CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL Versão para registro histórico Não passível de alteração COMISSÃO DE LEGISLAÇÃO PARTICIPATIVA EVENTO: Audiência Pública N°: 1733/12 DATA: 05/12/2012 INÍCIO: 14h56min TÉRMINO: 18h02min DURAÇÃO: 03h06min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h06min PÁGINAS: 67 QUARTOS: 38 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO REYNALDO ARANTES - Presidente da Organização dos Acadêmicos e Bachareis do Brasil. WILLYAN JOHNES - Presidente da Ordem dos Bachareis do Brasil — OBB. ANDRÉ SOUZA - Vice-Presidente do Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito. OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR - Assessor Jurídico do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. VIVIAN TÁVORA RAUNHEITTI - Representante da Fundação Getúlio Vargas - FGV. SUMÁRIO: Discussão sobre o Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. OBSERVAÇÕES Há intervenções fora do microfone. Inaudíveis. Há oradores não identificados em breves intervenções. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Boa tarde. Agradeço a todos a presença. Declaro aberta a audiência pública destinada a debater o exame da Ordem dos Advogados do Brasil, promovida pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, em atendimento ao Requerimento nº 43, de 2012, de autoria deste Parlamentar. Informo aos senhores que todo o conteúdo da audiência pública está sendo gravado e será disponibilizado em áudio e vídeo na página da Comissão promotora deste evento, www.camara.leg.br/clp. Neste momento, tenho a honra de convidar para compor a Mesa de abertura Dr. Oswaldo Pinheiro Ribeiro Júnior, Assessor Jurídico do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; Dr. Reynaldo Arantes, Presidente da Organização dos Acadêmicos e Bacharéis em Direito; Dr. Willyan Johnes, Presidente da Ordem dos Bacharéis do Brasil; Dr. André Souza, Vice-Presidente do Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito; Dra. Vivian Távora, representante da Fundação Getúlio Vargas. Passamos agora às regras da condução dos trabalhos desta Mesa. Cada expositor deverá limitar-se ao tema em debate e terá o prazo de 15 minutos, não podendo ser aparteado. Informarei quando faltarem 5 minutos e 2 minutos. Ao final de todas as exposições, inciaremos os debates, passando a palavra, primeiramente, aos Parlamentares inscritos e depois aos demais participantes. Tendo sido esclarecidas as regras, passamos às exposições. Neste momento, tenho a honra de ouvir os membros da Mesa. Passo a palavra ao Dr. Reynaldo Arantes, Presidente da Organização dos Acadêmicos e Bacharéis do Brasil. O SR. REYNALDO ARANTES - Boa tarde, Sr. Presidente, Deputado Dr. Grilo; senhores participantes que nos acompanham pela TV Câmara, nós estamos num dia triste: tivemos uma derrota, vamos dizer assim, numa linguagem popular, no dia de ontem. Numa linguagem jurídica, nós tivemos uma petição judicial, que o juiz não aceitou, e nós vamos procurar um novo caminho para recorrer. 1 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Mais ou menos nessa mesma época, no ano passado, tivemos um julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, e a imprensa, que não conhece os meandros da atividade jurídica, entendeu que o exame da Ordem tivesse sido julgado. Nós temos um dossiê, cuja cópia os Deputados presentes e a Mesa irão receber, que traz a ementa da Ação nº 603583, do Sr. João Volante, do Rio Grande do Sul, no qual fica claro que o tema Exame de Ordem não foi julgado, foi dado desprovimento por parte do Ministro Marco Aurélio e a OAB, matreiramente, disse que isso foi um julgamento. Não. Os doutores não aprenderam, talvez, que só faz efeito inter partes o desprovimento. Então, nós teremos, primeiro, em breve, uma outra discussão jurídica, um outro julgamento dentro do Supremo Tribunal Federal. Nesta Casa, senhoras e senhores, nós tivemos um avanço muito grande neste ano de 2012. O Deputado Eduardo Cunha foi um dos nossos grandes defensores e levou a questão para o Plenário da Casa. Nós já temos um parecer favorável, do Deputado Pastor Marco Feliciano, aos cinco projetos: dos Deputados Max Rosenmann, José Divino, Edson Duarte, Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha, que pugnam pelo fim do exame de Ordem pela sua inconstitucionalidade. E essa, senhoras e senhores, não é uma discussão jurídica, é uma discussão política, legislativa, porque esta Casa faz as leis, compete ao Supremo apenas interpretá-las. Portanto, a derrota de ontem no plenário fez com que alguns participantes, como o Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, que disse que estaria participando - de cuja assessoria não obtive resposta depois da derrota de ontem -, o Ministro Crivella, que era para estar aqui presente - também não obtive resposta de sua assessoria - e alguns participantes que estavam acompanhando o ápice da questão do exame de ordem, hoje não estivessem aqui presentes. Mas o importante, senhores, é o seguinte: Nós cursamos cinco anos de faculdade, somos advogados por direito, com ou sem carteira — até porque não conheço nenhum advogado que não tenha passado cinco anos nos bancos acadêmicos —, e nós aprendemos que toda luta, como é o nosso caso, ou toda ação que nós impetramos na justiça, tem suas idas e vindas. E nessas idas e 2 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 vindas, nós vamos direcionando sempre para encontrar o melhor para os nossos clientes. No caso da nossa luta, o cliente somos nós mesmos. Então, o que aconteceu ontem foi um simples retrocesso, um despacho denegatório, interlocutório, que não influencia em nada essa guerra. Temos que levantar a cabeça e ver o próximo passo. Nosso próximo passo será trabalharmos junto à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania desta Casa. Ali, sim, vamos travar nossa próxima batalha. Podemos ganhar ou perder, mas, de uma forma ou de outra, senhores, garanto uma coisa, os bacharéis nunca vão abaixar a cabeça, os bacharéis nunca vão desistir da luta, porque aqueles que não aprendem a defender o seu direito nunca vão ter capacidade para defender o direito de outros. Quanto à questão de hoje, senhoras e senhores, nós trabalhamos dois lados. Primeiro, quero deixar claro que nós estamos passando aos Srs. Deputados desta Casa - já passamos para a mão de todos os líderes partidários, de muitos Deputados, estaremos passando para a mão de outros - provas de manipulação que a OAB vem fazendo para reprovar aquelas pessoas que têm condições de passar. Ou seja, não se discute mais se a prova é para avaliar juiz ou procurador de justiça, não mais se fala mais nas pegadinhas ou nos itens de edital que não são respeitados, não. Nós temos provas documentais que entregaremos a esta Casa, ao Presidente da OAB do Distrito Federal, Sr. Francisco Caputto, numa conversa na bancada do PSB, provas de manipulação da primeira fase. Isso está no nosso site www.mnbd.org, em várias matérias sem as provas. É só os colegas baixarem a matéria, lerem e divulgarem. A primeira fase tem duas perguntas totalmente díspares: se a pessoa disser: “não, estou recorrendo porque acertei “a” e no gabarito veio b”, ele pode falar, “não, não, a “a” está errada e a “b” está certa”. E, embaixo, duas respostas de banca na mesma folha para a segunda dizer “não, eu acertei a “a”. Ele fala “não, não, a “a” está errada, o que está certa é a “b”. Numa segunda fase, senhoras e senhores, nós temos um ofício da OAB de Mato Grosso em que o Presidente da OAB, preocupado com o crime de desobediência, porque havia uma decisão judicial a ser cumprida, reitera pela terceira vez para que o CESPE, que aplicava a prova até recentemente, cumpra 3 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 uma decisão judicial liminar, porque 15 pessoas entraram na justiça e provaram que fizeram a mesma prova, deram as mesmas respostas para as mesmas perguntas, só que para um a OAB deu nota “1”, para outra deu “0,5”, para outra deu um 1/3, para outra 1/4 e para outra deu zero. O próprio Presidente da OAB está mostrando esses deslizes, esses erros, senhoras e senhores, porque está com medo de se incutir no crime de desobediência. Então, ele diz: “cumpram a decisão”. Eu posso, então, dizer aos senhores que, apesar de toda essa movimentação, os colegas não conseguiram obter a carteira. Mas em compensação, senhores, fica claro que a OAB faz a manipulação da segunda fase. Não importa a sua resposta, não importa se você fez um bom cursinho ou se o cursinho foi perfeito, a OAB dá a nota que bem entende. E isso nós temos documentado. Por que, senhoras e senhores — é a primeira pergunta que os Deputados me fazem — por que essa manipulação? Porque a OAB — e isso está no dossiê — desde a ADIN 3.026, relatada pelo Ministro Eros Grau, empurrada pelo Quinto Constitucional até a Suprema Corte do nosso País. O Ministro Eros Grau diz que a OAB é uma entidade sui generis. Na ementa consta que a OAB é uma entidade ímpar. O que é ímpar, senhoras e senhores? Ela não é pública nem privada. E não há uma lei no arcabouço jurídico brasileiro que diga quais são os direitos e deveres de uma entidade ímpar. Então a OAB acaba sendo pública para não pagar sobre o que ela arrecada das unidades dos profissionais, mas ela é privada na hora de prestar informações para o Tribunal de Contas da União. Dessa forma, senhoras e senhores, nós temos o que se chamava em linguagem de simbologia, o trinacria, aquele triângulo com o olho em cima. Nós temos a Constituição, que está acima, na Pirâmide de Kelsen, que todos nós estudamos, e acima há uma coisinha ali separada. Essa coisinha separada chama-se OAB. E a OAB está agindo de forma criminosa para manter mais de cem mil bacharéis, a cada exame, para pagar 200 reais, que lhes rende de 20, 22 ou 25 milhões de reais, dos quais ela não dá satisfação a ninguém. Pior, senhoras e senhores, o Conjur publicou recentemente que o Conselheiro Federal responsável por cuidar das contas da OAB, numa plenária com presença da imprensa - vejam 4 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 bem, com presença da imprensa-, levantou-se e disse para o Dr. Ophir, “Olha, se não me derem os recibos, eu não posso atestar que nós temos transparência. Eu, que cuido deste setor, não estou tendo acesso ao dinheiro da OAB, aos recibos”. E aí, cadê? Agora, se é assim com respeito às anuidades, senhoras e senhores, imaginem como é com respeito ao dinheiro originado, a esses 22 milhões, por exame, gerados pelo exame de ordem? Consequentemente, senhores, é um crime. A única coisa que eu gostaria de deixar claro nessas palavras iniciais é que a OAB, desde 1996, joga toda a culpa da reprovação - sempre histórica, não muda de patamar: 65% a 75% na primeira fase; ao final, 12% ou 13% de aprovados, não muda mais do que isso -, ela sempre jogou a culpa nas faculdades, dizendo que a educação é estelionatária, que as faculdades praticam um estelionato educacional. Não, senhores, mentira! Hoje nós podemos encher a boca com as provas documentais que temos e dizer que o exame de ordem é um estelionato, cujas vítimas são os bacharéis em Direito, que não vão abaixar a cabeça. Nós podemos cair quantas vezes quiser, e tantas vezes nós vamos levantar e brigar. Porque volto a dizer: se não tivermos a capacidade para defender os nossos direitos, nós devemos devolver ou rasgar nossos diplomas porque não vamos ser capazes de defender ninguém na sociedade. São minhas palavras iniciais. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradeço ao Dr. Reynaldo Arantes a sua exposição. Daquilo que foi dito pelo Dr. Reynaldo, há algumas coisas que nós realmente devemos prestar muita atenção. Acho que é preciso haver muita justiça na correção dessas provas. Sempre deixei isso bem claro nas nossas conversas. A OAB precisa ter mais transparência: quanto arrecada e como administra esse dinheiro? Eu falo isso na condição de advogado, porque pago a minha anuidade. Acho que os valores pagos anualmente são muito elevados. Como nós não podemos advogar sem efetuar o pagamento da anuidade, deveria haver mais transparência por parte da instituição para sabermos como é administrado esse recurso. Com relação ao exame de ordem, acho que se existem fraudes aqui... O senhor fez uma acusação que eu considero até muito grave: que o exame é um 5 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 estelionato. No caso, está sendo apontado um crime. Então, acho que realmente é preciso apurar, verificar se realmente existe um crime, e, se existir, quem são os responsáveis. Se está sendo cometido um crime, temos de punir esses criminosos. Eu sempre deixei claro que nós somos favoráveis à total transparência na realização desse exame porque as pessoas não podem ser lesadas. Os estudantes têm de fazer a prova com igualdade de condições, e o processo precisa ser transparente e lícito. Qualquer crime tem que ser apurado. Sou plenamente favorável à apuração dessa denúncia, pois o objetivo da prova não pode ser, em momento algum, arrecadação de recursos. Acho que esse não é e não deve ser o objetivo da instituição. Foi até um avanço. Mencionou-se aqui que houve uma derrota, mas acho que não. Podemos esclarecer mais, porque ontem votou-se se a matéria permaneceria apenas no plenário. Mas não, a matéria voltou para a Comissão e vai continuar a ser discutida na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania desta Casa, porque essa etapa estava sendo queimada. Então, nós não podemos avançar sem haver a devidas discussões. Acho que esta Casa quer realmente uma transparência, e é preciso deixar claro que seu objetivo não é cercear direito de ninguém, mas sim a matéria com o respeito que ela merece. Neste momento eu passo a palavra ao Dr. Willyan Johnes, Presidente de honra da Ordem dos Bacharéis do Brasil, para fazer suas ponderações. Depois retornaremos a palavra aos integrantes da Mesa para dar prosseguimento aos debates. Passo a palavra ao Dr. Willyan Johnes, Presidente da Ordem dos Bacharéis do Brasil. O SR. WILLYAN JOHNES - Ao Deputado Dr. Grilo o meu cordial boa-tarde, boa-tarde aos senhores e senhoras presentes à Mesa. Não podemos nos alongar porque o tempo é curto. Temos que correr. Eu gostaria de iniciar parabenizando os bacharéis pela vitória ocorrida ontem, até porque nunca se cogitou tanto nem houve tantos votos a favor da matéria, sem contar que não se discutiu o projeto de lei. Não, não foi, como acabou de explicar o nobre Deputado. Foi fantástico! E o que é importante, a maioria dos que disseram “não” não afirmaram que esse foi o ponto final. Eles disseram que queriam saber 6 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 mais a respeito desse assunto. Ora, pessoal, ganhamos, ou estamos pertinho disso. Parabéns, Deputado Eduardo Cunha! Parabéns, Deputado Carlos Magno! Não queremos mais exames. Já fizemos todas as provas que por direito teríamos que fazer durante o curso. Gostaria, inclusive, de parabenizar o Sr. Ophir Cavalcante, ilustre representante da Ordem dos Advogados do Brasil, e algumas pessoas presentes, como o Presidente da Fundação Getúlio Vargas, pela conquista. Temos que tirar o chapéu. Eles lutaram. E mais uma vez, se não olharmos com olhos positivos essa vitória, teria sido mais uma derrota. A vitória, desta vez, não foi fatal, conseguiram protelar um pouco mais o sofrimento dos bacharéis, a fome das crianças — um pouquinho mais — a falta de civismo e tudo o que vamos discutir a respeito. Primeiramente eu gostaria de fazer uma nota a respeito de um jornalista que publicou uma matéria na revista Conjur, de 27 de novembro de 2012. Esse jornalista publicou pérolas do exame, referindo-se aos bacharéis de forma pejorativa, apontando seis erros de português que teriam sido cometidos pelos bacharéis que prestaram o último exame. Na tentativa de humilhar ainda mais a classe, o jornalista Rodrigo Haidar foi tão ingênuo que acabou ajudando os bacharéis, porque o que são seis erros para o número de 120 mil candidatos? Os professores deste País estão de parabéns, os professores de Direito de todo o Brasil estão de parabéns, as escolas estão de parabéns, porque as escolas são informatizadas, não são como o exame da OAB, arcaico, que se faz com uma canetinha. O exame praticado nos Estados Unidos é feito com um sistema de informática, os examinandos fazem as provas em um computador. E, na OAB, ninguém opera sem um computador, mas, ali, é feito para derrubar. É feito para derrubar. São feitas praticamente 5 peças na segunda fase, porque uma peça... Eu gostaria que alguns dos doutores aqui atendessem um cliente e fizessem 5 peças, em 5 horas, e as protocolassem. (Palmas.) Porque se são 4 questões fundamentadas, só está faltando a qualificação e o pedido, porque o resto já tem. Então, caro e ilustre jornalista, antes de o senhor fazer crítica à ortografia dos bacharéis, seis erros ortográficos em 120 mil candidatos, aprenda a escrever! A revista Conjur merece mais do que isso, porque, em seu próprio texto, o senhor 7 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 escreveu errado a palavra “bacharéis”. Está claro que foi uma manobra da Ordem dos Advogados do Brasil. Está muito claro, até porque, como o jornalista teve acesso a essas provas, se os bacharéis têm que inserir suas senhas para ter acesso e, essas senhas sumiram? Quem tem acesso a isso é a OAB e a Fundação Getúlio Vargas. Como esse jornalista teve acesso aos erros de Português? Nós precisamos saber. No intuito de manter um faturamento de milhões de reais por ano, a OAB adotou uma estratégia criminosa que vem matando brasileiros. E nós já estamos registrando mais um caso de homicídio. E eles responderão por isso. Uma estratégia criminosa que está matando brasileiros com mentiras. Com essas mentiras, convenceram até os Ministros do STF que constitucionalizaram o exame de ordem. E ele está lá de novo, fizeram festa. Está lá de novo agora a decisão do Vladimir Souza Carvalho. Sr. Ophir Cavalcante, nós não tínhamos, agora nós temos o Ministro Barbosa. (Palmas.) Ali, não passa. Hoje, na mesma Casa que o Sr. Cavalcante classificou como um pântano, ele busca apoio, usando do mesmo método criminoso para persuadir os Parlamentares e manter esses caça-níqueis que gera milhões, sem ter que prestar conta desse dinheiro. Necessariamente, os Srs. Parlamentares devem instalar uma CPI para saber o destino desse dinheiro, porque nem para os bacharéis eles prestam conta. E não vai um centavo para os bacharéis e tampouco para fins sociais, certo? Eles não prestam conta de nada. A menos que os Parlamentares e o País reconheçam a Ordem dos Advogados do Brasil como um Estado paralelo e soberano, que arrecada de todos os Estados e de todos Municípios e não presta contas ao Governo brasileiro. Mostrarei aos senhores a estratégia criminosa que nada justifica essa prova e que não coube ao Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, o Sr. Ophir Cavalcante, nem como exemplo. Naquele julgamento no STF, o Presidente da OAB, Ophir Cavalcante, em sua defesa oral, afirmou que há mais de 4 milhões de bacharéis em Direito e que mais 90 mil são formados por ano. Senhores, com mais de 4 milhões divididos por 90 mil — a menos que ele não tenha feito o ensino fundamental e não sabe fazer conta — seriam mais de 50 anos para formar esses 8 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 bacharéis. O exame só tem 17 anos, e só têm 700 mil advogados inscritos na Ordem. Mesmo sendo reconhecida a repercussão geral da inconstitucionalidade e aquela maravilhosa fundamentação do Subprocurador Rodrigo Janot, eles consideraram como inconstitucional, por quê? Por interesse público, porque a OAB sabia que nenhum tribunal do planeta colocaria 5 milhões de advogados incompetentes no País. Eles sabiam! E, mais uma vez, eu repito nesta Casa, se a OAB, se qualquer um dos dirigentes da OAB provar para mim que são 5 milhões de bacharéis, eu pego a minha cidadania italiana, rasgo meu registro de nascimento e vou embora para sempre do meu País, da minha Pátria mãe. Se ele não conseguir provar que são 5 milhões, deixem os bacharéis trabalharem, porque eles têm que sustentar seus familiares. (Palmas.) Reveja seus conceitos, em nome de centenas e milhares de famílias que são atingidas diretamente por esse caça-níqueis. Para justificar o exame, os dirigentes da OAB subestimam a inteligência alheia, inclusive a inteligência de todos os Parlamentares desta Casa. Esta Casa não é um pântano; se existe um pântano, não é aqui. Desde 2011 que o Sr. Ophir Cavalcante vem falando que são mais de 4 milhões de bacharéis. Em 2012, o Presidente da Seção da OAB do Rio de Janeiro, afirmou que são mais de 5 milhões de bacharéis. Ou seja, em menos de 1 ano, estão criando bacharéis. Estão com um criadouro lá, mais de 1 milhão de bacharéis em apenas 1 ano. E, agora, depois que nós começamos a provar que são 200 mil bacharéis em Direito neste País, o Presidente da Seção do Mato Grosso do Sul simplesmente disse que, segundo o Conselho Federal, são 1,5 milhão de bacharéis. Mas espere um pouquinho: são 5 milhões, mais de 4 milhões, ou 1,5 milhão? Nem eles se entendem, para justificar esses caça-níqueis. O número assusta, e eles sabem, com o lobby que estão fazendo aqui, que nenhuma lei... O que está atrapalhando os Parlamentares? “São 5 milhões de incompetentes.” Não são, Excelências! São aproximadamente 200 mil bacharéis neste País. Basta observar o seguinte: em todas as provas têm por volta de 100 mil inscrições, todas as provas têm por volta de 13 mil aprovados. Ou seja, um controle criminoso, e o Ministério Público deve ir atrás disso, principalmente os Parlamentares. E por quê? Porque votamos neles e confiamos neles. 9 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Eles controlam de acordo com o número de formados anualmente nas faculdades, o número próximo de aprovados no exame. E mantém uma reserva de seres humanos como animais, no pasto engordando. Toda prova 120 mil, 120 mil, 120 mil, 20 milhões, 20 milhões, 20 milhões. E observem: se há reprovação em massa, onde estão os 87% dos reprovados? Deveria aumentar. Se 100 mil reprovaram, não tem 5 milhões? Então, 100 mil, depois 200 mil, 300 mil, 500 mil, 800 mil. Onde estão? E, se são 5 milhões, onde estão? Eu gostaria que o representante da Ordem dos Advogados do Brasil aqui me dissesse onde estão os 4 milhões e 900 mil bacharéis que não prestam exame? Morreram? Então, não justifica. E o número é muito importante. Começaram a dizer que eu não tinha juízo. E por quê? Falaram tanto em milhões e milhões, de repente eu chego e falo em 200 mil. E aí? E a OBB não é representante legítima apenas dos bacharéis em Direito, é de Direito, de Medicina, de todo o bacharelado. Nós temos por volta de dois mil associados e pegando força, cada vez mais força, graças a Deus. E vamos lutar! Então, senhores, é muito importante o número. Por quê? Porque 200 mil não justificam o exame, o próprio mercado absorve esses profissionais. E o controle do profissionalismo é feito pelo próprio mercado, como em todos os setores. Com todo respeito. Depois que nós soltamos uma carta aberta em inúmeros veículos de comunicação, entre os quais o Estadão, eles não quiseram dar declarações a respeito. E exijo que os Srs. Parlamentares peçam à Fundação Getúlio Vargas, que é conivente com essa armadilha... E vou entregar um documento aqui: a minha prova, na qual passei, e disseram: “Seu caso é pessoal”. Então, é só subtrair e vocês verão que são 200 mil. E é muito importante que se bata nesse número de 200 mil, porque, a partir do momento em que tivermos a lista de bacharéis, e não de inscrições da Fundação Getúlio Vargas — de bacharéis, porque o mesmo bacharel faz todas as provas — e o número não de matriculados do MEC, porque são números absurdos, mas o de formados... Grande parte desses matriculados não se formam, uns param o curso, outros vão para outros setores. Eu quero o número de formados todos os anos e o número de bacharéis. Nós sabemos quantos são, nós temos quantos são e, futuramente, nós tornaremos isso público. 10 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Eu gostaria, inclusive, de deixar claro que esta Casa é política e dependemos de política. Lamentavelmente, aqui não adianta reclamar, porque o filho está doente, por isso ou por aquilo. Aqui é política. Sendo uma questão de política, eu gostaria de levar ao conhecimento do Sr. Ophir Cavalcante que a revista Conjur publicou que o Conselheiro da OAB do Rio de Janeiro, do Conselho Federal, disse que contas da OAB Nacional não passariam no TCU. No texto, o Conselheiro da OAB Carlos Siqueira Castro afirmou que: “Se o Tribunal de Contas da União fizesse um exame das contas da diretoria do Conselho Federal, não passaria”. E ele ainda afirma: “Não há efetividade, não há transparência, não há aquela governabilidade que encanta os olhos dos democratas”. Quem disse isso foi ele. Então, diante de tantas fraudes, de tantas denúncias de fraude do Exame da Ordem que estão na Polícia Federal, de tantas denúncias de envolvimento da Ordem dos Advogados do Brasil, que nunca foi tão falada de forma negativa como na gestão atual — a nossa querida Ordem dos Advogados do Brasil —, diante de tantas denúncias de corrupção envolvendo a OAB que se encontram na Polícia Federal, se existe realmente um pântano — acreditem — não é aqui, porque aqui é a casa do povo e eu não admito que digam que esta Casa é um pântano, porque pântano quer dizer que aqui só tem sujeira, e eu não admito isso. Da mesma forma que a Nação se curvou diante de uma dignidade que surgiu neste País, que resgatou os grandes valores de que a Nação precisava, com o Ministro Joaquim Barbosa, Presidente do STF, nós queremos mostrar que esta Casa e que os Parlamentares não podem permitir isso em hipótese alguma. O Sr. Ophir Cavalcante está processando jornalistas, bacharéis, porque divulgaram fatos sobre o Sr. Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, que é uma pessoa pública. Ele está pedindo 10 mil reais de indenização, mas eles não têm como pagar. Eu não conheço nenhum Deputado que o processou, quando ele falou que esta Casa era um pântano. Então, senhores, não justifica o exame. Eu gostaria de entregar ao ilustre Presidente da Fundação Getúlio Vargas, que nos honrou com a sua presença, a minha prova. Eu fiz uma prova e, quando eu cheguei lá, não existia de forma física a Lei Complementar nº 1.160/97, ou seja, leis necessárias para fazer uma peça tributária. 11 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Viajei a São Paulo, com problemas de visão, comprei o Vade Mecum, que só existe em CD. Mas a Ordem dos Advogados do Brasil não permite nada eletrônico, mas diz que tem que ser de acordo com as editoras, tem que ser editado por editoras. E está aqui: editado por editora. Cheguei lá, tiraram a legislação da minha mão e disseram: “Você não vai usar essas leis”. Eu disse: “Mas como? Está aqui, olha, a marca d’água.” “Não pode. Você não vai.” “Chame o supervisor.” Chamaram o supervisor: “Você não vai”. O.k., entreguei. Fiz a minha peça. Só não tirei nota máxima, porque tiraram pontuação da minha peça, porque eu não coloquei, doutor, tempestividade num caso recente, porque eu não coloquei: “Meritíssimo, daqui a 5 anos vai prescrever, então o senhor pegue a peça agora.” Ou seja, não há necessidade disso, num caso recente, o enunciado era recente. Mas, tudo bem, tiraram. Eram 5 e tiraram 3,5, nas questões eu fiquei com zero, sem a lei. Aí, eles fundamentam, dão o cartão de respostas, usando as leis que eles não permitem que vocês usem, com jurisprudência. Eu gostaria de entregar ao Presidente da Fundação Getúlio Vargas... (Intervenção fora do microfone. Ininteligível.) O SR. WILLYAN JOHNES - Perdão, você está representando... Eu pensei que você fosse uma repórter. Eu estava até feliz com o seu sorriso, agora já fiquei até meio esperto. (Risos.) Então, senhores, eu gostaria de encerrar esse ato agradecendo a vocês, pedindo, honestamente, aos Parlamentares que olhem isso. Sr. Ophir Cavalcante, um aluno que estudou com a Dra. Rosângela Paulucci — eu acredito que o senhor a conheça — e com o Dr. Giovanni Capecci, não tem medo de debater com o senhor, porque o debate é fundamental para um advogado. E, em nome desses dois mestres do Direito, dos quais fui aluno, eu gostaria de usar esses nomes como representantes da dignidade de todos os professores deste País que são humilhados pela OAB. Quando metem o pau nas escolas, eles estão falando mal dos professores. E se o Sr. Ophir Cavalcante está onde está hoje, ele deve aos professores. E nós devemos respeito a essa classe maravilhosa. Todos nós devemos a ela. Obrigado. (Palmas.) 12 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradeço ao Dr. Willyan Johnes a sua exposição. Eu gostaria de pedir à representante da Fundação Getúlio Vargas que nos disponibilizasse uma cópia do documento que acaba de ser entregue. Estamos fazendo isso em atendimento ao pedido do Deputado Costa Ferreira, que nos solicitou fosse divulgado o documento que foi entregue à Fundação Getúlio Vargas. Realmente, uma coisa que precisamos verificar, como dissemos anteriormente, é se existe uma injustiça no exame. Realmente, devemos combater isso aí. Não somos favoráveis, de forma alguma, a nenhuma injustiça. Achamos que elas têm de ser combatidas a todo o momento. O objetivo da Ordem dos Advogados do Brasil não é proibir os bacharéis de advogarem, mas, sim, de ter um mínimo de qualidade na advocacia brasileira. Neste momento, passamos a palavra ao Sr. André Souza, Vice-Presidente do Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito. O SR. ANDRÉ SOUZA - Eu quero dar boa tarde aos presentes. Muito obrigado, Dr. Grilo, pela oportunidade de expor os fatos que estão ocorrendo no Brasil em relação ao ensino, à moral, à nossa Nação. Eu gostaria de deixar uma coisa bem clara para todos vocês: eu não sou um homem contra a OAB. Acho que nenhum de nós é. A OAB é uma entidade muito respeitada, uma entidade que deve ter uma moral básica, porque ela é muito importante para a democracia. O ser humano tem que ter o entendimento e a compreensão perfeita do que é a nossa luta. Não estamos aqui para desfazer de ninguém. Na verdade, o que acontece é o contrário. Hoje, o cidadão está sendo colocado à prova todo tempo. É o mesmo que eu chegar no consultório de um médico e dizer: “Doutor, eu quero fazer uma consulta, mas será que o senhor vai saber me atender? Será que o senhor tem competência para me atender?” Vou construir um prédio, o engenheiro vai chegar lá e eu vou falar com ele: “O senhor tem competência para me atender? O senhor fez exame?” O Brasil não vai crescer com esse tipo de argumento. Isso é um argumento esdrúxulo, mesquinho, uma espécie de colocação que não poderia ser feita, porque vai atrapalhar o crescimento do nosso País. 13 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O Brasil tem que prestar muita atenção e valorizar a juventude, valorizar os professores, porque o Brasil, há 30 anos, não tinha condição de educação igual tem hoje, quando temos um acesso à Internet. Antes, eram só livros difíceis e caros. Quem estudava na época, há 30 anos, eram as pessoas que tinham condição financeira maior. Infelizmente, o pobre, a pessoa que tinha dificuldade, a pessoa de menos condição financeira, não tinha oportunidade de estudar. Acabava que o indivíduo ficava preso à função de uma mão de obra barata, enquanto quem tinha condição de estudo era apenas o filho de um doutor, o filho de quem tinha condição. Então, o Brasil passou, de uns anos para cá, a dar oportunidade às pessoas que antes eram condenadas, por natureza, a serem mão de obra barata. Hoje, graças a Deus, nós temos uma política bem feita. Eu acho que esse argumento de ensino é para justificar hipocrisia, demagogia. Isso não vai levar o Brasil a lugar algum. Acredito também que é muito importante que as faculdades sejam valorizadas, porque sem elas não há alunos, e as pessoas que se prontificam a ser alunos estão se prontificando a ser homens de bem, porque eles poderiam estar se prontificando a ser outro tipo de pessoa. O ser humano que se prontifica à educação, ao estudo, que sonha em crescer, está sonhando fazer seu país crescer. Sou contra esse tipo de argumento esdrúxulo, mesquinho, que chega a ser uma coisa até asquerosa. E eu estou vendo que está ficando desgastante essa discussão aqui no plenário, de ir ao STF. Está na hora de a OAB tomar vergonha, para voltar a ser uma OAB que o Rui Barbosa sonhou ter. Por que o diploma valia antes de 1994 e agora não vale mais? Até 1994, o indivíduo estudava, era graduado, ia lá, fazia, passava e pronto. Agora não. O indivíduo está sendo crivado. Por quê? Porque estão entrando muitas pessoas? Nós precisamos de profissionais. Ou precisamos de marginais? O Brasil tem de definir o que ele quer: ou ele vai querer profissionais trabalhando para progredir a sociedade ou vai querer marginais, porque, para mim, o indivíduo que não tem trabalho vai se tornar um ser humano omisso às questões da sociedade. Então, acho que o Brasil precisa, e quando eu digo o Brasil é a Câmara dos Deputados, é a Presidenta da República, é a entidade OAB, porque, às vezes, a 14 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 OAB está sendo guiada por alguns que os outros não estão de acordo... Então, não é todo argumento de um presidente que tem de ser acatado. Agora, toda falta de respeito, todo abuso, toda discriminação acarreta problemas sociais. Exemplos a gente tem agora ocorrendo nos dias atuais. Eu acompanho todos os dias o que aconteceu na Líbia e o que está acontecendo agora na Síria. O ser humano quer liberdade, o ser humano quer democracia e quando isso não acontece as coisas mudam. Chega uma hora que as coisas mudam. Eu acho que isso aí a história já contou através da Revolução Francesa, através de diversas revoluções, a exemplo dos zapatistas e outros mais. O Brasil precisa prestar atenção, porque isso aqui é um barril de pólvora, e não tem necessidade de discriminar o bacharel em Direito dessa forma, porque a pessoa que se predispõe a fazer o curso de Direito... O MEC tem uma grade curricular. Ele vai fazer, por exemplo, o EAJ, o estudo de ensino dele. Ele atende às pessoas carentes como advogado. Ele aprende isso, no curso da faculdade de Direito, a não ser que isso seja mudado. Mas, no meu entender, é o seguinte: quando a pessoa vai para o curso de Direito, ela vai para lá para fazer uma petição inicial. Não é isso? Quem estuda Direito sabe o que eu estou falando. Você cumpre práticas jurídicas, você não vai estudar para ser promotor nem juiz, não, você vai para lá fazer estágio num escritório de advocacia. O curso de Direito, até 1994, era voltado para a advocacia. Depois disso, deixou de ser. Aí virou, infelizmente, um mecanismo financeiro muito importante para OAB, porque ela não vai querer perder o que recebe, porque todo mundo tem conhecimento — e ninguém pode ser omisso quanto a isso —, de que a OAB, quando aprovou a lei no Congresso, na época em que o Itamar Franco entrou depois do Collor — não vamos entrar muito em detalhes dessa circunstância — aprovou uma coisa onde ela se tornou isonomicamente diferente das outras. Ela não é isonômica, ela é diferente. Ela é isonômica, mas, ao mesmo tempo, ela é diferente. A OAB virou uma entidade de classe com sua definição jurídica, sua natureza jurídica indeterminada. Ela é hermafrodita. Ela não tem uma circunstância sensata. Você é o quê? Porque as outras entidades de classe estão limitadas a prestar a conta etc., e tal. A OAB arrecada bilhões em dinheiro. E onde está o dinheiro, gente? 15 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Aonde foi parar esse dinheiro? Não é nem questão de ser revolucionário. Não tem idiota no Brasil, não. Não tem babaca aqui, não. O povo também entende um pouco das coisas, mesmo um leigo. Como pode um Congresso, uma Casa, o Senado, até mesmo o Executivo — aqui está presente o nosso grande e ilustre Deputado Lincoln Portela, muito obrigado, doutor —, enfim, um país deixar uma oligarquia predominar dentro da democracia? Eu não entendo como uma oligarquia pode querer predominar dentro de uma democracia. Um país de democracia plena não pode permitir que entidades de classe queiram dominá-lo. No momento, a OAB está dominando. Ela tinha de colaborar com a justiça, tinha que colaborar com a legalidade das coisas, e ela está no escuro. Não sou somente eu que estou falando isso. Isso aí é um argumento que já existe até dentro da própria OAB. Repito: não tenho nada contra a OAB. Mas tenho contra maus líderes, porque lugar de pessoas más não é na direção de uma coisa que é voltada para o bem, porque, no meu entender, a OAB foi feita para criar o bem, para fazer o bem para a sociedade, para proteger a sociedade. Falar que está protegendo a sociedade de maus profissionais porque não sabem escrever... Errar é humano, alguém pode escrever errado e tudo bem, mas nem por isso vamos entrar no mérito de que a pessoa é incompetente. Caneta e papel não podem analisar a competência de um profissional em uma prova de 5 horas. Isso é uma ilusão. Isso aí já está sendo debatido no mundo inteiro, todos os doutores e pós-doutorados, que o próprio mecanismo de avaliação é falho. Não é só no Brasil que existe essa discussão. Mecanismo de avaliação de ser humano, da competência profissional dele... Eu sou bem a favor da linha que defende a valorização do professor, não só a valorização financeira, mas também a valorização do professor como pessoa desde a época dos ensinos fundamental e médio, porque é o professor que começa tudo isso. Então, o Brasil precisa investir mesmo na educação. Parece que está caminhando para isso. Há uma briga muito grande. Parece que o País tem mudado muito nos últimos anos com relação à educação. Antes, eu acho, o indivíduo não tinha condições de fazer uma faculdade, e acabava ficando aquela coisa. O indivíduo filho de um pedreiro vai ser pedreiro a vida inteira. Só formavam os filhos de doutores etc. e tal. 16 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Então, resumindo. Aos hipócritas que acham que nosso argumento é um argumento de quem não passa no exame da OAB, nós temos direito de escolher o que nós queremos. Nós não queremos ingressar numa Ordem dos Advogados mascarada, como ela está. E eu tenho direito, como cidadão, de falar: “Eu quero ou eu não quero.” Eu não vou prestar o exame da OAB, enquanto a OAB estiver dessa forma. Agora, essa discussão de que a OAB está tendo problema é com a OAB, e não com os alunos do Brasil, não com as faculdades do Brasil. O problema é a OAB. É isso que precisa ser feito e discutido. O problema não são as faculdades, porque as faculdades estão ensinando. Abriram-se faculdades, pode ser que tenham falhas, sim, mas isso compete ao MEC, porque o MEC é a entidade de ensino e educação no Brasil. Eu desconheço que a natureza jurídica da OAB seja educacional. Se alguém tiver algum fundamento educacional da OAB, de que ela seja responsável pelo ensino no Brasil, pode me passar, porque eu estou leigo, eu acho que eu sou ignorante. Agora, se eu não sou ignorante, eu acho que está tendo um desvio de função. É uma falta de respeito muito grande, porque o indivíduo que dá aula na faculdade de Direito é um juiz, é um promotor, é um delegado de polícia, é um desembargador, e eu não posso colocar em pauta a qualidade de ensino desse professor, porque ele, na qualidade de profissional do Estado, está fazendo sentença, está prendendo, está fazendo auto de prisão em flagrante, está defendendo, como é o caso do defensor público. Eu entendo que quem tem competência para fiscalizar o ensino é o MEC. O MEC é o órgão voltado para o ensino. Existe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O art. 43 fala que a finalidade do ensino superior é formar aptos. O exame da OAB nada mais é do que aptidão. Então, esse art. 43, no meu entender, revoga, sim, porque ele é 1996 e o exame da OAB é de 1994. Então, está escrito lá: formar aptos para o ensino profissional. Agora, vamos colocar os pingos nos “is”. Não há ninguém querendo comprar briga com a OAB, não. Pelo contrário. Nós queremos que tivesse até um acesso, que a OAB tivesse uma condição, Doutor, de abrir um espaço para a gente conversar isso sem ter que jogar para o público. Nós estamos queimando a OAB, e a OAB está se queimando dessa forma, porque isso está desgastando a OAB. A 17 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 OAB não precisava dessa discussão publicamente, não. Poderia ter sido discutido de outra forma. O povo não precisava saber que hoje a OAB está arrecadando milhões e não sabemos para onde vai esse dinheiro. Isso não precisava ser feito. Acho que a OAB tem que prestar conta desse dinheiro, gente! Vamos fazer uma média. Vamos lá: 70 milhões de reais, em 10 anos, são 700 milhões; em 20 anos, 1,4 bilhão; ou, então, estou ruim de matemática. Mas é mais ou menos por aí. (Intervenção fora do microfone. Inaudível.) O SR. ANDRÉ SOUZA - Não. Eu estou falando de taxa do exame, não vamos entrar no comércio, que vai atingir mais pessoas. Isso aí é um mercado, o mercado é livre. Cursinhos podem abrir à vontade. Eu acho que cursinho não serve só para exame da OAB, não. É importante ter os cursinhos, porque os cursinhos vão dar base para as pessoas fazerem concurso para juiz, vão dar base para outras coisas. Eu não sou contra o ensino, não. Pelo contrário. Sou a favor do ensino. Eu não sou a favor de fechar faculdade, não. Eu sou a favor de abrir faculdade e melhorar a qualidade do ensino nas faculdades que existem, entendeu? Eu acho que o Brasil tem que ter responsabilidade, porque nós estamos formando uma juventude. Gente, Deus abençoe a todos. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradeço ao Dr. André Souza a sua exposição. Peço desculpas por não concordar um pouco com o que foi dito, porque o senhor acabou de dizer que essa discussão não precisava vir a público, mas eu acho que é exatamente o contrário. Nós temos que trazer essa discussão, sim, a público, porque anualmente o meu boleto chega e eu tenho que pagar todo ano. Então, nós precisamos saber o que está acontecendo. Eu pago a anuidade e eu tenho todo o direito de saber o que acontece dentro da OAB, para onde vai todo o recurso arrecadado com as anuidades. Acho que a transparência é importante. E essas discussões têm que ser realizadas em público, para que as pessoas saibam o que realmente acontece com a instituição. Da mesma forma que é cobrado, eles também têm que prestar essa satisfação, explicar como que está sendo distribuído, o que está sendo feito com o 18 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 dinheiro dessas anuidades e também com o que é arrecadado no exame da OAB. (Palmas.) Peço a compreensão dos integrantes da Mesa, porque temos a presença do Líder Lincoln Portela, a quem passo a palavra. Depois retornaremos às exposições. O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Obrigado, Deputado Dr. Grilo, sempre atuante. Costumo dizer que os filhos dessa nova geração de Deputados já nascem correndo. O Deputado Grilo é um desses filhos. A minha passagem por aqui é rápida, porque o ofício da Liderança é um pouco complicado. Estou deixando a Liderança agora no fim do ano, fico cuidando de 45 Deputados, vou ver se eu cuido da minha vida agora. Em relação ao exame da OAB, evidentemente pontos de vista são colocados, há pessoas que pensam de uma forma, outras de outra maneira, mas nós queremos chegar a um denominador comum. O Projeto de Lei nº 2.996/2008, senão me engano é este o número, é de minha autoria. Eu coloco que a partir do momento em que o primeiro exame é feito, a primeira etapa é concluída e o aluno passa na primeira etapa, na minha avalição, ele não precisaria repetir esse exame. Não quero entrar agora no mérito do exame. Não quero trazer uma polêmica maior do que nós já estamos causando, justamente porque eu acho que a polêmica é importante, mas eu acho injusto que os alunos que passem na primeira etapa do exame sejam, às vezes, obrigados a repetir 3, 4, 5 vezes. Eu tenho um filho que é advogado, Secretário de Estado, Subsecretário. Minha filha é advogada, é também Secretária Municipal. Meu genro é advogado do Governo do Estado de Minas Gerais, e eu gosto muito da matéria. Tenho algumas propostas aqui que já deram dor de cabeça para a OAB, como, por exemplo, a eleição direta para a OAB e o fim da carência, para que os jovens advogados sejam votados. Foi aprovado aqui e foi para Senado, houve uma modificação, volta para cá também. Eu acho um disparate o aluno passar na primeira etapa e depois ter que repetir essa primeira etapa. Então, seria bom que a OAB também pudesse rever isso. Alguém me disse, não em caráter oficial, que a OAB teria simpatia por um projeto nesse nível, também não sei. 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Deputado, eu concordo com V.Exa. Eu até conversei com o pessoal do Conselho Federal e eles me sinalizaram exatamente nesse sentido. De toda forma eu apoio esse projeto de V.Exa. Eu acho que é uma questão exatamente de justiça, porque se a pessoa já foi avaliada uma vez, já foi visto que naquela parte geral ela tem qualificação, para que ela vai repetir mais 2, 3, 4 vezes? O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Pelo que eu estou vendo aqui, há confirmação. Parece que a OAB tem simpatia por isso. Seria bom que conversasse nesse nível e no outro também, vamos evoluir a discussão. (Não identificado) - V.Exa. me daria um aparte? O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - A OAB sempre fez um excelente trabalho no Brasil.. Nós somos gratos por esse trabalho, mas o mundo passa, o mundo evolui, as coisas mudam, e nós precisamos acompanhar a evolução das coisas. Eu tenho dito que, às vezes, muitas pessoas têm problema com a neofobia. Isso é um pouco complicado. Mas estou aqui à disposição, sempre junto, sempre pronto para trabalhar com vocês. Eu não posso conceder aparte, porque é uma fala de Liderança, mas caso o Presidente queira fazê-lo, tem liberdade. Eu encerro aqui. Obrigado pela participação que me foi dada. Obrigado a todos vocês que estão aqui. Parabéns, porque vocês estão trabalhando pela causa de vocês, e eu acho muito importante. Vamos para frente!. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Nós é que agradecemos a presença do Líder do PR na Comissão de Legislação Participativa. (Palmas.) Com certeza, uma importante participação. Mais uma vez, quero deixar claro que nós apoiamos esse projeto. O projeto de sua autoria vai fazer, cada vez mais, justiça aos bacharéis em Direito. O próprio Conselho Federal da OAB já está apontando no sentido de também apoiar essa alteração, que vai ser benéfica a todos os bacharéis. O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - E ainda, só para complementar, há o Projeto 4.651, de 2012, do Deputado Jerônimo, que também fala a mesma coisa, só que dá 1 ano de carência apenas, se eu não me engano. Mas também, da 20 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 mesma forma, no sentido de aprovado na primeira etapa, não precisar de fazer mais. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Neste momento, passo a palavra ao Dr. Oswaldo Pinheiro Ribeiro Júnior, Assessor Jurídico do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. O SR. OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR - Boa tarde a todos. Eu tomo a liberdade, na presença do eminente Deputado Dr. Grilo, de cumprimentar todos os Parlamentares aqui presentes e de enaltecer, mais uma vez, este debate na Casa do Povo, no sentido de que a Ordem dos Advogados sempre esteve aberta à discussão por entender, naturalmente, que o Exame está em constante processo de aprimoramento e que todas as críticas, todas as colocações, todas as situações que ensejam o aperfeiçoamento desse modelo são importantes. A Ordem vai sempre estar receptiva a essas colocações. Também peço as desculpas do Presidente Ophir Cavalcante que, em decorrência de agenda anteriormente marcada, não pôde estar presente aqui. A intenção da Ordem dos Advogados é sempre esclarecer e trazer o maior número de informações possíveis para o conhecimento dos Srs. Parlamentares e para o público em geral. E, com base nessas situações, eu vou destacar duas premissas iniciais que, para a Ordem dos Advogados, são cláusulas pétreas, vamos dizer assim, neste debate. A primeira dela é o conceito, de certo modo equivocado, que existe em certos segmentos de que a faculdade de Direito forma advogado. A faculdade de Direito, desde a constituição dos cursos jurídicos no País, forma bacharéis em Direito. A função do advogado na tríade processual e no assessoramento técnico-jurídico ao cidadão, seja ele carente, seja ele abastado, se dá com base em premissas técnicas. O advogado postula em juízo, e, de um lado, há o magistrado, qualificado pelo concurso público. Muitas das vezes, na área penal, temos o promotor de justiça, um membro do Ministério Público, também qualificado pelo concurso público, principalmente na área penal, onde há todo um processo anterior relacionado ao inquérito policial, em que também o delegado titular é qualificado pelo concurso público, e, naturalmente, o cidadão, seja na esfera cível, seja na esfera criminal, não poderia ficar desassistido de um profissional que reúna minimamente a capacidade 21 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 e a aptidão técnica de saber o que pedir ao Judiciário, de saber defender os interesses do seu constituinte. Então, repisando esta questão: bacharel em Direito não é advogado. Esse é o primeiro ponto. Quem afere a aptidão técnica para o exercício da advocacia é a Ordem dos Advogados do Brasil. E a Ordem dos Advogados do Brasil nunca pretendeu tomar o lugar do MEC no que diz respeito à fiscalização dos cursos jurídicos neste País. O MEC tem a sua função, e a OAB nunca se intitulou controle externo do Ministério de Educação. O Exame de Ordem afere apenas a aptidão técnicas dos bacharéis em Direito para o exercício da advocacia. E a prova do Exame de Ordem, para também tentar desmistificar algumas questões relacionadas a ela, vem, de muito tempo para cá, desde 1994, quando o Exame se tornou obrigatório, até desde o estatuto anterior, de 1963, em um processo constante de aperfeiçoamento. A diferença é que, quando o primeiro estatuto da Ordem dos Advogados foi aprovado pela Lei nº 4.215, de 1963, o Exame era facultativo, e facultativo aos bacharéis que não tivessem êxito no estágio de prática forense. Naquele tempo, o estágio de prática forense era um estágio supervisionado pela Ordem dos Advogados do Brasil. Então, o bacharel, na faculdade de Direito, aprendia a peticionar, aprendia a se portar em audiência, aprendia a requerer e a defender o interesse de seu constituinte. Mas esse era um estágio que, como eu disse, era supervisionado pela Ordem dos Advogados. Então, o bacharel que lograva êxito em ser aprovado naquele estágio não tinha que se submeter ao Exame de Ordem. No entanto, o bacharel reprovado nessa disciplina, que era uma disciplina obrigatória do curso de Direito, esse, sim, tinha que se submeter ao Exame de Ordem. Em 1994, com a Lei nº 8.906, o Exame se tornou obrigatório para todos. Tem lá o período de carência estabelecido, salvo engano, no art. 80 ou no art. 89, no prazo de 2 anos, até 1996. Havia uma resolução do Conselho Federal da Ordem dos Advogados que ainda admitia a inscrição dos advogados nesse período de transição. A prova do Exame de Ordem, de lá para cá, tem passado por um constante processo de aperfeiçoamento. Eram cem questões, quando eu fiz o Exame. Hoje são 80 questões, com um mínimo de acerto de 40 questões para a aprovação. Na 22 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 primeira fase, é uma prova objetiva com respostas autoexcludentes, e o candidato escolhe a alternativa. A partir daí, com 50% de acertos, quer dizer, 40 questões, ele vai à segunda fase. A segunda fase, com todo respeito à posição dos eminentes colegas de bancada, não é composta de cinco peças. Ela é composta de uma peça práticoprofissional e quatro questões subjetivas. Nas quatro questões subjetivas, o candidato tem que demonstrar raciocínio jurídico, tem que entender o problema e apresentar a solução. Da mesma forma, a peça prático-profissional. Quando o casoproblema é colocado, o candidato tem que saber do que se trata e, a partir daí, elaborar a peça técnica adequada, porque quem vai ler essa peça não é o outro colega advogado, é o juiz, que é quem eventualmente vai inviabilizar, quem vai mandar emendar a inicial, que vai indeferir a inicial quando não houver uma conexão, uma concatenação de ideias. E o juiz é qualificado pelo concurso público, como eu falei. No concurso público, exigem-se os melhores, os mais bem preparados, há limite de vagas. No Exame de Ordem, não há limite de vagas: o candidato concorre com ele mesmo, e o resultado será fruto da dedicação, do empenho que ele próprio teve durante a faculdade. Nós sabemos que o ensino jurídico no País apresentou, de muito tempo para cá, um certo decréscimo em matéria de qualidade, mas a Ordem dos Advogados nunca se propôs a substituir o papel do Ministério da Educação. O Exame de Ordem é apenas um indicador. O MEC tem “n” números, “n” indicadores para aferir a qualidade do ensino jurídico neste País. A aprovação no Exame de Ordem é apenas um indicador. O Exame de Ordem não controla diretamente o mercado. Não há reserva de mercado. Como eu disse, o candidato concorre com ele mesmo. E, aí, um exemplo claro de que o bacharel em Direito não é advogado: as carreiras jurídicas são diversas. Uma vez bacharel em Direito, ele pode prestar concurso para a magistratura, para o Ministério Público, para o Poder Executivo, para algumas carreiras que têm como pré-requisito ser bacharel em direito, para o Poder Legislativo e para o próprio Poder Judiciário — há a hipótese dos analistas que prestam assessoria aos ministros, aos desembargadores, aos juízes. É preciso apenas uma situação: com a qualificação que se exige no concurso público, o 23 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 candidato que não acertar 75%, 85% da prova não é selecionado. No Exame de Ordem, só se exigem 50% na primeira fase, e seis pontos de dez na segunda fase. Àquilo a que a Ordem sempre se propôs é aferir a aptidão técnica dos minimamente capazes para defender o cidadão. E em aptidão técnica, senhores, cada um tem a sua desenvoltura. Há pessoas que são excelentes professores, mas que, quando vão fazer uma audiência, se estão num caso complexo que envolve uma série de situações, não sabem se portar, não sabem como defender o interesse do seu constituinte. São vários os casos nas relações de consumo, nas relações trabalhistas — o Deputado Grilo sabe exatamente do que estou falando —, em que o advogado tem que ter a exata noção do que pedir e de qual é a prova que ele deve produzir naquele caso concreto. O advogado, todos sabemos, lida com bens jurídicos valiosos: a vida, a liberdade e o patrimônio das pessoas. Naturalmente, ele deve ter aptidão técnica, deve ter a mínima capacidade de desenvolver e defender o interesse do seu constituinte. Apenas um parêntese com relação à matéria colocada pelo eminente colega e publicada no site Conjur. Eu li a matéria e, ao contrário da leitura do colega, com todo respeito, não vejo lá meros erros de grafia, meros erros de português. Em um dos casos citados, o advogado do réu pede a condenação do réu. Esse réu é declarado indefeso nessa situação, senhores. O advogado não sabe que, naquele caso concreto, o candidato, em vez de defender a improcedência do pedido, defendeu a procedência, defendeu a condenação do seu próprio cliente. Então, com todo o respeito, não se trata só de erros de grafia. Todos nós aqui temos nossos problemas com o português. Eu mesmo já estive em situações em que li o texto e percebi: “Opa! Esta palavra não está correta”. Refiz o texto. Agora, saber o que pedir, saber o que defender é crucial para o exercício da advocacia. Com relação ao que foi colocado naquele artigo, não tenho procuração para defender o jornalista, não estou defendendo o proprietário da revista Consultor Jurídico, estou apenas colocando que, em um dos casos, eu li o artigo, e está lá colocado: “O advogado do réu pediu a condenação do seu cliente”. O que o Exame quer saber é exatamente até que ponto esse candidato reúne aptidão técnica necessária para defender o interesse do seu constituinte. A OAB não 24 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 quer desqualificar a advocacia e tampouco deixar que o mercado de trabalho faça esse ou aquele crivo, esse ou aquele filtro. O que a OAB quer é que o cidadão tenha a mínima capacidade de ser bem defendido. Quando o advogado eventualmente mal preparado, sem aptidão técnica, perde um prazo, ele perde o prazo de seu constituinte, não dele. E, aí, o que vai ser feito? Esse cidadão vai procurar outro advogado, e o advogado vai tentar salvar a causa. Só que, em alguns casos, isso vai ser impossível, pois passou o prazo, acabou, não há mais o que fazer. Foi o direito do constituinte que se esvaiu, que foi embora ralo abaixo, porque o profissional não soube fazer uma defesa técnica capacitada. Finalizo, deixando para a eminente representante da FGV os aspectos mais operacionais com relação ao Exame, dizendo que o valor da arrecadação não se mostra desarrazoado. A taxa de inscrição do concurso da AGU, no ano passado, foi de 135 reais; a do concurso para auditor federal de controle externo do Tribunal de Contas, 120 reais; para juiz do TRF da 1ª Região, 150 reais; para defensor público da União, 120 reais; para o Tribunal Regional Federal, 160 reais. Para o Exame de Ordem, são cobrados 200 reais. Em todos os concursos públicos, a prova só é realizada nas Capitais. O Exame de Ordem é realizado em 169 polos de aplicação entre Capital e interior. Só o ENEM tem uma capilaridade parecida com o Exame de Ordem. Com todo o respeito, nós executamos a prova em 169 polos e sabemos como fazê-la. São, repito, 169 polos de aplicação. Para a execução desse Exame, em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas, temos uma logística de mais de 15 mil pessoas trabalhando na primeira e na segunda fase. São fiscais de prova, coordenadores de polos de aplicação. Há uma logística de impressão, uma logística de transporte e toda uma logística de segurança. O Exame 2009.3 sofreu um processo de vazamento de prova. O Exame todo foi anulado, e a prova foi reaplicada no País inteiro. Então, a segurança tem que ser máxima, não pode haver vazamento, não pode haver absolutamente nada. 25 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Então, eminente Deputado, com essas considerações, e deixando para a eminente representante da FGV acrescentar outras com relação ao operacional do Exame, a Ordem dos Advogados vem enaltecer o debate. Ao contrário do que foi colocado, ela sempre está de portas abertas para discutir, porque entende que o processo democrático tem que passar pelo processo crítico. A evolução do processo democrático passa pela autocrítica do exame. Em todas as reclamações que fazem os alunos sobre o Exame e em todas as ações judiciais de que cuido no Conselho Federal da Ordem dos Advogados contra o Exame, nós conseguimos mapear os problemas. E esse mapeamento é repassado à Fundação Getúlio Vargas para que a cada dia a prova se torne mais segura, para que não tenha pegadinhas, para que não leve o candidato à confusão mental, para que não induza a erro. Com todo o respeito, os canais estão colocados. A interlocução da Ordem dos Advogados sempre está aberta. São essas as considerações. Eu me coloco à disposição para maiores esclarecimentos. Muito obrigado pela atenção. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradeço ao Dr. Oswaldo Pinheiro Ribeiro Júnior pela sua exposição e peço a compreensão de todos os integrantes da Mesa, aos quais nós vamos devolver a palavra posteriormente. Agradeço mais uma vez a participação do Deputado Lincoln Portela. O Deputado ficou surpreso com o valor do exame, não é Deputado? Eu também achei bastante puxado. Nós não podemos esquecer — falo aqui como advogado, então estou bem à vontade para dizer isto — que, no caso do concurso da AGU ou do Tribunal de Contas, posteriormente há um salário, mas, no caso do advogado, não há nenhuma garantia de ele vir a receber algum valor posterior. E acontece até uma coisa muito triste no nosso Estado de Minas Gerais, onde alguns advogados, Deputado, estão recebendo cesta básica. Quer dizer, eles estão sendo obrigados a fazer o Exame, a pagar 200 reais, e depois não têm garantia nenhuma de receber nenhum valor. Pelo contrário, vão receber 200 reais de cesta básica. Passo a palavra ao Deputado Lincoln Portela, citado por mim. 26 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Já que eu fui citado... Por falar em pegadinha, uma vez o Garotinho fez uma pegadinha com o Lula na questão da CIDE. Então, de vez em quando há pegadinha. (Risos.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Passo a palavra à Dra. Vivian Távora, representante da Fundação Getúlio Vargas. A SRA. VIVIAN TÀVORA RAUNHEITTI - Boa tarde a todos. Meus cumprimentos a todos os presentes aqui. Eu venho, em parceria com a OAB — a FGV executa o exame —, esclarecer toda a parte de logística, aplicação e correção do exame, para que não permaneçam dúvidas quanto à questão de fraude ou de correção malfeita que não avalie a prova de maneira correta. Primeiro, o exame, até ser elaborado, passa por várias instâncias. Nós temos uma banca composta por magistrados, por membros da Defensoria, por advogados em exercício que elaboram todas as nossas questões. Nós temos um banco de questões, e essa diversidade da nossa banca faz com que nossas questões sejam cada vez mais atuais e as mais próximas possíveis da realidade do bacharel que está saindo da faculdade. Todo esse banco de questões tem um custo elevado para o Exame. Além disso, depois de elaborada, a questão passa pela seleção de um coordenador jurídico que é um desembargador e também um professor em atividade em universidade, e depois ela passa por um coordenador acadêmico, que faz toda a leitura lógica do exame, para realmente tirar todas as questões dúbias, questões que possam gerar dúvidas ao candidato, e deixar a prova cada vez mais democrática. Depois que a primeira fase da prova é aplicada, o candidato aprovado se submete à prova discursiva, em que ele mesmo faz a escolha da sua especialidade. Vale ressaltar que a maioria dos candidatos que fazem escolha por especialidade na área civil não obtêm, na primeira fase, o número de pontos necessários para demonstrar que eles têm a possibilidade de fazer a especialidade que escolheram. Por exemplo, se temos seis questões na prova objetiva, eles acertam em geral duas questões — e da especialidade que escolheram para a segunda fase. Isso demonstra que o candidato realmente não está preparado para a especialidade que ele escolheu. Nós temos, na primeira e na segunda fase, a presença da OAB para avaliar as questões que nós mesmos, a banca da FGV, elaboramos. A OAB seleciona as 27 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 questões, faz uma avaliação dizendo se as questões são aptas ou não para ingressarem no Exame. Na segunda fase, a prova também é escolhida e passa pelo crivo do coordenador jurídico. Depois ainda passa por uma última instância: um ministro analisa todo o Exame. E ele critica mesmo, diz se que a prova não está democrática, se deve ser um pouco mais fácil porque o bacharel não tem condições de responder de forma certa às perguntas. E nós fazemos as modificações necessárias para que a prova chegue de maneira totalmente democrática ao candidato. Com relação à correção, ela é feita de maneira totalmente eletrônica. E um só avaliador não corrige a prova inteira: ele corrige a Questão 1, outro avaliador corrige a Questão 2. Ninguém vê a prova inteira e muito menos sabe de quem é a prova que está corrigindo: a prova tem apenas um código. Depois, nós temos os coordenadores de banca, que fazem toda a supervisão do exame ao longo da correção. Então, para prevenir possíveis erros na correção, nós estendemos os prazos de correção. Nós fizemos uma mudança no nosso apertado calendário do Exame para esticar um pouco o prazo de correção, que era justamente o ponto crítico do Exame e por onde poderiam acontecer os erros muitas vezes levantados. Nós também aumentamos o número de avaliadores para evitar sobrecarga para cada corretor, o que facilitou. Os recursos também são uma fase para sanar eventuais erros. A OAB, de forma a evitar qualquer erro além do recurso, criou a Ouvidoria. A Ouvidoria é o último degrau que o bacharel tem para recorrer de um possível erro. Em termos de dados, cada Exame tem, mais ou menos, entre 100 mil e 120 mil inscritos. Desses cerca de 100 mil inscritos para a primeira fase, vamos dizer que passem, em média, 50 mil e que, após a segunda fase, reste um total de 18 mil aprovados. Desses 18 mil aprovados, em média 7 mil entram com recurso na fase recursal. Desses 7 mil, apenas 10% recorrem à Ouvidoria e, desses 10%, apenas 5% têm razão no que estão falando. Então, nós estamos reduzindo muito os erros na correção. A OAB está fazendo ações preventivas para que realmente o Exame seja feito de maneira correta e transparente. Em relação ao que nós expusemos no jornal sobre as pérolas encontradas do Exame de Ordem, os nossos corretores falam que são muito flexíveis na correção e 28 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 que, na verdade, existem respostas realmente absurdas. Existem perguntas que pedem para o candidato citar um artigo e argumentar, por exemplo, o art. 5º. Ele cita do art. 1º ao art. 50, e você tem que catar o art. 5º ali no meio. Isso demonstra realmente que o candidato não tem conhecimento. Nós também geramos dados em relação às faculdades e vemos que a maioria das faculdades privadas fica abaixo da média nacional, da média esperada do Exame nacional, o que demonstra também que o ensino está muito fraco em relação à avaliação mínima a que o bacharel deve se submeter. Bem, essas são as minhas avaliações em relação à logística e à aplicação do exame. Obrigada a todos. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradeço à Dra. Vivian Távora por sua exposição. Agradeço novamente as excelentes contribuições de todos desta Mesa. Passo a palavra, inicialmente, ao Deputado Costa Ferreira e, posteriormente, aos demais inscritos, para que formulem seus questionamentos. Depois vamos devolver a palavra à Mesa para as respostas e considerações finais. O Deputado Costa Ferreira tem a palavra. O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA - Sr. Presidente, senhoras e senhores expositores, representantes de entidades aqui presentes, nós achamos que este assunto, apesar de estar na ordem do dia, precisa de uma reflexão muito profunda. Nós verificamos — eu sou advogado também — que tem que haver um órgão que supervisione, que avalie a competência do advogado. Quem estudou com muita dificuldade sabe que existem muitos bacharéis em Direito que às vezes... Enquanto alguns frequentaram de 80% a 90% das matérias ministradas, outros foram verdadeiros turistas porque, devido à sua condição de vida, não precisavam ser bons advogados: já tinham padrinhos em escritórios de advocacia, ou até alguém que fizesse a prova por eles. Por causa dessas situações, verificamos que é necessário que haja um órgão supervisor, inclusive para fazer correções. Eu me lembro de que, quando acadêmico, no último ano, houve concurso para auditor fiscal do Trabalho. Nós tínhamos professores famosos e também alunos 29 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 famosos, assim como outros relapsos. Muitos dos nossos professores fizeram o concurso conosco e foram eliminados. Boa parte dos acadêmicos passou e esperou se formar para assumir. O que se deduz de tudo isso? Que, apesar de tudo, é necessário que haja o Exame da OAB. Não sabemos qual seria a metodologia usada para aferir o conhecimento jurídico que o aluno aprendeu na faculdade, talvez sem grandes rigores. Mas verificamos que um acadêmico pode exercer qualquer cargo de importância neste País, pois não se exige prática forense, não se exige tempo de atividade advocatícia. Ele pode se tornar um expoente dos conhecimentos jurídicos brasileiros. Agora, é preciso que haja realmente a preocupação de não colocarmos no mercado... Já pensaram um advogado fazendo uma petição inicial e ela sendo indeferida não por conhecimento jurídico, mas em função de o juiz não saber lê-la, porque as palavras estão todas contraditórias e não expressam o pensamento do advogado? Ontem, pediram urgência no plenário da Câmara para que se aprovasse a eliminação do Exame da OAB para os bacharéis de Direito. Eu votei a favor, a fim de que se discuta logo o assunto, mas não passou. Isso quer dizer que ele ainda vai ficar muito tempo aqui. Essas coisas têm que vir à tona, têm que ser debatidas. E esta Comissão de Legislação Participativa é a porta do Poder Legislativo para todos os segmentos da sociedade brasileira. É por aqui que se começa, aqui é o portal por onde vêm todas as aspirações populares, que aqui começamos a estudar, a debater e a transformar em lei, e cada uma é remetida para sua comissão de mérito, para, assim, serem aprovados todos os assuntos à luz dos debates, das opiniões, que aqui são bastante divergentes, assim como no plenário, onde alguns segmentos aprovam e outros divergem. Eu acho que, na democracia, faz parte do jogo democrático discutir o de que se gosta e o de que não se gosta e saber respeitar quem gosta e quem não gosta de uma coisa. Eu sou a favor do exame da OAB porque acho que é interessante. Agora, nós também não vamos dizer que muita gente não passou por incompetência. É preciso que haja um critério, que se elabore um critério, que se 30 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 exija do aluno, para passar, realmente as matérias que ele estudou. Eu me lembro de que o aluno nem sempre... Eu estudo Direito Penal, aí cai uma matéria do Direito Penal que é pouco usada — não se usa muito aquela matéria —, mas é justamente essa que cai. Como disse ali o nosso Lincoln Portela: “O Garotinho colocando o Lula em apuros”. Então, acontecem essas coisas. Eu acho que a banca examinadora poderia elaborar um exame que realmente representasse aquilo que se pode exigir do aluno a fim de que ele possa ter um ingresso triunfal na OAB, para que possa trabalhar cada vez mais aprimorando os conhecimentos jurídicos, porque o Direito, depois que você mergulha nele, não é fácil. Se você estudar filosofia jurídica, você vai ficar quase doido. Dentro de uma lógica, de uma premissa, enfim, você tem que ter as suas diferenças para poder chegar a uma conclusão muito importante sobre o que você sabe e sobre a sua competência. Portanto, eu acho que o debate é bom. Ele está começando, e temos que respeitar as partes. Não sou favorável a que se coloque no mercado apenas o acadêmico de Direito, mas, é claro, também o acadêmico de Direito, que tem muitas oportunidades. Muitos concursos exigem o terceiro grau de um bacharel em Direito. Enfim, qualquer dos ensinos de terceiro grau. Então, quero parabenizar os preletores, que foram brilhantes, mas quero dizer que realmente este é um assunto importante. O assunto jurídico de uma nação repercute muito no respaldo democrático. Se não houver uma consciência jurídica à altura, você poderá fazer com que a nossa Nação, num seminário internacional de Direito, seja desclassificada, assim como a nossa educação já o está sendo, ao ocupar quase o último lugar. Portanto, é preciso que a gente crie juízo e coloque os pingos nos “is”. Obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Somos nós que agradecemos a participação ao Deputado Costa Ferreira. Eu acho que é muito importante exatamente observar o que foi dito pelo Deputado: respeitar as posições divergentes e aprofundar no debate, porque aí nós vamos evoluir na discussão desta matéria. Neste momento passo a palavra à Deputada Professora Dorinha Seabra Rezende para suas considerações. 31 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 A SRA. DEPUTADA PROFESSORA DORINHA SEABRA REZENDE - Boa tarde a todos. Eu queria, inicialmente, parabenizar o Deputado Grilo pela iniciativa do debate. Eu já tive oportunidade de participar de outras audiências públicas na Comissão de Educação, em comissão específica. Acho que o tema é importante principalmente porque, na verdade, o debate que se instala em relação à questão do Exame de Ordem da OAB nada mais é do que um reflexo do problema que nós temos na educação como um todo em nosso País. Quando a gente trata nesta Casa — e sempre votei a favor dela — da política de cotas, na verdade a gente está reafirmando a nossa incompetência em oferecer educação pública de qualidade para todos. Acho que não há como separar a discussão do Exame de Ordem da questão educacional. Nós temos problemas graves na educação básica. O Deputado Costa Ferreira é meu colega na Comissão de Educação. Nós temos problemas graves, sim. Temos problemas graves na formação dos nossos professores também na educação básica. Acho que, agora na discussão do Plano Nacional, é preciso um esforço, como mencionado, se não me engano, pelo Dr. André, em relação à qualidade da educação. Existe uma preocupação nesse sentido, mas há um longo caminho pela frente. Nós acabamos de lançar um programa — a Presidente lançou — de alfabetização na idade certa: com 8 anos de idade. A minha filha, que hoje faz Direito, com 5 anos já lia. A maioria dos nossos filhos, com 6 anos, 7 anos, estão alfabetizados. Por que um aluno que está na escola pública, filho de uma pessoa mais carente, tem que se alfabetizar aos 8 anos de idade? Nós temos que lutar para que os direitos sejam iguais desde a base, para que a escola pública cumpra a sua tarefa. Falo sobre a questão da qualidade dos cursos superiores. Fui Conselheira e Presidente do Conselho Estadual de Educação, acompanhei por muito tempo a questão dos cursos superiores. Não é uma situação só dos cursos jurídicos. Nós temos um problema grave de critério de acompanhamento, de monitoramento em relação aos cursos de graduação. Isso é muito grave no que se refere à formação de professores. Estamos inclusive discutindo com o Conselho Nacional de Secretários a instituição de um exame semelhante ao Exame de Ordem da OAB a ser realizado 32 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 para os professores. Logicamente, essa nossa discussão é feita com o Ministério da Educação — com o INEP — com o CONSED e com a UNDIME. E vários países fazem isso. O professor termina a sua licenciatura, mas, para o exercício da sua profissão, faz um credenciamento, sim, para verificar se ele sabe. Hoje, o que nós temos na nossa escola básica é que o professor termina sua graduação e não sabe o que ensinar. Ele terminou de fazer um curso na área de língua portuguesa e não sabe os conteúdos que vai ter que ensinar para os alunos. Depois a gente diz que os alunos não sabem nada, que saíram mal na Prova Brasil. Só se a merenda lhes ensinasse, com comprimido, o que deveriam ter aprendido. A gente tem um problema grave em relação à formação dos nossos professores em todas as áreas. Estou dizendo isso por quê? Acho que precisa ser enfrentada, sim, a questão da qualidade dos cursos, a questão cartorial da aprovação e da criação dos cursos. Tramita nesta Casa a criação do ISAES, um instituto que vai lidar com a avaliação dos cursos. Teremos uma audiência pública na próxima semana sobre o assunto. Hoje, em média, há 17 mil cursos para serem autorizados no Brasil. Tivemos recentemente, na Operação Porto Seguro, denúncias sérias em relação à obtenção de pareceres. A questão da qualidade dos cursos de ensino superior precisa ser enxergada. Nós precisamos olhar a questão da autorização. Vou agora diretamente para algumas perguntas. Não vou direcioná-las a ninguém, mas fazer algumas provocações. Sobre a questão da qualidade, entendo que é consenso que a gente precisa trabalhar por ela. Não concordo com a ideia de que só o mercado seleciona. Infelizmente, até o mercado selecionar, muita gente já foi vitimada em todas as áreas, não só na área do Direito. Foi dito por algumas pessoas que a reprovação, no caso do Exame, não é o problema; então qual seria o problema em relação à questão dos exames em si? Concordo plenamente — acho que ficaria a sugestão para a OAB — em que, se há consenso, é preciso aprovar a lei. A OAB pode fazer uma adequação para que quem passou na primeira fase do Exame não precise repeti-la e pague de maneira 33 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 diferente. A gente tem isso na Educação de Jovens e Adultos, tem hoje no ENEM. Se você eliminou uma matéria, eliminou uma determinada fase, não precisaria fazêla novamente. Que isso fosse pensado. Em relação também à primeira fase, lembro que, em uma das audiências, se não me engano o próprio Deputado Fabinho, Fabio Trad, que foi Presidente da OAB por muito tempo, fez algumas considerações em relação ao desenho do Exame, que às vezes cobre um leque tão grande de conteúdos que a pessoa tem que se preparar mais do que ela se preparou na graduação. Que fosse pensado — não sei se isso é possível, Dr. Oswaldo — que a primeira fase tivesse um desenho em que o candidato precisasse, é lógico, ter os conhecimentos básicos, mas até que ponto realmente não estamos cobrando um leque muito grande de conhecimentos? Seria possível pensar no caso de uma qualificação que pudesse ser temporária? Determinado aluno quer se especializar na área penal, então a exigência tem que ser maior naquela área. É uma provocação, assim como a gente tem na área médica e em outras áreas. Seria possível tentar direcioná-lo na medida em que esse exame estivesse disponível? Hoje estou atuando na área penal, qualifiquei-me, passei pelo exame; amanhã quero me dedicar à área tributária; eu poderia me inscrever novamente e ser avaliado. Até porque, se a ideia é qualificação permanente, a gente tem que guardar a provocação da avaliação constante. Não sei se isso poderia ser pensado como uma alternativa. Também em relação à questão do Exame de Ordem, como disse, a gente está lutando por isso, inclusive na educação, mas não com o objetivo de cercear o aluno. A nossa ideia é, juntamente com o Conselho Nacional de Educação, ajudar na formação dos professores para que os currículos preparem o professor. A gente acaba sendo perverso, porque cobra do professor um desempenho para o qual ele não foi preparado. Ele tem que ensinar conteúdos para os quais não foi orientado, e a gente avalia o aluno dele para dizer o que não foi ensinado e deveria ter sido ensinado e dizer se o aluno é bom ou ruim. Aí as manchetes dos jornais são: “A escola pública está cada vez pior”, como se naturalmente o público fosse ruim. E a gente sabe que, na verdade, é um erro do ponto de vista da estrutura e da organização. 34 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Gostaria de dizer que nós temos o problema do salário do professor na educação básica, mas não é diferente no ensino superior. Vou colocar o exemplo do da Universidade Federal do Tocantins, o meu Estado. O meu filho fez vestibular para o curso de Direito numa instituição privada e na federal. Começou, por teimosia, fazendo os dois. Ele desistiu da federal, porque os professores tinham conhecimento, sim, mas a grande maioria dos professores... Havia alguns temporários, e o salário era péssimo. Eu era Secretária de Educação do Estado; as merendeiras das escolas estaduais — sem nenhum tipo de depreciação — ganhavam melhor do que os professores substitutos das universidades federais. A vinda dos profissionais do Direito, desembargadores e juízes, que têm muito a ensinar, quase sempre como um exercício de currículo, porque é interessante continuar atualizando-se... Mas não é atrativo para a carreira dos bons advogados, pessoas que têm boa prática, permanecer. Então, essa é uma provocação que eu faço inclusive ao Ministério da Educação. O mesmo desafio que a gente tem em relação à qualidade da educação, a gente tem também nessa questão. Os professores têm salários ruins e normalmente fazem bico na universidade, a grande maioria. Vou na mesma linha do Deputado Costa Ferreira: eu não sou contra o Exame de Ordem. Eu acho que ele precisa ser aprimorado, ser redesenhado. Que seja construído um pacto que envolva o Ministério da Educação — em outra oportunidade eu vi: acho que é possível o INEP trabalhar como parceiro —, mas acho que é preciso entender que é necessário estar sempre se atualizando e redesenhando. Eu, particularmente, também acho que o valor do Exame, 200 reais, não exclui pessoas, no sentido de como aquele aluno carente, que vem de programas de bolsa, tem acesso à realização, talvez com constância. Não é incomum que as pessoas terminem a graduação e tenham que se matricular num curso para rever o conteúdo — e não é só no caso da OAB — a fim de passar num concurso público ou em outras áreas. Por que os cursinhos são cada vez mais necessários? Se alguém quer ter chance de passar num dos concursos, tem que fazer cursinho. Existem profissionais de concurso hoje. São pessoas que estão há 5 anos, 6 anos estudando 35 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 em várias áreas, não só na área do Direito. Aí fica uma pergunta: há algum atendimento para esse caso do aluno que prove uma necessidade ou uma carência? Coloco-me à disposição. Não sei se é possível. Eu acho que apesar da queda de braço que eu percebo há muito tempo entre os bacharéis, as organizações, a própria OAB, eu acho que a gente pode tentar construir uma alternativa. Existe um problema que é grave, a questão da qualidade da educação no Brasil. E a qualidade desemboca na questão do exercício profissional em diferentes categorias. A área médica e a área jurídica nos provocam mais porque seu efeito é imediato e palpável, mas, em outras áreas, acabamos matando aos poucos os nossos alunos que estão na escola e não se alfabetizam. Chegam à oitava série e ao ensino médio e não foram alfabetizados. Nós temos um problema crônico. O caso do curso de Direito não é único, mas nós temos uma situação consolidada nos cursos de Direito. Acho que é importante que esta Comissão, que tem o caráter de ligação com as demandas sociais, ouça as partes e aprimore os debates. Muito obrigado O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Somos nós que agradecemos a participação à Deputada Professora Dorinha, com sua brilhante intervenção e seus questionamentos. Gostaria de solicitar aos integrantes da Mesa que vão anotando as perguntas, porque há outros inscritos. Depois lhes passaremos a palavra para que respondam e façam as suas considerações. Neste momento gostaria de passar a palavra ao Deputado Costa Ferreira. O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA - É apenas para reforçar o que a Deputada Dorinha disse. Nós, Srs. Representantes da OAB, precisamos fazer um estudo reflexivo sobre o conteúdo do Exame de Ordem da OAB. Que não fosse tão exigente como se fosse uma prova para juiz de direito. Por exemplo, o juiz de direito tem que ter conhecimento de quase todos os ramos do Direito; até se especializar, ele vai resolver tudo. Já o bacharel em Direito sabe que, quando sai da faculdade e começa a advogar, é um verdadeiro pandemônio, exceto para quem tem pais já na área. Para 36 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 quem vem lutando de baixo para cima é uma luta terrível, por saber que estuda uma coisa e vai aplicar outra. Eu acho que o que a professora disse é importante e também que é preciso minimizar o valor, porque realmente há muita gente que quer fazer o exame, mas às vezes não pode, porque não tem condição financeira. Eu acho que este debate está começando a direcionar algumas sugestões muito bem-vindas, que poderão ser muito benéficas para todos aqueles que estão nesse mister. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradecemos a participação ao Deputado Costa Ferreira. Passamos, neste momento, a palavra ao Deputado Vicentinho, do PT de São Paulo. O SR. DEPUTADO VICENTINHO - Boa tarde, nobre colega Dr. Grilo. Parabéns pela audiência, pela iniciativa. Boa tarde, Dr. André Souza, Dr. Oswaldo Pinheiro, Dr. Reynaldo Arantes, Dr. Willyan Johnes e Dra. Vivian Távora Raunheitti. Eu quero parabenizar esta Mesa por mais este debate da Comissão Participativa, de que não sou membro. Sou da Comissão de Trabalho e venho com a visão do mundo do trabalho. Quero saudar aqui os nobres Deputados, os nobres colegas. Pessoal, eu vou ter que repetir algumas coisas que eu disse na audiência da semana passada. Primeiro, esclareço que esta luta não é contra a OAB, que é uma instituição que nós respeitamos. Não vou entrar aqui nos problemas de denúncia contra a OAB. Na condição de instituição nós a respeitamos. Inclusive eu sou ganhador do prêmio mais importante que a OAB concede a personalidades no Estado de São Paulo, o Prêmio Franz de Castro, prêmio de direitos humanos. Eu tenho uma relação de respeito nas lutas que nós tivemos aqui pela democracia, pela dignidade humana. Não se trata disso. Eu sou formado em Direito, sou bacharel. Não fiz o exame nenhuma vez ainda. Convivi durante 5 anos com muitos colegas operários, vizinhos meus, que tiveram uma dificuldade intensa para estudar porque não conseguiam pagar a 37 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 mensalidade. Muitos entraram no FIES, portanto, estão enrolados com dívidas. E ao terminarem o curso e fazerem o Exame, 90% deles voltaram para o pé da máquina tristes, frustrados, desanimados e com dívida. Alguma coisa está errada! Não é o Ministério da Educação que define, que orienta e que determina o que é válido e não é válido para a educação? Não é juntamente com a OAB que o Ministério da Educação decide — o Ministério ouve a OAB — se esta ou aquela escola deve ser criada ou não? Então, em relação a algumas coisas, é preciso olhar um pouquinho para trás para verificá-las. Eu sei que está ficando um caos essa história. Se ainda houvesse um médico que se tivesse formado e não tivesse sido aprovado por alguma razão, ou um engenheiro ou um arquiteto... Mas por que só no mundo do Direito? O que está acontecendo? Alguma coisa está acontecendo, senão não haveria tantos bacharéis e tanta gente que nem é bacharel ou advogado, não haveria juristas e Ministros se manifestando contra o Exame de Ordem como ele é hoje. (Palmas.) É preciso que a gente olhe direito, com todo o equilíbrio, para ver o que está acontecendo. Como aprendi com meu professor de Direito que estudante de Direito bom é aquele que cria teses as mais difíceis, eu quero parabenizar os bacharéis por defenderem essa tese, uma das mais difíceis. E nós vimos ontem a votação como foi. Temos uma chance ainda na CCJ e, se for aprovada lá, pode ser que vá para o plenário ou não. O importante é que nós queremos definições. O médico, meu colega, quando se forma, ele não faz o exame da ordem dos médicos, ele fica um período fazendo residência. Que tal se os nossos jovens juristas, ao se formarem, ficassem esse período prestando serviço à Justiça? (Palmas.) Porque, no lugar da castração do exame da Ordem, eles ficariam 1 ou 2 anos servindo à Nação, desafogando a quantidade de processos e aprendendo. Estariam se capacitando mais ainda para a vida, para atender ao nosso povo. Todas as profissões são importantes. O advogado é importante — tanto é que o meu sonho era ser formado em Direito —, o médico é importante, o delegado de polícia é importante. Agora, não vamos comparar o concurso da Ordem com aquele para delegado ou para juiz. (Palmas.) Porque esses são concursos para arranjar 38 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 emprego; este aqui é para ver se pode procurar emprego. Então, isso é uma coisa que nós precisamos refletir. Eu acho que a OAB deve estar com coração e mente muito abertos para ver como fazer. Não é concebível que milhares de alunos — 90% deles — estejam fora do mercado de trabalho. Alguma coisa está errada, porque eu não vejo esse percentual em nenhuma outra categoria. Nenhuma outra categoria no Brasil tem esse percentual! Até para os meus colegas que fazem curso técnico do SENAI é garantido emprego para quase 100%. Por isso é que a gente faz esse debate. Por isso é que nós somos contrários ao exame da Ordem como ele é colocado hoje, fora o calor do debate. Eu queria, Sr. Presidente, desculpe-me o atrevimento de estar aqui — vim passar muito rapidamente, tenho que voltar para o plenário porque estou inscrito para falar —, mas eu queria deixar declarada a minha opinião e propor à Comissão de Legislação Participativa que sugira ao Presidente da Câmara uma reunião no plenário, uma comissão geral. E vamos continuar fazendo debates, pois mesmo que esta Câmara não aprove — vejam só em que nós estamos vivendo —, mesmo que a Câmara, mesmo que o Senado, mesmo que tudo esteja rejeitando essa tese, o problema vai continuar. Não se resolveu o problema. Então, como é que nós vamos resolver esse problema? Como é que nós vamos discutir? Primeiro, eu quero agradecer à OAB, e vou dizer por quê. Andaram dizendo: ”Não, porque a OAB andou pressionando...” Eu nunca fui pressionado por ninguém para ter a minha opinião. Eu sou um homem livre e aprendi a ser livre durante a vida inteira. Nunca ninguém da OAB me procurou para dizer: “Vicentinho, você está errado”. Pode até dizer que eu aceito. Eu aceito a crítica, aceito o debate, mas eu acho que há coisas erradas e que nós precisamos corrigir. Por essa razão, para não ser tão repetitivo, eu queria propor à Comissão que fizesse, portanto, essa comissão geral, e que nós considerássemos a possibilidade inclusive de o MEC ser o grande definidor de quem é que deve trabalhar neste País depois de 3, 4, 5, 6 ou 8 anos na universidade. (Palmas.) Para que serve o MEC? Então, essa é a situação. Se a OAB quiser continuar, vai continuar, claro. Ela não depende só disso. Se alguém quiser entrar na OAB e tiver que fazer o concurso 39 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 pra ficar na OAB, dentro da OAB, dentro da corporação, que faça, mas que ela não impeça os outros de quererem trabalhar. (Palmas.) Nós estamos buscando caminhos. É verdade o que minha irmã falou, que não concorda muito com essa história de que o mercado deve definir, mas, quanto a todos os profissionais deste Brasil, é a sociedade que define quem é bom e quem não é. Quem não é bom paga (palmas), perde emprego, muda de profissão. E quem é bom vira um grande. Vou falar de um grande que não fez exame da Ordem: Dr. Ophir, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil não fez o exame e é um advogado altamente respeitado. Então, vejam que contradição nós estamos vivendo. Daí a nossa reflexão: será que Rui Barbosa, será que o Ministro Barbosa, será que o Presidente do Supremo Tribunal Federal tivesse que fazer o exame hoje passaria? Pode até ser que passasse, porque eu acho que se eu fizer eu passo também, porque eu sei o quanto eu sou inteligente, mas eu não vou entrar nessa. Não é porque eu vou passar... Não temos que pensar egoisticamente. Temos que pensar nesse monte de gente que pagou durante a vida inteira, que não faltou à sua sala de aula, que fez um curso autorizado pelo MEC e pela OAB, que estudou, que se dedicou, que fez empréstimo, e agora, como se diz na fábrica onde eu trabalho, está em papos de aranha, porque estudou, estudou, perdeu a vida inteira e agora vai pagar por algo em que ele não pode trabalhar para pagar. Olha que absurdo! Então, senhores, eu lamento... Ontem, eu votei “sim” pela urgência, votei com muito vigor, porque eu gostaria de contribuir com esse processo da melhor maneira possível. Então, que haja uma alternativa. E eu espero que a direção da OAB, Dr. Oswaldo, reflita sobre esse debate. Mesmo que a gente não consiga evoluir — porque ontem nós sentimos que a coisa estava feia —, se a OAB não refletir pode sofrer danos, e causar também danos irreparáveis a toda uma comunidade que acredita poder ser um grande profissional no Direito para exercer a cidadania. (Palmas.) Obrigado, Presidente. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Nós é que agradecemos a participação do Deputado Vicentinho. São muito importantes suas considerações. Eu acho que realmente o que ele disse é muito importante. Nós precisamos refletir, 40 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 como a Deputada Dorinha disse, sobre todo o sistema de educação no Brasil. Acho que não é só a OAB que tem de ser avaliada. Nós temos também de pensar como é que o MEC está autorizando a abertura de faculdades, e se ele também está desempenhando o papel dele. A SRA. DEPUTADA PROFESSORA DORINHA SEABRA REZENDE Queria só lembrar também, Deputado, que tanto nos cursos jurídicos quanto nos da área da saúde os conselhos são ouvidos, mas não é determinante a posição deles. Eu digo isso por conta da minha presidência nos conselhos de educação. Eles são ouvidos — com os da área da saúde também acontece o mesmo processo —, mas eles não são determinantes. O Deputado disse: “Então, por que o MEC está autorizando junto com a OAB?” Não, a OAB não autoriza cursos; ela emite parecer. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Ela opina. A SRA. DEPUTADA PROFESSORA DORINHA SEABRA REZENDE - Ela opina. Não quer dizer que ela tenha poder para abrir ou fechar curso. Não é papel dela. O SR. DEPUTADO VICENTINHO - O.k. Eu gostaria de fazer um pedido, então. Que, por favor, a OAB me diga, sem discordar de você, minha nobre colega, qual foi a universidade em que foi criada neste País a faculdade de Direito que a OAB disse “não” e o Ministério criou. Eu gostaria de ter essa relação, está bom? (Risos.) Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Antes de passar a palavra aos demais inscritos, e tendo em vista que a audiência pública está sendo gravada, solicito a todos os inscritos a gentileza de, antes de fazer o questionamento, diga o seu nome e a instituição que representa, bem como assine a autorização para que seja publicada a sua fala. Neste momento passo a palavra ao primeiro inscrito, o Sr. Vasco Vasconcelos. O SR. VASCO VASCONCELOS - Boa tarde, nobre Deputado Dr. Grilo, eu queria inicialmente congratular-me com V.Exa. pela feliz iniciativa deste debate, e cumprimentar os demais, o Dr. Oswaldo Pinheiro e demais plêiade de colegas presentes na mesa. 41 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Inicialmente, eu queria dizer que nenhum cidadão cônscio de suas responsabilidades é contra a Ordem dos Advogados do Brasil. Reconhecemos que no passado, Dr. Oswaldo, ela prestou relevantes serviços ao País. E a minha preocupação maior — eu sou autor de dezenas de artigos nesse ponto sobre o fim do caça-níqueis Exame de OAB —, é chamar a atenção, data vênia dos senhores dirigentes, rumo a humanizar essa entidade, humanizar a OAB. É sabido que o Exame de Ordem só não foi abolido de nosso País graças a dois braços direitos da OAB. Vou repetir: Demóstenes Torres e Marconi Perillo. (Palmas.) Demóstenes rejeitou a PEC 01, de 2010, no Senado Federal, e Marconi Perillo rejeitou o PLS 186, de 2006, do Senado Federal. Então, no dia seguinte, o que aconteceu? A mulher do Demóstenes foi flagrada pela Polícia Federal comemorando com Cachoeira a conquista da OAB. Entre aspas: “A vermelhaça aí é nossa, 32.650. Pode arrumar cliente pra mim”. Então, nobre, dito isso, lembrando que quando da análise do Recurso Extraordinário, o RE 603583, do egrégio STF, o Presidente da OAB, Dr. Ophir Cavalcante, deu ênfase que os dois projetos rejeitados por Demóstenes Torres e Marconi Perillo haviam sido rejeitados no Senado. Então, com esses feitos, sabendo que ambos estão acusados com envolvimento com Cachoeira, perdeu a credibilidade o Exame de Ordem. Eu já oficiei ao Presidente do STF, pedindo ao egrégio STF para recuar. Porque, nobre Presidente, é um grande erro dizer que o Supremo julgou inconstitucional o exame. Isso é uma mentira. O Supremo, simplesmente, desproveu um RE. E já existe outra ação em tramitação no Supremo. Mas eu queria dizer que, assim como no passado a elite predatória não aceitava o fim da escravidão, utilizando-se dos mais rasos e nefastos argumentos — do tipo: sem escravidão, os escravos ficariam fora de controle, roubando, estuprando, matando e provocando caos generalizado —, hoje, senhores, essa mesma elite não aceita o fim da escravidão contemporânea da OAB, o fim do caçaníqueis Exame de Ordem, plantando nas revistas, nos “jornais nacionais vale o quanto pesam”, manchetes fantasiosas, tipo: Exame de Ordem protege cidadão. Se assim fosse verdade, não teríamos advogados na criminalidade. Não há um só dia que a mídia não publique advogado envolvido no crime. 42 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Recentemente, a revista Veja publicou que advogado vira braço-direito das maiores quadrilhas do País. Posso fornecer a edição de 2004 da revista Época. Vinte dias atrás, aproximadamente, a Folha de S.Paulo publicou: advogado preso com celulares, dentro das bengalas — perdi a palavra-chave —, levando celulares para celerados presos. Então, nobre, um bom profissional, independentemente da área, se faz ao longo de militância, no caso do Direito, de militância forense. Não através de um exame medíocre, enfestado de pegadinhas, parque das enganações, armadilha humana. Recentemente, o nobre Prof. Renato Saraiva publicou uma prova de Direito do Trabalho. Ele disse, nobre Deputado Dr. Grilo, que as provas estavam tão difíceis que era uma grande covardia o que estavam fazendo com os examinados. A própria banca de professores demorou 7 horas para resolver a questão. Eu queria dizer que a própria OAB já deu mostra da inconstitucionalidade do Exame de Ordem. Depois do desabafo do Presidente do TJ, do Presidente do Tribunal de Justiça do DF, o Desembargador Lécio Resende, que afirmou: “Exame de Ordem é uma exigência descabida, restringe o direito de livre exercício que o título universitário habilita”. Vou ser breve. Em seguida, o Desembargador, então Vice-Presidente do TJ do Rio de Janeiro, Sylvio Capanema, declarou: “As provas da OAB estão num nível de dificuldade absolutamente igual ao da Defensoria Pública e do Ministério Público”. Ele, sinceramente, disse que não passaria no Exame de Ordem. Olha, se um Desembargador, com 30 anos de militância, não passa no Exame de Ordem, o que exigir dos nossos pobres mortais. Então, quero dizer que há formas inteligentes rumo a humanizar a OAB. Até agora, senhores, vocês não sabem os prejuízos incomensuráveis que o Exame de Ordem vem causando ao País, gerando fome, desemprego, doenças psicossomáticas e outras comorbidades diagnósticas. Agora mesmo, recebi um email de uma senhora de Santa Catarina, da qual não vou dizer o nome — não sei se é mera coincidência —, dizendo que está com um tumor na cabeça de tanta preocupação com isso. Então, um belo dia, finalizando, Deputado Dr. Grilo, um belo dia, quando tudo isso for passado, a própria OAB vai se envergonhar da sua tirania ao impor essa 43 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 absurda humilhação aos bacharéis em Direito e à sociedade, através de um falso e hipócrita discurso de defesa da sociedade. O STF, o Congresso Nacional de hoje e a própria Presidenta Dilma passarão para a história como submissos à sociedade brasileira. Vamos humanizar a OAB. A OAB precisa ser parceira dos bacharéis em Direito, ao invés de algoz. Muito obrigado, Presidente. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Nós agradecemos a participação do Sr. Vasco Vasconcelos. Com relação ao que foi dito sobre esses advogados presos, apontados até como criminosos, não podemos deixar passar isso. A OAB tem o Conselho de Ética e Disciplina, que é o responsável exatamente por julgar esses casos. Acho que esses não são os representantes da advocacia brasileira. E o próprio Conselho impõe as penas de advertência, suspensão e até expulsão dos quadros da OAB. Então, nós nunca podemos deixar de esclarecer que a OAB tem o seu Conselho de Ética e Disciplina. Tenho certeza de que essas pessoas que foram citadas, apontadas como criminosas, na realidade, estão maculando os quadros da OAB e terão as penalidades previstas na Lei nº 8.916, o Estatuto da OAB. O SR. DEPUTADO VICENTINHO - Meu caro, Presidente. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Devolvo a palavra ao Deputado Vicentinho. O SR. DEPUTADO VICENTINHO - Queria pedir permissão apenas para me desculpar com o Dr. Oswaldo e a OAB pela afirmação final que eu fiz, com referência à opinião da OAB a respeito da criação de novos cursos. Conversei com a nossa colega aqui. Aliás, quero parabenizar o Dr. Oswaldo, porque o Dr. Ophir não vem aqui, mas ele está sempre presente para enfrentar o pepino. Parabéns! Ainda vamos ter mudanças na OAB. E espero que o senhor seja o grande articulador dessas mudanças que nós queremos fazer, porque, afinal de contas, nós queremos mudar. Mas com referência a esses dados, quero retirar o que eu disse, sem mudar, claro, a minha opinião a respeito do Exame de Ordem. 44 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR - Deputado Vicentinho, se o senhor me permite, até uma das mudanças que nós advogados queremos na OAB é exatamente a possibilidade de escolher o nosso Presidente. A OAB sempre pleiteou a democracia em todo o País... O SR. DEPUTADO VICENTINHO - Não são vocês que escolhem, não?! O SR. OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR - ... e nós fazemos uma eleição indireta. Então, acho que passou do momento de fazer uma eleição direta também na OAB. O SR. DEPUTADO VICENTINHO - (Riso.) Aí, é uma questão interna. Vocês vão resolver internamente. (Risos.) Mas só queria dizer, Dr. Oswaldo, que é isso. Nesse aspecto do parecer da OAB, a informação que me foi dada é que, de fato, a OAB tem dado pareceres contrários. Então, eu retiro isso. Mas continuo com a mesma opinião. Obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Passo a palavra ao Sr. José Medeiros, suplente de Senador. O SR. JOSÉ MEDEIROS - Em nome do Deputado Dr. Grilo, gostaria de cumprimentar todos da Mesa e os demais presentes. Eu sou do Mato Grosso. Sou Suplente do Senador Pedro Taques e gostaria de colocar a colher também no debate, porque eu o acho muito rico. Penso que esse não é um debate que começou hoje. Já há muito tempo que ele se estende aqui. Embora eu venha da área de exatas, esse debate está tão batido que a gente até já decorou os argumentos de parte a parte. A OAB, por exemplo, sustenta que a faculdade não forma advogados, e os bacharéis sustentam que ela os forma. A OAB sustenta que zela pela sociedade, pela boa prestação do serviço e que faz esse exame pelo cuidado com essa qualidade. E, lógico, os bacharéis têm a tese de que fizeram a faculdade e que o art. 5º, XIII, da Constituição não estaria sendo adequadamente bem observado. É uma questão de interpretação, porque logicamente a OAB tem defendido com unhas e dentes que o art. 5º, XIII, está completamente satisfeito e que existe o livre exercício da profissão de advogado e que a qualificação viria com o exame. E tem sido questionado também se esse exame é realmente qualificador. 45 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Então, eu creio que há alguns pontos, sobre os quais precisamos fazer esse debate firme. O exame é quem qualifica? Eu já ouvi algumas pessoas chegarem ao ponto de dizer: “Olha, se o exame é quem qualifica, vamos largar essa história de currículo mínimo do MEC e vamos partir para o exame”. Então, eu decidi que vou sair da minha área de exatas, vou fazer o Exame de Ordem e vou trabalhar de advogado. (Palmas.) Então, é um debate quente, um debate rico. De contrapartida, a OAB tem se defendido. Agora, eu acho que nós perdemos tempo ao exigir humanização da OAB ou qualquer outra coisa, ou que a OAB compreenda, porque corporação é sem coração, corporação é corporação. E eu creio que a OAB está corretíssima e tem sido competente na defesa dos seus interesses, na medida em que, em 1996, colocou um muro, um muro igual ao que os Estados Unidos fazem com os mexicanos, e disse: “O Eldorado aqui é para quem já está. Quem não está vai ter que passar por esse portão aqui”. Então, o que acontece? Eu temo que esse debate vá ser difícil. Não quero ser pessimista. Não quero dizer aos bacharéis que não vão conseguir, mas eu temo que não vão. Talvez, a gente consiga alguns avanços, porque o Parlamento tem se debruçado sobre o assunto. Mas eu vejo que aqui, neste País, sempre existiu a lei do mais forte. Essa corporação se tornou tão grande, a ponto de que... Eu estou vendo ali a placa do Dr. Oswaldo. E ela é interessante (riso), é sui generis neste País. Diz o seguinte: Dr. Oswaldo Pinheiro, Consultor Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Conselheiro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. O que por si só já é meio contraditório, porque você não vê o Conselho Federal de Medicina envolvido com a entidade de classe dos médicos, você não vê o Conselho dos Fonoaudiólogos... São duas coisas diferentes. Eu achei particularmente interessante o dia em se que foi definir a personalidade jurídica. Eu fiquei curioso para ver como o Dr. Ayres Britto ia se sair. E foi interessante o que ele disse: “A OAB é uma personalidade jurídica ímpar no Direito brasileiro, ela é um conceito sui generis.” Enfim, ele fez um esforço, ele conseguiu — o homem é competente (riso) —, ele conseguiu fazer um negócio, de forma que ele disse o seguinte: “Olha, ela é híbrida.” E eu achei interessante. 46 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 E louve-se a competência da OAB de conseguir isso. Porque, vejam bem, a OAB tem exigido desta Casa, da Câmara e do Senado, e de todas as outras pessoas deste País uma lisura, que eu diria, de microscópio eletrônico. Ela passa para este País a vida de cada Deputado aqui. Qualquer coisa que se toque, não é de qualquer conselho. Alguém disse aqui: “Ah, a opinião de algum conselho...” Não é. A OAB tem exigido. E eu acho que deve. É o papel. Mas é lógico que, quando você começa apontar o dedo, você tem também que olhar um pouco a trave no seu olho. E o que ocorre? Vamos um pouco à questão da personalidade jurídica. Se já estamos nesse debate, é importante colocar aqui, é importante que a Câmara, o Parlamento, que nós possamos começar a discutir. Vejam bem: se o Deputado tem uma verba de gabinete, é obrigado a prestar conta de tudo ali, naquele gabinete. Qualquer conselho neste País é obrigado a prestar contas. Se você mexeu com verba pública, é obrigado a prestar contas. Mas, nessa personalidade, nesse esforço que o STF fez e conseguiu enquadrar, na hora de ser uma entidade privada e cumprir o que se deve por ser entidade privada, ou seja, os deveres da entidade privada, a OAB faz uma mutação, e diz ser pública (riso), ter uma natureza pública. Então, ela foge daqueles deveres. Mas, quando cai no conceito de pública e tem que prestar conta para os organismos de controle, ela diz: “Opa, eu tenho o conceito privado.” Então, realmente, são os debates que precisamos colocar. Eu não vejo que a corporação erre. Eu vejo que ela se tornou uma corporação de tal forma que nós, o Parlamento e a sociedade brasileira, temos que começar a ver para que não fique forte demais. Estou terminando. (Riso.) Eu já noto que a OAB está quase acima do Parlamento, está começando a ficar acima das instituições. E os argumentos... Eu até discordo do Dr. Oswaldo, quando ele diz que a OAB não se arvora do papel do MEC. Eu não sei se a OAB foi competente demais ou se o MEC foi omisso demais. Eu acho que o MEC foi omisso. Porque ninguém ocupa o espaço que está ocupado. A OAB viu brecha e entrou, e vai controlar. E digo mais: se for pela qualidade, eu até sugiro a gente exagerar. E eu termino, Presidente. Já que a gente não vai conseguir acabar, eu quero sugerir para o Dr. Oswaldo: vamos lutar pela qualidade, então. Vamos lutar para que esse negócio não fique só no curso de Direito, que ele seja para todos. Porque, aí, 47 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 não vamos dizer que está controlando o mercado. Não, vamos qualificar. Vai ser para todos os cursos. E eu digo mais: vamos fazer tipo carteira de motorista. Vamos colocar o exame a todos e, de 5 em 5 anos, vamos analisar se esses profissionais estão aptos a exercer. E vou falar por quê. Aqui todo dia o Parlamento muda as leis. A sociedade é dinâmica. As teses jurídicas mudam. É importante, então, fazermos essa reflexão. Porque eu vi uma entrevista de um desembargador no Rio de Janeiro, no mês passado. E ele falou que acha que não passaria neste exame. Então, se realmente nós estamos tendo desembargadores que não conseguem passar no Exame de Ordem, e aqui nós temos dito que a tese é que só está qualificado quem fez esse exame, isso é grave. Então, nós precisamos realmente rever isso tudo, e tal. Lógico que estou sendo irônico. Eu coaduno com a tese do Deputado Vicentinho, de que a gente precisa aprofundar esse debate, para que seja discutida a personalidade jurídica, seja discutida a possibilidade de que não fique só esse controle de mercado no curso de Direito: que seja estendido para todos ou para ninguém. Ou a lei rege todo o mundo neste País ou que não venha a reger ninguém. Muito obrigado. (Palmas.) O SR. VASCO VASCONCELOS - Presidente, Presidente, um minuto só. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Nós é que agradecemos a participação do Sr. José Medeiros. Eu vou pedir a compreensão, porque temos de avançar, senão não damos oportunidade a todos os presentes. Existem outros inscritos aqui e ainda temos de voltar a palavra para a Mesa. O SR. VASCO VASCONCELOS - Só para dizer que membros do Ministério Público e da Magistratura e bacharéis em Direito de Portugal não fazem Exame de Ordem. E ainda têm a petulância de dizer que isso é constitucional. Onde está o princípio da igualdade? (Não identificado) - O Estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, também. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Nós estamos tratando aqui da legislação brasileira. Eu não vou entrar em “como é que é em Portugal, como é que é nos Estados Unidos”, porque eu não conheço a legislação, o Direito Comparado. Acho que podemos até trazer esses temas aqui, para enriquecer o debate, só que 48 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 até mesmo nos Estados Unidos algumas pessoas querem exercer a advocacia e não conseguem. Acho que lá é até mais rigoroso, porque algumas pessoas ficam realmente sem poder exercer a advocacia no futuro. Então, não podemos trazer esses exemplos, porque, para trazer isso, temos de estudar e nos aprofundar mais com relação à matéria. Passo a palavra ao Sr. Cícero Severino Silva, da Câmara dos Deputados. (Pausa.) Passo a palavra ao Sr. Paulo Fernando Melo. O SR. PAULO FERNANDO MELO - Boa tarde, Sr. Presidente, senhores colegas. Cumprimento os colegas bacharéis, que, mesmo sendo bacharéis, já estão na plaquinha como doutores. O papel do advogado como instrumento da sociedade. Afinal de contas, no exercício da nossa profissão, nós lidamos com a vida das pessoas, com o seu patrimônio, com a sua culpabilidade ou não, ou até mesmo com a condenação dos inocentes. Então, eu particularmente sou favorável ao exame da OAB. Discordo do modus operandi, talvez como ele tenha sido feito, ou seja, a primeira fase objetiva e a segunda, subjetiva. Até concordo que aqueles que não lograram êxito na segunda fase tenham direito a uma segunda chance, dentro de uma razoabilidade também. A pessoa também não pode ficar ad aeternum, seis, sete, oito vezes, fazendo a segunda fase. É algo como duas ou três vezes. Nós temos aqui no DF 1.200 bacharéis todos os anos que se submetem à prova da OAB e apenas cerca de 20% obtêm êxito. E eu acho que nós, da OAB, não sentimos orgulho nenhum dessa reprovação. De tal maneira que ainda ontem, o Plenário, em sua ampla maioria, rejeitou a -+.urgência. É um assunto importante, mas que merece ser debatido de maneira mais tranquila, mais serena. Há diversos projetos tanto no sentido de acabar com o exame, como de alterá-lo. E fica um detalhe interessante: o nosso colega advogado José Dirceu, que foi exonerado pelo Executivo, cassado por esta Casa, ou seja, que está com os direitos políticos suspensos e agora condenado pelo Poder Judiciário... Então, vamos ver também se a Ordem dos Advogados do Brasil suspende a inscrição do advogado José Dirceu. (Palmas.) 49 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Eu gostaria de pedir um pouquinho a compreensão de todos. A Comissão de Legislação Participativa, tendo em vista que nós estamos encerrando o ano de 2012, precisa fazer a leitura de duas atas. E nós temos que fazer isso antes do início da Ordem do Dia, senão não poderemos fazer a aprovação dessas atas. Então, eu gostaria de aproveitar a presença dos Deputados e fazer a leitura dessas atas. Se o Deputado até quiser requerer a dispensa da leitura das atas, nós podemos assim proceder e depois fazer a aprovação. O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA - Sr. Presidente, considerando que essas atas são do conhecimento de toda esta Casa, inclusive dos membros desta Comissão, eu solicitaria que não houvesse a leitura da ata, considerando que todo mundo já tem conhecimento. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Dispensada a leitura das atas da 19ª e 20ª reuniões realizadas pela Comissão de Legislação Participativa, tendo em vista o requerimento do Deputado Costa Ferreira. Sras. e Srs. Deputados que estão de acordo com a aprovação das atas da 19º e 20º reuniões queiram permanecer como se encontram. (Pausa.) Aprovadas as atas da 19ª e 20ª reuniões realizadas pela Comissão de Legislação Participativa. Passo a palavra agora, ao Deputado Costa Ferreira. O SR. DEPUTADO COSTA FERREIRA - Só um esclarecimento. Eu queria apenas esclarecer que poderiam os nossos visitantes aqui pensar: “Eu estou vendo poucos Deputados”. Acontece que aqui é uma Casa de Leis, mas tudo é de acordo com o questionamento. Se alguém dissesse que não haveria quorum, praticamente não seria aprovada a ata, mas, como ninguém questionou, então ela foi aprovada por unanimidade. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradecemos ao Deputado Costa Ferreira esse esclarecimento. Vamos passar a palavra ao Dr. Willyan Johnes, da Ordem dos Bacharéis do Brasil, para que o mesmo responda aos questionamentos apresentados e faça as suas considerações finais. 50 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. WILLYAN JOHNES - Eu gostaria de deixar bem claro que há muitos advogados que precisavam fazer exame. Aliás, eu acho que, se eles fizerem esse exame aí, vão despencar todos, até porque essa forma de falar que “o doutor”... A OAB não faz nenhum doutor, não. “Doutor” é um título acadêmico. A partir do momento em que ele se formou, ele colou grau, ele é doutor. A juíza da minha cidade chama todos os bacharéis de “doutor”, respeitosamente, porque ela reconhece, a juíza de Direito Civil da cidade de Avaré. E não é só ela. E quantos outros, como eram os do Trabalho. Então, esses advogados estão fazendo da OAB um paraíso que não existe, até porque, como representante da Ordem dos Advogados do Brasil, sempre representando o Presidente e em nome do Presidente, eu acho que o senhor não teria problema nenhum de assumir um compromisso aqui de abrir as contas dos exames dos últimos anos perante todos nós aqui. O senhor assumiria esse compromisso? (Intervenção fora do microfone. Inaudível.) O SR. WILLYAN JOHNES - Ótimo. Talvez para não perder o voo, eu vou ter que sair correndo. De qualquer forma, então, eu ficaria muito contente, porque inclusive eu tenho os dados, a mixaria que se paga nas salas. Esse número, se fizer um cálculo aqui de 15 mil pelo número de escolas, vai dar um número exorbitante, certo? Então, abrir as contas seria uma coisa fantástica. Quanto às pérolas, vamos falar um pouco da pérola da Fundação Getúlio Vargas. Segundo a jovem que estava aqui, ela dizia o seguinte: “Porque nós fazemos, porque nós somos, porque nós fazemos”. Está gravado, todo mundo... Ou seja, ela tem a participação, é lógico, porque ela está trabalhando ali. Então, como ela está representando o responsável pela prova da OAB, os exames, a elaboração, correção e tudo, eu tive o prazer de perguntar para ela o que nós, bacharéis, já sabemos: “Você é formada em Direito?”. “Não, sou formada em Administração” — o que nós já sabemos. E quantas que corrigem... A audiência tem sido muito produtiva, tem sido fantástica, só que não podemos mais esperar. Quantos brasileiros mais os Parlamentares vão querer esperar morrer para descobrir que a OAB é uma estelionatária, em vez de falar que 51 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 são as escolas? Porque as escolas não são estelionatárias. Os alunos entram lá porque o Governo, o Governo liberou. Como a Deputada disse ali, exame, a meu ver, tem que se fazer para se candidatar a político. Bom, então, vamos fazer esse exame. Ela vem dizer para mim que o filho dela deixou a Federal para ir para uma particular, enquanto os brasileiros de baixa renda não têm dinheiro para pagar o FIES! E o Brasil já deu para ele o título de “doutor acadêmico”, do qual os advogados dizem que “não”. Então, Dom Pedro está errado! Tem que mandar prender Dom Pedro, porque quem deu esse título foi Dom Pedro. Agora, eu vou deixar uma coisa bem clara para os senhores aqui. O seguinte... Quero registrar aqui, Dr. Grilo, que está na hora de falar tanta bobagem, ou então têm que prestar o exame de novo todos eles. A faculdade de Direito não forma... Ela forma advogados, sim! Ela não forma farmacêuticos, ela não forma médico. Ela forma advogados, sim! Tanto que, na grade do curso, você estuda o quê? Código de Ética da OAB, o Estatuto da OAB. Isso faz parte da grade! Então, o que ele está fazendo ali? “Opa, então, vamos...” Talvez ele tenha razão. O curso de Direito está formando cabeleireiro, cabeleireiro! Agora eu vou fazer um implante, quem quiser fazer, eu vou montar uma clínica, porque eu sou formado agora nesta área. Então, vejam bem. Esse título... Tem que voltar para a escola! Foi Dom Pedro! Não existiam advogados. Eram os bacharéis que eram os advogados. O título de “doutor” é um título acadêmico. O senhor me perdoe, doutor, porque senão a gente vai ter que buscar lá e mandar prender Dom Pedro II. Então, são coisas... Foi contestado o texto que eu li aqui da reportagem. Foi contestado lá por causa... Erros, sim! Contestaram o quê? Dois erros que eles colocaram essa matéria. E há pressa. E outra: ele não vai acertar tudo. Aliás, ele não acerta nada! Ninguém acerta nada nessa prova! Mas não contestou o texto que eu falei do Conselheiro da OAB, que disse que a as contas não passaria ali. Ali não interessa. “Vamos ficar quietinho, vamos deixar quieto ali.” Certo? Então, senhores, está na hora de vocês olharem para a sociedade. Nós não podemos... Vocês não podem culpar o bacharel, como eu vejo certos Parlamentares falando aí. Então, vamos fazer o seguinte: vamos começar a prender quem está na 52 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 frente da bala, não quem atirou, porque o Estado está sendo estelionatário, está todo mundo... As vítimas estão sendo os bacharéis e eles não têm nada com isso! Está na hora, passou da hora! Ontem, a meu ver, os Parlamentares que disseram “não”, compactuaram com uma grande covardia, que enriquece a OAB, que ninguém sabe aonde vai esse dinheiro, e o Estado ganha, ao arrecadar, receber, muito mais que os 80 milhões que a OAB arrecada todos os anos quase — muito mais! — dos mesmos bacharéis, que são impedidos de trabalhar e não têm como pagar as suas contas! Não têm como pagar o FIES, não tem como pagar nada! O Estado deveria estar gerando empregos e não enriquecendo cada vez mais a OAB, como diz o doutor lá, o suplente que estava dizendo lá: “Não podemos deixar que cresça tanto”. Já cresceu! Já não se tem controle! A OAB é um Estado paralelo! Só falta ser admitido! Arrecada milhões, arrecada em todos os Estado da Federação, em todos os Municípios e não presta contas para o Governo brasileiro! Já cresceu! Esta Casa não é um pântano. Está na hora de os Parlamentares mostrarem: “Não, nós não somos um pântano. vamos procurar onde está esse pântano. Se existe, a gente tem que achar”. Porque não pode o Governo... Presidente Dilma, a senhora pode resolver isso em 24 horas! Brasileiros estão morrendo! As famílias estão desesperadas! A OAB está se enriquecendo à custa de doenças, de forte depressão e de morte, que nós estamos registrando, e de suicídios, de tanta humilhação. Presidente Joaquim Barbosa, eu fiz uma carta a ti, porque o senhor fez com que eu voltasse a acreditar no retorno dos valores do meu País. (Palmas.) A Nação se curvou ao senhor, e hoje eu fico muito feliz em saber que, naquele exame, no julgamento do exame, o senhor estava presente. Fiquei muito contente, porque eu ficaria muito triste de ver um voto digno vencido. Estão morrendo nossas crianças, por conta de enriquecimento, porque os professores são juízes, desembargadores, autorizados pelo MEC, fiscalizados. Quer fazer exame? Eu acho justo, mas durante o curso, não depois para metralhar todos os bacharéis dessa forma. 53 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Presidenta Dilma, a senhora diz tanto em dar empregos, a senhora tem mostrado tanta firmeza e garra diante de tantos casos horríveis que têm aparecido. Eu acho que a senhora está numa situação dificílima, mas eu vejo a vontade que a senhora tem de dar emprego. Está aí um bom motivo. São centenas de milhares de brasileiros que estão passando fome, que são atingidos direto por esse caça-níquel. Nós não podemos mais ficar vendo audiência pública, pois o custo é muito alto para os bacharéis, para mim. É muito alto. Não temos dinheiro para ficar fazendo tantas audiências públicas em troca de nada e vendo muitos Parlamentares querendo apenas se promover, enquanto a gente está tendo o prazer de ver grandes Parlamentares, como nós estamos acompanhando o Vicentinho, o Eduardo Cunha, que deu um show de coragem neste País. Os advogados não têm respeito pela OAB, têm medo. (Palmas.) Nós estamos falando de uma classe que não tem direito trabalhista. Disseram que as empregadas domésticas foram as últimas. Não, não, não foi não. Eles trabalham por um salário mínimo. Faz a petição, peticiona, outro vai lá e assina. Estou cansado de ensinar advogado, se vocês querem saber. As peças que eu ganho lá — e o Sr. Ophir Cavalcante que me processe por exercício ilegal da profissão — tenho, mostro e apresento para ele. E ganhei todas. (Palmas.) Então, senhores, passou da hora. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Sr. Willyan Johnes, nós agradecemos a sua participação e as suas considerações finais. O SR. WILLYAN JOHNES - Eu é que agradeço — e gostaria de finalizar — pela condução que o senhor deu, pela imparcialidade que o senhor deu, porque isso é fundamental. O senhor tanto justificou, o senhor tanto explicou, o senhor deu abertura, o senhor falou. Isso é fundamental. Que continue assim. Agora eu conheço mais as razões desta Comissão que eu não conhecia. Hoje eu vim preparado para discutir com todos favoráveis ao exame, inclusive o nosso amigo Reynaldo Arantes, que é favorável ao exame, pelo MEC. Nós somos favoráveis? Não, exame não, nós não queremos exame, quer seja pela OAB. Que façam antes, que cumpram a legislação. 54 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Sr. Presidente, eu fiquei muito contente, mas eu vou ter que ir para não perder o meu voo. Que Deus os abençoe. Fiquem com Deus. Que vocês procurem essas denúncias que eu fiz e que são gravíssimas. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Nós agradecemos a todos pela participação. O SR. WILLYAN JOHNES - Eu é que agradeço a todos vocês. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - A nossa intenção é exatamente conduzir o debate com isenção. A Comissão de Legislação Participativa está aqui exatamente para trazer essas reivindicações e esses anseios da sociedade. Esta Comissão está de portas abertas para receber todos esses debates, sugestões de projetos de lei, de requerimentos. A Comissão está aqui sempre de portas abertas para receber toda a sociedade civil organizada. O SR. WILLYAN JOHNES - E a Ordem dos Bacharéis do Brasil agradece. O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Eu peço a compreensão de todos para a gente dar prosseguimento, porque senão os outros também não vão ter oportunidade. Neste momento, passo a palavra para o Dr. André Souza, Presidente do Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito. O SR. ANDRÉ SOUZA - Só uma correção, Deputado, sou Vice-Presidente. Eu acho que este debate já está chegando na hora, o pessoal que tem família aí, eu acho que está na hora de ver os meninos em casa. Eu acho que ficar debatendo demais... O que tinha que ser colocado foi colocado. Eu espero que o Dr. Oswaldo, que aparentemente parece uma pessoa sensata, repasse isso para os que são sensatos dentro da OAB. Peço a Deus que ilumine aqueles que não são para se tornarem, porque o ser humano deve mudar sempre, deve procurar mudar, ser uma pessoa mais bem-vista pela sociedade. A meu ver, nós estamos tendo problema de governo na OAB. A minha postura, até o momento, é o fim do exame da OAB. Eu falo em nome do meu grupo, da organização do MNBD, que quer o fim do exame da OAB. Após o fim do exame da OAB, pode ser que porventura o Governo, o Estado ou até mesmo a Câmara dos Deputados tenha o entendimento de fazer para outros cursos, ou que seja pelo MEC, mas o que existe, no meu entender, até agora, é o PL do Deputado 55 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Eduardo Cunha, por quem tenho uma admiração profunda pela coragem, pela garra e pela determinação de fazer acontecer. O Brasil está precisando de pessoas que fazem acontecer, porque vou falar uma coisa: esse negócio de protelar as coisas — puta merda! — ninguém merece. Tem muita gente precisando disso, já há sete ou oito anos esse debate de exame da OAB. Vamos acabar com esse desgaste. Tem que acabar! Se não acabar, vai cada vez piorar mais, porque vai entrar cada vez mais gente revoltada na praça. Eu não vou ficar aqui rasgando papel nem seda para nada. Quero agradecer ao Dr. Oswaldo pela oportunidade que nos está dando, ao Dr. Grilo e a todos que participaram desta audiência. Não tenho mais o que falar. O que tinha que ser feito já foi falado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Agradecemos ao Movimento Nacional dos Bacharéis em Direito, representado pelo Dr. André Souza, pela participação. Neste momento, passamos a palavra ao Dr. Reynaldo Arantes, da Organização dos Acadêmicos e Bacharéis do Brasil. O SR. REYNALDO ARANTES - Obrigado, Sr. Presidente. Vou deixar aqui a minha resposta aos Parlamentares que fizeram algumas colocações, até porque nossos colegas já sabem dessa realidade. O Deputado Costa Ferreira, por exemplo, que já é uma pessoa de idade e deve ter se formado há muito tempo, disse que não existia necessidade de atividade jurídica para os concursos de juiz, promotor etc. Deputado, necessita, sim, três anos de experiência, de atividade jurídica comprovados com o registro e a inscrição do bacharel na OAB, para que se possa participar de concursos. Caso contrário, não são admitidos. As exceções são raríssimas. Então, é necessário. Mesmo que o colega não queira advogar, ele tem que fazer o exame, passar no exame, esperar um prazo de três anos para a atividade jurídica exigida para a maioria dos concursos. Acho que hoje só para Delegado de Polícia isso não é mais exigido. Até para Defensor Público, que tem, pelo exercício do cargo, o poder de peticionar, ou seja, ele não precisa da carteira da OAB, os concursos ainda exigem a inscrição dele na OAB. Essa é uma discussão de São Paulo, onde os defensores estão se descredenciando da OAB porque eles não necessitam da carteira. 56 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 A Deputada Dorinha Seabra Rezende falou sobre a qualidade de se fazer um exame compatível. Talvez ela não saiba que o Dr. Renato Saraiva, tradicional e conhecido jurista do Direito do Trabalho, declarou, há dois exames, que ele não passaria naquele exame, mas colegas nossos passaram e ainda, com certeza, muitos, de acordo com as provas que nós apresentamos, foram reprovados mesmo tendo nota, porque eles se preparam. Com respeito a exame para advogados, como a Dr. Rosinha colocou, de cinco em cinco anos, é uma bandeira da nossa entidade. Ainda embrionária, em outubro de 2007, em Vitória, no Espírito Santo, na nossa primeira audiência pública, coordenada pelo Senador Magno Malta, nós já defendíamos que, se todos os advogados fizessem o mesmo exame que é aplicado ao bacharel, a cada cinco anos, e se não passassem perderiam a carteira, nós abaixaríamos essa bandeira. Essa proposta continua de pé, porque eu gostaria de ver o Dr. Ophir Cavalcante, Dr. Wadih, o Presidente do Rio de Janeiro, que nos chamou de incompetentes tantas vezes, passar num exame de Ordem, lado a lado comigo. Se não passassem, que perdessem a carteira, perdessem o direito de advogar. Minha bandeira continua de pé. Com respeito ao que o Deputado Vicentinho falou, é verdade. Eu acho que, se o Ministro Joaquim Barbosa, que está tão elevado pela mídia, que a sociedade reconhece que está quebrando um paradigma no Supremo Tribunal Federal quanto à impunidade, que está incentivando a sociedade civil — não a nós, os operadores do Direito, mas a sociedade civil — a acompanhar os julgamentos, se o Ministro Joaquim Barbosa, com todo o seu conhecimento, especialização em Paris etc., fosse fazer exame de Ordem, eu acho que ele não passaria. A questão, senhoras e senhores, não é o conhecimento. O exame de Ordem não foi feito para aferir conhecimento. O exame de Ordem está sendo feito para reprovar. As provas estão aí. Não vejo ninguém me dizer: ”Essa prova de manipulação é falsa”. São documentos oficiais da OAB que nós estamos apresentando, está no nosso site. Vários sites estão levando para frente. Estamos apresentando para os Deputados, mostrando como é feita a manipulação para arrecadar dinheiro. Nisso, colegas estão morrendo. Muitos colegas estão gastando, com certeza, muito mais do que gastariam na universidade para pagar psicólogos. 57 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 A questão fulcral é tirar o exame da OAB porque ele está viciado, manipulado. Aí, nós, bacharéis em Direito, como o Willyan Johnes disse, defendemos uma terceira via. Nós defendemos que o exame passe a ser aplicado pelo MEC. Nós não temos medo de exame. Nós temos medo de manipulação. Mesmo com toda manipulação, nossos colegas estão passando. Tiram nota, tudo bem, a OAB não dá, mas, em compensação, senhoras e senhores, passando o exame para o MEC — e aí, sim, que seja, como ouvi alguns da bancada dos representantes dos advogados concordarem —, que seja um exame aplicado para todos os cursos, mas não pelos seus conselhos, doutores, que seja aplicado pelo MEC. Os conselhos sempre vão ser suspeitos. Seguimos brigando por isso. A OAB, volto a falar, senhoras e senhores, tem uma vitória a comemorar. Ontem eles tiveram uma vitória. Como eu disse no nosso site aos colegas, a OAB Jovem merece porque esteve aqui trabalhando nos gabinetes, trabalhando com os líderes, trabalhando com os assessores, com a base. Conseguiram. Nós temos uma segunda batalha na CCJ. Um dia é da caça. Espero que o outro seja o do caçador. Espero que todos os nossos colegas mantenham a cabeça erguida, lutem, porque sem luta nós não vamos conseguir nada e tenham a certeza de que a nossa luta continua. Podemos ter tido um retrocesso, mas o exame de Ordem já tem a sua data final marcada no calendário. O homem lá de cima sabe. Esperamos que ele olhe por nós, para que nós possamos acabar com esse exame aplicado pela OAB o mais rápido possível. Não temos medo de um exame aplicado pelo MEC. Nossos parabéns ao Deputado Dr. Grilo, Deputado Garotinho, que aceitou fazer essa reunião. Nossos parabéns, agradecimentos, abraços, toda a nossa gratidão ao Deputado Eduardo Cunha, a todos os Deputados que nos defenderam ontem na votação, Deputada Perpétua Almeida, Deputada Alice Portugal, Deputado Sibá Machado, todos os Parlamentares que deram a cara a bater. Não é fácil brigar com a OAB. Não é fácil. Nós sabemos disso, mas a cada dia, senhoras e senhores, principalmente quem nos acompanha pela televisão, nós estamos ganhando musculatura política, apoios, levando essa manipulação para a imprensa, para os Parlamentares e buscando o fim do exame da Ordem aplicado pela OAB. Muito obrigado. Boa noite. Sr. Presidente, muito obrigado. (Palmas.) 58 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Neste momento, nós agradecemos ao Dr. Reynaldo Arantes pela participação. Gostaria de agradecer também ao Deputado Francisco Escórcio pela participação. Vamos passar a palavra ao Deputado Francisco Escórcio, do PMDB do Maranhão. O SR. DEPUTADO FRANCISCO ESCÓRCIO - Sr. Presidente, eu quero saudar, já fazendo as minhas homenagens a esse movimento de vocês. Não de maneira pejorativa, mas isso é um grilo na cabeça do brasileiro. Sr. Presidente, eu quero dizer que eu não sou contra o exame da Ordem. Eu sou contra a maneira como é feito o exame da Ordem. Por quê? No momento em que você recebe o seu diploma, após a conclusão do curso, você é questionando se tem ou não validade o diploma que você fez, cursou, recebeu. Aí vem a OAB, usando da prerrogativa que não é dela, é do MEC (Palmas.), para questionar se o senhor pode ou não exercer aquela profissão. Eu sou a favor de que, assim como nós temos o ENEM, o MEC tem condição e capacidade técnica para fazer. Eu não vou aqui me ater a uma situação de dizer o seguinte: a OAB precisa desses caça-níqueis que vocês estão mencionando, mas o MEC tem a prerrogativa constitucional de fazer a verificação de seu exame no decorrer do curso. Aí, quando você tiver o seu diploma, estará apto a ser o profissional da área. (Palmas.) Todo mundo me conhece nesta Casa por essa minha sinceridade. Eu sou curto e grosso, e não venham aqui querer dizer que não está havendo um comportamento que esta Casa deve exigir. Nós temos aqui muitos companheiros que são advogados e que hoje exercem, talvez, uma profissão, porque na época em que eles pegaram o seu diploma não era exigido o exame da Ordem. Se eles fossem fazer esse exame da Ordem hoje, não passariam (Palmas.) Então, vocês têm aqui uma posição firme e definida do Deputado Francisco Escórcio, querendo não acabar com o exame da Ordem. Eu quero que esse exame seja feito de maneira legal, porque, na minha ótica, está sendo ilegal. Um abraço. Obrigado. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Nós é que agradecemos ao Deputado Francisco Escórcio pela participação e também concordamos com tudo o que foi dito, que precisa haver uma mudança. Acho que até o próprio Conselho 59 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Federal da OAB já está apontando nesse sentido de aceitar a mudança com relação à segunda etapa. Nós queremos exatamente melhorar e dar condições a todos de fazerem essa avaliação. Se existem irregularidades, elas têm de ser apuradas e os culpados punidos. Mais do que isso, nós temos de saber para onde vai tanto dinheiro, porque foi dito aqui que são cobrados 200 reais para cada exame da OAB. Até questionamos: será que os estudantes têm condições de pagar? O SR. DEPUTADO FRANCISCO ESCÓRCIO - E tem outra indústria: a do cursinho. Será que por trás disso não existe uma indústria violenta para poder manter esse estado de coisas que acontecem? É outra grande interrogação que esta Casa precisa saber. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - Com relação aos cursinhos também, Deputado, precisamos saber o seguinte: como está a qualidade de ensino das faculdades? Se a faculdade não ensina, depois a pessoa tem de ir para o cursinho para fazer a prova. Então, eu acho que o MEC também tem de ser responsabilizado, porque existe certa omissão. Nós devemos apurar tudo o que tem de errado e punir os culpados. Na realidade, se há irregularidades, elas têm de ser apuradas e os culpados punidos. Só para concluir, porque senão não vamos deixar a OAB participar também. Passo a palavra ao representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Dr. Oswaldo Pinheiro Ribeiro Júnior. O SR. OSWALDO PINHEIRO RIBEIRO JÚNIOR - Vou me ater a uns esclarecimentos finais apenas para coletivizar a informação e para esclarecer a observação que foi feita pela Deputada Professora Dorinha Seabra Rezende: entre os critérios previstos no edital do exame da Ordem, já existem, objetivamente definidos, os critérios para isenção de taxa. As pessoas hipossuficientes, que vêm de situação de carência econômica, já têm condições de solicitar a isenção de taxa e, portanto, de participar do exame. Como foi dito também, aqueles que participam de programas de bolsas, que são vinculados ao Cadastro Único do Governo Federal e também atendem aos requisitos, salvo engano, dos Decretos nºs 6.593 e 6.137, aqueles candidatos que preenchem esses requisitos, ou seja, inscritos no Cadastro Único de programas sociais do Governo Federal e que são de famílias de baixa renda — assim 60 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 consideradas aquelas cuja renda per capita não ultrapasse três salários mínimos —, já têm condições, pelo edital, de solicitar a isenção de taxa a cada Exame de Ordem. Assim, o valor de 200 reais não exclui a participação dos candidatos, até porque é de conhecimento público e notório que diversos alunos são egressos de faculdades particulares, cujas mensalidades gravitam em torno de 700 reais a 800 reais, e que aqueles que passam no exame da Ordem e logo se inscrevem na OAB para o exercício da advocacia arcam com anuidades iniciais, para o advogado iniciante, na faixa de 400 reais ou 500 reais. Portanto, a taxa do exame não é excludente. Ademais, como eu disse mais cedo, os valores de 200 reais que são cobrados estão compatíveis com os valores cobrados para os demais concursos públicos nas carreiras jurídicas, com a diferença de que no exame da Ordem são 169 locais de aplicação de provas e a capilaridade envolve todo o País, capital e interior. De fato, a OAB tem feito estudos de natureza reflexiva para verificar de que modo a prova pode ser aperfeiçoada. Existem debates internos sobre a alteração do modelo: se se faria um carregamento na prova subjetiva, de modo que a prova objetiva seria apenas classificatória e a prova subjetiva, a segunda prova, é que seria de fato eliminatória. Enfim, é um modelo para o qual, como eu disse inicialmente, existem várias teses internas, vários debates internos. E é um modelo que está em constante aperfeiçoamento. Eram 100 questões. O número baixou para 80 questões na prova objetiva. Era uma peça prático-profissional e cinco questões subjetivas. O número baixou para uma peça prático-profissional e quatro questões subjetivas. Existe o debate acerca de que modo é possível aferir essa aptidão técnica, com base inclusive nos conteúdos e na distribuição da dificuldade das questões. Logo, não é verdade que a prova é construída para reprovar os candidatos. Como eu disse em outra oportunidade, a banca examinadora avalia o grau de dificuldade de cada questão, classificando-a em fácil, médio ou difícil. E a prova é composta de 80 questões com distribuição bastante equivalente. Não são cobradas 80 questões difíceis; não são cobradas 80 questões médias; na prova, são cobradas questões fáceis, questões médias e questões difíceis. Há um carregamento. 61 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 E é preciso lembrar que são exigidos apenas 40% de acertos na primeira fase, sendo que 15% das 80 questões versam sobre Direitos Humanos e Estatuto da Advocacia e da OAB. Nessa temática, com todo o respeito, quem lê o Estatuto uma vez, quem lê o Código de Ética e Disciplina uma vez, não precisa ler duas, três, quatro vezes, como eventualmente deve ler todo o Código de Processo Penal, todo o Código de Processo Civil. Quinze por cento da prova estão concentrados nestas duas disciplinas: Direitos Humanos e Estatuto da Advocacia e Ética Profissional. Portanto, com todo o respeito, a prova não é feita para reprovar. Ademais, a OAB nunca utilizou o critério de quantidade de aprovados ou quantidade de alunos matriculados num determinado semestre para poder equiparar e elevar o grau de dificuldade da prova, para que a quantidade de aprovados seja idêntica a esse número. Isso nunca foi tomado como base pela Ordem dos Advogados. Avanço numa outra questão, trazida pelo Deputado Vicentinho. Faço questão de coletivizá-la. Os pareceres que a Ordem emite no que diz respeito tanto à abertura de vagas quanto à criação de cursos jurídicos são de caráter opinativo, não vinculam o Ministério da Educação. E 95% desses pareceres são exarados desfavoravelmente à abertura desses cursos e à elevação de vagas. Não obstante, o Ministério da Educação exerce seu papel de fiscalização do ensino jurídico e de todos os cursos superiores do País e faz a aprovação desses cursos. É preciso lembrar outro detalhe: de 2005 a 2012, havia 700 faculdades de Direito; hoje, há 1.260 faculdades. Asseguro aos senhores que, se verificarem os pareceres da Ordem dos Advogados do Brasil acerca da criação desses cursos, de 2005 para cá, notarão que em 95% dos casos o parecer foi desfavorável à abertura e à elevação da quantidade de vagas. Não obstante, o Ministério da Educação autorizou a criação e a elevação do número de vagas. Há mais um detalhe com relação a esse chamado controle preventivo feito pela Ordem dos Advogados: na verdade, a aferição da aptidão técnica é para proteger o cidadão. O cidadão desguarnecido de um advogado minimamente capaz sobre prejuízos. E são prejuízos irreparáveis. Não há como discutir isso, porque o cidadão não pode estar representado, no âmbito do processo judicial, por um 62 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 advogado que não tenha voz no processo, que não saiba o que pedir, que não saiba o que falar, que não saiba como se comportar no âmbito de uma audiência. A OAB — a Direção Nacional e as Seccionais, com o seu Colégio de Presidentes das Comissões de Estágio e Exame de Ordem das Seccionais — está atenta a todos esses movimentos, a todas essas críticas. Tem aperfeiçoado cada vez mais o processo de construção de uma prova segura, que não tenha pegadinhas, como foi dito aqui, que não traga ilusões, que não traga nenhum tipo de situação que traga confusão mental ao candidato. O candidato tem que ler a questão, raciocinar juridicamente e, a partir dali, entender qual é a solução mais adequada para aquele caso. No Direito, é muito comum dizer: “Posso fazer um parecer com o lado A da minha biblioteca ou com o lado B da minha biblioteca.” As teses são construídas. A capacidade argumentativa e o raciocínio jurídico que o profissional desenvolve é que darão maior qualidade à sua defesa técnica. Como sempre converso com os colegas, perder o processo porque a tese é ruim é natural na advocacia. Nem sempre se defendem boas teses. Contudo, perder o processo por uma “atecnia” do profissional, que não soube contar um prazo, que não alegou um fato no momento oportuno, que deixou passar a oportunidade... A preclusão incide, e o juiz não pensa duas vezes. O juiz não quer saber se o debate sobre a qualificação do exame da Ordem tem viés político ou não; ele quer saber se ali, naquele processo concreto, a defesa foi técnica. Se a defesa não tiver sido técnica, se o advogado não contra-argumentar todos os pontos que foram abordados, perde-se o processo. E o cidadão é o prejudicado, porque o advogado não está defendendo seu próprio interesse, mas o do cidadão. Volta-se a outro aspecto. Aqui também foi dito que para a magistratura e para o Ministério Público não é exigida a aprovação no Exame de Ordem. O Provimento nº 144 assim o define porque esses profissionais, quando do ingresso na carreira, demonstraram aptidão técnica e durante vários anos exerceram a magistratura ou ofício no Ministério Público, comprovando a aptidão técnica. O trabalhar no dia a dia, nessa tríade processual — juiz, parte A, parte B; juiz, parte A, Ministério Público, etc. —, faz com que o profissional reúna uma série de qualificações que, uma vez aposentado esse magistrado, uma vez aposentado esse membro do Ministério Público, de fato ele não precisa participar do Exame de Ordem, porque já 63 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 demonstrou aptidão técnica no ingresso da sua profissão e depois, no transcorrer de todo esse período, no exercício dessas funções. De fato, também foi abordado o papel da Ordem. Como eu disse, a Ordem em momento algum quer ocupar o lugar do Ministério da Educação. Quem fiscaliza a qualidade de curso jurídico neste País é o Ministério da Educação, e a Ordem nunca quis tomar eventual omissão do Ministério da Educação. A Ordem nunca pretendeu ocupar esse suposto espaço existente. A Ordem não é ente estatal, é órgão independente da sociedade civil, para que esta possa contestar os atos do Poder. A Ordem não é poder, mas tem a prerrogativa que a Constituição lhe deu para contestar os atos do Poder. Tanto é assim que a Constituição prevê a participação da Ordem dos Advogados na escolha de integrantes da magistratura, do Ministério Público, dos concursos para cargos de Defensor Público, de Procurador Estadual. Há a figura do quinto constitucional nos Tribunais. Há a própria prerrogativa do Conselho Federal da Ordem dos Advogados em arguir a inconstitucionalidade de leis, de atos normativos. O papel de independência que a Ordem possui está relacionado a essa característica. E foi a Constituição que lhe deu essa independência. Esta é a Casa legislativa. Esta é a Casa do povo. Aqui é o foro adequado para o debate dessas questões. Se se entender, amanhã ou depois, que não cabe mais essa tarefa à Ordem dos Advogados, esta Casa vai dar a resposta. Projetos de emenda à Constituição e outros podem surgir a respeito desse tema. O debate é democrático. A Ordem sempre suportou as críticas à sua atuação e sempre tentou enaltecer e fortalecer a democracia. Ela não vai furtar-se ao debate em relação ao exame de Ordem e sempre estará presente e de portas abertas. O processo, a OAB reconhece, não é perfeito e acabado. Está em constante evolução. A crítica dos senhores bacharéis e dos Srs. Parlamentares é sempre bemvinda à OAB. A OAB está sempre refletindo acerca de um modelo mais adequado para aferir a aptidão e a qualidade técnica. E assim o faz porque a tendência mundial, de todos os países modernos, é exigir aptidão técnica. Nos Estados Unidos da América, o advogado, para advogar na Suprema Corte, tem que comprovar 10 anos de exercício da advocacia e tem que ser submetido a uma prova específica na Suprema Corte. No Brasil, não: aprovados no exame da Ordem, no dia seguinte, se 64 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 quiserem peticionar junto ao Supremo Tribunal Federal, podem fazê-lo. Não há esse nível de exigência. A tendência mundial — e em todas as profissões — é a exigência de qualificação e de aferição da aptidão técnica. Hoje existe o exame da Ordem, mas existem inúmeros projetos nesta Casa a respeito da criação do exame para os médicos, para os veterinários, para os engenheiros, etc. E não é porque a OAB é rigorosa, mas porque são profissões cujo exercício coloca em risco o cidadão. O médico que não sabe promover um procedimento cirúrgico está lidando com a vida do cidadão. Muitos podem dizer que na medicina há a residência médica. Eu concordo, mas verifiquem como é feita a residência médica, como é rigorosa. O bacharel conclui os seus créditos nos 5 anos regulares e ainda passa 2 anos dentro de um hospital, sob a supervisão de um clínico geral, de um professor residente, que avalia cada passo daquele profissional, desde o atendimento ao paciente até o comportamento do profissional no centro cirúrgico. O processo é rigoroso porque esses profissionais colocam a vida das pessoas em risco. Assim também o engenheiro, que, quando faz o projeto de determinado edifício, tem que saber fazer os cálculos adequados porque, se não for colocada a quantidade certa de cimento, o prédio desaba e as pessoas morrem. Para concluir, deixo apenas esta mensagem: a Ordem estará sempre de portas abertas. Entende que o processo de aprimoramento do exame passa por este debate nesta Casa legislativa e nunca se furtará a discutir quaisquer questões sobre o exame com os bacharéis. Muito obrigado pela atenção. (Palmas.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Grilo) - a pessoa do Dr. Oswaldo Pinheiro, agradecemos ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil a participação. Pedimos à OAB que reflita acerca desses valores que estão sendo cobrados. Muitos bacharéis em Direito no Brasil deixam de fazer o exame exatamente por falta de recursos, porque o valor de 200 reais para sua realização é exagerado. Pode até não ser para muitos, mas o é para a grande maioria da população brasileira. Muitos estudantes ainda estão pagando as faculdades e o financiamento dos seus cursos e não têm condições de efetuar o pagamento da taxa cobrada. O valor dessa taxa é exagerado, pelo material utilizado. 65 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 E é preciso haver maior transparência acerca desse exame, para mostrar quanto é gasto e quanto é arrecadado. Acho que muitas pessoas estão sendo impedidas de realizar o exame, tendo em vista o valor cobrado. Questionamos para onde vai esse dinheiro e quanto realmente é utilizado dele. Peço a todos compreensão, porque nós estamos concluindo, não vamos reabrir a discussão. Quando solicitamos esta audiência, queríamos dar a palavra a todos. Deixamos todos bem à vontade para usar a palavra, para expor suas opiniões. A Comissão de Legislação Participativa está de portas abertas para voltar a este debate no futuro. Há outras questões a serem discutidas com relação à Ordem dos Advogados do Brasil, até foi citada hoje a questão da eleição direta para a Presidência da OAB. Eu gostaria de citar o Projeto de Lei nº 3.837, de 2012. Nós o elaboramos e apresentamos exatamente pela experiência que tivemos na advocacia. Quando fiz o estágio, eu ainda recebia uma bolsa. Quando me formei, ganhei de presente exatamente um boleto da OAB para pagar a anuidade. Contudo, eu tinha um escritório de advocacia em que não entrava ninguém. Pensei: “É melhor ser estagiário do que ser advogado.” Como é que se paga aquele valor? Se você não o paga, está praticando irregularmente a profissão. Por isso, apresentamos o PL nº 3.837, de 2012, que propõe a isenção para os estagiários e para os advogados recém-formados. E por que isenção para os estagiários? O estágio deve complementar a atividade educacional, deve complementar a atividade escolar. Se o estudante está pegando dinheiro emprestado no FIES para pagar a faculdade, por que a OAB vai cobrar do estudante para complementar essa atividade escolar? A cobrança dessa anuidade, a nossa ver, é injusta. Eu gostaria até de passar esse tema para o Conselho Federal, para que a OAB avalie e se posicione acerca do assunto. Creio que se trata de uma questão de justiça aos estudantes que não têm condições de fazer sequer o pagamento das faculdades. Quanto ao que foi dito em relação ao Ministro do Supremo Tribunal Federal — algumas pessoas disseram que ele não teria nem condição de passar no atual exame —, creio que se trata de adivinhação e futurologia, porque a qualificação do 66 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Comissão de Legislação Participativa Número: 1733/12 COM REDAÇÃO FINAL 05/12/2012 Ministro é inquestionável. Foi dito até que todos nós nos curvamos a ele! Penso que nós temos de nos curvar somente perante Deus. A qualquer pensamento em sentido contrário manifesto a minha reserva. Somente perante Deus nos devemos curvar. Acredito que o Ministro seria aprovado sim, porque é um homem extremamente qualificado — foi capacitado por Deus — e está muito bem preparado para enfrentar qualquer exame, tanto que foi aprovado para a magistratura. Sinceramente, agradeço a todos a participação nesta reunião da Comissão de Legislação Participativa. Deixo claro que a Comissão está de portas abertas para realizar outros debates e para receber sugestões de projetos de lei e de audiências públicas. Esta Comissão vai estar sempre aberta para receber a sociedade organizada. Informo a todos que o conteúdo desta audiência pública foi gravado e será disponibilizado em áudio e vídeo na página da Comissão promotora deste evento, no endereço “www.camara.leg.br/clp”. Muito obrigado a todos os presentes. Boa noite a todos. (Palmas.) Nada mais havendo a tratar, encerro a presente audiência pública. 67