TELMA FERNANDA RIBEIRO A educação ambiental no Ensino formal: o Projeto Novo Goiabinha na Escola Municipal “Frei Edgard Groot” Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da PUC-MG como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Àrea de concentração: Sociologia e História da profissão docente e Educação escolar. Linha de pesquisa: Educação e Meio Ambiente. Orientador: Prof. Dr. Wolney Lobato. Belo Horizonte Pontifícia Universidade Católica de Minas gerais 2002 Dissertação defendida e aprovada, em 22 de março de 2002, Pela banca examinadora constituída pelos professores: Prof. Dr. Wolney Lobato – Orientador Prof. Dr. Roberto Célio Valadão Prof. Dra. Maria Inês Salgado de Souza SUMÁRIO Lista de Figuras Lista de Gráficos Lista de Quadros RESUMO ABSTRACT 1- INTRODUÇÃO ............................................................................ 1 2- EDUCAÇÃO E AMBIENTE: situando a educação ................ 9 2.12.22.3- Antecedentes da Educação Ambiental .................................... Evolução do conceito de Educação Ambiental ....................... Educação Ambiental e Currículo Escolar ................................ 10 16 19 3- ANÁLISE CONTEXTUAL DO LOCUS DA PESQUISA......... 26 3.13.23.3- A Região de Citrolândia ................................................................ O Projeto Novo Goiabinha ............................................................ A Escola Municipal “Frei Edgard Groot” ................................... 27 30 37 A INSERÇÃO DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SEU DESDOBRAMENTO NO COTIDIANO DA ESCOLA MUNICIPAL ‘FREI EDGARD GROOT’ ............................................................................................... 43 As concepções sobre meio ambiente e Educação Ambiental e seus reflexos na prática pedagógica ....................... 48 4- 4.1- 4.2- 4.3- 5- 5.15.1.15.1.25.1.3- As atividades pedagógicas do Projeto Novo Goiabinha na Escola Municipal “Frei Edgard Groot”................................... 53 Dificuldades e facilidades para as práticas pedagógicas Em Educação Ambiental........................................................... 59 REFLEXOS DAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DO PNG SOBRE A PERCEPÇÃO DOS EDUCANDOS EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE ..................................... 67 Análise do resultado da pesquisa com os alunos....................... Seção I – Identificação .................................................................. Seção II- Conhecimento do Espaço.............................................. Seção III- Valores, atitudes, comportamentos e opiniões................................................................................................ 70 71 74 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................. 103 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................... 109 8- ANEXOS ........................................................ 114 85 RESUMO Esta dissertação é o resultado de uma pesquisa que teve como objeto de estudo a proposta de educação ambiental desenvolvida na Escola Municipal “Frei Edgard Groot” a partir da inserção, em 1999, do Projeto Novo Goiabinha. O objetivo geral da pesquisa foi verificar se o programa implementado propiciou aos alunos a construção de uma percepção ambiental e de conceitos acerca da construção do espaço e proteção aos recursos naturais. A pesquisa teve como objetivos específicos verificar se o projeto estava articulado com a realidade local e identificar as dificuldades e facilidades que os professores encontram para desenvolver atividades pedagógicas relacionadas à temática ambiental. Para atingir esses objetivos a metodologia utilizada foi o estudo de caso, tendo como instrumentos a análise documental, entrevistas semi-estruturadas com professores e entrevistas estruturadas com alunos. Embora tenha sido identificadas fragilidades relativas às concepções sobre o meio ambiente e Educação Ambiental, constatou-se que a inserção do Projeto Novo Goiabinha propiciou o desenvolvimento de experiências pedagógicas que contribuiram para a consolidação de aprendizagens significativas para os docentes e discentes da escola favorecendo a construção de uma percepção ambiental e promovendo a formação de comportamentos compatíveis com a proteção ambiental. ABSTRACT This dissertation is the result of a research which had as a study objective a proposal for Environmental Education developed at “Escola Municipal “Frei Edgard Groot”, after an insertion in 1999 of Novo Goiabinha Project. The main goal of this research project was to verify whether the implemented program enable the students to build a environmental perception and concepts regarding the area construction and protection of natural resources. The research had as specific objectives to verifiy if the project was articulated with the local reality and to identify the difficulties and incentives that the teachers find in developing teaching activities related to the environmental. In order to reach these objectives, the methodology used was a study case having as instruments document analysis, semistructured interviews with teachers and students. Although some weakness have been found related to conception of the environment and Environmental Education, it has been noted that the insertion of project “Novo Goiabinha” enabled the development of teaching experiments with contributed to the meaningful learning consolidation of the teachers and students alike, favoring the construction of na environmental perception and promoting the formation of a compatible behavior with environmental protection. 1 1 INTRODUÇÃO “A questão ambiental virou questão econômica, social, política e cultural. Transformou-se num modo de falar da humanidade em seu contexto de ligar o homem aos outros homens e este à natureza. Transformou-se numa visão que engloba, associa, liga, relaciona, compromete, mobiliza e desperta consciências há muito tempo adormecidas.” (Hebert de Souza) 2 “Ontem, o homem escolhia, na natureza, tudo que lhe podia ser útil para a renovação de sua vida: animais, vegetais, pedras, árvores, florestas, rios. A natureza era seu quadro vital. Hoje o homem se torna fator geológico, geomorfológico, climático e a grande mudança vem do fato de que os cataclismas naturais são um incidente [...] enquanto a ação antrópica tem efeitos continuados e cumulativos, graças ao modelo de vida adotado pela humanidade. Daí vêm os graves problemas de relacionamento entre a atual civilização material e a natureza” (SANTOS, 1997). Nas últimas décadas do século XX, a questão ambiental transformou-se em uma questão social, política e educacional, mobilizando diferentes atores sociais como políticos, professores, operários, trabalhadores rurais, homens, mulheres, crianças e jovens. Acreditamos que a mobilização desses diferentes atores sociais é imprescindível na busca das soluções para os “graves problemas de relacionamento entre a atual civilização material e a natureza” de que nos fala Milton Santos no texto em epígrafe. Cabe à sociedade desenvolver ações que limitem os processos de degradação do meio natural – nosso quadro vital – criando, sobretudo, no âmbito da escola propostas pedagógicas em Educação Ambiental (EA) que propiciem o estudo dos fatores históricos, econômicos e culturais que 3 determinam as mudanças e as necessidades prementes de proteção do meio ambiente e sua sustentabilidade. A preocupação com a Educação Ambiental remonta à conferência de Estocolmo, Suécia, realizada em 1972, alguns anos após a eclosão do movimento ambientalista, surgido no bojo dos movimentos sociais da década de 1960 (movimento estudantil, feminista, operário, hippie, entre outros). Em Estocolmo, representantes de 113 países discutiram os graves problemas ambientais do planeta. Dessa conferência resultou um documento denominado “Declaração sobre o ambiente humano” que, “em particular recomendou que deveria ser estabelecido um programa internacional de Educação Ambiental, visando educar o cidadão comum, para que esse manejasse e controlasse o meio ambiente."(DIAS,2000). Passados quase 30 anos da realização da Conferência de Estocolmo, o meio ambiente continua sendo violentamente alterado e a Educação Ambiental ainda é incipiente nas escolas e na comunidade em geral. No Brasil, até recentemente, a questão ambiental – no ensino formal, níveis infantil, fundamental e médio – tem ficado restrita ao ensino de Ecologia nas aulas de Biologia e Programas de Saúde e Geografia. Em alguns sistemas de ensino são desenvolvidos projetos interdisciplinares por ocasião de datas comemorativas, como o Dia Mundial do Meio Ambiente, Semana da Árvore, Dia Mundial da Águas, Mês da Primavera e outras. 4 BÁRCENA (1999) afirma que nessas últimas décadas “a prática teve pouco, ou muito pouco a ver com a teoria sustentada. Na contradição entre os valores defendidos e o comportamento cotidiano, separam-se a vida dos indivíduos e das instituições. Essa incoerência entre as teorias defendidas e a cotidianidade vivida manifesta com clareza que a questão ambiental não tem sido suficientemente pedagógica e transformadora”. Incipiente, nas escolas e na comunidade em geral, ou insuficiente do ponto de vista pedagógico, a questão ambiental se apresenta como emergência educativa, assim como o multiculturalismo, a questão do gênero, entre outras, e muito tem contribuído para novas reflexões pedagógicas, colocando em destaque o debate sobre valores e novos modelos antropológicos e culturais que favoreçam a construção de um sujeito sensivelmente novo em relação ao passado (CAMBI, 1999). Entendemos que a escola deve se tornar, portanto, um espaço de construção do conhecimento e do desenvolvimento de valores e atitudes em relação ao meio ambiente compatíveis com uma nova ação social fundada no aprimoramento da qualidade de vida dos seres humanos. A Educação Ambiental constitui um novo campo do conhecimento e é nele que buscamos realizar essa pesquisa refletindo sobre a complexidade da Educação Ambiental, seus princípios, fundamentos e as práticas pedagógicas desenvolvidas em um cotidiano escolar. A pesquisa foi desenvolvida na Escola Municipal "Frei Edgard Groot", localizada no Bairro Citrolândia do município de Betim-MG, considerando que 5 ali foi implementado, no ano de 1999, um programa de Educação Ambiental denominado Projeto Novo Goiabinha (PNG), dentro do Programa de Implantação da Agenda 21 local, numa parceria entre a Prefeitura Municipal de Betim e a Organização não-governamental canadense denominada ICLEI. O programa de Educação Ambiental previsto para ser implementado em quatro escolas da região, atingindo cerca de 2000 alunos, foi desenvolvido apenas na Escola Municipal "Frei Edgard Groot" envolvendo cerca de 700 alunos e 23 professores e funcionários. Nosso principal objetivo foi analisar a proposta de Educação Ambiental do PNG desenvolvida na escola com vistas a: - verificar se o projeto de EA estava articulado com a realidade local, favorecendo a construção de uma prática educativa capaz de influenciar a percepção e mudar ou consolidar comportamentos ambientais compatíveis com a proteção ambiental; - examinar se as experiências pedagógicas desenvolvidas pelo PNG propiciaram aos alunos a construção de uma percepção ambiental e de conceitos acerca da construção do espaço e proteção dos recursos naturais; - identificar as principais dificuldades e/ou facilidades que os professores encontraram ao desenvolver projetos em EA e suas implicações nos processos pedagógicos. 6 O estudo proposto se insere no âmbito da pesquisa qualitativa. A metodologia utilizada foi o estudo de caso, tendo como instrumentos a análise documental, entrevistas semi-estruturadas para professores (ANEXO A) e estruturadas para alunos (ANEXO B). Foram sujeitos da pesquisa professores e alunos que participaram do PNG desde o início de sua implantação. O grupo de professores da escola apresentava uma certa homogeneidade quanto ao nível de formação (Curso de Magistério/2º Grau), tempo de trabalho na escola, condição funcional (efetivos ) e gênero (feminino). Foram selecionados 4 professoras entre as que se dispuseram a colaborar com a pesquisa. Diante da complexidade do tema e a amplitude do universo da pesquisa – uma vez que o projeto foi desenvolvido por todos os segmentos da escola, e em todas as séries – foi necessário restringir nosso universo a um determinado segmento. O universo de alunos pesquisados ficou restrito aos que cursavam em 2001, ano de realização da pesquisa, a última etapa do 1º ciclo (antiga 3ª série), considerando que todos: a) eram alfabetizados b) estavam concentrados em um único turno (vespertino) c) pertenciam à mesma faixa etária (entre 8 e 10 anos) d) estudavam na escola desde a 1ª série 7 e) vivenciaram as experiências pedagógicas implementadas pelo Projeto Novo Goiabinha. Os alunos que cursavam essa etapa estavam distribuídos em 06 (seis) turmas. Foram selecionados 03 (três) alunos de cada turma, totalizando 18 (dezoito) alunos pesquisados. Partindo do pressuposto de que poderia haver diferenças quanto à percepção ambiental, o critério utilizado para a seleção foi o local de residência do aluno, o que nos permitiu dividi-los em 2 (duas) categorias: CATEGORIA 1 – residentes no entorno da escola (próximo à área do córrego Goiabinha). CATEGORIA 2 – residentes em bairros mais distantes da escola (mais afastados do córrego Goiabinha). O questionário aplicado foi formulado a partir de 3 modelos de instrumentos já utilizados em outras pesquisas sobre percepção ambiental: Estudo de Percepção Ambiental – Plano de Controle Ambiental - UH de Sobragi - Pesquisa de opinião – FUNEC/Contagem - Estudo de Percepção Ambiental – Projeto Jaíba. O instrumento de pesquisa foi composto de três seções: Seção I – de identificação; Seção II – conhecimento do espaço e Seção III – valores, atitudes, comportamento e opiniões. A aplicação do questionário foi realizada, obedecendo ao critério das categorias 1 e 2 já especificadas, divididos em dois grupos de 9 alunos. Essa aplicação do instrumento de pesquisa, embora lenta, devido à sua complexidade e extensão, transcorreu de forma tranqüila, em espaço 8 reservado na escola, sem perturbações externas e muito bem aceita pelos alunos que estiveram imbuídos de grande seriedade e respeito. Para análise documental do PNG foi acessada toda a documentação do projeto disponível na Escola Municipal "Frei Edgard Groot" e na Coordenadoria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Betim. Os resultados obtidos estão organizados em partes onde descrevemos: o referencial teórico da educação ambiental em currículos escolares; a caracterização do lucus da pesquisa; a análise dos reflexos do PNG sob a ótica dos docentes e a análise dos reflexos da proposta pedagógica na percepção dos educandos e, por último, apresentamos nossas considerações finais. 9 2 EDUCAÇÃO E AMBIENTE: SITUANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FORMAL "O que está no início o jardim ou o jardineiro? É o segundo. Havendo um jardineiro cedo ou tarde um jardim aparecerá. Mas um jardim sem jardineiro cedo ou tarde desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos de um jardineiro." (Ruben Alves) 10 2.1 - Antecedentes da Educação Ambiental As discussões das questões ambientais, enquanto movimento social, surgem efetivamente na década de 1960, juntamente com outros de repercussão no mundo ocidental como o feminista, estudantil e hippie. É no bojo dos movimentos de contestação daquela época que os ecologistas começaram a levantar suas bandeiras, denunciando o modelo econômico capitalista que, entre outras mazelas, incentivava o consumismo, o desperdício, a destruição da natureza e a poluição das cidades. À medida que evolui e se aperfeiçoa o modelo econômico – cada vez mais agressivo e devastador – o mesmo acontece com o movimento ecológico. Deixando para trás o papel de “líricos” e “exóticos”, os ambientalistas se unem “a cientistas, aos trabalhadores e aos estudantes, conseguindo aprovar leis e ganhando ações na justiça contra empresas poluidoras, passando a ser respeitados e ouvidos”. (MINC,1997). A preocupação com o meio ambiente torna-se cada vez maior e passa a fazer parte da agenda dos governos e das grandes organizações internacionais. Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza na cidade de Estocolmo, Suécia, a primeira Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente. 11 Em Estocolmo “constatou-se a gravidade da destruição ambiental e foi dado o alerta para as eminentes catástrofes, caso os países prosseguissem com o crescimento a qualquer preço”. (MINC, 1997). Da Conferência de Estocolmo resulta uma declaração de 23 princípios sobre o meio ambiente. A partir de então, muitos outros eventos passam a ser, periodicamente, realizados. Em 1975, a UNESCO e o PNUMA criam o PIEA (Programa Internacional de Educação Ambiental) e decidem realizar uma conferência internacional sobre o tema. Em 1977, a ONU realiza na cidade de Tbilisi, na Geórgia (antiga URSS) a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental. Nesta conferência elabora-se o conceito de que a “Educação Ambiental é um processo permanente na qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros”. (GUERRA, 1999). À luz desse conceito definem-se as características fundamentais da Educação Ambiental: seu enfoque orientado à solução de problemas 12 concretos da comunidade (educar para a ação), participação da comunidade, enfoque interdisciplinar (interação/troca) e seu caráter permanente, visto que é um processo orientado para o futuro. Em 1979 realiza-se a Conferência Latino Americana em Educação Ambiental em San José, Costa Rica, também patrocinada pela ONU. Em 1992, vinte anos após a Conferência de Estocolmo, a ONU realiza no Rio de Janeiro a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, conhecida como RIO-92 e ECO-92. Dessa mega conferência resultou a Agenda 21 que foi assinada pelos presidentes de 172 países constituindo, sem sombra de dúvidas, um dos mais importantes documentos da história da humanidade produzido no século XX. (GUERRA, 1999). No Brasil, antes que o movimento ecológico assuma uma dimensão social, o governo trata de legislar sobre o assunto, visando obter recursos, no âmbito internacional, para promover o desenvolvimento econômico. A formulação da política ambiental brasileira ocorreu mais como resultado das ações de um estado centralizador, autoritário e desenvolvimentista do que como resultado de pressões de forças sociais organizadas (PÁDUA,1987). Como exemplo dessa política, tanto referente à gestão dos recursos naturais, quanto à Educação Ambiental citamos: - 1973 → O Governo Médice cria a SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente). 13 - 1981 → O Governo Figueiredo cria, através da Lei 6938, a Política Nacional do Meio Ambiente e o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). - 1987 → O Conselho Federal da Educação recomenda a inclusão da Educação Ambiental nos currículos de 1º e 2º grau e defende seu caráter multi/interdisciplinar. - 1988 → A Constituição Federal do Brasil enfatiza a questão ambiental nos capítulos I (artigos 5 e 23) e VI (artigo 225), dentre outros. (BRASIL, 1988). - 1994 → O Governo Federal cria, a partir de proposta elaborada pelo MEC e Ministério do Meio Ambiente, o Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA. - 1998 → O Ministério da Educação e do Desporto, através da Secretaria de Educação Ambiental, lança os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que apresentam a Educação Ambiental como Tema Transversal. - 1999 → É sancionada a Lei Federal 9795/99 que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999a). - 2001 → O Ministério da Educação divulga "Os Parâmetros em Ação" que propõem atividades a serem realizadas em um contexto de formação continuada de profissionais da educação. (BRASIL, 2001) Recentemente, no final década de 90, o debate sobre a Educação Ambiental adquiriu força no âmbito escolar, em todos os níveis de ensino, devido, sobretudo, ao lançamento, pelo Governo Federal dos Parâmetros Curriculares Nacionais onde a Educação Ambiental está incluída nos Temas Transversais, e posteriormente, pelo sancionamento (BRASIL,1999a). da Lei 9795/99 14 Em relação aos conteúdos das disciplinas, o “conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania” – os Parâmetros Curriculares não apresentam novidade. A inovação trazida pelos PCN que gerou controvérsias entre os educadores, foi a introdução dos Temas Transversais1, que traduzem as preocupações da sociedade brasileira de hoje e que, a partir de sua compreensão, o currículo escolar estaria contribuindo para a formação da cidadania tendo como eixo norteador a realidade vivida pelos alunos. Segundo YUS (1998) “Os temas transversais aludem a uma forma de entender determinados conteúdos educativos que não fazem parte de disciplinas ou áreas clássicas do saber e da cultura”. Esses temas estariam colocados no currículo escolar para promover visões interdisciplinares, globais e complexas de questões problemáticas da sociedade e modelos de desenvolvimento, respondendo à necessidade imperiosa de adaptação da Educação às novas realidades sociais. A inclusão da educação ambiental nos Temas Transversais foi “legalizada”, colocando-a em situação de vantagem em relação aos outros temas. A Lei nº 9765/99 reconhece a educação ambiental como um componente urgente, essencial e permanente em todo processo educativo, formal e/ou não formal expressos nos artigos 1º e 2º da Lei: _______________________________ 1- “Conjunto de conteúdos educativos e eixos condutores da atividade escolar que, não estando ligados a nenhuma matéria em particular, pode-se considerar que são comuns a todas, devendo ser conveniente que seu tratamento seja transversal no currículo global da escola (Yus,1998) 15 “Artigo 1º - Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem do uso comum do povo, essencial à sadia qualidade e sua sustentabilidade. Artigo 2º - A Educação Ambiental é um componente essencial, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.” Ao incluir em um currículo escolar a Educação Ambiental como tema transversal, os demais temas transversais podem e devem ser integrados, como a questão da Ética, da Pluralidade Cultural, da Saúde, da Orientação Sexual e do Trabalho e Consumo. Além da integração com os demais Temas Transversais, a Educação Ambiental integra-se perfeitamente com os conteúdos científicos “socialmente reconhecidos”, como Geografia, História, Biologia, Português, Matemática e outros. Nessa perspectiva ampla de abordagens, poderíamos ousar em pensar a Educação Ambiental como eixo norteador de um currículo escolar. Cabe às gerações incluídas no processo de Educação formal utilizar a Lei como argumento e amparo para reinvindicar de professores, orientadores pedagógicos, e da direção escolar a inclusão da Educação Ambiental em seu processo educativo. Fora da escola, “cabe à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a 16 atuação individual e coletiva voltada para a identificação e a solução de problemas ambientais” conforme Artigo 3º, inciso VI da Lei 9795. (BRASIL, 1999). 2.2 - A Evolução do conceito da Educação Ambiental A discussão sobre Educação Ambiental, iniciada a partir da Conferência de Estocolmo, 1972, é ampliada nos eventos oficiais patrocinados pelas Nações Unidas nos anos seguintes. Os princípios, conceitos e fundamentos delineados em Estocolmo vão sendo reformulados, ampliados e/ou reafirmados nos documentos produzidos ao final de cada evento. Assim, a Carta de Belgrado, 1975, a Declaração da Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre Educação Ambiental 1977, e o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, Rio, 1992, apresentam uma evolução do conceito de meio ambiente e o modo como esse é percebido. Segundo REIGOTA (1999), pode-se analisar o conceito de meio ambiente à luz de três visões diferenciadas: uma naturalista, originária da biologia, que teve seu apogeu nos anos 70; a visão antropocêntrica – que toca na questão da relação homem-natureza e a visão globalizante – que explicita a idéia de interação entre o meio biológico e o meio social. CASCINO (1999) analisa a evolução desses conceitos em três documentos diferentes. A Carta de Belgrado ressalta sobretudo os aspectos naturais do 17 meio ambiente, e a natureza é vista como fonte de recursos para atender as necessidades do homem: “Nós necessitamos de uma nova ética global – uma ética que promova atitudes e comportamentos para os indivíduos e sociedades que sejam consoantes com o lugar da humanidade dentro da biosfera (grifo nosso) […] Mudanças significativas devem ocorrer em todas as nações do mundo, para assegurar o tipo de desenvolvimento racional que será orientado por essa nova idéia global – mudanças que serão direcionadas para uma distribuição eqüitativa dos recursos da Terra (grifo nosso) , e para atender às necessidades dos povos” (CASCINO, 1999:55). No documento da Conferência de Tbilisi, 1977, a noção de meio ambiente é ampliada, como podemos observar no texto sobre as finalidades e características da Educação Ambiental, mas a concepção de natureza como fornecedora de recursos persiste: “Um dos principais objetivos da EA consiste em permitir que o ser humano compreenda a natureza complexa do meio ambiente, resultante das interações dos seus aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais. Ela deve facilitar os meios de interpretação da interdependência desses diversos elementos, no espaço, no tempo, a fim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos naturais para satisfazer as necessidades da humanidade” (DIAS, 2000). No documento resultante da Eco-92 ou Rio-92, novos elementos são acrescentados: caráter ideológico, perspectiva holística, visão sistêmica do ambiente acrescido da análise crítica do contexto social e histórico, expressos nos seguintes princípios: 18 “A educação Ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político. A Educação Ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar. A Educação Ambiental deve tratar das questões globais críticas, suas causas e inter-relações em uma perspectiva sistêmica, em seu contexto social e histórico. Aspectos primordiais relacionados com o desenvolvimento e o meio ambiente, tais como população, saúde, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradação da fauna e da flora, devem se abordados dessa maneira” (CASCINO, 1999:57). A Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (ECO-92), promovida pela ONU, foi um marco histórico muito importante e seu discurso é, sem dúvida um referencial oportuno e necessário uma vez que possui grande significado quanto ao compromisso político assumido pelos governos e pelas ONG’s, pela fundamentação de estratégias a seguir e por ser um alerta à participação e à responsabilidade de todos, tanto a partir do plano individual, como institucional e organizacional. (GUTIERREZ & PRADO, 1999). O que observamos, no entanto, é que existe uma grande distância entre os conceitos e as propostas explicitadas nesses documentos e a prática, que muitas vezes, contradiz o discurso. A natureza, ao que nos parece, continua sendo vista como fornecedora de recursos que garantem a sobrevivência do homem ou, como afirma BRÜGGER (1999) ela “é vista como parte produtiva do todo, tanto quanto uma fábrica ”. 19 2.3 - Educação Ambiental e Currículo Escolar Segundo o MEC, os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados procurando respeitar as diversidades regionais, culturais e políticas existentes no Brasil e considerando a necessidade de se construírem referências nacionais comuns ao processo educativo em todas as regiões brasileiras. Pretende-se com estas propostas curriculares “criar condições, nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania”. (BRASIL, 1998) A incorporação dos Temas Transversais aos Parâmetros Curriculares Nacionais objetiva levar para o âmbito da escola o debate sobre temas que refletem as preocupações da sociedade brasileira: Saúde, Orientação Sexual, Ética, Trabalho e Consumo, Pluralidade Cultural e Meio Ambiente. Oficialmente os PCN foram encaminhados às escolas, e a todos os professores como subsídio às discussões e ao desenvolvimento do projeto educativo das escolas, como convite à reflexão sobre a prática pedagógica, ao planejamento das aulas, à análise e seleção de materiais didáticos e de recursos tecnológicos e, em especial para a formação e atualização profissional. (BRASIL, 1998b) A chegada dos PCN nas escolas, especialmente nas públicas, acendeu as discussões sobre o currículo escolar que, de uma certa forma, vinha sendo relegado ao segundo (ou terceiro) plano dentro dos debates mais recentes 20 na Educação, como a construção de Projetos Político-Pedagógicos, Construtivismo, Pedagogia de Projetos, Avaliação Escolar, entre outros. Cabe observar que em todos esses debates mais recentes está implícita a discussão sobre o currículo, porém, freqüentemente “deixada ela vem sendo para uma outra oportunidade”, uma vez que as diretrizes curriculares dependem dos poderes centrais (no âmbito Federal, Estadual e Municipal) conforme a LDB prevê em seu artigo 9, inciso IV, “entre as incumbências da UNIÃO, estabeleceu em colaboração com os Estados, DF e municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum”. (CURY, 1997). Esse artigo da LDB está em consonância com o artigo 210 da Constituição Federal, que afirma “serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.” (BRASIL, 1988). Embora a questão do currículo não seja discutida com a relevância que merece, ela constitui o núcleo do processo educacional, havendo uma forte relação entre as características da sociedade e o saber institucionalizado através dos currículos escolares. Segundo APPLE (1989), há ainda um número considerável de educadores que vêem o currículo de uma nação, região ou escola como um corpo neutro de conhecimentos, constituído de fatos, habilidades e valores selecionados para serem transmitidos às gerações futuras. Daí, surgem importantes 21 questões: quem seleciona, ou quem define que conhecimentos devem ser ensinados? Que conjunto de suposições sociais e ideológicas definem o conhecimento de alguns grupos como sendo legítimo enquanto o conhecimento de outros nunca é oficialmente transmitido? Como a distribuição, produção e controle do conhecimento está relacionada às estruturas desiguais da sociedade? Para esse autor, a grande dificuldade de se responder a essas questões reside no fato de que muitos educadores ainda tendem a tratar o currículo simplesmente como “conhecimento a ser aprendido”, levantando questões meramente técnicas (“como ensinar” e não “por que” ensinar esse ou aquele conteúdo), por não termos um quadro preciso das dinâmicas de classe, gênero e raça e dos antagonismos que organizam a sociedade e, finalmente, por não termos um quadro mais claro do funcionamento social contraditório da própria escola. APPLE (1989) afirma que o currículo escolar precisa ser entendido, relacionalmente, como tendo adquirido seu significado a partir das conexões que ele tem com as complexas configurações de dominação e subordinação, na nação como um todo e em cada região ou escola individual. O currículo não existe como fato isolado. Ele é resultado dos conflitos, acordos e alianças de movimentos e grupos sociais determinados. Nesse sentido, torna-se pertinente a discussão da inclusão de temas que passam a fazer parte do currículo nacional devido à sua “urgência social, 22 abrangência nacional, possibilidade de favorecer a compreensão da realidade e a participação social” (BRASIL, 1998). A compreensão da inclusão desses temas remete a uma discussão mais profunda sobre o contexto global do final do Século XX e início do Século XXI. Segundo SILVA (1995), há um novo mapa cultural traçado pela emergência de uma multiplicidade de atores sociais e por um ambiente tecnicamente modificado do qual emergem novos movimentos sociais, novas identidades culturais, novos conflitos, e conseqüentemente, novas demandas educacionais. Com todas essas alterações, a educação institucionalizada e o currículo continuam a refletir, anacronicamente, os critérios e os parâmetros de um mundo social que não mais existe. Nesse “mundo passado” o homem colocou todo seu potencial criativo, seu intelecto, sua mente a serviço da construção de uma sociedade onde o progresso da ciência e da tecnologia submeteu nossa civilização à tirania da razão (REGNIER, 1995). Fundamentado na concepção da racionalidade, da objetividade do raciocínio linear-cartesiano foi criado um mundo contrário a qualquer possibilidade de conhecimento científico na subjetividade e a qualquer expressão de uma ética comprometida com a não-violação, com a não-violência, a não-segregação, a não-exclusão. Segundo RÉGNIER (1995), a serviço desse modelo a educação planta e colhe seus resultados: "fragmentação do tempo e dos saberes, padronização, falta de visão do todo, separação dos conhecimentos em disciplinas cada 23 vez mais numerosas, gerando especializações, indiferença à formação do caráter, à cultura do espírito, à construção da alma”. Os currículos elaborados dentro da concepção positivista-mecanicista não são organizados a partir do aluno. O indivíduo é subordinado aos objetivos e, ao mesmo tempo, encerrado neles; os cursos são pré-selecionados e reforçados pelos planos de aula e, oferecem poucas oportunidades para idéias novas ou divergentes (DOLL, 1993). No “mundo presente” emerge um novo paradigma. Não se trata apenas de um paradigma científico. Trata-se de um paradigma gestado por uma sociedade que sofreu uma revolução pela própria ciência. Trata-se também de um paradigma social onde são incluídos os conceitos de historicidade e de processo, de liberdade, de auto-determinação, da subjetividade, da superação de dicotomias como: sujeito/objeto, natureza/cultura, natural/artificial, coletivo/individual, entre outros. (SANTOS, 1999) O efeito desse novo paradigma seria a configuração de um currículo eclético, enfatizando a cultura e seu papel na construção de novas estruturas organizacionais; incorporando a reflexão sobre o que fazemos, por que fazemos e quem somos nós, tornando central a auto-reflexão, a imaginação, a criatividade, envolvendo, além do universo de conteúdos culturais, socialmente produzidos e historicamente acumulados, os diversos valores, visões de mundo, escolhas, atitudes, relações e ações que permeiam o processo ensino-aprendizagem. 24 Considerando as condições de “mundo passado” e do “mundo presente” torna-se clara a idéia de que as concepções do primeiro não dão conta de responder às demandas do segundo. Ao lançar os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Temas Transversais (relembrando que esses são temas de urgência para a sociedade), o Governo Federal nos leva a refletir sobre a educação em seu sentido mais amplo e, em especial, sobre o currículo. As disciplinas tradicionais não dão conta de um conjunto de questões postas pela realidade e têm se mostrado incapazes de desenvolver as capacidades necessárias para a participação e coresponsabilidade na vida social (MACEDO, 1999). A escola vista como redentora dos grandes problemas sociais/ambientais é chamada mais uma vez a cumprir o seu papel de contribuir para a superação dos problemas da sociedade contemporânea, dando novas responsabilidades aos professores – que não se sentem preparados – e retirando dos setores políticos, jurídicos e da sociedade civil organizada, o peso de suas responsabilidades. A introdução da Educação Ambiental no currículo escolar, não como uma disciplina, mas como um tema gerador que permeie todo o contexto escolar, poderia contemplar as tendências pedagógicas atuais, institucionalizando o debate sobre a questão ambiental. Além da importância sócio-educacional do currículo devemos ressaltar a importância do papel professor, que ao reproduzir ou produzir conhecimentos com os alunos deve levar em conta sua formação. O trabalho do professor, aliado a um currículo coerente, pode contribuir para a busca 25 de novos valores éticos, estéticos e morais para a construção de uma autonomia de pensamento dos educandos. É importante que os professores estejam engajados nesse processo e devidamente preparados para desenvolver propostas pedagógicas articuladas com a realidade social da escola onde trabalham. É preciso, sobretudo, que eles conheçam o espaço ambiental onde a escola está situada. A inclusão da Educação Ambiental no currículo escolar – no ensino formal – e a sua prática nas empresas privadas, órgãos públicos e ONGs pressupõe mudança de comportamento, de valores dos grupos humanos que precisam adotar novas posturas, novas formas de pensar, de agir, que construam novos modelos de produção de bens, novas relações sociais, com menos violência, menos desigualdades e exclusão social. 26 3 ANÁLISE CONTEXTUAL DO “LOCUS” DA PESQUISA " Qual a diferença entre o inferno e o céu? O inferno é um lugar onde há uma sopa muito gostosa, farta, à disposição dos seus habitantes, porém, onde as colheres tem cabos tão compridos que ninguém é capaz de se servir e levar a colher a própria boca. O sofrimento dos eternamente famintos é enorme. E o céu? No céu a situação é a mesma: há uma sopa muito gostosa, farta, à disposição de seus habitantes, com colheres de cabos igualmente longos que ninguém consegue levar à própria boca. Porém, no Céu os habitante tiveram a idéia de se servirem mutuamente, levando a colher à boca do próximo. Assim, vivem felizes e satisfeitos alimentados pelo seu altruísmo." (George Kühlewind) 27 3.1 - A Região de Citrolândia A Escola Municipal “Frei Edgard Groot” localiza-se na Região de Citrolândia, porção Sul de Betim (MG), município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil, (FIG. 1) . Citrolândia é um aglomerado descontínuo à malha urbana do município, que teve sua origem vinculada à instalação, no início do século XX, do Sanatório Santa Isabel, construído para abrigar os hansenianos de Minas Gerais. Iniciada em 1922 e inaugurada oficialmente em 1931, a construção da Colônia Santa Isabel foi parte de uma política sanitária do governo federal de controle da doença que definia como atribuição estatal a assistência e o isolamento dos hansenianos (ASSIS, 1996). Segundo ASSIS (1996): “A concepção de isolamento deixou de considerar que o doente tinha laços familiares e relações com a comunidade onde vivia (...). o preconceito e a desinformação da sociedade em relação aos pacientes de hanseníase criaram no imaginário popular, sem distinção de classe, um sentimento policialesco em relação ao paciente e seus familiares. Esta situação expulsou do convívio social os hansenianos e suas famílias que foram invadindo terrenos próximos à colônia e se estabeleceram no local. O estado tentou evitar que as famílias fossem morar nas proximidades, mas o estigma social foi mais forte, levando as pessoas a lutar para ficarem próximas dos parentes. Neste contexto, surgem os bairros que hoje compõem a região do Citrolândia." 28 Dom Joaquim Santana de Pirapama Curvelo Conceição do Mato Dentro Cordisburgo 43°30' 44°30' Santana do Riacho 19°12' 19°12' Jequitibá Araçaí Pompéu Paraopeba Sto Antônio do Rio Abaixo Morro do Pilar Baldim Caetanópolis Funilândia Itambé do Mato Dentro Papagaios Sete Lagoas Maravilhas Cachoeira da Prata Prudente de Morais Jabuticatubas Inhaúma Capim Branco Fortuna de Minas Pequi Matozinhos Itabira Pedro Leopoldo São José da Varginha Onça de Pitangui Confins São José da Lapa Vespasiano Esmeraldas Florestal Juatuba São Gonçalo do Pará Mateus Leme Contagem BELO HORIZONTE São Joaquim de Bicas Ibirité São Gonçalo do Rio Abaixo Sabará Caeté Betim Nova Lima Sarzedo Mário Campos Igarapé Itaúna Bom Jesus do Amparo Santa Luzia Ribeirão das Neves Pará de Minas Igaratinga Taquaraçu de Minas Nova União Lagoa Santa Santa Bárbara Barão de Cocais Raposos Catas Altas Rio Acima Brumadinho Carmo do Cajuru Alvinópolis 20°12' Itatiaiuçu 43°30' Itabirito Rio Manso Bonfim Moeda Itaguara Cláudio Ouro Preto Mariana Crucilândia Piedade dos Gerais Belo Vale Piracema Congonhas Carmópolis de Minas Ouro Branco Jeceaba 0 Passa-Tempo 21 Desterro de Entre-Rios Entre-Rios de Minas Betim 42 Rua Itambé, n° 49 - Belo Horizonte / MG Cep 30.150.150 - Telefax: 3213-2912 www.iga.br Km Municípios da RMBH São Brás do Suaçuí Municípios do Colar Metropolitano - Lei Complementar N° 63 de 10 de Janeiro de 2002 (Altera os arts. 7° e 21 da Lei Complementar N° 26, de 14/01/1993 que estabelecem a composição da RMBH e de seu colar metropolitano) FIGURA 1 - Localização de Betim na Região Metropolitana de Belo Horizonte FONTE: IGA 2002 29 A expansão desse aglomerado se deu de forma desarticulada com a cidade de Betim, e muitos bairros surgiram e se desenvolveram de forma desordenada sem o acompanhamento de infra-estrutura básica de arruamento, esgotamento sanitário e água tratada. Nos bairros mais antigos são comuns os becos, travessas e vielas que não permitem sequer a passagem do caminhão para a coleta do lixo. Outra marca da região é a sua forte característica imigratória devido, primeiramente, às origens históricas do lugar e, mais recentemente ao processo de aceleração da urbanização do município em função da dinamização do setor industrial com a chegada de grupos nacionais e estrangeiros a partir de meados da década de 1970. Os imigrantes instalam – se em Citrolândia onde há uma menor valorização dos terrenos em relação ao restante da cidade e, os aluguéis são mais baratos. Essa característica migratória tem grande influência na cultura local uma vez que os imigrantes trazem novos valores, tradições, costumes e expectativas, enfim, uma diversidade cultural que impõe novos desafios e demandas aos sistemas públicos de saúde, saneamento básico, educação, entre outros (BETIM, 1999c). Por se tratar de uma região com graves problemas nas esferas sociais e ambientais, como falta de saneamento básico, poluição, desmatamento, desemprego, violência, pobreza entre outros, Citrolândia vem sendo alvo do desenvolvimento de políticas públicas que visem minimizar tais problemas. Como exemplo dessas políticas podemos citar a construção do Aterro 30 Sanitário e da Central de Tratamento de Resíduos Sólidos, que emprega a mão-de-obra local; a implantação do Projeto Novo Goiabinha, que visa recuperar o córrego em seu trecho urbano; a coleta seletiva de lixo; a municipalização da escola; construção do posto de saúde e a solução dos problemas fundiários ainda existentes na região da Colônia de Santa Isabel. Dentro das políticas públicas do município para Citrolândia, destacamos a implantação do Projeto Novo Goiabinha cujo conhecimento é imprescindível para o perfeito entendimento de nosso trabalho de pesquisa, bem como de seus resultados. 3.2 - O Projeto Novo Goiabinha A porção mais urbanizada e mais densamente povoada de Citrolândia se assenta sobre a bacia do Córrego Goiabinha, contribuinte da margem direita do Rio Paraopeba. A bacia do Goiabinha vem sofrendo um acelerado e desordenado processo de ocupação tanto das vertentes quanto do seu vale, tendo sido construídas moradias bem próximas à sua calha. O córrego se transformou em pouco tempo em depósito de lixo e de esgoto lançado in natura em suas águas. Disso resultaram problemas graves como os odores fétidos, a presença de insetos e ratazanas que se beneficiavam do lixo e objetos dispostos nas margens do córrego (PUC, 2000). 31 Buscando solução para tais problemas, a comunidade local pleiteou em 1993 verbas do Orçamento Participativo do Município (OP). Com os recursos do OP foram realizadas, entre 1993 e 1997, as obras de tratamento de fundo de vale, a retificação e contenção das margens do Córrego Goiabinha dentro do perímetro urbano de Citrolândia (FIG. 2). FIGURA 2 - Córrego do Goiabinha (antes da obra do PNG). Observa-se ao fundo o início da obra de contenção das margens. 32 No final de 1998, a bacia do Córrego Goiabinha foi escolhida para fazer parte do programa de implantação da Agenda 21 local, com verbas do OP e da organização não-governamental ICLEI - Conselho Internacional para Iniciativa Local em Meio Ambiente. Objetivando melhorar a qualidade de vida, lazer, segurança e convivência da população, foi criado com esses recursos o projeto Novo Goiabinha (PNG), (FIG.3, FIG. 4) FIGURA 3 - Vale do Goiabinha após as obras do PNG 33 FIGURA 4 - Vale do Goiabinha após as obras do PNG. Em segundo plano a Escola Municipal "Frei Edgard Groot" Entre as obras do PNG estavam incluídas a recuperação da quadra de futebol, a colocação de bancos de concreto ao longo do trecho "recuperado", a iluminação pública a instalação de lixeiras e a colocação de interceptores de esgoto doméstico. Reproduzimos a seguir o texto de divulgação do PNG, elaborado pela Coordenadoria do Ambiente do Município de Betim. 34 " PROJETO NOVO GOIABINHA O Córrego Goiabinha, localizado na região de Citrolândia, foi escolhido recentemente para fazer parte do programa de implantação da Agenda 21 local, através de uma instituição não governamental chamada ICLEI, que em português significa: Conselho Internacional para Iniciativa Local em Meio Ambiente.O projeto visa, além da recuperação e preservação do Córrego, a uma efetiva participação da comunidade nas diversas ações para a sua implantação.Com uma atuação transparente o Projeto trabalha com diversas parcerias, entre elas a Prefeitura Municipal, Emater, comunidade, PUC-MG, empresas diversas, etc... O Projeto Novo Goiabinha se organiza em cinco frentes de trabalho, que embora específicas se integram nas suas várias ações.As frentes de trabalho são: Monitoramente e Recuperação, Obras, Geração de Rendas, Segurança, Mobilização, Educação Ambiental e Divulgação. Essas comissões são formadas tanto por funcionários da prefeitura como pessoas da comunidade que se identificam com o trabalho realizado. Além destas comissãos, existe um grupo Coordenador, formado pelos relatores das cinco frentes de trabalho, um Coordenador geral (Sr. Carlos), uma secretária (Nalva), um facilitador (Carlos Roberto – Pingo, administrador regional), uma contadora (D. Carlita) e a responsável pelos orçamentos ( Patrícia).Educação Ambiental: A comissão de mobilização, Educação Ambiental e divulgação é formada por várias pessoas da comunidade e tem como relatora Mara Andrade da coordenadoria de Meio Ambiente da prefeitura Municipal de Betim. Objetivo Geral: Recuperação e conservação da qualidade e quantidade de água do Córrego Goiabinha, visando às melhorias das características do curso d’água e garantia da qualidade de vida da população. Resultados Esperados: Modificar os hábitos da população do entorno do Goiabinha, minimizando a sua degradação. 35 Integrar as ações de Educação Ambiental, mobilização e divulgação aos outros grupos de trabalho fazendo assim com que a comunidade se envolva mais com o Projeto. Divulgar o Projeto Novo Goiabinha na região de Citrolândia e dentro do possível, no resto da cidade.Propostas de ações: a)Discutir com os diversos grupos organizados da Região do Projeto Novo Goiabinha, visando a sua divulgação e à adesão de novos parceiros; b)Confecção de camisas para divulgação e adesão do projeto; c)Criar informativo bimestral; d)Elaboração de um vídeo educativo; e)Fazer diagnóstico que aponte dados sobre segurança, situação sócioeconômica, condições de moradia, educação ambiental e sanitária, aptidões culturais e outros dos moradores do entorno do Goiabinha; f) Implementar programa de educação ambiental para as escolas de Citrolândia." (BETIM, 1998). Na prática, a implantação do PNG, baseou-se em dois eixos fundamentais: 1 - O tratamento paisagístico das margens do córrego e recuperação do fundo de vale e instalação dos interceptores de esgoto; 2 - Implantação de um programa de Educação Ambiental na E.M. “Frei Edgar Groot”. O Projeto Novo Goiabinha apresentou vários equívocos, tanto em sua parte estrutural ( obras ), quanto em sua parte não-estrutural ( organização, apoio técnico e institucional, entre outras). Com relação às medidas estruturais, o PNG deu continuidade ao projeto de retificação do canal e recuperação do fundo de vale que tinham como objetivo diminuir o risco de enchentes na região. Tecnicamente a retificação tem a finalidade de aumentar a velocidade da água, reduzindo o tempo da onda de cheia, melhorando a situação local, mas agravando a situação à jusante. Na prática, isto significa 36 a transferência do problema de um lugar para outro, dando aos moradores do vale do córrego a falsa sensação de segurança. A instalação de interceptores de esgoto, apenas no trecho urbano, sem a construção de uma ETE ( Estação de Tratamento de Esgoto), também apenas transfere o problema de lugar. O esgoto coletado é novamente lançado in natura em outro ponto do mesmo córrego. O tratamento paisagístico dado às margens do córrego, com a colocação de bolsões de concreto e plantio de grama não recupera o córrego. A "natureza" do rio não foi respeitada. A vegetação original não foi recomposta e as águas do córrego passaram a correr, fétidas, sobre o concreto. A iluminação pública e a colocação de lixeiras no trecho "recuperado" foram medidas bem recebidas pela população uma vez que facilitaram a circulação à noite e a coleta de lixo. Com relação às medidas não-estruturais, que estavam vinculadas às comissões de segurança, geração de renda, monitoramento da qualidade da água, mobilização e educação ambiental, praticamente todas as propostas fracassaram. Esse fracasso ocorreu em função da desarticulação das comissões por razões de ordem organizacionais e técnicas. A comissão de Mobilização e Educação Ambiental realizou algumas atividades com a comunidade local no sentido de esclarecê-la sobre a disposição do lixo , e a importância da recuperação do córrego e promoveu 37 eventos como o Mutirão da Limpeza e o Abraço ao Goiabinha. Além dessas atividades a comissão levou a proposta de Educação Ambiental para a Escola Municipal "Frei Edgard Groot". Analisamos, a seguir, as condições materiais e pedagógicas da escola que favoreceram o desenvolvimento da proposta de Educação Ambiental do PNG (ANEXO C). 3.3 - A Escola Municipal " FREI EDGARD GROOT" A Escola Municipal "Frei Edgard Groot" foi criada em 1997. Até este ano o estabelecimento de ensino pertencia à rede estadual com o nome de Escola Estadual Dr. Orestes Diniz. A escola foi municipalizada atendendo as exigências da lei de diretrizes e bases promulgada em 1996, que transferiu para os municípios a responsabilidade sobre o ensino fundamental. Em 1999, ano de implantação do PNG, a escola atendia cerca de 700 alunos com faixa etária entre 6 e 11 anos, funcionando em dois turnos, manhã e tarde, com doze turmas cada um. Trata-se de uma escola de pequeno porte, construída em 1980, estruturada em dois blocos. O primeiro bloco é constituído de sete salas de aula e o segundo, constituído por 3 salas de aula, pela parte administrativa da escola (sala de diretora e secretaria), biblioteca, sala dos professores, banheiro, cantina e SOESP (Serviço de Orientação e Supervisão 38 pedagógica). Próximo a esse bloco, encontra-se a quadra de esportes, pequena e sem cobertura. A escola não possui laboratórios. A aparência geral da escola é agradável; salas limpas, com cortinas, boa iluminação e adornadas com cartazes educativos e plantas (FIG. 5 a FIG. 8). FIGURA 5 - Partes do fundo do Bloco 2: salas de aula e administração 39 FIGURA 6 - Pátio e Cantina FIGURA 7 - Frente do Bloco 2 e quadra esportiva 40 FIGURA 8 - Sala de aula No biênio 2000/2001, foram construídas mais 2 salas de aula. O jardim e os banheiros foram reformados, e a escola ganhou nova aparência. Com relação aos recursos materiais, a escola conta com um aparelho de TV e vídeo, retroprojetor, 2 aparelhos de som portáteis, máquina fotográfica e 2 mimeógrafos. Esses recursos têm sido insuficientes para atender à demanda das 24 turmas. A direção da escola e a comissão pedagógica mostram-se bastante preocupadas com a situação e procuram organizar as atividades pedagógicas 41 de modo que todos os professores tenham acesso aos poucos recursos de que a escola dispõe. Quanto aos recursos humanos, a escola é provida de funcionários em quantidade suficiente para atender às necessidades administrativas (direção, vice-direção e quatro secretárias), técnicas (quatorze funcionários que cuidam da alimentação, limpeza e segurança) e pedagógicas (vinte e três professores, quatro pedagogos e dois atendentes de biblioteca). Além da infra-estratura física e dos recursos materiais e humanos, outros aspectos foram considerados para compreendermos as condições que o PNG encontrou na E. M. “Frei Edgard Groot” para desenvolver seu programa de Educação Ambiental. Esses aspectos referem-se a um conjunto de propostas pedagógicas consideradas inovadoras, implementadas, a partir de 1998, pela política educacional do município, intitulada ESCOLA DEMOCRÁTICA, tais como: - a forma de organização em ciclos de ensino-aprendizagem, que tem como critério básico de enturmação a idade psicogenética dos alunos que, além de valorizar e assegurar a presença e permanência destes na escola, busca propiciar maiores e melhores condições de aprendizagem e convivência social; - a teoria construtivista como base da prática escolar definida como uma “concepção epistemológica que considera a ciência como resultado de um processo de construção de modelos explicativos para a realidade e não para a representação desta". 42 A transposição didática dos princípios dessa teoria para o processo de ensino-aprendizagem possibilita que o aluno, entre outras coisas, possa: dar sentido ao que se propõe a fazer, saber o que deve fazer e por que atribuir significado aos conteúdos da aprendizagem, garantir um bom nível de participação envolvimento nos processos e pedagógicos, lançar mão de sua bagagem experiencial (BETIM, 1999 ); - a avaliação escolar processual que abrange toda a experiência escolar e todas as dimensões da formação humana, tendo em vista o acompanhamento, a análise e a interpretação cotidiana das ações individuais e coletivas dos educandos face às suas características e demandas sócio-culturais e aos objetivos didáticos propostos pela escola. Contando com condições razoáveis relativas às estruturas física, material e humana, e com orientações pedagógicas que propiciam práticas de ensinoaprendizagem inovadoras, a Escola Municipal “Frei Edgard Groot” assumiu com grande interesse e responsabilidade as propostas encaminhadas pela comissão de Educação Ambiental do PNG. As práticas pedagógicas bem como seus reflexos no cotidiano escolar, tanto do ponto de vista dos educadores quanto dos educandos estão analisadas nos capítulos seguintes. 43 4 A INSERÇÃO DO PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PNG E SEUS DESDOBRAMENTOS NO COTIDIANO DA ESCOLA MUNICIPAL "FREI EDGARD GROOT" "Eu diria aos educadores e educadoras, ai daqueles e daquelas, que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar e de perder a sua coragem de denunciar e de anunciar." (Paulo Freire) 44 O cotidiano da Escola Municipal "Frei Edgard Groot" começou a ser alterado no início do ano de 1999 a partir da inserção do projeto de Educação Ambiental proposto pela comissão¹ de Educação Ambiental do Projeto Novo Goiabinha . Esta comissão tinha como objetivo inicial implementar um programa de Educação Ambiental para as 4 escolas da Regional Citrolândia – Na época da apresentação da proposta, as quatro escolas (duas estaduais e duas municipais) atendiam cerca de 2000 (dois mil) alunos, dos níveis fundamental e médio. Por razões de ordem técnica, política e institucional, o Projeto Novo Goiabinha (PNG) foi implementado somente na Escola Municipal "Frei Edgard Groot". A primeira visita da Comissão de Educação Ambiental do PNG à escola ocorreu no dia 16 de março de 1999. Nesse dia, todas as turmas dos turnos matutino e vespertino foram visitadas, e o tema abordado foi o projeto que estava sendo desenvolvido para recuperar o córrego Goiabinha, que passa bem próximo à escola. Segundo o Relatório da Comissão Coordenadora do programa: “A direção da escola, professores e alunos demonstraram um enorme interesse pelo assunto. Encerramos nossa visita convidando a todos para participarem conosco da primeira atividade dentro da escola no próximo dia 23 de março”. (BETIM, 1999a) ___________________________________ 1 - O Projeto Novo Goiabinha possuía 5 comissões ou frentes de trabalho: Obras, Geração de Renda, Segurança, Monitoramento, Mobilização e Educação Ambiental. Essas comissões eram formadas por funcionários da Prefeitura Municipal e por membros da comunidade local. 45 Este documento (ANEXO C) evidencia que a proposta de se realizar um trabalho pedagógico, tendo como eixo central a temática ambiental, não foi, em princípio, uma demanda da comunidade escolar (direção, professores, alunos, pais), mas uma proposta feita pela administração municipal que, ao ser incorporado pela escola, trouxe significativas implicações para o desenvolvimento da temática ambiental abordada pelo currículo da escola. Destacamos, a seguir, algumas propostas apresentadas pela Comissão do PNG à escola: • Auxiliar o trabalho dos professores fornecendo textos sobre a importância da reciclagem do papel e outros textos complementares”. • “Promover o desenvolvimento oficinas”. • "Promover a realização de oficinas de reciclagem de papel e confecção de brinquedos com garrafas pet" • “Permanecer na Escola Edgard Groot até o final do ano acompanhando as atividades de educação ambiental”. de atividades lúdicas: música, teatro, Estas propostas e/ou sugestões foram assumidas pelos docentes da escola que procuraram desenvolvê-las com interesse. Entre os professores entrevistados há divergências quanto à validade da experiência. Alguns a consideraram positiva e outros fizeram severas críticas como podemos verificar a partir de algumas falas sobre o PNG: “Eu gostei muito do Projeto, apesar de achar que ele ficou no meio do caminho. Ele não terminou. Eu gostei porque no início nós tivemos um maior assessoramento pela coordenação (...) Os alunos ficaram muito envolvidos”. (Professor l ) 46 “Faltou envolvimento entre o pessoal da escola e o pessoal que veio trazer o Projeto. Ficou um coisa muito solta (...) não ouve um planejamento geral. Foi um coisa que veio de fora (...) e que o pessoal que veio não participou. O dia do ABRAÇO foi uma palhaçada (...) Ficamos horas no sol quente esperando o prefeito (...) Os meninos tomaram raiva do prefeito. Então, quando a gente começava a falar de Goiabinha eles pediam pelo amor de Deus para parar (...) No geral, foi bem aceito mas perdeu credibilidade. No dia do ABRAÇO ficou claro o uso político do Projeto”. (Professor ll) Considerando as falas acima, foi possível identificar os aspectos positivos e negativos do PNG que apresentamos no QUADRO 1 QUADRO 1 Aspectos positivos e negativos do PNG, segundo opinião dos professores entrevistados POSITIVOS Envolvimento dos alunos Assessoria pedagógica inicial NEGATIVOS Descontinuidade Falta de envolvimento da Coordenação do PNG e escola Falta de planejamento geral Falta de acompanhamento das atividades pela Comissão do PNG Uso político FONTE: Pesquisa Direta 47 É importante ressaltar que a motivação inicial, dada a presença de uma assessoria externa, revela que havia uma insegurança dos professores quanto ao desenvolvimento de experiências pedagógicas em educação ambiental. A retirada da Comissão foi sentida e considerada como aspecto negativo do projeto, imprimindo-lhe um caráter descontínuo. Entre as críticas mais severas, destacamos o uso político que se fez do mesmo e à sua descontinuidade, uma vez que a comissão do PNG não permaneceu durante todo o ano de 1999 na escola, como havia sido proposto. Após a realização de algumas atividades, como as abaixo mencionadas, e o descumprimento de algumas promessas, como a de reforma do jardim da Escola, a Comissão “desapareceu” da escola: - aulas de música, cujo professor convidado pela Comissão do PNG, por razões desconhecidas, não mais voltou à escola; - o "ABRAÇO AO GOIABINHA", evento promovido pela Comissão de Educação Ambiental "Novo Goiabinha" e pela Escola Municipal "Frei Edgard Groot", realizado sob o patrocínio do Grupo Gestor Projeto Novo Goiabinha e Prefeitura Municipal de Betim, cuja chamada está apresentada no (ANEXO D) A manifestação, envolvendo toda a comunidade escolar, objetivava "abraçar" simbolicamente o córrego, demonstrando a necessidade de protegê-lo. Segundo alguns professores essa atividade teve um caráter estritamente político . 48 A Comissão esteve efetivamente presente na escola até a realização do "Abraço" ocorrido em 02 de junho de 1999. Nesse capítulo analisamos alguns aspectos da prática docente: as concepções de meio ambiente e de Educação Ambiental que norteiam o trabalho pedagógico na escola, as práticas pedagógicas desenvolvidas, as dificuldades e/ou facilidades encontradas ao se trabalhar com temas ambientais. 4.1 - As concepções sobre meio ambiente e Educação Ambiental e seus reflexos na prática pedagógica Segundo REIGOTA (1999) podemos analisar o conceito do meio ambiente à luz de três visões diferenciadas: uma naturalista, originária da Biologia, que considera como meio ambiente apenas os componentes biológicos da natureza: vegetação, fauna, rios e lagos; uma antropocêntrica, que explicita a relação homem-natureza e a visão globalizante que evidencia a idéia de interação entre meio biológico e o meio social Nos trechos das entrevistas, com alguns professores, apresentados a seguir, destacamos as concepções, em relação ao meio ambiente que permeiam o discurso dos docentes norteando desenvolvidas na escola: as práticas pedagógicas 49 “Eu gosto muito de falar sobre esse assunto. A gente está ficando muito preocupado com tudo que está acontecendo com a água, com os desmatamentos. Eu falo sempre pra eles sobre o cuidados que temos que ter como nosso planeta. (Professora l) “A minha preocupação maior, o meu interesse com a Educação Ambiental é motivada, principalmente, quando eu vejo o desperdício, especialmente da água. Eu preocupo com os meus três filhos, sobre o que vai acontecer no futuro.” ( Professora lI) “A minha motivação são os próprios alunos. Tudo isso tem muito a ver com a vida deles. Eu trabalho com ciências, eu tenho que trabalhar plantas, animais, hábitos de higiene. Os alunos perguntam muito.” (Professora lII) “Eu me interessei pelo tema desde que eu trabalhava na antiga 4ª série com geografia tradicional. Eu tinha que trabalhar com mapas, com o meio físico. Eu senti muita dificuldade dos alunos em entender a geografia. Com o passar do tempo eu fui estudando e buscando compreender mais o meio ambiente para entender a intervenção do homem neste ambiente que ele está.” (Professora lV) Considerando as visões do autor e as falas dos entrevistados, elaboramos o QUADRO 2, onde são destacadas as concepções de meio ambiente dos docentes. 50 QUADRO 2 Concepções de meio ambiente presentes nas falas dos docentes entrevistados VISÃO NATURALISTA VISÃO ANTROPOCÊNTRICA VISÃO GLOBALIZANTE Preocupação com a água Desperdício da água Preocupação com as Desmatamento Intervenção do homem gerações futuras Trabalho com fauna e Relação com a vida flora Trabalho com meio físico Cuidados com o planeta FONTE: Pesquisa Direta Analisando as opiniões dos professores, verifica-se que a preocupação com a água, o fato de ter que trabalhar “plantas e animais” e com o meio físico, refletem a visão naturalista do ambiente. A preocupação com o desperdício e a “intervenção do homem no ambiente” refletem a visão antropocêntrica. As falas revelam ainda uma preocupação social. Entre os docentes entrevistados, observamos a coexistência das três concepções discutidas anteriormente. Julgamos não ser necessária a escolha de uma delas, de vez que uma não exclui a outra. O mais importante é que os docentes saibam dialogar com estas concepções, construindo e reconstruindo saberes necessários ao desenvolvimento de aprendizagens que sejam significativas para os educandos no sentido de torná-los conscientes das relações natureza/sociedade. 51 A coexistência das concepções diferenciadas também aparece na fala dos professores no que diz respeito aos conceitos por eles explicitados sobre a educação ambiental: “A Educação Ambiental é você preparar o ser humano para a vida, para ele conseguir manter o necessário para sua vida e para saber utilizá-lo de acordo com aquilo que ele precisa porque se ele não souber ele acaba destruíndo tudo.” (Professor l) “A Educação Ambiental ensina a gente a viver bem ao nosso meio. A gente tem que saber viver bem e preservar os nossos recursos naturais, viver em todos ambientes, ter respeito pelo outro. A Educação Ambiental não é uma coisa de faculdade, difícil. Eles precisam entender que é tudo muito simples, viver bem é simples. É levantar , abrir janela e olhar o dia, estar alegre. Tem que aprender a conviver.” (Professor Il) “A Educação Ambiental pra mim é realmente a gente estar aberto para trabalhar todas as questões resultantes das intervenções do homem e, de certa forma, estudando uma maneira de controlar essa intervenção do homem, a nossa própria, a de cada ser humano no ambiente que a gente tá vivendo, para entender e questionar o que está acontecendo e poder contribuir no meio social da gente para que aconteçam certas mudanças.” (Professor II l) “Na minha percepção é ver o ambiente como um todo, como um lugar de sobrevivência, de saúde e propor a todos a preservação para que haja sempre um ar puro onde a gente possa viver.” (Professor lV) A visão naturalista nos pareceu ser a concepção que norteia as práticas pedagógicas, muito bem destacadas nas falas dos docentes entrevistados, apesar dos mesmos não deixarem de explicitar referências às visões antropocêntricas e globalizantes. 52 Segundo BRÜGGER (1999) as práticas pedagógicas advindas dessa concepção ficam, na maioria das vezes, restritas a instruções de caráter técnico como “Não devemos gastar muita água”, “Devemos jogar lixo no lixo”, “Preserve o verde”, “Proteja os animais” ou textos meramente informativos visando à conscientização dos alunos sobre a importância da conservação da natureza, tornando a Educação Ambiental meramente conservacionista, cujos “ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas naturais ou gerenciados pelo homem”. (BRÜGGER, 1999) Esse conteúdo técnico-instrumental, conservacionista possui um caráter, não de educação no seu sentido intrínseco, mas de “adestramento” ambiental, como nos fala esta autora: “Infelizmente, é preciso admitir ainda que adestramento, em vez de educação é o que ocorre em diferentes níveis e áreas do ensino formal em nosso país (...). A Educação-adestramento é uma forma de adequação dos indivíduos ao sistema social vigente.” ( BRÜGGER, 1999) Ainda segundo BRÜGGER (1999), “A educação se distingue do adestramento por ser este último um processo que conduz à reprodução de conceitos ou habilidades técnicas, permanecendo ausente o aspecto de integração do conhecimento, condição sine qua non para a formação de uma visão crítica e criativa da realidade.” A educação para o meio ambiente, segundo essa autora, implica uma profunda mudança de valores, uma nova visão de mundo, que ultrapasse o universo meramente conservacionista contido nas práticas de 53 “adestramento” presentes nas atividades advindas das concepções naturalistas preponderantes entre o corpo docente da escola. 4.2 - As atividades pedagógicas do Projeto Novo Goiabinha na Escola Municipal "Frei Edgard Groot" Buscando como referência o marco conceitual da Educação Ambiental, traçado na Conferência de Tbilise em 1977 e referendado na Rio-92 (DIAS, 2000), deduzimos que a proposta de Educação Ambiental do PNG implementada pela Escola Municipal "Frei Edgard Groot" seguiu a "recomendação que diz respeito à estratégia metodológica da ação educativa voltada para a solução de problemas locais, que deve se configurar como um elemento aglutinador na construção de uma sociedade sustentável”. (LAYRARGUES, 1999). Segundo esse autor, a aplicação da metodologia de “Resolução de problemas locais” pode ser realizada em dois tipos de abordagens: tema-gerador e atividade-fim. Essas duas abordagens têm características diferenciadas como podem ser constatadas no QUADRO 3. 54 QUADRO 3 Abordagens metodológicas para a “resolução de problemas locais” TEMA GERADOR - Irradia-se em uma concepção pedagógica comprometida com a compreensão e a transformação da realidade. - Provoca mudança de valores. - Subverte a rdem. - Transforma. ATIVIDADE-FIM - Visa unicamente à resolução pontual daquele problema ambiental abordado. - Provoca mudança de de comportamento. - Adequação às novas realidades. - Se esgota nela mesma. FONTE: LAYRARGUES, 1999. Os professores e a comissão pedagógica da escola elaboraram um projeto para ser desenvolvido ao longo do ano com as turmas de 1º e 2º Ciclos. Em síntese, esse projeto apresentava as seguintes propostas e atividades: " Participar de palestras e conversas sobre o assunto (Projeto Novo Goiabinha); - Visita às margens do córrego, onde os alunos recolherão embalagens de lixo; - Confecção de uma caixa para recolher restos de papel; - Atividades de Matemática (probleminhas 55 envolvendo o tema) - Confecção de lixeiras individuais para serem instaladas nas carteiras dos alunos. - Atividades com música; - Elaborar livrinho onde os alunos ilustrarão o antes, hoje e o depois do Córrego Goiabinha; - Abraço ao Córrego Goiabinha com todos os alunos e a comunidade;” (Projeto Goiabinha da E.M. Frei Edgard Groot, BETIM, 1999c) Tendo como referência o Quadro 3 e a lista de atividades propostas pelo PNG, (ANEXO E), fez-se a classificação das atividades de acordo com as abordagens de tema-gerador e atividade-fim, apresentadas no QUADRO 4. Estes dados permitiram a visualização da maioria das atividades dentro da abordagem ATIVIDADE-FIM. Essas atividades constituíram-se numa adequação das práticas pedagógicas a uma demanda momentânea, visando a mudanças de comportamento em função de uma questão emergencial que se esgotou nela mesma, haja vista o “desaparecimento” dos interessados em determinado momento do projeto. BARTOLOZZI & PEREZ FILHO (2000) apresentam uma classificação das experiências voltadas para a Educação Ambiental, considerando-as em: 1 - Atividades fragmentárias: estudos parciais do meio, temas amplos ecológicos, pontuais e comemorativos, atividades descontextualizadas, estudos do meio físico/social. 2 - Atividades integradoras: estudo da realidade, atividades que buscam a solução de problemas concretos do meio ambiente da 56 comunidade, temas sócio-ambientais e estudos que apresentam união entre teoria e prática. QUADRO 4 Classificação das atividades pedagógicas ATIVIDADES CLASSIFICADAS ATIVIDADES CLASSIFICADAS DENTRO DA ABORDAGEM TEMA DENTRO DA ABORDAGEM GERADOR ATIVIDADE FIM Produção de textos Trabalho com música e poesia Texto de jornal Confecção, com os alunos, de mural para anexar os trabalhos Entrevistas com moradores Pesquisa de campo com roteiro Teatro Filmes Fazer uma campanha de coleta de vidros para o banco de leite materno Oficinas de reciclagem de papel Oficina de jornal e tampinhas Abraço ao Córrego Goiabinha Visita ao Córrego Palavras Cruzadas Eleição, entre os alunos, de um fiscal por turma, para orientar o uso das lixeiras Pesquisa sobre o tempo de decomposição dos diferentes tipos de lixo Desafios matemáticos Estudar sobre os tipos de água (características da água) Trabalhar Gráficos Fazer Maquete Confeccionar porta-retratos, reciclando bandejas de isopor Fazer blocos de papel reciclado Fazer marcador de página com caixinhas de pasta de dente e de remédios Campanha da Latasa (Coleta de latas de alumínio) Concurso de Produção de Texto Estudar sobre a água que existe no mundo Confeccionar lixeiras individuais para serem instaladas nas carteiras. FONTE: ESCOLA MUNICIPAL "FREI EDGARD GROOT" desenvolver o Projeto Goiabinha. Betim, 1999c. Sugestões de atividades para 57 Considerando estas abordagens, verificamos que as atividades desenvolvidas na escola em questão apresentam características tanto fragmentárias: campanha de coleta de latinhas, confecção de lixeiras, estudo sobre vermes e larvas, desafios matemáticos, pesquisa sobre o tempo de decomposição dos diferentes tipos de lixo, entre outros; e como atividades integradoras: a limpeza coletiva do Córrego Goiabinha, trabalho com música e poesia, entrevistas com moradores, produção de texto, oficinas de reciclagem e outras. Refletindo, assim, um conflito comum no contexto escolar entre as concepções tradicionais de ensino - no caso ambiental, a concepção naturalista ou conservadorista - e as concepções transformadoras - no caso ambiental as chamadas visões globalizantes ou holísticas. Cabe ressaltar que, independentemente da concepção às quais as atividades estavam vinculadas, os docentes da Escola Municipal "Frei Edgard Groot" buscaram novos caminhos, construindo propostas alternativas como a Feira de Cultura, a alfabetização com temas ambientais, projetos interdisciplinares com temas ambientais, entre outras, que ultrapassaram as propostas do PNG, incluindo, após a retirada da Comissão, a temática ambiental no cotidiano escolar. As práticas desenvolvidas após a saída da comissão demonstrou que os docentes adquiriram uma nova sensibilidade em relação aos problemas sócio-ambientais globais e da região de Citrolândia, propiciando a implantação de uma ação educativa comprometida com a comunidade local, estimulando a autonomia, a solidariedade, o respeito à natureza e ao ser humano. Para garantir essa ação educativa, os docentes buscam desenvolver as propostas pedagógicas em consonância com a comunidade local. Consideram 58 fundamental o conhecimento do entorno onde a escola está inserida, conforme explicitaram nas entrevistas, das quais reproduzimos alguns trechos: “Eu moro aqui há dezesseis anos. Eu conheço muito bem a região. Eu gosto daqui. Acho que aqui é um bom lugar de se viver. Muitos dizem que tem muita violência. Eu não acho. Violência tem em todo lugar. Acho importante conhecer para ensinar. Eu tinha parentes na colônia. Antes a colônia era muito bonita, os jardins eram maravilhosos. Hoje lá na colônia o que menos tem é hanseniano. A maioria já morreu ou está curada.” (Professor I) “Não conheço muito bem. Já andei por aqui, já fui na colônia. Esse ano ficamos com medo de sair com os meninos por causa da campanha eleitoral. Eu conheço mais através do que os alunos me contam. Eles já fizeram o mapa do trajeto deles para a escola. Eu nunca fui muito longe, mas dizem que não é bom por que a gente fica com o coração doendo de ver tanta pobreza, tanta carência. Mas eu aproveito do que sei e do que eles contam para discutir a realidade.”( Professor II) “ Eu moro e conheço muito bem o local. Acho que isso é muito importante para o professor e para os alunos, nós nos identificamos como pessoas que compartilham o mesmo espaço, enfrentamos as mesmas dificuldades, os mesmos problemas, acho que eles se sentem mais próximos, eu não estou falando de um mundo distante, ou estou falando desse lugar e sobre esse lugar.” (Professor III) “Conheço, acredito que sim, até muito bem. Eu sou muito observadora, sabe, eu gosto de observar as coisas. Acho que meu trabalho fica melhor por que eu conheço o meio que eles vivem. Pedagogicamente, pra gente trabalhar fica bem melhor saber a realidade de cada um, os bairros mais distantes, as dificuldades daquele bairro.” (Professor IV) As falas dos entrevistados I, III e IV refletem, em resumo: - a importância do conhecimento local para o ensino; 59 - a identidade dos docentes com o cenário e atores; - o compartilhamento das experiências cotidianas entre docentes e discentes; - o afeto pelo ambiente; Já a fala do entrevistado II contradiz as demais de vez que demonstra insegurança em relação ao lugar, contando apenas com as contribuições informacionais dos alunos, não se envolvendo diretamente com os problemas locais. Esse fato revela que o sentido pedagógico do conhecimento local é fundamental para o desenvolvimento das ações educativas vinculadas à temática ambiental. A identidade desses professores com o local da escola parece influenciar, sobremaneira, as atividades pedagógicas. A compreensão e a interação com o cotidiano da comunidade local foi apontada como um agente “facilitador” para o desenvolvimento de atividades pedagógicas. Os docentes reconhecem a importância da base física e do contexto social do espaço de vida dos educandos considerando-o como um dos principais recursos didáticos, conforme veremos no tópico seguinte. 4.3- Dificuldades e facilidades para as práticas pedagógicas em Educação Ambiental Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): “A opção pelo trabalho com o tema Meio Ambiente traz a necessidade de aquisição de conhecimento e informação por parte da escola 60 para que se possa desenvolver um trabalho adequado junto dos alunos (…). O trabalho de Educação Ambiental deve ser desenvolvido a fim de ajudar os alunos a construirem uma consciência global das questões relativas ao meio para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua proteção e melhoria”. (BRASIL, 1998) Como os professores da Escola Municipal "Frei Edgard Groot", entrevistados nesta pesquisa, têm se preparado para um fazer pedagógico em consonância com os pressupostos da Educação Ambiental acima explicitados? Em que medida eles se prepararam para essa nova demanda curricular? Quais são as dificuldades e quais as facilidades que os professores encontram para atender tal demanda? Entrevistamos cuidadosamente os professores no sentido de elucidar tais questões e reproduzimos aqui algumas de suas falas: “O problema é material para ser trabalhado, às vezes, porque muita coisa que você consegue é material descartável. Às vezes, para um trabalho mais elaborado, fica mais difícil, falta material, por exemplo, tem atividades que precisam de experiências e a escola não tem laboratório, então isso limita o trabalho. E quanto também aos alunos, eles não têm material, não têm livro nenhum, recurso nenhum pra poder tá ajudando nesse trabalho”. (Professor I ) “A escola tem muitos vídeos. Ano passado a gente via filme toda semana, mas esse ano já não foi assim. Foi mais difícil por que roubaram a TV e o vídeo da escola. Nosso tempo é muito pequeno para planejar. Só quinzenalmente, um dia na semana os alunos saem mais cedo e a gente faz reunião. O professor trabalha em outras escolas, é difícil chegar mais cedo ou sair mais tarde. Precisava ter mais tempo para discutir as causas da escola, fazer projetos. Mas aí não pode dispensar os alunos eu fico pensando, 61 que autonomia é essa que a escola tem? Não sabe usar ou tem medo?” ( Professor II ) “O que eu acho difícil é organizar esse trabalho, sabe? A gente pensa muita coisa mas o tempo que a gente tem, isto é, a disponibilidade para procurar meios, materiais, recursos didáticos, enfim…” (Professor III ) Em síntese, podemos dizer que as principais dificuldades pedagógicas são: • A estrutura física da escola (falta de laboratório); • Os alunos não possuem material didático como fontes de pesquisa (carência sócio-econômica dos alunos); • tempo escolar – falta tempo para elaboração coletiva de propostas pedagógicas mais integradoras; • Disponibilidade do professor para estudos e para pesquisa (trabalham em 2 turnos, moram longe da escola, etc); • Condições sociais locais. Observamos que essas dificuldades não são específicas da Educação Ambiental. A questão da precariedade da infra-estrutura básica dos prédios escolares e de sua manutenção, as condições sócio-econômicas dos educandos, a organização dos tempos escolares e o tempo do professor, que, em função das baixas remunerações, necessitam dobrar ou triplicar a sua jornada de trabalho, são problemas freqüentemente citados como limitadores dos processos educacionais. Para EISNER (1994) uma das críticas ao pensamento racional presente nas escolas refere-se à forma como elas estão organizadas. A escola tal como 62 se apresenta, condiciona, “engessa” o pensamento dos educadores e dos educandos, limitando o desenvolvimento das inteligências. Segundo esse autor, as propostas freqüentes de reformas ou reestruturação dos sistemas escolares são insuficientes, contam com o ceticismo dos professores e a vulnerabilidade dos administradores. Em Betim, esta característica ficou evidente com Democrática”, implementado em 1998 e o “Projeto da Escola “esquecido” pela atual administração. Entendemos que, para que a Educação de modo geral e a Educação Ambiental possam atingir seus objetivos, devem-se implementar mudanças ou alterações radicais na estrutura organizacional da escola, nos currículos, nas práticas cotidianas em sala de aula e na avaliação escolar. Essas mudanças viriam a atender as novas demandas cognitivas do “mundo do trabalho” e “do mundo da vida” dos educandos. Sobre as facilidades pedagógicas relacionadas à temática ambiental, consideramos para análise as seguintes falas: “Eu vejo facilidade por que posso trabalhar com muitos materiais alternativos, por ser um tema que é da atualidade. Isso chama a atenção do aluno, o fato de estar muito próximo do nosso dia-a-dia. Então, eu acho que o que facilita é trabalhar o cotidiano”. (Professor I) “Eu trabalho muito com a demanda deles, com o contexto. Conversando com os alunos a gente aprende muito. A Educação Ambiental é um bom tema por que facilita o trabalho com as outras matérias. Eu posso usar um mesmo texto, 63 discutindo conteúdos de ciências, português, história ou geografia. Isso é uma facilidade para os alunos”. (Professor II) “O bom de estar trabalhando esse tema é o envolvimento dos alunos, o interesse deles pelo ambiente, pela preservação e eles tem essa noção. A gente não precisa ficar jogando conteúdo, tudo parte deles. Eu trabalho muito com os questionamentos deles, com debates, eles querem saber tudo. As atividades desenvolvidas, como plantas de horta, envolve muito as alunos, mais que qualquer outra atividade”. ( Professor III) “Eu trabalho a Educação Ambiental dentro de uma atividade determinada. Todo dia que surge algum exemplo a gente tá falando, falando sobre desperdício, corte de árvores, etc, sempre que surge a oportunidade a gente tá falando com os meninos, relacionando com o contexto, com o dia-a-dia na sala de aula. É fácil por que muita coisa parte do aluno e se faz uma troca com a experiência da gente”. (Professor IV) “Não tenho dificuldade porque é um processo natural, dependendo do que os alunos querem a gente procura construir algum material que os atenda”. (Professor IV) Em relação às facilidades, alguns aspectos citados fazem parte dos princípios e fundamentos da Educação Ambiental: o seu caráter interdisciplinar, a sua relação com a realidade das comunidades locais e o fato de ser um tema atual. Segundo GUTIERREZ & PRADO (1999) o fazer pedagógico próprio da Educação Ambiental é vivencial, flexível, frágil, menos estruturado e processual. Não parte de um discurso pronto, elaborado, mas parte dos protagonistas, daqueles que vivenciam um problema, que demandam, e buscam, em primeira instância, 64 “a satisfação de necessidades não satisfeitas, desencadeando um processo imprevisível, gestos de iniciativas, propostas e soluções vinculadas aos interesses e urgência dos grupos e coletividades”. (GUTIERREZ & PRADO,1999). Esses autores propõem uma ECOPEDAGOGIA – uma proposta pedagógica aberta, flexível, construída na vida cotidiana e fundamentada nos processos da demanda, mais democráticos, mais solidários e unificadores. Ampliando o conceito de ecopedagogia, GADOTTI (2000) fala de uma PEDAGOGIA DA TERRA para “aqueles ou aquelas que dela necessitam em sua luta cotidiana por uma escola melhor, por um mundo melhor. Essa pedagogia resgatária os valores humanos fundamentais como a amizade, o respeito, a honestidade, a ternura, a atenção, a aproximação entre o simples e o complexo, o desejo, o amor, entre o outros." (GADOTTI, 2000) Acreditamos, como EISNER (1994), no poder da imaginação, na construção de mundos possíveis. A finalidade precípua da escola é proporcionar às crianças meios de poder criar uma sociedade melhor, mais igualitária e mais humana. Se a escola não cumprir essa finalidade “uma das conseqüências será o aumento do fosso entre os que possuem e os destituídos, o nível de poluição aumetará e a habilidade política para controlar seu próprio destino diminuirá” (EISNER, 1994) Acreditamos não ser esse o desejo dos professores da Escola Municipal "Frei Edgard Groot", pelo menos, expressam essa crença: eles confiam naquilo que fazem e 65 “As atividades atendem principalmente aos alunos mais carentes. Às vezes, alunos que mal sabem escrever, quando perguntamos alguma coisa sobre o meio ambiente eles sabem tudo. A gente percebe que eles aprenderam. Atitudes simples como descer para lavar as mãos já demonstra mudança. Quando a sala está suja eles querem limpar. Quando assistem alguma coisa na televisão eles comentam. Eles já sabem que a gente não pode destruir a natureza”. (Professor I ) “Há uma melhora considerável por que os temas ambientais fazem com que os alunos falem mais das coisas que eles conhecem por que é da vivência deles. Melhora a participação, eles ficam mais desinibidos. Pedagogicamente, são momentos muito ricos. Não é muito proveitoso para a escrita, mas é rico para a produção oral, desenvolvermos atitudes de respeito à fala do outro, respeito à opinião do outro”. (Professor II) “Eu observo mudanças principalmente entre os alunos que tem um ajuda em casa , quanto a essa conscientização. Eles tentam é…não jogar lixo no chão, economizam água, luz, há uma preocupação com a aparência pessoal… essas coisas, esses assuntos a gente tem que estar sempre voltando, rediscutindo. Esse é um conteúdo que não termina nunca. Tudo que envolve conscientização você tem que estar sempre batendo na mesma tecla, repetindo, explicando, fazendo observações, por que se a gente não trouxer isso para a vida da gente, você não vai modificar a maneira de encarar seu problema”. (Professor III) “Eu tenho percebido uma maior preocupação deles, não de todos, em tá preservando. Tem uns que não ligam, você sabe, depende muito da família, do que eles tem em casa”. (Professor IV ) A inserção do PNG no cotidiano da Escola Municipal "Frei Edgard Groot", embora tenha oportunidade de apresentado limitações, reflexão e de discussão propiciou aos docentes a acerca dos temas ambientais globais e locais , desencadeando processos pedagógicos mais compatíveis com suas próprias vidas e com a vida dos educandos. 66 Talvez as mudanças de comportamento identificadas pelos professores possam ter pouco significado em outro tipo de escola, para outra classe social. Talvez alguém possa classificar essas “adestramento ambiental”. Pode parecer que sim mudanças como um aos olhos daqueles que buscam perpetuar as estruturas sociais vigentes. Mas aqueles que estão envolvidos nos processos educacionais junto às classes populares sabem que qualquer mudança pode significar um caminho aberto para a construção de um cidadão pleno, ciente dos seus direitos em relação à educação, à saúde e à qualidade de vida. 67 5 REFLEXOS DAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS DO PNG SOBRE A PERCEPÇÃO DOS EDUCANDOS EM RELAÇÃO AO MEIO AMBIENTE "Nossa experiência como indivíduos é siginificativamente influenciada pela contribuição dos outros. No momento em que as escolas tornam possível para os estudantes otimizar a realização de suas potencialidades, a cultura é enriquecida. Estudantes não são apenas parte de nossa cultura; são parte do nosso futuro e nós somos parte do deles." (Elliot W. Eisner) 68 Antecedendo à análise dos dados obtidos através da aplicação do questionário, faz-se necessário comentar sobre a faixa etária dos alunos que compõem o universo da pesquisa e sobre o ciclo de aprendizagem no qual estão agrupados. Instituídos através da Resolução 01/98 da SEED, Secretaria de Educação de Betim (BETIM, 1999), os ciclos de Ensino/Aprendizagem com “progressão continuada” representam uma nova forma de estruturação do tempo escolar, fundamentada nos ciclos de Formação Humana. Os ciclos de formação humana apresentam 3 níveis ou estruturas: infância, préadolescência, adolescência, de onde se referenciam os ciclos de formação: Primeiro Ciclo (infância): 6 a 9 anos; Segundo Ciclo (pré-adolescência): 9 a 12 anos e Terceiro Ciclo (adolescência): 12 a 14/15 anos (BELO HORIZONTE, 1994). Essa forma de estruturação baseia-se em “classes não-seriadas que tem como critério de enturmação a idade psicogenética dos alunos (…) de modo a oportunizar a convivência cotidiana dos educandos portadores de características psico-sociais semelhantes, facilitar as trocas socializantes e a construção de auto-imagens e identidades mais equilibradas, autônomas e solidárias. Permanecendo no mesmo grupo de idade, os alunos terão maiores oportunidades para a sua formação integral”. (BETIM, 1999a). A estruturação do tempo escolar em ciclos de aprendizagem possui um caráter mais flexível e, por serem mais longos, podem constituir em facilitadores do aprofundamento do conhecimento e do desenvolvimento de 69 comportamentos, valores e atitudes na construção das identidades dos educandos. Segundo documento da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte: “Os dois primeiros ciclos (de 6 a 12 anos) constituem uma etapa fundamental do desenvolvimento sócio-cultural e de socialização, podendo solicitar uma formação básica que possibilite um desenvolvimento mais complexo, o que caracteriza a formação do Terceiro Ciclo” (BELO HORIZONTE, 1994). A implantação dos ciclos de aprendizagem, a partir de 1998, na Rede Municipal de Betim, faz parte de uma política educacional mais ampla, implementada a partir de processos de discussão democráticos que instituíram uma concepção educacional fundamentada na Teoria Construtivista que, de maneira sucinta, pode ser caracterizada como um paradigma que “enfatiza a autonomia cognitiva dos educandos, reconhece a natureza processual de suas estruturas cognitivas ( lógica, pensamento, reflexão, raciocínio, cálculo, compreensão), afetivas (emoções, sentimentos, sensações, motivações), motoras (movimentos, habilidades, técnicas, instrumentos), ético-morais (valores, desejos, sonhos, intenções, interesses, virtudes, fins, objetivos), simbólicos (linguagens, imagens, representações, símbolos, ideogramas, signos) e estéticos (gosto, sensibilidade, inspiração, criatividade, expressão, plasticidade) e dá enorme relevância aos diversos processos interativos que os sujeitos estabelecem em sua práxis social e em seu meio natural” (BETIM,1999). 70 É importante relembrar, como já foi abordado anteriormente, que foram fundamentos pedagógicos inovadores que propiciaram, ou melhor, que facilitaram o desenvolvimento da experiência com a Educação Ambiental na Escola Municipal "Frei Edgard Groot". 5.1 – Análise dos resultados da Pesquisa com os alunos A análise dos resultados da pesquisa foi elaborada à luz dos objetivos específicos propostos, a saber: 1- Verificar se o projeto de EA do PNG estava articulado com a realidade local, favorecendo o desenvolvimento de uma prática educativa capaz de influenciar consolidar comportamentos a percepção, mudar ou ambientais nos educandos, compatíveis com a proteção ambiental. 2- Verificar se as experiências pedagógicas do PNG propiciaram aos alunos a construção de uma percepção ambiental e de conceitos acerca da construção do espaço e proteção dos recursos naturais. De acordo com os objetivos da pesquisa, não foi aplicado nenhum instrumento avaliativo para mensurar dados sobre erros e acertos dos alunos em relação a conceitos ou temas ligados ao meio ambiente. 71 Para a análise dos resultados foi seguida a estrutura organizacional do instrumento de coleta de dados: Seção I - Identificação; Seção II Conhecimento do Espaço e, Seção III - Valores, atitudes, comportamentos e opiniões. Embora em muitas questões não se tenha observado diferenças significativas, foi considerada para análise a categorização dos atores em: categoria 1 - os alunos residentes no entorno da escola, próximo ao Córrego Goiabinha e a categoria 2 - os alunos residentes em bairros mais afastados. As questões que estavam vinculadas aos conhecimentos adquiridos na escola ou às experiências pessoais dos alunos não apresentaram diferenças significativas entre as categorias 1 e 2. Elas apareceram, sobretudo, nas questões relativas à percepção ambiental associadas ao PNG. Em geral, observou-se uma significativa diferença de percepção em relação ao ambiente entre os alunos da categoria 1 para os alunos da categoria 2. Inferimos que essas diferenças se devem às influências do PNG sobre a percepção desses educandos. 5.1.1 - Seção I – Identificação Os Gráficos 1,2,3 e 4 evidenciam as características do grupo pesquisado: alunos do primeiro ciclo, entre 8 e 10 anos, prevalecendo os alunos com 9 anos (10 alunos); O local de nascimento bem como o tempo de residência revelam a característica do município que se constitui numa área de forte pressão migratória de outros estados, do 72 próprio estado de Minas Gerais e sobretudo, da Região Metropolitana; Todos os pesquisadores sempre estudaram na mesma escola, o que reforça a pertinência do critério de escolha desse segmento. GRÁFICO 1 Idade 7 6 5 4 Categoria 1 3 Categoria 2 2 1 0 8 anos 9 anos 10 anos FONTE – Pesquisa direta GRÁFICO 2 Local de Nascimento 4 3 2 Categoria 1 Categoria 2 1 0 Contagem/MG Betim/MG Sarzedo/MG Belo Horizonte/MG Bahia* FONTE: Pesquisa direta Espírito Santo* 73 GRÁFICO 3 Tempo que mora no Bairro Não sabe 12 anos* 10 anos* 9 anos 7 anos 6 anos 5 anos 4 anos 3 anos 2 anos Categoria 1 Categoria 2 1,5 anos 2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 FONTE: Pesquisa direta GRÁFICO 4 Estudou em outra escola? 10 8 6 N ão 4 S im 2 0 C a t e g o r ia 1 C a t e g o r ia 2 FONTE: Pesquisa direta 74 5.1.2 - Seção II – Conhecimento do Espaço A inserção deste item no questionário foi considerada fundamental para a análise do conhecimento do aluno sobre o local onde eles vivem e estudam, ou seja, o lugar onde eles realizam suas experiências. É importante salientar o conceito de lugar expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais: “O conceito de lugar guarda uma dimensão prático-sensível que a análise vai aos poucos revelando. Lugar é a porção do espaço apropriável para a vida, que é vivido, reconhecido e cria identidade. Ele possui identidade técnica, comunicacional, informacional e normativa. Guarda em si o movimento da vida, enquanto dimensão do tempo passado e presente. É nele que se dá a cidadania, o quadro das mediações se torna claro e a relação sujeito-objeto direta. É no lugar que ocorrem as relações de conflito, dominação e resistência. É a base da reprodução da vida, da tríade cidadão-identidade-lugar, da reflexão sobre o cotidiano, onde o banal e o familiar revelam a transformação do mundo e servem de referência para identificá-las e explicá-las.” (BRASIL, 1999b) Não é recente a discussão sobre a importância do conhecimento sobre o lugar onde se vive. Segundo HUTCHISON (2000) vários estudiosos de diferentes campos do conhecimento, como a filosofia, a sociologia e a psicologia, sobretudo, já expressaram suas idéias. Para ROUSSEAU apud HUTCHISON (2000: 95), o contato sensorial direto com o mundo natural na infância era decisivo para o desenvolvimento saudável da personalidade. PESTALLOZZI apud HUTCHISON (2000: 95), em suas lições sobre mapas e confecção de modelos, foi pioneiro no estudo do “lugar” na infância, fazendo com que os alunos explorassem o terreno e a topografia de ecossistemas locais. 75 Segundo HUTCHISON (2000), é a “unidade entre o próprio indivíduo e o mundo, entre 8 e 12 anos que estabelece a segunda infância como período favorável para a aquisição de uma cosmologia ecologicamente sensível do mundo”. Vimos no capítulo anterior que algumas atividades pedagógicas como a limpeza do córrego e o “Abraço”, constituíram atividades consideradas integradoras que propiciaram uma experiência significativa para os educandos. Atribuímos este fato à sua vinculação com a realidade local, espaço de vida dos alunos. Todos os alunos afirmaram conhecer bem o local onde a escola está situada (GRAF. 5). Apenas 3 alunos disseram conhecer em parte a região de Citrolândia (GRAF. 6), o que evidencia uma boa noção espacial, dada a extensão da regional e o grande número de bairros que a compõem. GRÁFICO 5 Conhecimento do local onde a escola está situada. 10 8 6 4 2 0 Categoria 1 Categoria 2 Conhece Bem Conhece Muito PoucoConhece Apenas Em Parte FONTE – Pesquisa direta 76 GRÁFICO 6 Conhecimento da região de Citrolândia 10 8 6 Categoria 1 4 Categoria 2 2 0 Conhece Bem Conhece Muito Pouco FONTE: Conhece Apenas Em Parte Pesquisa direta Em relação aos locais de referência da região, os alunos demonstraram grande capacidade de observação ao citarem os locais que consideramos importantes e que revelariam um certo grau de conhecimento local conforme mostra o GRÁF. 7. GRÁFICO 7 Locais de Referência 9 8 7 6 5 4 Categoria 1 3 Categoria 2 2 1 FONTE – Pesquisa direta Açude Igreja Batista Ponto Final do Ônibus Rio Paraopeba Cemitério Igreja Universal Campo da E.E. Gramont Alves Quadra de Areia Colônia Santa Izabel Escola Campo de Futebol Três Lagoas Aterro Sanitário Córrego Goiabinha Posto de Saúde 0 77 Observa-se que os locais de referência mais significativos são a Colônia Santa Isabel, o Córrego Goiabinha, o Aterro Sanitário e Três Lagoas. Locais, como o Rio Paraopeba, o ponto final do ônibus, a Igreja Batista e o Açude, citados apenas pelos alunos da categoria 2, são locais mais distantes da escola e que, certamente, devem ser conhecidos apenas por aqueles que realizam um percurso mais longo para chegar até à mesma, ou simplesmente não foram “lembrados” pelos alunos da categoria 1 já que a resposta não era estimulada. A questão seguinte apresentava uma lista de lugares e pedia para que eles marcassem aqueles conhecidos pessoalmente. Nesta lista constavam nomes de lugares da região do Citrolândia, do Município de Betim e da Região Metropolitana. Os resultados estão apresentados no GRÁF. 8. GRÁFICO 8 Locais Conhecidos pessoalmente 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 ) ) H H (B (B al s ip ira un ic be Pa rq ue M ga an M s da ue re ep rq Pa R C as a sa de Va C rg ul tu em ra da s de Fl Be or tim es C ategoria 1 Fonte: Pesquisa direta É interessante notar o destaque do conhecimento da Colônia, marco histórico-social da construção do local, como já foi analisado no capítulo 2 e C ategoria 2 78 sobre os equipamentos localizados na região metropolitana, como o Zoológico, o Parque Municipal e o Parque das Mangabeiras. Esses locais foram visitados pelos alunos como parte das atividades pedagógicas vinculadas aos estudos sobre o meio ambiente. Constatamos ainda que os locais considerados referências no município de Betim, tais como, o Salão do Encontro e a Casa de Cultura, não foi dado, pelo alunos, o mesmo significado atribuído aos equipamentos do município de Belo Horizonte, como o Zoológico, o Parque das Mangabeiras e o Parque Municipal, considerados locais apropriados para estudos ambientais. A procura destes lugares para estudos e lazer reflete a visão naturalista presente na prática pedagógica dos professores. A questão número 5 (GRAF. 9) não teve resposta estimulada. Os alunos citaram livremente elementos da fauna, especialmente aves e não citaram nenhuma espécie vegetal. Talvez os alunos não tenham estudado a flora local, mas na lista de atividades constavam estudos sobre a fauna e a flora, tendo este tema sido objeto de estudo desenvolvido na Feira de Cultura. GRÁFICO 9 Plantas e Animais da região Categoria 1 FONTE – Pesquisa direta Tico-Tico Rei Papagaios Gavião João-de-barro Borboletas Sabiá Beija-Flor Mico Morcego Corujas Periquitos Pássaros Cobra Categoria 2 Tucano 7 6 5 4 3 2 1 0 79 A ausência de nomes de plantas na lista dos alunos demonstra pouco conhecimento do tema e a provável falta de integração dos conteúdos das disciplinas de Ciências e Geografia com a realidade local. Os alunos demonstraram ainda, não saberem diferenciar animais nativos com animais domésticos, revelando fragilidade em relação aos conhecimentos de ciências. A questão 6 exigia uma maior percepção em relação à situação dos elementos que compõem o meio natural como a fauna e a flora local, GRAF. 10. Os alunos da categoria 1 demonstraram possuir uma maior percepção sobre a diminuição da flora e da fauna. Provavelmente este resultado é decorrência da maior participação desses alunos no PNG que teve também uma proposta de educação ambiental com a comunidade do entorno do córrego. GRÁFICO 10 Situação da plantas e animais da Região 8 6 Categoria 1 4 Categoria 2 2 0 Aumentando Diminuido Continua do mesmo jeito FONTE: Pesquisa Direta 80 Perguntados sobre a opinião de como a fauna e a flora da região se apresenta, a maioria dos alunos pesquisados acreditam que ela esteja diminuindo, mas não souberam explicar as causas do fato. Apresentam como justificativas: "Porque a gente quase não vê os bichos" "Porque as plantas estão morrendo" "Porque estão matando" "Porque os caçadores matam os animais e as plantas" "Porque estão matando os animais" "Porque os animais não se reproduzem" As justificativas ainda se apresentam precárias, poucos desenvolvidas. As respostas evidenciaram uma percepção limitada do que está acontecendo com o bairro em função do aumento da população e da urbanização, com a ocupação do solo pelas atividades agrícolas, pelos desmatamentos e queimadas. Os alunos demonstram dificuldades em relacionar o desaparecimento das espécies com os problemas acima mencionados. Quanto à questão sobre os problemas existentes na região, as alternativas que aparecem com maior freqüência abordam temas amplos ligados ao meio ambiente. Problemas, como a pobreza, o desemprego, a violência e a falta de áreas de lazer, são citados com a mesma freqüência que a falta de tratamento do esgoto, barulho, poluição do ar, poluição dos rios, enchentes e desmatamentos (QUADRO 5, GRAF. 11). 81 QUADRO 5 Problemas da Região Categoria Categoria Problemas 1 2 Desmatamentos e Queimadas 7 8 15 Enchente 7 9 16 Pobreza 9 9 18 Pouca área verde 9 8 17 Desemprego 8 9 17 Poluição do ar (poeira) 8 9 17 Poluição dos rios e córregos 8 9 17 Violência 9 9 18 Falta de transporte coletivo 4 8 12 Extinção de peixes 6 8 14 Falta de arborização 7 7 14 Falta de área de lazer 7 9 16 Falta de rede de esgoto 8 8 16 Falta de tratamento do esgoto 8 9 17 Barulho 9 9 18 Erosão do solo 6 7 13 Falta água tratada 6 8 14 Falta de escola 4 8 12 130 151 281 Total FONTE: Pesquisa Direta Total 82 GRÁFICO 11 Problemas da Região 18 16 14 12 10 8 6 Categoria 2 Categoria 1 4 Falta de escola Falta água tratada Erosão do solo Barulho Falta de tratamento do esgoto Falta de rede de esgoto Falta de área de lazer Falta de arborização Extinção de peixes Falta de transporte coletivo Violência Poluição dos rios e córregos Poluição do ar (poeira) Desemprego Pouca área verde Pobreza Enchente 0 Desmatamentos e Queimadas 2 FONTE: Pesquisa Direta Os alunos demonstraram conhecer bem os problemas sócio-ambientais da região apontando como sendo os 3 mais graves: o desemprego, a violência e a poluição dos rios e córregos. Observa-se que o problema - violência - foi o mais citado pela categoria 1. De fato, a região próxima ao córrego apresenta altos índices de violência especialmente assaltos e tráfego de drogas. Esses temas foram bastante abordados pela Comissão de segurança do PNG, tendo esta, inclusive, promovido debates com a comunidade local nos sentido de buscar alternativas a diminuição desses problemas na região. GRÁFICO 12). (QUADRO 6, 83 FONTE: Pesquisa Direta GRÁFICO 12 Problemas Mais Graves da Região 7 6 5 4 3 2 1 0 Categoria 2 1º 2º Desemprego Falta de água tratada Pobreza Falta de escola Poluição do ar Pouca área verde Poluição dos rios e Barulho Violência Pobreza Violência Poluição do ar Pouca área verde Enchente Enchente Categoria 1 Desemprego TOTAL Barulho 3º Poluição 2º Pobreza Falta de escola Desemprego 1º Violência ORDEM QUADRO 6 Classificação dos problemas da região CATEGORIA CATEGORIA 1 2 TOTAL PROBLEMAS Violência 2 0 2 Pobreza 1 3 4 Falta de escola 2 1 3 Desemprego 4 1 5 Barulho 1 0 1 Poluição 0 1 1 Enchente 0 3 3 Desemprego 2 1 3 Pobreza 1 2 3 Violência 3 2 5 Poluição do ar 1 2 3 Pouca área verde 1 2 3 Enchente 1 0 1 Barulho 1 1 2 Violência 5 2 7 Desemprego 1 0 1 Falta de água tratada 1 1 2 Pobreza 2 0 2 Falta de escola 0 1 1 Poluição do ar 0 1 1 Pouca área verde 0 1 1 Poluição dos rios e córregos 0 2 2 29 27 56 3º FONTE – Pesquisa direta 84 Fica claro que, entre os alunos, prevalece a preocupação com os problemas sociais, do contexto em que vivem, sobre àqueles vinculados aos elementos da natureza. Em relação à questão sobre a forma como eles adquiriram os conhecimentos sobre a região de Citrolândia, três opções se destacaram, conforme evidencia o GRÁF. 13. GRÁFICO 13 Conhecimento Sobre a Região (GRÁFICO 12 – Conhecimento Sobre a Região 8 7 6 5 4 Categoria 1 3 Categoria 2 2 Aprendeu por outros meios* Aprendeu na escola (textos, mapas, aulas) Aprendeu com parentes (pais, tios, avós) 0 Andando pelas ruas e com amigos 1 FONTE – Pesquisa direta O papel da escola, da família e dos amigos revelam que esses espaços de convivência – o mundo da vida – têm função crucial na formação da identidade social e espacial das crianças, devendo a escola propiciar a interação dos saberes produzidos por ela mesma e dos saberes e experiências adquiridos na família e na sociedade. 85 5.1.3 – Seção III – Valores, atitudes, comportamentos e opiniões Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: "…uma tarefa importante para o professor, associada ao tema Meio Ambiente, é a de favorecer ao aluno o reconhecimento de fatores que produzem real bem-estar, ajudá-lo a desenvolver um espírito de crítica às induções ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas de sua comunidade […] O convívio escolar será um fator determinante para a aprendizagem de valores e atitudes. Considerando a escola como o espaço mais imediato do aluno, a compreensão das questões ambientais e as atitudes em relação a elas se darão a partir do próprio cotidiano da vida escolar do aluno”. (BRASIL, 1997). Segundo ZABALZA (2000) os valores são como “os deuses da antiga Grécia, ou seja, como grandes e contraditórias fontes de energia e de força que movem as pessoas e os grupos em uma direção ou outra. Estimulam-no, orientam-no, exigem-lhe, condicionam-lhe”. A escola deve assumir compromisso com a sociedade de desenvolver uma ação educativa que estimule a autonomia, o respeito a si mesmo e aos demais, a solidariedade (compromisso com os mais frágeis), respeito à natureza e sensibilidade ao multiculturalismo. Valores implícitos nas questões relativas ao outro, à solidariedade, devem ser fomentados a cada momento no cotidiano escolar. Valores considerados negativos, como o 86 consumismo e o desrespeito às normas do convívio social, podem ser desconstruídos. Segundo REIGOTA (1999), no espaço público da Educação devem ser discutidos, sobretudo, os valores coletivos/sociais e, no espaço privado que cada um tenha a liberdade de seguir os valores religiosos ou culturais que acredite mais adequados. Mas, como está salientado nos PCN, “valores e compreensão só não bastam. É preciso que as pessoas saibam como atuar, como adequar sua prática a esses valores.” (BRASIL,1997). Nesse sentido, torna-se necessário estimular a aprendizagem de procedimentos adequados e acessíveis às crianças de forma a desenvolver as capacidades ligadas à participação, à co-responsabilidade e à solidariedade. Fazem parte dos conteúdos procedimentais desde formas de manutenção de limpeza do ambiente escolar, os cuidados com a higiene pessoal ou formas de como evitar o desperdício, até como elaborar e participar de uma campanha ou saber dispor dos serviços existentes relacionados com as questões ambientais. (BRASIL, 1997) Em relação às opiniões, valores, atitudes e comportamentos consideramos relevantes para a análise algumas das questões que evidenciam “resultados” adquiridos a partir do desenvolvimento das atividades pedagógicas propostas pelo PNG. 87 A primeira delas refere-se ao entendimento do conceito sobre meio ambiente. Das três alternativas apresentadas, a opção 1, que se refere ao meio ambiente, como “animais, plantas, ar, solo e água”, foi a escolhida por cerca de 60% (somando-se as categorias 1 e 2), cerca de 30% fizeram opção pela número 2 e apenas cerca de 10% optaram pela número 3, conforme mostra o GRÁF. 14. GRÁFICO 14 O que é meio ambiente? 7 6 5 4 Categoria 1 Categoria 2 3 2 1 0 #1 #2 #3 FONTE – Pesquisa direta Legenda: # 1 - Opção 1 Meio ambiente são os animais, as plantas, o ar, o solo e a água # 2 - Opção 2 Meio ambiente engloba a nossa casa, o nosso bairro, a cidade, o país, o planeta, os animais, as plantas, a família, a sociedade, as relações entra todos os seres vivos. # 3 - Opção 3 Meio ambiente é o local em que vivemos, aproveitando de toda a natureza para a nossa sobrevivência. A escolha majoritária da categoria 1 pela opção 1 evidencia a visão naturalista de meio ambiente bastante presente nas falas dos professores entrevistados e nas propostas do PNG conforme exposto anteriormente. 88 Uma visão mais globalizante que explicita a interação entre o meio biológico e o meio social, apresentada na opção 2, deve ainda ser mais enfatizada pela escola. A terceira opção, que associa meio ambiente e natureza apenas como fonte de recurso, foi escolhida por apenas 2 (dois) alunos. A questão seguinte confirma as escolhas da anterior. Foi solicitado aos alunos que marcassem na lista de temas apresentados aqueles que eles consideravam relacionados ao meio ambiente. Os resultados estão abaixo mencionados e apresentados no GRAF. 15: Os temas relacionados aos aspectos naturais do ambiente, como a água, animais, ar, clima, matas, solo foram assinalados por praticamente todos os alunos (16 a 18). Os temas relacionados às questões sociais e culturais, como educação, saúde, cidade, agricultura, lixo, foram associados ao meio ambiente por parte considerável dos alunos. (de 10 a 15). Temas mais amplos, como consumo e exclusão social, foram aqueles menos associados à questão ambiental (7 e 8 votos). Não houve diferenças significativas nas respostas das duas categorias. Nossa leitura é de que a percepção dos alunos, relativa a esses temas, não esta relacionada com o local de residência, mas com os conhecimentos adquiridos na escola. 89 GRÁFICO 15 Elementos relacionados com o meio ambiente Categoria 1 Solo Saúde Recursos Minerais População Lixo Matas e outras plantas Exclusão Social Energia Educação Consumo Clima Cidade Ar Animais Água Categoria 2 Agricultura 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 FONTE – Pesquisa direta As questões seguintes referem-se à percepção das crianças sobre a proteção do meio ambiente em Betim, sobre a importância da proteção ambiental no município (GRAF. 16), e sobre a responsabilidade em relação à proteção ambiental. Os alunos da categoria um, acham que o município está bem protegido, mas as justificativas são simplistas como “Sim. Porque é bonito” ou “Sim. Porque é muito bom”. Entre os que acham que não está bem protegido (menos de 50%), disseram que “ninguém cuida e não ajuda”. Na categoria dois - aqueles que moram mais distantes da escola - uma parcela significativa, mais de 50%, acham que o ambiente em Betim não está bem protegido e justifica culpando o governo e os cidadãos pela situação. 90 GRÁFICO 16 Proteção do Meio Ambiente em Betim 7 6 5 4 Sim Não 3 2 1 0 Categoria1 Categoria 2 FONTE: Pesquisa direta QUADRO 7 Justificativas sobre a proteção ou não do meio ambiente SIM NÃO "Porque é bom" Porque ninguém cuida e não ajuda" Porque Betim é bonito" Porque o governo não cuida da cidade" Porque é muito sujo" Porque a Prefeitura promete e não faz" Porque estão jogando lixo em todo lugar" Porque ninguém ajuda a proteger" FONTE: Pesquisa Direta Observamos entre os alunos da categoria 1 uma percepção diferenciada sobre a proteção do meio ambiente em Betim. Certamente, isto se deve às mudanças na paisagem local provocadas pelo projeto de "recuperação" do Córrego Goiabinha. Os alunos da categoria 2, que realizam um percurso 91 maior para chegar até a escola e que vivem em locais onde não foram realizados projetos similares, têm percepção diferenciada. As justificativas apresentadas são simplistas, demonstrando a fragilidade de argumentação dos alunos entrevistados em relação à proteção ambiental. Essa fragilidade refere-se à pouca associação entre aquilo que foi observado e as suas causas. Os alunos não conseguem explicar o fato de "ser protegido", mas o "não protegido" fica mais visível indicando, às vezes, os culpados. Sobre a importância da proteção do meio ambiente (GRAF. 17) as respostas dos alunos demonstram uma associação da questão ambiental com a saúde da população e com a qualidade de vida das pessoas, o que, de certa forma, mostra uma percepção mais avançada sobre as questões ambientais. Novamente destaca-se a opinião diferenciada dos alunos da categoria 1, que apontam a melhoria da qualidade de vida das pessoas, tema que foi bastante reforçado na comunidade local, pelas comissões do PNG. GRÁFICO 17 A importância da proteção ambiental Categoria 1 FONTE – Pesquisa direta Outros A vida das pessoas pode ser melhor As pessoas podem viver mais Categoria 2 As pessoas podem ter boa saúde 6 5 4 3 2 1 0 92 Na questão sobre quem eles consideram o principal responsável pela proteção do meio ambiente (GRAF. 18), o resultado foi significativo. Quase 50% escolheram como responsáveis “todos os cidadãos”. A partir desse dado podemos presumir que essa questão é discutida com eles no cotidiano pois, como acontece com a população em geral, o mais comum é atribuir aos outros a responsabilidade, como demonstraram as outras respostas, onde a escola, o governo municipal e o governo estadual são apontados como responsáveis. Cientistas e empresários não foram apontados como responsáveis. Destacam-se as escolhas da categoria 1 que, com certeza estão vinculadas ao PNG: o papel do governo municipal, responsável pelas obras, a escola, que desenvolveu diversas atividades e os cidadãos, que se mobilizaram em divesos momentos do projeto. GRAFICO 18 Responsáveis pela proteção do meio ambiente 4 3 2 Categoria 1 1 Fonte: Pesquisa Direta Todos os cidadãos As escolas Os cientistas Os empresários Os políticos em geral O Governo Municipal O Governo Estadual Categoria 2 O Governo Federal 0 93 Uma questão considerada importante refere-se à atitude de cada um frente aos problemas do meio ambiente (GRAF. 19). Preocupação e denúncia, as mais “votadas”, nos parecem ser as atitudes que revelam uma compreensão da dimensão da problemática, porém, a atitude de mobilização, que teria um maior significado social, não foi escolhida por nenhum aluno. Por outro lado, a indiferença à questão não é atitude de nenhum aluno, e o descaso foi a atitude escolhida por dois alunos. Observa-se uma diferença entre as atitudes nas categorias. Na categoria 1 destaca-se a atitude de denúncia e na categoria 2 a de preocupação. Podemos atribuir essa diferença às atividades de mobilização promovidas pelo PNG. GRÁFICO 19 Atitudes frente aos problemas ambientais 6 4 2 Reivindicaç ão Preocupaçã o Mobilização Indiferença Descaso Categoria 1 Denúncia 0 Categoria 2 FONTE: Pesquisa direta Com relação à participação em atividades relacionadas à proteção ambiental, os resultados estão apresentados no GRÁF. 20. As atividades mais lembradas pelos alunos foram a limpeza do córrego e o Abraço ao Goiabinha. Lembramos que esta última foi a mais criticada pelos 94 professores mas, entendemos que para os alunos foi a mais significativa, colocando-os como participantes ativos no processo de recuperação do córrego. GRÁFICO 20 Coleta de lixo Pegando lixo no zoológico Pegando lixo em casa 7 6 5 4 3 2 1 0 Abraço ao Goiabinha Participação em atividades ligadas à proteção ambiental. FONTE – Pesquisa direta Sobre as formas de comportamento ambientais, do dia-a-dia, relativas a questões foi apresentado uma listagem na qual os alunos deveriam assinalar de acordo com as instruções: nunca fez, faz sempre, faz às vezes, não sabe. Consideramos como resultados significativos aqueles que 95 alcançaram mais de 50% na escolha pelos alunos, somando-se as duas categorias: QUADRO 8 Formas de comportamento mais significativas Fazem sempre Nunca fazem Fazem às vezes ou não sabem Apagar as luzes quando não está Caçar passarinho ou animal silvestre Reutilizar presente papéis Cuidar da aparência ou Comprar produtos que fazem mal à Preocupar-se saúde Fechar a torneira quando não está Comprar produtos supérfluos aproveitar com a vidros origem e dos produtos que consomem Comprar produtos biodegradáveis usando Reclamar quando compra um produto Jogar lixos nas ruas e lotes vagos Cuidar da arborização de ruas e estragado quintais Separar os diferentes tipos de lixo Pichar muros, monumentos e outros Filtrar água para beber Preocupar-se em comprar produtos de empresas que empregam mão-deobra infantil Cortar madeira FONTE: Pesquisa Direta Esses resultados apresentam coerência com a fala dos professores sobre o comportamento dos alunos frente às questões ambientais. Muitos desses comportamentos, que considerados ambientalmente corretos, são aqueles também socialmente aceitáveis, como: cuidar da aparência, não pichar muros, não comprar produtos que fazem mal à saúde, entre outros. Alguns comportamentos como fechar a torneira durante a higienização bucal, preocupar-se com a origem dos produtos que consome, separar os diferentes tipos de lixo ou reclamar quando se compra um produto estragado, evidenciam certo preparo para o exercício do direito, o senso de 96 economia, do não-desperdício e conhecimento técnico - no caso da separação do lixo. Sobre o conhecimento em relação a determinados conteúdos considerados “temas ambientais”, freqüentemente encontrados na literatura sobre o assunto, elaboramos uma questão que apresentava um conjunto de palavras, temas ou expressões onde se pedia para os alunos marcarem com um X, de quais eles haviam ouvido falar, de quais sabiam o significado ou de quais nunca haviam ouvido falar. Consideramos significativos para análise os itens assinalados que, somandose as categorias 1 e 2 obtiveram mais de 50% das indicações. O resultado está apresentado no Quadro 9. QUADRO 9 Palavras, temas ou expressões relativas ao meio ambiente Ouviu falar Sabe o que é Nunca ouviu falar Opinião Indicações Opinião Indicações Opinião Indicações Comunidade Degradação ambiental Educação Ambiental Efeito Estufa 09 09 09 12 Aterro Sanitário Coleta Seletiva Poluição Reciclagem 12 10 14 12 15 15 12 09 Meio Ambiente 09 Qualidade de Vida 09 Agenda 21 Alimento Transgênico Consumismo Degradação Ambiental Desenvolvimento Sustentável Ecologia Ecossistema ONG 17 10 13 12 FONTE: Pesquisa Direta Os alunos demonstraram ter maior conhecimento sobre aquilo que eles experienciaram no cotidiano escolar, constantes na lista de atividades 97 desenvolvidas como: a poluição, a coleta seletiva e a reciclagem. Mesmo que as atividades sejam criticadas, por serem atividade-fim ou fragmentárias, elas foram marcantes para os alunos. Causou-nos estranhamento, porém, o “desconhecimento” pelos alunos pesquisados de temas, como “Agenda 21” e “Desenvolvimento Sustentável”; temas esses que norteavam o desenvolvimento do Projeto Novo Goiabinha. O fato mostra que não houve uma interação apropriada entre as atividades desenvolvidas e o significado do PNG, e corrobora a classificação dessas em atividades-fim que se encerram nelas mesmas. As últimas questões do instrumento de pesquisa, aplicado aos alunos, referiam-se ao Projeto Novo Goiabinha. A intenção era verificar quais foram as impressões ou marcas deixadas nos alunos, passados quase dois anos após o desenvolvimento do projeto. Sobre a participação nas atividades do PNG todos os alunos respondenram que participaram e consideraram que a participação deles foi muito importante. (GRÁF. 21 e 22) Os alunos da categoria 1 consideraram muito importante a sua participação apresentando um pequeno predomínio sobre a categoria 2. Atribuímos esta diferença à possível participação desenvolvidas junto à comunidade local. desses nas atividades do PNG 98 GRÁFICO 21 Participação no Projeto Novo Goiabinha Sim Não GRÁFICO 19 – Participação no Projeto Novo Goiabinha FONTE – Pesquisa direta Categoria 1 Categoria 2 FONTE: Pesquisa Direta GRÁFICO 22 Avaliação da Participação no Projeto Novo Goiabinha e po em rta na nt e nt rta al ão N Po uc te o ro u im po im to ui da 10 8 6 4 2 0 M 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Categoria 1 Categoria 2 99 FONTE: Pesquisa Direta Os alunos lembraram a participação no projeto, citando as atividades que eles realizaram, conforme apresentado nos GRÁF. 23 e 24. Ressalta-se que entre as duas categoria as diferenças foram pouco significativas destacando-se aí, certamente, o papel da escola no estímulo à participação nessas atividades GRÁFICO 23 Não lembra Abraço ao Goiabinha Fonte: Pesquisa direta Limpeza do córrego Não jogando lixo 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Retirada do lixo Participação no PNG - Categoria 1 FONTE: Pesquisa Direta GRAFICO 24 Participação no PNG - Categoria 2 7 6 5 4 3 2 1 0 Limpeza do córrego Abraço ao córrego Projeto de música 100 Fonte: Pesquisa direta Sobre a opinião em relação aos resultados do PNG, cerca de 53% dos alunos disseram que o projeto melhorou as condições ambientais do Citrolândia e 33% disseram que o projeto não fez diferença para as condições ambientais no Citrolândia (GRÁF. 25). Há diferenças de percepção entre as categorias 1 e 2. Os alunos que vivem mais afastados do córrego têm uma avaliação positiva do projeto, considerando que as condições ambientais locais melhoraram. Isto se deve, certamente, à observação apenas das aparências. De fato, o local está mais "arrumado", mais limpo, mas está menos natural. Para alguns alunos da categoria 1 o PNG não fez diferença. Quem vive perto do córrego percebe resultados que estão além das aparências. A qualidade e a quantidade da água não apresentaram mudanças fato facilmente perceptível por aqueles moradores das proximidades. GRÁFICO 25 Opiniões sobre o Projeto Novo Goiabinha 8 6 4 2 0 Categoria 1 Piorou as condições Melhorou as Não fez diferença condições para as condições ambientais do Citrolândia ambientais do ambientais do Citrolândia Citrolândia Categoria 2 101 Fonte: Pesquisa direta Em relação às sugestões para melhoria do meio ambiente na região do Citrolândia, as respostas dos alunos demonstraram que para eles a questão ambiental vai além da proteção dos recursos naturais, à medida que eles sugerem atividades como a limpeza do córrego, a coleta de lixo ou o plantio de árvores. As principais sugestões foram classificadas em grupos, considerando que nelas estão implícitas as abordagens naturalista, antropocêntrica e globalizante. QUADRO 10 Sugestões para melhorias do ambiente Abordagem Naturalista Abordagem Antropocêntrica Abordagem Globalizante Plantar árvores Retirada de lixo do córrego Construção de casas Limpeza da cidade Educar as crianças Mais empregos Fonte: Pesquisa Direta Observa-se a preocupação dos alunos entrevistados com os problemas sociais, como o desemprego, falta de moradia e educação já mencionados em questões anteriores. O fato de os alunos evidenciarem essas preocupações reforça a visão globalizante presente nas falas dos professores. Finalmente, perguntados sobre o que, pessoalmente, os alunos entrevistados poderiam fazer para melhorar o meio ambiente, as respostas aludiram às questões que classificamos em comportamentais, atitudinais e de valores: 102 QUADRO 11 Propostas dos alunos, de realização própria, para a melhoria do ambiente COMPORTAMENTAIS ATITUDES Não jogar lixo nas ruas Acabar com a pobreza Não desperdiçar água Respeitar a natureza VALORES Ajudar as crianças de rua Separar o lixo Dar roupas e alimentos para quem precisa Denunciar as coisas erradas Ajudar a cidade Plantar árvores Cuidar das árvores Fonte: Pesquisa Direta É interessante determinadas certamente, observar formas estão de que os alunos comportamento, vinculados às pesquisados atitudes atividades e desenvolveram valores pedagógicas das que, quais participaram durante a implantação do PNG. Talvez esse estudo não nos tenha possibilitado responder, categoricamente, se as impressões causadas nos alunos são duradouras. É difícil determinar os efeitos a longo prazo de programas de Educação Ambiental sobre a retenção do conhecimento ou sobre mudança de valores/atitudes/estilos de vida suscitados nos estudantes. Há que se reconhecer o esforço bem intencionado de um grupo de professores, direção pedagógica e alunos que procuram construir saberes, 103 mudança de postura frente às questões ambientais e nova visão de mundo, mais ética, mais solidária, mais cidadã. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS "Duvidamos suficientemente do passado para imagirnarmos o futuro, mas vivemos demasiadamente o presente para podermos realizar nele o futuro. Estamos divididos, fragmentados. Sabemo-nos a caminho mas não exatamente onde estamos na jornada." 104 (Boaventura de Souza Santos) A análise da proposta de Educação Ambiental do projeto Novo Goiabinha, desenvolvida pela Escola Municipal “Frei Edgard Groot”, objeto de estudo desta pesquisa, nos permitiu, dentro das limitações inerentes a um estudo de caso, tecer algumas considerações que julgamos pertinentes. A inserção das experiências pedagógicas do PNG, causou uma série de mudanças no cotidiano da escola. As atividades desenvolvidas provocaram alterações na prática pedagógica dos docentes que se sentiram desafiados a construir propostas educativas inovadoras que transformassem o ensino, a partir da introdução da temática ambiental no currículo escolar. O PNG causou uma “movimentação” na escola criando oportunidades de aprendizagens através de recursos, como a música, o teatro, oficinas e trabalhos de campo, vinculados à realidade local e ao projeto de “recuperação” do córrego Goiabinha. Um aspecto importante de nossa análise refere-se a abordagem metodológica na qual classificamos o PNG. Considerando seus aspectos mais amplos, o PNG contemplou a metodologia de “Resolução de Problemas Locais”, seguindo uma das recomendações da Conferência de Tbilisi. Entretanto, é preciso salientar que, a prevalência de práticas classificadas como ATIVIDADE-FIM evidencia alguns equívocos pedagógicos que contrariam as tendências atuais da prática da Educação Ambiental. As atividades realizadas se constituíram numa adequação da escola a uma 105 demanda momentânea que visavam mudanças de comportamento em função de uma questão emergencial que se esgotava nela mesma. As tendências pedagógicas atuais de construção de conhecimento, de criatividade, interação e de valorização do conhecimento e das experiências dos educandos, foram as menos contempladas. Esse fato limitou, mas não impediu, o desenvolvimento de aprendizagens significativas capazes de promover mudanças de valores que estivessem comprometidos com a compreensão e a transformação da realidade. A pesquisa nos permitiu identificar a pouca articulação entre o desenvolvimento das experiências voltadas para as questões ambientais e o currículo das disciplinas tradicionais (História, Geografia, Português, Ciências e outras). Ficou evidente a necessidade de se trazer a temática ambiental para o contexto dessas disciplinas no sentido de torná-las mais coerentes com a realidade local e de propiciar aos alunos o entendimento das interrelações entre os temas tradicionais e os temas ambientais. A relação entre a temática ambiental e o currículo escolar foi pouco contemplada nas atividades pedagógicas do PNG. É importante ressaltar que esse aspecto deve ser abordado com maior profundidade pelos docentes da escola em questão. Não se trata, simplesmente, de implementar experiências pedagógicas ou de “ambientalizar” os conteúdos tradicionais para atender demandas externas. Há um risco de se cometer equívocos pedagógicos, caso não haja uma articulação entre projetos da natureza do PNG e o currículo escolar e deste com a realidade local. 106 Os resultados da pesquisa deixaram claro a necessidade do corpo docente aprofundar estudos sobre as questões teóricas relativas à problemática ambiental, especialmente, no que se refere às diferentes concepções que fundamentam os conceitos de Meio Ambiente e Educação Ambiental. Os aportes teóricos devem estar claros para os educadores para que não se transmita aos educandos concepções equivocadas que perpetuem, às já problemáticas, relações do homem com a natureza. Observou-se entre os docentes e dicentes, a coexistência das diferentes concepções, naturalista, antropocêntrica e globalizante, que fundamentam as discussões sobre meio ambiente e as práticas de Educação Ambiental. Consideramos não ser relevante a escolha de uma dessas concepções, mas é fundamental que os docentes saibam estabelecer o diálogo entre elas, construindo e reconstruindo saberes necessários ao desenvolvimento de aprendizagens significativas para os educandos no sentido de permitir a formação de uma consciência sobre as relações natureza e sociedade. A incorporação da temática ambiental à educação formal deve ir além da internalização de valores relativos à conservação da natureza. Embora tenhamos identificado a coexistência das diferentes concepções, a visão naturalista nos pareceu ser a que norteou as práticas pedagógicas desnvolvidas pelo PNG. As práticas advindas dessa concepção ficam, na maioria das vezes, restritas a instruções de caráter técnico, a estudo de texto meramente informativos que induzem apenas ao conservacionismo. O conteúdo técnico-instrumental não é suficiente para promover mudanças de valores e atitudes ou de melhorar a percepção dos educandos em relação à construção do espaço e à proteção dos recursos naturais. 107 A análise dos dados da pesquisa realizada com os alunos nos permitiu algumas considerações sobre os “resultados pedagógicos” do PNG. Entre os entrevistados ficou evidente o quanto a participação no Projeto foi significativa para os educandos. Entre os alunos da categoria 1 – residentes próximo à escola e ao córrego – ficou clara a influência do PNG sobre a percepção dos alunos em relação ao ambiente. Esses alunos se posicionaram de maneira diferente em relação aos da categoria 2 – residentes em locais mais distantes da escola e do córrego. A percepção em relação as modificações da fauna e flora do ambiente, as atitudes frente às questões ambientais, o conhecimento dos problemas sociais, a capacidade de avaliação sobre a responsabilidade do poder público e dos cidadãos com o ambiente, ficou mais evidente entre os alunos da categoria 1. A análise de questões que abordavam temas mais amplos discutidos na escola como, a identificação de elementos relacionados ao meio ambiente, conhecimento da região e de comportamentos “ambientalmente corretos”, não revelou diferenças significativas entre as duas categorias. A leitura que fizemos foi a de que essas questões foram reforçadas pelas atividades e conhecimentos propiciados pela escola ao conjunto dos alunos, sem ter uma vinculação direta com o local de residência do aluno e suas experiências extra-curriculares. Outro aspecto a ser mencionado diz respeito às dificuldades e facilidades que os professores entrevistados encontraram para desenvolver o PNG e outras atividades relacionadas ao meio ambiente. Em relação às dificuldades ficou evidente que estas não estão vinculadas somente às questões específicas da Educação Ambiental e sim às questões que extrapolam o 108 âmbito da escola (como a estrutura física dos prédios escolares e sua conservação), possuindo uma dimensão mais ampla vinculadas às políticas públicas no campo da Educação e às condições sócio-econômicas dos educadores e educandos. Em relação às facilidades foram evidenciados os aspectos ligados à atualidade do tema, que favorece o acesso às informações e à conexão deste com a realidade da comunidade local. Esse último aspecto reforça a pertinência da escolha de temas vinculados à realidade do aluno e da utilização do espaço como recurso didático. Há que se fazer referência ainda, à vinculação de projetos de Educação Ambiental com os projetos pedagógicos mais amplos da escola como, a organização dos tempos escolares, a teoria pedagógica que dá suporte teórico às práticas docentes e aos processos de avaliação. Encerrramos esse trabalho convictos de que a construção de uma racionalidade ambiental pressupõe uma (r)evolução no sistema escolar, na formação e no trabalho dos educadores. Não há sentido em se propor a construção do saber ambiental dentro de contextos escolares arcaicos, tradicionais, fechados em instituições desarticuladas com seu entorno, desconsiderando suas externalidades. 109 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS "Quanto tempo Duram as obras? Tanto quanto Ainda não estão completadas Pois enquanto exigem trabalho Não entram em decadência. (...) Quem dará duração às obras? Os que viverão no tempo delas. Quem escolher como construtores? Os ainda não nascidos. Não deves perguntar: como serão eles? Mas sim Detrminar." (Bertold Brecht) 110 APPLE, Michel W. Currículo e poder. Educação e realidade, Porto Alegre, v. 14, n. 2, p.46-57, jul./dez. 1989. ASSIS, Terezinha. A história da construção de Betim: espaço geográfico construído por gente. Betim: Prefeitura Municipal de Betim, 1996. BARCENA, Alícia. Apresentação. In: GUTIERREZ, F.; PRADO, Ecopedagagia e cidadania planetária. São Paulo: Cortez, 1999. p.14 C. BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Secretaria Educação. Escola plural. 2. ed. Belo Horizonte, 1994. de Municipal BETIM. Prefeitura Municipal. Coordenadoria do Meio Ambiente. Projeto Novo Goiabinha. Betim, 1998. BETIM. Prefeitura Municipal. Coordenadoria do Meio Ambiente. Relatório da Comissão Ambiental do PNG. Betim, 1999a. BETIM. Prefeitura Municipal. Escola Municipal "Frei Edgard Groot". Projeto Goiabinha. Betim, 1999b. BETIM. Prefeitura Municipal. Secretaria de Educação e Cultura. Escola democrática: resoluções do III COMEB. Betim, 1999c. BORTOLOZZI, A.; PEREZ FILHO, A. 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Conhece apenas em parte. 2 – Em relação ao bairro Citrolândia você diria que: Conhece bem. Conhece muito pouco. Conhece apenas em parte. 3 – Quais os principais pontos de referência da região (lugares bonitos, córregos, nascentes, cachoeiras, fazendas, espaços culturais e outros) 1_________________________________________________________________ 2_________________________________________________________________ 3_________________________________________________________________ 117 4_________________________________________________________________ 5_________________________________________________________________ 6_________________________________________________________________ 4 – Dos locais abaixo quais você conhece pessoalmente: Casa de Cultura de Betim Aterro Sanitário Colônia Santa Isabel Salão do Encontro Nascente do Córrego Goiabinha Encontro do Córrego Goiabinha com o Rio Paraopeba Três Lagoas Açude Bandeirinhas Zoológico de Belo Horizonte Represa Vargem das Flores Parque das Mangabeiras (BH) Parque Municipal (BH) 5 – Você poderia citar o nome de algumas plantas e animais nativos aqui da região do Citrolândia? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6 – Na sua opinião as plantas e os animais da região estão: Aumentando Diminuindo Continua do mesmo jeito. Justifique sua resposta: _______________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 118 7 – Dos problemas abaixo, quais você acha que tem aqui na região? Desmatamento e Queimadas Enchente Pobreza Pouca área verde Desemprego Poluição do ar (poeira) Poluição dos rios e córregos Violência Falta de transporte coletivo Extinção de peixes Falta de arborização Falta de área de lazer Falta de rede de esgoto Falta de tratamento do esgoto Barulho Erosão do solo Falta água tratada Falta de escola 8 – Dos problemas apontados quais você considera os mais graves? Escolha 3 (três) em ordem de importância). 1___________________________________________________________________ 2___________________________________________________________________ 3___________________________________________________________________ 9 – Como você adquiriu os conhecimentos que você tem sobre a região do Citrolândia: Andando pelas ruas e com amigos. Aprendeu com parentes (pais, tios, avós) Aprendeu na escola (textos, mapas, aulas). Aprendeu por outros meios (jornais, revistas, televisão, outros). SEÇÃO III – VALORES, ATITUDES, COMPORTAMENTOS E OPINIÕES 1 – Para você o que é Meio Ambiente? (Entre as opções abaixo marque a que você considera mais correta: Meio Ambiente são os animais, as plantas, o ar, o solo e a água. Meio Ambiente engloba a nossa casa, o nosso bairro, a cidade, o país, o planeta, os animais, as plantas, a família, a sociedade, as relações entre todos os seres vivos. Meio Ambiente é o local em que vivemos, aproveitando de toda a natureza para a nossa sobrevivência. 119 2 – Entre os elementos abaixo, assinale com X aqueles que você considera que podem ser relacionados com o meio ambiente: Agricultura Água Animais Ar Cidade Clima Consumo Educação Energia Exclusão social Lixo Matas e outras plantas População Recursos Minerais Saúde Solo 3 – Você acha que em Betim o meio ambiente é preservado? Sim Não Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4 – A proteção do meio ambiente é importante porque: As pessoas podem ter boa saúde. As pessoas podem viver mais. A vida das pessoas pode ser melhor. Outros (citar) _______________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 120 5 – Quem você considera o principal responsável pela proteção do meio ambiente em Betim? O Governo Federal. O Governo Estadual O Governo Municipal Os políticos em geral. Os empresários. Os cientistas. As escolas. Todos os cidadãos. 6 – Cite o fato ou a atividade que você considerou mais importante para a proteção do meio ambiente. (Cite o fato e o responsável) ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7 – Qual tem sido a sua atitude frente aos problemas do meio ambiente? Denúncia. Descaso Indiferença Mobilização Preocupação Reivindicação 8 – Você já participou de alguma atividade relacionada à proteção do meio ambiente? Em caso afirmativo que atividade e qual foi a sua participação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 121 9 – Responda se você concorda ou discorda das seguintes afirmativas: (indique com os números) 1 Concorda. 2 Discorda. 3 Não sabe. Não faz diferença para a proteção do meio ambiente se você diminui o consumo de água. Não faz diferença para o meio ambiente se você reduz o consumo de energia. Não faz diferença para o meio ambiente se você jogar lixo nos lugares certos. Não faz diferença para o meio ambiente se na escola você estuda sobre os problemas ambientais. 10 – Das formas de comportamento do dia-a-dia citadas abaixo, indique com os números as que você: 1 Nunca fez. 2 Faz sempre. 3 Faz às vezes. 4 Não sabe. Apagar as luzes quando não estou presente. Caçar passarinho ou animais silvestres. Compra produtos biodegradáveis. Compra produtos que fazem mal a saúde (cigarros, bebidas, etc) Compra produtos supérfluos. Cortar madeira. Cuidar da aparência (pentear cabelo, tomar banho, escovar os dentes e outros) Cuidar da arborização dos quintais e ruas. Fechar a torneira quando não estiver usando. Filtrar a água para beber. Jogar lixo nas ruas e nos lotes. Participa de movimentos em defesa do meio ambiente, direitos do consumidor ou campanha pela segurança contra a violência e outros. Pichar muros, monumentos e outros. Preocupa-se com a origem dos produtos que consome. Preocupa-se em comprar produtos de empresas que empregam mão de obra infantil. 122 Preocupa-se em comprar produtos de empresas que não danificam o meio ambiente. Reclama quando compra um produto estragado ou com defeito. Reutilizar ou reaproveitar vidros e papéis. Separar os diferentes tipos de lixo (papel, metal, plástico, vidro). 11 – Das palavras, temas ou expressões abaixo, marque com um X, quais você já ouviu falar, sabe o que é, nunca ouviu falar. Palavra, tema ou expressão Ouviu falar Sabe o que é Nunca ouviu falar AGENDA 21 ALIMENTO TRANGÊNICO ATERRO SANITÁRIO CIDADANIA COLETA SELETIVA DE LIXO COMUNIDADE CONSUMISMO DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO ECOLOGIA ECOSSISTEMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EFEITO ESTUFA ETE (ESTAÇÃO DE TRAMENTO DE ESGOTO) MEIO AMBIENTE ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL POLUIÇÃO QUALIDADE DE VIDA RECICLAGEM 12 – Você conhece o Projeto “Novo Goiabinha”? Sim Não Apenas ouviu falar 13– Você participou de alguma atividade do Projeto “Novo Goiabinha”? Sim Não Em caso afirmativo cite a atividade e qual foi a sua participação. ___________________________________________________________________ 123 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 14 – Como você avalia sua participação em relação ao desenvolvimento do Projeto Novo Goiabinha? Muito importante. Pouco importante. Não alterou em nada. 15 – Você acha que o projeto “Novo Goiabinha”: Melhorou as condições ambientais do Citrolândia. Não fez diferença para as condições ambientais do Citrolândia. Piorou as condições ambientais do Citrolândia. 16 – Você teria alguma sugestão de atividade para melhorar o meio ambiente aqui na região do Citrolândia? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 17 – O que você, pessoalmente poderia fazer nesse sentido? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 124 ANEXO C PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO PNG PARA AS ESCOLAS DE CITROLÂNDIA: Entendemos que a comunidade escolar é imprescindível na formação ecológica e ética, que leve a uma mudança de comportamento compatível com o desenvolvimento sustentável tão necessário para a sobrevivência das futuras gerações. Mas para isso é necessário garantir que os alunos tenham sua escolarização apoiada em vivências ricas no presente e construtivas de seu futuro, de forma a realizarem efetivamente as aprendizagens básicas indispensáveis à vida em comunidade. A equipe de Educação Ambiental do Projeto Novo Goiabinha, propõe uma ação efetiva e sistemática, na escola Edgar Groot por entender que; a proximidade da escola com o Córrego aproxima mais a comunidade escolar dos problemas do Goiabinha além de conseguirmos um maior envolvimento com os setores envolvidos. Pensar um projeto de educação ambiental, que possa abrir as portas da escola para a comunidade, transformando o espaço escolar em um verdadeiro laboratório é o que pretendemos, e acreditamos ser o resultado uma experiência bastante satisfatória. Apresentaremos algumas idéias e propostas de ações e esperamos que com o decorrer do projeto os resultados nos levem a mais formas de atuação. 125 ANEXO D RELATÓRIO DIA 16 DE MARÇO Irmã Hilda e Mara foram de sala em sala, no dois turnos de funcionamento (manhã e tarde), falando com os alunos sobre o Córrego eo Projeto Goiabinha. A conversa foi informal e em cada sala assuntos diferentes foram tratados, mas em todas o tema central era o Goiabinha e a importância da participação de todos no projeto de recuperação e proteção do Córrego. Avaliamos positivamente a nossa visita e descobrimos assim mais alguns parceiros extremamente importantes para o nosso projeto: a direção da escola, professores e os alunos que demonstraram um enorme interesse pelo assunto. Encerramos nossa visita convidando a todos a participarem conosco da primeira atividade dentro da escola. DIA 23 DE MARÇO De 9:30 às 11:30 e de 15:00 às 16:30 Instalamos no pátio da escola quatro grandes painéis sobre o Goiabinha. O primeiro mostrava o Goiabinha antes das obras de contenção, o segundo durante as obras, o terceiro mostrava o projeto arquitetônico elaborado pelo Lessandro, permitindo assim que todos pudessem ver como ficará o Goiabinha, e o quarto painel mostrava o mutirão de limpeza no trecho um. Nossa atividade teve a participação do Grupo de Teatro Cará-cará, do Núcleo de Mobilização Ambiental da Prefeitura – NUMA. 126 O Cará-cará passou de sala em sala convidando os alunos para assistirem a apresentação da “Rádio Goiabinha” – forma criada pelo Numa de atrair e tornar diferente as nossas falas durante as atividades. A “Rádio” iniciou sua programação convidando primeiro a Lúcia Aquino, que representava a informação. A Lúcia falou do Projeto e da importância da participação de cada pessoa na proteção e recuperação do Goiabinha. No encerramento da fala da Lúcia chamamos dona Raimunda, que é cantineira e faxineira da escola. Ela foi a pessoa que buscou mostrar a necessidade de manter também a escola limpa. Assim como o cuidado que devemos ter com o Goiabinha, é importante cada aluno contribua para manter limpo o espaço da escola. Logo depois veio o Sr. João Chaves, morador antigo da região, representando a história do lugar – o contador de casos. O Sr. joão contou casos para as crianças e professores sobre como era o Goiabinha antes, e encerrou falando uma poesia que ele mesmo fez. E para encerrar as atividades do dia, a Isabel foi apresentada para cantar a música do Goiabinha junto com as crianças. Ela veio representando uma famosa cantora da região. A atividade foi a mesma nos dois turnos, sendo que à tarde no lugar da Lúcia a fala foi a Mara. Em cada um destes turnos a participação foi total, tendo em média 350 alunos por turno. Fotografamos através da Assessoria de Imprensa da Prefeitura, e a filmagem foi feita pelo Santinho, funcionário da Adminstração Regional, que tem participado ativamente do Projeto, desde o início. Todas as pessoas que participaram das atividades gostaram muito e temos certeza que a escola Edgar Groot poderá se tornar realmente uma escola laboratório e modelo para outras no município. OUTRAS ATIVIDADES PREVISTAS 127 Permanecemos até o final do ano na Escola Edgar Groot com várias atividades de educação ambiental. Dia 05 de abril, encaminhamos para a escola o seguinte calendário: Primeira etapa: Cada professor com o auxílio da equipe de educação ambiental deverá trabalhar com os alunos a importância de manter limpa as salas de aula. Para isto deveremos confeccionar com os próprios alunos caixas de lixo, feitas de reaproveitamento de caixas de papelão. Inicialmente cada sala deverá ter duas caixas de papelão pintadas na cor azul, que é a cor oficial da reciclagem de papel. Isto porque o lixo produzido pelos alunos em sala de aula é basicamente “papel”. Deverão ser duas caixas, pois cada sala atende a dois turnos. Além disto, a sala deverá ter ainda uma cesta colocada em lugar visível para outros tipos de lixo não recicláveis. Para esta atividade a presença das faxineiras será muito importante, pois são elas que poderão nos informar sobre a limpeza das salas antes do Projeto e assim poderemos fazer uma avaliação desta etapa com os alunos e professores. Para auxiliar no trabalho dos professores forneceremos textos sobre a importância da reciclagem de papel, e outros textos complementares. Complementando esta atividade os alunos deverão levar para a escola: caixas de pasta de dentes, caixas de papelão diversas, folhas de papel usadas, cadernos velhos... Com este material faremos: blocos para rascunho ou cadernos para desenho, marcadores de livros, papel reciclado, papel machê... Cada etapa deverá vir acompanhada de atividades lúdicas: música, teatro, oficinas... O importante é que cada tema seja acompanhado pelo professor e pelos membros de Educação Ambiental do Goiabinha. 128 É também extremamente importante que cada etapa passe por uma avaliação dos alunos/professores e grupo de educação ambiental. Assim, como resultado deveremos objetivar salas mais limpas e conseqüentemente escola mais limpa. O envolvimento do restante da comunidade é fundamental para o sucesso do projeto. A participação dos pais nas etapas fará com que o número maior de pessoas compreenda e participe do Projeto Novo Goiabinha. Por isto deveremos marcar reuniões com os pais de todos os alunos da Escola Municipal "Frei Edgar Groot.". Encerrando esta atividade deveremos iniciar a importância de recursos naturais como alumínio, plástico, vidro... Para cada uma delas realizaremos campanhas como reaproveitamento de latas para plantio, doação de vidros para entidades que possam reutilizá-los ou até mesmo uma campanha de coleta seletiva em toda a escola. Precisaremos: espaço para armazenarmos o material recolhido e uma forma de vender todo o material. Uma campanha já existente é a da Latasa que troca equipamento para escola por latinhas de cerveja e refrigerante. Com os pais deveremos também promover algumas oficinas como: aproveitamento de óleo velho para fabricação de sabão, cultivo de ervas medicinais, hortas caseiras, alimentação alternativa e outras... Após esta etapa (ou paralelo a ela) deveremos visitar toda a extensão do Goiabinha com as crianças para que elas possam fazer um diagnóstico da situação atual do Córrego. Isto fará com que elas percebam com mais clareza a necessidade de recuperação e proteção do Córrego Goiabinha. Outros temas a trabalhar: A importância da água. Aí é importantíssimo fazer a importância para a nossa sobrevivência com a poluição dos córregos, rios e principalmente mostrar problemas causados pelo desperdícios. Os alunos deverão dentro da própria escola detectar: torneiras pingando, descargas que não funcionam, o desperdício de água ao lavar as 129 mãos, vasilhas ou mesmo o pátio... À partir daí deveremos ter como resultado a mudança de atitude da comunidade da escola Edgar Groot. O cuidado com quintais, pátios... Incentivar o plantio de árvores, jardins ou hortas nos espaços livres da escola. Além disto, os alunos deverão se responsabilizarem pelo cuidado com o espaço. 130 ANEXO E SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA DESENVOLVER O PROJETO GOIABINHA - Visita ao Goiabinha com os alunos: • 13/04/99 – 4 turmas de 4ª série do 1º turno e 1 4ª série da noite • 14/04/99 – 2 turmas de 2ª série • 16/04/99 – 4 turmas de 1ª série - Produção de texto; - Poesia – música; - Texto de jornal – trabalha as colunas do jornal; - Desenho; - Palavras cruzadas; - Eleger entre os alunos um fiscal por turma para orientar no uso das lixeiras; - Confeccionar com os alunos um mural para anexar os trabalhos; - Pesquisa sobre o tempo de composição dos lixos e exposição em painel com ilustrações; - Entrevistas; - Desafios matemáticos - usar a agenda 21 e outros; - Pesquisa de campo com roteiro; - Teatro; - Filmes; - Fazer uma campanha de vidros para doar para o banco de leite materno; - Montar painel com fotos; - Estudar sobre vermes e larvas; - Tipos de água (límpida – suja – sem cheiro – sem sabor); - Trabalhar gráficos; 131 - Gibi sobre “A boca de lobo”; - Confeccionar com os alunos uma caixa para reciclagem do papel (cor padronizada da caixa azul); - Fazer maquete; - Confeccionar porta-retratos reciclando bandeijas de isopor; - Fazer bloquinhos com papel reciclado; - Fazer marcador de páginas com caixinhas de pasta de dente e de remédios; - Oficina de reciclagem de papel e outros; - Oficina de jornal e tampinhas – confeccionar descanso de panela e ábaco chinês para matemática; - Continuar com a campanha latasa; - Garantir um espaço no jornal para divulgar o trabalho da escola; - Concurso de produções de texto; - Trabahar sobre a água que existe no mundo e fazer comparação da proporção da água que existe em nosso corpo; - Confeccionar com os alunos em lixeirinha de carteira reciclando garrafas de refrigerante pet.