BACCALÀ MANTECATO (6 porções) Ingredientes 1 kg de bacalhau já dessalgado 100 ml de azeite extravirgem de sabor delicado 1 limão-siciliano 2 folhas de louro Sal Pimenta-do-reino Salsinha Preparo Azeite, como usar Ferver uma panela grande de água. Juntar o limão cortado ao meio e as folhas de louro Depois que levantar fervura, adicionar o bacalhau, tampar a panela e apagar o fogo. Cozinhar o bacalhau por 15 a 20 minutos Escorrer, mantendo um copo da água do cozimento. Retirar as espinhas e, com as mãos, desmanchar o bacalhau cozido Neste ponto, nos desviamos um pouco da mais pura tradição, porque vamos usar um processador de alimentos ou batedeira em vez de prosseguir a preparação à mão, mas tenha cuidado: nunca use as lâminas de corte, mas os acessórios para bater massa Começar, sem pressa, batendo o bacalhau e um pouco de azeite derramado em fio Continuar juntando um pouco da água de cozimento e mais azeite, se necessário Acertar o sal e a pimenta e acrescentar salsa picadinha Ao final, deve-se obter um composto cremoso e homogêneo Servir o bacalhau com pão torrado ou polenta branca ou amarela quente O melhor extravirgem é aquele cujas características são mais adequadas ao prato em que será usado – o nível de acidez é apenas um dos pontos a ser avaliado Por A Robert halfoun Fotos Henrique Peron cena: você vai ao supermercado ou a um empório e, com o objetivo de comprar um bom azeite, se posta diante de uma prateleira com dezenas de garrafas, latas e rótulos que hoje invadem o nosso mercado. E qual levar? Está na moda dizer que, quanto mais baixa a acidez do azeite, melhor. E, sem a informação adequada, tem muita gente literalmente comprando essa ideia, desconsiderando que 62 GULA o percentual de ácido oleico é apenas um dos elementos do bom azeite – e que ele vai variar (quando o fruto da oliveira é processado no período correto, logo depois da colheita), de acordo com o tipo de azeitona que deu origem ao óleo. Resultado: sim, consumimos bons azeites. Mas nem sempre da forma mais adequada, capaz de abrilhantar as mais variadas receitas – incluindo sobremesas. GULA 63 NAMORADO COM BETERRABA AO “FALSO” BEURRE BLANC E FAROFA CROCANTE (2 porções) Ingredientes (peixe) 2 filés de namorado limpos e sem espinhas Azeite de oliva quanto baste (“falso” beurre blanc) 1 cebola grande 100 ml de vinho branco seco 20 ml de água 1 colher de sopa de vinagre de vinho branco 200 ml de azeite de oliva Sal Pimenta-do-reino (farofa crocante) 1 colher de sopa de azeite de oliva 6 colheres de sopa de farinha de rosca moída grosseiramente Raspas de 1 limão-siciliano Salsinha picada (beterraba) 4 beterrabas médias 2 colheres de sopa de açúcar Preparo (molho) Na véspera, colocar o azeite de oliva em um recipiente no freezer e retirar apenas na hora do uso Cortar a cebola em meias luas e levar ao fogo com o vinho, o vinagre e a água Reduzir até que sobre aproximadamente quatro colheres de sopa de líquido Retirar a cebola e, controlando a temperatura (não pode ser muito quente nem muito frio), começar a acrescentar o azeite congelado cortado em cubos, misturando sempre com um fouet até que se obtenha um molho espesso e sedoso (beterrabas) Lavar bem as beterrabas e colocar em uma panela de pressão com água e o açúcar Cozinhar por aproximadamente 20 minutos após levantar fervura Descascar as beterrabas e cortar em fatias de aproximadamente 0,5 cm de espessura. Marcar as fatias em uma grelha (farofa) Aquecer o azeite e douraar a farinha e rosca ligeiramente Retirar do fogo e misturar as raspas de limão e a salsinha picada (peixe) Grelhar o peixe tendo o cuidado de deixá-lo ainda úmido (2 a 3 minutos de cada lado dependendo da altura do filé) Montar o prato colocando o peixe sobre uma cama de beterrabas e O primeiro passo para consumir o melhor azeite para cada caso é saber que ele se divide, basicamente, em três tipos: herbáceos, intensos e frutados O chef Luis Felipe Calmon, da escola de gastronomia Orbacco, em São Paulo, está inquieto com este momento, nas palavras dele, “confuso”. Sujeito simpático, de origem italiana, fácil de lidar, ele brinca no salão da sua escola recém-reformada (veja quadro). “Azeite é vida, meu. Merece ser tratado com mais atenção.” O que ele quer dizer, sem transformar o caso num tratado sobre o óleo de oliva, é que o primeiro passo para consumir o melhor azeite para cada caso é saber que ele se divide, basicamente, em três tipos: herbáceos, intensos e frutados. O primeiro para saladas e peixes; o segundo para carnes vermelhas; e o terceiro além de ser bom para carnes brancas é também para sobremesas. Para provar isso, Luis foi para a cozinha e preparou quatro pratos nos quais o azeite (um de cada tipo) é ingrediente fundamental e, usado adequadamente, levanta ou derruba uma receita. O herbáceo foi usado misturado ao bacalhau e ao colágeno dele (presente na água do cozimento) e deu origem ao baccalà mantecato, receita italiana na qual a reação entre os dois ingredientes se transforma num patê de textura leve e aerada, em que se sente apenas o gosto do peixe e do óleo, ambos da forma mais pura e saborosa possível. O azeite mais fresco e suave feito com azeitonas verdes também aparece de forma mágica, numa ideia inusitada do chef: o “falso” beurre blanc. O tradicional molho francês feito com manteiga ganhou uma personalidade toda especial ao trocar a gordura animal pela vegetal, do azeite. Ficou leve e tão saboroso que, pode acreditar, transformou um simples peixe grelhado com beterraba cozida numa iguaria gastronômica, dessas que fazem a gente agradecer ao todo poderoso enquanto come. diga me o que prensas As principais azeitonas usadas para produzir azeite Arbequina – Cultivada principalmente na Catalunha e Andaluzia, Espanha. Dá origem a um óleo fresco e frutado. Picual – Da oliveira mais prolífica do mundo, largamente cultivada da Espanha. O óleo tem sabor intenso com amargor pronunciado. Frantoio – É uma das mais cultivadas e apreciadas na Itália. Dá frutos também na Argentina, Chile, Estados Unidos (Califórnia) e Austrália. O óleo é aromático e frutado. Alguns azeites ainda apresentam algo de picante e amargo, de forma muito agradável. Galega – É mais cultivada em Portugal e dá muita personalidade ao azeite produzido no país. Ele é frutado, suave e bastante fresco. Koroneïki – Principal azeitona grega, produz óleos equilibrados. A característica principal é ser frutada, mas apresenta leve frescor e acidez. Picholine – É a mais apreciada na França (Languedoc, Córsega e Provence). Seu óleo tem sabor rico: é suave, porém frutado, bem adocicado, com alguma picância. GULA 65 TOMATE CONFIT COM SORVETE DE MANJERICÃO E AZEITE (4 porções) O que deve ser avaliado é a acidez, o amargor, a doçura e a picância. Essas são as características fundamentais do bom azeite Ingredientes (tomate confit) 5 tomates italianos bem maduros 150 g de açúcar 100 ml de água 4 cravos-da-índia 1 pau de canela 4 bagas de cardamomo 2 anises-estrelados 6 grãos de pimenta-do-reino Azeite de oliva frutado quantto baste (sorvete) 750 ml de leite O menu de Luis conta ainda com o inusitados (para nós) tagliata di manzo, o “churrasco” toscano, no qual a carne grelhada é mergulhada num bowl de azeite com suco de limão, e um sorvete de manjericão com tomates confitados regados, advinha, com azeite (frutado). Com o prato montado, o óleo rega tudo, como numa salada, e enriquece demais o sabor do conjunto todo, revelando tudo o que o óleo certo pode fazer pela comida adequada para ele. Numa espécie de jogo com o chef, vale dizer, este escriba provou tudo antes e depois dos banhos de azeite. E também com o azeite “errado”, inadequado para o prato, para comprovar o que diz a tese do bom uso do óleo de oliva, muito além da acidez, defendida pelos grandes especialistas e levantada pelo chef brasileiro. Feitos os testes, como então escolher o melhor azeite, herbáceo, intenso (picante) ou frutado, se nem sempre há especificações no rótulo? “Provando, oras”, explica Luis. Em lojas especializadas é fácil, uma vez que há amostras para degustação. No ponto de venda onde não há, a solução é ficar atento ao tipo de azeitona que virou óleo, a origem ou, melhor de tudo, escolher um ou dois, levar para casa e, ao provar, ficará fácil sentir na boca qual é a aplicação mais adequada para ele. A não ser que você tenha um consumo muito grande, é sempre melhor optar por garrafas menores, uma vez que o azeite deve ser utilizado no menor tempo possível. “O melhor azeite do mundo é aquele que acabou de sair da prensa. Daquele momento em diante, o óleo, ao contrário do vinho, só perde.” É por isso, explica Luis, que, numa viagem a Portugal ou Espanha, por exemplo, temos a sensação de que qualquer extravirgem consumido lá é melhor do que o melhor azeite que compramos aqui. O longo processo da produção 66 GULA 250 ml de creme de leite fresco 200 g de açúcar 50 g de glicose de milho 10 gemas de ovos peneiradas 30 folhas de manjericão fresco 1 colher de sopa de suco de limão Preparo (tomate) Retirar a pele dos tomates, levando-os à água fervente por cerca de 1 minuto e em seguida mergulhando-os em água gelada. Ela sairá facilmente Cortar os tomates em quatro e, com uma boa faca, retirar as sementes Em uma panela colocar o açúcar a água e as especiarias Ferver até que se transforme numa calda leve e nela cozinhar delicadamente os tomates em fogo baixo Cuidado, é rápido. Retirar e deixar esfriar (sorvete) Misturar o leite e o creme de leite e aquecer Enquanto isso, bater as gemas com o açúcar até formar uma mistura clara e fofa Adicione um pouco da mistura de leite aquecido às gemas batidas e misturar bem. Colocar as gemas na panela junto com o leite Adicionar a glicose de milho e cozinhar, mexendo sempre, até 90 graus no termômetro de cozinha Bater a mistura com as folhas de manjericão e o suco de limão no liquidificador. Não coar Reservar a mistura na geladeira por 6 horas. Bater na máquina de sorvete seguindo as orientações do fabricante Servir 5 fatias de tomate montadas em flor e uma bola do sorvete de manjericão no centro Regar com um pouco da calda e bastante azeite de oliva Dica – Se você não tem máquina de sorvete, compre um bom sorvete de creme. Retire o equivalente a duas bolas e misture as 30 folhas de manjericão bem picadas nelas. Leve ao liquidificador até liquidificar inteiramente. Adicione esse caldo ao sorvete, que deve estar num ponto amolecido, e misture bem. Levar ao congelador e servir quando estiver no ponto de sorvete novamente chef com asas Chef Luis Calmon ensina a base fundamental para que seus alunos alcem voo Ele preparava o menu de um evento quando teve o insight de colocar o azeite no lugar da manteiga e “reinventar” o beurre blanc que estrela uma das receitas desta reportagem. “Então foi fazer e provar. Usei os preceitos para preparar o molho, tinha quase certeza de que iria dar certo.” Grande estudioso da gastronomia, aplica o conhecimento que tem para desenvolver os cursos da sua graciosa escola, a Orbacco, em São Paulo, recém-reformada para que ele possa ficar ainda mais próximo dos seus alunos. “Faço grupos pequenos e acompanho tudo de muito perto. Todos cozinham comigo, diretamente, e isso faz muita diferença no aprendizado”, defende. No portfólio da Orbacco, há cursos de massas, risotos, azeite, entre outros, e até um no qual o aluno aprende a base do que é ser um chef: desde o uso correto dos equipamentos até o conhecimento dos ingredientes e processos básicos. “Com isso bem aprendido, ele segue e executa melhor receitas prontas e até alça voos criativos. Afinal, tem o conhecimento mínimo para isso.” ✣ Orbacco – Rua Cuxiponés, 125, Sumarezinho, São Paulo – SP. Tel.: (11) 3873-0098; www.orbacco.com.br GULA 67 Como no mundo do vinho, há bons e maus produtores e as características do azeite vão resultar da equação que envolve terroir, colheita e produção à distribuição fora dos locais de origem, claro, faz diferença. “Não, você não está ficando louco ou sugestionado. O azeite que comemos nos países onde são feitos, geralmente, são mais saborosos mesmo”, reforça o chef. Ele ainda dá outros toques curiosos: não existe esse negócio de azeitona verde ou preta.Tudo depende do momento da colheita. O fruto da oliveira é preto ou roxo, quando está maduro. Quando está verde é porque está num ponto diferente de maturação e, normalmente, é mais fresco, mais leve, mais herbáceo. Muitas vezes, o azeite com essas característica tem uma coloração esverdeada, enquanto o feito com a azeitona madura é amarelado (e mais doce no paladar). Mas isso não é uma regra.Tanto que as degustações são feitas em copos coloridos, para que o tom do óleo não influencie o degustador. O que deve ser avaliado é a acidez, o amargor ou a doçura (ou o equilíbrio entre os dois) e a picância. Essas são as características fundamentais do azeite. Não importa de onde ele vem. Como no mundo do vinho, há bons e maus produtores e as características do azeite vão resultar da equação que envolve terroir (por exemplo, quanto mais calcário, menor será a acidez da azeitona), colheita e produção. Se buscarmos mais do que isso, entramos num grau de especificidade usado mais por especialistas no tema – excessivo para nós, mortais. Ao comprar, é importante verificar a data da safra (quanto mais jovem, melhor), de onde ele vem (azeite produzido numa localidade e engarrafado na mesma é indicador de qualidade) e não dar bola se é filtrado ou não (não faz diferença, uma vez que a filtragem apenas retira as partículas suspensas). De volta à acidez, um azeite extravirgem tem, para ser classificado como tal, até 0,8% de acidez. Devido a todas as características que vimos até aqui, ela vai variar de acordo com o conjunto da obra e não necessariamente indicará a qualidade do óleo. “O mundo dos azeites vai muito além dela. Acho que provamos isso, não?”, provoca Luis. 68 GULA TAGLIATA DI MANZO ALLA TOSCANA COM AZEITE DE OLIVA, LIMÃO E PIMENTA Ingredientes Corte de miolo de alcatra (baby beef) ou contrafilé com 3 cm de espessura 4 ramos generosos de alecrim 2 dentes de alho Azeite extravirgem de sabor intenso e picante 1 limão-siciliano Sal grosso Pimenta-do-reino Preparo Em um pilão ou liquidificador preparar um tempero com o alecrim, o alho, sal grosso e um pouco de azeite Cobrir o pedaço de carne com essa marinada e deixar descansando por pelo menos duas horas em geladeira Retirar a carne da geladeira e deixar que recupere a temperatura ambiente Grelhar a carne deixando-a malpassada. Retirar a carne da grelha e, enquanto ela descansa por uns 5 minutos, preparar o molho com o suco do limão, a pimenta-do-reino moída grosseiramente na hora e azeite de oliva em abundância Cortar a carne em fatias médias e mergulhar no molho levando-as diretamente à boca ou com uma fatia de pão ligeiramente tostado