TRIBOLOGIA DE SUPERFICIES ARTICULARES PROTÉTICAS Prof. Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes O termo Tribologia (do grego tribos: roçar ou esfregar) se refere à ciência e a tecnologia da interação de superfícies em movimento relativo e, portanto de suas determinantes principais que são o atrito a lubrificação e o desgaste. Esta área do conhecimento tem merecido atenção crescente no desenvolvimento e avaliação de novas superfícies articulares protéticas, alternativas ao par metal /polietileno introduzido por Charnley em 1962.3 O aumento da expectativa de vida e a indicação do procedimento artroplástico em pacientes cada vez mais jovens requerem maior longevidade da reconstrução protética, cuja sobrevivência está limitada, mais frequentemente, pelo desgaste das superfícies articulares e a conseqüente formação de partículas que resultam em falência asséptica, por osteólise e/ou soltura, dos implantes.20,27 Com o objetivo de reduzir a produção de partículas e assim aumentar a sobrevivência da reconstrução articular protética, novos pares tribológicos têm sido propostos como metal/metal (M/M), cerâmica/cerâmica (C/C), cerâmica/polietileno (C/P) e mais recentemente a articulação cerâmica/metal (C/M). No mesmo sentido foram introduzidas novas técnicas para a melhoria das propriedades mecânicas e tribológicas do polietileno, como por exemplo, a criação de maior número de ligações cruzadas entre as cadeias do polímero (polietileno de ligações cruzadas ou cross-linked). Mais recentemente o revestimento de superfícies metálicas com materiais de melhor comportamento tribológico como o óxido de zircônio (ZrO2) ou o diamante tipo carbono (DLC) têm sido objetos de estudos clínicos e experimentais.25 Embora grandes progressos já possam ser observados, muitos insucessos ainda são ocasionados, em parte pela limitada compreensão da cinemática e tribologia articulares, e também pelo restrito conhecimento dos mecanismos de falhas in vivo dos implantes e de suas implicações na concepção e utilização racional de novos biomateriais. Neste capitulo iremos abordar, sequencialmente, os princípios da tribologia e suas relações com a cinemática articular protética, e como estes conceitos podem influenciar o desempenho e a longevidade dos vários tipos de superfícies artroplásticas. mento relativo entre as superfícies de corpos em contato, quando sujeitos a uma força externa. A força de atrito é gerada pela deformação na superfície de contato entre os materiais, e pela adesão entre os átomos e moléculas das superfícies opostas. Age tangencialmente à superfície e seu módulo independe da área de contato aparente entre os corpos, porem é função direta do valor da força normal. Desta forma define-se coeficiente de atrito (µ), como a relação entre a força de atrito (Fa) e a força normal (Fn), que por este fato é uma grandeza adimensional (Fig.1.A). Mesmo em implantes polidos e aparentemente lisos, o atrito pode ocorrer pelas irregularidades superficiais (rugosidade) em nível microscópico, cujo perfil pode ser avaliado por aparelhos como o rugosimetro (Fig.1.B,C e D). Fig.1. (A): O coeficiente de atrito é uma grandeza adimensional, resultado da relação entre a força de atrito e força normal. (B): Superfície de cabeça metálica polida e aparentemente lisa a olho nu apresenta (C): à microsocopia, irregularidades ou asperezas em sua superfície cujo (D): perfil pode ser determinado e mensurado (em Ra- rugosidade média) por aparelhos como o rugosímetro. Diferentemente das propriedades mecânicas como o módulo de elasticidade e tenacidade, o coeficiente de atrito não é uma propriedade do material e assim pode ter diferentes valores em função do par tribológico (Fig. 2.A), da configuração de contato (Fig. 2.B) e do ambiente e regime de lubrificação (Fig.2.C). Princípios Tribológicos Fundamentais: Atrito, Lubrificação e Desgaste As superfícies articulares protéticas têm a função precípua de restaurar a amplitude de movimentação, simultaneamente a uma reconstrução articular estável, funcional, e duradoura. Entre outros fatores que podem interferir na longevidade da articulação protética estão: a resistência ao movimento entre os constituintes do par tribológico (determinados pelo atrito e condições de lubrificação), e o desgaste das superfícies protéticas com a conseqüente formação de fragmentos ou partículas de desgaste (debris). Atrito: O conceito de atrito diz respeito à obstrução ( atrito estático) ou à restrição (atrito cinético) ao movi- Fig.2. Fatores que interferem no coeficiente de atrito. (A) Os biomateriais que constituem o par tribológico, (B) e sua configuração de contato, (C) assim como o ambiente adjacente e o 15 regime de lubrificação (modificado de Mischler S.) Os biomateriais constituintes do par tribológico, seu design e a tecnologia de fabricação influenciam grandemente na intensidade do atrito, uma vez que sua origem está ligada à deformação na superfície de contato entre os materiais, e pela adesão entre os átomos e moléculas das superfícies opostas. Assim, a rugosidade e a deformação das superfícies em contato impõem certa restrição ao movimento. É evidente que quanto maior a dureza dos materiais que compõe o par tribológico, mais fácil a manutenção do polimento e mais difícil riscar a cabeça, restringindo assim as asperezas de superfície. Por este motivo as superfícies mais duras (C/C, M/M e C/M) apresentam melhor desempenho tribológico. Um outro mecanismo de atrito dependente do par tribológico ocorre pela adesão (ligações químicas) entre as superfícies protéticas, em muito semelhante ao mecanismo de fusão a frio. O atrito gerado pela força de atração entre as moléculas das superfícies opostas chamadas forças de adesão, ocorre em regiões de contatos localizados, como alterações de esfericidade da cabeça ou imperfeições decorrentes da usinagem. Desta forma, as ligações químicas entre as moléculas de superfícies opostas, podem se opor ao início do movimento (atrito estático), e assim o movimento ulterior só será possível pela ruptura destas ligações, resultando na remoção de material da superfície articular. Este mecanismo ocorre mais intensamente quanto maior for a força de atração entre as superfícies e é bastante evidente na articulação metal/metal durante o período inicial de atividade (run-in). Com a perda progressiva de material ocorre o polimento nas zonas de contato e assim o atrito adesivo diminui com o tempo de implantação. O atrito que ocorre entre os pares tribológicos mais utilizados pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1. Coeficiente de Atrito (µ) para Diferentes Pares Tribológicos e Articulação Sinovial. Par Tribológico Coeficiente de Atrito (µ) Metal/Metal* Art. Sinovial s/ Lubrificação Metal/PE Convencional Cerâmica/Metal Cerâmica/Cerâmica** Art. Sinovial c/ Lubrificação 0.40 0.20 0.10 0.05 0.04 0.005- 0.02 Lubrificação: Para que o atrito seja diminuído é importante que não haja contato direto entre as superfícies articulares durante o movimento e o suporte de carga, papel este que pode ser exercido pela interposição de um filme líquido. Na superfície articular natural do quadril, a grande congruência articular, distribui as tensões em uma área extensa, dentro de uma cavidade estanque e preenchida pelo líquido sinovial, permitindo assim que a flutuação de pressão do liquido, neste compartimento, contrabalance os esforços externos. Desta forma a pressão hidrostática do filme fluido separa as 2 superfícies e impede o seu contato direto durante o carregamento, através da manutenção de uma fenda (clearance) articular. Este mecanismo hidrostático é auxiliado, durante o carregamento, pelo aumento de volume de liquido na articulação, oriundo da expulsão de substancias adsorvidas na cartilagem (Fig.3.A) e, por este motivo, não depende de movimento entre as superfícies, mas sim da carga aplicada. Durante a movimentação, a lubrificação é dependente da velocidade entre as superfícies articulares que origina a lubrificação hidrodinâmica (Fig.3.B). Quanto maior a velocidade relativa (que chega a atingir 40 mm/s) mais se aumenta o volume do fluido que mantém as superfícies afastadas e garantindo um coeficiente de atrito da ordem de 10-3.. Caso uma espessura adequada não seja possível, em algumas circunstâncias a pressão do filme pode ser capaz de deformar as irregularidades das superfícies, dificultando o contato direto, e originando assim um regime de lubrificação chamado elastohidrodinamico.10 Por outro lado no caso de baixa velocidade entre as superfícies, o menor volume fluido permite que esforços de alta magnitude (cerca de 8 vezes o peso corporal) tendam a promover o contato direto entre as superfícies articulares, aumentando assim o atrito. Nesta circunstancia é importante a presença de moléculas de tribonectinas, que se ligam as superfícies opostas atuando como um sabão e diminuindo portanto o atrito. Este mecanismo de lubrificação é chamado de marginal, de contorno ou de superfície (Fig.3.C). *Liga de Cromo-Cobalto. PE: Polietileno ** Alumina (Al2O3) Como resultado do atrito entre as superfícies, o movimento ira gerar um torque (de atrito) na interface entre o componente acetabular e o osso, que é tanto maior quanto maior o diâmetro da cabeça, porém em módulo sempre muito inferior ao torque experimental necessário para soltar o componente. Desta forma, embora o atrito contribua em muito para o desgaste articular, a contribuição do torque de atrito para a soltura dos componentes protéticos parece não ser tão significativa. Fig.3. Regimes de lubrificação da articulação sinovial. (A) O regime hidrostático ocorre durante o suporte de carga sem movimento significativo, enquanto o hidrodinâmico (B) aumenta com a velocidade entre as superfícies. (C) Quando o carregamento tende a aproximar as superfícies articulares, as tribonectinas tem um papel importante na lubrificação marginal ou de superfície (C). Quando substituímos a articulação natural pela articulação protética, devemos reconhecer algumas desvantagens principalmente no que diz respeito à lubrificação. Primeiramente a fenda articular (clearance) deve ser o suficiente para permitir a formação de um filme fluido que impeça o contato direto entre as superfícies, e assim proporcionar uma lubrificação hidrodinâmica. Neste caso a espessura do filme fluido deve ser maior que a rugosidade das superfícies. Contudo, quando a espessura do filme é menor que a altura da rugosidade e o contato direto é inevitável, a presença de compostos orgânicos (tribonectinas) adsorvidos pelas superfícies protéticas pode diminuir o atrito, pela baixa resistência destas proteínas ao cisalhamento. Desta forma estas moléculas funcionam como um sabão entre as superfícies opostas (lubrificação marginal ou de superfície).10 Entre as superfícies protéticas o regime de lubrificação pode ser hidrodinâmico, marginal ou misto (intermediário entre os 2 regimes citados), na na dependência da espessura do filme fluido. Esta espessura, que depende não só das propriedades dos biomateriais constituintes do par tribológico, mas também de seu design e a tecnologia de fabricação, pode ser expressa em função da viscosidade do liquido, da velocidade relativa entre as superfícies e de sua rugosidade. O simples fato de umedecer a superfície protética pode diminuir o atrito, e assim materiais que permitam um maior molhamento (medido pelo ângulo de contato) de sua superfície têm melhor desempenho tribológico, como a cerâmica, pois a maior dispersão do liquido promove melhor lubrificação (Fig. 4). Fig.4. A propriedade do líquido se distribuir sobre a superfície de um material, chamada de molhamento, é medida pelo ângulo de contato (A). Quanto menor o ângulo de contato, melhor a distribuição do líquido na superfície e, portanto melhor a lubrificação. (B) Dentre os materiais utilizados em superfícies protéticas, a cerâmica apresenta o menor ângulo de contato. Para que a espessura de um filme fluido seja mantida é necessária uma dimensão de fenda articular adequada para garantir um equilíbrio entre o contato polar e equatorial, que em condições ideais promove um regime hidrodinâmico de lubrificação. Nos casos em que se utiliza o Polietileno, ainda que uma fenda articular adequada seja obtida inicialmente, a possibilidade de deformação do polímero tende a produzir um contato equatorial (Fig.5. A e B), de maior atrito, e assim o principal regime de lubrificação passa a ser o marginal ou de superfície. Materiais mais rígidos como as ligas de cromocobalto e a cerâmica deformam-se muito pouco e permitem a manutenção da fenda articular e o contato polar, favorecendo o regime de lubrificação hidrodinâmico ou misto. . Fig.5. Regimes de lubrificação de superfícies articulares protéticas. (A) Materiais mais rígidos não se deformam com o carregamento, permitindo o contato polar, e assim que se mantenha uma fenda articular adequada (setas brancas) à lubrificação hidrodinâmica. (B): Materiais mais dúcteis e elásticos (como o polietileno) permitem a deformação que ocasiona um contato equatorial, sem 15 fenda articular. (Modificado de Mischler S). Desgaste: A conseqüência inevitável do movimento entre duas superfícies opostas é a remoção de material devido à ação mecânica (desgaste), que pode gerar milhares de partículas nos tecidos adjacentes a cada ciclo de marcha. Na articulação protética o desgaste é determinado por diferentes mecanismos, em função do atrito, da lubrificação e do meio adjacente. O mecanismo mais freqüente de desgaste é a abrasão, em que as asperezas superficiais funcionam como uma lixa ao contato com o elemento oposto. A abrasão, ocasionada pela rugosidade das superfícies do par tribológico, pode ser agravada pela presença de contaminantes no interior da articulação como fragmentos metálicos, ósseos ou de cimento ósseo (chamados de terceiro corpo), que irão promover maiores danos à superfície articular e assim ocasionar um desgaste rápido e progressivo. Este mecanismo (abrasão por terceiro corpo) é constatado em explantes pela presença de ranhuras e riscos na superfície articular protética (fig. 6.A e B). A abrasão é grandemente influenciada pelos biomateriais constituintes do par tribológico, uma vez que materiais mais duros, e com menor ductilidade mostram-se mais resistentes à abrasão por apresentarem menor desgaste e maior resistência ao dano superficial, como a articulação cerâmica/ cerâmica. Fig. 6. (A) Explante de cabeça femoral protética mostrando inúmeros sulcos e riscos oriundos da abrasão por terceiro corpo, com profundas repercussões sobre a (B) estrutura do componente acetabular de polietileno que apresenta sinais de falência catastrófica. No desgaste por adesão as ligações entre as superfícies opostas em pontos localizados, são rompidas pela ação mecânica do movimento gerando fragmentos que são transferidos para a superfície oposta ou diretamente liberados para o interior da articulação. Neste mecanismo, a intensidade da força de ligação entre átomos e moléculas das superfícies opostas tem grande influência, e pode ser uma importante fonte de partículas, como na articulação metal/metal, quando a alta ductilidade promove maior adesão. A medida que o material é progressivamente removido dos pontos de maior contato, o conseqüente auto-polimento da superfície diminui a intensidade do desgaste adesivo. A movimentação e o carregamento cíclicos entre as superfícies articulares podem iniciar a fadiga do material através de microtrincas que ao se propagarem promovem a delaminação de fragmentos para o interior do espaço articular. Este desgaste por fadiga gera, portanto partículas maiores que podem atuar como terceiro corpo ou mesmo ocasionar bloqueio articular. O polietileno é particularmente susceptível a este mecanismo quando da sua oxidação, uma vez que a conseqüente alteração de suas propriedades mecânicas diminui sua resistência à fadiga.18 O desgaste pode ocorrer ainda por fenômenos triboquímicos conseqüentes a reações químicas entre o meio adjacente às superfícies em contato. Na articulação Metal/Metal a remoção e formação alternadas da camada de óxido sobre as superfícies articulares (camada de passivação), liberam partículas no interior da articulação resultantes do desgaste oxidativo ou triboquímico. 10,15 As partículas ou debris formados pelos diferentes mecanismos de desgaste podem, por mecanismos mecânicos e /ou biológicos, levar à soltura e destruição óssea progressiva e assim não só comprometer a longevidade da artroplastia, como dificultar os procedimentos reconstrutivos futuros. Inúmeras pesquisas associam o desgaste com a ocorrência de osteólise e falhas da substituição articular protética (Fig. 7). O desgaste linear da articulação M/P medido em radiografias, tipicamente apresenta uma fase inicial acelerada (até 12-18 meses), que é o resultado da fluência do polímero, do assentamento do inserto plástico no componente metálico (bedding-in) e do desgaste da superfície articular protética. A fluência é manifesta pela deformação plástica, mesmo em condições de carregamento constante, e não representa per se um desgaste real. Após esta fase inicial (até 2 anos após o implante) em que pode ocorrer uma taxa de desgaste de até 0.2-0.3 mm/ano, o desgaste linear atinge uma fase de estabilidade em torno de 0.10-0.15mm/ano, atribuída ao desgaste propriamente dito. 21 Estudos clínicos, contudo mostram uma grande variação na taxa de desgaste para um mesmo modelo protético. Esta variabilidade é resultado de fatores relacionados ao paciente (sexo, idade, peso, atividade), a características do modelo protético (materiais, design, processos de fabricação), à técnica cirúrgica (posicionamento dos implantes, restauração da biomecânica articular, permanência de terceiro corpo, qualidade da fixação dos implantes entre outras) e do próprio método de mensuração radiográfica do desgaste. 9,21 O impacto do desgaste na gênese da osteólise e/ ou soltura é dependente não só do número de partículas como também de sua morfologia, dimensões, atividade biológica e citotoxicidade. 2 Embora cabeças protéticas de maior diâmetro possam apresentar o mesmo desgaste linear, o desgaste volumétrico e, portanto o numero de partículas é também significativamente maior6 (Tabela 2). Observe que para um mesmo desgaste linear, o desgaste volumétrico de uma cabeça de 32 mm é cerca de 2 vezes maior que o da cabeça de 22 milímetros. Assim, pelo maior número de partículas geradas, dá-se preferência ao desgaste volumétrico como parâmetro a ser comparado com o desfecho clínico das artroplastias totais. Desta forma há que se considerar a relação risco/benefício para a prática mais recente de se utilizar cabeças protéticas de maior diâmetro, com o objetivo de aumentar a estabilidade e diminuir a possibilidade de impacto com a borda acetabular protética. Tabela 2. Relação entre o Desgaste Linear (0.1 mm/ano) e o Desgaste Volumétrico em Função do Diâmetro da Cabeça de Cromo-Cobalto em Polietileno Convencional. Diâmetro Cefálico 22 mm 28 mm 32 mm Fig 7. Representação gráfica da sobrevivência de reconstruções protéticas em anos (abscissa) e em percentual (ordenada) para diferentes taxas de desgaste linear anual. (modificado de Sochard, 22 DH). Desgaste Volumétrico 38 mm3 60 mm3 80 mm3 Vários ensaios experimentais em simuladores de quadril demonstram um desgaste volumétrico muito próximo do obtido em condições clínicas para o par tribológico Metal/PE. Contudo uma vez que o numero de ciclos anuais pode apresentar grande variabilidade entre diferentes pacientes, em avaliações experimentais o parâmetro de desgaste anual é substituído por milhão de ciclos. A Tabela 3 compara o desgaste volumétrico experimental de diferentes pares tribológicos utilizados em reconstruções protéticas do quadril. Observe que em relação ao par Cro/Co-PE convencional, o PE altamente irradiado reduz, em cerca de 90% o desgaste volumétrico, enquanto o PE triirradiado, reduz o desgaste para níveis semelhantes aos da articulação M/M, e o par C/M e C/C não apresentam diferenças significativas entre si, em relação ao desgaste volumétrico experimental. 13,14 Tabela 3. Desgaste Volumétrico em Milímetros Cúbicos (mm3) de Diferentes Pares Tribológicos por Milhão de Ciclos (mc), em Simuladores de Quadril. Par Tribológico Desgaste (mm3/mc) Cr/Co- PE Convencional Cerâmica- PE Convencional Cr/Co- PE X Linked Cerâmica- PE X Linked Cr/Co- Cr/Co Cr/Co- PE X3 Cerâmica- Cr/Co Cerâmica- Cerâmica 35 25 5 3 1.6 1.3 <0.1 <0.1 das superfícies protéticas, o que possibilitou uma reprodução mais realística durante os ensaios experimentais com simuladores de quadril. Por longo tempo os estudos de pino sobre disco foram utilizados para o estudo do desgaste do polietileno sem contudo reproduzir o desgaste clínico e muitas vezes incapazes de detectar materiais que apresentaram resultados catastróficos após poucos anos de implantação in vivo. Estudos da cinemática articular mostraram que o movimento entre as superfícies opostas ocorre em várias direções, e não em um eixo único como avaliado pelo pino sobre disco. Esta constatação permitiu o entendimento que a estrutura do polímero pode interferir na sua resis-tência ao desgaste18. Desta forma, o polietileno com longas cadeias carbônicas e poucas ligações cruzadas entre elas (PE convencional), é resistente ao desgaste quando solicitado na direção das ligações interatômicas que mantém a estabilidade da cadeia (fig. 8 A). Por outro lado a solicitação em direção perpendicular promove a separação entre cadeias adjacentes gerando assim partículas que são arrancadas do material (Fig.8. B). Este mecanismo também auxiliou na compreensão da maior resistência ao desgaste do polietileno de ligações cruzadas (Fig.8. C). Cr/Co = Liga de Cromo-Cobalto PE X3= Polietileno triirradiado. Valores aproximados, para cabeças de 28 mm em condições semelhantes de ensaio. É importante ressaltar, que para um mesmo desgaste volumétrico, o número de partículas dependerá também de seu tamanho, e assim as partículas nanométricas resultantes do desgaste da articulação M/M são em numero muito superior (em até 500 vezes) às partículas pouco menores que 1 micrometro, resultantes do desgaste da articulação metal/polietileno4. Ainda que considerado o número de partículas, sua reatividade e citotoxicidade devem ser avaliadas na indicação do par tribológico mais adequado. As partículas de cerâmica, embora de tamanho nanométrico e, portanto mais numerosas que as de polietileno, são bastante estáveis quimicamente em meio orgânico e portanto muito pouco reativas, o que lhes confere uma grande biotolerância e baixa toxicidade. Por outro lado partículas metálicas têm elevada reatividade biológica e se disseminam pelo organismo em gânglios linfáticos, fígado, baço, medula óssea. Níveis elevados de Cobalto e Cromo podem igualmente ser detectados no sangue e na urina.14,26 Cinemática Articular Protética A cinemática articular estuda o movimento relativo entre superfícies sem se preocupar com as forças que geram o movimento. Importantes contribuições desta ciência auxiliaram no esclarecimento dos mecanismos de desgaste in vivo Fig. 8. (A). O PE convencional quando solicitado na direção de suas cadeias apresenta maior resistência ao desgaste do que (B) quando solicitado em direção ortogonal , uma vez que a baixa coesão permite o desgarro de cadeias e formação de partículas. (C) No caso da existência de ligações cruzadas a maior coesão entre as cadeias promove maior resistência mesmo em direções ortogonais. (Modificado de Mischler S). 15 A introdução de ensaios com simuladores de quadril trouxe grande avanço às pesquisas experimentais, porem as articulações protéticas ensaiadas com este método ainda falhavam em reproduzir os danos observados em explantes. Mais recentemente Lombardi et al17 confirmaram uma característica in vivo da cinemática articular protética em que, quando não solicitada em carregamento durante a marcha, a cabeça femoral protética se desaloja parcialmente do implante acetabular. Com o carregamento subseqüente a cabeça volta a se alojar na cavidade, porem não sem antes impactar contra a borda superior do componente acetabular (edge loading – Fig. 9 A,B,C e D). A utilização desta característica cinemática nos ensaios em simuladores de quadril permitiu a reprodução dos danos mais encontradiços nos explantes (Fig. 9.E), incluindo o desgaste em faixa (stripe wear) observado em cabeças das articulações C/C16 e M/M. Fig. 9. (A) Em relação a sua posição durante o carregamento, (B) na fase de balanço ocorre o desalojamento parcial da cabeça femoral protética. (C) Quando do carregamento na fase de apoio, o assentamento é feito pela borda superior do acetábulo causando o impacto nesta região conhecido na literatura inglesa como edgeloading. (D) O desgaste na porção superior permite que mesmo após o assentamento, a cabeça seja dirigida superiormente. (E) Explante em que se visualiza o desgaste de todo o chanfro na porção superior do componente de polietileno (cabeças de seta) devido ao impacto na borda durante o realojamento da cabeça, comparado ao chanfro intacto na porção inferior (seta dupla). Desempenho das Diferentes Superfícies Articulares Protéticas. Articulação Metal/Polietileno O Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular (PEUAPM), por vezes erroneamente designado na literatura médica como Polietileno de Alta Densidade (PEAD), foi introduzido para uso em substituições articulares protéticas por Charnley, no início da década de 60, em substituição ao fluon (poli-tetrafluor-etileno ou Teflon®). Este último material, embora atraente pelo seu baixo atrito, apresentou-se muito pouco resistente ao desgaste, culminando em falhas precoces por osteólise e soltura dos implantes protéticos.3 Ainda que mais resistente ao desgaste quando comparado a outros polímeros, o PEUAPM é particularmente sensível à oxidação in vivo, fenômeno este que pode ser influenciado pelos processos de fabricação e esterilização, e assim determinar menor resistência ao desgaste por fadiga18. A taxa média de desgaste para este material está ligada também a fatores relacionados ao paciente, tecnologia de processamento, modelo protético e técnica cirúrgica. O polietileno tradicionalmente referido na literatura como convencional, se refere ao PE esterilizado em raios Gama em atmosfera ambiente (dosagem entre 2.5-4 Mrads, equivalente a 25-40 kGy), que é responsável pela ocorrência de algumas ligações cruzadas entre as cadeias, melhorando assim seu comportamento tribológico.7,23 A permanência de radicais livres remanescentes podem porem promover sua oxidação pela reação com o oxigênio atmosférico. Alguns fabricantes nacionais se utilizam de processos não ionizantes de esterilização (como o óxido de etileno) que, se por um lado não promovem sua oxidação, também não produzem os efeitos benéficos de ligações cruzadas entre as cadeias. A literatura mundial relata uma diminuição em cerca de 50% do desgaste do polietileno irradiado em atmosfera ambiente (cerca de 0.1 mm/ano) quando comparado ao esterilizado por métodos não ionizantes (cerca de 0.16 mm/ano) 23. Estudos clínicos com o PE convencional relatam sobrevivência média entre 5 e 15 anos, dependendo da taxa de desgaste. O volume total de desgaste quando da ocorrência de falha é bastante semelhante em diversos relatos sobre a analise de explantes. Tipper et al.24 detectaram em implantes tipo Charnley que sobreviveram em média 12 anos, um desgaste volumétrico médio anual de 60 mm3, penetração linear média de 0.17 mm/ano e um volume total de desgaste médio de 785 mm3 à falência. Estes resultados foram muito próximos aos obtidos por Elfik et al. 6 Na tentativa de eliminar a contínua oxidação, mesmo durante o armazenamento do PE convencional, várias indústrias introduziram a esterilização à vácuo ou em ambiente inerte (Argônio ou Nitrogênio). Estudos subseqüentes mostraram uma redução do desgaste em cerca de 40% em relação ao PE convencional, porem os radicais livres remanescentes da irradiação podem ainda reagir in vivo e assim promover sua oxidação. A conseqüência da oxidação para o PE convencional, irradiado em ambiente inerte e recozido foi analisada em explantes e demonstrou que as alterações são mais encontradiças na borda do componente, e pouco significativas na região de contato com a cabeça protética. 11 Estudos experimentais subseqüentes mostraram efeitos benéficos na resistência ao desgaste com maiores doses de irradiação,(entre 50 e 100 kGy) produzindo assim um grande numero de ligações cruzadas (PE altamente irradiado). 18 A remoção dos radicais livres remanescentes é feito por diferentes métodos de acordo com o fabricante. A fusão subseqüente do polietileno remove substancialmente os radicais livres, porem promove profundas alterações em suas propriedades mecânicas. Por outro lado o recozimento (aquecimento abaixo do ponto de fusão) não promove substanciais alterações das propriedades mecânicas, porem permite a persistência de radicais livres remanescentes. O PE altamente irradiado promove uma redução do desgaste em cerca de 90% quando comparado ao PE convencional. Esta redução foi igualmente observada em recentes análises de explantes.19 Contudo a falência mecânica precoce do PE fundido em ambiente mecânico de altas tensões também tem sido relatada na literatura. Constitui-se preocupação adicional, o fato de que as partículas de desgaste oriundas deste processamento do PE são mais biologicamente ativas em relação as partículas geradas pelo PE convencional. 2 Como alternativa ao processo de fusão, os radicais livres podem ser eliminados por um processo de irradiação fracionada. Neste caso o PE (X3®) é submetido a uma dose total de 90 kGy fracionadas em 3 etapas sucessivas de 30 kGy e recozido em cada uma destas fases. Este processo mantém a mobilidade das cadeias e assim permite a eliminação dos radicais livres sem, contudo alterar substancialmente suas propriedades mecânicas5. Estudos laboratoriais relatam 97% de redução do desgaste em comparação ao PE convencional e 62% em relação ao PE altamente irradiado e recozido pela técnica original. Nesta circunstância, a manutenção das propriedades mecânicas do PE sem alterações dimensionais e morfológicas das partículas de desgaste, associada a uma taxa de desgaste próxima a da articulação M/M permitem a utilização de cabeças de maior diâmetro sem a preocupação com a liberação de íons metálicos. Um processamento químico alternativo para a redução de radicais livres e de redução da oxidação do PE, é a utilização de antioxidantes como a vitamina E. Embora promissoras estas técnicas deverão ser sujeitas a ensaios clínicos, que em ultima analise irão avaliar seu comportamento em longo prazo. Articulação Metal/Metal O ressurgimento da articulação metal/metal foi motivado pelos achados de desgaste desprezível em alguns explantes de primeira geração com sobrevivência maior que 20 anos, em que as falhas ocorriam mais frequentemente por soltura dos implantes e tecnologia e design inadequados aos requisitos deste par tribológico. Vários relatos de seguimentos clínicos de pacientes submetidos ao implante da articulação protética M/M de segunda geração, têm revelado excelente resultado funcional, baixo desgaste volumétrico (0.3 mm3/ano), raros casos de osteólise e baixo índice de revisão por causas ligadas especificamente à superfície articular2. Muito embora a segunda geração deste par tribológico se caracterize por um baixo desgaste volumétrico, seu desempenho está ligado a preponderância de um contato polar entre as superfícies, dado por uma fenda articular (genericamente entre 20 e 200 µm, na dependência do diâmetro da cabeça metálica) que permita a manutenção de um filme fluido e assim garanta uma lubrificação mais eficiente. A lubrificação poderá ainda ser potencializada pela utilização de cabeças de maior diâmetro que produzem um regime hidrodinâmico, por aumentar a espessura do filme fluido. Estas propriedades tribológicas, e a possibilidade de um componente acetabular de menor espessura, que permitem a utilização de cabeças de grande diâmetro (> 40 mm), estimularam alguns pesquisadores a reintroduzirem a artroplastia de superfície (ou de recapeamento). Tal procedimento, embora inicialmente atraente para pacientes jovens e ativos, deve ser avaliado a luz dos conhecimentos disponíveis na literatura mundial e assim apresentado ao paciente como um método não definitivo, mas sim provisório, com durabilidade ainda desconhecida, riscos inerentes de complicações especificas, possíveis riscos de toxicidade e hipersensibilidade aos debris metálicos, com indicações bastante limitadas, e de técnica cirúrgica ainda em desenvolvimento. 12,13,14 Ressalte-se ainda que embora o desgaste por unidade de área possa desta forma ser melhorado, grandes cabeças metálicas estão associados a maior área de contato e portanto a um maior desgaste volumétrico. Saliente-se também que mesmo para um baixo desgaste volumétrico, o número abundante de partículas, devido às suas dimensões nanométricas e sua alta reatividade com os tecidos orgânicos, podem estar associados a maiores repercussões locais e sistêmicas. Alem de partículas iônicas (mais freqüentemente de Cromo, Cobalto, Níquel e Molibdênio) de rápida disseminação pelos tecidos orgânicos, formam-se também óxidos metálicos e compostos organometálicos que podem ter repercussões distintas dos elementos iônicos. A hipersensibilidade aos íons metálicos tem sido associada à soltura precoce dos componentes, o que é corroborado, nestes casos, pelo achado de um infiltrado linfo-plasmocitário no tecido de granulação periarticular, em substituição ao padrão macrofágico, frequentemente observado na soltura asséptica em reposta às partículas de polietileno28. A grande toxicidade de partículas metálicas em altas concentrações, que experimentalmente leva a necrose celular, ainda que não esteja efetivamente associada a maior potencial carcinogênico, tem limitado a implantação desta superfície protética em pacientes portadores de insuficiência renal e em mulheres em fase reprodutiva. 31 Elevação da concentração urinária de Cobalto em 39 vezes e de Cromo em 28 vezes maiores quando comparados à articulação M/P, sem a tendência de decréscimo com o tempo (até 7 anos), se constitui uma preocupação adicional. 14,31 Quanto a tecnologia de produção a liga metálica de Cromo-cobalto, para este par tribológico, se beneficia de um conteúdo mais elevado de carbono o que propicia a formação de carbonetos (principalmente de cromo) aumentado assim a dureza superficial e a resistência à corrosão, mecanismo importante de desgaste desta articulação protética. Contudo, ainda existem proposições divergentes sobre a tecnologia de fabricação e o design ideal que minimizem o desgaste e a produção de partículas iônicas na articulação Metal/Metal. Desta forma, a articulação M/M, como todas as outras superfícies alternativas, apresentam vantagens e desvantagens, especificas e design dependentes, das quais ainda não se pode claramente diferenciar os riscos e benefícios reais dos teóricos. Articulação Cerâmica/Cerâmica Desde sua introdução na pratica clinica em 1970 por Boutin, a articulação cerâmica/cerâmica (alumina – Al2O3) é a que demonstra menor desgaste em condições clínicas e experimentais, com excelentes características tribológicas de baixo atrito e elevada resistência ao desgaste, conseqüentes à sua elevada dureza, hidrofilia e melhor molhamento.30 Contudo a baixa tenacidade que é responsável por um risco baixo mas real de fratura frágil, tem sido o fator que mais comumente restringe sua utilização clinica. A ocorrência de fratura em até 3-5% na década de sua introdução para uso clínico, refletia não só as características do material, como também, o design inadequado e a técnica cirúrgica não apropriada. Novos métodos de sinterização produzindo grãos menores e de maior densidade, e assim minimizando a presença de inclusões, tornaram a alumina um material mais confiável, com freqüência de fratura reduzida de 0.026% para menos de 0.004 por cento. 2 Recentes inovações no design permitiram a redução do impacto entre o colo protético e implante o acetabular e assim reduzindo a possibilidade de fratura da borda do componente acetabular. Diâmetros maiores de cabeça (>38 mm), contudo são limitadas pela espessura do componente acetabular. Um grande inconveniente durante as cirurgias de revisão de superfícies C/C é a remoção de componentes femorais bem fixos, devido a substanciais danos ao cone metálico que aumentam a probabilidade de fratura da cabeça cerâmica revisada. A utilização de cabeças cerâmicas dotadas de encaixes metálicos para o cone protético, parece ser uma solução mais atraente. A produção de debris é reduzida por um desgaste volumétrico menor que 0.15 mm3 anualmente, que dá origem a partículas nanométricas, porem bem estáveis e pouco reativas com os tecidos orgânicos adjacentes. Desta forma a incidência de osteólise é rara, mesmo em seguimentos de longo prazo. Recentes avaliações de explantes puderam detectar o efeito do desalojamento da cabeça durante a fase de balanço da marcha para a articulação C/C. 16 Este fenômeno ocasiona um desgaste em faixa na cabeça protética e componente acetabular (stripe wear) e resulta em uma maior taxa de desgaste volumétrico, chegando a atingir 1.4 mm3/ano. Este desgaste secundário ao desalojamento da cabeça protética também tem sido responsabilizado pela produção do guinchado articular (squeaking) . Um outro tipo de cerâmica utilizada para a confecção de implantes protéticos é o óxido de zircônio (ZrO2), também conhecido como zircônia. Este material, quando adequadamente processado e estabilizado em ítrio, apresenta excelente tenacidade à fratura, mesmo para pequenos diâmetros de cabeça femoral. Contudo sua instabilidade quando submetida a altas temperaturas em ambiente úmido (autoclave ou fornos inadequados para processamento) permite uma transformação de fase que culmina em diminuição de sua resistência mecânica e aumento da rugosidade superficial. Este fato foi responsável pela fratura precoce em 8.8% de cabeças de zirconia processadas em forno inadequado. Com o processamento habitual nenhuma fratura foi observada em cerca de 200.000 cabeças implantadas , incluídas cerca de 20.000 cabeças de diâmetro 22 milímetros.2 Sua utilização tem sido restrita ao par tribológico com o polietileno, porem mais recentemente a combinação de alumina, de boa estabilidade térmica, e a grande resistência mecânica da zircônia estabilizada em ítrio deu origem às cerâmicas mistas, com excelente resistência mecânica e ao desgaste. A utilização de cabeças cerâmicas, de melhor propriedade tribológica que o metal, articulando-se contra o PE convencional ou de ligações cruzadas tem sido avaliada em estudos clínicos com seguimento em médio prazo que demonstram redução do desgaste em cerca de 35% e 90% respectivamente. Articulação Cerâmica /Metal A utilização de cabeça cerâmica (alumina) articulando-se com um componente acetabular metálico foi fundamentada em ensaios que demonstraram um desgaste volumétrico de 0.01 mm3/milhão de ciclos, comparada ao desgaste de 1.62 mm3/ milhão de ciclos para a articulação M/M (ambas com cabeça de 28 mm).29 A redução do desgaste é devido a dureza diferencial entre cerâmica e metal, com conseqüente redução do desgaste adesivo. As grandes vantagens deste par tribológico parecem ser: o desgaste reduzido, a baixa liberação de íons e a possibilidade de utilização de cabeças de maior diâmetro8. Segundo os pesquisadores envolvidos nestes estudos, a diminuição do desgaste adesivo pode, teoricamente inibir a ocorrência do guinchado articular (squeaking) por vezes observado nas articulações M/M e C/C. Um ensaio clínico, com um número restrito de pacientes, seguidos por apenas 6 meses foi recentemente relatado na literatura, confirmando os baixos níveis sanguíneos de íons cromo e cobalto. Embora os resultados sejam promissores, resultados em médio prazo são aguardados com expectativa. Revestimentos de Superfície. Uma alternativa para a redução do desgaste tem sido implantar superfícies cerâmicas em um substrato metálico, pois simultaneamente mantém as características tribológicas da cerâmica (óxido de Zircônio) e a resistência à fratura do metal. A preocupação neste caso é a possível delaminação da superfície cerâmica do substrato metálico através da interface de fixação, e sua abrasão por terceiro corpo, com todas suas possíveis conseqüências. A aplicação de filme de carbono tipo diamante (DLC) tem sido descrita na literatura. Este processo, com tecnologia nacional, tem sido avaliado experimentalmente através de imersão em plasma que permite uma excelente penetração do filme no substrato metálico e assim grande resistência à delaminação. 25 Seu desempenho clínico ainda está por ser determinado. Relação custo benefício das Superfícies Articulares Protéticas. A ampliação da indicação da substituição protética para pacientes jovens gerou a necessidade de implantes de maior longevidade e, portanto de baixo desgaste e maior tolerância orgânica. Ao realizarmos a artroplastia de quadril em um paciente de 50 anos devemos considerar a necessidade de sobrevivência dos implantes entre 30-40anos, o que implica em cerca de 45 a 60 milhões de ciclos, e portanto bem acima do numero de ciclos suportado pela articulação Metal/PE convencional. Se analisado do ponto de vista do desgaste para este par tribológico, que apresenta um limiar à falência de 785 mm3 , a taxa de desgaste anual para estes pacientes deveria estar abaixo de 19 mm3 por ano, o que corresponderia a uma taxa de desgaste linear abaixo de 0.03 mm/ano. Um recente estudo sobre a relação custo/efetividade para as superfícies alternativas em artroplastia total de quadril, considerou a idade do paciente, custos do implante e a redução da probabilidade de revisão em relação à superfície protética convencional.1 Segundo os autores, para pacientes na faixa etária de 50 anos, uma superfície alternativa com incremento de custo da ordem de 2.000 dólares seria justificada somente se estivesse associada à redução de no mínimo 19% de falha aos 20 anos de implantação. Para pacientes acima de 63 anos este mesmo custo adicional não se justificaria independente da redução presumida da taxa de revisão. Para pacientes acima de 75 anos, nenhum custo adicional é justificável, independente de seu valor e da redução presumida da taxa de revisão. 16. Nevelos J, Ingham E, Doyle C et al. Microseparation of the centres of alumina-alumina artificial hip joints during simulator testing produces clinically relevant wear rates and patterns. J Arthroplasty 2000; 15: 793-795 Referências Bibliográfica 20. Schmalzried TP, Jasty M, Harris WH. Periprosthetic bone loss in total hip arthroplasty: Polyethylene wear debris and the concept of the effective joint space. J Bone Joint Surg 1992; 74A: 849-863. 1. Bozic KJ, Morshed S, Silverstein MD, Rubash HE, Kahn JG. Use of cost-effectiveness analysis to evaluate new technologies in orthopaedics. The case of alternative bearing surfaces in total hip arthroplasty. J Bone Joint Surg 2006; 88-A: 706-714. 2. Campbell P, Shen FW, McKellop R. Biologic and tribologic considerations of alternative Bearing Surfaces. Clin Orthop Rel Res 2004; 418: 98-108. 3. 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