UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA INSTITUTO DE ENERGIA E AMBIENTE GABRIEL KONZEN DIFUSÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS RESIDENCIAIS CONECTADOS À REDE NO BRASIL: UMA SIMULAÇÃO VIA MODELO DE BASS SÃO PAULO 2014 GABRIEL KONZEN DIFUSÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS RESIDENCIAIS CONECTADOS À REDE NO BRASIL: UMA SIMULAÇÃO VIA MODELO DE BASS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Energia da Universidade de São Paulo (Instituto de Energia e Ambiente da USP) para a obtenção do título de Mestre em Ciências. Orientador: Prof. Dr. Roberto Zilles VERSÃO CORRIGIDA (versão original disponível na Biblioteca da Unidade que aloja o Programa e na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP) SÃO PAULO 2014 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. FICHA CATALOGRÁFICA Konzen, Gabriel. Difusão de sistemas fotovoltaicos residenciais conectados à rede no Brasil: uma simulação via modelo de Bass / Gabriel Konzen; orientador Roberto Zilles. – São Paulo, 2014. 108 f.: il.; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Ciências)– Programa de PósGraduação em Energia – Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo. 1. Sistemas fotovoltaicos – setor residencial. 2. Fontes alternativas de energia. 3. Modelo Bass. I. Título. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENERGIA GABRIEL KONZEN “Difusão de sistemas fotovoltaicos residenciais conectados à rede no Brasil: uma simulação via modelo de Bass” Dissertação defendida e aprovada pela Comissão Julgadora: Prof. Dr. Roberto Zilles – PPGE/USP Orientador e Presidente da Comissão Julgadora Profª. Drª. Virgínia Parente – PPGE/USP Dr. Ricardo Gorini de Oliveira – EPE AGRADECIMENTOS “[...] Sou grato por ter nascido branco. (Em uma sociedade racista, onde as pessoas negras são consistentemente assassinadas em números alarmantes, formam maioria da população carcerária, mas a minoria da população universitária, encontram dificuldades para conseguir empregos e alugar apartamentos, e têm até mesmo seu cabelo chamado de “ruim”.) [...] Sou grato por ter estudado nas melhores escolas particulares da minha cidade. (Em uma sociedade onde as escolas públicas, abandonadas pela elite cujas crianças não estudam mais nelas, formam um número assustador de analfabetas funcionais.) [...] Sou grato por não ter tido que trabalhar durante a minha infância e adolescência. (Em uma sociedade onde muitas crianças, além de estudar em escolas que não lhes formam, ainda precisam ajudar suas famílias com o seu próprio trabalho desde muito cedo, algumas vezes até mesmo voltando-se ao crime.)” (Alex Castro)1 Os privilégios supracitados certamente foram de primordial importância para a concretização deste trabalho. Na ausência destes, teria sido muito mais difícil. Portanto, agradeço aos meus pais por serem responsáveis por parte dos mesmos. Adicionalmente, gostaria de agradecer: Ao Prof. Dorival Gonçalves Jr., por compartilhar de sua visão de mundo e me incentivar a realizar o Mestrado em Energia na USP, expandindo meus horizontes. Ao meu orientador, Prof. Roberto Zilles, pela oportunidade e pelos ensinamentos repassados. Aos amigos do IEE, pelas conversas, risadas e troca de experiências. À EPE por me apoiar neste trabalho, e aos amigos e colegas que fiz ali dentro, em especial ao Luiz Gustavo de Oliveira, Gustavo Naciff, Gustavo Haydt, Marcelo Almeida, Márcio Casici, Luciano Basto Oliveira e Ricardo Gorini, pelas contribuições. 1 Trechos do texto “Ação de http://papodehomem.com.br/acao-de-gracas/ graças pelos privilégios recebidos”. Disponível em: RESUMO KONZEN, Gabriel. Difusão de sistemas fotovoltaicos residenciais conectados à rede no Brasil: uma simulação via modelo de Bass 2014. 108 p. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Programa de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014. A geração distribuída fotovoltaica ganha destaque neste século como alternativa limpa e renovável de atendimento à demanda de eletricidade. Com esta possibilidade, um novo agente é incorporado à tomada de decisão. O pequeno consumidor passa a ter um papel ativo no sistema elétrico, podendo agora investir num sistema próprio de geração. Para o planejamento do setor, o desenvolvimento desta geração tem a singularidade de não passar diretamente por decisões centralizadas do governo, mas pelo juízo e subjetividade de cada indivíduo, introduzindo um fator de incerteza no planejamento. Neste contexto, o presente trabalho busca projetar a difusão de sistemas fotovoltaicos conectados à rede em residências brasileiras no horizonte decenal sob diferentes cenários. Para isto, foi formulado um modelo de difusão de Bass, de acordo com a realidade brasileira. O modelo consiste no levantamento do mercado potencial de acordo com as características socioeconômicas da população e do retorno do investimento, e projeta a adoção segundo uma curva sigmoide de difusão. A capacidade estimada no cenário referência (BAU) em 2023 é de 330 MWp, podendo atingir 3,1 GWp num cenário mais favorável de incentivos. Palavras-chave: Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede. Difusão de inovações. Modelo de Bass. Setor Residencial. Incentivos. ABSTRACT KONZEN, Gabriel. The diffusion of residential grid-connected photovoltaic systems in Brazil: a simulation via Bass model. 2014. 108 p. M. Sc. Diss. Post-Graduate Program in Energy. University of São Paulo. São Paulo, 2014. The distributed photovoltaic (PV) generation gains prominence in this century as a clean and renewable alternative to meet growing demand for electricity. Regarding this possibility, a new agent is brought into the decision-making. The consumer begins to play a leading role on the electrical system, since they are now able to invest in their own generation system. For energy planning, the development of the aforementioned generation has the uniqueness of being directly independent of centralized decisions of the government, but by judgment and subjectivity of each individual, introducing an uncertainty factor in planning. In this context, this thesis aims to simulate the diffusion of grid-connected photovoltaic systems in Brazilian households over a range of ten years, under different scenarios. In order to do so, a Bass diffusion model was formulated according to the Brazilian singularities. The model is based on a previous examination of the potential market aligned with the socioeconomic characteristics of the population and the payback time, and forecasts the adoption according to an S-shaped curve. The estimated capacity in the reference scenario (BAU) in 2023 is equal to 330 MWp, potentially reaching 3.1 GWp in a favorable scenario supported by incentives. Keywords: Grid-Connected Photovoltaic Systems. Diffusion of innovations. Bass Model. Residential Sector. Incentives. LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 - Estágios do Processo de Difusão ................................................................. 21 Figura 1.2 - Distribuição dos adotantes .......................................................................... 24 Figura 1.3 - Importância dos canais interpessoais no processo de difusão ..................... 25 Figura 1.4 - Curva S típica de um processo de difusão bem sucedido............................ 27 Figura 1.5 - Curvas de difusão de diferentes produtos nos EUA .................................... 28 Figura 1.6 - Probabilidade de adoção x percepção dos atributos .................................... 35 Figura 1.7 - Volume relativo de mercado residencial com paridade tarifária ................. 38 Figura 2.1 - Divisão geográfica das áreas de concessões das distribuidoras brasileiras de energia elétrica ........................................................................................... 46 Figura 2.2 - Diagrama do levantamento do mercado potencial fotovoltaico residencial 53 Figura 2.3 - Mercado Potencial Final vs. Payback ......................................................... 55 Figura 2.4 - Média de irradiação e desvio padrão por distribuidora ............................... 58 Figura 2.5 - Histórico de custos de módulos fotovoltaicos e curva de aprendizagem .... 64 Figura 2.6 - Taxa de adoção da tecnologia fotovoltaica residencial ............................... 73 Figura 2.7 - Fluxograma esquemático da metodologia da projeção da difusão de sistemas fotovoltaicos residenciais conectados à rede. .............................. 76 Figura 3.1 - Mercado potencial fotovoltaico residencial no Brasil ................................. 79 Figura 3.2 - Evolução do payback médio no Brasil do investimento em um SFV residencial sob diferentes cenários de incentivo ........................................ 82 Figura 3.3 - n° de adotantes e o percentual frente ao mercado potencial ....................... 85 Figura 3.4 - Percentual de adotantes em relação ao mercado potencial .......................... 86 Figura 3.5 - Projeção da capacidade fotovoltaica instalada em residências no Brasil .... 87 Figura 3.6 - Montante de investimentos acumulados previstos ...................................... 89 Figura 3.7 - Percentual do consumo residencial atendido pela GD FV em 2023 ........... 91 LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 - Percepção de adotantes e não adotantes de sistemas fotovoltaicos ............ 34 Tabela 2.1 - Crescimento populacional nas classes A e B entre 2001 e 2009 ................ 50 Tabela 2.2 - Percentual de casas próprias em relação ao total de domicílios ................. 52 Tabela 2.3 - Produtividade (YF) por distribuidora .......................................................... 59 Tabela 2.4 - Limites de potência FV que pode ser instalada por faixa de consumo ...... 61 Tabela 2.5 - Perspectiva de redução anual de custos dos sistemas fotovoltaicos ........... 65 Tabela 2.6 - Perspectiva do custo dos sistemas fotovoltaicos ......................................... 65 Tabela 2.7 - Alíquotas de impostos de equipamentos ..................................................... 66 Tabela 2.8 - Composição de custos da cadeia fotovoltaica ............................................. 66 Tabela 2.9 - Tarifas finais de energia elétrica por distribuidora ..................................... 68 Tabela 2.10 - Premissas básicas relacionadas ao cálculo de payback............................. 70 Tabela 2.11 - Resumo das variáveis por cenário............................................................. 75 Tabela 3.1 - Mercado potencial fotovoltaico residencial por distribuidora (mil domicílios) ............................................................................................... 77 Tabela 3.2 - Evolução do payback da geração fotovoltaica residencial (anos) .............. 80 Tabela 3.3 - Nº de domicílios adotantes da geração fotovoltaica residencial no cenário BAU ......................................................................................................... 83 Tabela 3.4 - n° de domicílios adotantes no Brasil por cenário de difusão ...................... 86 Tabela 3.5 - Projeção da capacidade fotovoltaica instalada em residências no Brasil (MWp) ..................................................................................................... 88 Tabela 3.6 - Projeção da energia fotovoltaica gerada em residências no Brasil (GWh/ano) ............................................................................................... 88 Tabela 3.7 - Projeção da energia fotovoltaica gerada em residências no Brasil (MWméd) ................................................................................................................. 88 Tabela 3.8 - Montante de investimentos acumulados previstos ...................................... 90 SUMÁRIO Introdução ....................................................................................................................... 11 1 Fundamentos Teóricos ........................................................................................... 19 1.1 Breve histórico dos estudos de difusão .............................................................. 19 1.2 Teoria da Difusão de Inovações ......................................................................... 20 1.2.1 Estágios do processo de difusão .................................................................. 20 1.2.2 Categorias de adotantes ............................................................................... 23 1.2.3 Curva S de distribuição ............................................................................... 26 1.2.4 Medidas de incentivo à difusão ................................................................... 28 1.3 Tornando a geração fotovoltaica acessível ......................................................... 29 1.4 Difusão de Sistemas Fotovoltaicos Distribuídos. ............................................... 31 1.4.1 Percepção do consumidor brasileiro frente à microgeração distribuída ..... 35 1.5 Modelos de difusão de sistemas fotovoltaicos distribuídos ............................... 36 2 1.5.1 Modelos baseados em paridade tarifária ..................................................... 37 1.5.2 Modelos baseados em agentes..................................................................... 39 1.5.3 Modelos baseados em Bass ......................................................................... 41 1.5.4 Outros modelos de difusão .......................................................................... 43 Metodologia ........................................................................................................... 45 2.1 Nível de desagregação geográfica dos dados ..................................................... 45 2.2 Alcance temporal ................................................................................................ 47 2.3 Estimativa do mercado potencial final ............................................................... 47 2.3.1 Mercado potencial ....................................................................................... 47 2.3.2 Mercado potencial final (m) ........................................................................ 53 2.3.3 Premissas para o cálculo de payback .......................................................... 56 2.4 Taxa de adoção ................................................................................................... 71 2.4.1 Parâmetros utilizados .................................................................................. 72 2.5 Cálculo do número de adotantes, da potência e energia ..................................... 74 2.6 Resumo dos cenários e da metodologia .............................................................. 74 3 Resultados .............................................................................................................. 77 3.1 Mercado potencial .............................................................................................. 77 3.2 Evolução do payback .......................................................................................... 80 3.3 Adotantes ............................................................................................................ 83 3.4 Potência, energia e valor de mercado ................................................................. 87 4 Conclusões e considerações finais ......................................................................... 93 5 Referências ............................................................................................................. 97 6 Anexos.................................................................................................................. 105 11 Introdução O rápido crescimento demográfico mundial observado nos últimos séculos, que elevou a população de pouco menos de um bilhão de habitantes no ano de 1800 a mais de 7 bilhões em 2012, aliado ao aumento do consumo per capita de energia primária, passando de aproximadamente 20 GJ/ano ao final do século XVIII para cerca de 75 GJ/ano em 2012, levou ao incremento exponencial da demanda por energia no mundo. Desta forma, o consumo total que em 1800 foi em torno de 20 EJ, saltou para quase 550 EJ em 2012 (SMIL, 2010; BP, 2013). Até o século XIX, a maior parte da energia consumida no mundo era de origem renovável, proveniente de biomassas, em especial a madeira. No entanto, dada a necessidade de expansão da produção, juntamente à redução das florestas próximas aos grandes centros, o carvão, que já havia sido utilizado na Grã-Bretanha durante século XIII e mais tarde proibido em função da poluição, começa a suplantar de vez a madeira como combustível, nos países centrais da revolução industrial, dado seu benefício econômico, dando início a era dos combustíveis fósseis. No início do século XX, a metade da matriz energética mundial era ocupada pelo carvão, sendo o restante ainda ocupado majoritariamente pela biomassa (SMIL, 2010). Porém, ao longo do século, a participação dos fósseis, mais especificamente o petróleo, carvão e gás natural, ganhou espaço, respondendo em 2011 por 82% da matriz energética mundial (IEA, 2013). Em relação à energia final2, destaca-se a intensificação do uso da eletricidade ao longo do século XX. Além de sua propriedade física, que a confere alta disponibilidade, podendo ser transformada facilmente em diferentes formas de energia útil 3, a eletricidade é uma forma limpa e segura para o consumidor. Estas características se adequam às necessidades da sociedade moderna, sendo natural a ampliação da sua participação nas matrizes energéticas. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, 2013), a eletricidade passou de 2 Pode-se definir a energia final como aquela recebida pelo usuário nos diferentes setores, seja na forma primária (provida pela natureza diretamente: petróleo, gás natural, carvão mineral, minério de urânio, sol, vento e outros), ou secundária (que tenha passado por um processo de transformação: eletricidade, gasolina, etc.), para uma última transformação a fim de prover a energia útil ao consumidor. 3 É a forma energética última, efetivamente demandada pelo usuário, devendo ser algum fluxo energético simples, como calor, iluminação, potência mecânica, etc. 12 quinta forma de energia mais consumida mundialmente em 1973, à segunda, em 2011, com 17,7% do total, atrás apenas do petróleo, que detinha 40,8% no mesmo ano (IEA, 2013). Não diferente da matriz energética, a produção de eletricidade mundial também é majoritariamente não renovável4, sendo que, atualmente, praticamente 80% da sua produção é proveniente destas fontes. Entretanto, nas últimas décadas o apelo à substituição pelas fontes renováveis tem crescido, em função de basicamente três inconvenientes: 1) esgotamento dos combustíveis fósseis: uma vez que estes são recursos finitos e exigirão cada vez mais esforços para serem obtidos, o que leva à elevação de custos; 2) segurança energética: pois mesmo que os recursos fósseis estejam disponíveis em algum lugar do mundo, deseja-se evitar que uma economia dependa deste acesso. 3) alterações climáticas: por ser muito provável que a queima dos combustíveis fósseis e a consequente emissão de dióxido de carbono (CO2) venha intensificando o efeito estufa e levando à alteração do clima na Terra. (MACKAY, 2009). Neste cenário, voltam-se as atenções à energia solar fotovoltaica, que consiste, através do efeito fotovoltaico, na conversão direta da luz solar em eletricidade5. Dentre as vantagens desta tecnologia, destaca-se o fato de utilizar uma fonte abundante6 e praticamente inesgotável de energia; não emitir poluentes durante sua operação7; não utilizar partes móveis (evitando manutenções); funcionar de forma silenciosa; ser altamente modular, o que permite sua aplicação em diferentes escalas (desde aplicações eletrônicas a plantas geradoras da ordem de MW), entre outras. Esta tecnologia, que foi desenvolvida em meados da década de 1950, foi utilizada inicialmente em aplicações espaciais e sistemas isolados. Somente a partir do final da década de 1990 é que a conexão de sistemas fotovoltaicos à rede passa a ocupar lugar cada vez mais expressivo entre às aplicações da tecnologia fotovoltaica (ZILLES et al., 2012), fruto, principalmente, de programas de incentivo de países como Alemanha, Espanha, EUA, Japão, entre outros. O aumento da capacidade instalada, juntamente ao desenvolvimento tecnológico, 4 A geração “não renovável” aqui denominada inclui as fontes fósseis e a geração nuclear. 5 Mais detalhes sobre esta tecnologia e suas aplicações em ZILLES et al. (2012) ou em GREEN (2000). 6 Cerca de 885 milhões de TWh atingem a superfície terrestre todo ano (IEA, 2011), isso é mais de 8500 vezes o consumo final total de energia na Terra em 2011. 7 Nenhuma fonte é livre de impactos ambientais. No caso da fotovoltaica, os principais impactos estão associados à obtenção e transformação da matéria prima para produção dos módulos e ao seu descarte. Estima-se que na produção sejam emitidos em torno de 40g CO2-eq/kWh para módulos de silício e 20g CO2-eq/kWh para módulos de telureto de cádmio (CdTe) (FTHENAKIS, 2011). 13 fez com que os custos desta tecnologia caíssem bruscamente nos últimos anos, impulsionando ainda mais o mercado fotovoltaico. Dessa forma, em 2012 o mundo atingiu a marca de 102 GWp8 instalados (EPIA, 2013). Dadas as características dos sistemas fotovoltaicos, estes se apresentam como uma excelente alternativa para aplicações de geração distribuída (GD), i.e., geração próxima ao local de consumo9. Desta forma, um sistema fotovoltaico pode ser instalado em áreas disponíveis nos centros urbanos, como telhados, lajes, coberturas, etc., sem competir pelo uso do solo. Esta modalidade permite que pequenos investidores atuem no setor, assim como pode aumentar a consciência dos consumidores para com o uso da energia ao se tornarem mais participantes da geração, levando a um ganho adicional através do uso racional e da eficiência energética. Neste sentido, Keirstead (2007) examina as residências britânicas com sistemas fotovoltaicos e conclui que o monitoramento do medidor de eletricidade importada da distribuidora e da eletricidade gerada pelo sistema motiva os usuários a promoverem reduções adicionais de custo (6%, em média) através da modificação dos seus hábitos de consumo. Adicionalmente, a geração distribuída não necessita a construção de longas linhas de transmissão, que aumentam os custos e acarretam em perdas de energia na geração convencional. No Brasil, a capacidade instalada fotovoltaica ainda é pequena, totalizando cerca de 30 MWp até o final de 2011, em sua maioria em sistemas isolados (ABINEE, 2012). No caso da geração distribuída de pequeno porte, em 2012 foi publicada pela ANEEL a Resolução Normativa n° 482 que regulamentou o acesso da micro e minigeração10 distribuída (energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada) aos sistemas de distribuição de energia elétrica, e o sistema de compensação de energia elétrica11, entre outras coisas. Este foi 8 Wp é a potência nominal dos módulos fotovoltaicos, que indica a potência do sistema testado em laboratório em STC (Standard Test Conditions: irradiação de 1.000 W/m², massa de ar de 1,5 e temperatura da célula de 25ºC (RÜTHER, 2004)). 9 Uma definição mais precisa utilizada pela ANEEL: “Centrais geradoras de energia elétrica, de qualquer potência, com instalações conectadas diretamente no sistema elétrico de distribuição ou através de instalações de consumidores, podendo operar em paralelo ou de forma isolada e despachadas – ou não – pelo ONS" (ANEEL, 2012a). 10 Microgeração: central geradora de energia elétrica com potência menor ou igual a 100 kW. Minigeração: central geradora de energia elétrica com potência superior a 100 kW e menor ou igual a 1 MW. 11 “...sistema no qual a energia ativa injetada por unidade consumidora com microgeração distribuída ou minigeração distribuída é cedida, por meio de empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica ativa dessa mesma unidade consumidora ou de outra unidade 14 um marco regulatório para a GD no país, e abriu legalmente a possibilidade do consumidor gerar sua própria energia. De fato, com a redução de custos dos sistemas fotovoltaicos e a possibilidade de geração própria, entrevê-se uma mudança de paradigmas na geração de energia elétrica mundial. Em pesquisa realizada pela PWC (2013) com executivos de empresas de geração e distribuição de 35 países, 94% destes preveem uma transformação completa ou importantes mudanças no modelo de negócio de suas companhias até 2030, em função, principalmente, do advento da geração distribuída. Além das mudanças ocasionadas ao sistema elétrico em virtude da descentralização da geração, com o desenvolvimento deste mercado altera-se também a dinâmica do planejamento energético, uma vez que a capacidade instalada distribuída não passa por decisões diretas do Estado, como no caso da deliberação da realização de novos leilões de energia, no caso brasileiro. Portanto, faz-se necessário que os modelos de planejamento energético estimem a parcela do consumo que futuramente será suprida pelos próprios usuários e como se altera o perfil de carga do consumidor, de forma a abater parte da demanda que deveria ser suprida exclusivamente por grandes projetos de geração, e balizar os novos investimentos centralizados. No entanto, a tarefa de projetar este mercado não é simples, uma vez que passa por estimar a decisão de consumidores, que não agem apenas de forma objetiva e racional. Não à toa, este campo de estudo envolve diferentes áreas do conhecimento, como, por exemplo, as ciências humanas. Internacionalmente, alguns autores elaboraram modelos para projetar a difusão de sistemas fotovoltaicos distribuídos em determinados países, considerando as particularidades de cada país e incentivos dados a este tipo de geração. Porém, o cenário brasileiro é totalmente diferente dos países estudados, principalmente por adotar um modelo passivo de inserção (compensação líquida), enquanto a maioria dos outros países utilizou medidas ativas de incentivo (feed-in tariffs,12, principalmente). Além disto, o maior apelo internacional às consumidora de mesma titularidade da unidade consumidora onde os créditos foram gerados, desde que possua o mesmo Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro de Pessoa Jurídica (CNPJ) junto ao Ministério da Fazenda.” (ANEEL, 2012b). 12 Consiste na compra da energia gerada por um valor fixo por kWh (geralmente superior às tarifas das distribuidoras) num contrato de longo prazo (15 a 20 anos), gerando uma receita mensal ao dono do sistema. 15 energias renováveis, somado a um cenário econômico de menores taxas de juros, fez com que os investimentos em GD fotovoltaica apresentassem atratividade superior em outros países. Portanto, não é possível replicar os modelos estrangeiros à realidade brasileira, sendo necessário elaborar um modelo próprio que contemple as características nacionais. Neste contexto, o presente trabalho propõe um modelo de difusão para o Brasil, adaptado de acordo com a atratividade econômica dos sistemas fotovoltaicos no país, a abrangência territorial nacional e a disponibilidade de dados existente, resultando numa estimativa da capacidade instalada futura e da energia gerada pelos sistemas em questão. Apesar da geração distribuída ser aplicável em qualquer setor, este trabalho será delimitado apenas ao estudo de sua aplicação no setor residencial conectado à rede. Esta escolha se fundamenta em três pontos principais: 1) a geração distribuída fotovoltaica se viabiliza economicamente primeiramente, com grande margem, nos sistemas atendidos em baixa tensão, e nestes, o setor residencial é maioria13; 2) no levantamento bibliográfico realizado, as referências encontradas abordam majoritariamente o comportamento do consumidor residencial na tomada de decisão sobre um investimento em energia fotovoltaica, em detrimento do comércio e indústria; 3) a relativa abundância de dados disponíveis para o setor residencial no Brasil frente aos outros setores, o que permite maior detalhamento do estudo para o setor em questão. Para a elaboração do trabalho, o Brasil é dividido em 61 diferentes áreas, correspondente à área de concessão das principais14 distribuidoras de energia elétrica existentes no país. O horizonte de estudo considerado será de dez anos15, em consonância com o horizonte do plano decenal elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A partir de parâmetros de entrada pré-determinados, o modelo de difusão é construído em interface Microsoft Excel, com auxílio da linguagem Visual Basic for Applications (VBA). De modo complementar, é utilizado o software de sistema de informação geográfica ArcGIS, desenvolvido pelo Environmental Systems Research Institute (ESRI), responsável por auxiliar a análise espacial do estudo. 13 O setor residencial corresponde por cerca de 65% do consumo dos sistemas conectados à baixa tensão, seguido do comercial, com aproximadamente 22% (EPE, 2013a). 14 Foram excluídas pequenas distribuidoras que não apresentavam informações no site da ANEEL. Mais informações na seção 2.1. 15 Mais detalhes sobre esta delimitação na seção 2.2. 16 Motivação Apesar dos avanços em eficiência energética e no consumo eficiente, é evidente que a demanda residencial por eletricidade irá aumentar ao longo das próximas décadas no Brasil, por uma combinação principal de fatores: o crescimento do número de domicílios e a evolução da posse e uso dos equipamentos eletrodomésticos (EPE, 2013b). A construção de grandes usinas hidrelétricas no país traz cada vez mais impactos ambientais e sociais, ao passo que usinas termelétricas a combustíveis fósseis trazem consigo maior poluição e emissões de gases de efeito estufa (GOLDEMBERG, 2006). Sob esta ótica, a geração fotovoltaica distribuída aparece como uma excelente alternativa, dadas as vantagens descritas anteriormente. Com perspectivas de atingir a paridade tarifária16 ao longo da próxima década, e passar a ocupar cada vez mais espaço (literalmente) nos telhados brasileiros, é importante estudar a parcela da demanda que será atendida por esta fonte, auxiliando no planejamento elétrico do país. Os estudos em energia fotovoltaica vêm ganhando espaço no planejamento elétrico brasileiro, havendo ocupado, a partir de 2013, espaço nos Planos Decenais de Expansão de Energia (PDE), publicados anualmente pela EPE. No entanto, observa-se que a metodologia empregada até o momento pela EPE no PDE 2022 para realizar a estimativa da difusão da geração fotovoltaica distribuída no Brasil está em estágio inicial de desenvolvimento, podendo ser aprimorada e detalhada. Neste sentido, o autor se motiva em contribuir, através do presente trabalho, para os estudos do planejamento nacional. Objetivos O objetivo principal do trabalho é projetar a difusão de sistemas fotovoltaicos conectados à rede (SFCR) em residências brasileiras no horizonte decenal sob diferentes cenários. 16 Equiparação entre o custo de geração e o valor da tarifa praticada pelas distribuidoras (ZILLES, 2012). 17 Objetivos Específicos 1. Analisar o comportamento dos consumidores residenciais frente à decisão de investimento em uma inovação, em especial os sistemas fotovoltaicos, através de consulta à literatura; 2. Formular um modelo de difusão de sistemas fotovoltaicos distribuídos residenciais com base nos modelos internacionais, adaptado à realidade brasileira; 3. Avaliar o efeito de diferentes medidas de incentivo econômico e de flexibilização regulatória na difusão dos sistemas fotovoltaicos residenciais. Organização do trabalho O presente trabalho foi estruturado em quatro capítulos. Após a introdução ao tema, no Capítulo 1 é feita uma revisão bibliográfica que irá auxiliar na formulação do modelo. Para isto, será analisada, primeiramente, a consagrada teoria de difusão de Rogers, seguida de uma análise específica da difusão de sistemas fotovoltaicos em outros países. Finalmente, serão avaliados os diferentes modelos de difusão aplicados internacionalmente, para discernir a melhor alternativa para o Brasil. Ressalta-se que o detalhamento da tecnologia, do recurso solar e da regulação existente no país já foi realizado em inúmeros trabalhos recentes, como, por exemplo, Pereira et al. (2006), EPE (2012), ABINEE (2012), Zilles et al. (2012) e Miranda (2013), não sendo escopo deste trabalho revisar estes assuntos. No capítulo 2 é proposta a metodologia do modelo de difusão de SFCR residenciais no país. A formulação é composta, inicialmente, pelo levantamento do mercado potencial brasileiro com base em características socioeconômicas e pelo retorno financeiro do investimento. Na sequência, será estimada a taxa de adoção que representará a difusão no mercado projetado. Concomitantemente, são apresentadas as análises de sensibilidade em determinados pontos do modelo, que ao final do capítulo serão sumarizadas em seis diferentes cenários. No capítulo 3 são apresentados os resultados obtidos com a aplicação do modelo proposto, seguindo a mesma sequência do capítulo anterior: mercado potencial, payback, número de adotantes, potência instalada e energia gerada pelos sistemas. Simultaneamente são avaliados os resultados dos cenários de incentivos. Por fim, é realizada uma análise dos resultados obtidos. 18 Finalmente, no capítulo 4 são evidenciadas as conclusões do estudo, expostas as limitações do modelo apresentado e sugeridos estudos futuros. 19 1 Fundamentos Teóricos As tecnologias de microgeração de energia residenciais, como a fotovoltaica (foco deste estudo), podem ser classificadas como inovações descontínuas. Envolvem a introdução de um produto inteiramente novo, alterando significativamente os padrões de comportamento do consumidor. Esta classificação permite enquadrar a geração distribuída fotovoltaica dentro da estrutura das teorias de inovações, e, consequentemente, das trajetórias qualitativas de difusão segundo estas teorias (ISLAM, 2014). Logo, na sequência será revisada a teoria geral de difusão de inovações, para, posteriormente, detalhar os estudos aplicados aos sistemas fotovoltaicos. 1.1 Breve histórico dos estudos de difusão As primeiras pesquisas em difusão remetem ao final do século XIX, quando a sociologia e a antropologia emergiam na Europa como novas ciências sociais. Gabriel de Tarde, francês atuante em diversas áreas (sociologia, filosofia, psicologia e criminologia), publicou em 1890 o livro: Les lois de l'imitation (As leis da imitação), que já trazia diversos entendimentos sobre difusão que são aceitos atualmente, como, por exemplo, de que a adoção segue uma curva com formato de “S” ao longo do tempo. Ainda, propôs que quanto mais similar uma inovação é às ideias que já são aceitas, maior a probabilidade desta inovação ser adotada. Tarde foi um dos europeus precursores no campo da difusão, havendo ainda outros antropólogos alemães e britânicos que escreveram sobre o tema logo após Tarde. No entanto, tais teorias não foram imediatamente seguidas por estudos empíricos nesta área, levando 40 anos para serem aplicadas num estudo sobre sementes híbridas de milho nos EUA 17 (ROGERS, 2003). Outros estudos específicos começaram a surgir nesta época, envolvendo diversos campos de aplicação, como educação, antropologia, saúde pública, marketing, geografia, sociologia rural, ciências políticas e outras. Em 1962, Rogers, então professor de sociologia rural na Ohio State University, escreveu a obra: Diffusion of Innovations (Difusão de Inovações), com a motivação de descrever um modelo geral de difusão, aplicável a todas 17 O estudo em questão é de Ryan & Gross, intitulado “The Diffusion of Hybrid Seed Corn in Two Iowa Communities”, publicado na revista Rural Sociology v. 8, em março de 1943. 20 as áreas. Seu livro virou uma referência no campo da difusão, sendo o segundo livro mais citado no campo das ciências sociais até início da década passada (SINGHAL, 2002), tendo sua quinta, e última, edição sido publicada em 2003. 1.2 Teoria da Difusão de Inovações Esta seção é principalmente baseada na teoria da difusão de inovações descrita em Rogers (2003). Outros autores também são incorporados nesta revisão, sendo devidamente citados quando necessário. A teoria da difusão de inovações busca explicar como inovações são adotadas numa população. Pelo termo “inovação” entende-se que pode ser uma ideia, um comportamento, ou um objeto que é percebido como novo pelo público. 1.2.1 Estágios do processo de difusão Pesquisadores reconhecem que a decisão individual sobre uma inovação não é um ato instantâneo. Ao invés disso, é um processo que ocorre durante um período e consiste numa série de diferentes ações. Portanto, existem estágios durante a adoção de uma inovação, podendo ser classificados da seguinte forma: 1. Conhecimento: ocorre quando um indivíduo18 é exposto à existência da inovação e toma conhecimento de como ela funciona. 2. Persuasão: ocorre quando o indivíduo forma uma atitude favorável ou desfavorável em relação à inovação. 3. Decisão: quando o indivíduo se engaja em atividades que o levam a adotar ou rejeitar a inovação. 4. Implementação: ocorre quando o indivíduo coloca a inovação em uso. 5. Confirmação: é quando o indivíduo busca reforçar a decisão tomada, podendo alterar sua decisão se exposto a mensagens conflitantes sobre a inovação. Esse processo pode ser ilustrado, com alguns detalhes de cada etapa, pela Figura 1.1. 18 Neste trabalho, sempre que for mencionado o termo “indivíduo”, refere-se a qualquer unidade de decisão, não apenas a uma pessoa. 21 Figura 1.1 - Estágios do Processo de Difusão Fonte: Adaptado de Rogers, 2003. Obviamente, a taxa de conhecimento de uma ideia é maior que a taxa de adoção, sendo apenas a primeira etapa do processo. Para tentar explicar o porquê de algumas inovações serem espalhadas mais rapidamente do que outras, ou por que algumas falham, a Teoria da Difusão reconhece cinco características que determinam o sucesso de uma inovação. Segundo Rogers, essas qualidades respondem por 49 a 87% das variações na taxa de adoção de novos produtos, sendo descritas na sequência. 1. Vantagem Relativa É o grau em que uma inovação é percebida como melhor que a anterior por um grupo particular de usuários, medido em termos que interessam a esses usuários, como vantagem econômica, prestígio social, conveniência ou satisfação. Quanto maior a vantagem relativa percebida, maior tende a ser a taxa de adoção. Ressalta-se que não se trata dos atributos classificados objetivamente por experts ou agentes de mudança19, mas a percepção dos indivíduos sobre os atributos. 19 Agentes promotores, designados para incentivarem a difusão. 22 2. Compatibilidade É o grau em que uma inovação é percebida como consistente com os valores, experiências passadas e necessidades dos potenciais adotantes. Quanto mais compatível, maior a taxa de adoção. 3. Complexidade O grau com que uma inovação é percebida como de difícil entendimento e uso. Novas ideias que são simples de entender são adotadas mais rapidamente que aquelas que requerem ao adotante desenvolver novas habilidades e entendimentos. 4. Possibilidade de Teste O grau com que uma inovação pode ser experimentada antes da efetiva adesão. A possibilidade de teste diminui as incertezas do usuário e leva a maior adoção. 5. Visibilidade Quanto mais fácil for aos usuários ver os resultados da inovação, assim como mostrá-los aos demais, mais provável é a adoção. Resultados visíveis diminuem as incertezas e também estimulam a discussão da ideia entre pares, como amigos e vizinhos. Como visto, a lista prévia descreve algumas características que orientam o sucesso de uma difusão. Não obstante, ter uma nova ideia adotada é difícil, mesmo quando esta tem óbvias vantagens. Muitas inovações requerem vários anos do ponto em que são disponibilizadas até quando são largamente adotadas. Isto porque a difusão de inovações está intimamente relacionada à troca de informações entre usuários e susceptível a subjetividade das análises de cada um. Enquanto que a racionalidade, definida como o uso dos meios mais efetivos para atingir um objetivo, não é facilmente medida no caso de muitas inovações. Portanto, entende-se que a difusão de inovações é um processo social, mais do que uma questão técnica. 23 Com essa noção, fica evidente (como mostra a Figura 1.1) que os canais de comunicação fazem parte de todas as etapas do processo de difusão, embora haja diferenças de abordagem entre eles, assim como diferentes papeis em cada estágio e para cada tipo de usuários. Basicamente, divide-se em dois canais principais: os meios de comunicação de massa, e as conexões interpessoais. Canais de comunicação de massa geralmente são mais efetivos para promover efeitos de conhecimento, ou seja, o início do processo de difusão, uma vez que têm a capacidade de atingir muitas pessoas rapidamente. No entanto, a comunicação de massa é muito geral para prover o toque específico de reforço que o indivíduo necessita para confirmar suas crenças iniciais sobre uma inovação, sendo importantes neste estágio os canais interpessoais para causar efeitos de persuasão. 1.2.2 Categorias de adotantes Para detalhar mais os papeis de cada canal de comunicação, faz-se necessário introduzir outro ponto chave da teoria da difusão de inovações, que diz respeito à categorização dos adotantes. Os pesquisadores da área acreditam que uma população pode ser dividida em cinco diferentes segmentos, baseados na sua propensão a adotar uma inovação específica: inovadores, adotantes iniciais, maioria inicial, maioria tardia e retardatários. Cada grupo tem sua “personalidade” e atitude para com a adoção de inovações. É importante salientar que, ao pensar nestes grupos, não se busca migrar indivíduos de um grupo a outro para alcançar a difusão. Pensa-se em membros estáticos, sendo que uma inovação se propaga quando evolui suficientemente para atender as necessidades de cada segmento. 1. Inovadores: o processo de difusão começa com um pequeno grupo de visionários, imaginativos inovadores. Eles frequentemente gastam seu tempo, energia e criatividade (além de dinheiro), no desenvolvimento e adoção de novas ideias e dispositivos. E adoram falar sobre eles. 2. Adotantes iniciais: uma vez que os benefícios começam a aparecer, estes indivíduos começam adotar. Eles adoram estar em vantagem aos seus pares e serem vistos como líderes. Sobretudo, dispõe de dinheiro para investir. Os adotantes iniciais tendem a ser economicamente mais bem sucedidos, com mais contatos e mais bem informados, levando-os a serem mais respeitados socialmente. Eles também gostam de falar sobre seus sucessos, fazendo com que a fama de uma inovação se intensifique após passar 24 por esse segmento. Se os comentários desse grupo sobre a inovação forem positivos, tende a ocorrer a decolagem do processo de difusão. 3. Maioria inicial: são pragmáticos e confortáveis com inovações moderadamente progressivas, mas não agem sem uma prova sólida de benefícios. São seguidores influenciados pelas correntes principais e cautelosos com modismos. Ainda, são sensíveis ao custo, avessos ao risco, e odeiam complexidade. Estão procurando por soluções simples e provadas de fazer o que já fazem. 4. Maioria tardia: são pragmáticos conservadores que odeiam risco e são desconfortáveis com novas ideias. Praticamente, sua única motivação para adotar é o medo de ficarem defasados, não podendo continuar sem mudar. Portanto, só vão seguir padrões já estabelecidos. 5. Retardatários: fecham o grupo, sendo pessoas que vêm alto risco em adotar produtos e comportamentos particulares. Buscam sempre argumentos contra as inovações. Vale ressaltar que não necessariamente estão errados. Muitas vezes as inovações é que são tão diferentes que acabam desafiando seus paradigmas. Estes diferentes grupos foram classificados, segundo da Teoria da Difusão, dentro de uma curva de Distribuição Normal, também conhecida como Distribuição Gaussiana. O resultado pode ser visto na Figura 1.2. Figura 1.2 - Distribuição dos adotantes Fonte: Adaptado de Rogers, 2003 25 Conhecendo as características de cada grupo, destaca-se agora outro ponto da Teoria de Difusão: a importância das conexões interpessoais durante o processo de difusão. Entende-se que a mídia de massa20 é importante para espalhar informação, enquanto a troca de informações entre pessoas seja fundamental para espalhar a adoção. Como a adoção envolve gestão de riscos e incertezas, geralmente somente pessoas conhecidas e confiáveis – e que foram bem sucedidas na adoção – é que podem passar a segurança a outros indivíduos que suas escolhas não resultarão em constrangimento, prejuízo ou perda de tempo. A importância dos canais interpessoais em cada etapa do processo de difusão, para cada grupo de adotantes, é ilustrado na Figura 1.3. Figura 1.3 - Importância dos canais interpessoais no processo de difusão Fonte: Adaptado de Beal e Rogers, 1960. Como se pode ver, os inovadores e adotantes iniciais são exceção a essa regra. Para estes, a persuasão pouco depende das relações interpessoais. Isto porque o risco para estes grupos é reduzido, uma vez que são financeiramente mais seguros, mais confiantes sobre suas decisões e melhor informados. Portanto, para estes indivíduos sim, a mídia de massa é o principal canal de persuasão. 20 Segundo Rogers (2003), mídias de massa são meios que permitem uma única fonte atingir uma larga audiência. 26 Sumarizando as características dos adotantes iniciais: num sistema social, não são diferentes dos adotantes tardios em idade, no entanto, têm mais anos de educação formal, maior status social e também maior grau de ascensão social. Quanto à personalidade, têm maior empatia, menos dogmatismo, maior habilidade em lidar com risco e incertezas, menor fatalismo, maior racionalidade, inteligência, atitude em favor à mudança e aspirações quanto à educação e carreira. Finalmente, adotantes iniciais têm diferentes comportamentos quanto à comunicação: maior participação social, mais contatos, são mais cosmopolitas, têm maior contato com agentes de mudança, maior exposição a canais de comunicação de massa, se engajam mais em busca de informações, têm maior conhecimento de inovações e um alto grau de liderança de opinião. Sultan e Winer (1993) questionam este perfil de adotantes, argumentando que há uma diferença no comportamento em relação a cada produto, de forma que um “inovador” para um produto possa ser um “retardatário” para outro, sugerindo que o perfil inovador é um fenômeno relativo. Portanto, evidencia-se a importância de realizar pesquisas específicas sobre o mercado de cada inovação para poder levantar o perfil dos adotantes da mesma. 1.2.3 Curva S de distribuição Sabe-se que o sucesso da difusão de uma nova ideia é resultado da troca de informações através de redes interpessoais. Se o primeiro adotante de uma inovação discute isso com outros dois membros de um sistema, e cada um desses passa a ideia adiante para outros dois pares, e assim por diante, tem-se uma expansão exponencial. Assim sendo, ao plotar o número de indivíduos que adotam a inovação numa base acumulativa sobre o tempo, resulta uma distribuição sigmoide, também conhecida como “curva S”, ilustrada na Figura 1.4. 27 Figura 1.4 - Curva S típica de um processo de difusão bem sucedido Fonte: Adaptado de Rogers, 2003 Inicialmente, poucos indivíduos adotam a nova ideia (inovadores). Assim que a inovação começa a ter seus benefícios visíveis, passa a ser adotada pelo segundo grupo, composto por formadores de opinião, e, à medida que as redes interpessoais são ativadas, a curva S decola. Esta fase, quando a inovação passa a ser adotada por 10% a 20% da população, é o cerne do processo. Passando desta etapa, acredita-se ser quase impossível parar o processo de difusão. Naturalmente, a “curva S” começa a atenuar quando a metade dos indivíduos de um sistema social tenha adotado a inovação. Neste ponto, cada novo adotante encontra uma dificuldade crescente de passar a ideia adiante para um novo indivíduo que ainda não adotou, por estarem cada vez mais escassos. Muitas inovações podem ser representadas por uma função sigmoide. Porém, a inclinação da curva varia em cada caso. Algumas ideias se difundem relativamente rápido, e tem uma curva escarpada, enquanto inovações com lentas taxas de adoção tem uma curva mais espalhada. A título exemplificativo, a Figura 1.5 ilustra este processo para diferentes tecnologias em domicílios dos EUA ao longo de mais de um século. Merece atenção o fato da 28 difusão de novas tecnologias, nas últimas décadas, ser muito mais veloz do que no passado, como é o caso celular e do computador (COX; ALM, 2008). Figura 1.5 - Curvas de difusão de diferentes produtos nos EUA Fonte: Adaptado de COX e ALM (2008). 1.2.4 Medidas de incentivo à difusão Ao tratar de difusão de mercado, entende-se que o processo pode ser tanto espontâneo, como planejado. Em geral, utiliza-se de estratégias para promover a adoção por parte dos indivíduos e acelerar a difusão. Como dito anteriormente, os canais de comunicação fazem parte de todo o processo, seguindo geralmente uma sequência de abordagem (mídias de massa – grupos – indivíduos) dependendo do estágio do processo de difusão. No entanto, a comunicação não tem o simples papel de persuadir, mas de levar ao indivíduo as informações necessárias para o mesmo perceber suas vantagens relativas e decidir por adotar ou não. Portanto, destaca-se que a persuasão por si só não leva à disseminação de um produto ou prática, e sim a forma como estes se reinventam, tornando-se mais simples, baratos e vantajosos aos grupos de adotantes. Ao focar nas características percebidas pelos indivíduos (vantagem relativa, compatibilidade, complexidade, possibilidade de teste e visibilidade) se pode obter uma melhoria nos resultados. Como exemplo, uma demonstração do produto pode acelerar o processo, especialmente se o demonstrador for um formador de opinião. 29 Ainda, sabe-se que, geralmente, a maior taxa de adoção de uma inovação parte de decisões de autoridades. Obviamente, algumas medidas estipulam a obrigação da adoção, como o caso do cinto de segurança, por exemplo, levando à massiva utilização. No entanto, algumas decisões podem ser tomadas quanto a políticas de incentivo, e que tendem a acelerar o processo, focadas principalmente em benefícios econômicos. Usualmente, dada a tipicidade do processo de difusão, políticas de incentivo são designadas somente para assegurar a adoção de uma ideia para adotantes iniciais. Uma vez que um nível de, por exemplo, 20% de adoção seja atingido num sistema social, o incentivo econômico é descontinuado, pois estima-se que a partir deste ponto a difusão aconteça naturalmente. 1.3 Tornando a geração fotovoltaica acessível Ao longo da última década, diversas medidas de incentivo foram tomadas internacionalmente com o intuito de promover a geração fotovoltaica. Em geral, tais políticas de incentivo se delinearam num contexto de atendimento a metas de redução de emissões de gases de efeito estufa e pelo interesse estratégico de redução da dependência energética externa. Entretanto, além de incentivos financeiros governamentais, também se pode promover a difusão da geração fotovoltaica através de outras medidas, como por intermédio da criação de diferentes modelos de negócio e da organização popular. Para isto, é necessário garantir que o sistema regulatório seja flexível a estas diferentes configurações de negócios. DOE (2011) e EPE (2012) apresentam as principais medidas de incentivo à geração fotovoltaica utilizadas mundialmente, sendo resumidas na sequência as que mais se adequam ao consumidor residencial (foco deste trabalho): 1. Incentivo direto: Consiste em conceder um benefício monetário direto ao consumidor que tiver um projeto qualificado para instalação. Esta alternativa consiste em reduzir os altos custos iniciais de aquisição dos sistemas. Como exemplo, no Brasil, o Instituto Ideal, em parceria com o Grüner Strom Label (Selo de Eletricidade Verde da Alemanha) lançou em 2013 o Fundo Solar, que concede benefício de até R$ 5.000,00 por projeto. 2. Feed-in tariffs (FIT): É um dos principais mecanismos utilizados internacionalmente. Consiste na compra da energia gerada por um valor fixo por kWh (geralmente superior 30 às tarifas das distribuidoras) num contrato de longo prazo (15 a 20 anos), gerando uma receita mensal ao dono do sistema. 3. Leasing: Também conhecido como modelo Third-Party, ao contrário das medidas descritas anteriormente, neste modelo o usuário não adquire o sistema fotovoltaico, mas faz um contrato de aluguel com uma empresa e paga mensalmente pelo sistema. A vantagem deste sistema reside no fato do consumidor geralmente não ter custo de entrada, além da diminuição da complexidade e risco envolvidos na compra e operação de um sistema. Usualmente, é oferecida ao usuário uma mensalidade que, somada à nova conta de energia, fica abaixo do valor da antiga conta, desde que mantido o consumo original, sendo vantajoso economicamente adotar o sistema. 4. Financiamento com baixas taxas de juros: Através de financiamentos com taxas subsidiadas, o governo reduz a necessidade de alto capital de entrada e possibilita o pagamento mensal acessível em prazos longos (mais que dez anos). 5. Property Assessed Clean Energy (PACE) Financing: O sistema fotovoltaico é financiado pelo município e as parcelas são cobradas através do IPTU do imóvel em prazos de 10 a 20 anos. Assim sendo, o financiamento fica atrelado à propriedade, independente de quem venha a ocupar o mesmo, possibilitando maior segurança a um investidor que tenha perspectiva de mudança. 6. Compra em grupo: Governos locais e associação de moradores podem organizar grupos para realizar uma compra coletiva de sistemas fotovoltaicos. Dessa forma, fazse o levantamento de todas as residências interessadas e realiza-se um orçamento de uma quantidade maior de equipamentos, reduzindo o custo. Os consumidores são ainda incentivados a aderir à compra em grupo devido ao receio de perder esta oportunidade e ter que pagar mais caro posteriormente. 7. Comunidade solar: Ao contrário do conceito usual de um dono para cada sistema fotovoltaico, através deste modelo é realizada uma grande instalação com diversos donos, ou sócios, que possuem cotas do empreendimento e têm direito à parte da geração de energia produzida21. Além da redução de custos proporcionada pelos ganhos de escala, este modelo de negócio possibilita que consumidores que não tenham condições de instalar um sistema fotovoltaico em sua residência (não ter área 21 O sistema de compensação da energia gerada num sistema de geração afastado do local de consumo é conhecido como virtual net metering. 31 disponível) ou com perspectiva de mudança, possam usufruir da geração alheia ao seu domicílio, sendo abatida diretamente na sua fatura. 8. Incentivos fiscais: Consiste na isenção ou abatimentos de impostos relacionados ou não com o sistema fotovoltaico. Pode ser isentado, por exemplo, os impostos federais e estaduais cobrados sobre os equipamentos que compõem os sistemas fotovoltaicos, ou reduzido parcela do Imposto de Renda do consumidor que instalar um sistema em sua residência, reduzindo o tempo de retorno do investimento. 1.4 Difusão de Sistemas Fotovoltaicos Distribuídos. Pesquisadores, tomadores de decisão e a indústria fotovoltaica ao redor do mundo estão se empenhando em mapear a difusão de sistemas fotovoltaicos, seus desafios e oportunidades consequentes. Entretanto, a previsão desta adoção é carregada de incertezas, devido a fatores tecnológicos, econômicos e, principalmente, sociais (ZHAI; WILLIAMS, 2012). Portanto, nesta seção será dada ênfase na aceitação do consumidor e nos aspectos sociais que envolvem a adoção. Primeiramente, deve-se ter em mente que a geração distribuída traz uma mudança significativa na maneira como as pessoas tratam a energia elétrica. O consumidor deve passar por uma transição do seu papel passivo frente ao suprimento energético (o simples ato de apertar um botão interruptor), para a função de produtor de parte da sua energia consumida, também chamado de prosumer22. Esta nova posição se caracteriza cada vez mais pela conscientização da população aos problemas ambientais, juntamente aos desafios da manutenção do fornecimento energético, e está também atrelada à realização de um investimento. Desta maneira, entende-se que não se trata apenas de um novo produto no mercado, mas uma mudança de paradigmas que deve ser interpretada como uma dificuldade a mais para a difusão dos sistemas fotovoltaicos mundialmente. A compra de um sistema fotovoltaico é uma decisão de alto envolvimento que as pessoas costumam fazer apenas uma vez em suas vidas (JAGER, 2006). Obviamente, espera- 22 O conceito de prosumer (contração de produtor e consumidor, em inglês) não é novo, estando implícito em trabalhos de Karl Marx, por exemplo. No entanto, o termo específico foi cunhado pelo futurista Alvin Toffler em 1980, quando escreveu o livro “A terceira onda” (RITZER et al., 2012). 32 se que motivos econômicos sejam importantes na tomada de decisão, porém, aspectos relacionados à consciência ambiental, barreiras técnicas e burocráticas percebidas, por exemplo, podem ter também significativa influência nesta escolha. Identificar estas atitudes dos consumidores em relação a produtos inovadores traz dois principais benefícios: 1) os pontos fracos e fortes podem ser identificados e gerenciados efetivamente (HSU et al., 2000); 2) maior controle pode ser utilizado em estratégias de marketing à medida que a inovação se torna atrativa à maioria da audiência (AUTY; ELLIOTT, 1998). Um estudo realizado por Jager (2006) indicou os resultados de sessões informativas sobre sistemas fotovoltaicos à população. Durante o início da década passada, o governo holandês conferiu benefícios econômicos a quem realizasse a instalação em sua residência, cobrindo aproximadamente 90% dos custos, o que representava um payback de cerca de três anos. Na cidade de Groningen, foram organizadas reuniões informativas para tratar do programa e sanar dúvidas de cunho técnico e burocrático. Ao final do programa, ao comparar a adesão da cidade de Groningen com as outras cidades da Holanda, percebeu-se uma adesão dez vezes maior na primeira. Sobre os participantes destas reuniões foi aplicado um questionário para levantar as percepções dos mesmos sobre como foram informados da iniciativa, os motivos em comprar um sistema fotovoltaico, as barreiras percebidas, efeitos das redes sociais e como as reuniões afetaram suas decisões. Com as respostas das enquetes, Jager (2006) constatou primeiramente que o público adotante estava em linha com a teoria da difusão de inovações de Rogers, consistindo majoritariamente de homens de idade média, com renda e níveis educacionais acima da média. Adicionalmente, o autor conclui que os benefícios ambientais e a quantia de dinheiro recebida pela instalação foram os maiores motivadores para a adoção, seguidos do aumento no valor da habitação, a organização centralizada do programa de benefícios, independência da distribuidora de energia23, discussão com outros adotantes, entre outros. As reuniões tiveram um fator importante na difusão dos sistemas em Groningen, provavelmente por reduzir as barreiras técnicas e burocráticas percebidas pela população. 23 Geralmente, os sistemas fotovoltaicos, quando conectados à rede, não funcionam no caso de uma interrupção do fornecimento de eletricidade pela distribuidora. O inversor deve seccionar o sistema como mecanismo anti-ilhamento, que impede que a rede externa esteja energizada, durante a ocasião de uma manutenção na mesma. A independência aqui pode ser considerada apenas como financeira, ao minimizar o pagamento à distribuidora. 33 Tendo como base a Teoria de Difusão de Rogers, poder-se-ia dizer que as reuniões diminuíram o fator “complexidade”, percebido pela população. Ainda em linha com Rogers, os resultados apontaram que os fatores sociais (conexões interpessoais) pouco influenciaram os inovadores e adotantes iniciais, sendo estes mais decisivos para os adotantes tardios. No condado de Northamptonshire, Inglaterra, também foi desenvolvido um programa de incentivo à fonte solar (térmica e fotovoltaica) na década de 2000. A adoção neste condado foi estudada por Faiers e Neame (2006) via enquetes, assim como Jager (2006), para identificar o perfil dos “adotantes iniciais” (quem havia adotado os sistemas solares) e da “maioria inicial” (neste estudo, este grupo não contemplava os adotantes dos sistemas solares, mas adotantes de práticas de eficiência energética, possivelmente mais propensos a adotarem a tecnologia solar no futuro). Em relação a estes dois grupos, o autor cita um termo importante no processo de difusão, cunhado inicialmente por Moore (1999), conhecido como “abismo” (“chasm”, em inglês). Dadas as diferenças de personalidade entre os dois grupos, para uma inovação passar do primeiro para o segundo, é necessário que os atributos da mesma se desenvolvam para parecer mais atrativos a esta audiência mais pragmática (características já mencionadas na seção 1.2.1), cruzando assim o abismo e atingindo o sucesso na difusão. Neste sentido, Faiers e Neame (2006) se propuseram também em avaliar as características dos sistemas solares que pudessem estar criando o abismo na adoção. Dentre as 23 características declaradas pelos entrevistados, a maioria foi classificada como positiva. Ao relacionar com os atributos identificados pela teoria de Rogers, 18 se enquadram no atributo “vantagem relativa”, onze se enquadram em “compatibilidade”, quatro no atributo “complexidade” e quatro como “visibilidade” (as características podiam ser classificadas com mais de um atributo). Nenhuma resposta foi relacionada à “possibilidade de teste”, o que era esperado, devido à natureza desta inovação. Os resultados sugeriram que os atributos da solar atendem suficientemente as expectativas dos adotantes iniciais em termos de compatibilidade, complexidade e visibilidade. A “maioria inicial”, por sua vez, também compartilha das mesmas percepções positivas, embora num nível menor. As características negativas apresentadas pelos entrevistados foram de aspecto econômico. O payback, por exemplo, foi o único item que teve pior avaliação por parte dos “adotantes iniciais” que do grupo “maioria inicial”. É indicado que a “maioria inicial” não tem uma percepção positiva suficiente dos atributos dos sistemas 34 solares de forma a perpetuar a processo de difusão. Sugere-se, então, que este grupo necessita de maiores convencimentos de que os sistemas não são muito visualmente invasivos, que são livres de manutenção, que podem adicionar valor à propriedade (sem essa percepção, consumidores que tem perspectiva de mudar de residência não vão considerar a adoção), e que o processo de instalação é simples e oferece mínima perturbação. Assim como Faiers e Neame (2006), Zhai e Williams (2012) se propuseram a investigar as diferenças de percepção entre adotantes e não adotantes frente a três atributos chave: custo, necessidade de manutenção e preocupação ambiental. O levantamento com a população foi realizado na região metropolitana de Phoenix, Arizona, Estados Unidos, em 2010. O estudo busca avaliar quantitativamente a probabilidade de adoção de sistemas fotovoltaicos pelos consumidores, o que não havia sido feito até então para energias renováveis, sendo esta etapa (quantificação), importante para um futuro estudo de previsão de adoção. Como etapa inicial, foi levantada, através de enquetes, a percepção dos consumidores em uma escala numérica, como mostra a Tabela 1.1. Tabela 1.1 - Percepção de adotantes e não adotantes de sistemas fotovoltaicos Atributo Ambiental Custo Manutenção Como afeta a decisão (1: não afeta, 7: Afeta muito Percepção Escala Adotante 7,66 1: Nada benéfico, 10: 5,81 Não Adotante 6,20 Muito benéfico 5,45 Adotante 2,09 1: Economiza muito, 10: 5,25 Não Adotante 3,82 Custa muito 6,26 Adotante 1,64 1:Uma em mais de 10 5,42 Não Adotante 3,86 anos, 10:Várias vezes ao ano 4,38 Fonte: Adaptado de Zhai e Williams, 2012 Através de um modelo baseado em lógica “fuzzy”, os autores estimaram a probabilidade de adoção dos sistemas fotovoltaicos pelos consumidores (adotantes e não adotantes), de acordo com sua percepção em relação aos três atributos mencionados anteriormente, resultando na Figura 1.6. 35 Figura 1.6 - Probabilidade de adoção x percepção dos atributos Fonte: Adaptado de Zhai e Williams, 2012. As três variáveis estão representadas nos eixos X, Y e Z, enquanto o tamanho e a cor dos pontos representa a probabilidade (quanto maior e mais claro o ponto, maior a probabilidade de adoção). Como pode ser visto, os resultados confirmam uma maior probabilidade de adoção conforme o consumidor tem sua percepção de custo e manutenção diminuídos, assim como à medida que sua preocupação ambiental aumenta. No entanto, em termos práticos o estudo se mostra muito restrito ao universo da amostra e das respostas colhidas, sendo reconhecido pelos autores que devido à limitação da base de dados (amostra muito pequena), não haveria como validar o modelo. 1.4.1 Percepção do consumidor brasileiro frente à microgeração distribuída Em 2013, o Greenpeace e a Market Analysis publicaram uma pesquisa realizada com os consumidores brasileiros para avaliar suas percepções em relação à microgeração distribuída. Através de entrevistas telefônicas realizadas com 806 indivíduos adultos, em dez capitais brasileiras, avaliou-se, além do conhecimento sobre a possibilidade de microgeração no país, a percepção diante dos fatores condicionantes e efeitos que a implantação do sistema de microgeração de energia traz e a disposição financeira dos consumidores brasileiros em instalar um sistema de microgeração de energia em suas residências (GREENPEACE e MARKET ANALYSIS, 2013). 36 Dentre os resultados desta pesquisa, destaca-se que 71% dos entrevistados dizem conhecer pouco ou nada sobre a proposta de microgeração regulamentada pela REN 482/ANEEL, indicando um grande desconhecimento da população. A característica dos conhecedores (28%) segue o padrão apresentado nas seções anteriores: classe alta, alta escolaridade e mais velha, não havendo grande distinção entre gênero. Para este grupo, dentre as opções de microgeração (solar, eólica, hidráulica e biomassa), a solar é a mais conhecida (97% dos entrevistados a conhecem). Mesmo entre os que não conhecem a proposta da resolução, a microgeração solar se mostra como a mais conhecida dentre as fontes, no entanto, neste grupo há a confusão com o aquecimento solar. Ainda que seja desconhecido para os brasileiros, o conceito de microgeração de energia gera curiosidade e atinge grande receptividade. A ideia de gerar a própria energia desperta diversas percepções positivas tais como a crença de que seja algo positivo para o meio ambiente, a sensação de pioneirismo e de liderança social, e a expectativa de redução de custos com energia. Mas, por outro lado, existe um forte questionamento sobre a relação custo-benefício desse modelo de geração de energia, pois se acredita que o custo de instalação seja elevado e que esse sistema exija muitas mudanças na rotina diária do usuário. Mesmo diante de questionamentos, a maioria (71%) dos brasileiros afirma que implementaria um sistema de microgeração de energia se houvesse linhas de financiamento com juros baixos, e uma grande parcela (43%) demonstra alguma disposição a investir nesse modelo de geração. Este público mais disposto à realização do investimento se caracteriza principalmente por elevada classe social e escolaridade, homens, e residente nas regiões centro-oeste e sul (GREENPEACE; MARKET ANALYSIS, 2013). Porém, há de se ter cuidado com os resultados da pesquisa. Entende-se que por mais que haja elevado interesse na instalação, como o grande público desconhece o sistema, esta intenção não representa de fato a probabilidade de instalação, principalmente entre as classes mais baixas, uma vez que a atratividade econômica é baixa atualmente e tende a restringir o acesso à grande parcela da população. 1.5 Modelos de difusão de sistemas fotovoltaicos distribuídos Os estudos apresentados na seção anterior se limitaram a estudar o comportamento dos consumidores para com a tecnologia fotovoltaica. Seus motivos para adotar esta tecnologia e 37 barreiras percebidas pelos mesmos. Modelar o comportamento da população para prever a difusão dos sistemas fotovoltaicos é um passo posterior, havendo sido desenvolvido, até então, por poucos pesquisadores ao redor do mundo. Diferentes abordagens foram utilizadas por estes autores, podendo ser classificados os estudos em três principais grupos: de paridade tarifária, baseados no modelo de Bass e baseados em agentes. Na sequência, serão descritas as características de cada abordagem, suas vantagens, desvantagens e limitações. 1.5.1 Modelos baseados em paridade tarifária O conceito de paridade tarifária pode ser aplicado a diversas fontes e mercados, mas no caso dos sistemas fotovoltaicos distribuídos, entende-se como o momento em que o custo da energia produzida por estes passa a ser mais barata que a tarifa de energia elétrica cobrada pela distribuidora. Para fazer tal comparação, é necessário calcular o custo nivelado da energia (LCOE) fotovoltaica produzida, com base nos custos de investimento, operação e manutenção do sistema durante sua vida econômica, custos de financiamento, retorno sobre o patrimônio e amortização (OLIVEIRA, 2010). Basicamente, um cálculo do valor presente líquido é realizado e resolvido de tal maneira que, para o valor de LCOE escolhido, o valor presente líquido do projeto torna-se zero. Uma fórmula simplificada de calcular o custo nivelado é apresentada a seguir: [ ( ( ) ) ] (1) Fonte: Zilles at al., 2012 Onde: C – custo da energia produzida pelo sistema em (R$/MWh) r – taxa de desconto anual considerada para o investimento (em %; valor adimensional); n – tempo de vida útil do investimento (em anos) OM – representa os gastos com manutenção em operação (> 1% do investimento inicial; na expressão entra como um valor adimensional: 1% = 0,01); Inv – investimento inicial, turn-key, do sistema (em R$/kWp); FC – fator de capacidade esperado para o sistema (valor adimensional). 38 A princípio, os modelos baseados na paridade tarifária são úteis para avaliar o mercado potencial de uma fonte, ao estimar quando esta fonte se torna custo-efetiva. Alguns autores realizaram tal análise, em diferentes escalas de mercado, como num país (AYOMPE et al., 2010), ou abrangendo todo globo (BREYER; GERLACH, 2013). Destaca-se este último estudo por sua atualidade e abrangência, ao incluir na análise mais de 150 países, que representam 98,0% da população e 99,7% do PIB mundial. O estudo considerou os custos dos sistemas fotovoltaicos sem subsídios. O resultado mostra que a paridade tarifária no segmento residencial já é realidade em algumas regiões do mundo, continuando ao longo da década. Os primeiros mercados a atingirem esta marca foram Chipre, Itália, Caribe e África Oriental. Ao final da década, mais de 80% do mercado na Europa, Américas e Ásia-Pacífico terão atingido a paridade tarifária residencial (Figura 1.7). A exceção acontece na África, devido aos subsídios à energia na África do Sul e Egito, que representam mais de 60% da geração de eletricidade no continente. Figura 1.7 - Volume relativo de mercado residencial com paridade tarifária Fonte: Breyer e Gerlach, 2013 No Brasil, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) formulou um modelo de difusão baseado em paridade tarifária. Da mesma forma que Breyer e Gerlach (2013), ao cruzar a evolução da tarifa de eletricidade e do custo nivelado dos sistemas fotovoltaicos, encontra-se um mercado onde a instalação é “economicamente viável”. Do total de consumidores, trabalhou-se com um nicho de domicílios com consumo superior a 500 kWh/mês e o total de comércios baixa tensão (por não haver dados por faixa de consumo para este setor). A partir deste mercado, adotou-se um fator técnico limitante à instalação igual a 30% e um fator de 39 adesão igual a 20% para consumidores residenciais e 1% para comercial. Ou seja, a partir do momento em que uma região brasileira atinge a paridade tarifária, 6% (0,2 x 0,3) dos domicílios do mercado nicho instalam sistemas fotovoltaicos em suas residências (EPE, 2014). No entanto, utilizar apenas a paridade tarifária nos modelos de difusão para prever a entrada dos sistemas fotovoltaicos é questionável. Yang (2010) menciona alguns problemas em utilizar esta figura de mérito. Primeiramente, levanta-se a questão de que atingir um nível de custo-efetividade não é o bastante para garantir a inserção de uma tecnologia. Como exemplo, os sistemas de aquecimento solar d’água já atingiram a paridade tarifária em muitos lugares e nem por isso se espalharam massivamente ao redor do mundo. Em relação ao cálculo da paridade tarifária, Yang (2010) afirma que muitos analistas não consideram todos os custos envolvidos na instalação para serem amortizados, utilizando, por exemplo, custos internacionais genéricos. Desta forma, é provável que as projeções que utilizam o conceito de paridade tarifária estejam sendo otimistas24. Do ponto de vista do consumidor comum, conforme exposto anteriormente, o cálculo do custo nivelado é extremamente complexo, sendo dificilmente utilizado25. Há de se considerar ainda que o resultado do custo nivelado é bastante sensível às premissas adotadas (BLACK & VEATCH, 2010). Logo, sabendo que cada indivíduo considera uma taxa de desconto para seus investimentos (HAUSMAN, 1979; RAI; SIGRIN, 2012), presume-se ser inadequado utilizar o conceito de paridade tarifária em escala global. 1.5.2 Modelos baseados em agentes Outros estudos (ZHAO et al., 2011; PALMER et al., 2013; ROBINSON et al., 2013) utilizaram modelos baseados em agentes (MBA) para prever a difusão de sistemas 24 Além do mais, os estudos de paridade tarifária geralmente utilizam prazos de 20 ou 25 anos no cálculo do custo nivelado. Este prazo de investimento pode ser considerado em empreendimentos de grande escala, com contratos de compra de energia para este período, porém, para consumidores menores este prazo é considerado muito longo. 25 Numa pesquisa realizada por Rai e Sigrin (2012), levantou-se que dentre os adotantes residenciais de sistemas fotovoltaicos, 66% utilizaram o payback simples para avaliar o investimento, 27% a TIR, 25% o valor da economia mensal, 7% o valor presente líquido, 6% utilizaram outras medidas e 10% não utilizaram nenhuma métrica. Este estudo não avalia o uso do custo nivelado, mas na melhor das hipóteses estaria entre apenas os 6% que utilizaram outras medidas. 40 fotovoltaicos. Conforme Bonabeau (2002), na modelagem baseada em agentes o sistema é modelado como uma coleção de entidades autônomas de tomadas de decisão chamadas agentes. Um MBA permite os modeladores atribuírem características específicas aos agentes e o resultado é originado nos comportamentos dos agentes interagindo entre si. Uma característica inerente dos modelos baseados em agentes é a grande necessidade de dados. Dada a natureza do modelo, sua acurácia depende da qualidade das informações disponíveis sobre a população em estudo, o que leva estes estudos a serem utilizados geralmente em universos menores, como, por exemplo, as cidade de Austin e Tucson em Robinson et al. (2013) e Zhao et al. (2011), respectivamente. Palmer et al. (2013), por sua vez, utilizam um MBA para o mercado italiano. O modelo incorporou quatro elementos que influenciam a decisão de adoção: 1) a rentabilidade do investimento; 2) considerações ambientais; 3) nível de renda por domicílio e 4) o impacto das redes de comunicação. Para isso, o modelo estruturou o sistema social em, basicamente, oito classes socioeconômicas. Palmer et al. (2013) consideraram que a decisão em investir num sistema fotovoltaico acontece quando a utilidade do sistema supera um determinado valor. Este valor foi definido para o modelo em questão comparando os resultados da simulação com os dados históricos da difusão na Itália, durante o processo de calibração do modelo. Para calcular a utilidade do sistema ao consumidor, utilizaram-se os quatro fatores anteriormente mencionados. A utilidade econômica foi baseada no tempo de payback, convertido numa função linear que varia de 0 a 1. Os demais fatores também são obtidos dentro do mesmo intervalo, no entanto, seguem uma curva sigmoide. Ainda, sobre cada fator foi multiplicado um peso, característico a cada classe socioeconômica, que também foi estimado na etapa de calibração, através de tentativa e erro. Ao realizar a calibração, junto aos dados históricos, observou-se que o fator payback teria o maior impacto sobre a difusão, devido a sua característica linear, enquanto que fatores ambientais e de comunicação desempenham um papel importante, mas não são tão significativos quanto às considerações econômicas (PALMER et al., 2013). Como visto, além da quantidade de dados, outra necessidade do modelo é a etapa de calibração, na qual se obtêm os pesos de cada fator individual, e o número que representa o 41 limiar de adoção. Como alternativa à baixa disponibilidade de dados históricos de difusão da tecnologia fotovoltaica em Tucson, Zhao et al. (2011) determinam o limiar comparando a taxa de crescimento anual da capacidade instalada fotovoltaica no local de estudo com dados históricos globais. 1.5.3 Modelos baseados em Bass O modelo de difusão de Bass é o mais citado e referenciado na literatura de marketing. Foi concebido por Frank Bass em 1969 e desde então foi tema de incontáveis artigos, extensões, modificações e verificações. O modelo de Bass teve como referência o estudo de Rogers (1962), sendo uma contribuição matemática à teoria da difusão de inovações, capaz de gerar uma suave curva sigmoide da taxa de penetração de mercado ao longo do tempo. Basicamente, o modelo parte da seguinte formulação: ( ) ( ) ( ) (2) onde: f(t) é a probabilidade de adoção no tempo t. F(t) é a distribuição acumulada. p é o coeficiente de inovação. Representa a influência externa ao processo de difusão. q é o coeficiente de imitação. Representa a influência interna ao processo de difusão. m é o mercado potencial final, i.e., o número de indivíduos que irão adotar a tecnologia dado tempo suficiente de difusão. N(t) é o número acumulado de adotantes. Ultimamente, ( ) ( ) ( 3) 42 Como pode ser visto na Eq. 2, na formulação da taxa de adoção de Bass (f(t)), dois parâmetros principais são usados: um deles (p) é exógeno, e representa a parcela inovadora da população; o outro (q) é endógeno, representando os imitantes. Desta forma, em consonância com a teoria de Rogers, o modelo de Bass assume que a probabilidade de adoção aumenta quanto maior for a adoção prévia (MAHAJAN et al., 1990). Isto porque quanto maior o número de usuários efetivos de uma inovação, maior o número de usuários potenciais que tomarão conhecimento da mesma, e, consequentemente, tornar-se-ão adotantes (BONADIA, 2007). Existem diversos métodos para estimar os parâmetros p e q do modelo de Bass, podendo ser baseados em dados históricos de vendas com auxílio de regressão linear ou não linear caso o produto esteja disponível no mercado há algum tempo, através de analogia com outros produtos similares, ou via pesquisas de opinião para levantar a intenção de compra dos consumidores (LILIEN et al., 2007). Dada a importância da estimativa destes parâmetros, inúmeros estudos de caso foram conduzidos para estimá-los para diversos produtos. Na seção 2.4 é aprofundada a discussão a respeito do levantamento dos parâmetros p e q. Em Beck (2009) é utilizado o modelo de Bass para prever a difusão de sistemas fotovoltaicos no estado do Arizona, EUA. Neste estudo, os parâmetros foram estimados através de uma comparação com outros mercados fotovoltaicos, de forma que a curva correspondesse ao crescimento destes mercados. Segundo o autor, ao inspecionar a adoção na Alemanha, Califórnia e Nova Jérsei verifica-se que mudanças dramáticas nestes parâmetros podem ocorrer mediante a implementação de políticas de incentivo, alterando a dinâmica de adoção. O estudo de Beck serviu de referência para o National Renewable Energy Laboratory (NREL) desenvolver um modelo de difusão para os EUA, conhecido como Solar Deployment System (SolarDS) (DENHOLM et al., 2009). Em Guidolin e Mortarino (2010) são analisados os parâmetros referentes ao modelo de Bass mediante análise histórica da difusão de sistemas fotovoltaicos em onze países: Austrália, Áustria, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Espanha, Holanda, Reino Unido e Estados Unidos. De acordo com as políticas de incentivo e características de desenvolvimento, os países foram agrupados, e tiveram seus parâmetros levantados. Além disso, o estudo trabalha também com um modelo aprimorado de Bass, conhecido como Modelo de Bass Generalizado. Nesta versão, um novo fator é adicionado à fórmula original, 43 de forma a responder por intervenções externas. Este fator foi originalmente concebido para representar estratégias de marketing, mas sua estrutura é tão geral que pode ser utilizado para descrever incentivos políticos, medidas ambientais, por exemplo, sendo útil para avaliar a difusão de sistemas fotovoltaicos (GUIDOLIN; MORTARINO, 2010). Pela Eq 2 percebe-se que o modelo não fornece uma estimativa da demanda potencial, i.e., o número de potenciais usuários é exógeno ao modelo. Assim sendo, o modelo de Bass estima a velocidade de adoção, independente do potencial de mercado. Portanto, são necessárias outras ferramentas para estimar este fator (BONADIA, 2007). Beck (2009) justifica que é possível aperfeiçoar o Modelo de Bass ao, por exemplo, não utilizar o fator m como constante, mas fazê-lo função das características do produto (e.g. tempo de payback). Da mesma forma que em Beck (2009), o modelo americano (Solar Deployment System) também utiliza o tempo de payback como variável para o potencial de mercado, utilizando Kastovich et al. (1982), EIA (2004) e Paidipati et al. (2008) como referência. Assim como o fator m, a taxa de adoção (através dos coeficientes p e q) também pode ser parametrizada como função de variáveis relacionadas a custos, características demográficas da população, efeitos de comunicação, etc. (ISLAM, 2014). A principal vantagem do modelo de difusão de Bass é a simplicidade da sua estrutura, composta de poucos parâmetros e que requer menor necessidade de dados de entrada para o modelo. Dentre suas limitações, além das incertezas quanto à definição dos parâmetros p e q, ressalta-se que o modelo assume o sucesso da difusão, assim como que a tecnologia irá se difundir em todo o mercado no futuro, dado tempo necessário, o que pode não ocorrer. Para contornar este problema, pode-se calcular uma probabilidade do processo de difusão falhar, além de estabelecer limitações do percentual de mercado que a tecnologia pode atingir, como exemplificado no parágrafo anterior. Apesar disto, o modelo vem se mostrando razoavelmente acurado para prever a difusão de bens duráveis (MAHAJAN et al., 1990). 1.5.4 Outros modelos de difusão Além dos modelos anteriormente descritos, utilizados na maioria das projeções de mercado fotovoltaico no mundo, outros modelos de difusão menos conhecidos foram aplicados em alguns estudos ou tem perspectivas de utilização, dado seu histórico em outras áreas. 44 No livro de Kagan et al., intitulado Redes Elétricas Inteligentes no Brasil: Análise e Custos e Benefícios de um Plano Nacional de Implantação, elaborado no âmbito do Projeto Estratégico de P&D denominado Programa Brasileiro de Redes Inteligentes, foi realizada uma projeção da geração distribuída fotovoltaica no Brasil até 2030 com base na distribuição estatística de Weibull. Da forma como foi utilizada, esta oferece a penetração de mercado em função do período de payback e de parâmetros de ajuste. Este modelo e os parâmetros utilizados tiveram como referência o trabalho de Macauley e Shih (2003). Adicionalmente, Gallo e De Bonis (2013) desenvolveram um modelo baseado em redes neurais para projetar o desenvolvimento fotovoltaico na Itália, enquanto Masini e Frankl (2002) e Byrne et al. (2004) utilizaram modelos baseados no modelo de Fisher-Pry (1971) para estudos na Europa meridional e nos EUA, respectivamente. 45 2 Metodologia Através da revisão realizada no capítulo anterior foi possível identificar os principais modelos utilizados para projetar o desenvolvimento da geração fotovoltaica em diferentes regiões, cada qual com suas vantagens e desvantagens. O modelo baseado em agentes, por exemplo, se mostra muito eficaz ao isolar as decisões de cada tomador de decisão de acordo com suas características, necessitando, em contrapartida, grande qualidade da base de dados da população. Os modelos baseados em paridade tarifária, por sua vez, são muito úteis para avaliar o potencial de mercado, mas pouco efetivos na avaliação da adoção. Levando em consideração as alternativas revistas, o vasto território nacional com sua grande diversidade geográfica e populacional, somados à restrição de dados brasileira, foi decidido por desenvolver o modelo de difusão aqui proposto com base na teoria de difusão de Rogers (2003) e construí-lo sobre os alicerces matemáticos do reconhecido modelo de difusão de Bass (1969). Partindo da Eq. 3, que orienta o modelo de Bass, pode-se dividir em duas partes o modelo de difusão: 1) a estimativa do mercado potencial final m (quantidade de consumidores aptos a realizarem o investimento) e 2) o cálculo da taxa de adoção (a forma e velocidade que a adoção acontecerá neste mercado). Logo, este capítulo será dividido nestas duas grandes seções, mas antes será delimitado o nível de desagregação geográfica dos dados que irão compor o modelo, assim como o alcance temporal das projeções. 2.1 Nível de desagregação geográfica dos dados Dentre os estudos de difusão analisados anteriormente, percebe-se uma diferenciação em relação ao nível geográfico dos dados. No caso do estudo contemplar a projeção para uma cidade, é adequado dividi-la por bairros, por exemplo, enquanto que ao analisar um país, pressupõe-se a conveniência de um nível de agregação superior. No presente trabalho, dividiu-se o território nacional conforme a área de concessão de cada distribuidora de energia elétrica, tendo em vista que o cálculo financeiro dos sistemas fotovoltaicos é dependente das tarifas cobradas por cada distribuidora. 46 A base de dados georreferenciada das áreas de concessão das distribuidoras foi obtida através do Sistema de Informações Georreferenciadas do Setor Elétrico (SIGEL), concebido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com acesso disponível pelo link: http://sigel.aneel.gov.br. Sob esta divisão geográfica serão analisados posteriormente outros fatores físicos e socioeconômicos para compor o modelo de difusão proposto. A Figura 2.1 ilustra a divisão adotada. Figura 2.1 - Divisão geográfica das áreas de concessões das distribuidoras brasileiras de energia elétrica Fonte: SIGEL - ANEEL Percebe-se que a maioria dos estados das regiões centro-oeste, nordeste e norte são atendidos por apenas uma distribuidora, enquanto no sul e sudeste as áreas de concessões são mais divididas dentro do mesmo estado, o que é conveniente para a modelagem, tendo em vista são as regiões com maior densidade populacional do país e, assim sendo, podem ser melhor analisadas, em função de uma maior segmentação. 47 Em relação à base de dados do SIGEL, foram excluídas três áreas referentes a distribuidoras que não apresentavam dados tarifários no site da ANEEL26. São estas: RS COOPERATIVA, RS INDEFINIDA e SP Cooperativa. O mercado consumidor presente nestas três áreas somadas representa 0,046% do total nacional, sendo, portanto, aceitável desprezar estes dados, tendo em vista o objetivo deste estudo. Desta forma, a base de 64 distribuidoras presente no SIGEL é reduzida para 61 neste trabalho. 2.2 Alcance temporal No presente estudo a difusão de mercado será calculada anualmente através do modelo, com início em 2013. Apesar da microgeração distribuída ter sido regulamentada em 2012 através da REN 482, foi definido um prazo de 240 dias para as distribuidoras adequarem seus sistemas comerciais e elaborar ou revisar normas técnicas para tratar da geração distribuída. Logo, convém considerar o ano de 2013 como primeiro ano efetivo de mercado da microgeração distribuída conectada à rede no Brasil. O horizonte temporal da análise é de dez anos, a começar por 2014. Logo, o ano final de estudo é 2023. O modelo desenvolvido permite estender este horizonte, porém, preferiu-se realizar a análise no âmbito decenal, trabalhando com projeções auxiliares (econômicas e demográficas) mais acuradas para alimentar o modelo e proporcionar melhores resultados finais. Ainda, este prazo está em linha com os estudos decenais do governo brasileiro, podendo servir de instrumento para os planos nacionais futuros. 2.3 Estimativa do mercado potencial final 2.3.1 Mercado potencial Ao estudar a difusão de um produto no mercado deve-se ter definido qual é o mercado potencial para tal produto, i.e., quem tem condições iniciais de adquiri-lo. No caso dos 26 Além de não existir dados referentes a estas distribuidoras, salienta-se que existe alguma diferença entre a nomenclatura utilizada na base de dados do SIGEL e a presente na página de tarifas da ANEEL, dificultando o trabalho com os dados. O ANEXO A deste trabalho apresenta uma tabela que relaciona as siglas das duas bases, além da respectiva razão social. 48 sistemas fotovoltaicos, dado o elevado custo inicial, primeiramente entende-se que somente domicílios com elevada renda tenham condições de fazer tal investimento. Para o levantamento do mercado potencial, a EPE (2013c) parte da base de dados do SIMPLES (Sistema de informações de mercado para o planejamento do setor elétrico), que dispõe do número de unidades consumidoras residenciais por faixa de consumo elétrico mensal. No estudo realizado pela EPE foram considerados apenas consumidores residenciais com consumo superior a 500 kWh/mês para compor o nicho de mercado. Kagan et al. (2013), por sua vez, trabalharam com dados do Censo 2010 do IBGE, delimitando os potenciais adotantes como domicílios com renda superior a cinco salários mínimos. Apesar de existir uma correlação entre renda e consumo de eletricidade, entende-se que utilizar a renda mensal é mais adequado que a segregação por faixa de consumo de eletricidade. Dada a evolução demográfica e do perfil socioeconômico brasileiro, antevê-se que haja uma redução do número de ocupantes por domicílio, enquanto que o nível educacional, de preocupação ambiental e de renda aumentem. Logo, serão mais comuns domicílios com consumo menor, porém com moradores com perfil dos inovadores. Portanto, neste trabalho o mercado nicho será estratificado de acordo com um nível mínimo de renda, e não de consumo elétrico. O mercado nicho (mercado potencial) foi levantado com base em georreferenciamento, através de um software de Sistema de Informação Geográfica - SIG (ArcGIS 10.1) e das bases de dado de renda do Censo 2010 do IBGE e das áreas de concessão de cada distribuidora disponíveis no SIGEL – ANEEL. Com auxílio da ferramenta “Join” do ArcGIS é possível atribuir as informações de uma camada à outra, de acordo com a posição geográfica, resultando numa nova camada com os dados sumarizados. Neste caso, foram somados os números de domicílios presentes na área de cada distribuidora de acordo com a faixa de renda do responsável pelo domicílio. Foi decidido trabalhar com o nível de renda do responsável pelo domicílio, pois se julga que este será quem decidirá pela adoção. Assim como Kagan et al. (2013), aqui se utiliza o valor de cinco salários mínimos para selecionar o mercado potencial, ou renda maior que R$ 3.620,00, segundo o salário mínimo de 2014. Salienta-se que este valor é o rendimento apenas do responsável pelo domicílio, sugerindo que ao computar outras receitas familiares, a adesão possa ser facilitada. De qualquer forma, mais do que estimar um valor em si, que seria suficiente para adquirir um sistema fotovoltaico, dadas 49 diversas condições de financiamento e modelos de negócio existentes, esta divisão representa uma parcela mais propensa (cerca de 10% do total de domicílios em 2010) a adquirir um sistema fotovoltaico residencial, segundo condições econômicas. 2.3.1.1 Evolução do mercado potencial Através dos dados do Censo 2010 do IBGE, foi estratificado o mercado potencial do modelo proposto nesta dissertação para o ano base do Censo. No entanto, dadas as perspectivas de evolução socioeconômica e demográfica no país, faz-se necessário estimar como este mercado evoluirá ao longo da próxima década, atualizando-o ano a ano. Num país em desenvolvimento como o Brasil se observam dois movimentos principais que direcionam as estimativas de evolução do mercado: 1) o crescimento populacional; e 2) o aumento do nível socioeconômico e renda per capita da população. Para reproduzir esta transformação, optou-se por projetar o crescimento com base em dados históricos. Neste sentido, foi utilizada a ferramenta “Medidas Sociais baseadas em Renda per Capita” (disponível em: http://www.cps.fgv.br/cps/ncm2014/) criada pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, que facilita a consulta e o cruzamento de dados estatísticos. Neste caso, a fonte dos dados utilizados é do PNAD/IBGE. Através da ferramenta foi levantado o crescimento da população que se enquadra nas classes socioeconômicas A e B. Entende-se que o mercado potencial estratificado anteriormente se enquadre nestas classes, sendo plausível avaliar as taxas de crescimento destas para estimar a evolução do mercado. Assim sendo, calculou-se a média do crescimento da população nas classes A e B por unidade federativa entre 2001 e 2009, que resultou nas taxas apresentadas na Tabela 2.1. As taxas foram então aplicadas sobre o mercado potencial de 2010 (conforme dados do último censo), de acordo com o estado de atuação de cada distribuidora. 50 Tabela 2.1 - Crescimento populacional nas classes A e B entre 2001 e 2009 Estado Crescimento (%) 10,7% 8,9% 7,3% 14,8% 7,9% 17,9% 11,3% 8,2% 10,3% 6,6% 9,0% 8,8% 3,6% 9,4% RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL Estado SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF Crescimento (%) 7,9% 9,0% 6,3% 6,0% 3,8% 1,8% 7,4% 8,6% 5,0% 6,6% 5,8% 7,1% 6,1% Fonte: Elaboração própria com dados do CPS/FGV 2.3.1.2 Domicílios Aptos A discriminação dos domicílios segundo a renda foi a primeira etapa na seleção do mercado potencial dos sistemas fotovoltaicos residenciais no país, ou seja, o limite máximo. Entretanto, sabe-se que nem todos os domicílios, independente da renda dos ocupantes, são aptos à instalação, por diversos fatores, como restrições técnicas, legais, ou pela condição de ocupação do imóvel, por exemplo. Primeiramente, para o modelo em questão, considera-se viável a instalação de sistemas fotovoltaicos somente em domicílios do tipo casa. No caso de apartamentos, a cobertura do edifício nem sempre está disponível para instalações, além de oferecer dificuldades técnicas e contratuais de instalação por estar em uma área comum geralmente afastada do domicílio. Adicionalmente, a condição regulatória atual não permite o virtual net metering27, dificultando a adoção de um sistema fotovoltaico por moradores de apartamentos. Além do tipo de domicílio, outra restrição se origina da condição de ocupação do imóvel, isto é, se o mesmo é próprio, alugado ou cedido. Por se tratar de um investimento de longo prazo e que dificilmente será transferido de uma residência à outra, não se percebe 27 Através do sistema conhecido como virtual net metering, é permitido ao consumidor ter parte de seu consumo abatido pela geração fotovoltaica (ou outra fonte) sem necessariamente ter uma instalação no seu domicílio. Ele pode comprar cotas de um sistema com geração em outro local, sendo feita a compensação na sua conta (DOE, 2011). 51 como atrativa a instalação de sistemas fotovoltaicos para consumidores que não estejam morando num domicílio próprio. No caso de um domicílio alugado: 1) o locatário geralmente apresenta perspectiva de mudança, não sendo interessante realizar o investimento numa propriedade alheia; 2) o locador, por sua vez, não tem nenhum benefício em realizar o investimento, sendo o locatário quem paga as despesas com energia elétrica e que teria o benefício da instalação fotovoltaica. Portanto, convém considerar como aptos apenas domicílios próprios. De forma a considerar as restrições apresentadas, foi utilizada a base de dados georreferenciada de domicílios do Censo 2010 do IBGE. Nesta base é computado o número de domicílios por setor censitário28 de acordo com diversas características, como, por exemplo, o tipo (casa, apartamento, casa de vila) e a condição de ocupação (próprio quitado, próprio em aquisição, alugado, cedido por empregador, cedido de outra forma, outra condição de ocupação). Dentro desta base de dados ainda existe o cruzamento de algumas informações, sendo possível levantar o número de domicílios que sejam de determinado tipo e que estejam numa condição de ocupação específica. No entanto, não é possível cruzar estas informações de domicílios com a base de dados de renda. Ou seja, não se sabe exatamente quantos domicílios com renda acima de cinco salários mínimos são do tipo casa e que sejam próprias. Dada a limitação apresentada, foi utilizado um fator geral que representa o tipo e condição do domicílio, independente da renda. Por um lado, pelo fato do percentual de imóveis próprios ser maior entre as classes econômicas superiores29, estima-se que o fator utilizado subestime o mercado. Por outro lado, sabe-se que as classes mais altas ocupam a maior parcela dos apartamentos30, o que significa que o fator superestima o número de domicílios aptos na faixa de renda especificada. Logo, entende-se que existe uma certa compensação nesta aproximação, sendo plausível utilizar os dados gerais. O fator calculado é resultado da divisão da soma de domicílios do tipo casa e casa de vila que sejam próprias (quitadas ou em aquisição), pelo número total de domicílios. O 28 Setor Censitário é unidade territorial de coleta das operações censitárias, definido pelo IBGE, com limites físicos identificados, em áreas contínuas e respeitando a divisão político-administrativa do Brasil. O setor é constituído por conjunto de quadras, no caso de área urbana, ou uma área do município, no caso de uma área não urbanizada. 29 Cf. ANEXO B. 30 Idem. 52 cálculo foi realizado para cada distribuidora, após agregar os dados dos setores censitários presentes na área de concessão de cada concessionária. Finalmente, foi adotado um fator adicional de aptidão igual a 85% referente a outros limitantes, como sombras, chaminés, caixas d’água, antenas, aquecedores solares, que podem inviabilizar a instalação dos módulos fotovoltaicos em algumas residências (EPE, 2014). O resultado do percentual de aptidão aplicado ao mercado potencial inicialmente levantado é apresentado na Tabela 2.2. Estes valores foram considerados como constantes ao longo do período de análise do modelo. Tabela 2.2 - Percentual de casas próprias em relação ao total de domicílios Distribuidora % Apto 59,79% AES-SUL 63,94% AmE 57,76% AMPLA BANDEIRANTE 53,45% 56,26% Boa Vista 54,28% CAIUÁ-D 65,16% CEA 58,22% CEAL 38,89% CEB-DIS 51,77% CEEE-D 57,86% CELESC-DIS 50,94% CELG-D 64,78% CELPA 57,61% CELPE 57,37% CELTINS 69,15% CEMAR 54,68% CEMAT 55,29% CEMIG-D 67,70% CEPISA 57,53% CERON 62,12% CERR Distribuidora % Apto 61,70% CFLO 58,45% CHESP 54,64% CNEE 67,36% COCEL 62,78% COELBA 57,79% COELCE COOPERALIANÇA 63,29% 54,85% COPEL-DIS 59,61% COSERN 49,83% CPFL Jaguari CPFL Leste Paulista 49,49% 54,01% CPFL Mococa 53,11% CPFL Santa Cruz 53,15% CPFL Sul Paulista 53,03% CPFL-Paulista 48,89% CPFL-Piratininga 59,73% DEMEI 45,34% DMED 59,78% EBO 56,30% EDEVP 56,31% EEB Distribuidora % Apto 68,82% EFLJC 69,80% EFLUL 55,49% ELEKTRO 66,67% ELETROACRE 61,64% ELETROCAR ELETROPAULO 43,45% 47,29% ELFSM 53,58% EMG 53,18% ENERSUL 59,18% EPB 51,47% ESCELSA 59,12% ESE 59,53% HIDROPAN 58,99% IENERGIA 47,67% LIGHT 58,21% MUXENERGIA 60,31% RGE 66,79% SULGIPE 68,33% UHENPAL Fonte: Elaboração própria com dados do Censo 2010 - IBGE Em suma, o mercado potencial foi levantado conforme o diagrama da Figura 2.2. 53 Figura 2.2 - Diagrama do levantamento do mercado potencial fotovoltaico residencial Fonte: Elaboração própria 2.3.1.2.1 Sensibilidade – Virtual net metering Como análise de sensibilidade em relação ao mercado apto, estuda-se o resultado da regulamentação do virtual net metering. Se concretizado, este novo modelo de compensação permitiria a criação de comunidades solares (detalhadas na seção 1.3), diminuindo as restrições à instalação de sistemas fotovoltaicos. Sendo permitido qualquer consumidor comprar cotas de sistemas alheios a sua propriedade, entende-se que mesmo residentes em apartamentos podem se tornar adotantes. Adicionalmente, como a compensação é feita diretamente na conta do consumidor, independente da propriedade em que o mesmo reside, se torna possível aderir a esta tecnologia mesmo ao ocupar uma habitação alugada, pois em caso de mudança, basta transferir a compensação à outra propriedade. Logo, neste cenário, assumese não haver os fatores de aptidão em relação ao tipo de domicílio e condição de ocupação do mesmo, assim como o fator adicional de 85%. 2.3.2 Mercado potencial final (m) O mercado potencial anteriormente segregado indica uma parcela da população que estaria apta, técnica e financeiramente, a adquirir um sistema fotovoltaico. Destes, empiricamente se sabe que apenas um percentual será estimulado a realizar este investimento de acordo com a atratividade econômica (KASTOVICH, 1982; NAVIGANT CONSULTING, 2007). O estímulo varia individualmente, sendo que alguns consumidores aceitam realizar 54 investimentos com prazos de retorno maiores, enquanto que a maioria só é atraída por retornos financeiros rápidos. Conforme discutido na seção 1.5.1, dentre as figuras de mérito utilizadas para avaliar economicidade do projeto, o custo nivelado, associado ao alcance da paridade tarifária, não é o mais apropriado, principalmente para consumidores residenciais. Estes tendem a utilizar cálculos simplificados como o payback simples na hora de embasar suas decisões (RAI; SIGRIN, 2012; DENHOLM et al., 2009). O payback simples é criticado por não levar em consideração a taxa de juros, inflação ou custo de oportunidade no período, porém, pela facilidade de cálculo do ponto de vista do consumidor, foi opção do modelo elaborado pelo NREL (DENHOLM et al., 2009) e AEMO (2012) para compor seus respectivos modelos de difusão, e também será utilizado no presente estudo. Como será demonstrado na sequência, o valor do payback simples será um dado de entrada no cálculo final do mercado potencial. Neste sentido, salienta-se que, apesar do cálculo de payback simples não retornar o tempo mais acurado de retorno, o primordial é a percepção do consumidor e a maneira como ele interpreta este indicador, sendo isto já avaliado por outros autores (KASTOVICH, 1982; NAVIGANT CONSULTING, 2007) anteriormente, servindo de referência para este estudo. O perfil de intenção de investimento de acordo com o valor de payback simples foi levantado empiricamente em Kastovich (1982) e Navigant Consulting (2007), sendo utilizadas estas referências em estudos americanos de difusão fotovoltaica (EIA, 2004; PAIDIPATI et al., 2008; BECK, 2009; DENHOLM et al., 2009). Beck (2009) apresenta uma função que representa os resultados obtidos com as duas pesquisas citadas. Esta equação é apresenta a seguir: (4) Onde: fmm – fração de máximo mercado; SPB – sensibilidade ao payback; TPB – tempo de payback, calculado em anos. 55 Esta fórmula utilizada neste estudo foi escolhida por sua simplicidade, facilidade de conduzir análises de sensibilidade, e por sua estimativa razoável do mercado potencial final, consistente com outros estudos, como apresenta a Figura 2.3. Figura 2.3 - Mercado Potencial Final vs. Payback Fonte: Adaptado de Beck, 2009. Como visto, a equação gera uma curva condizente com os resultados experimentais de Kastovich (1982 e Navigant Consulting (2007), demonstrando um aumento exponencial do mercado potencial final conforme o tempo de payback diminui. O valor de sensibilidade ao payback (SPB) igual a 0,3 posiciona a curva próxima à média dos estudos, sendo este valor utilizado no estudo do estado do Arizona (BECK, 2009) e no estudo do NREL para todo o mercado americano (DENHOLM et al., 2009). Com base nestas referências, será utilizado o mesmo fator SPB (0,3) no modelo de difusão apresentado nesta dissertação. No entanto, vale ressaltar que esta relação entre payback e sensibilização do mercado potencial é dinâmica, e pode mudar ao longo do tempo de acordo com aperfeiçoamentos tecnológicos e maiores acessos a financiamentos, por exemplo (DRURY et al., 2010). Ao multiplicar a fração de máximo mercado (fmm), pelo mercado potencial (mp), obtêm-se o mercado potencial final (m), conforme a equação a seguir: 56 (5) 2.3.3 Premissas para o cálculo de payback Sistemas fotovoltaicos requerem um alto investimento inicial seguido de algum desembolso de menor proporção na operação e manutenção destes sistemas. O retorno financeiro da instalação é derivado da energia gerada pelo sistema que será deixada de consumir da rede de distribuição, havendo assim uma diminuição da fatura paga à distribuidora e uma consequente economia mensal. A análise econômica parte, portanto, da ponderação entre o montante inicial investido e as sequenciais economias mês a mês ao longo da vida útil do sistema fotovoltaico. Na sequência serão desenvolvidas as premissas para realizar o cálculo de payback ao longo do horizonte do modelo, envolvendo a produtividade dos sistemas, em função da irradiação solar de cada localidade, a potência típica adotada nos cálculos, a degradação de potência ao longo da vida útil, custos de investimento e manutenção, percentual da geração exportado à rede, entre outros detalhes. Estas premissas já foram discutidas em muitos estudos de energia fotovoltaica (MONTENEGRO, 2013), não sendo o foco deste trabalho se aprofundar nas mesmas. Para o leitor já familiarizado com estas discussões, no final da seção é apresentada uma tabela resumo (Tabela 2.10) das premissas adotadas, permitindo avançar rapidamente para a seção seguinte. 2.3.3.1 Produtividade dos sistemas fotovoltaicos Para auxiliar o estudo do desempenho técnico de um sistema fotovoltaico, algumas figuras de mérito31 podem ser utilizadas: fator de capacidade, energia específica, rendimento global do sistema (performance ratio – PR) e produtividade do sistema (yield – YF). Neste estudo foi trabalhado com os dois últimos, pela facilidade de interpretação dos resultados. 31 (2012). Uma explicação detalhada destas figuras pode ser encontrada em Zilles et al. (2012) e em Almeida 57 Denomina-se produtividade (YF) do sistema em um determinado intervalo de tempo (t2t1), a relação entre o valor médio da energia entregue à carga e a potência nominal do gerador, conforme a Eq 6: ∫ (6) Para a finalidade deste trabalho, optou-se por trabalhar com a produtividade anual dos sistemas. Para um sistema em operação, basta dividir a energia total gerada no ano, pela potência do sistema, enquanto que para estimar a produtividade de um sistema fictício, é necessário conhecer a irradiação incidente no local, e atribuir o fator de rendimento global (PR). A base de dados de irradiação utilizada foi extraída do Atlas Brasileiro de Energia Solar32, na sua versão de 2006, sendo trabalhado com a média anual da irradiação global sobre o plano inclinado (superfície voltada para o Norte e com inclinação igual à latitude local33). O PR é um valor adimensional que reproduz o efeito total das perdas do sistema. Ele representa perdas nos cabos, posicionamento não ideal dos módulos, sujeira sobre os módulos, eficiência do inversor, perdas por temperatura, entre outros. Valores de sistemas reais ficam em torno de 0,6 e 0,8 (ALMEIDA, 2012), sendo neste trabalho utilizado o valor de 0,75 para os cálculos de produtividade, não diferindo entre um local e outro. Para o levantamento da irradiação ao longo do território brasileiro, foi realizada uma análise semelhante a da seção 2.3.1, no levantamento do número de domicílios por faixa de 32 Esta publicação foi desenvolvida dentro do escopo do projeto SWERA (Solar and Wind Energy Resource Assessment), financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e cofinanciado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Os produtos voltados para a energia solar aplicados ao Brasil foram desenvolvidos através de parceria entre a DMA/CPTEC/INPE e o Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal de Santa Catarina (LABSOLAR /UFSC), fazendo uso do modelo de transferência radiativa BRASIL-SR e de uma base georeferenciada de dados ambientais e socioeconômicos disponibilizados por diversos parceiros nacionais e internacionais e de distribuição gratuita (PEREIRA, 2006). 33 Tal orientação e inclinação permitem que a produtividade anual do sistema seja maximizada, embora este posicionamento nem sempre seja possível, dadas as condições da edificação. Ressalta-se que esta regra otimiza a produtividade total ao longo do ano, no entanto, não é regra absoluta para o dimensionamento dos sistemas, uma vez que com a variação deste ângulo pode ser privilegiada a produção em alguma estação específica, caso seja desejado. 58 renda do responsável. Neste caso, foi optado por processar todos os valores de irradiação dentro da área de cada distribuidora e exportar a média e desvio padrão dos dados. Uma síntese do resultado pode ser vista na Figura 2.4. Com os valores de irradiação média e PR, foi calculada a produtividade estimada para a área de cada distribuidora através da Irradiaçção média (Wh/m².dia) 6.000 1.000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 - 5.800 5.600 5.400 5.200 5.000 4.800 4.600 4.400 Média Anual (Wh/m²/dia) Desvio Padrão Figura 2.4 - Média de irradiação e desvio padrão por distribuidora Fonte: Elaboração própria. Desvio Padrrão multiplicação dos dois fatores, sendo apresentado o resultado na Tabela 2.3. 59 Tabela 2.3 - Produtividade (YF) por distribuidora Distribuidora Yf (kWh/kWp/ano) ELETROPAULO 1.376 CEA 1.389 AmE 1.394 EFLJC 1.395 CEEE-D 1.406 Boa Vista 1.409 CELESC-DIS 1.410 ELETROACRE 1.412 EFLUL 1.413 ELFSM 1.416 COCEL 1.419 UHENPAL 1.421 CERR 1.427 COOPERALIANÇA 1.428 CELPA 1.436 SULGIPE 1.439 AES-SUL 1.450 CERON 1.450 ESCELSA 1.450 CPFL Sul Paulista 1.451 BANDEIRANTE 1.460 CEAL 1.460 CFLO 1.461 ESE 1.465 EBO 1.466 CPFL-Piratininga 1.469 RGE 1.476 EMG 1.477 LIGHT 1.482 AMPLA 1.488 COPEL-DIS 1.492 Distribuidora Yf (kWh/kWp/ano) DEMEI 1.494 CELPE 1.494 HIDROPAN 1.496 ELETROCAR 1.498 CEMAR 1.498 MUXENERGIA 1.501 CEMAT 1.504 COELBA 1.514 IENERGIA 1.516 COSERN 1.524 ELEKTRO 1.524 CELTINS 1.528 EPB 1.528 COELCE 1.541 EEB 1.544 CEMIG-D 1.546 CPFL Santa Cruz 1.561 CHESP 1.564 CELG-D 1.571 ENERSUL 1.572 CAIUÁ-D 1.577 CEPISA 1.583 EDEVP 1.584 DMED 1.586 CEB-DIS 1.594 CPFL-Paulista 1.601 CPFL Mococa 1.610 CPFL Jaguari 1.611 CPFL Leste Paulista 1.611 CNEE 1.618 Fonte: Elaboração própria 2.3.3.2 Potência típica dos sistemas fotovoltaicos As medidas de incentivo utilizadas internacionalmente se basearam principalmente no sistema de tarifas feed-in, que remunera a geração fotovoltaica com uma tarifa diferenciada, independente do consumo da residência. Neste caso, a potência do sistema pode ser superior, se limitando à área do telhado, por exemplo, para gerar a maior receita possível. Nos EUA mais de 50% dos sistemas instalados têm potência entre 4 e 10 kWp (NREL, 2013), com a 60 potência FV média em instalações residenciais de aproximadamente 5 kWp (SEIA), enquanto no Reino Unido o valor é de 3,5 kWp (THE GREEN AGE). Na Alemanha o tamanho médio dos sistemas instalados em 2011 foi de 8 kWp, enquanto que em 2012 a média foi de 6 kWp (SEEL et al., 2013). No Brasil, o modelo de compensação líquida estabelecido pela Resolução n° 482 da ANEEL, determina que a geração excedente ao consumo momentâneo, pode ser exportada à rede da distribuidora e é computada como crédito de energia que pode ser utilizado no prazo de até 36 meses. Logo, não há receita financeira para o consumidor, e caso a geração seja sobredimensionada parte do investimento terá sido em vão. Adicionalmente, deve-se levar em consideração que os consumidores atendidos em baixa tensão pagam um custo de disponibilidade, um valor mínimo faturável mensal, conforme o padrão de atendimento da instalação (ANEEL, 2000): 1. Monofásico e bifásico a 2 (dois) condutores: valor em moeda corrente equivalente a 30 kWh; 2. Bifásico a 3 (três) condutores: valor em moeda corrente equivalente a 50 kWh; 3. Trifásico: valor em moeda corrente equivalente a 100 kWh. Logo, dadas as condições regulatórias atuais, não faz sentido dimensionar o sistema fotovoltaico para atender 100% do consumo, ou de forma que o mesmo fique abaixo do valor mínimo estabelecido. De acordo com a faixa de consumo, e uma produtividade média (YF) de 1450 kWh/kWp/m², foi levantada a potência fotovoltaica máxima que pode ser instalada para que não haja geração em excesso. Ressalta-se que estes valores variam de acordo com a produtividade de cada localidade. Os resultados estão sintetizados na Tabela 2.4. 61 Tabela 2.4 - Limites de potência FV que pode ser instalada por faixa de consumo Faixa de Consumo (kWh/mês) Unidades Consumidoras Consumo Total Anual (GWh) Média de Consumo (kWh/mês) Consumo Disponibilidade (kWh) Potência Instalada Máxima (kWp) 101-200 201-300 301-400 401-500 501-1000 >1000 16.308.970 7.740.146 3.274.308 1.414.533 1.514.077 361.446 10.880 28.286 22.641 13.320 7.396 11.640 145 244 339 436 641 1.937 30 50 100 100 100 100 0,95 1,60 1,98 2,78 4,47 15,20 Fonte: Elaboração própria com dados de SIMPLES – EPE, 2013 A média dos 23 sistemas cadastrados na ANEEL, pessoa física, presentes no Banco de Informações de Geração (BIG), consultados até 29/11/13, é igual a 6,63 kWp, no entanto, o desvio padrão da base de dados é muito elevado, por haver três sistemas com potência superior a 20 kWp. Do total, 60% dos sistemas está na faixa de 2 a 4 kWp. Levando em consideração o nível socioeconômico do mercado nicho estimado neste estudo e as condições regulatórias atuais, adota-se como potência média instalada de um sistema residencial o valor de 3 kWp, que ocupa, aproximadamente, 20m² 34. 2.3.3.3 Percentual de geração FV que é injetado na rede Como explicado anteriormente, a regulamentação da mini e micro geração no Brasil permite exportar a energia gerada à rede de distribuição e utilizá-la posteriormente. Inicialmente, segundo o conceito de net metering, o percentual da energia que é consumido instantaneamente e o quanto é exportado à rede não deveria influenciar o cálculo do retorno financeiro do investimento, uma vez que a unidade consumidora seria tarifada de acordo com o balanço líquido de energia (consumido – gerado). Entretanto, através do Convênio ICMS 6, o CONFAZ orientou a cobrança de ICMS sobre toda a energia consumida pela unidade consumidora da rede da distribuidora. Desta forma, o consumidor não paga pela energia 34 Calculado com base no painel fotovoltaico de silício policristalino de 245W da Kyocera Solar, modelo KD245GH-4FB2. 62 compensada, mas é tributado sobre ela. Logo, quanto mais for exportado, maior será o imposto pago e, consequentemente, menor a atratividade econômica. Por ser uma medida orientativa, nem todos os estados devem adotar esta tributação, embora Montenegro (2013) afirme que a tendência é de que o convênio seja ratificado na íntegra pelas unidades da federação, como já é o caso da maioria dos estados, atualmente. O impacto desta medida vem sendo discutido com as Secretarias Estaduais de Fazenda, na tentativa de suspender a cobrança do ICMS sobre a energia compensada 35. Além de ser questionada a legalidade da cobrança, argumenta-se que a medida reduzirá os investimentos em energia fotovoltaica no Brasil, de forma que, sob o ponto de vista da arrecadação de impostos, não seja vantajoso para o país (EPE, 2014). Levando em consideração este cenário, neste trabalho é adotado um percentual de 60% da energia compensada, em linha com EPE (2014), pois representa um perfil típico de carga residencial. Dada a possibilidade de mudança na cobrança do ICMS, também é realizada uma análise de sensibilidade para o caso de não haver tributação sobre a compensação se energia. 2.3.3.4 Degradação anual de produtividade Os módulos fotovoltaicos com o passar do tempo vão diminuindo sua produtividade. Nos módulos de filme fino esta redução é mais acentuada, comparada aos de silício cristalino (EPE, 2012). De todo modo, os fabricantes que atendem a padrões internacionais de qualidade tipicamente garantem formalmente que, nas Condições Padrões de Teste (CPT), seus módulos terão no mínimo 80% da potência nominal depois de 25 anos, o que equivale a uma média geométrica anual de 0,9% (MONTENEGRO, 2013). Jordan e Kurtz (2012), ao analisar uma análise histórica dos estudos de degradação nos últimos 40 anos, envolvendo quase duas mil taxas de degradação, concluiram que a média foi de 0,8% e mediana de 0,5%. Estudos brasileiros (VIANA et al., 2012; BENEDITO, 2009) indicaram que considerar uma redução de 0,5% ao ano é mais representativo em situações 35 Recentemente (janeiro de 2014), o estado do Tocantins anunciou a isenção da tributação da compensação da energia gerada pelos primeiros cinco anos de operação. No final do ano passado Minas Gerais adotou a mesma medida. No entanto, estas particularidades não foram consideradas no modelo. Os dois cenários traçados foram: com tributação e sem tributação permanente (não apenas cinco anos). 63 reais, sendo este valor assumido aqui para os cálculos da produtividade ao longo da vida útil dos sistemas. 2.3.3.5 Custos do sistema fotovoltaico instalado Os custos dos sistemas fotovoltaicos vêm caindo significativamente nos últimos anos, sendo este um fator crucial para a maior adesão dos consumidores. Desde sua invenção, em 1950, a redução foi de mais de 100 vezes, superior a de qualquer outra tecnologia no período (NEMET, 2006). Montenegro (2013) traz valores atualizados dos custos praticados no mercado em 2013, sendo utilizado o valor médio de R$ 7,00/Wp para um sistema instalado. Adicionalmente, o consumidor que decidir pela instalação, terá que arcar com custos adicionais da compra do medidor de energia bidirecional de dois quadrantes (para permitir a medição de energia elétrica injetada na rede) e do Dispositivo de Seccionamento Visível (DSV) 36 , que juntos somam cerca de R$ 1.000,00 (MONTENEGRO, 2013). Foi assumido que o custo do DSV e do medidor irão cair linearmente nos próximos anos, chegando à metade do preço em 2023. Os módulos fotovoltaicos sempre representaram a parcela mais significativa nos custos totais do investimento, sendo que muitos estudos de difusão utilizam a curva de aprendizagem destes, junto à perspectiva da capacidade instalada mundial, para estimar a evolução dos custos no futuro. Entre 1976 e 2010 a curva de aprendizagem dos módulos fotovoltaicos foi de 19,3% (BREYER; GERLACH, 2013). Ou seja, a cada duplicação da produção global acumulada, ocorreu a redução de 19,3% no custo dos módulos fotovoltaicos. A Figura 2.5 ilustra esta redução. 36 Chave externa à residência para permitir a distribuidora desligar o sistema em caso de manutenção. A utilização deste dispositivo é muito questionada, pois os inversores atuais já possuem mecanismos antiilhamento, que garantem o desligamento do sistema quando a rede externa estiver desenergizada. Internacionalmente este dispositivo não é utilizado, sendo que no Brasil o assunto está em discussão, podendo deixar de ser exigido no futuro. 64 Figura 2.5 - Histórico de custos de módulos fotovoltaicos e curva de aprendizagem Fonte: Adaptado de Bloomberg New Energy Finance, 2013. A grande queda nos custos dos módulos fotovoltaicos levou a uma diminuição dos preços dos sistemas como um todo, no entanto, enquanto em 2008 os módulos representavam 67% do valor total do investimento, em 2012 este número passou a 32% (GTM RESEARCH, 2013a). Ainda, dadas as limitações para reduções adicionais nos custos dos módulos, estimase que as próximas quedas partam principalmente na redução dos custos de instalação e outros componentes (BARBOSE et al., 2013). Assim sendo, avaliar apenas a redução no custo dos módulos não parece muito adequada para estimar os custos do investimento nos próximos anos. Portanto, no presente estudo, a evolução dos custos será traçada a partir do custo de 2013 (R$ 7,00/Wp) e da taxa anual de redução dos custos totais, conforme IEA (2012). Diversas empresas e entidades realizaram estudos (EWI, 2011; GTM RESEARCH, 2013b) com estas previsões, porém, optou-se pelo trabalho da Agência Internacional de Energia, dada sua reputação. A Tabela 2.5 resume as taxas para três escalas de potência, sendo que será utilizada aqui somente a perspectiva para o setor residencial, enquanto a Tabela 2.6 resume os custos finais dos sistemas fotovoltaicos para os próximos dez anos. 65 Tabela 2.5 - Perspectiva de redução anual de custos dos sistemas fotovoltaicos 2011-2020 2021-2030 2031-2050 -6,45% -3,26% -1,55% Residencial -6,03% -3,34% -1,69% Comercial -7,64% -2,38% -1,43% Centrais Fonte: Elaboração própria, a partir de IEA (2012). Tabela 2.6 - Perspectiva do custo dos sistemas fotovoltaicos Ano Custo SFV (R$/Wp) 2013 7,00 2014 6,55 2015 6,13 2016 2017 2018 5,73 5,36 5,01 2019 4,69 2020 4,39 2021 4,25 2022 4,11 2023 3,97 Fonte: Elaboração própria, a partir de Montenegro (2013) e IEA (2012). 2.3.3.5.1 Análise de sensibilidade: redução de custos via incentivos fiscais Conforme apresentado na seção 1.3, diversas medidas de incentivo econômico podem ser adotadas para acelerar a difusão de sistemas fotovoltaicos no país. Em EPE (2012) foram avaliadas três diferentes alternativas para estimar o impacto das mesmas na redução do custo nivelado da microgeração fotovoltaica: 1) financiamento com baixas taxas; 2) incentivo no imposto de renda e incentivos fiscais nos equipamentos; e 3) instalação e montagem. Por serem medidas propostas pela EPE, empresa pública que realiza estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético brasileiro, assumem-se estas como mais possíveis de serem aplicadas, merecendo ser estudadas. No entanto, o modelo aqui proposto tem uma limitação decorrente do uso do payback na avaliação do mercado potencial. O método do payback não leva em conta os fluxos de caixa após o ano de recuperação, e não é capaz de absorver corretamente o impacto econômico de uma alternativa de financiamento. Assim sendo, adotam-se neste trabalho apenas as análises referentes ao incentivo no imposto de renda e nos impostos sobre equipamentos, pois podem ser aplicados diretamente ao custo de instalação dos sistemas fotovoltaicos. Quanto ao incentivo no imposto de renda, EPE (2012) avalia o desconto de 30% do investimento a ser descontado nos dois primeiros anos após o investimento. Basicamente, este incentivo reduz em 30% o custo de investimento do sistema fotovoltaico. No presente trabalho será considerado este mesmo desconto sendo aplicado nos anos de 2014 a 2017, sendo diminuído para 20% de 2018 a 2020 e 10% de 2021 a 2023, simulando uma política de incentivo inicial que se reduz gradualmente à medida que o processo de difusão ocorre. 66 Em relação à isenção de impostos sobre equipamentos, primeiramente, salienta-se que desde 1997 o CONFAZ estabelece que não seja recolhido ICMS de módulos fotovoltaicos em nenhum estado da Federação. Porém, esta medida não se estende a outros equipamentos, como inversores e medidores. Além do ICMS, outros impostos federais e municipais incidem sobre equipamentos e serviços, como PIS, COFINS, II, IPI e ISS. Erwes et al. (2012) detalham todos os impostos e taxas incidentes na cadeia fotovoltaica, sendo apresentado um resumo na Tabela 2.7. Tabela 2.7 - Alíquotas de impostos de equipamentos Imposto Módulo FV Inversor Medidor II 12% 14% 14% IPI 0% 15% 15% ICMS 0% 17%* 17%* PIS 1,65% 1,65% 1,65% COFINS 7,60% 8,60% 8,60% * Média dos estados Fonte: Adaptado de Erwes et al., 2012 Assim como em EPE (2012), assume-se a premissa de que sejam isentados todos os impostos incidentes sobre os módulos fotovoltaicos, se estendendo por todo o período do estudo, tendo em vista que a isenção do ICMS já está em vigor por mais de uma década. Mesmo sem a incidência do ICMS, o sobre custo é de 21% em função do II, PIS e COFINS. Para calcular a redução no custo do investimento, assumiu-se uma composição de custos conforme a Tabela 2.8, elaborada com base numa média dos custos de 2013 e com a premissa de que os inversores sofrerão menores quedas ao longo da próxima década, de forma que aumente sua participação nos custos totais. Tabela 2.8 - Composição de custos da cadeia fotovoltaica 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 Módulo 60% 59% 59% 58% 57% 56% 55% 54% 53% 53% 53% Inversor 23% 24% 25% 26% 27% 28% 30% 31% 31% 32% 32% Outros* 17% 17% 17% 16% 16% 16% 16% 15% 15% 15% 15% * inclui cabos, estruturas para fixação e montagem, serviços, medidor e DSV. Fonte: Elaboração própria 67 Através do custo apresentado na Tabela 2.6 e da composição assumida, aplicou-se um desconto de 17,5% sobre valor dos módulos a partir de 2014, referente à alíquota de 21% embutida no valor final. 2.3.3.6 Despesas anuais com manutenção, reparo, reposição e operação Os sistemas fotovoltaicos apresentam pouca necessidade de manutenção, principalmente por não possuírem partes móveis ou girantes, tampouco utilizar fluidos de trabalho. Dentre as manutenções de rotina, pode-se citar a limpeza dos módulos, embora o posicionamento com no mínimo 10° de inclinação seja recomendado para auxiliar a limpeza natural através das chuvas. Assim como em EPE (2012) e Montenegro (2013), adota-se aqui o valor de 1% ao ano sobre o investimento inicial referente à manutenção e operação. Segundo este último autor, o percentual de 1% é suficiente para permitir a troca do inversor ao longo da vida útil do sistema, levando em consideração a redução de custos nos próximos 10 a 15 anos. Por mais que seja questionável tal afirmação, foi assumida esta premissa, uma vez que o cálculo de payback tem limitações quanto a fluxos de caixa futuros. 2.3.3.7 Tarifas de energia elétrica As tarifas de energia elétrica sem impostos para o consumidor de baixa tensão (B1) para cada distribuidora foram obtidas através do site da ANEEL, pelo link: http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=493, no dia 19/11/2013. Sob estas tarifas incidem, para efeito de cálculo neste trabalho37, o imposto estadual ICMS e as contribuições PIS e COFINS. O cálculo destes tributos é feito “por dentro”, ou seja, fazem parte da base de cálculo, incidindo sobre o valor pago. A fórmula para calcular a tarifa final é apresentada a seguir: ( 37 ) (7) A taxa de iluminação pública pode ser adicionada à conta, mas não será incluída no cálculo por variar em cada município ou estado, além de ser geralmente fixa entre os consumidores, ou seja, não deixa de ser paga ao adotar a geração distribuída. 68 Os valores de ICMS para cada estado foram obtidos no site da ABRADEE (Disponível em: http://www.abradee.com.br/setor-de-distribuicao/banco-de-dados/financeiro). Alguns estados têm uma alíquota fixa para qualquer faixa de consumo, enquanto outros têm alíquotas crescentes de acordo com o consumo mensal. Neste trabalho foram utilizadas as alíquotas referentes a um consumo mensal médio de 300 a 500 kWh, que representam o máximo para 23 unidades federativas, enquanto que em quatro estados é praticada uma alíquota ainda superior para consumo acima de 500 kWh/mês. As alíquotas para cada estado, por faixa de consumo, para o setor residencial, são apresentadas no ANEXO C. Os valores de PIS e COFINS variam mês a mês para cada estado, sendo dificilmente apresentados nos sites das distribuidoras. Montenegro (2013) levantou uma fatura de energia elétrica para cada capital brasileira, de onde extraiu os valores de PIS e COFINS praticados em cada estado no mês de dezembro de 2012. Como neste trabalho o universo de distribuidoras é superior, resolveu-se adotar um valor médio, com base em Montenegro (2013) e EPE (2012), de PIS + COFINS igual a 6,5% para todas as distribuidoras. As tarifas finais, juntamente às alíquotas de ICMS praticadas, são apresentadas na Tabela 2.9. Tabela 2.9 - Tarifas finais de energia elétrica por distribuidora Distribuidora ICMS AMPLA EMG CELTINS CHESP CEMIG-D ELETROACRE HIDROPAN 29% 30% 25% 25% 30% 25% 25% Tarifa Final B1 (R$/kWh) 0,6076 0,5851 0,5529 0,5505 0,5465 0,5410 0,5220 CELPA 25% 0,5219 CPFL Mococa 25% 0,5179 DEMEI LIGHT COOPERALIANÇA SULGIPE UHENPAL ELETROCAR CEMAR CEMAT EEB 25% 29% 25% 27% 25% 25% 25% 25% 25% 0,5110 0,5097 0,5090 0,5068 0,5067 0,5035 0,5016 0,5005 0,4836 Distribuidora ICMS MUXENERGIA IENERGIA CEAL BANDEIRANTE ENERSUL CERON COELBA CPFL Sul Paulista CPFL Leste Paulista EDEVP ESCELSA CELPE COCEL CAIUÁ-D CELESC-DIS RGE EBO CNEE 25% 25% 25% 25% 20% 17% 27% Tarifa Final B1 (R$/kWh) 0,4550 0,4491 0,4478 0,4452 0,4442 0,4426 0,4410 25% 0,4409 25% 0,4386 25% 25% 25% 29% 25% 25% 25% 27% 25% 0,4366 0,4363 0,4362 0,4325 0,4321 0,4214 0,4157 0,4129 0,4121 Continua... 69 Continuação... Distribuidora ICMS CEPISA 25% Tarifa Final B1 (R$/kWh) 0,4755 DMED 30% 0,4751 ELFSM EFLUL EFLJC 25% 25% 25% 0,4747 0,4709 0,4691 COSERN 27% 0,4640 ESE COELCE CFLO EPB CEEE-D ELEKTRO CELG-D 27% 27% 29% 27% 25% 25% 29% 0,4636 0,4635 0,4631 0,4578 0,4563 0,4553 0,4550 Distribuidora ICMS COPEL-DIS CPFLPiratininga AmE CPFL-Paulista AES-SUL CPFL Santa Cruz CEB-DIS ELETROPAULO Boa Vista CPFL Jaguari CERR CEA 29% Tarifa Final B1 (R$/kWh) 0,4086 25% 0,4062 25% 25% 25% 0,4042 0,3973 0,3828 25% 0,3806 21% 25% 17% 25% 17% 12% 0,3538 0,3481 0,3236 0,3048 0,2992 0,2421 Fonte: Elaboração própria com dados de ANEEL e ABRADEE. O modo como estas tarifas vão se comportar no futuro é incerto. Entende-se que os custos marginais de expansão e operação do sistema elétrico brasileiro são crescentes, embora seja difícil fazer uma projeção da evolução das tarifas com base nestes indicadores. Montenegro (2013) apresenta a média geométrica de variação anual das tarifas por distribuidora no período de oito anos, que varia entre -1% a 6%, não incluídas as reduções provenientes da Lei 12.783/2013. Frente a este cenário, assume-se, assim como em EPE (2014), que as tarifas, em termos reais38, se manterão constantes ao longo do período de análise. Na sequência, são sumarizadas todas as premissas, detalhadas anteriormente, através da Tabela 2.10. 38 Ao trabalhar com valores reais, expurga-se o efeito da inflação no período. 70 Tabela 2.10 - Premissas básicas relacionadas ao cálculo de payback Parâmetro Potência típica de um SFV Degradação anual de produtividade Valor 3 kWp 0,50% Vida útil do sistema Despesas anuais com O&M 25 anos 1% do investimento inicial Evolução das tarifas de eletricidade Percentual de energia injetada na rede Custo do Sistema Fotovoltaico Instalado (2013) Redução de custos Tarifa real constante 60% R$ 7,00/Wp 2013 – 2020: - 6,45% a.a. 2021 – 2023: - 3,26% a.a. Referência BIG - ANEEL Viana et al., 2012; Benedito, 2009 Montenegro, 2013 EPE, 2012; Montenegro, 2013 EPE, 2014 EPE, 2014 Montenegro, 2013 IEA (2012) Fonte: Elaboração própria 2.3.3.8 Cálculo do Payback Simples Com base nas premissas e cálculos anteriores foi possível estimar a produtividade dos sistemas fotovoltaicos na área de concessão das 61 distribuidoras analisadas. Juntamente ao levantamento das tarifas de energia elétrica vigentes sob as respectivas áreas de concessão, e evolução das mesmas ao longo do tempo, é possível agora calcular o payback do investimento feito num sistema fotovoltaico. Através do software Microsoft Office Excel foi montada uma planilha com o fluxo de caixa de um sistema fotovoltaico genérico. O valor de payback para cada uma das 61 distribuidoras, de 2013 a 2023, é resultado da elaboração de 671 fluxos de caixa. Para possibilitar esta análise, foi criada uma macro que altera o modelo genérico de acordo com as características específicas de cada distribuidora/ano, retornando o produto desejado: payback. Esta ferramenta é de fundamental importância para o funcionamento do modelo e para atender os objetivos do estudo, ao permitir que facilmente seja recalculado o retorno financeiro de acordo com a alteração de premissas econômicas, como exercício de análise de sensibilidade. 71 Considerando a vida útil dos sistemas, foram desconsiderados os resultados de payback superiores a 25 anos, pois nunca retornam o investimento inicial. Os demais servem de entrada para o cálculo do mercado potencial. 2.4 Taxa de adoção Na seção anterior foi definida a metodologia utilizada para estimar o mercado potencial final de sistemas fotovoltaicos residenciais no Brasil. Ou seja, ao longo do processo de décadas de difusão, e se este for bem sucedido, o mercado potencial final (m) será quem terá aderido à tecnologia. A próxima etapa consiste em definir a forma como o fenômeno da difusão se desenvolve neste mercado (m) ao longo do tempo. O modelo utilizado define a difusão segundo uma curva sigmoide, conforme apresentada na seção 1.2.3. Segundo o modelo de Bass (1969), a trajetória é definida por dois coeficientes: p – coeficiente de inovação; q – coeficiente de imitação. A função densidade de probabilidade para que um adotante potencial faça a adoção no tempo t é ( ) ( ))( ( ( )) (8) onde F(t) é a função de distribuição acumulada (probabilidade de adotantes ao longo do tempo t). Porém, neste trabalho, será utilizada a expressão de forma fechada da equação acima, conforme em Guidolin e Mortarino (2010) e em Islam (2014). Assim sendo, a função distribuição acumulada de um potencial adotante em realizar a adoção no tempo t é ( ) ( ( ) ) , t > 0, p,q > 0 (9) A definição dos parâmetros p e q é criticamente importante para simulações de curto prazo (menores que 10 anos), enquanto que para projeções de longo prazo (em torno de 20 anos ou mais) não sejam tão essenciais, em mercados potenciais já difundidos (DRURY, 2010). Os parâmetros variam de acordo com as características do produto e do mercado. Os valores médios para p e q são 0,03 e 0,38, respectivamente, como relatado por Sultan et al. 72 (1990). Jeuland (1995) relata que p é frequentemente menor que 0,01 e q raramente é maior que 0,5 e menor que 0,3, indicando que o processo de difusão é mais impulsionado pela imitação do que pela inovação. No caso específico de sistemas fotovoltaicos, Guidolin e Mortarino (2010) levantaram os parâmetros para onze países participantes do IEA Photovoltaic Power Systems Programme (IEA PVPS) com base no histórico da capacidade instalada. No entanto, este estudo utilizou dados das instalações entre 1992 e 2006, sendo a década de 1990 marcada principalmente por sistemas isolados que somaram baixa capacidade no período. Logo, os parâmetros resultantes são subdimensionados para representar a difusão da geração fotovoltaica conectada à rede. De fato, as projeções realizadas com estes parâmetros resultaram numa capacidade instalada bem inferior da observada posteriormente. 2.4.1 Parâmetros utilizados No presente trabalho foram utilizados os valores de p = 0,0015 e q = 0,3 (dentro dos valores levantados por Jeuland (1995)) para o caso padrão e o cenário de extinção tributação da compensação. Estes valores foram retirados do modelo americano Solar Deployment System (DENHOLM et al., 2009). Dentre as três curvas traçadas pelos autores do trabalho americano, será utilizada a de menor taxa, dadas as diferenças do mercado brasileiro para o americano. Por não estarem evidenciados no estudo, os parâmetros foram obtidos através de contato direto com os autores do trabalho. Segundo estes, os parâmetros foram estipulados para que, grosso modo, representassem uma difusão bem sucedida ao longo de 20 anos. Assim como em Guidolin e Mortarino (2010), a determinação dos parâmetros pode ser realizada com auxílio do histórico da penetração. Esta alternativa é frequentemente utilizada em outros modelos de difusão, como o baseado em agentes, para determinação de alguns fatores. Porém, pelo fato da geração fotovoltaica conectada à rede no Brasil ser nova, praticamente sem histórico, a calibração não pode ser realizada no momento, sendo, portanto, inicialmente adotados os parâmetros com base em estudos internacionais. Assim que o mercado brasileiro for se desenvolvendo, é possível revê-los para obtenção de resultados mais acurados. As medidas de desconto no imposto de renda, isenção fiscal dos módulos e extinção da tributação da compensação de energia têm impacto econômico, no entanto, sua interpretação pela população é distinta. A primeira delas pode ser considerada a mais persuasiva, pois impacta o fluxo de caixa logo no início, sendo vista como um benefício imediato ao adotante. 73 Ainda, dado seu caráter de diminuição escalonada, tende a provocar o sentimento de urgência de adoção. A segunda medida tem a característica de reduzir os custos de investimento imediatamente, entretanto, uma vez reduzido os custos, não provoca o mesmo sentimento de desconto ou restituição financeira como a primeira. Finalmente, a terceira medida acarreta num aumento da receita39 mensal, sendo um benefício diluído ao longo do tempo, o que gera menos atração ao investidor. Assim sendo, como sensibilidade, foram alterados os parâmetros para os cenários de incentivos investigados, como representação destas distinções de percepção das medidas de incentivo. Medidas de isenção fiscal dos equipamentos e a regulamentação do virtual net merering tendem a acelerar o processo, sendo representadas pela alteração do parâmetro q para 0,4 (curva intermediária presente em Denholm et. al, 2009). Adicionalmente, ao oferecer desconto no imposto de renda e possibilitar a compensação virtual, entende-se que haverá um incremento proporcionado pela parcela inovadora da população, representado pela alteração do parâmetro p para 0,002. Um resumo dos parâmetros utilizados em cada cenário será apresentado seção 2.6. A Penetração de meracdo acumulada Figura 2.6 ilustra o efeito da variação dos parâmetros p e q na taxa de adoção. 100% 90% 80% 70% 60% p = 0,0015; q = 0,3 p = 0,0015; q = 0,4 p = 0,002; q = 0,4 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Anos em que a tecnologia está no mercado Figura 2.6 - Taxa de adoção da tecnologia fotovoltaica residencial Fonte: Elaboração própria com base em Denholm et al., 2009. 39 Apesar de não gerar uma entrada monetária, a geração fotovoltaica proporciona uma redução na conta de energia e um consequente saldo financeiro positivo. 74 2.5 Cálculo do número de adotantes, da potência e energia Após o levantamento do mercado potencial final (m) e da taxa de adoção F(t), foi utilizada a Eq. 3 para calcular o número de adotantes N(t) em cada ano. Com o número de adotantes calculado (o cerne do modelo de difusão), extraem-se a estimativa da potência instalada e da energia gerada pelos sistemas. Para a primeira delas, é multiplicada a potência média definida na seção 2.3.3.2 igual a 3 kWp pelos número de adotantes, que definirá a capacidade instalada no período. No caso da energia gerada, além de levar em consideração a produtividade na área de cada distribuidora e a potência instalada, são feitas algumas considerações adicionais para determinar o quanto efetivamente será gerado em cada ano. A potência estimada representa a capacidade instalada no final de cada ano, logo, não se pode assumir que sua totalidade contribuirá com geração por 365 dias. Para contornar o problema, por simplicidade admite-se que toda a potência calculada em cada ano seja instalada no término de junho, computando seis meses de geração no ano em que é instalada. Adicionalmente, é considerada uma taxa de degradação de produtividade igual a 0,5% a.a. 2.6 Resumo dos cenários e da metodologia Conforme discutido nas seções anteriores, algumas análises de sensibilidade foram propostas levando em consideração a aplicação de possíveis medidas de incentivo, sejam elas de cunho econômico ou regulatório. A seguir serão descritos os cenários que foram analisados e as premissas utilizadas em cada um deles (Tabela 2.11). 1. Cenário I – BAU (Business as Usual) é calculado com base na manutenção da regulação atual e sem nenhum incentivo econômico. 2. Cenário II – Desconto no IR assume a continuidade da regulação atual, com um desconto no IR de 30% nos primeiros anos, sendo diminuindo gradualmente ao longo da década. 3. Cenário III – Isenção fiscal dos módulos assume a continuidade da regulação atual, com a premissa de que os módulos sejam isentados, ao longo do horizonte deste estudo, do II, PIS e COFINS, totalizando um desconto de 17,5%. 75 4. Cenário IV – Sem tributação da compensação assume que o Convênio ICMS 6 do CONFAZ não seja aplicado pelos estados, não havendo incidência de imposto sobre a energia injetada na rede quando é compensada posteriormente. 5. Cenário V – Virtual net metering assume que não haja nenhum incentivo econômico, mas que a regulação seja alterada, permitindo compensação de energia virtual, retirando assim as restrições técnicas existes à adoção de um sistema fotovoltaico. 6. Cenário VI – III + IV + V é composto pelas medidas de incentivo dos últimos três cenários, representando um cenário de grande difusão fotovoltaica. Tabela 2.11 - Resumo das variáveis por cenário Cenário Custo Final Sistema 3kWp (R$) I - BAU II Desconto no IR IV - Sem tributação da compensação 22.000 III Isenção fiscal dos módulos 22.000 VI - III + IV +V 22.000 VVirtual net metering 22.000 2013 22.000 2014 20.595 14.416 18.451 20.595 20.595 18.451 2015 19.277 13.494 17.300 19.277 19.277 17.300 2016 18.041 12.629 16.219 18.041 18.041 16.219 2017 16.881 11.817 15.204 16.881 16.881 15.204 2018 15.793 12.635 14.251 15.793 15.793 14.251 2019 14.772 11.818 13.356 14.772 14.772 13.356 2020 13.814 11.051 12.515 13.814 13.814 12.515 2021 13.335 12.002 12.088 13.335 13.335 12.088 2022 12.870 11.583 11.672 12.870 12.870 11.672 2023 12.419 11.177 11.269 12.419 12.419 11.269 60% 60% 60% Não 60% Não 0,0015 0,3 Variável - Tabela 2.2 0,002 0,4 Variável Tabela 2.2 0,0015 0,4 Variável Tabela 2.2 0,0015 0,3 Variável Tabela 2.2 0,002 0,4 Não 0,002 0,4 Não Energia compensada tributada Parâmetros Restrição técnica p q 22.000 Fonte: Elaboração própria Finalmente, após a definição metodológica do modelo e a sua devida explanação, apresenta-se um diagrama esquemático na sequência para organizar os passos e auxiliar o entendimento. 76 Figura 2.7 - Fluxograma esquemático da metodologia da projeção da difusão de sistemas fotovoltaicos residenciais conectados à rede. Fonte: Elaboração própria 77 3 Resultados Neste capítulo serão apresentados os resultados gerados pelo modelo de difusão proposto nesta dissertação, seguindo a sequência apresentada na metodologia. Será dada ênfase ao cenário referência (BAU – Business as Usual), apresentando os resultados deste cenário em nível desagregados, por distribuidora. Como as medidas de incentivo testadas via sensibilidade (cenários alternativos, sumarizados na seção 2.6) são de abrangência nacional, seus resultados serão apresentados de modo agregado, a nível nacional. 3.1 Mercado potencial Primeiramente, conforme as premissas socioeconômicas e restrições técnicas adotadas, apresenta-se o tamanho do mercado potencial para a geração fotovoltaica residencial no Brasil através da Tabela 3.1. Tabela 3.1 - Mercado potencial fotovoltaico residencial por distribuidora (mil domicílios) Distribuidora40 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 AES-SUL AmE AMPLA BANDEIRANTE Boa Vista CAIUÁ-D CEA CEAL CEB-DIS CEEE-D CELESC-DIS CELG-D CELPA CELPE CELTINS CEMAR CEMAT CEMIG-D CEPISA 86 51 154 92 6,2 9,9 19,2 28,4 96 187 191 114 81 117 22,8 58 52,0 432 36,7 93 56 165 96 6,3 10,0 22,1 29,0 98 220 209 121 85 127 24,4 63 53,9 481 39,9 101 61 178 99 6,5 10,2 25,4 29,5 100 260 229 129 89 138 26,1 68 55,8 535 43,3 110 66 191 103 6,6 10,4 29,1 30,0 102 306 250 136 94 150 27,9 73 57,8 595 47,0 119 72 205 107 6,7 10,6 33,5 30,6 104 361 274 145 98 163 29,9 79 59,8 662 51,0 129 78 220 111 6,8 10,8 38,4 31,2 106 426 300 153 103 177 32,0 85 62,0 737 55,4 140 85 236 115 7,0 11,0 44,1 31,7 108 503 328 163 109 192 34,3 92 64,2 820 60,2 40 2021 2022 2023 152 165 180 92 101 110 253 271 291 119 124 128 7,1 7,2 7,4 11,2 11,4 11,6 50,7 58,2 66,8 32,3 32,9 33,5 110 112 114 593 699 825 359 393 430 172 183 194 114 120 126 209 227 246 36,7 39,3 42,1 99 107 115 66,5 68,8 71,3 912 1.015 1.130 65,3 71,0 77,0 Continua... Recorda-se que a nomenclatura das distribuidoras está elucidada no ANEXO A. 78 Continuação... Distribuidora 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 CERR 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,9 2,0 2,2 2,4 CFLO 3,7 3,9 4,1 4,3 4,6 4,9 5,1 5,4 5,8 6,1 CHESP 1,1 1,2 1,3 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 CNEE 6,1 6,7 7,4 8,2 9,0 9,9 10,9 12,1 13,3 14,7 COCEL 2,6 2,9 3,2 3,5 3,9 4,3 4,8 5,3 5,8 6,5 COELBA 233 268 307 353 405 466 535 614 705 810 COELCE 91 97 105 112 121 130 139 149 161 172 COOPERALIANÇA 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,8 0,9 0,9 0,9 COPEL-DIS 208 212 216 220 224 228 233 237 241 246 COSERN 50,1 53,8 57,8 62,1 66,7 71,6 76,9 82,6 88,8 95,3 CPFL Jaguari 1,9 2,1 2,3 2,5 2,7 2,9 3,2 3,5 3,8 4,1 CPFL Leste Paulista 2,2 2,3 2,5 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 3,8 CPFL Mococa 1,6 1,8 1,9 2,1 2,3 2,5 2,7 2,9 3,2 3,4 CPFL Santa Cruz 7,3 7,5 7,6 7,7 7,9 8,0 8,2 8,3 8,5 8,6 CPFL Sul Paulista 2,8 2,8 2,9 2,9 3,0 3,0 3,1 3,1 3,2 3,3 CPFL-Paulista 257 276 296 318 342 367 394 424 455 489 CPFL-Piratininga 112 122 133 145 158 172 188 204 223 243 DEMEI 2,1 2,1 2,2 2,2 2,3 2,3 2,3 2,4 2,4 2,5 DMED 3,0 3,0 3,1 3,2 3,2 3,3 3,3 3,4 3,5 3,5 EBO 6,6 6,7 6,8 7,0 7,1 7,2 7,4 7,5 7,6 7,8 EDEVP 6,4 6,5 6,7 6,8 6,9 7,0 7,2 7,3 7,4 7,6 EEB 5,0 5,1 5,2 5,2 5,3 5,4 5,5 5,6 5,8 5,9 EFLJC 2,2 2,3 2,4 2,5 2,7 2,8 2,9 3,1 3,2 3,4 EFLUL 0,5 0,5 0,5 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 ELEKTRO 89 95 101 107 114 121 129 137 145 154 ELETROACRE 9,9 10,1 10,3 10,5 10,7 10,9 11,1 11,3 11,5 11,7 ELETROCAR 2,5 2,7 2,9 3,2 3,5 3,8 4,1 4,5 4,9 5,3 ELETROPAULO 466 490 514 540 566 595 624 655 688 722 ELFSM 2,5 2,5 2,5 2,6 2,6 2,7 2,7 2,8 2,8 2,9 EMG 11,0 11,6 12,3 13,1 13,8 14,7 15,5 16,5 17,4 18,5 ENERSUL 49,7 52,8 56,1 59,7 63,4 67,4 71,6 76,1 80,9 86,0 EPB 37,6 40,1 42,8 45,7 48,7 51,9 55,4 59,1 63,0 67,2 ESCELSA 80 87 94 103 112 121 132 144 157 170 ESE 29,4 31,2 33,0 35,0 37,1 39,3 41,6 44,1 46,7 49,5 HIDROPAN 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 2,0 2,2 IENERGIA 1,6 1,7 1,7 1,8 1,9 2,0 2,1 2,2 2,3 2,5 LIGHT 342 371 403 438 475 516 560 609 661 718 MUXENERGIA 0,6 0,6 0,6 0,7 0,7 0,7 0,7 0,8 0,8 0,8 RGE 79 83 87 91 95 100 105 110 116 122 SULGIPE 1,9 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,5 3,8 UHENPAL 0,8 0,9 1,0 1,1 1,1 1,2 1,3 1,5 1,6 1,7 BRASIL 4.076 4.402 4.759 5.152 5.586 6.063 6.591 7.175 7.821 8.538 Fonte: Elaboração própria. 79 Em termos de potencial, os maiores mercados estão concentrados nas regiões sudeste e sul. Apesar de, em geral, haver maiores restrições técnicas nas áreas urbanas destas regiões, prevalecem o elevado número populacional e o maior nível de renda para classificá-las como principais mercados. Adicionalmente, destacam-se os estados da Bahia e Pernambuco, que são os únicos estados fora do sul e sudeste que figuram entre dez maiores mercados. Ao todo, estima-se que este mercado passe de pouco mais de quatro milhões de domicílios em 2014 para aproximadamente 8,5 milhões em 2023, mais que dobrando. Esta informação é relevante pois ressalta que o mercado fotovoltaico no Brasil será favorecido não apenas pelo processo de difusão e a taxa de adoção dos consumidores, mas também pela existência de um mercado crescente de consumidores potenciais, em função do aumento populacional e aumento da renda média, enquanto que em outros países desenvolvidos o efeito do aumento do mercado potencial é menor ou nulo41. Ao considerar um cenário de mudança regulatória, com a possibilidade do virtual net metering, estima-se que o mercado potencial se expanda significativamente, ao possibilitar que domicílios do tipo apartamento e em situação de aluguel também sejam sensibilizados à instalação da geração fotovoltaica. De modo geral, ao retirar estas restrições, o mercado quase n° de Domicílios (milhões) dobra de tamanho. No próximo gráfico é indicado o mercado brasileiro nos dois cenários. 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 BAU Virtual net metering Figura 3.1 - Mercado potencial fotovoltaico residencial no Brasil Fonte: Elaboração própria. 41 A taxa de crescimento da população na Alemanha, Espanha e Japão, por exemplo, tem sido muito baixa, quando não negativa, nos últimos anos. Em 2012 a população da Alemanha cresceu 0,11%, a da Espanha 0,09% e a do Japão diminuiu 0,20%, segundo dados do Banco Mundial disponíveis em: http://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.GROW 80 3.2 Evolução do payback O mercado apresentado anteriormente indica os domicílios com renda favorável e condições técnicas para instalação de sistemas fotovoltaicos residenciais, porém sem entrar na questão da atratividade econômica. Segundo a seção 2.3.2, a parcela da população sensibilizada a realizar o investimento pode ser definida com base no payback do investimento. Desta forma, apresenta-se a estimativa do tempo de retorno do investimento na Tabela 3.2. As cores auxiliam na visualização, sendo que vermelho indica maior tempo de retorno, e verde indica menor tempo de retorno. Tabela 3.2 - Evolução do payback da geração fotovoltaica residencial (anos) Distribuidora AES-SUL AmE AMPLA BANDEIRANTE Boa Vista CAIUÁ-D CEA CEAL CEB-DIS CEEE-D CELESC-DIS CELG-D CELPA CELPE CELTINS CEMAR CEMAT CEMIG-D CEPISA CERON CERR CFLO CHESP CNEE COCEL COELBA COELCE COOPERALIANÇA COPEL-DIS COSERN 2014 18,0 17,6 10,0 14,6 21,7 13,7 Não 14,5 16,3 14,9 16,4 13,4 12,2 14,6 10,5 11,6 11,9 11,0 12,1 13,8 23,8 14,4 10,2 14,1 16,4 14,4 13,2 12,7 16,5 13,4 2015 16,5 16,1 9,2 13,4 19,8 12,6 Não 13,3 15,0 13,6 15,1 12,3 11,2 13,4 9,6 10,6 10,9 10,1 11,1 12,7 21,7 13,2 9,4 13,0 15,0 13,2 12,1 11,6 15,1 12,3 2016 15,1 14,8 8,4 12,3 18,1 11,6 Não 12,2 13,8 12,5 13,8 11,3 10,3 12,3 8,9 9,8 10,1 9,3 10,2 11,6 19,8 12,2 8,6 11,9 13,8 12,1 11,1 10,7 13,9 11,3 2017 13,9 13,6 7,8 11,3 16,6 10,7 24,0 11,2 12,6 11,5 12,7 10,4 9,5 11,3 8,1 9,0 9,2 8,5 9,4 10,7 18,1 11,2 8,0 11,0 12,7 11,2 10,3 9,8 12,8 10,4 2018 12,7 12,5 7,1 10,4 15,2 9,8 21,8 10,3 11,6 10,6 11,7 9,6 8,7 10,4 7,5 8,3 8,5 7,9 8,7 9,8 16,6 10,3 7,3 10,1 11,6 10,3 9,4 9,1 11,7 9,5 2019 11,7 11,5 6,6 9,6 14,0 9,0 19,9 9,5 10,7 9,7 10,7 8,8 8,0 9,5 6,9 7,6 7,8 7,2 8,0 9,1 15,2 9,5 6,7 9,3 10,7 9,4 8,7 8,3 10,8 8,8 2020 10,7 10,5 6,0 8,8 12,8 8,3 18,2 8,7 9,8 8,9 9,9 8,1 7,4 8,8 6,3 7,0 7,2 6,6 7,3 8,3 13,9 8,7 6,2 8,5 9,8 8,7 8,0 7,6 9,9 8,1 2021 2022 2023 10,3 9,8 9,4 10,1 9,6 9,2 5,8 5,5 5,3 8,4 8,1 7,7 12,2 11,7 11,2 7,9 7,6 7,3 17,4 16,6 15,8 8,4 8,0 7,6 9,4 9,0 8,6 8,6 8,2 7,8 9,4 9,0 8,6 7,8 7,4 7,1 7,0 6,7 6,4 8,4 8,0 7,7 6,1 5,8 5,5 6,7 6,4 6,1 6,9 6,6 6,3 6,3 6,1 5,8 7,0 6,7 6,4 8,0 7,6 7,3 13,3 12,7 12,2 8,3 7,9 7,6 5,9 5,6 5,4 8,2 7,8 7,5 9,4 9,0 8,6 8,3 7,9 7,6 7,6 7,3 7,0 7,3 7,0 6,7 9,5 9,1 8,7 7,7 7,4 7,1 Continua... 81 Continuação... Distribuidora CPFL Jaguari CPFL Leste Paulista CPFL Mococa CPFL Santa Cruz CPFL Sul Paulista CPFL-Paulista CPFL-Piratininga DEMEI DMED EBO EDEVP EEB EFLJC EFLUL ELEKTRO ELETROACRE ELETROCAR ELETROPAULO ELFSM EMG ENERSUL EPB ESCELSA ESE HIDROPAN IENERGIA LIGHT MUXENERGIA RGE SULGIPE UHENPAL 2014 21,2 2015 19,4 2016 17,7 2017 16,3 2018 14,9 2019 13,7 2020 12,5 2021 2022 12,0 11,5 2023 11,0 13,1 12,1 11,1 10,2 9,4 8,6 7,9 7,6 7,3 6,9 10,6 16,4 14,9 15,0 16,3 11,9 12,7 16,4 13,5 12,2 14,5 14,2 13,4 11,9 12,1 21,9 14,0 10,7 12,2 13,5 15,1 14,1 11,6 13,8 12,5 13,7 15,7 12,8 12,8 9,8 15,1 13,7 13,8 15,0 10,9 11,7 15,0 12,4 11,2 13,3 13,0 12,3 10,9 11,1 20,0 12,9 9,8 11,2 12,5 13,9 12,9 10,6 12,6 11,5 12,6 14,5 11,8 11,8 9,0 13,8 12,6 12,7 13,8 10,1 10,7 13,8 11,4 10,3 12,2 12,0 11,3 10,0 10,2 18,3 11,8 9,0 10,3 11,4 12,8 11,9 9,8 11,6 10,6 11,6 13,3 10,9 10,8 8,3 12,7 11,6 11,6 12,6 9,3 9,9 12,6 10,5 9,5 11,2 11,0 10,4 9,2 9,4 16,8 10,9 8,3 9,5 10,5 11,7 10,9 9,0 10,7 9,7 10,6 12,2 10,0 10,0 7,6 11,7 10,6 10,7 11,6 8,5 9,1 11,6 9,6 8,7 10,3 10,1 9,6 8,5 8,6 15,4 10,0 7,6 8,7 9,7 10,8 10,0 8,3 9,8 8,9 9,8 11,2 9,2 9,2 7,0 10,7 9,8 9,8 10,7 7,8 8,3 10,7 8,9 8,0 9,5 9,3 8,8 7,8 7,9 14,1 9,2 7,0 8,0 8,9 9,9 9,2 7,6 9,0 8,2 9,0 10,3 8,4 8,4 6,4 9,9 9,0 9,0 9,8 7,2 7,7 9,8 8,1 7,4 8,7 8,5 8,1 7,2 7,3 12,9 8,4 6,4 7,4 8,2 9,1 8,5 7,0 8,3 7,6 8,3 9,5 7,8 7,7 6,2 9,4 8,6 8,7 9,4 6,9 7,3 9,4 7,8 7,1 8,4 8,2 7,8 6,9 7,0 12,4 8,1 6,2 7,0 7,8 8,7 8,1 6,7 7,9 7,2 7,9 9,1 7,4 7,4 5,9 9,0 8,2 8,3 9,0 6,6 7,0 9,0 7,4 6,8 8,0 7,8 7,4 6,6 6,7 11,8 7,7 5,9 6,7 7,5 8,3 7,8 6,4 7,6 6,9 7,6 8,7 7,1 7,1 5,6 8,6 7,9 7,9 8,6 6,3 6,7 8,6 7,1 6,5 7,6 7,5 7,1 6,3 6,4 11,3 7,4 5,6 6,4 7,2 8,0 7,4 6,1 7,3 6,6 7,2 8,3 6,8 6,8 Fonte: Elaboração própria A principal diferença nos resultados entre as distribuidora se deve às distintas tarifas cobradas em cada área de concessão. Obviamente, quanto maior a tarifa praticada pela distribuidora, mais atrativo é o investimento em microgeração. Além disso, a variação da irradiação ao redor do país também contribui para os discrepantes valores de payback. Como exemplo, sob a área de concessão da Ampla, o payback simples estimado para o investimento em geração fotovoltaica em 2014 é de 10 anos, enquanto que para o consumidor da Eletropaulo o período é de quase 22 anos. No entanto, dada a projeção de redução de custos, 82 estima-se que até 2023 o tempo de retorno do investimento caia praticamente pela metade em todas as regiões, aumentando assim a atratividade do investimento. Atualmente, dados os valores calculados, mesmo na região com o menor tempo de retorno (10 anos), não se considera como atrativo economicamente o investimento em geração fotovoltaica para a maioria dos consumidores, pois estes tem geralmente uma visão de curto prazo. Desta forma, a Eq. ( 4 ) tem o intuito de representar este comportamento, indicando que, por exemplo, para um payback de 10 anos apenas 5% do mercado potencial estaria disposto a realizar o investimento. Deve-se ter em mente que diversos outros motivos sensibilizam a decisão do consumidor pela instalação da geração fotovoltaica em seu domicílio, não apenas a econômica. Logo, entende-se que neste percentual estejam contempladas, indiretamente, estas outras justificativas. Das medidas de incentivo avaliadas neste trabalho, que compõe os diferentes cenários de difusão, três têm impacto econômico, que se refletem na alteração do tempo de payback, fazendo com que a difusão se intensifique. Uma média brasileira da evolução do retorno sob os diferentes cenários de incentivo é apresentada na sequência. 16 Payback simples (anos) 14 12 I - BAU e V - Virtual net metering 10 II - Desconto no IR 8 III - Isenção fiscal dos módulos 6 IV - Sem tributação da compensação 4 VI - III + IV + V 2 0 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 Figura 3.2 - Evolução do payback médio no Brasil do investimento em um SFV residencial sob diferentes cenários de incentivo Fonte: Elaboração própria Conforme mostra a Figura 3.2, a medida de isenção fiscal dos módulos é capaz de diminuir em aproximadamente dois anos o payback do investimento em 2014, diminuindo 83 essa diferença para um ano no final do período de análise. A extinção da tributação da compensação, por sua vez, impacta em cerca de três anos e meio o retorno do investimento em 2014, enquanto em 2023 a diferença passa a ser de dois anos. Ao somarem-se as duas medidas anteriores, reduz-se em mais de quatro anos o tempo de retorno do investimento realizado no início do período. Por fim, sob o cenário do desconto no imposto de renda, inicialmente esta medida tem o maior impacto no payback (diferença de cinco anos em relação ao cenário I), no entanto, devido à premissa de redução gradual do incentivo, em 2023 esta medida praticamente se iguala ao cenário III, em relação ao impacto no tempo de retorno. 3.3 Adotantes Conforme o payback calculado e o consequente mercado sensibilizado à adoção, juntamente à curva de adoção do modelo de Bass, estima-se o número de domicílios adotantes da tecnologia fotovoltaica no horizonte decenal. Na Tabela 3.3 é apresentada a projeção para o Cenário I – BAU. Tabela 3.3 - Nº de domicílios adotantes da geração fotovoltaica residencial no cenário BAU Distrib. 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 AES-SUL 1252 1 4 12 29 64 134 269 457 764 AmE 1 3 8 19 41 87 173 294 491 804 AMPLA 31 76 162 318 594 1066 1855 2938 4574 7012 BANDEIRANTE 4 12 28 59 116 218 394 624 971 1487 Boa Vista 0 0 0 0 1 3 7 11 18 29 CAIUÁ-D 0 1 3 7 13 25 43 67 102 153 CEA 0 0 0 0 1 3 8 18 35 67 CEAL 1 3 8 17 34 62 111 172 263 395 CEB-DIS 2 7 18 39 78 150 273 430 667 1013 CEEE-D 8 26 69 166 373 801 1653 2980 5280 9214 CELESC-DIS 5 16 41 95 204 418 821 1390 2311 3783 CELG-D 8 21 49 102 201 378 686 1102 1738 2696 CELPA 8 21 46 93 178 325 572 900 1395 2124 CELPE 6 16 39 87 179 352 665 1102 1795 2877 CELTINS 4 9 21 41 78 141 247 391 610 936 CEMAR 7 18 41 84 162 301 541 871 1378 2147 CEMAT 6 14 31 62 115 206 357 554 843 1264 CEMIG-D 65 169 379 789 1555 2940 5390 8903 14473 23196 CEPISA 3 10 23 47 93 177 321 523 837 1318 CERON 1 5 11 25 51 100 187 308 499 794 CERR 0 0 0 0 0 0 1 2 4 7 CFLO 0 0 1 2 5 9 18 29 46 72 Continua... 84 Continuação... Distrib. 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 CHESP 0 0 1 2 3 6 12 18 29 44 CNEE 0 0 2 5 10 21 40 68 112 183 COCEL 0 0 0 1 2 6 12 20 34 57 COELBA 12 36 92 213 462 956 1908 3337 5747 9715 COELCE COOPERALIAN ÇA COPEL-DIS 7 18 42 89 176 335 613 994 1585 2491 0 0 0 0 1 2 4 6 9 14 6 16 38 82 164 313 573 903 1399 2132 COSERN 3 9 22 47 94 179 328 534 852 1338 CPFL Jaguari CPFL Leste Paulista CPFL Mococa CPFL Santa Cruz CPFL Sul Paulista CPFL-Paulista CPFLPiratininga DEMEI 0 0 0 0 0 1 3 6 10 17 0 0 1 2 4 7 14 22 35 55 0 0 1 3 5 10 18 30 47 74 0 0 1 2 5 11 20 32 49 75 0 0 0 1 3 5 10 15 23 35 11 31 76 166 341 667 1256 2068 3341 5316 3 9 24 56 120 244 476 802 1330 2162 0 0 1 2 4 7 12 19 29 43 DMED 0 0 1 2 5 9 16 24 37 54 EBO 0 0 1 2 5 10 18 29 45 68 EDEVP 0 1 2 5 9 17 29 46 69 104 EEB 0 1 2 5 9 16 29 44 66 98 EFLJC 0 0 0 1 2 5 10 16 25 40 EFLUL 0 0 0 0 0 1 2 3 5 8 ELEKTRO 6 16 38 80 158 299 543 874 1380 2146 ELETROACRE 1 2 5 11 20 36 61 94 141 208 ELETROCAR 0 0 1 3 6 12 22 36 57 91 ELETROPAULO 2 8 24 60 138 300 618 1046 1740 2834 ELFSM 0 0 0 1 3 5 10 16 24 36 EMG 1 4 9 18 34 62 107 169 261 398 ENERSUL 5 13 29 59 115 212 378 602 944 1455 EPB 2 6 15 33 66 125 228 370 587 917 ESCELSA 3 9 23 52 108 216 413 690 1130 1824 ESE 1 4 10 22 45 85 157 252 400 623 HIDROPAN 0 0 0 1 3 5 10 16 25 40 IENERGIA 0 0 0 1 2 4 8 13 21 32 LIGHT 32 85 193 405 803 1520 2786 4543 7298 11516 MUXENERGIA 0 0 0 0 0 1 2 4 7 10 RGE 2 7 18 40 81 158 295 477 759 1184 SULGIPE 0 0 0 2 4 7 14 22 36 57 0 1 3 UHENPAL Total 0 0 0 258 706 1.662 3.555 7.147 13.774 Fonte: Elaboração própria. 6 10 16 26 25.653 42.336 68.798 110.160 85 Mais do que os números específicos de cada distribuidora, através da tabela apresentada se observa uma indicação das distribuidoras nas quais o mercado de geração fotovoltaica distribuída deve se desenvolver mais expressivamente. Assim sendo, destacam-se: a Cemig, Light, Ampla, CEEE-D, Coelba e CPFL – Paulista. Juntas, estas seis distribuidoras respondem por 60% dos sistemas instalados em 2023 no Brasil, segundo as projeções do modelo. Ao todo, estima-se que haja 110 mil domicílios com sistemas fotovoltaicos instalados em 2023. Dada a projeção do total de domicílios no Brasil para este mesmo ano (cerca de 79 milhões42, segundo a EPE (2013c)), a geração estará presente em 0,14% das moradias brasileiras. Considerando apenas o mercado potencial, isto é, domicílios do tipo casa própria, e que o responsável tenha renda superior a cinco salários mínimos, a parcela de adotantes Mercado Potencial Final (n° Domicílios) sobe para 1,29%, conforme ilustra a Figura 3.3. 120.000 1,40% 100.000 1,20% 1,00% 80.000 0,80% 60.000 0,60% 40.000 0,40% 20.000 0,20% 0 0,00% 2014 2015 2016 2017 Total de Adotantes 2018 2019 2020 2021 2022 2023 Adotantes/Mercado Potencial Figura 3.3 - n° de adotantes e o percentual frente ao mercado potencial Fonte: Elaboração própria Ao analisar os cenários de incentivo, observa-se que o número de adotantes varia consideravelmente, podendo aumentar em cerca de dez vezes no cenário mais agressivo (Cenário VI). Estes resultados estão apresentados na Tabela 3.4. Na sequência, através da 42 Este número foi extrapolado com o valor de 2022 presente no PDE 2022 (77,5 milhões) e a taxa de crescimento do período 2017 – 2022 (2% a.a.). 86 Figura 3.4, é ilustrado o aumento da participação da geração fotovoltaica distribuída nos domicílios potenciais sob os cenários simulados. Tabela 3.4 - n° de domicílios adotantes no Brasil por cenário de difusão 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 I - BAU II Desconto no IR 258 706 1.662 3.555 7.147 13.774 25.653 42.336 68.798 110.160 1.696 4.298 9.569 19.842 27.941 54.597 103.135 131.944 220.754 357.558 III Isenção fiscal dos módulos 497 1.359 3.228 7.110 14.848 29.807 57.889 100.700 171.043 282.594 IV - Sem tributação da compensação V - Virtual net VI - III + IV + V metering 712 1.764 3.815 7.612 14.425 26.339 46.703 75.216 119.407 186.933 734 2.097 5.185 11.810 25.420 52.356 103.811 180.772 305.974 501.161 2.922 7.359 16.369 33.923 67.087 127.928 236.223 397.551 651.197 1.033.266 Fonte: Elaboração própria 7,00% Adotantes/Mercado Potencial I - BAU 6,00% II - Desconto no IR 5,00% III - Isenção fiscal dos módulos IV - Sem tributação da compensação V - Virtual net metering 4,00% 3,00% 2,00% VI - III + IV + V 1,00% 0,00% 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 Figura 3.4 - Percentual de adotantes em relação ao mercado potencial Fonte: Elaboração própria Na figura anterior, apesar do número de adotantes no Cenário V ser quase o dobro do Cenário III, percebe-se que ambos apresentam o mesmo percentual de penetração. Isto ocorre 87 porque as bases dos dois cenários são diferentes, sendo que no Cenário V, em virtude da flexibilização regulatória, o mercado potencial se expande. 3.4 Potência, energia e valor de mercado O modelo de difusão de Bass (1969) tem como principal saída o número de adotantes ao longo do tempo. Neste trabalho, no entanto, mais do que o número de domicílios, interessa saber qual a evolução da capacidade instalada fotovoltaica no setor residencial, qual a energia gerada pelos sistemas, e logo, como contribuem para o atendimento da demanda elétrica nacional. Conforme o item 2.3.3.2 foi estabelecido uma potência média para os sistemas fotovoltaicos igual a 3 kWp. Através da multiplicação do número de domicílios pela potência média foi realizada a estimativa da capacidade instalada fotovoltaica residencial no Brasil até 2023, conforme a Tabela 3.5 e a Figura 3.5, para os seis cenários estudados. 3.500 I - BAU 3.000 Capacidade Instalada (MWp) II - Desconto no IR 2.500 III - Isenção fiscal dos módulos 2.000 IV - Sem tributação da compensação 1.500 V - Virtual net metering 1.000 VI - III + IV + V 500 0 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 Figura 3.5 - Projeção da capacidade fotovoltaica instalada em residências no Brasil Fonte: Elaboração própria. 2023 88 Tabela 3.5 - Projeção da capacidade fotovoltaica instalada em residências no Brasil (MWp) Cenário I - BAU II - Desconto no IR III - Isenção fiscal dos módulos IV - Sem tributação da compensação V - Virtual net metering VI - III + IV + V 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 1 2 5 11 21 41 77 127 206 330 5 13 29 60 84 164 309 396 662 1073 1 4 10 21 45 89 174 302 513 848 2 5 11 23 43 79 140 226 358 561 2 9 6 22 16 49 35 102 76 201 157 384 311 709 542 918 1503 1193 1954 3100 Fonte: Elaboração própria. Complementarmente, dado o propósito de estimar a geração oriunda desta capacidade instalada fotovoltaica, apresentam-se os resultados da produção de energia em GWh/ano e MWmédios, através da Tabela 3.6 e Tabela 3.7, respectivamente. Tabela 3.6 - Projeção da energia fotovoltaica gerada em residências no Brasil (GWh/ano) Cenário I - BAU II - Desconto no IR III - Isenção fiscal dos módulos IV - Sem tributação da compensação V - Virtual net metering VI - III + IV + V 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 1 2 5 12 24 47 88 152 249 400 4 13 31 66 107 185 353 525 787 1290 1 4 10 23 49 100 197 355 608 1013 2 6 13 26 49 91 164 273 435 683 2 8 6 23 16 53 38 113 84 226 175 437 350 814 638 1089 1804 1416 2340 3754 Fonte: Elaboração própria Tabela 3.7 - Projeção da energia fotovoltaica gerada em residências no Brasil (MWméd) Cenário I - BAU II - Desconto no IR III - Isenção fiscal dos módulos IV - Sem tributação da compensação V - Virtual net metering VI - III + IV + V 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 0 0 1 1 3 5 10 17 28 46 0 2 4 8 12 21 40 60 90 147 0 0 1 3 6 11 22 41 69 116 0 1 1 3 6 10 19 31 50 78 0 1 1 3 2 6 4 13 10 26 20 50 40 93 73 162 124 267 206 429 Fonte: Elaboração própria Os resultados do modelo apontam uma potência instalada residencial fotovoltaica de 330 MWp em 2023 no cenário BAU, isto é, sob as atuais condições regulatória, tributária e de 89 incentivos. À medida que o cenário de atratividade é alterado, observa-se o aumento da capacidade instalada, atingindo o extremo de 3,1 GWp no cenário VI. Segundo o modelo, o segundo cenário de maior inserção é o V, referente à regulação do virtual net metering, no qual é atingida a potência de 1,5 GWp no final do período. Em termos de valor de mercado, a potência instalada estimada deve movimentar cerca de R$ 1,5 bilhão em investimentos até 2023, segundo o cenário referência, podendo atingir pouco mais de R$ 12 bilhões no cenário mais otimista. O montante de investimentos acumulados em cada cenário é ilustrado na sequência através da Figura 3.6 e detalhado na Bilhões de R$ Tabela 3.8. 12 I - BAU 10 II - Desconto no IR 8 III - Isenção fiscal dos módulos 6 IV - Sem tributação da compensação V - Virtual net metering 4 VI - III + IV + V 2 0 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 Figura 3.6 - Montante de investimentos acumulados previstos Fonte: Elaboração própria 2022 2023 90 Tabela 3.8 - Montante de investimentos acumulados previstos Investimentos Acumulados (milhões de R$) I - BAU II - Desconto no IR III - Isenção fiscal dos módulos IV - Sem tributação da compensação V - Virtual net metering VI - III + IV + V 2014 4 2015 13 2016 30 2017 62 2018 119 2019 217 2020 381 2021 603 2022 944 2023 1.457 23 58 125 246 349 664 1.200 1.546 2.574 4.103 8 23 53 112 223 422 774 1.291 2.112 3.369 10 31 68 132 239 415 697 1.077 1.646 2.484 11 38 93 205 420 818 1.529 2.555 4.167 6.590 44 120 3.174 5.124 8.085 12.390 267 533 1.006 1.819 Fonte: Elaboração própria A respeito de projeções, dois estudos também apresentam uma estimativa para a geração distribuída no Brasil. No PDE 2022, a EPE apresenta o valor de 1,4 GWp para o ano de 2022, enquanto que em Kagan et al. (2013) o valor para 2023 (o estudo vai até 2030) é próximo de 1,2 GWp no cenário conservador, 2 GWp no moderado e 4 GWp no acelerado. Porém, estas duas projeções levam em consideração a inserção no setor comercial, à diferença do presente estudo. Adicionalmente, o retorno financeiro que é usado como entrada nos estudos não leva em consideração as medidas atuais de tributação da compensação, o que tende a reduzir as estimativas. Ainda, conforme comentado nas seções 1.5.1 e 1.5.4, os modelos de difusão e as premissas adotadas em cada estudo são diferentes, o que justifica o contraste dos resultados obtidos em cada um. Dando seguimento aos resultados do modelo atual, dada a potência estimada, deve-se gerar cerca de 400 GWh em 2023 no cenário referência, sendo aumentada para o limite de 3,8 TWh no cenário VI. Notadamente, este montante produzido pelos sistemas fotovoltaicos ainda representará uma pequena parcela do consumo residencial brasileiro. Considerando a projeção de consumo setorial apresentada no PDE 2022 (EPE, 2013c) e estendendo a variação anual de 4,3% utilizada no documento para 2023, projeta-se um consumo total residencial igual a 186 TWh no último ano de análise do modelo de difusão aqui proposto. Destarte, prevê-se que no cenário BAU 0,21% do consumo residencial será auto suprido pela GD fotovoltaica, enquanto que esta parcela é aumentada para pouco mais de 2% sob o cenário VI, no qual são oferecidos diversos estímulos à inserção (Figura 3.7). 91 VI - III + IV + V V - Virtual net metering IV - Sem tributação da compensação III - Isenção fiscal dos módulos II - Desconto no IR I - BAU 0,00% 0,50% 1,00% 1,50% 2,00% 2,50% Figura 3.7 - Percentual do consumo residencial atendido pela GD FV em 2023 Fonte: Elaboração própria Notadamente, a projeção da potência no Brasil é muito menor do que a atual capacidade instalada em geração distribuída dos principais países europeus, China, EUA, Japão, Austrália, entre outros. No entanto, deve se ter em mente que o processo de difusão nestes países foi iniciado muito antes do que aqui, e que o Brasil possui características diferentes, que justificam a baixa estimativa de entrada da geração fotovoltaica nos lares brasileiros. Dentre as diferenças, é possível elencar as principais, que distinguem a grande inserção nos países citados: 1. Maior apelo às renováveis: principalmente na Europa, em função da dependência aos combustíveis fósseis e uma matriz energética largamente não renovável, observa-se, tanto por parte da população, quanto pelas medidas tomadas pelos governos, grande preocupação em mudar a matriz por fontes consideradas limpas e renováveis, sendo esta uma discussão claramente mais difundida entre a população destes países. No caso brasileiro, admite-se uma posição “confortável” ao ter 82,4% da geração elétrica proveniente de fontes renováveis (EPE, 2013a), o que justifica a menor preocupação da sociedade e urgência em alternativas energéticas limpas. 2. Atratividade econômica: em decorrência do ponto anterior, além de outros motivos, diversos países adotaram mecanismos de incentivo à geração fotovoltaica, em especial o mecanismo de feed-in tariffs (descrito na seção 1.3). Altas tarifas pagas em dinheiro 92 aos investidores, em países com uma taxa de juros baixíssima (0,25% a.a. nos EUA e Alemanha, por exemplo), criaram um cenário extremamente atrativo ao investimento, gerando uma espécie de corrida do ouro nestes países para aproveitar a oportunidade. No caso brasileiro, através do net metering, adotou-se um papel passivo na inserção da fonte, apenas regulando sua entrada e possibilitando a compensação de energia. Adicionalmente, com atual taxa básica de juros de 11% a.a. (maio de 2014), e num cenário de incertezas futuras, é ofertado ao investidor brasileiro títulos de dívida pública de longo prazo com taxas da ordem de 6% a.a. + inflação43. Portanto, percebese que o investimento em geração fotovoltaica no Brasil não é tão atrativo como internacionalmente. Logo, em função dos pontos destacados, percebe-se que não é possível comparar os montantes instalados em outros países com a projeção nacional. De fato, o mundo passa por uma fase de transição no mercado fotovoltaico. Os países que estimularam fortemente a entrada desta geração, com início na década passada, agora cortaram ou diminuíram os incentivos, caminhando para que a entrada da fonte solar aconteça doravante de forma autônoma. Assim sendo, acredita-se que o mercado fotovoltaico no país se desenvolva sobre este novo cenário, experimentando um crescimento gradual e sustentável. 43 NTN-B com vencimento para 2024 e 2035 em 25/05/14. 93 4 Conclusões e considerações finais O presente trabalho teve como objetivo projetar a difusão de sistemas fotovoltaicos conectados à rede em residências brasileiras no horizonte decenal, sob diferentes cenários. Dentre os diversos modelos de difusão revisados no estudo, o consagrado modelo de Bass se mostrou o mais adequado à realidade brasileira, dada a abrangência territorial e a disponibilidade de dados existente. O modelo consistiu no levantamento do mercado potencial de acordo com características socioeconômicas e do payback do investimento, além da definição de curvas típicas de difusão, de acordo com parâmetros extraídos da literatura internacional. Diversos fatores influenciam na decisão do usuário pela adoção dos sistemas fotovoltaicos. Estes podem ser divididos basicamente em endógenos (e.g. conhecimento da tecnologia, consciência ambiental, etc.) e exógenos (e.g. custos, regulação e estrutura de mercado, características da tecnologia). Ainda, através dos estudos analisados se pôde concluir que, conforme esperado, o fator custo tem a maior relevância na tomada de decisão pela grande parte dos consumidores. No entanto, enfatiza-se que a difusão de inovações é acima de tudo um processo social, e que seu sucesso não está meramente fundado em soluções técnicas e racionais. No caso dos sistemas fotovoltaicos, a massiva adoção não depende apenas, por exemplo, da redução do elevado custo de entrada, mas numa mudança de paradigmas. O consumidor deve passar por uma transição do seu papel passivo frente ao suprimento energético, em direção a uma posição ativa: de produtor de parte da sua energia consumida e consciente da sua contribuição aos problemas energéticos do país. Concomitantemente, a mudança também deve ocorrer entre os agentes do setor elétrico e do planejamento energético nacional. Devido ao histórico nacional de grandes empreendimentos de geração elétrica, é natural que os trabalhadores do setor tenham pouca informação e estejam desconfiados da aplicabilidade da geração distribuída. Porém, é importante que estes tenham a consciência de que a GD é uma tendência mundial e que os benefícios desse mercado no país podem ser auferidos por todos os agentes. Dados os resultados do modelo, estima-se que em 2023 haja 110 mil domicílios brasileiros com sistemas fotovoltaicos conectados à rede instalados sobre seus telhados no cenário referência (BAU). Destes, 60% estão nas áreas das seguintes distribuidoras: Cemig, Light, Ampla, CEEE-D, Coelba e CPFL – Paulista, identificados como os principais 94 mercados da GD fotovoltaica. O número de instalações resulta em uma potência instalada de aproximadamente 330 MWp, com geração de 400 GWh para o ano final da análise. Na presente década o número de instalações deve ser pequeno, oriundo basicamente da parcela inovadora da população. A partir da década de 2020 a geração distribuída fotovoltaica se consolida como uma alternativa de geração própria, ao se tornar mais barata e conhecida entre a sociedade, a ponto de experimentar um número significativo de instalações anuais. Adicionalmente, o modelo buscou simular diversos cenários de incentivo e de mudanças regulatória e tributária, como: desconto no IR; isenção fiscal dos módulos FV; extinção da tributação da compensação de energia; regulamentação do virtual net metering; e uma combinação das três últimas medidas. O abatimento do investimento no Imposto de Renda do consumidor se apresenta como a medida mais atrativa inicialmente, por ser um benefício quase imediato que reduz significativamente o tempo de payback do investimento. Sob este cenário o país possuiria pouco mais de 1 GWp instalados ao final do período. Destaca-se especialmente o cenário de flexibilização regulatória, através da regulamentação do virtual net metering, no qual se verifica grande estímulo na difusão da geração distribuída residencial, uma vez que o mercado potencial é praticamente dobrado com a medida. Isto se deve em função de apartamentos e moradias alugadas terem condições de adquirir cotas de geração fotovoltaica, sem necessariamente ter que instalar um sistema em seu telhado para se aproveitar da geração. Esta mudança resulta numa projeção da capacidade instalada igual a 1,5 GWp em 2023 neste cenário. Este é apenas um exemplo de como a difusão pode ser incentivada de outras maneiras, sem necessariamente passar por medidas que impactem economicamente os cofres públicos. De fato, o país poderia ganhar muito ao facilitar a implementação de diferentes modelos de negócios (alguns apresentados na seção 1.3) em território nacional. Finalmente, no cenário de medidas conjuntas, simulando maior esforço em promover a GD fotovoltaica, projeta-se uma potência de 3,1 GWp ao final do horizonte de análise. Estes valores são bem inferiores às atuais capacidades instaladas noutros países líderes econômicos, no entanto, o processo de difusão nestes países foi iniciado anteriormente e via grandes incentivos. O Brasil, por sua vez, possui um cenário menos propício para o investimento e, dado o atual contexto mundial da indústria fotovoltaica, deve experimentar um crescimento gradual e sustentável através de um mercado mais autônomo. Ressalta-se 95 conjuntamente que a potência típica dos sistemas residenciais tende a ser menor no Brasil do que em outros países em função da associação do sistema de compensação de energia regulamentado no país e do “custo de disponibilidade do sistema elétrico” cobrado pelas distribuidoras. Logo, a comparação com capacidades instaladas internacionalmente deve ser feita com discernimento. Conclui-se que até o final do período decenal a demanda de eletricidade dos lares brasileiros ainda será pouco auto atendida pela geração fotovoltaica. No cenário BAU esta modalidade de geração deve responder por 0,21% do consumo residencial, chegando ao máximo de 2% no cenário mais promissor. Estes números, juntamente à perspectiva de demanda crescente, demonstram que as distribuidoras não irão diminuir suas receitas com o advento da geração distribuída. O que pode ocorrer é uma redução do crescimento, sendo necessário que o mercado fotovoltaico passe a fazer parte do planejamento das distribuidoras para que estas passem a colher os benefícios da geração distribuída. Adicionalmente, as concessionárias podem enxergar este mercado como uma oportunidade para diversificar seu portfolio e seu modelo de negócios, passando a oferecer serviços em geração distribuída. Dadas as projeções realizadas, cabe ao planejador a tarefa de avaliar quais os impactos causados pelas medidas de incentivo propostas e do consequente aumento do mercado fotovoltaico no país. Com o levantamento dos custos envolvidos e dos benefícios gerados, e de acordo com os objetivos do governo, seja ele nacional, estadual ou municipal, podem-se orientar decisões que levem a maior ou menor inserção da geração distribuída fotovoltaica no país. Limitações Como concluído, a difusão é um processo social. Portanto, boa parte das limitações de um modelo de difusão, este incluso, é oriunda da subjetividade presente no comportamento humano. Esforços vêm sendo feitos para mapear as decisões da população frente a um investimento em energia fotovoltaica, mas, dada a relativa incipiência deste mercado, ainda se tem pouca informação. De qualquer forma, incertezas sempre existirão dada a natureza humana. Tendo em vista o objetivo de analisar a difusão a nível nacional, a precisão do modelo para unidades menores, como estados e municípios, é limitada. Isto ocorre em função dos 96 dados agregados utilizados, como a média da irradiação e o crescimento socioeconômico. Assim, para melhores resultados é recomendado estudo similar com enfoque para uma dada região. Conforme argumentado na seção 2.3.2, o payback é a principal métrica utilizada pelos consumidores ao decidir por um investimento. No entanto, esta figura de mérito tem algumas limitações. Em função da sua simplicidade, não foi possível simular o efeito de incentivos que diluíssem o custo de entrada do investimento ao longo do tempo, como um financiamento ou um sistema de leasing. Adicionalmente, pela geração distribuída fotovoltaica conectada à rede ser nova no país, com início praticamente em 2013, não foi possível calibrar o modelo com dados históricos de inserção. Estudos futuros Com vistas a aprimorar as projeções da inserção da geração fotovoltaica distribuída no país, outros estudos podem ser desenvolvidos. À semelhança dos trabalhos revisados na seção 1.4, um levantamento através enquetes com os adotantes e não adotantes desta tecnologia no país seria de interessante para conhecer o perfil e as motivações dos primeiros e as principais dúvidas dos últimos frente ao investimento em geração distribuída. O presente estudo se restringiu à análise do setor residencial. Porém, no futuro instalações no setor comercial e industrial também devem ser observados. Apesar de estes setores seguirem uma lógica de investimento mais racional, baseada na taxa de retorno, fatores como publicidade e marketing também tendem a orientar investimentos em energia renovável. Logo, avaliar a inserção nestes setores também se mostra pertinente. 97 5 Referências ABINEE [Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica]. Propostas para Inserção da Energia Solar Fotovoltaica na Matriz Elétrica Brasileira. 2012. 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ELETROBRÁS DISTRIBUIÇÃO RORAIMA Boa Vista Boa Vista Energia S/A CAIUÁ-D CAIUÁ-D Caiuá Distribuição de Energia S/A CEA CEA Companhia de Eletricidade do Amapá ELETROBRÁS DISTRIBUIÇÃO ALAGOAS CEAL Companhia Energética de Alagoas CEB-DIS CEB-DIS CEB Distribuição S/A CEEE-D CEEE-D Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica CELESC-Dis CELESC-DIS Celesc Distribuição S.A. CELG-D CELG-D Celg Distribuição S.A. CELPA CELPA (Interligado) Centrais Elétricas do Pará S/A. (Interligado) CELPE CELPE Companhia Energética de Pernambuco CELTINS CELTINS Companhia de Energia Elétrica do Estado do Tocantins CEMAR CEMAR (Interligado) Companhia Energética do Maranhão (Interligado) CEMAT CEMAT (Interligado) Centrais Elétricas Matogrossenses S/A. (Interligado) CEMIG-D CEMIG-D CEMIG Distribuição S/A ELETROBRÁS DISTRIBUIÇÃO PIAUÍ CEPISA Companhia Energética do Piauí ELETROBRÁS DISTRIBUIÇÃO RONDÔNIA CERON Centrais Elétricas de Rondônia S/A. CERR CERR Companhia Energética de Roraima CFLO CFLO Companhia Força e Luz do Oeste CHESP CHESP Companhia Hidroelétrica São Patrício CNEE CNEE Companhia Nacional de Energia Elétrica COCEL COCEL Companhia Campolarguense de Energia COELBA COELBA Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia Continua... 106 Continuação... SIGEL ANEEL Concessionária COELCE COELCE Companhia Energética do Ceará COOPERALIANÇA COOPERALIANÇ A Cooperativa Aliança COPEL-Dis COPEL-DIS Copel Distribuição S/A COSERN COSERN Companhia Energética do Rio Grande do Norte CPFL Jaguari CPFL Jaguari Companhia Jaguari de Energia CPFL Leste Paulista CPFL Leste Paulista Companhia Leste Paulista de Energia CPFL Mococa CPFL Mococa Companhia Luz e Força de Mococa CPFL Santa Cruz CPFL Santa Cruz Companhia Luz e Força Santa Cruz CPFL Sul Paulista CPFL Sul Paulista Companhia Sul Paulista de Energia CPFL Paulista CPFL-Paulista Companhia Paulista de Força e Luz CPFL Piratininga CPFL-Piratininga Companhia Piratininga de Força e Luz DEMEI DEMEI Departamento Municipal de Energia de Ijuí DMEPC DMED DME Distribuição S.A EBO EBO Energisa Borborema ? Distribuidora de Energia S.A. EDEVP EDEVP Empresa de Distribuição de Energia Vale Paranapanema S/A EEB EEB Empresa Elétrica Bragantina S/A. SC Cooperativa EFLJC Empresa Força e Luz João Cesa Ltda EFLUL EFLUL Empresa Força e Luz Urussanga Ltda ELEKTRO ELEKTRO Elektro Eletricidade e Serviços S/A. ELETROBRÁS DISTRIBUIÇÃO ACRE ELETROACRE Companhia de Eletricidade do Acre ELETROCAR ELETROCAR Centrais Elétricas de Carazinho S/A. ELETROPAULO ELETROPAULO Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A ELFSM ELFSM Empresa Luz e Força Santa Maria S/A. EMG EMG Energisa Minas Gerais - Distribuidora de Energia S.A. ENERSUL ENERSUL (Interligado) Empresa Energética de Mato Grosso do Sul S/A. (Interligado) ENF ENF Energisa Nova Friburgo - Distribuidora de Energia S.A. EPB EPB Energisa Paraíba - Distribuidora de Energia ESCELSA ESCELSA Espírito Santo Centrais Elétricas S/A. ESE ESE Energisa Sergipe - Distribuidora de Energia S.A. FORCEL FORCEL Força e Luz Coronel Vivida Ltda Continua... 107 Continuação... SIGEL ANEEL Concessionária HIDROPAN HIDROPAN Hidroelétrica Panambi S/A. IENERGIA IENERGIA Iguaçu Distribuidora de Energia Elétrica Ltda LIGHT LIGHT Light Serviços de Eletricidade S/A. MUX-ENERGIA MUXENERGIA Muxfeldt Marin & Cia. Ltda RGE RGE Rio Grande Energia S/A. SULGIPE SULGIPE Companhia Sul Sergipana de Eletricidade UHENPAL UHENPAL Usina Hidroelétrica Nova Palma Ltda. Fonte: Elaboração própria. ANEXO B – Rendimento médio mensal por tipo e condição de ocupação do domicílio. Tabela 3527 - Valor do rendimento nominal médio mensal e Valor do rendimento nominal mediano mensal dos domicílios particulares permanentes, por adequação da moradia, tipo de domicílio, condição de ocupação do domicílio e existência de energia elétrica Brasil Variável = Valor do rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares permanentes (Reais) Adequação da moradia = Total Existência de energia elétrica = Tinham - de companhia distribuidora - com medidor Ano = 2010 Tipo de domicílio Casa Casa de vila ou em condomínio Apartamento Condição de ocupação do domicílio Próprio R$ 2.235,01 Alugado R$ 1.988,25 Próprio R$ 5.452,31 Alugado R$ 2.377,67 Próprio R$ 7.043,43 Alugado R$ 4.987,90 Nota: 1- Os dados são da Amostra. Fonte: IBGE - Censo Demográfico. Acessado através do SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/default.asp 108 ANEXO C - Alíquotas de ICMS incidentes sobre a tarifa de eletricidade residencial kWh/mês AC [0;30] AL AM AP BA I CE DF ES GO I I I I MA MG MS MT PA I PB I PE I PI I PR I RJ I [31;50] [51;60] [61;80] I I 25% I I I RO RR RS SC 12% I I 25% 12% RN SE SP TO I I I 12% 25% RESIDENCIAL [81;90] 12% [91;100] 17% [101;140] 17% 10% 25% [141;150] 27% [151;200] [251;300] 25% 25% 12% 17% 27% [301;400] 21% 25% 25% 27% 20% 25% 29% 25% 25% 17% 25% 25% 27% 29% 27% 30% 12% 17% 17% 17% 30% [401;500] > 500 18% 25% 29% 17% 25% 10% 15% 25% [201;220] [221;250] 20% 25% 27% Obs.: “I” significa “isento”. Obs.2: Valores vigentes em junho de 2013 Fonte: ABRADEE (http://www.abradee.com.br/setor-de-distribuicao/banco-de-dados/financeiro) 25% 25%