HP, já que operam mais [Figura 9]. O Instrumental parece o mínimo suficiente nos BO e nas ENF, algo deficiente nas URG e quase inexistente nas CE. Quantitativamente, os HP são os mais deficientes, em relação à actividade que realizam [Figuras 10 e 11]. Qualitativamente, os HR são os piores, já que tem instrumentos só para cirurgia muito básica. Poucos BO (25-80% depende que tipo de kit) e quase nenhuma ENF e URG trabalham com kits. Embora a quantidade de instrumentos não é excessiva, pelo geral seria suficiente para formar kits. Resultados Batas, Lençóis e Pijamas estão em número suficiente nos hospitais mais grandes (HCHP-HG) e são insuficientes nos HR. 51 Livro Branco da Cirurgia Resultados Pessoal Ha poucos “operadores” (1/20 do que nos PD). Dá-se um salto quantitativo (número de cirurgiões) entre o HCM e o resto dos hospitais, no entanto que existe um salto qualitativo (de cirurgiões a técnicos) entre os HCHP e os HR [Figura 12]. A equipa humana cirúrgica (anestesista e instrumentista) é a mínima necessária para os HP, e claramente insuficiente para os HR. A idade média do pessoal cirúrgico é elevada, sem diferenças entre categorias profissionais. A vida média profissional parece curta (poucos anos de trabalho efectivo) devido a uma formação tardia e a um abandono precoce. Desequilíbrios importantes aparecem entre categorias de US, enquanto à carga de trabalho operatório da equipa cirúrgica. Observa-se uma máxima actividade operatória dos operadores nos HP, sendo mínima no HCM [Figura 13]. O pessoal de enfermagem nas ENF é também escasso (média por ENF cirúrgica de 1 chefe, 5 enfermeiros e 5 serventes), o qual implica sobrecarga horária e diminuição da qualidade do trabalho. Alem da escassez, existe uma multiplicação de tarefas (40% deles trabalham simultaneamente na URG ou nas CE) que ainda piora a situação. Resultados A média nacional de pessoal de enfermagem nos BO é muito baixa (2.5 enfermeiros, 3.1 serventes). Os HR estão muito infra-dotados (1.3 enf., 1.6 serv.). 52 Livro Branco da Cirurgia Resultados Estatísticas Pelo menos, 1/4 das US tem registos incompletos dos doentes (esta cifra é semelhante em todas as categorias de US), sendo a qualidade dos registos existentes baixa. Os recursos cirúrgicos estão infra-utilizados, sendo os HR os que mostram piores valores: As médias nacionais dos principais indicadores são: TMP (8.7 dias), TOC (49%), RCA (20 doentes) e Mortalidade (3.4%) [Figura14]. As médias de camas e altas cirúrgicas por US são: 40 camas cirúrgicas (18% das totais) e 90 altas mensais. Só se realizam anualmente 150 operações de GC por cada 100.000 habitante (1/15 do que nos PD), das quais só 59% são electivas (80% nos PD) [Figuras 15a e 15b]. Realizam-se por volta de 16 operações / cama / ano, e 1 operação / mesa / dia [Figura 16]. Diariamente, em todo o país, realizam-se só 150 CE e 75 URG (sem incluir o HCM), embora provavelmente existe um sub-registo de casos. Não é possível fazer um estudo sério de diagnósticos e operações devido à falta generalizada de dados fiáveis e à não existência dum sistema de codificação (pelo que os dados existentes são pouco comparáveis). Resultados No geral, não existem grandes diferenças de diagnósticos e de operações entre categorias de US [Figura 17]. Só 6 tipos de operações electivas constituem a metade do total. Só nos HC encontra-se mais variedade operatória. 53 Livro Branco da Cirurgia Resultados Abastecimentos Os abastecimentos são um gravíssimo factor limitante da actividade cirúrgica (quantitativamente), já que: Só 12% das US dispõem permanentemente (sem roturas de stocks) de todos os materiais básicos (lâminas, luvas, compressas, fios, seringas, agulhas e anti-sépticos) e nenhuma (0%) dispõe permanentemente de todos os materiais avançados (como algálias ou SNG) [Figura 18]. Resultados Por itens, destaca que 46% das US não tem permanentemente lâminas de bisturi, 44% não tem luvas, e 32% não tem fios de sutura básicos (Seda e Catgut). 54 Livro Branco da Cirurgia Resultados Serviços complementares Os serviços complementares são um gravíssimo factor limitante das capacidades cirúrgicas e da qualidade, já que: Só 22% das US dispõem permanentemente (sem paragens de funcionamento) de todos os serviços básicos (Hb, Banco de sangue, Ureia e Glicemia, RX simples) e nenhuma (0%) dispõe permanentemente de todos os serviços intermédios (como Ecografia, RX com contraste,...) e avançados (como endoscopia ou anatomia patológica) [Figura 19]. Resultados Embora as cifras são sempre pobres, existe uma certa degradação por categorias de US [Figura 20]. 55 Livro Branco da Cirurgia Resultados Limpeza e Esterilização O número de aparelhos de esterilização dos BO (85% utilizam autoclaves e 83% estufa/ ebulidor) parece minimamente aceitável, mas a maioria deles são obsoletos e não dão uma mínima garantia de qualidade [Figura 21]. Existe uma clara degradação dos mínimos de higiene e esterilização por categorias de US. Os BO apresentam valores quantitativos bons de controle da esterilização (98% das US realizam algum controle), mas qualitativamente não dão nenhuma garantia. Resultados Demostra-se uma deficiência grave da biosegurança dos trabalhadores dos BO (90% não dispõem de óculos protectores e 50% não utilizam depósitos de objectos pontiagudos) [Figura 22]. 56 Livro Branco da Cirurgia Resultados Manutenção Resultados A capacidade de manutenção básica própria é muito escassa (entre 17% e 37% das US, segundo o tipo de serviço disponível) e geograficamente está centralizada (só tem valores aceitáveis as US provinciais: HC e HP) [Figura 23]. 57 Livro Branco da Cirurgia Resultados Critérios de qualidade Só 1/2 das US mantém critérios de qualidade mínimos nos BO e nas ENF [Figuras 24a 24b]: * 1/2 das US fazem reuniões clínicas. * 1/2 das US preenchem habitualmente os processos dos doentes (embora de forma deficiente). ** 1/4 das US fazem avaliação pré-operatória habitual. ** 1/4 das US tem protocolos de diagnóstico e tratamento cirúrgico. *** Menos de 1/5 das US fazem correcta circulação limpo-sujo no BO. *** Menos de 1/5 das US tem biblioteca cirúrgica. *** Menos de 1/5 das US fazem trabalhos de investigação clínica. A incapacidade para a gestão própria de recursos é quase absoluta (só 10% das US conseguem gerir alguns recursos). Resultados Realiza-se bastante supervisão (80% das US recebem), mas com mínimo conteúdo cirúrgico, pouco controlada e sem “feed-back” às US. CONCLUSÕES E PROPOSTAS Livro Branco da Cirurgia Dr. Ivo Paulo Garrido Dr. Gonzalo Martín Becerril Direcção do PNC (Drs. Ivo Garrido e Simão) e Colaboradores do CIC (Drs. Juan e Gonzalo) iii Livro Branco da Cirurgia 600 UNIDADES SANITÁRIAS EXISTENTES, SELECCIONADAS e ESTUDADAS Dados por categorias de US 450 N…de US 300 150 0 CS-U CS-I CS-II CS-III PS MOÇ Existentes 55 75 78 371 559 1,138 Seleccionadas 55 75 78 175 20 403 Estudadas 43 71 56 131 19 320 300 50 200 25 100 0 P ercentagem C amas por 100.000 habitantes CAMAS Camas hospitalares totais (todos os serviços) por 100.000 habitantes Camas cirúrgicas (Ortopedia incluído) por 100.000 habitantes Percentagem de camas cirúrgicas sobre as totais 0 Camas totais Camas cirúrgicas % Camas cirur. -25 Moçambique Mínimo desejável para Moçambique Estado de Ceará (Brasil) Espanha 44.8 11.3 25.2 53.4 13.4 25.0 155.9 30.9 19.8 251.9 84.2 33.4 Figura 2 Figuras e mapas Figura 1 iv Livro Branco da Cirurgia 50 3,500 HOSPITAIS (nº de hospitais, nº total de camas e nº total de camas cirúrgicas) 2,800 40 Dados por categorias de US HCM só incluído na coluna "HCM" (não incluído nas médias nacionais nem por categorias) 30 1,400 20 700 Total Hos pitais C amas totais e c irúrgic as (Ortopedia inc luída) 2,100 10 0 -700 0 Camas Camas Cirur. Hospitais HCM HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR 1,441 1,078 1,901 615 2,359 458 316 518 57 505 144 6,097 2,979 3,118 42 1,438 834 1 2 7 3 26 604 3 42 10 32 Figura 3 100 CAMAS (nº de camas e de camas cirúrgicas por cada 100.000 habitantes, e % de camas cirúrgicas sobre o total de camas) 100 80 75 Dados por províncias e regiões HCM incluído em "Map", "MOÇ" e "Sul" 60 50 25 40 0 20 -25 -50 0 Map Gaza Inh Sof Mani Tete Zamb Namp C D Nia MOÇ Sul Cent Nort Camas 112.0 56.9 43.8 79.0 37.1 42.5 22.6 21.5 28.8 33.7 44.8 77.6 39.9 Camas Cirur. 27.8 10.1 11.2 20.4 9.6 10.6 6.1 5.8 7.0 10.6 11.3 18.3 10.4 6.9 % Camas Cir. 24.9 17.7 25.6 25.9 25.9 25.0 27.2 27.1 24.5 31.5 25.2 23.5 26.0 27.2 25.3 Figura 4a % C amas c irúrgic as (Ortopedia inc luída) C amas por 100.000 habitantes (Ortopedia inc luída) Figuras e mapas 125 v Livro Branco da Cirurgia CABO DELGADO 28,8 Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 HOSPITAIS 7,0 NIASSA 33,7 10,6 NAMPULA 21,5 TETE 42,5 5,8 10,6 ZAMBÉZIA 22,6 6,1 SOFALA 79,0 MANICA 37,1 Camas Totais Camas Cirúrgicas 0 - 25 0 - 06 26 - 50 07 - 12 51 - 75 13 - 18 76 - 100 19 - 24 101 - 125 25 - 30 20,4 9,6 INHAMBANE 43,8 11,2 GAZA 56,9 MAPUTO 112,0 CAMAS TOTAIS e CAMAS CIRÚRGICAS 10,1 27,8 (Nº de camas totais e de camas cirúrgicas por cada 100.000 habitantes) Figura 4b PESSOAL POR CAMA (média de pessoal de cada categoria por cada 100 camas) Dados por categoriasde US HCM só incluído na coluna "HCM" (não incluído nas médias nacionais nem por categorias) P es s oal / 100 c amas 50 25 0 HCM HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP Médicos/100Camas 16.7 5.8 4.2 5.9 2.2 1.4 3.8 4.7 HG-HR 2.9 Técnicos/100Camas 11.7 7.8 9.8 11.9 4.5 4.9 7.5 9.1 6.0 Enferm./100Camas 33.9 43.4 28.4 22.8 17.1 27.1 26.1 33.8 18.7 Serventes/100Camas 67.4 58.1 29.8 42.6 19.2 20.8 31.8 40.0 23.9 Figura 5 Figuras e mapas 75 vi Livro Branco da Cirurgia 9 DISTÂNCIA AO CENTRO DE REFERÊNCIA SUPERIOR (horas de carro nas épocas seca e de chuvas) (horas de avião para os HC) Dados por categorias de US HCM não incluído 6 Horas de c arro 3 0 HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR Seca HCM 2.0 5.7 0.9 3.4 2.1 3.5 4.9 3.1 Chuva 2.0 7.0 1.2 5.2 2.5 4.9 5.9 4.6 Figura 6 Figuras e mapas Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 CABO DELGADO 0,4 NIASSA 0,6 HOSPITAIS NAMPULA 0,3 TETE 0,5 ZAMBÉZIA 0,3 MANICA 0,3 SOFALA 0,7 0 - 0,25 0,26 - 0,50 0,51 - 0,75 0,76 - 1,00 INHAMBANE 0,4 1,01 - 1,25 GAZA 0,6 MAPUTO 1,2 MESAS CIRÚRGICAS POR POPULAÇÃO (Nº de mesas operatórias de GC por cada 100.000 habitantes) Figura 7 vii Livro Branco da Cirurgia 100 ESTADO GERAL DAS INFRAESTRUTURAS (% de US com deficiente estado geral do BO e da ENF, % de US que não dispõem de condições mínimas para a actividade cirúrgica, e % de US nas que não foi reabilitado nem o BO nem a ENF depois de 1995) 75 Dados por categorias de US HCM não incluído 25 0 Estado ENF Estado B.O. SEM Mínimos Ano Reab. ENF Ano Reab. B.O. HCM HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR 50 50 0 0 0 43 57 29 43 43 67 0 0 0 33 65 52 54 54 42 67 67 0 0 67 61 50 39 47 44 44 56 22 44 44 66 48 44 48 44 Figura 8a CABO DELGADO 100% Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 HOSPITAIS 75% NIASSA 100% Figuras e mapas P erc entagem 50 33% NAMPULA 17% TETE 50% 33% 75% ZAMBÉZIA 50% 40% SOFALA 60% MANICA 50% 40% 0% INHAMBANE 33% 0% Estado B.O. Sem mínimos 0 - 20% 0 - 20% 21 - 40% 21 - 40% 41 - 60% 41 - 60% 61 - 80% 61 - 80% 81 - 100% 81 - 100% GAZA 60% MAPUTO 0% 0% 60% ESTADO GERAL DAS INFRAESTRUTURAS (0% de US com deficiente estado geral do B.O. e 0% de US sem condições mínimas para a cirurgia) Figura 8b viii Livro Branco da Cirurgia 4 RENDIMENTO DE EQUIPAMENTOS DO BLOCO OPERATÓRIO (médias por US de Aspiradores e de Electrocoaguladores por Mesa operatória, de Cabos de electrocoagulação por Electrocoagulador, e de Operações por Autoclave) 400 3 Dados por categorias de US HCM não incluído 200 Nº Operaç ões 2 Quantidade 0 1 -200 0 HCM HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR Aspiradores/Mesa 1.0 1.9 1.8 2.2 1.4 1.9 1.6 2.1 Electrocoag./Mesa 1.1 1.0 0.8 1.0 0.4 1.0 1.0 0.9 Cabos/Electrocoag. 1.8 2.3 2.3 1.9 2.0 2.0 2.1 1.9 Operações/Autoclave 380 380 139 229 10 266 380 189 Figura 9 INSTRUMENTAL DO BLOCO OPERATÓRIO (1) (taxa dos instrumentos básicos -cabos de bisturi, portagulhas, pinças de dissecção e hemostáticas, tesouras de fios e de tecidos- disponíveis no BO em relação ao número de operações anuais da US) 2 Dados por categorias de US HCM não inclu do Nº Ins trumentos / Operaç ão Figuras e mapas 3 1 0 HCM Instr./Operaç. HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR 0.6 0.2 1.0 0.5 8.0 0.5 0.3 0.6 Figura 10 ix Livro Branco da Cirurgia 150 INSTRUMENTAL NO BLOCO OPERATÓRIO (2) (média da quantidade disponível por US de cada um dos instrumentos do BO) Dados por categorias de US HCM não incluído 100 Nº Ins trumentos 50 0 HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR Cabos bisturi HCM 70 35 31 18 16 24 43 19 Porta-agulhas 89 43 31 21 16 28 53 22 Pinças disecção 384 50 69 49 34 66 124 49 Pinças hemostáticas 364 73 103 84 79 97 138 85 Tesouras tecidos 185 27 51 19 22 31 62 22 Tesouras fios 98 16 31 11 14 18 34 13 Afastadores pequenos Afastadores grandes 45 21 21 16 14 18 26 16 19.0 12.9 6.3 9.3 2.0 9.6 14.2 8.3 Figura 11 PESSOAL DO BLOCO OPERATÓRIO (médias por BO de pessoal: Operador especialista, clínico geral e técnico; Anestesista -inclui todas as categorias- e Instrumentista -inclui todas as categorias-) 9 Dados por categorias de US HCM só incluído na coluna "HCM" (não incluído nas médias nacionais nem por categorias) Nº P es s oal 6 3 0 HCM HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR Especialista 27.0 6.5 1.4 1.0 0.1 0.3 0.7 2.6 0.2 Clínico geral 10.0 0.5 0.3 0.0 0.4 0.0 0.3 0.3 0.3 Técnico 0.0 0.5 0.4 1.7 1.1 0.7 1.0 0.4 1.1 Anestesistas 22.0 Instrument. 9.5 4.6 2.7 1.3 1.3 2.3 5.7 1.4 9.5 5.7 2.3 1.3 1.3 2.5 6.6 1.4 Figura 12 Figuras e mapas 12 x Livro Branco da Cirurgia 800 20 ACTIVIDADE DO PESSOAL ESPECIALIZADO (Nº de operações anuais por operador e por anestesista e Nº de Operadores por 100 camas cirúrgicas) Dados por categorias de US HCM só incluído na coluna "HCM" (não incluído nas médias nacionais nem por categorias) Operadores / 100 c amas 600 10 400 0 Operaç ões 200 0 -10 HCM HC HP HG HR HR (CS) MOÇ Operações/Operador 89 253 533 122 240 23 285 393 207 Operações/Anestesista 150 200 250 122 306 17 247 231 243 200 200 139 297 17 228 200 243 4.7 2.9 14.0 9.4 7.1 6.0 3.6 9.7 Operações/Enferm. Operador/100Camas 8.1 HC-HP HG-HR Figura 13 100 Dados por categorias de US ESTATÍSTICA CIRÚRGICA HCM só incluído na coluna "HCM" (médias dos indicadores estatísticos (não incluído nas médias nacionais nem por categorias) cirúrgicos de cada US) 75 10 50 TOC 25 TMP, R C , e Mortalidade Figuras e mapas 15 5 0 -25 0 TMP -50 HCM HC HP 7.1 12.3 12.3 6.4 8.1 1.9 1.7 2.7 1.5 RC HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR 5.6 8.7 12.3 7.7 1.8 1.7 1.8 1.6 Mortalidade 5.7 3.3 2.2 0.9 4.2 0.8 3.3 2.5 3.5 TOC 70 80 70 58 41 33 49 72 42 Figura 14 xi Livro Branco da Cirurgia 400 OPERAÇÕES DE GRANDE E PEQUENA CIRURGIA (dados anuais, totais e por população) 10,000 300 Dados por províncias e regiões Ortopedia incluída HCM incluído em "Map", "MOÇ" e "Sul" 8,000 Nº por 100.000 habitantes 200 6,000 100 4,000 0 Totais 2,000 -100 0 Map Gaza Inh Sof Mani Tete GC por 100.000 h 279 135 268 183 59 285 91 PC por 100.000 h 524 17 9 102 70 27 5 Total GC 5,324 1,582 Total PC 9,996 3,274 2,606 201 108 1,456 649 Zamb Namp 3,677 2,936 774 348 157 CD Nia MOÇ Sul Cent Nort 105 46 157 8 3 23 151 237 140 98 80 240 39 3,359 657 1,335 25,399 10,180 9,868 5,351 244 47 198 13,529 10,305 2,735 489 9 Figura 15a CABO DELGADO 46 Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 59% NIASSA 157 Figuras e mapas HOSPITAIS 55% NAMPULA 105 TETE 285 58% 42% ZAMBÉZIA 91 51% SOFALA 183 MANICA 59 64% 59% INHAMBANE 268 49% Operações de GC % de Cirurgia por 100.000 hab. Electiva 0 - 60 0 - 20% 61 -120 21 - 40% 121 - 180 41 - 60% 181 - 240 61 - 80% 241 - 300 81 - 100% GAZA 135 MAPUTO 279 74% 58% OPERAÇÕES DE GRANDE CIRURGIA (Nº de operações de grande cirurgia por cada 100.000 hab. e % de operações electivas das totais) Figura 15b xii Livro Branco da Cirurgia 75 OPERAÇÕES DE GRANDE CIRURGIA (médias anuais por cada Cama cirúrgica e mensais por cada Mesa de GC, e % de operações electivas sobre as totais) Dados por categorias de US Ortopedia incluída (não na % electiva) HCM só incluído na coluna "HCM" (não incluído nas médias nacionais nem por categorias) 100 75 50 25 25 0 0 HCM HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR Por Cama 8.8 12.0 15.4 17.1 20.0 1.6 16.5 14.1 18.1 Por Mesa 21 29 37 16 29 1 29 34 23 % Electivas 65 51 60 85 53 81 58 56 59 Figura 16 DIAGNÓSTICOS DE ALTA (% dos diagnósticos mais frequentes) O resto que falta até 100% corresponde a outros diagnósticos 80 Dados por categorias de US HCM não incluido 60 Perc entagem Figuras e mapas 100 40 20 0 HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP HG-HR Abd. Agudo 0 4 0 5 2 3 2 4 Fracturas 0 2 7 9 8 5 1 8 Pat. Benigna Pele 15 4 4 2 10 5 8 3 Politrauma/Trauma abd. 1 4 2 10 5 6 3 9 Hidrocelo 2 6 12 8 2 6 4 8 Queimaduras 10 8 0 7 10 7 9 6 Hérnia 8 21 40 15 38 18 16 20 Figura 17 -25 P erc entagem Operaç ões por C ama (anual) e por Mes a (mens al) 50 xiii Livro Branco da Cirurgia CABO DELGADO 25% Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 HOSPITAIS 0% NIASSA 0% 0% NAMPULA 0% TETE 25% 0% 0% ZAMBÉZIA 40% 0% SOFALA 0% MANICA 0% Abastecimentos básicos 0% 0% INHAMBANE 0% 0% Abastecimentos avançados 0 - 20% 0 - 20% 21 - 40% 21 - 40% 41 - 60% 41 - 60% 61 - 80% 61 - 80% 81 - 100% 81 -100% GAZA 0% MAPUTO 25% ABASTECIMENTOS MÍNIMOS 0% 0% (% de US que dispoem sempre de todos os materiais básicos e avançados) Figura 18 CABO DELGADO 25% Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 50% NIASSA 33% Figuras e mapas HOSPITAIS 33% NAMPULA 33% TETE 25% 33% 50% ZAMBÉZIA 20% 40% SOFALA 20% MANICA 50% Serv. Básicos 60% 0% INHAMBANE 0% 67% Sem mínimos 0 - 20% 0 - 20% 21 - 40% 21 - 40% 41 - 60% 41 - 60% 61 - 80% 61 - 80% 81 - 100% 81 - 100% GAZA 0% MAPUTO 25% 75% 60% SERVIÇOS COMPLEMENTARES MÍNIMOS (% de US que dispoem sempre dos serviços básicos e % de US sem os mínimos serviços) Figura 19 xiv Livro Branco da Cirurgia SERVIÇOS COMPLEMENTARES. MÍNIMOS (% de US que dispõem sempre dos Básicos -RX, Hb, BQ básica, banco-; Intermédios -contrastes, BQ, hematol., EKG, coag., ecografia-; e Avançados - escopias, AP, fisio, ORL, oftalm.-; e % de US definidas "SEM mínimos") P erc entagem 100 200 50 150 0 100 Dados por categorias de US HCM não incluído 50 P erc entagem -50 0 -100 HC HP HG HR HR (CS) MOÇ Básicos 100 71 33 Intermédios 50 0 0 Avançados 50 0 0 0 SEM mínimos 0 43 67 54 HC-HP HG-HR 4 0 22 78 6 0 0 2 11 0 0 2 11 0 33 49 33 53 Figura 20 CABO DELGADO 50% Figuras e mapas Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 HOSPITAIS 50% NIASSA 67% 67% NAMPULA 100% TETE 100% 83% 100% ZAMBÉZIA 80% 80% SOFALA 100% MANICA 100% 100% 100% INHAMBANE 67% 100% Autoclave Ebulidor ou Estufa 0 - 20% 0 - 20% 21 - 40% 21 - 40% 41 - 60% 41 - 60% 61 - 80% 61 - 80% 81 - 100% 81 - 100% GAZA 80% MAPUTO 100% 75% 80% HIGIENE NO BLOCO OPERATÓRIO (% de Blocos Operatórios que utilizam sempre autoclave e ebulidor/estufa) Figura 21 xv Livro Branco da Cirurgia CABO DELGADO 100% Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 HOSPITAIS 50% NIASSA 67% 0% NAMPULA 100% TETE 100% 50% 100% ZAMBÉZIA 100% 60% SOFALA 80% MANICA 50% Sem óculos no B.O. 0% 0% INHAMBANE 100% 33% Dep. Objectos pontiagudos 0 - 20% 0 - 20% 21 - 40% 21 - 40% 41 - 60% 41 - 60% 61 - 80% 61 - 80% 81 - 100% 81 - 100% GAZA 80% MAPUTO 100% BIOSEGURANÇA 100% 75% (% de B.O que não dispõem de óculos e que dispõem sempre de obj. pontiagudos) Figura 22 600 500 400 Dados por categorias de US HCM não incluído P erc entagem ac umulado 300 200 100 0 HC HP HG HR HR (CS) MOÇ HC-HP Pintura 100 29 0 8 33 17 44 HG-HR 9 Canalização 100 71 33 19 67 37 78 25 Alvaneria 0 57 0 12 33 20 44 13 Mecânica 0 57 0 12 33 20 44 13 Carpintaria 100 57 67 19 33 34 67 25 Electricidade 100 86 67 12 33 34 89 19 Especializada 100 57 0 8 0 20 67 6 Figura 23 Figuras e mapas SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO (1) (% de US que dispõem de manutenção própria: Especializada, Electricidade, Carpintaria, Mecânica, Alvaneria, Canalização e Pintura) xvi Livro Branco da Cirurgia CABO DELGADO 25% Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 HOSPITAIS 100% NIASSA 0% 67% NAMPULA 50% TETE 0% 67% 75% ZAMBÉZIA 40% 40% SOFALA 0% MANICA 100% Avaliação Preperatória 20% 100% INHAMBANE 0% 67% Reuniões clínicas 0 - 20% 0 - 20% 21 - 40% 21 - 40% 41 - 60% 41 - 60% 61 - 80% 61 - 80% 81 - 100% 81 - 100% GAZA 40% MAPUTO 25% CRITÉRIOS DE QUALIDADE CLÍNICA GERAL 60% 75% (% de US que fazem sempre avaliação preperatória na cirurgia electiva e % de US que fazem reuniões clínicas) Figura 24a CABO DELGADO 100% Figuras e mapas Programa Nacional de Cirurgia MOÇAMBIQUE 2001 HOSPITAIS 0% NIASSA 100% 33% NAMPULA 100% TETE 100% 83% 25% ZAMBÉZIA 80% 0% SOFALA 100% MANICA 100% 0% 50% INHAMBANE 100% 33% Controle Esterilização Circulação L-S 0 - 20% 0 - 20% 21 - 40% 21 - 40% 41 - 60% 41 - 60% 61 - 80% 61 - 80% 81 - 100% 81 - 100% GAZA 100% MAPUTO 100% 50% 20% CRITÉRIOS DE QUALIDADE BLOCO OPERATÓRIO (% de US que fazem sempre controle de esterilização e % de US que fazem sempre circulação limpo sujo) Figura 24b FIGURAS E MAPAS Livro Branco da Cirurgia 63 Livro Branco da Cirurgia A base destas conclusões parte da análise dos hospitais, embora tenha sido considerada também a análise dos centros de saúde e as conclusões do Estudo de Custos da Cirurgia, trabalho complementar ao Livro Branco. No capítulo posterior, as conclusões e propostas principais aparecem integradas num bloco único, que constitui o núcleo final do trabalho. Depois de cada grupo de Conclusões, o PNC sugere uma série de Propostas (em itálico), orientadas no sentido de melhorar as deficiências do sistema demonstradas na análise dos resultados. Em algumas das Propostas, aparecem como interrogações os Constrangimentos, que são factores que podem complicar a viabilidade das propostas. Conclusões e propostas por sectores Conclusões e propostas por sectores 64 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Metodologia O próprio processo de produção deste trabalho, desde a sua ideia inicial até a publicação como “Livro Branco da Cirurgia”, tem sido tão dinâmico e conflituoso, que deu ao Programa Nacional de Cirurgia uma série de experiências que devem ser tomadas muito em conta como parte das próprias conclusões do mesmo. 1. Não existe actualmente um S.I.S. (Sistema de Informação de Saúde) minimamente fiável, e muito menos referente às actividades cirúrgicas. Conclusões e propostas A falta do SIS começa já na recolha de dados, que é incompleta (existe um importante sub-registo de casos) e pouco fiável. Mas também peca na elaboração de estatísticas por parte das US (são incompletas e com numerosos erros), como na análise das mesmas (não existe a maquinaria no MISAU para receber estatísticas, analisá-las, tirar conclusões e fazer propostas às Direcções correspondentes do MISAU, e dar o “feed-back” às DPSs e USs). 2. Existe uma grave descoordenação entre os diferentes níveis hierárquicos do sistema nacional de saúde (MISAU, DNS, DPSs e USs). Durante a recolha de dados para este estudo, foram detectados contínuos problemas de autoridade e de comunicação entre as diferentes estruturas do MISAU, que só se resolveram, com iniciativas pessoais dentro do PNC. Isto permite concluir que o sistema de saúde público, não tem capacidade para produzir nem sequer para manter actualizado um trabalho com as características do “Livro Branco da Cirurgia”, não mostrando inclusive, capacidade para manter um nível mínimo de coordenação do sistema, o que dificulta muito qualquer iniciativa de melhoria. 3. O “Livro Branco da Cirurgia” foi concebido como uma fonte de dados dinâmica, pelo que, é fundamental que seja actualizado frequentemente. O objectivo do LBC é que seja consultado sistematicamente na tomada de decisões sobre qualquer assunto de assistência sanitária, especialmente na área cirúrgica. E, para que seja uma ferramenta útil neste sentido, deve ser actualizado. 65 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores 4. A experiência do PNC neste tipo de estudos é perfeitamente extensível a outras áreas assistenciais do sistema de saúde. Não se pode desvincular a cirurgia de outras áreas clínicas nem de outros serviços de apoio à assistência sanitária, pelo que, seria desejável ter dados completos destas outras áreas. Tem sido demostrado que é tecnicamente possível. 5. Alguns dos dados recolhidos não são muito úteis (por serem pouco fiáveis, difíceis de recolher ou por não ajudarem na tomada de decisões), pelo que, podem ser eliminados em futuras actualizações ou na extensão do sistema a outras especialidades. * Reorganizar (pelo MISAU) um SIS que inclua a assistência hospitalar, consultando os clínicos para o desenho do mesmo. Tem o Departamento de Estatística do MISAU, vontade de contar com o ponto de vista dos clínicos e incluir no SIS dados hospitalares de utilidade clínica? ** Criar e manter (pelo PNC) um SIS cirúrgico encaminhado à tomada de decisões do próprio PNC (que complemente o SIS geral, sem que seja paralelo a este). Existe capacidade do PNC e vontade nos clínicos cirúrgicos do país para manter um SIS cirúrgico, complementar ao do MISAU? *** Criar um sistema de actualização permanente do LBC, que pode ser parte do SIS cirúrgico. Outra opção (provavelmente menos viável) seria realizar actualizações completas de 5 em 5 anos. Quem é que pode fazer isto? ****Incluir o resto de serviços assistenciais neste futuro sistema actualizado, reduzindo os dados a recolher (selecção de dados úteis). Há interesse e capacidade por parte dos outros programas nacionais de especialidades? Tem a DNS, capacidade para criar e manter uma única base de dados integrada? Conclusões e propostas Propostas 66 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Dados gerais 1. Existem poucas camas cirúrgicas (em termos absolutos para as necessidades do país e em termos relativos em comparação com o total de camas), que estão excessivamente centralizadas e concentradas no Sul. Só existem 1896 camas cirúrgicas (incluindo as de Ortopedia) nos 42 hospitais de todo o país. Mais de 1/2 está nos HC e HP, e quase 1/4 no HCM. Conclusões e propostas Isto sugere 11,3 camas cirúrgicas por 100.000 habitantes (seria desejável um mínimo de 20, embora em países desenvolvidos andem à volta de 100). Existe uma clara degradação de Sul à Norte. Para o total de camas do país, a proporção das cirúrgicas (nem chega a 25%, incluindo a Ortopedia) é algo baixa, embora própria de um país subdesenvolvido (que tem mais doentes materno-infantis). 2. O pessoal qualificado existente é insuficiente (não só para as necessidades do país, como também para os limitados recursos materiais existentes) e está irregularmente distribuído. A escassez é especialmente grave nas categorias clínicas (especialistas, médicos e técnicos). Surpreende a quantidade relativamente alta de pessoal de enfermagem (em comparação aos clínicos e serventes) com quase tanta proporção de enfermeiros como a de serventes, o que não faz sentido num país onde há um importante défice na formação (mesmo nos países desenvolvidos, a proporção das categorias inferiores é maior). Muitas enfermeiras estão colocadas em trabalhos não clínicos (administração, serviços de apoio, formação, etc.). O HCM tem melhores taxas para todas as categorias de pessoal, mas o privilégio é especialmente exagerado no caso dos médicos. 3. Os tempos de transferência de doentes entre categorias de US são máximos desde HP a HC, o que obriga os HP a assumirem responsabilidades máximas no sistema de referência. 67 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Existe também uma diferença apreciável entre a região Sul e o Centro-Norte, devido às maiores distâncias e piores estradas destas últimas (a diferença é ainda maior na época das chuvas). Os HP devem converter-se no eixo do sistema de referência nacional, pelo que, os investimentos devem estar encaminhados nesse sentido. Logicamente, e uma vez que os HP respondam bem à demanda, o passo a seguir seria o investimento nos HR. Isto indica que há pouca capacidade de realizar operações e que os cuidados primários cirúrgicos têm um peso específico importante dentro das actividades cirúrgicas dos hospitais. Os HP sofrem especialmente deste condicionamento. O facto de existirem poucas mesas cirúrgicas nos HP, pode ser um dos factores limitantes do número de operações (não é o único factor, sendo o humano o mais determinante). Isto é, podem ter problemas, se quiserem que a cirurgia electiva (de todas as especialidades) não fique cancelada pela chegada de casos de urgência. Como nos outros aspectos, Maputo está claramente favorecida, com valores correspondentes a mais do dobro da média nacional e 3 ou 4 vezes mais que certas províncias 5. Os hospitais de zonas mais isoladas e com mais problemas de acesso durante as chuvas (Centro e Norte), têm também menor apoio de instituições externas ao MISAU. 6. Existem ainda hospitais que não têm as mínimas condições gerais (água, energia, sistema de tratamento de lixo hospitalar,...) para funcionar como tais. Quase a metade dos CS não tem água ou energia. Conclusões e propostas 4. Existem poucas mesas de GC tanto em termos absolutos (metade das desejadas para este país e 1/4 das presentes por população num país desenvolvido) como em relação às mesas de PC. 68 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores 7. A capacidade de assistência cirúrgica básica dos CS (tipos II e III) e PS é praticamente nula. Apresentam péssimas condições gerais (falta de espaço, falta de água e energia, falta de marquesa para operar, etc.) pelo que, a pouca cirurgia lá realizada, não cumpre nem os critérios mínimos. Propostas Conclusões e propostas * Optimizar os recursos hospitalares disponíveis actualmente. ** Definir as necessidades hospitalares por províncias (em termos de condições gerais, recursos materiais e humanos e capacidades) e fazer uma priorização de investimentos com o objectivo de ter um sistema equilibrado e equitativo. *** Conseguir a curto prazo que 100% dos hospitais do país disponham de condições mínimas (água e energia 24 h., infra-estruturas básicas, etc.). ****Melhorar a coordenação da ajuda externa ao MISAU para optimizá-la. *****Criar condições mínimas nos CS e PS para uma cirurgia básica digna. PARA TODAS AS PROPOSTAS: Tem o MISAU, capacidade financeira e executiva para conseguir estes objectivos num prazo razoável? 69 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Infra-estruturas 1. Existe uma importante degradação das infra-estruturas cirúrgicas hospitalares (BO e ENF) e ambulatórias (pequenas cirurgias). Aproximadamente a metade dos hospitais do país tem blocos operatórios e enfermarias cirúrgicas com deficiente estado geral das instalações, e mais de 1/3 nem apresentam condições mínimas para uma cirurgia com garantias básicas, sendo os HR e as US do Norte os mais desfavorecidos. 2. Não existe uma manutenção preventiva programada das infra-estruturas, pelo que se espera maior degradação nos próximos anos. 3. Os espaços disponíveis para os diferentes sectores da Cirurgia (BO, ENF, CE, URG e ESTER) são reduzidos e serão ainda mais se considerar-se um crescimento das actividades a meio prazo. Isto é mais evidente no caso da Esterilização (especialmente nos HR), que por estar centralizada e dentro do BO na maioria das US (a conveniência disto deve ser motivo de debate), para poder servir com garantia todo o hospital, deve aumentar as suas capacidades e ter muito mais espaço que o actual. O espaço disponível para camas na ENF parece razoável, mas na realidade não é assim, já que por uma parte, geralmente existem mais camas das declaradas, e por outra parte, muitas camas estão em quartos que deveriam ter sido reservados para outras funções necessárias (sala de tratamentos, esterilização, armazém, etc.) que agora são realizadas em espaços comuns. 4. As condições gerais dos BO (água, energia, espaço, estado de construção, etc.) são muito más para o esperado de um sector tão importante. Quase 25% dos BO não garantem água 24 h., 50% não garantem energia 24 h., e 25% não têm casa-de-banho no BO (os piores resultados correspondem aos HR e à região Norte). Conclusões e propostas Também uma metade dos CS do país estão degradados. 70 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores 5. Os outros sectores da Cirurgia (ENF, CE e URG) também têm graves insuficiências estruturais. 80% das Urgências, 75% das Enfermarias e 75% das Consultas externas cirúrgicas do país não têm quartos separados para Pequena Cirurgia (PC), Sala de Tratamentos (ST), Sala de gesso (SG) e Limpeza e Esterilização Propostas Conclusões e propostas * Definir os “standards” de infra-estrutura (tamanhos, quartos, distribuição, abastecimento de água e de energia, etc.) dos diferentes sectores dos hospitais para cada categoria de US. ** Definir as necessidades de estruturas hospitalares por províncias e realizar um programa de investimentos considerando prioritária a reabilitação e adequação (às necessidades actuais e futuras) das estruturas já existentes, mais que a construção de US novas. Está o programa de investimentos para a reabilitação de estruturas orientado pelas necessidades reais dos hospitais e da população, ou existem outros factores (políticos,...) que podem levar à decisões pouco adequadas à realidade (abrir novas US,...)? *** Priorizar a reabilitação e adequação dos BO às necessidades actuais e futuras como medida primária de garantia da qualidade na cirurgia. ****Criar protocolos de “pequena manutenção” de obrigado cumprimento pelas US, para reduzir o máximo a degradação das infra-estruturas. Existe capacidade financeira e vontade das US para manterem sistematicamente as suas estruturas? PARA TODAS AS PROPOSTAS: Está entre as prioridades do MISAU, estabelecer um debate sério e abrangente com o objectivo de analisar o futuro dos hospitais? Tem o MISAU, vontade e capacidade para implementar as decisões tomadas e orientar adequadamente os investimentos? 71 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Equipamentos e Instrumental 1. O equipamento dos BO dos hospitais, embora algo escasso e básico, é o mínimo necessário para o tipo de cirurgia que se realiza, pelo que, não constitui um factor limitante (em quantidade e qualidade) do sistema de cirurgia actual. O equipamento existente permite a realização de uma cirurgia simples e escassa (a que se realiza actualmente), mas seria muito insuficiente se aumentasse o volume de operações ou o nível de complexidade destas. No caso dos HR é claramente insuficiente. 2. Os aparelhos de esterilização são suficientes em número, mas estão muito obsoletos e não garantem uma qualidade de esterilização mínima. Como se faz pouca cirurgia (especialmente nas US mais pequenas), os aparelhos de esterilização (autoclaves e estufas) estariam sub-utilizados se servissem só o BO, mas como são utilizados para toda a US, em muitos casos são utilizados mais do que o seu estado de conservação permite. Quase metade dos CS e PS utilizam panelas de pressão (a lenha, do PAV) para a esterilização cirúrgica, o que é bastante insatisfatório. 3. O instrumental disponível nos BO e nas ENF é suficiente para o tipo e volume de cirurgia que se realiza. Nas URG e PC das US ambulatórias é escasso e nas CE quase inexistente. A quantidade de instrumentos permitiria em geral, o trabalho com kits, mas estes não se utilizam em mais de metade das US, o que é um problema de organização das rotinas de trabalho no BO. Pela maior actividade operatória dos HP e por não estarem melhor equipados que as outras categorias no concernente ao número de instrumentos, os HP são os que obtêm melhor rendimento do seu instrumental, sendo às vezes escasso para as necessidades (nos HP, o instrumental é factor limitante da quantidade de cirurgia). Conclusões e propostas No caso dos CS e PS, o nível de equipamento é bastante pobre (1/3 das US estudadas, não têm marquesa para operações, nem candeeiro cirúrgico). 72 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Pelo contrário, pela pouca actividade operatória, os HR têm um número de instrumentos superior ao necessitado, mas por serem instrumentos básicos, não permitem aos HR realizarem cirurgia de nível superior à realizada actualmente (nos HR, o instrumental é factor limitante do tipo de cirurgia). No caso das US ambulatórias, à escassez geral de instrumentos, junta-se a má distribuição destes, pelo que, algumas US (ou em armazéns provinciais ou distritais) têm instrumentos a mais enquanto outras US (da mesma categoria e província) não têm quase nenhum. Conclusões e propostas 4. A lençaria (lenços, campos, batas e pijamas) nos BO é, em geral, a mínima exigida para a cirurgia que se realiza actualmente, embora alguns HR não tenham os mínimos necessários. Pelo contrário, é claramente insuficiente e limita a mínima qualidade de trabalho nas ENF e URG dos hospitais e nas PC das US ambulatórias. Uma maioria de URG e ENF hospitalares e de PC dos CS e PS realizam procedimentos cirúrgicos sem um campo estéril. 5. Bastantes hospitais e quase a totalidade dos CS não dispõem de incinerador controlado, pelo que, fazem o tratamentos de resíduos hospitalares de forma inadequada (aterros, etc.). 73 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Propostas * Completar os equipamentos e instrumentais das US conforme a sua categoria para o nível qualitativo e quantitativo de cirurgia que deles se espera num futuro próximo. *** Implementar protocolos de funcionamento mais adequados ao meio nos diferentes sectores da cirurgia (especialmente no BO), incluindo a utilização de kits e uma optimização no rendimento de equipamentos. Tem o PNC, capacidade (técnica e política) para implementar novas rotinas de trabalho a nível nacional? Existe vontade das US para cumpri-las? PARA TODAS AS PROPOSTAS: Está entre as prioridades do MISAU estabelecer um debate sério e abrangente com o objectivo de analisar o futuro dos hospitais? Tem o MISAU, vontade e capacidade para implementar as decisões tomadas e orientar adequadamente os investimentos? Conclusões e propostas ** Modernizar (em equipamento e em rotinas de trabalho) as Centrais de Esterilização, tendo em conta o crescimento do sistema hospitalar e as definições de cada categoria de US. 74 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Pessoal 1. O pessoal (especialmente o mais formado) é o principal factor limitante do crescimento quantitativo e qualitativo do sistema de cirurgia. Não é possível fazer um programa sustentável de melhoria da cirurgia no país, enquanto não se conseguir alcançar um crescimento estável dos recursos humanos especializados e uma política razoável na sua distribuição geográfica e por categorias de US. Conclusões e propostas 2. A escassez de quadros não é só devida à falta deles, mas também à uma desequilibrada distribuição geográfica e por categorias de US. Existe um salto quantitativo de pessoal entre o HCM (que acumula quase a metade de todo pessoal superior especializado do país) e o resto das US. Embora este seja um factor que desequilibra gravemente o sistema, não significa, necessariamente, que seja precisa uma redistribuição imediata de recursos humanos, uma vez que, devem-se considerar outros factores como a função formativa do HCM (único hospital do país que tem condições para fazer a formação pós-graduada). Igualmente, o Sul (e especialmente Maputo) tem muitos mais recursos humanos especializados que o resto do país. 3. A “vida média” profissional efectiva do pessoal especializado é muito curta, com uma formação tardia e uma alta taxa de abandonos antes da idade da reforma. Existem vários motivos para pensar que existe também uma alta rotação de pessoal (mortes precoces, abandonos no caso dos técnicos, fim de contratos para os estrangeiros, etc.). Seria de se esperar também, um maior gradiente etário por categorias de US, supondo que o pessoal com menor experiência comece em hospitais mais pequenos e depois progrida para os maiores. Este gradiente não existe pela falta de uma política de distribuição por méritos (CV, promoção interna, etc.) do pessoal especializado. Na correcta avaliação destes dados e na planificação para o futuro é preciso considerar, para além do envelhecimento dos quadros e da formação de novos, outros factores como a renovação de quadros estrangeiros e o efeito desestabilizador que pode ter a pandemia do SIDA. 75 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores 4. Para além de haver pouco pessoal especializado, as capacidades profissionais de cirurgiões e técnicos de cirurgia (mesmo no caso da ortopedia e anestesia) estão subaproveitadas. Para os operadores, existe um evidente salto qualitativo entre os HC-HP e os HR (os HG partilham características de ambos). Os primeiros trabalham com cirurgiões, enquanto os rurais têm só técnicos. Os HP, que como foi visto, deviam levar a responsabilidade cirúrgica de toda a província, têm uma equipa humana especializada muito escassa (nem chega a 2 por hospital) pelo que, são incapazes de realizar uma função além do simples atendimento de urgência e da electiva básica. O rendimento dos operadores e anestesistas (em termos de operações por pessoal e de camas cirúrgicas e consultas por operador) é muito irregular por categorias de US (máximo rendimento nos HP e mínimo no HCM e nos HR). Em geral, está muito abaixo das necessidades do país e faz com que as taxas estatísticas (ocupação, rendimento das camas, etc.) sejam pobres. Isto é difícil de mudar. No entanto, continua a distribuição de 1 operador (permanentemente de urgência) por cada US. Existe um problema grave de definição de responsabilidades do pessoal, sobretudo no caso dos técnicos de cirurgia, que trabalham em muitos casos isoladamente, sem formação contínua, sem estímulo profissional (progresso económico, social e na carreira) e com pouco controle e supervisão, o que provoca numerosas situações indesejáveis (operações indevidas, elevada morbi-mortalidade, degradação pessoal, conflitos com outras categorias, etc.). 5. O pessoal de enfermagem e serventuário de BO e ENF é escasso e mal distribuído e recebe mínima formação contínua. A baixa qualidade deste pessoal por falta de formação, supervisão e de estímulo profissional e sócio-económico, ainda piora pela sobrecarga horária (em muitos casos, acima dos máximos permitidos) e de funções (mesmo pessoal para ENF, URG e BO, em muitos casos) a que o pessoal está submetido. Existe relativamente mais pessoal de enfermagem que serventuário, o que não é normal, muito menos num sistema com poucos recursos humanos formados. Destaca-se uma notável irregularidade na distribuição de pessoal, tanto por categorias como geograficamente, o que indica defeitos importantes na gestão de recursos humanos. Conclusões e propostas Os cirurgiões dos HP estão a operar o mesmo tipo de casos que os técnicos nos HR, e por estarem isolados e permanentemente de escala de urgência, não realizam tarefas de formação, coordenação, etc. a nível provincial. 76 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores 6. Não existe um sistema hierárquico de supervisão cirúrgica eficaz, encaminhado à optimização do sistema tanto em quantidade (melhoria dos parâmetros estatísticos, do rendimento das US, do sistema de transferência, etc.) como em qualidade (diminuição de morbi-mortalidade, melhoria das capacidades do pessoal, etc.). Conclusões e propostas 7. A pequena cirurgia nas US ambulatórias é realizada na maioria dos casos por pessoal sem formação cirúrgica específica e sem supervisão (existe uma degradação de Norte à Sul e nas US mais pequenas). Propostas * Conseguir num prazo de 5-10 anos dotar todos os hospitais do país com 2 “operadores” (cirurgiões ou técnicos, segundo a categoria da US) e suficientes equipas humanas cirúrgicas (BO e ENF) completas. Isto deve fazer-se com um cronograma de prioridades (HP devem ter 2 cirurgiões urgentemente). ** Continuar a formação de novos cirurgiões, técnicos de cirurgia e pessoal de enfermagem cirúrgico especializado de acordo com um cronograma que permita cumprir a proposta anterior. Existe suficiente número de candidatos de qualidade para iniciar a formação nas diferentes categorias? Qual é o limite quantitativo do sistema actual para formar novos recursos? *** Ter um política realista na descentralização da docência, com um sistema exigente de “acreditação” de hospitais. Existe possibilidade real de descentralizar a formação sem diminuir a qualidade ou é só uma vontade política? 77 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores ****Aumentar a “vida média” profissional do pessoal, mediante um começo mais precoce da formação especializada e mediante a melhoria económica, social e profissional conveniente para estimular a permanência no sistema. Existem candidatos à formação jovens? É possível limitar a idade de entrada para cada categoria? Há vontade e capacidade real de melhorar as condições para todas as categorias? *****Redefinir as responsabilidades de cada categoria, optimizando a capacidade dos cirurgiões (devem ter função de organização, de formação e assistencial especializada) e dos técnicos de cirurgia (abrindo um debate sério sobre o presente e futuro profissional e humano deles). É possível criar novas categorias de “operadores” (rotações dos pós-graduados nos HP, clínicos gerais com capacidade cirúrgica, etc.)? ****** Implementar um sistema “tutelar” dentro de cada província, passando do conceito assistencial de “US isolada” ao conceito de “sistema provincial”, onde o cirurgião do HP é responsável pela implementação dos planos na província, com objectivos anuais definidos pelo PNC, e com função de formação contínua e supervisão directa em toda a província. Quando será possível ter 2 cirurgiões por província (indispensável para implementar esta proposta)? Tem vontade o MISAU, de incluir estas funções de coordenação nos contratos dos cirurgiões ou ainda só interessa a função assistencial? Existe possibilidade real de realizar actividades de integração provincial (rotações intra-provinciais de técnicos, visitas de supervisão e formação, controle directo do sistema de transferência, etc.)? Tem o PNC autoridade e capacidade financeira para realizar este tipo de iniciativas? ******* Estudar uma possível redistribuição dos recursos humanos especializados, tendo em conta a distribuição geográfica da população e as responsabilidades de cada categoria de US (formação universitária, assistência especializada ou assistência básica). Conclusões e propostas Há vontade de abrir um debate sério sobre os técnicos de cirurgia e anestesia? 78 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores ******** Realizar formação contínua cirúrgica para o pessoal que faz a pequena cirurgia nas US ambulatórias e começar uma supervisão directa (como parte do conceito de “sistema provincial”). PARA TODAS AS PROPOSTAS: Está entre as prioridades do MISAU estabelecer um debate sério e abrangente com o objectivo de analisar o futuro dos hospitais, incluindo uma política de recursos humanos hospitalares especializados? Conclusões e propostas Tem o MISAU vontade e capacidade para implementar as decisões tomadas sobre recursos humanos? 79 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Estatísticas 1. A maioria das US não tem dados cirúrgicos fiáveis, completos e bem organizados, pelo que, qualquer estudo da situação actual ou da evolução dos últimos anos estará sujeito a erro. 1/4 dos hospitais e 3/4 das US ambulatórias estudadas nem conseguem manter completos os livros de registo. 2. Realiza-se pouca cirurgia (operações por população) e a que se faz é principalmente a urgente. A taxa de operações anuais por população (150 por 100.000 habitantes) é muito baixa (15 vezes mais baixa que a dos países desenvolvidos), com uma alta percentagem (40%) de operações urgentes. 3. Existe uma sub-utilização de recursos cirúrgicos disponíveis (embora estes sejam escassos), com baixa ocupação e rendimento de camas e com baixa utilização de mesas operatórias. A taxa de ocupação de camas (TOC) nem chega a 50 % (devia ser maior que 75%), o rendimento anual das camas (RCA) está em 20 doentes (devia ser maior que 35), e o numero de operações diárias (de Cirurgia e Ortopedia) por mesa operatória é apenas 1 (devia ser no mínimo 2). Estes dados indicariam que embora hajam poucas camas cirúrgicas, deveriam haver ainda menos, uma vez que se as utilizam pouco. Logicamente, isto não é assim, e o problema está no mínimo acesso da população aos serviços cirúrgicos. Por cada cama passam (média) só 16 doentes operados por ano. Por outra lado, o Tempo Médio de Permanência (TMP) é de quase 9 dias, o que parece elevado para a patologia operada no país (maioria de urgências traumáticas e electivas simples). Os HR são os que têm os valores mais baixos, indicando uma grande sub-utilização. Conclusões e propostas Não existe estabelecido nenhum sistema codificado de classificação de diagnósticos e operações, pelo que, a maioria das estatísticas produzidas pelas US não são utilizáveis. 80 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores 4. A cirurgia que se faz é principalmente a de baixo nível de complexidade, sem existirem as diferenças esperadas entre categorias de US, o que indica uma grave incongruência entre a capacidade material e humana dos hospitais e o rendimento qualitativo dos mesmos. Uma grande maioria das operações realizadas são de nível básico (especialmente entre as electivas) e pouco variadas (6 tipos de operações constituem mais de metade das operações a nível nacional). Conclusões e propostas Bastante mais que a metade das operações realizadas em HC e HP, poderiam ter sido realizadas (com uma esperada diminuição da qualidade, mas provavelmente não muita) com os recursos humanos e materiais dos HR. 5. Também é baixa a actividade cirúrgica ambulatória (consultas externas e urgências) tanto dos hospitais como dos centros e postos de saúde. Na totalidade do país (soma de todos os hospitais, sem contar com o HCM) realizam-se diariamente, apenas 150 consultas externas e 75 consultas de urgência hospitalares. A proporção de consultas cirúrgicas (sobre o total) nos centros de saúde nem chega a 10%. Em média, só se fazem diariamente por US ambulatória 1 procedimento cirúrgico e 3 pensos (com certeza, existirá um sub-registo destas). Propostas * Criar progressivamente e manter um SIS cirúrgico de cumprimento obrigatório a todos os níveis. Tem o PNC autoridade para implementá-lo e capacidade para mantê-lo? ** Incluir no SIS (geral do MISAU e cirúrgico) uma classificação codificada de diagnósticos e operações, baseada na Internacional (IDC), mas simplificada, adaptada à realidade de Moçambique e consensuada por clínicos e estatísticos. Tem o PNC capacidade para liderar este trabalho que parece complicado e precisa de muito debate? 81 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores *** Incluir no SIS cirúrgico dados que permitam fazer cálculos de custos e estimativas de necessidades (abastecimentos, recursos humanos, etc.) para cada US. Tem o MISAU, capacidade para articular os diferentes departamentos que utilizariam toda esta informação? Como aumentar a produtividade de um pessoal especializado, isolado e pouco supervisado, de permanente escala de urgência e com pouco estímulo profissional e humano? Tem o MISAU, capacidade para eliminar os outros factores limitantes do aumento de rendimento das US (roturas de stock de consumíveis, falta de manutenção de equipamentos, falta de pessoal básico, etc.)? Será esta optimização de recursos humanos e materiais suficiente para recuperar a confiança da população nos hospitais? *****Redefinir o nível de cirurgia que deve realizar-se em cada categoria de US, conforme as capacidades humanas e materiais destas. (É preciso redefinir estas capacidades, como já tem sido comentado em outras propostas) Existe capacidade de supervisar o trabalho cirúrgico que se faz em cada nível de assistência? Conclusões e propostas ****Optimizar os recursos humanos e materiais actuais mediante objectivos concretos, como por exemplo, duplicar em 5 anos o número de operações por população, aumentando a produtividade das mesas e dos operadores e a ocupação das camas, e diminuindo os tempos de permanência. 82 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Abastecimentos 1. A deficiência nos abastecimentos é um dos principais factores limitantes da actividade cirúrgica no país (“limitante quantitativo”). Só 12% de US dispõem sempre (sem roturas de stock) de todos os materiais considerados básicos para cirurgia (lâminas, luvas, compressas, fios, seringas, agulhas e antisépticos). Se não se dispuser destes materiais básicos, a cirurgia ficará parada. Conclusões e propostas Nenhum hospital dispõe permanentemente de todos os materiais considerados avançados (como algálias ou SNG). Neste caso, mais que a quantidade, limita-se o nível da cirurgia realizada e a qualidade desta. Nas US ambulatórias é habitual o trabalho sem materiais mínimos (drenagens com lâmina de barbear, incapacidade para imobilizar fracturas, etc.). 2. Não existe uma política clara de re-esterilização de materiais, o que pode ser um agravante das deficiências nos abastecimentos (pouca re-esterilização) ou situações de alto risco para os doentes (re-esterilização excessiva ou inadequada). 83 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Propostas * Definir os abastecimentos mínimos (em quantidade e qualidade) que deve receber cada US, mediante estimativas anuais (pela actividade desenvolvida no ano anterior), ou mediante “kits” de vários níveis (para as US mais pequenas, como os abastecimentos de Farmácia). Têm as US capacidade para utilizar ferramentas de cálculo de necessidades a partir de dados estatísticos? ** Criar mecanismos para evitar as roturas de stock, uma vez estabelecidas as necessidades anuais de cada US. Tem o MISAU capacidade financeira para responder a esta demanda? Existe coordenação entre as diferentes direcções do MISAU para que as roturas não nunca possam ocorrer? Quem vai articular no MISAU os diferentes aspectos da política de abastecimentos? *** Definir e supervisar uma política de materiais cirúrgicos, incluindo protocolos de utilização e critérios de re-esterilização. Tem o PNC capacidade para desenhar a política e autoridade para implementá-la? Conclusões e propostas Quem vai criar estas ferramentas de gestão e como vão ser integrados os diferentes serviços de cada US? 84 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Serviços complementares 1. A deficiência dos Serviços Complementares é um dos principais factores limitantes da capacidade cirúrgica (“limitante qualitativo”), especialmente nas US de menor categoria. Conclusões e propostas Apenas 22% dos hospitais dispõem sempre (sem paragens de funcionamento) de todos os serviços complementares considerados mínimos indispensáveis para a cirurgia (Hemoglobina, Banco de sangue, Ureia e Glicémia, RX simples). No caso de não dispor destes serviços básicos, a cirurgia pode não ficar parada, mas compromete-se totalmente à qualidade mínima. Nenhum hospital dispõe sempre de todos serviços intermédios (como Ecografia, RX com contraste, etc.) nem avançados (como endoscopia ou anatomia patológica). Novamente, este é um critério de cirurgia de baixo nível (muitas operações não podem ser feitas) e de baixa qualidade (muitas operações são feitas com condições sub-óptimas) Este problema é especialmente crítico nos HR. As US ambulatórias podem considerarse como absolutamente carentes de serviços complementares. 2. A falta de manutenção própria dos aparelhos é um factor importante na existência desta deficiência nos Serviços Complementares. 85 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Propostas * Definir as capacidades que devem ter os Serviços Complementares em cada categoria de US (conforme as capacidades cirúrgicas esperadas e os recursos humanos especializados disponíveis) e Criar condições (recursos humanos e materiais) para cumprir com essas capacidades. Tem o MISAU, capacidade para investir na contratação de pessoal e compra dos equipamentos em falta? Tem o Departamento de Manutenção do MISAU, capacidade financeira e administrativa para responder à esta demanda a nível nacional? Conclusões e propostas ** Criar mecanismos eficazes de manutenção dos aparelhos, para minimizar as paragens de funcionamento dos serviços. 86 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Limpeza e Esterilização 1. A esterilização é muito insatisfatória nos hospitais (embora exista um razoável número de aparelhos, estes são obsoletos e sem garantia de qualidade), com uma clara degradação por categorias de US. Mais de 80% dos BO têm autoclave e estufa, que na maioria dos casos, servem para todo a US. A maioria são muito antigos, sem garantia de mínima qualidade. Em quase todos os aparelhos se faz o controle físico-químicos (fitas testemunhas, etc.), mas não existe nenhuma supervisão que garanta a qualidade. Em sítio nenhum se faz um controle mais exigente (controle biológico). Conclusões e propostas Nas US ambulatórias, existe uma maioria que esteriliza em panelas de pressão a lenha. 2. Não existem “standards” nacionais nem protocolos de limpeza, anti-sepsia e esterilização. 3. Habitualmente, toda a esterilização do hospital está centralizada, geralmente num quarto dentro do BO. 4. Existe uma deficiência grave de biosegurança dos trabalhadores dos BO (sendo Moçambique um país de alto risco). Uma maioria de US não dispõem de óculos protectores para o pessoal do BO, nem utilizam depósitos de objectos pontiagudos. 87 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Propostas * Definir a organização da esterilização em cada categoria de US (debater a conveniência do conceito de “Central de Esterilização”) e Completar os equipamentos de esterilização mínimos que deve ter cada categoria de US, conforme as capacidades cirúrgicas esperadas. Podem-se utilizar os recursos actuais (infra-estruturas e equipamentos) num sistema actualizado? ** Implementar protocolos de limpeza, anti-sepsia, esterilização e biosegurança (especialmente nos BO) e Criar um sistema de supervisão do cumprimento dos mesmos. Tem o PNC capacidade para a implementação e supervisão? Conclusões e propostas Tem o MISAU, capacidade para investir na reabilitação de estruturas e na compra dos equipamentos? 88 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Manutenção 1. A capacidade das US para realizar uma manutenção própria básica é muito limitada e centralizada nas sedes provinciais. Menos de 1/3 dos hospitais consegue ter uma manutenção própria básica, o que significa que depende de contratos pontuais ou empresas externas, com o maior gasto e demora nas reparações (neste meio a subcontratação é cara e pouco fiável). Conclusões e propostas Os HR e as US ambulatórias dependem grandemente das sedes provinciais. 2. Não existe uma organização da manutenção básica nas US (preventiva, arquivos, etc.) nem uma estrutura nacional eficaz da manutenção avançada. A grande maioria de US, só consegue resolver problemas urgentes de manutenção, e não têm nenhuma capacidade de planificação. Propostas * Capacitar as sedes provinciais para suportar um sistema de manutenção descentralizado na maior medida. Existe capacidade real financeira e administrativa para descentralizar os serviços de manutenção? ** Implementar protocolos de manutenção, incluindo a preventiva. *** Estandardizar os equipamentos mediante a definição das especificações técnicas e a exigência no seu cumprimento. PARA TODAS AS PROPOSTAS: Terá o Departamento de Manutenção do MISAU capacidade financeira, técnica e humana para liderar este processo? 89 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Critérios de qualidade 1. Existe uma maioria de US no país que não mantém mínimos critérios de qualidade (alguns destes põem directamente em risco o doente e o pessoal). Só uma metade dos hospitais do país: faz reuniões clínicas, e preenche habitualmente os processos dos doentes (embora de forma deficiente). Apenas 1/4: faz avaliação pré-operatória habitual, e tem protocolos de diagnóstico e tratamento cirúrgico. Outros critérios de baixa qualidade comentados previamente: não existe separação adequada de sectores cirúrgicos (BO, ENF, CE, URG); os BO não trabalham com kits; não se toma em conta a biosegurança; 2. As US não têm nenhuma capacidade de gestão própria de recursos materiais e humanos, tendo muito limitado o poder de decisão (dependem absolutamente das direcções nacionais). Os custos da US são assumidos centralmente, deixando orçamentos pequenos para a gestão própria. Isto provoca grande dependência e ineficácia na gestão. 3. As US recebem supervisão periódica, mas é ineficaz por vários factores: é muito superficial, tem pouco conteúdo técnico, não se analisam os resultados, não se dá o “feed-back” (plano de melhoria) às US, etc. Conclusões e propostas Menos de 1/5: faz correcta circulação de limpo-sujo no BO, tem biblioteca cirúrgica, e faz trabalhos de investigação clínica. 90 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas Por sectores Propostas * Implementar (definir e formar o pessoal para o seu cumprimento) de forma prioritária, normativas de funcionamento dos diferentes sectores, protocolos de trabalho, etc., para atingir uma garantia de qualidade mínima em todas as US do país. Existe capacidade de debate e de consenso entre os diferentes programas nacionais de especialidades e as direcções nacionais, provinciais e das US para esta implementação? Conclusões e propostas ** Exigir a todas as US o cumprimento dos critérios básicos de qualidade que protegem o doente (avaliação pré-operatória, protocolos de esterilização, circulação limpo-sujo, etc.). Tem o PNC, autoridade para impor estas exigências? Tem as US, vontade de mudar rotinas para cumprir os critérios? *** Implicar as direcções clínicas dos hospitais a implementar actividades de melhoria de qualidade: reuniões clínicas, comissões de infecção hospitalar e de mortalidade, implementação de protocolos diagnósticos e de procedimentos de enfermagem, critérios de internamento e transferência de doentes, etc. Tem a DNS/DAM, vontade de liderar um processo de integração de funções das direcções clínicas? ****Debater seriamente as possibilidades reais de descentralização da gestão das US. Tem o MISAU, vontade de iniciar este debate? *****Criar um sistema de supervisão cirúrgica eficaz. Tem o PNC, capacidade para manter um sistema de supervisão a nível nacional? 91 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas finais No capítulo anterior, as conclusões e propostas aparecem detalhadas e separadas nos diferentes aspectos de estudo que este trabalho tem seguido. Como no capítulo anterior, depois das Conclusões, o PNC sugere uma série de Propostas (em itálico), orientadas a melhorar as deficiências do sistema demonstradas na análise dos resultados. Em algumas das Propostas, aparecem como interrogações os Constrangimentos, que são factores que podem complicar a viabilidade das propostas. Conclusões e propostas finais Agora, neste capítulo, essas conclusões são resumidas e agrupadas em um único bloco geral que pretende atingir um dos objectivos principais do Livro Branco: ter uma ideia global da situação actual e sugerir as principais linhas de trabalho para a melhoria da Cirurgia em Moçambique. 92 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas finais Conclusões finais Conclusões e propostas finais 1. Os recursos materiais (camas cirúrgicas, mesas operatórias, abastecimentos, etc.) e humanos (operadores) disponíveis actualmente são insuficientes para satisfazer as necessidades cirúrgicas mínimas esperadas. As necessidades cirúrgicas mínimas esperadas são as estimadas para um país como Moçambique, em termos de população, possibilidades económicas e nível de desenvolvimento sociocultural. Portanto, será de se esperar que estas necessidades mínimas aumentem no futuro com o desenvolvimento do país (maior acesso aos serviços de saúde, novas patologias, etc.), pelo que, se não se aumentarem os recursos, as prestações serão cada vez mais insuficientes. 2. Existem importantes desequilíbrios de recursos materiais e humanos, no concernente à distribuição geográfica e por categorias de US, não existindo uma definição detalhada das responsabilidades de cada tipo de hospital (“carteira de serviços”), nem dos recursos (humanos, materiais e financeiros) que devem dispor para cumprilas. Existe uma degradação evidente de Sul à Norte, embora com um padrão irregular por províncias (sendo Maputo claramente favorecida), o que indica uma pobre planificação na distribuição de recursos. Por categorias, os HR são os mais desfavorecidos, mas existem também grandes diferenças entre US da mesma categoria. Foi aprovado recentemente um Diploma Ministerial sobre hospitais, que deverá ser a base para a definição detalhada das funções dos mesmos. 3. Os escassos recursos disponíveis estão subaproveitados (poucas operações, baixas taxas de ocupação, baixo rendimento de pessoal e de equipamentos). Por diferentes motivos (dificuldade física no acesso às US, falta de recursos financeiros e perda de confiança da população, motivos socioculturais, etc.), existe uma pobre demanda de atenção cirúrgica por parte da população, pelo que, paradoxalmente, os escassos recursos materiais e humanos estão a ser sub-utilizados. 93 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas finais É especialmente grave a maneira como os recursos humanos mais especializados (cirurgiões) estão subaproveitados: actividade operatória de baixo nível, e escassas responsabilidades docentes, de gestão e organização. Não existe um SIS cirúrgico nem uma estandardização de procedimentos. Os sistemas de formação contínua e de supervisão são ineficazes. Não existe uma estratégia clara de desenvolvimento do sistema sanitário cirúrgico: reabilitação de estruturas, aumento de equipamentos, formação de recursos humanos, etc. 5. Os principais factores limitantes do desenvolvimento do sistema cirúrgico são: - pessoal especializado escasso e mal aproveitado; - abastecimentos irregulares; e - controle do sistema (estandardização de procedimentos, supervisão, garantia da qualidade, etc.) inexistente. Conclusões e propostas finais 4. Não existe nenhum controle sobre o sistema sanitário cirúrgico nem uma estratégia planificada para a melhoria do mesmo. 94 Livro Branco da Cirurgia Conclusões e propostas finais Propostas finais * Optimizar os recursos materiais e humanos actuais, para evitar os desequilíbrios e baixo rendimento, colocando o HP como eixo do sistema. Conclusões e propostas finais Tem o MISAU autoridade para tomar as decisões necessárias para conseguir isto e capacidade para implementá-las? ** Definir detalhadamente as capacidades de assistência cirúrgica (em quantidade, qualidade e nível de complexidade) que cada categoria de US deve ter, e dos recursos financeiros, materiais e humanos que devem dispor para o cumprimento dessas funções. Está disposto o MISAU, a abrir um debate sério, com todos os implicados (direcções nacionais e provinciais, hospitais, programas de especialidades,...) para chegar a um consenso realista? *** Capacitar o Programa Nacional de Cirurgia para liderar todos estes processos, garantindo a sua presença real nas estruturas centrais e provinciais do MISAU e outorgando a capacidade de gestão própria (orçamento). Tem o MISAU a vontade de coordenar este processo descentralizador? Tem o PNC capacidade para assumir esta responsabilidade? ****Discutir e Aprovar (MISAU e PNC) e Executar (PNC) um “Plano de desenvolvimento da Cirurgia” a 5-10 anos, com objectivos, actividades e métodos de seguimento concretos, colocando como pontos principais: a gestão de recursos humanos, a garantia de abastecimentos e manutenção, e a implementação de um sistema nacional (regulamentos, sistemas de controle, formação contínua, etc.). Tem o MISAU, vontade de coordenar este processo descentralizador? Tem o PNC, capacidade para assumir esta responsabilidade? ANEXOS Livro Branco da Cirurgia 97 Livro Branco da Cirurgia Anexos Estudo de custos de cirurgia: Sumário executivo O Programa Nacional de Cirurgia (PNC), como responsável a nível do país pela monitorização e promoção das actividades cirúrgicas, consciente da importância da análise económica para a tomada de decisões, encomendou o presente estudo de custos, focalizado naqueles níveis onde quer melhorar a prestação de serviços, nomeadamente, o âmbito rural (hospitais rurais) e provincial (hospitais provinciais). Os OBJECTIVOS do estudo foram: (a) conhecer os custos médios totais e unitários das actividades cirúrgicas realizadas nos hospitais rurais e provinciais e (b) comparar estes custos com os custos teóricos que deveriam ter estas actividades se foram prestadas com uma mínima qualidade e eficiência para a realidade do País. Os principais RESULTADOS DO ESTUDO quanto às actividades realizadas, custos totais e unitários são as seguintes: * O pessoal operador (cirurgiões e técnicos de cirurgia) faz apenas uma operação por dia, incluindo urgentes e electivas. As taxas de ocupação (TOC) nos hospitais rurais e nas enfermarias de ortopedia são baixas (60% nos dois casos) e os internamentos muito prolongados (mais de 10 dias nos dois níveis). Anexos Para alcançar estes objectivos, desenvolveram-se duas ABORDAGENS METODOLÓGICAS. Por um lado, realizou-se uma análise transversal das actividades realizadas, isto é, estudaram-se durante 3 meses 5 unidades sanitárias (US) do país, que foram escolhidas com base em 4 critérios: zona geográfica, categoria, volume de actividade cirúrgica e facilidades logísticas. Neste estudo, monitoraram-se as actividades realizadas e contabilizaram-se os custos dos recursos consumidos: pessoal, medicamentos e materiais, bens/serviços e capital. Com estes dados, calcularam-se os custos das actividades cirúrgicas observadas. Por outro lado, para calcular os custos teóricos, estimaram-se os recursos dum hospital rural (HR) médio e dum hospital provincial (HP) médio. Mantendo a mesma estrutura (mesmo pessoal, número de camas, etc.), criaram-se três cenários de actividades com base em diferentes níveis de produtividade, como indicador do grau de desempenho. Para o Cenário I partiu-se da hipótese de uma produtividade igual à observada nas unidades estudadas, para o Cenário II um aumento de 50% e para o Cenário III um aumento de 100%. Seguidamente, calcularamse os custos, quer totais quer unitários, dos 3 cenários. 98 Livro Branco da Cirurgia Anexos ** Os custos duma consulta e duma hora de operação são 2,5 vezes maiores num HP do que num HR. O factor chave desta diferença é o pessoal envolvido na produção destes serviços (os cirurgiões dos HP ganham 23 vezes mais que os técnicos dos HR). O custo de um dia de internamento nos dois níveis é parecido devido à menor rentabilidade das enfermarias dos HR. A análise comparativa dos custos reais com os teóricos, indica que os últimos são mais elevados que os reais devido a que nas US não existem os recursos mínimos para realizar um serviço qualitativamente aceitável. Mas, aumentando as actividades em 50%, mesmo garantido os recursos mínimos, os custos unitários tornar-se-iam mais baixos do que os reais devido à rentabilização dos recursos fixos (pessoal, equipamento e infra-estruturas), actualmente extremamente subaproveitados. *** O tratamento da mesma patologia (amostra que incluiu hérnias, hidrocelos e sequestrectomias), incluindo consultas, internamentos, operação e diagnóstico custa 25% mais num HP que num HR. Esta pequena margem, embora as diferenças do custo do pessoal sejam tão grandes, explica-se por três motivos, nomeadamente, porque nos HR as taxas médias de permanência são mais elevadas, a duração da operação é maior e porque tem um menor volume de actividades. Os custos teóricos mostram que apenas com um aumento das actividades e reduzindo os tempos de operação e os dias de internamento, poder-se-ia garantir a qualidade a um custo inferior ao actual. ****As 5 operações mais frequentes num HP (43% do total) custam, em média, 1,5 milhões de meticais (92 USD), enquanto num HR (66% do total) não alcançam os 730 contos (44 USD). A diferença destes custos é devido ás diferenças salariais do pessoal operador. Anexos A ANÁLISE GLOBAL DOS RESULTADOS pode reduzir-se a simplificar-se em duas afirmações: primeira, a produtividade é muito baixa devido ao fraco desempenho do pessoal e às continuas rupturas de stocks de materiais; segunda, melhorando a gestão, sem necessidade de aumentar os recursos disponibilizados (apenas rentabilizando-os), poderse-ia aumentar a cobertura/actividades, reduzir os custos unitários e aumentar a qualidade. 99 Livro Branco da Cirurgia Anexos Com base na análise dos valores achados, as CONCLUSÕES E SUGESTÕES que propõe o estudo foram divididas em três áreas, nomeadamente a prestação de serviços, o financiamento e os ulteriores estudos necessários. 1. Do ponto de vista dos serviços prestados, as conclusões apontam que mesmo sendo escassos, os recursos humanos são subaproveitados, e que a gestão de consumíveis e medicamentos tem grandes deficiências. Os resultados parecem sugerir também que os técnicos de cirurgia são a opção economicamente mais eficiente para estender a cirurgia à periferia. Portanto, uma redefinição das responsabilidades das US, incluindo os recursos humanos e uma melhoria na gestão dos consumíveis (medicamentos, material médico, gazes medicinais, etc.) são condições necessárias para a melhoria dos serviços cirúrgicos. 3. No que diz respeito ás limitações da metodologia, o estudo, ao tratar-se dum trabalho técnico económico, por si só não basta para a tomada de decisões. Estudos complementares (como exemplo uma análise da qualidade clínica dos técnicos de cirurgia) são necessários para aplicar as recomendações. Por outro lado, a própria complexidade do sistema de gestão do sector da saúde (sistema de financiamento público inflexível e burocrático, administrações periféricas fracas, centralização dos abastecimentos, etc.) e as responsabilidades espalhadas na gestão dos recursos, dificultam a eficácia das acções a tomar para a melhoria do sector cirúrgico. Anexos 2. Na área do financiamento, a análise comparativa entre os custos teóricos e reais mostra que actualmente, os serviços cirúrgicos são prestados sem os recursos mínimos necessários. Contudo, isto não implica a necessidade de um enorme aumento de recursos adicionais, mas sim uma urgente melhoria da gestão a todos os níveis (aumentando a execução orçamental, definindo correctamente as necessidades de medicamentos e material médico, agilizando a sua distribuição através de Kits e elaborando um plano de manutenção e investimento adequado). Embora a rentabilização dos recursos actuais seja prioritária, é preciso aumentá-los para cobrir o potencial da cobertura das actividades cirúrgicas. 101 Livro Branco da Cirurgia Anexos Como utilizar o CD? O CD-ROM do LIVRO BRANCO DA CIRURGIA é legível em qualquer leitor de CDs. Todos os arquivos de dados estão protegidos, sendo permitida unicamente a sua leitura, pelo que não será possível introduzir novos dados ou correcções. Toda a informação contenda no CD pertence ao CIC (Conselho Interhospitalar de Cooperação) e ao PNC/MISAU (Programa Nacional de Cirurgia do MISAU), pelo que a utilização completa o parcial da mesma só é possível com a cita expressa da fonte. - PC Pentium II. - Memória Ram de 32 Mb. - Disco duro de 1 Gb. - Leitor de CD “16x” o maior, para optimizar a leitura. - Sistema Operativo Windows 95. - Programa explorador de Internet (tipo “MS Explorer”).- Pacote MS Office 97, com Word, Excel e Access. - Ecrã com resolução de 800 x 600. Todo o desenho do CD está optimizado para esse tamanho (embora pode ser visto com resoluções maiores) e para o tamanho de texto “Smaller” (Menu “View/Text Size/Smaller”). A informação aqui contenda é apresentada a partir dum formato de página web, pelo que deve ser lida com um explorador de Internet (incluído nos sistemas operativos habituais), a partir do arquivo de entrada (“LivroBrancoCirurgia.htm”) do CD, o qual arranca-se automaticamente ao introduzir o CD. Anexos Para um correcto acesso a toda a informação contenda neste CD são precisos os seguintes mínimos de equipamento informático: 102 Livro Branco da Cirurgia Anexos Desta página de começo abrem-se, por meio de links, 4 troncos principais de informação, cada um deles identificado com uma cor diferente: - Azul: Livro Branco da Cirurgia (LBC) - Rosa: Estudo de Custos da Cirurgia (CUSTOS), trabalho complementar do anterior, em que se estuda a cirurgia desde um ponto de vista económico. - Vermelho: Programa Nacional de Cirurgia (PNC), onde apresenta-se como programa da DNS/DAM com uns objectivos e actividades concretas em progresso, - Verde: Conselho Interhospitalar de Cooperação (CIC) e Cooperação Espanhola, onde apresenta-se o papel destes como colaboradores do PNC. Cada um destes é depois subdividido de maneira hierárquica, podendo-se seguir os caminhos de informação por meio de links, ou voltar a página de começo (clickar em “home”). Todas as páginas hierarquizadas estão tituladas e tem links para voltar ao tronco de origem (clickar em ícone de “Início”) e links para avançar ou retroceder páginas seguindo a hierarquia proposta (clickar nas setas). Algumas das páginas consideradas mais importantes estão traduzidas ao inglês, sendo identificadas pelo ícone com a bandeira inglesa. O click sobre este da acesso à tradução. Anexos Em certas ocasiões os links abrem arquivos em outros programas: - Access (.mdb), para as Bases de Dados do LBC. - Word (.doc), para os Modelos de Fichas e para vários documentos do PNC. - Excel (.xls), para as Listas de US.